Lily White - Cinco
Lily White - Cinco
Lily White - Cinco
[1] Rainey faz referência à palavra em inglês rainy, que significa chuvoso
em português.
[2] Em inglês, a expressão Run the train (conduzir um trem) está associada
à prática sexual onde vários caras em fila transam com uma garota.
Passado Mamãe passou por momentos difíceis depois que David
morreu. Ela estava arrasada, incapaz de agir normalmente, sua capacidade de
se levantar à tarde estava praticamente ausente e ela perdeu um de seus
empregos por causa disso. A vida estava piorando rapidamente para ela e
havia muito pouco que eu pudesse fazer para ajudá-la.
Não que eu não tenha tentado. Eu preparei o jantar e a abracei
quando ela chorou. Fiquei mais em casa porque tinha muito medo de deixá-la
sozinha. Algo dentro dela morreu junto com David e eu não era especial o
suficiente – importante o suficiente – para ela continuar.
Depois de uma semana, ela começou a se trancar em seu quarto à
noite, sem se importar se eu estava lá ou não. As regras que havia
estabelecido para mim enquanto David estava vivo se foram. Eu era livre
para vagar novamente. Inferno, eu provavelmente poderia ter trazido toda a
família Connor e feito sexo com eles na sala de estar e ela não teria se
importado. Foi ruim desse jeito.
Mesmo assim, tentei, e por duas semanas menti para Rowan,
alegando que ela não me deixava ir até a casa dele e que o proibira de vir até
a minha. Essa mentira não era tanto para minha mãe, e, sim, para ele.
Continuei dizendo a ele para voltar para Megan, para buscar uma nova vida,
para sair de Clayton Heights e se tornar algo porque eu me recusava a ser a
garota que o arruinou.
Rowan tinha potencial, mais do que qualquer um de nós. E por eu
poder ver a verdade do que estava dentro dele, não pude suportar o peso de
impedi-lo de ver por si mesmo.
Na primeira semana, ele resistiu. Ele continuou batendo na minha
janela e vindo à porta da frente. Eu o mandava embora todas as vezes,
chorando depois de vê-lo atravessar o quintal e voltar para sua casa.
Rowan voltou para sua namorada no final da segunda semana. Seu
carro sumia na maior parte do tempo e depois de alguns dias, me senti
confortável para ir à casa dos meus vizinhos novamente.
Mamãe não era a única pessoa com dificuldades. Tive pesadelos
com a morte de David, acordava suando frio depois de ver seus olhos mortos
olhando por baixo da superfície da água. De vez em quando, eu sonhava que
a polícia ia à casa de Rowan e o prendia pelo que tínhamos feito.
Obviamente, isso nunca aconteceu, mas eu ainda temia que pudesse
acontecer. Foi por isso que tive que afastá-lo. Por minha causa, ele cometeu
um crime que o levaria preso pelo resto da vida, e seria tudo culpa minha.
Durante a terceira semana, tentei ficar em casa o máximo possível,
mas me pegava olhando pela janela, esperando que Rowan saísse, e só depois
eu corria para a casa ao lado para me drogar. Àquela altura, eu ficava
principalmente com Joel e Jacob.
Paul estava lidando com drogas pesadas que nem eu tinha vontade
de experimentar. De certa forma, estava começando a ter um pouco mais de
respeito por mim mesma. Eu não tinha certeza do que havia mudado ou
porque estava evitando Paul daquela forma, mas havia algo de errado em
estar com ele. Principalmente, tinha a ver com Rowan. Sempre que via seu
pai, parecia mais uma traição, como se eu estivesse enfiando uma faca nas
costas dele e torcendo-a só para ficar perto de Paul.
Um mês se passou e, exceto pela piora do estado da minha mãe, a
vida voltara ao normal. Rowan estava feliz com Megan, ainda nos
cumprimentávamos de passagem, mas ele não estava constantemente
tentando me encurralar e implorar para que eu me tornasse a sua garota.
Magoou um pouco, ver o distanciamento em seu olhar, mas me lembrei que
era melhor para ele.
Eu amava Rowan. Com tudo dentro de mim, eu amava o menino
inocente que ele era e o homem que estava se tornando. E, por isso, eu sabia
que a única coisa que podia fazer para mostrar a ele esse amor era ficar longe
dele para que ele pudesse buscar uma vida melhor.
— Ei, Rainey. Você vai estar por aqui esta noite?
Sentado no sofá da sala de estar dos Connor, me virei e deparei
com Joel de pé atrás da poltrona. Com o passar dos anos, ele, de alguma
forma, se tornou ainda mais bonito, seu cabelo loiro escuro mais longo e
emoldurando o rosto, seus olhos castanhos salpicados de verde e dourado. Ele
tinha uma estrutura óssea perfeita se trabalhasse como modelo. Mas Joel não
era esse tipo de cara. Por baixo de toda aquela beleza, ele era tão rude e
áspero quanto o resto dos homens nesta casa.
— Acho que sim. Por quê?
— Vamos dar uma festinha e convidei alguns amigos. Só pensei
em te convidar também.
Com minhas pernas cruzadas à frente, brinquei com a bainha
desfiada da minha calça jeans. Era o início da tarde, todos na casa acordando
ainda. Todo mundo menos Rowan, claro. Ele havia saído há uma hora, e foi
por isso que vim até aqui.
Na porta ao lado, o carro da minha mãe ainda estava na garagem, o
que significava que ela faltou ao trabalho novamente. Eu teria que começar a
trabalhar para compensar o dinheiro que ela deixou de ganhar. Eu não me
importava. Eu tinha vinte anos. Era hora de fazer algo com a minha vida além
de dormir por aí e ficar chapada.
— Parece divertido. Eu vou ficar por aqui.
Joel sorriu.
— Acordei de pau duro esta manhã. Quer voltar para o meu quarto,
fumar um baseado e cuidar disso para mim?
Dando de ombros, me levantei do sofá e o segui de volta. Não era
como se eu estivesse ali para assistir televisão. Eu poderia fazer isso em casa.
