Fake It Till You Bake It - Jamie Wesley

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Uma estrela de reality e um jogador de futebol americano

que faz cupcakes fingem ser um casal para salvar sua


confeitaria neste doce e sexy romance de Jamie Wesley,
Fake It Till You Bake It.

Jada Townsend-Matthews é a mulher mais insultada da


América depois de recusar uma proposta em um reality show
de namoro. Quando ela chega em casa para lamber suas feridas,
Jada se vê trabalhando na mais nova confeitaria de cupcakes de
San Diego, a Sugar Blitz, ao lado do proprietário tenso e
jogador de futebol americano profissional Donovan Dell.

Quando uma repórter acredita erroneamente que Jada e


Donovan são um casal, eles percebem que podem usar o mal-
entendido a seu favor para ajudar a confeitaria em dificuldades
e melhorar a imagem de Jada. Fingir um relacionamento deve
ser simples, mas às vezes o amor é um ingrediente inesperado.

Fake it Till You Bake It é uma doce confecção de um romance,


a história perfeita para se ler e desfrutar com um cupcake do seu
lado.
Sinopse
Tabela de Conteúdos
Dedicatória
Aviso — bwc
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Capítulo Doze
Capítulo Treze
Capítulo Quatorze
Capítulo Quinze
Capítulo Dezesseis
Capítulo Dezessete
Capítulo Dezoito
Capítulo Dezenove
Capítulo Vinte
Capítulo Vinte e Um
Capítulo Vinte e Dois
Capítulo Vinte e Três
Capítulo Vinte e Quatro
Capítulo Vinte e Cinco
Capítulo Vinte e Seis
Epílogo
Agradecimentos
Para quem já teve um sonho

Essa presente tradução é de autoria pelo grupo Bookworm’s
Cafe. Nosso grupo não possui fins lucrativos, sendo este um
trabalho voluntário e não remunerado. Traduzimos livros com
o objetivo de acessibilizar a leitura para aqueles que não sabem
ler em inglês.
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Caso esse livro tenha seus direitos adquiridos por uma
editora brasileira, iremos exclui-lo do nosso acervo.
Em caso de denúncias, fecharemos o canal
permanentemente.
Aceitamos críticas e sugestões, contanto que estas sejam
feitas de forma construtiva e sem desrespeitar o trabalho da
nossa equipe.
Donovan Dell era um jogador de futebol americano
profissional que adorava cozinhar.
De verdade.
Ele estava acostumado com os olhares intrigantes que as
pessoas lhe direcionavam quando sabiam que ele, um homem
que ganhava a vida aterrorizando quarterbacks, era co-
proprietário da Sugar Blitz, a melhor e mais recente lojas de
cupcake de San Diego. No entanto, ele não ligava.
A confeitaria o acalmava. Administrar seu próprio negócio
o empolgava. Seus planos para sua carreira depois que parasse
de jogar estavam começando a se enraizar. Do jeito que ele havia
planejado.
— Donovan, as vendas vêm caindo a seis semanas
consecutivas.
Tudo bem, talvez não exatamente do jeito que ele havia
planejado. Como sua contadora acabara de enfatizar sem
pensar em nenhum momento em seus sentimentos. Sua ligação
semanal de negócios teve um começo desastroso. Ele fez uma
careta para o celular inocentemente apoiado em sua mesa de
escritório.
— Donovan, você ouviu o que eu disse? — A exasperação
na voz de sua contadora saiu pelo alto-falante do telefone, em
alto e bom som.
— Sim, Shana, eu sei que os lucros diminuíram nas últimas
seis semanas — ele respondeu. Ele sabia mais do que qualquer
um.
O número de vendas foi alto – muito alto – quando a loja
abriu pela primeira vez em janeiro, depois que seu time foi
eliminado das competições eliminatórias (o que, a propósito,
foi uma merda), provavelmente porque as pessoas estavam
morrendo de vontade de ver seus jogadores de futebol
americano favoritos de perto e pessoalmente, vendendo
produtos de panificação. Depois daquele primeiro mês, no
entanto, o número de clientes diminuiu de uma enchente para
um gotejamento constante e irritante. Ele não sabia o porquê.
Ele fez toda a pesquisa de mercado. O produto deles era de alta
qualidade. A localização da loja era excelente.
No entanto, os números de vendas na tela de seu
computador não mentiam. E se ele e seus parceiros de negócios
fossem seguir com seu plano de contratar um gerente em
tempo integral, cujo salário seria totalmente financiado pelos
lucros da loja até o início do treinamento em julho, as vendas
precisariam se recuperar. Logo.
Ele sufocou seu centésimo suspiro do dia.
— Vamos dar a volta por cima.
Ele era Donovan Dell. Não cometia erros.
— Espero que sim. — Ela não parecia otimista, o que o
deixou tenso. Por que ele achou que era uma boa ideia
contratar sua irmã mais velha para ser sua contadora? Sim, ela
tinha uma mente brilhante, mas nunca respeitaria seu
relacionamento profissional. Afinal, ele era apenas seu
irmãozinho cujas fraldas ela havia trocado em muitas ocasiões.
— Eu disse que não tinha certeza se uma loja tão grande era a
melhor opção.
— Sim, eu sei. — Ele estava orgulhoso de seu tom cordial.
Ele havia comprado o prédio, localizado em East Village,
anos atrás, como um investimento imobiliário. Ele se
apaixonou pelo espaço aberto com seus tijolos aparentes e
luminárias originais. Então, no ano passado, seu melhor amigo
e companheiro de equipe, Nicholas, sugeriu transformar o
hobby dos dois em um negócio. Donovan tinha feito todos os
tipos de análises sobre o melhor uso para a propriedade, mas no
final das contas, ele confiou em seus instintos.
— Você já investiu muito dinheiro neste empreendimento
— ela continuou.
— Sim, eu sei — ele repetiu, talvez um pouco menos
educado desta vez.
— Você precisa começar a ter lucro logo — disse ela. — A
sua carreira no futebol americano não vai durar para sempre.
— Sim, eu sei, Shana — disse ele, com os dentes cerrados. O
tom cordial que ele estava usando havia desaparecido. Se havia
uma pessoa que era mais realista que ele, era sua irmã. Crescer
em uma casa com um pai que não assumia responsabilidades
fazia isso com você.
Shana resmungou.
— Eu só estou cuidando de você, irmãozinho. Podemos
conversar sobre sua vida pessoal, se quiser. Você sabe que
mamãe está morrendo de vontade de saber quando você vai se
casar e dar netos a ela.
Donovan gemeu, a mudança de assunto não estava servindo
de merda nenhuma.
— Você já deu dois humanos minúsculos para ela estragar.
Ele sempre considerou toda a coisa de casamento e filhos
como algo que ele resolveria quando aquele período nebuloso,
chamado futuro, chegasse. Talvez. Seus pais com certeza não
eram um exemplo de casamento perfeito.
— Humpf — disse sua irmã. — Como se ela achasse isso o
suficiente. Você sabe o que ela diz.
— Você não pode me dar netos se estiver trabalhando 24
horas por dia — disseram em uníssono. Eles riram por um
momento, depois ficaram em silêncio.
Shana suspirou
— Estou realmente preocupada com a loja, Donovan. —
Ele também. — Você pensou na possibilidade…
— Um momento, Shana. Tem alguém me ligando. — Ele
amava sua irmã, ela lhe deu conselhos a vida inteira, muitos
deles bons, mas esse em particular, era problema dele. Ele
encontraria uma solução sozinho. Além do mais, ele já sabia o
que ela ia sugerir: fechar a loja e construir um prédio residencial
com muitos apartamentos que poderia alugar por um valor
exorbitante graças à localização privilegiada da construção.
Provavelmente porque ele havia pensado na mesma coisa antes
de Nicholas propor a loja de cupcakes. Ele nunca havia se
arriscado antes. Mas ele se arriscou.
Quando criança, cozinhar com sua mãe era um momento
de alegria e calma quando seu pai transformava suas vidas
infelizes e caóticas. Ele foi impulsivo, ao invés de racional, pela
primeira vez em um bom tempo, e ia fazer a loja dar certo
mesmo que fosse a última coisa que ele fizesse.
— Sim, já vou, Nicholas — ele disse em voz alta para seu
parceiro de negócios, que claramente não estava em seu
escritório. — Shana, eu tenho que ir.
— Mas e quanto…
— Podemos falar sobre isso na próxima semana. Te amo. —
Donovan encerrou a ligação e pôs a cabeça entre as mãos. Ele
precisava de uma bebida forte. Mas beber estava fora de
questão. O que o levou para a segunda melhor opção.
