revista-UIIPS N2 V2 - 2014 Vf-2 PDF
revista-UIIPS N2 V2 - 2014 Vf-2 PDF
revista-UIIPS N2 V2 - 2014 Vf-2 PDF
UNIDADE DE INVESTIGAO
REVISTA DA UIIPS
REVISTA da UIIPS
Editores
Diretor e Subdiretor da UIIPS
Pedro Sequeira (ESDRM, IPS)
Marlia Henriques (ESAS, IPS)
Conselho Editorial
Escola Superior Agrria (ESAS) Escola Superior de Desporto (ESDRM)
Jos Amendoeira
Isabel Barroso
Ficha Tcnica
ISSN 2182-9608
Periodicidade: 5 nmeros por ano
2
Caractersticas: Politemtica mas com nmeros temticos
Suporte: Digital
Edio e Distribuio
Unidade de Investigao do Instituto Politcnico http://www.ipsantarem.pt/arquivo/5004
de Santarm (UIIPS)
Propriedade
Instituto Politcnico de Santarm http://www.ipsantarem.pt
2001-904 Santarm
3
NDICE
HOW TO CHANGE OR TRANSFORM A COORDINATE SYSTEM INTO A MAP LAYER? THE ANSWER IS IN ARCMAP. 93
Anabela Grifo, Albertina Ferreira
4
DESENVOLVIMENTO E VALIDAO DE UMA VERSO REDUZIDA DO EXERCISE MOTIVATION INVENTORY-2p 156
Pedro Baptista, Diogo Monteiro, Susana Alves, Lus Cid, Joo Mouto
5
A LIDERANA PERCEPCIONADA PELOS PROFESSORES TITULARES DE CARGOS DE DIREO E COORDENAO 329
ESCOLAR
Pedro Vala e Snia Galinha
PARTICIPAO VERBAL EM SALA DE AULA POR GNERO, NO MBITO DA APRENDIZAGEM DAS CINCIAS 397
Paulo Coelho Dias
6
Jos Amendoeira; Maria do Carmo Figueiredo
7
COMUNICAO PBLICA EM TERRITRIOS RURAIS PERCEES E PARTICIPAO
DOS ATORES GLOBAIS EM AVELS DE CIMA
1
Unidade de Investigao do Instituto Politcnico de Santarm, Departamento de Tecnologia Alimentar,
Biotecnologia e Nutrio, Escola Superior Agrria de Santarm, 2001-904 Santarm, Portugal
2
Junta de Freguesia de Avels de Cima, Concelho de Anadia
RESUMO
Vivemos num mundo cada vez mais globalizado e uma das consequncias a
crescente concorrncia que existe entre territrios, reforando-se a necessidade de
fazer chegar aos pblicos interessados, um conjunto de atributos e diferenciaes,
suficientemente atrativos e apelativos, para que estes territrios sejam consumidos,
no s pelo seu reconhecimento temporal, mas tambm pela forma como ele se
comunica.
Se at ao momento esta diferenciao era apenas explicitada numa base meramente
turstica (pelos impactos econmicos positivos que normalmente se conseguem), hoje
a estratgia deve seguir um plano de marketing capaz de atrair e fixar quer residentes,
excursionistas, turistas e investidores, satisfazendo-os.
Dos estudos realizados comumente aceite que o sucesso da execuo de um plano
de marketing territorial assenta num modelo participativo que promova e antecipe
necessidades e desejos dos atores globais e que valide e identifique os pontos fortes,
para ajudar a desenvolver (definir e implementar) uma estratgia sustentvel, a prazo.
Ento relevante chamar ao processo estes atores (pblicos e privados, residentes e
visitantes) envolvendo-os nesta identificao, comprometendo-os tambm nos seus
resultados.
8
Com este artigo apresenta-se ento um estudo de caso aplicado a um territrio rural,
na freguesia de Avels de Cima, tendo sido utilizada como metodologia um inqurito
por questionrio a todos os atores.
Enumeram-se os fatores relevantes identificados, assim como os que no se desejam
ver aplicados, requisitos evidentes para iniciar uma nova poltica de comunicao
pblica.
Deste trabalho j resultou uma nova abordagem pelos atores pblicos locais,
destacando a perspetiva de utilizao de sinergias pela integrao dos recursos de
duas outras freguesias, estando em construo um projeto comum de rotas com base
nos atributos dessas localidades.
9
ABSTRACT
We live in an increasingly globalized world and one of the consequences is the
increasing competition that exists between areas, reinforcing the need to reach out to
stakeholders, a set of attributes and differences sufficiently attractive and appealing,
so that these territories are "consumed ", not only by their temporal recognition, but
also for how it communicates.
If so far this differentiation was only explained in a purely tourist base (by the positive
economic impacts that usually can get), today the strategy must follow a marketing
plan able to attract and retain residents, hikers, tourists and investors.
There are studies where is commonly accepted that the successful implementation of
a territorial marketing plan based on a participatory model that promotes and
anticipate needs and desires of the global players and validate and identify the
strengths, to help develop (define and implement) one sustainable strategy in the long
term. So it is relevant to call these actors (public and private, residents and visitors)
involving them in this identification and also committing them in their results.
With this article we present a case study applied to a rural area in the parish of Avels
de Cima, having been used a survey methodology for all actors.
All the relevant identified factors are listed, as well as those which do not wish to see
applied, clear requirements to start a new policy of public communication.
This work has resulted in a new approach by local public actors, highlighting the
prospect of using synergies by integrating the features of two other parishes, under
construction with a common design routes based on attributes of those localities.
10
INTRODUO
No nosso Pas, os territrios rurais tm vindo a perder densidade populacional,
agregando este fenmeno outras perdas, como as de produtividade e de afirmao.
Paralelamente, esvaziam-se parte das funes sociais e econmicas, em detrimento
das funes ambientais, de recreao, lazer e turismo, ainda sem a valorizao
pretendida.
Quer isto dizer que as prticas agrcolas e a agricultura tradicional e familiar esto a
diminuir, havendo uma reduo da sua hegemonia nos territrios rurais. Batista (2000)
foi dos primeiros a alertar para este fenmeno, orientando-se o futuro para outras
prticas quer culturais, quer de inovao, que faam renascer uma nova vitalidade, to
necessria e desejada. Para isso, os conceitos de atratividade e competitividade
carecem de uma relao de interdependncia, baseada na atividade global de todos os
agentes dinamizadores de um territrio.
Apesar das dificuldades inerentes criao e desenvolvimento de empresas (Dinis,
2006), aponta-se que ainda possvel um aproveitamento das oportunidades
emergentes das novas procuras registadas pelo rural, como complementaridade das
solues atravs das prticas de marketing territorial (Ruivo, 2006). Com esta
ferramenta consideram-se um conjunto de tcnicas que visam melhor comunicar a
atratividade do territrio, a fim de favorecer o desenvolvimento econmico, tal como
abrir as portas aplicao de prticas empreendedoras para a promoo das funes
empresariais necessrias para interromper ou reverter as tendncias (Moreira, 2010).
Com o seu crescimento pretende-se elevar e diversificar a oferta territorial, uma vez
que relevante inventarem-se modelos de regulao, inovadores e imaginativos, ao
nvel dos territrios para fazer face s tendncias com efeitos contraditrios,
complexos e sempre singulares (Rodrigues, 2005).
Pensa-se ser imperativo dotar as zonas rurais com os meios necessrios para alavancar
os seus pontos fortes e melhorar a atratividade que, no contexto de crise em que
vivemos atualmente, as reas rurais continuam esquecidas dos governos e as pessoas
tendem a ficar fora das polticas pblicas (Carvalho et al., 2013). E pena, pois
Azevedo (2010) refere que os espaos rurais mantm relevncia com expresses de
interesses e identidades e uma gama de caractersticas prprias, cada vez mais
11
utilizadas ou que podem vir a ser utilizadas como fonte de atrao da populao
urbana, podendo, inclusive, ajudar a fixar as residentes nestes espaos.
A dvida que se coloca a partir deste quadro passa, neste caso, por questionar porque
falha o processo, que fatores podem estar a ser esquecidos ou protelados, que
sustentabilidade e building capacity se ambicionam, que atores devem intervir.
A resposta pode estar na viso de Veiga (2004), ao identificar a existncia de fatores
subjetivos (menos tangveis) do processo de desenvolvimento, onde as tradies
culturais e sociais, associadas a estilos de governana e formas de organizao tm um
forte impacto nas questes locais e nos resultados de desenvolvimento rural.
Neste artigo pretende-se refletir sobre as percees e a participao dos atores globais
(leia-se pblicos e privados, residentes e visitantes) no processo de identificao e
comunicao pblica de atratividade, na freguesia de Avels de Cima, concelho de
Anadia, distrito de Aveiro.
12
Figura n. 1 Funes da governana e suas principais reas
GOVERNANCE
direto indireto
A freguesia de Avels de Cima uma das dez freguesias do concelho de Anadia, depois
da ltima reforma administrativa e autrquica. No passado recente foram 15 as
freguesias existentes. Tem uma densidade populacional de 53,8 hab/km 2 e uma rea
de 40,6 km2. constituda por quinze povoaes, distando por estrada 13 km entre as
mais longnquas, a saber: Avels de Cima, Boialvo, Canelas, Candeeira, Cerca, Corgo,
Ferreirinhos, Figueira, Mata, Neves, Pardieiro, Pvoa do Gago, Porto da Vide e S.
Pedro. A populao residente ascende a 2.185 indivduos, distribudos por 767 famlias,
das quais 1.079 so do sexo masculino e 1.106 do sexo feminino, em 957 edifcios, dos
quais resultam 981 alojamentos familiares (Censos 2011).
A freguesia de Avels de Cima no dispe da totalidade das reas da governana, mas
podem-se destacar as seguintes, existentes atualmente:
13
apoio s empresas:
- servios no financeiros: informao, formao, aes de sensibilizao e servios
comuns;
- servios financeiros: iseno de impostos;
- infraestruturas locais: reas de localizao e primeiros balces;
recursos humanos:
- educao e formao, criao de emprego, integrao de populao desfavorecida e
pactos territoriais;
atratividade da rea:
- infraestruturas, ambiente, recuperao de terrenos abandonados, promoo da
regio, abordagem setorial e sociedade de informao.
No sentido de dar maior nfase ao trabalho autrquico, refira-se que ainda esto por
concluir aes no mbito da primeira gerao, nomeadamente, na infraestruturao
da rede de saneamento bsico, estando entretanto concludos as redes de
eletrificao, arruamentos e rede viria. Prevalece a inexistncia de habitao social,
estando concentradas as atividades na edificao de equipamentos sociais e
comunitrios e arranjos urbansticos, para a segunda gerao. A mais recente
formao de autarcas tem privilegiado dimenses imateriais, como a construo e
execuo de projetos em parceria, em atividades culturais, desportivas e sociais, ainda
que em nmero reduzido e, para j, sem oportunidade de avaliao, trabalhos
associadas a aes de terceira gerao.
Estando realizadas as anlises ao estado da arte da governana, era necessrio passar
aplicao do marketing territorial, na medida em que este permite a integrao de
ferramentas essenciais para os responsveis territoriais, num ambiente cada vez mais
concorrencial e igualmente globalizado, numa esfera local ou regional. Esta aplicao
permite a reunio de mtodos e ferramentas to teis, pois contribuem para
incrementar a atratividade de um territrio, apelando-se ao conjunto de alvos
potenciais, designados por utilizadores do territrio (Ruivo, 2006). Segundo a mesma
autora, o marketing territorial evidencia as caractersticas e as qualidades mais
relevantes dos territrios, preparando o desenvolvimento de novas atividades,
14
incrementando o crescimento, a identidade territorial e a qualidade de vida dos seus
habitantes, culminando num maior poder de atrao e, consequentemente, numa
maior capacidade de captao de investimento econmico.
O importante proceder-se a um esforo coletivo de valorizao e de territrios aos
mercados concorrenciais, para influenciar, segundo Gollain (2013), o comportamento
dos seus pblicos para uma oferta diferente, cujo valor percebido (normalmente),
permanentemente mais elevado do que o dos seus concorrentes.
A metodologia utilizada para a recolha de informao contemplou as seguintes
variveis: entrevistas individuais a 200 utilizadores, sendo validadas 175, entre
residentes e utilizadores habituais, na proporo de 50% para cada grupo, no consumo
da maior atratividade, a gua dos fontanrios e entrevistas aos atores de governana
local, numa fase posterior, tambm atravs de um inqurito por questionrio,
englobando os membros do executivo e da assembleia de freguesia. As primeiras
realizadas entre setembro de 2011 e maro de 2012, enquanto as segundas em junho
de 2012.
O sucesso da aplicao das prticas de marketing territorial depende muito do
conhecimento e percees provenientes destes utilizadores e atores, para que se
possa melhor adaptar e agir eficazmente, no sentido da satisfao global e
identificao dos desejos e motivaes dos respetivos utilizadores, facto que ajuda a
justificar o prolongamento do tempo entre os utilizadores no residentes e residentes,
no consumo da atratividade da gua dos fontanrios.
15
disponveis para usufrurem de outras amenidades, reconheceram desconhecimento
das mesmas. A grande maioria destaca, igualmente, todo o enquadramento
paisagstico, a qualidade das acessibilidades virias, associados a outros fatores menos
tangveis, como a calma, a paz, a beleza e a tranquilidade. Este um processo de
grupo, pois envolve a famlia, porque juntam a possibilidade de passeio, com a
aquisio da gua.
Em confrontao, os residentes, talvez por terem j como adquirida esta
amenidade/atratividade (a gua das fontes), identificaram como atrao, o patrimnio
natural e construdo, muito direcionado para a estrutura religiosa, pois existem na
freguesia uma igreja e dezasseis capelas, com um santo padroeiro. A reunio deste
patrimnio, com uma rede viria maioritariamente florestal (caminhos de terra)
originou um percurso certificado pela Federao Portuguesa de Pedestrianismo, com
33 km de extenso, denominada rota Flor-do-Lis, da responsabilidade do Agrupamento
de Escuteiros 836 de Avels de Cima. Acrescentam como fatores de atrao, as
festividades locais, as paisagens naturais, a ruralidade e o ambiente despoludo.
Para a generalidade dos utilizadores deste territrio relevante a resignao perante
as adversidades e a capacidade reivindicativa, assente numa desconfiana dos atores
externos, tal como para a valorizao e acreditao de projetos inovadores. No mesmo
patamar encontravam-se os atores pblicos, at os de governana, porque tinham sido
impotentes para travar os cenrios de no desenvolvimento, contribuindo para a
manuteno de certas ruturas e imagens incorretamente interpretadas. Uma das
formas de ultrapassar este cenrio foi a produo e circulao de um flyer informativo,
onde se comunicam aos residentes e restantes utilizadores, as principais atividades e
eventos realizados na freguesia, por semestre (ver figura n. 2 e n 3).
Figura n. 2 Boletim Informativo n. 4 (pgina 4 e 1)
16
Figura n. 3 Boletim Informativo n. 4 (pgina 2 e 3)
Quando inquiridos sobre o que consideravam como prioridades de atuao para tornar
a freguesia mais atrativa pelos utilizadores, as mais designadas foram:
- mais preservao das paisagens natural e agrcola;
- mais servios disponveis e melhor rede de transportes (multibancos, farmcias, rede
de comunicao mvel, outros servios complementares);
- criao de animao dirigida para crianas e idosos;
- mais eventos culturais ligados ruralidade, como feiras rurais ou festivais rurais;
- mais sinalizao sobre as atraes e das localidades.
Quanto aos autarcas, referiram como proeminentes o conjunto de componentes
ambientais naturais, tais como a floresta e a gua, que entendem ser o elemento
aglutinador comum de todos os residentes e de quem a freguesia visita ou usufruiu,
pelo que desejam manter o carter disponvel, gratuitidade e ocupacional que
representam para todos.
Fizeram referncia tambm elevada taxa de ocupao do solo, em produo agrcola
e florestal, coadjuvadas pela atividade de produo animal. Estas so indispensveis
para a manuteno de um mosaico paisagstico e ambiental local, da qualidade dos
17
caminhos rurais e estrades florestais, das relaes sociais, familiares e de partilha e
de posse da terra. Esto muito preocupados com o elevado nmero de alojamentos
familiares vazios, perto dos 20% do total referido anteriormente e de alguma
degradao de outra parte do edificado, sentindo-se impotentes para lidar com este
problema.
Consideram-se atores de governana de terceira gerao, muito interventivos e
seletivos na forma de atuar, pois tm privilegiado e criado formas distintas de
comunicar com os seus muncipes, apostando nas relaes de proximidade, de
trabalho em parceria e de informao. Enaltecem a disponibilidade e abertura ao
pblico, diria, dos servios da junta de freguesia, alguns dos quais gratuitos, como a
certificao de documentos. Destacam a estrutura e contedos do stio prprio (figura
n. 4 e n. 5), dinmico e atualizado com muita regularidade, com visualizao integral
e documental das principais intervenes privadas e pblicas que envolvam a
freguesia, aludindo inclusive aos documentos emanados das assembleias de freguesia
e respetivos editais pblicos, assim como a qualquer evento a realizar numa associao
local ou festividade local. So seus desejos, a criao, ainda durante este mandato, de
eventos culturais coletivos.
18
Figura n. 5 Listagem dos links informativos para consulta no stio da junta de
freguesia
19
problemas de ligao afetivos, resultando numa reintroduo da crena de que
possvel mudar o atual paradigma.
Reconhece-se a existncia de dfices culturais de formao, de parcerias, de
interveno, da coresponsabilizao das decises e dos efeitos. Subsistem problemas
do ponto de vista metodolgico e da construo dos processos, pela metodologia
utilizada e porque os resultados no so visveis a curto prazo. Com o modelo de
comunicao aferido, os residentes e restantes utilizadores sentem-se mais
informados e por isso, com mais capacidade de intervir, o que muito tem ajudado nas
relaes de proximidade e na resoluo de problemas locais. Tem sido mais fcil
justificar intervenes para toda a comunidade porque h critrios definidos.
importante que estes resultados encorajadores no terminem por aqui, nem que os
seus atores assim o entendam. Os cenrios resultantes e as construes exploratrias
conseguidas so animadores para todos os atores, havendo uma melhor perceo do
desejvel face ao expectvel. Ir de encontro a estas caractersticas criar bases de
credibilidade e confiana, com o intuito de transmitir um territrio coeso e com uma
imagem positiva, permitindo a entrada de investidores e projetos, tal como o reforo
efetivo entre os atores to relevante para um melhor pragmatismo nas decises
(polticas) locais. Estas prticas e ferramentas foram, at agora, pilares de uma nova
forma de estar e sentir a freguesia de Avels de Cima.
BIBLIOGRAFIA
Azevedo, N. (2010). Tempos de Mudana nos Territrios de Baixa Densidade: as
dinmicas em Trs-os-Montes e Alto Douro, Dissertao de Doutoramento em
Geografia, ramo de Geografia Humana, Faculdade de Letras, da Universidade do Porto.
Baptista, F. (2000). O espao e o rural: A economia portuguesa numa economia
globalizada. Vol. II. Lisboa: APDEA, pp. 19-77.
Carvalho, J.; Ruivo, P.; Veiga, M. (2013): Avels de Cima: alimentar uma prtica de
marketing territorial, vencer uma crise local. Publicao ESADR2013. C08-Turismo,
patrimnio e desenvolvimento rural. vora. pp. 147-160.
20
Dinis, A. (2006). Empreendedorismo em Meios Rurais: o papel das associaes.
Colquio Inovao e Desenvolvimento Rural A experincia do Programa LEADER,
Ovibeja. Beja.
Gollain, Vicent (2010). Guide du marketing territorial. Russir son marketing territorial
en 10 tapes.Territorial Editions.
Gollain, Vicent (2013). Le marketing territorial au service de lattractivit des
territoires. In http://ddata.over-blog.com/xxxyyy/1/19/97/12/articles-de-fond/Le-
marketing-territorial--V-Gollain---mars2013.pdf.
Moreira, M. (2010). Empreendedorismo para as zonas desfavorecidas no contexto da
globalizao. In Globalizacin Y Perpectivas de la Integracin Regional, Ediciones de la
Universidad de Murcia, pp 49-72.
Rodrigues, Walter (2005). Planeamento e Governana Territorial Uma reflexo
sociolgica a partir do terreno. Cidades Comunidades e Territrios Jun 2005, n10,
pp. 25-34.
Ruivo, P. (2006). Mltiplos olhares (Mltiplos futuros?): a oportunidade de inovar com
o marketing territorial. In Livro de Resumos, Tema 5, Atores, Dinmicas e Inovao em
Meio Rural, pp. 176-191.
Saget, Franois (2012). Gouvernance Territoriale et Organisation des Systemes de
Pouvoirs plaidoyer pour la gourvernance informelle dans le lancement des projets
majeurs, notamment en Ille-de-France. in Club des Dvelopeurs Economiques dIle-de-
France. France.
Veiga, J. (2004). Destinos da ruralidade no processso de globalizao. Estud. av, vol.18,
n.51, pp. 51-67.
21
ESTUDO EXPLORATRIO DA ESTIMATIVA INDIRETA DE LICOPENO VIA ANLISE
COLORIMTRICA DE GENTIPOS DE TOMATEIRO DE ACESSOS TRADICIONAIS
FRESCOS E REFRIGERADOS
Helena Lucas, Isabel Torgal, Conceio Faro, Antonieta Santana, M Paula Pinto,
Cristina Laranjeira, Ftima Lopes, Ftima Quedas, M Gabriela Lima
RESUMO
A coleo de tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill) do Banco Portugus de
Germoplasma Vegetal, do INRB, rene dezenas de acessos, em caracterizao. Este
trabalho apresenta resultados de cor versus teor de licopeno de alguns acessos de
tomateiro do Banco Portugus de Germoplasma Vegetal (2011-2012), com o objetivo
de estimar indiretamente os nveis de licopeno em acessos de tomate
fresco/refrigerado via anlise colorimtrica. O estudo realizou-se em 10 acessos de
tomateiro, fresco e refrigerado a 5 C. As alteraes de cor/pigmento durante o
amadurecimento do tomate so caracterizadas por reduo de clorofila e uma
acumulao rpida de carotenoides, particularmente licopeno. Por vezes, devido
convenincia e facilidade no uso de medio de cor, o contedo de licopeno na polpa
do tomate pode ser determinado sem a necessidade de se proceder a uma anlise
qumica, pelo facto de haver uma boa correlao entre a cor do fruto e o teor de
licopeno (adaptado DSouza et al., 1992; Arias, et al., 2000 citado por Carvalho, et al.,
2005). Por tudo isto se justifica a existncia de ferramentas de controlo de qualidade
em toda a fileira, comeando na seleo de gentipos nos programas de
melhoramento gentico do tomateiro. A polpa homogeneizada considerada uma das
melhores alternativas de correlao, associada coordenada de cromaticidade a*.
22
ABSTRACT
The collection of tomato (Lycopersicon esculentum Mill) Portuguese Bank of Plant
Germplasm of INRB, brings together dozens of hits in characterization. This paper
presents results of color versus lycopene content of tomato accessions of some
Portuguese Plant Germplasm Bank (2011-2012), in order to indirectly estimate the
levels of lycopene in tomato fresh/chilled accesses via colorimetric analysis. The study
took place in 10 tomato accessions, fresh and chilled to 5 C. The changes in color
/pigment during the ripening of tomato are characterized by reduced chlorophyll and a
rapid accumulation of carotenoids, particularly lycopene. Sometimes, due to the
convenience and ease of use of color measuring the content of lycopene in the tomato
pulp can be determined without the need to conduct a chemical analysis, in that there
is a good correlation between the color of the fruit and lycopene content (adapted
D'Souza, et al., 1992, Arias, et al., 2000 cited by Carvalho, et al., 2005). For all this
justifies the existence of quality control tools across the row, starting at the selection
of genotypes in breeding programs of tomato. The homogenized pulp is considered
one of the best alternatives correlation associated with the chromaticity coordinate a *.
INTRODUO
A caracterizao e avaliao preliminar da biodiversidade agrcola em coleo nos
bancos de germoplasma constitui uma etapa indispensvel, no s para a sua
documentao, mas tambm para a tomada de deciso sobre as estratgias de
valorizao a adotar (Quedas, et al., [S.d.]).
O tomate (Lycopersicum esculentum) um dos vegetais mais importantes em todo o
mundo pela disponibilidade todo o ano, e por ser o principal constituinte das refeies
dirias em muitos pases (Kalac, 2009 citado por Kotkov, et al., 2011). Sendo uma das
mais importantes hortalias cultivadas no mundo e a segunda em volume de produo
(Sanino, et al., 2003 citado por Luiz, 2005), representa uma importante commodity
mundial e ocupa lugar de destaque na dieta humana (Borguini, 2006), por representar
uma fonte significativa de antioxidantes (Kalac, 2009 citado por Kotkov, et al., 2011).
23
Das culturas hortcolas o tomate o que tem maior importncia econmica. tambm
o mais divulgado em todo o territrio nacional. produzido sem grandes dificuldades
desde que sejam devidamente selecionadas as variedades mais adequadas a cada
situao, e tidos os cuidados necessrios para controlo do ambiente, nomeadamente
em cultura protegida (Disqual, [S.d.]).
O tomate uma fonte alimentar importante de carotenoides, especialmente licopeno
e -caroteno (Kalac, 2009 citado por Kotkov, et al., 2011).
Os mtodos espectrofotomtricos descritos na literatura so bastante precisos,
contudo muito exaustivos, sendo necessria a utilizao de uma grande quantidade de
reagentes, alm de serem morosos. Devido convenincia e maior facilidade no uso
de medies de cor, existem na literatura vrios estudos sobre a correlao entre os
valores de cromaticidade e o teor de pigmentos de diferentes produtos
hortofrutcolas. No caso do tomate, estes estudos tm demonstrado uma boa
correlao entre a cor do fruto e o teor de licopeno (adaptado DSouza et al., 1992;
Arias, et al., 2000 citado por Carvalho, et al., 2005).
Uma boa correlao entre leituras colorimtricas e teores de licopeno poder permitir
o estabelecimento de um mtodo mais expedito, servindo como uma ferramenta no
processo de seleo de gentipos nos programas de melhoramento gentico do
tomateiro (Carvalho, et al., 2005).
OBJETIVOS
Este estudo teve como objetivo a estimao dos nveis de correlao entre os teores
de licopeno determinados por via espectrofotomtrica, com os valores da coordenada
de cromaticidade - a*, obtidos por via da anlise colorimtrica.
MATERIAL E MTODOS
Foram estudados 10 acessos de frutos de gentipos de tomateiro tradicionais em
fresco e refrigerado, cultivados na Escola Superior Agrria de Santarm.
A colheita dos frutos do tomateiro realizou-se em meados de Setembro de 2012,
tendo em conta a colorao e o estado de maturao, abrangendo vrias tonalidades,
do rosa-esverdeado a vermelho. Cada amostra de 10 frutos foi dividida em duas
24
subamostras (A e B), para as quais foi determinada as leituras de colorao na polpa
do fruto, procedendo-se homogeneizao das duas subamostras, separadamente, da
seguinte forma:
Foi retirado o pednculo a cada fruto e de seguida foram lavados e passados por gua
destilada. Cada fruto foi cortado transversalmente, aproveitando-se apenas metade,
exceto no caso do tomate pequeno. Foram triturados com uma varinha mgica
Kenwood HBM713P. Feitas as determinaes acima mencionadas, as subamostras
foram congeladas a -80C em eppendorfs para determinao posterior do teor de
licopeno. Todo o processo mencionado anteriormente foi igualmente realizado nos
frutos refrigerados.
Para a medio da cor utilizou-se o Colormetro de Reflectncia Konica Minolta
CR 400, com 8 mm de dimetro na rea de medio do aparelho e com iluminao
difusa (iluminante padro D65, observador padro de 2 no espao cromtico
CIEL*a*b*). O colormetro estava conectado a um computador de forma a ser possvel
utilizar o software Spectramagic Nx, que permitiu a obteno dos valores das
coordenadas de cor e tambm a reproduo da prpria cor. Foi efetuada previamente
a calibrao do colormetro com um azulejo branco padro, cujos valores das
coordenadas so: Y 93,8; x- 0,3158; y- 0,3322.
Foram feitas cinco leituras de cor dos frutos homogeneizados (polpa). A polpa foi
pipetada (cerca de 5 mL), para uma Placa de Petri CM-A128, e procedeu-se leitura da
mesma.
A determinao das concentraes de licopeno foi baseada no procedimento proposto
por Fish et al. (2002), com adaptaes.
Foram pesados 0,2 a 0,3 0,0001 g da amostra descongelada homognea, para um
tubo de ensaio envolvido em papel alumnio para o proteger da luz. Cada sub amostra
foi analisada em triplicado. Aps a pesagem foram adicionados: 5 mL de BHT a 0,05%
(w / v) em acetona, 5 mL de etanol a 95%, e 10mL de hexano, procedendo-se, em
seguida, a uma agitao da mistura num recipiente contendo os suportes com os tubos
de ensaio, em banho de gelo a 180 rpm durante 15 min. Depois da agitao
adicionaram-se 3 mL de gua desmineralizada em cada tubo e agitou-se durante 5
min. Aps este procedimento, os tubos foram deixados temperatura ambiente
25
durante 5 min para permitir a separao de fases. Em seguida foi retirada uma alquota
da fase superior (amarela), e leu-se a absorvncia da soluo em n-hexano, no
comprimento de onda 503 nm, utilizando-se o n-hexano como branco.
RESULTADOS E DISCUSSO
Por vezes, devido convenincia e facilidade no uso de medio de cor, existem vrios
estudos que incidiram sobre a correlao entre os valores de cromaticidade e os teores
de pigmentos em hortofrutcolas. Por exemplo, o contedo de carotenoides totais na
polpa pode ser determinado a partir de medies de cor sem a necessidade de se
proceder a uma anlise qumica, pelo facto de haver a possibilidade de se poder
correlacionar os teores de carotenoides totais e a cor (Francis, 1962 citado por Sahin &
Sumnu, 2006). Estes estudos tm demostrado, no caso particular do tomate, uma boa
correlao entre a cor do fruto e o teor de licopeno (Arias, et al., 2000; DSouza, et al.,
1992).
Os valores dos teores de licopeno e os do parmetro colorimtrico - a*, da polpa
homogeneizada fresca e refrigerada apresenta-se no Figura 1.
Os valores de a* obtidos das leituras dos frutos frescos apresentam uma correlao
exponencial elevada (0,80), e uma correlao linear fraca. Carvalho, et al. (2005)
obtiveram valores de correlao linear (R2) de 0,82 na polpa homogeneizada. J Arias,
et al., (2000) obtiveram igualmente valores de R 2 = 0,82 e de correlao exponencial
(R2) de 0,96. Para os valores das leituras dos frutos refrigerados, obtiveram-se valores
de correlao linear fraca
(R2 = 0,69) e no caso da correlao exponencial foi maior (R2 = 0,79).
Na Figura 2 apresentado o grfico da regresso exponencial entre o teor de licopeno
e os valores do parmetro a* dos frutos frescos e refrigerados.
26
Figura 1 - Valores da coordenada a* vs. Teores de licopeno.
Refrigerado:
CONCLUSO
Os resultados obtidos no presente trabalho indicam que a medio da cor da polpa
homogeneizada pode ser considerada como uma das melhores alternativas para se
estimar indiretamente a concentrao de licopeno atravs das coordenadas de
cromaticidade dos frutos do tomateiro, em fresco e refrigerados. O valor crescente da
coordenada de cromaticidade a* est diretamente associado sntese de licopeno,
podendo ser descrita com uma variao exponencial direta. Em suma, o teor de
licopeno destes acessos pode ser estimado indiretamente e com preciso utilizando
um colormetro e os padres de cor adequados.
BIBLIOGRAFIA
Arias, R; Lee, Tung-Ching; Logendra,L.; Janes, H. (2000) - Correlation of Lycopene
Measured by HPLC with the L*, a*, b* Color Readings of a Hydroponic Tomato and the
Relationship of Maturity with Color and Lycopene Content. J. Agric. Food Chem.. 48 (5):
1697-1702.
Borguini, R.G.; (2006) - Avaliao do potencial antioxidante e de algumas
caractersticas fsico-qumicas do tomate (Lycopersicon esculentum) orgnico em
comparao ao convencional. Tese para a obteno do ttulo de Doutor em Sade
Pblica. Universidade de So Paulo - Faculdade de Sade Pblica, 186 pp.
Carvalho, W; Fonseca, M. E. de N.; Silva, H, R. da; Boiteux, L. S.; Giordano, L. de
B.(2005) - Estimativa indireta de teores de licopeno em frutos de gentipos de
tomateiro via anlise colorimtrica. Hortic. Bras. 23(3): 819- 825.
28
DSouza, M. C., Singha, S.; Ingle, M. (1992) - Lycopene Concentration of Tomato Fruit
can be estimated from Chromaticity Values. HortScience. 27(5): 465-466.
Disqual [s.d.] - Manual de Boas Prticas Tomate - Disponvel em
http://www.esb.ucp.pt/twt/disqual/. Consulta efetuada em 11 de Outubro de 2011.
Kotkov, Z.; Lachman, J.; Hejtmnkov, A.; Hejtmnkov, K. (2011) - Determination of
antioxidant activity and antioxidant content in tomato varieties and evaluation of
mutual interactions between antioxidants. LWT - Food Science and Technology. 44:
1703-1710.
Luiz, K. M. B. (2005) - Avaliao das caractersticas fsico-qumicas e sensoriais de
tomates (Lycopersicum esculentum mill) armazenados em refrigeradores domsticos -
Dissertao apresentada ao Curso de Ps - Graduao em Engenharia de Alimentos
como requisito parcial obteno do grau de Mestre em Engenharia de Alimentos -
Universidade Federal de Santa Catarina, 107 pp.
Quedas, F.; Lopes, M. F.; Pinto, M. P.; Diogo, M. J.; Santana, M. A.; Matos, A.; Reis, A.;
Torgal, I. ([s.d.]) Caracterizao qumica de acessos de tomateiro do BPGV. Escola
Superior Agrria de Santarm.
Sahin, S.; Sumnu, S. G. (2006) - Electromagnetic Properties. In Physical Properties of
Foods - USA: Springer. 157 192 pp.
29
ESTUDO DOS FATORES AMBIENTAIS QUE INFLUENCIAM A PRODUO DE LEITE
DE CABRAS DAS RAAS SAANEN E ALPINA
1
Escola Superior Agrria de Santarm. Quinta do Galinheiro.
2
Baro e Baro Lda. Quinta Baro.
3
Instituto Nacional de Investigao Agrria e Veterinria, I.P.
4
Escola Universitria Vasco da Gama.
RESUMO
O trabalho baseou-se na informao de 2966 registos produtivos de 1961 caprinos das
raas Saanen e Alpina. A produo de leite total (PTOT) e normalizada aos 305 dias de
lactao (P305) foi, respectivamente, 582,53 15,6 e 919,65 14,77 L, para a raa
Saanen, e 582,53 15,6 e 935,37 15,37 L, para a raa Alpina. A durao mdia da
lactao foi de 406,78 157,50 dias.
Procedeu-se a uma anlise de varincia com o objetivo de avaliar quais os principais
efeitos ambientais que influenciaram a produo de leite e a durao da lactao. A
produo de leite (P305) da raa Alpina foi superior Saanen (+41,5 L). O ms de parto
influenciou a produo leiteira e a durao da lactao. A PTOT foi influenciada pela
durao da lactao (+3,07 0,03 L/dia). As lactaes resultantes de partos duplos
registaram um acrscimo de produo de leite de 13,6 L e 29,85 L para P305 e PTOT,
respetivamente. Observou-se um acrscimo na P305, em funo da idade da cabra, de
10,6 L de leite/ms. As lactaes mais longas (441 dias) e mais curtas (386 dias)
observaram-se nos partos ocorridos durante os meses de outubro e janeiro,
respectivamente.
30
ABSTRACT
Milk records data totalling 2966 valid lactations from 1961 goats of Saanen and Alpine
were analysed. Mean values for Total Milk Yield (TMY) and 305-day Adjusted Milk
Yield (305Y) were respectively 582.53 15.6 and 919.65 14.77 L for Saanen and
582.53 15.6 and 935.37 15.37 L for the Alpine breed . Average lactation length was
406.78 157.50 days.
Milk records were analysed to study milk yield and lactation length affecting
environmental factors. Alpina mean values for 305Y were superior to Saanen (+ 41.5L).
Milk yield and lactation length were influenced by month of lambing. TMY was
influenced by lactation length (+ 3.07 0.03 L/day). Twin deliveries rose by milk yield
of 13.6 L and 29.85 L for TMY and 305Y, respectively. Average age of goat incresed
305Y (+ 10.6 L/month). Lactations longer (441 days) and shorter (386 days) were
observed in lambings occurred in October and January , respectively.
INTRODUO
A explorao tradicional de caprinos em Portugal assenta em regimes extensivos e
semi-intensivos. Porm, ao longo da ltima dcada, a elevada procura de leite de cabra
pelas queijarias foi responsvel por alguma intensificao da caprinicultura nacional. A
escassez deste gnero alimentcio, importado principalmente de Frana e Espanha,
levou ao aumento do seu valor comercial, o que estimulou a atividade, levando muitas
exploraes de caprinos a substituir os seus efetivos de raas autctones por raas
exticas, de maior potencial produtivo.
A explorao caprina de leite que opta por sistemas de produo intensivos, em
particular a que recorre a raas de elevado potencial produtivo, de que so exemplo as
raas Saanen e Alpina, vive essencialmente da venda do leite produzido, requerendo
que todos os aspetos do processo produtivo sejam considerados e parametrizados, no
seu conjunto, de forma a permitir ao caprinicultor tomar decises que maximizem a
viabilidade econmica da explorao.
31
Foi neste contexto que se desenvolveu o presente trabalho com o objetivo de avaliar
os efeitos ambientais (ms de parto, tipo de parto, idade ao parto, n. de ordem de
lactao, durao da lactao, perodo seco) que influenciam a produo de leite,
produo Total (PTOT) e a produo normalizada aos 305 dias (P305) de lactao, em
caprinos de raa Saanen e Alpina, explorados em sistema intensivo, de forma a optar
pelas prticas mais rentveis.
MATERIAL E MTODOS
O trabalho realizado baseou-se na informao de registos produtivos de 1961 caprinos das
raas Saanen (1051) e Alpina (910), obtidos numa explorao comercial, Baro & Baro, Lda.,
entre os anos 2010 e 2013. Os dados analisados dizem respeito a um total de 2966 ciclos
produtivos, 1620 e 1346 de cabras Saanen e Alpina, respetivamente.
Para a anlise dos dados, face ao reduzido nmero de partos em alguns meses do ano, os
nascimentos de junho foram agrupados com os de maio, os de setembro e novembro com os
de outubro, e os de julho e agosto eliminados. No que concerne ao tipo de parto, os abortos
foram considerados como partos simples e os partos qudruplos agrupados com os partos
triplos.
em que Yijlm o valor observado na ijlm lactao em cada uma das varveis analisadas,
a mdia global, raai o efeito da raa, mesp j o efeito do ms de parto, tp l o
efeito do tipo de parto, dlml o efeito da durao da lactao e eijlm o erro associado
ijlm observao.
32
A durao da lactao tambm foi objeto de uma anlise de varincia para avaliar
quais os principais fatores ambientais que a influenciaram, com um modelo linear
idntico:
Yijl = + raai + mesp j + tpl + eijl
em que Yijl o valor observado na ijl lactao em cada uma das varveis analisadas,
a mdia global, raai o efeito da raa, mesp j o efeito do ms de parto, tp l o
efeito do tipo de parto, e eijlm o erro associado ijlm observao.
RESULTADOS E DISCUSSO
A maioria dos partos ocorreu nos meses de fevereiro, maro e maio (32, 32 e 25%,
repetivamente) (Figura 1).
33
Figura 2 Distribuio dos partos em funo do tipo de parto.
Desvio
Parmetros analisados N obs. Mdia Mnimo Mximo
Padro
34
Quadro 2 - Resultados da anlise de varincia das variveis de resposta da produo de leite.
Caracteres Analisados1
Efeito gl P305 PTOT
Raa 1 15,25** 2,08
Dias de Lactao 1 - 7911,22**
Tipo Parto 2 3,94* 3,63*
Ms Parto 5 9,31** 12,66**
1
** significativo para P<0,01. * significativo para P<0,05. P305: Produo de Leite
Normalizada aos 305 dias de lactao; PTOT: Produo de Leite Total
Quadro 3 - Mdias dos quadrados mnimos da produo de leite das raas Saanen e Alpina.
Raa
Produo de leite
Saanen Alpina
PTOT (L) 919,65 14,77 935,37 15,37
1
PTOT (kg) 947,24 15,21 963,43 16,97
P305 (L) 582,53 15,6 624,03 16*
P305 (kg)1 600,01 16,07 642,75 16,48*
1
*Significativo para P<0,01; 1 kg de leite equivalente a 1L de leite x 1,03 (IFAP, 2013)
A produo de leite registada nas cabras Saanen, 600,01 16,07 kg de leite para P305,
foi idntica observada por outros autores (Gonalves et al. 2001, Soares Filho et al.
2001 e Irano et al. (2012). No entanto, valores superiores, 766,4 kg, 706 kg e 720,08 kg,
foram encontrados por Tholon (2001), Donkin (2003) e Mio et al. (2008),
respetivamente. Pelo contrrio, Arajo & Eloy (1998) e Lbo & Silva (2005) registaram
35
valores de produo bastante inferiores aos obtidos neste estudo (314,02 kg e 360,74
kg, respetivamente).
A produo de leite das cabras Alpina registou valores de 642,75 16,48 kg de leite
para P305. Estes valores so semelhantes aos encontrados por Gonalves et al. (2001)
e Mio et al. (2008), e ligeiramente superiores aos encontrados por Soares Filho et al.
(2001) e Irano et al. (2012) (513,88 kg e 527,05 kg, respectivamente). J Arajo e Eloy
(1998) observaram produes de leite bastante inferiores, 373,13 kg, para a raa
Alpina.
36
Na Figura 1 apresenta-se o acrscimo de produo de leite (PTOT) em funo da
durao da lactao.
37
Figura 2 Mdias dos quadrados mnimos da produo de leite (P305 e PTOT) em funo do
tipo de parto.
38
Figura 3 - Acrscimo de produo de leite (P305) (L) em funo da idade ao 1 parto.
Figura 4 - Mdias dos quadrados mnimos da produo de leite (P305 e PTOT) nas lactaes
com incio nos diferentes meses considerados.
39
Verificou-se que a P305 foi superior nas lactaes cujos partos ocorreram nos meses
de fevereiro, maio e outubro. As elevadas produes de leite obtidas nos meses de
fevereiro e maio, esto de acordo com vrios autores que referem alguma
superioridade da produo em pocas de fotoperodo crescente (Ciappesoni et al.
(2004), Garcia-Hernandez et al. (2007) e Flores et al. (2010). J Carb (1996) e Ribeiro
(1997) referem que lactaes com maior produo de leite ocorrem em fotoperodo
decrescente, justificando o elevado valor pro ns obtido no ms de outubro.
A durao mdia da lactao foi apenas influenciada significativamente (P0,01) pelo
ms de parto (Quadro 4).
40
As lactaes mais longas observaram-se nos partos ocorridos durante o ms de
outubro, com uma durao mdia de 441 dias, enquanto os partos ocorridos durante o
ms de janeiro registaram os valores mais baixos de durao de lactao (386 dias).
Entre janeiro e maro observou-se um acrscimo da durao da lactao que,
posteriormente, decresceu at maio.
O efeito da durao do perodo seco na produo de leite (PTOT e P305), testado com
um grupo mais restrito de animais (660 e 551 registos, respetivamente), no foi
significativo. Esta ausncia de influncia do perodo seco foi tambm observada por
Fowler et al. (1991), em cabras Saanen, em que no foram registadas repercusses
negativas nas lactaes no antecedidas de um perodo seco. Contrariamente, alguns
autores referem significativa reduo na produo de leite em lactaes no
precedidas de um perodo seco (Caja et al., 2006, Simes, 2009).
Na Figura 6 apresentam-se as mdias da produo de leite (P305 e PTOT) em funo
da ordem de lactao.
Figura 6 - Mdias da produo de leite (P305 e PTOT) nas lactaes de diferentes ordens.
41
seguintes. Resultados semelhantes foram observados por Graminha et al. (1999),
Gonalves et al. (2001), Donkin (2003), Silva et al. (2005) e Rodrigues et al. (2006).
CONSIDERAES FINAIS
Os resultados deste trabalho representam um contributo para o melhor conhecimento
do desempenho produtivo de caprinos das raas Saanen e Alpina, explorados com fins
comerciais, bem como dos diversos fatores que o influenciam. A produo mdia de
leite deste ncleo de caprinos, anloga observada noutros trabalhos, evidencia que
os animais expressaram o seu elevado potencial produtivo, refletindo um adequado
maneio na explorao.
Os principais factores considerados que influenciaram a produo de leite foram a
raa, o ms e tipo de parto e a durao da lactao. O determinismo gentico da raa
foi evidenciado, registando-se ligeira superioridade da raa Alpina, relativamente
Saanen. As mdias de produo de leite mais elevadas foram registadas em lactaes
cujos partos ocorreram nos meses de fevereiro, maio e outubro. Tambm foram os
partos ocorridos em outubro que registaram lactaes mais longas.
Outros fatores como o tipo de parto e a idade ao primeiro parto influenciaram
produo de leite, observando-se valores superiores em lactaes de partos duplos e
de animais com idade mais avanada ao primeiro parto.
Finalmente, a durao do perodo seco no pareceu influir sobre os nveis de produo
de leite.
42
BIBLIOGRAFIA
Arajo, A. M.; Eloy, A. M. X. (1998) Desempenho produtivo de cabras leiteiras das
raas pardo alpina, Saanen e anglo-nubiana do rebanho da Embrapa-CNPC.
Comunicado tcnico da Embrapa, 32: 1-4. ISSN 0101-605
Caja, G. ; Salama, A. A. K. ; Such, X. (2006) Omitting the Dry-Off Period Negatively
Affects Colostrum and Milk Yield in Dairy Goats. Journal of Dairy Science, 89: 4220-
4228. Disponvel em:
http://download.journals.elsevierhealth.com/pdfs/journals/0022-
0302/PIIS0022030206724675.pdf. Consulta efetuada em 20 de Julho de 2013.
Cncio, C. R. B.; Castro, R. S.; Coelho, L. A.; Rangel, J. H. A.; Oliveira, J. C. (1992) Idade
ao primeiro parto, intervalo entre partos e produo leiteira de cabras Saanen, Marota
e Mestias em Alagoas. Pesquisa Agropecuria Brasileira. Braslia, 27(1): 53-59.
Carb, C. B. (1996) Zootecnia, Bases de produccion animal, Tomo IX Produccion
Caprina. Ediciones Mundi-Prensa. Madrid. 336 pp. ISBN 84-7114-613-4
Ciappesoni, G.; Pribyl, J.; Michal, M.; Vit, M. (2004) Fators affecting goat milk yield
and its composition.Czech Journal of Animal Science, 49 (11): 465-473. Disponvel em:
http://www.researchgate.net/publication/233819551_Fators_affecting_goat_milk_yie
ld_and_its_composition. Consulta efetuada em 20 de Julho de 2013.
Donkin, E. F. (2003) Productivity and diseases of Saanen, indigenous and crossbred on
zero grazing. Doctoral Thesis. University of Pretoria. 258 pp. Disponvel em
http://upetd.up.ac.za/thesis/available/etd-07252003-155054/. Consulta efetuada em:
16 de Julho de 2013.
Fernndez, G. (2000) - Parmetros productivos de cabras Pardo Alpina y sus cruzas,
bajo un rgimen de pastoreo. Produccin Latina, XXV (6): 541-544. Disponvel em:
http://www.exopol.com/seoc/docs/7l5jpiq7.pdf. Consulta efetuada em 2 de Julho de
2013.
Ferreira, I. 2006. Estudo do efeito do tempo de permanncia ps parto do borrego
com a ovelha em ovinos de raa Assaf: influncia sobre a produo de leite e o
crescimento. [Texto policopiado]. Dissertao para a obteno do grau de licenciado
em Engenharia da Produo Animal/Ramo Produo Animal. Instituto Politcnico de
Santarm, ESA, 52 p..
43
Ferreira, M.C.C., Trigueiro, I.N.S., (1998) - Produo de leite de cabras puras no
caramita Paraibano durante a lactao. Cincia e Tecnologia de Alimentos, 18 (2).
DOI: 10.1590/S0101-20611998000200004.
Flores, M. J.; Flores, J. A.; Elizundia, J. M.; Meja, A.; Delgadillo, J. A.; Hernndez, H.
(2010) - Artificial long-day photoperiod in the subtropics increases milk production in
goats giving birth in late autumn. Journal of Animal Science, 89 (3): 856-862.
Disponvel em: http://www.journalofanimalscience.org/content/89/3/856.full.
Consulta efetuada em 16 de Julho de 2013.
Fowler, P. A.; Christopher, H. K.; Margaret, A.F. (1991) Omiting the dry period
between lactations does not reduce subsequent milk production in goats. Journal of
Dairy Research, 58: 13-19. Disponvel em:
http://dx.doi.org/10.1017/S002202990003346X. consulta efetuada em 9 de Julho de
2013.
Garcia-Hernandez, R.; Newton, G.; Horner, S.; Nuti, L.C. (2007) Effect of photoperiod
on milk yield and quality, and reproduction in dairy goats. Livestock Science, 110: 214-
220. Disponvel em: http://www.agrilight.nl/wp-
content/uploads/sites/2/2013/02/photoperiod-in-dairy-goats-20051.pdf. Consulta
efetuada em 16 de Julho de 2013.
Gonalves, H. C.; Silva, M. A.; Wechsler, F. S.; Ramos, A. A. (2001) Fatores Genticos e
de Meio na Produo de Leite de Caprinos Leiteiros. Revista Brasileira de Zootecnia, 30
(3): 719-729. Disponvel em: http://www.scielo.br/pdf/rbz/v30n3/5240.pdf. Consulta
efetuada em 2 de Julho de 2013
Graminha, C. V.; Resende, K. T.; Ribeiro, S. D. A.; Ribeiro, A. M. (1999) - Estudo
comparativo entre as curvas de produo real e a curva de produo terica em cabras
leiteiras. Sociedade Brasileira de Zootecnia, Porto Alegre 36: 571-572.
Guimares, V. P. (2004) - Curva de lactao, efeitos ambientais e genticos sobre o
desempenho produtivo de cabras leiteiras. Dissertao de Mestrado com vista
obteno do grau de Mestre em Zootecnia, Universidade Federal de Viosa, 87 pp.
IFAP, Instituto de Financiamento da Agricultura e Pescas (2013) Quotas leiteiras.
http://www.ifap.min-agricultura.pt/portal/page/portal/ifap_publico/GC_quotleite.
Consulta efetuada a 22 de Julho de 2013.
44
Irano, N.; Bignardi, B.; Rey, F. S. B.; Teixeira, I. A.; Albuquerque, L. G. (2012)
Parmetros genticos para a produo de leite em caprinos das raas Saanen e Alpina.
Revista Cincia Agronmica, 43(2): 376-381. ISSN 1806-6690
Lbo, R. N.; Silva, F. L. (2005) Parmetros genticos para caractersticas de interesse
econmico em cabras das raas Saanen e Anglo-nubiana. Revista Cincia Agronmica,
36(1): 104-110.
Mio, B.; Prpi, Z.; Vnuec, I.; Bara, Z.; Sui, V.; Samarija, D.; Pavi, V. (2008) Fators
affecting goat milk yield and composition. Mljekarstvo, 58 (4): 305-313.
Mottola, C. (2011) - Estudo de diferentes factores que influenciam a produo de leite
e a prolificidade em caprinos de leite. Disponvel em:
http://share.pdfonline.com/c65e01a5411c47c8a05fe2f6a5de694e/Trabalho%20final.p
df. Consulta efetuada em 29 de Julho de 2013.
Paz, R.G., Togo, J.A.; Lopez, C. (2007) - Evaluacin de parmetros de produccin de
leche en caprinos. Santiago del Estero, Argentina. Revista Cientifica de Maracabo,
17:161-165.
http://www.scielo.org.ve/scielo.php?pid=S079822592007000200009&script=sci_artte
xt. Consulta efetuada em 10 de Julho de 2013.
Pimenta Filho, E. C.; Sarmento, J. L. R.; Ribeiro, M. N. (2004) Efeitos Genticos e
Ambientais que Afectam a Produo de Leite e Durao da Lactao de Cabras
Mestias no Estado da Paraba. Revista Brasileira de Zootecnia, 33(6): 1426-1431.
Ribeiro, A. C. (1997) Estudo dos Efeitos Genticos e de Ambiente sobre Caractersticas
de Importncia Econmica em Caprinos da Raa Saanen. Dissertao de Mestrado com
vista obteno do grau de Mestre em Zootecnia UNESP, Jaboticabal, 116 pp.
Rodrigues, L.; Spina, J. R.; Teixeira, I. A. M. A.; Dias, . C.; Sanches, A.; Resende, K. T.
(2006) Produo, composio do leite e exigncias nutricionais de cabras Saanen em
diferentes ordens de lactao. Acta Scientiarum, Animal Sciences, 28 (4): 447-452.
Silva, F. F.; Muniz, J. A.; Aquino, L. H.; Sfadi, T. (2005) Abordagem Bayesiana da
curva de lactao de cabras Saanen de primeira e segunda ordem de parto. Pesquisa
Agropecuria Brasileira, 40 (1): 27-33. Disponvel em:
http://www.scielo.br/pdf/pab/v40n1/23238.pdf. Consulta efetuada em 2 de Julho de
2013.
45
Silva, V. V.; Rangel, A. H. N.; Braga, A. P.; Maia, M. S.; Medeiros, H. R. (2009)
Influncia da raa, ordem e ano de parto sobre a produo de leite caprino. Acta
Veterinria Brasilica, 3 (4): 146-150.
Simes, A. S. C. (2009). A secagem no efectivo caprino leiteiro e seus efeitos na
lactao subsequente. Dissertao de Mestrado com vista obteno do Grau de
Mestre em Medicina Veterinria - Universidade Tcnica de Lisboa, Faculdade de
Medicina Veterinria, 80 pp.
Soares Filho, G.; McManus, C.; Mariante, A. S. (2001) Fatores Genticos e Ambientais
que Influenciam Algumas Caractersticas de Reproduo e Produo de Leite em
Cabras no Distrito Federal. Revista Brasileira de Zootecnia, 30: 133-140.
Tholon, P.; Queiroz, S. A.; Ribeiro, A. C.; Resende, K. T.; Ribeiro, S. D. A. (2001)
Quantitative genetic study of milk production in goats of the Saanen breed. Archivos
Latinoamericanos de Produccion Animal, 9 (1): 1-5. Disponvel em:
http://www.alpa.org.ve/PDF/Arch%2009-1/Arch%209-1-01.pdf. Consulta efetuada em
20 de Julho de 2013.
Zeng, S. S.; Escobar, E. N.; Popham, T. (1996) - Daily variations in somatic cell count,
composition, and production of Alpine goat milk. Small Ruminant Research, 26 (3):
253-260. Disponvel em: http://www.smallruminantresearch.com/article/S0921-
4488(96)01002-4/abstract. Consulta efetuada em 5 de Julho de 2013.
46
INDICADORES DE AVALIAO AMBIENTAL ESTRATGICA
RESUMO
O principal instrumento orientador da poltica de planeamento e gesto dos recursos
hdricos, na Europa, a Directiva Quadro da gua (DQA). As opes de planeamento
produzem efeitos ambientais que devem ser avaliados a um nvel estratgico,
suportados na Avaliao Ambiental Estratgica (AAE), processo essencial para alcanar
princpios e prticas de sustentabilidade. As metodologias de AAE podem ser apoiadas
na utilizao de indicadores, permitindo avaliar e gerir os principais riscos e
oportunidades decorrentes dos instrumentos de planeamento.
As definies de indicadores e o uso de terminologia nesta rea so particularmente
desorganizados e diversificados. Existem muitas ambiguidades e contradies sobre o
conceito geral de um indicador e necessrio clarificar e consensualizar a definio de
indicador, bem como a definio de conceitos relacionados, tais como limiar, ndice e
padro. Um dos conceitos mais utilizados como definio de indicador foi apresentado
pela Agncia Europeia de Ambiente que aponta a comunicao como a sua principal
funo e enuncia um indicador como uma medio, geralmente quantitativa, que
pode ser usada para ilustrar e comunicar de forma simples fenmenos complexos,
incluindo tendncias e progressos ao longo do tempo.
Vrios especialistas referem que existem poucos estudos cientficos relacionados com
a utilizao de indicadores em processos de AAE e, nesse sentido, consideram crucial
desenvolver pesquisas e trabalhos de investigao e promover anlises direcionadas
para identificar o potencial dos indicadores como suporte ao planeamento, respetiva
avaliao, a tomada de decises e a processos de monitorizao.
47
Este resumo resulta de uma reviso bibliogrfica de suporte, considerada fulcral para
compreender o papel e a relevncia da utilizao de indicadores nas prticas atuais de
planeamento e respetivas AAE, e ter como aplicao um artigo de reviso.
48
INTRODUO
Nas ltimas dcadas do sculo 20 as questes ambientais comearam a preocupar
seriamente quer os governantes quer a sociedade em geral, devido ao aparecimento
de graves problemas a nvel do ambiente. Em grande parte, esses problemas
resultaram de uma desarticulao entre o desenvolvimento econmico e as questes
relacionadas com a proteco e valorizao do ambiente.
Neste enquadramento surgiu a necessidade de integrao das componentes
ambientais nas polticas nacionais e internacionais, tendo esta integrao vindo a
aumentar progressivamente nas dcadas mais recentes. Em 1987 a Comisso Mundial
sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, estabelecida pela Organizao das
Naes Unidas, publicou o relatrio Nosso Futuro Comum, que definiu o conceito de
desenvolvimento sustentvel (DGA, 2000).
Esse relatrio, tambm conhecido como Relatrio Brundtland, define o
Desenvolvimento Sustentvel como um modelo de desenvolvimento que permite
s geraes presentes satisfazer as suas necessidades sem que com isso ponham em
risco a possibilidade de as geraes futuras virem a satisfazer as suas prprias
necessidades.
Este conceito foi o tema fulcral da Conferncia das Naes Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento, que teve lugar no Rio de Janeiro em 1992, (Conferncia
do Rio ou Rio 92) e tornou-se a partir da um imperativo na agenda internacional e
uma meta a atingir. Em 1998, apenas 6 anos aps a Conferncia do Rio registavam-se,
entre tratados, convenes, acordos multilaterais de ambiente, directivas e
documentos no vinculativos relacionados com a proteco ambiental, mais de mil
instrumentos internacionais relacionados com este conceito (Garcia, 2006).
A implementao destes e de outros instrumentos nacionais ou internacionais
pressupe a caracterizao, a avaliao e a monitorizao dos sistemas ambientais
para que, com base nos correspondentes resultados, se possam definir tendncias e
aferir objectivos e metas, que permitam dar a dimenso do desempenho em matria
de sustentabilidade. Os resultados suportados nas avaliaes so normalmente
analisados e agregados e tm conduzido elaborao de vrios tipos de Relatrios de
Avaliaes Ambientais. A avaliao ambiental tornou-se crucial no planeamento e na
49
gesto em todas as escalas de tomada de deciso, desde as empresas privadas a
entidades pblicas, desde regies mais ou menos extensas, a pases e mesmo a nvel
global, ou seja aplica-se s escalas local, regional, nacional e global (Niemeijer & de
Groot 2008).
assim necessrio recorrer a variveis, em muitos caso a variveis passveis de serem
quantificadas, mensuradas e simuladas, ou seja necessrio recorrer a indicadores
ambientais como padres de avaliao das presses das actividades humanas no
ambiente, do estado do ambiente, das medidas polticas a implementar e do
afastamento relativamente aos objectivos a atingir.
O uso de indicadores ambientais ao nvel global, nacional, regional e local tornou-se
num instrumento de avaliao comum. Tem sido desenvolvido e utilizado em
diferentes contextos e por vrias instituies e entidades uma ampla variedade de
indicadores ambientais, e tem sido produzido recentemente elevado nmero de
publicaes passveis de disponibilizarem ao pblico e aos decisores uma valiosa lista
de indicadores ambientais. Contudo, existe uma necessidade crescente de se
estabelecerem indicadores ambientais apropriados, obtidos atravs de critrios que se
enquadrem nos objectivos especficos de cada avaliao, para permitir que os
decisores possam fazer juzos informados quanto a polticas, programas, planos e
projectos (Cloquell-Ballester et al. 2006). Neste mbito enquadra-se a Avaliao
Ambiental Estratgica (AAE) pois apesar de existirem muitos documentos sobre esta
temtica existem poucas publicaes sobre as vantagens e sobre a identificao dos
indicadores ambientais mais apropriados.(Donnelly et al. 2007), referem que os
indicadores existentes e normalmente utilizados para este fim no cobrem, em muitos
casos, todos os sectores de actividade nem todos os compartimentos ambientais
exigidos pela Directiva 2001/42/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, relativa
Avaliao dos Efeitos de determinados Planos e Programas no Ambiente. Esta
situao, aponta para a necessidade de desenvolvimento de indicadores ambientais
especificamente definidos para a AAE, e para a necessidade desse processo ser
acompanhado pela definio de um conjunto de critrios associados, que garantam
que os indicadores so adequados para a finalidade a que se destinam. Assim, os
50
indicadores ambientais a desenvolver devero ser acompanhados por um rigoroso
processo de validao (Donnelly, et al. 2006).
Tendo por base a extensa investigao j realizada sobre os indicadores ambientais a
outros nveis de tomada de deciso, entende-se que seria desejvel desenvolver uma
metodologia para a definio de indicadores de avaliao ambiental estratgica que
permitam avaliar a sustentabilidade, monitorizar as actividades e os sistemas
ambientais a nvel estratgico, e que simultaneamente se focalizem nas questes
efectivamente relevantes que sejam passveis de validao.
O trabalho que se apresenta, tem como enfoque o tema indicadores ambientais, e
pretende efectivar uma reviso de literatura, especificamente sobre indicadores a
utilizar nos processos de avaliao ambiental estratgica de processos de planeamento
e gesto de recursos hdricos.
A estrutura do trabalho desenvolvido assenta em quatro captulos, para alm da
presente introduo:
No Captulo 2 apresenta-se o conceito de indicador e de indicador ambiental ou de
sustentabilidade, o mbito de aplicao dos indicadores e os seus objectivos, assim
como os tipos e normativos de classificao.
No Captulo 3 apresentada a reviso de literatura sobre os tipos de critrios
utilizados para a seleco de indicadores adaptados a cada situao de anlise, bem
como as metodologias de construo e de apresentao de indicadores.
No Captulo 4 identificam-se os critrios normalmente utilizados na seleco e
construo de indicadores para a avaliao e monitorizao ambiental a nvel
estratgico, ou seja para utilizao na Avaliao Ambiental Estratgica de planos e
programas. Pretendeu-se dar, tambm, algum contributo relativamente s
metodologias de seleco de indicadores, baseadas em redes casuais, em universos
estratgicos.
O Captulo 5 apresenta as concluses do trabalho e referencia algumas linhas de
investigao que se pretendem desenvolver no futuro.
51
CONCEITOS
Etimologicamente o termo indicador deriva do latim indicare, que significa indicar salientar ou
revelar
Indicadores so frequentemente apresentados como medidas ou como valores de medies,
de parmetros, de entidades ou variveis, sendo que neste mbito um indicador
apresentado num contexto quantificvel sendo possvel determinar a magnitude do
parmetro, entidade ou varivel. So tambm apresentados como indicadores certos
componentes ecolgicos e certas estruturas ou processos e no as respetivas quantidades
mensurveis (Heink & Kowarik 2010).
Num trabalho desenvolvido, (Heink & Kowarik 2010) apresentam os indicadores organizados
em seis tipos globais (indicadores como medidas descritivas, normativas e hbridas, como
componentes descritivos e hbridos e como valores dos parmetros, medidas ou resultados de
medio em conceitos hbridos). Para cada um desses tipos referenciam conceitos especficos
apresentados por vrios especialistas. Nesse mbito, para Walz (2000), in (Heink & Kowarik
2010), um indicador como medida descritiva uma varivel que descreve o estado de um
sistema. Como componente descritivo um indicador um elemento, processo ou
propriedade de um ecossistema que, por algum motivo (logstico, de oramento, tecnolgico)
no pode ser medido de uma forma mais direta (Carignan e Villard, 2002, in (Heink & Kowarik
2010)).
Para Burger (2006), um indicador referenciado como um ndice ou uma medio para avaliar
a sade de um sistema (econmico, fsico, biolgico, humano), num contexto de medida
normativa. Como medidas e componentes hbridos podem apresentar-se os conceitos
referenciados por (Ferris e Humphrey 1999, in (Heink & Kowarik 2010)) e (Scholles 2008, in
(Heink & Kowarik 2010)) que referenciam respectivamente um indicador como uma
caracterstica que, quando medida repetidamente, demonstra tendncias ecolgicas, e uma
medida do estado actual ou da qualidade de uma determinada rea e um indicador como
um organismo, uma substncia ou um objeto que fornece a evidncia de um parmetro que
no pode ser medido diretamente ou que pode ser medido somente com recurso a um esforo
proibitivo (...). Para EEA (2003, in (Heink & Kowarik 2010)), um indicador um valor
observado representativo de um fenmeno em estudo. Em geral, os indicadores quantificam
informao, agregando dados mltiplos e diferentes.
Como resumo da anlise efectuada por (Heink & Kowarik 2010) pode dizer-se que o
termo indicador ambguo e apresenta diferentes significados em diferentes
52
contextos, essencial distinguir indicadores descritivos de indicadores normativos e
indicadores como medidas de indicadores como componentes, tem um papel
importante como objecto de fronteira na interface entre a cincia e a poltica. Para
garantir transparncia convm evitar uma interligao entre os nveis descritivo e
normativo. Para evitar problemas devido a diferentes compreenses do termo
indicador relevante que seja sempre apresentado o conceito de base associado
situao em anlise. (Heink & Kowarik 2010) sugerem uma definio clara do termo
mas num contexto abrangente como acima referenciado.
Vrias outras definies para o termo indicador podem ser referenciadas. Para a Agncia
Europeia de Ambiente (European Environment Agency 2003) um indicador considerado
como uma medio, geralmente quantitativa, que pode ser usada para ilustrar e comunicar de
forma simples fenmenos complexos, incluindo a comunicao de tendncias e progressos ao
longo do tempo. Este conceito apesar de ser considerado muito concensual pelos especialistas
d um grande enfoque ao cunho quantitativo da ferramenta de avaliao e, efectivamente, os
indicadores podem ser utilizados para quantificar ou qualificar questes complexas. Nesse
contexto, considera-se neste estudo que os indicadores so sinais especiais que transmitem
mensagens de valor acrescentado que podem ser comunicadas de uma forma simples e til
para as partes interessadas (Caeiro et al. 2012)
Com base no que ficou expresso os utilizadores de indicadores tm diferentes necessidades,
orientam-se em contextos sociais, culturais, geogrficos, econmicos e temporais diferentes, e
o conjunto apropriado de indicadores para cada situao depende da sua utilizao especfica.
escala internacional vrias as instituies tm vindo a trabalhar para identificar e
desenvolver indicadores de sustentabilidade. As convenes internacionais (e.g. clima,
biodiversidade, desertificao) so reas prioritrias para o desenvolvimento de indicadores.
Contudo, as diferenas significativas entre pases e entre territrios de cada pas levam a que
seja fundamental a aposta nas escalas regionais e locais. A maioria dos indicadores,
nomeadamente os indicadores de desenvolvimento sustentvel, tm sido desenvolvidos para
a escala nacional.
56
Em 2004 a Agncia Europeia de Ambiente estruturou um conjunto de 37 indicadores
com o propsito de priorizar a melhoria na qualidade e na cobertura dos fluxos de
dados para promoverem a comparabilidade e a validade de informaes e avaliaes,
de agilizar as contribuies para outras iniciativas que envolvam o uso de indicadores
na Europa e a nvel global e de fornecer uma base flexvel e estvel para as avaliaes
baseadas em indicadores de progresso em relao s prioridades da poltica ambiental.
Uma outra forma de classificar os indicadores ambientais suportada na identificao
das questes a que os mesmos permitem dar resposta. Esta forma de classificao dos
indicadores foi adotada pela Agncia Europeia de Ambiente (European Environment
Agency 2005), que divide e categoriza os indicadores em indicadores descritivos, de
desempenho, de eficincia ecolgica e de bem-estar global.
Indicadores descritivos ou do tipo A constituem a categoria mais vasta de indicadores.
Descrevem e caracterizam o que est a acontecer, mas no classificam a importncia
ou o significado das tendncias que explanam. So exemplos de indicadores
descritivos as emisses de CO2 por pas, regio ou sector, o consumo de gua por
sector de actividade, o declnio de espcies ameaadas, o consumo de energia por
PMEs locais, as vendas de produtos com certificao ecolgica, entre outros.
Indicadores de desempenho ou do Tipo B ajudam a identificar a importncia de uma
determinada aco. So particularmente teis pois analisam o afastamento da aco
em relao a uma meta definida ou a valores-alvo de sustentabilidade. Como
exemplos deste tipo de indicadores podem apresentar-se o nmero de dias em que
os valores limite para a qualidade do ar no so atingidos, relativamente aos nveis da
EU, a percentagem de reas protegidas em Portugal em comparao com a mdia
europeia e as emisses de gases com efeito de estufa relativamente a tectos
estabelecidos.
Indicadores de eficincia ecolgica ou do Tipo C so utilizados para verificar se a
qualidade do ambiente est em progresso ou em retrocesso. Centram-se na eficincia
dos processos de produo e consumo relativamente a questes ambientais, sendo
particularmente importantes e adaptados para medir o processo de integrao de
consideraes ambientais nas polticas sectoriais. Permitem caracterizar a eficincia
dos processos socioeconmicos na utilizao de recursos e na gerao de resduos e de
57
emisses. So exemplos de indicadores de eficincia ecolgica o consumo de energia
por unidade do PIB, as emisses de NOx associadas ao transporte e ou suas
tipologias, a quantidade de pesticidas aplicados por unidade de rea produtiva, ou
por tonelada de produto colhido, a quantidade de entulho produzido por cada
habitao familiar construda ou remodelada, entre outros.
Indicadores de bem-estar global ou indicadores do Tipo D. So os indicadores mais
agregados e apresentam-se normalmente sob a forma de um ndice. Devido sua
agregao reflectem os impactes de um vasto conjunto de sectores e polticas,
incidindo geralmente a nvel da escala de um pas e apresentando normalmente pouca
relevncia directa para os gestores de programas ou projectos. O ndice de Bem-Estar
Econmico Sustentvel (Index of Sustainable Economic Welfare - ISEW), o Dow Jones
Sustainability ndex, o ndice PSI20 (Portuguese Stock ndex), ou a Pegada Ecolgica,
so exemplos deste tipo de indicadores.
Existe, evidentemente, sobreposio substancial entre estes conjuntos de indicadores.
Determinados indicadores podem ser classificados simultaneamente em indicadores
CEI pelos critrios da OECD, em indicadores descritivos pela EEA e constiturem
indicadores de presso com base na interaco entre actividades econmicas e
ambiente. So disso exemplo as emisses de SOx, NOx e Compostos Orgnicos
Volteis em ambiente urbano e combustveis fsseis consumidos por sector de
actividade.
No entanto, cada conjunto tem associados critrios de construo, de seleco e de
utilizao ligeiramente diferentes, ou a sua utilizao pode compreender uma rea
geogrfica distinta, o que determina que muitas vezes eles no possam produzir
informao sobreponvel e passvel de fcil comparao. Esta situao ocorre com os
conjuntos de indicadores da OECD (abrangncia mundial) e EEA (a nvel europeu), que
apesar de terem muitos pontos de contacto entre si raramente possvel considerar
um nico conjunto de indicadores e us-lo para outra finalidade que no a que esteve
na base da sua criao. A principal justificao para este facto reside nas diferenas
entre critrios, que estiveram na base do estabelecimento das respectivas listas, que
podem apontar para divergncias na forma de definir o indicador. A evoluo
tecnolgica a nvel da deteco remota e dos sistemas de informao geogrfica (SIG)
58
tambm determinam que os indicadores sejam construdos directamente na escala
mais vantajosa ou, quando isso no possvel, que sejam trabalhados para serem
adequados a diferentes escalas de anlise ((Donnelly et al. 2007),(Donnelly et al.
2008)).
Outra forma de apresentar indicadores baseia-se na escala geogrfica de aplicao. Os
indicadores podem ser mais ou menos relevantes numa dada escala geogrfica,
conduzir a anlises sem sentido noutros nveis hierrquicos ou ser mesmo impossvel a
sua construo e utilizao noutros nveis de agregao.
De acordo com o mbito da informao fornecida, os indicadores podem classificar-se
em indicadores econmicos, financeiros, sociais, de sade, demogrficos, de
desenvolvimento, ambientais, entre outros.
Os indicadores podem referir-se a aces que causem alteraes ambientais, a
exposies de um dado componente ambiental ao stress, ao estado do ambiente
causado por determinados impactes ou a respostas face a alteraes ambientais. Esta
forma de organizao dos indicadores atravs de um modelo concetual foi utilizada
nos trabalhos desenvolvidos pela OCDE relativamente a polticas e relatrios
ambientais (OECD 2003).
A Agncia Europeia de Ambiente estendeu o modelo da OCDE e criou o modelo DPSIR
(Driving Forces-Pressures-State-Impact-Response). Segundo este modelo o
desenvolvimento social e econmico exerce presses sobre o meio ambiente e, como
consequncia, o estado do ambiente altera-se. As alteraes determinam impactes
sobre a sade humana, os ecossistemas, os bens materiais, entre outros que podem
provocar uma resposta social que sustenta diretamente as foras motrizes, as
presses, o estado ou impactes, atravs da adaptao ou da implementao de aces
de recuperao. Este modelo apresenta uma situao dinmica, centrada nas vrias
reaces do sistema em estudo, e os indicadores salientam um sistema em constante
mudana, devendo as avaliaes neles suportadas destacar as relaes dinmicas.
O modelo DPSIR, face ao PSR, introduz indicadores de foras motrizes que consagram
o desenvolvimento social, demogrfico e econmico das sociedades e as
correspondentes alteraes no estilo de vida, nos nveis globais de consumo e nos
59
padres de produo, e prev indicadores de impacte que descrevem as alteraes
nas condies ambientais (European Environment Agency 2003).
Os indicadores de fora motriz representam as actividades humanas, processos e
padres produtivos que geram impactes sobre o desenvolvimento sustentvel e
descrevem os desenvolvimentos sociais, demogrficos e econmicos nas sociedades e
as mudanas nos estilos de vida correspondentes, os nveis globais de padres de
consumo e produo. As foras motrizes, como a taxa de crescimento demogrfico e
econmico, a intensificao agrcola, as emisses de gases com efeito de estufa, o
desenvolvimento urbano, os transportes, a indstria, entre outros, traduzem-se em
emisses de poluentes e outras presses sobre os recursos naturais. As principais
foras motrizes provocam mudanas nos nveis gerais de produo e consumo, que
exercem presso sobre o meio ambiente.
Indicadores de presso descrevem a evoluo das emisses, o uso de recursos e o uso
do solo por atividades humanas. As presses exercidas pela sociedade so
transportadas e transformadas numa variedade de processos naturais que se
manifestam em alteraes das condies ambientais. (so exemplos de indicadores de
presso as emisses de CO2 por setor, o uso de pedra, cascalho e areia para a
construo e a quantidade de terra utilizada para estradas).
Os indicadores das condies ambientais ou de estado descrevem a qualidade do
ambiente e a qualidade e quantidade dos recursos naturais. Devem permitir uma viso
do estado do meio ambiente, dos ecossistemas naturais, da qualidade de vida e da
sade humana bem como da sua evoluo ao longo do tempo. Os Indicadores de
Estado podem, simultaneamente, reflectir e apoiar a efectivao e implementao de
polticas ambientais. A concentrao de poluentes no meio ambiente, a excedncia das
cargas crticas, a exposio da populao a determinados nveis de poluio ou de
rudo, a degradao da qualidade ambiental, a eroso do solo, a dimenso dos
habitats, a qualidade de gua para consumo humano, a variabilidade climtica e a
maior ou menor probabilidade de ocorrncia de determinados riscos naturais, so
alguns exemplos de indicadores de Estado. As mudanas no estado do meio ambiente
determinam impactes sobre as funes do ambiente, como a sade humana e os
60
ecossistemas, a disponibilidade de recursos, as perdas de capital manufaturado e
biodiversidade.
Os indicadores de impacte so usados para descrever as mudanas no estado do
ambiente, na sade humana e nos sistemas ecolgicos e materiais devidas a aes
antropognicas. Numa definio estrita os impactes so apenas os parmetros que
refletem diretamente alteraes nas funes de utilizao do ambiente por seres
humanos. Como os seres humanos so uma parte do meio ambiente, os impactes
referidos tambm incluem os impactes na sade. Os impactes determinam respostas
da sociedade no sentido de promoverem mecanismos de minimizao dos mesmos.
Os indicadores de resposta so ento as medidas que a sociedade implementa para
dar resposta s suas prprias preocupaes, no que diz respeito a alteraes no meio
ambiente. Estas medidas aludem a aces individuais e/ou colectivas e podem estar
relacionadas com a preveno dos efeitos negativos da aco do homem sobre o
ambiente, com a interrupo ou reverso de danos causados ao meio, e com a
preservao e conservao da natureza e dos recursos naturais, entre outras.
Traduzem-se atravs de polticas e instrumentos legislativos gerais e sectoriais, atravs
de instrumentos econmicos ou financeiros, atravs de mudanas na conscincia e
comportamento ambientais, entre outros. Como exemplos de indicadores das
respostas sociais podem referenciar-se as despesas com o ambiente, impostos e
subsdios relacionados com o ambiente, as quotas de mercado dos bens e servios
ecolgicos, as taxas de reduo da poluio, as taxas de reciclagem de resduos, a taxa
de recursos hdricos e a implementao de medidas agro-ambientais.
Embora seja tentador olhar para o quadro DPSIR como uma anlise descritiva, com
foco especfico em elementos individuais do sistema econmico, social e ambiental,
so as relaes entre os elementos que introduzem a dinmica no quadro e promovem
mudanas. Um foco sobre as relaes entre os elementos DPSIR revela uma srie de
processos e indicadores que os descrevem.
3.2. Critrios de Seleo de Indicadores
Segundo a (European Environment Agency 2003), um bom indicador aquele que
permite comunicar de uma forma slida e simples uma realidade complexa e nessa
perspectiva deve promover o interesse do pblico-alvo; comunicar a mensagem de
61
forma acessvel ainda que interessante e atraente; ser de fcil interpretao; ser
relevante para a investigao; ser representativo da ao a ser considerada; mostrar a
evoluo ao longo de um intervalo de tempo relevante; ter associado um valor de
referncia para permitir a comparao de alteraes temporais; permitir explicar as
causas associadas s tendncias encontradas; ser comparvel com outros indicadores
que descrevem fenmenos semelhantes; ser cientificamente bem fundamentado e ser
suportado em estatsticas slidas.
68
Num processo de planeamento existem, inevitavelmente, conflitos entre o
desenvolvimento e a proteco do meio ambiente, a menos que o plano em questo
seja um plano de conservao. Os indicadores ambientais de AAE devem ser capazes
de identificar esses conflitos, inevitveis entre os objectivos de plano e os objectivos
da AAE, em fases precoces do processo, para que os compromissos possam tambm
ser assumidos to cedo quanto possvel.
Os dados necessrios para suporte do indicador devem ser facilmente disponveis ou
disponibilizveis com uma relao custo benefcio razovel, adequadamente
documentados e de reconhecida qualidade e devem ser actualizados em intervalos
regulares de acordo com procedimentos seguros/confiveis.
Segundo (Donnelly et al. 2006), os critrios foram estabelecidos para garantir que os
indicadores ambientais assegurariam as necessidades de AAE. A uniformizao dos
critrios possibilitar tambm um processo de seleco de indicadores, mais moderno
e coerente, com custos associados mais reduzidos, com a garantia de minimizao de
esforos e tambm com o aumento do potencial de comparao e estabelecimento de
sinergias entre processos diferentes de AAE. Os critrios de seleco apresentados
podero ter tambm um papel decisrio sobre se a lista de indicadores ter que ser
aumentada em avaliaes futuras ou se pelo contrrio alguns dos indicadores
utilizados podero ser retirados por falta de aplicabilidade, coerncia ou relevncia.
(Donnelly et al. 2007) sugerem que importante avaliar os indicadores escolhidos face
aos critrios de seleco, para assegurar que todos os critrios de seleco foram
referenciados pelo menos por alguns indicadores, para identificar indicadores que no
possam ser apoiados por dados disponveis e para destacar indicadores considerados
irrelevantes. Com esta metodologia consegue-se um conjunto ptimo de indicadores
ambientais para cada processo de AAE, que permitir tambm a concretizao de um
programa de monitorizao eficiente, com custos reduzidos e com uso eficiente de
recursos.
(Kurtz et al. 2001) relevam a opinio do utilizador final do conjunto de indicadores.
Segundo estes autores dever ser ele a definir, apoiado pelos critrios de seleco de
indicadores, se o indicador ambiental aceitvel e se adaptado aos objectivos da
AAE.
69
(Deponti et al. 2002) apresentam uma metodologia para a seleco e construo de
indicadores estratgicos baseada num conjunto de etapas, de entre as quais se
destacam, como mais relevantes, a identificao do pblico envolvido, a determinao
do objecto de estudo e do tipo de avaliao, a definio de pontos crticos, a definio
dos descritores, o levantamento da lista de indicadores, a seleco de indicadores
estratgicos, a determinao de parmetros, a medio e monitorizao e a
apresentao, integrao e validao dos resultados.
CONCLUSES
Os indicadores, os ndices e outros nveis de agregao da informao tm como
objectivo essencial apoiar um conjunto alargado de processos, de entre os quais se
destacam a atribuio e alocao de recursos como suporte de decises, o
cumprimento de normas legais, a anlise de tendncias no tempo e no espao, a
investigao cientfica e a informao ao pblico.
Segundo APA (2007), o desenvolvimento, seleco e utilizao de indicadores
ambientais devem constituir um processo dinmico e interactivo, com actualizaes
frequentes susceptveis de integrar diferentes desenvolvimentos e perspectivas.
Contudo, o processo de seleco de indicadores ambientais , em geral,
insuficientemente sistemtico e transparente, e normalmente baseia-se em critrios
individuais que, com algumas excepes, no incluem os critrios relacionados com a
utilidade analtica de um indicador face ao total de indicadores de um conjunto
seleccionado (Niemeijer & de Groot 2008). Os indicadores normalmente so
focalizados para processos especficos, no havendo, portanto, um conjunto de
indicadores globais adaptveis a todas as realidades (Deponti et al. 2002).
Estas questes, referenciadas para os indicadores ambientais tornam-se
particularmente relevantes para os indicadores que tm como objectivo apoiar um
processo de Avaliao Ambiental Estratgica, uma vez que a este nvel, os indicadores
ambientais tm que demonstrar no s as alteraes na qualidade do ambiente
resultantes da aplicao de planos e programas estratgicos, como tambm devem
fornecer informaes adequadas para permitir que os objectivos e metas da AAE
sejam atingidos.
70
Existem poucos estudos e poucas publicaes sobre as vantagens da utilizao e sobre
a relevncia dos critrios de escolha de indicadores ambientais na AAE, o que reflecte
a importncia de desafios que identifiquem os indicadores mais convenientes
(Donnelly et al. 2007). portanto crucial o estabelecimento de uma metodologia que
possa ser utilizada na seleco dos indicadores ambientais para uso em AAE.
(Donnelly et al. 2007) apresentam um conjunto de critrios de seleco que identifica
os indicadores ambientais coerentes com uma AAE rigorosa e robusta. Os critrios de
seleco apresentados podero desempenhar um importante papel na identificao
dos indicadores que interiorizem o maior nmero possvel de critrios e podero
realar o processo de recolha de dados de base e a monitorizao subsequente dos
descritores ambientais. A uniformizao dos critrios possibilitar um processo de
seleco de indicadores com custos associados mais reduzidos, com a garantia de
minimizao de esforos e tambm com o aumento do potencial de comparao e
estabelecimento de sinergias entre diferentes processos de AAE. (Kurtz et al. 2001),
relevam a opinio do utilizador final do conjunto de indicadores que, apoiado pelos
critrios de seleco de indicadores, dever definir se cada indicador ambiental
aceitvel e se adaptado aos objectivos da AAE.
No processo metodolgico em estudo perspectiva-se a avaliao dos indicadores
escolhidos face aos critrios de seleco, para assegurar que todos os critrios de
seleco foram referenciados pelo menos por alguns indicadores, para identificar
indicadores que no possam ser apoiados por dados disponveis e para destacar
indicadores considerados irrelevantes.
Como futuros desenvolvimentos deste tema considera-se relevante aplicar o sistema
metodolgico mais completo a processos de planeamento concretos e respectivas
AAE, o que possibilitar avaliar a robustez e a importncia da metodologia
desenvolvida. Perspectiva-se, ainda, a implementao dos procedimentos de validao
dos indicadores seleccionados atravs do recurso metodologia de validao sugerida
por (Cloquell-Ballester et al. 2006). A metodologia 3S prev a adequao dos
indicadores para garantir qualidade, confiana e objectividade na avaliao ambiental
e tambm para incorporar a participao pblica, com vista criao de consensos.
71
BIBLIOGRAFIA
Agncia Portuguesa do Ambiente (2007); Sistema de Indicadores de Desenvolvimento
Sustentvel, SIDS Portugal; APA; ISBN 978-972-8577-40-7; Dezembro 2007.
Caeiro, S., Ramos, T.B. & Huisingh, D., 2012. Procedures and criteria to develop and
evaluate household sustainable consumption indicators. Journal of Cleaner Production,
27, pp.7291.
Cloquell-Ballester, V.-A. et al., 2006. Indicators validation for the improvement of
environmental and social impact quantitative assessment. Environmental Impact
Assessment Review, 26(1), pp.79105.
Deponti, C., Eckert, C. & Azambuja, J., 2002. Estratgia para construo de indicadores
para avaliao da sustentabilidade e monitoramento de sistemas. Agroecologia e
Desenvolvimento Rural Sustentvel, 3 (4 OUT/DEZ).
Direo Geral do Ambiente (2000); Proposta para um Sistema de Indicadores de
Desenvolvimento Sustentvel; DGA; ISBN 972 - 8419 - 48 1. Direo de Servios de
Informao e Acreditao, Amadora.
Donnelly, A., Jones, M., et al., 2006. Decision-support framework for establishing
objectives, targets and indicators for use in strategic environmental assessment.
Impact Assessment and Project Appraisal, 24(2), pp.151157.
Donnelly, A. et al., 2007. Selecting environmental indicator for use in strategic
environmental assessment. Environmental Impact Assessment Review, 27(2), pp.161
175.
Donnelly, A., Jennings, E., et al., 2006. Workshop Approach To Developing Objectives,
Targets and Indicators for Use in Sea. Journal of Environmental Assessment Policy and
Management, 08(02), pp.135156.
Donnelly, A., Prendergast, T. & Hanusch, M., 2008. Examining Quality of Environmental
Objectives, Targets and Indicators in Environmental Reports Prepared for Strategic
Environmental Assessment. Journal of Environmental Assessment Policy and
Management, 10(04), pp.381401.
European Environment Agency, 2005. EEA core set of indicators, Copenhagen.
European Environment Agency, 2003. Environmental Indicators: Typology and Use in
Reporting, Copenhagen.
72
Gao, J., Krnv, L. & Christensen, P., 2010. Comparative study of SEA experiences
between EU and China: the use of indicators. In EASY-ECO Conference on Sustainable
Development Evaluations in Europe in Brussels. Brussels, pp. 113.
Heink, U. & Kowarik, I., 2010. What are indicators? On the definition of indicators in
ecology and environmental planning. Ecological Indicators, 10(3), pp.584593.
Kurtz, J.C., Jackson, L.E. & Fisher, W.S., 2001. Strategies for evaluating indicators based
on guidelines from the Environmental Protection Agencys Office of Research and
Development. Ecological Indicators, 1(1), pp.4960.
Niemeijer, D. & de Groot, R.S., 2008. A conceptual framework for selecting
environmental indicator sets. Ecological Indicators, 8(1), pp.1425.
OECD, 2008. Key environmental indicators, Paris.
OECD, 2003. OECD Environmental Indicators Development, measurement and use,
Paris.
73
INFLUNCIA DA EMBALAGEM A VCUO E DO PROCESSAMENTO A ALTA PRESSO NA
ESTABILIDADE DO CARAPAU SECO
1
Escola Superior Agrria de Santarm, Instituto Politcnico de Santarm;
2
Raimundo & Maia, Lda.; Frubaa, CRL.
RESUMO
Para valorizao do carapau seco e rentabilizao de equipamento para
processamento a alta presso, estudaram-se as influncias do embalamento a vcuo,
ou deste com o processamento e a alta presso (400 MPa, 5 min), na estabilidade do
produto, aos trinta dias aps processamento. Para avaliao da estabilidade
realizaram-se anlises fsico-qumicas (cor, pH, azoto bsico voltil total, cinza total e
humidade), microbiolgicas (contagem de microrganismos a 300C) e anlise sensorial.
Entre carapaus, carapaus embalados a vcuo e carapaus embalados a vcuo e
submetidos a processamento a alta presso: o azoto bsico voltil total foi superior no
embalado a vcuo; a humidade foi mais elevada nos carapaus no processados; o
processamento a alta presso aumentou o brilho e tornou os carapaus esverdinhados
e amarelados; o vcuo aumentou a intensidade da cor; e foram preferidos os carapaus
no processados. Os valores do azoto bsico voltil total e da contagem de
microrganismos a 30C indicam que o HPP retardou a degradao microbiolgica.
74
ABSTRACT
To add value to horse mackerel and to maximize use of high pressure processing
equipment, we studied the influence of vacuum packaging alone or combined with
high pressure processing (400 Mpa, 5 min) on the products stability, 30 days post
processing. To evaluate stability physichochemical (colour, pH, total volatile basic
nitrogen, ash and humidity), microbiological (total count at 30C) and sensory analyses
were carried out. Between mackerel, vacuum packed mackerel and vacuum packed
and high pressure processed mackerel: total volatile basic nitrogen was higher in
vacuum packaging; humidity was higher in non-processed mackerel; high pressure
processing increased brightness and turned the fish greenish and yellowish; vacuum
increased colour intensity; non-processed mackerel was preferred. Total volatile basic
nitrogen and total count at 30C showed that high pressure processing delayed
microbiological deterioration.
Keywords: horse mackerel; salting; drying; high pressure processing (HPP); vacuum
packaging; quality.
INTRODUO
O carapau que se encontra na costa continental portuguesa um telesteo membro
da grande famlia Carangidae e pertencente ao gnero Trachurus. A espcie Trachurus
trachurus L., tem o nome vulgar carapau branco e encontra-se distribudo pelo Oceano
Atlntico - desde a Noruega ao Senegal -, pelo Mar Mediterrneo e pelo Mar Negro
(Costa, 2001). Esta espcie de carapau a espcie que sofre a tradicional secagem ao
Sol, na regio da Nazar, e noutras regies costeiras de Portugal. Segundo MatrizNet
(2012), a ao de secar o peixe uma das mais tradicionais formas de conservar o
pescado. Na Nazar, tal como noutras localidades, um saber feminino, transmitido
informalmente, que continua a ter lugar de uma forma quotidiana e ao longo de todo
o ano, no "estindarte" (estendal) localizado na zona sul do areal da Nazar. So as
mulheres quem compra o peixe, o amanha, salga, seca e vende. O peixe pode ser
comprado especificamente para esta finalidade ou ser colocado a secar pela peixeira
pelo facto de no o ter vendido no mercado. De acordo com Aubourg et al. (2012),
75
durante o armazenamento refrigerado de peixe, perdas significativas sensoriais e de
valores nutricionais foram detetadas como um resultado da atividade enzimtica
endgena, desenvolvimento microbiano e da oxidao lipdica. Segundo zogul et al.
(2004) o peixe um dos produtos alimentares mais altamente perecveis e o prazo de
validade de tais produtos limitado na presena de ar atmosfrico, por efeitos
qumicos de oxignio e pelo crescimento de microrganismos de deteriorao aerbica.
A modificao da atmosfera dentro da embalagem atravs da diminuio da
concentrao de oxignio e, o aumento do teor de dixido de carbono e/ou azoto,
foram usados para prolongar significativamente a vida de prateleira de produtos
alimentares perecveis, a temperaturas de refrigerao. A embalagem em atmosfera
modificada (EAM) e a embalagem a vcuo EV), juntamente com refrigerao,
tornaram-se tcnicas de preservao cada vez mais populares, que trouxeram grandes
mudanas no armazenamento, distribuio e comercializao de produtos crus e
processados para atender s procuras dos consumidores. O efeito conservante
especfico da EAM em peixe est diretamente relacionada com as espcies de peixes,
teor de gordura, contedo humidade, contagem microbiana inicial, pH, entre outros
(Goulas & Kontominas, 2006). Erkan et al. (2011) referiram que oprocessamento de
alta presso uma tecnologia que, potencialmente, aborda muitos, dos mais recentes
desafios enfrentados pela indstria de peixes. Pode facilitar a produo de produtos
alimentares que tenham a qualidade de alimentos frescos, e ainda a convenincia e
rentabilidade associadas a extenso da vida til. As vantagens da tecnologia HPP
incluem efeitos mnimos no sabor e nos atributos nutricionais do produto final. Alguns
estudos efetuados em carnes e peixes tm mostrado que o HPP pode ser uma
ferramenta til para o processamento de tais produtos (ERKAN et al., 2010). No entanto,
a tecnologia tambm pode induzir a alteraes importantes na textura e na aparncia.
Tendo em conta que o produto apenas comercializado na zona da Nazar e
confecionado apenas por alguns restaurantes e, provavelmente comprado por
consumidores finais, surge a possibilidade de dar uma nova viso deste produto que
identitrio da cultura nazarena atravs, se possvel, da aplicao de vcuo e/ou da
conjugao da aplicao de vcuo e da tecnologia de alta presso. Para atingir este
objetivo h que estudar se a aplicao conjugada destes dois processos permite a
76
manuteno e at o aumento do perodo de conservao do produto e a estabilidade
ao nvel das suas caratersticas de qualidade.
77
salmoura efetuada por imerso do carapau numa soluo salina de
aproximadamente 4 % de sal durante cerca de 10 minutos. Aps a salmoura os peixes
so escalados. No fim dos peixes escalados, efetua-se uma secagem tradicional na
zona de secagem da Nazar, na qual os carapaus so colocados verticalmente, com a
pele assente na rede do estindarte, que depois erguido na vertical, ficando
expostos ao sol e s condies ambientais durante cerca de dois dias.
78
Exame organoltico sumrio
Para avaliar a integridade e as caractersticas sensoriais do produto, os carapaus secos
dos trs lotes foram submetidos a um exame organoltico aquando da pesagem e
medio, da embalamento e do processamento HPP, consoante os lotes em estudo.
Decorridos trinta dias aps este primeiro exame foi efetuado novamente um exame
organoltico aos lotes.
Determinao da cor
Para efetuar a medio dos parmetros CIE L*a*b*, utilizou-se o colormetro de
reflectncia Konica Minolta Chomo meter, modelo CR 400, com o iluminante D65 e um
ngulo de viso de 0. Este equipamento foi previamente calibrado com um azulejo
branco (CRA44), com as coordenadas y- 93,8; x 0,3158; y 0,3322. Efetuaram-se 3
medies em cada carapau (n=3) em locais com distncia de cerca de 1 cm entre si.
Determinao do valor do pH
O potencimetro (HANNA instruments, modelo HI 2211) foi calibrado utilizando as
solues tampo de referncia (HANNA instruments), com as referncias HI - 7004 e HI
- 7007, para os valores de pH de 4,01 e 7,01, respetivamente. A determinao do pH
foi efetuada por duas metodologias diferentes: amostra homogeneizada em gua
(metodologia 1); amostra homogeneizada em soluo de cloreto de potssio
(metodologia 2). Em cada uma das metodologias foram efetuadas 3 medies (uma
em cada carapau) para cada lote em estudo. A cada amostra de carapau foram
retiradas a cabea, barbatanas, espinhas e a pele, isto , foi apenas utilizada a massa
muscular, que depois de ser separado em tiras foi triturada numa varinha (Braun,
modelo MR 500). Na Metodologia 1, de acordo com Teixeira (2012), foi pesado 5 g de
msculo de peixe numa balana da marca Mettler Toledo, modelo PB1501, com
preciso e exatido ambas de 0,1 g. Em cada homogeneizado obtido mergulhou-se o
eltrodo (HANNA instruments, modelo HI 1131B), com corpo de vidro, juno nica,
de enchimento, deixando-se estabilizar. Na metodologia 2 efetuou-se homogeneizao
de cada amostra (1:10) na picadora, colocando-se 5 g de amostra de carapau triturado
em 50 ml de soluto isotnico de cloreto de potssio (KCl) a 1 N (M =74,56g/mol). Em
cada homogeneizado mergulhou-se o eltrodo (referenciado na metodologia 1) e
deixou-se estabilizar.
79
Determinao do teor de azoto bsico voltil
A determinao do azoto bsico voltil efetuou-se num laboratrio exterior, atravs de
mtodos internos do laboratrio, baseados na norma de referncia para produtos da
pesca e da aquicultura, atravs do mtodo de Conway, descrito na NP 2930 de 2009. O
Regulamento (CE) n. 1022/2008 define o limite de ABVT, no entanto no define
limites para peixe seco, desta forma consideramos o limite de 30 mg de azoto/ 100 g
de tecido muscular.
Determinao do teor de cinza total
A determinao da cinza total foi efetuada por gravimetria num laboratrio exterior,
atravs de mtodos internos do laboratrio, baseados na norma de referncia para
produtos da pesca e da aquicultura - NP 2032 de 2009.
Determinao do teor de humidade
A determinao da humidade no peixe efetuou-se num laboratrio exterior por
volumetria de acordo com mtodos internos do laboratrio baseados na norma de
referncia para produtos da pesca e da aquicultura - NP 2282 de 2009.
Avaliao microbiolgica (contagem de microrganismos a 30C)
Para efetuar a anlise microbiolgica do carapau seco foi realizada a contagem dos
microrganismos a 30C para os trs lotes em estudo. Esta determinao foi efetuada
num laboratrio externo de acordo a ISO 4833:2003, utilizando trs repeties dum
homogenato dos carapaus de cada lote.
Avaliao sensorial
Esta avaliao foi efetuada por um painel de provadores fixo (n = 15) previamente
treinado. Inicialmente realizou-se a seleo dos indivduos/membros para a
constituio do painel de provadores atravs de um questionrio. A anlise sensorial
do carapau seco foi feita ao Lote 1 ao 2 dia e aos Lotes 2 e 3, 30 dia aps
embalamento. A Ficha de Prova descritiva com escala numrica (1-6) inclua os
parmetros: aspeto (cor e aparncia); aroma (caracterstico, maresia, salgado, rano,
putrefao e agrado/desagrado); sabor (caracterstico, salgado, amargo, rano,
oleosidade e agrado/desagrado); textura (global, consistncia e resistncia ao corte);
sensao residual (salgado, amargo, rano e oleosidade) e apreciao geral. As provas
de anlise sensorial decorreram em sala sem temperatura controlada, s 16 horas.
80
Anlise e tratamento estatstico dos resultados
Os resultados dos parmetros biomtricos, cor, textura, valor do pH, ABVT, cinza total,
cloreto de sdio, humidade e a contagem de microrganismos a 30C, foram tratados
utilizando o software Statistica verso 6.0, Stat Soft, Inc. Realizou-se o teste
paramtrico de anlise de varincia (Anova/Manova), em que se usou o Test de Wilks.
Posteriormente, efetuou-se o teste Post Hoc LSD Fischer, para efetuar comparaes de
mdias e detetar a eventual existncia de diferenas significativas entre grupos.
Diferentes caracteres em mdias comparadas indicam a existncia de diferenas
significativas para p < 0,05, e as letras iguais demostram que no houve diferenas
significativas (p > 0,05).
RESULTADOS
Cor
Os valores de L*, a*, b* e C* apresentaram diferenas significativas entre lotes (p <
0,05), por outro lado H no apresentou diferenas significativas (Tabela 1).
Os valores de L* aumentaram com o embalamento a vcuo e/ou com a aplicao do
HPP (Lotes 2 e 3). O valor de a* diminuiu significativamente com vcuo e/ou HPP
(Lotes 2 e 3), sendo as amostras do Lote 1 as mais avermelhadas. O embalamento a
vcuo tornou o carapau seco ligeiramente mais esverdinhado, o que se intensificou
ligeiramente com a aplicao do HPP. O valor de b* apresentou valores superiores no
Lote 3, ou seja, as amostras submetidas a HPP apresentaram- se mais amarelas. Por
outro lado, o Lote 2 apresentou valores de b* mais baixos que o Lote 1, o que mostrou
que a submisso do produto apenas ao embalamento a vcuo tornou a amostra
menos amarelada, sendo mais acinzentada.
81
Tabela 1 - Valores mdios e desvios padro dos parmetros da cor L*, A*, B*, C* E H0 para os
trs lotes de carapau seco em estudo.
Parmetros L* a* b* C* H0
Lote n x x x x x
31,66 5,77 10,00 53,60
1-S 9 8,04 2,62a
2,98a 1,54c 2,61a 8,94a
34,62 3,14 62,64
2-V 9 6,25 1,31a 7,03 1,17b
2,55a 0,51b 6,23a
41,17 1,56 10,40 10,57 60,99
3 - VHPP 9
4,86b 1,01a 1,82b
1,73 a
56,36a
S sem vcuo e sem HPP; V com vcuo e sem HPP; VHPP com vcuo e com HPP.
82
6,8
6,7
6,6
6,5
pH
6,4
6,3
6,2
6,1
1 2 3
Metedologia 1
Lote Metedologia 2
a) b)
Figura 1 - Representao grfica dos valores mdios e dos intervalos de valores, para os trs
lotes estudados, para um intervalo de confiana de 95%, relativos a: a) valor do pH; e b)
contagem de microrganismos a 30C.
Tabela 2 Valores mdios e desvios padro dos valores obtidos para o parmetro ABVT para
os trs lotes em estudo.
83
Teor de cinza total e teor de humidade
Tabela 3 - Valores mdios e desvios padro dos valores obtidos para os parmetros cinza
total e humidade para os trs lotes em estudo.
Anlise sensorial
Da interpretao Figura 2, relativamente ao aspeto geral, cor e aparncia, o painel
de provadores descreveu os Lotes 2 e 3 como ligeiramente diferentes (Lote 1), ou seja,
o vcuo por si s ou conjugado com HPP induziram diferenas detetveis pelo painel.
84
Figura 2 - Distribuio da classificao dos parmetros de anlise sensorial para os trs lotes
em estudo.
85
contudo, revelou-se mais intensa no Lote 3. Na apreciao global efetuada verificou-se
que os provadores mostraram preferncia pelo Lote 1 (sem vcuo e sem HPP).
DISCUSSO
Cor
Os carapaus sem vcuo e sem HPP (Lote 1) apresentaram os menores valores de L*,o
que indica, de acordo com o que Erkan et al. (2010) descreveram para o salmonete,
que o tratamento HPP atribuiu uma aparncia mais brilhante e menos transparente.
Isto, tambm demonstra que o Lote 1 era ligeiramente mais escuro (menos plido) que
os outros dois lotes. Provavelmente tambm o facto de ter havido produo de
exsudado nos carapaus submetidos a HPP ter contribudo para uma maior reflexo e
refrao da luz, com aumento do brilho e, consequentemente, da luminosidade.
Verificou-se que a aplicao de HPP (Lote 3) ao produto, em comparao com o
carapau seco sem embalamento a vcuo e sem HPP (Lote 1), provoca um aumento dos
valores de L* e b* e uma diminuio dos valores de a*. Ou seja, os carapaus ganham
brilho, e tornam-se mais amarelos e mais esverdeados. Resultados semelhantes para
estes parmetros tm sido relatados em diferentes peixes submetidos ao HPP, tais
como, carapau (Erkan et al., 2010), bacalhau fumado (Montiel et al., 2012), salmonete
(Erkan et al., 2010), robalo (Erkan et al., 2010), e mesmo em, camaro tigre preto (Kaur
et al., 2012). Chret et al. (2005) obtiveram resultados de croma que mostram que os
valores de croma aumentam com a presso. Tal facto tambm se verificou neste
estudo, uma vez que o valor de croma apresentou-se superior no Lote 3 (com HPP) e o
menor valor para o Lote 2 (sem HPP).
Chret et al. (2005) obtiveram resultados de tonalidade em robalo tratado a 400 MPa
ao fim de 14 dias de 164,96 18,61, sendo este valor inferior ao obtido no controlo
(sem HPP) no primeiro dia. Tal facto no se constata neste estudo, o valor obtido pelos
autores difere bastante do obtido neste estudo, assim como o valor de H superior
ao controlo, isto pode estar relacionado com espcie em estudo e com o
processamento trmico a que os carapaus foram sujeitos.
86
Valor do pH
Resultados semelhantes do valor de pH foram relatados por Stamatis & Arkoudelos
(2007) em cavala e por Ayala et al. (2001) em robalo. O aumento do pH, como
resultado do efeito do HPP, pode ser devido presso que induz alteraes de
conformao associadas desnaturao e desdobramento de protenas, libertao
de aminocidos bsicos para o meio, sendo a ionizao de um destes grupos
favorecida pela pressurizao (Ramrez-Surez e Morrissey (2006), Teixeira et al.
(2014), Kaur et al. (2012). Segundo Erkan el al. (2001), o aumento no valor de pH indica
o acumulao de compostos alcalinos, tais como compostos de amnio e TMA,
derivados principalmente da ao microbiana.
Teor de azoto bsico voltil total (ABVT)
Erkan et al. (2011) relataram em salmo fumado e Kaur et al. (2012) relataram em
camaro tigre preto, que os valores de ABVT aumentam com o tempo de
armazenamento. Erkan et al. (2011) (salmo fumado), Kaur et al. (2012) (camaro tigre
preto) e Erkan et al. (2010) (salmonete), relataram a reduo do ABVT em amostras
submetidas a HPP, como se comprovou nos valores obtidos para o carapau seco.
Segundo Teixeira (2012) o ABVT constitudo pela trimetilamina que tem a sua origem
na degradao microbiolgica, e observando os valores obtidos, pode dizer-se que ao
fim de trinta dias de armazenamento existe degradao microbiolgica do produto.
Teor de cinza total e teor de humidade
O INSA (2013) refere valores de contedo de cinzas para o carapau cru, carapau
grelhado e para o carapau frito de 1,4, 2,3 e 2,6 g de cinza por 100 g de carapau,
respetivamente. Com base nesta referncia, pode-se verificar que os valores obtidos
(Tabela 3) no Lote 2 vo de encontro aos valores indicados para o carapau grelhado e
frito. Isto pode-se dever ao fato de estarmos a trabalhar com um tratamento que induz
diferena em relao ao carapau fresco desidratao, por salga seguida de secagem -
, que tal como os dois processos culinrios referidos induzem a perda de lquido e,
consequentemente aumento da concentrao dos restantes componentes minerais. A
diferena para o Lote 2 pode ter a ver com diferenas nos nveis de desidratao entre
lote, uma vez que as condies de salga e secagem no foram controladas. Castro
87
(2009) relatou que no processo de salga ocorre reduo da carne e aumento do teor
de cinzas (sais), devido penetrao do sal. Relativamente humidade verificou-se
uma diminuio do teor de humidade com as tecnologias aplicadas. No entanto ter-se-
de considerar que estes dois lotes foram avaliados 30 dias aps o embalamento o
que nos poder indicar que o tempo de armazenamento tambm tem influncia na
reduo do teor de humidade. Teixeira (2012) referiram que os valores de humidade
do carapau fresco variam 65,38 e 75,31% (m/m) e Erkan et al. (2010) referiu um valor
de humidade de 68,90 %, em salmonete, o que demonstra que o Lote 1 apresentou
valores de humidade prximos dos verificados em carapau fresco.
Contagem de microrganismos a 30C
Sendo o carapau seco um produto cru e com uma microflora especfica, de acordo com
o INSA (2005) a qualidade microbiolgica para os microrganismos a 30C para este
produtos deste tipo, satisfatria quando 104 ufc/g, aceitvel quando se encontra >
104 106, e no satisfatria quando 106 . O carapau seco apresentou valores muito
elevados (no satisfatrio) no 2 dia de anlise (Lote 1), pelo que possvel concluir
que tanto a embalagem a vcuo como a conjugao desta com o HPP, no permitiram,
durante os 30 dias de conservao, o desenvolvimento dos microrganismos que
existiam inicialmente no produto.
Anlise sensorial
As avaliaes do aroma revelam que se perdeu a intensidade do aroma com o
embalamento a vcuo e/ou HPP. Em termos de agrado/desagrado do aroma o painel
prefere o Lote 1. O painel identificou o Lote 1 como sendo o mais agradvel em termos
de sabor. No foi efetuado um perodo de oxigenao ou bloom, o que poderia ter
levado a que ao fim de algum tempo submetidos s condies gasosas na atmosfera
ambiente os carapaus embalados a vcuo pudessem ter recuperado a cor, aroma e
sabor e se aproximassem dos valores apresentados pelos carapaus que no foram
embalados a vcuo (Lote1). Relativamente textura, tendo em conta os valores de
dureza e fraturabilidade avaliados no texturmetro, obtiveram-se para estes dois
parmetros valores superiores nos Lotes 2 e 3, o que no fundamenta o que foi
identificado pelo painel. Por outro lado, na avaliao da textura o Lote 1 apresentou
valores de fora adesiva e adesividade superiores aos outros dois lotes, estes
88
parmetros podem justificar a atribuio do painel ao Lote 1 como mais resistente e
mais consistente.
Aubourg et al. (2012) demostraram na anlise sensorial de salmo fresco que existiu
um aumento progressivo dos valores de odor a rano e a putrefao em todas as
amostras (controlo, 135 MPa, 170 MPa e 200 MPa) durante todo o tempo de
refrigerao (0 a 20 dias). Verificaram nos tratamentos com presses as presses mais
elevadas, 170 e 200 MPa, um aumento da evoluo da oxidao lipdica. O que se
confirma no presente estudo, uma vez que apesar de ser identificado como pouco
intenso quando detetado, a identificao pelo painel deste aspeto, prevalece no Lote 2
e sequentemente no Lote 3, ambos com trinta dias de conservao.
CONCLUSES
Entre os lotes estudados pode-se verificar que a humidade foi mais elevada nos
carapaus no processados (Lote 1), provavelmente como resultado da expulso de
gua muscular para o exterior do carapau, devido da presso exercida pela embalagem
a vcuo e pelo HPP sobre o msculo; o ABVT foi superior no carapau embalado a vcuo
(Lote 2); o vcuo aumentou a intensidade da cor, provavelmente pela migrao de
pigmento para exterior veiculado pela gua que tambm foi expulsa; o sal foi reduzido
pelo HPP conjugado com o vcuo (Lote 3), provavelmente por ter migrado para o
exterior com a gua que foi referida no ponto anterior; o HPP conjugado com o vcuo,
ao aumentar a gua no exterior ter levado ao aumento do brilho; o processamento
HPP conjugado com o vcuo tornou os carapaus esverdinhados e amarelados e os
carapaus preferidos foram os no processados. Tendo em conta os valores do ABVT e a
contagem de microrganismos a 30C o HPP retardou a degradao microbiolgica,
contudo sem manuteno das caratersticas sensoriais. Para se melhor entender o
efeito do HPP ter-se- de: estudar maior nmero de amostras; os carapaus embalados
a vcuo e submetidos a HPP, antes da anlise sensorial devero ser arejados para
eliminao de cheiros adquiridos e para que a cor possa retornar inicial; avaliar a
existncia de microrganismos indicadores de higiene e de segurana.
