Descent Ra Liza Cao
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Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
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Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Abreviaturas
ANAFRE – Associação Nacional de Freguesias
ANMP – Associação Nacional de Municípios Portugueses
CECA – Comunidade Europeia do Carvão e do Aço
CCDR – Comunidades de Coordenação e Desenvolvimento Regional
CCR – Comissão e Coordenação Regional
CEE – Comunidade Económica Europeia
CIM – Comunidades Intermunicipais
CRP – Constituição da República Portuguesa
FAM – Fundo de Apoio Municipal
FEDER – Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional
FSM – Fundo Social Municipal
GAT – Gabinete de Apoio Técnico
LCRA – Lei de Criação das Regiões Administrativas
LQAR – Lei-Quadro das Regiões Administrativas
NUTS – Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos
OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
PCP – Partido Comunista Português
PEV – Partido Ecologista “Os Verdes”
POCAL – Plano Oficial de Contabilidade das Autarquias Locais
PS – Partido Socialista
QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional
SCI – Sistema de Controlo Interno
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Novos Caminhos, Novas Realidades
Resumo
A organização territorial da Administração Pública tem estado, ao longo dos tempos, em
debate, sem, contudo, reunir consensos e muito menos conclusões. Nos últimos tempos
tem, no entanto, havido novos movimentos descentralizadores muito em razão
necessidade da reforma do Estado e da tentativa de diminuição de despesa, assumindo
a Descentralização uma prioridade governativa do Governo.
Com efeito, a Descentralização, consagrada constitucionalmente, é defendida por
alguns Autores como uma necessidade do Estado de Direito Democrático e de defesa da
liberdade local, e desconsiderada por outros Autores. Apesar de serem variados os
incentivos, os receios são também muitos, e o caminho nem sempre se revela claro.
Diga-se que mesmo entre os seus defensores as opiniões quanto à sua concretização
são diversas e divergindo quanto às melhores formas de concretizar a Descentralização.
Efetivamente, e apesar das hesitações, uma coisa é certa, a Constituição da República
Portuguesa consagra Portugal como um país unitário devendo na sua organização
respeitar a Descentralização Democrática da Administração Pública, reconhecendo a
Autonomia do Poder Local e consagrando os interesses próprios das comunidades locais
e regionais. Aliás, é um imperativo constitucional a afirmação da existência não só de
Autarquias Locais ao nível das freguesias e municípios, mas ainda a existência de um
nível intermédio na organização territorial da Administração Pública assegurado através
da criação das Regiões Administrativas, cujos órgãos seriam diretamente eleitos pela
população das comunidades regionais, assegurando, desse modo, o Direito de
Participação Democrática das comunidades nos assuntos que lhes dizem diretamente
respeito.
Porém, até ao momento não foram criadas as Regiões Administrativas, justamente, uma
instância intermédia na organização territorial da Administração Pública e que
colmatariam uma situação de ausência de uma instância que permitiria articular a
Administração Central e a Administração Local permitindo uma mais adequada atuação
desta e um melhor acompanhamento daquela, sendo as medidas até agora instituídas
incipientes face à necessidade efetiva de Descentralização e de concretização dos
ditames constitucionais.
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Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Abstract
The territorial organization of public administration has been over time on discussion
however, build consensus and much less conclusions. In the last times, however, been
new decentralized movements much because need for reform of the state and attempt
to decrease spending, assuming Decentralization a governing priority of the
Government.
Current, the decentralization enshrined constitutionally is advocated by some authors
as a necessity of the state of democratic law and defense of local freedom, and
disregarded by other authors. Although they are different incentives, fears are also
many, and the path is not always reveal clear.
Tell yourself that even among his supporters and the opinions of its implementation are
diverse and diverging as to the best ways of implementing the Decentralization.
Actually, while the hesitations, one thing is certain, the Portuguese Constitution
consecrates Portugal as a unitary country should in your organization respect the
Democratic Decentralization of Public Administration, recognizing the Local
Government Autonomy and consecrating the personal interests of local communities
and regional. By the way, it is a constitutional imperative affirmation of the existence
not only of Local Authorities at the level of parishes and municipalities, but also the
existence of an intermediate level in the territorial organization of public administration
ensured through the creation of administrative regions, whose organs would be directly
elected by the population of regional communities, there by ensuring the Right to
Democratic community participation in matters that concern them directly about it.
However, so far they have not created the Administrative Regions precisely an
intermediate instance in the territorial organization of public administration and
culminated a situation of absence of an instance that would link the Central
Administration and Local Administration allowing a better performance of this and
better monitoring of that, with the measures imposed so far incipient due to the
effective need for decentralization and the implementation of constitutional principles.
6
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Índice
1. Introdução ...................................................................................................................... 10
2. Contexto Histórico .......................................................................................................... 12
2.1 O Poder Local em Portugal. Os Municípios ......................................................... 12
2.3 Da 1.ª República e o Estado Novo ....................................................................... 18
3. Regionalização na União Europeia ................................................................................. 26
3.1 Alemanha ............................................................................................................ 26
3.2 Bélgica ................................................................................................................. 27
3.3 Espanha ............................................................................................................... 29
3.4 Itália ..................................................................................................................... 30
3.5 França .................................................................................................................. 31
3.6 Países Baixos........................................................................................................ 32
3.7 Reino Unido ......................................................................................................... 33
3.8 País de Gales........................................................................................................ 34
3.9 Escócia ................................................................................................................. 34
3.10 Irlanda ................................................................................................................. 35
3.11 Grécia .................................................................................................................. 35
3.12 Dinamarca ........................................................................................................... 36
3.13 Suécia ..................................................................................................................... 37
4. A Descentralização na Constituição da República Portuguesa ...................................... 39
4.1 A consagração Constitucional do Princípio da Descentralização ........................ 40
4.2 O Poder Local na Constituição da República Portuguesa.................................... 41
4.3 As Regiões Administrativas na Constituição da República Portuguesa .............. 43
5. Descentralização ............................................................................................................ 45
5.1 Descentralização. Notas introdutórias ................................................................ 45
5.2 Descentralização e Centralização ........................................................................ 49
5.3 A Terceira via de Charles Eisenmann .................................................................. 50
5.4 Descentralização Política e Descentralização Administrativa ............................. 51
5.5 Descentralização e Desconcentração.................................................................. 52
5.6 Descentralização Administrativa. A Descentralização Territorial ....................... 56
5.7 A Descentralização Territorial e a Descentralização Funcional........................... 61
5.8 Vantagens da Descentralização........................................................................... 63
5.9 Desvantagens da Descentralização ..................................................................... 67
5.10 Limites da Descentralização ................................................................................ 68
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1. Introdução
A Descentralização enquanto modelo de organização do território pode ser concretizada
de várias formas.
Em Portugal, e, apesar de a Descentralização estar constitucionalmente consagrada a
verdade é que não tem sido consensual a formalização da mesma. Com efeito, não só
se está muito aquém do nível de Descentralização da União Europeia modelo que
tendemos a seguir e que nos apresenta o modo de organização que tentamos obter
como de resto, se encontra por cumprir os objetivos constitucionais quanto à
Descentralização Administrativa. Porém, ao propormo-nos a analisar a temática verifica-
se que obtemos algumas questões que necessitam de resposta, alguns pontos que
merecem reflexão. Desde logo, importa analisar se fará sentido descentralizar perante
um país com as dimensões que Portugal apresenta. Ou sequer, se é tão necessário o
apelo às Regiões Administrativas. Se de facto, a transferência de competências da
Administração Central para os Municípios a que se tem assistido constitui uma forma
adequada e suficiente para concretizar a Descentralização. Por outro lado, essa
atribuição de competências aos Municípios tem sido realizada ao abrigo das premissas
da lei, e, ainda, através de contratualização com os Municípios. Assim, a temática suscita
algumas questões que apesar de serem objeto variadas vezes do debate político não
tem havido um plano a ser concretizado.
De facto, no panorama nacional constata-se que a intenção de descentralizar é antiga e
o projeto de criação das Regiões Administrativas encontra-se consagrado na
Constituição da República Portuguesa; no entanto, na prática apesar do reforço dos
poderes dos municípios, é certo, porém, que não tem havido uma atribuição de
autonomia financeira que permita fazer de Poder Local uma realidade consistente e que
acompanhe a tendência de descentralização. Também, ao nível da delegação de
poderes se tem conseguido atribuir mais força ao poder municipal sendo uma forma de
delegar tais competências que pertencem à Administração Central para o domínio dos
Municípios.
10
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Apesar de tudo, parece que não há uma verdadeira articulação entre a Administração
Central e a Administração Autónoma, simultaneamente, também a participação das
comunidades nos assuntos que lhes dizem respeito insurge-se como uma necessidade
que não tem tido resposta. Com efeito, releva concretizar a Descentralização, contudo,
em Portugal, de acordo com dados da OCDE, a despesa da Administração Local no total
da Administração Pública em 2011 era dez pontos percentuais inferior à média da União
Europeia, estando aquém dos objetivos traçados e das intenções constitucionais e
legais.
11
Descentralização Administrativa
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2. Contexto Histórico
2.1 O Poder Local em Portugal. Os Municípios
A origem dos Municípios é anterior ao Estado tendo surgido como realidade autónoma
e independente do Estado1, representando uma comunidade política que remonta a
uma fase anterior à formação estatal, antecedendo mesmo à fundação da nossa
Nacionalidade. Certos Autores os Municípios têm a sua origem na dominação romana2.
Contudo, os municípios, como hoje os conhecemos, remontam às comunas da Idade
Média e são produto da reconquista do território, sendo esta a teoria relativa à origem
dos Municípios enquanto realidade que conhecemos que mais adeptos tem
apresentado. O estabelecimento de concelhos, naquela época, era incentivado pelo rei
e por membros da nobreza e do clero, como forma de ocupar o território. De facto, a
população existente não era suficiente para explorar e fortificar o território conquistado
aos muçulmanos, sendo por isso concedidas regalias aos cruzados estrangeiros que
queriam fixar-se no território português.
No entanto, é a similitude existente entre os Municípios do Império Romano e os
Municípios da Idade Média que permite questionar se não se verifica alguma ligação
entre estas realidades ou mesmo um antecedente histórico.
Assim, a explicação pode ser encontrada no facto de as mesmas necessidades terem
originado soluções semelhantes; isto porque em alguns locais podem ter perdurado
vestígios de formas de organização municipais que foram mais tarde adotadas; e, por
outro lado, o clero mantinha o conhecimento acerca das formas de organização
municipal do Império Romano3.
De acordo com o entendimento de que para explicar o surgimento dos Municípios é
necessário recuar ao Império Romano, então, os Municípios regiam-se pelas leis
romanas e seguiam as diretrizes dos seus cidadãos que se reuniam e deliberavam em
1
CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins, e outros; Regionalização e Poder Local em Portugal; Instituto dos Estudos
para o Desenvolvimento;1982; Lisboa; pág. 28.
2
NICO, Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013; pág. 18.
3
CAETANO, Marcello; História do Direito Português; volume I; Lisboa; 1981; pág. 221.
12
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4
FERREIRA, Fausto; A Regionalização como Estratégia de Desenvolvimento; Lusíada; Porto; n.ºs 1 e 2; 2003; pág. 53.
5
AMARAL, Diogo Freitas do – Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 541.
6
CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins, e outros; “Regionalização e Poder Local em Portugal”; Instituto dos
Estudos para o Desenvolvimento;1982; Lisboa; pág. 32.
13
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Novos Caminhos, Novas Realidades
7
NICO, Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
14
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8
CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins, e outros - “Regionalização e Poder Local em Portugal”; Instituto dos
Estudos para o Desenvolvimento;1982; Lisboa; pág. 38.
9
NICO, Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
15
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
pelo Decreto n.º 23, de 16 de maio de 1832, que era o titular da autoridade municipal.
Verificou-se, por isso, uma uniformização da administração local baseada na
centralização do sistema. É assim que as divisões territoriais passam a ter conteúdo
administrativo efetivo.
Em 1934, após a vitória das forças liberais, as Cortes ocuparam-se da substituição deste
Decreto, através da Lei de 25 de abril de 1835 e do Código de Passos Manuel, de 1836,
note-se que se tinha registado grande revolta popular com a criação de tal regime.
A Lei, regulamentada pelo Decreto de 18 de julho de 1835, estabelece, no artigo 1.º “Os
Reinos de Portugal e Algarves e as Ilhas Adjacentes são divididos em Distritos
Administrativos. Os Distritos dividem-se em Concelhos e os Concelhos compõem-se de
uma ou mais Freguesias”.
É então que surge o Distrito, uma nova autarquia, que se implementa como forma de
impor a política centralizadora. Assim, a partir de 1835 o país é dividido em oito
províncias, dentro das quais surgem 17 distritos: Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila
Real, Bragança, Aveiro, Coimbra, Lamego, Guarda, Castelo Branco, Leiria, Santarém,
Lisboa, Portalegre, Évora, Beja e Faro. Mais tarde, em 1926, será criado o Distrito de
Setúbal.
Assim, em 1832 havia acima do Município a Província e a Comarca. Depois em 1835
surgiu o Distrito que se encontrava num plano intermédio entre as Comarcas e a
Província.
O Distrito sofreu alterações ao longo dos tempos. Assim, entre 1835 e 1888 e entre 1892
e 1913 era uma circunscrição administrativa governada pelo Governador Civil, já entre
1888 e 1892 era considerado uma autarquia local.
A Província surgiu da junção dos concelhos com características comuns, e faziam parte
da circunscrição militar no período liberal não tendo, contudo, qualquer papel na
administração militar. Acabam por ser extintos em 1835 e voltando a tentar reerguer-
se esta realidade em 1886.
Com o Código de 1836, dá-se também uma redução significativa no número de
Concelhos que passam de 796, só no continente, para apenas 351 em todo o reino. O
governo fazia-se representar por magistrados administrativos no âmbito de cada
16
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10
FERREIRA, Fausto; A Regionalização como Estratégia de Desenvolvimento; Lusíada; Porto; n.ºs 1 e 2 ; 2003; pág. 55.
11
NICO, Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
12
NICO, Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
17
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Com efeito, houve durante esta fase uma tendência para se variar entre situações
descentralizadoras e situações centralizadoras, tendo-se, no entanto, tentado submeter
o poder local ao poder central de Lisboa13.
Com efeito, verificou-se um “movimento pendular” entre Centralização e
Descentralização14.
13
FERREIRA, Fausto; A Regionalização como Estratégia de Desenvolvimento; Lusíada; Porto; n.ºs 1 e 2; 2003; pág. 55.
14
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 28.
15
NICO Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013; pág. 21.
16
CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins, e outros; Regionalização e Poder Local em Portugal; Instituto dos
Estudos para o Desenvolvimento;1982; Lisboa; pág. 41.
18
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17
NICO Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
19
Descentralização Administrativa
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Assim, o Estado Novo foi um regime ditatorial, que reforçou a centralização do poder
político. Efetivamente, o poder tutelar do governo traduzia-se na possibilidade de
dissolução dos órgãos das Autarquias Locais, e, na obrigatoriedade de aprovação de
certas deliberações municipais18.
Foi neste contexto jurídico e histórico do municipalismo português, de forte centralismo
político, onde se verificava uma clara predominância do centro sobre a periferia, que se
deu a revolução de 25 de Abril de 1974 e com ela o surgimento do poder local
democrático.
Com a instauração do regime democrático houve uma alteração da situação do poder
político e uma nova abordagem ao papel dos municípios. A Constituição da República,
promulgada pelo general Costa Gomes a 2 de abril de 1976, dedica o Título VIII ao Poder
Local. Esta Constituição demonstra uma rutura com o corporativismo, fomentando o
princípio da descentralização e da autonomia municipal. Efetivamente, com esta
Constituição são institucionalizados três níveis de poder político, juridicamente distintos
e autónomos: o Estado, as regiões Autónomas e o Poder Local. Verifica-se uma clara
rutura com a Ditadura e a adoção de um sistema de repartição do exercício do poder
por diferentes instituições políticas, instituindo as Regiões Autónomas e o Poder Local
como níveis políticos de contenção do poder centralizador do Estado. Neste sentido,
retoma-se a tradição secular de articulação entre o poder central e um poder local
igualmente forte, sem estruturas intermédias de igual robustez (à exceção da realidade
específica das regiões autónomas)19.
18
FERREIRA, Fausto; A Regionalização como Estratégia de Desenvolvimento; Lusíada; Porto; n.ºs 1 e 2 ; 2003; pág. 57.
19
NICO Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
20
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20
CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins, e outros; Regionalização e Poder Local em Portugal; Instituto dos
Estudos para o Desenvolvimento;1982; Lisboa; pág. 47.
21
CAETANO, Miguel; BARATA, J.P. Martins, e outros; Regionalização e Poder Local em Portugal; Instituto dos Estudos
para o Desenvolvimento;1982; Lisboa; pág. 59.
21
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Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
No entanto, tal sistema não se tornou viável tendo em conta que a principal
competência do Ministério da Administração Interna a “superintendência dos órgãos
regionais que localmente e em cooperação com a orgânica central de planeamento têm
a responsabilidade das tarefas e ações de fomento económico”, daí que, as Comissões
Regionais de Planeamento tenham sido transferidas para a tutela do Ministério da
Administração Interna através do Decreto-Lei n.º 524/1974, de 08 de outubro de 1974.
Com efeito, o 25 de abril de 1974 permitiu a implementação de um movimento
descentralizador de competências da Administração Central para os municípios.
Esta situação resultou por um lado da inexistência de regiões administrativas, e por
outro a adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia (CEE), uma vez que os
municípios se transformaram numa das principais origens dos projetos elegíveis para
serem financiados por fundos comunitários, em particular pelo Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional (FEDER).
No entanto, verificou-se que os Municípios não reuniam os meios técnicos
especializados necessários para colocarem em prática as novas atribuições.
Para colmatar esta situação foram criados os Gabinetes de Apoio Técnico (GAT), através
do Decreto-Lei 58/79 de 30 de março. Estes gabinetes, dependentes das Comissões de
Coordenação Regional, tinham como função a disponibilização ou prestação de apoio
técnico especializado e a formação dos quadros técnicos dos municípios da sua área de
atuação, sendo esta constituída sempre por mais do que um município.
A criação dos Gabinetes de Apoio Técnico, contribuiu para o desenvolvimento do
associativismo municipal, funcionando como um instrumento de apoio comum a vários
municípios, conseguindo estabelecer uma cultura de associação e cooperação para
reagir a diversas situações que eram muitas vezes comuns entre os vários municípios. O
estabelecimento destes Gabinetes de Apoio Técnico permitiu aos Municípios
entenderem que o seu desenvolvimento económico, social e cultural exigia que não
atuassem sozinhos, o que potenciou por parte dos municípios, o desenvolvimento
económico, social e cultural de cada concelho percebendo que este desenvolvimento
económico, social e cultural não se restringe apenas ao seu próprio espaço geográfico e
23
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Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.1 Alemanha
A República Federal da Alemanha apresenta três níveis de administração territorial: o
Estado Federado (Land), o Distrito (Kreise) e o Município (Gemeinde) 22.
Desta composição resultam dezasseis Estados Federados que têm a sua Constituição e
atribuições que abrangem o poder legislativo, o poder administrativo e o poder
jurisdicional. Só não está abrangido no poder legislativo as matérias que expressamente
foram atribuídas pela Constituição ao Estado Federal. No geral, a competência é
concorrencial, salvo algumas matérias de competência exclusiva dos Estados Federados.