Um cupcake.
Um cupcake Sugar Blitz sempre poderia ser usado para
melhorar as coisas. Nicholas, o melhor padeiro do grupo e a
pessoa que adorava inventar novas receitas, estava sempre
criando, e colocou seu mais novo sabor – crumble de maçã – à
venda naquela manhã. Donovan pretendia experimentar um,
mas ele trabalhou durante a hora do almoço, analisando os
números que não melhoravam, não importasse de quantas
maneiras ele os somasse.
Ele se afastou de sua mesa de carvalho enorme e se dirigiu
para a frente do prédio. A caminhada pelo corredor foi rápida.
Como sempre fazia quando entrava na loja, ele parou por um
segundo para inalar a inebriante mistura de baunilha, chocolate
e cobertura de creme de manteiga que enchia o ar. Nenhum
outro lugar em San Diego cheirava tão bem, ele tinha certeza.
Ele tentou não notar como a loja estava vazia. Algumas
mesas nos fundos estavam ocupadas, mas ele sempre imaginou
a confeitaria cheia de clientes, todos se empanturrando com
seus cupcakes. Ele supôs que sonhos ainda podiam se tornar
realidade. Não, eles se tornariam realidade.
Ele encaixou uma cadeira em uma mesa, pegou uma
embalagem errante do chão e jogou no lixo. Ele olhou ao redor.
Nenhuma imperfeição prosperaria sob seus cuidados. Nada
mais atraiu sua atenção. Uma sensação de satisfação o invadiu.
Tudo estava perfeito novamente. Bem, exceto pela falta de
clientes. E, sem mais nem menos, seus ombros ficaram tensos.
Ele vagou ao redor das mesas e se dirigiu ao balcão. Ele seria
seu próprio cliente, caramba, e pagaria, ao invés de furtar o
produto.
Pelo menos havia alguns clientes na fila à frente dele de olho
na vitrine de cupcakes. Não era uma fila longa, mas não podia
se dar ao luxo de reclamar. Porém ele sempre foi uma pessoa de
altas expectativas. Ele estabelecia metas, trabalhava e as
cumpria.
Ele se ajeitou para esperar na fila, sua mente estava se
voltando para possíveis soluções. Talvez eles precisassem de
uma liquidação, de mais publicidade…
— Garota, por que você vem aqui? — A mulher na frente
dele disse a sua acompanhante.
Os pensamentos de Donovan pararam bruscamente. Aqui?
Como assim aqui? Na Sugar Blitz? Ao lugar no qual ele
derramou sangue, suor e muito dinheiro?
Ela disse isso no tom mais esnobe que ele já tinha ouvido.
Ou talvez ele estivesse sendo sensível. Talvez ela tivesse dito isso
em um tom completamente neutro, e ele precisasse se acalmar.
Donovan relaxou deliberadamente os ombros e analisou sua
inimiga recém-declarada. Ou pelo menos a parte dela que podia
ver, ou seja, suas costas.
A Crítica de Lojas de Cupcakes estava vestida casualmente
com um macacão vermelho, mas haviam macacões baratos que
você comprava na liquidação da Ross, e macacões caros como
o que ela estava usando. A roupa era feita da seda pura mais fina
que, se ele fosse um cara fantasioso, diria que fluía como água
pelo corpo dela. Uma mulher acostumada com coisas de boa
qualidade. Ele se acostumou com coisas de boa qualidade nos
últimos oito anos, mas ainda sobravam vinte e dois anos de sua
vida em que ele comprava em lojas em liquidação. A roupa
deixava seus braços tonificados à mostra e destacava sua bunda.
O mesmo não podia ser dito sobre sua boca, que continuava a
reclamar.
A outra mulher disse algo, mas sua voz não era alta como a
da amiga. Uma pena.
Donovan se aproximou um pouco mais. Ele não deveria
estar escutando. Era rude e imaturo. E ele nunca era rude ou
imaturo. Prático e exigente, talvez – ok, sempre –, mas rude e
imaturo, não. Mas ela estava falando sobre seu orgulho e
alegria. E falando alto.
— Qual é a dessa ambientação?
Ambientação? Que caralhos havia de errado com a
ambientação? Quem em sã consciência usava a palavra
“ambientação” em uma conversa normal do dia a dia?
Donovan olhou rapidamente ao redor, embora soubesse de cor
cada centímetro. A luz do sol entrava pelas janelas de estilo piso
ao teto. Eles escolheram um visual moderno e industrial.
Linhas retas. Pisos de concreto, encanamento exposto,
alvenaria exposta. Toques modernos de cor adornavam as
paredes brancas. O designer de interiores com quem ele gastou
uma fortuna garantiu-lhe que era o melhor e mais atual
conceito de design. A cobertura colorida nos cupcakes se
destaca em contraste ao branco e ao prateado que
predominavam no espaço. Tudo estava arrumado e limpo, do
jeito que ele gostava.
— É tão…
Era tão o quê? Legal? Bonito? Acessível? Incrível? Essas eram
as únicas respostas aceitáveis.
— Sem graça — ela finalmente disse, seu tom de desprezo
fazendo as entranhas dele se contorcerem de horror como
sempre acontecia quando alguém lhe sugeria usar alfarroba em
vez de chocolate.
Ele deveria deixar para lá. Ele estava de mau humor, e não
seria bom confrontar uma mulher que tinha direito à própria
opinião. Mesmo estando errada.
— Sem graça, assim como os cupcakes — acrescentou.
— Com licença. — Foda-se, ele não ia deixar para lá.
Ninguém chamava seus cupcakes de sem graça. — Com licença
— ele repetiu, talvez um pouco alto demais, dada a forma como
as duas mulheres pularam ao mesmo tempo e se viraram para
encará-lo.
Merda. Ele esqueceu o que ia dizer. A Crítica era linda.
Deslumbrante, na verdade. A sua pele era negra. Seu rosto, em
formato de coração. Ele tinha certeza de que nunca tinha dado
atenção às sobrancelhas antes, mas as dela eram perfeitas,
impecavelmente arqueadas sobre grandes olhos que eram da
cor de suas gotas de chocolate favoritas. Inferno, todo o seu
rosto era perfeito. Maçãs do rosto altas. Lábios cheios e
exuberantes. Ela parecia ter saído de uma passarela. Ele olhou
para baixo. Não, ela era muito baixa para ser modelo. Os saltos
pretos acrescentavam pelo menos dez centímetros à sua altura.
Ele levantou a cabeça.
Um indício de algo – incerteza, talvez – passou pelos olhos
dela.
Ele deu um passo para trás. Droga. Ele estava acostumado
com seu corpo. Acostumado com o quão grande era e como,
muitas vezes, ele intimidava outras pessoas sem ao menos
tentar. Ter um metro e oitenta e três e 120 quilos era uma
vantagem em um campo de futebol americano – mas não na
vida real.
— Posso ajudá-lo? — O olhar de incerteza desapareceu,
fazendo-o se perguntar se ele tinha imaginado-o.
O tom de esnobe – e não, ele não estava imaginando isso –
imediatamente deixou seus nervos tensos mais uma vez. Ele não
se importava com o quão bonita ela era. Ninguém falava mal
dos seus cupcakes e saia impune
— Eu ouvi o que você disse.
Ela piscou com uma surpresa genuína, mas então seus
ombros enrijeceram e seu rosto assumiu uma expressão
provocativa.
— E?
Ele tinha que reconhecer, relutantemente, a coragem dela.
— E eu tenho que te informar que nossos cupcakes são os
melhores da cidade.
Seu olhar cético o olhou de cima a baixo e se concentrou no
logotipo da loja em sua camisa polo azul-petróleo.
— Você trabalha aqui. Óbvio que não dirá o contrário.
Ela achou que ele era um funcionário e não o proprietário
da loja. O que significava que ela não fazia ideia de quem ele
era, embora ele fosse um dos rostos mais famosos do San Diego
Knights. Ela pensou que ele estava tentando bajular seus chefes.
Ele percebeu que Ella, uma funcionária de meio período atrás
da caixa registradora, estava testemunhando tudo. Ela estava
fingindo não ouvir enquanto limpava sem entusiasmo as
migalhas inexistentes da bancada de quartzo com uma flanela.
Donovan balançou a cabeça em negação rapidamente. Ele
queria a opinião honesta da Crítica e não queria que ela fosse
influenciada por sua verdadeira identidade.
— Empregado ou não, eu falo a verdade.
Um rápido revirar de olhos o deixou ciente do que ela
pensava sobre essa declaração.
— Cara, você está realmente melando a cueca porque eu não
estou morrendo de amores por seus cupcakes?
