Teoria e Historiografia

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Conhecimentos Específicos p/ Prefeitura de Vilhena (Professor Nível III - História) -


Pós-Edital

Professor: Sergio Henrique

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SUMÁRIO

00. Bate Papo Inicial. ..................................................................................................... 2


1. Introdução: Princípios e Conceitos fundamentais da Teoria da História ..................... 3
2. A História Antes da História ....................................................................................... 6
3. Constituição do Campo Disciplinar ............................................................................. 9
4. Teoria: O que é isso? ................................................................................................ 14
5. O Paradigma Historiográfico .................................................................................... 21
6. Dois paradigmas em contraposição: Positivismo e Historicismo ............................... 26
0
7. Materialismo Histórico............................................................................................. 30
8. A Moderna Matriz Disciplinar da História ................................................................. 36
9. Escola dos Annales ................................................................................................... 39
10. Escola Inglesa do Marxismo ................................................................................... 48
11. Escola de Frankfurt ................................................................................................ 51
12. Micro-História ........................................................................................................ 57
13. Historiografia sobre o Tempo: Reinhart Koselleck .................................................. 61
14. Exercícios ............................................................................................................... 66
14.1. Bibliografia Utilizada no Comentários das Questões ...................................................... 107
15. Referências Bibliográficas .................................................................................... 109
15.1. Indicações Bibliográficas para estudo ............................................................................. 110
16. Considerações Finais. ........................................................................................... 112

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00. BATE PAPO INICIAL.


Olá, querido amigo. É com muita alegria que o recebo para discutirmos os
Conhecimentos Específicos da disciplina de História nesta jornada em busca de um excelente
resultado no concurso da Prefeitura Municipal de Vilhena-RO.
É com grande prazer com que venho desenvolver com vocês esta disciplina. Sou o
professor Sérgio Henrique, Historiador, licenciado em geografia e professor de Ciências
Humanas no Estratégia concursos e cursos presenciais. Sou professor há mais de 15 anos e já
ministrei várias disciplinas, do ensino fundamental ao superior, como servidor público e na rede
privada. Nos primeiros anos de carreira focando em ensino e aprendizado para jovens e
empreendedorismo. Na última década dedico-me para exames de alta complexidade e exigência
em concursos públicos militares e preparatórios para o ENEM. O fórum de dúvidas é um
instrumento fundamental de contato e para que possamos nos comunicar com maior
dinamismo.
Neste curso teremos um conteúdo bem completo e trabalhado em detalhes, muitas
questões comentadas, resumos e vídeo aulas detalhadas e produzidas sob medida para seu
certame.
Está tentando ingressar no serviço público, uma área que atrai por várias razões: Tanto
pela estabilidade e possibilidades de progressão na carreira quanto pelo viés cidadão de ocupar
uma vaga de um cargo importante para a sociedade. São várias as motivações pelas quais você
está tentando. Um salário melhor, estabilidade para cuidar da família... Enfim. São tantas coisas.
E elas devem te acompanhar a todo o momento de preparação. É onde você
encontrará motivação nas horas mais difíceis, quando até mesmo podemos ter a ideia absurda
de desistir. A motivação é o combustível necessário para a sua preparação. Motivação associada
à disciplina de estudos é a chave do sucesso.
Motivação, Disciplina e Estratégia. É o tripé do sucesso e estou aqui com a equipe
Estratégia Concursos para levá-lo ao sucesso e alcançar seus objetivos. Vamos logo, pois não
temos tempo a perder. Nosso tempo é valioso. Mas fique tranquilo. O nosso conteúdo tem uma
quantidade razoável de assuntos, mas que distribuídos em várias aulas, bem detalhadas. Vamos
estudar tudo, bem detalhadamente, então pode conter a ansiedade. Tudo vai correr bem e foi
devidamente distribuído para que você possa alcançar seu almejado sucesso. Leia e releia suas
aulas. Faça e refaça seus exercícios. A repetição é a mãe do aprendizado. A memorização deve
vir da repetição dos exercícios e do acúmulo das leituras. É a melhor forma de memorizar o
conteúdo. Aos poucos e através da repetição.
Sem mais delongas, vamos ao trabalho.

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1. INTRODUÇÃO: PRINCÍPIOS E CONCEITOS FUNDAMENTAIS DA TEORIA DA


HISTÓRIA
A teoria da história é uma subdisciplina da História que procura compreender as diversas
formulações do conhecimento histórico e da escrita da História ou historiografia. Por não existir
uma concepção única e consensual para a análise do passado, se fala em teorias da história, no
plural, uma vez que as diversas teorias da história alimentam debates constantes entre os
defensores de diversas concepções. Porém, não se tratam de concepções historiográficas
aleatórias e subjetivas, ao passo que a História busca certa objetividade na lida com o passado.
Portanto, é necessário o método historiográfico, que define as correntes historiográficas, as
quais podemos citar: Positivismo, Historicismo, Escola dos Annales, Nova História, Micro-
história, entre outras.
A teoria da história constitui um campo de estudos fundamental para a formação do
historiador. Não é possível desenvolver uma adequada consciência historiográfica, nos atuais
quadros de expectativas relacionadas ao seu ofício, sem saber se utilizar de conceitos e
hipóteses, sem compreender as relações da História com o Tempo, com a Memória ou com o
Espaço, ou sem conhecer as grandes correntes e paradigmas teóricos disponibilizados aos
historiadores através da própria história da historiografia. Essa consciência histórica inseparável
de uma adequada reflexão sobre o tipo de conhecimento que se produz com a História, sobre as
relações possíveis desse conhecimento com alguma base concreta de realidade, sobre as
singularidades da História como um "campo disciplinar" muito específico que se situa ou se
desloca no quadro geral das outras formas de conhecimento e que com elas trava disputas e
diálogos interdisciplinares1.
Como entender a História sem reconhecer a sua complexidade, sem vislumbrar o
labirinto das suas modalidades internas, sem compreender como – na interconexão entre essas
várias modalidades – trabalham os historiadores como uma comunidade profissional bastante
específica? Como apreender, por fim, essa enigmática relação entre a História e a história –
entre uma forma de conhecimento bem singular que é essa que é produzida pelos historiadores,
e o seu próprio objeto de estudos, que corresponde à "história vivida" que lhes chega através de
vestígios trazidos pelas chamadas "fontes históricas"? Todas essas inúmeras questões –
''teóricas'' por excelência – fazem parte dos aspectos disciplinares que podem ser referidos
como uma teoria da história2.

1
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.11.
2
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.12.

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Conforme destaca o historiador Jörn Rüsen, em sua obra Razão histórica (2001, p.14), a
Teoria da História se refere ao "pensamento histórico em sua versão científica". De acordo com
essa perspectiva, pode-se estabelecer uma distinção mais clara entre as "filosofias da história"
ou outras formas de concepção histórica como as ''teologias da história", e as ''teorias da
história'' propriamente ditas, considerando que estas se vinculam ao novo momento em que a
historiografia passa a reivindicar um estatuto de cientificidade3.
Mas vale dizer que a proposta de pensar a História com um viés cientificista é inaugurado
na passagem do século XVIII para o XIX, movido pelas propostas iluministas e a racionalização.
Em todo caso, já existiam formas de conhecimento histórico bem antes da passagem do século
XVIII ao XIX, que é esse momento particular em que se passa a tomar com parâmetro para a
historiografia a cientificidade e no qual, portanto, já se pode falar em ''teorias da história''.
Contudo, naqueles momentos anteriores – como a Antiga Grécia, o mundo romano, a Idade
Média, o Renascimento, ou o Moderno Absolutismo – apresentavam-se para a historiografia
referências muito diversas, como ''a anamnese grega, o patriotismo romano, o providencialismo
medieval, ou o oficialismo absolutista''4. O próprio século XVIII, na antessala para o surgimento
das ''teorias da história'' que passarão a vigorar no século XIX, também já oferece, com as
"filosofias da história'' ao modo de Herder ou de Kant, uma outra maneira de pensar sobre a
História que não é bem exemplificadas no século seguinte pelos paradigmas do Positivismo, do
Historicismo, ou do Materialismo Histórico, todos inarredavelmente alicerçados por uma
metodologia documental que já estará na base do surgimento da figura do historiador
profissional e da inserção da História como disciplina universitária5.
As "filosofias da história", que se alastram no século XVIII e se estendem até as
realizações de Hegel no século XIX, constituem um gênero filosófico-historiográfico à parte, e
devem ser bem distinguidas das "teorias da história'' propriamente ditas. Tanto as ''filosofias da
história'' como as ''teorias da história'' já são enunciadas em uma nova era historiográfica,
distinta de tudo o que até então se tinha feito nas tradicionais ''histórias'' representadas pelos
inúmeros gêneros historiográficos que precederam o trabalho dos historiadores modernos.
Existe entre as ''filosofias da história'' e as ''teorias da história'' tanto uma certa cumplicidade,
como também uma diferença radical que será preciso considerar.
Ora, vale a pena dizer que é, senão em um contexto no qual a cientificidade se apresenta
como um referencial para a historiografia, aspecto que se afirma consistentemente na
passagem do século XVIII para o século XIX, que se pode falar da emergência de ''teorias da
história'' como grandes sistemas de compreensão sobre a História e a Historiografia. Nesse

3
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.85.
4
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.86.
5
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p.86.

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período, começaram a surgir tanto uma ''matriz disciplinar'' mais definida para História, como os
primeiros grandes paradigmas historiográficos.
Uma teoria constitui certa visão de mundo relacionada a um ou outro dos diversos
campos científicos, uma Teoria da História, ou um Paradigma Historiográfico, corresponderá a
uma certa visão histórica do mundo, ou mesmo a determinada visão sobre o que vem a ser a
própria História e seus registros. Qualquer Teoria da História pressupõe, simultaneamente, uma
determinada concepção sobre o que é a História e sobre o que deve ser a historiografia, isto é, o
campo processual.6
Em termos de teorias da história, podemos nos remeter tanto àquelas que se referem a
objetos historiográficos específicos (eventos ou processos como a Revolução Francesa, o
Nazismo, as crises específicas do Capitalismo), ou às teorias mais amplas, mais generalizadoras,
que se referem a séries de eventos (não uma teoria sobre a Revolução Inglesa ou a Revolução
Francesa, mas uma teoria sobre as ''revoluções''; não uma teoria sobre o nazismo alemão ou
sobre o fascismo italiano, mas uma teoria sobre o ''totalitarismo''). Há, portanto, tipos diversos
de teorias: umas mais particularistas e outras mais genéricas. Os historiadores podem fornecer
uma teoria que diga respeito a determinado evento, a uma série de eventos, a um período, ao
desenvolvimento de instituições segundo um entrecruzamento cultural e assim por diante.
No limite máximo de generalização, os historiadores podem oferecer teorias acerca do
que seja a própria Historiografia. O que é a História, como ela se constrói, quais as tarefas do
historiador diante da produção desse tipo de conhecimento? Para que serve a História? Que
tipo de conhecimento é a Historiografia? É possível, ou desejável, que o historiador faça
previsões do futuro a partir de suas observações do passado? Que tipo de envolvimento –
contemplativo, distanciado, comprometido, militante – deve ter o historiador em relação à
História de sua própria época? Deve a Historiografia ser colocada a serviço de alguma causa, ou
deve conservar o ideal de constituir um tipo de conhecimento desinteressado? Essas são
perguntas fundamentais que movem o ofício do historiador e conduzem a escrita da História. 7

6
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 87-88.
7
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 88-89.

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2. A HISTÓRIA ANTES DA HISTÓRIA


A ideia de que "a História tem uma história'' é uma proposição instigante, aliás,
igualmente instigante é lidar com este contraste entre a “História”, com “H” maiúsculo,
enquanto campo de conhecimento ou disciplina universitária (ou mesmo enquanto "discurso"
que se estabelece sobre os processos históricos), e a “história”, com “h” minúsculo, enquanto
devir que a tudo arrasta em seu interminável jogo de processos e acontecimentos.
A História é a única disciplina ou campo de saber que traz como sua própria designação
um nome que coincide diretamente com o seu objeto de estudo. História (historiografia) é, de
um lado, o discurso e o tipo de conhecimento que um historiador elabora; mas é também o
nome do seu próprio objeto de estudo: o campo processual dos acontecimentos. 8
Há a emblemática frase que diz: "Heródoto é o pai da História". Mas pode-se dizer que,
na verdade, a História – enquanto discurso que se organiza sobre acontecimentos – já existia
muito antes de Heródoto, e que, de acordo com o historiador François Hartog, remonta à
monarquia de Akkad (2.270-2.083 a.C.), na Mesopotâmia. Já naqueles ainda mais remotos
tempos, uma vez que motivados pelo interesse de unificar o país sob uma autoridade única, os
monarcas akkadianos já haviam começado a utilizar os seus escribas para escrever a sua própria
história9. Mas se Heródoto não pode ser rigorosamente considerado o "pai da História", pois
não foi o primeiro a deixar registrado algum tipo de discurso que pode ser definido como um
gênero historiográfico, por outro lado pode-se dizer que Heródoto foi certamente o ''pai dos
historiadores". Ainda acompanhando as reflexões de François Hartog, é com Heródoto que
surge, pela primeira vez, a figura do “historiador profissional” – não um escriba historiográfico e
anônimo instituído diretamente pelo poder político, mas um indivíduo – uma "figura subjetiva"
dotada de autonomia e poder de escolha, que elege para si um campo de discurso e reflexão
sobre a história. Com Heródoto, a figura do historiador se institui a partir de uma prática
escolhida pelo indivíduo pensante, de maneira similar ao que já ocorria com o filósofo ou com o
poeta lírico na Grécia Antiga.10
Seja a História uma filosofia que desce à Terra e se volta para o vivido, ou seja ela uma
Poesia que se deixa aprisionar pela necessidade e pelo compromisso de relatar rigorosamente o
já acontecido, podemos extrair importantes implicações do fato de que a História, entre os
gregos, deixa de ser uma imposição ou uma tarefa que vinha sendo atribuída de fora, por vezes

8
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 29-30.
9
HARTOG,2003:13 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 31.
10
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 32.

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posta a cargo de escribas subalternos e de talentosos escravos, para, a partir daí, passar a ser
uma escolha exercida criativamente pro um homem livre.
O que o praticante da História fará desta sua escolha – a de se tornar um historiador e de
construir um discurso historiográfico – é já uma outra coisa. Mas o fato é que, ainda que um
historiador possa ter decidido dar um sentido eminentemente político ao seu discurso, e ainda
que decida servir à Política, a verdade é que desde Heródoto o seu trabalho já não é instituído
primordialmente pelos poderes públicos no âmbito mais íntimo de suas práticas. Ser historiador
constitui uma decisão pessoal e implica no ato de se entregar a uma prática que se estabelece a
partir de um sujeito, tal como ocorre com a decisão de alguém se tornar filósofo, poeta ou
músico. Desde Heródoto, e parodiando um famoso dito de Jean-Paul Sartre, “o historiador está
condenado a ser livre”.
A menção a Heródoto pode ainda nos ajudar a adentrar noutro conjunto de reflexões, já
relacionadas às tentativas de identificar aquilo que a História teria de mais singular, ou, por
assim dizer, a sua "identidade mínima" (identidade esta que, em última instância, estará sempre
igualmente sujeita a transformação no decurso do próprio devir). Na época dos antigos gregos –
muito antes de se relacionar a uma investigação específica sobre o passado vivido, ou de trazer
para a centralidade de suas operações a noção de temporalidade –, a História esteve
simultaneamente associada às três noções de: (1) “investigação”, (2) “relato” e (3) “testemunho
ocular”. Essa tríade de sentidos, intimamente imbricados no termo grego istorie (ἱστορία),
antecipa surpreendentemente a complexidade futura da palavra História, uma vez que desde
então a nova prática parecia querer se referir simultaneamente a um tipo de pesquisa, a um
modo de escrita e às fontes deste tipo de conhecimento. A “pesquisa”, para Heródoto, deveria
se dar em forma de um “inquérito”, com “intenção de verdade”; a escrita assumiria o gênero
narrativo, e as fontes, para os historiadores gregos, ainda deveriam ser preferencialmente
oriundas de testemunhas oculares dos próprios acontecimentos.
Ora, o objeto da História é o mundo humano, o que para a antiguidade grega já foi uma
originalidade, uma vez que neste ponto a História começou a se destacar muito claramente da
Filosofia – esta nobre prática intelectual que tinha por objeto o mundo supralunar
(especialmente depois de Platão), muito acima da transitoriedade humana e das singularidades
do vivido – da mesma forma que aquela mesma História também começou a se destacar muito
visceralmente da Mitologia, que se referia apenas aos deuses e àquilo que estava além ou acima
do homem. A História, portanto, já desde a Antiguidade Clássica, coloca-se como uma
investigação sobre a realidade humana, ou ao menos sobre a realidade das ações humanas no
tempo.11

11
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 34-35.

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Mas o tipo de conhecimento verdadeiro que era buscado pelos historiadores gregos, que
imediatamente seguiram o modelo inaugurado por Heródoto – opondo-se ao filósofo que
buscava regularidades e verdades eternas em uma realidade atemporal – o que poderia se
tornar factível de ser apreendido e conhecido pelos seres humanos será precisamente esse
mundo de ações humanas em permanente mudança. Essa postura, diga-se de passagem, seria
retomada de maneira ainda mais sofisticada por Vico no século XVIII, que em sua Ciência Nova
chama atenção para o fato de que só podemos conhecer verdadeiramente aquilo do qual
efetivamente participamos. Isso implica que o homem só pode compreender aquilo que é
humano.
A Historiografia teve muitos desenvolvimentos posteriores aos seus primórdios na época
de Heródoto, e conheceu uma ampla variedade de gêneros que, com alguma liberdade,
poderíamos categorizar como “gêneros historiográficos”. A Historiografia Pré-moderna, por
exemplo, apresentava ou apresentou muitos objetivos e funções nas suas várias formas e
contextos sociais. “Evitar o esquecimento” (como entre os gregos), “ensinar à vida” (historia
vitae magistra), tal como propunham os teóricos renascentistas da política, "glorificar povos e
nações", à maneira dos historiadores que se puseram a serviço das monarquias absolutista da
primeira modernidade – estes eram alguns de seus nortes refundadores.
Na história da historiografia que precede a Modernidade, apesar da existência de
métodos os mais diferenciados para assegurar a “verdade”, e ao lado dos diversos usos para
esta verdade histórica que era perseguida pelos historiadores gregos, romanos, medievais,
renascentistas, podemos dizer que entre todas estas formas históricas pré-historiográficas a
intenção de “verdade” ocupava um lugar central na produção deste tipo de conhecimento,
como ainda hoje. Todavia, se a intenção de verdade já era condição sine qua non para a História
(historiografia), e isto praticamente já em todas as suas variações pré-modernas, no que passou
após a modernidade a busca pela verdade histórica, ou o seu registro, eram vistos acima de
tudo como uma atitude moral, como um princípio retórico da própria historiografia. É a partir
desse princípio que surge o campo disciplinar específico da História.12

12
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 38-42.

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3. CONSTITUIÇÃO DO CAMPO DISCIPLINAR


Toda disciplina é constituída, antes de mais nada, por um certo "campo de interesses", o
que inclui desde um interesse mais amplo que define esse campo como um todo, até um
conjunto mais privilegiado de objetos de estudo e de temáticas a serem percorridas pelos seus
praticantes (ou de desafios a serem enfrentados, para o caso dos campos disciplinares que, tal
como a Medicina, envolvem uma prática, mais ainda do que uma reflexão teórica e uma
pesquisa). A História, que tem em comum com a Antropologia, com a Sociologia ou com a
Psicologia o estudo do Homem – e que, portanto, partilha com essas ciências alguns de seus
objetos de estudo – a certa altura deverá ser definida como a ciência que coloca no centro de
seu campo de interesses "o estudo das ações do homem no tempo". Os objetos da História –
isto é, o seu "campo de interesses" – em que pese que pareçam coincidir em um primeiro
momento com os objetos possíveis das demais ciências sociais e humanas, serão sempre
objetos "historicizados'', "temporalizados", marcados por uma atenção à mudança em alguns de
seus níveis. O conjunto de interesses temáticos de uma disciplina, particularmente no que se
refere aos seus desdobramento e possibilidades de objetos de estudo, também está sujeito a
transformações no decorrer de sua própria história disciplinar.13
Cada disciplina possui a sua singularidade, aqui entendida como o conjunto dos seus
parâmetros definidores, ou como aquilo que a torna realmente única, específica, e que justifica
a sua existência – em poucas palavras: aquilo que define a disciplina em questão por oposição
ou contraste em relação a outros campos disciplinares. Polarizando, será preciso entender o
fenômeno inverso: embora cada campo de saber apresente certamente uma singularidade que
o faz único e lhe dá identidade, não existe, na verdade, um só campo disciplinar que não seja
construído e constantemente reconstruído por diálogos (e oposições) interdisciplinares.
Queiram ou não os seus praticantes, toda disciplina está mergulhada na Interdisciplinaridade.
Ora, para se constituir no seio de uma rede já existente de saberes, todo novo campo de saber
deve enfrentar duras lutas com campos já estabelecidos, nas quais frequentemente se verá
inserido em uma verdadeira disputa territorial, ou pelo menos em uma partilha interdisciplinar,
além de enfrentar o desafio de mostrar a capacidade e potencialidade para se posicionar com
eficácia diante de antigos e novos problemas que as disciplinas mais tradicionais já vêm
enfrentando com seus próprios métodos e aportes teóricos. Não é raro, aliás, que um novo
campo de saber surja a partir de certos desdobramentos de um campo disciplinar já existente,
ou que se desprenda desse campo original adquirindo identidade própria, ou mesmo que o

13
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 19-22.

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novo campo disciplinar se forme a partir de elementos dispersos oriundos de vários outros
campos.14
A dinâmica de transformações no vasto universo que abarca os campos disciplinares
produz um eterno movimento: novos campos podem surgir, e outros desaparecer; uns podem
se desprender de outros, e alguns podem se formar do casamento entre duas ou mais
perspectivas disciplinares. Há também o caso das "refundações", e essa ideia parece ser bem
adequada para entender a história da escrita da História, uma vez que esta correspondia a um
campo de práticas e expressões já milenar quando, a partir de fins do XVIII e início do XIX, será
como que "refundada" para se constituir como ''historiografia científica". A partir dessa
refundação, e da consolidação do estatuto do "historiador profissional", pode-se dizer que a
História passa de um conjunto de práticas muito diversificadas – da história dos cronistas à dos
antiquários, dos filósofos da história e dos teólogos – para a formação de uma "matriz
disciplinar'' mais bem definida.15
Essas tendências se apresentam como uma característica de praticamente todos os
"campos disciplinares" no período contemporâneo, especialmente com a crescente
especialização. Na verdade, isso tem sido um aspecto inerente à história do conhecimento na
civilização ocidental, sobretudo a partir da Modernidade, o que não impede que os efeitos mais
criticáveis da hiper-especialização sejam constantemente compensados pelos movimentos
interdisciplinares e transdisciplinares, voltados para uma "religação dos saberes" em um mundo
no qual os campos de produção de conhecimento vivem a constante ameaça do isolamento.
Neste sentido, há três aspectos fundamentais a serem considerados quando se fala na
constituição de um "campo disciplinar" – eles se relacionam ao fato de que nenhuma disciplina
adquire sentido sem que desenvolvam ou ponham em movimento certas teorias, metodologias
e práticas discursivas. Mesmo que tome emprestados conceitos e aportes teóricos originários de
outros campos de saber, que incorpore métodos e práticas já desenvolvidas por outras
disciplinas, ou que se utilize de vocabulário já existente para dar forma ao seu discurso, não
existe disciplina que não combine de alguma maneira Teoria, Método e Discurso.
Por outro lado, um campo disciplinar não se desenvolve no sentido de possuir apenas
uma única orientação teórica ou metodológica, mas sim de apresentar um certo repertório
teórico-metodológico que é preciso considerar, e que se torna conhecido pelos seus praticantes,
gerando adesões e críticas variadas.
O desenvolvimento de um campo disciplinar acaba gerando uma linguagem comum
através da qual poderão se comunicar os seus expoentes, teóricos, praticantes e leitores. Há até

14
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 23-24.
15
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p. 26.

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campos disciplinares que acabam gerando certo repertório de jargões, facilmente reconhecidos,
mesmo externamente. De todo modo, qualquer campo se inscrevendo em certa modalidade de
Discurso, por vezes com dialetos internos. É por isso que não é possível a ninguém se
transformar em legítimo praticante de determinado campo disciplinar se o iniciante no novo
campo de estudos não se avizinhar de todo um vocabulário que já existe previamente naquela
Disciplina, e através do qual os seus pares se intercomunicam. 16
À questão da Interdisciplinaridade, ao se colocarem em contato dois campos disciplinares
(seja de forma interdisciplinar ou transdisciplinar) podem enriquecer sensivelmente um ao
outro nos seus próprios modos de ver as coisas e a si mesmos. Particularmente a História, no
decorrer do século XX e além, foi beneficiada por uma longa história de contribuições
interdisciplinares às concepções e abordagens dos historiadores. A Geografia, a Antropologia, a
Psicologia, a Linguística, etc., estiveram fornecendo frequentemente conceitos e metodologias
aos historiadores, e certos desenvolvimentos em campos como História Cultural ou a História
das Mentalidades não teriam sido possíveis, certamente, sem os respectivos diálogos
interdisciplinares com a Antropologia e com a Psicologia.
Obviamente, não é possível pensar uma disciplina sem admitir o seu lado de fora, uma
zona de interditos ou aquilo que se coloca como proibido aos seus praticantes. O exterior de um
campo de saber é tão importante para uma disciplina como aquilo que ela inclui, como as
teorias e métodos que ela franqueia aos seus praticantes, como o discurso que ela torna
possível, como as escolhas interdisciplinares estimuladas ou permitidas. O que se interdita em
uma disciplina, como tudo mais, também é histórico, sujeito a transformações, e as temáticas e
ações possíveis que um dia estiveram dentro de certo campo disciplinar podem ser
processualmente deslocadas para fora, como também algo do que estava fora também pode vir
para dentro, para um espaço de inclusão legitimado pela rede de praticantes da disciplina.
Existe de fato uma densa e complexa rede humana, constituída por todos aqueles que já
praticaram ou praticam a disciplina considerada e pelas suas realizações – obras, vivências,
práticas realizadas – e também isto é certamente tão inseparável da constituição de um campo
disciplinar que poderíamos propor a hipótese de que a entrada de cada novo elemento humano
em certo campo disciplinar já o modifica em alguma medida, da mesma maneira que cada obra
produzida sobre um campo de saber ou no interior desse mesmo campo de saber já o modifica
em menor ou maior grau, às vezes indelevelmente, às vezes tão enfaticamente a ponto de se
tornar visível o surgimento de novas direções no interior desse campo disciplinar.
Ao se falar em uma "rede humana" para cada campo disciplinar, também temos de ter
em vista, é claro, que essas redes encontram-se frequentemente interferidas por uma "rede
institucional" (universidades, institutos de pesquisa, circuitos editoriais de revistas científicas,

16
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 28-29.

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etc.), e também por uma constelação de grupos de pesquisa e outras formas de parcerias e
associações dentro da qual essa vasta rede humana também se acomoda de uma maneira ou de
outra. A rede humana do campo disciplinar, dessa forma, assume aqui a forma de uma
"comunidade científica".17
Conforme Michel Foucault já fez notar com especial nitidez em seu ensaio A ordem do
discurso18, nem todos podem dizer tudo o tempo todo, o que nos remete mais uma vez à
questão dos ditos e interditos permitidos e hierarquizados por um campo disciplinar. A rede de
discursos que constitui uma das dimensões integrantes do campo disciplinar é também, ela
mesma, uma rede de textos e realizações, em dinâmica de interconexão.
Também Michel de Certeau, que examinou os desdobramentos deste campo disciplinar
que é a História, em seu clássico texto A operação historiográfica19, procura mostrar como cada
realização empreendida por cada historiador coparticipante da rede historiográfica enunciativa
termina por fazer emergir "uma operação que se situa em um conjunto de práticas".
A certa altura de seu amadurecimento como campo disciplinar, começam a ser
produzidos, cada vez mais frequentemente no seio do próprio campo de saber em constituição,
os "olhares sobre si". Começam a surgir, elaboradas pelos próprios praticantes da disciplina, as
"histórias do campo'', aqui entendidas no sentido de narrativas e análises elaboradas pelos
praticantes do campo disciplinar acerca da própria rede de homens e saberes em que estão
inseridos. Compreender-se historicamente é o resultado mais visível desse "olhar sobre si".
Temos, então, dez dimensões importantes nesta caminhada para tentar compreender
uma disciplina, qualquer que ela seja: o seu campo de interesses (1), a sua singularidade (2), os
seus campos intradisciplinares (3), o seu padrão discursivo (4), as suas metodologias (5), os seus
aportes teóricos (6), as suas Interdisciplinaridades (7), os seus interditos (8), bem como a
extensa "rede humana" (9) que, através de suas realizações, empresta uma forma e dá
concretização ao campo disciplinar, sem contar o "olhar sobre si" que essa mesma rede
estabelece a certa altura de seu próprio amadurecimento (10).
Torna-se importante, portanto, compreender adicionalmente que cada uma das dez
dimensões atrás citadas, além de interligada às demais, está mergulhada ela mesma, por inteiro,
na própria história. Os padrões interdisciplinares se alteram, os desdobramentos
intradisciplinares se multiplicam ou se restringem, as teorias se redefinem, as metodologias se
recriam, o padrão discursivo se renova, os interditos são rediscutidos, e mesmo algo da
singularidade que permite definir uma "matriz disciplinar" no interior da rede de saberes pode

17
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 30-33.
18
Cf. FOUCAULT, 1996.
19
Cf. DE CERTEAU, 1982.

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sofrer variações mais ou menos significativas à medida que surgem novos paradigmas e
contribuições teórico-metodológicas. Cada campo de saber está constantemente produzindo
novos “olhares sobre si mesmo” de acordo com as transformações que se dão dentro e fora do
campo – do contexto histórico-social às transformações teóricas e tecnológicas. Tudo é
histórico, enfim, e essa máxima é também válida para todo o conjunto de elementos daquilo
que vem a constituir um determinado campo disciplinar.
Uma vez tornado visível e reconhecido como novo espaço cientifico ou forma de
expressão, cada campo disciplinar (ou cada campo de saber, dito de outra maneira), passa a se
constituir em patrimônio de todos os que podem ou pretendem praticá-lo. Esse imenso
universo ou sistema que constitui um campo disciplinar, de todo modo, é anônimo, não
pertence especificamente a ninguém, embora dele nem todos possam se apossar.20
Conforme ressalta Foucault, um campo disciplinar depende de desencadear expansões
para existir, isto é, para que haja disciplina é preciso, pois, que haja possibilidade de formular e
de formular indefinidamente, proposições novas.21
Portanto, a História (campo de conhecimento) jamais será constituída por tudo o que se
pode dizer de verdadeiro sobre a história (campo dos acontecimentos). Para que uma
proposição pertença à disciplina História em certa época é preciso que essa proposição
responda às condições desta disciplina tal como a definem ou definiram os seus praticantes de
então. A História, como qualquer outra disciplina, estará sempre atraindo para dentro de si ou
repelindo para fora de suas margens determinado conjunto de saberes, proposições e domínios
que em momento anterior poderiam ter estado ali, e que em um momento subsequente da
história dos saberes e dos discursos já não estão. 22

20
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 35-38.
21
FOUCAULT, 1996, p. 30.
22
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 39-40.

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4. TEORIA: O QUE É ISSO?