89
BIBLIOGRAFIA
Ayala, M.; Santaella, M.; Martnez, C.; Periago, M.; Blanco, A., Vzquez, J.; Albors, O.
(2011) - Muscle tissue structure and flesh texture in gilthead sea bream, Sparus aurata
L., fillets preserved by refrigeration and by vacuum packaging. LWT - Food Science and
Technology 44:10981106
Aubourg, S.; Rodrguez, A.; Sierra, Y.; Tabilo-Munizada, G.; Prez-Won, M. (2012)
Sensory and physical changes in chilled farmed coho salmon (Oncorhynchus kisutch):
Effect of previous optimized hydrostatic hight-pressure conditions. Food Bioprocess
Technology 11
Campus, M. (2010) High pressure processing of meat, meat products and seafood,
Food Engineering Review 2:256273
Castro, G. (2009) - Avaliao da qualidade sanitria do pescado salgado seco
comercializado nas feiras livres de Belm-pa. Trabalho monogrfico de concluso de
curso de Especializao em Veterinria (TCC) de Higiene e Inspeo de Produtos de
Origem Animal. Universidade Castelo Branco. 46 pp.
Chret, R.; Chapleau, N.; Delbarre-Ladrat, C.; Verrez-Bagnis V.; Lamballeiie, M. (2005) -
Effects of High Pressure on Texture and Microstructure of Sea Bass (Dicentrarchus
labrax L.) Fillets. Institute of Food Technologists. Journal of Food Science 70. 8.
Costa, A. (2001) - Contribuio para o estudo da fecundidade temporal e espacial do
carapau (Trachurus trachurus L.) na costa portuguesa. Dissertao original apresentada
para acesso categoria de investigador auxiliar. Lisboa: Instituto Nacional de Recursos
Biolgicos. 189 pp.
Decreto-Lei n. 25/2005 - Dirio da Repblica, Srie I, A, n. 20, 28 de Janeiro de 2005.
Ministrio da Agricultura, Pescas e Florestas.
Erkan, N.; Uretener, G.; Alpas, H.; Selcuk, A.; Ozaden, O.; Buzrul, S. (2010) - Effect of
High Hydrostatic Pressure (HHP) Treatment on Physicochemical Properties of Horse
Mackerel (Trachurus trachurus), Food Bioprocess Technol. (2011). 4:13221329
Erkan, N.; Uretener, G.; Alpas, H.; Selcuk, A.; Ozaden, O.; Buzrul, S. (2011) - The effect
of different high pressure conditions on the quality and shelf life of cold smoked fish.
Innovative Food Science and Emerging Technologies 12:104110
90
Erkan, N.; Uretener, G.; Alpas, H. (2010) - Effect of high pressure (HP) on the quality
and shelf life of red mullet. Innovative Food Science and Emerging Technologies
11:259264
Erkan, N.; Uretener, G.; Alpas, H. (2010)- Effects of hight pressure treatment on
physicochemical characteristics of fresh sea bass (Dicentrarchus labrax) Journal of
Consumer Protection and Food Safety 5:8389
Goulas, A.;. Kontominas, M. (2005) - Effect of modified atmosphere packaging and
vacuum packaging on the shelf-life of refrigerated chub mackerel (Scomber japonicus):
biochemical and sensory attributes European Food Research Technology 224:545553
Gou, J.; Lee, H.; Ahn J. (2010) - Effect of high pressure processing on the quality of
squid (Todarodes pacificus) during refrigerated storage. Food Chemistry 119:471476
INSA (2013) - Instituto Nacional de Sade Doutor Ricardo Jorge - Nacional
http://www.insa.pt/, consultado a 21-02-13
Kaur, B.; Kaushik, N.; Rao, P.; Chauhan, O. (2012) - Effect of High-Pressure Processing
on Physical, Biochemical, and Microbiological Characteristics of Black Tiger Shrimp
(Penaeus monodon). High-Pressure Processing of Shrimp. Food Bioprocess Technology.
11
MatrizNet (2012) - http://www.matriznet.imc-
ip.pt/MatrizNet/Imateriais/ImateriaisConsultar.aspx?IdReg=9&EntSep=3#gotoPosition,
consultado a 21/10/2012.
Montiel, R.; Alba, M.; Bravo, D.; Gaya, P.; Medina, M. (2012) - Effect of high pressure
treatments on smoked cod quality during refrigerated storage. Food Control 23:429-
436
zogul, F.; Polat, A.; zogul, Y. (2004) - The effects of modified atmosphere packaging
and vacuum packaging on chemical, sensory and microbiological changes of sardines
(Sardina pilchardus). Food Chemistry 85:4957
Regulamento (CE) n. 1022/2008 da comisso de 17 de Outubro de 2008 que altera o
Regulamento (CE) n 2074/2005 no que se refere aos limites de azoto bsico voltil
total (ABVT)
Stamatis, N. & Arkoudelos, J. (2007) - Quality assessment of Scomber colias japonicus
under modified atmosphere and vacuum packaging. Food Control 18:292300
91
Teixeira, B.; Fidalgo L.; Mendes; R.; Costa G.; Cordeiro, C.; Marques, A. Saraiva, J.,
Nunes, L. (2014) - Effect of high pressure processing in the quality of sea bass
(Dicentrarchus labrax) fillets:Pressurization rate, pressure level and holding time.
Innovative Food Science and Emerging Technologies
Teixeira, A. (2012) - Avaliao da Qualidade e Segurana Alimentar de Carapau
(Trachurus trachurus) Descarregado na Lota de Peniche. Influncia e Caratersticas
Gerais da gua de Lavagem no Pescado Descarregado. Trabalho de Projeto para
obteno do Grau de Mestre em Gesto da Qualidade e Segurana Alimentar. Instituto
Politcnico de Leiria. 94 pp.
92
HOW TO CHANGE OR TRANSFORM A COORDINATE SYSTEM INTO A MAP LAYER? THE
ANSWER IS IN ARCMAP
1
Departamento de Cincias Agrrias e Ambiente Escola Superior Agrria - Instituto Politcnico de
Santarm,
2
Instituto de Cincias Agrrias e Ambientais Mediterrneas-ICAAM, Universidade de vora.
3
Centro Interdisciplinar de Histria, Culturas e Sociedades da Universidade de vora CIDEHUS
ABSTRACT
The application of new technologies to agricultural activity, associated with the Global
Positioning System, generates high amount of georeferenced information. Thus, we
are often confronted with different assignments of coordinate systems. The
transformation of data from one source of information into the data coordinate
system from another source is a prior and fundamental step to any analysis of
georeferenced information.
This study aims to know and understand the transformation process of geographical
coordinates into rectangular ones and vice versa, as well as the transformation
between different coordinate systems, through the ArcMap software tools because it
is a question often asked by students and others who try to use the Geographic
Information Systems tools.
93
RESUMO
A aplicao das novas tecnologias atividade agrcola, associada aos Sistemas de
Posicionamento Global, gera elevada quantidade de informao georreferenciada.
Deste modo, somos muitas vezes confrontados com atribuies distintas de sistemas
de coordenadas. A transformao dos dados provenientes de uma das fontes de
informao no sistema de coordenadas dos dados provenientes de outra fonte uma
etapa prvia e fundamental para qualquer anlise de informao georreferenciada.
Este trabalho tem como objetivo conhecer e entender o processo de transformao de
coordenadas geogrficas em retangulares e vice-versa, bem como a transformao
entre sistemas de coordenadas distintos, atravs das ferramentas do software ArcMap
por ser uma questo colocada frequentemente por alunos e outros utilizadores que
tentam utilizar as ferramentas Sistemas de Informao Geogrfica.
INTRODUCTION
The GPS (Global Positioning System) has a large area of applications whether on land,
air or sea. In agriculture, the GPS in combination with geographic information systems
(GIS) have been decisive to the development and implementation of precision farming
system.
The access to global positioning technology allows to georeference the position of a
given agricultural machine with a metric or submetric accuracy, depending on the type
of GPS system used. Thus, the survey of georeferenced data makes it possible to
control some production factors in an environmentally friendly way.
The global positioning system (GPS) receivers, used to locate and navigate agricultural
vehicles within a field have become the most common sensors in precision agriculture
(Adamchuk, 2005/2006). In this context, new technologies have made it possible to
stop thinking about the agricultural parcel as a unit of homogeneous treatment to
consider the parcel as a heterogeneous unit that varies in space. The characterization
94
of the spatial variability of soil is only possible through the use of technologies that,
combined with global positioning systems (GPS), allow to obtain, in an easy and
economical way, a dense information on soil properties, as for instance the pH (e.g.
Schirrmann et al.), electrical conductivity (e.g. Corwin and LESCH., 2005; Amin et al.,
2004) and productivity (e.g. DIKER et al., 2004; Miao et al., 2006), which can then be
correlated with more expensive soil attributes (Chig et al., 2010).
The accuracy GPS receivers allow to determinate geographic coordinates (latitude and
longitude) and the high accuracy GPS allows measurement of altitude (elevation). In
this way it is possible to calculate relevant parameters (e. g. slope (Cox et al., 2003);
flow direction (Marques da Silva and Silva, 2008)) to the terrain that influence the
agriculture production (Adamchuk et al., 2004).
The acquisition of geo-referenced information allows, not only the identification of the
spatial variability of the agricultural parcel, but also, site-specific management zones,
with the application of fertilizers and pesticides as inputs only where they are needed,
and when they are needed, contributing in the long term to the sustainability of
agricultural production (Lowenberg and Bongiovanni, 2004).
Nevertheless, this management requires work with multiple layers of georeferenced
information in order to develop the prescription maps successfully. The integration of
data from different sources of information requires that data be processed or obtained
in the same geographical referencing system.
However, some users have difficulties in entering georeferenced data into a
geographic information system and in displaying them in a coordinated and
appropriate projection system. In this paper, we demonstrate a set of illustrative steps
of this process using maize yield data.
The excel file data were added to ArcGis: ArcMap 9.3. Figures 2 and 3 show the
necessary steps to transform the geographic coordinate system into a projected
coordinate system.
96
Figure 2. Access to coordinate system.
97
Figure 4. Data export in the chosen coordinate system.
98
Figure 5. ArcToolbox and transformation of data into projected coordinate system.
99
yield data in Hayford Gauss Lisbon IGeoE system (Figure 6 (b)), the same used in the
remaining working layers.
CONCLUSIONS
Currently geographic information tools are useful in many areas of knowledge being
essential in precision agriculture.
The procedure makes it possible: (i) to distribute spatially the points of yield maize in
the correct position; (ii) to transform the original geographic coordinate system into
another coordinate system project within a common geographic framework.
100
Acknowledgements
The authors are very grateful to Eng. Castro Duarte for all his material and immaterial
support.
REFERENCES
Adamchuk, V. I. (2005/2006). Characterizing Soil Variability Using On-the-Go Sensing
Technology. Site-Specific Management Guidelines SSMG-44. Norcross, Georgia: Potash
and Phosphate Institute.
Adamchuk, V.I.; Hummel, J.W.; Morgan, M.T. and Upadhyaya, S.K.(2004). On-the-go
soil sensors for precision agriculture. Comput. Electron. Agric., 44, 7191.
Amin, M.S.M.; Aimrun, W.; Eltaib, S.M. and Chan, C.S. (2004). Spatial soil variability
mapping using electrical conductivity sensor for precision farming of rice. Int. J. Engin.
Technol., 1 (1), 47 57.
Bongiovanni, R. and Lowenberg-Deboer, J. (2004). Precision agriculture and
sustainability. Precis. Agric., 5(4), 359-387.
Chig, L. A.; Couto, E. G. and Amorim, R. S. S. (2010). Tecnologias para levantamento da
variabilidade dos atributos do solo para um programa de agricultura de preciso.
UNICincias, 14 (2).
Corwin, D.L. and Lesch, S.M. (2005). Characterizing soil spatial variability with apparent
soil electrical conductivity.I. Survey protocols. Comput. Electron. Agric., 46, 103133.
Cox, M. S.; Gerard, P. D. ; Wardlaw, M. C. and Abshire, M. J. (2003). Variability of
Selected Soil Properties and Their Relationships with Soybean Yield. Soil Sci. Soc. Am. J.
67, 12961302.
Diker, K; Heermann, D. F. e Brodahl, M. K. (2004). Frequency Analysis of Yield for
Delineating Yield Response Zones. Precis. Agric., 5, 435444.
ESRI (2009). ARCGIS 9.3.3. Redlands, CA, USA: Environmental Systems Research
Institute.
ESRI (1999). Environmental Systems Research Institute Inc.Building a Geodatabase.
http://downloads.esri.com/support/documentation/ao_/1005Building_a_Geodatabas
e.pdf.
101
ESRI (2014). ArcGIS Desktop Help 9.3. An overview of the Projections and
Transformations toolset.
http://webhelp.esri.com/arcgisdesktop/9.3/index.cfm?TopicName=An%20overview%2
0of%20the%20Projections%20and%20Transformations%20toolset. Accessed 10
January 2014.
Gonalves, J. (2008). Adopo de Sistemas de Referenciao Geogrfica Globais.
ESIG2008.
Marques da Silva, J.R e Silva, L.L. (2008). Evaluation of the relationship between maize
yield spatial and temporal variability and different topographic attributes. Biosyst.
Eng., 101, 183-190.
Miao, Y.; Mulla, D. J. and Robert, P. C. (2006). Spatial variability of soil properties, corn
quality and yield in two Illinois, USA fields: implications for precision corn
management. Precis. Agric, 7, 520.
Schirrmann, M.; Gebbers, R.; Kramer, E. and Seidel, J. (2011). Soil pH Mapping with an
On-The-Go Sensor. Sensors, 11, 573-598; doi:10.3390/s110100573
102
NOVAS FERRAMENTAS DE APOIO NA LIMITAO DA PRAGA TUTA ABSOLUTA NA
CULTURA DE TOMATE PARA INDSTRIA
RESUMO
A traa do tomateiro, Tuta absoluta, , atualmente, praga-chave de tomate para
indstria, no Ribatejo. Detetou-se a sua presena nesta cultura em 2010, tendo
causado prejuzos significativos na campanha de 2011. Durante o ano 2013
efetuaram-se, semanalmente, monitorizao de adultos com armadilhas com
feromona sexual e observaes visuais em 25 a 50 plantas, de acordo com o
estado fenolgico da cultura. Efetuaram-se colheitas de amostras de material
entomolgico que foram analisadas em laboratrio. Alm do acompanhamento
tcnico no campo, identificaram-se factores de risco prvio, base para a
construo de mapas de risco para apoio tomada de deciso. Este trabalho foi
realizado no mbito do Protomate" - Desenvolvimento de uma nova ferramenta
de apoio gesto da cultura do tomate para garantia da qualidade do produto
final, financiado pela medida 4.1 do programa Proder, Cooperao para a
Inovao que tem como objetivo central contribuir para o cumprimento das
metas que envolvem compromissos europeus e conta com um conjunto de
entidades e tcnicos. Desta rede de trabalho resulta um dilogo permanente e
partilha de conhecimento, resultados e experincia, em tempo til. formada
pelo COTHN, ESAS/IPS, ISA/UL, UE, FNOP e Agromais. Participam ainda 15
organizaes de produtores com o envolvimento de 18 tcnicos, a Sugalidal e
Italagro que representam a indstria, e a empresa Lusosem.
KEYWORDS: processing tomato crop, risk assessment, risk maps, South American
tomato moth, technology transfer, sustainable use of pesticides.
INTRODUO
A praga Tuta absoluta, vulgarmente designada por traa do tomateiro, , atualmente,
considerada uma praga chave desta cultura. Foi detetada na Europa, pela primeira vez,
em Espanha, em 2006 ( D e s n e u x e t . a l . , 2 0 1 0 , 2 0 1 1 ) e, em Portugal, foi
registada a sua presena, em cultura protegida de tomate, no Algarve, em Maio de
2009. Em tomate para indstria, foi na campanha de 2011 que ocorreram prejuzos
pela primeira vez, na regio do Ribatejo.
104
A bioecologia desta praga com cerca de nove ou mais geraes anuais (Delgado, 2009,
sobreposio de estados de desenvolvimento e com capacidade de alternar entre
hospedeiros, elevou-a a uma das principais pragas da cultura de tomate para indstria
(Benvenga et al., 2007), principalmente no Ribatejo, devido s caratersticas dos
ecossistemas agrrios da regio, o que est na base da proposta e desenvolvimento da
operao Protomate no sentido de procurar novas ferramentas de apoio gesto da
cultura para garantir a qualidade do produto final.
O Protomate Desenvolvimento de uma nova ferramenta de apoio gesto da
cultura do tomate para garantia da qualidade do produto final foi aprovado no
mbito de uma candidatura da medida 4.1 Cooperao para a Inovao, e envolve
diferentes entidades como a ESAS Escola Superior Agrria de Santarm, o COTHN
Centro Operativo e Tecnolgico Hortofrutcola Nacional, o ISA Instituto Superior de
Agronomia, a UE Universidade de vora, a FNOP- Federao Nacional de
Organizaes de Produtores e, a Agromais que representa a produo. Participam,
ainda, 15 outras organizaes de Produtores, indstrias de tomate e por parte das
empresas de produtos fitofarmacuticos, a Lusosem.
O principal objetivo do trabalho desenvolver um sistema de apoio deciso com
base no acompanhamento tcnico dos inimigos da cultura e na construo de mapas
de risco, para as principais zonas de produo, contribuindo para o uso sustentvel dos
produtos fitofarmacuticos e, consequentemente, para uma maior ecoeficincia,
conservao da biodiversidade e garantia de qualidade e segurana alimentar do
produto final.
106
!(
!(
milho
!( !(
milho milho
!( !(
pastagem
(! olival
!(milho
!(
!(
milho
!( !( milho
milho
!( tomate
!(
milho milho milho milho !(
milho jovem !(
!( !( courgette
!( milho !( !( melo
milho !(
restolho!( !(
!( !( milho milho
!(
!( !( milho
milho
!(
melo
milho!( !( milho
!(
!(
milho
!( nabos
melo !(
!( !( milho
milho
!( !(
batata !( !( milho
!(
milho milho
!( !( !( milho
milho
!( !( !( milho
batata milho !(
milho milho milho !( !( !( tomate
!( milho !( tomate
restolho !( !( milho
!( !( restolho
milho !( !(
!(
milho
!(
!(
milho
!( !(
vinha
!(
!(
milho !( milho milho
!( !( !(
batata
!( !( batata verde
milho!( 0 0.5 1
!( !( !( Km
!( !(
!(
(! !(
Dos pontos registados, 75% serviram para marcar as reas de treino e 25% para
validar a classificao final. Utilizou-se o mtodo de classificao assistida com o
algoritmo de classificao de mxima verosimilhana. A avaliao da exatido da
classificao digital foi realizada atravs da matriz de erro e do coeficiente
KAPPA, que nos indica o grau de concordncia entre a realidade e a classificao
(Congalton et al., 1983).
RESULTADOS
Os resultados tm um carter preliminar por se tratar do primeiro ano de
trabalho.
107
- existncia de parcelas adjacentes com hospedeiros alternativos,
nomeadamente tomate, batata e outras solanceas adventcias;
- deficiente troca de informao entre produtores de tomate, ao nvel da
estratgia para limitao da praga;
- especificidades inerentes posse de terra e, consequentemente,
impossibilidade de implementao de medidas de luta indireta, como as
rotaes.
108
Fig. 2. Mdia de adultos de Tuta absoluta contabilizados nas armadilhas sexuais no
POB principal de uma organizao de produtores entre 3 de Junho e 26 de Setembro.
Fig. 3. Observaes visuais de galerias, no campo, de galerias com larva viva e galerias
com larva morta no POB principal de uma organizao de produtores, entre 3 de Junho
e 22 de Setembro.
Legenda
Milho
Tomate
Batata
0 0.5 1
Km
Fig. 4. Ilustrao dos resultados da classificao sobre uma composio colorida em falsa cor da
imagem (RGB-b3b4b2)
CONCLUSES
Na estimativa do risco e tomada de deciso, alguns aspetos devero ser tidos em
conta, relacionados com a parcela e com a vizinhana. Destaca-se o histrico do
ataque, a cultura antecedente, as datas de plantao e de colheita, a avaliao da
abundncia populacional dos adultos nas armadilhas e a avaliao da intensidade
de ataque, atravs da observao de plantas por amostragem.
110
Na estimativa do risco, as observaes visuais no campo so fundamentais para
complementar a informao das contagens de adultos nas armadilhas delta,
tendo em conta que os dados de 2013 no apresentaram correlao.
Em relao ao nvel econmico de ataque os resultados apontam para que a
deciso de intervir no combate Tuta absoluta seja a um nvel inferior a 1,5
minas por plantas, todavia na prxima campanha (ano 2014) dever-se- aferir
este valor atualmente utilizado para as condies na regio do Ribatejo e Oeste.
Por ultimo, nenhum destes mtodos de estimativa do risco e tomada de deciso,
por si s, suficiente para combater a praga sem o acompanhamento dos
tcnicos das organizaes de produtores, no campo que de extrema
importncia para a sua execuo no contexto presente em que existe uma
fragilidade no conhecimento da biologia da praga e meios de proteo
alternativos aos produtos fitofarmacuticos.
BIBLIOGRAFIA
Benvenga S.R.; Fernandes O.A.; Gravena S. 2007. Tomada de deciso de controle da traa-
do-tomateiro atravs de armadilhas com feromnio sexual. Horticultura Brasileira 25: 164-
169.
Congalton R.G.; Oderwald R.G; Mea R.A. 1983. Assessing Landsat classification accuracy
using discrete multivariate analysis statistical techniques. Photogrammetric Engineering
and remote sensing, 49 (12), 1671-1678.
Delgado, A. M. 2009. La polilla del tomate Tuta absoluta en la regin de Murcia: Bases
para su control. Serie tcnica y de estdios. 112 pp.
Desneux N.; Luna M.G.; Guillemaud T.; Urbaneja A. 2011. The invasive South American
tomato pinworm, Tuta absoluta, continues to spread in Afro-Eurasia and beyond: the new
threat to tomato world production. J Pest Sci, 84: 403408.
Desneux N.; Wajnberg E.; Wyckhuys K.A.G.; Burgio G.; Arpaia S.; Narvaez-Vasquez C.A.;
Gonzalez-Cabrera J.; Ruescas D.C.; Tabone E.; Frandon J.; Pizzol J.; Poncet C.; Cabello T.;
Urbaneja A. 2010. Biological invasion of European tomato crops by Tuta absoluta: ecology,
geographic expansion and prospects for biological control J Pest Sci 83:197215
111
PROTECO BIOLGICA DE CONSERVAO E GESTO DE LARGADAS DE AUXILIARES
COMERCIAIS
RESUMO
Os complexos de espcies de parasitides e predadores que limitam as populaes das
principais pragas de culturas hortcolas protegidas, mosquinhas brancas, larvas
mineiras, lagartas, afdeos e tripes, tm vindo a ser estudados na regio Oeste desde
h mais de 25 anos. A riqueza especfica encontrada nestes complexos elevada.
Algumas das espcies identificadas so comercializadas para largadas. Estas largadas
podem afectar as populaes dos agentes de luta biolgica presentes nas culturas, ao
nvel da composio especfica dos complexos, da abundncia populacional de cada
espcie e na proporo relativa dos vrios gentipos presentes nas populaes. Est a
decorrer uma operao/projecto ProDeR, medida 4.1, promovida por duas empresas
agrcolas e trs instituies de ensino superior pblico, que pretende definir regras de
actuao no combate s pragas destas culturas face intensidade de ataque
observada e aos auxiliares autctones presentes e sua abundncia, com o objectivo de
definir regras para eventuais tratamentos biolgicos e analisar as consequncias
destes, de forma a melhor adequar as estratgias de proteco a adoptar.
112
ABSTRACT
The species complexes of parasitoids and predators which control populations of the
main pests of vegetable protected crops have been studied for the last 25 years in the
Oeste region. Species richness found in the complexes which prey or parasitize the
main pests found in these crops, such as whiteflies, leafminers, caterpillars, aphids and
thrips is high. Some of the identified species are commercialized for biological control
releases. These releases can affect populations of the naturally occurring biological
control agents, regarding species composition of the complexes, species abundance
and representativeness of the genotypes present in the populations. A ProDeR -
measure 4.1 operation/project promoted by two enterprises and three higher
education institutions is ongoing. The aim of this project is to define decision rules to
control pests of protected crops taking into account pest attack severity, beneficial
arthropod species present and their abundance, and through this to define rules for
eventual commercial releases of beneficial arthropods and to analyse their
consequences. This will lead to the adoption of more adequate plant protection
control measures.
INTRODUO
O desenvolvimento de alternativas aos pesticidas para combater os inimigos das
culturas tem sofrido um enorme incremento, no passado recente, em resultado de
factores como: (i) reduo de substncias activas (s.a.) disponveis (Directiva
914/91/CE), conducente quer a finalidades (inimigo x cultura) para as quais deixam de
existir s.a. homologadas quer ao aumento de resistncias pela maior dificuldade em
alternar s.a.; (ii) crescente exigncia dos consumidores relativamente a maior
segurana alimentar; (iii) medidas legislativas decorrentes da transposio da Directiva
2009/128/CE que estabelece um quadro de aco comunitria para o uso sustentvel
dos pesticidas (em Portugal, Lei 26/2013 de 11 de Abril) e que obriga a que cada
Estado-membro assegure as medidas necessrias para reduzir a utilizao de
113
pesticidas e imponha os princpios da proteco integrada, a partir de 1 de Janeiro de
2014. Recorde-se que a proteco integrada uma estratgia de proteco das
culturas contra os seus inimigos que utiliza um conjunto de mtodos que satisfazem
exigncias econmicas, ecolgicas e toxicolgicas, dando carcter prioritrio s aces
que fomentem a limitao natural destes inimigos e respeitando os nveis econmicos
de ataque (Amaro, 2003), integrando, portanto, medidas indirectas de luta e meios de
proteco directos. Neste contexto, o fomento da proteco biolgica indispensvel,
nomeadamente atravs das modalidades limitao natural/conservao e tratamento
biolgico com largadas inoculativas ou inundativas (Eilenberg et al., 2001).
Simultaneamente, a utilizao de abelhes como polinizadores, muito frequente em
culturas hortcolas protegidas, obrigou os agricultores a modificar as suas prticas para
estratgias de proteco compatveis com o uso destes insectos. Esta alterao de
prticas ocorreu tambm em Portugal e promoveu o recurso a tratamento biolgico
com artrpodes auxiliares (e.g., Drumond et al., 2005).
Contudo, a utilizao de auxiliares comerciais pode provocar efeitos adversos em
espcies no visadas, em termos de biodiversidade (Simberloff & Stiling, 1996;
Lenteren et al., 2003) e alteraes genticas nas populaes presentes no ecossistema
(Lenteren et al., 2003), com eventual reduo de actividade da biodiversidade
funcional. Face a estes riscos h a necessidade de avaliar o risco-benefcio da
introduo de auxiliares, nomeadamente dos provenientes de outras origens
geogrficas (Cock, 2002). Alguns pases possuem legislao extremamente restritiva a
essas introdues; noutros pases, todavia, a importao e largada de qualquer espcie
uma realidade sem controlo por ausncia de legislao ou fiscalizao (Lenteren et
al., 2003).
Neste trabalho, apresenta-se o enquadramento/ pressupostos e as linhas de trabalho
de uma operao/projecto ProDeR, medida 4.1, que pretende analisar as
consequncias de tratamentos biolgicos, mesmo que com espcies presentes nos
nossos ecossistemas, de forma a elaborar regras de actuao no combate s pragas
destas culturas face intensidade de ataque observada e aos auxiliares autctones
presentes e sua abundncia, especialmente no que se refere definio de regras para
eventuais tratamentos biolgicos de forma a minimizar os seus impactos.
114
BIODIVERSIDADE FUNCIONAL
Portugal est localizado numa das regies de clima mediterrnico. Nestas regies
possvel coexistirem espcies nativas, espcies de regies temperadas e espcies de
regies subtropicais e tropicais. Por este motivo, so regies de grande riqueza
especfica, hotspots de biodiversidade (Myers et al., 2000).
Verifica-se, ainda, que na regio da bacia do Mediterrneo, o complexo de inimigos e
de artrpodes auxiliares que naturalmente ocorrem no ecossistema culturas hortcolas
protegidas e que limitam as populaes das pragas circulam entre as culturas
protegidas e de ar livre e entre estas e plantas adventcias, pois muitos destes inimigos
so polfagos e os seus agentes de limitao natural generalistas (Alomar et al., 1989).
A grande diversidade ecolgica pe ao dispor do agricultor um importante recurso,
com carcter funcional - a biodiversidade funcional. Esta biodiversidade funcional tem
um papel importantssimo na regulao das populaes dos inimigos das culturas, na
modalidade de proteco biolgica de conservao, alm da aco na polinizao,
reciclagem de nutrientes e no controlo dos microclimas e dos processos hidrolgicos a
nvel local (Altieri, 1999; Smeding & Snoo, 2003). Para fomentar o seu papel regulador
necessrio criar condies que promovam as populaes destes agentes,
criando/preservando as chamadas infra-estruturas ecolgicas capazes de fornecer
habitat de abrigo e/ou reproduo e alimento complementar ou alternativo (Boller et
al., 2004; Franco et al., 2006).
Em particular, o mosaico da paisagem existente na regio Oeste, constitudo pela
diversidade de culturas ao ar livre (maioritariamente, hortcolas, citrinos, pomideas e
vinha) e em estufa (hortcolas e ornamentais), sebes e plantas adventcias de
bordadura e na prpria parcela, pequenas manchas de bosque e floresta, hortas e
jardins nos ncleos habitacionais e muros de pedra ao longo dos caminhos, permitem
uma riqueza especfica muito elevada nos complexos de espcies de parasitides e
predadores das diferentes pragas de hortcolas (Mexia et al., 2004; Figueiredo et al.,
2010, 2011). Esto identificadas 16 espcies de himenpteros parasitides ofagos e
larvares e uma espcie de dptero parasitide larvar de noctudeos (Lepidoptera:
Noctuidae), nove espcies de parasitides larvares e larvo-pupais de larvas mineiras
(Diptera: Agromyzidae), nove espcies de parasitides (Hemiptera: Aphididae) e
115
algumas de hiperparasitides de afdeos, oito espcies de parasitides de ninfas de
mosquinha branca (Hemiptera: Aleyrodidae) e 21 espcies de predadores, alguns
generalistas, das famlias de heterpteros Miridae e Anthocoridae, neurpteros
Chrysopidae, colepteros Coccinelidae, dpteros Cecidomyiidae, Syrphidae e Muscidae
(Marques et al., 1999; Mexia et al., 1999; Figueiredo et al., 2000, 2011; Valrio, 2010).
118
a b
c d
BIBLIOGRAFIA
Alomar, O., Casta, C., Gabarra, R., Bordas, E., Adilln, J. & Albajes, R. 1989. Cultural
practices for IPM on protected crops in Catalonia. In: Cavalloro, R. & Pelerents, C.
(Eds.). Integrated Pest Management in Protected Vegetable Crops. A.A. Balkema,
Rotterdam, pp. 339-346.
Altieri, M.A. 1999. The ecological role of biodiversity in agroecosystems. Agric.,
Ecosyst. Environ., 74: 19-31.
Amaro, P. 2003. A proteco integrada. ISAPress, Lisboa, 446 pp.
Baker, D.A., Loxdale, H.D. & Edwards, O.R. 2003. Genetic variation and founder effects
in the parasitoid wasp, Diaeretiella rapae (Mintosh) (Hymenoptera: Braconidae:
Aphidiidae), affecting its potential as a biological control agent. Mol. Ecol. 12: 3303-
3311.
Boller, E.F., Hni, F. & Poehling, H.-M. 2004. Ecological infrastructures: ideabook on
functional biodiversity at the farm level - temperate zones of Europe. IOBCwprs Comm.
Integrated Production Guidelines, Endors, LBL, Lindau, Suia, 212 pp.
Carvalho, P.J.P. 1999. Os mirdeos e a limitao natural na cultura protegida do
tomateiro. Diss. Mestrado, ISA/UTL, Lisboa, 102 pp.
Carvalho, P. & Mexia, A. 2000. First approach on the potencial role of Dicyphus cerastii
Wagner (Hemiptera: Miridae), as natural control agent in Portuguese greenhouses.
IOBCwprs Bull., 23(1): 261-264.
121
Casta, C., Arn, J., Gabarra, R. & Alomar, O. 2011. Plant damage to vegetable crops
by zoophytophagous mirid predators. Biol. control, 59: 22-29.
Cock, M.J.W. 2002. Risks of non-target impact versus stakeholder benefits in classical
biological control of arthropods: selected case studies from developing countries. In:
Driesche, R.G. van (Ed.). Proc. 1st Int. Symp. Biol. Control Arthropods, Honolulu,
Hawaii, FHTET, USDA Forest Service, Morgantown, West Virginia, EUA, pp. 25-33.
Duarte, G.N.A.H.G. 2013. Problemas associados gesto de Nesidiocoris tenuis
(Hemiptera: Miridae) em tomateiro em modo de produo biolgico: amigo ou
inimigo? Diss. Mestrado, ISA/UL, Lisboa, 72 pp.
Drumond, V., Godinho, M., Amaro, F., Figueiredo, E., Salvado, E. & Mexia, A. 2005. A
utilizao de Bombus terrestris L. na cultura de tomate protegido como prtica
impulsionadora da proteco integrada. V Cong. Ib. Cinc. Hortc.. Actas Port. Hortic. 5:
98-104.
Eilenberg, J., Hajek, A. & Lomer, C. 2001. Suggestions for unifying the terminology in
biological control. BioControl 46: 387400.
Figueiredo, E., Mexia, A., Godinho, M.C. & Amaro, F. 2000. Desenvolvimento da
proteco integrada como nova tecnologia agrria em horticultura protegida.
Relatrio final Projecto PRAXIS 3/3.3/Hort/2164/95, Lisboa, 54 pp. + anexos.
Figueiredo, E., Godinho M., Rodrigues, S., Prieto, R., Mateus, C. & Costa, C.A. 2010.
Biodiversidad funcional: un ecoservicio en horticultura protegida, Actas I Cong. Virtual
Iberoam. Produccin Integrada, pp. 208-226. Disponvel em
http://www.cvpi.es/index.php?modulo=actas
Figueiredo, E., Mexia, A., Mateus, C., Godinho, M. & Rodrigues, S. 2011. Integrated
pest management in vegetable protected crops in the Oeste region. Acta Hort., 917:
93-101.
Figueiredo, E., Carvalho, P. & Mexia, A. 2012. Mirid species as biological control agents
in protected vegetable crops in the Portuguese Oeste region. XV Cong. Ib. Entomol.,
Angra do Herosmo, 2-6 Setembro 2012, Livro de Resumos, pp. 180.
Franco, J.C., Ramos, A.P. & Moreira, I. (eds.). 2006. Infra-estruturas ecolgicas e
proteco biolgica - caso dos citrinos. ISA Press, Lisboa, 176 pp.
122
Goulson, D. 2010. Impacts of non-native bumblebees in Western Europe and North
America. Appl. Entomol. Zool. 45: 7-12
Hagler, J. 2009. Comparative studies of predation among feral, commercially-
purchased, and laboratory-reared predators. BioControl 54: 351-361.
Hinomoto, N. Higaki, T. & Noda, T. 2006. Genetic diversity in field and commercial
populations of Orius strigicollis (Poppius) (Heteroptera: Anthocoridae) measured by
microsatellite markers. Appl. Entomol. Zool. 41(3): 499-506.
Hufbauer, R.A., Bogdanowicz, S.M. & Harrison, R.G. 2004. The population genetics of a
biological control introduction: mitochondrial DNA and microsatellite variation in
native and introduced populations of Aphidius ervi, a parasitoid wasp. Mol. Ecol. 13:
337-348.
Ings, T.C., Schikora, J. & Chittka, L. 2005. Bumblebees, humble pollinators or assiduous
invaders? A population comparison of foraging performance in Bombus terrestris.
Oecol., 144: 508-516.
Kraus, F.B., Szentgyrgyi, H., Roej, E., Rhode, M., Moro, D., Woyciechowski, M. &
Moritz R.F.A. 2011. Greenhouse bumblebees (Bombus terrestris) spread their genes
into the wild. Conserv. Gen., 12: 187-192.
Laikre, L., Schwartz, M.K., Waples, R.S., Ryman, N. & The GeM Working Group. 2010.
Compromising genetic diversity in the wild: unmonitored large-scale release of plants
and animals. Trends Ecol. Evol., 25: 520-529.
Lenteren, J.C. van, Babendreier, D., Bigler, F., Burgio, G., Hokkanen, H.M.T., Kuske, S.,
Loomans, A.J.M., Menzler-Hokkanen, I., Rijn, P.C.J. van, Thomas, M.B., Tommasini,
M.G. & Zeng, Q.Q. 2003. Environmental risk assessment of exotic natural enemies used
in inundative biological control. BioControl 48: 3-38.
Loureno, I., Rodrigues, S., Figueiredo, E., Godinho, M.C., Marques, C., Amaro, F. &
Mexia, A. 2002. The effect of crop protection strategy in pest and beneficials incidence
in protected crops. Med. Fac. Landbouww. Univ. Gent, 67(3): 569-573.
Lucas, E. & Alomar, O. 2002. Impact of Macrolophus caliginosus presence on damage
production by Dicyphus tamaninii (Heteroptera: Miridae) on tomato fruits. J. Econ.
Entomol., 95(6): 1123-1129.
123
Luz, M.F.H. 2001. Mirdeos - estudo e prospeco das espcies em cultura protegida de
tomate. Diss. Licenciatura, UTAD, Vila Real, 88 pp.
Marques, C., Nunes, A.P., Almeida, M.L., Godinho, M.C., Figueiredo, E., Amaro, F.,
Carvalho, P. & Mexia, A. 1999. Manual de proteco integrada em culturas protegidas.
Principais pragas e auxiliares na regio Oeste, ISA Press, Lisboa, 60 pp.
Matos, T.M.F.L.G. 2011 Evoluo das populaes de Tuta absoluta (Meyrick) e meios
de proteco em ambiente empresarial vocacionada para exportao. Diss. Mestrado,
ISA/UTL, Lisboa, 72 pp.
Mexia, A. (Coord.), Marques, C., Figueiredo, E., Amaro, F., Godinho, M.C., Almeida,
M.L. & Nunes, A.P. 1999. Melhoria da produo hortcola protegida em estufa no
Oeste. Rel. final projecto PAMAF n 2034, ISA/UTL-DRARO/MADRP, Lisboa, 55 pp. +
anexos.
Mexia, A., Figueiredo, E. & Godinho, M.C. 2004. Natural control against pests on
vegetables in Portugal: important species and their role. IOBCwprs Bull., 27(6): 1-8.
Myers, N., Mittermeier, R.A., Mittermeier, C.G., Fonseca, G.A.B. & Kent, J. 2000.
Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, 403: 853-858.
Nei, M., Maruyama, T. & Chakraborty, R. 1975. The bottleneck effect and genetic
variability in populations. Evol., 29 (1): 1-10.
Rasmont, P., Coppe, A., Michez, D., Meulemeester, T. De 2008. An overview of the
Bombus terrestris (L. 1758) subspecies (Hymenoptera: Apidae). Ann. Soc. Entomol. Fr.
(n.s.), 44: 243-250.
Roderick, G.K. & Navajas, M. 2003. Genes in new environments: genetics and evolution
in biological control. Nature Rev. Gen., 4: 889-899.
Sanchez, J.A., Martinez-Cascales, J.M. & Cassis, G. 2006. Description of a new species
of Dicyphus Fieber (Insecta: Heteroptera: Miridae) from Portugal based on
morphological and molecular data. Insect Syst. Evol., 37(3): 281-300.
Silva, A.C.P.P. 1996. Os mirdeos na cultura de tomate em estufa na regio do Oeste.
Diss. Mestrado, ISA/UTL, Lisboa, 111 pp.
Simberloff, D. & Stiling, P. 1996. Risks of species introduced for biological control. Biol.
Conserv., 78: 185-192.
124
Smeding, F.W. & Snoo, G.R. 2003. A concept of food-web structure in organic arable
farming systems. Landsc. Urban Planning, 65: 219-236.
Valrio, E. 2010. Estudo da dinmica populacional e caracterizao da biodiversidade
de afdeos, seus parasitides e predadores em culturas hortcolas. Diss. Doutoramento,
Univ. vora, vora, 117 pp.
125
A ELETROMIOGRAFIA NO CICLISMO - UMA REVISO DE LITERATURA
Vtor Milheiro1, Ana Conceio 1,2, Hugo Louro1, Marco Branco1, Joo Brito1
1
Escola Superior de Desporto de Rio Maior, IPS, Rio Maior, Portugal
2
Centro de Investigao em Qualidade de Vida, IPS, Santarm, Portugal
RESUMO
O objetivo deste trabalho consistiu em desenvolver uma reviso dos estudos que ao
longo dos ltimos anos utilizaram a eletromiografia (EMG) no ciclismo.
A EMG veio permitir uma nova abordagem na investigao no ciclismo, atravs da
anlise dos padres de ativao muscular na pedalada e da sua variao em funo de
alteraes da postura do atleta, da geometria da bicicleta, da cadncia, da potncia, da
fadiga, da experincia/nvel de treino do ciclista e do dispndio energtico.
Procurmos identificar as variveis mais estudadas, os equipamentos utilizados, as
metodologias de recolha e anlise dos sinais e os mtodos de normalizao aplicados.
A maioria dos estudos focalizaram-se na anlise do padro da atividade muscular
atravs da EMG de superfcie, sendo poucos os estudos que utilizaram EMG de
profundidade. Nos estudos onde foram realizadas comparaes entre diferentes
sujeitos, msculos ou estudos, os dados EMG foram normalizados, mas a escolha do
melhor mtodo de normalizao continua a no ser consensual entre os autores.
No que se refere a resultados, pudemos constatar que na atualidade a EMG tem tido
uma importncia crescente na investigao no ciclismo. Mas nem sempre se verifica
uma concordncia entre autores.
126
ABSTRACT
The aim of this study was to develop a revision of studies over the past few years used
the electromyography (EMG) in cycling.
The EMG came to allow a new approach in the investigation in cycling, through the
analysis of patterns of muscle activation in the pedal stroke and their variation as a
function of changes in the posture of the athlete, the geometry of the bike, cadence,
power, fatigue, level of training and energy expenditure.
We have tried to identify the variables most studied, the equipment used, the
methodologies for the collection and analysis of signs and normalization methods
applied. Most studies have focused on the analysis of the pattern of muscle activity by
surface EMG, with few studies that have utilized EMG depth. In studies where
comparisons were made between different subjects, muscles or studies, the EMG data
were normalized, but the choice of the best method of standardization is still not a
consensus among the authors.
As regards results, we were able to see that in actuality the EMG has had a growing
importance in the investigation in cycling. But there is not always a correlation
between authors.
INTRODUO
Ao longo das ltimas dcadas, tm sido publicados inmeros estudos biomecnicos
visando a otimizao do desempenho e a preveno de leses no ciclismo. Muitos
desses estudos tm utilizado a eletromiografia (EMG) para estudar a atividade
muscular e a coordenao neuromuscular no ciclismo associada a outras variveis
como a potncia de pedalada, a cadncia, a postura do atleta, o interface pedal-
sapato, o nvel de treino e a fadiga.
A maioria dos estudos utiliza EMG de superfcie, sendo poucos os que utilizam EMG de
profundidade. Chapman (2010) (1) identifica como vantagens na utilizao de tcnicas
EMG de profundidade no ciclismo, a insero dos eltrodos de agulha fina ser
facilmente tolerada pelos participantes, a contaminao do sinal pelos msculos
127
adjacentes significativamente reduzida e os eltrodos de profundidade no mudam
de posio com os movimentos. Os investigadores respeitam as recomendaes da
Sociedade Internacional de Eletrofisiologia e Cinesiologia e do projeto SENIAM
utilizando eltrodos bipolares que, depois da pele ser lixada e limpa com lcool para
reduzir a impedncia, so colocados no ventre de cada msculo, paralelamente s
fibras musculares, com uma distncia entre eltrodos de 20 mm,. Para evitar
movimentos dos equipamentos durante os movimentos de pedalada os investigadores
recorrem a fita adesiva ou com licra. Os equipamentos mais recentes j fazem a
transmisso dos dados via wireless. Para remover rudo e interferncia eltrica de
fontes externas, os dados brutos da EMG so filtrados usando filtros com frequncias
entre 15Hz e 500 Hz (Biuzen, 2007) (2). Entre os mtodos de suavizao dos sinais
EMG, o mais usado o route mean square (RMS), geralmente calculado para uma
janela entre 40-50 ms, o que permite medir a magnitude da ativao muscular bem
como os perodos de ativao (Diefenthaeler et al. 2008) (3) e Biuzen, 2007) (2).
A maioria dos estudos EMG no ciclismo tem analisado o membro inferior e os
msculos mais estudados so o Gluteus maximus (GMax), Rectus femoris (RF), Vastus
lateralis (VL) Vastus medialis (VM), Semi- membranosus (SM), Semitendinosus (ST),
Biceps femoris (BF), Gastrocnemius lateralis (GL), Gastrocnemius medialis (GM), Tibialis
anterior (TA) e Soleus (SOL) (Duc et al. 2008, Dorel et al. 2008, Jorge & Hull 1986,
Biuzen 2007, Erikson 1986, Sanderson & Amoroso 2008, Neptune et al. 1997, Biuzen
2007, Lucia et al. 2004, Cruz & Banakoff, 2001, Vandewalle et al. 1987, Chapman
2006). So poucos os estudos que analisam atividade EMG do tronco e dos membros
superiores durante exerccios em bicicleta ou ciclo-ergmetro e os msculos mais
estudados so o rectus abdominis (RA), o obliquus externus abdominis (OEA), o eretor
spinae (ES) e o trapezius (T) (Watanabe et al. 2006, (Marras et al. 2001, Van Dien et al.
2003).
128
Normalizao dos dados EMG
A normalizao dos dados EMG necessria para facilitar a comparao entre
msculos, entre sujeitos e para comparar os resultados com dados semelhantes de
outros estudos. Ao longo dos ltimos 20 anos vrios investigadores tm estudado os
benefcios e limitaes dos diferentes mtodos de normalizao EMG e tm sido
publicados artigos que visam verificar qual o mtodo de normalizao mais
apropriado, mas os resultados mostram que o consenso ainda no foi atingido
(Chapman et al. 2010, Rouffet & Hautier 2008, Burden 2010, Hunter et al. 2002,
Fernandez-Pea et al. 2008).
O mtodo da contrao voluntria isomtrica mxima (CVIM) um dos mais utilizados,
mas para obter o melhor registo de CVIM, os sujeitos tem que ter treino prvio e
motivao para dar o mximo. Sem treino a CVIM pode ser 20 a 30% menor do que a
obtida aps um treino apropriado, o que pode conduzir a interpretaes dos dados e
concluses incorretas (Merletti, 1999). Alm disso, apenas deve ser usado para
normalizao da atividade registada do msculo no mesmo ngulo especfico comum
(Enoka & Fuglevand, 1993).
Outros autores defendem que quando se trata de movimentos desportivos o
eletromiograma deve ser a expresso de envolvimento dinmico de msculos
especficos. Latash (1998) afirma que para fazer a normalizao devemos escolher uma
contrao de referncia que seja regulada pelo mesmo padro neuromuscular da ao
da pedalada (amplitude do movimento, posio articular, velocidade, etc.). Embora
seja difcil a correta determinao de cargas submximas relativas para cada msculo,
Dankaerts et al. (2004) verificaram que em medidas repetidas entre dias diferentes, o
mtodo das contraes submximas mostrou ser de mais confiana, em comparao
com CVIM. Hunter et al. (2002) experimentaram trs protocolos de fadiga no ciclismo
procurando determinar qual o mtodo mais eficaz de normalizao EMG e verificaram
que a EMG foi maior durante o CIMV e a relao entre a EMG e a produo de
potncia no foi diferente entre CVIM e um ciclo de pedalada. Concluram que com a
normalizao CIMV maior o recrutamento de unidades motoras. Noutro estudo
Fernandez-Pea et al. (2008) apresentaram novo mtodo para o objetivo da
normalizao do EMG no ciclismo, o Protocolo Isocintico Mximo, tendo verificado
129
que este protocolo, alm de ser altamente especfico para as aes associadas ao
ciclismo, apresentou muito boa validade lgica e uma boa reprodutibilidade intra-
sujeito. Num estudo mais recente, Burden (2010) identificou oito mtodos de
normalizao EMG com base em critrios que incluem a magnitude e o padro de EMG
normalizado, a fiabilidade e variabilidade inter-individual, enquanto Albertus-Kajee et
al. (2010) compararam a repetibilidade, fiabilidade e sensibilidade s mudanas na
carga de trabalho em resultado de 3 mtodos de normalizao de EMG no ciclismo
(Mtodo CIMV, Mtodo de Sprint, Mtodo 70 % Peak Power) e concluram que para
analisar a atividade muscular durante o ciclismo em dias diferentes e para medies
nicas a normalizao EMG com mtodos dinmicos a mais adequado. Tambm Vera
Garcia et al. (2010) realizaram um estudo com mulheres saudveis com o objetivo de
avaliar a eficcia das vrias estratgias de normalizao IMVC para normalizar a
atividade muscular do tronco.
CONCLUSES
Da anlise dos vrios estudos que utilizam a EMG para um melhor conhecimento da
participao muscular no ciclismo podemos concluir que a EMG atualmente um
procedimento de investigao muito utilizado, quer na procura do rendimento, quer
na preveno de leses; que quase todos os estudos estabelecem relaes entre a
EMG e outras variveis biomecnicas e fisiolgicas; que a maioria dos estudos analisa a
EMG dos msculos do membro inferior; que maioria dos estudos utiliza EMG de
superfcie, sendo poucos os que utilizam EMG de profundidade; que apesar da enorme
variedade de equipamentos, so muito idnticos os procedimentos metodolgicos de
recolha e anlise de dados EMG utilizados pelos diferentes autores; que em todos os
estudos comparativos os investigadores fazem a normalizao das curvas EMG, mas
continua a no haver consenso relativamente aos mtodos utilizados; que
maioritariamente os estudos suavizam as curvas EMG atravs de RMS (root mean
square); que alguns estudos idnticos apresentam resultados diferentes e por vezes
at contraditrios, o que explicvel pelos diferentes procedimentos metodolgicos
utilizados.
133
BIBLIOGRAFIA
Albertus-Kajee Y, Tucker R, Derman W, Lambert M. (2010) Alternative methods of
normalising EMG during cycling. J Electromyogr Kinesiol. 20(6), 1036-43.
Baum BS, Li L. (2003) Lower extremity muscle activities during cycling are influenced by
load and frequency. J Electromyogr Kinesiol. 13, 18190.
Bieuzen F, Lepers R, Vercruyssen F, Hausswirth C, Brisswalter J. (2007) Muscle
activation during cycling at different cadences: Effect of maximal strength capacity
Journal of Electromyography and Kinesiology. 17, 731738
Burden A, (2010) How should we normalize electromyograms, Journal of
Electromyography and Kinesiology, 20 (6), 1023-35
Chapman AR, Vicenzino B, Blanch P, Hodges PW. (2008) Patterns of leg muscle
recruitment vary between novice and highly trained cyclists. J Electromyogr Kinesiol.
18 (3), 359-71.
Chapman AR, Vicenzino B, Blanch P, Hodges PW, Blanch P, Knox JJ. (2010)
Intramuscular fine-wire electromyography during cycling: Repeatability, normalization
and a comparison to surface electromyography Journal of Electromyography and
Kinesiology. 20, 108117
Chapman AR, Vicenzino B, Blanch P, Hodges PW. (2008) Patterns of leg muscle
recruitment vary between trained and novice cyclists. J Electromyogr Kinesiol. 18, 359-
371.
Cruz CF, Banko AD. (2001) Electromyography in cycling: dierence between clipless
pedal and toe clip pedal. Electromyogr Clin Neurophysiol, 41, 24752.
Dankaerts W, OSullivan PB, Burnett AF, Straker LM, Danneels LA. (2004) Reliability of
EMG measurements for trunk muscles during maximal and sub-maximal voluntary
isometric contractions in healthy controls and CLBP patients. J Electromyogr Kinesiol.
14, 33342.
Diefenthaeler F, Bini RR, Karolczac APB, Carpes FP. (2008) Ativao muscular durante a
pedalada em diferentes posies do selim. Rev. Bras.Cineantropom. Desempenho
Hum. 10(2), 161-69
Dorel S, Couturier A, Hug F. (2008) Intra-session repeatability of lower limb muscles
activation pattern during pedaling. J Electromyogr Kinesiol. 18 (5), 857-65
134
Duc S, Bertucci W, Pernin JN, Grappe F. (2008) Muscular activity during uphill cycling:
eect of slope, posture, hand grip position and constrained bicycle lateral sways. J
Electromyogr Kinesiol. 18 (1), 116-27
Enoka RM, Fuglevand AJ. (1993) Neuromuscular basis of the maximum voluntary force
capacity of muscle. In: Grabiner MD, editor. Current issues in biomechanics.
Champaign, IL: Human Kinetics; 21535
Ericson MO, Nisell R., Arborelius U.P., Ekholm J. (1985) Muscular activity during
ergometer cycling. Scand J Rehabil Med. 17, 5361.
Ericson M. (1986) On the biomechanics of cycling. A study of joint and muscle load
during exercise on the bicycle ergometer. Scand J Rehabil Med Suppl. 16, 1-43.
Fernandez-Pea E, Lucertini F, Ditroiolo M. (2009) A maximal isokinetic pedalling
exercise for EMG normalization in cycling. J Electromyogr Kinesiol. 19(3),162-70
Hautier CA, Arsac LM, Deghdegh K, Souquet J, Belli A, Lacour JR. (2000) Influence of
fatigue on EMG/force ratio and cocontraction in cycling. Med Sci Sports Exerc. 32,
83943.
Hug F, Dorel S. (2009) Electromyographic analysis of pedaling: A review, J Electromyogr
Kinesiol. 19, 18298.
Heiden T, Burnett A. (2003) The effect of cycling on muscle activation in the running
leg of an Olympic distance triathlon. Sports Biomechanics 2, 35-49.
Hunter AM, St Clair Gibson A, Lambert M, Noakes TD. Electromyographic (EMG)
normalization method for cycle fatigue protocols. Med Sci Sport Exerc. 34, 85761.
Jorge M, Hull ML. (1986) Analysis of EMG measurements during bicycle pedalling. J
Biomech. 19, 68394.
Latash ML. (1998) Neurophysiological basis of movement. 1ed. Champaign, IL: Human
Kinetics.
Lepers R, Mauletti NA, Rochette L, Brugniaux J, Millet GY. (2002) Neuromuscular
fatigue during a long-duration cycling exercise. J Appl Physiol. 92, 148793.
Li L, Baum BS. (2002) Electromechanical delay estimated by using electromyography
during cycling at dierent pedaling frequencies. J Electromyogr Kinesiol. 14, 64752.
Li L, Caldwell GE (1998). Muscle coordination in cycling: Effect of surface incline and
posture. Journal of Applied Physiology, 85, 92734
135
Lucia A, San Juan AF, Montilla M, CaNete S, Santalla A, Earnest C. (2004) In professional
road cyclists, low pedaling cadences are less ecient. Med Sci Sport Exerc. 36, 1048-54
Marsh AP, Martin PE. (1995) The relationship between cadence and lower extremity
EMG in cyclists and noncyclists. Med Sci Sport Exerc. 27, 21725.
Marras WS, Davis KG. (2001) A non-MVC EMG normalization technique for the trunk
musculature: Part 1. Method development. J Electromyogr Kinesiol. 11, 19.
Merletti R. (1999) Standards for reporting EMG data, Journal of Electromyography and
Kinesiology, 9(1), III-IV
MacIntosh BR, Neptune RR, Horton JF. (2000) Cadence, power, and muscle activation
in cycle ergometry. Med Sci Sport Exerc. 32, 12817.
Neptune RR, Kautz SA, Hull ML. (1997) The effect of pedaling rate on coordination in
cycling. J Biomech. 30, 10518.
Ricard MD, Hills-Meyer P, Miller MG, Michael TJ. (2006) The effects of bicycle frame
geometry on muscle activation and power during a wingate anaerobic test. Sports Sci
Med. 5(1), 2532.
Ryan MM, Gregor RJ. (1992) EMG profiles of lower extremity muscles during cycling at
constant workload and cadence. J Electromyogr Kinesiol. 2, 6980
Rouet DM, Hautier CA. (2007) EMG normalization to study muscle activation in
cycling. J Electromyogr Kinesiol. 18 (5), 866-78
Ryan MM, Gregor RJ. (1992) EMG proles of lower extremity muscles during cycling at
constant workload and cadence. J Electromyogr Kinesiol. 2, 6980.
Sanderson DJ, Amoroso AT. (2009) The influence of seat height on the mechanical
function of the triceps surae muscles during steady-rate cycling. J Electromyogr
Kinesiol. 19 (6), 465-71
Sanderson, D.J., Martin, P.E., Honeyman, G., Keefer, J. (2006) Gastrocnemius and
soleus muscle length, velocity, and EMG responses to changes in pedalling cadence, J
Electromyogr Kinesiol. 16 (6), 642-649
Sanderson DJ, Hennig EM, Black AH. (2000) The inuence of cadence and power
output on force application and in-shoe pressure distribution during cycling by
competitive and recreational cyclists. J Sport Sci. 18, 17381.
136
Sarre G, Lepers R. (2005) Neuromuscular function during prolonged pedaling exercise
at dierent cadences. Acta Physiol Scand. 185, 3218.
Savelberg HHCM, Van de Port IGL, Willems PJB. (2003) Body conguration in cycling
aects muscle recruitment and movement pattern. J Appl Biomech. 19, 31024.
SENIAM (1999). European recommendations for surface electromyography. In: H.
Hermens; B. Freriks; R. Merletti; D. Stegeman; J. Blok; G. Rau; C. Klug; G. Hogg (Eds),
SENIAM 8. Roessingh Research and Development, Netherlands.
Watanabe S, Eguchi A, Kobara K, Ishida H, Otsuki K. (2006) Electromyographic activity
of selected trunk muscles during bicycle ergometer exercise and walking. Electromyogr
Clin Neurophysiol. 46(5), 311-5.
Van Dien JH, Selen LP, Cholewicki J. (2003) Trunk muscle activation in lowback pain
patients, an analysis of the literature. J Electromyogr Kinesiol. 13, 33351.
Vandewalle, H, Maton B, Le Bozec S, Guerenbourg G. (1991) An electromyographic
study of an all-out exercise on a cycle ergometer. Arch Int Physiol Biochim Biophys.
99(1), 8993.
Vera-Garcia FJ, Moreside JM, McGill SM (2010) MVC techniques to normalize trunk
muscle EMG in healthy women. J Electromyogr Kinesiol. 20(1), 10-16.
von Tscharner V. (2002) Timefrequency and principal-component methods for the
analysis of EMGs recorded during a mildly fatiguing exercise on a cycle ergometer. J
Electromyogr Kinesiol. 12, 479-92.
137
CARATERIZAO DA IDADE DECIMAL EM JOGOS OLMPICOS: ATLETAS
PARTICIPANTES EM MEIAS E FINAIS DE 800M E 1500M LIVRES
Susana Santos1, Bruno Dias1, Guilherme S1, Ana Conceio1,3, Hugo Louro1,4
1
Escola Superior de Desporto de Rio Maior, Rio Maior, Portugal
2
Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro, Vila Real, Portugal
3
Centro de Investigao em Qualidade de Vida, Santarm, Portugal
4
Centro de Investigao em Desporto, Sade e Desenvolvimento Humano, Vila Real, Portugal
RESUMO
O objetivo de estudo consistiu comparar a idade decimal e mdia das provas de 800m
relativas ao gnero feminino e as provas de 1500m Livres relativas ao gnero
masculino. A amostra foi composta pelos nadadores participantes em meias finais e
finais nos Jogos Olmpicos decorrentes entre 2000 e 2012. Realizou-se uma anlise
descritiva e para comparao uma tcnica estatstica, ANOVA, com P 0,335, para
comparar entre gneros a idade decimal inicial e mdia nos gnero masculino e gnero
feminino nas provas de 800Livres e 1500Livres. O levantamento dos dados relativos
idade cronolgica (dia, ms, ano) e as classificaes das meias finais e finais foi retirada
pelo swimrankings onde foi convertida em idade decimal no dia de realizao da
competio. A amostra foi composta por 128 nadadores 64 do gnero feminino e 64
do gnero masculino. Os resultados indicaram que a idade decimal mnima obtida foi
nos Jogos Olmpicos de 2008 correspondendo a 14 anos (na prova de 800m Livres) e
para a idade decimal mdia onde, , ocorreu nos Jogos Olmpicos de 2008 que a idade
mdia foi mais baixa, sendo de 19 no gnero feminino nos 400 E. Assim, concluiu-se
que a idade mnima para a entrada nos jogos olmpicos tende a vir a baixar
aproximando-se dos 14 anos e em consequncia a idade mdia tende a vir ser maior,
isto deve-se ao facto de os atletas permanecerem mais tempo na alta competio.
138
INTRODUO
A natao pura desportiva (NPD) uma modalidade cclica onde o alcanar da mxima
performance o derradeiro objetivo, ou seja, percorrer uma determinada distncia no
menor tempo possvel (Ribeiro, 2010).
ainda um desporto condicionado por diversos fatores, onde os pressupostos
fisiolgicos e os biomecnicos tm um peso determinante na performance (Barbosa et
al., 2009; 2010).
Assim, o sucesso de um nadador determinado pela capacidade deste gerar fora
propulsiva e de minimizar a intensidade do arrasto. Os nadadores de elevado nvel
competitivo conseguem nadar a velocidades superiores com o mesmo dispndio
energtico ou nadar mesma velocidade com dispndio energtico inferior quando
comparados com nadadores no experts (Barbosa, 2009).
Talvez por esses motivos, o incio da carreira desportiva na modalidade seja, por vezes,
considerada como se dando precoce. Castelo (1998) define especializao precoce
como a potencializao dos jovens para atingirem resultados desportivos e nveis de
rendimento elevado de forma precoce, isto , rpida. A preparao dos jovens
praticantes orientada e potencializada de forma unilateral prematuramente,
forando-os a cumprir regimes de treino com um elevado ritmo no incremento das
cargas (Castelo et al 1998).
A natao atual caracteriza-se por um altssimo nvel dos xitos desportivos e por uma
forte rivalidade nas competies mais importantes, especialmente nos Jogos Olmpicos
e nos Campeonatos Mundiais. Para Maglischo (2003) os Jogos Olmpicos so a
competio mais importante e onde a larga maioria dos nadadores de nvel mundial
procura atingir o pico de forma no quadro de um planeamento e periodizao da
carreira desportiva.
Por isso, importante, planear-se de uma forma muito determinada e cuidadosa o
problema da deteno de talentos. Silva (1997) refere que um talento desportivo um
individuo que apresenta fatores endgenos especiais, os quais, sob influncia de
condies exgenas timas, possibilitam prestaes desportivas elevadas.
Newell (1995) define o planeamento de carreira como sendo um processo individual
que envolve a avaliao das aptides, interesses, a anlise das oportunidades de
139
carreira, a definio de objetivos de carreira do indivduo e o planeamento de aes no
tempo de desenvolvimento, pensadas como forma de atingir um objetivo.
O objetivo deste estudo consistiu em analisar e comparar a idade decimal e mdia das
provas de 800m no gnero feminino e 1500m Livres no gnero masculino .
MTODOS
Amostra
A amostra foi composta por todos os nadadores que obtiveram classificao at ao 16
classificado nas seguintes competies 800m Livres (64 atletas) para nadadores do
gnero feminino e 1500m Livres (64 atletas) para nadadores do gnero masculino,
contando com um total de 128 atletas.
INSTRUMENTOS e PROCEDIMENTOS
Para o presente estudo, considerou-se como fator de incluso o(s) sujeito(s):
(i) participar nos Jogos Olmpicos Sidney 2000, Atenas 2004, Pequim 2008 e Londres
2012;
(ii) estar inscrito em pelo menos uma prova do calendrio olmpico de Natao Pura
Desportiva;
(iii) a inscrio ter sido efetuada pelo respetivo Comit Olmpico nacional com base em
tempos mnimos de admisso, competies eliminatrias de nvel nacional (i.e.
National Trials) ou atravs de admisso livre (i.e., Wild cards) previstos em casos
particulares pelo Comit Olmpico Internacional;
(iv) o site oficial da Swimrankings (http://www.swimrankings.net/) disponibiliza a
classificao final, a identificao do nadador e a sua idade cronolgica (dia, ms e
ano de nascimento), o tempo de prova, bem como, a data de realizao das
competies (dia, ms e ano).
140
DA DN
idade decimal
365,25
Procedimentos estatsticos
Para anlise da varincia das idades decimais entre sexos para cada prova recorreu-se
ANOVA a um fator (sexo: masculino vs feminino). Em todas as situaes o nvel de
significncia foi determinado para P 0,335.
RESULTADOS
Os grficos I e II representam as idades decimais mnimas de entrada e a idade mdia
obtidas nos Jogos Olmpicos de 2000, 2004, 2008 e 2012. No grfico I apresenta as
idades mnimas de entrada nos Jogos Olmpicos, onde se verificou que foi nos Jogos
Olmpicos de 2008 que se obtiveram resultados mais baixos na entrada. Para o gnero
masculino, a apresentaram uma mdia de idades mais reduzida foi nos Jogos
Olmpicos de 2008 com (16,71 anos) e mais elevada nos Jogos Olmpicos de 2004 com
(19,12 anos). Para o caso do gnero feminino, a prova com a mdia etria mais
reduzida foi a foi nos Jogos Olmpicos de 2008 com (14,51 anos) e a mais elevada nos
Jogos Olmpicos de 2004 com (17,80 anos).
141
Grfico I - Resultados da Idade Decimal Mnima
Para o grfico II, foi necessrio compararem-se os 800 m Livres do gnero feminino com os
1500 m Livres do gnero masculino. Neste caso, verificou-se que a idade decimal foi
significativamente superior nos nadadores do que nas nadadoras.
142
DISCUSSO
O presente estudo teve como objetivo realizar uma anlise descritiva das idades dos
participantes nas provas de 800m no gnero feminino e 1500m Livres no gnero
masculino na Natao Pura Desportiva nos Jogos Olmpicos Sydney (Austrlia) 2000,
Atenas (Grcia) 2004, Pequim (China) 2008 e Londres (Reino Unido) 2012, e uma
comparao das mesmas com base no sexo.
Como referido no estudo de Lavoie e Montpetit (1986) onde descreveram que as
idades dos participantes nas quatro edies dos Jogos Olmpicos entre 1964 e 1980
variaram entre os 19,9 0,96 anos para os 20,6 0,91 anos no caso dos nadadores e
dos 17,3 0,97 anos para os 17,8 0,97 anos no caso das nadadoras. Tentando
comparar entre os dois estudos, parece que os nadadores do sculo XXI so mais
velhos que os do sculo XX.
Barbosa (2012) referiu ainda que a distncia tambm um fator para as idades
decimais serem diferentes, assim, os nadadores das provas mais curtas so mais velhos
do que os das provas mais longas em ambos os sexos, e os nadadores so mais velhos
do que as nadadoras.
No nosso estudo foi nos Jogos Olmpicos de 2008 que se obteve a idade decimal
mnima de 14,51 no gnero feminino e de 16,71 no gnero masculino e nos Jogos
Olmpicos 2012 a mdia de idades no gnero feminino foi de 22,97. Com estes
resultados, quer isto dizer que a permanncia das atletas nos Jogos Olmpicos tende a
vir ser maior, logo, o gnero feminino entra mais cedo que o gnero masculino, mas
tambm, permanece mais tempo na alta competio.
Dito isto, seria fundamental que existissem futuros estudos em que se pudesse
analisar se a idade de acesso s meias finais ou finais est subjacente aos atuais plano
de carreira, perceber se o acesso dos atletas mais novos a meias finais e finais, tem
como principal razo o facto de os atletas pertencerem a selees de pases
considerados potncias mundiais ou est associado a outros fatores e verificar se
existem politicas sociais inerentes ao pases cujos os atletas tem mais longevidade.
143
CONCLUSES
Como concluso, a idade mnima para a entrada nos Jogos Olmpicos tende a baixar ao
longo dos anos e a idade decimal mdia tende a vir a ser maior, devido ao facto de os
atletas permanecerem mais tempo nas competies.
BIBLIOGRAFIA
Barbosa, T.M.; Bragada, J.A., Reis, V.M., Marinho, D.A., Carvalho, C., & Silva A.J. (2010).
Energetics and biomechanics as determining factors of swimming performance:
updating the state of the art. Journal of Science and Medicine in Sports 13, 262-269.
Barbosa, T.M., Costa, M., Mejias. E, Marinho. D., Louro. H., Silva, A.J. (2012). Pico da
carreira desportiva em nadadores de nvel mundial: Anlise das idades dos
participantes nos Jogos Olmpicos de Pequim 2008. Motricidade 8 (4), 52-61.
Barbosa, T.M, Lima, V., Mejias, E., Costa, M., Marinho, D., Garrido, N., Silva, A.,
Bragada, J. (2009). A eficincia propulsiva e a performance em nadadores no experts.
Motricidade 5 (4), 27-43.
Brown, T., & Barrett, M.J. (1969). Tables for decimal age conversion by computer.
Australian Dentist Journal 14, 197-198.
Castelo, J., Barreto, H., Alves, F., Mil-Homens Santos, P., Carvalho, J., & Vieira, J. (1998).
Metodologia do Treino Desportivo. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana.
Maglischo, E. (2003). Swimming fastest. Champaign, Illinois: Human Kinetics.
Newell, S. (1995). The healthy organisation. London: Routledge.
Ribeiro, R. (2010). A eficiencia propulsiva e a performance em nadadores jovens.
Universidade De Trs-Os-Montes e Alto Douro Vila Real: Dissertao.
Silva. A. J, Marques. A. T, Costa. A. M (1997). Identificao e seleco de talentos em
natao desportiva. Actas do II Seminrio de Natao da Mota Jnior, (pp. 21-32).
Faculdade de Motricidade Humana.
Taylor, S, Stratton, G., Lees, A., Atkinson, G., & MacLaren, D. (2001). Tethered
swimming force and maturation stage in competitive age group swimmers Pediatric
Exercise Science 13, 272.
144
(DES)AJUSTAMENTO DAS FINANAS PBLICAS EM PORTUGAL (1995-2012)
RESUMO
O presente estudo proporcional uma anlise emprica e preliminar sobre a relao
entre o crescimento econmico (produto interno bruto), e a dvida pblica, ou o peso
do estado na economia (economia pblica), num momento crtico de desenvolvimento
(dcada de 90), de mudanas (perodo de 1995-2013), de estagnao e recesso
(ltima dcada), do panorama econmico portugus. Em primeiro lugar analisam-se as
deficincias macroeconmicas (baixa produtividade e elevado deficit), crescimento
econmico aptico, finanas pblicas e dvida privada. No segundo momento efectiva-
se uma anlise ao problema. Conclui-se que existe um consenso entre a literatura
existente e os resultados, evidenciando, neste estudo preliminar, correlaes
negativas entre crescimento econmico e a dvida pblica, o deficit, a despesa e a
receita total.
145
ABSTRACT
This article provides an empirical and preliminary overview of the link between
economic growth (national income) and debt growth, or weight of state in economy
(public economy), in a critical moment of development (90 decade), changes (from
90s to 2013), stagnation and recession (last decade) in Portuguese economic context.
We first survey the accumulation of macroeconomic imbalances (low productivity,
large budget deficit), anemic economic growth, public finances and over-indebtedness
(private debt). We then turn to make a preliminary approach to the problem. We
conclude that there is a consensus within the findings and the literature, pointing out,
in a preliminary study negative correlations among economic growth and debt, budget
deficit and public expenditure and revenue.
INTRODUO
Ao longo das dcadas tem-se verificado a necessidade de ajustamento do Estado aos
mercados financeiros, ao controlo do capital e ao ajustamento e reposicionamento da
economia no processo global.
A mutabilidade econmica, inserida num contexto financeiro, econmico e global
competitivo, gerem uma maior dinmica nos ciclos econmicos e uma influncia no
processo de ajustamento nas economias. Na nova ordem global (Frasquilho, 2012), a
globalizao, processo constante e imparvel (Morgado, 2013a) e inevitvel (Friedman,
2006), que envolve um processo revolucionrio a nvel poltico, cultural e econmico
(Giddens, 2002), sujeita pequenas economias de mercado, como a de Portugal,
constante presso dos mercados e, no mbito da estratgia New Governance, a uma
maior eficcia e eficincia do Estado (Morgado, 2013b).
De facto, o estudo da influncia da despesa pblica no crescimento econmico tema
de debate ao longo de vrias dcadas e por vrios autores, que demonstram
diferentes pontos de vista opostos.
146
A economia portuguesa e as suas finanas pblicas foram afectadas inexoravelmente
por uma travagem do crescimento, resultantes das crises financeiras mundiais, do
impacto das orientaes comunitrias e da competio na zona Euro.
Estes factos reflectiram-se numa gesto da despesa pblica, do endividamento pblico
inadequada as circunstncias em que se encontrava a economia nacional,
internacional e global.
A anlise emprica justifica que o crescimento econmico maior, com o decrscimo
do papel do Estado na economia, com uma poltica fiscal rigorosa (Alesina & Perroti,
1995; Giavazzi & Pagano, 1995; Kotosz, 2004) e com o endividamento econmico
(Reinhart, Rogoff, 2010). Assim, justifica-se a anlise do progresso do crescimento
econmico em funo dos indicadores das finanas pblicas (FP).
A trajectria da dvida pblica e a sustentabilidade do crescimento econmico tem
sido objecto de vrios estudos, nomeadamente a curto-prazo reveladores dos efeitos
positivos sobre o crescimento (Elmendorf and Mankiw, 1999) e negativos, sendo que o
diferencial ptimo, a partir do qual os efeitos se alteram, se situa, de acordo com
Greiner (2011), nos 43% a 63%. Por outro lado, diversos so os autores, que apontam
para efeitos adversos. De facto, considerando o ponto crtico perante o qual a dvida
pblica tem efeitos negativos no crescimento so apresentados valores de 67% (Baum,
Checherita-Westphal, & Rother, 2013), 77% (Carner & Hansen, 2010), 85% (Cecchetti,
Mohanty, & Zampolli, 2011), 90% (Reinhart & Rogoff, 2010) e 90% a 115% (Minea &
Parent, 2012, Gonzlez, Tersvirta, & VanDijk, 2005). Em suma, todos os autores
estimam uma barreira percentual, abaixo da qual o endividamento pblico benfico
para o desenvolvimento da estrutura econmica de um pas.
A apreciao da despesa pblica e da poltica fiscal face ao comportamento do
crescimento econmico apresenta diferentes pontos de vista conflituantes. Afonso e
Alegre (2011) concluem que o saldo oramental deficitrio e a despesa pblica, tem, a
longo-prazo um efeito positivo na economia, na medida em que o investimento
pblico catalisador da actividade econmica em todos os sectores.
O efeito da receita fiscal e da carga fiscal no tem uma abordagem consensual ao nvel
do efeito projectado no crescimento econmico. No estudo de Bujang, Hakim e
Ahamad (2013), no foram encontradas, a longo prazo, co-integraes entre a
147
estrutura fiscal e o PIB. No extremo oposto, Lee e Gordon (2004), apresentam
resultados que apontam para uma correlao negativa entre a carga fiscal e o
desenvolvimento da economia, consolidando a perspectiva Schumpeteriana (1942) de
que a poltica fiscal e consequente carga tributria influencia o empreendedorismo,
base do lanamento de negcios, numa estratgia proactiva de desenvolvimento da
actividade econmica. Esta linha de pensamento consentnea com estudos de Barro
(1990), bem como de Teles e Mussolini (2014).
O PIB (61,87 5,19) o Produto Interno Bruto, a preos correntes, foi obtido do Banco
de Portugal (BdP: www.bportugal.pt). O saldo oramental, em percentagem do PIB (-
4,97 2,10), granjeou-se do Instituto Nacional de Estatstica (INE: www.ine.pt). A carga
fiscal (33,79 1,37) , medida em termos de impostos directos, indirectos e
148
contribuies para a segurana social, foram recolhidos do stio do INE e do Ministrio
do Estado e das Finanas (http://www.portugal.gov.pt/pt/os-ministerios/ministerio-das-
financas.aspx). Os valores da despesa pblica (69,19 20,64) e da receita total (39,90
1,94) foram recolhidos do stio do INE e do Conselho de Finanas Pblicas
(www.cfp.pt).
No mtodo de anlise para o estudo preliminar para a medio e quantificao da
relao entre as variveis optou-se por um estudo correlacional, para estabelecer
relaes entre variveis e predizer o comportamento de variveis. Para caracterizao
das variveis em estudo executou-se uma anlise descritiva dos dados (moda, mdia,
desvio-padro).
Para a anlise dos recorreu-se ao Excel 2013 (Microsoft Corporation) e IBM SPSS
Statistical Package for Social Sciences, verso 20.0 (SPSS Inc., USA). O nvel de
significncia adoptado foi de p 0,05.
RESULTADOS
O aumento das responsabilidades externas lquidas da economia portuguesa,
resultante da reduzida criao de valor, acompanhada por uma conjuntura de maior
nvel de importaes, face s exportaes, e a tendncia de reduo de transferncias
do exterior (fundos europeus, remessas de emigrantes, investimento estrangeiro),
reflectiu-se num dois maiores nveis de endividamento externo da Unio Europeia.
Grfico 1 Endividamento Pblico.
Luxemburgo
Hungri a 150 Blgi ca
Portug al Hola nda
100
Irla nda Alema nha
50
E spa nha Di na ma rca
0
Gr cia Fi nl ndia
-50
-150
Le tni a ustria
Chipre Su cia
Romni a Fra na
Polni a It lia
E stnia E slovnia
Litu ni ca Repblic a Checa
149
At dcada de 90, o forte crescimento econmico dilui o peso do crescimento da
despesa pblica face riqueza do pas. De facto, nesta dcada os dados apontam para
o crescimento do deficit em 3% do PIB. Este facto teve o seu overturn, a partir do ano
de 2000, em que as dificuldades estruturais se tornam visveis face ao baixo
crescimento econmico, em que se torna evidente que os indicadores econmicos, de
endividamento (superior a 60% do PIB no ano de 2004), dvida privada e deficit se
deterioram consideravelmente.
150
Grfico 3 PIB e Dvida Pblica (em Percentagem do PIB).
140,00
120,00
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
40,00 50,00 60,00 70,00 80,00
No entanto, os indicadores dvida pblica (rho = - 0,83874, p=0,05), despesa total (rho
= - 0,73331, p=0,05), receita total (rho = - 0,71399, p=0,05) e carga fiscal (rho = -
0,75428, p=0,05), so variveis cuja associao linear forte com o crescimento
econmico inversa.
DISCUSSO
Os resultados mencionados so consentneos com a literatura econmica existente,
nomeadamente, ao nvel do saldo oramental (Fischer & Sahays, 2000), da despesa
total (Kotosz, 2004) e do crescimento econmico. Esta evidncia tambm suportada
pelos autores Bergh e Henrekson (2011), que aludem ao facto de que nos pases
desenvolvidos, o sector pblico, ter um impacto negativo no crescimento econmico
dos mesmos. Flster and Henrekson (2001, 2006), Bergh e Karlsson (2010), Bergh e
hrn (2011), semelhana dos resultados aduzidos, consideram que a despesa e a
receita total tm um comportamento inverso em relao ao crescimento econmico.
Em termos de dvida pblica, o efeito e o comportamento do crescimento econmico
est em consonncia com os diferentes autores revistos (Baum, Checherita-Westphal,
& Rother, 2013, Carner & Hansen, 2010, Cecchetti, Mohanty, & Zampolli, 2011,
Gonzlez, Tersvirta, & VanDijk, 2005, Minea & Parent, 2012, Reinhart & Rogoff, 2010),
uma vez que o endividamento de Portugal de, aproximadamente, 105%.
Apesar das diferentes abordagens metodolgicas e cientficas, consensual que existe
uma correlao negativa entre o crescimento econmico e as variveis em estudo, no
151
entanto, uma causalidade entre elas difcil de ser comprovada (Bergh & Henrekson,
2011). Por outro lado, no existe neste estudo preliminar o estado e a anlise da
qualidade da democracia que , segundo Kourtellos, Stengos e Tan (2013) um dos
factores tambm determinantes na influncia que a mesma tem sobre a dvida e
consequentemente sobre o crescimento econmico.
Destarte, o ajustamento da economia s novas circunstncias deve ser entendido, no
como uma ameaa, mas sim como uma oportunidade, reduzindo o impacto negativo
do comportamento ineficaz na economia (Mitchell, 2005).
CONCLUSO
A ineptido de gerar riqueza, potenciar poupanas e consequentemente investimento
interno, variveis positivamente correlacionadas (Backus & Kehoe, 1989, Dooley,
Frankel, & Mathieson,1987, Feldstein & Horioka, 1980, Tesar, 1991), gera um ciclo de
desajustamento das finanas pblicas.
A incapacidade de adaptao da economia portuguesa ordem global repercute-se no
nvel do PIB potencial (decrscimo desde dos finais da dcada de 90) e no baixo
crescimento econmico. O endividamento da economia, resultado da no criao de
valor que potencie que o rendimento interno suporte o investimento e o consumo, foi
crescendo, tornando o pas mais exposto e vulnervel a crise financeiras (Reinhart &
Rogoff, 2009).
A presente anlise vai de encontro maioria da literatura revista, uma vez que, tendo
em conta os elevados nveis de endividamento (acima dos 60%), despesa pblica,
entre outros, contribuem para uma contraco do crescimento econmico. Importa
ainda referir que a esta contraco est subjacente, tendo em conta Dregger e Reimers
(2013), os nveis de desenvolvimento do pas assentes na produtividade.
O desenvolvimento do estudo dever incluir uma anlise de regresso das variveis,
por forma a se desenvolver e possibilitar a predio de comportamentos, o contributo
de cada uma das variveis e a definio de estratgias consentneas com as
caractersticas econmico-financeiras de Portugal.
152
BIBLIOGRAFIA
Afonso, A. & Alegre, J.G. (2011). Economic growth and budgetary componentes: a
panel assessment for the EU. Empir Econ, 41, 73-723. doi: 10.1007/s00181-010-0400-9.
Alesina, A. & Perotti, R. (1995). Fiscal expansions and adjustments in OECD countries.
NBER Working Paper, 5214, National Bureau of Economic Research.
Backus, D. K. & Patrick J. Kehoe, P. J. (1989). International Evidence on the Historical
Properties of Business Cycles. Working Paper, 402, Minneapolis: Federal Reserve Bank
of Minneapolis.
Barro, R.J. (1990). Government spending in a simple model of endogenous growth. J
Polit Econ, 98, S103S126.
Baum, A., Checherita-Westphal, C., & Rother, P. (2013). Debt and growth: New
evidence for the euro area. J Int Money Financ, 32, 809871. doi:
10.1016/j.jimonfin.2012.07.004.
Berg, A. & Henrekson, M. (2011). Government size and growth: A survey interpretation
of the evidence. J Econ Surveys, 25, 872-897. doi: 10.1111/j.1467-6419.2011.00697.
Bergh, A. & Karlsson, M. (2010). Government size and growth: accounting for
economic freedom and globalization. Public Choice, 142 (12), 195213. doi:
10.1007/s11127-009-9484-1.
Bergh, A. & hrn, N. (2011). Growth effects of fiscal policies: a critical appraisal of
Colombier's study. IFN Working Paper, 858, Research Institute of Industrial Economics,
Stockholm.
Blanchard, O. (2007). Adjustment with the Euro: the difficult case of Portugal.
Portuguese Econ J., 6 (1), 1-21.
Bujang, I., Hakim, T.A, & Ahmad, I. (2013). Tax structure and economic indicators in
developing and high-income OECD countries: Panel cointegration analysis. Procedia
Econ Financ, 7, 164 173. doi: 10.1016/S2212-5671(13)00231-1.
Carner, M., Grennes, T., & Koehler-Geib, G. (2010). Finding the tipping point? When
sovereign debt turns bad. Policy Research Working Paper Series, 5391, The World
Bank.
Cecchetti, S.G., Mohanty, M.S., & Zampolli, F. (2011). The real effects of debt. Working
paper, Bank of International Settlements (BIS).
153
Checherita-Westphal, C. & Rother, P. (2012). The impact of high government debt on
economic growth and its channels: An empirical investigation for the euro area. Euro
Econ Rev, 56, 13921405. doi: 10.1016/j.euroecorev.2012.06.007.
Dooley, M., Frankel, J., Mathieson, D. (1987). International Capital Mobility: What Do
Saving-Investment Correlations Tell Us? International Monetary Fund Staff Papers, 34,
503530.
Dregger, C. & Reimers, HE. (2013). Does euro area membership affect the relation
between GDP and public debt?. J Macroecon, 38, 481486. doi:
10.1016/j.jmacro.2013.07.012.
Elmendorf, D.W. & Mankiw, G.N. (1999). Government debt. In Taylor, J.B. Woodford
M. (eds). Handbook of Macroeconomics, Vol. 1, 1615-1669.
Feldstein, M. & Horioka, C. (1980). Domestic savings and international capital flows.
Econ J, 90, 314329.
Fischer, S. & Sahay, R. (2000). The Transition Economies After Ten Years. NBER
Working Paper, 7664, National Bureau of Economic Research.
Flster, S. & Henrekson, M. (2001) Growth effects of government expenditure and
taxation in rich countries. Euro Econ Rev, 45 (8), 15011520.
Flster, S. & Henrekson, M. (2006) Growth effects of government expenditure and
taxation in rich countries: a reply. Euro Econ Rev, 50 (1), 219222.
Frasquilho, M. (2012). Uma Nova Ordem Global. O Economista Anurio da Economia
Portuguesa. Ano XXV, 30-35.
Friedman, T. L. (2006). O Mundo plano: Uma breve histria do sculo XXI (6 ed.),
Lisboa: Actual Editora.
Giavazzi, F. & Pagano, M. (1995). Non Keynesian effects of fiscal policy changes:
international evidence and the Swedish experience. Swe Econ Policy Rev, 3 (1), 67-103.
Giddens, A. (2002). Runaway World: How globalization is reshaping our lives. London:
Profile Books.
Gonzlez, A., Tersvirta, T., & VanDijk, F. (2005). Panel smooth transition regression
models. Working paper series in Economics and Finance, 604, Stockholm School of
Economics.
154
Greiner, A. (2011). Economic growth, public debt and welfare: comparing three
budgetary rules. Ger Econ Rev, 12, 205222.
Kotosz, B. (2004). Fiscal Policy Actions Ancillary to Growth: The Transition Economies.
Ekonomika, 68, 76-90.
Kourtellos, A., Stengos, T., & Tan, C.M. (2013). The effect of public debt on growth in
multiple regimes. J Macroecon, 38, 3543. doi: 10.1016/j.macro.2013.08.023.
Lee, Y. & Gordon, R. H. (2005). Tax structure and economic growth. J Public Econ, 89,
10271043. doi: 10.1016/j.jpubeco.2004.07.002.
Minea, A., & Parent, A. (2012). Is high public debt always harmful to economic growth?
Reinhart and Rogoff and some complex nonlinearities. Working Papers n. 8,
Association Francaise de Cliometrie.
Mitchell, D. J. (2005). The impact of government spending on economic growth.
Backgrounder Executive Summary, 1831, 118. Massachusetts: The Heritage
Foundation
Morgado, S.M.A. (2013a). Economics of Public Administration: The right budget to the
right public services The New Management Mythology. Proceedings in Global Virtual
Conference - GV-CONF 2013, Slovakia, 79-83.
Morgado, S.M.A. (2013b). Going Global: Health organizations and networking
information society and social media. Proceedings in Scientific Conference 2013.
Slovakia, 47-51.
Reinhart, C.M. & Rogoff, K.S. (2009). The Aftermath of Financial Crises. Am Econ Rev,
99 (2), 46672.
Reinhart, C.M. & Rogoff, K.S. (2010). Growth in a Time of Debt. Am Econ Rev: Papers &
Proceedings, 100 (2): 19. doi:10.1257/aer.100.2.1.
Schumpeter, J. (1942). Capitalism, Socialism and democracy. New York: Harper.
Teles, V.K. & Mussolini, C.C. (2014). Public debt and the limits of fiscal policy to
increase economic growth. Euro Econ Rev, 66, 115. Doi:
10.1016/j.jeuroecorev.2013.11.003.
Tesar, L. (1991). Savings, investment, and international capital flows. J Int Econ, 31, 55
78.
155
DESENVOLVIMENTO E VALIDAO DE UMA VERSO REDUZIDA DO EXERCISE
MOTIVATION INVENTORY-2p
Pedro Baptista1, Diogo Monteiro1, Susana Alves1,2,4, Lus Cid1,2,3, Joo Mouto1,2,3
1
Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM-IPS)
2
Unidade de Investigao do Instituto Politcnico de Santarm (UIIPS)
3
Centro de Investigao em Desporto, Sade e Desenvolvimento Humano (CIDESD)
4
Centro de Investigao em Qualidade de Vida (CIEQV)
RESUMO
O questionrio Exercise Motivation Inventory-2 tem-se apresentado como o mais
completo na avaliao dos motivos para a prtica de exerccio. Todavia, a sua extenso
(51 itens, 14 fatores e 5 dimenses) revela-se um problema nalgumas situaes de
menor disponibilidade temporal para o seu preenchimento, que por vezes ocorrem no
contexto do fitness. Tendo por base este problema, este estudo objetiva o
desenvolvimento e validao de uma verso reduzida Exercise Motivation Inventory-2.
Participaram neste estudo 2266 praticantes de fitness (865 do gnero feminino e 1397
do gnero masculino), com idades compreendidas entre os 16 e os 77 anos (M = 35.95;
DP = 13.80). A verso reduzida foi desenvolvida atravs da seleo dos itens com maior
peso fatorial em cada um dos 14 fatores da verso original (Ingls) e em funo da
anlise da consistncia interna e dos resultados da validade de constructo obtidos com
recurso anlise fatorial exploratria e confirmatria do modelo de medida. A verso
reduzida do Exercise Motivation Inventory-2 demonstrou valores aceitveis de
fiabilidade e de validade de constructo, dando assim suporte sua utilizao na
avaliao dos motivos de prtica de exerccio.
156
ABSTRACT
The questionnaire Exercise Motivation Inventory- 2 has been known as the most
complete one to assess the reasons for exercise. However, its extension (51 items, 5
dimensions and 14 factors) demonstrates to be a problem in some situations of less
time availability for its completion, which sometimes occur in the fitness context.
Considering this problem, this study aims to develop and validate a reduced version of
the Exercise Motivation Inventory- 2. Participated in this study in 2266 fitness
exercisers (865 female and 1397 males), aged between 16 and 77 years (M = 35.95, SD
= 13.80). The reduced version was developed taking in consideration the items with
highest factor loading of each of the 14 factors of the original version (English), and
taking into account the results of internal consistency and construct validity obtained
trough exploratory and confirmatory factor analysis. The reduced version of the
Exercise Motivation Inventory- 2 showed acceptable values of reliability and construct
validity, thereby supporting its utilization in the assessment of the motives for
exercise.
Keywords: fitness; motives, factor analysis, psychometrics.
INTRODUO
157
autoridades mdicas, um pouco por toda a parte, da importncia da prtica de
atividade fsica tem produzido um modelo de interveno mdico-prescritivo em que o
enfoque principal tem sido a quantidade de exerccio necessria por unidade de
benefcios na sade (Fox, 2002), levando a que, at h pouco tempo, os investigadores
da rea do exerccio tenham prestado pouca ateno aos princpios, conceitos e
mtodos derivados das cincias comportamentais e sociais (Blair, 2002).
Apesar da grande expanso verificada nos ltimos anos no mercado do fitness, os
estudos sobre os motivos que levam prtica deste tipo de atividades so ainda
reduzidos e pouco consensuais, tornando difcil a adequao e delineamento de
programas que promovam da prtica continuada de exerccio fsico.
Com efeito, apesar de se especular sobre o facto de o surgimento deste fenmeno se
poder dever a um aumento da conscincia pblica para os aspetos relacionados com o
bem-estar fsico e psicolgico, o nfase do Marketing que gira volta da indstria do
fitness no se centra sobre esses mesmos benefcios, relegando-os para um segundo
plano em favor de uma perfeio fsica como manifestao de beleza (Davis, 1997),
no deixando claro o quanto este fenmeno representa uma maior consciencializao
para a importncia da adoo de um estilo de vida saudvel ou uma exagerada
preocupao com a beleza fsica (Davis, Claridge, & Brewer, 1996).
A resposta a este enigma reside no desenvolvimento de mais estudos que visem o
conhecimento dos motivos para a prtica de exerccio, sendo esta a razo que esteve
por base no desenvolvimento do questionrio Exercise Motivation Inventory-2 (EMI-2)
(Markland & Ingledew, 1997), que foi traduzido para a lngua portuguesa por Alves e
Loureno (2002). Ainda assim, a extenso deste questionrio (51 itens) tem colocado
alguns desafios na sua aplicao, tornando difcil a sua aplicao conjunta com outros
instrumentos de medida e, nalguns casos, indisponibilidade dos inquiridos para o seu
preenchimento por receio de demorar demasiado tempo. Tendo em conta esta
problemtica, este estudo objetivou o desenvolvimento e validao de uma verso
reduzida do questionrio EMI-2p.
158
MTODO
Participantes
Participaram neste estudo 2266 praticantes de fitness, 865 do gnero masculino
(38.2%) e 1397 do gnero feminino (61.8%), com idades compreendidas entre os 16 e
os 77 anos (M = 35.95; DP = 13.08). A frequncia semanal de prtica de exerccio fsico
variou entre 1 e 10 vezes por semana (M = 2.86; DP = 2.64), indo a maioria 2 vezes ao
ginsio (41.8%), bem como 3 (33.7%) e 4 vezes (11%). No que diz respeito ao tempo de
prtica 314 praticantes (25.1%) esto h menos de 6 meses num ginsio, 96
praticantes esto no ginsio entre 6 meses a 1 ano, os restantes praticantes esto no
ginsio h mais de 1 ano.
Instrumentos de medida
Exercise Motivation Inventory-2 (EMI-2) (Markland & Ingledew, 1997). Este
questionrio constitudo por cinquenta e um itens, organizados em catorze motivos
de prtica de exerccio fsico (afiliao, agilidade, aparncia, competio, desafio,
doena, fora, manter sade, peso, prazer, reconhecimento social, revitalizao,
sade, stress), que formam cinco categorias de motivos (motivos psicolgicos, motivos
inter-pessoais, motivos relacionados com o corpo, motivos de condio fsica e
motivos de sade). As respostas aos itens esto numa escala de likert de zero a cinco,
onde zero corresponde a nada verdadeiro para mim e cinco corresponde a
completamente verdadeiro para mim. A avaliao das respostas obtm-se a partir
do clculo da mdia dos itens correspondentes a cada fator motivacional. Sendo assim,
basta destacar os fatores com pontuaes mais ou menos elevadas e que representam
os motivos mais e menos importantes para a prtica do exerccio fsico. Neste estudo
iremos utilizar a verso Portuguesa que foi traduzida por Alves e Loureno (2003) e
validada preliminarmente para o contexto do fitness por Mouto (2005).
Procedimentos estatsticos
Anlise Fatorial Exploratria - AFE
De forma a compreender como os itens da verso reduzida se organizavam, foi
elaborada uma AFE com o objetivo de definir o nmero de fatores necessrios para
que a varincia dos itens seja explicada (Maroco, 2007). Foram tidos em considerao
os critrios sugeridos por Cid, Rosado, Alves e Leito (2012), designadamente: 1)
Critrio de Kaiser valor igual ou superior a 1; 2) Pesos Fatoriais valor igual ou
superior a .5; 3) Inexistncia de itens com pesos fatoriais com alguma relevncia (fator
loadings > .30) em mais do que um fator. Se isso acontecer e se a diferena entre eles
no for significativa (cross-loadings .15), o item deve ser eliminado; 4) Percentagem
de varincia explicada pelos fatores retidos deve ser no mnimo de pelo menos 40%;
5) Consistncia interna do fator deve ser igual ou superior a .70 (Alfa de Cronbach
.70); 6) Consistncia interna do fator no deve aumentar se o item for eliminado; 7)
S devem ser retidos os fatores com pelo menos 3 itens.
160
Anlise Fatorial Confirmatria - AFC
Para a avaliao do ajustamento global do modelo foi realizada uma AFC atravs do
mtodo de estimao da mxima verosimilhana (ML) e do teste estatstico de 2.
Adicionalmente foram tambm analisados os valores obtidos nos ndices alternativos
de bondade de ajustamento, designadamente: Comparative Fit Index (CFI) (Bentler,
1990), Non-normed Fit Index (NNFI), Standardized Root Mean Square Residual (SRMR)
e o Root Mean Square Error of Approximation (RMSEA) e respetivo intervalo de
confiana (IC) a 90%. Os valores de corte assumidos para cada um destes indicadores
foram os propostos por Hu e Bentler (1999), designadamente: .95 para CFI e NNFI,
.10 para SRMR e .06 para o RMSEA.
RESULTADOS
Anlise Fatorial Exploratria
Numa primeira fase obteve-se uma estrutura com os catorze itens a serem distribudos
por quatro fatores. Visto que esta distribuio no respeitava um dos critrios
essenciais, ou seja, existia um fator com menos de trs itens, forou-se assim uma
nova Analise Fatorial Exploratria com trs fatores. Assim foi criado o modelo onde
ficaram corretamente distribudos os itens e respeitando todos os critrios.
161
Tabela 1 - Anlise Fatorial Exploratria (com rotao ortogonal Varimax) (n=2266).
Aps uma anlise dos itens que constituam cada fator e ao contedo destes itens foi
dado um nome a cada. O primeiro fator inclua questes sobre bem-estar fsico e
psicolgico, experiencia, aparncia ficando assim com a denominao de Modelo de
Bem-Estar Fsico e Psicolgico. O segundo fator apresenta questes relacionadas com a
socializao, desafios, competio sendo assim sugerida a denominao de Modelo
Social. O terceiro fator apresenta inmeras questes sobre sade sendo assim
sugerida a denominao de Modelo Sade.
163
Na Tabela 1 esto especificados os resultados de todas as hipteses testadas para o
novo modelo da verso reduzida do EMI-2p. Na primeira hiptese foi testado o
modelo com somente um fator, o qual apresentou o valor de SRMR aceitvel enquanto
os valores de CFI, NNFI, RMSEA, RMSEA IC 90% apresentam-se bastante abaixo dos
valores aceitveis. No modelo 2, com dois fatores, obtidos atravs de uma Anlise
Fatorial Exploratria que forou a existncia de somente dois fatores, verificou-se que
os valores de SRMR, RMSEA, RMSEA IC 90% eram aceitveis mas os valores de CFI e
NNFI estavam bastante abaixo dos valores aceitveis. No modelo 3, com os trs fatores
obtidos atravs da Anlise Fatorial Exploratria realizada anteriormente, os valores
relativos SRMR, RMSEA e RMSEA IC 90% so aceitveis mas por outro lado os valores
de CFI e NNFI esto bastante abaixo dos aceitveis. Para solucionar este problema foi
testado um quarto modelo onde foram criadas correlaes entre os erros dos itens
que apresentaram os ndices de modificao mais altos. Aps a criao destas
correlaes os valores de CFI, NNFI, SRMR, RMSEA e RMSEA IC 90% apresentaram-se
bastante aceitveis. No que diz respeito ao valor do Alpha de Cronbach o nico fator
que destacou alguma preocupao foi o fator Sade que apresenta um Alfa abaixo de
.50. Relativamente aos pesos fatoriais dos itens somente o item 25 apresentou um
valor abaixo de .30.
164
motivos correlacionados. Dada a fragilidade do modelo apresentado de trs fatores
correlacionados fomos analisar os valores de ajustamento dos 3 fatores
separadamente, conforme indicado pela AFE (Tabela 2). Os valores de CFI, NNFI,
RMSEA, RMSEA IC 90% e SRMR apresentaram-se como aceitveis para cada uma das
dimenses, tal como os valores dos pesos fatoriais dos itens. No que diz respeito aos
valores de Alfa de Cronbach somente o fator Sade suscitou algumas preocupaes
visto estar abaixo de 50.
165
DISCUSSO
166
CONCLUSO
BIBLIOGRAFIA
ACSM. (2009). Resource Manual for Guidelines for Exercise Testing and Prescription
(7th ed.). Baltimore: Lippincott Williams & Wilkins.
Alves, J., & Loureno, A. (2003). Traduo e Adaptao do Questionrio de Motivao
para o Exerccio. Desporto, Investigao e Cincia, 2, 3-23.
Batista, P., Ramos, E., Monteiro, D., Alves, S., Cid, L., & Mouto, J. (2013). Avaliao
dos Motivos para a Prtica de Exerccio Fsico: Propriedades Psicomtricas da Verso
Portuguesa do Exercise Motivation Inventory-2. Livro de resumos do III Congresso da
Sociedade Cientfica de Pedagogia do Desporto, Espinho.
Bentler, P. M. (1990). Comparative fit indices in structural models. Psychological
Bulletin, 107, 238-246.
Blair, S. (2002). Prefcio. In S. Biddle & N. Mutrie (Eds.), Psychology of Physical Activity:
determinants, well-being and interventions (pp. XIV-XV): Routledge.
Brown, T. (2006). Confirmatory Factor Analysis for Applied Research. New York: The
Guiford Press.
Byrne, B. (2001). Structural Equation Modeling with AMOS. Basic Concepts,
Applications
and Programming. New Jersey: Lawrence Erlbaum Associates, Publishers.
Cid, L., Rosado, A., Alves, J., & Leito, J. (2012). Traduo e Validao de Questionrios
em Psicologia do Desporto e do Exerccio. In A. Rosado, I. Mesquita & C. Colao (Eds.),
Mtodos e Tcnicas de Investigao Qualitativa (pp. 29 - 64). Lisboa: Edies FMH.
167
Costello, A. O., J. (2005). Best Practices in Exploratory Factor Analysis: Four
Recommendations for Getting the Most From Your Analysis. Pratical Assessment
Research & Evaluation, 10(7), 1-9.
Davis, C. (1997). Body image, exercise and eating behaviors. In K. Fox (Ed.), The
Physical Self (pp. 143-174). Champaign Ilinois: Human Kinetics.
Davis, C., Claridge, G., & Brewer, H. (1996). The two faces of narcissism: personality
dynamics of body esteem. Journal of Social and Clinical Psychology, 15, 153-166.
Dishman, R. K. (1994). Advances in Exercise Adherence. Champaign Ilinois: Human
Kinetics.
Fox, K. R. (2002). Prefcio. In S. Biddle & N. Mutrie (Eds.), Psychology of Physical
Activity: determinants, well-being and interventions (pp. XII-XIII): Routledge.
Hu, L., & Bentler, P. M. (1999). Cutoff criteria for fit indexes in covariance structure
analysis: Conventional criteria versus new alternatives. Structural Equation Modeling:
A Multidisciplinary Journal, 6, 155.
Kline, R. (2005). Principles and Practice of Structural Equation Modeling New York: The
Guilford Press.
Marivoet, S. (2001). Hbitos desportivos da populao portuguesa. Lisboa: Instituto
Nacional de Formao e Estudos do Desporto.
Markland, D., & Ingledew, D. K. (1997). The measurement of exercise motives:
Factorial validity and invariance across gender of a revised Exercise Motivations
Inventory. British Journal of Health Psychology, 2, 361-376.
Maroco, J. (2007). Anlise Estatstica com Utilizao do SPSS (3 ed.). Lisboa: Edies
Slabo.
Marsh, H. W., Hau, K. T., & Wen, Z. (2004). In search of golden rules: Comment on
hypothesis-testing approaches to setting cutoff values for fit indexes and dangers in
overgeneralizing Hu & Bentlers (1999) findings. Structural Equation Modeling, 11, 320-
341.
Mouto, J. (2005). Motivao para a prtica de exerccio fsico: estudo dos motivos
para a prtica de actividades de fitness em ginsios. Tese de Mestrado em Psicologia
do Desporto e do Exerccio, Universidade de Trs-os-Montes e Alto Douro, Vila Real.
168
Steiger, J. H., & Lind, J. M. (1980). Statistically based tests for the number of common
factors. Paper presented at the Meeting of the Psychometric Society.
Tabachnick, B., & Fidell, L. (1989). Using Multivariate Statistics (2 ed.). New York:
Harper Collins Publishers.
169
EFEITOS DE 3 MESES DE DESTREINO EM IDOSAS
Rafael Oliveira1,2; Liliana Ramos1,2; Rafael Souza1; Carlos Santamarinha4; Joo Brito1,2,3
1
Escola Superior de Desporto de Rio Maior (ESDRM, Rio Maior, Portugal)
2
Unidade de Investigao Instituto Politcnico de Santarm
3
CIEQV Centro de Investigao e Qualidade de Vida
4
Cmara Municipal de Esposende, 2000
RESUMO
Introduo: Os programas de exerccio fsico para idosos previnem a morbilidade e
aumentam a qualidade de vida. Em Portugal, a maioria dos programas so oferecidos,
sazonalmente, por camaras municipais, que para pouparem dinheiro, interrompem-
nos no perodo do vero.
Objetivos: Avaliar os efeitos de trs meses de destreino, depois da participao de
nove meses de exerccio fsico, em idosas.
Mtodos: 51 mulheres (com idades 68.229.12) participaram em programas de
exerccio supervisionados, sendo divididas em dois grupos: aulas de grupo (Grupo 1) e
aulas de grupo mais atividades aquticas (Grupo 2). Foram avaliadas no fim do
programa de exerccio e no final do perodo de destreino.
Resultados: Depois do perodo de destreino, Grupo 1 aumentou a presso arterial
sistlica (p=0.009) e presso arterial diastlica (p=0.005). A resistncia dos membros
inferiores e superiores (p=0.000 e p=0.000, respetivamente), a agilidade (p=0.002), o
equilbrio (p=0.029) e a capacidade aerbia (p=0.002) diminuram. O Grupo 2
aumentou a presso arterial sistlica (p=0.021). A resistncia dos membros inferiores e
superiores (p=0.000 e p=0.000 respetivamente), agilidade (p=0.000) e capacidade
aerbia (p=0.003) diminuram.
Concluso: Os resultados sugerem que 3 meses de destreino em idosas provocam a
perda de capacidades funcionais e tm efeitos deletrios no perfil hemodinmico.
170
ABSTRACT
Introduction: Exercise training programs prevent morbidity and improve quality of life.
In Portugal, exercise training programs are seasonally offered by municipalities which
save money by finished them in the summer periods.
Objective: The aim was to evaluate the effects of 3-months detraining, after 9-months
of physical exercise in women older adults.
Methods: 51 women (aged 68.229.12) participated in a supervised exercise program.
They were divided in two groups: group of land-base exercise (Group 1) and group of
land-base exercise plus 1 session of aquatic exercise (Group 2). They were evaluated at
the end of the practice of physical activity and after a detraining period.
Results: After a detraining period, Group 1 showed significant increase in systolic and
diastolic blood pressure (p=0.009 and p=0.005, respectively). Resistance of lower and
upper limbs (p=0.000 and p=0.000, respectively), agility (p=0.002), balance (p=0.029)
and aerobic capacity (p=0.002) had significant decreased. Group 2 also showed a
significant increase in systolic blood pressure (p=0.021). Resistance of lower and upper
limbs (p=0.000 for all), agility (p=0.000) and aerobic capacity (p=0.003) decreased.
Conclusions: 3 Months of detraining resulted in a loss of capacities and loss at
hemodynamic profile for both groups.
INTRODUO
Hoje em dia a esperana mdia de vida e o nmero de idosos est a aumentar de
forma exponencial. Nesse sentido essencial assegurar a qualidade de vida na
populao idosa (Carrilho & Patrcio, 2010).
O aumento da esperana mdia de vida est associado a comorbidades. Estas resultam
num declnio das capacidades motoras e funcionais que afetam a qualidade de vida
(Teixeira-Samela et al., 2005).
O envelhecimento, conduz frequentemente ao aumentando do sedentarismo (Alves,
Mota, Costa, & Alves, 2004). Com a idade verifica-se perda de massa muscular, perda
171
de fora muscular, declnio do equilbrio funcional e consequentemente perda de
autonomia funcional (Bird, Hill, Ball, Hetherington, & Williams, 2011).
A idade como um fator de risco no modificvel associada a alteraes degenerativas
levando ao aumento de morbilidade. A atividade fsica um dos elementos bsicos da
interveno primria e secundria em sade. Muito embora a qualidade de vida seja
um fator importante, independentemente do estilo de vida adotado (Raska-
Kirschke, Kocur, Wilk, & Dylewicz, 2006), essencial ter uma aptido fsica funcional
para se ter qualidade de vida na populao idosa (Karinkanta et al., 2006).
Com exceo dos programas de exerccio que correm no mbito de investigaes, a
maioria dos programas de exerccio para a populao idosa so fornecidos pelas
autarquias. Consistem em programas comunitrios e tm um carater sazonal, pois
funcionam apenas entre 9 a 10 meses por ano. Quando tal acontece, ocorre o
designado destreino. Este consiste na interrupo do programa de exerccio durante
vrias semanas ou meses (Dudley & Snyder, 1998).
Alguns estudos tm descrito que as funes metablicas e funcionais podem diminuir
apenas com pequenos perodos de destreino (Toraman & Ayceman, 2005).
Apesar da evidncia do declnio fisiolgico e funcional durante o destreino, no
existem estudos suficientes que comprovem por quanto tempo os efeitos do treino
so mantidos, nem como que a aptido fsica muda aps a cessao de um programa
de treino multicomponente em mulheres idosas (Carvalho, Marques, & Mota, 2008).
Muitos estudos de destreino na populao idosa tm avaliado os efeitos do destreino
aps interrupo de programas de treino multicomponente de baixa intensidade
(Carvalho et al., 2008).
Da literatura conhecida at ao presente, poucos estudos tm reportado efeitos do
destreino depois de ser aplicado um programa de treino com atividades aquticas.
Apesar da evidncia cientfica sobre a ocorrncia de declnio fisiolgico depois de
curtos perodos de destreino (Toraman & Ayceman, 2005), no existem estudos
suficientes sobre aptido fsica e qualidade de vida em mulheres idosas quando os
programas de atividades aquticas so interrompidos (Bocalini, Serra, Rica, & Santos,
2010).
172
O presente estudo tem como objetivo verificar os efeitos no perfil hemodinmico,
antropomtrico e funcional em mulheres idosas de 3 meses de destreino aps a
realizao de 9 meses de dois programas de treino diferentes.
Caracterizao da Amostra
Foram aplicados programas de exerccio a 51 mulheres idosas voluntrias,
funcionalmente independentes.
Os critrios de excluso para o estudo foram baseados no estudo de Rikli and Jones
(1999a, 1999b): a) ter participado em qualquer programa de atividade fsica; b) ter
uma disfuno osteoarticular que possa interferir com a execuo das tarefas
propostas; c) ter problemas cardacos onde a prescrio de exerccio possa lesionar a
sade da praticante d) contraindicaes mdicas e e) no ter mais do que 80% de
presenas nas sesses de treino do programa.
A amostra foi dividida em dois grupos. O grupo 1 (G1) frequentou aulas de grupo, duas
vezes por semana e o grupo 2 (G2) frequentou aulas de grupo mais atividades
aquticas, 3 vezes por semana.
PROCEDIMENTOS
Os programas de exerccio foram realizados durante um perodo de 9 meses, de
outubro a junho, com uma interrupo de trs meses de julho a setembro (destreino).
