2 Amor de Verdade Duologia Verda - Rafaela Perver
2 Amor de Verdade Duologia Verda - Rafaela Perver
2 Amor de Verdade Duologia Verda - Rafaela Perver
Finalmente a sós, num canto da festa com a Kia, eu a agarro para dançarmos,
mas ela se confunde toda hora com os pés, não escondendo a vergonha por não
saber dançar direito. Sem falar da raiva comigo.
— Você está fazendo isso de propósito, só para as dondocas que me odeiam
se reunirem amanhã no chá da tarde e fazerem mais piadas sobre a "selvagem" do
Dexter.
— Achei que tinha aprendido a dançar com a Felícia — sorrio.
— Não ri, Anton. Nunca tive coordenação motora para dançar sozinha,
quanto mais para passos a dois. E a Felícia só me ensinou por uma semana.
— Tenha calma, querida, daqui a pouco, estaremos no meio da pista dando
mais assunto para as suas inimigas.
Kia, agora, fica mais brava comigo e antes que ela amputasse os meus pés
com os saltos finos, eu a deitei no meu peito, apreciando a música romântica que
toca no fundo.
— Não entendi o seu pedido de te deixar sozinha, sendo que no carro me
pediu que não fizesse isso.
— Eu me senti confortável e segura para dar uma volta. Além de que você, o
prefeito e os outros convidados só estavam falando de política. Algo chato, que eu
não compreendo.
— Hum... e o que fazia sentada a mesa com aqueles dois merdas?
Ela ergue a cabeça, arqueando uma das sobrancelhas delineadas.
— Os convidei para jantar na fazenda.
Fecho a cara e mudo a face para puto da vida.
— Só se for para comerem com os cavalos nos estábulos, porque nem na
varanda da mansão pisam!
— Não entendo essa discórdia com os filhos do Laerte. Ele são tão diver...
— não a deixo terminar de falar, beliscando doído a sua bunda.
— Eles são uns oferecidos do inferno!
— Aí, seu bruto... — ela resmunga, batendo no meu braço e dando um
cheiro na minha barba. — E eu não convidei eles para nada — sorri. — Só queria te
ver bravo.
— Pois teve sucesso! — Acolho ainda de cara fechada a Kia no meu peito,
olhando para umas quatro mulheres, que nos observam de longe, sem disfarçar.
Kiara percebe e finca as unhas no meu cabelo, aquecendo a minha mão para
quase estapear o seu traseiro.
— Sr. Dexter, acho melhor me beijar muito bem beijado! Se aquelas
fofoqueiras e oferecidas ali forem falar de mim, é bom que seja sobre o que me
aguarda esta noite no quarto.
— E quem disse que eu vou esperar chegar no nosso quarto para fodê-la? —
Então, após a minha pergunta, eu cato os seus cabelos cacheados e beijo-a com
gosto, com posse e fome.
Só afasto as nossas línguas quando ela perde o fôlego.
— Vamos embora — a dou um selinho.
— Não vai se despedir do prefeito? Nem comer dos petiscos?
— Não.
— Então espera... as oferecidas continuam nos olhando — Kia sorri
"maldosa", olha para as mulheres e aperta o colarinho da minha camisa, passando as
mãos delicadas no meu pescoço e peitoral. — Pronto — ela volta a me fitar. —
Agora vamos, a selvagem do mato está muito satisfeita pela provocação.
Porra, com certeza, eu vou foder a minha menina provocante com vontade!
E quer saber? Vai ser aqui.
— Antes, vamos ao banheiro, dona selvagem.
— Banheiro? Agora?
Assinto e faço-a me acompanhar para dentro da casa, tendo que ir me
desvencilhando muito educado de quem resolve atrapalhar o meu caminho e o meu
objetivo.
— Anton! — Só que em vez do banheiro, eu encontro o lavabo e empurro a
Kia para dentro, trancando a porta na chave.
Ela arregala os olhos, percebendo as minhas piores intenções.
— As pessoas devem ter visto nos dois entrando aqui, está...
Eu a prendo na pia de mármore e calo a sua boca com a minha língua,
acompanhada da ferocidade dos meus beiços.
— Amor... — Ela arqueja, sem força para me afastar.
Em seguida, ergo-a, preso entre as suas pernas abertas, que me pressionam
para se fecharem. O seu vestido justo vai até o topo das coxas. Vejo a sua calcinha
da cor preta.
— N-Não vamos ter relações aqui. Está doido?
— Mudança de plano, teremos uma pequena rapidinha.
— Não... — ela geme atordoada com os meus dedos que pressionam o seu
clítoris por dentro da calcinha.
No entanto, sinto os seus lábios se contraíram enquanto expele lubrificação.
E que tesão. A rapidinha evoluirá para uma oral. Minha boca se encheu de água
após sentir a sua carninha macia, rodeada pelos pelinhos ralos.
— Anton, todos sentirão a falta da gente lá fora. O prefeito vai achar que foi
embora sem... Aaahhh, merda — eu mordo a pelo do seu pescoço, lambendo,
sugando e mordendo.
Adiante, ajoelho-me, seguro com força as suas coxas e meto a cara na meio
da sua buceta para sentir o seu aroma feminino, deixo o tecido rendado entre os
dentes.
Kiara agarra o meu cabelo, inclina a cintura e afasta um pouco da cabeça
para trás e eu início a sua lição de não ser gostosa. Nem linda demais com esses
vestidos justos. Ela luta para não gemer em berros. Porém, infelizmente a minha
língua e os meus dedos fazem um trabalho tão bem-feito que a Kia não suporta
segurar o prazer que a vibra o corpo e sucumbi aos gemidos altos. Ainda rebola na
minha cara, enlouquecida de tesão. Assim que goza, eu sou rápido para também
liberar o meu pau exprimido pela calça.
— Não quero mais sair lá fora... — Kiara choraminga sem ar, retorcida e
apoiada no espelho.
Ela olha ofegante para o meu membro, tocando-o. Eu dou uma limpada no
nariz. E porra, meus músculos ficam tensos e rígidos com a sua mão lenta,
movendo-se em sentido vai e vem.
— Será que tem gente?
Ouço alguém bater fraco na porta do lavabo, enquanto conversa com outra
pessoa e Kia vira assustada para mim, mas pego com força nos cachos loiros da
minha mulher, pondo-a frente a frente com o meu olhar, para eu admirar a sua
reação apavorada ao sentir o meu pau duro como pedra penetrar a sua vagina
apertada. Eu bufo, sufocado pelas suas paredes. Ela abre a boca em desespero,
fincando as unhas por baixo da minha camisa. Seu olhar é de puro socorro para se
mexer, gemer e para que eu comece a investir bruto, sem pena. Isso não demora de
jeito nenhum. Chego a erguê-la no colo, fodendo feroz o seu corpo pequeno e beijo-
a, controlando o seu consciente a não gritar.
Sexta-feira de manhã, eu me levanto cedo para tomar o café na cozinha da
mansão. Minha mãe prometeu que me faria bolinhos de chuva e uma promessa
dessas deve ser cumprida com certeza.
— Benção, mãe — ao entrar pela porta, eu me aproximo pedindo a ela e
depositando um beijo terno na sua testa. — Bom dia.
— Deus te abençoe, meu filho. E bom dia. Acordou muito cedo, espertinho.
— Acha que eu me esqueceria da sua promessa de ontem à tarde?
Ela sorri, tocando na minha barba.
— Pode ter virado um homem, mas, no fundo, continua o meu moleque
comilão, que ama tudo quanto é fritura. Vai, se senta ali para tomar uma xícara de
café que eu já fiz a massa do bolinho e só falta fritar. — Ela se afasta, indo até a
bancada gigante e chique, onde tem um fogão industrial.
Eu vou me sentar para me servir do café e enquanto ela vai fritando os
bolinhos, que cheiram muito gostosos, eu vou contando uma notícia de suicídio que
aconteceu pelas redondezas. Porém, minutos depois, eu sou surpreendido por uma
pessoa que passa pelo portal da porta que liga o corredor da mansão a sala de jantar.
Felícia vem atrás, travando os passos juntos da filha.
— Esse homem deve ter se matado por algum moti... — ao virar o corpo da
pia, a minha mãe para de falar, também cessando brusca, em surpresa. — E-Ester?
Ester me olha sem um pingo de felicidade. Noto que os seus cabelos ruivos
estão mais avermelhados do que há três anos atrás.
— Bom dia, Gael. Bom dia, Maria. — Felícia entra feliz e olha emocionada
para a filha. — Não é um fantasma. Ester está de volta. Minha filha voltou para nós!
Me parece sim um fantasma inesperado.
Ela desvia de mim, abrindo um sorriso constrangido para a minha mãe, que
larga o que estava fazendo, para rápida, ir abraçá-la alegre, chocada.
— Ai, meu Deus! Ester, minha querida, está mais linda do que nunca! Seja
bem-vinda de volta!
— Obrigada, dona Maria.
Noto que a sua voz doce, calma e fina, continua a mesma de sempre.
— Kiara vai ficar muito feliz também. Ela já sabe que você voltou?
Ao tocar no nome da Kia, Ester me olha séria, desfazendo os traços
agradáveis e desvia de novo.
— Não.
— Ainda não. Ester chegou agora pouco, às 03:50 da manhã.
— Estou de volta para morar com a minha mãe — ela fala, dando um beijo
no rosto da Felícia.
— Eu não tenho palavras, filha. Estou radiante igual uma criança recém
presenteada.
Eu continuo quieto, tomando do meu café amargo. Até a minha mãe virar,
me olhar e apontar para a cadeira maciça do outro lado da ponta da mesa.
— Por favor, vem se sentar, Ester. Estou fritando bolinhos de chuva para
nós. Deve estar faminta pela viagem.
— Sim, estou. Obrigada, dona Maria.
— Veio cobrar a promessa da sua mãe, Gael? — Felícia brinca, dando um
sorriso forçado para a minha pessoa em silêncio.
O fato é: Felícia não vai muito com a minha cara desde que a sua filha tentou
se afogar no rio, devido a ter dito que amava era a Kiara e que queria terminar o
nosso relacionamento (Felícia, na época, ou até hoje, não deve saber que eu amava a
Kia). Apenas que a Ester tentou se matar devido ao primeiro motivo, por eu ter
terminado, porque não queria algo sério, como um casamento. E nunca foi segredo.
Se namorei com ela, foi devido as suas insistências, as perseguições e porque eu
queria tirar a Kia da minha cabeça. Porra, e um dos meus erros foi esse, de não ter
revelado desde o início os sentimentos que escondia. É quase impossível esquecer
alguém vendo essa pessoa todos os dias. Outro erro é que iludi a Ester, não devia ter
me rendido tão fácil ao desejo. Ter tirado a sua virgindade é um peso que eu
carrego, pois lembro-me das suas lágrimas quando a salvei de se afogar. Das
palavras que gritava, dizendo que nenhum outro homem iria querer ela, porque eu
havia violado a sua castidade, depois a descartado com uma mulher qualquer. No
entanto, não foi assim, eu juro que não foi. Eu sou homem, tenho desejos, atrações.
E Ester sabia, mesmo assim, insistia em ir além; de me fazer ficar sozinho com ela.
De me atentar, querendo realmente que eu a levasse para a cama. Não aguentei,
resisti por longos meses até o limite. Só que, droga, no outro dia, amanheci
atordoado, com medo de me sentir obrigado a me casar com ela. O que aconteceu
semanas seguintes. Mas não a amava, não suportava seus ciúmes e nem olhar para a
Kia. Não podia fazer isso. Meu coração não era dela.
— E olha que ele chegou cedo, viu — sem a minha resposta, a minha mãe
revida a brincadeira com a pergunta da Felícia.
— Oi, Gael.
Ester se senta, olhando-me envergonhada.
— Oi, Ester. — Aceno com o chapéu na cabeça.
O clima na cozinha se mostra desconfortável para todos nós. E assim que os
bolinhos ficam prontos, eu como, pensando em voltar logo para o serviço na
fazenda. Olha que, após devorar quase a bandeja toda, eu ainda vou embora com
uns quatro na mão, para comer durante o caminho até o meu cavalo amarrado no
coqueiro.
— Espero que tenha dormido bem! — ouço a voz do Anton gritar de longe.
Viro a cabeça, vendo-o parado perto do pé de ipê, em cima do seu garanhão,
o Faísca. Subo no meu Amarelo, galopando até ele.
— Já tomou o café, majestade?
— Vai roçar prego, Gael!
Eu sorrio, limpando a minha mão na camisa, do óleo do último bolinho.
— Estava sem sono, resolvi acordar cedo para desparecer a mente.
— Bom, já com notícias ruins, eu sinto muito estragar a sua caminhada à
cavalo, só que preciso te contar que as terras do Padilho estão sendo invadidas por
sem tetos. Fui avisado ontem à noite por Ratito. E o avô da Kiara não sabe mais o
que fazer.
— Ninguém me avisou desse problema. Você já mandou os capatazes
resolverem?
— Não, mas se eu for até o alojamento, é capaz de eu quebrar a cara do
Josué. Ele não me obedece e não tenho paciência para meio papo. Eis o motivo da
justiça me negar um porte de arma. Apenas deu a posse.
— Ele continua te dando problemas?
— Não, ele só continua achando que é o capitão dos capatazes. E se não der
uma coça naquele infeliz, eu pego a espingarda e eu mesmo dou.
— Depois resolvo isso.
Em casa, aproveito o tempo antes de tomar banho para tirar a barba grande
que a Kiara não gosta. E olha que nem cresceu muito.
— Até que enfim. — Ela entra no banheiro com o minúsculo biquíni que
estava no rio e sorri satisfeita para o meu reflexo no espelho. — Mais bonito do que
antes, Sr. Dexter.
Isso me faz lembrar da depilação total que ela fez e eu não gostei nem um
pouco. Só vi à noite, quando fui me dedicar a uma deliciosa oral entre as suas
pernas. Porra, só pensei onde estava os meus adoráveis pelinhos loiros, bem
aparadinhos que eu gostava de puxar? Ela me tirou o poder de cheirá-los outra vez.
Um homem perdeu o seu macete aquele dia. Fiquei uma fera. E ai dela se fizer de
novo. Vai ficar mais uns quatro dias assada.
— O que eu não faço pelo seu prazer maior.
— Ainda bem que me obedece.
Ela tira o biquíni, solta os cabelos úmidos e entra peladinha no chuveiro.
Que visão linda.
Termino a barba, tiro a bermuda e também entro, puxando-a e enconchando-
a de costas contra o meu pau. Acaricio o seu clitóris, relaxando-a excitada com a
cabeça no meu peito.
— Você sabe que me deve uma explicação sobre aquele recado no telefone,
né?
Eu fico calado. Subo a outra mão para os seus seios de mamilos enrijecidos,
enquanto a massageio forte embaixo do chuveiro. Ela suspira gostoso.
— O que o seu irmão Gabriel queria com você? Por que ele está te
procurando tão insistente?
Permaneço sem dar respostas. E bruto, intensifico os meus dedos,
penetrando-os fundos na sua vagina. Ela se cala. Então a pressiono na parede de
pedras, dando dois tapas ardidos no seu delicioso traseiro redondo. Em seguida,
meto gostoso, segurando na sua cintura e nos seus cabelos para cada vez mais dar
impulso na nossa foda. Kia se apoia, gemendo alto e rebolando.
No final, fico com pena da minha doce esposa. Sou mais carinhoso com ela.
Beijo-a nas costas, permitindo que igualmente curta o seu orgasmos, para virar na
hora que desejar. Ao fazer, ela fala que precisa sair logo para dar de mamar para a
bebê; com mais duas mãos extras ensaboando o seu corpo, ela consegue sair em
segundos do banheiro.
No quarto, após vestir uma calça pijama, eu observo a Kia sentada na
poltrona, ao lado do berço rosa, dando de mama para a nossa menina. Ela suga o
peito que chega a fazer barulho.
— Eu vou colocar o Gieber para dormir, já volto.
Kiara não diz nada. Ela me olha de forma estranha e desvia séria. Eu saio
incomodado com o seu comportamento.
Com a mala já pronta na sala, faltava pouco para eu poder ir embora. Mas eu
não tive tempo de sair, eu não consegui fugir. Agora sob o seu poder a mais de vinte
minutos, a adrenalina, remoída de todos os sentimentos possíveis, me consome.
Vitor me olha com uma arma de fogo apontada a sangue frio na minha direção.
— Por favor, me solta!
— Você não vai sair daqui enquanto não pagar o que me deve!
— Eu já disse que não tenho esse dinheiro, Vitor! EU JÁ DISSE!
— Cala a boca! Você é uma mentirosa. Cadê as suas joias? Anda, me fala
onde elas estão, sua descarada?
Eu me encolho no chão, sentindo dor no casco da cabeça pela força dele ao
me arrastar pelos cabelos até o quarto do apartamento.
— Fala, sua vagabunda! Pediu há três meses 200 mil reais emprestados
meus e achou que fugindo da cidade se livraria da cobrança? Pois eu te peguei e só
saio daqui com essas joias ou sem a sua vida! Você escolhe!
Segurando as lágrimas, aponto nervosa para a cama.
— A-Ali, elas estão ali no cofre, atrás da cabeceira.
Vitor continua a mirar a arma para mim e observa analítico a cabeceira de
capitonê. Com medo de dar alarme, eu coloco a mão bem devagar por dentro do
vestido, sentindo no suspensório, que fica no meio das coxas, a minha pequena arma
do tamanho de um palmo. Vitor volta a me fitar com os seus olhos negros. E
nervosa, eu paro de me mexer. A sua altura é de quase dois metros. Seu corpo é de
puro músculos e tatuagens. Eu me encolho no canto da parede, não escondendo o
medo dele. E enquanto me olha, ele afasta a cama, para visualizar o cofre.
— Sem rodeios, diga qual é a senha?
— 235678.
Ele bufa ameaçador, com a sua cara barbuda e vira para digitar a senha. Não
perco tempo. É então neste momento que eu ajo com o coração a mil. Tiro a arma de
dentro das coxas, olho para porta... e choro fria, com a mão trêmula e o dedo duro
no gatilho, tomando coragem para, enfim, disparar contra a sua perna. Ele cai no
chão, sem tempo de revidar. E quando revida, eu já estou de pé, correndo até a
porta. Entretanto, do corredor, eu ouço um disparo que me faz tropeçar sem querer
entre os saltos.
— O que foi, filho? — Minha mãe olha para mim. Eu estou sentado em
silêncio na cadeira da cozinha. — Está pensativo demais. Parece preocupado.
— Nada, somente o dia de trabalho que foi cheio de deveres. Vou para casa
descansar.
— Por favor, espere, Gael, preparei uma marmita quentinha para você levar.
Foi tirada antes de servir os patrões.
Com o cenho franzido, analiso a Ester dar a volta na bancada e vir até mim
com uma vasilha enrolada num pano de prato. Minha mãe sorri do fogão, dando de
ombros e não demonstrando surpresa.
— Ester lembrou primeiro do que eu. Aceita, filho, você deve estar faminto.
Trabalhou a tarde toda num calor imaginável.
— Tudo bem.
Apenas assinto agradecido para a Ester, pois realmente eu estou morto de
fome e ainda teria que chegar em casa e cozinhar qualquer gororoba.
— Espero que goste. Sua mãe deixou que eu fizesse o ensopado de
mandioca do meu jeito.
— E ficou uma delícia, minha querida. Você tem dom para cozinhar.
Novamente, eu só balanço a cabeça e me levanto para ir embora.
— Já vou, quero deitar mais cedo.
— Vai com Deus e bom descanso.
— Igualmente, mãe.
— Boa noite e até amanhã, Gael — agindo muito estranha, com uma
bondade sem igual, Ester me acompanha até a porta externa da cozinha.
Parece que, de um dia para outro, ela esqueceu do seu ódio por mim.
Adiante, sobre a pouca luz do sol, eu vou embora a galopes fortes. Ao chegar em
casa, amarro o meu Amarelo no estábulo bem-feito, coloco feno no chão, encho o
cocho com água fresca da torneira, e entro em casa para finalmente devorar a
vasilha de comida quente. Eu nem senti o sabor direito, comi até com a colher que
cabe mais. Após tomar um banho frio e dormir de primeira, por volta das 02h da
manhã, eu despertei, sem conseguir mais pegar no sono.
Sinto-me inquieto, nervoso e ansioso. Não entendo. Eu precisava relaxar.
— Droga. — Sento-me na cama, coçando a garganta e espreguiçando as
costas para ir até a cozinha. Quando eu volto, deito-me com o peito nu, todo
molhado pela água que escorreu do litro, devido ter virado direto do gargalo. Nem
me seco, fico com o braço sobre o rosto, até dormir pela segunda vez.
Às 03h40, assustado, eu quase dou um pulo do colchão, ouvindo o meu
nome ser pronunciado de longe. Porra, acredito que só possa ser o diabo com as
suas vozes do além, porque não é possível que eu esteja maluco da cabeça!
— Gael!
Nítido e em alto bom som, eu ouço outra vez, com batidas na porta. Eu me
levanto irritado, imaginando que seja algum capataz com notícias ruins. Se não for,
eu mato o energúmeno. No entanto, quando eu destranco a fechadura e giro
descontente a maçaneta, levo outro susto ao dar de cara com a pessoa que eu jamais
esperaria uma hora dessa. Ou nunca.
— G-Gael... — Ela gagueja o meu nome, com os olhos vermelhos e
inchados. Noto que os seus pés estão descalços. — Eu não tenho para onde ir, me
ajuda, por favor. — Lívia, então, me abraça, me apertando forte.
Sem qualquer reação abrupta e sem entender nada, eu fico estacado,
assistindo o seu carro de longe, estacionado de qualquer jeito no meio do escuro.
Juraria que era um sonho. Mas isso com certeza não é.
Ao tomar o controle do meu corpo, puxo-a para dentro, fecho a porta e levo-
a para se sentar no sofá.
— O que faz aqui, Lívia? Como conseguiu entrar na fazenda? Os capata...
— Eu disse quem era e que tinha algo urgente para tratar com você. E o
rapaz que estava de vigia deixou que eu passasse — ela suga o nariz, limpando a
bochecha.
— O que aconteceu com você? Por que está tão assustada e assim:
descabelada, sem sapatos...
— Eu... — ela me olha estarrecida — eu não tinha para onde ir. Eu perdi
tudo, Gael. Não tenho mais nada. Eu viajei por quatro horas sozinha até a fazenda.
Me deixa ficar aqui? Se falar para mim ir embora, eu não terei para onde ir, nem
condições de pagar um... — a abraço, calando-a.
— Ei, eu não vou te mandar embora, fique calma.
Ela me aperta, molhando o meu ombro com as suas lágrimas silenciosas.
— Mas preciso que me fale tudo o que aconteceu.
Ela não fala, nem reage diante da minha condição. Eu retorno a fitar as suas
íris verdes, admirando a sua beleza única. A maquiagem dela está borrada em volta
dos olhos. Até desconheço aquela mulher forte e toda autoritária. Ela percebe a
bagunça que eu analisava e começa a limpar discreta a face, também a ajeitar um
pouco do cabelo.
— O que te fez sair correndo da capital para bater na minha porta?
— Eu não tinha mais para onde ir. Eu fui ameaçada e se não fugisse, eu teria
sido morta.
— Como assim?
— Tem uma pessoa tentando me matar.
Incrédulo, eu me fixo apreensivo nela.
— E por que essa pessoa estaria tentando tirar a sua vida?
Ela desvia os olhos, calando-se. Engulo em seco, permanecendo muito
nervoso e preocupado.
— Se me procurou para se proteger, não vou expulsá-la. Quero o seu bem.
Por isso, também desejo saber todos os motivos que te levou a situação que se
encontra.
— Eu já não estou sendo humilhada o suficiente? Olhe para mim! — Os
olhos dela estão brilhantes. — Você sabe que eu cheguei ao fundo do poço. E não se
preocupe, amanhã procurarei outro lugar.
— Não, Lívia. Só entenda que eu estou atordoado por te ver assim. Ainda
por cima correndo risco de morte. Só quero saber os motivos dessa ameaça.
— Já disse para não se preocupar.
Porra, como eu não vou me preocupar?
Eu suspiro fundo para me levantar rígido e não ficar mais bravo do que me
encontro com ela.
— Quer comer alguma coisa? O que posso te oferecer de rápido no
momento é macarrão instantâneo. Pelo menos mata a fome.
Lívia me fita, assentindo.
— Já volto.
Então desvio dela para ir indiferente até a cozinha preparar o macarrão e
para poder pensar a sós no que me acabou de acontecer, ao abrir a porta e ver aquela
mulher naquele estado. Em dez minutos, quando eu retorno com o prato e a colher,
vejo-a com os joelhos levantados no sofá, olhando pensativa para a parede. Tento
me controlar para não a encher de mais perguntas. Fico imaginando que de fato deve
ter chegado ao fundo do poço com a sua ganância e ambição.
— Aqui. Está muito quente.
Ela pega, sussurrando um obrigada, e coloca sobre o apoio do braço para
comer sem ao menos esfriar direito, mesmo assim, com toda a classe que ela
aprendeu em seu berço de ouro.
— Nunca imaginei que acharia miojo tão gostoso — após comer tudo, ela
me estende o prato.
Eu pego, colocando sobre a mesa.
— Não vou lhe fazer mais perguntas, por mais que eu queira. Descanse.
Pode ficar com a minha cama lá dentro, eu vou deitar aqui no sofá.
— Não, eu quem sou a intrusa na sua casa. Pode ir dormir no seu quarto,
Gael.
— Eu não vou dormir nada, falta pouco para amanhecer.
— Nem eu. Mas quero ficar sozinha. Preciso pensar no que fazer hoje.
— Se está sendo ameaçada, pense que tem o delegado Laerte que pode te
ajudar. Pode ir até ele.
Lívia permanece no seu silêncio irritante, sem me dar respostas. Eu desisto
de querer aconselhá-la e decido ser o melhor deixá-la com a sua consciência pesada.
Só que antes de me deitar, eu pego um travesseiro e uma manta fresca para ela. A
seguir, na cama, repouso só o corpo, estando com a mente acesa até o nascer do sol.
Mais cedo do que de costume, logo que eu não dormi nada, eu me levanto,
escovo os dentes, tomo banho, visto a camisa, a calça, o cinto, as botas e por fim, o
chapéu. Ao parar na sala, perto do arco, ainda incrédulo, eu fico observando a Lívia,
que dorme de lado, com as pernas enroladas. Cruzo os braços e perco a conta de
quantos minutos eu fico assim, examinando a sua beleza inegável. Ontem, foi
surpreendente abrir a porta e vê-la nessa situação triste. De verdade, nunca lhe
desejei mal. Pelo contrário, eu me importo muito com essa orgulhosa. Por isso quero
ajudá-la e aconselhá-la.
Eu me desloco para ir para a cozinha preparar um café forte e fatiar um pão
caseiro. Lívia só acorda meia hora depois. Ela vai ao banheiro, se ajeita, em seguida,
aceita tomar o café da manhã comigo – em silêncio. E só quando terminamos de
comer que eu puxo conversa.
— O que pretende?
Ela me olha, parece pensativa.
— Não tenho ideia.
— Se me dissesse o que de fato está acontecendo, eu poderia talvez te
ajudar.
— Você jamais poderia me ajudar, Gael.
— Responda: por que tem alguém tentando te matar? O que você fez, Lívia?
— Gostaria que soubesse que eu odeio perguntas! — Lívia abandona de vez
a xícara vazia.
— Pois eu não estou nem aí, sua orgulhosa. Quero que seja sincera, que me
fale o que houve.
— Eu não te devo sinceridade, nem nada sobre a minha vida. — Ela se
levanta nervosa, afastando a cadeira.
Só que eu também me coloco de pé, sendo ligeiro ao parar na frente dela e
impedi-la de se retirar ríspida .
— Está com vergonha de dizer. É isso?!
— Sabe de uma coisa? Acabei de me dar conta de que eu não deveria ter
procurado você! Foi um erro!
— Pois é tarde para se arrepender!
— Não é, porque eu vou embora! — Ela me empurra, mas sendo mais forte
e mais alto do que ela, seguro-a pelo braço.
— Se não contar a verdade, eu descubro sozinho!
— Ah, e o senhor "poderoso" acha que tem a capacidade para isso? Se
poupe, caipira idiota! Você não é nada!
— Acabo de perceber que você só tem leves impressões sobre mim. E que
não me conhece nem um pouco.
— Eu te conheço muito bem!
— Não, não me conhece, porra! Assim como eu não te conheço! Só sei que
é uma madame orgulhosa, metida, soberba, de nariz empinado, sem humildade e
que está nesta situação pela ambição e ganância!
Lívia pisca seguidamente as pálpebras, tremendo de raiva e fúria.
— Me solta!
— Diga o que está acontecendo? Deixe-me ajudá-la?
— Já disse que você não pode me ajudar! Me larga! Tira as mãos de mim!
Eu vou embora!
Não a largo, pelo contrário, puxo-a forte para o meu peito, para abraçá-la
apertado e sentir o aroma cheiroso do seus cabelos. O perfume dela é único, é como
se eu estivesse num campo vasto de pinheiros de âmbar. Ela geme e acaba não
relutando para eu largá-la. Não me empurra, não fala nada. Lívia apenas desiste e
deita a cabeça no meu peitoral.
— Não seja solitária consigo mesma.
— Eu sou, pois as pessoas nunca se importam com você. Só querem ver o
seu mal, a sua derrota. Elas riem, zombam, machucam.
— Eu não sou assim e depende das pessoas que colocamos em nossas vidas.
O mundo onde vive é de poder, dinheiro, orgulho. É um querendo derrubar o outro
para conquistar títulos, nomeações. Claro que não teria pessoas boas, de confiança
nesse meio. — Eu ergo o rosto delicado da Lívia, com o polegar. — Não estou
falando a verdade?
— Sim. Mas eu nasci com essas pessoas. Meus pais são a segunda família
mais poderosa e podre de rica do estado, depois do Dexter. E é o meu mundo, Gael.
Eu gosto de ser dessa forma. Eu me sinto feliz com o poder.
— Felicidade não é isso. Seus pensamentos são, desculpe-me, mesquinhos,
tolos. Nem Anton, que tem todo o poder e respeito possível do povo de Montes Do
Sol, é assim. E devido ao seu pai, o Sr. Rangel, que o ensinou e me ensinou a dar
valor as pequenas coisas. Vejo que você está se espelhando na sua mãe, não na sua
real felicidade. Ela te criou, te doutrinou a ser como ela.
— Está enganado! Eu não me espelho na minha mãe! Pelo contrário, eu
quero a ruína daquela falsa! Eu quero ser mais do que ela! Toda a desgraça na minha
vida é por culpa do seu dedo podre e ganancioso!
Lívia se solta e eu não a impeço de explodir os seus sentimentos amofinados.
— Meu ex-marido foi o herdeiro do banco Nasca. E acha que eu me casei
com ele por que eu quis? Foi a mando da minha mãe, para ela ter mais poder. Só que
ela não contava que eu estragaria os seus planos, tomando a frente dos convites para
os eventos milionários, sozinha ou com o meu esposo.
— Isso é nocivo.
— Não, isso foi o meu ápice. Eu tive tudo o que eu quis, abaixei a bola da
minha mãe, vivia nas capas do jornais e revistas, sendo invejável, adorada.
— E era feliz?
— Sim, e eu era muito feliz com esse padrão de vida!
— Mas parece que você perdeu a batalha para a sua mãe e para o poder. Eles
agora estão lado a lado no pódio e você aqui na casa do caipira, fugitiva por não
saber se contentar com o limite. E fique na minha casa o tempo que precisar para
pensar nos próximos capítulos dessa sua ambição tosca. Também espero que saiba
pelo menos fritar um ovo para não passar fome! – Eu dou dois passos. — Até mais.
Aperto firme o meu chapéu na cabeça, viro as costas e abandono-a com a
sua fúria e a sua ideologia de felicidade e soberba sem sentido.
Eu acordo com a Melina chutando o meu braço. Abro os olhos e ela está
virada para mim, com os dedos na boca e as pernas gordinhas suspensas no ar.
— Bom dia, minha menina.
Ela me olha com as suas íris azuis iguais a de Kia e sorri um sorriso gostoso,
banguelo. Como pode com três meses já ser tão esperta? Não quero que ela cresça
nunca. É o meu pequeno tesouro loiro, como a mãe. E esse tesouro está no meio de
nós porque a Kiara acha que eu vou fodê-la a qualquer momento. O que não é
mentira. É só esperar que o dela está guardado.
— Está com fome? — sussurro para a bebê, tirando os seus dedinhos
pequenos da boca. Melina balbucia alto, cheia de felicidade.
Kiara, que estava com a cabeça virada para o outro lado, inclina o pescoço,
observando-nos.
— Vocês sempre combinam de acordar cedo? — Ela boceja ainda sonolenta.
— Mel está faminta. Agorinha ela fica sem esses dedos da mão.
— Vou dar de mamar para ela.
Deixo as minhas duas meninas na cama e espreguiço o corpo, indo escovar
os dentes, tomar banho e me arrumar para descer até o escritório. No entanto, ao
pisar na escada, lembro-me de avisar a Kia sobre uma coisa. E para o terror dela, eu
volto e a pego de surpresa no closet, vestindo só uma calcinha minúscula, do jeito
que me enlouquece – que delícia de visão.
— Sai daqui, seu safado! — Ela me vê e joga uma blusa na meu rosto,
tapando imediatamente os bicos eriçados dos seios.
Impossível segurar o riso e o tesão ao mesmo tempo.
— Esses peitos mereciam uma deliciosa chupada, amor.
— Shiuu, descarado!
— Hum... e essas coxas? Essa barriga? — Eu a analiso safado. — Uma bela
lambida até a buceta. Não acha, minha gostosa?
Kiara vira de costas, tentando vestir rápida e nervosa o sutiã. Entretanto, ela
permite que eu fixe os olhos na sua bunda redonda e a minha mão coça para deslizar
nesse lindo patrimônio. Sou privilegiado, sem dúvida, com essa maravilha feminina.
— Que bunda branquinha, perfeita para ficar gravada a minha mão grossa
por mais de uma semana.
— Eu vou é tacar um par de saltos na sua cara, Dexter! Vai ficar gravado o
número 36-37 na testa!
Eu tento não rir para não demonstrar que eu estou me divertindo com a sua
braveza. Quando ela resolve colocar um objetivo na mente, não há quem tire.
— Não adianta continuar com isso. Você não vai aguentar.
— Se for para ficar me provocando, já passou da hora de sair daqui!
Ela veste um vestido florido por cima da lingerie preta, uma rasteirinha
brilhosa e ajeita o cabelo úmido no seu enorme espelho de parede.
— Vim dizer que eu preciso ir para a capital hoje à tarde, para resolver umas
coisas no banco. Volto amanhã, depois do almoço.
— Hum. É bom que eu vou ficar de férias do senhor.
Kia caminha até parar na minha frente, dando-me um sorriso de lábios
fechados e eu a agarro faminto, tomando os seus cabelos cacheados com força.
— Você não consegue mesmo ser nem um pouquinho delicado, Anton? —
Ela segura na minha camisa, arrepiada com o cheiro gostoso que dou no seu
cangote.