Qualquer campo disciplinar, seja qual ele for, apresenta uma escrita, uma linguagem
própria, uma organização interna que tende a se consolidar sob a forma de "espaços
intradisciplinares", uma tendência a estabelecer no seu exterior certos diálogos
interdisciplinares com outros campos de saber, um conjunto de procedimentos e alternativas
metodológicas, um "olhar sobre si" que passa progressivamente a refletir uma maior tomada de
consciência dos integrantes do campo disciplinar acerca de suas próprias realizações, e, por fim,
um certo repertório de possibilidades relacionadas à teoria.
Quando dizemos que a Teoria é uma "visão de mundo", podemos discutir esta afirmação
em três níveis, a saber:
1) Um "modo de apreender o mundo";
2) Um "campo de estudos";
3) E cada um dos "modelos" ou "sistemas" explicativos criados para compreender um
determinado fenômeno, aspecto da realidade ou objeto de estudos.
Uma teoria é uma visão de mundo. É através de teorias que os cientistas e os estudiosos
de qualquer área de saber conseguem enxergar a realidade, “apreender o mundo” ou os seus
objetos de estudo, de formas específicas, seja qual for o seu campo de conhecimento de
atuação. É particularmente interessante constatar que a noção de "teoria" sempre esteve ligada
à ideia de "ver" – ou de "conceber" –, isso desde a Antiguidade: para a maior parte dos filósofos
gregos da Antiguidade, theoria significativa "contemplação". Isso prossegue sendo válido até os
dias de hoje, como “modo de apreender o mundo” – ou mesmo como maneira de agir diante da
realidade ou do mundo imaginário – a Teoria se contrapõe ao agir intuitivo, ao comportamento
emotivo, ao impulso instintivo, à recepção mística da ''palavra revelada", e a outros tantos
modos de conhecer ou de se movimentar no mundo.
A teoria pode ser abordada, em um segundo nível, como um "campo de estudos", ou
como uma espécie de território constituído por todas as realizações teóricas proporcionadas
pelos praticantes de determinado campo de saber. São nesses territórios teóricos, definidos por
cada uma das diversas ciências, que encontraremos, em graus vários de amadurecimento e de
interação, as linguagens conceituais específicas de cada campo de saber, os seus modos de
enxergar a realidade, os paradigmas disponíveis aos praticantes do campo, ou as próprias
perguntas que são possíveis de se levantar, naquele momento, com relação aos objetos de
estudo típicos do campo de saber em questão.
Em terceiro lugar, podemos falar de "teorias" quando nos referimos a cada um dos
modelos ou sistemas explicativos de que os cientistas se utilizam apara compreender os
fenômenos, aspectos e objetos que se relacionam às suas especialidades. Há teorias sobre

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objetos ou processos muito singulares. Mas há também teorias sobre questões muito mais
amplas.23
A teoria é filha da Razão e irmã da Metodologia Científica. Não é uma forma melhor nem
pior de apreender o mundo ou de nele se movimentar é apenas uma forma específica. A teoria
corresponde a certa maneira de "ver" e de pensar sobre as coisas. A expressão ''teoria" deve
estar associada a um modo de ver que se estabelece processualmente através da razão
discursiva (isto é, de uma verbalização que se impõe passo a passo) bem como através de
mediações várias entre o sujeito e o objeto "contemplado". É importante se ter em vista que o
processo de elaboração teórica é contínuo e circular, de modo que nele estarão sempre
reaparecendo estes diversos mediadores – os conceitos e a linguagem de observação que darão
certa consistência à leitura da realidade trazida pelo sujeito que produz o conhecimento, as
hipóteses que serão formuladas, os procedimentos argumentativos e comprovações empíricas,
as análises encaminhadas através da demonstração, e a verbalização dos resultados através de
uma forma específica de discurso, racionalizada.
Para deixar mais claro, podemos enumerar esses “mediadores teóricos”: a) Hipóteses; b)
Procedimentos argumentativos; c) Demonstrações (por exemplo, através de procedimentos
analíticos); d) Verbalização dos resultados; e) Linguagem de observação; e f) Conceitos.
O fato é que a Ciência opera essencialmente no "modo teórico", e é por essa via que
tendemos a seguir quando praticamos uma disciplina que se pauta por algum padrão de
cientificidade. A Teoria, associada ao Método, é a principal forma de obter conhecimento aceito
pela Ciência. 24
Desde o início do século XX, e incluindo as próprias ciências exatas e da natureza,
cientistas como Albert Einstein e filósofos como Karl Popper, começaram cada vez mais a
chamar atenção para o fato de que é a “nossa” Teoria que decide o que podemos observar, ou
como observar. A teoria transforma a realidade observada, ou ao menos revela certos aspectos
de uma realidade observada e não outros, conforme essa teoria seja construída de uma maneira
ou de outra, ou a parir de certos pontos de vista e parâmetros. O que se pode perceber da
realidade acha-se francamente interferido pelo ponto de vista do sujeito que produz o
conhecimento.25
Paul Veyne, em seu livro Como se escreve a História26, já chamava a atenção para o fato
de que "a formação de novos conceitos é a operação mediante a qual se produz o

23
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 40-48.
24
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 53-55.
25
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 60-63.
26
Cf. VEYNE, 1998.

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enriquecimento da visão". A essa formulação, o historiador francês seguia argumentando que


Tucídides, Eginhard, ou Santo Tomás de Aquino não teriam podido enxergar, nas sociedades de
seu tempo, aquilo que hoje nelas procuramos: "classes sociais", "mentalidades", "mobilidade
social", ''atitudes econômicos", ou tantos outros aspectos que aprendemos a ver nas diversas
sociedades históricas através de conceitos que nós mesmos formulamos ou que herdamos, para
modificá-los ou não, de nossos predecessores na análise historiográfica.
É uma determinada teoria e seus instrumentos fundamentais, os conceitos, o que nos
possibilita formular uma determinada leitura da realidade histórica e social, enxergar alguns
aspectos e não outros, estabelecer conexões que não poderiam ser estabelecidas sem os
mesmos instrumentos teóricos de que nos valemos. A teoria pode ser considerada como fator
de importância fundamental para a constituição de qualquer campo de conhecimento, o que
inclui a História. Por outro lado, a teoria remete ainda aos conceitos e categorias que serão
empregados para encaminhar uma determinada leitura da realidade, à rede de elaborações
mentais já fixadas por outros autores (e com as quais o pesquisador irá dialogar para elaborar o
seu próprio quadro teórico). Do mesmo modo, a teoria remete frequentemente a
generalizações, ainda que essas generalizações se destinem a serem aplicadas em um objeto
específico ou a um estudo de caso delimitado pela pesquisa. Ao lado disto, a teoria também
implica uma visão sobre o próprio campo de conhecimento que se está produzindo. Enfim, a
Teoria tanto remete à maneira como se concebe certo objeto de conhecimento ou uma
determinada realidade examinada, a partir de dispositivos específicos que são os conceitos e
fundamentos teóricos de diversos tipos, como também se refere ao modo como o pesquisador
ou cientista enxerga sua própria disciplina ou seu próprio ofício.
Enquanto a teoria refere-se a um "modo de pensar" (ou de ver), a "metodologia " refere-
se a claramente um "modo de fazer''. Esses dois verbos – "ver" e "fazer" – constituem os gestos
fundamentais que definem, respectivamente, Teoria e Método. A "Metodologia" remete
sempre a uma determinada maneira de trabalhar algo, de eleger ou constituir materiais, de
extrair algo específico desses materiais, de se movimentar sistematicamente em torno do tema
e dos materiais concretamente definidos pelo pesquisador. A metodologia vincula-se a ações
concretas, dirigidas à resolução de um problema; mais do que ao pensamento, remete à ação e
a prática. Por exemplo, a "análise de discurso'' (exame minucioso, crítica, estudo) de que um
historiador lança mão para compreender as suas fontes históricas, são relacionados ao âmbito
dos procedimentos técnicos e das metodologias. Quando o historiador situa um conjunto de
documentos em série, e procura incidir sobre ela um determinado questionário ou uma
tabulação de tópicos e critérios, estará certamente empregando uma "metodologia''. 27

27
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 64-67.

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Faz parte da Metodologia tudo aquilo que é pertinente ao "fazer da história" – às


situações concretas e práticas com as quais deve o historiador se defrontar em seu processo de
pesquisa, de análise de fontes, ou mesmo de exposição de resultados. Elementos de
importância máxima, que perpassam toda a Metodologia da História e que correspondem de
certo modo ao seu centro, são precisamente as Fontes Históricas.
São elementos pertinentes à Teoria todos aqueles aspectos, fatores e artifícios que se
relacionam às "maneiras de ver" e às concepções historiográficas. Os "conceitos", por exemplo,
são importantes instrumentos da Teoria. Quando formulamos um conceito como o de "Classe
Social" estamos nos proporcionando uma certa maneira de enxergar a sociedade, pois
imediatamente passamos a concebê-la como dividida de uma forma específica, do mesmo
modo que começamos a enxergar a partir dessa divisão hierarquizações e antagonismos
específicos entre os vários grupos sociais resultantes dessa concepção da sociedade.
A Historiografia também estabelece "diálogos interdisciplinares" importantes – muitos
dos quais de cunho teórico, e outros relacionados ao âmbito metodológico – com outros
campos do conhecimento como a Antropologia, a Geografia, a Economia, a Sociologia, a
Psicologia, e tantos outros. Por isso, os "diálogos interdisciplinares" atravessam tanto a teoria
como a metodologia da História.
Quando atinge certo nível de complexidade, muito habitualmente um campo de saber
começa a produzir "espaços intradisciplinares", e a permitir, obviamente, conexões as mais
diversas entre esses espaços intradisciplinares de acordo com cada objeto de estudo. Olhar que
um campo de estudos estabelece sobre si, identificando e constituindo seus espaços internos, é
também uma questão teórica, um modo de enxergar a si mesmo, que no caso da História
corresponde a mais uma das tarefas da Teoria da História.
A Historiografia também desenvolve inúmeros procedimentos e metodologias para
constituir as fontes históricas, para analisá-las, para serializá-las, para utilizá-las como fontes de
indícios e informações historiográficas, ou para abordá-las como discursos que devem ser
decifrados, analisados, incorporados criticamente pelo historiador. Inúmeros âmbitos
relacionados aos "métodos e técnicas" poderiam ser aqui indicados, e a História Oral, a
Arqueologia, a Análise de Discurso, ou o tratamento serial e estatístico constituem apenas
alguns exemplos.
É imprescindível à Metodologia da História, ainda, o próprio "planejamento da pesquisa"
e, neste sentido, o "Projeto de Pesquisa" constitui um recurso metodológico importante. Um
bom Projeto de Pesquisa também falará de Teoria, uma vez que faz parte de um bom
planejamento indicar as referências conceituais, discutir o quadro teórico que orientará a
análise, formular hipóteses, e dialogar com a historiografia e teoria já existente. A ideia é que
uma decisão "teórica" pode encaminhar também uma escolha "metodológica".

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Reciprocamente, a metodologia – ou uma certa maneira de fazer as coisa – também pode


retroagir sobre a concepção teórica do pesquisador, modificando sua visão de mundo e
levando-o a redefinir os seus aportes teóricos. Há certas implicações metodológicas a partir de
certos pressupostos teóricos e, inversamente, quando optamos por uma certa maneira de fazer
as coisas, de enfrentar situações concretas apresentadas pela pesquisa, também estamos
optando por um certo posicionamento teórico.
A pesquisa em História e a sua posterior concretização em escrita da História (isto é, a
apresentação dos resultados da pesquisa em forma de texto) envolvem este confronto
interativo entre teoria e metodologia. O ponto de partida teórico, naturalmente, corresponde a
uma determinada maneira como vemos o processo histórico. Podemos alicerçar nossa leitura da
História na ideia de que esta é movida pela ''luta de classes". Mas se quisermos identificar essa
"luta de classes" na documentação que constituímos para examinar este ou aquele período
histórico específico, teremos de nos valer de procedimentos técnicos e metodológicos especiais.
Será talvez uma boa ideia empreender uma "análise de discurso" sobre textos produzidos por
indivíduos pertencentes a esta ou àquela "classe social", por exemplo.28
Existem metodologias que favorecem ou que inviabilizam o encaminhamento de certas
perspectivas teóricas. A interação entre Teoria e Metodologia também aparece de maneira
muito clara na elaboração de "hipóteses". Via de regra, uma hipótese é gerada a partir de certo
ambiente teórico, e frequentemente é formulada a partir de conceitos muito específicos. Posto
isto, não há sentido em formular uma hipótese que não possa ser demonstrada – pois, se assim
for, não estaremos diante de uma verdadeira hipótese, e sim de uma mera conjectura. É depois
que formulamos uma hipótese, e quando partimos para a sua demonstração, que surge a
necessidade de uma "metodologia".
Nas ciências históricas, qualquer hipótese apresentada deve buscar respaldo nas fontes
primárias, e na análise dessas fontes, ou, ao menos, deve ser referida a evidências que tenham
chegado ao historiador de alguma maneira. Estes procedimentos – o levantamento de fontes, a
constituição de um corpus documental, a verificação comparada de informações e a análise dos
discursos trazidos pela documentação – estão ancorados na Metodologia. Para verificar uma
hipótese, ou para rejeita-la, é preciso de método. Uma hipótese nasce no mundo teórico, a
partir de uma determinada maneira de enxergar a realidade, mas em seguida ela se dirige ao
âmbito metodológico em busca de comprovação. Torna-se mais um dos inúmeros elos que
podem ser estabelecidos entre a Teoria e a Metodologia. Se há uma interpenetração possível
entre concepções teóricas e práticas metodológicas disponíveis ao historiador ou a qualquer
outro tipo de pensador/pesquisador, deve-se ter sempre em vista que "teoria" e "método" são

28
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 69-73.

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coisas bem distintas, da mesma maneira que "ver" e "fazer" são atitudes verbais e práticas
diferenciadas, embora possam se interpenetrar.
Um ponto interessante que pode ser ressaltado para o caso da Teoria é que pode existir
uma grande diversidade de teorias possíveis para qualquer objeto de investigação ou para
qualquer campo de conhecimento examinado, e que as diversas teorias podem se contrapor, se
sucederem ou se sobreporem umas às outras. Uma vez que cada teoria propõe ou se articula a
uma determinada "visão de mundo", e ela também corresponde à formulação de determinadas
perguntas e, consequentemente, abre espaço a um certo horizonte de respostas. Na mesma
medida em que as teorias se diversificam, também variam muito as respostas proporcionadas
por cada teoria em relação a uma certa realidade ou objeto examinado.29
Thomas Kuhn, autor do célebre livro A estrutura das revoluções científicas30, de 1962, já
considerava que uma teoria frequentemente 0se afirma em detrimento de outra, precisamente
porque responde a algumas questões que a outra teoria não respondia. Nessa perspectiva, as
mudanças de teoria (ou as opções por uma ou outra teoria) ocorrem porque uma teoria passa a
satisfazer mais do que outra, isto é, porque as questões a que a nova teoria adotada dá resposta
começam a ser consideradas mais importantes ou relevantes pelo sujeito que produz o
conhecimento. Dito de outra maneira, cada teoria, ao corresponder ou ao equivaler a uma
determinada visão de mundo, permite que sejam formuladas certas perguntas e,
frequentemente, uma nova teoria contrasta com as teorias anteriores que abordaram esta ou
aquela questão precisamente pela sua capacidade de colocar novas perguntas.
O pensar no "modo teórico" deve se amparar, nos dias de hoje, em certos procedimentos
e pressupostos que foram reforçados pelo padrão de cientificidade da vida moderna. A "teoria"
sem demonstração, sem encadeamento coerente de suas partes, sem verificabilidade, pode se
converter meramente em um conjunto de "conjecturas", pelo menos de acordo com o
pensamento que passou a predominar no mundo contemporâneo. A Ciência, compreendida
como forma específica de produzir conhecimento, pode ser identificada a partir da co-presença
de alguns aspectos que lhe são inerentes. Deve antes de tudo visar e constituir um
conhecimento a ser produzido sistematicamente, com rigor metodológico. O saber científico
também deve ultrapassar, necessariamente, o mero nível descritivo ou narrativo, de modo a
fornecer explicações ou "sistemas para a compreensão" acerca dos fenômenos que examina.
Em última instância, não busca, a Ciência, no seu sistemático processo de produzir o
conhecimento, fornecer valorações éticas ou que tenham por escopo final julgar os fenômenos
observados de acordo com algum ponto de vista moral (tal como ocorre com a Ética ou com a
Religião). Sobretudo, trata-se de um conhecimento demonstrado, tanto a partir de uma lógica

29
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 75-77.
30
Cf. KUHN, 1998.

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argumentativa, como no que se refere à comprovação de dados que lhe sirvam de base
informativa. É por fim, e este é um dos seus aspectos mais definidores, um conhecimento que
deve ser "testável", isto é passível de ser verificável ou percorrido mais de uma vez por qualquer
pesquisador que se proponha a seguir todos os passos da pesquisa original. Para tanto, o
conhecimento produzido cientificamente deve explicitar necessariamente o "caminho'' e os
"pressupostos" que permitiram que o mesmo fosse produzido (o "método" e também a "visão
de mundo", isto é, a "teoria", que o sustenta), assim como deve esclarecer as condições de
produção do conhecimento em questão.
Portanto, a História, desde o momento em que postulou se tornar científica, ou ao menos
se pôs a dialogar com as sociedades científicas, trouxe para o centro de suas preocupações um
extremo cuidado em indicar as suas fontes. Essa é uma questão "metodológica" da maior
importância para a História. É através da indicação das fontes utilizadas por um historiador que
um outro, que deseje submeter o seu trabalho à prova, poderá percorrer o mesmo caminho
traçado pelo primeiro pesquisador. A fonte está na base da dimensão de verificabilidade
possível à História. Se na Química o pesquisador pode repetir em laboratório a experiência
produzida pelo primeiro pesquisador, na História se deve assegurar que todos tenham acesso às
fontes examinadas. Faz parte da ideia de teoria a possibilidade de demonstração (de confirmar
ou de extrair consequências daquilo que é formulado). Para estarmos no âmbito da Teoria
também é necessário que o que se formula teoricamente seja submetido a um diálogo com
outras proposições teóricas, seja para reforço ou para refutação. Por isso as diversas teorias
relacionam-se, por contraste ou por interação, no interior de um campo de conhecimento mais
vasto, que é o campo científico que se tem em vista. 31

31
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 80-83.

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5. O PARADIGMA HISTORIOGRÁFICO
Pertencem ao âmbito da teoria da história os grandes paradigmas historiográficos e os
sistemas teóricos mais amplos que se destinam a encaminhar a compreensão e análise
historiográfica. Os paradigmas Positivista, Historicista e o Materialismo Histórico, entre outros,
pertencem ao quadro de grandes correntes teóricos disponíveis aos historiadores (embora
frequentemente essas correntes também envolvam aspectos metodológicos).32
Mas o que é um paradigma? Ora, paradigma é um conceito das ciências e da
epistemologia (a teoria do conhecimento) que define um exemplo típico ou modelo de algo. É a
representação de um padrão a ser seguido. É um pressuposto filosófico, matriz, ou seja, uma
teoria, um conhecimento que origina o estudo de um campo científico; uma realização científica
com métodos e valores que são concebidos como modelo; uma referência inicial como base de
modelo para estudos e pesquisas.
Como dito alhures, a segunda metade do século XVIII é um momento de passagem
importante para um novo momento na historiografia, até o século XIX, quando se consolidará a
historiografia científica. Esta metade de século em que surgem as "filosofias da história" é como
que uma antessala para algo ainda mais inovador, que será o ambiente de surgimento das
"teorias da história" ainda na primeira metade do século XIX. Estes dois momentos da
historiografia, embora distintos, fazem parte de um mesmo movimento que já podemos situar
no ambiente de uma nova era historiográfica.
Embora fosse já antiga a prática da historiografia, ou de vários tipos de pesquisa e de
elaboração de textos assemelhados à historiografia, surgiria efetivamente em fins do século
XVIII a primeira formulação do conceito atual de história, entendida como um “singular-
coletivo”, isto é, como a interação de todas as experiências humanas, desaparecendo a
tendência a se falar em “histórias”, no plural, separadas umas das outras. Essa mudança
semântica anuncia efetivamente os novos tempos: a partir de então um mesmo conceito –
"História" passaria a designar simultaneamente a realidade vivida (a história enquanto processo
de acontecimentos) e a reflexão sobre esta realidade vivida (a historiografia produzida pelos
historiadores na sua narração ou análise da história). Daqui em diante, a História passará a
carregar o nome de sua carne.
O novo tipo de historiador extrairá parte de suas inspirações e traços essenciais não
apenas dos filósofos, como também dos teólogos e filólogos; além do que, é claro, aquilo que
naturalmente se extrairá dos antigos praticantes de gêneros cronísticos e proto-historiográficos.

32
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p. 70.

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As interessantes observações da filósofa Hannah Arendt33 sob uma sutil mudança que ocorria
pela mesma época (fins do século XVIII) na própria história da Filosofia, pois esta mudança no
ambiente mental dos filósofos vai de fato ao encontro da emergência da nova mentalidade
historiográfica que já vinha surgindo por outras vias. Arendt observou que a história do
chamado "pensamento filosófico ocidental" conheceu três grandes épocas, a saber:
1) Era filosófica – extraordinariamente extensa na história do pensamento ocidental, no
que concerne a esta questão específica que seria a determinação da principal tarefa do
filósofo, seria aquela que foi atravessada por uma filosofia que valorizava
prioritariamente a Metafísica. Teríamos aqui aquela filosofia que, desde Platão e
Aristóteles, havia fixado como tarefa maior e mais nobre da Filosofia investigar as "causas
primeiras" (isto é, aquelas que estão acima do mundo humano, que se referem às
reflexões sobre o próprio Ser enquanto Ser, examinado como se estivesse fora da história
e do fugaz e revolto mundo humano). De Aristóteles até fins da Idade Média, passando
pelos tomistas, esta teria sido a tônica maior da história da Filosofia que precede o
período moderno.
2) Primeira Modernidade – os séculos XVI e XVII trarão, em seguida, a ''primeira
modernidade''. A "primeira modernidade" se traduz efetivamente em mudanças
importantes na história do pensamento filosófico com relação a esta questão específica,
isto é, "qual seria a principal tarefa do filósofo?". Do inquérito metafísico sobre as causas
primeiras, a tarefa maior e mais nobre da Filosofia passa a ser vista, nos séculos XVI e
XVII, como aquela que é cumprida pelas Teorias Políticas. De Maquiavel (1469-1527) a
Locke (1632-1704) e a Hobbes (1469-1527), há fartos exemplos. A Filosofia, já desde a
primeira modernidade, passa a ser preocupar enfaticamente com o mundo humano, com
a sua organização política, com o mundo da "ação". Não que esta Filosofia como na
Filosofia da Antiguidade também se tratou muito do "Político''), mas sim que, neste novo
período, o ''Político" é que passa a ser enfatizado como a temática mais importante.
3) Segunda Modernidade – O último terço do século XVIII (coincidindo precisamente com o
período que Jorn Rusen qualificará como do surgimento de uma nova era historiográfica)
assistira ao "concomitante" declínio do interesse pelo puramente político". Diante do
portal que introduz, no século XIX, a "segunda modernidade". Esta já nasce, por assim
dizer, distintivamente marcada pela "consciência histórica”. De uma maneira até então
inédita a História passa a contaminar a Filosofia, toda ela se torna histórica, e se auto
percebe como mergulhada na história. Esta é pelo menos a tendência geral, da qual
Hegel nos oferecerá o mais bem acabado exemplo. 34

33
ARENDT, 2009, p. 101 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 45.
34
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 43-50.

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A "Verdade" não está mais fora da história, de maneira transcendente; ao contrário,


daqui em diante ela está dentro da história. Rigorosamente falando, a Verdade é a própria
história. A noção de "processo histórico'' se impõe a partir daqui. A verdade a ser apreendida,
seja pelos filósofos ou por estes novos intelectuais que serão os historiadores, dá-se na história,
está inarredavelmente inscrita no tempo. É por isso que a História deixa de ser aquela
modalidade de prática intelectual ou literária que antes parecia destinada a fornecer exemplos
para a Teoria Política, tal como em Maquiavel. Ela (a história) é o próprio processo a ser
estudado. Isto vai se impor com tanta força que o século XIX vai ser cognominado de ''século da
história".
Diante da nova concepção de que a história corresponderia a uma realidade vivida
efetiva, a função do historiador, por isto mesmo, passaria a ser a de apreender esta realidade,
ou algo desta realidade, o que nos leva desde já ao segundo traço apontado por Jorn Rusen em
sua caracterização deste novo modo de conceber e elaborar a História que começa a se afirmar
a partir do último terço do século XVIII. Assim, enquanto o primeiro traço referia-se à natureza
da história-efetiva, isto é, à maneira como a natureza da história passa a ser compreendida pela
nova historiografia, já o segundo traço refere-se à ligação ou ao tipo de ligação que deve ser
estabelecido entre a historiografia e a história, que a primeira toma para objeto de
conhecimento.
A Historiografia passa a ser entendida cada vez mais como "forma de conhecimento'' (e
não mais como mero meio pragmático ou voltado para o aprimoramento ético). Como nova
forma de conhecimento a ser cuidadosamente definida em suas especificidades, a principal
estratégia cognitiva da historiografia para lidar com a experiência do passado deverá ser
necessariamente a "racionalidade do método". Surgirá aqui, concomitantemente, um novo
conceito importante para ser considerado no âmbito dos procedimentos metodológicos da
historiografia: a "objetividade".
Os historiadores logo começaram a perguntar a si mesmos: “que elementos da realidade
histórica podem ou devem ser apreendidos pelos historiadores?”, ou ainda, "como a História –
ou a verdade histórica – poderá tornar-se apreensível para o sujeito que produz o
conhecimento?”. Em termos mais simplesmente historiográficos, os historiadores começam a se
preocupar com duas coisas: ''o que buscar na história", e "que métodos e procedimentos
empregar nesta busca". Estas duas perguntas, a partir da segunda metade do século XVIII, e
sobretudo no século XIX, estarão presentes na mente de todos os historiadores ou eruditos que
procuram elaborar algum tipo de conhecimento sobre a experiência do passado. As respostas
que serão dadas a estas perguntas, contudo, darão origem a correntes diferenciadas do
pensamento historiográfico.
Boa parte dos iluministas da segunda metade do século XVIII, por exemplo, haviam
passado a responder à primeira pergunta ("o que encontrar na História") em termos de uma

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grande busca de leis ou generalizações. Almejavam compreender, na História, o que estava por
trás da própria História. Haveria "leis" presentes por trás do desenvolvimento das sociedades
humanas, tal como havia leis que regiam os fenômenos físicos? Esta busca também foi a dos
positivistas no século seguinte.
Já os primeiros românticos do século XVIII, e mais tarde os historicistas do XIX, não
estavam propriamente interessados em leis gerais, em grandes generalizações que permitissem
compreender a história como um desenvolvimento único e sob a perspectiva de uma
universalidade que abarcasse toda a humanidade. Essencialmente, buscavam na história as
singularidades, as diversidades, a especificidade de cada sociedade ou processo histórico. Sua
perspectiva historiográfica, em uma palavra, seria "particularizante", e não "universalizante".
Quanto à pergunta metodológica (''que estratégias cognitivas deveriam ser utilizadas
para lidar com a experiência do passado?”), as respostas foram também várias, mas a mais
consistente seria trazida pelos historicistas que se afirmariam a partir do início do século XIX: a
historiografia deveria desenvolver métodos sistemáticos de críticas das fontes, das evidências
que registravam as experiências do passado humano. Este trato sistemático das fontes ficaria
conhecido como "Crítica Documental", e foi de fato uma das maiores contribuições do
Historicismo dos primeiros tempos – e da Escola Histórica Alemã em particular – ao
desenvolvimento da historiografia como um todo.
Outras duas contribuições, para além da própria difusão do paradigma historicista, foram
a inserção e consolidação da História como disciplina universitária, e a instituição da figura do
historiador profissional como aquele sujeito humano que, legitimamente, poderia tomar a seu
cargo a tarefa da escrita da História com base em uma rigorosa especialização laboriosamente
conquistada. A nova figura do historiador profissional logo passaria a se contrapor à do sábio
erudito que, entre inúmeros outros interesses, já vinha escrevendo no século XVIII também as
suas obras historiográficas, a exemplo de filósofos iluministas como Voltaire, Montesquieu ou
David Hume. De igual maneira – em que pese que eventualmente as ''teorias da história" do
século XIX achem-se eventualmente impregnadas de alguma ''filosofia da história" (como o
Positivismo comtiano ou a perspectiva da marcha teleológica da civilização para o socialismo
que se acha inserida no materialismo Histórico de Marx e de Engels) o historiador do século XIX,
o "historiador científico", passa a se dedicar cada vez mais ao exame do concreto vivido trazido
pelas suas fontes, e a se distanciar cada vez mais das perspectivas teleológicas daquelas
"filosofias da história" que buscavam antecipar um futuro e refletir essencialmente sobre o
sentido e o ponto de chegada da história, mais do que sobre a história em si mesma. 35

35
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 53-55.

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O historiador profissional que surge no século XIX, e que seguirá pelos séculos
posteriores, estará muito claramente ocupado em sedimentar as suas reflexões em evidências,
e em se afastar de especulações não comprováveis ou sem alguma base empírica.
Em face da necessidade de estabelecer um método que o tornasse capaz de atingir a
essencialidade do processo histórico ou da experiência humana examinada, passaram a ocupar
uma centralidade fundamental para a produção do conhecimento histórico estes materiais,
vestígios ou evidências de todos os tipos que vão sendo deixados pelas sucessivas épocas e pela
a ação humana através do tempo. Em uma palavra: a ideia de História, no sentido moderno,
passa a ser quase que automaticamente associada ao conceito de ''Fonte Histórica", embora a
definição sobre o que poderia ou não ser considerado como fonte histórica tenha passado por
sucessivas transformações ao longo do desenvolvimento da historiografia, em geral na direção
de uma gradual expansão que terminaria por abarcar um universo praticamente infinito de
possibilidades. Desde então, destacam-se dois elementos entre aqueles que mais habitualmente
associamos à matriz disciplinar que constitui este campo de conhecimento que denominamos
História: a Fonte Histórica, e a referência ao Tempo.

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6. DOIS PARADIGMAS EM CONTRAPOSIÇÃO: POSITIVISMO E


HISTORICISMO
A historiografia dos séculos XIX ao XXI oferece um arco interessante e diversificado de
posições relacionadas à questão da oposição e interação entre Objetividade e Subjetividade em
História. Praticamente o século XIX abre-se e encerra-se com este debate, pois, além de ser o
século da História, será constituído de décadas de confronto entre duas posições fundamentais
com relação a esta questão: o Positivismo e o Historicismo. Adicionalmente, surge em meados
do século XIX uma nova Teoria da História, mas sem estar ainda acompanhada por um número
significativo de obras historiográficas propriamente ditas: o Materialismo Histórico, que no
século XX traria inúmeras contribuições historiográficas já produzidas por historiadores ligados
ao Materialismo Histórico.
A oposição fundamental entre Positivismo e Historicismo dá-se em torno de três aspectos
fundamentais: (1) a dicotomia Objetividade/Subjetividade no que se refere à possibilidade ou
não de a História chegar a Leis Gerais válidas para todas as sociedades humanas; (2) o padrão
metodológico mais adequado à história (de acordo com o modelo das Ciências Naturais, ou um
padrão específico para as ciências humanas); e (3) a posição do historiador face ao
conhecimento que produz (neutro, imerso na própria subjetividade ou engajado na
transformação social).
Ambos, o Positivismo e o Historicismo, pautaram-se na ideia de que a História se refere a
uma realidade humana temporalizada, e na perspectiva de que poderia se tornar objeto de
conhecimento este mundo humano real a ser compreendido no tempo. De igual maneira, com
estes dois paradigmas historiográficos concorrentes, já entramos no âmbito das "teorias da
história".
É importante ressaltar que, enquanto o Positivismo, como paradigma, já está
praticamente pronto desde o início do século XIX – já que herda uma série de pressupostos do
Iluminismo, embora por vezes invertendo a sua aplicação social e vindo a constituir de fato uma
visão de mundo tendencialmente conservadora, ao contrário dos setores mais revolucionários
do pensamento Ilustrado –, já o Historicismo estará construindo o seu paradigma no decurso do
próprio século XIX. Influências mais isoladas lhe chegavam de autores precursores como Herder
ou Vico, que já estavam no século XVIII atentos à relatividade das sociedades humanas contra a
tendência predominante na intelectualidade da época, o Iluminismo, que tendia a pensar na
Natureza Universal do Homem e em uma história "universalizante", e não "particularizante".36

36
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 63-65.

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Os Positivistas contam de fato com toda uma fortuna crítica que inclui as já clássicas
discussões iluministas em torno de questões que lhes seriam caras: (1) a possibilidade de um
conhecimento humano inteiramente objetivo; (2) a construção de uma história universal,
comum a toda a humanidade; (3) a possibilidade de amparar um conhecimento científico sobre
as sociedades humanas com base na ideia de imparcialidade do sujeito que produz o
conhecimento. Estes três princípios, no que apresentam de mais essencial, sustentam-se sobre a
noção de que haveria uma "natureza imutável do Homem''. São estes fundamentos, que já
vinham sendo discutidos há muito pelo pensamento Ilustrado, que o Positivismo tomaria para
si, emprestando-lhes uma nova coloração. Por isso, podemos dizer que, no essencial das
questões que irá colocar a si mesmo, o Positivismo já inicia o século XIX com um quadro
bastante claro de seus posicionamentos.
Naturalmente que a ideia de uma "imparcialidade absoluta'' será sempre um problema. O
Iluminista, contudo, via a si mesmo como um homem desprovido dos ''preconceitos'' que
seriam tão típicos da Igreja, dos partidários da Monarquia Absoluta, dos defensores dos
privilégios da Aristocracia, ou mesmo do povo mais humilde, por estar sujeito à ignorância que
lhe impunham aqueles que o dominavam. O Homem ilustrado, burgueses e intelectuais, livres
de preconceitos e dotados de pensamento crítico, estaria apto a enxergar as coisas como elas
são, sendo esta a ideia que será retomada mais tarde pelo Positivismo. Além disso, a noção de
progresso e linearidade histórica também emergem do pensamento iluminista, ao passo que
conservavam a ideia de que o transcurso das ações dos homens no tempo constituía um
acumulo de experiências (como nas ciências naturais) que vão sendo selecionadas e guiadas de
forma teleológica, objetivando alcançar sempre o aperfeiçoamento da humanidade. 37
Já para os primeiros historicistas, como dito, nada de fato estava propriamente pronto no
início do século XIX. O Historicismo ainda precisará construir a si mesmo, estendendo
contribuições diversas em um arco que irá de Ranke – ainda preocupado em ''narrar os fatos tal
como eles aconteceram'' – até Droysen e Dilthey, historicistas relativistas que já se ocupam em
trazer à historiografia uma reflexão sobre a subjetividade do próprio sujeito que constrói a
História, bem como sobre a singularidade do padrão metodológico a ser encaminhado pela
Historiografia: um padrão "compreensivo'' e não ''explicativo'' como nas ciências naturais. Esta
mesma discussão estende-se através do século XX, chegando a nomes como Gadamer, Paul
Ricoeur e outros historicistas modernos, como Marrou.38
Para deixar mais claro, a distinção fundamental entre Positivistas e Historicistas, de um
lado, refere-se ao contraste de suas perspectivas sobre o Homem – percebido como uma
natureza imutável, pelos positivistas, e como um ser em movimento e em processo de

37
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 66.
38
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 67.

