Dcii Praticas Da Joana Neto
Dcii Praticas Da Joana Neto
Dcii Praticas Da Joana Neto
Direito Constitucional II
Aulas Práticas
I - Estruturas Normativas
Atos Legislativos
Nota Orgânica: Pretende significar o órgão que tem competência para emanar o ato legislativo.
o Assembleia da República (Lei)
o Governo (Decreto-Lei)
o Assembleias Legislativas Regionais (Decretos Legislativos Regionais)
Nota Formal: Significa que só são atos legislativos aqueles que estão previstos na Constituição da
República Portuguesa – Princípio da Tipicidade (Art. 112.º/1 da CRP)
Nota Substantiva: Significa que o ato legislativo tem de prosseguir o interesse público.
Carácter Geral → Determina que uma lei se tem de aplicar a um número indeterminado de casos ou situações.
Exceções
Leis Medida: É uma exceção à regra da generalidade. Admite-se que exista uma lei que se aplica a casos
concretos/determinados para fazer face a uma situação de urgência. Ex: Incêndios.
Leis Individuais: É uma exceção à regra da abstração. Admite-se que uma lei vise abranger apenas um
número determinado e limitado de pessoas, desde que dela se possa reiterar um princípio geral.
Categorias de Leis
I. Leis Constitucionais
Dizem respeito às leis de revisão constitucional.
São as leis cuja Constituição determina que são leis orgânicas no Art. 166.º/2, sem que haja um qualquer
denominador comum entre elas.
A. Forma Específica
Art. 168.º / 4 da CRP – Algumas leis orgânicas são votadas em Plenário (a maioria).
Art. 168.º / 5 da CRP – As leis orgânicas têm de ser aprovadas pela maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções .
Art. 136.º / 3 da CRP – Para superar o veto político do Presidente da República, é exigida a maioria
de 2/3 dos deputados presentes, desde que em número superior à maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções. Diferentemente de uma lei normal que, para superar o veto
do Presidente da República, apenas exige a maioria absoluta.
Art. 278.º / 4 da CRP – Alargamento da legitimidade processual para suscitar a fiscalização
preventiva da Constitucionalidade:
Primeiro Ministro
1/5 dos deputados em efetividade de funções
Só após 8 dias, o Presidente da República pode promulgar o diploma para não impedir
uma hipotética suscitação de fiscalização preventiva de Constitucionalidade por parte
dos outros órgãos.
C. Valor
Reforçado
As leis orgânicas têm valor reforçado porque a CRP assim o diz no art. 112.º/3.
Significa que as leis orgânicas vão ter um valor superior às restantes leis, por força da Constituição.
Leis Orgânicas
Parametricidade Específica
Tem valor reforçado uma lei que, por força da CRP, é pressuposto normativo necessário de
outras leis.
Ex: - Leis de Autorização
- Leis de Bases
Parametricidade Geral
Algumas leis têm valor reforçado porque vão ter de ser respeitadas por outras.
Ex: - Leis Estatutárias
Nota: Uma Lei Estatutária é uma lei da Assembleia da República pois é esta que a aprova.
2. Valor Reforçado
As leis estatutárias têm valor reforçado ao abrigo da Parametricidade Geral, o que significa que as leis
estatutárias têm de ser por outras requisitadas e respeitadas.
Definir o Objeto – Tem de definir a matéria sob a qual vai incidir a autorização.
Definir o Sentido – Tem de definir a orientação que vai ter que ter o regime que o Governo vai criar, que a lei
de autorização vai seguir.
Definir a Extensão – Tem de definir até onde é que a lei de autorização pode ir, definir o número objetivo (nº
de casos) e subjetivo (nº de destinatários).
Definir a Duração – Tem que definir o tempo que é dado ao Governo para legislar. Acabado esse tempo, a
autorização deixa de existir.
Princípio da Irrepetibilidade
Decurso do Prazo – Quando o prazo estipulado para legislar acabar, a autorização cessa.
Revogação da Autorização – A Assembleia da República retira (revoga) a autorização. A revogação pode ser:
o A demissão do Governo;
o O termo da Legislatura;
o A dissolução da Assembleia da República.
Isto acontece porque uma autorização legislativa é concedida com base na relação de
confiança existente entre os dois órgãos.
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As leis de autorização legislativa têm valor reforçado ao abrigo do critério da Parametricidade Específica (Art.
112.º/3 CRP) pois são pressupostos normativos de outras leis, nomeadamente dos decretos-lei autorizados.
Tenhamos ainda em atenção que não é o decreto-lei autorizado que tem valor reforçado, mas sim a lei da
Assembleia da República que o autoriza. Assim, se este violar a Lei de Autorização Legislativa, estaremos
perante uma ilegalidade reforçada/qualificada.