— E você não consegue ser nem um pouquinho boazinha, minha menina? —
Aperto mais os seus fios, arrancando gemidos dolorosos dela.
— Você quase nunca é bom comigo, amor. Por isso sofrerá até semana que
vem.
— Nem a pau, eu posso acabar com o seu poder a qualquer momento.
— É? Não pode, hoje, eu estou no primeiro dia da menstruação. — Kiara
sorri maldosa sobre os meus beiços, acariciando a minha barba. — E nem pense que
vamos ter algo de novo comigo assim.
Eu solto o cabelo dela e pressiono as duas mãos a sua bunda e não digo
nada, só a beijo como uma animal sedento por água fresca.
Eu vou morrer desse jeito. Criei uma falsa santa para me martirizar.
Eu olho para o meu rosto inchado no espelho do quarto do Gael e sobre a
cama dele, eu volto a admirar as poucas joias de valor que me restaram. Não sei se
vai dar para pagar o Vitor e ajeitar a minha vida. Não devem nem chegar a
cinquenta mil. No entanto, ainda bem que eu tinha escondido elas embaixo do banco
do carro. Caso contrário, eu não teria era nada.
Após eu tropeçar no chão, em meio aos gritos de fúria do Vitor e aquele tiro
assustador, deu tempo de eu me levantar, arrumar a mala que ele revirou, trancar a
porta e correr para o elevador. No estacionamento, sai a mil, sem saber onde parar
com o veículo. Só vinha o Gael e a Kiara na minha cabeça, mas não procurei a Kia
por vergonha dela e dos empregados me verem assim, na miséria.
Continuo sem ideia para onde ir. Não posso voltar para a mansão de um
quarteirão dos meus pais na cidade, minha mãe olharia para a minha cara, sorriria e
diria como eu sou uma burra-tola, que preferiu traí-la do que ficar ao seu lado para
sermos fortes "juntas", conquistar admirações. Parece até que eu já posso ouvir a
sua voz.
E que droga, talvez o Gael tenha razão. Eu sei que ele tem, sempre assumi
meus defeitos ambiciosos. Contudo, eu não aceito viver a menos do que eu já
conquistei. Isso não é justo. Eu nunca fui corrupta, nunca roubei e nunca fui
preguiçosa. Quero o meu status de volta.
Sozinha, eu passo o dia pensando... pensando... e pensando. E quando o
Gael chega, ele me vê em pé na cozinha, com um pouco da minha dignidade
restaurada, pois tomei banho, penteei os cabelos e procurei uma roupa mais solta na
mala.
Ele para ao lado do armário de madeira, de braços cruzados, e analisa-me
severo. Eu rolo os olhos para ele e para a sua expressão sombreada pelo chapéu, que
deve causar medo em qualquer coitadinha por aí. Esse homem não nega beleza, nem
selvageria.
— Surpreso pela madame ter feito café? — pergunto sem humor para ele e
para a sua falta de fala.
— Não, eu só estou aliviado por você não ter ido embora. Não queria que a
nossa discussão hoje de manhã tivesse feito você tomar outras atitudes drásticas.
Dou de ombros, sentando-me na cadeira após colocar a garrafa na mesa.
— Eu não teria para onde ir. Não tenho amigas, nem parentes que prestam na
cidade. E nem se eu estivesse morta eu gostaria de voltar para a casa da minha mãe.
Gael se aproxima para pegar a xícara que lhe servi, sem parar de me olhar.
— O que foi?
— Nada. Você já comeu alguma coisa?
— Hum. Sim. E você precisa fazer compras, não sei como sobrevive nesta
casa só com abóboras, tomates, laranjas e batatas.
Gael se senta na frente da mesa redonda, pegando as bolachas do pote e
comendo sem humor.
— E o que cozinhou com a sua criatividade reduzida por ingredientes?
Eu degusto do meu café, prontíssima para rebolar na cara dele.
— Uma travessa de batatas recheadas com queijo, carne moída, abóbora e
ainda coloquei umas folhinhas cheirosas de hortelã.
— Uau... — ele me fita rude — surpreendente.
Eu fico quieta. Ele também cessa qualquer comentário irônico – até que vira
todo o café na boca e levanta-se estranho, dizendo que vai tomar banho. Eu
permaneço sentada na cozinha, no mesmo lugar, compreendendo que ele quer saber
o que está acontecendo comigo. Gael é um bom homem, só que eu não deveria
enfiá-lo nos meus problemas. Nunca fui de compartilhar nada com ninguém. Além
de que eu e ele temos algo forte, que nos atrai e que nos faz ter consciência de que
não deveríamos estar próximos. Por isso, devo pensar o quanto antes no que fazer
para voltar para a capital, pagar o Vitor e me virar com o que me restou – a minha
profissão.
Pela sorte do destino, não bastava eu ter ficado preso à tarde toda na cidade,
sendo que garanti para a Kia que voltaria depois do almoço, eu agora estou parado
às 20:45 da noite numa BR, pois a droga da caminhonete estragou. Felizmente,
quando a arrumei, eu voltei a dirigir por volta das 21:30, sem maiores imprevistos.
— Boa noite, Dexter.
Ao chegar em casa, encontro a Kia em pé na sala, de braços cruzados,
esperando-me com cara de preocupação e braveza. Ela fica mais linda assim.
Raivosa. Quero beijá-la agora mesmo.
— Fiquei preso na cidade. Fui resolver umas coisas com o Aldo em seu
gabinete. E na volta, a caminhonete estragou.
Ela olha para as minhas roupas sujas de graxa, mas não parece brava por eu
ter demorado a chegar em casa. Aproximo-me, estranhando-a, principalmente os
seus olhos vermelhos e inchados. Só que ela se afasta. Eu franzo o cenho.
— O que foi, Kia?
— O que foi? Eu vou começar a falar o que foi, Anton Dexter! — Ela cora
as bochechas, de raiva. — Seu irmão Gabriel chegou na fazenda bem na hora do
almoço, e exaltado, berrando que queria te ver para quebrar a sua cara, pois o filho
da mulher dele te pertencia! Que você era sim o pai da criança!
— O-o quê? — Arregalo os olhos. — Que porra está dizendo?
Os olhos de Kia brilham marejados. Eu chego a mil perto dela, louco com o
que disse. Kiara não se move. Ela me encara magoada e segurando-se para não
fraquejar.
— Então, Anton? Explique-se!
— Eu vou matar o filho da puta do Gabriel! Não é nada disso que você está
supondo!
— Me solta! — Ela pede entre os dentes e com o coração acelerado, eu a
solto.
— Porra, não é verdade, Kiara, não é o meu filho! Eu...
— Você mentiu para mim esse tempo todo! É por isso que estava próximo
do Gabriel, recebendo ligações e viajando para a capital no meio da semana! Foram
fazer um exame de DNA escondido da burra aqui! E ainda pior! Eu recebi a vadia
que teve relações com você! Ela se sentou nesta sala, neste sofá! Bem aqui!
Ela, enfim, chora e rasga o meu peito em mil pedaços. Fico estacado, duro
das pernas.
— Kia...
— Pois bem, Anton — Kiara respira fundo e curva-se para trás, para pegar
uma folha de papel na mesa, perto do sofá e do vaso de planta. Ao voltar, ela cospe
cada palavra. — Parabéns, você é o pai sim! — e joga o papel, que eu deixo cair no
chão.
— É mentira, eu posso provar! — Tento me aproximar aflito, só que ela não
deixa, chorando e distanciando-se.
— Provas contra um exame já com o resultado? Você jurou que não me
machucaria, que não me magoaria e que nunca mais me faria derramar uma lágrima
triste por sua causa. E quase dois anos depois, eu estou como no passado, sentindo-
me traída!
— Que porra! — Eu chuto o sofá, desesperado. — Eu fiquei com a
namorada do meu irmão há cinco anos, numa noite de festas e bebidas na capital. E
quando você ainda estava desaparecida. Mas não sabia que essa mulher havia ficado
ou estava grávida. E se eu não te disse antes, foi porque eu já tinha feito tanta
merda, que nem me lembrava com quem dormi ou não dormi. Só neste ano, há dois
meses, o Gabriel veio me procurar, relatando que a sua mulher o havia falado toda a
verdade, que ela o traiu e que achava que aquela criança era o meu filho.
Kia se mostra cada vez mais ferida por mim e pelas minhas palavras. E não
aguento, eu avanço para segurá-la. Não quero acreditar que está magoada comigo.
Isso me machuca, me doí.
— Eu realmente te amo, você sabe disso. Eu sou louco por você. Desde que
voltou, que me aceitou, que me perdoou, eu não agi feito um canalha, ou sequer
pensei nessa índole. Sou fiel a você. É a única mulher que eu tenho olhos. É a minha
menina, é tudo o que tenho.
— O fato é sempre o passado, Anton. E desta vez, no presente, já o tendo o
perdoado, você mentiu, não me disse o que estava acontecendo. Não foi sincero, não
me contou dessa história. Esperou que eu descobrisse da pior forma possível, com o
seu irmão berrando aos quatros cantos, para os empregados ouvirem a sua traição e
o quanto eu fui besta!
— Você é um anjo, é o que me restou de bom nesta vida. É a mulher que eu
amo, assim como a nossa família. E aquele menino não é o meu filho, eu posso e
vou provar. É por isso que eu estava aguardando para abrir o jogo com você. Só lhe
revelaria com um exame feito por um laboratório de minha confiança.
Ela balança a cabeça, vira o rosto molhado pelas lágrimas e suga o nariz para
ter forças de me encarar de novo. E ao retornar, não desvio dos seus azuis recaídos,
que demonstram como está arrasada.
Inferno, eu vou morrer a vendo assim!
— Eu só queria esperar o tempo certo para não te ver desse jeito,
decepcionada, arrasada e triste comigo. Me corta a alma, me faz me sentir um
merda!
— Sinta-se, pois sabe o que foi pior? — Ela me afasta abrupta. Eu passo as
mãos no cabelo, na barba, ao ponto de surtar. — Você me fez receber aquela mulher,
aquele homem e aquela criança na nossa casa. E eu os recepcionei na maior
educação. Ainda peguei na mão daquela infeliz, e disse como o seu filho era bonito.
Qual o motivo de ter sido tão nojento a esse ponto? Tão frio e insensível?
— Eu precisava ver eles três de perto. Encarar a cara do meu irmão e aquele
menino. E você mesmo viu que eles se pareciam. Eu posso provar que não é o meu
filho. Eu... eu sei que posso.
— E o exame que o Gabriel veio esfregar na minha cara, para me humilhar e
me chamar de selvagem trouxa e corna?!
— Porra, amor. É falso, é mentira. Ele e a Lorenza planejaram tudo. Tenho
certeza de que descartaram o meu sangue e pegaram o do próprio Gabriel para dar
positivo, achando que nos desestabilizaria. Que... caralho, eu não sei. Para te fazer
se virar contra mim, para nos destruir.
Ela fica em silêncio. Eu permaneço com o peito sendo perfurado pelos meus
batimentos.
— Eu estou muito triste. Estava sofrendo com isso desde a hora do almoço.
Desde que o Gabriel entrou por aquela porta berrando que queria ver você, e que
você era o pai do filho que ele jurava um dia ser dele. Quando foi embora, não sei
quantas vezes eu me peguei chorando furiosa por sua atrocidade, por eu ter recebido
aquela mulher aqui. Eu me sinto tudo, menos normal e de bem com você. Você não
foi sincero comigo.
— Kia... — Tento tocá-la pela segunda vez, só que ela dá dois passos longes.
— Não me toca, Anton! Prove o que tiver para provar e sei lá o que vai
acontecer. Só não te quero esta noite ao meu lado, não te quero perto de mim. Eu
quero ficar sozinha.
— Por favor, Kiara — falo baixinho, mas puto, louco para bater o meu rosto
na parede.
Eu sou um filha da puta.
Ela, em silêncio, após dizer o que tinha para dizer, vira as costas e retira-se
rápida para os degraus, limpando as bochechas. Observo-a desaparecer de vista e me
jogo furioso no sofá, dando um soco enfurecido na mesa de centro. O pé de madeira
quebra, no entanto, a dor do soco nem se compara a ver a minha mulher
decepcionada comigo.
Eu jurei nunca mais magoá-la, nunca mais fazê-la sofrer pelas merdas do
passado. Eu jurei a ela, porra, eu prometi a mim mesmo. Ela é tudo o que eu tenho.
Ela e as crianças e eu daria a vida pela minha família.
Não me perdoo pela sua tristeza, nem pela sua mágoa. Que desgraça!
Eu passo a noite em claro com a bebê e o Gieber dormindo ao meu lado na
enorme cama de casal. A presença deles acalenta o meu coração. Me faz ser forte
para não chorar e nem me sentir sozinha no vasto escuro do quarto. Meus filhos
serão sempre a minha força. O meu amor por eles é indescritível. Talvez só quem
habitasse no meu peito saberia o tamanho desse amor.
Eu também amo o meu esposo e não quero pensar no seu olhar de desespero
ao tentar me explicar a história do possível filho. Estou decepcionada e magoada por
ele não ter sido sincero desde o início, mesmo sabendo que depois de tantos
acontecimentos bárbaros do passado, eu o compreendi, o perdoei e decidi lutar por
suas mudanças e que, novamente, eu poderia fazer isso de novo. Por mais que me
entristecesse (inevitável), lutaríamos juntos para saber se é de fato o seu filho. Mas
não, Anton agiu no mistério. E o pior, ele me fez receber aquela mulher na nossa
casa, na maior inocência, sem saber que, por trás, os dois um dia já havia dormido
juntos. E que a criança sentada ao lado do Gabriel poderia ser fruto dessa noite dos
dois. Foi demais para mim. Eu sinto nojo por ter pegado na mão dela. E se a
intenção não era me ferir, o Dexter não conseguiu. Ele mentiu, estava indo para a
capital fazer DNA escondido. Meus sentimentos são os mais deprimentes. A revolta
nem a raiva passarão facilmente.
— Bom dia, Sra. Dexter.
De cabeça baixa, Sônia aparece envergonhada na porta do meu closet. Eu a
chamei para pegar umas peças de roupas e levar para o Anton no quarto de
hóspedes. Acabei de tomar banho e me vestir, já as crianças continuam dormindo.
— O que foi, Sônia?
— N-Nada, senhora.
— Se é sobre o que você e as outras empregadas ouviram ontem aos berros
daquele homem na sala, não se sinta indiferente. Não foi mentira.
— Eu estou indiferente pela sua tristeza, minha patroa. Sinto muito, não
gostei de vê-la triste e nem chorando.
As palavras doces de Sônia quase me fazem marejar os olhos, entretanto,
respiro fundo e recomponho-me.
— Já estou acostumada a muito sofrimento. Isso não é nem o primeiro
capítulo dos quatro volumes do meu casamento com o Dexter. E obrigada pelo
carinho. Gosto muito de você, minha querida.
— Eu também da senhora. É a melhor pessoa de todo esse mundo. Saiba que
eu estou odiando o patrão. E por outro lado, igualmente triste por vê-los brigados.
Espero que se resolvam.
— É o que eu espero. Mas a minha revolta, amargura e desgosto dizem ser
difícil. Por favor, tome, leve para ele tomar banho e se vestir. Ontem, chegou todo
sujo de um tinta preta, acho que era graxa.
— É ainda toda cuidadosa com ele. O patrão Dexter vai ter que ralar muito
ao teus pés, Sra. Kiara. Ninguém nesta casa está sentindo dó! — Sônia vê que se
exaltou e cora o rosto, recompondo-se e pigarreando. — Humrum, desculpa,
senhora. Eu já vou. Com licença.
Sorrio dela, que vira as costas com o seu cabelo loiro balançando. Adiante,
eu vou cuidar dos meus dois tesourinhos. Melina despertou chorando, o que
consequentemente fez o Gieber abrir os olhos. Minha mãe também apareceu para
me ajudar.
— Bom dia, minha doce menina. — Na sala com as crianças, Felícia vem
até nós. — Bom dia, Judite.
— Bom dia, Felícia — falo em conjunto com a mamãe.
— E como você está, querida? — pergunta, tocando preocupada no meu
braço.
— Eu estou bem — dou de ombros. — Vocês sabem que eu já passei por
coisas piores.
— Sabemos, e é por isso que sempre estaremos ao seu lado, minha filha.
Anton tem a revolta de duas leoas contra ele.
Felícia aponta para a minha mãe e concorda dura, com cara séria.
— Exatamente. E o que me preocupou mais foi que hoje eu levantei e vi a
mesa de centro com os pés quebrados. O que aconteceu?
— Nada grave. A gente conversou quando ele chegou, só que foi pior. Sobre
a mesa, do jeito que o conheço, deve ter sido ele na hora da fúria. Acho que
descontou dessa forma após eu deixá-lo sozinho. E não quero relatar nada agora, me
desculpem. As coisas ainda estão frescas.
— Fique tranquila, a minha posição, assim como a da Felícia, é de apenas
lhe apoiar. Não precisa de explicações. É algo entre você e o seu marido.
— Sim. Só queremos ver os dois bem, com os problemas esclarecidos.
— Obrigada, vocês são duas mães maravilhosas na minha vida.
Uma lágrima, por pouco, não me escapa, no entanto, sugo-a ao perceber a
presença do Anton nos últimos degraus. Felícia logo me olha e pede licença.
— Papai!
Gieber vê o pai, arregala os olhos e corre até ele, com certeza, para matar a
saudade de não o ter visto ontem. Minha mãe, da mesma forma, me fita, dizendo
que vai ver se a mesa do café está pronta. Já eu, sem poder fugir como elas, fico
sentada no sofá, com a Melina mamando faminta no peito. Observo o Anton pegar o
nosso bebê no colo e beijar o seu rosto. Gieber se mostra tão feliz que ri alto,
abraçando-o forte.
O Dexter me olha. Eu desvio, acariciando a coxinha gordinha da bebê.
— Kia...
Ele se aproxima com os seus sapatos marrons, só que eu continuo desviada,
com o meu coração triste, e lembro-me de outro assunto, o qual era para eu ter
relatado ontem em detalhes, se não tivesse acontecido o que aconteceu.
— Lívia vai ficar umas semanas hospedada conosco, não sei por quanto
tempo. Ela precisa de ajuda e eu quero ajudá-la. Se deseja saber os motivos disso, o
que sei que vai querer, pergunte para o Gael. Ele, com certeza, te explicará tudo o
que aconteceu — não o olho, digo as palavras assistindo a minha filha sorrir
banguelinha para mim, sem saber se mama ou se ri pela atenção.
Anton coloca o Gieber no tapete. Percebo a sua respiração forte.
— Se está confiando nela ao ponto de ajudá-la, não vou discordar da sua
bondade. Depois converso com o Gael para saber o que aconteceu. Eu vou até a
casa do Laerte.
Sem a minha resposta direta, ou sem a minha reação de querer talvez
retornar aquele assunto odioso, Anton bufa nervoso e retira-se, apertando o chapéu
na cabeça. Desta vez, eu me viro, vendo-o caminhar todo forte até a porta principal.
— Mamãe, papai não qué come? — Gieber, meu homenzinho, pergunta
cheio de curiosidade ao seguir o pai com os olhos.
Vejo como é esperto. Ele sabe que daqui a pouco é hora de tomarmos o café
com todos reunidos a mesa e quando o Anton não está, a sua falta é sempre
perceptível.
— Ele precisou sair, meu amor. Mais tarde o papai volta, tá?
Gieber acena com o rosto, voltando a brincar com os seus bonequinhos de
super-herói. Eu suspiro cansada, imaginando que o Anton foi até o Laerte para
desabafar e buscar conselhos. O delegado é como um padrinho para ele. E Laerte
sempre quer o seu bem, o trata igual um filho. Até acho melhor que vai lá pensar
direito no que fez, e que o Laerte o aconselhe, pois eu não quero estar na sua
presença. Nem o ouvir.
Eu acordo tocando no lado vazio da cama. Aperto o lençol no meu corpo e
fecho os olhos.
Meu Deus, está doendo em todos os cantos imagináveis e no próprio
imaginável. Meus ombros doem, meus braços, minhas costas, minhas coxas, minhas
pernas e principalmente entre elas. Sinto que precisarei de uma boa pomada para
assadura. Também para os hematomas roxos.
Suspiro, erguendo-me entre gemidos de dor. Olho para a beirada da cama e
vejo peças de roupas limpas. Penso que o Gael deve ter aberto a mala para pegá-las.
Ainda escolheu um vestido solto, florido. Que me deixa mais menina.
Por que ele tem que ser tão cuidadoso, protetor e bom de cama com aquele
pau enorme? Isso só me faz pensar em como é um homem incrível. E que devo me
manter longe para jamais criar expectativas. Minha mãe diria uma hora dessa que
uma Castellano nunca se envolve com pobretões. Quanto mais com caipiras
rústicos. Uma pena ela não saber como esses rústicos são capazes de te dar cinco
orgasmos por noite.
— Oi... — Na cozinha, eu encontro o Gael ao lado da sua pequena cafeteira,
encostado no armário.
Parece que o trouxe de volta ao presente, estava olhando para longe, cheio
de pensamentos. Ele me fita e eu faço o mesmo, analisando os seus cabelos úmidos
e a sua roupa casual de ficar em casa; um jeans com um cinto de fivela pequena,
uma camisa cinza, que preenche seus músculos sem deixar sobrar tecido nos bíceps
e nos ombros. Lembro-me de que ontem achei pesos enormes no quartinho onde
junta tralhas. Não resisti em pensar que ele deve malhar lá sempre que possível.
Todo suado, sem camisa, só para manter esse belo porte, e existe um saco de
pancadas na varanda de trás. Realmente, eu fiz bem em nunca duvidar de que ele
fosse irmão do Anton. Os dois se parecem muito fisicamente. Por mais que o Sr.
Dexter seja alguns centímetros mais alto, não muda o fato do Gael continuar sendo
um gigante para mim, acho que deve ter uns 1,80 m para mais. De saltos, eu até
consigo ficar abaixo do seu nariz.
— Oi — ele responde seco, movendo-se para me servir uma xícara de café.
Pego e de pé mesmo, eu me mantenho. Não posso me sentar.
— Como se sente?
— Não vou dizer a verdade para não inflar o seu ego.
Vejo que o Gael não sorriu. Então, desvio. Esqueci que nunca tenho bom
humor para fazer ninguém abrir sorrisos. Quanto mais esse homem. E ele está bravo
comigo. E tenho consciência dos motivos. Só que não quero lhe compartilhar nada.
— Eu já vou. Eu disse para a Kia que ia embora ontem à tarde. Ela deve ter
ficado me esperando.
— Hum.
Ele termina o seu café e como se não se importasse, passa rude por mim.
Mas, incomodada, pego no seu braço.
— Gael... não seja grosseiro.
Ele inclina o pescoço e eu tiro a mão dele.
— Eu quero que vá embora com os seus problemas, Lívia. Não fode com os
meus neurônios. Você é um pesadelo que tira a paz!
Abro a boca, sem saber o que dizer, e só posso olhá-lo voltar a andar rígido
até a porta dos fundos, em seguida, fechá-la.
Eu não devia me sentir chateada por esse comportamento logo depois de
uma foda tão maravilhosa. Ou devia?
Não, não devo. É melhor que seja assim. Eu sou a Lívia Castellano e ainda
me resta dignidade nesta merda de vida.
Vinte minutos depois eu pego a minha mala, coloco no bagageiro do carro e
saio da casa do Gael sem informar nada para ele. Ao chegar na mansão Dexter, eu
sou recebida por uma empregada na porta principal e levada até a Kiara na sala. Só
que a noto diferente. Ela sorri fraco, como que se tentando não transparecer algo.
— Está tudo bem, Kiara?
— Sim. E o que aconteceu com você? Juro que eu nunca te imaginei tão
simples, Lívia; de rasteirinhas, vestido solto, sem maquiagem, sem joias e de
cabelos molhados.
Não nego que também estranhei o meu desleixo.
— Ah. Eu saí às pressas da casa do Gael, nem pensei em me vestir
"clássica".
— Como ele está? Você disse para ele dos motivos de estar sendo
ameaçada?
— Não. Eu senti que foi um erro ter o procurado. Me arrependi. Não quero
ele próximo disso.
— Por quê?
Após me sentar ao seu lado, ela me olha sem entender.
— Gael é complicado e eu sou mais complicada ainda. A gente não sabe
conversar civilizados na maioria das vezes. É um arrogante todo cheio de razão, que
acha que é um super-herói.
— Eu não estou acreditando no que está me dizendo. O Gael, um arrogante
cheio de razão? Aquele homem é um cavalheiro. Muito doce, leal, amigo e que, de
fato, quer ser um herói. Ele se importa com as pessoas, quer ajudar até onde
consegue ser possível.
— Mas eu não quero a sua ajuda. Por favor, Kiara, vamos deixar tudo isso só
entre a gente. Você comprando aquelas joias já está me socorrendo muito. Não sabe
como.
— Está bem..., Mas acho que poderia pensar com calma em permitir a
amizade e os conselhos do Gael. Não entendo o que tiveram, só que ele é uma boa
pessoa. Poderia conhecê-lo melhor.
Sim, ele é uma ótima pessoa. No entanto, como ele, eu também acho que não
devemos nos relacionar. E não o quero próximo. Eu realmente não quero. Vê-lo me
acende um fogo que nem extintor apaga. Nunca, na minha existência, eu fiz sexo da
forma que me proporcionou desde que o seduzi; selvagem, animal, bruto, gostoso e
com uma pitada apaixonante. Além de que ele só vê defeitos em mim. Parece que, lá
no fundo, me odeia. Eu seria o diabo amarrado às suas canelas.
— Você tem preocupações maiores do que com um caipira, Lívia! – a voz do
meu subconsciente grita de repente. E tenho mesmo. Preciso do meu capital gigante
de novo. O poder, o luxo, a boa vida na cidade e no exterior são coisas que só o
dinheiro pode proporcionar. E essa é a minha felicidade. É quem eu sou. Ponto final.
— Vou pedir para alguma empregada levar as suas coisas para o quarto de
hóspedes. Aceita comer algo? A gente já tomou o café, no entanto, posso pedir para
a Felícia te trazer uma bandeja de bolo com suco.
— Sim, eu aceitaria. Obrigada, Kiara.
Para não ficar sozinha na sala de estar, eu chamo a Lívia para comer o seu
bolo ao ar livre no jardim comigo, as crianças e a minha mãe – achei bom que as
duas tiveram a oportunidade de se conhecerem melhor. Vi que a dona Judite deu
uma chance a ela. Gostou de ouvir as suas histórias sobre o exterior, sobre moda,
luxo e lições sobre boas maneiras. De umas semanas para cá, essa senhora colocou
na mente que quer aprender a ser uma mulher chique. Lívia acabou de se propor a
ajudá-la com isso, durante o período em que estiver conosco. Nem preciso dizer que
a mamãe ficou reluzente, né?
Já Felícia, numa oportunidade em que me pegou sozinha no quarto,
questionou curiosa e desconfiada a hospedagem da Castellano.
— Você confia nela, depois de ter sido cúmplice da Lorenza?
— A gente sempre confia desconfiando. Seja até mesmo de um parente. E já
resolvemos as nossas questões do passado. Desta vez, a Lívia está sendo ela mesmo.
Estou a ajudando.
— É uma boa pessoa, Kia. Tome cuidado. Desejo o seu bem.
— Sei que sim. Também te peço que a trate bem, que dê uma segunda
chance a ela.
— Jamais a tratarei mal, de jeito nenhum. É a sua hóspede e eu sou só a
governanta. Além de, ao contrário de Lorenza, Lívia nunca me tratou indiferente.
Igualmente darei um voto de confiança com os dois olhos abertos.
Sorrio, assentindo. Felícia acaricia a minha mão.
— Você não vai falar com o Sr. Dexter? Ele chegou há trinta minutos. Está
no quarto das crianças dando atenção para o Gieber.
— Eu... eu não quero — suspiro, sentando-me na cama e olhando para o
berço da Melina. Ela dorme feito um anjinho. — Eu estou magoada. Toda hora,
fecho os olhos e me vem a imagem e a voz do Gabriel dizendo que eles fizeram um
teste de DNA escondidos de mim. E que o seu filho, na verdade, era filho do Anton.
Depois à noite, do Dexter desmentindo, dizendo que podia provar que não era. Eu
não sei, sinto-me decepcionada, traída.
— Tenha calma. Se o Sr. Dexter disse isso é porque ele pode provar. —
Felícia sorri fraco. — E com as minhas humildes desculpas, eu lhe peço licença,
doce Kia. Preciso me arrumar para acompanhar a Ester na vila. Ela está louca para
andar na feira noturna.
— Nossa, que maravilhoso. Faz tanto tempo que eu não sei o que é uma
feira. Na verdade, eu nem sei como é ser uma pessoa comum.
— Se um dia fosse, todos lhe cercariam de admiração. Você é muito
especial.
— Sim. Quem sabe um dia eu não vou? — Noto que os meus olhos
brilharam ao pensar nessa possibilidade.
Felícia se despede e retira-se. Eu fico sozinha, pensativa com as minhas
tristezas. Então verifico a Melina no berço protegido e resolvo sair devagar do
quarto. Ando pelo corredor, admirada pela beleza da luz da tarde, que reflete na
vidraça da janela e colore as paredes brancas de alaranjado. Eu vou até o quarto do
Gieber – giro a maçaneta e encontro o Anton sentado no chão, com as costas
apoiadas na caminha do nosso menino. Ele está com uma perna dobrada e a outra
estendida no tapete.
Não entendo como essa cena pode afetar em negativo o meu coração. Anton
brinca com o Gieber, impressionando-o com as suas habilidades no yoyo. Os dois
sorriem.
— Eu quelo faze, papai. Deixa eu faze, deixa eu faze.
Anton entrega o brinquedo para o arteiro, que se embanana todo, apenas
enrolando o barbante no dedo e balançando o objeto.
Eu cruzo os meus braços, com vontade de me emocionar, mas eu sou pega
no flagra quando o Dexter inclina a cabeça e encontra o meu olhar triste. Gieber
também me encontra, porém, esse mini Dexterzinho abre um sorriso de orelha a
orelha.
— Mamãe! — Meu príncipe, então, corre saltitante até mim. Seus cabelos
balançam igual ao do pai. — Vem pra voxe blinca! — Ele agarra a minha mão,
puxando-me a força para próximo do Anton. — Vem, mamãe!
Eu o sigo com os meus saltos finos. Ao parar perto da perna do Dexter, ele
me entrega o yoyo.
— E-Eu não sei fazer, meu amor.
— Mosta, papai. O blinquedo indo.
Anton me observa sem parecer ouvir a sua pequena cópia. Nem eu.
Não queria estar assim magoada. Eu queria beijar a sua boca, estar entre os
seus braços fortes, provocando-o, amando-o, sentindo o seu calor. Ele não devia ter
mentido. Ter me feito tocar na mão daquela mulherzinha na maior educação, sem
saber os segredos que ela, Gabriel e ele escondiam da burra aqui.
E se ele for o papai do filho dela? E se não tiver provas do contrário?
Às vezes, eu não duvido de que o exame do Gabriel seja verdadeiro. Só que
aí me lembro da Lorenza. E se for um plano da assassina em liberdade, contra nós?
Anton pode estar confiando nisso.
— Papai, mosta ele indo! — Gieber balança impaciente o seu pai.
Ele desvia sério, pego o outro o yoyo e faz perfeitamente, indo e vindo.
— Voxe, mamãe.
Gieber pega outro yoyo do chão e estende-me. Eu olho para o meu bebê.
— Eu não sei, querido.
— Depois brincamos, Gieber. — Anton se põem de pé com o seu tamanho
enorme. — Mamãe e eu precisamos conversar.
Olhamo-nos e eu engulo em seco.
— Não vamos conversar.
— Eu preciso, Kiara, por favor.
Anton dá o brinquedo para o bebê e diz para ele que já volta. Em seguida,
espera que eu comece a andar para fora do local. Eu respiro fundo e saio na sua
frente.
— Melina está sozinha no berço, eu não posso demorar. Diga, o que você
quer?
Ele bufa de forma estranha, parando-me perto da parede. Sinto o seu
nervosismo, o desespero. Ele ergue o braço quase ao lado da minha cabeça.
— Que porra, Kia, não fique assim. Não quero você decepcionada comigo.
Ontem, eu te disse toda a verdade.
— Disse, mas cadê as provas? Estou magoada, decepcionada, traída! Foi um
mentiroso!
— O segundo DNA foi feito numa clínica de minha confiança. O resultado
sai daqui quatro semanas. Tenho certeza de que não é o meu filho. E você também.
Eu viro o pescoço, sentindo impaciência.
Então ele ia me contar as coisas só daqui quatro semanas?
— Achou que eu poderia fazer o quê? Droga, olha para mim.
Eu o olho com fogo nas têmporas. Noto que a minha tristeza evoluiu para
raiva e tudo de ruim. Ele vai aprender a nunca mais esconder nada da sua mulher!
— O exam...
— Se tivesse aberto o jogo desde o início e não tivesse trazido para me
humilhar o seu irmão e a mulher que você fodeu um dia, talvez não precisasse estar
no quarto de hóspedes sem data de retorno para a nossa cama! — esbravejo furiosa.
— Não venha com "achou que eu poderia fazer o quê?". Você foi errado na decisão
das suas atitudes. E nunca mais me esconda segredos! Até esse exame sair, sinta-se
acomodado no seu novo aposento! Não vamos ter nenhuma relação!
— Eu errei, pronto, eu estou te pedindo perdão! — Ele coloca as mãos em
mim, louco, descontrolado com a minha fúria. — Não me enlouqueça, caralho! Não
fique com raiva!
— Não aceito perdão nenhum. Me solta!
Anton não me solta, ele me puxa puto, realmente com um louco.
— Você só vai piorar a sua situação, Dexter! — Bato no braço dele.
— Eu só queria te poupar do início, Kiara. Eu ia revelar as coisas quando
tivesse certeza, para não sofrer antecipada!
— Pois não teve sucesso! Agora, daqui quatro semanas, você volta a tocar
nesse assunto!
Consigo empurrá-lo.
— Que porra! — Seus olhos cospem brutalidade, raiva e vontade de socar a
si mesmo como um animal.
Que soque!
— E a responsabilidade do banho, do jantar e de colocar o Gieber para
dormir é sua esta noite. Passar bem! — antes de ele abrir a boca, eu exclamo e viro
as costas, muito orgulhosa de mim.
Ainda posso ouvi-lo resmungar xingamentos. Acho que também deu um
soco na parede. Todavia, não pode, nem deve me contestar. É ele quem errou. Não
vou ser a Kia boazinha e fraca. Que o Dexter sofra, como eu estou sofrendo com a
minha magoa!
Mais tarde, eu, a Felícia e a dona Judite ajudamos a Kia a conferir as coisas
na sala. Não será uma festa tão grande, assim ela imagina. Já que não conhece
muitas outras mães com filhos pequenos. Mas Laerte, o delegado (o seu segundo
convidado) garantiu que as crianças da sua família encherão a casa. Ele tem duas
filhas mais velhas (fruto do antigo casamento) e dois gêmeos de 25 anos (com a sua
atual esposa). Todas as mulheres da família dele já tiveram três ou mais filhos, e
ainda uma está grávida. Sem dúvidas, virá muitas crianças. Sem falar do prefeito,
que tem quatro filhas e sete netos.