A capacidade funcional, os perfis hemodinmicos e antropomtricos foram medidos
no final do perodo de treino e de destreino. A primeira avaliao decorreu durante a
primeira semana de Julho (no fim do programa de treino) e a segunda aps 3 meses de
destreino (1 semana de outubro). Os testes foram realizados nas mesmas condies
ambientais (lugar, hora do dia, ordem de testes, temperatura, humidade, 22-24C e
55-65% respetivamente) e pelo mesmo avaliador.
O objetivo principal dos programas de exerccio foi melhorar a capacidade funcional de
acordo com as orientaes do ASCM (2013) para prescrio do exerccio para a
populao idosa. As componentes principais dos programas foram a
cardiorrespiratria, fora, flexibilidade e equilbrio (ACSM, 2013; Dermott & Mernitz,
2006). Os programas de exerccio consistiram em aulas de grupo e atividades
173
aquticas. O G1 realizou duas aulas por semana de 45 minutos. O G2 realizou as
mesmas aulas de grupo (2x/semana) mais uma aula de atividades aquticas, com a
durao de 45 minutos. As aulas foram acompanhadas por msica adequada s
atividades e idade dos praticantes sendo supervisionados por um tcnico de exerccio
fsico portador de ttulo profissional.
A estrutura das aulas de grupo foi composta por 12 minutos de aquecimento geral e
especfico, 15-25 minutos de trabalho cardiorrespiratrio, 15-20 minutos de treino de
resistncia e 5-10 minutos de alongamentos e relaxamentos. A intensidade das sesses
ser moderada.
As atividades aquticas tiveram a seguinte estrutura: 10-minutos de aquecimento, 30-
minutos de treino de resistncia e 5-minutos de recuperao e relaxamento. As aulas
foram realizadas com gua pela linha mdia o peito. O foco principal foi o
desenvolvimento da resistncia aerbia e da fora resistente.
Para controlar a intensidade do treino, os sujeitos foram familiarizados e treinados no
uso da escala de perceo subjetiva de esforo (Borg, 1982).
INSTRUMENTOS
Avaliao do perfil Hemodinmico
A medio da presso arterial sistlica (PAS), diastlica (PAD) e da frequncia cardaca
de repouso foi feita com um esfigmomanmetro digital Omron Digital Blood Pressure
Monitor HEM-907 (Omron Healthcare Europe BV, Matsusaka, Japan). Estas medidas
foram recolhidas na posio sentada com o brao esquerdo apoiado, com intervalos
de 5 minutos entre elas (AHA, 2005). Foram registadas em dois dias seguidos, sendo
considerado a mdia dos valores.
Medidas Antropomtricas
As medidas antropomtricas foram recolhidas com os sujeitos descalos e com roupas
leves. O peso e a altura corporal foram recolhidos com uma balana com estadimetro
porttil (Seca, Hamburg, Germany). A percentagem de massa gorda foi medida usando
um dispositivo de bio impedncia eltrica OMRON BF 303 (OMRON Healthcare Europe
174
BV, Matsusaka, Japan). O ndice de massa corporal foi calculado atravs da frmula:
peso (kg)/altura 2(m).
Tratamento Estatstico
A anlise estatstica foi feita a partir da verso 22.0 do programa SPSS (SPSS Inc.,
Chicago, IL). Os resultados foram apresentados em valores mdios, desvios-padro e
foi verificada a normalidade das variveis. Na anlise inferencial foi usado o teste de T
de Pares para comparao dos valores mdios de cada varivel em estudo no ps
perodo de destreino. Os resultados foram apresentados para um valor de significncia
de p<0.05.
Resultados
Depois do perodo de destreino, o G1 e G2 demonstraram aumentos significativos na
presso arterial. No G1 foi verificado um aumento 132.9617.49 mmHg e
73.4411.77mmHg, respetivamente e no G2 foi verificado um aumento 135.0815.88
mmHg e 68.759.98mmHg, respetivamente (p<0.005 para todos, exceto para a PAD no
G2, p=0.212). Os restantes resultados das outras variveis do estudo diminuram, o
que significa uma perda nos perfis hemodinmicos e antropomtricos.
175
Tabela I. Valores do ps-treino e destreino para peso corporal (peso), massa gorda (MG),
ndice de massa corporal (IMC), PAS, PAD, frequncia cardaca de repouso (FCR), da mdia
DP dos sujeitos.
Destreino
G1 G2
ps-treino Destreino ps-treino Destreino
Peso (Kg) * 75.3911.23 75.6910.88 75.499.65 75.589.43
(n=27) p=0.270 (n=24) p=0.848
MG (%)* 41.274.95 41.604.84 43.573.46 44.023.54
(n=26) p=0.078 (n=23) p=0.060
IMC (kg/m2) * 30.934.41 31.064.30 31.214.04 31.223.79
(n=27) p=0.270 (n=24) p=0.930
PAS (mmHg) * 124.4417.14 132.9617.49 128.2513.45 135.0815.88
(n=27) p=0.009 (n=24) p=0.021
PAD (mmHg) * 67.4811.22 73.4411.77 66.296.81 68.759.98
(n=27) p=0.005 (n=24) p=0.212
FCR (bpm) * 71.639.98 75.5911.93 68.788.53 70.7410.49
(n=27) p=0.556 (n=23) p=0.386
* diferenas significativas entre o ps-treino e depois de 3 meses de destreino (G1 e 2) (p<
0.005).
Tabela II. Valores do ps-treino e destreino para flexo do antebrao (FA), levantar / sentar da
cadeira (LS), teste dos 6 minutos a andar (MWT6), levantar da cadeira, andar 2,44 metros e voltar
a sentar (Agilidade-AG), traspor um banco (TB), equilbrio unipedal (EU), equilbrio sobre uma
espuma de olhos fechados (EEOF), dar 10 passos em linha reta (10P), da mdia DP dos sujeitos.
Destreino
G1 G2
ps-treino Destreino ps-treino destreino
LS (nr) * 22.505.86 18.774.49 23.743.98 19.833.68
(n=22) p=0.000 (n=23) p=0.000
DISCUSSO
Apenas com 3 meses de destreino, verificou-se que independentemente da frequncia
de treino, os resultados foram similares em ambos os grupos. Os resultados mais
relevantes no G1 foram um aumento da PAD e uma diminuio no teste de equilbrio
sobre uma espuma de olhos fechados. O G2 no demonstrou essas alteraes.
Os resultados do presente esto em linha com o estudo de Motoyama et al. (1998) que
no encontraram diferenas nos valores de presso arterial entre grupos no pr-treino
e depois do destreino.
Sabe-se que o papel da fora muscular muito importante na capacidade aerbia. Os
autores Teixeira-Samela et al., (2005) verificaram que os ganhos na capacidade aerbia
foram perdidos depois de 1 ms de destreino. Estes dados reforam a medida da
capacidade aerbia, no apenas como sensvel, mas muito importante como um fator
de predio de independncia funcional para os idosos (Spirduso & Cronin, 2001).
Um outro estudo avaliou os efeitos de 6 semanas de destreino na capacidade funcional
em idosos-jovens e em idosos-adultos fisicamente independentes (Toraman &
Ayceman, 2005). Estes autores verificaram que a idade afetou a performance no teste
de agilidade, dos 6 minutos a andar e no de sentar e alcanar. Estes resultados esto
em concordncia com o presente estudo apenas com 6 semanas de destreino.
Especula-se que se o estudo de Toraman & Aceman (2005) tivesse sido prolongado, os
resultados poderiam ter sido mais agravados. Em resumo, os resultados do estudo
demonstram que a idade influencia alteraes no equilbrio dinmico/agilidade, na
flexibilidade dos membros inferiores e na capacidade aerbia durante 6 semanas de
177
destreino. Contudo, no foram verificados retrocessos nos ganhos da capacidade
aerbia e agilidade alcanados durante 9 semanas de exerccio nos idosos-jovens (60
73 anos) nem nos ganhos da flexibilidade dos membros inferiores dos idosos-adultos
(7486 anos) (Toraman & Ayceman, 2005). Este estudo de Toraman and Ayceman
(2005) suporta o presente, apesar de terem duraes de estudo diferentes.
Apesar dos resultados evidenciados neste estudo, especula-se que pudessem ter sido
diferentes com uma avaliao diferente, como constado numa concluso de um
estudo de relao entre melhorias e a especificidade do mtodo de avaliao utilizado
(Carvalho et al., 2003).
As maiores limitaes evidenciadas neste estudo foram o tamanho da amostra, a falta
de controlo das atividades do dia-a-dia, a falta de um grupo de controlo e a falta de um
controlo nutricional. Este estudo pertenceu a um programa comunitrio oferecido a
um grupo de idosas, extremamente motivadas e isso pode influenciar a generalizao
dos resultados para a populao idosa.
CONCLUSES
Concluiu-se que um perodo de destreino, de 3 meses, depois da prtica regular de
programas de exerccio aumenta significativamente a PAS e PAD enquanto os valores
da resistncia dos membros superiores e inferiores, agilidade, equilbrio sobre uma
espuma com os olhos fechados e da capacidade aerbia diminuem significativamente.
Mais estudos so necessrios a fim de verificar se as mudanas observadas foram
devido ao exerccio e no devido a outros fatores simultneos possveis.
178
BIBLIOGRAFIA
ACSM. (2013). ACSMs Guidelines for exercise testing and prescription (9th ed).
Philadelphia: Lippincott Williams e Wilkins.
AHA. (2005). Recommendations for Blood Pressure Measurement in Humans and
Experimental Animals: Part 1: Blood Pressure Measurement in Humans: A Statement
for Professionals From the Subcommittee of Professional and Public Education of the
American Heart Association Council on High Blood Pressure Research. 45, 142-161.
Alves, R. V., Mota, J., Costa, M. d. C., & Alves, J. G. B. (2004). Aptido fsica relacionada
sade de idosos: influncia da hidroginstica. Rev Bras Med Esporte, 10.
Bird, M., Hill, K. D., Ball, M., Hetherington, S., & Williams, A. D. (2011). The long-term
benefits of a multi-component exercise intervention to balance and mobility in healthy
older adults. Gerontology and Geriatrics.
Bocalini, D. S., Serra, A. J., Rica, R. L., & Santos, L. d. (2010). Repercussions of training
and detraining by waterbased exercise on functional fitness and quality of life: a short-
term follow-up in healthy older women. Clinics (Sao Paulo), 65 (12), 1305-1309.
Borg, G. A. V. (1982). Phychophysical bases of perceived exertion. Med Sci Sports Exerc,
14, 377-381.
Carrilho, M. J., & Patrcio, L. (2010). A situao Demogrfica Recente em Portugal. Rev
Estudos Demogrficos, INE, 101-146.
Carvalho, J., Marques, E., & Mota, J. (2008). Training and Detraining Effects on
Functional Fitness after a Multicomponent Training in Older Women. Gerontology.
Carvalho, J., Oliveira, J., Magalhes, J., Ascenso, A., Mota, J., & Soares, J. M. C. (2003).
Efeito de um programa de treino em idosos: comparao da avaliao isocintica e
isotnica. Rev Paul Educ Fs, 17 (1), 74-84.
Dermott, A. M., & Mernitz, H. (2006). Exercise and older pacients: prescribing guide-
lines. Am Fam Physician, 74, 437-444.
Dudley, G., & Snyder, L. (1998). Deconditioning and bed rest: musculoskeletal response.
Philadelphia: Roitman JL.
Karinkanta, S., Heinonen, A., Sievnen, H., Uusi-Rasi, K., Pasanen, M., Ojala, K.,
Fogelholm, M., Kannus, P. (2006). A multi-component exercise regimen to prevent
179
functional decline and bone fragility in home-dwelling elderly women: randomized,
controlled trial. Osteoporos Int, 18, 453-462.
Motoyama, M., Sunami, Y., Kinoshita, F., Kiyonaga, A., Tanaka, H., Shindo, M., Irie, T.,
Urata, H., Sasaki, J., Arakawa, K. (1998). Blood pressure lowering effect of low intensity
aerobic training in elderly hypertensive patients. Med Sci Sports Exerc, 30, 818-823
Rikli, R. E., & Jones, C. J. (1999a). The development and validation of a functional
fitness test for community-residimg older adults. J Aging Phys Activ, 7, 129161
Rikli, R. E., & Jones, C. J. (1999b). Functional fitness normative scores for community-
residing older adults, ages 6094. J Aging Phys Activ, 7, 162181.
Rose, D., Lucchese, N., & Wiersma, L. (2006). Development of a multidimensional
balance scale for use of functionally independent older adults. Arch Phys Med Rehab,
87, 1478-1485.
Raska-Kirschke, A., Kocur, P., Wilk, M., & Dylewicz, P. (2006). The Fullerton Fitness
Test as an index of fitness in the elderly. Medical Rehabilitation, 10, 9-16.
Spirduso, W., & Cronin, D. (2001). Exercise dose-response effects on quality of life and
independent living in older subjects Med Sci Sports Exerc, 33, 598 610.
Teixeira-Samela, L. F., Santiago, L., Lima, R. C. M., Lana, D. M., Camargos, F. F. O., &
Cassiano, J. G. (2005). Functional performance and quality of life related to training
and detraining of community-dwelling elderly. Disabil Rehabil, 27, 1007-1012.
Toraman, N. F., & Ayceman, N. (2005). Effects of six weeks of detraining on retention
of functional fitness of old people after nine weeks of multicomponent training. Br J
Sports Med, 39, 565568.
180
EQUILBRIO ESTTICO E DINMICO EM CRIANAS PORTADORES DE DCD
Ana Arrais1, Ana Marques1, Tnia Rodrigues1, Olga Vasconcelos2 & David Catela1
1
Instituto Politcnico de Santarm Escola Superior de Desporto de Rio Maior
2
Faculdade de Desporto Universidade do Porto
Este estudo foi suportado pelo Parque de Cincia e Tecnologia do Alentejo Laboratrio de
Investigao em Desporto e Sade (ALENT-07-0262-FEDER-001883).
RESUMO
Developmental Coordenation Disorder (DCD) exprime-se por dificuldades motoras em
tarefas dirias e acadmicas, com ausncia de desordem neurolgica (APA, 2000).
Afecta 5 a 10% das crianas em idade escolar, com maior incidncia em crianas do
sexo masculino num rcio de 2:1 (Barnhart, Davenport, Epps, & Nordquist, 2003; Fox &
Lent, 1996; Gillberg & Kadesjo, 2003; Missiuna, Gaines, Soucie, & McLean, 2006;
Missiuna, Rivard, & Bartlett, 2003; Sugden, Kirby, & Dunford, 2008). O instrumento M-
ABC (Movement Assessment Battery for Children - Henderson & Sugden, 2007) permite
despistar crianas com DCD, a partir dos 3 anos. Os seus testes de equilbrio tm
revelado sensibilidade a condies de prtica motora (e.g., Smyth & Anderson, 2001).
Os objetivos do presente estudo foram verificar se crianas com DCD revelam: i)
problema tanto em equilbrio esttico como dinmico; e, ii) se so sensveis
repetio de tarefas de equilbrio. Com a verso 2 do M-ABC, avalimos 104 crianas
do pr-escolar (4,570,73), 54 rapazes e 50 raparigas, de Jardins de Infncia pblicos
dos Concelhos de Santarm e Rio Maior. Destas, 4 foram identificadas como sendo
portadoras de DCD, e 5 como estando em risco de DCD. Os resultados revelaram que
na tarefa de equilbrio esttico, no primeiro ensaio em ambos os lados (direita e
esquerda), houve diferena significativa entre os 3 grupos. Esta diferena desaparece
no segundo ensaio para o lado esquerdo. Os resultados obtidos revelam a necessidade
de analisar a influncia da oportunidade de prtica motora na remediao dos
constrangimentos impostos pela DCD para o equilbrio.
INTRODUO
A desordem do desenvolvimento da coordenao (DCD) o termo usado para
descrever as dificuldades no desenvolvimento de habilidades de movimento. No
implica desordens neurolgicas (DSM-IV). identificvel muito cedo, pela dificuldade
em aprender e aplicar as habilidades que necessitem de coordenao motora. Tem
maior incidncia em crianas do sexo masculino. (Barnhart et al., 2003; Gillberg &
Kadesjo, 2003; Missiuna et al., 2006; Sugden et al., 2008).
182
A Bateria de Avaliao do Movimento para Crianas (Movement Assessment Battery
for Children), elaborado por Sheila Henderson e David Sugden (1992), a mais utilizada
actualmente para detetar crianas portadoras de DCD.
O equilbrio auxilia o movimento e a manuteno da postura (Westcott, Lowes, &
Richardson, 1997), e requer a interao de trs fontes: visual, propriocetiva e
vestibular (Deconinck et al., 2008). O desenvolvimento do equilbrio, principalmente o
esttico, uma das caractersticas bsicas de um desenvolvimento motor normal
(Geuze, 2005). Em termos do desenvolvimento de habilidades motoras especficas, o
grau de controlo postural e do equilbrio agem como constrangimentos. A realizao
da maioria das tarefas est dependente do controlo postural e equilbrio (Geuze,
2005). O equilbrio pode ser classificado como: i) esttico - a capacidade de manter a
postura numa posio de repouso; e, ii) dinmico - a capacidade de manter o controlo
postural durante a execuo de habilidades motoras (Westcott et al., 1997). As
crianas com DCD evidenciam dificuldades de equilbrio em tarefas motoras
(Deconinck et al., 2008; Geuze, 2003; Hamilton, 2002; Missiuna et al., 2008; Missiuna,
Rivard, & N., 2004). Para a maioria das crianas com DCD, (Geuze, 2005) verificou que
em tarefas sob condies normais de controlo do equilbrio esttico estas no
apresentam dificuldades na execuo das mesmas, contudo com o aumento do grau
de dificuldade, de autonomia ou com a apresentao de situaes novas, essas
crianas parecem sofrer de um aumento da oscilao postural.
O sexo e a idade so duas das variveis que influenciam a prestao de equilbrio
(Venetsanou & Kambas, 2011). Alguns estudos apontam para melhores resultados na
habilidade de equilbrio nas raparigas (e.g., Geldhof et al., 2006; Lam, Ip, Lui, & Koong,
2003; Lejarraga et al., 2002); enquanto outros no encontram diferenas significativas
(Kourtessis et al., 2008)
Deconinck et al. (2008) compararam o controlo postural durante equilbrio bilateral em
20 crianas (10 com DCD e 10 sem DCD), com 4 condies diferentes: com e sem viso,
e em superfcie fixa ou instvel. Verificaram que em todas as condies, a velocidade
mdia de oscilao postural foi maior nos rapazes com DCD, apesar destes terem
obtido uma pontuao normal nos itens de equilbrio no M-ABC. Livesey, Coleman, &
Piek (2007) utilizaram o M-ABC para avaliar a performance de 513 crianas
183
australianas entre os 3 e os 5 anos. Na tarefa de equilbrio esttico (equilibrar numa
perna), as raparigas equilibram-se durante mais tempo em todas as idades. De forma
geral, as crianas apresentam melhores resultados com o avanar da idade. Lam et al.
(2003), com 1404 crianas do pr-escolar em Hong Kong (12 com desordens diversas),
observaram no equilbrio dinmico uma melhoria gradual com a idade. No equilbrio
esttico as raparigas obtiveram melhores resultados que os rapazes.
(Forseth & Sigmundsson, 2003) verificaram numa tarefa de equilbrio esttico unipedal
de olhos fechados, com crianas portadoras de DCD uma diminuio mais acentuada
do tempo na tarefa, que no grupo de controlo.
Sendo um estudo pioneiro na anlise da expresso da DCD nos concelhos de Santarm
e Rio Maior, espectvel que percentagem de crianas com DCD e a sua expresso por
sexo e lateralidade seja a habitual em estudos anteriores.
Os objetivos do presente estudo foram verificar se crianas com DCD revelam: i)
problema tanto em equilbrio esttico como dinmico; e, ii) sensibilidade repetio
de tarefas de equilbrio.
A amostra foi composta por 104 crianas, 54 meninos e 50 meninas, entre os 3 e os 5
anos de idade (4.580.73 anos).
3 27 15 12
4 46 21 25
5 31 18 13
RESULTADOS
Incidncia de DCD: No conjunto da amostra, foram identificadas 4 crianas com DCD e
5 em risco, das quais 4 rapazes com DCD e 3 em risco, e 2 raparigas em risco;
resultados que confirmam a expresso de DCD por sexo. Os grupos de risco e DCD
englobados na mesma problemtica tm uma representatividade de 9% da amostra o
que confirma os resultados percentlicos da literatura revista.
Tarefa de Equilbrio Esttico Unipedal: Na primeira tentativa houve diferena
significativa entre os 3 grupos, para ambos os ps, com mais expresso para o membro
inferior esquerdo (direito - H(2)= 10.42, p <.01; esquerdo - H(2)= 13.17, p <.001). O
teste post hoc revelou diferena significativa entre os grupos sem DCD e em Risco (Z= -
2.47, p <.017), para o membro inferior direito; e entre os grupos sem DCD e com DCD
para o membro inferior esquerdo (Z= -3.07, p <.017). No se verificou diferena
significativa entre os grupos com DCD e em Risco.
Tarefa de Equilbrio Dinmico nas Pontas dos Ps: Na primeira tentativa houve
diferena significativa entre os 3 grupos (H(2)= 10.32, p < .01). O teste post hoc revelou
diferena significativa entre os grupos com e sem DCD (Z= -2.75, p < .01), mas no
185
entre os grupos com DCD e em Risco. A diferena entre os grupos desaparece na
segunda tentativa.
Tarefa de Equilbrio Dinmico com Saltos a Ps juntos para Alvos Sucessivos: Na
segunda tentativa houve diferena significativa entre os 3 grupos (H(2) = 6.06, p < .05).
O teste post hoc revelou diferena significativa entre os grupos sem DCD e com DCD
(Z= - 2.41, p < .017), mas no entre os grupos com DCD e em Risco.
DISCUSSO
Nos trs testes de equilbrio, as crianas em Risco ficaram mais prximas das crianas
com DCD; embora ao longo destes testes o distanciamento entre as crianas em Risco
e as crianas sem DCD tenha sido varivel. Tal evidencia a necessidade da existncia
desta diversidade de testes de equilbrio.
A alterao de distanciamento estatstico entre grupos, da primeira para a segunda
tentativa, poder ser a expresso da influncia de constrangimentos intrnsecos e
extrnsecos. No entanto, deve salientar-se que s esto presentes na segunda
tentativa as crianas que no cumpriram a pontuao mxima na primeira tentativa.
Logo, na segunda tentativa s esto presentes as crianas com mais dificuldade de
equilbrio em cada grupo.
Os resultados relativos distribuio de incidncia de DCD por sexo so congruentes
com os da literatura conhecida.
CONCLUSO
As crianas portadoras de DCD e em risco diferenciaram-se das sem DCD em ambos os
tipos de equilbrio. No entanto, esse distanciamento distinto conforme o tipo de
equilbrio. Provavelmente ser adequado verificar se determinada criana portadora
de DCD ou em risco tem pontos fortes e fracos no tipo de equilbrio, de modo a
adequar o programa de interveno.
O facto de o teste proporcionar repetio de certas tarefas de equilbrio, para aquelas
crianas que no conseguiram cumpri-las no primeiro ensaio, permite observar o
efeito de prtica daquelas. A anlise por ns realizada da evoluo da prestao
motora ao longo dos ensaios, revelou que as crianas portadoras de DCD ou em risco
186
so sensveis ao efeito da prtica, mesmo que reduzida. Como interpretao
alternativa podemos supor que estas crianas necessitam da mais repeties para se
adaptarem aos constrangimentos de uma tarefa de equilbrio.
Embora as crianas com DCD apresentem maiores oscilaes posturais e equilbrio
comprometido (Geuze, 2005), os resultados obtidos neste estudo permitem supor que
estas crianas podem equilibrar-se e podem melhorar o seu equilbrio. O padro
dinmico dessas oscilaes poder fornecer-nos informaes adicionais sobre como
estas crianas realizam o seu controlo postural em tarefas de equilbrio, por exemplo,
se estas oscilaes so mais ou menos estocsticas. nesse sentido que esta
investigao vai evoluir.
BIBLIOGRAFIA
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, A. (2000). DSMIV-TR: Diagnostic and statistical
manual of mental disorders. (4 ed.). Washington, DC: American Psychiatric Association.
Barnhart, R. C., Davenport, M. J., Epps, S. B., & Nordquist, V. M. (2003). Developmental
coordination disorder. Physical Therapy, 83(8), 722-731.
Deconinck, F. J. A., De Clercq, D., Van Coster, R., Oostra, A., Dewitte, G., Savelsbergh,
G. J. R., . . . Lenoir, M. (2008). Sensory contributions to balance in boys with
developmental coordination disorder. Adapted Physical Activity Quarterly, 25(1), 17-
35.
Forseth, A. K., & Sigmundsson, H. (2003). Static balance in children with handeye co-
ordination problems. Blackwell Publishing Ltd, Child: Care, Health & Development,
29(6), 569579.
Fox, A. M., & Lent, B. (1996). Clumsy children. Primer on developmental coordination
disorder. Canadian Family Physician, 42, 1965-1971.
Geldhof, E., Cardon, G., De Bourdeaudhuij, I., Danneels, L., Coorevits, P.,
Vanderstraeten, G., & De Clercq, D. (2006). Static and dynamic standing balance: test-
retest reliability and reference values in 9 to 10 year old children. [Research Support,
Non-U.S. Gov't
Validation Studies]. Eur J Pediatr, 165(11), 779-786. doi: 10.1007/s00431-006-0173-5
187
Geuze, R. H. (2003). Static balance and developmental coordination disorder. Human
Movement Science, 22(4-5), 527-548. doi: DOI 10.1016/j.humov.2003.09.008
Geuze, R. H. (2005). Postural Control in Children with Developmental Coordination
Disorder. Neural Plasticity, 12, 183-196.
Gillberg, C., & Kadesjo, B. (2003). Why bother about clumsiness? The implications of
having developmental coordination disorder (DCD). Neural Plast, 10(1-2), 59-68. doi:
10.1155/NP.2003.59
Hamilton, S. S. (2002). Evaluation of clumsiness in children. American Family Physician,
66(8), 1435-1440.
Kourtessis, T., Tsougou, E., Maheridou, M., Tsigilis, N., Psalti, M., & Kioumourtzoglou,
E. (2008). Developmental Coordination Disorder in early childhood A preliminary
epidemiological study in greek school. The International Journal of Medicine, 1(2), 4.
Lam, M. Y., Ip, M. H., Lui, P. K., & Koong, M. K. (2003). How Teachers Can Assess
Kindergarten Children's Motor Performance in Hong Kong. Early Child Dev Care, 173(1),
109-118. doi: 10.1080/0300443022000022468
Lejarraga, H., Pascucci, M. C., Krupitzky, S., Kelmansky, D., Bianco, A., Martnez, E., . . .
Cameron, N. (2002). Psychomotor development in Argentinean children aged 05
years. Paediatric and Perinatal Epidemiology, 16(1), 47-60. doi: 10.1046/j.1365-
3016.2002.00388.x
Livesey, D., Coleman, R., & Piek, J. (2007). Performance on the movement assessment
battery for children by australian 3-to 5-year-old children. Child Care Health and
Development, 33(6), 713-719. doi: DOI 10.1111/j.1365-2214.2007.00733.x
Missiuna, C., Gaines, R., Mclean, J., DeLaat, D., Egan, M., & Soucie, H. (2008).
Description of children identified by physicians as having developmental coordination
disorder. Developmental Medicine and Child Neurology, 50(11), 839-844. doi: DOI
10.1111/j.1469-8749.2008.03140.x
Missiuna, C., Gaines, R., Soucie, H., & McLean, J. (2006). Parental questions about
developmental coordination disorder: A synopsis of current evidence. Paediatr Child
Health, 11(8), 507-512.
188
Missiuna, C., Rivard, L., & Bartlett, D. (2003). Early identification and risk management
of children with developmental coordination disorder. Pediatr Phys Ther, 15(1), 32-38.
doi: 10.1097/01.PEP.0000051695.47004.BF
00001577-200301510-00006 [pii]
Missiuna, C., Rivard, L., & N., P. ( 2004). Theyre Bright but Cant Write: Developmental
Coordination Disorder in school aged children. Teaching Exceptional Children Plus, 1(
1).
Sugden, D., Kirby, A., & Dunford, C. (2008). Movement Difficulties in Children:
Developmental Coordination Disorder. International Journal of Disability Development
and Education, 55(2), 93-96. doi: Doi 10.1080/10349120802033360
Venetsanou, F., & Kambas, A. (2011). The effects of age and gender on balance skills in
preschool children. Physical Education and Sport, 9(1), 10.
Westcott, S. L., Lowes, L. P., & Richardson, P. K. (1997). Evaluation of postural stability
in children: Current theories and assessment tools. Physical Therapy, 77(6), 629-645.
189
HETERONORMATIVIDADE NO VOLEIBOL: UM ESTUDO EXPLORATRIO SOBRE A
ALTURA DA REDE E CAPACIDADE DE CONCRETIZAO EM ATLETAS DOS ESCALES
JOVENS FEMININOS
Este estudo foi suportado pelo Parque de Cincia e Tecnologia do Alentejo Laboratrio de
Investigao em Desporto e Sade (ALENT-07-0262-FEDER-001883).
RESUMO
A sociedade regula-se por valores de patriarcado, os quais se refletem no s nas
expectativas sociais das prestaes motoras de raparigas e rapazes, mas tambm nas
regras desportivas diferenciadoras de gneros(Pollack, 2000; Rudman&Glick, 2008;
Wood, 2011; Labov, 1972; Weiss&Sachs, 1991 in Catela et al, 2012).
O presente estudo pretende analisar o sucesso do remate em voleibol em atletas
femininas, com a rede fixada a duas alturas distintas, a altura definida para o seu
gnero (2,24 m) e para o gnero masculino (2,35 m), no escalo correspondente
(Federao Internacional de Voleibol, 2009). Desta forma pretendemos perceber se
esta diferena normativa entre gneros adequada ou necessria.
A amostra foi composta por 8 raparigas (14,62 1,63 anos de idade) com igual tempo
de experincia na modalidade, tendo a tarefa consistido na realizao de trs ensaios
de remate rede em cada altura em estudo.
No verificmos diferenas significativasno sucesso do remate entre as duas alturas,
observando-se uma evoluo na eficcia de remate ao longo dos ensaios (ns).
Questionamos assim a necessidade de diferentes alturas derede por gnero, neste
escalo de competio.Propomos a anlise cinemtica para testar se a rede mais alta
proporciona uma execuo tcnica qualitativamente melhor (cf., Michaels&Carello,
1981 in Santos, 2012).
190
ABSTRACT
Society is regulated by patriarchy values, which are reflected not only in the social
expectations of motor performance of girls and boys, but also in gender differentials
sporting rules(Pollack, 2000; Rudman & Glick, 2008; Wood, 2011; Labov, 1972; Weiss &
Sachs, 1991 in Catela et al, 2012).
The present study aims to analyze the success of hits in volleyball in female athletes,
with the net attached to two different heights, the height defined for their gender
(2.24 m) and male gender (2.35 m), for the correspondent rank
(FederaoInternacional de Voleibol, 2009).In this way we pretend understand if this
normative difference between genres is adequate or necessary.
The sample was composed by 8 girls(14,62 1,63 years) with equal practice
experience, the task consisted of three tests of hits the net in each height studied.
We didnt verify significant differences in the success of hits between the two heights,
however it was observed an evolution in the effectiveness of hits throughout the trials
(ns).
So, we question if the difference between heights for genres in these rank of
competition is really needed. We propose cinematic analysis for testing if the higher
network provides a better technical execution. (cf., Michaels &Carello, 1981 in Santos,
2012).
Keywords: heteronormativity, volleyball, net height, hit.
INTRODUO
A nossa sociedade regula-se por valores e normas de patriarcado no que diz respeito
s expectativas sociais relativamente prestao motora das raparigas e dos rapazes
(Pollack, 2000; Rudman&Glick, 2008; Wood, 2011; Labov, 1972; Weiss&Sachs, 1991 in
Catela et al,2012).A incorporao de valores associados feminilidade e
masculinidade est tambm institucionalizada nas regras desportivas e representada
nos exerccios desportivos dirios.
O objetivo deste estudo exploratrio consistiu em analisar a existncia de fatores
antropomtricos e da habilidade motora que justifiquem a diferena de altura da rede
no gnero feminino no Voleibol.
191
Os constrangimentos, segundo diversos autores podem ser analisados luz de
diferentes dimenses (Michaels&Carello, 1981, in Santos, 2012) e conseguem
influenciar a execuo de uma dada habilidade motora e seu consequente
desempenho. Os constrangimentos podem ser segmentados em trs categorias:
constrangimentos do organismo (indivduo), constrangimentos do envolvimento e
constrangimentos da tarefa (Newell, 1986 in Santos, 2012).
Os constrangimentos da tarefa podem fornecer informaes, como orientaes ou
recomendaes para o desempenho das habilidades motoras; podem incluir os
objetivos de uma tarefa, as suas regras ou mesmo os equipamentos utilizados
(Gagen&Getchell, 2004 in Santos, 2012).
Matos, Cunha, Gregrio, Seabra e Catela (2012) estudaram os constrangimentos da
tarefa aplicados altura da barreira no atletismo numa amostra de 18 atletas (9
rapazes e 9 raparigas) e os resultados revelaram que no existem diferenas
significativas na perceo da dificuldade de execuo da tarefa por parte das raparigas
quando imposto um constrangimento como o aumento da altura da barreira o que
levou os autores a questionar a necessidade de existirem diferenas entre gneros
para a diferena de altura da barreira e distncia entre barreiras no atletismo. A
imposio desta diferena poder limitar a experincia corporal das raparigas
promovendo uma reduo de expectativas em termos de capacidade motora (Matos
et al, 2012).
No caso da prestao motora, do desporto e da atividade fsica existem valores
estritamente definidos de masculinidade e feminilidade, e.g. regras dos jogos de
voleibol, aprovadas pela Federao Internacional de Voleibol (2009) distinguindo
claramente atletas femininos e masculinos. A sociedade atual rege-se por valores e
normas dicotmicas de feminino e masculino existindo comportamentos esperados
tanto de rapazes como de raparigas.Segundo diversos autores os jogos refletem a
construo social dicotmica falada acima (Pollack, 2000; Rudman&Glick, 2008; Wood,
2011; Labov, 1972; Weiss&Sachs, 1991 in Catela et al, 2012).
Catela, Oliveira, Pinto e Mata (2012) citam Scraton (1992) referindo que as atividades
fsicas do currculo escolar contribuem para reforar a imagem de feminilidade e o
desenvolvimento de comportamento apropriado para o gnero. Os autores estudaram
192
o conceito aplicado ao tamanho da bola de basquetebol, numa amostra de 5 raparigas
e 5 rapazes e os resultados revelaram que a frequncia de concretizao com sucesso,
em ambas as bolas, no foi significativamente diferente nas raparigas; nem estas se
diferenciaram significativamente da dos rapazes (Catela, et al, 2011).
Em algumas atividades formais, como o jogo de voleibol, existem desigualdades de
gnero, com restries ou instrues de conteno corporal, o que deixa s raparigas
pouca oportunidade para explorar todas as suas capacidades fsicas (Garret, 2004; cf.
Wellard, Pickard&Bailey, 2007 in Catela et al, 2012).
O desporto est assim estruturado de modo que o poder e a dominncia masculina
sejam preservados, ditando comportamentos apropriados a cada gnero (Cunningham
& Sagas, 2008; Kolnes, 1995; Krane, 2001; Messner, 1992 in Catela et al, 2012);
O presente estudo pretende analisar o sucesso do remate em voleibol em atletas
femininas, com a rede fixada a duas alturas distintas, a altura definida para o seu
gnero (2,24 m) e para o gnero masculino (2,35 m), no escalo correspondente
(Federao Internacional de Voleibol, 2009). Pretendemos assim perceber se se esta
diferena normativa entre gneros adequada ou necessria.
A amostra foi composta por 8 raparigas (14,62 1,63 anos de idade) com igual tempo
de experincia na modalidade. A tarefa consistiu na realizao de trs ensaios de
remate rede, em cada altura em estudo; tendo sido analisados os seguintes critrios:
i) bola cai dentro das linhas do campo; ii) bola no passa a rede; iii) jogadora toca na
rede; e, iv) bola cai fora das linhas do campo.
As atletas foram filmadas atravs de quatro cmaras de vdeo Casio a 240hz colocadas
obliquamente em relao ao volume de calibrao a uma altura de 0,83 metros e a
uma distncia de 3 metros ao volume (cmaras 1 e 2) e 6 metros (cmara 3 e 4), ver
figura 1. As cmaras de vdeo foram sincronizadas atravs de um sinal luminoso e para
a calibrao foi utilizado um volume de calibrao com 1,50m x 1,50m x 1,50m.
Para a anlise antropomtrica foi seguido o protocolo de ISAK para medio da altura,
altura sentado e comprimento do membro superior com recurso a uma fita mtrica e
um banco.
193
Figura 1: Representao esquemtica do cenrio de recolha de dados.
RESULTADOS
A ordem de apresentao, a idade, experincia e as medidas antropomtricas no
influenciaram resultados.
No h diferena de prestao entre as duas alturas de rede. Embora no haja
melhoria significativa na prestao, nota-se alterao na frequncia de tipos de
prestao, para melhor, como podemos ver nos grficos abaixo.
194
Grfico 2: Sucesso e insucesso do remate ao longo dos ensaios.
DISCUSSO E CONCLUSES
No houve diferena significativa de frequncia de bola dentro das linhas, entre as
duas alturas de rede. Observando-se uma evoluo na eficcia de remate ao longo dos
ensaios (ns).
O facto de impormos um constrangimento tarefa motora no levou ao insucesso da
sua execuo. No se verificam melhorias, mas verifica-se uma tendncia de evoluo
positiva no que ao desempenho diz respeito. Desta forma, podemos questionar se se
justifica a existncia de alturas diferentes definidas para os escales jovens (femininos
face aos masculinos) podendo at mesmo questionar se o facto de aumentarmos a
altura da rede para o gnero feminino no poder por si s levar a uma maior
desenvolvimento motor tal como Michaels&Carello desenvolvem na sua obra
DirectPerception (1981 in Santos, 2012).
BIBLIOGRAFIA
Catela,D., Oliveira, H., Pinto, D., Mata, R. (2011). Heteronormatividade no
Basquetebol: um estudo exploratrio sobre tamanho da bola e capacidade de
concretizao em rapazes e raparigas praticantes. ESDRM. Rio Maior
Matos, S., Cunha, R., Gregrio, M., Seabra, A., Catela, D. (2012). Teoria da
Performatividade e Altura da Barreira no Atletismo: Constrangimentos intrnsecos em
rapazes e raparigas praticantes. ESDRM. Rio Maior
Santos, C. (2012). Constrangimentos Intrnsecos e Extrnsecos e Prestao Motora de
Crianas de 6-7 anos de idade em Habilidades Motoras Especficas. ESDRM, Rio Maior
Regras Oficiais de Voleibol, Federao Internacional de Voleibol, 2009. [consultado em
Janeiro de 2014]. Disponvel em: http://www.fivb.org/
195
INFLUNCIA DA DESORDEM DO DESENVOLVIMENTO DA COORDENAO MOTORA
NO EQUILBRIO UNIPEDAL EM CRIANAS
Tnia Rodrigues, Ana Marques, Cristiana Merc, Ana Arrais, Marco Branco, David
Catela
RESUMO
A desordem do desenvolvimento da coordenao motora (DCD) caracteriza-se por
dificuldades motoras na realizao de tarefas dirias e acadmicas, com ausncia de
desordem neurolgica ((APA), 2000).
A presente investigao pretende avaliar o padro de estabilidade postural no
equilbrio unipedal de crianas em risco de DCD, e tpicas dos 3 aos 6 anos. A amostra
foi composta por 18 crianas, 7 em risco e 11 tpicas.
Foi aplicado o teste do equilbrio esttico unipedal M-ABC2 (Movement Assessment
Battery for Children-2) (Henderson & Sugden,1992), e realizada a anlise cinemtica
tridimensional (Ariel Performance Analysis System), para as localizaes sacro, D12, C7
e vrtex.
No presente estudo, as crianas com DCD apresentam dificuldades no
desenvolvimento de habilidades e uma performance motora abaixo do esperado
comparativamente com as crianas tpicas (Van Waelvelde, De Weerdt, De Cock, &
Smits-Engelsman, 2004). Para o equilbrio esttico unipedal, e apesar de no
encontrmos diferenas significativas, as crianas em risco apresentam maior
variabilidade em todos os pontos anatmicos em comparao com as crianas tpicas.
Sendo o centro de variao superior nas crianas com risco de DCD, principalmente em
C7 e vrtex.
Para a compreenso do tipo de variabilidade presente sugere-se anlise de
recorrncia.
INTRODUO
Enquanto crescem muitas crianas tm dificuldades em vrias reas do
desenvolvimento. Apesar da inteligncia normal, algumas crianas lutam para
aprender a ler ou a fazer contas, para executar todos os dias tarefas motoras, para
entender as normas sociais e/ou com problemas de ateno. Como classificar os
diversos transtornos do desenvolvimento, tem sido, e continua a ser, uma questo
muito debatida (Iversen, Berg, Ellertsen, & Tonnessen, 2005).
Tm sido utilizados uma variedade de termos, com o fim de descrever as crianas com
dificuldades de coordenao motora (C. Missiuna & Polatajko, 1995). Numa
conferncia de consenso em 1994, os pesquisadores concordaram em usar o termo "
197
Desordem no Desenvolvimento da Coordenao Motora (DCD) do sistema de
classificao DSM-IV. De acordo com os critrios da Diagnostic and Statistical Manual
of Mental Disorders, fourth edition (DSM-IV), as crianas devero apresentar uma
funo motora significativamente abaixo da sua idade cronolgica, o seu
comprometimento motor dever interferir significativamente com as atividades da
vida diria, no devendo estar relacionado com uma condio mdica ((APA), 1994).
A DCD surge em crianas muito novas como dificuldade em aprender e executar
habilidades motoras que necessitem de coordenao motora. Tarefas manipulativas,
atividades desportivas e de recreao, reteno e aprendizagem de novas habilidades
motoras, lentido na realizao das tarefas motoras, atraso no desenvolvimento motor
e falta de dedicao a uma atividade fsica - so vrios os itens em que as crianas com
DCD apresentam dificuldades (Castelnau, Albaret, Chaix, & Zanone, 2007; C. Missiuna,
Gaines, Soucie, & McLean, 2006; Schoemaker et al., 2006; Wang, Tseng, Wilson, & Hu,
2009), repercutindo-se em elevados nveis de angstia, fracasso escolar e problemas
psicolgicos (Losse et al., 1991).
O estudo em crianas com DCD tem surgido como uma linha vibrante de interrogatrio
nas ltimas duas dcadas. A literatura indica claramente que as crianas com DCD
exibem dfices em habilidades da vida preceptivo-motoras e dirias. Os movimentos
de crianas com DCD so frequentemente descritos como desajeitados e
descoordenados e levam a dificuldades na realizao de muitas atividades da vida
diria e desportos que as crianas com um desenvolvimento normal realizam com
facilidade. Se a coordenao motora a capacidade de estabelecer relaes entre os
graus de liberdade do nosso aparelho locomotor, de modo controlado e organizado
(Manoel, 2009), ento no caso da DCD, h problema no desenvolvimento desta
capacidade. Uma criana poder ter dificuldade em sequenciar as aes motoras da
tarefa, ou executar uma ao motora temporalmente e espacialmente coordenada (C.
MISSIUNA, 2003).
A DCD exprime-se assim por dificuldades motoras em tarefas dirias e acadmicas,
com ausncia de desordem neurolgica (APA, 2000). Afetando 5 a 10% das crianas
em idade escolar, com maior incidncia em crianas do sexo masculino num rcio de
2:1 (Barnhart, Davenport, Epps, & Nordquist, 2003; Gillberg & Kadesjo, 2003).
198
A aquisio do andar, correr e pular e as inmeras variaes locomotoras destas
habilidades, o problema do equilbrio de vital importncia na aquisio de variadas
habilidades motoras. O prprio desenvolvimento de equilbrio tem sido a varivel
dependente de inmeros estudos. O equilbrio esttico, medido pelo equilbrio sobre
cada p pelo mximo de tempo possvel, foi usado Morris et al (1982) para avaliar o
desempenho de crianas dos 3 aos 6 anos de idade e progressos na habilidade de
equilibrar-se foram notadas em cada nvel de idade sucessivo (Eckert, 1987).
O controlo postural constitui o suporte para todo e qualquer ajustamento mecnico e
comportamental que se possa estabelecer como oposio fora da gravidade, ou a
qualquer outra fora, externa. Este controlo, baseado em processos de
adaptao/cooperao de vrias estruturas cerebrais, mantido atravs da
fixao/controlo de diferentes segmentos corporais (articulaes, cinturas, etc.)
assegurando uma relao de estabilidade, flexibilidade e resistncia entre o corpo, os
objetos, e os obstculos do meio envolvente. O controlo postural depende da
informao proveniente de diferentes sistemas sensrios-motores que, evoluindo de
forma assncrona, vo condicionar o desenvolvimento do controlo do equilbrio
(Barreiros, 2004).
O equilbrio auxilia o movimento e a manuteno da postura (Westcott, Lowes, &
Richardson, 1997), e requer a interao de trs fontes: visual, propriocetiva e
vestibular (Deconinck et al., 2008).
O equilbrio pode ser classificado como: i) esttico - a capacidade de manter a postura
numa posio de repouso; e, ii) dinmico - a capacidade de manter o controlo postural
durante a execuo de habilidades motoras (Westcott et al., 1997). As crianas com
DCD evidenciam dificuldades de equilbrio em tarefas motoras (Deconinck et al., 2008;
Geuze, 2003; Hamilton, 2002; C. Missiuna et al., 2008; C. Missiuna, Rivard, & N., 2004).
O sexo e a idade so duas das variveis que influenciam a prestao de equilbrio
(Venetsanou & Kambas, 2011). Alguns estudos apontam para melhores resultados na
habilidade de equilbrio nas raparigas (e.g., Geldhof et al., 2006; Lam, Ip, Lui, & Koong,
2003; Lejarraga et al., 2002); enquanto outros no encontram diferenas significativas
(Kourtessis et al., 2008).
199
Deconinck et al (2008) compararam o controlo postural durante o equilbrio bilateral
em 20 crianas (10 com DCD e 10 sem DCD), com 4 condies diferentes: com e sem
viso, e em superfcie fixa ou instvel. Verificaram que em todas as condies, a
velocidade mdia de oscilao postural foi maior nos rapazes com DCD, apesar destes
terem obtido uma pontuao normal nos itens de equilbrio no M-ABC.
Das tentativas que tm sido feitas para classificar a populao em subtipos
homogneos, pode concluir-se que 73-87% das crianas com DCD realmente tm
problemas de equilbrio (Macnab, Miller, & Polatajko, 2001).
Livesey, Coleman, & Piek (2007) utilizaram o M-ABC para avaliar a performance de 513
crianas australianas entre os 3 e os 5 anos. Na tarefa de equilbrio esttico (equilibrar
numa perna), as raparigas equilibram-se durante mais tempo em todas as idades.
Tsai comparou os perfis de oscilao postural em crianas com 9/10 anos com DCD e
problemas de equilbrio (DCD-BP, n = 64) com crianas sem DCD (n = 71). Foi medido o
equilbrio com e sem viso durante 30 segundos, parado sobre a perna dominante,
perna no-dominante, ou ambas. As crianas com DCD apresentaram maior
dificuldade em p sobre a perna no-dominante, com os olhos abertos e
fechados(Tsai, Wu, & Huang, 2008).
Teorias mais recentes do controlo motor, como a teoria ecolgica, ou a teoria dos
sistemas dinmicos, defendem que o controlo postural emerge de uma interao dos
sistemas nervoso e msculo-esqueltico, constituindo coletivamente o sistema de
controlo postural. Segundo estas teorias a organizao/dinmica dos elementos do
sistema de controlo postural influenciada quer pela tarefa a desempenhar, quer pelo
envolvimento em que a tarefa realizada (Barreiros, 2004).
Em biomecnica, a Lei do Equilbrio depender de vrios fatores, tais como o peso,
base de sustentao, da altura do centro de gravidade ao solo, das estratgias r
equilibradoras, do aproveitamento de foras externas, ter o corpo descontrado
perante as foras perturbadoras, da ao reao dos segmentos do corpo, etc. Embora
a criana apresente uma altura menor pressupondo maior estabilidade, apresenta
relativamente ao adulto um desvio do centro de massa corporal da L5-S1 para T12, o
que faz com que ela oscile com maior velocidade e tenha assim mais dificuldade em
recuperar de situaes de desequilbrio (Barreiros, 2004).
200
A presente investigao pretende analisar o padro de estabilidade postural do
equilbrio unipedal em crianas com, em risco de DCD, e tpicas dos 3 aos 6 anos.
Pretendendo ainda perceber se existem diferenas significativas no padro de
estabilidade entre estes trs grupos em estudo.
A amostra foi composta por 18 crianas entre os 3 e os 6 anos de idade, dos Jardins-
de-Infncia do Concelho de Rio Maior. Entre elas, 7 em risco de DCD e 11 crianas
tpicas, sem DCD.
Para a realizao do presente estudo foi aplicado o teste de equilbrio unipedal da
bateria M-ABC (Movement Assessment Battery for Children - 2), e realizada a anlise
cinemtica tridimensional do movimento para as localizaes do vrtex, C7, D12 e
sacro, atravs do software APAS (Ariel Performance Analysis System). De seguida,
iremos analisar abaixo os testes utilizados, bem como os procedimentos e protocolos
aplicados.
O teste ABC Movement (1992) elaborado por Henderson e Sugden uma bateria de
teste, com normas e critrios referenciados, composto por dois instrumentos
complementares: os testes motores e a checklist do desempenho motor. O MABC d
indicaes motoras funcionais das crianas no seu dia-a-dia bem como fornece uma
estimativa da competncia motora em termos da velocidade ou preciso. De acordo
com (Smits-Engelsman, Fiers, Henderson, & Henderson, 2008) o M-ABC fornece um
meio robusto para classificar as crianas em normais ou tpicas, situao de risco ou
que com DCD, tendo sido desenvolvido especificamente para auxiliar os profissionais
responsveis por ajudar as crianas com dificuldades de coordenao motora.
Esta bateria compreende trs componentes, um teste padronizado, uma lista de
verificao descrita no manual e um manual de abordagem ecolgica de interveno
para crianas com dificuldades de movimentao. Ainda assim, o teste divide-se em
trs faixas etrias (ABs): AB 1: 3 a 6 anos; AB 2: 7 a 10 anos; AB 3: 11 aos 16 anos. Em
cada faixa etria, so agrupadas oito tarefas, divididas em trs categorias: destreza
manual (3 tarefas), habilidade com bola (2 tarefas) e equilbrio esttico e dinmico (3
tarefas). Quanto classificao e atribuio de valores referentes performance de
cada tarefa, esta poder variar entre os valores 0 e 5. Esta pontuao feita com base
no tempo de execuo da tarefa ou no nmero de execues corretas em que o zero
201
(0) anudo melhor performance e cinco (5) pior performance. A pontuao total
ser o resultado das pontuaes intermdias das tarefas, podendo por isso variar
entre 0 e 40. De acordo com os resultados no teste M-ABC, se as crianas se
encontrarem entre o 1 e o 5 percentil, devero ser considerados portadores de DCD;
se estiverem entre o 5 e o 10 percentil, a criana dever ser observada e
acompanhada, pois encontrar-se- em risco; a partir do 15 percentil a criana est
isenta de dificuldades motoras (Sheila E. Henderson, 2007).
No presente estudo apenas foi aplicado o teste de equilbrio unipedal da bateria M-
ABC. Inicialmente foram consultadas as instituies escolares pblicas (Jardins de
Infncia) com o objetivo de explicar a pertinncia e interesse do estudo, pedindo a
autorizao para a realizao do mesmo nas instituies. Aps o entendimento de
ambas as partes foi entregue aos pais e/ou Encarregados de Educao, um documento
explicativo do estudo, solicitando a autorizao para o participao dos seus
educandos.
Durante a aplicao do teste de equilbrio esttico unipedal M-ABC 2 cada criana foi
avaliada isoladamente e de acordo com o protocolo do instrumento, com o
consentimento informado e assentimento. Para a aplicao do teste estiveram
presentes dois avaliadores, em que um submetia a criana ao teste, de acordo com as
normas de aplicao e protocolo adequado e outro manteve-se atrs das cmaras,
dando incio e trmino s filmagens, assim como ao registo dos tempos. Neste teste a
criana levanta um p do tapete ( escolha) ao sinal da investigadora, ficando com os
braos descontrados lateralmente, e mantendo a posio durante o tempo mximo
de 30 segundos. A criana deve manter o p de apoio fixo, devendo manter a perna
livre em qualquer posio de modo a que esta no toque no cho. Colocar o p livre a
volta da perna de apoio no permitido. O tempo comea a contar assim que o p
livre deixa de estar em contato com o solo (tapete). O cronmetro dever parar assim
que ocorre uma falta. A criana poder escolher qual a perna que ir elevar primeiro,
devendo realizar o teste com ambas as pernas contado a melhor de duas tentativas.
De forma a permitir a anlise cinemtica do movimento, as recolhas foram filmadas
utilizando marcadores (leds) nos pontos anatmicos em estudo, vrtex, C7, D12 e
sacro. Antes da realizao de recolhas procedeu-se preparao das mesmas:
202
montagem das duas cmaras; montagem e filmagem do cubo de calibrao e ponto
fixo para registo dos pontos de referncia e coordenadas; efetuou-se a fixao dos leds
refletores nos pontos anatmicos a observar na criana, dano incio ao teste de
equilbrio unipedal.
Desta forma, tendo em conta o teste em estudo bem como todo o procedimento de
recolhas foram utilizados os seguintes materiais: duas cmaras de filmar com trip; 1
cubo de calibrao; tapete e cronmetro da bateria de testes M ABC 2; 5 Leds, fita
mtrica e o software APAS.
Para o tratamento estatstico foi utilizado o software SPSS (verso 22), tendo sido
realizada estatstica descritiva e comparao entre grupos. Para tal foi utilizado o teste
T para 2 amostras independentes com distribuio normal (C7, Vertex, Sacro), e o teste
de U-Mann Whitney para 2 amostras independentes sem normalidade na distribuio
(D12).
RESULTADOS
Na tabela 1 apresentamos a mdia do coeficiente de variao (CV) de cada ponto
anatmico das crianas sem DCD e em Risco de DCD:
De acordo com a tabela 1, podemos observar que o centro de variao do vrtex indica
maior variao que qualquer outro ponto anatmico, nas crianas com risco de DCD,
estando a C7 imediatamente abaixo com um centro de variao de 0,6 nas crianas
com risco de DCD, comparado com 0,4 nas crianas sem DCD.
203
Grfico 1: Coeficiente de Variao por ponto anatmico e por grupo (sem DCD, Risco
DCD).
Tabela 2
Mnimo, Mximo, Mdia e Desvio Padro do Grupo sem DCD e com Risco DCD.
DISCUSSO
Atravs da anlise dos resultados e das tabelas apresentadas, conclui-se que o grupo
em Risco de DCD apresentam uma maior variao em todos os pontos anatmicos
quando comparados com o grupo sem DCD, ou seja, existe maior variabilidade neste
grupo, contudo e comparando os grupos no existem diferenas significativas entre
eles.
204
O vrtex dever ser um ponto em que maior estabilidade se devia notar, no entanto
este ponto onde existe maior variabilidade em ambos os grupos. Talvez se possa
explicar este facto atravs das idades das crianas serem baixas. No entanto, o papel
postural da cabea tem um papel determinante, s com a fixao da cabea que a
criana poder prestar ateno a algum sua frente, orientar, alcanar, ou manter os
braos em extenso, lateralmente com as mos abertas. Assim, os reflexos tnicos do
pescoo, ptico-cintico e labirntico, as reaes de endireitamento do corpo, as
reaes de fixao postural, e as reaes de proteo, so considerados reflexos
posturais que contribuem para o desenvolvimento postural. A viso assume tambm
um papel importante no controlo postural, comeando por estar associada a uma
forma de controlo da cabea, mantendo-a orientada em frente (Barreiros, 2004).
Apesar de no existirem diferenas significativas entre os grupos, o centro de variao
dos pontos anatmicos observados nas crianas com risco de DCD, maior em todos
os pontos, notando-se maior variao nos pontos C7 e vrtex, ou seja, estes dados, vo
de encontro literatura, de acordo com a reviso apresentada, as crianas com
distrbio no desenvolvimento da coordenao motora evidenciam dificuldades de
equilbrio em tarefas motoras, e notrio pela apresentao de resultados que estas
crianas apresentam maior variabilidade em todos os pontos.
CONCLUSO
No foram encontrados quaisquer estudos cinemticos em crianas com e em risco de
DCD no equilbrio esttico unipedal, parte-se partida que este estudo seja um dos
primeiros nesta rea, com crianas com distrbios do desenvolvimento da
coordenao motora. No entanto, so necessrios mais estudos para uma maior
investigao acerca destas crianas.
De acordo com a literatura, as crianas com DCD apresentam dificuldades no
desenvolvimento de habilidades ou competncias de movimento, e uma performance
motora abaixo do esperado aquando da realizao de habilidades motoras
comparativamente com outras crianas com semelhante idade (Van Waelvelde et al.,
2004). Ainda assim, conclui-se atravs deste estudo que no existem diferenas
significativas entre o grupo sem e com risco de DCD, contudo, afirma-se um centro de
205
variao com maior variabilidade nas crianas com risco de DCD, em todos os pontos
anatmicos, tendo maior incidncia nos pontos C7 e vrtex. necessrio compreender
o tipo de variabilidade encontrado, sugere-se a anlise de recorrncia.
BIBLIOGRAFIA
(APA), A. P. A. (1994). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (DSM-IV)
(W. D. A. P. Press Ed. Vol. 4th ed.).
(APA), A. P. A. (2000). Diagnostic and statistical manual of mental disorders (D. A. P. A.
Washington Ed. 4th ed. Text Revision ed.).
Barnhart, R. C., Davenport, M. J., Epps, S. B., & Nordquist, V. M. (2003). Developmental
coordination disorder. Phys Ther, 83(8), 722-731.
Barreiros, J. ( 2004). Desenvolvimento e Aprendizagem. Perspectivas Cruzadas.
(faculdade de Motricidade Humana ed.).
Castelnau, P. d., Albaret, J. M., Chaix, Y., & Zanone, P. G. (2007). Developmental
coordination disorder pertains to a deficit in perceptuo-motor synchronization
independent of attentional capacities. Human Movement Science, 26(3), 477-490.
Deconinck, F. J. A., De Clercq, D., Van Coster, R., Oostra, A., Dewitte, G., Savelsbergh,
G. J. R., . . . Lenoir, M. (2008). Sensory contributions to balance in boys with
developmental coordination disorder. Adapted Physical Activity Quarterly, 25(1), 17-
35.
Eckert, H. M. (1987). Desenvolvimento Motor (3 ed. ed.).
Geldhof, E., Cardon, G., De Bourdeaudhuij, I., Danneels, L., Coorevits, P.,
Vanderstraeten, G., & De Clercq, D. (2006). Static and dynamic standing balance: test-
retest reliability and reference values in 9 to 10 year old children. Eur J Pediatr,
165(11), 779-786. doi: 10.1007/s00431-006-0173-5
Geuze, R. H. (2003). Static balance and developmental coordination disorder. Human
Movement Science, 22(4-5), 527-548. doi: DOI 10.1016/j.humov.2003.09.008
Gillberg, C., & Kadesjo, B. (2003). Why bother about clumsiness? The implications of
having developmental coordination disorder (DCD). Neural Plast, 10(1-2), 59-68. doi:
10.1155/NP.2003.59
206
Hamilton, S. S. (2002). Evaluation of clumsiness in children. American Family Physician,
66(8), 1435-1440.
Iversen, S., Berg, K., Ellertsen, B., & Tonnessen, F. E. (2005). Motor coordination
difficulties in a municipality group and in a clinical sample of poor readers. Dyslexia,
11(3), 217-231.
Kourtessis, T., Tsougou, E., Maheridou, M., Tsigilis, N., Psalti, M., & Kioumourtzoglou,
E. (2008). Developmental Coordination Disorder in early childhood A preliminary
epidemiological study in greek school. The International Journal of Medicine, 1(2), 4.
Lam, M. Y., Ip, M. H., Lui, P. K., & Koong, M. K. (2003). How Teachers Can Assess
Kindergarten Children's Motor Performance in Hong Kong. Early Child Dev Care, 173(1),
109-118. doi: 10.1080/0300443022000022468
Lejarraga, H., Pascucci, M. C., Krupitzky, S., Kelmansky, D., Bianco, A., Martnez, E., . . .
Cameron, N. (2002). Psychomotor development in Argentinean children aged 05
years. Paediatric and Perinatal Epidemiology, 16(1), 47-60. doi: 10.1046/j.1365-
3016.2002.00388.x
Livesey, D., Coleman, R., & Piek, J. (2007). Performance on the movement assessment
battery for children by australian 3-to 5-year-old children. Child Care Health and
Development, 33(6), 713-719. doi: DOI 10.1111/j.1365-2214.2007.00733.x
Losse, A., Henderson, S. E., Elliman, D., Hall, D., Knight, E., & Jongmans, M. (1991).
Clumsiness in Children - Do They Grow out of It - a 10-Year Follow-up-Study.
Developmental Medicine and Child Neurology, 33(1), 55-68.
Macnab, J. J., Miller, L. T., & Polatajko, H. J. (2001). The search for subtypes of DCD: is
cluster analysis the answer? Hum Mov Sci, 20(1-2), 49-72.
Manoel, L. E. B. P. T. D. E. d. J. (2009). Crianas com dificuldades motoras: questes
para a conceituao do transtorno do desenvolvimento da coordenao. 15, n. 03, p.
293-313.
MISSIUNA, C. (2003). Children with Developmental Coordination Disorder: At home
and in the Classroom. CanChild. Centre for Chilldhood Disabillity Research.
Missiuna, C., Gaines, R., Mclean, J., DeLaat, D., Egan, M., & Soucie, H. (2008).
Description of children identified by physicians as having developmental coordination
207
disorder. Developmental Medicine and Child Neurology, 50(11), 839-844. doi: DOI
10.1111/j.1469-8749.2008.03140.x
Missiuna, C., Gaines, R., Soucie, H., & McLean, J. (2006). Parental questions about
developmental coordination disorder: A synopsis of current evidence. Paediatr Child
Health, 11(8), 507-512.
Missiuna, C., & Polatajko, H. (1995). Developmental dyspraxia by any other name: are
they all just clumsy children? Am J Occup Ther, 49(7), 619-627.
Missiuna, C., Rivard, L., & N., P. ( 2004). Theyre Bright but Cant Write: Developmental
Coordination Disorder in school aged children. Teaching Exceptional Children Plus, 1(
1).
Schoemaker, M. M., Flapper, B., Verheij, N. P., Wilson, B. N., Reinders-Messelink, H. A.,
& de Kloet, A. (2006). Evaluation of the developmental coordination disorder
questionnaire as a screening instrument. Developmental Medicine and Child
Neurology, 48(8), 668-673.
Sheila E. Henderson, D. A. S., Anna L. Barnett. (2007). Movement Assessment Battery
for Children-2, Examiners Manual.
Smits-Engelsman, B. C., Fiers, M. J., Henderson, S. E., & Henderson, L. (2008). Interrater
reliability of the Movement Assessment Battery for Children. Phys Ther, 88(2), 286-
294. doi: 10.2522/ptj.20070068
Tsai, C. L., Wu, S. K., & Huang, C. H. (2008). Static balance in children with
developmental coordination disorder. Hum Mov Sci, 27(1), 142-153. doi:
10.1016/j.humov.2007.08.002
Van Waelvelde, V. H., De Weerdt, W., De Cock, P., & Smits-Engelsman, C. M. (2004).
Ball Catching Performance in Children with Developmental Coordination Disorder.
Adapted Phsysical Activity Quarterlity, 21, 348-363.
Venetsanou, F., & Kambas, A. (2011). The effects of age and gender on balance skills in
preschool children. Physical Education and Sport, 9(1), 10.
Wang, T. N., Tseng, M. H., Wilson, B. N., & Hu, F. C. (2009). Functional performance of
children with developmental coordination disorder at home and at school.
Developmental Medicine and Child Neurology, 51(10), 817-825.
208
Westcott, S. L., Lowes, L. P., & Richardson, P. K. (1997). Evaluation of postural stability
in children: Current theories and assessment tools. Physical Therapy, 77(6), 629-645.
209
OBSERVAO DOS PADRES COMPORTAMENTAIS NO SALTO DE PARTIDA EM
NATAO PURA PARA NADO VENTRAL
RESUMO
O presente estudo teve como objetivo a anlise da estabilidade do padro tcnico na
partida de natao pura para nado ventral, atravs de um instrumento ad Hoc de
registo dos comportamentos observados durante a visualizao das partidas.
Recorrendo metodologia observacional, o estudo centrou-se na caracterizao dos
padres motores de seis nadadores de elite Portugueses, trs masculinos e trs
femininos, especialistas em provas de velocidade e meio fundo.
Os resultados demonstraram que cada um dos nadadores apresenta o seu prprio
padro comportamental. Foi possvel verificar que ao nvel dos segmentos corporais
como a anca, ps e cabea, existem um elevado nvel de concordncia dos nadadores
quer masculinos quer feminino, existindo uma maior variao ao nvel dos membros
superiores e inferiores. De realar ainda nos nadadores do sexo feminino a existncia
de um padro comum entre as duas nadadoras de meio fundo no 3 momento de
anlise e um padro diferente da nadadora de velocidade/ Meio-Fundo que adota um
voo mais agressivo, forado pela preocupao de obter uma sada do bloco mais
rpida e eficaz minimizando deste modo a perda de tempo.
210
ABSTRACT
This study aims to analyze the stability of the technical standard in starting swimming
for pure ventral swim through an "ad hoc" registration of behaviors observed during
viewing of films. Using the observational methodology, the study focused on the
characterization of motor patterns of six elite Portuguese swimmers, three males and
three females, experts in the sprints and middle distance.
The results showed that each of the swimmers has his own behavioral pattern. It was
possible to verify that in the level of body segments such as hip, feet and head, there is
a high level of agreement of both male and female swimmers, and there is a great
variation in terms of upper and lower limbs. Also worth highlighting the female
swimmers existence of a common pattern between the two swimmers middle bottom
on the 3rd time analysis and a different pattern of swimming speed / Half-Fund adopts
a flight more aggressive, forced by the need to obtain a start of the block quicker and
more effective thereby minimizing loss of time.
INTRODUO
A natao pura desportiva tm-se desenvolvido, com base em pressupostos cientficos,
no sentido de procurar quebrar barreiras na procura da vitria ou do estabelecer de
novos recordes. Contudo, o alcanar destes objetivos est sustentado em diferenas
mnimas que podem ir de dcimos at centsimos de segundo. Segundo Maglisho
(2003), a partida desempenha um papel de grande importncia no desenrolar da prova
de natao pura desportiva e, consequentemente, no resultado final, pois pode
representar 10% do tempo total para provas de 50 metros e 5% em provas de 100
metros, ou seja, uma melhoria da tcnica de partida pode vir a reduzir os tempos das
provas, em mdia, em pelo menos 0,1s. Ainda segundo este autor, o grande objetivo
da partida reside na impulso do nadador para a frente, o mais rapidamente possvel,
e o seu voo deve ser alargado porque assim que o nadador entra na gua as foras de
arrasto provocam uma diminuio da velocidade.
211
Existem alguns estudos realizados no que diz respeito diviso da partida em fases e
anlise das mesmas, o caso do estudo realizado por Zatsiorsky et al (1979) que
dividiram o tempo de partida desde o sinal de partida at uma distncia de 5,5 metros
em trs partes: 1.Tempo de suporte (tempo que vai desde o sinal de partida at o p
deixar o bloco de partida); 2.Tempo de voo (desde a sada do bloco at entrada da
cabea na gua); 3.Tempo de deslize (representa o perodo de tempo desde a entrada
da cabea gua at o p atravessar a marca dos 5,5 metros), entretanto outros autores
recorrendo a estudos similares para defenderem outras doutrinas, recorrendo
diviso dos momentos por fases do praticante. Maglisho (1982) defende quatro fases
(1.Preparatria 2.Salto 3.Voo 4.Deslize) vindo mais tarde em 1993 afirmar que a
tcnica de partida poderia ser dividida em 7 fases (1.Preparatria 2.Impulso
3.Mergulho do bloco 4.Voo 5.Entrada 6.Deslize 7.Sada). Outro caso ainda assenta na
diviso da partida em 4 fases, o caso de Rushall (1992): 1.Exploso, 2.Voo e entrada,
3.Batimento Subaqutico, 4.Emerso.
No que diz respeito diviso da partida em fases e anlise da mesma, o caso do
estudo realizado por Zatsiorsky et al. (1979) que dividiram o tempo de partida desde o
sinal de partida at uma distncia de 5,5 metros em trs partes: (I) Tempo de suporte
(tempo que vai desde o sinal de partida at o p deixar o bloco de partida); (II) Tempo
de voo (desde a sada do bloco at entrada da cabea na gua); (III) Tempo de deslize
(representa o perodo de tempo desde a entrada da cabea gua at o p atravessar a
marca dos 5,5 metros).
Outro caso de estudos realizados com base na diviso da partida em fases, o caso de
Rushall (1992), que divide o salto de partida em 4 fases: (I) Exploso, (II) Voo e entrada,
(III) Batimento Subaqutico, (IV) Emerso.
Estudos mais recentes, como o de Garcia (2002), definem o tempo de partida segundo
a seguinte forma: (I) Tempo de reaco; (II) Tempo de impulso; (III) Tempo de voo; (IV)
Tempo de deslize. Este autor considera a partida realizada a partir do sinal sonoro, a
reaco (entre o sinal de partida e o primeiro movimento de impulso), o impulso
(desde o primeiro movimento de impulso at os ps deixarem de ter apoio no bloco de
partida), o voo (desde o despegue do bloco de partida at ao contacto com a gua) e o
212
deslize (desde o primeiro contacto com a gua at ao primeiro movimento de nado-
primeiro movimento com as mos).
Face ao exposto decidimos analisar a partida em cinco fases distintas, trs fases no
bloco, uma no voo e outra na entrada e deslize. As trs fases do bloco dizem respeito
(I) preparao do atleta (Fase Preparatria), (II) ao momento em que o atleta deixa de
estar em contacto com as mos no bloco, (III) ao momento em que o atleta deixa de
estar em contacto com os ps no bloco. No voo ir ser analisado o momento em que o
centro de massa do atleta atinge o ponto mais alto. Por fim a ultima fase a ser
analisada diz respeito ao momento em que o atleta entra em contacto com a
superfcie da gua. Assim criamos e validados um ad hoc de observao capaz de
transmitir informao pertinente e til para o treinador de Natao Pura Desportiva na
partida para nado ventral.
Este estudo pretende analisar o comportamento dos nadadores quanto existncia de
padres motores numa partida para nado ventral. Permite aos treinadores criar
solues para os erros efetuados.
METODOLOGIA
Neste trabalho recorreu-se a uma metodologia observacional como procedimento de
investigao, usual em situaes de contexto, tendo um desenho assente em critrios
fundamentais, a saber: pontual (uma s seo mas com uma estrutura de
seguimento), nomottico (ambos os nadadores tm um vinculo comum realizam a
Track Start) e monodimensional (estudo das condutas apenas numa dimenso). O
objeto de estudo o indivduo, perspetiva ideogrfica, inserido numa prova que efetua
sem presena de outros nadadores. Ao se pretender caracterizar a execuo motora
de um indivduo fundamental perceber os comportamentos crticos, de modo a
rentabilizar os objetivos, quer parciais, quer globais.
213
AMOSTRA
A amostra do estudo foi formada por seis nadadores de maio fundo pertencentes
seleo Nacional Portuguesa, trs masculinos e trs femininos, portugueses de nvel
nacional e com mais de cinco anos de treino. So nadadores com idades
compreendidas entre os dezassete e os vinte e nove anos e todas de nvel nacional e
com experincias e resultados internacionais. A seleo da amostra obedeceu a
critrios de convenincia, baseada na performance dos atletas, ou seja, os atletas
escolhidos tem todos recordes pessoais com mais de 700 pontos FINA e alguns com
mais de 800 pontos.
AMOSTRA OBSERVACIONAL
PROCEDIMENTOS
Procedimentos de recolha de dados
Para o registo de imagem foi utilizada uma cmara SONY Mini-DV. As imagens
posteriormente foram guardadas no disco rgido do computador porttil (Asus, 2.0
MHz). Para a visualizao das imagens e de modo a registar as ocorrncias de cada
critrio, foi utilizado o software Windows Mdia Player. A cmara foi colocada a 5
metros da superfcie da gua ficando perpendicular mesma de modo a filmar os
nadadores no plano frontal. A cmara tinha um ngulo de captao perpendicular ao
trajeto do nadador e uma altura de 1,20 metros de modo a que o ngulo de obturao
da cmara fosse capaz de filmar o trajeto do nadador at uma distncia de 5 metros.
214
RESULTADOS
Anlise descritiva
Nos quadros que indicam os valores de frequncias e ndice de estabilidade, podemos
verificar que em todos os momentos o N corresponde a 3, ou seja, os 3 nadadores de
cada gnero analisados no salto de partida. Por seu lado, o IE corresponde ao ndice de
Estabilidade, e indica-nos a estabilidade do gesto motor, que se encontra decifrado por
uma configurao, ou seja, compara a estabilidade entre os trs nadadores de cada
gnero de modo a procurar padres comuns entre os vrios nadadores. O quadro 1 diz
respeito aos nadadores masculinos e o quadro 2 aos nadadores do sexo feminino.
Momentos de
Configuraes N IE
Observao
1L2,1L6,1F1,1F3,1H3,1W2,1W4,1A1,1A5 1 0,33
1 1L3,1L5,1F2,1F3,1H3,1W2,1W4,1A1,1A5 1 0,33
1L2,1L6,1F1,1F3,1H3,1W2,1W4,1A1,1A4 1 0,33
2L3,2L6,2F1,2H1,2W2,2W4,2A1,2A4 1 0,33
2 2L3,2L6,2F1,2H1,2W2,2W4,2A1,2A5 1 0,33
2L3,2L5,2F1,2H1,2W2,2W4,2A3,2A4 1 0,33
3L1,3L4,3L8,3H1,3F1,3F4,3W1,3A2,3A5 1 0,33
3 3L1,3L4,3L8,3H1,3F1,3F3,3W1,3A3,3A4 1 0,33
3L1,3L4,3L8,3H1,3F1,3F3,3W1,3A1,3A5 1 0,33
4L1,4L4,4L8,4L10,4L12,4H1,4F1,4F4,4W3,4A3,4A5,4A9,4A1 1 0,33
4 4L1,4L4,4L8,4L11,4L14,4H1,4F1,4F3,4W3,4A3,4A6,4A9,4A10 1 0,33
4L1,4L4,4L8,4L10,4L12,4H1,4F1,4F3,4W1,4A1,4A4,4A9,4A11 1 0,33
5L1,5L4,5L8,5L11,5L14,5H1,5F1,5F3,5W1,5A2,5A4,5A7 1 0,33
5 5L3,5L6,5L7,5L9,5L12,5H1,5F1,5F3,5W1,5A2,5A4,5A7 1 0,33
5L1,5L4,5L7,5L11,5L14,5H1,5F1,5F3,5W1,5A2,5A4,5A7 1 0,33
215
No entanto existem padres muito semelhantes entre os nadadores do sexo
masculino. No 1 momento ao nvel da cabea e anca todos os nadadores apresentam
a mesma configurao de movimentos, existindo uma maior variao ao nvel dos
membros inferiores, ps e membros superiores, principalmente no nadador 2 em
relao ao nadador 1 e 3.
No 2 momento ao nvel dos membros inferiores todos os nadadores apresentam um
padro igual exceto o nadador 3 que apresenta um comportamento diferente na ao
motora do membro inferior direito. Ao nvel dos ps, cabea e anca todos os
nadadores apresentam a mesma configurao de movimentos. Ao nvel dos membros
superiores existe uma grande variao entre os nadadores.
No 3 momento, ao nvel dos membros inferiores e anca todos os nadadores
apresentam o mesmo comportamento. Existe uma variao de movimentos ao nvel
do nadador 1 no que diz respeito ao p direito e em relao aos membros superiores
todos os nadadores apresentam padres de comportamento diferente.
No 4 momento, ou seja, quando o centro de gravidade do nadador atinge o ponto
mais alto (voo) todos os nadadores apresentam padres comportamentais diferentes,
exceto ao nvel dos membros inferiores, na ao motora do membro inferior direito,
esquerdo e entre si, onde todos os nadadores apresentam um comportamento
comum.
No 5 momento, entrada das mos na gua, o momento onde se verifica maior
semelhana (7 dos 12 critrios foram cumpridos pelos 3 atletas). Apenas ao nvel dos
membros inferiores existe diferenas nos comportamentos dos nadadores. No que diz
respeito os membros superiores, anca, ps e cabea, todos os nadadores apresentam
os mesmos padres comportamentais.
216
Quadro 2. Valores de frequncias e ndice de estabilidade dos nadadores do sexo
feminino.
Momentos de
Configuraes N IE
Observaao
1L3,1L5,1F2,1F3,1H2,1W3,1W4,1A1,1A5 1 0,33
1 1L1,1L5,1F2,1F3,1H3,1W2,1W4,1A1,1A5 1 0,33
1L3,1L5,1F2,1F3,1H3,1W3,1W5,1A3,1A4 1 0,33
2L3,2L5,2F1,2H3,2W2,2W4,2A1,2A5 1 0,33
2 2L3,2L6,2F1,2H3,2W2,2W4,2A1,2A4 1 0,33
2L3,2L5,2F1,2H1,2W3,2W4,2A3,2A4 1 0,33
3L1,3L4,3L8,3H1,3F1,3F3,3W1,3A1,3A5 2 0,66
3
3L1,3L4,3L8,3H3,3F1,3F3,3W3,3A1,3A5 1 0,33
4L1,4L4,4L8,4L11,4L14,4H1,4F1,4F3,4W3,4A1,4A4,4A9,4A11 1 0,33
4 4L1,4L4,4L8,4L11,4L14,4H1,4F1,4F3,4W3,4A1,4A4,4A7,4A11 1 0,33
4L1,4L4,4L8,4L9,4L14,4H3,4F1,4F3,4W2,4A1,4A4,4A9,4A10 1 0,33
5L1,5L4,5L7,5L11,5L14,5H1,5F1,5F3,5W1,5A2,5A4,5A7 1 0,33
5 5L1,5L4,5L8,5L11,5L14,5H1,5F1,5F3,5W1,5A2,5A4,5A7 1 0,33
5L1,5L4,5L8,5L9,5L14,5H1,5F1,5F3,5W1,5A2,5A4,5A7 1 0,33
217
No 4 momento, o ndice de estabilidade obtido de 0,33 sendo que oito dos trezes
cdigos foram os mesmos para todas as atletas. Quatro critrios das pernas, dois dos
ps e dois dos braos.
No 5 momento, o ndice de estabilidade repete-se (0,33) observando-se desta vez dez
critrios comuns em doze. Trs de pernas, um da cabea, dois dos ps, um da cintura e
trs dos braos.
CONCLUSES
Numa anlise aos dados constata-se que, cada um dos nadadores, tem o seu prprio
padro comportamental, sendo cada padro ajustado s caratersticas individuais.
Constatou-se maiores diferenas ao nvel dos membros superiores e inferiores, sendo
os restantes segmentos repetidos de igual forma por todos os nadadores, ou seja, nos
segmentos da cabea, ps e anca, quer os nadadores do sexo masculino quer do sexo
feminino tinham comportamentos similares.
No caso dos nadadores do sexo masculino, no 5 momento, entrada das mos na gua,
todos os nadadores realizam iguais padres comportamentais com exceo dos
membros inferiores, denotando-se uma concordncia por parte dos treinadores e
atletas no momento de entrada na gua.
No caso dos nadadores do sexo feminino, no 3 momento (sada do bloco)
comportando-se assim ambas da mesma forma. A Nadadora trs adota um voo mais
curto/rpido pela preocupao de obter uma sada do bloco mais rpida e eficaz
minimizando deste modo a perda de tempo.
Verifica-se que cada nadador tem o seu comportamento, embora o padro tcnico
seja similar, cada qual adota o seu estilo de partida.
BIBLIOGRAFIA
Alves, F. (1986). Apontamentos do curso de treinadores do II Grau da FPN. FPN,
Company.
Garcia, A. (2002). Anlisis Cuantitativo de la Tcnica en Natacin
Lewin,G (1978) Natao; Editorial Estampa; Lisboa; pp 345.
Maglischo, E. W. (1993). Swimming even faster. California: Mayfield Publishing
218
Maglischo, E.W. (2003). Swimming fastest: the essential reference of technique,
training and program desing. Human Kinetics Publisher, Champaign, Illinois
Maglischo, Ernest W.1982, Swimming; training; Physiological aspects Mayfield Pub. Co.
(Palo Alto, Calif.)
Rushall, B. S. (1992). The behavior modification of a behavior modifier. In C. W. Snyder
& B. Abernethy (Eds), Understanding human action through experimentation.
Champaign, IL: Human Kinetics
Zatsiorsky, V. and Seluyanov, V. (1983). The mass and inertia charactetistics of main
segments of the human body. In: H. Matsoi, H. e K. Koraiashi ( eds.), Biomechanics
VIIB, pp. 1152-1159. Human Kinetics Publishers, Champain LLLiois.
219
PERFIL PSICOLGICO DE CONDUTORES PROFISSIONAIS DO DISTRITO DE LISBOA-
REA PSICOMOTORA- CATEGORIAS B e D
RESUMO
O presente trabalho e pretende analisar o Perfil Psicolgico dos Condutores na rea
psicomotora. Para tal utilizou-se uma metodologia quantitativa, de natureza
exploratria e descritiva. Para concretizar o presente estudo recorreu-se a uma
amostra com um total de 82 participantes 41 condutores de Categoria B e 41 da
Categoria D. Para a recolha dos dados, recorreu-se a dois instrumentos. O primeiro
uma entrevista estruturada, como meio de obter os dados socio demogrficos do
condutor. O segundo instrumento, a Bateria de Avaliao Psicolgica para Condutores
BAPCON, uma bateria de provas que tem por base a avaliao psicolgica de
condutores.
Os resultados demonstram que, a populao de condutores da Categoria D
(Transporte Coletivo de Passageiros) do distrito de Lisboa apresentam, um perfil
psicolgico com valores mais elevados, nas variveis consideradas, do que a populao
de condutores da categoria B (Taxistas).
220
ABSTACT
This work aims to analyze the Psychological Profile of Conductors- psychomotor area.
For this we used a quantitative methodology, exploratory and descriptive. To achieve
this study resorts to a sample, with a total of 82 participants 41 drivers of Category B
and 41 Category D.
For data collection, we used the two instruments. The first is a structured interview as
a means to obtain the socio demographics of the driver. The second instrument is
BAPCON; it is a battery of tests that is based on the psychological assessment of
drivers.
The results showed that the population of drivers Category D (Public Transport
Passenger) district of Lisbon presented a psychological profile with higher values in the
variables considered, than the population of drivers of category B (Taxi).
INTRODUO
Com bastante frequncia, somos alertados para situaes de comportamento na
conduo que ocorrem nas estradas portuguesas, atravs dos dados estatsticos
peridicos da sinistralidade rodoviria que em 2007, situava Portugal no meio da
tabela da Europa a 25 pases (Observatrio Portugus dos Sistemas de Sade, 2010).
Este facto no novo e est a ser motivo de preocupao e interesse pelas instituies
inerentes preveno rodoviria, bem como despertou curiosidade na comunidade
cientfica, contribuindo cada cincia com estudos e investigaes. A principal causa da
sinistralidade atribuda ao fator humano, no podendo descurar-se os outros fatores
quer sejam ambientais quer ao nvel das condies materiais, tanto dos veculos como
das infra estruturas rodovirias incluindo a sinalizao e operacionalizao da fluidez
rodoviria (IMTT, 2010).
Neste estudo abordado o comportamento que na literatura referido como
psicomotor, desenvolvendo um contributo da Psicologia, no que concerne em
221
concreto avaliao psicolgica de condutores profissionais nas categorias B (Txistas)
e D (Transporte Coletivo de Passageiros).
A avaliao Psicolgica uma tcnica de avaliao que associa a entrevista, a
observao do comportamento, entre outras. De forma especfica, a Avaliao
Psicolgica na rea do trnsito, a ferramenta mais utilizada para auxiliar as
informaes fornecidas pelo individuo, de forma sistemtica e cientfica, no sentido de
orientar o resultado psicolgico para a resoluo de problemas (Anastasi & Urbina,
2000; Cronbach, 1996; Noronha & Baptista, 2007), considerando-se a avaliao
psicolgica como um processo, onde necessrio a utilizao de testes, a observao
de reaes do avaliado, associado a entrevistas (Hennessy & Wiesenthal, 2001).
Hakamies-Blomqvist (1996), refere que as principais variveis psicolgicas a avaliar
so: a perceo, a ateno, as habilidades motoras e, outros processos cognitivos
associados ao ato de conduzir, nomeadamente, as variveis psicossociais do
comportamento humano. O comportamento ao volante representa assim um
comportamento multideterminado (Wilde, 1994).
O homem quando conduz, desempenhando a tarefa da conduo, tem
automaticamente que realizar um conjunto de processos que lhe permitem interagir
com o ambiente rodovirio. Deste modo, o condutor recolhe a informao, analisa e
decide, em cada momento a ao a desenvolver (Pires da Costa & Macedo, 2008).
Toda a capacidade do condutor de processar a informao encontra-se limitada por
um determinado perodo de tempo, dependente, na maior parte dos casos, do estado
emocional em que se encontra. Geralmente, segundo Babkov (1975), em termos
mdios esses tempos so de 1/16 Seg. para a viso e 1/20 Seg. para a audio.
Segundo a perspetiva de Castillo et al. (2006), so os condutores do gnero masculino,
independentemente das habilitaes literrias, que apresentam maior registo de
acidentes, pela sua maior exposio ao risco de acidentes e, alm disso, so em maior
nmero (quantidade), relativamente s mulheres condutoras. A conduo representa
de fato, uma tarefa complexa e dinmica, envolvendo vrios processos por parte de
quem conduz.
Existem trs estgios principais no decorrer do processo de informao. Assim sendo,
sempre que a informao externa ou ambiental entra nos sistemas, inicialmente
222
processada no primeiro estgio- identificao do estmulo. Quando este estgio est
completo, a informao que permanece passa para o segundo estgio, seleo de
resposta, para o processamento adicional, em que o resultado passa para o terceiro
estgio, programao da resposta, para mais processamento, at que a ao seja
produzida (Schmidt & Wrisberg, 2001).
METODOLOGIA
Participantes
A populao da amostra constituda por condutores do gnero masculino, com
idades compreendidas entre os 28 e os 70 anos de idade (Cat. D- M=44,4 vs. Cat. B-
M=54,2): 41 condutores da categoria B e 41 condutores da categoria D. O fato da
amostra ser exclusiva ao gnero masculino, justifica-se com o predomnio deste
gnero em ambas as profisses e por existir um maior registo de acidentes, dado que o
gnero masculino se expe mais ao risco. O escalo etrio predominante (figura 1) nos
condutores da categoria B a faixa dos 51-55 anos de idade (26,8%), enquanto a faixa
etria predominante nos condutores da categoria D a dos 36-40 anos de idade
(29,3%), conforme constatamos na figura 2. precisamente nesta faixa etria (a
predominante nos condutores da categoria D), que se regista o maior nmero de
acidentes (ANSR 2011).
225
Figura 2 Habilitaes acadmicas.
Instrumentos
Os instrumentos utilizados foram uma entrevista estruturada informatizada, para a
obteno os dados socio demogrficos do condutor, contendo: o tipo de avaliao que
o condutor ou candidato necessita; a(s) categoria(s) que pretende renovar ou obter; os
elementos de identificao pessoal: carto de cidado, n. de contribuinte, n. de
licena de conduo e, profisso. A Bateria de Avaliao Psicolgica de Condutores
(BAPCON), da autoria da EDIPSICO (2010), todas as provas so aplicadas via
computador e via Reacimetro LND-100, sem existir necessidade de recurso a folha de
respostas. A BAPCON funciona a partir de uma pen disponibilizada e em qualquer
computador com sistema operativo Windows.
Por sua vez, as provas da rea Psicomotora foram realizadas atravs do Reacimetro
LND- 100. Este reacimetro tem como objetivo avaliar os tempos de reao a diversos
estmulos de tipo visual, auditivo e avalia diversos tipos de coordenao motora.
composto por um monitor e uma caixa com trs botes, manpulos rotativos e uma
pedaleira. uma bateria de aplicao individual e, informatizada.
Eis uma breve descrio das provas da rea Psicomotora: Nas reaes simples e de
escolha, so apresentadas 10 sries com 4 estmulos cada, em que o participante tem
de emitir respostas motoras simples com os ps e as mos. Uma vez dada a resposta, o
estmulo desaparece, independentemente se a resposta dada foi a correta ou a errada.
Na coordenao culo manual pedal, so apresentadas ao participante 5 sries, com 8
estmulos cada - visuais e acsticos. O participante tem de emitir uma srie de
respostas motoras com as mos e os ps a cada um dos estmulos. Relativamente
226
coordenao bimanual, avalia a capacidade do participante para coordenar e dissociar
os movimentos de cada mo com um ritmo de execuo imposto e no podendo o
participante modific-lo, ao interatuar com estimulao visual dinmica e contnua.
Pretende-se que o participante d uma resposta bimanual perante 2 estmulos mveis
que simulam deslocar-se ao longo de duas pistas sinuosas, a um ritmo imposto e com
uma velocidade constante.
Distribuio de valores obtidos, em escala de percentil, em todos os fatores da rea
Psicomotora: de 0 a 16 Inferior (no includos no nosso estudo, pois quem obtivesse
valores desta natureza no obtinha a licena ou a renovao da mesma); de 17 a 60
Mdia; 61-80 Mdia Superior, e de 81 a 100, superior.
PROCEDIMENTO
A recolha da informao foi efetuada numa clnica Psicolgica em Lisboa, homologada
pelo IMTT, no sentido de se proceder avaliao psicomotora dos participantes.
Informou-se os condutores de que a participao voluntria e que as suas respostas
eram confidenciais. A avaliao foi efetuada individualmente.
A anlise estatstica foi efetuada com o SPSS (Statistical Package for the Social
Sciences) verso 20.0 para Windows. Para testar as relaes entre as variveis
utilizamos como referncia um nvel de significncia () 0,05. Para testar o efeito da
funo usou-se o teste t de Student para amostras independentes. O pressuposto de
normalidade de distribuio e o pressuposto de homogeneidade de varincias foram
analisados com os testes de Kolmogorov-Smirnov e teste de Levene. Quando os
pressupostos no estavam satisfeitos usou-se como alternativa o teste de Mann-
Whitney.
RESULTADOS E DISCUSSO
Passamos ento anlise e caracterizao do Perfil Psicolgico dos condutores
profissionais da categoria B (Txistas) e D (condutores de Transportes Coletivos de
Passageiros) do distrito de Lisboa, referente rea Psicomotora. A tabela 4, referente
s estatsticas descritivas indica-nos os valores percentlicos mnimos, mximos, mdia
(M) e respetivos desvio padro (DP).
227
Tabela 1 Estatsticas Descritivas
N Mnimo Mximo Mdia Desvio
padro
Condutores de Txi (B)
Coordenao Bimanual
N erros 41 29,0 101 70,17 16,93
Tempo em erro 41 518,0 8714 4667,32 2332,57
Percentil 41 60,0 100 84,51 11,71
Coordenao culo-manual-pedal
Tempo Mdio Resposta 41 69,0 260 117,07 31,71
Confuso Perante
41 0,0 8 2,61 2,07
Estmulo
Percentil 41 45,0 100 68,90 11,85
Reao simples de escolha
Tempo Mdio Resposta 41 36,0 110 63,78 19,40
Confuso Perante
41 0,0 10 1,15 1,90
Estmulo
Percentil 41 30,0 95 68,66 14,66
Condutores de Transporte coletivo de passageiros (D)
Coordenao Bimanual
N erros 41 16 104 64,02 24,001
Tempo em erro 41 262 6002 2573,37 1492,147
Percentil 41 55 100 90,98 11,523
Coordenao culo-manual-pedal
Tempo Mdio Resposta 41 69 165 101,05 24,257
Confuso Perante
41 0,0 15 2,29 2,732
Estmulo
Percentil 41 35 100 75,98 13,566
Reao simples de escolha
Tempo Mdio Resposta 41 31 98 59,80 13,952
Confuso Perante
41 0,0 2 ,54 ,778
Estmulo
Percentil 41 45 100 73,41 12,321
228
condutores da categoria B (M=90,98; DP=11,523 vs. M=84,51; DP=11,71). Igualmente,
os condutores da categoria D manifestam menor n. de erros em comparao com os
condutores da categoria B (M=64,02; DP=24,001 vs. M=70,17; DP =16,93), bem como
um menor tempo em erro (M=91,34; DP =16,35 vs. M=4667,32; DP =2332,57).
Conclumos que os condutores da categoria B, na Coordenao Bimanual, erram mais e
esto mais tempo em situao de erro. Porm, ambas as categorias se situam na
banda superior na tabela de percentis.
Na Coordenao culo Manual Pedal, as estatsticas descritivas vo no mesmo sentido
da Coordenao Bimanual. Assim, os condutores da categoria D manifestam valores
relativos ao Percentil superiores aos dos condutores da categoria B (M=75,98; DP
=13,566 vs. M=68,90; DP =11,85). De igual modo, esses condutores manifestam menor
Confuso Perante os Estmulos em comparao com os condutores da categoria B
(M=2,29; DP =2,732 vs. M=2,61; DP =2,07); os condutores da categoria D apresentam
um Tempo Mdio de Resposta mais baixo, em relao aos condutores da B (M=101,05;
DP =24,257 vs. M=117,07; DP =31,71).
Em sntese, podemos afirmar que os condutores da categoria D so menos confusos
perante a complexidade e o aumento da complexidade dos estmulos, respondendo
mais rapidamente e com maior eficcia, pois os valores mdios do percentil so mais
elevados.
No que concerne s Reaes Simples de Escolha, os resultados revelam-nos que os
condutores da categoria D manifestam valores, relativos ao Percentil, superiores aos
dos condutores da categoria B (M=73,41; DP =12,321 vs. M=68,66; DP =14,66).
Manifestam tambm uma menor Confuso Perante os Estmulos em comparao com
os condutores da categoria B (M=,54; DP =,778 vs. M=1,15; DP =1,90); os condutores
da categoria D apresentam um Tempo Mdio de Resposta mais baixo, em relao aos
condutores da categoria B (M=59,80; DP =13,952 vs. M=63,78; DP=19,40).
Podemos sintetizar que os condutores da categoria D tm menos confuso perante os
estmulos, respondendo mais rapidamente e com maior eficcia.
Na rea Psicomotora podemos concluir que os condutores da categoria D tm assim,
uma maior capacidade de coordenar em simultneo os movimentos de ambas as mos
face a ritmos impostos e ou livres, bem como melhor capacidade em coordenar os
229
movimentos de mos e ps em resposta a estmulos visuais e/ou acsticos e,
igualmente, uma melhor capacidade em reagir adequadamente a estmulos visuais ou
acsticos ou aps a sua seleo a partir de um conjunto alargado de estmulos,
incluindo estmulos distratores.
Analisamos agora o desempenho dos condutores das duas categorias (B-Txi e D-
Transporte Coletivo de Passageiros) na rea Psicomotora, evidenciados nas figuras
seguintes. A figura 3 demonstra-nos que o desempenho na Coordenao Bimanual em
ambas as categorias o superior, onde 65,8% dos condutores da categoria B
obtiveram resultados nessa banda vs. 87,8% dos condutores da categoria D. De realar
que os condutores da categoria D, quase na sua totalidade, obtiveram um
desempenho superior.
Na Coordenao culo Manual Pedal, a figura 4 revela-nos que 60,9% dos condutores
da categoria B obtiveram um desempenho mdio superior. 56,1% dos condutores da
categoria D obtiveram um desempenho superior.
230
O desempenho nas Reaes Simples de Escolha (figura 5) maioritrio nos condutores
da categoria B e nos condutores da categoria D o mdio superior (39,0% vs. 48,8%).
231
Na Coordenao Bimanual (percentil), Z = -2,654, p = 0,008: os condutores da
categoria D obtm valores significativamente mais elevados (M=90,98 vs. M=84,51).
No Tempo em Erro da Coordenao Bimanual, t (68,041s) = 4,842, p = 0,004: os
condutores da categoria B obtm valores significativamente mais elevados
(M=4667,32 vs. M=2573,57).
Pode-se concluir, em funo das diferenas estatisticamente significativas apuradas,
que os condutores da categoria B, na Coordenao Bimanual erram mais e, esto mais
tempo em situao de erro, apesar de ambos manifestarem resultados positivos.
Na Coordenao culo Manual Pedal (percentil), Z = -2,979, p = 0,003: os condutores
da categoria D obtm valores significativamente mais elevados (M=75,98 vs. M=68,90),
demonstrando uma melhor coordenao relativamente aos condutores da categoria B.
No Tempo Mdio de Resposta (centsimos de segundo), Z = -3,029, p = 0,002: os
condutores da categoria B obtm valores significativamente mais elevados (M=117,07
vs. M= 24,26).
Pode ento afirmar-se que os condutores da categoria D respondem mais rapidamente
e com maior eficcia aos estmulos, pois os valores mdios do percentil so mais
elevados.
Estes valores obtidos, justificam-se em funo da literatura consignada no referencial
terico, a considerar. medida que o ser humano vai envelhecendo, existem perdas
nas capacidades psicomotoras, aumentando-lhes drasticamente os tempos de reao,
interferindo com o seu desempenho na conduo. Ora, neste estudo temos diferenas
nas faixas etrias, com predomnio mais jovem nos condutores da categoria D e menos
jovem nos condutores da categoria B. Estes, estaro assim mais predispostos a
sequelas em termos de sade fsica, podendo estar associado ao consumo de frmacos
inerentes doena (ou com a ingesto de lcool), acabando por ter um forte impacto
nas suas habilidades psicomotoras e, consequentemente, no seu desempenho,
necessrios ao ato de conduzir, nomeadamente, aumentando-lhes os tempos de
reao, e, consequentemente, maior predisposio ao erro, demorando na tomada de
deciso. Segundo o GIE (2003), existe uma correlao entre o aumento da idade e o
enlentecimento da execuo motora, aumentando os tempos de reao e, existindo
uma pior coordenao. Os tempos de reao entre os condutores jovens e seniores
232
aumentam, medida que aumenta o nmero e a complexidade dos estmulos
informativos, tornando-se mais confusionais para os ltimos. O que se veio a constatar
no nosso estudo entre ambas as categorias.
CONCLUSO
Relativamente ao objetivo central da investigao, caraterizar e analisar as diferenas
do perfil psicolgico dos condutores do distrito de Lisboa, em funo dos dados
obtidos na avaliao da populao de condutores da categoria B (Txi), com o grupo de
condutores da categoria D (Transporte coletivo de passageiros), tendo como base as
dimenses avaliadas pela BAPCON, podemos retirar algumas concluses importantes
para o estudo: Assim, podemos descrever o perfil psicolgico dos condutores do grupo
da categoria B condutores de Txi, em comparao com os condutores do grupo da
categoria D Transporte Coletivo de Passageiros, com maior tempo de erro, e maior
tempo mdio de resposta.
Perante os objetivos propostos e a apresentao de resultados de investigao,
podemos concluir que a populao de condutores da categoria D do distrito de Lisboa
apresenta um perfil psicolgico com nveis superiores (no sentido do perfil mais
positivo de condutor pois ambas as categorias manifestam perfil positivo) em relao
aos condutores da categoria B, no que se relaciona com a coordenao bimanual e,
coordenao culo-manual-pedal.
Exatamente por se tratar de uma profisso mais exigente, em termos de fatores
cognitivos e motores, os motoristas de Transportes Coletivos tm um perfil psicolgico
com valores mais elevados. Igualmente, estes resultados podero dever-se, na nossa
perspetiva, ao fato de os condutores da Categoria D serem sujeitos a uma rigorosa
avaliao psicotcnica na empresa onde prestam servio - existe uma filtragem de
candidatos ao lugar de motorista -, que por sinal, poder explicar os valores
encontrados e apresentados. O fato de, maioritariamente, os condutores da categoria
D serem de uma faixa etria inferior e de terem mais habilitaes literrias podero
justificar tambm, em nosso entender, as diferenas encontradas.
Em sntese, tendo em conta as competncias de avaliao da BAPCON (Silva & S,
2010), os motoristas da Categoria D (Transportes Coletivos de Passageiros), obtiveram
233
valores superiores aos da Categoria B (motoristas de Txi) (mais elevados), justificando
a nossa hiptese de estudo.
BIBLIOGRAFIA
Anastasi, A., & Urbina, S. (2000). Testagem Psicolgica. Porto Alegre: Artes Mdicas.
ANSR- Autoridade Nacional de Segurana Rodoviria. (2011). Relatrio anual de
sinistralidade. Obtido em 13 de Outubro de 2012, de http://ansr.pt
Babkov, V. (. (1975 ). Road Conditions and Traffic Safety. Moscow: Mir Publisher.
Castillo, F. T., Crcel, J. I., Catal, M. C., Baza, M. J., Ortega, C. H., Fuentes, S. H., . . .
Villareal, R. P. (2006). Manual de Prevencin de Accidentes de Trfico en el mbito
Laboral In-itinere y en Misin. Valencia: Instituto Universitario de Trfico y Seguridad
Vial - Universitat de Valencia.
Cronbach, L. J. (1996). Fundamentos da Testagem Psicolgica. Porto Alegre: Artes
Mdicas.
GIE- Grupo Investigacin Envejecimiento. (2003). Los conductores seniors en
autopistas: presente y futuro. Barcelona: Universitat de Barcelona.
Hakamies-Blomqvist, L. (1996). Research on older drivers: a review. IATSS Research, 20,
91-100.
Hennessy, D. A., & Wiesenthal, D. L. (2001). Gender, driver aggression, and driver
violence: An applied evaluation. Sex Roles, 44, 661-667.
IMTT- Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres. (2010). Manual do Ensino
da Conduo. Obtido em 13 de Novembro de 2012, de IMTT: http://www.imtt.pt
Lezak, M. D., Howieson, D. B., & Loring, D. W. (2004). Neuropsychological Assessment
(4 ed.). New York: Oxford University Press.
Noronha, A. P., & Baptista, M. N. (2007). Relao entre Metodologia e Avaliao
Psicolgica. In M. N. Campos (Ed.), Metodologias de Pesquisa em Cincias: Anlises
Quantitativas e Qualitativas (pp. 49-60). Rio de Janeiro: LTC.
Observatrio Portugus dos Sistemas de Sade. (2010). Mortalidade por acidentes
rodovirios de 1990 a 2000 (por milho de habitantes). Obtido em 1 de Junho de 2012,
de Observatrio Portugus dos Sistemas de Sade:
http://www.observaport.org/node/101
234
Pires da Costa, A. H., & Macedo, J. M. (2008). Manual de Planeamento das
Acessibilidades e da Gesto Viria. Obtido em 11 de Dezembro de 2012, de
http://norteemrede.inescporto.pt/planeamento-regional/informacao-
transversal/recursos/manual-de-planeamento-das-acessibilidades-e-da-gestao-viaria
Schmidt, R., & Wrisberg, C. (2001). Aprendizagem e Performance Motora: uma
abordagem baseada no problema. Porto Alegre: Artmed.
Silva e S, J. (2010). BAPCON - Manual - Sistema Integrado para Avaliao Psicolgica
de condutores. VNGaia: EDIPSICO - Edies e Investigao em Psicologia.
Wilde, G. (1994). Target risk. Toronto, Canada1994: PDE.
235
RELAO ENTRE CINTICA DO CONSUMO DE OXIGNIO EM DIFERENTES
DOMNIOS DE INTENSIDADE DE EXERCCIO E O DESEMPENHO NA NATAO
1
Centro Interdisciplinar de Estudo da Performance Humana, FMH, Portugal.
2
Escola Superior de Educao, Instituto Politcnico de Setbal, Portugal.
RESUMO
Doze nadadores participaram no estudo (16.3 3.2 anos, 175.2 9.1 cm, 65.4 8.9
kg). Em treino, foram realizados 400 e 800 m mximos em nado crol (T400 e T800). Nos
dias posteriores, realizaram-se 30-min a velocidade de nado constante, de forma
aleatria para determinao do estado estacionrio mximo de lactato (EEML). Duas
transies de 500 m, 2.5 acima e outras duas 2.5 abaixo da velocidade no EEML
(vEEML) foram realizadas para determinao dos parmetros da cintica do VO 2. A
amplitude primria (Ap) a 102.5% da vEEML (3152.9 406.2 ml.min-1) foi
significativamente superior comparativamente a 97.5% (2931.9 445.6 ml.min-1). A
contante temporal da fase primria (p) no foi significativamente diferentes abaixo e
acima da vEEML (respetivamente 19.5 6.8 vs. 17.7 8.0-seg). p a 97.5% da vEEML
revelou-se correlacionada com o T400 (r = 0.64, p < 0.03). Por sua vez, T800
correlacionado com a p a 97.5 e 102.5 da vEEML (respetivamente, r 0.75, p 0.01
er 0.58, p 0.05). O controlo do treino na natao dever incorporar os parmetros
da cintica do VO2 uma vez que permitem caracterizar o perfil dos nadadores e prever
o desempenho.
236
ABSTRACT
Twelve swimmers participated in the study (16.3 3.2 years, 175.2 9.1 cm, 65.4 8.9
kg. In training, maximal 400 and 800 m swims were performed in front crawl (T400 and
T800). In the days after, 30-min randomly constant velocity swims were performed to
maximal lactate steady state (MLSS). Two 500 m transitions, 2.5 % above and two
other 2.5 % below maximal lactate steady state velocity (MLSSv) were performed to
determine the parameters of VO2 kinetics. The amplitude of the primary phase (Ap) at
102.5% MLSSv (3152.9 406.2 ml.min -1) was significantly higher compared to 97.5 %
MLSSv (2931.9 445.6 ml.min-1). The primary phase time constant (p) was not
significantly different below and above MLSSv (respectively 19.5 6.8 vs . 17.7 8.0-
sec). p at 97.5 % MLSSv was correlated with T400 (r = 0.64 , p < 0.03). T800 was
correlated with p at 97.5 % and 102.5 % of MLSSv (respectively, r = 0.75, p < 0.01 and r
= 0.58, p < 0.05). Training control in swimming should incorporate the parameters of
VO2 kinetics since they allow to characterize the profile of swimmers and performance
prediction.
INTRODUO
A cintica do consumo de oxignio (VO2) em resposta a um aumento da intensidade do
esforo funo quer do metabolismo celular, quer da capacidade de captao,
fixao e transporte do sistema respiratrio e cardiovascular. Dado que a resntese
aerbia da adenosina trifosfato (ATP) a principal fonte de energia para o corpo
humano (strand et al., 2003; Wilmore et al., 2008), o estudo da cintica do VO2 pode
fornecer uma viso esclarecedora do metabolismo muscular e dos mecanismos
fisiolgicos envolvidos na transio entre o repouso e o exerccio.
A cintica do VO2 proporciona informao relacionada com a eficincia e
condicionalismo de vrios sistemas integrados e as variveis reveladas pela modelao
da resposta da cintica do VO2 tm sido evidenciadas como importantes para o
desempenho fsico durante exerccios de alta intensidade (Ingham et al., 2007; Reis et
al., 2010, 2012a). Segundo Poole et al. (2008), o estudo da cintica do VO2 proporciona
uma janela nica na compreenso do controlo metablico. No contexto do desporto,
237
as transies de energia so bastante frequentes e, em algumas modalidades, a
resposta individual inicial poder ser determinante para o nvel de sucesso alcanado
na competio (Kilding et al., 2006; Ingham et al., 2007; Jones e Burnley, 2009).
Em exerccio, aps um primeiro aumento monoexponencial do VO2, decorre um
segundo aumento aps sensivelmente 3-min que definido como componente lenta
do VO2 (clVO2). Pode chegar aos 500 ml.min -1 e geralmente considerada significante
quando os valores atingem patamares acima dos 200 ml.min-1.
A amplitude significativa da clVO2 reflete uma ineficincia crescente (Krustrup et al.,
2009), que confirmada pelos valores atingidos nas intensidades de exerccio onde
esta fase decorre (Carter et al., 2002; Whipp et al., 2002). Alm disso, esta fase reflete
tambm o aumento da taxa metablica (Bangsbo et al., 2001) e uma contnua reduo
da fosfocreatina do msculo (Rossiter et al., 2002; Wilkerson et al., 2004; Jones et al.,
2008), fatores associados fadiga.
O estado estacionrio mximo de lactato (EEML) tem sido considerado o melhor
indicador de capacidade para exerccios aerbios (Jones e Carter, 2000) e a intensidade
de exerccio associada ao EEML pode representar o gold standard para manter e
melhorar a capacidade aerbia (Baron et al., 2003) e tambm a tcnica de nado
(Dekerle et al., 2005, Pelayo et al., 2007; Pelarigo et al., 2011).
Os nossos objetivos no presente estudo passaram por: 1) verificar as respostas
fisiolgicas em nadadores imediatamente abaixo e acima da vEEML e, 2) observar a
relao de parmetros da cintica do VO2 com o desempenho na natao.
As hipteses formuladas foram: 1) as respostas fisiolgicas em nadadores diferem em
intensidades de exerccio imediatamente abaixo e acima da vEEML; 2) existe uma
relao entre os parmetros da cintica do VO2 e o desempenho na natao.
METODOLOGIA
Doze nadadores competitivos voluntariaram-se para o estudo (quadro 1). Os
indivduos treinavam regularmente, pelo menos, desde h oito anos e participavam
com regularidade em competies nacionais e internacionais. Todos os nadadores
encontravam-se familiarizados com os procedimentos de testes fisiolgicos na piscina
e foram informados relativamente natureza dos testes. Todos os procedimentos
238
estavam de acordo com a Declarao de Helsnquia e o Comit de tica da Instituio
de Ensino Superior aprovou o estudo.
Os testes foram conduzidos num perodo horrio similar entre os diferentes dias ( 2h)
por parte de cada nadador com o objetivo de minimizar o efeito da variao circadiana
no desempenho (Atkinson e Reilly, 1996). Os testes decorreram em dias separados
(um dia de repouso total entre testes), numa piscina de 25 m com a temperatura da
gua a 28.2 C. Todos os testes foram realizados em nado crol.
Consumo de oxignio
Na natao existem algumas dificuldades associadas anlise do VO2. Para tal, tem-se
recorrido a um instrumento que possibilita recolher o VO2 respirao a respirao ou
breath-by-breath (BxB) durante todo o percurso de nado, com sistema de vlvula e
tubagem Aquatrainer para a coleta dos gases expirados em situao de nado.
O VO2 foi recolhido durante todos os testes realizados com um sistema de telemetria
(Cosmed K4b2, Rome, Italy), acoplado ao sistema de vlvula e tubagem Aquatrainer
para a coleta dos gases expirados em situao de nado. Os atletas foram orientados no
sentido de realizarem a viragem lateral, sempre para o mesmo lado relativamente
parede e sem imerso do corpo posterior ao empurrar da parede.
Todos os nadadores completaram um teste incremental composto por 5 x 250 e 1 x
200 m. No final de cada patamar decorreu uma pausa de 30-45-s, o primeiro teve
incio a 75 da VAM e os subsequentes um aumento de 5 , a ltima repetio (200 m)
foi mxima. O teste foi realizado at a exausto voluntria para determinao do
consumo mximo de oxignio (VO2max) (Bentley et al., 2005). As respostas ventilatrias
foram suavizadas e normalizadas em mdias de 15-s.