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diferenciação, pelos historicistas. De outro lado, os dois paradigmas também se opõem


precisamente no que se refere ao papel da Objetividade e da Subjetividade na produção do
conhecimento histórico: aferrados a um modelo cientificista que procura aproximar ou mesmo
fazer coincidir os modelos das Ciências Naturais e das Ciências Socais e Humanas, os Positivistas
tendem a enxergar a subjetividade – do mundo humano examinado, mas também do
historiador – como um problema para uma história que procurava ocupar um lugar entre as
demais ciências; em contrapartida, os Historicistas, que construirão seus posicionamentos em
torno desta questão ao longo da várias décadas do século XIX, tenderam a enxergar a
subjetividade não como um problema, mas sim como uma inestimável riqueza, ou mesmo como
aquilo que precisamente permite à História constituir-se em um conhecimento de novo tipo,
dotado de uma especificidade própria. Dito de outra forma, para os Positivistas o historiador
deveria deixar-se guiar pela objetividade cruamente, enquanto que para os Historicistas o
historiador deveria ter compreensão da subjetividade presente nas próprias fontes e até mesmo
da sua subjetividade no exercício da escrita e análise dos fatos.
Os maiores nomes entre os historicistas das últimas décadas do século XIX, que estendem
sua contribuição para uma continuidade com os historicistas do século XX, chegam a realizar
efetivamente a virada relativista, e a lidar com a subjetividade como algo que não compromete
a cientificidade do trabalho historiográfico. Em vista disto, será fundamental para estes
Historicistas opor o paradigma explicativo das Ciências Naturais (e reivindicado pelos
Positivistas) ao paradigma da Compreensão, aspecto que é operacionalizado de maneiras
distintas por alguns Historicistas quando contrapostos entre si. Além disso, é importante
ressaltar que a passagem das filosofias da História para as teorias da História é muito tênue, por
vezes eivada de ambiguidades. Não raro, correntes já historiográficas afirmaram sua pretensão
de elaborarem uma história científica, depurada de toda filosofia, e foram depois acusadas por
outras correntes que as sucederam de ocultarem na verdade filosofias da História, precisamente
aquilo que alguns de seus historiadores declaravam ter superado. Na verdade, a relação entre
historiografia e filosofia é muito íntima, e, a não ser que se pretenda elaborar uma história
meramente factual e descritiva – o que de resto é rejeitado nos dias de hoje – pode-se dizer que
a historiografia em sentido moderno ampara-se necessariamente em uma Teoria da História e,
por que não dizer, em uma Filosofia da História, que corresponde à especulação dos
historiadores sobre o seu próprio ofício.39
Para finalizar esse tópico, sintetizamos abaixo o paralelo comparativo entre Positivismo e
Historicismo:

39
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 68-71.

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A) Fundamentos do Positivismo: Leis Gerais / Universalidade Humana (As sociedades


humanas são reguladas por leis naturais, invariáveis, independentes da ação humana).
Identidade de Métodos entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais. Objetividade
Científica / Neutralidade (O objeto de estudo já está na natureza, e o cientista dele se
apropria. Separado de seu objeto de estudo, o historiador pode ser neutro e imparcial,
indo de encontro à verdade dos fatos).

B) Fundamentos do Historicismo: Relatividade do Objeto Histórico (Inexistem leis de


caráter geral que sejam válidas para todas as sociedades. Qualquer fenômeno social só
pode ser compreendido dentro das transformações no tempo). Distinção de Métodos
entre as Ciências Humanas e as Ciências Naturais (Prevalece a diferença entre fatos
históricos e fatos naturais). Subjetividade do Historiador (O historiador também está
mergulhado na História).

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7. MATERIALISMO HISTÓRICO
O Materialismo Histórico é uma abordagem metodológica dedicada ao estudo da sociedade,
da economia e da história que foi elaborada originalmente por Karl Marx (1818-1883) e Friedrich
Engels (1820-1895), apesar de eles próprios nunca terem empregado essa expressão. Em todo
caso, Marx e Engels foram os criadores de uma nova forma de compreensão da sociedade que
permitiu superar tanto o idealismo como o materialismo do seu tempo. Essa nova abordagem
desvelou o caráter limitado e a natureza mistificadora da filosofia e da economia política burguesa.
Dessa forma, com o propósito de estudar histórica e cientificamente a sociedade de sua época,
Marx e Engels começaram por criticar as teorias existentes, para então e formularem uma nova
forma de interpretação da realidade. É nesse sentido que, analisando as teorias dos idealistas, dos
metafísicos, dos materialistas ingênuos, representantes do pensamento burguês, eles elaboraram
uma explicação radicalmente oposta.
A partir da análise das teorias sociais existentes, Marx e Engels realizaram a ruptura com o
pensamento de vários teóricos. Entre eles, o pensamento de Hegel (1770-1831), filósofo alemão
que acreditava que a ideia constitui-se a própria realidade, ou seja, que são os pensamentos, as
ideias, que determinam a vida material; e o pensamento de Feurbach (1804-1872), que dizendo-se
materialista, toma a essência genérica do homem como ponto de partida da história, admitindo a
existência do indivíduo isolado, abstraído do seu contexto histórico. Além desses dois pensadores,
Marx faz também, severas críticas a Proudhon (1809-1865) que, devido à sua concepção pequeno-
burguesa, analisa as relações sociais capitalistas como imutáveis.
Portanto, vale perguntar: se Marx critica esse materialismo existente até então, como ele vê
o indivíduo? Qual o conceito de história que ele propõe? Em que consiste o Materialismo Histórico
proposto por Marx e Engels? Ora, o materialismo histórico procura as causas de desenvolvimentos
e mudanças na sociedade humana nos meios pelos quais os seres humanos produzem
coletivamente as necessidades da vida. As classes sociais e a relação entre elas, além das
estruturas políticas e formas de pensar de uma dada sociedade, seriam fundamentadas em sua
atividade econômica. O materialismo histórico, na qualidade de sistema explanatório, foi
expandido e refinado por milhares de estudos acadêmicos desde a morte de Marx.
Na obra A Ideologia Alemã, escrita conjuntamente por Marx e Engels, a ruptura com o
filósofo Feuerbach, o principal expoente da filosofia neohegeliana, ocupa lugar central. Discordam
enfaticamente do princípio de que é o pensamento quem determina e direciona a vida humana, de
que as ideias, os princípios, os pensamentos, são os determinantes da forma de ser dos homens.
Nessa análise de Feuerbach é a consciência que determina a vida, sendo assim, “a Ideia constitui-
se a própria realidade, na medida em que o mundo real nada mais é que a exteriorização

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deliberada da Ideia. Decorre daí que o pensamento não depende das coisas mas estas é que
dependem dele”40.
Nessa perspectiva, não se leva em consideração a história real, em vez de ser interpretado
como produto do trabalho humano, o homem é concebido como fruto do seu próprio
pensamento. É, portanto, abstraído do seu contexto histórico, das relações sociais estabelecidas na
produção da vida material. Assim, parte-se do que os homens dizem, representam ou imaginam e
não dos homens em seu processo real de vida.
Feuerbach, concebe o real apenas como objeto sensível. Não concebe assim, o homem em
sua conexão social com outros homens e com a natureza, não chega aos homens ativos, existentes,
produtores de sua própria existência, ele fica só na abstração do homem. “Na medida em que
Feuerbach é materialista, não aparece nele a história e, na medida em que toma a história em
consideração, não é materialista. Materialismo e história aparecem completamente divorciados
nele”.41
Além disso, Marx também deixa claro que se diferencia de Hegel, a sua fundamentação
teórica e o seu método dialético não só difere do hegeliano, mas é também a sua antítese direta.
Para Hegel, o processo de pensamento, que ele, sob o nome de ideia, transforma num sujeito
autônomo, é o demiurgo do real, real que constitui apenas a sua manifestação externa. “Para mim,
pelo contrário, o ideal não é nada mais que o material transposto para a cabeça do homem e por
ela interpretado” 42. Marx distancia-se do modo hegeliano abstrato e a-histórico de entender o
homem, ao afirmar que não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a
consciência. Quando Marx fala da produção da vida, ele está tratando de uma atividade produtiva
concreta que decorre da maneira de viver do homem. Esta noção de produção do homem pelo
trabalho ocupa um papel de suma importância no seu pensamento. É da produção que ele parte
para explicar a própria sociedade, é pela produção que se entende o caráter social e histórico do
homem.
Para Marx, as explicações para as questões postas na sociedade devem ser buscadas na
práxis material dos homens. A categoria da práxis ocupa lugar central na teoria marxiana, por isso,
toma a produção da vida material como ponto de partida: “Indivíduos produzindo em sociedade –
portanto uma produção de indivíduos socialmente determinada, este é, naturalmente, o ponto de
partida” 43. A leitura de Marx é uma leitura da realidade social e a categoria de práxis ocupa um
lugar fundamental em sua obra. É precisamente sobre a concepção do homem como ser prático e

40
MARCUSE, 1978, p.19 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 2.
41
MARX, 1986, p. 40 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 2.
42
MARX, 1983, p. 20 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 2.
43
MARX, 1983, p. 201 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 4.

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social que repousa na ideia capital do trabalho como forma modelar de práxis, vale dizer, o único
modo de criação, é precisamente a partir dessa concepção que Marx elabora a sua teoria da
história.
Portanto, podemos dizer que, do ponto de vista de Marx e Engels, as relações sociais de
produção são construídas a partir das condições materiais existentes. É o entendimento dessas
condições que permite a compreensão de todas as questões humanas. Dessa forma, a base da
sociedade está no trabalho. O trabalho em Marx é uma categoria essencial que permite além de
explicar o mundo e a sociedade, explicar também a própria constituição do homem, um ser que
pelo trabalho se constituiu homem. Para Marx, o trabalho é um processo entre o homem e a
natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu
metabolismo com a natureza. Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de
trabalho. A ideia é que o trabalho pertence exclusivamente ao homem. No fim do processo de
trabalho obtém-se um resultado que já no início deste existiu na imaginação do trabalhador, e
portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural;
realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural, o seu objetivo. Os elementos simples do processo de
trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu objeto e seus meios. O
processo de trabalho é a atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação
do natural para satisfazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o
homem e a natureza, condição eterna da vida humana e, portanto, comum a todas as suas formas
sociais.44
O trabalho é apontado por Marx como a primeira necessidade humana, a partir da
satisfação dessa necessidade, outras vão sendo criadas no interior do processo de produção. Nesse
sentido, todas as questões humanas são produtos do trabalho, e só podem ser compreendidas no
contexto em que foram produzidas. Podemos afirmar então que, em suas análises, Marx parte dos
indivíduos reais, produtores de suas ações, de suas condições de vida, de suas ideias. Assim é que,
produzindo seus meios de vida, produzem sua própria vida material. "Tal como os indivíduos
manifestam sua vida, assim são eles. O que eles são coincide, portanto, com sua produção, tanto
com o que produzem, como o modo como produzem. O que os indivíduos são, portanto, depende
das condições materiais de sua produção"45.
Para tanto, Marx diz que existe uma única ciência, a da história, que pode ser examinada
sob dois aspectos: a história da natureza e a dos homens. Essas duas são inseparáveis e coincidem
reciprocamente. Para ele, o homem é um ser natural, criado pela própria natureza e que está
sujeito as suas leis. Mas, ao mesmo tempo, o homem não se confunde com a mesma natureza de
que ele faz parte, transformando-a conscientemente segundo suas necessidades. É no processo de

44
MARX, 1983 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.
45
MARX 1986, p.28 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.

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busca da satisfação de suas necessidades materiais que o homem trabalha, criando a si mesmo e à
sua história nesse processo.
Para Marx, a história não é um movimento linear, não é determinista, ela se dá através de
contradições, de antagonismos e conflitos, enfim, é um campo aberto de possibilidades: “Os
homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob
circunstâncias de sua escolha e sim sob aquela com que se defrontam diretamente, legadas e
transmitidas pelo passado”.46
A busca pela satisfação das necessidades vitais para a manutenção da vida humana faz com
que os homens produzam os meios de satisfazê-las, esse é para Marx o primeiro ato histórico.
Desse modo, a satisfação dessas necessidades leva a outras. A própria divisão do trabalho por
exemplo, se deu a partir das necessidades reais desses homens que produziam em sociedade.
Assim, o próprio mundo sensível é um produto histórico, o resultado da atividade de toda uma
série de gerações.
Nas palavras de Marx: “A história nada mais é do que a sucessão de diferentes gerações,
cada uma das quais explora os materiais, os capitais e as forças de produção a ela transmitidas
pelas gerações anteriores; ou seja, de um lado prossegue em condições completamente diferentes
a atividade precedente, enquanto, de outro lado, modifica as circunstâncias anteriores através de
uma atividade totalmente diversa”47.
Nesse contexto, a consciência do homem pode ser entendida como fruto do seu trabalho, já
que na produção social da própria vida os homens estabelecem determinadas relações que, por
sua vez corresponde a uma certa etapa de desenvolvimento das forças produtivas. O conjunto
dessas relações de produção formam a estrutura da sociedade que corresponde a formas sociais
determinadas de consciência. Sendo assim, o representar, o pensar, o intercâmbio espiritual,
aparecem como emanação do comportamento material dos homens.
A análise da realidade, portanto, deve se dar a partir da teoria da infraestrutura e
superestrutura que circundam um determinado modo de produção. Isto significa dizer que a
história sempre está ligada ao mundo dos homens enquanto produtores de suas condições
concretas de vida e, portanto, tem sua base fincada nas raízes do mundo material, organizado por
todos aqueles que compõem a sociedade. Os modos de produção são históricos e devem ser
interpretados como uma maneira que os homens encontraram, em suas relações, para se
desenvolver e dar continuidade à espécie. Segundo Marx, não é a consciência que determina a
vida, mas a vida que determina a consciência.

46
MARX, 1985, p.1 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.
47
MARX, 1986, p.70 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 5.

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Marx deixa claro o método que está propondo para a história: é o método que parte dos
fenômenos reais – não se parte do que os homens dizem, representam ou imaginam, nem
tampouco do homem predicado, pensado, representado ou imaginado, para chegar, partindo
daqui, ao homem de carne e osso; parte-se do homem que realmente atua e, partindo de seu
processo de vida real, se expõe também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos
deste processo de vida. Tão logo se expõe este processo ativo de vida, a história real deixa de ser
uma coleção de fatos mortos, ainda abstratos, como o é para os empiristas, ou uma ação
imaginária de sujeitos imagináveis como o é para os idealistas. Ao propor o seu método, Marx
acredita que não está desenvolvendo um conhecimento contemplativo, mas um conhecimento
que implica na possibilidade de transformar o real. O real é um movimento contraditório, marcado
por conflitos e interesses antagônicos. A ciência da história deve buscar desvendar esse
movimento que é a base para a compreensão da economia, da história, da política, enfim, de
qualquer campo de estudo48.
Assim, o entendimento de qualquer fenômeno, implica em compreendê-lo a partir da
realidade concreta do qual faz parte. Além disso, Marx fala que as ideias da classe dominante são
em cada época as ideias também dominantes. A classe que tem em seu poder os meios de
produção, tem também em suas mãos os instrumentos de dominação, já que é a classe consciente,
pensante. A produção intelectual se transforma com a produção material. As ideias dominantes de
uma época sempre foram apenas as ideias da classe dominante. Por isso, que as ideias dominantes
expressam as relações que estão estabelecidas, ou seja, as relações materiais dominantes. Nesse
sentido, o Manifesto do Partido Comunista escrito por Marx e Engels, buscando superar o que está
posto, colocando as bases da teoria social de um novo socialismo e de uma política revolucionária,
que expressa teoricamente a perspectiva de classe proletária na qual o proletariado constitui-se
como sujeito histórico revolucionário.
A análise de Marx revela que, quando se desenvolvem as forças produtivas que a relação
capitalista de produção é capaz de conter, esta, de forma de desenvolvimento das forças
produtivas transforma-se no seu entrave. Em uma certa etapa de seu desenvolvimento, as forças
produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de produção existentes
ou, o que nada mais é do que a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade dentro das
quais aquelas até então se tinham movido. De formas de desenvolvimento das forças produtivas,
essas relações se transformam em seus grilhões. Sobrevém então uma época de revolução social.
Nesse contexto, manifesta-se com toda potência a contradição entre forças produtivas
sociais e a relação de produção. Se a ordenação da sociedade em classes distintas foi
historicamente necessária em decorrência do insuficiente nível de desenvolvimento das forças

48
MARX, 1986, p.37 apud SOUZA; DOMINGUES, 2009, p. 6.

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produtivas, as lutas de classes no capitalismo criaram a possibilidade da abolição de toda relação


social fundada no antagonismo de classes.
Para Marx, as relações de produção burguesas são a última forma contraditória do processo
de produção socia. Mas, contraditória não no sentido de uma contradição individual, mas de uma
contradição que nasce das condições de existência social dos indivíduos. No entanto, as forças
produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa, criam ao mesmo tempo as
condições materiais para resolver esta contradição. Assim, para Marx se deve conhecer essas
estruturas, pois conhecer implica em transformar, isto é, conhecer uma dada realidade para
modificá-la. A realidade que Marx quis conhecer e na qual centrou os seus estudos foi a sociedade
burguesa industrial. Ele estudou o modo capitalista de produção no movimento histórico do seu
devir, sua existência, sua extinção, ou seja, partiu da análise da sociedade de classes, mas o que
pretendia mesmo era chegar à sociedade sem classes, ao explicar o significado da crise da ordem
burguesa.
Marx diz também que, os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diversas maneiras,
o importante é transformá-lo. Podemos dizer, portanto, que o método de Marx usa de uma chave
evolutiva, pensando a evolução histórica e transformadora das sociedades, de maneira que desde
as sociedades mais remotas até a atual essa evolução se dá pelos confrontos entre diferentes
classes sociais – a luta de classes – decorrentes da "exploração do homem pelo homem".

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8. A MODERNA MATRIZ DISCIPLINAR DA HISTÓRIA


A Matriz Disciplinar da História, embora não com esta designação, foi bem analisada por
Michel De Certeau em um importante ensaio intitulado A operação historiográfica49, no qual a
História (a historiografia) é apresentada como constituída simultaneamente por um Lugar de
Produção, uma Prática e uma Escrita. Dos aspectos acima arrolados, pode-se dizer que o Lugar de
Produção – o lugar de onde se produz esta forma de conhecimento específica que é a História –
relaciona-se diretamente à Comunidade de Historiadores. Todos os historiadores, com tudo o que
até hoje já se produziu em termos de conhecimento histórico e de discursos historiográficos,
influenciam de alguma maneira, ainda que de maneira indelével na maior parte dos casos, no
trabalho de cada historiador em particular.
O discurso historiográfico sistematicamente decifrado por Michel De Certeau situa-se bem
ancorado na encruzilhada de "um lugar social", "uma prática", "uma escrita". O estudo
historiográfico aparece, assim, mais como produto de um lugar que de uma disposição individual, e
afirma-se de maneira particular à tradicional tônica da relação do trabalho historiográfico com o
Presente, esta que já era lugar-comum nos anos de 1970 e que remonta ao antigo dito de
Benedetto Croce que proclamava que ''toda história é contemporânea''.50
A comunidade dos historiadores, interferindo diretamente sobre o trabalho de cada
historiador em particular, expressa-se através de inúmeros mecanismos de pressão e
contrapressão, inclusive institucionais. Por outro lado, inegavelmente a comunidade de leitores
que consomem a História enquanto produto cultural, gênero literário ou modalidade acadêmica, o
que já nos conduziria a um outro campo de reflexões, como as que foram desenvolvidas por
autores como Paul Ricoeur em Tempo histórico e narrativa (1982-1983). O leitor, diante das
múltiplas possibilidades de sentido de um texto, que se estabelecem mesmo para além das
intenções originárias do autor-historiador, é ele mesmo parte integrante do lugar de produção do
texto historiográfico.
Para além de um Lugar de Produção, a Matriz Disciplinar da História define também uma
Escrita – vale dizer, um modo de Escrita específico, autorizado pela comunidade de historiadores,
pelas expectativas já consolidadas pelos diversos gêneros historiográficos, e pelas possibilidades
oferecidas pelas expectativas e competências dos leitores. Este aspecto – o padrão de escrita do
texto historiográfico – sofre naturalmente transformações ao longo da própria história da
historiografia, mas pode-se dizer que, essencialmente, a Escrita da História tem desde os primeiros
tempos alternado relato, sob a forma de narrativa ou descrição, e a análise, por vezes com o

49
DE CERTEAU, 1982.
50
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 58.

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predomínio de um ou outro destes polos conforme o paradigma historiográfico em questão, a


escola histórica ou o estilo pessoal de cada historiador.
Conforme também ressalta Michel De Certeau, a Historiografia produz necessariamente um
discurso que se "desdobra sobre si mesmo", uma vez que ela coloca em interação ou alterna
necessariamente o discurso do historiador e o discurso de suas fontes, de múltiplas maneiras. Essa
forma de escrita alicerçada na consideração do texto ou da "fala do outro" tem sido uma
constante no trabalho do historiador desde seus primórdios, embora admitindo inúmeras
possibilidades expressivas, e por isso pode ser indicada como um traço essencial da identidade
mínima definida pela Matriz Disciplinar da História, presente em todos os paradigmas
historiográficos até hoje surgidos.51
Existe, por fim, uma Prática. Essa Prática faz parte da prática historiográfica, por exemplo, o
trabalho obrigatório e metodologicamente conduzido a partir das Fontes Históricas – isto é,
evidencias, vestígios e materiais de toda espécie deixados pelos processos históricos e pelas ações
humanas. Essa base da pesquisa do historiador na "fonte histórica'', ou em documentos e vestígios
de todos os tipos, faz parte da identidade mínima da História no que se refere à sua Prática. Bem
entendido, a maneira de se trabalhar com as fontes históricas, ou ainda o que pode e deve ser
definido ou constituído como fonte histórica, se pode mudar com os próprios desenvolvimentos da
história da historiografia, mas dificilmente mudará algum dia o fato de que o historiador deve
necessariamente trabalhar com fontes históricas de modo a legitimar as afirmações e reflexões
que produz sobre as sociedades, processos e realidades históricas que está examinando, ou
mesmo de modo a se aproximar de alguma maneira destes processos ou realidades discursivas
com os quais irá trabalhar. Até o presente momento, a Fonte Histórica é o único recurso que
permite ao historiador acessar uma época e uma sociedade que não estão mais no presente.
A historiografia contemporânea, a partir do século XX, estabeleceu como exigência mínima
para o historiador que ele elabore a sua historiografia a partir de "problemas", e na verdade esta
exigência já aparece mesmo em diversos historiadores do século anterior, tal como Johann Gustav
Droysen que, em sua Historik (1858), explicita claramente a norma de que "o ponto de partida de
toda pesquisa é a pergunta histórica"52. Deste modo, já não é possível, pelo menos para um
historiador que almeje ser reconhecido pela comunidade de historiadores profissionais, que se
faça uma historiografia meramente narrativa ou descritiva, sem incluir algum tipo de análise ou
interpretação dos fatos e dados. A historiografia, nos dias de hoje, é necessariamente
problematizada – é uma "História-Problema".

51
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, pp. 59-60.
52
DROYSEN, 2009, p. 46 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 62.

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O trato com o ''Tempo", a "Intenção de Verdade", a "Problematização'' estes e outros,


enfim, são alguns elementos que constituiriam a Prática hoje definida pela Matriz Disciplinar da
História, consistindo naquilo que aparece no trabalho de qualquer historiador, independente do
seu Paradigma, da escola historiográfica a que se filia, de seu estilo pessoal, do sistema conceitual
como o qual habitualmente lida.
Existe ainda um outro aspecto que pode ser postulado como um traço que foi incorporado à
Matriz Disciplinar da História no último século: a tendência do campo da história à ''Abertura
Interdisciplinar". A História, mais do que qualquer outra disciplina, passou a incluir na sua prática
corrente a Interdisciplinaridade. A História tem incorporado muito naturalmente conceitos e
métodos oriundos de outros campos de saber, os (re)apropriando para seus próprios fins, e no
decurso do século XX conheceu sucessivas vagas de interdisciplinaridade que a trouxeram para o
diálogo com ciências sociais diversas como a Economia, a Geografia, a Sociologia, a Antropologia, a
Linguística, a Psicologia, e ainda outras.53

53
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014, p. 63.

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9. ESCOLA DOS ANNALES


A expressão “escola histórica” diz respeito a algumas das linhas e contribuições
historiográficas do século XX. Mas os historiadores, obviamente, não se definem apenas pelo
pertencimento a escolas, e muitos deles não pertencem de fato a escola alguma. Os conceitos de
“escola”, “paradigma” e “campo histórico”, entre outros conceitos e noções como a de “corrente
historiográfica” e “linhas de pesquisa”, ajudam a conferir uma identidade mais precisa aos diversos
historiadores. Ora, o que caracteriza uma escola é um certo programa de ação, uma determinada
identidade que se forma, um campo de escolhas (teóricas, metodológicas, temáticas, éticas,
associativas, geradoras de inclusão e exclusão) que permite ao praticante do campo sintonizar-se
com outros que a ele se assemelham nas mesmas escolhas. E não é só isso. Os membros de uma
escola costumam atuar juntos e podem se reconhecer reciprocamente quando são
contemporâneos (pois devemos lembrar que uma escola pode atravessar largos períodos de
tempo e envolver também gerações não contemporâneas). Ou seja, existe certo jogo de
identidade que se harmoniza a partir do pertencimento a uma escola.54
A Escola dos Annales, por seu turno, é um movimento historiográfico do século XX que se
constituiu em torno do periódico acadêmico francês Annales d'histoire économique et sociale,
tendo se destacado por incorporar métodos das Ciências Sociais à História. Fundada por Lucien
Febvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da visão Positivista da história como crônica
de acontecimentos, substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos processos de
longa duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a civilização e as mentalidades. Marc Bloch foi
morto pela Gestapo durante a ocupação alemã da França, na Segunda Guerra Mundial, e Febvre
seguiu com a abordagem dos Annales nas décadas de 1940 e 1950. Nesse período, orientou
Fernand Braudel, que se tornou um dos mais conhecidos expoentes dessa escola. A obra de
Braudel definiu uma segunda geração na historiografia dos Annales e foi muito influente nos anos
1960 e 1970, especialmente por sua obra, O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de
Felipe II. Já a terceira geração dos Annales é conduzida por Jacques Le Goff e ficou mais conhecida
como a Nova História, segundo a qual toda atividade humana é considerada história. Além de Le
Goff, nesse período se destaca também seu companheiro de profissão, Pierre Nora.
Foi o historiador Peter Burke que fez essa divisão, que já se tornou clássica, acerca da Escola
dos Annales, estabelecendo da seguinte forma:
“Esse movimento pode ser dividido em três fases. Em sua primeira fase, de 1920 a 1945,
caracterizou-se por ser pequeno, radical e subversivo, conduzindo uma guerra de guerrilhas contra
a história tradicional, a história política e a história dos eventos. Depois da Segunda Guerra

54
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 11-15.

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Mundial, os rebeldes apoderaram-se do establishement histórico. Essa segunda fase do


movimento, que mais se aproxima verdadeiramente de uma “escola”, com conceitos diferentes
(particularmente estrutura e conjuntura) e novos métodos (especialmente a “história serial” das
mudanças na longa duração), foi dominada pela presença de Fernand Braudel. Na história do
movimento, uma terceira fase se inicia por volta de 1968. É profundamente marcada pela
fragmentação. A influência do movimento, especialmente na França, já era tão grande que perdera
muito das especificidades anteriores”.55
A escola dos Annales renovou e ampliou o quadro das pesquisas históricas ao abrir o campo
da História para o estudo de atividades humanas até então pouco investigadas, rompendo com a
compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia, Psicologia, Economia, Geografia
humana e assim por diante) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.
A supremacia da escola francesa sobre a produção historiográfica ocidental se apresentou
profunda e duradoura. A historiografia dos Annales se consolida como corrente dominante a partir
de uma crítica a história realizada em seu tempo. Para se firmar como corrente historiográfica
dominante na França, e estender posteriormente sua influência a outros países da Europa e
também da América, os fundadores e consolidadores dos Annales precisaram estabelecer uma
arguta e impiedosa crítica da historiografia de seu tempo – particularmente daquela historiografia
que epitetaram de História Historizante ou de História Eventual – buscando combater mais
especialmente a Escola Metódica Francesa e certos setores mais conservadores do Historicismo.
Os Annales, em busca de sua conquista territorial da História, precisavam enfrentar as tendências
historiográficas então dominantes, mas também se afirmar contra uma força nova que começava a
trazer métodos e aportes teóricos inovadores para o campo do conhecimento humano: as
nascentes Ciências Sociais. É contra o pano de fundo deste duplo desafio que o movimento inicia a
sua aventura historiográfica.56
O movimento dos Annales – ao lado do Materialismo Histórico e das contribuições da
Hermenêutica Historicista – constitui certamente uma das influências mais impactantes e
duradouras sobre a historiografia ocidental. O impacto dos Annales sobre a historiografia ocidental
como um todo, e sobre a historiografia brasileira em particular, não deixa de ser produzido por
uma parte efetiva de contribuições substanciais e extremamente inovadoras para a historiografia,
e também por uma parte não menos significativa de recepção favorável do “mito” construído
pelos primeiros líderes do movimento em sua ascensão ao domínio do território institucional. Em
função desta dupla característica – contribuição efetivamente inovadora e “mito da inovação” –,
algumas ambiguidades iniciais merecem ser pontuadas. Os Annales representam a Nova História
contra uma “Velha História”, tal como postularam os primeiros fundadores do movimento, e

55
BURKE, 1992, pp. 13-14.
56
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2010, p. 5.

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também os seus refundadores? Se representaram de fato uma Nova História, foram eles os únicos
setores da historiografia que puderam se auto perceber como uma Nova História? E quanto aos
setores estigmatizados pelos primeiros annalistas como uma “Velha História”, estavam todos
mergulhados, em sua inteireza, em uma velha história totalmente retrógrada e inadaptada aos
novos tempos? Estas perguntas podem ser colocadas provocativamente a respeito dos Annales, e
algumas delas se expressam em ambiguidades relacionadas à própria designação do movimento.
Frequentemente, quase como um sinônimo para a contribuição dos Annales ou para o tipo
de historiografia que se pretende que este movimento tenha inaugurado, é empregada a
expressão Nova História em seu sentido ampliado, o que inclui tanto a Escola dos Annales
propriamente dita como a corrente à qual, a partir dos anos 1970, muitos se referem também
como Nouvelle Histoire, mas agora em sentido mais restrito. Por outro lado, uma vez que os mais
recentes historiadores da Nouvelle Histoire muito habitualmente reivindicam uma herança
historiográfica que remete às duas primeiras gerações dos Annales, não é raro o uso da expressão
“Escola dos Annales” de modo a abarcar as diversas gerações de historiadores que têm como
referência a Revista dos Annales.
Para além do importante diálogo bibliográfico que já existe em torno dos Annales, é
fundamental considerar, antes de tudo, as fontes que revelam diretamente o pensamento dos
historiadores dos Annales. Afirmam-se aqui obras já clássicas, como: A apologia da História, de
Marc Bloch; os Combates pela História, de Lucien Febvre; os ensaios de Fernand Braudel incluídos
na obra A escrita da história; o ensaio Território do historiador, de Ladurie; o livro História, ciência
social, de Pierre Chaunu; os ensaios reunidos por François Furet em 1982 sobre a rubrica A oficina
da história; ou ainda as grandes coletâneas coordenadas por historiadores da Nouvelle Histoire,
como Jacques Le Goff e Pierre Nora, entre os quais a coletânea Faire de I’Hisoire ou a coletânea
Nouvelle Histoire.
Finalmente, a própria atuação de cada historiador ligado aos Annales, no exercício de sua
prática e elaboração de estudos históricos específicos, deixa entrever novas nuances. Obras como
Os Reis Taumaturgos, de Marc Bloch, o Rabelais de Lucien Febvre, A crise da economia francesa no
Antigo Regime de Labrousse, O Mediterrâneo de Fernand Braudel, ou Sevilha e o Atlântico de
Pierre Chaunu, tornaram-se aqui páginas privilegiadas para a identificação de um novo e complexo
padrão historiográfico que iria deixar seus traços definitivos na história da historiografia. 57
No tocante ao programa comum partilhado pelos historiadores que se identificavam com a
Escola dos Annales, podemos identificar que alguns itens referem-se tanto à primeiras gerações de
historiadores dos Annales – as gerações Bloch-Febvre-Braudel – como aos historiadores ligados à
chamada Nouvelle Histoire, que reivindicam para si mesmos a herança do movimento, e

57
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 53-59.

