Curso 248966 Aula 15 Grifado 1f0d
Curso 248966 Aula 15 Grifado 1f0d
Curso 248966 Aula 15 Grifado 1f0d
Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
SUMÁRIO
História. 1
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
História. 2
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
1
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.11.
2
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.12.
História. 3
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
Conforme destaca o historiador Jörn Rüsen, em sua obra Razão histórica (2001, p.14), a
Teoria da História se refere ao "pensamento histórico em sua versão científica". De acordo com
essa perspectiva, pode-se estabelecer uma distinção mais clara entre as "filosofias da história"
ou outras formas de concepção histórica como as ''teologias da história", e as ''teorias da
história'' propriamente ditas, considerando que estas se vinculam ao novo momento em que a
historiografia passa a reivindicar um estatuto de cientificidade3.
Mas vale dizer que a proposta de pensar a História com um viés cientificista é inaugurado
na passagem do século XVIII para o XIX, movido pelas propostas iluministas e a racionalização.
Em todo caso, já existiam formas de conhecimento histórico bem antes da passagem do século
XVIII ao XIX, que é esse momento particular em que se passa a tomar com parâmetro para a
historiografia a cientificidade e no qual, portanto, já se pode falar em ''teorias da história''.
Contudo, naqueles momentos anteriores – como a Antiga Grécia, o mundo romano, a Idade
Média, o Renascimento, ou o Moderno Absolutismo– apresentavam-se para a historiografia
referências muito diversas, como ''a anamnese grega, o patriotismo romano, o providencialismo
medieval, ou o oficialismo absolutista'' 4. O próprio século XVIII, na antessala para o surgimento
das ''teorias da história'' que passarão a vigorar no século XIX, também já oferece, com as
"filosofias da história'' ao modo de Herder ou de Kant, uma outra maneira de pensar sobre a
História que não é bem exemplificadas no século seguinte pelos paradigmas do Positivismo, do
Historicismo, ou do Materialismo Histórico, todos inarredavelmente alicerçados por uma
metodologia documental que já estará na base do surgimento da figura do historiador
profissional e da inserção da História como disciplina universitária 5.
As "filosofias da história", que se alastram no século XVIII e se estendem até as
realizações de Hegel no século XIX, constituem um gênero filosófico-historiográfico à parte, e
devem ser bem distinguidas das "teorias da história'' propriamente ditas. Tanto as ''filosofias da
história'' como as ''teorias da história'' já são enunciadas em uma nova era historiográfica,
distinta de tudo o que até então se tinha feito nas tradicionais ''histórias'' representadas pelos
inúmeros gêneros historiográficos que precederam o trabalho dos historiadores modernos.
Existe entre as ''filosofias da história'' e as ''teorias da história'' tanto uma certa cumplicidade,
como também uma diferença radical que será preciso considerar.
Ora, vale a pena dizer que é, senão em um contexto no qual a cientificidade se apresenta
como um referencial para a historiografia, aspecto que se afirma consistentemente na
passagem do século XVIII para o século XIX, que se pode falar da emergência de ''teorias da
história'' como grandes sistemas de compreensão sobre a História e a Historiografia. Nesse
3
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.85.
4
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.86.
5
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.86.
História. 4
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
período, começaram a surgir tanto uma ''matriz disciplinar'' mais definida para História, como os
primeiros grandes paradigmas historiográficos.
Uma teoria constitui certa visão de mundo relacionada a um ou outro dos diversos
campos científicos, uma Teoria da História, ou um Paradigma Historiográfico, corresponderá a
uma certa visão histórica do mundo, ou mesmo a determinada visão sobre o que vem a ser a
própria História e seus registros. Qualquer Teoria da História pressupõe, simultaneamente, uma
determinada concepção sobre o que é a História e sobre o que deve ser a historiografia, isto é, o
campo processual.6
Em termos de teorias da história, podemos nos remeter tanto àquelas que se referem a
objetos historiográficos específicos (eventos ou processos como a Revolução Francesa, o
Nazismo, as crises específicas do Capitalismo), ou às teorias mais amplas, mais generalizadoras,
que se referem a séries de eventos (não uma teoria sobre a Revolução Inglesa ou a Revolução
Francesa, mas uma teoria sobre as ''revoluções''; não uma teoria sobre o nazismo alemão ou
sobre o fascismo italiano, mas uma teoria sobre o ''totalitarismo''). Há, portanto, tipos diversos
de teorias: umas mais particularistas e outras mais genéricas. Os historiadores podem fornecer
uma teoria que diga respeito a determinado evento, a uma série de eventos, a um período, ao
desenvolvimento de instituições segundo um entrecruzamento cultural e assim por diante.
No limite máximo de generalização, os historiadores podem oferecer teorias acerca do
que seja a própria Historiografia. O que é a História, como ela se constrói, quais as tarefas do
historiador diante da produção desse tipo de conhecimento? Para que serve a História? Que
tipo de conhecimento é a Historiografia? É possível, ou desejável, que o historiador faça
previsões do futuro a partir de suas observações do passado? Que tipo de envolvimento –
contemplativo, distanciado, comprometido, militante – deve ter o historiador em relação à
História de sua própria época? Deve a Historiografia ser colocada a serviço de alguma causa, ou
deve conservar o ideal de constituir um tipo de conhecimento desinteressado? Essas são
perguntas fundamentais que movem o ofício do historiador e conduzem a escrita da História. 7
6
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp.87-88.
7
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp.88-89.
História. 5
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
8
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 29-30.
9
HARTOG,2003:13apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 31.
10
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 32.
História. 6
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
posta a cargo de escribas subalternos e de talentosos escravos, para, a partir daí, passar a ser
uma escolha exercida criativamente pro um homem livre.
O que o praticante da História fará desta sua escolha – a de se tornar um historiador e de
construir um discurso historiográfico – é já uma outra coisa. Mas o fato é que, ainda que um
historiador possa ter decidido dar um sentido eminentemente político ao seu discurso, e ainda
que decida servir à Política, a verdade é que desde Heródoto o seu trabalho já não é instituído
primordialmente pelos poderes públicos no âmbito mais íntimo de suas práticas. Ser historiador
constitui uma decisão pessoal e implica no ato de se entregar a uma prática que se estabelece a
partir de um sujeito, tal como ocorre com a decisão de alguém se tornar filósofo, poeta ou
músico. Desde Heródoto, e parodiando um famoso dito de Jean-Paul Sartre, “o historiador está
condenado a ser livre”.
A menção a Heródoto pode ainda nos ajudar a adentrar noutro conjunto de reflexões, já
relacionadas às tentativas de identificar aquilo que a História teria de mais singular, ou, por
assim dizer, a sua "identidade mínima" (identidade esta que, em última instância, estará sempre
igualmente sujeita a transformação no decurso do próprio devir). Na época dos antigos gregos –
muito antes de se relacionar a uma investigação específica sobre o passado vivido, ou de trazer
para a centralidade de suas operações a noção de temporalidade –, a História esteve
simultaneamente associada às três noções de: (1) “investigação”, (2) “relato” e (3) “testemunho
ocular”. Essa tríade de sentidos, intimamente imbricados no termo grego istorie (ἱστορία),
antecipa surpreendentemente a complexidade futura da palavra História, uma vez que desde
então a nova prática parecia querer se referir simultaneamente a um tipo de pesquisa, a um
modo de escrita e às fontes deste tipo de conhecimento. A “pesquisa”, para Heródoto, deveria
se dar em forma de um “inquérito”, com “intenção de verdade”; a escrita assumiria o gênero
narrativo, e as fontes, para os historiadores gregos, ainda deveriam ser preferencialmente
oriundas de testemunhas oculares dos próprios acontecimentos.
Ora, o objeto da História é o mundo humano, o que para a antiguidade grega já foi uma
originalidade, uma vez que neste ponto a História começou a se destacar muito claramente da
Filosofia – esta nobre prática intelectual que tinha por objeto o mundo supralunar
(especialmente depois de Platão), muito acima da transitoriedade humana e das singularidades
do vivido – da mesma forma que aquela mesma História também começou a se destacar muito
visceralmente da Mitologia, que se referia apenas aos deuses e àquilo que estava além ou acima
do homem. A História, portanto, já desde a Antiguidade Clássica, coloca-se como uma
investigação sobre a realidade humana, ou ao menos sobre a realidade das ações humanas no
tempo.11
11
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 34-35.
História. 7
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
Mas o tipo de conhecimento verdadeiro que era buscado pelos historiadores gregos, que
imediatamente seguiram o modelo inaugurado por Heródoto – opondo-se ao filósofo que
buscava regularidades e verdades eternas em uma realidade atemporal – o que poderia se
tornar factível de ser apreendido e conhecido pelos seres humanos será precisamente esse
mundo de ações humanas em permanente mudança. Essa postura, diga-se de passagem, seria
retomada de maneira ainda mais sofisticada por Vico no século XVIII, que em sua Ciência Nova
chama atenção para o fato de que só podemos conhecer verdadeiramente aquilo do qual
efetivamente participamos. Isso implica que o homem só pode compreender aquilo que é
humano.
A Historiografia teve muitos desenvolvimentos posteriores aos seus primórdios na época
de Heródoto, e conheceu uma ampla variedade de gêneros que, com alguma liberdade,
poderíamos categorizar como “gêneros historiográficos”. A Historiografia Pré-moderna, por
exemplo, apresentava ou apresentou muitos objetivos e funções nas suas várias formas e
contextos sociais. “Evitar o esquecimento” (como entre os gregos), “ensinar à vida” (historia
vitae magistra), tal como propunham os teóricos renascentistas da política, "glorificar povos e
nações", à maneira dos historiadores que se puseram a serviço das monarquias absolutista da
primeira modernidade – estes eram alguns de seus nortes refundadores.
Na história da historiografia que precede a Modernidade, apesar da existência de
métodos os mais diferenciados para assegurar a “verdade”, e ao lado dos diversos usos para
esta verdade histórica que era perseguida pelos historiadores gregos, romanos, medievais,
renascentistas, podemos dizer que entre todas estas formas históricas pré-historiográficas
aintenção de “verdade” ocupava um lugar central na produção deste tipo de conhecimento,
como ainda hoje. Todavia, se a intenção de verdade já era condição sinequa non para a História
(historiografia), e isto praticamente já em todas as suas variações pré-modernas, no que passou
após a modernidade a busca pela verdade histórica, ou o seu registro, eram vistos acima de
tudo como uma atitude moral, como um princípio retórico da própria historiografia. É a partir
desse princípio que surge o campo disciplinar específico da História. 12
12
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 38-42.
História. 8
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
13
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 19-22.
História. 9
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
novo campo disciplinar se forme a partir de elementos dispersos oriundos de vários outros
campos.14
A dinâmica de transformações no vasto universo que abarca os campos disciplinares
produz um eterno movimento: novos campos podem surgir, e outros desaparecer; uns podem
se desprender de outros, e alguns podem se formar do casamento entre duas ou mais
perspectivas disciplinares. Há também o caso das "refundações", e essa ideia parece ser bem
adequada para entender a história da escrita da História, uma vez que esta correspondia a um
campo de práticas e expressões já milenar quando, a partir de fins do XVIII e início do XIX, será
como que "refundada" para se constituir como ''historiografia científica". A partir dessa
refundação, e da consolidação do estatuto do "historiador profissional", pode-se dizer que a
História passa de um conjunto de práticas muito diversificadas – da história dos cronistas à dos
antiquários, dos filósofos da história e dos teólogos – para a formação de uma "matriz
disciplinar'' mais bem definida.15
Essas tendências se apresentam como uma característica de praticamente todos os
"campos disciplinares" no período contemporâneo, especialmente com a crescente
especialização. Na verdade, isso tem sido um aspecto inerente à história do conhecimento na
civilização ocidental, sobretudo a partir da Modernidade, o que não impede que os efeitos mais
criticáveis da hiper-especialização sejam constantemente compensados pelos movimentos
interdisciplinares e transdisciplinares, voltados para uma "religação dos saberes" em um mundo
no qual os campos de produção de conhecimento vivem a constante ameaça do isolamento.
Neste sentido, há três aspectos fundamentais a serem considerados quando se fala na
constituição de um "campo disciplinar" – eles se relacionam ao fato de que nenhuma disciplina
adquire sentido sem que desenvolvam ou ponham em movimento certas teorias, metodologias
e práticas discursivas. Mesmo que tome emprestados conceitos e aportes teóricos originários de
outros campos de saber, que incorpore métodos e práticas já desenvolvidas por outras
disciplinas, ou que se utilize de vocabulário já existente para dar forma ao seu discurso, não
existe disciplina que não combine de alguma maneira Teoria, Método e Discurso.
Por outro lado, um campo disciplinar não se desenvolve no sentido de possuir apenas
uma única orientação teórica ou metodológica, mas sim de apresentar um certorepertório
teórico-metodológico que é preciso considerar, e que se torna conhecido pelos seus praticantes,
gerando adesões e críticas variadas.
O desenvolvimento de um campo disciplinar acaba gerando uma linguagem comum
através da qual poderão se comunicar os seus expoentes, teóricos, praticantes e leitores. Há até
14
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 23-24.
15
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p. 26.
História. 10
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
campos disciplinares que acabam gerando certo repertório de jargões, facilmente reconhecidos,
mesmo externamente. De todo modo, qualquer campo se inscrevendo em certa modalidade de
Discurso, por vezes com dialetos internos. É por isso que não é possível a ninguém se
transformar em legítimo praticante de determinado campo disciplinar se o iniciante no novo
campo de estudos não se avizinhar de todo um vocabulário que já existe previamente naquela
Disciplina, e através do qual os seus pares se intercomunicam.16
À questão da Interdisciplinaridade, ao se colocarem em contato dois campos disciplinares
(seja de forma interdisciplinar ou transdisciplinar) podem enriquecer sensivelmente um ao
outro nos seus próprios modos de ver as coisas e a si mesmos. Particularmente a História, no
decorrer do século XX e além, foi beneficiada por uma longa história de contribuições
interdisciplinares às concepções e abordagens dos historiadores. A Geografia, a Antropologia, a
Psicologia, a Linguística, etc., estiveram fornecendo frequentemente conceitos e metodologias
aos historiadores, e certos desenvolvimentos em campos como História Cultural ou a História
das Mentalidades não teriam sido possíveis, certamente, sem os respectivos diálogos
interdisciplinares com a Antropologia e com a Psicologia.
Obviamente, não é possível pensar uma disciplina sem admitir o seu lado de fora, uma
zona de interditos ou aquilo que se coloca como proibido aos seus praticantes. O exterior de um
campo de saber é tão importante para uma disciplina como aquilo que ela inclui, como as
teorias e métodos que ela franqueia aos seus praticantes, como o discurso que ela torna
possível, como as escolhas interdisciplinares estimuladas ou permitidas. O que se interdita em
uma disciplina, como tudo mais, também é histórico, sujeito a transformações, e as temáticas e
ações possíveis que um dia estiveram dentro de certo campo disciplinar podem ser
processualmente deslocadas para fora, como também algo do que estava fora também pode vir
para dentro, para um espaço de inclusão legitimado pela rede de praticantes da disciplina.
Existe de fato uma densa e complexa rede humana, constituída por todos aqueles que já
praticaram ou praticam a disciplina considerada e pelas suas realizações – obras, vivências,
práticas realizadas – e também isto é certamente tão inseparável da constituição de um campo
disciplinar que poderíamos propor a hipótese de que a entrada de cada novo elemento humano
em certo campo disciplinar já o modifica em alguma medida, da mesma maneira que cada obra
produzida sobre um campo de saber ou no interior desse mesmo campo de saber já o modifica
em menor ou maior grau, às vezes indelevelmente, às vezes tão enfaticamente a ponto de se
tornar visível o surgimento de novas direções no interior desse campo disciplinar.
Ao se falar em uma "rede humana" para cada campo disciplinar, também temos de ter
em vista, é claro, que essas redes encontram-se frequentemente interferidas por uma "rede
institucional" (universidades, institutos de pesquisa, circuitos editoriais de revistas científicas,
16
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 28-29.
História. 11
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
etc.), e também por uma constelação de grupos de pesquisa e outras formas de parcerias e
associações dentro da qual essa vasta rede humana também se acomoda de uma maneira ou de
outra. A rede humana do campo disciplinar, dessa forma, assume aqui a forma de uma
"comunidade científica".17
Conforme Michel Foucault já fez notar com especial nitidez em seu ensaio A ordem do
discurso18, nem todos podem dizer tudo o tempo todo, o que nos remete mais uma vez à
questão dos ditos e interditos permitidos e hierarquizados por um campo disciplinar. A rede de
discursos que constitui uma das dimensões integrantes do campo disciplinar é também, ela
mesma, uma rede de textos e realizações, em dinâmica de interconexão.
Também Michel de Certeau, que examinou os desdobramentos deste campo disciplinar
que é a História, em seu clássico texto A operação historiográfica 19, procura mostrar como cada
realização empreendida por cada historiador coparticipante da rede historiográfica enunciativa
termina por fazer emergir "uma operação que se situa em um conjunto de práticas".
A certa altura de seu amadurecimento como campo disciplinar, começam a ser
produzidos, cada vez mais frequentemente no seio do próprio campo de saber em constituição,
os "olhares sobre si". Começam a surgir, elaboradas pelos próprios praticantes da disciplina, as
"histórias do campo'', aqui entendidas no sentido de narrativas e análises elaboradas pelos
praticantes do campo disciplinar acerca da própria rede de homens e saberes em que estão
inseridos. Compreender-se historicamente é o resultado mais visível desse "olhar sobre si".
Temos, então, dez dimensões importantes nesta caminhada para tentar compreender
uma disciplina, qualquer que ela seja: o seu campo de interesses (1), a sua singularidade (2), os
seus campos intradisciplinares (3), o seu padrão discursivo (4), as suas metodologias (5), os seus
aportes teóricos (6), as suas Interdisciplinaridades (7), os seus interditos (8), bem como a
extensa "rede humana" (9) que, através de suas realizações, empresta uma forma e dá
concretização ao campo disciplinar, sem contar o "olhar sobre si" que essa mesma rede
estabelece a certa altura de seu próprio amadurecimento (10).
Torna-se importante, portanto, compreender adicionalmente que cada uma das dez
dimensões atrás citadas, além de interligada às demais, está mergulhada ela mesma, por inteiro,
na própria história. Os padrões interdisciplinares se alteram, os desdobramentos
intradisciplinares se multiplicam ou se restringem, as teorias se redefinem, as metodologias se
recriam, o padrão discursivo se renova, os interditos são rediscutidos, e mesmo algo da
singularidade que permite definir uma "matriz disciplinar" no interior da rede de saberes pode
17
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 30-33.
18
Cf.FOUCAULT, 1996.
19
Cf. DE CERTEAU, 1982.
História. 12
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
sofrer variações mais ou menos significativas à medida que surgem novos paradigmas e
contribuições teórico-metodológicas. Cada campo de saber está constantemente produzindo
novos “olhares sobre si mesmo” de acordo com as transformações que se dão dentro e fora do
campo – do contexto histórico-social às transformações teóricas e tecnológicas. Tudo é
histórico, enfim, e essa máxima é também válida para todo o conjunto de elementos daquilo
que vem a constituir um determinado campo disciplinar.
Uma vez tornado visível e reconhecido como novo espaço cientifico ou forma de
expressão, cada campo disciplinar (ou cada campo de saber, dito de outra maneira), passa a se
constituir em patrimônio de todos os que podem ou pretendem praticá-lo. Esse imenso
universo ou sistema que constitui um campo disciplinar, de todo modo, é anônimo, não
pertence especificamente a ninguém, embora dele nem todos possam se apossar.20
Conforme ressalta Foucault, um campo disciplinar depende de desencadear expansões
para existir, isto é, para que haja disciplina é preciso, pois, que haja possibilidade de formular e
de formular indefinidamente, proposições novas.21
Portanto, a História (campo de conhecimento) jamais será constituída por tudo o que se
pode dizer de verdadeiro sobre a história (campo dos acontecimentos). Para que uma
proposição pertença à disciplina História em certa época é preciso que essa proposição
responda às condições desta disciplina tal como a definem ou definiram os seus praticantes de
então. A História, como qualquer outra disciplina, estará sempre atraindo para dentro de si ou
repelindo para fora de suas margens determinado conjunto de saberes, proposições e domínios
que em momento anterior poderiam ter estado ali, e que em um momento subsequente da
história dos saberes e dos discursos já não estão.22
20
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 35-38.
21
FOUCAULT, 1996, p. 30.
22
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 39-40.
História. 13
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
História. 14
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
objetos ou processos muito singulares. Mas há também teorias sobre questões muito mais
amplas.23
A teoria é filha da Razão e irmã da Metodologia Científica. Não é uma forma melhor nem
pior de apreender o mundo ou de nele se movimentar é apenas uma forma específica. A teoria
corresponde a certa maneira de "ver" e de pensar sobre as coisas. A expressão ''teoria" deve
estar associada a um modo de ver que se estabelece processualmente através da razão
discursiva (isto é, de uma verbalização que se impõe passo a passo) bem como através de
mediações várias entre o sujeito e o objeto "contemplado". É importante se ter em vista que o
processo de elaboração teórica é contínuo e circular, de modo que nele estarão sempre
reaparecendo estes diversos mediadores – os conceitos e a linguagem de observação que darão
certa consistência à leitura da realidade trazida pelo sujeito que produz o conhecimento, as
hipóteses que serão formuladas, os procedimentos argumentativos e comprovações empíricas,
as análises encaminhadas através da demonstração, e a verbalização dos resultados através de
uma forma específica de discurso, racionalizada.
Para deixar mais claro, podemos enumerar esses “mediadores teóricos”: a) Hipóteses; b)
Procedimentos argumentativos; c) Demonstrações (por exemplo, através de procedimentos
analíticos); d) Verbalização dos resultados; e) Linguagem de observação; e f) Conceitos.
O fato é que a Ciência opera essencialmente no "modo teórico", e é por essa via que
tendemos a seguir quando praticamos uma disciplina que se pauta por algum padrão de
cientificidade. A Teoria, associada ao Método, é a principal forma de obter conhecimento aceito
pela Ciência. 24
Desde o início do século XX, e incluindo as próprias ciências exatas e da natureza,
cientistas como Albert Einstein e filósofos como Karl Popper, começaram cada vez mais a
chamar atenção para o fato de que é a “nossa” Teoria que decide o que podemos observar, ou
como observar. A teoria transforma a realidade observada, ou ao menos revela certos aspectos
de uma realidade observada e não outros, conforme essa teoria seja construída de uma maneira
ou de outra, ou a parir de certos pontos de vista e parâmetros. O que se pode perceber da
realidade acha-se francamente interferido pelo ponto de vista do sujeito que produz o
conhecimento.25
Paul Veyne, em seu livro Como se escreve a História26, já chamava a atenção para o fato
de que "a formação de novos conceitos é a operação mediante a qual se produz o
23
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 40-48.
24
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 53-55.
25
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 60-63.
26
Cf. VEYNE, 1998.
História. 15
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
27
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 64-67.
História. 16
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
História. 17
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
28
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 69-73.
História. 18
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
coisas bem distintas, da mesma maneira que "ver" e "fazer" são atitudes verbais e práticas
diferenciadas, embora possam se interpenetrar.
Um ponto interessante que pode ser ressaltado para o caso da Teoria é que pode existir
uma grande diversidade de teorias possíveis para qualquer objeto de investigação ou para
qualquer campo de conhecimento examinado, e que as diversas teorias podem se contrapor, se
sucederem ou se sobreporem umas às outras.Uma vez que cada teoria propõe ou se articula a
uma determinada "visão de mundo", e ela também corresponde à formulação de determinadas
perguntas e, consequentemente, abre espaço a um certo horizonte de respostas. Na mesma
medida em que as teorias se diversificam, também variam muito as respostas proporcionadas
por cada teoria em relação a uma certa realidade ou objeto examinado. 29
Thomas Kuhn, autor do célebre livro A estrutura das revoluções científicas 30, de 1962, já
considerava que uma teoria frequentemente se afirma em detrimento de outra, precisamente
porque responde a algumas questões que a outra teoria não respondia. Nessa perspectiva, as
mudanças de teoria (ou as opções por uma ou outra teoria) ocorrem porque uma teoria passa a
satisfazer mais do que outra, isto é, porque as questões a que a nova teoria adotada dá resposta
começam a ser consideradas mais importantes ou relevantes pelo sujeito que produz o
conhecimento. Dito de outra maneira, cada teoria, ao corresponder ou ao equivaler a uma
determinada visão de mundo, permite que sejam formuladas certas perguntas e,
frequentemente, uma nova teoria contrasta com as teorias anteriores que abordaram esta ou
aquela questão precisamente pela sua capacidade de colocar novas perguntas.
O pensar no "modo teórico" deve se amparar, nos dias de hoje, em certos procedimentos
e pressupostos que foram reforçados pelo padrão de cientificidade da vida moderna. A "teoria"
sem demonstração, sem encadeamento coerente de suas partes, sem verificabilidade, pode se
converter meramente em um conjunto de "conjecturas", pelo menos de acordo com o
pensamento que passou a predominar no mundo contemporâneo. A Ciência, compreendida
como forma específica de produzir conhecimento, pode ser identificada a partir da co-presença
de alguns aspectos que lhe são inerentes. Deve antes de tudo visar e constituir um
conhecimento a ser produzido sistematicamente, com rigor metodológico. O saber científico
também deve ultrapassar, necessariamente, o mero nível descritivo ou narrativo, de modo a
fornecer explicações ou "sistemas para a compreensão" acerca dos fenômenos que examina.
