Sentido, Significação e Significado

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SEMIÓTICA

Cláudia Renata Pereira De Campos


André Corrêa da Silva de Araujo
Sentido, significação
e significado
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Indicar diferentes formas de conceituar o significado dentro do prisma


da semiótica.
 Reconhecer o processo de significação e os diferentes níveis nos
quais opera.
 Distinguir entre o processo de significação e os percursos de produção
de sentido.

Introdução
Você já parou para pensar quantas vezes por dia nos perguntamos
o que tal coisa “significa”? Seja uma frase que ouvimos de alguém,
seja uma atitude tomada por um amigo, passamos grande parte de
nossa vida interpretando o que acontece ao nosso redor. A semiótica
é uma teoria que pretende estudar isso: não apenas o significado das
coisas, mas também o modo como nós dotamos o mundo de sentido.
Neste texto, você vai conhecer as principais teorias sobre o significado,
os processos de significação e como diferentes práticas comunicacionais
são dotadas de sentido.

Significado
“O que essa palavra significa?”; “Professor, você pode me explicar o signi-
ficado deste conceito?”; “O que significa isso que está acontecendo?”. Esses
questionamentos fazem parte de nossa vida. Você talvez nem note, mas o
modo como nos relacionamos com o mundo e a realidade é sempre mediado
por uma relação significante. Como espécie, a humanidade tem como ca-
racterística atribuir uma dimensão de sentido para sua vida e suas práticas.
2 Sentido, significação e significado

Somos Homo significans. Mas apesar de isso ser uma prática cotidiana, que
utilizamos continuamente sem notar, isso não quer dizer que o processo de
significar a realidade seja simples. Muito pelo contrário. O modo como a
linguagem opera é complexo, e a semiótica tem como objetivo deixar mais
claros os processos pelos quais atribuímos significados ao mundo e com eles
conseguimos nos comunicar.
O estudo dos significados tem uma longa tradição na história das ciências
humanas. Desde o surgimento da filologia, que é o estudo das línguas, já se
encontrava o questionamento de por que algumas palavras significavam coisas
específicas. Ao longo do século XIX, com a criação da disciplina da linguís-
tica, o estudo dos significados foi delimitado como campo de investigação
da semântica. As teorias semióticas surgem nesse contexto, como forma de
ter uma compreensão mais abrangente dos processos pelos quais dotamos de
sentido não apenas a linguagem, mas também o mundo como um todo.
A base do estudo dos significados reside numa questão de entendimento.
Se eu digo “cadeira”, eu espero que você entenda e saiba do que estou falando
– no caso, um objeto feito para alguém se sentar. Você reconhece a existência
desse objeto e a sua relação com a palavra “cadeira” e assim nos entendemos,
criamos um processo comunicativo. O significado da palavra “cadeira” em
uma interação humana básica é, portanto, o objeto feito para alguém se sentar.
Nota-se que nessa relação estamos nos referindo a um objeto que está fora
do nosso diálogo, um objeto que está no mundo e que possui uma represen-
tação na língua. Afirmar que esse objeto é o significado da palavra nos leva
a uma teoria referencial, onde o significado de uma determinada palavra é
um objeto ou conceito do mundo. Estamos falando de um objeto concreto,
mas você pode imaginar isso com conceitos ou abstrações, como amor ou
justiça. O significado é sempre algo que está fora da linguagem, algo que a
linguagem representa.

Para saber mais sobre as diferentes teorias do significado, você pode procurar o livro
de Ogden et al. (1972), O Significado de Significado, um dos clássicos na área.

Esse modo de compreender como a linguagem funciona só nos leva até


certo ponto. Em um exemplo clássico descrito por Nöth (1995), ele coloca em
Sentido, significação e significado 3

questão duas expressões: “estrela da manhã” e “estrela da tarde”. Ambas as


expressões representam o mesmo referente, ou objeto do mundo real: o planeta
Vênus. Entretanto, possuem significados distintos: “estrela da manhã” se refere
ao planeta Vênus quando aparece logo após o nascer do sol, e “estrela da tarde”
ao mesmo astro quando aparece no céu logo antes do pôr do sol. Ou seja, se eu
digo “estrela da manhã” quero dizer algo distinto de “estrela da tarde”, ainda
que o objeto ou o referente dessas expressões sejam os mesmos. Isso cria um
problema para a teoria do significado, pois emperra o processo comunicativo.
Os limites de uma teoria referencial do significado foram explorados pela
teoria semiótica. Já em Saussure (1970) esse problema é enfrentado. Quando
Saussure elabora sua teoria do signo linguístico, ele exclui o referente ou a
“realidade em si” do interior do signo. Para Saussure (1970), o significado é
um componente interno do signo, numa relação indissociável com um signi-
ficante. Para o linguista, o signo é um recorte entre uma “massa amorfa de
pensamento”, o significado, e uma “massa amorfa sonora”, o significante. Em
sua clássica formulação, ele afirma: “O signo linguístico une não uma coisa e
uma palavra, mas um conceito e uma imagem acústica” (SAUSSURE, 1970,
p. 79). Para Saussure, nada existe estruturalmente fora do par significante/
significado. Há uma imagem acústica formada e a ela corresponde um conceito,
uma ideia, um conteúdo. É o sistema semiológico que dá forma e estrutura
para o mundo ou a realidade.