— Mandei fazer dois bolos, será pouco ou muito?
— Não é pouco. Vai dar sim. Lembre-se dos salgadinhos e dos outros
petiscos.
Já no quarto, após conferir tudo, até cada balão em seu devido lugar, eu a
ajudo a terminar de se arrumar. Eu já me arrumei. Estamos sozinhas.
— Anton está furioso com a festa, tenho quase certeza. Não disse muita
coisa a ele ontem. Apenas que faria e ponto final, virei as costa.
— E fez bem — dou de ombros. — Muito bem.
— Também acho.
Kiara me observa orgulhosa de si mesma, enquanto coloca seus brincos de
brilhante. Penso no que ela me revelou dele (do passado), do possível filho com a
esposa do irmão que veio se revelar somente agora e não tolerei imaginar ela
enfrentando isso, de verdade. O pior é que ele teve a capacidade de trazer a
mulherzinha na sua casa e apresentá-la sem ter revelado os segredos que os
envolvia. Dá para acreditar? Ah, se fosse comigo, ele estaria a duas semanas com
uma faixa enrolada em volta das bolas. E declarado estéril!
Kia deve ser valorizada. É uma pessoa maravilhosa. Nunca tive amigas e
nunca conheci outras mulheres que não fossem ao menos invejosas. Já ela, não, é
toda diferente, cuidadosa, amorosa e preocupada. Realmente é alguém que deverei
lealdade até o resto da vida. Não consigo nem pensar que um dia tentei agir de má fé
contra o seu casamento. Mas não consegui. Eu não sou esse tipo de humano. Nem o
desespero de ter o pagamento da Lorenza me fez ter sucesso. Já com o Gael sim. Ele
era solteiro, bonito, másculo, alto, caipira e tem um pau que faz estragos quando...
— Você não acha, Lívia?
Pisco várias vezes seguidas, desviando da protuberância daquele idiota
delicioso, que se materializou nos meu subconsciente devasso. Ele não devia ser tão
bonito.
— Sim? — Encaro-a.
— Pensando longe? Te perguntei sobre este vestido. Ele é muito apertado,
você não acha? — Ela passa as mãos nos quadris.
Analiso-a, desta vez, tendo que concordar que não está apropriado para uma
festa infantil.
— Achei um pouco exagerado devido aos dois cortes nos seios e nas costas.
Tenta achar um nesse modelo mais comprido e com apenas um decote. Ficará sexy,
chique e provocante na medida. Confie.
— Uau, obrigada. Vou procurar e já volto. Aliás, a senhorita está de tirar o
fôlego. Aliás quando não está?
— Obrigada, Kia. Você é maravilhosa.
Ela pisca divertida e retira-se até o seu closet. Eu me ergo da cama e
verifico-me sorridente no espelho de chão, torcendo para a minha vítima vir à festa.
Esta vista, ele não pode perder de jeito nenhum. Quero testar o seu nível de
autocontrole. Gaelzinho que se prepare que a Lívia má quer fogo no celeiro.
Eu desço os degraus da escada ajeitando os punhos da camisa e avisto a dona
Judite e o seu Heleno, avô da Kiara, com a Melina no carrinho, ao lado do sofá
— Boa tarde, senhor Heleno.
— Olá, Dexter. Boa tarde — ele é direito e sério.
Eu olho para a minha princesa deitada. Ela sorri doce para mim. Sem resistir,
pego-a no colo. Sou apaixonado pelo seu cheiro gostoso de bebê.
— Onde está o Gieber?
— Já está lá fora, perto da piscina tampada, olhando os brinquedos
instalados pela empresa de eventos. Ele foi com a Joana, a nossa empregada. E está
bravo porque não pode brincar. A Kiara não quer ver ele suado antes de receber os
convidados.
Já imagino a expressão de pirraça daquele teimoso. Joana deve estar
cruzando uma guerra – desviando meus pensamentos, ouço barulho de saltos na
escada. Inclino a cabeça, assistindo a Kiara e a Lívia descerem lado a lado.
Porra! Eu sou tão sortudo por essa beleza de cachos loiros, rosto pigmentado
de sardinha, lábios meio carnudos e de uma inteligência inegável. Ela anda elegante,
dentro de um vestido branco que... Meu Deus, eu seria capaz de rasgá-lo agora
mesmo no seu corpo!
— O senhor veio! — Assim que a Kia vê o avô, seus olhos azuis brilham.
Ela passa por mim de propósito com o seu delicioso perfume e traseiro
empinado. Confesso que a minha mão coçou para apupá-la.
— Benção, vôzinho — ela o abraça. — Como está?
Nervoso, eu entrego a bebê para a Judite e vou inquieto me sentar na
poltrona.
Às sete e meia, Laerte chega com a família. Infelizmente, ele trouxe os seus
dois filhos oferecidos. Eu não aceitei convidá-los! Moleques imbecis! Na verdade,
eu não aceitei esta festa. Apenas a nossa família estava de bom tamanho.
— Olá, Sr. Dexter, sou Rodolfo. É um prazer conhecê-lo.
— E eu sou Lucas. Também é um prazer conhecê-lo.
Os genros de Laerte se apresentam. Eu aperto educado a mão deles,
assentindo calado. Já seus filhos gêmeos nem ousaram se aproximar de mim.
— Ai, meu Deus, olha esses olhos azuis, que bebezinha mais linda!
— É a sua cara, Sra. Dexter!
— Obrigada.
— Ela é loirinha! Uma fofura! Parece uma obra de arte!
As mulheres se animam saltitantes em volta da Melina. Ao verem o Gieber
então, o pegam escandalosas no colo, desejando-lhe feliz aniversário e entregando-
lhe os seus presentes. Elas comparam demais a sua aparência comigo, sobre ele não
ter nenhum traço marcante da mãe (ao contrário da Melina) e ser a minha cópia.
— Avisei a Kia de que não faltaria crianças — Laerte comenta baixo,
batendo no meu braço. — Trouxe todos os meus seis netos e dois que nem nasceram
ainda — ele se refere brincalhão a sua filha Débora, que está esperando gêmeas. —
Não vejo a hora dos meu garotos também se casarem e nos darem uma creche
inteira na temporada de férias.
— Se eles não fossem cafajestes, o senhor poderia ver esse sonho realizado
antes de morrer — um dos seus genros, Lucas, diz sarcástico, caindo zombeteiro na
risada.
Eu sorrio, familiarizando-me já com eles.
— Quem mandou estar rindo, Dexter?
— O fato de não mentirem.
— Todo mês, esses libertinos têm uma amante diferente. O apartamento
deles é um verdadeiro puteiro.
— Olha se eles já não têm uma creche perdia por essa cidade, hein —
Rodolfo encosta de leve no meu ombro.
— Já se sintam mais do que bem-vindos. Desejam um uísque, gin, vodca? —
pergunto amigavelmente para eles.
Laerte rola os olhos, afetado por seus filhos serem o "orgulho" que ele vê
sozinho. Nem Fabiana, a mãe, passa tanto a mão nesses infelizes quanto ele, o pai.
São dois vadios mimados.
Ademais é a vez do prefeito Aldo chegar com a sua mulher, as suas filhas de
mães diferentes e os seus netos. No decorrer da festa, percebo que as crianças são
mais animadas do que qualquer adulto. Haja energia para tantas brincadeiras,
falações e desordem. Nós ficamos separados deles na sala, bebendo drinques e
conversando sobre diversos temas.
— De fato, os casais casados sempre se parecem um com o outro — uma das
filha de Aldo profere durante o assunto sobre casamento.
— Vejam, o Sr. Dexter e a Sra. Kiara são exemplos. É o par mais
harmonioso que conheço.
— Não vale puxar saco! — alguém exclama alto, tirando-nos risos.
— Não é puxar saco. É a verdade, isso estava até mesmo na coluna de fofoca
do jornal desta semana.
— Quando o sobrenome Dexter não está numa coluna de fofoca? Todos
querem ler algo sobre eles. Por isso, os plumitivos criam fatos, teor de mistérios,
matérias, artigos. Falsos, verdadeiros, maliciosos ou não. Eles são sedentos. Eis o
motivo dos periódicos de segunda fazerem sempre sucesso.
Os convidados falam de nós entusiasmados.
Permaneço sem dar muita atenção a conversa do pessoal. Não consigo parar
de observar a Kiara, que está sentada ao meu lado no sofá. Ela de perfil é perfeita.
Seus lábios avermelhados se abrem delicados a cada estímulo de risada. Também
não vou mentir que essa é a minha oportunidade de tocá-la, provocá-la e fazê-la me
desejar. Faço isso entrelaçando a sua mão macia na minha a cada oportunidade. Ela
várias vezes me olha nervosa e numa dessas olhadas, roubo um selinho de lábios.
Não pude resistir, nem evitar.
Ela não pode me xingar ou me bater, devido aos convidados. Kia só suspirou
com calor. Sei que se sente como eu. Mais uma semana sem transarmos e
enlouqueço nesta casa. A desejo, a amo. Não aceito tê-la magoado.
Em casa, eu tomo banho, visto roupas limpas do dia a dia, como algo e
aguardo o Anton, como o combinado. Ele chega meia hora depois. E o que conversa
comigo me faz ficar puto da vida com ele, por ter magoado a Kiara.
— Deveria ter sido sincero com ela desde que o Gabriel te ligou.
— E eu não estou arrependido? Achei também que seria a melhor escolha
para não a magoar antecipado, deixar para revelar somente com um exame de
confiança nas mãos. Não o dele. Só que aquele... — Anton range os dente — filho
da puta armou para ferrar com tudo. Inclusive com a minha vida.
— Você conversou com o Laerte?
— Sim. Como eu, ele tem certeza de que existe o dedo da Lorenza.
— Isso é fato. Afinal, por que a esposa do Gabriel revelaria a paternidade só
agora, quatro anos depois? Lorenza quer te destruir para se vingar. Todos sabem
disso.
— O plano era essa bomba sair na mídia. Contudo, eu fui mais rápido do que
eles. O detetive Isaque me ajudou a entrar em contato com o CEO do jornal um dia
antes da fofoca ser publicada. Eu expliquei a verdade para ele e sem mais
indagações, ele disse que estava do meu lado, que, após a revelação de que a
Lorenza fazia parte do assassinato do meu pai, de jeito nenhum, aceitaria colunistas
escrevendo fofocas trazidas por essa mulher.
— Isso é um alívio. Seria pior ainda para a Kiara. Não consigo nem
imaginar. E ela está certa em te chutar do quarto até o exame sair. Nem devia
reclamar.
— E estou? — Anton apoia o cotovelo no encosto do sofá e acaricia o
queixo. — É o de menos, essas consequências. Bem de menos.
— E o exame vai sair daqui há quantos dias?
— Daqui há duas semanas. Mais ao todo são quatro.
— Tudo isso? Achei que pudesse ser mais rápido.
— Não é — resmunga de cara feia. — Os materiais que o Isaque conseguiu
escondido do menino não colaboram para a rapidez do resultado. E estamos em
2002, o valor e o aceleramento me custaram sete mil reais. O laboratório diz estar
fazendo o seu máximo.
— Esse valor nem te faz cocegas.
— O problema é que eles não aceitaram mais para acelerar essa droga.
Mantenho-me sério, observando-o.
— Gabriel sabe que você fez outro exame?
— Sim. Por isso ele e a Lorenza estão tão quietos. E a verdade prevalecerá,
Gael. Tenha certeza disso...
Eu e o Anton ficamos conversando um pouco mais e antes dele ir embora,
aconselhei a ter paciência para não agir contra o Gabriel sem ter primeiro o exame
de sua confiança. Agora se fará, eu não sei.
Minha mente ainda está na Lívia e nos seus problemas. Eu trabalho o dia
todo pensando nela. No fim da tarde, eu vou até a cozinha ver a minha mãe e tentar
a sorte de encontrá-la pelo jardim – não a acho.
— Você não quer um pedaço do bolo de maçã que eu fiz? — Ester
questiona, já repartindo um pedaço e estendendo-me.
— Está uma delícia, filho. Experimente. Você ama doces.
Eu me aproximo da mesa, pegando educado o prato e comendo toda a fatia.
Realmente está divina. Eu poderia comer a forma inteira.
Ester não desviou nem por um segundo os olhos de mim. Incomodado com
ela, após comer, eu resolvo ir embora, já que só vim para ver como a minha mãe
está.
— Gael, eu... eu posso conversar com você?
Ester, então, me para, assim que eu me levanto pronto para me despedir.
Minha mãe nos olha surpresa, com um ar curioso. Até que pigarreia.
— Humrum... Deixarei você a sós, não se preocupem.
— Não precisa, dona Maria. Me acompanha até lá fora, Gael?
Sem escolha, confirmo calado e acompanho-a para a passarela de pedras da
horta extensa e bem cuidada.
— O que foi, Ester?
— Bom... — Ela para. Eu igualmente cesso os passos. — Eu queria te pedir
desculpas pelo meu comportamento mal-educado aquele dia, quando veio falar
comigo. Me senti mal pela forma que te tratei.
— Lembro-me que já pediu desculpas.
— Mas não foi sincero como desta vez.
Analiso-a e ela parece envergonhada.
— Eu realmente guardei muita raiva e tristeza de você. O via como o
homem perfeito da minha vida, que me casaria, seria feliz e teria a minha enorme
família. O amei incondicionalmente. Aproveitei cada momento nosso juntos. Mas
depois que eu descobri que o seu coração não me pertencia, que você não me
amava, eu fiquei arrasada, furiosa, me senti uma qualquer, usada e no fim,
descartada. Você entende? — Seus olhos brilham marejados.
Engulo em seco, com a impressão de que levei um soco no estomago. E
levei.
As imagens dela gritando e batendo-me enquanto a salvava de morrer
afogada no rio são vivas e muito presentes. Eu já imaginei inúmeras vezes se ela
tivesse morrido. Uma menina linda, esperta, determinada e com um futuro tão
grande pela frente. O que seria de mim? Da minha vida? Dos meus dias? Me sentiria
um desgraçado que tentaria o mesmo fim. Não merecia viver no seu lugar, respirar o
mesmo ar que um dia respirou feliz e cheia de sonhos. Preferia a morte.
Deus, como eu odeio o que fiz. Fui um covarde por ter a iludido, por ter a
desflorado e a tornado mulher.
— Entendo. E sinto muito. Jamais queria te magoar. Eu errei em omitir os
meus sentimentos. Não devia ter a envolvido na minha vida. Isso também me
entristece. Sou eu quem tenho que lhe pedir as mais sinceras desculpas.
— Não diga isso. Querendo ou não, eu fui feliz ao seu lado. Você é um
homem incrível, honrado e protetor. E eu gostaria de tentar de novo. Desta vez, te
entendendo sem segredos. De uma forma que nós dois possamos nos amar. Me dê
outra chance, Gael? Eu mudei, eu amadureci. Me permita provar isso?
Eu molho os lábios, sentindo os meus músculos se enrijecerem. Fico atado,
com medo de magoá-la de novo. Só que será impossível.
— Não quero te magoar mais, Ester. Achei que tivesse superado o nosso
passado e o nosso relacionamento. É uma mulher linda, trabalhadora e cheia de
determinação. Você não merece um homem como eu. Procure alguém que vai ser
tudo o que você espera. Que vai te amar e te dar uma família.
— Mas é você quem eu quero. Nunca te tirei do meu coração, nem dos meus
pensamentos, ou tive qualquer interesse por outra pessoa. Por favor, não faça isso
sem antes nos dar uma segunda chance. Eu mudei. Quero ir com calma e no seu
tempo, como me falava antigamente. Lembra?
— Eu sinto muito... não insista. Devemos seguir passos diferentes. Me
desculpe. É melhor que seja assim.
Ester suspira em silêncio, de cabeça baixa... e para acabar de vez comigo,
sem mais esconder as lágrimas que lhe escapa, ela, então, ergue a cabeça, morde a
boca, abraça os braços e vira as costas num rápido desespero, saindo triste e sem
falar mais nada.
Seguro-me para não ir atrás dela e impedir que chore, que sofra, que... eu
não sei... só não queria que ficasse triste. E por Deus, eu não posso fazer nada. Ester
deve entender de uma vez por todas que nós dois não existe, que ela deve encontrar
outra pessoa que possa amá-la e corresponder às suas expectativas. Esse cara não
sou eu.
Após terminar a minha aula com o professor Luciano, eu o convido para
almoçar conosco e ele aceita o convite meio envergonhado e desconfortável devido
à presença bruta e autoritária do Anton. Se não fosse pela Lívia, o clima teria ficado
ainda mais pesado na mesa. Mais tarde, quando ele vai embora, eu passo calada pelo
Dexter na sala, com a intenção de subir para dar de mamar para a nossa filha, mas
ele me para cheio de rouquidão na voz.
— Eu estou indo nas terras do seu pai ver como anda as coisas por lá. Se
quiser me acompanhar, eu saio daqui a pouco, às 14h da tarde.
Engulo em seco, aliviada pelo assunto não ser o meu professor.
— Eu quero. Só preciso dar de mamar para a bebê e me vestir. Daqui a
pouco, eu desço para irmos. Já volto.
Ele assente e eu me retiro para o quarto.
Lívia, minutos depois, aparece batendo na porta e informando-me que o
professor Luciano ligou e mandou avisar que ele esqueceu de deixar a apostila das
minhas novas atividades e que por isso era para eu me dedicar apenas a leitura dos
livros essa semana.
— Acho que o Sr. Dexter não vai muito com a cara do seu professor.
— E você acha que ele vai com a cara de qualquer homem que se dirija a
mim?
— Só a do Gael.
A gente sorri.
— Às vezes, nem o Gael escapa do seu ciúmes. Só que os dois se entendem.
Parece que voltaram a confiança.
Lívia fica em silêncio, olhando derretida para a Melina pendurada no meu
peito e me surge uma pergunta curiosa, sobre algo que ela me disse uma vez.
— Você já foi casada, né?
Ela me fita e confirma com a cabeça, após se sentar no colchão.
— Sim, por cinco anos.
— E por que vocês se divorciaram?
— Porque ele me traiu. E eu não tolero traição.
— Nossa, que horrível. Eu sinto muito, Lívia.
— Não sinta, por um lado, a traição e a separação tiveram a minha parcela
de culpa. Se hoje você me acha ambiciosa, há seis anos, eu era pior. Não dei a
atenção devida ao nosso casamento. Coloquei os meus sonhos de poder em primeiro
lugar. E Alex se cansou. Tínhamos muitas discussões, gritaria e vasos voando pelo
apartamento. Para se vingar, ele se jogou no mundo das baladas, álcool e das
mulheres fáceis. Entretanto, quando eu entrei com a providência no divórcio, o
homem se desesperou e tentou fazer de tudo para consertar as coisas entre a gente.
Eu simplesmente não quis mais. Já estava farta dele também.
— Acho que vocês não tinham amor, nem reciprocidade um pelo outro.
Quando amamos alguém de verdade, ainda mais sendo marido e mulher, a
separação dói demais. Sem falar que os dois, ou um dos dois tenta superar as
dificuldades para isso não precisar acontecer.
Lívia parece pensativa.
— Então acredito que eu nunca tenha amado ninguém. Já noivei e levei
chifre também, na minha própria cama. E eu não sofri nem um pouco. Pelo
contrário, na noite seguinte, eu estava acompanhada de outra pessoa. Igualmente no
meu casamento. Separei num dia e no outro já estava em Nova York, feliz e
aproveitando o meu status de solteira.
— Misericórdia, Lívia. Sua personalidade é sem igual. Definiria fria e sem
coração.
— Não tem como negar, eu puxei a minha mãe, infelizmente. Porém, ela é
pior em todos os quesitos. Devo dar graças a Deus pelo meu pai ter sido bem
presente com os seus conselhos. E eu tenho coração sim, dona Kiara.
Eu sorrio, erguendo-me para levar a Melina até o berço. Ela dormiu.
— Sei que tem.
Eu volto, pigarreando.
— Estou com vergonha... mas posso te fazer uma outra pergunta? É meio
relacionada às suas experiências. Diria que é uma curiosidade — saliento com as
bochechas vermelhas.
Lívia ri, apalpando a cama.
— Vem aqui, me pergunte o que quiser, sem medo.
Eu mordo a boca e vou me sentar tímida ao seu lado.
— Então?
— Bem... Não leve a mal. Eu só queria saber como é estar a sós com outros
homens. Quero dizer... — molho os lábios — tendo relações.
— Hum, sexo? — Ela parece se divertir com a minha vergonha. — Não se
sinta acanhada, Kia, solte a safada curiosa que existe em você.
— Meu Deus — eu coloco a mão na boca, rindo.
— Pelo jeito, o Anton foi o único na sua vida. Mas vamos lá, posso dizer
que na carreira de uma solteirona-aventureira existe uma listinha das melhores
fodas. Pois há homens que sabem te dar prazer e outros que só querem se auto
satisfazer. Uns que são bons, outros que são péssimos de cama. Ah, sem falar dos
tamanhos. Não adianta de nada ter um pau grande e não saber dar orgasmos a uma
mulher, e sim, machucá-la. Uns caras desprovidos por aí fazem o serviço mil vezes
melhor do que esses dotados. Apenas nas preliminares já recompensam. No entanto,
há exceções.
— Lívia, eu estou chocada.
— Fui muito direta, né? Vou com calma, não se preocupe.
— Nem precisa, eu já entendi tudo — coro.
— Kia, você é muito fofa com vergonha. Chega a ser encantador. E está tudo
bem se não quer mais saber.
— Não, eu quero que continue. Desta vez, me fale sobre se satisfazer...
sabe, sozinha?
— Hum...
Ela ri, encarando-me desconfiada.
— Agora sou eu quem estou constrangida.
Minhas bochechas pegam fogo com a sua declaração. Lívia pisca sacana.
— Não se preocupe, eu vou te ajudar em tempos de seca, te dando um
presentinho que nunca usei. Ele está na embalagem. Só que primeiro, vamos a todas
as suas dúvidas...
Assim que a Lívia mata todas as minhas dúvidas, eu fico ainda mais chocada
quando ela me dá o tal "presentinho", que é um vibrador rosa, com função
massageadora.
Pai Amado, eu não teria coragem de usar isso nunca. Estou em êxtase –
guardo o negócio dentro da gaveta do criado mudo, troco de roupa; visto uma calça
jeans justa, blusa decotada, botas de salto grosso e chapéu de cowgirl. A seguir,
desço para informar para a minha mãe onde eu vou com o meu marido. Também ao
Anton que estou pronta.
Ele, ao me ver, tirou o Gieber do colo, ergueu-se, olhou-me de cima a baixo
e nervoso, me fez acompanhá-lo desconfortável até o carro.
Na estrada, ouvimos música e conversamos sobre montar o meu plantio de
flores, também sobre a minha responsabilidade total e sozinha nesse investimento.
Afinal, o hectare do meu pai é meu. Até senti um friozinho na barriga. Espero que
dê tudo certo.
Ao chegar no casarão, eu fico alguns minutos dentro do carro, tomando
fôlego e coragem para as más vibrações não me possuírem. Voltar onde vivi e onde
o papai morreu é sempre difícil.
— Kia, minha netinha!
Na varanda, vovô Heleno nos recebe caloroso, dando um abraço terno em
mim e um aperto de mão no Dexter.
— Cadê as crianças?
— Ficaram em casa. Eu e o Anton só viemos ver a terra. Mas primeiro, nos
convide para um café, vô. E me conte sobre a sua saúde — apoio-me no cotovelo
dele, caminhando para dentro.
Percebo que, no interior, a casa está bem arrumada e limpinha. Já que o vovô
não quis de jeito nenhum morar conosco na mansão, optamos por reformar o
casarão para ele continuar confortável aqui, com uma cozinheira e uma empregada
que também é cuidadora de idosos. Ela quem me atualiza certinho sobre a saúde
dele. Vô Heleno é muito orgulhoso para assumir que tem sérios problemas de
pressão e outras doenças – não tão graves, graças a Deus.
Depois do café, eu e o Dexter vamos dar uma volta a pé pelos arredores. Só
que me pego triste, em conflito com as lembranças. Parece que me vejo pequena,
frágil, correndo por esse campo verde; subindo em árvores, brincando com o meu
cachorrinho, sujando-me na lama. Tudo para ficar distante do meu pai, que batia na
minha mãe e em mim. Era dia após dia de sofrimento, dores e maus tratos. Eu só
desejava que a mamãe fosse embora, que a gente parasse de sofrer e de chorar. Era
tudo o que eu sonhava...
— Kia... — Anton toca de repente na minha mão, fazendo-me olhá-lo em
choque por ter me tirado dos meus devaneios tão bruscamente. — Não gosto que
fique assim. Pois sei que tem raras lembranças boas desse lugar.
— Eu...
Eu tenho?
— O que foi? — Ele aperta delicado o meu pulso. — Está bem?
Arrepio-me pelo seu toque, já até esquecendo do que me afligia e
incomodava. Eu queria agora era entrelaçar os braços no pescoço desse homem (o
meu homem) e beijar os seus lábios sem pensar no amanhã. Até nosso fôlego se
esvair por completo.
Ou poderíamos fazer um amor delicioso nessa grama?
Rápida, afasto a minha mão da dele, desvio dos seus olhos e mordo os
lábios.
— Estou... estou bem.
Anton não se dá por satisfeito, parando-me no meio do sol quente e puxando
o meu corpo para o seu peitoral enorme.
Meu pai amado, eu estou literalmente derretendo das pernas.
— Como posso acreditar?
— Não sei.
Encaro a sua face rústica de poderoso por baixo do chapéu sombreado. "O
poderoso herdeiro do império Dexter". É tão excitante vê-lo como os outros. De
pensar que existe pessoas que dariam tudo para estar no meu lugar. Pena que elas
não sabem que na realidade esse bárbaro tem a obrigação de lamber os meus pés.
— O sol está quente amo... Anton — gaguejo, enquanto meus seios quase
pulam do decote, devido a minha respiração acelerada. — Vamos para a sombra.
O que está acontecendo comigo? Por que estou tão confusa e gaga?
Ele olha de propósito para o meu busto e feito um animal, fuzila-me olho a
olho.
— Eu estou com tanto tesão acumulado, Kia, que você nem imagina. Mas te
darei uma noção árdua — ele, então, aperta o antebraço entre os meus peitos e
imediatamente, esfrega o seu membro duro na minha pélvis. Sendo maldoso, cruel e
obsceno.
Oh, meu santo... ele está tão...
— Não, seu sem-vergonha! Me larga! Você não vai ter o que quer! Não
deixo! — Num estalar dos dedos, recupero a minha valentia e enfrento-o. — Se
afaste! Anda!
— Porra! É só questão tempo para acabar com isso! — Puto, ele, enfim, me
larga, contrariando as suas vontades maléficas e sexuais. — E vamos só até a merda
daquele pequeno penhasco ali. Não quero ficar mais vendo os seus peitos pulando e
nem o seu traseiro rebolando com o jeans enfiado no meio do rabo!
Anton vira brusco as costas largas. Ainda sai chutando as pedras de tanta
raiva. Que droga. Eu não sei de quem sentir mais dó; dele ou de mim por ter que
ficar agora vendo a sua bunda e o seu corpo forte caminhar selvagem feito um touro
bravo.
Não é possível eu sentir tanto tesão bombardear entre as pernas. Acho que,
neste exato momento, o presente da Lívia seria bem-vindo.
Respira, Kia. Ou você tem um orgasmo.
— Me seguindo, Lívia? — De repente, o Gael vira e pega-me sorrateira no
corredor, onde leva até a cozinha.
Rápida, eu empino a cabeça e recomponho-me do susto, para fitá-lo
semicerrada, com o dedo indicador mirado na sua direção.
— Eu que pergunto: o que você está fazendo aqui dentro da mansão, seu
caipira?
— Isso é fácil de responder, eu vim trazer o presente atrasado do Gieber. E
depois de fazer isso, eu estava indo ver a minha mãe. Até escutar um barulho de
saltos atrás das minhas costas, me seguindo.
— Deve ter sido coisa da sua cabeça.
— Será que foi?
— Tenho certeza — pisco descarada, chegando bem perto dele.
Ele sorri de canto e pega-me de jeito pela cintura, imprensando-me na
parede. Eu, boba nem nada, acaricio o seu pescoço e deposito um beijo perto da sua
orelha.
Gael suspira, tocando-me de forma firme na bunda.
— Por que você tem que ser tão bonita e gostosa, sua diaba da cidade?
— Mais respeito porque eu não sou as empregadinhas que você come.
— Não vou discutir com a madame agora, porque eu quero conversar algo
sério mais tarde.
— O quê?
— Você vai saber lá em casa, quando eu te sequestrar ao anoitecer — ele
sussurra e avança para me beijar de língua, cheio de uma pegada selvagem sem
igual.
Puta merda, como esse homem é gostoso. Se ele pedisse para eu tirar a roupa
neste momento, eu tirava e ainda fazia uma dancinha sensual.
Eu gemo na boca dele, descendo a mão esquerda para descontar o seu aperto
bruto na minha pobre bunda e faço o mesmo com o seu delicioso traseiro avantajado
e durinho.
— Lívia — ele resmunga entre os nossos lábios molhados.
E inesperadamente, ouvimos um barulho de vaso caindo e espatifando-se no
chão. Nós interrompemos o beijo e inclinamos a cabeça para ver o que aconteceu.
Melhor, para ver quem provocou o barulho de propósito. E ela está em pé, olhando-
nos com uma cara péssima, de quem mataria nós dois à grito. Até que vira as costas
e sai apressada, com os seus cabelos ruivos balançado avoaçados. Gael me larga na
mesma hora, arregalando os olhos e por pouco, não correndo atrás dela.
— Ester...
Porém, no meio do caminho, ele para, fecha os olhos, os punhos e desiste.
— Merda!
— Acho que ela nos viu. Inclusive o meu aperto no seu traseiro — sorrio
com a sobrancelha arqueada.
Gael me olha. Seu olhar é monstruoso, de fazer qualquer um correr. Uma
pena eu não ser qualquer uma. Continuo a sorrir, desta vez, indo até ele.
— Você não sabem de nada, Lívia!
— É claro que eu sei. Parece que a sua ex-namorada ficou bem incomodada
em nos ver quase fodendo no corredor. Ela, com certeza, conserva sentimentos por
você. Não acha? — Eu toco nos bíceps dele, esbanjando a maldade nua e crua. — E
você, Gael? Ficou incomodado?
— Isso não é momento para proferir seus venenos! — Ele passa a mão na
barba, muito nervoso. — Você não conhece ela, não sabe o que aconteceu.
— Já disse que eu sei — afasto-me, como se estivesse falando de algo
insignificante. — Mas sei pela Kia apenas da história que ela tentou se matar após
você confessar que amava era a esposa do seu melhor amigo, que estava terminando
o relacionamento porque não a suportava. E foi a única coisa interessante da sua
vida inteira que me chamou atenção. O restante é tudo muito certinho para o meu
gosto.
— Ao contrário de você, Lívia, eu não sou insensível. Ester é uma pessoa
boa, de coração limpo. Ela não tem culpa de gostar de mim. Assim como eu não tive
de um dia me encantar pela Kiara.
— E por que continua ainda aqui? Vai atrás da menina para consolá-la e
magoá-la mais.
— É por isso que eu não fui, porra!
— Eu sabia — tento segurar o sorriso de canto novamente. — Você não tem
culpa, nem nada a ver pelo que ela sente. No entanto, conheço o seu jeito de herói e
deve se sentir responsável pelo passado, por ter a enganado para superar os seus
sentimentos por outra mulher. E de ela ter quase se suicidado por conta disso. Ester
devia ter quantos anos naquela época? 18? 19? Você tem 32. Estava com 29? Se
basear pela conta da Kia, dá na mesma. Era bem mais velho e cheio de experiência.
Não devia ter a iludido. Meninas do interior são tudo bobinhas e inocentes. Tem
mente de quinze anos para baixo.
— E eu não te perguntei nada! Além de que você é idêntica a Lorenza! Acho
que ser megera vem de berço de ouro, já que a sua mãe Castellano não fica atrás! —
arrogante, Gael cospe as palavras, aperta o chapéu na cabeça e então, vira o corpo
para sair caminhando ríspido.
Eu abro a boca, sem acreditar no que disse.
Eu sou megera? Eu não sou megera! Só disse a verdade para ele!
Enquanto eu voltava para o casarão com o Anton, sem querer, afundei a bota
num buraco no meio da terra falsa. Cai sobre a perna e torci o tornozelo. A dor era
tão horrível que eu chorei tendo certeza de que o meu osso havia saído do lugar.
Anton se desesperou, pegou-me no colo e correu ligeiro para a casa do vovô. Ao
chegar, ele e a empregada vieram me ajudar com cubos de gelo, só que não teve
solução para o tornozelo parar de latejar. Já tinha se passado mais de vinte minutos e
o pé continuava ali, intacto, doendo e inchando. Eu chorava sensível por qualquer
toque nele. Então, puto da vida, Anton não perdeu mais tempo e me levou feito um
astronauta, dirigindo a sua espaçonave, até o pronto socorro.
Na vila, eu fui atendida de forma rápida, devido a ele ter quase feito um
escândalo na recepção. Passei por um raio-x para ver se tinha alguma fratura e foi
constatado uma lesão de segundo grau no ligamento. Agora terei que ser
estabilizada no tornozelo por quatro semanas. Vou usar uma tala órtese.
— Isso só pode ser brincadeira... — resmungo, sendo levada até o carro pelo
Anton.
Estávamos no posto há mais de três horas. Ainda sinto dor no pé, mas o
médico disse que se eu tomasse os remédios, ficasse de repouso e não me
esforçasse, a dor melhoraria em poucas semanas.
— Você também quer usar essas drogas de salto até na terra. Vai ficar mais
de um mês sem vesti-los para aprender! — ele declara bravo, coloca-me no banco
dos passageiros, fecha a porta e guarda as muletas e a bota de salto atrás da
caminhonete.
— Eu não tive culpa! — exclamo ao seu lado, após ele entrar e colocar o
cinto de segurança. — Não via aquele buraco no chão. Não precisa ficar irritado.
— Eu estou irritado por estar morrendo de fome. E a irritação pelo desespero
das suas lágrimas já passou. Quase me fez morrer do coração, mulher.
Rendida, eu fico quieta.
Eu sei que quase o matei. E não é exagero.
Começo a pensar no dia do parto da Melina. Anton estava com os olhos
esbugalhados, olhando-me a todo momento como um louco morto de medo. Suas
mãos tremiam desde que a minha bolsa estourou, na hora do banho, e as contrações
começaram a se intensificar. Mamãe não estava em casa para me socorrer com mais
calma — ela havia ido na igreja da vila com a Felícia. No fim, teve que ser só eu e
ele mesmo saindo às pressas no domingo à tarde da mansão. Para piorar, eu não
suportei as dores durante a viagem e dei à luz a bebê no meio da estrada. Claro, com
a ajuda do meu querido marido supercontrolado e muito sensível ao me ver
sofrendo. No hospital particular, com a recém-nascida nos braços, que a ficha dele
caiu de vez, completamente, e o escândalo foi pior. Contudo, eu e a nossa princesa
já estávamos bem. Levamos alta na noite seguinte.