Em última instância, não busca, a Ciência, no seu sistemático processo de produzir o
conhecimento, fornecer valorações éticas ou que tenham por escopo final julgar os fenômenos
observados de acordo com algum ponto de vista moral (tal como ocorre com a Ética ou com a
Religião). Sobretudo, trata-se de um conhecimento demonstrado, tanto a partir de uma lógica
29
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 75-77.
30
Cf. KUHN, 1998.
História. 19
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
argumentativa, como no que se refere à comprovação de dados que lhe sirvam de base
informativa. É por fim, e este é um dos seus aspectos mais definidores, um conhecimento que
deve ser "testável", isto é passível de ser verificável ou percorrido mais de uma vez por qualquer
pesquisador que se proponha a seguir todos os passos da pesquisa original. Para tanto, o
conhecimento produzido cientificamente deve explicitar necessariamente o "caminho'' e os
"pressupostos" que permitiram que o mesmo fosse produzido (o "método" e também a "visão
de mundo", isto é, a "teoria", que o sustenta), assim como deve esclarecer as condições de
produção do conhecimento em questão.
Portanto, a História, desde o momento em que postulou se tornar científica, ou ao menos
se pôs a dialogar com as sociedades científicas, trouxe para o centro de suas preocupações um
extremo cuidado em indicar as suas fontes. Essa é uma questão "metodológica" da maior
importância para a História. É através da indicação das fontes utilizadas por um historiador que
um outro, que deseje submeter o seu trabalho à prova, poderá percorrer o mesmo caminho
traçado pelo primeiro pesquisador. A fonte está na base da dimensão de verificabilidade
possível à História. Se na Química o pesquisador pode repetir em laboratório a experiência
produzida pelo primeiro pesquisador, na História se deve assegurar que todos tenham acesso às
fontes examinadas. Faz parte da ideia de teoria a possibilidade de demonstração (de confirmar
ou de extrair consequências daquilo que é formulado). Para estarmos no âmbito da Teoria
também é necessário que o que se formula teoricamente seja submetido a um diálogo com
outras proposições teóricas, seja para reforço ou para refutação. Por isso as diversas teorias
relacionam-se, por contraste ou por interação, no interior de um campo de conhecimento mais
vasto, que é o campo científico que se tem em vista. 31
31
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 80-83.
História. 20
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
5. O PARADIGMA HISTORIOGRÁFICO
Pertencem ao âmbito da teoria da história os grandes paradigmas historiográficos e os
sistemas teóricos mais amplos que se destinam a encaminhar a compreensão e análise
historiográfica. Os paradigmas Positivista, Historicista e o Materialismo Histórico, entre outros,
pertencem ao quadro de grandes correntes teóricos disponíveis aos historiadores (embora
frequentemente essas correntes também envolvam aspectos metodológicos). 32
Mas o que é um paradigma? Ora, paradigma é um conceito das ciências e da
epistemologia (a teoria do conhecimento) que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a
representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma
teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica
com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de
modelo para estudos e pesquisas.
Como dito alhures, a segunda metade do século XVIII é um momento de passagem
importante para um novo momento na historiografia, até o século XIX, quando se consolidará a
historiografia científica. Esta metade de século em que surgem as "filosofias da história" é como
que uma antessala para algo ainda mais inovador, que será o ambiente de surgimento das
"teorias da história" ainda na primeira metade do século XIX. Estes dois momentos da
historiografia, embora distintos, fazem parte de um mesmo movimento que já podemos situar
no ambiente de uma nova era historiográfica.
Embora fosse já antiga a prática da historiografia, ou de vários tipos de pesquisa e de
elaboração de textos assemelhados à historiografia, surgiria efetivamente em fins do século
XVIII a primeira formulação do conceito atual de história, entendida como um “singular-
coletivo”, isto é, como a interação de todas as experiências humanas, desaparecendo a
tendência a se falar em “histórias”, no plural, separadas umas das outras. Essa mudança
semântica anuncia efetivamente os novos tempos: a partir de então um mesmo conceito –
"História" passaria a designar simultaneamente a realidade vivida (a história enquanto processo
de acontecimentos) e a reflexão sobre esta realidade vivida (a historiografia produzida pelos
historiadores na sua narração ou análise da história). Daqui em diante, a História passará a
carregar o nome de sua carne.
O novo tipo de historiador extrairá parte de suas inspirações e traços essenciais não
apenas dos filósofos, como também dos teólogos e filólogos; além do que, é claro, aquilo que
naturalmente se extrairá dos antigos praticantes de gêneros cronísticos e proto-historiográficos.
32
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p. 70.
História. 21
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
As interessantes observações da filósofa Hannah Arendt 33 sob uma sutil mudança que ocorria
pela mesma época (fins do século XVIII) na própria história da Filosofia, pois esta mudança no
ambiente mental dos filósofos vai de fato ao encontro da emergência da nova mentalidade
historiográfica que já vinha surgindo por outras vias. Arendt observou que a história do
chamado "pensamento filosófico ocidental" conheceu três grandes épocas, a saber:
1) Era filosófica– extraordinariamente extensa na história do pensamento ocidental, no que
concerne a esta questão específica que seria a determinação da principal tarefa do
filósofo, seria aquela que foi atravessada por uma filosofia que valorizava
prioritariamente a Metafísica. Teríamos aqui aquela filosofia que, desde Platão e
Aristóteles, havia fixado como tarefa maior e mais nobre da Filosofia investigar as "causas
primeiras" (isto é, aquelas que estão acima do mundo humano, que se referem às
reflexões sobre o próprio Ser enquanto Ser, examinado como se estivesse fora da história
e do fugaz e revolto mundo humano). De Aristóteles até fins da Idade Média, passando
pelos tomistas, esta teria sido a tônica maior da história da Filosofia que precede o
período moderno.
2) Primeira Modernidade– os séculos XVI e XVII trarão, em seguida, a ''primeira
modernidade''. A "primeira modernidade" se traduz efetivamente em mudanças
importantes na história do pensamento filosófico com relação a esta questão específica,
isto é, "qual seria a principal tarefa do filósofo?". Do inquérito metafísico sobre as causas
primeiras, a tarefa maior e mais nobre da Filosofia passa a ser vista, nos séculos XVI e
XVII, como aquela que é cumprida pelas Teorias Políticas. De Maquiavel (1469-1527) a
Locke (1632-1704) e a Hobbes (1469-1527), há fartos exemplos. A Filosofia, já desde a
primeira modernidade, passa a ser preocupar enfaticamente com o mundo humano, com
a sua organização política, com o mundo da "ação". Não que esta Filosofia como na
Filosofia da Antiguidade também se tratou muito do "Político''), mas sim que, neste novo
período, o ''Político" é que passa a ser enfatizado como a temática mais importante.
3) Segunda Modernidade– O último terço do século XVIII (coincidindo precisamente com o
período que JornRusen qualificará como do surgimento de uma nova era historiográfica)
assistira ao "concomitante" declínio do interesse pelo puramente político". Diante do
portal que introduz, no século XIX, a "segunda modernidade". Esta já nasce, por assim
dizer, distintivamente marcada pela "consciência histórica”. De uma maneira até então
inédita a História passa a contaminar a Filosofia, toda ela se torna histórica, e se auto
percebe como mergulhada na história. Esta é pelo menos a tendência geral, da qual
Hegel nos oferecerá o mais bem acabado exemplo.34
33
ARENDT, 2009, p. 101apudD'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 45.
34
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 43-50.
História. 22
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
História. 23
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
grande busca de leis ou generalizações. Almejavam compreender, na História, o que estava por
trás da própria História. Haveria "leis" presentes por trás do desenvolvimento das sociedades
humanas, tal como havia leis que regiam os fenômenos físicos? Esta busca também foi a dos
positivistas no século seguinte.
Já os primeiros românticos do século XVIII, e mais tarde os historicistas do XIX, não
estavam propriamente interessados em leis gerais, em grandes generalizações que permitissem
compreender a história como um desenvolvimento único e sob a perspectiva de uma
universalidade que abarcasse toda a humanidade. Essencialmente, buscavam na história as
singularidades, as diversidades, a especificidade de cada sociedade ou processo histórico. Sua
perspectiva historiográfica, em uma palavra, seria "particularizante", e não "universalizante".
Quanto à pergunta metodológica (''que estratégias cognitivas deveriam ser utilizadas
para lidar com a experiência do passado?”), as respostas foram também várias, mas a mais
consistente seria trazida pelos historicistas que se afirmariam a partir do início do século XIX: a
historiografia deveria desenvolver métodos sistemáticos de críticas das fontes, das evidências
que registravam as experiências do passado humano. Este trato sistemático das fontes ficaria
conhecido como "Crítica Documental", e foi de fato uma das maiores contribuições do
Historicismo dos primeiros tempos – e da Escola Histórica Alemã em particular – ao
desenvolvimento da historiografia como um todo.
Outras duas contribuições, para além da própria difusão do paradigma historicista, foram
a inserção e consolidação da História como disciplina universitária, e a instituição da figura do
historiador profissional como aquele sujeito humano que, legitimamente, poderia tomar a seu
cargo a tarefa da escrita da História com base em uma rigorosa especialização laboriosamente
conquistada. A nova figura do historiador profissional logo passaria a se contrapor à do sábio
erudito que, entre inúmeros outros interesses, já vinha escrevendo no século XVIII também as
suas obras historiográficas, a exemplo de filósofos iluministas como Voltaire, Montesquieu ou
David Hume. De igual maneira – em que pese que eventualmente as ''teorias da história" do
século XIX achem-se eventualmente impregnadas de alguma ''filosofia da história" (como o
Positivismo comtiano ou a perspectiva da marcha teleológica da civilização para o socialismo
que se acha inserida no materialismo Histórico de Marx e de Engels) o historiador do século XIX,
o "historiador científico", passa a se dedicar cada vez mais ao exame do concreto vivido trazido
pelas suas fontes, e a se distanciar cada vez mais das perspectivas teleológicas daquelas
"filosofias da história" que buscavam antecipar um futuro e refletir essencialmente sobre o
sentido e o ponto de chegada da história, mais do que sobre a história em si mesma. 35
35
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 53-55.
História. 24
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
O historiador profissional que surge no século XIX, e que seguirá pelos séculos
posteriores, estará muito claramente ocupado em sedimentar as suas reflexões em evidências,
e em se afastar de especulações não comprováveis ou sem alguma base empírica.
Em face da necessidade de estabelecer um método que o tornasse capaz de atingir a
essencialidade do processo histórico ou da experiência humana examinada, passaram a ocupar
uma centralidade fundamental para a produção do conhecimento histórico estes materiais,
vestígios ou evidências de todos os tipos que vão sendo deixados pelas sucessivas épocas e pela
a ação humana através do tempo. Em uma palavra: a ideia de História, no sentido moderno,
passa a ser quase que automaticamente associada ao conceito de ''Fonte Histórica", embora a
definição sobre o que poderia ou não ser considerado como fonte histórica tenha passado por
sucessivas transformações ao longo do desenvolvimento da historiografia, em geral na direção
de uma gradual expansão que terminaria por abarcar um universo praticamente infinito de
possibilidades. Desde então, destacam-se dois elementos entre aqueles que mais habitualmente
associamos à matriz disciplinar que constitui este campo de conhecimento que denominamos
História: a Fonte Histórica, e a referência ao Tempo.
História. 25
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
36
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 63-65.
História. 26
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
Os Positivistas contam de fato com toda uma fortuna crítica que inclui as já clássicas
discussões iluministas em torno de questões que lhes seriam caras: (1) a possibilidade de um
conhecimento humano inteiramente objetivo; (2) a construção de uma história universal,
comum a toda a humanidade; (3) a possibilidade de amparar um conhecimento científico sobre
as sociedades humanas com base na ideia de imparcialidade do sujeito que produz o
conhecimento. Estes três princípios, no que apresentam de mais essencial, sustentam-se sobre a
noção de que haveria uma "natureza imutável do Homem''. São estes fundamentos, que já
vinham sendo discutidos há muito pelo pensamento Ilustrado, que o Positivismo tomaria para
si, emprestando-lhes uma nova coloração. Por isso, podemos dizer que, no essencial das
questões que irá colocar a si mesmo, o Positivismo já inicia o século XIX com um quadro
bastante claro de seus posicionamentos.
Naturalmente que a ideia de uma "imparcialidade absoluta'' será sempre um problema. O
Iluminista, contudo, via a si mesmo como um homem desprovido dos ''preconceitos'' que
seriam tão típicos da Igreja, dos partidários da Monarquia Absoluta, dos defensores dos
privilégios da Aristocracia, ou mesmo do povo mais humilde, por estar sujeito à ignorância que
lhe impunham aqueles que o dominavam. O Homem ilustrado, burgueses e intelectuais, livres
de preconceitos e dotados de pensamento crítico, estaria apto a enxergar as coisas como elas
são, sendo esta a ideia que seráretomada mais tarde pelo Positivismo. Além disso, a noção de
progresso e linearidade histórica também emergem do pensamento iluminista, ao passo que
conservavam a ideia de que o transcurso das ações dos homens no tempo constituía um
acumulo de experiências (como nas ciências naturais) que vão sendo selecionadas e guiadas de
forma teleológica, objetivando alcançar sempre o aperfeiçoamento da humanidade. 37
Já para os primeiros historicistas, como dito, nada de fato estava propriamente pronto no
início do século XIX. O Historicismo ainda precisará construir a si mesmo, estendendo
contribuições diversas em um arco que irá de Ranke – ainda preocupado em ''narrar os fatos tal
como eles aconteceram'' – até Droysen e Dilthey, historicistas relativistas que já se ocupam em
trazer à historiografia uma reflexão sobre a subjetividade do próprio sujeito que constrói a
História, bem como sobre a singularidade do padrão metodológico a ser encaminhado pela
Historiografia: um padrão "compreensivo'' e não ''explicativo'' como nas ciências naturais. Esta
mesma discussão estende-se através do século XX, chegando a nomes como Gadamer, Paul
Ricoeur e outros historicistas modernos, como Marrou. 38
Para deixar mais claro, a distinção fundamental entre Positivistas e Historicistas, de um
lado, refere-se ao contraste de suas perspectivas sobre o Homem – percebido como uma
natureza imutável, pelos positivistas, e como um ser em movimento e em processo de
37
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 66.
38
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 67.
História. 27
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
39
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 68-71.
História. 28
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
História. 29
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
7. MATERIALISMO HISTÓRICO
O Materialismo Histórico é uma abordagem metodológica dedicada ao estudo da sociedade,
da economia e da história que foi elaborada originalmente por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich
Engels (1820-1895), apesar de eles próprios nunca terem empregado essa expressão. Em todo
caso, Marx e Engels foram os criadores de uma nova forma de compreensão da sociedade que
permitiu superar tanto o idealismo como o materialismo do seu tempo. Essa nova abordagem
desvelou o caráter limitado e a natureza mistificadora da filosofia e da economia política burguesa.
Dessa forma, com o propósito de estudar histórica e cientificamente a sociedade de sua época,
Marx e Engels começaram por criticar as teorias existentes, para então e formularem uma nova
forma de interpretação da realidade. É nesse sentido que, analisando as teorias dos idealistas, dos
metafísicos, dos materialistas ingênuos, representantes do pensamento burguês, eles elaboraram
uma explicação radicalmente oposta.
A partir da análise das teorias sociais existentes, Marx e Engels realizaram a ruptura com o
pensamento de vários teóricos. Entre eles, o pensamento de Hegel (1770-1831), filósofo alemão
que acreditava que a ideia constitui-se a própria realidade, ou seja, que são os pensamentos, as
ideias, que determinam a vida material; e o pensamento de Feurbach (1804-1872), que dizendo-se
materialista, toma a essência genérica do homem como ponto de partida da história, admitindo a
existência do indivíduo isolado, abstraído do seu contexto histórico. Além desses dois pensadores,
Marx faz também, severas críticas a Proudhon (1809-1865) que, devido à sua concepção pequeno-
burguesa, analisa as relações sociais capitalistas como imutáveis.
Portanto, vale perguntar: se Marx critica esse materialismo existente até então, como ele vê
o indivíduo? Qual o conceito de história que ele propõe? Em que consiste o Materialismo Histórico
proposto por Marx e Engels? Ora, o materialismo histórico procura as causas de desenvolvimentos
e mudanças na sociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzem
coletivamente as necessidades da vida. As classes sociais e a relação entre elas, além das
estruturas políticas e formas de pensar de uma dada sociedade, seriam fundamentadas em sua
atividade econômica. O materialismo histórico, na qualidade de sistema explanatório, foi
expandido e refinado por milhares de estudos acadêmicos desde a morte de Marx.
Na obra A Ideologia Alemã, escrita conjuntamente por Marx e Engels, a ruptura com o
filósofo Feuerbach, o principal expoente da filosofia neohegeliana, ocupa lugar central. Discordam
enfaticamente do princípio de que é o pensamento quem determina e direciona a vida humana, de
que as ideias, os princípios, os pensamentos, são os determinantes da forma de ser dos homens.
Nessa análise de Feuerbach é a consciência que determina a vida, sendo assim, “a Ideia constitui-
se a própria realidade, na medida em que o mundo real nada mais é que a exteriorização
História. 30
www.estrategiaconcursos.com.br 160
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
deliberada da Ideia. Decorre daí que o pensamento não depende das coisas mas estas é que
dependem dele” 40.
Nessa perspectiva, não se leva em consideração a história real, em vez de ser interpretado
como produto do trabalho humano, o homem é concebido como fruto do seu próprio
pensamento. É, portanto, abstraído do seu contexto histórico, das relações sociais estabelecidas na
produção da vida material. Assim, parte-se do que os homens dizem, representam ou imaginam e
não dos homens em seu processo real de vida.
Feuerbach, concebe o real apenas como objeto sensível. Não concebe assim, o homem em
sua conexão social com outros homens e com a natureza, não chega aos homens ativos, existentes,
produtores de sua própria existência, ele fica só na abstração do homem. “Na medida em que
Feuerbach é materialista, não aparece nele a história e, na medida em que toma a história em
consideração, não é materialista. Materialismo e história aparecem completamente divorciados
nele”.41
Além disso, Marx também deixa claro que se diferencia de Hegel, a sua fundamentação
teórica e o seu método dialético não só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese direta.
Para Hegel, o processo de pensamento, que ele, sob o nome de ideia, transforma num sujeito
autônomo, é o demiurgo do real, real que constitui apenas a sua manifestação externa. “Para mim,
pelo contrário, o ideal não é nada mais que o material transposto para a cabeça do homem e por
ela interpretado” 42. Marx distancia-se do modo hegeliano abstrato e a-histórico de entender o
homem, ao afirmar que não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a
consciência. Quando Marx fala da produção da vida, ele está tratando de uma atividade produtiva
concreta que decorre da maneira de viver do homem. Esta noção de produção do homem pelo
trabalho ocupa um papel de suma importância no seu pensamento. É da produção que ele parte
para explicar a própria sociedade, é pela produção que se entende o caráter social e histórico do
homem.
Para Marx, as explicações para as questões postas na sociedade devem ser buscadas na
práxis material dos homens. A categoria da práxis ocupa lugar central na teoria marxiana, por isso,
toma a produção da vida material como ponto de partida: “Indivíduos produzindo em sociedade –
portanto uma produção de indivíduos socialmente determinada, este é, naturalmente, o ponto de
partida”43. A leitura de Marx é uma leitura da realidade social e a categoria de práxis ocupa um
lugar fundamental em sua obra. É precisamente sobre a concepção do homem como ser prático e
40
MARCUSE, 1978, p.19apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 2.
41
MARX, 1986, p. 40apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 2.
42
MARX, 1983, p. 20apudSOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 2.
43
MARX, 1983, p. 201apudSOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 4.
História. 31
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
social que repousa na ideia capital do trabalho como forma modelar de práxis, vale dizer, o único
modo de criação, é precisamente a partir dessa concepção que Marx elabora a sua teoria da
história.
Portanto, podemos dizer que, do ponto de vista de Marx e Engels, as relações sociais de
produção são construídas a partir das condições materiais existentes. É o entendimento dessas
condições que permite a compreensão de todas as questões humanas. Dessa forma, a base da
sociedade está no trabalho. O trabalho em Marx é uma categoria essencial que permite além de
explicar o mundo e a sociedade, explicar também a própria constituição do homem, um ser que
pelo trabalho se constituiu homem. Para Marx, o trabalho é um processo entre o homem e a
natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu
metabolismo com a natureza. Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de
trabalho. A ideia é que o trabalho pertence exclusivamente ao homem. No fim do processo de
trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e
portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural;
realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural, o seu objetivo. Os elementos simples do processo de
trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios. O
processo de trabalho é a atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação
do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o
homem e a natureza, condição eterna da vida humana e, portanto, comum a todas as suas formas
sociais.44
O trabalho é apontado por Marx como a primeira necessidade humana, a partir da
satisfação dessa necessidade, outras vão sendo criadas no interior do processo de produção. Nesse
sentido, todas as questões humanas são produtos do trabalho, e só podem ser compreendidas no
contexto em que foram produzidas. Podemos afirmar então que, em suas análises, Marx parte dos
indivíduos reais, produtores de suas ações, de suas condições de vida, de suas ideias. Assim é que,
produzindo seus meios de vida, produzem sua própria vida material. "Tal como os indivíduos
manifestam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto
com o que produzem, como o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende
das condições materiais de sua produção"45.
Para tanto, Marx diz que existe uma única ciência, a da história, que pode ser examinada
sob dois aspectos: a história da natureza e a dos homens. Essas duas são inseparáveis e coincidem
reciprocamente. Para ele, o homem é um ser natural, criado pela própria natureza e que está
sujeito as suas leis. Mas, ao mesmo tempo, o homem não se confunde com a mesma natureza de
que ele faz parte, transformando-a conscientemente segundo suas necessidades. É no processo de
44
MARX, 1983apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.
45
MARX 1986, p.28apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.
História. 32
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
busca da satisfação de suas necessidades materiais que o homem trabalha, criando a si mesmo e à
sua história nesse processo.
Para Marx, a história não é um movimento linear, não é determinista, ela se dá através de
contradições, de antagonismos e conflitos, enfim, é um campo aberto de possibilidades: “Os
homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob
circunstâncias de sua escolha e sim sob aquela com que se defrontam diretamente, legadas e
transmitidas pelo passado”.46
A busca pela satisfação das necessidades vitais para a manutenção da vida humana faz com
que os homens produzam os meios de satisfazê-las, esse é para Marx o primeiro ato histórico.
Desse modo, a satisfação dessas necessidades leva a outras. A própria divisão do trabalho por
exemplo, se deu a partir das necessidades reais desses homens que produziam em sociedade.
Assim, o próprio mundo sensível é um produto histórico, o resultado da atividade de toda uma
série de gerações.
Nas palavras de Marx: “A história nada mais é do que a sucessão de diferentes gerações,
cada uma das quais explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas
pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado prossegue em condições completamente diferentes
a atividade precedente, enquanto, de outro lado, modifica as circunstâncias anteriores através de
uma atividade totalmente diversa” 47.
Nesse contexto, a consciência do homem pode ser entendida como fruto do seu trabalho, já
que na produção social da própria vida os homens estabelecem determinadas relações que, por
sua vez corresponde a uma certa etapa de desenvolvimento das forças produtivas. O conjunto
dessas relações de produção formam a estrutura da sociedade que corresponde a formas sociais
determinadas de consciência. Sendo assim, o representar, o pensar, o intercâmbio espiritual,
aparecem como emanação do comportamento material dos homens.
A análise da realidade, portanto, deve se dar a partir da teoria da infraestrutura e
superestrutura que circundam um determinado modo de produção. Isto significa dizer que a
história sempre está ligada ao mundo dos homens enquanto produtores de suas condições
concretas de vida e, portanto, tem sua base fincada nas raízes do mundo material, organizado por
todos aqueles que compõem a sociedade. Os modos de produção são históricos e devem ser
interpretados como uma maneira que os homens encontraram, em suas relações, para se
desenvolver e dar continuidade à espécie. Segundo Marx, não é a consciência que determina a
vida, mas a vida que determina a consciência.
46
MARX, 1985, p.1apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.
47
MARX, 1986, p.70apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.
História. 33
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Marx deixa claro o método que está propondo para a história: é o método que parte dos
fenômenos reais – não se parte do que os homens dizem, representam ou imaginam, nem
tampouco do homem predicado, pensado, representado ou imaginado, para chegar, partindo
daqui, ao homem de carne e osso; parte-se do homem que realmente atua e, partindo de seu
processo de vida real, se expõe também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos
deste processo de vida. Tão logo se expõe este processo ativo de vida, a história real deixa de ser
uma coleção de fatos mortos, ainda abstratos, como o é para os empiristas, ou uma ação
imaginária de sujeitos imagináveis como o é para os idealistas. Ao propor o seu método, Marx
acredita que não está desenvolvendo um conhecimento contemplativo, mas um conhecimento
que implica na possibilidade de transformar o real. O real é um movimento contraditório, marcado
por conflitos e interesses antagônicos. A ciência da história deve buscar desvendar esse
movimento que é a base para a compreensão da economia, da história, da política, enfim, de
qualquer campo de estudo48.
