LUSÍADAS

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LUSÍADAS

Camões: influências literárias


Fontes literárias
A Ilíada e Odisseia de Homero, e a Eneida de Vigílio são epopeias clássicas da antiguidade clássica
que serviram de inspiração a Camões para escrever a sua epopeia, os Lusíadas. Estas epopeias
clássicas exerceram uma influência estética na epopeia de Camões.

Fontes históricas (serviram de base do conteúdo histórico)


 Crónicas de Fernão Lopes e de Rui Pinha
 História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portuguese de Fernão Lopes de
Castanheda

Camões é um poeta da época renascentista (época em que há um renascimento da cultura clássica


da antiguidade).

A epopeia: natureza da obra/características de uma narrativa épica

Os Lusíadas são uma epopeia (poema épico), uma narrativa épica, com origem na antiguidade
clássica, cuja finalidade é relatar e divulgar o passado épico nacional num estilo
elevado/solene/sublime, evidenciando a grandiosidade dos feitos do povo português, enaltecendo a
sua coragem e até por vezes superiorizando-os a heróis históricos da Antiguidade.

Características gerais de uma epopeia

 Destinado a enaltecer os feitos gloriosos e grandiosos de um herói coletivo (no


caso dos Lusíadas é o povo português)
 Obrigatoriedade da presença do elemento maravilhoso (intervenção de Deuses)
 Narrativa em verso (encavalgamento: versos são lidos continuamente)
 Narração feita “in media res” – estância 19
 Versos decassilábicos
 Tem na sua estrutura interna: Proposição, Invocação e Narração (Camões, na sua
epopeia, vai introduzir a Dedicatória)
 Género narrativo que tem ação, narrador, personagens, espaço e tempo

Epopeia camoniana
Estrutura Interna – Seguindo os modelos da epopeia clássica, Camões dividiu o seu poema épico em
quatro partes:

 Proposição – Poeta apresenta o assunto da obra e se propõe a narrar e enaltecer (cantar)


os feitos gloriosos dos portugueses (poeta apresenta o seu propósito/objetivo).

 Invocação – O poeta invoca as Ninfas do Tejo (Tágides) e pede-lhes inspiração para


escrever a sua epopeia.

 Dedicatória – Camões dedica a sua epopeia ao rei D. Sebastião, tecendo-lhe vários


elogios pelo seu espírito guerreiro e empreendedor.

 Narração – Parte central e mais extensa em que o poeta narra a viagem da armada
portuguesa comandada por Vasco da Gama por mar desde Lisboa até à Índia. Encaixada
nesta narrativa principal tem-se a História de Portugal.
A Narração inicia-se in media res, ou seja, a narração inicia-se a meio da ação quando a armada
portuguesa já se encontrava em pleno oceano Índico.
O povo português é representado por uma identidade individual, Vasco da Gama.

Estrutura externa
 Poema dividido em 10 cantos
 Cada canto tem um número variável de estrofes/estâncias
 1102 estâncias todas em oitavas (cada estância com 8 versos)
 Versos decassilábicos (10 sílabas métricas)
 Todos os versos têm o esquema rimático abababcc (rima cruzada e rima emparelhada

Planos Narrativos (articulam-se entre si)

 Plano da Viagem – Narrativa principal da viagem de Vasco da Gama na descoberta da Índia.

 Plano da História de Portugal – Narração secundária encaixada na principal (viagem da


armada portuguesa) em que são relatados acontecimentos da História de Portugal.
 Plano Mitológico/Maravilhoso – Plano paralelo ao Plano da viagem em que há intervenção
de Deuses.

 Plano do Poeta – Reflexões, críticas, exortações e lamentações feitas pelo poeta, geralmente
no final dos cantos.
Ação: épica, com grandeza e solenidade, de modo a expressar o heroísmo. Camões adota um
estilo sublimado e grandioso de modo a estar à altura do estilo épico e que emocione os leitores.

 Ação principal: Descobrimentos/ viagem marítima para a Índia


 Em articulação com essa ação, surge o Plano da Mitologia
 Narração de outros feitos históricos levados a cabo pelos portugueses

PROPOSIÇÃO – canto I est. 1-3

1ª parte – 2 primeiras estâncias: O poeta anuncia o propósito da sua


epopeia e enumera os portugueses que são dignos de serem louvados
(Camões pretende glorificar os atos heroicos dos portugueses dignos
de louvor).
O poeta pretende cantar/louvar/enaltecer:

 Os guerreiros e homens ilustres que exploraram o mundo


desconhecido, enfrentando mares nunca navegados, que
enfrentaram perigos e duras guerras, e que construíram um novo
Império no Oriente.