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pretendem desenhar sua imagem como a de uma terceira e quarta gerações dos Annales. Outros
dos itens expostos indicam pontos de discordância entre esses blocos, como é o caso da oposição
entre a ideia de História Total, típica das duas primeiras gerações annalistas, e a Fragmentação
Temática que não é propriamente apresentada como um ponto programático pelos próprios
historiadores da Nouvelle Histoire, mas que tem sido indicada por alguns de seus críticos como
traço característico deste grupo historiográfico.
O primeiro item programático dos Annales a ser considerado – ao mesmo tempo
coincidindo com uma estratégia de projeção da escola no meio acadêmico, e com uma concepção
com a qual Bloch e Febvre pessoalmente já estavam sintonizados antes mesmo de seu encontro na
Universidade de Estrasburgo – é a interdisciplinaridade.
Esta orientação interdisciplinar tornou-se um dos itens mais importantes do programa de
História dos Annales, e continuaria tendo a mesma importância na época da geração de
historiadores franceses que se autodenominaria Nouvelle Histoire. Por outro lado, ao entrar em
contato com novos aportes e metodologias, com novos sistemas conceituais e mesmo com novas
linguagens, e, sobretudo, ao ampliar cada vez mais suas temáticas para além das instâncias da
política oficial, a História também iniciou um movimento de diversificação interna. A multiplicação
de campos interdisciplinares, ou a proliferação de identidades que pareciam diversificar por dentro
o saber histórico, surgiu como uma consequência quase natural para os historiadores que abriram
seus horizontes interdisciplinares, que ampliaram seus objetos de estudo, e que passaram a
trabalhar com novos tipos de fontes e problemas.
Podemos exemplificar o desenvolvimento de um campo mais sistemático que poderia ser
denominado História Econômica, oportunizado ao lado das realizações historiográficas ligadas ao
Materialismo Histórico, ainda por se desenvolver, e também de outras escolas de História
Econômica que já vinham se desenvolvendo em outros países. Além de uma História Política, os
historiadores agora poderiam pensar em uma História Econômica, assim como poderiam em breve
redefinir em novos termos um campo a ser conhecido como História Cultural. Alguns dos campos
históricos foram surgindo primeiro, em função de uma fortuna crítica pregressa ou de contextos
históricos específicos. A História Econômica, surgida junto a um campo ainda um tanto vago que
foi batizado de História Social, uma História Demográfica que emergia no próprio contexto das
expansões demográficas na primeira metade do século XX, uma nova forma de consideração do
espaço pelos historiadores que resultaria na consolidação de uma Geo-história, a promessa de
uma futura Psico-história incentivada pelo diálogo entre História e Psicologia – cada uma dessas
possibilidades começou a ser explorada atentamente pelos historiadores dos Annales, de modo
que a multiplicação de campos intradisciplinares confirmou-se como um item importante no
programa dos Annales.

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Já a História Problema tornou-se de longe o instrumento mais combativo e reluzente do


programa dos Annales, pois permitia afrontar, a partir de um novo conceito e de uma nova
definição para uma história que se queria nova, o frágil universo dos modelos de historiografia que
se limitavam a narrar os fatos ou a expor informações, de maneira meramente descritiva. A
bandeira da História Problema, uma novidade necessária nos inícios da atividade dos historiadores
dos Annales, em 1929, tinha cores bem vivas e transluzia à distância, sobretudo quando era bem
agitada nos manifestos da Escola dos Annales.
Esta História problematizada é hoje, no século XXI, lugar-comum para qualquer historiador
formado historiador, isto é, formalmente bacharelado em curso superior universitário, e já era
lugar quase comum na ocasião da retomada desta tremulante bandeira por Lucien Febvre em
1946, assim como o fora ao menos para um setor importante da historiografia do século XIX
anterior à própria pré-história dos Annales. Todavia, mesmo quando a História Factual já estaria
longe de ser dominante, percebe-se a força deste conceito de guerra, o mais comovente de todos
os instrumentos programáticos empunhados pelos annalistas. Mas é as gerações dos Annales que
vieram a refletir sobre questões relevantes para o avanço historiográfico e ampliando as
possibilidades de análise históricas pensando uma história total ou global.58
Vale destacar também que a possibilidade de ultrapassar os estreitos limites dos fatos
políticos também ensejou uma ampliação no universo de fontes dos historiadores, de modo que
aqui interagem dois dos itens programáticos da Escola dos Annales: a História Problema e a
ampliação de fontes históricas. A expansão da tipologia de fontes históricas – a multiplicação das
possibilidades de fontes abertas aos historiadores – constituiu-se por isso mesmo em mais uma
das notas importantes do acorde programático dos Annales. Doravante, seria preciso afirmar com
convicção cada vez mais fortalecida que não mais deveriam interessar aos historiadores apenas as
fontes de arquivo e as crônicas que dizem respeito à História Política tradicional. Qualquer vestígio
ou qualquer evidência – dos objetos da cultura material às obras literárias, das séries de dados
estatísticos às imagens iconográficas, das canções aos testamentos, dos diários de pessoas
anônimas aos jornais – podia ser agora legitimamente utilizado pelos historiadores. A revolução
documental e a nova definição de fonte histórica constituíram uma das grandes novidades trazidas
pelas primeiras gerações da Escola dos Annales. Décadas depois, esta mesma expansão
documental será evocada pelos historiadores da terceira geração do movimento, substituindo a
história baseada em textos e documentos escritos, por uma história fundamentada numa ampla
variedade de documentos escritos de todos os tipos, documentos iconográficos, resultados de
escavações arqueológicas, documentos orais, etc. Uma estatística, uma curva de preço, uma

58
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 102-130.

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fotografia, um filme, ou, quando se trata de um passado mais longínquo, vestígios de pólen fóssil,
uma ferramenta, um ex-voto são documentos de primeira ordem para a História Nova.59
Outro aspecto importante é acerca da transformação da noção de espaço. O espaço, é
importante dizer, não será tratado pela nova historiografia apenas como lugar no interior do qual
se acomoda o homem. Tal como Marc Bloch demonstrou em sua exemplar obra sobre os
Caracteres originais da história rural francesa (1931), o espaço também é construído pelo próprio
homem, a ação humana está constantemente remodelando a paisagem, dando ao espaço a face
humana que têm os campos de cultivo, e neles imprimindo sob forma visível sua própria história.
Daí que o espaço natural, nas mãos dos novos historiadores, pode se tornar fonte histórica com a
mesma legitimidade que um grande conjunto documental.
Obviamente que, como não poderia deixar de ser, esta história que enxerga seus objetos
num ponto, em uma linha, na profundidade – em outras palavras, esta história que percebe seus
objetos concretamente situados no espaço e impregnados de uma realidade que emana das três
dimensões do mundo físico, mesmo que seja preciso percebê-las por meio de fontes indiretas –,
tampouco não poderia deixar de lidar criativamente com a quarta dimensão: o tempo. Talvez
algumas das contribuições mais criativas dos Annales tenham sido as experimentações em torno
das novas formas de lidar com o tempo, e este item certamente faz parte de seu programa. O
mestre nestas realizações, certamente, foi o líder da segunda geração dos Annales: Fernand
Braudel. Com ele concretiza-se um item programático de vital importância para a Escola dos
Annales, que é a proposta de uma maior criatividade em relação ao tempo histórico. 60
Fernand Braudel, autor do estudo sobre o Mediterrâneo e Felipe II, no qual é possível
encontrar três formas de temporalidade diferentes: a primeira é referente a uma história quase
sem tempo (homem e ambiente); já a segunda uma história das estruturas civilizacionais dos
territórios banhados pelo mediterrâneo (tempo lento); a terceira uma história dos acontecimentos
(tempo curto). Em tal obra enfatizou a mudança das estruturas, desejando alcançar o
entendimento dos fatos em sua totalidade. Produziu um trabalho voltado para a longa duração,
característica marcante da segunda geração dos Annales. 61
A linha de pesquisa de Braudel era baseada em tempos heterogêneos (temporalidades
diferentes), sendo ela a longa duração, o tempo conjuntural e o factual. O factual estava sujeito à
longa duração. Braudel teve considerável influência da Antropologia e criou uma entidade
interdisciplinar, a Maison des Sciences de I’Homme (Casa das Ciências Humanas), onde passou a ter

59
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 140-141.
60
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 150-151.
61
REIS, 2012.

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contato com intelectuais, como Pierre Bourdieu e Claude Lévi-Strauss. Tal contato com a
Antropologia pôde promover, por parte de Braudel, um trabalho voltado para o estruturalismo.
Afirmando a crise das Ciências do Homem, que, segundo o mesmo, são meras acumulações
de novos conhecimentos e estão esmagadas sob seus próprios progressos, pregava a completa
união de tais ciências, mas destacando a utilidade da história em relação às outras. Para Braudel, a
história estaria no centro de todas as ciências sociais e, por isso, era mais importante, sendo capaz
de tratar do passado e da atualidade, sendo esta, para Braudel, a fórmula da história indispensável
a todas às ciências sociais, pois englobava as múltiplas temporalidades. 62
Para Braudel, o tempo curto representava o tempo dos eventos. Fala do evento como algo
explosivo, que enche a consciência das pessoas, mas que, ao mesmo tempo, não dura. A visão de
Braudel com relação ao tempo curto era contrária à dos filósofos, que, baseados em uma série de
significações, atribuem ao evento um tempo muito maior do que sua verdadeira duração. Falam
do evento como sendo apenas uma parte que se anexa, que se liga – ou não – a toda uma série de
acontecimentos.
Para o historiador, o evento significa o tempo curto, afirmando que tal tempo existe em
vários âmbitos: social, econômico, religioso, geográfico, entre outros. Foi esta a principal
característica da história política (ocorrencial, factual, baseada praticamente só no documento) do
século XIX, que foi criticada não só pela primeira geração dos Annales, mas também por Braudel na
segunda geração. Ele enfatiza assim a passagem do foco da produção da história política para a
produção da história econômica e social, permitindo estas últimas, conforme sua visão, uma
análise muito mais ampla do que a primeira.63
Temos a forma de abordagem histórica recitativa estrutural. Assim chegamos ao Tempo
Lento (longa duração). Passa-se, assim, à análise da mudança pelo tempo lento no econômico e
social, dando grande ênfase ao aspecto da quantificação. Tal aspecto ajudará na elaboração de
análises de temporalidades dentro da própria história econômica, buscando aplicação social,
como, por exemplo, preços que sobem em um determinado período e que baixam em outro.
Como o aspecto mais estrutural para os historiadores, segundo Braudel, é algo que se
veicula muito lentamente (ao contrário do pensamento de Lévi-Strauss, que considera as
estruturas invariáveis; por isso Braudel, mesmo utilizando-se de tal modelo, o estrutural, aplica a
temporalidade da história, dizendo que, mesmo que muito lentamente, as estruturas se
modificam), tais aspectos são as prisões de longa duração, porque são onde o homem está

62
REIS, 2012.
63
REIS, 2012.

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enraizado. Elementos estáveis como os quadros mentais e mais ainda a coerção geográfica. Pode-
se perceber as durações da história propostas por Braudel, mas não separadas e, sim, solidárias. 64
Braudel chega a falar das diferenças entre o tempo do historiador e o tempo do sociólogo.
Para ele, o historiador passaria do tempo curto ao longo e depois ao muito longo, proporcionando
uma análise aprofundada, dentro daquilo que Braudel chama de história inconsciente (que
ultrapassa a simples superficialidade dos eventos). Já o sociólogo estaria mais voltado apenas para
análise particular, não dando ênfase ao todo.
Sendo assim, segundo o pensamento Braudeliano, a história lidaria muito melhor com a
temporalidade do que a sociologia e as demais ciências sociais, proporcionado uma análise
completa e aprofundada. Por isso, ela seria superior às outras ciências. Isso se torna mais evidente
a partir dos diálogos com Lévi-Strauss. Há, deste modo, a reaproximação e, ao mesmo tempo, a
disputa e críticas entre a história e as outras ciências sociais no contexto pós-guerra. São
justamente estes diálogos e críticas que levarão Braudel a uma abordagem mais estrutural, típica
da antropologia. Isso proporcionou a formulação de uma linha de pensamento dos Annales na 2ª
geração: noção precisa da multiplicidade do tempo e grande valorização da longa duração. 65
Ademais, vale dizer que a consciência da relação entre o presente e o passado é
precisamente outro dos itens programáticos importantes para a Escola dos Annales. Marc Bloch
lembrará que esta interação existe em duas vias: “Compreender o presente pelo passado”, mas
também “compreender o passado pelo presente”, constituem as duas vias desta complexa relação.
Marc Bloch também elabora uma definição de História que se tornou clássica. Em oposição à
antiga definição de que “a História é o estudo do passado humano”, Bloch propunha a definição de
que “a História é a ciência dos homens no tempo”. Dizer isso significa que não importa,
rigorosamente, se o historiador estuda esta ou aquela época do passado, ou se estuda mesmo o
presente, disputando um território com os sociólogos e antropólogos. O que faria de um
historiador um historiador seria o fato de que ele estuda os homens imerso na temporalidade,
vivendo o tempo, percebendo o tempo, produzindo o tempo. O mesmo historiador que estuda o
passado, de acordo com esta perspectiva, poderia estudar o tempo presente – que, de fato, estaria
em breve por se converter, em um futuro não muito distante, em mais uma modalidade histórica:
a “História do Tempo Presente”. Por fim, uma última implicação do aforismo blochiano: nesta
ciência dos homens no tempo, as temporalidades poderiam dialogar a partir da mediação
historiador.
Ora, a História que traz a consciência de que o passado é diferente do presente é bem
distinta da História na qual o presente pretende aprender do passado uma velha lição. Febvre

64
REIS, 2012.
65
REIS, 2012.

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parece dar seu recado a respeito da velha ideia da história “mestra da vida”. A História tem algo a
nos ensinar, mas não de maneira linear, como uma fórmula que pode ser sempre empregada, uma
vez aprendida através de ciclos que sempre se repetem. A História não se repete, diz Febvre. 66
Podemos concluir esta lembrança de que também as ausências constituem um programa –
tanto as proibições escolares como aquilo que não é mencionado no programa ou nos manifestos
e que deixam aos membros do grupo um espaço livre para se movimentar nesta escola. 67

66
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, pp. 182-186.
67
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012, p. 205.

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10. ESCOLA INGLESA DO MARXISMO


Vamos dar um outro exemplo de escola historiográfica, na história da historiografia
europeia. Este exemplo será oportuno, pois contrasta com o exemplo do movimento dos Annales
em pelo menos um aspecto, pois enquanto os historiadores ligados aos Annales possuíam as mais
diversificadas tendências teóricas, e desenvolviam variadas orientações metodológicas em seus
trabalhos, os historiadores ligados à Escola Britânica do Marxismo possuíam a singularidade de se
autodefinirem todos no interior de um único paradigma: o Materialismo Histórico.
Como dissemos, existem escolas que podem reunir sob a sua identidade historiadores
pertencentes aos vários paradigmas teóricos, mas também podem existir escolas que se localizam
no interior de um único paradigma ou orientação teórica. No âmbito do paradigma do
Materialismo Histórico, por exemplo, não são raras as escolas mais específicas de historiadores.
A Escola Britânica do Marxismo, também chamada de "Escola Inglesa", reuniu, na segunda
metade do século XX, historiadores de orientação relacionada ao materialismo histórico. Todos
eles viviam em países ligados ao Reino Unido. Muitos viviam na Inglaterra, tal como Eric
Hobsbawm (1917-2012), Edward Thompson (1924-1993) e Christopher Hill (1912-2003). E havia
outros, como o australiano Gordon Childe (1892-1957), que viviam em outros países ligados à
comunidade britânica.
Um outro aspecto que nos habilita a nos referirmos a este grupo de historiadores como uma
escola é o fato de que eles desenvolviam trabalhos coletivos, e tinham um veículo importante para
a divulgação de trabalhos dos historiadores do grupo, que era a revista inglesa "Past & Present". Já
fizemos notar que as escolas históricas, com frequência, possuem uma revista sob sua
administração, através da qual podem produzir ou motivar a produção de uma Historiografia
correspondente ao seu programa de ação e pensamento.
Todos os historiadores da "Escola Britânica" relacionavam-se a um projeto em comum de
renovação do Materialismo Histórico, cuja principal característica era a valorização da "Cultura",
não mais postulada como mero epifenômeno da "Economia". Destarte, cada um destes
historiadores continuava trabalhando com os pressupostos fundamentais do Materialismo
Histórico: Dialética, Materialismo, Historicidade Radical. Utilizavam também, como todos os
historiadores materialistas históricos, conceitos básicos para este paradigma: "modo de
produção", "luta de classes", "classe social", "revolução". A questão é que estes historiadores
trabalham de modo mais flexível com estes conceitos, evitando esquematismos muito simples e
procurando apreender uma totalidade mais complexa da vida social.
A renovação dos estudos culturais trazida pela Escola Inglesa tem sido fundamental para
repensar o Materialismo Histórico nos dias de hoje – particularmente para flexibilizar o já
desgastado esquema de uma sociedade que ainda era vista, por muitos marxistas, a partir de uma

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cisão entre infraestrutura e superestrutura. Com a Escola Inglesa do Marxismo, o mundo da


Cultura passa a ser examinado como parte integrante do “modo de produção”, e não como um
mero reflexo da infraestrutura econômica de uma sociedade. Existiria, de acordo com esta
perspectiva, uma interação e uma retroalimentação contínua entre a Cultura e as estruturas
econômico-sociais de uma Sociedade, e a partir deste pressuposto desaparecem aqueles
esquemas simplificados que preconizavam um determinismo linear e que, rigorosamente falando,
também já havia sido criticado por Antonio Gramsci, outro historiador marxista especialmente
preocupado com o campo cultural. Será oportuno citar uma memorável passagem de Thompson:
“Uma divisão teórica arbitrária como esta, de uma base econômica e uma superestrutura cultural,
pode ser feita na cabeça e bem pode assentar-se no papel durante alguns momentos. Mas não
passa de uma ideia na cabeça. Quando procedemos ao exame de uma sociedade real, seja qual for,
rapidamente descobrimos (ou pelo menos deveríamos descobrir) a inutilidade de se esboçar a
respeito de uma divisão assim”.68
Thompson rejeita, inclusive, a habitual prioridade interpretativa atribuída ao “Econômico”.
Se algures já se disse que “sem produção não há história”, o historiador inglês acrescenta, com
alguma ironia: “sem cultura, não há produção”. Por vezes, não seria mesmo possível separar
economia e cultura com relação a certos processos ou fatos históricos, mesmo já referentes ao
período moderno.
O exemplo mais brilhante desta impossibilidade de separar economia e cultura no estudo de
alguns processos históricos específico foi dado pelo próprio Edward Thompson em suas pesquisas
sobre as revoltas populares na Inglaterra no século XVIII, que foram expressas em um texto escrito
em 1971 com o título A Economia Moral da multidão inglesa do século XVIII. Thompson demonstra
que neste contexto social era em nome dos princípios morais que se faziam as queixas, confiscos
de grãos e pães, e inúmeros outros processos pertinentes ao mundo econômico e também à
Política. A Economia, neste contexto social e relativamente a estes diversos processos, não era,
portanto, separável de certas concepções morais que circulavam na sociedade em questão.
Economia e Moral, e, portanto, Economia e Cultura, não eram separáveis. Separá-las
historiograficamente seria equivalente a perder a possibilidade de compreender aqueles processos
históricos. Em vista disto, Thompson introduz um novo conceito no âmbito das reflexões
historiográficas: o de “Economia Moral” (na verdade, conforme indica Thompson, a expressão já
havia sido empregada na própria Inglaterra do século XVIII, em uma polêmica de Bronterre O’Brien
contra os autores vinculados à Economia Política). Posteriormente, o conceito foi incorporado às
análises historiográficas e passou a ser utilizados por historiadores para a análise de contextos
diversos.

68
THOMPSON, 2001, p.258.

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Outro historiador notável da Escola Britânica do Marxismo foi Christopher Hill, que trouxe
grande impacto aos meios teóricos ligados ao Materialismo Histórico ao propor uma leitura inédita
da Revolução Inglesa de 1640, com o livro O Mundo de Ponta-Cabeça. Nesta obra, Christopher Hill
propõe uma hipótese inusitada sobre aquele processo histórico: a de que a Revolução Inglesa não
foi um processo único, unilinear, homogêneo, ou sequer uma única revolução. Na verdade, teriam
ocorrido, durante os acontecimentos que ficaram conhecidos como Revolução Inglesa, duas
revoluções paralelas, tensionando-se uma contra a outra. A revolução que representava os
interesses da burguesia acabou por prevalecer e por apagar a outra, a revolução dos grupos
radicais, determinando consequentemente os rumos do processo revolucionário inglês a partir do
triunfo da ética protestante e dos interesses burgueses. Contudo, teria existido uma outra
revolução, radical – representada por grupos como os diggers, ranters, levellers, quacres – esta sim
propondo uma radical reviravolta da sociedade. É este olhar para uma história esquecida, apagada
por uma historiografia que trouxe os vencedores para o centro do palco, o que Christopher Hill
procura trazer. Aqui temos outro aspecto importante da escola Britânica do Marxismo, que é uma
especial atenção ao que Thompson chamou de uma “História Vista de Baixo”.
O terceiro grande nome da Escola Britânica do Marxismo é bem conhecido no Brasil: Eric
Hobsbawm. Com sua série de livros intitulados "eras" – a Era das Revoluções, a Era dos Impérios e
a Era dos Extremos – Hobsbawm tornou-se de grande sucesso no meio editorial. Tento alcançado
uma grande longevidade, viveu todo o século XX, o que resultou em outro livro, intitulado Tempos
Interessantes - Uma Vida no século XX, que permite mostrar um historiador que assiste à passagem
de sucessivas eras neste século no qual o tempo parece ter se comprimido tal a velocidade das
transformações políticas, tecnológicas e ambientais nele implicadas. Hobsbawm também traz a
marca da Escola Britânica, escrevendo ensaios teóricos Sobre a História (1998), e também
revelando sua faceta de historiador cultural na série de críticas sobre o Jazz que publicou durante
anos, e que resultou finalmente no livro intitulado História Social do Jazz.
Conforme podemos ver, sem abrir mão dos elementos essenciais do paradigma do
Materialismo Histórico, os historiadores da Escola Britânica o renovam, rediscutindo seus
conceitos, e trazendo um novo olhar sobre a Cultura e sobre a "História Vista de Baixo".
Constituem um exemplo oportuno de escola que se desenvolve no interior de um único
paradigma.69

69
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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11. ESCOLA DE FRANKFURT


A Escola de Frankfurt nasceu no ano de 1924, em uma quinta etapa atravessada pela
Filosofia Alemã, depois do domínio de Kant e Hegel em um primeiro momento; de Karl Marx e
Friedrich Engels em seguida; posteriormente de Nietzsche; e finalmente, já no século XX, após a
eclosão dos pensamentos entrelaçados do existencialismo de Heidegger, da fenomenologia de
Husserl e da ontologia de Hartmann. A produção filosófica germânica permaneceu viva no
Ocidente, com todo vigor, de 1850 a 1950, quando então não mais resistiu, depois de enfrentar
duas Guerras Mundiais.
A Escola de Frankfurt reuniu em torno de si um círculo de filósofos e cientistas sociais de
mentalidade marxista, que se uniram no fim da década de 1920. Estes intelectuais cultivavam a
conhecida Teoria Crítica da Sociedade. Seus principais integrantes eram Theodor Adorno, Max
Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Leo Löwenthal, Erich Fromm, Jürgen Habermas,
entre outros. Esta corrente foi a responsável pela disseminação de expressões como “indústria
cultural” e “cultura de massa”.
A Escola de Frankfurt foi praticamente o último expoente, o derradeiro suspiro da Filosofia
Alemã em seu período áureo. Ela foi criada por Félix Weil, financiador do grupo, Max Horkheimer,
Theodor Adorno e Herbert Marcuse, que a princípio a administraram conjuntamente. Ernst Bloch e
o psicólogo Erich Fromm acompanhavam à distância o despertar desta linha filosófica, que vem à
luz justamente em um momento de agitação política e econômica vivido pela Alemanha, no auge
da famosa República de Weimar. Seus membros seriam partícipes e observadores das principais
mutações que convulsionariam a Europa durante a Primeira Guerra Mundial, seguida por outros
movimentos subversivos, dos quais ninguém sairia impune.
Esta Escola tinha uma sede, o Instituto para Pesquisas Sociais; um mestre, Horkheimer,
substituído depois por Adorno; uma doutrina que orientava suas atitudes; um modelo por eles
adotado, baseado na união do materialismo marxista com a psicanálise, criada por Freud; uma
receptividade constante ao pensamento de outros filósofos, tais como Schopenhauer e Nietzsche;
e uma revista como porta-voz, publicada periodicamente, na qual eram impressos os textos
produzidos por seus adeptos e colaboradores. O programa por eles adotado passou a ser
conhecido como Teoria Crítica.
Os integrantes da Escola assistiram, surpresos e assustados, a deflagração da Revolução
Russa, em 1917, o aparecimento do regime fascista, e a ascendente implantação do Nazismo na
Alemanha, que culminou com um exílio forçado deste grupo, composto em grande parte por
judeus, a partir de 1933. Esta mudança marcou definitivamente cada um deles, principalmente
depois do suicídio de Walter Benjamin, em 1940, quando provavelmente tentava atravessar os
Pireneus, temeroso de ser capturado pelos nazistas.

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Eles se tornam nômades, viajando de Genebra para Paris, então para os EUA, até se fixarem
na Universidade de Columbia, em Nova York. A primeira obra produzida pelo grupo foi
denominada Estudos sobre Autoridade e Família, gerada em Paris, na qual eles questionam a real
vocação da classe operária para a revolução social. Assim, eles naturalmente se distanciam dos
trabalhadores, atitude que se concretiza com o lançamento do livro Dialética do Esclarecimento,
lançado em 1947, em Amsterdã, que já praticamente elimina do ideário destes filósofos a
expressão “marxismo”. Erich Fromm e Marcuse dão uma guinada teórica ao juntar os conceitos da
Teoria Crítica aos ideais psicanalíticos. Marcuse, que optou por ficar nos Estados Unidos depois da
volta do Instituto para o solo alemão, em 1948, foi um dos integrantes da Escola que mais
receptividade encontrou para sua produção intelectual, uma vez que inspirou os movimentos
pacifistas e as insurreições estudantis, fundamentais em 1968 e 1969, os quais alcançaram o auge
no chamado Maio de 68.
Por outro lado, Adorno, até hoje tido como um dos filósofos mais importantes da Escola de
Frankfurt, prosseguiu sua missão de transformação dialética da racionalidade do Ocidente, na sua
obra Dialética Negativa. Sua morte marca a passagem para o que alguns estudiosos consideram a
segunda etapa da Escola, que encontra seu principal líder em Jürgen Habermas, ex-assessor de
Adorno e, posteriormente, seu crítico mais ardoroso.70
O trabalho da Escola de Frankfurt pode ser completamente compreendido sem igualmente
entenderem-se as intenções e os objetivos da teoria crítica. Inicialmente delineada por Max
Horkheimer no seu Teoria Tradicional e Teoria Crítica, de 1937, a teoria crítica não pode ser
definida como uma autoconsciência social crítica que é o objetivada na mudança e na
emancipação através do esclarecimento, e não se liga dogmaticamente aos seus próprios
pressupostos doutrinais.
Horkheimer a opôs à "teoria tradicional", que se refere à teoria no modo positivista,
cientificista, ou puramente observacional, isto é, do qual derivam generalizações ou leis sobre
diferentes aspectos do mundo. Baseando-se no pensamento sociológico de Max Weber,
Horkheimer argumentou que as ciências sociais são diferentes das ciências naturais, visto que
generalizações não podem ser feitas facilmente supostas por experiências, porque o entendimento
de uma experiência social em si é sempre moldada por ideias que estão nos pesquisadores. O
pesquisador não percebe que é capturado em um contexto histórico cujas ideologias moldam o
pensamento; portanto, a teoria estaria em conformidade com as ideias na mente do pesquisador
mais do que na própria experiência. A ideia é que os fatos que os nossos sentidos apresentam para
nós são socialmente efetuados de duas maneiras: através do caráter histórico do objeto percebido
e através do caráter histórico do órgão que percebe. Ambos não são simplesmente naturais, ao

70
SANTANA, 2019.

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passo que eles são moldados pela atividade humana e também pelas percepções individuais deles
mesmos como receptivos e passivos no ato da percepção.
Para Horkheimer, abordagens para o entendimento nas ciências sociais não podem
simplesmente imitar aquelas das ciências naturais. Apesar de várias abordagens teóricas tornarem-
se próximas de romper as restrições ideológicas que as restringem, como o positivismo,
pragmatismo, neo-Kantianismo e fenomenologia, Horkheimer argumentaria que elas falharam,
porque todas estavam sujeitas a um prejuízo "lógico-matemático" que separava a atividade teórica
da vida real (significando que todas aquelas escolas tentaram encontrar uma lógica que sempre
permaneceria verdadeira, independentemente de consideração pelas atividades humanas
correntes). De acordo com Horkheimer, a resposta apropriada para este dilema é o
desenvolvimento de uma teoria crítica.
O problema, Horkheimer argumentou, é epistemológico: nós não deveríamos meramente
reconsiderar o cientista, mas o conhecimento individual em geral. Diferente do marxismo
ortodoxo, que meramente aplica um "padrão" não original a tanto crítica quanto ação, a Teoria
Crítica procura ser uma autocrítica e rejeita quaisquer pretensões de uma verdade absoluta. A
teoria crítica defende a primazia nem da matéria (materialismo) nem da consciência (idealismo),
argumentando que ambas as epistemologias distorcem a realidade para o benefício, afinal, de
algum grupo pequeno. O que a teoria crítica tenta fazer é colocar ela mesma fora de estruturas
filosóficas e do confinamento das estruturas existentes. Entretanto, como um modo de pensar e
"recuperar" o autoconhecimento da humanidade, a teoria crítica frequentemente se inspira no
marxismo pelos seus métodos e ferramentas.
Horkheimer sustentou que a teoria crítica deveria ser direcionada para a totalidade da
sociedade na sua especificidade história, assim como ela deveria melhorar o entendimento da
sociedade integrando todas as maiores ciências sociais, incluindo a geografia, economia, história,
ciência política, antropologia e psicologia. Enquanto a teoria crítica deve em todas as vezes ser
autocrítica, Horkheimer insistiu que uma teoria é somente crítica se é explicativa. A Teoria Crítica
deve, portanto, combinar pensamento prático e normativo para que possa explicar o que está
errado com a realidade social corrente, identificar atores para mudá-la e fornecer normas claras
para o criticismo e finalidades práticas para o futuro. Visto que a teoria tradicional pode apenas
refletir e explicar a realidade como presentemente é, o propósito da teoria crítica é mudá-la; nas
palavras de Horkheimer, o objetivo da teoria crítica é a emancipação dos seres humanos das
circunstâncias que os escravizam.
Os teóricos da Escola de Frankfurt foram explicitamente associados com a filosofia crítica de
Immanuel Kant, na qual o termo crítica significou reflexão filosófica nos limites de reivindicações
feitas por certos tipos de conhecimento e uma conexão direta entre crítica e a ênfase na
autonomia moral – como oposta às tradicionais deterministas e estáticas teorias de ação humana.