Assim, o entendimento de qualquer fenômeno, implica em compreendê-lo a partir da
realidade concreta do qual faz parte. Além disso, Marx fala que as ideias da classe dominante são
em cada época as ideias também dominantes. A classe que tem em seu poder os meios de
produção, tem também em suas mãos os instrumentos de dominação, já que é a classe consciente,
pensante. A produção intelectual se transforma com a produção material. As ideias dominantes de
uma época sempre foram apenas as ideias da classe dominante. Por isso, que as ideias dominantes
expressam as relações que estão estabelecidas, ou seja, as relações materiais dominantes. Nesse
sentido, o Manifesto do Partido Comunista escrito por Marx e Engels, buscando superar o que está
posto, colocando as bases da teoria social de um novo socialismo e de uma política revolucionária,
que expressa teoricamente a perspectiva de classe proletária na qual o proletariado constitui-se
como sujeito histórico revolucionário.
A análise de Marx revela que, quando se desenvolvem as forças produtivas que a relação
capitalista de produção é capaz de conter, esta, de forma de desenvolvimento das forças
produtivas transforma-se no seu entrave. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças
produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes
ou, o que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das
quais aquelas até então se tinham movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas,
essas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução social.
Nesse contexto, manifesta-se com toda potência a contradição entre forças produtivas
sociais e a relação de produção. Se a ordenação da sociedade em classes distintas foi
historicamente necessária em decorrência do insuficiente nível de desenvolvimento das forças
48
MARX, 1986, p.37apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 6.
História. 34
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 35
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
49
DE CERTEAU, 1982.
50
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 58.
História. 36
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
51
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 59-60.
52
DROYSEN, 2009, p. 46apudD'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 62.
História. 37
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
53
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 63.
História. 38
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
54
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 11-15.
História. 39
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
55
BURKE, 1992, pp. 13-14.
56
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2010, p. 5.
História. 40
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
também os seus refundadores? Se representaram de fato uma Nova História, foram eles os únicos
setores da historiografia que puderam se auto perceber como uma Nova História? E quanto aos
setores estigmatizados pelos primeiros annalistas como uma “Velha História”, estavam todos
mergulhados, em sua inteireza, em uma velha história totalmente retrógrada e inadaptada aos
novos tempos? Estas perguntas podem ser colocadas provocativamente a respeito dos Annales, e
algumas delas se expressam em ambiguidades relacionadas à própria designação do movimento.
Frequentemente, quase como um sinônimo para a contribuição dos Annales ou para o tipo
de historiografia que se pretende que este movimento tenha inaugurado, é empregada a
expressão Nova História em seu sentido ampliado, o que inclui tanto a Escola dos Annales
propriamente dita como a corrente à qual, a partir dos anos 1970, muitos se referem também
como Nouvelle Histoire, mas agora em sentido mais restrito. Por outro lado, uma vez que os mais
recentes historiadores da Nouvelle Histoire muito habitualmente reivindicam uma herança
historiográfica que remete às duas primeiras gerações dos Annales, não é raro o uso da expressão
“Escola dos Annales” de modo a abarcar as diversas gerações de historiadores que têm como
referência a Revista dos Annales.
Para além do importante diálogo bibliográfico que já existe em torno dos Annales, é
fundamental considerar, antes de tudo, as fontes que revelam diretamente o pensamento dos
historiadores dos Annales. Afirmam-se aqui obras já clássicas, como: A apologia da História, de
Marc Bloch; os Combates pela História, de LucienFebvre; os ensaios de Fernand Braudel incluídos
na obra A escrita da história; o ensaio Território do historiador, de Ladurie; o livro História, ciência
social, de Pierre Chaunu; os ensaios reunidos por François Furet em 1982 sobre a rubrica A oficina
da história; ou ainda as grandes coletâneas coordenadas por historiadores da Nouvelle Histoire,
como Jacques Le Goff e Pierre Nora, entre os quais a coletânea Faire de I’Hisoireou a coletânea
Nouvelle Histoire.
Finalmente, a própria atuação de cada historiador ligado aos Annales, no exercício de sua
prática e elaboração de estudos históricos específicos, deixa entrever novas nuances. Obras como
Os Reis Taumaturgos, de Marc Bloch, o Rabelais de LucienFebvre, A crise da economia francesa no
Antigo Regime de Labrousse, O Mediterrâneo de Fernand Braudel, ou Sevilha e o Atlântico de
Pierre Chaunu, tornaram-se aqui páginas privilegiadas para a identificação de um novo e complexo
padrão historiográfico que iria deixar seus traços definitivos na história da historiografia. 57
No tocante ao programa comum partilhado pelos historiadores que se identificavam com a
Escola dos Annales, podemos identificar que alguns itens referem-se tanto à primeiras gerações de
historiadores dos Annales – as gerações Bloch-Febvre-Braudel – como aos historiadores ligados à
chamada Nouvelle Histoire, que reivindicam para si mesmos a herança do movimento, e
57
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 53-59.
História. 41
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
pretendem desenhar sua imagem como a de uma terceira e quarta gerações dos Annales. Outros
dos itens expostos indicam pontos de discordância entre esses blocos, como é o caso da oposição
entre a ideia de História Total, típica das duas primeiras gerações annalistas, e a Fragmentação
Temática que não é propriamente apresentada como um ponto programático pelos próprios
historiadores da Nouvelle Histoire, mas que tem sido indicada por alguns de seus críticos como
traço característico deste grupo historiográfico.
O primeiro item programático dos Annales a ser considerado – ao mesmo tempo
coincidindo com uma estratégia de projeção da escola no meio acadêmico, e com uma concepção
com a qual Bloch e Febvre pessoalmente já estavam sintonizados antes mesmo de seu encontro na
Universidade de Estrasburgo – é a interdisciplinaridade.
Esta orientação interdisciplinar tornou-se um dos itens mais importantes do programa de
História dos Annales, e continuaria tendo a mesma importância na época da geração de
historiadores franceses que se autodenominaria Nouvelle Histoire. Por outro lado, ao entrar em
contato com novos aportes e metodologias, com novos sistemas conceituais e mesmo com novas
linguagens, e, sobretudo, ao ampliar cada vez mais suas temáticas para além das instâncias da
política oficial, a História também iniciou um movimento de diversificação interna. A multiplicação
de campos interdisciplinares, ou a proliferação de identidades que pareciam diversificar por dentro
o saber histórico, surgiu como uma consequência quase natural para os historiadores que abriram
seus horizontes interdisciplinares, que ampliaram seus objetos de estudo, e que passaram a
trabalhar com novos tipos de fontes e problemas.
Podemos exemplificar o desenvolvimento de um campo mais sistemático que poderia ser
denominado História Econômica, oportunizado ao lado das realizações historiográficas ligadas ao
Materialismo Histórico, ainda por se desenvolver, e também de outras escolas de História
Econômica que já vinham se desenvolvendo em outros países. Além de uma História Política, os
historiadores agora poderiam pensar em uma História Econômica, assim como poderiam em breve
redefinir em novos termos um campo a ser conhecido como História Cultural. Alguns dos campos
históricos foram surgindo primeiro, em função de uma fortuna crítica pregressa ou de contextos
históricos específicos. A História Econômica, surgida junto a um campo ainda um tanto vago que
foi batizado de História Social, uma História Demográfica que emergia no próprio contexto das
expansões demográficas na primeira metade do século XX, uma nova forma de consideração do
espaço pelos historiadores que resultaria na consolidação de uma Geo-história, a promessa de
uma futura Psico-história incentivada pelo diálogo entre História e Psicologia – cada uma dessas
possibilidades começou a ser explorada atentamente pelos historiadores dos Annales, de modo
que a multiplicação de campos intradisciplinares confirmou-se como um item importante no
programa dos Annales.
História. 42
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
58
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 102-130.
História. 43
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
fotografia, um filme, ou, quando se trata de um passado mais longínquo, vestígios de pólen fóssil,
uma ferramenta, um ex-voto são documentos de primeira ordem para a História Nova. 59
Outro aspecto importante é acerca da transformação da noção de espaço. O espaço, é
importante dizer, não será tratado pela nova historiografia apenas como lugar no interior do qual
se acomoda o homem. Tal como Marc Bloch demonstrou em sua exemplar obra sobre os
Caracteres originais da história rural francesa (1931), o espaço também é construído pelo próprio
homem, a ação humana está constantemente remodelando a paisagem, dando ao espaço a face
humana que têm os campos de cultivo, e neles imprimindo sob forma visível sua própria história.
Daí que o espaço natural, nas mãos dos novos historiadores, pode se tornar fonte histórica com a
mesma legitimidade que um grande conjunto documental.
Obviamente que, como não poderia deixar de ser, esta história que enxerga seus objetos
num ponto, em uma linha, na profundidade – em outras palavras, esta história que percebe seus
objetos concretamente situados no espaço e impregnados de uma realidade que emana das três
dimensões do mundo físico, mesmo que seja preciso percebê-las por meio de fontes indiretas –,
tampouco não poderia deixar de lidar criativamente com a quarta dimensão: o tempo. Talvez
algumas das contribuições mais criativas dos Annales tenham sido as experimentações em torno
das novas formas de lidar com o tempo, e este item certamente faz parte de seu programa. O
mestre nestas realizações, certamente, foi o líder da segunda geração dos Annales: Fernand
Braudel. Com ele concretiza-se um item programático de vital importância para a Escola dos
Annales, que é a proposta de uma maior criatividade em relação ao tempo histórico. 60
Fernand Braudel, autor do estudo sobre o Mediterrâneo e Felipe II, no qual é possível
encontrar três formas de temporalidade diferentes: a primeira é referente a uma história quase
sem tempo (homem e ambiente); já a segunda uma história das estruturas civilizacionais dos
territórios banhados pelo mediterrâneo (tempo lento); a terceira uma história dos acontecimentos
(tempo curto). Em tal obra enfatizou a mudança das estruturas, desejando alcançar o
entendimento dos fatos em sua totalidade. Produziu um trabalho voltado para a longa duração,
característica marcante da segunda geração dos Annales.61
A linha de pesquisa de Braudel era baseada em tempos heterogêneos (temporalidades
diferentes), sendo ela a longa duração, o tempo conjuntural e o factual. O factual estava sujeito à
longa duração. Braudel teve considerável influência da Antropologia e criou uma entidade
interdisciplinar, a Maison desSciences de I’Homme (Casa das Ciências Humanas), onde passou a ter
59
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 140-141.
60
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 150-151.
61
REIS, 2012.
História. 44
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
contato com intelectuais, como Pierre Bourdieu e Claude Lévi-Strauss. Tal contato com a
Antropologia pôde promover, por parte de Braudel, um trabalho voltado para o estruturalismo.
Afirmando a crise das Ciências do Homem, que, segundo o mesmo, são meras acumulações
de novos conhecimentos e estão esmagadas sob seus próprios progressos, pregava a completa
união de tais ciências, mas destacando a utilidade da história em relação às outras. Para Braudel, a
história estaria no centro de todas as ciências sociais e, por isso, era mais importante, sendo capaz
de tratar do passado e da atualidade, sendo esta, para Braudel, a fórmula da história indispensável
a todas às ciências sociais, pois englobava as múltiplas temporalidades. 62
Para Braudel, o tempo curto representava o tempo dos eventos. Fala do evento como algo
explosivo, que enche a consciência das pessoas, mas que, ao mesmo tempo, não dura. A visão de
Braudel com relação ao tempo curto era contrária à dos filósofos, que, baseados em uma série de
significações, atribuem ao evento um tempo muito maior do que sua verdadeira duração. Falam
do evento como sendo apenas uma parte que se anexa, que se liga – ou não – a toda uma série de
acontecimentos.
Para o historiador, o evento significa o tempo curto, afirmando que tal tempo existe em
vários âmbitos: social, econômico, religioso, geográfico, entre outros. Foi esta a principal
característica da história política (ocorrencial, factual, baseada praticamente só no documento) do
século XIX, que foi criticada não só pela primeira geração dos Annales, mas também por Braudel na
segunda geração. Ele enfatiza assim a passagem do foco da produção da história política para a
produção da história econômica e social, permitindo estas últimas, conforme sua visão, uma
análise muito mais ampla do que a primeira.63
Temos a forma de abordagem histórica recitativa estrutural. Assim chegamos ao Tempo
Lento (longa duração). Passa-se, assim, à análise da mudança pelo tempo lento no econômico e
social, dando grande ênfase ao aspecto da quantificação. Tal aspecto ajudará na elaboração de
análises de temporalidades dentro da própria história econômica, buscando aplicação social,
como, por exemplo, preços que sobem em um determinado período e que baixam em outro.
Como o aspecto mais estrutural para os historiadores, segundo Braudel, é algo que se
veicula muito lentamente (ao contrário do pensamento de Lévi-Strauss, que considera as
estruturas invariáveis; por isso Braudel, mesmo utilizando-se de tal modelo, o estrutural, aplica a
temporalidade da história, dizendo que, mesmo que muito lentamente, as estruturas se
modificam), tais aspectos são as prisões de longa duração, porque são onde o homem está
62
REIS, 2012.
63
REIS, 2012.
História. 45
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
enraizado. Elementos estáveis como os quadros mentais e mais ainda a coerção geográfica. Pode-
se perceber as durações da história propostas por Braudel, mas não separadas e, sim, solidárias. 64
Braudel chega a falar das diferenças entre o tempo do historiador e o tempo do sociólogo.
Para ele, o historiador passaria do tempo curto ao longo e depois ao muito longo, proporcionando
uma análise aprofundada, dentro daquilo que Braudel chama de história inconsciente (que
ultrapassa a simples superficialidade dos eventos). Já o sociólogo estaria mais voltado apenas para
análise particular, não dando ênfase ao todo.
Sendo assim, segundo o pensamento Braudeliano, a história lidaria muito melhor com a
temporalidade do que a sociologia e as demais ciências sociais, proporcionado uma análise
completa e aprofundada. Por isso, ela seria superior às outras ciências. Isso se torna mais evidente
a partir dos diálogos com Lévi-Strauss. Há, deste modo, a reaproximação e, ao mesmo tempo, a
disputa e críticas entre a história e as outras ciências sociais no contexto pós-guerra. São
justamente estes diálogos e críticas que levarão Braudel a uma abordagem mais estrutural, típica
da antropologia. Isso proporcionou a formulação de uma linha de pensamento dos Annales na 2ª
geração: noção precisa da multiplicidade do tempo e grande valorização da longa duração. 65
Ademais, vale dizer que a consciência da relação entre o presente e o passado é
precisamente outro dos itens programáticos importantes para a Escola dos Annales. Marc Bloch
lembrará que esta interação existe em duas vias: “Compreender o presente pelo passado”, mas
também “compreender o passado pelo presente”, constituem as duas vias desta complexa relação.
Marc Bloch também elabora uma definição de História que se tornou clássica. Em oposição à
antiga definição de que “a História é o estudo do passado humano”, Bloch propunha a definição de
que “a História é a ciência dos homens no tempo”. Dizer isso significa que não importa,
rigorosamente, se o historiador estuda esta ou aquela época do passado, ou se estuda mesmo o
presente, disputando um território com os sociólogos e antropólogos. O que faria de um
historiador um historiador seria o fato de que ele estuda os homens imerso na temporalidade,
vivendo o tempo, percebendo o tempo, produzindo o tempo. O mesmo historiador que estuda o
passado, de acordo com esta perspectiva, poderia estudar o tempo presente – que, de fato, estaria
em breve por se converter, em um futuro não muito distante, em mais uma modalidade histórica:
a “História do Tempo Presente”. Por fim, uma última implicação do aforismo blochiano: nesta
ciência dos homens no tempo, as temporalidades poderiam dialogar a partir da mediação
historiador.
Ora, a História que traz a consciência de que o passado é diferente do presente é bem
distinta da História na qual o presente pretende aprender do passado uma velha lição.
64
REIS, 2012.
65
REIS, 2012.
História. 46
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Febvreparece dar seu recado a respeito da velha ideia da história “mestra da vida”. A História tem
algo a nos ensinar, mas não de maneira linear, como uma fórmula que pode ser sempre
empregada, uma vez aprendida através de ciclos que sempre se repetem. A História não se repete,
diz Febvre. 66
Podemos concluir esta lembrança de que também as ausências constituem um programa –
tanto as proibições escolares como aquilo que não é mencionado no programa ou nos manifestos
e que deixam aos membros do grupo um espaço livre para se movimentar nesta escola. 67
66
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 182-186.
67
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p. 205.
História. 47
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 48
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A renovação dos estudos culturais trazida pela Escola Inglesa tem sido fundamental para
repensar o Materialismo Histórico nos dias de hoje – particularmente para flexibilizar o já
desgastado esquema de uma sociedade que ainda era vista, por muitos marxistas, a partir de uma
cisão entre infraestrutura e superestrutura. Com a Escola Inglesa do Marxismo, o mundo da
Cultura passa a ser examinado como parte integrante do “modo de produção”, e não como um
mero reflexo da infraestrutura econômica de uma sociedade. Existiria, de acordo com esta
perspectiva, uma interação e uma retroalimentação contínua entre a Cultura e as estruturas
econômico-sociais de uma Sociedade, e a partir deste pressuposto desaparecem aqueles
esquemas simplificados que preconizavam um determinismo linear e que, rigorosamente falando,
também já havia sido criticado por Antonio Gramsci, outro historiador marxista especialmente
preocupado com o campo cultural. Será oportuno citar uma memorável passagem de Thompson:
“Uma divisão teórica arbitrária como esta, de uma base econômica e uma superestrutura cultural,
pode ser feita na cabeça e bem pode assentar-se no papel durante alguns momentos. Mas não
passa de uma ideia na cabeça. Quando procedemos ao exame de uma sociedade real, seja qual for,
rapidamente descobrimos (ou pelo menos deveríamos descobrir) a inutilidade de se esboçar a
respeito de uma divisão assim”.68
Thompson rejeita, inclusive, a habitual prioridade interpretativa atribuída ao “Econômico”.
Se algures já se disse que “sem produção não há história”, o historiador inglês acrescenta, com
alguma ironia: “sem cultura, não há produção”. Por vezes, não seria mesmo possível separar
economia e cultura com relação a certos processos ou fatos históricos, mesmo já referentes ao
período moderno.
O exemplo mais brilhante desta impossibilidade de separar economia e cultura no estudo de
alguns processos históricos específico foi dado pelo próprio Edward Thompson em suas pesquisas
sobre as revoltas populares na Inglaterra no século XVIII, que foram expressas em um texto escrito
em 1971 com o título A Economia Moral da multidão inglesa do século XVIII. Thompson demonstra
que neste contexto social era em nome dos princípios morais que se faziam as queixas, confiscos
de grãos e pães, e inúmeros outros processos pertinentes ao mundo econômico e também à
Política. A Economia, neste contexto social e relativamente a estes diversos processos, não era,
portanto, separável de certas concepções morais que circulavam na sociedade em questão.
Economia e Moral, e, portanto, Economia e Cultura, não eram separáveis. Separá-las
historiograficamente seria equivalente a perder a possibilidade de compreender aqueles processos
históricos. Em vista disto, Thompson introduz um novo conceito no âmbito das reflexões
historiográficas: o de “Economia Moral” (na verdade, conforme indica Thompson, a expressão já
havia sido empregada na própria Inglaterra do século XVIII, em uma polêmica de BronterreO’Brien
contra os autores vinculados à Economia Política). Posteriormente, o conceito foi incorporado às
68
THOMPSON, 2001, p.258.
História. 49
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
análises historiográficas e passou a ser utilizados por historiadores para a análise de contextos
diversos.
Outro historiador notável da Escola Britânica do Marxismo foi Christopher Hill, que trouxe
grande impacto aos meios teóricos ligados ao Materialismo Histórico ao propor uma leitura inédita
da Revolução Inglesa de 1640, com o livro O Mundo de Ponta-Cabeça. Nesta obra, Christopher Hill
propõe uma hipótese inusitada sobre aquele processo histórico: a de que a Revolução Inglesa não
foi um processo único, unilinear, homogêneo, ou sequer uma única revolução. Na verdade, teriam
ocorrido, durante os acontecimentos que ficaram conhecidos como Revolução Inglesa, duas
revoluções paralelas, tensionando-se uma contra a outra. A revolução que representava os
interesses da burguesia acabou por prevalecer e por apagar a outra, a revolução dos grupos
radicais, determinando consequentemente os rumos do processo revolucionário inglês a partir do
triunfo da ética protestante e dos interesses burgueses. Contudo, teria existido uma outra
revolução, radical – representada por grupos como os diggers, ranters, levellers, quacres – esta sim
propondo uma radical reviravolta da sociedade. É este olhar para uma história esquecida, apagada
por uma historiografia que trouxe os vencedores para o centro do palco, o que Christopher Hill
procura trazer. Aqui temos outro aspecto importante da escola Britânica do Marxismo, que é uma
especial atenção ao que Thompson chamou de uma “História Vista de Baixo”.
O terceiro grande nome da Escola Britânica do Marxismo é bem conhecido no Brasil: Eric
Hobsbawm. Com sua série de livros intitulados "eras" – a Era das Revoluções, a Era dos Impérios e
a Era dos Extremos – Hobsbawm tornou-se de grande sucesso no meio editorial. Tento alcançado
uma grande longevidade, viveu todo o século XX, o que resultou em outro livro, intitulado Tempos
Interessantes - Uma Vida no século XX, que permite mostrar um historiador que assiste à passagem
de sucessivas eras neste século no qual o tempo parece ter se comprimido tal a velocidade das
transformações políticas, tecnológicas e ambientais nele implicadas. Hobsbawm também traz a
marca da Escola Britânica, escrevendo ensaios teóricos Sobre a História (1998), e também
revelando sua faceta de historiador cultural na série de críticas sobre o Jazz que publicou durante
anos, e que resultou finalmente no livro intitulado História Social do Jazz.
Conforme podemos ver, sem abrir mão dos elementos essenciais do paradigma do
Materialismo Histórico, os historiadores da Escola Britânica o renovam, rediscutindo seus
conceitos, e trazendo um novo olhar sobre a Cultura e sobre a "História Vista de Baixo".
Constituem um exemplo oportuno de escola que se desenvolve no interior de um único
paradigma.69
69
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 50
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 51
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Eles se tornam nômades, viajando de Genebra para Paris, então para os EUA, até se fixarem
na Universidade de Columbia, em Nova York. A primeira obra produzida pelo grupo foi
denominada Estudos sobre Autoridade e Família, gerada em Paris, na qual eles questionam a real
vocação da classe operária para a revolução social. Assim, eles naturalmente se distanciam dos
trabalhadores, atitude que se concretiza com o lançamento do livro Dialética do Esclarecimento,
lançado em 1947, em Amsterdã, que já praticamente elimina do ideário destes filósofos a
expressão “marxismo”. Erich Fromm e Marcuse dão uma guinada teórica ao juntar os conceitos da
Teoria Crítica aos ideais psicanalíticos. Marcuse, que optou por ficar nos Estados Unidos depois da
volta do Instituto para o solo alemão, em 1948, foi um dos integrantes da Escola que mais
receptividade encontrou para sua produção intelectual, uma vez que inspirou os movimentos
pacifistas e as insurreições estudantis, fundamentais em 1968 e 1969, os quais alcançaram o auge
no chamado Maio de 68.
Por outro lado, Adorno, até hoje tido como um dos filósofos mais importantes da Escola de
Frankfurt, prosseguiu sua missão de transformação dialética da racionalidade do Ocidente, na sua
obra Dialética Negativa. Sua morte marca a passagem para o que alguns estudiosos consideram a
segunda etapa da Escola, que encontra seu principal líder em Jürgen Habermas, ex-assessor de
Adorno e, posteriormente, seu crítico mais ardoroso. 70
O trabalho da Escola de Frankfurt pode ser completamente compreendido sem igualmente
entenderem-se as intenções e os objetivos da teoria crítica. Inicialmente delineada por Max
Horkheimer no seu Teoria Tradicional e Teoria Crítica, de 1937, a teoria crítica não pode ser
definida como uma autoconsciência social crítica que é o objetivada na mudança e na
emancipação através do esclarecimento, e não se liga dogmaticamente aos seus próprios
pressupostos doutrinais.
Horkheimer a opôs à "teoria tradicional", que se refere à teoria no modo positivista,
cientificista, ou puramente observacional, isto é, do qual derivam generalizações ou leis sobre
diferentes aspectos do mundo. Baseando-se no pensamento sociológico de Max Weber,
Horkheimer argumentou que as ciências sociais são diferentes das ciências naturais, visto que
generalizações não podem ser feitas facilmente supostas por experiências, porque o entendimento
de uma experiência social em si é sempre moldada por ideias que estão nos pesquisadores. O
pesquisador não percebe que é capturado em um contexto histórico cujas ideologias moldam o
pensamento; portanto, a teoria estaria em conformidade com as ideias na mente do pesquisador
mais do que na própria experiência. A ideia é que os fatos que os nossos sentidos apresentam para
nós são socialmente efetuados de duas maneiras: através do caráter histórico do objeto percebido
e através do caráter histórico do órgão que percebe. Ambos não são simplesmente naturais, ao
70
SANTANA, 2019.
