As Leis de Valor Reforçado - Bruno Lai
As Leis de Valor Reforçado - Bruno Lai
As Leis de Valor Reforçado - Bruno Lai
Índice estrutural
I - Objectivos
II - A lei em sentido lato
III – O n.º 3 do artigo 112º
IV – Leis Reforçadas
Elenco
Critério das leis reforçadas
V – Leis orgânicas
VI – Leis de base
Lei de bases do sistema Educativo
VII – Leis de autorização legislativa
VIII - Leis estatutárias
Estatuto orgânico de Macau
IX – Conclusão
X – Bibliografia Principal
1
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
I Objectivos –
Com o presente trabalho, cujo tema versa sobre as especialidades técnicas e legislativa
na feitura de certas categorias de lei - 12ª sessão, do Curso de Pós-Graduação em
Legística e Ciência da Legislação, proferida pela Professora Doutora Margarida Salema
d`Oliveira Martins, pretende-se estudar as leis de valor reforçado.
Contudo, nos assuntos em que por experiência pessoal já houve possibilidade de uma
análise jurídica será dada uma especial atenção ao assunto, como são os casos da Lei de
Bases do Sistema Educativo e a Lei Orgânica de Macau.
2
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
Para o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, pese embora este artigo seja uma espécie de
“magna Charta” sobre a actividade normativa, os actos normativos não se esgotam nesta
norma, já que aqui faltam a lei de revisão constitucional, as convenções internacionais,
os regimentos das assembleias parlamentares, as convenções colectivas de trabalho e
normas estatutárias de diversa índole2.
IV Leis Reforçadas –
Elenco -
Na CRP estão tipificadas várias leis de valor reforçado, a saber:
- Leis Orgânicas (n.º 3 do artigo 112º e n.º 2 do 166º)3;
- Leis de Autorização (n.º 3 do artigo 112º e n.ºs 2, 3 e 4 do artigo165º)4;
- Leis de Base (n.º 3 do artigo 112º e alínea c) do n.º 1 do artigo 198º);5
1
In "CRP anotada", Gomes Canotilho/Vital Moreira Almedina, Coimbra, 1998, pp. 501 e ss.
2
In " Constituição da República Portuguesa Comentada", Lex, 2000, pp. 226 e ss.
3
(Forma dos actos) 2. Revestem a forma de lei orgânica os actos previstos nas alíneas a) a f), h), j),
primeira parte da alínea l), q) e t) do artigo 164.º e no artigo 255.º.
4
(Reserva relativa de competência legislativa) 2. As leis de autorização legislativa devem definir o
objecto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, a qual pode ser prorrogada. 3. As autorizações
legislativas não podem ser utilizadas mais de uma vez, sem prejuízo da sua execução parcelada. 4. As
autorizações caducam com a demissão do Governo a que tiverem sido concedidas, com o termo da
legislatura ou com a dissolução da Assembleia da República.
3
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
- Lei das grandes opções dos planos de desenvolvimento económico social (n.º 2
do artigo 105º)6;
- Leis de enquadramento do orçamento do Estado e das regiões autónomas (n.ºs 1
e 2 do artigo 106º7 e n.ºs 1 e 2 do artigo 165º)8;
- Lei da criação das regiões (artigo 255º)9;
- Estatuto das regiões autónomas (n.º 1 do artigo 228º)10;
- Lei quadro de adaptação do sistema fiscal nacional às especificidades regionais
(alínea i) do n.º 1 do artigo 227º)11;
- Lei quadro das reprivatizações (artigo 296º)12.
Do elenco de leis de valor reforçado apresentado pelo Professor Gomes Canotilho (na
obra já citada), pudemos detectar mais tipos de lei de valor reforçado apontado pelo
Professor Marcelo Rebelo de Sousa (também na obra já citada), que são:
5
(Competência legislativa) 1. Compete ao Governo, no exercício de funções legislativas: c) Fazer
decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos contidos em
leis que a eles se circunscrevam.
6
(Orçamento) 2. O Orçamento é elaborado de harmonia com as grandes opções em matéria de
planeamento e tendo em conta as obrigações decorrentes de lei ou de contrato.
7
(Elaboração do Orçamento) 1. A lei do Orçamento é elaborada, organizada, votada e executada,
anualmente, de acordo com a respectiva lei de enquadramento, que incluirá o regime atinente à
elaboração e execução dos orçamentos dos fundos e serviços autónomos.