A vVO2max foi assumida como a VN mnima qual o VO2max foi alcanado, e foi sempre
atingida na ltima repetio do teste incremental.
in tica do O2
Depois da determinao do EEML, os nadadores realizaram, em dias subsequentes,
quatro repeties de 500 m a VN constante a 97.5 e 102.5 da vEEML. O VO2 foi
estimado com base nos valores mdios dos ltimos 2-min de cada repetio. Em dias
diferentes, duas repeties de 500 m foram realizadas para cada VN separadas por
uma hora de repouso passivo entre repeties. Burnley et al. (2006) indicaram que
este perodo de repouso entre repeties assegura que o exerccio realizado na
240
intensidade anterior no influencia a cintica do VO2 nos exerccios realizados em
seguida.
Os dados BxB de cada transio foram primeiro limpos para excluso de valores que
apresentavam mais do que trs valores no desvio padro da mdia local. Os dados das
duas transies foram em seguida interpolados em valores de 1-seg, alinhados
temporalmente e agrupados em valores mdios no sentido de proporcionar dados
para apenas uma transio relativa s duas realizadas pelos nadadores.
V O 2base for t td p
O 2 t
V V
O 2base A p 1 e t td p p for td p t td sc primary component
V
O 2base A p 1 e td sc td p p
Asc 1 e t td sc sc for t td sc slow component
em que VO2(t) representa o VO2 relativo num dado momento, VO2base representa o
VO2 de repouso (que por si s foi calculado como o valor mdio de VO2 dos primeiros
30-s do ltimo minuto antes do incio do exerccio), tdp, p, Ap representam o tempo de
atraso, a constante de tempo e a amplitude da fase primria e td sc, sc, Asc,
representam os equivalentes parmetros para a componente lenta [em ingls, slow
component (sc)].
241
Devido ao facto de o valor da assntota da segunda funo no necessariamente ser
alcanado no final do exerccio, a amplitude do VO2 foi definida como
'
Asc
Asc 1 ete tdsc sc , onde te foi o tempo no final do exerccio (Borrani et al.,
2001). Os parmetros da cintica do VO2 foram calculados atravs de um processo
iterativo, minimizando a soma da mdia dos quadrados das diferenas entre os valores
modelados e os valores mensurados.
Materiais
Anlise Estatstica
242
RESULTADOS
Os valores mdios e desvio padro da VAM, vVO2max e vEEML constam no quadro 2.
Todos os nadadores conseguiram realizar os 30-min de nado a 90% da VAM dentro dos
critrios estabelecidos para se assumir o EEML. Os valores mdios do T 400 e registo
cronomtrico nos 800 m crol (T800) foram, respetivamente, 270.50 e 560.83-sec
(4:30.50 e 9:20.83).
243
O valor mdio do EEML foi 4.5 1.2 mmol.L-1 (valores extremos de 3.2 e 6.7 mmol.L-1).
A mdia de PSE durante o teste na vEEML foi 5.8 0.6 (escala 0-10).
97.5% 102.5%
vEEML vEEML
Ap (ml.min-1) 2931.9 445.6 3152.9 406.2 a)
tdp (s) 10.6 3.8 11.0 3.2
p (s) 19.5 6.8 17.7 8.0
tdcl (s) 300.42 65.5 298.3 74.2
cl (s) 302.5 176.4 207.6 201.2
ISD (s) 3.4 1.4 2.9 1.1
VO2 basal (ml.min-1) 481.5 124.7 486.6 127.0
244
Amplitude (Ap), tempo de atraso (tdp, tdcl), constante temporal (p, cl), da fase primria
e da componente lenta, respetivamente. ISD: Individual snorkel delay. VO2 basal. VO2
no final do exerccio: VO2 no final do exerccio corrigido com base na composio
corporal.
a) Os resultados foram significativamente diferentes acima e abaixo da vEEML (p <
0.01).
A VAM revelou-se significativamente correlacionada com a p na VN infra vEEML (r = -
0.69, p 0.01) e com a p na VN supra vEEML (r = -0.61, p < 0.03). A vEEML revelou-se
significativamente correlacionada com a p na VN infra vEEML (r = -0.67, p < 0.02) e
com a p na VN supra vEEML (r -0.59, p 0.04). A vVO2max tambm se revelou
inversamente correlacionada com a p a 102.5% da vEEML (r = -0.62, p < 0.03).
Relativamente ao desempenho na natao, o T400 revelou-se correlacionado com a p a
97.5% da vEEML (r = 0.64, p < 0.03) e o T800 significativamente correlacionado com a p
tanto a 97.5% como a 102.5% da vEEML (respetivamente r = 0.75, p < 0.01 e r = 0.58, p
< 0.05).
DISCUSSO
A cintica do VO2 parece ser mais sensvel, e refletir de forma mais adequada, a
adaptao ao treino aerbio do que o VO2max (Bailey et al., 2009). A capacidade de
desenvolver rapidamente nveis elevados de energia atravs do metabolismo aerbio
tem sido associada ao sucesso na maioria das atividades desportivas e ocupacionais
(Whipp et al., 2005).
De acordo com Jones e Poole (2005), uma menor p e, consequentemente, mais rpida
cintica do VO2 permite uma maior preservao temporal da homeostasia. Kilding et
al. (2007) estudaram a cintica do VO2 final e durante o exerccio em atletas de meia e
245
longa distncia, encontraram relaes significativas entre VO2max e p nos atletas de
longa distncia contrariamente ao verificado para os atletas de meia distncia.
Reis et al. (2010) indicaram que em eventos desportivos com durao entre 1 e 15-
min, tal como a maioria das provas de natao, a cintica do VO2 parece ser um
parmetro importante e til para os treinadores. Por exemplo, constantes temporais
mais reduzidas tm sido relacionadas com o aumento do tempo at exausto e
tolerncia fadiga (Bailey et al., 2009) e, consequentemente, espectvel que reflitam
um melhor desempenho em provas que duram entre os 3 e 5-min na natao (Reis et
al., 2012a).
A anlise realizada a um recordista mundial reportou uma p de 10-seg numa transio
de repouso para corrida moderada (Jones e Poole, 2005). Este valor mais rpido do
que os valores associados de forma comum a indivduos treinados e no treinados em
intensidades de exerccio semelhantes (Carter et al., 2002). Alm disso, Ingham et al.
(2007) referiram-se a um valor impressionante de p de 5.6-seg que foi atingido por um
mltiplo campeo olmpico de remo.
Alves et al. (2009) determinaram a relao entre os parmetros da cintica do VO2 na
natao no domnio da intensidade pesada e o desempenho nos 400 m. Apenas a
componente primria mostrou-se correlacionada com o desempenho nos 400 m. Reis
et al. (2009) estudaram a relao entre os parmetros da cintica do VO2 numa
intensidade constante no domnio da intensidade severa e o desempenho nos 400 m.
A componente primria da resposta do VO2 mostrou-se significativamente
correlacionada com o desempenho, com o VO2max absoluto e com a vVO2max. Estes
estudos evidenciaram que a resposta da p na natao est associada a uma maior
capacidade e desempenho aerbio.
No presente estudo tambm foi observado que a cintica do VO2 da fase primria
encontra-se associada com o desempenho. A p abaixo e acima da vEEML revelou-se
positivamente correlacionada com o tempo necessrio para completar os 800 m de
nado mximo, a p abaixo da vEEML revelou-se igualmente correlacionada com o
tempo necessrio para completar os 400 m de nado mximo. Estes resultados
reforam os obtidos em outras formas de exerccio como a corrida e o remo (Kilding et
al., 2006; Ingham et al., 2007) e especificamente a natao (Reis et al., 2012a).
246
Proporcionam suporte noo de que a fase primria da cintica do VO2 um
importante determinante do desempenho desportivo.
No passado, Billat et al. (1994) indicaram que o EEML pode ser determinado atravs de
dois exerccios de 30-min a intensidade constante realizados a 65 e 80% da VAM,
separados por uma pausa total de 40-min. Mais tarde, Kilding e Jones (2005)
observaram que o exerccio a cerca de 82 do VO2max no induziu um aumento
significativo da [La- entre o minuto 5 e 20. Os nossos resultados relativamente ao
desempenho a 97.5 da vEEML (em que o VO2 correspondeu a 81.2 do VO2max)
confirmaram os obtidos por Kilding e Jones (2005), indicando que a cerca de 82 do
VO2max os atletas no apresentam indicadores associados a fadiga pronunciada.
No presente estudo, embora o valor mdio de VO2 alcanado pelos nadadores a
102.5% da vEEML no tenha atingido o VO2max (97.3 ), o teste t revelou que os valores
de VO2 alcanados a 102.5 da vEEML no foram diferentes do VO2max dos nadadores
(p > 0.05). Torna-se desta forma evidente que o atingir do domnio das intensidades
severas na natao ocorre imediatamente acima da vEEML, indicador que se apresenta
como muito til na prescrio do treino.
Foi ainda percetvel no nosso estudo que a p a 102.5 da vEEML revelou-se
significativamente correlacionada com a vVO2max (r = -0.62, p < 0.03) em sintonia com
os resultados de Reis et al. (2012b), e verificou-se que a p no foi significativamente
diferente abaixo e acima da vEEML.
Jones et al. (2011) indicaram que a clVO2 uma propriedade fundamental da resposta
metablica ao exerccio realizado acima do limiar ltico que tem sido por vezes
excluda dos livros relacionados com a fisiologia do exerccio, presumivelmente porque
a sua existncia representa um desafio inconveniente para a compreenso das
necessidades energticas musculares.
De acordo com Jones e Poole (2005), o limite superior para o domnio da intensidade
pesada definido como a maior intensidade de exerccio na qual a acumulao de [La -]
pode ser mantida num elevado nvel, mas em estado estacionrio. Em exerccios de
intensidade severa, onde a clVO2 continua a aumentar, o VO2max atingido e sinaliza o
trmino iminente do exerccio (Burnley e Jones, 2007). Um fator que tem sido
247
relacionado com a clVO2 o recrutamento progressivo de fibras musculares do tipo II
que so menos eficientes do que as fibras musculares do tipo I (Poole e Jones, 2005).
Como a cintica do VO2 durante o exerccio submximo influenciada tanto pelo
modo de exerccio (Schneider et al., 2002) como pela posio corporal (Koga et al.,
1999), possvel que as particularidades na natao em relao posio corporal e
restries ambientais possam ser responsveis pelas diferenas significativas nas
cinticas do VO2 que tm sido reportadas relativamente a exerccios na posio
vertical.
O exerccio numa posio supina promove uma cintica do VO2 mais lenta,
possivelmente devido reduo do fluxo sanguneo e perfuso muscular (Koga et al.,
1999; Egaa et al., 2010). Paralelamente, a posio dos msculos solicitados em
relao ao corao, e, consequentemente, as diferentes presses de perfuso
induzidas, tambm alteram a cintica do VO2 (Koppo e Bouckaert, 2005; Egaa et al.,
2010). A posio do corpo assumida na natao poder reduzir a perfuso muscular
(Jones et al., 2006; DiMenna et al., 2010).
Os valores de clVO2 verificados no presente so inferiores aos descritos em alguns
estudos realizados na natao. No nosso ponto de vista, esta situao relaciona-se com
o nvel dos nadadores e com a especificidade do exerccio em meio aqutico (posio
supina e solicitao predominante dos membros superiores). No entanto, foi possvel
verificar um aumento no nmero de atletas que evidenciaram clVO2 em exerccio a
102.5% vEEML comparativamente a 97.5%, o valor mdio de clVO2 foi igualmente
superior acima da vEEML.
Outro facto observado no nosso estudo diz respeito relao entre a VAM e a vVO2max.
Lavoie e Montpetit (1986) salientaram que a utilizao dos 300 m centrais do
desempenho nos 400 m mximos tem sido identificado como preditor da vVO2max e o
grau de preciso que encontrmos para o modelo aceitvel para a planificao do
treino e para fins de avaliao, situao que poder ser til no quotidiano do atleta e
treinador.
248
CONCLUSES
O controlo do treino na natao dever incorporar os parmetros da cintica do VO 2
uma vez que permitem caracterizar o perfil dos nadadores e prever o desempenho
competitivo.
A vVO2max parece ser determinada com preciso a partir dos 300 m centrais da
velocidade mdia de um teste de 400 m mximos na natao e revelou-se como boa
preditora do T400 e T800.
BIBLIOGRAFIA
Alves, F., Reis, J., Vleck, V., Bruno, P., Millet, G. (2009). Oxygen uptake kinetics in heavy
intensity exercise and endurance performance in swimmers. ACSM 56th Annual
Meeting, Seattle, Washington. Presentation Number 978.
Atkinson, G. e Reilly, T. (1996). Circadian variation in sports performance. Sports Med:
21: 292-312.
strand, P., Rodahl, K., Dahl, H.A., Strmme, S.B. (2003). Textbook of work physiology:
Physiological bases of exercise. Champaign, IL, USA: Human Kinetics.
Bailey, S.J., Wilkerson, D.P., DiMenna, F.J., Jones, A.M. (2009). Influence of repeated
sprint training on pulmonary O2 uptake and muscle deoxygenation kinetics in humans.
J Appl Physiol; 106: 1875-1887.
Bangsbo, J., Krustrup, P., Gonzalez-Alondo, J., Saltin, B. (2001). ATP production and efficiency
of human skeletal muscle during intense exercise: effect of previous exercise. Am J Physiol
Endocrinol Metab; 280(6): E956-64.
Baron, B., Dekerle, J., Robin, S., Neviere, R., Dupont, L., Matran R., Vanvelcenaher, J.,
Robin, H., Pelayo, P. (2003). Maximal lactate steady state does not correspond to a
complete physiological steady state. Int J Sports Med; 24: 582-587.
Baron, B., Dekerle, J., Depretz, S., Lefevre, T., Pelayo, P. (2005). Self selected speed and
maximal lactate steady state speed in swimming. J Sports Med Phys Fitness; 45(1): 1-6.
Bentley, D.J., Roels, B., Hellard, P., Fauquet, C., Libicz, S., Millet, G.P. (2005).
Physiological responses during submaximal interval swimming training: effects of
interval duration. J Sci Med Sport; 8(4): 392-402.
249
Billat, V., Dalmay, F., Antonini, M.T., Chassain, A.P. (1994). A method for determining
the maximal steady state of blood lactate concentration from two levels of
submaximal exercise. Eur J Appl Physiol; 69: 196-202.
Billat, V.L. (2000). Slow component and performance in endurance sports. Br J Sports Med; 34:
83-85.
Borrani, F., Candau, R., Millet, G.Y., Perrey, S., Fuchslocher, J., Rouillon, J.D. (2001). Is
the VO2 slow component dependent on progressive recruitment of fast-twitch fibers in
trained runners? J Appl Physiol; 90(6): 2212-2220.
Borg, G.A. (1982). Psychophysical bases of perceived exertion. Med Sci Sports Exerc;
14(5): 377-381.
Burnley M, Doust J, Jones AM. (2006). Time required for the restoration of normal
heavy exercise. VO2 kinetics following prior heavy exercise. J Appl Physiol; 101:1320-
1327.
Burnley, M. e Jones, A.M. (2007). Oxygen uptake kinetics as a determinant of sports
performance. Eur J Sport Sci; 7: 63-79.
Carter, H., Pringle, J.S., Jones, A.M., Doust, J.H. (2002). Oxygen uptake kinetics during treadmill
running across exercise intensity domains. European J Appl Physiol; 86: 347-354.
Dekerle, J., Nesi, X., Lefevre, T., Depretz, S., Sidney, M., Marchand, F.H., Pelayo, P.
(2005). Stroking parameters in front crawl swimming and maximal lactate steady state
speed. Int J Sports Med; 26(1): 53-58.
DiMenna, F.J, Wilkerson, D.P., Burnley, M., Bailey, S.J., Jones, A.M. (2010). Priming
exercise speeds pulmonary O2 uptake kinetics during supine "work-to-work" high-
intensity cycle exercise. J Appl Physiol; 108(2): 283-292.
Egaa, M., O'Riordan, D., Warmington, S.A. (2010). Exercise performance and VO2
kinetics during upright and recumbent high-intensity cycling exercise. Eur J Appl
Physiol; 110(1): 39-47.
Ingham, S.A, Carter, H., Whyte, G., Doust, J.H. (2007). Comparison of the Oxygen Uptake
Kinetics of Club and Olympic Champion Rowers. Med Sci Sports Exerc; 39(5): 865-871.
Jones, A.M. e Carter, H. (2000). The effect of endurance training on parameters of
aerobic fitness. Sports Med; 29: 373-386.
250
Jones, A.M., Wilkerson, D.P., DiMenna, F., Fulford, J., Poole, D.C. (2008). Muscle
metabolic responses to exercise above and below the critical power assessed using
31P-MRS. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol; 294(2): R585-593.
Jones, A.M. e Poole, D.C. (2005). Introduction to oxygen uptake kinetics and historical
development of the discipline. In: Oxygen Uptake Kinetics in Sport, Exercise and
Medicine (eds.) Jones, A.M. e Poole, D.C. (pp. 3-35). Routledge, London.
Jones, A.M., Berger, N.J., Wilkerson, D.P., Roberts, C.L. (2006). Effects of "priming"
exercise on pulmonary O2 uptake and muscle deoxygenation kinetics during heavy-
intensity cycle exercise in the supine and upright positions. J Appl Physiol; 101(5):
1432-1441.
Jones, A.M. e Burnley, M. (2009). Oxygen uptake kinetics: an underappreciated determinant of
exercise performance. Int J Sports Physiol Perform; 4(4): 524-532.
Jones, A.M., Grassi, B., Christensen, P.M., Krustrup, P., Bangsbo, J., Poole, D.C.
(2011). Slow component of VO2 kinetics: mechanistic bases and practical applications.
Med Sci Sports Exerc; 43(11): 2046-2062.
Kilding, A.E. e Jones, A.M. (2005). Validity of a Single-Visit Protocol to Estimate the
Maximum Lactate Steady State. Med Sci Sports Exerc; 37(10): 1734-1740.
Kilding, A.E., Winter, E.M., Fysh, M. (2006). Moderate-domain pulmonary oxygen uptake
kinetics and endurance running performance. J Sports Sci; 24(9): 1013-1022.
Kilding, A.E., Fysh, M., Winter, E.M. (2007). Relationships between pulmonary oxygen
uptake kinetics and other measures of aerobic fitness in middle- and long-distance
runners. Eur J Appl Physiol; 100(1): 105-114.
Koga, S., Tomoyuki, S., Shibasaki, M., Kondo, N., Fukuba, Y., Barstow, T. (1999). Kinetics
of oxygen uptake during supine and upright heavy exercise. J Appl Physiol; 87(1): 253-
260.
Koppo, K., e Bouckaert, J. (2005). Prior arm exercise speeds the VO2 kinetics during arm
exercise above the heart level. Med Sci Sports Exerc; 37(4): 613-619.
Krustrup, P., Jones, A.M., Wilkerson, D.P., Wilkerson, D.P., Calbet, J.A., Bangsbo, J. (2009).
Muscular and pulmonary O2 uptake kinetics during moderate- and high-intensity sub-maximal
knee extensor exercise in humans. J Physiol; 587(Pt 8): 1843-1856.
251
Lavoie, J.M. e Montpetit, R.R. (1986). Applied physiology of swimming. Sports Med; 3:
165-189.
Pelarigo, J.G., Denadai, B.S., Greco, C.C. (2011). Stroke phases responses around
maximal lactate steady state in front crawl. J Sci Med Sport; 14: 168-171.
Pelayo, P., Alberty, M., Sidney, M., Potdevin, F., Dekerle, J. (2007). Aerobic
potential, stroke parameters, and coordination in swimming front-crawl performance.
Int J Sports Physiol Perform; 2: 347-359.
Poole, D.C. e Jones, A.M. (2005). Understanding the mechanistic bases of VO2 kinetics.
In: Jones, A.M. e Poole, D.C. (eds), Oxygen uptake kinetics in sport, exercise and
medicine. (pp. 294-328), Oxon, England: Routledge.
Poole DC, Barstow TJ, McDonough P, Jones AM. (2008). Control of Oxygen Uptake during
Exercise. Med Sci Sports Exerc; 40(3): 462-474.
Reis, J., Alves, F., Vleck, V., Bruno, P., Millet, G. P. (2009). Correlation between oxygen
uptake kinetics in severe intensity swimming and endurance performance. A paper
presented at the 14th Annual Congress of the European College of Sport Science, Oslo,
Norway, June 24-27.
Reis, J.F., Millet, G.P., Malatesta, D., Roels, B., Borrani, F., Vleck, V.E., Alves, F.B. (2010). Are
oxygen uptake kinetics modified when using a respiratory snorkel? Int J Sports Physiol
Perform; 5(3): 292-300.
Reis, J.F., Alves, F.B., Bruno, P.M., Vleck, V., Millet, G.P. (2012a). Oxygen uptake kinetics and
middle distance swimming performance. J Sci Med Sport; 15(1): 58-63.
Reis, J.F., Alves, F.B., Bruno, P.M., Vleck, V., Millet, G.P. (2012b). Effects of aerobic
fitness on oxygen uptake kinetics in heavy intensity swimming. Eur J Appl Physiol;
112(5): 1689-1697.
Rossiter, H.B., Ward, S.A., Kowalchuk, J.M., Howe, F.A, Griffiths, J.R., Whipp, B.J.
(2002). Dynamics of intramuscular 31P-MRS P(i) peak splitting and the slow
component of PCr and O2 uptake during exercise. J Appl Physiol; 93(6): 2059-2069.
Schneider, D.A., Wing, A.N., e Morris, N.R. (2002). Oxygen uptake and heart rate
kinetics during heavy exercise: a comparison between arm cranking and leg cycling.
Eur J Appl Physiol; 88: 100-106.
Whipp, B.J., Rossiter, H.B., Ward, S.A. (2002). Exertional oxygen uptake kinetics: a stamen of
stamina? Biochemical Society Transactions; 30(2): 237-247.
252
Whipp, B.J., Ward, S.A., Rossiter, H.B. (2005). Pulmonary O2 uptake during exercise:
conflating muscular and cardiovascular responses. Medicine and Science in Sports and
Exercise; 37(9): 1574-1585.
Wilkerson, D.P., Koppo, K., Barstow, T.J., Jones, AM. (2004). Effect of work rate onthe
functional gain of phase II pulmonary O2 uptake response to exercise. Respiratory
Physiology and Neurobiology; 142(2-3): 211-223.
Wilmore, J.H., Costill, D.L., Kenney, W.L. (2008). Physiology of Sport and Exercise. 4th Edition.
Human Kinetics.
253
REPRESENTAO DOS PROFESSORES SOBRE O DESPORTO ESCOLAR
Rui Resende1,2; Ana Almeida1; Nuno Pimenta1,2; Ricardo Lima1,2; Hugo Sarmento1,2;
Jlia Castro1,2
1
ISMAI (Instituto Superior da Maia)
2
ARDH GI (Adaptao Rendimento e Desenvolvimento Humano Grupo de Investigao)
RESUMO
A escola tem motivos suficientes para apoiar o desporto escolar por ser manifesto que
este um bom condutor para a instruo e proporcionar s crianas e jovens uma
enorme excitao e prazer (Valdano, 2002) potenciando a adoo de um estilo de vida
ativo no futuro.
O propsito deste estudo percepcionar os problemas que o desporto escolar vive
atualmente na perspetiva dos professores de educao fsica. Neste mbito, foram
entrevistados seis professores que lecionam no desporto escolar h mais de nove
anos, sobre o desenvolvimento e funcionamento do mesmo. As entrevistas foram
transcritas verbatin e recorreu-se ao software QRS NVivo 10 para o processo de
anlise dos dados.
Os resultados sugerem que necessrio que a escola se torne mais interventiva e que
os seus agentes sejam capazes de produzir novas ideias. Reala-se o agravamento no
nosso pas do sedentarismo e obesidade que deve e pode ser combatido na escola
atravs da prtica de atividade fsica. Para isso essencial que o modelo atual do
desporto escolar oferea a quantidade de momentos competitivos suficientes e que
no desperdice demasiado tempo em deslocaes e nos intervalos entre jogos.
254
ABSTRACT
The school has enough reasons to support School Sports, since the sport is a perfect
mediator for education and is the source of great excitement and pleasure (Valdano,
2002).
The objective of this study aims to perceive problems that School Sports live now
according to PE teachers. In this context, we interviewed six teachers who teach school
sports for more than nine years, about its development and operation. The interviews
were transcribed and coded verbatim with the help of software QRS - NVivo 10, in
order to group and categorize the opinions and experiences of the respondents.
The results show that it is necessary for the school to become more active and capable
of producing new ideas, because the better the activity plan, more students will be
captivated. It is also noteworthy that the increase we are experiencing in our country
with regard to physical inactivity and obesity should be tackled in the School through
physical activity: it is essential that the current model offers a number of competitive
moments that are desirable and do not spend too much time in commuting and in the
intervals between games.
255
Os objetivos deste estudo so os seguintes: (1) entender o modo como o Desporto
Escolar est organizado em Portugal segundo o ponto de vista dos professores
participantes; (2) entender como o Desporto Escolar est organizado no sistema
educativo; (3) entender qual o papel que o Desporto Escolar tem para o
desenvolvimento dos jovens e (4) compreender a importncia atribuda formao
contnua para o exerccio da funo de professor/treinador.
A grande ambio de uma Escola deve ser manter-se dinmica, e progressivamente
mais criativa; promovendo aprendizagens significativas (acadmicas e no acadmicas)
e potenciando a formao integral dos estudantes, sejam estes crianas ou
adolescentes. Na atualidade, a Escola um espao de desenvolvimento de
capacidades individuais e coletivas, de construo de saberes, de normas, de
atividades e de valores, no sentido de contribuir para uma sociedade culta,
desenvolvida, inclusiva dos seus cidados (Pacheco & Morgado, 2002). Segundo
Zabalza (1992), a Escola desenvolve um papel institucional, funcional e pedaggico de
referncia no desenvolvimento social. Nesse sentido, traa as linhas gerais de
adaptao do Programa s exigncias do contexto social, institucional e pessoal e
define prioridades.
O Desporto Escolar apenas tem sentido se for includo no contexto de uma Escola
inovadora, educativa e cultural, alicerado num projeto educativo inovador,
fundamentado e aberto comunidade. Desta maneira, o Desporto Escolar pode
abalanar-se num elemento relevante para a alterao da prpria Escola, tornando-se
mais ativa, mais viva, mais solidria e mais democrtica (R. Mota, 2003). Todavia, no
basta s a Escola ter bem delineado o seu projeto e plano de atividades, tambm
relevante que os docentes entendam que o seu papel na Escola como um mtodo
unitrio e que devem agir em termos pedaggico/didticos do mesmo modo como
interagem na aula de Educao Fsica, respeitando o carcter voluntrio e competitivo
do Desporto Escolar.
O Ministrio da Educao (2003) declara trs finalidades a atingir pelo Desporto
Escolar: (1) A promoo da sade, pela colaborao que pode exibir para o bem mais
marcante da vida das pessoas, j que a execuo de atividades desportivas Escolares
pode constituir um fator decisivo de domnio na melhoria da sade das crianas e
256
jovens, ajudando decisivamente para a obteno de rotinas de vida ativa e estilos de
vida saudveis, ao longo da vida; (2) Desenvolvimento da cidadania, visando promover
a incluso dos alunos na sociedade, no respeito pelos seus princpios, leis e valores.
inegvel o elevado potencial de socializao que a prtica dos jogos desportivos
encerra; (3) A formao de candidatos a bons praticantes de desporto,
proporcionando prticas desportivas a todos os alunos que, pelas mais variadas
razes, desejem comear a praticar Desporto Escolar e, ainda mais, criando condies
para que todos aqueles que pretendam aperfeioar as suas competncias desportivas
e, posteriormente, desejem especializar-se, tenham mais potencialidades de o
conseguir.
O Desporto em geral e o Desporto Escolar em particular constituem instrumentos de
valor indiscutvel, enquanto promotores de valores fundamentais para a formao do
carter dos jovens que frequentam as nossas Escolas. Segundo Pina (1997), o Desporto
Escolar traz consigo uma mensagem inovadora e transformadora, ao autenticar o
progresso e a alterao de comportamentos como a autonomia, a responsabilidade, o
sentido crtico, a cooperao, a criatividade e sentimentos de prazer, emoo, risco,
competio e superao.
Em suma, o Desporto Escolar dever integrar-se como um elemento modificador da
Escola, no sentido de uma Escola mais viva, mais ativa, que crie, num ambiente de
verdadeira misso, a formao desportiva integral dos nossos jovens, transferindo-lhes
um conjunto de valores de carcter educativo e formativo.
MTODO
Participantes
Os participantes foram selecionados tendo em conta a sua experincia como
professores e pratica no desporto escolar (Erickson, 1996). Contmos com a
colaborao de seis professores de educao fsica (4 e 2 ) com uma idade mdia
de 44 anos (44.28.8) e cerca de 18 anos (17.79.6) de lecionao de Desporto Escolar.
Caracterizamos os participantes do estudo por de E1 a E6 de modo a manter o
anonimato dos sujeitos (Bogdan & Biklen, 1994).
257
INSTRUMENTO
Para a recolha de informao foi elaborado um guio de entrevista com base nos
objetivos da investigao e em questes levantadas pela literatura. Justificou-se os
temas que se desenvolveram com as questes formuladas a partir dos problemas
estabelecidos na investigao.
RESULTADOS
De modo a simplificar a leitura dos resultados, obtemos um enquadramento geral das
categorias relativamente ao objetivo da investigao, representando a organizao da
258
informao obtida das entrevistas a professores em quatro domnios distintos (quadro
1).
Conceito e Importncia
C1: Desporto Escolar em Portugal
De acordo com os nossos entrevistados, o Desporto Escolar tem vindo a evoluir no
nosso pas; no entanto, consideram que h ainda um longo caminho a percorrer, quer
a nveis temporais, quer espaciais e financeiros, apesar de estar tudo bem idealizado
no Projeto do Desporto Escolar. Observamos que, na realidade vivenciada pelos
professores, o processo no se desenrola da melhor forma. Estes sugerem, para que a
situao se altere, ser necessrio que as mentalidades da sociedade mudem. As
pessoas tm realmente que compreender que o desporto um bem essencial e nas
Escolas que os alunos entram pela primeira vez em contacto com o desporto, com as
regras, etc.. e, apesar do Desporto Escolar ter uma designao diferente de Desporto
Federado, estes asseveram que deveria existir uma articulao entre ambos. Desta
forma, necessrio rever e criar medidas para que na prtica funcionem melhor, a
comear pela participao dos alunos. Isto porque no se justifica que a massa de
alunos inscritos nas Escolas seja to elevada em relao ao valor dos praticantes e o
mais grave que os professores tm a conscincia de que o valor que se apresenta nas
estatsticas fictcio, o que acontece devido ao limite mnimo de inscries para que
exista o grupo equipa.
Outra medida seria dar o apoio devido aos professores. notrio que no com a
259
reduo de horas que chamam mais alunos para a prtica e, por mais que os
professores sejam bons, sejam especializados na modalidade, no vo conseguir
desempenhar um bom papel nem vo alcanar o devido progresso nos alunos.
Contudo, esta medida tem que ser bem ponderada, pois existe muita coisa em
questo: por exemplo, os horrios no devem ser idnticos aos dos clubes, deveriam
existir perodos nas escolas s dedicados ao desporto, para que tambm no se
dificultassem as vidas pessoais dos docentes.
260
novas oportunidades, fazer coisas diferentes e, para isto, fazia um
campeonato diferenciado (E2)
261
Percepo dos Indicadores de Crescimento e Valores
C3: Papel do Desporto Escolar
De acordo com os professores a Escola tem um papel fundamental no
desenvolvimento integral do aluno de forma a torn-lo til para a sociedade, mas para
isso acontecer necessrio que esta consiga responder s necessidades dos alunos.
Para outros, a Escola incapaz de responder s necessidades dos alunos, visto que no
tem o apoio devido do Estado, afirmando que a Escola no tem condies materiais
nem financeiras que ajudem a sustentar de uma forma positiva o trabalho dos
professores e o desenvolvimento dos alunos.
262
() atualmente, esto bem apetrechadas para dar a formao base aos
alunos, penso que, na mesma zona geogrfica, deveria haver plos
diferenciados, uma Escola ia especializar-se mais numa modalidade,
outra escola, noutra (); o problema mais estrutural que monetrio.
(E4)
C4: Adeso
Ao longo das entrevistas, os professores corroboraram a necessidade dos
estabelecimentos de ensino proporcionarem atividades motivantes. Contudo,
necessrio que haja a devida organizao nas Escolas e Agrupamentos, assegurando
modalidades diversificadas e constituindo todos os escales de forma a dar
progressividade e estabilidade s equipas. Outro aspeto referenciado o horrio dos
treinos. Existem Escolas em que o Desporto Escolar se inicia a partir das 18h30 e, por
esta razo, muitos alunos acabam por preferir os clubes.
As questes dos horrios tornam-se aspetos inibidores, porque o horrio dos treinos
tem de ir ao encontro dos horrios disponveis dos professores e, para alm de
coincidir com os horrios dos clubes, por vezes, tambm acontecem durante os
tempos letivos dos midos.
Apesar dos aspetos inibidores apontados pelos entrevistados, estes acham que ainda
existem aspetos potenciadores que beneficiam a adeso ao Desporto Escolar, sendo
que hoje em dia os alunos comeam a interessar-se por outras modalidades diferentes
daquelas que tm mais relevo no Desporto Federado. Assim, todos tm a opinio de
que a Escola, ao abrir outro tipo de modalidades, cria mais atrao.
263
No que concerne ao tipo de aluno que o Desporto Escolar procura, os entrevistados
afirmam que este tem como objetivo ser inclusivo. Independentemente das
capacidades dos alunos, todos tm o direito de participar, de ter as mesmas
oportunidades de vivenciar uma modalidade por si escolhida.
Finalidades
C5: Desporto Escolar no Meio Educativo
O Desporto Escolar est bem inserido no meio educativo, pois a Escola que constri
os saberes, as normas e os valores dos alunos, para que estes se tornem autnomos.
O Desporto Escolar assegura a prtica dos alunos em ambiente educativo e por isso
que os professores acham que deveria haver uma interligao entre o Desporto
Escolar e o Desporto Federado. No seu entender, a Escola que deveria iniciar a
prtica desportiva e os Cubes iriam buscar os atletas s prprias Escolas.
264
para que os alunos tenham possibilidade de novas vivncias de
participao e para que desenvolvam o gosto pelo desporto, pois foi isso
que os chamou para a sua prtica. (E1)
() era ouro sobre azul () porque nas escolas temos a grande marca de
formao e passar a formao por ns era sem duvida muito bom (E2)
() o certo que nestes ltimos anos perdemos muita gente, se calhar
pelas negligncias do rendimento e por no haver um percurso para
quem no quer, no tm qualidade nem capacidade para ir para o
rendimento. (E4)
() neste momento estou a dar tiro com arco. Encaro como uma aula
normal, sempre tentando aperfeioar mais a tcnica () Quando dava
voleibol e ginstica, encarava como um treino porque na altura que
dava ginstica estava inserida na Federao de Ginstica () Desporto
Escolar no aula, no vamos estar aqui a inventar porque treino (E2)
() no fundo uma aula, no deixa de ser uma aula com objetivo
inclusivo (E4)
Apesar do fraco volume de treino no dar para uma devida evoluo, os entrevistados
no veem o Desporto Escolar como uma ocupao de horrio, afirmando at que do
horas por gosto e por considerao aos alunos.
() 45 minutos semanais no d para nada. Por isso dou mais, fao por
obrigao mas tambm por gosto porque os midos no conseguem
fazer quase nada em 45 minutos; cada um atirava 2 flechas e no pode
ser. Por isso que dou a mais e porque gosto e tenho considerao aos
midos. (E2)
Fao isto com muito gosto e porque acredito que muitos valores no so
do Desporto Escolar mas so do desporto em geral (E3)
265
Competncias
C7: Formao Contnua
Em relao questo sobre a formao contnua, os entrevistados mostraram uma
grande preocupao, enunciando ser de extrema importncia a continuao da
formao aps a formao inicial. O professor necessita de construir e possuir um
amplo conhecimento, uma vez que a sociedade e a cincia esto em constante
desenvolvimento. sempre essencial participar nas formaes ou nos cursos que vo
aparecendo; contudo, deveriam existir mais formaes destinadas aos professores.
DISCUSSO
Dos resultados obtidos, surgiram quatro domnios que aglomeraram as categorias que
suscitaram da anlise das entrevistas aos seis professores que lecionam Desporto
Escolar. Estes domnios so a: Conceito e Importncia, Percepo do Indicadores de
Crescimento e Valores, Finalidades e Competncias.
266
Conceito e Importncia
Este primeiro domnio identifica-se pela organizao do Desporto Escolar.
Regista-se, consoante os resultados, que o Desporto Escolar ainda tem um longo
percurso a percorrer. Esta evidncia, assevera que a sua organizao determinada
pela filosofia expressa no quotidiano, e com a devida determinao estratgica que
se concretiza as metas institudas (Pires, 2007). Contudo, o Desporto deve ter a sua
origem na Escola, como afirmam os professores, pois aqui que so criadas
oportunidades de aes orientadas e organizadas, mais acessveis a atividades
autnomas de competio intra e inter escolas.
No que respeita ao modelo, os professores referem que o quadro competitivo no
responde s necessidades desejveis, isto porque no oferece a quantidade de
momentos competitivos que seriam desejveis, despendendo muito tempo em
deslocaes e nos intervalos entre os jogos registando igualmente que os alunos no
competem com alunos que tm os mesmos nveis de capacidade (Guimares, 2005)
sugerindo-se este facto como limitador da evoluo do Desporto Escolar.
267
Conforme nos diz Pina (2001), necessrio que a Escola se torne mais ativa e que seja
capaz de produzir novas ideias. Quando melhor for o plano de atividades, mais alunos
ir cativar, ou seja, o plano de atividades da Escola, deve ir ao encontro dos interesses,
das modas, dos alunos. Pois, emergente elevar o nmero de alunos praticantes de
Desporto Escolar, uma vez que este nmero tende a diminuir (Marques, 2004), porque
os jovens gostam cada vez menos de se movimentarem. Contudo importante a
Escola ter atividades bem alusivas aos olhos dos discentes, pois o desporto uma
atividade que consegue recrutar milhares de pessoas volta de um projeto, mas para
isso necessrio gerir projetos, instalaes, organizaes desportivas, com todo o
rigor e qualificao, para que os alunos no saiam prejudicados, como por exemplo na
questo dos horrios (Pires, 2003).
No que respeita aos alunos, estes desenvolvem diversas capacidades, como o fair-play,
esprito de equipa, respeito mtuo (R. Mota, 2003). O desporto , assim, uma tima
atividade no que visa o combate do insucesso e abandono escolar, conforme nos
divulgado pelo Ministrio de Educao (2009), no Programa do Desporto Escolar.
Finalidades
Os resultados das entrevistas aos professores demonstram a atribuio de uma
importncia insero do Desporto Escolar no meio educativo. Verificando que de
acordo com Formosinho (1988), as finalidades educativas realam a finalidade
socializadora do Desporto Escolar, concebendo o potencial que o Desporto Escolar tem
na integrao dos indivduos na sociedade, em funo da construo de normas e
valores. Desta forma, imprescindvel que a introduo do Desporto Escolar seja
executada no Sistema Educativo (Bento, 1989).
Com a unanimidade entre os entrevistados, estes, ainda pronunciam que, com este
agravamento de sedentarismo e obesidade que se verifica no nosso pas, os malefcios
podem ser combatidos na Escola atravs da prtica de atividade fsica, suscitando
assim o gosto pela prtica desportiva (Garcia, 2005).
Este pensamento vai de encontro s trs finalidades inseridas no Projeto do Desporto
Escolar pelo Ministrio da Educao (2003), sendo estes, a promoo da sade, o
desenvolvimento da cidadania e a formao de candidatos a bons praticantes de
268
desporto. Visando satisfazer e possibilitar que todos os alunos tenham igualdade de
acesso ao desporto (J. Mota & Appel, 1995).
Competncias
O quarto e ltimo domnio evidenciados pelos resultados das entrevistas efetuadas
consistem na opinio que os professores expressam sobre o processo de formao
contnua. O parecer dos professores do presente estudo reflete opinies registadas
noutros estudos (Pires, 2005), em que a formao um mtodo de aquisio de novos
conhecimentos, com a valorizao tcnico-ttica, de modo a melhorar as suas
intervenes, tornando-as mais dinmicas e sistemticas, dando assim resposta s
motivaes dos alunos.
CONCLUSO
No incio do estudo, foram primordialmente referidos os valores do desporto.
Outro aspeto positivo a contribuio que o Desporto Escolar d ao sedentarismo,
pois fomenta a importncia de bons hbitos alimentares e desportivos.
Infelizmente, existem pontos negativos que devem ser evitados, mas para isso
necessrio que haja uma restruturao de todo o Modelo do Desporto Escolar que
est longe de satisfazer os seus diversos agentes como, por exemplo, questes
relacionadas com a carga horria letiva semanal dos alunos e a sua distribuio, os
horrios dos professores, a falta ou inexistncia de espaos e instalaes desportivas
dos estabelecimentos de ensino, os transportes escolares disponveis, a formao de
professores e o envolvimento de toda a comunidade.
No que respeita sua organizao, verifica-se que pouco funcional por ser
semelhante ao Modelo do Desporto Federado, isto , o Desporto Escolar no responde
s necessidades dos alunos menos habilitados e daqueles que apenas pretendem
participar numa atividade orientada e regular.
BIBLIOGRAFIA
Arribas, C. (1982). El ciclo medio en EGB. Planificao e Desenvolvimento Curricular
(pp. 30-40). Madrid: Santillana.
Bardin, L. (2004). Anlise de Contedo (3 ed.). Lisboa: Edies 70.
269
Bento, J. (1989). Para uma Formao Desportiva na Escola. Lisboa: Livros Horizonte.
Bento, J. (2001). A Qualidade na Educao Fsica e no Desporto. In J. Bento, G. Pires, G.
Sousa & J. Meirim (Eds.), Da Educao Fsica ao Alto Rendimento (pp. 73-89). Madeira:
Coleco Gesto do Desporto.
Bogdan, R., & Biklen, S. (1994). Investigao Qualitativa em Educao. Porto: Porto
Editora.
Educao, M. (2003). Documento Orientador do Desenvolvimento do Desporto Escolar:
Jogar pelo Futuro - Medidas e Metas para a dcada.
Educao, M. (2009). Programa do Desporto Escolar para 2009-2013. Lisboa: Direo-
Geral de Inovao e de Desenvolvimento Curricular.
Erickson, K. (1996). The road to excellence: The acquisition of expert performance in the
arts and sciences, sports, and games. Mahwah, New Jersey: Lawrence Erlbaum
Associates.
Formosinho, J. (1988). Organizao e administrao escolar. Universidade do Minho,
Braga.
Fortin, M., Grenier, R., & Nadeau, M. (1999). Mtodos de Colheita de Dados. In M.
Fortin (Ed.), O processo de Investigao: Da concepo realizao. (pp. 74). Loures:
Lusocincia.
Garcia, R. (2005). Escola, Educao Fsica e Tempo Livre: uma relao tambm da
gesto desportiva. Revista APOGESD, 12-32.
Guimares, M. (2005). Desporto Escolar em Portugal - Percursos Sinuosos Um
Compromisso Nacional. Porto.
Marques, A. (2004). Um Desporto para os mais jovens: questes actuais Os Jovens e o
Desporto - oportunidades e dificuldades (pp. 9-28): Livros CDP.
Mota, J., & Appel, H. (1995). Educao Da Sade. Lisboa: Livros Horizonte.
Mota, R. (2003). Desporto Escolar - Organizao, Dinamizao da Actividade Interna.
Revista Horizonte, 19, 1-12.
Pacheco, J., & Morgado, J. (2002). Construo e Avaliao do Projecto Curricular de
Escola (Vol. 19). Porto: Porto Editora.
270
Pina, M. (1997). Estrutura Dinmica do Desporto Escolar: Levantamento e anlise da
situao em Portugal de 1990 a 1995 do modelo prospectiva. Universidade Tcnica
de Lisboa, FMH.
Pina, M. (2001). A Educao Fsica e o Desporto - Os Desafios do Milnio. Frum
Horizonte.
Pires, G. (2003). Gesto do Desporto: Desenvolvimento Organizacional. Porto:
APOGESD.
Pires, G. (2005). Gesto do Desporto (2 ed.). Porto: Edio APOGESD.
Pires, G. (2007). Agn - Gesto do Desporto. Porto: Porto Editora.
Zabalza, M. (1992). Planificao e Desenvolvimento Curricular (1 ed. Vol. 1). Rio Tinto:
Edies Asa.
271
SINCRONIZAO MTUA EM CRIANAS NO TOQUE EM CIMA NO STEP
Este estudo foi suportado pelo Parque de Cincia e Tecnologia do Alentejo Laboratrio de
Investigao em Desporto e Sade (ALENT-07-0262-FEDER-001883).
RESUMO
A sincronizao involuntria dos movimentos emerge de forma espontnea, sendo o
indivduo atrado para o ritmo dos movimentos de outro (Richardson, Marsh, &
Schmidt, 2005).
Verificou-se se ocorria sincronizao no intencional atravs de ausncia visual de
informao sonora, em crianas (N=6, 7 0 anos); e, comparar recorrncia,
determinismo, periodicidade, complexidade e estabilidade em episdios de
sincronizao e no sincronizao.
A tarefa consistiu na realizao do toque em cima do step, em 2 condies: i) sozinhas-
estimando-se a velocidade natural individual e posterior formao das dades; e, ii)
dade - com uma criana mais rpida e outra mais lenta, mas idntico comprimento
dos membros inferiores, executando a tarefa de costas uma para a outra. Na condio
dade, identificaram-se episdios de sincronizao e no sincronizao, com durao
de 10 segundos, os quais foram analisados atravs de cross recurrence analysis (CRQA).
Utilizou-se o teste Wilcoxon para a comparao entre os episdios dos resultados
nosparmetros da CRQA.
Verificou-se sincronizao involuntria atravs da troca exclusiva de informao
auditiva (cf., Nessler & Gilliland, 2009). Apesar de ausncia de diferenas significativas,
nos episdios de sincronizao, os valores de determinismo, periodicidade,
regularidade e complexidade so superiores. A sinergia estabelecida em cada dade,
durante a sincronizao, faz com que cada criana ajuste o seu ritmo ao do seu par,
tornando-se a dade, como sistema, mais determinstica e complexa.
INTRODUO
Quando dois indivduos partilham o mesmo comportamento motor tendem a
sincronizar os seus movimentos atravs do estabelecimento de uma sinergia entre os
dois sistemas que inicialmente eram independentes (Riley, Richardson, Shockley, &
Ramenzoni, 2011).
273
Podemos encontrar dois tipos de sincronizao, sincronizao total quando a fase do
movimento se encontra estvel/bloqueada, persistindo no tempo; e sincronizao
transitria quando so visveis alguns perodos de estabilidade mas no prolongados
no tempo. Quando nenhuma destas formas de sincronizao ocorre estamos perante a
ausncia de sincronizao, no existindo qualquer estabilidade em todo o movimento
(Tognoli et al., 2006).
Alm dos dois tipos de sincronizao existem ainda dois padres estveis da mesma, a
sincronizao em fase e a sincronizao em anti-fase. Na sincronizao em fase ambos
os indivduos realizam o mesmo movimento ao mesmo tempo e na mesma direo,
enquanto que na sincronizao em anti-fase os indivduos partilham o mesmo
movimento realizando-o simultaneamente mas em sentidos contrrios. O padro de
sincronizao em fase considerado mais estvel e fcil de manter ao longo do tempo,
tendo-se verificado que o sistema tende a passar de sincronizao em anti-fase para
fase (Merc, Santos, Branco, & Catela, 2013).
O tema da sincronizao tem vindo a ser estudo e explorado ao longo do tempo por
diversos autores, Zivotofsky e Hausdorff (2007) realizaram um estudo com raparigas
entre os 12 e 14 anos de idade, encontrando sincronizao espontnea de passos
durante um passeio em quase metade das situaes. Num outro estudo realizado
sobre esta temtica, adultos organizados em pares, apresentaram sincronizao
relativa (Von Holst, 1973). Nessler e Gilliland (2009) estudaram a sincronizao
interpessoal tendo em conta fatores como a informao visual, auditiva e
propriocetiva, tendo descoberto que os pares que se sincronizavam tinham uma
menor diferena de comprimento dos membros inferiores. Ou seja, a sincronizao
no s afetada por variveis extrnsecas ao indivduo como a quantidade e tipo de
informao a que est sujeito, mas bem como a variveis extrnsecas como o
comprimento do seu membro inferior durante a marcha.
O objetivo deste estudo consistiu em verificar se a sincronizao no intencional
ocorre atravs de presena no visual de informao sonora, em crianas (N=6, 7 0
anos); e, comparar a recorrncia, determinismo, periodicidade, complexidade e
estabilidade em episdios de sincronizao e de no sincronizao.
274
Para isso foram formados pares tendo por base a similaridade do comprimento dos
membros inferiores e a velocidade natural, emparelhando uma criana lenta com uma
rpida.
A seleo dos pares foi baseada na presena de episdios de ausncia e presena de
sincronizao, tendo sido selecionados apenas 50% destes, ou seja 3 pares.
Na condio dade, foram identificados episdios de sincronizao e de no
sincronizao, com a durao de 10 segundos, os quais foram analisados atravs de
cross recurrence analysis (CRQA). Para a comparao entre os episdios foi utilizado o
teste Wilcoxon.
Esta temtica torna-se bastante interessante pois uma forma de comprovar que
existe sintonia social atravs do movimento (e.g., Schmidt et al., 2011).
275
RESULTADOS
Tabela 1. Output dos episdios analisados de no sincronizao (No Sinc. x) e de
sincronizao (Sinc. x), por par, e mdia para Raio, Percentagem de Recorrncia (%
REC), Percentagem de Determinismo (% DET), Entropia, Linha Mdia (Meanline) e
Linha Mxima (Maxline).
DISCUSSO
A mdia da percentagem de recorrncia superior nos pares sincronizados, reflexo de
um maior nmero de pontos recorrentes dentro da esfera, significando maior
coordenao do sistema. tambm percetvel que o raio maior nos pares no
sincronizados do que nos pares sincronizados, este acontecimento deve-se ao facto de
nos pares no sincronizados ser mais difcil encontrar pontos recorrentes e por essa
mesma razo o raio tem de ser aumentado para que seja possvel encontrar alguns
desses pontos.
276
A mdia da percentagem de determinismo dos pares sincronizados superior aos
pares no sincronizados. Tendo em conta o valor de referncia de 100% significar
coordenao total, podemos dizer que os pares sincronizados se aproximam mais
deste tipo de coordenao. Sendo assim, e partindo da definio de %DET, podemos
afirmar que os pares sincronizados apresentam tambm uma maior previsibilidade e
regularidade que os pares no sincronizados.
A entropia, sendo uma medida de complexidade, verifica se o sistema se encontra
confortvel ou no consoante o meio envolvente em que est inserido. Tendo em
considerao os resultados obtidos dos pares sincronizados e dos pares no
sincronizados, conclumos que o sistema se encontra mais confortvel, mas tambm
mais complexo nos pares sincronizados. Como so avaliados dois indivduos
individualmente, quando estes no esto sincronizados os sistemas comportam-se
isoladamente, quando esto em sintonia comportam-se como um s sistema. Por esse
facto o sistema nos pares sincronizados mais complexo que nos pares no
sincronizados.
Sendo a linha mdia uma medida de periodicidade que analisa a mdia do
comprimento das diagonais, podemos referir que quanto maior este valor mais
peridico o sistema. A linha mxima analisa a estabilidade do sistema atravs do
comprimento mximo da linha diagonal. Quanto mais prximo da maxline estiver o
valor da meanline mais peridico e convergente o sistema. Desta forma o sistema
sincronizado mais peridico e convergente que o sistema no sincronizado.
CONCLUSO
Devido ao facto de no terem sido encontrados estudos com valores de referncia da
anlise de recorrncia na sincronizao, apenas possvel fazer a comparao entre
sistemas sincronizados e no sincronizados.
Desta forma conclumos que um sistema sincronizado apresenta um valor de
percentagem de recorrncia, percentagem de determinismo, entropia, meanline e
maxline superiores a um sistema no sincronizado.
Verificou-se que metade dos pares analisados revelou transio para a sincronizao
motora, sendo o som o promotor dessa sincronizao em crianas.
277
O som juntamente com o movimento promovem sintonia entre dois sistemas
inicialmente independentes, atravs da tcnica de recorrncia CRQA possvel a
diferenciao dos dois estados de comportamento do sistema (dade).
Apesar de ausncia de diferenas significativas entre perodos nos vrios parmetros
de recorrncia, verifica-se que nos episdios de sincronizao os valores de
determinismo, periodicidade, regularidade e complexidade so sempre superiores.
Prevemos que com uma amostra maior as diferenas sero significativas.
BIBLIOGRAFIA
Merc, C., Santos, C., Branco, M., & Catela, D. (2013). Recurrence Analysis of
International Synchronization in Children during Tap Side of Aerobics. In T. Davis, P.
Passos, M. Dicks & J. Weast-Knapp (Eds.), Studies in Perception and Action XII:
Seventeenth Internacional Conference on Perception and Action (pp. 33-37). New York:
Psychology Press.
Nessler, J. A., & Gilliland, S. J. (2009). Interpersonal synchronization during side by side
treadmill walking is influenced by leg length differential and altered sensory feedback.
Hum Mov Sci, 28(6), 772-785.
Richardson, M. J., Marsh, K. L., & Schmidt, R. C. (2005). Effects of Visual and Verbal
Interaction on Unintentional Interpersonal Coordination. Journal of Experimental
Psychology: Human Perception and Performance, 31(1), 62-79.
Riley, M. A., Richardson, M. J., Shockley, K., & Ramenzoni, V. C. (2011). Interpersonal
synergies. Frontiers in Psychology, 2(38).
Von Holst, E. (1973). Relative coordination as a phenomenon and as a method of
analysis of central nervous system function, in The Collected Papers of Erich von
Holst: Vol. 1. The Behavioral Physiology of Animal and Man, (Ed and Trans) R. Martin
(Coral Gables, FL: University of Miami Press), 33135. (Original work published 1939).
Zivotofsky, A.Z., & Hausdorff, J.M. (2007). The sensory feedback mechanisms enabling
couples to walk synchronously: An initial investigation. Journal of Neuroengineering
and Rehabilitation, 4.
278
SINCRONIZAO NO INTENCIONAL AUDITIVA ENTRE CRIANAS DE 6-7 ANOS NA
EXECUO DO BSICO DO STEP
Este estudo foi suportado pelo Parque de Cincia e Tecnologia do Alentejo Laboratrio de
Investigao em Desporto e Sade (ALENT-07-0262-FEDER-001883).
RESUMO
Uma pessoa pode ser espontaneamente atrada para o ritmo dos movimentos
incidentais de outra pessoa, principalmente, se tiver a oportunidade de visualizar o
comportamento motor do seu par. No entanto, o som tambm pode propiciar a
ocorrncia de sincronizao. O presente estudo teve como objetivo principal verificar
se ocorria sincronizao entre crianas de 6-7 anos de idade (N= 16), numa habilidade
motora especfica do Step, o Bsico, atravs do som dos apoios dos ps. Atravs de um
metrnomo digital, foi estimada a velocidade em batimentos por minuto, em duas
condies: (i) individual; e (ii) pares. A velocidade de execuo na condio individual
foi usada para emparelhar uma criana mais lenta com uma mais rpida. Na condio
pares as crianas no se viam uma outra mas conseguiam ouvir o som dos apoios;
foi-lhes dito que no estavam ss. Na condio individual, as crianas mais lentas
diferenciavam-se significativamente das mais rpidas, mas na condio dade essa
diferena desapareceu. Os resultados revelaram um aumento significativo da
velocidade de execuo na condio pares, tanto para as crianas mais lentas como
para as mais rpidas. Os resultados sustentam a hiptese de sincronizao no
intencional atravs da audio do som produzido pelo movimento em crianas.
Palavras-chave
Sincronizao no intencional; Audio; Crianas; Step.
279
ABSTRACT
A person can be spontaneously drawn to the rhythm of incidental movements to
another person, especially if you have the opportunity to view the motor behavior of
your partner. However, synchronization may depend on the presence of the sound of
the movement. The purpose of this paper was to verify if synchronization could occur
among children 6-7 years of age (N= 16), through the sound of the movement, doing a
motor ability specific of the Step, the Basic. Individual velocity of execution was
estimated in beats per minute (bpm), through a digital metronome, under two
conditions: (i) individual; and, (ii) pairs. After that, each slower child was paired with a
faster one. In the pairs condition, children didnt see each other but could listen the
steps of each other. In the individual condition slower children were significantly
slower than faster ones, but in the pairs condition such difference disappeared. The
results revealed an significant increase of bpm in the pairs condition relative to
individual condition, for slower and faster children. The results sustain the hypothesis
that non intentional synchronization can occur through audition of the movement
sound in children.
INTRODUO
H uma tendncia natural para as pessoas coordenarem os seus movimentos com os
movimentos de outras pessoas de forma espontnea (Wel, Knoblich, & Sebanz, 2011;
Vesper, Knoblich, Sebanz, & Wel, 2013). Tal decorre maioritariamente durante
atividades sociais como o trabalho em equipa (Fine, Gibbons, & Amazeen, 2013). Por
exemplo, Zivotofsky e Hausdorff (2007), verificaram, atravs de um estudo realizado
com jovens (raparigas dos 12-14 anos) que ocorria sincronizao espontnea de passos
enquanto caminhavam num passeio.
Outros estudos indicam que os estmulos auditivos (p.e. msica, discurso) so
capazes de produzir sincronizao entre as pessoas quando estas interagem,
apresentando os estmulos visuais menos capacidade de produzir este efeito (e.g.,
Repp & Penel, 2002, 2004; Hove, Krumbansl & Spivey, 2010). Por exemplo, quando as
280
pessoas ouvem msica, elas rapidamente sincronizam atravs das batidas da mesma.
Pelo contrrio, as pessoas raramente se movem espontaneamente em sincronia com
ritmos definidos atravs de estmulos meramente visuais (Repp & Penel, 2004). No
contexto motor de atividades de grupo, a sincronizao pode ser considerada
importante, e.g., em prticas motoras que derivam da dana (Repp, 2005).
Merc, Raposo e Catela (2012), verificaram existir sincronizao no intencional entre
crianas quando em dade executavam o passo toque ao lado da aerbica, sem
constrangimento temporal, o que corrobora outros estudos (e.g., Zivotofsky &
Hausdorff, 2007; Van Ulzen et al, 2008; Nessler & Gilliland, 2009). Os mesmos autores,
verificaram tambm, existir um ajustamento da velocidade de execuo individual,
tenha ou no havido sincronizao na dade.
Com este trabalho pretendeu-se estudar a sincronizao no intencional no passo
bsico do Step atravs da modalidade auditiva, em que os participantes do estudo
quando se apresentavam em dade no se viam mas podiam ouvir um do outro, os
apoios dos passos.
METODOLOGIA
Amostra
Este estudo incidiu numa amostra de 16 crianas, de 6 anos de idade (6,19 0,39
anos), 12 raparigas e 4 rapazes. Foi obtido consentimento informado dos encarregados
de educao e assentimento das crianas.
Tarefa, Material, Procedimentos e Tratamento Estatstico
Foi solicitado s crianas a realizao de uma habilidade motora especfica, da
atividade Step, o Passo Bsico Subida e Descida. A realizao deste passo consiste
num movimento de 4 tempos, sendo dois deles feitos para subir o step (um degrau
standardizado) e os outros dois a desc-lo, em que o membro inferior que o primeiro
a subir para a plataforma o primeiro a descer a mesma.
As crianas cumpriram duas condies: (i) individual: na qual cada criana executou os
passos sozinha, tendo-se fornecido a seguinte instruo criana: Vais ter de subir
para cima deste degrau com um p de cada vez e vais ter de o descer tambm com um
p de cada vez, e o primeiro p a descer tem de ser o mesmo que subiu primeiro, olha
281
como eu vou fazer; (ii) dade: na qual as crianas executaram a tcnica aos pares.
Nesta condio, as crianas foram dispostas frente a frente, estando separadas por
uma divisria de forma a no se visualizarem uma outra. Na condio dade foi dito
s crianas para executarem a mesma tarefa, e que outra criana tambm a estaria a
fazer, tendo sido mencionado o seguinte: Lembram-se do movimento que realizaram
bocado, agora vo ter de o fazer novamente, mas desta vez j no o fazem sozinhos,
agora tm companhia.
Atravs de gravao vdeo, foi estimada a velocidade de execuo do movimento
(passo bsico), em batimentos por minuto (bpm), usando um metrnomo digital, por
criana para as duas condies de prtica. Cada ensaio foi fracionado em 3 partes de
20 seg, e para cada parte foi estimado o bpm.
Os dados foram trabalhados atravs do SPSS, verso 20, tendo-se utilizado o teste
Wilcoxon para comparao entre condies e o teste Mann-Whitney para comparao
entre crianas mais lentas e mais rpidas de cada dade. Foi empregue uma
probabilidade de erro bicaude de .05.
RESULTADOS E DISCUSSO
Condio Individual vs. Condio Dade
Os bpm de quase todas as crianas (14 em 16) aumentaram da condio individual
para a condio dade (ns) (Figura1). No entanto, nenhuma criana individualmente
alterou significativamente a sua velocidade na condio dade, quando comparada
com a da sua condio individual.
282
Batidas por Minuto (BPM)
Figura 1. Batidas por minuto, para o conjunto da amostra, por criana, nas condies
individual e dade.
Quando comparamos as bpm da condio individual das crianas mais lentas com os
das criaas mais rpidas a diferena significativa (Z=-4,20, p .001), no entanto, essa
diferena desaparece quando comparamos as bpm da condio individual destes dois
grupos de crianas na condio dade (cf. Figura 2).
283
Nmero de batidas por minuto 150
125
(BPM)
100
75
50
Grupo Grupo
lento rpido
Velocidade
Figura 2. Caixa de bigodes para as bpm, por grupo de crianas (lento e rpido), nas condies
individual (cinzento escuro) e dade (cinzento claro).
284
CONCLUSO
Na condio dade as crianas tenderam para sincronizao no intencional. Esta
sincronizao foi realizada custa de uma aumento da velocidade de execuo do
movimento, tal como verificado por Merc (2012), noutro movimento de atividades de
componente rtmica. Esta tendncia para encontrar sincronizao, atravs de aumento
da velocidade de execuo do moimento, tem maior impacto nas crianas que
naturalmente executam os movimentos a velocidades inferiores. Nem todas as dades
seguiram este padro, numa delas (Figura 1, crianas 7 e 8), uma criana manteve
sempre o mesmo ritmo, enquanto que o seu par reduziu a sua velocidade de execuo
natural para uma equivalente quela. Este tipo de padro faz supor a existncia de
fatores socio-emocionais associados, no testveis por este tipo de metodologia.Os
resultados deste estudo revelam que basta juntar crianas numa tarefa motora para
elas terem a tendncia para interagir atravs do ritmo de execuo dessa mesma
tarefa motora, sem que qualquer motivo consciente lhes tenha sido induzido ou esteja
a operar, tal como se verificou no estudo de Zivotofsky e Hausdorff (2007), descrito na
reviso de literatura sobre a sincronizao espontnea de movimentos. A tendncia
para o aumento da velocidade de execuo, tal como verificado no estudo de Merc,
Raposo e Catela (2012), pelo simples facto de partilharem uma tarefa motora comum,
mas no necessariamente exigindo cooperao para a cumprir, indica-nos que
propiciar uma situao de grupo pode despoletar aumento de esforo fsico;
desconhecendo-se, de momento, se significativo ou no (pois as crianas no se
afastam significativamente da sua velocidade natural e no foi recolhido qualquer
parmetro fisiolgico de esforo). A mudana de um padro de comportamento, sem
que nada tenha sido dito em relao a isso, tambm poder ser um indicador de uma
predisposio inata e no intencional (Wel, Knoblich, & Sebanz, 2011; Vesper,
Knoblich, Sebanz & Wel, 2013) para a interao social (Fine, Gibbons, & Amazeen,
2013).
285
BIBLIOGRAFIA
Demos, Begosh, Daniels, & Marsh (2011). Rocking to the Beat: Effects of Music and
Partners Movements on Spontaneous Interpersonal Coordination. Journal of
Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 141(1), 4953. doi:
10.1037/a0023843;
Fine, J., M., Gibbons, C. T., & Amazeen, E. L. (2013). Congruency Effects in
Interpersonal Coordination. Journal of Experimental Psychology: Human Perception
and Performance. Advance online publication. doi: 10.1037/a0031953
Hove, M., Krumbansl, C.,& M., Spivey (2010). Compatibility of Motion Facilitates
Visuomotor Synchronization. Journal of Experimental Psychology: Human Perception
and Performance, 36(6), 15251534. doi: 10.1037/a0019059
Merc, C., Raposo, A., & Catela, D. (2012). Sincronizao no intencional entre crianas
na execuo do toque ao lado da aerbica. In Mendes, R., Barreiros, J., Vasconcelos,
O., Estudos em Desenvolvimento da Criana V, pp. 71-74, Escola Superior de Educao,
Coimbra
Reep, B., & Penel, A. (2004). Rhythmic movement is attracted more strongly to
auditory than to visual rhythms. Psychological Research. 68, 252270. doi
10.1007/s00426-003-0143-8;
Repp, B., & Penel, A. (2002). Auditory Dominance in Temporal Processing: New
Evidence From Synchronization With Simultaneous Visual and Auditory Sequences.
Journal of Experimental Psychology: Human Perception and Performance, 28(5),1085
1099. doi: 10.1037//0096-1523.28.5.1085;
Repp, B., (2005). Sensoriomotor synchronization: A review of the tapping literature.
Psychonomic Bulletin & Review, 12(6), 969-992.
Vesper, G, Knoblich, G., Sebanz, N., & Wel, R. (2013). Are You Ready to Jump?
Predictive Mechanisms in Interpersonal Coordination. Journal of Experimental
Psychology: Human Perception and Performance, 39(1): 4861. doi: 10.1037/a0028066
Wel, R., Knoblich, G., & Sebanz,N. (2011). Let the Force Be With Us: Dyads Exploit
Haptic Coupling for Coordination. Journal of Experimental Psychology: Human
Perception and Performance, 37(5), 14201431. doi: 10.1037/a0022337;
286
Zivotofsky, A., & Hausdorff, J. (2007). The sensory feedback mechanisms enabling
couples to walk synchronously: An initial investigation. Journal of Neuro Engineering
and Rehabilitation 4(28). doi:10.1186/1743-0003-4-28.
287
VARIVEIS DETERMINANTES DO DESEMPENHO EM PROVAS DE CURTA DURAO
EM NADADORES MASTERS
1
Escola Superior de Educao, Instituto Politcnico de Setbal, Portugal.
2
Centro Interdisciplinar de Estudo da Performance Humana, FMH, Portugal.
3
Universidade Estadual Paulista - Faculdade de Cincias - Bauru, Brasil.
4
Centro de Investigao em Qualidade de Vida (IPSantarm/IPLeiria), Portugal.
5
Centro de Investigao em Desporto, Sade e Desenvolvimento Humano, Vila Real, Portugal.
RESUMO
Vinte e quatro nadadores masters participaram no estudo (42.0 7.4 anos, 1.74 0.09
m, 74.8 14.1 kg). Salto vertical com contra movimento (CMJ) e lanamento da bola
medicinal (BM) de 3kg foram realizados. Em piscina de 25 m, cada nadador completou
50 m com partida dentro de gua em nado crol, tendo sido registado o desempenho
aos 25 e 50 m (T25, T50). A velocidade crtica anaerbia (VCaN) foi determinada atravs
do declive da relao distncia-tempo (Dd-t) nas duas distncias de nado. T25 e T50
(respetivamente 19.0 2.7-seg e 38.8 6.4-seg) revelaram-se correlacionados com
CMJ (27.2 5.0 m) (respetivamente, r = -0,78 e -0.73, p < 0.01) e BM (4.3 1.0 m) (r =
-0.68 e -0.58 , p < 0.01). A VCaN25,50 (1.31 0.23 m.s-1) revelou-se correlacionada com o
T25 (r = -0.92, p < 0.01) e o T50 (r = -0.98, p < 0.01). Os parmetros de fora revelam-se
importantes no desempenho em meio aqutico em nadadores masters e a VCaN
poder ser relevante no treino de nadadores masters.
288
ABSTRACT
Twenty-four masters swimmers participated in the study (42.0 7.4 years, 1.74 0.09
m, 74.8 14.1 kg). Countermovement jump (CMJ) and 3 kg medicinal ball throwing
(BM) were performed. At a 25 m swimming pool, each subject completed a maximal
50 m front crawl swim with in water start, 25 and 50 m performances (T 25, T50) were
recorded. Anaerobic critical velocity (AnCV) was determined by the slope of the
distance-time relationship (Dd-t) in the two swimming distances. T25 and T50
(respectively 19.0 2.7-sec and 38.8 6.4-sec) were correlated with CMJ (27.2 5.0
m) (respectively, r = -0.78 and -0.73, p < 0.01), and BM (4.3 1.0 m) (r = -0.68 and -
0.58, p < 0.01). AnCV25,50 (1.31 0.23 m.s-1) was correlated with T25 (r = -0.92, p < 0.01 )
and T50 (r = -0.98, p < 0.01). The strength parameters turn out to be important in
aquatic performance in masters swimmers and AnCV may be relevant in the training of
masters swimmers.
INTRODUO
O processo de envelhecimento humano est associado a um declnio no desempenho
neuromuscular. A perda de mobilidade e independncia funcional associada ao
processo de envelhecimento est relacionada com uma reduo de massa muscular,
que por sua vez est associada perda de fora. A capacidade de executar tarefas
fsicas da vida diria e a facilidade com que estas podem ser realizadas reconhecido
diminuir com o avanar da idade, mesmo em adultos saudveis (Tanaka e Seals, 1997;
Martin et al., 2000). O avano da idade est associado a uma reduo do desempenho
em vrias tarefas e um concomitante aumento na morbidade e mortalidade (Martin et
al., 2000; Tanaka e Seals, 2003).
De acordo com Rubin e Rahe (2010), o declnio relativo idade no desempenho entre
campees nacionais de natao - homens e mulheres - em distncias de nado curtas e
longas, linear, cerca de 0,6 % anualmente at aos 70-75 anos de idade. A natao a
nvel master afirma-se como um desporto particularmente adequado para os idosos
(Rubin et al., 2013), um movimento crescente em todo o mundo e a prova de 50 m
livres hoje o evento mais participado em competies oficiais.
289
O desempenho na natao pura desportiva (NPD) depende de vrios fatores, entre
eles, da fora muscular (Leveritt et al., 2000). Recentemente, Rubin et al. (2013)
salientaram que nadadores masters tm a capacidade de apresentar desempenhos de
bom nvel ao longo de vrias dcadas. Parmetros relacionados com fora tm sido
propostos como um dos fenmenos multifatoriais que proporcionam o melhor
desempenho de natao (Tanaka et al., 1993; Barbosa et al., 2010, Morouo et al.,
2011).
Estudos anteriores revelaram ligaes positivas entre parmetros de fora e aspetos
cinemticos relativamente ao desempenho em nadadores de elite (Girold et al., 2012)
e investigao realizada com jovens nadadores evidenciou uma tendncia de melhoria
no desempenho em distncias reduzidas de natao devido ao treino de fora (Garrido
et al., 2010). Programas de treino de fora so uma prtica comum em nadadores
(Aspenes et al, 2009; Garrido et al., 2010), mesmo que os efeitos benficos sejam
controversos na literatura (Tanaka et al., 1993; Trappe e Pearson, 1994; Girold et al.,
2007).
Vrios estudos indicaram que o desempenho na natao dependente da fora
muscular (Sharp et al., 1982; Costill et al., 1985; Tanaka et al., 1993; Girold et al., 2007)
e a velocidade de nado (VN) tem-se revelado correlacionada com uma variedade de
parmetros relacionados com fora (Sharp et al., 1982; Hawley e Williams, 1991;
Aspenes et al., 2009). Por outro lado, as melhorias nos nveis de fora dos membros
superiores pode resultar numa melhor aplicao da fora por braada e,
consequentemente, maior VN, especialmente em distncias de nado mais reduzidas
(Strzala e Tyka, 2009 ).
A evoluo do desempenho na natao ao longo dos anos est relacionada com um
melhor controlo e avaliao dos nadadores, conduzindo a um processo de treino mais
eficiente (Smith et al., 2002). Na natao, o desempenho anaerbio tem recebido
pouca ateno comparativamente com o desempenho aerbio e estudos direcionados
a nadadores masters so escassos.
O declive da relao linear entre a distncia e o tempo para percorrer uma
determinada distncia (Dd-t) normalmente denominado velocidade crtica (VC), uma
ferramenta til para avaliar o desempenho de vrias formas de locomoo (di
290
Prampero et al., 2008). No requer o uso de equipamentos dispendiosos ou
procedimentos invasivos e pode ser determinada durante as sesses de treino ou
utilizando a anlise de resultados em competio (Costa et al., 2009).
Anteriormente, foi sugerido que a VC pode ser adequada para o treino de resistncia
em nadadores adultos (Wakayoshi et al., 1993., Rodrguez et al., 2003), embora
estudos mais recentes indiquem que a VC sobrestima conceitos fisiolgicos associados
transio do domnio da intensidade de exerccio pesada e severa, por exemplo, o
estado estacionrio mximo de lactato lactato (Dekerle et al., 2005; Espada e Alves,
2010). A VC afirma-se, portanto, como um conceito que sendo aparentemente til,
igualmente controverso na literatura.
Com base na VC, um novo conceito tem sido sugerido com o objetivo de determinar
desempenhos anaerbios (Abe et al., 2006; Fernandes et al., 2008; Marinho et al.,
2011), a velocidade crtica anaerbia (VCaN). No entanto, estudos relacionados com a
VCaN so muito escassos e torna-se pertinente compreender o verdadeiro significado
e aplicao deste indicador.
O objetivo deste estudo foi analisar as relaes entre parmetros de fora e o
desempenho em distncias de nado reduzidas em nadadores masters e observar
possveis relaes entre o conceito VCaN e o desempenho em distncias de nado
reduzidas.
As hipteses colocadas foram i) a capacidade de desempenho em distncias de nado
reduzidas menor em nadadores mais velhos, ii) parmetros de fora esto
relacionados com o desempenho em distncias de nado reduzidas em nadadores
masters e, iii) a VCaN correlaciona-se com o desempenho na natao em distncias de
nado reduzidas em nadadores masters.
MATERIAIS E MTODOS
Amostra
Vinte e quarto nadadores masters participaram no estudo, as caractersticas fsicas
constam no quadro 1.
291
Quadro 1. Caractersticas fsicas em valores mdios (incluindo desvio padro).
(n = 24)
Idade (anos) 42.0 7.5
Altura (m) 1.74 0.10
Peso (Kg) 74.8 14.1
ndice de massa corporal (Kg/m2) 24.7 3.5
Procedimentos
Testes caracterizadores de fora fora de gua
Todos os testes foram realizados numa zona anexa ao cais de piscina, cada um dos
participantes realizou trs saltos verticais com contra movimento (CMJ) (Ergojump,
Globus, Itlia), separados por um minuto de repouso. Tambm a distncia horizontal
resultante do lanamento de uma bola medicinal de 3 kg (BM) foi selecionada como
varivel de potncia num teste realizado fora de gua. A composio corporal foi
avaliada atravs de bioimpedncia (Tanita BC 420S MA, Japo).
292
cada nadador utilizando o modelo Dd-t e assumindo desempenhos em diferentes
distncias de nado: 25 e 50 m (figura 1).
Anlise estatstica
A normalidade e homocedasticidade foram verificadas usando um teste de Shapiro-
Wilk e Levene. O coeficiente de correlao de Pearson (r) foi utilizado para verificar as
associaes.
Mtodos estatsticos padro foram utilizados para o clculo das mdias e desvios-
padro de todas as variveis. Coeficientes de correlao intra-classe (ICC) tambm
foram calculados. A significncia foi aceite a p 0.05.
293
RESULTADOS
Altos nveis de fiabilidade (ICC > 0.82 e < 0.94) foram observados relativamente aos
dados concernentes a parmetros de fora e desempenho em nado. T25, T50
(respetivamente 19.0 2.7-seg e 38.8 6.4-seg) revelaram-se correlacionados com
CMJ (27.2 5.0 m) (respetivamente, r = -0.78 e -0.73, p < 0.01). O resultado no teste da
BM (4.3 1.0 m) revelou-se igualmente correlacionado com T25, T50 (r = -0.68 e -0.58, p
< 0.01).
A VCaN25,50 (1.31 0.23 m.s-1) revelou-se correlacionada com o T25 (r = -0.92, p < 0.01)
e o T50 ( r = -0.98, p < 0.01).
294
DISCUSSO
De acordo com Sadownski et al. (2012), a capacidade para realizar movimentos com
alta velocidade representada pela potncia muscular, um nvel ideal de fora e
potncia parece necessrio para o bom desempenho na natao (Newton et al., 2002).
Os resultados obtidos no presente estudo reforam a importncia da componente de
fora no desempenho em meio aqutico, neste particular em nadadores masters.
CONCLUSES
Em nadadores masters, o desempenho em provas de curta durao relaciona-se com
variveis caracterizadoras da fora, com maior enfse nos 25 m. Este facto dever
296
conduzir os atletas e treinadores a prestar especial ateno ao treino de fora na
preparao competitiva.
BIBLIOGRAFIA
Abe, D., Tokumaru, H., Nihata S., Muraki, S., Fukuoka, Y., Usui, S., Yoshida, T. (2006).
Assessment of short-distance breaststroke swimming performance with critical
velocity. J Sports Sci Med; 5:340-348.
Aspenes, S., Kjendlie, P-L., Hoff, J., Helgerud, J. (2009). Combined strength and
endurance training in competitive swimmers. J Sport Sci Med; 8: 357-365.
Barbosa, T.M., Bragada, J.A., Reis, V.M., Marinho, D.A., Carvalho, C., Silva, A.J. (2010).
Energetics and biomechanics as determining factors of swimming performance:
updating the state of the art. J Sci Med Sport; 13: 262-269.
Costa, A.M., Silva, A.J., Louro, H., Reis, V.M., Garrido, N.D., Marques, M.C., Marinho,
D.A. (2009). Can the curriculum be used to estimate critical velocity in young
competitive swimmers. J Sports Sci Med; 8: 17-23.
Costill, D., Kovaleski, J., Porter, D., Kirwan, J., Fielding, R., King, D. (1985). Energy
expenditure during front crawl swimming: predicting success in middle-distance
events. Int J Sports Med; 6: 266-270.
Dekerle, J., Pelayo, P., Clipet, B., Depretz, S., Lefevre, T., Sidney, M. (2005). Critical
swimming speed does not represent the speed at maximal lactate steady state. Int J
Sports Med; 26: 524-530.
di Prampero, P.E., Dekerle, J., Capella, C., Zamparo, P. (2008). The critical velocity in
swimming. Eur J Appl Physiol; 102, 165-171.
Espada, M.A. & Alves, F.B. (2010). Critical velocity and the velocity at maximal lactate
steady state in swimming. In: Per-Ludvik Kjendlie, Robert Keig Stallman and Jan Cabri
297
(Eds.). Biomechanics and Medicine in Swimming XI (pp. 194-196). Oslo: Norwegian
School of Sport Science.
Fernandes, R., Aleixo, I., Soares, S., Vilas-Boas, J.P. (2008). Anaerobic Critical Velocity: a
new tool for young swimmers training advice. In: P Noemie, Beaulieu (Eds). Physical
activity and children: new research. Nova Science Publishers: New York: 211-223.
Garrido, N., Marinho, D.A.., Reis, V.M.., van den Tillaar, R.., Costa, A.M.., Silva, A.J..,
Marques, M.C. (2010). Does combined dry land strength and aerobic training inhibit
performance of young competitive swimmers? J Sports Sci Med; 9(2): 300-310.
Gastin, P.B. (2001). Energy system interaction and relative contribution during maximal
exercise. Sports Med; 31: 725-41.
Girold, S., Calmels, P., Maurin, D., Milhau, N., Chatard, J.C. (2006) Assisted and resisted
sprint training in swimming. J Strength Cond Res. 20: 547-554.
Girold, S., Maurin, D., Dugue, B., Chatard, J.C., Millet, G. (2007). Effects of dry-land vs.
resisted- and assisted-sprint exercises on swimming sprint performances. J Strength
Cond Res; 21: 599-605.
Girold, S., Jalab, C., Bernard, O., Carette, P., Kemoun, G., Dugu, B. (2012). Dry-land
strength training vs. electrical stimulation in sprint swimming performance. J Strength
Cond Res; 26: 497-505.
Hawley, J.A. e Williams, M.M. (1991). Relationship between upper body anaerobic
power and freestyle swimming performance. Int J Sports Med. 12(1): 1-5.
Holmer, I. (1983) Energetics and mechanical work in swimming. In: Hollander, A.P.,
Huijing, P.A., Groot, G.D. (Eds.). Biomechanics and Medicine in Swimming. Champaign
III: Human Kinetics Publishers. 154-164.
Keskinen, O.P., Keskinen, K.L., Mero, A.A. (2007). Effect of pool length on blood lactate,
heart rate, and velocity in swimming. Int J Sports Med; 28: 407-413.
Leveritt, M., Abernethy, P., Barry, B.K., Logan, P.A. (2000) Concurrent strength and
endurance training. A review. Sports Med; 28(6): 413-427.
Marinho, D.A., Amorim, R.A., Costa, A.M., Marques, M.C., Prez-Turpin, J.A., Neiva,
H.P. (2011). Anaerobic critical velocity and swimming performance in young swimmers.
J Human Sport Exerc; 6: 80-86.
298
Martin, J.C., Farrar, R.P., Wagner, B.M., Spirduso, W.W. (2000). Maximal power across
the lifespan. J Gerontol A Biol Sci Med Sci; 55(6): M311-M316.
Morouo, P., Neiva, H., Gonzlez-Badillo, J., Garrido, N., Marinho, D., Marques, M.
(2011). Associations between dry land strength and power measurements with
swimming performance in elite athletes: a Pilot Study. J Hum Kin; 29A: 105-112.
Neiva, H.P., Fernandes, R., Vilas-Boas, J.P. (2011). Anaerobic critical velocity in four
swimming techniques. Int J Sports Med; 32(3): 195-198
Newton, R.U., Jones, J., Kramer, W.J., Wardle, H. (2002). Strength and power training
of Australian Olympic swimmers. Strength Cond J; 24(3):7-15.
Ogita, F. (2006). Energetics in competitive Swimming and Its Application for Training.
Rev Port Cien Desp; 6: 117-182.
Olbrecht, J. (2000). The science of winning. Planning, periodizing and optimizing swim
training. Luton, England: Swimshop.
Sadowski, J., Mastalerz, A., Gromisz, W., Ninikowski, T. (2012). Effectiveness of the
power dry-land training programmes in youth swimmers. J Hum Kinet; 32: 77-86.
Tanaka, H., Costill, D.L., Thomas, R., Fink, W.J., Widrick, J.J. (1993). Dry-land resistance
training for competitive swimming. Med Sci Sports Exerc; 25: 952-959.
Tanaka, H., Costill, D.L., Thomas, R., Fink, W.J., Widrick, J.J. (1993). Dry-land resistance
training for competitive swimming. Med Sci Sports Exerc; 25: 952-959.
Tanaka, H. e Seals, D.R. (1997). Age and gender interactions in physiological functional
capacity: insight from swimming performance. J Appl Physiol; 82: 846-851.
Tanaka, H. & Seals, D.R. (2003). Dynamic exercise performance in Masters athletes:
insight into the effects of primary human aging on physiological functional capacity. J
Appl Physiol; 95(5): 2152-2162.
Trappe, S. e Pearson, D.R. (1994). Effects of weight assisted dry-land strength training
on swimming performance. J Strength Cond Res; 8: 209-213.
Rodrguez, F.A., Moreno, D., Keskinen, K.L. (2003). Validity of a two-distance simplified
method for determining critical swimming velocity. In: Chatard, J.C. (Eds) Biomechanics
and Medicine in Swimming IX. University of Saint-Etienne, Saint-Etienne, France: pp.
385390.
299
Rubin R.T. e Rahe R.H. (2010). Effects of aging in Masters swimmers: 40-year review
and suggestions for optimal health benefits. Open Access J Sports Med; 1: 39-44.
Rubin, R.T., Lin, S., Curtis, A., Auerbach, D., Win, C. (2013). Declines in swimming
performance with age: a longitudinal study of Masters swimming champions. Open
Access J Sports Med; 12: (4) 63-70.
Sharp, R.L., Troup, J.P., Costill, D.L. (1982). Relationship between power and sprint
freestyle swimming. Med Sci Sports Exerc; 14(1): 53-56.
Smith, D., Norris, S., Hogg, M. (2002). Performance evaluation of swimmers. Sports
Med; 32: 539-554.
Strzala, M., Tyka, A., Krezalek, P. (2007). Swimming technique and biometric and
functional indices of young swimmers in relation to front crawl swimming velocity.
Hum Movement, 2007; 8(2): 112-119.
Strzala, M. e Tyka, A. (2009). Physical endurance, somatic indices and swimming
technique parameters as determinants of front crawl swimming speed at short
distances in young swimmers. Medicina Sportiva; 13: 99-107.
Wakayoshi, K., Yoshida, T., Udo, M., Harada, T., Moritani, T., Mutoh, Y., Miyashita, M.
(1993). Does critical swimming velocity represent exercise intensity at maximal lactate
steady state? Eur J Appl Physiol; 66: 90-95.
300
A FORMAO DE PROFESSORES E EDUCAO INCLUSIVA: O DESENVOLVIMENTO DE
UMA POLTICA DE APOIO A CRIANAS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
EM SO TOM E PRNCIPE
Isabel Piscalho
RESUMO
Este artigo pretende apresentar o trabalho desenvolvido no mbito do Projeto Reforo
Institucional e Qualitativo do Ensino Bsico. Este, visa desenvolver estratgias de
formao e apoio ao trabalho desenvolvido pelas escolas do ensino bsico em So
Tom e Prncipe, apoiado pela Fundao C. Gulbenkian e desenvolvido em parceria
com uma equipa de consultores da Escola Superior de Educao do Instituto
Politcnico de Santarm. O projeto torna-se inovador por estar a apoiar a definio de
uma poltica para a incluso das crianas com necessidades educativas especiais de
carcter permanente nas escolas, uma das grandes lacunas do sistema educativo do
pas. Deste modo, prev-se a colaborao na identificao, a nvel nacional, das
crianas com necessidades educativas especiais existentes, em colaborao com os
servios de sade, ONG, docentes e diretores das creches, jardins de infncia e escolas
do ensino bsico. Paralelamente, visando a construo de um modelo de formao
para o trabalho especfico com estas crianas, esto a ser recolhidos nos diferentes
distritos do pas testemunhos de educadores e professores, que sero analisados e
trabalhados nos documentos de apoio a organizar para as atividades formativas a
desenvolver. Assim, apresentar-se-o os objetivos e metodologias deste trabalho,
assim como alguns dos dados recolhidos.
301
ABSTRACT
This article aims to present the work developed in the Projeto Reforo Institucional e
Qualitativo do Ensino Bsico. The aims of this project are to develop training
strategies and support the work of the primary schools in So Tom and Prncipe. The
project is supported by the Calouste Gulbenkian Foundation and developed in
partnership with a team of consultants from the School of Education, Polytechnic
Institute of Santarm. It becomes by being innovative to support the formulation of a
policy for inclusion of children with special educational needs in schools, one of the
limitations of the education system of the country. Thus, it is anticipated collaboration
in identifying the national level of existing children with special educational needs, in
collaboration with health services, NGOs, teachers and directors of day care centers,
kindergartens and primary schools. Meanwhile, aiming at the construction of a training
model for the specific work with these children, are being collected in different
districts of the country testimonials from educators and teachers, which will be
analyzed and worked in the support documents for organizing training activities to
develop. So, will present itself the objectives and methodologies of this work, as well
as some of the data collected.
INTRODUO
A problemtica da populao portadora de deficincia tem sido objeto de
preocupao a nvel mundial, pois, segundo estimativas da Organizao das Naes
Unidas, existem no mundo cerca de 600 milhes de pessoas portadoras de deficincia,
das quais 180 milhes so crianas. Pelo menos 400 milhes dos portadores de
deficincia vivem nos pases em vias de desenvolvimento, sendo 80 milhes no
continente africano.
Em So Tom e Prncipe (STP) no existem instituies especiais de ensino, embora
exista um setor de educao especial, junto do Ministrio da Educao Clula do
Ensino Especial. O pas tem procurado adotar, nos ltimos anos, uma poltica de
educao inclusiva, dando corpo s diretrizes emanadas a nvel internacional, atravs
302
do desenvolvimento de uma srie de aes na rea das Necessidades Educativas
Especiais (NEE), apoio e acompanhamento a alguns casos pontuais de crianas
portadoras de deficincia, integradas no ensino regular.
Muito recentemente (2013), foi levado a cabo um programa de referenciao de
crianas dos 0 aos 12 anos portadoras de deficincia, promovido pela UNICEF,
Ministrio de Educao de So Tom e Prncipe e Escola Superior de Educao do
Instituto Politcnico de Santarm, para o despiste e referenciao de todas as crianas
que frequentam ou no o Jardim de Infncia e o 1 Ciclo do Ensino Bsico. Porm, no
h como incluir crianas com necessidades educativas especiais no ensino regular sem
uma resposta concertada que oferea aos professores formao especializada.
Este artigo d conta do Projeto Reforo Institucional e Qualitativo do Ensino Bsico
(RIQUEB) - apoiado pela Fundao Calouste Gulbenkian, desenvolvido em parceria com
uma equipa de consultores da Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de
Santarm (ESES) e envolvendo o Ministrio da Educao e Cultura de S. Tom e
Prncipe. Este projeto assume uma grande importncia no contexto atual em vrias
reas, e a educao especial no exceo. Tem-se vindo a trabalhar no sentido de
produzir material de apoio formao de supervisores, tanto para os contextos da
formao inicial, como para os contextos de formao contnua (em servio ou de
complemento de formao), e mesmo para o acompanhamento dos profissionais no
terreno, ainda que no em processo formal de formao, com vista preparao dos
professores para receber em sala de aula os alunos com necessidades educativas
especiais.
Assim, no presente artigo comeamos, pois, por tratar brevemente a situao da
educao especial em STP, avanando com algumas informaes estatsticas do pas
relativas referenciao de crianas portadoras de deficincia. Apresentamos, em
seguida, o trabalho j desenvolvido pelo grupo no mbito da educao especial, que
visa a construo de documentos de apoio formao de professores e apoio ao
trabalho desenvolvido pelas escolas do ensino bsico na organizao de um sistema de
apoio s crianas com necessidades educativas especiais em STP. Por fim, sero tecidas
algumas consideraes finais em que se evidencia o perfil de competncias a
desenvolver atravs da construo de um modelo de formao para o trabalho
303
especfico com estas crianas e qual o perfil do formador/formadora mais adequado
para a realizao deste trabalho formativo.
304
mesmo artigo, criar condies de promoo do sucesso escolar e educativo a todos os
alunos.
O sistema educativo santomense estruturado segundo a Lei de Bases do Sistema
Educativo (LBSE) - Lei n2/2003. No que respeita educao especial (Artigo 17),
afirma-se que a educao especial visa o atendimento e integrao socioeducativas
dos indivduos com necessidades educativas especficas e que a educao especial
integra atividades dirigidas aos educandos e aes dirigidas s famlias, aos educadores
e s comunidades (ponto 2 do art. 17), assumindo especial relevo: o
desenvolvimento das potencialidades fsicas e intelectuais; a ajuda na aquisio da
estabilidade emocional; o desenvolvimento das possibilidades de comunicao; a
reduo das limitaes provocadas pela deficincia; o apoio na insero familiar,
escolar e social de crianas e jovens deficientes; o desenvolvimento da independncia
a todos os nveis em que se possa processar, e a preparao para uma adequada
formao profissional e integrao na vida ativa (ponto 3 do art. 17).
Quanto organizao da Educao especial, o artigo 18 refere que se organiza
preferencialmente segundo modelos diversificados de integrao em
estabelecimentos regulares de ensino, tendo em conta as necessidades de
atendimento especfico e com apoio de educadores especializados.
Com base nos suportes legais referidos, verifica-se que as preocupaes referentes
educao de crianas/jovens com NEE esto visveis quer na Constituio, quer na Lei
de Bases do Sistema Educativo Santomense (LBSE). Na LBSE, so dignos de destaque, o
artigo 2 onde se d nfase ao princpio de igualdade e o direito a educao, direito
este defendido no artigo 55 da Constituio, defendendo que o sistema educativo se
dirige a todos os indivduos independentemente da idade, sexo, nvel socioeconmico,
intelectual ou cultural, crena religiosa ou convico filosfica de cada um. Essa
perspetiva, enquadra-se no stimo princpio, isto , o princpio fundamental da escola
inclusiva da Declarao de Salamanca (1994). A Conferncia Mundial sobre
Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade realizou-se em Salamanca,
Espanha, na qual participaram mais de trezentos representantes de 88 governos e
representantes de 25 organizaes internacionais. Desta Conferncia resultou uma
declarao, supracitada, que apresenta um quadro de ao com vista a incentivar e
305
apoiar os diversos pases/governos na implementao da Educao Inclusiva.
Reafirmou-se, assim, o compromisso para com a Educao para Todos, reconhecendo
a necessidade e urgncia de ser providenciada a educao para as crianas, jovens e
adultos com NEE dentro dos sistemas regulares de ensino.
Podemos afirmar que, em termos de acesso educao, So Tom e Prncipe est
muito prximo dos Objetivos do Desenvolvimento do Milnio (ODM), facilitando o
acesso educao para todos. A educao de pessoas com NEE tem sido uma das
preocupaes dos diferentes governos, bem como da Organizao das Naes Unidas
para a Educao, a Cincia e a Cultura (UNESCO), a qual estabeleceu eixos que
orientam a implementao da Educao Inclusiva.
E numa perspetiva de escola para todos que na sequncia da Conveno
Internacional sobre os Direitos da Criana (ONU, 1989) - que afirma que nenhuma
criana deve ser prejudicada por razes que se relacionem com raa, credo, cor,
gnero, idioma, casta, situao ao nascer ou por ser portador de alguma deficincia -
colocou os estados membros da Organizao das Naes Unidas perante a
obrigatoriedade de no exclurem nenhum dos seus cidados de qualquer direito,
nomeadamente o da Educao. Realizou-se em 1990, na Tailndia, em Jomtien, a
Conferncia Mundial sobre Educao para Todos, da qual resultou a Declarao
Mundial sobre Educao para Todos e o Plano de Ao para Satisfazer as
Necessidades Bsicas de Aprendizagem. O referido evento, que culminou com a
elaborao de um conjunto de metas, assim como do plano de ao em tela, teve
como principais patrocinadores e organizadores o Banco Mundial, a UNESCO
(Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e a Cultura), a UNICEF
(Fundo das Naes Unidas para a Infncia) e o PNUD (Programa das Naes Unidas
para o Desenvolvimento). So Tom e Prncipe aderiu aos princpios desta Conferncia
em que a satisfao das necessidades bsicas de aprendizagem das crianas, jovens e
adultos, passariam pela aquisio de conhecimentos tericos e prticos, formas de
fazer, valores e atitudes, que em cada momento pudessem contribuir no s para a
sobrevivncia, mas para o desenvolvimento das capacidades, potenciando o acesso a
uma vida e trabalho dignos, participao no processo de desenvolvimento e na
tomada de decises. Isso exigia que se entendesse essa educao mais do que uma
306
mera renovao do compromisso com a educao bsica, exigia uma ampliao dos
recursos postos ao servio dessa educao. So Tom e Prncipe assumiu orientar o
seu sistema nesse sentido criando, para o feito, uma comisso cujo o papel seria a
elaborao de um Plano de Ao Nacional para a concretizao da Educao para
Todos. Sempre que nos referimos a uma educao para todos, necessariamente, est
subjacente uma educao inclusiva, que visa proporcionar uma abordagem global dos
problemas da deficincia e de promover o desenvolvimento de aes tendentes
melhoria da situao educativa desse grupo populacional.
Ainda, como diretrizes mundiais que as medidas de polticas adotadas no pas para o
desenvolvimento da Educao subscrevem, destaca-se dez anos mais tarde, o Frum
Mundial sobre Educao realizado em Dakar (2000) - evento que constitui num marco
determinante na Educao para Todos, em particular para STP -, a Cimeira Mundial
sobre o Desenvolvimento Social (Copenhague, 1995), as conferncias regionais sobre a
Educao, (MINEDAF VII-Dar-El-Salam, 2002), bem como as iniciativas levadas a cabo
pela Conferncia dos Pases de Lngua Portuguesa (CPLP), visando prioritariamente o
alargamento e o reforo da escolaridade bsica de qualidade para todos dando assim
resposta ao seu engajamento em relao aos Objetivos do Desenvolvimento do
Milnio.
Neste contexto, tem sido vontade poltica do Estado Santomense proporcionar uma
educao de base gratuita e de qualidade a todos os cidados e cidads santomenses
de modo a torn-los(as) sujeitos ativos e parte integrante do processo de
desenvolvimento do pas, a prova disso, que esteve sempre presente a preocupao
em relao ao atendimento educativo aos alunos com NEE, nomeadamente: No Plano
Nacional de Ao de 2002-2015, no quadro da Educao para Todos, revisto em 2006,
l-se que garantir a gratuitidade a todas as crianas, dando oportunidades s mais
desfavorecidas e aos deficientes, uma das formas que se adoptar para garantir a
incluso e promover a equidade. Nas seces Desenvolvimento Integrado na Primeira
Infncia e Educao Bsica de Qualidade, Equidade e Gnero deste documento foram
contempladas aes para a formao de quadros, bolsas e visitas de estudo no
exterior, criao de centros de educao especial, regulamentao e implementao
307
do ensino especial nos vrios nveis de ensino no perodo compreendido entre 2008-
2013/15.
Na Consulta Sectorial da Educao e Formao (Dezembro de 2006) foi considerado
entre os Projetos prioritrios o Desenvolvimento da Educao Especial num perodo de
2007 a 2011, tendo como metas esperadas o recenseamento a nvel nacional de todas
as crianas com NEE em idade escolar; a formao de professores na rea do ensino
especial; a elaborao de um currculo e programas especficos para o ensino especial;
a criao de servios de integrao escolar de crianas com NEE, aspirao essa
reafirmada durante a candidatura do pas adeso a Iniciativa Acelerada de Educao
Para Todos (FAST-TRACK).
Na Estratgia para a Educao e Formao (2007-2017), o Plano de Ao do domnio
Educao Bsica, que visa escolarizar todas as crianas, contm uma rubrica destinada
Educao Especial onde esto previstas para o horizonte, entre 2009 e 2013, aes
referentes formao de professores, produo de legislao para a regulamentao
da educao especial, criao de estruturas para a educao especial e promoo
de seminrios e visitas de estudo para a explorao de boas prticas neste domnio.
O Plano Operacional Trienal 2008-2010, o instrumento constituinte da adeso de STP
Iniciativa Acelerada de Educao Para Todos (FAST-TRACK), em que equacionada a
gesto das aes com financiamento do referido parceiro, que tendo em vista as
metas estabelecidas no mbito da Educao para Todos, no conjunto dos domnios a
serem desenvolvidos, considera prioritrio o desenvolvimento de aes no mbito do
Ensino Especial. Nesse sentido, a urgncia da identificao dos alunos portadores de
deficincia, em articulao com servios e organismos existentes e vocacionados para
tal nomeadamente, com o Instituto Nacional de Estatsticas (INE) salientada a
necessidade de criar e estruturar um sector responsvel pelo atendimento das crianas
com NEE numa perspetiva de incluso nos servios educativos tradicionais, para o que
prev a adaptao dos espaos fsicos, a dotao de equipamentos e a capacitao, a
formao e a especializao de professores.
A necessidade urgente de medidas tendentes a dar respostas a essas preocupaes,
acrescida de limitaes financeiras com que o pas se depara, levou a que vrias
medidas fossem adotadas de entre as quais, o recurso a apoios tcnico-financeiros,
308
tendo a salientar o recurso Iniciativa Acelerada de Educao Para Todos, o que
permitiu a realizao de um estudo atravs de uma consultaria com o objetivo de
conceber uma Estratgia de Desenvolvimento a curto e a mdio prazo que promova a
educao das crianas com necessidades educativas especiais permanentes dentro do
sistema educativo STP cuja preparao, tendo em considerao as particularidades do
pas no que respeita a este domnio, considerou-se a necessidade de desenvolvimento
de trs grandes eixos:
1) sinalizao e identificao das crianas em risco de deficincia;
2) organizao dos servios para o atendimento das crianas com necessidades
educativas permanentes;
3) e, a qualificao de professores para o atendimento a crianas com
necessidades educativas especiais finalidade do projeto que se apresenta.
313
Captulo I A Educao Especial na perspetiva de uma Educao para Todos
Princpios gerais
1. A evoluo da Educao Especial da segregao incluso
2. A Educao Especial em So Tom e Prncipe
2.1. Os princpios e as leis nacionais
2.2. Informaes Estatsticas Relativas Referenciao de
Crianas Portadoras de Deficincia em STP
2.3. A educao para todos
3. Necessidades Educativas Especiais Clarificao de Conceitos
4. Identificao de Necessidades Educativas Especiais estratgias e
instrumentos
5. Colaborao e trabalho em Equipa na Escola
6. Articulao entre a escola e a famlia
CONSIDERAES FINAIS
Na sequncia da Conveno Internacional sobre os Direitos da Criana (ONU-1989), j
referida anteriormente, considera-se fundamental assegurar ajudas adequadas a todas
as crianas que necessitem de qualquer tipo de apoio durante a sua vida escolar,
nomeadamente o apoio Educao Especial.
O contributo da Educao Especial poder assumir, um carcter permanente ou
temporrio, consoante o tipo de problemas manifestados pela criana. Desta forma, o
que envolve o conceito de NEE apresenta um desafio s escolas como instituies
educativas, na medida em que so necessrias infraestruturas especficas, mas
314
tambm representa um desafio aos professores que carecem de formao
especializada (na formao inicial e contnua) nesta rea. Posto isto, falar de uma
escola para todos investir no futuro da educao de todas as crianas, promovendo
um sistema educativo integrador, oferecendo igualdade de oportunidades e
participao, com vista aos princpios de uma educao inclusiva: o acesso e sucesso
educativos.
O professor que atua na modalidade de Educao Especial rege-se pelo paradigma da
Educao Inclusiva, fundamentada na concepo de direitos humanos e que almeja
uma escola de qualidade para todos, cujo pressuposto de que todos os alunos tm o
direito de conviver, aprender e estar juntos, sendo respeitadas as suas diferenas. Isso
requer ateno acessibilidade, tanto fsica como de comunicao, a partir do
conhecimento dos recursos necessrios e disponveis, o que inclui, tambm,
conhecimento de adaptaes curriculares ou de acesso ao currculo para atender as
necessidades dos alunos e os seus diferentes modos de aprender.
Os desafios que se colocam relativamente educao especial em STP so muitos e
complexos, e tendo em conta que esto h muito por se fazer nesta rea. No projeto
RIQUEB, para alm da construo de materiais para formao contnua e inicial,
emergido de um trabalho colaborativo de aprofundamento terico e de anlise e
discusso da realidade santomense no que concerne educao especial, coloca-se
grande nfase na definio do perfil do professor numa escola para todos, com
condies que importa garantir para um bom exerccio de uma pedagogia diferenciada
e inclusiva. Assim, no final da formao inicial e/ou contnua, o formando deve ter
desenvolvido competncias gerais que lhe permitam trabalhar em contextos inclusivos
com o aluno as questes relativas s suas necessidades educativas especiais,
considerando as caractersticas dos alunos e valorizadas as suas potencialidades. Neste
contexto, importante: o conhecimento da evoluo das polticas pblicas, refletidas
nas diretrizes e legislao atual; a valorizao da diversidade a diferena
considerada um recurso e um valor para a educao; apoiar todos os alunos os
professores tm elevadas expectativas sobre os resultados a atingir por todos os
alunos; trabalhar com outras pessoas colaborao e trabalho em equipa so
metodologias essenciais para todos os professores; o desenvolvimento profissional e
315
pessoal o ensino uma atividade de aprendizagem e os professores assumem a
responsabilidade pela sua aprendizagem ao longo da vida.
No mbito especfico da Educao Especial, o formando deve ser capaz de: identificar
um quadro de valores essenciais e de reas de competncia aplicveis a todos os
programas de formao inicial de professores (FIP). Estes valores essenciais e reas de
competncias so independentes do contedo curricular, da faixa etria dos alunos ou
do nvel de ensino e no esto relacionados com qualquer orientao ou mtodo de
ensino; selecionar os valores essenciais e reas de competncia necessrios na
preparao de todos os professores para trabalharem em educao inclusiva,
considerando todas as formas de diversidade. Estes valores essenciais e reas de
competncia devem ser adquiridos durante a FIP e posteriormente usados como uma
base o desenvolvimento profissional, durante o estgio e, posteriormente, ao longo da
vida; destacar os fatores-chave que sustentam a aplicao dos valores essenciais e
reas de competncia propostos para a educao inclusive; reforar o argumento de
que a educao inclusiva da responsabilidade de todos.
O formador1 responsvel pela formao em Educao Especial deve ser capaz de:
modelar os valores e reas de competncia essenciais no seu trabalho com os alunos;
demonstrar como valorizar a diversidade e de, efetivamente, apoiar a aprendizagem
dos alunos utilizando abordagens de ensino e de avaliao; implementar trabalho
cooperativo com a equipa da escolar; se sentir aprendiz ao longo da vida; ser ativo
para prosseguir o seu desenvolvimento profissional; incluir atividades de sensibilizao
centradas na diversidade; comunicar aos alunos o qu, como e porqu do ensino de
alunos com necessidades diversas.
Com este projeto pretende-se que os manuais de formao contribuam para que
TODAS as crianas em STP: tenham uma educao de qualidade; tenham igualdade de
oportunidades e participao; sejam vistas no seu todo, no seu crescimento,
desenvolvimento e aprendizagem; tenham acesso a uma escola para todos (escola
inclusiva), que respeite as suas necessidades e caractersticas; tenham acesso
transio para a vida ativa, por forma a que se venham a mover na sociedade a que
1
Privilegia-se a experincia de trabalho em educao inclusiva para modelarem os valores centrais e reas de
competncia definidas no Perfil.
316
por direito pertencem com a maior autonomia e independncia. Acreditamos que isto
implica mudar concepes e, principalmente, mudar de paradigmas pr-estabelecidos
para a educao. O trabalho em curso no mbito do Projeto RIQUEB pretende,
precisamente, ser um contributo neste sentido.
BIBLIOGRAFIA
Aquino, O; Borges, M. & Pereira, H. (2012) Incluso versus integrao: a problemtica
das polticas e da formao docente. Revista Iberoamericana de Educacin / Revista
Ibero-americana de Educao, 59/3, 1-11.
Correia, L. (2008). Incluso e Necessidades Educativas Especiais. Porto: Porto Editora.
Cruz, A. (2010). Que formao de professores para a incluso em So Tom e Prncipe?
Dissertao apresentada Escola Superior de Educao de Lisboa para obteno do
grau de Mestre em Cincias da Educao - Especialidade em Educao Especial.
Kronberg, R. (2010). A incluso em escolas e clases regulares, in Educao Especial e
incluso. Porto: Porto Editora.
Mittler, P. (2008). Educao Inclusiva, Porto Alegre: Artmed.
Organizao das Naes Unidas (1989). Conveno Internacional sobre os Direitos da
Criana. Resoluo da Assembleia Geral das Naes Unidas, Novembro, 1989.
Organizao das Naes Unidas (2002). A world fit for children. Resolution adopted by
the General Assembly, 2002.
Organizao das Naes Unidas (2006). A Conveno dos Direitos da Pessoa com
Deficincia. Resoluo A/61/611 da Assembleia Geral das Naes Unidas, Dezembro,
2006.
Pereira, F. (2009) (coord). Desenvolvimento da Educao Inclusiva: Da retrica
prtica Resultados do Plano de Aco 2005-2009. Estoril: Editora Cercica.
Rodrigues, D. (2006). Dez ideias (mal) feitas sobre a Educao Inclusiva. In Rodrigues,
D. (org.) Incluso e Educao: doze olhares sobre a Educao Inclusiva. S. Paulo.
UNESCO (1990). Declarao Mundial sobre Educao para Todos: Satisfao das
necessidades bsicas de aprendizagem, Jomtien, 1990.
UNESCO (2000). The Dakar Framework for Action. Paris: UNESCO.
UNESCO (1994). Declarao de Salamanca e Enquadramento da Aco. Paris: UNESCO.
317
Sim-Sim, I. & Cruz, A. (2010). Estratgia de desenvolvimento para a Educao Especial.
Ministrio da Educao de So Tom e Prncipe.
World Education Forum (1999). Education for All - A Framework for Action in Sub-
Saharian frica: Education for African Renaissance in the twenty-first century.
Zabalza, M. (1999). Qualidade em educao infantil. Porto Alegre: ARTMED.
318
A IMPORTNCIA DA FORMAO DOS DIRETORES E DIRETORAS PARA O
DESENVOLVIMENTO QUALITATIVO DAS ESCOLAS: EXEMPLO DE UM PROJETO QUE
EST A SER DESENVOLVIDO EM SO TOM E PRNCIPE
RESUMO
No mbito do Projeto Reforo Institucional e Qualitativo do Ensino Bsico, apoiado
pela Fundao C. Gulbenkian e desenvolvido em parceria com uma equipa de
consultores da Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de Santarm,
pretende-se definir um modelo de formao, a par da organizao de um documento
de apoio (auto) formativo para diretores e diretoras das escolas do ensino bsico na
Repblica Democrtica de So Tom e Prncipe. Tendo em conta as carncias do
sistema educativo existente e reconhecendo os diretores e diretoras como elementos-
chave para o desenvolvimento qualitativo das escolas e na concretizao das
inovaes das reformas institudas a nvel central, a relevncia do seu papel ainda
mais evidente. Com esta preocupao, esto a ser feitos questionrios, por
amostragem, nos diferentes distritos do pas, a diretores e diretoras, docentes e
encarregados de educao.
Nesta comunicao pretende-se apresentar o trabalho j realizado e a realizar,
explicitando de forma mais detalhada os seus objetivos e metodologias, a par da
contextualizao da realidade do pas.
319
ABSTRACT
This work is inserted in the Institutional Strengthening Project and from Quality of
Basic Education is a Project of Repblica Democrtica de So Tom e Principe,
supported by the Calouste Gulbenkian Foundation in partnership with a team of
consultants from the Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de
Santarm. Is intended to define a training model and the organization of documents
for the training of the directors of schools in basic education from So Tom and
Prncipe. Having regard to the shortcomings of the existing educational system and
recognizing the directors as key elements for the qualitative development of schools
and the implementation of innovations defined at the central level, the relevance of
their role is even more evident. With this concern, we did questionnaires to listen the
testimonials of some teachers, some families and some directors to better understand
the reality of the schools . This text intends to present the work that is being
conducted , explaining in more detail the objetives and methodologies, the pair of
contextualization of the reality of the country.
INTRODUO
O Projeto Reforo Institucional e Qualitativo do Ensino Bsico em S. Tom e Prncipe
(RIQUEB) um projeto do Ministrio da Educao da Repblica Democrtica de So
Tom e Prncipe, apoiado pela Fundao Calouste Gulbenkian, em que colabora uma
equipa de consultores da Escola Superior de Educao do Instituto Politcnico de
Santarm que trabalha com a equipa nacional do Ministrio deste pas.