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Em um contexto intelectual definido pelos dogmáticos positivismo e cientificismo em uma mão e o


dogmático "socialismo científico" em outra, teóricos críticos pretenderam reabilitar as ideias de
Marx através de uma abordagem filosoficamente crítica.
Já que pensadores ortodoxos marxista-leninistas e social-democratas viam Marx como um
novo tipo de ciência positiva, os teóricos da Escola de Frankfurt, como Horkheimer,
preferencialmente basearam o seu trabalho na base epistemológica do trabalho de Karl Marx, que
apresentava ele mesmo como crítica, como em O Capital. Eles, assim, enfatizaram que Marx estava
tentando criar um novo tipo de análise crítica orientada em direção à unidade de teoria e prática
revolucionária mais do que um novo tipo de ciência positiva. Crítica, no senso marxista, significa
tomar a ideologia de uma sociedade – a crença na liberdade individual ou no livre mercado sob o
capitalismo – e criticá-la comparando-a com a realidade social daquela mesma sociedade –
desigualdade social e exploração. A metodologia na qual os teóricos da Escola de Frankfurt
fundamentaram essa crítica veio a ser o que foi antes sendo estabelecido por Hegel e Marx,
nomeadamente o método dialético.
A Escola de Frankfurt também tentou reformular a dialética como um método concreto. O
uso de tal método dialético pode ser devido à filosofia de Hegel, quem concebeu a dialética como
a tendência de uma noção para atravessar pela sua própria negação como o resultado do conflito
entre os seus aspectos contraditórios inerentes. Em oposição aos modos anteriores de
pensamento, os quais viam coisas em abstração, cada uma por si mesma e como pensamento
dotado com propriedades fixas, a dialética hegeliana tem a habilidade de considerar ideias
conforme os seus movimentos e mudança no tempo, assim como consoante suas inter-relações e
interações.
A História, de acordo com Hegel, prossegue e desenvolve-se de uma maneira dialética: o
presente incorpora a abolição racional, ou "síntese", de contradições passadas. A História pode
assim ser vista como um processo inteligível que é mover-se em direção a uma específica condição
– a percepção racional de liberdade humana. Entretanto, considerações sobre o futuro não eram
de interesse de Hegel, para quem a filosofia não pode ser prescritiva porque ela é entendida
apenas depois do ocorrido. O estudo da história é assim limitado à descrição do passado e de
realidades presentes. Por isso, para Hegel e seus sucessores, dialéticas inevitavelmente levam à
aprovação do status quo.
Isto foi ferozmente criticado por Marx e pelos “jovens hegelianos”, que afirmaram que
Hegel havia ido muito longe ao defender sua concepção abstrata de “Razão absoluta” e havia
falhado em observar as “reais” condições de vida da classe trabalhadora. Invertendo a dialética
idealista de Hegel, Marx explicou a sua própria teoria de materialismo dialético, argumentando
que não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrário, o seu ser social
que determina as suas consciências. A teoria de Marx seguiu uma lei de história e espaço

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materialistas, em que o desenvolvimento das forças produtivas é visto como o motivo primário
para deflorar uma mudança histórica, e de acordo com qual as contradições material e social
inerentes ao capitalismo irão inevitavelmente levar a sua negação, desse modo substituindo o
capitalismo por uma nova forma racional de sociedade: o comunismo.
Marx assim contou vastamente com uma forma de análise dialética. Esse método, para
saber a verdade descobrindo as contradições em ideias presentemente predominantes e, por
extensão, nas relações sociais às quais elas estão ligadas, expõe a luta básica entre forças opostas.
Para Marx, é apenas tornando-se consciente da dialética de tais forças opostas, em uma luta pelo
poder, que os indivíduos podem se libertar e mudar a ordem social existente.
De outro lado, os teóricos da Escola de Frankfurt rapidamente vieram a perceber que um
método dialético poderia apenas ser adotado se pudesse ser aplicado a si mesmo – o que é dizer,
supondo que eles adotassem um método autocorretivo – um método dialético que lhes permitiria
corrigir falsas interpretações dialéticas anteriores. Do mesmo modo, a teoria crítica rejeitou os
dogmáticos historicismo e materialismo do marxismo ortodoxo. De fato, as tensões materiais e
lutas de classes das quais Marx falou não eram mais vistas pelos teóricos da Escola de Frankfurt
como tendo o mesmo potencial revolucionário dentro das sociedades ocidentais contemporâneas
– uma observação que indicou que as interpretações dialéticas e as previsões de Marx estavam
incompletas ou incorretas.
Contrário à práxis ortodoxa marxista, que somente procura implementar uma imutável e
estrita ideia de "comunismo" na prática, os teóricos críticos tomaram que a práxis e a teoria,
seguindo o método dialético, deveriam ser interdependentes e deveriam influenciar mutuamente
uma a outra. Quando Marx expôs nas suas Teses de Feuerbach que filósofos têm apenas
interpretado o mundo de muitos modos, dizendo que o ponto é mudá-lo, a sua ideia real era que a
única validade da filosofia era em como ela informa a ação. Teóricos da Escola de Frankfurt
corrigiriam isso afirmando que quando a ação falha, então o orientador da teoria deve ser revisto.
Em suma, ao pensamento filosófico socialista tem de ser dada a habilidade de criticar a si mesmo e
"subjugar" seus próprios erros. Enquanto a teoria deve participar da práxis, a práxis deve também
ter uma chance de participar da teoria.
A Escola de Frankfurt também foi alvo de diversas críticas, dentre elas está a crítica do
intelectual italiano Umberto Eco. Ele teceu diversas críticas aos frankfurtianos, entre elas o
anacronismo e a posição elitista de seus teóricos, a defesa da cultura erudita e a rejeição da cultura
de massa. No livro Apocalípticos e integrados, ele os classifica como “apocalípticos”, adjetivo usado
largamente na crítica à Escola de Frankfurt. Segundo o autor, eles seriam responsáveis por esboçar
teorias sobre a decadência, enquanto aos integrados, pela falta de teorização, só lhes restaria
produzir e afirma: “O Apocalipse é uma obsessão do dissentir, a integração é a realidade concreta
dos que não dissentem. Caberia aos apocalípticos o papel de consolar o leitor, já que, em meio à

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catástrofe, se elevariam os “super-homens”, ou seja, aqueles acima da média, que olhariam para o
mundo com desconfiança”.
Para Umberto Eco, essa atitude seria um convite à passividade. O problema estaria em
pensar a cultura de massa como algo bom ou mau. O verdadeiro problema reside em aceitar que
se vive em uma sociedade industrial na qual os meios de massa são uma realidade. A partir de tal
premissa, o teórico questiona qual seria então o modo pelo qual as massas medias poderiam servir
para transmitir valores culturais.
Durante os anos 1980, os socialistas antiautoritários no Reino Unido e Nova Zelândia
também criticaram a visão rígida e determinista sobre a cultura popular implantada dentro das
teorias da Escola de Frankfurt a respeito da cultura capitalista, que parecia excluir qualquer papel
pre-figurativo para a crítica social dentro desse trabalho. Recentes críticas da Escola de Frankfurt
feitas pelo libertário Instituto Cato focadas na afirmação de que a cultura tem crescido mais
sofisticada e diversificada como consequência da liberdade econômica e da disponibilidade dos
nichos culturais para a mídia de massa.

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12. MICRO-HISTÓRIA
A Micro-História, como o próprio nome sugere, é um gênero da historiografia que reduz a
escala de observação de seus objetos na pesquisa histórica. Ora, vale lembrar que existem várias
formas de se escrever história. A ciência História é definida por várias metodologias que resultam
em técnicas de pesquisas diferenciadas. A forma tradicional de se escrever História fazia uso de
uma abordagem narrativa geral, identificando estruturas que se alteravam em eventos de longa
duração. Mas o desenvolvimento da ciência permitiu o florescimento de novas metodologias que
enriqueceram o campo.
Entre 1981 e 1988 surgiu uma coleção, na Itália, organizada pelos historiadores Carlo
Ginzburg e Giovanni Levi e intitulada de Microstorie. A coleção fez muito sucesso apresentando sua
forma inovadora de se abordar o objeto de pesquisa e passou a influenciar historiadores em várias
partes do mundo com as novas metodologias.
Como dito, a Micro-História é uma forma de se pesquisar e escrever História na qual a
escala de observação é reduzida. Sem deixar de levar em consideração as estruturas estabelecidas
pela História Geral, a Micro-História se foca em objetos bem específicos para apresentar novas
realidades. A proposta é que o historiador desenvolva uma delimitação temática extremamente
específica em questão de temporalidade e de espaço para conseguir observar realidades que não
são retratadas pela História Geral.
A Micro-História oferece grandes serviços à História Geral, já permite revelar fatos e
realidades até então desconhecidas. Assim, a Micro-História aborda o cotidiano de comunidades
determinadas ou apresenta biografias que complementem o contexto geral, mesmo que os
indivíduos destacados fossem figuras anônimas. Na verdade, é isso que permite esclarecer as
realidades conjunturais existentes dentro das estruturas já conhecidas.
A diferença da Micro-História para a História Geral é notória também quando é escrita.
Enquanto esta se desenvolveu como um gênero mais ligado à narrativa histórica, a Micro-História
se dedica a uma profunda exploração das fontes, utilizando os artifícios da narrativa, as vezes até
retórica, mas também da descrição etnográfica. Ainda assim, a Micro-História demorou a se tornar
conhecida no mundo. Durante muito tempo permaneceu como um método muito característico e
restrito aos italianos.
A relação da Micro-História com a História Social se demonstrou muito frutífera. Uma vez
que esta procura dar voz às camadas mais baixas da sociedade, a Micro-História contribui
fornecendo elementos enriquecedores para permitir que os excluídos da História Geral se
expressem.

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A Micro-História forneceu um grande benefício também para a ciência História como um


todo, já que incluiu no trabalho dos historiadores uma gama imensa de fontes de pesquisa até
então desconsideradas. O trabalho do historiador se enriqueceu muito, mostrando-se capaz de
reconstituir com melhores detalhes o cotidiano do passado.71
Por ser um campo historiográfico muito recente, ainda hoje gera muitas polêmicas com
relação às suas possibilidades de definição. Uma questão complicadora é que a Micro-História
começou a desabrochar com um grupo muito específico de historiadores italianos, que possui, até
os dias de hoje, publicação própria (os Quaderni Storici), e por isto não é raro que se confunda a
Micro-História – enquanto nova possibilidade de abordagem historiográfica – com este grupo. O
olhar micro-historiográfico, deve-se dizer, pode ser conectado aos mais distintos aportes teóricos,
e é assim que ele tem aparecido inclusive na historiografia brasileira das últimas décadas.
Outra confusão sem nenhum fundamento que algumas vezes se faz surge quando se
relaciona equivocadamente a História Regional e a Micro-História, apesar de estes serem campos
radicalmente distintos no que concerne às suas motivações fundadoras. Quando um historiador se
propõe a trabalhar dentro do âmbito da História Regional, ele mostra-se interessado em estudar
diretamente uma região específica (ou, melhor dizendo, uma determinada espacialidade). O
espaço regional, é importante destacar, não estará necessariamente associado a um recorte
administrativo ou geográfico, podendo se referir a um recorte antropológico, a um recorte cultural
ou a qualquer outro recorte proposto pelo historiador de acordo com o problema histórico que irá
examinar. Mas, de qualquer modo, o interesse central do historiador regional é estudar
especificamente este espaço, ou as relações sociais que se estabelecem dentro deste espaço,
mesmo que eventualmente pretenda compará-lo com outros espaços similares ou examinar em
algum momento de sua pesquisa a inserção do espaço regional em um universo maior (o espaço
nacional, uma rede comercial).
Que a região é uma construção do historiador, do geógrafo ou do cientista social que
examina uma determinada questão, isto já o sabem de longa monta os historiadores regionais. A
região não existe obviamente como espaço pré-estabelecido, ela é construída dentro das
coordenadas de uma determinada pesquisa ou de uma certa análise sociológica ou historiográfica.
Por isto, aliás, é preciso que o pesquisador – ao delimitar o seu espaço de investigação e defini-lo
como uma “região” – esclareça os critérios que o conduziram a esta delimitação. Posto isto, é
óbvio que o “espaço”, seja este definido como espaço físico ou como espaço social, é uma noção
fundamental dentro deste campo de estudos que pode ser enquadrado como História Regional.
Enquanto a História Regional corresponde a um domínio ou a uma abordagem
historiográfica que foi se constituindo em torno da ideia de construir um espaço de observação

71
GASPARETTO JUNIOR, 2013.

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sobre o qual se torna possível perceber determinadas articulações e homogeneidades sociais (e a


recorrência de determinadas contradições sociais, obviamente), já a Micro-História corresponde a
um campo histórico que se refere a uma coisa bem distinta: a uma determinada maneira de se
aproximar de uma certa realidade social ou de construir o objeto historiográfico. A Micro-História,
sustentaremos aqui, relaciona-se a uma abordagem, mais do que a qualquer outra coisa.
Antes de mais nada, é preciso deixar claro que a Micro-História não se refere
necessariamente ao estudo de um espaço físico reduzido ou delimitado, embora isto possa até
ocorrer. O que a Micro-História pretende é uma redução na escala de observação do historiador
com o intuito de se perceber aspectos que, de outro modo, passariam desapercebidos. Quando um
micro-historiador estuda uma pequena comunidade, ele não estuda propriamente a pequena
comunidade, mas estuda através da pequena comunidade (não é por exemplo a perspectiva da
História Local, que busca o estudo da realidade micro-localizada por ela mesma). A comunidade
examinada pela Micro-História pode aparecer, por exemplo, como um meio para se atingir a
compreensão de aspectos específicos relativos a uma sociedade mais ampla. Da mesma forma,
pode-se tomar para estudo uma “realidade micro” com o intuito de compreender certos aspectos
de um processo de centralização estatal que, em um exame encaminhado do ponto de vista da
macro-história, passariam certamente desapercebidos.
O objeto de estudo do micro-historiador não precisa ser, desta maneira, o espaço micro-
recortado. Pode ser uma prática social específica, a trajetória de determinados atores sociais, um
núcleo de representações, uma ocorrência (por exemplo, um crime) ou qualquer outro aspecto
que o historiador considere revelador em relação aos problemas sociais ou culturais que está
disposto a examinar. Se ele elabora a biografia ou a “história de vida” de um indivíduo (e
frequentemente escolherá um indivíduo anônimo) o que o estará interessando não é
propriamente biografar este indivíduo, mas sim os aspectos que poderá perceber através do
exame micro-localizado desta vida.
Da mesma maneira, assim como a Micro-História não deve ser confundida com a História
Regional ao examinar eventualmente um espaço micro-recortado, também não deve ser
confundida com o chamado “estudo de caso” ao estudar uma prática social ou uma ocorrência, e
nem ser confundida com a Biografia Histórica ao examinar uma “vida” ou uma trajetória individual.
Sempre que toma estes objetos – micro-localidade, prática social, ocorrência histórica, trajetórias
individuais entrecruzadas ou vida individual – o micro-historiador está no encalço de algo mais do
que estes objetos em si mesmos. A prática micro-historiográfica não deve ser definida
propriamente pelo que se vê, mas pelo modo como se vê.
Para utilizar uma metáfora conhecida, a Micro-História propõe a utilização do microscópio
ao invés do telescópio. Não se trata, neste caso, de depreciar o segundo em relação ao primeiro. O
que importa é ter consciência de que cada um destes instrumentos pode se mostrar mais

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apropriado para conduzir à percepção de certos aspectos do universo (por exemplo, o espaço
sideral ou o espaço intra-atômico). De igual maneira, a Micro-História procura enxergar aquilo que
escapa à Macro-História tradicional, empreendendo para tal uma redução da escala de observação
que não poupa os detalhes e que investe no exame intensivo de uma documentação.
Considerando os exemplos antes citados, o que importa para a Micro-História não é tanto a
unidade de observação, mas a escala de observação utilizada pelo historiador, o modo intensivo
como ele observa, e o que ele observa. 72

72
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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13. HISTORIOGRAFIA SOBRE O TEMPO: REINHART KOSELLECK


Vamos agora examinar uma das mais recentes e interessantes concepções sobre a relação
entre Tempo e História, bem como sobre as mudanças constantes na sensibilidade coletiva diante
do Tempo. O responsável por esta nova concepção historiográfica do Tempo foi o célebre
historiador dos conceitos, recentemente falecido, Reinhart Koselleck (1923-2006). Começaremos
por lembrar que foi em sua célebre obra Futuro Passado, publicada em 1979, que Reinhart
Koselleck deu forma mais acabada à sua singular perspectiva de que cada Presente não apenas
reconstrói o Passado a partir de problematizações geradas na sua atualidade – tal como
propunham os Annales e outras correntes historiográficas do século XX – mas também de que cada
Presente ressignifica tanto o Passado (referido na conceituação de Koselleck como “campo da
experiência”) como o Futuro (referido conceitualmente como “horizonte de expectativas”). Mais
ainda, para Koselleck cada Presente concebe também de uma nova maneira a relação entre Futuro
e Passado, ou seja, a assimetria entre estas duas instâncias da temporalidade, e não é por acaso
que o título de sua mais conhecida coletânea de ensaios é Futuro Passado – contribuição à
semântica dos tempos históricos (1979).
Constitui a contribuição mais notável de Koselleck, para a Teoria da História, a apurada
percepção desta tensão que sempre se estabelece entre o “espaço de experiência” e o “horizonte
de expectativas” – uma tensão que é própria da elaboração do conhecimento historiográfico e
mesmo das múltiplas leituras sobre o fenômeno da temporalidade que vão surgindo em cada
época, inclusive ao nível das pessoas comuns que vivenciam os padrões disponíveis de
sensibilidade diante do tempo que lhes são oferecidos no momento em que vivem. Vamos discutir
esta base conceitual, pois apenas a partir dela poderemos recolocar com as devidas proporções as
reflexões de Koselleck acerca da “ruptura entre presente e Passado” nos tempos contemporâneos.
A “experiência” e a “expectativa” são apresentadas por Koselleck como duas categorias
históricas (duas categorias para uso da Teoria da História, melhor dizendo) que “entrelaçam
passado e futuro”73. É oportuno salientar que tem sido considerada uma das mais importantes
contribuições historiográficas recentes este esclarecimento koselleckiano, através das categorias
da experiência e da expectativa, de que cada uma das temporalidades – o Passado, o Presente e o
Futuro – pode imaginariamente se alterar, contrair ou se expandir conforme cada época ou
sociedade, modificando-se também a maneira como são pensadas e sentidas as relações entre
eles.
Vamos entender, antes de mais nada, o próprio sistema conceitual proposto por Koselleck
para lidar com as três temporalidades (Passado, Presente, Futuro). Porque um “espaço de

73
KOSELLECK, 2006, p.308 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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experiência”; e porque um “horizonte de expectativas”? A experiência pertence ao Passado que se


concretiza no Presente, de múltiplas maneiras: através da Memória, dos Vestígios, das
Permanências e, para os historiadores, das fontes históricas. Talvez não haja definição mais precisa
do que aquela que é trazida pelo próprio Koselleck:
“A experiência é o passado atual, aquele no qual acontecimentos foram incorporados e podem ser
lembrados. Na experiência se fundem tanto a elaboração racional quanto as formas inconscientes
de comportamento, que não estão mais, que não precisam estar mais presentes no
conhecimento. Além disso, na experiência de cada um, transmitida por gerações e instituições,
sempre está contida e é preservada uma experiência alheia. Neste sentido, também a história é
74
desde sempre concebida como conhecimento de experiências alheias” .

Já as expectativas – que visam o Futuro – correspondem a todo um universo de sensações e


antecipações que se referem ao que ainda virá. Nossos medos e esperanças, nossas ansiedades e
desejos, nossas apatias e certezas, nossas inquietudes e confianças – tudo o que aponta para o
futuro, todas as nossas expectativas, fazem parte deste “horizonte de expectativas”. As
expectativas, além disto, não apenas são constituídas pelas formas de sensibilidade com relação ao
futuro que se aproxima, mas também pela curiosidade a seu respeito e pela análise racional que o
visa. A expectativa, enfim, é tudo aquilo que hoje (ou em um determinado Presente) visa o Futuro,
crivando-o das sensações as mais diversas. É por isto que Koselleck lembra que, tal como a
experiência (esta herança do passado) se realiza no Presente, “também a expectativa se realiza no
hoje”, constituindo-se, portanto, em um futuro presente.
Embora a experiência associe-se comumente ao Passado Presente, e a expectativa ao
Futuro Presente, é importante atentar para a já mencionada afirmação de Koselleck de que estas
duas categorias “entrelaçam o Futuro e o Passado”. Elas não se opõem uma à outra, como em uma
dicotomia qualquer; e de fato “experiência” e “expectativa” estão sempre prontas a repercutir
uma na outra. São categorias complementares, visto que a experiência abre espaços para um certo
horizonte de expectativas. Mais ainda, uma experiência ou o “registro de uma experiência”
referido a um passado remoto pode produzir, em outra época, expectativas relacionadas ao
futuro.
Outro aspecto particularmente interessante relaciona-se aos dois conceitos que se colocam
a “experiência” e “expectativa”. Tentemos compreender porque um “espaço de experiência” e um
“horizonte de expectativas”. A partir dos conceitos fundamentais de Koselleck, vamos construir
uma possibilidade de explicação e entendimento de como funcionam as imagens do “espaço” e do
“horizonte” nestas duas noções criadas por Koselleck para favorecer uma compreensão mais
complexas acerca das temporalidades.

74
KOSELLECK, 2006, p.309-310 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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O “Passado Presente” pode melhor ser representado como um espaço porque concentra
um enorme conjunto de coisas já conhecidas. Pensemos na figura acima como uma possibilidade
de representação. Ela é composta de uma linha horizontal, que representará o horizonte de
expectativas, e de um semicírculo colado a esta, que representará o campo de experiências. Existe
uma infinita região do Passado que não é conhecida, e que, na verdade, jamais será conhecido.
Podemos entender este Passado incognoscível, do qual jamais saberemos nada a respeito, como
estando fora do semicírculo. Aquilo que não deixou memória, ou cujas memórias já pereceram;
aquilo que não deixou vestígios, nem fontes para os historiadores; aquilo que não está
materializado no presente a partir das permanências, das continuidades, da língua, dos rituais
ainda praticados, dos hábitos adquiridos, tudo isto faz parte de uma experiência perdida, que se
situa fora do semicírculo. O que está dentro do semicírculo, contudo, corresponde ao “espaço de
experiência”. Tudo o que ficou do que um dia foi vivido, e se projeta hoje no presente de alguma
maneira, está concentrado neste espaço que é fundamental para a vida, e particularmente vital
para os historiadores – pois estes só podem acessar o que foi um dia vivido através deste espaço
de experiências que se aglomeram sob formas diversas, e dos quais eles extraem as suas fontes
históricas. Tal como esclarece Koselleck, a experiência elabora acontecimentos passados e tem o
poder de torná-los presentes, e neste sentido está “saturada de realidade”.75
Pode-se pensar ainda na transferência de elementos do “campo de experiência” para
aquele espaço indefinido do passado que já se torna inacessível. Memórias podem se perder,
fontes podem se deteriorar e se tornarem ilegíveis, arquivos podem se incendiar, rituais podem
deixar de serem praticados e tradições podem passar a não mais serem cultivadas. Quando morre
um indivíduo, certamente o mundo perde para este espaço exterior algo do que poderia ser
conhecido, do que estava efemeramente situado dentro do semicírculo e que jamais poderá ser
recuperado. A História Oral, uma modalidade mais recente das ciências históricas, apresenta, aliás,
uma conquista extremamente importante para a historiografia, e mesmo para a humanidade.
Através desta abordagem histórica, é possível fixar o que um dia irá perder, pois as memórias
podem ser registradas em depoimentos, gravados ou anotados, e as visões e percepções de
mundo de indivíduos que um dia irão perecer também podem encontrar o seu registro. É possível
imaginar que algo que também parecia estar no espaço exterior também venha um dia para
dentro do semicírculo, nos momentos em que os historiadores descobrem novas fontes, ou
mesmo novas técnicas para extrair de fontes já conhecidas elementos que antes não pareciam
fazer parte do “espaço de experiência”.
Qualquer Passado, qualquer coisa que hoje está no interior deste semicírculo que é o
“espaço de experiência” ou o “Passado Presente”, assim como ainda aquilo o que se perdeu para
fora dele, mas que um dia também foi vivido, já correspondeu outrora a um Presente. Nosso

75
KOSELLECK, 2006, p.312 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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presente, cada instante que vivenciamos, logo se tornará um passado, e mesmo ocorrendo com o
futuro que ainda não conhecemos. Por isto mesmo, a cada segundo, a cada novo presente, o
espaço de experiência se transforma. O que podemos acessar de um vivido e de uma experiência
que nos chega do passado revolve-se constantemente, reapresentando-se a cada vez de uma nova
maneira. As próprias experiências já adquiridas podem se modificar com o tempo.
Quanto ao “Futuro Presente” (este Futuro que ainda não ocorreu, mas cuja proximidade ou
distância repercute no Presente sob a forma das mais diversas expectativas), este é representável
por uma linha. Na verdade, é representado por uma linha porque é efetivamente o que está para
além desta linha, correspondendo àquilo que ainda não é conhecido. Temos apenas uma
“expectativa” sobre o futuro, mas efetivamente não podemos dizer como ele será. Por isso a
metáfora do horizonte – o extremo limite que se oferece à visão, e para além do qual sabemos que
há algo, mas não sabemos exatamente o que é. Sempre que nos aproximamos do horizonte, ele
recua, de modo que nunca deixará de persistir como uma linha além da qual paira o desconhecido,
que logo se tornará conhecido porque se converterá em presente. Conforme as próprias palavras
de Koselleck, “horizonte quer dizer aquela linha por trás da qual se abre no futuro um novo espaço
de experiência, mas um espaço que ainda não pode ser contemplado; a possibilidade de se
descobrir o futuro, embora os prognósticos sejam possíveis, se depara com um limite absoluto,
pois ela não pode ser experimentada”76.
Entre estas duas imagens se comprime o Presente: um fugidio momento de difícil de
representação visual que parece se comprimir entre o espaço concentrado que representa o
Passado (e logo se incorporar a ele) e a linha fugidia que representa o Futuro – esta linha
eternamente móvel (pois rapidamente o que ele traz, tão logo se torne conhecido, transforma-se
por um segundo em Presente e logo depois passa a ser englobado pelo interior do semicírculo que
corresponde ao “espaço de experiência” (quando não se perde no Passado incognoscível situado
fora do semicírculo).
É importante ressaltar ainda que o “Passado Presente” e o “Futuro Presente”, ou o “campo
de experiências” e o “horizonte de expectativas”, não constituem conceitos simétricos.
Imaginariamente, o campo de experiência, o Presente, e o horizonte de expectativas podem
produzir as relações mais diversas, e assim ocorre no decorrer da própria história. Há épocas em
que o tempo parece aos seus contemporâneos se desenrolar lentamente, e outras em que parece
estar acelerado, em função da rapidez das transformações políticas ou tecnológicas. Existem
períodos da história, crivados de movimentos revolucionários, nos quais os agentes que deles
participam desenvolvem a sensação de que o futuro é aqui agora, tendo se fundido ao presente.
Em outros, inclusive, o futuro parece permanecer “atrelado ao passado”, tal como naqueles em
que as expectativas do futuro não se referem a este mundo, mas sim a um outro que será

76
KOSELLECK, 2006, p.311 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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escatologicamente trazido pela redenção dos tempos. As fusões e clivagens que se estabelecem
imaginariamente entre as três temporalidades – Passado, Presente e Futuro – podem aparecer ao
ambiente mental predominante em cada época, e às consciências daqueles que vivem nestas
várias épocas, de maneiras bem diferenciadas.
Para Koselleck, o Tempo Histórico é ditado, de forma sempre diferente, pela tensão entre
expectativas e experiência. Há por exemplo ações e práticas humanas que são constituídas
precisamente desta tensão, tal como ocorre com a elaboração de “prognósticos”, que sempre
exprimem uma expectativa a partir de um certo campo de experiências (portanto, a partir de um
“diagnóstico”). Diz-nos também o historiador alemão que “o que estende o horizonte de
expectativa é o espaço de experiência aberto para o futuro”, o que se pode dar de múltiplas
maneiras, conforme a relação estabelecida entre as duas instâncias 77. Como se disse, em cada
época pode haver uma tendência distinta a reavaliar a tensão entre o espaço de experiência e o
horizonte de expectativas (ou entre o Passado e o Futuro, através da mediação do Presente).
Apenas para ilustrar com uma das hipóteses de Koselleck, na modernidade as expectativas passam
a distanciar-se cada vez mais das experiências feitas até então; em contrapartida, em todo o
ambiente mental predominante no ocidente até meados do século XVII, o futuro parecia
permanecer fortemente atrelado ao próprio passado. Poderíamos mesmo pensar em duas
representações para os dois momentos da história das sensibilidades europeias em relação ao
Tempo, já que, no período propriamente moderno, o espaço de experiência deixa de estar limitado
pelo horizonte de expectativa; os limites de um e de outro se separam.
O aparato conceitual desenvolvido por Koselleck foi incorporado pela historiografia como
aquilo que de mais eficaz se produziu até hoje para operacionalizar uma visão historiográfica do
tempo.78

77
KOSELLECK, 2006, p.313 apud D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.
78
D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011.

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14. EXERCÍCIOS

1. (Quadrix - 2018 - SEDF - Professor Substituto - História)


O grande medievalista francês Marc Bloch, autor do clássico Apologia da História ou o ofício
do historiador, inaugurou a concepção de “história como problema”, em oposição a uma
historiografia positivista que se apoiava em fatos, datas, grandes nomes e heróis. Com
Lucien Febvre, ele foi um dos criadores da moderna historiografia conhecida como Escola dos
Anais (Annales).
Relativamente às transformações pelas quais passou a produção e a escrita do conhecimento
histórico a partir das primeiras décadas do século XX, julgue o item seguinte.
Uma característica marcante da nova história, na esteira das inovações trazidas pela Escola
dos Anais, foi o radical afastamento da história em relação às demais ciências humanas e
sociais.
Comentários
A afirmativa dessa questão está errada, uma vez que uma das grandes inovações da Escola dos
Annales foi justamente a interdisciplinaridade, isto é, o aproveitamento e o diálogo com outras
disciplinas, como a sociologia, a geografia, a estatística, a demografia, a ciência política, a
psicologia, a linguística, a antropologia etc.: estiveram fornecendo frequentemente conceitos e
metodologias aos historiadores, e certos desenvolvimentos em campos como História Cultural ou a
História das Mentalidades não teriam sido possíveis, certamente, sem os respectivos diálogos
interdisciplinares com a Antropologia e com a Psicologia. A Escola Positivista, que surgiu no século
XIX, foi que segregou as disciplinas definindo campos específicos de investigação demarcados com
barreiras aparentemente intransponíveis. A Escola dos Annales e, na esteira, a Nova História, ou
terceira geração dos Annales, rompeu com essa postura disciplinar enveredando para outras
propostas historiográficas, com novos problemas, novas abordagens e novos usos do passado. O
fato sobre a interdisciplinaridade é que, ao se colocarem em contato dois campos disciplinares
podem enriquecer sensivelmente um ao outro nos seus próprios modos de ver as coisas e a si
mesmos. Particularmente a História, no decorrer do século XX e além, foi beneficiada por uma
longa história de contribuições interdisciplinares às concepções e abordagens dos historiadores.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Errado

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2. (UECE-CEV - 2018 - SEDUC-CE - Professor - História)


Considere a seguinte proposição: “Para superar a escola vazia de conhecimentos
significativos, é necessário que os docentes alcancem um domínio complexo daqueles
conteúdos que têm de ensinar, sob pena de se limitarem ao domínio da forma sem
conteúdo”.
CAIMI, Flávia. O que precisa saber um professor de história? História & Ensino, Londrina, v.
21, n. 2, jul./dez. 2015, p.112-3. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/ view/23853

O que se espera do professor de história em relação ao domínio complexo do conteúdo é que


ele
A) reconheça todos os componentes do conteúdo, datas, nomes e eventos, para que possa
transpô-los ao aluno de forma que este conheça como foi o passado.
B) promova o conhecimento do conteúdo pelo aluno, no plano abstrato, já que a associação
do conteúdo histórico com a realidade em que vivemos não é possível.
C) conheça o conteúdo em aspectos como a sua historicidade, a natureza dos conceitos nele
presentes e reconheça sua relevância como fundamental para torná-lo significativo para o
aluno.
D) desenvolva a capacidade mnemônica através do estudo da história de forma a conseguir
realizar esta tarefa em seus alunos, tornando-os exímios conhecedores do passado.
Comentários
A alternativa A é falsa, pois é errado a ideia que compara o professor de História a uma
enciclopédia, onde pode se encontrar a descrição pronta de todos os conteúdos, datas, nomes e
eventos históricos. Na verdade, o conhecimento do professor de História é construído, remontado,
adaptado aos contextos e cultura das salas de aula, não devendo ser considerado como algo
uniforme e horizontal.
A alternativa B também é falsa, pois mesmo que o conteúdo trabalhado pelo professor de História
esteja estritamente vinculado ao que já não é mais, isto é, o tempo passado, não que dizer que
seja algo inacessível. O trabalho do professor de História, bem como do historiador, tem como
chave de acesso ao passado algumas ferramentas específicas, como a memória, os documentos, os
artefatos, os monumentos, construções, relatos, contos, músicas, práticas culturais, modos de
viver etc.
A alternativa C está correta. O se defende é a centralidade do professor de História como um
agente mediador decisivo na concretização das finalidades educativas desta disciplina e questiona-
se acerca de quais conhecimentos e capacidades um professor de História precisa manejar para
dar conta das exigências que emergem dos atuais contextos social e escolar. No raciocínio
empreendido, destaca-se três principais conjuntos de saberes a serem instrumentalizados na
docência em História, a saber: os saberes a ensinar, circunscritos na própria história, na
historiografia, na epistemologia da história, os conceitos historiográficos, dentre outros; os saberes

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para ensinar, que dizem respeito, por exemplo, à docência, ao currículo, à didática, à cultura
escolar; e os saberes do aprender, que se referem ao aluno, aos mecanismos da cognição, à
formação do pensamento histórico etc.
A alternativa D também é falsa, ao passo que o aprendizado da História não se trata de uma
tabuada em que o estudante precisa decorar o conteúdo. O ensino de História deve ser voltado
muito mais para o objetivo de que os estudantes possam fazer relações orgânicas e trabalhar o
conhecimento mediante uma consciência histórica, do que um processo mecânico de memória e
decoração.
(LOWENTHAL, 1998; CAIMI, 2015).
Gabarito: C
3. (CESPE - 2018 - IPHAN - Técnico I - Área 10)
Como o objeto da história (entendida como um constructo teórico) é o que aconteceu,
abstraído tanto do presente quanto do futuro, então o tempo torna-se um dos elementos
determinantes do conceito de história. Parece-me, no entanto, que nem a relação que o
tempo mantém com outros elementos nem o sentido específico do seu efeito na história
foram identificados até hoje com a clareza desejável, tampouco com a clareza possível.
Georg Simmel. O problema do tempo histórico [1916]. In: Simmel. Ensaios sobre teoria da
história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, p. 9 (com adaptações).