8
(Reserva relativa de competência legislativa) 1. É da exclusiva competência da Assembleia da
República legislar sobre as seguintes matérias, salvo autorização ao Governo: (...).2. As leis de
autorização legislativa devem definir o objecto, o sentido, a extensão e a duração da autorização, a qual
pode ser prorrogada.
9
(Criação legal) As regiões administrativas são criadas simultaneamente, por lei, a qual define os
respectivos poderes, a composição, a competência e o funcionamento dos seus órgãos, podendo
estabelecer diferenciações quanto ao regime aplicável a cada uma.
10
(Estatutos) 1. Os projectos de estatutos político-administrativos das regiões autónomas serão
elaborados pelas assembleias legislativas regionais e enviados para discussão e aprovação à Assembleia
da República.
11
(Poderes das regiões autónomas) i) Exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como
adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regionais, nos termos de lei-quadro da Assembleia da
República;
12
(Reprivatização de bens nacionalizados depois de 25 de Abril de l974).
13
(Promulgação e veto) 3. Será, porém, exigida a maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde
que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, para a confirmação dos
decretos que revistam a forma de lei orgânica, bem como dos que respeitem às seguintes matérias:
14
(Fiscalização preventiva da constitucionalidade) 4. Podem requerer ao Tribunal Constitucional a
apreciação preventiva da constitucionalidade de qualquer norma constante de decreto que tenha sido
4
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- Leis aprovadas por maioria de dois terços (alínea o) do artigo 164º15, e n.º 6 do
artigo 168º)16.
O Professor Jorge Miranda aponta outras leis de valor reforçado17, aumentando ainda
mais o n.º deste tipo de leis:
enviado ao Presidente da República para promulgação como lei orgânica, além deste, o Primeiro-Ministro
ou um quinto dos Deputados à Assembleia da República em efectividade de funções. 5. O Presidente da
Assembleia da República, na data em que enviar ao Presidente da República decreto que deva ser
promulgado como lei orgânica, dará disso conhecimento ao Primeiro-Ministro e aos grupos parlamentares
da Assembleia da República. 6. A apreciação preventiva da constitucionalidade prevista no n.º 4 deve ser
requerida no prazo de oito dias a contar da data prevista no número anterior. 7. Sem prejuízo do disposto
no n.º 1, o Presidente da República não pode promulgar os decretos a que se refere o n.º 4 sem que
decorram oito dias após a respectiva recepção ou antes de o Tribunal Constitucional sobre eles se ter
pronunciado, quando a intervenção deste tiver sido requerida.
15
(Reserva absoluta de competência legislativa) o) Restrições ao exercício de direitos por militares e
agentes militarizados dos quadros permanentes em serviço efectivo, bem como por agentes dos serviços e
forças de segurança;
16
(Discussão e votação) 6. A lei que regula o exercício do direito previsto no n.º 2 do artigo 121.º e as
disposições das leis que regulam as matérias referidas nos artigos 148.º e 149.º, na alínea o) do artigo
164.º, bem como as relativas ao sistema e método de eleição dos órgãos previstos no n.º 3 do artigo 239.º,
carecem de aprovação por maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos Deputados em efectividade de funções.
17
Jorge Miranda “Manual de Direito Constitucional – Tomo V”, Coimbra, 2003, pp. 353 e ss.
18
5. A declaração do estado de sítio ou do estado de emergência é adequadamente fundamentada e
contém a especificação dos direitos, liberdades e garantias cujo exercício fica suspenso, não podendo o
estado declarado ter duração superior a quinze dias, ou à duração fixada por lei quando em consequência
de declaração de guerra, sem prejuízo de eventuais renovações, com salvaguarda dos mesmos limites.
19
(Reserva absoluta de competência legislativa) e) Regimes do estado de sítio e do estado de
emergência;
20
(Forças Armadas) 7. As leis que regulam o estado de sítio e o estado de emergência fixam as
condições do emprego das Forças Armadas quando se verifiquem essas situações.
21
(Reserva relativa de competência legislativa) 5. As autorizações concedidas ao Governo na lei do
Orçamento observam o disposto no presente artigo e, quando incidam sobre matéria fiscal, só caducam no
termo do ano económico a que respeitam.