Este trabalho surgiu na sequncia da colaborao da ESE de Santarm (ESES) no apoio
Reforma da Educao Bsica, da 1 6 classe, em So Tom e Principe entre 2004 e
2011. A par da reviso curricular no mbito deste trabalho foram construdos novos
Manuais para os alunos e livros de apoio pedaggico para os docentes. Com a
coordenao e apoio financeiro da Fundao Calouste Gulbenkian a equipa de
consultores da ESES apoiou o desenvolvimento deste trabalho em estreita colaborao
com a equipa do Ministrio da Educao de So Tom e Principe. Dois anos depois,
320
surge um novo desafio: apoiar a organizao do trabalho de formao inicial e
contnua dos docentes que trabalham no ensino bsico,
sobre este novo projeto, nomeadamente sobre o trabalho que no mbito deste
projeto se pretende fazer a nvel da formao dos diretores e diretoras das escolas que
incide este texto. Numa primeira parte apresentada uma caraterizao genrica do
projeto Riqueb desenvolvendo alguns dos pressupostos tericos que lhe esto
subjacentes.
Numa segunda parte apresentado o trabalho especifico que est a ser realizado para
apoio ao desenvolvimento da formao dos diretores e diretoras das escolas do ensino
bsico. Este trabalho uma base fundamental do projeto, pois a implementao das
reformas educativas dependem em grande parte da forma como os gestores das
escolas esto ou no preparados para as pr em prtica. Qualquer reforma educativa,
pensada a nvel central, sempre condicionada pela especificidade dos contextos e
pelos vrios nveis de deciso existentes para a sua implementao. Nesse sentido os
diretores e diretoras das escolas tm um papel determinante e apoiar a sua formao
parece-nos que deve ser considerada como uma prioridade do sistema educativo.
322
O TRABALHO DE FORMAO DOS DIRETORES E DIRETORAS DAS ESCOLAS DO ENSINO
BSICO
Em So Tom e Prncipe os problemas que afetam o funcionamento do sistema
educativo so muitos, e estas dificuldades comeam por se verificar na falta de
docentes qualificados. Apesar da rede de educao bsica (para as quatro primeiras
classes) ser universal, h muitas situaes em que as escolas funcionam em horrio
triplo, com turmas muito numerosas, o que faz com que o tempo efetivo que a maioria
das crianas est na escola seja muito reduzido e pouco produtivo.
Sendo um pas com uma poltica educativa muito centralizada, verifica-se tambm
alguma rigidez a nvel da gesto curricular e a nvel da gesto institucional. Esta rigidez
e a falta de autonomia das escolas condiciona a participao das famlias e de outros
agentes locais na vida da escola.
Uma importante caracterstica do funcionamento das escolas em So Tom e Prncipe
o facto de quinzenalmente os docentes dos diferentes nveis de ensino, que
trabalham na mesma comunidade, se reunirem para avaliar e planear o seu trabalho
com o apoio do diretor ou da diretora da escola e com o apoio da equipa de
metodlogos (do Departamento de Educao Bsica). Esta prtica, instituda a nvel
nacional, um dos aspetos mais relevantes do sistema, que tem possibilitado
ultrapassar muitas dificuldades e lacunas sentidas nas escolas. No entanto constata-se
que a dinmica destes grupos est muito dependente da capacidade de liderana dos
diretores e diretoras das escolas.
No Projeto RIQUEB, o grupo de trabalho do Ministrio e o grupo de consultores da ESE,
comeou por fazer um levantamento das questes, uma compilao da documentao
existente e da legislao em vigor. Dentro da lgica de ao-formao escolhida para
2
Integram a equipa da ESE de Santarm:
- Maria Joo Cardona (Coordenao); Jean Campiche (Grafismo)
- Formao Inicial e Formao Contnua em Metodologia do ensino:
- Expresses Antnio Mesquita Guimares, Teresa Cavalheiro, Clia Barroca e Margarida Togtema
- Lngua Portuguesa: Leonor Santos, Madalena Teixeira e Ana Fonseca
- Matemtica: Susana Colao; Ana Fonseca; Neusa Branco
-Cincias Naturais e Sociais : Ramiro Marques, Bento Cavadas
-Organizao e Superviso da Prtica Pedaggica: Leonor Santos; Madalena Teixeira; Susana Colao: Isabel Piscalho
-Necessidades Educativas Especiais: Isabel Piscalho; Ramiro Marques
- Formao de Diretores e organizao e dinamizao de Centros de Recursos: Maria Joo Cardona; Fernando Costa; Ramiro
Marques: Dina Rocha
323
o projeto, foram construdos questionrios para a recolha de testemunhos de
diretores, docentes, familiares, e foram realizadas observaes em escolas de vrias
zonas do pas.
Numa primeira fase foi organizado um documento de apoio organizado em seis
unidades temticas:
- Liderana e gesto de equipas a funo da direo
- Funes na gesto/organizao da instituio
- A gesto pedaggica
- A funo da direo na promoo de uma escola saudvel
- A comunicao com a comunidade
- A definio de um projeto educativo integrador
324
O que dizem as famlias
Comeando pelas instalaes e recursos materiais das escolas a falta de gua
canalizada considerado o problema mais grave que tem consequncias ao nvel da
sade e higiene da escola. Uma outra questo prende-se com a degradao das
instalaes. de destacar tambm que quase todos os familiares salientaram: a falta
de momentos e espaos para as crianas brincarem mais e se sentirem mais ligadas
escola.
Relativamente alimentao as referncias so positivas embora sejam apontadas
carncias ao nvel da diversidade e da falta de vegetais. valorizada a existncia de
hortos (hortas) nas escolas mas referido que em muitos casos estes no so
utilizados por falta de recursos.
As relaes com a comunidade e famlias so avaliadas positivamente mas manifestam
falta de disponibilidade para participarem na vida da escola. A definio de um projeto
de escola integrador valorizada, referem no entanto que as crianas com
necessidades educativas especiais na sua grande maioria no se matriculam na escola
ou abandonam o sistema.
O que dizem os professores
A maioria confessa o seu desconhecimento relativamente legislao em vigor. Tal
como as famlias, as instalaes e recursos materiais so referenciadas como um
problema, nomeadamente a falta de gua canalizada.
S metade responderam s questes relativas gesto pedaggica. Os restantes
consideram teis as reunies de planificao mas referem dificuldades nas
deslocaes para participarem nestas reunies.
Quanto higiene e segurana consideram a sala de aula limpa, mas no fazem
qualquer referncia ao que se passa no resto da escola. Relativamente alimentao
das crianas referem a pouca diversidade e a pouca quantidade.
No que diz respeito relao com a comunidade e com as famlias apenas referem que
existe um bom relacionamento com as famlias mas que estas deixam as crianas
entregues escola sem se preocuparem com o seu percurso escolar. Consideram que
a escola no valorizada como parceiro na comunidade. A definio de projeto
integrador considerado exclusivamente em relao integrao de crianas com
325
necessidades educativas especiais na sala de aula. no entanto referido que nada se
faz de diferente em relao a estas crianas.
O que dizem os diretores
Tal como os docentes para os diretores inquiridos o conhecimento da legislao,
muito lacunar.
Relativamente s instalaes e recursos materiais o problema da sistemtica falta de
gua, a degradao das instalaes e total desaproveitamento dos espaos exteriores
so um dos principais problemas. Consideram no entanto que os recursos materiais
existentes so suficientes para a realizao das aulas.
Quanto gesto pedaggica referem o trabalho colaborativo existente entre os
professores como positivo, bem como as planificaes conjuntas e as simulaes de
aulas. Como aspetos negativos salientam alguma falta de assiduidade e pontualidade
de alguns docentes.
Relativamente higiene e segurana consideram a escola segura mas a falta de gua
um grave problema que afeta a higiene. Sobre a alimentao das crianas consideram
que esta cuidada, mas pouco variada e com falta de produtos hortcolas frescos. O
horto, que poderia ajudar a superar esta lacuna no funciona por falta de recursos
materiais e humanos.
Consideram que existe uma boa relao com as famlias e com algumas instituies da
comunidade, nomeadamente servios de sade, polcia e autarquias. Quanto
definio de um projeto integrador, o seu conceito de integrao idntico ao dos
restantes grupos de inquiridos: consideram apenas o caso das crianas com
necessidades educativas especiais, que mesmo quando integradas no conseguem
acompanhar as aulas por falta de apoio.
CONSIDERAES FINAIS
Para alm da construo de materiais de formao, existe a preocupao em organizar
um sistema de apoio aos diretores e diretoras das escolas que possibilite um maior
apoio para a promoo de um funcionamento qualitativamente mais adequado.
Apoiando a formao destes dirigentes pretende-se apoiar formas de gesto mais
326
flexveis, adaptadas especificidade de cada contexto, envolvendo e desenvolvendo
toda a comunidade educativa das escolas.
BIBLIOGRAFIA
BOLVAR, Antnio (2007) Um olhar atual sobre a mudana educativa: onde situar os
esforos de melhoria?, LEITE, Carlinda e LOPES, Amlia Escola, Currculo e Formao
de Identidades, Porto: Ed. ASA ,p. 13-51
CANRIO, Rui (2005) o que a escola? um olhar sociolgico, Porto: Porto Ed
CARDONA, M Joo (2011) Concees educativas e percursos escolares numa escola
que procura promover uma maior igualdade de oportunidades para todo/as Cardona,
Maria Joo; Marques, Ramiro (Coord.) (2011), Da autonomia da escola ao sucesso
educativo, Chamusca: Ed. Cosmos, p.229-245
CARDONA, Maria Joo (2011), A construo de Novos Manuais - um elemento crucial
da reforma do ensino bsico em So Tom e Principe, Atas do COOPEDU, ISCTE/IUL,
IPL, p.197-205 (tambm publicado em http://issuu.com/leonelbrites/docs/coopedu)
CARDONA, Maria Joo (2011) Educao e desenvolvimento: um estudo baseado na
realidade da educao pr-escolar e do ensino bsico em So Tom e Prncipe 7
Congresso Ibrico de Estudos Africanos - Lisboa, setembro 2010, CEA/ISCTE-IUL in 7
Congresso Ibrico de Estudos Africanos - Lisboa, setembro 2010, CEA/ISCTE-IUL
in http://hdl.handle.net/10071/2947
327
CARDOSO, Manuela ( 2007) Cabo Verde e So Tom e Principe Educao e
infraestruturas como fatores de desenvolvimento, Porto: Ed. Afrontamento
DEROUET, Jean Louis (2000) L cole dans plusieurs mondes, Paris: De Boeck,
Universit/INRP
FORMOSINHO, Joo (2005). Centralizao e descentralizao na administrao da
escola de interesse pblico, in FORMOSINHO, Joo et all., (org.), Administrao da
educao. Lgicas burocrticas e lgicas de mediao. Porto, ASA, 13-53.
FORMOSINHO, Joo; MACHADO, Joaquim (2007) A escola sob suspeita, Porto: Ed. ASA
GARCIA, Carlos (1999) Formao de Professores. Para uma mudana educativa, Porto:
Porto Ed., p.113
NVOA, Antnio (1992) Para uma anlise das instituies escolares, Nvoa, A
(coord.) As organizaes escolares em anlise, Lisboa, D. Quixote, p. 13-43
ROBERTSON, Roland (2000) Globalizao, teoria social e cultura global, Petropolis: Ed.
Vozes
328
A LIDERANA PERCEPCIONADA PELOS PROFESSORES TITULARES DE CARGOS DE
DIREO E COORDENAO ESCOLAR
RESUMO
329
ABSTRACT
This study examines the issue of leadership perceived by teachers who hold
leadership, management and coordination positions. The study aims to research
the identification, description and interpretation of leadership model perceived by
teachers who perform management functions, assistants, coordinators, class
directors, and examine the influence of gender and age on that perception. To
carry out this study, mixed character, involving action research, we adopted a
methodology for the quantitative study of descriptive nature. The research was
based on the Full Range Leadership theoretical model proposed by Bass and
Avolio (1995, 2000, 2004). Data was obtained through a socio biographical
questionnaire and a survey questionnaire, the multifactor leadership questionaire,
to form leaders in the 5X short version, proposed by Bass and Avolio (1995, 2000,
2004). After obtaining the proper permits, the questionnaires were administered
in 5 schools (students 5th 9th form) located in Santarms region. The universe
was composed by 223 teachers. The sample had a dimension of 64 cases. The
results allowed us to verify that: i) the predominantly perceived leadership is
transformational and transactional; ii) the levels of laissez-faire leadership were
residual; iii) the optimal leadership profile described by the theoretical model was
not verified; iv) the theoretical model adapted to the sample is statistically
consistent, except in laissez-faire dimension and v) variables gender and age did
not influence the perception of leadership dimensions of the surveyed subjects.
INTRODUO
Diversos estudos (Bass, 1985; Podsakoff et al., 1990; Avolio, 1999; Leithwood e
Jantzi, 1994; Bass e Avolio, 2004) sobre as relaes entre os lderes e os liderados
tm sugerido que a liderana transformacional leva a desempenhos superiores de
liderana, que levam os liderados a resultados por vezes alm do esperado. Outros
330
estudos (Conger e Kanungo, 1998; Bass, 1998; Faria, 2002, 2005) sugerem que o
fator liderana eficaz um denominador comum nas organizaes de sucesso.
Hallinger e Heck; Waters, Marzano e McNulty, (cit. in Leithwood et al. 2004)
mediram a influncia positiva da liderana nos resultados escolares dos alunos,
tendo obtido evidncia globalmente significativa nessa relao. Ao lder assiste um
vasto conjunto de recursos. Segundo Mller e Turner (2005); Thamhain, 2004 cit.
por Mller e Turner (2010) as hard skills so as competncias tcnicas e o
conhecimento do domnio, enquanto as soft skills so uma combinao das
habilidades pessoais, interpessoais e sociais, e as instituies procuram uma
combinao de ambas. justamente disso, segundo estes autores, que os povos
erguem as suas organizaes. De facto, a literatura em Psicologia e Gesto indica a
importncia da liderana, na melhoria da sua eficincia bem como da capacidade
de florescimento humano (Beigpoor e Idris, 2012). A gesto do psycap (soft skills e
hard skills, sob a forma de recursos psicolgicos, encontra-se como requisito
essencial da liderana.
O professor, enquanto lder ou gestor escolar pode assumir diferentes
comportamentos de liderana: transformacional, transacional e laissez-fair. Estas
principais dimenses de liderana formam um novo paradigma: full range
leadership (Bass e Avolio, 1995, 2000, 2004), proposto por estes nossos autores
centrais, para a identificao e explicao das caractersticas de cada constructo
de liderana.
Procedemos elaborao do seguinte corpo de perguntas de partida, ou
problemtica central, que traduzissem os propsitos da investigao: Qual o
modelo de liderana percecionado pelos professores titulares de cargos de direo
e coordenao pedaggica, inquiridos nas escolas bsicas dos 2 e 3 ciclos do
ensino pblico do concelho de Santarm?; A perceo do modelo de liderana
varia com o gnero?; A perceo do modelo de liderana varia com a idade?.
Decorrente das perguntas de partida, e numa tentativa de dar resposta
problemtica em estudo, coloca-se o seguinte corpo de hipteses:
H1: A liderana predominantemente percecionada pelos sujeitos inquiridos no
contexto selecionado transformacional e transacional; H2: O MLQ confirma a
331
adequao do modelo terico proposto para a populao considerada no estudo;
H3: O modelo de liderana, nas suas trs dimenses, percecionada pelos sujeitos
inquiridos difere com o gnero e H4: O modelo de liderana, nas suas trs
dimenses, percecionada pelos sujeitos inquiridos difere com a idade.
Segundo Cunha e Rego (2005), a liderana um conceito bastante antigo na rea
dos estudos organizacionais e no tem havido consenso entre os autores
relativamente a uma definio. Contudo, estes autores relevam a definio de
House et al. (1999): a liderana a capacidade de um indivduo para influenciar,
motivar e habilitar outros a contriburem para a eficcia e o sucesso das
organizaes de que so membros (p. 184).
Hersey e Blanchard (1986) referem que a liderana no um cargo mas sim uma
funo que ocorre sempre que um indivduo procura influenciar outro.
Yukl (2006) define liderana como um processo onde uma pessoa exerce
intencionalmente influncia sobre outras para direcionar, estruturar e facilitar
atividades e relaes organizacionais. Este autor aponta as abordagens de Jacobs e
Jaques (1990) e Schein (1992) que entendem a liderana como um processo de
dar um sentido ao esforo coletivo; de provocar desejo de despender esse esforo
para atingir o objetivo; a capacidade de mudar a cultura organizacional instituda e
iniciar novos processos mais adaptativos.
Chiavenato (1993), refere que o lder a pessoa que sabe conjugar, de um modo
integrado, as suas caractersticas, as caractersticas dos liderados e as variveis da
situao. Numa relao funcional, o lder uma pessoa percebida por um grupo
como possuidora ou controladora dos meios para a satisfao das suas
necessidades. E acrescenta que mais importante do que saber como fazer saber
o que fazer, aludindo importncia da viso estratgica e da focalizao no
futuro (p. 19).
Para Buckingham (2005) o lder o elemento instigador de vontades e crenas
capaz de reunir as pessoas em redor de uma ideia de um futuro melhor (p. 33),
que idealiza e mostra com clareza aos liderados, com o propsito de concretizao
desse ideal.
332
Lopes, Galinha e Loureiro (2010) do nfase ao fenmeno da comunicao como a
mais complexa prtica do ser humano, e a propsito das esferas relacionais,
elencam a escuta ativa, a empatia, a importncia de dar ateno e conhecer o
outro, a assertividade, entre outros, como ferramentas psicossociolgicas de suma
importncia para ao lder em contextos sociais de interao humana, constituindo
um recurso psicolgico de grande relevo (pp. 175-180).
O conceito de liderana tem gerado numerosas definies, de acordo com
diferentes perspetivas de abordagem, embora tenham sido refinadas ao longo do
tempo em vrias teorias, das quais destacaremos a Teoria da Banda Larga de
Liderana. Num processo de reduo da definio de liderana a um mnimo
denominador comum relevante encontramos uma palavra: influncia.
Os anos 80 trouxeram novos desenvolvimentos na explicao de fenmenos
organizacionais, que levaram a que a viso mecanicista da liderana, assente na
linha da influncia, grupo e objetivos, tivesse outras concees concorrentes como
deriva da introduo de variveis motivacionais, culturais e sociais na teoria
organizacional. Bryman (2004) refere-se Teoria de Banda Larga de Liderana
(TBLL) como uma das novas teorias de liderana construda e explicada com base
em vrios contributos de teorias predecessoras com noes tradicionais de
liderana.
Com efeito, a TBLL recuperou alguns conceitos propostos por autores das teorias
clssicas de liderana, dos quais se explanam de seguida alguns exemplos.
Carlyle (cit. in Chiavenato, 2003, p. 123) introduz originalmente o conceito do
Grande Homem, ou lder carismtico, como o indivduo que surge em tempos de
crise com especiais poderes que lhe permitem levar a cabo grandes feitos,
indivduos responsveis pelo progresso do mundo, no qual os seguidores colocam
o seu destino nas mos.
Burns (1978), prope que a interao entre lder-seguidor seja mediada por uma
componente transacional, com base num valor de troca e uma componente de
transformao promovida pela motivao, pela moral e aspiraes ticas do lder
e dos seguidores, convencendo-os a transcender os seus prprios interesses em
prol dos interesses do grupo.
333
Zaleznik, (1989) refere que os lderes fornecem uma viso para o futuro e fazem
uso das emoes e do carisma para inspirar os seguidores e mudar o seu sistema
de valores e crenas, enfatizando a convico moral na sua misso.
Bass e Avolio (1995, 2000, 2004) propem um modelo terico de uma TBLL
baseado nos constructos anteriormente descritos, composto pelas dimenses de
liderana transformacional, transacional e laissez-faire. De seguida faz-se uma
caracterizao sucinta destas 3 dimenses de liderana enfatizando a atualizao
dos constructos, algumas sinergias, diferenas e perspetiva crtica.
Liderana Transformacional e Transacional
James Burns (1978) foi o primeiro utilizar o termo transformador e sintetizou que
a liderana transformadora se baseava em relaes e poder. Burns no estudou a
liderana escolar em particular, os seus trabalhos incidiram sobre lderes polticos,
oficiais das foras armadas ou executivos de empresas. No entanto, diversos
estudos (Leithwood e Jantzi, 1994), mostram que h semelhanas na liderana
transformacional em ambiente escolar e empresarial.
Bass (1985, 1998) usa o termo transformacional em vez de transformador e
sintetiza que a viso e os objetivos estabelecidos so concretizados atravs do
trabalho do lder com os seus subordinados que contemple: i) a motivao dos
seguidores, para que faam mais do que, no incio, esperavam fazer; ii) despertar
as suas conscincias, quer ao nvel do valor dos resultados quer do modo
adequado para os alcanar; iii) envolvimento de todos em benefcio da misso,
objetivos e/ou viso da organizao; e iv) ampliar as necessidades dos indivduos,
elevando os seus nveis de confiana. De acordo com o autor, so quatro as
aptides utilizadas pelos lderes transformacionais: i) o lder tem uma viso e
consegue formul-la, pode ser um objetivo, um plano ou uma srie de prioridades;
ii) o lder capaz de comunicar a realizao da viso; iii) o lder capaz de
construir um ambiente de confiana justo, coerente, e a sua persistncia
ultrapassa barreiras e problemas; iv) o lder transformacional tem uma autoestima
positiva e esfora-se por desenvolver as suas capacidades de forma a alcanar
sucesso. Os lderes transformacionais devem ser mais pr-ativos do que reativos
nos seus pensamentos, mais radicais ou rebeldes do que conservadores; com mais
334
habilidades na rea da inovao e criatividade e mais abertos s novas ideias e
experincias.
Para Bass e Avolio (2004) a influncia dos lderes atravs do processo
transformacional tem por objetivo mudar a forma como os subordinados se
percecionam, potenciando as oportunidades e os desafios que o meio lhes coloca.
Estes autores atualizam o constructo e sintetizam que o lder transformacional: i)
respeitado pelos liderados, inspira confiana e visto como um exemplo a seguir;
ii) presta ateno s necessidades de desenvolvimento profissional e de objetivos
de cada seguidor; iii) promove compromissos nos seguidores para com a viso, a
misso e os valores organizacionais comuns ao relevar os esforos dos seguidores
em alcanar as metas; iv) quer que os seus seguidores sejam tambm lderes.
Bass e Avolio (2004) atualizam o constructo transacional e redefinem o papel do
lder: i) clarificar o que se espera dos liderados e a definio de papis; ii)
satisfazer as necessidades de forma a atingir os resultados esperados, utilizando
quer o reforo contingente positivo, prometendo recompensas em funo do
esforo realizado e os resultados conseguidos, quer o negativo, penalizando
quando no se atinjam os objetivos; iii) indica quais os comportamentos a adotar e
os objetivos a atingir; iv) tem uma perspetiva mais esttica do que criativa face s
metas ou resoluo de problemas.
Para estes autores, a liderana transacional baseia-se numa relao de poder
entre o lder enquanto superior e o seguidor enquanto dependente na tomada de
deciso, gera obedincia e submisso.
O modelo terico de Bass e Avolio (1995, 2000, 2004) contempla uma terceira
dimenso de liderana: a laissez-faire, que segundo os autores a ausncia ou a
passividade no exerccio da liderana, traduzida normalmente por ineficcia nos
resultados obtidos. No possvel encontrar um ambiente de trabalho com
objetivos definidos, pois o responsvel no assume qualquer plano de ao e adia
a tomada de decises importantes. Ao evitar ou adiar a ao ignora as suas
responsabilidades e autoridade.
Avolio (1999) argumenta que no modelo full range leadership, o contributo da
liderana transformacional para a liderana transacional conduz a um esforo
335
extra por parte dos seguidores conduzindo-os a uma performance superior, que
pode ir para alm do esperado. Os lderes transformacionais no substituem o
processo transacional, antes aumentam os seus efeitos, sendo portanto
complementares. Este modelo terico, adotado para o presente estudo, articula
as prticas de liderana num equilbrio entre o grupo das abordagens da liderana
carismtica-transformacional, com foco na viso, nos ideais, nos valores e no risco,
e o grupo das abordagens da gesto burocrtica-transacional focadas no controlo,
no contrato, na racionalidade, nas normas, no conservadorismo e na estabilidade.
De acordo com os dados fornecidos pelas 5 escolas envolvidas neste estudo,
relativos populao, a grande maioria dos professores titulares de cargos so do
gnero feminino, 179 o que corresponde a 80,3%. O gnero masculino est
representado com 44 casos, 19,7% do total da populao. tambm evidente a
tendncia para que os cargos sejam ocupados pelos mais velhos, 66,4% das
professoras tm mais de 40 anos e destas 26,5% tm 50 ou mais anos. Nos
homens a tendncia ainda mais notria, apenas 5,8% dos homens titulares de
cargos tm menos de 40 anos. Relativamente caracterizao scio biogrfica da
amostra, constituda por 64 casos (28,7% da populao), as questes investigadas
foram o gnero e a idade dos inquiridos. Relativamente amostra recolhida, a
grande maioria dos professores titulares de cargos so do gnero feminino: 47 o
que corresponde a 73,4% do total amostral. O gnero masculino est
representado com 17 casos, apenas 26,6% do total da amostra. tambm
evidente a tendncia para que os cargos sejam ocupados pelos mais velhos, 70,2%
das professoras tm mais de 40 anos e destas 22,5% tm 50 ou mais anos. Nos
homens a tendncia ainda mais notria, apenas 17,6% dos homens titulares de
cargos tm menos de 40 anos. A mdia de idades foi 44,1 anos e o desvio padro
6, 9, a mnima foi 27 e a mxima 58.
Para a colheita dos dados socio biogrficos construiu-se um questionrio de raiz
que contempla todas as variveis da investigao consideradas relevantes
investigao (Hill e Hill, 2005, p.84), designadamente o gnero, idade, a formao
acadmica de base, a formao especfica adquirida, cargos desempenhados,
tempo de experincia no cargo e nmero de subordinados. Para a colheita de
336
dados de liderana, primeiro objetivo, depois de alguma pesquisa, optou-se pelo
Questionrio Multifatorial de Liderana na Perspetiva do Lder, do original
Multifactorial Leadership Questionnaire 5X Leader Form Short - Third Edition,
designado por MLQ, criado por Bass e Avolio (1995, 2000 e 2004).
O modelo full range leadership de Bass e Avolio (1995, 2000, 2004) adotado para o
presente estudo, compreende o questionrio MLQ e baseia-se na avaliao das
percees dos inquiridos, utilizando um conjunto de 45 afirmaes s quais os
respondentes atribuem pontuao numa escala tipo Likert: 0 = Nunca; 1 =
Raramente; 3 = Muitas vezes; e 4 = Frequentemente, se no sempre. Os 45 itens
da verso short que compem o MLQ agrupam-se em doze categorias que se
distribuem por trs dimenses de liderana da seguinte forma: i) cinco categorias
correspondem dimenso de liderana transformacional: considerao individual
(sigla IC, individual consideration); motivao inspiracional (sigla IM, inspirational
motivation); estimulo intelectual (sigla IS, intellectual estimulation); atitudes de
influncia idealizada ou carisma (sigla IIA, idealized influence attitudes); e
comportamentos de influncia idealizada (sigla IIB, idealized influence behavior);
ii) duas correspondem dimenso liderana transacional: reforo ou recompensa
contingente (sigla CR, contingent reward) e gesto por exceo ativa (sigla MBEA,
management by exception active.; iii) duas correspondem dimenso liderana do
tipo laissez-faire: gesto por exceo passiva (sigla MBEP, management by
exception passive) e laissez-faire (sigla LF). Por ltimo, um conjunto de questes
que no correspondem a estilos de liderana mas que se reportam aos resultados
de liderana, que se agrupam em trs categorias: eficcia (sigla Eff, effectiveness);
satisfao (sigla S, satisfaction) e esforo extra (sigla EE, extra effort).
Os questionrios e as declaraes de consentimento foram distribudos em cada
escola com a colaborao de um elemento neutro ao estudo em cada escola, que
entregou um questionrio e uma declarao em mo a cada sujeito da populao.
O anonimato foi garantido, dentro do possvel, pelo processo de retorno dos
questionrios, que foram depositados em local prprio, na secretaria da escola.
337
RESULTADOS
340
Nas categorias de liderana transacional foram: expresso satisfao quando os
outros correspondem s expectativas (CR) e dirijo a minha ateno s falhas a
fim de atingir os padres esperados (MBEA).
Nas categorias de liderana laissez-faire foram: demonstro acreditar que no se
mexe no que est dar certo (MBEP) e evito envolver-me quando surgem
assuntos importantes e Evito tomar decises.
De seguida apresentam-se dois grficos descritivos, o dos valores obtidos de
acordo com a aplicao da escala de pontuao, scoring key, com indicao dos
valores das mdias de cada categoria (mdias dos itens) de cada dimenso de
liderana (Fig. 1) e o dos resultados de liderana (Fig. 2).
341
Quadro 2 - Grfico de Mdias dos resultados de liderana.
343
Quadro 3 - Dimenses de Liderana e Categorias do MLQ aps Anlise Fatorial.
Kolmogorov-Smirnov(a)
Estatsticas gl Sig.
345
Quadro 5 - Diferenas de perceo dos comportamentos de liderana em relao ao Gnero.
Estatsticas
Desvio
Dimenso Gnero Mdia
Padro Sig Sig.
T g. l.
(Levene) (t-Teste)
Feminino 2,81 0,372
Liderana
0,048 -0,538 19 0,597
Transformacional
Masculino 2,74 0,505
347
Alm dos pressupostos j anteriormente verificados, procedeu-se tambm
verificao da homogeneidade das varincias amostrais, obtiveram-se os seguintes
resultados:
Estatsticas
Desvio
Dimenso Gnero N Mdia Levene ANOVA
Padro F
(p-value) (p-value)
At 40 anos 21 2,81 0,43
Liderana
41 a 46 anos 22 2,79 0,42 0,865 0,015 0,985
Transformacional
Mais de 46 anos 21 2,79 0,38
At 40 anos 21 2,58 0,65
Liderana
41 a 46 anos 22 2,59 0,49 0,215 0,325 0,724
Transacional
Mais de 46 anos 21 2,70 0,52
At 40 anos 21 1,11 0,36
Liderana
41 a 46 anos 22 1,18 0,49 0,261 2,22 0,117
Laissez-faire
Mais de 46 anos 21 1,36 0,35
Legenda: F teste Snedecor; (p-value) - significncia.
No quadro acima verifica-se que existe homogeneidade nas varincias das mdias
amostrais, uma vez que o teste de Levene no apresenta significncias (p-value)
inferiores ao nvel de significncia alfa=0,05, pelo se rejeita H1 (no igualdade das
varincias). Assegurado este pressuposto prosseguiu-se para a aplicao da
ANOVA a um fator. As amostras de cada dimenso de liderana foram sujeitas ao
teste para H0 (igualdade das mdias das vrias amostras) e constatou-se que no
existiam diferenas entre elas, uma vez que todos os valores da significncia foram
superiores margem de erro (p-value<0,05). Deste modo rejeitou-se a H1 (no
igualdade das mdias das amostras) e podemos afirmar, com uma margem de erro
de 5%, que no se registam diferenas significativas na perceo nas 3 dimenses
de liderana dos sujeitos inquiridos. Deste modo, conclumos que H4: O modelo
de liderana, nas suas trs dimenses, percecionada pelos professores titulares de
cargos difere com a idade no se confirma.
348
DISCUSSO
Dos resultados socio biogrficos obtidos, conclui-se que o titular mais frequente
de cargo de direo, gesto ou coordenao em servio nas escolas bsicas do
concelho de Santarm do gnero feminino, tem entre 40 e 49 anos, licenciado,
tem 21 ou mais anos de servio na carreira, diretor de turma, lidera/gere uma
equipa de 11 a 15 elementos, no tem formao especfica no cargo e possui entre
1 e 4 anos de experincia no cargo que desempenha. Destaca-se que a falta de
formao para o desempenho do cargo foi referida por 80,4% dos sujeitos
inquiridos; a idade mdia observada de 44,1 anos e 73,4% dos sujeitos so do
gnero feminino; 12,5% dos sujeitos possui um mestrado e 1,6% doutoramento.
Sintetiza-se que a dimenso de liderana mais percecionada pelos professores
titulares de cargos de direo, gesto e coordenao a liderana
transformacional. Com efeito, observou-se que a dimenso de liderana
percecionada com menos frequncia foi a laissez-faire, com mdia de itens nas
categorias de 1,22; segue-se em crescendo a liderana transacional, com mdia de
itens nas categorias de 2,42; e por fim a transformacional, com mdia de itens das
categorias de 2,92, com forte tendncia de ser utilizada muitas vezes.
Embora o perfil de liderana percecionado seja o adequado e o que garante
melhores nveis de desempenho dos liderados (Avolio, 1999; Bass e Avolio, 1995,
2000 e 2004) no se verificou o perfil timo de liderana preconizado pelo
modelo, uma vez que os valores das mdias dos itens no foram em crescendo de
MBEP para MBEA, seguindo-se CR e depois os 4 Is das categorias
transformacionais. Com efeito, os resultados foram os seguintes: MBEP (1,49), CR
(2,34), MBEA (2,50) e depois os 4 Is. Estes indicaram os seguintes valores de
mdia de itens: IC (3,34), IS (3,03), IIB (2,81), IIA (2,74), IM (2,64).
O modelo terico confirmou-se na dimenso de resultados de liderana pois
preconiza que a eficcia do lder se verifica onde predomina a dimenso
transformacional, seguindo-se a liderana transacional e por ltimo com
frequncias baixas a liderana laissez-faire (Avolio 1999).
Relativamente ao comportamento estatstico do modelo terico para a dimenso
transformacional concluiu-se foi adequado para explicar a dimenso percecionada
349
pelos professores titulares de cargos. Deste modo, podemos predizer que os
comportamentos de liderana j descritos so os mais esperados na populao.
Relativamente ao comportamento estatstico do modelo terico para a dimenso
transacional concluiu-se foi adequado para explicar a dimenso percecionada
pelos professores titulares de cargos. Deste modo, podemos predizer que os
comportamentos transacionais j elencados sero os mais esperados na
populao.
O comportamento estatstico do modelo terico para a dimenso laissez-faire no
se adequou amostra em estudo, uma vez que para explicar a dimenso de
liderana laissez-faire percecionada foram necessrios 4 fatores ou 4 categorias, o
que contraria o modelo terico, que prope apenas duas. Deste modo, utilizando
o modelo terico proposto, no podemos predizer quais os comportamentos
laissez-faire mais esperados na populao.
A varivel gnero no revelou influncia estatisticamente significativa na perceo
dos professores titulares de cargos em nenhuma das trs dimenses de liderana.
A varivel idade no revelou influncia estatisticamente significativa na perceo
dos professores titulares de cargos em nenhuma das trs dimenses de liderana.
CONCLUSES
350
(2007) se caracteriza por uma influncia idealizada ou carisma onde o lder adota
comportamentos que ativam fortes emoes nos seguidores, suscita confiana e
identificao destes com ele, influenciam os seus ideais e os aspetos do sentido do
desempenho. Avolio (1999) refere que a altos nveis de identificao
correspondem nveis elevados de empenho, confiana, lealdade e performance
alm do esperado (p. 34). Gera compromissos e baseia-se numa interao
alargada.
Seguiu-se a dimenso de liderana transacional que segundo aquele autor envolve
as trocas entre lder e seguidores. O lder procura conhecer as necessidades e
desejos dos seus colaboradores, recompensando-os, numa transao construtiva,
ou punindo-os, numa carga transacional negativa, em funo da sua eficcia ou da
falta dela, numa lgica de prestao de contas. Conduz obedincia e baseia-se
numa interao restrita. Tambm De Vries (2008) verificou que os lderes com
comportamentos de considerao individual para com os seus seguidores tinham
uma forte relao interpessoal, enquanto na liderana transacional e passiva
verificou-se que estavam fortemente relacionadas com a falta de relaes
interpessoais. Para Hargreaves e Fullan, (2001) a criao de culturas colaborativas
eficazes deriva, em grande parte, de decises da liderana que decide quem
trabalha com quem e o que esperado dos liderados, estas decises so a forma
de prestao de contas mais adequada profisso docente (p.109).
O perfil timo de liderana no se verificou. Com efeito, o modelo preconiza uma
configurao que prediz a liderana tima que no se observou na amostra. Para
Avolio (1999, p. 52) o modelo full range leadership possui a caracterstica essencial
de admitir que todos os lderes demonstram perfis de liderana em que cada
dimenso de liderana se manifesta em maior ou menor grau, no existindo uma
medida exata para cada um mas sim um continuum de graus. Deste modo,
consideramos expectvel na populao que o perfil de liderana mais frequente se
encontre em diferentes graus, abaixo do perfil timo preconizado. Seria bastante
invulgar verificar que todos os professores titulares de cargos da populao
evidenciassem o perfil timo de liderana.
351
A observao de nveis mais baixos na categoria satisfao (S) nos resultados de
liderana e de nveis mais altos de eficcia (Eff) revelam que os professores
titulares de cargos so crticos do seu prprio trabalho e que embora o
percecionem eficaz consideram que pode melhorar.
A populao em anlise constituda maioritariamente por elementos do gnero
feminino, assim como a amostra, o que parece tornar natural que os cargos sejam
exercidos minoritariamente por mulheres. No nosso estudo, concluiu-se que as
percees do modelo de liderana para os homens e mulheres no so
significativamente diferentes. Globalmente, ambos partilham as mesmas
percees de liderana, sugerindo que eventuais preconceitos de gnero, como o
reconhecimento pelos pares ou pela comunidade educativa no que s
competncias ou eficcia de liderana diz respeito, no so percecionados. No
nosso estudo, a varivel gnero no tem influncia na perceo de liderana dos
sujeitos inquiridos, sendo portanto um atributo pouco fivel para predizer
comportamentos de liderana.
Tambm para Eagly, JohannesenSchmidt e Van Engen (2003, p. 586) saber que
um indivduo mulher ou homem pode no ser um indicador de confiana quanto
ao estilo de liderana dessa pessoa. Noutra direo, Bass, Avolio e Atwater (1996)
e Eagly, JohannesenSchmidt e Van Engen (2003) verificaram que as mulheres
percecionavam mais a liderana transformacional do que os homens, estes
percecionavam mais a liderana transacional.
Dos resultados obtidos, notria a vetustez dos professores titulares de cargos. A
experincia e o saber adquiridos com a passagem dos anos parece ser um fator
valorizado quando se trata de designar ou eleger professores para os cargos. Ou
talvez no, porque vinte anos de experincia a fazer a mesma coisa equivale a um
ano de experincia multiplicado por vinte (Welch e Welch, 2006, p. 31). Uma
outra explicao poder residir no combate aos efeitos do achatamento da
carreira, no sentido da permanncia de muitos anos na sala de aula. Sikes (1985) e
Huberman (1988 e 1991), (cit. in Hargreaves e Fullan, 2001), estudaram o ciclo de
vida dos professores e verificaram o desapontamento, a desiluso e a resistncia
mudana que tendem a acompanhar o processo de envelhecimento ao longo
352
da carreira (pp. 55-57). Um dos poucos instrumentos disposio do lder para
este combate diversificar o trabalho do professor atribuindo-lhe um cargo.
No nosso estudo, a varivel demogrfica idade foi cruzada com as dimenses de
liderana e com algumas categorias de cada dimenso, embora os resultados do
cruzamento destas ltimas no venham descritos no estudo. Nos resultados
obtidos no foram encontradas diferenas significativas de perceo nos escales
etrios considerados (40 anos ou menos; 41 a 46 anos e mais de 46 anos). Num
outro estudo realizado, Oshagbemi (2004) chegou concluso que nos
comportamentos de liderana apenas a categoria comportamentos de influncia
idealizada (IIB) apresenta o F-test significante entre os lderes mais jovens e os
mais velhos enquanto as outras medidas foram bastante similares. No nosso
estudo, a varivel idade no revelou influncia na perceo nas dimenses de
liderana dos sujeitos inquiridos, sendo portanto um atributo pouco fivel para
predizer comportamentos de liderana. No aprofundmos a influncia da
varivel ao nvel das categorias de cada dimenso, uma vez que no encontrmos
diferenas significativas ao nvel das dimenses.
Muitos autores (Godin, 2008, Pink, 2009; Lopes, Galinha e Loureiro, 2010; Galinha
et. al. Org. 2011) apontam que a liderana uma rea profissional que exige aos
lderes recursos, competncias e habilidades especiais, honestidade, credibilidade,
dedicao, disponibilidade, resilincia, formao, entre outros, de modo a
enfrentar os desafios modernos, a responder rpida e eficazmente aos problemas,
a procurar novos mtodos de trabalho, inseridos em organizaes complexas que
operam em sociedades onde a competio e a exigncia estabelecem patamares
de desempenho cada vez mais ambiciosos.
Yammarino et al. (2004), Avolio (1999) assinalam que existem inmeros exemplos
de como a liderana transformacional promoveu o desempenho individual (dos
lderes) para alm das expetativas. Leithwood et al. (2004) destacam um conjunto
de estudos quantitativos que reclamam ter estabelecido, em contextos
especficos, a evidncia do efeito da liderana nos resultados dos alunos. As
escolas bsicas dos 2 e 3 ciclos do concelho de Santarm parecem estar a
353
produzir lideranas transformacionais e transacionais coerentes com uma certa a
cultura vigente que formata os constructos dessas lideranas.
BIBLIOGRAFIA
AVOLIO, BRUCE J. (1999). Full Leadership Development: Building the Vital Forces in
Organizations. Sage Publications.
BASS, BERNARD M. (1985). Leadership and performance beyond expectations. New
York: Free Press.
BASS, BERNARD M. (1998). Transformational leadership: Industrial, military, and edu-
cational impact. New Jersey: Lawrence Erlbaum.
BASS, BERNARD M., AVOLIO, BRUCE. J.; ATWATER LEANNE (1996). Transformational
and transactional leadership of men and women. Applied Psychology: An International
Review.
BASS, BERNARD M.; AVOLIO, BRUCE J. (1995). MLQ Multifactor Leadership
Questionnaire. Mind Garden, Inc.
BASS, BERNARD M.; AVOLIO, BRUCE J. (2000). MLQ Multifactor Leadership
Questionnaire. Sec. Ed. Mind Garden, Inc.
BASS, BERNARD M.; AVOLIO, BRUCE J. (2004). Multifactor Leadership Questionaire;
Third Edition, Manual and Sampler Set. Mind Garden.
BEIGPOOR, SHARIVAR R.; IDRIS, BIN J. (2012). Investigating the Interaction between
FDI and Human Capital on Productivity Growth. Research Jounal of International
Studies, 23.
BERGAMINI, CECLIA W. (2002). O lder eficaz. So Paulo: Atlas
BRITES, RUI (2007). Manual de Mtodos Quantitativos Tomo I. Lisboa: Instituto
Nacional de Administrao INA. [http://stoa.usp.br/fabiomidia/files/-
1/19400/Manual_M%C3%A9todos+Quantitativos_Tomo_1.pdf] Setembro 2012
BRYMAN, ALAN (2004). Charisma and leadership in organizations. London: Sage.
BUCKINGHAM, MARCUS (2005). Gestor de Sucesso. Lisboa: Cavalo de Ferro Editores.
BURNS, JAMES M. (1978). Leadership. New York: Harper & Row.
CHIAVENATO, IDALBERTO (2003). Introduo Teoria Geral da Administrao. Rio de
Janeiro: Campus - Elsevier Editora. 7 Edio.
354
CONGER, JAY A.; KANUNGO, RABINDRA N. (1988). The empowerment process:
Integrating theory and practice. Academy of Management Review.
COSTA, JORGE A.; NETO-MENDES, ANTNIO; VENTURA, ALEXANDRE; (Org.) (2000).
Liderana e Estratgia nas Organizaes Escolares. Aveiro: Universidade de Aveiro.
CUNHA, MIGUEL P. e REGO, ARMNIO (2005). Liderar. Lisboa: Publicaes Dom
Quixote. 1 Edio.
CUNHA, MIGUEL P.; REGO, ARMNIO; CAMPOS E CUNHA, RITA e CABRAL-CARDOSO,
CARLOS (2007). Manual de Comportamento Organizacional e Gesto. Lisboa: Editora
RH Lda. 6 Edio.
DE VRIES, REINOUT E. (2008). What are we measuring? Convergence of leadership with
interpersonal and non-interpersonal personality. Leadership, 4.
EAGLY, ALICE H., JOHANNESEN-SCHMIDT, MARY C., e VAN ENGEN, MARLOES L. (2003).
Transformational, transactional, and laissez-faire leadership styles: A meta-analysis
comparing men and women. In Psychological Bulletin.
FARIA, JORGE (2002). Competncias e caractersticas dos dirigentes da administrao
pblica. Repositrio Cientfico do Instituto Politcnico de Santarm.
[http://repositorio.ipsantarem.pt/handle/10400.15/68] Fevereiro 2011
FARIA, JORGE (2005). Liderana e gesto pblica em Portugal: caractersticas e
implicaes no desempenho organizacional. Tese de Doutoramento.
[http://lms.ese.ipsantarem.pt/lms/mod/resource/view.php?id=26821] Fevereiro
2011
GALINHA, SNIA A.; (Coord.) (2011). Pedagogia e Psicologia Positiva. Interaes em
Educao e Sade. Porto: Livpsic.
GODIN, SETH (2008). Tribos, Precisamos de Um
Lder. Alfragide: Editora Lua de Papel.
HARGREAVES, ANDY; FULLAN, MICHAEL (2001). Porque que vale a pena lutar? O
trabalho de equipa na escola. Porto: Porto Editora.
HERSEY, PAUL; BLANCHARD KENNETH H. (1986). Psicologia para administradores: A
teoria e as tcnicas para a liderana situacional. So Paulo: EPU.
HILL, MANUELA M.; HILL, ANDREW (2005). Investigao por Questionrio. Lisboa:
Edies Slabo. 2 Edio.
355
KOONTZ, HAROLD; ODONNELL, CYRIL; WEIHRICH, HEIZ (1987). Administrao:
Recursos Humanos: Desenvolvimento de Administradores, Vol. 3, 14 ed. So Paulo:
Pioneira.
KOTTER, JOHN P. (1992). O fator liderana. So Paulo: Makron Books.
LEITHWOOD, KENNETH; JANTZI, DORIS (1994). Transformational leadership: How
principals can help reform school cultures. School Effectiveness and school
Improvement.
[http://eric.ed.gov/PDFS/ED323622.pdf] Abril 2011
LEITHWOOD, KENNETH; LOUIS, KAREN; ANDERSON, STEPHEN; WAHLSTROM, KYLA
(2004). How leadership influences student learning. Review of Research.
[www.learningfromleadership.umn.edu]
LIBBERMANN, ANN; MILLER, LYNNE (2005). Teachers as Leaders. The Educational
Forum, 69:2,151-162.
LOPES, MARCELINO S.; GALINHA, SNIA A.; LOUREIRO, MANUEL J. (2010). Animao e
Bem-Estar Psicolgico. Chaves: Interveno Associao para Divulgao e Promoo
Cultural.
LOPES, MIGUEL P.; PALMA, PATRCIA J.; BRTOLO-RIBEIRO, RUI; PINA E CUNHA,
MIGUEL (2011). Coord. Psicologia Aplicada. Lisboa: Editora RH. 1 Edio.
MAROCO, JOO (2003). Anlise Estatstica Com Utilizao do SPSS. Lisboa: Edies
Slabo. 2 Edio.
MAROCO, JOO; GARCIA-MARQUES, TERESA (2006). Qual a fiabilidade do alfa de
Cronbach? Questes antigas e solues modernas?
[http://repositorio.ispa.pt/bitstream/10400.12/133/1/LP%204(1)%20-%2065-90.pdf] -
Setembro de 2012
MLLER, RALF; TURNER, RODNEY (2010). Leadship copetency profiles of successful
project managers. International Journal of Project Management, 28 - 437-448.
OSHAGBEMI, TITUS (2004). "Age influences on the leadership styles and behaviour of
managers". Employee Relations, Vol. 26 Iss: 1, pp.14 29.
PESTANA, HELENA; GAGEIRO, JOO N. (2005). Anlise de dados para cincias sociais: a
complementaridade do SPSS. Lisboa: Slabo.
356
PODSAKOFF, PHILIP M., MACKENZIE, SCOTT B., MOORMAN, S. B.; FETTER, R. (1990),
Transformational leader behaviours and their effects on followers trust in leader,
satisfaction, and organizational citizenship behaviours. The Leadership Quarterly, 1 (2),
107-142.
WELCH, JACK; WELCH, SUZY (2006). Vencer. Lisboa: Conjuntura Actual Editora, Lda. 11
Edio.
YAMMARINO, FRANCIS J.; DIONE, SHELLEY D.; ATTWATER, LEANNE E.; SPANGLER,
WILLIAM D. (2004). Transformational leadership and team performance. Journal of
Organizational Change Management. Vol. 17, 2, 177-193.
YUKL, GARY (2006). Leadership in organizations, Sixth edition. Upper Saddle River, NJ:
Prentice Hall
ZALEZNIK, ABRAHAM (1989). The Managerial Mystique Restoring Leadership in
Business. New York: Harper & Row.
357
A PARTICIPAO DA ESE NO PROJETO EUROPEU TODDLER - POR OPORTUNIDADES
PARA CRIANAS DESFAVORECIDAS E COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
DURANTE OS PRIMEIROS ANOS DE VIDA.
1
Instituto Politcnico de Santarm Escola Superior de Educao/CIEC- Univ. Minho
2
Instituto Politcnico de Santarm Escola Superior de Educao
Com a colaborao das estudantes: Soraia Cardoso, Joana Loureiro, Joana vora, Liliana Dinis
RESUMO
Entre 2010 e 2013 uma equipa da ESE de Santarm integrou o Projeto TODDLER,
coordenado pela Universidade Stavanger (Noruega), e no qual participam instituies
do ensino superior de mais 6 pases: Alemanha, Blgica, Dinamarca, Espanha, Reino
Unido e Romnia. Com uma durao de 3 anos, este projeto, financiado atravs de um
dos Programas Comenius, foi concebido com base nas recomendaes do estudo da
Eurydice (2009). 3
Apesar do reconhecimento da relevncia da qualidade da resposta educativa para as
crianas com menos de 3 anos, em muitos pases, como em Portugal, esta resposta
continua a ser alvo de vrias indefinies. Com este Projeto, entre outros aspetos, est
prevista a caracterizao da realidade dos pases intervenientes e a organizao de
materiais para a formao de profissionais que trabalham com este grupo etrio. O
trabalho realizado pela equipa da ESE, para alm da caracterizao da realidade
portuguesa, teve como principal finalidade o estudo do envolvimento parental,
auscultando as famlias e pesquisando projetos e exemplos de prticas em Portugal e
nos vrios pases parceiros do projeto.
Nesta comunicao apresentamos uma sntese dos fundamentos e descrio do
trabalho feito e as implicaes deste projeto a nvel da formao. Destacamos um
3
Eurydice (2009) Lducation et laccueil des jeunes enfants en Europe: rduire les ingalits
sociales et culturelles, Bruxelas : CE
358
guio construdo no final do Projeto para ser usado tanto a nvel da formao inicial
como contnua.
359
ABSTRACT
Between 2010 and 2013 a ESE de Santarm team joined the TODDLER Project,
coordinated by the University in Stavanger (Norway), and in which participate higher
education institutions from over 6 countries: Germany, Belgium, Denmark, Spain,
United Kingdom and Romania. With a duration of 3 years, this project, funded through
a Comenius programme, was designed on the basis of the recommendations of the
study of Eurydice (2009). 4
Despite the recognition of the relevance of the quality of educational response for
children under 3 years, in many countries, such as in Portugal, this response remains
the target of several loose ends. With this project, among other things, we intend to
the characterization of the reality of the countries concerned and the Organization of
materials for the training of professionals working with this age group. The work done
by the team of ESE, beyond the characterization of Portuguese reality, had as its main
purpose the study of parental involvement, listening to families and researching
projects and examples of good practices in Portugal and in the various partner
countries of the project.
In this text we present an overview of the theorists fundamentals; a description of the
work done and the implications of this project in terms of training. At the end of the
project we built a guide to be used both in the initial and continuous training.
INTRODUO
4
Eurydice (2009) Lducation et laccueil des jeunes enfants en Europe: rduire les ingalits
sociales et culturelles, Bruxelas : CE
360
Universidade College Artevelde Hogeschool e HELMO (Blgica); a Universidade College
South (Dinamarca); a Universidade Ramon Lull (Espanha); a Universidade de Kingston
(Reino Unido); a Universidade de Timisoara (Romnia) e a Escola Superior de Educao
do Instituto Politcnico de Santarm (Portugal). O professor Paul Leseman (Holanda)
foi o consultor do projeto.
Tendo como principal finalidade refletir sobre as questes relativas ao acolhimento
das crianas com menos de 3 anos, o TOODLER procurou tambm caracterizar e
comparar a realidade dos diferentes pases participantes assim como construir
materiais de apoio para a formao inicial e contnua das profissionais e dos
profissionais que trabalham com crianas deste grupo etrio.
No texto so apresentados os fundamentos e finalidades do projeto, bem como o
trabalho desenvolvido pela equipa portuguesa, da Escola Superior de Educao de
Santarm sobre envolvimento parental.
Este projeto foi concebido tendo como pressuposto que para uma resposta mais eficaz
e equitativa urgente um maior investimento na educao das crianas com menos de
3 anos. A conscincia de que em muitos pases, semelhana do que acontece em
Portugal, no existem ainda diretivas nacionais quanto s orientaes pedaggicas
para o trabalho com este grupo etrio, foi uma outra preocupao que desde o incio
esteve subjacente realizao deste trabalho. Partindo destas questes foram
definidos como principais objetivos deste projeto:
Refletir sobre as questes que afetam o acolhimento das crianas com menos
de 3 anos, procurando caracterizar os diferentes pases que integram o projeto.
361
Dar contributos para a formao inicial e formao contnua de educadores/as ,
nomeadamente construo de materiais e dispositivos reflexivos.
Mostrar o potencial educativo dos contextos para as crianas com menos de
trs anos e a forma como estes podem contribuir para uma maior igualdade de
oportunidades e participao
Investigar e descrever boas prticas no acolhimento e educao de crianas
em risco.
Para a sua concretizao foram definidas vrias tarefas, que foram distribudas pelos
diferentes parceiros, que as foram trabalhando ao longo dos trs anos do projeto,
recolhendo dados sobre a realidade existente nos pases envolvidos:
1. Organizao e coordenao do projeto;
2. Estado da Arte (da educao das crianas com menos de 3 anos)
3. Aprendizagem e desenvolvimento da linguagem (caraterizao de prticas
em instituies)
4. Promoo do bem estar (definies, trabalhos em curso)
5. Envolvimento Parental (definies, caraterizao das prticas existents,
recolha de exemplos considerados inovadores pelos parceiros)
6. Materiais e estratgias de formao para o desenvolvimento de uma
atitude de questionamento e de pesquisa a nvel da formao
7. Divulgao ( das publicaes e trabalhos realizados no mbito do projeto).
8. Avaliao da qualidade ( do trabalho realizado)
9. Sustentabilidade ( trabalho de apoio ao desnvolvimento das vrias tarefas)
362
Um mdulo de um curso para a formao inicial em educao de infncia a
incorporar nos programas das instituies parceiras e oferecido na lngua
nacional.
Tendo ficado com a tarefa de estudar o envolvimento parental, a equipa da ESES teve
como principais objetivos de trabalho:
Identificar boas prticas de trabalho com as famlias e de estratgias de apoio
e envolvimento parental em contextos formais e informais de acolhimento das
crianas;
Criar um guio para ser utilizado na formao inicial e contnua de educadores
e educadoras de infncia.
Definir o que se entende por boas prticas em Portugal e nos outros pases, foi uma
das nossas grandes dificuldades considerando a carga subjetiva que est associada a
esta expresso e a diversidade cultural subjacente sua interpretao. A primeira
questo com que nos confrontmos foi a diversidade das polticas de apoio infncia e
maternidade e paternidade nos diferentes pases, que comea por se observar, por
exemplo, na idade com que as crianas podem frequentar a creche. Por outro lado,
tendo em conta a especificidade da realidade do nosso pas, a reduzida rede
institucional existente para as crianas com menos de 3 anos, questionmo-nos se
faria sentido restringir o nosso estudo a famlias cujas crianas frequentam
instituies.
O trabalho realizado foi organizado em diferentes etapas:
Realizao de um Seminrio inicial - para apresentao do projeto e levantamento das
principais questes que afetam as respostas socioeducativas s crianas e famlias,
promovendo debate entre estudantes da ESE, educadoras de infncia, familiares de
crianas, especialistas e responsveis de vrios servios da rea social, sade e
educao.
363
Realizao de Entrevistas com familiares de crianas com menos de 3 anos em
Portugal e nos diferentes pases dos parceiros do projeto para avaliar: as necessidades
e perspetivas das famlias relativamente s respostas existentes para o acolhimento
das crianas; as principais semelhanas e diferenas entre os vrios pases.
D f envolvimento parental h x boa
trabalho com as famlias com a colaborao de todos os parceiros do projeto.
Realizao de dois Workshops - no distrito de Santarm, com familiares e tcnicos,
visando a recolha de contributos para a definio de envolvimento parental e as
principais questes que afetam as prticas de trabalho com as famlias, exemplos de
boas prticas.
Construo do guio de formao sobre envolvimento parental - em portugus e
ingls, com base na anlise de todos os dados recolhidos ao longo do projeto.
Em complemento a este trabalho a equipa da Noruega organizou um DVD - Open
kindergarten - focando o envolvimento parental, com base num estudo de caso a
decorrer naquele pas.
5
Conjunto de amas apoiadas pela segurana social
365
desenvolvido com as famlias foi enorme, o que confirma a relatividade cultural e a
necessidade de analisar de forma contextualizada estas questes.
O envolvimento parental no trabalho em creche tem um papel fundamental que
comea no conhecimento da criana, na identificao de necessidades especificas de
aprendizagem e no reconhecimento da incontornvel importncia de um trabalho de
parceria entre todos os adultos que cuidam da educao e bem estar da criana.
A reviso da literatura mostra claramente que uma interveno mais eficaz na
promoo do desenvolvimento e aprendizagem das crianas tem obrigatoriamente
que envolver as familias (Eurydice, 2009, p. 140). Esta preocupao particularmente
evidente no caso de familias mais desfavorecidas do ponto de vista scio-econmico.
Teresa Sarmento (1992) define envolvimento parental como sendo todas as formas
de atividades dos pais na educao dos seus filhos em casa, na comunidade ou na
escola.. No entanto, quando falamos de envolvimento podemos diferenciar
diferentes nveis e dimenses.
367
como a pesquisa bibliogrfica realizada nos diferentes pases envolvidos. Este
documento, cuja edio est agora a ser concluda, tem uma verso em lngua
portuguesa e outra em lngua inglesa e foi estruturado da seguinte maneira:
- Pressupostos tericos;
- Tentativa de definir o que podemos entender por envolvimento parental:
fatores facilitadores, dificuldades, exemplos;
- O estudo realizado pela equipa portuguesa: o que dizem as famlias e
apresentao de bons exemplos;
- Como avaliar o envolvimento parental.
REFLEXO FINAL
Este texto teve como principal finalidade a apresentao do Projeto TODDLER,
detalhando o trabalho o papel da equipa da ESES neste projeto no estudo do
envolvimento parental. Na apresentao dos dados optmos por privilegiar sobretudo
os que caraterizam a realidade portuguesa, na impossibilidade da apresentao global
de tudo o que foi feito.
A urgncia de clarificar a poltica educativa para as crianas com menos de 3 anos,
definindo orientaes pedaggicas para as instituies, garantindo a primazia da sua
368
funo educativa. Contudo, no s em Portugal que existe uma excessiva
diferenciao nas respostas educativas para as crianas mais pequenas.
A realizao deste Projeto permitiu conhecer e comparar as diferentes realidades
europeias e, consequentemente, constatar que so muitas as questes que continuam
a afetar a qualidade do funcionamento das instituies que recebem crianas desta
idades, e que so tambm muitas as dificuldades dos pais e sobretudo das mes! -
em conciliar a sua vida familiar e profissional. Os workshops realizados evidenciaram a
relevncia de se ouvir e auscultar todos os intervenientes no processo educativo.
BIBLIOGRAFIA 6
BOUVET, Catherine; SELLENET, Catherine (2011) Confier son enfant. Lunivers des
assistants maternelles, Paris: Ed. Autrement
Cardona, M. J.; Piscalho, I; UVA, M; Luis, I; Tavares, Teresa (2012). Projeto Europeu
TODDLER - Por oportunidades para crianas desfavorecidas e com necessidades
educativas especiais durante os primeiros anos de vida. XIX Congress AFIRSE (CD)
CARDONA, M. J; Uva; Pisacalho, I.; Luis, H; Tavares, T (2012) Projeto europeu: por
oportunidades para crianas desfavorecidas e com necessidades educativas especiais
durante os primeiros anos de vida, p. 170- 185, Revista Nuances: estudos sobre
educao, ano XVII/v.22, n.23
http://revista.fct.unesp.br/index.php/Nuances/article/view/1766/1700
CNE (Teresa Vasconcelos, org.) (2011) A educao das crianas dos 0 aos 3 anos,
Lisboa: CNE/ME
6
Os dados do Projeto esto disponveis no site: www.toddlerineurope.eu
369
DAHLBERG, Gunilla.; MOSS, Peter; PENSE, Alan (2003) Qualidade na Educao da
Primeira Infncia. Perspetivas ps-modernas, Porto Alegre; Artmed
EURIDYCE (2009) L ducation et laccueil des jeunes enfants en Europe: rduire les
ingalits sociales et culturelles, Bruxelas : CE
LESEMAN; Paul P.M (2002) Acessibility of early childhood education and care provisions
for low income and minority families, Paris. OCDE
MOSS, Peter (2001). Beyond early childhood education and care. Comunicao
apresentada na Starting Strong: Early Childhood Education and Care International
Conference. Stockholm, http://www.oecd.org
MOSS, Peter (2001). Beyond early childhood education and care. Comunicao
apresentada na Starting Strong: Early Childhood Education and Care International
Conference. Stockholm, http://www.oecd.org [Consulta: julho 2012].
SARMENTO, Teresa (1992) As prticas de envolvimento de pais em jardins de infncia,
um estudo de caso. CEFOPE, Braga: Universidade do Minho
370
CONCEITOS E HABILIDADES DO PENSAMENTO ALGBRICO PARA PROFESSORES DO
1CICLO
Sofia Rzio
RESUMO
O conceito de Algebra Iincial ou Pensamento Algbrico de alunos no incio da
escolaridade tem ganho destaque atravs do Group for the Psychology of Mathematics
Education [PME]. Os conceitos algbricos que podem ser enfatizados no 1Ciclo,
incluem-se segundo Kieran (2007) nas seguintes reas: propriedades das operaes,
igualdades numricas, mudanas, padres e relaes entre quantidades. Tambm Liu,
Carraher e Schlieman (2013) ou o NCISLA (2000) referem a introduo a este tipo de
Pensamento no incio da escolaridade. No Programa de Matemtica do 1. Ciclo do
Ensino Bsico, no vemos surgir o tema lgebra, embora existam objetivos de
natureza algbrica em outros temas deste ciclo. Investigou-se junto de 50 docentes do
1Ciclo, como determinadas habilidades do Pensamento Algbrico tm sido
desenvolvidas nos seus alunos, nomeadamente: a compreenso de algumas
propriedades matemticas, interpretao do sinal de igual, pensamento funcional e
raciocnio proporcional.
Alguns estudos como os de Welder (2008), Liu, Schliemann e Carraher (2013), Warren
e Cooper (2008) ou Kieran (2007) serviram de referncia na anlise das entrevistas.
Para os docentes do 1Ciclo inquiridos, o conceito de lgebra Inicial converge para o
que a atual comunidade cientfica internacional tem, no entanto existe ainda algum
distanciamento ao nvel da identificao das habilidades implicadas.
371
ABSTRACT
The concept of Students Initial Algebraic Thinking in Elementary School has gained
prominence through the Group for the Psychology of Mathematics Education [PME].
Algebraic concepts can be emphasized in Elementary School in the following areas:
operations properties, numerical equalities, analysis of variance, patterns and
relationships between quantities (Kieran, 2007). Also Li, Carraher and Schlieman (2013)
or NCISLA (2000) reported the introduction to this type of thinking in early education.
In Elementary Mathematics Program, we do not see the issue arise Algebra, although
there are objectives of algebraic nature in other themes. We investigated 50 teachers
from the Elementary School, to know how certain Algebraic Thinking skills have been
developed in their students, namely: understanding some mathematical properties,
the interpretation of the equal sign, functional thinking and proportional reasoning.
Some studies such as Welder (2008), Liu, Schliemann and Carraher (2013), Warren and
Cooper (2008) and Kieran (2007) were a reference in the analysis of the interviews. For
teachers we interviewed, the concept of Initial Algebra converges to what current
international scientific community has, however there is still some distance in
identifying the skills involved.
KEY WORDS: 1st cycle , Algebraic Concepts , Algebraic skills , Algebraic Thinking.
INTRODUO
O Pensamento Algbrico dos alunos pode ser promovido desde o incio da sua
escolaridade. Kieran(2006) destaca como principais temas a serem estudados na
lgebra Inicial: pensar sobre igualdades numricas, simbolizar relaes entre
quantidades, trabalhar com equaes, desenvolver o pensamento funcional e
promover e compreender propriedades matemticas. De facto, lgebra um modo de
pensar um conjunto de conceitos e de desenvolver habilidades, que permite aos
estudantes generalizar, modelar e analisar situaes matemticas (NCTM, 2008).
Neste trabalho de investigao d-se nfase ao estudo da formao de conceitos sobre
operaes numricas, igualdades numricas, mudanas e padres e relaes entre
quantidades, que se sabe tratar-se de conceitos que se formam a partir do
372
desenvolvimento de determinadas habilidades do pensamento da criana, como as
habilidades em generalizar, abstrair, analisar, produzir pensamento dinmico, modelar
e organizar (Kieran, 2007).
Destaca-se a opinio de Cai e Moyer (2008) segundo a qual os professores devem
apoiar uma transio suave entre a Aritmtica e a lgebra reconhecendo a utilidade de
abordagens generalizadas durante a resoluo de problemas no desenvolvimento de
habilidades algbricas.
O sinal de igual de sinal encerrra em si diversos significados a serem explorados. Para
Welder (2008), o sentido de equivalncia do sinal de igual pode ser explorado, por
exemplo, atravs da igualdade entre expresses numricas como 8 + 4 = 7 + 5 ou 8
3 +. Num estudo conduzido por este investigador os alunos foram capazes de
construir a partir da Aritmtica frases numricas que eles sabiam ser verdade,
utilizando os smbolos = e ? para representar variveis, o que revela a presena de
smbolos embora no se trate de excesso de simbolismo algbrico.
De acordo com Schliemann, Carraher, Goodrow, Caddle e Porter (2013), algumas das
dificuldades que os alunos do ensino secundrio muitas vezes sentem, decorrem da
sua pouco clara conceo do sinal de igual.
Uma investigao realizada com alunos de 8 a 11 anos, revelou existir um progresso
significativo quando trabalham num contexto de quantitificao de relaes entre
peso, volume e densidade (Liu, Schliemann and Carraher, 2013). Os resultados
mostraram que as crianas mantiveram a preocupao na atribuio de significado e
que a quantificao surgiu a partir das suas observaes e experincias. Os autores
referidos sugerem que educadores e investigadores devem investir em estabelecer
conexes entre entendimentos qualitativos e quantitativos das crianas quanto a
conceitos cientficos e matemticos, integrando-os, ao invs de enfatizar apenas um
ou o outro.
Alatorre, Flores e Solis (2011) relataram um estudo de caso, que envolveu cinco
professores de 1 Ciclo, a quem vrios problemas de comparao, proporo em
diferentes contextos e com estruturas numricas distintas, foram apresentados. Os
resultados mostraram que estes docentes consideravam o registo em tabelas de
valores de duas variveis que se relacionavam, como fator de favorecimento
373
resoluo de problemas, uma vez que permitem transformar situaes complexas em
outras mais simples.
Warren e Cooper (2008) orientaram um projeto investigativo que promoveu e explorou
padres, de forma a que ajudasse os alunos a descobrir relaes, estimulando-se assim
o desenvolvimento de pensamento funcional. Concluu-se que algumas das questes
chave de aprendizagem que podem ocorrer nos anos elementares, no mbito do
desenvolvimento do Pensamento Algbrico Inicial so: compreender os padres e
sustentar um pensamento funcional, reconhecer a relao entre dois conjuntos de
dados, expressar uma relao e escrever uma regra padro.
Existe um documento bastante recente, com data original de 2002 mas revisto em
2010, que resultou de uma tomada de posio conjunta entre a NAEYC e o NCTM
intitulado Early Childhood Mathematics: Promoting Good Beginnings (Stone-
MacDonald, 2011), no qual se encontram exemplos de habilidades que so adequadas
desenvolver em crianas entre os trs e os seis anos, na rea curricular de
Padres/Pensamento Algbrico: cpias simples de padres repetitivos, como uma
parede de blocos de longo, curto, longo, curto, longo, curto, longo ou discutir padres
em Aritmtica, por exemplo, adicionando um a um nmero qualquer resulta sempre
no nmero de contagem seguinte.
No uqe diz respeito descoberta de conceitos, como por exemplo, o conceito de
operaes inversas, Welder (2008) explica que a utilizao de equaes como 78 - a + a
= 78 so manifestamente benficas pois deixam transparecer algumas propriedades
dos nmeros e operaes
Kieran (2007) esclarece que os estudantes de nveis elementares podem ser
introduzidos ao Pensamento Algbrico, atravs de expresses numricas, usando
nmeros como quase-variveis, como por exemplo, atravs de afirmaes como 87-
39+39=87, que so verdadeiras qualquer que seja o nmero que se some e se subtraia
de volta. Para Kieran (2004) os alunos que operam numa estrutura aritmtica de
referncia tendem a no ver os aspectos relacionais e as propriedades das operaes,
focam-se no clculo.
Assim, para uma transio bem sucedida da Aritmtica para a lgebra necessrio que
exista foco nas operaes, bem como nas suas inversas, ou seja, na ideia de fazer e
374
desfazer, entre outras. Num estudo realizado por esta investigadora, alunos do 3 e do
5 anos conseguiram descobrir e justificar generalizaes como quando se adiciona
zero a um nmero obtm-se o mesmo nmero com o qual se comeou ou quando se
subtrai um nmero a ele prprio obtm-se zero ou quando se multiplicam dois
nmeros pode-se trocar a ordem dos nmeros. Esta descoberta indica que apesar de
os alunos no usarem notao algbrica nas suas respostas eles conseguem expressar
propriedades algbricas gerais sobre o sistema numrico.
As principais tendncias cientficas internacionais apontam para a promoo do
desenvolvimento de Pensamento Algbrico desde os primeiros anos de escolaridade
(NCISLA, 2000). Tal considera-se vantajoso na medida em que estabelece uma ponte
entre os esforos de introduzir o Pensamento Algbrico desde cedo e a lgebra que se
ensina a alunos mais velhos, de 12 ou 13 anos (Kieran, 2006).
possvel desde cedo, segundo Kieran (2007), construir pontes entre o conhecimento
matemtico das crianas e o conhecimento algbrico sem recorrer a smbolos
algbricos.
O mais recente Programa de Matemtica do Ensino Bsico (Ponte, Serrazina,
Guimares, Breda, Guimares, Sousa, et al, 2010), assume que o processo de ensino-
aprendizagem se desenvolve em torno de quatro pilares fundamentais, sendo um deles
o Pensamento Algbrico. Assim sendo, a lgebra introduzida como tema
programtico no 2. e 3. Ciclos, embora no 1.Ciclo exista j uma iniciao ao
Pensamento Algbrico. No 1. Ciclo do Ensino Bsico no vemos surgir o tema lgebra,
embora existam objectivos de natureza algbrica nos outros temas deste ciclo: os
alunos devem procurar regularidades em sequncias de nmeros, finitas ou infinitas, e
podem tambm observar padres de pontos e represent-los tanto geomtrica como
numricamente, estabelecendo conexes entre a Geometria e a Aritmtica. Tal fato,
evidenciou importncia na investigao da introduo de conceitos e desenvolvimento
de habilidades algbricas por parte de docentes do 1Ciclo de estudos.
375
MATERIAIS, MTODOS E PROCEDIMENTOS
Concebeu-se um Guio de Entrevista semi-estruturada e aplicou-se a 50 docentes do
1Ciclo, do Concelho de Sintra. Metade dos professores tinham 10 a 19 anos de
experincia e a outra metade, menos tempo de servio. Procedeu-se anlise
qualitativa e quantitativa do contedo. Para avaliar a fiabilidade da categorizao das
respostas, foi realizada uma segunda anlise de contedo a 10% do corpus recolhido,
isto , a 5 das 50 entrevistas realizadas, por parte de um segundo investigador. Das
152 classificaes atribudas, houve um acordo em 139, o que corresponde a um nvel
de concordncia bastante aceitvel de 0.91
RESULTADOS E DISCUSSO
s entrevistas realzou-se uma anlise de contedo qualitativa e tambm quantitativa.
Observe-se que nos quadros de registo das respostas construdas, as percentagens no
somam 100, uma vez que muitos dos professores entrevistados referenciou mais de
uma categoria.
Quase 40% dos professores consideraram adequado o desenvolvimento do
pensamento algbrico dos alunos durante o ensino Pr-escolar. O testemunho de um
dos professores de que quando ns damos at os prprios nmerospretendemos
desde o incio que eles estabeleam relaes entre os nmeros, isso uma coisa
importantssima, por exemplo, o que que tu sabes sobre o 6? 5+1? 7-1?... todas
estas relaes numricas se estabelecem desde o incioeu penso que j um
caminho para o Pensamento Algbrico.
Quanto ao que lgebra Inicial significa pra os docentes entrevistados, houve difculdade
na obteno de respostas mais claras e explicativas a esta questo, contudo, uma das
excees foi a resposta de uma professora, para a qual lgebra algo muito
abrangente e que implica muitas aprendizagens: operaes, sequncias numricas,
expresses numricas e propriedades das operaes.
Quando inquiridos quanto ao foco do Pensamento Algbrico, a indicao de com qual
das perspectivas mais se identificavam, de entre as opes seguintes: Estrutura da
Aritmtica, Trabalhar as operaes como Funes ou Promover Actividades de
Generalizao consta do quadro I.
376
QUADRO I. Foco do Pensamento Algbrico dos Professores: Estrutura da Aritmtica,
Trabalhar as operaes como Funes ou Promoo de Actividades de
Generalizao.
SINAL DE IGUAL
Quanto indicao de trs diferentes actividades que o docente realize com os seus
alunos nas quais trabalhem o significado do sinal de igual, organizaram-se as respostas
em duas categorias aglutinadoras: actividades com foco na relao e actividades com
foco no resultado, conforme se pode observar no quadro II.
QUADRO II. Atividades que os docentes realizam com os seus alunos nas quais
trabalhem o significado do sinal de igual.
Seis professores deram exemplos exclusivamente com foco na relao, outros seis com
foco exclusivo no resultado e trinta e oito deram exemplos com foco em ambos. Das
actividades com foco na relao, a mais referida foi exercicios de comparao (62%).
Quanto forma como so trabalhadas as noes de maior, menor ou igual, Quando
comeam no 1ano com a simbologia do >,< ou =, comeo sempre pelo que mais
fcile normalmente comeo pelo tamanhotm que identificar e comparar
378
tamanhos.cr igual, a forma igualfiguras geomtricas com a forma igual, s depois
que passamos para as quantidades e para o menor, maior , explicou um dos docentes.
Das actividades com foco no resultado, a realizao de operaes foi a mencionada
mais vezes (78%). De salientar que a maior parte dos professores que referiu exercicios
de comparao tambm referiu o trabalho com expresses numricas equivalentes.
De todos os professores, 45 atribuiram ao sinal de igual o significado de relao e
tambm de resultado no apontando um ou outro caso com exclusividade.
381
Relativamente inteno com que colocavam problemas simples de multiplicar e
dividir, constatou-se que sete dos professores no mantiveram a sua resposta dada na
questo anterior, optando 43 por no a alterar. Destes sete, quatro professores
decidiram trocar o clculo mental, que tinham referido primeiramente, pelos
algoritmos ou pela diviso como sendo o inverso da multiplicao, passando a referi-las
antes do clculo mental, e dois deles optaram por passar a referir o clculo mental em
primeiro lugar.
CONCLUSES
Quanto idade considerada adequada ao incio do desenvlovimento do Pensamento
Algbrico, 40% dos docentes entrevistados apontaram para o Pr-Escolar, enquanto as
princpais tendncias internacionais consideram o 1Ciclo.
Sobre o significado que os docentes atriburam a lgebra Incial, a maioria relacionou o
tema com o estudo dos Nmeros, o que contrasta com a conceo atual que se baseia
no desenvolvimento de habilidades em generalizar, modelar e abstrair.
Quanto forma como os professores abordam os diversos significados do sinal de igual
com os seus alunos, os dados revelam que os estudantes j so muitas vezes
orientados para olharem para o sinal de igual no apenas como um simbolo que lhes
diz para calcularem algo mas tambm como um simbolo relacional ou de equivalncia.
Parece ter ficado aqum do esperado o entendimento e consequente importncia dada
ao raciocnio proporcional por muitos dos docentes entrevistados, uma vez que o
raciocnio proporcional j considerado por alguns investigadores um componente
essencial ao desenvolvimento do pensamento algbrico.
Os resultados mostraram que os professores do 1Ciclo entrevistados partilham da
conceo que a actual comunidade cientfica internacional tem de lgebra Inicial
embora exista ainda uma distncia considervel ao nvel da identificao das
habilidades implicadas no Pensamento Algbrico e das actividades que promovem este
tipo de pensamento. Observou-se tambm que os professores implementam algumas
prticas que promovem o desenvolvimento do Pensamento Algbrico dos seus alunos,
contudo umas consideram-se mais adequadas e melhor exploradas do que outras.
382
BIBLIOGRAFIA
Alatorre, S., Flores, M., & Solis, T. (2011). Proportional Reasoning of Primary Teachers.
In B.. Ubaz, (Eds.), Proc. 35th Conf. of the Int. Group for the Psychology of Mathematics
Education (Vol. 1, pp. 9-16). Ankara, Turkey: PME.
Cai, J., & Moyer, J. (2008). Developing Algebraic Thinking in Earlier Grades:Some
Insights from International Comparative Studies. Reston: NCTM.
Kieran, C. (2004). Algebraic Thinking in the Early Grades: What Is It? The Mathematics
Educator , 8(1), 139 - 151.
Kieran, C. (2006). Research on the Learning and Teaching of Algebra. A Broadening of
Sources of Meaning. In A. Gutirrez, & P. Boero (Eds.), Handbook of Research on the
Psyschology of Mathematic Education. Past, Present and Future. (pp. 11-49).
Rotterdam: Sense Publishers.
Kieran, C. (2007). What do we know about the Teaching end Learning of Algebra in the
Elementary Grades? Reston: NCTM.
Liu, C., Schliemann, A., & Carraher, D. (2013). Understanding Proportionality: from
Childrens Qualitative Intuitions to Quantification. In A. M. Lindmeier, & A. Heinze,
(Eds.), Proc. 37th Conf. of the Int. Group for the Psychology of Mathematics Education
(Vol. 3, pp. 289-296). Kiel, Germany: PME.
National Center for Improving Student Learning and Achievement in Mathematics and
Science [NCISLA] (2000). Building a Foudantion for Learning Algebra in the Elementary
Grades, 1(2) In www.wcer.wisc.edu/. Acedido em 8 de Outubro de 2012 em
http://www.wcer.wisc.edu/ncisla
NCTM. (2008). Prncipios e Normas para a Matemtica Escolar. Lisboa: APM.
Ponte, J. , Serrazina, L., Guimares, H., Breda, A., Guimares, F., Sousa, et al. (2010).
Programa de Matemtica do Ensino Bsico. Lisboa: Ministrio da Educao, DGIDC.
Schliemann, A., Carraher, D., Goodrow, A., Caddle, M., & Porter, M. (2013). Equations
in Elementary School. In A. M. Lindmeier, & A. Heinze, (Eds.), Proc. 37th Conf. of the Int.
Group for the Psychology of Mathematics Education (Vol. 4, pp. 161-168). Kiel,
Germany: PME.
383
Stone-MacDonald, A. (2011). Early Childhood Mathematics: Promoting Good
Beginnings. Washington, DC: NAEYC.
Warren, E., & Cooper, T. (2008). Generalising Mathematical Structure in Years 3-4: A
Case Study of Equivalence of Expression. Proceedings International Group for the
Psychology of Mathematics Education: proceedings of the Joint Meeting of PME 32
and PME-NA XXX 2 (pp. 369-376). Mexico: Figueras, O., Cortina, J., Alatorre, S., Rojano,
T., Sepulveda, A. (Eds.).
Welder, R. (Novembro de 2008). Improving Algebra Preparation: Implications From
Research on Student Misconceptions and Difficulties. Annual Conference of the School
Science and Mathematics . New York.
384
OS GUIES DE EDUCAO GNERO E CIDADANIA NA PRTICA EDUCATIVA: RECEIOS,
DIFICULDADES E DILEMAS
1
Instituto politcnico de Santarm - Escola Superior de Educao ,CIEC/Univ. Minho
2
Instituto politcnico de Santarm - Escola Superior de Educao
RESUMO
Depois de editados os guies de educao: Gnero e Cidadania na Educao Pr-
escolar7 e Gnero e Cidadania no 1 Ciclo do Ensino Bsico 8, numa parceria entre a
Comisso para a Cidadania e Igualdade de Gnero (CIG) e a Direo Geral de Educao
(DGE), est em desenvolvimento a fase de disseminao dos mesmos (em
agrupamentos escolares de diferentes centros de rea educativa).
Os guies supracitados apresentam um conjunto de (possveis) respostas para a
abordagem pedaggica das questes de gnero, quer ao nvel dos recursos, quer ao
nvel dos instrumentos de apoio anlise (e eventual mudana) da prtica educativa.
Tendo em conta a aplicao prtica das atividades sugeridas, ser possvel, no
contexto desta comunicao, apresentar alguns resultados, decorrentes no s das
virtualidades da prtica educativa (associada a esta problemtica), bem como refletir
os receios, dificuldades e dilemas ticos identificados e vivenciados pelos profissionais,
como o caso do medo do conflito.
Dos vrios dados j recolhidos, cada vez se torna mais evidente que sobretudo na
organizao do grupo, na forma como feita a gesto das interaes e dos conflitos
que naturalmente emergem na vida do classe, que se verificam as principais
dificuldades dos/as docentes. Entre os vrios aspetos frequentemente apontados para
justificar esta dificuldade, surge o receio de enfrentar o(s) conflito(s) (sendo este
7
CARDONA, M Joo (coord.); VIEIRA, Cristina; TAVARES, Teresa-Cludia; UVA, Marta; NOGUEIRA, Conceio 2010). Guio de
Educao: Gnero e Cidadania no Pr-Escolar. Lisboa: CIG (WWW.cig.gov.pt/guiaoeducacao/).
8
CARDONA, M Joo (coord.); VIEIRA, Cristina; TAVARES, Teresa-Cludia; PISCALHO, Isabel; UVA, Marta; NOGUEIRA, Conceio
(2011). Guio de Educao: Gnero e Cidadania no 1 Ciclo do Ensino Bsico. Lisboa: CIG (WWW.cig.gov.pt/guiaoeducacao/).
385
receio enunciado de vrias maneiras, mais ou menos explicitas); bem como dilemas
ticos de ao que invocam dicotomias tais como: intervir ou no intervir;
privilegiar o individual ou o grupal
Nesta comunicao pretende-se apresentar este projeto e o trabalho de recolha e
anlise de dados em curso nesta fase de disseminao.
386
ABSTRACT
After the edition of the Educacional Guides Gender and Citizenship in Presschool
Education and Gender and Citizenship in the 1st cycle of basic education, results of
a partnership between the Portuguese Commission for Citizenship and Gender Equality
(CIG) and the Governmental Educational Department (DGE), it is now in development
their dissemination in the educational institutions.
The above guidelines present a set of (possible) answers to the pedagogical approach
of gender, in terms of resources and in terms of instruments supporting the analysis
(and occasional change ) of educational practice. The practical application of the
suggested activities presents some results: the virtues of educational practice (related
to this problem, and the fears, difficulties and ethical dilemmas identified and
experienced by professionals, like the fear of conflict".
The data already collected, shows that it is mainly the organization of the group, the
way that is made the management of interactions and conflicts that naturally arise in
the life of the class, the main difficulties of the teachers. Among the various aspects
often cited to justify this difficulty arises the fear of facing the conflict and ethical
dilemmas of action that invoke dichotomies such as intervene or not to intervene;
give more importance to the individual or to the group...
INTRODUO
A aprendizagem dos diversos papis sociais realizada desde as idades mais precoces,
quando as crianas aprendem a diferenciar os papis sociais atribudos a mulheres e
homens, assim, tambm precocemente, comea uma excessiva diferenciao que
muitas vezes est na base de futuras desigualdades na sua forma de participao na
vida familiar e profissional.
(Projeto coeducao, 2006)
387
Promover uma maior igualdade de oportunidades e de participao uma das
finalidades das instituies educativas, contudo, so reconhecidas pelos/as docentes
inmeras dificuldades e entraves no desenvolvimento deste trabalho. Educar para a
cidadania equacionando as questes de gnero enquanto prioridade e condio
essencial para chegar a uma cidadania efetiva feita de escolhas sem preconceitos
sexuais, (ainda) uma dimenso lacunar nas prticas educativas.
No plano terico aceite, sem grandes debates, que todos os seres humanos
devero ser livres de desenvolver as suas aptides e de tomar as suas decises
num contexto inclusivo respeitador das multiplas individualidades,
independentemente das crenas valorizadas socialmente acerca das
caractersticas e dos comportamentos tradicionalmente atribudos aos homens
e s mulheres. Contudo as prticas educativas no parecem ter conseguido
acompanhar, pelo menos com a eficcia desejada, este discurso terico.
(Pomar, et al, 2012: 3)
391
Os Guies de Educao Gnero e Cidadania: impacto na prtica educativa
No quadro da educao para a cidadania e com o objetivo de apoiar as escolas e os
docentes, foram publicados pela Comisso para a Cidadania e a Igualdade de Gnero
(CIG), quatro Guies de Educao Gnero e Cidadania. Estes materiais foram validados
pela Direo-Geral da Educao (DGE) do Ministrio da Educao e Cincia, que
verificou da sua adequao s orientaes curriculares da educao pr-escolar e ao
currculo do ensino bsico. Estes guies destinam-se aos, 1, 2 e 3 ciclos do ensino
bsico e educao pr-escolar, sendo a sua principal finalidade a integrao da
dimenso de gnero no sistema educativo, quer ao nvel das prticas educativas, quer
ao nvel das dinmicas organizacionais escolares, visando a eliminao gradual dos
esteretipos sociais de gnero que predefinem o que suposto ser e fazer um rapaz e
uma rapariga.
Pretende-se, assim, contribuir para tornar efetiva a educao para a cidadania,
garantindo que rapazes e raparigas se vejam entre si como iguais no exerccio dos
direitos em todas as dimenses da vida e que todos/as usufruam de uma verdadeira
liberdade de escolha nos percursos acadmicos e profissionais, bem como nos projetos
de vida.
A publicao destes Guies foram o resultado de uma primeira fase do trabalho
projetado pelos/as intervenientes; numa segunda fase tornou-se essencial - enquanto
instrumentos de apoio para docentes (e eventualmente de outros grupos profissionais
de educao) de todas as reas curriculares, disciplinares e no disciplinares e de todos
os tipos e/ou modalidades de ensino - promover a disseminao dos guies junto de
agrupamentos escolares, escala nacional. Numa parceria entre a CIG e a DGE, tem
vindo a ser desenvolvido um conjunto de aes de formao contnua (na modalidade
de oficina de formao) para aplicao e disseminao dos materiais produzidos. Tem
sido ento possvel fazer uma primeira anlise dos resultados da formao e,
consequentemente, do impacto dos guies nas prticas educativas.
Alguns testemunhos dos/as alunos/as, trazidos pelos/as docentes, permitem-nos
refletir sobre a pertinncia e urgncia do trabalho educativo em torno das questes
de gnero:
392
- As mulheres fazem a maior parte das coisas em casa. Os homens veem
televiso e trabalham pouco em casa. (Rapaz, 2 ano)
- Os homens falam de maneira diferente (mais brutos, mais travessos). As
mulheres so mais educadas. (Rapariga, 2 ano)
- As mulheres trabalham mais em casa. Eles pensam mais no trabalho.
(Rapariga 3 ano)
- As mulheres nunca podero ser Presidentes da Repblica porque no tm
autoridade nem aguentam a presso. (Rapaz, 4 ano)
As raparigas so mais mariquinhas, choram mais do que os rapazes. ( Rapaz,
3 ano)
Os rapazes so mais fortes e tm a mania que so os maiores. (Rapariga 3
ano)
Elas trabalham mais. (Rapaz,3 ano)
Os rapazes so mais desobedientes com a professora. () Elas preocupam-se
mais com a escola que eles. (Rapariga, 3 ano)
393
- Na maior parte das situaes, os/as docentes envolveram-se em dinmicas de
trabalho colaborativo, com colegas da sua e de outras reas disciplinares e, em
alguns casos, de profissionais de outros servios educativos.
- Nota-se um efeito multiplicador das atividades desenvolvidas, deixando
sementes nas instituies e nas prticas docentes. Em quase todos os casos o
impacto na dinmica escolar e nos prprios alunos, evidente.
Contudo, simultaneamente, surgem tenses e dilemas:
394
SNTESE
Parece ser essencial ao trabalho em torno do gnero e cidadania o desenvolvimento,
nos/as profissionais, de uma atitude de questionamento que sustente a observao e
anlise da complexidade das situaes educativas.
O paradigma do pensamento do/a professor/a, firmando o/a professor/a como
profissional racional (que elabora juzos e toma decises em contextos complexos e
incertos), como profissionais que atuam a partir dos seus pensamentos, juzos, crenas
e teorias implcitas vem acometer o professor na gesto profissional de espaos
problemticos, no qual se exigem a resoluo de dilemas prticos que nascem de
contextos prticos (incertos, instveis, desiguais), onde a reflexividade aparece como
uma condio profissional necessria (Zabalza, 1994).
Trabalhar a cidadania na escola deve culminar numa mudana efetiva no campo da
ao e da participao da vida social, no s ao nvel do "bom" discurso.
O conflito d ao ser humano novas formas de pensamento, interao social e emoes
(Henri Wallon, 1981). A anlise do conflito parece ser um recurso fundamental para o
trabalho em gnero e cidadania, desde a educao pr-escolar. O(s) conflito(s) e as
tenses fazem parte da vida de todos e de todas ns, estando sempre presentes de
forma explicita ou implcita na vida das educativas instituies, nas interaes entre as
crianas, nas interaes entre as crianas e adultos, nas interaes entre adultos.
Estas dificuldades, evidenciada por muitos/as profissionais, esto por detrs de muitos
problemas vulgarmente identificados como dificuldades de organizao do grupo ou
como casos de indisciplina que afetam todas as reas curriculares, mas mais
especificamente a formao pessoal e social das crianas. Muitas vezes impedindo que
a abordagem das questes de gnero e a cidadania sejam trabalhadas de forma
explcita e intencional.
BIBLIOGRAFIA
CAETANO, A. P. (1998). Dilemas dos professores, deciso e complexidade de
pensamento. In Revista de Educao, vol. VII, n. 1., pp.75-89.
CARDONA, M. J. et al. (2010). Guio de Educao: Gnero e Cidadania no Pr-Escolar.
Lisboa: CIG - WWW.cig.gov.pt/guiaoeducacao/
395
CARDONA, M. J. et al. (2012). Guio de Educao: Gnero e Cidadania no 1 ciclo do
ensino bsico. Lisboa: CIG - WWW.cig.gov.pt/guiaoeducacao/
POMAR, C. et al (2012). Guio de Educao: Gnero e Cidadania no 2 ciclo do ensino
bsico. Lisboa: CIG - WWW.cig.gov.pt/guiaoeducacao/
PINTO, T. (2010). (2010)Guio de Educao: Gnero e Cidadania no 3 ciclo do ensino
bsico. Lisboa: CIG - WWW.cig.gov.pt/guiaoeducacao/
EURYDICE (2009) Diffrences entre genres en matire de russite scolaire: tude sur les
mesures prises et la situation actuelle en Europe, Bruxelles: Eurydice
EURYDICE (2009) L ducation et laccueil des jeunes enfants en Europe: r duire les
ingalits sociales et culturelles, Bruxelas : CE
HENRIQUES, Fernanda (2004) Gnero e desejo. Da biologia cultura, Cadernos de
Biotica, Ano XII, n35, pp. 33-49
Ministrio da Educao (1997) Orientaes Curriculares para a educao pr-escolar,
Lisboa: ME/DEB
SILVA, Ana et al./ Projeto Co-Educao (2006). A narrativa na promoo da igualdade
de gnero. Contributos para a educao pr-escolar, 3 edio, Lisboa, CIDM/ESE de
Santarm
VASCONCELOS, T. (2007). A Importncia da educao e construo da cidadania
Saber (e) Educar, Volume 12, pp. 109-117.
WALLON, H. (1981) A evoluo psicolgica da criana. Lisboa: Edies 70
ZABALZA, M. (2004). Prticas educativas en la educacin infantil. Transversalidad y
transiciones. In Infncia e Educao. Investigao e Prticas. GEDEI, n 6: 7-25.
396
PARTICIPAO VERBAL EM SALA DE AULA POR GNERO, NO MBITO DA
APRENDIZAGEM DAS CINCIAS.
RESUMO
Comparamos neste artigo os nveis de participao verbais de alunos do sexo
masculino e feminino no contexto da sala de aula. Procurmos tambm perspetivar a
influncia do professor nesses nveis de participao.
Trabalhmos com uma amostra de vinte e quatro professores e 651 de seus alunos, do
Concelho de Olho, Distrito de Faro.
Os resultados indicam que os estudantes do sexo masculino tendem a participar
verbalmente mais do que as suas colegas. O papel do professor parece reforar esta
tendncia, uma vez que, no cmputo geral, no mbito da sua estratgia pedaggica,
tendem a promover estratgias interativas em aula que favorecem maioritariamente
os alunos em detrimento das alunas.
397
ABSTRACT
We compared in this article the verbal participation levels of male and female students
in the context of the classroom. We also tried to foresee the influence of the teacher in
this participatory process.
We worked with a sample of twenty-four teachers and 651 of their students, from the
municipality of Olho in Faro.
The results indicate that male students participate in the classroom much more than
their colleagues.
The teachers role, overall, seems to reinforce the trend towards greater participation
of male students, since, despite their greater involvement, teachers as a whole, still
tend to ask more boys than girls to participate.
Rsum
Nous comparons dans cet article, les niveaux de participation verbale des tudiants
masculins et fminins dans le contexte de la classe. Nous avons galement cherch la
influence du professeur dans ces niveaux de participation.
Nous avons travaill avec un chantillon de vingt-quatre enseignants et 651 de leurs
lves, la municipalit de Olho, Faro.
Les rsultats indiquent que les tudiants ont tendance participer verbalement plus
que leurs collgues. Le rle de l'enseignant semble renforcer cette tendance, puisque,
dans l'ensemble, en termes de stratgie pdagogique, ils ont tendance promouvoir
des stratgies interactives en classe que la plupart bnficient les garons au
dtriment des filles.
398
Mots-cls: la participation en classe par sexe; L'apprentissage des sciences; Rle des
enseignants dans l'quit en ducation.
INTRODUO
A participao nos debates de sala de aula um dos aspectos mais relevantes na
aprendizagem dos alunos (Brophy, 2000; Hirsch, 2008) por permitir, desde logo, um
refinamento e um aprofundamento dos argumentos empregues para expor os
conhecimentos pessoais em torno de uma determinada perspetiva de resposta e
porque a participao em sala de aula considerada, tanto pelas alunas como pelos
alunos, como sendo um dos fatores que mais contribuem para uma verdadeira
aprendizagem, resultando numa perceo mais positiva da experincia de
aprendizagem em sala de aula. (Crombie, Pyke, Silverthorn, Jones e Piccinin, 2003: p.
51). Assim, fundamental facultar um ambiente interactivo em sala de aula,
essencialmente imparcial, para que todos os alunos tenham oportunidade de
participar nos debates, caso desejem. No obstante, alguns autores tm verificado, em
estudos internacionais, que os nveis de participao efectiva comparada em sala de
aula, por exemplo, entre rapazes e raparigas, variam consideravelmente (Flouzis,
1993; Baudoux e Noircent, 1995), principalmente nas reas das cincias, onde existe o
esteretipo de que os rapazes tm maior propenso do que as raparigas para as reas
cientficas (Calvert, 1999a, 1999b; Catsambis, 1994; Gunter et al., 2001).
Assim, neste mbito h algumas questes que, desde logo, avultam: Ser que essas
diferenas internacionalmente identificadas de participao entre rapazes e raparigas
na sala de aula de cincias se verificam igualmente no nosso pas?
Paralelamente, sabendo-se que grande parte das aprendizagens de condutas escolares
se processa em sala de aula, desde logo, resultando do convvio estabelecido entre
pares mas, tambm, da interaco desenvolvida com o professor, e sabendo-se,
igualmente, que em inmeros estudos foi verificado que os professores tendem a
prestar mais ateno aos alunos do sexo masculino comparativamente s suas colegas
(ver, por exemplo Baudoux e Noircent, 1995; Sadker e Sadker, 1994) haver nveis de
solicitao diferencial desenvolvidos pelo professor de cincias em relao aos rapazes
399
e s raparigas, eventualmente socializando, por esta via, nveis diferenciais de
participao oral entre ambos?
Este o questionamento central em torno do qual organizmos esta investigao.
FUNDAMENTAO TERICA
Ferreira e Morais (1998), baseando-se nos trabalhos de Yachel et al., referem que a
aprendizagem processa-se no contexto social da sala de aula, sendo muito influenciada
pelas interaces entre os intervenientes nesse contexto. Neste sentido, as discusses
da turma, onde os estudantes partilham as suas solues, podero servir para os
alunos construrem as explicaes dos seus raciocnios, elaborando e refinando o seu
modo de pensar e aprofundando a sua compreenso. Assim, Sanches (1994, cit. em
Ferreira e Morais, 1998) explica que o exerccio da argumentao intelectual entre os
alunos estimula o pensamento e o desenvolvimento de competncias de pensamento
crtico. Por sua vez, estas abordagens vo ao encontro daquilo que Ausubel considera
ser fundamental para desenvolver aprendizagens significativas. De facto, os alunos,
quando se envolvem na discusso, argumentao e problematizao das questes, a
probabilidade deles estarem a ancorar os novos conhecimentos noutros que j
possuem (os conceitos subsunores aos quais Ausubel faz referncia) elevada e tal
permite uma correco de conceitos, como sugerem Lunetta (1991), Glynn et al.
(1991), Champagne e Bunce (1991), etc. mas, tambm, possibilita o desenvolvimento
de novos conceitos e readequaes integrativas (ver, por exemplo, Moreira e
Buchweitz, 1994). Participar nas aulas permite, portanto, aos alunos, por mobilizarem
nesse processo os conhecimentos anteriormente conseguidos, vantagens evidentes na
sua aprendizagem. Neste processo interactivo, Vygotsky (1986, cit. em Champagne e
Bunce, 1991) defende que o dilogo com o professor de importncia crucial para o
desenvolvimento conceptual nas crianas: o confronto dos conceitos espontneos da
criana com os conceitos cientficos do professor determina a sua modificao. ,
portanto, atravs do dilogo entre o professor e a criana que se desenvolvem nesta
os conceitos cientficos. Neste mesmo sentido, Champagne e Bunce (op. cit.) aduzem o
seguinte: "relatrios dos efeitos das interaces na educao formal descrevem
inmeras alteraes conceptuais, incluindo a elaborao de conceitos, tornando-se a
400
criana consciente do seu processo individual de aprendizagem, incrementando o seu
nvel cognitivo e desenvolvendo capacidades de resoluo de problemas." (p. 30)
Mormente, as vantagens desta participao verbal passam tambm pela atitude dos
alunos face aprendizagem. De facto, Baudoux e Noircent (1995), baseando-se nos
dados de um estudo de caso, salientam que:
Os estudos em educao tm, desde algumas dcadas, demonstrado
que a participao activa nas discusses favorece nos alunos um maior sucesso
e uma atitude mais positiva face aprendizagem. Ao permitir aos alunos que se
exprimam, o pessoal docente oferece-lhes a ocasio de precisar as suas ideias,
de clarificar os seus sentimentos, de enunciar as suas dificuldades ou as suas
hesitaes. Pelas felicitaes, pelas crticas ou pelas correces, ele fornece-lhes
a retroaco indispensvel ao desenvolvimento pleno de novas capacidades ou
permite a correco de uma informao mal compreendida. (p. 6).
403
METODOLOGIA
Amostra
Trabalhmos com uma amostra de vinte e quatro professores e 651 dos seus alunos,
representativa das escolas do Concelho de Olho, Distrito de Faro.9 A amostra de
alunos do 5 ano compreende 179 indivduos do sexo masculino (52.6%) e 161 do sexo
feminino (47.4%). Por sua vez, a amostra do 7 ano composta por 163 alunos do sexo
masculino (52.4 %) e por 148 do sexo feminino (47.6 %).
Plano de Observao
Construmos uma grelha de sinais - parcialmente adaptada de Albano Estrela (1995)
em conjugao com uma fase de observao naturalista prvia que desenvolvemos
junto das aulas dos professores da nossa amostra10 - tendente a caracterizar e
quantificar as comunicaes verbais em sala de aula, dos alunos e do professor, por
forma a comparar os nveis de participao dos alunos de ambos os gneros e a aferir
eventuais desigualdades de tratamento por parte do professor, seguindo a
problemtica qual estamos a procurar dar resposta. Especificamente, construmos os
seguintes sinais: a-) Exposio/Explicao (solicitada pelo professor a determinado
aluno e direccionada para si ou, mais raramente, para outro aluno). Este primeiro sinal
procurou quantificar este tipo de solicitaes de participao verbal dirigidas pelo
professor aos alunos de ambos os gneros, para aferir a existncia de eventuais
diferenas, como o estudo pretende verificar; b-) Resposta (solicitada pelo professor a
determinado aluno e direccionada para si ou, mais raramente, para outro aluno). Este
segundo sinal procurou quantificar este tipo de respostas pedidas pelo professor aos
alunos de ambos os gneros procurando, tal como no sinal anterior, isolar eventuais
diferenas; c-) Pergunta (feita pelo aluno ao professor, mais raramente a um colega).
Com este sinal procurmos quantificar as perguntas colocadas pelos alunos de ambos
os gneros ao professor (mais raramente a um outro colega); d-) Exposio/Explicao
(espontaneamente produzida por um aluno). Com este sinal procurmos, por sua vez,
quantificar, para ambos os gneros, o nmero de vezes que um aluno fez uma
406
informativo mnimo (IGO=0). Mediante PPART pretendemos ver a constncia
participativa ao longo do conjunto das aulas assistidas. Por sua vez, para medir a
qualidade e a quantidade dessas participaes crimos o ndice Geral de Observao
da informao transmitida pelos alunos (IGO). Por fim, cabe salientar que IGO
apresentou, para o 5 ano, valores entre 0 e 72 unidades inclusive. Por sua vez, para o
7 ano, esta varivel IGO apresentou uma amplitude de valores compreendidos entre
0 e 70 inclusive. Ou seja, o intervalo de variao foi praticamente o mesmo.
H que salientar que nas sucessivas tabelas que apresentamos na anlise de dados os
valores nelas contidos resultaram dos nveis de participao multiplicados pelos
respetivos pesos contidos nas Tabelas V e VI do Anexo I.
Masculino
Feminino
TOTAL 11 12,4 172 9,9 13,7 158 31,3 35 330 27,9 34,9 308
12 Note-se que, enquanto no ter participado nunca em nenhumas das aulas por ns assistidas foi contabilizado
em PPART como participao 0%, em relao a IGO essa ausncia de participao, como evidente, no deu origem
a qualquer contributo vlido. Da a diferena entre os casos observados em IGO (os que, efectivamente
participaram) e em PPART, onde no participar nunca, por ser tambm uma modalidade de participao, foi
contabilizado.
407
se apenas 66 alunos do sexo masculino tivessem participado, os seus contributos para
IGO seriam, em termos mdios: 8,03; inversamente, se 106 raparigas tivessem
respondido teramos, uma vez mais em mdia: 12,7.13 Ou seja, anulando a diferena
devida ao nmero de efectivos masculinos e femininos que participa, o conjunto da
informao transmitida verbalmente por ambos os gneros, sendo ainda ligeiramente
favorvel aos rapazes, aproxima-se drasticamente. Desta forma se v que aquilo que
efectivamente marca de forma mais definitiva o desempenho verbal dos rapazes e das
raparigas em sala de aula a percentagem de ambos que participa (PPART) e no
tanto o valor das participaes individuais comparadas (IGO).
Tambm para o 7 ano o valor das participaes substancialmente mais elevado para
os rapazes do que para as raparigas. No entanto, embora esta diferena se mantenha,
ela , contudo, atenuada no 7 ano para ambos os tipos de comunicaes em
referncia, pois a diferena verificada para ambas as medidas agora menor. Uma vez
mais, se apenas 67 alunos do sexo masculino tivessem participado, os seus contributos
para IGO seriam 8,4; se 91 raparigas tivessem participado o valor correspondente de
IGO seria 10,9. Tal como antes, atenuar-se-ia, embora menos, o valor da diferena
entre os gneros sendo, portanto, a percentagem de participaes a grande diferena
entre ambos.
1,5 1,5
1 1
IGO IGO
PPART PPART
0,5 0,5
0 0
MASCULINO FEMININO MASCULINO FEMININO
5 Ano 7 Ano
13 Clculos feitos por interpolao linear, ou seja, partindo do princpio de que mais ou menos efectivos de ambos
os sexos se comportariam como a tendncia linear dos que foram observados por ns.
408
funo das respectivas mdias, possvel verificar, para o 5 ano, que a diferena
entre sexos continua a ser vlida, mas mais acentuada a diferena que corresponde
Percentagem de Participaes ao longo das aulas assistidas (PPART) do que a
verificada para o ndice Geral de observao (IGO), fazendo sobressair que os alunos
do sexo masculino no s participam mais do que as suas colegas como, tambm,
erram proporcionalmente mais do que elas ou apresentam contributos de menor
valor: a circunstncia das duas linhas rectas no serem paralelas indica-nos que o valor
das comunicaes feitas pelos rapazes (IGO) no proporcionalmente to grande
quanto o nvel registado na percentagem de participaes (PPART), o que s pode ser
devido a um grande nmero de participaes ou de baixo valor qualitativo ou nulas.
Ao contrrio, as suas colegas, comparativamente, participaram menos ao longo das
aulas por ns assistidas mas o valor das comunicaes produzidas apresenta menos
erros ou so devidas agregao de valores individuais de resposta mais elevados,
comparaes que aprofundaremos adiante. Tambm para o 7 ano, tomando os
valores do ndice Geral de Observao (IGO) e da Percentagem de Participaes
(PPART), anulando a diferena de escalas em funo das respectivas mdias, possvel
verificar que a diferena entre sexos continua a ser vlida e os valores estandardizados
para IGO e PPART coincidem o que indica que, contrariamente ao que vramos para o
5 ano, neste caso a diferena entre ambas as variveis praticamente nula: elas
variam na razo directa uma da outra.
QUADRO 2 - Contributo percentual de cada tipo de comunicao verbal para IGO (por gnero)
5 Ano 7 Ano
Mdio Percentual Mdio Percentual
*Todos osvalores foram conseguidos mediante a aplicao dos respetivos pesos de ponderao. (Anexo I)
6 5
5
Valor mdio
4
Valor mdio
M
4 3
3 F
2 2
1 1 MF
0 0
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5
5 Ano 7 Ano
410
Para o 5 ano verifica-se que a estratgia comunicativa de sala de aula bastante
diferente dos rapazes para as raparigas (ver Grfico 214), definindo diferenas
estatisticamente significativas segundo o gnero (2=59.892, p<0.001), embora com
uma baixa intensidade (V=0.17). Vejamos, os primeiros utilizam mais as comunicaes
espontneas, quer sob a forma de exposies/explicaes, quer sob a forma de
respostas a perguntas solicitadas a outros alunos. Por seu lado, as suas colegas
aparecem essencialmente mais associadas s comunicaes solicitadas pelo professor
(exposies/explicaes ou respostas). De facto, as comunicaes solicitadas adstritas
s alunas superam, ainda que ligeiramente, os valores verificados para os seus colegas
em relao a esses mesmos tipos de comunicaes verbais (ver Tabela II). Um tal
conjunto de informaes apresenta-nos, como dissemos, um perfil de resposta
bastante diferente em funo do gnero.
Tambm para o 7 ano, os dados indicam quo diversa a estratgia comunicativa em
sala de aula de rapazes e de raparigas. Uma vez mais, definem-se diferenas
estatisticamente significativas para o gnero ( 2=110.580, p<0.001), verificando-se
agora um nvel de intensidade mais elevado do que aquele que tnhamos observado
para o 5 ano (V=0.27). Novamente, as alunas aparecem maioritariamente adstritas s
comunicaes solicitadas pelo professor que, no seu conjunto (exposio/explicao e
resposta solicitadas), representam 49% (41%+8%) das suas participaes. J para os
alunos do sexo masculino e, concordantemente com o que observmos para o 5 ano,
a comunicao espontnea visivelmente a que mais se verifica, representando 65.8%
(29.9%+35.9%) das suas comunicaes. A nvel de perguntas elas apresentam um peso
percentual quase igual para ambos os sexos e flagrantemente menor do que as
comunicaes solicitadas para as raparigas e comunicaes espontneas para os seus
colegas.
14 H que ter em conta que, com variveis nominais, a utilizao de um grfico deste tipo algo abusiva, pois no
estamos a tratar com escalas contnuas, ou seja, entre dois valores no encontramos outros. Neste sentido, seria
mais correcto utilizar grficos de barras. No entanto, a facilidade visual que um grfico deste tipo possibilita, levou-
nos a utiliz-lo aqui, embora, uma vez mais lembrando, algo inadequadamente.
411
QUADRO 3 - Percentagem de erros em relao ao total de participaes por tipo de comunicao verbal (por gnero)
Participaes erradas
5 Ano
Tipo de Comunicao
0,00% 4,60%
43,00% 37,40%
2,60% 10,90%
29,80% 23,60%
24,60% 23,60%
414
QUADRO 4 - Qualidade da Informao Transmitida por tipo de comunicao verbal (por gnero)
Frequncia Absoluta
COMUNICAO
EXPOSIO/EXPLICAO (Solicitada) 5 Ano 7 Ano
Ascendente Horizontal* Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
0 3 3 3 7 10
0 0 0 0 0 0
5 3 8 6 12 18
0 0 0 0 0 0
0 0 0 4 4 8
5 6 11 13 23 36
415
certas sem acrescento. Assim, quer como estmulo para, quer como aprofundamento
de, as comunicaes com acrescento foram em todos os casos por ns observados
subordinadas ptica programtica prevista no programa da disciplina e,
consequentemente, decorreram das comunicaes certas sem acrescento que so,
afinal, o padro de conhecimento institudo e prescrito aos alunos, por forma
obteno dos resultados avaliativos imprescindveis para o sucesso na disciplina de
cincias. Ou seja, verificmos que, mesmo para os professores que acolheram com
agrado comunicaes com acrescento, elas apenas foram aceites quando devidamente
contextualizadas nas comunicaes certas sem acrescento.