História. 52
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
passo que eles são moldados pela atividade humana e também pelas percepções individuais deles
mesmos como receptivos e passivos no ato da percepção.
Para Horkheimer, abordagens para o entendimento nas ciências sociais não podem
simplesmente imitar aquelas das ciências naturais. Apesar de várias abordagens teóricas tornarem-
se próximas de romper as restrições ideológicas que as restringem, como o positivismo,
pragmatismo, neo-Kantianismo e fenomenologia, Horkheimer argumentaria que elas falharam,
porque todas estavam sujeitas a um prejuízo "lógico-matemático" que separava a atividade teórica
da vida real (significando que todas aquelas escolas tentaram encontrar uma lógica que sempre
permaneceria verdadeira, independentemente de consideração pelas atividades humanas
correntes). De acordo com Horkheimer, a resposta apropriada para este dilema é o
desenvolvimento de uma teoria crítica.
O problema, Horkheimer argumentou, é epistemológico: nós não deveríamos meramente
reconsiderar o cientista, mas o conhecimento individual em geral. Diferente do marxismo
ortodoxo, que meramente aplica um "padrão" não original a tanto crítica quanto ação, a Teoria
Crítica procura ser uma autocrítica e rejeita quaisquer pretensões de uma verdade absoluta. A
teoria crítica defende a primazia nem da matéria (materialismo) nem da consciência (idealismo),
argumentando que ambas as epistemologias distorcem a realidade para o benefício, afinal, de
algum grupo pequeno. O que a teoria crítica tenta fazer é colocar ela mesma fora de estruturas
filosóficas e do confinamento das estruturas existentes. Entretanto, como um modo de pensar e
"recuperar" o autoconhecimento da humanidade, a teoria crítica frequentemente se inspira no
marxismo pelos seus métodos e ferramentas.
Horkheimer sustentou que a teoria crítica deveria ser direcionada para a totalidade da
sociedade na sua especificidade história, assim como ela deveria melhorar o entendimento da
sociedade integrando todas as maiores ciências sociais, incluindo a geografia, economia, história,
ciência política, antropologia e psicologia. Enquanto a teoria crítica deve em todas as vezes ser
autocrítica, Horkheimer insistiu que uma teoria é somente crítica se é explicativa. A Teoria Crítica
deve, portanto, combinar pensamento prático e normativo para que possa explicar o que está
errado com a realidade social corrente, identificar atores para mudá-la e fornecer normas claras
para o criticismo e finalidades práticas para o futuro. Visto que a teoria tradicional pode apenas
refletir e explicar a realidade como presentemente é, o propósito da teoria crítica é mudá-la; nas
palavras de Horkheimer, o objetivo da teoria crítica é a emancipação dos seres humanos das
circunstâncias que os escravizam.
Os teóricos da Escola de Frankfurt foram explicitamente associados com a filosofia crítica de
Immanuel Kant, na qual o termo crítica significou reflexão filosófica nos limites de reivindicações
feitas por certos tipos de conhecimento e uma conexão direta entre crítica e a ênfase na
autonomia moral – como oposta às tradicionais deterministas e estáticas teorias de ação humana.
História. 53
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 54
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
materialistas, em que o desenvolvimento das forças produtivas é visto como o motivo primário
para deflorar uma mudança histórica, e de acordo com qual as contradições material e social
inerentes ao capitalismo irão inevitavelmente levar a sua negação, desse modo substituindo o
capitalismo por uma nova forma racional de sociedade: o comunismo.
Marx assim contou vastamente com uma forma de análise dialética. Esse método, para
saber a verdade descobrindo as contradições em ideias presentemente predominantes e, por
extensão, nas relações sociais às quais elas estão ligadas, expõe a luta básica entre forças opostas.
Para Marx, é apenas tornando-se consciente da dialética de tais forças opostas, em uma luta pelo
poder, que os indivíduos podem se libertar e mudar a ordem social existente.
De outro lado, os teóricos da Escola de Frankfurt rapidamente vieram a perceber que um
método dialético poderia apenas ser adotado se pudesse ser aplicado a si mesmo – o que é dizer,
supondo que eles adotassem um método autocorretivo – um método dialético que lhes permitiria
corrigir falsas interpretações dialéticas anteriores. Do mesmo modo, a teoria crítica rejeitou os
dogmáticos historicismo e materialismo do marxismo ortodoxo. De fato, as tensões materiais e
lutas de classes das quais Marx falou não eram mais vistas pelos teóricos da Escola de Frankfurt
como tendo o mesmo potencial revolucionário dentro das sociedades ocidentais contemporâneas
– uma observação que indicou que as interpretações dialéticas e as previsões de Marx estavam
incompletas ou incorretas.
Contrário à práxis ortodoxa marxista, que somente procura implementar uma imutável e
estrita ideia de "comunismo" na prática, os teóricos críticos tomaram que a práxis e a teoria,
seguindo o método dialético, deveriam ser interdependentes e deveriam influenciar mutuamente
uma a outra. Quando Marx expôs nas suas Teses de Feuerbach que filósofos têm apenas
interpretado o mundo de muitos modos, dizendo que o ponto é mudá-lo, a sua ideia real era que a
única validade da filosofia era em como ela informa a ação. Teóricos da Escola de Frankfurt
corrigiriam isso afirmando que quando a ação falha, então o orientador da teoria deve ser revisto.
Em suma, ao pensamento filosófico socialista tem de ser dada a habilidade de criticar a si mesmo e
"subjugar" seus próprios erros. Enquanto a teoria deve participar da práxis, a práxis deve também
ter uma chance de participar da teoria.
A Escola de Frankfurt também foi alvo de diversas críticas, dentre elas está a crítica do
intelectual italiano Umberto Eco. Ele teceu diversas críticas aos frankfurtianos, entre elas o
anacronismo e a posição elitista de seus teóricos, a defesa da cultura erudita e a rejeição da cultura
de massa. No livro Apocalípticos e integrados, ele os classifica como “apocalípticos”, adjetivo usado
largamente na crítica à Escola de Frankfurt. Segundo o autor, eles seriam responsáveis por esboçar
teorias sobre a decadência, enquanto aos integrados, pela falta de teorização, só lhes restaria
produzir e afirma: “O Apocalipse é uma obsessão do dissentir, a integração é a realidade concreta
dos que não dissentem. Caberia aos apocalípticos o papel de consolar o leitor, já que, em meio à
História. 55
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
catástrofe, se elevariam os “super-homens”, ou seja, aqueles acima da média, que olhariam para o
mundo com desconfiança”.
Para Umberto Eco, essa atitude seria um convite à passividade. O problema estaria em
pensar a cultura de massa como algo bom ou mau. O verdadeiro problema reside em aceitar que
se vive em uma sociedade industrial na qual os meios de massa são uma realidade. A partir de tal
premissa, o teórico questiona qual seria então o modo pelo qual as massas medias poderiam servir
para transmitir valores culturais.
Durante os anos 1980, os socialistas antiautoritários no Reino Unido e Nova Zelândia
também criticaram a visão rígida e determinista sobre a cultura popular implantada dentro das
teorias da Escola de Frankfurt a respeito da cultura capitalista, que parecia excluir qualquer papel
pre-figurativo para a crítica social dentro desse trabalho. Recentes críticas da Escola de Frankfurt
feitas pelo libertário Instituto Cato focadas na afirmação de que a cultura tem crescido mais
sofisticada e diversificada como consequência da liberdade econômica e da disponibilidade dos
nichos culturais para a mídia de massa.
História. 56
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
12. MICRO-HISTÓRIA
A Micro-História, como o próprio nome sugere, é um gênero da historiografia que reduz a
escala de observação de seus objetos na pesquisa histórica. Ora, vale lembrar que existem várias
formas de se escrever história. A ciência História é definida por várias metodologias que resultam
em técnicas de pesquisas diferenciadas. A forma tradicional de se escrever História fazia uso de
uma abordagem narrativa geral, identificando estruturas que se alteravam em eventos de longa
duração. Mas o desenvolvimento da ciência permitiu o florescimento de novas metodologias que
enriqueceram o campo.
Entre 1981 e 1988 surgiu uma coleção, na Itália, organizada pelos historiadores Carlo
Ginzburg e Giovanni Levi e intitulada de Microstorie. A coleção fez muito sucesso apresentando sua
forma inovadora de se abordar o objeto de pesquisa e passou a influenciar historiadores em várias
partes do mundo com as novas metodologias.
Como dito, a Micro-História é uma forma de se pesquisar e escrever História na qual a
escala de observação é reduzida. Sem deixar de levar em consideração as estruturas estabelecidas
pela História Geral, a Micro-História se foca em objetos bem específicos para apresentar novas
realidades. A proposta é que o historiador desenvolva uma delimitação temática extremamente
específica em questão de temporalidade e de espaço para conseguir observar realidades que não
são retratadas pela História Geral.
A Micro-História oferece grandes serviços à História Geral, já permite revelar fatos e
realidades até então desconhecidas. Assim, a Micro-História aborda o cotidiano de comunidades
determinadas ou apresenta biografias que complementem o contexto geral, mesmo que os
indivíduos destacados fossem figuras anônimas. Na verdade, é isso que permite esclarecer as
realidades conjunturais existentes dentro das estruturas já conhecidas.
A diferença da Micro-História para a História Geral é notória também quando é escrita.
Enquanto esta se desenvolveu como um gênero mais ligado à narrativa histórica, a Micro-História
se dedica a uma profunda exploração das fontes, utilizando os artifícios da narrativa, as vezes até
retórica, mas também da descrição etnográfica. Ainda assim, a Micro-História demorou a se tornar
conhecida no mundo. Durante muito tempo permaneceu como um método muito característico e
restrito aos italianos.
A relação da Micro-História com a História Social se demonstrou muito frutífera. Uma vez
que esta procura dar voz às camadas mais baixas da sociedade, a Micro-História contribui
fornecendo elementos enriquecedores para permitir que os excluídos da História Geral se
expressem.
História. 57
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
71
GASPARETTO JUNIOR, 2013.
História. 58
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 59
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
apropriado para conduzir à percepção de certos aspectos do universo (por exemplo, o espaço
sideral ou o espaço intra-atômico). De igual maneira, a Micro-História procura enxergar aquilo que
escapa à Macro-História tradicional, empreendendo para tal uma redução da escala de observação
que não poupa os detalhes e que investe no exame intensivo de uma documentação.
Considerando os exemplos antes citados, o que importa para a Micro-História não é tanto a
unidade de observação, mas a escala de observação utilizada pelo historiador, o modo intensivo
como ele observa, e o que ele observa. 72
72
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 60
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
73
KOSELLECK, 2006, p.308apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 61
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
74
KOSELLECK, 2006, p.309-310apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 62
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
O “Passado Presente” pode melhor ser representado como um espaço porque concentra
um enorme conjunto de coisas já conhecidas. Pensemos na figura acima como uma possibilidade
de representação. Ela é composta de uma linha horizontal, que representará o horizonte de
expectativas, e de um semicírculo colado a esta, que representará o campo de experiências. Existe
uma infinita região do Passado que não é conhecida, e que, na verdade, jamais será conhecido.
Podemos entender este Passado incognoscível, do qual jamais saberemos nada a respeito, como
estando fora do semicírculo. Aquilo que não deixou memória, ou cujas memórias já pereceram;
aquilo que não deixou vestígios, nem fontes para os historiadores; aquilo que não está
materializado no presente a partir das permanências, das continuidades, da língua, dos rituais
ainda praticados, dos hábitos adquiridos, tudo isto faz parte de uma experiência perdida, que se
situa fora do semicírculo. O que está dentro do semicírculo, contudo, corresponde ao “espaço de
experiência”. Tudo o que ficou do que um dia foi vivido, e se projeta hoje no presente de alguma
maneira, está concentrado neste espaço que é fundamental para a vida, e particularmente vital
para os historiadores – pois estes só podem acessar o que foi um dia vivido através deste espaço
de experiências que se aglomeram sob formas diversas, e dos quais eles extraem as suas fontes
históricas. Tal como esclarece Koselleck, a experiência elabora acontecimentos passados e tem o
poder de torná-los presentes, e neste sentido está “saturada de realidade”. 75
Pode-se pensar ainda na transferência de elementos do “campo de experiência” para
aquele espaço indefinido do passado que já se torna inacessível. Memórias podem se perder,
fontes podem se deteriorar e se tornarem ilegíveis, arquivos podem se incendiar, rituais podem
deixar de serem praticados e tradições podem passar a não mais serem cultivadas. Quando morre
um indivíduo, certamente o mundo perde para este espaço exterior algo do que poderia ser
conhecido, do que estava efemeramente situado dentro do semicírculo e que jamais poderá ser
recuperado. A História Oral, uma modalidade mais recente das ciências históricas, apresenta, aliás,
uma conquista extremamente importante para a historiografia, e mesmo para a humanidade.
Através desta abordagem histórica, é possível fixar o que um dia irá perder, pois as memórias
podem ser registradas em depoimentos, gravados ou anotados, e as visões e percepções de
mundo de indivíduos que um dia irão perecer também podem encontrar o seu registro. É possível
imaginar que algo que também parecia estar no espaço exterior também venha um dia para
dentro do semicírculo, nos momentos em que os historiadores descobrem novas fontes, ou
mesmo novas técnicas para extrair de fontes já conhecidas elementos que antes não pareciam
fazer parte do “espaço de experiência”.
Qualquer Passado, qualquer coisa que hoje está no interior deste semicírculo que é o
“espaço de experiência” ou o “Passado Presente”, assim como ainda aquilo o que se perdeu para
fora dele, mas que um dia também foi vivido, já correspondeu outrora a um Presente. Nosso
75
KOSELLECK, 2006, p.312 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 63
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
presente, cada instante que vivenciamos, logo se tornará um passado, e mesmo ocorrendo com o
futuro que ainda não conhecemos. Por isto mesmo, a cada segundo, a cada novo presente, o
espaço de experiência se transforma. O que podemos acessar de um vivido e de uma experiência
que nos chega do passado revolve-se constantemente, reapresentando-se a cada vez de uma nova
maneira. As próprias experiências já adquiridas podem se modificar com o tempo.
Quanto ao “Futuro Presente” (este Futuro que ainda não ocorreu, mas cuja proximidade ou
distância repercute no Presente sob a forma das mais diversas expectativas), este é representável
por uma linha. Na verdade, é representado por uma linha porque é efetivamente o que está para
além desta linha, correspondendo àquilo que ainda não é conhecido. Temos apenas uma
“expectativa” sobre o futuro, mas efetivamente não podemos dizer como ele será. Por isso a
metáfora do horizonte – o extremo limite que se oferece à visão, e para além do qual sabemos que
há algo, mas não sabemos exatamente o que é. Sempre que nos aproximamos do horizonte, ele
recua, de modo que nunca deixará de persistir como uma linha além da qual paira o desconhecido,
que logo se tornará conhecido porque se converterá em presente. Conforme as próprias palavras
de Koselleck, “horizonte quer dizer aquela linha por trás da qual se abre no futuro um novo espaço
de experiência, mas um espaço que ainda não pode ser contemplado; a possibilidade de se
descobrir o futuro, embora os prognósticos sejam possíveis, se depara com um limite absoluto,
pois ela não pode ser experimentada”76.
Entre estas duas imagens se comprime o Presente: um fugidio momento de difícil de
representação visual que parece se comprimir entre o espaço concentrado que representa o
Passado (e logo se incorporar a ele) e a linha fugidia que representa o Futuro – esta linha
eternamente móvel (pois rapidamente o que ele traz, tão logo se torne conhecido, transforma-se
por um segundo em Presente e logo depois passa a ser englobado pelo interior do semicírculo que
corresponde ao “espaço de experiência” (quando não se perde no Passado incognoscível situado
fora do semicírculo).
É importante ressaltar ainda que o “Passado Presente” e o “Futuro Presente”, ou o “campo
de experiências” e o “horizonte de expectativas”, não constituem conceitos simétricos.
Imaginariamente, o campo de experiência, o Presente, e o horizonte de expectativas podem
produzir as relações mais diversas, e assim ocorre no decorrer da própria história. Há épocas em
que o tempo parece aos seus contemporâneos se desenrolar lentamente, e outras em que parece
estar acelerado, em função da rapidez das transformações políticas ou tecnológicas. Existem
períodos da história, crivados de movimentos revolucionários, nos quais os agentes que deles
participam desenvolvem a sensação de que o futuro é aqui agora, tendo se fundido ao presente.
Em outros, inclusive, o futuro parece permanecer “atrelado ao passado”, tal como naqueles em
que as expectativas do futuro não se referem a este mundo, mas sim a um outro que será
76
KOSELLECK, 2006, p.311 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 64
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
escatologicamente trazido pela redenção dos tempos. As fusões e clivagens que se estabelecem
imaginariamente entre as três temporalidades – Passado, Presente e Futuro – podem aparecer ao
ambiente mental predominante em cada época, e às consciências daqueles que vivem nestas
várias épocas, de maneiras bem diferenciadas.
Para Koselleck, o Tempo Histórico é ditado, de forma sempre diferente, pela tensão entre
expectativas e experiência. Há por exemplo ações e práticas humanas que são constituídas
precisamente desta tensão, tal como ocorre com a elaboração de “prognósticos”, que sempre
exprimem uma expectativa a partir de um certo campo de experiências (portanto, a partir de um
“diagnóstico”). Diz-nos também o historiador alemão que “o que estende o horizonte de
expectativa é o espaço de experiência aberto para o futuro”, o que se pode dar de múltiplas
maneiras, conforme a relação estabelecida entre as duas instâncias 77. Como se disse, em cada
época pode haver uma tendência distinta a reavaliar a tensão entre o espaço de experiência e o
horizonte de expectativas (ou entre o Passado e o Futuro, através da mediação do Presente).
Apenas para ilustrar com uma das hipóteses de Koselleck, na modernidade as expectativas passam
a distanciar-se cada vez mais das experiências feitas até então; em contrapartida, em todo o
ambiente mental predominante no ocidente até meados do século XVII, o futuro parecia
permanecer fortemente atrelado ao próprio passado. Poderíamos mesmo pensar em duas
representações para os dois momentos da história das sensibilidades europeias em relação ao
Tempo, já que, no período propriamente moderno, o espaço de experiência deixa de estar limitado
pelo horizonte de expectativa; os limites de um e de outro se separam.
O aparato conceitual desenvolvido por Koselleck foi incorporado pela historiografia como
aquilo que de mais eficaz se produziu até hoje para operacionalizar uma visão historiográfica do
tempo.78
77
KOSELLECK, 2006, p.313 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
78
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
História. 65
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 66
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 67
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 68
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
terceira geração dos Annales virou-se decididamente para a história das mentalidades e para a
história cultural.
Conforme exposto acima, a nova história buscou a superação dos pressupostos que
caracterizam o positivismo.
“Sua maior contribuição à história foi a introdução de conceitos, métodos e modelos das ciências
naturais na investigação social, e a aplicação à história, conforme parecessem adequadas, das
descobertas nas ciências naturais.” (HOBSBAWN, 1998, p.158).
Segundo os PCNs (BRASIL, 1997, p. 35-36) O saber histórico escolar, na sua relação com o
saber histórico, compreende de modo amplo, a delimitação de três conceitos fundamentais: o fato
histórico, de sujeito histórico e de tempo histórico. Os contornos e as definições que são dadas a
estes três conceitos orientam a concepção histórica, envolvida no ensino da disciplina.
Tratando-se de História, de acordo com Neves (1985), o que se objetiva é desenvolver na
criança
“[...] a percepção da multiplicidade temporal da História, em termos de ritmos de mudanças-mais
rápidas ou mais lentas-, e que explicariam certas contradições aparentes da sociedade atual.” (p.
17).
[...] o ensino e aprendizagem de História estão voltados, inicialmente, para atividades em que os
alunos possam compreender as semelhanças e as diferenças, as permanências e as
transformações no modo de vida social, cultural e econômico de sua localidade, no presente e no
passado, mediante a leitura de diferentes obras humanas (BRASIL, 2000, p. 49).
História. 69
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
O Ensino de História nas Séries Iniciais deve considerar a história de vida do aluno, uma vez
que somos seres históricos. Contudo o Ensino de História nas Séries Iniciais, nas palavras de Cruz é
de suma importância já que para este autor:
Estudar História e Geografia na Educação Infantil e no Ensino Fundamental resulta em uma
grande contribuição social. O ensino da História e da Geografia pode dar ao aluno subsídios para
que ele compreenda, de forma mais ampla, a realidade na qual está inserido e nela interfira de
maneira consciente e propositiva (CRUZ, 2003, p.2).
História. 70
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
O estudo de História nas Series Iniciais deve partir da própria história de vida do aluno,
avançando para o estudo da história local que deve ser apresentada como algo, vivo, vibrante,
capaz de despertar paixão e colaborar para a compreensão do mundo. A Educação Infantil,
entretanto, foi pensada globalmente e não fragmentada, por isso ela não está dividida em
disciplinas. Nesse sentido, a Secretaria de Educação, dispõe-se no planejamento do Currículo para
a educação Infantil, os campos de experiências em que se organiza a BNCC, que são:
O eu, o outro e o nós;
Corpo, gestos e movimentos;
Traços, sons, cores e formas;
Escuta, fala, pensamento e imaginação;
Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
Nesse sentido, o documento normativo para a Educação Infantil aponta:
Considerando que, na Educação Infantil, as aprendizagens e o desenvolvimento das crianças
têm como eixos estruturantes as interações e as brincadeiras, assegurando-lhes os direitos de
conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer- se, a organização curricular da
Educação Infantil na BNCC está estruturada em cinco campos de experiências, no âmbito dos quais
são definidos os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento. Os campos de experiências
constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as experiências concretas da vida
cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte de
patrimônio cultural (ANÁPOLIS, SEMED; 2019.)
Tendo em vista os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da
Educação Básica propostas pela BNCC, seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento
asseguram, na Educação Infantil, as condições para que as crianças aprendam em situações nas
quais possam desempenhar um papel ativo em ambientes que as convidem a vivenciar desafios e a
sentirem-se provocadas a resolvê-los, nas quais possam construir significados sobre si, os outros e
o mundo social e natural.
História. 71
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
De acordo com algumas pesquisas com professores deste nível de ensino, a influência da
chamada “História Local” e da “História do Cotidiano” aparece em seus apontamentos, que
consideraram os conteúdos História local (bairro, cidade) e História pessoal da criança, como os
mais importantes de serem trabalhados nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental.
Contudo, de acordo com Silva (2013), há uma desvalorização do saber histórico nos anos
iniciais. Tal processo é atribuído ao foco na alfabetização, de acordo com o que determinam os
documentos oficiais para os três primeiros anos de escolarização. O autor confirma com Silva e
Fonseca (2010), que consideram que algumas concepções e práticas de ensino não inserem o
conhecimento histórico no processo de alfabetização e letramento, de maneira que a História
apenas é introduzida após a consolidação da leitura e da escrita. Entretanto, consideram ainda
que,
História. 72
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
O “foco na alfabetização”, todavia, não pode perder de vista as diversas dimensões que o
processo envolve, pois, como nos ensinou Paulo Freire, ler é ler o mundo: não podemos aprender
a ler as palavras sem a busca da compreensão do mundo, da História, da Geografia, das
experiências humanas, construídas nos diversos tempos e lugares (SILVA; FONSECA, 2010, p.60)
14.2.3. Conteúdos
Sobre a seleção de conteúdos escolares, Bezerra (2007) considera que eles não são mais um
fim em si mesmo, perante um projeto educacional, anunciado pela Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDBEN), nº 9394/1996, no qual,
[...] os objetivos da escola básica, segundo essa lei, não se restringem à assimilação maior ou
menor de conteúdos prefixados, mas se comprometem a articular conhecimento, competências e
valores, com a finalidade de capacitar os alunos a utilizarem-se das informações para a
transformação de sua própria personalidade, assim como para atuar de maneira efetiva na
transformação da sociedade (BEZERRA, 2007, p. 37).
História. 73
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Nos PCN´s há a indicação para organização dos conteúdos em eixos temáticos. Os eixos
propostos procuram introduzir noções e conceitos básicos para a História a partir do processo de
alfabetização, sendo progressivamente trabalhados ao longo de todo o ensino fundamental e
médio. No documento curricular destacam-se os conceitos de cultura, de organização social e do
trabalho e as noções de tempo / espaço históricos, sendo que o conceito tempo é apresentado
por meio da noção do antes e do depois, buscando uma construção conceitual que não se
restrinja a ideia de tempo cronológico (BITTENCOURT, 2011).
Como exemplo, abaixo temos dois quadros com os respectivos conceitos e habilidades a
serem trabalhados na primeira etapa do Ensino Fundamental. Ambos quadros, tanto do 1º Ano
quanto o do 5º Ano, são dos meses de Janeiro e Fevereiro de 2019, de modo a ser seguido por
toda a rede municipal de Anápolis, nas devidas proporções e realidades escolares.
- Comparar as condições de
existência das moradias dos - Selecionar e ordenar fatos
membrosde grupo de convívio dos utilizando fontes históricas escritas
quais participo no passado e enão escritas sobre a(s) minha(s)
naatualidade. (I/A) moradia(s) (fotos,
documentos,relatos orai etc.), para - Ordenar os fatos históricos de
- Reconhecer as casas, suas
formular e expressar ordem pessoal, familiar e do grupo
histórias e diferenciar os tipos de
(oralmente,graficamente e por de convívio escolar. (I/A)
casasconstruídas ontem e hoje.