Ele não estava melando a cueca.
— Meus cupcakes são excelentes. Usamos os melhores e
mais frescos ingredientes e as melhores receitas. Essa é a única
maneira de administrar uma confeitaria.
A Crítica cutucou a amiga com o cotovelo.
— Sim, ele está se melando todo. — Ela pressionou o queixo
com os dedos, aqueles lábios exuberantes se abrindo, então
assentiu como se estivesse tomando uma decisão. — Eu estava
errada.
Ela estava admitindo? Talvez seu dia estivesse finalmente
melhorando.
— Você é o tipo de cara que usa cueca boxer — ela
continuou, abrindo os braços em um movimento desafiador.
— É bem mais prático. Funcional e confortável, aposto.
Ele não daria a ela o luxo de uma resposta. Mesmo se fosse
verdade. O que era. Sua cueca boxer Calvin Klein era a melhor.
Mas ele não conseguia parar de ranger os dentes. Ela notou,
pois seu sorriso indicava isso.
Eles estavam entretendo as pessoas ao redor. A cabeça de sua
amiga ia de um lado para o outro como se estivesse assistindo a
uma fascinante partida de tênis em ritmo acelerado. Ella
desistiu de fingir que não ouvia. Ela pegaria um saco de pipoca
a qualquer momento. Graças a Deus seus sócios não estavam
lá. Ele morreria de vergonha. Mas ele deveria ser educado. Ela
era uma cliente, afinal de contas. Ele se forçou a sorrir.
— Por que você não experimenta um antes de falar mais
alguma coisa? É por minha conta.
A Crítica apontou para sua companhia.
— Ela veio comprar cupcakes, não eu. — O tom de nojo
pairou no ar, silencioso, mas ainda assim fatal. Ela girou
naqueles saltos finos como se tivesse feito isso a vida toda,
ignorando-o efetivamente. Seus dentes rangeram. Por que essa
mulher que ele nunca conheceu antes sabia exatamente como
irritá-lo?
— Isso é bom. A não ser que você esteja com medo — ele
rebateu. Ele ignorou a risada abafada de Ella.
A Crítica girou com admirável rapidez e agilidade. Ela
poderia ensinar a seus companheiros de equipe uma coisa ou
duas.
— Eu não estou com medo.
Oh, sim, parecia que ele tinha acertado em cheio.
— Então você não vai se importar em experimentar um.
Sua mandíbula trabalhou de lado a lado enquanto ela olhava
para ele.
— Claro. Por que não?
Alfinetar clientes definitivamente não estava no manual de
“Como ser um bom empresário”. Mas nunca foi sua intenção
ser perfeito. Motivado, sim. E sua alma motivada teve um dia
ruim. O mínimo que ela podia fazer era admitir que seus
cupcakes eram muito bons. Ele bateu palmas e contornou o
balcão antes que qualquer um deles pudesse cair em si.
— Qual eu posso pegar para você? Você come açúcar, certo?
Ela acenou relutantemente com a cabeça.
— Você é do tipo sem-glúten?
— Não.
— Excelente. Isso quer dizer que você tem todo o menu para
escolher.
— Mal posso esperar.
Ele escolheu ignorar o sarcasmo.
— Você parece uma pessoa que gosta de baunilha. — Tudo
bem, talvez ele não tivesse ignorado.
A sobrancelha erguida foi um sinal de que ela entendeu a
indireta.
— Isso é o melhor que esta loja pode oferecer?
Ele merecia isso.
— É o mais clássico dos sabores, mas trabalhamos duro para
criar sabores únicos e colocar nossa marca no mercado de
cupcakes de San Diego.
A cabeça dela inclinou para o lado.
— Mercado de cupcakes de San Diego? Eu não sabia que
isso existia.
Os lábios dele se curvaram apesar de sua relutância.
— Existe. — Um mercado e tanto, na verdade. A
competição era grande, mas isso só o motivou a ser o melhor.
Ela sorriu para ele. Um largo, e se ele admitisse – fascinante
– sorriso se estendeu pelo rosto dela.
— Quem diria? Vivendo e aprendendo.
— Então qual é o seu sabor favorito? Chocolate com cereja?
Algodão doce? Crumble de maçã? — Donovan estava
gostando de se exibir. Variedade em abundância. Os cupcakes
eram frescos, apetitosos e coloridos. E o mais importante,
grandes. Na Sugar Blitz não tinha miséria.
Ela bateu seguidamente o dedo indicador nos lábios cheios
de gloss enquanto analisava as opções.
— Eu quero o de biscoitos com creme — disse sua amiga.
Certo. Eles não estavam sozinhos. Ele quase se esqueceu
disso.
Donovan sorriu para a amiga, grato por alguém ter
apreciado as ofertas do cupcake grátis.
— Obrigado por ser uma cliente regular. Qual o seu nome?
— Olivia.
— Então, Olivia, um novo lote de cupcakes de biscoitos
com creme saiu do forno há menos de uma hora. Eu ficaria feliz
em comprar um para você.
Ele abriu a caixa e cuidadosamente tirou um cupcake,
certificando-se de não desmanchar o redemoinho de glacê de
creme ou as migalhas de Oreo que adornavam o topo da
sobremesa. Ele o entregou a Olivia, que imediatamente deu
uma grande mordida. O gemido de apreciação dela o fez dar um
soco no ar. Ele voltou sua atenção para sua amiga.
Ela estava observando Olivia, mas ainda não parecia
convencida. Se ele estivesse com um humor mais ameno,
gostaria de sua teimosia. Ele mesmo havia sido rotulado assim
mais de uma vez em sua vida. Ele fez por merecer o título.
Muitas pessoas sonhavam em se tornar um jogador profissional
de futebol americano. Poucas pessoas conseguiam.
— Meu favorito é o de chocolate com gotas de chocolate.
— Bom para você. Eu vou querer o de morango — ela
respondeu sem hesitação.
Uma mulher que conhecia os próprios gostos, algo que ele
sempre apreciou. Talvez pudesse ser um pouco mais brando,
afinal.
— Difícil estragar esse sabor — ela murmurou baixinho.
Infelizmente, ele ouviu cada palavra.
Assim como surgiu, sua apreciação desapareceu, como uma
poça de água em um dia quente. Mas ele não podia, não deixaria
que ela o atingisse. Ele conscientemente relaxou sua
mandíbula, então retirou a sobremesa da vitrine e a ofereceu.
— Uma escolha boa e segura.
Seus olhos castanhos se estreitaram. Mas ela pegou a
guloseima sem dizer uma palavra. Seus dedos se roçaram. Uma
faísca de algo elétrico, e definitivamente prazeroso, percorreu o
braço dele. O quê…? Ele não poderia estar atraído pela cliente
maldita. Um rápido brilho em seus olhos foi a única indicação
de que ela havia sentido também.
— Espero que goste — disse ele. Se sua voz soou mais rouca
do que o normal, bem, não havia necessidade de analisar
minuciosamente. Ele estava lidando com a situação com o
oposto de como ele costumava lidar. Mas não pensaria nisso
agora.
— E se eu não gostar? — ela desafiou.
Ele piscou. Ele não tinha considerado essa possibilidade
porque não fazia sentido. Tudo o que ele fazia era bom.
— Você vai.
Ela arqueou uma daquelas sobrancelhas perfeitas.
— Mas se eu não gostar?
Ele contornou o balcão, atraído por ela apesar de tudo.
Estando tão perto, seu cheiro flutuou em direção a ele. Suave,
floral, mais sedutor do que seus cheiros favoritos da Sugar
Blitz.
— Então, vou admitir publicamente que meus cupcakes são
sem graça.
Ela franziu o nariz.
— Então é isso? Preciso de algo a mais porque estou
deixando de lado minhas dúvidas e dando uma chance aos seus
cupcakes.
Ele suspirou.
— Tudo bem. Eu também vou implorar o seu perdão.
Uma sugestão de sorriso surgiu nos lábios dela.
— Implorar? Eu gosto dessa opção.
Ele ignorou a forma como seu sangue aqueceu com o flerte
descarado. Ela estava tentando distraí-lo. E estava fazendo isso
muito bem. Ele não podia deixá-la fazer isso.
— Uma pena que isso não vai acontecer.
— É o que veremos. — Sua risada rouca soou muito sexy
para ele. O que era totalmente sua culpa, já que ele colocou o
treinamento e o futebol americano e, em seguida, a loja de
cupcakes no topo de sua lista de prioridades nos últimos seis
meses.