Enquanto caminhávamos pelo corredor, alguém bateu na porta da
frente. Joel me deu um olhar divertido e passou por mim para atender, mas
Paul saiu do quarto e disse que a visita era para ele. Não pensamos muito
nisso, então seguimos de volta ao quarto de Joel, fechando a porta atrás de
nós.
Sentado em sua cama, ele começou a enrolar um baseado enquanto
eu me recostei à parede para olhar os pôsteres de mulheres seminuas.
— Gostou do que está vendo?
— Hã? — Desviei o olhar de uma mulher loira segurando sua blusa
como se estivesse impedindo que caísse, e o encarei.
— Essas mulheres — respondeu ele. — Você gosta de olhar para
elas?
— Elas são bonitas, acho.
Ele parou de torcer o papel em sua mão e sorriu para mim.
— Você já esteve com uma mulher, Rainey?
Neguei com um aceno de cabeça.
— Não. Nunca tive razão para isso.
Joel voltou ao que estava fazendo.
— Eu estava pensando que talvez pudesse juntar você e Angel
algum dia. Eu não me importaria de ver vocês duas transando enquanto eu
fumo um baseado ou algo assim. Seria muito sexy.
Ele levantou a cabeça e me encarou.
— Seria apenas eu assistindo, é claro, porque não vou deixar
nenhum outro cara ver a Angel pelada. Falando nisso — ele levou o baseado
aos lábios e acendeu a ponta —, por que você ainda está de roupa? Você não
voltou aqui por um motivo?
— Eu não sabia o que você queria que eu fizesse. Se vou apenas te
chupar, não vejo razão para tirar a minha calça.
Sua voz estava tensa por segurar uma tragada.
— Eu gostaria de te foder esta manhã. Enterrar meu rosto nessas
tetas. — Ele soprou uma baforada. — Eu gostaria de ver Angel brincando
com elas. Embora ela provavelmente ficasse com ciúmes. Os peitos dela não
são tão legais.
Tirando minhas roupas enquanto ele observava, fui até sua cama.
— Deite-se de costas. — Entregando-me o baseado, ele disse: —
Fume isso.
Segurei o baseado entre os dedos e dei algumas tragadas enquanto
ele se despia e se acomodava entre as minhas pernas. Era mecânico agora,
nossa trepada, de uma forma bem triste. Um meio para um fim, realmente.
Para ele, não para mim. Eu não gozava, a menos que fosse com Rowan. Ele
foi a única pessoa que me fez sentir algo.
Joel segurou meus quadris enquanto estocava para dentro,
grunhidos caindo de seus lábios enquanto eu tragava um pouco mais do
baseado e ficava ali, imóvel. Como de costume, ele brincou com meus seios,
esfregando o rosto contra eles, lambendo e sugando. Eu estava começando a
pensar que ele tinha problemas maternos e que ainda não haviam sido
resolvidos.
Seus quadris ainda se moviam, as mãos travadas no meu corpo
quando olhou para mim e perguntou: — O que está acontecendo entre você e
Rowan?
A pergunta me surpreendeu, e virei a cabeça no travesseiro, nossos
olhos travando.
— Por que você pergunta?
Com os quadris se movendo mais rápido, a mandíbula de Joel
cerrou quando ele terminou de puxar para fora e gozar no meu peito. Olhando
para a bagunça como se fosse uma exposição de arte, ele sorriu.
Sim, problemas com a mamãe...
— Por nada. Bem, sim, há uma razão. O garoto está chateado
ultimamente. Sempre que seu nome é mencionado, ele age como se quisesse
bater em todos nós. Você não transou com ele já?
Joel se levantou da cama, pegou uma toalha para se limpar e jogou
para mim para fazer o mesmo. Limpando sua bagunça, mordi o interior da
minha bochecha. Por que ele teve que mencionar Rowan? Eu estava fazendo
um ótimo trabalho fingindo que estava feliz e que as coisas tinham voltado a
ser como antes.
— Sim, transei. Algumas vezes, na verdade. Além disso, ele está
com Megan. Não sei por que ele se irrita quando você menciona meu nome.
A verdade era que eu sabia exatamente por que Rowan ficava
chateado, mas não contaria a Joel. Ele acabaria contando para Jacob e Frankie
e eles usariam essa informação para tornar a vida de Rowan um inferno.
Enrolando outro baseado para me dar, Joel balançou a cabeça.
— Não faz sentido para mim. Megan é gostosa, sua família é rica e
ela não é uma vagabunda como você. Não sei por que Rowan fica todo
putinho quando a gente toca no seu nome.
Doeu, cada maldita palavra que ele disse me atingiu como uma
bala. Mas era tudo verdade.
— Eu sempre falo para ele ficar com ela. Ela é boa para ele.
— Como eu disse: não consigo entender. — Ele me jogou o
baseado e apontou o queixo para a porta, um recado claro para que eu desse o
fora dali. Depois de vestir minhas roupas, eu estava com a mão já na
maçaneta, pronta para sair, quando ele disse: — Certifique-se de ficar por
aqui para a festa esta noite. Eu falei de você para os meus amigos.
Suspirando pesadamente, eu sabia em minhas entranhas o que ele
pretendia.
— Quantos?
— Dois.
— E o que eu ganho com isso?
— Não se preocupe, Rainey. Eu cuidarei de você. Eu sempre cuido.
Prometi uma festa para esses caras e é o que pretendo dar.
Pisando no corredor, fechei a porta e me inclinei contra ela, meus
olhos se voltando para a esquerda para encarar a porta do quarto de Rowan.
Eu sentia tanto a falta dele que doía, mas sabia que era melhor não fazer nada
sobre isso. Manter nossa distância era a melhor coisa para ele. Megan era a
melhor coisa para ele. No entanto, saber disso não tornava a dor mais fácil de
suportar.
Eu me joguei no sofá da sala e liguei a televisão. O ruído não
mascarou o som de Paul fodendo alguém em seu quarto. Agora eu entendia
como Rowan se sentia ao sentar aqui enquanto eu estava lá. Dava para ouvir
tudo. Os grunhidos e gemidos, as peles se chocando, Paul dizendo à sua
convidada para se vestir e sair enquanto ele separava para ela o que estava
vendendo.