(I/A) escrito) uma sequência narrativa, - Diferenciar ações e eventos
da minhahistória em relação à(s) cotidianos
- Descrever oralmente a sua moradia(s), na qual entenda que ocorridossequencialmente, antes e
moradia, incluindo cômodos e asmoradias fazem parte da minha depois de outros e ao mesmo
suasfunções. (I/A/C) história. (I/A) tempo em que outros. (I)
- Compreender as várias formas de - Identificar aspectos da produção - Situar-se em relação ao “ontem”
moradias das pessoas artística e cultural da localidadeno (ao que passou), com relação ao
(própria,aluguel, favelas, passado e no presente, noentorno hoje (ao que está ocorrendo) e com
aglomerado, da minha moradia. (I) relação ao amanhã (a expectativa
cortiços,apartamentos,
- Identificar as práticas do porvir). (I)
cedida,financiadas, etc.) (I/A)
econômicas, de organização do - Reconhecer as semelhanças e
- Identificar através de gravuras de trabalho epolítica da localidade diferenças, a relação tempo x
construções antigas e atuais, onde moro no passado e compará- espaço, através do estudo da
emvisita a museu ou observação in las aspráticas econômicas e história da escola. (I/A)
loco, construções antigas e políticas atuais. (I)
modernas;e verificar as mudanças - Comparar fotos do seu passado
que ocorrem ao longo do tempo. - Identificar os grupos de convívio e com fotos atuais. (I/A)
(I/A) as instituições relacionadas
àcriação, utilização e manutenção
- Identificar os diferentes tipos de dos patrimônios culturais
trabalhos e de dalocalidade. (I)
trabalhadoresresponsáveis pelo
sustento de seugrupo de convívio
História. 74
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 75
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
https://www.todospelaeducacao.org.br/_uploads/_posts/158.pdf
De maneira geral, a Base estabelece dez competências gerais que os estudantes devem
desenvolver ao longo da Educação Básica. Essas competências guiam o trabalho dos componentes
curriculares e têm como objetivo a formação integral do aluno, preparando-o para os desafios do
século XXI. O documento ainda define para as escolas de todo território nacional, a Base Comum
Curricular de História, estruturada em: Competências Gerais da Base; Competências Específicas de
História para o Ensino Fundamental; Unidades Temáticas, Objetos de Conhecimento e Habilidades
a serem desenvolvidas em cada uma das etapas/anos do ensino fundamental.
O documento apresenta algumas das perspectivas recorrentes no debate da área do ensino
de História ao orientar sobre o processo de ensinar e aprender: a importância de estabelecer
relações entre passado e presente.
A área de Ciências Humanas contribui para que os alunos desenvolvam a cognição in situ, ou
seja, sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço, conceitos
fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias elaboradas conjuntamente, em
meio a circunstâncias históricas específicas, nas quais a diversidade humana deve ganhar
especial destaque, com vistas ao acolhimento da diferença. O raciocínio espaço-temporal baseia-
se na ideia de que o ser humano produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em
determinada circunstância histórica. A capacidade de identificação dessa circunstância impõe-se
como condição para que o ser humano compreenda, interprete e avalie os significados das ações
realizadas no passado ou no presente, o que o torna responsável tanto pelo saber produzido
quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos dos quais é agente (BRASIL, 2017, p.
353).
História. 76
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Guimarães (2012) afirma que as diferentes fontes e linguagens podem ampliar o olhar do
historiador e o seu campo de estudo, tornando o processo de transmissão e produção de
conhecimentos interdisciplinar, dinâmico e flexível. Além disso, questionam as fronteiras
disciplinares, permitem a religação dos saberes e possibilitam aos estudantes a reconhecerem a
estreita relação entre os saberes escolares e a vida social.De acordo com a BNCC, os usos de
fontes, linguagens, objetos materiais contribuem para formar nos estudantes uma “atitude
historiadora”.
De acordo com o documento, a história não emerge como um dado ou um acidente que
tudo explica: ela é a correlação de forças, de enfrentamentos e da batalha para a produção de
sentidos e significados, que são constantemente reinterpretados por diferentes grupos sociais e
suas demandas – o que, consequentemente, suscita outras questões e discussões. (BRASIL, 2017c)
Entre os saberes produzidos, destaca-se a capacidade de comunicação e diálogo,
instrumento necessário para o respeito à pluralidade cultural, social e política, bem como para o
enfrentamento de circunstâncias marcadas pela tensão e pelo conflito. O texto do documento
seleciona e indica os processos considerados imperativos na formação dos estudantes:
identificação, comparação, contextualização, interpretação e análise de um objeto. Reforça que
tais processos estimulam o pensamento.
No entanto, o texto é discreto em relação a problematização. Lembramos Karnal (2004) ao
defender que ensinar a construir conceitos e situações problema contribuem no processo de
interpretação, na construção de argumentos que permitam explicar a si próprios e aos outros, de
maneira convincente, potencializa a apreensão da situação histórica e desenvolve uma percepção
mais abrangente da condição humana nas mais diferentes culturas e diante dos mais variados
problemas.
De acordo com a Base, um dos objetivos da disciplina História é
[...] estimular a autonomia do pensamento e a capacidade de reconhecer que os indivíduos agem
de acordo com a época e o lugar nos quais vivem, de forma a preservar ou transformar seus
hábitos e condutas. A percepção de que existe uma grande diversidade de sujeitos estimula o
pensamento crítico, a autonomia e a formação para a cidadania (BRASIL, 2017c, p. 350).
História. 77
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
e de falas sensíveis, nos diversos ambientes educativos (bibliotecas, pátio, praças, parques,
museus, arquivos, entre outros).
História. 78
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 79
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
E de maneira geral, os PCN´s afirmam, “[...] o trabalho pedagógico requer estudo de novos
materiais (relatos orais, imagens, objetos, danças, músicas, narrativas), que devem se transformar
em instrumentos de construção do saber histórico escolar” (BRASIL, 1997, p. 39).
O uso de variadas fontes, já consolidado na pesquisa histórica, mostra-se importante para o
ensino da disciplina, na medida em que,
Ao se recuperar esses materiais, que são fontes potenciais para construção de uma história local
parcialmente desconhecida, desvalorizada, esquecida ou omitida, o saber histórico escolar
desempenha um outro papel na vida local, sem significar que se pretende fazer do aluno um
“pequeno historiador” capaz de escrever monografias, mas um observador atento das realidades
do seu entorno, capaz de estabelecer relações, comparações e relativizando sua atuação no
tempo e espaço (BRASIL, 1997, p. 39)
História. 80
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Fonte: Guia de Implementação da Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://implementacaobncc.com.br/wp-
content/uploads/2018/06/guia_de_implementacao_da_bncc_2018.pdf. Acesso em: 12 dez. 2019
O livro didático de história sofreu as mais variadas mudanças desde sua implantação. Ao
longo do tempo, o livro se cristalizou como a forma mais consistente de apresentar uma proposta
curricular aos professores e alunos, expressando uma seleção e organização de determinados
conteúdos culturais. Nessa perspectiva, os LD são produtos culturais didatizados, de forma a
garantir a cultura comum, e, como tal, está suscetível às influências do contexto sócio político-
econômico e cultural. Segundo Bittencourt:
Um aspecto fundamental a ser considerado em análises sobre materiais didáticos é seu papel de
instrumento de controle do ensino por parte dos diversos agentes do poder [...]. O despreparo do
professor, resultante de cursos sem qualificação adequada, e as condições de trabalho nas
escolas muitas vezes favorecem, [...], uma cultura mercantilizada que transforma cada vez mais
a escola em um mercado lucrativo para a indústria cultural, [...] (Bittencourt, 2004, p. 298).
História. 81
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Tendo o livro didático como produto cultural fabricado por técnicos (professores,
pesquisadores, outros), o LD é uma mercadorialigada ao mundo editorial; é um suportede
conhecimentos escolares propostos pelos currículos educacionais; é também um suporte
demétodos pedagógicos, ao conter exercícios, atividades e formas de avaliação do conteúdo
escolar; e é veículo de um sistema de valores, de uma cultura de uma dada época e de uma dada
sociedade (Bittencourt, 2004).
Devido a esse panorama, o LD tem sido material importante no cotidiano escolar e,
geralmente, é enfatizado como uma ferramenta auxiliar e não como um instrumento de trabalho
exclusivo e único de professores e alunos. Destaca-se ainda a mediação do LD pelo professor, que
se reflete no seu comprometimento com a autonomia intelectual dos alunos.
Bittencourt (2004) aponta que a História e as demais disciplinas escolares fazem parte de
um sistema educacional que, mesmo se redefinindo constantemente, tem suas especificidades no
processo de constituição de saberes ou do conhecimento escolar. Ainda segundo a autora, uma
das dificuldades dos professores do Ensino de História é fazer a dessincretização do saber histórico
do livro. É nesse sentido que a teoria da transposição didática abordada por Chevallard (1991)
avança nessa discussão, afirmando que os saberes produzidos na academia precisam circular no
espaço da escola, de modo que os alunos compreendam com fluência o que está sendo estudado.
Nesta perspectiva, o conceito de transposição didática (Chevallard, 1991) aparece como um
instrumento relevante para esclarecer esse tipo de problema. O termo transposição implica no
reconhecimento da diferenciação entre saber acadêmico e saber escolar, considerados como
saberes específicos de natureza e funções sociais distintas, nem sempre evidentes nas análises
sobre a dimensão cognitiva do processo de ensino aprendizagem.
História. 82
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
15. EXERCÍCIOS
História. 83
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
O Item I é verdadeiro, pois assiste-se, assim, a um mesmo, para não dizer homogêneo,
movimento planetário de reativação do passado, e podem-se observar, simultaneamente,
numerosas semelhanças nas expectativas da opinião pública e nas políticas empregadas para
dar um “justo” lugar à história e à memória em contextos aparentemente muito distantes uns dos
outros.
O Item II é falso, pois esta mudança não diz respeito apenas à civilização europeia, mas atinge
um espaço bem mais amplo, global sem dúvida, com todas as precauções que o uso deste termo
implica atualmente. Mesmo que isso pudesse naturalmente explicar certas semelhanças na
gestão do passado, as diferenças de situação na história respectiva do pós-guerra na Europa
e na Ásia, especialmente na Alemanha e no Japão, e mais ainda as diferenças de
cultura, particularmente em tudo o que concerne às relações entre tradição e modernidade,
eram suficientemente grandes para que as diferenças se sobrepusessem às semelhanças.
O Item III é verdadeiro, pois duas séries de elementos permitem destrinchar ad mínima a ideia de
uma globalização das relações com o passado: uma sobressai do realce dado às temporalidades
comparáveis na cronologia da lembrança de episódios traumáticos, a outra, aqui, da emergência
de um novo espaço público mundial.
O Item IV é verdadeiro, pois este novo regime de historicidade que valoriza a lembrança, que
elabora o tempo histórico privilegiando a visão do presente, desenvolve-se lado a lado
com a emergência de um novo espaço público global que contribui para mudar nossa visão da
História. Em primeiro lugar, de uma ponta à outra do planeta, os Estados estão, hoje, confrontados
com visões concorrentes e alternativas do passado que colocam em questão a tradicional
dominação da história nacional. Este espaço se caracteriza por uma crescente escuta
de grupos que propõem narrações históricas que tendem a rejeitar não apenas a história
nacional, mas também parte importante da história científica, acadêmica, suspeita, no
melhor dos casos, de cegueira quanto ao destino dos “esquecidos” da História ou, no pior
dos casos, de ser uma “história oficial” produtora de “tabus”, quando não de contribuir para a
manutenção de um sistema de dominação.
Assim, a resposta correta é a letra C).
(ROUSSO. 2013)
Gabarito: C
2. (Pref. de Juazeiro do Norte-CE - Professor de História /2019)
Trata-se de um conceito para designar as atitudes mentais de uma sociedade, os valores, o
sentimento, o imaginário, os medos, o que se considera verdade, ou seja, todas as atividades
inconscientes de determinada época. São, portanto, aqueles elementos culturais e de
pensamento inseridos no cotidiano que os indivíduos não percebem. Tal conceito está muito
ligado à questão temporal, pois a mentalidade é considerada uma estrutura de longa
duração.
(Adaptado de SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de Conceitos
Históricos. São Paulo: Contexto, 2005, p.279).
História. 84
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 85
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
(NICOLAZZI. 2000)
Gabarito: E
3. (Pref. de Juazeiro do Norte-CE - Professor de História /2019)
São expoentes da História Social Inglesa.
A) Michel de Certeau e Roger Chartier.
B) Robert Darnton e Peter Burke.
C) Edward Thompson e Eric Hobsbawm.
D) Moses Finley e Peter Gay.
E) Christopher Hill e Carl Sandburg.
Comentários:
A Alternativa A) é incorreta, pois Michel de Certeau (Chambéry, (França), 1925 - Paris, 9 de janeiro
de 1986) foi um historiador e erudito francês. Roger Chartier (Lyon, 9 de dezembro de 1945) é um
historiador francês vinculado à atual historiografia da Escola dos Annales.
A Alternativa B) é incorreta, pois Robert Darnton (Nova Iorque, 10 de maio de 1939) é um
historiador cultural e bibliotecário estadunidense. Peter Burke (Stanmore, 16 de agosto de 1937) é
um historiador inglês.
A Alternativa C) é correta, pois O historiador inglês Edward Palmer Thompson nasceu na cidade de
Oxford, na Inglaterra, no dia 3 de fevereiro de 1924. Marxista convicto, ele é respeitado até hoje
como um dos maiores da história do século XX nesta área. No período da Segunda Guerra Mundial
ele atuou na Itália, no combate contra o fascismo e seu líder, Benito Mussolini. Eric Hobsbawm é
um dos mais importantes e renomados historiadores do mundo. Filho de pais judeus, Eric John
Earnest Hobsbawm nasceu no dia 9 de junho de 1917 na cidade de Alexandria, Egito, quando o
país se encontrava sob domínio britânico. Por este motivo, possui também nacionalidade britânica.
Passou os anos iniciais de sua vida vivendo nas cidades de Viena e Berlim, numa fase em que
Áustria e Alemanha viviam graves crises econômicas e sociais em decorrência da Primeira Guerra
Mundial. Muito novo, aos 14 anos de idade, Eric Hobsbawm já havia perdido seus pais, o que
refletiu em sua adoção e da irmã Nancy por parte da tia materna Gretl. Foi, então, viver em um
novo lar na cidade de Londres, em 1933.
A Alternativa D) é incorreta, pois Moses Finley (20 de maio de 1912 - 23 de junho de 1986) foi um
historiador americano radicado na Inglaterra, especialista na economia do mundo greco-romano.
Peter Gay, nascido Peter Joachim Fröhlich (Berlim, 20 de junho de 1923 - Manhattan, 12 de maio
de 2015), foi um historiador alemão, radicado nos Estados Unidos da América.
A Alternativa E) é incorreta, pois John Edward Christopher Hill (Iorque, 6 de fevereiro de 1912 —
Chipping Norton, Oxfordshire, 23 de fevereiro de 2003) foi um historiador marxista britânico. Carl
August Sandburg (6 de Janeiro de 1878 – 22 de Julho de 1967), foi um poeta, historiador, novelista
e folclorista estadunidense.
(SANTANA. 2020; JUNIOR. 2020)
História. 86
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Gabarito: C
4. (Pref. de Juazeiro do Norte-CE - Professor de História /2019)
Sobre o conceito de fontes históricas, analise as afirmativas a seguir.
I. É tudo aquilo produzido pela humanidade no tempo e no espaço; a herança material e
imaterial deixada pelos antepassados que serve de base para a construção do conhecimento
histórico.
II. Vestígio é a palavra atualmente preferida pelos historiadores que defendem que a fonte
histórica é mais do que o documento oficial, que os mitos, a fala, o cinema, a literatura, tudo
isso, como produtos humanos, torna-se fonte para o conhecimento da História.
III. No mundo ocidental, as primeiras ideias sistematizadas acerca da natureza das fontes
históricas surgiram entre o século XVIII e o início do XIX, com os eruditos franceses que
começaram a sistematizar a História escrita e, logo, a valorizar o documento.
História. 87
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
É a fonte do conhecimento histórico, é nela que se apoia o conhecimento que se produz a respeito
da história. Elas indicam a base e o ponto de apoio, o repositório dos elementos que definem os
fenômenos cujas características se buscam compreender. A discussão sobre as fontes neste
trabalho, ainda que de uma maneira sintetizada, busca demonstrar qual o material que os
historiadores utilizam ao fazer a história. As fontes históricas são para os historiadores, aquilo que
o permite moldar seu pensamento sobre a história, seria o barro para o artesão, que forja entre
seus dedos uma representação do que ele próprio está envolvido. Quando o historiador trabalha
com as fontes históricas, este, como se pode observar tece determinadas interpretações,
influenciado pelo seu presente. No entanto, o historiador, a partir de outros textos, de elementos
diversos inscritos em uma historicidade específica, contextualizada, busca a compreensão do
significado de tal fonte, busca qual representação de mundo está inserida o grupo que a forjou.
Assim, a resposta correta é a letra C).
(XAVIER. 2009)
Gabarito: C
5. (IBADE – SEE-Vitória-ES – Professor de História PEB III / 2019)
Leia o texto a respeito do termo “Democracia Racial”: “Os estudantes das relações raciais no
Brasil ficam sempre intrigados com a origem e a disseminação do termo “democracia racial”.
A começar pelo simples fato da expressão, atribuída a Gilberto Freyre, não ser encontrada em
suas obras mais importantes e de não aparecer na literatura especializada a não ser
tardiamente, nos anos 1950”.
(Antonio Sérgio Alfredo Guimarães. Democracia racial. Disponível em:
https://bit.ly/2AQtI3h).
Embora o termo não se apresente, pode-se afirmar que a ideia de uma democracia racial está
presente nas obras de Freyre pois pregava que no Brasil:
A) a miscigenação entre as raças na América portuguesa, teria produzido uma população
consciente da contribuição negra em sua formação social.
B) houve, por necessidade histórica, a flexibilização da rígida segregação racial imposta pelas
monarquias católicas da Península Ibérica.
C) a presença de missões jesuíticas facilitou a inserção social dos nativos e percebeu a
absorção de africanos como oportunidade de expansão do catolicismo.
D) o caráter jurídico da expansão portuguesa facilitou a implementação de normas que
regulavam e harmonizaram as relações entre as raças no ultramar.
E) o caráter ibérico responsável pela harmonia social leva a que a democracia política passe a
segundo plano, uma vez substituída pela democracia étnica/social.
Comentários:
A Alternativa A) é incorreta, pois em Casa grande e senzala, a obra mais difundida desse autor, ele
vai na contramão das teorias do chamado racismo científico do início do século XX, que defendiam
a pureza racial e o “branqueamento” do povo brasileiro como ponto de partida para chegar-se a
História. 88
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
um estágio de maior evolução social. Para o sociólogo brasileiro, era a miscigenação que gerava
um povo mais forte e capaz de maior desenvolvimento. O problema da tese de Freyre é que ela
considerava como certa a existência de uma relação cordial entre senhores e escravos no período
colonial brasileiro.
A Alternativa B) é incorreta, pois segundo o sociólogo, os senhores mantinham uma relação de
cordialidade com seus escravos e escravas, mantendo com estas, muitas vezes, relações sexuais. O
problema dessa visão é que ela não enxerga que a cordialidade do escravo para com o seu senhor
advém do medo e que as relações sexuais entre escravas e senhores brancos eram, na maioria das
vezes, estupro ou consentidas por elas por conta do medo que tinham de sofrer castigos ao
negarem-se a tal ato. O mesmo fenômeno aconteceu com as índias brasileiras e os brancos.
A Alternativa C) é incorreta, pois esse ciclo de abusos sexuais resultou nos primeiros casos de
miscigenação no Brasil ainda no século XVI e intensificou-se até o fim da escravidão. Não podemos
dizer que toda a miscigenação do período seja fruto de abuso e de estupros, mas a maior parte foi.
Acontece que em outros países, como os Estados Unidos, que também tiveram grande parte da
mão de obra da época baseada na escravização de povos africanos, quase não houve
miscigenação.
A Alternativa D) é incorreta, pois, de fato, dado o fim da escravidão, pode-se constatar no Brasil a
grande miscigenação entre negros de origem africana, brancos de origem europeia e índios nativos
das terras brasileiras, o que difere nosso país de todos os outros territórios colonizados no
Ocidente. No entanto, o racismo persistiu ainda por muito tempo de maneira descarada, pública e
impune e, ainda hoje, persiste nos âmbitos privado e público de maneira velada e estrutural.
A Alternativa E) é correta, pois seu primeiro e mais conhecido livro é Casa-Grande & Senzala,
publicado no ano de 1933 e escrito em Portugal. Nele, Freyre rechaça as doutrinas racistas de
branqueamento do Brasil. Baseado em Franz Boas, demonstrou que o determinismo racial ou
climático não influencia no desenvolvimento de um país. Entretanto, essa obra deu origem ao mito
da democracia racial no Brasil, com relações harmônicas Inter étnicas que mitigariam a escravidão
brasileira, que, segundo Freyre, fora um pouco melhor que a norte-americana. (PORFÍRIO. 2020)
Gabarito: E
6. (NUCEPE/UESPI – Pref. Teresina-PI - SEMEC - Professor 2º Ciclo - História / 2019)
O papel da teoria da História na formação do historiador, como se deve ter percebido, é
fundamental, e convém ainda considerar que há também uma história envolvida no
crescimento da valorização da Teoria pelos historiadores. O crescente descrédito da história
exclusivamente narrativa, em favor de uma história analítica, reflexiva, problematizadora – o
que se acentua notadamente a partir do século XX – contribuiu certamente para que a Teoria
ocupasse cada vez mais um lugar privilegiado na História elaborada pelos historiadores
profissionais.
(BARROS, José D’Assunção. Teoria da História: princípios e conceitos fundamentais.Rio de
Janeiro:Vozes, 2013,v.1, p.98-99).
Entre os historiadores é cada vez mais consensual a ideia de que é a Teoria que dará um lastro
essencial ao historiador em formação, de modo que se construa uma História
História. 89
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 90
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
homens em sua vida particular e pública, com seus nomes, iniciativas e valores, experiências
e esperanças, em sua finitude, em sua historicidade [...]
(REIS, José Carlos. Escola dos Annales: a inovação em História. São Paulo: Paz e Terra, 2000,
p.11).
Eis a convicção de Heródoto e dos historiadores que vieram depois dele: “a História é uma
ciência das ações humanas no tempo. Mas, a concepção de tempo histórico, também, possui
sua historicidade, e o historiador dos Annales é uma evidência desse fenômeno, pois
A) a sua perspectiva de tempo histórico é de contemplação do que é eterno, imutável,
singular e cognoscível. Desenvolve uma abordagem que privilegia o progresso, como
resultado natural da evolução humana.
B) no século XX, após a aproximação entre Ciências Sociais e História, desenvolveu uma
abordagem do tempo, que é genética, sucessiva e ideográfica, com a finalidade de alcançar o
absoluto através da razão e do destino das coisas.
C) promoveu uma revolução epistemológica no conceito de tempo histórico, com uma
representação desse fenômeno que se dá ao conceito, é exterior ao sujeito e mostra-se capaz
de orientar a proposição, a partir de considerações teleológicas da história.
D) trabalha com uma noção de “tempo histórico do qual se fala”, em que “agir e conhecer”
são atividades diferentes: a dos estruturalistas, da simultaneidade entre
passado/presente/futuro, em que as ações humanas adquirem continuidade dialética.
E) defende uma visão especulativa e revolucionária do tempo histórico, orientadora de um
movimento em direção ao progresso, promovido pela racionalidade do devir histórico que
alcança o absoluto através da razão e do destino das coisas.
Comentários:
A alternativa A está incorreta, porque, a concepção de tempo histórico defendida por Heródoto
e pelos historiadores de Annales, defende o oposto do expresso nesta alternativa, no qual a
perspectiva de tempo histórico é vista como algo finito, mutável, plural e inatingível.
A alternativa B é incorreta, visto que, essa nova concepção de tempo histórico não pretende
desenvolver uma visão absoluta, mas sim uma História que compreende a sua pluralidade e
finitude.
A alternativa C está correta, pois, Heródoto, nascido em Halicarnasso, na Ásia Menor, teve um
papel importante na revolução contra o tirano Lídames. Posteriormente, mudou-se para Atenas,
onde começou a anotar sistematicamente a história de sua própria época – particularmente as
guerras entre Grécia e Pérsia – e os fatos que a precederam. Embora acontecimentos anteriores
já houvessem sido registrados, Heródoto é considerado o "Pai da História", por ter sido o
primeiro homem a tentar um estudo ordenado e objetivo das inter-relações entre os eventos
históricos. Heródoto viajou para o Egito e percorreu o Mediterrâneo, estudando as culturas
dessas regiões e registrando os fatos do modo mais fiel possível para a época. Ao teorizar sobre
a História, ele aplicou a tradicional ideia grega da moderação, ou meio termo, segundo a qual o
equilíbrio é desejável, e o excesso e o desequilíbrio são a receita para o desastre. Tal método de
História. 91
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
avaliação histórica prosperou nas mãos dos historiadores de Annales, no qual incluíram o estudo
teleológico na concepção dos eventos.
