Sobre Atingir o Estado de Buda Nesta Existencia
Sobre Atingir o Estado de Buda Nesta Existencia
Sobre Atingir o Estado de Buda Nesta Existencia
Primeiro, gostaria de destacar que, quando Daishonin abriu o caminho para que todas as pessoas atingissem a
iluminação nesta existência com a recitação do Daimoku, estabeleceu pela primeira vez um ensino de autêntico
humanismo. Pode-se dizer que abrir o caminho para a iluminação de todas as pessoas é um requisito de qualquer
religião que se considere verdadeiramente humanísta. Este, acredito, é o significado filosófico ou religioso do
princípio de atingir o estado de Buda nesta existência.
Nitiren Daishonin possuía uma profunda compreensão do potencial humano, sabia que as pessoas podiam se
libertar de um ciclo de transmigração negativa e entrar numa órbita positiva, mediante uma profunda mudança
interior. Estabeleceu também um meio prático para que os seres humanos pudessem atingir isso. Por essa razão,
não há outro ensino que mereça ser qualificado como “humanista” além do Budismo de Nitiren Daishonin. Em
“O verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”, Daishonin afirma: “Embora se pense que o Buda Sakyamuni
possua as três virtudes de soberano, mestre e pais em benefício de todos nós, seres vivos, isso não é verdade. Ao
contrário, são os mortais comuns que o dotam com as três virtudes”. (END, vol. V, pág. 248.) Esta passagem
descreve uma mudança de uma “religião autoritária” para uma “religião humanística, centrada nas pessoas”.5 O
Budismo de Nitiren Daishonin, que estabeleceu o meio concreto para atingir a iluminação nesta existência,
tornou essa mudança possível.
Quando o primeiro presidente da Soka Gakkai, Tsunessaburo Makiguti, formulou sua teoria do valor, não incluiu
a “santidade” ou o “sagrado”, que muitos outros pensadores que o antecederam haviam considerado como valor
religioso. Para Makiguti, o “grande bem” era o valor máximo que toda religião devia se empenhar para atingir. A
expressão “grande bem” refere-se ao valor supremo que os seres humanos e a sociedade são capazes de atingir.
Na teoria do valor do Sr. Makiguti, considera-se como verdadeira religião aquela que serve ao bem-estar dos
seres humanos. Quando Daishonin revelou o caminho para atingir o estado de Buda nesta existência, estabeleceu
uma religião que contribui para a felicidade do ser humano da maneira mais grandiosa possível.
O significado de atingir o estado de Buda nesta existência em termos individuais
Segundo, ao revelar o caminho para atingir o estado de Buda nesta existência, Daishonin nos possibilitou viver
embasados no poder infinito da Lei Mística, ou seja, edificarmos uma vida sólida e segura, que nos proporciona
coragem e convicção para sermos indivíduos autônomos. Este é o significado de atingir o estado de Buda nesta
existência em termos de nossa vida individual.
No Budismo de Nitiren Daishonin, atingir o estado de Buda não é embarcar numa jornada inconcebivelmente
longa para tornar-se um buda, um ser divino que irradia luz. É realizar uma transformação profunda em nosso
próprio ser. Essa proposta revolucionária sobre a iluminação modificou por completo o modo como a prática
budista era tradicionalmente vista.
Em outras palavras, não é uma questão de praticar para escalar o ponto mais alto da iluminação em algum
momento do futuro distante. Este escrito trata de uma luta interior constante, que se realiza a cada momento,
entre duas tendências opostas: revelar nossa natureza do Darma inerente, ou deixar que nossa ilusão e escuridão
fundamental nos governem. Esse empenho incessante pelo aprimoramento de nossa vida constitui a essência, o
coração da prática budista.
Somente podemos triunfar na vida e revelar nosso pleno potencial quando vencemos nossa escuridão interior e
nossa própria negatividade. Somente assim podemos desfrutar uma satisfação genuína e profunda na vida. Nesse
sentido, quero frisar que a prática exposta no Budismo de Nitiren Daishonin para atingir o estado de Buda nesta
existência é o único meio para vencer a escuridão e a ilusão, que são a origem do mal do ser humano, e de
cultivar a verdadeira independência, construir uma identidade sólida e adquirir um estado de vida de felicidade e
paz de espírito ilimitadas. Portanto, atingir o estado de Buda nesta existência é o propósito principal que todo ser
humano deve ter na vida.