A porta do quarto se abriu às minhas costas e quando me virei para
ver a mulher que ele levava até a porta, meu coração quase parou. Depois
voltou a bater tão forte que achei que ia vomitar.
— Mãe?
A aparência dela era horrível; o cabelo estava uma bagunça, olhos
cansados e com olheiras profundas, bochechas cavadas por se recusar a
comer desde que David morreu. Recusando-se a encontrar meu olhar, ela saiu
correndo da casa, e Paul fechou a porta silenciosamente atrás dela. Da janela,
eu a observei caminhar pelos dois metros e entrar na nossa casa, ainda
boquiaberta, mas já sentindo a raiva me dominar.
— Que porra é essa, Paul? Essa era minha mãe!
Ele olhou para mim, seu peito nu, barriga meio estufada por conta
do peso que ganhou nos dois, quase três anos que o conheci. Paul arqueou
uma sobrancelha. O bastardo nem se preocupou em afivelar o cinto.
— Somos todos adultos, Rainey. Supere isso, porra. Eu nem sei por
que você está reclamando. Você não acabou de foder meu filho? Não é minha
culpa que esses delinquentes não durem tanto quanto eu.
— Não é por isso que estou chateada. Ela é minha mãe!
— Escute, garota. Se Joel não te fez gozar e você precisa de algum
alívio, não tenho problemas em te comer. Basta levar essa bundinha gostosa
para o meu quarto e eu cuidarei de você. Caso contrário, cale a boca. Sua mãe
precisava de algo e eu dei a ela. Nada demais.
Ficando de pé, eu o encarei.
— Isso é doentio!
Ele encolheu os ombros.
— Como é diferente do que você tem feito? O mundo está doente,
garota. É o que é. Agora fume um maldito baseado e se acalme. Se isso não
ajudar, há um pouco de álcool na cozinha. Você precisa superar essa porra.
E deu um chute para abrir a porta e desapareceu em seu quarto,
fechando-a atrás de si com uma batida forte. Eu estava na sala de estar,
minhas mãos em punhos. Não querendo estar em casa, mas também não
querendo ir para casa, eu fui até a cozinha e peguei uma garrafa de vodca, o
copo frio contra minha palma enquanto eu me retirava para o único lugar que
mais me confortava.
O quarto de Rowan estava silencioso. Tinha o cheiro dele. Subi em
sua cama e entrei debaixo das cobertas, me enrolando com elas. Devo ter
acabado com pelo menos um terço da garrafa antes de adormecer. Foi
estúpido ficar lá. Perigoso. Mas eu estava sofrendo tanto que não pensei nas
consequências. Eu só queria me esconder.
Acordei com os nós dos dedos de Rowan roçando suavemente ao
longo do meu queixo, seus olhos azuis me encarnado com toda a mágoa que
poderia haver neles. Lá fora, o sol estava se pondo. Eu dormi a maior parte
do dia.
— Você tem me evitado.
Minha voz saiu preguiçosa, mais profunda porque não estava
totalmente acordada: — Por uma boa razão.
— Isso é impossível. Não há nenhuma razão boa o suficiente para
você me afastar assim.
Eu ainda estava tão cansada, meu coração doía, algo martelava
dentro do meu crânio ao lembrar o que me fez fugir para o quarto dele em
primeiro lugar.
— Paul está fodendo a minha mãe.
Fechando os olhos, Rowan suspirou.
— Sim, eu sei. Ele já está fazendo isso há uma semana. Por isso eu
sei que todas as mentiras que você me contou sobre não ter permissão para
vir aqui, não passam de besteiras. Chega pra lá.
— Por quê?
— Anda logo, Rainey. Não me faça te arrastar para o lado por
conta própria.
Rowan rastejou sobre o colchão para me acariciar por trás, seus
braços fortes me envolvendo, segurando-me com força contra seu corpo
quente. Enterrando o rosto no meu pescoço, ele deu um beijo suave na minha
pele.
— Eu diria que sinto muito por sua mãe, mas não sinto. O que você
está sentindo agora é o que me fez sentir por anos.
A raiva cresceu profundamente no meu âmago.
— O que isso deveria significar? Ela é minha mãe.
— E você é minha garota, mas tive que observar você foder meu
pai e meus irmãos. — A voz profunda e rouca no meu ouvido não se parecia
à dele. Rowan estava chateado, ferido, frio como na noite em que matou
David. Eu tentei me afastar, mas ele me puxou de volta, seus braços tão
apertados como se fossem faixas de aço puro.
— Você não vai a lugar nenhum, Rainey. Você vai ouvir o que
tenho a dizer pela primeira vez. — Ele riu, um som suave, mas amargo. —
Você sempre faz isso. Menciono como me sinto e você foge o mais rápido
que pode. Você não tem nenhum problema em me machucar, ficando sentada
e testemunhando essa porra. Apenas feche os olhos, Rainey. Finja que não
arrancou meu coração do meu peito e o esmagou entre seus dedos. Isso é o
que você sempre faz.
— Rowan...
Sua mão pressionou minha boca, seu hálito quente contra meu
pescoço. Ele tremia contra mim, tão cheio de mágoa e raiva no coração, que
não havia como dizer o que ele faria.
— Não diga meu nome. Basta fazer o que você faz melhor e fingir
que sou Jacob, ou Frankie, ou Joel.
Abaixando-se, ele desabotoou a minha calça. Tentei me afastar dele
novamente, mas ele soltou minha boca para travar um braço em volta do meu
peito.
— O que há de errado, Rainey? Você não gosta quando eu te uso
para a única coisa para a qual você pensa que é boa?
Empurrando a calça e calcinha até minhas coxas, ele teve um pouco
de dificuldade para se livrar da dele. Eu ainda me debatendo para fugir, mas
ele não me deixou ir.
— Eu não vejo qual é o problema, caralho. Vou te dar uma porra de
vinte contos por isso, okay? Essa é a taxa atual?