Ao mesmo tempo, vislumbra-se aqui, uma vez mais, uma clara separao no perfil de
participao dos alunos em sala de aula em funo do gnero. Efectivamente, as
alunas tendem a produzir comunicaes maioritariamente certas sem acrescento
(mais consentneas com o que vem no Manual Escolar ou com aquilo que o professor
diz na aula); os seus colegas, pelo contrrio, destacam-se pela ampla produo de
comunicaes supra-programticas (que vo mais longe do que o previsto pelo
professor ou referido no Manual). Vejamos: de um total agregado de 597 e 210
comunicaes verbais (Respostas, Perguntas, Exposies/explicaes espontneas e
Respostas espontneas), respectivamente do sexo masculino e do sexo feminino, 115
(19.3% do total masculino) e 6 (2.8% do total feminino) so com acrescento ou supra-
programticas. Feita a anlise de outro prisma: de um total de 121 comunicaes
certas com acrescento, 115 (95%) foram produzidas pelos rapazes e apenas 6 (5%)
foram feitas pelas alunas. Juntando esta informao constante do Grfico 2 que
vimos anteriormente, podemos dizer que, no cmputo geral, as alunas participam
fundamentalmente quando solicitadas pelo professor e produzindo quase
exclusivamente comunicaes sem acrescento, ou seja, tal como prescritas pelo
professor e previstas no Manual Escolar; os seus colegas, pelo contrrio, produzem
comunicaes maioritariamente espontneas com uma elevada percentagem delas de
natureza supra programtica.
416
2. Nveis de solicitao verbal por parte do professor.
A anlise da percentagem de comunicaes verbais solicitadas pelo professor (as
Exposies/explicaes ou as Respostas decorrentes de perguntas do professor)
permite-nos perspectivar em que medida este agente socializador contribui, ou no,
para o equilbrio da percentagem de participaes dos alunos de ambos os gneros.
Em termos das Exposies/explicaes o seu valor total praticamente igual para os
dois gneros (5 para os rapazes e 6 para as raparigas) (ver Tabela IV). Como se pode
ver, trata-se de uma forma de comunicao extremamente infrequente em sala de
aula. Assim, ao nvel das Respostas Solicitadas (que reflectem perguntas do professor
a um(a) aluno(a) em concreto) que podemos perspectivar melhor o papel mdio do
conjunto dos 24 professores que acompanhmos em termos da gesto das
comunicaes dos seus alunos por gnero. Vejamos, no cmputo geral, o saldo
claramente favorvel aos rapazes (135 comunicaes contra apenas 119 das suas
colegas). Mesmo tento em conta que o total global de alunos da nossa amostra (5 e
7 anos somados) apresenta um efectivo superior para o sexo masculino
comparativamente ao sexo feminino (342 rapazes contra 309 raparigas) ainda assim, a
diferena pequena de mais, no s para explicar os valores efectivos de participao
em termos do ndice Geral de Observao (IGO): 106 alunos corresponde a 31% do
total do efectivo masculino e 66 corresponde somente a 21% do efectivo feminino;
como, tambm, 135 que o valor total de Respostas Solicitadas a um efectivo de 342
rapazes teria de ser 122 tendo em conta o efectivo de alunas que so 309 e no os 119
observados. Tal como antes, estes clculos poderiam fazer-se ao contrrio: se houve
um total de 119 Respostas Solicitadas pelo professor s alunas cujo efectivo de 309,
ento, para os 342 rapazes, esse total deveria ser 131 e no os 135 observados.
Embora as diferenas no sejam muito expressivas (122-119=3 ou 135-131=4) ainda
assim, tal permite fazer o seguinte raciocnio: No obstante os alunos do sexo
masculino participarem acentuadamente mais do que as suas colegas (como vimos
anteriormente pelo valor de PPART) os professores, ainda assim, no somente no
apresentam um valor superior de perguntas s alunas para compensar e infletir essa
diferena de partio como, pelo contrrio, evidenciam um mais elevado nmero de
417
perguntas dirigidas aos alunos do sexo masculino, reforando a desigualdade
participativa entre os gneros. Duas notas urge, contudo, produzir face a estes dados:
1 nem todos os professores apresentaram uma estratgia pedaggica semelhante
face ao gnero em sala de aula. Estes dados, reflectem, portanto e somente, uma
tendncia mdia (seja como for, ainda assim, a maioritria); 2 O facto dos alunos do
sexo masculino apresentarem um maior nmero de Respostas erradas do que as suas
colegas (36 Respostas erradas em 135 pedidas, o que d uma percentagem de erro de
27% face s suas colegas que, por igual proporo, apresentam um erro de apenas
11%) pode, eventualmente, forar os professores a questionar mais os alunos pela sua
menor eficcia neste tipo de Pergunta/Resposta directa. Seja como for, atendendo a
que, como vimos antes, o valor global do ndice Geral de Observao (IGO) (j tendo
em conta as propores dos efectivos masculino e feminino), ligeiramente favorvel
aos rapazes, este maior nmero de solicitaes por parte do professor pode reforar
as desigualdades de participao em sala de aula em funo do gnero.
CONCLUSES
Constatmos que os rapazes participaram verbalmente bastante mais do que as suas
colegas ao longo das aulas por ns assistidas. No entanto, quando comparamos o valor
das comunicaes produzidas esta diferena atenua-se, embora se mantenha uma
ligeira vantagem para os alunos do sexo masculino. Tambm Felouzis (1993) nos
prope uma srie de aspectos comparativos do desempenho dos alunos face ao das
alunas em sala de aula. O autor conclui que, em termos de levantar o dedo para fazer
perguntas, ou pedir apoio no trabalho, ou dar respostas, no existem diferenas
significativas entre rapazes e raparigas. A nossa anlise, evidenciando, tal como o
autor, que a nvel de perguntas feitas pelos alunos a sua percentagem foi
essencialmente igual, apontou, contudo, o nvel de participao dos rapazes como
sendo superior ao das alunas contrariamente ao que aduzia Felouzis (op. cit.).
Pensamos que talvez essa diferena possa dever-se educao ainda hoje em dia dada
a uma elevada percentagem das raparigas de Olho, essencialmente mais
subordinadas e socializadas em torno de um habitus integrador de valores de maior
obedincia e menor participao activa em tarefas externas ou institucionais,
418
basicamente s feitas pelo pai e nunca pela me, a no ser quando viva ou solteira, o
que pode orientar diferencialmente o perfil de participao, definindo-o nos termos
que a nossa observao verificou. Esta anlise menciona-a tambm o autor (embora
referindo-se ao contexto social que investigou) quando estuda a relao entre os
comportamentos na sala de aula e a origem social dos alunos, ao afirmar que "se as
raparigas e os rapazes se distinguem de forma to explcita pelos seus
comportamentos na sala de aula porque ambos aprenderam a comportar-se dessa
maneira ao longo da sua socializao." (Felouzis, op. cit.: p. 205). A este propsito, o
autor levanta uma hiptese segundo a qual, como a socializao sexual se processa
nos meios de origem, onde se forma o quadro de referncia dos indivduos, o capital
cultural dos alunos ter, em princpio, um papel no negligencivel no cumprimento
das obrigaes da cultura escolar. Trata-se de uma perspetiva concordante com
Johnson, Crosnoe e Thaden (2006) que verificaram que a escolarizao das raparigas
reflete constrangimentos sobre elas, oriundos, quer da respetiva socializao primria,
quer da sociedade em geral. Espera-se delas que tenham bom aspeto, que no se
metam em sarilhos e que consigam um bom desempenho escolar. (op. cit.: p. 293) J
Dumais (2002), tendo por base de anlise o modelo estrutural-determinista de
Bourdieu, salienta que o habitus um conceito incontornvel para se poder perceber
os desempenhos de papel segundo o gnero. Para a autora, o habitus, enquanto
matriz de perceo do mundo, de si prprio no mundo e orientador da ao dentro
dele, permite perceber as diferenas de desempenho das raparigas e dos rapazes em
sala de aula. De facto, embora possamos pensar que os rapazes e as raparigas
recebem o mesmo treino cultural por ambos se encontrarem na mesma classe social, o
seu habitus, pode, contudo, ser bastante diferente, em funo da sua socializao e das
perspetivas que ambos formam sobre a estrutura objetiva de oportunidades possveis
para si. (Dumais, 2002: p. 45). Segundo a autora, ao interiorizar a estrutura social e o
seu lugar nela, cada indivduo acaba por perceber o que lhe possvel e aquilo que no
lhe possvel em termos da sua vida e desenvolve aspiraes e prticas consentneas
com tal perceo. Esta interiorizao ocorre ao longo da infncia e um processo
maioritariamente inconsciente. (op. cit.: p. 46) A autora esclarece ainda que com a
idade de frequncia do segundo ciclo surge o tempo em que os rapazes e as raparigas
419
se tornam mais conscientes das regras ligadas ao gnero e sobre aquilo que
socialmente apropriado para um rapaz ou para uma rapariga. (op. cit.: p. 59)
Por esta mesma razo, Rosenfeld (2002) critica as perspetivas exageradamente
simplistas nas quais o gnero problematizado como sendo uma caracterstica
individual. Ora, para a autora ele , em si mesmo, uma estrutura, no sentido em que
subjaz a ao social em todos os seus nveis da vida em sociedade.
Vale aqui a pena recordar que Flouzis (1993) salientou no seu estudo a maior
confiana em si mesmas das raparigas na sala de aula comparativamente aos seus
colegas, definindo-se, assim, uma clara contradio nas suas concluses face s alcan-
adas por Baudoux e Noircent (1995), que afirmam o contrrio. No nosso caso,
notmos, concordantemente com Baudoux e Noircent (op. cit.) uma maior retraco
das raparigas face aos rapazes em sala de aula, tendncia que indicmos atrs como
podendo consubstanciar-se no seu processo de socializao primria. Ainda
concordantemente com Baudoux e Noircent (op. cit.), verificmos que, em termos de
comunicaes espontneas, a sua percentagem francamente favorvel aos rapazes.
Pelo contrrio, as raparigas superiorizaram-se aos seus colegas em termos das
respostas solicitadas pelo professor e, em termos gerais, apresentaram menos erros
nas suas participaes verbais.
Mediante uma leitura mais fina, verificmos que, no conjunto das participaes
verbais dos alunos em sala de aula, qualquer que seja o tipo de comunicao verbal
considerado, a categoria informativa que sobre avulta certo sem acrescento.
Pensamos que perfeitamente compreensvel tal circunstncia, uma vez que
essencialmente em torno desse tipo de comunicao que se organizam as diferentes
formas de informao em sala de aula, desde a constante no Manual Escolar
generalidade das intervenes do professor (exposies/explicaes, perguntas ou
respostas). Consequentemente, verificmos que as comunicaes certas com
acrescento so bastante mais raras e, face ao que observmos, surgem no seguimento
ou no espordico aprofundamento adstrito s comunicaes certas sem acrescento.
Assim, quer como estmulo para, quer como aprofundamento de, as comunicaes
com acrescento foram em todos os casos por ns observados subordinadas ptica
programtica prevista no programa da disciplina e, consequentemente, decorreram
420
das comunicaes certas sem acrescento que so, afinal, o padro de conhecimento
institudo e prescrito aos alunos, por forma obteno dos resultados avaliativos
imprescindveis para o sucesso na disciplina de cincias. Ou seja, verificmos que
mesmo para os professores que acolheram com agrado comunicaes com acrescento,
elas apenas foram aceites quando devidamente contextualizadas nas comunicaes
certas sem acrescento. Pensamos que existem pelo menos duas pticas
complementares para explicar uma tal situao: por um lado, o professor tem de ater-
se a um critrio objectivo qualquer que lhe indique que o aluno compreendeu o
assunto tratado; por outro lado, a introduo de comunicaes com acrescento que se
afastassem excessivamente do mbito programtico previsto, poderiam lanar a
desordem entre os outros alunos, ou remeter para conhecimentos que o professor
no domina, o que, em qualquer dos casos, poderia fazer perigar a lgica do plano de
aula existente. Obviamente, que tal contingncia tambm ficaria a depender do nvel
de conhecimentos do professor e da capacidade pedaggica prpria e aprendida que
ele tivesse de potencializar tais contributos.
Uma vez que as alunas participam maioritariamente na sequncia de solicitaes do
professor e, mormente, uma vez que produzem quase exclusivamente comunicaes
sem acrescento ou do mbito programtico, elas explicitam claramente condutas
adaptativas cultura da sala de aula, revelando, tal como nos referem Baudoux e
Noircent (1995) um certo hiperconformismo cultura escolar ou um maior
envolvimento na escolarizao formal (Crosnoe, Johnson e Elder, 2004), reforando
que, quer na infncia, quer na pr-adolescncia as raparigas tendem a apresentar um
maior nvel de ajustamento social do que os rapazes (Johnson, Crosnoe e Thaden,
2006). Pelo contrrio, os seus colegas, que so maioritariamente produtores de
comunicaes espontneas, no solicitadas pelo professor, e, mormente, veiculadoras,
num elevado nmero de casos, de contedos supra programticos podem ser
associados a uma maior liberdade, independncia e, no raramente, desobedincia e
insubordinao (por exemplo, ao antecipar-se e ao responderem a questes que no
lhes eram dirigidas). Neste sentido, concordamos com Felouzis (1993) quando ele
refere que os alunos surgem mais associados agitao em sala de aula, mas no
podemos concordar com o autor e temos de corroborar uma vez mais as anlises de
421
Baudoux e Noircent (1995) quando estes denunciam a menor confiana das alunas em
sala de aula. Paralelamente, o facto de uma parte considervel dos contributos dos
alunos do sexo masculino serem de mbito supra-programtico (mais complexo do
que o normalmente exigido), vai ao encontro de algumas concluses de Gunter et al.
(1997; 2001) que tinham verificado uma maior facilidade dos rapazes em torno da
resposta a questes mais complexas nas cincias.
Tendo em conta a maior tendncia de participao dos alunos do sexo masculino em
sala de aula, associada, embora sem total correspondncia, a um maior valor de
comunicaes informativas, verificmos que a generalidade dos professores tende a
agravar esta tendncia, solicitando proporcionalmente mais os rapazes a responder do
que as alunas, o que nos parece que uma prtica pedaggica que deve ser inflectida
no sentido de uma igualdade desejvel em sala de aula, tendo em conta a inegvel
relevncia que constitui a oportunidade de participar em sala de aula, no mbito do
processo de ensino-aprendizagem dos alunos. Neste processo, poder questionar-se
que os professores procuram dar a palavra maioritariamente aos rapazes por eles
serem tendencialmente mais indisciplinados, dando fora aos argumentos de Felouzis
(1995) que os apelida como estando mais ligados a comportamentos de agitao em
sala de aula. Desta forma, enquanto participariam no poderiam estar, ao mesmo
tempo, a interromper a aula. Contudo, a ser legtima uma tal assertiva, ela s seria
vlida em todas a situaes em que, ipso facto, houvesse dificuldades por parte dos
docentes em controlar os rapazes da turma. Contudo, com dados que analisaremos
noutro artigo, no qual procederemos a uma leitura mais fina destes resultados por
docente, esta tendncia de tratamento diferenciado ou de no inflexo das
desigualdades participativas verifica-se praticamente sempre, mesmo nas situaes
em que no h comportamentos disruptivos ou indisciplinados em sala de aula.
Assim, tendo verificado neste estudo que existe um certo reforo, por parte do
conjunto dos professores acompanhados, dos nveis de participao diferencial dos
alunos em sala de aula em funo do gnero, procuraremos, em futuros trabalhos, -
como referimos atrs- facultar uma anlise das diferentes estratgias pedaggicas por
grupos de professores quanto ao gnero por forma a clarificar alguns aspetos que, por
ora, no ficaram completamente explcitos.
422
BIBLIOGRAFIA
BAUDOUX, Claudine & NOIRCENT, Albert (1995). Culture mixte des classes et
stratgies des filles. In Revue Franaise de Pdagogie, n 110, pp. 5 - 15.
BROPHY, Jere (2000). Teaching educational practices series 1. Geneva: International
Bureau of Education.
CALVERT, Sandra (1999a). Children's journeys through the information age. New
York: McGraw-Hill.
CALVERT, Sandra (1999b). The form of thougt. In Irving Sigel (Ed.), Development of
Mental Representation: Theories and Applications, Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbaum
Associates Publishers, pp. 453-471.
CATSAMBIS, Sophia (1994). The path to math: gender and racial-ethnic differences
in mathematics participation from middle school to high school. Sociology of
Education, Vol. 67, n. 3. pp. 199-215
CHAMPAGNE, Audrey & BUNCE, Diane (1991). Learning-theory-based science
teaching. In Glynn et al. (Eds.), The Psychology of Learning Science. New Jersey: LEA.
CROMBIE, Gail, PYKE, Sandra, SILVERTHORN, Naida, JONES, Alison e PICCININ,
Sergio (2003). Students perceptions of their classroom participation and instructor
as a function os gender and context. The Journal os Higher Education, Vol. 74, n.1.
pp. 51-76.
CROSNOE, Robert, JOHNSON, Monica e ELDER, Glen (2004). Intergerational bonding
in school: the behavioral and contextual correlates of student-teacher relationship.
Sociology of Education, Vol. 77, pp. 60-81.
DIAS, Paulo (2009). Estratgias de estudo de alunos dos 5 e 7 anos e resultados
em cincias. Revista Portuguesa de Educao, Vol. 22, n. 1, pp. 29-69.
DUMAIS, Susan (2002). Cultural capital, gender and school success: the role os
habitus. Sociology of Education, Vol.75, n. 1, pp. 44-68.
ESTRELA, Albano (1995). Teoria e prtica de observao de classes. Uma estratgia
de formao de professores. Porto: Porto Editora.
423
FELOUZIS, Georges (1993). Interactions en classe et russite scolaire. Une analyse
des diffrences filles-garons. In Revue Franaise de Sociologie, Vol. XXXIV, pp. 199 -
222.
FERREIRA, Leonor & MORAIS, Ana (1998). Os problemas na aula de cincias: Estudo
de aprendizagens individuais e em grupo. In Revista de Educao, Vol. VII, n 1, pp.
91 - 105.
GLYNN, Shawn; YEANY, Russell & BRITTON, Bruce (1991). A constructive view of
learning science. In Glynn et al. (Eds.), The psychology of learning science. New
Jersey: LEA.
GUNTER, Barrie; CLIFFORD, Brian & McALLEER (1997). Learning from multi-topic
science programmes on mainstream television. In Medienpsychologie, 9, 1, pp. 1-
23.
GUNTER, B.; FURNHAM, A. & GRIFFITHS, S. (2001). Children's memory for news: A
comparison of three presentation media. Media Psychology, 2, pp. 93-118.
HIRSCH, E. D. (2008). Reality's revenge: Research and ideology. Arts Education Policy
Review, Vol. 99, n 4, pp. 3-15.
JOHNSON, Monica, CROSNOE, Robert e THADEN, Lyssa (2006). Gendered patterns
in adolescents school attachment. Social Psychology Quarterly, Vol. 69, n. 3, pp.
284-295.
LUNETTA, Vincent N. (1991). Actividades prticas no ensino da cincia. In Revista de
Educao, Vol. II, n 1, pp. 81 - 90.
MOREIRA, Marco & BUCHWEITZ, Bernardo (1994). Novas estratgias de ensino e
aprendizagem. Os mapas conceptuais e o v epistemolgico. Lisboa: Pltano
Edies Tcnicas.
ROSENFELD, Rachel (2002). What do we learn about difference from the scholarship
on gender? Social Forces, Vol. 81, n. 1, pp. 1-24.
SADKER, M. e SADKER, D. (1994). Failing at fairness: how Americas schools cheat
girls. New York: Scribner.
SANCHES, Maria (1994). Aprendizagem cooperativa: Resoluo de problemas em
contexto de auto-regulao. In Revista de Educao, Vol. IV, n 12, pp. 31 - 42.
VIGOTSKY, L. (1986). Thought and language. Cambridge: The MIT Press.
424
ZAZZO, B. (1982). Les conduites adaptatives en milieu scolaire: Intrt de la
comparaison entre les graons et les filles. Enfance, n 4, pp. 267-282.
425
QUADRO 5 - Discriminao de IGO segundo os diferentes tipos de comunicaes verbais, por gnero (5 ano)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
EXPOSIO/EXPLICAO (Solicitada) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
0 3 3 1 0 3 3
0 0 0 2 0 0 0
5 3 8 3 15 9 24
0 0 0 4 0 0 0
0 0 0 0 0 0 0
5 6 11 TOTAL 15 12 27
IGO (Parcial Mdio) (a1) 0.14 (1.1%) 0.18 (2.2%) 0.16 (1.4%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
RESPOSTA (Solicitada) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
21 5 26 1 21 5 26
0 0 0 2 0 0 0
65 101 166 3 195 303 498
13 0 13 4 52 0 52
36 13 49 0 0 0 0
135 119 254 TOTAL 268 308 576
IGO (Parcial Mdio) (a2) 2.53 (19.6%) 4.67 (57.9%) 3.35 (30.3%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
PERGUNTA Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
42 26 68 1 42 26 68
16 3 19 2 32 6 38
3 0 3 0 0 0 0
61 29 90 TOTAL 74 32 106
IGO (Parcial Mdio) (a3) 0.70 (5.4%) 0.48 (6.0%) 0.62 (5.6%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
EXPOSIO/EXPLICAO (Espontnea) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
19 7 26 1 19 7 26
3 0 3 2 6 0 6
70 16 86 3 210 48 258
55 3 58 4 220 12 232
29 5 34 0 0 0 0
176 31 207 TOTAL 455 67 522
IGO (Parcial Mdio) (a4) 4.29 (33.2%) 1.02 (12.7%) 3.03 (27.4%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
RESPOSTA (Espontnea) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
18 5 23 1 18 5 23
0 0 0 2 0 0 0
138 36 174 3 414 108 522
31 0 31 4 124 0 124
23 5 28 0 0 0 0
TOTAL 225 31 256 TOTAL 556 113 669
N=106 N=66 N=172 IGO (Parcial Mdio) (a5) 5.25 (40.7%) 1.71 (21.2%) 3.89 (35.2%)
IGO Valor Geral Mdio)=a1+a2+a3+...a5 12.91 (100%) 8.06 (100%) 11.05 (100%)
426
QUADRO 6 - Discriminao de IGO segundo os diferentes tipos de comunicaes verbais, por gnero (7 ano)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
EXPOSIO/EXPLICAO (Solicitada) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
3 7 10 1 3 7 10
0 0 0 2 0 0 0
6 12 18 3 18 36 54
0 0 0 4 0 0 0
4 4 8 0 0 0 0
13 23 36 TOTAL 21 43 64
IGO (Parcial Mdio) (a1) 0.23 (2.0%) 0.64 (8.0%) 0.41 (4.1%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
RESPOSTA (Solicitada) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
11 15 26 1 11 15 26
0 3 3 2 0 6 6
62 60 122 3 186 180 366
11 5 16 4 44 20 64
38 27 65 0 0 0 0
122 110 232 TOTAL 241 221 462
IGO (Parcial Mdio) (a2) 2.65 (23.3%) 3.29 (41.0%) 2.92 (29.3%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
PERGUNTA Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
51 35 86 1 51 35 86
21 9 30 2 42 18 60
12 7 19 0 0 0 0
84 51 135 TOTAL 93 53 146
IGO (Parcial Mdio) (a3) 1.02 (9.0%) 0.79 (9.9%) 0.92 (9.2%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
EXPOSIO/EXPLICAO (Espontnea) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
15 6 21 1 15 6 21
6 4 10 2 12 8 20
34 19 53 3 102 57 159
45 7 52 4 180 28 208
34 7 41 0 0 0 0
134 43 177 TOTAL 309 99 408
IGO (Parcial Mdio) (a4) 3.40 (29.9%) 1.48 (18.5%) 2.58 (25.9%)
COMUNICAO Frequncia Absoluta Frequncia Absoluta
RESPOSTA (Espontnea) Peso
Ascendente Horizontal Masculino Feminino MF Masculino Feminino MF
18 10 28 1 18 10 28
0 2 2 2 0 4 4
58 20 78 3 174 60 234
45 12 57 4 180 48 228
32 9 41 0 0 0 0
TOTAL 153 53 206 TOTAL 372 122 494
N=91 N=67 N=158 IGO (Parcial Mdio) (a5) 4.09 (35.9%) 1.82 (22.7%) 3.14 (31.5%)
IGO Valor Geral Mdio)=a1+a2+a3+...a5 11.39 (100%) 8.02 (100%) 9.97 (100%)
427
PROMOVER A APRENDIZAGEM COOPERATIVA NA EDUCAO PR-ESCOLAR :
1
ESE de Santarm / CIEC (Univ. Minho)
2
ESE de Santarm / CIDTFF (Univ. Aveiro)
RESUMO
Integrado num estudo comparativo entre diferentes pases - coordenado por Maria
Moumoulidou (Universidade Dmocrite de Thrace, Grcia) - o trabalho apresentado nesta
comunicao pretende estudar a forma como atravs da dinamizao de pequenos
grupos se pode promover a aprendizagem cooperativa na educao de infncia.
Depois de uma apresentao sinttica dos fundamentos, finalidades e etapas do estudo j
15
realizado, feita uma anlise do que dizem 20 educadoras de infncia portuguesas
sobre a forma como promovem a aprendizagem cooperativa em grupos de jardins de
infncia. Ser dado particular destaque s suas concees sobre aprendizagem e trabalho
cooperativos e s principais dificuldades no desenvolvimento deste tipo trabalho.
Tendo em conta que algumas das educadoras que participaram neste questionrio
pertencem ao Movimento da Escola Moderna (MEM), tendo uma formao especfica
neste domnio, pretende-se tambm refletir sobre o impacto da formao na suas
concees sobre aprendizagem cooperativa e trabalho cooperativo.
Como finalidade desta pesquisa pretende-se construir um instrumento para a
(auto)avaliao das prticas educativas.
15
Apoiaram este trabalho a educadora Carla Alves e as estudantes Bruna Carvalho e Joana Duarte.
428
ABSTRACT
As part of a comparative study between different countries, coordinated by Maria
Moumoulidou (Dmocrite University of Thrace, Greece)-the work presented in this
communication aims to study the way how the dynamization of small groups can
promote cooperative learning in childhood education. After a synthetic presentation of
the fundamentals, purposes and steps of the study already conducted, is made an
analysis of what 20 Portuguese childhood educators say about how they promote a
cooperative learning in groups of kindergartens. Particular attention will be given to their
concepcions of cooperative learning and cooperative work, also their difficulties on this
kind of work. Taking into account that some of the teachers who participated in this
survey belong to the Modern School Movement (MEM), having a specific training in this
area, we intend to also reflect on the impact of this training on their conceptions on
cooperative learning and cooperative work. The final purpose of this research is to build a
tool for (self) evaluation of educational practices.
INTRODUO
O estudo que aqui se apresenta integra um estudo internacional mais alargado,
envolvendo Portugal, a Grcia, a Frana e a Romnia, centrando-se no tema do trabalho
em pequenos grupos em contexto de jardim de infncia enquanto estratgia
potenciadora de uma aprendizagem cooperativa.
Neste texto, depois de um breve enquadramento terico e de uma breve apresentao
da parte inicial do estudo, damos conta dos principais resultados obtidos na 2 fase do
estudo, que consistiu na entrevista a um conjunto de educadoras da regio de Santarm
e Lisboa, onde se procurou compreender o que entendem por trabalho cooperativo em
jardim de infncia, se (como e porqu) o promovem e eventuais dificuldades que sentem
no desenvolvimento destas prticas de trabalho.
A partir da anlise de contedo das respostas procurmos responder s questes
seguintes:
429
- O que o trabalho cooperativo em jardim de infncia?
- Para que serve o trabalho cooperativo em jardim de infncia?
- Em que domnios da aprendizagem se privilegia o trabalho cooperativo em jardim de
infncia?
- Como se promove o trabalho cooperativo em jardim de infncia? Que dificuldades so
sentidas nessa promoo?
Contexto do estudo
O estudo que aqui se apresenta integra um projeto de colaborao internacional, iniciado
em 2008/09 e coordenado por Maria Moumoulidou, entre a Grcia, Portugal, Romnia e
Frana. Atravs desta colaborao, pretende-se proceder a uma anlise comparativa do
trabalho desenvolvido em Jardins de Infncia dos vrios pases no sentido da promoo
da aprendizagem atravs do trabalho cooperativo.
Este projeto prev o desenvolvimento do trabalho em trs fases:
- 1 fase: questionrio sobre trabalho em pequenos grupos a 50 educadoras da Grcia,
Portugal e Frana (total de 150 questionrios)16;
- 2 fase: inqurito por entrevista a um grupo mais restrito de educadoras com vista ao
aprofundamento de tpicos emergentes no questionrio (cujos resultados mais
detalhados de seguida apresentamos neste texto);
- 3 fase: observao de prticas colaborativas em jardim de infncia.
16
A Romnia s posteriormente integrou este trabalho.
430
jardim de infncia; analisar as dificuldades que sentem e os objetivos subjacentes
dinamizao deste tipo de trabalho.
Desta fase do trabalho, realamos as seguintes concluses:
- existncia de diferenas significativas ao nvel das concees e das prticas entre as
educadoras dos pases envolvidos relativamente s finalidades do trabalho em pequenos
grupos no jardim de infncia;
- as educadoras gregas so as que referem ter mais formao sobre este tipo de trabalho,
mas so tambm as que dizem menos trabalhar em pequenos grupos;
- quanto ao papel da educadora, gregas e francesas assumem que este se deve restringir
essencialmente a responder s solicitaes das crianas, ao passo que as portuguesas
consideram que este deve ser sobretudo colaborar com as crianas;
- sobre os critrios que permitem constatar que as crianas trabalham efetivamente em
grupo, educadoras gregas e portuguesas acentuam critrios de comportamento
cooperativo, ao passo que as francesas destacam a discusso (critrio de cooperao
lingustica);
431
Em torno dos conceitos
Como j foi dito, as preocupaes deste projeto foram evoluindo. Inicialmente estavam
sobretudo centradas na preocupao do desenvolvimento de trabalhos em pequenos
grupos, atendendo s interaes sociais, fundamentando-se sobretudo em princpios da
psicologia, e numa segunda etapa comeou a centrar-se mais em preocupaes
pedaggicas, nomeadamente nas implicaes do trabalho em pequenos grupos como
forma de promover a cooperao entre as crianas, ou como algumas referem uma
pedagogia cooperativa.
De facto, como alertam Lopes & Silva (2009), ainda que frequentemente se observe, em
Jardim de Infncia, a realizao de trabalho em pequenos grupos, nem sempre este
corresponde a um verdadeiro trabalho de cooperao no que respeita partilha de
responsabilidades, s possibilidades de interveno e ao estabelecimento de relaes
positivas entre todos os elementos do grupo (Lopes & Silva, 2009: 16). que, como refere
Argyle (1991, cit. in Lopes & Silva, 2009), cooperar implica uma atuao conjunta e
coordenada, no trabalho ou nas relaes sociais, de modo a que sejam atingidas metas
comuns.
17
Pesquisa realizada em fevereiro de 2014
433
respostas obtidas foram objeto de uma anlise de contedo interpretativa 18 de modo a,
partindo da forma como as educadoras caracterizam o que entendem por trabalho
cooperativo, avaliar o modo como o promovem e as dificuldades que sentem.
Note-se que se optou pelo conceito de trabalho cooperativo para, por um lado, fazer a
ponte entre o conceito central da 1 fase do projeto (trabalho em pequenos grupos) e o
conceito que tem vindo a ganhar destaque (aprendizagem cooperativa), e, por outro lado,
para fazer eco do conceito que, em Portugal, no mbito do MEM, mais reconhecido.
Interpretando os dados
A anlise e interpretao dos dados revelou-se um desafio, dado que o grau de
especificao que se pretendeu atingir com as questes colocadas, bem como a
necessidade de construir um guio que servisse os vrios contextos em que o estudo
internacional est a ser implementado (o que conduziu a que as questes fossem em
nmero to elevado), levou a que muitas vezes as entrevistadas repetissem ideias iguais
ou semelhantes em vrias respostas. Por isto, nem sempre foi fcil categorizar os
indicadores mais relevantes. Procurmos, no entanto, resolver este problema
procurando, por entre as vrias respostas obtidas, indicadores que nos permitissem
responder s questes que consideramos centrais face aos objetivos do estudo para esta
2 fase. A anlise dos dados organiza-se, por isso, de acordo com quatro questes que
passamos a descriminar.
18
Apoiaram este trabalho a educadora Carla Alves e as estudantes Bruna Carvalho e Joana Duarte.
434
identificao de traos ou atividades que caracterizam o trabalho cooperativo em jardim
de infncia:
- trabalho visando uma finalidade ou objetivos comuns aos vrios envolvidos [E2, E6; E11;
E14; E15; E19]; desenvolver uma tarefa com um ou vrios objectivos [E12];
- uma atitude, competncia, processo [E6];
- proporcionar momentos de experimentao para que estas [as crianas] possam pensar,
reflectir e resolver os seus problemas [E1]; resoluo de problemas, tarefas e criao de
actividades pedaggicas em conjunto com diversas salas [E5]; Construo/descoberta [E8];
- Trabalho entre crianas de nveis etrios e ou de desenvolvimento diferentes [E16]; Ajuda
mtua entre as crianas [E7];
- realizao de actividades, resoluo de conflitos, acordos entre os elementos [E3 ;
execuo de tarefas, discusses temticas, negociaes [E9]; onde as crianas
aprendam uns com os outros, dividam conhecimentos, discutam questes propondo-se
solues [E14];
- Entre pares, partilham-se tarefas, brincadeiras, actividade, projectos. [E20];
- construo do ambiente educativo e da dinmica educativa [E4];
- Realizao de aprendizagens [E17].
A leitura destes testemunhos revela, em vrias situaes, uma certa indefinio sobre o
que o trabalho cooperativo em jardim de infncia. Frequentemente o trabalho
cooperativo tanto associado a tarefas especficas e que supem estruturao
(realizao de atividades; experimentao; resoluo de problemas; projetos), como a
aspetos ligados relao interpessoal, mais ou menos informal (resoluo de conflitos;
ajuda mtua; partilha de brincadeiras), bem ainda, em termos mais genricos,
organizao do ambiente e da dinmica educativa, sendo que estas duas ltimas
perspetivas parecem mais globalizantes, no sentido de que se referem a toda a dinmica
desenvolvida no jardim de infncia e no, como parece indiciar a primeira perspetiva, a
algo mais conotado com o desenvolvimento das comummente chamadas atividades
orientadas.
A definio que mais se aproxima da que proposta pelo MEM trabalho visando uma
finalidade ou objetivos comuns aos vrios envolvidos apontada por 6 educadoras,
mas, destas, apenas duas pertencem ao Movimento. No se denota, pois, neste aspeto
em particular, diferenas significativas entre as educadoras do MEM e as restantes.
435
Para que serve o trabalho cooperativo em jardim de infncia?
A maioria das entrevistadas (90%) considera que o trabalho cooperativo promove a
socializao das crianas, favorecendo a aprendizagem de regras de convivncia
democrtica e de interao pessoal. Este entendimento vem na sequncia do que j atrs
referimos, relativamente a conceitos associados ao trabalho cooperativo, bem como a
diversidade das definies apresentadas. Para 25% das educadoras a promoo da
comunicao referenciada como uma componente da socializao.
Fruto da socializao, 25% das educadoras acrescentam, ainda, que esta estratgia
promove a coconstruo ativa de saberes pelas crianas, nomeadamente atravs da
pesquisa, e outras mencionam a oportunidade de partilha de saberes e experincias:
- Porque as crianas constroem aprendizagens a partir das interaces entre pares e adultos. [E1 ;
- Ningum aprende sozinho. trabalhando com o outro que se chega a patamares que sozinho
seria difcil. [E8, 11
- Aprender em conjunto muito mais ativo e desafiante. [E9 .
436
Em que domnios da aprendizagem se privilegia o trabalho cooperativo em jardim de
infncia?
Coerentemente com os resultados j apresentados, em particular na relevncia atribuda
ao trabalho colaborativo para a promoo da socializao da criana, o domnio do
desenvolvimento pessoal e social um dos mais explicitamente referido (por 6 das
educadoras):
- Porque a rea que rene as principais competncias para desenvolver um trabalho cooperativo
[E15];
- Porque o trabalho cooperativo reflete-se maioritariamente no crescimento interior e no
amadurecimento social de cada uma das crianas [E19].
Ora, estes dados parecem refletir alguma contradio entre as principais finalidades
atribudas ao trabalho cooperativo, em que se privilegia a socializao em detrimento das
aprendizagens (num sentido mais acadmico do termo), e a identificao dos domnios de
aprendizagem em que as educadoras dizem promover o trabalho cooperativo, contexto
em que a dimenso do desenvolvimento pessoal e social surge equiparada s dimenses
que podemos encarar como mais acadmicas.
ainda de registar que 10 educadoras referem no privilegiar nenhum domnio em
particular, nomeadamente por considerarem que as reas de contedo esto
interligadas [E11, 12, 20 . Parece-nos que esta postura poder refletir uma conceo do
trabalho em jardim de infncia em que se tem como meta o desenvolvimento global e
integrado da criana, e em que, por isso mesmo, as reas de contedo surgem ao servio
desse desenvolvimento, plenamente integradas e articuladas no mbito do trabalho
(cooperativo ou outro) promovido em jardim de infncia.
437
Tanto quanto s finalidades, quanto aos domnios privilegiados para o trabalho
cooperativo em jardim de infncia, mais uma vez as respostas das educadoras do MEM
so indistinguveis das restantes inquiridas.
- Atribuir a uma das crianas a responsabilidade pelo resultado da resoluo da tarefa proposta [E2,
5];
- Responsabilizar cada criana pelo cumprimento da sua parte da tarefa [E1, 2, 5, 19]
- Propondo atividades que exijam a distribuio de tarefas e/ou que s consigam realizar
cooperando; trabalhando por projeto [E3, 6, 17, 20];
- Garantir que todos tenham a possibilidade de participar, interagir, colaborar, experimentar",
sendo, para tal, fundamental o educador enquanto moderador e monitor do trabalho [E12], e
estabelecer laos afetivos fortes entre o grupo e a identificao/envolvimento com tudo o que se
passa na sala e com o grupo [E13].
438
As noes de responsabilizao e interdependncia positiva que os vrios autores da
especialidade referem ecoam, pois, nestas respostas, ainda que nem sempre de forma
explcita.
- Mudana de ideias das crianas mais pequenas, que inicialmente aceitam cooperar mas depois
desistem, provocando a frustrao das mais velhas [E3];
- [dificuldades em] conciliar diferentes ritmos de participao e gerir os conflitos naturais [E4, 6, 10,
12, 19];
- Tendncia, sobretudo nos primeiros tempos (idade 3 anos ou incio do ano), para as crianas
estarem "individualmente no grupo" [E7]; falta de maturidade, por ser, frequentemente, a
primeira vez que socializam [E8, 11, 13].
acontece a todo o momento e diariamente [E8 ; existe uma dinmica global cooperativa [E4 ;
Estas atividades fazem parte integrante da organizao do ambiente educativo [E9].
439
Consideraes finais e propostas para o desenvolvimento futuro desta pesquisa
Este estudo, apesar da sua natureza limitada e contextual, permite-nos fazer algumas
inferncias quanto ao modo como o trabalho cooperativo desenvolvido nos jardins de
infncia em Portugal.
Comeando pela dificuldade em definir o conceito e passando, depois, s indefinies
quanto ao modo como ele operacionalizado e que destaque assume no trabalho do dia
a dia, percebemos que h ainda muito trabalho a fazer, sobretudo ao nvel da formao
de educadores, para que o trabalho cooperativo, promotor de uma aprendizagem
tambm ela cooperativa, venha a ser implementado de um modo mais intencional,
consciente e pedagogicamente fundamentado no nosso contexto. Esta aposta na
formao dever passar, tambm, pela formao contnua e acompanhamento no
terreno, eventualmente atravs de projetos e parcerias, pois, como se percebe pelo
nosso estudo, o facto de haver vrias educadoras formadas no MEM no garantia de
que exista uma prtica fundamentalmente diferente da que desenvolvida pelas
educadoras que no tiveram formao especfica para promover este tipo de
aprendizagens.
Na 3 etapa que estamos neste momento a desenvolver, estamos a procurar aprofundar
a anlise dos dados recolhidos em Portugal e o aprofundamento da comparao entre os
vrios pases. Paralelamente estamos a proceder construo de uma grelha de anlise
que visa ser trabalhada a nvel da formao inicial e contnua, como forma de apoiar as
profissionais e os profissionais que trabalham na educao de infncia a desenvolverem
prticas educativas promotoras de aprendizagem cooperativa. Mas no se pretende que
esta grelha que estamos a construir, com base nos testemunhos recolhidos, funcione
como uma matriz redutora a ser seguida pelos educadores e educadoras. Pretende-se
que esta seja um instrumento de auto-avaliao que ajude necessria reflexo das suas
prticas educativas, tornando mais coerente a articulao entre fundamentos e prticas,
de forma contextualizada.
Como refere Abrami et al. (1996: 3) consideramos que o mais importante promover nos
educadores e educadoras capacidade de analisar o que fazem e de criarem as suas
prprias formas de resposta.
Comment ms lves ragiront-ils au travail coopratif en groupe? Quels types
dappretissage coop ratif correspondente le mieux ms vues sur lenseignement et
lapprentissage? () quel type dinteraction et dapprentissage le travail en groupe va-t-il
440
donner lieu? Quels sont les r sultats que le veux obtenir? () es questions mettent en
vidence certains des l ments inh rents lapprentissage coop ratif (Abrami et al., 1996:
3).
BIBLIOGRAFIA
Abrami, Philip C. et al (1996). LAprentissage oop ratif. Th ories, m thodes, activits.
Montral: Les ditions de la Chenelire inc.
Lopes, J. & Silva, H.S. (2009). A Aprendizagem Cooperativa na Sala de Aula. Um guia
prtico para o professor. Lisboa: Lidel.
Lopes, J. & Silva, H.S. (2008). Mtodos de Aprendizagem Cooperativa para o Jardim-de-
Infncia. Lisboa: Areal Editores.
Moumoulidou, M (2009) Les interactions sociales lcole maternelle grecque.
Approches didactique et pdagogique. arrefours de l ducation, 27, pp. 83- 101
Niza, S. (2007). O Modelo Curricular de Educao Pr-Escolar da Escola Moderna
Portuguesa. In J. Oliveira-Formosinho (org.) Modelos Curriculares para a Educao de
Infncia. Construindo uma prxis de participao. (3 ed.) Coleo infncia. Porto: Porto
Editora (pp.123-142).
441
PENSAMENTO ALGBRICO DE PROFESSORES DO 1CICLO: ALGEBRIZAO DA
ARITMTICA
Sofia Rzio
RESUMO
O Pensamento Algbrico de um aluno no incio da sua escolaridade, tem sido investigado
nas ltimas duas dcadas pelo Group for the Psychology of Mathematics Education
[PME]. Kieran (2007) fala sobre esta rea como sendo uma forma de desenvolver na
criana seis tipos de habilidades: generalizao, abstrao, pensamento analtico,
dinmica de pensamento, modelao e organizao. opinio de Carraher, Earnest,
Schliemann e Brizuela (2006) que o Pensamento Aritmtico e Algbrico se interligam.
Investigou-se como este ltimo tipo de pensamento tem sido abordado por docentes do
1Ciclo, quanto algebrizao da Aritmtica, incluindo operaes inversas e padres
numricos e geomtricos, entrevistando-se para o efeito 50 professores. Interrogados
quanto inteno com que colocam problemas simples de juntar e retirar, uma minoria
colocou a contagem pelos dedos em primeiro lugar e praticamente um quarto dos
professores entrevistados posicionou o clculo mental antes dos algoritmos face a cerca
de outro quarto que optou pelo contrrio. Quanto abordagem de sequncias
numricas, a resposta mais frequente relacionou-se com a escrita dos termos seguintes e
a menos frequente com atividades de generalizao. Em geral, os professores relataram
prticas que promovem pelo menos alguns aspetos do Pensamento Algbrico.
442
ABSTRACT
The Algebraic Thinkings student has been investigated over the past two decades by the
Group for the Psychology of Mathematics Education [PME]. Kieran (2007) talks about this
area as a way to develop six types of skills in children: generalization, abstraction,
analytical thinking, dynamic thinking, modeling and organization. Carraher, Earnest,
Schliemann and Brizuela (2006) believe that Arithmetic and Algebraic Thinking are
related. We investigated how Algebraic Thinking has been approached by teachers of
Elementary School, regarding Arithmetics Algebrization, including inverse operations and
numeric and geometric patterns, interviewing 50 teachers. Inquiried about their intent
with simple problems to put together and take, a minority put the count on fingers first
and almost a quarter of the teachers positioned the mental calculation before the
algorithms compared with around another quarter that had chosen otherwise. Regarding
the approach of numerical sequences, the most frequent response was related to the
writing of the following terms and less frequent with generalization activities. In general,
teachers reported practices that can promote at least some aspects of Algebraic Thinking.
INTRODUO
Segundo Kieran (2007) a vantagem de incorporar um quadro de Pensamento Algbrico
nos primeiros anos a de preencher uma desconexo que se tem observado por muito
tempo entre os esforos de introduzir o Pensamento Algbrico desde cedo e o grande
corpo de pesquisa da lgebra que se tem dedicado a alunos mais velhos, de 12 ou 13
anos. Segundo Kieran (2006), as habilidades que caracterizam o Pensamento Algbrico
podem ser desenvolvidas atravs de actividades de explorao de propriedades das
operaes, com nmeros, da anlise do significado de igualdades numricas e da anlise
de mudanas e padres e no estabelecimento de relaes entre quantidades.
Carraher, Earnest, Schliemann e Brizuela (2006) acreditam que h fortes razes para
pensarmos que o Pensamento Aritmtico e Algbrico se interligam sendo da opinio de
que a Aritmtica tem um carcter algbrico intrnseco pois as estruturas podem ser
443
percebidas atravs de notao algbrica. Para estes autores, o significado algbrico das
operaes aritmticas no opcional mas sim um ingrediente essencial que precisa ser
olhado como parte integrante da Matemtica Elementar trata-se de algebrizar a
Aritmtica.
Kieran (2007) acrescenta que os estudantes de nveis elementares podem ser
introduzidos ao Pensamento Algbrico, atravs de expresses numricas, usando
nmeros como quase-variveis, como por exemplo, atravs de afirmaes como 87-
39+39=87, que so verdadeiras qualquer que seja o nmero que se some e se subtraia de
volta.
So algumas as dificuldades que podem surgir na passagem de um para o outro tipo de
pensamento. Segundo Cai e Moyer (2008), se alunos e professores rotineiramente
passassem os primeiros seis anos do ensino a desenvolver em simultneo a Aritmtica e
o Pensamento Algbrico com diferentes nfases consoante os estdios de aprendizagem,
a Aritmtica e a lgebra passariam a ser vistas como indissoluvelmente ligadas. Como
tal, o estudo da lgebra na Escola Secundria seria uma extenso natural e no
ameaadora da Matemtica do currculo Pr-Escolar e do Ensino Bsico. Assim sendo, a
transio entre a Aritmtica e a lgebra um processo que deve ir sendo feito em
paralelo.
Durante este processo, tem relevncia o estudo de padroes numricos e geomtricos. O
Pensamento Algbrico desenvolve-se melhor a partir da contnua exposio a padres e
relaes, comeando-se desde logo no Jardim de Infncia (Steen, 1998).
Nao menos importante destacar o desenvolvimento de conceitos como operaes
inversas. Para Kieran (2004) os alunos que operam numa estrutura aritmtica de
referncia tendem a no ver os aspectos relacionais e as propriedades das operaes,
focando-se no clculo. Segundo esta investigadora, para uma transio bem sucedida da
Aritmtica para a lgebra necessrio que exista foco nas operaes, bem como nas
suas inversas, ou seja, na ideia de fazer e desfazer.
Cai e Moyer (2008) apresentam algumas das ideias do Currculo chins que podem ajudar
os alunos a fazer os ajustes necessrios ao desenvolvimento de formas algbricas de
pensar, nos nveis elementares de escolaridade. A primeira ideia relacionar operaes
inversas na resoluo de equaes. Nas escolas chinesas do 1Ciclo, a adio e
444
subtraco so introduzidas simultaneamente no primeiro ano, e a operao de
subtraco apresentada como o inverso da adio.
de fato importante o estudo do desenvolvimento do Pensamento Algbrico nos
primeiros anos de escolaridade, pois tal como Schliemann, Carraher e Brizuela (2012)
relatam, h resultados benficos da integrao de lgebra no currculo de Matemtica do
1Ciclo do Ensino Bsico. Segundo estes autores, experincias com lgebra que ocorram
desde cedo, promovem uma compreenso da Matemtica que vai para alm dos
nmeros, da contagem ou das simples operaes aritmticas.
Todos os fatos referidos at ao momento despertaram o interesse em investigar como o
Pensamento Algbrico concebido e abordado por docentes do 1Ciclo, nomeadamente
no que diz respeito algebrizao da Aritmtica, incluindo operaes inversas e padres
numricos e geomtricos.
445
RESULTADOS E DISCUSSO
A anlise estatstica incluu apenas um clculo de frequncias. Ressalva-se que no quadro
apresentado com os registos das respostas, as percentagens no somam 100, uma vez
que cada participante, muitas vezes, referiu mais do que uma categoria.
Quando inquiridos sobre quando e como julgam adequado introduzir o Pensamento
Algbrico, quase trs quartos dos professores entrevistados consideraram que a Algebra
Inicial pode ser adequadamente trabalhada desde o Pr-Escolar enquanto que as atuais
linhas de investigao apontam para os anos de escolaridade do 1 Ciclo.
O significado de lgebra, para estes docentes, relacionou-se com a aprendizagem dos
nmeros, o que aparentemente no considera habilidades como a generalizao,
modelao ou abstrao.
Metade dos inquiridos consideraram ser o foco do Pensamento Algbrico durante o 1
Ciclo, a abordagem das operaes como funes enquanto que muitos dos mais recentes
projetos investigativos apontam tambm para todo o trabalho que se pode direcionar
para a estrutura da Aritmtica assim como a implementao de atividades que permitam
trabalhar a generalizao do pensamento.
De facto, existem inmeras ideias que um professor dos primeiros anos de escolaridade
pode aplicar na sua sala de aula e que conduzem os seus alunos a pensar em Aritmtica
de forma a providenciarem um alicerce para a aprendizagem da lgebra (NCISLA, 2000).
Vrias dificuldades foram identificadas durante a passagem do Pensamento Aritmtico
para o Algbrico, o que nos leva a concluir que este dever ser um assunto perante o qual
os docentes devem dispensar maior ateno com os seus alunos, dada a importncia que
a investigao lhe tem atribudo no desenvovimento do Pensamento Algbrico.
Compreender o enunciado de um problema foi a resposta que registou maior frequncia.
Tambm frequente foi a referncia abstrao e utilizao de algoritmos que envolvem
grandes nmeros. Outras dificuldades identificadas podem observar-se no quadro I, que
se segue.
446
Quadro I. Dificuldades identificadas nos alunos, na passagem da Aritmtica lgebra.
447
As actividades de continuao de sequncias geomtricas, referidas por alguns docentes,
implicavam por vezes mais do que uma varivel, como explanou um deles: a cor
tambm varia, alm da forma, tem que ver com o ano em que eles estoquando eles
so mais pequeninos o que varia s a cr a forma a mesma.
Quanto inteno com que colocavam problemas simples de juntar e retirar, uma
minoria, apenas quatro docentes, colocaram a contagem pelos dedos em primeiro lugar.
Podemos dizer que praticamente um quarto dos professores entrevistados posicionou o
clculo mental antes dos algoritmos face a cerca de outro quarto que optou pelo
contrrio.
Ainda de referir, que nas respostas dadas, trs das ordenaes mais votadas (reunindo
20 votos) tm os exerccios de preenchimento de lacunas referidos em ltimo lugar e a
contagem pelos dedos em segunda posio, e na sua maioria, a subtraco como sendo o
inverso da adio aparece em penltimo lugar, j depois de os algoritmos terem sido
referidos.
No que disse respeito a problemas simples de multiplicar e dividir, sete dos professores
no mantiveram a sua resposta, face anterior, optando 43 por no a alterar. Destes
sete, quatro professores decidiram trocar o clculo mental, que tinham referido
primeiramente, pelos algoritmos ou pela diviso como sendo o inverso da multiplicao,
passando a referi-las antes do clculo mental, e dois deles optaram por passar a referir o
clculo mental em primeiro lugar.
CONCLUSES
Os resultados mostraram que os professores concordaram com experincias algbricas
nos anos iniciais de escolaridade, contudo observou-se uma distncia considervel face
conceo que a atual comunidade cientfica tem, no que diz respeito s habilidades
envolvidas no Pensamento Algbrico e s atividades que concorrem para a sua promoo.
Mais estudos devem ser conduzidos para que melhor se compreenda o que atualmente
se faz e o que pode ainda ser feito, quanto ao desenvolvimento do Pensamento Algbrico
nos anos iniciais de escolaridade.
448
BIBLIOGRAFIA
Cai, J., & Moyer, J. (2008). Developing Algebraic Thinking in Earlier Grades: Some Insights
from International Comparative Studies. Reston: NCTM.
Carraher, D., Earnest, D., Schliemann, A., & Brizuela, B. (2006). Arithmetic and Algebra in
Early Mathematics Education. Journal for Research in Mathematics Education , 37(2) pp.
87-115.
Kieran, C. (2004). Algebraic Thinking in the Early Grades: What Is It? The Mathematics
Educator, 8(1), 139 - 151.
Kieran, C. (2006). Research on the Learning and Teaching of Algebra. A Broadening of
Sources of Meaning. In A. Gutirrez,& P. Boero (Eds.), Handbook of Research on the
Psychology of Mathematic Education. Past, Present and Future. (pp. 11-49). Rotterdam:
Sense Publishers.
Kieran, C. (2007). What do we know about the Teaching end Learning of Algebra in the
Elementary Grades? Reston: NCTM.
National Center for Improving Student Learning and Achievement in Mathematics and
Science [NCISLA] (2000). Building a Foudantion for Learning Algebra in the Elementary
Grades, 1(2) In www.wcer.wisc.edu/. Acedido em 8 de Outubro de 2012 em
http://www.wcer.wisc.edu/ncisla
449
PENSAR A I&D EM ARTE E CULTURA LUZ DO EUROBARMETRO 2013, PARA O
MELHORAMENTO DA QUALIDADE DE VIDA
Ana da Silva
RESUMO
Analisam-se aqui desigualdades de oportunidades, tanto entre instituies / domnios
cientficos, como entre reas geogrficas / regies, no que respeita ao financiamento de
projetos europeus de investigao cientfica e desenvolvimento (I & D): pretende-se
sobretudo sensibilizar para a necessidade de apostar na investigao experimental,
centrada no desenvolvimento artstico e cultural, a qual tem sido sistematicamente
desvalorizada por uma mentalidade enormemente afetada pela crise econmica e por
uma viso (ou mais propriamente a falta ou curteza dela) radicalmente redutora e
economicista, opondo-se visceralmente ao conceito de intangvel e ao que qualitativo,
manifestando horror ao subjetivo e pouco propiciatria da criatividade.
450
ABSTRACT
Analyzing inequalities of opportunities, both between institutions / scientific fields and
between geographical areas / regions regarding the financing of European projects of
scientific research and development (R & D): the goal of this text is primarily to raise
awareness of the need for experimental research focused on the artistic and cultural
development, which has been systematically devalued by a mindset greatly affected by
the economic crisis and a vision (or more specifically the lack of it) radically reductive,
purely based on economics, viscerally opposed to the concept of intangible and horrified
by qualitative and subjective perspectives, making little place for creativity.
INTRODUO
Em 2013, ao nvel das instituies europeias, discutia-se em torno das palavras de ordem
a estruturar nos tpicos do Oitavo Quadro de Apoio Horizonte 2020. As propostas
alems, demasiado frias e tcnicas, excluindo liminarmente a noo de cultura, como
herana ou patrimnio, motivaram a indignao de muitas pessoas, com a eurodeputada
portuguesa Maria da Graa Carvalho a assumir liderana na tentativa de contrariar essa
tendncia, a qual parece bvio que afeta gravemente no s a globalidade das polticas e
estratgias identitrias da Unio, como, em especial, as regies mais perifricas, cavando
o fosso e prejudicando a coeso. Se, em matria de dinheiros comunitrios, haver
sempre quem puxe a brasa sua sardinha, julgamos que, neste caso, bem para alm
dos incontornveis lobbies nacionais e sectoriais, h verdadeiramente um erro de
avaliao psicossocial das estratgias de longo prazo a adotar para um desenvolvimento
sustentvel europeu.
Far sentido colocar todos os ovos no mesmo cesto, o da tcnica e da economia pura e
dura? Ser possvel esquecer a diversidade cultural europeia, a imensa riqueza da histria
que produziu a atual civilizao e faz a admirao de todo o mundo? Pode a Europa
oferecer /o cidad/o uma identidade forte e coesa que venha substituir esse mosaico
multissecular? Para tentar responder a esta questo, analisaremos a evoluo dos
resultados do Eurobarmetro.
Esse documento, publicado no fim de novembro de 2013, mostra um claro descalabro da
situao em Portugal, evidenciando um radical desinvestimento em cultura. Alimenta-se
451
o discurso de que no nos podemos preocupar com a cultura quando h gente a passar
fome, como declarou a antiga Ministra da Cultura de Jos Scrates, Gabriela Canavilhas,
ao Pblico, no dia da sua publicao, a qual deu aso a grande escndalo entre os/as
profissionais e (ex)responsveis polticos do setor, que esse dirio foi ouvir. Nmeros
chocantes; situao dramtica; sendo recorrente o adjetivo preocupante. Quase
andina foi a lacnica reao do atual Secretrio de Estado: so nmeros que no nos
ficam bem.
Oportunamente, depois da extino do Ministrio da Cultura no nosso pas, a Secretaria
de Estado que o veio substituir, apresentou a segunda verso de um estudo sobre o papel
da Cultura e da Criatividade, encomendado Sociedade de Consultores Augusto Mateus,
apresentado no Palcio da Ajuda em janeiro, e cuja verso final acaba de ser publicada
(fevereiro de 2014). Daremos especial relevo a duas ideias-fora que nos parecem
importantes no documento: uma colocando em evidncia as sinergias da cultura e da
criatividade na competitividade da economia, ao contrrio do que parecem julgar os/as
tecnocratas de Bruxelas; outra defendendo o papel central do Turismo na afirmao
cultural e identitria de uma nova era.
Peo depois que me acompanhem numa breve reflexo polissmica sobre as palavras-
chave da mudana de paradigma em curso, que apresentarei sintetizadas num quadro,
para melhor apreenso. preciso relativizar as concluses do Eurobarmetro: se estas se
mostram desastrosas analisadas luz dos velhos conceitos e paradigmas, h que
reconhecer que novos valores e oportunidades culturais emergem, graas vulgarizao
das tecnologias da informao e comunicao, permitindo descortinar uma tendncia de
democratizao da cultura e da arte, entendida no j apenas ao nvel de um simples e
desatualizado conceito de consumo, que antes as massas passivas bebiam sfrega e
provincianamente, de artistas nicos da elite na moda, mas evoluindo para a noo da
valorizao da produo prpria e partilha em rede.
Concluirei defendendo no s uma reviso das mentalidades em vigor, como uma
reinveno da educao, sobretudo da no formal, insistindo no contributo positivo que o
ensino politcnico pode dar para a coeso europeia, se lhe for dada oportunidade para
isso, no novo quadro de apoio, tendo por Horizonte o ano de 2020, no sentido do
desenvolvimento de projetos de investigao e desenvolvimento experimental nas reas
452
vitais e estratgicas da arte e da cultura, ajudando diminuio das assimetrias regionais
e fomentando uma verdadeira riatividade.
Motivao
A motivao para esta anlise, que agora apresento, teve origem na participao num
Workshop dedicado ao Plano Estratgico 2014-2020, realizado em julho de 2013, na
Escola Superior de Desporto de Rio Maior, sobre Investigao e Desenvolvimento:
Potencialidades e Oportunidades, no qual um membro do Conselho Diretivo da FCT
Fundao para a Cincia e a Tecnologia confessou no conhecer, em Portugal, nenhum
centro / unidade de investigao direcionado para o desenvolvimento de produtos e
mercados nas reas das artes e da cultura e no fazer a mnima ideia do que o ttulo de
especialista do ensino superior politcnico. Ora o fundamental contributo da arte e a
cultura para a qualidade de vida est sintetizado nas palavras do Relatrio KEA:
Social inclusion, better education, self-confidence and the pride of belonging to an historic community. Culture is also a
powerful tool to communicate values and to promote objectives of public interest that are broader than wealth
creation. Culture has traditionally been considered from the point of view of enlightenment. Following an art for
arts sake approach, one could say a work of art is important because it enriches its beneficiaries, offering them the
pleasure of admiring an embodiment of beauty, broadening their horizons and/or providing them with a better
insight on the complexity of the human being. () But culture () acts as a catalyst for intercultural dialogue within
Europe, as well as with the rest of the world. Distributors of films, books or sound recordings give citizens the
opportunity to experience the culture of others. Great artists are best positioned to deliver powerful messages. In a
multicultural world culture has a role to play in exemplifying the peaceful and enriching dimensions of exchanges
between populations. () Culture is also a lever for territorial and social integration. () Culture is powerful tool to re-
integrating the socially excluded, providing them with the opportunity to set up and fulfil their own project, acquire
new skills that can be transferred into other sectors of activities and recover self-confidence. (KEA European Affairs,
2006).
Excluso da cultura
A Comisso Europeia apresentou em 30 de novembro de 2011 um documento de
discusso definindo em detalhe as temticas prioritrias para a investigao e inovao,
a vigorar no mbito do Oitavo Programa Quadro de Apoio, num Horizonte 2020, com
incio no dia 1 de janeiro 2014. Este sucede ao 7. Programa, em vigor de 2007 a 2013,
dotado com cerca de 53 mil milhes de euros, dos quais mais de 60% para Cooperao,
14% para Ideias, e o restante partilhado em trs partes aproximadamente iguais, entre 8
e 9%, Pessoas, Capacidades e Outras atividades.
O documento de discusso foi enviado para apreciao e sugestes ao Parlamento e ao
Conselho Europeu. Entretanto, gerou grande preocupao e polmica, entre os/as
profissionais e investigadores/as da rea da Herana Cultural, pois este documento,
453
traindo as expectativas de que a rea conceptual se constituiria finalmente como
temtica prioritria e estratgica, esta pura e simplesmente no lhe fazia qualquer
referncia explcita, ao contrrio dos 5., 6. e 7.s Quadros, que se lhe referiam (se bem
que marginalmente). Procurando a palavra cultura no documento, surgia apenas em
agricultura. Significante tambm o facto de o mesmo acontecer com a Classificao
das reas de Educao e Formao, publicada em anexo Portaria n. 256/2005, de 16
de maro, em que o termo cultura s ocorre nas reas de Estudo 62, relativas
Agricultura, silvicultura e pescas.
Em defesa da cultura
Uma onda de indignao varreu, nos primeiros meses de 2012, a comunidade de
conservao museolgica europeia, que reagiu com vrias peties (Ipetitions, 2012), das
quais a maior (ICC, 2013) viria a envolver cerca de seis milhares de profissionais dos
museus europeus. O prprio Conselho Internacional de Monumentos e Stios juntou-se
ao coro de protestos (ICOMOS, 2012) aconselhando vivamente a reviso da proposta e a
incluso do conceito de Herana Cultural no 8. Programa, lembrando que a Agenda
Territorial 2020, aprovada em 2011, um alicerce indispensvel para um
desenvolvimento sustentvel a longo prazo.
Durante esse perodo, foram desenvolvidas vrias aes de lobbying, (The Best in
Heritage, 2012), incluindo ao nvel governamental - pelo governo cipriota (COST, 2012),
junto da Comisso, defendendo a incluso temtica do conceito de Herana Cultural.
Vrias foram as diligncias, individualmente ou em grupo, tais como o envio de questes
escritas Comisso e ao Parlamento Europeu, graas ao formulrio 117 disponvel para o
efeito. Uma investigadora as razes da no incluso (Paliadeli, 2012); um grupo
denunciava as consequncias extremamente negativas dessa deciso (Cancian, Albertini,
Alfano et al., 2012).
Foi nesse contexto que comearam, em janeiro desse ano, as negociaes tripartidas
entre Parlamento, Conselho e Comisso Europeia, em relao ao texto final. O
Parlamento nomeou como relatora para este processo a eurodeputada portuguesa,
Maria da Graa Carvalho, que cedo se empenhou na defesa dessa causa, apresentando
um relatrio no qual tentava enxertar a Herana Cultural nas trs reas temticas
predefinidas, respetivamente Excelncia Cientfica com fatia de cerca de 30% do
454
oramento, a Liderana Industrial com 22%, cabendo a maior fatia aos Desafios Sociais
com 40%.
Entre os Programas europeus, num contexto de declnio oramental devido crise,
apenas o Horizonte 2020 e o Erasmus veem crescer as suas dotaes. Depois de
inicialmente previstos cerca de 70 mil milhes de euros, as negociaes seriam concludas
em fins de junho de 2013, em torno dos 77 mil milhes. Vrias emendas foram sugeridas,
dando origem incluso da Herana Cultural em vrios relatrios. Em carta aos
subscritores da petio, Cristina Gutierrez-Cortines (2013), informava, citando o relatrio
Carvalho, que isso s tinha sido possvel due to your active and continuous support
through your work, letters and recommendations.
Numa entrevista Cincia Hoje, Maria da Graa Carvalho (2013) apresentava um balano
positivo, para Portugal, das negociaes em torno do Horizonte 2020, com o subttulo
Todas as prioridades de Portugal foram includas, especificando depois a incluso de
linhas de investigao autnomas para o Mar e a Herana Cultural. No entanto, o texto
final, ratificado pelo Parlamento e Conselho Europeu, ficou aqum do esperado, reduzido
a vagas referncias Herana Cultural e Identidade Europeia.
A dimenso estratgica
A experincia de anteriores quadros de apoio nesta rea mostra que, uma vez adotadas
as prioridades, as palavras de ordem, se torna muito difcil nelas enxertar novas ideias
ou conceitos. Continuaro a Cultura e a Arte, a ser parentes pobres no financiamento da
investigao e da inovao? No estaremos perante uma viso demasiado tecnocrata e
economicista da investigao e da inovao? As decises agora tomadas vo condicionar
o futuro da investigao e inovao europeias.
Temia-se que fosse dada uma interpretao demasiado restritiva e especfica, em nada
propriamente estratgica, como a que se refere tomada de posio do governo alemo,
em relao s opes do Horizonte 2020, no ponto Optimizing the selection of research
topics in Horizon 2020 no qual entendem que certain topics are not mentioned
although they are important at European level because national efforts are not sufficient
to address them adequately () must be expanded to include research for the physical
conservation of our cultural heritage which is exposed to environmental impacts. (Die
Bundesregierung, 2012).
455
O que que diferencia hoje a Europa aos olhos do resto do mundo? Ser a mais moderna
cincia e tecnologia, a indstria de ponta? No, pois felizmente estas j no so seu
apangio exclusivo. O que seduz e atrai Europa muitos milhes de visitantes por ano,
contribuindo para uma importante fatia do seu produto e rendimento, no ser
precisamente a herana histrica, artstica e cultural, que legou ao mundo a atual
civilizao? No ser a Europa responsvel por dar um exemplo na conservao,
interpretao e valorizao dessa herana, integrando-a nas suas polticas e estratgias
de desenvolvimento?
Os temas da excelncia cientfica, da liderana industrial e das sociedades sustentveis
foram definidos como as prximas prioridades de primeiro nvel para a investigao e
inovao. No seu desdobramento, apenas a custo se consegue vislumbrar como enxertar
as cincias humanas, num contexto e universo essencialmente quantitativo. Ora s se
pode ganhar a batalha da competitividade refletindo sobre vantagens comparativas.
Dever a Europa colocar todos os seus ovos numa cesta tcnica, na qual no tem
vantagem especial? Ou apostar tambm naquilo que tem de melhor e faz a admirao
dos outros povos?
Como compreender a subalternizao desta dimenso estratgica, que apresentaria a
vantagem de proporcionar igualdade de oportunidades a todos os pases membros, ao
contrrio da tecnologia de ponta, que privilegia, no s em termos de acesso, como em
termos de benefcio esperado, os pases de si j mais avanados?
456
herana cultural pode significar desde investigao histrica graas ao cruzamento de
fontes e consolidao lgica da informao, preenchimento de lacunas no conhecimento,
que permitam conceber produtos novos como a reconstituio da evoluo das cidades
em 3D; exploraes arqueolgicas inteligentes para incremento do esplio museolgico;
entre inmeras outras novas oportunidades em aberto.
No entanto, as questes relacionadas com a preservao do patrimnio histrico, mais
viradas para o passado, e com a valorizao do seu conhecimento para efeitos
identitrios, devem igualmente prever a sua atualizao numa produo que represente a
nossa poca e os seus desafios, sendo precisamente esse o papel da arte, virada para a
disponibilizao futura de contedos estticos representativos das nossas vivncias, cujas
potencialidades no podemos reduzir a simples consumos ou patchworks. Por uma
questo de orgulho e de respeito em relao no s s geraes passadas, como s
vindouras, no devemos subestimar nem descurar o potencial de gnio da nossa prpria
era.
457
europeias, dos 27 pases considerados, os/as portugueses/as esto muito abaixo da
mdia europeia, em todas as nove categorias consideradas neste tpico, e em ltimo
lugar em trs delas: foram os/as que menos livros leram, os/as que menos assistiram a
concertos e os/as que menos foram ao teatro.
Sintetizmos em grficos uma interpretao dos dados do Eurobarmetro 2013 relativos
participao cultural. Como se pode ver na barra verde do grfico que apresentamos
em seguida (no qual a mdia da Unio Europeia representa 100%), exceo da
visualizao de programas culturais na televiso, os/as portugueses/as tm uma taxa de
participao cultural em torno de metade da mdia europeia. Por outro lado, se a
situao j no era boa em relao retratada no Eurobarmetro de 2007, piorou
bastante nestes ltimos anos, em todos os aspetos considerados: analisadas
proporcionalmente, na barra vermelha do grfico, as maiores perdas refletem-se nas
visitas s Bibliotecas pblicas, seguidas das idas ao Teatro e visitas a Monumentos
histricos.
458
Face s interrogaes que se levantam sobre as causas de tal descalabro, poderamos
pensar que isso se deve crise, falta de dinheiro Os dados confirmam-no, para as idas
ao Teatro, Concertos e Espetculos de Ballet, Dana ou pera, com os/as portugueses/as
a invocarem como razo, cerca de 10% acima da mdia europeia, a falta de dinheiro. Para
alm dessa razo para o no envolvimento cultural, eram oferecidas mais trs
alternativas: a escassez da oferta ou sua fraca qualidade; a falta de tempo; ou de
interesse.
A falta de interesse
Ora, para os/as portugueses/as, sobretudo a falta de interesse que se reflete em todas
as atividades culturais consideradas. Em relao leitura de um livro, apesar do Plano
Nacional de Leitura, a razo invocada por 49% dos portugueses simplesmente a falta de
interesse, contra 25% na mdia europeia. Se a estes dados, juntarmos a informao de
2011 da Associao Mundial de Jornais, WAN-IFRA, relativamente a Portugal, sobre o
consumo (tiragem de dirios per capita dos 15 aos 69 anos) de jornais, que colocam
Portugal no penltimo lugar, na Europa dos 27, apenas atrs da Romnia, vemos como
arriscamos a parecer, aos olhos da Europa, banharmo-nos em plena iliteracia funcional.
459
Grfico 2: Razo invocada para o no envolvimento em atividades culturais: falta de
interesse, em percentagem do total.
460
O relatrio Mateus
No recente documento estratgico A cultura e a criatividade na internacionalizao da
economia portuguesa, encomendado para atualizao e comparao, na sequncia de
um outro, pela atual Secretaria de Estado da Cultura, ao Gabinete de Consultores liderado
por Augusto Mateus (ex-Ministro da Economia, Indstria, Comrcio e Turismo no XIII
Governo Constitucional, nos anos de 1996 e 1997), pretende passar a ideia de uma
evoluo bastante favorvel, nos ltimos anos, numa Balana Comercial Criativa,
calculada por filtragem dos dados estatsticos da classificao de atividades econmicas.
Sendo a metodologia nova e prometedora, enferma no entanto ainda de algumas
imprecises: os bons resultados apresentados parecem de alguma forma empolados,
quando se considera, por exemplo, a venda de joalharia (ouro portugus) ao exterior
como sendo uma exportao criativa. As limitaes quantitativas do estudo no lhe
retiram o seu mrito, sobretudo como reflexo estratgica. O estudo defende que o
futuro da competitividade da economia europeia e portuguesa depende decisivamente
da respetiva capacidade em colocar a cultura, a criatividade e o conhecimento no centro
das atividades econmicas (2014: 10), contrariando assim claramente a tendncia para a
sua marginalizao nas polticas de investimento em I & D europeias. Ideia semelhante
defendida por John Holden, em Culture & Class: Culture is thus emerging, not as a subset
of politics and the economy, but as one of the determining factors of how politics and the
economy function (s.d.: 13).
461
Tal como tambm refere o PENT (Plano Estratgico Nacional de Turismo), o padro de
turismo e de turista est a mudar, sobretudo devido ao impacto das TIC, deslocando-se
daqueles que este relatrio define como os/as tradicionais turistas psicocntricos (que
tendem a preferir experincias seguras e previsveis, a seguir modelos ou grupos) para
alocntricos (ou exploradores, que preferem esprito de aventura e disponibilidade para
se envolver nos modos de vida locais) (2014: 102). No ser esse o verdadeiro caminho e
um bom exemplo para a Europa e o turismo intracomunitrio? Que todos nos
pudssemos conhecer melhor, ajudando a consolidar a desejada identidade comum?: a
positive identification with the European project as such or to the emergence of a valued,
popular sense of European identity among the beneficiary population, desiderato
enunciado num projeto de reflexo europeu que dever culminar em 2015 (Comisso
Europeia, 2013).
462
Nova matriz epistemolgica
A matriz das alteraes de paradigma econmico em curso, proposta pelo relatrio
Mateus, sugere uma quarta fase, sucedendo terciarizao da economia, substanciada
numa dimenso inequivocamente cultural (2014: 101).
Esta discusso levanta inexoravelmente a questo de saber o que a cultura e se tambm
ela no estar a sofrer alteraes nos seus paradigmas, na sua substancialidade funcional
e sociolgica. Podemo-nos deixar escandalizar pelos resultados do Eurobarmetro,
lembrando que, antigamente, quando no se tinham livros em casa, esses se alugavam ou
se trocavam, havendo uma atitude positiva e ativa. Podemos envergonhar-nos porque
os/as nossos/as avs, com uma qualidade de vida muito inferior nossa atualmente, liam
jornais e ns no. Mas reduzir-se- a cultura a ler um livro, ou a ir a um cinema?
Sobretudo se nos lembrarmos de que hoje temos e-books, para no falar j do download
ilegal de filmes ou a multiplicao da oferta de contedos on-line. A este propsito, refira-
se que Portugal se encontra acima da mdia europeia, no Eurobarmetro, no que toca
aos jogos atravs do computador (+11%), colocao dos seus prprios contedos
culturais on-line; para ouvir ou gravar msica; ou at para consultar blogues culturais. Um
outro indicador que nos parece relevante, embora no se refira apenas a Portugal, de
que embora a lngua portuguesa seja apenas a sexta em nmero de falantes, a terceira
utilizada em redes sociais (LUSA, 2013). Mas o Eurobarmetro no considera apenas o
consumo; tambm a produo prpria foi considerada:
463
Grfico 3: Atividades praticadas, pelo menos uma vez, nos ltimos doze meses, em
percentagem do total. Os/As portugueses/as abaixo da mdia europeia em todas as
atividades consideradas.
A ideia com que ficamos, em relao indigncia cultural portuguesa, depois de consultar
os dados da participao cultural, baseada no antigo paradigma, deve pois ser mitigada,
pela adeso dos/as portugueses/as a novos/as modos/as culturais. No devemos
portanto estranhar que a antiga fome de cultura, que vigorava numa poca de escassez
de informao, tenha sido aparentemente substituda, numa poca de superabundncia
dessa mesma informao, por uma atitude que confina ao fastio.
464
corporativa, os/as agentes culturais defendem uma quota de 1% do oramento de Estado
para a Cultura, a qual se destinaria essencialmente a garantir-lhes os ordenados.
Precisamos desesperadamente de polticas culturais consistentes: face s limitaes
oramentais, e ao imperativo econmico, haver igualmente que questionar a ausncia
de estratgias, que acabam por se traduzir em prioridades bastante questionveis,
sabendo que o investimento na cultura, na produo cultural e em infraestruturas
culturais no aumenta por si s a procura cultural de uma comunidade. Uma abordagem
elitista da produo cultural remeter-nos-ia para uma proposta de desenvolvimento do
questionrio do Eurobarmetro, tentando avaliar a intensidade da produo cultural, com
inquritos especificamente dedicados a essa franja populacional que se assume como
produtora cultural.
O conceito de cultura no pode ser imposto, sendo contraproducente a sua
burocratizao, pressupondo antes a curiosidade, um genuno desejo de fruio e uma
noo de entusiasmo (de preferncia, contagiante) da parte da procura (a alegria, do
tempo dos descobrimentos, de que falava Gil Vicente: no podendo prever ou antecipar o
sucesso da oferta cultural, o mais importante seria enquadrar e incentivar um caldo (ou
rancho) cultural suficientemente abrangente para garantir o sustento do nosso
imaginrio coletivo, e apostar na sua dinamizao atravs de projetos de animao
territorial. impossvel comparar o enorme sharing de audincias de um reality show ou
de uma telenovela popular com a vantagem de apoiar a produo de microcultura para
micro-audincias, dando uma oportunidade a toda a gente para manifestar o seu
potencial cultural e artstico.
465
mesmos critrios de exigncia em termos de graus acadmicos, no campo da cincia e
nos campos da arte e da cultura? Segundo as mais recentes estatsticas da Educao
sobre o perfil docente de 2011-2012, um total de 37078 docentes no Ensino Superior,
divide-se entre 25849 no ensino pblico e 11229 no ensino privado.
466
Grfico 5: Distribuio de docentes no Ensino Superior, Partio 2 de 2.
468
uma soluo aceitvel, em trs semanas apenas! Apostamos na especializao cientfica,
passando-se a vida a estudar um pequeno fragmento de saber. Ser suficiente?
Continuamos a encarar a educao como um acumular quantitativo de conhecimentos,
como a memorizao de factos isolados, a mecanizao de frmulas. H muito que se
sabe que esta mentalidade est claramente desatualizada. A falncia da cidade de Detroit
um sinal inequvoco do fim do paradigma da produo em massa, do fordismo, durante
o qual o desafio era desapropriar o operrio do poder sobre o seu trabalho, tornando-o
facilmente substituvel. Com a robotizao, j no precisamos de operrios/as
obedientes, incentivados/as a no pensar, a no fazer greves, a no aderir ao Partido
Comunista... Essa mentalidade j deu origem, na Europa, a duas guerras mundiais.
Obedecer cegamente a ordens, no pensar, no possuir uma mundiviso alargada,
atualizada e atuante, claramente promover a intolerncia e o pensamento genocida,
como temos infelizmente vindo a assistir ultimamente. No diz uma clebre mxima: se
dois ignorantes forem colocados juntos, no tardaro a agredir-se; se colocarmos dois
sbios frente a frente, no tardaro a abraar-se? precisa sensibilidade e criatividade
para novas solues, face atrofiante psicologia da crise, de que somos diariamente
servidos.
Mais do que simples tolerncia perante o outro, h que promover a curiosidade, a
partilha de sensaes, como forma de apostar no apenas na Paz, mas tambm na
prpria economia capitalista, que se v confrontada com as suas prprias limitaes e
contradies, e que me parece que ter de se reinventar se quiser sobreviver. Para isso, o
papel das artes e da cultura no pode continuar a ser desvalorizado e ignorado, com base
numa perceo errada do setor, como sendo de mero entretenimento e pouco
contribuindo para a economia e, por isso, no merecendo incentivos pblicos, como
aponta o violinista e maestro Yehudi Menuhin (1999):
Le rle des cultures de l'Europe pour la qualit de la socit europenne, l'apport des crateurs, des artistes et des
artisans pour le bonheur de tous nos citoyens n'ont pas, jusqu'ici, mrit l'attention des dcideurs politiques
europens. Et, pourtant, ce n'est que l'exercice de l'art, de nos sens et de la diversit des cultures de l'Europe qui est
capable d'enfanter le vrai respect de l'autre et le dsir de paix permettant d'accomplir nos propres ralisations ainsi que
les ralisations collectives de tous ceux qui partagent notre responsabilit envers cette terre souffrante. () C'est l'art
qui peut structurer les personnalits des jeunes citoyens dans le sens de l'ouverture de l'esprit, du respect de l'autre, du
dsir de paix. C'est bien la culture qui permet chacun de se ressourcer dans le pass et de participer la cration du
futur. C'est elle seule qui, en unissant la diversit, nous offrira une vraie conscience europenne. Car c'est bien
l'closion des diversits des cultures qui donne l'Europe tout son clat et qui a attir vers nous le reste du monde
travers les sicles. En ignorant d'une faon si manifestement aveugle la culture, vous vous construisez une tour d'ivoire
fonde sur des sables.
469
Perante as mudanas de paradigma em curso, urgente e inadivel uma reforma do
ensino, desde as mais tenras idades, revendo os seus prprios fundamentos histricos e
apostando na educao pela arte, numa educao menos acadmica, numa educao no
formal, mais virada para a prxis da vida, do cultivo de um esprito universalista, que
promova a cultura e o esprito como forma de cidadania e de participao. Permitir
imensa maioria deixar de ser figurante e passar a atriz no palco do mundo. Conseguir que
a cultura deixe de ser uma forma de segregao social, e o abandono do snobismo que
durante muito tempo marcou a esfera de uma hierarquia cultural, parece hoje uma
realidade promissora.
Da macro micrologia
A perda de influncia de uma certa elite, que se presumia como culta e partilhando a
ideia da produo de cultura, de uma posio de superioridade e de costas voltadas para
um pblico consumidor e amorfo, reflete-se num comentrio ao artigo do Pblico j
referido sobre o Eurobarmetro, no qual algum fornece, como justificao para no
frequentar com maior frequncia iniciativas culturais, a falta de pacincia para Fashion
victims e queques afectados. Aquele pessoal que acha que fino e lhes atribui uma
qualidade aristocrtica papar tudo o que gurus do momento decidem ser cultura. Se no
entenderem nada porque bom. Esboa-se, com cada vez mais fora, uma tendncia
oposta, marcadamente democratizante:
Globalisation, the internet, and the proliferation of media encourage the understanding and enjoyment of a broader
culture, and it follows that, as more and more people join this movement, the idea of what constitutes culture expands
() But more significantly, as more people start to produce and consume culture, their activity becomes a mass
democratic project. Culture is created by millions of individual and collective decisions, rather than flowing from the
tastes and preferences of only one part of society () Culture has become an increasingly democratic project. That
sense of a dynamic relationship between the individual and culture, with each influencing the other, is reflected in
another idea found in the root of the word culture: the notion of cultivation and growth. Nowadays, cultivation needs
to be thought of differently, as a progressive growth in learning and confidence that results in an individual being able
to contribute to the development of culture, rather than merely appreciating what already exists. (Holden, s.d.: 23).
Retorno raiz
No por acaso que, como j aqui dissemos, parece haver uma conspirao contra a
palavra cultura, surgindo nos documentos europeus apenas referindo-se ao seu
significado primeiro e bsico, de agricultura. Efetivamente, raiz etimolgica de cultura
radica no verbo latino colere (que faz lembrar as homfonas colher o fruto; e colher
do talher), reportando-se ideia do cultivo (da terra). Aps a sua utilizao por Ccero
numa analogia espiritual, significando semear, regar, cuidar, para depois lhe colher os
frutos, entrou para o vocabulrio generalizado num sentido figurado de trato agradvel e
primor de alma. Na ocorrncia, era sempre acompanhado do termo animus: cultura
animi, frisando a importncia de esta ser animada pela presena de um impulso
construtivo.
Esse elan vital, esteve historicamente ligado personalidade e estilo dos responsveis
polticos, e em particular figura dos Reis de Portugal. Gil Vicente falava da alegria e boa
esperana que a nao viveu nos tempos do curto reinado de Dom Joo II, ensombrada
pela tragdia da morte acidental do seu filho nico, durante a lua-de-mel, em Santarm.
Outros reis houve, por outro lado, fracos: Que o rei fraco faz fraca a forte gente, como
canta Cames no Canto X da sua epopeia, tomando por exemplo Dom Fernando, que
escolheu Santarm para eterno repouso da sua (tal como a de Dom Joo II) curta vida.
Diagnosticados os sintomas, h que reagir rapidamente, para fazer frente doena. S
com uma forte cultura e identidade podemos promover uma competitividade sustentvel
baseada na criatividade. S conhecendo-nos bem a ns prprios/as, cultivando a nossa
prpria natureza e caractersticas, podemos construir algo e apresentar algum valor para
outras culturas.
471
CONCLUSO
Pensamos que a deliberada erradicao do termo cultura nos documentos europeus,
como estratgia encapotada para manter um moribundo status quo, desperdiar a
oportunidade e matar a alma da Europa, colocando em relevo a desatualizada e demode
hipocrisia do discurso do presidente da Comisso Europeia, Jos Manuel Duro Barroso,
na sua eloquente conferncia A Soul for Europe (Discurso de Berlim, 26 de novembro
de 2004): The questions of what Europe can do for culture, and what culture can do for
Europe are not new. But in this context they have acquired a new sense of urgency (KEA
European Affairs, 2006).
O esvaziamento cultural levado a cabo pelas instncias de deciso da Unio Europeia
constituem uma traio ao esprito do prprio Tratado de Lisboa que defende, no seu
Artigo 3, que A Unio respeita a riqueza da sua diversidade cultural e lingustica e vela
pela salvaguarda e pelo desenvolvimento do patrimnio cultural europeu. (Assembleia
da Repblica, 2008: 18). O Tratado sobre o Funcionamento da Unio Europeia dedica
ainda o artigo 167 a uma perspetiva da cultura:
A Unio contribuir para o desenvolvimento das culturas dos Estados-Membros, respeitando a sua diversidade nacional
e regional, e pondo simultaneamente em evidncia o patrimnio cultural comum. A aco da Unio tem por objectivo
incentivar a cooperao entre Estados-Membros e, se necessrio, apoiar e completar a sua aco nos seguintes
domnios: melhoria do conhecimento e da divulgao da cultura e da histria dos povos europeus, conservao e
salvaguarda do patrimnio cultural de importncia europeia, intercmbios culturais no comerciais, criao artstica e
literria, incluindo o sector audiovisual (Assembleia da Repblica, 2008: 153).
NOTA: Para consultar as referncias bibliogrficas deste artigo dever contactar a autora
[email protected]
472
A SIMULAO COMO ESTRATGIA PARA A QUALIDADE E SEGURANA DOS
CUIDADOS DE SADE
Jos Amendoeira; Celeste Godinho; Alcinda Reis; Rosrio Pinto; Mrio Silva; Jlia Santos
RESUMO
A educao em enfermagem pressupe na atualidade um elevado nvel de eficcia na
aprendizagem dos estudantes, considerando-os como participantes ativos no seu prprio
processo. De entre as estratgias mobilizadas neste movimento salientamos, de acordo
com a pesquisa de evidncias efetuada, o crescente investimento nos designados
laboratrios de simulao em contexto escolar.
O alargamento da simulao como estratgia de aquisio de saberes e competncias em
contextos diversificados para alm do da escola, tais como o de cuidados de sade
primrios e o do domiclio das pessoas, parecem constituir-se progressivamente numa
garantia acrescida da qualidade dos cuidados em sade.
Definimos como objetivo: problematizar a relevncia da simulao como estratgia para
a qualidade e segurana dos cuidados em enfermagem, partindo das transies no
processo educativo dos estudantes do 1 e 2 ciclos da Escola Superior de Sade de
Santarm.
Conclumos sobre a simulao como estratgia que permite ao estudante adquirir as
competncias necessrias para a prtica clnica num ambiente real, contudo sem os riscos
que lhe so inerentes. A capacitao do estudante em contexto simulado com a
possibilidade de uma reflexo sobre a ao numa temporalidade e espao controlados,
emerge como potenciadora da segurana nos cuidados por ele produzidos em ensino
clnico.
473
ABSTRACT
Education in nursing assumes today a high level of effectiveness in learning of students,
considering them as active participants in their own process. Among the strategies
deployed in this movement we stress, according to the research of evidence we made,
the growing investment in simulation laboratories designated in school context.
The enlargement of the simulation as a strategy in order to the acquisition of knowledge
and skills in diverse contexts beyond the school, such as primary health care and domicile
, is a progressive guarantee related with the quality of health care.
We define as objective: discuss the relevance of the simulation as a strategy to the quality
and safety nursing care, during transitions in the educational process of the students of
the first and second cycles of Escola Superior de Sade de Santarm.
We conclude about the simulation as a strategy that allows the student to acquire the
necessary skills for clinical practice in a real environment, however without the inherent
risks. Student training in simulated context with the possibility of a reflection on the
action in a controlled space and temporality emerges as a security enabler in care
produced in clinical education.
INTRODUO
A simulao como estratgia de aquisio de saberes e competncias em contextos
diversificados da formao em enfermagem em ambiente de escola, em cuidados de
sade primrios ou no domiclio das pessoas, oferece vantagens ligadas garantia da
qualidade e segurana dos cuidados em sade.
A procura da eficcia no processo de aprendizagem dos estudantes, como agentes ativos
no seu prprio desenvolvimento de competncias tem constitudo um desafio para eles
mesmos bem como para professores e enfermeiros que se constituem como cooperantes
em contexto clnico.
A estratgia que apresentamos tem vindo a revelar benefcios efetivos para os
estudantes, tal como enfatizmos no ensaio anteriormente publicado (AMENDOEIRA,
GODINHO, REIS, PINTO, SILVA & SANTOS, 2013), ao qual damos continuidade com esta
474
reflexo. Estes benefcios corporizam-se na eficcia de procedimentos previamente
experimentados em ambiente controlado, com o desenvolvimento da confiana e o
aprofundamento dos seus conhecimentos no planeamento e execuo dos cuidados, na
prtica clnica dos estudantes.
Contudo a assuno do ensino clnico como contexto em que se constata a
simultaneidade das dimenses do trabalho pelos cuidados de sade que so
desenvolvidos pelos profissionais, mas tambm de objeto de observao e de
aprendizagem pelos estudantes que se referenciam aos cuidados produzidos, coloca a
necessidade de reflexo pelos diferentes intervenientes nos contextos de
formao/trabalho, como salienta AMENDOEIRA (2006). O ensino clnico tem assegurado
ao estudante a possibilidade de experienciar em ambiente real as diferentes etapas da
metodologia cientfica da disciplina de enfermagem processo de enfermagem. Inicia-se
com o respetivo treino da apreciao, planeamento, prestao e avaliao de cuidados
globais, mobilizando um manancial de conhecimentos tericos previamente adquiridos,
visando a reduo progressiva de erros na deciso clnica (AMENDOEIRA, 2006; JESUS,
2004).
Impe-se atualmente a necessidade de olharmos para as transies paradigmticas da
educao ao nvel do primeiro e segundo ciclos da formao em enfermagem, que nos
apontam a necessidade da descoberta de outros/diferentes processos de aquisio de
competncias na prtica clnica de enfermagem, como garantia da minimizao de
erros/falhas e da construo de uma progressiva confiabilidade para os sujeitos
envolvidos nos cuidados produzidos (SHAPELL & WIEGMANN 2001; 2009). Foi nesta
perspetiva que a Escola Superior de Sade de Santarm [ESSS], se posicionou na busca
ativa de processos de aquisio de saberes, promotores do desenvolvimento do
pensamento crtico, do julgamento clnico e da tomada de deciso pelos estudantes que
simultaneamente oferecessem a garantia de segurana e qualidade nos cuidados
desenvolvidos aquando do contacto com o contexto clnico.
Nesta perspetiva a valorizao da prtica da simulao emergiu como natural e adequada
finalidade visada, como naturalmente promotora do desenvolvimento de competncias
para o futuro enfermeiro de cuidados gerais, surgindo ao encontro do que se encontra
preconizado pela ORDEM DOS ENFERMEIROS [OE], com um nvel de desempenho
profissional demonstrador de uma aplicao efetiva do conhecimento e das capacidades,
475
incluindo ajuizar (2003, p.16). Na mesma linha de pensamento, fez-nos sentido no
contexto organizacional e da sua respetiva misso educativa, a valorizao das
caratersticas da estratgia da simulao em contexto de escola ou das unidades de
sade, incluindo o contexto domicilirio das pessoas cuidadas, numa perspetiva de
aquisio de competncias progressivamente acrescidas, de um potencial de
continuidade e consolidao. Estas so definidas pela OE como aquelas que permitem
responder de forma dinmica a necessidades em cuidados de sade da populao, que se
vo configurando, fruto da complexificao permanente dos conhecimentos, prticas e
contextos (2009, p.10).
De acordo com a lgica referenciada, cabe aqui a definio do objetivo da reflexo que
apresentamos: problematizar a relevncia da simulao como estratgia para a qualidade
e segurana dos cuidados em enfermagem, partindo das transies no processo
educativo dos estudantes do primeiro e segundo ciclos da ESSS.
Projetmos desta forma o alargamento da simulao como estratgia de aquisio de
saberes e competncias em contextos diversificados como os referidos anteriormente,
tornando-se vivel a definio de diferentes pr-condies, nos diversos cenrios criados
em ambiente controlado, acautelando a possibilidade de atos inseguros tais como o
dfice na preparao cognitiva dos estudantes e/ou erros de perceo da decorrentes
(SHAPELL & WIEGMANN 2001; 2009).
476
Mobilizando diferentes autores consultados, apontamos a necessidade de
desenvolvimento de investigao que defina claramente os tipos de estratgias simuladas
a serem utilizados de entre as possibilidades previsivelmente acessveis nos diversos
cenrios clnicos selecionados, tal como explicitamos standardized patient (com a
contratao de atores para simulao de sinais e sintomas a partir de um roteiro
previamente fornecido), hands-on (evento clnico simulado), alta fidelidade (com a
criao de cenrios complexos), human patient simulation (experincia de aprendizagem
interativa), baixa fidelidade (com manequins que permitem a execuo de procedimentos
simples) prebriefing e debriefing (implicando uma sesso de reflexo prvia ou posterior
utilizao de manequins realistas) (NEHRING, 2008; GUHDE, 2011; SHINNICK, WOO &
MENDES, 2011).
Remetemos os critrios da escolha da estratgia, necessidade de concordncia com
dimenses e realidades distintas, tais como as que prope AMENDOEIRA (2006):
- A tica e a construo da profissionalidade do enfermeiro como profissional
competente. Pressupomos nesta lgica, o atendimento s singularidades do sujeito de
cuidados na sua rea do saber, focalizando-nos no desenvolvimento do enfermeiro como
especialista do conhecimento.
- O desenvolvimento da sua meta-competncia cognitiva, quando capaz de identificar
necessidades da pessoa singular de quem cuida e com quem negoceia os cuidados.
- No mbito da educao em enfermagem, visando o desenvolvimento das
pessoas/estudantes de acordo com o seu potencial profissional e pessoal.
A possibilidade de capitalizao das estratgias de simulao emerge ainda com um
potencial promissor na rea da produo do conhecimento, ao propiciarem que o
estudante seja capaz de privilegiar a centralidade da pessoa no processo de cuidados
produzido no desenvolvimento das suas intervenes de enfermagem autnomas e/ou
interdependentes, consciencializando a possibilidade efetiva de produzir ganhos em
sade (LEONARD, SHUHAIBAR & CHEN, 2010), visando ainda a prtica baseada na
evidncia, como base da natureza da ao em enfermagem, numa lgica de enfermagem
avanada.
Consideramos na linha de pensamento de diferentes autores (GODINHO & AMENDOEIRA,
2012; GOODSTONE, GOODSTONE, CINO, GLASER, KUPFERMAN & DEMBER-NEAL, 2013), o
desenvolvimento da simulao como prtica segura e simultaneamente favorecedora de
477
perfis de competncias nos enfermeiros de cuidados gerais e nos especialistas,
capitalizvel de acordo com a transio educativa assumida nos diferentes nveis de
formao na ESSS por: abertura de novas formas de orientao para a aprendizagem dos
estudantes; centralidade nas suas caratersticas individuais no processo educativo;
valorizao da prtica clnica como campo privilegiado de interao, solidamente
preparada previamente em contexto controlado e possibilidade de transferncia
progressiva do conhecimento para o contexto real.
CONCLUSO
A experincia que vem sendo desenvolvida no mbito da formao em enfermagem, no
primeiro e segundo ciclos na ESSS, permite-nos considerar a simulao como importante
estratgia possibilitando ao estudante a aquisio das competncias necessrias para a
prtica clnica num ambiente real. Ao salvaguardar os riscos do mundo real por um lado,
potenciamos por outro a garantia da qualidade nos cuidados posteriormente planeados e
desenvolvidos nas unidades de sade e em contexto domicilirio. Assumimos assim a
estratgia da simulao como promotora de capacidades e habilidades fundamentais no
desempenho dos estudantes, tornando-se contudo clara a impossibilidade de olharmos
em substituio do ensino clnico na formao em enfermagem.
Relevamos desta forma a mais-valia da capacitao dos estudantes atravs da reflexo
sobre o conhecimento, habilidades e pensamento crtico relativos s diferentes situaes
em contexto de cuidados, proporcionando-lhes o desenvolvimento do pensamento
crtico, julgamento clnico e tomada de deciso clnica em enfermagem de forma gradual,
controlada e segura.
BIBLIOGRAFIA
Amendoeira, J. (2006). Enfermagem. Disciplina do conhecimento. Sinais Vitais, N 67 (Jul)
pp. 19-27.
Amendoeira, J.; Godinho, C. ; Reis, A. ; Pinto, R. ; Silva, M.; Santos, J. (2013). Simulao na
educao em Enfermagem. Conceitos em transio. Revista da UIIPS, Portugal, Vol. 4, N
1, pp. 212- 228.
Goodstone, L.; Goodstone, M.; Cino, K.; Glaser, C.; Kupferman, K.; Dember-Neal, T.
(2013).Effect of Simulation on the Development of Critical Thinking in Associate Degree
478
Nursing Students. Nursing Education Research/simulation and critical thinking. May/June
Vol. 34, N.3.
Godinho, C; Amendoeira, J. (2012). A importncia de ambientes de aprendizagem crtica.
Repositrio Cientfico Aberto do Instituto Politcnico de Santarm.
http://hdl.handle.net/10400.15/614
Guhde, J. (2011). Nursing Students Perceptions of the Effect on Critical Thinking,
Assessment, and Learner Satisfaction in Simple Versus Complex High-Fidelity Simulation
Scenarios. Journal of Nursing Education. Vol. 50, No. 2.
Jesus, E. (2004). Padres de habilidade cognitiva e processo de deciso clnica de
enfermagem. Dissertao doutoramento em cincias de enfermagem, Instituto de
Cincias Biomdicas de Abel Salazar, Universidade do Porto.
Leonard, B.; Shuhaibar, E.; Chen, R. (2010). Nursing Student Perceptions of
Intraprofessional Team Education Using High-Fidelity Simulation. Journal of Nursing
Education. Vol. 49, No. 11.
Ordem dos Enfermeiros (2003). Competncias do Enfermeiro de Cuidados Gerais. Edio
Ordem dos Enfermeiros. Lisboa. 24p.
Ordem dos Enfermeiros (2009b). Conselho de Enfermagem. Sistema de individualizao
das especialidades clnicas em enfermagem Individualizao e reconhecimento de
especialidades clnicas em enfermagem - Perfil de competncias comuns e especficas de
enfermeiro especialista. Lisboa, Portugal: OE.
Shapell, S.A. & Wiegmann, D.A. (2001). Applying reason: the human factors analysis and
classification system (HFACS). Human Factors and Aerospace Safety, 1, pp. 59-86.
Shapell, S.A. & Wiegmann, D.A. (2009). Developing a methodology for assessing safety
programs targeting human error in aviation. The International Journal Of Aviation
Psychology, 19, 252-269.
Shinnick, M.; Woo, M.; Mentes, J. (2011). Human Patient Simulation: State of the Science
in Prelicensure Nursing Education. Journal of Nursing Education, Vol. 50, No. 2.
479
ANLISE DA QUALIDADE DO AR INTERIOR EM AMBIENTE HOSPITALAR
Paulo Santo; Clia A. Gomes; Marta Vasconcelos; Joo P. Figueiredo; Ana Ferreira
RESUMO
A qualidade do ar interior dos edifcios um dos fatores bsicos de conforto dos
utilizadores, influenciando de forma direta a sua sade. O presente estudo pretendia
avaliar a qualidade do ar interior num hospital localizado na regio centro-norte do pas,
tendo em conta a sua influncia no bem-estar e sade dos seus funcionrios e utentes.
Assim, procedeu-se recolha de dados atravs da quantificao de poluentes,
indicadores de conforto trmico, e de parmetros microbiolgicos em duas salas do
hospital em estudo. Neste estudo verificou-se, relativamente quantificao de
poluentes, que no se verificaram excedncias aos valores legalmente exigidos.
Verificando-se tambm adequados os nveis de conforto no que respeita aos valores
mdios de temperatura e de humidade relativa. Em termos de parmetros
microbiolgicos em amostras de ar, apenas as bactrias apresentaram contagens
superiores ao limite legal. J para os fungos foram observados valores dentro dos valores
legais. A inexistncia de procedimentos adequados de limpeza e desinfeo a grande
responsvel pela contaminao microbiolgica das superfcies analisadas. Em virtude do
estudo efetuado e dos resultados obtidos necessrio proceder-se a vrias modificaes
estruturais e organizacionais.
480
ABSTRACT
The indoor air quality of buildings is one of the basic factors of comfort of users, directly
influencing their health. The present study intended to evaluate the indoor air quality in a
hospital located in the north-central region of Portugal, taking into account its influence
on well-being and health of employees, visitors and patients. Thus, we proceeded to the
quantification of pollutants, thermal comfort indicators and microbiological parameters in
two rooms of the hospital in question. This study shown, regarding the measurement of
pollutants, that the legal limit values are not exceeded. It was verified that the levels of
comfort were adequate regarding values of temperature and relative humidity. In terms
of microbiological parameters in air samples, only bacteria counts were above the legal
limit. Also for fungi, it was detected values within the legal values. The lack of appropriate
cleaning and disinfection is mostly responsible for microbiological contamination of the
analyzed surfaces. Several modifications and structural organization were recommended
as necessary and demonstrated by results obtained in this study.
INTRODUO
A poluio do ar, quer seja de natureza qumica, fsica ou biolgica, tornou-se
recentemente um aspeto crtico nas exigncias e reivindicaes das populaes devido s
consequncias negativas sobre ambiente e, concomitantemente, na sade humana (1; 2).
Diversos estudos tm demonstrado que a contaminao ambiental exterior influencia,
direta ou indiretamente, todos os espaos fechados que dia a dia ocupamos, verificando-
se que as concentraes de contaminantes presentes no ar de espaos limitados so, de
um modo geral, muito mais elevadas do que as do ar ambiente exterior (2-6). Segundo um
estudo desenvolvido pela Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clnica
(SPAIC) o nvel de poluentes nas habitaes pode ser duas a cem vezes superior ao do ar
exterior (1; 7).
Durante os ltimos 30 anos, as preocupaes associadas qualidade do ar interior (QAI)
aumentaram de forma exponencial devido permanncia cada vez mais prolongada das
(1;
populaes em locais fechados, aumentando a prevalncia de riscos na sade humana
2; 5-11)
.
481
O interesse por estudos nesta rea surgiu com a necessidade de diminuir as perdas
energticas dos edifcios atravs da melhoria do isolamento e modificao dos sistemas
de aquecimento e arrefecimento. Esta situao levou diminuio das taxas de troca de
ar nestes ambientes, criando situaes de confinamento do ar, sendo o grande
responsvel pelo aumento da concentrao de poluentes biolgicos e no-biolgicos (1; 4;
6; 9)
. Desta forma, o ambiente interno resultado da integrao da disposio fsica do
edifcio, do clima, dos sistemas de aquecimento, ventilao e ar condicionado (AVAC), dos
materiais de construo, dos ocupantes, e dos contaminantes existentes no interior do
edifcio (3; 7; 8; 10). Assim, a qualidade do ar interior perturbada pela interao de agentes
fsicos, qumicos e biolgicos, produzindo diversos efeitos sobre o ambiente interior e,
naturalmente, sobre as pessoas (7; 12).
O hospital consiste num estabelecimento de sade, dotado de capacidade de
internamento, de ambulatrio (consulta e urgncia) e de meios de diagnstico e
teraputica, com o objetivo de prestar assistncia mdica curativa e de reabilitao
populao, competindo-lhe tambm colaborar na preveno da doena, no ensino e na
investigao cientfica. Os trs principais grupos de ocupantes destes estabelecimentos
so os pacientes, os profissionais e as visitas, em que cada grupo individual diferente
em termos de estado de sade e suscetibilidade a poluentes qumicos e microrganismos
(13)
. Estas instituies consistem em estruturas complexas que, do ponto de vista da Sade
Pblica e Ocupacional, apresentam caractersticas peculiares que claramente as
diferenciam de outras unidades empresariais pela sua tipologia e funcionalidade (14). Para
alm dos riscos comuns generalidade das empresas, as caractersticas da populao e a
natureza das atividades desenvolvidas associadas s condies de trabalho existentes,
implicam a exposio a uma variedade e concentrao de fatores de risco de natureza
qumica, fsica e biolgica (14).
Dentro dos principais poluentes do ar interno destacam-se os de natureza fsico-qumica
(como a temperatura, humidade relativa, dixido de carbono, monxido de carbono e
material particulado) e biolgica (no caso das bactrias e fungos) (6).
A temperatura e a humidade relativa so dois dos vrios parmetros que afetam o
conforto trmico (8).
O dixido de carbono (CO2) um gs incolor e inodoro (8; 9; 15). Geralmente em ambientes
(6; 8; 15)
interiores o CO2 no se apresenta em nveis prejudiciais sade sendo, por vezes
482
(8; 15)
medido como indicador da taxa de ocupao no interior dos edifcios . O monxido
(8; 9)
de carbono (CO) tambm um gs incolor e inodoro, porm txico . A poluio por
este composto ocorre quando os gases de combusto no so devidamente ventilados
para o exterior ou h retorno desses gases no edifcio. Em nveis elevados, os sintomas de
exposio incluem, dores de cabea, diminuio do estado de viglia, sintomas anlogos
aos da gripe, nuseas, fadiga, respirao rpida, dor no peito, confuso, e raciocnio
diminudo (8). Os aerossis so definidos como matria slida ou lquida em suspenso no
ar, com um dimetro aerodinmico entre 0,005 e 100 m (PMx)(5; 6; 8; 9). Nveis excessivos
de partculas podem causar reaes alrgicas, tais como olhos secos, irritaes de nariz e
pele, tosse, espirros e dificuldades respiratrias (5; 8).
A contaminao do ar interior por microrganismos, nomeadamente fungos e bactrias
pode constituir uma grave risco para a sade. Destacam-se como problemas mais
(6; 8; 9)
frequentes, efeitos irritantes, reaes alrgicas, infees e reaes txicas . Os
principais fatores que favorecem a proliferao de microrganismos no ar interior so
nveis de humidade elevados; ventilao reduzida; disponibilidade de nutrientes,
temperatura adequada ao seu desenvolvimento e existncia de fontes de contaminao
(8)
.
A transmisso de microrganismos que se encontram no ar mediada pelos bioaerossis
(partculas com dimenses maiores que 5m) que se dispersam e que se depositam at 2
metros relativamente sua fonte, constituindo o modo de contato direto. Por outro
lado, o modo de contato indireto processa-se atravs de partculas (aerossis e gotculas)
com dimenses inferiores a 5m que se mantm suspensas por longos perodos podendo
ser transmitidas por distncias significativas atravs de fluxos de ar (1).
No caso especifico dos hospitais, os sistemas AVAC so utilizados para manter a
temperatura e humidade em nveis de conforto para os trabalhadores, doentes e
visitantes; controlar odores; remover o ar contaminado fazer a renovao do ar
necessria para proteger a populao da instituio; reduzindo desta forma o risco de
(3; 16)
transmisso de microrganismos patognicos de doentes infetados para o ambiente .
O ambiente hospitalar, incluindo ar, gua e superfcies inanimadas (fomites), apresenta
uma ntima relao com a transmisso de doenas por bactrias e fungos (1).
483
unanimemente aceite que a proteo da sade constitui um direito dos indivduos e da
comunidade consignado na Constituio da Repblica Portuguesa (14) , sendo desta forma,
a garantia de um ar interior saudvel reconhecida como um direito bsico (10; 17).
Assim, tendo em conta que, a Organizao Mundial de Sade (OMS) determinou que a
poluio do ar de espaos interiores um dos fatores de risco mais importante,
(9)
responsvel por 2,7% dos casos de doenas no mundo , o presente estudo tem como
objetivo avaliar a qualidade do ar interior e de superfcies num hospital localizado na
regio centro-norte do pas, tendo em conta a sua influncia no bem-estar e sade dos
seus funcionrios, doentes e acompanhantes/visitas.
MATERIAIS E MTODOS
O presente estudo foi realizado entre outubro de 2012 e junho de 2013. Procedeu-se
recolha e quantificao de poluentes (CO2, CO, PM10 e PM2,5), indicadores de conforto
trmico (T e Hr), e de parmetros microbiolgicos (fungos e bactrias). O estudo foi
caracterizado com nvel II do tipo descritivo-correlacional. A populao do estudo foi
constituda por um hospital localizado na regio centro-norte do pas.
A avaliao da QAI pela recolha e quantificao de poluentes (CO 2, CO, PM10 e PM2,5),
indicadores de conforto trmico (T e Hr), e de parmetros microbiolgicos (fungos e
bactrias) foi realizada na sala de desinfeo de materiais mdicos reutilizveis e na sala
espera. Em cada uma destas salas foram ainda analisadas 3 superfcies, designadamente
o manpulo interior da porta da sala de desinfeo, a bancada de pr-desinfeo de
material e a bancada ps-desinfeo de material. Na sala de atendimento foi selecionado
o manpulo interior da porta do balco de atendimento, a cadeira dos funcionrios e o
balco de atendimento, respectivamente.
De forma a proceder recolha de parmetros fsico-qumicos, foram utilizados
equipamentos portteis especficos de leitura em tempo real. Foi utilizado o monitor
ambiental 3016-IAQ LIghthouse (PM2,5 e PM10) e o monitor TSI Q-Trak 8554
(determinao da concentrao de CO2 e CO e indicadores de conforto trmico - T e Hr.
Para a recolha das amostras microbiolgicas de ar recorreu-se utilizao do
equipamento Air Sampler ActiveCount 90 LightHouse. Foram realizadas 3 medies no
inverno e 3 na primavera, sendo que as amostras de ar foram todas realizadas em
duplicado. Os equipamentos foram colocados na posio mais central de cada sala e
484
altura das vias respiratrias dos trabalhadores (1,50,3m do solo) e a, pelo menos, 3 m
das paredes (18). O volume de ar da amostragem foi de 100 L, tendo sido utilizados meios
de cultura distintos para bactrias (Tryptic Soy Agar - TSA), e fungos (Agar Dextrose
Sabouraud - Sabouraud). Antes de cada recolha, foi realizada a desinfeo das mos do
investigador e da grelha do equipamento Air Sampler com recurso a etanol a 70 e gazes
esterilizadas.
Para as colheitas de superfcie utilizaram-se zaragatoas estreis, tendo-se friccionado a
zaragatoa humedecida na superfcie em anlise, com presso constante em movimentos
da esquerda para a direita. As placas de Petri contendo meio de cultura foram inoculadas
com movimentos de vai e vem na superfcie do meio. Aps a recolha das amostras no
hospital, procedeu-se ao seu transporte, temperatura de 53C, e entregues no
laboratrio no prazo mximo de 6 horas.