Quanto aos órgãos há uma Assembleia eleita por sufrágio direto, um Governo Regional
e um Ministro Presidente.
Os Distritos funcionam enquanto circunscrição territorial de nível intermédio. Têm como
órgãos um Conselho Distrital eleito por sufrágio direto e a direção de tarefas executivas
que pode ser eleito por sufrágio direto ou através do Conselho Distrital.
Em relação às competências têm competências próprias, facultativas ou obrigatórias e
delegadas. Alguns Distritos constituem também Municípios.
22
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 87.
26
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.2 Bélgica
A Bélgica é um Estado Federal constituído por três comunidades (a comunidade
flamenga, a comunidade francesa e a comunidade germanófona) e três regiões
(Flandres, Valónia e Bruxelas-capital) 23.
As regiões dividem-se com base nos critérios geográficos. Esta divisão fundamenta-se
nas diferenças linguísticas presentes na Bélgica.
Na Bélgica existe ainda a Província e o Município.
O Estado Federal concentra em si competência nas matérias de interesse geral (finanças
públicas, defesa nacional, segurança social, negócios estrangeiros, Justiça, saúde pública
e assuntos internos).
No que à Administração Local diz respeito as regiões e as comunidades são constituídas
pelos Conselhos eleitos através de sufrágio direto e estes elegem o Executivo.
Quanto às suas competências as Regiões inserem-se nas áreas de ordenamento do
território, desenvolvimento económico regional, ambiente, conservação da natureza,
habitação, política agrícola, energética, laboral, obras públicas e de transporte,
segurança social, arquivo, bibliotecas, registo civil, escolas municipais, iluminação
23
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 24.
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Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
pública, estradas municipais, parques e jardins. Por seu lado, as comunidades exercem
a sua competência no domínio da natureza linguística, sociocultural, cultura, rádio,
televisão, ensino e formação profissional, saúde e segurança social.
Tanto as comunidades como as regiões têm ainda competência para celebrar Tratados
com países terceiros.
No tocante às dez Províncias estas são compostas por um Conselho Provincial eleito por
sufrágio direto e uma Comissão Executiva eleita pelo Conselho Provincial presidida pelo
Governo que é eleito pela Coroa.
As Províncias concentram as suas competências ao nível do Ambiente, equipamentos
sociais e culturais, educação, transportes e vias de comunicação.
Por seu lado, os Municípios são constituídos por um Conselho Municipal eleito por
sufrágio direto e uma Comissão Executiva eleitos na generalidade dos Município pelos
membros do Conselho Municipal e ainda por um Presidente eleito pela Coroa. Ao nível
das competências congregam em si o ensino primário, transporte público, assistência
social, cuidados de saúde, cultura e desporto, habitação e planeamento urbanístico,
polícia municipal e proteção.
Apesar de na sua maioria as competências das Províncias e dos Municípios resultarem
da própria Constituição e de legislação complementar que resulta do processo de
descentralização, o Princípio Constitucional geral que se reporta à repartição de
competências entre Províncias e Municípios estabelece apenas a competência em
função do interesse exclusivamente provincial ou municipal das matérias em causa o
que permite alargar o respetivo domínio de intervenção.
A Constituição atribui ainda a possibilidade de estabelecer Federações ou aglomerações
de Municípios.
28
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.3 Espanha
Espanha é um Estado Regional com características de Estado Federal, apresentando ao
nível da administração territorial três estados: as comunidades autónomas, as
Províncias e os Municípios24.
Contudo, o fenómeno descentralizador teve um enorme impacto na organização
administrativa que tinha sido centralizada25.
A política externa, defesa, política fiscal e monetária e o Direito Penal estão através de
consagração da Constituição de 1978 entregues ao domínio do Governo Central
podendo ainda ser chamado a intervir no contexto na definição de bases e Princípios
Gerais que serão de seguida concretizados pelas Comunidades Autónomas e pelos
Municípios.
As Comunidades Autónomas estão dotadas uma Assembleia eleita por sufrágio direto
que elegem um Conselho de Governo e um Presidente. Entre as suas competências
destacam-se o ordenamento do território, transportes e meios de comunicação,
Agricultura e desenvolvimento rural, Património, Cultura, Desporto, Educação,
Assistência Social e Saúde, cabendo-lhes ainda desenvolver os regimes gerais
decretados pelo Governo Central. Detêm ainda competência concorrencial com o
Governo Central ao nível da legislação do trabalho, segurança social, impostos, rádio e
televisão, segurança pública e ensino.
Este nível de administração territorial tem autonomia política estando ainda dotados de
um Conselho Económico e Social. Há um Delegado Geral que representa o Governo
Central e dirige a Administração Central Descentralizada coordenando atividades e
serviços.
As Províncias foram criadas como unidades locais mas pertencentes à circunscrição da
Administração Central sendo dotadas de um Conselho Provincial composto por
24
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 94.
25
CAETANO, Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 307.
29
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Conselheiros locais pelos Conselhos Municipais que elegem o Presidente. Têm uma
vocação preponderante para a coordenação e apoio às atividades intermunicipais e
ainda desenvolvendo atividades no âmbito de alguns serviços como hospitais e estradas
provinciais. Há um Governador Civil que representa o Governo Central.
Os Municípios são compostos por um Conselho Municipal eleito por sufrágio direto
elegendo o Presidente. Há uma diferença marcada pelo número de habitantes, assim se
o Município tiver menos de cem habitantes serão os residentes que constituem o
Conselho Municipal elegem diretamente o Presidente, se tiver mais de cinco mil
habitantes há um Executivo composto pelo Presidente que nomeia os seus Conselheiros.
Desempenham funções no âmbito da proteção civil, prevenção de incêndios, Polícia
Municipal, Planeamento Urbanístico, Transportes Públicos, Abastecimento de Água, Gás
e Eletricidade, recolha e tratamento de lixo e Defesa do Consumidor, Educação e Saúde.
3.4 Itália
A Constituição de 1948 apresenta três níveis de administração na Itália, havendo a
região, a Província e o Município26.
As Regiões têm um Conselho Regional eleito por sufrágio direto que elege o Presidente
e ainda uma Junta Regional que juntamente com o Presidente são eleitos pelo Conselho
Regional.
As suas competências verificam-se sobretudo no domínio legislativo e de coordenação
das atividades das Províncias e Municípios ao nível do planeamento urbano, proteção
ambiental, controlo das erosões, Obras Públicas, recursos hídricos, Habitação,
transportes, cuidados de saúde, proteção social, Agricultura, comércio, Turismo,
Artesanato, Pescas, Minas, Pequenas Empresas, Energia, Desporto, Atividades Culturais
e Atividades Recreativas.
26
CAETANO, Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 307.
30
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Grande parte das funções das Regiões são delegadas nas Províncias e nos Municípios,
donde resulta que a sua atividade seja maioritariamente legislativa. Há um Comissário
do Governo que dirige os Serviços da Administração Pública e controla os atos regionais.
Quanto às Províncias, estas têm um Conselho Provincial eleito e uma Comissão
Executiva, nomeada pelo Conselho Provincial. Das suas competências fazem parte a
manutenção de estudos provinciais, escolas e proteção ambiental. Têm um Prefeito da
República nomeado em Conselho de Ministros que garante a ordem pública e está no
âmbito da tutela do Ministro do Interior.
Os Municípios têm um Conselho Municipal e Presidente e as eleições são realizadas por
sufrágio direto. Há também um Executivo constituído por membros nomeados pelo
Presidente do Conselho Municipal. Têm competências no âmbito da saúde, assistência
social, habitação social, obras públicas, mercados e feiras, planeamento e utilização do
solo e urbanismo, proteção civil, construção e conservação de escolas e estradas, cultura
e desporto. Há o Secretário Municipal que assegura a legalidade das atividades.
3.5 França
Em França, há três níveis de Administração territorial francesa: a Região, o
Departamento e o Município27.
As Regiões tiveram origem em 1972 ascendendo a coletividades territoriais em 1982. As
Regiões são compostas por um Conselho eleito por sufrágio universal e direto, o
Conselho Regional sendo eleitos um Presidente, Vice-presidente e os demais membros.
Há ainda um Conselho Consultivo não eleito com função económico-social.
Desenvolvem a sua atividade no âmbito do ensino profissional e secundário,
ordenamento do território e urbanismo, desenvolvimento económico e transportes.
Têm um funcionário nomeado pelo Governo para a coordenação dos serviços
desconcentrados.
27
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 99.
31
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
As regiões ultramarinas não seguem esta organização pois são dotadas de instituições
regionais próprias.
No tocante aos Departamentos têm um Conselho Geral eleito por sufrágio direto o qual
elege um Presidente, compete-lhe a gestão de Benefícios da Segurança Social e Saúde,
Transportes Públicos e manutenção, criação e gestão de escolas referente aos primeiros
quatro anos do ensino secundário. Os Municípios são dotados de um Conselho
Municipal eleito por sufrágio direto que elege o respetivo Presidente e desenvolvem a
sua atividade do âmbito do planeamento urbanístico, infraestruturas municipais e
habitação social, serviços públicos (abastecimento de água, eletricidade), recolha e
tratamento de lixos, transportes públicos, cultura, Polícia Municipal, Serviços de Saúde,
ação Social, Educação (ensino primário). A representação do Estado é feita pelo
Presidente eleito pelo Conselho Municipal que simultaneamente, é responsável pela
manutenção da ordem pública e pela investigação criminal e registo civil.
A descentralização administrativa está organizada através das regiões, isto é, por meio
de delimitação geográfica. Dispõe assim a França de um modelo de administração
complexo em todo o território28.
Saliente-se ainda que, o fenómeno descentralizador tem sido realizado com o
intensificar-se dos poderes do prefeito que detendo o poder de direção sobre grande
parte dos órgãos descentralizados reforça o poder de intermediário com os órgãos
autárquicos.
28
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 99.
32
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Em 1848, os Países Baixos passaram a ser um regime Parlamentar o que ditou o fim de
uma Monarquia autoritária, com isso assistiu-se também a uma democratização das
instâncias locais e um reforço do carácter unitário do Estado29.
Quanto às Províncias têm um Conselho Provincial eleito por sufrágio direto, o seu
Presidente é nomeado pela Coroa, representando o Estado e desempenhando funções
de Administrador da Província.
Há ainda uma Representação Provincial que corresponde a uma Comissão Permanente
que é eleita pelo Conselho Provincial e presidida pelo seu Presidente. As suas
competências desenvolvem-se no âmbito da mediação entre a Administração Central e
Administração Municipal e, ainda, no âmbito do ordenamento do território,
desenvolvimento económico-social, cultura, habitação, ambiente e obras públicas.
Os Municípios têm um Conselho Municipal eleito por sufrágio direto e universal, cujo,
Presidente é nomeado pela Coroa. O Executivo é eleito pelo Conselho Municipal e pelo
Presidente deste após consulta do Conselho Comunal.
Os Municípios exercem competência na prestação direta da generalidade dos sérvios
públicos, exercendo ainda competências em diversas áreas como a ação social, os
equipamentos públicos, Saúde Pública, Urbanismo, Ensino e Cultura.
29
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 101.
30
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 103.
33
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.9 Escócia
Em 1996 os dois níveis de Administração da Escócia foram substituídos por unidades
locais unitárias eleitas. Também foi aprovada a instituição de uma Assembleia eleita.
A Administração Central desconcentrada desempenha a sua atividade através dos
serviços regionais dos vários departamentos Centrais. Há também, agências
31
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 323.
34
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.10 Irlanda
Na Irlanda existem a cidade/Condado e o Sub-Condado32.
Há agrupamento de cidade/Condado que constituem autoridades regionais não eleitas
diretamente e ainda organismos sectoriais de base regional e local.
A cidade/Condado é composta por um Conselho eleito por sufrágio direto um Diretor
Executivo – City/County Manager, desempenham competência no âmbito do
desenvolvimento económico, Planeamento Urbanístico, Transporte e segurança
rodoviária, habitação, abastecimento de água, Saneamento, Proteção Ambiental,
Defesa do Consumidor, e, ainda que não na totalidade, em matéria de educação, saúde,
ação social, polícia e segurança.
OS Municípios e os Distritos Urbanos são compostos por um Conselho eleito por sufrágio
universal direto e exercem competências nos domínios de atuação dos Condados.
De salientar ainda que, algumas das instituições nacionais são compostas por serviços
regionais, a direção destes serviços compete a membros nomeados pelas autoridades
locais e pelos Ministérios envolvidos.
Em 1994 foram criadas oito autoridades regionais com designação através de eleições
indiretas com os fins de promoção da coordenação de autoridades públicas e
acompanhamento da evolução dos programas comunitários relativos aos fundos de
coesão.
3.11 Grécia
Na Grécia, as Regiões são dotadas de um Conselho Regional não eleito, cujo, Presidente
é o Secretário-Geral nomeado pelo Governo, que preside dirigindo os serviços regionais
32
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 106.
35
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.12 Dinamarca
Na década de 70 assistiu-se na Dinamarca à transferência de competências para a
Administração Regional da generalidade das funções diretamente ligadas aos cidadãos,
mantendo-se na Administração Central os Negócios Estrangeiros, a Defesa, a Polícia e a
Comunicação. Assim, de acordo com a Constituição os Municípios gerem as funções que
lhes dizem respeito com a supervisão do Estado34.
O Condado é dotado de uma Assembleia eleita por sufrágio direto que elege o
Presidente, a Assembleia organiza-se em Comissões de acordo com os assuntos que lhes
competem acompanhar. As suas competências centram-se na elaboração, aprovação e
33
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 107.
34
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 109.
36
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
3.13 Suécia
A Suécia é uma Democracia Parlamentar com grande descentralização organizando-se
em Distritos e Municípios35.
A Lei que regula o Poder Local atribui uma competência genérica nas matérias
relacionadas com a sua área e população, competindo ao Governo Central as principais
políticas públicas no âmbito da Defesa, Segurança, Justiça, Ensino Superior, contudo,
muitas políticas executivas foram descentralizadas para serem desenvolvidas pelos
Distritos e Municípios.
Os Distritos têm um Conselho Distrital eleito por sufrágio direto, e a atividade executiva
é exercida por Comités compostos por membros eleitos pelo Conselho Distrital
coordenado por um Comité Executivo, os Distritos além da competência genérica
desempenham as competências que lhes forem expressamente atribuídas por Lei como
a prestação de cuidados de saúde, o planeamento e promoção regional, distribuição de
energia, estradas, parques, Assistência Social, Educação e Cultura.
Os Municípios têm um Conselho eleito por sufrágio direto, a atividade executiva é
também exercida por Comités compostos por membros eleitos pelo Conselho
Municipal.
35
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 114.
37
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
38
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
39
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
36
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo I; Coimbra Editora; 2005; pág. 77.
37
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 454.
38
A transferência de competências só se verifica no caso da Descentralização Administrativa. Com efeito, na
Desconcentração Administrativa verifica-se uma delegação de competências.
40
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
permitindo ter mais autonomia decisória e, por outro lado, refira-se também o
fenómeno de desconcentração muito também por causa da delegação de poderes.
A Constituição da República Portuguesa atribuiu ao legislador ordinário a competência
para a concretização da Descentralização, não sem lhe impor diretrizes com exceção, do
devido respeito pela estrutura das Autarquias Locais e dos Princípios basilares a que
deve corresponder a Descentralização sem esquecer a estrutura do Estado imposta pela
Constituição da República Portuguesa. Assim, cabe-lhe determinar as técnicas mais
adequadas, devendo a prossecução do interesse público ser realizado de modo mais
correto e devendo as questões locais ser resolvidas por órgãos descentralizados, pois
são estes órgãos os que estão mais próximos das populações.
Deste modo, com a invocação constitucional ao princípio da descentralização
democrática pretendeu-se obter uma organização administrativa através de pessoas
coletivas públicas diversas do Estado e com a participação dos cidadãos39.
39
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo I; Coimbra Editora; 2005; pág. 79.
40
ALEXANDRINO, José Melo; A Administração Local Autónoma: situação actual e propostas de reforma apresentadas
na sequência do Memorando da Troika in Direito Regional e Local; n.º 18; abril-junho de 2012; pág. 6. No entanto, a
extensa consagração constitucional do Poder Local pode reprimir a consolidação da Descentralização Administrativa,
sendo mesmo, potencial causadora na não concretização da Regionalização.
41
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 443.
41
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
42
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 454.
42
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
43
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 31.
44
MIRANDA, Jorge; MEDEIROS, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 969.
43
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
44
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
5. Descentralização
5.1 Descentralização. Notas introdutórias
O artigo 267.º n.º 1 e n.º 2 da Constituição da República Portuguesa consagra o Princípio
da Descentralização Administrativa 45 . Começa por se afirmar que a Administração
Pública deverá conter uma estrutura que evite a burocratização, aproxime os serviços
das populações e assegure a participação dos interessados na gestão efetiva de tais
serviços. Apresentam-se, deste modo, os objetivos das entidades descentralizadas
estabelecendo que são estes objetivos que devem orientar a estrutura organizativa da
Administração Pública e a sua atuação. Perante estes objetivos estipula a Constituição
da República Portuguesa as técnicas que o legislador ordinário deverá adotar, a saber,
adequadas formas de descentralização e desconcentração administrativa.
Como afirma MÁRIO ESTEVES DE OLIVEIRA, descentralizar, no âmbito da Administração
Pública é o processo através do qual, se distribuem tarefas por pessoas coletivas ou
organizações distintas do Estado e às quais se fixa um campo de atuação, territorial ou
institucional, mais limitado do que o dele, pois reconhece-se que se não deve imputar
apenas à pessoa coletiva estadual a responsabilidade pela direção e prossecução das
finalidades que caem no âmbito da Administração Pública46. Assim, a Descentralização
corresponde a um “sistema em que a função administrativa esteja confiada não apenas
ao Estado, mas também a outras pessoas colectivas territoriais” 47. Isto porque, como
afirma JOÃO CAUPERS, o Estado não tem a exclusividade de prossecução de interesse
público havendo outras entidades públicas capazes de realizar o Interesse Público48.
A Descentralização implica uma situação em que a lei concede a órgãos eleitos por uma
coletividade poder de decisão sobre todos ou parte dos assuntos locais. A
Descentralização está ao serviço da Democracia, servindo-a e prosseguindo-a, fazendo
45
A Descentralização (“Selbstverwaltung” no Direito Alemão ou “Local Government” no Direito Anglo-saxão). RIVERO,
Jean; Droit Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 269.
46
OLIVEIRA, Mário Esteves de; Direito Administrativo; Volume I; 2.ª Reimpressão; Livraria Almedina; Coimbra; 1984;
pág. 183.
47
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 873.
48
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 231.
45
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
49
PINTO; Ricardo Leite; Referendo Local e Descentralização Política (Contributo para o Estudo do Referendo Local no
Constitucionalismo Português); Livraria Almedina; Coimbra; 1988; pág. 21.
50
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; pág. 23.
51
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; pág. 24. Em França a Revolução de 1789 e a motivação da Descentralização deu origem à aprovação
da Lei de 10 de agosto de 1871 (relativa aos departamentos) e à Lei de 05 de Abril de 1884 (relativa às comunas)
contudo, entre 1781 e 1958 houve grande instabilidade política em França tendo sido experimentados vários modelos
desde a descentralização radical ao total centralismo.
52
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994, pág. 230.
53
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994, pág. 236.