 As memórias gloriosas dos reis que expandiram o Império


português e espalharam a fé cristã.

 Aqueles que, pelos seus feitos gloriosos, permanecerão sempre


na memória nacional (aqueles que se tornaram imortais na
memória dos portugueses) – “E aqueles que por obras valerosas/
Se vão da lei da Morte libertando”.

2ª parte – 3ª estância: Através do uso do modo conjuntivo do verbo cessar (“cessem”, “cesse”, “cale-
se”) com valor imperativo, o poeta pede que esqueçamos:
 Os grandes feitos dos heróis da Antiguidade Clássica, marítimos (grandes navegações dos heróis da
Odisseia, Ulisses, e da Eneida, Eneias) e guerreiros (a fama das conquistas de Alexandro e Trajano) –
Faz-se referência ao “Sábio Grego”, Eneias, e ao “Troiano”, Ulisses, pois Camões faz um apelo aos
leitores que esqueçam os grandes feitos destas personagens, ou seja, das suas grandes navegações,
pois agora temos os lusos que são superiores.

 A Musa Antiga (as epopeias clássicas/poesia clássica da Antiguidade) - tudo o que foi escrito na
antiguidade deveria ser esquecido.

Esqueçam, pois agora o poeta vai louvar os portugueses e os seus feitos gloriosos – “Que eu canto o
peito ilustre Lusitano”.
O poeta enaltece o valor dos portugueses pois considera que os seus feitos são superiores a todos os
outros cantados na Antiguidade.

 “Que eu canto o peito ilustre Lusitano/ A quem Neptuno e Marte obedeceram”


Camões supervaloriza a heroicidade dos lusos, colocando-os num patamar superior aos dos
deuses (demonstra uma superioridade dos lusos em relação a Marte, deus da guerra, e
Neptuno, deus do mar).

 O assunto da Proposição contribui para o engrandecimento do herói coletivo pois Camões


superioriza os lusos em relação aos heróis greco-latinos e em relação aos próprios deuses,
divinizando-os.

 O propósito do poeta é enunciado no verso “Que eu canto o peito ilustre Lusitano”.

 Hipérbole: “Mais do que prometia a força humana” (est.1 v6) – sublinha a grandeza do povo
português, que superou a sua natureza humana. “Cantando espalharei por toda a parte” (est.2
v7) – destaca a vontade do poeta em dar a conhecer a todo o mundo a grandeza dos feitos
dos portugueses.

 Metonímia: “tudo o que a Musa antiga canta” (est. 3 v7) – Musa antiga refere-se à poesia
épica da Antiguidade, cujos heróis cantados são de valor inferior aos dos lusos.

 Complemento do nome: “E também as memórias gloriosas/ Daqueles Reis”.

 Oração subordinada adverbial causal: “Cesse tudo que a Musa antiga canta/ Que outro valor
mais alto se alevanta”.
INVOCAÇÃO – Canto I, est. 4-5
Camões dirige-se às ninfas do Tejo e pede inspiração
para escrever a sua narração épica com um estilo
grandioso e sublime/elevado que a mesma requer, de
forma a conseguir glorificar os feitos heroicos dos
portugueses, (para cantar os feitos heroicos dos
portugueses). (pede que lhe concedam um novo estilo,
diferente do verso humilde, um estilo sublime e
grandioso de modo a estar à altura ao estilo épico).

No canto III, o poeta volta a fazer uma invocação a Calíope (musa da poesia épica).

“Tágides minhas” - Intimidade


Pedidos do poeta:
 Dai-me um som alto e sublime
 Um estilo grandioso
 Dai-me fúria grande e sonorosa
(uso de dupla adjetivação)

Camões é o emissor e as Tágides o recetor.


O poeta refere-se à poesia lírica e à poesia épica:

 Poesia épica – “engenho ardente”; “som alto e sublimado; “estilo grandíloco e corrente”;
“ua fúria grande e sonorosa”; “de tuba canora e belicosa”.

 Poesia lírica – “verso humilde”; “agreste avena ou frauta ruda”.

O poeta já teria feito um pedido anteriormente (inspiração para a sua poesia lírica)
“Se sempre em verso humilde celebrado/ Foi de mi vosso rio alegremente”

Anáfora: O imperativo “Dai-me” sugere a urgência que o poeta sente de uma inspiração para
escrever a sua narração épica.
Antítese: “frauta” – som delicado (refere-se à poesia lírica) e “tuba” – som grave (refere-se à
poesia épica).