As placas contendo TSA foram incubadas a 35C durante 48 horas tendo as placas de
(18)
Sabouraud sido incubadas a 22C durante 7 dias . Aps o tempo de incubao
procedeu-se contagem do nmero de unidades formadoras de colnias (UFC) de
bactrias e de fungos e converso em UFC/m3.
Como valores de referncia para a determinao da concentrao mxima de exposio
dos parmetros avaliados, teve-se em conta a legislao em vigor data das medies.
No que respeita concentrao de poluentes, a legislao utilizada foi o Decreto-Lei n
79/2006 de 4 de abril, no qual so referidos os seguintes valores mximos de exposio:
1800 mg/m3 para o CO2, 12,5 mg/m3 para o CO e 0,15 mg/m3 para as PM10 (4; 19). Segundo
recomendao da OMS, a concentrao de PM2,5 no deve exceder o limite recomendado
para 24-h de 25 g/m3 (0,025 mg/m3) (19)
. Por sua vez, como indicadores de conforto
trmico, foram utilizados os seguintes diplomas legais: Decreto-Lei n 80/2006 de 4 de
abril que menciona como valor de referncia 20C para a temperatura (4; 20), e a ISO 7730
que refere o intervalo entre os 30% e os 70% como sendo o intervalo timo de exposio
Humidade Relativa (4; 21).
Esta investigao tem nica e exclusivamente interesse acadmico, subtraindo-lhe todo e
qualquer interesse financeiro ou econmico.
485
RESULTADOS
Compararam-se os valores mximos, mnimos e mdios analticos estimados dos
parmetros fsico-qumicos (CO2, CO, PM10 e PM2,5) e de conforto trmico (T e Hr)
obtidos no ar interior das duas salas com os valores legalmente estabelecidos.
Em termos de concentrao de poluentes foi elaborada a Tabela , onde se pode verificar
que os valores mdios de CO2, PM10 e PM2,5 foram superiores na primavera,
comparativamente com os obtidos no inverno, em ambas as salas. J os valores de CO
apresentam uma tendncia contrria, em que se observaram valores de 3,1 e 4,5 mg/m 3
na estao de inverno e os valores de 2,3 e 2,9 mg/m3 no perodo de primavera.
Tabela 1 Concentrao de poluentes registados nas zonas de amostragem, e comparao com os valores
referidos na legislao.
Zona de amostragem Sala de desinfeo Sala de atendimento Valor de
Poluentes
Estao Inverno Primavera Inverno Primavera referncia (21;31)
Mdia 948,0 1315,8 703,8 1119,0
CO2 Mximo 1184,4 1578,6 808,2 1479,6 3
1800 mg/m
(mg/m3) Mnimo 766,8 907,2 633,6 909,0
Desvio padro 214,2 358,7 92,2 313,7
Mdia 0,012 0,012 0,012 0,019
PM10 Mximo 0,015 0,014 0,014 0,031 0,15 mg/m3
(mg/m3) Mnimo 0,007 0,009 0,009 0,013
Desvio padro 0,004 0,003 0,003 0,010
Mdia 0,001 0,003 0,004 0,005
PM2,5 Mximo 0,001 0,003 0,006 0,008
0,025 mg/m3
(mg/m3) Mnimo 0,0002 0,002 0,003 0,003
Desvio padro 0,0005 0,0007 0,001 0,003
Mdia 3,1 2,3 4,5 2,9
Mximo 4,4 3,2 5,8 3,2
CO (mg/m3) 12,5 mg/m3
Mnimo 2,4 1,4 2,9 2,6
Desvio padro 1,2 0,9 1,5 0,3
486
apresentou uma maior contaminao microbiolgica na primavera (710 UFC/m 3 de
bactrias e 260 UFC/m3 de fungos), ambos obtidos na recolha 3. No entanto, de
verificar que os valores mximos registados na sala de desinfeo eram, apenas,
ligeiramente mais baixos, 670 UFC/m3 de bactrias e 190 UFC/m3 de fungos, sendo estes
verificados no inverno (Tabela ).
487
DISCUSSO
Aps anlise dos resultados obtidos dos parmetros qumicos, e tendo em conta os
valores de referncia, pode-se constatar que a concentrao do poluente CO2 no
excedeu o valor limite (1800 mg/m3) em nenhuma das zonas de amostragem, tendo-se
observado um valor mximo de 1579 mg/m3 na sala de desinfeo. Tendo em conta que
o CO2 um gs que resulta de processos de combusto em fontes de aquecimento, de
(4; 22; 23)
produo de energia e de reaes de metabolizao dos seres vivos , de referir
que nenhuma das zonas de amostragem apresentava fontes de aquecimento e de
produo de energia, sendo a metabolizao dos seres vivos a nica fonte deste
poluente. Na sala de atendimento encontram-se no mximo 3 funcionrios sendo
constante a entrada e sada de utentes, tendo-se observado um valor mximo de 1480
mg/m3. J na sala de desinfeo, o valor obtido, superior ao da sala de atendimento, pode
ser explicado pelo facto de neste local se encontram em servio 4 a 6 funcionrios,
existindo apenas 2 janelas como meio de renovao de ar.
Tendo em conta que os efeitos adversos das partculas em suspenso sobre a sade
humana se expressam quer sob efeitos agudos (exposio a curto prazo), quer atravs de
efeitos crnicos (exposio a longo prazo) torna-se imperioso proceder sua
quantificao(24-26). Assim, aps anlise dos resultados obtidos de PM 10 e PM2,5, verificou-
se que nenhuma das salas excedeu ou se aproximou, do valor estipulado como limite
legal. Desta forma, de considerar que os ocupantes do hospital no se encontram
expostos a concentraes de material particulado que possa representar risco para a
sade, tendo em conta as avaliaes efetuadas.
No que respeita aos valores observados de CO, a sala de atendimento apresentou um
valor mximo de 4,5 mg/m3, valor inferior ao valor limite legal (12,5 mg/m3). As
concentraes de CO podem ser explicadas pelo facto do hospital se localizar em zona
urbana e de trfego. Este poluente um subproduto da combusto incompleta, como por
exemplo processos de queima de combustveis fsseis (23).
A temperatura e humidade relativa so fatores importantes no que diz respeito aos nveis
de conforto, podendo contribuir para o desenvolvimento e propagao de contaminantes
microbiolgicos, que podem afetar a sade humana (8). Os valores mdios de temperatura
registados nas duas zonas de amostragem, no excederam o valor de referncia
considerado como timo para o conforto humano (20C). J os valores mximos
488
apresentaram uma pequena excedncia (21,6C e 21,3C) no perodo de primavera, em
ambas as salas. Estas excedncias podem estar relacionadas com a estao do ano, assim
como a inexistncia de sistemas de refrigerao. Tendo em conta os dados obtidos pode-
se referir que os ocupantes do hospital encontram condies adequadas no que respeita
temperatura.
Da anlise dos valores mdios de humidade relativa, constatou-se que ambas as zonas de
amostragem se encontravam no limite considerado timo, ou seja, entre os 30% e os
70%. No entanto, para os valores mximos verificou-se situao idntica observada na
temperatura, ou seja, na primavera ocorreram situaes que excederam (71,4% e 85,9%)
o intervalo considerado timo (at 70%). Contudo, de verificar que os valores mdios
relacionados com estas percentagens apresentam um desvio-padro alto,
comparativamente aos de inverno (5,3% e 4,7% no inverno; e 18,5% e 24,4% na
primavera). Esta medida de disperso estatstica indica, nestes casos, uma variabilidade
dos dados, mostrando tendncia para se encontrarem longe da mdia. Assim, apesar das
mdias se encontrarem no limite considerado timo necessrio estar atento a possveis
excedncias, podendo estas estar associadas ao desenvolvimento de fungos (1; 8).
No que respeita contaminao microbiolgica ambiental verificaram-se excedncias nas
duas salas analisadas, pelo que os valores mximos foram de 710 UFC/m 3, na sala de
atendimento, e 670 UFC/m3, na sala de desinfeo. Os bioaerossis produzidos
rotineiramente em hospitais tm origem na respirao, tosse, espirros e ventilao
(27)
insuficiente . Assim tendo em conta que a sala de atendimento apresenta maior
nmero de pessoas, principalmente doentes que chegam ao hospital, e visto esta no
apresentar sistemas de ventilao adequados espectvel um elevado nmero de
bactrias. Apesar da sala de desinfeo, ser frequentada apenas por pessoal de servio
apresenta contagem de bactrias com valor muito superior ao valor limite legal, devido
especialmente carncia de sistemas de ventilao adequados.
A disperso dos fungos atravs do ar ocorre sob a forma de bioaerossis e a sua
agressividade depende, em grande parte, da sua dimenso. Desta forma, os principais
fatores que afetam a sua disperso so as correntes de ar, a humidade relativa, a
(7)
temperatura e o tamanho da partcula . Verificou-se que as contagens de fungos
apresentaram, em todas as recolhas, valores dentro do valor limite legal.
489
Por ltimo, procedeu-se quantificao de parmetros microbiolgicos em superfcies,
sendo estas responsveis pela contaminao cruzada, por meio das mos dos
profissionais de sade e de instrumentos ou produtos que podero ser contaminados ao
entrar em contacto com essas superfcies (28). No que respeita contaminao bacteriana,
foram encontradas 580 UFC/cm2 na bancada ps-desinfeo, na primavera. J os fungos
apresentaram o valor mais elevado de 540 UFC/cm2 na bancada pr-desinfeo, tambm
na primavera.
Para as bactrias, 290 UFC/cm2 foi o valor mximo encontrado no manpulo interior da
porta da sala de atendimento. J para os fungos o valor mximo encontrado foi verificado
na cadeira dos funcionrios (430 UFC/cm2). Ambos os valores foram recolhidos na
primavera.
de considerar que apesar do hospital em estudo, possuir forosamente servios de
limpeza e desinfeo das instalaes estes apresentam deficincias. A limpeza e
desinfeo realizada por auxiliares da ao mdica, no sendo efetuada todos os dias.
Desta forma, falhas nos processos de limpeza e desinfeo de superfcies podem ter
como consequncias a disseminao e transferncia de microrganismos no ambiente dos
servios de sade, colocando em risco a segurana dos pacientes e profissionais que
(28)
desempenham funes nesses servios . A existncia de recolhas onde foi impossvel
contabilizar o nmero de colnias pode estar relacionada com a ausncia de limpeza e
desinfeo no dia anterior realizao das amostragens. Embora no exista legislao
que defina valores de referncia para superfcies, podemos concluir com este trabalho
que a sala de desinfeo apresenta contaminao microbiolgica elevada e por isso
dever ser alvo de medidas que permitam uma reduo dos valores encontrados.
CONCLUSO
Com o presente trabalho pode-se concluir que trabalhadores, doentes e acompanhantes
se encontram expostos a variados poluentes relacionados com a QAI.
A exposio aos parmetros fsico-qumicos avaliados encontra-se dentro dos critrios
legais, sendo a contaminao microbiolgica a que apresenta maiores desvios. A
inexistncia de servios de limpeza e desinfeo adequados apresenta-se como o
potencial responsvel pela contaminao microbiolgica das superfcies. Neste sentido,
evidencia-se a importncia da implementao de alteraes estruturais e organizacionais,
490
salientando a limpeza e desinfeo dos espaos como condio fundamental para a
reduo da carga microbiana ambiental e de superfcies.
BIBLIOGRAFIA
Silva, E. S. Avaliao microbiolgica do ar em ambiente hospitalar. Universidade de
Aveiro, 2008. Dissertao de Mestrado.
Chen, H., Chuang, C. e Lin, H. Indoor Air Distribution of Nitrogen Dioxide and Ozone in
Urban Hospitals. Bull Environ Contam Toxicol, 2009.
Santos, A. C. Microbiologia do ar: monitorizao do ar em ambiente hospitalar.
Universidade de Aveiro | Departamento de Biologia, 2008. Dissertao de Mestrado.
Cruz, C., Figueiredo, J. P. e Ferreira, A. Qualidade do ar interior em lares de idosos do
concelho de Santa Comba Do. Cincia, Sade e Inovao - Investigao Aplicada em
Sade Ambiental, 2011, 18: 7-26.
Slezakova, K., Alvim-Ferraz, M. C. e Pereira, M. C. Elemental characterization of indoor
breathable particles at a portuguese urban hospital. Journal of Toxicology and
Environmental Health, 2012. ; 75(13-15): 909-19.
Schirmer, W. N.; Pian, L. B.; Szymanski, M. E.r; Gauer, M. A. A poluio do ar em
ambientes internos e a sndrome dos edifcios doentes. Cincia & Sade Coletiva, 2011. 16
(8): 3583 - 3590.
Soares, I. C. M. Aeromicologia Hospitalar. Universidade de Aveiro - Departamento de
Biologia, 2009. Dissertao de Mestrado.
APA. Qualidade do ar em espaos interiores | Um guia tcnico. Agncia Portuguesa do
Ambiente - Ministrio do Ambiente, do Ordenamento do territrio e do desenvolvimento
regional, 2009. URL: http://www.apambiente.pt/_cms/view/page_doc.php?id=546.
Quadros, M. E.; Lisboa, H. M.; Oliveira, V. L.; Schirmer, W. N. Qualidade do ar em
ambientes internos hospitalares: estudo de caso e anlise crtica dos padres atuais. Eng
Sanit ambient. 2009, 14 (3): 431-438.
WHO. The right to healthy Indoor Air. 2000. URL:
http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0019/117316/E69828.pdf
L, H.; Cai, Q.; Wen, S.; Chi, Y.; Guo, S.; Sheng, G.; Fu, J.; Katsoyiannis, A. Carbonyl
compounds and BTEX in the special rooms of hospital in Guangzhou, China. Journal of
Hazardous Materials, 2010. 178 (1-3): 673679.
491
Santos, J. C. Avaliao da qualidade do ar interior em jardins-de-infncia. Faculdade de
engenharia da universidade do Porto, 2010. Dissertao de Mestrado.
Leung, M. e Chan, A. Control and management of hospital indoor air quality. Med Sci
Monit. 2006. URL:
http://www.engr.psu.edu/iec/publications/papers/indoor_air_quality.pdf
Silva, J., Regueiro, E. e Dinis, M. A. Avaliao da qualidade do ar interior num bloco
operatrio e numa central de esterilizao utilizando como indicador a concentrao de
dixido de carbono. Edies Universidade Fernando Pessoa, 2007. URL:
http://bdigital.ufp.pt/bitstream/10284/390/1/16-22.pdf
Akridge, J. Hospitals seek cleaner, greener air solutions. Healthcare Purchasing News,
2011. URL: http://www.advantixsystems.com/pdf/Hospitals_Cleaner_Greener.pdf
WHO. WHO guidelines for indoor air quality : dampness and mould. world health
organization. [Online] 2009. URL:
http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0017/43325/E92645.pdf.
Nota Tcnica NT-SCE-02. Metodologia para auditorias peridicas de QAI em edifcios de
servios existentes no mbito do RSECE. 2009. URL:
http://www.apambiente.pt/_cms/view/page_doc.php?id=544.
Decreto-Lei n. 79/2006 de 4 de Abril. Regulamento dos Sistemas Energticos de
Climatizao em Edifcios (RSECE). Dirio da Repblica I Srie-A : Ministrio das Obras
Pblicas,Transportes e Comunicaes, 2006.
Decreto-Lei n. 80/2006 de 4 de Abril. Regulamento das Caractersticas de
Comportamento Trmico dos Edifcios (RCCTE). Dirio da Repblica I Srie-A :
Ministrio das Obras Pblicas,Transportes e Comunicaes, 2006.
ISO 7730:2005. Ergonomics of the thermal environment Analytical determination and
interpretation of thermal comfort using calculation of the PMV and PPD indices and local
thermal comfort criteria. 2005.
Madureira, J. Impacte de uma grande linha de trfego urbano na qualidade do ar e na
sade. Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. 2005.Dissertao de
Mestrado.
Carmo, A. T. e Prado, R. T. A. Qualidade do Ar Interno. Escola Politcnica da USP :
Departamento de Engenharia de Construo Civil, 1999. URL:
492
http://www.hvacmercosul.com.br/uploads/artigos/2013_05_30_00_05_49_1_racineiaq.
pdf
Moreira, S.; Castro, M.; Santos, C. S. Morbilidade respiratria e exposio a partculas
inalveis na cidade de Lisboa. Acta Peditrica Portuguesa. 2008. 39(6):223-32
WHO. Air quality and health. [Online] 2011. URL:
http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs313/en/.
WHO. Health Aspects of Air Pollution with Particulate Matter, Ozone and Nitrogen
Dioxide. 2003. URL:
http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0005/112199/E79097.pdf
Camacho, R. Deteco de bactrias no ar em ambiente hospitalar com recurso a tcnicas
moleculares. Universidade da Madeira. 2010. Dissertao de Mestrado.
ANVISA. Segurana do paciente em servios de sade: limpeza e desinfeco de
superfcies. 2010. URL:
http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/4ec6a200474592fa9b32df3fbc4c6735/Ma
nual+Limpeza+e+Desinfeccao+WEB.pdf?MOD=AJPERES.
Ministrio da Sade. VIGILNCIA EM SADE AMBIENTAL RELACIONADA QUALIDADE DO
AR. 2006. URL: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/DOMA/Vigiar_mso360.pdf
493
PROCESSO DE APRENDIZAGEM EM CUIDADOS CONTINUADOS: UMA EXPERINCIA DE
ARTICULAO TERICO PRTICA
RESUMO
O presente artigo alia a dimenso da profissionalidade docente com as relaes
interorganizacionais, na preparao da Unidade Curricular Interveno em Cuidados
Continuados II - 4 ano do Curso de Enfermagem/1 Ciclo, relativa aos contedos inerentes
ao processo de desenvolvimento e atualizao na Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados.
Partindo da contextualizao da misso e valores da Escola, construmos o conhecimento
com os estudantes aleando os contedos programticos com os problemas mais sentidos na
prtica profissional, estudando um contexto de ensino clnico, num processo de influncia
mtua onde a teoria tem repercusses na prtica e as prticas influenciam e atualizam o
processo de ensino/ aprendizagem.
Objetivo: identificar a perspetiva dos enfermeiros face necessidade de atualizao de
algumas prticas inerentes ao desenvolvimento do processo de cuidados numa unidade.
A metodologia utilizada foi a de estudo de caso com caracterizao macro, exo, meso e
microssistmica do contexto, recorrendo anlise documental, observao, entrevista e
questionrio.
Dos resultados obtidos, no mbito das necessidades reais identificadas pelos enfermeiros,
evidenciamos a dimenso interaes com prestadores de cuidados, trabalhadas
posteriormente com os estudantes valorizando o recurso prtica clnica baseada na
evidncia.
494
ABSTRACT
This work combines the dimension of the teaching profession with the interorganizational
relationships in the preparation of the curricular unit Intervention Continuing Care II - 4th
year nursing course / 1st Cycle on the content inherent to the process of developing and
updating the National Network for Continuous Care.
From the contextualization of the mission and values of ESSS, we build knowledge with
students joining the syllabus with the problems mostly felt within professional practice,
studying the context of clinical education in a process of mutual influence where theory has
an impact on the practice and the practice influence the teaching / learning process.
Objective: towards the need to update some of the practices inherent to the development
process of a care unit.
The methodology used was the case study to characterize macro, exo, meso and micros
systemic context, using observation, interview and questionnaire.
As a result we found that the real needs identified by nurses showed dimension interactions
with caregivers, emerging with a clear bio ecological perspective that frames this work.
These needs have been worked with students enhancing the usefulness of the resource to
clinical practice evidence-based.
INTRODUO
A educao surge na sociedade como instrumento capaz de construir um sistema de valores,
permitindo tambm a aquisio de conhecimentos e capacidades necessrias ao exerccio da
cidadania. Perante o mundo em constante mutao, alm de responder s motivaes,
interesses e desejos internos de cada indivduo, pretende responder s exigncias, conjetura
e presses do ambiente em que se desenvolve.
Rosnay (1984), autor associado s teorias de tendncia sistmica e ecolgica, preconiza uma
teoria sistmica da educao, onde a viso integrada e global do mundo esto presentes.
Considera-se o homem numa abordagem multidimensional, integrando-se os saberes tendo
em conta sempre os conhecimentos a adquirir e os factos observados.
495
Toffler (1984) refere que educao compete o desenvolvimento da capacidade de
adaptao mudana, supondo-se desta forma uma interao constante entre a escola
como agente formativo e a comunidade.
Pimenta (2005) apresenta a perspetiva de que a educao, no s retrata e reproduz a
sociedade, mas tambm projeta a sociedade desejada. A autora complementa o seu
pensamento com o de que enquanto prtica pedaggica, a educao tem historicamente, o
desafio de responder s solicitaes que os contextos lhes colocam.
Para isso, como diz Correia (1995), as escolas enquanto contexto formativo devem relacionar-
se com os contextos de trabalho e os sistemas de formao serem cada vez mais permeveis
lgica do trabalho para que os contextos de trabalho se tornem qualificantes. A articulao
entre os dois locais de formao (escola e trabalho) deve realizar-se atravs de processos de
informao e avaliao constantes, resultando um processo de influncia mtua, em que a
teoria tem repercusses na prtica e as prticas influenciam e atualizam o processo de
ensino/aprendizagem.
Conhecendo melhor a realidade contextual onde se desenvolve, a escola identificar os
problemas e poder fazer uma aproximao entre os contedos programticos e os
problemas mais sentidos na prtica.
importante que os enfermeiros da prtica e os das escolas estabeleam relaes e
desenvolvam reflexes inerentes aos cuidados de enfermagem reais. Os saberes prticos so
fundamentais teoria porque a teoria sem a perspetiva de resoluo na prtica estril,
mas a prtica sem a teoria cega (Rebelo, 1996, p.16).
neste sentido, da capacidade de articulao de saberes que se coloca um dos grandes
desafio disciplina de enfermagem, que dar sentido ao que os enfermeiros fazem nas suas
prticas, na sua tomada de deciso. A investigao e o recurso a uma prtica baseada na
evidncia constituem-se ferramentas fundamentais na construo desse sentido. A
construo do saber em enfermagem exige que no se dissocie os atores da prtica dos
atores da formao, pois assim que se vo transformando as identidades, na relao dos
profissionais e campos do conhecimento. Estamos cientes que a divulgao da evidncia
cientfica das intervenes ou resultados dos cuidados de enfermagem facilitaro a anlise
das prticas de cuidados e dar-lhe-o visibilidade.
496
dentro desta viso sistmica da educao, onde se integra uma viso integrada e global do
mundo e se pretende desenvolver a perspetiva do relacionamento aberto com a
comunidade, que se desenvolver este trabalho.
O papel do professor num paradigma de Bolonha define-se como orientador dos processos
de pesquisa, aprofundamento e reflexo visando o desenvolvimento global do estudante, na
conciliao com os seus processos de construo pessoal, para a mobilizao das
competncias necessrias ao trabalho autnomo e independente no desenvolvimento dos
processos de cuidados com as pessoas.
Nesta lgica e no que se refere aos processos de aprendizagem dos estudantes relativos s
competncias do enfermeiro na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (adiante
designada por RNCCI),numa Unidade Curricular de Opo Interveno em Cuidados
Continuados II, do 4 ano do Curso de Enfermagem 1 ciclo, nos contedos inerentes ao
processo de desenvolvimento e atualizao na RNCCI interligado com um dos objetivos desta
Unidade Curricular: Analisar as competncias do enfermeiro nos diferentes contextos da
RNCCI, e de acordo com uma perspetiva de articulao terico prtica j iniciada aquando da
Opo I no 3 ano, desenvolvemos uma metodologia de estudo de caso, que entendemos
como uma estimulante estratgia de ensino aprendizagem, partindo de um dos contextos j
contemplado como contexto de observao dos estudantes e tendo como objetivo identificar
a perspetiva dos enfermeiros face necessidade de atualizao de algumas prticas inerentes
ao desenvolvimento do processo de cuidados numa unidade de mdia durao e
reabilitao.
Pretendemos deste modo a aproximao entre os contedos programticos e os problemas
mais sentidos na prtica, focalizados na perspetiva de desenvolvimento e atualizao nos
processos de cuidados nos diferentes contextos. Procurmos consciencializar o estudante de
que o sentido do desenvolvimento de tais aprendizagens se relaciona com ele prprio
enquanto futuro profissional e investigador, orientando-o na tica do saber pensar como
filosofia subjacente queles processos, podendo mobilizar a pesquisa e reflexo acerca de
necessidades identificadas em contextos reais de prestao de cuidados na RNCCI, ampliando
assim os seus interesses individuais de formao para dar resposta aos de uma instituio ou
comunidade, desenvolvendo desta forma tambm a dimenso do saber partilhar.
A dimenso do saber - fazer foi operacionalizada objetivamente quando, a partir dos
resultados do estudo de caso desenvolvido num contexto da RNCCI, se construiu com os
497
estudantes, tendo por base os processos de aprendizagem j desenvolvidos na unidade
curricular de investigao, a necessidade do recurso a uma prtica clnica baseada na
evidncia, no sentido do desenvolvimento de uma enfermagem avanada s pessoas em
processos de doena nesse contexto, tendo em conta as necessidades reais identificadas.
Finalizaremos este artigo associando a esta dimenso de aprendizagem o saber-dizer, que se
torna evidente ao possibilitarmos aos estudantes a transmisso dos resultados da sua
pesquisa e reflexo no presente artigo, analisando e criticando os resultados da RSL
relevantes para a interveno de enfermagem em cuidados continuados, e ainda pela
possibilidade partilharmos tambm aqueles resultados com o grupo alvo do contexto em
estudo, podendo para tal recorrer-se estratgia de seminrio, ou a outra que ao momento
se considere mais adequada para todos os participantes deste processo.
METODOLOGIA
A estratgia que desenvolvemos (estudo de caso), permitiu ao estudante aprender a partir de
situaes do mundo real captando do contexto em estudo a variedade de influncias
presentes; o contexto foi selecionado pelos critrios de acessibilidade, conhecimento e
relao j construdos, tendo sido contemplado anteriormente como contexto de observao
dos estudantes.
Preparmos este estudo de caso, selecionando o contexto, analisando-o segundo uma
perspetiva bioecologia, a partir da sua contextualizao macro, exo, meso e microssistmica,
averiguando o ambiente envolvente aos processos de cuidados e focalizando-nos no objetivo
de identificar a perspetiva dos enfermeiros face necessidade de atualizao de algumas
prticas inerentes ao desenvolvimento do processo de cuidados numa unidade (Ferreira e
Serra, 2009), utilizando a anlise documental, a observao, a entrevista e o questionrio,
Assim, consideramos de acordo com (Bronfenbrenner, 2002): ao nvel do macrossistema,
(nvel externo), a misso, valores e cultura, assim como legislao nacional referente
organizao dos cuidados continuados em Portugal.
O nvel exossistemico, considera-se um ambiente que no envolve a pessoa como um
participante ativo, mas no qual ocorrem eventos que afetam, ou so afetados por aquilo que
acontece (Bronfenbrenner, 2002, p.21), sendo neste contexto apreciadas as relaes
estabelecidas com as Equipas Gesto Alta e Equipas de Coordenao Local, como forma de
admisso dos utentes unidade em estudo.
498
No mesossistema, so consideradas as interaes entre dois ou mais ambientes nos quais o
enfermeiro participa ativamente, sendo considerado neste caso as relaes que estabelece
com os pares e restante equipa de cuidados, considerando-se a famlia como membro
integrante da mesma.
No microssistema, nvel mais interno, o enfermeiro desenvolve um padro de atividades e
papis inerentes prestao de cuidados de enfermagem, numa UMDR, sendo a este nvel
que se efetuar o diagnstico, este focalizado na perspetiva dos enfermeiros face
necessidade do recurso a uma prtica clnica baseada na evidncia, no sentido do
desenvolvimento de uma enfermagem avanada s pessoas em processos de doena nos
diferentes contextos da RNCCI.
A este nvel, numa primeira fase, caracterizmos os enfermeiros da Unidade, com recurso a
variveis scio demogrficas e profissionais, e numa segunda fase, utilizmos o questionrio,
centrado nos focos, consideradas reas de ateno essenciais ao desenvolvimento de
cuidados de enfermagem na Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, segundo a
Ordem dos Enfermeiros: Dor, Gerir o regime, Adeso, Auto Cuidado, Prestador de Cuidados,
Coping, Stress do prestador de cuidados e Dignificao da morte.
Relativamente a cada um destes focos, cuja definio se encontrava num glossrio em anexo
construdo segundo Cipe 2, os enfermeiros teriam que escrever de forma livre necessidades
de atualizao/ investigao relativamente s intervenes de enfermagem que desenvolvem
relativas a cada foco na sua prtica diria no contexto.
A opo pelo questionrio, centrou-se no facto de este permitir medir atitudes, percees,
opinies ou o grau de empenho de um grupo de indivduos (Coutinho, 2005), sendo
constitudo por questes abertas, onde o enfermeiro pudesse ter a liberdade para responder
de forma livre, colocando-se ainda um espao para sugestes ou observaes, com o objetivo
de estimular o raciocnio do enfermeiro face problemtica em questo, salvaguardando a
confidencialidade da identidade dos participantes.
Para a sua anlise recorremos anlise qualitativa anlise de contedo, (Bardin, 2004)
tendo-se realizado uma categorizao priori, na qual se consideraram como categorias os
focos j definidos anteriormente, seguida de uma categorizao posteriori dos respetivos
temas/dimenses e subcategorias, sendo esta codificao validada por peritos externos.
499
Quadro n 1 - Grelha de anlise na dimenso investigada pelos estudante.
RESULTADOS
Ao analisarmos a perspetiva dos enfermeiros face necessidade de atualizao de algumas
prticas inerentes ao desenvolvimento do processo de cuidados numa unidade de mdia
durao e reabilitao, evidenciaram-se duas dimenses fulcrais para os processos de
desenvolvimento e atualizao neste contexto, nomeadamente no que se refere s
interligaes na equipa multidisciplinar (integradora das categorias: Adeso, Dignificao da
morte, Dor e Gerir o Regime) e s interaes com os prestadores de cuidados (categorias:
Prestador de cuidados, Auto Cuidado, Coping e Stress do Prestador). Esta codificao advm
da relao estreita entre as caractersticas definidoras dos focos/ categorias em anlise e as
orientaes das unidades de registo identificadas pelos enfermeiros.
500
Para o trabalho desenvolvido com os estudantes nesta unidade curricular, priorizmos a
ultima dimenso, (quadro n 1), uma vez que esta se revelou simultaneamente mais coerente
com as expetativas dos estudantes para o desenvolvimento da mesma.
Tema/
Categorias Subcategorias
Dimenso
Capacitao para a (re) integrao
Prestador de
familiar
cuidados
Mobilizao da interao de papis
Programas e dispositivos formativos
Auto
Interaes com Cuidado Estratgias individuais de interveno
prestadores de Uniformizao das prticas
cuidados Organizao de aes de auto-ajuda
Coping
Abordagem multidisciplinar
Stress do Promoo da capacidade de resoluo
Prestador de problemas
501
Quadro n 3 - Critrios de incluso/excluso para seleo dos artigos.
CONCLUSES
A prtica baseada em evidncias consiste em integrar as melhores evidncias de pesquisa
habilidade clnica do profissional e preferncia do utente; de acordo com Fortin (2009) a
investigao desempenha um papel importante no estabelecimento de uma base cientfica
para guiar a prtica de cuidados. Refere tambm que o aumento de conhecimentos e a
503
autonomia da profisso de enfermagem evolui mais ou menos rpido de acordo com o
avano da investigao em enfermagem. O conhecimento adquirido pela investigao em
enfermagem utilizado para desenvolver uma prtica baseada na evidncia, melhorar a
qualidade dos cuidados e otimizar os resultados em sade (OE, 2006).
A prtica baseada na evidncia constitui-se como a utilizao consciente, explcita e criteriosa
da melhor evidncia disponvel para tomar decises sobre o cuidado a prestar a cada doente
(Sackett, 2000). A enfermagem baseada na evidncia assim um instrumento para a tomada
de decises sobre os cuidados a prestar, baseado na localizao e na integrao dos melhores
resultados cientficos procedentes da investigao original e aplicveis s diferentes
dimenses da prtica da enfermagem (Toro, 2001). A utilizao da evidncia leva assim
construo de uma reflexo crtica e construtiva das prticas na enfermagem, contribuindo
para o desenvolvimento dos cuidados mais adaptados em prol da qualidade de vida dos
utentes.
No desenvolvimento deste trabalho foram tidas em conta todas as questes ticas inerentes
salvaguarda do anonimato do contexto de pesquisa e dos participantes do estudo tendo os
participantes sido informados de todos os procedimentos e objetivos deste trabalho. Os
resultados obtidos atravs dos instrumentos de colheita de dados utilizados so de utilizao
exclusiva para este trabalho no sendo extrapolados a outros contextos de prestao de
cuidados.
Consideramos com este trabalho ter encontrado subsdios para o percurso formativo dos
estudantes no que diz respeito temtica dos Cuidados Continuados, na qual se evidencia a
necessidade de utilizao da PBE.
BIBLIOGRAFIA
Amendoeira, J. (1999). A formao em enfermagem. Que conhecimentos? Que contextos?.
Um estudo etnosociolgico. Dissertao de mestrado apresentada Faculdade de Cincias
Sociais e Humanas. Universidade Nova. Mimeografia (No publicado)
Amendoeira, J. (2000). Do meu doente aos doentes do servio. Aprender o cuidado de
enfermagem na interdisciplinaridade. Dissertao de provas pblicas para professor
coordenador na Escola Superior de Enfermagem de Santarm. Mimeografia (no publicado)
504
Amendoeira, J. (2006). Enfermagem, Disciplina do Conhecimento. Coimbra. Revista Sinais
Vitais, 67, 19p-27pp
Axelsson L., Bjorvell C., Mattiasson A-C. & Randers I. (2006). Swedish Registered Nurses
incentives to use nursing diagnoses in clinical practice. Journal of Clinical Nursing. 15, pp 936
pp 945.
Bardin, L. (2004). Anlise de contedo. 3 Ed. Lisboa: Edies 70
Bertrand, Y. (2001). Teorias Contemporneas da educao. Lisboa: Instituto Piaget.
Bronfenbrenner, U.; Morris, P. (1999). The Ecology of developmental Process. In: W. Damon
& R.M. Lerner.(Eds), Handbook of Child Psychology, 1, Theoretical Models of Human
Development, pp. 993-pp1028. New York: Wiley.
Bronfenbrenner, U. (2002). A ecologia do desenvolvimento humano: experimentos naturais
e planeados. Porto Alegre: Artmed.
Carlsson, E., Ehnfors, M., & Ehrenberg, A. (2010). Multidisciplinary recording and continuity
of care for stroke patients with eating difficulties. Journal of Interprofessional Care, 24(3), pp
298 pp 310.
Correia, J. (1995). A escola enquanto organizao qualificante: conferncia apresentada no
2 Workshop sobre o tema Actores, contextos e prticas da formao em enfermagem: que
problemas?. Organizao do Departamento dos Recursos Humanos da Sade. Coimbra: E S
E B Barreto, 29/11/1995.
Coutinho, C. (2005). Percurso da Investigao em Tecnologias Educativas em Portugal. Braga:
Universidade do Minho.
Ferreira, M. & Serra, F. (2009). Casos de estudo Usar, Escrever e Estudar. Lous: LIDEL -
Edies Tcnicas Lda
Fortin, M. (2009). O processo de investigao: da concepo realizao. Loures:
Lusocincia
Guidetti, S., Andersson, K., Andersson, M., Tham, K., & Von Koch, L. (2010). Client-centred
self-care intervention after stroke: A feasibility study. Scandinavian Journal of Occupational
Therapy, 17, pp 276 pp 285.
Helles, R. (2006). Information handling in the nursing discharge note. Journal of Clinical
Nursing, 15, pp 11 pp 21.
505
Lattimer, C. (2011). When it comes to transitions in patient care, effective comunication can
make all the difference. Journal of the American Society on Aging. (35) 1.
Leite, C. & Fernandes, P. (2003). Avaliao das aprendizagens dos alunos Novos contextos,
novas prticas. 2 ed. Porto: Edies ASA
McMurray A. , Johnson P., Wallis M., Patterson E. & Griffiths S. (2007). General surgical
patients perspectives of the adequacy and appropriateness of discharge planning to facilitate
health decision-making at home. Journal of Clinical Nursing 16, pp 1602 pp 1609.
Neuman, B. (1995). The Neuman Systems Model. Third Edition. USA: Library of Congress
Ordem dos Enfermeiros (2006). Investigao em Enfermagem. Tomada de Posio. Retirado
em 23 de Junho de 2010 web site
http://www.ordemenfermeiros.pt/tomadasposicao/Documents/TomadaPosicao_26Abr2006
.pdf
Ordem dos Enfermeiros (2009). Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados
Referencial do Enfermeiro. Conselho de Enfermagem: Ordem dos Enfermeiros
Pimenta, S. ; Ghedin, E. (2005). Professor reflexivo no Brasil: gnese e crtica de um conceito.
3. ed. So Paulo: Cortez
PORTUGAL. Ministrio da Sade. Decreto-Lei n101/2006. Criao da Rede Nacional de
Cuidados Continuados Integrados. Dirio da Repblica, Lisboa, I Srie A (109) 6 Junho. 2006.
Quivy, R. & Campenhoudt, L. (2003). Manual de Investigao em Cincias Sociais. 3 ed.
Lisboa : Gradiva.
Rebelo, M. (1996). Os discursos nas prticas de cuidados de enfermagem: contributo para
anlise das representaes sociais. Sinais Vitais. 9, Nov. pp. 13-18.
Rydeman, I. & Tornkvist, L. (2006). The patients vulnerability, dependence and exposed
situation in thedischarge process: experiences of district nurses, geriatric nurses and social
workers. Journal of Clinical Nursing. 15, pp 1299 pp 1307.
Rosnay, J. (1984). Os caminhos da vida. Coimbra: Livraria Almedina
Sackett, L. , Straus S. , Richardson, S. , Rosenberg, W. & Haynes, R. (2000). Evidence- based
medicine: how to practice and teach EBM. London: Chuechill Livingstone
Toro, A. (2001). Enfermera basada em la evidencia: como incorporar la investigacin a la
prctica de los cuidados. Granada: Fundacion Index
506
Unidade de Misso para os Cuidados Continuados Integrados (2009). Glossrio Rede
Nacional de Cuidados Integrados. Lisboa: Cuidados continuados Sade e apoio Social.
Wilson, R. (2012). Successful multidisciplinary team working: an evaluation of a Huntingtons
disease service. British Journal of Neuroscience Nursing, 8 (3), pp 137 pp 142.
Yin, R. (2007). Estudo de caso Planejamento e mtodos. 3 ed. Porto Alegre: Bookman
507
A VIVNCIA DA SEXUALIDADE DO CASAL DURANTE A AMAMENTAO
1
Escola Superior de Sade de Santarm Instituto Politcnico de Santarm
2
Escola Superior de Sade de Santarm Instituto Politcnico de Santarm
3
Mestrado em Enfermagem de Sade Materna e Obstetrcia, Escola Superior de Sade de Santarm
Instituto Politcnico de Santarm
RESUMO
A sexualidade relacionada com a amamentao uma temtica complexa e pouco
desenvolvida que implica um aprofundamento na investigao de modo a retratar a
evidncia cientfica de suporte ao desenvolvimento de intervenes de enfermagem de
sade materna, obsttrica e ginecolgica, adequadas e individualizadas para cada
situao especfica, tendo o casal como alvo e a adaptao do mesmo como foco da
prtica.
Atravs de uma reviso sistemtica da literatura, pretendeu-se compreender o significado
da sexualidade no casal durante a amamentao.
Para desenvolver a Prtica Baseada na Evidncia foi formulada uma pergunta PI[C]O:
Qual a interveno do enfermeiro (I), com o casal durante a amamentao (P), para
melhorar a sua vivncia da sexualidade (O). Foram definidos conceitos e realizada uma
pesquisa de artigos cientficos na EBSCOhost (entre 2008 e 2013), sendo selecionados
quatro estudos, segundo critrios definidos.
A evidncia demonstra existir uma relao de influncia da amamentao na vivncia da
sexualidade do casal e que a perspetiva de interveno do enfermeiro tem de considerar
os fatores culturais, sociais, fsicos, psicolgicos e ambientais, onde o casal se insere.
fulcral existir um maior investimento dos profissionais com os casais no sentido de
promover uma vivncia gratificante da sexualidade.
508
ABSTRACT
INTRODUO
O exerccio da atividade de enfermagem especializada conhece, nos dias de hoje, um
crescente desafio, quer em responsabilidade, quer nas exigncias que so colocadas ao
profissional. As rpidas mudanas da sociedade obrigam a um reposicionamento
constante, face s situaes com que os Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de
Sade Materna, Obsttrica e Ginecolgica (EEESMOG) se confrontam diariamente.
A dificuldade do homem ou da prpria mulher em compreender o papel de me e mulher
dentro do mesmo corpo, pode repercutir-se na sexualidade do casal e no aleitamento
materno. A mulher tem vivido numa sociedade em que a maternidade e o aleitamento
materno eram considerados como uma prtica mstica e sagrada. Contudo, as mamas
509
tornaram-se um grande objeto de erotizao na sociedade ocidental, sendo-lhes atribuda
grande importncia quanto ao seu papel de instrumento de prazer (MARQUES; LEMOS,
2010).
Procurou-se neste contexto uma melhoria da qualidade dos cuidados de enfermagem
especializados em Sade Materna, Obsttrica e Ginecolgica prestados com a
mulher/casal na sexualidade durante a amamentao, atravs de uma Prtica Baseada na
Evidncia para avaliar a prestao de cuidados e tomar decises fomentando uma prtica
de mudana que garanta melhores resultados.
AMAMENTAO
METODOLOGIA DE PESQUISA
Na formulao da questo de investigao, utilizou-se o mtodo designado de PI[C]O:
Participantes (e situao clnica), Interveno e Resultados (Outcomes) (MELNYK;
FINEOUT-OVERHOLT, 2005; VILELAS, 2009).
511
Esta Reviso Sistemtica da Literatura procurou assim dar resposta pergunta: Qual a
interveno do enfermeiro (I), com o casal durante a amamentao (P), para melhorar a
sua vivncia da sexualidade (O).
Para a identificao e seleo dos estudos relevantes a incluir na reviso, isolou-se os
conceitos referentes aos participantes, interveno e ao desenho dos estudos
pretendidos, de modo a definir um conjunto de sinnimos e de termos relacionados que,
por interseo, levou obteno da expresso de pesquisa estabilizada.
As palavras-chave que emergiram da pergunta PI[C]O Sexualidade, Amamentao e
Enfermagem foram validadas segundo os descritores de sade (em
URL:http://www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html [Consult. 2013-01-29]) de forma a
verificar a fiabilidade cientfica: 1- Breast Feeding; 2- Sexuality; 3- Nurs*.
Para dar resposta pergunta PI[C]O e tendo por base os conceitos anteriormente
conceptualizados, realizou-se a pesquisa na plataforma informtica da EBSCOhost das
palavras-chave, no dia 29 de janeiro de 2013, em quatro bases de dados (CINAHL Plus
with Full Text; MEDLINE with Full Text; Nursing & Allied Health Collection: Comprehensive
e MedicLatina).
512
Quadro II - Critrios de incluso/excluso para seleo dos artigos a estudar.
Critrios de Incluso Critrios de Excluso
Artigos em lngua inglesa, portuguesa, francesa ou Artigos em outras lnguas que no o ingls,
espanhola portugus, francs ou castelhano (por
incapacidade/desconhecimento do investigador
para traduzir outras lnguas
Artigos com co-relao com o objeto de estudo Artigos sem co-relao com o objeto de estudo
513
Quadro III - Resumo dos artigos filtrados.
Estudo 1 Estudo 2 Estudo 3 Estudo 4
Estudio comparativo Sexual Health during Men and Infant Female Sexual
y aleatorizado de la Pregnancy and the Feeding: Function during
visita puerperal en el Postpartum Perceptions of Pregnancy and
domicilio de la madre Embarrassment, after Childbirth
Ttulo y en el centro de Sexuality, and
salud Social
Conduct in White
Low-Income
British Men
FURNIELES-PATERNA; JOHNSON (2011) HENDERSON; SERATI;
HOYUELOS-CMARA; USA MCMILLAN; SALVATORE;
MONTIANO-RUIZ; GREEN; RENFREW SIESTO; CATTONI;
Autor/Ano/Pa
PEALVER-JULVE; (2011) ZANIRATO;
s
FITERA-LAMAS Inglaterra KHULLAR; CROMI;
(2011) Espanha GHEZZI; BOLIS,
(2010) Inglaterra
Prospectivo, Reviso Literatura Qualitativo Reviso Literatura
Orientao
comparativo, e
Metodolgica
Quasi-experimental
Mulheres primparas Casais Os participantes Mulheres/casais
com alta precoce eram homens
(primeiras 72 horas) britnicos
ps-parto, que brancos, com
Participantes assistidas no Hospital idade entre 16 e
Universitario La Fe 45 anos e inclua
em Valncia ou no pais, pais
Hospital Geral de expectantes e
Castelln potenciais pais.
Grupo experimental Pesquisa na Foram realizados Pesquisa no
formado por 100 MEDLINE e PubMed cinco grupos com PubMed sobre
mulheres com de publicaes homens com funo sexual
primeira visita ps- relevantes sobre os baixo rendimento durante a gravidez
parto em casa e efeitos da gravidez e (n = 28), vivendo e ps-parto,
grupo controle de do parto na sade em reas de publicados a
100 mulheres com sexual, com privao social em partir de 1960 at
primeira consulta particular nfase Leeds na 2009, palavras-
ps-parto no Centro para as alteraes Inglaterra e reas chave:
de Sade. fsicas, hormonais, de baixo sex/sexuality/
psicolgicas, sociais rendimento de sexual
e culturais que Glasgow, oeste da intercourse/sexua
podem ocorrer no Esccia. l function/sexual
Interveno
pr, parto e ps- Os trs primeiros dysfunction and
parto. grupos realizados pregnancy/
em reas de baixo cesarean section
rendimento de /puerperium/
Glasgow foram a postpartum/
amostra. delivery/childbirth
/lactation/breast-
feeding.
Artigos relevantes
(N=48), sobre a
funo sexual
feminina, aps o
parto (N=29).
Evidncia VI I VI I
514
DA EVIDNCIA PARA A PRTICA UM CAMINH A TRANSITAR
515
Na mesma linha de pensamento o estudo de SERATI et al (2010) reafirmou que apesar de
poucos estudos e a maior parte antigos reportarem um aumento do desejo sexual e
erotismo durante a amamentao, por causa do aumento do tamanho, sensibilidade e
estimulao direta das mamas, artigos mais recentes contradisseram por completo estes
achados. De facto, os dados encontrados na maioria dos estudos analisados na reviso
sistemtica esto substancialmente de acordo com a concluso que a amamentao
significativamente associada com a dispareunia ps-parto, tendo sido mesmo confirmada
como a nica causa para a persistncia da mesma aos seis meses aps o parto e sendo a
causa para o adiamento do retorno da funo sexual aps o parto.
Constatou-se que apesar das evidncias anteriormente encontradas serem na sua maioria
de ndole fisiolgica, consideradas mais objetivas e mais fcil de serem tidas em conta
pelos profissionais, na prtica, continuam a no ser valorizadas e abordadas. O EEESMOG
ao basear a sua praxis clnica em slidos e vlidos padres de conhecimento da
especialidade, assentando os processos de tomada de deciso e as intervenes, em
padres de conhecimento (cientfico, tico, esttico, pessoal e de contexto sociopoltico)
atuais e pertinentes, pode e deve ter um papel fulcral na gesto do processo de cuidados,
exigindo-se que realize uma avaliao e interveno globalizante, mas adequada
individualidade da mulher/casal. Com competncia para gerir os cuidados, pode garantir
a otimizao da resposta da equipa de enfermagem e seus colaboradores e a articulao
na equipa multiprofissional (REGULAMENTO n 122/2011).
Ainda segundo a reviso de JOHNSON (2011), as alteraes na funo sexual no ps-parto
afeta o casal, ao invs de apenas o indivduo e independentemente da etiologia pode
afetar negativamente o parceiro sexual. Esta fase transacional que envolve significativas
mudanas fsicas, hormonais, psicolgicas, sociais e culturais, pode influenciar a
sexualidade individual, mas tambm a sade sexual e relacionamento do casal.
Do mesmo modo SERATI et al (2010), referiram que a funo sexual uma parte
fundamental da personalidade de cada ser humano e um ponto fulcral no relacionamento
global do casal, com um bvio impacto na qualidade de vida. Esta fase de transio
determina uma mudana de papis e competncias de somente companheiros para pais,
sendo um potencial momento de crise para qualquer casal. Portanto, indispensvel uma
definio adequada do que atualmente se entende por sexualidade "normal" no ps-
parto. Os casais devem ser informados sobre o declnio da libido, desejo e orgasmo,
516
comumente encontrado durante a gravidez e puerprio, que pode levar a reduo na
frequncia das relaes sexuais. Tambm MALINOWSKI citado por SERATI et al (2010, p.
2789) considera que Sex is rather a sociological and cultural force than a mere bodily
relation of two individuals assim, durante o puerprio, um aconselhamento sexual
exaustivo e multidisciplinar, fornecido por todos os profissionais envolvidos
(ginecologistas, parteiras, psiclogos e sexlogos) considera-se til para melhorar a sade
sexual dos casais.
Neste sentido, considera-se que na PEE no Centro de Sade (CS)/Unidades de Sade
Familiar, os cuidados so e devem continuar a ser prestados segundo as orientaes do
Programa de Sade Reprodutiva e Planeamento Familiar, em equipa multiprofissional,
com motivao e iniciativa que garanta um atendimento imediato, encaminhamento
adequado e consulta de planeamento familiar.
Tambm JOHNSON (2011) defendeu que o ideal no perodo ps-parto uma abordagem
multidisciplinar de ginecologistas, urologistas e parteiras para proporcionar
aconselhamento na sade sexual. Mas na generalidade das realidades dos contextos da
prtica, isso pode no ser a abordagem mais prtica ou econmica. Nestas circunstncias,
os profissionais devem incorporar aconselhamento especfico/orientao antecipatria
sobre as mudanas esperadas na sade sexual das mulheres e seus parceiros, durante os
cuidados do ps-parto.
De acordo com a evidncia e analisando a PEE, considera-se que os profissionais de sade
no discutem suficientemente o tema da sexualidade com o casal, abordando apenas o
aconselhamento contracetivo. Ao EEESMOG atribuda a responsabilidade pelo exerccio
da sua atividade de interveno, no mbito da comunidade na assistncia s
mulheres/casal no ps-parto, atuando no ambiente em que vivem e se desenvolvem, no
sentido de promover a sade sexual e reprodutiva. No entanto, considera-se que na PEE
torna-se fundamental intervir e aperfeioar a competncia cuidar a mulher/casal inserido
na famlia e comunidade durante o perodo ps-parto, no sentido de apoiar o processo de
transio e adaptao parentalidade, informando e orientando sobre sexualidade,
mantendo tambm por esta forma o apoio na manuteno do aleitamento materno
(REGULAMENTO n 127/2011). Mas para que estas competncias sejam concretizadas na
sua plenitude, imprescindvel que o EEESMOG demonstre disponibilidade, capacidade
de escuta ativa, falar com naturalidade de sexualidade e que promova a privacidade e
517
confidencialidade durante a sua interveno com o casal, para que se estabelea uma
efetiva relao teraputica que tenha em conta o respeito pelos valores, costumes e
crenas dos mesmos.
A deciso de retomar a relao sexual aps o parto deve ser feita mutuamente entre a
mulher e o seu parceiro, embora o momento em que se pode retomar o coito com
segurana aps o parto desconhecido, mas os riscos de hemorragia e infeo so
mnimos a partir das duas semanas aps o parto. Os profissionais geralmente
recomendam que as mulheres podem considerar retomar as relaes sexuais seis
semanas aps o parto, que normalmente aps a sua primeira consulta ps-parto, que
permite tempo suficiente para a cicatrizao da sutura vaginal/perineal (JOHNSON, 2011).
Os mesmos autores apresentaram ainda a ideia que essencial que os casais tambm
reconheam que a sexualidade inclui uma grande variedade de expresso, no tem que
necessariamente incluir somente o coito vaginal. Discutir alternativas para o coito e
reconhecer a importncia de manter a intimidade, pode permitir que os parceiros
descubram novas e satisfatrias maneiras de expressar a sexualidade. Mas quando
retomam a relao sexual, devido ao baixo nvel de progesterona, as mulheres e seus
parceiros podem usar rotineiramente um lubrificante vaginal. Posies sexuais que
permitem a penetrao superficial ou dar mulher maior controle sobre a profundidade
de penetrao vaginal (ou seja, mulher-on-top) podem ser benficas.
Da PEE constata-se que o aconselhamento mulher/casal baseia-se essencialmente no
reincio do coito vaginal a partir das seis semanas ps-parto, justificando com a
importncia da avaliao na consulta de reviso de puerprio, no se avaliando as
necessidades especficas do casal em retomar antes ou depois dessa altura, de acordo
com as suas condies fsicas e psicolgicas, fazendo muitas vezes juzos de valor e no
tendo em conta a evidncia cientfica. Reala-se a necessidade do EEESMOG de promover
cuidados antecipatrios, que podem comear na gravidez e continuar no ps-parto,
acerca das alteraes possveis nesta fase e como proceder no sentido da sua
minimizao/adaptao. Denota-se tambm que nem sempre incentivada a expresso
da sexualidade do casal no seu todo, sendo muitas vezes atribuda relao sexual
apenas o coito.
Uma outra estratgia de interveno neste perodo foi aprofundada no estudo de
FURNIELES-PATERNA et al (2011), que evidenciou as vantagens da visita domiciliria
518
realizada por parteiras no ps-parto nas 48h aps a alta hospitalar, perante a consulta de
ps-parto no CS, ao ser associada a um alto grau de satisfao e aquisio de
conhecimentos maternos com a assistncia recebida e a um grau menor de abandono
precoce da amamentao, que foi seis vezes menos do que no grupo com consulta no CS.
Com a visita domiciliria ps-parto foi referido um maior grau de informao sobre
sexualidade, retoma da atividade sexual e contraceo no puerprio.
Subscreve-se inteiramente que as visitas domicilirias que na PEE so realizadas na
primeira semana ps-parto se traduzem numa estratgia eficaz de interveno nesta
rea, por tudo o que a evidncia demonstra.
CONCLUSO
Apesar de sempre presente na histria da humanidade, a temtica da sexualidade
continua a carecer de estudos de investigao, e na interface da sexualidade com a
amamentao este aspeto ainda se tornou mais patente, para dar resposta s
necessidades dos casais e profissionais.
Constatou-se que as taxas de prevalncia do aleitamento materno continuam baixas,
tornando-se fundamental investigar as atitudes/crenas dos pais para compreender estes
aspetos, uma vez que estas representaes culturais so amplamente assumidas como
tendo um papel vital a influenciar as escolhas de alimentao infantil, mas poucos
estudos tm especificamente explorado esta vertente.
Existem percees culturais da amamentao como uma atividade sexual, considerando-
se neste sentido necessrias mudanas socioculturais, no intuito de criar um ambiente
em que as mulheres fiquem habilitadas a amamentar e homens habilitados a apoi-las.
A evidncia tambm refere que existe controvrsia sobre o aumento do desejo sexual e
erotismo durante a amamentao, no entanto, a maioria dos estudos e os mais recentes
consideram que as alteraes hormonais nesta fase provocam dispareunia, influenciando
negativamente a sexualidade. Contudo a funo sexual dependente mais de fatores
psicolgicos do que orgnicos.
As alteraes na funo sexual no ps-parto afetam o casal, ao invs de apenas o
indivduo. Torna-se ento importante ter em conta esta fase transacional que envolve
significativas mudanas fsicas, hormonais, psicolgicas, sociais e culturais, que
519
influenciam a sexualidade individual, mas tambm a sade sexual e relacionamento do
casal.
A Reviso Sistemtica da Literatura apresenta ainda a ideia de que essencial que os
casais tambm reconheam que a sexualidade inclui uma grande variedade de expresso,
no tem que necessariamente incluir somente o coito vaginal.
Da PEE constatou-se que o aconselhamento mulher/casal baseia-se essencialmente no
reincio do coito vaginal a partir das seis semanas ps-parto, no se avaliando a
individualidade do casal, fazendo juzos de valor e no tendo em conta a evidncia
cientfica, que contraria esta rotulagem para todos os casais e que em termos fsicos pode
ser possvel a partir das duas semanas ps-parto e em termos psicolgicos quando o casal
se sentir preparado.
Os enfermeiros entendem o sentido amplo que a sexualidade representa e a relao que
tem com a amamentao, porm no a abordam ao cuidarem da mulher/casal em
processo de amamentao. evidente a partir da literatura publicada sobre o assunto,
que os profissionais de sade no fornecem informaes suficientes ao casal sobre a
influncia que a amamentao tem no seu relacionamento sexual. Mas reconhece-se que
fundamental um trabalho em equipa multidisciplinar na sade sexual e reprodutiva,
para dar uma resposta efetiva e de qualidade.
Foram ainda encontrados dados publicados de que existem vantagens significativas na
realizao de visita domiciliria realizada por EEESMOG no ps-parto, perante a consulta
de ps-parto no CS, existindo um maior grau de informao sobre sexualidade, retoma da
atividade sexual e contraceo nesta fase, o que valida a PEE.
Prope-se ento que na PEE a interveno dos enfermeiros, se for detetada a
necessidade e pretendido pelos casais, aborde os seguintes pontos: histria sexual da
mulher e/ou casal, de forma geral; histria da mulher sobre o desenvolvimento da mama;
o significado ertico da mama para a mulher e/ou casal; a viso esttica da mulher sobre
a mama antes da amamentao; as fantasias, sentimentos e percees sobre as
mudanas estticas durante e aps a amamentao; sensaes da mulher durante a
mamada; como a mulher e companheiro pensam a relao entre sexualidade e
amamentao e quando o caso, como decorreram as amamentaes anteriores na
implicao com a sexualidade. E como orientaes antecipatrias: possibilidade de a
mulher sentir excitao sexual durante a amamentao e a normalidade desse facto;
520
possibilidade de ejeo de leite durante a excitao sexual e o orgasmo e formas de lidar
com o facto; normalidade tanto da diminuio como do aumento de desejo sexual
durante a amamentao; diminuio da lubrificao vaginal devido a questes hormonais
e no necessariamente a falta de desejo; formas de lidar com a falta de lubrificao
vaginal; importncia de o casal dialogar abertamente sobre as sensaes e sentimentos
de cada um e principalmente, sobre a transitoriedade desses fenmenos.
Investigao sobre os efeitos do perodo ps-parto, no mbito da sexualidade e
amamentao, necessria para que os enfermeiros adquiram e desenvolvam
competncias e desta forma sejam capazes de fornecer informao atualizada e baseada
em evidncias cientficas.
BIBLIOGRAFIA
FLORENCIO, Alessandra; VAN DER SAND, Isabel Cristina Pacheco; CABRAL, Fernanda
Beheregaray, COLOM, Isabel Cristina dos Santos, GIRARDON-PERLINI Nara Marilene
Oliveira - Sexualidade e amamentao: concepes e abordagens de profissionais de
enfermagem da ateno primria em sade. Rev Esc Enferm USP. [Em linha]. (2012)
[Consult. 2013-01-29]. Disponvel em WWW:URL:
http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v46n6/06.pdf.
FURNIELES-PATERNA, Ester; HOYUELOS-CMARA, Haima; MONTIANO-RUIZ, Isabel;
PEALVER-JULVE, Nieves; FITERA-LAMAS, Laura - Estudio comparativo y aleatorizado de
la visita puerperal en el domicilio de la madre y en el centro de salud. Matronas
Profesin. [Em linha]. (2011) [Consult. 2013-01-29]. Disponvel em WWW:URL:
http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=c0b47133-9f48-41cf-8d65-
838a76e72c77%40sessionmgr11&vid=5&hid=19
HENDERSON, Lesley; MCMILLAN, Brian ; GREEN, Josephine M.; RENFREW; Mary J. - Men
and Infant Feeding: Perceptions of Embarrassment, Sexuality, and Social Conduct in White
Low-Income British Men. Birth: Issues in Perinatal Care. [Em linha]. (2011) [Consult.
2013-01-29]. Disponvel em WWW:URL:
http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?sid=c4b15040-90d2-4c70-bc29-
58afecba4ef9%40sessionmgr111&vid=5&hid=108
JOHNSON, Crista E. - Sexual Health during Pregnancy and the Postpartum. Journal of
Sexual Medicine. [Em linha]. (2011) [Consult. 2013-03-18]. Disponvel em WWW:URL:
521
http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=6&sid=b45eb71f-5d25-4086-
b0eb-2c179670b082%40sessionmgr115&hid=9
MARQUES, Danielle Moreira; LEMOS, Adriana - Sexualidade e amamentao: dilemas da
mulher/me. Revista de enfermagem UFPE online. [Em linha]. (2010) [Consult.
06.03.2013]. Disponvel em WWW:URL:
http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/806/pdf_
50
MEIGHAN, Mary Molly Consecuso do Papel Maternal. In: Tericas de Enfermagem e a
Sua Obra. Loures: Lusocincia, 2004. ISBN 972-8383-74-6. p. 521-541
MELEIS, Afaf Ibrahim; SAWYER, Linda M.; IM, Eun-Ok; MESSIAS, DeAnne K.;
SCHUMACHER, Karen - Experiencing Transitions: An Emerging Middle-Range Theory.
Advances in Nursing Science. [Em linha]. N 23 (2000) [Consult. 2013-01-29]. Disponvel
em WWW:URL:
http://journals.lww.com/advancesinnursingscience/Fulltext/2000/09000/Experiencing_Tr
ansitions__An_Emerging_Middle_Range.6.aspx
MELNYK, Bernadette Mazurek; FINEOUT-OVERHOLT, Ellen - Rapid Critical Appraisal of
Randomized Controlled Trials (RCTs): An Essential Skill for Evidence-Based Practice (EBP).
Pediatric Nursing. New Jersey: Anthony J. Jannetti, Inc. 31 (2005) p. 50-52
ORDEM DOS ENFERMEIROS - Regulamento dos Padres de Qualidade dos Cuidados
Especializados em Enfermagem de Sade Materna, Obsttrica e Ginecolgica. Lisboa:
Ordem dos Enfermeiros, 2011. 16 p.
REGULAMENTO n 122/2011. "DR II Serie". 35 (2011-02-18) 8648-8653
REGULAMENTO n 127/2011. "DR II Serie". 35 (2011-02-18) 8662-8666
SANDRE-PEREIRA, Gilza - Amamentao e sexualidade. Florianpolis: Estudos
Feministas. [Em linha]. N 11 (2003) [Consult. 2013-01-29]. Disponvel em WWW:URL:
http://www.scielo.br/pdf/ref/v11n2/19132.pdf
SERATI, Maurizio; SALVATORE, Stefano; SIESTO, Gabriele; CATTONI, Elena; ZANIRATO,
Mara; KHULLAR, Vik; CROMI, Antonella; GHEZZI, Fabio; BOLIS, Pierfrancesco - Female
Sexual Function during Pregnancy and after Childbirth. Journal of Sexual Medicine. [Em
linha]. (2010) [Consult. 2013-03-18]. Disponvel em WWW:URL:
http://web.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=6&sid=b45eb71f-5d25-4086-
b0eb-2c179670b082%40sessionmgr115&hid=9
522
SPENCER, Rachael Louise - Research methodologies to investigate the experience of
breastfeeding: A discussion paper. International Journal of Nursing Studies. Philadelphia:
Elsevier Ltd. 45, (2008) p.1823-1830.
523
CURRICULA DE ENFERMAGEM (1 E 2 CICLO) DA CONCEO MOBILIZAO DA
PROMOO DA SADE NOS CONTEXTOS DE APRENDIZAGEM
O estudo foi realizado em duas escolas superiores de sade, que por razes ticas no podem ser
identificadas.
RESUMO
Este artigo apresenta o roteiro de um estudo de caso sobre a Promoo da Sade nos
curricula de Enfermagem, com a finalidade de construir uma teoria explicativa,
respondendo s questes: Qual a mobilizao do conhecimento pelos professores na
conceo, desenvolvimento e avaliao curricular da Promoo da Sade? Quais os
sentidos atribudos pelos estudantes aprendizagem da Promoo da Sade?
A Promoo da Sade desenvolve-se em diferentes ambientes, onde a sade
experienciada e construda pelas pessoas. As Instituies de Ensino Superior Promotoras
de Sade assumem a responsabilidade da Promoo da Sade, numa dinmica escola-
meio, contribuindo para a construo do conhecimento num mundo globalizado,
preparando os estudantes como cidados nas suas organizaes e comunidades (Carta de
Edmonton, 2005).
Desenvolveu-se um estudo multicasos (Yin,2003) e etnogrfico (Streubert, Carpenter,
2011) utilizando como tcnicas de colheita de dados: anlise documental dos currculos
de enfermagem e trabalhos desenvolvidos pelos estudantes, observao participante dos
estudantes em contexto de ensino clnico e entrevistas etnogrficas a professores com
quatro ou mais anos de servio e estudantes do 1 e 2 ciclos.
Da anlise dos dados emergiram trs temas: aprendizagem da promoo da sade
centrada nos estudantes; interveno contextualizada no domnio da promoo da sade
e Profissionalidade docente.
524
ABSTRACT
This article presents the script of a case study on Health Promotion in Nursing curricula ,
in order to build an explanatory theory , answering the questions : What is the
mobilization of knowledge by teachers in the design , development and evaluation of
curriculum Promotion health ? What are the meanings attributed to learning by students
of Health Promotion ?
Health Promotion developed in different environments , where health is experienced and
constructed by people. The HEI Health Promoting assume responsibility for Health
Promotion , a dynamic middle - school , contributing to the construction of knowledge in
a globalized world , preparing students as citizens in their organizations and communities
( Charter of Edmonton , 2005) .
We developed a multi-case study (Yin , 2003 ) and ethnographic ( Streubert , Carpenter ,
2011) using techniques such as data collection: document review of nursing curricula and
work by students , participant observation of students in the context of clinical teaching
and ethnographic teachers with four or more years of service and students of the 1st and
2nd cycles interviews .
Analysis of the data revealed three themes : learning from health promotion student-
centered , contextualized intervention in the field of health promotion and teaching
Professionalism .
INTRODUO
A nossa reflexo para a inteno de estudar a Promoo da Sade (PrS) nos curricula de
enfermagem decorre por um lado, da formao adquirida aquando do mestrado em
Sade Escolar, onde as dimenses da PrS foram abordadas ampliando o corpo de
conhecimentos e a motivao para esta rea de pesquisa. Aquando da investigao
realizada (Pereira, 2000) foi constatado que os enfermeiros para alm de confundirem os
conceitos de PrS e Educao para a Sade (EpS) tinham uma relao de poder e
verticalidade com os pais das crianas e no uma relao de capacitao e habilidades
525
para a tomada de deciso em sade, o que tem feito pensar se a PrS faz parte do
currculo do curso de enfermagem, quais e como so os contedos abordados e como
feita a transposio pelos estudantes, para a prtica de cuidados. Tambm, o ser
professora numa escola superior de sade, no domnio da enfermagem, tem mostrado as
dificuldades que se colocam aos estudantes em situao de cuidados, numa lgica de
dizer s pessoas como fazer centrando-se nos modelos de categorizao e integrao, nas
intervenes de enfermagem.
Organizaes profissionais como o Royal College of Nursing do Reino Unido, identificam
que os enfermeiros so os profissionais de sade mais favorveis ao desenvolvimento da
PrS junto das populaes, referindo que os enfermeiros tm um enorme potencial como
agentes no controle social e bem-estar, e o Royal College Of Nursing Austrlia (2000), diz
que os enfermeiros esto bem posicionados pela sua formao e acesso comunidade
pela prestao de cuidados, e constituem o maior grupo profissional da sade com
grande visibilidade e credibilidade na comunidade.
A Ordem dos Enfermeiros em Portugal (2003) no mbito do exerccio profissional e das
competncias dos enfermeiros de cuidados gerais e cuidados especializados em
enfermagem comunitria e de sade pblica, enfatiza o contributo dos enfermeiros na
PrS, ajudando os clientes a alcanarem o mximo potencial de sade.
A Organizao Mundial de Sade (OMS) tem desenvolvido esforos no sentido que as
pessoas desenvolvam a sua cidadania na sade, atravs de vrias conferncias,
declaraes, cartas, relatrios, desde a conferncia em Ottawa (1986), cujo contedo
direciona o conceito de PrS e formao para a prtica de sade pblica; afasta os modelos
dominantes de EpS da mudana comportamental individual para uma vertente scio
ecolgica da PrS; redefiniu os pressupostos e o mbito dos objetivos da prtica de PrS;
desenvolveu um novo discurso de PrS indo alm do estilo de vida individual para o bem-
estar, dando relevncia capacitao e participao da comunidade (Whitehead, 2009).
A Declarao de Munich (WHO, 2000) props a incluso explcita da PrS em todos os
curricula de enfermagem, mas o pedido nem sempre, foi atendido, sendo os elementos
mais amplos da PrS mutados pela comparao com a abordagem tradicional da EpS.
(Whitehead, 2006).
Por outro lado, as instituies de ensino superior devem ser promotoras de sade e ser
modelo de mudana na PrS (Tsouros et al, 1998).
526
Assim a formao dos estudantes de enfermagem deve focar-se no apenas nos
conhecimentos e nas aptides, mas tambm nas atitudes relacionadas com o
empowerment, enquanto eixo central da PrS, contribuindo para o aumento da
autoestima e da capacidade de tomadas de deciso das pessoas (Morrondo, 2000), no
sentido no s de promover a sade, mas melhorar a qualidade de vida, ou seja, preciso
capacitar os estudantes para que eles como futuros enfermeiros, sejam promotores de
sade no sculo XXI e responder s exigncias deste mesmo sculo. Isto impe que os
professores abandonem o paradigma da abordagem tradicional de EpS, centrada na
transmisso de conhecimentos e preveno de doenas, para um paradigma de
abordagem construtivista de empowerment das pessoas (Liimatainen, et al., 2001;
Whitehead, 2009).
A evidncia cientfica aponta que a enfermagem ainda tem um longo caminho a percorrer
para dar o seu contributo para a realizao e operacionalizao da PrS, sendo que alguns
autores justificam este acontecimento pela falta de uma posio clara, conceptual e
epistemolgica (Casey, 2007; Irvine, 2007; Holt; Warne, 2007; Piper, 2008). Outros
salientam a falta de ao na compreenso da PrS, falta de formao, falta de vontade
poltica ou ao na profisso. (Caelli et al, 2003; Rush et al, 2005; Kelly; Abraham, 2007).
McMurray (2007) afirmou que os compromissos fundamentais da PrS constituem um
princpio chave do desenvolvimento global, e so altamente exigentes e polticos,
mostrando-se preocupada com a formao dos enfermeiros, questionando se a
enfermagem est preparada para dar resposta reforma da PrS.
Whitehead (2007) defende que a PrS deveria constituir um grande tema visvel nos
curricula de graduao e de ps-graduao, a fim de produzir profissionais com
capacidade e credibilidade aos olhos da comunidade cientfica de PrS.
Por outro lado, numa RSL desenvolvida no mbito da tese de doutoramento em
enfermagem, autores nacionais (Carvalho, 2007) e internacionais (Poskiparta, 2000;
Liimatainen, et al 2001; Silva et al, 2007; 2009; Whitehead, 2006; Holt;Warne, 2007;
Falcn et al, 2008; Baldi, 2006) sugerem recomendaes para a construo e
desenvolvimento curricular da PrS, bem como a necessidade de investigao neste
mbito (Figueiredo; Amendoeira, 2011).
A PrS nos curricula de enfermagem uma matria pouco estudada em Portugal e com a
formao avanada (mestrados e doutoramentos) em diferentes reas disciplinares,
527
torna-se imperioso o conhecimento nesta rea, atravs da investigao, para o
desenvolvimento da enfermagem enquanto disciplina e enquanto profisso.
Foi selecionado, para a conceptualizao do estudo o modelo de PrS de Nola Pender
(2006) que identifica os fatores cognitivos e percetivos como os principais determinantes
no comportamento de PrS. Um outro conceito mobilizado pela autora o de autoeficcia
percebida, como sendo o julgamento da capacidade pessoal para organizar e executar um
comportamento de PrS. A autoeficcia percebida influencia as barreiras percebidas
ao e por conseguinte a mudana comportamental do sistema.
Assim sendo, perspetiva-se que o cliente de cuidados na comunidade, qualquer que seja
o sistema que influencie ou seja influenciado, possa melhorar o seu nvel de bem-estar,
implicando um compromisso e responsabilizao de todos os sistemas em interao,
assim como a perceo dos benefcios para o sistema cliente/indivduo, famlia, grupo ou
comunidade.
Um outro modelo selecionado foi o modelo sistmico de Neuman (1995) que v o cliente
como um sistema aberto que responde a stressores no ambiente. As variveis de cliente
so fisiolgicas, psicolgicas, socioculturais, de desenvolvimento e espirituais. O sistema
cliente constitudo de uma estrutura de base ou um ncleo que protegido por linhas
de resistncia. O nvel habitual de sade identificado como a linha normal de defesa
que protegido por uma linha flexvel de defesa. Os stressores so intra, inter e
extrapessoal e quando estes rompem a linha flexvel de defesa, o sistema invadido e as
linhas de resistncia so ativadas indo o sistema na direo da doena. Se houver energia
suficiente, o sistema ser reconstitudo com a linha normal de defesa restaurada. As
intervenes de enfermagem ocorrem atravs dos nveis de preveno, cujo objetivo dos
enfermeiros ajudar as pessoas a ficar em equilbrio.
Estes dois modelos vo permitir aos estudantes compreender e evidenciar a forma como
o fenmeno da PrS se desenvolve, olhando a pessoa, como um ser holstico em
desenvolvimento com capacidades para aprender e tomar decises no processo de
cuidados.
Foi tambm mobilizado o modelo bioecolgico de desenvolvimento humano de
Bronfenbrenner (1998), na medida em que se considera aspetos dos contextos de
aprendizagem dos estudantes, as relaes e as pessoas que deles fazem parte, como
relevantes para os processos de desenvolvimento e aprendizagem. Neste modelo o autor
528
salienta os processos e os elementos multidirecionais inter-relacionados: PPCT (Pessoa-
Processo-Contexto-Tempo), que se constituem como promotores de desenvolvimento
humano quando conjugados entre si. Neste sentido para que os estudantes possam
desenvolver melhor as suas competncias em PrS, os curricula devem contemplar estes
elementos e em contextos diversificados, ao longo da formao bsica e da formao
especializada.
Mobilizou-se ainda como referncia para este estudo os conhecimentos cientficos sobre
PrS e EpS , de Whitehead, enfermeiro, doutorado em PrS, mais concretamente sobre a
Epistemologia da Promoo da Sade em Enfermagem.
Sendo a PrS o processo de capacitao das pessoas e comunidade para atuar na melhoria
da sua qualidade de vida e sade, agindo sobre os determinantes da sade, incluindo
uma maior participao dos cidados no controle deste processo (Carta de Ottawa, 1986),
implica que os estudantes desenvolvam conhecimentos de PrS, numa abordagem
ecolgica, tendo em conta os sete princpios da PrS preconizados pela OMS: conceo
holstica, intersetorialidade, empowerment, participao social, equidade, aes multi -
estratgicas e sustentabilidade (WHO, 1998; Carta de Ottawa, 1986; bem como
estratgias bsicas: advocacia, capacitao /conscincia crtica, confiana, negociao e
mediao (Carta de Ottawa, 1986; Hermansson ; Martensson, 2010; McCarthy; Freeman,
2008).
com base em todos estes fundamentos que se est a desenvolver o estudo no mbito
do doutoramento em enfermagem, procurando dar resposta s questes apresentadas,
com os objetivos de analisar os curricula de enfermagem; analisar o conhecimento dos
professores sobre a PrS na conceo, desenvolvimento e avaliao curricular e identificar
os sentidos que os estudantes atribuem aprendizagem da PrS e por isso considermos
no estudo desta problemtica - os estudantes e os professores como participantes,
procurando-se compreender os sentidos atribudos pelos estudantes aprendizagem da
PrS, atravs da transposio teoria/pratica, mas tambm no modo de interao com as
pessoas tendo em conta o ambiente de cuidados. Procurou-se igualmente compreender a
mobilizao do conhecimento pelos professores no mbito da PrS, atravs das
entrevistas.
529
MATERIAIS, MTODOS E PROCEDIMENTOS
O estudo foi efetuado com os estudantes de 1 e 2 ciclo de duas escolas superiores de
sade, (A e B) em contexto de estgio: o 1 ciclo nos contextos de Obstetrcia e Pediatria
e nos ACES (agrupamentos de centros de sade) e os estudantes de 2 ciclo nos ACES. Foi
selecionado o contexto comunitrio, porque da resultam uma diversidade de
experincias, no s com o individuo, mas tambm com a famlia e grupos, referindo os
estudantes que a experiencia de PrS na comunidade mais facilitadora, porque h mais
tempo para discutir os fatores que influenciam a sade e as pessoas esto mais
confortveis e mais abertas discusso (Holt; Warne, 2007). Foram tambm selecionados
os contextos de Pediatria e Obstetrcia, pois a permanncia dos pais na pediatria, para
alm de diminuir a angstia da criana e de fortalecer os vnculos entre os pais e filhos,
propicia o desenvolvimento da EpS (Issi, et al 2005). Por outro lado, a gravidez e o
nascimento de uma criana revestem-se de uma recetividade especfica, tornando os
indivduos especialmente motivados para a aquisio de conhecimentos(Cardoso, 2006,
p.34).
O estudo foi igualmente efetuado com professores com quatro ou mais anos de servio -
fase da estabilizao - em que os professores esto numa fase de consolidao e de uma
maior afirmao do EU, havendo um sentimento de pertena a um corpo profissional
e um sentimento de competncia pedaggica crescente (Abraho, 2008), que
lecionassem contedos de PrS e/ou os que orientassem estgios nos contextos referidos.
Para o desenho do estudo e seguindo um paradigma qualitativo de investigao,
selecionou-se o estudo de caso (multicasos) e etnogrfico.
Como tcnicas de colheita de dados para a obteno de mltiplas fontes de evidncia,
conforme descrito por Yin (2003); Calado; Ferreira (2005), optou-se por: anlise
documental, observao participante com notas de campo e entrevista etnogrfica para
obter informao de natureza diversa e posteriormente fazer comparaes entre os
dados, recorrendo triangulao, para robustez da anlise (Yin, 2002, 2003; Calado;
Ferreira, 2005; Stake, 2007; Arajo et al, 2008).
Para a anlise documental comeou-se por analisar os curricula de enfermagem, dos
cursos do CMEC, CPLEEC e numa das escolas o currculo do curso de mestrado de EpS,
com o objetivo de, identificar os contedos explcitos e implcitos de PrS, as polticas de
base definidas e os referenciais tericos em que assentam a formao. Com o mesmo
530
propsito solicitou-se o acesso aos documentos operacionais do ensino terico e clinico
produzidos pelos professores. Da anlise retiraram-se alguns indicadores que nos
permitiram planear a consulta de documentos produzidos pelos estudantes, bem como
elaborar os guies de observao participante e entrevista para um melhor
aprofundamento e interpretao dos dados colhidos nesta primeira fase.
A observao participante constituiu-se como uma das tcnicas mais relevantes no
trabalho de campo, nos momentos de interao e cuidados prestados pelos estudantes e
as notas de campo serviram de referncia, a posteriori, para reorganizar os factos, o mais
fieis possvel (Spradley, 1980; Flick, 2005; Laperrire, 2003; Jaccoud; Mayer, 2010). Elas
foram numa fase inicial de natureza descritiva: descrio dos lugares, pessoas e dos
acontecimentos, ambiente, reconstruo dos discursos, interaes, atividades e
comportamentos dos atores, que possibilitaram a presena no terreno, passando depois
a analticas: incidindo sobre o percurso no terreno memos com reflexes sobre o vivido,
reflexes pessoais sobre o desenrolar quotidiano da investigao. As notas tericas
visando essencialmente a construo da interpretao terica da situao em estudo,
definindo novas pistas de observao e de anlise, o que permitiu ir introduzindo
alteraes ao guio de observao, tendo em conta o objeto de estudo, formulando
novas questes estruturais. Partimos assim de uma observao descritiva para uma
observao seletiva (Spradley,1980).
Observao descritiva: correspondeu fase em que o conhecimento sobre o contexto
ainda era reduzido. aquilo a que Spradley (1980); Laperrirre (2003) dizem consistir em
fazer a grande volta consistindo no levantamento dos grandes traos.
Observao focalizada: em que o foco se foi estreitando para processos essenciais para
as questes de investigao, consubstanciando-se os domnios de observao. o que
Spradley (1980) designa de minivolta.
Nos registos de observao e para alm dos registos nas notas de campo e das reflexes
pessoais, incluiu-se informao dos documentos consultados no terreno e de entrevistas
informais com os estudantes, enfermeiros e professores.
Recorreu-se entrevista etnogrfica com o objetivo de triangular os dados no que diz
respeito s opinies dos sujeitos sobre os acontecimentos (Yin; 2003).
531
A entrevista etnogrfica como tcnica complementar observao participante,
contribuiu para o aprofundamento dos dados colhidos, possibilitando a viso do outro,
de sua cultura e, no caso particular da formao em enfermagem, das prticas de PrS.
As entrevistas foram no total de 17 para os professores, que foram selecionados de
acordo com o critrio j referido e de 20 para os estudantes. Os estudantes foram
selecionados ao acaso de entre os alunos participantes na observao e que
voluntariamente responderam s entrevistas.
Para o trabalho de campo fizeram-se reunies em cada local com os enfermeiros chefes
e/ou responsveis pelos servios e pelas unidades dos centros de sade selecionados. A
todos demos a conhecer o objeto de estudo, as questes de investigao, os objetivos do
estudo bem como o pedido efetuado s comisses de tica da Escola B, da Universidade
Catlica Portuguesa de Lisboa e Administrao Regional de Sade e validaram-se os
momentos e tempos de observao e auscultaram-se as suas sugestes e opinies,
relativamente aos mesmos.
O trabalho de campo ocorreu em duas UCC (unidade de cuidados na comunidade
escolas EB 2,3; Jardins de infncia, centro de noite e centros de dia e outros espaos da
comunidade acessveis populao); uma UCSP (unidade de cuidados de sade
personalizados) e trs USF (unidade de sade familiar), na regio da escola A e duas UCSP
na regio da escola B e nos servios de Pediatria e Obstetrcia dos hospitais da rea de
implantao das escolas. De acordo com a natureza de cada estgio, determinou-se a
priori as atividades e os momentos de observao, como consultas de enfermagem nos
diferentes programas nacionais de sade, acolhimento da criana e famlia, discusso de
estudos de caso, EpS com grupos de crianas, jovens, adultos e idosos, preparao do
regresso a casa, acolhimento da purpera, amamentao, cuidados de higiene ao recm-
nascido, entre outros.
No que concerne aos princpios ticos no desenvolvimento do estudo, num primeiro
contacto com os estudantes foram explicados os objetivos, obtendo o consentimento
informado, atravs de leitura e de assinatura em documento prprio, garantimos o
anonimato e confidencialidade, bem como a neutralidade face observao. (Savoie-Zajc,
2003).Usmos sempre bata branca, e sob proposta dos enfermeiros diretores, chefes
e/ou responsveis, usmos tambm o carto de identificao, reforando a nossa
identidade profissional, porque havia tambm que explicar e obter o consentimento dos
532
utentes para a nossa presena, o que foi facilitador na aceitao por parte dos mesmos,
aquando da prestao de cuidados.
Para as entrevistas aos estudantes e professores, o convite foi efetuado de modo
informal atravs de contacto pessoal, telefnico ou via e-mail, e no momento da
entrevista foi efetuado o pedido formal, o porqu de os incluirmos no estudo, bem como,
solicitada autorizao para o registo udio (Flick, 2005; Poupart, 2010) e foi assinado o
consentimento informado, aps ter-se garantido a confidencialidade e as medidas
tomadas para a garantir. (Savoie-Zajc, 2003).
Na fase final do trabalho de campo, devolvemos as entrevistas aos professores como
forma de validar os dados colhidos (Flick, 2005).
Procedemos anlise dos dados atravs da tcnica de anlise de contedo, (Bardin,
2011) chegando matriz de anlise.
RESULTADOS E DISCUSSO
Decorrente da anlise dos dados das diferentes tcnicas, identificmos trs temas:
1. Aprendizagem da PrS centrada nos estudantes uma vez que inclui mais confiana e
respeito mtuo na relao entre professor e estudante, dando a este maior
responsabilidade e sensao de autonomia (Lea et al.,2003). Assim o estudante estrutura
racionalmente os conhecimentos que vai adquirindo, relacionando os novos com os
anteriores, questionando e intervindo diretamente na construo de novos saberes
(Perrenoud, 1995).
2.Interveno contextualizada no domnio da PrS Atravs da metodologia do processo
de enfermagem, e com uma base sustentada nos modelos anteriormente referidos, os
estudantes analisam a situao da pessoa, famlia, grupo ou comunidade numa
perspetiva sistmica, para a interveno da PrS.
3.Profissionalidade docente - conjunto de atributos, socialmente construdos, que
permitem distinguir uma profisso de outras ou tipos de atividades (Roldo, 2005).
CONCLUSES
Destaca-se para o primeiro tema e no processo de aprendizagem da PrS a adoo de uma
postura mesclada de construtivismo- facultando processos e ferramentas ao estudante
versus tradicionalismo-mera transmisso de conhecimentos.
533
No segundo tema nem sempre se visualiza uma sequncia das etapas do processo de
enfermagem, registando-se contudo a interveno efetuada pelos estudantes do 1 ciclo
mais centrada no individuo, famlia e grupo em resposta aos diagnsticos de
enfermagem, enquanto os do 2 ciclo intervm com a comunidade com base no
diagnstico de sade.
Para o terceiro tema destaca-se o conhecimento profissional em que o professor assume
o seu poder de deciso, embora ainda baseado numa estrutura dicotmica de raciocnio.
Desta forma surge valorizada uma conceo de sade/doena, embora se registe uma
produo discursiva aparentemente oposta, de avaliao holstica na PrS.
BIBLIOGRAFIA
Abraho, Maria Helena - O professor e o ciclo de vida profissional, in Enricone, Delcia
(org); Strobaus, Dieter; Faria, Elaine et al (2008) (6 ed.) Ser Professor. Porto Alegre:
EDIPUCRS
Amendoeira, Jos (2004). Entre preparar enfermeiros e educar em enfermagem uma
transio inacabada 1950-2003: Um contributo scio histrico. Tese de Doutoramento.
Universidade Nova de Lisboa.
Arajo, Cidlia; Pinto, Emlia M. F; Lopes, Jos; Nogueira, Lus; Pinto, Ricardo (2008).
Estudo de caso. Trabalho desenvolvido no mbito do mestrado apresentado
Universidade do Minho. Instituto de Educao e Psicologia
Baldi, Miri Dias Bilbow (2006). Competncias para promoo e educao em sade em
estudantes de nvel mdio de enfermagem. Tese de Mestrado apresentada
Universidade do Vale do Itaja.
Bronfenbrenner, Urie; Morris, Pamela A. (1998) The Ecology of Developmental
Processes: In Damon, W; Lerner, R. Hand Book of Child Psychology: Theoretical models
of Human Development. New York: John Wiley & Sons, 933- 1028
Caelli, K; Downie, J; Caelli, T (2003). Towards a decision support system for health
promotion in nursing. Journal of Advanced Nursing. 43 (2), 170-180.
Calado, Slvia Santos; Ferreira, Slvia Cristina dos Reis (2005). Anlise de documentos:
Mtodo de recolha e anlise dos dados. Trabalho desenvolvido no mbito do Mestrado
em educao: Didtica das Cincias apresentado Faculdade de Cincias da Universidade
de Lisboa.
534
Cardoso, Ldia (2006) - Aleitamento Materno: uma prtica de educao para a sade no
mbito da enfermagem obsttrica. Instituto de Educao e Psicologia.Universidade do
Minho
Carvalho, A. A. S. (2007). Promoo da Sade: Concees, valores e prticas de
estudantes de Enfermagem e de outros cursos do ensino superior. Braga. Universidade do
Minho. Tese de Doutoramento.
Casey, D. (2007). Nurses Perceptions, understanding and experiences of health
promotion. Journal of Clinical Nursing, 16 (6),1039-1049.
Falcn, G. C. S., Erdmann, A. L., & Backes, D. S. (2009). Meanings of care in health
promotion. Rev. Latino-Am. Enfermagem, 16 (3), 419-424.
Figueiredo, M. C.; Amendoeira, J. (2013). Promoo da Sade nos curricula de
Enfermagem: Perspetiva dos professores e dos estudantes: Reviso Sistemtica da
Literatura. Comunicao apresentada no 1 Congresso Mundial de Comportamentos de
Sade Infanto-Juvenil e IV Congresso Nacional de Educao para a Sade. Viseu
Flick, Uwe (2005). Mtodos Qualitativos na Investigao Cientfica. Lisboa: Monitor
Hermansson, Evelyn ; Martensson,Lena (2010). Empowerment in the midwifery context
a concept analysis 6p. Midwifery journal homepage: www.elsevier.com/midw
Holt, M., & Warne, T. (2007). The educational and practice tensions in preparing pre-
registration nurses to become future health promoters: a small scale explorative study.
Nurse Education in Practice, 7 (6), 373-380.
Irvine, F. (2007). Examining the correspondence of theoretical and real interpretations of
health promotion. Journal of Clinical Nursing, 16(3),593-602.
Issi, Helena Becker; Almoarqueg, Sheila Rovinski; Lima, Elizabete Clemente (2004) - A
humanizao do cuidado em pediatria: ressignificando o programa de apoio famlia da
criana hospitalizada.
Jaccoud,Mylne; Mayer, Robert. A observao direta e a pesquisa qualitativa in Poupart
et al (2010). A pesquisa qualitativa: enfoques epistemolgicos e metodolgicos. (2 ed).
Petropolis: Vozes
Keely, K.; Abraham, C. (2007) Health promotion for people aged over 65 years in
hospitals: nurses perceptions about their role. Journal of Clinical Nursing. 16 (3), 569-579.
Laperrirre, Anne. A observao directa, in Gauthier, Benot (Dir) (2003). Investigao
Social - da problemtica colheita de dados. (3ed), Loures: Lusocincia
535
Lea, S. J., D. Stephenson; J. Troy (2003). Higher Education Students Attitudes to Student
Centred Learning: Beyond educational bulimia. Studies in Higher Education 28(3), 321-
334.
Liimatainen, L., Poskiparta, M., Sjogren; A., Kettunen, T., & Karhila, P. (2001). Investigating
student nurses constructions of health promotion in nursing education. Health Education
McCARTHY, Valerie; FREEMAN, Linda Holbrook (2008) - A Multidisciplinary Concept
Analysis of empowerment: Implications for nursing. The Journal of Theory Construction
and Testing. 12 (2), 68-74
Morrondo (2000).Promocin de la salud, In Moreno, A. (dir.). Enfermeria Comunitaria.
Madrid: McGraw-Hill
Ordem dos Enfermeiros. Competncias do enfermeiro de cuidados gerais. 2003. Conselho
de Enfermagem: OE.
Neuman, B. (1995).The Neuman Systems Model.Third Edition.Library of Congress.USA.
732pp.
Pender, Nola J; Murdaugh, Carolyn L.; Parsons, Mary Ann (2006). Health promotion in
nursing practice. 5 ed. Pearson Education: New Jersey
Perrenoud, P. (1995). O ofcio de aluno e sentido de trabalho escolar. Porto: Porto Editora
Piper, S. (2008). A qualitative study exploring the relationship between nursing and health
promotion language, theory and practice. Nurse Education Today, 28 (2), 186-193.
Poskiparta, M., Liimatainen, L., & Sjogren, A. (2000). Health promotion in the curricula
and teaching of two polytechnics in Finland. Nurse Education Today, 20 (8), 629-637.
Roldo, Maria do Cu (2005). Profissionalidade docente em anlise - especificidades dos
ensinos superior e no superior. Orao de Sapincia, proferida na abertura solene do
ano letivo de 2004-2005, no Instituto Politcnico de Santarm, Portugal. Nuances:
estudos sobre educao ano XI, v. 12, n. 13
Rush, K. L., Kee, C.C., & Rice, M. (2005). Nurses as imperfect role models for health
promotion. Western Journal of Nursing Research, 27 (166), 166-183
SavoieZajc, Lorraine . A entrevista semi-dirigida. In Gauthier, Benot (Dir.) (2003).
Investigao social: da problemtica colheita de dados. 3 ed. Loures: Lusocincia,
pp.279-301
536
Sjogren, A., Poskiparta, M., Liimatainen, L., & Kettunen, T. (2003). Teachers views on
curriculum development in health promotion in two Finnish polytechnics. Nurse
Education Today, 23 (2), 112-122.
Silva, K. L., Sena R. R., Grillo, M. J. C., Horta, N. C., & Prado, P. M. C. (2007). Promoo da
sade como deciso poltica para a formao do enfermeiro. Rev. Esc. Enferm. USP, 41
Silva, K. L., Sena, R. R., Grillo, M. J. C., Horta, N. C., & Prado, P. M. C. (2009). Educao em
enfermagem e os desafios para a promoo de sade. Rev. bras. enferm. 62, 86-91.
SPRADLEY, James P. (1980). Participant Observation. Orlando- Florida. Harcourt Brace
Jovanovich College Publishers
Stake, R.E. (2007). A arte de investigao com estudos de caso. Lisboa: Gulbenkian
Streubert, Helen; Carpenter, Dona (2011) Investigao qualitativa em enfermagem. 3
ed. Loures: Lusocincia
Tsouros, Agis D.; Dowding, Gina; Thompson, Jane & Dooris, Mark (1998). Health
PromotingUniversities Concept, experience and framework for action. Copenhagen:World
Health Organization Regional Office for Europe.
Yin, Robert K. (2003). Applications of Case study research. 2 ed. Thousand Oaks Sage
Publications
Yin, R. K. (2002). Estudo de caso. Planejamento e mtodos. Porto Alegre: Artmed
Universidad de Alberta (2005). Carta de Edmonton para Universidades Promotoras de la
Salud e Instituciones de Educacin superior. Edmonton: Canad.
Whitehead, D. (2002). The health promotional role of a pre-registration student cohort
in the UK: a grounded-theory study. Nurse Education in Practice, 2 (3),197-207.
Whitehead, D. (2006). Reviewing health promotion in nursing education. Nurse Education
Today, 27 (3), 225-237.
Whitehead, Dean (2007)- Reviewing health promotion in nursing education. Nurse
Education Today. 27 (3), 225-237.
Whitehead, Dean (2009) Reconciling the differences between health promotion in
nursing and general health promotion. Nursing Studies. 46 (6), 865-874. Retirado em
22/11/2009
World Health Organisation (2000). Munich Declaration. Nurses and Midwives. A Force for
Health. The 2nd WHO Ministerial Conference on Nursing & Midwifery in Europe. Munich
15-17 de junho de 2000
537
World Health Organisation (1986). Ottawa Charter for Health Promotion. WHO, Europe,
Copenhagen
World Health Organisation (1998) Health Promotion Glossary. WHO, Geneva.
538
FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR: UM RASTREIO NO DIA ABERTO DO IPS
Cassilda Sarroeira; Clara Andr; Celeste Godinho; Hlia Dias; Mrio Silva
RESUMO
As doenas cardiovasculares so a principal causa de mortalidade na populao portuguesa,
apesar da tendncia de decrscimo verificada nos ltimos anos, que resulta da conjugao da
eficcia das medidas de preveno, com nfase na adoo de estilos de vida saudveis e na
correo de fatores de risco modificveis. Considerando a necessidade de melhoria da
identificao dos fatores de risco, pretendeu-se caracterizar a nossa populao no que
respeita a alguns destes, tendo-se realizado um Rastreio no mbito do Dia Aberto do
IPS, desenvolvido numa parceria entre a ESSS (docentes/estudantes) e enfermeiros do
Hospital Distrital de Santarm e da Unidade de Cuidados na Comunidade de Santarm.
Desenvolveu-se um estudo descritivo, de caracter exploratrio, com amostragem
acidental. Os dados foram colhidos atravs da aplicao de formulrio, coadjuvado com
avaliaes antropomtricas e de sinais vitais. Participaram 103 pessoas com idades
compreendidas entre os 16 e os 83 anos. Verificou-se a presena de fatores de risco
cardiovascular nomeadamente: tabagismo, consumo de bebidas alcolicas, sedentarismo,
hipertenso e obesidade.
539
ABSTRAT
Cardiovascular diseases are the leading cause of mortality in the Portuguese population
despite the decreasing trend observed in recent years, resulting from the combination of
the effectiveness of prevention measures, with emphasis on the adoption of healthy
lifestyles and the correction of modifiable risk factors . Considering the need to improve
the identification of risk factors, we wanted to characterize our population with respect
to certain of these and it was submitted to Screening under the Open Day of the IPS,
developed in partnership between the ESSS (teachers / students) and nurses of the
Hospital Distrital de Santarm and Unidade de Cuidados na Comunidade de Santarm.
Developed a descriptive, exploratory study, with accidental sampling. Data were collected
through forms, assisted with anthropometric measurements and vital signs. There were
103 participants aged between 16 and 83 years. We verified the presence of risk factors
for cardiovascular disease including smoking, alcohol consumption, physical inactivity,
hypertension and obesity.
INTRODUO
As doenas cardiovasculares continuam a ser a principal causa de mortalidade na populao
portuguesa, tal como em todos os pases europeus, apesar da tendncia de decrscimo
verificada nos ltimos anos que resulta da conjugao da eficcia das medidas de preveno,
com nfase na adoo de estilos de vida saudveis e na correo de fatores de risco
modificveis.
Partindo das metas definidas pelo Programa Nacional para as Doenas Crebro-
Cardiovasculares (2012), que enfatiza a necessidade de melhoria da identificao dos
fatores de risco, pretendeu-se caracterizar a nossa populao no que respeita a alguns
destes fatores, tendo-se realizado um Rastreio no mbito do Dia Aberto do IPS,
desenvolvido numa parceria entre a ESSS (docentes/estudantes) e enfermeiros do
Hospital Distrital de Santarm e da Unidade de Cuidados na Comunidade de Santarm.
Esta ao enquadra-se na misso da ESSS quando afirma que realiza as suas atividades
visando Prestar servios comunidade numa perspetiva de valorizao e promoo
recprocas e de desenvolvimento da regio onde est inserida.
540
O Rastreio integrou-se num conjunto de iniciativas desenvolvidas pela ESSS no Dia
Aberto do IPS sendo o presente artigo elaborado pelo grupo constitudo para organizar a
participao da ESSS no referido evento: cinco professores, com a colaborao das
Coordenadoras de Curso do primeiro e segundo ciclo e da Presidente da Associao de
Estudantes.
Esta atividade ocorreu no dia 20 de Abril de 2013, das 10 s 18h, no Largo do Seminrio,
em Santarm. Na sua operacionalizao participaram 11 Docentes, 6 Enfermeiros do Hospital
de Santarm, 2 Enfermeiras da Unidade de Cuidados na Comunidade de Santarm e 40
Estudantes distribudos pelos diferentes anos do Curso de Enfermagem 1 Ciclo, aos quais
endereamos publicamente o nosso agradecimento.
A realizao de rastreios de fatores de risco, que predizem doenas, decorre do potencial
benefcio de preveno secundria atravs da deteo precoce dos mesmos (Bonita,
Beaglehole e Kjellstrom, 2010, p. 110).
Como eixo organizador da caracterizao e anlise dos fatores de risco o grupo adotou a
classificao por categorias definida na Carta Europeia para a Sade do Corao (2007),
que se apresenta no esquema seguinte (Figura1):
541
Quanto aos outros fatores determinantes, tal como se pode observar na figura, so
divididos em Fatores fixos (idade, sexo, gentica e raa) e Fatores modificveis
(rendimento, educao, condies de vida e condies de trabalho).
De acordo com o artigo 5 da Carta, os fatores de risco podem ser combatidos pelos
decisores polticos, pelas pessoas a ttulo individual e pelos profissionais de sade, sendo
que a estes cabe a responsabilidade da identificao das pessoas em risco, o que justifica
a importncia de desenvolver rastreios neste mbito.
METODOLOGIA
No contexto deste trabalho considera-se rastreio como um sistema de exames clnicos ou
biolgicos oferecido populao, para a deteo num estdio precoce, ou para a deteo
de um fator de risco de uma doena (Cardoso, 2001, p.270).
Os procedimentos de rastreio so vlidos para uma ampla variedade de situaes de
sade/doena, estando recomendado para o estudo de problemas com elevada
prevalncia na comunidade (Stanhope e Lancaster, 2011).
Foi operacionalizado num estudo descritivo, de carcter exploratrio, utilizando uma
amostragem acidental, sendo que apenas foram mobilizados os dados de participantes
que autorizaram formalmente que os mesmos fossem objeto de investigao e
divulgao. Os dados foram colhidos atravs da aplicao de formulrio, coadjuvada com
avaliaes antropomtricas e de sinais vitais.
RESULTADOS
Tal como anteriormente referenciado, os resultados do estudo sero apresentados de
acordo com a organizao de categorias de fatores de risco preconizados na Carta
Europeia para a Sade do Corao (2007), numa perspetiva evolutiva dos fatores fixos aos
modificveis, passando seguidamente aos fatores biolgicos, e terminando com os
fatores associados aos estilos de vida, reconhecendo-se que a adoo consciente de um
estilo de vida saudvel implica o conhecimento dos principais comportamentos
protetores e de risco para a sade.
I OUTROS FATORES DETERMINANTES
A Fatores Fixos
542
No rastreio realizado participaram 103 pessoas, sendo 66 (64%) mulheres e 37 (36%)
homens, tal como se encontra expresso no Grfico 1.
Atravs do Grfico 2, constata-se que a maioria (87%:90) dos participantes era de raa
caucasiana, sendo que 7% (7) dos participantes eram de raa negra.
543
Grfico 2 Distribuio dos participantes pela Raa.
3
Referem ser
Hipertensos
B Fatores Modificveis
Desta categoria de fatores, no presente estudo s foi mobilizada a varivel que remete
para a Educao dos participantes, ou seja, as habilitaes acadmicas.
544
Pela anlise do Grfico 3, verifica-se que 26,2% (27) dos participantes tem o ensino
secundrio, 25,2% (26) apenas o 1 Ciclo e 23,3% (24) so licenciados.
545
Figura 3 Antecedentes Pessoais.
546
Quanto aos valores apresentados face Presso Arterial Diastlica (Tabela 3) verifica-se
que a maioria (60,2%) dos participantes se situa no que considerado como uma Presso
Arterial tima. De referir que 5,8 % dos participantes apresentaram valores compatveis
com Hipertenso Arterial Moderada e Grave.
No entanto, salienta-se que 28,6% dos participantes referiam ser hipertensos, sendo que
em Portugal, 42% da populao hper
tensa (Norma n 020/2011; DGS).
Quanto aos valores de Glicmia (Figura 4) dever ser valorizado que o momento de
avaliao da mesma foi concretizado aps os participantes terem realizado refeies;
ainda assim, a maioria dos participantes (86,8%) apresentava valores considerados como
normais; globalmente os valores obtidos oscilaram entre 69 mg/dl e 221 mg/dl.
Relativamente varivel ser diabtico, apenas 9.5 dos participantes responderam
afirmativamente, constatando-se que este valor est abaixo dos valores citados no
Relatrio Anual do Observatrio Nacional da Diabetes (2013), onde se apresenta uma
prevalncia de diabticos em Portugal de 12,9%, no ano de 2012; constata-se ainda no
supracitado Relatrio, que apenas 56% das pessoas se encontravam diagnosticadas, o
que remete para a necessidade de um maior investimento no sentido deste diagnstico
ser mais efetivo.
547
2 52 4 2
69 mg/dl 3,3% 86,8% 6,6% 3,3%221 mg/dl
Relativamente ao ndice de Massa Corporal (Grfico 4), verificou-se que 60,2% (59) dos
participantes apresentam excesso de peso e apenas 40,8% (40) se situam no intervalo
referente ao peso normal. De acordo com estudos realizados em Portugal (DGS, 2011),
cerca de 50% da populao adulta sofre de obesidade.
548
Figura 5 Permetro Abdominal.
549
Quanto varivel consumo de frutas e vegetais, pode observar-se, pelo Grfico 6, que 84%
dos participantes consomem fruta diariamente, 15% afirmam que s ingerem fruta s vezes e
1% diz nunca comer fruta.
550
Contudo, no estudo O Consumo de Bebidas Alcolicas em Portugal. Prevalncias e
Padres de Consumo 2001-2007, desenvolvido por Balsa et al (2011) verificam-se
diferenas de acordo com o sexo, sendo maior a proporo de homens consumidores do
que mulheres.
45% (23)
55% (28)
Quando questionados acerca do tipo de bebidas que consomem (Figura 6) pode observar-
se que o vinho se apresenta como o tipo de bebida mais consumida (correspondendo a
57,4% (39) dos participantes que tm o hbito de consumir bebidas alcolicas), sendo que
dos consumidores de vinho, 61% (24) so homens. No que respeita ao consumo de
bebidas brancas, dos 6 consumidores, 5 so mulheres.
Tambm, no estudo que referimos anteriormente a tendncia do tipo de bebidas
consumidas o vinho (47%), cerveja (42%), bebidas espirituosas (26%) e alcopops (8%)
(Balsa et al, 2011).
Tabela 4 Distribuio dos participantes de acordo com o grupo etrio e o tipo de bebida
alcolica consumida.
16-20 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 + 70
Cerveja 3 7 7 1 3 2 0
Vinho 3 7 7 5 7 4 6
Bebidas 0 5 0 1 0 0 0
brancas
Em relao aos hbitos tabgicos (Grafico 9), 69,9% dos participantes afirmaram nunca
ter fumado, sendo que 14,6% so ex-fumadores e 15,5% referem fumar. Salienta-se que
no Programa-tipo de actuao Cessao Tabgica, a Direcco-Geral da Sade (2009)
afirma que a cessao tabgica est associada a benefcios para a sade que se traduzem
ao fim de 5 anos num risco de Acidente Vascular Cerebral igual ao de um no fumador e
aps 15 anos de cessao tabgica num risco de doena cardaca coronria igual ao de
um no fumador.
552
Grafico 9 Hbitos tabgicos.
Masculino 21 8 8
Feminino 51 7 8
Total 72 15 16
Quanto prtica de exerccio fsico (Grfico 10), 72% dos participantes responde
afirmativamente; contudo 26% referem no ter o hbito de realizar exerccio fsico.
553
No que se refere s atividades desenvolvidas na prtica de exerccio fsico, observa-se que
as caminhadas so realizadas por 51 participantes, seguindo-se a prtica de exercicio
fisico em ginsio (16 participantes), a corrida (6 participantes) e o ciclismo e a
hidroginastica/natao igualmente praticados por 5 participantes (Grfico 11).
A prtica de algum tipo de atividade fsica, excluindo a prtica de desporto - ciclismo,
marcha, dana, por exemplo mais comum do que a prtica de um desporto
organizado (Observatrio Nacional da Actividade Fisica e Desporto, 2011).
Grafico 11 Distribuio dos participantes de acordo com a modalidade de exerccio fsico praticado.
CONCLUSO
Verificou-se a presena de fatores de risco cardiovascular nomeadamente: tabagismo,
consumo de bebidas alcolicas, sedentarismo, hipertenso e obesidade.
Estes achados legitimam a pertinncia da continuidade destas atividades de rastreio,
fundamentalmente como um importante contributo na melhoria da identificao dos
fatores de risco subjacentes s situaes de doena cardiovascular.
Simultaneamente, constituiu-se ainda como mais uma oportunidade de sensibilizao da
comunidade para a adoo de estilos de vida saudveis desde a prtica de exerccio fsico,
alimentao equilibrada e regrada ou abstinncia tabgica, transmitindo tambm a
importncia dos valores das medies realizadas e monitorizao frequente dos mesmos,
uma vez que, no decorrer do Rastreio, foi desenvolvido de modo individualizado, junto
dos participantes, educao para a sade no mbito dos fatores de risco identificados.
554
BIBLIOGRAFIA
Balsa, C., Vital C., Urbano C., Pascueiro L. (2011). O Consumo de Bebidas Alcolicas em
Portugal. Prevalncias e Padres de Consumo 2001-2007. Lisboa: Instituto da Droga e
Toxicodependncia.
Bonita, R.; Beaglehole, R.; Kjellstrm, T (2010) Epidemiologia bsica. 2ed. So Paulo:
Livraria Santos Editora.
Cardoso, S. Massano (2001) Notas e tcnicas epidemiolgicas. Coimbra: Faculdade de
Medicina, Instituto de Higiene e Medicina Social.
Carta Europeira para a Sade do Corao (2007) Desenvolvida por: European Society of
Cardiology; European Heart Network, em colaborao com a European Commission e
WHO Regional Office for Europe.
Diabetes: Factos e Nmeros 2013 Relatrio Anual do Observatrio Nacional da Diabetes
11/2013, Sociedade Portuguesa de Diabetologia, Observatrio da diabetes, Direo Geral
da Sade.
Instituto Portugus do Desporto (2011) Livro verde da atividade fsica. Observatrio
Nacional da Atividade Fsica e Desporto.
Ministrio da Sade (2011). Tomada de posio do Conselho Cientifico da Plataforma
contra a Obesidade. Direo Geral da Sade.
Norma n 020/2011 de 28/09/2011, atualizada a 19/03/2013, Direo Geral da Sade.
Programa Nacional de Combate Obesidade (2005) Direco-Geral da Sade. Diviso de
Doenas Genticas, Crnicas e Geritricas.
Programa Nacional para as Doenas Crebro-Cardiovasculares (2012), Direo Geral da
Sade.
Programa-tipo de actuao Cessao Tabgica (2009). Direcco-Geral da Sade.
Scafato, Emanuele. Preface. Alcohol and the elderly. The european project vintage: good
health into older age (2012) Ann. Ist. Super. Sanit [online]., vol.48, n.3, pp. 219-220.
http://dx.doi.org/10.4415/ANN_12_03_02.
Stanhope, M., Lancaster, J. (2011). Enfermagem Comunitria: Cuidados de sade na
comunidade centrados na populao. 7 Edio. Lusocincia: Edies Tcnicas e
Cientficas Lda.
555
A APREENSO COM A CRISE E A MOTIVAO EXTRNSECA DOS TRABALHADORES DO
SETOR PBLICO PORTUGUS
Miguel Lira
RESUMO
inegvel que a crise econmica e financeira que Portugal atualmente atravessa afetou
fortemente o setor pblico e os que l trabalham, fruto dos drsticos planos de
austeridade adotados. Tal poder originar preocupaes, incertezas e outras reaes
adversas, por parte dos funcionrios pblicos, designadamente nos seus nveis
motivacionais.
O cenrio atrs descrito deveras preocupante, principalmente se considerarmos que
uma fora de trabalho motivada frequentemente identificada na literatura como uma
fonte de vantagem competitiva para as organizaes, fruto da correlao positiva entre a
motivao e o desempenho no trabalho.
Face ao atual contexto de crise e de incerteza quanto ao futuro, o escopo deste trabalho
averiguar se pode ser estabelecida uma relao entre a motivao extrnseca e a
preocupao, por parte dos funcionrios pblicos, com os efeitos da crise econmica e
financeira.
A partir de um estudo de caso, o tratamento estatstico realizado a uma amostra de 334
trabalhadores (n = 334) revela que a preocupao com os efeitos negativos da atual crise
econmica e financeira est positivamente relacionada com os ndices de motivao
extrnseca dos trabalhadores. Daqui podemos depreender que a motivao dos
funcionrios pblicos portugueses poder ser ampliada atravs do recurso a recompensas
do tipo extrnseco.