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item seguinte, relativos à relação
entre tempo e história.
A noção tripartite do tempo histórico desenvolvida em meados do século XX pelo historiador
francês Fernand Braudel está calcada na distinção entre evento, conjuntura e longa duração.
Comentários
A afirmativa desta questão está certa. Fernand Braudel se tornou um dos mais conhecidos
expoentes da Escola dos Annales. A obra de Braudel definiu uma segunda geração na historiografia
dos Annales e foi muito influente nos anos 1960 e 1970, especialmente por sua obra, O
Mediterrâneo e o mundo mediterrânico na época de Felipe II. Talvez algumas das contribuições
mais criativas tenham sido as experimentações em torno das novas formas de lidar com o tempo. É
possível encontrar três formas de temporalidade diferentes: a primeira é referente a uma história
quase sem tempo, de longa duração (homem e ambiente); já a segunda uma história das
estruturas civilizacionais dos territórios banhados pelo mediterrâneo, formando uma conjuntura
(tempo lento); a terceira uma história dos acontecimentos ou eventos (tempo curto). Braudel
chega a falar das diferenças entre o tempo do historiador e o tempo do sociólogo. Para ele, o
historiador passaria do tempo curto ao longo e depois ao muito longo, proporcionando uma
análise aprofundada, dentro daquilo que Braudel chama de história inconsciente (que ultrapassa a
simples superficialidade dos eventos). Já o sociólogo estaria mais voltado apenas para análise
particular, não dando ênfase ao todo. Sendo assim, segundo o pensamento Braudeliano, a história

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lidaria muito melhor com a temporalidade do que a sociologia e as demais ciências sociais,
proporcionado uma análise completa e aprofundada. Por isso, ela seria superior às outras ciências.
(REIS, 2012).
Gabarito: Certo
4. (IFB - 2017 - IFB - Professor - História)
Leia as afirmativas sobre o conceito de História do Tempo Presente.
I) Refere-se ao campo da história que se dedica aos estudos do período após a II Guerra ao
final do século XX.
II) Consiste na produção historiográfica na qual não houve ruptura cronológica entre o tempo
dos acontecimentos e o tempo da escritura de sua história.
III) Identifica-se com os estudos historiográficos da História Contemporânea, que utilizam
como metodologia a história oral.
IV) Campo da história em que o historiador é contemporâneo dos acontecimentos que ele
estuda, não havendo, portanto, o elemento de alteridade próprio dos estudos de períodos
mais afastados.

Assinale a alternativa que apresenta somente afirmativas CORRETAS:


A) I, III e IV
B) II e III
C) I e III
D) I e IV
E) II e IV
Comentários
A alternativa E está correta, pois apenas as proposições II e IV são verdadeiras.
A noção de “história do tempo presente” remete a uma noção que é ao mesmo tempo banalizada,
controversa e ainda instável. Ela implica em uma reflexão sobre o “Tempo”, que foi durante longa
data o impensado da disciplina histórica. Mas uma boa definição é a história do tempo presente é
um campo dos estudos históricos voltado à análise das rupturas e permanências do passado no
presente. Baseando-se no entendimento ampliado do ofício do historiador, a história do tempo
presente pode ser pensada como mais uma renovação no campo da disciplina História ao deslocar
o centro da pesquisa histórica do passado para o presente, colocando problemáticas que partem
do presente para análise do passado. Deste modo, o que os estudiosos do campo propõem é
compreender, a partir do presente, a constituição de permanências e rupturas temporais que, de
algum modo, possuem eco ou reverberação na atualidade. Diferentemente da História do
presente, da História imediata ou ainda do Jornalismo, a história do tempo presente busca colocar
em contexto histórico as sociedades atuais por meio da investigação da construção de seu passado

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e de seus usos públicos e políticos, argumentando que o tempo presente não é uma dimensão
ligada apenas ao imediato, mas sim permeada por camadas de passados, lembranças e
experiências.
(DOSSE, 2012).
Gabarito: E
5. (CESPE - 2017 - SEDF - Professor de Educação Básica - História)
Segundo Klaus Bergmann, refletir sobre a História a partir da preocupação da didática da
História significa investigar o que é apreendido no ensino da disciplina (é a tarefa empírica da
didática da História), o que pode ser apreendido (é a tarefa reflexiva) e o que deveria ser
apreendido (é a tarefa normativa). Isso significa dizer que, na discussão da natureza e das
dimensões do saber histórico escolar, é preciso considerar as múltiplas faces desse saber,
desde os planos de prescrição até as representações difundidas a seu respeito e os efeitos da
consciência histórica dentro e fora da escola, sem desprezar os processos objetivos de
apreensão do conhecimento histórico pelos alunos e a construção de conceitos dele
derivados. Os livros didáticos se apresentam como uma das mais importantes formas de
currículo semielaborado, que nasce a partir de distintas visões e recortes acerca da cultura.
Sonia Regina Miranda e Tania Regina de Luca. O livro didático de história hoje: um panorama
a partir do PNLD. In: Revista Brasileira de História. ANPUH, vol. 24, n.º 48, jul.-dez./2004, p.
134 (com adaptações).
Considerando o texto como referência inicial e os aspectos inerentes ao ensino de História,
julgue o item seguinte.
Diferentemente da perspectiva positivista do passado, que resumia as fontes históricas aos
documentos escritos, nos dias atuais podem ser considerados fontes para a História, entre
muitos outros elementos, a imprensa, as mídias digitais, os acervos de museus, além da
linguagem e da oralidade presentes na própria sala de aula.
Comentários
A afirmativa dessa questão está certa, uma vez que a moderna matriz disciplinar da História viu a
mudança dos seus itens programáticos ainda no início do século XX, como a História Problema e a
ampliação de fontes históricas. A expansão da tipologia de fontes históricas, isto é, a multiplicação
das possibilidades de fontes abertas aos historiadores, constituiu-se por isso mesmo em mais uma
das notas importantes do acorde programático principalmente da Escola dos Annales. Doravante,
seria preciso afirmar com convicção cada vez mais fortalecida que não mais deveriam interessar
aos historiadores apenas as fontes de arquivo e as crônicas que dizem respeito à História Política
tradicional. Qualquer vestígio ou qualquer evidência, dos objetos da cultura material às obras
literárias, das séries de dados estatísticos às imagens iconográficas, das canções aos testamentos,
dos diários de pessoas anônimas aos jornais, quase tudo podia ser agora legitimamente utilizado
pelos historiadores. A revolução documental e a nova definição de fonte histórica constituíram
uma das grandes novidades trazidas pelas primeiras gerações da Escola dos Annales. Décadas
depois, esta mesma expansão documental será evocada pelos historiadores da terceira geração do
movimento, substituindo a história baseada em textos e documentos escritos, por uma história

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fundamentada numa ampla variedade de documentos escritos de todos os tipos, documentos


iconográficos, resultados de escavações arqueológicas, documentos orais, etc. Uma estatística,
uma curva de preço, uma fotografia, um filme, ou, quando se trata de um passado mais longínquo,
vestígios de pólen fóssil, uma ferramenta, um ex-voto são documentos de primeira ordem para a
História Nova.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Certo
6. (FGV - 2016 - SME - SP - Professor de Ensino Fundamental II e Médio - História)
“Defendo vigorosamente a opinião de que aquilo que os historiadores investigam é real. O
ponto do qual os historiadores devem partir, por mais longe dele que possam chegar, é a
distinção fundamental, para eles, absolutamente central, entre fato comprovável e ficção,
entre declarações históricas baseadas em evidências sujeitas a evidenciação e aquelas que
não o são. Nas últimas décadas, tornou-se moda (...) negar que a realidade objetiva seja
acessível, uma vez que o que chamamos de 'fatos' apenas existem como uma função de
conceitos e problemas prévios formulados em termos dos mesmos.”
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia da Letras, 1998.

Nesse trecho, o autor


A) alega que a realidade objetiva não é acessível, pois o passado não existe materialmente.
B) afirma que o passado é uma construção mental operada pelo investigador com base em
algumas evidências.
C) defende que a qualidade da operação histórica depende de como os fatos são agrupados,
verificados e interpretados.
D) sustenta que dizer a verdade na história é narrar as diferentes visões sobre o processo
histórico.
E) critica que seja possível apontar qualquer tipo de tendência para a história com base no
estudo do passado.
Comentários
A alternativa A é falsa, pois o que Eric Hobsbawm afirma no trecho é exatamente o contrário. A
realidade do passado é uma manifestação que precisa de certa abstração para que seja
compreendida. De fato, o passado já não é mais, mas os vestígios desse tempo que já se foi podem
ser encontrados de diversas formas e nisso consiste o trabalho do historiador, isto é, trazer à luz os
fatos comprováveis que ocorreram no passado através das mais variadas fontes históricas que
possam contribuir com essa tarefa.
A alternativa B também é falsa, uma vez que o passado não é uma construção metal, apesar de ser
exigido do historiador certo nível de abstração na interpretação e trabalho com os fatos do
passado. Mas a ideia de construção mental está mais ligada à ficção do que aos fatos
comprováveis. A ficção histórica, por exemplo, um romance histórico, pode até se atrelar a fatos,

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datas, períodos e pessoas que realmente existiram, mas a linguagem ficcional é diferente da
linguagem do historiador, pois a ficção usa a construção mental como a sua principal ferramenta,
enquanto que o historiador tem nas fontes históricas o seu ferramental e no método
historiográfico o seu esteio.
A alternativa C está correta. A operação historiográfica consiste em mostrar como a realização
empreendida por cada historiador, entre o agrupamento dos fatos, o recorte temporal e temático,
a seriação das fontes, o tratamento metodológico, até a coparticipação da rede historiográfica
enunciativa, termina por fazer emergir uma operação que se situa em um conjunto de práticas. O
trabalho do historiador depende muito dessas diretrizes, que são estabelecidas no exercício das
investigações, pois é nesse processo que os fatos comprováveis do passado se mostram e de onde
as hipóteses emergem, encaminhando para a sua comprovação ou não.
A alternativa D também é falsa, de modo que a verdade na história pode ser entendida como as
declarações históricas baseadas em evidências sujeitas a comprovação através de fontes históricas.
As diferentes visões sobre o processo histórico são, na verdade, instrumentos para o historiador,
uma vez que ele se vale dessas visões para empreender seu trabalho, organizar as fontes, definir
seu tema, recortar seu objeto etc.
A alternativa E também é falsa, pois se não for possível apontar qualquer tipo de tendência para a
história com base no estudo do passado, então o trabalho do historiador deixa de existir. O estudo
do passado é o campo de ação dos historiadores, até mesmo daqueles que trabalham com a
História do Tempo Presente. Na verdade, o que diferencia o trabalho do historiador é justamente a
forma como ele vê a disposição temporal, seja ela de forma processual, seja de forma serial, seja
de forma recursiva, ou seja de forma hermenêutica, não importa, o que importa é que o trabalho
do historiador é voltado para as ações dos homens no tempo, uma noção que pressupõe
intrinsecamente o movimento, o passado.
Gabarito: C
7. (IF-TO - 2016 - IF-TO - Professor História)
Leia o texto a seguir:
Não obstante a grande obra de Marx ser a crítica ao modo de produção capitalista, sua
análise não se faz apenas pelo aspecto econômico. Sua teoria considera a economia como
parte da vida social, parte da história que é a produção da existência humana. Falamos,
assim, sobre as classes sociais decorrentes da divisão social do trabalho, falamos da vida de
homens e mulheres que não apenas trabalham. Eles comem, reproduzem-se, vivem em
sociedade, relacionam-se, constroem laços de amizade e de colaboração e de competição,
pertencem a diferentes grupos, têm ideologias, afetos, filiação religiosa etc. E constroem sua
história em espaços-tempos determinados.
Ciavatta, M. Da Educação Politécnica à Educação Integrada: Como se escreve a história da
educação Profissional. Disponível em: < https://www.fe.unicamp.br> Acesso em 20 ago.
2016.
Analise as alternativas a seguir e assinale a que estiver em desconformidade com o
desdobramento do texto:

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A) Conforme Comte, a sociedade apresenta duas leis fundamentais: a dinâmica social e a


estática social. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a
sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém, ela
pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas
no lema “ordem e progresso”.
B) Diferentemente da história tradicional, que registrou a vida humana dando protagonismo
aos heróis, aos poderosos, aos grandes feitos, Marx eleva todos os atos da vida humana ao
nível do acontecimento.
C) A história é a produção social da existência (MARX, 1979), é sua concepção de história, tão
bem apropriada por alguns historiadores que incorporaram novos temas, novos objetos, os
grandes acontecimentos e os fatos do cotidiano (BURKE, 1991), como a École des Annales.
D) Mesmo sem admitir a influência de Marx em seus estudos, seus historiadores trabalham,
“em primeiro lugar, a substituição de uma história narrativa de acontecimentos por uma
história problema. Em segundo lugar, uma história de todas as atividades humanas e não
apenas história política”.
E) Como desfecho previsível desta ampliação de objetos e de concepção teórica da história,
“em terceiro lugar, visando completar os outros dois objetivos, a colaboração com outras
disciplinas, tais como a geografia, a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a
antropologia social e tantas outras” (BURKE, 1991).
Comentários
A alternativa A é a resposta correta, pois é falso afirmar que Auguste Comte é um autor que
apresenta sua teoria como um desdobramento da obra de Marx. Ora, Auguste Comte é o fundador
da escola de pensamento que surge no século XIX chamada de Positivismo, que segue a
perspectiva de que há um marcha teleológica da civilização para o progresso. O Positivismo, como
paradigma, já está praticamente pronto desde o início do século XIX, uma vez que herda uma série
de pressupostos do Iluminismo, embora por vezes invertendo a sua aplicação social e vindo a
constituir de fato uma visão de mundo tendencialmente conservadora, ao contrário dos setores
mais revolucionários do pensamento Ilustrado. O pensamento Positivista está atrelado à ideia de
que há a possibilidade de um conhecimento humano inteiramente objetivo, de modo que também
há possibilidade de construção de uma história universal, comum a toda a humanidade, e mesmo
da possibilidade de amparar um conhecimento científico sobre as sociedades humanas com base
na ideia de imparcialidade do sujeito que produz o conhecimento.
A alternativa B não é a resposta certa, uma vez que de fato um dos desdobramentos do paradigma
de Marx é a historicização, isto é, elevar todos os atos da vida humana ao nível do acontecimento
no espaço e no tempo.
A alternativa C também não é a resposta certa, pois de fato a concepção de história para Marx está
disposta na ideia da procura das causas de desenvolvimentos e mudanças na sociedade humana
nos meios pelos quais os seres humanos produzem coletivamente as necessidades da vida. Isso
trouxe uma nova interpretação para os historiadores, pois é uma concepção distinta que vê a
história como produto social da existência.

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História. 73
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A alternativa D também não é a resposta certa, pois é certo dizer que a Escola dos Annales teve
certa influência do marxismo, principalmente na interdisciplinaridade e descentramento das
disciplinas com barreiras intransponíveis. Além disso, a ideia de que o trabalho humano é que
produz a consciência e a história, o que também influenciou fortemente a historiografia do século
XX, abrindo diversos subcampos de estudo.
A alternativa E também não é a resposta certa, de modo que a ampliação de objetos e de
concepção teórica da história pode ser encarada como um desdobramento do pensamento
marxista, mesmo com as divergências posteriores, como a Escola dos Annales com a colaboração
de outras disciplinas, tais como a geografia, a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a
antropologia social e tantas outras.
(SOUZA; DOMINGUES, 2009)
Gabarito: A
8. (IF-TO - 2016 - IF-TO - Professor História)
Em “Apologia da História – ou, O Ofício de Historiador”, o medievalista francês Marc Bloch
apresenta algumas reflexões que são contribuições teórico-metodológicas significativas para
as ciências humanas, em geral, e, em particular, para a história. A respeito das principais
formulações conceituais desenvolvidas pela tendência historiográfica à qual pertencia Bloch,
pode-se citar:
I. História-problema.
II. Materialismo histórico.
III. História de longa duração.
IV. Consciência de classe.

É correto o que se afirma em:


A) I e II.
B) III e IV.
C) II e IV.
D) I e III.
E) II e III.
Comentários
A alternativa D é a resposta certa, pois apenas proposições I e III estão de acordo com o enunciado
da questão.
A proposição I é verdadeira porque a historiografia contemporânea, a partir do século XX,
estabeleceu como exigência mínima para o historiador que ele elabore a sua historiografia a partir
de "problemas". A História Problema tornou-se de longe o instrumento mais combativo e
reluzente do programa dos Annales, que teve Marc Bloch como um de seus fundadores. A História

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Problema permitia afrontar, a partir de um novo conceito e de uma nova definição para uma
história que se queria nova, o frágil universo dos modelos de historiografia que se limitavam a
narrar os fatos ou a expor informações, de maneira meramente descritiva. A bandeira da História
Problema, uma novidade necessária nos inícios da atividade dos historiadores dos Annales, em
1929, tinha cores bem vivas e transluzia à distância, sobretudo quando era bem agitada nos
manifestos da Escola dos Annales. Deste modo, já não é possível, pelo menos para um historiador
que almeje ser reconhecido pela comunidade de historiadores profissionais, que se faça uma
historiografia meramente narrativa ou descritiva, sem incluir algum tipo de análise ou
interpretação dos fatos e dados. A historiografia, nos dias de hoje, é necessariamente
problematizada – é uma "História-Problema".
A proposição II é falsa, porque o Materialismo Histórico é uma abordagem metodológica dedicada
ao estudo da sociedade, da economia e da história que foi elaborada originalmente por Karl Marx
(1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), apesar de eles próprios nunca terem empregado essa
expressão. Em todo caso, Marx e Engels foram os criadores de uma nova forma de compreensão
da sociedade que permitiu superar tanto o idealismo como o materialismo do seu tempo. Essa
nova abordagem desvelou o caráter limitado e a natureza mistificadora da filosofia e da economia
política burguesa. Dessa forma, com o propósito de estudar histórica e cientificamente a sociedade
de sua época, Marx e Engels começaram por criticar as teorias existentes, para então formularem
uma nova forma de interpretação da realidade.
A proposição III é verdadeira, porque Marc Bloch, em 1929, propunha-se a ir além da visão
Positivista da história como crônica de acontecimentos, substituindo o tempo breve da história dos
acontecimentos pelos processos de longa duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a
civilização e as mentalidades. Passa-se, assim, à análise da mudança pelo tempo lento no
econômico e social, dando grande ênfase ao aspecto da quantificação. Tal aspecto ajudará na
elaboração de análises de temporalidades dentro da própria história econômica, buscando
aplicação social, como, por exemplo, preços que sobem em um determinado período e que baixam
em outro.
A proposição IV é falsa, porque o conceito de consciência de classe é utilizado especialmente pelas
vertentes do Materialismo Histórico. A ideia é que não é a consciência que determina a vida, mas a
vida que determina a consciência. Quando Marx fala da produção da vida, ele está tratando de
uma atividade produtiva concreta que decorre da maneira de viver do homem. Esta noção de
produção do homem pelo trabalho, ocupa um papel de suma importância no seu pensamento. É
da produção que ele parte para explicar a própria sociedade, é pela produção que se entende o
caráter social e histórico do homem. Para Marx, as explicações para as questões postas na
sociedade devem ser buscadas na práxis material dos homens.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011).
Gabarito: D
9. (FUNCAB - 2015 - Faceli - Professor - História)
“Para deixar claro: o objetivo de se traçar a evolução histórica da humanidade não é antever
o que acontecerá no futuro, ainda que o conhecimento e o entendimento históricos sejam

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essenciais a todo aquele que deseja basear suas ações e projetos em algo melhor que a
clarividência, a astrologia ou o franco voluntarismo [...]".
HOBSBAWN, Eric. Sobre História , 2011.
De acordo com o texto:
A) a função do historiador confunde-se com o misticismo de adivinhações da antiguidade.
B) a evolução da humanidade é uma linha ascensional previsível através da história.
C) o conhecimento histórico permite projetar uma sociedade futuristicamente igualitária.
D) a história não produz conhecimento com base em previsões futurísticas.
E) tanto as ciências como a astrologia são fundamentais à história.
Comentários
A alternativa A é falsa, pois o que Eric Hobsbawn afirma é exatamente o contrário. O historiador
não é futurólogo, isto é, seu trabalho é tem o passado como objeto, e mesmo que consiga traçar
evoluções históricas ou identificar avanços e recuos, o historiador não faz previsões sobre o que irá
acontecer.
A alternativa B também é falsa, de modo que a História não se constitui como uma linha evolutiva
com processos previsíveis e tecnicamente calculados pelo historiador.
A alternativa C também é falsa, pois nem mesmo a concepção de “História mestra da vida” não
traz essa ideia de ensino. A História, entretanto, tem sim algo a nos ensinar, mas não de maneira
linear, como uma fórmula que pode ser sempre empregada, uma vez aprendida através de ciclos
que sempre se repetem.
A alternativa D está correta, uma vez que é exatamente isso que o fragmento citado de Eric
Hobsbawn está afirmando. O trabalho do historiador não é fazer previsões, nem do passado,
tampouco do futuro. O historiador trabalha com fontes, pesquisas, evidências, resolve hipóteses,
organiza metodologicamente, utiliza ferramentas conceituais etc., coisas que o futuro não oferece,
afinal o futuro não é ainda.
A alternativa E está incorreta, pois a astrologia não tem nada a oferecer à História, senão como
objeto de estudo muito específico e, diga-se de passagem, um tanto irreverente.
Gabarito: D
10. (UFMT - 2015 - IF-MT - Professor - História)
A história de toda a sociedade até agora existente é a história de luta de classes. O homem
livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o barão feudal e o servo, o mestre de corporação e o
oficial, em suma opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si,
travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, que acabou sempre com
uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes
em conflito.
(MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. Lisboa: Avante, 1975.)

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Sobre a historiografia marxista, é correto afirmar:


A) Pensou a sociedade de uma perspectiva particularizante, destacou a cooperação entre as
classes sociais e sujeitou o conhecimento histórico aos homens.
B) Pensou a história a partir da objetividade científica, entendendo a neutralidade do
conhecimento científico e sujeitando-a a uma causalidade cronológica.
C) Pensou a sociedade estruturalmente, enfatizando o papel das contradições, priorizando o
estudo dos conflitos sociais, atribuindo às classes sociais o papel de sujeito histórico.
D) Pensou a história como arte, relativizando o conhecimento produzido pelo historiador,
sujeitando o homem à história como uma força exterior a ele.
Comentários
A alternativa A é falsa, uma vez que a historiografia marxista evidencia essencialmente a luta de
classes e a coletividade, com os indivíduos produzindo em sociedade e resultando na produção de
si mesmos socialmente. A leitura de Marx, é uma leitura da realidade social e a categoria de práxis
ocupa um lugar fundamental em sua obra. É precisamente sobre a concepção do homem como ser
prático e social que repousa na ideia capital do trabalho como forma modelar de práxis, vale dizer,
o único modo de criação, é precisamente a partir dessa concepção que Marx elabora a sua teoria
da história.
A alternativa B também é falsa, ao passo que a afirmação diz respeito ao método programático da
historiografia positivista e não da historiografia marxista. É o modelo positivista que pesava a
História a partir da objetividade científica, entendendo a neutralidade do conhecimento científico,
buscando leis gerais com a sua imparcialidade. Para Marx, por outro lado, a história não é um
movimento linear, não é determinista, ela se dá através de contradições, de antagonismos e
conflitos, enfim, é um campo aberto de possibilidades: “Os homens fazem sua própria história,
mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquela
com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado”, diz ele.
A alternativa C é a resposta certa, pois para a historiografia marxista as relações sociais de
produção são construídas a partir das condições materiais existentes. A análise da realidade,
segundo Marx, deve se dar a partir da teoria da infraestrutura e superestrutura que circundam um
determinado modo de produção. Isto significa dizer que a história sempre está ligada ao mundo
dos homens enquanto produtores de suas condições concretas de vida e, portanto, tem sua base
fincada nas raízes do mundo material, organizado por todos aqueles que compõem a sociedade.
Os modos de produção são históricos e devem ser interpretados como uma maneira que os
homens encontraram, em suas relações, para se desenvolver e dar continuidade à espécie. Ainda
segundo Marx, não é a consciência que determina a vida social, mas a vida social que determina a
consciência.
A alternativa D também é falsa, pois Marx pensava a história como ciência e não como arte.
Inclusive, Marx diz que existe uma única ciência, a da história, que pode ser examinada sob dois
aspectos: a história da natureza e a dos homens. Essas duas são inseparáveis e coincidem
reciprocamente. Marx deixa claro o método que está propondo para a história: é o método que
parte dos fenômenos reais: não se parte do que os homens dizem, representam ou imaginam, nem

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tampouco do homem predicado, pensado, representado ou imaginado, para chegar, partindo


daqui, ao homem de carne e osso; parte-se do homem que realmente atua e, partindo de seu
processo de vida real, se expõe também o desenvolvimento dos reflexos ideológicos e dos ecos
deste processo de vida.
(SOUZA; DOMINGUES, 2009).
Gabarito: C
11. (UFMT - 2015 - IF-MT - Professor - História)
Sobre a História produzida pela “Escola Metódica", também chamada “positivista", analise as
afirmativas.
I - O Historiador não é juiz do passado, deve apenas narrar o que realmente aconteceu.
II - Há intrínseca interdependência entre o sujeito do conhecimento e seu objeto.
III - A História (res gestae) existe em si, objetivamente, e se oferece por meio dos
documentos.
IV - É imprescindível ao historiador a reflexão teórica e filosófica.

Estão corretas as afirmativas


A) II e IV.
B) I e II.
C) III e IV.
D) I e III.
Comentários
A alternativa D é a resposta certa, pois apenas as proposições I e III são verdadeiras.
A proposição I é verdadeira, pois a Escola Positivista de fato prezava pela neutralidade do trabalho
historiográfico, na medida em que as sociedades humanas seriam reguladas por leis naturais,
invariáveis, independentes da ação humana. Sendo assim, o melhor método seria das Ciências
Naturais, que deveria ser incorporado pelas Humanas, visando a objetividade científica, uma vez
que o objeto de estudo estaria na própria natureza, e o cientista dele se apropria. Separado de seu
objeto de estudo, o historiador poderia ser neutro e imparcial, indo de encontro à verdade dos
fatos.
A proposição II é falsa, pois o método historiográfico positivista desconsidera a relatividade do
objeto histórico, sendo que a subjetividade é completamente dispensada.
A proposição III é verdadeira, na medida em que os positivistas acreditavam ir de encontro aos
fatos passados concretamente quando estivessem em posse de algum documento. Isso faz parte
da ideia de uma imparcialidade absoluta, consagrada pelo estatuto de verdade garantido através
das fontes, e louvado na possibilidade de um conhecimento humano inteiramente objetivo que
existe a favor da construção de uma história universal.

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A proposição IV é falsa, pois o método positivista como um todo descartou a reflexão filosófica,
que estaria ligada ao pensamento teleológico de uma filosofia da história que deseja conhecer
apenas o motor da história. Os positivistas, por sua vez, pautaram-se na ideia de que a História se
refere a uma realidade humana temporalizada, e na perspectiva de que poderia se tornar objeto
de conhecimento este mundo humano real a ser compreendido no tempo.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2014).
Gabarito: D
12. (IF-PA - 2015 - IF-PA - Professor - História)
“A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa
experiência pessoal às das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e
lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de
presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que
vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se
mais importantes do que nunca no fim do segundo milênio.”
(HOBSBAWM, E. A Era dos extremos.O breve século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995. p.13).

Com base nas questões suscitadas pelo texto acima é correto afirmar que:
A) Nossos jovens precisam de formação no campo da História
B) Não há políticas públicas para preservação de patrimônios que representem as gerações
passadas e a História.
C) Cabe apenas aos historiadores a arte de lembrar e preservar o passado.
D) A relação entre História e a memória carece do historiador e seu metiér.
E) A memória do passado é um fenômeno em extinção e cabe ao historiador recuperá-la
treinando a juventude.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o texto supracitado de Eric Hobsbawm não ressalta a
necessidade da formação dos jovens no campo da História, mas constata a experiência coletiva de
uma espécie de presente contínuo no final do século XX, sem perspectivas ou relações com o
passado (o que se pode dizer que adentra pelo século XXI).
A alternativa B também está incorreta, pois o texto supracitado de Eric Hobsbawm não trata de
forma específica das políticas públicas para preservação de patrimônio. A preocupação do autor é
com a falta de lastro histórico entre as gerações, especialmente com o imediatismo que surge no
final do século XX.
A alternativa C também está incorreta, na medida em que não se trata de tarefa única do
historiador a arte de lembrar e preservar o passado, pois é algo que envolve desde a esfera
pública, até ao indivíduo envolvido numa comunidade de pessoas que compartilham uma

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experiência coletiva. Mas o historiador é visto como ator importante na cena final do segundo
milênio, por causa da sua função de lembrar aquilo que os outros esquecem, numa época em que
as pessoas parecem viver um presente contínuo.
A alternativa D é a resposta certa, pois o historiador traz a experiência que pertence ao passado e
a faz concretizar pela rememoração no presente. O historiador faz isso de múltiplas maneiras,
trabalhando em seu ofício e usando as suas ferramentas metodológicas e conceituais específicas,
como, por exemplo, através da memória, dos vestígios, das permanências e das mais diversas
fontes históricas. É nesse sentido que o historiador é importante, principalmente numa sociedade
que vive uma espécie de presente contínuo.
A alternativa E também está incorreta, uma vez que o trabalho do historiador não é treinar a
juventude para rememorar o passado. O fato é que o historiador é visto, aparentemente, como o
guardião dessas memórias e promotor de uma memória coletiva orgânica.
Gabarito: D
(CESPE - 2010 - SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História)
Considerando a evolução sofrida pela escrita da História na contemporaneidade,
especialmente após o surgimento da Escola dos Anais ou Escola Francesa, e pelos novos
parâmetros que norteiam o ensino da História nos dias atuais, julgue os itens que se seguem.

13.
A Nova História elimina a cronologia de suas preocupações e, na prática, repudia as datas
como componente de seu campo de trabalho.
Comentários
A afirmativa desta questão está errada, pois o tópico principal que se pode destacar entre a
metodologia da Nova História, também conhecida como terceira geração da Escola dos Annales, é
a consideração segundo a qual toda atividade humana é considerada história. É falso, portanto,
afirmar que a Nova História propõe uma ruptura tão brusca com toda uma tradição historiográfica
ao ponto de eliminar a cronologia e repudiar as datas, afinal de contas, por mais que o trabalho do
historiador tenha instrumentalizado o conceito e as noções de tempo de forma diferente, ele é
imprescindível em seu trabalho.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Errado
14.
Por se confundir com literatura, a narrativa foi abolida da moderna concepção de História.
Comentários
A afirmativa desta questão está errada, uma vez que a História é entendida como um campo
disciplinar que tem sua base fundada na narrativa. Não há História sem narrativa. A História se
compõe de uma rede de discursos que são compostos por ditos e interditos, que são permitidos e

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hierarquizados no interior da própria disciplina. A rede de discursos que constitui uma das
dimensões integrantes do campo disciplinar da História é também, ela mesma, uma rede de textos
e realizações, em dinâmica de interconexão.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: Errado
15.
A História tradicional costumava valorizar ao extremo a ação individual dos grandes nomes,
os heróis, enfatizando a política protagonizada pelos detentores do poder.
Comentários
A afirmativa desta questão está certa, de modo que a historiografia ao longo do século XX passou
por transformações marcantes que redefiniram até mesmo a perspectiva do historiador. Uma
radical reviravolta da sociedade historiográfica é o olhar para uma história esquecida, apagada por
historiadores que trouxeram os vencedores para o centro do palco. A chamada “História Vista de
Baixo” é um bom exemplo dessas transformações, na medida em que o olhar do historiador foi
descentrado, migrou para a periferia, foi atrás de nomes até então esquecidos e encobertos pela
noite dos tempos. Esta é uma historiografia que não está preocupada, por exemplo, com o nome
do Imperador que conduziu a construção da Muralha, mas sim com a quantidade de material
humano necessário para tal empreendimento.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011).
Gabarito: Certo
16. (CONSULPLAN - 2010 - Prefeitura de Congonhas - MG - Professor - História)
François Furet orienta pedagogicamente a “história-problema” como percurso para que os
alunos sejam investidos de um novo estatuto epistemológico – aquele de sujeitos ativos de
seus processos de aprendizagem, diferentemente dos percursos tradicionais. Na perspectiva
da “história-problema”, é correto afirmar:
A) Para que a concepção de “história-problema” seja colocada em prática, é necessário que a
dinâmica de sala de aula também seja centrada na figura do professor, que se encarrega por
sua vez, de expor os conteúdos que, em seguida, devem ser memorizados pelos alunos.
B) Na perspectiva da “história-problema”, o historiador abraça a pretensão de narrar tudo
aquilo que se passou de importante na história da humanidade para que os alunos possam
ter fundamentos históricos para problematizar os fatos, sejam do passado ou do presente.
C) A evolução recente da historiografia mostra que passamos de uma narração cronológica
para uma “históriaproblema” que visa o exame analítico de um problema, delimitando um
período e a parte do conjunto de acontecimentos em que está inserido, para o qual
buscamos respostas, nunca definitivas.
D) A preocupação da “história-problema” está em se comprometer com o desenvolvimento
da noção da temporalidade histórica, para que a História não perca o seu verdadeiro objeto
que é o estudo do tempo.