A alternativa D é incorreta, de tal modo que, a concepção de uma narrativa historiográfica do
tempo histórico do qual se fala não é a de Heródoto, mas está mais próxima da noção de outro
historiador do mundo antigo, a saber, Tucídides (460 a.C. - 400 a.C.). Este historiador escreveu a
'História da Guerra do Peloponeso', da qual foi testemunha e participante, configurando uma
abordagem imparcial e analítica dos acontecimentos, o que lhe garantiu o posto de ser um dos
pais da ciência histórica.
A alternativa E também está incorreta, sendo que, mais uma vez, a concepção de tempo
histórico da qual esta questão trata não tem como pretensão desenvolver uma concepção que
tende ao absoluto, pois entende que tal concepção é inatingível.
(HISTÓRIA,2009-2020)
Gabarito: C
8. (IBADE - SEMED-Porto Velho-RO – Professor Nível II - História / 2019)
“O contato de terras, gentes costumes em tudo diferentes do que até então conhecia,
pareceu favorável à revisão de ideias velhas e a busca de novos conhecimentos que me
ajudassem, a abandoná-las ou depurá-las (...) Foi só depois de conhecer as obras de críticos
ligados ao “círculo” de Stefan George, especialmente de um deles, Ernst Kantorowicz, que
através de Sombart pude afinal descobrir Max Weber”.
HOLANDA, Sérgio Buarque. “Tentativas de Mitologia.” São Paulo: Perspectiva, 1979
Entre as influências de Weber em Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda está:
A) a prática ensaística, característica que também está presente nas primeiras obras de
história do Brasil.
B) o uso da dialética, que Weber absorve a partir da leitura das obras de Hegel.
C) a aplicação dos “tipos ideais”, embora Buarque modifique-os, na medida em que focaliza
pares.
D) a elaboração de uma narrativa histórica que se pauta pela análise da economia no período
colônial.
E) o “materialismo histórico”, método marxista que também pautou as análises de Weber.
Comentário:
A Alternativa A) é incorreta, pois como historiador, inovou ao usar teses de Max Weber na
pesquisa e na análise de nossa história, como contraponto às ideias marxistas que davam, entre
nós, seus primeiros passos com o trabalho de escritores ligados ao Partido Comunista do Brasil e
com a obra mais sistemática de Caio Prado Júnior.
A Alternativa B) é incorreta, pois é um livro inovador no que diz respeito à busca da identidade
nacional. Num momento onde a psicologia vinha se desenvolvendo muito e a sociologia começava
a perder seu caráter altamente “científico”, Sérgio Buarque foi atrás do que poderíamos chamar de
História. 92
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
essência do homem brasileiro. Num jogo de idas e vindas pela nossa história, deixando claro os
momentos que mais considerava, Sérgio Buarque foi construindo um panorama histórico no qual
inseriu o “homem cordial”, que nada mais é do que fruto de nossa história, originada da
colonização portuguesa, de uma estrutura política, econômica e social completamente instável de
famílias patriarcais e escravagistas.
A Alternativa C) é correta, pois Raízes do Brasil é um exemplo da aplicação dos tipos ideais
weberianos na análise da situação histórica, traduzindo-se nas contraposições entre trabalho e
aventura, o racional e o cordial, o pessoal e o impessoal etc. Sérgio Buarque foi pioneiro também
no uso do conceito weberiano de patrimonialismo para descrever as relações politicamente
promíscuas entre o Estado, os governos e as classes dominantes no Brasil. É também do sociólogo
alemão a idéia de capitalismo que ilumina sua obra, que não é um modo de produção específico,
com leis e formas de organização próprias da produção e distribuição, mas um sistema movido
pela busca do lucro monetário.
A Alternativa D) é incorreta, pois na obra, Sérgio Buarque buscou na história colonial as origens dos
problemas nacionais. Como veremos adiante, descreveu o brasileiro como um “homem cordial”,
isto é, que age pelo coração e pelo sentimento, preferindo as relações pessoais ao cumprimento
de leis objetivas e imparciais.
A Alternativa E) é incorreta, pois esse arsenal teórico permitiu-lhe ir mais longe do que fora
Gilberto Freyre, temperando as teses psicologistas e culturalistas com análises de inspiração
sociológica mais acurada, com a vantagem adicional de permitir a seu autor - um homem de
cultura reconhecidamente larga, que excedia o campo da história - fazer a crítica de posições
ideológicas ligadas aos interesses e à visão de mundo das classes dominantes.
(SANTOS. 2020)
Gabarito: C
9. (IBADE - SEMED-Porto Velho-RO – Professor Nível II - História / 2019)
Gilberto Freyre em Casa Grande e Senzala e Raymundo Faoro em Os Donos do Poder
apresentam interpretações opostas a respeito da formação da sociedade brasileira. A
alternativa que melhor apresenta a oposição fundamental entre as análises desses dois
autores é:
A) Havia para Freyre uma democracia racial no Brasil, para Faoro a escravidão marcou a
formação da sociedade.
B) Segundo Freyre os fatores sociológicos foram essenciais, para Faoro foram os econômicos.
C) Freyre afirmava que a cultura era miscigenada, Faoro que os aspectos culturais se
pautavam pela burocracia.
D) Para Freyre a família marcava a colonização, para Faoro o Estado teve papel central na
constituição do país.
E) De acordo com Freyre havia grande controle metropolitano, já Faoro enfatiza a autonomia
colonial.
História. 93
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Comentários:
A Alternativa A) é incorreta, pois a obra concebida pelo sociólogo Gilberto Freyre é um clássico que
trata da formação do povo brasileiro, ressaltando seus defeitos e suas qualidades e as
peculiaridades da sua origem. O livro sublinha o quanto a sociedade brasileira era patriarcal,
destaca aspectos do cotidiano na colônia (por exemplo, ficamos sabendo, a partir de Freyre, que
quase não havia escolas, as crianças eram criadas no mato). A proposta de Faoro, contudo, é
desnudar algo que não é de se louvar: o legado patrimonialista, materializado através de uma
tônica constante em nossa formação e desenvolvimento, aquilo que ele chama de “capitalismo
politicamente orientado” – conceito mais genérico para o que modernamente se chamaria
“Capitalismo de Estado”.
A Alternativa B) é incorreta, pois Casa-grande & senzala aborda especialmente aspectos
relacionados a miscigenação, ocorrida com tanta intensidade potencialmente porque havia poucas
mulheres brancas disponíveis na colônia. A vinculação das práticas comerciais e das atividades
econômicas a um estrato burocrático, encastelado diretamente no corpo do Estado, é algo que já
foi muito bem resumido por autores como Ricardo Vélez-Rodríguez, que estudou a obra de Faoro,
bem como a tradição weberiana a que ele se vincula, da qual é tributário justamente pela noção
do “patrimonialismo”. Nesse sentido, Faoro vai, sem negá-lo e até exibindo muito respeito por
suas elaborações, contrabalançar um pouco Casa Grande & Senzala de Gilberto Freyre, no sentido
de que procura demonstrar um grau um pouco maior de subordinação do patriarcalismo senhorial
da colônia ao poder central da metrópole lusa, bem como um incremento desse poder quando da
instauração dos Governos Gerais por substituição ao antigo modelo das capitanias e sesmarias.
A Alternativa C) é incorreta, pois Faoro ressaltará também uma importante associação de
dependência dos senhores de terras ao longo do Império com credores da capital – portanto, do
centro de poder, do centro burocrático-comercial -, fundamentais para sustentar o regime laboral
escravo, como uma das provas de que sequer aqui houve efetivos traços de feudalismo. Desafiará
também alguns simplismos reversos dos monarquistas, ainda que cometidos com a melhor das
intenções, mostrando que a decadência desse sistema econômico e o desenvolvimento, sobretudo
em São Paulo, de um regime laboral que depende menos do centro serão decisivos na
proclamação da República, mais do que simplesmente a abolição da escravatura em si mesma,
visto que nem todos os republicanos eram escravocratas. Segundo Freyre, formou-se na América
tropical uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica de exploração econômica,
híbrida de índio - e mais tarde de negro - na composição. Sociedade que se desenvolveria
defendida menos pela consciência de raça.
A Alternativa D) é correta, pois o livro do intelectual Gilberto Freyre é considerado o maior clássico
da sociologia brasileira. Longe de romantizar o colonizador português, o sociólogo exalta a
importância da miscigenação e da mistura das três raças que formaram o nosso povo. A obra
concebida pelo sociólogo Gilberto Freyre é um clássico que trata da formação do povo brasileiro,
ressaltando seus defeitos e suas qualidades e as peculiaridades da sua origem. Para Raimundo
Faoro, o estamento burocrático, fundado no sistema patrimonial do capitalismo politicamente
orientado, adquiriu o conteúdo aristocrático, da nobreza da toga e do título. A pressão da ideologia
liberal e democrática não quebrou, nem diluiu, nem desfez o patronato político sobre a nação,
História. 94
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 95
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A Alternativa A) é incorreta, pois, no entanto, para além de uma rápida observação sobre a
necessidade de ir além de uma história das classes dirigentes, Caio Prado Jr. não oferece uma
indicação mais precisa sobre o que seria a "relativa novidade" do método empregado em Evolução
Política do Brasil. Na verdade, seja nesse livro, seja em suas obras posteriores sobre a história
brasileira - Formação do Brasil Contemporâneo: Colônia (1942) e História Econômica do
Brasil (1945), não encontramos muitos elementos para responder a essa indagação. Discretos
quanto aos problemas de fundo teórico ou metodológico, esses textos privilegiam a análise
documental e as referências de cunho historiográfico, e apresentam um uso relativamente restrito
do aparato conceitual do marxismo.
A Alternativa B) é correta, pois, para Prado Jr., as contradições através de que se desenrola o
processo histórico-social se caracterizam pela eclosão, no interior de qualquer situação, e em
função dela mesmo e como seu contrário, de uma situação distinta que tende a eliminá-la. É na
superação dessas contradições, isto é, pela eliminação dos contrários e conflitantes que nelas
ocorrem, e sua síntese, que reside o dinamismo dos processos histórico-sociais, e que se situam as
forças internas que impelem o curso dos acontecimentos que fazem a trama da história.
A Alternativa C) é incorreta, pois a sociedade colonial não pode ser completamente distinguida
dele: à base econômica fundada na grande unidade produtora voltada para exportação
corresponde uma ordem social precária e desconexa, em uma "ausência quase completa de
superestrutura". Como vimos, é justamente na crise do sistema colonial que Caio Prado Jr. localiza
as "raízes profundas" do processo de independência. No final do século XVIII, a progressiva
desagregação desse sistema e as contradições daí resultantes são o resultado do esgotamento das
estruturas que haviam sido geradas pelo processo de colonização. As contradições surgem do fato
de que essas estruturas, que se haviam constituído para a exploração econômica do Novo Mundo,
agora se revelavam insuficientes para dar conta de novas necessidades que o próprio desenrolar
da atividade colonizadora produzira.
A Alternativa D) é incorreta, pois como o próprio Caio Prado Jr. faz questão de observar, o quadro
que nos apresenta do sistema colonial não se restringe a uma descrição dos mecanismos políticos
e administrativos que constituem o regime de subordinação da colônia em face da metrópole. Para
o autor, a ideia de sistema colonial teria um conteúdo mais amplo, consistindo "no conjunto de
caracteres e elementos econômicos, sociais e políticos que constituem a obra aqui realizada: pela
colonização".
A Alternativa E) é incorreta, pois ao destacar esses três aspectos gerais da "interpretação
materialista da história" proposta por Caio Prado Jr. - história como processo que se desenrola de
forma contraditória e cujo fundamento se encontra na esfera da vida econômica -, minha
pretensão não é, como disse antes, a exaustão. Os três pontos mencionados interessam
prioritariamente de um ponto de vista heurístico: podem servir de balizas para a discussão sobre a
imagem da história brasileira que Caio Prado Jr. apresenta em seus textos. Nesse sentido, entende-
se que sua análise sobre a "revolução da Independência" oferece uma porta de entrada
privilegiada para a abordagem dessa questão.
(FERREIRA. 2008)
Gabarito: B
História. 96
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 97
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A leitura das citações acima evidencia que essas se referem, respectivamente, às seguintes
escolas históricas:
A) marxismo; escola dos Annales; escola metódica.
B) positivismo, escola de Frankfurt; história cultural.
C) materialismo histórico, positivismo; escola de Annales.
D) escola metódica; romantismo; escola dos Annales.
Comentários:
A alternativa A é a resposta correta.
O Item I refere-se ao marxismo, pois numa edição posterior do Manifesto, Engels observa que nas
sociedades pré-modernas as classes sociais nem sempre eram bem definidas, sendo que no caso
de algumas sociedades indígenas, por exemplo, sequer existiriam divisões hierárquicas rígidas. O
capitalismo moderno ocidental, entretanto, traz consigo duas novas classes fundamentais: a
burguesia e o proletariado. A primeira, proprietária dos meios de produção, subordina a si a
segunda, que não possui mais do que sua própria força de trabalho. O proletariado produz a
riqueza, mas não tem acesso a ela. Essa situação é capaz de criar grandes confrontos, que muitas
vezes resultam em violência. Para os marxistas, compreender tais episódios, da formação do
movimento operário até os dias de hoje, é compreender o desenvolvimento da luta de classes ao
longo da história moderna. Tal compreensão é essencial, pois no interior de tais conflitos estão as
sementes de uma nova sociedade que superará o modo de produção estabelecido. Os conflitos
sociais são vistos como o motor da história de uma sociedade que está em constante mudança.
Olhar para eles é ver valores, propostas e modelos sociais que estão sendo rebatidos pelos grupos
oprimidos e que, eventualmente, podem ser superados. Essa forma de ver o mundo, e a história
em si, teve um impacto importantíssimo no pensamento moderno. Ainda que não se concorde
com ela, há que se reconhecer sua relevância sociológica no que diz respeito a historicização dos
modelos econômicos, que passam a ser vistos como resultados dos conflitos sociais.
História. 98
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
O Item II refere-se à escola dos Annales, pois a Escola dos Annales foi um movimento
historiográfico surgido na França, durante a primeira metade do século XX. Em 1929, surgiu na
França uma revista intitulada Annales d’Histoire Économique et Sociale, fundada por Lucien Febvre
e Marc Bloch. Ao longo da década de 1930, a revista se tornaria símbolo de uma nova corrente
historiográfica identificada como Escola dos Annales. A proposta inicial do periódico era se livrar de
uma visão positivista da escrita da História que havia dominado o final do século XIX e início do XX.
Sob esta visão, a História era relatada como uma crônica de acontecimentos, o novo modelo
pretendia em substituir as visões breves anteriores por análises de processos de longa duração
com a finalidade de permitir maior e melhor compreensão das civilizações das “mentalidades”. O
novo movimento historiográfico foi muito impactante e renovador, colocando em questionamento
a historiografia tradicional e apresentando novos e ricos elementos para o conhecimento das
sociedades. Apresentava uma História bem mais vasta do que a que era praticada até então,
apresentando todos os aspectos possíveis da vida humana ligada à análise das estruturas.
O Item III refere-se à escola metódica, pois a escola metódica surgiu na França em finais do século
XIX em um contexto de forte sentimento patriótico e de formação da unidade nacional. Neste
período, buscava-se consagrar à História o status de ciência com a utilização de métodos científicos
que a distanciassem da literatura. Charles Victor Langlois e Charles Seignobos apreendem as ideias
de Gabriel Monod, então fundador da Revue Historique juntamente com Gustave Charles Fagniez,
e produziram um manual intitulado Introdução aos Estudos Históricos, publicado em 1898, e que
contém as suas ideias e métodos que os historiadores deveriam se basear para o seu ofício.
(JUNIOR, 2020; BETONI, 2020)
Gabarito: A
13. (Pref. do Rio de Janeiro - SME-RJ - Professor de Ensino Fundamental – História / 2019)
“[...] O objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o
singular, favorável a abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a
uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os
artefatos ou máquinas], por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
aparentemente mais desligadas daqueles que as criam, são os homens que a história quer
capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o
bom historiador se parece com um ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ele
está a sua caça.”
BLOCH, Marc. Apologia da História, ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
Os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre Propuseram uma nova concepção de escrita da
história pautada:
A) No apoio ao rigor da chamada escola metódica, sobretudo quanto ao uso exclusivo de
fontes escritas produzidas pelo Estado e pela Igreja.
B) Na crítica ao Marxismo, sobretudo quanto aos pressupostos teológicos e classistas, e
aprimoramento dos pressupostos ligados aos antiquários.
História. 99
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 100
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Ao iniciar a aula, o professor resolvi colocar no quadro a seguinte sentença: “o passado é, por
definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa
em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
Comentários:
A Alternativa A) é incorreta, pois a história, os homens e o tempo, traz em seu título o que o autor
pretende representar: o homem quanto sujeito da sua história. Não mais uma História atrelada
apenas aos fatos, às datas, aos relatos. Busca-se a partir de então, uma história que consiga
compreender as relações que se deram através dos fatos, suas problematizações e seu contextos
históricos. Indicando dessa maneira que o seu objeto não era o passado, mas o homem, mais
precisamente os homens no tempo. Porém nunca se esquecendo de aliar o passado com presente,
uma vez que as indagações do presente são o que fazem o historiador voltar-se para o passado.
A Alternativa B) é incorreta, pois a observação histórica, busca-se através da observação histórica
os testemunhos e sua transmissão. O historiador, na sua leitura, não deve se atrelar apenas aos
documentos escritos, mas deve trabalhar também os testemunhos não escritos, em particular os
da arqueologia. Deixando de ser obcecado pelo relato, sabendo que não vai conseguir saber e
conhecer tudo a respeito do passado, construindo assim um conhecimento pautado em vestígios –
uma vez que o historiador não têm contato direto com seu objeto de estudo –, reconstruindo esse
passado, apoiando-se não apenas na História, mas aberto a outras possibilidades que as outras
ciências podem ceder. O autor indica que o passado estará sempre em processo e progresso,
mudando muitas vezes seu modo de compreendê-lo, sendo que poderá ser escrito de maneira
diferenciada de acordo com a visão de cada historiador e/ou do leitor.
A Alternativa C) é correta, pois relaciona a história ao homem, o tempo, como visualizam seus
ídolos, e o que entende por passado e presente. Ao escrutar essas formas relacionadas á sua
pesquisa, afirma que “…o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne
humana, sabe que ali está a sua caça.” Ou seja, a história, para Bloch, é por sua vez, a história dos
História. 101
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
homens no tempo, e não apenas de fatos estanques e impermeáveis. Haja vista sua grande
preocupação com a interdisciplinaridade ao qual os pesquisadores deveriam estar entrelaçados.
Ou seja, a compreensão da sociedade passava por temas e conteúdos de várias outras ciências, o
que deixa a entender que seu pensamento ainda converge para a proposta da fase da Escola do
Annales, onde a crítica estava exatamente, entre outras, para a história da economia e política,
que elencavam assuntos dos grandes homens e militares. E, sim, como o próprio Bloch irá citar ao
longo da obra, uma história dos homens no tempo.
A Alternativa D) é incorreta, pois a problematização proposta pelo autor, uma vez que o mesmo
pode estar querendo trazer para o campo dos estudos alguns pontos pertinentes ao momento da
pesquisa, e a quebra do paradigma daquilo que o passado não pode embasa-la, sem
primeiramente interpretarmos o presente, e colocando este último como sendo importante
também, pois não podemos, segundo o que é reforçado, nos atermos apenas ao passado sem nos
envolver e compreender o presente, se assim fizermos, ainda frisa, estaremos num campo vazia e
perigoso.
(PEREIRA, 2020; BLOCH, 1997)
Gabarito: C
15. (SME-RJ - Pref. do Rio de Janeiro-RJ - Professor de EF - Anos Iniciais / 2019)
“O risco maior de utilizar o conceito do senso comum ou proveniente de outros campos de
estudos É perder o seu sentido histórico e empregado de forma atemporal. A utilização de
conceitos em sentido atemporal conduz a um dos grandes pecados abominados por todos
que se dedicam à História [...]. Advertem os historiadores que, ao fazer uso de noções
“emprestadas“ de outros domínios científicos ou do senso comum, é necessário desconfiar
das imprecisões dos termos e ser cauteloso com a leitura das fontes em que eles se
encontram; ou seja, deve-se ter um domínio metodológico para o emprego correto do
conceito“.
BITTENCOURT, Circe. Ensino da História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
Todo o conhecimento histórico é determinado pelos noções de tempo e pelo espaço. Nesse
sentido, o professor, ao ensinar História, deve evitar a todo custo o(a):
A) anacronismo
B) diacronismo
C) sincronismo
D) narrativa
Comentários:
A Alternativa A) é correta, pois o anacronismo ou anticronismo consiste basicamente em utilizar os
conceitos e ideias de uma época para analisar os fatos de outro tempo. Em outras palavras, o
anacronismo é uma forma equivocada onde tentamos avaliar um determinado tempo histórico à
luz de valores que não pertencem a esse mesmo tempo histórico. Por mais que isso pareça um
História. 102
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
erro banal ou facilmente perceptível, devemos estar atentos sobre como o anacronismo interfere
no nosso estudo da História.
A Alternativa B) é incorreta, pois o diacronismo é uma abordagem que foca a evolução histórica de
determinado objeto de estudo.
A Alternativa C) é incorreta, pois o sincronismo é estado daquilo que é sincrônico, que ocorre ao
mesmo tempo que outra coisa; simultaneidade de dois ou mais fenômenos ou fatos: sincronismo
de oscilação de dois pêndulos; coincidência de datas na história de povos diferentes.
A Alternativa D) é incorreta, pois a narrativa é a exposição de um acontecimento ou de uma série
de acontecimentos mais ou menos encadeados, reais ou imaginários, por meio de palavras ou de
imagens.
(SOUSA, 2020)
Gabarito: A
16. (Quadrix - 2018 - SEDF - Professor Substituto - História)
O grande medievalista francês Marc Bloch, autor do clássico Apologia da História ou o ofício
do historiador, inaugurou aconcepção de “história como problema”, em oposição a uma
historiografia positivista que se apoiava em fatos, datas, grandes nomes e heróis. Com
LucienFebvre, ele foi um dos criadores da moderna historiografia conhecida como Escola dos
Anais (Annales).
Relativamente às transformações pelas quais passou a produção e a escrita do conhecimento
histórico a partir das primeiras décadas do século XX, julgue o item seguinte.
Uma característica marcante da nova história, na esteira das inovações trazidas pela Escola
dos Anais, foi o radical afastamento da história em relação às demais ciências humanas e
sociais.
Comentários
A afirmativa dessa questão está errada, uma vez que uma das grandes inovações da Escola dos
Annales foi justamente a interdisciplinaridade, isto é, o aproveitamento e o diálogo com outras
disciplinas, como a sociologia, a geografia, a estatística, a demografia, a ciência política, a
psicologia, a linguística, a antropologia etc.: estiveram fornecendo frequentemente conceitos e
metodologias aos historiadores, e certos desenvolvimentos em campos como História Cultural ou a
História das Mentalidades não teriam sido possíveis, certamente, sem os respectivos diálogos
interdisciplinares com a Antropologia e com a Psicologia. A Escola Positivista, que surgiu no século
XIX, foi que segregou as disciplinas definindo campos específicos de investigação demarcados com
barreiras aparentemente intransponíveis. A Escola dos Annales e, na esteira, a Nova História, ou
terceira geração dos Annales, rompeu com essa postura disciplinar enveredando para outras
propostas historiográficas, com novos problemas, novas abordagens e novos usos do passado. O
fato sobre a interdisciplinaridade é que, ao se colocarem em contato dois campos disciplinares
podem enriquecer sensivelmente um ao outro nos seus próprios modos de ver as coisas e a si
mesmos. Particularmente a História, no decorrer do século XX e além, foi beneficiada por uma
longa história de contribuições interdisciplinares às concepções e abordagens dos historiadores.
História. 103
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 104
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item seguinte, relativos à relação
entre tempo e história.
A noção tripartite do tempo histórico desenvolvida em meados do século XX pelo historiador
francês Fernand Braudel está calcada na distinção entre evento, conjuntura e longa duração.
Comentários
A afirmativa desta questão está certa. Fernand Braudelse tornou um dos mais conhecidos
expoentes da Escola dos Annales. A obra de Braudel definiu uma segunda geração na historiografia
dos Annales e foi muito influente nos anos 1960 e 1970, especialmente por sua obra, O
Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II.Talvez algumas das contribuições
mais criativas tenham sido as experimentações em torno das novas formas de lidar com o tempo.
Épossível encontrar três formas de temporalidade diferentes: a primeira é referente a uma história
quase sem tempo, de longa duração (homem e ambiente); já a segunda uma história das
estruturas civilizacionais dos territórios banhados pelo mediterrâneo, formando uma conjuntura
(tempo lento); a terceira uma história dos acontecimentos ou eventos (tempo curto).Braudel
chega a falar das diferenças entre o tempo do historiador e o tempo do sociólogo. Para ele, o
historiador passaria do tempo curto ao longo e depois ao muito longo, proporcionando uma
análise aprofundada, dentro daquilo que Braudel chama de história inconsciente (que ultrapassa a
História. 105
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
simples superficialidade dos eventos). Já o sociólogo estaria mais voltado apenas para análise
particular, não dando ênfase ao todo.Sendo assim, segundo o pensamento Braudeliano, a história
lidaria muito melhor com a temporalidade do que a sociologia e as demais ciências sociais,
proporcionado uma análise completa e aprofundada. Por isso, ela seria superior às outras ciências.