Uma lei de autorização legislativa não afeta diretamente os cidadãos, ou seja, não produz efeitos externos.
Estes são só emanados dos decretos-lei autorizados.
Inconstitucionalidade derivada: o vício está na lei de autorização (por exemplo, quando não é definido o
sentido da lei) e o decreto-lei autorizado que derivou dele e entrou em vigor padece de inconstitucionalidade
derivada (e não própria).
* A par da inconstitucionalidade orgânica, temos uma ilegalidade reforçada porque o decreto-lei está a ir
contra a lei de autorização (que tem valor reforçado). Sempre que temos uma ilegalidade e uma
inconstitucionalidade, o que pesa mais é a inconstitucionalidade. Logo, a inconstitucionalidade “consome” a
ilegalidade reforçada.
Esgotamento da Autorização
Início da Autorização
O Governo pede uma autorização à AR e a AR concede-lha. O Governo, para legislar, precisa que o diploma seja
promulgado e publicado em Diário da República. Nunca um diploma pode produzir efeitos sem que seja
publicado no Diário da República. Sendo assim, é esse o momento de início da autorização.
Exemplo
Imaginemos que temos uma lei de autorização publicada no DR no dia 1 de fevereiro. O CM aprovou o decreto-
lei autorizado no dia 1 de março. Mas no dia 15 de março o PR vetou. Pode o Governo, ao abrigo da mesma lei de
autorização, fazer um novo decreto-lei autorizado?
Depende: se o conseguirem aprovar e enviar para o Presidente da República dentro do prazo, sim, mas, se não
conseguir, então não pode e há uma inconstitucionalidade orgânica. A posição do curso considera o momento
em que o Presidente da República recebe o diploma para promulgação, ao contrário do Tribunal Constitucional
que considerou num acórdão que o momento a considerar é aquele em que o decreto-lei autorizado é aprovado
pelo Conselho de Ministros. Em suma, a data considerada relevante é a data em que o Presidente da República
recebe o diploma reformulado e aprovado pelo Conselho de Ministros.
Consideramos que a autorização foi utilizada quando temos o decreto-lei autorizado completo, ou seja, quando é
aprovado, promulgado e publicado em Diário da República. Logo, isto não põe em causa o princípio da
irrepetibilidade da cessação da autorização.
No meio deste processo, quando o Governo precisa de uma lei de autorização para fazer algo, o que é que
ele faz?
“Cavaleiros orçamentais” - são autorizações legislativas (normalíssimas) que não têm nada a ver com
matérias orçamentais, mas que vão “a cavalo” do orçamento, de forma a que a autorização legislativa seja
utilizada dentro do prazo. Mas há uma particularidade: estas leis têm a duração de 1 ano. (Artigo 165.º/5)
V. Leis de Bases
Noções
Noção: É uma lei da Assembleia da República que define as regras gerais/princípios orientadores que um
determinado regime jurídico deve seguir.
Como é que se distingue uma Lei de Bases de uma Lei de Autorização Legislativa?
As Leis de Base já vão produzir efeitos, já há uma certa vinculação dos destinatários do regime. Enquanto que
a Lei de Autorização não produz efeito nenhum por si só – só produz efeitos para o Governo.
As leis de base têm valor reforçado pelo critério da Parametricidade específica porque são pressupostos
normativos necessários dos decretos-lei de desenvolvimento.
Se estivermos perante uma matéria de reserva e o decreto-lei do Governo violar a lei de bases,
estamos perante uma ilegalidade reforçada.
Exemplo: Imaginemos que na nossa casa a nossa mãe cola no frigorífico as regras gerais que temos
que cumprir para ajudar as tarefas domésticas – estas são as bases gerais que a nossa mãe
determina. Neste cenário a nossa mãe é a Assembleia da República a fazer uma lei de bases. Nós
olhamos para o frigorífico e dizemos: “não vou fazer isto, vou fazer um regime diferente deste”,
então fazemos um decreto-lei simples e está tudo bem porque lei e decreto-lei fora da reserva têm o
mesmo valor. Coisa diferente é se dissermos que vamos fazer tudo e, portanto, fazemos um decreto-
lei de desenvolvimento, mas depois não levamos o lixo e não fazemos a cama, ou seja,
desobedecemos às regras, porque neste caso teremos uma ilegalidade reforçada.
Em suma, se o Governo quiser contrariar ou não concordar com a lei de bases emanada da
Assembleia da República, pode fazer um decreto lei simples (se for matéria concorrente). Pelo
contrário, se se comprometer a cumprir aquilo que está estipulado na lei de bases e violar algum dos
seus aspetos, comete uma ilegalidade reforçada.