22
(Reserva absoluta de competência legislativa) b) Regimes dos referendos;
23
(Categorias de autarquias locais e divisão administrativa) 4. A divisão administrativa do território
será estabelecida por lei.
5
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
Como critério residual o Professor Manuel Rebelo de Sousa diz ainda que têm valor
reforçado as leis que devam ser respeitadas por outras, apesar deste critério abranger
características dos outros critérios, esta derradeira definição permite reconhecer valor
reforçado nos princípios fundamentais das leis gerais da República, bem como na lei
do Orçamento, na lei das grandes opções do plano e nos estatutos político
administrativos dos Açores e da Madeira.
Uma doutrina minoritária, perfilhada pelo Professor Carlos Blanco de Morais, reconduz
como critério único, aferidor das leis reforçadas, apenas ao procedimento. Contudo,
24
12ª sessão do curso de pós graduação em legística e ciência da legislação.
6
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
como refere o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, tal critério não explica o
enquadramento evidente de leis de valor reforçado que não sejam leis de base ou
autorização legislativa (como por exemplo leis orgânicas, leis quadro, etc).
Nenhuma lei é revestida em si mesma de maior ou menor força do que outra, tudo se
reconduz a um fenómeno de relação entre leis. Nenhuma lei é reforçada por natureza e
tão pouco é fundamento de validade de outra, apenas pode ser condição de sua validade.
O Professor Jorge Miranda refere, ainda, que as leis de valor reforçado têm dois
sentidos: lato e restrito. As leis reforçadas em sentido lato são leis ordinárias reforçadas
dotadas de força jurídica específica, decorrente de relações complexas entre actos
legislativos.
Em sentido restrito são leis reforçadas todas as leis que possuam força específica
independentemente da sua concatenação, como as leis gerais da república. Aquelas leis
autonomizadas em virtude da sua instrumentalidade para determinados fins ou
institutos.
O mesmo Professor inclui um critério que não encontrámos noutros autores, se é que
podemos denominar de critério, a inconstitucionalidade indirecta, ou seja, a lei contrária
7
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
a lei de valor reforçado é inconstitucional, não porque ofenda uma norma constitucional
de fundo, de competência ou de forma, mas porque agride uma norma interposta
constitucionalmente garantida (artigos 280º, 281º e 282º). As leis reforçadas são-no,
unicamente, no confronto de outras leis25.
O referido Doutor expressa uma complexa estrutura das leis de valor reforçado que
importa sumariamente referir, quanto ao objecto, conteúdo normativo, função, âmbito
de vinculação, a competência dos órgãos donde emanam, as relações entre os órgãos e
quanto ao procedimento. O denominador comum a todas as leis reforçadas é a
específica força formal indesligável da função material que a Constituição lhes assina.
V Leis Orgânicas –
Segundo o Professor J. J. Gomes Canotilho, a categoria de leis orgânicas foi introduzida
na Constituição de 1976 através da Lei de Revisão n.º 1/8926. E, contrariamente às
constituições francesa e espanhola, o significado politico-constitucional de lei orgânica
na Constituição da República Portuguesa não é totalmente perceptível. Contudo,
segundo o conceituado Professor, as funções políticas das leis orgânicas, no
ordenamento constitucional português, estão bem definidas, a saber (cfr. também as leis
indicadas no artigo 166º n.º2)27:
25
Jorge Miranda “Manual de Direito Constitucional – Tomo V”, Coimbra, 2003, pp. 345 e ss.
26
In "Direito Constitucional e Teoria da Constituição", Almedina, Coimbra, 6ª edição, 2002, pp. 833 e ss.
27
(Forma dos actos) 2. Revestem a forma de lei orgânica os actos previstos nas alíneas a) a f), h), j),
primeira parte da alínea l), q) e t) do artigo 164.º e no artigo 255.º.
28
(Reserva absoluta de competência legislativa) c) Organização, funcionamento e processo do Tribunal
Constitucional;
29
(Reserva absoluta de competência legislativa) d) Organização da defesa nacional, definição dos
deveres dela decorrentes e bases gerais da organização, do funcionamento, do reequipamento e da
disciplina das Forças Armadas;
8
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
No que diz respeito às características, para o citado jurisconsulto, as leis orgânicas são
leis ordinárias da Assembleia da República (cfr. n.º2 artigo do artigo 166º), têm valor
reforçado (n.º 2 do artigo 112º)31, são típicas (o já analisado n.º3 artigo do artigo 166º) e
são da competência exclusiva do legislador orgânico. As leis orgânicas são ainda
votadas obrigatoriamente na especialidade do plenário e não em comissões (n.º 4 do
artigo 168º)32, têm um regime especial de fiscalização preventiva (n.ºs 4 a 7 do artigo
278º)33, exigem uma maioria qualificada e, por conseguinte, um largo consenso
parlamentar para a superação do veto político do Presidente da República (n.º 3 do
artigo 136º)34 e revestem uma forma especial (n.º 2 do artigo 166º).