— Rowan, pare. — Lágrimas inundaram meus olhos. Eu não
entendia o que estava errado, mas não era ele. Não Rowan. Ele não faria isso.
Sua mão agarrou meu seio por cima da minha camisa, apertando
com tanta força que cheguei a gritar contra o travesseiro.
— Engraçado, esse é o som que você faz quando fode meu pai. —
Ele colocou a ponta de seu pau no meu corpo. — Diga-me não, Rainey. Vá
em frente e me diga que você não quer isso. Que você é melhor do que isso.
Ele estava me desafiando a dizer. A ponta empurrou dentro de mim
como uma ameaça. Como se isso bastasse para me fazer admitir que ele
sempre estava certo. Mesmo que ainda estivesse chorando, balancei a cabeça,
e disse com a voz débil: — Eu não sou. Vinte está bom, Rowan.
— Droga, me diga que você é melhor do que isso, Rainey!
Mordi meu lábio, recusando-me totalmente.
Sua testa pousou na minha nuca, seus quadris empurrando para
frente e para trás, uma e outra vez enquanto estávamos ali tremendo, nossos
corações quebrando juntos porque não havia como voltar atrás. Rowan estava
me usando. Assim como Jacob. Assim como Joel. Assim como Paul e
Frankie. Ele estava pegando o que eu estava oferecendo sem nenhum de nós
alegar que era amor.
Eu o tinha destruído. Para ele fazer isso, para Rowan, entre todas as
pessoas, fazer comigo o que os homens sempre fizeram, significava que
finalmente esmaguei o que antes era inocente e doce dentro dele.
Enquanto ele me fodia, ele falava. Não pensei que ele esperava
resposta alguma, suas palavras eram simplesmente uma confissão que ele
precisava que eu ouvisse enquanto ele destruía o que sempre fomos, apesar
de todas as complicações e circunstâncias fodidas.
— Eu não dormi com Megan ainda. Não fui capaz. Tudo o que
consigo pensar é com quem você está e o que está fazendo com eles. Ela me
quer, Rainey. Praticamente me implorou para fazer com ela o que estou
fazendo com você agora.
Apertando seus braços em volta de mim, seus quadris aumentaram
o ritmo, seu hálito soprando contra o meu pescoço, porque mesmo que ele me
odiasse naquele momento, ele ainda amava a sensação de estar dentro de
mim. Eu fiz isso com ele. Eu e mais ninguém.
— Talvez... foda-se... — Ele empurrou mais fundo, suas palavras
interrompidas pelo clímax se aproximando. — Talvez eu deva finalmente
parar de esperar que você deixe de ser uma vagabunda de merda...
Meus olhos se fecharam, lágrimas deslizando pelo meu rosto.
—... E apenas ficar com uma garota que pode manter suas malditas
pernas fechadas.
Mais forte e mais rápido, ele se moveu. Seu orgasmo estava perto.
Eu sabia. Estive com tantos homens, posso dizer quantos minutos ou mesmo
quantos segundos eles durariam. Sua respiração aumentava, o suor escorria
em suas têmporas e no peito, seus músculos flexionavam enquanto
perseguiam o orgasmo como se ele estivesse correndo deles em alta
velocidade. E era o que Rowan estava fazendo agora.
— Talvez eu tenha sido uma criança estúpida esse tempo todo
pensando que você poderia ser qualquer coisa mais do que é: um brinquedo
para os homens foderem.
Ele gozou sem se retirar. Tentei me afastar dele, tentei me mover
para que ele não despejasse a última gota dentro de mim, mas ele travou seu
braço no último segundo, empurrando tão fundo que não pude escapar.
— Rowan, o que você fez?
Liberando-me de repente, ele se sentou ao lado da cama, o rosto
enterrado nas mãos. Sem saber o que dizer, esperei que ele falasse alguma
coisa primeiro. Rowan ficou em silêncio pelo que pareceram horas, seu corpo
imóvel, seus ombros largos tensos.
Sentei-me na cama e o toquei, mas ele se levantou, puxou a calça e
a abotoou.
— Rowan?
Ele se virou para mim e enfiou a mão no bolso de trás para tirar a
carteira. A nota de vinte dólares flutuou até o colchão aos meus pés, o rosto
da cédula me encarando com acusação.
— É assim que funciona, certo? Eu pego o meu e pago por ele? —
Com os olhos vermelhos, ele me encarou, uma lágrima deslizando pela sua
bochecha, brilhando sob a luz do sol suave que se infiltrava através de suas
cortinas. — O que eu faço agora? Mando você sair? Seu trabalho aqui está
feito?
Puxei minhas pernas para o meu peito e as envolvi com meus
braços, minha calça e calcinha ainda enganchadas em volta dos meus
tornozelos.
— É assim que funciona, Rainey?
Meu lábio inferior tremia, mas balancei a cabeça.
— Sim, Rowan. É assim que funciona. É assim que sempre
funcionará. Você não entende? Olha o que fiz com você! Este não é você.
Você é melhor do que isso. Peguei algo bom e destruí. Sim, você deveria
estar com Megan. Ela é uma garota decente que te ama.
— Você me ama! — gritou ele, sem dúvida alto o suficiente para
que todos na casa ouvissem.
Eu gritei de volta: — Estou arruinando você. Esta vida... esta vida
bagunçada, complicada e nojenta não é a que você deveria viver. Eu só quero
que você se torne outra pessoa. Que possa ir embora para fazer todas as
coisas maravilhosas que sei que é capaz de fazer. Vá para escola. Faça algo
de você mesmo. Case-se com Megan e tenha muitos bebês lindos. Pare de
olhar para mim como se eu fosse a pessoa que você deseja. Vá encontrar
outra vida, Rowan, e não faça isso por mim. Faça por você.
Passando os dedos pelo cabelo, ele cruzou o quarto e abriu a porta.
— Saia.
— Rowan...
— Dê o fora! Eu terminei com você.