Ela levou a sobremesa aos lábios perfeitos. Ele assistiu
atentamente, e se fosse honesto consigo mesmo, não era apenas
porque ele queria ver como ela reagiria ao cupcake. Seus olhos
se fecharam enquanto mastigava lentamente, como se estivesse
saboreando todos os sabores da sobremesa. Pelo menos ela não
cuspiu. Ela mordeu outra vez, mas muito perto da cobertura.
Um pouco da cobertura acabou no queixo dela. E no nariz.
Seus olhos se abriram.
— Merda!
— Cuidado — disse ele. Ele não mascarou o riso em sua voz.
O glacê de forma alguma estragava a perfeição de seu rosto,
mesmo que ela o lembrasse um palhaço agora.
Ela o olhou enquanto limpava o seu nariz com força com a
mão livre.
Ele pegou um guardanapo do balcão.
— Aqui.
— Eu não preciso. — Ela passou a mão de novo, espalhando
o creme vermelho em seu queixo.
— Você esqueceu de limpar um lugar. — Ou dois. — Pegue
o guardanapo.
Ela arrancou o guardanapo da mão dele e limpou o rosto.
— Você é sempre tão mandão?
— Sim. — Ele não viu nenhuma razão para negar a verdade.
Uma pitada de humor brilhou em seus olhos.
— Limpei tudo?
Depois que ele assentiu, ela voltou a comer delicadamente o
cupcake. Ele não deveria estar observando como os lábios dela
ficavam exuberantes enquanto mordiscava a sobremesa. Tudo
que ele deveria se importar, tudo com o que se importaria, era a
reação dela ao provar o cupcake. Seu rosto impassível não
revelava nada.
— Então você diz “sim” para o cupcake? — ele perguntou
quando ela estava na metade. Ele não podia esperar mais. —
Você quer se casar com ele?
Ela congelou.
— Eu digo que é hora de ir. — Ela empurrou o cupcake para
ele, forçando-o a pegá-lo ou acabar o glacê em toda a sua camisa,
então gesticulou com o queixo para Olivia. — Vamos.
Sem outra palavra, a Crítica marchou em direção à porta,
movendo-se como se tivesse sido feita para andar na passarela,
o macacão envolvendo seus quadris, balançando da melhor
maneira possível.
— Isso significa que eu ganhei — ele gritou atrás dela. Ele
decidiu ignorar o pânico que inesperadamente tomou conta de
todo o seu corpo como consequência da partida dela. Ele nunca
entrav em pânico. Nunca. Além do mais, ele só tinha tempo
para se preocupar com futebol americano e a loja, e se sentir
atraído por uma mulher que falava mal de sua loja não era
nenhuma dessas duas coisas.
Ela parou, então se virou para encará-lo.
— Não, isso significa que o cupcake estava… decente. — O
tom esnobe estava de volta com força total. Seu olhar percorreu
o espaço. — A atmosfera, nem tanto. — Ela fixou os olhos nele.
— Eu não vou voltar.
— Nós dois sabemos que você não quis dizer isso. — Ele a
saudou com seu cupcake abandonado e uma piscadela, afinal,
por que diabos não? Ele claramente havia perdido o controle.
— Vejo você na próxima vez.
O estalo da porta se fechando foi sua única resposta.
— Mandou bem, chefe — Ella gritou atrás dele.
Donovan gemeu. Droga, ele precisava de um cupcake.
— Não, nem uma palavra — Jada Townsend-Matthews disse
para sua melhor amiga, Olivia Madison, enquanto caminhava
pela calçada para longe da loja de cupcakes. E daquele cara
cuzão.
— Eu não vou dizer nada. Só vou aproveitar o melhor
cupcake que comi desde a última vez que passei na Sugar Blitz.
— Olivia deu uma mordida na sobremesa e olhou fixamente
para Jada.
Os ombros de Jada se curvaram defensivamente.
— O quê? Eu não fiz nada. O olhar de Olivia não vacilou.
— Quero dizer, eu estava tentando não fazer nada. — De
alguma forma, ela sempre acabava nessas situações.
— Não, você só estava falando o que pensa, como sempre
faz. — Olivia sorriu. — Uma das coisas que eu mais amo em
você.
— Obrigada. — Ela precisava ouvir isso, especialmente
agora. Olivia era seu porto seguro, a pessoa que ficava ao seu
lado não importava o que acontecesse. A boca de Jada sempre
a colocava em apuros. Sempre. Um dia ela aprenderia a
controlá-la. Um dia.
— Pelo menos ele não sabia quem você era — acrescentou
Olivia.
Um milagre de Deus. Por um momento, quando ele disse
"com licença", ela pensou que se viraria para encontrar um
telefone apontado para seu rosto, para que o cara pudesse tirar
uma foto e postá-la em alguma rede social, ou mostrá-la o
momento mais humilhante de sua vida, uma cena que ela viu,
ah, um trilhão de vezes nas últimas duas semanas desde que foi
ao ar pela primeira vez.
A maioria das pessoas não tiveram seus momentos mais
embaraçosos gravados por uma equipe de filmagem
profissional, depois exibidos em rede nacional e depois
repetidos várias vezes na internet. Ela não era a maioria das
pessoas. Nunca tinha sido. Nunca seria, aparentemente.
— Eu não estava mentindo — disse ela. — O lugar era um
mausoléu. Frio e estéril.
— Garota, eu não me importo com a aparência do lugar. —
Olivia a saudou com o cupcake, que teve o bom senso de não
jogar fora ao sair da loja. — Os cupcakes são incríveis.
Jada deu de ombros e respirou fundo. Ela precisava relaxar.
Estar em casa, perto da praia, aproveitando o clima fantástico
de San Diego, e a brisa fresca do oceano deveria ser suficiente.
Até então, missão não cumprida.
— Mais importante, ele era gatinho — acrescentou Olivia.
Jada fez uma careta.
— Era? Eu não percebi. Não com aquela vibe de diretor
carrasco de ensino médio que ele tinha.
— Você não notou aquelas coxas grossas e duras capazes de
quebrar nozes?
Uma visão do Cara do Cupcake e suas coxas mencionadas
acima surgiu em sua mente. Jada balançou a cabeça, fazendo o
possível para apagar a imagem, e aproveitou a oportunidade
para estudar as rachaduras tão fascinantes da calçada.
— Não.
— Os ombros largos e fortes e os bíceps tensionando as
costuras de sua camisa polo?
— Não. — Essa era a história dela, e ela estava se apegando a
ela como a Ariana Grande se apegou ao seu rabo de cavalo.
— A deliciosa pele marrom escura? Os lábios grossos? A voz
profunda e dominante?
Jada revirou os olhos.
— Você quer dizer os lábios que eu tenho certeza que estão
permanentemente em sinal de desaprovação? Aquela voz com
o tom como-você-não-concorda-com-tudo-o-que-eu-digo?
Sua melhor amiga bufou em descrença.
— Uhum, tá. — A segunda bufada de ar de Olivia se
transformou em risada. — Você chamou os cupcakes do
homem de sem graça — ela disse entre gargalhadas.
Jada empertigou o nariz.
— Eu disse que eram decentes. — Eles eram realmente
fantásticos, não que ela fosse admitir isso em voz alta tão cedo,
especialmente para ele. Na verdade, ela nunca o veria
novamente, mas ainda assim era importante se manter no
personagem. Até a próxima, ele disse naquela voz profunda e
dominante na qual ela acabou de dizer a Olivia que não achava
que fosse profunda e dominante.
— Depois que você os chamou de sem graça — Olivia
corrigiu.
Jada tentou não se contorcer.
— Quero dizer... bem…, não era como se os cupcakes fossem
dele. Ele estava seguindo o protocolo da empresa.
Olivia franziu o nariz em desacordo.
— Não, eu tenho certeza que ele é o dono. Um dos donos,
de qualquer forma.
Ah, não. Sua incapacidade de manter sua boca fechada a
havia colocado em apuros de novo. E ela sabia exatamente a
quem culpar.
— Sabe de uma coisa? Isso é tudo culpa sua.
— O quê? — Olivia jogou as mãos pro ar, e então gritou
quando seu cupcake saiu voando. Ela deu um mergulho
acrobático impressionante para impedi-lo de encontrar a
calçada. Ela caiu agachada, salvando a sobremesa por uma
fração de segundo antes que a catástrofe acontecesse, a
envolveu nas palmas das mãos e se levantou com um suspiro
dramático. — Se eu não te amasse, te odiaria por quase me fazer
perder meu cupcake. — Sua voz se elevou. — E como assim é
minha culpa?
— Ah, eu não sei. Algo sobre como “Você não pode se
esconder pelo resto da vida, Jada.” — Jada respondeu em um
tom agudo. — “Vamos para sua loja favorita, Jada.”, “Por que
não paramos para um lanche, Jada?”, “Seja a mulher foda que
você é, Jada.”
