Camaras de Poeira Apostila

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

DISCIPLINA: Operações Unitárias com Sistemas Sólido-Fluido (DEQ0515)


DOCENTE: Katherine Carrilho de Oliveira Deus

CÂMARAS DE POEIRA

INTRODUÇÃO

As câmaras de poeira são equipamentos de separação sólido-fluido no qual um gás


contendo partículas sólidas em suspensão é submetido a uma diminuição da sua velocidade
fazendo com que as partículas sedimentem. Essa diminuição da velocidade é ocasionada por
um aumento na área da seção transversal do escoamento.

PRINCÍPIOS BÁSICOS

As câmaras de poeira são normalmente utilizadas para remover sólidos particulados de


correntes gasosas oriundas dos mais diversos setores das indústrias químicas. Sua utilização é
limitada para partículas com no mínimo 43 μm sendo que partículas menores podem ser
coletadas desde que tenham alta densidade. Essa limitação decorre do tamanho da câmara
necessária que se tornaria inviável. A velocidade do gás normalmente varia de 0,3 a 1,5 m/s.
Podem ser utilizadas em série no qual cada caixa vai coletar uma determinada faixa de
tamanho das partículas mesmo possuindo a mesma largura e altura pois, nesse caso, o que
determina a separação é quanto do comprimento da caixa a partícula vai percorrer antes de
sedimentar. Com isso, tem-se que o princípio básico de funcionamento se baseia no tempo de
permanência das partículas na caixa e o tempo necessário para que as partículas sedimentem.
Um exemplo pode ser visto na Figura 1 com a discriminação das principais dimensões
utilizadas.
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Figura 1. Esquema de uma câmera de poeira com separação de duas faixas de tamanho.

Fonte: Cremasco, M. A., 2014.

Na avaliação das câmaras de poeira utiliza-se a partícula que entra no equipamento na


posição mais desfavorável a sedimentação, ou seja, na parte superior da câmara e é coletada no
final do equipamento. A representação das dimensões das câmaras de poeira é dada de forma
esquemática pela Figura 2.
Figura 2. Representação das dimensões de uma câmara de poeira.

Fonte: Peçanha, R. P., 2014.


A área transversal do escoamento, conforme ilustrado na Figura 2, é dada por BH e as
partículas percorrem a área horizontal BL e vão sedimentando, já as partículas que não
sedimentam, saem na outra extremidade da câmara juntamente com o gás.
As partículas no interior do equipamento possuem dois movimentos, um vertical
relacionado a componente gravitacional (velocidade terminal) e outro horizontal devido a
velocidade do gás (U∞). Analisando esses dois movimentos separadamente tem-se o que
chamamos de tempo de queda (movimento vertical) e tempo de residência (movimento
horizontal) que podem ser definidos de acordo com as Equações (1) e (2).
H
tq = (1)
vt
L
tr = (2)
U∞

Quando o tempo de residência é maior que o tempo de queda tem-se que a partícula
sedimenta ao longo da câmara, já quando o tempo de queda é maior que o tempo de residência
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tem-se que a partícula é arrastada junto com o gás para fora do equipamento. Quando o tempo
de residência é igual ao tempo de queda a partícula é coletada no final do equipamento que
corresponde ao nosso caso limite. Com isso tem-se que:
H
vt = U ∞ (3)
L
Se a câmara de poeira trata uma vazão constante do gás pode-se escrever que:
Q
U∞ = (4)
BH
Substituindo a Equação (4) na Equação (3) tem-se:
Q
vt = (5)
BL
A partir da Equação (5), conhecendo a velocidade terminal da partícula na câmara de
poeira, pode-se calcular o diâmetro a partir das equações já conhecidas para a interação
partícula-fluido. Observa-se que o cálculo da velocidade terminal só depende das dimensões da
câmara (B e L) e da vazão do gás que serão os fatores determinantes dos tamanhos de partículas
que poderão ser coletados no equipamento. Dessa informação é que vem a limitação de
utilização do equipamento pois partículas muito pequenas tem velocidade terminal muito
pequena necessitando de uma área horizontal (BL) muito grande para serem coletadas.
No caso da representação da velocidade terminal da partícula na câmara como sendo
dada pela Equação (3) considera-se que a eficiência de coleta para determinado tamanho de
partícula seria de 100% já que todas as partículas que tivessem o tempo de residência igual ao
tempo de queda seriam coletadas. As partículas com diâmetros menores seriam coletadas com
eficiência menor que 100%. Considerando-se a eficiência tem-se que a Equação (5) pode ser
escrita como na Equação (6).
Q
vt = η (6)
BL
Devido a baixa velocidade de escoamento do gás, na maioria das aplicações práticas das
câmaras de poeira, pode-se considerar válida a lei de Stokes. Dessa forma, substituindo a
equação da velocidade terminal de Stokes na Equação (6) e explicitando para o diâmetro da
partícula tem-se que:
ηQ18μ
𝑑𝑝 = √ (7)
LB(ρ s −ρ)g