O significado de atingir o estado de Buda nesta existência em termos coletivos
O Sutra de Lótus é o rei dos sutras, o caminho direto para a iluminação, por explicar que a entidade de nossa
vida, que manifesta tanto o bem como o mal em cada momento, é, na verdade, a entidade da Lei Mística. Se o
senhor recitar Myoho-rengue-kyo com profunda fé neste princípio, infalivelmente atingirá o estado de Buda
nesta existência. Eis por que o sutra declara: “Após o meu nirvana, deve abraçar e manter este sutra. Aquele
que assim fizer, atingirá infalivelmente o Caminho do Buda”. Não tenha a mínima dúvida.(END, vol. I, pág. 5.)
Terceiro, digo que o princípio de atingir o estado de Buda nesta existência é extremamente importante por
conceder esperança à humanidade e abrir o caminho para transformar o destino de todas as pessoas. Nesse ponto
reside seu significado coletivo ou universal.
Muitos intelectuais e pensadores prestigiosos admitem que a civilização moderna perdeu de vista o ser humano e
estancou em muitas frentes. Não há como negar que a maioria das pessoas dá pouca atenção ao domínio
espiritual e vive obcecada pelo conforto material, pela gratificação e pelo prazer proporcionados por elementos
externos, por coisas que estão fora delas.
Não podemos resolver os inúmeros problemas que o mundo enfrenta hoje, incluindo a obsessão pelo crescimento
econômico, a política desprovida de humanismo, os conflitos internacionais, a guerra, a crescente desigualdade
entre ricos e pobres e a discriminação atroz, sem vencer as ilusões humanas fundamentais, como a avareza, a ira
e a estupidez. Uma conclusão a que cheguei em meus diálogos com grandes pensadores é que a única solução
concreta reside na mudança interior do ser humano, na revolução humana.
Digo ainda que sem estabelecer uma visão correta da vida e da morte, é impossível vencer a escuridão e a ilusão
aninhadas no nível mais profundo da vida humana. É impossível atingir uma felicidade verdadeira e duradoura
sem uma visão da vida e da morte como a que sintetiza o Caminho do Meio, que rechaça os extremos das
doutrinas da aniquilação e da eternidade.6
Os seres humanos somente poderão mudar quando vencerem sua escuridão interior e resgatarem a dignidade
eterna que possuem na própria vida. Se os indivíduos cultivarem esse nobre espírito, do qual todos são dotados
originalmente, produzirão uma mudança direta no destino da humanidade. Com essa convicção, nós, da SGI,
viemos nos dedicando durante décadas para criar uma rede do bem que envolva o mundo inteiro.
No decorrer destas explanações, gostaria de comentar as expectativas e esperanças cada vez maiores que nosso
movimento está despertando em pessoas de todos os setores.
No final desse escrito, Daishonin diz: “Não tenha a mínima dúvida”. (END, vol. I, pág. 5.) Ele nos exorta a
termos absoluta convicção de que atingiremos o estado de Buda nesta existência. Suas palavras também contêm
uma advertência: se não mantivermos uma firme fé, será fácil perdermos de vista o objetivo fundamental da
iluminação e cairmos nas profundezas da escuridão e ilusão.
Todas as pessoas, no âmago de sua vida, anseiam atingir a iluminação. Porém, não há ensino mais difícil de crer
ou de compreender que a doutrina da consecução infalível do estado de Buda nesta existência. Nós, da SGI,
assumimos o compromisso de colocar em prática esse profundo ensino e de compartilhá-lo amplamente com
outras pessoas, tanto do Japão como do mundo inteiro.
Na sociedade atual, nós, como valentes Bodhisattvas da Terra, estamos dando provas reais e concretas do
potencial humano para transformar o destino. Orgulhosos de nossa nobre missão, continuemos compartilhando
alegremente o Budismo de Nitiren Daishonin — seu ensino sobre a consecução do estado de Buda nesta
existência — ao mesmo tempo em que vivemos da maneira mais significativa e satisfatória possível.