O mesmo se dá às crianças hoje em dia, quando estão doentes —febre,
resfriado ou dor de garganta —, ele se preocupa exagerado. Entretanto, compreendo
que seja assim devido ao seu pai e os traumas de socorrê-lo em sua doença, também
nas crises. Não devia ser nada fácil conviver com alguém tão debilitado por anos.
Ainda mais sendo o seu pai, o seu herói. Só de pensar, me dói o coração.
— Kia! Meu Deus, o que aconteceu com você, minha filha?
Em casa, a minha mãe, a Lívia e a Felícia me enchem de perguntas devido a
nossa demora, principalmente pela tala preta no meu pé. Explico o incidente desde o
começo, despreocupando-as.
— Agora eu só necessito de um banho. Minha calça está toda suja de terra. E
estou grudenta de suor.
— Eu te levo — Anton fala, quase me pegando no colo.
— Não, não precisa. Mamãe me ajuda.
Eu o paro e ele franze o cenho, dando-me um dos seus olhares arrepiantes.
— Filha, é impossível eu te ajudar. Eu não te aguento. E Anton é forte, ele
pode te carregar no colo.
— Sua mãe tem razão — Felícia afirma.
Então eu coro. É obvio que ele é o único que pode ajudar.
Por fim, ele me dá um olhar de triunfo e volta com as suas mãos forte no
meu corpo, pegando-me no colo e levando-me até a nossa suíte.
— Obrigada. Pode sair, eu me viro.
— Você está ferida, latejando de dor, Kiara. Não consegue nem pular com
uma perna só. Não vou te deixar tomar banho sozinha. Não mesmo.
— E acha que eu vou te deixar me ver nua?
— Eu já te vi nua milhares de vezes, sua birrenta! Agora sei de quem o
Gieber puxou toda aquela birra! E que Deus tenha misericórdia da minha filha!
— Ele puxou o jeito mandão, teimoso e autoritário de você. Além de que
não é birra, é raiva e razão!
Sem discutir, Anton se aproxima nervoso de mim. Ele inclina as costas e
chega bem perto do meu olho. Meu peito acelera, sinto a sua respiração quente.
Seus olhos cospem falta de paciência.
— Você escolhe: ou aceita por bem eu te dar banho para ficar limpa e dar de
mamar para a nossa bebê, ou te pego no colo agora mesmo e te jogo embaixo da
porra daquele chuveiro sem menor piedade! Escolhe, Kiara!
Meu Deus.
Ele falou tão cruel, grosso e irritado que engoli em seco e fiquei sem
coragem de contestá-lo – e jamais iria, é o limite para qualquer sábio em sã
consciência.
Desvio dos seus olhos acinzentados, tiro a blusa e tento me erguer sem
precisar dar a resposta de que aceitei a sua ordem por "bem". Anton me ajuda a ficar
de pé, mas faço uma careta de dor por ter quase colocado a perna no chão. Ele me
segura como seu eu fosse um peso pena para o seu enorme tamanho e força. Seus
dedos apertam a carne delicada da minha cintura, enquanto fico imprensada só de
sutiã no seu peito. Meus seios só faltam saltar da peça íntima.
— Eu sabia que ia por bem, minha pequena.
Arrepio-me pela sua voz rouca perto da minha testa. Sem os saltos, eu fico
literalmente uma anã.
E ele ama isso.
E eu amo isso.
— Não existe "bem" com você, seu bruto — sussurro.
Ele me fita sagaz e me pega forte pela perna, erguendo-me nos seus braços.
Eu me apoio no seu pescoço.
— Tenha certeza de que esse bruto é só seu. Agora vamos para a droga
daquele chuveiro, onde ficarei com as bolas roxas por sua causa. Porque quando
coloca alguma coisa na cabeça, nem cristo tira!
E eu ficarei mais molhada do que a própria água.
Não aguento e chego mais perto do rosto dele, fitando-o nos lábios. Sinto-me
hipnotizada, sem controle das minhas próprias ações.
— Eu...
— Droga, Kia! É o limite!
Ele, então, avança com o seu hálito quente, sem esperar que eu tivesse noção
de que me beijaria faminto, até arrancar sangue da minha boca e as forças do meu
corpo.
Tremendo frenética, seguro-me nos seus cabelos, chegando a puxá-los sem
um pingo de dó. Anton grunhi furioso e num ato bruto, pega-me pelas pernas,
ergue-me no colo e cala o meu grito de relutância fracassada, com os seus beijos
dolorosos.
— Eu vou comer literalmente a sua boceta! Eu vou devorar você!
Não tenho resposta, nem voz, nem fôlego, nem consciência de que já
estamos dentro do seu escritório. Ele bate a porta, joga-me na mesa e dá dois
minutos fora dos seus lábios devoradores, para eu poder respirar e pensar que eu
estou perdendo a guerra.
E que eu preciso desse homem!
Eu preciso dele dentro de mim, preenchendo-me!
Solto-a e então, afasto-me da porta, para que ela possa entrar e sair do frio.
Lívia me fita sem palavras, engole o orgulho, aperta a chave do carro e passa por
mim, exalando o seu perfume inebriante.
Ela é tão linda e cheirosa.
Eu fecho a porta, virando-me mais calmo e satisfeito por tê-la aqui comigo.
— Saiba que eu só entrei porque está frio lá fora. Não é para ficar feliz —
seu tom foi sutilmente doce e implicante.
— Às vezes, eu não tenho dúvidas de como você é uma mulher apaixonada.
Que só paga de durona para esconder os reais sentimentos.
Aproximo-me dela, quase a intimidando com a minha altura e o meu peito
nu. Porém, esqueci do detalhe de que a Lívia é uma diaba. Ela acaba de tocar no
meu abdômen, sem menor vergonha e subir as mãos para os meus ombros e os
cabelos molhados.
— Não tenho sentimentos nenhum para esconder. E acho que você é o
apaixonado aqui. Meu toque sempre faz você ficar rígido e inflar o peito.
Não digo nada, só a encaro. Ela acaricia a minha barba.
— Vai secar esse cabelo e vestir um calçado para não ficar doente.
— Eu ia fazer isso, até você bater na minha porta e me atrapalhar — eu
pressiono meus dedos na sua cintura, sentindo o tecido fino do seu vestido e a alça
da sua calcinha. — Pensei que fosse a minha mãe com os meus bolinhos de chuva.
Ela ri.
— Eu sou mais deliciosa do que bolinhos de chuva — declara, sem desviar
dos meus olhos.
E nem eu dos dela. Esqueço tudo de negativo que me enlouquece nesse
furacão.
— E vai logo, Gael, se secar — ela, então, me empurra. — Ou eu mesma
posso fazer isso para você, sem um pingo de benevolência.
— Não duvido que possa.
— Não duvide mesmo.
— Já volto.
Eu a deixo na sala para poder ir até o quarto terminar de me secar, vestir os
chinelos e uma camiseta. Quando eu volto, encontro a Lívia no mesmo lugar, vendo
muito curiosa as minhas fotos e os meus diplomas na estante.
— Posso te perguntar uma coisa? — Ao perceber a minha presença no
ambiente, ela questiona sem me olhar.
— Sim.
— Tendo toda essa formação no seu currículo, por que você escolheu viver
inferior ao Sr. Dexter? Poderia ser um grande homem reconhecido. Assim como ele.
— Noto que a sua pergunta foi curiosa, não ofensiva.
— Porque eu odeio maiores responsabilidades. Odeio me meter com gente
poderosa da cidade. O que passo sendo gerente do Anton é o bastante para definir
essa escolha. Gosto de acordar cedo, trabalhar e voltar às 17h para descansar sem
maiores dores de cabeça. E sobre ser inferior ao Sr. Dexter, no quesito ser dono de
um império, realmente eu sou. Mas se eu moro nesta casa, neste terreno e tenho
livre arbítrio de mandar em qualquer peão, capataz etc., é porque somos uma
equipe. Sempre fomos desde criança. Ninguém tenta ser maior, ou mais inteligente
do que o outro. Anton tem total confiança em minha administração e gerência da
fazenda. E nossas desavenças pessoais nunca chegaram a abalar nada disso.
— Não é por acaso que ele está se tornando mais poderoso do que o próprio
pai foi um dia. O Dexter tem você, seu maior segredo para tantas conquistas. No
lugar dele, eu colocaria a mão no fogo pelos seus dons. Sem falar que são irmãos
uterinos. Vocês dois não tocam nesse assunto?
— Não. — Eu tiro delicado a minha foto de formatura ao lado do Anton da
visão da Lívia e puxo-a pelo braço. — E chega de curiosidades sobre a minha vida.
Devemos conversar sobre a sua, a qual corre perigo de morte. Já tem os 200 mil do
agiota?
Ela parece não ficar furiosa por eu questioná-la, com sempre faz. Pelo
contrário, ela se entrelaça no meu pescoço e mostra-se nervosa, igualmente perdida
de tudo.
— Eu vendi todas as minhas joias para a Kiara, só que a quantia não chegou
nem perto de 100 mil. Deu apenas 61 mil.
— E se vender o seu carro? Com certeza, pagaria essa dívida.
— É financiado. Daqui a pouco, o banco toma de mim — ela dá de ombros,
como que se conformada com as suas desgraças.
— Droga, Lívia — eu a aperto firme em mim. — Que situação você se
meteu? E logo com agiota. É uma péssima administradora.
— Eu não sou uma péssima administradora!
— Não seja orgulhosa e irresponsável de não confessar a verdade. Você
perdeu o controle de tudo. Foi planejando as coisas sem sequer saber de onde tirar o
dinheiro. Isso é óbvio.
Lívia vira a cara, mas sem me contestar.
Afinal, eu disse o que ela já tem noção.
— Não quero falar sobre isso, nem quero brigar. Pelo menos não esta noite
— ela ergue as íris verdes para me analisar.
Eu seguro a cabeça dela, depositando um beijo na sua testa.
Céus, eu quero fazer amor como louco com essa mulher. Ou senão passar a
noite no calor das suas pernas, respirando o seu perfume sensual de âmbar. Qualquer
coisa que tenha a presença dela estaria de bom tamanho.
— O que quer, Lívia? O que, afinal, quer de mim?
— Eu não sei... Ao mesmo tempo que eu quero chutar as suas bolas, eu
quero estar sentada entre elas, cavalgando no seu pau grande e grosso. Entende?
— Puta merda.
Eu começo a rir, sem aguentar a tamanha safadeza dessa mulher devassa –
que até safada tem muita classe. Eu tomo com destreza os seus cabelos desde a raiz,
analisando as suas íris atraentes. Ela também está rindo.
— Você é uma libertina sem descaramento.
— E você ama, seu caipira gostoso — ela me dá um selinho. — Em todos os
meus trinta anos de existência, eu nunca fui assim com ninguém. Você não existe.
— Eu digo o mesmo. Você é o meu pesadelo.
Sem suportar mais o tesão, eu a beijo gostoso, faminto e necessitado. A
devassa retribui na mesma fome. Ela suga, morde, saboreia a minha língua enfiada
toda dentro da sua boca. Até que a pego pela cintura, aperto o tecido fino do seu
corpo e empurro-a no sofá.
Ela cai sentada. Eu continuo de pé, tirando a camiseta.
Lívia também tira o vestido para ficar só de lingerie azul.
E que visão... não sei se mereço tanto. Ela é muito linda.
Que mulher!
— O que pretende? — Ela pergunta "inocente", enquanto eu me ajoelho no
chão, diante de sua maravilhosa pessoa seminua.
— Acho que vou rezar. Ando sendo muito pecador. Preciso me redimir.
Sorrimos.
— Vou ter que concordar, desde que seja misericordioso em sua reza.
— Assim?
Toco nas suas pernas quentes, subo pelos tornozelos e paro na volta de trás
das coxas sedosas. Lívia suspira, inclinando-se para frente.
— Mais misericordioso...
Sem dizer nada, encaminho as mãos para as alças finas da sua calcinha. Até
me surpreendo. Faço tudo com a maior paciência do mundo. Eu tiro lentamente o
tecido, torturando-a até os pés. E quando fixo os olhos no seu sexo branquinho,
depilado e saboroso, eu a toco só com a ponta dos dedos. Ela geme, abrindo mais as
pernas para me dar a total visão do clitóris.
Meu pobre pau pulsa, enciumado com as minhas mãos. Cacete, já estou
petrificado.
— Mais misericordioso... — Lívia repete arquejante, agora, devido a minha
língua escorregando para as paredes de dentro das suas coxas. — Mais... por favor...
— Ela “acaricia” os meus cabelos, por pouco não os arrancando.
Eu avanço mais cinco centímetros, divertindo-me com o seu estado de
desespero.
— Aqui? — Sussurro, vendo-a se arrepiar.
— Oh, não... ainda não
— Aqui?
— Ah... isso... bem aí!
Então, paro em cima do seu órgão feminino (vulgo buceta saborosa) e
deposito um beijo na testa macia, para, em seguida, tirar a língua para fora e dar
uma lambida forte no seu clítoris rosado (vulgo grelo delicioso) e afasto-me com um
sorriso de pena. Ela cai para trás, fecha os olhos, geme, pulsa, lateja, xinga e expele
lubrificação que escorre para o ânus, as dobras da bunda e o estofado. Tudo isso
com uma única lambidinha.
— Gael... — resmunga sem ar e sem largar os meus fios. Ela luta para
empurrar a minha cabeça entre as suas coxas. — Pelo amor de tudo o que é sagrado,
reza agora! Reza, homem, até calejar os joelhos!
Sorrio.
Bom... eu não sou de negar clemência a um juramento, quanto mais a
essa divindade suplicando desesperada na minha frente. E volto a cara para o seu
grelinho inchado, acompanhado do polegar para abrir caminho. Dentro dela,
devoro-a como se estivesse dando um beijo de língua. Faço movimentos circulares,
oras lambendo, oras sugando. Lívia em menos de dois minutos grita, treme o corpo,
contrai o abdômen e goza seu gosto salgado nos meus beiços. O que não me para de
jeito nenhum. Eu seguro a sua bunda para, desta vez, dedilhá-la sem pena.
— Gael — ela finca as unhas na minha nuca, rebolando e acompanhando os
movimentos como uma louca.
Me lambuzo todo e após o seu segundo ápice, eu me levanto, sento-me no
sofá e admiro-a encolhida em sua excitação.
— Terminamos com amém?
Lívia se recupera e coloca-se de pé.
Extremamente duro, não desvio da sua intimidade. Ela sorri, abre o sutiã e
olha para o meu pau.
— Que gostoso, está com o pinto duríssimo, meu caipira?
— Pronto para fodê-la.
— Humm… eu só queria algemas para te prender, mas não poderei evitar o
seu surto.
Ela vem até mim e segura com força o meu queixo.
— Você vai ficar quietinho, entendeu?
— Mais quieto do que isso, eu entro em óbito.
— Calado!
Ela pisca e vira as costas. Porra, engulo em seco, sem evitar quase dar uma
mordida no seu traseiro empinado. Só que ela se afasta muito rápida, rindo.
É filha do cão mesmo!
— Sabia que você não ia ficar quieto.
Lívia, então, volta, fazendo-me tirar a calça e a cueca. Em seguida, senta-se
no meu colo nu, dando-me um chá de buceta molhada na coxa, ao esfregar os lábios
sem dó.
— Eu vou ficar puto com você! — esbravejo, abraçando a sua bunda com as
mãos e puxando-a nervoso para morder forte os seus mamilos.
Ela inclina a cabeça, deposita um beijo no meu pescoço e só para torturar
começa agora a rebolar sobre mim, sem permitir que eu a penetre.
Meu Deus do céu!
Não aguento. Dou um tapa irritado no traseiro dela, que chega a estalar e a
arder na pele.
— Ahhh, seu filho da… grrr, cachorro bruto dos infernos! — Lívia xinga,
cata os meus cabelos, aperta o meu pau e beija-me.
Sem mais conversa, sem mais perda de tempo, eu ergo os seus quadris e
faço-a sentar de uma vez na minha ereção inteira. Ela vai a loucura, gritando o meu
nome. Eu gemo, grunhido de prazer. Adiante, ela dança, rebola, me enlouquece.
Lívia mostra que tem todo o poder do mundo sobre mim e sobre o meu próprio
corpo.
Por isso jamais, nunca deixarei que me coloque numa posição atada. Sempre
preciso estar com as mão livres. Ou ela poderá ser o verdadeiro capiroto. Pois
herdeira do inferno já é.
Porra…
Pronto para estourar, eu a levanto e meto-a contra a mesa. Depois no chão,
de quatro, com o rabo empinado para eu bater, lamber e também meter. A parede, a
outra parede do corredor, o aparador do hall e por fim, a cama, onde consumo os
seus peitos com muita dedicação.
Após tirar uma soneca, eu acordo acariciando delicada o rosto másculo do
Gael, os seus cabelos médios, a sua orelha, a barba por fazer e por fim, deposito um
beijo terno nos seus lábios carnudos. Ele segura o meu rosto, afasta o meu queixo e
sorri um lindo sorriso torto, que me deixa rendida ao seus pés. Tento retribuir esse
sorriso, mas sei que não tive sucesso.
— Você deveria ter mais defeitos, Gael.
— E você menos defeitos, Lívia — ele percorre o dedo indicador da testa ao
meu nariz. — Espero que um dia veja que a real felicidade não é o dinheiro, nem o
poder.
— E qual é?
— Eu também não sei.
— Isso é meio contraditório, não acha?
— Eu digo por você. Deve encontrar a sua felicidade verdadeira. Deve se
esforçar para ter paz e uma vida mais tranquila. Por mais que seja com um pouco do
luxo que almeja. Até a senhorita marrenta sabe disso.
— E se eu não achar essa felicidade? — O fito infeliz. — E se eu não
mudar? E se eu for uma megera até morrer? Como a minha mãe e a Lorenza?
— Acho que me equivoquei, você não é uma megera. Não tanto assim — ele
pisca lindamente, fazendo-me revirar os olhos. — Só de desabafar o que sente já é
um grande passo para as mudanças. E não gostaria de desistir de você, Lívia, assim
como eu fiz com o Anton, sem suportar quando ele esmagava as suas falas duras na
minha cara, batia no meu peito e ameaçava me dar um tiro por importuná-lo. Não
vou desistir dessa vez.
Meu coração acelera, vejo-me numa rua sem saída com um carro prestes a
acelerar na minha direção. Eu fico sem palavras para a promessa dele. Gael percebe
o meu silêncio e os meus olhos assustados.
— Não se sinta sozinha, por favor, nem assustada e nem me mande a merda
por estar acuada. Também não seja orgulhosa. Não pagarei de herói, como me
intitula sempre. Só quero que aceite o meu braço de consolo para ajudá-la a sair
desse buraco. Assim como aceitou que eu fosse o seu amigo.
— Você é um homem bom, protetor e admirável. Não gostaria que gastasse
o seu tempo e essas qualidades comigo. Não mereço, não faça isso.
— Só que você quer, é apenas teimosa para assumir. Além de que eu já estou
mergulhado nos problemas da sua vida.
— Há pouco tempo atrás, você disse que eu era o seu pesadelo ambulante,
seu antônimo de paz.
— E quando eu disse que você era? — Gael me abraça, fazendo os meus
seios nus rastejarem pelo seu peitoral de pelos castanhos. — Você é o meu pesadelo
por dentro e por fora, dona Lívia. É completamente diferente de mim. Mas os
opostos se atraem.
— Realmente se atraem, caipira. Fazer o quê?
Com o meu coração repleto de um sentimento inexplicável, eu o beijo lenta,
doce, amável, querendo dizer o quanto me sinto protegida e segura nos seus braços
fortes. E que as suas palavras, ao mesmo tempo que me assustaram, me deram
consolo.
Se eu quiser, eu não estou sozinha.
E talvez eu não queira mais me sentir assim.
Mais tarde, após jantarmos, Anton voltou para o quarto, tomou banho e ficou
sozinho na sacada, folheando uns documentos. Incomodada com ele, me esforcei
para me levantar da cama e mancar até a porta de vidro.
— Não devia se esforçar em vão — eu paro no portal e ele fala sem sequer
olhar para mim, continua lendo o seu papel.
— Por que não reagiu feito um bárbaro àquela hora? — engasgada com essa
pergunta, finalmente o questiono.
Ele não responde. Chego perto do sofá, sentindo o seu cheiro pós-banho.
— Amor...
Desta vez, ele ergue a sua bela face máscula, de barba aparadinha. Não sei o
que estou fazendo, na verdade, eu não sei nem o que dizer a esse homem. Pelo
menos, sem o chapéu negro, ele é menos aterrorizante.
— Diga, Kiara.
— É... bom... — molho a garganta. — Nada, não vou te atrapalhar. Vou
voltar para a cama.
Sem coragem de continuar a tocar no assunto, eu me escoro na parede e
tento voltar para dentro. Só que antes que eu pudesse começar a mancar o Anton,
levantou-se e segurou rápido o meu braço.
Pisco sem parar e fito-o nos olhos, sentindo o meu coração bater mais
acelerado pelo seu toque. Ele, então, coloca a mão com delicadeza na minha cintura
e aproxima-me do seu corpo alto, forte – fico pequenininha. Eu respiro desregular,
sem desviar das suas íris acinzentadas. E não suportamos, tocamos nariz com nariz,
respirando o hálito quente um do outro.
— Eu quero você — ele sussurra — e não sei mais o que fazer para me
desculpar. Estou realmente arrependido. Não devia ter mentido, nem ter escondido
as coisas. Também não devia ter recebido o meu irmão e a esposa dele na nossa
casa. E a verdade que eu quero esconder é que agora sinto vergonha disso, quando
me recordo e te vejo magoada. Fui um covarde orgulhoso. O que eu faço para me
perdoar? Me diz, Kia? Por favor.
— Não estou mais tão sensível sobre isso — toco nossos lábios. — No
entanto, eu quero bater em você feito uma mãe irritada, para te ensinar a nunca mais
tentar esconder as merda que fez. E eu quero dizer que te amo — por fim, a minha
declaração faz o Dexter me apertar mais firme, necessitado. — E estou muito
satisfeita por te ver sofrendo sem sexo. Muito mesmo.
— Porra, Kiara... — resmungo bravo. — Eu te amo. Amo a minha família. E
quero que saiba que morreria por vocês três. São tudo o que eu tenho, tudo o que me
restou.
— Quarta, você pode descobrir que tem mais um filho.
— Eu sei que ele não é o meu filho, tem a cara do Gabriel. Porém, se for, é
só um menino.
— Sim, Anton, é só um menino que não tem culpa de ter vindo ao mundo. E
se for, ele terá um pai incrível, que precisará de você presente. Já passou por muitas
lutas, hoje é um homem que ama, demonstra, protege e reconhece os seus erros.
— Você que é uma mulher incrível. — Anton me abraça forte, afagando o
meu cabelo com ternura. — E se sou esse homem é graças a você, a sua força de
conversar, a sua paciência de me aconselhar e de suportar o nosso passado. Você me
ensinou a amar e a dar valor a vida. Sempre estarei de joelhos aos teus pés. Sou
imperfeito, mas fiel e um louco apaixonado. Ainda quero que saiba que por mais
que te magoe, serei sempre sincero e verdadeiro desde o início. Não tenho o direito
de omitir nada a quem me transformou e me deu outra chance de ser melhor. Vou
vencer o medo que sempre me cega e me faz fazer besteira. Eu te prometo, Kia.
Eu fico sem fala, somente choro de alegria.
— Eu te prometo, meu amor — ele sussurra novamente, segurando o meu
queixo, o meu cabelo e dando-me um beijo apaixonante, molhado, quente e cheio de
amor.
Ao amanhecer e antes de pegarmos estrada para voltarmos para a fazenda
Dexter, Lívia fez outra visita para o seu pai no hospital. Sabendo que ela não ia
demorar, optei por ficar esperando no estacionamento, perto do meu carro. Só que
enquanto a aguardava, notei dois homens me encarando suspeito do outro lado da
rua, com as mãos nos bolsos. Eles não disfarçam. Realmente estão me encarando.
Por esse motivo, eu não tiro os olhos da entrada do hospital. E como eu imaginava,
quando a Lívia sai pela porta da frente, eles se movem rápidos para atravessar a rua.
Arregalo os olhos e começo a andar mais veloz do que os caras.
— Lívia, volta para dentro! — grito para ela.
Ela para, tira os óculos escuros e olha-me sem entender nada. Ainda parece
gritar algo de volta. Porra!
— VOLTA, LÍVIA! VOLTA!
Ouço um barulho de tiro sendo disparado. E é então que a Lívia se dá conta
dos homens no meio do estacionamento, andando na sua direção, pois ela se assusta,
vira as costas e corre o quanto pode com os saltos. Também esforço as pernas. E
assim que esbarro com três seguranças que surgem ligeiros de dentro do hospital, eu
a alcanço na porta,
— Gael...
Puxo-a desesperado para o saguão.
— Lívia, você está bem?
Sem ação, sem fala, ela apenas se treme, deixando a bolsa preta cair no chão.
Olho para baixo, vendo um buraco de tiro no coro. Em seguida, seguro-a apavorado
pelos braços, analisando as suas pernas se estão feridas. Igualmente todo o seu
corpo. Ela não reage, nem parece com ferimentos.
— Lívia? Você está bem? Pelo amor de Deus, fala algo!
— É-É o Vitor — gagueja. — Ele sabe que eu estou na cidade, ele sabe... ele
vai me matar... ele quer vingança.
— Calma, você está comigo — a abraço apertado.
Entretanto, para piorar, ouvimos mais tiros serem disparados. As pessoas que
estavam do outro lado da recepção até se levantaram, perguntando o que estava
acontecendo. Lívia me apertou mais forte.
— Quem é o dono da caminhonete cinza estacionada perto da calçada? —
De repente, um segurança surge, questionando alto e ofegante.
Recordo que a única caminhonete cinza lá fora é a minha. Nervoso, com o
coração acelerado, eu peço para que a Lívia me espere no mesmo lugar, pois
verificarei o que aconteceu.
— O senhor que é o dono da 4X4 cinza?
— Sim — confirmo ao me aproximar do senhor uniformizado.
— Por favor, me acompanhe agora mesmo. Já acionamos a polícia.
Muito apreensivo, acompanho o segurança e do lado de fora, noto uma
movimentação enorme de pessoas aterrorizadas em volta do hospital. Mas é só
quando eu olho para o meu carro estacionado na penúltima vaga que eu entendo de
verdade o que acontece.
Porra, isso só pode ser mentira!
— Os meliantes fugiram numa vã preta após alvejarem milhares de vezes o
seu veículo. Peço que aguarde as autoridades.
Que merda, eu não posso acreditar no que está acontecendo!
Minhas mãos soam tensas. Gael parece demorar uma eternidade dentro
daquela sala. Sinto medo de também ser chamada para ser ouvida e falar tudo ao
contrário dele. Meu Deus, ele não pode de jeito nenhum dizer o que está
acontecendo. Vítor é um bandido, um agiota criminoso. Meter a polícia é o fim da
minha vida de verdade.
Não sei se para o meu alívio ou para o meu disparato desespero, mas Gael
finalmente sai de lá de dentro e vem caminhando rígido até mim. Eu me levanto
acelerada, respirando fundo. Ele para e olha-me.
— Então?
— Vamos embora.
Ele passa a mão no rosto e espera que o acompanhe.
— O que você disse? Fala alguma coisa!
— Como podemos entrar em contato com esse agiota?
— O-o quê? — Eu paro na saída da delegacia, de olhos esbugalhados.
— Não se preocupe, para o seu alívio, eu disse que não devia nada a
ninguém e que nunca tive inimigos. E realmente não tenho. Também que eu não
sabia o motivo de terem alvejado a minha caminhonete. Agora me diga como
podemos entrar em contato com esse agiota?
— Está louco? Por quê?
Sem me responder, ele olha para os lado e vê a sua caminhonete furada pelas
laterais da porta.
— Melhor irmos.
Adiante, pega ligeiro na minha mão e me faz entrar no veículo para irmos
para um outro lugar mais seguro – um hotel qualquer que ele encontrou.
Depois de fazer o check-in e nos hospedar no quarto, finalmente me dou
conta do tamanho nervosismo que me encontro.
— Entre em contato com esse cara — ele pega o telefone ao lado do sofá e
estende-me.
— O que está pensando? Não se meta nisso!
— Eu já estou metido, porra! Agora ligue para esse filho da mãe e diga que
você tem o dinheiro para pagar ele!
— Eu não tenho todo o dinheiro, apenas oitenta mil. E o que lhe devo é
duzentos mil, ou duzentos e cinquenta por causa dos juros.
— Ligue, Lívia. Eu vou pagar o restante!
Abro a boca, negando inconformada.
— Ligue, é melhor você dever a mim do que para um agiota que está
tentando tirar a sua vida!
— Eu não quero que faça isso! É inadmissível! Está indo longe demais!
— Não pense que eu não irei cobrar — ele fala muito sério e bravo. —
Agora ligue e o avise!
Que merda!
Nervosa e sem saída, pego a minha bolsa para caçar o telefone dele nos
contatos do celular. Adiante ligo, seguindo o certo.
— Estava demorando, Srta. Castellano. É sempre assim, só depois que
coloco os meus caras para agirem que os devedores começam a entender que vão
pagar com a única coisa que lhe restam, a sua miserável vida.
— Eu tenho o dinheiro, Vitor — olho para o Gael.
— Certamente que tem. Foi até mais rápido do que eu imaginei. Pois bem,
quero 300 mil. Não ache que eu esqueci daquele tiro na minha perna. Por sua
culpa, ainda estou de recuperação.
— 300 mil? Está louco? Eu não posso, eu não tenho!
Gael morde o maxilar e chega mais perto de mim.
— Sua família é podre de rica, caralho! Você tem quatro dias para me
arrumar esse dinheiro e eu te deixar em paz. Caso contrário, seus pais não terão
nem o corpo da filha vadia para velarem! Entre em contato até terça, ou te
executarei!
Ele desliga e com raiva, eu taco o meu celular com força na cama.
— Retorne a ele, eu vou sacar os trezentos mil agora.
Sentindo-me humilhada, derrotada e na miséria, nego veemente com a
cabeça.
— Não quero que se sacrifique por mim. Eu não quero, Gael. Isso é pior do
que ter esse agiota me ameaçando.
Muito puto, ele me agarra veloz pela cintura. Não tenho nem chances de
impor.
— Pior? Larga de ser orgulhosa! É a sua vida que está em risco! Eu vou até
o banco, enquanto isso, ligue novamente para o agiota e marque o lugar de
pagarmos! Entendeu, Lívia? Eu que estou mandando agora, pois também estou
tentando te salvar para poder recomeçar sem ter alguém te ameaçando com uma
arma na cara. Para de teimosia!
Não falo nada, mantenho-me parada, mas lutando com o meu consciente
para aceitar que Gael tem razão... e ele sempre tem. Ele sempre quer me ajudar, me
aconselhar e mesmo sabendo que eu sou uma infeliz, hoje se dispõem a se sacrificar
por mim e pela minha vida cretina.
Não tenho escolha. Não tenho o direito de contrariá-lo devido ao meu ego
ferido. E ok, ao orgulho.
— Já volto! — Gael, então, me solta, pega a chave do carro e rapidamente,
vira as costas para sair batendo a porta.
Mesmo ontem, eu abrindo o meu coração, os meus sentimentos e sendo
sincero, Kia não deixou que eu passasse do beijo. E por mais que estivéssemos
explodindo de tesão e com vontade de transar, ela lutou contra isso e afastou-me.
Porra, quase enlouqueci. Mas me controlei e decidi ir dormir no quarto de hóspede.
Já que não ia ficar na mesma cama que ela, com o meu pau latejando para penetrá-la
e as mãos coçando para acariciar o seu corpo macio. E por mais que a minha outra
cabeça discordasse, foi o correto. Além de que eu poderia me vingar daquele
vibrador desgraçado e estragar o nosso momento sincero ontem. Realmente eu fui
verdadeiro. Eu amo a minha mulher. Eu amo a sua voz, a sua pele, o seu toque, o
seu perfume, os seus olhos; seu inteiro por dentro e por fora. Eu faço qualquer coisa
para vê-la feliz. O que importa hoje é o presente e o futuro com a Kia e os nossos
filhos.
A única coisa que eu busco realmente do passado é as lembranças saudáveis
com o meu pai. O resto são marcas e cicatrizes para eu sempre dar valor a vida e a
família.
— Anton? Está ocupado? — Kiara abre a porta do meu escritório.
Eu afasto a foto do meu pai do centro da mesa e ergo a cabeça para lhe dar
atenção. No entanto, vejo-a pulando com dificuldade – ainda não se adaptou as
novas muletas. Levanto-me aborrecido por desobedecer às minhas ordens. Vou
ajudá-la com as muletas.
— O que eu disse sobre ficar mancando, Kiara?
— Eu não estou mancando sem apoio. Você está vendo.
Chego perto dela e abraço-a em mim. E quer saber? Não faço questão de dar
mais nenhum passo. Mantenho-a assim no meu peito; calor com calor. Beijo o topo
dos seus cabelos, respirando o seu aroma agradável.
— Eu... — ela suspira e rende-se a minha enorme força que a pressiona
protetor. — Ontem, você não quis dormir na nossa cama... mesmo eu dizendo que
estava tudo bem.
— Não ouse, Kiara! Você sabe como eu me encontro!
— Eu sei...
Sou obrigado a soltá-la para não a foder no sofá, na parede, no chão, na mesa
e até no teto.
— Estou te respeitando.
— Fora de suas vontades predatórias. Mas, ok — dou de ombros –, não vim
falar da greve sexual do nosso casamento. Nem dos problemas. Quero falar sobre a
plantação de flores na terra do meu pai. Pode colocar o plano em ação. Sinto-me
quase pronta.
Arqueio a sobrancelha.
— Certeza? Terá muita responsabilidade.
— Estou com medo... confesso. Não tenho seus estudos administrativos.
Não tenho faculdade e nem terminei o básico sequer. E se eu fracassar? Qualquer
coisa que envolva o sobrenome Dexter sai na primeira capa dos jornais.
— Meu pai não tinha estudos direito, nem mesmo havia completado o
ensino médio. E olha para tudo o que ele conquistou e construiu. Se tornou um
homem milionário devido a sua inteligência, persistência e força de vontade. Sem
falar dos dias de luta, cheio de calos nas mãos. E sobre a imprensa, deixem que
falem. São tudo fofoqueiros que vivem da vida alheia.
Kia sorri doce para mim, sinto vontade de beijá-la. Meu corpo se aquece,
minha calça torna-se apertada. Então toco no seu rosto macio, pigmentado de
sardinhas marrom claro. Ela é perfeita. A amo mais do que tudo no mundo. Eu nasci
para ser dela e ela nasceu para ser minha. Nossos corpos se encaixam, nossos lábios
se completam. Somos um só. Únicos.
Ela me olha com os seus olhos azuis, cor do céu. Acaricio o seu queixo,
admirando os seus longos cílios piscarem calmos e elegantes.