Com os olhos embaçados e o rosto encharcado de lágrimas, me
levantei e puxei a roupa. Passando pela cama, quase alcancei a porta quando
ele rosnou: — Você esqueceu seu pagamento.
Minha alma sangrou no tapete aos meus pés, deixando-me vazia e
oca.
— Era por conta da casa... — sussurrei, passando por ele para sair
pelo corredor. Jacob e Joel olharam para fora de seus quartos, provavelmente
atraídos pela discussão que tinham ouvido através das paredes finas. Para
crédito deles, nenhum deles disse uma palavra quando passei a caminho da
sala de estar.
Rowan saiu de casa dez minutos depois, o carro ligando pouco
antes de os pneus arrancarem na estrada.
Não achei que o dia pudesse piorar muito.
Joel se abaixou ao meu lado, a almofada do sofá afundando, e me
passou um baseado.
Enquanto eu dava uma tragada, ele comentou: — Eu disse que ele
tem estado irritado recentemente. Pensei que talvez ele estivesse com raiva de
nós por estarmos te pegando, e ele, não.
Olhando para mim, ele pegou o baseado de volta e deu uma
tragada, prendendo a respiração enquanto dizia: — Se você quer saber,
Rowan é estúpido por se apaixonar. Todos nós sabíamos o que você era no
minuto em que a conhecemos.
Uma nuvem rolou sobre seus lábios e ele o devolveu.
— Não estou dizendo isso como se fosse algo ruim. É apenas a
verdade, sabe?
Estranhamente, achei meio fofo que Joel tivesse me seguido até
aqui para conversar. Doce por ser ele, pelo menos.
— Sim, eu sei.
— Você ainda está pronta para a festa esta noite? Parece que você
precisa de um pouco de diversão.
Assentindo, relaxei contra o sofá.
— Sim, provavelmente vou precisar tomar um banho primeiro.
Rowan, ele...
— Faça o que você tiver que fazer.
O dia foi se transformando em noite lentamente. Depois de tomar
banho e chorar mais um pouco, passei as horas alternando entre assistir
televisão e cochilar. Jacob e Joel me deixaram sozinha na maior parte do
tempo. Paul foi embora algumas horas depois de Rowan, e Frankie estava
ausente, provavelmente na prisão por outra briga. Eu nunca perguntei por ele,
já que não estava nem aí.
Por volta das sete, as pessoas apareceram na casa. Joel colocou
música para tocar, começou a distribuir bebidas, acendeu alguns baseados
enquanto homens e mulheres circulavam pela cozinha, sala e quartos. Eu
fiquei no sofá a maior parte do tempo, observando a festa acontecer ao meu
redor, sem conversar realmente com ninguém além de algumas pessoas que
se apresentaram.
Devia ser quase nove horas quando Joel se abaixou de um lado,
Jacob do outro, e dois outros caras que eu não conhecia ficaram
desajeitadamente na nossa frente. Eu estava bêbada a esta altura, todos os
eventos do dia me esmagando enquanto eu bebia direto de uma garrafa de
vodca que Joel tinha me entregado mais cedo.
— Como você está se sentindo, Rainey?
Inclinando-me contra o peito de Joel, eu sorri.
— Acho que estou entorpecida.
Ele massageou meus ombros.
— Esperançosamente não muito entorpecida. Estes são meus
amigos a quem gostaria de apresentar, Michael e Preston. Eles estão com
pouca sorte no departamento feminino recentemente e eu disse a eles que
você poderia ajudá-los.
Os dois caras sorriram para mim, um mais alto que o outro.
Michael tinha cabelo e olhos castanhos, ombros largos e musculosos, cintura
estreita. Pelo tamanho, ele bem poderia ser um jogador de futebol.
Preston, por outro lado, era baixo e rechonchudo. Pensei tê-lo
reconhecido da escola, mas não tinha certeza. Ele tinha cabelo loiro-
avermelhado e sua pele pálida era quase do mesmo tom. Ele não era o que a
maioria das pessoas consideraria atraente, mas quando eu liguei para isso?
— Você já ouviu falar em dirigir um trem, Rainey?
Balançando a cabeça, bebi da minha garrafa e respondi: — Não.
— É quando um monte de caras se reveza em uma garota. Eu
estava pensando que nós cinco poderíamos nos divertir um pouco. Jacob e eu
vamos pagar por isso. Podemos te dar dinheiro e drogas. O que você acha?
O que eu sempre disse? Esta era a minha vida agora, a garota da
vizinhança que se divertia muito mantendo as calças abaixadas. Minha vida
nunca mudaria.
— Quanto de dinheiro?
— Cem dólares, mas nós vamos acrescentar uns trinta gramas de
maconha. Isso deve mantê-la bem chapado pela próxima semana ou mais.
Os dois garotos olharam para mim, os ombros de Michael tremendo
com uma risada silenciosa.
Dei de ombros, indiferente.
— Por que não? O que você precisa que eu faça?
— Apenas vá para o meu quarto, tire as roupas e se deite na cama.
Então vamos entrar um de cada vez para conseguir o que queremos. Quando
terminarmos, você pode ir embora.
Vendo em dobro por causa da maconha e da bebida, precisei de
várias tentativas para me levantar do sofá. Joel se levantou para me ajudar a
me firmar, andando com o braço em volta da minha cintura para me levar ao
seu quarto. Jacob, Michael e Preston vieram logo atrás.
Joel me ajudou a tirar a roupa, e alguém no quarto assobiou quando
ele tirou minha blusa. O que eu falei sobre ela? Claro que sim, cara, é disso
que estou falando.
A conversa deles flutuava dentro e fora da minha consciência. Eu
estava tão confusa, mas sabia que teria feito isso sóbria. Minha reputação e
minha autoestima já eram as mais baixas possíveis. Rowan me odiava. Minha
mãe estava perdendo a cabeça. Meu mundo inteiro estava desmoronando.
Melhor aceitar deitada de costas.
Levando-me para sua cama, Joel sussurrou em meu ouvido: —
Você está bem o suficiente para ficar de quatro?