Fazendo a eficiência igual a 1 na Equação (7) tem-se o que diâmetro corresponde ao


diâmetro da menor partícula que, da posição mais desfavorável, será coletada com eficiência
de 100%, conhecido como dp,min. Para calcular a eficiência de coleta de um determinado
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tamanho de partícula primeiro calcula-se a velocidade terminal (utilizando as equações


adequadas) e, em seguida, conhecendo as dimensões da câmara e a vazão do gás pode-se
calcular a eficiência individual de coleta.
Para calcular a eficiência global de coleta (η̅) baseado numa alimentação que possui
uma distribuição de tamanho de partículas, calcula-se a eficiência individual de coleta para cada
faixa de diâmetros e faz-se relação da eficiência calculada com a fração acumulada de passante
referente aquela faixa de diâmetros. Calcula-se também o diâmetro da menor partícula que será
coletada com eficiência de 100% já que todas as partículas maiores também serão coletadas
com eficiência igual a 100%. Encontrando-se uma equação que relacione os dados de eficiência
individual (η) com fração acumulada de passante (y) a eficiência global de coleta pode ser
representada pela Equação (8) que é o teorema do valor médio para funções contínuas aplicado
ao problema em estudo.
1 ymin
η̅ = ∫0 η(y)dy (8)
ymin

Em que ymin é a fração acumulada de passante que corresponde ao diâmetro da menor partícula
que será coletada com eficiência de 100% (dp,min).
Para o caso raro, porém possível, de que nenhuma partícula seja coletada com eficiência
individual de 100% a eficiência global de coleta pode ser escrita como na Equação (9).
1
η̅ = ∫0 η(y)dy (9)

Se a lei de Stokes for válida pode-se simplificar a eficiência individual de coleta em


função do diâmetro de corte (dpc). O diâmetro de corte para esses equipamentos é definido como
sendo o diâmetro no qual as partículas são separadas com 50% de eficiência. Dessa forma,
aplicando-se esse conceito à Equação (7) tem-se que o diâmetro de corte pode ser escrito como
sendo:
9Qμ
dpc = √ (10)
LB(ρs −ρ)g

Fazendo a razão entre o diâmetro da partícula calculado pela Equação (7) e o diâmetro
da partícula de corte da Equação (10) tem-se que:
𝑑𝑝
= √2η (11)
dpc

Rearranjando a Equação (11) chega-se na expressão para a eficiência individual de


coleta de uma partícula no regime de Stokes em função do diâmetro de corte apresentada pela
Equação (12).
5

2
𝑑𝑝
η = 0,5 ( ) (12)
dpc

Também é possível expressar, quando válida a lei de Stokes, a eficiência individual de


coleta em função do diâmetro da menor partícula coletada com eficiência de 100% (dmin).
Dividindo-se a Equação (7) para η = 1 pela Equação (10) tem-se que:
dmin
= √2 (13)
dpc

Explicitando-se dpc na Equação (11), substituindo na Equação (13) e rearranjando em


função da eficiência tem-se que:
𝑑𝑝 2
η=( ) (14)
dmin

Para o projeto de câmaras de poeiras recomenda-se fixar a velocidade do gás entre 0,3
e 1,5 m/s (normalmente usa-se 0,3 m/s) e fixar uma das dimensões da câmara de poeira (B, H
ou L) no qual a escolha normalmente está condicionada à disponibilidade de espaço, aspectos
sobre segurança do trabalho, custos, acessibilidade para limpeza e manutenção dentre outros
fatores.

REFERÊNCIAS:

Cremasco, M. A. Operações unitárias em sistemas particulados e fluidomecânicos. 2. ed.


São Paulo: Blucher, 2014.

Peçanha, R. P. Sistemas Particulados: Operações unitárias envolvendo partículas e


fluidos. 1. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.

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