NOTAS 1. Toki Jonin: Um seguidor leigo de Daishonin que viveu em Wakamiya, distrito de Katsushika, província de Shimosa (parte da
atual província de Tiba). Serviu como vassalo do senhor feudal de Tiba. Recebeu muitos escritos de Daishonin, como “O objeto de
devoção para a observação da mente”, e os preservou cuidadosamente. 2. No escrito “Como aqueles que aspiram inicialmente ao
Caminho podem atingir o estado de Buda por meio do Sutra de Lótus”, Daishonin diz: “Quando reverenciamos o Myoho-rengue-kyo
inerente em nossa própria vida como o objeto de devoção, a natureza de Buda dentro de nós é evocada e manifestada pela recitação do
Nam-myoho-rengue-kyo. Este é o significado de ‘Buda’. Para ilustrar, quando um pássaro engaiolado canta, os outros que estão voando
pelo céu são evocados. Quando esses pássaros se reúnem ao redor da gaiola, o que está preso luta para libertar-se. Da mesma forma,
quando recitamos a Lei Mística com nossa voz, invariavelmente nossa natureza de Buda é evocada e manifestada”. (The Writings of
Nichiren Daishonin [WND], pág. 887.) 3. No 12º capítulo do Sutra de Lótus, “Devadatta”, a filha de 8 anos do rei-dragão Sagara
manifesta o desejo de atingir a iluminação ao ouvir o Bodhisattva Manjushri pregar o Sutra de Lótus. Ela oferece uma jóia a Sakyamuni e,
imediatamente, atinge a perfeição da prática de bodhisattva. Ela então aparece numa terra situada ao sul chamada de Mundo Imaculado e
manifesta o estado de Buda sem mudar sua forma física de dragão. Nessa terra, ela ensina o Sutra de Lótus a todos os seres que nela
habitam (cf. The Lotus Sutra [LS], cap. 12, págs. 187-189). 4. Em seu escrito “Itinen Sanzen Homon” (A doutrina dos Três Mil Mundos
num Único Momento da Vida), Daishonin declara: “Se os seguidores do Sutra de Lótus praticam de acordo com o ensino do Buda,
seguramente, sem uma única exceção, atingirão o estado de Buda ao longo desta existência. Fazendo uma analogia, se uma pessoa cultiva
os campos na primavera e no verão, então, mesmo que tenha feito o plantio cedo ou tarde, sem falta, no decorrer desse ano obterá a
colheita. Os praticantes do Sutra de Lótus caem nestas três categorias — pessoas de capacidade superior, média e inferior — e, no
entanto, todas, invariavelmente, manifestarão a iluminação durante esta existência”. (Gosho Zenshu, pág. 416). 5. Essa passagem foi
analisada em detalhes pelo presidente Ikeda na explanação sobre “Abertura dos olhos”, parte 2, Terceira Civilização, edição nº 438,
fevereiro de 2005. 6. A doutrina da aniquilação é o apego errôneo à idéia de que a vida começa com o nascimento e termina com a morte.
De acordo com essa visão, há somente a vida presente, e a morte representa o cessar completo da existência física e espiritual. A doutrina
da eternidade também é uma idéia equivocada por defender que o que existe no presente é permanente e imutável. Essa visão rejeita a
causalidade. Com base nessa doutrina, praticar o bem ou perpetrar o mal não produz nenhuma mudança nas condições do indivíduo.
No budismo, há dois enfoques fundamentais que explicam como transcender esse ciclo de sofrimento. Uma idéia
postula que as pessoas podem libertar-se erradicando os desejos mundanos que conduzem à transmigração pelo
domínio do carma. A outra é o enfoque do Mahayana, segundo o qual a essência da vida que experimenta a
transmigração não é um fenômeno transitório e impermanente.
Os ensinos do Mahayana, por exemplo, expõem o conceito de transcender o ciclo de nascimento e morte de
acordo com o juramento dos bodhisattvas de guiar as pessoas à iluminação. Também postulam que o nascimento
e a morte em si são um ciclo que se origina da vida ilimitada e fundamental do Universo e que a ela retorna. Este
último conceito pode ser melhor compreendido pela analogia com o oceano e as ondas: o nascimento é como
uma onda que se forma no oceano — que é a vida universal — enquanto a morte é o retorno dessa onda à massa
oceânica. Obter essa compreensão da essência de nossa vida, que repete o ciclo de nascimento e morte, é atingir
a “suprema iluminação”, o elevado despertar do Buda.
