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Eglê Malheiros e Salim Miguel

Eglê Malheiros e Salim Miguel, casados desde 1952, compartilham desde meados da década de 1940
ações e projetos literários e culturais. Ambos contribuem, com os demais integrantes do Grupo Sul
(Círculo de Arte Moderna de Santa Catarina) a dinamizar a vida cultural catarinense entre 1947 e 1958,
inovando na literatura, no cinema, no teatro e nas artes plásticas e estabelecendo uma rede de contatos
em vários países. Além de colaborarem na editoração da revista Sul (1948-1957), escrevem o roteiro do
primeira longa-metragem catarinense de ficção, “O preço da ilusão” (1958). Após o golpe militar de
1964, Eglê e Salim são afastados de seus cargos no serviço público estadual e mudam-se com os filhos
para o Rio de Janeiro. Lá, participam do grupo de editores da revista Ficção (1976-1979), além de
escreverem os roteiros para as adaptações de A cartomante, de Machado de Assis, e Fogo morto, de
José Lins do Rego, para filmes de Marcos Farias. De retorno a Florianópolis desde 1979, Eglê Malheiros e
Salim Miguel têm atuado em diferentes instâncias colaborando de modo decisivo com a vida cultural
catarinense.

Eglê e Salim formam um casal mítico, com um impressionante percurso como intelectuais e agentes da
cultura. Mas talvez sejam ainda mais impressionantes pela simplicidade, pela generosidade e pelo
humanismo que os caracterizam. De onde vem o dinamismo e a jovialidade que esbanjam, sempre
envolvidos que estão em novos projetos e palestras, sempre prontos para uma conversa agradável e
enriquecedora, sempre dando dicas de livros que, apenas publicados no Brasil ou no exterior, já leram e
analisaram? Porque assim são a moça nascida em Tubarão, Santa Catarina, e o rapaz nascido em
Kfarssouroun, no Líbano, cujo amor pela literatura fez com que se conhecessem em Florianópolis, ainda
antes da criação do Grupo Sul. Porque assim são. Ambos, extraordinárias figuras humanas. Maktub.

Texto e Foto: Luciana Rassier


Salim Miguel e Eglê Malheiros no lançamento de Reinvenção da infância,
no espaço cultural do BRDE, em Florianópolis, 09/06/2011.
Eglê Malheiros (nascida em Tubarão, em 03/07/1928) é professora, poetisa,
escritora e tradutora. Primeira mulher graduada pela Faculdade de Direito de Santa Catarina (início dos
anos 1950), ela conclui seu Mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (início
dos anos 1980).

Além de publicar poesia, prosa e artigos de crítica na Revista Sul, publica Manhã (Edições Sul, 1952),
livro com poemas de cunho humanista, em que ecoam os ideais que a levaram a ter uma atuação
continuada junto ao Partido Comunista, em prol da paz e da emancipação nacional.

Em 1947, ingressa como professora de história no Instituto Estadual de Educação de Florianópolis. No


Rio de Janeiro, ocupa o cargo de diretora-secretária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil
(órgão filiado à UNESCO). Ao retornar para Santa Catarina, exerce a função de chefe do Departamento
de Educação e Saúde, transformado em Secretaria Municipal de Educação logo após sua saída do cargo.

Profunda conhecedora das línguas alemã, espanhola, francesa, inglesa e italiana, Eglê Malheiro traduz
verbetes e artigos para enciclopédias como a Delta Larousse e a Mirador e revistas como Pais e Filhos,
Tendências e Ficção, além de livros para as editoras Paz e Terra e Civilização Brasileira.

Estudiosa da obra de Cruz e Sousa, escreve a peça Vozes Veladas 1995, além da antologia comentada
Cruz e Sousa – poemas (1998; 2011) e de diversos artigos.

Eglê Malheiros colabora durante muitos anos na imprensa catarinense, gaúcha e carioca; também
participa de comissões e júris ligados às áreas da Cultura e da Educação. Dentre as distinções que
recebeu, destaca-se o Prêmio Personalidade Cultural da União Brasileira de Escritores (1994).

Algumas publicações

Manhã. Florianópolis: Edições Sul, 1952.