(REIS, 2012).
Gabarito: Certo
19. (IFB - 2017 - IFB - Professor - História)
Leia as afirmativas sobre o conceito de História do Tempo Presente.
I) Refere-se ao campo da história que se dedica aos estudos do período após a II Guerra ao
final do século XX.
II) Consiste na produção historiográfica na qual não houve ruptura cronológica entre o tempo
dos acontecimentos e o tempo da escritura de sua história.
III) Identifica-se com os estudos historiográficos da História Contemporânea, que utilizam
como metodologia a história oral.
IV) Campo da história em que o historiador é contemporâneo dos acontecimentos que ele
estuda, não havendo, portanto, o elemento de alteridade próprio dos estudos de períodos
mais afastados.
História. 106
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
presente, da História imediata ou ainda do Jornalismo, a história do tempo presente busca colocar
em contexto histórico as sociedades atuais por meio da investigação da construção de seu passado
e de seus usos públicos e políticos, argumentando que o tempo presente não é uma dimensão
ligada apenas ao imediato, mas sim permeada por camadas de passados, lembranças e
experiências.
(DOSSE, 2012).
Gabarito: E
20. (CESPE - 2017 - SEDF - Professor de Educação Básica - História)
Segundo Klaus Bergmann, refletir sobre a História a partir da preocupação da didática da
História significa investigar o que é apreendido no ensino da disciplina (é a tarefa empírica da
didática da História), o que pode ser apreendido (é a tarefa reflexiva) e o que deveria ser
apreendido (é a tarefa normativa). Isso significa dizer que, na discussão da natureza e das
dimensões do saber histórico escolar, é preciso considerar as múltiplas faces desse saber,
desde os planos de prescrição até as representações difundidas a seu respeito e os efeitos da
consciência histórica dentro e fora da escola, sem desprezar os processos objetivos de
apreensão do conhecimento histórico pelos alunos e a construção de conceitos dele
derivados. Os livros didáticos se apresentam como uma das mais importantes formas de
currículo semielaborado, que nasce a partir de distintas visões e recortes acerca da cultura.
Sonia Regina Miranda e Tania Regina de Luca. O livro didático de história hoje: um panorama
a partir do PNLD. In: Revista Brasileira de História. ANPUH, vol. 24, n.º 48, jul.-dez./2004, p.
134 (com adaptações).
Considerando o texto como referência inicial e os aspectos inerentes ao ensino de História,
julgue o item seguinte.
Diferentemente da perspectiva positivista do passado, que resumia as fontes históricas aos
documentos escritos, nos dias atuais podem ser considerados fontes para a História, entre
muitos outros elementos, a imprensa, as mídias digitais, os acervos de museus, além da
linguagem e da oralidade presentes na própria sala de aula.
Comentários
A afirmativa dessa questão está certa, uma vez que a moderna matriz disciplinar da História viu a
mudança dos seus itens programáticos ainda no início do século XX, como a História Problema e a
ampliação de fontes históricas. A expansão da tipologia de fontes históricas, isto é, a multiplicação
das possibilidades de fontes abertas aos historiadores, constituiu-se por isso mesmo em mais uma
das notas importantes do acorde programático principalmente da Escola dos Annales. Doravante,
seria preciso afirmar com convicção cada vez mais fortalecida que não mais deveriam interessar
aos historiadores apenas as fontes de arquivo e as crônicas que dizem respeito à História Política
tradicional. Qualquer vestígio ou qualquer evidência, dos objetos da cultura material às obras
literárias, das séries de dados estatísticos às imagens iconográficas, das canções aos testamentos,
dos diários de pessoas anônimas aos jornais, quase tudo podia ser agora legitimamente utilizado
pelos historiadores. A revolução documental e a nova definição de fonte histórica constituíram
uma das grandes novidades trazidas pelas primeiras gerações da Escola dos Annales. Décadas
História. 107
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
depois, esta mesma expansão documental será evocada pelos historiadores da terceira geração do
movimento, substituindo a história baseada em textos e documentos escritos, por uma história
fundamentada numa ampla variedade de documentos escritos de todos os tipos, documentos
iconográficos, resultados de escavações arqueológicas, documentos orais, etc. Uma estatística,
uma curva de preço, uma fotografia, um filme, ou, quando se trata de um passado mais longínquo,
vestígios de pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são documentos de primeira ordem para a
História Nova.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Certo
21. (FGV - 2016 - SME - SP - Professor de Ensino Fundamental II e Médio - História)
“Defendo vigorosamente a opinião de que aquilo que os historiadores investigam é real. O
ponto do qual os historiadores devem partir, por mais longe dele que possam chegar, é a
distinção fundamental, para eles, absolutamente central, entre fato comprovável e ficção,
entre declarações históricas baseadas em evidências sujeitas a evidenciação e aquelas que
não o são. Nas últimas décadas, tornou-se moda (...) negar que a realidade objetiva seja
acessível, uma vez que o que chamamos de 'fatos' apenas existem como uma função de
conceitos e problemas prévios formulados em termos dos mesmos.”
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia da Letras, 1998.
História. 108
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
passado. Mas a ideia de construção mental está mais ligada à ficção do que aos fatos
comprováveis. A ficção histórica, por exemplo, um romance histórico, pode até se atrelar a fatos,
datas, períodos e pessoas que realmente existiram, mas a linguagem ficcional é diferente da
linguagem do historiador, pois a ficção usa a construção mental como a sua principal ferramenta,
enquanto que o historiador tem nas fontes históricas o seu ferramental e no método
historiográfico o seu esteio.
A alternativa C está correta. A operação historiográfica consiste em mostrar como a realização
empreendida por cada historiador, entre o agrupamento dos fatos, o recorte temporal e temático,
a seriação das fontes, o tratamento metodológico, até a coparticipação da rede historiográfica
enunciativa, termina por fazer emergir uma operação que se situa em um conjunto de práticas. O
trabalho do historiador depende muito dessas diretrizes, que são estabelecidas no exercício das
investigações, pois é nesse processo que os fatos comprováveis do passado se mostram e de onde
as hipóteses emergem, encaminhando para a sua comprovação ou não.
A alternativa D também é falsa, de modo que a verdade na história pode ser entendida comoas
declarações históricas baseadas em evidências sujeitas a comprovação através de fontes históricas.
As diferentes visões sobre o processo histórico são, na verdade, instrumentos para o historiador,
uma vez que ele se vale dessas visões para empreender seu trabalho, organizar as fontes, definir
seu tema, recortar seu objeto etc.
A alternativa E também é falsa, pois se não for possível apontar qualquer tipo de tendência para a
história com base no estudo do passado, então o trabalho do historiador deixa de existir. O estudo
do passado é o campo de ação dos historiadores, até mesmo daqueles que trabalham com a
História do Tempo Presente. Na verdade, o que diferencia o trabalho do historiador é justamente a
forma como ele vê a disposição temporal, seja ela de forma processual, seja de forma serial, seja
de forma recursiva, ou seja de forma hermenêutica, não importa, o que importa é que o trabalho
do historiador é voltado para as ações dos homens no tempo, uma noção que pressupõe
intrinsecamente o movimento, o passado.
Gabarito: C
22. (IF-TO - 2016 - IF-TO - Professor História)
Leia o texto a seguir:
Não obstante a grande obra de Marx ser a crítica ao modo de produção capitalista, sua
análise não se faz apenas pelo aspecto econômico. Sua teoria considera a economia como
parte da vida social, parte da história que é a produção da existência humana. Falamos,
assim, sobre as classes sociais decorrentes da divisão social do trabalho, falamos da vida de
homens e mulheres que não apenas trabalham. Eles comem, reproduzem-se, vivem em
sociedade, relacionam-se, constroem laços de amizade e de colaboração e de competição,
pertencem a diferentes grupos, têm ideologias, afetos, filiação religiosa etc. E constroem sua
história em espaços-tempos determinados.
Ciavatta, M. Da Educação Politécnica à Educação Integrada: Como se escreve a história da
educação Profissional. Disponível em: <https://www.fe.unicamp.br> Acesso em 20 ago. 2016.
História. 109
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 110
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
trouxe uma nova interpretação para os historiadores, pois é uma concepção distinta que vê a
história como produto social da existência.
A alternativa D também não é a resposta certa, pois é certo dizer que a Escola dos Annales teve
certa influência do marxismo, principalmente na interdisciplinaridade e descentramento das
disciplinas com barreiras intransponíveis. Além disso, a ideia de que o trabalho humano é que
produz a consciência e a história, o que também influenciou fortemente a historiografia do século
XX, abrindo diversos subcampos de estudo.
A alternativa E também não é a resposta certa, de modo que a ampliação de objetos e de
concepção teórica da história pode ser encarada como um desdobramento do pensamento
marxista, mesmo com as divergências posteriores, como a Escola dos Annales com a colaboração
de outras disciplinas, tais como a geografia, a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a
antropologia social e tantas outras.
(SOUZA; DOMINGUES, 2009)
Gabarito: A
23. (IF-TO - 2016 - IF-TO - Professor História)
Em “Apologia da História – ou, O Ofício de Historiador”, o medievalista francês Marc Bloch
apresenta algumas reflexões que são contribuições teórico-metodológicas significativas para
as ciências humanas, em geral, e, em particular, para a história. A respeito das principais
formulações conceituais desenvolvidas pela tendência historiográfica à qual pertencia Bloch,
pode-se citar:
I. História-problema.
II. Materialismo histórico.
III. História de longa duração.
IV. Consciência de classe.
História. 111
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 112
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
“Para deixar claro: o objetivo de se traçar a evolução histórica da humanidade não é antever
o que acontecerá no futuro, ainda que o conhecimento e o entendimento históricos sejam
essenciais a todo aquele que deseja basear suas ações e projetos em algo melhor que a
clarividência, a astrologia ou o franco voluntarismo [...]".
HOBSBAWN, Eric. Sobre História , 2011.
De acordo com o texto:
A) a função do historiador confunde-se com o misticismo de adivinhações da antiguidade.
B) a evolução da humanidade é uma linha ascensional previsível através da história.
C) o conhecimento histórico permite projetar uma sociedade futuristicamente igualitária.
D) a história não produz conhecimento com base em previsões futurísticas.
E) tanto as ciências como a astrologia são fundamentais à história.
Comentários
A alternativa A é falsa, pois o que Eric Hobsbawn afirma é exatamente o contrário. O historiador
não é futurólogo, isto é, seu trabalho é tem o passado como objeto, e mesmo que consiga traçar
evoluções históricas ou identificar avanços e recuos, o historiador não faz previsões sobre o que irá
acontecer.
A alternativa B também é falsa, de modo que a História não se constitui como uma linha evolutiva
com processos previsíveis e tecnicamente calculados pelo historiador.
A alternativa C também é falsa, pois nem mesmo a concepção de “História mestra da vida” não
traz essa ideia de ensino. A História, entretanto, tem sim algo a nos ensinar, mas não de maneira
linear, como uma fórmula que pode ser sempre empregada, uma vez aprendida através de ciclos
que sempre se repetem.
A alternativa D está correta, uma vez que é exatamente isso que o fragmento citado de Eric
Hobsbawn está afirmando. O trabalho do historiador não é fazer previsões, nem do passado,
tampouco do futuro. O historiador trabalha com fontes, pesquisas, evidências, resolve hipóteses,
organiza metodologicamente, utiliza ferramentas conceituais etc., coisas que o futuro não oferece,
afinal o futuro não é ainda.
A alternativa E está incorreta, pois a astrologia não tem nada a oferecer à História, senão como
objeto de estudo muito específico e, diga-se de passagem, um tanto irreverente.
Gabarito: D
25. (UFMT - 2015 - IF-MT - Professor - História)
A história de toda a sociedade até agora existente é a história de luta de classes. O homem
livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o barão feudal e o servo, o mestre de corporação e o
oficial, em suma opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si,
travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, que acabou sempre com
uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes
em conflito.
História. 113
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 114
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
parte dos fenômenos reais: não se parte do que os homens dizem, representam ou imaginam, nem
tampouco do homem predicado, pensado, representado ou imaginado, para chegar, partindo
daqui, ao homem de carne e osso; parte-se do homem que realmente atua e, partindo de seu
processo de vida real, se expõe também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos
deste processo de vida.
(SOUZA; DOMINGUES, 2009).
Gabarito: C
26. (UFMT - 2015 - IF-MT - Professor - História)
Sobre a História produzida pela “Escola Metódica", também chamada “positivista", analise as
afirmativas.
I - O Historiador não é juiz do passado, deve apenas narrar o que realmente aconteceu.
II - Há intrínseca interdependência entre o sujeito do conhecimento e seu objeto.
III - A História (res gestae) existe em si, objetivamente, e se oferece por meio dos
documentos.
IV - É imprescindível ao historiador a reflexão teórica e filosófica.
História. 115
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Com base nas questões suscitadas pelo texto acima é correto afirmar que:
A) Nossos jovens precisam de formação no campo da História
B) Não há políticas públicas para preservação de patrimônios que representem as gerações
passadas e a História.
C) Cabe apenas aos historiadores a arte de lembrar e preservar o passado.
D) A relação entre História e a memória carece do historiador e seu metiér.
E) A memória do passado é um fenômeno em extinção e cabe ao historiador recuperá-la
treinando a juventude.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o textosupracitado de Eric Hobsbawm não ressalta a
necessidade da formação dos jovens no campo da História, mas constata a experiência coletivade
uma espécie de presente contínuo no final do século XX, sem perspectivas ou relações com o
passado (o que se pode dizer que adentra pelo século XXI).
A alternativa B também está incorreta, pois o texto supracitado de Eric Hobsbawm não trata de
forma específica das políticas públicas para preservação de patrimônio. A preocupação do autor é
com a falta de lastro histórico entre as gerações, especialmente com o imediatismo que surge no
final do século XX.
História. 116
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A alternativa C também está incorreta, na medida em que não se trata de tarefa única do
historiador a arte de lembrar e preservar o passado, pois é algo que envolve desde a esfera
pública, até ao indivíduo envolvido numa comunidade de pessoas que compartilham uma
experiência coletiva. Mas o historiador é visto como ator importante na cena final do segundo
milênio, por causa da sua função de lembrar aquilo que os outros esquecem, numa época em que
as pessoas parecem viver um presente contínuo.
A alternativa D é a resposta certa, pois o historiador traz a experiência quepertence ao passado e a
faz concretizar pela rememoração no presente. O historiador faz isso de múltiplas maneiras,
trabalhando em seu ofício e usando as suas ferramentas metodológicas e conceituais específicas,
como, por exemplo, através da memória, dos vestígios, das permanências e das mais diversas
fontes históricas. É nesse sentido que o historiador é importante, principalmente numa sociedade
que vive uma espécie de presente contínuo.
A alternativa E também está incorreta, uma vez que o trabalho do historiador não é treinar a
juventude para rememorar o passado. O fato é que o historiador é visto, aparentemente, como o
guardião dessas memórias e promotor de uma memória coletiva orgânica.
Gabarito: D
(CESPE - 2010 - SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História)
Considerando a evolução sofrida pela escrita da História na contemporaneidade,
especialmente após o surgimento da Escola dos Anais ou Escola Francesa, e pelos novos
parâmetros que norteiam o ensino da História nos dias atuais, julgue os itens que se seguem.
28.
A Nova História elimina a cronologia de suas preocupações e, na prática, repudia as datas
como componente de seu campo de trabalho.
Comentários
A afirmativa desta questão está errada, pois o tópico principal que se pode destacar entre a
metodologia da Nova História, também conhecida como terceira geração da Escola dos Annales, é
a consideração segundo a qual toda atividade humana é considerada história. É falso, portanto,
afirmar que a Nova História propõe uma ruptura tão brusca com toda uma tradição historiográfica
ao ponto de eliminar a cronologia e repudiar as datas, afinal de contas, por mais que o trabalho do
historiador tenha instrumentalizado o conceito e as noções de tempo de forma diferente, ele é
imprescindível em seu trabalho.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Errado
29.
Por se confundir com literatura, a narrativa foi abolida da moderna concepção de História.
Comentários
História. 117
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A afirmativa desta questão está errada, uma vez que a História é entendida como um campo
disciplinar que tem sua base fundada na narrativa. Não há História sem narrativa. A História se
compõe de uma rede de discursos que são compostos por ditos e interditos, que são permitidos e
hierarquizados no interior da própria disciplina. A rede de discursos que constitui uma das
dimensões integrantes do campo disciplinar da História é também, ela mesma, uma rede de textos
e realizações, em dinâmica de interconexão.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Errado
30.
A História tradicional costumava valorizar ao extremo a ação individual dos grandes nomes,
os heróis, enfatizando a política protagonizada pelos detentores do poder.
Comentários
A afirmativa desta questão está certa, de modo que a historiografia ao longo do século XX passou
por transformações marcantes que redefiniram até mesmo a perspectiva do historiador. Uma
radical reviravolta da sociedade historiográficaéo olhar para uma história esquecida, apagada por
historiadores que trouxeram os vencedores para o centro do palco. A chamada “História Vista de
Baixo” é um bom exemplo dessas transformações, na medida em que o olhar do historiador foi
descentrado, migrou para a periferia, foi atrás de nomes até então esquecidos e encobertos pela
noite dos tempos. Esta é uma historiografia que não está preocupada, por exemplo, com o nome
do Imperador que conduziu a construção da Muralha, mas sim com a quantidade de material
humano necessário para tal empreendimento.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011).
Gabarito: Certo
31. (CONSULPLAN - 2010 - Prefeitura de Congonhas - MG - Professor - História)
François Furet orienta pedagogicamente a “história-problema” como percurso para que os
alunos sejam investidos de um novo estatuto epistemológico – aquele de sujeitos ativos de
seus processos de aprendizagem, diferentemente dos percursos tradicionais. Na perspectiva
da “história-problema”, é correto afirmar:
A) Para que a concepção de “história-problema” seja colocada em prática, é necessário que a
dinâmica de sala de aula também seja centrada na figura do professor, que se encarrega por
sua vez, de expor os conteúdos que, em seguida, devem ser memorizados pelos alunos.
B) Na perspectiva da “história-problema”, o historiador abraça a pretensão de narrar tudo
aquilo que se passou de importante na história da humanidade para que os alunos possam
ter fundamentos históricos para problematizar os fatos, sejam do passado ou do presente.
C) A evolução recente da historiografia mostra que passamos de uma narração cronológica
para uma “históriaproblema” que visa o exame analítico de um problema, delimitando um
período e a parte do conjunto de acontecimentos em que está inserido, para o qual
buscamos respostas, nunca definitivas.
História. 118
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 119
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 120
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
questionando sobre a organização das sociedades etc., tudo isso através da aprendizagem das
ações dos homens nos tempos passados.
A alternativa B é falsa, uma vez que nas últimas décadas o ensino de História tem sido
reformulado, pois o que os especialistas tem percebido é que a aprendizagem da História deve ser
diferenciada, utilizando de ferramentas educacionais próprias e de métodos particulares. Nesse
sentido, o ensino de História tem se afastado da referência metodológica das ciências naturais, por
exemplo, que se valem de fórmulas decoradas e cálculos proposicionais. Até mesmo as fontes e
documentos trabalhados no ensino de História têm se transformado, ao passo que atualmente o
uso de mídias e tecnologias tem favorecido enormemente a nova reflexão proposta pela disciplina.
A alternativa C também é falsa, pois o ensino de História atualmente tem reforçado a ideia de que
deve haver uma interação forte entre professor e estudantes, de modo que a função do professor
passa a ser de orientador pedagógico. A ideia é que os estudantes não sejam vistos como tábulas
rasas, indivíduos passivos dentro do ambiente escolar. Cada estudante tem uma experiência
individual e deve ser valorizado o aprendizado que foi adquirido ao longo de suas vidas, sendo
ponto importante para a construção de conhecimento.
A alternativa D também é falsa, pois dentro do campo disciplinar da História não prevalece a ideia
de que o saber sobre o passado já foi todo construído e que deve apenas ser replicado.
Essencialmente, toda História é escrita no presente, o que significa que o conhecimento sobre o
passado é dimensionado e redimensionado de acordo com as perguntas que são feitas pelos
historiadores. É certo que não se trata de um relativismo absoluto, pois há pontos duros, como as
datas de certos eventos, por exemplo. Mas a questão é que a História se trata de um saber
construído e não testado, como faz um físico ou um químico trancado em seu laboratório. O
historiador trabalha com hipóteses, séries documentais, faz recortes em seus objetos de pesquisa,
formula perguntas que podem ou não ser respondidas, cruza informações novas com aqueles que
outros obtiveram etc., mas o historiador nunca terá uma experiência empírica do seu objeto de
estudo, pois o passado é aquilo que já não é mais.
A alternativa E também é falsa, uma vez que o ensino de História baseado na organização linear e
na forma cronológica de expor os fatos, favorece apenas ao método em que o aluno deve decorar
as datas, os fatos, as sequencias dos acontecimentos, os grandes nomes etc., isto é, o modelo
positivista. Atualmente, o ensino de História tem partido para uma perspectiva crítica, utilizando
novos métodos, valendo-se de mídias e tecnologias e empregado processos pedagógicos
inovadores, tudo para que a relação dos estudantes com a História os transforme é cidadãos
agentes da própria história.
Gabarito: A
33. (IFC - 2010 - IFC-SC - Professor - História)
Assinale a alternativa correta.
A) Historiadores com Eric Hobsbawm, Perry Anderson e Edward Thompson, fazem suas
próprias interpretações do pensamento marxista. Na atualidade esta linha de pesquisa é
denominada de História Cultural.
História. 121
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
B) Na segunda geração da Escola dos Analles, surgiu a História Nova, idealizada por Jacques
Le Goff e Pierre Nora.
C) Os trabalhos de Fernand Braudel foram muito influentes e marcaram a terceira geração da
Escola dos Analles.
D) A Escola dos Analles, surgiu na França (1929), através da revista Analles
d´histoireéconomiqueetsociale, criada por Marc Bloch e LucienFebvre.
E) Os historiadores positivistas acreditam que a história deve ser escrita através da estrita
observação dos fatos que permitam revelar a verdade histórica, onde o historiador não poder
ser uma pessoa neutra.
Comentários
A alternativa A é falsa, uma vez que os historiadores citados fazem parte da corrente
historiográfica britânica, que de fato propôs um revisionismo dentre da metodologia marxista.
Contudo, não se trata da História Cultural, apesar de eles terem se voltado mais o olhar para as
questões culturais, não postulando a economia como mero epifenômeno. Destarte, cada um
destes historiadores continuava trabalhando com os pressupostos fundamentais do Materialismo
Histórico: Dialética, Materialismo, Historicidade Radical. Utilizavam também, como todos os
historiadores materialistas históricos, conceitos básicos para este paradigma: "modo de
produção", "luta de classes", "classe social", "revolução". A questão é que estes historiadores
trabalham de modo mais flexível com estes conceitos, evitando esquematismos muito simples e
procurando apreender uma totalidade mais complexa da vida social. Já aHistória Cultural
propriamente dita se sobrepõe, em sua abordagem, ao movimento francês da história das
mentalidades e à chamada Nova História. Na França, um dos expoentes mais conhecidos da
História Cultural é Roger Chartier.
As alternativas B e Ctambém são falsas, pois cometem equívocos acerca das gerações dos Annales.
A segunda geração da Escola dos Annales teve como um dos mais conhecidos expoentes dessa
escola a obra de Fernand Braudel, que definiu uma segunda geração de historiadores dos Annales
e foi muito influente nos anos 1960 e 1970, especialmente por sua obra, O Mediterrâneo e o
mundo mediterrânico na época de Felipe II. Já a terceira geração dos Annalesque é conduzida por
Jacques Le Goff e ficou mais conhecida como a Nova História, segundo a qual toda atividade
humana é considerada história. Além de Le Goff, nesse período se destaca também seu
companheiro de profissão, Pierre Nora.
A alternativa D está correta. A Escola dos Annales é um movimento historiográfico do século XX
que se constituiu em torno do periódico acadêmico francês Annales d'histoireéconomiqueetsociale,
tendo se destacado por incorporar métodos das Ciências Sociais à História. Fundada por
LucienFebvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da visão Positivista da história como
crônica de acontecimentos, substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos
processos de longa duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a civilização e as mentalidades.
Marc Bloch foi morto pela Gestapo durante a ocupação alemã da França, na Segunda Guerra
Mundial, e Febvre seguiu com a abordagem dos Annales nas décadas de 1940 e 1950.