A verdade mística abarca todas as coisas e é inerente a elas
A frase “despertar para a verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos” significa
“atingir a suprema iluminação”. A sabedoria que permite compreender essa verdade universal e inerente
constitui a iluminação suprema do Buda.
Há um ponto que distingue totalmente o budismo do pensamento e da religião predominantes até então: o
budismo revelou na própria vida do indivíduo a “Lei” ou o poder interior ilimitado para solucionar todos os
sofrimentos no nível fundamental. O Buda é aquele que, com base nessa Lei, obteve a suprema sabedoria para
acabar com o sofrimento e edificar a felicidade inabalável.
O budismo é um ensino de humanismo insuperável que acredita no potencial ilimitado do ser humano. Por isso é
chamado de “caminho interior”.
“Despertar para a verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos” é “atingir a
suprema iluminação”, e é o único meio para uma pessoa se libertar “dos sofrimentos do nascimento e da morte
que tem suportado desde o tempo sem início”. Esse foi o ponto de partida de Sakyamuni e a conclusão do
pensamento budista. A escritura que proclama essa filosofia do “caminho interior” é o Sutra de Lótus, que ensina
que todas as pessoas podem atingir a iluminação. Pode-se dizer que Sutra de Lótus incorpora o princípio
supremo do respeito à dignidade da vida e do ser humano.
Nesse escrito, Daishonin afirma que “a verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres
vivos” é o “princípio da relação mútua e inclusiva de um único momento da vida e todos os fenômenos”. Este
último refere-se à relação insondável que existe entre nós — nossa mente ou cada momento de nossa vida — e o
Universo; significa que todos os fenômenos estão contidos em nossa vida, e que esta, por sua vez, permeia todos
os fenômenos. Sem dúvida, o significado deste princípio corresponde ao que Nitikan Shonin (1665-1726; grande
restaurador do Budismo de Daishonin) expressou como “princípio da inerência e permeabilidade”,1 ao descrever
a doutrina dos três mil mundos num único momento da vida.
A vida cósmica abarca e permeia tudo; por essa razão, é também inerente em todas as coisas. A inseparabilidade
da vida do Universo e nossa vida individual é a essência do “princípio da relação mútua e inclusiva de um único
momento da vida e todos os fenômenos”. Tomar consciência dessa verdade mística é atingir a “suprema
iluminação” do Buda.
Dar nome à verdade mística
A questão é como possibilitar às pessoas perceberem essa “verdade mística que sempre existiu inerentemente em
todos os seres vivos”. Não podemos falar de um budismo universal enquanto apenas um número limitado de
pessoas pode seguir o Caminho estabelecido para chegar à verdade mística. Antes de Daishonin, o Grande
Mestre Tient’ai da China tentou estabelecer o meio para perceber essa verdade mística com a contemplação e a
meditação enfocadas na Lei. Mas esse meio não era acessível às pessoas dos Últimos Dias da Lei.
O primeiro passo dado por Daishonin para abrir o grande caminho da iluminação universal foi dar um nome à
verdade mística. A verdade mística inerente e universal no início não tinha nome, mas, como explica Daishonin
em “A entidade da Lei Mística”, um sábio que despertou para essa verdade em sua própria vida foi capaz de
dar-lhe o nome mais apropriado (cf. The Writings of Nichiren Daishonin [WND], pág. 421).2 Designar ou
nomear algo é um processo criativo. Quando se estabelece um nome que compreende perfeitamente a essência
de algo, obtém-se um extraordinário resultado: colocar essa essência facilmente à disposição de todas as pessoas
e permitir-lhes compartilhar seu valor.
Em “Sobre atingir o estado de Buda nesta existência”, conforme indicado pela passagem, “a verdade mística que
sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos é Myoho-rengue-kyo”, Daishonin afirma claramente que
essa verdade mística que constitui a Lei fundamental do Universo não é outra senão Myoho-rengue-kyo. O termo
“Myoho-rengue-kyo” já existia antes, pois era o título do Sutra de Lótus. Mas Daishonin foi o primeiro a
identificar Myoho-rengue-kyo como o nome do princípio do “verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”,3 que,
conforme ensina o Sutra de Lótus, é a profunda sabedoria de todos os budas. Além disso, embora o 16o capítulo
do Sutra de Lótus, “Revelação da Vida Eterna do Buda”, exponha a vida do Buda eterno do ponto de vista de
Sakyamuni, foi Daishonin quem revelou pela primeira vez que a essência dessa vida eterna do Buda — a
“essência do capítulo ‘Revelação da Vida Eterna do Buda’” — é Myoho-rengue-kyo (END, vol. V, pág. 211).