Para o Professor de Coimbra as leis orgânicas têm o carácter de lei reforçada e atendem
a um critério de forma e especificidade procedimentais. Perfilhando a mesma tese, a
Professora Margarida d´Oliveira Martins apura este entendimento, dizendo que é a
Constituição que estabelece aquela forma e determina as diferenças procedimentais
relativamente a outras leis35.
30
(Reserva absoluta de competência legislativa) e) Regimes do estado de sítio e do estado de
emergência;
31
(Actos normativos) 2. As leis e os decretos-leis têm igual valor, sem prejuízo da subordinação às
correspondentes leis dos decretos-leis publicados no uso de autorização legislativa e dos que desenvolvam
as bases gerais dos regimes jurídicos.
32
(Discussão e votação) 4. São obrigatoriamente votadas na especialidade pelo Plenário as leis sobre as
matérias previstas nas alíneas a) a f), h), n) e o) do artigo 164.º, bem como na alínea q) do n.º 1 do artigo
165.º.
33
(Fiscalização preventiva da constitucionalidade) 4. Podem requerer ao Tribunal Constitucional a
apreciação preventiva da constitucionalidade de qualquer norma constante de decreto que tenha sido
enviado ao Presidente da República para promulgação como lei orgânica, além deste, o Primeiro-Ministro
ou um quinto dos Deputados à Assembleia da República em efectividade de funções.
34
(Promulgação e veto) 3. Será, porém, exigida a maioria de dois terços dos Deputados presentes, desde
que superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, para a confirmação dos
decretos que revistam a forma de lei orgânica, bem como dos que respeitem às seguintes matérias:
35
12ª sessão do curso de pós graduação em legística e ciência da legislação.
9
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
O Professor Jorge Miranda refere que existe uma correspondência estreitíssima entre
leis orgânicas e leis de valor reforçado, não só pelo facto das duas expressões terem
surgido ao mesmo tempo, mas também pela razão de as leis orgânicas terem sido as
únicas qualificadas como lei de valor de reforçado entre 1989 e 1997.
VI Leis de Base –
São leis consagradoras dos princípios vectores ou das bases de um regime jurídico, cujo
o desenvolvimento desses mesmos princípios cabe ao executivo37. Como exemplos de
leis de base temos as Leis de Base do Sistema Educativo, Leis de Base do Sistema
Judiciário, Leis de Base do Sistema da Saúde, etc.
O significado deste tipo de leis é mais desenvolvido pelo professor Gomes Canotilho,
cujo o sentido vai evocar à competência Legislativa da Assembleia da República, em
vários níveis: Nível de densificação legislativa total (artigos 164º e 165º), intermédio
(nos casos em que a disciplina legislativa da Assembleia da República incide sobre o
regime comum ou normal alíneas d), e) e h) do n.º 1 do artigo 165º)38 e nível de
36
In " Constituição da República Portuguesa Comentada", Lex, 2000, pp. 227 e ss.
37
In Gomes Canotilho "Direito Constitucional e Teoria da Constituição", Almedina, Coimbra, 6ª edição,
2002, pp. 837 e ss.
38
(Reserva relativa de competência legislativa) d) Regime geral de punição das infracções
disciplinares, bem como dos actos ilícitos de mera ordenação social e do respectivo processo; e) Regime
geral da requisição e da expropriação por utilidade pública; h) Regime geral do arrendamento rural e
urbano;
10
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
densificação limitado às bases gerais dos regimes jurídicos alíneas f), g), n), t), u) e z)
do n.º 1 do artigo 165º39.
Salientamos uma característica premente das leis de base, que é o facto de se esta for
modificada e o decreto-lei não for, verificar-se-á ilegalidade superveniente. Como
vamos poder ver mais adiante, a Lei de Bases do Sistema Educativo vai sofrer uma
alteração que vai obrigar à alteração do diploma de desenvolvimento (Estatuto da
Carreira Docente).