Em português, a palavra “significado” assume dois sentidos distintos: há um uso


comum, no sentido de “o que isso significa?”, e um mais específico, que se refere ao
plano de conteúdo do signo linguístico. Em línguas como o inglês, há uma distinção
entre esses dois sentidos: para o primeiro se utiliza “meaning”, e para o signo se utiliza
“signified”. Fique atento a essas distinções.

A proposta de Saussure (1970) tem duas implicações importantes para


uma teoria do significado. A primeira é a de que não há ideias ou objetos
pré-formados do ponto de vista da linguagem. O pensamento e o mundo
aparecem como uma espécie de névoa, sem forma, antes do surgimento da
linguagem. O signo linguístico que é o responsável por organizar essa névoa em
estruturas, conceitos e palavras de forma a haver comunicação. É importante
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que você entenda este ponto: o significado, para Saussure, é uma dimensão
formal. Por isso a distinção entre forma e conteúdo não se aplicam em seu
sistema semiológico. Tanto o significante quanto o significado são formas
que organizam o mundo (NÖTH, 1996, p. 61). Então, para Saussure (1970)
não existe uma “cadeira” real à qual a linguagem se refere. Há um conceito
de cadeira que é acoplado e indissociável ao significante “cadeira”.
A segunda, diz respeito à ideia de valor semiótico. O significado é o
valor de um conceito dentro de todo um sistema semiológico, como uma
língua. Ele funciona por diferença. Por exemplo, sabemos o conceito de
“cadeira” pois ele é distinto do conceito de “mesa”. Podemos ampliar essa
conceituação para incluir outros conceitos, como “banco”, por exemplo.
Encontramos uma diferença entre o significado de “banco” e “cadeira”, pois
temos signos distintos para esses conceitos, mas você pode imaginar que
uma língua em que não haja essa distinção de palavras. Nesse caso, tanto
um banco quanto uma cadeira terão o significado: “objeto para alguém se
sentar”. Ou seja, o objeto real banco não terá valor semiótico, será seme-
lhante a uma cadeira.
Umberto Eco (2002), famoso semioticista italiano, rejeita qualquer valor
semiótico ao referente, pois também podemos mentir a partir de signos. Inte-
ressa mais a semiótica entender o que uma mensagem quer dizer e comunica, do
que se essa mensagem tem um correspondente no mundo real. Para Eco (2002,
p. 5), um significado é uma “unidade cultural” e não uma realidade concreta.
Você pode notar como isso se aplica no dia a dia quando pega um dicionário
para saber o que significa uma palavra que ainda não conhece. A definição de
tal palavra será dada com o uso de outras palavras, outros signos, que também
estarão presentes no dicionário. Seeguindo por esse caminho, procurando as
definições de cada uma das palavras dessas definições, você entrará em um
processo recursivo, onde cada conceito o leva para outro signo, que o levará
para outro conceito e assim por diante. Para Saussure (1970), é assim que
funciona a linguagem do ponto de vista da semiótica e de seus significados.
Alguns autores, como Prieto (1973), chamaram o estudo desse processo de
“semiologia da comunicação”. Entender o que diz uma mensagem nada mais
é do que decifrar os signos presentes em busca de seu significado, e quando
isso ocorre em uma interação entre duas pessoas (ou uma pessoa e um texto)
isso se constitui um ato comunicativo. Mas não é apenas o entendimento
mútuo de significados que a semiótica se propõe a estudar. Para além de uma
semiologia dos significados e da comunicação, a semiótica também produz
ferramentas para entender os processos pelos quais os significados tomam
forma. Aquilo que são chamados de processos de significação.
Sentido, significação e significado 5