Noção: A Apreciação Parlamentar é um instrumento de que a Assembleia da República dispõe para controlar a
atividade legislativa do Governo.
Imaginemos que o Governo faz um decreto-lei sobre uma determinada matéria, passa por todas as fases por que
tem que passar e entra em vigor. Contudo, a Assembleia da República não concorda com este regime. Que forma tem
a Assembleia da República de alterar ou suspender este regime jurídico? Pedindo uma apreciação parlamentar.
Em suma
Legitimidade para pedido de Apreciação Parlamentar: Têm que ser, no mínimo, 10 deputados a pedir a A.P.
Os direitos fundamentais têm caraterísticas que permitem proteger os cidadãos, sedo que há uma divisão:
Notas Características
Posição Jurídica
Visam proteger uma posição de uma pessoa individualmente considerada. Ou seja, cada pessoa na sua
individualidade tem acesso aos direitos.
Individualidade
Os direitos fundamentais são individuais, ou seja, cada pessoa singular possui direitos fundamentais.
Universalidade e Permanência
Os direitos fundamentais são universais, valem sem diferenciações e permanecem a partir do momento em
que são adquiridos.
Art. 16.º nº1 da CRP- “ Os direitos fundamentais consagrados na Constituição não excluem quaisquer outros
constantes das leis e das regras aplicáveis de direito internacional. “
Artigo 17.º da CRP - “O regime dos direitos, liberdades e garantias aplica-se aos enunciados no título II e aos
direitos fundamentais de natureza análoga.”
Os DLG não exigem uma intervenção do estado, o Estado tem um papel negativo, não interferindo.
Pelo contrário, os DESC exigem uma intervenção positiva ou prestacional por parte do Estado (Exemplo:
Art.73º. da CRP).
Todos os DLG têm um conteúdo determinado na CRP. Ou seja, o seu conteúdo está determinado a nível
constitucional.
Já os DESC têm um conteúdo mínimo - não está totalmente determinado na CRP. É o legislador que
posteriormente o classifica.
Os DLG são independentes de qualquer Governo . A sua efetivação é independente de escolhas políticas.
Os DESC estão dependentes de escolhas políticas. Ou seja, estão dependes de um determinado Governo e
necessitam da intervenção do Estado – que está diretamente ligada a questões económico/financeiras.
Em abstrato
Significa decidir sobre a validade da norma sem qualquer caso em apreço. Ou seja, ver se a norma é
compatível com a CRP, independentemente do contexto em que está inserida.
Em concreto
Neste tipo de fiscalização da constitucionalidade, não se vai para o Tribunal Constitucional decidir uma
questão de constitucionalidade, o que nós temos aqui é um litígio real que vai para um Tribunal ordinário e
surge uma questão de constitucionalidade. Aí é o juiz que está a julgar aquele processo que vai decidir se vai
ou não aplicar a norma em questão consoante ela for ou não conforme a Constituição. Em suma, é aquela
fiscalização da constitucionalidade que se faz num determinado caso/litígio.
- O Tribunal Constitucional pode intervir em recurso.
Fiscalização da Constitucionalidade
Fórmulas
As exigências para a fiscalização abstrata preventiva são muito mais do que para a fiscalização abstrata sucessiva, pois
esta vem para prevenir que entre em vigor uma norma que tenha algum vício constitucional.
Temos um diploma que é aprovado, enviado para o Presidente da República para o promulgar e este parece-lhe
haver ali um problema de constitucionalidade. Se o PR considerar que há ali um vício, envia o diploma para o TC
colocando a questão. O TC, por sua vez, pode pronunciar-se ou não pela inconstitucionalidade.
o Se o TC não se pronunciar pela inconstitucionalidade, o diploma volta para o Presidente da República e este
pode promulgar ou vetar politicamente.
o Se, por outro lado, o TC pronunciar-se pela inconstitucionalidade, o diploma volta para o Presidente da
República, mas este tem a obrigação de vetá-lo por inconstitucionalidade.
Este é um veto:
Obrigatório - o PR não pode optar por não vetar o diploma;
Expresso - tem de dar a fundamentação;
Suspensivo - suspende o procedimento normativo e quaisquer efeitos daquele diploma.
Após o veto por inconstitucionalidade, o diploma volta para o órgão que o aprovou, que pode ser a Assembleia da
República ou o Governo.
Em suma
e) Efeitos da decisão
O TC pode pronunciar-se ou não pela inconstitucionalidade. Se houver uma pronúncia por
inconstitucionalidade, o PR faz um veto por inconstitucionalidade – que tem de ser obrigatório, expresso e
suspensivo – e o diploma volta para o órgão que o emanou.