46
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
54
RIVERO, Jean; Droit Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 269.
55
DABIN, Jean; Doctrine générale de l’Éat. Élements de philosophie politique; Bruxelas; 1939; pág. 304. ZANOBINI,
Guido; Corso di diritto administrativo, Volume III; 6.ª edição; Milão; 1958; pág. 73.
56
BURDEAU, Georges; Traité de Science Politique; Tomo II; 3.ª edição; Paris; 1980; pág. 388.
47
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
57
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994, pág. 231. Zanobini; La décentralisation et les instituitions administratives, Paris, 1968, pág. 78.
58
FORSTHOFF, Ernst; Traité de Droit Administratif Allemand; Bruxelas; 1969; pág. 662. RICO, Manuel Alvarez;
Principios Constitucionales de Organizatión de las Administrationes Públicas; Madrid; 1986; pág. 137.
59
OLIVEIRA, Luís Valente de; Regionalização; Edições Asa; Porto; 1996; pág. 31.
48
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
60
MOREIRA, Vital, GUEDES, Ana Cláudia; Desconcentração Administrativa e Administração Regional do Estado –
Documento de Enquadramento Preliminar; Norte 2015 – Grupo de Perspectiva: As Instituições – Atelier Temático:
Serviços Desconcentrados; Maio de 2005; pág. 20.
61
Enquanto que na Concentração e Desconcentração está-se no âmbito da mesma pessoa coletiva na Centralização
e Descentralização está-se no âmbito de várias pessoas coletiva em simultâneo.
62
RIVERO, Jean; Droit Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 268.
63
SOUSA, Marcelo Rebelo de; MATOS, André Salgado Matos; Direito Administrativo Geral; Tomo I; 3.ª Edição; D.
Quixote; Lisboa; 2008; pág. 145.
64
OLIVEIRA, Mário Esteves de; Direito Administrativo; Volume I; 2.ª Reimpressão; Livraria Almedina; Coimbra; 1984;
pág. 183.
65
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994, pág. 232.
66
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994, pág. 234.
49
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
67
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 874.
68
CAETANO, Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 248.
69
CAETANO, Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 249.
50
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Este Autor, EISENMANN, cuja orientação acerca da temática sobressai, defende que
pode haver Descentralização, Semi-Descentralização e Centralização, dependendo da
autonomia das entidades Locais. Assim, na Semi-Descentralização os órgãos centrais
podem controlar o mérito da atuação dos órgãos dos entes locais; enquanto na
Descentralização não é possível qualquer intervenção que não seja uma verificação da
legalidade do comportamento.
Assim a Semi-Descentralização é o terceiro tipo de organização territorial da
Administração70. Deste modo defende Eisenmann a Semi-Descentralização que é um
modelo misto, composto que constitui uma combinação dos princípios contrapostos da
Descentralização e da Centralização. Consiste em atribuir o poder de decidir os assuntos
que interessam a uma certa circunscrição territorial, conjuntamente a essa circunscrição
territorial e com uma autoridade estatal, portanto, atribuição de poderes
conjuntamente a um órgão do Estado e a um “órgão local”, o que significa que a tomada
de decisões nestas situações exige o consentimento de ambos71.
70
EISENMANN, Charles; Cours de Droit Administratif; Tome I; Libraire Genérale de Droit et de Jurisprudence; 1982;
pág. 286.
71
EISENMANN, Charles; Cours de Droit Administratif; Tome I; Libraire Genérale de Droit et de Jurisprudence; 1982;
pág. 287.
72
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editorial
Notícias; 1994; pág. 245.
73
ZANOBINI, Guido; L’amministrazioni locale; 2.ª edição; Pádua; 1935; pág. 13. DABIN, Jean; Doctrine générale de
l’Éat. Élements de philosophie politique; Bruxelas; 1939; pág. 304.
51
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
74
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editorial
Notícias; 1994; pág. 258.
75
CAUPERS, João; Introdução ao Direito Administrativo; 10.ª edição; Âncora Editora; 2009; pág. 120.
76
CAUPERS, João; Introdução ao Direito Administrativo; 10.ª edição; Âncora Editora; 2009; pág. 134.
52
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
77
OLIVEIRA, António Cândido de; 40 anos de desconcentração territorial regional em Portugal in Direito Regional e
Local; 01; janeiro-março; 2008; pág. 5.
78
GOURNAY, Bernard; Introdução à Ciência Administrativa; Lisboa; pág. 157.
79
MELO, Martinho Nobre de; Noção Jurídica de Descentralização in O Direito – Antologia de Estudos Jurídicos
Publicados nas suas Paginas; Volume II; Lisboa; 1968; pág. 199.
80
CAETANO Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 254. QUEIRÓ,
Afonso; Descentralização in Dicionário Jurídico da Administração Pública; Volume III; 1990; pág. 569. CORREIA, J. M.
Sérvulo – Noções de Direito Administrativo; Volume I; Editora Danubio, Lda.; Lisboa; pág. 132.
53
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
parte dos Autores. Assim, AFONSO QUEIRÓ, SÉRVULO CORREIA, ESTEVES DE OLIVEIRA,
FREITAS DO AMARAL e MARCELO REBELO DE SOUSA, defendem que a distinção deve
ser feita, dizendo que se trata de Princípios organizativos com aplicação distinta, se por
um lado se trata de um contexto global da Administração Pública, por outro lado, trata-
se do contexto interno de cada entidade pública.
E a exceção é apresentada por CASALTA NABAIS que defende que falta à Administração
indireta do Estado o reconhecimento de “verdadeiros espaços autonómicos” 81. Outra
exceção é apresentada por PAULO OTERO, este Autor defende que o ponto fulcral da
desconcentração não é o desenvolvimento de competências no âmbito da mesma
pessoa coletiva, mas antes o processo de repartição de competências pelos órgãos82.
No entanto, contraposto a estes Autores JOÃO CAUPERS afirma que simplificava se fosse
reservado o termo descentralização para a Administração Autónoma e desconcentração
ficasse reservada para o âmbito organizativo do Estado, abrangendo a Administração
direta desconcentrada como a Administração Indireta. Assim é porque, deve tratar-se
globalmente o conjunto da Administração Pública do Estado; e, porque, mais do que
verdadeira posição do poder por centros de decisão, existem sobretudo técnicas de
repartição de tarefas cuja determinação e controlo o Estado não deixa escapar83.
A Racionalização do sistema da Administração Central implica uma redistribuição de
competências no âmbito da Administração Central, da Administração Regional e da
Administração Local. Contudo, torna-se premente também uma reestruturação da
Administração desconcentrada por forma a que os serviços periféricos possam ser
integrados em serviços desconcentrados regionais. Ora, para tal, torna-se
imprescindível promover a articulação dos serviços desconcentrados com a
Administração Regional; por outro lado, importa fazer coincidir a competência
geográfica dos serviços desconcentrados com a delimitação da Região Administrativa.
Tudo isto permitirá à Administração Central conhecer melhor as condicionantes
81
NABAIS, J. Casalta; Considerações sobre a Autonomia Financeira das Universidades Portuguesas; Coimbra; 1987;
pág. 11.
82
OTERO, Paulo; A competência delegada no Direito Administrativo Português; Lisboa; 1987; pág. 107.
83
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 263.
54
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
regionais e as necessidades locais ficando com uma ideia mais real da envolvência
regional84.
Assim, podendo-se contribuir para a unidade nacional que exige uma atuação
cooperante entre a Administração Pública, o que quer dizer também, entre a
Administração Indireta e a Administração Autónoma. Para a concretização deste
sistema organizativo torna-se essencial a uniformização de competências dos diversos
serviços.
Deste modo, pode afirmar-se que, a Desconcentração reveste apenas a organização
interna de um determinado serviço estatal, de uma pessoa coletiva pública. Trata-se de
um mesmo contexto de uma mesma pessoa coletiva, de uma relação interorgânica. Por
seu lado, a Descentralização importa a distribuição de competências para entidades e
órgãos distintos.
Desta forma, FREITAS DO AMARAL, bem conclui que, a Centralização e Descentralização
têm a ver com a unicidade ou pluralidade de pessoas coletivas públicas, enquanto a
Concentração e Desconcentração estão relacionadas com a repartição de competências
pelos diversos níveis da hierarquia no interior de cada pessoa coletiva pública 85.
No entanto, a desconcentração pode confundir-se com Descentralização quando se
trate de distribuir competências de órgãos centrais para órgãos da periferia. Porém,
enquanto a desconcentração visa a desburocratização dos serviços e mais eficiência
consequentemente, a descentralização pretende toda uma formação de vontade
independente dos órgãos centrais estatais promovendo interesses próprios de uma
determinada comunidade inserida num dado espaço com projetos específicos. A
desconcentração deve garantir uniformidade de tratamento às solicitações devendo
limitar-se a assegurar as funções que o Estado quer assegurar em paridade de condições
e em relação a todos.
84
Ministério do Equipamento, do Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à
Reestruturação do Equipamento e da Administração do Território; Descentralização, Regionalização e Reforma
Democrática do Estado; Lisboa; 1998; pág. 35.
85
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 835.
55
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
86
RIVERO, Jean; Droit Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 269.
56
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
87
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; pág. 45. Assim, primeiramente, atribuem-se competências e liberdade eleitoral aos municípios e aos
municípios; a descentralização corporativa surge como uma expansão do conceito passando o mesmo a englobar
corporações públicas e outras entidades; a “nova descentralização” consistiu em abranger no conceito de
Descentralização os institutos públicos e s estabelecimentos públicos (“descentralização técnica ou por serviços” ou
“descentralização institucional ou funcional”).
88
CORREIA, J. M. Sérvulo; Noções de Direito Administrativo; Volume I; Editora Danubio, Lda.; Lisboa; pág. 126.
89
CORREIA, J. M. Sérvulo; Noções de Direito Administrativo; Volume I; Editora Danubio, Lda.; Lisboa; pág. 129.
57
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
90
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 878.
91
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 241
58
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
92
CAETANO, Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 248.
93
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 240.
94
DIMOCK, Marshall E. e DIMOCK, G.; Public Administration; 5.ª edição, Nova Iorque; 1983; pág. 39.
95
PEDROSA, Guimarães; Curso de Sciência da Administração e Direito Administrativo; 2.ª edição; Coimbra; 1908; pág.
423.
96
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 242.
59
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
97
MACHADO, J. Baptista; Participação e Descentralização; Democratização e Neutralidade na Constituição de 76;
Almedina; Coimbra; 1982; pág. 27.
98
MOREIRA Vital; Administração Autónoma e Associações Públicas; Coimbra Editora; Coimbra; 2003; pág. 126.
99
BENTO, Inês Pisco; Da Descentralização Administrativa à “fragmentação funcional”: contributo para a análise da
provisão pública da Educação in Scientia Ivridica; número 327; Braga; setembro-dezembro de 2011; pág. 524.
60
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
100
ROCHA, Joaquim Freitas da; Da Perequação Financeira em Referência aos Entes Locais nos 30 Anos do Poder Local
na Constituição da República Portuguesa – Ciclo de Conferências; edição do Governo Civil de Braga; Coimbra; Coimbra
Editora; 2007.
101
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994, pág. 235.
102
VEDEL, Georges; Droit Administratif; Presse Universitaires de France; Tome Second; 1959; pág. 417.
103
CORREIA, J. M. Sérvulo – Noções de Direito Administrativo; Volume I; Editora Danubio, Lda.; Lisboa; pág. 129.
104
PINTO; Ricardo Leite; Referendo Local e Descentralização Política (Contributo para o Estudo do Referendo Local no
Constitucionalismo Português); Livraria Almedina; Coimbra; 1988; pág. 16.
61
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Em Portugal, o termo Descentralização Funcional não foi aceite desde logo. MARCELLO
CAETANO distinguia a Descentralização Funcional que relacionava à criação dos
institutos públicos distinguindo-o das Autarquias Locais.
Ainda, JORGE MIRANDA distingue entre Descentralização Administrativa primária e
Descentralização Administrativa Secundária, entendendo ser a primeira “atribuição, por
via constitucional ou legislativa, de funções administrativas a pessoas coletivas de
Direito Público”, já a outra seria uma correspondência da permissão legal de
transferência de poderes administrativos de pessoas coletivas de Direito Privado e com
regime administrativo.
Quanto à Descentralização Funcional (Institucional) pode dizer-se que tem como
principal objetivo dar resposta às crescentes necessidades de carácter técnico
resultantes do alargamento da intervenção económico-social do Estado.
A Descentralização Administrativa será então uma Descentralização Funcional na
medida em que se constata uma delegação de tarefas administrativas que seriam da
competência da Administração Central para entidades administrativas autónomas.
As principais características da Descentralização Funcional estão relacionadas com o
facto de os entes que caracterizam a descentralização funcional serem entes criados a
nível estatal; os recursos económicos destes entes têm origem estatal; a sua finalidade
é criação de organismos de administração indireta estatal105.
Salienta-se ainda que, um critério que por ser utilizado quanto à repartição de
atribuições entre os órgãos do Estado e os órgãos regionais está relacionado com a
distinção entre uma “administração de conceção” e uma “administração de gestão”, ou
a denominada “administração regulativa” e “administração de prestação”. Assim, a
Administração Central e os serviços periféricos do Estado teriam atribuições relativas a
funções de conceção ou regulativas já os órgãos autónomos regionais teriam atribuições
relativas a competências de gestão ou de prestação106. Assim, a descentralização pode
105
VAZ, Manuel Afonso; Regionalização Total ou Descentralização Parcial - A Problemática Constitucional das Regiões
Autónomas – Coloquio; Direito e Justiça; Volume X; 1996; Tomo 1; pág. 92.
106
VAZ, Manuel Afonso; Regionalização Total ou Descentralização Parcial - A Problemática Constitucional das Regiões
Autónomas – Coloquio; Direito e Justiça; Volume X; 1996; Tomo 1; pág. 98.
62
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
107
SOUSA, Marcelo Rebelo de; MATOS, André Salgado Matos; Direito Administrativo Geral; Tomo I; 3.ª Edição; D.
Quixote; Lisboa; 2008; pág. 146.
108
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editorial
Notícias; 1994.
109
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 875.
63
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
110
OLIVEIRA, Mário Esteves de; Direito Administrativo; Volume I; 2.ª Reimpressão; Livraria Almedina; Coimbra; 1987;
pág. 190.
111
BURDEAU, Georges – Traité de Science Politique; Livrarie Générale de Droit et de Jurisprudence; Paris; pág. 374.
112
OLIVEIRA, Luís Valente de; Regionalização; Edições Asa; Porto; 1996; pág. 89.
113
MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 581.
64
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
114
COSTA, Leonardo; O território, nós, o Estado, a despesa pública, a competitividade e o princípio da
Subsidiariedade: deslocalizar, desconcentrar, contratualizar e descentralizar o Estado; 2006; pág. 4.
115
CAETANO, Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 250.
116
BURDEAU, Georges – Traité de Science Politique; Livrarie Générale de Droit et de Jurisprudence; Paris; pág. 373.
65
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
117
MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 447.
118
JACINTO, Rui; As Regiões Portuguesas, a Política Regional e a Reestruturação do Território in Cadernos de
Geografia; n.º 12; 1993; Coimbra; F.L.U.C.; pág. 26.
119
JACINTO, Rui; As Regiões Portuguesas, a Política Regional e a Reestruturação do Território in Cadernos de
Geografia; n.º 12; 1993; Coimbra; F.L.U.C.; pág. 29.
66
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
120
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 177.
121
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 875.
67
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Há quem defenda que a Descentralização pode ser fonte de dissimetrias locais acabando
por ficar privilegiadas regiões que por natureza apresentam melhores condições, com
mais população e mais riqueza. A este concreto assunto, há quem defenda que a
Centralização permitiria uma repartição mais equitativa dos recursos materiais e
culturais 122 . Ora, impõe-se quanto a esta situação que as Regiões Administrativas
funcionem como motores de promoção do desenvolvimento regional e que consigam
obter a força política necessária para debater e concretizar os seus objetivos na cena
política nacional. Daqui resulta que, deverá conseguir-se criar Regiões Administrativas
capazes e com espírito de missão, o que poderá ser obtido tendo em conta as eleições
diretas dos seus órgãos e o incentivo à participação de todos os cidadãos que delas
façam parte.
Saliente-se ainda que a Descentralização pode revelar a inadequação de estruturas das
instituições autárquicas perante a crescente complexidade técnica da função
administrativa. No âmbito do planeamento que deve revelar-se geral e integrar-se no
conjunto nacional é necessária uma transferência de atribuições para a Administração
Central. Verifica-se ainda o receio de que um peso significativo das Finanças Locais
provoque desigualdades geográficas na distribuição do rendimento nacional.
Acresce ainda que, se não acompanhada por recursos financeiros e administrativos
necessários poderá contribuir para uma atuação dos serviços menos eficiente.
122
OLIVEIRA, Mário Esteves de; Direito Administrativo; Volume I; 2.ª Reimpressão; Livraria Almedina; Coimbra; 1984;
pág. 191.
123
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 879
68
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Existem, por isso, limites ao Processo de Descentralização, desde logo, limites materiais,
ao nível da eficácia e unidade de ação da Administração Pública e os limites orgânicos,
em relação ao poder de direção, poder de superintendência e poder de tutela dos
órgãos competentes.
De acordo com FREITAS DO AMARAL estes limites à Descentralização podem ser de três
ordens.
Em primeiro lugar, menciona a existência de limites a todos os poderes da administração
e das entidades descentralizadas; é o que sucede quando a Lei delimita as atribuições e
as competências de uma Autarquia Local, e também quando a Constituição República
Portuguesa consagra o Princípio da Legalidade e obriga as Autarquias Locais a agir no
âmbito da legalidade administrativa; ou ainda a Constituição República Portuguesa e a
Lei ordinária impõem às Autarquias Locais que respeitem os Direitos e interesses
legítimos dos Particulares. Em segundo lugar, apresenta limites à quantidade de poderes
transferíveis para as entidades descentralizadas. Em terceiro lugar, indica limites ao
exercício dos poderes transferidos.
Os graus possíveis de descentralização, pressupõem a análise da questão dos seus
limites já que não é possível descentralizar ad infinitum. Por isso surge a necessidade de
impor limites a qualquer processo de descentralização/regionalização, de modo a evitar
o risco de se degenerar na total desagregação do Estado. A questão dos limites da
descentralização colocada nestes termos, diz respeito à organização jurídico-
administrativa prática e efetiva duma eventual Regionalização. Em termos jurídicos
podemos estabelecer, genericamente, limites a todos os poderes da Administração e
consequentemente também a todos os poderes locais. Por outro lado, pode
estabelecer-se limites aos poderes transferidos para as entidades locais. E ainda podem
ser enunciados limites ao próprio exercício dos poderes transferidos. Este terceiro caso
é de extrema importância porque nos transporta para a questão das relações da
entidade com poderes descentralizados com o poder central, ou seja, a questão da
intervenção do Estado na gestão das autarquias locais124.
124
BRANQUIHO, Isilda; Autonomia Regional e Coesão Nacional; Noção e Defesa; 1997; pág. 108.
69
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
125
BURDEAU, Georges – Traité de Science Politique; Livrarie Générale de Droit et de Jurisprudence; Paris; pág. 379.