— Não é bom que esteja perto de mim. Você sabe o meu gênero faminto,
amor... — minha fala sai excitada.
Eu sei que estou infernizando o Anton com a minha presença, assim como
ele está fazendo ao me tocar na extensão do rosto. Já desisti do controle, ele não faz
ideia de que depois de ontem, se ele avançar de novo, eu não resistirei. Me
entregarei por completo.
Também sei que aprendeu a sua lição de não me esconder mais nada. E meu
coração está mais leve. Seu pedido de perdão ontem foi muito sincero.
Como eu sei?
Por mais que o tesão a flor da pele estivesse enlouquecendo a sua cabeça a
fazer uma loucura – assim como a minha –, ele lutou com a razão. Preferiu não
passar a noite ao meu lado e consumir o sexo. Apenas para não estragar as suas
palavras verdadeiras e confessas. Ele quis demonstrar em forma de respeito que
estava honrando o que disse com todo o sentimento. Afinal, ele seria um animal
bruto ao nos satisfazer. Sem falar que vingaria o vibrador que achou escondido.
Com certeza, ainda vou pagar por isso. Eu conheço esse homem, o conheço muito
bem. Ele é bárbaro, cruel, maligno, áspero e sabe controlar o seu caos para explodir
na hora certa. O Anton mesmo já confessou isso uma vez.
Decido deixá-lo em paz com o seu trabalho no escritório (para o bem dos
dois), já que o Gael não se encontra, ele tem deveres redobrados. Esta manhã já
estudei, brinquei com as crianças e fiz tudo o que estava ao meu alcance. Mais tarde,
fiquei no closet do meu quarto, recebendo a ajuda da minha mãe para separar todas
a joias que mandarei para o polimento, exceto as do cofre.
Gieber está lá na cama brincando com os seus soldadinhos e Melina está no
berço tirando a sua sonequinha sagrada.
— Querida, está faltando o par destes brincos? — Mamãe ergue a joia em
questão.
Eu fico sem entender, os pares deviam estar juntos no porta joias da gaveta.
Nunca os separo.
— Deixa reservado, devem estar no meio dos colares ou das pulseiras.
No entanto, após separar tudo, eles não estavam. Além disso, senti falta de
três pulseiras, dois pares de brincos (contando o par desaparecido) e dois colares.
Fico mais confusa, sem compreender onde foram parar.
— Kia, você tem certeza de que estavam aqui? Olhe no cofre.
— Sim, mãe. As joias que ficam na gaveta são de uso diário. As do cofre são
as mais caras e raras. As uso em eventos importantíssimos. Na maioria das vezes,
quando acompanho o Anton na cidade. Por isso não é sempre que o abro.
— Essas dos portas joias da gaveta não são de tanto valor então?
— Claro que são, e muito. Tem algumas que chegam a mais de vinte mil
reais, devido às quantidades de pontos dos diamantes. As do cofre é cinquenta mil
para cima.
— Meu Deus, filha! Não importa, são todas caríssimas! Por mais que são de
uso diário, não devia deixar dentro de uma gaveta como essa, sem tranca e sem
chave! — Mamãe exclama advertida. — Tem realmente certeza das joias que estão
faltando?
— Sim, sim, tenho certeza. Conferi mais de mil vezes. Infelizmente, não
quero acreditar que alguém as tenha roubado dentro da minha casa, no meu closet e
sobre a minha presença. E não quero acreditar que tenha sido uma das minhas
empregadas.
— Eu sinto muito. Também não queria desconfiar das meninas. Porém, tudo
é possível. Você terá que reunir as empregadas e agir como a senhora Dexter que é.
Sônia, Joana, Manu e Felícia são as únicas que tem liberdade de ir e vir nos
cômodos de toda a mansão. Mas desculpa, a Felícia seria a última a me deixar
desconfiada.
— Ela, eu igualmente descarto. Felícia é como uma segunda mãe. E ela tem
quase dez anos de permanência aqui. Confio na minha governanta de olhos
fechados. Só que as meninas... — aspiro triste. — Ah, mãe, isso vai ser tão
complicado.
Torço para que a Sônia não tenha feito tal maldade. Por mais que eu não
ache que ela tenha feito (pois está presa a mim com o seu segredo), tudo é possível –
como a minha mãe mesmo disse. Já Joana e Manu são muito quietas, reservadas e
respondem aquilo que lhe são ordenadas. Precisarei reunir todas, sem exceção.
Uma hora depois, converso com o Anton sobre o desaparecimento das joias
– o que me arrependi amargamente. Ele ficou furioso e chegou a recordar de que
também não achou o relógio que havia deixado em cima da escrivaninha do nosso
quarto. Não consegui proferir mais nada. Ele chamou a Felícia e ordenou que ela
reunisse imediatamente todas as empregadas na sala.
Seus olhos cospem autoridade.
— Acho que eu devia resolver isso. Eu sou a dona da casa. Cuido de todos
os detalhes domésticos, contando com as meninas.
— Estamos falando de um roubo, Kiara! Dentro da nossa própria casa! Eu
não vou tolerar!
— Mas...
— Não tem “mas”! Isso não é detalhe doméstico!
Outra vez, eu não pude contestá-lo, ou impedi-lo de tomar as suas decisões.
E na sala, encontramos todas as nossas empregadas de cabeça baixa, uma ao
lado da outra. São 18h30 da tarde, hora de apenas se ocuparem das coisas na
cozinha. Em seguida, descansar.
Felícia me olha sem entender o que está acontecendo. Eu dou um meio
sorriso para ela, como que se dizendo "fique calma". Maria também se encontra
nervosa. As meninas, contando com a Ester, filha da Felícia, estão olhando para o
chão. Sônia morde as unhas dos dedos, tremendo. Meu coração fica apertado por vê-
la tão ansiosa e com os olhos brilhando de pavor.
— Humrum! — Anton pigarreia rígido, com um olhar horrível, de dar
calafrios.
Estou do lado da mamãe, segurando-me no seu braço para me equilibrar em
pé.
Todas as meninas engolem em seco e erguem o pescoço para encará-lo.
Posso sentir o ar de nervosismo delas e o medo daqui. Gostaria de que isso não
estivesse acontecendo. Me apeguei a Joana, a Manu e principalmente a minha
querida Sônia. Ester também é uma boa pessoa, a conheço desde que me tornei Sra.
Dexter e vim morar na mansão. E ela nunca deu problemas. É uma menina
exemplar.
— Pedi para que a Felícia reunisse todas vocês aqui para conversarmos
sobre o que anda acontecendo. E serei direto! — Anton declara ríspido, realmente
com o seu ar imperial de que não vai tolerar nada, nem ninguém. — Hoje a minha
esposa sentiu a falta de sete joias de muito valor. Eu, há algumas semanas, de um
relógio de ouro. E esses pertences estimados com toda a certeza foram furtados
embaixo dos nossos olhos.
— Ah, meu Deus... — Felícia sussurra sobressaltada, levando a mão na
boca.
As meninas arregalam olhos e eu não desvio delas nem por um segundo.
Olho na feição de cada uma, mas encontro as mesmas reações de espanto.
— Não vou admitir acontecimentos como esse na minha própria casa! Quero
que pela manhã a responsável compareça no meu escritório e confesse os fatos!
Igualmente entregue o que foi pego! Caso contrário, chamarei a autoridade da vila e
seus pertences serão revirados! Meus capatazes estão rondando a mansão. Ninguém
sai ou entra nos arredores — Anton termina o que tem a dizer e ergue a cabeça. —
Estão dispensadas, por enquanto!
Elas pedem licença e saem por pouco não correndo entre tropeços, numa
pequena fila. Exceto por Felícia e Maria. Elas ficam.
— Sinto muito, senhor Dexter — Maria fala com pesar, dirigindo-se sincera
a ele. — Sabe há quantos anos eu trabalho para a família Dexter. Sinto-me parte de
vocês. Nunca seria capaz de furtar algo de ninguém. Tenho o meu salário e a boa
pensão do meu filho. Se continuo aqui, é pelo amor e o carinho que sinto pelo
senhor e pela nossa adorável Kiara.
Anton respira fundo.
— Eu não sei nem o que dizer, Sr. Dexter e Sra. Dexter... tenho minha índole
e sou leal a vocês. Como Maria, vocês também são a minha família. Sinto muito.
Isso nunca aconteceu antes. Estou em choque. Além de Ester, minha filha, ela, da
mesma forma, jamais seria capaz de algo criminoso.
— Mas aconteceu — eu digo por fim, triste, não deixando que o Anton se
dirigisse talvez indelicado. — A gente pede que nos ajudem. Que conversem com as
meninas e investiguem o que houve. Realmente as joias foram... furtadas — as
palavras me deixam encolhida. — Estava separando essa tarde as peças valorosas
com a minha mãe, para todas serem polidas, e senti falta de sete. Me desculpem.
— Não se desculpe. Compreendemos, Kia. Isso é inadmissível. Os
ajudaremos com a cabeça limpa. Se houve um roubo, o responsável também existe.
Eu e Maria pedimos licença, Sr. Anton... Kia... Judite. Ainda há o jantar para
cuidarmos.
Assentimos e elas se retiram cabisbaixas.
Mamãe aperta a minha mão.
— Anton fez o certo, filha. Só não duvido da Maria e nem da Felícia. Eu
gosto muito delas. Além de que faz quantos anos que estão aqui?
— Maria há mais de trinta anos e Felícia, dez — Anton responde pensativo.
Não parece tão furioso. — E a responsável não vai aparecer amanhã. Duvido. Já
deixarei em alerta o Laerte para estar bem cedo na fazenda. — Ele se vira para mim,
me fitando. — Quer que eu te leve para cima, Kiara? E onde estão as crianças?
— Mãe? — De repente, olho-a meio arregalada.
— Ah, Senhor Pai! É mesmo, Gieber ficou sozinho no quarto! — Mamãe
exclama, passando-me para o Dexter me segurar. — Deixei só por quinze minutos e
deve estar passando giz até no teto! Já volto com o bagunceiro e a Melina.
— A babá eletrônica não fez som. Pode deixá-la dormir mais um pouquinho.
E o Gieber coloca para brincar no chão.
Mamãe concorda e sai toda civilizada para os degraus da escada.
Anton se senta na poltrona branca, puxando-me e acomodando sobre o seu
colo.
Não o contesto ou me afasto. Eu apoio a cabeça no seu ombro e ficamos
assim por muito tempo. Calados, ouvindo um a respiração do outro. Mas isso... até
ele tocar na minha coxa, no meu braço, no meu pescoço e de repente, segurar a
minha cabeça e me beijar nada delicado. É como que se buscasse reabastecer suas
forças em mim.
O que me enfraquece...
— Anton... — sussurro, chamando-o ofegante.
Ele aperta mais forte a minha perna e olha-me. Mordo o lábio inferior,
acariciando o seu cabelo castanho sem o chapéu do dia a dia, que o deixa só mais
poderoso.
Anton me fita excitado. Seus batimentos estão incrivelmente intensos. Ele
aproxima a boca da minha bochecha e a lambe, umedecendo-me com a língua.
— Dexter...
— O que foi, amor? — só para provocar, ele pergunta rouco, pertinho do
meu ouvido.
— Isso não é momento adequado. Me leva para o... — De repente, eu arfo
com o beliscão que ele me dá na bunda.
— Para onde? — pergunta de novo, agora passando a mão por trás das
minhas coxas lisas e entre elas.
Arrepio-me excitada.
— Para a nossa cama, para eu saborear cada pedaço do seu corpo com a
boca?
— Lembro-me de que você disse que ia esperar até quarta-feira. Que ia me
respeitar — falo de propósito, só para provocá-lo.
— E você quer esperar até quarta? — ele desliza numa fração de segundos o
dedão por cima dos meus lábios úmidos. E fico querendo mais. — Diz, amor?
Eu fecho os olhos, sem ar.
— Não mesmo, eu não vou esperar nem mais um dia — ansiosa, empurro de
uma vez a sua mão para de encontro com a minha calcinha.
Anton sorri e aperta o meu sexo. Com o dedo médio, ele pressiona o clitóris,
abrindo os lábios da vagina pulsante, para deixar os seus dedos bem molhadinhos
nela.
Choramingo de dor e de tesão. Meu clítoris lateja sem parar.
Seu toque me faz tremer enfraquecida. Sinto que posso cair do seu colo.
— Estou com o pau petrificado, dona Kiara. Sou eu quem preciso de você.
Mas vamos resolver os nossos atrasos das duas semanas, um de cada vez.
— Por favor, seja bonzinho comigo...
— Serei — ele segura o meu pescoço, raspa a sua barba por fazer na minha
pele sensível e me beija maldoso, devorando os meus beiços e a minha língua
cálida.
Que safado...
O beijo só prova o quanto está mentindo. E tenho mais certeza disso quando
ele me pega rápido nos braços e leva-me para a segunda sala da mansão (a de chá).
— As empregadas podem nos ouvir...
— Foda-se quem pode nos ouvir! Estou na minha casa, louco para devorar a
minha mulher! E isso que importa!
Ele fecha a porta de correr, liga a luz e me coloca bruto em cima da mesinha,
perto do sofá. Abro mais as pernas para ele, incitando o tecido do vestido a se
amontoar na pélvis.
Enlouqueço com a visão da Kia amolecida da cabeças aos pés. Ela segura
nos meus ombros largos, fitando-me com a sua imensidão azul. Fico sem fôlego. Ela
mexe a cabeça e dois cachos loiros caem sobre a sua face, deixando-me mais sem
fôlego ainda. A alça fina do vestido escorrega para baixo, induzindo a minha visão
aos seus seios fartos, que preciso devorar com urgência.
Porra, meu membro e minhas bolas vão ficar roxas de tanto que latejam.
— Kiara, Kiara! — rosno, pegando os seus dedos e esfregando na minha
ereção dura na calça.
— Amor... — geme atordoada, arquejante.
Eu mordo o seu pescoço, provocando a perder mais as forças e empurro-a
para trás, sem me importar com o vaso se espatifando em mil pedaços no chão –
igualmente rasgo o vestido do seu corpo com uma brutalidade descomunal. Adiante
esgarço a lingerie do buço, tomo os seus cabelos e desço os lábios para os seus
peitos, para mamá-los feito um louco num frenesi descontrolado. Eles são lindos, os
bicos são pequenos, duros e bem rosadinhos. Além de cheios e empinados.
Kiara reprime o grito, contorcendo-se angustiada pelo prazer, também pelo
roçar do meu pau empedrado, que esfrego na sua virilha, enquanto a sugo nos
mamilos e acaricio a sua bucetinha por cima da calcinha já ensopada.
— Anton... Ohh, céus... — Kia geme.
Vejo que vai explodir.
Ela finca as unhas afiadas nos meus bíceps e desliza para trás, quase caindo.
Sorrio sobre os seus peitos saborosos, segurando-a e deliciando-me com a sua feição
de êxtase pelo orgasmos que despeja igual mel.
Porra, deliciosa... Não vou conseguir me segurar mais. Preciso estar dentro
dela ou morrerei de ereção.
Eu dou outra lambida nos seus mamilos, então a ergo para jogá-la no sofá.
Kia cai de costas, olhando-me ofegante. Eu continuo de pé, arrancando as peças de
roupa. Até dar a visão que ela ama, ao mesmo tempo, envergonha-se. Suas
bochechas coram "inocentemente".
Como é linda. Como é tudo o que eu mais amo nesse mundo.
— Saudades de todas as noites que poderia tê-lo duro entre as suas
pernas, querida? — Massageio o meu membro enrijecido, exalando excitação e
fluído pré-ejaculatório.
Ela aperta as coxas, de boca aberta. Não conseguiu proferir um A.
Ótimo. Isso só me deixou mais obstinado.
Aproximo-me dela, tocando-a os pés, as laterais das pernas, as coxas, por
fim, parando nas alças finas da sua calcinha de seda... e puxo para baixo o tecido
macio – numa lentidão que nem eu sei de onde tirei. Fico a olhando. A vista loirinha
da sua nudez é coisa mais bela que existe. E só eu tenho o privilégio de vê-la assim.
Kia é só minha, sempre foi. E sou o único para ela; desde lhe beijar, lhe tirar a
virgindade, lhe ensinar prazeres, malícias, sacanagens, só eu.
Assim para todo sempre será.
Não imagino mais a minha vida sem essa boneca perfeita. Sem ela, eu não
sou um homem de verdade.
— Anton... — ela resmunga necessitada.
Inclino o corpo e deito-me, sustentando o peso para não a amassar.
— Estou tão louco para te foder.
Desço a mão para a sua buceta. Kia contrai a barriga. Sinto o seu hálito doce
no meu rosto.
— Estou sendo bonzinho?
Afago os pelos pubianos, na medida que escorrego para a sua fenda inchada
e muito, muito encharcada. Até palpitou sobre o meu toque.
— Ahh... você está surpreendente...
Ela também desce as mãos para as minhas costas, atiçando-me. E vai até a
minha bunda, pressionar-me forte. Cacete. Adiante, volta ao meu peito e explora a
região do meu abdômen... seguindo também o caminho dos pelos da minha barriga.
— Porra, Kiara...
— Eu te amo — sussurra, enchendo o meu rosto de beijos delicados. — Eu
te amo, meu amor — repete a sua declaração, agora apertando o meu pênis.
Eu a paro de imediato e ergo os seus quadris para o meu pau ficar de
encontro a sua entrada apertada.
— Eu também te amo, minha doce menina, sou louco por você.
Dou uma mordida dolorosa nas suas aréolas que expelem leite materno e
penetro só a cabeça.
Kiara arfa na minha boca. Então a beijo, penetrando, desta vez, todo, até não
sobrar um centímetro de pau sequer.
Ela, no mesmo instante, curva as costas, força a cabeça contra o sofá e geme
o meu nome.
Eu estreito os olhos, com o coração acelerado... em seguida começo a
investir cheio de tesão.
— Oh, Anton... mais! — pede ao entrelaçar as pernas no meu quadril para
acompanhar desesperada os movimentos.
Eu seguro os seus cabelos loiros, enfiando-me em seu pescoço, para assim a
bombardear sem dó.
Kiara não para de gemer alto, arranhando-me a pele dos ombros, até que ela
goza de tamanho prazer.
Igualmente, em menos de poucos minutos, eu explodo dentro dela,
ejaculando com força.
Kia trêmula. Suas pernas enfraquecem. Eu caio sobre ela, bafejando nossa
respiração acelerada.
— Isso... isso foi maravilhoso — sussurra.
Tento me erguer para não a amassar, só que ela me mantém na mesma
posição.
— Kia, eu vou te espremer.
— Não, fica assim, eu quero sentir todo o seu peso.
— Você é pequena — me sustento com os cotovelos, ficando cara a cara
com a sua face linda.
Noto que os seus cabelos estão bagunçados de uma forma bem sensual. Já eu
percebo os meus grudados na testa, de tamanho calor que transpiro.
— E você é enorme, forte. Sinto-me protegida — ela apalpa carinhosa os
meus músculos e beija-me.
Mordisco a sua boca, elevando o rosto para lançar um sorriso que a arrepia.
Nossos olhos ainda queimam desejo. Principalmente o meu.
Essa foda só está começando...
— E você é só meu...
— É claro que eu sou só seu... — Passo a língua nos seus lábios inchados e
chego bem perto da sua orelha. — Meu corpo... meu pau — esfrego-me nela. —
Assim como a sua bucetinha — toco-a com o dedão —, a sua bunda redonda —
escorrego a mão para as laterais da sua anca avantajada — e esses peitos fartos —
os aperto com prazer — são meus. Você é todinha minha.
— Anton...
Volto só para olhá-la corar. Ela ruboriza com a maior facilidade do mundo.
Como amo isso. Olha que estamos casados praticamente há sete anos. Mas
Kia é sempre inocente as minhas safadezas proferidas em seus ouvidos.
— É agora que vira um ser cruel...?
Sorrio e saio com cuidado de cima dela.
— Se levanta, dona Kiara.
Kia suspira e levanta-se devagar. Ao ficar de pé, viro-a de costas para mim.
— Você vai se vingar? Do... do vibrador? — gagueja pela enconchada que a
dou no rego.
— Shhh — espremo a sua boca, calando-a. — Estou pensando se te fodo de
quatro ou te faço sentar no meu colo. O que opina?
— Hummm — Kiara rebola na minha ereção.
Droga, que gostoso.
— Acho que de quatro é melhor para te dar umas cintadas. O que acha?
— Nãa...
— O que disse?
— Nãaa — ela resmunga entre os meus dedos, quase me mordendo brava.
Sorrio e empurro-a no sofá, para ela ficar de joelhos no estofado e apoiada
com os braços no encosto das costas.
— Como é gostosa.
Cato feroz os seus cabelos cacheados e beijo-a na nuca. Minha outra mão
belisca o seu traseiro empinado. Kia geme de dor.
— Eu vou me vingar... Você vai ver, Dexter.
— Mais do que fez nessas últimas semanas?
— Mais! Muito mais!
— Humm... veremos — após as minhas palavras, eu dou um tapão na bunda
dela. Kiara grita, arqueando-se para frente.
E sem medir escrúpulos, eu me ajoelho para penetrá-la a língua e fazer um
oral maravilhoso – torturante. Depois apertei, sem descanso, o seu traseiro branco,
que sou obcecado – ainda me esfreguei nessa beldade, antes de mergulhar até as
bolas.
Mesmo não querendo fazer isso. Mesmo não querendo que o Gael me
ajudasse, eu não tive escolha. Com as mãos trêmulas, retornei para o Vitor. Ele
atendeu na terceira chamada. E com o seu ar maldoso disse que sabia que eu ligaria
o quanto antes, só que não imaginava o tão antes. Ele marcou de encontrá-lo no
próprio estacionamento do hotel onde estamos. Em seguida, desligou na minha cara.
Fiquei pasma. Não acreditei que ele sabia onde me achar.
Ainda tremendo, coloquei o celular sobre a mesinha de centro, me sentei no
sofá, apoiei os cotovelos nas coxas, levei as mãos no rosto e comecei a chorar. Não
consegui suportar a pressão. Tudo se explodiu na minha mente e no meu físico.
Soluço, apertando os cabelos no casco.
Tudo o que eu fiz foi ladeira abaixo. Meus sonhos, meus objetivos, minha
vida financeira. Eu perdi o controle de tudo. A sede de vingança, a vontade de ser
poderosa, reconhecida, nada importa agora. Isso não faz sentido nenhum. Nada faz
sentido!
O que eu sou de verdade? Sem a farsa de forte?
Um fracasso... é isso! Um total fracasso!
Eu sinto vergonha do Gael. Não queria que ele estivesse se sacrificando por
mim. Ele não tinha a obrigação de fazer isso pela mulher que só o decepciona.
Mas ele fez.
Droga, ele fez...
Em meio aos meus soluços e gemidos, eu tiro os saltos, ergo os pés do chão,
coloco a cabeça no apoio do sofá e fico olhando para os reflexos de sol que
atravessam as cortinas venezianas e iluminam o assoalho. Penso na felicidade e no
quanto eu sou infeliz. Não tenho ninguém. Sinto-me a menininha da mamãe e do
papai; indefesa, que, nessas horas de desespero, correria para os seus braços – tudo
em busca de socorro, de amparo.
Respiro fundo, fecho os olhos e perco a noção do tempo. Adormeço
chorando – e só me dou conta de que isso aconteceu quando sinto um toque
delicado na minha bochecha. Abro devagar as pálpebras, piscando os cílios várias
vezes e fito um par de azuis escuros, que se confundem com castanho.
Ele não sorri. Apenas percorre os dedos até os meus lábios. Eu arquejo sem
alegria.
— Gael... — então, sussurro o seu nome com uma grande vontade de
abraçá-lo. — Gael... — repito de novo, entrelaçando a minha mão na sua. — Ah,
Gael... — volto a chorar, sem parar de chamá-lo.
Ele pega no meu queixo, ergue o meu corpo e senta-se na beirada do sofá.
— Desculpe-me por te fazer...
— Shhh — ele me surpreende ao aproximar nossa testa e beijar o canto da
minha boca.
— Eu sou uma fútil metida, você tem razão. Você sempre tem razão.
Gael pega delicado na minha cabeça.
— Faça uma promessa para mim, Lívia. Olhe nos meus olhos e faça.
Eu aperto os ombros dele, sem entender.
— Não sei o que eu poderia te prometer.
Gael não fala mais nada. Ele simplesmente toca na minha cintura com posse
e avança com os seus lábios poderosos sobre os meus. Ele é faminto, doce,
apaixonante. Eu gemo, abraçando os seus cabelos e retribuindo o beijo cheio de
sentimentos ocultos.
Sua língua varre cada pedacinho existente dentro de mim. Sinto-me fora
deste mundo. Só existe o seu hálito, a sua saliva e os nossos movimentos de face.
Ele é maravilhoso.
— Caipira... — toco na sua barba por fazer.
Ele mordisca os meus beiços e eu passo a língua na língua dele.
É notório que o beijo aqueceu tudo entre nós.
Céus, eu sou louca por esse homem. Eu não só gosto dele. Eu sei. Tudo em
mim sabe disso.
Subo no seu colo, arquejando. Gael aperta a minha bunda, deslizando pelas
minhas costas, os quadris, as coxas e os seios. As suas mãos parecem estar em todos
os cantos certos que eu necessito sentir.
— Faça a promessa, Lívia — de repente, ele cata os meus fios negros com
força, afasta a minha boca da sua e me dá um olhar arrepiante.
Ofego em cima dele. Meus seios sobem e descem, acompanhando a
recuperação do oxigênio. Gael se opõe, desarmando-me olho a olho.
— Não sei o que te prometer. Você não disse.
Ele chega perto do meu pescoço e lambe a extensão de pele até o lóbulo da
orelha.
— Seja minha... — sussurra rouco.
Abro a boca e ele me beija.
— Seja minha, Lívia Castellano. Quero te ajudar, te proteger. Quero ser algo
bom na sua vida. Quero... amar você.
Fico surpreendida, sem palavras.
Ele quer me amar?
Eu nunca fui amada.
Aperto os olhos, evitando as lágrimas traiçoeiras.
— Você sabe o que é o amor? — Olho-o triste.
— Podemos aprender juntos — ele solta o meu rosto e alisa a minha
bochecha. — Podemos ser felizes. Você pode ser feliz. E aprender que a felicidade
não é só o dinheiro, nem nada dessas bobagens carnais da classe alta. Arrisque-se,
nem que seja necessário descer do pedestal. O que tem mais a perder, Lívia?
— Nada... eu não tenho mais nada a perder. A merda da vida já me tirou
tudo.
— Não, a vida quer te dar mais do que imagina. Olhe para você. Não é tarde
para recomeçar. Nem que seja diferente.
— A gente é diferente. Você odeia a cidade e eu gosto de estar aqui. Você
gosta de uma vida pacata, enquanto eu... eu gosto de estar em meio as festas de luxo
movimentadas. De fazer parte de tudo isso. Sem falar da minha profissão. Ela se
encontra na capital, no meio do calor das pessoas, onde nasci e fui criada.
Gael me observa quieto. Sua feição de silêncio me dói.
— Mas eu gosto muito de você, meu caipira. Eu gosto tanto que não sei
explicar — o abraço com desespero, com medo dele desistir do que disse. —
Quando estou ao seu lado, me sinto outra pessoa. Você me faz bem. É um homem
perfeito. É tudo o que eu não mereço.
Meu peito se aperta. Eu não preciso prometer nada, já sou dele. Gael me
tem. Só que... eu não sei. É tudo complicado. Não consigo nos ver juntos numa
relação.
— Você merece ser feliz, Lívia. E estou disposto a te ajudar a ser alguém
melhor. Não melhor comigo ou com as outras pessoas. Há algo que está te
destruindo pouco a pouco. E tem consciência do que é.
— Eu sei. A gente sabe — o fito penalizada. — O que vai fazer por mim
hoje é a maior demonstração de suas palavras. Eu estou sem capital, não sei como te
pagar tudo isso. E jamais pediria para o meu pai, quanto mais para a minha mãe. Me
sentiria ainda mais humilhada e fracassada, principalmente pelo meu pai que tanto
me apoiou. Não sou uma interesseira, nem uma mesquinha, patricinha, sei lá. Se eu
fosse, eu estaria a tempos instalada na mansão de um quarteirão deles, cheia de
empregados ao meu dispor. Com a vida ganha. Contudo... não sou assim. Sem falar
que tem a minha mãe e o amor dela que — aperto os olhos, já farta de tudo.
— Ei, Lívia...
— Minha mãe me sufoca. Eu a odeio por me fazer ser uma boneca
controlável, sem perspectivas. É tudo culpa dela!
— Você não é assim. Nunca te vi controlável, nem nos meus sonhos.
— Eu era, você acha que eu seria cúmplice dos planos da Lorenza sem a
influência da minha mãe? — Sorrio desprezível. — Ela não tem orgulho de mim.
Nem na minha formatura foi. Tudo por raiva de eu ter seguido odontologia, em vez
de moda ou modelagem, o que ela gostaria. Só meu pai ficou ao meu lado. Mas eu
venci ela. Eu fiz o que eu queria. No entanto, foi só uma pequena guerra ganha.
Continuei sendo orquestrada. Até o meu casamento teve dedo seu e ameaças. "Ou
eu me casava, ou ninguém pisava um pé sequer na minha clínica". Então eu me
casei sobre pressão. Só que por Deus! Fiz um inferno na vida dela. A traí pela
primeira vez. Se a intenção era se exibir com a sua filha, esposa do herdeiro do
banco Nasca, se arrependeu amargamente. Tomei a frente de todos os eventos
cobiçados no brasil, onde envolvia só os magnatas.
Gael me ouve calado, sem desviar de mim.
— E quando defendi o Dexter e a Kia, no caso da Lorenza, foi outra traição.
Ela espalhou pelos jornais de Montes do Sol que eu era uma interesseira, uma vadia
que se deitava com qualquer homem rico. Tudo isso achando que me arrependeria
pela vergonha e voltaria feito uma coitadinha para os seus braços controladores. Eu
a odeio! A odeio com todas as minhas forças! Nada do que eu faça ou fizer por
vontade própria vai estar bom para ela. Somente se eu fizer o que ela quer!
Seguro as lágrimas. E por fim, Gael me aperta forte no seu corpo.
Aconchego-me no seu ombro.
— Você não está sozinha, Lívia. A compreendo. Acho que te compreendo
mais do que você mesma. Sua mãe... — sinto-o ranger os dentes — Tem pessoas
que não nascem para ser mães. E a sua é péssima. Que Deus não me coloque no
caminho dessa senhora de novo. Olhe para mim — ele ergue o meu queixo. — Você
é uma grande mulher. Adulta, formada, inteligente e que pode, com certeza,
dominar qualquer bandido com a sua autoridade e esse olhar de leoa.
Eu sorrio emocionada pela sua declaração.
— Pense que há certas vinganças que não valem a pena. E a sua de tentar ser
poderosa, reconhecida, não é as suas perspectivas reais. É só a sua mãe ainda
dominando a sua vida. A prova é a sua profissão, a qual me diz tanto. Você ama
fazer isso, não ama? — Assinto. — E como disse, foi uma guerra ganha, onde se
sobressaiu. Ou seja, ser você mesma, correr atrás do que realmente te faz bem e te
deixa feliz é vencer a sua mãe. Pense nisso. Busque as realizações que te importam
de verdade.
Abaixo os olhos e ele me dá um selinho.
— Vamos resolver o que é mais importante agora. E que coloca a sua vida
em risco. Você ligou para o agiota?
— Sim... e ele disse que pegaria o dinheiro onde estamos, às 13h da tarde. E
no estacionamento do hotel.
— Como ele sabia onde nos encontrar?
— Eu não sei. Não faço a mínima ideia. Creio que nos seguiu com os seus
comparsas.
Gael suspira nervoso, muito tenso.
— Que seja, vamos acabar com isso logo, para ambos termos paz.
Confirmo derrotada, sentindo-me acuada em suas mãos.
Antes de descer para o encontro, eu e a Lívia almoçamos a comida do hotel
sem a menor vontade. As garfadas foram engolidas a força.
Às 12h50, decidimos que era hora de irmos até a garagem, entrar no carro e
aguardar conforme o agiota coordenou por mensagem.
— Estou nervosa... — ela olha para a bolsa preta no meu colo, que contém
todo o dinheiro que saquei com o gerente. — Está se sacrificando, Gael. Do fundo
do meu coração, eu não gostaria que você estivesse fazendo isso. Juro que não
gostaria.
— Não é hora para arrependimentos. Além de que não pense que eu não irei
cobrar.
— Eu sei que vai... e deve — ela morde o lábio inferior e suspira nervosa. —
Obrigada — então, declara sincera, encarando os meus olhos.
Noto que ela não se esforça para se mascarar de forte. Nem tenta esconder os
seus sentimentos de angústia. Sente-se culpada e perdida em meio a sua vida.
Gostaria que a Lívia visse o quanto gosto dela. E como a quero para mim.
Ela está presente em todos os meus pensamentos. Não posso mais esconder a
verdade. Eu fico no ápice. Não resisto aos seus encantos, a sua beleza, a sua voz, o
seu toque, os seus olhos e os seus lábios beijáveis. Sem falar desse seu jeito mandão,
sedutor, autoritário, implacável e putamente controlador.
Lívia é uma arma ambulante.
Ela, agora, olha no fundo da minha alma. Tenho certeza de que também
sente o mesmo que eu. Vejo um brilho de emoção em suas íris verdes. É como que
se quisesse me abraçar bem forte e jamais me soltar. Eu sinto. Eu sei.
E não vou soltá-la.
Necessito de protegê-la, de estar com ela, de mostrar que não precisa se
sentir mais sozinha. Eu estou aqui. Eu a quero, eu posso fazê-la feliz. Longe dessa
ganância, dessa sede de vingança pela mãe e todo o resto. Basta largar de ser
orgulhosa e me dar uma chance.
Uma única chance. Posso mostrá-la uma outra realidade alegre, divertida,
companheira e mais ainda, de amor.
Eu realmente posso. Mas ela parece fugir disso. E por quê? Do que tem
medo? Não é possível que seja só orgulho. Acho que deve ter mais motivos.
Droga. Como entender a cabeça feminina? É praticamente impossível!
Ainda coloca Lívia e mulher na mesma frase; se torna mais impossível do que se
possa imaginar. Extraordinariamente impensável.
— Prometo sacar o dinheiro das joias que a Kiara comprou de mim e te
retornar.
Eu pego na mão dela, afagando-a sem dizer nada.
É claro que 300 mil é uma quantia muito boa para ser perdida. Equivale a
seis meses do meu trabalho. Todavia, se não relacionar a bens materiais, não é de ser
perdido em troca do salvamento de uma vida – a da Lívia. Ademais, estou
prendendo-a a mim. Não vou deixar que ela pense que não cobrarei. Claro que não.
Deve assumir os seus problemas e as suas dívidas. A diferença é que tem eu a quem
dever. Algo que pode estar a chocando com toda a certeza, além de estar afetando o
seu orgulho e a sua dignidade já ferida.
— Céus. São eles! — ela brada ao escutar o celular tocar.
Fico nervoso e inquieto. Lívia atende e descobre que eles já estão na
garagem. E não se passa nem um minuto e um carro preto para na lateral da
caminhonete.