Olivia a olhou de lado.
— Eu realmente disse isso. Admita. Ficar enfurnada em seu
condomínio estava acabando com você.
Verdade. Ela sempre foi um ser social. Adorava estar perto
de outras pessoas. Só que agora ela se tornou a inimiga número
um do público.
— Além disso, você deu uma de Joanna Gaines na loja —
continuou Olivia. Ser seu porto seguro não a impedia de dizer
verdades.
— Eu estava apenas falando. Eu não achei que alguém estava
prestando atenção na gente. Não havia ninguém prestando
atenção em nós. — Exceto o homem mais bonito que ela já viu.
Espere. Não. — Ele piscou para mim. Quem faz isso?
— Eu acho que ele estava sendo petulante.
Jada olhou para Olivia.
— Petulante? Você é britânica?
— Devem ter sido todos aqueles episódios de Doctor Who e
Bake Off Reino Unido: Mãos na Massa. — Olivia passou um
braço ao redor de seus ombros e apertou. — Sinto muito que
ele tenha trazido o assunto casamento.
O mais doloroso dos assuntos. Recusar um pedido de
casamento em rede nacional foi como ela acabou nessa
bagunça, embora para ser honesta, fazer bagunça era sua
especialidade. Ela suspirou.
— Se bem que… ele não sabia que isso era um gatilho.
Olivia deu uma última mordida, em seguida, jogou a
embalagem de cupcake vazia em uma lata de lixo.
— Vamos. Ainda não chegamos na loja.
— Agora você está falando a minha língua. — Jada acelerou
o passo. Ela adorava a terapia do varejo. Sua boutique favorita,
Perfection, estava logo à frente. Ela não iria pensar que isso
também significava que virando a esquina estava a loja de
cupcakes daquele cara.
Todos os pensamentos sobre pedidos de casamento
fracassados, cupcakes que na verdade não eram sem graça, nem
rígidos, e atraentes donos de loja de cupcakes que se achavam
donos da razão sumiram assim que ela entrou na Perfection.
Jada imediatamente se concentrou em uma arara no centro
da loja.
— Oooh.
Roxo, sua cor favorita. Ela acelerou o passo. Ela tinha visto
o vestido com mangas longas esvoaçantes e decote longo em
um desfile da Semana de Moda de Nova York e tinha contado
os dias até que pudesse comprá-lo. Hoje era esse dia. Talvez sua
sorte estivesse começando a mudar. Ela não olhou o preço.
Olhar para quê? Era para isso que serviam os cartões de crédito.
Além disso, quando você estava triste, você merecia comprar o
que quisesse. Dã. Não que fosse fazer isso por muito mais
tempo. Não, ela não pensaria nisso agora.
Ela rapidamente encontrou seu tamanho e retirou o cabide
da arara.
— Meu. Todo meu. O que você acha?
— Gostei. — Olivia tirou uma linda saia verde evasê de uma
arara próxima. — Vou experimentar.
Jada assentiu.
— Ok. Daqui a pouco eu vou. Quero dar mais uma olhada.
Enquanto Olivia se dirigia ao provador nos fundos da loja,
Jada foi em direção a uma vitrine, onde uma linda blusa
chamava sua atenção. Esta loja realmente era um paraíso.
— Jada! — Uma vendedora correu até ela. A mulher alta
usava um lindo vestido transpassado que Jada reconheceu de
uma das promoções da butique porque ela tinha um do mesmo
em casa. O vestido ficou incrível no corpo esguio da vendedora.
Cara, o que ela não faria por mais alguns centímetros de altura.
Ela adorava seus saltos, mas ser naturalmente alta seria melhor.
Jada deu um aceno rápido.
— Ei, Carrie.
— Como vai?
— Bem. — Ela adicionou uma alegria falsa ao seu tom de
voz. Por mais que apreciasse a preocupação nos olhos da
mulher, ela não lidava bem com pena. Seu orgulho não a
deixava.
Carrie assentiu.
— Excelente. Posso ajudá-la em alguma coisa?
— Não, estou só olhando, obrigada.
— Bem, qualquer coisa é só me chamar.
Os ombros de Jada relaxaram.
— Pode deixar.
Carrie assentiu, então foi para o caixa.
Jada voltou sua atenção para o manequim. A blusa de seda
turquesa ficaria incrível com seus saltos prateados e seu jeans
favorito. Esta saída às compras era exatamente o que o médico
– ou, neste caso, o que sua melhor melhor amiga – ordenou.
Ela compraria um cupcake para Olivia. Mas não o da Sugar
Blitz.
— É ela? — Alguém atrás dela sussurrou. A mão de Jada
apertou a manga da blusa, amassando o tecido fino. Ela não
tinha dúvidas de quem era a “ela” a qual a mulher se referia.
— Sim, é ela — alguém respondeu. O nojo infundido na
resposta rápida.
O coração de Jada disparou. O que ela tinha feito havia sido
tão ruim? De acordo com Twitter, Instagram, vários podcasts
e o velho Facebook, a resposta era um grande sim.
Ela deveria ter colocado óculos escuros antes de sair de casa.
Mesmo se as pessoas ainda a reconhecessem, ela poderia ter
feito uso da camada extra de proteção que os óculos Dior lhe
proporcionariam.
Ela não tinha dúvidas do que estava prestes a acontecer. O
que acontecia toda vez que ela saia de sua residência desde que
o final da temporada de Minha Cara Metade foi ao ar – bem,
até que ela finalmente desistiu e não saiu mais de casa. Ela
rapidamente colocou o vestido com o qual estava tão animada
na prateleira mais próxima e examinou a loja procurando
Olivia. Droga, ela não a estava encontrando. Para onde a amiga
dela foi? Ah, isso mesmo. Ela estava experimentando aquela
saia que Jada não considerava mais fofa.
Contudo, ela tinha que sair daqui. Ela ligaria para Olivia de
seu carro e voltaria para buscá-la.
Jada foi direto para a porta. Uma mulher entrou
diretamente na sua frente antes que ela se afastasse. Apenas os
reflexos rápidos de Jada a impediram de colidir com a intrusa.
— Como você pôde ter feito isso com o Dr. John? — A
mulher disparou, curvando-se, porque ela também era mais
alta que Jada. Jada reconheceu sua voz. A primeira mulher que
a avistou. Seu olhar praticamente chamuscou as sobrancelhas
de Jada.
Jada girou sobre os calcanhares. A outra mulher, cuja pele
era um tom de laranja encontrado apenas em cabines de
bronzeamento, a encurralou.
— Ele era o cara perfeito, e você partiu o coração dele!
— Bem, hum... eu tenho que ir. — Ela fez outro movimento
em direção à porta, mas as Darth Vaders1 não estavam dispostas
a deixá-la ir. Elas a cercaram. Jada automaticamente deu um
passo para trás, então se impediu de dar outro. Ela não iria
deixá-las intimidá-la.
— O que você estava pensando? — Darth Vader Nº1
perguntou.
— Estou confusa, senhor. Err, senhora.
— O quê? — O rosto da Darth Vader se contorceu em
confusão.
Jada acenou com a mão.
— Desculpe. Letra de Hamilton.
Hora. Errada. Para. Fazer. Piadas.
Jada já tinha ouvido o termo “cuspindo fogo” antes. Ela
nunca tinha testemunhado isso pessoalmente até este
momento. Os olhos verdes da Darth Vader Nº1 se arregalaram,
enquanto sua pele pálida se encheu de manchas vermelhas.
— Sério? Tudo é uma piada para você?
Geralmente, sim. Foi assim que ela superou as decepções da
vida e a sensação de ser um fardo para os seus pais inteligentes.
Jada tentou se esquivar da mulher, mas a raiva
aparentemente dava a uma pessoa os movimentos de um atleta
profissional que foi pago para jogar na defesa e não no ataque.
Ela bloqueou todas as manobras de Jada.

1
Se refere a Darth Vader, um personagem vilão da franquia Star Wars.
— Foi tudo uma piada para você?
Uma piada? Não. Uma chance de se divertir e não pensar no
futuro dela? Sim. Até que tudo foi para os ares em um bater de
asas. Um bater de asas? Qual era a dessa frase, afinal?
— Você é uma vadia sem coração — disse Darth Vader Nº2,
com uma fungada de desprezo.
Jada estremeceu, o insulto lhe deu um soco no estômago e a
deixou sem fôlego. Mostrar emoção era a última coisa que ela
deveria fazer nesta situação, mas caramba, ela era humana. Um
ser humano cheio de falhas, e muitas vezes irritante, de acordo
com seus familiares, mas um ser humano. Palavras
machucavam. Claro que seus críticos diriam que as ações
machucavam ainda mais.