70
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
não devem ser analisadas e determinadas apenas com objetivos de redução de custos;
mas ainda tendo em conta a atribuição de competências pelo facto de tal provocar um
aumento de custos126. Devem ainda as entidades administrativas respeitar o Princípio
da Eficácia prosseguindo com a sua atuação os melhores resultados possíveis, não
devendo furtar-se à atuação e prossecução dos seus interesses próprios.
Deste modo, a atuação das entidades administrativas descentralizadas deve pautar-se
pela eficiência e pela eficácia e tem de respeitar o Princípio da Unidade atuando de
forma a que a conduta da Administração Pública seja coerente o que não significa excluir
a sua autonomia de decisão que é justamente o pressuposto da Descentralização. É
também neste compromisso com uma conduta eficiente que se adota um
comportamento baseado na coordenação. Finalmente, estabelece-se que a
descentralização administrativa em favor das autarquias locais e a consequente
autonomia de que estas gozam tem como limite a tutela administrativa, a qual é
exercida pelo Estado, no caso das autarquias locais do continente, e pelas Regiões
Autónomas, no caso das autarquias locais existentes nos arquipélagos dos Açores e da
Madeira. Nos termos do que consagra o artigo 242º da Constituição, deve traduzir-se
numa mera tutela inspetiva da legalidade, consistindo apenas na verificação do
cumprimento da lei por parte dos órgãos autárquicos e sendo exercida nos casos e
segundo as formas previstas na lei.
126
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 223.
71
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
6. Princípio da Subsidiariedade
6.1 Princípio da Subsidiariedade
O Princípio da Subsidiariedade não é uma criação recente, tendo já sido verificadas
diversas fases até à construção do Princípio da Subsidiariedade.
O Pensamento Aristotélico defende que a sociedade é constituída por um conjunto de
grupos cada um com a sua função própria. Estes grupos são a Família, a Aldeia e a
Cidade.
A Família existe para a satisfação das necessidades básicas quotidianas. Seguidamente,
defende a existência de um outro grupo, a Aldeia para satisfação das necessidades não
quotidianas. As várias aldeias ao aglutinarem-se formaram a cidade, organizada com
vocação para a sobrevivência, mas, também, para prosseguir o bem-estar, devendo ser
autossuficiente. Estes grupos não se substituem, antes, se complementam, a cada um
cabendo satisfazer as necessidades que o grupo imediatamente anterior não satisfez.
São por isso, chamados a atuar quando o grupo anterior não atuou.
Aristóteles defende que a sociedade tem o papel de satisfazer as necessidades básicas
da comunidade mencionando ainda que é na comunidade que cada indivíduo pode
aperfeiçoar a sua vida. O poder surge então para fazer face a uma exigência de
sobrevivência, legitimando-se nessa necessidade e nessa finalidade.
No pensamento de São Tomás de Aquino, o Homem define-se na sua relação com o
grupo a que pertence, e ao qual está inerente a sua sobrevivência e desenvolvimento.
O bem da parte deve estar subordinado ao bem do todo. A sociedade prossegue o bem
comum que prevalece sobre os objetivos particulares. O poder serviria para harmonizar
os vários grupos existentes na sociedade agindo esta por si própria e prosseguindo os
seus fins. O poder deve então ter um papel na gestão das diversidades existentes na
sociedade, respeitando as pessoas, os seus comportamentos e as suas liberdades.
Na Idade Média é a Igreja que tem um papel subsidiário, desempenhando tarefas
indispensáveis à vida em sociedade.
Para Althusius, a política é um elo orgânico que une os indivíduos em sociedade. A
sociedade consiste, numa base de modelo aristotélico, num conjunto sucessivo de
comunidades que são a Família, a corporação, a cidade, a Província e o Estado.
72
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
O Autor parte da Comunidade mais restrita para a Comunidade mais alargada, existindo
as comunidades porque são imprescindíveis, preservando-se, no entanto, a autonomia
das mesmas, pois é a autonomia que permite realizar a eficácia e pluralidade do
quotidiano. Mais acrescenta que a autonomia dos grupos funda-se nos seus objetivos
particulares, devendo cada grupo garantir a autossuficiência, quando tal não seja
efetivado deverá ser o grupo seguinte a intervir. Deste modo, o grupo deve realizar as
tarefas que é capaz de desempenhar deixando ao grupo seguinte as que não é capaz de
realizar127.
O Princípio da Subsidiariedade em Tocqueville, que viveu no contexto do modelo de
França despotista e centralizada, apresenta uma análise em «A Democracia na
América», onde se refere que “Há certas nações na Europa, onde o Habitante se
considera como uma espécie de colono, indiferente ao Destino do local onde vive” 128.
Acrescenta ainda que “A Providência deu a cada indivíduo inteligência suficiente para
que possa determinar-se a si próprio nos assuntos que lhe dizem respeito
exclusivamente”. Continua afirmando que é essencial a existência de instâncias
intermédias, porquanto elas conformam uma garantia da Liberdade face ao Estado129.
Portanto, já reconhecia os assuntos locais e a natureza dos assuntos locais que deveriam
ser resolvidos pelas suas gentes, e os assuntos nacionais que eram da competência dos
entes nacionais.
O Estado Subsidiário em Hegel, é resultado das diversas autonomias que criaram
variados centros de poder, que, devido à falta de unificação e concentração de esforços
não conseguiram fazer face às ameaças exteriores, sendo este necessário à criação do
Estado130. Com efeito, traduz-se na Subsidiariedade o seu pensamento quando admite
127
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 47.
128
TOCQUEVILLE, Alexis de; A Democracia na América; Ideias e formas; 13; Estúdios Cor; Lisboa; 1972.
129
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 54.
130
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 55.
73
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
que “O Governo deve deixar à liberdade dos cidadãos o que não é necessário à sua
finalidade”, assim, o Estado tem um papel subsidiário.
O Princípio da Subsidiariedade atual tem origem na doutrina social da Igreja tendo sido
definido como o Princípio da Filosofia Social131. A Subsidiariedade pela Doutrina Social
da Igreja Católica baseia-se na Dignidade da Pessoa Humana. Para Keller pode haver
uma intervenção legítima na salvaguarda da Dignidade Humana, mas esta intervenção
não pode violar a liberdade inerente à salvaguarda da Dignidade Humana. Na “Encíclica
Quadrageno Anno”, de 1931, o Papa Pio XI reflete a Subsidiariedade afirmando “Deixe,
pois, a autoridade pública ao cuidado de associações inferiores aqueles negócios de
menor importância, que a absorveriam demasiado. Poderá então desempenhar mais
livre, enérgica e eficazmente o que só a ela compete porque só ela o de fazer: dirigir,
vigiar, urgir e reprimir, conforme os casos e a necessidade o requeiram. Persuadam-se
todos os que governam de que quanto mais perfeita ordem hierárquica reinar entre as
várias associações, segundo este princípio da função “subsidiária”” 132 . Representava
ainda um mecanismo de proteção das pessoas em relação a abusos de instâncias
superiores apelando às instituições que auxiliassem os indivíduos e as entidades
intermédias a desempenharem as suas funções133.
O Princípio da Subsidiariedade está conexionado com o Princípio da Descentralização
consagrado no artigo 237.º n.º 1 da Constituição da República Portuguesa onde se
determina que “as atribuições e a organização das autarquias locais, bem como a
competência dos seus órgãos, serão regulados por lei, de harmonia com o princípio da
descentralização administrativa”.
O Princípio da Subsidiariedade está previsto no artigo 6.º n.º 1 Constituição da República
Portuguesa ao mencionar a descentralização territorial, funcionando, então, como um
critério de atuação e regulação das competências das entidades Administrativas. O
131
NICO, Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013; pág. 40.
132
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 64.
133
Com efeito, o Princípio da Subsidiariedade é invocado enquanto Princípio que salvaguarda a autonomia das
pessoas e das comunidades contra o arbítrio e a intervenção abusiva de instâncias superiores.
74
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
134
MORAIS, Carlos Blanco de; A Dimensão Interna do Princípio da Subsidiariedade no Ordenamento Português;
consultável in http://portal.oa.pt/upl/%7Bf126882e-46db-4b97-ba17-fa14a2623d78%7D.pdf; pág. 785.
75
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
76
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
135
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 111.
77
Descentralização Administrativa
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78
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
136
DURAND, Frank; O Estado e a Descentralização o quadro da Integração Europeia - Legislação, Jurisprudência,
Doutrina e Estudos in Revista de Administração Local; julho-agosto; 2003; Ano 26; pág. 496
137
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 498.
79
Descentralização Administrativa
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138
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 35
139
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 492.
80
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Mais tarde, o Tribunal admitiu o recurso apresentado pelo Governo Valão não tendo
sequer a Comissão contestado a admissão dos recursos pelo Tribunal de Justiça das
Comunidades Europeias apresentados pelo Governo da Região da Valónia.
Mais recentemente, entendeu o Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias que a
ideia de Estado tem subjacente as autoridades governamentais dos Estados-Membros
não estando incluídos os Governos das Regiões ou das Comunidades Autónomas
independentemente das competências que lhes estão atribuídas assim estabelecendo
os Tratados da União Europeia. Ideia concretizada na Decisão proferida a 21 de março
de 1997, (Região da Valónia contra Comissão) e decisão de 01 de outubro de 1997
(Região da Toscana contra Comissão).
Assim, constata-se que, o Principio da Subsidiariedade além de apresentar uma
componente na organização da administração em Portugal, sendo aclamado no âmbito
do poder local, funciona como critério de mensuração e delimitação das atribuições
pelos sectores de administração, e permite apurar quais as atribuições que deverão
corresponder a cada nível da administração pública e às entidades administrativas. No
entanto, verifica-se que o Princípio da Subsidiariedade aplica-se também ao nível das
estruturas da União Europeia sendo um dos Princípios que se aplica à atribuição de
competências entre as estruturas da União Europeia e os Estados-Membros. Da análise
da sua aplicação no âmbito da União Europeia poderá apurar-se melhor a sua potencial
aplicação ao nível interno.
81
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
140
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 307.
141
MORAIS, Carlos Blanco de; A Dimensão Interna do Princípio da Subsidiariedade no Ordenamento Português;
consultável in http://portal.oa.pt/upl/%7Bf126882e-46db-4b97-ba17-fa14a2623d78%7D.pdf; pág. 787.
82
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142
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 458.
143
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 460.
83
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
144
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 81.
145
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 82.
146
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 88.
147
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; PÁG. 132.
84
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
deverão ser diretamente eleitas pela comunidade contribuindo, deste modo, para a
concretização do Princípio da Democracia Local.
E como afirmou Marcelo Rebelo de Sousa no discurso do 05 de outubro de 2016 a
República “Aprendeu que liberdade que sem democracia e sem Estado social é liberdade
imperfeita. Aprendeu que sem democracia sem autonomias regionais e locais, sem
descentralização e desconcentração é democracia fraca e despida de participação
cívica”.
85
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
7. O Princípio da Legalidade
O Princípio da Legalidade está consagrado no Artigo 5.º da Lei-Quadro as Regiões
Administrativas. Com efeito, a delimitação e criação, bem como, a organização e
funcionamento das Regiões Administrativas têm de respeitar o Princípio da Legalidade
devendo a Lei estipular os meios como serão implementadas regulando os aspetos
relativos à sua concretização.
Apresentando uma noção de Princípio da Legalidade, pode dizer-se que consiste na
subordinação da Administração à lei. O poder administrativo é limitado pela lei, estando
vinculado à lei. No entanto, esta vinculação pode ser mais restrita permitindo apenas à
Administração pouco mais do que declarar o conteúdo da prescrição legal, ou pode ser
mais flexível, permitindo um papel mais abrangente confiando à Administração uma
atuação na aplicação do Direito na prossecução do interesse público, ora, nestes casos
não é tão abrangente o controlo judicial da atividade administrativa. Na primeira
situação, está-se perante poderes vinculados, na segunda situação está-se perante
poderes discricionários.
Com efeito, o século XIX e o século XX trouxeram alterações em relação ao Princípio da
Legalidade. Verificou-se a proliferação da regulação legal, surgiram as leis-medida, e a
expansão das áreas reguladas por Lei, o que acarretou a expansão de conceitos
indeterminados e da generalização da fórmula geral que exigiam regulamentação.
Efetivamente, esta situação promoveu a emissão de atos administrativos e de
regulamentos autorizados por lei. Paralelamente, a Administração Pública teve um
incremento dos poderes discricionários, tendo ainda havido implementação de novas
formas de organização administrativa como a Descentralização.
Com efeito, o Princípio da Legalidade é um dos princípios basilares da Administração
Pública. Assim, o artigo 5.º da Lei-Quadro das Regiões Administrativa consagra o
Princípio da Legalidade determinando que “a atuação dos órgãos e agentes das regiões
administrativas deve obedecer aos princípios gerais de direito e às normas legais e
regulamentares em vigor, respeitar os fins para que os seus poderes lhes foram
conferidos e salvaguardar os direitos dos cidadãos”. Assim, apesar da autonomia
consignada aos entes descentralizados estes deverão cingir a sua atuação de acordo
86
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
com a lei em cada momento. Mas, ainda o artigo 2.º da Lei-Quadro das Regiões
Administrativas determina que “As regiões administrativas e os respetivos órgãos têm
as atribuições e as competências definidas na lei”.
Com efeito, a Descentralização consiste num mecanismo de reforço e concretização do
Princípio da Democracia Participativa ao promover a existência de entidades
descentralizadas que são diretamente eleitas pelas comunidades. Assim, o artigo 7.º da
Lei-Quadro das Regiões Administrativas considera que “a repartição de atribuições entre
a administração central e as regiões administrativas deve assegurar a intervenção
destas na realização de interesses públicos administrativos que revistam natureza
predominantemente regional”. Também o artigo 4.º do Regime Jurídico das Autarquias
Locais considera que “a prossecução das atribuições e o exercício das competências das
autarquias locais e das entidades intermunicipais devem respeitar os princípios da
descentralização administrativa, da Subsidiariedade, da complementaridade, da
prossecução do interesse público e da proteção dos direitos e interesses dos cidadãos e
a intangibilidade das atribuições do Estado”.
87
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
8. Tutela Administrativa
A Descentralização implica que os órgãos Descentralizados estejam sujeitos à Tutela
Administrativa. Aliás, a Tutela Administrativa constitui um limite da Descentralização
Administrativa.
A Tutela Administrativa constitui o conjunto dos poderes de intervenção de uma pessoa
coletiva pública na gestão de outra pessoa coletiva, a fim de assegurar a legalidade ou o
mérito da sua atuação. Assim, a Tutela Administrativa pressupõe a existência de duas
pessoas coletivas distintas, a saber, a pessoa coletiva tutelar e a pessoa coletiva
tutelada, tendo uma das pessoas coletivas de ser impreterivelmente uma pessoa
coletiva pública.
Os poderes abrangidos na Tutela Administrativa são poderes de intervenção na gestão
de uma pessoa coletiva. No entanto, estes poderes de controlo não são ao contrário do
que se verifica num modelo organizativo baseado na Centralização poderes de controlo
hierárquico148 mas antes um controlo de tutela. Com efeito, o artigo 199.º alínea d) da
Constituição da República Portuguesa afasta a superintendência na Administração
Autónoma, no entanto, importa analisar a sujeição da Administração Autónoma à Tutela
Administrativa. A questão da Tutela Administrativa é regulada pela Lei da Tutela
Administrativa que consagra o regime de controlo de Tutela bem como o artigo 1.º n.º
1 da Lei n.º 27/1996, de 01 de agosto que determina que as autarquias locais e as
entidades equiparadas estão sujeitas ao regime jurídico da Tutela Administrativa149. O
artigo 242.º n.º 1 da Constituição da República Portuguesa determina que “a tutela
administrativa sobre as autarquias locais consiste na verificação do cumprimento da lei
por parte dos órgãos autárquicos e é exercida nos casos e segundo as formas previstas
na lei”.
148
Com efeito, numa Administração Centralizada, o superior hierárquico detém os mais amplos poderes em relação
aos atos dos subordinados, podendo dar instruções e emitir ordens acerca da sua atuação. RIVERO, Jean; Droit
Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 271.
149
Para efeitos da Lei da Tutela Administrativa são consideras entidades equiparadas às Autarquias Locais as áreas
Metropolitanas, as Assembleias Distritais e as Associações de Municípios de Direito Público.
88
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
150
MOREIRA, Vital; Empréstimos Municipais, autonomia local e tutela governamental in Direito Regional e Local; 03;
julho-setembro de 2008; pág. 38.
151
RIVERO, Jean; Droit Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 271.
152
VEDEL, Georges; Droit Administratif; Presse Universitaires de France; Tome Second; 1959; pág. 421.
89
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
153
MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 501.
154
VEDEL, Georges; Droit Administratif; Presse Universitaires de France; Tome Second; 1959; pág. 421.
155
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 880.
156
A Tutela Administrativa efetiva-se por de realização de inspeções, inquéritos e sindicâncias. Assim, a inspeção
consiste na verificação da conformidade dos atos e contratos dos órgãos e serviços com a lei; por sua vez, o inquérito
consiste na verificação da legalidade dos atos e contratos concretos dos órgãos e serviços resultante de denúncia
fundada apresentada por qualquer pessoa singular ou pessoa coletiva ou resultante de inspeção; por sua vez, a
sindicância consiste numa indagação aos serviços quando se verifique uma situação em que existem sérios indícios
de ilegalidades de atos de órgãos e serviços que, pelo seu volume e gravidade, não devam ser averiguados no âmbito
de inquérito.
157
VEDEL, Georges; Droit Administratif; Presse Universitaires de France; Tome Second; 1959; pág. 418.
90
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
158
RIVERO, Jean; Droit Administrstif; 15.ª edição; Paris; 1994; pág. 274.
159
NETO, Fernandes; Seminário O Controlo Interno na Administração Pública; Inspecção-Geral das Finanças; Lisboa;
1996; pág. 125.
91
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Por fim, há que fazer referência à tutela corretiva que consiste na realização de controlo
dos atos praticados pelo órgão da entidade tutelada. Este controlo pode por um lado
visar a verificação da conformidade da atuação da entidade descentralizada com as
regras legais ou regulamentares e, por outro lado, traduzir-se em verificar se o ato é o
mais oportuno ou conveniente técnica, económica e politicamente.
Portanto, as Autarquias Locais na sua atuação apenas estão sujeitas à Tutela Integrativa
e à Tutela Inspectiva. No entanto, não há consenso quanto a esta. Parece que apenas se
aplica a Tutela Inspetiva. Deverá ser feito um controlo a priori designado por visto que
tem por objetivo analisar a conformidade dos atos à lei160.
A Tutela Administrativa a que estão sujeitas as Autarquias Locais é a Tutela Inspetiva e
a Tutela Integrativa a posteriori. Não é consonante com a Constituição da República
Portuguesa a Tutela Integrativa a priori e a Tutela Sancionatória e a Tutela Revogatória
e a Tutela Substitutiva. A Tutela Integrativa a posteriori confere eficácia jurídica,
representando um limite extrínseco, e, por isso, não estando integrado no processo de
formação dos atos. É, por isso, esta, uma posição contrária a alguns Autores que
reconhecem às Autarquias Locais a Tutela Inspetiva e a Tutela Integrativa a priori161.
Com efeito, de acordo com quem defende que apenas a Tutela Integrativa se aplica à
atividade das Autarquias Locais, o poder para a dissolução dos órgãos autárquicos deve
pertencer aos Tribunais Administrativos. Evita-se que se considere as razões políticas ou
que suscite a possibilidade de se tratar de atos de natureza disciplinar162.