Aguardamos apreensivos, até um homem bem alto e forte descer rápido ao
lado da minha porta.
— É o Vitor... — Lívia sussurra chocada, com os olhos arregalados nele.
O cara bate no meu vidro. Eu fico mais nervoso do que estava – de fúria.
— Abre, Gael, por favor.
Eu respiro fundo e então, abro, dando um leve susto nele ao me fitar com a
sua face barbuda.
— Não me avisou de que teria companhia, Lívia — o tal do Vitor range os
dentes ao me encarar, depois ela.
— É um amigo... e isso não importa! — Ela incrivelmente ergue a voz,
demonstrando um controle impressionante. — O seu dinheiro.
Lívia toca na bolsa. Só que antes, ela faz questão de se inclinar e olhá-lo nos
olhos.
— Tudo o que eu desejo é nunca mais ver a sua cara.
Ela sorri e pega a bolsa da minha mão para passar para ele.
— Corajosa. Espero que aqui esteja os meus 300 mil. Já que fui muito
bonzinho em poupá-la de vingar o tiro que me deu.
Arqueio a sobrancelha, mas me mantenho quieto, pronto para protegê-la.
— Pois lhe agradeço por isso. E tenha certeza de que todo o seu dinheiro
está aí. Pode me deixar em paz para sempre.
— E deixarei, Castellano. Sou um agiota e você me devia. Sabe as regras do
jogo nesse negócio — ele se curva na janela para olhá-la melhor — ou você paga
com dinheiro ou com a própria vida. E agora desejo toda a saúde do mundo para
você. Adeus — após o seu discurso de despedida, ele se afasta brusco, virando as
costas e entrando na porta de trás do carro preto.
Em seguida, o motorista dá marcha ré e sai cantando pneu.
— Meu Deus ...— Lívia sussurra, escorregando aliviada no banco.
Eu aperto o volante, muito tenso e sem humor.
— Espero que aprenda a lição.
— O quê?
— Não aja sem pensar nas consequências. E você é uma péssima
administradora. Onde já se viu, se meter com gente como aquele cara que saiu
daqui? São assassinos! Porra, Lívia! — Passo a mão na barba, já em estresse. —
Larga de ser ambiciosa! Esse foi o seu limite! Pegar dinheiro emprestado sem
sequer saber de onde tirar para honrar a dívida depois.
— E você acha que eu não me arrependo? — Ela se opõe raivosa contra
mim. — Não precisa jogar na minha cara! Eu já sei disso! Eu estou recebendo as
consequências!
— Eu preciso! Eu já estou fazendo!
— Faça sozinho!
Lívia aperta os punhos, ao ponto de me socar. Mas não faz, ela tenta abrir a
porta do veículo e fugir. O que é em vão, está trancada.
— Abre, Gael!
Fico calado.
— Abre! Ou...
— Ou? — Então pego no seu braço e puxo-a para mim.
Lívia ofega, paralisada com o meu olhar felino.
— Não seja covarde. Não fuja. Eu quero o seu bem. Eu a quero!
Minhas palavras a afetam, pois ela não se mexe mais.
— Droga, eu já disse que a quero; quero te ajudar, te proteger... te amar —
toco no seu rosto macio com o polegar. — Você que sempre complica tudo.
Ela pisca calada, acariciando a minha mão que afaga a sua bochecha. Noto
que em silêncio ela é mais linda ainda. No entanto, seus olhos conversam comigo.
Eles me passam o seu calor, o seu desejo oculto de se entregar.
— O que te impede, Lívia? Do que tem medo?
— Eu não tenho medo... de nada. E eu também te quero, Gael. Você é tudo o
que eu nunca tive. Às vezes, penso que não pode ser real. Homens como você não
existe.
— Eu existo. Fique comigo. Me dê uma chance? Uma única chance?
Meu peito acelera. E sem esperar que responda, eu tomo o seu queixo e os
seus lábios para mais próximo dos meus. Lívia se mostra fraca e sem menor
controle. O que me deixa surpreso. Cadê a sua autoridade? Aquela mulher mandona
e implacável? Só vejo uma felina perdida.
— Como vamos poder ficar juntos? Como vamos nos relacionar? Somos
comple...
Não a deixo terminar o seu contexto cansativo e beijo-a sobre os seus beiços
rosados, sendo amável. Movo-me lento, saboreando do seu sabor e da sua saliva
doce. Lívia arqueja, arqueando as costas. Eu lambo a fenda dos seus lábios,
intensificando a língua a penetrá-la – ao penetrar, exploro cada pedaço, cada canto,
cada tudo dentro dela.
Sinto-me em casa. Ela é minha.
— Gael... — geme, enquanto pego em seus cabelos pela nuca, afasto a sua
cabeça e enfio-me entre o seu pescoço, raspando a minha barba áspera em sua pele
de seda, conforme a lambo e a beijo. — Ahh, meu caipira idiota.
— Gosta que eu te cause fraqueza? — pergunto em sua orelha, mordiscando
o lóbulo delicioso.
— Não... mas não posso evitar de sentir-me fraca — admite em resmungo.
Volto ao caminho onde trilhei a saliva. Ergo a mão e também a aperto nos
seios. Lívia não deixa barato e vinga o aperto nos meus cabelos, ao puxá-los.
— Como se sente agora? — Toco-a na perna, subindo por dentro das suas
coxas macias e cálidas.
Sou torturosamente lento. Ela se afasta e descansa a cabeça no banco.
— Sinto que pode chegar fácil no seu objetivo entre elas. E pelo amor de
minhas terminações nervosas, faça!
Lívia abre mais as pernas, transpirando tesão.
Meu pau lateja e eu admiro o meu tamanho autocontrole.
Porém, continuarei a enfraquecendo. Preciso fazer isso.
Eu subo até chegar ao seu calor, bem na base da calcinha. Enfio dois dedos
na lateral da costura, afasto o tecido e percorro os seus lábios lisos, sem pelo
nenhum. Ela arfa e sinto o seu clitóris pulsar inchado. A lubrificação umedece o
meu dedão. Eu a toco de leve no meio de gruta de carninha encharcada.
Porra, meu membro petrifica dentro da cueca.
— Oh, isso é tão gostoso — sussurra, olhando-me desejosa. — Me preencha,
Gael! Agora!
Me enganei. A mulher mandona sempre está aqui.
Eu a preencho, chegando bem perto do seu rosto para beijá-la o pescoço.
— Aah — bafeja de olhos fechados. — Ahh, Gael. Eu sou sua. Eu aceito
que estou em suas mãos, perdidamente apaixonada e sem saída. Mas... Ahhh — ela
bafeja de novo, com meus dedos movendo-se no seu interior molhado, cheio de
vigor e rapidez. — Mas não quero decepcioná-lo. Eu sou cheia defeitos.
— Não se martirize. Não desistirei de você, nem de nós — com as minhas
palavras, eu dou fim a conversa e início os nossos prazeres eloquentes.
Masturbo a Lívia ao ponto de ela explodir em espasmos. Só que não permito
que chegue ao orgasmos, eu me afasto. E isso a levou a pirar de frustração. Quase
enfiou instantânea a mão na vagina. Só que a segurei, assistindo com um sorrio
estampado, a sua braveza.
Mas fui bonzinho logo depois – a subi no meu colo, chupei, mamei, me
deliciei com os seus peitos. Lívia rebolou, dançou e gemeu sobre o meu pau
dolorido.
Foi o fim. Com certeza, o nosso fim. Não aguentamos. Abri a calça, saltei
meu pau rochoso para fora, afastei a calcinha e penetrei a sua feminilidade até o
ventre, sem um pingo de dó da sua cara de sofrimento. Um sofrimento passageiro
diante das cavalgadas que ela logo fez questão de comandar igual doida.
Só fiquei a admirando. Vendo a forma que busca satisfazer-se sobre mim.
Seus gemidos são músicas para os meus ouvidos. Seu corpo é um paraíso para as
minhas mãos. E a sua boca... a sua deliciosa boca já inchada pelos meus beijos... é a
porta para a minha se encaixar com perfeição. E as nossas línguas nem se diga...
adoraria ter a minha mais abaixo do seu ventre e a dela... bom, a dela logo mais
realizará deliciosas façanhas no quarto.
Eu sou louco por ela.
Como o Anton previu, nenhuma das meninas foram no seu escritório pela
manhã, para assumir ou revelar pelo menos quem pegou as minhas joias e o seu
relógio. Logo então, Laerte foi acionado para fazermos o B.O. Ele também
conversou e ao lado de outra policial investigou os pertences das nossas empregadas
(com a própria autorização delas, já que não tinha mandado). Contudo, não obteve
nada suspeito.
Não sei se fico aliviada ou mais preocupada.
E se for uma das quatro? E principalmente, e se for a Sônia?
A Sônia não, não quero crer que possa ter sido ela.
O fato é que a pessoa que pegou as joias não pode ser qualquer uma de fora da
mansão. Além das meninas e da Felícia quem mais teria acesso a nossa suíte?
Meu Deus, sinto-me desconfiada agora até da minha própria sombra. Coloquei
todas as minhas joias no cofre do closet. Não ficou nenhuma peça para fora.
Só espero descobrir o culpado, ou a culpada o quanto antes.
Mais tarde, ao entardecer, por volta de umas 18h20, Lívia chega da cidade.
Perguntei sobre o Gael e ela disse que ele foi direto para casa tomar banho e
descansar. Achei-a um pouco estranha, mas me segurei para não a bombardear de
perguntas sobre o seu pai, a sua feição de cansada e os seus problemas. Preferi
esperar que ela me procurasse para conversar quando achasse confortável.
Então, depois do café da tarde, ela veio até o escritório do Anton, onde eu me
encontro terminando de estudar as minhas apostilas – aproveitei que ele estava
brincando com o Gieber no quarto para roubar a sua mesa. Gosto daqui devido à
bela vista da janela para os montes e o céu.
— Posso te incomodar só um pouquinho? — Ela pergunta do portal.
— Que isso. Você não me incomoda. Por favor, entre. Fique à vontade.
— Obrigada.
Lívia fecha a porta e aproxima-se, olhando todos os detalhes do ambiente. Até
que para perto da cadeira rotativa, inclina o pescoço e fixa na vista da janela.
O sol está se pondo no horizonte de floresta, deixando o céu num tom amarelo,
meio avermelhado. É espetacular. Nós duas ficamos em silêncio para assistir essa
obra prima feita por Deus.
— Nossa, é de tirar o fôlego.
— É mesmo. Eu amo esse horário da tarde. Morar no interior tem seus charmes
divinos. Se bem que eu nunca morei tanto tempo na cidade — dou de ombros. —
Vem, sente-se Lívia. Me conte como foi com o seu pai. Ele está bem?
— Ah, sim — ela se senta elegante, com a sua beleza de causar inveja em
qualquer mocinha nova por aí. — Ele está bem, graças a Deus. Passou por uma
cirurgia onde foi implantando uma prótese no coração. Se o visse, nem acharia que
sofreu um ataque cardíaco e fez esse procedimento. Estava querendo sair correndo
da maca para voltar para o seu dia a dia — ela sorri. — Meu pai é bem atlético.
Vaidoso. Se cuida de mais.
— Ele deve aparentar ser novo.
— E aparenta. Minha mãe e eu passamos apuradas com a beleza daquele
metido. As mulheres caem matando aos seus pés.
— Sua mãe também é muito bonita, Lívia. Nossa, ela é a pura elegância e
sofisticação em pessoa. Isso não devemos negar. E você puxou a ela. Com certeza.
Lívia rola os olhos, sem demonstrar que ficou ofendida.
— Torço para que seja a única coisa boa que eu tenha herdado dela. E além do
estado de saúde do meu pai, eu gostaria de te atualizar de outros acontecimentos
sérios que rolou na cidade. — Lívia mexe a cabeça e me fita com os seus olhos
verdes, muito intimidadores, de causar calafrios. Será que ela não se dá conta de que
pode ser assustadoramente poderosa? — Você é uma pessoa muito especial, que
confesso, eu gosto muito de desabafar. É uma raridade em um milhão.
— Pois eu fico muito feliz em ouvir isso. Obrigada pela sua confiança.
— Eu quem agradeço. E bom, vamos direto ao assunto interessante... você vai se
chocar...
Direta, Lívia começa a me revelar tudo o que aconteceu na cidade – do atentado
contra ela, do carro alvejado do Gael, deles tendo que ser conduzidos para a
delegacia, sobre o responsável ser o Vitor (o agiota) que estava atrás do seu dinheiro
e por fim, do Gael que se dispôs a pagar a sua dívida de 300 mil reais, para ela ficar
livre de ameaças e não perder a vida.
— Só que eu vou pagar o Gael. Juro que vou… — suspira, finalizando o seu
desabafo e aceitando os seus pontos fracos. — Eu gosto muito dele, Kia. Tanto
que… eu não sei.
— Você o ama. Só não quer assumir a verdade para si mesma — resolvo ser
realista.
Surpresa, ela arregala os olhos e tosse, balançando veementemente a cabeça.
— Não. Eu...
— Claro que sim. E ele também tem o mesmo sentimento de amor. Veja o que
fez por você, para salvar a sua vida. Isso já não foi uma tremenda demonstração de
seus verdadeiros sentimentos? Ele te quer. Ele te ama. E Gael é o homem mais
perfeito que existe.
— Homens perfeitos não existem. Gael só salvou a minha vida porque é
honrado, digno, de boa conduta e quer bancar sempre o super-herói. E… e… — ela
para fixa no meu olhar desconfiado e relaxa os ombros na cadeira, rendendo-se a
verdade. — E você talvez tenha razão sobre os sentimentos dele. Só não sei sobre os
meus. Ou eu sei e possa estar perdida.
— Tem medo do amor?
— Eu nunca amei ninguém. Não sei se posso afirmar que seja amor. Só sei que
aquele homem é uma exceção na terra e no meu coração. Mas a tantos, mas. Somos
diferentes. Eu sou cheia de defeitos. Me sinto patética. Ele merece alguém que seja
como ele. Entende? Alguém que possa lhe dar uma família. Alguém que possa
merecer tanto amor — ela abaixa a cabeça, em seguida, ergue indecifrável.
Eu engulo em seco, sem parar de pensar na Sônia e na conversa que preciso ter
com o Gael.
Família… meu Deus, ele leva isso muito a sério. Ainda mais por um filho que
está por vir.
— Não custa nada tentar. Dê uma chance, se entregue a paixão, ao amor.
Arrisque-se, mude a sua vida. O que tem a perder?
— Foi o mesmo que o Gael perguntou esta tarde na cidade. E eu não tenho nada
a perder. Já perdi tudo o que eu pensava me fazer feliz. É frustrante, ao mesmo
tempo “normal”. Além disso, eu estou dando sim uma chance a ele — Lívia pisca,
chocando-me. — Pois assumo, estou apaixonada. Nossos momentos hoje deixaram
isso muito claro para mim. Exceto o amor. Não entendo esse sentimento direito.
— Vai com calma, um dia você saberá o que é o amor. Simplesmente acontece.
E estou em choque pela sua revelação. Vocês estão juntos de verdade? É sério?
— Bem, sim. Todavia, ainda não descarto o discurso de que somos diferentes e
de que ele merece alguém especial. Mas, por enquanto, não quero perdê-lo e nem o
decepcionar. Não quero ficar sozinha.
— Daqui a pouco, dirá que nunca mais quer que ele se vá. E quando ver, estarão
juntos para sempre. Você me deixa confusa, dona Lívia. Agora me sinto feliz por ter
tomado alguma decisão. Essa chance é muito importante para ambos.
Eu sorrio de orelha a orelha e Lívia retribui o sorriso com os seus dentes
brancos, perfeitos.
— Acho que aquele caipira tem razão, como sempre, eu sou uma péssima
administradora. E isso, de sentimentos também. Obrigada, Kia. Nunca tive alguém
para ser tão abertamente assim, como fui com você nesse escritório. Estou até
surpreendida comigo. Acredite, rompi barreiras.
— Até eu. E não se preocupe, somos ótimas amigas.
Eu me levanto devagar e vou até ela, abraçá-la com muita sinceridade. E se não
fosse pelo meu pé, estaria dando pulinhos.
Após nos soltar, Lívia apenas ri e fala “como é bom ter uma verdadeira amiga”.
Sinto que acabamos de selar algo, pois igualmente nunca tive uma amiga para
chamar de amiga.
E estou feliz por ter uma.
Nós duas ficamos conversando um pouco mais. Até resolvermos subir para os
nossos aposentos para podermos enfim finalizar esse dia fatídico. O que foi de
grande emoção para ela e para mim.
Ah, eu esqueci de contá-la sobre o “sumiço” das minhas joias. Deixarei para
amanhã.
— Como você subiu sozinha? — Anton questiona ao me ver fechar a porta e
andar normalmente com as muletas.
Ele é sempre tão preocupado.
— Eu já disse que estou bem e sem dores fortes ao andar. E Lívia me ajudou a
subir os degraus da escada — sento-me no colchão, sorrindo para a Mel bem
acordada no meio da cama. Ela sorri de volta, balbuciando fofinha. — Você colocou
o Gieber na cama?
— Sim, ele brincou até o esgotamento.
— E a Melina não dome, né, senhorita? — pergunto a ela, que está completando
quatro meses hoje.
— Ela está fazendo quatro meses hoje — Anton informa, parecendo que leu os
meus pensamos.
Ele vem até mim, sem a sua camisa e com todo o seu porte bonito, alto.
— Minha sogra que me informou. Eu nem lembrava.
Reviro os olhos.
— Eu sei bem. Você é péssimo para guardar datas comemorativa. Se eu te
perguntasse a data do nosso casamentos não…
— 20 de Janeiro de 1996, às 08h30 da manhã. Você estava com um vestido
comprido, de mangas finas e de cor branca. Seu cabelo loiro estava amarrado num
coque alto. Também… lembro-me de que enfeitados com uma tiara que a deixou só
mais angelical. Estava linda, inocente e tímida demais. Sequer me encarava nos
olhos. E quando fazia isso, seu rosto ganhava a cor de um vermelho rosado. Eu
ficava hipnotizado pelos seus olhos azuis. Você era linda. E é linda. A mulher mais
linda do mundo.
Anton permanece parado, em pé na minha frente, vagando em suas memórias.
Eu me emociono, estou sem palavras para ele.
— Eu não queria ter tantas lembranças horríveis depois que te trouxe para morar
na mansão. Sinto muito. Queria ter sido o Anton de hoje, que a respeita e que sabe o
que é amar a sua esposa e os seus filhos. Só que foi tudo necessário, infelizmente
foi.
— Ahh, amor — choro, sem evitar as lágrimas.
Ele, então, me ergue delicado e segura a minha cintura com devoção, em
seguida acaricia o meu rosto com os dedos.
— Está feliz?
— Sim, muito.
— Eu também — Anton sorri como a sua linha dos lábios torta, tão atraente. —
Eu daria o mundo por você. Por mais que seja pouco. E espero que saiba disso todos
os dias.
— Eu sei. Eu te amo, meu amor — o beijo.
— Eu amo mais, sem dúvidas — ele morde o canto da minha boca.
— Eu amo duas vezes mais — acaricio o seu abdômen.
— Eu amo na quantidade de cada grão de areia na terra.
— Eu…
— Calada, Sra. Dexter. Sempre vou te amar mais — ele, por fim, penetra a
língua na minha boca, toma os meus cachos e faz questão de apertar a minha bunda
com força.
Não digo mais nada. Só sinto o tesão subir a cada toque seu no meu corpo.
Mas o nosso momento de fogo não dura muito, Melina começa a chorar.
Eu e o Anton resmungamos, separando os lábios para olhar para a danadinha
que imediatamente desfaz o bico de choro e ri gostoso para nós, batendo as
perninhas gordinhas toda feliz.
Meu Deus, ela, com certeza, será uma ciumenta autoritária igual ao pai e o
irmão.
Quarta-feira – quatro dias depois...
Estava sendo uma manhã muito chuvosa e eu gosto de dias assim. Tenho
uma particularidade obsessiva pelo cheiro de terra molhada – respiro fundo, como
que se já sentindo o cheiro nas minhas narinas. Tento me erguer para sair da cama,
no entanto, a Lívia mexe a cabeça, coça os olhos e aproxima-se mais do meu corpo,
para se aquecer.[SS14]
Assim não tem como eu resistir a não ficar.
— Está chovendo? — pergunta com a voz rouca de quem acabou de acordar.
— Sim — respondo, puxando-a para um abraço.
Desde que ela decidiu nos dar uma chance – ser minha – que não nos
largamos mais. De preferência a Lívia, que está sendo outra pessoa. Literalmente. E
eu, que quero o calor dela todas as noites. Ontem fiz questão de sequestrá-la da
mansão Dexter sob os olhos da Kiara e do Anton. Ainda antes havia aceitado o
convite deles para participar do jantar. O que deixou a Lívia desconcertada na mesa.
Falando na Kia, lembro-me de que ela está há dois dias tentando me dizer
algo muito importante, só que parece mudar de ideia todas às vezes que me
encontra. Mas disse que hoje cedo trataria desse assunto comigo. E o que eu achei
mais estranho foi que no fim completou com "e na presença de outra pessoa
também".
— Preciso ir na mansão ver o que a Kiara quer conversar comigo.
— Hum... não quero me levantar dessa cama. Estou triturada em mil pedaços
por sua causa.
Sorrio da cara deslavada dela e ergo o seu queixo com os dedos.
— Você provoca e não aguenta, dona mandona. No final, quem sofre é a sua
bunda... e acho que o meu pobre pau.
Ela rola os olhos e acaricia a minha barba, descendo as mãos delicadas para
o meu abdômen.
— Se você me obedecesse como um bom submisso, poderíamos evitar tanta
selvageria na cama. Eu pouparia o seu pobre pau, que adoro, e você todo o meu
corpinho, que ama.
Com a maior lábia, ela pisca, erguendo-se para esfregar os peitos enrijecidos
na minha costela esquerda e colocar uma perna sobre a minha virilha, para
igualmente me dar a sensação da sua intimidade nua no meu quadril, ao se
enconchar com o clitóris.
Porra, arrepio-me duro, já querendo devorá-la.
— Para o seu próprio bem, se não quiser ficar mais assada, é melhor calar
essa boca atrevida e ser menos sem vergonha — aperto as nádegas dela, onde há
quatro horas atrás eu dei uma dentada forte, que a enfureceu e levou a me xingar de
tudo quanto é nome.
— Ai, Gael! Está doendo! — Lívia rapidamente afasta a perna de cima de
mim.
Não disse que ela começa e depois não aguenta? Ô mulher que gosta de tirar
a minha paz.
E eu adoro isso.
— Você vai querer me acompanhar no banho? — pergunto ao me levantar da
cama. — Ou o banheiro não é tão chique para a madame?
— Não ligo para tanto luxo quando estou com você — dá de ombros. —
Exceto se fosse num hotel nojento de esquina, usado por centenas de pessoas...
médias!
Sorrio do seu olhar implicante. Ela não supera aquela hospedagem de jeito
nenhum.
Mais tarde, após tomarmos um banho delicioso, cheio de carícias safadas, eu
levo a Lívia de volta para a mansão e encontro a Kiara na sala. Ela nos olha
envergonhada, dirigindo-se a mim para perguntar se poderíamos conversar a sós.
Lívia só pigarreia, diz que vai se trocar no seu quarto e pede licença.
Sozinhos, Kiara me faz a acompanhar para a outra sala de chá.
— O que gostaria de conversar tanto comigo, patroa? — questiono curioso,
assim que ela fecha a porta francesa do local decorado com todo o luxo possível.
— Eu... bem... é... não sou eu quem quer conversar com você — ela se
aproxima estranha, mexendo nervosa no cabelo. — Sente-se por favor, ela já está
vindo.
— Ela? Ela quem?
— Larga de ser curioso que você já vai saber. E sente-se, antes que eu te
amarre na poltrona.
— Meu Deus, cadê a Kia toda doce? Você está próxima da Lívia de mais. Só
tenho dó do Anton num momento desses.
Ela sorri.
— Eu adoro a Lívia, sabia? Ela causa arrepios em qualquer um. É uma
mulher poderosíssima. Talvez eu possa me espelhar muito nela ainda — pisca.
— Jesus, tenha misericórdia — é só o que eu digo e sento-me.
Minutos depois, alguém dá dois toques na porta da sala, empurra devagar e
entra. É a Sônia com uma bandeja deliciosa de biscoitos.
— Ah, Sônia, por favor, entra — Kia sorri fraca, indo ajudá-la com a
bandeja, para colocar na minha frente, em cima da mesa de centro.
Em seguida, as duas param perto do sofá e olham-se.
Pego um biscoito e arqueio a sobrancelha, notando a Sônia desviar de cabeça
baixa, morder o lábio inferior e apertar os dedos. Eu fico sem entender o motivo da
presença dela, também o suspense entre nós três.
— Gael — Kia, então, me encara, dirigindo-se de forma entranha a mim. —
É Sônia quem tem algo para te dizer. Eu só estou aqui entre vocês a pedido dela,
para apoiá-la.
Eu mastigo o biscoito e ergo-me devagar, sem compreender nada.
Apoiá-la no quê?
— E o que você teria para me dizer, Sônia? — pergunto diretamente a ela.
Ela ergue o rosto, piscando os cílios loiros e apertando mais forte os nós dos
dedos. Por mais que não me olhe, não deixo de perceber que seus olhos brilham
marejados.
Kiara acaricia o braço dela.
E ela responde o que eu jamais imaginaria:
— E-eu estou esperando um filho seu, Sr. Gael.
Bem cedo, aproveito que estou na vila para visitar o Laerte na delegacia e
conversar sobre o roubo na minha casa – o que pelo jeito não será resolvido tão
cedo.
Eu só gostaria de saber quem foi a responsável, ou as responsáveis para
deixar a Kiara mais tranquila. Ela está sempre tocando nesse assunto, dizendo que
está muito mal por não ter mais 100% de confiança nas nossas empregadas e por
estar agora olhando diferente para elas, como que se tentasse decifrar quem foi –
isso tornou tudo mais constrangedor para ambos os lados.
Mas não há o que fazer enquanto a pessoa que furtou as joias não aparecer
confessando o que fez. Devemos apenas aguardar.
Após sair da delegacia, eu vou para casa e encontro a Kia na sala com a bebê
nos braços e o Gieber brincando no chão.
— Papai!
Ao me ver, meu garotão corre para me abraçar. Pego-o no colo, beijando os
seus cabelos lisos e meio grandes.
— O que está fazendo?
— To blincando de calinho. Ele é igual o seu, papai. Gandãoooo — ele abre
os braços, demonstrando o tamanho da sua caminhonete no tapete.
Eu olho para baixo e comprovo que não foi exagero. Eu que comprei o carro
para ele essa semana. Ainda é motorizado para "dirigir’.
— É... e agora ele está quebrando quase toda a decoração caríssima da casa
— Kia resmunga sem me olhar.
Sorrio. Ontem, ela estava mais furiosa, até tentou guardar o carro, só que o
Gieber grudou nas pernas dela, chorou, puxou o seu vestido e chegou a correr para
mim, berrando que "a mamãe tava blava com o calinho" e que ele queria porque
queria o seu "calinho".
Eu, louco nem nada, não fiz nada. Quem vai enfrentar uma mulher no
primeiro dia do seu ciclo menstrual? Deus é mais.
Tudo tem limite. E Kia na TPM é como pisar em ovos. É o próprio furacão
em pessoa.
Mas Gieber conseguiu a conquista de ter o seu carrinho de volta da mamãe
má, desde que não triscasse nos móveis. E pela declaração da Kia neste momento,
algum vaso já deve ter se espatifado hoje.
— O que você fez, seu bagunceiro? — pergunto a ele no meu colo.
— Segurar nas cortinas e acelerar o carro para puxá-las e conseguir aquela
proeza ali, responde a sua pergunta? — Ela aponta em direção as vidraças "nuas" do
fundo.
Tento não rir. Kia me fuzila.
— Você puxou as cortinas, Gieber?
— Foi — ele sorri e esconde a cabeça entre o meu pescoço.
— Olha para o pai. — Ele, então, olha e morde o dedo, amedrontado com o
meu olhar sério. — Vamos andar com o carrinho só lá fora na grama, entendeu?
Aqui dentro de casa não.
Ele assente com os olhos brilhosos.
— Vamos agola?
— Não, ainda é muito cedo. Talvez mais tarde.
Ele concorda e eu o coloco de volta no chão, para meu arteiro voltar a
brincar.
— Você está esperando alguém? Para estar aqui na sala com as crianças, em
vez do jardim. — Viro-me para Kia.
— Estou esperando sim, o Gael para conversarmos. E as crianças, a minha
mãe já vai pegar para tomar sol.
— Você tem o que para conversar com Gael? — Fecho a cara.
— Depois prometo te contar. E mude essa cara de ciumento. Você sabe que o
Gael é um cavalheiro e está com a Lívia. Ontem, comprovamos o quanto aqueles
dois estão apaixonados.
— Hum — continuo com a cara fechada. — Vou trabalhar em casa hoje.
Kiara assente e eu vou dar um beijo nela para poder me retirar para o meu
escritório.
Na sala, eu me sento atrás da mesa, notando como sempre, todas as
correspondências em cima dela. Pego-as e vou passando algumas até me deparar
com um envelope verde, escrito "Laboratório Fetal" e perco o ar dos pulmões.
Quarta-feira!
Hoje é quarta feira!
Ansioso e desesperado, eu começo a abrir o envelope. Tiro as folhas, passo
ligeiro os olhos nas informações que não me interessam, então viro a página e leio
"conclusões".
& dou um pulo da cadeira, arregalando os olhos para as duas palavras antes
de "Dexter".
Porra! Porra!
Sem me aguentar, eu começo a rir! Porra! Eu começo a rir!
Acabou para a Lorenza!
Eu tinha certeza. Certeza absoluta de que aquele menino não era o meu filho.
Agora eu quero correr até a Kiara, puxá-la para os meus braços e girá-la de tanta
felicidade.
Ele não é o meu filho!
Mas eu me controlo, antes disso, eu ligo para os meus advogados e peço para
que eles deem a notícia para o Gabriel. Também que deem entrada no processo de
distanciamento da Lorenza, de 500 a mil metros se possível de mim e da minha
família. Nem que eu tenha que comprar o juiz!
Nunca mais ela vai ousar pensar em me arruinar. Essa foi a sua última tentativa
fracassada de destruir o meu casamento e principalmente, me tirar dinheiro.
Acabou!
Após finalizar a minha ligação para o advogado, eu chamo a Felícia pela
campainha da mesa e peço para que ela encontre a Kia e diga para ela vir
imediatamente no meu escritório. É urgente. Também que me traga gelo num cooler.
Felícia assente e retira-se.
Sendo cedo ou não, abrirei um dos meus melhores vinhos para comemorar com
a Kiara. Pois, enfim, teremos paz.
Hoje me sinto o homem mais feliz do mundo.
Gael engole em seco, dá um passo para trás e desvia para as compridas janelas
de vidro abertas, onde o vento sopra forte, balançando as minhas luxuosas cortinas
brancas, de linho.
Sônia aperta forte a minha mão, tremendo sem parar. Olho para ela, vendo-a
chorar baixo.
— Gael… — sussurro depois de longos torturantes minutos em silêncio.
Ele me fita, em seguida dá seis passos até parar diante da Sônia. Ela esmaga
mais forte os meus dedos. Penso que vai desmaiar a qualquer momento. Gael deixou
eu e ela pequenininhas devido ao seu tamanho enorme.
— Se tem certeza de que está grávida, eu não vou fugir das minhas
responsabilidades. Amparei você e essa criança que está esperando. Eu te prometo.
Então, Gael volta a olhar para a janela, respira fundo e de repente, vira as costas,
passando as mãos pelos cabelos até sumir de vista pela porta. Eu sei que ele só faz
esse gesto quando está muito, muito nervoso. Assim como o Anton.
— S-senhora… — Sônia cai em prantos nos meus braços.
— Está tudo bem — a amparo. — Ele precisa de um tempo para pensar e deixar
a ficha cair. Essa é uma notícia que muda vidas. A dele e a sua.
— Eu estou com vergonha, com medo. E… eu não sei o que fazer. Ele sempre
se protegia — ela abaixa a cabeça. — Sr. Gael deixou bem claro que éramos casual.
E que se eu estivesse me apaixonando por ele, que não me procuraria mais e que
não aceitaria que eu o procurasse. E então eu fico grávida. O que ele deve estar
pensando agora?
— Sônia — seguro os seus ombros, fazendo-a me olhar. — Você é uma mulher
de 21 anos, forte, batalhadora, solteira e que se envolveu com um homem que
também era solteiro. E se ele fez esse acordo entre vocês, era para a mesma não se
machucar. Além de que os dois se cuidaram. Só não contavam com um incidente no
final. Se acalme, não pode ficar se lamentando toda hora pelo que aconteceu. Gael
já disse que vai te amparar. Principalmente essa criança, o filho dele. E ele é um
homem sério, de caráter e de palavra. Entendeu, minha querida?
Ela assente emocionada.
— Aguarde ele te procurar para conversarem de consciência limpa. Igualmente
seja sincera com ele. Tem um bebê em jogo, que não tem culpa de estar sendo
gerado para esse mundo. — Volto a abraçá-la com um carinho imenso. — E a
médica que cuidou de mim na gestação da Melina vai vir sábado para te analisar,
tirar sangue e fazer todo o seu pré-natal. Você vai ficar bem.
— Obrigada, Sra. Dexter. Não sei como te recompensar por tanta bondade. Não
tenho dinheiro para metade do que está fazendo por mim.
— Apenas continue sendo a minha amiga fiel. Não vou te desamparar.
— A senhora é um milagre. Um anjo. Prometo que serei leal a sua pessoa até a
morte.
Sorrio, encarando-a e vendo-me compadecida nela.
Descobri há algumas semanas que a Sônia fugiu da casa dos pais aos 17 anos,
porque o seu pai batia na sua mãe e porque, na noite antes de decidir isso, ele tentou
a estuprar de verdade. Não só com carícias nojentas, como relatou que o monstro
fazia nas madrugadas no seu quarto. Sem falar que a sua mãe sabia de tudo, só que,
por medo, ela não tinha coragem de enfrentá-lo e denunciá-lo às autoridades. E
nessa noite, após o monstro quase violentá-la, ela fugiu, correu com as próprias
roupas do corpo para longe de todo esse sofrimento. Passou quase um ano se
humilhando por qualquer trabalho para não morrer de fome, nem passar frio sob o
céu estrelado (como eu, um dia, como a minha história idêntica). Mas uma luz
apareceu no seu caminho, ela soube da vaga de carteira assassinada na mansão
Dexter, onde damos um salário maior do que a média. E Sônia não pensou duas
vezes, logo veio na entrevista acirrada, na esperança de ser contratada entre as
milhares de meninas que a Felícia recebia. Foi que graças a Deus, entre tantas
moças de bons currículos, que a nossa governanta gostou da Sônia. E por mais que
não tive boas práticas, nem experiência com mansões, deu a ela uma chance de ser
testada por um mês. Pois Felícia me relatou que sentiu dó do estado de roupa
rasgada, encardida e fedida que a menina vestia durante a entrevista. Não só por
isso, também pelo desespero, esperança, fé, tudo que Sônia transmitia pelos olhos.