Cruz e Sousa – poemas. Florianópolis: Editora Unisul, 2011.
Vozes veladas. Porto Alegre: Editora Movimento, 1995.
Desça, menino!. Porto Alegre: Editora Movimento, 1986.
Os meus fantasmas. Porto Alegre: Editora Movimento, 2002.
GREER, Germaine. A muher eunuco. Trad. de Eglê Malheiros. Rio de Janeiro: Editora Lidador, 1971.
HESSE, Hermann. Knulp: três episódios de sua vida. Trad. de Eglê Malheiros. Rio de Janeiro: Editora
Civilização Brasileira, 1975.
HOLLOWAY, Thomas. Imigrantes para o café. Trad. de Eglê Malheiros. Rio de Janeiro: Editora Paz e
Terra, 1984.
TILLICH, Paul. A coragem de ser. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967. Trad. de Eglê Malheiros.

Texto: Luciana Rassier


Salim Miguel (nascido no Líbano, em 30/01/1924) é escritor, jornalista, crítico
literário e agente cultural. Em Florianópolis, foi sócio-proprietário da Livraria Anita Garibaldi, diretor do
escritório de Santa Catarina da Agência Nacional (1961-1964), tendo sido transferido a seguir para o
Rio de Janeiro (1964-1979); lá, exerce diversas funções em Bloch Editores (copidesque, repórter,
redator, chefe de redação em revistas Manchete e Tendências; 1965-1978) e colabora no “Cadernos
Ideias” do Jornal do Brasil, escrevendo principalmente críticas e resenhas sobre literatura latino-
americana e brasileira (1976-1982). Na Universidade Federal de Santa Catarina, foi chefe da Agência de
Comunicação (1979-1983) e diretor da Editora (1983-1991), cujo prédio foi construído durante sua
gestão. Foi ainda Superintendente da Fundação Cultural Franklin Cascaes (1991-1996).

No âmbito do Grupo Sul, além de escrever prosa, artigos de crítica e reportagens para a Revista Sul,
publica os livros Velhice e outros contos (1951), Alguma gente (1953) e Rede (1955).

Salim Miguel colabora durante muitos anos na imprensa catarinense, gaúcha e carioca; também
participa de comissões e júris ligados às áreas da Cultura. Literatura e Cinema.

Publica mais de trinta livros (romances, contos, crítica literária), participa e organiza várias coletâneas e
torna-se figura marcante no panorama literário e cultural do país.

Dentre as distinções que recebeu, estão o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras
(ABL) pelo conjunto de sua obra (2009), o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de
Santa Catarina (2002), o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores
(2002); por Primeiro de abril, narrativas da cadeia (1994), o prêmio de melhor romance da União
Brasileira de Escritores; por Nur na escuridão (1999), os prêmios de melhor romance da Associação
Paulista de Críticos de Arte e da Nona Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (Zaffari-Bourbon).

Algumas publicações

Velhice e outros contos. Florianópolis: Edições Sul, 1951.


Rede. Florianópolis: Edições Sul, 1955.
O primeiro gosto. Porto Alegre: Editora Movimento, 1973.
A morte do tenente e outras mortes. Rio de Janeiro: Edições Antares/MEC,1979.
A voz submersa. São Paulo: Global editora, 1984.
A vida breve de Sezefredo das Neves, poeta. Porto Alegre: Tchê, 1987
As areias do tempo. São Paulo: Global editora, 1988.
Primeiro de abril, narrativas da cadeia. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 1994.
As Desquitas de Florianópolis. Rio de Janeiro: Rio Fundo Editora, 1995
As confissões prematuras. Florianópolis: Letras contemporâneas, 1998.
Nur na Escuridão. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
Eu e as Corruíras. Florianópolis: Insular, 2001.
Memórias de Editor (com Eglê Malheiros). Florianópolis: Escritório do Livro, 2002
Mare Nostrum - Romance Desmontável. Rio de Janeiro: Record, 2004.
Gente da Terra. Florianópolis; Lunardelli, 2004.
O sabor da fome. Rio de Janeiro: Record, 2007.
Jornada com Rupert. Rio de Janeiro: Record, 2008.
Reinvenção da Infância. São Paulo: Novo século editora, 2011.
Fantasia e (é) realidade ou treze textos surreais (com ilustrações de Tércio da Gama). Florianópolis:
Editora da Unisul, 2012.

Traduções de romances:
Para o francês: Primeiro de abril – narrativas da cadeia: Trad. de Luciana Rassier e Jean-José Mesguen.
Paris: L'Harmattan, 2007.

Para o árabe: Nur na Escuridão. Trad. de Youssef Mousmar. Beirute: Dar Saer Mashrek, 2013.

Texto: Luciana Rassier

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