Por outro lado, pode ainda ter-se em conta o poder de fiscalização do Tribunal de
Contas163.
160
NETO, Fernandes; Seminário O Controlo Interno na Administração Pública; Inspecção-Geral das Finanças; Lisboa;
1996; pág. 134.
161
TAVARES, José F. F.; Estudos de Administração e Finanças Públicas; 2.ª Edição; Almedina; 2014; pág. 162.
162
TAVARES, José F. F.; Estudos de Administração e Finanças Públicas; 2.ª Edição; Almedina; 2014; pág. 163.
163
NETO, Fernandes; Seminário O Controlo Interno na Administração Pública; Inspecção-Geral das Finanças; Lisboa;
1996; pág. 138. A fiscalização sucessiva aprecia a legalidade na assunção de receitas e realização de despesas. A
competência do Tribunal de Contas no que respeita à fiscalização sucessiva inclui poderes de fiscalização e auditoria
e poderes jurisdicionais. O controlo financeiro jurisdicional destina-se a assegurar a legalidade estabelecida.
92
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
93
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
164
CORREIA; Fernando Alves; A Regionalização em Portugal Continental: Regionalização sem Regiões Administrativas
in RLJ – Revista de Legislação e Jurisprudência; Coimbra Editora; Coimbra; n.º 3988; setembro – outubro de 2014;
pág. 11.
165
GONÇALVES; Pedro Costa; As Entidades Intermunicipais – em especial, as comunidades intermunicipais in Questões
Atuais de Direito Local; nº 01; janeiro/março de 2014; pág. 24.
166
GONÇALVES; Pedro Costa; As Entidades Intermunicipais – em especial, as comunidades intermunicipais in Questões
Atuais de Direito Local; nº 01; janeiro/março de 2014; pág. 26.
167
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 600.
94
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
168
GONÇALVES; Pedro Costa; As Entidades Intermunicipais – em especial, as comunidades intermunicipais in Questões
Atuais de Direito Local; nº 01; janeiro/março de 2014; pág. 33
95
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
para a prossecução das competências, aliás, constatou-se até que, ano após ano,
registava-se uma redução nas transferências do Orçamento de Estado para as
autarquias, fruto de constrangimentos financeiros.
Por outro lado, muitos municípios portugueses, não compreendiam uma dimensão nem
capacidade técnica para planearem e executarem determinados empreendimentos.
Certos projetos, tais como infraestruturas intermunicipais, gestão de áreas ambientais
e mesmo candidaturas a fundos comunitários, só a um nível mais amplo poderiam ser
exequíveis carecendo os Municípios de meios para tal.
Assim, as soluções encontradas para resolver a questão baseavam-se na associação
voluntária de municípios, para a gestão de interesses comuns, ou na extinção de alguns
concelhos cuja viabilidade se revelasse limitada ou ainda na transferência de atribuições
para o escalão regional.
Deste modo, com o intuito de dotar os municípios de novas ferramentas que lhes
permitissem uma gestão mais eficaz dos seus recursos, foi aprovado, em 1981, o
primeiro diploma legal sobre as associações de municípios, o Decreto – Lei n.º 266/81
de 15 de setembro.
De acordo com aquele diploma legal, as associações municipais eram entidades de
direito público e de livre constituição, estabelecidas por acordo de dois ou mais
municípios vizinhos, para a realização de interesses específicos comuns. Os órgãos
previstos eram a Assembleia Intermunicipal, composta pelos presidentes de Câmara dos
municípios associados ou seus substitutos legais e por um ou mais vereadores de cada
um dos municípios; e o Conselho Administrativo, composto por um representante de
cada município e outros eleitos. Competia também ao presidente do Conselho
Administrativo presidir à Mesa da Assembleia Intermunicipal.
No que se refere ao seu financiamento, as associações dependiam das comparticipações
dos municípios associados e da cobrança de taxas respeitantes à utilização de bens e de
prestação de serviços públicos. Outro tipo de receitas previstas eram o rendimento de
bens próprios, bem como a receita proveniente da sua alienação ou de constituição de
direitos sobre eles, as dotações, subsídios ou comparticipações provenientes da
96
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
97
Descentralização Administrativa
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169
NICO Rosa Maria Ramos; O Papel das Comunidades Intermunicipais na Descentralização Administrativa – O Caso
da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo; Lisboa; 2013.
170
GONÇALVES; Pedro Costa; As Entidades Intermunicipais – em especial, as comunidades intermunicipais in Questões
Atuais de Direito Local; nº 01; janeiro/março de 2014; pág. 23
98
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
171
As Áreas Metropolitanas podem ser constituídas com referência a vários sistemas, podendo ser obtida a sua
configuração através de vários sistemas, a saber, o sistema da anexação dos pequenos municípios suburbanos pelo
município da grande cidade (assim, a grande cidade expande-se abrangendo os municípios vizinhos), o sistema da
associação obrigatória de municípios (através do qual a grande a cidade associa-se aos municípios limítrofes por
imposição da lei, no entanto, os municípios mantêm a sua autonomia colaborando para a resolução dos problemas
comuns), o sistema da criação de uma autarquia supramunicipal (as autarquias municipais mantêm-se sendo criada
em coexistência uma autarquias de nível superior a qual prevalece para a resolução de alguns problemas). AMARAL,
Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 620.
99
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Centro Alentejo, Douro, Leiria, Lezíria do Tejo, Médio Tejo, Oeste, Trás-os-Montes, Vale
Sousa e Valimar e ainda, 2 Comunidades Intermunicipais: Pinhal e Vale do Minho 172.
Contudo, em 2008 assistiu-se a uma alteração desta tendência definindo-se apenas duas
áreas metropolitanas. Isto, através da Lei n.º 45/2008. A Área Metropolitana de Lisboa
corresponde à circunscrição territorial da NUTS III da Grande Lisboa e da Península de
Setúbal e a Área Metropolitana do Porto corresponde à circunscrição territorial relativa
ao Grande Porto e Entre Douro e Vouga.
As Áreas Metropolitanas estão ainda consagradas no artigo 66.º da lei n.º 75/2013,
sendo compostas por um conselho metropolitano, pela comissão executiva
metropolitana e pelo conselho estratégico para o desenvolvimento metropolitano173.
De notar que a lei lhes incumbe a tarefa de articular as atuações dos municípios que
englobam e os serviços da Administração Central. A sua instituição em concreto
depende do voto favorável das Assembleias Municipais dos Municípios interessados,
sob proposta da Câmara Municipal respetiva. Contudo, uma vez constituída a Área
Metropolitana deverá manter-se constituída por cinco anos não podendo os Municípios
integrantes deixar de integrar a respetiva Área Metropolitana, impondo a lei a
permanência dos mesmos na Área Metropolitana em respeito pelo Princípio da
Estabilidade.
Assim, os municípios que pretendam associar-se poderão fazê-lo desde que entre eles
exista uma conexão territorial, esta associação poderá resultar na grande área
metropolitana ou na comunidade urbana. No primeiro caso, deverá observar-se uma
associação de no mínimo nove municípios com pelo menos 350 000 habitantes. No
172
CORREIA; Fernando Alves; A Regionalização em Portugal Continental: Regionalização sem Regiões Administrativas
in RLJ – Revista de Legislação e Jurisprudência; Coimbra Editora; Coimbra; n.º 3988; setembro – outubro de 2014;
pág. 8.
173
As Áreas Metropolitanas tem como atribuições, nomeadamente, a participação na elaboração dos planos e
programas de investimentos públicos com incidência na Área Metropolitana; promover o planeamento e a gestão da
estratégia de desenvolvimento económico, social e ambiental do território da Área Metropolitana; articular os
investimentos municipais de carácter metropolitano; participar na gestão de programas de apoio ao desenvolvimento
regional, designadamente, no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN); participar na definição
de redes de serviços e equipamentos de âmbito metropolitano; participa em entidades públicas de âmbito
metropolitano planear a atuação de entidades públicas de carácter metropolitano.
100
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
segundo caso deverá verificar-se uma associação de, pelo menos três municípios com,
pelo menos, 150 000 habitantes.
101
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Central 174 . Com efeito, as suas atribuições assemelham-se às atribuições das Áreas
Metropolitanas.
Relativamente aos órgãos, estas entidades têm uma assembleia intermunicipal
constituída por membros de cada assembleia municipal que constituiu esta,
desenvolvendo competências quanto aos planos de orçamento e contas; existe também
o conselho intermunicipal, composto pelos Presidentes de Câmara Municipais que a
constituem, tendo competência de definição das opções políticas e estratégicas,
submetendo depois este à assembleia intermunicipal; o secretariado executivo
intermunicipal, que constitui o órgão executivo da Comunidade Intermunicipal; e o
conselho estratégico para o desenvolvimento intermunicipal que constitui o órgão
consultivo das entidades referidas.
O artigo 80.º n.º 5 da Lei n.º 75/2013 determina que estas entidades não podem
constituir-se sem que haja um mínimo de cinco Municípios ou que não tenham uma
população total de pelo menos 85.000 habitantes 175 . Detêm competências próprias
conferidas por Lei ou abrangidas nos respetivos Estatutos e competências delegadas
pelo Estado ou pelos Municípios que as abrangem.
Relativamente, às competências próprias por atribuição legal pode dizer-se que estas
entidades carecem de desenvolvimento por outras Leis, importa ainda salientar o artigo
81.º n.º 3 da Lei n.º 75/2013 que determina caber a estas entidades o “exercício das
atribuições transferidas pela Administração estadual”. Podendo ainda, ser objeto de
transferência de competências no contexto da Descentralização Administrativa, ao
abrigo do artigo 111.º da Lei n.º 75/2013.
Relativamente às competências que são atribuídas pelos Estatutos pode incluir-se,
nomeadamente, a prossecução de interesses tipicamente associativos.
174
CORREIA; Fernando Alves; A Regionalização em Portugal Continental: Regionalização sem Regiões Administrativas
in RLJ – Revista de Legislação e Jurisprudência; Coimbra Editora; Coimbra; n.º 3988; setembro – outubro de 2014;
pág. 10.
175
GONÇALVES; Pedro Costa; As Entidades Intermunicipais – em especial, as comunidades intermunicipais in Questões
Atuais de Direito Local; nº 01; janeiro/março de 2014; pág. 29.
102
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
No que diz respeito às competências delegadas estas são atribuídas por contrato
mediante o acordo expresso da Comunidade Intermunicipal tendo de consistir num
interesse da Comunidade Intermunicipal.
Quanto, às competências delegadas pelo Estado importa salientar a imposição de
respeito pela “intangibilidade das atribuições estaduais”. Podem ser delegadas
competências relativas aos assuntos que digam respeito aos interesses próprios das
populações que abrangem as Comunidades Intermunicipais, principalmente, em relação
ao desenvolvimento económico e social da Comunidade Intermunicipal. Assim, na
concretização da delegação terá de haver uma lei que indique as competências
delegáveis, como determina o artigo 124.º n.º 2 da Lei n.º 75/2013, devendo para tal
existir lei de habilitação para uma delegação de assunto em concreto, ao abrigo do artigo
117.º n.º 2 da Lei n.º 75/2013.
Concluindo, foi necessário criar um conjunto de entidades que permitam a aglutinação
de vários municípios para assim dar resposta aos desafios supramunicipais que exigiam
uma disponibilização de recursos quer técnicos, quer humanos, quer financeiros que
não tinham para fazer face à transferência de competências que eram realizadas.
10. As CCDR
As Comunidades de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) constituem
serviços periféricos do Estado integrando a Administração Indireta do Estado. Isto, ao
abrigo do artigo 10.º n.º 4 do Decreto-Lei n.º 86-A/2011, de 12 de julho, na redação do
Decreto-Lei n.º 119/2013, de 21 de agosto.
As CCDR estão reguladas no Decreto-Lei n.º 228/2012, de 25 de outubro, na redação do
Decreto-Lei n.º 68/2014, de 08 de maio, constituindo as antes designadas Comissões de
Coordenação Regional (CCR) e anteriormente, as Direções Regionais do Ambiente e do
Ordenamento do Território.
As CCDR após a integração das DRAOT tornaram-se serviços regionais abrangentes na
área do desenvolvimento e do planeamento regional, do ambiente e do ordenamento
do território; são entidades que prestam apoio aos municípios fornecendo-lhes serviços
e estão dotadas de um mecanismo de participação administrativa que envolve
103
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
176
MOREIRA, Vital, GUEDES, Ana Cláudia; Desconcentração Administrativa e Administração Regional do Estado –
Documento de Enquadramento Preliminar; Norte 2015 – Grupo de Perspectiva: As Instituições – Atelier Temático:
Serviços Desconcentrados; maio de 2005; Pág. 19.
104
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
A estas entidades foi ainda conferido um papel relevante de gestão dos programas
operacionais regionais do continente dos Fundos Europeus Estruturais e de
Investimento, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 39/2013, de 14 de
junho.
Quanto aos seus órgãos há que mencionar o Presidente, os dois Vice-presidentes, o
Fiscal Único, o Conselho de Coordenação Intersectorial e o Conselho Regional.
Importa referir que ao Presidente cabe a tarefa de gestão dos Fundos Europeus
Estruturais e de Investimento.
O Conselho de Coordenação Intersectorial coordena a execução de políticas nacionais
aplicadas à circunscrição territorial que conforma cada CCDR.
Relativamente ao Conselho Regional, importa referir que é um órgão consultivo que
inclui os Presidentes das Câmaras Municipais dos Municípios que estão incluídos na área
de atuação de cada CCDR, entre outros representantes de entidades que relevem para
os interesses prosseguidos pelas CCDR177.
Em conclusão pode dizer-se que estas entidades em determinadas áreas têm sido
relevantes para o desenvolvimento regional e a promoção das áreas que abrangem, no
entanto, não têm um conjunto de competências que lhes permita preencher o espaço
supramunicipal em toda a sua plenitude. Nota-se, todavia, que a sua organização,
relativamente, ao território tem sido muito defendida enquanto solução para
implementar as Regiões Amdinistrativas.
177
CORREIA; Fernando Alves; A Regionalização em Portugal Continental: Regionalização sem Regiões Administrativas
in RLJ – Revista de Legislação e Jurisprudência; Coimbra Editora; Coimbra; n.º 3988; setembro – outubro de 2014;
pág. 7.
105
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
178
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; pág. 37.
179
MOREIRA Vital; Administração Autónoma e Associações Públicas; Coimbra Editora; Coimbra; 2003; pág. 75.
180
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 420.
181
CAUPERS, João; Introdução ao Direito Administrativo; 10.ª edição; Âncora Editora; 2009; pág. 136.
106
Descentralização Administrativa
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182
FARIA; Duarte Lynce; Regionalizar, o Referendo do Portugal esquecido – Regionalizar; Desenvolver; Quebrar o ciclo
da Desertificação do País; Bertrand Editora; 1996; pág. 19.
183
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 486.
107
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
184
COUTINHO, Luís Pedro Pereira; O Problema das Atribuições e das Competências das Autarquias Locais (e do seu
possível esvaziamento…); Estudo correspondente a exposição a proferir no V Curso de Pós-Graduação em Direito das
Autarquias Locais, organizado pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas; consultável em
http://icjp.pt/sites/default/files/media/365-228.pdf; pág. 3.
185
CAUPERS, João; Introdução ao Direito Administrativo; 10.ª edição; Âncora Editora; 2009; pág. 136.
186
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 480.
108
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
187
ALVES, Manuel Brandão de Vasconcelos; Descentralização e Interdependência Espacial de Processos de Decisão;
Instituto Superior de Economia. Universidade Técnica de Lisboa; 1986; pág. 99.
188
CAETANO Marcello; Manual de Direito Administrativo; Volume I; Almedina; Coimbra; 1980; pág. 597.
189
ALEXANDRINO, José Melo; A Administração Local Autónoma: situação actual e propostas de reforma apresentadas
na sequência do Memorando da Troika in Direito Regional e Local; n.º 18; abril-junho de 2012; pág. 8.
190
Documento Verde da Reforma da Administração Local – Uma Reforma da Gestão, uma Reforma do Território e
uma Reforma Política; Gabinete do Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares, in www.portugal.gov.pt.
109
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
191
CARNEIRO José Luís; A proposta de reforma da administração local – “O estado do debate” in Direito Regional e
Local; n.º 17; janeiro-março de 2012; pág. 31.
192
MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constitucional; Tomo III; 5.ª Edição; Coimbra Editora; Coimbra; 2004; pág.
237.
193
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; Aequitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 161.
194
Citação de MÉO retirada de CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da
Administração; Aequitas – Editoral Notícias; 1994; pág. 163.
195
CAUPERS, João; “A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração”; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 164.
110
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
196
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 482.
111
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Esta realidade implica uma divisão do território que não será uma divisão material, pois
é indiferente à divisão física do território, trata-se antes de uma realidade jurídico-
política, com divisões jurídicas. A divisão jurídico-política pode confluir numa situação
de desmultiplicação funcional do território, significa isto, uma divisão do território em
várias territorialidades todas subsistindo que têm como objetivo a prossecução de fins
distintos. Assim, dada a abrangência das situações e os fins do Estado vislumbra-se para
cada situação a criação de uma divisão específica.
Pode dizer-se que idealmente as decisões administrativas devem ser tomadas no
mesmo espaço onde se desenvolvem as atividades económicas e sociais dos seus
destinatários. Tal princípio permite uma maior aproximação dos serviços à população
que poderá exercer o Direito de Participação e indicar opções acerca da decisão a tomar
de forma informada. E por seu lado, a Administração terá na sua posse toda a
informação necessária a uma correta execução das decisões estando próxima da
comunidade sobre que recairá a decisão. Em contraposição a divisão administrativa do
território acarreta alguns inconvenientes como por exemplo questões no âmbito de
coordenação, desperdício, sobreposições de situações, desresponsabilização dos
agentes.
Estes inconvenientes têm criado uma alteração do modo de organização do espaço,
retornando a uma situação de alguma unidade funcional do espaço. Na prática, tem
criado situações de entidades intermédias entre o Município e o Estado reagrupando-se
as atividades desenvolvidas por cada uma destas entidades e coordenando funções
entre os vários patamares administrativos.
197
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 482.
198
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 129.
112
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
199
Com efeito, a este respeito a posição de André Gonçalves Pereira que recusa a opinião de que a competência dos
órgãos municipais depende da existência de um estatuto pessoal. PEREIRA, André Gonçalves; Contribuição para uma
Teoria Geral do Direito Municipal; Edição Policopiada; Lisboa; 1959; pág. 221.
200
De facto, o interesse público constitui o princípio orientador de toda a atividade administrativa.
113
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
O interesse público está relacionado com a prossecução do bem comum, com o bem-
estar geral de pessoas e comunidades, não é, contudo, um conceito imutável e
atemporal201.
No entanto, não se pode olvidar que a Administração Pública deve atuar tendo em conta
a prossecução do Interesse Público. Deste modo, releva a conciliação entre o Interesse
Público e os Interesses regionais. O Interesse Público não é confundível com os
Interesses nacionais, sendo o interesse público uma espécie dos interesses nacionais,
juntamente, com os interesses públicos específicos202.
Relativamente ao interesse público importa dizer que podem apresentar-se algumas
decorrências diretas do mesmo, a saber, a não modificação pela Administração Pública
dos interesses públicos confiados pela lei; o dever de prossecução dos mesmos; a
constituição de um parâmetro do Princípio da Especialização que promova a melhor
prossecução do Interesse Público; a representação ainda de um critério para determinar
situações de desvio de poder; e a consagração de um fator na concretização do Princípio
da Imparcialidade203.