Balancei a cabeça e ele me ajudou a ficar em uma posição onde eu
estava de frente para os três homens perto da porta. Eles estavam todos
embaçados, o que ajudou de certa forma.
— Quem monta primeiro?
— Deixe Preston ir até ela. Este pobre coitado não transa há mais
de um ano.
— E esses peitos, hein? Puta merda.
Nada disso parecia real, o que estava bom para mim. Eu não queria
que fosse real. Eu só queria voltar a uma época em que Rowan me amava,
onde ele me olhava como se pudesse me dar a lua.
Quão egoísta era isso? Ele finalmente seguiu em frente como eu
disse para ele fazer, mas tudo o que eu queria era que ele voltasse correndo.
Os borrões se moveram, um se aproximando de mim enquanto os
outros três ficaram perto da porta aberta. Ele se postou às minhas costas e
abaixou a calça, mãos agarrando meus quadris enquanto me penetrava,
grunhindo com cada golpe rápido. Ele não era muito bom nisso, seu ritmo era
irregular e descoordenado. Ele não duraria muito.
— Uau! Vai lá, cara! Olhe os peitos dela balançando. Faça mais
forte, Preston. Ela aguenta.
Este era o lugar onde eu estava na vida. Exatamente como Rowan
havia dito. Um brinquedo que os homens fodem. Uma lembrancinha da festa.
Um entretenimento e nada mais. Preston terminou bem rápido. Na verdade,
eu mal o senti, já que ele era bem pequeno. Pobre rapaz. Não admira que
nunca tenha comido ninguém.
Uma toalha voou pela sala e pousou ao meu lado.
— Limpe sua bagunça quando terminar.
Enquanto Preston fazia isso, os outros três ficaram conversando,
outras pessoas passando pela porta aberta, parando, balançando a cabeça e
rindo. Alguém cumprimentou outro e continuou seguindo pelo corredor.
— Michael, é a sua vez.
Assim como o primeiro, Michael ficou atrás de mim. Ele realmente
tentou brincar com meu clitóris como se isso fosse me excitar. Era uma pena
que a única pessoa que poderia me fazer gozar, estava passeando com sua
namorada, transando com ela pela primeira vez. Eu esperava que ele a
amasse. Esperava estar certa de que ela o amava também. Esperava tê-lo
ensinado bem o suficiente para que ele agitasse o mundo dela entre os
lençóis.
Meu corpo estava saltando novamente. Mais vaias e gritos, exceto
que desta vez, uma voz feminina se ergueu acima de tudo, duas pessoas
paradas na porta olhando para além dos rapazes esperando sua vez.
— Puta merda! Que vagabunda! — Sua risada estridente chamou
minha atenção ainda mais e eu pisquei várias vezes para clarear minha visão.
Rowan e uma garota, que deduzi ser Megan, estavam na porta me
observando, Michael ainda segurando meus quadris e chocando os quadris
contra os meus.
Meus olhos encontraram os de Rowan, implorando para ele não
concordar com ela. A raiva passou por trás de seu olhar, tão pura que pude
sentir o calor ardente do outro lado da sala.
— Sim — ele comentou, envolvendo o braço sobre seu ombro —,
Rainey não é nada além de uma prostituta estúpida que meus irmãos
contratam. Não se preocupe com ela. Devíamos apenas ficar no meu quarto.
Eu tive que abaixar a cabeça para impedir que todos me vissem
chorar. As lágrimas não paravam de cair.
Algo estalou dentro de mim, se foi meu orgulho, meu coração,
minha alma, eu não tinha certeza, mas ouvi-lo dizer aquilo foi a gota d’água.
— Saia de cima de mim.
Minha voz estava tão baixa que Michael não me ouviu a princípio.
— Sai de cima de mim, porra!
— Ei! O que há de errado?
Nem sei bem como consegui empurrá-lo, de tão bêbada que estava,
mas depois de fazer isso, tropecei para fora da cama e tentei pegar minhas
roupas.
— Rainey, gata, o que há de errado? Achei que estávamos nos
divertindo. — A voz de Joel encheu o quarto, mas eu o ignorei. Depois de me
vestir, passei por eles no corredor, tropeçando no meu caminho para fora de
casa e através do meu quintal.
Abrindo a porta, tudo que eu queria fazer era abraçar minha mãe
para que ela pudesse mentir para mim e dizer que tudo ficaria bem.
— Mãe?
Devo ter batido em todas as paredes ao passar tropeçando. Mamãe
não estava na sala de estar ou na cozinha, então fui até o quarto dela. Assim
que entrei, não a vi na cama, mas quando olhei além do colchão, vi seu
cabelo espalhado no piso.
— Mãe?
Eu desabei no chão e rastejei ao redor do pé de sua cama para
encontrá-la esparramada sobre o tapete, uma pilha de vômito em sua boca,
seus olhos abertos e uma agulha espetada em seu braço.
— Mãe! — Engatinhei para mais perto, sacudi seu ombro, senti o
pulso, mas estava muito confusa para saber o que estava fazendo. — Mãe,
acorde.
O pânico se instalou por dentro, uma descarga de adrenalina que
me acalmou o suficiente para entender o que estava à minha frente.
— Ai, meu Deus. Mãe!
Ela não respondeu, seu corpo estava tão imóvel que eu já sabia a
verdade, mas não queria acreditar.
— Não. Ah, não, não, não.
Ficando de pé, saí correndo da minha casa. Foi um instinto correr
para Rowan, irromper pela porta da frente de sua casa, passar por todas as
pessoas e percorrer o trajeto até o seu quarto. Eu estava aos prantos, mas
ignorei todos que tentaram falar comigo. Eu precisava encontrar Rowan.
Abrindo a porta, quase caí de joelhos ao vê-lo na cama com Megan.
Ela estava deitada de costas e ele em cima dela, o cobertor cobrindo seus
corpos. Rowan olhou para mim, a raiva franzindo suas sobrancelhas.
— Que porra é essa, Rainey? Saia daqui!
— Rowan, preciso de ajuda.
Foi um sussurro, acho que ele não me ouviu.