O Buda eterno, desde que atingiu a iluminação no remoto passado, sempre submeteu-se ao ciclo de nascimento e
morte como Buda, surgindo sob várias formas nos Dez Mundos para salvar todos os seres vivos. O capítulo
“Revelação da Vida Eterna do Buda” esclarece que os seres vivos dos Dez Mundos (incluindo os budas) e
também a vida e a morte, são manifestações da grande vida eterna do Universo. Pelo fato de Daishonin dizer que
“a essência do capítulo ‘Revelação da Vida Eterna do Buda’ é Myoho-rengue-kyo, podemos inferir que
Myoho-rengue-kyo é o nome dessa grande vida eterna e universal descrita no capítulo “Revelação da Vida
Eterna do Buda”.
Os seres vivos dos nove mundos — sujeitos a experimentar repetidamente o ciclo de nascimento e morte —
também seguem o ritmo de vida e morte que os faz surgir e retornar novamente a essa grande vida universal de
Myoho-rengue-kyo. São abarcados pelo Myoho-rengue-kyo e, ao mesmo tempo, possuem a Lei dentro deles. Por
isso, Myoho-rengue-kyo é o nome da “verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres
vivos”.
Foi Daishonin quem declarou pela primeira vez que Myoho-rengue-kyo era o Daimoku que todas as pessoas
deveriam recitar e propagar nos Últimos Dias da Lei.
Com a prática da recitação do Daimoku para perceber a verdade mística estabelece-se o “budismo do
povo”
O Sutra de Lótus é o rei dos sutras, verdadeiro e correto tanto nas palavras como nos princípios. Suas palavras
são a realidade fundamental, e esta é a Lei Mística (myoho). É chamada de Lei Mística porque revela o
princípio da “relação mútua e inclusiva de num único momento da vida e todos os fenômenos”. Eis por que este
sutra constitui a sabedoria de todos os budas.
A vida em cada momento abarca o corpo e a mente, a vida e o meio ambiente de todos os seres sensíveis nos
Dez Mundos como também todos os seres insensíveis nos três mil mundos, incluindo as plantas, o céu, a terra e
até mesmo as minúsculas partículas de pó. A vida em cada momento permeia todo o mundo fenomenal e é
revelada em todos os fenômenos.(END, vol. I, págs. 1-2.)
O passo seguinte de Daishonin para abrir esse grande caminho foi estabelecer a prática da recitação do Daimoku.
Daishonin agregou a palavra “nam” (variação fonética de namu) à verdade universal de Myoho-rengue-kyo e
estabeleceu a prática que consiste em recitar ou entoar essa verdade. Nam significa “dedicar a vida a”. Recitar
Nam-myoho-rengue-kyo de forma audível expressa a determinação e o juramento de dedicar nossa vida à
verdade de Myoho-rengue-kyo em pensamentos, palavras e ações.
Ao mesmo tempo, a prática do Daimoku permite a cada pessoa edificar um modo de vida fundamentado na
verdade universal de Myoho-rengue-kyo. O ponto-chave na recitação de Daimoku no Budismo de Nitiren
Daishonin não está em simplesmente entoar o nome de uma “verdade externa”. A recitação do Daimoku é uma
prática para revelar a “verdade interior” que permeia tanto o Universo como nosso próprio ser, e viver de acordo
com essa verdade. Essa prática pode ser descrita como um processo de construir uma identidade capaz de ativar
e empregar como recurso a “verdade mística que sempre existiu inerentemente em todos os seres vivos”.
Analisando a história do budismo, embora o Sutra de Lótus expusesse que as pessoas deviam abrir os olhos para
a verdade mística, com o tempo elas perderam de vista que essa verdade existia dentro delas. Nesse contexto,
Tient’ai estabeleceu uma prática meditativa, fundamentada nos princípios dos “três mil mundos num único
momento da vida” e da “relação mútua e inclusiva de um único momento da vida e todos os fenômenos”. Dessa
forma, ele procurou possibilitar às pessoas manifestarem o estado de Buda em sua vida. O método da meditação
exposto por Tient’ai para “observar a mente” poderia ser visto como uma prática apropriada que restaurou o
caminho correto do Sutra de Lótus.