— Com licença. Posso ajudar as senhoras com alguma
coisa? — Carrie apareceu ao lado de Jada.
Jada se agarrou a essa distração com todas as forças.
— Não, eu estava indo embora.
— O que está acontecendo? — A voz de Olivia atravessou a
loja.
Jada acenou para ela.
— Nada. A gente tem que ir.
Olivia direcionou as Darth Vaders um olhar mortal, mas
seguiu Jada para fora da loja sem mais comentários. Carrie
impediu as Darth Vaders de segui-las. Ainda assim, Jada
manteve a cabeça baixa e correu para o carro estacionado no
quarteirão.
— O que essas vadias te disseram? — Olivia disse quando
elas entraram na BMW prateada.
Jada piscou para conter as lágrimas.
— A mesma coisa que todo mundo diz.
— Quer que eu volte e dê uma surra nelas? — As sardas que
pontilhavam a pele negra de Olivia encobriam a sua natureza
feroz.
Jada lançou-lhe um olhar.
— Não, eu não quero porque eu teria que ligar para seus
pais e dizer que a menina dos olhos deles está na cadeia.
A carranca de Olivia não se desfez. Seus cachos castanhos
tingidos de vermelho balançaram quando ela se virou no banco
para espiar pela janela traseira.
— Talvez valha a pena.
— Garota, você tem um emprego, um emprego bom. Você
não precisa perdê-lo tentando me ajudar. — Ao contrário de
Jada, Olivia fez pós-graduação e um MBA focado em gestão de
hotéis e RH. Ela tinha uma vida inteira pela frente
administrando cadeias de hotéis cinco estrelas. Jada se sentia
vazia. — Eu não deveria ter saído de casa.
— Você não pode deixar essas vadias estragarem o seu dia.
— Eu sei. Ou pelo menos estou tentando me convencer
disso. — E ainda assim sua voz vacilou e uma, duas, caramba,
três lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Pelo menos você está linda.
Um sopro de gargalhada no peito com o inesperado elogio.
— Obrigada. — Sua melhor amiga sempre sabia o que dizer.
Mesmo que sua vida fosse uma bagunça, Jada fazia o possível
para garantir que seu lado de fora fosse sempre fabuloso. Se
outros pudessem gostar de histórias em quadrinhos, esportes
ou jardinagem ou o que diabos eles gostassem, ela poderia
gostar de maquiagem e roupas, caramba. Os apetrechos lhe
davam confiança e a faziam parecer bem. Todos saiam
ganhando.
Jada baixou o visor e inspecionou seu rosto no espelho.
Nenhum sinal da cobertura do cupcake, embora o gosto de
morango permanecesse em sua língua. Olhos apenas um pouco
vermelhos. Rímel e sombra no ponto. A base ainda fazendo sua
pele parecer luminosa e sem manchas. Aquele novo maquiador
estava fazendo seu trabalho. Ela deveria fazer uma resenha no
YouTube.
Exceto que a mídia social não era mais seu santuário. As
pessoas deixaram todos os tipos de mensagens "divertidas" em
suas diversas páginas. Ela desligou as notificações. Apenas o
orgulho a impediu de desativar as páginas, ou, pior, excluí-las
completamente. Se as pessoas quiserem mostrar suas bundas na
página de outra pessoa, então façam isso. Jada suspirou.
Olivia apertou seu braço.
— Se você quiser conversar, estou aqui.
— Eu sei, e aprecio isso. Mas estou bem agora. — Olivia
tinha ouvido todos os pensamentos tumultuosos em sua
cabeça desde que as filmagens terminaram e ainda mais quando
o programa começou a ser exibido. Não havia necessidade de
repetir a dose pela milésima vez.
Hora de seguir em frente. Literalmente. Ela deixou Olivia
em sua casa depois de recusar a oferta de sua amiga para jantar
e relaxar assistindo Netflix. Agora, ela precisava se
descomprimir das festividades da tarde sozinha.
Alguns minutos depois, seus ombros caíram de alívio
quando entrou em seu apartamento. Bem, não seu
apartamento, exatamente. Sua família era dona da propriedade
em Mission Hills, mas como ela era a única que estava lá no
momento, era dela.
Ela tirou seu salto-agulha de couro preto. Eles eram seu par
favorito, os que ela usava quando precisava de um pouco de
confiança extra, mas ela chegou ao fim de seu limite diário de
uso de saltos. Parecer chique sem esforço dava muito trabalho.
O jantar foi o próximo. Graças a Deus pelos aplicativos de
entrega de comida. Cozinhar não era seu forte. Seu telefone
tocou quando ela o tirou da bolsa. Ela gemeu com o nome que
apareceu na tela. Ela hesitou apenas meio segundo antes de
responder.
— Oi, Vovó.
— Ah, então você sabe atender o telefone? — Sua avó, a Sra.
Joyce Townsend, respondeu.
Jada deixou cair a cabeça em sua mão livre.
— Eu te amo, Vovó. — E amava. Tanto. Ela nunca diria que
sua avó era a única integrante da família que a amava porque
isso não era verdade. Seus pais e sua única irmã a amavam
profundamente. Eles também não a entendiam e queriam
transformá-la em alguém que entendessem. Vovó nunca tinha
feito isso.
A fungada de Vovó pelo telefone era alta e clara.
— Humpf. Não sei, considerando que esta é a terceira vez
que ligo para você nas últimas vinte e quatro horas.
Jada engoliu em seco quando a culpa a agarrou pela
garganta.
— Eu mandei uma mensagem para você.
— Mensagem? Eu quero ouvir a sua voz. Mas eu sei que
vocês, jovens, têm o mau hábito de pensar que enviar
mensagens de texto equivale a uma conversa real, que é a única
razão pela qual não chamei a polícia.
Jada foi para a sala de estar, reprimindo um suspiro.
— Eu sei.
— Bem, estou feliz que você finalmente voltou para casa.
Casa. Como em San Diego. Aos dezoito anos, a faculdade
em Nova York ofereceu a desculpa perfeita para sair. Desde
então, ela só fez visitas esporádicas em casa para ver sua família
e amigos.
— Eu sinto muito. — Ela falava muito isso. Ela estava
acostumada a dizer isso.
— Você teve um bom dia?
Espontaneamente, um homem e seus cupcakes surgiram em
sua consciência. Não as damas loucas de Darth Vader,
estranhamente.
— Foi bom.
— Você está bem?
A preocupação genuína na voz de sua avó quase a desfez.
Jada afundou no sofá.
— Já estive melhor, mas também já estive pior.
Vovó suspirou.
— Eu te disse que não achava que fazer aquela série era uma
boa ideia. Posso ser velha, mas sei que os produtores de reality-
shows não passam de abutres.
— Vivendo e aprendendo. — E não era como se tivesse sido
horrível. Não até o final, quando ela transformou a coisa toda
em uma exibição de merda, que os produtores adoraram. Bem,
depois que eles superaram seu choque e horror por ela ter
arruinado seus planos cuidadosamente construídos.
Lila Patterson, a criadora e produtora executiva do
programa, administrou um navio apertado e fez questão de
saber o que os participantes do programa diriam quase antes de
o dizerem. Ela tinha sido a principal pessoa a pressioná-la sobre
o porquê dela ter recusado a proposta de John.
Jada não tinha ideia do que dizer a ela, então deixou escapar
a primeira coisa que lhe veio à mente – que ela disse não porque
havia alguém em casa em quem ela não conseguia parar de
pensar. O executivo de TV tinha mudado um pouco o tom
quando o final foi ao ar e o programa recebeu mais atenção do
que em anos, mas Jada sabia que Lila estava descontente com
ela porque se recusou a dar entrevistas.
Depois de ouvir as primeiras mensagens de voz e o tom
bajulador de Lila, que pouco ajudava a disfarçar o quanto
estava chateada, Jada agora enviava todas as suas ligações para a
caixa postal e ignorava suas mensagens.
Vovó suspirou, felizmente interrompendo aquela linha de
pensamento perturbadora.
— Não é assim, Jada. Eu me preocupo. Como posso ter
certeza de que está bem se você nem vem me ver?
Jada olhou de lado para o telefone antes de levá-lo de volta
ao ouvido.
— Estamos indo pelo caminho da culpa, pelo jeito.
— Está funcionando?
— Sim.
A voz de Vovó se acalmou.
— Então eu não perdi meu toque.
Jada balançou a cabeça. Como se houvesse alguma chance
de isso acontecer. Sua avó era a pessoa mais inteligente e
perspicaz que conhecia. Seus pais e irmã eram todos gênios
certificados e Vovó os deixava comendo poeira.