Significação
O modelo do signo linguístico de Saussure privilegia a relação que se
estabelece entre significante e significado. Cada signo possui uma ima-
gem acústica e um conceito a ela relacionado. Esse tipo de relação, onde
cada signo possui um sentido estável, é o que se chama em linguística de
“denotação”. Um significado estável, facilmente mapeável. Mas, provavel-
mente, você já deve ter notado que na comunicação humana as coisas não
são tão diretas assim. Vivemos em um mundo onde as palavras assumem
diferentes sentidos dependendo da situação onde elas são usadas. Você
pode, por exemplo, estar apaixonado por alguém e dizer a essa pessoa
“você é o sol da minha vida”. Isso não quer dizer que a pessoa em questão
é um objeto celeste que produz calor. Há outra camada de significado que
se coloca nessa frase, significando que muito possivelmente você não
conseguiria viver sem essa pessoa, assim como a Terra não conseguiria
existir sem o sol. Da mesma forma, podemos ver diferentes significados
para frases dependendo da entonação, do contexto onde são ditas, da
escolha específica de palavras usadas para exprimir uma ideia. E isso não
acontece apenas com palavras: você notaria uma diferença bem grande
no sentido da imagem de uma maçã em um livro de biologia e uma maçã
em uma pintura de Cézanne.
Essa possibilidade dos signos assumirem diferentes significados diz res-
peito a um processo semiótico chamado significação. Pensar esse processo
nos leva a considerar que os signos da cultura não possuem significados
estáticos, mas vão agregando novas significações a partir da interação
social. A poesia, por exemplo, joga com a sonoridade e a relação entre
palavras para criar diferentes significados para palavras. Lembremos do
poeta Mário Quintana (2005), quando diz: “Eles passarão, eu passarinho”.
Ele está brincando com a forma das palavras e a sua estrutura (aumentativo,
diminutivo) para criar uma imagem poética que não diz respeito diretamente
ao significado denotativo das palavras.
O semioticista que primeiro estudou os processos de significação foi o
francês Roland Barthes. Em seu clássico livro, Elementos de Semiologia,
Barthes (2014) afirma que seria necessário ir além de uma semiologia da co-
municação e chegar em uma semiologia da significação. Para isso, ele decide
estudar como que se estabelecem as relações entre significante e significado
e quais os tipos de processos estão em jogo aí.
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Para elaborar sua teoria da significação, Barthes se utiliza do modelo semiótico proposto
por Louis Hjelmslev. Para saber mais como funcionam as relações entre o plano de
expressão e o plano de conteúdo, procure Prolegômenos para uma teoria da linguagem
(HJELMSLEV, 1975).

Barthes (2014) vai dividir a significação em dois processos, que chama de


níveis de significação. O primeiro é a denotação, a relação de um significante
com um significado. Esse seria o sentido literal de um signo, seu aspecto re-
ferencial e mais imediato, como, por exemplo a palavra “casa” referir-se ao
conceito “lugar onde se vive”. O nível básico da denotação é onde o processo
de significação tem início. O segundo nível, o nível mais complexo, é o nível
da conotação. Um signo conotado, para Barthes, é aquele que utiliza um signo
completo (dotado de significante e significado) como o significante de outro
signo, com um novo significado. No exemplo que demos anteriormente, da frase
“você é o sol da minha vida”, podemos ver esse processo de maneira mais clara.
Há o signo “sol”, que no nível denotativo significa “objeto celeste que produz
calor”. No nível conotativo, esse signo completo assume outro significado, de-
rivado das características do signo denotativo. Barthes (2014) faz um diagrama
desse processo, de forma a deixá-lo mais claro graficamente (Figura 1).

Figura 1. Esquema Conotação/Denotação


Fonte: Adaptada de Barthes (2014).

O processo de significação é aquele que inaugura uma cadeia de co-


notações, pois cada signo pode tornar-se significante de um novo signo e
assumir novas significações. A arte, a poesia, a música, o cinema fazem isso
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constantemente. A elaboração estética, do ponto de vista da semiótica, não