Por outro lado, para possibilitar que todas as pessoas percebessem e compreendessem a “verdade mística
inerente em todos os seres vivos”, Nitiren Daishonin deu-lhe o nome de Myoho-rengue-kyo e estabeleceu a
prática da recitação desse nome; ou seja, a prática do Daimoku. Com isso, ele revelou o caminho para que todos
dedicassem sua vida à verdade mística e vivessem com base nela.
Desse modo, Daishonin estabeleceu o meio pelo qual todos poderiam despertar para o fato de que a verdade da
vida e do Universo existia em cada ser humano, e manifestá-la ativamente. Essa verdade também é a sabedoria
iluminada de todos os budas, totalmente revelada no Sutra de Lótus, o ensino mais elevado do budismo. Quando
nos baseamos nela, podemos construir uma vida de supremo valor. O Budismo de Nitiren Daishonin revelou esse
mundo da fé de forma que qualquer pessoa, em qualquer lugar, época ou circunstância, tenha acesso a ele. Não
seria exagero dizer que a prática da recitação do Daimoku, no Budismo de Nitiren Daishonin, deu origem ao
“budismo do povo”. Ela constitui a suprema prática budista que possibilita a cada pessoa transformar sua vida no
nível fundamental.
Em outras palavras, recitar Daimoku também é manifestar nosso estado de Buda inato.4 É o caminho direto para
evidenciar essa condição incomparável de vida. A sabedoria e a benevolência do Buda que emergem com a
prática do Daimoku, enriquecem e enchem de felicidade tanto a nossa vida como a de outras pessoas. Conforme
mais e mais pessoas recitam Daimoku pela felicidade de si e dos outros, será possível criar uma aliança de
indivíduos comprometidos, cuja vida resplandece com a benevolência do estado de Buda, capazes de mudar até
mesmo o destino da humanidade.
Saudemos o alvorecer do Budismo do Sol
Outro ponto que devemos ter em mente sobre o verdadeiro significado do Nam-myoho-rengue-kyo é que
também designa a vida do Buda dos Últimos Dias da Lei, Nitiren Daishonin. O nome Nam-myoho-rengue-kyo e
a vida do Buda Original estão conectados de maneira indivisível. Poderíamos dizer que a verdade fundamental
de Myoho-rengue-kyo que permeia a vida e o Universo somente pôde ser identificada e estabelecida pela
primeira vez quando Daishonin a praticou e a manifestou em sua própria conduta. Ele deu expressão concreta à
Lei que, até então, as pessoas não foram capazes de perceber.
A vida de Nitiren Daishonin como Buda dos Últimos Dias da Lei foi totalmente dedicada à luta contra o mal e a
ignorância. A batalha para libertar as pessoas da desventura e infelicidade neste mundo, do carma negativo, dos
sofrimentos implícitos no nascimento, na velhice, doença e morte, em última instância, implicam numa luta
contra a escuridão fundamental e a ignorância que dão origem ao mal e ao sofrimento.
Daishonin diz que o Daimoku de Nam-myoho-rengue-kyo que ele recita pela felicidade de si e de seus
semelhantes, enfocado na realização do Kossen-rufu, “dissipa as nuvens da ignorância” (Gosho Zenshu, pág.
414), que tem o poder inegável de dispersar a escuridão. Quando recitamos Nam-myoho-rengue-kyo, o sol do
estado de Buda desponta em nosso coração, dispersando a ignorância e a ilusão, que até esse momento
encobriam o sol como um pesado manto de nuvens. Quando o sol do estado de Buda resplandece em nosso
interior, dissipa-se a penumbra da ignorância.
O Budismo de Nitiren Daishonin não é um ensino que permite somente a seu fundador brilhar como o Sol, mas
uma filosofia que possibilita a cada indivíduo fazer com que seu próprio sol desponte, tal como Daishonin fez.
Somos realmente afortunados por podermos irradiar a mesma condição de vida iluminada do Buda.