— Você é demais.
— Obrigada! Você sabe que eu amo um elogio. Já que sei
que você sente o mesmo, aqui está um para você. Eu vejo o seu
potencial.
A gratidão varreu Jada. Sua avó muitas vezes tinha um sexto
sentido para dizer exatamente o que ela precisava ouvir.
— Obrigada, Vovó.
— De nada — disse Vovó. — Lembra-se do que
conversamos antes de você ir ao show?
À menção indireta de seu fundo fiduciário, o coração de
Jada gaguejou. Ela sempre contou com esse dinheiro para agir
como sua rede de segurança se seus pais alguma vez seguissem
com sua ameaça de deserdá-la se não “crescesse” e se juntasse a
seus negócios. Eles perguntaram mais uma vez depois que o
final foi ao ar. Ela recusou a oferta porque a) trabalhar para seus
pais parecia o inferno na terra e b) ela sabia que sempre poderia
pedir a Vovó acesso antecipado ao seu fundo fiduciário se
chegasse a isso. Eles informaram que no primeiro dia do mês, a
apenas dez dias, encerrariam suas contas de cartão de crédito e
não pagariam mais suas contas.
Ela deveria assumir o controle de seu fundo fiduciário aos
26 anos, mas apenas se sua avó a considerasse pronta. Ela tinha
planejado perguntar se poderia recebê-lo mais cedo, mas
agora... Ela engoliu em seco.
— Sim.
Vovó suspirou.
— Eu quero que você veja o potencial dentro de si. Você é
inteligente.
Sua avó foi a única pessoa a dizer isso. Jada estava
acostumada a ser descrita como divertida. Imprevisível,
também. Mas inteligente? Não.
— Obrigada.
— Já pensou nos próximos passos? — continuou sua avó.
— Sim. — Ela simplesmente não tinha inventado nada. Ela
tinha vinte e cinco anos e não tinha ideia do que queria ser
quando crescesse. Incrível.
A escola tinha sido difícil. Não impossível, mas difícil. A
maioria das pessoas pensaria que ficaria mais fácil quando ela
fosse diagnosticada com dislexia. Seus pais tinham visto isso
como sua falha pessoal. Eles compensaram demais com tutores
e médicos em abundância, o que a ajudou academicamente,
pelo menos.
Mesmo que ela não tivesse dislexia, as chances ainda não
estavam a seu favor de que ela pudesse acompanhar seus geniais
pais e irmã. Ela considerou rapidamente, mas fazer descobertas
científicas como seus pais e sua irmã faziam nunca seria sua
vocação.
Isso não significava que ela não queria agradar seus pais, o
que levou a um infeliz desvio para estudar direito na faculdade.
Eles ficaram perturbados. Ela odiou isso. Ela se formou em
humanas; por pouco, mas fez isso por pura teimosia, se nada
mais.
Seus pais não ficaram satisfeitos. Suas mentes práticas e
científicas não conseguiam se especializar em algo tão “frágil”
quanto humanas. Eles a pressionaram para se juntar à firma de
pesquisa médica. De acordo com eles, ela poderia trabalhar
como recepcionista, e eles contratariam os melhores
professores disponíveis se ela fosse para a pós-graduação e
obtivesse um “grau de verdade”. Ela fugiu para a Europa em vez
disso.
— Então você encontrou um emprego?
A ansiedade na voz de sua avó arrancou Jada de sua viagem
infernal pelas memórias. Ela limpou a garganta.
— Ainda não.
Não tinha sentido mentir para sua avó. Vovó sempre via
através dela. Mas Vovó não sabia o que seus pais tinham feito, e
ela não queria ficar entre sua mãe e sua avó.
— Tudo bem. — Vovó respondeu imediatamente, sempre
apoiando. — Eu não espero que você escolha a carreira dos seus
sonhos, e entendo que não queira trabalhar para mim ou para
seus pais.
O estômago de Jada se agitou com os nervos. Por que ela
sentiu um “mas” chegando?
— Mas você precisa de alguma direção — Vovó continuou.
Algo que iludiu Jada desde a formatura. Enquanto estava na
Europa, depois de viajar um pouco, ela se interessou na carreira
de DJ. Quem não gostava de dançar no clube com música
divertida? Exceto que não era tão glamoroso quanto imaginava.
Horas estranhas. Configurações desconhecidas, às vezes
inseguras. Salário instável e não confiável. Ela desistiu depois de
ser agarrada por muitos donos de clubes suados, desprezíveis e
nojentos que pensavam que ela estava usando o trabalho para
conhecê-los. O último cara tinha recebido uma bela joelhada
nas bolas por seu incômodo. Ele também falou mal dela para
todos os proprietários de todos os clubes notáveis em toda a
Europa.
Depois de suas aventuras no exterior, ela passou os últimos
anos em LA tentando se tornar uma atriz. Todos diziam que
ela era dramática, então por que não explorar seu estado natural
de ser? Infelizmente, querer ser atriz e ganhar a vida com isso
eram duas coisas completamente diferentes. Houve também
seu breve período como assistente de estilista, mas quanto
menos falar sobre isso, melhor.
O reality-show de namoro na TV, Minha Cara Metade, foi
um último esforço para ganhar uma carreira em potencial. No
mínimo, ela pensou que sairia do programa com credenciais
certificadas como influenciadora de mídia social, como muitos
dos concorrentes anteriores do programa. Em vez disso, ela
entrou em pânico e partiu o coração do Dr. John no final da
temporada porque seu intestino estava gritando que algo não
estava certo sobre o relacionamento deles. No processo, ela se
tornou a inimiga número um do público. Você não poderia
influenciar nada se as pessoas que você deveria influenciar a
odiassem.
— Espero que você consiga manter um emprego por um
tempo decente — continuou Vovó. — Se você puder fazer isso
por seis meses até seu aniversário e receber elogios de seu
supervisor, o fundo fiduciário é seu.
Seis meses?
Lá estava. O ultimato que ela estava temendo e evitando.
Jada pressionou a mão trêmula em seu estômago agitado. Se ela
não pudesse manter um emprego por seis meses, Vovó não
hesitaria em seguir com sua decisão de não dar a Jada seu fundo
fiduciário. Ela não era uma boba. Então Jada estaria realmente
sozinha, suas únicas opções eram voltar rastejando de volta para
seus pais ou acabar no sofá de Olivia, o que Olivia aceitaria, mas
Jada não.
Pena que ela nunca tenha encontrado aquela coisa que era
dela. Ela nem sabia se existia. Ela não era tão boa em nada.
Quando pensava sobre isso por muito tempo, aquela voz áspera
dentro de sua cabeça nunca deixava de sussurrar:
— Você é burra, é por isso.
O pânico brotou dentro dela, agarrando cada músculo de
seu corpo em um aperto de punho fechado, cortando sua
capacidade de respirar, mas ela o reprimiu. Por muito pouco.
Ela forçou seus lábios a se moverem.
— Eu entendo.
— Excelente. — A voz de Vovó se suavizou. — Eu não estou
fazendo isso para puni-la. Eu quero o melhor para você.
Jada fechou os olhos com força.
— Eu sei. — O ultimato soou maldoso, mas Jada entendeu.
Vovó acreditava nela. Ela simplesmente não entendia a pressão
que, involuntariamente, colocava em sua neta.
— Conversaremos amanhã. Espero que você tenha um
plano. Se não tiver, um lhe será fornecido. Vejo você às 10 da
manhã, no meu escritório.
Isso não foi um pedido.
O aperto de Jada no telefone aumentou. Ela precisava de
uma âncora, qualquer âncora, mesmo que fosse pequena.
— É claro. Mal posso esperar para vê-la.
— Humm. Você tem um jeito engraçado de mostrar isso. —
Essa era Vovó. Mostre amor, mas não tome merda nenhuma.
— Eu te amo, Vovó. Estarei lá pela manhã. — Jada desligou
e pressionou as palmas das mãos trêmulas contra as pálpebras.
Ela tinha menos de vinte e quatro horas para elaborar um
plano de vida que satisfizesse a pessoa que ela mais queria deixar
orgulhosa e evitar ficar sem um tostão. Nada demais.
Desmoronando contra as almofadas do sofá, ela soltou um
suspiro alto e tempestuoso. Oh, Deus. Onde estava um
cupcake para encher a cara quando ela mais precisava?
Um lento bater de palmas sinistro saudou Donovan no
momento em que ele entrou pela porta da frente da Sugar Blitz
na manhã seguinte. Ah, merda.
— Vocês podem parar com essa merda a qualquer momento
— ele disse para seus dois melhores amigos/parceiros de
negócios.