— Saia!
Eu forcei a força em minha voz.
— Rowan, preciso de sua ajuda. Por favor.
— Qual é o problema dela? — Megan olhou para mim embaixo
dele.
— Rowan, acho que minha mãe está morta.
Tudo parou por uma fração de segundo. O barulho da festa
desapareceu. Megan desapareceu. Tudo desapareceu no fundo, exceto Rowan
e eu nos encarando sem falar nada.
Rowan e Rainey, para sempre.
O pensamento me atingiu com tanta força quanto um trem em alta
velocidade enquanto o mundo ao nosso redor retrocedia e minha mão
apertava a maçaneta da porta.
Ele saltou da cama, agarrou sua calça e ignorou a torrente de
palavrões e perguntas de Megan. Deixando-a para trás, ele correu em minha
direção, segurando meu ombro para me levar para fora de casa e pelo meu
quintal. Sua voz era suave enquanto falava comigo, mas não consegui ouvir
uma maldita palavra do que ele dizia. Nada estava fazendo sentido naquele
ponto.
Eu mostrei onde ficava o quarto da minha mãe e me inclinei contra
a parede enquanto ele se ajoelhava para ver como ela estava. Quando ergueu
os olhos para mim, eu sabia que estava certa.
Ela se foi.
Por tudo o que Paul tinha dado a ela, minha mãe tinha
simplesmente sumido.
— Rainey. — Levantando-se, Rowan me agarrou e me puxou para
um abraço apertado, seu corpo inteiro de alguma forma protegendo o meu.
Enterrei meu rosto em seu ombro e chorei tanto que estava quase sufocando
com os soluços.
— Rainey, precisamos chamar a polícia. Precisamos relatar isso.
— Eu sei.
— Vamos.
O que aconteceu depois disso foi um borrão. Tudo que eu
lembrava, enquanto esperávamos que a polícia e os médicos documentassem
a cena e retirassem o corpo de casa, era de Rowan sentado ao meu lado.
Ele não voltou para Megan e nem me deixou em momento algum.
Respondi inúmeras perguntas, mas não consegui me lembrar de nenhuma
quando a casa esvaziou e ficamos sozinhos.
Ainda me segurando, ele sussurrou: — Está tudo bem, Rainey.
Estou com você. Sempre estarei contigo.
Rowan me levou ao banheiro e tirou minhas roupas. Eu não disse
nada – não pude dizer nada – enquanto ele me preparava um banho quente e
me ajudava a entrar na água. Enquanto ele usava uma toalha para limpar
minha pele, eu olhava, impotente, para a parede. Meu mundo inteiro
implodiu.
Minha mãe se foi.
Eu estava sozinha.
Depois de me limpar, Rowan me envolveu em uma toalha, me
carregou para o meu quarto e me ajudou a vestir a camisola e a calcinha. Ele
se deitou ao meu lado naquela noite, me segurando e sussurrando todas as
coisas que faria para me deixar melhor.
Ocorreu-me que eu tinha arruinado a primeira vez que ele transou
com Megan, provavelmente tinha criado uma divisão entre eles porque o
deixei sem escolha a não ser me escolher ao invés dela.
Aquele dia foi um dos piores da minha vida, a coisa mais horrível
que já experimentei, e enquanto eu estava deitada nos braços quentes de uma
pessoa que aprendi a amar, não fazia ideia de que em algumas semanas, tudo
só iria piorar.
Presente Enquanto Rainey descrevia para mim um dos piores dias
de sua vida, uma música tocava na minha cabeça, o tema da Vila Sésamo
para ser exato, a dicotomia de uma melodia tão feliz contra o pano de fundo
de suas memórias horríveis me congelando no lugar, confundindo meus
pensamentos enquanto tentava me recompor o suficiente para aconselhá-la
sobre o trauma que ela teve que suportar.
Este não era um momento em que um médico perguntaria à sua
paciente como aquela memória a fazia se sentir. Era mais profundo do que
isso, um precipício sobre o qual a sessão poderia tombar, fazendo-nos
deslizar para uma caverna depressiva sem possibilidade de subir de volta.
Aquele dia por si só teria arrasado qualquer um. Não importava o
quão fortes ou o quão emocionalmente equilibrados fossem. Ao sobreviver à
angústia, à humilhação, ao trauma de encontrar sua mãe morta no chão,
Rainey provou o quão feroz sua força realmente era.
Francamente, se eu tivesse experimentado pelo menos uma semana
de sua vida, teria me encontrado amarrado a uma cama em uma névoa de
Thorazine[3] depois que os médicos e enfermeiras me colocassem em um
manicômio.
Esta mulher tinha vivido a duras penas.
Tornou-se mais forte.
Havia lutado com afinco para seguir em frente enquanto tudo ao
seu redor estava desmoronando.
Com base no que ela me disse, as coisas só piorariam. Eu não tinha
certeza se estava preparado para isso.
De forma alguma o comportamento de Rainey era desculpável, ou
como suas ações e decisões desempenharam um papel no que foi feito a ela,
mas ela era jovem, desastrosamente, seu intelecto questionável, e seus
motivos ainda não eram claros o suficiente para eu compreender para onde
sua história seguiria.
Batendo a caneta no meu bloco de notas, eu a observei deitada no
sofá. Ela assumiu aquela pose nos momentos em que estava revivendo uma
memória que a perseguia.
— Como você agiu com Paul depois que sua mãe morreu? Você
continuou indo para a casa dele?
Não era a melhor pergunta, nada que cavaria em sua psique para
trazer todos os seus segredos à superfície, mas foi o que perguntei enquanto
tentava organizar meus pensamentos.
Não fiquei excitado outra vez, pelo menos. Okay, talvez só um
pouco quando ela descreveu a cena do ‘trem’ sexual. Droga. Eu não iria
apenas para o Inferno, eu condiziria meu próprio transporte para lá, sozinho.
— Não com tanta frequência, mas não por causa do que aconteceu
com minha mãe.
— Você estava evitando Rowan de novo, não estava?