Perífrase: “que a Marte tanto ajuda”.

Apóstrofe: “E vós, Tágides minhas” (vocativo-função sintática).

Tratando-se de um pedido, na Invocação predomina o vocativo e formas verbais no modo


imperativo.

DEDICATÓRIA – CANTO I, Est. 6-18


1ª parte – est. 6-8: Poeta faz um discurso elogioso dirigido ao rei recorrendo ao uso repetido da
apóstrofe “vós” (anáfora e vocativo). Elogios ao rei:
Est. 6
 “Ó bem nascida segurança”
 Declara que este é o que garante a independência do reino português.
 Rei expandiu o Império e a fé cristã.
 “ó novo temor da Maura lança (mouros), / Maravilha fatal da nossa idade”.

Est.7
 “tenro e novo ramo florescente/ De ua árvore de Cristo mais amada” (jovem).

Est. 8
 “poderoso Rei” (tem um vasto Império).
 “jugo e vitupério”

2ª parte – est. 9-11: O poeta pede ao rei que se digne ler a sua epopeia, na qual encontrará a
grandeza dos feitos dos lusos e os seus atos heróicos, e poderá concluir que é melhor ser rei deste
povo pequeno do que do mundo inteiro.
Após o elogio, o poeta inicia vários pedidos recorrendo a formas verbais no modo imperativo:
 “Inclinai” e “Ponde no chão: vereis um novo exemplo/ De amor dos pátrios feitos
valerosos,/ Em versos divulgando numerosos” – pede que o rei olhe para a sua epopeia,
pois nela verá registados os feitos do povo português. EST.9

 “vereis” amor da pátria gloriosa; “ouvi: vereis o nome engrandecido/ Daqueles de quem
sois senhor supermo” elogia os lusos e o rei; “E julgareis qual é mais excelente, Se ser do
mundo Rei, se de tal gente” afirma que o rei se pode considerar mais feliz por ser rei de
Portugal do que de todo o mundo.

 “Ouvi, que não vereis com vãs façanhas”. Poeta afirma que o rei não vai ouvir falar de
façanhas/feitos fictícias - epopeias ficcionadas (vãs, fantásticas, fingidas e mentirosas),
mas sim das verdadeiras, as façanhas portuguesas. As façanhas e os heróis louvados na
sua obra são verídicos e, por isso, de maior valor, ao invés dos louvados em poemas
épicos anteriores, que são fictícios.
3ª parte – est. 12-14: A cada herói da Antiguidade, Camões contrapõe um ou mais heróis
portugueses.
Confirma as afirmações proferidas através de exemplos concretos de heróis. Dá Gama (herói real)
em vez de Eneias (herói fictício). Contrasta cada herói da Antiguidade com um herói português.
Est. 12-13.
Refere-se à coragem dos heróis dos Descobrimentos que se destacaram no Oriente.
“por quem sempre o Tejo chora” – hipérbole, sinédoque (refere-se a Portugal como um todo) e
personificação.
v.8 est.14 – tornaram-se imortais na memória dos portugueses.

4ª parte – est. 15-17: Novos elogios ao rei: est. 15 – rei sublime que será tema de um outro canto.
Camões apela ao rei para continuar as conquistas em África e no mar Oriente e ainda a guerra
contra os mouros “Mouro frio” e “bárbaro Gentio” – sinédoque (refere-se aos inimigos). Est. 16
Poeta prevê os antepassados do rei se orgulharem por ver as suas “obras valerosas”.

5ª parte – est. 18: Poeta pede novamente ao rei que aceite e valorize a sua epopeia, que reconheça
o valor dos lusos e, finalmente, explicita que o próprio rei será matéria de conto épico.

A Dedicatória é uma parte facultativa da estrutura da epopeia (não obrigatória).


Na Dedicatória, Camões demonstra a sua vontade de ser reconhecido pela obra realizada na sua
pátria, cujo valor enaltece.
Atitude de Camões perante ao rei: louvor e respeito.
Dedicatória é interrompida pela Narração (a continuação da Dedicatória vai concluir os Lusíadas).

Na Proposição afirma-se que os feitos dos portugueses são superiores aos dos heróis da
Antiguidade. Também na Dedicatória se declara que as façanhas (feitos) dos portugueses superam
as antigas, que eram fabulosas e fictícias.

O imperativo e o vocativo são marcas da função apelativa da linguagem, sendo usados para
chamar a atenção do rei para a obra e os heróis retratados.

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