História. 122
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A alternativa E também é falsa, pois os historiadores positivistas estavam atrás de Leis Gerais na
História, acreditando que haveria uma universalidade humana.Para eles, as sociedades humanas
são reguladas por leis naturais, invariáveis, independentes da ação humana, de tal modo quea
História deveria seguir uma relação de identidade de métodos com as Ciências Naturais. A
objetividade científica seria encontrada naneutralidade. O objeto de estudo já está na natureza, e
o cientista dele se apropriaria. Separado de seu objeto de estudo, o historiador poderia ser neutro
e imparcial, indo de encontro à verdade dos fatos.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011; D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: D
34. (IBFC - 2013 - SEAP-DF - Professor - História)
Um dos nomes mais importantes da Escola dos Annales foi o historiador medievalista francês
Marc Bloch. Sua proposta epistêmica buscou romper com o paradigma positivista em que a
ciência histórica estava apoiada no início do século XX, problematizando a própria noção de
história, que naquele momento definia o passado como um dado rígido, inalterável. Em
Apologia da História, publicado em 1949 por LucienFebvre ou O Ofício do Historiador (2002),
último texto escrito por Bloch, inacabado por causa da sentença de fuzilado imposta pela
Gestapo em 1944, na cidade francesa de Saint Didier de Formans, por ter participado da
Resistência em Lion contra o nazismo alemão, o referido livro traz grandes contribuições
metodológicas para as ciências humanas, tendo influenciado muitos historiadores como
Braudel, Duby, Le Goff, Ferro, Lepetit, entre outros. Dentre as contribuições conceituais
desenvolvidas pela Escola dos Annales, também chamada posteriormente de História Nova,
destacamos algumas noções desenvolvidas por essa corrente teórica:
I. História de longa duração;
II. História das mentalidades;
III. História das multidões e das massas.
Indique a opção que representa os conceitos desenvolvidos por tal escola teórica:
A) I e III, apenas.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, II e III.
Comentários
A alternativa B é a resposta certa, uma vez que apenas as proposições I e II são verdadeiras.
A Escola dos Annales, fundada por LucienFebvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da
visão Positivista da história como crônica de acontecimentos, substituindo o tempo breve da
história dos acontecimentos pelos processos de longa duração, com o objetivo de tornar
inteligíveis a civilização e as mentalidades.O novo movimento historiográfico foi muito impactante
História. 123
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 124
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
C) ideia de progresso.
D) ordenação cronológica.
E) sequência linear.
Comentários
A alternativa A é falsa, uma vez que a complexa noção de tempo não se resume ao calendário,
tampouco apenas à explicação da construção histórica dele. Além disso, entre as mais diversas
sociedades que existiram na História humana muitas delas se utilizaram de variadas formas de
medir e contar o tempo, de acordo com ritmos de vida diferentes e costumes de vários grupos
sociais. Portanto, a construção do calendário é demasiadamente redutora para se explicar a
importância do tempo no ensino de História.
A alternativa B está correta, pois é necessário que o estudante tenha em mente que há um tempo
vivido que se relaciona com um tempo social e com um tempo bem mais complexo que é esse
tempo histórico, das estruturas de longa, média ou curta duração, produto das ações e relações
humanas, no qual coexistem as transformações e permanências, além das perspectivas de futuro
que também compõe a noção de tempo.
A alternativa C é falsa, de tal modo que a noção de tempo vai além da ideia de progresso, sendo
que a associação entre tempo e a ideia de progresso ganha força especialmente na era moderna,
quando é suposto que o tempo é: progressivo, pois sempre passa; é irreversível, pois nunca volta;
e é ininterrupto, pois nunca para. Mas, o fato é que esta noção de tempo nem sempre esteve
presente, de tal modo que podemos destacar a noção de tempo cíclico e a ideia de eterno retorno
que se fez presente entre as culturas antigas.
A alternativa D também é falsa, ao passo que a ordenação cronológica é resultado de uma noção
específica de tempo que transfere as noções de sucessão e duração cronológica para uma
perspectiva unificadora e progressista que enquadra o movimento do tempo em um aspecto
historiográfico linear e ordenado. Sendo que há outras noções de tempo que precisão ser
entendidas para além desta, como as de tempo natural cíclico, tempo biológico, tempo
psicológico, etc.
A alternativa E também é falsa, uma vez que a explicação do tempo como uma sequência linear é
fruto da ideia de tempo cronológico que ordena o tempo de forma sequencial, como se fosse um
amontoado de histórias, organizado em períodos e eras. Mas a explicação de tempo deve ir além
desta marcação linear do tempo e identificarem diferentes durações de tempo.
(SCALDAFERR, 2008).
Gabarito: B
História. 125
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 126
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 127
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
historiografia marxista no século XIX pensava um progresso que levaria ao fim da História, pois a
superação da luta de classes seria completa, quando não houvesse mais dominante e dominado,
mas uma grande comunidade política.
A alternativa B também é falsa, de tal maneira que o positivismo se preocupava em disciplinar os
saberes, ordenando as investigações e visando o progresso do conhecimento de forma científica.
As disciplinas acumulariam conhecimento cada uma a seu lugar, pois se acreditava que esta
especificidade promoveria resultados mais precisos. O historiador precisaria se ater às fontes para
iluminar os fatos, como se os documentos tivessem como única intenção o relato dos
acontecimentos. E ali o historiador acessaria o passado de forma neutra, sem imaginações ou
intenções pessoais. Também o sociólogo, de outro lado, era um cientista que analisaria a
sociedade de forma neutra, atendo-se aos dados, estatísticas, enumerações e prognósticos para
formular o seu saber. O fato é que as disciplinas eram vistas como átomos que estabeleciam
relações somente internas.
A alternativa C também é falsa, ao passo que a História das Mentalidades é entendida como o
estudo do conjunto de características intelectuais de uma época, que aparece como uma espécie
de História das Ideias que procura ressaltar certas características intelectuais e psicológicas
relacionadas a uma época a partir das obras de grandes personalidades intelectuais. Sendo que a
História Positivista é essencialmente política.
A alternativa D está correta. O pensamento Positivista do século XIX, fundado com a Filosofia de
Augusto Comte e propagado com Émile Durkheim, na Sociologia e Fustel de Coulanges, na História,
entre outros, contribuíram para fazer do Positivismo um posicionamento poderoso que acreditava
na cientifização do saber. O que se acreditava era que se obtivesse resultados claros, objetivos e
corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na
separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e
julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus
fatos, mas sem os analisar. Os positivistas acreditavam que o conhecimento se explica por si
mesmo, necessitando apenas seu estudioso recuperá-lo e colocá-lo à mostra. Tão objetiva é a
História para os positivistas que um de seus maiores ensinamentos é a busca incessante de fatos
históricos políticos e sua comprovação empírica. Daí a necessidade, como pregavam, de se utilizar
na pesquisa e análise o máximo de documentos possíveis, principalmente oficiais. Coulanges chega
a afirmar que a "História não é arte, mas uma ciência pura (...) a busca dos fatos é feita pela
observação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o químico encontra os seus em
experiências minuciosamente conduzidas".
A alternativa E está incorreta, uma vez que o que está em jogo no pensamento Positivista
vinculado à História nem tanto é a delimitação extrema do tema e nem a exploração exaustiva das
fontes, mas sim a consciência de que o motor e telos da História humana era essencialmente
obtido nas práticas políticas que se estabelecem entre os homens, por isso eram elas que deveriam
ser o objeto de investigação do historiador. O positivismo é um método que funda a História
enquanto disciplina. É verdade que a humanidade sempre contou suas histórias, mesmo antes do
século XIX, saindo da antiguidade clássica de Grécia e Roma até os povos cuja única forma de
relatar suas memórias é a oracular. Mas é o positivismo que estabelece as fronteiras disciplinares
do conhecimento. De tal modo a definir que a história dos homens no tempo era guiada pelas
História. 128
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
práticas políticas que estruturam o destino da humanidade, sendo digno, então, apenas o estudo
de Reis e reinados, Príncipes e principados, grandes nomes, grandes homens, grandes feitos,
acontecimentos ditos importantes. Todavia, mesmo que a estejam presentes a delimitação
extrema do tema e a exploração exaustiva das fontes para se obter a totalidade sobre os fatos e
não deixar nenhuma margem de dúvida no que se refere à sua compreensão, a questão por detrás
da definição de História positivista é que a busca desses fatos deva ser feita por mentes neutras. É
a neutralidade do sujeito para encarar o tema histórico de forma objetica, pois qualquer juízo de
valor na pesquisa e análise altera o sentido e a verdade própria dos fatos, modificando, pois, a
própria História. É a intenção de declarar a ausência do historiador em nomeda clarividência
completa dos fatos.
(BARROS, 2010; BIRARDI; CASTELANI; BELATTO [s.d.]).
Gabarito: D
História. 129
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
lado, há muitas instituições, principalmente políticas, que se valem do estudo da História para
forjar símbolos, apagar ou reviver memórias, postular narrativas específicas sobre um fato, um
povo, uma nação, etc., com a intenção de criar certa consciência. Mas este não é o papel da
disciplina de História. E se se ocupa disso é para desvelar as intenções.
A alternativa C também é falsa, pois sendo a História o estudo dos homens no tempo, não é
possível que ela construa um futuro. De todo modo, vale dizer que a relação com o futuro existe de
fato no trabalho do historiador, mas como um desafio radical para uma orientação para o futuro,
que reflita sobre a memória e a história.
A alternativa D é a resposta certa, uma vez que a História enquanto disciplina é uma forma
elaborada da narrativa histórico-memorial que vai além dos limites de uma vida individual e visa
planificar o imaginário coletivo. Ela trama as peças do passado rememorado em uma unidade
temporal aberta para o futuro, oferecendo às pessoas uma interpretação da mudança temporal.
Elas creem precisar dessa interpretação para ajustar os movimentos temporais de suas próprias
vidas e se reconhecerem como parte de algo que existia antes do seu nascimento e que continuará
a existir após a sua morte.
(RÜSEN, 2009).
Gabarito: D
História. 130
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
A alternativa C está correta, uma vez que a História pode legitimar discursos e práticas que tenham
certa intenção, neste caso, seja para unir ou separar grupos. Haja vista os movimentos políticos
regionais que se apegam à tradição e selecionam as memórias de um povo para angariar forças
que sejam capazes de embasar certas posturas. Por exemplo, muitos políticos de Minas Gerais
discursam em nome da liberdade, sempre recorrendo à figura de Tiradentes e os inconfidentes; ou
os políticos paulistas que discursam em nome do progresso e do desenvolvimento, sempre
recorrendo aos bandeirantes. Os exemplos podem ser variados e distintos. Mas a questão é que a
História de fato motiva ações políticas e inspira grupos, gerando entre eles um sentimento de
pertencimento a algo muito maior do que a existência de um indivíduo.
A alternativa D também é falsa, de tal modo que por mais que certa narrativa da História possa
mostrar as consequências, as lutas, os movimentos, as barbaridades que envolveram o tema do
racismo no passado, não se pode ignorar que outra narrativa da História possa usar de má-fé um
discurso que legitime o racismo. A questão em jogo é que não se pode encarar a História como
uma ciência que se apoia na neutralidade objetiva, pois das entrelinhas da historiografia emergem
intenções que precisam ser consideradas. Por isso, não há uma narrativa da História que sozinha
consiga erradicar o racismo, necessitando, pois, de outros instrumentos que aliados a uma verdade
ética consigam lidar com tal problema.
A alternativa E também é falsa, de tal modo que não se trata de explicar as origens da
discriminação, até porque esta tarefa de investigação das origens é entendida como um exercício
nulo, pois sempre o historiador acaba tropeçando de forma recursiva na especulação mental, na
abstração da imaginação ou em experimentos metafísicos na tentativa de explicar a gênese de tal
prática.
(FRANZEN, 2015).
Gabarito: C
História. 131
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 132
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 133
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
B) II – III.
C) I – II – III.
D) I – III.
E) III.
História. 134
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Entre os historiadores é cada vez mais consensual a ideia de que é a Teoria que dará um lastro
essencial ao historiador em formação, de modo que se construa uma História
A) factual, notadamente descritiva, fetichizadora do documento e que caberia ao historiador
apenas desvelar.
B) reconstruída a partir do presente, de acordo com um problema e orientada por hipóteses,
sem envolvimento com a subjetividade do historiador.
C) fundamentada na concepção de que os fatos históricos são construídos pela introdução de
um sentido na objetividade e de escolhas que são anteriores à observação que integra a
pesquisa histórica.
D) circunscrita pelo lugar que define uma conexão do possível e do impossível, resultando de
um lugar do “dizer”, livre de interdições.
E) refratária às possibilidades de desvio em relação às construções formais presentes,
fazendo surgir um sentido na aplicação dos modelos sócio econômico, demográfico e
sociológicos da documentação utilizada para a pesquisa histórica.
História. 135
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
D) trabalha com uma noção de “tempo histórico do qual se fala”, em que “agir e conhecer”
são atividades diferentes: a dos estruturalistas, da simultaneidade entre
passado/presente/futuro, em que as ações humanas adquirem continuidade dialética.
E) defende uma visão especulativa e revolucionária do tempo histórico, orientadora de um
movimento em direção ao progresso, promovido pela racionalidade do devir histórico que
alcança o absoluto através da razão e do destino das coisas.
História. 136
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
E) De acordo com Freyre havia grande controle metropolitano, já Faoro enfatiza a autonomia
colonial.
História. 137
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
12. (Pref. do Rio de Janeiro - SME-RJ - Professor de Ensino Fundamental – História / 2019)
I. “A História de toda a sociedade que até hoje existiu é a história da luta de classes”
II. “A História é filha do seu tempo”
III. “A História não é mais do que uma aplicação dos documentos”
A leitura das citações acima evidencia que essas se referem, respectivamente, às seguintes
escolas históricas:
A) marxismo; escola dos Annales; escola metódica.
B) positivismo, escola de Frankfurt; história cultural.
C) materialismo histórico, positivismo; escola de Annales.
D) escola metódica; romantismo; escola dos Annales.
13. (Pref. do Rio de Janeiro - SME-RJ - Professor de Ensino Fundamental – História / 2019)
“[...] O objeto da história é, por natureza, o homem. Digamos melhor: os homens. Mais que o
singular, favorável a abstração, o plural, que é o modo gramatical da relatividade, convém a
uma ciência da diversidade. Por trás dos grandes vestígios sensíveis da paisagem, [os
artefatos ou máquinas], por trás dos escritos aparentemente mais insípidos e as instituições
aparentemente mais desligadas daqueles que as criam, são os homens que a história quer
capturar. Quem não conseguir isso será apenas, no máximo, um serviçal da erudição. Já o
bom historiador se parece com um ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ele
está a sua caça.”
BLOCH, Marc. Apologia da História, ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
Os historiadores Marc Bloch e Lucien Febvre Propuseram uma nova concepção de escrita da
história pautada:
A) No apoio ao rigor da chamada escola metódica, sobretudo quanto ao uso exclusivo de
fontes escritas produzidas pelo Estado e pela Igreja.
B) Na crítica ao Marxismo, sobretudo quanto aos pressupostos teológicos e classistas, e
aprimoramento dos pressupostos ligados aos antiquários.
C) No combate à história historicizante, ou seja, a corrente historiográfica que concebe os
fatos ontologicamente e preexistentes a produção historiográfica.
D) Na defesa da ampliação e diversificação do conceito de fontes históricas, com base em
uma concepção narrativa circunscrita a história política.
História. 138
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
14. (Pref. do Rio de Janeiro - SME-RJ - Professor de Ensino Fundamental – História / 2019)
Ao iniciar a aula, o professor resolvi colocar no quadro a seguinte sentença: “o passado é, por
definição, um dado que nada mais modificará. Mas o conhecimento do passado é uma coisa
em progresso, que incessantemente se transforma e aperfeiçoa”.
BLOCH, Marc. Apologia da História ou ofício de historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002.
Todo o conhecimento histórico é determinado pelos noções de tempo e pelo espaço. Nesse
sentido, o professor, ao ensinar História, deve evitar a todo custo o(a):
A) anacronismo
B) diacronismo
C) sincronismo
D) narrativa
História. 139
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 140
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Georg Simmel. O problema do tempo histórico [1916]. In: Simmel. Ensaios sobre teoria da
história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, p. 9 (com adaptações).
Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item seguinte, relativos à relação
entre tempo e história.
A noção tripartite do tempo histórico desenvolvida em meados do século XX pelo historiador
francês Fernand Braudel está calcada na distinção entre evento, conjuntura e longa duração.
História. 141
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
derivados. Os livros didáticos se apresentam como uma das mais importantes formas de
currículo semielaborado, que nasce a partir de distintas visões e recortes acerca da cultura.
Sonia Regina Miranda e Tania Regina de Luca. O livro didático de história hoje: um panorama
a partir do PNLD. In: Revista Brasileira de História. ANPUH, vol. 24, n.º 48, jul.-dez./2004, p.
134 (com adaptações).
Considerando o texto como referência inicial e os aspectos inerentes ao ensino de História,
julgue o item seguinte.
Diferentemente da perspectiva positivista do passado, que resumia as fontes históricas aos
documentos escritos, nos dias atuais podem ser considerados fontes para a História, entre
muitos outros elementos, a imprensa, as mídias digitais, os acervos de museus, além da
linguagem e da oralidade presentes na própria sala de aula.
História. 142
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
parte da vida social, parte da história que é a produção da existência humana. Falamos,
assim, sobre as classes sociais decorrentes da divisão social do trabalho, falamos da vida de
homens e mulheres que não apenas trabalham. Eles comem, reproduzem-se, vivem em
sociedade, relacionam-se, constroem laços de amizade e de colaboração e de competição,
pertencem a diferentes grupos, têm ideologias, afetos, filiação religiosa etc. E constroem sua
história em espaços-tempos determinados.
Ciavatta, M. Da Educação Politécnica à Educação Integrada: Como se escreve a história da
educação Profissional. Disponível em: <https://www.fe.unicamp.br> Acesso em 20 ago. 2016.
Analise as alternativas a seguir e assinale a que estiver em desconformidade com o
desdobramento do texto:
A) Conforme Comte, a sociedade apresenta duas leis fundamentais: a dinâmica social e a
estática social. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a
sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém, ela
pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas
no lema “ordem e progresso”.
B) Diferentemente da história tradicional, que registrou a vida humana dando protagonismo
aos heróis, aos poderosos, aos grandes feitos, Marx eleva todos os atos da vida humana ao
nível do acontecimento.
C) A história é a produção social da existência (MARX, 1979), é sua concepção de história, tão
bem apropriada por alguns historiadores que incorporaram novos temas, novos objetos, os
grandes acontecimentos e os fatos do cotidiano (BURKE, 1991), como a ÉcoledesAnnales.
D) Mesmo sem admitir a influência de Marx em seus estudos, seus historiadores trabalham,
“em primeiro lugar, a substituição de uma história narrativa de acontecimentos por uma
história problema. Em segundo lugar, uma história de todas as atividades humanas e não
apenas história política”.
E) Como desfecho previsível desta ampliação de objetos e de concepção teórica da história,
“em terceiro lugar, visando completar os outros dois objetivos, a colaboração com outras
disciplinas, tais como a geografia, a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a
antropologia social e tantas outras” (BURKE, 1991).
História. 143
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 144
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Com base nas questões suscitadas pelo texto acima é correto afirmar que:
A) Nossos jovens precisam de formação no campo da História
História. 145
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
28.
A Nova História elimina a cronologia de suas preocupações e, na prática, repudia as datas
como componente de seu campo de trabalho.
29.
Por se confundir com literatura, a narrativa foi abolida da moderna concepção de História.
30.
A História tradicional costumava valorizar ao extremo a ação individual dos grandes nomes,
os heróis, enfatizando a política protagonizada pelos detentores do poder.
História. 146
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 147
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
Indique a opção que representa os conceitos desenvolvidos por tal escola teórica:
A) I e III, apenas.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, II e III.
História. 148
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 149
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
liberta de julgamentos pessoais, sua validade ou não. O saber histórico, dessa forma, provém
do que os fatos contêm, e assume um valor tal qual uma lei da Física ou da Química, ciências
exatas.
O Positivismo, Os Annales e a Nova História. AngelaBirardi, Gláucia Rodrigues Castelani, Luiz
Fernando B. Belatto. Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html.
Acesso em 11/04/2016.
História. 150
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 151
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 152
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História
CAIMI, Flávia Eloísa. “O que precisa saber um professor de história?”. História & Ensino, Londrina,
v. 21, n. 2, p.105-124, 5 dez. 2015. Universidade Estadual de Londrina.
http://dx.doi.org/10.5433/2238-3018.2015v21n2p105.
D’ASSUNÇÃO BARROS, José. A Escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento.
In: <http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/953/588>
Acessado em: 13 jun. 2011.
D'ASSUNÇÃO BARROS, José. O Campo da História. 8 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.
D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História – A Escola dos Annales e a Nova História.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
SOUZA, Osmar Martins de; DOMINGUES, Analéia. O Materialismo-Histórico: Uma nova leitura da
forma de ser dos homens. 2009. Núcleo de Pesquisa Multidisciplinar. IV Encontro de Produção
Científica e Tecnológica. Disponível em:
História. 153
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
<http://www.fecilcam.br/nupem/anais_iv_epct/PDF/ciencias_humanas/10_MARTINS_DOMINGUE
S.pdf>. Acesso em: 13 maio 2019.
História. 154
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
BURKE, Peter. A revolução francesa da historiografia: a Escola dos Annales (1929-1989). São
Paulo: Ed. UNESP, 1992.
História. 155
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
D’ASSUNÇÃO BARROS, José. A Escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento.
In: <http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/953/588>
Acessado em: 13 jun. 2011.
D'ASSUNÇÃO BARROS, José. O Campo da História. 8 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.
D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História – A Escola dos Annales e a Nova História.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
FONSECA, Selva, G. Caminhos da História ensinada. Campinas/ São Paulo: Editora Papirus, 1993.
_____.Didática e prática de ensino de História: experiências, reflexões e aprendizado. Campinas
/São Paulo: Editora Papirus, 2003.
FONSECA, Thais N.L. História e ensino de História. 2° ed. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2006.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996. 79 p. (Leituras
Filosóficas). Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. Aula inaugural no Collège de France,
pronunciada em 2 de dezembro de 1970.
História. 156
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
HALBWACHS, Maurice. Memória coletiva. Tradução de Beatriz Sidou. São Paulo: Centauro, 2006.
KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. 23 ed. São Paulo:
Contexto, 2004
KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora Perspectiva. 1998,
259 p.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Tradução de Bernardo Leitão. 5ª ed. Campinas-SP: Editora
da UNICAMP, 2003.
LIMA E FONSECA, T.N. História e ensino de história. BH: Autêntica,2004.
NADAI, E. O ensino de história no Brasil: trajetória e perspectivas. SP: Marco Zero/ Anpuh, v.
25/26, 1992/1993.
NORA, Pierre. Entre história e memória; a problemática dos lugares. Tradução de Yara
AunKhoury. Projeto História. São Paulo, nº 10, p. 7 – 29, dez. 1993.
PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do Ensino de História e Geografia. São Paulo: Cortez,
1995
REIS, José Carlos. Escola dos Annales – a inovação em História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.
SACRISTÁN, José Gimeno. O que significa currículo. In: ____________. (Org.) Saberes e
incertezassobre o currículo. Porto Alegre: Penso, 2013, p.16-35.
_____. O Currículo: uma reflexão sobre a prática. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2000
SEIXAS, Jacy Alves. Percursos de memórias em terras de história: problemas atuais. In: BRESCIANI,
Maria Stella, NAXARA, Márcia Regina. (org.). Memória e (re) sentimentos: indagações sobre uma
questão sensível. Campinas: Ed. Unicamp, 2001a.
SEIXAS, Jacy Alves. Halbwachs e a memória-reconstrução do passado: memória coletiva e história.
In: História. São Paulo v. 20, p. 100 – 120, 2001b
História. 157
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
SILVA, Tomas Tadeu da.Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo
Horizonte: Autêntica, 2002.
SOUZA, Osmar Martins de; DOMINGUES, Analéia. O Materialismo-Histórico: Uma nova leitura da
forma de ser dos homens. 2009. Núcleo de Pesquisa Multidisciplinar. IV Encontro de Produção
Científica e Tecnológica. Disponível em:
<http://www.fecilcam.br/nupem/anais_iv_epct/PDF/ciencias_humanas/10_MARTINS_DOMINGUE
S.pdf>. Acesso em: 13 maio 2019.
VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. 4. ed. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1998, 285 p. Tradução de Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp.
História. 158
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
HOBSBAWM, Eric. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, São Paulo, 1990.
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes: Uma vida no século XX. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado – contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2006.
NISBET, Robert. História da idéia de Progresso. Brasília: UNB, 1985.
REIS, José Carlos. Nouvelle Histoire e Tempo Histórico. São Paulo: Ática, 1994.
REIS, José Carlos. O surgimento da Escola dos Annales e o seu programa. In.: Escola dos Annales –
a inovação em História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p.65-90.
REIS, José Carlos. Tempo, História e Compreensão Narrativa em Paul Ricoeur.Locus, vol.12, n°1,
jan/jul 2006.
ROJAS, Carlos Antônio Aguirre. Os Annales e a Historiografia Francesa – tradições críticas de Marc
Bloch a Michel Foucault. Maringá: UEM, 2000.
THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da Classe Trabalhadora Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma critica ao
pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
THOMPSON, Edward Palmer. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas:
UNICAMP,2001.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
História. 159
www.estrategiaconcursos.com.br
Prof. Sérgio Henrique
Aula 02 - Teoria da História.
História. 160
www.estrategiaconcursos.com.br