556
ABSTRACT
It is undeniable that the economic and financial crisis currently affecting Portugal strongly
affected the public sector and those who work there, as result of the drastic austerity
plans adopted. This may lead to concerns, uncertainties and other adverse reactions on
the part of public officials, particularly on their motivational levels.
The scenario described above is disturbing, especially considering that a motivated
workforce is often identified in the literature as a source of competitive advantage for
organizations, due to the positive correlation between motivation and performance at
work.
Given the current context of crisis and uncertainty about the future, the scope of this
study is to investigate whether a relationship can be established between extrinsic
motivation and concern with the effects of the economic and financial crisis, on the part
of public officials.
From a case study, the statistical analysis performed on a sample of 334 workers (n = 334)
reveals that concern about the negative effects of the current economic and financial
crisis is positively related to the indices of extrinsic motivation of workers. From this we
can infer that the motivation of the Portuguese civil servants may be expanded through
the use of extrinsic rewards.
Keywords: crisis; extrinsic motivation; Portuguese public sector.
INTRODUO
558
incontestvel que o setor pblico e os que l trabalham foram dos mais afetados, visto
que nesta era de austeridade fiscal, as organizaes pblicas esto sob uma presso
cada vez maior para administrar os seus servios dentro de oramentos cada vez mais
apertados (Andrews, Boyne e Walker, 2012: 39), fruto dos drsticos planos de
austeridade adotados (Rugy, 2013).
Em Portugal, os planos de austeridade que afetaram os funcionrios pblicos traduziram-
se em cortes salariais, congelamento de progresses e promoes na carreira, diminuio
do valor a pagar pelo trabalho extraordinrio, aumento do horrio semanal das 35 para as
40 horas, perda do subsdio de frias e de Natal, maior convergncia das regras laborais
pblicas com as aplicadas ao setor privado, aumento dos impostos, etc.
Alm das certezas das medidas j concretizadas existem ainda as inmeras possibilidades
ventiladas para o futuro, num contexto de refundao do estado social portugus e/ou
de uma imperiosa necessidade de realizar mais cortes na despesa pblica. Assim, tendo
em considerao o peso que a folha salarial detm dentro sector pblico portugus,
haver, necessariamente, ainda mais alteraes das condies do emprego pblico
portugus. As possibilidades em cima da mesa so inmeras, conforme o que a
comunicao social reproduz sobre o contedo de relatrios de organismos
internacionais sobre essa matria e sobre as declaraes de responsveis polticos
pertencentes ao XIX Governo Constitucional. Da a incerteza que rodeia e pulula por entre
os indivduos que se encontram vinculados contratualmente a organizaes pblicas.
Emsuma, um cenrio de incerteza e preocupao atinge fortemente o sector pblico
portugus, nos tempos que correm.
O cenrio atrs descrito poder originar incertezas, preocupaes, perceo de injustia e
outras reaes adversas por parte dos funcionrios pblicos, inclusive quanto aos seus
nveis motivacionais (cf., por exemplo, Linna, Elovainio, Bos, Kivimki, Pentti e Vahtera,
2012; Lind e Bos, 2002; Bos e Lind, 2002; Vahtera, Kivimki, Pentti e Theorell, 2000;
Kivimki, Vahtera, Koskenvuo, Uutela e Pentti, 1998).
Tal preocupante se considerarmos que uma fora de trabalho motivada
frequentemente identificada na literatura como uma fonte de vantagem competitiva para
as organizaes, fruto da correlao positiva entre a motivao e o desempenho no
trabalho: o objetivo geral de motivar os trabalhadores aumentar o desempenho de cada
organizao, existindo uma correlao positiva entre a motivao e o desempenho no
559
trabalho comprovada na literatura (cf. Park e Word, 2012; Springer, 2011; Grant, 2008;
Halbesleben e Bowler, 2007; DeNisi e Pritchard, 2006; Latham e Pinder, 2005;
Knippenberg, 2000; Tyagi, 1985), mesmo sabendo que o desempenho ir sempre
depender de uma infinidade de outros fatores (cf. Knippenberg, 2000; Dunnette, 1976).
Face ao exposto nos pargrafos anteriores, o escopo deste trabalho averiguar se pode
ser estabelecida uma relao entre a preocupao, por parte dos funcionrios pblicos,
com os efeitos da crise econmica e financeira que o pas atualmente atravessa e a sua
motivao extrnseca.
E porqu a relao com a motivao extrnseca? Para tal temos de recorrer
definio deste constructo. Assim, a motivao aquilo que suscetvel de mover o
indivduo, de o levar a agir para atingir uma meta ou objetivo, em resultado de estmulos
que agem com fora sobre os indivduos, levando-os, ento, ao (Baron, Henley,
McGibbon e McCarthy, 2002), ou seja, a motivao desperta e provoca num indivduo a
escolha por certos comportamentos (Brewer, 2011).
Por outro lado, h que considerar que a motivao um constructo
multidimensional: uma forma estabelecida de discorrer sobre as dimenses da motivao
segundo as origens da motivao individual: intrnseca e extrnseca (Cho e Perry, 2012).
Amabile (1993: 186) ofereceu uma definio formal destas duas realidades:
Acrescente-se que, de acordo com Pinder (2012), a motivao no local de trabalho pode
ser descrita como o conjunto de foras internas e externas que desencadeiam o
comportamento relacionado com o trabalho e que determina a sua forma, direo,
intensidade e durao. Na tica deste autor este conceito foca-se no s em eventos e
fenmenos exclusivos do contexto laboral mas tambm inclui a influncia, sobre o
comportamento profissional, tanto das foras ambientais como daquelas inerentes ao
prprio indivduo.
560
Ser, ento, na influncia destas foras externas sobre a motivao dos trabalhadores
pblicos que vamos incidir o nosso estudo. Para tal, elaboramos a seguinte hiptese de
investigao:
A preocupao com os efeitos negativos da atual crise econmica e financeira, por parte
dos funcionrios pblicos portugueses, est positivamente relacionada com os ndices de
motivao extrnseca.
561
As tcnicas da estatstica descritiva e da estatstica inferencial que utilizmos no estudo
foram, nomeadamente, a apresentao em quadros de frequncias (absolutas e
percentuais), medidas de tendncia central (mdia ordinal, mdia aritmtica e mediana),
medidas de disperso ou variabilidade (valor mnimo, valor mximo e desvio-padro) e,
ainda, os coeficientes alfa de Cronbach e de correlao de Spearman, os testes
estatsticos U de Mann-Whitney, Kruskal-Wallis, o teste de significncia do coeficiente de
Spearman e o teste de Kolmogorov-Smirnov (como teste de normalidade).
Na escolha dos testes atendemos s caractersticas das variveis em estudo e s
recomendaes apresentadas por Maroco (2007) e Pestana e Gageiro (2005). A opo por
testes no paramtricos justifica-se pelo facto de as variveis no apresentarem
distribuio de frequncias normal.
Em todos os testes foi fixado o valor 0.050 como limite de significncia, ou seja, a
hiptese nula foi rejeitada quando a probabilidade do erro tipo I (probabilidade de
rejeio da hiptese nula quando ela verdadeira) era inferior quele valor (p 0.050).
Tal significa que se h menos de 5% de probabilidade de a variabilidade dos resultados
ser devida a outro ou outros fatores, ento rejeita-se a hiptese nula e conclumos que
essa variabilidade , no essencial, devida ao das variveis independentes.
Embora tenha sido iniciado o preenchimento, na plataforma LimeSurvey, de 439
questionrios, apenas foram completados 345, ou seja, 94 inquritos no foram
considerados por no terem sido preenchidos na totalidade. Porm, a esses 345 ainda
foram retirados mais 11, por problemas detetados. Em suma, apenas foram consideradas
vlidas as respostas de 334 trabalhadores (n = 334).
Esta amostra ultrapassa em 5 o tamanho ideal da amostra obtido atravs da utilizao da
frmula proposta por Gil (2008: 97). Assim, para um intervalo de confiana de 95% e com
uma margem de erro de 5% e utilizando a frmula para populaes finitas, ou seja,
quando a populao pesquisada no supera os 100.000 elementos, o valor da amostra
mnimo era de 329 elementos.
A amostra obtida no pode ser considerada como probabilstica, tendo em conta que a
probabilidade de incluso de cada membro da populao na amostra no conhecida.
A operacionalizao da varivel motivao extrnseca decorreu da aplicao da escala
The Work Preference Inventory (cf. Amabile, Hill, Hennessey e Tighe, 1994), tendo-se
562
procurado que a traduo dos itens para portugus fosse feita de modo a reter a essncia
original dos mesmos.
A operacionalizao da varivel Efeitos da crise econmica e financeira decorreu da
elaborao prpria dos seus quatro itens, incluindo: A atual crise econmica e financeira
que o pas atravessa no provoca incerteza quanto ao meu futuro profissional. ou A
atual crise econmica e financeira que o pas atravessa no me afeta em termos
profissionais.
Todos os itens das duas escalas podem ser caracterizados como sendo questes
fechadas e de cariz obrigatrio, em que a lista pr-estabelecida de respostas possveis
baseada na escala de Likert de cinco pontos/nveis, de discordo totalmente at
concordo totalmente.
RESULTADOS E DISCUSSO
Por forma a verificar a fiabilidade dos itens que compem as escalas utilizadas foi
efetuado o clculo da correlao item-total e da consistncia interna em cada uma das
escalas atravs do alfa de Cronbach.
Na escala inerente motivao extrnseca foram observados dois itens em que as
correlaes com o total eram inferiores a 0.200:
desde que possa fazer o que gosto, no fico particularmente preocupado com o
que me pagam (0.163);
e no fico muito preocupado com o que os outros pensam do meu trabalho
(0.189).
563
Desta forma, com base nas respostas apresentadas pelos trabalhadores inquiridos nos
itens que constituam as duas escalas utilizadas na operacionalizao das variveis desta
pesquisa, pudemos calcular os resultados que constituem o quadro 1. Como podemos
constatar, para a escala para a varivel Efeitos da crise econmica e financeira
observamos valores compreendidos entre 0.00 e 100.00 pontos, embora para a escala
motivao extrnseca os resultados situaram-se entre 5.00 e 93.33 pontos.
Os valores das medidas de tendncia central (mdia e mediana) evidenciam que os
inquiridos:
564
negativos da atual crise econmica e financeira, por parte dos funcionrios pblicos
portugueses, est positivamente relacionada com os ndices de motivao extrnseca.
Os resultados que constam do quadro 2 revelam que a correlao entre as duas variveis
estatisticamente significativa (p = 0.046), pelo que conclumos que os dados
corroboram a hiptese formulada e, consequentemente, que a preocupao com os
efeitos negativos da atual crise econmica e financeira, por parte dos inquiridos est
positivamente relacionada com os ndices de motivao extrnseca.
Porm, os resultados tambm demonstram que constam que a correlao entre as duas
variveis muito fraca (rs = 0.09). Em suma, no podemos de deixar de frisar que o valor
do coeficiente de correlao de Spearman est muito prximo do zero (r s = 0.09) e que o
valor da significncia do teste (p = 0.046) est muito perto limiar em que a correlao
deixa de ser significativa (p >= 0.050). Assim sendo, embora estatisticamente a hiptese
mencionada tenha ficado confirmada, preciso muito cuidado nas ilaes que daqui
podem ser retiradas.
Por fim, foi realizado um ltimo tratamento estatstico aos dados, por forma a verificar se
os resultados obtidos nas duas escalas utilizadas na operacionalizao das variveis,
atravs da anlise dos valores das medidas de tendncia central (mdia e mediana),
divergem em funo do gnero, do grupo etrio, das habilitaes literrias, da categoria
profissional ou da instituio onde desempenha funes. Para desenvolver estes estudos
utilizmos o teste U de Mann-Whitney e o teste Kruskal-Wallis.
Assim, foi inferido que os resultados obtidos so idnticos para o gnero, para todos os
grupos etrios e para os trabalhadores das organizaes consideradas. Por outro lado
assistimos a algumas discrepncias nas restantes escalas, embora com carter residual e
em que muitas destas diferenas podem ser facilmente explicadas atravs do recurso
literatura ou da lgica. Em suma, maioritariamente os resultados obtidos nas duas escalas
565
so idnticos em funo do gnero, do grupo etrio, das habilitaes literrias, etc., o que
pode indiciar a possibilidade de generalizao das concluses desta investigao.
CONCLUSES
O tratamento estatstico dos dados recolhidos revela que a preocupao com os efeitos
negativos da atual crise econmica e financeira est positivamente relacionada com os
ndices de motivao extrnseca dos trabalhadores, o que confirma a nossa hiptese de
trabalho. Por outro lado, os valores das medidas de tendncia central (mdia e mediana)
evidenciam que os inquiridos esto muito preocupados com os efeitos negativos da atual
crise econmica e financeira (85.43 ; 83.33), alm aparentarem ter nveis de motivao
extrnseca bastante razoveis (53.45 ; 53.33).
No obstante o resultado referente preocupao com a crise no constituir grande
surpresa, o facto de os nveis de motivao extrnseca terem atingido nveis bem
razoveis, permite-nos deduzir que as compensaes monetrias e outras recompensas
de cariz extrnseco podem exercer alguma influncia sobre a motivao e o desempenho
destes trabalhadores.
Daqui podemos depreender que a motivao dos funcionrios pblicos portugueses
poder ser ampliada atravs do recurso a recompensas do tipo extrnseco, at por forma
a fazer face s incertezas e preocupaes derivantes da crise econmica e financeira
atual. Alis, muito mais fcil para o corpo diretivo controlar as aes e o desempenho
dos seus subordinados atravs do recurso a recompensas extrnsecas do que apelar
motivao intrnseca dos trabalhadores.
Porm, no este o caminho que est a ser seguido pelo atual elenco governamental, ou
seja, a realidade que esse tipo de incentivos est a ser alvo de grandes
constrangimentos: redues salariais; diminuio do valor hora recebido via o aumento
do horrio semanal de 35 para 40 horas; falta de efeitos prticos dos sistemas de
avaliao do desempenho, nomeadamente a ausncia de prmios de desempenho; etc.
Todavia, no podemos de deixar de frisar que o valor do coeficiente de correlao de
Spearman est muito prximo do zero (rs = 0.09) e que o valor da significncia do teste (p
= 0.046) est muito perto limiar em que a correlao deixa de ser significativa (p >=
0.050). Sugerimos, ento, que sejam realizados outros estudos, com outras amostras
e/ou com outras escalas que possam validar as nossas concluses. Alm disso, devero
566
ser realizados estudos futuros sobre os nveis de motivao extrnseca, por formal a
verificar a evoluo destes nveis.
Em termos de limitaes podemos indicar duas, a saber:
BIBLIOGRAFIA
ACHARYA, V. V.; RICHARDSON, M. (2009) Causes of the financial crisis. Critical Review,
Vol. 21, (2-3), pp. 195210.
AMABILE, T. M. (1993) Motivational synergy: toward new conceptualizations of
intrinsic and extrinsic motivation in the workplace. Human Resource Management
Review, Vol. 3, (3), pp. 185-201.
AMABILE, T. M.; HILL, K. G.; HENNESSEY, B. A.; TIGHE, E. M. (1994) The work
preference inventory: assessing intrinsic and extrinsic motivational orientations. Journal
of Personality and Social Psychology, Vol. 66, (5), pp. 950-967.
ANDREWS, R.; BOYNE, G. A.; WALKER, R. M. (2011) Dimensions of publicness and
organizational performance: a review of the evidence. Journal of Public Administration
Research and Theory, Vol. 21, (supl. 3), pp. 301-319.
ANDREWS, R.; BOYNE, G. A.; WALKER, R. M. (2012) Overspending in public
organizations: does strategic management matter?. International Public Management
Journal, Vol. 15, (1), pp. 39-61.
BARON, H.; HENLEY, S.; MCGIBBON, A.; MCCARTHY, T. (2002) Motivation questionnaire
manual and users guide. Sussex: Saville and Holdsworth Limited.
BOS, K.; LIND, E. A. (2002) Uncertainty management by means of fairness judgments,
in Mark P. Zanna (org.), Advances in experimental social psychology, Vol. 34. San Diego,
CA: Academic Press, pp. 1-60.
567
BREWER, G. A. (2011) A symposium on public service motivation: expanding the
frontiers of theory and empirical research. Review of Public Personnel Administration,
Vol. 31, (1), pp. 3-9.
CHO, Y. J.; PERRY, J. L. (2012) Intrinsic motivation and employee attitudes: role of
managerial trustworthiness, goal directedness, and extrinsic reward expectancy. Review
of Public Personnel Administration, Vol. 32, (4), pp. 382-406.
CROTTY, J. (2009) Structural causes of the global financial crisis: a critical assessment of
the new financial architecture. Cambridge Journal of Economics, Vol. 33, (4), pp. 563
580.
CUNHA, J. C.; BRAZ, C. R. (2006) Public expenditure and fiscal consolidation in
Portugal. OECD Journal on Budgeting, Vol. 6, (4), pp. 103-121.
DENISI, A. S.; PRITCHARD, R. D. (2006) Performance appraisal, performance
management and improving individual performance: a motivational framework.
Management and Organization Review, Vol. 2, (2), pp. 253-277.
DUNNETTE, M. D. (1976) Aptitudes, abilities, and skills, in idem (Org.), Handbook of
industrial and organizational psychology. Chicago, IL: Rand McNally, pp. 473-520.
FRIEDMAN H. H.; FRIEDMAN, L. W. (2010) Lessons from the global financial meltdown
of 2008. Journal of Financial Transformation, Vol. 28, pp. 45-54.
GRANT, A. M. (2008) The significance of task significance: job performance effects,
relational mechanisms, and boundary conditions. Journal of Applied Psychology, Vol. 93,
(1), pp. 108-124.
HALBESLEBEN, J. R. B.; BOWLER, W. M. (2007) Emotional exhaustion and job
performance: the mediating role of motivation. Journal of Applied Psychology, Vol. 92,
(1), pp. 93-106.
KIVIMKI, M.; VAHTERA, J.; KOSKENVUO, M.; UUTELA, A.; PENTTI, J. (1998) Response
of hostile individuals to stressful change in their working lives: test of a psychosocial
vulnerability model. Psychological Medicine, vol. 28, (4), pp. 903-913.
KNIPPENBERG, D. (2000) Work motivation and performance: a social identity
perspective. Applied Psychology, Vol. 49, (3), pp. 357-371.
LAINS, P. (2012) A crise em 2012. Relaes Internacionais, (33), pp. 43-52.
LATHAM, G. P.; PINDER, C. C. (2005) Work motivation theory and research at the dawn
of the twenty-first century. Annual Review of Psychology, Vol. 56, pp. 485-516.
568
LIND, E. A.; BOS, K. (2002) When fairness works: toward a general theory of
uncertainty management, in Barry M. Staw e Roderick M. Kramer (Orgs.), Research in
Organizational Behavior Volume 24. Amsterdam: Elsevier, pp. 181-223.
LINNA, A.; ELOVAINIO, M.; BOS, K. V.; KIVIMKI, M.; PENTTI, J.; VAHTERA, J. (2012) Can
usefulness of performance appraisal interviews change organizational justice
perceptions? A 4-year longitudinal study among public sector employees. The
International Journal of Human Resource Management, Vol. 23, (7), pp. 1360-1375.
LODGE, M.; HOOD, C. (2012) Into an age of multiple austerities? Public management
and public service bargains across OECD countries. Governance: An International Journal
of Policy, Administration, and Institutions, Vol. 25, (1), pp. 79-101.
MAROCO, J. (2007) Anlise estatstica: com utilizao do SPSS, 3. edio. Lisboa:
Edies Slabo.
MASCIO, F. D.; NATALINI, A.; STOLFI, F. (2013) The ghost of crises past: analyzing
reform sequences to understand Italys response to the global crisis. Public
Administration, Vol. 91, (1), pp. 17-31.
MCCANN, L. (2013) Reforming public services after the crash: the roles of framing and
hoping. Public Administration, Vol. 91, (1), pp. 5-16.
MCNUTT, K.; PAL, L. A. (2011) Modernizing government: mapping global public policy
networks. Governance: An International Journal of Policy, Administration, and
Institutions, Vol. 24, (3), pp. 439-467.
PARK, S. M.; WORD, J. (2012) Driven to service: intrinsic and extrinsic motivation for
public and nonprofit managers. Public Personnel Management, Vol. 41, (4), pp. 705-734.
PEREIRA, A. M.; PEREIRA, R. M. (2008) Controlling the public wage bill in Portugal: the
case of university professors. Applied Economics Letters, Vol. 15, (3), pp. 997-1000.
PESTANA, M. H.; GAGEIRO, J. N. (2005) Anlise de dados para cincias sociais: a
complementaridade do SPSS, 4. edio. Lisboa: Edies Slabo.
PETERS, B. G.; PIERRE, J.; RANDMA-LIIV, T. (2011) Global financial crisis, public
administration and governance: do new problems require new solutions?. Public
Organization Review, Vol. 11, (1), pp. 13-27.
PINDER, C. C. (2012) Work motivation in organizational behavior, 2. edio. New York,
NY: Psychology Press.
569
RUGY, V. (2013) Is austerity the answer to Europes crisis?. Cato Journal, Vol. 33, (2),
pp. 245-251.
SPRINGER, G. J. (2011) A study of job motivation, satisfaction, and performance among
bank employees. The Journal of Global Business Issues, Vol. 5, (1), pp. 29-42.
TYAGI, P. K. (1985) Work motivation through the design of salesperson jobs. Journal of
Personal Selling and Sales Management, Vol. 5, (1), pp. 41-52.
VAHTERA, J.; KIVIMKI, M.; PENTTI, J.; THEORELL, T. (2000) Effect of change in the
psychosocial work environment on sickness absence: a 7-year follow-up of initially
healthy employees. Journal of Epidemiology Community Health, vol. 54, (7), pp. 484-493.
ZAGELMEYER, S.; GOLLAN, P. J. (2012) Exploring terra incognita: preliminary reflections
on the impact of the global financial crisis upon human resource management. The
International Journal of Human Resource Management, Vol. 23, (16), pp. 3287-3294.
570
A ESCOLHA DO CURSO SUPERIOR
1,2
Instituto Politcnico de Coimbra - Instituto de Contabilidade e Administrao de Coimbra
3
Instituto Politcnico de Coimbra - Instituto Superior de Engenharia de Coimbra
RESUMO
A deciso acerca do par curso/instituio aquando da candidatura ao ensino superior ser
das mais importantes na vida de um jovem e uma das que mais influenciar o seu
percurso profissional.
Apesar das evolues recentes, os candidatos ao ensino superior continuam a no
conhecer muitos dos indicadores existentes e que poderiam influenciar essa importante
deciso.
Este trabalho surge da necessidade de compreender o processo de deciso da escolha do
curso superior por parte dos futuros candidatos, bem como o nvel de conhecimento que
estes possuem acerca das ferramentas que disponibilizam informaes relativas aos
cursos, avaliando assim a pertinncia do projeto que visa a conceo de um portal que
possua todos os indicadores disponveis e relevantes para a escolha de um curso superior
e que disponibilize os recursos e as opes necessrias para que sejam os candidatos e
no o Estado ou qualquer outra entidade a hierarquizar as suas prioridades.
571
ABSTRACT
The decision on the pair degree/institution, upon application to higher education will be
the most important in the life of a young person. Despite recent developments,
applicants to higher education still dont know many of the available indicators that could
influence their decision.
This work arises from the need to understand the process of decision making in choosing
an higher education degree by the future candidates, as well as the kind of knowledge
they have about the tools that provide information of the degrees, thus evaluating the
relevance of the project to the design of the portal, that has all the indicators available
and relevant to the choice of a college degree and providing the necessary resources and
options in order to be the candidates - not the state or any other entity - to prioritize their
priorities.
INTRODUO
Nunca no passado a escolha do curso superior foi to determinante como o hoje. Uma
escolha desajustada, resulta muitas vezes em abandono escolar numa fase inicial, ou em
dificuldades de empregabilidade, em resultado de saturao do mercado e/ou em
insatisfao profissional, numa fase posterior.
Para a realizao de uma escolha acertada, necessrio que o candidato conhea uma
srie de indicadores acerca dos diversos cursos, de forma a lhe ser possvel tomar uma
deciso criteriosa e baseada em factos concretos e no em meras intuies.
Consciente dessa problemtica a Assembleia da Repblica aprovou a Resoluo 53/2012,
recomendando ao Governo a criao de um portal que permitisse a consulta centralizada
de dados acerca dos cursos e dos estabelecimentos de ensino.
Pretendia-se igualmente que o portal desse ao candidato a possibilidade de cruzar os
dados de todos os critrios, possibilitando a criao de um ranking pessoal de escolhas,
por curso e por instituio, cabendo a cada candidato definir/parametrizar os critrios
relevantes bem como o peso relativo que cada critrio nesse ranking.
572
Na verdade o referido portal nunca foi concebido e os resultados da recomendao tero
sido reduzidos publicao de mais alguns indicadores acerca dos pares
curso/instituio, at esse momento indisponveis para os candidatos.
O projeto de que o presente estudo faz parte, visa a implementao do portal proposto
no mbito da Resoluo 53/2012 disponibilizando um portal, que centralizando a
informao necessria, permita aos candidatos no s a pesquisa de informao, mas
principalmente, a possibilidade efetuar uma hierarquizao de pares cursos/instituies,
atravs da criao de um ranking pessoal resultante da seleo de critrios e indicadores
e consequente importncia (peso) atribudo pelo candidato a cada um destes.
O presente estudo foi elaborado com o objetivo de melhor compreender, as motivaes
que assistem os futuros candidatos ao ensino superior, no processo de escolha dos cursos
a que se candidatam, bem como o nvel de conhecimento que estes possuem acerca dos
indicadores relativos aos cursos.
Pretende-se ainda avaliar o uso dado pelos alunos s diferentes ferramentas de pesquisa
de cursos atualmente existentes, assim como avaliar a sua predisposio para o uso de
um sistema de recomendao que lhes permita a hierarquizao de cursos, tendo em
conta os seus interesses e objetivos.
573
preenchidas nos dois anos letivos passados e qual a ltima mdia para a entrada no curso
nos ltimos dois anos letivos. A durao mdia para os alunos completarem a formao.
b) Satisfao dos alunos com o curso. Inquirir os alunos acerca da sua satisfao
com os vrios aspetos da sua formao, no momento de concluso da mesma.
c) Corpo docente. Apresentao do corpo docente, quanto sua formao (nmero
total de docentes, nmero de doutorados), diversidade de origens da sua formao
(quantos se formaram nessa mesma instituio e quantos provm de outras instituies),
e rcio de alunos por professor.
d) Departamentos disciplinares e investigao. Nmero de departamentos
disciplinares na faculdade e reas a que correspondem. Centros de investigao
existentes na instituio de ensino superior, e nmero de publicaes cientficas dos seus
investigadores.
e) Parcerias. Parcerias institucionais e internacionais, nomeadamente Erasmus:
nmero, reas e pases correspondentes.
f) Servios de ao social. Apresentao dos servios de ao social da instituio
(alojamento, alimentao, bolsas e outros apoios).
2) Critrios acerca da empregabilidade da formao:
a) Empregabilidade. Quantos dos formados na instituio, por curso, esto
empregados 6 meses, 1 ano e 3 anos aps a concluso da formao. Quantos, entre os
que esto empregados, esto a trabalhar na sua rea de formao. Percentagem, entre
os formados empregados, dos que conseguiram emprego atravs dos servios de
colocao das instituies de ensino.
b) Remunerao. Remunerao mdia 1 ano aps a concluso do curso e 3 anos
aps a concluso do curso.
Estes so alguns dos indicadores que o portal deve apresentar aos candidatos ao ensino
superior.
574
Pretendem-se ainda obter sugestes de funcionalidades e de indicadores relativos aos
cursos que o portal a desenvolver dever possuir.
Com vista obteno destes dados, aplicou-se um inqurito por questionrio eletrnico,
dirigido aos alunos finalistas do ensino secundrio.
Para o efeito, foi solicitado aos Servios de Psicologia e Orientao dos agrupamentos
escolares, o envio aos alunos por e-mail do link de acesso ao questionrio.
O pblico-alvo do estudo o universo dos alunos que frequentam o 12 ano de
escolaridade, pblico e privado, permitindo a constituio e uma amostra representativa
do universo em estudo, o que corresponde a uma unidade de observao de 640 escolas
secundrias (pblicas e privadas), regulares e profissionais, de Portugal.
O inqurito pretende aferir, para o caso portugus, qual o grau de deciso dos alunos
acerca do curso superior a escolher, as suas condicionantes e a sua predisposio para
usar um sistema de apoio deciso de suporte a essa escolha.
Todos os alunos a que o inqurito possa ter sido encaminhado foram livres para decidir
da sua participao ou no nesta investigao e todos os dados foram processados de
forma annima.
Hipteses do estudo
Foram estabelecidas as seguintes hipteses para o presente estudo:
H1: A maior parte dos alunos pretende-se candidatar ao ensino superior;
H2: Os alunos finalistas possuem dvidas acerca do curso superior a que se iro
candidatar;
H3: Os alunos finalistas recorrem pouco s ferramentas de pesquisa atualmente
disponveis;
H4: A importncia atribuda pelos alunos aos vrios indicadores dos cursos varia;
H5: Os alunos utilizariam um sistema de recomendao que lhes permitisse a
hierarquizao de cursos, tendo em conta os seus interesses.
Questes
O questionrio elaborado possui dois grupos de questes. O primeiro grupo constitudo
por nove questes que possuem o objetivo de, atravs das suas respostas, permitirem
compreender melhor o processo de escolha do curso superior. Neste grupo existem
igualmente questes com o objetivo de permitirem avaliar quais os critrios acerca dos
575
cursos que os alunos consideram mais relevantes, bem como a possibilidade de estes
sugerirem outros critrios alm dos propostos pelos autores.
Constituem este grupo as seguintes questes:
1. No final do presente ano letivo pensas candidatar-te ao ensino superior?
1.1. J sabes a que cursos te irs candidatar?
2. A que sites que disponibilizam informao acerca dos cursos superiores j acedeste?
3. Qual a importncia que atribuis a cada um dos seguintes indicadores dos cursos?
4. Indica outros indicadores, acerca dos cursos, que consideras muito importantes
5. Utilizarias um sistema de recomendao, que te permitisse atribuir maior ou menor
peso aos indicadores que consideras mais ou menos relevantes, de forma a encontrares a
hierarquizao de cursos que melhor se aproxima dos teus objetivos?
6. Num sistema de recomendao, como classificas a possibilidade de atribures pesos a
cada um dos indicadores de acordo com a importncia que lhes atribuis?
7. Num sistema de recomendao, como classificas a capacidade deste mostrar,
claramente, como foi obtido o resultado final (cursos recomendados)?
8. Que importncia poder ter esse sistema de recomendao na tua deciso?
9. Tens sugestes que gostasses de partilhar?
Do segundo grupo fazem parte as questes que permitiro efetuar a definio do perfil
dos inquiridos, sendo constitudo pelas seguintes questes:
10. Que idade tens?
11. Qual o teu gnero?
12. Qual a tua rea de estudos?
13. Qual o teu distrito?
14. Se quiseres, indica o teu e-mail para poderes receber os resultados do presente
inqurito e novidades acerca do portal de apoio seleo do curso superior que estou a
desenvolver.
RESULTADOS
Dado o perodo de respostas no estar ainda terminado, neste trabalho sero apenas
analisados os resultados preliminares obtidos at presente data, do qual constam 436
respostas completas.
Seguidamente ser efetuada a anlise s questes que constituem o primeiro grupo de
respostas.
576
Questo 1: No final do presente ano letivo pensas candidatar-te ao ensino superior?
Conforme os dados apresentados no grfico da Figura 1, verifica-se que a maior parte dos
alunos tem inteno de se candidatar ao ensino superior, sendo que 46% dos mesmos o
afirmaram sem dvidas e 36% com alguma reserva. Apenas 18% dos alunos manifestou
que no se ir candidatar.
577
Figura 2 Grau de definio do curso a concorrer.
Questo 3: A que sites que disponibilizam informao acerca dos cursos superiores j
acedeste?
Das respostas obtidas importa destacar que a maior parte dos alunos apenas j acedeu ao
site da Direo-Geral de Ensino Superior (51%), enquanto que 42% dos alunos no acedeu
a nenhum dos sites referidos (ver Figura 3).
578
Questo 4: Qual a importncia que atribuis a cada um dos seguintes indicadores dos
cursos?
Da anlise s respostas obtidas verifica-se que todos os indicadores referidos foram
classificados como importantes para a maioria dos inquiridos. Destacam-se a esse
respeito os indicadores Valor da propina e Remunerao mdia aps concluso do
curso, ambos com 80 , ltima mdia de entrada (85 ), e Empregabilidade do curso
(88%), sendo que 60% dos alunos classificaram esse indicador como muito importante
(ver Figura 4).
Questo 5: Indica outros indicadores, acerca dos cursos, que consideras muito
importantes
Somente 13% dos inquiridos responderam a esta questo, importando registar que uma
parte considervel das sugestes recebidas j se encontrava prevista (embora no fosse
apresentada no questionrio).
Contudo, verificaram-se sugestes interessantes como: parcerias com empresas para
garantia de estgio, nmero de alunos empregados aps um ano, grau e satisfao dos
alunos, notas de ingresso, notas das provas de ingresso, sadas profissionais, grau de
dificuldade do curso, rigor do regime de faltas muito rigoroso para perda de subsdio,
temtica das unidades curriculares, incentivos aprendizagem ou sadas profissionais.
579
Questo 6: Utilizarias um sistema de recomendao, que te permitisse atribuir maior ou
menor peso aos indicadores que consideras mais ou menos relevantes, de forma a
encontrares a hierarquizao de cursos que melhor se aproxima dos teus objetivos?
Da anlise das respostas verificou-se que a clara maioria dos inquiridos (84%) utilizaria um
sistema de recomendao, enquanto que apenas 16% manifestou vontade contrria.
580
Figura 6 Transparncia nos resultados.
Questo 9: Que importncia poder ter esse sistema de recomendao na tua deciso?
Da anlise dos dados verifica-se que 87% dos inquiridos considera que um sistema de
recomendao baseado em pesos e que apresente resultados transparentes poder ser
importante na sua deciso em oposio aos 13% quem consideram que tal sistema pouco
ou nada poderia influenciar a sua deciso (ver Figura 7).
581
Questo 10: Tens sugestes que gostasses de partilhar?
Neste ponto, apesar de terem sido obtidas 44 respostas, no foram verificadas sugestes
significativas a registar.
Outras questes
Relativamente ao segundo grupo de questes, que possua o objetivo de permitir a
criao do perfil dos inqueridos, importa referir os seguintes pontos:
- Verificou-se um equilbrio no que respeita ao gnero dos inquiridos (54% feminino e
46% masculino);
- Obtiveram-se respostas de alunos provenientes de todos os distritos e regies
autnomas do pas com especial destaque para a Regio Autnoma da Madeira (17%),
Porto (14%) e Lisboa (13%);
- Verificou-se uma predominncia de respostas de alunos com idades compreendidas
entre 17 (31%) e 18 (42%) anos (ver Figura 8).
582
ainda possvel concluir que os alunos recorrem pouco s ferramentas disponveis para
os ajudar em tal processo (H3).
Verificou-se igualmente que a importncia atribuda pelos alunos aos vrios indicadores
dos cursos varia (H4) e que a maior parte dos alunos utilizaria um sistema de
recomendao que lhes permitisse a hierarquizao de cursos, tendo em conta os seus
interesses (H5).
Destes resultados pode-se concluir igualmente de que existem condies para que o
projeto de criao do portal em elaborao possa ser bem recebido pelos alunos
candidatos ao ensino superior, dadas as suas caractersticas.
Aps a concluso do perodo de disponibilizao do presente estudo todos os resultados
e concluses sero reavaliadas.
BIBLIOGRAFIA
Brites-Ferreira, J., Seco, G.-M., Canastra F., Simes-Dias I., e Abreu, M.-O. 2011.
(In)sucesso acadmico no Ensino Superior: conceitos, factores e estratgias de
interveno. Revista Iberoamericana de Educacin Superior, Vol. II, (2011), 2840.
Costa, A.F. da e Lopes, J.T (Coord.). 2008. Os estudantes e os seus trajectos no ensino
superior: Sucesso e Insucesso, Factores e Processos, Promoo de Boas Prticas. Relatrio
Final, CIES-ISCTE, IS-FLUP.
Likert, R. 1932. A technique for the measurement of attitudes. Archives of Psychology, Vol
22 140, (1932).
Mendes, S. A., Abreu-Lima, I., & Almeida, L. S. 2013. Psiclogos Escolares em Portugal:
Contributo para a sua Caracterizao Profissional. Revista de Psicologia, Educao e
Cultura, Vol 17(1), 190-208.
Tavares, J. e Rui A. Santiago (Org.) 2001. Ensino Superior, (In)Sucesso Acadmico. Porto
Editora.
Resoluo da Assembleia da Repblica n. 53/2012, Dirio da Repblica, 1. srie, N. 80
23 de abril de 2012.
583
DESIGUALDADES DIGITAIS E SOCIEDADE DA INFORMAO: BREVES NTULAS E
REFLEXES
Alexandre Figueiredo
Centro de Investigao Professor Doutor Joaquim Verssimo Serro / Centro de Investigao Media e
Jornalismo
RESUMO
Neste trabalho propomo-nos reflectir sobre a complexa problemtica das desigualdades
digitais no quadro da sociedade da informao. Para tanto, num primeiro momento,
concretizaremos uma abordagem noo de sociedade da informao, incluindo s teses
tecno-optimistas, tecno-pessimistas e tecno-realistas. Posteriormente, abordaremos o
conceito de desigualdades digitais, tendo presentes as diferentes designaes e objectos
de estudo que a ideia conheceu ao longo do tempo. Concluiremos com algumas breves
reflexes a propsito das implicaes e desafios sociais colocados pelo fenmeno do
digital divide.
584
ABSTRACT
In this work we propose to reflect on the complex problem of digital inequalities in the
context of the information society. For this, at first, we will perform an approach to the
concept of information society, including the techno-optimists, techno-pessimists and
techno-realists thesis. Subsequently, we will discuss the concept of digital inequalities,
keeping in mind the different formulations and study objects that the idea met over time.
We will conclude with some brief considerations on the implications and social challenges
posed by the phenomenon of digital divide.
INTRODUO
O ambiente hodierno surge-nos absolutamente repleto de tecnologia. O homem
ocidental do sculo XXI vive imerso num ambiente tecnolgico densamente povoado por
uma infindvel parafernlia de aparelhos tecnolgicos. No entanto, quando acima
fazemos referncia ao homem ocidental, fazemo-la, justamente, porque a distribuio da
tecnologia no uniforme no mundo. Nem sequer no, assim chamado, mundo
desenvolvido. Esta alis uma hiptese formulada em 2001 por Pippa Norris, que
identificou a existncia de um global divide, um social divide e um democratic divide 19.
Todavia, para falar de desigualdades digitais indispensvel contextualizar esta temtica
no quadro mais vasto da Sociedade da Informao bem como nas suas vrias sub-
correntes. Ser esse o nosso primeiro objectivo. Depois centrar-nos-emos na questo das
desigualdades digitais.
19
A diviso global refere-se divergncia no acesso Internet entre as sociedades industrializadas e em
desenvolvimento. A diviso social diz respeito ao hiato entre a abundncia e a escassez informacional dentro de cada
nao. E, finalmente, dentro da comunidade em linha, o fosso democrtico regista a diferena entre aqueles que usam
e os que no usam a panplia de recursos digitais para se envolverem, mobilizar, e participar na vida pblica.
585
a questo o que a sociedade da informao. H quem garanta que pases desenvolvidos
como os Estados Unidos da Amrica, o Japo, ou a maioria dos Estados-Membros da
Unio Europeia, entre outras economias avanadas, encontram-se j num estgio que
pode ser qualificado de sociedade da informao (Daniel Bell, Alvin Toffler, Bill Gates,
Michael Dertouzos, William Mitchel, Peter Drucker, ). H, pelo contrrio, quem afirme
que um exagero dizer-se que vivemos numa tal sociedade (Christopher May, Frank
Webster, Kevin Robbins, Nicholas Garnham, Nico Carpentier, entre outros). H quem
proponha definies alternativas, como sociedade informacional ou sociedade em rede
(Manuel Castells, Robert Pintr, Gustavo Cardoso, David Shenk, ). H, por ltimo, quem
coloque a nfase no no facto de se as nossas sociedades so ainda industriais ou
informacionais, antes se so informacionais ou j ps-informacionais (Nicholas
Negroponte). Mais adiante observaremos mais detalhadamente cada uma destas teses.
Destarte, e querelas doutrinrias parte, o que podemos ter , na melhor das hipteses,
um conjunto de pistas acerca desta problemtica o qual , prontamente, colocado em
causa pelas teses concorrentes. Admitindo a existncia de uma sociedade da informao
diramos, na linha de Pippa Norris, que esta ocorre desigualmente entre os diferentes
pases e que, existem sinais contraditrios, passveis, portanto, de manterem aceso o
dilogo entre as diferentes correntes.
Enquadramento Histrico
Impem-se, antes do mais, algumas breves anotaes guisa de Enquadramento
Histrico. Na realidade, quando se faz apelo a uma sociedade da informao esta
reivindicao no surge desligada de algumas importantes transformaes sociais
ocorridas na centria predecessora. Entre as mais comummente referidas, conta-se o
crescimento do sector tercirio em todo o sculo XX, mas especialmente no perodo do
Ps-II. Guerra Mundial; a diminuio dos activos empregados nos sectores primrio
(agricultura, pescas, indstrias extractivas) e secundrio (indstria transformadora) e,
tambm; a intensificao da internacionalizao das empresas, bem como uma srie de
alteraes estruturais nas unidades de produo.
Foi, todavia, Daniel Bell, por meio da obra The Coming of the Post-Industrial Society
(1973), quem nos forneceu um roteiro extremamente detalhado e minucioso para
apreendermos as modificaes sociais, econmicas e polticas em curso. Trs ressalvas
586
devem, no entanto, ser feitas. Por um lado, o conceito de sociedade ps-industrial no
da lavra de Bell. Foram, Coomaraswamy e Penty, dois economistas britnicos quem, em
1914, formularam pela primeira vez este conceito. De igual modo, tambm a noo de
sector tercirio, muito presente nos trabalhos deste acadmico americano, foi
originalmente desenvolvida por Colin Clark, na dcada de 1940. Por outro lado, o prprio
conceito de sociedade da informao ter nascido no Japo, mais de uma dcada antes
deste trabalho de Bell, sendo a verso usualmente aceite, ainda que no seja a nica,
uma conversa entre Kisho Kurokawa e Tudao Umesao, em 1961.
Em termos muito sumrios a tese de Bell resume-se na substituio de um paradigma
industrial, baseado em fbricas/indstrias gigantescas, em maquinaria pesada e numa
fora de trabalho semi-qualificada (blue collar workers) por um novo modelo
organizacional no qual pontificam os servios, assentes no conhecimento e numa mo-
de-obra altamente especializada (white collar workers) e em pequenas unidades
produtivas descentralizadas. Nas palavras do prprio "[p odemos dizer [ que a U.S.
Steel a empresa paradigmtica do primeiro tero do sculo XX, a General Motors do
segundo tero do sculo, e a IBM a do tero final. As atitudes contrastantes das
corporaes perante a investigao e desenvolvimento so uma medida dessas
mudanas". O seu trabalho identifica igualmente cinco reas chave da mudana: 1.
Sector econmico: a mudana de uma economia de produo de bens para uma
[economia] de servios; 2. Distribuio ocupacional: a preeminncia das classes
profissionais e tcnicas; 3. Eixo principal: a centralidade do conhecimento terico como a
fonte da inovao e da formulao poltica da sociedade; 4. Orientao futura: o controlo
da tecnologia e avaliao tecnolgica; 5. Tomada de decises: a criao de novas
tecnologias intelectuais" (Bell, 1973: 14, traduo nossa, parntesis nossos).
Estas 5 reas-chave esto na origem da proposta de sociedade ps-industrial de
apresentada pelo autor. Note-se, porm, que a noo de ps-industrial surge aqui porque
a formulao tpica de sociedade industrial j no parecia compatvel com as novas
tendncias e desafios societais (veremos melhor esta questo quando, mais adiante, nos
debruarmos sobre as propostas tecno-optimistas). Bell reporta-se vrias vezes, tambm,
a uma sociedade do conhecimento, ou a uma sociedade da informao, que so
designaes alternativas e prova de que o conceito no estava (no o est ainda hoje)
bem assente. , pois, com base nas suas propostas que surgem todas as demais
587
abordagens ao fenmeno. Designadamente as trs principais correntes: Tecno-
optimismo, Tecno-pessimismo e Tecno-realismo. No nos ser possvel deixar mais do
que algumas breves impresses. Ainda assim estas justificam-se plenamente com vista ao
cumprimento dos objectivos inicialmente traados.
588
Em quarto lugar surge-nos uma tripla de conceitos: dessincronizao, desmassificao e
desterritorializao. Qualquer deles faz aluso a uma profunda transformao das
estruturas sociais antecedentes. Por um lado, o tempo adquire uma dimenso cada vez
mais pessoal e fragmentada (os tempos de trabalho, de descanso, de lazer, de frias so
cada vez mais individuais) por oposio aos ritmos massificados da era industrial. Idntica
tendncia podemo-la encontrar no mundo dos negcios, no qual o tempo de negociao
(das bolsas de valores, por exemplo) o segundo, nas 24 horas do dia. O tempo deixa
aqui de seguir uma lgica nacional para seguir uma lgica global. Em idntico sentido, os
produtos, outrora tambm eles sujeitos aos ditames de massificao e uniformizao
impostos pela era industrial tornam-se cada vez mais pessoais e personalizveis. Seguindo
ainda esta ideia de fragmentao, ocorre aquilo que os comuniclogos apelidam de
fractura da unidade territorial e temporal da comunicao. Neste novo modelo, meios de
comunicao assncronos (carta, e-mail, atendedor de chamadas) e sincrnicos (telefone,
videoconferncia), tendem a convergir e a complementar-se. Tambm as relaes de
poder tradicionais so afectadas. As hierarquias, i.e., os sistemas de poder vertical,
diluem-se em sistemas de poder horizontal. No tocante, por fim, noo de
desterritorializao notamos que a comunidade se torna crescentemente descolada da
geografia. Assistimos, aos fenmenos da globalizao e de uma certa supra-
territorialidade expressos na reduo, quando no superao das distncias. O
automvel, o comboio, ou o avio reduzem as distncias; as redes telemticas possuem a
virtualidade de as eliminarem, visto que, conforme registmos atrs, a informao no
conhece ou detida por fronteiras polticas. Deste modo, como aponta Mitchell (1999),
as nossas ligaes rede esto a tornar-se to importantes como as nossas localizaes
fsicas. Estar na periferia das redes de alto dbito no mbito da sociedade da informao
equivale a viver nos subrbios das grandes cidades na era industrial.
Por fim, a quinta categoria a que acima fizemos referncia. Nesta nova ordem
anunciam-nos uma economia baseada no conhecimento e nas qualificaes dos
indivduos. Predominam os analistas de smbolos (i.e., especialistas do conhecimento,
altamente qualificados que lidam essencialmente com problemas, com informao e no
com tarefas rotineiras e repetitivas, como os trabalhadores da era industrial). Estes
profissionais so remunerados em funo no de um horrio, antes do desempenho de
tarefas/projectos/objectivos e, por conseguinte auferem retribuies muito variveis e
589
dependentes de ndices qualitativos. Estes prestadores de servios no seguem, por um
lado, a relao jurdica laboral convencional; por outro, tambm no conhecem chefes ou
patres. Tm, pelo contrrio, colegas, scios, parceiros e trabalham em equipas pequenas
e flexveis que podem, pontualmente, juntar-se a outras. Dinamismo, flexibilidade,
instabilidade, especializao e actualizao permanente, adaptabilidade, etc., so, neste
quadro, as ideias fundamentais.
Neo-Luddismo ou Tecno-pessimismo
Seguindo idntica estrutura atrs empregue para analisarmos as teses tecno-optimistas,
tambm, aqui, optmos pela compilao dos argumentos tecno-pessimistas em vrias
categorias, no caso, igualmente, cinco.
Assim, em primeiro lugar, ao aumento da informao em circulao anunciado pelos
tecno-deterministas, contrapem autores como Webster (2002), Robbins (2005), May
(2003), Garnham (1999 e 2011), Carpentier (2011) que mais informao no significa
necessariamente melhor informao. Este discurso da corrente tecno-determinista , na
verdade, asseguram, um mero exerccio estatstico. H de facto mais informao. Mas
ser que h melhor informao? Questes como: que gnero de informao aumentou?
quem a gerou? com que propsito? com que consequncias? precisam de respostas e
os trabalhos dos primeiros no as fornecem.
Em segundo lugar, parecem existir mais continuidades tecnolgicas do que rupturas. A
sociedade mais enredada no trouxe essencialmente nada de novo. Na perspectiva de
May (2003) o telgrafo elctrico ter proporcionado uma experincia bem mais estranha
ao homem do sculo XIX, do que Internet ao do final do sculo XX. Com efeito, a retrica
tecno-determinista parece largamente apoiada em conceitos indeterminados e muito
vagos na sua concretizao. Quantos aparelhos tecnolgicos, por exemplo, so
necessrios para se poder afirmar que estamos numa sociedade da informao? Tudo
concorre, portanto, para uma ideia de progresso contnuo e automtico, como se o
progresso fosse uma profecia auto-realizvel.
No tocante perspectiva econmica, o terceiro aspecto em apreciao, para os tecno-
optimistas existe sociedade da informao quando as actividades profissionais forem
maioritariamente desenvolvidas com recurso a meios tecnolgicos. Tal argumento ,
porm, uma falcia. Numa empresa, as reas comercial, recursos humanos,
590
contabilidade, financeira, etc., hoje quase exclusivamente dependentes dos
computadores e das redes, j existiam, porm, antes deles. No pode, por conseguinte,
colher um tal fundamento. Por outro lado, os tecno-deterministas tendem a reduzir a
globalizao a um mero apontamento de cariz econmico. Ora, como bem sabido, a
globalizao um fenmeno de interconexo e interpenetrao mtua das culturas, dos
povos, das sociedades. um acontecimento que se verifica numa escala macro e no
micro. uma ocorrncia social que se reflecte na economia e no o inverso como
erradamente a linha dura do determinismo tecnolgico pretende impor.
A quarta crtica da corrente tecno-pessimista aos opositores versa sobre a centralidade
dos trabalhadores do conhecimento e a existncia de uma sociedade sem esforo fsico
que o ponto dos tecno-optimistas. No entanto, como vimos atrs, apenas poderemos
observar uma mudana de padro na ocupao dos sujeitos contabilizando os
trabalhadores essencialmente do conhecimento, i.e., aqueles que fazem tarefas
especificamente relacionadas com informao e cujas profisses apareceram com as
novas tecnologias de informao e comunicao. S devem ser considerados
trabalhadores do conhecimento aqueles cujas ocupaes foram criadas ex novo pela
sociedade da informao. Ora, deste ponto de vista, os trabalhadores do conhecimento
so necessariamente uma minoria e no a maioria.
As tecnologias anunciam-nos, tambm, um mundo fantstico e ps-geogrfico que no
conhece distncias, fronteiras, etc.. Porm, a linha neo luddista contesta a excessiva
centralidade que dada a esta temtica. verdade que as tecnologias e as redes
permitem novas formas de interaco e comunicao. No entanto, voltamos a deparar-
nos com o problema dos conceitos indeterminados. Por exemplo, quando que uma rede
uma rede? Duas pessoas ao telefone so uma rede? Ou, dito doutro modo: no existiam
j redes (de correios, de mercadores, de artesos, de professores, de clrigos, etc.), na
Idade Mdia? Qual a diferena dessas para as redes actuais? O aparato tecnolgico
apenas? Por outro lado, o mundo ps-geogrfico, com distncias mitigadas e/ou anuladas
anunciado pelos tecno-optimistas no passa, de acordo com esta perspectiva, de uma
utopia. Se verdade que a mediao atravs de meios tecnolgicos cada vez mais eficaz
na simulao da realidade (realidade virtual, luvas que simulam o tacto, reproduo
sinttica de odores, que se juntam ao som e imagem j existentes) e mais
591
rpida/instantnea (o tempo real) a verdade que a realidade virtual dificilmente alguma
vez conseguir alcanar um nvel de simulao/imerso total.
20
A Descrio e Declarao de Princpios original, apresentada em 12 de Maro de 1998, resultou da colaborao entre
doze escritores da tecnologia David Bennahum, Brooke Shelby Biggs, Paulina Borsook, Marisa Bowe, Simson Garfinkel,
Steven Johnson, Douglas Rushkoff, Andrew Shapiro, David Shenk, Steve Silberman, Mark Stahlman e Stefanie Syman
baseada num conceito e num documento de trabalho de Shapiro, Shenk e Johnson ([em linha :
http://www.technorealism.org/faq.html#2.1, traduo nossa).
21
No sentido da declarao integral, vd. [em linha]: http://www.technorealism.org.
592
mais rigorosas e desprendidas dos excessos retricos observados nos discursos tecno-
optimista e tecno-pessimista.
Este afinamento conceptual deve muito ao tipo de abordagem temporal seguida pelos
autores. Com efeito, se nos trabalhos da linha optimista tende a ser considerada apenas a
curta durao, e da aqueles que se dedicam ao estudo do fenmeno apenas conseguem
registar alteraes radicais, no caso da linha pessimista o horizonte temporal surge-nos
muito mais alargado. Por esta razo, so incapazes de discernir qualquer agitao
superficial na longa jornada do tempo. Diferentemente, seguindo uma lgica macro-
meso-micro, na qual possam caber no apenas a curta como tambm a longa durao, e
vice-versa, estes investigadores tm, simultaneamente, uma perspectiva panormica
sobre o fenmeno sem, todavia, perderem de vista os detalhes. Ora, tal revela-se
especialmente til para uma mais rigorosa definio conceptual 22.
Quando confrontados com a questo: vivemos numa sociedade da informao, Cardoso e
Castells respondem que todas as pistas convergem nessa direco. Todavia, e na linha do
apontamento inicial, h que usar de alguma ponderao. Desde logo porque, dada a
oscilao do conceito de sociedade da informao de lngua para lngua, talvez seja mais
prudente o recurso a uma noo alternativa de sociedade informacional. Esta opo
justificam-na os autores pelo facto desta frmula reflectir de um modo mais rigoroso
aquela que ser a nota distintiva da actual sociedade. Por contraponto sociedade
industrial, na qual a indstria central, uma sociedade informacional apresentar como
elemento nuclear a informao.
Um ltimo importante contributo ainda: a noo de rede. A nova sociedade caracteriza-se
pela centralidade das redes que desarticulam as estruturas hierrquicas anteriores,
verificando-se a fuso entre a comunicao de massa e a comunicao interpessoal,
expressa no hipertexto, para o qual convergem vrias plataformas e dispositivos. Dos
negcios cultura, da educao interaco e relaes sociais, da investigao poltica,
a informao e as redes telemticas parecem ter invadido o nosso quotidiano at ao mais
essencial dos seus redutos.
22
A este respeito, vd. Figueiredo, 2012a: 311 e ss..
593
DESIGUALDADES/DIVISES DIGITAIS
Em termos muito grosseiros este conceito versa sobre as desigualdades existentes no
acesso, nos usos e nos benefcios que as TIC proporcionam a diferentes indivduos.
23
O conceito de fosso digital , segundo Warschauer (2001: 1), semelhana do de Sociedade da Informao, um dos
fenmenos sociais mais estudados no nosso tempo. , tambm, um dos mais confusos e imprecisos. De acordo com
Gunkel (2003: 3, traduo nossa, aspas no original, parntesis no original) "[a] origem do termo 'fosso digital'
permanece incerta e ambgua. Publicaes e estudos recentes referenciam rotineiramente 'Falling from the Net:
Defining the Digital Divide', o terceiro de uma srie de relatrios publicados pelo Departamento do Comrcio das
Telecomunicaes Nacionais e Gesto da Informao dos Estados Unidos (NTIA, 1999). Contudo, a NTIA no originou
esta expresso. [...] Estou certo que roubei o termo, mas no estou certo a quem o roubei23. Jonathan Weber do
Industry Standard argumenta convictamente que algures por volta de 1995 ele e Amy Harmon (quando ambos estavam
no LA Times) inventaram o termo para descrever a diviso social entre aqueles que estavam muito envolvidos na
tecnologia e aqueles que no estavam. Creio que ouvi o termo pela primeira vez no perodo entre o final de 95 e o incio
de 96 numa conferncia num estado ocidental, Montana, Dakota do Norte ou Dakota do Sul. No usmos formalmente
o termo na NTIA seno meses depois, e o termo no adquiriu a ubiquidade de que goza hoje antes do lanamento do
terceiro relatrio 'Falling Through the Net' em Julho de 1999. [ O mais correcto ser dizer que ningum na NTIA
inventou o termo fosso digital [digital divide]. Os relatrios da NTIA foram, contudo, o catalisador para a popularidade,
ubiquidade e redefinio (do uso original do LA Times) do termo".
24
A este respeito ver Salgado (2011), Vicente (2011), Esteves (2011), Gunkel (2006), Warschauer (2001), entre outros.
25
Este estudo intitulado Mass media flow and differential growth in knowledge, introduziu a noo, ainda vlida na
actualidade de knowledge gap hypothesis (hiptese do distanciamento). Segundo esta tese os meios de comunicao
de massa, designadamente a televiso, estariam a introduzir novas desigualdades de conhecimentos entre os
indivduos. Por outras palavras, os meios de comunicao de massa potencia(va)m o aumento do hiato de
594
momentos o conceito versava sobre a problemtica do acesso s tecnologias (lato sensu,
televiso, telefone, etc.) s vindo a adquirir a actual conotao com as TIC j no virar do
milnio. Com efeito, embora, como de seguida veremos, no tenha tido origem na NTIA
(National Telecommunications and Information Administration), foi contudo o 3.
Relatrio (Falling from the Net: Defining the Digital Divide) desta Agncia Federal
Americana, publicado em 1999, que popularizou/massificou a expresso. Neste relatrio,
fosso digital definido como a discrepncia entre aqueles com e sem acesso a novas
tecnologias'. [...] Neste sentido, o 'fosso digital' refere-se a uma forma de desigualdade
scio-econmica demarcada pelo nvel de acesso que cada um tem s TI (Gunkel, 2006:
5-6, traduo nossa, aspas no original).
conhecimentos previamente existente entre indivduos mais expostos e menos expostos informao, ao invs de,
conforme anunciado, as diminurem. Na verdade, as concluses destes estudos, que demonstraram a perversidade
potencial dos meios de comunicao de massa, mantm-se especialmente vlidos no quadro das tecnologias da
sociedade da informao, as quais esto a introduzir novas e abissais diferenas nos usos e vantagens que os indivduos
retiram do seu uso. Vd. Tichenor et al., 1970.
26
Reforamos aqui que o conceito de tecnologia era entendido numa dimenso de banda larga, s vindo a adquirir o
sentido actual numa fase posterior.
595
Referimo-nos, em concreto, a uma segunda fase que passou a considerar igualmente
aspectos de carcter scio-econmico nas investigaes desenvolvidas. Destacamos de
entre os demais, factores como: 1) idade tendo-se concludo que os utilizadores mais
novos apresentam uma tendncia para um uso mais intenso (expresso tanto em
percentagens de indivduos utilizadores como em nmero de horas de uso); 2) gnero
verificou-se uma desigualdade na utilizao da Internet por parte de Homens e Mulheres,
com vantagem para o primeiro grupo. Registe-se, no entanto que esta discrepncia tem
vindo a estreitar-se, embora no tenha ainda desaparecido de todo; 3) factores scio
culturais tendo-se apurado uma correlao positiva entre um nvel escolar/cultural mais
elevado e um uso mais regular/frequente das TIC; 4) factores scio-econmicos tendo-
se igualmente percepcionado um envolvimento com a tecnologia que acompanha o nvel
dos rendimentos familiares, e; 5) raa este aspecto adquire especial relevo numa
sociedade profundamente heterognea como a americana. As concluses encontradas
sugerem uma correlao positiva entre utilizao e a raa branca, ao passo que, mostram
uma correlao negativa que especialmente vlida para os indivduos negros e latinos.
Finalmente, num momento posterior, os investigadores tentaram introduzir um patamar
acrescido de refinamento s suas variveis de anlise. Nesta terceira fase, importa agora
saber tambm: 1) se existe computador e; 2) quais as respectivas caractersticas; 3) se
existe ligao Internet e; 4) quais as caractersticas da ligao (dial-up, cabo, RDIS, etc.);
5) o nmero de horas despendido em actividades em linha. Estes indicadores so ento
cruzados com as informaes scio-econmicas introduzidas pelos estudos de 2.
Gerao, contribuindo efectivamente para um crescente grau de conhecimento no
respeitante forma de acesso (os aspectos tcnicos) e s condies de acesso (os
indicadores de cariz scio-econmico) s TIC.
No obstante estes trabalhos de investigao representarem um evidente progresso, a
informao recolhida era ainda, segundo alguns autores, escassa no sentido de dar
resposta a um conjunto de questes importantes, posto que, se revelava incapaz de ir
alm da questo do acesso. Como aponta Nick Couldry (2003: 9, traduo nossa) "[u]ma
fraqueza, que todos estes estudos partilham, o quo pouco nos dizem acerca da
qualidade do uso pelas pessoas da Internet e como esta pode variar. Daqui resulta que
quaisquer estudos nesta matria tenham necessariamente de congregar e cruzar duas
categorias principais de anlise: acesso e participao/usos.
596
Estudos de 2. Gerao: o problema dos usos
O problema do acesso, atrs focado, no esgota, como de resto se percebeu, a complexa
e imbrincada teia de dimenses suscitadas pelo fenmeno do fosso digital. Esta pelo
menos a perspectiva de DiMaggio et al. (2004) 27. Saliente-se, no entanto que os autores
no apreciam a prpria designao de fosso digital (digital divide), propondo,
diferentemente, que : "[ importante compreendermos que o termo 'fosso digital'
errneo porque sugere uma diviso unidimensional. Ao invs, desigualdades existem em
mltiplas dimenses acesso tecnolgico, autonomia, apoio social, competncias, tipos
de usos e assim um melhor termo para apreender as consequncias potenciais do
acesso diferenciado e do uso da Internet para a estratificao social a 'desigualdade
digital (DiMaggio et al., 2004, traduo nossa, aspas no original). Deste modo, o modelo
anterior assente na diviso binria (a oposio entre os que tm e no tm acesso; entre
os que usam e no usam as TIC) foi declarado obsoleto, em resultado da adopo de
novas variveis de estudo, como o so a desigualdade no acesso e a distribuio e uso das
tecnologias, que seguem uma escala gradativa, ao invs do mero registo dual 28. De uma
assentada duas alteraes radicais: o objecto de estudo (que evoluiu do acesso para os
usos) e o prprio conceito em estudo (que abandonou a designao de fosso digital para
adoptar a de desigualdades digitais).
Nesta segunda gerao de investigao ao fenmeno do digital divide (a noo por que ,
ainda na actualidade, maioritariamente conhecido o conceito) importa, por conseguinte,
perceber: 1) quantos indivduos esto ligados; mas, tambm, 2) quais os indivduos que
esto ligados; de que 3) equipamento dispem para o acesso; ainda, 4) o que fazem em
linha (isto se se limitam a aceder aos recursos partilhados por terceiros, ou se tambm
actuam como produtores/criadores de contedos), e; por fim, 5) que benefcios (pessoais,
sociais, profissionais, educacionais/culturais, econmicos), obtm desse uso/participao.
Relativamente, especificamente s duas ltimas categorias, isto , aquelas que surgem
ligadas ao problema dos usos, Hargittai (2003: 129) elaborou uma grelha de 11
indicadores indispensveis a uma investigao mais completa: 1) Meios eficazes e seguros
de contactar com outros (um bom exemplo o correio electrnico que, apesar de parecer
27
Mas tambm de Zillien e Hargittai, 2009: 274.
28
Vd., entre outros, os trabalhos de Wilson (2004), Norris (2001), Tsatsou (2011), Couldry (2003), Vicente (2011),
Hargittai (2009), Warschauer (2003), Dahlgreen (2011), DiMaggio et al. (2001), DiMaggio et al. (2004).
597
uma operao corriqueira no o na verdade, nas funcionalidades mais avanadas
incluso de anexos, mltiplos destinatrios, destinatrios ocultos, e outras operaes,
como recibos de entrega e/ou leitura, ...); 2) Conhecimento acerca de como contribuir
para conversao em grupos e contedos partilhados (o envolvimento nestas actividades
foi muito facilitado pela Internet, quer ao nvel do comentrio aos contedos criados e
partilhados por terceiros, quer no respeitante criao e disponibilizao na rede de
contedos prprios ferramentas como os blogues, Wikipedia, Google Groups, ... so
bons exemplos); 3) Conhecimento acerca das ferramentas e seu uso (para alm das
ferramentas gerais referidas em 2) h ainda inmeras outras adjuvantes com utilizaes
bem mais concretas e especficas); 4) Conhecimento acerca do que est disponvel em
linha (quando perante um facto da vida quotidiana, qual a probabilidade de um indivduo
recorrer Internet no sentido de resolver a questo ou encontrar informao que o ajude
nesse sentido, ao invs de procurar particularmente a soluo para o mesmo problema
pode variar de compras, procurar contactos, ferramentas, opinies/pareceres, etc..); 5)
Capacidade para encontrar o contedo (aqui a nfase colocada na tarefa de pesquisa
em si e no seu sucesso); 6) Eficincia na navegao na rede (ser capaz de procurar
informao na Internet uma coisa, faz-lo de forma eficiente outra neste caso
contabilizado tambm o tempo/investimento necessrio para cumprir um tal projecto. Se
a pesquisa demorar demasiado, mesmo que bem sucedida, poder afinal no ter sido
eficiente); 7) Capacidade para aceder fonte e credibilidade da mensagem (tendo em
conta a actual vasta propenso da Internet para fins comerciais e a sua invaso por
indivduos que colocam informao errnea (mesmo que inadvertidamente) e outros
menos bem intencionados, torna-se importante ser capaz de distinguir, entre a clareza,
correco e adequao da informao aos fins pretendidos); 8) Entendimento dos
assuntos de privacidade (existem ferramentas de rastreio das aces dos utilizadores da
Internet cada vez mais sofisticadas e que desencadeiam aces cada vez mais intrusivas.
Importa saber at que ponto o utilizador est suficientemente consciente e alertado para
a necessidade de preservar e proteger a sua informao pessoal/privacidade, sejam
dados pessoais, seja a conta de correio electrnico de mensagens indesejadas); 9)
Entendimento das questes de segurana (relacionado com alguns dos anteriores o ponto
da segurana fulcral, nomeadamente ao nvel da manuteno da informao sensvel
senhas, dados bancrios, dados mais ntimos a salvo de intromisses indesejadas e mal
598
intencionadas); 10) Conhecimento acerca de onde e como procurar assistncia com
dvidas (independentemente do nvel e experincia de cada um, surgem sempre
questes que so passveis de gerar dvidas. Torna-se por conseguinte necessrio aferir
at que ponto se consegue encontrar a informao necessria para resolver questes,
como por exemplo, dvidas acerca de operaes numa folha de clculo); 11)
Personalizao ( medida que cada vez mais servios oferecem aos seus utilizadores
possibilidades de personalizarem a aplicao torna-se tambm um factor importante na
aferio dos padres e da medida do uso, saber at que ponto cada um capaz de
personalizar/adaptar uma aplicao aos seus parmetros/propsitos concretos). A
concluso a que esta autora chegou que estas reas variam entre o muito estudadas e o
pouco/nada estudadas.
Num estudo mais recente Eszter Hargittai (2007: 829) veio propor um guio distribudo
em cinco reas chave 29 para estudar o fenmeno das desigualdades digitais, baseado nos
indicadores supra referidos: 1) os meios tcnicos (que medem a qualidade do
equipamento considerando-se tanto o computador como a ligao); 2) a autonomia de
uso (que compreende o estudo da localizao do acesso, e a liberdade de que cada um
goza para usar o meio para as suas actividades preferidas visto que no igual aceder
Internet a partir de uma localizao pessoal/privada ou atravs de um local pblico
sujeito a escrutnios e/ou restries de utilizao, temporais ou quaisquer outras); 3)
redes sociais de apoio (onde se inclui a possibilidade de recorrer a terceiros quer no
solucionamento de dificuldades sempre existentes, quer no prprio
incentivo/encorajamento do uso) e; 4) experincia (o nmero de anos de utilizao e os
padres de uso sendo possvel existirem casos em que se verifica um uso de baixa
intensidade, ainda que j antigo e outros em que utilizadores recentes se envolvam em
actividades mais complexas, para l da consulta de informao, da caixa de correio ou das
redes sociais). Por fim, 5) "Estes quatro factores juntos contribuem para uma medio da
competncia. A competncia definida como a capacidade para usar efectiva e
eficientemente as novas tecnologias" (Hargittai, 2007: 829, traduo nossa, itlicos no
original) ou seja, para retirar proveitos da utilizao das TIC.
29
Tendo por base um outro trabalho de DiMaggio et al. (2001), no qual os autores propem uma noo assente em
cinco dimenses: 1) meios tcnicos (equipamento, programas, e conexo); 2) autonomia de uso (localizao do acesso,
liberdade de uso); 3) padres de uso (tipos de uso da Internet); 4) redes sociais de apoio (acesso a pessoas que possam
dar apoio no uso) e; 5) percia (a capacidade de cada um para utilizar o meio de modo eficiente).
599
CONCLUSO
Para l das querelas doutrinrias e conceptuais, bem como do interminvel debate entre
tecno-optimistas e tecno-pessimistas, quem nem a emergncia de uma hiptese do tipo
terceira via, corporizada no movimento tecno-realista conseguiu temperar, vrias pistas
parecem sugerir que, seno todas, pelo menos algumas reas nos pases com economias
avanadas, parecem efectivamente convergir para uma sociedade de base informacional.
Trata-se, no entanto, de uma sociedade da informao na qual subsistem, e subsistiro
durante muito tempo ainda, importantes desigualdades no acesso e uso das tecnologias
(segundo dados de 2010, nos EUA 25% dos cidados nunca utilizaram a Internet; na UE
esse valor aproxima-se dos 33% e nos pases da Europa do Sul ultrapassa mesmo os
40%30. Seria alis til a promoo de estudos que versassem acerca da influncia das
recentes crises econmicas na disseminao das tecnologias de informao.
Com efeito, na linha da tese formulada por Tichenor et al. (1970), as TIC esto,
semelhana da revoluo meditica que as precederam (referimo-nos em concreto
massificao da televiso), a contribuir para o aumento das desigualdades entre os
indivduos. Um exemplo neste particular o facto de, sempre que tem lugar a introduo
de uma nova tecnologia, numa fase inicial, ao contrrio de diminuir, o distanciamento
tende a aumentar. Tal situao justifica-se pelo facto de as classes mais privilegiadas
(econmica e, via de regra, academicamente) mais cedo aderirem a elas, beneficiando
por conseguinte mais rapidamente das vantagens que estas lhes proporcionam.
Acrescentamos ns: tudo isto acontece num momento em que as oportunidades
abundam ao passo que, os indivduos em competio por essas vantagens, no. Pelo
contrrio, os indivduos dos estratos sociais menos privilegiados entram num momento
mais tardio, o qual normalmente coincidente com a reduo de preos associada
massificao. Deste modo, s (muito) depois tiram proveito das evolues tecnolgicas
quando, por um lado, os pioneiros j entretanto adoptaram a inovao seguinte e, por
outro, o ambiente de concorrncia pelas (poucas) oportunidades ainda existentes , ao
invs, extremamente exigente.
Num tal contexto, as desigualdades digitais introduzidas pela sociedade da informao,
no apenas no contribuem para o mitigar da estratificao social existente, como, pelo
30
Vd. IDATE (2011), OBERCOM (2012 e 2010), UMIC (2010), OCDE (2011), Comisso Europeia (2010).
600
contrrio, se somam s previamente existentes. Contrariamente s promessas de Gates,
Mitchell, Negroponte, Toffler e da generalidade dos tecno-optimistas, a sociedade da
informao, est, um pouco na linha das teses dos autores tecno-pessimistas a contribuir
para uma fragmentao e separao social ainda maiores do que as precedentes. Acresce
naturalmente que, medida que mais e mais reas e sectores de actividade essenciais
vida humana transitam para o mundo ciberntico, o nmero de indivduos excludos
desta nova sociedade tender a crescer assustadoramente, de tal modo que os info-
excludos de hoje podero ser os analfabetos de amanh.
Destarte, e no obstante a ideia atrs deixada relativamente possibilidade de
testemunharmos, no presente, a emergncia de uma sociedade da informao, no
poderemos, todavia, reportar uma tal realidade enquanto esta se circunscreve, em
termos geogrficos, a escassas reas do globo e, no mundo inteiro, mais de dois teros da
populao surge excluda. Os sinais sugerindo a sua existncia parecem-nos, apesar das
reservas, frequentemente oportunas, suscitadas pelos autores da linha tecno-pessimista,
inequvocos e at mesmo, nalguns casos, indiscutveis. No entanto, tais indcios,
encontram-se limitados a determinadas reas geogrficas e a algumas elites scio-
econmicas e culturais.
BIBLIOGRAFIA
BELL, Daniel (1973). The Coming of Post-Industrial Society. New York. Basic Books, Inc.,
Publishers.
CARDOSO, Gustavo (2006). Os Media na Sociedade em Rede. Lisboa. Fundao Calouste
Gulbenkian.
CARDOSO, Gustavo (1999). Sombra da Comunicao e da Informao. [em linha]:
http://bocc.ubi.pt/pag/cardoso-gustavo-sombra-comunicacao.html.
CASTELLS, Manuel (2007). A Galxia Internet Reflexes sobre Internet, Negcios e
Sociedade. Lisboa. Fundao Calouste Gulbenkian.
CASTELLS, Manuel e CARDOSO, Gustavo (2005). A Sociedade em Rede - Do Conhecimento
Aco Poltica. Lisboa. Imprensa Nacional Casa da Moeda.
601
COMISSO EUROPEIA (2010). Comunicao da Comisso ao Parlamento Europeu, ao
Conselho, ao Comit Econmico e Social Europeu e ao Comit das Regies - Uma Agenda
Digital para a Europa. Bruxelas. Documento de Trabalho. [em linha]: http://eur-
lex.europa.eu/LexUriServ/LexUriServ.do?uri=COM:2010:0245:FIN:PT:PDF.
COULDRY, Nick (2003). Digital Divide or discursive design?. In GAUNTLETT David (ed.)
(2003). Web.studies 2nd edition. London. Arnold.
DAHLBERG, Lincoln (2011). Web 2.0 Divides: A Critical Political Economy. In Esteves,
Joo Pissarra (org.) (2011). Media e Jornalismo Revista do Centro de Investigao Media
e Jornalismo, n. 18, Vol. 10, N. 1 Primavera/Vero 2011 Digital Divides / Fracturas
Digitais, pp. 11-30. Lisboa. Centro de Investigao Media e Jornalismo.
DAHLGREEN, Peter (2011). As Culturas Cvicas e a Internet: Para uma Contextualizao
da Participao Poltica. In Esteves, Joo Pissarra (org.) (2011). Media e Jornalismo
Revista do Centro de Investigao Media e Jornalismo, n. 18, Vol. 10, N. 1
Primavera/Vero 2011 Digital Divides / Fracturas Digitais, pp. 84-99. Lisboa. Centro de
Investigao Media e Jornalismo.
DIMAGGIO, Paul, HARGITTAI, Eszter, NEUMAN, W. Russel e ROBINSON, John P. (2001).
Social Implications of the Internet. Annual Review of Sociology, n. 27, pp. 307-336. [em
linha]: http://webuse.org/p/a07.
DIMAGGIO, Paul, HARGITTAI, Eszter, CELESTE, Coral, SHAFER, Steven (2004). From
Unequal Access to Differentiated Use: A Literature Review and Agenda for Research on
Digital Inequality. In NECKERMAN, Kathryn (ed.) (2004). Social Inequality. New York.
Russell Sage Foundation, pp. 355-400. [em linha]: http://webuse.org/p/c05.
DRUCKER, Peter (1993). Post-Capitalist Society. Oxford. Butterworth-Heinemann Ltd..
ESTEVES, Joo Pissarra (org.) (2011). Media e Jornalismo Revista do Centro de
Investigao Media e Jornalismo, n. 18, Vol. 10, N. 1 Primavera/Vero 2011 Digital
Divides / Fracturas Digitais. Lisboa. Centro de Investigao Media e Jornalismo.
FIGUEIREDO, Alexandre (2013a). Excluso Digital na Sociedade da Informao. In Mtria
XXI, n. 2. Santarm. Centro de Investigao Professor Doutor Joaquim Verssimo Serro.
FIGUEIREDO, Alexandre (2013b). Information Society: Brief Historical and conceptual
notes. In Mtria Digital, n. 1. Santarm. Centro de Investigao Professor Doutor
Joaquim Verssimo Serro. [em linha]: http://matriadigital.cm-
santarem.pt/images/artigos/alex.pdf.
602
FIGUEIREDO, Alexandre (2013c). Digital Exclusion in Information Society. In Mtria
Digital, n. 1. Santarm. Centro de Investigao Professor Doutor Joaquim Verssimo
Serro. [em linha]: http://matriadigital.cm-santarem.pt/images/artigos/alexandre.pdf
FIGUEIREDO, Alexandre (2012a). A Construo Europeia no Contexto das Polticas para a
Sociedade da Informao. Dissertao de Doutoramento. Coimbra. Edio Policopiada.
FIGUEIREDO, Alexandre (2012b). As iniciativas europeias em matria de promoo da
Sociedade da Informao. In APARCIO, Maria Irene e FIGUEIREDO, Alexandre (eds.).
Artciencia.com, issue 15. [em linha]:
http://www.artciencia.com/index.php/artciencia/article/view/62/238.
FIGUEIREDO, Alexandre (2012). Sociedade da Informao: Breves notas Histricas e
Conceituais. In Mtria XXI, n. 1. Santarm. Centro de Investigao Professor Doutor
Joaquim Verssimo Serro.
GATES III, William H. (1995). The Road Ahead. London. Penguin Group.
GUNKEL, David J. (2003). Second Thoughts Critics of the Digital Divide. New Media &
Society, December 2003, vol. 5, pp. 499-522.
HARGITTAI, Eszter (2010). Digital Na(t)ives? Variation in Internet Skills and Uses among
Members of the Net Generation. In Sociological Inquiry. 80 (1). pp. 92-113. [em linha]:
http://webuse.org/p/a29.
HARGITTAI, Eszter (2008). The Digital Reproduction of Inequality. In Grusky, David (ed.)
(2008). In Social Stratification. pp. 936-944. Westview Press. [em linha]:
http://webuse.org/p/c11.
HARGITTAI, Eszter e WALEJKO Gina (2008). The Participation Divide: Content Creation
and Sharing In the Digital Age. In Information, Communication and Society 11 (2). pp.
239-256. [em linha]: http://webuse.org/p/a23.
HARGITTAI, Eszter (2004). Internet access and use in context. In New Media & Society
Vol. 6 (1). pp. 137-143. London, Thousand Oaks, CA e New Delhi. SAGE Publications. [em
linha]: http://webuse.org/p/a12.
HARGITTAI, Eszter (2003). The Digital Divide and What to Do About It. In JONES, D. C.
(ed.) (2003) New Economy Handbook. San Diego, CA. Academic Press, pp. 822-841. [em
linha]: http://webuse.org/p/c04.
603
IDATE (2011). Digiworld Yearbook 2011. Montpellier. IDATE. [em linha]:
http://www.idate.org/en/Digiworld-store/Collection/DigiWorld-Yearbook_9/DigiWorld-
Yearbook-2011_550.html.
LEADBEATER, Charles (2000). Living on Thin Air: The New Economy. London. Penguin
Books Ltd..
MATTELART, Armand (2011). New International Debates on Culture, Information, and
Communication. In WASKO, Janet, MURDOCK, Graham, SOUSA, Helena (eds.) (2011). The
Handbook of Political Economy of Communications. Chichester, West Sussex. Blackwell
Publishing Ltd..
MATTELART, Armand (2002). Historia de la sociedad de la informacin. Barcelona. Paids.
MITCHELL, William (1999). The City of Bits Space, Place and the Infobahn. Cambridge,
Massachusetts. The MIT Press.
NEGROPONTE, Nicholas (1995). El Mondo Digital (Being Digital). Barcelona. Ediciones B.,
S.A..
NORRIS, Pippa (2001). Digital Divide Civic Engagement, Information Poverty, and the
Internet Worldwide. Cambridge. Cambridge University Press.
OBERCOM (2012). A Sociedade em Rede em Portugal 2012 A Internet em Portugal.
Lisboa. Obercom. [em linha]:
http://www.obercom.pt/client/?newsId=548&fileName=sociedadeRede2012.pdf.
OBERCOM (2010). Nativos digitais portugueses: Idade, experincia e esferas de utilizao
das TIC. Lisboa. Obercom. [em linha]: http://www.obercom.pt/content/677.np3.
OBERCOM (2008). Web 1.5 - As redes de sociabilidades entre o email e a Web 2.0. Lisboa.
Obercom. [em linha]: http://www.obercom.pt/content/479.np3.
OCDE (2011). OECD Guide to Measuring the Information Society, 2011. OECD Publishing.
[em linha]: http://dx.doi.org/10.1787/10.1787/9789264113541-en.
PINTR, Rbert (Ed.), (2008). Information Society From Theory to Political Practice.
Budapest. Gondolat j Mandtum.
PONTE, Cristina e AZEVEDO, Jos (2011). Media e Jornalismo Revista do Centro de
Investigao Media e Jornalismo, n. 19, Vol. 10, N. 2 Outono/Inverno 2011 Incluso
e Participao Digital. Lisboa. Centro de Investigao Media e Jornalismo. ISSN: 1645-
5681.
604
RSNEN, Pekka (2006). Information Society for All? Structural characteristics of
internet use in 15 European countries. European Societies, n 8, Vol. I, pp. 59-81.
REICH, Robert (1992). The Work of Nations: Preparing Ourselves for 21st Century
Capitalism. New York. Vintage Books.
ROBINS, Kevin e WEBSTER Frank (2005). Times of the Tecnoculture. London. Routledge.
ROBINSON, John P., DIMAGGIO, Paul e HARGITTAI, Eszter (2003). New Social Survey
Perspectives on the Digital Divide. In IT&Society, Volume 1, Issue 5, Summer 2003. pp. 1-
22. [em linha]: http://webuse.org/p/a11.
ROSA, Paulo (2011). Information and Communication Technologies, Active Public
Participation and the Democratic Digital Divide. In Esteves, Joo Pissarra (org.) (2011).
Media e Jornalismo Revista do Centro de Investigao Media e Jornalismo, n. 18, Vol.
10, N. 1 Primavera/Vero 2011 Digital Divides / Fracturas Digitais. pp. 126-133.
Lisboa. Centro de Investigao Media e Jornalismo.
SALGADO, Susana (2011). O Digital Entre os Muitos Divides de frica. In Esteves, Joo
Pissarra (org.) (2011). Media e Jornalismo Revista do Centro de Investigao Media e
Jornalismo, n. 18, Vol. 10, N. 1 Primavera/Vero 2011 Digital Divides / Fracturas
Digitais. pp. 100-111. Lisboa. Centro de Investigao Media e Jornalismo.
SHENK, David (1997). Data Smog: Surviving the Information Glut. New York. HarperCollins
Publishers.
SILVEIRINHA, Maria Joo (2011). Mulheres, Tecnologia e Comunicao: Para Alm das
Receitas. In Esteves, Joo Pissarra (org.) (2011). Media e Jornalismo Revista do Centro
de Investigao Media e Jornalismo, n. 18, Vol. 10, N. 1 Primavera/Vero 2011
Digital Divides / Fracturas Digitais. pp. 62-83. Lisboa. Centro de Investigao Media e
Jornalismo.
TOFFLER, Alvin (1980). The Third Wave The Classic Study of Tomorrow. New York.
Bantam Books.
TSATSOU, Panayiota (2011). Digital Divides Revisited: what is new about divides and
their research?. In Media, Culture & Society. March 2011 33, pp. 317-331. [em linha]:
http://www.sciencedirect.com/science/journal/0160791X/33/1-2.
VICENTE, Paulo Nuno (2011). Entre tomos e Bits: Repensando a Capacidade Analtica da
Diviso Digital. In Esteves, Joo Pissarra (org.) (2011). Media e Jornalismo Revista do
Centro de Investigao Media e Jornalismo, n. 18, Vol. 10, N. 1 Primavera/Vero 2011
605
Digital Divides / Fracturas Digitais. pp. 112-125. Lisboa. Centro de Investigao Media e
Jornalismo.
WEBSTER, Frank (2002). Theories of the Information Society Second Edition. London.
Routledge.
ZILLIEN, Nicole e HARGITTAI, Eszter (2009). Digital Distinction: Status-Specific Types of
Internet Usage. In Social Science Quarterly, Volume 90, Number 2, June 2009, pp. 274-
291. [em linha]: http://webuse.org/p/a26.
606
FATORES QUE CONDUZEM INSATISFAO E PERCEO DE IMPRECISO E INJUSTIA
DO SIADAP: UMA ABORDAGEM QUALITATIVA
Miguel Lira
RESUMO
Um sistema de avaliao do desempenho perspetivado como um ingrediente
fundamental para o sucesso organizacional, sendo que o atual Sistema Integrado de
Gesto e Avaliao do Desempenho na Administrao Pblica, vulgo SIADAP, no foge
regra. De entre os seus objetivos temos o de contribuir para a melhoria da gesto do
setor pblico em razo das necessidades dos utilizadores ou o alinhar a atividade dos
servios com os objetivos das polticas pblicas.
Porm, a concretizao deste objetivo muito depender das reaes dos avaliados a este
sistema, mormente quanto sua perceo de justia e preciso, bem como quanto sua
satisfao com este.
Assim sendo, o objetivo do presente trabalho descortinar os fatores que podem levar
insatisfao e perceo de impreciso e injustia para com o SIADAP, por parte dos
funcionrios pblicos cujo desempenho profissional avaliado por este sistema. Para tal
foram inquiridos os trabalhadores de trs instituies de ensino superior pblicas.
A partir dos dados coligidos, conclumos que os fatores assinalados passam pela perceo
da existncia de favoritismos; pela imposio de quotas; a sua atual falta de efeitos
prticos; e procedimentos realizados fora dos prazos legalmente estabelecidos.
607
ABSTRACT
INTRODUO
608
subsistemas, que funcionam de forma integrada e em coerncia com os objetivos fixados
no mbito do sistema de planeamento; objetivos do ciclo de gesto do servio; objetivos
fixados na carta de misso dos dirigentes superiores; e objetivos fixados aos demais
dirigentes e trabalhadores (Cf. arts. 8 e 9. da Lei n. 66-B/2007, de 28 de Dezembro).
Voltando questo avaliao do desempenho, em termos gerais, esta no mais do que
um processo formal de monitorizao dos trabalhadores (Sabeen e Mehboob, 2008;
Cardy e Dobbins, 1994; Murphy e Cleveland, 1991) e, concomitantemente, um processo
estratgico que pode ser usado como ferramenta de gesto, de forma a permitir que o
desempenho seja medido e dirigido para objetivos especficos de cariz individual, grupal
ou organizacional (Duarte, 2006).
Tambm no pode ser ignorado o facto do sistema de avaliao montado em cada
organizao visar o auxlio na tomada de deciso sobre diversas situaes, tais como
aumentos salariais ou promoes, para alm de proporcionar, igualmente, o feedback
necessrio aos seus trabalhadores sobre o seu desempenho (cf., por exemplo, Bento,
White e Zacur, 2012; DeNisi e Pritchard, 2006; Cawley, Keeping e Levy, 1998; Kluger e
DeNisi, 1996; Cleveland, Murphy e Williams, 1989).
Muczyk e Gable (1987) sintetizam bem a defesa das virtudes e da utilidade dos sistemas
de avaliao do desempenho desde que este seja eficaz ao asseverarem que o seu
papel dentro das organizaes por demais vital e indispensvel para sucesso destas. Isto
porque uma avaliao do desempenho, realizada em intervalos regulares, fundamental
para as organizaes descortinarem em que aspetos que os seus funcionrios se
distinguem, onde eles podem melhorar e quo bem estes tm atingido os objetivos
estabelecidos pela organizao (cf. Kondrasuk, 2012).
Dada a sua importncia, no ser de estranhar que a avaliao do desempenho seja alvo
de uma ampla e exaustiva investigao. Nos ltimos 30 anos, tanto os acadmicos como
os profissionais tm vigorosamente analisado e criticamente examinado o uso, a eficcia,
a efetividade e a eficincia das avaliaes do desempenho no contexto organizacional.
Podemos, ento, retirar dessa literatura que um ponto inquestionvel sobre esta
temtica o seguinte: a integrao da avaliao na cultura e nas funes dirias da
organizao imprescindvel, ou seja, o sistema de avaliao do desempenho tem de
desfrutar de um apoio total dos intervenientes e da prpria organizao (Kondrasuk,
2012), ou seja, sem uma forte integrao do processo de avaliao do desempenho por
609
toda a organizao, este ter poucas hipteses de ser implementado com sucesso (Fryer,
Antony e Ogden, 2009).
Na mesma esteira concorre Kuhlman (2010) ao salientar que a avaliao do desempenho
apenas vai originar efeitos organizacionais benficos quando estiver enquadrada numa
cultura de transparncia e de aceitao dos instrumentos de avaliao por todos os
atores envolvidos, visto que quando este sistema imposto pela corpo diretivo de topo e
altamente estandardizado e centralizado tende a tornar-se dispendioso mas sem
apresentar os efeitos esperados aquando da introduo desse processo de avaliao.
Torna-se necessrio estabelecer uma cultura de desempenho que crie um clima
organizacional que permita mobilizar todas as potencialidades dos colaboradores
(Cmara, Guerra e Rodrigues, 2010). Neste sentido, se no existir um compromisso
organizacional com o processo de avaliao do desempenho e sua integrao, os seus
intervenientes no iro levar, de todo, este processo a srio (Roberts, 1998).
Por outro lado, estes efeitos organizacionais benficos tambm esto dependentes das
caratersticas que um sistema de avaliao timo deve conter. A este propsito, de entre
as onze caratersticas identificadas por Almeida (1996: 29-39), podemos salientar as
seguintes:
a) Equidade e exatido: para que os processos de avaliao conduzam a melhorias
de desempenho tm de ser percebidos como justos e exatos pelos atores que nele
intervm;
b) Fidelidade: consiste na possibilidade de o sistema fornecer resultados
consistentes em vrias medies e significa o grau em que os resultados obtidos esto
isentos de erros;
c) Validade: esta caraterstica refere-se ao grau em que o processo mede,
efetivamente, a contribuio para os objetivos ou resultados organizacionais;
Nesta tica, se os instrumentos de avaliao no forem aceites pelos participantes do
sistema de avaliao, dada a ausncia de alguma (ou vrias) das caratersticas que um
sistema de avaliao timo deve abarcar, nomeadamente quanto sua fidelidade,
validade, equidade e exatido, o processo de avaliao ir desaguar no mar do insucesso.
Assim sendo, se os trabalhadores no percecionarem a justia e a equidade do sistema de
avaliao do desempenho, ou estarem insatisfeitos com este, so rpidos a negar o rigor,
a preciso e a exatido desse sistema, o que coloca em xeque este importante
610
instrumento de diagnstico individual e organizacional (cf. Blau, 1999; Roberts, 1998;
Almeida, 1996).
O objetivo do presente trabalho passa, ento, por descortinar os fatores que podem levar
insatisfao e perceo de impreciso e injustia para com o SIADAP, por parte dos
funcionrios pblicos cujo desempenho profissional avaliado por este sistema. S dessa
forma que ser possvel aos dirigentes e aos legisladores corrigirem as situaes que
tm efeitos perniciosos sobre a satisfao e perceo de justia e preciso deste sistema
por parte dos avaliados. Isso elevar a eficcia e a eficincia do SIADAP e permitir a este
sistema atingir aos objetivos para o qual foi criado.
Para tal, utilizamos neste trabalho uma abordagem qualitativa, ao apresentar as opinies
(escritas) de diversos funcionrios de trs instituies de ensino superior pblicas. Assim,
o universo alvo da presente investigao composto pelos funcionrios pblicos cujo
desempenho avaliado segunda as normas do SIADAP, adstritos s trs instituies de
ensino superior pblico existentes numa cidade, capital de distrito, da zona centro de
Portugal continental. Em essncia, temos uma universidade, um instituto politcnico e
uma escola de cariz politcnico, embora no integrada, que aqui designaremos por:
RESULTADOS E DISCUSSO
As diversas opinies recolhidas foram alvo de sistematizao, aps a qual foi possvel
agreg-las em torno de diversos temas (predominantes e mais vezes referenciados). Em
suma, a partir dos dados coligidos, conclumos que os fatores que levam a uma maior
insatisfao e uma maior perceo de injustia e impreciso do SIADAP passam:
Comeando a analisar as opinies emitidas sobre cada um dos pontos anteriores, temos
que uma problemtica que parece ser incontornvel a imposio de quotas para as
612
melhores classificaes 31. Os comentrios sobre este tema por parte dos participantes
nesta investigao foram os mais frequentes e tambm os mais incisivos:
31
A anlise do contedo da Lei n. 66-B/2007, de 28 de dezembro, no que respeita a esta temtica permite realar os
seguintes pontos principais: fixada uma percentagem mxima de 25% para as avaliaes finais qualitativas de
desempenho relevante e, de entre estas, 5 do total dos trabalhadores para o reconhecimento de desempenho
excelente (cf. n. 1 do art. 75); competindo ao dirigente mximo do servio proceder sua distribuio pelas diversas
carreiras existentes, tendo que assegurar uma distribuio proporcional (cf. n. 2, do art. 75).
613
Para alm da avaliao individual de cada trabalhador, deveria ser considerado,
tambm, a avaliao de desempenho do Servio em que aquele est inserido (volume de
trabalho, relao entre receita gerada e gastos, contribuio para a divulgao do nome
da instituio, etc.). Um Servio pode ser mais produtivo que outros (da mesma
instituio), exigindo mais trabalho/empenho pelos trabalhadores que, contudo, podero
terminar o processo com a mesma avaliao que outros trabalhadores, da mesma
instituio, pertencentes a servios menos produtivos, ou com um muito menor volume de
trabalho, requisitos e exigncia;
Penso que o problema principal na avaliao do desempenho ser cruzado com
as cotas, pois () distorce completamente a avaliao do desempenho. Para [sic] mim o
pior foi ter uma chefe que no se impunha na organizao para defender os seus
trabalhadores perante outro chefe na organizao;
[a questo das quotas] tira, quanto a mim, grande parte da eficcia do sistema
de avaliao pois muitas vezes utilizado um sistema rotativo das classificaes mais
elevadas;
Tenho a comentar que o atual sistema de avaliao no justo nem coerente
para com os funcionrios pblicos e que o fato de existirem quotas para a atribuio de
classificaes muito penalizadora, pois podem existir mais do que X funcionrios muito
bons. A classificao final resulta da apreciao [sic] de um comit de avaliadores
[Conselho Coordenador da Avaliao], em que alguns desses membros nem conhecem o
nosso trabalho nem as nossas competncias, logo no deveriam [sic] decidir sobre a nossa
nota final, quando o nosso avaliador mantem, defende e justifica a nota final que deu. Os
critrios definidos pelo Conselho Coordenador da Avaliao [sic] so muito subjetivos;
No meu entender, qualquer trabalhador deve ser avaliado pois a melhoria do
desempenho de uma organizao depende do desempenho individual dos seus
trabalhadores. No entanto, necessrio que a avaliao seja justa e consequente e o
SIADAP no tem essas qualidades. Antes de ser funcionria pblica (desde 2009),
trabalhei 10 anos no setor privado e sempre fui avaliada. A grande diferena que a
avaliao a que eu estive sujeita no privado nunca foi sujeita a quotas e existiam prmios
de desempenho, e como resultado todos os funcionrios procuravam efetivamente
melhorar continuamente. () No sector pblico, isto no ocorre, a imposio de quotas
impede uma avaliao justa e no existe qualquer recompensa por um bom desempenho.
614
Estou num servio com pessoas muito competentes, o meu avaliador excelente, mas
todos os anos acabamos por ter que sortear os relevantes, pois as quotas no permitem
que todos tenhamos essa classificao, apesar de refletir o desempenho de todos. um
sistema profundamente desmotivador;
O grande defeito do SIADAP so as cotas, isto implica que quem tem mais
contacto com as chefias ou que trabalhem mais diretamente [com elas] () tem mais
possibilidades de ter melhores notas (). Tamb m se nota, por vezes, no uma avaliao
por desempenho mas sim por amizades ou afinidades entre avaliador e avaliado. Uma
forma de combater esta situao era que as notas fossem tornadas pblicas, algo que no
interessa a muitos avaliados e avaliadores, o que ia fazer com que os avaliadores fossem
mais rigorosos;
Nos casos que conheo, o SIADAP no reflete o real desempenho dos
colaboradores. Serve para promover favoritismo e no tem qualquer ligao com o
mrito;
Com o sistema anterior ao SIADAP a tendncia era realmente do Avaliador dar a
classificao mxima ao seu Avaliado, pelo que era injusto no sentido de no haver
distino entre os trabalhadores mas, pelo menos, os que mereciam a classificao
mxima tinham-na. Com o SIADAP essa tendncia inverteu-se demais, ou seja, com o
nmero reduzido de quotas, verifica-se muitas vezes que as classificaes mximas so
para amigos e protegidos e funcionrios com um desempenho excelente s porque no
se encontram nesse grupo no so reconhecidos (). Na minha opinio, no tanto o
facto de neste momento as classificaes mximas no se fazerem sentir em termos
prticos promoes ou gratificaes que nos desmotivam, mas sim o reconhecimento
por amizade em vez do reconhecimento por competncia. Isso sim muito
desmotivante.
615
Como ser fcil de inferir, a questo das quotas constitui-se como motivo central de
discrdia por entre os trabalhadores do Estado, o que j foi, alis, referido por alguns
autores como Parrinha e Barbosa (2011), Vaz (2008), Madureira e Rodrigues (2011),
Serrano (2011) ou Pereira (2009). Realizando uma smula das opinies dos diversos
autores citados no mbito da temtica das quotas, predomina a crena que a presena de
quotas no SIADAP resultar em efeitos contraproducentes ao nvel da motivao e da
perceo de justia dos funcionrios pblicos a ele sujeitos.
Realce para o facto de muitas das opinies sobre as quotas fazerem uma ligao entre
estas e a questo dos favoritismos por parte de quem tem responsabilidade como
avaliador. Mas existem outras trs observaes, especificamente sobre este tema, dignas
de registo:
Decorrente da opinio expressa por dois inquiridos, podemos percecionar que podem
existir igualmente problemas com as datas em que os objetivos so definidos e
comunicados ao avaliado, ultrapassando tanto os prazos legais estipulados como a
prpria razoabilidade:
616
[Instituio de Ensino Superior Beta] no tem respeitado a lei, constituindo, na maioria
das vezes, um mero desenvolvimento de um encargo que a Administrao da [Instituio
de Ensino Superior Beta] e os seus dirigentes tm que cumprir, e que (com algumas
excees) acabam com uma avaliao dada sem rigor, desconsiderando os verdadeiros
objetivos do SIADAP.
Existe uma verdadeira contratualizao de objectivos ou so impostos
superiormente?; Os avaliadores sabem [sic] definir objectivos (quantificveis e
mensurveis) ou desvirtuam o prprio princpio [sic] da avaliao; Os objectivos
contratualizados so alcanveis?; A avaliao reflecte o trabalho efectuado?; A
reformulao de objectivos prevista na Lei aplicada na Instituio?; Os prazos previstos
na Lei para a definio/contratualizao de objectivos esto a ser cumpridos?
Esta questo decorre da atual (m) situao das finanas pblicas portuguesas. Assim
sendo, os atuais efeitos prticos do SIADAP so poucos, destacando-se a interdio de
revalorizaes remuneratrias, mesmo que os funcionrios cumpram os requisitos
previstos em termos legais. Este assunto marcante pois pode deturpar por completo a
concretizao dos propsitos deste sistema de avaliao.
Podemos constatar, como o fizeram Parrinha e Barbosa (2011), que camos num
paradoxo: o SIADAP continua a ser de aplicao obrigatria mas, agora, esvaziado da
quase totalidade dos incentivos extrnsecos previstos ao nvel dos funcionrios. Neste
contexto, diversas questes tornam-se pertinentes: como que se poder motivar os
trabalhadores a superar os seus objetivos, se no h qualquer tipo de incentivo extrnseco
para tal?; Ser que enquanto prevalecer esta situao o apelo realizao pessoal e
profissional chegar para que os objetivos sejam superados? Ser que os trabalhadores
continuaro a se esforar da mesma maneira?
A pertinncia de tais questes tanto mais irnica se considerarmos que o SIADAP
visa(va) contribuir para a promoo da motivao profissional dos trabalhadores pblicos
(Cf. n. 2 do art. 1. e alnea d) do art. 6. da Lei n. 66-B/2007, de 28 de Dezembro).
Em jeito de sntese, e no que se refere aos elementos inquiridos no mbito desta
investigao, estes esto insatisfeitos com o SIADAP, considerando-o injusto e impreciso.
A este propsito duas ltimas opinies podem ser aqui mencionadas:
618
Em termos conceptuais meu entendimento que o SIADAP, no sendo perfeito
(acho que no existe nenhum modelo perfeito em nada e em particular nestas matrias
da avaliao de desempenho), se fosse bem aplicado teria as suas virtudes. Infelizmente,
muito por causa do volume de trabalho que implica, nomeadamente no conhecimento,
viso e planeamento das atividades do servio, poucas so as chefias dispostas a ter esse
trabalho com a devida seriedade. Este facto conduz com muita frequncia a situaes de
enorme injustia;
O grande problema no o modelo de avaliao em si mesmo, so os
avaliadores que no sabem gerir por objetivos. No cumprem e que fazem avaliaes "em
cima do joelho" como se fosse uma mera obrigao legal, no utilizando o SIADAP como
um instrumento de gesto.
Face ao exposto, e considerando que Cardy e Dobbins (1994) sugerem que a insatisfao
e os sentimentos de injustia para com o processo de avaliao do desempenho podem
resultar no insucesso deste e que Murphy e Cleveland (1995) afirmam que as reaes
adversas podem resultar no fracasso do sistema de avaliao do desempenho mais
cuidadosamente construdo, o cenrio atrs descrito ser, no mnimo, preocupante.
As consequncias deste panorama podem passar pelo cinismo, por uma reduo do
desempenho profissional e por uma baixa motivao. Desta feita, uma ferramenta que
procura melhorar o desempenho pode estar a causar exatamente o oposto (Rego,
Marques, Leal, Sousa e Cunha, 2010: 1547).
CONCLUSO
A partir dos dados coligidos, conclumos que os fatores assinalados passam pela perceo
da existncia de favoritismos; pela imposio de quotas para as melhores classificaes; a
sua atual falta de efeitos prticos; e procedimentos realizados fora dos prazos legalmente
estabelecidos.
Em suma, os fatores supramencionados levam os avaliados a considerarem o processo de
avaliao injusto, impreciso e insatisfatrio, no servindo os seus objetivos enquanto
instrumento de administrao dos recursos humanos pblicos. A razo simples:
notrio que estes fatores, isoladamente ou em conjunto, tero efeitos contraproducentes
619
e nocivos ao nvel da motivao, da satisfao e da perceo de justia e preciso do
SIADAP.
E como Murphy e Cleveland (1995: 314) atestam: as reaes so quase sempre
relevantes e uma reao desfavorvel pode condenar mesmo o sistema de avaliao do
desempenho mais cuidadosamente construdo. Assim, a insatisfao e a perceo de
injustia e de impreciso para com o SIADAP podem resultar no seu insucesso, refletindo-
se eventualmente numa diminuio do desempenho profissional e numa diminuio
da motivao. Em resumo, uma ferramenta que procura melhorar o desempenho pode
estar a causar exatamente o oposto (Rego, Marques, Leal, Sousa e Cunha, 2010: 1547).
Os pargrafos anteriores demonstram que existem vrios aspetos a melhorar no SIADAP.
E a quem caber o nus dessa alterao? Ser aos dirigentes, aos funcionrios, aos
legisladores ou aos polticos?
Considerando que as regras de funcionamento do SIADAP derivam de uma pea
legislativa, concretamente da Lei n. 66-B/2007, de 28 de dezembro, isso impossibilita a
individualizao deste sistema de avaliao por parte dos dirigentes. Nesta tica, os
administradores pouco (ou nada) podem fazer face falta de efeitos prticos do SIADAP,
designadamente no que concerne interdio de revalorizaes remuneratrias ou
quanto questo das quotas para as melhores classificaes. Essa responsabilidade cabe
ao legislador, muito embora no se vislumbre num futuro prximo a possibilidade de
se proceder a estas alteraes, dado o contexto econmico e financeiro.
Outra possibilidade de melhoria do SIADAP, que extravasa as competncias dos dirigentes
e que recai na rbita do mandato do legislador e da vontade poltica a contratualizao
dos objetivos e competncias ocorrer apenas no ms de fevereiro. Tal no devia ocorrer
nessa data mas sim num momento mais prximo do incio do ciclo de avaliao do
desempenho.
O campo de ao dos administradores assim muito reduzido, dados os
constrangimentos mencionados. Porm, a sua atuao possvel em determinadas
situaes: evitar a existncia de favoritismos; ou cumprir o que est legalmente
estabelecido para as diferentes etapas e processos do SIADAP, com especial nfase para a
fixao e contratualizao dos objetivos e competncias e para a comunicao da
classificao de avaliao do desempenho.
620
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, F. N. (1996) Avaliao de desempenho para gestores. Lisboa: McGraw-Hill.
BENTO, R. F.; WHITE, L. F.; ZACUR, S. R. (2012) The stigma of obesity and discrimination
in performance appraisal: a theoretical model. The International Journal of Human
Resource Management, Vol. 23, (15), pp. 3196-3224.
BLAU, G. (1999) Testing the longitudinal impact of work variables and performance
appraisal satisfaction on subsequent overall job satisfaction. Human Relations, Vol. 52,
(8), pp. 1099-1113.
CMARA, P. B.; GUERRA, P. B. RODRIGUES, J. V. (2010) Novo Humanator: recursos
humanos e sucesso empresarial, 4. edio. Alfragide: D. Quixote.
CARDY, R. L.; DOBBINS, G. H. (1994) Performance appraisal: a consideration of
alternative perspectives. Cincinnati, OH: South-Western Publishing Company.
CARMO, H.; FERREIRA, M. M. (2008) Metodologia de investigao: guia para auto-
aprendizagem, 2. edio. Lisboa: Universidade Aberta.
CAWLEY, B. D.; KEEPING, L. M.; LEVY, P. E. (1998) Participation in the performance
appraisal process and employee reactions: a meta-analytic review of field investigations.
Journal of Applied Psychology, Vol. 83, (4), pp. 615-633.
CLEVELAND, J. N.; MURPHY, K. R.; WILLIAMS, R. E. (1989) Multiple uses of performance
appraisal: prevalence and correlates. Journal of Applied Psychology, Vol. 74, (1), pp. 130-
135.
DENISI, A. S.; PRITCHARD, R. D. (2006) Performance appraisal, performance
management and improving individual performance: a motivational framework.
Management and Organization Review, Vol. 2, (2), pp. 253-277.
DUARTE, M. I. (2006) A avaliao do desempenho, in Maria Manuel Valadares Tavares
(Org.), Novo paradigma de gesto de recursos humanos para o sculo XXI. Lisboa:
Universidade Lusada de Lisboa, pp. 191-210.
FRYER, K.; ANTONY, J.; OGDEN, S (2009) Performance management in the public
sector. International Journal of Public Sector Management, Vol. 22, (6), pp. 478-498.
KLUGER, A. N.; DENISI, A. (1996) The effects of feedback interventions on performance:
a historical review, a meta-analysis, and a preliminary feedback intervention theory.
Psychological Bulletin, Vol. 119, (2), pp. 254-284.
621
KONDRASUK, J. N. (2012) The ideal performance appraisal is a format, not a form.
Academy of Strategic Management Journal, Vol. 11, (1), pp. 115-130.
KUHLMAN, S. (2010) Performance measurement in European local governments: a
comparative analysis of reform experiences in Great Britain, France, Sweden and
Germany. International Review of Administrative Sciences, Vol. 76, (2), pp. 331-345.
MADUREIRA, C.; RODRIGUES, M. (2011) A avaliao do desempenho individual no
contexto da administrao pblica portuguesa desafios e limitaes e do SIADAP.
Comunicao apresentada no 1 Encontro Internacional Trabalho, Organizaes e
Profisses na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 7 a 8 de julho.
Consultado em 27 de dezembro de 2012, < http://repap.ina.pt/handle/ 10782/626>.
MUCZYK, J. P.; GABLE, M. (1987) Managing sales performance through a
comprehensive performance appraisal system. Journal of Personal Selling and Sales
Management, Vol. 7, (3), pp. 41-52.
MURPHY, K. R.; CLEVELAND, J. N. (1991) Performance appraisal: an organizational
perspective. Boston, MA: Allyn and Bacon.
MURPHY, K. R.; CLEVELAND, J. N. (1995) Understanding performance appraisal: social,
organizational, and goal-based perspective. Thousand Oaks, CA: SAGE Publications.
PARRINHA, I.; BARBOSA, E. (2011) Um olhar sobre o sistema de avaliao do
desempenho na administrao pblica, na cidade de Beja. Comunicao apresentada no
8 Congresso Nacional de Administrao Pblica Desafios e Solues, INA, Carcavelos,
21 a 22 de novembro de 2011. Consultado em 02 de janeiro de 2013,
<http://repap.ina.pt/handle/10782/587>.
PEREIRA, I. B. (2009) Avaliao do desempenho docente e conflitos profissionais:
ensaio de um enquadramento e explorao de evidncias sobre o caso portugus.
Centro de Investigao e Estudos de Sociologia CIES e-Working papers n 58/2009.
Consultado em 24 de dezembro de 2012, <http://www.cies.iscte.pt/destaques/
documents/CIES-WP58_Pereira_003.pdf>.
REGO, A.; MARQUES, C.; LEAL, S.; SOUSA, F.; CUNHA, M. P. (2010) Psychological capital
and performance of Portuguese civil servants: exploring neutralizers in the context of an
appraisal system. The International Journal of Human Resource Management, Vol. 21,
(9), pp. 1531-1552.
622
ROBERTS, G. E. (1998) Perspectives on enduring and emerging issues in performance
appraisal. Public Personnel Management, Vol. 27, (3), 301-320.
SABEEN, Z.; MEHBOOB, S. A. A. (2008) Perceived fairness of and satisfaction with
employee performance appraisal and its impact on overall job satisfaction. The Business
Review, Cambridge, Vol. 10, (2), pp. 185-192.
SERRANO, O. (2011) Desafios da avaliao de desempenho no Ministrio da Educao
e Cincia: o caso do Instituto Politcnico de Portalegre. Comunicao apresentada no 8
Congresso Nacional de Administrao Pblica Desafios e Solues, INA, Carcavelos, 21 a
22 de novembro de 2011. Consultado em 02 de janeiro de 2013, <http://repap.ina.pt/
handle/10782/590>.
SHANTZ, A.; LATHAM, G. (2011) The effect of primed goals on employee performance:
Implications for human resource management. Human Resource Management, Vol. 50,
(2), pp. 289-299.
VAZ, R. P. F. (2008) Quo Vadis, SIADAP?. Comunicao apresentada no 6 Congresso
Nacional da Administrao Pblica Os Grandes Passos da Reforma, Lisboa, 29 a 30 de
outubro de 2008. Consultado em 02 de janeiro de 2013,
<www.uc.pt/depacad/gee/quo_vadis_siadap >.
623