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Idade Média: Império Árabe

Unidos em nome de Alá

Em apenas 100 anos, o Islã surgiu e deu origem a um império que se expandiu
por três continentes

A civilização árabe surgiu no século VII, na Península Arábica, com tribos de


origem semita. Anteriormente, elas já compartilhavam algumas características,
como a língua, mas foi somente nessa época que obtiveram união política,
conquistada na esteira da pregação do Islã, religião então recém-nascida. Logo,
os árabes fundaram um extenso império, que só se desintegraria no fim da
Idade Média e deixaria forte influência cultural por onde se estendeu.

Antes de Maomé

Inicialmente, o povo árabe (também conhecido como sarraceno) estava dividido


em cerca de 300 tribos rurais e urbanas, chefiadas pelos xeiques. As que
habitavam o deserto – denominadas beduínas – eram nômades e se dedicavam
sobretudo à criação de camelos e ao cultivo de produtos como tâmara e de
trigo. Faziam constantes peregrinações em busca de lugares férteis para
sobreviver, os oásis, e guerreavam entre si. Já aquelas que moravam nos centros
urbanos da faixa costeira do Mar Vermelho se ocupavam principalmente do
comércio, com a organização de caravanas de camelos para o transporte de
produtos. Ao encontrarem melhores condições climáticas e solo mais favorável à
produção agrícola, esses grupos se fixaram e formaram cidades como Meca e
Iatreb – atual Medina.

A religião pré-islâmica era politeísta. Os árabes cultuavam cerca de 300 astros,


representados por ídolos. O maior centro religioso da península era Meca, que
abrigava o templo da Caaba, com todos os ídolos tribais e a pedra negra –
provavelmente um pedaço de meteorito, considerado sagrado. Todos os anos,
milhares de beduínos e comerciantes se dirigiam à cidade para visitar o
santuário, que era administrado pelos coraixitas, tribo de aristocratas que
lucravam com as peregrinações e o comércio realizado na região.

Apesar de compartilharem algumas tradições, as tribos se envolviam


frequentemente em conflitos e guerras, prejudicando o comércio. A unificação
viria com o surgimento e a disseminação de uma nova religião: o Islã.

Nasce o profeta

Em 570, nasce Maomé (Muhammad). Criado em um ramo pobre da tribo


coraixita, tornou-se mercador. Aos 25 anos, ele se casou com uma viúva rica e
conseguiu estabilidade financeira, o que lhe permitiu viajar muito. Nesses
deslocamentos, entrou em contato com cristãos e judeus. Aos 40 anos, começou
a ter visões e a ouvir vozes, que acreditava ser do anjo Gabriel.

Os chamados que Maomé recebia o apontavam como profeta de um deus único


e onipotente, Alá. Dois anos depois, quando já era aceito pela família como
profeta, ele começou a pregar o monoteísmo e a abominação dos ídolos a todas
as tribos de Meca, revelando-lhes a religião islâmica. Seus ensinamentos foram
compilados no Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos, usado por muitos
países como código de moral e justiça.

Ao condenar a tradição politeísta, Mao-mé ganhou muitos inimigos em Meca e


passou a sofrer perseguições. Em 622, ele fugiu para Iatreb – atual Medina
(“cidade do profeta”). O episódio, conhecido como hégira, marca o início do
calendário árabe. Em Medina, Maomé tornou-se líder político, religioso e
militar. Organizou um Exército e deu início a uma guerra – dita santa, a jihad –
para tomar Meca e propagar a nova religião. Em 630, a cidade sagrada foi
tomada; os ídolos da Caaba, destruídos; e os opositores, aniquilados. Ao morrer,
dois anos depois, Maomé havia deixado as tribos árabes politicamente
unificadas sob uma mesma religião.

O Império
Após a morte de Maomé, surgiram disputas sucessórias. Ali, primo do profeta e
casado com uma de suas flhas, considerava que a sucessão deveria ser
hereditária, enquanto os demais líderes defendiam a escolha entre os pares. Os
partidários de Ali fcaram conhecidos como xiitas,
e os demais, sunitas. De forma geral, os xiitas defendem uma interpretação mais
ortodoxa do Alcorão. Já os sunitas, além do Alcorão, valorizam também a Suna,
livro com os ditos e exemplos do profeta, que pode ser considerado a base
moral do islamismo. Os sunitas acabaram prevalecendo nessa disputa,
consolidando o seu poder no mundo muçulmano.

As disputas de poder entre os sucessores colocava em risco a unidade política


construída por Maomé. A ideia da expansão surgiu então como uma forma de
manter a unidade política em torno de um projeto de conquistas territoriais,
saques e propagação do islamismo.
A expansão na direção do Ocidente resultou na conquista de todo o norte da
África e da Península Ibérica. Ela só foi detida em 732, na Batalha de Poitiers,
pelo franco Carlos Martel, prefeito do palácio dos Merovíngios, que impôs uma
barreira cristã ao avanço islâmico na Europa. A leste, as conquistas incorporaram
a região da Mesopotâmia, Pérsia e parte da Índia.

Com os califas da dinastia Abássida (750-1258), o império alcançou sua máxima


extensão. A dinastia foi deposta em 1258, em Bagdá, pelos mongóis, guerreiros
nômades vindos da Ásia. No século XV, os árabes perderam o controle da parte
asiática do império para outra linhagem islâmica, os turcos-otomanos, e
também a Península Ibérica para os cristãos espanhóis (1492), com a queda de
Granada. Vale ressaltar, no entanto, que a decadência das dinastias árabes não
coincidiu com a decadência do islamismo, que compensou as perdas no
Ocidente com vitórias no Oriente. A tomada de Constantinopla dos cristãos em
1453, por exemplo, permitiu à religião manter uma importante área de
influência.

Apesar da desagregação do império, a tradição islâmica desempenhou papel


fundamental. Encravada entre três continentes, essa tradição foi importante
mediadora cultural entre Ásia, África e Europa. Esse fato explica a imensa
riqueza e diversidade da cultura islâmica e a forma pela qual muitas conquistas
tecnológicas e conhecimentos do Oriente – como os algarismos arábicos, o
papel, a bússola, a pólvora, a luneta, a álgebra etc. – chegaram até a Europa no
início da Era Moderna.
Não é justo associar o islã ao terrorismo, diz papa
O papa Francisco disse que não é “verdadeiro e nem justo” associar o Islã à
violência ou ao terrorismo. “Uma coisa é certa, em quase todas as religiões
sempre existe um pequeno grupo fundamentalista. Nós também temos.”

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