39
(Reserva relativa de competência legislativa) f) Bases do sistema de segurança social e do serviço
nacional de saúde; g) Bases do sistema de protecção da natureza, do equilíbrio ecológico e do património
cultural; n) Bases da política agrícola, incluindo a fixação dos limites máximos e mínimos das unidades
de exploração agrícola; t) Bases do regime e âmbito da função pública; u) Bases gerais do estatuto das
empresas públicas e das fundações públicas; z) Bases do ordenamento do território e do urbanismo;
40
in “Manual de Direito Constitucional – Tomo V”, Coimbra, 2003, pp. 370 e ss.
11
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
O que se pode afirmar na leis de base é que a doutrina de uma maneira geral aceita a
natureza paramétrica deste tipo de leis, que servem de pressuposto material à disciplina
estabelecida por estes outros actos legislativos.
A Lei de Bases do Sistema Educativo prevê que o Governo faça aprovar, sob a forma de
decreto-lei, legislação complementar relativa a carreiras de pessoal docente, depois de
ter definido, no seu artigo 36.º, os princípios gerais a que estas devem estar sujeitas:
41
12ª sessão do I curso de pós-graduação em legística e ciência da legislação.
12
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
Curioso é o artigo 6º do diploma que aprova o Estatuto da Carreira Docente, que diz o
seguinte: “Prevalência - 1 - O disposto no Estatuto aprovado pelo presente diploma
prevalece sobre quaisquer normas, gerais ou especiais”.
Ao que tudo indica, temos uma norma com uma característica da primariedade
hierárquica, sob forma de decreto-lei de desenvolvimento, fora do âmbito de lei de valor
reforçado elencado no n.º 2 do artigo 112º. É evidente que as leis de valor reforçado são
típicas, contudo, na nossa humilde opinião, é inegável que o legislador ordinário tentou
conceder uma primazia ao Estatuto da Carreira Docente.
13
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
sistema educativo, tem a seguinte disposição: 1 - O sistema educativo deve ser objecto
de avaliação continuada, que deve ter em conta os aspectos educativos e pedagógicos,
psicológicos e sociológicos, organizacionais, económicos e financeiros e ainda os de
natureza político-administrativa e cultural. 2 - Esta avaliação incide, em especial, sobre
o desenvolvimento, regulamentação e aplicação da presente lei.
42
(Administração e gestão dos estabelecimentos de educação e ensino) 4 - A direcção de cada
estabelecimento ou grupo de estabelecimentos dos ensinos básico e secundário é assegurada por órgãos
próprios, para os quais são democraticamente eleitos os representantes de professores, alunos e pessoal
não docente, e apoiada por órgãos consultivos e por serviços especializados, num e noutro caso segundo
modalidades a regulamentar para cada nível de ensino.
43
c) Fazer decretos-leis de desenvolvimento dos princípios ou das bases gerais dos regimes jurídicos
contidos em leis que a eles se circunscrevam.
44
In " Constituição da República Portuguesa Comentada", Lex, 2000, pp. 228 e ss.
45
In "Direito Constitucional e Teoria da Constituição", Almedina, Coimbra, 6ª edição, 2002, pp. 842 e ss.
14
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
Conforme a leitura das posições dos ilustres Professores, o Professor Marcelo Rebelo de
Sousa parece-nos inequívoco na atribuição desta característica da primariedade material
tanto às leis de base como às leis de autorização. Já o Professor Gomes Canotilho
apenas atribui esta particularidade às leis de base46.
No que diz respeito à sua materialidade, as leis de autorização versam sobre matérias da
competência reservada da Assembleia da República, e as leis de bases podem surgir em
qualquer domínio legislativo, salvo a competência reservada da Assembleia. Por fim a
lei de autorização é requisito de intervenção legislativa do Governo na área de
competência reservada da Assembleia, enquanto que a lei de bases só é pressuposto da
actividade legislativa do Governo quando versar matéria pertencente àquela área47.
46
In "Direito Constitucional e Teoria da Constituição", Almedina, Coimbra, 6ª edição, 2002, pp. 848 e ss.