Parecia que seria capaz de aceitar qualquer coisa na fazenda só para ter um lugar
melhor para dormir e comer. Jurou que aprenderia tudo em menos de uma semana.
Hoje, após conhecê-la profundamente, eu vejo ser a minha imagem, a minha
história. Ela é eu, só que mais desprotegida do mundo. Por isso não vou abandoná-
la, nem a desamparar. Sônia só tem a mim. Não tem mais ninguém que queira se
importar com os seus sonhos, a sua saúde. Além de que ela terá também o seu bebê
e o Gael. Ele jamais a abandonará, nem omitirá auxílio. É um grande homem.
— Desculpe-me por atrapalhar, Kia — nos interrompendo, Felícia aparece
elegante na grande sala, já sendo direta com o seu recado. — Mas o Sr. Dexter
deseja vê-la imediatamente no seu escritório. Disse ser algo urgente.
— Urgente?
— Sim.
— Eu vou voltar para o serviço… — Sônia sussurra quase se movendo, só que a
paro.
— Espere. Acompanhe a Felícia, ela vai cuidar de você. Precisa comer alguma
coisa. Está no início da gestação.
— S-senhora... — Ela arregala os olhos pela minha fala em voz alta.
Felícia ouve o seu sussurro assustado.
— Não se preocupe. Kiara me disse isso para cuidar do seu bem-estar. E
compreendo a sua situação. Acho que a nossa história é até muito parecida. Vem,
vamos fortalecer o seu café da manhã.
Sônia concorda envergonhada e acompanha-a.
Sentindo-me cansada, eu me esforço e também vou ver o que o Anton quer
comigo. Para me chamar tão urgente, deve ter acontecido algo grave. Tomara que
não.
— Amor? — No escritório, eu abro a porta o chamando e já entrando.
Vejo-o em pé, perto da janela. Ele olha para mim com um sorriso lindo nos
lábios. Desço a visão para a mesa e vejo… vinho?
— Está bebendo uma hora dessa, Sr. Dexter?
— Ainda não, entretanto... beberemos — ele declara, caminhando sedutor até
mim.
— O que houve? Feli…
— O resultado do laboratório chegou esta manhã.
— O-O QUÊ?!
Arregalo os olhos, lembrando-me de que hoje é quarta-feira! M-meu Deus! Meu
coração gela e vai parar na boca.
Anton para na minha frente, pega na minha mão, beijando-a e raspando na sua
barba grande.
— Eu te amo, te amo muito.
— Anton… o-o que deu o resultado? Por favor, me diga!
Ele me solta assustadoramente calmo, tira o papel do bolso e estende. Eu pego
trêmula.
— Não é o meu filho — de repente, ele revela. — Eu não sou pai daquele
menino. Acabou os planos da Lorenza.
Então abro a boca, o fito... e no mesmo instante, sem precisar ler nada, eu jogo o
exame no chão e corro para os braços fortes do meu homem, chorando de felicidade.
Ele me abraça, chegando a me erguer do chão.
— Amor… — soluço sem conseguir expressar o meu alívio, a minha alegria.
— Teremos paz. Seremos felizes com a nossa família. É tudo o que eu mais
quero.
— Eu também. É tudo o que eu mais quero — seguro o rosto dele. — Eu te
amo. Amo você e as suas mudanças.
Anton sorri emocionado. Seus olhos cinzas brilham como nunca brilharam na
vida.
— Isso tudo foi importante para ver que eu a amo muito mais do que imaginava.
Nem sei descrever, Kia. Você é tudo o que eu tenho. Sempre repetirei isso. É tudo o
que me restou. É meu perdão, minha redenção. Você foi o meu milagre. Me tornou
uma pessoa melhor.
Eu choro, desta vez, em seus lábios, retribuindo o seu beijo apaixonante, cheio
de necessidade por ambos. Ele, surpreendendo-me, me pega no colo, leva até a mesa
e coloca-me sentada em cima dela. Meu vestido vai até o topo das coxas, o que faz
ele tocá-las.
— Quero tomar esse vinho para brindarmos a nossa felicidade. E claro, antes de
fodermos gostoso — ele pisca e tira a garrafa do cooler de gelo, abrindo-a na rolha.
Eu limpo o rosto molhado pelas lágrimas.
— Esse exame também era o ponto final para deixarmos o passado no passado.
Pois não existe mais nada que possa estremecer o nosso presente. Daqui em diante,
tudo vai se basear no nosso amor, na nossa família e nesse outro meninão que está
por vir.
Assim que ele me entrega a taça eu a quase derrubo no chão, sem crer no que
disse.
— Anton!
Ele ri e coloca a mão na minha barriga.
— Aproveita hoje do vinho, que depois que eu gozar dentro de você, estará
proibida de digerir qualquer álcool!
Coro, tossindo desta vez o líquido que eu resolvi bebericar para descer o nó que
se formou na minha garganta, que agora virou um bolo sufocante.
— Eu… eu…
— Eu, eu? — Ele agarra os meus cabelos com força, encarando-me bárbaro,
cruel, do jeitinho que eu amo. — Você vai parar de beber o anticoncepcional,
entendeu? Quero essa casa entupida de lindos bebês, com seus olhos azuis, suas
sardinhas e seus cabelos loiros, bem cacheadinhos.
— Ah, amor… eu te amo tanto! — Choro.
— Eu amo mais, sempre amo mais.
Ele beija a minha bochecha, sugando as minha lágrimas doces. E sem esperar,
eu começo a rir.
— Tomara que tenhamos outra linda menininha — digo só para provocar.
E meu amado Dexter feroz vai a loucura.
— Nem em sonho, dona Kiara! Nem em sonho!
Ele aperta mais forte o meu cabelo. Com dor e tesão, eu suspiro fundo,
entrelaçando as pernas no seu quadril.
— Já prevejo a Melina me dando trabalho com toda aquela beleza herdada sua,
imagina mais uma filha assim? De jeito nenhum. Deus deve ter compaixão de mim
em algum lugar.
— Você não pode controlar isso, amor. Talvez tenhamos uma menina ou um
menino. E sei que vai amar, educar e proteger ele ou ela do mesmo jeito. Você é um
pai incrível.
— Serei mais incrível se eu tiver outro menino para cuidar de você e da nossa
princesa. Por isso, trabalharei arduamente por isso agora — safado, ele toca na
minha intimida. Eu pulso excitada. — Mas se tivermos outra menina, sei que o
Gieber valerá por dois ou até por três. Ele tem o sangue dos homens Dexter
correndo pelas veias.
Céus, tem como contradizer um homem ciumento, protetor, obstinado e que é
capaz de qualquer loucura pela família?
E eu o amo. Eu amo esse bruto!
E meu Deus, me dê outra menina!
Era umas cinco horas da tarde quando eu vi a Ester, a ex do Gael perambulando
pelo corredor principal da mansão, onde leva para o escritório do Sr. Dexter. Algo
bem suspeito para o meu gosto.
Eu não perdi tempo em segui-la.
— Que eu saiba, aqui não é área para uma auxiliar de cozinha estar.
Ela vira a cabeça ruiva e fica assustada ao me encontrar parada, observando-a
com um sorriso diabólico nos lábios – nem nada gentil.
Ela engole em seco e eu a analiso dos pés à cabeça. Ela faz o mesmo,
afastando-se bem devagarinho para o canto da enorme janela francesa.
— O que foi, cabelo de fogo, viu um bicho papão? — Sorrio agora para mostrar
os dentes e o meu prazer por estar a intimidando.
— Você é uma ridícula!
— Nossa — dou uma piscada longa e tediosa. — Vai começar a xingar a minha
mãe daqui a pouco também? Isso é tão coisa de menina adolescente.
— Você se acha a poderosa, né? Mas realmente não passa de uma ridícula! —
De repente, ela dá um passo e enfrenta-me com os seus olhos castanhos claros.
E, uau, estou impressionada. Gosto de gente assim, que “tenha” peito para me
enfrentar.
— Humm, você, então, me acha poderosa? Porque eu não me lembro de ter dito
isso. No entanto, agradeço o elogio. Agora você, faça o favor de explicar o motivo
de estar aqui no corredor mais importante da casa, onde leva ao escritório do seu
patrão Dexter.
— Isso não é da sua conta! Você não tem autoridade nenhuma para ser “a tal”!
Arqueio a sobrancelha, sem desviar as íris das suas. Ela molha os beiços,
empinando a cabeça a todo momento. Chega a ser engraçada de tão bobinha que é.
Mas a questão é que de bobinha essa garota não tem nada. Não mesmo. E eu vou
provar.
— Eu sei o que você está planejando.
Ela ,dessa vez, pisca muitas vezes seguidas.
Pronto, preciso dizer mais nada para provar que eu estou certa. Essa menina não
sabe o que é ter uma Diana Castellano como mãe. Posso descobrir os seus segredos
mais imagináveis.
— E o que eu estaria planejando? — Ela range os dente e fecha os punhos.
— Você quem me diz. Ou tem explicações relevantes para estar neste corredor?
Então xeque mate. Ela engole em seco de novo e não me responde mais.
Com um olhar malicioso, eu dou um passo até ela, tendo meus cinco centímetros a
mais devido ao salto.
— Ester, minha querida. O que faz na mansão Dexter? Acredito que não voltou
só pelo Gael. Eu adoraria saber a verdade.
— Eu estou aqui porque preciso do emprego! Não nasci em berço de ouro igual
a você! Trabalho desde que me entendo por gente pra comer e beber! Não sabe o
que eu passei na vida!
— Hum… conheço esse discurso de se vitimizar para se mascarar de boa moça e
esconder as reais intenções. Você não me engana.
Ester dá outro passo e fica cara a cara comigo. Ela me fuzila louca de raiva.
Já eu estou pleníssima na minha pose intocável de sempre, só me divertindo e
analisando-a.
— Você que não presta aqui! Ainda vai se arrepender por ter tirado o Gael de
mim! Ele vai ver que você não vale nada! Que só quer usá-lo!
Voilà! Sem me segurar, eu começo a rir.
— Ri mesmo, sua cobra de saltos! Ele teria me dado uma chance se não fosse
você o seduzindo! É uma descarada! Metida! Nojenta! Baixa!
— Você esqueceu o megera. E gosto mais de escutar esses adjetivos da boca
dele, quando estamos na cama, nos divertindo horrores por horas.
Ester se avermelha em fúria.
— Vai se arrepender amargamente, juro que vai! Você não sabe com quem está
mexendo! — Por fim, ela tenta se retirar de nariz empinado.
Porém, veloz, seguro-a pelo antebraço, finco um pouco das unhas na sua carne
macia e puxo-a de encontro a mim.
— Eu sei sim — aproximo-me do seu ouvido. — Mas e você, queridinha, sabe
com quem está mexendo? Eu nunca tive remorso de tirar pessoas incomodadas do
meu caminho. E seja esse “tirar” da pior forma que imaginar. Por isso, espero que
não esteja incomodada. Porque se estiver, vai começar a me incomodar. E aí, eu não
saberei mais conversar boazinha.
Volto ao seu rosto, fincando mais as unhas na sua pele. Ela também aperta o
meu braço, sem reação. Está paralisada.
— Adoro brincar de esconde-esconde. E dou uma semana para descobrir você!
Eu a solto e desfaço a minha cara inevitável de perversa, sorrindo.
— Ótima noite, cabelo de fogo. E espero que faça ao ponto de alcaparras a
lagosta no jantar de hoje. Porque eu não gostaria de te ensinar a fazer isso bem-feito.
Com licença.
Após olhá-la uma última vez, eu viro as costas e saio devagar, fazendo barulho
com os meus saltos de grife que valem mais do que cinco salários seus. Ainda a
ouço me xingar.
Deve ter sido ameaça de morte? Porque espero que ela seja realmente uma
oponente a altura para aguentar as consequências das suas palavras.
E sobre a lagosta, meu avô era chefe gourmet da haute cuisine (alta cozinha). E
além de ser ótima num gatilho de arma – como ele –, eu sei muito bem o ponto da
lagosta. Igualmente sei preparar qualquer coisa de alta qualidade. O dom
gastronômico da nossa família corre nas minhas veias – como dizia o falecido vovô
Navarres Castellano. Infelizmente, ele deve estar se remexendo no caixão até hoje
por eu ter me formado em odontologia.
E que prazer foi imaginar a sua careta e os seus olhos se revirando quando eu
peguei o meu diploma. Também que saudades da segunda pessoas que mais me
amou neste mundo, seguido do meu pai.
Vovô foi um grande homem.
Depois que voltei do rio com o Gael, ele me deixou na varanda dos fogões a
lenha e eu corri para dentro. Só que tive o delicioso desprazer de dar de cara com a
cabelo de fogo bem no meio do corredor. Ao parar, ela fez questão de cruzar os
braços e me olhar dos pés à cabeça, cheia de nojo e de deboche.
— A senhorita não parece nem um pouco poderosa agora. Está mais para uma
imunda.
Sorrio, fechando dois botões abertos da minha camisa rosa, meio molhada e
caminho até ela, fazendo som com as minhas botas de salto. Ao parar na sua frente,
eu aperto o meu chapéu de cowgirl.
— Estando adequada visualmente ou não, sou ainda superior a você. Ou não
teria se referido a mim, como senhorita.
Ester me fuzila raivosa.
— Eu sei onde estava! Eu vi você chegando com ele!
— E?
— E que você é uma…
— Eu sou uma mulher desimpedida, solteira e Gael é um homem bem resolvido!
— Esbravejo, dando um passo prepotente. — E você deve entender garota, que um
não é um não! Chega de se humilhar, vai ser independente, livre e viver por você
mesma! Ou vai caçar outro que te mereça!
— E você acha que você o merece? — Ela ri. — Ele não é para você!
— Nem para você, pois se fosse, ele não teria lhe dado um pé na bunda!
Ela range os dentes e fecha os punhos.
— Ele é quem vai te dar um pé na bunda! Logo que vai ser pai!
Em súbito, eu franzo olhos e Ester desfaz a sua pose enraivecida.
— Ué, está surpresa? A superpoderosa não sabia? Ele não te contou? Uau…
deve ser porque não passa de uma passatempo para ele!
— Do que está falando, sua infeliz?
Dessa vez, sou eu quem fecho os punhos e seguro-me para não marcar a cara
dela com os dedos.
— Estou falando da Sônia, a empregada da mansão que o Gael mantinha um
caso. Minha mãe que me revelou. Os dois sempre ficavam juntinhos, se pegando em
todos os cantos. Ou ficam… pois eu vi essa semana eles se beijando lá no jardim de
rosas. E as mãos do Gael estavam por todo o corpo dela.
Eu sinto meu coração acelerar e vem a imagem daquele manhã em que eu o
peguei com uma empregada bem novinha perto da fonte. Estava indo passar o
recado da festa da Kia para ele e os vi. Até me sentei no banco para “apreciar” a
cena.
— E ontem de novo, eu peguei os pombinhos conversando. Era sobre a gravidez
da Sônia.
— Não acredito em você, sua cobra malfeita!
— Está irritada, o que significa que acredita sim. Mas se não confia em mim —
ela dá de ombros —, pergunte para a Sra. Dexter. Ela foi a primeira a saber e a
ajudar a Sônia a revelar sobre a gravidez para o Gael. As duas são muito amigas e
confidentes. E eu ouvi que a Sra. Kiara prefere ela a você.
Ester sorri de novo e vira as costas. Eu fico parada, parecendo uma patética. Não
consigo revidar, nem pensar em palavras a altura para abordar essa infeliz, só a vejo
sumir pelo corredor.
Minha garganta chega a secar sem saliva. Ao engolir, parece que desceu
espinhos pelo estômago.
Será que eu estou sendo enganada pela Kia e pelo Gael?
Não posso acreditar, eu confiei minhas vulnerabilidades a eles como nunca
confiei a ninguém em toda a minha vida. Sem falar que a Kia é diferente, ela não é
como as outras mulheres traíras, que te apunhalam pelas costas. Além de que eles
demonstram que me perdoaram pelo passado. Estão me ajudando.
Merda! E agora pouco o pedido de namoro do Gael? As suas palavras de eu ser
dele, de querer cuidar de mim e das minhas tristezas? Sendo que uma delas é o fato
de eu nunca nesta vida poder ser mãe? Tá bom que aquele caipira imbecil não sabe
de nada sobre o meu passado!
Contudo, por que ele não me disse que seria pai? Estávamos ali a sós, com toda
a oportunidade do mundo para ele fazer isso. Ficou com medo do quê?
Claro, o pedido faz todo o sentido. Gael ficou com medo de eu dar um pé na sua
bunda e se preveniu para quando me dissesse a verdade – que engravidou a
empregada que vivia comendo pela fazenda.
Abro mais as suas pernas, rosnando para a visão da sua bunda empinada. Kia
tenta se erguer para se equilibrar de quatro. Porém, não resisto a acariciar as duas
ancas e dar uma tapão ardido na direita. Ela grita na hora, caindo e mordendo o
edredom.
— Hummmm — grunhi dolorida.
— Vamos brincar, amor.
Inclino-me, lambo a sua bunda e começo a passar o dedo na sua buceta já
molhadinha para ser penetrada. Ela pisca o ânus e arfa baixinho. Não demoro, pego
o vibrador, esfregando sem cerimônias no seu grelo molhado.
— Anton…
Devido aos seus resmungos exasperado, enfio o objeto todo dentro dela,
torturando-a com vontade. Fico metendo muitas vezes; oras tirando, oras botando
brusco, só para ver a minha menina gemer desesperada para sentir todo o aparelho.
Mesmo puto de tesão com o meu pau latejando, eu me controlo. Volto o vibrador
para ela se contorcer na porra. Faço movimentos de vai e vem, enquanto grita. Em
seguida, soco tudo.
— Ahhhh — ela mergulha o corpo e aperta o forro da cama, perdia nos seus
cabelos desgrenhados.
Seus gritos se tornam berros.
— Mais forte, querida?
Ela não consegue responder e eu intensifico mais ainda.
Até que contrai o abdômen, enverga as costas e goza num ápice longo, seguido
de outro orgasmo. O prazer intenso escorre pelas paredes das suas coxas. Kiara
desmorona na colchão, tentando se recuperar das convulsões. Não por muito tempo,
porque jogo a merda do vibrador no chão, retorno-a para frente e subo em cima do
seu corpo, explorando cada pedaço de pele cálida com a minha língua.
— Anton… eu… eu vou morrer…
— É, vai!
Coloco-me de joelhos na cama e arrasto-a deitada de encontro ao meu pau
petrificado. Ergo as suas pernas no alto do meu peito e penetro-a bem fundo.
Kia impulsa os seios, abre a boca e xinga-me estridente de diabo – o que me
deixou com mais vontade ser o próprio. E sou, até nos saciar ao êxtase.
— Amanhã o senhor vai ter que me carregar nos braços — ela fala cansada,
acariciando o meu cabelo.
Estou deitado entre os seus seios, escutando o seu coração bater mais calmo.
— Você sabe que carrego — ergo os olhos e fito-a, admirando a sua tamanha
beleza loira, de sardinhas marrons perto dos olhos e das bochechas. — Te amo —
digo e beijo-a no bico do peito.
Ela sorri, acariciando o meu rosto.
— Também te amo, meu amor.
— Eu sei, e estou tão feliz, sabia? Nunca estive tão contente e em paz.
— A gente merece.
— Sim… já passamos por tantas coisas. Além disso, precisamos escolher o
nome do nosso bebê.
— Anton! — Kia ri, balançando a cabeça. — Não crie tanta expectativa.
— Eu crio, porque eu sei que já está grávida. E tenho um desejo a te
compartilhar.
— Qual?
— Se for menino eu quero que se chame Rangel, como o nome do meu pai.
Ela perde a fala. Eu me inclino um pouco para beijá-la nos lábios já inchados da
minha fome incontrolável.
— É claro — sussurra emocionada. — Seria uma honra a ele colocar seu nome
no nosso bebê. Porém, e se for menina?
— Aí a gente pode pensar num bem bonito. Mas tenho certeza de que é menino.
Eu sonhei a três dias com o meu pai segurando um garotinho loiro nos braços.
Kia lacrimeja, sorrindo com os seus olhos de amor.
— Ele me dizia que era a sua cara, além de que me daria mais trabalho do que a
Melina. Dá para acreditar nisso?
— Ah, ele disse? — Ela funga o nariz. — Eu acredito. E sobre o Gieber, o que o
seu pai disse?
— Nada, pois, no final do sonho, eu era acordado por alguém me chutando. E
realmente fui.
Rimos.
— É, nosso birrento dormiu conosco pois estava chovendo e trovejando muito.
Foi nesse dia?
— Foi. E foi o dia mais feliz da minha vida. Desde a sua morte, há sete anos, eu
só tive o privilégio de sonhar duas vezes com ele.
— Fico feliz por você. Seu pai foi um grande homem.
— Ele foi — eu beijo a Kia, focando agora em provar do seu pescoço.
— Amor… — ela resmunga, afastando-me. — Estou dolorida em cada membro
do corpo. Vamos tomar um banho para descansar.
Sou obrigado a concordar e aceitar, pois estou morto de cansaço.
Quatro meses depois…
Enquanto o Anton tirou o dia para resolver os seus problemas com os bancos, eu
aproveitei que estava na cidade para ligar para a Lívia e marcar de almoçarmos
juntas. Faz oito semanas que não nos vemos. Sua última visita na fazenda foi
dedicada apenas ao Gael.
Ela achou um AP bom, também uma oportunidade espetacular de emprego na
clínica odontológica mais luxuosa da cidade e decidiu aceitar a vaga – o que deixou
o Gael meio chateado pela distância. Mas ele, na época, compreendeu que jamais
vai segurar esse furacão poderoso.
— Nossa, você está linda!
Assim que eu chego perto da mesa, Lívia se levanta e abraça-me com o
seu cheiro maravilhoso.
— Não chego aos teus pés — afasto-me, retribuindo o seu beijo na bochecha. —
Sua beleza não é deste planeta, Lívia. Com certeza não.
— Não exagera. E essa “barriguinha”?
Assim que nos sentamos, ela tocou na minha barriga.
— Quase cinco meses — sorrio. — As pessoas já estão percebendo que estou
grávida.
— Minha linda, após a sua visita na capital, pode ter certeza de que esse ou essa
herdeira Dexter dentro do seu ventre será capa de todos os jornais e revistas do
estado. “Sra. Dexter grávida do terceiro (a) herdeiro (a) do império Dexter”.
— Sem dúvidas — faço careta. — Sempre agradeço por morar no interior e não
viver da fama desse sobrenome.
— Até eu concordo — surpreendendo-me, ela dá de ombros. — A fama, o
poder, bajulações, tudo isso te transforma. E que tal escolhermos algo para
comermos logo? Acredito que esteja faminta.
Lívia pisca, pegando o cardápio para decidirmos o que pedir de entrada, prato
principal e sobremesa. Ademais, depois de informar os nossos pedido ao garçom,
ficamos bebericando da água com gás na taça.
— Como vai no seu emprego?
— Ótima, estou até parecendo a chefe. Sou mais rígida do que a nossa “patroa”
— rola os olhos e ri. — Mas agora as coisas estão mais equilibradas. Meu pai
descobriu das minhas dívidas e pagou todas. Eu me encontro há uma semana sem
falar com ele.
— Lívia! — exclamo sem crer. — Por quê? Isso foi bom… quero dizer, seu pai
é milionário, não deve nem ter feito cócegas na sua fortuna.
— Mas foi humilhante. Me senti uma adolescente irresponsável, que tem o seu
papaizinho para limpar as suas cagadas. Desculpa a palavra de baixo calão.
— A desculpo. Também, foi por isso que brigou com o Gael?
— Sim, Gael apoiou o meu pai, sendo que os dois só se viram duas vezes na
vida! Além disso, não estou brigada com aquele caipira que não vivo sem, só estou
dando uma greve de sexo e fingindo que ele igualmente não existe.
— Meu Deus, você é uma malvada sem coração. Gael está há três meses
empenhado em construir a nova casa nos hectares que comprou do Anton. Até
contratou um engenheiro de mansões.
Lívia fica quieta.
— E está num mal humor dos infernos.
— Você acha que eu não sei? — De repente, a maléfica sorri, bebericando um
pouco da taça de vinho branco que o garçom acaba de servi-la. — É que também
rejeitei o seu pedido de casamento no último sábado que veio me visitar.
— O-o quê? — Arregalo os olhos. — Você negou?
— Foi o certo. É melhor continuarmos namorando até eu ver o que vai dar. Sem
falar do filho dele, que nem sabemos se é mesmo o seu filho. Prefiro esperar nascer.
— Já disse que tenho plena certeza de que é. Deveria dar uma chance a Sônia
para conhecê-la de verdade. Sem falar que isso não interfere drasticamente na vida
de vocês dois.
Lívia inclina a cabeça e foca na bebida amarela, que brilha gelada. Noto algo
misterioso nela, um segredo… não sei.
— Ou impede?
Ela volta a me fitar com o seu olhar frio, arrepiante.
— Quer a verdade? Há quatro meses, antes de eu voltar para a capital, eu fiz
uma pequena pressão psicológica na Sônia para saber se aquela gestação não era de
outro homem e que ela não estava empurrando a responsabilidade para o Gael só
por ele ter boas condições. Como ele mesmo desconfia. Contudo… no final — Lívia
pigarreia. — Bom, eu quem sai um pouco abalada.
— Ela tem contou a sua história de vida?
— Sim. Lá no fundo, eu posso acreditar que seja realmente do Gael. Só que
ainda sim não devemos perder a desconfiança. O correto é esperar a criança nascer.
Sabe disso, Kia.
— Eu sei. Só que eu gosto dela, é como… como se me visse naquela menina.
Nossa história é idêntica.
— Entendo, já me contou o quão triste foi o seu passado. Mas tome cuidado,
você tem o coração puro e inocente para maldades. É uma boa pessoa, que eu gosto
e não desejo ver os outros fazendo mal. Por isso, deve parar de usar as emoções para
usar mais a razão.
— Também gosto muito de você, Lívia. É a minha única amiga. E sou grata pelo
seus conselhos. Sabe que me inspiro na sua personalidade e no seu empoderamento.
Além de que estou usando sempre a razão. Tenho um carinho enorme pela Sônia,
ela só tem a mim. No entanto, não a conheço direito para ser totalmente confiante.
Apenas quero o bem dela e do seu bebê. E se não for do Gael, com certeza, me
sentirei traída. Mesmo assim, não me arrependerei de ter a socorrido na gravidez.
Pois sei como é perambular com uma barriga enorme, pensando no futuro do seu
bebê.
Lívia acaricia a minha mão.
— Acho que eu jamais terei esse seu coração. Tenho inveja do quanto pode ter
amor e compaixão por alguém. E por mais que essa pessoa tenha errado com você,
na hora do desespero, não nega ajuda, amparo, nada.
Emociono-me com as palavras da Lívia. E bem na hora de continuarmos
conversando, o garçom chega com a nossa entrada, fazendo-nos focar nos deliciosos
pratos.
— E a sua dívida com o Gael, seu pai pagou? — De repente, me vem a dúvida e
questiono-a.
— Ah, acredita que não? — Rola os olhos, limpando delicada a boca com
pequenas batidinhas do guardanapo. — Foi a única dívida que o meu pai não pagou.
Mas o Gael foi perdoado por mim. Já que ele está...
— Administrando as suas finanças…
— O quê? Não acredito que aquele caipira te contou! — Lívia me fuzila
surpresa.
Sorrio, dando um gole no meu suco de melancia.
— E você acha que ele consegue esconder alguma coisa de mim? — Dou de
ombros. — Sinto muito se não queria que eu soubesse.
— Você não parece sentir nem um pouco, imagine muito. E tudo bem, devagar a
minha dignidade vai se deteriorando.
— Quanto drama, dona Castellano. Logo de você?
Rimos juntas, até ela beber da sua bebida e suspirar.
— Eu gosto dele, Kia, como nunca gostei de outro homem. E estou nas suas
mãos, pois não tenho mais o que perder.
— Pois já perdeu tudo e não há nada que lhe resta…
— Sim e não, ainda me resta a clínica em construção. Gael está pegando todo o
meu dinheiro para investir lá. Mesmo assim, quando ficar pronta, não terei capital
para a decoração, aparelhos odontológicos etc. Nada! Estou pensando em vender o
edifício.
— Poxa, eu fico triste por ter que fazer isso. Tenha calma, em breve, saberá o
que fazer.
— Estou confiando no destino… pela primeira vez.
Eu e a Lívia continuamos conversando e almoçando. E antes de nos
despedirmos para irmos embora, surge o meu pedido para que ela passe a semana de
Natal e de ano novo na fazenda. Logo que não vai trabalhar e não pretende passar na
casa dos seus pais. Sem falar que terá a oportunidade de torturar o Gael dela – e ele
ficará muito feliz. Para a minha alegria, Lívia aceita contente o convite e promete
organizar as coisas para viajar na próxima semana.
Mais tarde, eu volto para o hotel que é na frente do restaurante onde almoçamos
– surpreendendo-me ao ver o Anton sentado no ornamentado sofá do quarto,
tomando uísque.
— O que faz aqui, amor? Não ia passar o dia todo resolvendo suas coisas no
banco?
— Já resolvi tudo o que tinha para resolver. Vem cá ficar comigo.
Eu tiro o meu chapéu bonito de palha e vou até ele, me acomodar em cima das
suas coxas fortes. Anton não perde tempo em acariciar a minha barriga bem
saliente.
— Sementinha da mamãe.
Sorrio da frase que o Gieber sempre fala ao se referir ao seu irmãozinho “Brayan
Rangel”. E Anton a repetiu todo bobo.
— Nossa sementinha, plantada do nosso amor quente e apaixonado.
— Muito quente, minha doce menina — ele beija a minha boca, dando-me o
gostinho do seu uísque. — Vamos aproveitar as nossas quatro horas, antes de
voltarmos para a fazenda e para as crianças.
Anton aperta a minha coxa e mergulha seus dedos entre elas. Eu suspiro já
excitada e morta de vontade dele.
— Desde que o senhor seja bem bruto, faminto e feroz. Não tão cuidadoso.
— Caramba, Kiara. Você está grávida! Não vou dar conta de saciá-la bruto. Se
contente com o meu amor lento e gostoso.
Reviro os olhos, fazendo careta para a sua mentira deslavada.
— Nem você gosta desse amorzinho lento. Mas tudo bem — eu passo os dedos
no seu abdômen, encaminhando-me até o seu órgão evidente na calça social. — Vou
cavalgar em você o quanto posso.
— O que minha doce menina virou? — ele geme cheio de tesão por eu estar
apertando o seu pau grosso, que endurece cada vez mais na minha mão. —
Droga, amor, começa a cavalgar logo antes que eu te deixe dormente da boca!
Eu aceitei o convite da Kia de passar a semana do Natal e do ano novo na sua
casa. E viajei três dias antes da véspera, pois a clínica onde estou trabalhando entrou
de recesso cedo.
Gael quase teve um ataque cardíaco ao aparecer na mansão para resolver algo
com o Dexter e me ver sentadinha no sofá, lendo um livro de administração. Não
falei nada para ele de que passaria o feriado na mansão Dexter.
— Lívia? — Ele arregala os olhos, surpreso.
Eu ergo a cabeça, tentando me controlar diante da sua beleza de cabelos
castanhos médios, barba por fazer e de traje de cowboy, com um chapéu branco no
topo da cabeça.
Que homem!
Ele é tão lindo. Meu coração chega a saltar do peito. Minha vontade é de beijá-
lo e provocá-lo sem dó. Depois foder bem gostoso.
— A própria — pisco, fechando o livro e cruzando as minhas torneadas pernas.
Os globos oculares do meu caipira safado saltam direto nelas.
— O que faz aqui?
Ele chega perto do sofá. Eu decido me levantar e ir até ele, tocar no seu peitoral
forte. Gael suspira.
— Humm… para a sua alegria, meu querido caipira, a convite da Kiara, eu vim
passar a semana do Natal e do Ano Novo na fazenda.
— Realmente, fico muito alegre — então, exasperado, ele agarra a minha
cintura e puxa-me para um beijo faminto, cheio de pegada e de fogo.
Não perco tempo em apertar a sua bunda durinha.
— Lívia! — Gael abraça os meus cabelos com a sua mão grossa e áspera. —
Estava com saudades… — ele afasta a minha cabeça e sussurra suas palavras
necessitadas, descendo com os lábios pelo meu pescoço.
Arrepio-me com tesão.
— Saudades de me foder ou da minha companhia?
— Estava com saudades de você — resmunga e volta a me olhar nos olhos.
— Não ligo — o fuzilo maldosa. — Você e o meu pai merecem sofrer!
— Ele só teve a intenção de te ajudar.
— Ah, me ajudou tanto que a única dívida que não pagou foi a sua! Você foi
cúmplice dele!
— Isso já não estava resolvido?
Ele parece querer sorrir. Por isso dou um beliscão no seu braço.
— Ai, droga, mulher!
— Guarda essa sua língua dentro da boca ou vou cortar ela com os dentes!
Empurro-o, mas ele é mais forte e puxa-me ainda mais contra o seu corpo alto e
bruto.
— Você não tem que trabalhar, não?
— Não consigo. Eu fico pensando toda hora em você, no seu perfume, nos seus
olhos verdes — safado, ele morde o lóbulo da minha orelha. — Em você nua sobre
mim, com os seus cabelos negros soltos, grudados no suor da testa, enquanto seu
traseiro se fricciona na medida que rebola.
— Seu sem-vergonha… — Finco as unhas nos bíceps dele, não deixando barato
a sua provocação. — Minha calcinha já está ensopada e minha intimidade latejando
para ser preenchida.
Noto-o respirar mais acelerado.
— Meu pau está igualzinho — inesperado, ele esfrega a sua ereção na minha
pélvis. — Estou latejando para preenchê-la duro.
Eu gemo, descendo a mão para apertá-lo gostoso.
— Estou vendo.
— Porra… eu preciso de você, Lívia! Agora!
— Agora não. Entretanto... se voltar mais cedo, podemos matar a saudade —
sorrio boazinha.
Tenho surpresas eróticas para o meu namorado caipira. Escolhi uma fantasia de
vaqueira bem reveladoras. Quero só ver a sua cara.
Antes de se retirar para o escritório do Dexter, Gael me dá outro beijo intenso,
cheio de promessas deliciosas. Então me larga com muita dificuldade para ir
trabalhar.
Volto a ler o meu livro sobre administração de negócios. Isso até a Kia descer
com a Melina e eu não resistir a sequestrar a sua bebezinha de oito meses para mim.
Ela veio toda alegre se sentar no meu colo.
— Ela gosta muito de você. Nunca te estranhou.
— Já me considero a titia maléfica.
Kiara sorri.
— Leva jeito para crianças. Até o Gieber gosta muito da sua forma divertida.
Vive realmente te chamando de tia Lívia.
— Eu também gosto muito deles.
— Humm… Você nunca pensou em ter seus filhos? Pois já foi casada por cinco
anos e é difícil ver um casal tanto tempo juntos sem crianças — Kia pergunta
inesperada.