é mais que produzir novas significações, novos níveis conotativos e assim
expandir nossos modos de representar o mundo. Mas os processos conotativos
não dizem respeito apenas às artes. No cotidiano, usamos signos conotados
o tempo todo: quando usamos metáforas, quando mudamos nossa entonação
para deixar um ponto mais claro, quando contamos piadas e nos comunicamos.
Podemos, para exemplificar, utilizar a imagem fotográfica de uma floresta.
No nível denotativo, esse signo refere-se ao que foi fotografado: a floresta.
O nível conotativo seria a forma como a fotografia foi tirada: é uma foto
aérea, que representa a imensidão da natureza? É uma foto que mostra áreas
devastadas, conotando a ação humana no planeta? Essas pequenas diferenças
entre a denotação e a conotação tornam a semiótica um instrumento fascinante
para analisar e tentar compreender melhor o nosso mundo.
Alguns teóricos afirmam que na obra de Roland Barthes ainda haveria a
indicação de um terceiro nível de significação, o nível do mito. A concepção
de mito de Barthes (2001) é distinta do modo como o tratamos no dia a dia:
não diz respeito a uma história ficcional, uma mentira, ou aos mitos funda-
dores de uma sociedade, como os mitos religiosos, contos de deuses e seres
extraordinários. Para Barthes (2001), um mito é algo que povoa nosso dia a
dia de uma maneira que nem percebemos. Os mitos são significações conota-
das que pensamos ser significações denotadas. Confundimos determinados
significados como sendo literais ou naturais e nem notamos que são fruto de
um processo complexo de significação. Barthes (2001) afirma que os mitos
são sistemas semióticos secundários: criam significações que permanecem
escondidas, invisíveis, fazendo-se passar por um significado literal: “[...] o
mito não nega as coisas; ele as purifica, as torna inocentes, ele dá a elas uma
justificação natural e eterna”. (BARTHES, 2001, p. 143).
Barthes (2001) diz que isso é uma estratégia ideológica: há significados
políticos sendo veiculados por aquilo que parece ser um significado literal.
Barthes (2001) afirma que encontramos esse tipo de mito todos os dias: no
cinema, nos noticiários, na publicidade, etc. Você pode ver em uma rápida
análise de produtos midiáticos alguns mitos fundantes da nossa sociedade: a
ideia do sonho americano nos filmes de Hollywood; a representação ideal de um
corpo e de uma atitude feminina na publicidade; certas características raciais e
religiosas para os vilões em filmes de ação. Os mitos são como metáforas que
fingem não o ser: se propõe a ser uma representação direta e objetiva do mundo,
mas que na verdade veiculam conteúdos parciais e politicamente engajados.
Como afirma Barthes (2001), o mito transforma a cultura em natureza, cria
uma dimensão de senso comum geral para aquilo que é disputado, naturaliza
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processos de significação. O mito seria a dimensão política mais evidente no


uso dos signos e da linguagem. Para Barthes (2001), uma dimensão da análise
semiótica seria justamente identificar e desnaturalizar esses processos míticos.

No livro Mitologias, Barthes (2001) realiza uma análise exaustiva de mitos cotidianos,
desde as lutas de telecatch na televisão às propagandas de sabão em pó ou refeições
tradicionais como bife com batatas fritas. Você pode conhecer esses exemplos em
Barthes (2001).

Você pode observar como funciona os níveis de significação a partir de


exemplos cotidianos. Observe a fotografia da Figura 2.

Figura 2. Marilyn Monroe.


Fonte: Lucian Milasan/Shutterstock.com

Nesta foto, encontramos a famosa atriz de Hollywood, Marilyn Monroe.


A identificação da pessoa fotografada é o que podemos chamar do nível
denotativo da imagem, a quem essa imagem se refere diretamente. Mas há
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também níveis conotativos na imagem: o preto e branco, remetendo ao período


clássico do cinema norte-americano; os olhos semicerrados, o batom e a pose
sugestiva, conotando um tipo específico de sexualidade; o colar de pérolas,
significando um tipo de glamour bastante evidente. Vemos aqui que não se
trata apenas de uma pessoa famosa: há outros conteúdos sendo significados
em paralelo. Poderíamos até mesmo arriscar um terceiro nível de significação,
o do mito, se manifestando nessa fotografia. Esse mito cristaliza um ideal
de beleza feminino bastante específico: branca, loira, com uma sexualidade
alusiva e distante, quase proibida. Há outras formas de beleza, mas o mito
afirma um ideal, um padrão.
Roland Barthes dedicou-se a mapear os processos de significação em três
níveis, constituindo assim o que chamava uma semiologia da significação.
Outros autores da semiótica decidiram ir um passo além de Barthes, afirmando
que não apenas há processos de significação na linguagem, mas também que
a linguagem precisa produzir um sentido.