O Conceito de interesses próprios da comunidade municipal funciona como critério para
delimitar o conjunto de competências e atribuições dos Municípios204.
Os Interesses Comuns 205 de uma determinada população num dado território são a
razão da existência das Autarquias Locais. Com efeito, um dos fundamentos para a
defesa da Descentralização é justamente a existência de interesses próprios de uma
comunidade, designadamente, os interesses locais, que melhor serão prosseguidos por
essas mesmas comunidades através dos seus órgãos eleitos diretamente pela população
a que respeitam. Os Interesses Comuns de uma comunidade revestem-se na
201
MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 560;
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 484.
202
CAUPERS, João; A Administração Periférica do Estado. Estudo de Ciência da Administração; equitas – Editoral
Notícias; 1994; pág. 231.
203
CAUPERS, João; Introdução ao Direito Administrativo; 10.ª edição; Âncora Editora; 2009; pág. 86.
204
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 71.
205
SOUSA, Marcelo Rebelo de; MATOS, André Salgado Matos; Direito Administrativo Geral; Tomo I; 3.ª Edição; D.
Quixote; Lisboa; 2008; pág. 142.
114
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
206
OTERO, Paulo; O Poder de Substituição em Direito Administrativo; Tomo II; Lex; Lisboa; 1995; pág. 771. Continua
PAULO OTERO por afirmar que cada norma descentralizadora deve ser analisada sem prejuízo da existência de um
interesse geral ou nacional pertencente ao Estado. Deste modo, o interesse nacional funciona ainda como critério de
repartição de poderes ente o Estado e as entidades intraestaduais; apresenta uma cláusula habilitante de
competências excecionais do Estado; e, ainda significa um limite às competências atribuídas aos entes intraestaduais.
207
Acórdão do Tribunal Constitucional 949/2015, de 22 de outubro.
115
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
208
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 157.
209
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 162.
210
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 484.
211
Estes interesses privativos das populações locais que são o fundamento da constituição das autarquias locais
baseiam-se no facto de os indivíduos conviverem numa mesma área, unidas por laços de vizinhança.
212
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 485.
116
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
213
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 90.
214
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 91.
117
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Democracia Local. Neste último caso, constata-se que o interesse próprio resulta da
Autonomia consagrada às autarquias locais.
O legislador pode atribuir competências municipais relativas a todos os sectores da
atividade administrativa, tendo apenas de certificar-se da garantia da unidade e eficácia,
ficando excluídos somente os interesses reservados para a Administração Central e para
a Administração Regional.
Ora, é ainda possível dizer que nem todas as necessidades coletivas de nível local estão
a cargo das autarquias locais, por um lado e, mesmo sectores com uma dimensão
sobretudo nacional podem constituir interesses públicos municipais.
Assim, as autarquias locais só podem prosseguir alguns interesses locais e não todos
aqueles que poderiam numa primeira análise ser considerados interesses locais,
porquanto encontram-se restringidos a limites relativos a razões de eficácia ou de
unidade.
Com efeito, há que reconhecer a unidade intrínseca do interesse público. De facto, o
interesse nacional está presente em toda a atividade administrativa. Por isso, há um
interesse geral traduzido na satisfação de todas as necessidades coletivas, e de que
todas as necessidades coletivas sejam preenchidas pela atividade administrativa215. No
entanto, a delimitação das atribuições das entidades municipais é uma criação do
legislador não havendo atribuições locais por natureza216.
Porém, são vários os critérios a ponderar na delimitação dos interesses locais, assim
note-se a importância do território, o influxo das contingências do momento histórico e
ainda, a ponderação necessária que é imposta pelo Princípio da Descentralização, todos
estes fatores contribuem para a delimitação e uma melhor análise dos interesses que
pela sua natureza devam ser prosseguidos por entidades descentralizadas.
Assim, os interesses próprios municipais são atribuídos por Lei, deste modo, ao ser
conferido por lei ao município um interesse local torna-se um interesse exclusivo face a
215
FOLQUE, André; A Tutela Administrativa nas relações entre o Estado e os Municípios (Condicionalismos
Constitucionais); Coimbra Editora; 2004; pág. 95.
216
MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constitucional; Tomo III; 5.ª Edição; Coimbra Editora; Coimbra; 2004; pág.
219.
118
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
217
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 485.
218
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 487.
119
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
11.2 As Atribuições
Quanto às atribuições das Autarquias Locais deve referir-se que a própria noção não é
isenta de dúvidas. Assim, Marcello Caetano fez a distinção entre atribuições (interesses
a realizar pela pessoa coletiva) e competências (poderes jurídicos conferidos aos órgãos
para desempenho das atribuições). Com efeito, a noção de atribuições passou a constar
em relação ao Direito Local. Assim, surge com previsão e concretização circunstanciada
dos domínios de atribuições relativos às entidades administrativas, nas diversas
categorias de Autarquias Locais, em relação a certos órgãos locais e entes de outra
natureza; contempla-se como cláusula residual de atribuições; implementando uma
importante distinção entre atribuições de exercício obrigatório e atribuições de
exercício facultativo; e cominando a nulidade para as deliberações dos corpos
administrativos estranhas às respetivas atribuições220.
Importa ainda referir o sistema de definição das atribuições das Autarquias Locais. A
este respeito podem destacar-se três sistemas, o sistema misto (que terá tido lugar no
período do constitucionalismo liberal), o sistema da enumeração taxativa (que se
verificava com o constitucionalismo autoritário) e o sistema da cláusula geral (que
vigorou no constitucionalismo democrático) 221.
Na Constituição da República Portuguesa de 1976 vigorou o sistema misto. Contudo,
surgiram em 1999 várias correntes doutrinárias acerca do sistema que vigorava então
em Portugal. Uma das quais defende que em 1999 deixou de se registar um sistema de
cláusula geral e passou então a registar-se um sistema de enumeração taxativa; uma
outra corrente defende que o que se verificou foi a continuidade do sistema de cláusula
219
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 136.
220
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 462.
221
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 468.
120
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
geral; havendo ainda que destacar uma outra corrente que defende que se verifica um
regresso ao sistema de enumeração taxativa222.
No que diz respeito ainda às competências das Autarquias Locais as atribuições destas
entidades estão consagradas de forma dispersa, ora nas normas e Princípios
consignados na Constituição da República Portuguesa, ora na Carta Europeia da
Autonomia Local; podendo ainda ser encontradas nos costumes acerca das atribuições;
estando plasmadas nas normas sobre competência das quais se infiram atribuições das
Autarquias Locais e ainda de normas constantes em atos legislativos que concretizam a
transferências de atribuições para as Autarquias Locais 223 . De resto, não estando
diretamente consagradas quais as atribuições das Autarquias Locais há uma presunção
de validade das mesmas224.
Assim, não existe necessidade de reclamar uma cláusula habilitativa implícita de
atribuições, isto é, se for para prossecução de interesses locais e não invada a esfera
legal reservada a outros órgãos existe uma presunção de validade da atuação das
Autarquias Locais.
Releva ter presente que deverá verificar-se os elementos textuais, a estrutura, o
Princípio Democrático e o Princípio da Autonomia Local, ainda a sinética, ponderação
das consequências, para o sentido do dever constitucional, de uma interpretação
diversa, e ainda a teleologia desse subsistema normativo, a regra da universalidade das
atribuições com a inerente projeção máxima no município225.
Portanto, o critério de definição das atribuições locais tem de ter em consideração a
diversidade de fundamentos normativos das diversas atribuições; a relevância da
distinção entre titularidade e exercício das atribuições; e a existência de diferentes
Autarquias Locais. Pode, por isso, afirmar-se que, perante a situação de o legislador não
222
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 469.
223
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 470.
224
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 471.
225
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 473.
121
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
11.3 As Freguesias
As Freguesias constituem Autarquias Locais, assim, fazemos uma breve referência às
mesmas. Deste modo, deve entender-se por Freguesia “as autarquias locais que, dentro
do território municipal, visam a prossecução de interesses próprios da população
residente em cada circunscrição paroquial” 227 . E trata-se de circunscrição paroquial,
uma vez que, as Freguesias tiveram a sua origem nas Paróquias.
As atribuições e competências das Freguesias encontram-se consagradas na Lei das
Autarquias Locais. Com efeito, são atribuições destas entidades o recenseamento
eleitoral e a administração de bens afetos à sua jurisdição.
226
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 483.
227
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 507.
122
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
228
Importa salientar que as Freguesias com menos de 150 eleitores ou com 150 eleitores não há lugar à criação de
Assembleia de Freguesia devendo as competências da Assembleia de Freguesia ser exercidas pelo Plenário dos
Cidadãos eleitores.
123
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
229
Em relação à constituição da Junta de Freguesia esta depende do número de habitantes da Freguesia. Assim, nas
Freguesias com menos de 5000 habitantes a Junta de Freguesia deverá ser constituída por três membros, o
presidente, o secretário e o tesoureiro; se a Freguesia tiver entre 5000 e 20000 habitantes a Junta de Freguesia deverá
ser constituída por cinco membros, o Presidente, o Secretário, o Tesoureiro e dois vogais, por fim, se a Freguesia tiver
mais de 20000 habitantes a Junta de Freguesia deverá ser composta por sete membros, o Presidente, o Secretário, o
Tesoureiro e quatro vogais.
230
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 517.
231
RIBEIRO, Manuel Costa; O Apoio do Município às Freguesias in Revista de Administração Local; n.º 270; abril-junho
de 2016; Ano 39; pág. 247.
124
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
11.4 Os Municípios
Os Municípios são Autarquias Locais consagradas constitucionalmente. Enquanto
Autarquias Locais são um instrumento de Descentralização Administrativa 232 . Deste
modo, são entidades que desenvolvem competências junto da respetiva população.
Enquanto entidades mais próximas dos cidadãos, os Municípios são as entidades que
estão melhor colocadas para promover o desenvolvimento económico, social e cultural
do seu território, e, por isso, a lei atribui-lhes competências que permitam promover o
seu desenvolvimento.
Os Municípios podem ser criados e extintos através de lei da Assembleia da República.
Os órgãos dos Municípios são órgãos representativos enquanto órgãos das Autarquias
Locais e, de acordo com o artigo 235.º n.º 2 da Constituição da República Portuguesa.
Verifica-se a existência de órgãos deliberativos e de órgãos executivos, conforme
estabelece o artigo 239.º da Constituição da República Portuguesa. Assim, os órgãos
deliberativos, ou seja, as Assembleias Municipais, no âmbito das suas competências
decidem as orientações a seguir, tomando as decisões. Os órgãos executivos, que
232
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 546.
125
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
11.4.1 Competências
As competências das Autarquias Locais estão consignadas na Lei das Autarquias Locais.
Com efeito, a questão das competências atribuídas aos Municípios pode ser analisada
de várias perspetivas podendo ser feita uma análise de “de jure condendo” e “de jure
condito”. No entanto, em cada momento poderão ser alteradas consoante o poder
político e as necessidades da população. Assim, dependendo da tendência, quer a opção
pela Centralização quer a opção pela Descentralização assim se vão delimitando as
competências dos Municípios. Não é, portanto, estanque, o catálogo das competências
dos Municípios, com efeito, este vai depender de vários fatores. Importa ainda analisar
como são delimitadas as competências dos Municípios. A definição das competências
dos Municípios pode ser realizada através de diversos critérios. Assim, pode adotar-se o
sistema da cláusula geral, o sistema da enumeração taxativa ou um sistema misto. O
sistema da cláusula geral consiste na formulação da lei de uma situação de
enquadramento sintético e abstrato das competências dos Municípios, que deverá
então ser concretizada. O sistema da enumeração taxativa consiste na realização de uma
enumeração expressa de todas as competências dos Municípios, a lei determina então
todas as competências dos Municípios entendendo-se que nenhuma outra competência
poderá ser uma competência dos Municípios. Quanto ao sistema misto, trata-se de um
sistema em que a lei estabelece uma enumeração exemplificativa das principais
competências dos Municípios, esta enumeração é complementada com uma cláusula
geral relativa às competências dos Municípios. A Lei-Quadro de transferência de
atribuições e competências para as Autarquias Locais, a Lei n.º 159/99, de 14 de
setembro, estabelece e delimita a transferência de atribuições, tendo, então como
objetivo determinar os poderes legislativos que deverão concretizar a transferência das
atribuições e competências. Há ainda a considerar a Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro
que estabelece o Regime Jurídico das Autarquias Locais. Assim, no artigo 23.º da Lei n.º
75/2013 fica estabelecido que estas entidades têm atribuições no domínio do
126
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
233
Na Itália, as comunas são compostas por três órgãos (Consiglio Comunale, Giunta Comunale e Sindaco), e o Síndaco
é eleito por eleição direta. Na Inglaterra verifica-se uma situação de autonomia da Administração Municipal, desta
situação resulta que não há um modelo único. No entanto, há um órgão deliberativo, o Council, um órgão executivo,
um dirigente executivo, town cerk, e um mayor, que desempenha apenas funções representativas e simbólicas. A Lei
de Administração Local de 2000, estabeleceu três modelos possíveis a decidir através de Referendo Local, a saber,
Mayor e gabinete, dirigente executivo e gabinete e Mayor e dirigente executivo. Na Alemanha existe também uma
grande variedade de modelos dada a estrutura federal do país. No entanto, em regra, existe uma Assembleia
Municipal e um Presidente da Câmara eleitos.
234
Os órgãos deliberativos são os órgãos responsáveis pela tomada de decisões ais relevantes e complexas,
estabelecendo a orientação a segui pela entidade a que pertencem. Os órgãos executivos respeitam as orientações
estabelecidas o quotidiano e fazendo a gestão corrente dos assuntos abrangidos nas competências da pessoa coletiva.
127
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
128
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
que a lei estabelece e ainda outros que lhe sejam delegados pela Câmara Municipal,
traduzindo-se esta na função decisória do Presidente da Câmara. Incumbe ainda ao
Presidente da Câmara fornecer informações aos Vereadores e à Assembleia Municipal,
devendo remeter toda a documentação relevante da atividade do Município,
configurando esta a função interlocutória. Juntamente com estas funções o Presidente
da Câmara pode ainda exercer outras funções no âmbito de competências delegadas.
235
NABAIS, José Casalta; A Autonomia Local (Alguns Aspectos Gerais); Coimbra; 1990; pág. 50.
236
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 80.
237
MIRANDA, Jorge; Manual de Direito Constitucional; Tomo I; 6.ª Edição; Coimbra Editora; Coimbra; 1997; pág. 367.
238
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 80.
129
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Portuguesa. Deste modo, constitui uma salvaguarda à atuação do Estado quer perante
o poder legislativo, quer perante o poder administrativo239.
O Poder local “salienta a existência, ao nível das comunidades locais, de um poder que
se afirma e limita o poder central, chamando a atenção para outros centros de poder a
nível territorial. É, neste sentido, a “manifestação moderna” do Princípio da Separação
de Poderes em sentido vertical”240.
A Democracia Local, por sua vez, concretiza-se no “direito dos cidadãos eleitores das
comunidades locais (organizados em Autarquias Locais, no âmbito do Estado de Direito
Democrático) de deliberar diretamente ou através de órgãos por eles eleitos e perante
eles responsáveis, sobre os assuntos relativos às respetivas comunidades”241.
Nas palavras de J. BAPTISTA MACHADO ainda que seja reconhecido o poder local que
deve ser respeitado pelo Estado “só a comunidade estatal é soberana. Por conseguinte,
a faculdade de orientação político-administrativa dos entes locais territoriais é
delimitada pelas normas do Estado”242.
O artigo 235.º n.º 2 da Constituição da República Portuguesa determina que “as
autarquias locais são pessoas coletivas territoriais dotadas de órgãos representativos,
que visam a prossecução e interesses próprios das populações respetivas” consagra,
assim, a personalidade jurídica sendo as atribuições determinadas por lei, de acordo
com o Princípio da Descentralização consagrado no artigo 237.º n.º 1 da Constituição da
República Portuguesa.
A Autonomia Local vem proclamada também no artigo 6.º Constituição da República
Portuguesa, afirmando que as entidades com competências para tal devem
239
MOREIRA, Vital; Empréstimos Municipais, autonomia local e tutela governamental in Direito Regional e Local; 03;
julho-setembro de 2008; pág. 38.
240
OLIVEIRA, António Cândido de; A Democracia Local; Coimbra Editora; 2005; pág. 18.
241
OLIVEIRA, António Cândido de; A Democracia Local; Coimbra Editora; 2005; pág. 14.
242
MACHADO, J. Baptista; Participação e Descentralização; Democratização e Neutralidade na Constituição de 76;
Almedina; Coimbra; 1982; pág. 10.
130
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
243
MARTINS, Margarida Salema d'Oliveira; O Princípio da Subsidiariedade – Princípio da Subsidiariedade em
Perspectiva Jurídico-Política; Coimbra Editora; 2003; pág. 456.
244
MOREIRA Vital; Administração Autónoma e Associações Públicas; Coimbra Editora; Coimbra; 2003; pág. 571.
131
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Face ao exposto pode afirmar-se que o Princípio da Autonomia Local significa a assunção
de certos interesses próprios e exclusivos das Comunidades Locais, pelas Autarquias
Locais para as quais foram transferidas as atribuições e competências para os
prosseguir, sem intervenção na sua decisão de outras entidades. As Autarquias Locais
existem não para realizarem interesses gerais do da Administração Central, mas para,
prosseguirem os interesses específicos das respetivas populações através de órgãos
próprios245. É daí que advém o conjunto de atribuições autonómicas.
O Princípio da Autonomia Local está imbricado no Princípio da Subsidiariedade sendo
regulador daquele, garantindo a sua efetiva concretização. Assim, desde logo importa
referir, sendo um elemento inquestionável de tal corolário, que o Princípio da
Autonomia Local concretiza-se na relação entre as entidades infraestaduais e o Estado.
Deste modo, é reconhecido a determinadas entidades infraestaduais que prosseguem
atribuições próprias de determinada comunidade um conjunto de características que
lhes permite o reconhecimento de independência face ao Poder Central. As
características mencionadas são o reconhecimento de personalidade jurídica; a eleição
dos seus órgãos pela população local correspondente; o reconhecimento de um
conjunto de atribuições relativas aos assuntos locais; o poder de decisão próprio, ou
seja, autónomo e independente relativamente aos assuntos da sua competência; a
verificação da existência de recursos humanos e financeiros que permitam a
prossecução das suas atribuições de forma autónoma exercendo os seus poderes de
modo efetivo; e a sujeição à tutela de legalidade246.
A Autonomia Local não conjuga consensos havendo sido apresentados vários vetores
que incluem a autonomia247.
245
NABAIS, José Casalta; A Autonomia Local (Alguns Aspectos Gerais); Coimbra; 1990; pág. 51.
246
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; pág. 72.
247
REBELO, Marta; Descentralização e Justa Repartição de Recursos entre o Estado e as Autarquias Locais; Almedina;
Coimbra; 2007; pág. 74. Assim, surge a autonomia de orientação que significa que são os órgãos eleitos da pessoa
coletiva pública que define as orientações e diretrizes a prosseguir; a autonomia normativa que permite elaborar os
comandos normativos, ou seja, os regulamentos administrativos, que permitem a gestão dos interesses próprios; a
autonomia administrativa que permite a prática e atos administrativos; e a autonomia política.