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E) A problematização no processo dinâmico da sala de aula enfrenta obstáculos no processo


de constituição da cidadania, pois essa deve partir de um traço central sugerido pelos
governantes para não despencar para a concepção anárquica.
Comentários
A alternativa A é falsa, uma vez que a afirmação diz respeito ao método pedagógico autoritário em
que o professor é visto como o detentor de um conhecimento inquestionável e o aluno como uma
tábula rasa que é planificada para receber aquilo que o professor tem a dizer. Esse tipo de
metodologia, por sua vez, não traz contribuições na proposta de empregar em sala de aula o
modelo de uma História-Problema, pois o aluno é um mero receptor, uma figura passiva dentro do
ambiente escolar.
A alternativa B também é falsa, pois a ideia de que o historiador possa narrar tudo aquilo que se
passou de importante na história da humanidade é, no mínimo, pretensão. O historiador não é
uma enciclopédia que tem posse de todas os fatos e datas da História da humanidade. Além disso,
esse não é um método problematizador, pois também nesse caso os alunos são figuras passivas
dentro do ambiente escolar.
A alternativa C está correta, na medida em que essa metodologia se vincula a ações concretas,
dirigidas à resolução de um problema, mais do que ao pensamento, remete à ação e a prática. Por
exemplo, a "análise de discurso'' (exame minucioso, crítica, estudo) de que um historiador lança
mão para compreender as suas fontes históricas, são relacionados ao âmbito dos procedimentos
técnicos e das metodologias. Quando o historiador situa um conjunto de documentos em série, e
procura incidir sobre ela um determinado questionário ou uma tabulação de tópicos e critérios,
estará certamente empregando uma metodologia que segue a problematização do objeto de
estudo. Esta História problematizada é hoje, no século XXI, lugar-comum para qualquer historiador
formado historiador, isto é, formalmente bacharelado em curso superior universitário.
A alternativa D também é falsa, pois o verdadeiro objeto de estudo da história é a ação dos
homens no tempo, e não o tempo em si, ao passo que o estudo do tempo em si é um trabalho
essencialmente filosófico. Mas, acerca disso, o estudo sobre do tempo tem feito escola entre os
historiadores, mas não com a mesma investigação dos filósofos, pois os historiadores se utilizam
do tempo como categoria específica e distinguem o tempo histórico. Em todo caso, é a ação dos
homens no tempo o objeto de estudo dos historiadores, e através do recorte desse objeto que a
História-Problema é executada.
A alternativa E também é falsa, uma vez que a afirmação não diz respeito ao conceito de História-
Problema. Além disso, a noção de cidadania sugerida na afirmação também é falsa, pois a
cidadania não diz respeito aos programas veiculados pelos governantes, mas sim a consciência de
coletividade e participação que deve imperar categoricamente entre os indivíduos de uma nação.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: C

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17. (CONSULPLAN - 2010 - Prefeitura de Congonhas - MG - Professor - História)


“Nada do que é humano será agora alheio ao historiador. Daí a multiplicação de estudos
sobre a cultura, os sentimentos, as ideias, as mentalidades, o imaginário, o cotidiano. E
também sobre instituições e fenômenos sociais, antes considerados de pequena importância,
se não irrelevantes, como o casamento, a família, organizações políticas e profissionais,
igrejas, etnias, a doença, a velhice, a infância, a educação, as festas e rituais, os movimentos
populares."
Assinale a alternativa, que de acordo com o texto de José Murilo de Carvalho, sintetiza as
finalidades do ensino de História:
A) As finalidades do ensino de História apontam para novas possibilidades de organização
curricular (História temática e o ensino por conceitos) e para a valorização do conteúdo e de
visões plurais e críticas da História, considerando a construção da cidadania e dos direitos
humanos.
B) As finalidades do ensino de História têm como referência a própria ciência. A relação entre
o saber científico e a historicidade é comprovada através dos documentos históricos escritos,
principal instrumento de trabalho do historiador.
C) As finalidades do ensino de História se resumem no domínio do conteúdo específico pelo
professor. A valorização do conteúdo é indispensável para a construção das memórias
coletivas e individuais.
D) Baseada em objetivos precisamente propostos pela LDB, a finalidade da História é a de
incorporar novas linguagens e tecnologias no ensino, pois o saber do passado já foi
construído e deve ser apenas repassado com fidelidade.
E) Baseados na construção de uma memória social, as finalidades da História visam a
recuperação da historicidade do conhecimento numa organização linear e na forma
cronológica de expor os fatos.
Comentários
A alternativa A é a resposta correta, de tal maneira que o ensino de História se beneficiou
enormemente com as transformações no interior das correntes historiográficas, que inovaram as
temáticas, os conceitos, o uso das fontes, a problematização etc. O ensino da História passou a se
instrumentalizar com as ferramentas historiográficas, distanciando-se cada vez mais do antigo
modelo positivista baseado no ensino mnemônico, quando os alunos focavam sua aprendizagem
em decorar as datas, os fatos e os grandes nomes da História. Atualmente, o ensino de História
tem proposto novas possibilidades de organização curricular, visando formar estudantes críticos,
pautados por uma consciência cidadã e que valorizem os princípios dos direitos humanos. A
disciplina se tornou campo importante para a formação individual, fazendo os estudantes
refletirem sobre o seu papel na sociedade, trabalhando questões que até então eram tabus socias,
questionando sobre a organização das sociedades etc., tudo isso através da aprendizagem das
ações dos homens nos tempos passados.
A alternativa B é falsa, uma vez que nas últimas décadas o ensino de História tem sido
reformulado, pois o que os especialistas tem percebido é que a aprendizagem da História deve ser

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diferenciada, utilizando de ferramentas educacionais próprias e de métodos particulares. Nesse


sentido, o ensino de História tem se afastado da referência metodológica das ciências naturais, por
exemplo, que se valem de fórmulas decoradas e cálculos proposicionais. Até mesmo as fontes e
documentos trabalhados no ensino de História têm se transformado, ao passo que atualmente o
uso de mídias e tecnologias tem favorecido enormemente a nova reflexão proposta pela disciplina.
A alternativa C também é falsa, pois o ensino de História atualmente tem reforçado a ideia de que
deve haver uma interação forte entre professor e estudantes, de modo que a função do professor
passa a ser de orientador pedagógico. A ideia é que os estudantes não sejam vistos como tábulas
rasas, indivíduos passivos dentro do ambiente escolar. Cada estudante tem uma experiência
individual e deve ser valorizado o aprendizado que foi adquirido ao longo de suas vidas, sendo
ponto importante para a construção de conhecimento.
A alternativa D também é falsa, pois dentro do campo disciplinar da História não prevalece a ideia
de que o saber sobre o passado já foi todo construído e que deve apenas ser replicado.
Essencialmente, toda História é escrita no presente, o que significa que o conhecimento sobre o
passado é dimensionado e redimensionado de acordo com as perguntas que são feitas pelos
historiadores. É certo que não se trata de um relativismo absoluto, pois há pontos duros, como as
datas de certos eventos, por exemplo. Mas a questão é que a História se trata de um saber
construído e não testado, como faz um físico ou um químico trancado em seu laboratório. O
historiador trabalha com hipóteses, séries documentais, faz recortes em seus objetos de pesquisa,
formula perguntas que podem ou não ser respondidas, cruza informações novas com aqueles que
outros obtiveram etc., mas o historiador nunca terá uma experiência empírica do seu objeto de
estudo, pois o passado é aquilo que já não é mais.
A alternativa E também é falsa, uma vez que o ensino de História baseado na organização linear e
na forma cronológica de expor os fatos, favorece apenas ao método em que o aluno deve decorar
as datas, os fatos, as sequencias dos acontecimentos, os grandes nomes etc., isto é, o modelo
positivista. Atualmente, o ensino de História tem partido para uma perspectiva crítica, utilizando
novos métodos, valendo-se de mídias e tecnologias e empregado processos pedagógicos
inovadores, tudo para que a relação dos estudantes com a História os transforme é cidadãos
agentes da própria história.
Gabarito: A
18. (IFC - 2010 - IFC-SC - Professor - História)
Assinale a alternativa correta.
A) Historiadores com Eric Hobsbawm, Perry Anderson e Edward Thompson, fazem suas
próprias interpretações do pensamento marxista. Na atualidade esta linha de pesquisa é
denominada de História Cultural.
B) Na segunda geração da Escola dos Analles, surgiu a História Nova, idealizada por Jacques
Le Goff e Pierre Nora.
C) Os trabalhos de Fernand Braudel foram muito influentes e marcaram a terceira geração da
Escola dos Analles.

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D) A Escola dos Analles, surgiu na França (1929), através da revista Analles d´histoire
économique et sociale, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre.
E) Os historiadores positivistas acreditam que a história deve ser escrita através da estrita
observação dos fatos que permitam revelar a verdade histórica, onde o historiador não poder
ser uma pessoa neutra.
Comentários
A alternativa A é falsa, uma vez que os historiadores citados fazem parte da corrente
historiográfica britânica, que de fato propôs um revisionismo dentre da metodologia marxista.
Contudo, não se trata da História Cultural, apesar de eles terem se voltado mais o olhar para as
questões culturais, não postulando a economia como mero epifenômeno. Destarte, cada um
destes historiadores continuava trabalhando com os pressupostos fundamentais do Materialismo
Histórico: Dialética, Materialismo, Historicidade Radical. Utilizavam também, como todos os
historiadores materialistas históricos, conceitos básicos para este paradigma: "modo de
produção", "luta de classes", "classe social", "revolução". A questão é que estes historiadores
trabalham de modo mais flexível com estes conceitos, evitando esquematismos muito simples e
procurando apreender uma totalidade mais complexa da vida social. Já a História Cultural
propriamente dita se sobrepõe, em sua abordagem, ao movimento francês da história das
mentalidades e à chamada Nova História. Na França, um dos expoentes mais conhecidos da
História Cultural é Roger Chartier.
As alternativas B e C também são falsas, pois cometem equívocos acerca das gerações dos Annales.
A segunda geração da Escola dos Annales teve como um dos mais conhecidos expoentes dessa
escola a obra de Fernand Braudel, que definiu uma segunda geração de historiadores dos Annales
e foi muito influente nos anos 1960 e 1970, especialmente por sua obra, O Mediterrâneo e o
mundo mediterrânico na época de Felipe II. Já a terceira geração dos Annales que é conduzida por
Jacques Le Goff e ficou mais conhecida como a Nova História, segundo a qual toda atividade
humana é considerada história. Além de Le Goff, nesse período se destaca também seu
companheiro de profissão, Pierre Nora.
A alternativa D está correta. A Escola dos Annales é um movimento historiográfico do século XX
que se constituiu em torno do periódico acadêmico francês Annales d'histoire économique et
sociale, tendo se destacado por incorporar métodos das Ciências Sociais à História. Fundada por
Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da visão Positivista da história como
crônica de acontecimentos, substituindo o tempo breve da história dos acontecimentos pelos
processos de longa duração, com o objetivo de tornar inteligíveis a civilização e as mentalidades.
Marc Bloch foi morto pela Gestapo durante a ocupação alemã da França, na Segunda Guerra
Mundial, e Febvre seguiu com a abordagem dos Annales nas décadas de 1940 e 1950.
A alternativa E também é falsa, pois os historiadores positivistas estavam atrás de Leis Gerais na
História, acreditando que haveria uma universalidade humana. Para eles, as sociedades humanas
são reguladas por leis naturais, invariáveis, independentes da ação humana, de tal modo que a
História deveria seguir uma relação de identidade de métodos com as Ciências Naturais. A
objetividade científica seria encontrada na neutralidade. O objeto de estudo já está na natureza, e

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Teoria da História.
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o cientista dele se apropriaria. Separado de seu objeto de estudo, o historiador poderia ser neutro
e imparcial, indo de encontro à verdade dos fatos.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011; D'ASSUNÇÃO BARROS, 2012).
Gabarito: D
19. (IBFC - 2013 - SEAP-DF - Professor - História)
Um dos nomes mais importantes da Escola dos Annales foi o historiador medievalista francês
Marc Bloch. Sua proposta epistêmica buscou romper com o paradigma positivista em que a
ciência histórica estava apoiada no início do século XX, problematizando a própria noção de
história, que naquele momento definia o passado como um dado rígido, inalterável. Em
Apologia da História, publicado em 1949 por Lucien Febvre ou O Ofício do Historiador (2002),
último texto escrito por Bloch, inacabado por causa da sentença de fuzilado imposta pela
Gestapo em 1944, na cidade francesa de Saint Didier de Formans, por ter participado da
Resistência em Lion contra o nazismo alemão, o referido livro traz grandes contribuições
metodológicas para as ciências humanas, tendo influenciado muitos historiadores como
Braudel, Duby, Le Goff, Ferro, Lepetit, entre outros. Dentre as contribuições conceituais
desenvolvidas pela Escola dos Annales, também chamada posteriormente de História Nova,
destacamos algumas noções desenvolvidas por essa corrente teórica:
I. História de longa duração;
II. História das mentalidades;
III. História das multidões e das massas.

Indique a opção que representa os conceitos desenvolvidos por tal escola teórica:
A) I e III, apenas.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, II e III.
Comentários
A alternativa B é a resposta certa, uma vez que apenas as proposições I e II são verdadeiras.
A Escola dos Annales, fundada por Lucien Febvre e Marc Bloch em 1929, propunha-se a ir além da
visão Positivista da história como crônica de acontecimentos, substituindo o tempo breve da
história dos acontecimentos pelos processos de longa duração, com o objetivo de tornar
inteligíveis a civilização e as mentalidades. O novo movimento historiográfico foi muito impactante
e renovador, colocando em questionamento a historiografia tradicional e apresentando novos e
ricos elementos para o conhecimento das sociedades. Apresentava uma História bem mais vasta
do que a que era praticada até então, apresentando todos os aspectos possíveis da vida humana
ligada à análise das estruturas. Seus principais objetivos estavam no desenvolvimento de um tipo
de História que levasse em consideração o acréscimo de novas fontes à pesquisa histórica e

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realizasse um novo tipo de abordagem. Outros nomes importantes seguiram-se ao de Bloch e de


Febvre, como o de Fernand Braudel, que se notabilizou, na década de 1940, por desenvolver um
tipo de História que se mesclava com a Geografia e levava em conta grandes estruturas temporais,
que ele denominou de longa duração. O maior exemplo disso é sua obra “O Mediterrâneo”,
publicada em 1947. Outro exemplo é o do especialista em história medieval Jacques Le Goff, que,
junto a outros historiadores herdeiros dos annales, como Pierre Nora, organizou o que ficou
conhecido como “História Nova”, um tipo de História que alargava ainda mais as possibilidades de
pesquisas abertas pela Escola dos Annales. O movimento dos Annales – ao lado do Materialismo
Histórico e das contribuições da Hermenêutica Historicista – constitui certamente uma das
influências mais impactantes e duradouras sobre a historiografia ocidental. O impacto dos Annales
sobre a historiografia ocidental como um todo, e sobre a historiografia brasileira em particular,
não deixa de ser produzido por uma parte efetiva de contribuições substanciais e extremamente
inovadoras para a historiografia, e também por uma parte não menos significativa de recepção
favorável do “mito” construído pelos primeiros líderes do movimento em sua ascensão ao domínio
do território institucional.
A proposição III é falsa, pois não existe uma corrente historiográfica definida como História das
Multidões ou História das Massas.
(D'ASSUNÇÃO BARROS, 2011).
Gabarito: B

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES


Leia o texto abaixo. A construção do conceito de tempo histórico e abstrato representa o
ponto final da descontextualização dos instrumentos de medição [...]. É necessário que haja
antes todo um trabalho de aprendizagem, caminhando para esse entendimento altamente
generalizado. É preciso que as atividades escolares favoreçam a compreensão da noção de
tempo em suas variadas dimensões, ou seja, o tempo natural cíclico, o tempo biológico, o
tempo psicológico [...].
Disponível em: <http://migre.me/ty4Qg>. Acesso em: 15 abr. 2015. Fragmento.

20. (SEDUC-CE / 2016)


De acordo com esse texto, a importância do tempo no ensino de História é explicada pela
A) construção do calendário.
B) diversidade de durações.
C) ideia de progresso.
D) ordenação cronológica.
E) sequência linear.

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Comentários
A alternativa A é falsa, uma vez que a complexa noção de tempo não se resume ao calendário,
tampouco apenas à explicação da construção histórica dele. Além disso, entre as mais diversas
sociedades que existiram na História humana muitas delas se utilizaram de variadas formas de
medir e contar o tempo, de acordo com ritmos de vida diferentes e costumes de vários grupos
sociais. Portanto, a construção do calendário é demasiadamente redutora para se explicar a
importância do tempo no ensino de História.
A alternativa B está correta, pois é necessário que o estudante tenha em mente que há um tempo
vivido que se relaciona com um tempo social e com um tempo bem mais complexo que é esse
tempo histórico, das estruturas de longa, média ou curta duração, produto das ações e relações
humanas, no qual coexistem as transformações e permanências, além das perspectivas de futuro
que também compõe a noção de tempo.
A alternativa C é falsa, de tal modo que a noção de tempo vai além da ideia de progresso, sendo
que a associação entre tempo e a ideia de progresso ganha força especialmente na era moderna,
quando é suposto que o tempo é: progressivo, pois sempre passa; é irreversível, pois nunca volta;
e é ininterrupto, pois nunca para. Mas, o fato é que esta noção de tempo nem sempre esteve
presente, de tal modo que podemos destacar a noção de tempo cíclico e a ideia de eterno retorno
que se fez presente entre as culturas antigas.
A alternativa D também é falsa, ao passo que a ordenação cronológica é resultado de uma noção
específica de tempo que transfere as noções de sucessão e duração cronológica para uma
perspectiva unificadora e progressista que enquadra o movimento do tempo em um aspecto
historiográfico linear e ordenado. Sendo que há outras noções de tempo que precisão ser
entendidas para além desta, como as de tempo natural cíclico, tempo biológico, tempo
psicológico, etc.
A alternativa E também é falsa, uma vez que a explicação do tempo como uma sequência linear é
fruto da ideia de tempo cronológico que ordena o tempo de forma sequencial, como se fosse um
amontoado de histórias, organizado em períodos e eras. Mas a explicação de tempo deve ir além
desta marcação linear do tempo e identificarem diferentes durações de tempo.
(SCALDAFERR, 2008).
Gabarito: B

21. (SEDUC-CE / 2016)


Com base no texto, sobre o trabalho dos historiadores com as fontes, constata-se que
A) as análises e credibilidade dos documentos dependem essencialmente de seu caráter
estatal e oficial.
B) as fontes históricas devem ser problematizadas, pois expressam intencionalidades.
C) os documentos são fontes fiéis da história e falam por si mesmos.
D) os historiadores devem narrar de forma objetiva e imparcial as informações presentes nos
documentos históricos.

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E) os registros deixados pela humanidade são testemunhos únicos dos fatos e


acontecimentos históricos.
Comentários
As alternativas A e C são falsas pelo mesmo motivo, pois desconsideram a máxima da historiografia
contemporânea, perpetuada pelo historiador Jacques Le Goff (1924-2014), quando diz que todo
documento é monumento, isto é, que tal como um monumento que traz intenções que não se
manifestam imediatamente a um olhar pouco atento, assim também seria um documento, de tal
modo que há um não dito que precisa ser investigado. A questão é que até mesmo os documentos
de caráter oficial não podem ser considerados neutros, julgando-os como fontes fiéis da história.
Na verdade, o que está nas entrelinhas de um documento pode falar muito mais do que aquilo que
aparece de forma evidente.
A alternativa B é a resposta certa, uma vez que é necessário uma metodologia de pesquisa que
compreenda o conhecimento das variáveis nas fontes e a autenticidade da pesquisa, devendo
serem consideradas as condições contextuais de seus produtores e assentar-se na concepção
crítica e dinâmica da linguagem para estabelecer um parecer satisfatório ao oficio do historiador.
Entre esses aspectos, questionamentos significativos por parte dos historiadores, relativos aos
agentes e autores da historiografia, inserem novas discussões sobre as fontes documentais que
devem e podem ser usadas nas pesquisas e ensino.
A alternativa D é falsa, uma vez que a objetividade e a imparcialidade são noções problemáticas na
historiografia, ao passo que o oficio do historiador requer uma reflexão acerca das próprias
perguntas que ele faz para seu objeto de investigação, de tal modo que se faz necessário
esclarecer o viés que está sendo tomado no ato da pesquisa, com a pretensão de se aproximar de
uma leitura pelo menos honesta da História. Mas o fato é que a objetividade e a imparcialidade
são problemáticas porque a narrativa da História não é apenas uma enumeração de dados e fatos,
mas sim uma proposta investigativa que requer do historiador ir além do aparente, mergulhando
na trama que gravita em torno do objeto de pesquisa, fazendo com que ele também seja sujeito da
historiografia, pois toda a História é reescrita no presente.
A alternativa E também é falsa, pois os registros não são as únicas fontes ou tampouco as mais
preciosas da historiografia, de tal modo que muitas metodologias de pesquisa tem renovado o seu
arsenal teórico em busca de uma resignificação das formas de se pensar o passado. Como
exemplo, é possível citar a Historia da Cultura Material, a História Oral, a História dos povos sem
escrita, etc., as quais utilizam muitas vezes de artefatos e memórias como objeto de pesquisa.
(VALLE; ARRIADA; CLARO, 2010).
Gabarito: B

Leia o texto abaixo.


Assim, para os positivistas que estudaram a História, esta assume o caráter de ciência pura: é
formada pelos fatos cronológicos e o que realmente significam em si. São objetivos à medida
que possuem uma verdade única em sua formação (que é o seu sentido e sua única

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possibilidade de compreensão) e não requerem a ação do historiador para serem entendidos:


como já dito, o papel deste é coletá-los e ajeitá-los, constatando, pela análise minuciosa e
liberta de julgamentos pessoais, sua validade ou não. O saber histórico, dessa forma, provém
do que os fatos contêm, e assume um valor tal qual uma lei da Física ou da Química, ciências
exatas.
O Positivismo, Os Annales e a Nova História. Angela Birardi, Gláucia Rodrigues Castelani, Luiz
Fernando B. Belatto. Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html.
Acesso em 11/04/2016.

22. (SEDUC-CE / 2016)


Marque a opção que define, com precisão, o Positivismo em relação aos estudos da História.
A) É uma leitura da História que se baseia na constante luta de classes. Dessa forma, sempre
há uma classe dominante e uma classe dominada, sendo que ambas estão em confronto de
interesses, já que uma explora a outra. Esse embate seria o motor da História, através do qual
se daria o seu progresso e seria a origem das transformações na sua estrutura.
B) Destaca-se por incorporar métodos das Ciências Sociais à História, o que ampliou o quadro
das pesquisas históricas, com a incorporação de atividades até então pouco investigadas,
rompendo assim com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia,
Psicologia, Economia, Geografia) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.
C) É, acima de tudo, a História das Mentalidades. Seus seguidores propõem que se estabeleça
uma história serial das estruturas mentais das sociedades, e cabe ao historiador a análise dos
dados.
D) Acredita que os pesquisadores devem encontrar um fator que determine a verdadeira
História. Ela seria indiscutível e encontrada nos documentos governamentais que, por isso,
nunca estariam errados. De acordo com esse pensamento, apenas as histórias políticas
teriam a importância de serem verificadas.
E) Tem uma proposta de análise histórica que defende uma delimitação extrema do tema por
parte do historiador (inclusive em termos de espacialidade e de temporalidade). Com todo
esse objeto (tema) bem delimitado, a análise se desenvolve a partir de uma exploração
exaustiva das fontes.
Comentários
A alternativa A é falsa, pois a luta de classes é uma concepção dialética proposta pela leitura
marxista da História, que define uma filosofia da história que compreende as ações dos homens no
tempo impulsionadas pelo conflito, a superação e o embate revolucionário das classes,
teleguiando de tal modo a humanidade para um progresso a-histórico. No sentido que a
historiografia marxista no século XIX pensava um progresso que levaria ao fim da História, pois a
superação da luta de classes seria completa, quando não houvesse mais dominante e dominado,
mas uma grande comunidade política.

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A alternativa B também é falsa, de tal maneira que o positivismo se preocupava em disciplinar os


saberes, ordenando as investigações e visando o progresso do conhecimento de forma científica.
As disciplinas acumulariam conhecimento cada uma a seu lugar, pois se acreditava que esta
especificidade promoveria resultados mais precisos. O historiador precisaria se ater às fontes para
iluminar os fatos, como se os documentos tivessem como única intenção o relato dos
acontecimentos. E ali o historiador acessaria o passado de forma neutra, sem imaginações ou
intenções pessoais. Também o sociólogo, de outro lado, era um cientista que analisaria a
sociedade de forma neutra, atendo-se aos dados, estatísticas, enumerações e prognósticos para
formular o seu saber. O fato é que as disciplinas eram vistas como átomos que estabeleciam
relações somente internas.
A alternativa C também é falsa, ao passo que a História das Mentalidades é entendida como o
estudo do conjunto de características intelectuais de uma época, que aparece como uma espécie
de História das Ideias que procura ressaltar certas características intelectuais e psicológicas
relacionadas a uma época a partir das obras de grandes personalidades intelectuais. Sendo que a
História Positivista é essencialmente política.
A alternativa D está correta. O pensamento Positivista do século XIX, fundado com a Filosofia de
Augusto Comte e propagado com Émile Durkheim, na Sociologia e Fustel de Coulanges, na História,
entre outros, contribuíram para fazer do Positivismo um posicionamento poderoso que acreditava
na cientifização do saber. O que se acreditava era que se obtivesse resultados claros, objetivos e
corretos. Os seguidores desse movimento acreditavam num ideal de neutralidade, isto é, na
separação entre o pesquisador/autor e sua obra: esta, em vez de mostrar as opiniões e
julgamentos de seu criador, retrataria de forma neutra e clara uma dada realidade a partir de seus
fatos, mas sem os analisar. Os positivistas acreditavam que o conhecimento se explica por si
mesmo, necessitando apenas seu estudioso recuperá-lo e colocá-lo à mostra. Tão objetiva é a
História para os positivistas que um de seus maiores ensinamentos é a busca incessante de fatos
históricos políticos e sua comprovação empírica. Daí a necessidade, como pregavam, de se utilizar
na pesquisa e análise o máximo de documentos possíveis, principalmente oficiais. Coulanges chega
a afirmar que a "História não é arte, mas uma ciência pura (...) a busca dos fatos é feita pela
observação minuciosa dos textos, da mesma maneira que o químico encontra os seus em
experiências minuciosamente conduzidas".
A alternativa E está incorreta, uma vez que o que está em jogo no pensamento Positivista
vinculado à História nem tanto é a delimitação extrema do tema e nem a exploração exaustiva das
fontes, mas sim a consciência de que o motor e telos da História humana era essencialmente
obtido nas práticas políticas que se estabelecem entre os homens, por isso eram elas que deveriam
ser o objeto de investigação do historiador. O positivismo é um método que funda a História
enquanto disciplina. É verdade que a humanidade sempre contou suas histórias, mesmo antes do
século XIX, saindo da antiguidade clássica de Grécia e Roma até os povos cuja única forma de
relatar suas memórias é a oracular. Mas é o positivismo que estabelece as fronteiras disciplinares
do conhecimento. De tal modo a definir que a história dos homens no tempo era guiada pelas
práticas políticas que estruturam o destino da humanidade, sendo digno, então, apenas o estudo
de Reis e reinados, Príncipes e principados, grandes nomes, grandes homens, grandes feitos,
acontecimentos ditos importantes. Todavia, mesmo que a estejam presentes a delimitação

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extrema do tema e a exploração exaustiva das fontes para se obter a totalidade sobre os fatos e
não deixar nenhuma margem de dúvida no que se refere à sua compreensão, a questão por detrás
da definição de História positivista é que a busca desses fatos deva ser feita por mentes neutras. É
a neutralidade do sujeito para encarar o tema histórico de forma objetica, pois qualquer juízo de
valor na pesquisa e análise altera o sentido e a verdade própria dos fatos, modificando, pois, a
própria História. É a intenção de declarar a ausência do historiador em nome da clarividência
completa dos fatos.
(BARROS, 2010; BIRARDI; CASTELANI; BELATTO [s.d.]).
Gabarito: D

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES


A História dá forma à identidade ao criar as chamadas narrativas-mestras ou discursos-
mestres. Essas narrativas expressam experiências, esperanças e ameaças da unidade e da
diferença. Elas funcionam como um meio de orientação cultural na mudança temporal dos
fazeres humanos.
Jörn Rüsen. Cultura: universalismo, relativismo ou o que mais? In: História & Ensino.
Londrina, v. 18, n.º 2, p. 281-91, jul./dez. 2011, p. 283 (com adaptações).

23. (CESPE/UnB – SEDUC/CE – 2013)


Tendo o texto acima como referência inicial, é correto afirmar que a história, como disciplina,
A) resgata a verdade acerca do passado.
B) inventa a cultura social.
C) constrói o futuro.
D) dá sentido ao passado das sociedades humanas. E determina as identidades dos
indivíduos.
Comentários
A alternativa A é falsa, pois o oficio da História não é a tentativa de capturar o passado tal qual foi,
acreditando poder ter a posse da verdade histórica. O fato é que toda História é feita no presente
e por isso levanta problemas para as fontes que sobreviveram do passado através de inquietações
advindas do próprio presente do historiador. Por isso, a disciplina de História deve esclarecer aos
alunos esta peculiaridade do oficio do historiador, que a ação de refletir sobre as suas próprias
reflexões historiográficas.
A alternativa B também é falsa, uma vez que a História não tem a função de inventar ou criar nada,
por isso as fontes são imprescindíveis, senão corre o risco de cair no foro da literatura. Por outro
lado, há muitas instituições, principalmente políticas, que se valem do estudo da História para
forjar símbolos, apagar ou reviver memórias, postular narrativas específicas sobre um fato, um

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povo, uma nação, etc., com a intenção de criar certa consciência. Mas este não é o papel da
disciplina de História. E se se ocupa disso é para desvelar as intenções.
A alternativa C também é falsa, pois sendo a História o estudo dos homens no tempo, não é
possível que ela construa um futuro. De todo modo, vale dizer que a relação com o futuro existe de
fato no trabalho do historiador, mas como um desafio radical para uma orientação para o futuro,
que reflita sobre a memória e a história.
A alternativa D é a resposta certa, uma vez que a História enquanto disciplina é uma forma
elaborada da narrativa histórico-memorial que vai além dos limites de uma vida individual e visa
planificar o imaginário coletivo. Ela trama as peças do passado rememorado em uma unidade
temporal aberta para o futuro, oferecendo às pessoas uma interpretação da mudança temporal.
Elas creem precisar dessa interpretação para ajustar os movimentos temporais de suas próprias
vidas e se reconhecerem como parte de algo que existia antes do seu nascimento e que continuará
a existir após a sua morte.
(RÜSEN, 2009).
Gabarito: D

24. (CESPE/UnB – SEDUC/CE – 2013)


Ainda com relação ao texto apresentado, e considerando a História como disciplina, assinale
a opção correta.
A) Com relação aos direitos humanos, a narrativa da História permite comprovar um
desrespeito milenar.
B) Sobre o meio ambiente, a narrativa da História mostra a insensibilidade dos antepassados
com relação à sua preservação.
C) Do ponto de vista dos regionalismos, a narrativa da História tem a capacidade de alimentar
os separatismos.
D) Sobre a diversidade étnico-racial, a narrativa da História constitui a possibilidade de
erradicar o racismo no presente.
E) No que se refere às questões de gênero, a narrativa da História deve explicar as origens da
discriminação.
Comentários
As alternativas A e B são falsas pelo mesmo motivo, pois a disciplina de História tem como um de
seus deveres trazer exemplos do passado, mas sem cometer anacronismos. Isso quer dizer que não
se pode determinar que uma época histórica desrespeitasse os direitos humanos ou que era
insensível ao meio ambiente mesmo antes de eles existirem tais discussões. É possível, com
certeza, trazer exemplos de certas práticas de um período anterior, mas é preciso que fique claro
para os estudantes que se tratam apenas de exemplos didáticos, diferenciando bem as datas e os
fatos em jogo, para que não caiam no anacronismo.
A alternativa C está correta, uma vez que a História pode legitimar discursos e práticas que tenham
certa intenção, neste caso, seja para unir ou separar grupos. Haja vista os movimentos políticos

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regionais que se apegam à tradição e selecionam as memórias de um povo para angariar forças
que sejam capazes de embasar certas posturas. Por exemplo, muitos políticos de Minas Gerais
discursam em nome da liberdade, sempre recorrendo à figura de Tiradentes e os inconfidentes; ou
os políticos paulistas que discursam em nome do progresso e do desenvolvimento, sempre
recorrendo aos bandeirantes. Os exemplos podem ser variados e distintos. Mas a questão é que a
História de fato motiva ações políticas e inspira grupos, gerando entre eles um sentimento de
pertencimento a algo muito maior do que a existência de um indivíduo.
A alternativa D também é falsa, de tal modo que por mais que certa narrativa da História possa
mostrar as consequências, as lutas, os movimentos, as barbaridades que envolveram o tema do
racismo no passado, não se pode ignorar que outra narrativa da História possa usar de má-fé um
discurso que legitime o racismo. A questão em jogo é que não se pode encarar a História como
uma ciência que se apoia na neutralidade objetiva, pois das entrelinhas da historiografia emergem
intenções que precisam ser consideradas. Por isso, não há uma narrativa da História que sozinha
consiga erradicar o racismo, necessitando, pois, de outros instrumentos que aliados a uma verdade
ética consigam lidar com tal problema.
A alternativa E também é falsa, de tal modo que não se trata de explicar as origens da
discriminação, até porque esta tarefa de investigação das origens é entendida como um exercício
nulo, pois sempre o historiador acaba tropeçando de forma recursiva na especulação mental, na
abstração da imaginação ou em experimentos metafísicos na tentativa de explicar a gênese de tal
prática.
(FRANZEN, 2015).
Gabarito: C

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1. (Quadrix - 2018 - SEDF - Professor Substituto - História)


O grande medievalista francês Marc Bloch, autor do clássico Apologia da História ou o ofício
do historiador, inaugurou a concepção de “história como problema”, em oposição a uma
historiografia positivista que se apoiava em fatos, datas, grandes nomes e heróis. Com
Lucien Febvre, ele foi um dos criadores da moderna historiografia conhecida como Escola dos
Anais (Annales).
Relativamente às transformações pelas quais passou a produção e a escrita do conhecimento
histórico a partir das primeiras décadas do século XX, julgue o item seguinte.
Uma característica marcante da nova história, na esteira das inovações trazidas pela Escola
dos Anais, foi o radical afastamento da história em relação às demais ciências humanas e
sociais.