E eu imediatamente me calo, analisando os traços loirinhos, idênticos da mãe, na
Mel.
Sei que a Kia não questionou por mal, mas ela merece saber a verdade para não
me fazer mais esse tipo de pergunta. Elas me afetam de uma forma que não gosto.
— Desculpa se fui inco…
— Eu não posso ter filhos. Minhas tubas uterinas são comprometidas. E é um
problema hereditário, todas as mulheres da minha família tiveram, incluindo a
minha mãe.
— Eu… eu não sabia. Eu sinto muito.
Não encaro a Kiara. Não quero ver os seus olhos de pesar.
— Está tudo bem.
— Mas a sua mãe… ela te teve.
— Foi porque se tratou desde os trezes anos, devido ao medo de ter câncer
uterino como a minha avó que morreu cedo, aos 18. Mesmo assim, foi uma luta para
engravidar com a ajuda da tecnologia da época. Papai disse que ela sofreu diversos
abortos espontâneos.
Como eu… — penso triste.
— E quando soube pela milésima vez que estava grávida, resolveu se enfiar
numa cama até eu nascer. Só se levantava para ir ao banheiro e às vezes, tomar um
ar no jardim. E hoje eu não posso dizer que ela não me ama. Desde que nasci, minha
mãe negou qualquer tipo de babá. Ela não queria me compartilhar com ninguém.
Claro, a não ser com o meu pai. Me tinha como a sua boneca, ou melhor, o seu
sonho realizado.
— E você nunca tentou… digo, se tratar para ter um filho?
Enfim, eu encaro a Kiara e ela fica quieta, constrangida.
— Durante quatro anos do meu casamento, esse foi o meu objetivo obsessivo e
quase doente. No entanto, tive inúmeros abortos. Não consegui segurar nenhum
feto. Já consultei centenas de médico, dentro e fora do Brasil e eles me disseram o
mesmo. Não posso ter filhos. Devo me conformar com a realidade.
— Não sei o que te dizer — ela mareja os olhos. — Isso é triste.
Eu sorrio, abraçando a Melina e tentando não me abalar.
— É a vida. Algumas mulheres têm a benção de ser mãe e outras não. Só que
isso não me dói tanto como antigamente. Sou mais conformada hoje em dia. E, por
favor, vamos mudar de assunto, falar sobre coisas boas. Me conte do seu diploma de
conclusão do ensino fundamental e de como está a administração da sua plantação
de flores.
Kiara concorda, animando-se ao contar os detalhes de como está sendo ser uma
“mulher de negócios” e fico muito feliz por ela e pelas suas conquistas
independentes.
Assim que eu saia da mansão para ir trabalhar, eu fui parado pela Ester, que veio
correndo até onde eu estava com o meu cavalo.
— Gael! — Ela chega perto de mim, ofegante. — Espera, eu preciso…
— Eu já disse para não me procurar, Ester!
— Por favor, preciso te pedir desculpas por aquele beijo! — Ela súplica
desesperada.
— Já a desculpei. Mas volto a repetir que não quero mais que me procure!
Chega disso, não me deixe ser grosso para magoá-la mais do que já está fazendo
sozinha. E eu achei que estivesse esses dois meses namorando com o novo motorista
que o Dexter contratou. Que estivesse seguindo em frente com ele e a sua vida!
— A-agente está namorando. Ele é um cara legal. Porém, eu fiquei desesperada
ao ouvir escondido da Kia e da dona Judite que aquela mulherzinha ia voltar para a
mansão e que você tinha pedido ela em casamento. Você está cometendo um erro. Já
não basta ter caído no golpe da Sônia, de acreditar que aquele filho é seu, você vai
cair no daquela mulher diabólica, que só quer brincar com os seus sentimentos?
— Isso não é da sua conta, Ester. Não se envolva com a minha vida, nem com a
Lívia, nem com a Sônia. E para o seu bem, continue seguindo em frente com o seu
namoro. Realmente aquele rapaz parece ser gente boa. Ele vai te fazer muito feliz.
Eu viro as costas e subo nervoso no cavalo.
— Eu nunca vou ser feliz! Não se não me der uma última chance! É só o que te
peço!
— Não volte a repetir isso! — brado, já irritado por sempre ter que dizer a
mesma coisa para ela. — Para te fazer cair em si de vez não vou mais me dirigir a
você, nem aceitar que fale comigo. Já te dei inúmeras chances de sermos amigos, só
que você está passando dos limites. Chega de se aproveitar das minhas boas
intenções!
— Não, Gael! Por favor, não faça isso! E-eu quero ser pelo menos a sua amiga!
— Ela chora vindo agarrar desesperada na minha bota. — Me desculpa, por favor.
Me desculpa. Seja meu amigo, não me despreze.
— Eu sinto muito, também será o certo para que não se humilhe desse jeito
nunca mais. Isso me magoa.
Empino o cavalo para trás, segurando firme nas rédeas. Ester se afasta em
lágrimas e com o rosto vermelho de fúria.
Tento não me entristecer mais pela sua evidente dor.
— EU NÃO VOU TE PERDOAR SE FINGIR QUE EU NÃO EXISTO! —
grita. — GAEL! EU NÃO VOU! NÃO FAÇA ISSO! GAEEEL!
Não a respondo, viro a cabeça do Amarelo, aperto as suas costelas com os
calcanhares e saio a galopes fortes, ainda ouvindo a Ester chamar em berros pelo
meu nome. Sinto uma grande pontada no peito. Contudo, não aguento mais vê-la se
humilhando e eu tolerando o seu comportamento. Para o seu bem, é melhor o fim
definitivo. Não quero que se aproxime de mim.
Eu caio de joelhos no chão, fincando as unhas na terra e chorando de raiva,
desespero e de dor.
— ELE É MEU! GAEL É MEU AMOR! — grito entre os meus engasgos.
Não aceito perdê-lo! É tudo culpa daquela desgraçada! Ela vai se arrepender
de ter se metido comigo!
Cuspo no chão e ergo-me em prantos.
Se ele não vai ser meu, também não ver ser dela, nem de ninguém!
Então corro pelo gramado, indo na direção dos dormitórios, que ficam perto
da cozinha. Ao entrar por trás, no corredor das empregadas, onde tem quatro portas,
eu vou direto para a última porta do quarto da Joana e da Sônia e invado-o abrupta.
— E-Ester! — Sônia, que estava colocando a touca de trabalho, se assusta
pelo meu rompante. Chegou a deixar o detalhe do seu uniforme cair. — O que faz
aqui? Some do meu quarto!
— Cala a boca, sua infeliz!
Eu bato a porta e tranco-a com rapidez, igualmente com fúria e descontrole.
Sônia arregala os olhos assim que eu me viro devagar para a frente.
— Eu vou falar para a Kia o que você fez! Ela vai te colocar na rua! — A
"coitadinha" dá vários passo para trás. — Me deixa em paz!
Mas voo sobre o seu cabelo e jogo-a em cima do tapete, enquanto grita,
tentando me chutar e me arranhar.
— É eu quem posso te ferrar, sua ladra de joias!
— VOCÊ QUE É A LADRA DE JOIAS!
Sônia quase alcança o meu pescoço. Porém, empurro-a na parede e bato a
sua cabeça na cômoda de roupas.
Ela enfraquece tonta, gemendo de dor.
— Eu tenho a minha mãe ao meu lado, a governanta de maior confiança da
Kiara. E você sabe que se eu disser para ela quem foi que pegou as joias, ela conta
tudo para a nossa patroa... que a sua querida amiga Sônia que a roubou!
— N-não, não é verdade — ela chora. — Foi você! Foi você!
Eu sorrio, puxando mais forte os seus cabelos loiros.
— Imagine você sendo jogada na rua pela Sra. Dexter e principalmente pelo
Sr. Dexter? E o Gael? Ele não acreditaria na sua defesa, Sônia. Estaria na sarjeta,
sozinha, passando fome e com uma criança bastarda na barriga para criar.
— Para, Ester! Por que está me culpando? — Sônia chora cada vez mais,
tentando se desvencilhar de mim. — Não faça isso, me deixa em paz, por favor!
Nunca te fiz mal nenhum!
— Você acha que eu vou sentir dó?
— Por favor!
— Só que eu posso até sentir um pouco... se fizer um favorzinho para mim e
para nós duas...
— Não vou fazer nada para você, é uma louca, me larga!
— Não está em condições de negar — aproximo a minha boca do seu
ouvido, sem soltar o casco da sua cabeça. — E se deseja que eu a deixe em paz e
que não te faça ser jogada na sarjeta, o favorzinho valerá a pena...
Eu estava terminando de secar o meu cabelo com o difusor, até que inclinei o
pescoço e vi o Anton encostado na porta do meu closet, de braços cruzados, me
assistindo sério.
Não sei a quanto tempo ele estava assim, calado, me observando.
— Oi, amor, o que foi?
— Nada, só estou admirando a beleza da minha linda mulher.
Sorrio, sem me importar de estar só de calcinha na frente dele. Já não tenho
tanta vergonha da minha nudez, quanto mais estando grávida. Me sinto linda com
essa barriguinha.
— Você deveria ir se arrumar. Daqui a pouco começa a ceia.
Ele fica calado, me encarando pelo reflexo do espelho.
— Está tudo bem? Está acontecendo alguma coisa que você não queira me
contar? — Cansada, resolvo questionar o seu novo comportamento. — Anda tão
estranho ultimamente, observador e pensativo demais.
— Depois eu te conto com mais calma.
Isso significa que tem algo acontecendo?
Sem acreditar que existe realmente algo, eu desligo o difusor e o fito olho a
olho.
— Me conta, eu não aguento esses enigmas.
— Não, outra hora eu te conto. Hoje é uma noite muito especial para você e para
a nossa família. E é isso o que importa.
— Mas eu fiquei preocupada. Parece ser algo…
— Não se preocupe à toa — ele me interrompe, descruzando os braços fortes e
se desencostando do arco. — Vou tomar banho para me arrumar. Se eu continuar
aqui posso te pegar de jeito e atrasar as coisas. Até daqui a pouco, amor.
Anton me dá um olhar obsceno/safado e vira o corpo másculo, para sair e me
deixar morrendo de curiosidade.
O que tem para me contar?
Suspiro, “conformada”.
Se ele disse que não era para me preocupar, manterei a curiosidade discreta pelo
menos esta noite. Pois de fato é uma ocasião muito especial para mim. Nada pode
estragar o nosso momento em família.
Natal é uma data feliz, de união, amor e significa o nascimento de Jesus. É um
momento de renovar a nossa fé.
Mais tarde, com tudo pronto, eu só fiquei aguardando o Gael chegar – e ele
chegou por volta das 22h40. Vovô também está aqui para me deixar cheia de
felicidade.
— Quero saber onde está a Ester. — Felícia quem diz, olhando para todos os
cantos, a procura dela.
— Está cedo, ela vai vir.
— Não tem o porquê de estar atrasada.
— Lívia também não desceu ainda. Não se preocupe, Felícia. Tome do seu
champanhe e relaxe.
— Obrigada, Kia. Vou ver a mesa, com licença.
Assinto. E aproveito que ela me deixou sozinha para ir até o Gael e a Maria,
fazer companhia a eles.
Anton está sentado no sofá, conversando com o meu avô e com a minha mãe.
— Lívia não desceu? — Mal cheguei para me enturmar e o Gael já me
questionou pela amada.
Noto que a Maria ficou séria diante do nome “Lívia”.
— Deve estar se arrumando. Se bem que eu me lembro de tê-la visto já pronta
no corredor. Mas está cedo. Até meia noite todos nós reunimos.
Maria me observa, parece até estar com o mesmo olhar estranho do Anton.
Ela há alguns meses não anda muito contente com a vida amorosa do Gael.
Aliás, a notícia de que será avó a fez discutir com ele. Ela acredita que o bebê da
Sônia não seja dele. Também que a Lívia, a atual namorada do filho, está
interessada é no seu dinheiro.
Eu claro, estou quieta no meu canto, pois gosto da Maria e não quero me meter
na vida pessoal do Gael. É ele quem tem que decidir as suas escolhas. Sônia está
com seis meses, logo o bebê nascerá para ele confirmar, ou não, a paternidade.
Só espero que até lá ele e a Lívia se casem. Torço demais pela felicidade dos
dois. São um casal bonito, apaixonados e cheios de provocações. Eles se amam e
estampam esse amor a cada troca de olhares. Infelizmente dona Maria não enxerga
isso. Ela tem certeza de que a Lívia não o ama e que ela só quer se aproveitar dele
para depois deixá-lo com um buraco no coração.
A entendo, é mãe e só deseja a felicidade do filho. Porém, ainda verá que está
enganada em relação a Castellano. Não há outra mulher para tirar o Gael da zona de
conforto, senão ela. E não há outro para ajudar, socorrer e administrar cada pedaço
da vida fria, amargurada, traumática e infeliz dela, senão o Gael e o seu jeito
romântico, protetor. Os dois são perfeitos.
A única coisa que me preocupa é quando o filho do Gael vir ao mundo. Já que a
Lívia não pode gerar bebês, ela pode se abalar em não ter outro dele. Pois me parece
sim que ela sonha em ser mãe. A atenção, o amor que tem com os meus filhos é sem
igual. Sinto todo o seu carinho e encanto ao encher as crianças de beijos e abraços.
E eles a adoram, Gieber vive chamando a tia Lívia pelos cantos.
Ou quem sabe eu esteja enganada? Aquela bela mulher é surpreendente, talvez
ela nem problematize isso como eu.
Tomara que não. Gael seria capaz de sacrificar o que fosse pela Lívia. Ele
mesmo me disse isso semana passada, ao confessar triste que ela negou o seu pedido
de casamento. Contudo, em suas palavras, ele não desistiria. Aquela “madame da
cidade” um dia o diria sim. Poderia demorar quantas décadas que fosse.
Fiquei tão emocionada que o abracei, apoiando o meu melhor amigo.
Lívia será dele para sempre. Eles nasceram um para o outro.
E no final... o amor sempre ganha.
Cinco horas antes – 18h40 da tarde.
Preocupada com a Sônia, após o café da tarde eu fui atrás dela. Mas não a achei
em nenhum canto da enorme mansão. Perguntei para uma empregada onde estava a
sua colega de cabelos loiros e ela me disse que estava descansando no dormitório
onde dividem juntas. Também perguntei onde ficava o dormitório e após me
informar eu caminhei em direção ao local de corredor comprido.
Ao parar diante da porta informada eu dou duas batidas. E assim que ela abre,
arregala os olhos e aperta a maçaneta, surpreendida pela minha presença.
— Olá, Sônia. Posso entrar?
Ela não responde, continua surpresa e piscando os olhos sem parar.
— Sônia?
— S-senhorita… eu… eu — ela gagueja, engolindo em seco.
Então, sem a mesma mandar eu passo autoritária por ela na porta e entro no seu
quarto, vendo uma mala fechada sobre a cama. Com o cenho franzido eu volto a
olhá-la – que imediatamente dá um passo apavorado para trás. Está vestida com um
jeans velho, uma blusa de manga e botas de cano curto. Parece que vai sair, não
dormir.
— Onde pensa que está indo?
Ela mareja os olhos.
— Desculpe-me, Srta. Lívia. Eu vou embora para sempre.
— Como assim, Sônia?
— Eu sinto muito. Eu preciso.
Me aproximo dela, fechando a porta.
— Sente-se na cama! — mando e ela obedece sem me contestar. — Seja
direta e sincera. Quem roubou as joias dos seus patrões?
Sônia volta a esbugalhar os olhos e a engolir em seco.
— A senhora vai me odiar, vai querer apoiar ela… vai...
— Foi a Ester?
Ela então assente em lágrimas.
— Desculpe-me, Srta. Lívia.
— Que merda. Por que me pede tantas desculpas, menina?
— É que a Ester fez isso para ter dinheiro fácil. Só que faz quatro meses que ela
não pode vender as joias, pois o delegado está investigando os penhores da região.
Eu descobri que foi ela porque a peguei em flagrar, vestindo os colares e os brincos
no dormitório. M-mas foi o meu inferno… ela está me perseguindo, me torturando e
me ameaçando para me manter calada.
— E o que mais? — Cruzo os braços. — Por que está se deixando ser
manipulada por aquela imbecil burra?
— Porque ela disse que pode fazer a Sra. Dexter acreditar que fui eu quem a
roubei. Já que a mãe dela é a governanta. E as duas estão aqui na mansão há uma
década. Só que eu só faço três anos… Kia duvidaria de mim, não dela.
— E o seu plano genial é fugir bem no meio da noite de natal, enquanto toda a
casa está ceando?
— Sim — ela entra em prantos, com um emocional que está quase me fazendo
revirar os olhos. — Eu prefiro ir embora da mansão assim, do que amanhã ser
enxotada pelo Sr. Dexter e pela Sra. Dexter. E me desculpe, Srta. Lívia. me perdoe.
— Estou perdendo a paciência com tantos pedidos de desculpas. Se
recomponha, Sônia!
— A senhorita vai me odiar, vai…
— O que a Ester está planejando? — Questiono impaciente, mesmo já sabendo
o que é, resolvo só ter a certeza.
— Já que a Ester não pode vender as joias, ela vai incriminar eu e a senhorita,
para se livrar de nós duas numa única “jogada”. Ela vai fazer isso esta noite. A
própria disse na minha cara.
— E que boa pessoa você é, hein? Ia fugir para me deixar a bomba toda na mão.
Boa pessoa ainda é um elogio para você. Eu deveria era te chamar de burra! Sabe
que fugindo daria mais certeza de que foi você a ladra, né?
Sônia se ergue chocada.
— Não me chame de burra! E eu sei que daria certeza! Mas não importa, de
qualquer jeito eles iriam acreditar que fui eu quem roubei a Kia! Não tenho
vantagem! Sou uma pobre, sem teto, sem família, sem ninguém! E que para
completar, ficou grávida de um homem que é rico! Eles já pensam que eu sou uma
vadia interesseira! Que se deita com todos os peões da fazenda! — Sônia berra
engasgada. — Uma vadia!
Eu me calo.
— E que se dane, eu não tenho mais nada a perder! Eu vou embora e construir
uma vida onde for! Nem que seja no meio de um chiqueiro com os porcos! Nem
que… nem...
Pela primeira vez os meus olhos ardem. E suspiro, me controlando ao puxá-la
para um braço que nem eu acredito ter realizado.
Sônia desaba nos meus ombros.
— Está sendo egoísta com o Gael, a Kia e o seu bebê. Além de precipitada. Eu
quero também que saiba que desta vez eu realmente acredito em você. Não estou
sendo falsa como na última vez, naquele corredor.
Sônia se afasta para me olhar muito surpresa. Seus olhos brilham em lágrimas.
Acho que ela não esperava que eu confessasse que estava só atuando aquele dia
– o que eu realmente estava fazendo. Nunca deixei de desconfiar dessa menina.
Exceto por hoje.
— Não estava sendo sincera? A senhorita também desconfi…
— Sim, sim. Eu desconfiava que você só queria dar um golpe no Gael e que
fodia pela fazenda com vários peões. E me desculpa por isso.
Eu aperto os olhos, nervosa por pedir desculpa pela quinta vez em toda a minha
existência.
— Agora é diferente. Se acalme, entendeu? Estou do seu lado. E se for para
cairmos em algum plano, vamos cair atirando. Porque eu sou a Lívia Castellano e
nem o diabo é páreo para mim. Ou talvez estejamos no mesmo patamar — sorrio.
— 10 a 10.
Momentos atuais...
Por volta das 11h eu ligo para casa, para saber se a Kia e as crianças estão bem.
Ela me confirma mil vezes que está bem, depois de eu igualmente perguntar sem
parar se ela comeu, repousou e não fez esforços. No final, finalizo a ligação dizendo
que a amo e que logo, logo voltarei para os seus braços. Emotiva devido a gestação,
minha doce Kia chora, dizendo que também me ama e que é para eu ligar a cada
meia hora para informar se a Sônia já saiu da cirurgia. Eu respondo um “ok”, repito
um outro “eu te amo” e desligo o celular.
— Kia disse algo do Gael? — Maria pergunta, sentada ao meu lado.
— Sim, que ele estava almoçando para pegar estrada e viajar para a capital.
Lívia também o acompanhará.
— Hum… — Maria me observa envergonhada. — Devo desculpas a Lívia e ao
meu filho… acredito que ela não tenha sido capaz de roubar o senhor e a sua esposa.
Estava julgando-a pelos acontecimentos do passado com a Lorenza.
— Eu também devo desculpas a Castellano e ao Gael. Está mais do que óbvio
que foi a filha da Felícia que nos roubou e agora fez essa barbaridade com a Sônia,
que estava esperando um filho do Gael.
— Tento a cada instante não pensar nisso, devido a minha querida amiga Felícia.
Eu estou sofrendo por ela.
— Kiara também me contou que a Ester tentou cortar o rosto da Lívia essa
madrugada, após as duas terem ido para a floresta de eucalipto próxima da mansão.
Gael e o motorista chegaram a tempo de evitar o pior. Mas ainda assim, ao tentar se
defender do estilete, Lívia saiu com as mãos cortadas. Quando chegar aqui no
hospital ela vai cuidar de receber os pontos.
— Minha Nossa Senhora… — Maria fecha os olhos. — Estou num pesadelo.
Não acredito que esse horror está acontecendo. Eu sinto tanto, tanto pela Ester. A vi
nascer, crescer e tão pequenininha correr entre as minhas pernas na cozinha, toda
lindinha com aqueles cabelos ruivos. Que Deus ajude a Felícia e a sua filha.
— Decidi, até o momento, que devido aos meus sentimentos pela Felícia, não
acionarei o Laerte para prendê-la.
— Não Sr. Dexter, realmente não faça isso. Ester é uma pessoa trabalhadora,
educada, humilde, que só está obcecada pelo meu filho. E por mais que tenha
cometido essa barbaridades, Felícia não merece ver a sua menina atrás das grades.
Ela não merece isso. Já perdeu uma filha no passado. Deve ter outra punição que
possa ajudar a Ester a mudar de vida, reconhecer os seus erros e tentar ser melhor.
— Não se preocupe, já estou pensando no que fazer.
— Com licença — um homem baixo, vestido com um uniforme azul de
cirurgião nos interrompe ao parar na nossa lateral.
Ele segura uma prancheta.
Eu me levanto calmo, acenando educado com a cabeça.
— Olá, bom dia.
— Bom dia. Eu sou o Dr. Lucas Gabriel, médico obstetra. O senhor é o familiar
de Sônia De Oliveira Batistas?
— Não, mas eu sou responsável por ela e estou arcando com todos os custos do
hospital. O filho que esperava era do meu… irmão. E ela não tem família, além de
nós.
— Tudo bem — o médico assente, com um olhar muito profissional, antes de
começa a falar: — Assim que ela deu entrada pela emergência estava no seu
prontuário que o feto estava em óbito há mais de seis horas e os procedimentos para
curetagem seriam o adequado. No entanto, se encontrava muito debilitada devido ao
veneno ingerido e não suportaria as contrações para expulsar. Por isso optamos pela
cesárea, o que igualmente seria o certo para salvar a sua vida.
Maria e eu permanece atentos à medida que o médico fala.
— Sim?
Ele me fita.
— Só que na sala cirúrgica, com a paciente já na mesa e com tudo sendo
preparado para a cesárea, notamos que milagrosamente – ou por um erro no
agnóstico de onde foi transferida – o coraçãozinho da bebê começou a dar sinal no
aparelho oxímetro. Foi então que em menos de cinquenta segundos nos vimos tendo
que lutar por duas vidas... E infelizmente a mãe não resistiu — o médio suspira,
cabisbaixo. — Sinto muito, tentamos fazer de tudo pela paciente, mas ela sofreu
uma hemorragia durante o parto. Não conseguimos salvá-la.
— N-não... — Maria me olha, negando-se. — Não, não pode ser Sr. Dexter.
Na mesma hora ela cai em prantos na cadeira. Eu molho a garganta, também me
sentando para respirar e controlar o baque repentino da notícia.
— Jura que temos que ficar esse final de semana na sua mãe? É como entrar
num buraco de cobras peçonhentas. Não existe outra tortura pior, que envolva
sangue e amputação de membros? Preferiria.
— Sem dramas, amor. Precisamos raptar a nossa filha das mãos da matriarca
Castellano. Além de que não será tão infernal assim. Tem sempre o meu pai que te
ama e te venera mais do que um Deus.
Eu bufo, abotoando nervoso a minha camisa diante do espelho do quarto. As
malas já estão prontas. A minha é só uma pequena de rodinhas. Já a da Lívia daria
para uns dois meses sem exagero.
— Ela vai ter enchido a Sofia de coisas milionárias, está lá desde quinta-feira.
— Vai ter sim. Mas a nossa menina é bem-criada, nada a influência
drasticamente.
— Quero nem imaginar quando ela fizer seus dezoitos anos e for morar com a
cobra da sua mãe. Até se formar na faculdade será uma metida da cidade. Uma
megera Castellano!
— Quanto exagero. Sofia não é assim. E sabe muito bem disso. Ela ama a vida
no campo. Ama o contato com os animais e a natureza. Por isso ela vai cursar
agronomia. Como você, o seu herói.
— Mas a nossa filha também gosta de coisas caras e de andar na moda, igual a
você.
— Ok, ela gosta sim. Isso é um crime? E chega desse seu mal humor. — Lívia
termina de arrumar o seu cabelo e vem até mim, me agarrar pela gola da camisa e
acariciar o meu peitoral rígido. — Está tenso, meu caipira. Relaxa esses músculos
deliciosos.
— Se for para relaxar, eu vou te tacar de quatro na cama! — Pressiono a sua
bunda e sua pélvis contra o meu pau. — Odeio ter que suportar a sua mãe. É o meu
inferno, a minha tortura depois de você.
— Você sabe que, lá no fundo, bem lá no fundo, acho que por trás do coração e
umas duas costelas ela sente algo bom por você, né?
— Sente que seria bom a minha morte? Não sei nem como adotou a Sofia como
neta.
Lívia ri.
— Surpreendente? Logo que tem um preconceito acirrado com tudo, ainda mais
pela geração sanguínea da família Castellano. Mas talvez eu saiba, e nunca vou
poder te contar — minha diaba pisca, descendo a sua mão safada para o meu
volume na calça e aperta-me sem dó.
Porra, já fiquei duro. Bendito pau traidor.
— O que sabe? — pergunto, segurando a vontade de gemer.
— Acho melhor deixar para viajarmos amanhã de manhã, o que acha? — Lívia
morde o meu pescoço, empurrando-me para trás.
Eu caio sentado na cama, seduzido pelo seu controle em me fazer perder a
cabeça e focar só nela; nos seus movimentos femininos, na sua beleza sexy, nos seus
olhos verdes dominantes e no seu perfume de âmbar, que eu amo tanto.
O que estávamos falando mesmo?
— Acho ótimo, assim diminui mais o meu convívio com a cobra da minha sogra
endiabrada.
Ela ri e puxo-a rápido, de pernas abertas para o meu colo.
— Única endiabrada aqui serei eu, meu caipira — sussurra. — Te amo.
— Também te amo minha megera. Espero que esteja feliz.
Lívia inclina as costas, segura o meu rosto e deposita um beijo demorado sobre
os meus lábios.
— Por que você sempre me faz essa pergunta? Se eu estou feliz?
— Porque a minha felicidade é a sua felicidade. E isso é o que importa.
Vejo que se emocionou. Chegou a perder a voz pela surpresa do que eu disse.
— Pois saiba, Gael, que eu sou a mulher mais feliz do mundo ao seu lado. Eu
tenho um príncipe para chamar de marido. Um homem que me ama acima dos meus
erros. E que tenta mudar eles comigo, me aconselhando e sendo compreensivo.
Você é tudo o que eu nunca mereci. Eu devia ter lhe dado uma família enorme.
— Lívia já conver...
Lívia coloca o dedo sobre a minha boca, interrompendo-me, e calo-me.
— Eu sei que já conversamos centenas, milhares de vezes sobre filhos. E sei que
não se importa, porque demostra todos os dias o quanto me ama e o quanto somos
completos. Eu, você, a Sofia e os nossos dois cachorrinhos. E eu te amo muito por
ser tão perfeito, tão compreensivo, tão maravilhoso. Há anos cheguei à conclusão de
que filhos não são tudo. Eles crescem, viram adultos, se casam, saem das nossas
asas e...
— E no final resta só nos dois... os pais — completo em sussurro a sua frase.
— Isso — ela sorri lindamente para mim. — No final, resta só nos dois para
envelhecerem e morrerem juntos. Obrigada, Gael. Obrigada por me fazer feliz,
amada e completa. Deus me deu você e a nossa pequena Sofia... que já é quase uma
mulher. — Lívia sorri de novo. Seus olhos brilham emocionados. — Obrigada, meu
amor.
— Eu que agradeço minha esposa mandona e implacável. Igualmente sou o
homem mais feliz do mundo e quase mais completo da face da terra. E quase porque
agora só me falta esses seus lábios vermelhos nos meus...
Sorrimos, agarrados um ao outro, entrelaçando alma com alma, lábios com
lábios, diante de um beijo carregado de companheirismo, alegria, paixão e amor. O
mais delicioso e verdadeiro amor.
Um amor de verdade.
Fim...
1 – HOMEM DE VERDADE
2 – AMOR DE VERDADE
3 – COMPRADA SEM AMOR (SPIN-OFF)
RESENHA POR:
LUANA DOS SANTOS DE ALMEIDA
Sexy, misterioso, deslumbrante!
São essas palavras que posso definir o livro "Amor de Verdade". Ao ler esse
livro, pude perceber diversas situações que ocorrem na vida real, é delicioso o modo
como vemos as personagens e a suas mudanças. Há momentos em que raiva,
tristeza, ódio e amor estiveram presente em mim, durante a leitura, me surpreendi
muito com as personagens. Como diz o ditado, "o amor e o ódio andam lado a lado"
e é justamente isso que vemos ao longo de cada capítulo. O ódio e o arrependimento
das personagens principais. No começo do livro, ao prosseguir a leitura, percebi o
quanto a paixão nasce forte e se mantém viva mesmo diante de diversas
dificuldades, isso é algo que me fascinou desde o começo, apesar de começar o livro
odiando um dos personagens principais, percebi o quanto perdoar e escutar são
coisas necessárias na nossa vida e que quase nunca acontecem.
É divertido ver a trajetória de cada personagem, mas o importante também é
vermos e entendermos seus pontos de vistas, o casal principal teve diversas brigas e
discussões, devido ao fato de não conseguirem manter uma conversa ou buscar
entender o lado um do outro. Porém, com o passar do tempo, vemos como eles
evoluem nesse quesito, já conseguem falar abertamente sobre o que sofreram.
Não posso esquecer das partes quentes, a conexão que o casal tem, o
romantismo dentro ou fora do quarto é algo surpreendente, a protagonista aprendeu
a explorar seu lado sensual e mostrar de verdade como se joga um jogo de sedução,
seu marido não fica para trás. Eles nos envolvem em uma narrativa de mistério,
amor, paixão e em um desejo ardente que os consome.
Confiança foi algo que foi muito abordado no livro, ela é de extrema
importância pois através das emoções e o modo de viver percebemos que a
confiança é algo inquebrável. As decepções causadas acabam gerando uma
confiança, no outro, muito frágil a ponto de desconfiarem se realmente se amam de
verdade. Porém, ao longo do tempo, vemos que confiança em quem amamos é algo
mais que singelo e verdadeiro, é onde depositamos tudo de si e ao mesmo tempo é o
nosso lugar seguro.
O livro me trouxe experiências maravilhosas e me mostrou o quanto somos
fortes e diversas situações que ocorrem na vida real. Nem tudo são flores, a cada
novo dia é uma nova realidade um novo dia de demonstrar amor a pessoa que se
ama e foi isso o que as personagens me mostraram. Amar é algo difícil e requer
compreensão, conforto e principalmente lealdade, o casal em si foi um exemplo de
que amar alguém exige uma confiança absurda no outro.
A cada demonstração de amor entre eles, era como se eu fosse expectadora
de um romance em vida real. Nem tudo foi fácil, teve brigas, discussões, e muito
amor envolvido. Percebo também que no livro há segredos do passado ao qual
atingem muito o presente deles a ponto de poder prejudicar o futuro. Mentiras,
novamente, são contadas, mas dessa vez a confiança um no outro falou mais alto.
Aprendi também que amor-próprio está em primeiro lugar. A protagonista
em si mostrou que devemos nos amar em primeiro lugar antes de amar alguém,
devemos sempre nos priorizar e sermos que queremos ser. Foi uma das coisas que
mais amei ao longo do livro e isso me fez sentir uma nova pessoa. É sempre buscar
o melhor de nós mesmos sem escutar opiniões alheias onde elas têm o objetivo de
diminuir você.
Foram diversas lições ao longo da leitura, muitas que realmente foram bem
verdadeiras. A história trouxe, além de uma história de amor, diversas situações
complicadas, mas sempre mostrando a solução delas. Foram momentos incríveis de
ler e poder levar esses ensinamentos para a vida real.
É o melhor livro que já li e tive o prazer de conhecer! As lições serão algo a
se guardar para sempre, os momentos hilários do livro, as provocações, o amor, o
desejo que os consome são algo a se lembrar para sempre.
Eu não poderia esquecer de falar também do final incrível desse livro, para
as personagens que começaram com o "pé esquerdo" e agora estão felizes, juntos e
com a sua pequena e feliz família. Não existe felizes para sempre, não é um conto
de fadas, é uma história bastante realista e de bons argumentos, então aprendemos
que é nós que devemos fazer o nosso próprio final feliz.
Então o livro me ensinou a lutar pelo o que eu quero, mesmo tudo dando
errado, a maior motivação para isso é a nossa própria força de vontade e
determinação.
Por último, quero agradecer a autora incrível, Rafaela Perver. Obrigada por
ter feito um livro onde nada é perfeito, ao contrário, é tudo imperfeito, mas ao
mesmo tempo é algo necessário. Só tenho a agradecer por escrever algo incrível
como essa obra. Espero que você escreva muitos outras e a cada novo livro, ele
traga um motivo para sorrir e se apaixonar, muito obrigada por tudo!
I Love You, Badautora! ❤❤
NOTA DA DA AUTORA
Da até um aperto no coração ao ler “fim”. Como amei escrever esses quatro
protagonistas. Kiara e Anton e Lívia e Gael, eternos em nossos corações e
lembranças.
Em breve também lanço o spin-off dark contando a história do inicio do
casamento da Kiara e do Anton, desde o dia em que ele a comprou do seu pai e a
levou para morar na fazenda. Sigam-me no Instagram e não percam esse
lançamento, nem as notícias sobre os livros físicos da Duologia Verdade. Links na
próxima página.
Também não deixem de me ajudar, avaliando Amor de Verdade e
conhecendo minhas outras obras. Obrigada pelo carinho, vejo vocês logo, logo.
Beijão!
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OUTROS LIVROS DA AUTORA
Me tenha (Livro 1 da Série Alencar)
Me Conquiste (Livro 2 da Série Alencar)
Homem De Verdade (Livro 1 da Duologia Verdade)
Sereyma (Livro Único)
HOSS – Série Agiotas Em Chamas (Livro 1)