132
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
A Autonomia Local das entidades locais pressupõe ainda para que o exercício das suas
atribuições possa um exercício efetivo sobre as premissas constitucionais que sejam
diretamente eleitos os seus órgãos, conforme estabelece o artigo 239.º da Constituição
da República Portuguesa. Além de que para garantir o exercício efetivo das suas
atribuições determina o artigo 241.º da Constituição da República Portuguesa a
exigência de autonomia regulamentar atribuída às entidades descentralizadas. Por
outro lado, deve garantir-se a sujeição da atividade das entidades locais à tutela da
legalidade conforme está consagrada no artigo 242.º n.º 1 da Constituição da República
Portuguesa.
O grande desafio está então em demarcar o interesse local do interesse nacional, tendo,
entretanto presente que existe ainda um domínio concorrência que abrange interesses
que podem ser exercidos pelo Estado e pelas entidades locais.
O Princípio da Autonomia Local funciona como garantia da existência de Poder Local que
existe quando as Autarquias Locais têm verdadeiro poder de decidir, detendo
autonomia administrativa e financeira para prosseguir as suas atribuições e tendo
competências para atuar com o intuito de prosseguir os seus interesses e as atribuições,
sendo ainda dotadas dos meios técnicos e humanos para satisfação das necessidades da
população248.
Ainda para FREITAS DO AMARAL o Princípio da Autonomia Local significa liberdade para
decidir representando a garantia do pluralismo dos poderes públicos e sendo uma
manifestação de limitação do Poder político249.
248
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 488.
249
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 491.
133
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
prática com efeitos efetivos o Princípio da Autonomia Local enquanto vetor essencial da
existência das Autarquias Locais.
O artigo 3.º n.º 1 da Carta Europeia de Autonomia Local define o Princípio da Autonomia
Local enquanto “o direito e a capacidade efetiva de as autarquias locais regulamentarem
e gerirem, os termos da lei, sob sua responsabilidade e no interesse das respetivas
populações, uma parte importante dos assuntos públicos”.
Assim, a Carta Europeia da Autonomia Local dá ênfase ao facto de que as Autarquias
Locais são um dos fundamentos do regime democrático devendo os cidadãos ter um
papel ativo na gestão dos assuntos públicos sendo-lhe reconhecido o direito de
participação nestes assuntos que melhor serão exercidos a nível local e permitindo a
concretização da Democracia Local. A importância da Carta Europeia da Autonomia
Local confirma ainda que há intenção de construção de uma Europa baseada no
Princípio da Democracia e no Princípio da Descentralização do Poder.
A Carta Europeia da Autonomia Local reconhece ainda uma autonomia regulamentar às
entidades locais determinando que “dentro dos limites da lei, as autarquias locais têm
completa liberdade de iniciativa relativamente a qualquer questão que não seja excluída
da sua competência ou atribuída a uma outra autoridade” e apresentando um critério
orientador das atribuições transmitidas às entidades Locais ao determinar que “regra
geral, o exercício das responsabilidades públicas deve incumbir, de preferência, às
autoridades mais próximas dos cidadãos. A atribuição de uma responsabilidade a uma
outra autoridade deve ter em conta a amplitude e a natureza da tarefa e as exigências
de eficácia e economia” 250 . Mais salienta que, os atos das Autarquias Locais estão
sujeitos à Tutela Administrativa, mas, apenas, para que seja assegurado o respeito pela
legalidade e pelos Princípios Constitucionais. No entanto, salvaguarda-se a possibilidade
de a Tutela Administrativa compreender um juízo de oportunidade exercido por
autoridades de nível superior relativamente a atribuições que tenham sido delegadas
250
Tem aplicação o artigo 8.º n.º 2 da Constituição da República Portuguesa que determina que “as normas constantes
de convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas vigoram na ordem interna após a sua publicação
oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado Português”.
134
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
nas Autarquias Locais, conforme estabelece o artigo 8.º da Carta Europeia de Autonomia
Local.
Para Freitas do Amaral existem três direitos abrangidos na ideia de Autonomia Local: o
direito e capacidade efetiva de regulamentação e gestão na égide da sua
responsabilidade e no interesse das populações abrangidas numa autarquia local, parte
dos assuntos públicos - o direito de regulamentação acerca da aplicação de normas e
planos nacionais às situações locais; direito de participação na delimitação das políticas
públicas nacionais; o direito de partilha como Estado ou com a Região das decisões que
digam respeito a matérias de interesse comum251.
Por outro lado, pode considerar-se o Direito à organização própria e o Direito às
competências próprias para por meio dos seus órgãos representativos prosseguirem os
interesses regionais 252 . Assim sendo, as Autarquias Locais têm o Direito de exigir o
respeito à sua Autonomia Local e a concretização efetiva dessa mesma Autonomia Local.
Esta mesma ideia está consagrada no artigo 11.º da Carta Europeia da Autonomia Local
onde se consagra que “as autarquias locais devem ter o direito de recorrer judicialmente,
a fim de assegurar o livre exercício das suas atribuições e o respeito pelos princípios de
autonomia local que estão consagrados na Constituição ou na legislação interna”.
251
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 492.
252
ALEXANDRINO, José de Melo; O défice de protecção do poder local: defesa da autonomia local perante o Tribunal
Constitucional in Direito Local e Regional; 05; janeiro-março de 2009; pág. 15.
253
GOUVEIA, Paulo Pereira Gouveia; Os Poderes do Estado e a autonomia financeira regional in Direito Regional Local;
n.º 13; janeiro-março de 2011; pág. 12. Donde resulta que, relativamente, às Regiões Autónomas, estas gozam de
uma vasta autonomia orçamental que corresponde a uma autonomia de receitas e de tributos e ainda de autonomia
patrimonial e autonomia creditícia.
135
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
254
FERREIRA, Eduardo Paz; OLIVEIRA, Ana Perestrelo de; O Fundo de Apoio Municipal e o Princípio da Autonomia
Financeira das Autarquias in Questões Atuais de Direito Local; número 01; janeiro/março de 2014; AEDRL – Associação
de Estudos de Direito Regional e Local; pág. 64.
255
MONTALVO, António Rebordão; A Carta Europeia da Autonomia Local e o Sistema de Governo Local in Revista de
Administração Local; n.º 232; julho/agosto de 2009; pág. 354.
256
Parecer da Comissão Constitucional n.º 9/81, de 18 de abril de 1980.
136
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
257
ROUX, André; Droit Constitutionnel Local; Paris; 1995; pág. 33.
137
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
tratamento igual. A Lei n.º 2/2007, de 15 de janeiro, impõe que os municípios detenham
serviços municipalizados ou que a totalidade do capital de entidades do sector
empresarial local efetuem a consolidação do Balanço e da Demonstração de Resultados.
De facto, com a Reforma da Administração do Estado iniciou-se uma nova fase nas
Autarquias Locais. Deste modo, a principal necessidade deste plano é a aprovação do
Plano Oficial de Contabilidades das Autarquias Locais publicado através do Decreto-Lei
n.º 54-A/99, de 22 de fevereiro. Deste destaca-se a determinação do objetivo de
integração consistente da contabilidade nas várias vertentes de uma contabilidade
pública moderna que constitua um instrumento fundamental de apoio à gestão das
Autarquias Locais; acresce ainda a intenção de criar um maior controlo financeiro e
ainda a necessidade de efetuar uma melhor preparação dos orçamentos. Um ponto
também de relevo é a necessidade de disponibilização de informação tempestiva e
importante para os órgãos de administração autárquica. Acrescente-se paralelamente a
obrigatoriedade de instituir subsistemas de contabilidade, ou seja, a instituição da
Contabilidade Orçamental258, Contabilidade Patrimonial259 e Contabilidade de Custos260.
O POCAL implica ainda uma perspetiva patrimonial que exige que sejam inventariados
todos os bens móveis e bens imóveis, verificando-se também, a obrigatoriedade da
aprovação de um Sistema de Controlo Interno (SCI) adequado às atividades da
autarquia. Este SCI compreende o plano de organização, as políticas, métodos e
procedimentos de controlo, os outros métodos adequados e definidos pelos
responsáveis autárquicos. Verifica-se ainda a obrigatoriedade de serem apresentados
vários documentos previsionais e de prestação de contas. Constata-se ainda a
obrigatoriedade de realização de auditoria externa às contas dos municípios e
associações de municípios com participação de capital em fundações ou Empresas
Municipais, de acordo com o artigo 48.º da Lei n.º 2/2007, de 15 de janeiro; por outro
lado, regista-se também, a obrigatoriedade de apresentação de contas consolidadas
258
Baseia-se no Princípio de caixa, as receitas e as despesas são registadas no momento em que é efetuado o
respetivo pagamento, deve ser ainda registados os compromissos e as liquidações.
259
Elaborada na base do acréscimo onde são registados todos os acontecimentos que implicam alterações do
património de uma entidade pública.
260
Através do qual é obtida informação do custo por funções, bens e serviços.
138
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
261
CARVALHO João Baptista da Costa; Os Municípios Portugueses: análise financeira e cumprimento da Lei das
Finanças Locais in Direito Regional e Local, n.º 6; abril-junho 2009; pág. 20.
262
CARVALHO, Manuel Ferreira de; Gestão Pública: Um novo Paradigma para a Governação da Administração Local
em Portugal; 8.º Congresso Nacional de Administração Pública; 2011; pág. 319.
139
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
líquida cobrada nos últimos três exercícios 263 . Contudo, o processo de afetação de
recursos aos Municípios, no que diz respeito ao procedimento, recursos e financiamento
é estabelecido por lei própria. Em conformidade, uma lei de afetação de tais recursos
deverá estabelecer o capital necessário, as fontes de financiamento, as situações que
carecem de intervenção do FAM264.
A participação do FAM deverá ser assegurada pelo Estado e por todos os Municípios265.
Assim, em virtude do apelo ao Princípio da Solidariedade inter-regional transfere-se uma
atribuição do Estado às Autarquias Locais, a quem compete auxiliar outras Autarquias
Locais, constituindo um mecanismo de Solidariedade horizontal. Importa referir que a
redistribuição do rendimento respeita dois Princípios importantes. O Princípio da
Equidade horizontal que indica que os indivíduos que se encontram em iguais
circunstâncias devem ter um tratamento igual; por outro lado, o Princípio da Equidade
vertical que observa a necessidade de que exista a transferência de rendimentos entre
indivíduos em posições diferentes.
A Solidariedade está contemplada no artigo 238.º n.º 2 da Constituição da República
Portuguesa. Estando intrinsecamente correlacionada com o Princípio da Igualdade
significando que o regime das finanças locais deve visar a justa repartição dos recursos
públicos pelo Estado e pelas Autarquias Locais e a correção das desigualdades entre
Autarquias do mesmo nível.
No entanto, este mecanismo de fomento da Solidariedade é suscetível de violar o
Princípio do respeito pela autonomia financeira dos municípios266. Efetivamente, pode
corresponder a uma demissão do Estado de prestar auxílio aos Municípios entregando
tal papel aos próprios Municípios que serão obrigados a alocar recursos próprios para
263
CARVALHO, Manuel Ferreira de; Gestão Pública: Um novo Paradigma para a Governação da Administração Local
em Portugal; 8.º Congresso Nacional de Administração Pública; 2011; pág. 319.
264
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 294.
265
Inicialmente, tinha sido proposto que a participação para o FAM corresponderia a 4 % do Fundo de Equilíbrio
Financeiro e por transferência da totalidade do acréscimo de receita do Imposto Municipal sobre Imoveis, IMI.
266
Assim, importa salientar o Acórdão n.º 452/87, de 09 de dezembro que determinou que “os órgãos autárquicos
têm liberdade para dispor das receitas da autarquia, designadamente das que provierem da gestão do seu património
ou forem cobradas pela utilização dos seus serviços. Estas receitas fazem, decerto, parte do conteúdo inderrogável
das receitas autárquicas (…), nestas se incluído ainda, obrigatoriamente, quanto aos municípios, uma parcela, a definir
por lei, das receitas provenientes dos impostos directos (…)”).
140
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
contribuir para o FAM, o que pode traduzir uma violação do Princípio da Autonomia
Municipal 267 . Por isso, a aceitação de um mecanismo desta natureza estaria
condicionado à sua previsão constitucional.
267
FERREIRA, Eduardo Paz; OLIVEIRA, Ana Perestrelo de; O Fundo de Apoio Municipal e o Princípio da Autonomia
Financeira das Autarquias in Questões Atuais de Direito Local; número 01; janeiro/março de 2014; AEDRL – Associação
de Estudos de Direito Regional e Local; pág. 63.
268
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 27.
269
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 230.
270
LIMA, Licínio C.; “O Programa “Aproximar Educação”, os municípios e as escolas: descentralização democrática ou
desconcentração administrativa” in Questões Atuais de Direito Local; n.º 5; pág. 8.
271
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 45.
141
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
272
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 46.
273
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 52.
274
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 101.
142
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
275
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 231.
276
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 116.
277
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 106.
278
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 107.
279
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 154.
280
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 160.
143
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
281
LEITÃO, Alexandra; Os Contratos Interadministrativos; Almedina; Coimbra; 2010; pág. 251.
282
BENTO, Inês Pisco; Da Descentralização Administrativa à “fragmentação funcional”: contributo para a análise da
provisão pública da Educação in Scientia Ivridica; número 327; Braga; setembro-dezembro de 2011; pág. 545.
283
A delegação de competências distingue-se da delegação de poderes constante do Código de Procedimento
Administrativo, que significa o ato pelo qual um órgão da Administração Pública normalmente competente para
decidir acerca de determinada matéria permite, de acordo com a lei, que outro órgão ou agente pratiquem atos
administrativos sobre a mesma matéria. Efetivamente, esta realidade corresponde à Desconcentração e não à
Descentralização. OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013;
pág.231.
144
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
145
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
284
AZEVEDO, Joaquim de; Descentralização Administrativa e Autonomia das Escolas. 2015: O Ano em que se dá mais
um passo em frente in Atas do Primeiro Seminário Internacional; Volume I - Conferências e Intervenções; Educação,
Territórios e Desenvolvimento Humano; Porto; 2015; pág. 103.
285
Este consiste em “implementar a descentralização, em particular, nas áreas sociais, de forma progressiva e
faseada, através de projetos-piloto, por contratualização com municípios com características territoriais e
sociodemográficas diversas, ficando o eventual alargamento aos demais municípios dependente da avaliação dos
resultados dos projetos-piloto que tenham sido implementados”, conforme resulta do Preâmbulo do Decreto-Lei n.º
30/2015.
286
AZEVEDO, Joaquim de; Descentralização Administrativa e Autonomia das Escolas. 2015: O Ano em que se dá mais
um passo em frente in Actas do Primeiro Seminário Internacional; Volume I - Conferências e Intervenções; Educação,
Territórios e Desenvolvimento Humano; Porto; 2015; pág. 102.
146
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Deste modo, constata-se que ao nível da Educação e apesar de se falar numa realidade
de descentralização administrativa efetivamente tem-se registado uma
desconcentração administrativa.
147
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
12. A Regionalização
12.1 A Regionalização
A Região Administrativa está prevista no artigo 238.º da Constituição da República
Portuguesa enquanto Autarquia Local. O artigo 1.º da Lei-Quadro das Regiões
Administrativas determina que a Região Administrativa “é uma pessoa coletiva
territorial, dotada de autonomia administrativa e financeira e de órgãos representativos,
que visa a prossecução de interesses próprios das populações respetivas, como fator da
coesão territorial”.
Trata-se, por isso, de coletividades territoriais dotadas de autogoverno através de
órgãos representativos próprios, conforme determina o artigo 235.º n.º 2 da
Constituição da República Portuguesa 287.
Também para a doutrina as Regiões Administrativas são “autarquias locais
supramunicipais, que visam a prossecução daqueles interesses próprios das respetivas
populações que a lei considere serem mais bem geridos em áreas intermédias entre o
escalão nacional e o escalão municipal” 288.
Porém, apesar da sua consagração constitucional a Regionalização no que diz respeito
aos seus contornos não é unívoca. Deste modo, existem várias teorias a respeito do
assunto, assim, se, por um lado, há quem considere a Regionalização um nível de
Desconcentração Administrativa; por outro lado, há quem defenda que deve ser
considerada uma forma mista de Desconcentração e Descentralização Administrativa;
havendo ainda defensores de que se pode considerar uma forma de descentralização
administrativa; há ainda quem admita a possibilidade de afirmar que se trata de uma
forma de descentralização administrativo-política.
Apesar da querela existente quanto à natureza da Regionalização certo é que
Descentralizar em Portugal significa Regionalizar “porque sem um nível autárquico
intermédio entre o Município e o Estado, não é possível descentralizar o Estado”. Implica,
287
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 657.
288
AMARAL, Diogo Freitas do; Curso de Direito Administrativo; Volume I; 3.ª Edição; Almedina; 2010; pág. 658.
148
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
289
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 80.
290
Tal conceito é esclarecido no artigo 1.º n.º 1 da Declaração da Assembleia das Regiões da Europa sobre o
Regionalismo na Europa aprovada em 04 de dezembro de 1996.
149
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
291
VAZ, Manuel Afonso; Regionalização Total ou Descentralização Parcial - A Problemática Constitucional das Regiões
Autónomas – Coloquio; Direito e Justiça; Volume X; 1996; Tomo 1; pág. 91.
150
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
para apresentar soluções, “informados para contribuir para resolução dos problemas;
solidários para dar conteúdo à pretensão de tornar patente o respeito pelo outro” 292.
292
OLIVEIRA, Luís Valente de; Descentralização, pedra angular da reforma do Estado in Questões Actuais de Direito
Local; número 10; Associação de Estudos de Direito Regional e Local; abril/junho de 2016; pág. 11.
293
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 31.
294
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 31.
151
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
295
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 32.
296
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 33
297
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998, pág. 31.
152
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
298
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 38.
299
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 39.
300
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 40.
153
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
301
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 41.
302
CAUPERS, João; Divisão Administrativa e órgãos regionais in Direito Regional e Local; n.º 08; outubro-dezembro
de 2009, pág. 7.
154
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
10.º da Lei-Quadro das Regiões Administrativas. O Governador Civil Regional tem como
funções representar o governo na área da Região Administrativa para que foi nomeado,
fiscalizar a legalidade da atuação da própria Região Administrativa enquanto Autarquia
Local e exercer poderes de Tutela Administrativa, sobre os Municípios e Freguesias que
compõem a Região Administrativa.
A Assembleia é mista sendo constituída quer por membros eleitos por sufrágio, quer por
membros eleitos por um colégio eleitoral que integra membros das Assembleias
Municipais dos Municípios que abrangem a circunscrição da Região Administrativa, de
acordo com o artigo 14.º n.º 3 da Lei-Quadro das Regiões Administrativas e com o artigo
22.º n.º 1 da Lei-Quadro das Regiões Administrativas, através do Método de Hondt, em
conformidade com a Lei eleitoral das Autarquias Locais.
A eleição para a Junta Regional é feita de acordo com o sistema de representação
maioritária, por escrutínio secreto e por listas plurinominais, como estabelece o artigo
27.º n.º 1 da Lei-Quadro das Regiões Administrativas, note-se ainda que o artigo 27.º n.º
2 da Lei-Quadro das Regiões Administrativas determina que o Presidente da Junta
Regional deverá resultar do nome que constar em primeiro lugar na lista mais votada.