2. (UECE-CEV - 2018 - SEDUC-CE - Professor - História)


Considere a seguinte proposição: “Para superar a escola vazia de conhecimentos
significativos, é necessário que os docentes alcancem um domínio complexo daqueles
conteúdos que têm de ensinar, sob pena de se limitarem ao domínio da forma sem
conteúdo”.
CAIMI, Flávia. O que precisa saber um professor de história? História & Ensino, Londrina, v.
21, n. 2, jul./dez. 2015, p.112-3. Disponível em:
http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/histensino/article/ view/23853

O que se espera do professor de história em relação ao domínio complexo do conteúdo é que


ele
A) reconheça todos os componentes do conteúdo, datas, nomes e eventos, para que possa
transpô-los ao aluno de forma que este conheça como foi o passado.
B) promova o conhecimento do conteúdo pelo aluno, no plano abstrato, já que a associação
do conteúdo histórico com a realidade em que vivemos não é possível.
C) conheça o conteúdo em aspectos como a sua historicidade, a natureza dos conceitos nele
presentes e reconheça sua relevância como fundamental para torná-lo significativo para o
aluno.
D) desenvolva a capacidade mnemônica através do estudo da história de forma a conseguir
realizar esta tarefa em seus alunos, tornando-os exímios conhecedores do passado.

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3. (CESPE - 2018 - IPHAN - Técnico I - Área 10)


Como o objeto da história (entendida como um constructo teórico) é o que aconteceu,
abstraído tanto do presente quanto do futuro, então o tempo torna-se um dos elementos
determinantes do conceito de história. Parece-me, no entanto, que nem a relação que o
tempo mantém com outros elementos nem o sentido específico do seu efeito na história
foram identificados até hoje com a clareza desejável, tampouco com a clareza possível.
Georg Simmel. O problema do tempo histórico [1916]. In: Simmel. Ensaios sobre teoria da
história. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011, p. 9 (com adaptações).

Tendo o texto precedente como referência inicial, julgue o item seguinte, relativos à relação
entre tempo e história.
A noção tripartite do tempo histórico desenvolvida em meados do século XX pelo historiador
==0==

francês Fernand Braudel está calcada na distinção entre evento, conjuntura e longa duração.

4. (IFB - 2017 - IFB - Professor - História)


Leia as afirmativas sobre o conceito de História do Tempo Presente.
I) Refere-se ao campo da história que se dedica aos estudos do período após a II Guerra ao
final do século XX.
II) Consiste na produção historiográfica na qual não houve ruptura cronológica entre o tempo
dos acontecimentos e o tempo da escritura de sua história.
III) Identifica-se com os estudos historiográficos da História Contemporânea, que utilizam
como metodologia a história oral.
IV) Campo da história em que o historiador é contemporâneo dos acontecimentos que ele
estuda, não havendo, portanto, o elemento de alteridade próprio dos estudos de períodos
mais afastados.

Assinale a alternativa que apresenta somente afirmativas CORRETAS:


A) I, III e IV
B) II e III
C) I e III
D) I e IV
E) II e IV

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5. (CESPE - 2017 - SEDF - Professor de Educação Básica - História)


Segundo Klaus Bergmann, refletir sobre a História a partir da preocupação da didática da
História significa investigar o que é apreendido no ensino da disciplina (é a tarefa empírica da
didática da História), o que pode ser apreendido (é a tarefa reflexiva) e o que deveria ser
apreendido (é a tarefa normativa). Isso significa dizer que, na discussão da natureza e das
dimensões do saber histórico escolar, é preciso considerar as múltiplas faces desse saber,
desde os planos de prescrição até as representações difundidas a seu respeito e os efeitos da
consciência histórica dentro e fora da escola, sem desprezar os processos objetivos de
apreensão do conhecimento histórico pelos alunos e a construção de conceitos dele
derivados. Os livros didáticos se apresentam como uma das mais importantes formas de
currículo semielaborado, que nasce a partir de distintas visões e recortes acerca da cultura.
Sonia Regina Miranda e Tania Regina de Luca. O livro didático de história hoje: um panorama
a partir do PNLD. In: Revista Brasileira de História. ANPUH, vol. 24, n.º 48, jul.-dez./2004, p.
134 (com adaptações).
Considerando o texto como referência inicial e os aspectos inerentes ao ensino de História,
julgue o item seguinte.
Diferentemente da perspectiva positivista do passado, que resumia as fontes históricas aos
documentos escritos, nos dias atuais podem ser considerados fontes para a História, entre
muitos outros elementos, a imprensa, as mídias digitais, os acervos de museus, além da
linguagem e da oralidade presentes na própria sala de aula.

6. (FGV - 2016 - SME - SP - Professor de Ensino Fundamental II e Médio - História)


“Defendo vigorosamente a opinião de que aquilo que os historiadores investigam é real. O
ponto do qual os historiadores devem partir, por mais longe dele que possam chegar, é a
distinção fundamental, para eles, absolutamente central, entre fato comprovável e ficção,
entre declarações históricas baseadas em evidências sujeitas a evidenciação e aquelas que
não o são. Nas últimas décadas, tornou-se moda (...) negar que a realidade objetiva seja
acessível, uma vez que o que chamamos de 'fatos' apenas existem como uma função de
conceitos e problemas prévios formulados em termos dos mesmos.”
HOBSBAWM, Eric. Sobre história. São Paulo: Companhia da Letras, 1998.

Nesse trecho, o autor


A) alega que a realidade objetiva não é acessível, pois o passado não existe materialmente.
B) afirma que o passado é uma construção mental operada pelo investigador com base em
algumas evidências.
C) defende que a qualidade da operação histórica depende de como os fatos são agrupados,
verificados e interpretados.
D) sustenta que dizer a verdade na história é narrar as diferentes visões sobre o processo
histórico.

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E) critica que seja possível apontar qualquer tipo de tendência para a história com base no
estudo do passado.

7. (IF-TO - 2016 - IF-TO - Professor História)


Leia o texto a seguir:
Não obstante a grande obra de Marx ser a crítica ao modo de produção capitalista, sua
análise não se faz apenas pelo aspecto econômico. Sua teoria considera a economia como
parte da vida social, parte da história que é a produção da existência humana. Falamos,
assim, sobre as classes sociais decorrentes da divisão social do trabalho, falamos da vida de
homens e mulheres que não apenas trabalham. Eles comem, reproduzem-se, vivem em
sociedade, relacionam-se, constroem laços de amizade e de colaboração e de competição,
pertencem a diferentes grupos, têm ideologias, afetos, filiação religiosa etc. E constroem sua
história em espaços-tempos determinados.
Ciavatta, M. Da Educação Politécnica à Educação Integrada: Como se escreve a história da
educação Profissional. Disponível em: < https://www.fe.unicamp.br> Acesso em 20 ago.
2016.
Analise as alternativas a seguir e assinale a que estiver em desconformidade com o
desdobramento do texto:
A) Conforme Comte, a sociedade apresenta duas leis fundamentais: a dinâmica social e a
estática social. De acordo com a lei da estática social, o desenvolvimento só pode ocorrer se a
sociedade se organizar de modo a evitar o caos, a confusão. Uma vez organizada, porém, ela
pode dar saltos qualitativos, e nisso consiste a dinâmica social. Essas duas leis são resumidas
no lema “ordem e progresso”.
B) Diferentemente da história tradicional, que registrou a vida humana dando protagonismo
aos heróis, aos poderosos, aos grandes feitos, Marx eleva todos os atos da vida humana ao
nível do acontecimento.
C) A história é a produção social da existência (MARX, 1979), é sua concepção de história, tão
bem apropriada por alguns historiadores que incorporaram novos temas, novos objetos, os
grandes acontecimentos e os fatos do cotidiano (BURKE, 1991), como a École des Annales.
D) Mesmo sem admitir a influência de Marx em seus estudos, seus historiadores trabalham,
“em primeiro lugar, a substituição de uma história narrativa de acontecimentos por uma
história problema. Em segundo lugar, uma história de todas as atividades humanas e não
apenas história política”.
E) Como desfecho previsível desta ampliação de objetos e de concepção teórica da história,
“em terceiro lugar, visando completar os outros dois objetivos, a colaboração com outras
disciplinas, tais como a geografia, a sociologia, a psicologia, a economia, a linguística, a
antropologia social e tantas outras” (BURKE, 1991).

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8. (IF-TO - 2016 - IF-TO - Professor História)


Em “Apologia da História – ou, O Ofício de Historiador”, o medievalista francês Marc Bloch
apresenta algumas reflexões que são contribuições teórico-metodológicas significativas para
as ciências humanas, em geral, e, em particular, para a história. A respeito das principais
formulações conceituais desenvolvidas pela tendência historiográfica à qual pertencia Bloch,
pode-se citar:
I. História-problema.
II. Materialismo histórico.
III. História de longa duração.
IV. Consciência de classe.

É correto o que se afirma em:


A) I e II.
B) III e IV.
C) II e IV.
D) I e III.
E) II e III.

9. (FUNCAB - 2015 - Faceli - Professor - História)


“Para deixar claro: o objetivo de se traçar a evolução histórica da humanidade não é antever
o que acontecerá no futuro, ainda que o conhecimento e o entendimento históricos sejam
essenciais a todo aquele que deseja basear suas ações e projetos em algo melhor que a
clarividência, a astrologia ou o franco voluntarismo [...]".
HOBSBAWN, Eric. Sobre História , 2011.
De acordo com o texto:
A) a função do historiador confunde-se com o misticismo de adivinhações da antiguidade.
B) a evolução da humanidade é uma linha ascensional previsível através da história.
C) o conhecimento histórico permite projetar uma sociedade futuristicamente igualitária.
D) a história não produz conhecimento com base em previsões futurísticas.
E) tanto as ciências como a astrologia são fundamentais à história.

10. (UFMT - 2015 - IF-MT - Professor - História)


A história de toda a sociedade até agora existente é a história de luta de classes. O homem
livre e o escravo, o patrício e o plebeu, o barão feudal e o servo, o mestre de corporação e o

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oficial, em suma opressores e oprimidos, estiveram em constante antagonismo entre si,


travaram uma luta ininterrupta, umas vezes oculta, aberta outras, que acabou sempre com
uma transformação revolucionária de toda a sociedade ou com o declínio comum das classes
em conflito.
(MARX, K. e ENGELS, F. Manifesto do partido comunista. Lisboa: Avante, 1975.)
Sobre a historiografia marxista, é correto afirmar:
A) Pensou a sociedade de uma perspectiva particularizante, destacou a cooperação entre as
classes sociais e sujeitou o conhecimento histórico aos homens.
B) Pensou a história a partir da objetividade científica, entendendo a neutralidade do
conhecimento científico e sujeitando-a a uma causalidade cronológica.
C) Pensou a sociedade estruturalmente, enfatizando o papel das contradições, priorizando o
estudo dos conflitos sociais, atribuindo às classes sociais o papel de sujeito histórico.
D) Pensou a história como arte, relativizando o conhecimento produzido pelo historiador,
sujeitando o homem à história como uma força exterior a ele.

11. (UFMT - 2015 - IF-MT - Professor - História)


Sobre a História produzida pela “Escola Metódica", também chamada “positivista", analise as
afirmativas.
I - O Historiador não é juiz do passado, deve apenas narrar o que realmente aconteceu.
II - Há intrínseca interdependência entre o sujeito do conhecimento e seu objeto.
III - A História (res gestae) existe em si, objetivamente, e se oferece por meio dos
documentos.
IV - É imprescindível ao historiador a reflexão teórica e filosófica.

Estão corretas as afirmativas


A) II e IV.
B) I e II.
C) III e IV.
D) I e III.

12. (IF-PA - 2015 - IF-PA - Professor - História)


“A destruição do passado – ou melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossa
experiência pessoal às das gerações passadas – é um dos fenômenos mais característicos e
lúgubres do final do século XX. Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de
presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que

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vivem. Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os outros esquecem, tornam-se
mais importantes do que nunca no fim do segundo milênio.”
(HOBSBAWM, E. A Era dos extremos.O breve século XX. 1914-1991. São Paulo: Companhia
das Letras, 1995. p.13).

Com base nas questões suscitadas pelo texto acima é correto afirmar que:
A) Nossos jovens precisam de formação no campo da História
B) Não há políticas públicas para preservação de patrimônios que representem as gerações
passadas e a História.
C) Cabe apenas aos historiadores a arte de lembrar e preservar o passado.
D) A relação entre História e a memória carece do historiador e seu metiér.
E) A memória do passado é um fenômeno em extinção e cabe ao historiador recuperá-la
treinando a juventude.

(CESPE - 2010 - SEDU-ES - Professor B — Ensino Fundamental e Médio — História)


Considerando a evolução sofrida pela escrita da História na contemporaneidade,
especialmente após o surgimento da Escola dos Anais ou Escola Francesa, e pelos novos
parâmetros que norteiam o ensino da História nos dias atuais, julgue os itens que se seguem.

13.
A Nova História elimina a cronologia de suas preocupações e, na prática, repudia as datas
como componente de seu campo de trabalho.

14.
Por se confundir com literatura, a narrativa foi abolida da moderna concepção de História.

15.
A História tradicional costumava valorizar ao extremo a ação individual dos grandes nomes,
os heróis, enfatizando a política protagonizada pelos detentores do poder.

16. (CONSULPLAN - 2010 - Prefeitura de Congonhas - MG - Professor - História)


François Furet orienta pedagogicamente a “história-problema” como percurso para que os
alunos sejam investidos de um novo estatuto epistemológico – aquele de sujeitos ativos de
seus processos de aprendizagem, diferentemente dos percursos tradicionais. Na perspectiva
da “história-problema”, é correto afirmar:

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A) Para que a concepção de “história-problema” seja colocada em prática, é necessário que a


dinâmica de sala de aula também seja centrada na figura do professor, que se encarrega por
sua vez, de expor os conteúdos que, em seguida, devem ser memorizados pelos alunos.
B) Na perspectiva da “história-problema”, o historiador abraça a pretensão de narrar tudo
aquilo que se passou de importante na história da humanidade para que os alunos possam
ter fundamentos históricos para problematizar os fatos, sejam do passado ou do presente.
C) A evolução recente da historiografia mostra que passamos de uma narração cronológica
para uma “históriaproblema” que visa o exame analítico de um problema, delimitando um
período e a parte do conjunto de acontecimentos em que está inserido, para o qual
buscamos respostas, nunca definitivas.
D) A preocupação da “história-problema” está em se comprometer com o desenvolvimento
da noção da temporalidade histórica, para que a História não perca o seu verdadeiro objeto
que é o estudo do tempo.
E) A problematização no processo dinâmico da sala de aula enfrenta obstáculos no processo
de constituição da cidadania, pois essa deve partir de um traço central sugerido pelos
governantes para não despencar para a concepção anárquica.

17. (CONSULPLAN - 2010 - Prefeitura de Congonhas - MG - Professor - História)


“Nada do que é humano será agora alheio ao historiador. Daí a multiplicação de estudos
sobre a cultura, os sentimentos, as ideias, as mentalidades, o imaginário, o cotidiano. E
também sobre instituições e fenômenos sociais, antes considerados de pequena importância,
se não irrelevantes, como o casamento, a família, organizações políticas e profissionais,
igrejas, etnias, a doença, a velhice, a infância, a educação, as festas e rituais, os movimentos
populares."
Assinale a alternativa, que de acordo com o texto de José Murilo de Carvalho, sintetiza as
finalidades do ensino de História:
A) As finalidades do ensino de História apontam para novas possibilidades de organização
curricular (História temática e o ensino por conceitos) e para a valorização do conteúdo e de
visões plurais e críticas da História, considerando a construção da cidadania e dos direitos
humanos.
B) As finalidades do ensino de História têm como referência a própria ciência. A relação entre
o saber científico e a historicidade é comprovada através dos documentos históricos escritos,
principal instrumento de trabalho do historiador.
C) As finalidades do ensino de História se resumem no domínio do conteúdo específico pelo
professor. A valorização do conteúdo é indispensável para a construção das memórias
coletivas e individuais.
D) Baseada em objetivos precisamente propostos pela LDB, a finalidade da História é a de
incorporar novas linguagens e tecnologias no ensino, pois o saber do passado já foi
construído e deve ser apenas repassado com fidelidade.

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E) Baseados na construção de uma memória social, as finalidades da História visam a


recuperação da historicidade do conhecimento numa organização linear e na forma
cronológica de expor os fatos.

18. (IFC - 2010 - IFC-SC - Professor - História)


Assinale a alternativa correta.
A) Historiadores com Eric Hobsbawm, Perry Anderson e Edward Thompson, fazem suas
próprias interpretações do pensamento marxista. Na atualidade esta linha de pesquisa é
denominada de História Cultural.
B) Na segunda geração da Escola dos Analles, surgiu a História Nova, idealizada por Jacques
Le Goff e Pierre Nora.
C) Os trabalhos de Fernand Braudel foram muito influentes e marcaram a terceira geração da
Escola dos Analles.
D) A Escola dos Analles, surgiu na França (1929), através da revista Analles d´histoire
économique et sociale, criada por Marc Bloch e Lucien Febvre.
E) Os historiadores positivistas acreditam que a história deve ser escrita através da estrita
observação dos fatos que permitam revelar a verdade histórica, onde o historiador não poder
ser uma pessoa neutra.

19. (IBFC - 2013 - SEAP-DF - Professor - História)


Um dos nomes mais importantes da Escola dos Annales foi o historiador medievalista francês
Marc Bloch. Sua proposta epistêmica buscou romper com o paradigma positivista em que a
ciência histórica estava apoiada no início do século XX, problematizando a própria noção de
história, que naquele momento definia o passado como um dado rígido, inalterável. Em
Apologia da História, publicado em 1949 por Lucien Febvre ou O Ofício do Historiador (2002),
último texto escrito por Bloch, inacabado por causa da sentença de fuzilado imposta pela
Gestapo em 1944, na cidade francesa de Saint Didier de Formans, por ter participado da
Resistência em Lion contra o nazismo alemão, o referido livro traz grandes contribuições
metodológicas para as ciências humanas, tendo influenciado muitos historiadores como
Braudel, Duby, Le Goff, Ferro, Lepetit, entre outros. Dentre as contribuições conceituais
desenvolvidas pela Escola dos Annales, também chamada posteriormente de História Nova,
destacamos algumas noções desenvolvidas por essa corrente teórica:
I. História de longa duração;
II. História das mentalidades;
III. História das multidões e das massas.

Indique a opção que representa os conceitos desenvolvidos por tal escola teórica:

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A) I e III, apenas.
B) I e II, apenas.
C) II e III, apenas.
D) I, II e III.

TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES


Leia o texto abaixo. A construção do conceito de tempo histórico e abstrato representa o
ponto final da descontextualização dos instrumentos de medição [...]. É necessário que haja
antes todo um trabalho de aprendizagem, caminhando para esse entendimento altamente
generalizado. É preciso que as atividades escolares favoreçam a compreensão da noção de
tempo em suas variadas dimensões, ou seja, o tempo natural cíclico, o tempo biológico, o
tempo psicológico [...].
Disponível em: <http://migre.me/ty4Qg>. Acesso em: 15 abr. 2015. Fragmento.

20. (SEDUC-CE / 2016)


De acordo com esse texto, a importância do tempo no ensino de História é explicada pela
A) construção do calendário.
B) diversidade de durações.
C) ideia de progresso.
D) ordenação cronológica.
E) sequência linear.

21. (SEDUC-CE / 2016)


Com base no texto, sobre o trabalho dos historiadores com as fontes, constata-se que
A) as análises e credibilidade dos documentos dependem essencialmente de seu caráter
estatal e oficial.
B) as fontes históricas devem ser problematizadas, pois expressam intencionalidades.
C) os documentos são fontes fiéis da história e falam por si mesmos.
D) os historiadores devem narrar de forma objetiva e imparcial as informações presentes nos
documentos históricos.
E) os registros deixados pela humanidade são testemunhos únicos dos fatos e
acontecimentos históricos.

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Leia o texto abaixo.


Assim, para os positivistas que estudaram a História, esta assume o caráter de ciência pura: é
formada pelos fatos cronológicos e o que realmente significam em si. São objetivos à medida
que possuem uma verdade única em sua formação (que é o seu sentido e sua única
possibilidade de compreensão) e não requerem a ação do historiador para serem entendidos:
como já dito, o papel deste é coletá-los e ajeitá-los, constatando, pela análise minuciosa e
liberta de julgamentos pessoais, sua validade ou não. O saber histórico, dessa forma, provém
do que os fatos contêm, e assume um valor tal qual uma lei da Física ou da Química, ciências
exatas.
O Positivismo, Os Annales e a Nova História. Angela Birardi, Gláucia Rodrigues Castelani, Luiz
Fernando B. Belatto. Disponível em: http://www.klepsidra.net/klepsidra7/annales.html.
Acesso em 11/04/2016.

22. (SEDUC-CE / 2016)


Marque a opção que define, com precisão, o Positivismo em relação aos estudos da História.
A) É uma leitura da História que se baseia na constante luta de classes. Dessa forma, sempre
há uma classe dominante e uma classe dominada, sendo que ambas estão em confronto de
interesses, já que uma explora a outra. Esse embate seria o motor da História, através do qual
se daria o seu progresso e seria a origem das transformações na sua estrutura.
B) Destaca-se por incorporar métodos das Ciências Sociais à História, o que ampliou o quadro
das pesquisas históricas, com a incorporação de atividades até então pouco investigadas,
rompendo assim com a compartimentação das Ciências Sociais (História, Sociologia,
Psicologia, Economia, Geografia) e privilegiando os métodos pluridisciplinares.
C) É, acima de tudo, a História das Mentalidades. Seus seguidores propõem que se estabeleça
uma história serial das estruturas mentais das sociedades, e cabe ao historiador a análise dos
dados.
D) Acredita que os pesquisadores devem encontrar um fator que determine a verdadeira
História. Ela seria indiscutível e encontrada nos documentos governamentais que, por isso,
nunca estariam errados. De acordo com esse pensamento, apenas as histórias políticas
teriam a importância de serem verificadas.
E) Tem uma proposta de análise histórica que defende uma delimitação extrema do tema por
parte do historiador (inclusive em termos de espacialidade e de temporalidade). Com todo
esse objeto (tema) bem delimitado, a análise se desenvolve a partir de uma exploração
exaustiva das fontes.

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História. 105
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TEXTO PARA AS PRÓXIMAS QUESTÕES


A História dá forma à identidade ao criar as chamadas narrativas-mestras ou discursos-
mestres. Essas narrativas expressam experiências, esperanças e ameaças da unidade e da
diferença. Elas funcionam como um meio de orientação cultural na mudança temporal dos
fazeres humanos.
Jörn Rüsen. Cultura: universalismo, relativismo ou o que mais? In: História & Ensino.
Londrina, v. 18, n.º 2, p. 281-91, jul./dez. 2011, p. 283 (com adaptações).

23. (CESPE/UnB – SEDUC/CE – 2013)


Tendo o texto acima como referência inicial, é correto afirmar que a história, como disciplina,
A) resgata a verdade acerca do passado.
B) inventa a cultura social.
C) constrói o futuro.
D) dá sentido ao passado das sociedades humanas. E determina as identidades dos
indivíduos.

24. (CESPE/UnB – SEDUC/CE – 2013)


Ainda com relação ao texto apresentado, e considerando a História como disciplina, assinale
a opção correta.
A) Com relação aos direitos humanos, a narrativa da História permite comprovar um
desrespeito milenar.
B) Sobre o meio ambiente, a narrativa da História mostra a insensibilidade dos antepassados
com relação à sua preservação.
C) Do ponto de vista dos regionalismos, a narrativa da História tem a capacidade de alimentar
os separatismos.
D) Sobre a diversidade étnico-racial, a narrativa da História constitui a possibilidade de
erradicar o racismo no presente.
E) No que se refere às questões de gênero, a narrativa da História deve explicar as origens da
discriminação.

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1. Alternativa E 9. Alternativa D 17. Alternativa A


2. Alternativa C 10. Alternativa C 18. Alternativa D
3. Alternativa C 11. Alternativa D 19. Alternativa B
4. Alternativa E 12. Alternativa D 20. Alternativa B
5. Alternativa C 13. Alternativa E 21. Alternativa B
6. Alternativa C 14. Alternativa E 22. Alternativa D
7. Alternativa A 15. Alternativa C 23. Alternativa D
8. Alternativa D 16. Alternativa C 24. Alternativa C

14.1. BIBLIOGRAFIA UTILIZADA NO COMENTÁRIOS DAS QUESTÕES

CAIMI, Flávia Eloísa. “O que precisa saber um professor de história?”. História & Ensino, Londrina,
v. 21, n. 2, p.105-124, 5 dez. 2015. Universidade Estadual de Londrina.
http://dx.doi.org/10.5433/2238-3018.2015v21n2p105.

D’ASSUNÇÃO BARROS, José. A Escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento.
In: <http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/953/588>
Acessado em: 13 jun. 2011.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. A Escola Britânica do Marxismo. 2011. Disponível em:


<http://escritasdahistoria.blogspot.com/2011/01/escola-inglesa-do-marxismo.html>. Acesso em:
13 jun. 2019.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Blog Escrita da História. Disponível em:


<http://escritasdahistoria.blogspot.com/>. Acesso em: 13 jun. 2019.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. O Campo da História. 8 ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2011.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História – A Escola dos Annales e a Nova História.
Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História – Acordes Historiográficos. Petrópolis: Editora


Vozes, 2011.

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D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História – Os primeiros paradigmas: Positivismo e


Historicismo. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História - Princípios e Conceitos Fundamentais. 5. ed.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.
DOSSE, François. “História do tempo presente e historiografia”. Revista Tempo e Argumento,
Florianópolis, v. 04, n. 01, p.05-22, 1 jun. 2012. Universidade do Estado de Santa Catarina.
http://dx.doi.org/10.5965/2175180304012012005.
LOWENTHAL, David. Como conhecemos o Passado. In: Revista do programa de estudos pós-
graduados em história e do departamento de história: traduções. São Paulo: Editora PUC/SP,
novembro 1998, pp.63-201.

REIS, Pérola. O tempo para Braudel. 2012. Disponível em:


<http://escoladosruralis.blogspot.com/2011/05/o-tempo-para-braudel.html>. Acesso em: 13 jun.
2019.

SOUZA, Osmar Martins de; DOMINGUES, Analéia. O Materialismo-Histórico: Uma nova leitura da
forma de ser dos homens. 2009. Núcleo de Pesquisa Multidisciplinar. IV Encontro de Produção
Científica e Tecnológica. Disponível em:
<http://www.fecilcam.br/nupem/anais_iv_epct/PDF/ciencias_humanas/10_MARTINS_DOMINGUE
S.pdf>. Acesso em: 13 maio 2019.

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15. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BURKE, Peter. A revolução francesa da historiografia: a Escola dos Annales (1929-1989). São
Paulo: Ed. UNESP, 1992.

D’ASSUNÇÃO BARROS, José. A Escola dos Annales: considerações sobre a História do Movimento.
In: <http://www.periodicos.ufgd.edu.br/index.php/historiaemreflexao/article/view/953/588>
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Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

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Vozes, 2011.

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Historicismo. 4. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.

D'ASSUNÇÃO BARROS, José. Teoria da História - Princípios e Conceitos Fundamentais. 5. ed.


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DE CERTEAU, Michel. A Operação Historiográfica. In: _____________, Michel. A Escrita da História.


Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. 3. ed. São Paulo: Edições Loyola, 1996. 79 p. (Leituras
Filosóficas). Tradução de Laura Fraga de Almeida Sampaio. Aula inaugural no Collège de France,
pronunciada em 2 de dezembro de 1970.

GASPARETTO JUNIOR, Antonio. Micro-História. 2013. Disponível em:


<https://www.infoescola.com/historia/micro-historia/>. Acesso em: 13 jun. 2019.

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KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. 5. ed. São Paulo: Editora Perspectiva. 1998,
259 p.

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REIS, Pérola. O tempo para Braudel. 2012. Disponível em:


<http://escoladosruralis.blogspot.com/2011/05/o-tempo-para-braudel.html>. Acesso em: 13 jun.
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SANTANA, Ana Lucia. Escola de Frankfurt. 2019. Disponível em:


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SOUZA, Osmar Martins de; DOMINGUES, Analéia. O Materialismo-Histórico: Uma nova leitura da
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THOMPSON, Edward Palmer. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas:


UNICAMP, 2001.

VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a história: Foucault revoluciona a história. 4. ed. Brasília:
Editora Universidade de Brasília, 1998, 285 p. Tradução de Alda Baltar e Maria Auxiliadora Kneipp.

15.1. INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS PARA ESTUDO

BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 1996.


BLOCH. Marc. Apologia da História. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BRAUDEL, Fernando. Escritos sobre a História. São Paulo: Perspectiva, 1978.
BURKE, Peter. A Escola dos Annales. São Paulo: UNESP, 1991.
CARDOSO, C. F. e VAINFAS, R. (orgs), Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1986.
DOSSE, François. A História em Migalhas - dos Annales à Nova História. Campinas: Unicamp. 1992.

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FEBVRE, Lucien. Combates pela História. Lisboa: Editora Presença, 1989.


HEGEL. Fenomenologia do Espírito. Petrópolis: Vozes, 2007.
HILL, Christopher. O Mundo de Ponta-Cabeça - idéias radicais durante a Revolução Inglesa de
1640. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
HOBSBAWM, Eric. A Era dos Extremos: o Breve Século XX (1914-1991). São Paulo: Companhia das
Letras: São Paulo, 1994.
HOBSBAWM, Eric. História Social do Jazz. Rio de Janeiro: Paz e Terra, São Paulo, 1990.
HOBSBAWM, Eric. Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
HOBSBAWM, Eric. Tempos Interessantes: Uma vida no século XX. São Paulo: Companhia das
Letras, 2002.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado – contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de
Janeiro: Contraponto, 2006.
NISBET, Robert. História da idéia de Progresso. Brasília: UNB, 1985.
REIS, José Carlos. Nouvelle Histoire e Tempo Histórico. São Paulo: Ática, 1994.
REIS, José Carlos. O surgimento da Escola dos Annales e o seu programa. In.: Escola dos Annales –
a inovação em História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000, p.65-90.
REIS, José Carlos. Tempo, História e Compreensão Narrativa em Paul Ricoeur. Locus, vol.12, n°1,
jan/jul 2006.
ROJAS, Carlos Antônio Aguirre. Os Annales e a Historiografia Francesa – tradições críticas de Marc
Bloch a Michel Foucault. Maringá: UEM, 2000.
THOMPSON, Edward Palmer. A Formação da Classe Trabalhadora Inglesa. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987
THOMPSON, Edward Palmer. A miséria da teoria ou um planetário de erros: uma critica ao
pensamento de Althusser. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
THOMPSON, Edward Palmer. As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Campinas:
UNICAMP,2001.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum. Estudos sobre a cultura popular tradicional.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

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16. CONSIDERAÇÕES FINAIS.


Muito bem, querido concurseiro. Se você chegou até aqui é um bom sinal: o de que tentou
praticar todos os exercícios. Não se esqueça da importância de ler a teoria completa e sempre
consultá-la. Não se esqueça, também, dos seus objetivos e dedique-se com toda a força para
alcançá-los. Sonhe alto, pois “quem sente o impulso de voar, nunca mais se contentará em
rastejar”. Encontro você na nossa próxima aula.
Bons estudos, um grande abraço e foco no sucesso.

Até logo...

Prof. Sérgio Henrique Lima Reis.

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