Se for a AR, esta pode expurgar a norma inconstitucional, reformular ou superar o veto; se for o Governo, ou
expurga ou reformula. Nunca há uma superação do veto por parte do Governo, só a AR o pode fazer.
Por outro lado, se não se pronunciar, está tudo bem e não acontece nada.
Quando o Presidente da República pede ao Tribunal Constitucional para este se pronunciar, estamos perante
o “princípio do pedido” - quando o TC se pronunciar, só o vai fazer sobre a/as normas para cuja a
fiscalização foi suscitada.
Contrapõe-se à fiscalização abstrata preventiva porque a fiscalização abstrata sucessiva sucede a entrada em vigor da
norma, o que pode ter acontecido em qualquer data anterior ao início do processo de fiscalização da
constitucionalidade.
e) Efeitos da decisão
O TC pode declarar ou não a inconstitucionalidade da norma.
o Se não declarar, a norma continua em vigor e a produzir os seus efeitos.
o Se declarar a inconstitucionalidade da norma:
1. Tem força obrigatória geral, ou seja, mais nenhum órgão público ou privado pode aplicar a
norma – esta é eliminada do ordenamento jurídico.
2. Eficácia retroativa, isto significa que se vão apagar todos os efeitos que a lei produziu desde o
momento que entrou em vigor;
Exceção: Art. 282.º/e CRP – Ficam ressalvados os casos julgados, salvo decisão em contrário do
Tribunal Constitucional quando a norma respeitar a matéria penal, disciplinar ou de ilícito de
mera ordenação social e for de conteúdo menos favorável ao arguido.
3. Efeito repristinatório, isto é, a reentrada em vigor da norma que foi revogada pela norma agora
declarada inconstitucional, para que não exista um vazio jurídico. (a norma que estava em vigor
antes da que foi declarada inconstitucional vai voltar a ser aplicada).
3- Fiscalização Concreta
Contrapõe-se à fiscalização abstrata porque temos um litígio que está em tribunal e, no meio desse processo, é
suscitada a fiscalização da constitucionalidade. O juiz, para resolver aquele litígio, vai julgar inconstitucional ou não a
lei para cuja fiscalização constitucional foi suscitada.
b) Qual o prazo?
A fiscalização da constitucionalidade tem de ser suscitada enquanto o processo está a decorrer.
c) Quem fiscaliza?
O juiz do tribunal ordinário – o juiz do caso.
d) Questões suscitadas?
Questões de inconstitucionalidade (Art. 280.º/1)
Questões de ilegalidade reforçada (Art. 280.º/2)
e) Efeitos da decisão
1ª Fase
Passa-se no tribunal do caso (Tribunal “a quo”)
Confrontado com uma questão de inconstitucionalidade, faz uma de duas coisas:
Aplica a norma;
Não aplica a norma.
2ª Fase – Recurso
Parte que suscitou o incidente, quando tiver esgotado todas as restantes vias de recurso.
Decisão Negativa
O Ministério Público, se for parte e tiver suscitado o incidente, quando esgotar as restantes
vias de recurso. (Art. 70.º/2 LTC)
Parte Prejudicada
Ministério Público é obrigado a recorrer, mesmo não sendo parte do processo, se a norma
constar de:
Convenção Internacional;
Ato legislativo; Art. 280.º/3 da CRP
Decreto Regulamentar
Art. 72.º/4 da LTC – Exceção à obrigatoriedade de recurso pelo MP em casos de convenção internacional, ato
legislativo ou decreto regulamentar:
Quando já houver uniformização de jurisprudência em relação àquela norma pelo Tribunal Constitucional, ou seja,
quando o TC já tiver estipulado que aquela norma é/ não é para ser aplicada, o MP não é obrigado a recorrer.
O que é mais grave para o interesse público: Decisão Negativa ou Decisão Positiva?
Positiva, porque a norma foi aplicada pelo juiz ordinário e rejeitada pelo Tribunal Constitucional em recurso.
Os procuradores do MP são juízes que são colocados em todos os tribunais, que vão defender e zelar pelos interesses
do Estado
A partir do momento em que uma norma vai para o Tribunal Constitucional no âmbito da fiscalização concreta e o TC
a julga inconstitucional, pode iniciar-se um processo de fiscalização abstrata sucessiva, pois se a norma já foi por 3
vezes, em casos concretos, julgada inconstitucional, algo não estará bem. Logo, daremos início ao processo de
fiscalização abstrata sucessiva para ver se a norma deve ou não ser inserida no nosso ordenamento jurídico. (Art.
281.º/3 CRP + art. 82.º LTC). Através desse processo, a norma pode ou não ser julgada inconstitucional.