47
Na nossa modesta opinião, são nestes critérios que as leis de autorização e as leis de base se
distinguem, muito embora o âmbito material seja o critério decisivo. Evidentemente que o resultado das
leis não pode ser o critério de distinção das duas leis, no caso da lei de autorização o Governo legisla uma
só vez e no caso da lei de bases poder existir todo um elencado de diplomas, mas ajuda-nos a perceber o
conteúdo e a razão de ser das mesmas.
48
Jorge Miranda “Manual de Direito Constitucional – Tomo V”, Coimbra, 2003, pp. 376 e ss.
15
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
sobre situações de vida, não revogam diplomas sobre matérias de autorização, na sua
modificação só têm efeitos para o futuro, está sujeito a prazos (caducando), só versam
uma vez sobre a matéria e a sua revogação antes da emissão de decreto-lei autorizado
impede a emissão deste.
49
12ª sessão do I curso de pós-graduação em legística e ciência da legislação.
50
(Estatutos) 1. Os projectos de estatutos político-administrativos das regiões autónomas serão
elaborados pelas assembleias legislativas regionais e enviados para discussão e aprovação à Assembleia
da República. 2. Se a Assembleia da República rejeitar o projecto ou lhe introduzir alterações, remetê-lo-á
à respectiva assembleia legislativa regional para apreciação e emissão de parecer.
16
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
leis da república, cfr. alínea b), do n.º 2 do artigo 280º51 e alínea c), do n.º 1 do artigo
281º52.
O Professor Marcelo Rebelo de Sousa é da mesma opinião, referindo que este tipo de lei
enquadra-se num critério residual das leis de valor reforçado, leis que devem ser
respeitadas por outras53.
A norma habilitacional é bastante singular (Lei constituinte): “Visto o disposto nos n.ºs
1 e 2 do artigo 6.º da Lei Constitucional n.º 5/75, de 14 de Março”. Já nas alteração
posteriores a 1990 temos: “A Assembleia da República decreta, ouvido o Conselho de
Estado, nos termos do n.º 3 do artigo 292.º da Constituição”56.
51
(Fiscalização concreta da constitucionalidade e da legalidade) b) Que recusem a aplicação de norma
constante de diploma regional com fundamento na sua ilegalidade por violação do estatuto da região
autónoma ou de lei geral da República;
52
(Fiscalização abstracta da constitucionalidade e da legalidade) c) A ilegalidade de quaisquer
normas constantes de diploma regional, com fundamento em violação do estatuto da região ou de lei geral
da República;
53
In " Constituição da República Portuguesa Comentada", Lex, 2000, pp. 227 e ss.
54
In “Funções, órgãos e actos do Estado”, pag. 302
55
Jorge Miranda “Manual de Direito Constitucional – Tomo V”, Coimbra, 2003, pp. 358 e ss.
56
(Estatuto de Macau) 3. Mediante proposta da Assembleia Legislativa de Macau ou do Governador de
Macau, nesse caso ouvida a Assembleia Legislativa de Macau, e precedendo parecer do Conselho de
Estado, a Assembleia da República pode aprovar alterações ao estatuto ou a sua substituição.
17
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
Pegando no que foi referenciado pelos Professores Gomes Canotilho e Marcelo Rebelo
de Sousa, podemos entender o Estatuto Orgânico de Macau como uma lei de valor
reforçado, porquanto as leis produzidas pela Assembleia Legislativa de Macau têm de
respeitar esta lei estatutária.
Salienta-se ainda o n.º 1 do artigo 69º do Estatuto Orgânico de Macau “Os diplomas
legais emanados dos órgãos de soberania da República que devam ter aplicação no
território de Macau conterão a menção de que devem ser publicados no Boletim Oficial
e serão aí obrigatoriamente publicados, mantendo a data da publicação no Diário da
República”, uma formalidade, compreensível porque, nos termos do artigo 5º da CRP,
Macau não faz parte do território português57.
Macau era apenas um território sob administração portuguesa (cfr. n.º 1 do artigo 292º
“O território de Macau, enquanto se mantiver sob administração portuguesa, rege-se
por estatuto adequado à sua situação especial, cuja aprovação compete à Assembleia
da República, cabendo ao Presidente da República praticar os actos neste previstos”.