A esse respeito, Nitikan Shonin escreveu: “Quando uma pessoa abraça este Gohonzon com fé e recita
Nam-myoho-rengue-kyo, sua própria vida se transforma imediatamente no objeto de devoção dos três mil
mundos num único momento da vida. Torna-se a vida de Nitiren Daishonin”.5 A prática da recitação do
Daimoku é, de fato, o caminho supremo para atingir o estado de Buda e possibilitar que cada pessoa seja um sol
esplêndido, por direito próprio.
O poeta russo Alexander Pushkin (1799-1837) proclamou:
Na presença do alvorecer cada vez mais brilhante
Estremecerá e se apagará cada falsidade,
Rendida ante a chama perene da razão.
Celebremos a aurora, e que a sombra pereça!6
O Budismo de Nitiren Daishonin é o Budismo do Sol, que revela a toda a humanidade o caminho da vitória
suprema na vida. Com a declaração “Celebremos a aurora!” como brado apaixonado, avancemos dinamicamente
na luta para dissipar a escuridão que cobre o coração das pessoas.
Notas 1. Comentando a frase de Tient’ai, “Os três mil mundos existem na vida a cada momento”, Nitikan Shonin afirma em seus Escritos
em Seis Volumes: “A intenção deste sutra [o Sutra de Lótus] é revelar o princípio da ‘inerência e permeabilidade’. De acordo com esse
princípio, todos os fenômenos são inerentes a cada momento da vida, e cada instante da vida permeia todos os fenômenos.” 2. Daishonin
escreve: “Este comentário significa que o princípio supremo [que é a Lei Mística] no início não tinha nome. Quando o sábio observava o
princípio e atribuía nome a todas as coisas, percebeu a existência desta Lei única e maravilhosa [myoho] que possui simultaneamente
causa e efeito [rengue], e a chamou Myoho-rengue. Esta Lei única que é Myoho-rengue abarca dentro de si todos os fenômenos que
compreendem os Dez Mundos e os três mil mundos, sem carecer de nenhum deles. Todos aqueles que praticarem esta Lei obterão
simultaneamente a causa e o efeito do estado de Buda”. (WND, pág. 421.) 3. Verdadeiro aspecto de todos os fenômenos: A verdade ou a
realidade suprema que permeia todos os fenômenos e que não se encontra separada deles em nenhum aspecto. Princípio exposto no 2º
capítulo do Sutra de Lótus, “Meios”. No escrito intitulado “O verdadeiro aspecto de todos os fenômenos”, Nitiren Daishonin definiu
“todos os fenômenos” como todos os seres vivos e seu ambiente como os Dez Mundos, e “o verdadeiro aspecto” como a Lei de
Myoho-rengue-kyo, a realidade última que permeia todos os seres vivos e seu ambiente em qualquer dos Dez Mundos. Todos os
fenômenos, ele declarou, eram manifestações dessa Lei universal; os fenômenos e a verdade suprema eram inseparáveis e unas. O
capítulo “Meios” esclarece a verdade de que todas as pessoas são inerentemente dotadas do potencial para se tornarem budas e que são
capazes de manifestar esse potencial. Notas 4. Daishonin escreve: “Portanto, quando recitamos uma vez Myoho-rengue-kyo, com esse
único som despertamos e manifestamos a natureza de todos os budas, de todas as entidades, de todos os bodhisattvas, de todos os
ouvintes, de todas as divindades como Brahma, Shakra e rei Yama; do Sol, da Lua e das miríades de estrelas, das divindades celestiais e
terrenas; e assim sucessivamente até a daqueles que habitam nos mundos de Inferno, Fome e Animalidade, os asuras, os seres humanos e
celestiais, e de todos os demais seres vivos. Esse benefício é infinito e incalculável”. (WND, pág. 887.) 5. Comentário sobre “O objeto de
devoção para a observação da mente”, em Nichikan Shonin Mondanshu (Comentários de Nitikan Shonin), Tóquio Seikyo Shimbunsha,
1980, pág. 548. 6. PUSHKIN, Alexander. Pushkin Threefold: Narrative, Lyric, Polemic, and Ribald Verse (Pushkin em três momentos:
Narrativa, obra lírica e versos irreverentes), Walter Arndt, trad. Nova York, E.P. Dutton & Co., Inc., 1972, pág. 20.