Sentido
É importante nesse ponto retomar o caminho que você percorreu. Inicialmente
foi discutido a dimensão do significado dos signos. Após isso entramos na
dimensão do processo da significação. Agora, você verá como se articulam
essas duas dimensões da semiótica: significação e sentido.
De acordo com Prieto, o sentido é uma relação social, mais do que uma
relação puramente semiótica (MARTINET, 1983). Para ele, o sentido é a
relação social que qualquer ato semiótico ou comunicacional estabelece
entre um emissor e um receptor. O sentido, diferente da significação, não diz
respeito apenas a processos internos do signo e sua relação com o universo
semântico da cultura. O sentido se expressa, invariavelmente, como um ato
de interação.
O sentido é um processo que, assim como seu significante aponta, possui
uma direção, um vetor, uma espécie de intencionalidade. “Qual o sentido
de fazer tal coisa?” é uma pergunta que, geralmente, se relaciona a um tipo
de motivação, na espera de um resultado. Ora, no plano da linguagem isso
também opera. Há frases que são elaboradas com um objetivo em vista, seja
ele pragmático ou apenas de entendimento.
No plano da semiótica é preciso destacar que o sentido tem uma relação
imediata com a significação. Não há sentido sem uma relação entre um sig-
nificante e um significado. Entretanto, no caso do sentido de uma proposição
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também entra em jogo uma dimensão contextual. E contexto aqui não diz
respeito apenas a um contexto cultural, como por exemplo os processos de
conotação e sua relação com os valores de uma cultura. Estamos falando de
um tipo de relação com o não linguístico.

O não linguístico não quer dizer não semiótico. Autores como Eric Landowski se
propõem a estudar justamente o modo como emerge o sentido a partir de interações
semióticas não linguísticas, como gestualidades, vestimentas ou comportamentos
sociais.

Prieto (1973) afirma que a dimensão do sentido é uma relação social concreta
que une fatores não linguísticos (emissor, receptor, contexto) com os processos
de significação internos ao funcionamento do signo (conotação, denotação, etc.).
O semiólogo lituano Algirdas Julien Greimas (1975) quando escreve es-
pecificamente sobre o sentido, afirma que seu lugar semiótico é muito difícil
de precisar. Levar em conta aspectos sociais faz com a determinação exata
de qualquer sentido seja uma afirmação muito ousada de ser feita. Por isso
seu trabalho é voltado aos aspectos da significação, ainda que, para ele, a
significação não seja mais do “sentido articulado” (NÖTH, 1995).
Para Greimas (1975), o sentido na significação aparece sempre de duas
maneiras: primeiro a partir de efeitos de sentido, que são o modo como o
sentido aparece como dado, a partir de convenções sociais e o tipo de ato que
gera; e a partir de processos de produção de sentido, dinâmicos. Os processos
de produção de sentido foram mapeados a partir da semiótica discursiva de
Greimas, nos distintos níveis estruturais da narrativa e operados a partir do
quadrado semiótico. Cabe destacar que Greimas (1975) compreende como
sentido a dimensão que opera para aquém e para além do signo: estrutura as
mais fundamentais oposições semânticas ao mesmo tempo em que se expressa
nos mais cotidianos atos das pessoas.
Neste capítulo, vimos três importantes conceitos para a semiótica do ponto
de vista tanto do funcionamento interno do signo como também dos modos
pelos quais eles circulam no interior da sociedade. Cabe destacar que o sig-
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nificado, a significação e o sentido jamais operam independentemente uns


dos outros: funcionam numa relação de pressuposição recíproca. Assim como
precisamos do significado para estabilizar as relações semióticas comunicacio-
nais, os processos de significação como a denotação e a conotação nos mostram
que essa relação sígnica é mais maleável e passível de transformação do que
aparenta em primeira análise. Da mesma forma, a significação jamais ocorre
em um “vácuo” semiótico: é a partir da interação dos sistemas semióticos com
as pessoas e a cultura em geral que moldamos o mundo, e é a partir de nossa
percepção do mundo por meio dos sentidos que dotamos as coisas.

BARTHES, R. Elementos de semiologia. São Paulo: Cultrix, 2014.


BARTHES, R. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.
ECO, U. Tratado geral de semiótica. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 2002.
GREIMAS, A. J. Sobre o sentido. Petrópolis: Vozes, 1975.
HJELMSLEV, L. Prolegômenos a uma teoria da linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1975.
MARTINET, J. Chaves para a semiologia. Lisboa: Dom Quixote, 1983.
NÖTH, W. A semiótica no século XX. São Paulo: Annablume, 1996.
NÖTH, W. Handbook of semiotics. Indianapolis: Indiana University, 1995.
OGDEN, C. K. et al. O significado de significado: um estudo da influência da linguagem
sobre o pensamento e sobre a ciência do simbolismo. Rio de Janeiro: Zahar, 1972.
PRIETO, L. J. Mensagens e sinais. São Paulo: Cultrix, 1973.
QUINTANA, M. Poeminha do contra. In: QUINTANA, M. Poesia completa: em um volume.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.
SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Cultrix, 1970.

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