A Lei Básica da RAEM foi alvo de intensas negociações entre o Governo Português e o
Governo Chinês e foi longo o processo negocial até 8 de Fevereiro de 1979. Neste dia,
57
(Território) 1. Portugal abrange o território historicamente definido no continente europeu e os
arquipélagos dos Açores e da Madeira
18
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
58
Aprovada para ratificação pela Resolução da Assembleia da República n.º 25/87. O texto da
Declaração Conjunta, em anexo, foi republicado no DR n.º 113, I Série, de 16 de Maio de 1988-
Suplemento. Ratificada pelo Decreto do Presidente da República n.º 38-A/87. Publicado no DR n.º 286,
I Série, de 14 de Dezembro de 1987, 3.º Suplemento, e rectificado no DR n.º 23, I Série, de 28 de Janeiro
de 1988. Publicada no Boletim Oficial de Macau n.° 23 - 3.º Suplemento, de 7 de Junho de 1988.
59
in “Macau: Os Três Momentos da Transição” Alfredo Gomes Dias, Professor na Escola Superior de
Educação de Lisboa , crónica.
60
A Assembleia Popular Nacional da República Popular da China autoriza a Região Administrativa
Especial de Macau a exercer um alto grau de autonomia e a gozar de poderes executivo, legislativo e
judicial independente, incluindo o de julgamento em última instância, de acordo com as disposições desta
Lei.
61
De acordo com o artigo 31.º da Constituição da República Popular da China, os sistemas e políticas
aplicados na Região Administrativa Especial de Macau, incluindo os sistemas social e económico, o
sistema de garantia dos direitos e liberdades fundamentais dos seus residentes, os sistemas executivo,
legislativo e judicial, bem como as políticas com eles relacionadas, baseiam-se nas disposições desta Lei.
19
Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
Já na Lei Básica de Macau denuncia-se uma inversão do sistema de consulta aos órgãos
macaenses, isto é em vez de os mesmos serem ouvidos nas decisões e na produção
legislativa, as leis e diplomas produzidos pelo poder legislativo de Macau submetem-se
aos princípios estabelecidos na constituição chinesa, exemplo disso é o artigo 12º da
LBM64. O poder de revisão da LBM pertence, também, à Assembleia Popular Nacional
da República Popular da China (cfr. artigo 144º da LBM). Curioso é, de igual modo, o
artigo 145º “Ao estabelecer-se a Região Administrativa Especial de Macau, as leis
anteriormente vigentes em Macau são adoptadas como leis da Região, salvo no que
seja declarado pelo Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional como
contrário a esta Lei. Se alguma lei for posteriormente descoberta como contrária a esta
Lei, pode ser alterada ou deixa de vigorar, em conformidade com as disposições desta
Lei e com os procedimentos legais”. Uma disposição de viola o princípio do Estado de
Direito Democrático, ínsito na CRP.
IX – Conclusão
Colhendo um pouco do que foi transcrito dos manuais dos ilustre Professores
referenciados, podemos elencar, salvo demasiada ousadia, pequenas características
gerais das leis de valor reforçado que são, essencialmente, a parametrecidade, o gozo de
uma maior formalismo de aprovação, de certa forma a característica de obediência
hierárquica (tanto a nível formal como material) na sua própria relação legislativa e,
como refere o Professor Jorge Miranda, “a específica força formal indesligável da
função material que a Constituição lhes assina”.
62
Artigo 292º da CRP - 3. Mediante proposta da Assembleia Legislativa de Macau ou do Governador de
Macau, nesse caso ouvida a Assembleia Legislativa de Macau, e precedendo parecer do Conselho de
Estado, a Assembleia da República pode aprovar alterações ao estatuto ou a sua substituição.
63
Artigo 292º da CRP - 4. No caso de a proposta ser aprovada com modificações, o Presidente da
República não promulgará o decreto da Assembleia da República sem a Assembleia Legislativa de Macau
ou o Governador de Macau, consoante os casos, se pronunciar favoravelmente.
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A Região Administrativa Especial de Macau é uma região administrativa local da República Popular da
China que goza de um alto grau de autonomia e fica directamente subordinada ao Governo Popular
Central.
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Bruno Lee Lai – I curso de Pós-Graduação em Legística e Ciência da Legislação
X – Bibliografia principal:
Recursos físicos
Recursos na Internet
- http://www.imprensa.macau.gov.mo/bo/i/1999/leibasica/index.asp
- http://www.incm.pt (para decretos-lei)
- http://www.spzc.pt/legislacao.html
- http://www.min-edu.pt/
- http://www.leme.pt/dicionarios/
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