Pretende-se, deste modo, que seja conferida uma legitimidade eleitoral direta.
A Assembleia Regional exerce as suas competências em relação à gestão autárquica,
competindo-lhe, nomeadamente, a aprovação dos Planos de Desenvolvimento
Regional, ainda do Orçamento e o Plano Anual de Atividades, é este órgão que fiscaliza
a atividade da Junta Regional, como estabelece o artigo 25.º da Lei-Quadro das Regiões
Administrativas.
A Junta Regional, de acordo, com o artigo 31.º da Lei-Quadro das Regiões
Administrativas, desempenha as funções relativas à administração regional, ainda, por
exemplo, a prática de atos e contratos necessários para a preparação e execução do
Plano Regional, a direção e a superintendência dos serviços da Administração
Regional303.
303
MOREIRA, Vital; Organização, Atribuições, Poderes e Competências das Regiões Administrativas – Trabalhos
Legislativos – A Reforma Regional in Boletim da Faculdade de Direito; Volume LXXIV; 1998; Pág. 670.
155
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
Pode ainda a lei que regule a organização das Regiões Administrativas criar outros
órgãos, tome-se como exemplo o Conselho Económico e Social, uma vez que, não se
restringem os órgãos aos que estão consagrados e o Conselho Económico e Social fora
já contemplado tendo posteriormente deixado o elenco de órgãos das Regiões
Administrativas304.
Constata-se ainda a possibilidade de criação de outras entidades que permitam um
melhor exercício das atividades das Regiões Administrativas, como, por exemplo, os
Institutos Públicos Regionais e as Empresas Regionais.
304
MOREIRA, Vital; Organização, Atribuições, Poderes e Competências das Regiões Administrativas – Trabalhos
Legislativos – A Reforma Regional in Boletim da Faculdade de Direito; Volume LXXIV; 1998; Pág. 660.
305
Livro Branco sobre Regionalização; Ministério da Administração Interna. Secretaria de Estado da Administração
Regional e Local; 1980.
306
CAUPERS, João; Divisão Administrativa e órgãos regionais; Direito Regional e Local; n.º 08; outubro-dezembro de
2009; pág. 4.
307
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 137.
156
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
308
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 145.
309
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 29.
310
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 30.
157
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
311
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 36.
312
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 138.
313
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 139.
314
PERRI; Jean-Claude; Le développement regional; Presses Uniersitaires de France; 1974; pág. 81.
158
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
159
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
região forma-se por uma linha, lugar geométrico dos centros que mantém, com dois
pólos dominantes e distintos, relações de troca, de valor e de intensidade sensivelmente
semelhante. A natureza e a densidade das trocas são variáveis – variáveis com as
diversas estruturas – máximas no pólo principal e nas suas vizinhanças, mínimas junto
da fronteira, oscilantes em todos os pontos intermédios, pontos onde também se
localizam outros pólos, embora de segunda ordem315. Ora, quer isto dizer que, a Região
Polarizada exige que se encontre a área de influência de uma cidade, que funcione como
pólo de desenvolvimento, no entanto, esta tende a modificar-se devido à influencia de
diversos fatores, como a existência de dois pólos adjacentes; ou porque surge uma nova
exploração numa das áreas; ou ainda quando as atividades se desenvolvam numa das
áreas com relevância em relação a outra área na análise da sua delimitação.
Com efeito, não se consegue fazer coincidir os tipos de atividades sociais, económicas e
administrativas em todas as áreas, ou seja, não é linear. Pode ser encontrada uma
tendência para a coincidência de esfera de influência de um certo pólo, mas não se
consegue uma verdadeira coincidência, que corresponderia a estar em estado de
equilíbrio.
Assim, a polarização significa que deve encontrar-se a delimitação de uma região através
da sua área de influência, isto é, encontrando-se o pólo dinamizador e área de influência
desse polo dinamizador, que se concretiza na sua área de dependência. Com efeito, para
se encontrar a área de influência utilizam-se dois critérios, por um lado, a análise dos
fluxos e, por outro lado, utilizam-se módulos para avaliar o que teoricamente eles
deveriam fazer.
De acordo com a delimitação da Região polarizada pode adotar-se métodos
diferenciados para a obtenção das Regiões Administrativas316.
Assim, existe o método de atração entre os centros317.
315
PERRI; Jean-Claude; Le développement regional; Presses Uniersitaires de France; 1974 pág. 84.
316
CABUGUEIRA, Artur Carlos Crespo Martins; Do desenvolvimento regional ao desenvolvimento Local. Análise de
alguns aspectos de política económica regional in Gestão e Desenvolvimento; 9; 2000; pág. 106.
317
Situação em que o potencial demográfico é análogo a potencial gravitacional. Assim, num determinado ponto i o
potencial demográfico produzido por uma massa ou força de atração no ponto j (Vij) é definido da seguinte forma:
Vij = K (Pj/dij)
160
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
O potencial demográfico total do lugar i enquadrado num conjunto de vários lugares é igual à soma de Vij, em ordem
a j (conj = 1, 2, …, n), se houver n lugares, isto é:
∑Vij = Vi = K∑nj = 1 (Pj/dij)
318
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 140.
319
Desde logo, a avaliação, não sendo possível contar com nenhum padrão objetivo de medida recorrendo por norma
a um que esteja presente nas informações. O padrão de medida pode tornar-se a base de um simples número-índice
determinado para cada uma das unidades de observação da Região objeto de estudo. Pode então considerar duas
das tais medidas como, provavelmente, as mais relevantes para o técnico de planeamento regional uma é o valor da
média regional para a variável em estudo, outra o mais alto valor observado para aquela variável. Contudo, existem
outras técnicas, Medidas de similitude, coeficiente de correlação entre unidades. REIGADO, Felisberto Marques;
Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I; Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000;
pág. 144.
161
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
critérios relativos à localização dos serviços, ter-se-á igualmente de analisar a cidade que
simbolicamente constitua o centro de uma dada Região Administrativa, a cidade que
apresente maior desenvolvimento económico, e também que apresente localização
mais central. Assim, é da conciliação destes critérios que se obtém a cidade que deverá
ser a capital regional, não olvidando que importa ter em conta as especificidades de
cada Região Administrativa.
As Regiões de Planeamento devem ter um centro urbano com dimensões demográficas
consideráveis e que exerçam funções variadas e instrumentais para o desenvolvimento,
estando ainda dotado de instituições públicas e privadas capazes de definir uma
estratégia e concretizá-la tendo em conta o seu desenvolvimento320.
Concluindo, a optar pelo critério da polarização na delimitação das regiões
administrativas, apresentando-se o critério da homogeneidade como um critério para
considerar previamente. De facto, as regiões ainda que possam presentar características
comuns apresenta diferenças, daí que, se procure um outro critério de determinação
das Regiões Administrativas. No entanto, deve ter-se em conta ambos os critérios para
obter a delimitação regional321.
As Regiões Administrativas 322 terão então de ter uma dimensão considerável e um
centro urbano consistente no que diz respeito a critérios demográficos e no que respeita
a critérios institucionais, com instituições quer de índole pública, quer de índole privada
fortes que funcionem como centro de decisão e definição de estratégias e que executem
tais estratégias possibilitando assim o seu desenvolvimento.
Existem condições mínimas para delimitar as Regiões diferenciadas, no que respeita à
demografia e às taxas de urbanização323.
320
OLIVEIRA, Luís Valente de; Regionalização; Edições Asa; Porto; 1996; pág. 46.
321
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 82.
322
As Regiões Administrativas podem encontrar antepassados na Província, devendo substituir as Províncias. A
Província surge como uma comunidade de índole histórica e geográfica, consistindo numa entidade autónoma e de
natureza económico-social. O Distrito é uma entidade com natureza política e administrativa.
323
REIGADO, Felisberto Marques; Desenvolvimento e Planeamento Regional. Uma Abordagem Sistémica; Volume I;
Editorial Estampa; 1.ª Edição; 2000; pág. 145.
162
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
É necessário que a definição da política regional ganhe relevo o sistema das Regiões,
assumindo major relevo a componente económica do desenvolvimento regional324.
324
BAPTISTA; A.J. Mendes; Processo de Regionalização – Concepção e Implementação. Desenvolvimento Económico
e Política Regional; Ministério das Finanças e do Plano. Secretaria de Estado do Planeamento. Instituto de Análise de
Conjuntura e Estudos de Planeamento. Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais; 1984; pág. 19.
325
FARIA; Duarte Lynce; Regionalizar, o Referendo do Portugal esquecido – Regionalizar; Desenvolver; Quebrar o ciclo
da Desertificação do País; Bertrand Editora; 1996; pág. 64.
163
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
326
FARIA; Duarte Lynce; Regionalizar, o Referendo do Portugal esquecido – Regionalizar; Desenvolver; Quebrar o ciclo
da Desertificação do País; Bertrand Editora; 1996; pág. 67.
164
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
165
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
O modelo proposto pela LCRA determina uma relação de parceria com os restantes
níveis da Administração e uma relação de colaboração com outras entidades públicas e
privadas, mediante a celebração de contratos-programa.
Contudo, pode questionar-se a necessidade de se estipular tais pressupostos pois a
colaboração com entidades privadas resulta do exercício de autonomia contratual das
Autarquias Locais. Já a relação de parceria decorre dos Princípios Gerais que regem a
Administração do Estado e a Administração Regional e Autárquica.
A Lei n.º 19/98, de 28 de abril criou oito Regiões Administrativas: Entre Douro e Minho,
Trás-os-Montes e Alto Douro, Beira Litoral, Beira Interior, Estremadura e Ribatejo,
Lisboa e Setúbal, Alentejo e Algarve327.
Outra divisão possível é a utilização da circunscrição das CCDR, portanto, representa a
divisão do território continental em cinco Regiões. Esta é uma das possíveis divisões que
apresenta diversos defensores. No entanto, têm sido também indicadas outras formas
possíveis de divisão do território em Regiões Administrativas como a divisão em oito
Regiões Administrativas apresentadas em 1998 que consta da Fig. 6 dos Anexos.
A concreta instituição das Regiões Administrativas requer uma tramitação que passa por
várias fases assim, envolve a aprovação de uma Lei-Quadro das Regiões Administrativas,
que já foi aprovada e que está presente no artigo 255.º da Constituição da República
Portuguesa 328 ; a definição da divisão do território continental em regiões, a criação
simultânea, por lei, de todas as Regiões Administrativas, podendo haver “diferenciações
quanto ao regime aplicável a cada uma”; voto favorável da maioria dos cidadãos
eleitores, por referendo, relativamente à instituição das Regiões Administrativas no país
e à instituição da específica região que abranja a respetiva área de residência; e a
aprovação da lei de instituição em concreto de cada Região Administrativa. Deste modo,
em Portugal, apenas foi aprovada a Lei-Quadro das Regiões Administrativas.
327
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 24.
328
Note-se, porém, que, o regime de criação em concreto das Regiões Administrativas permite a existência de
diferenciações no regime de cada Região Administrativa. MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui; Constituição Portuguesa
Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 534.
166
Descentralização Administrativa
Novos Caminhos, Novas Realidades
É ainda necessário fazer outra análise quanto à Descentralização que está relacionada
com a Descentralização através da criação de grandes Regiões Administrativas que
consistiria em cinco ou seis Regiões Administrativas ou ao invés a Descentralização
através da criação de médias Regiões Administrativas que se revelaria em dez Regiões
Administrativas. A escolha por uma forma organizatória ou outra deverá ser feita de
acordo com as finalidades que se pretende prosseguir com as Regiões Administrativas.
Assim, se se pretender um planeamento económico através de grandes unidades
heterogéneas, amplos e diversificados deverá constituir-se as grandes Regiões
Administrativas. No entanto, se o que se pretende é obter unidades homogéneas,
médias deverá criar-se as médias Regiões Administrativas. Deste modo, ter-se-á a
região-comarca, no caso das grandes Regiões Administrativas ou então a região-
província, no caso das médias Regiões Administrativas. As grandes Regiões
Administrativas permitem um melhor planeamento económico, permitindo uma
compensação de potencialidades e aspetos desfavoráveis em áreas economicamente
diversas, confere, ainda, maior peso às decisões e declarações dos órgãos das Regiões
Administrativas e envolve menos gastos com a criação em concreto das Regiões
Administrativas. Por seu lado, as médias Regiões Administrativas têm a seu favor a
tradição histórica, o facto de apenas deste modo ser defensável a dispensa dos Distritos.
Face a este ponto de análise, a Regionalização é o conjunto de medidas de carácter
institucional que, integradas num processo evolutivo ao longo do tempo, conduzem à
criação de instituições regionais e ao reforço da sua capacidade de decisão autónoma.
Podendo a prossecução destas medidas ser efetivada por entidades descentralizadas ou
por serviços desconcentrados das entidades descentralizadas, ou seja, as entidades
descentralizadas poderão desconcentrar alguns serviços. Assim definida, a
Regionalização implica o recurso a processos de Desconcentração e de Descentralização
de funções da Administração Central329.
329
Livro Branco sobre Regionalização; Ministério da Administração Interna. Secretaria de Estado da Administração
Regional e Local; 1980; pág. 7.
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330
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 344.
331
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 347.
168
Descentralização Administrativa
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332
MIRANDA, Jorge; Medeiros, Rui; Constituição Portuguesa Anotada; Tomo III; Coimbra Editora; 2007; pág. 537.
333
O Referendo Local foi constitucionalmente consagrado na Revisão Constitucional de 1982.
334
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 167.
335
GOMES, Carla Amado; Referendo Local: o medo de existir? In Direito Regional e Local; 00; outubro-dezembro de
2007; pág. 30.
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336
“Descentralização, Regionalização e Reforma Democrática do Estado” – Ministério do Equipamento, do
Planeamento e da Administração do Território – Comissão de Apoio à Reestruturação do Equipamento e da
Administração do Território, Lisboa, 1998; pág. 73.
337
CORREIA; Fernando Alves; A Regionalização em Portugal Continental: Regionalização sem Regiões Administrativas
in RLJ – Revista de Legislação e Jurisprudência; Coimbra Editora; Coimbra; n.º 3988; setembro – outubro de 2014;
pág. 4.
170
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338
OLIVEIRA, António Cândido de; Direito das Autarquias Locais; 2.ª Edição; Coimbra Editora; 2013; pág. 346.
339
ALEXANDRINO José de Melo; A Determinação das Atribuições das Autarquias Locais in Estudos em Homenagem
ao Prof. Doutor Sérvulo Correia; Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; 2010; pág. 472.
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340
OLIVEIRA, Luís Valente de; Regionalização; Edições Asa; Porto; 1996; pág. 102.
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341
OLIVEIRA, Luís Valente de; Regionalização; Edições Asa; Porto; 1996; pág. 109.
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12.7.8 Turismo
O Turismo é um dos sectores de atividade económica que representa um dos maiores
rendimentos para o desenvolvimento regional. Mas para rentabilizar o sector é
necessário uma melhor gestão e organização, bem como, conhecimentos sólidos na
área. É necessário promover o turismo de Portugal no exterior o que exige cooperação
entre regiões e uma dinâmica supramunicipal.
177
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responder ao que é solicitado pelos cidadãos. Deste modo, pode falar-se de atribuições
regionais como forma de assegurar a colaboração técnica relativa às Autarquias Locais
em relação ao que for necessário para que estas exerçam as suas funções e fomentar o
aproveitamento das economias de escala; promover ações de fomento do
associativismo municipal em sectores em que seja adequada a promoção do
associativismo; colaborar com as Autarquias Locais na deteção de situações que
necessitam de formação e prestar auxílio aos Municípios no que diz respeito à gestão e
organização interna.
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Novos Caminhos, Novas Realidades
13. Conclusões
1. Portugal tem uma tendência centralizadora, tendo, contudo, esta tendência sido
intercalada ao longo das épocas por laivos descentralizadores e matizes
descentralizadoras que representaram inclusive atuações nesse sentido, tendo
sido refletido em Leis e Códigos tais laivos descentralizadores.
2. Há uma tendência descentralizadora na União Europeia, nomeadamente,
estando os Estados-Membros organizados em Regiões com diversas
competências e áreas de atuação. Com efeito, da análise da estrutura
organizativa dos países da União Europeia constata-se que a Regionalização é a
forma governativa com mais expressão, mesmo em países com uma dimensão
mais pequena, o que permite constatar que a dimensão de Portugal não é um
fator impeditivo da construção de um sistema de Regionalização.
3. A Constituição da República Portuguesa garante um Estado unitário que na sua
organização deve respeito ao Princípio da Autonomia do Poder Local e ao
Princípio da Subsidiariedade. Assim, respeita a margem de liberdade do poder
local e das comunidades locais reconhecendo a estas o papel preponderante na
realização e construção do poder local em Portugal, bem como na prossecução
dos interesses locais, sendo estas as entidades que melhor prosseguem os
interesses das comunidades locais.
4. Desta forma, a organização territorial da Administração Pública deve coadunar-
se com a existência de uma Administração Central, uma Administração Regional
e uma Administração Local. O que significa que deve ser reconhecido às
Autarquias Locais, que consistem na Freguesia, Município e Regiões
Administrativas competências próprias atribuídas por lei ou delegadas que
permitam a construção do poder Local e a concretização de uma verdadeira
Descentralização.
5. A Descentralização que deve abarcar o processo de Regionalização consiste na
melhor forma de organização territorial garantindo a mais adequada
prossecução do interesse público, que engloba os interesses próprios das
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a atuar mas também com a efetiva autonomia financeira para uma adequada
prossecução dos seus objetivos.
9. As Autarquias Locais que concretizam a Descentralização Administrativa
Territorial estão vocacionadas para a prossecução dos Interesses Locais e
Regionais que assim serão transferidos por lei por aplicação do Princípio da
Subsidiariedade que regula qual o nível administrativo que mais próximo da
comunidade está melhor preparado para a prossecução do interesse público.
10. As Autarquias Locais desenvolvem a sua atividade de forma autónoma com
respeito pelo Princípio da Autonomia Local estando apenas sujeitas à Tutela
Inspetiva e à Tutela Integrativa a posteriori.
11. Pelo que, torna-se premente reacender o debate sobre a Descentralização e
Regionalização com carácter compromissório procurando definir metas e
objetivos concretos que efetivamente criem uma verdadeira instância
intermédia concretizada pelas Regiões Administrativas, que funcionem como
motores de desenvolvimento regional capazes de articular os Municípios entre
si por forma a garantir a execução de projetos em comum de certas
circunscrições territoriais e que funcionem como voz unívoca junto da
Administração Central. Por outro lado, dotadas de recursos financeiros
adequados as Regiões Administrativas poderão mais eficazmente, dada a sua
maior proximidade em relação à verificada pela Administração Central por um
lado dotadas de melhores conhecimentos técnicos do que os Municípios por
outro lado, promover o crescimento e desenvolvimento regional contribuindo
na promoção dos interesses regionais e locais uma melhor prossecução do
interesse público nacional.
12. É importante conciliar a descentralização, mormente, a criação das Regiões
Administrativas com a desconcentração sendo relevante que correspondam os
serviços desconcentrados com a localização e área de atuação dos serviços
descentralizados, porquanto se revela favorável que trabalhem em conjunto.
13. A Descentralização contribui para tornar homogénea a organização do Estado e
promover a igualdade, já que, atualmente, há zonas que estão dotadas de
182
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Descentralização Administrativa
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15. ANEXOS
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