As pernas de Rainey estavam dobradas com os pés no sofá, as
pontas dos dedos acariciando suavemente suas coxas enquanto a saia de seu
vestido de verão caía. Ela tocou a marca em seu braço novamente, distraída,
tão perdida em pensamentos que eu me perguntei se ela se lembrava de que
eu estava sentado na sala.
— Isso e porque eu precisava de um emprego. Minha mãe estava
morta. As contas precisavam ser pagas. Então, tive que fazer algo. Eles me
contrataram na loja de conveniência da esquina. Eu não era muito boa no
trabalho, mas eu me virava.
— Rowan voltou para Megan? O que aconteceu com vocês dois
depois da noite em que sua mãe morreu?
— Sim — ela suspirou —, ele voltou para ela. Acho que ela
entendeu por que ele a deixou daquele jeito. Ela é uma garota meiga, como eu
disse. E ela o amava.
Assentindo, eu a observei de perto, me perguntando quando ela
voltaria a esta conversa. Rainey tinha um jeito de se conectar intimamente
com uma pessoa apenas pelo jeito de falar e pelo contato visual. Mas em
momentos como este, eu sabia que ela estava divagando, perdida nas
memórias que a atormentavam.
— Estamos chegando perto da noite da festa, Rainey? Aquela que
ocorreu há uma semana?
Suas mãos apertaram as coxas com tanta força que a pele ao redor
de seus dedos ficou branca.
— Não. Chegamos à parte que eu gostaria de evitar. A noite em
que Rowan morreu.
— Nós podemos pular esta parte, se você quiser. Se não tem nada a
ver com a morte de seus amigos, então não precisamos discutir isso.
— Tem tudo a ver com suas mortes.
Curioso sobre o comentário dela, fiz uma pausa para permitir que
ela preenchesse as lacunas. Ela se sentou, seus olhos finalmente encontrando
os meus enquanto sua cabeça se inclinava ligeiramente para a esquerda. Eu
nunca a tinha visto tão composta e calma.
Incapaz de suportar o silêncio por mais tempo, perguntei: — O que
você está tentando me dizer, Rainey? Você se lembrou um pouco mais da
noite em que morreram? Você sabe quem os matou?
— Eu causei a morte dele. Eu já te disse isso? Eu acho que sim.
Ela esfregou as coxas, seu vestido embolado em seus quadris, a
frente desabotoada. Eu nem tinha notado ela fazendo isso. Tão perdido em
sua história, eu não estava prestando atenção em seus movimentos o tempo
todo.
Com a frente aberta, apenas o colo de seus seios estava exposto à
minha visão. No entanto, foi seu rosto que chamou minha atenção. Lábios
ligeiramente entreabertos, olhos voltados para a direita, o rosto de Rainey era
quase angelical, sua pele pálida brilhando sob a luz fraca da sala. Além dos
hematomas que marcavam sua mandíbula e ao redor do olho, ela era
verdadeiramente primorosa em sua beleza.
— Você me disse, embora eu não tenha certeza se concordo que
você carregue a culpa. Você não estava dirigindo o carro que o matou.
Olhos azuis me encararam, a cor aparecendo por baixo dos cílios
escuros, e então Rainey sorriu, uma expressão mais solene do que feliz.
— Eu te disse o que estava fazendo quando ele morreu?
Não, mas suponho que vai ser ruim...
— Você não me contou sobre aquela noite, não.
— Eu estava vendo sua namorada fazer um boquete em Jacob
enquanto Joel estava me comendo por trás.
Eu respirei, prendi o fôlego e soltei lentamente.
— Megan, a namorada dele?
Rainey concordou.
— Você não disse que ela era uma garota meiga?
— Ela era. Mas algo aconteceu naquela noite. Acho que ela estava
com raiva. Tentando se vingar dele ou algo assim. Megan tinha bebido e não
estava tão confusa a ponto de não saber o que estava fazendo, mas deixei
acontecer. Eu não tentei dissuadi-la. Não tentei impedi-la. Acho que queria
que ela fizesse algo que a arrastasse até a lama, como eu.
Rainey piscou.
— Por que eu iria querer isso?
Infelizmente, a resposta era simples e óbvia. Ela pairou entre nós
como se Rainey pudesse estender a mão e arrancá-la do ar. Ela não podia
enfrentar isso, então fiz uma sugestão que abriria seus olhos para ver o que
estava bem na sua frente o tempo todo.
— Talvez porque, no fundo, você estivesse apaixonada por Rowan.
Sei que você dizia que ele devia encontrar uma nova vida, para seguir em
frente sem você, por assim dizer, mas não acho que você realmente queria
isso. Você estava dizendo o que achava ser certo dizer, mas não
necessariamente verdade.
— Rowan e Rainey para sempre. — Ela sorriu, a expressão não
alcançando seus olhos. — Ainda assim, enquanto ele estava morrendo,
enquanto carbonizava em um carro a não mais do que alguns quarteirões
daqui, eu via sua namorada o trair enquanto eu transava com seu irmão. Ele
estava queimando e eu estava gozando.
O comentário me surpreendeu, e arqueei as sobrancelhas, confuso.
— Achei que tivesse dito que só chegava ao orgasmo quando
estava com Rowan.
Território perigoso, Justin...
Uma gargalhada sacudiu seus ombros, seus olhos fixos nos meus.
— Não gozei por causa de qualquer coisa que Jacob estava
fazendo, doutor. Eu gozei porque sabia que quando Rowan descobrisse o que
Megan tinha feito, o namoro dos dois acabaria.
Eeeeee... nós definimos um novo padrão de vida fodida.
Aquilo era uma constância para Rainey. Um ciclo vicioso e eterno.
Esfregando a ponta do meu nariz, cruzei o tornozelo sobre o joelho
e suspirei audivelmente.
— Você está pronta para falar sobre aquela noite, Rainey?
Presumi que, depois de ultrapassar esse obstáculo, poderíamos
finalmente chegar aos detalhes da noite em que seus amigos morreram.
Assentindo, ela respondeu: — Sim, acho que estou.