Felizmente eles pararam, mas seus sorrisos gêmeos
permaneceram.
— Bem, bem, se não é o embaixador da boa vontade do
cliente — disse Nicholas Connors.
Donovan olhou para o homem que ele conhecia nos
últimos sete anos. Eles se conheceram oficialmente quando o
figurão apareceu correndo de volta para o campo de
treinamento, com a certeza de que ele iria passar por cima da
liga – até que Donovan o derrubou durante sua primeira jogada
no treino.
— Bom dia para você também.
Nicholas abriu as mãos e riu.
— Ei, estou apenas repetindo o que ouvi. E o que eu ouvi
foi ma-ra-vi-lho-so!
— Eu imagino. — Donovan transferiu seu olhar para Ella,
que ficou absorta em encher os porta-guardanapos no balcão
da frente. Ele se virou para o outro membro do triunvirato de
melhores amigos. — Você tem alguma coisa para acrescentar?
August Hodges balançou a cabeça.
— Não, cara.
Donovan não ficou surpreso. August era um homem de
poucas palavras que realmente acreditava e vivia o ditado de
que as ações falavam mais alto que as palavras. Não havia mais
ninguém que Donovan preferiria ter vigiando suas costas.
August foi o zagueiro do time, aquele que entrou de cabeça
depois que a bola foi travada para bloquear os running backs2.
Ele passou por algumas merdas, mas ainda estava de pé e ia
trabalhar duro todos os dias, primeiro pela a equipe e agora pela
loja de cupcakes.
Eles se conheceram como jogadores de futebol americano
calouros da faculdade, ambos ansiosos para provar que
pertenciam, e imediatamente se uniram. Durante esses
primeiros dias, Donovan tinha sido um jogador de linha
ofensiva responsável pelo bloqueio de zagueiros como August,
antes que os treinadores percebessem que seus talentos seriam

2
Durante uma saída, o running back fica ao lado ou atrás do quarterback e
ele tem por função ganhar jardas terrestres, empurrando os rivais ou driblando os
jogadores de defesa com a bola na mão.
mais bem servidos do outro lado da bola. Então, quatro anos
depois, ambos foram convocados pelos Knights.
— Ele pode não ter nada a dizer, mas definitivamente tem
algo a fazer. — Nicholas estendeu a palma da mão para August.
Donovan sabia o que isso significava. Eles fizeram uma
aposta estúpida. Ele sabia porque participava da prática
regularmente com esses dois. Isso não significava que gostava
quando ele era o assunto de uma aposta.
— Em que diabos vocês dois apostaram?
— Se você apareceria em seu dia de folga — Nicholas
respondeu, alegria infundindo cada palavra. Donovan revirou
os olhos enquanto August pegava uma carteira de couro preta
do bolso de trás, tirava uma nota de vinte e a colocava na mão
de Nicholas.
Com o assunto resolvido, August voltou sua atenção para
Donovan.
— Nós podemos lidar com as coisas — disse, sua voz cheia
de sua habitual rouquidão, como se ele não estivesse
acostumado a falar. Uma descrição precisa, realmente.
— Eu sei — disse Donovan. E quis dizer isso. — Eu só
planejei parar por alguns minutos para informá-los sobre o que
aconteceu ontem, mas obviamente alguém me venceu. —
August teve o dia de folga e Nicholas já tinha saído depois de
passar a manhã assando antes do incidente. — Vou ver a Sra. T
e obter alguns conselhos sobre como podemos aumentar as
vendas.
— Então você não vai tirar o dia de folga. — Nicholas
suspirou seu desgosto. Não que ele não fosse um trabalhador.
Ele foi o melhor running back da liga. O talento por si só não o
levou até lá.
Quando Nicholas foi convocado por San Diego um ano
depois de Donovan e August, ele grudou ao lado de August,
querendo construir um relacionamento com o homem que
tornaria sua vida mais fácil no campo de futebol americano. O
que significava que ele estava lá sempre que Donovan se virava.
Donovan acabou gostando dele quando viu seu compromisso
com a equipe e dedicação à sua família e comunidade. Agora,
ele não conseguia imaginar a vida sem o homem que outros
apelidaram de “Garotão Nick”.
— Prometemos um ao outro que tiraríamos um dia por
semana para nós mesmos — acrescentou Nicholas.
Com sua pele macia e escura, mandíbula afiada, olhos
cinzentos e um sorriso sempre presente, Nicholas parecia um
maldito modelo da GQ3, mesmo vestido com a polo padrão
Sugar Blitz e calça cáqui. Havia uma razão para que o fizessem
trabalhar no balcão quando não estava assando. August era
mais atarracado, alguns centímetros mais alto que o metro e
setenta de Nicholas. August não dava a mínima para perseguir
os holofotes ou os recordes, deixando isso para seus parceiros

3
GQ é uma revista masculina mensal americana com foco em moda, estilo e
cultura para homens, através de artigos sobre comida, filmes, fitness, sexo,
música, viagens, esportes, tecnologia e livros.
de negócios. Jeans e uma camiseta de décadas com seus dreads
pretos puxados para trás em um rabo de cavalo baixo e uma
barba perfeitamente aparada que cobria a pele de mogno em
seu rosto era seu visual preferido quando não estava jogando
futebol americano.
Ambos cruzaram os braços, unidos em sua exasperação com
Donovan.
Ele se recusou a se sentir culpado. Não haveria descanso para
ele até que a loja voltasse a ter lucro consistentemente, e eles
pudessem pagar um gerente em tempo integral e mais
funcionários de meio período. Ontem, depois que a Crítica de
Loja de Cupcakes saiu, ele voltou para seu escritório e
examinou os números de vendas um pouco mais. Talvez se
encarasse por tempo suficiente, eles mudariam. Ou talvez ele
desenvolvesse alguns poderes mágicos para fazer isso acontecer.
Por que diabos não?
Quando percebeu que havia se aventurado em território
alucinógeno, ocorreu-lhe que conhecia alguém que sabia fazer
magia. Que transformara uma equipe insatisfatória em uma
grande história de sucesso. Ele fez uma ligação.
— Olha. É apenas uma reunião. Então eu vou descansar.
As sobrancelhas de Nicholas se ergueram.
— Você quer dizer ir malhar por duas horas?
Droga, por que seus amigos o conheciam tão bem? Sua
coluna endureceu.
— Ter uma loja de cupcakes não é…
— …desculpa para não ficar em forma para o futebol
americano — seus melhores amigos terminaram para ele.
Ele lhes deu a única resposta apropriada. Ele deu-lhes o dedo
do meio.
— Maduro — Nicholas entoou. — Mas chega disso. Conte-
me sobre essa cliente misteriosa. Eu quero ouvir a sujeira direto
da sua boca.
Donovan o encarou. Nicholas permaneceu imperturbável.
Donovan suspirou. Por que seu olhar não funcionava em seu
melhor amigo? Ou na Crítica de Loja de Cupcakes?
— Tudo bem. Certo. Ela estava falando merda sobre a loja
e disse que nossos cupcakes eram sem graça. Eu não estava com
vontade de ouvir, então ofereci um cupcake. Fim da história.
Nicholas balançou nos calcanhares.
— Uau. Eu quero conhecer a mulher que o fez esquecer de
ser educado o tempo todo.
O queixo de Donovan levantou.
— Fui educado.
Um bufo alto soou atrás de Donovan.
Donovan virou-se para o balcão. Ella limpou a garganta,
apontando para o rosto dela.
— Desculpe. Meu nariz. Alergias. Deve haver algum pólen
no ar.
Donovan a encarou.
— Não há alguns pratos que precisam ser lavados? Algum
inventário que precisa ser feito?
— Sim. Para já, chefe. — Ela disse isso com uma risadinha,
nem um pouco intimidada. Era o que acontecia quando você
contratava crianças de quem cuidava quando era um
adolescente com a cara cheia de espinhas. Sem respeito. Ela
virou a esquina e lentamente, muito lentamente, dirigiu-se para
a parte de trás do edifício.
— Alguma chance da cliente misteriosa fazer uma visita de
retorno? — Nicholas perguntou, claramente não interessado
em ser dissuadido de sua missão de colher fofocas.
— De jeito nenhum. — Ele ignorou a pontada de decepção
que o varreu, assim como ontem, quando ela saiu da loja.
— Que pena — disse August. Donovan lançou-lhe um
olhar. Agora ele escolhia falar?
Nicholas balançou a cabeça.
— Cara, eu sinto muito por ter perdido o show.
Donovan não sentia. Não havia sido o seu melhor
momento. Mais testemunhas só teriam piorado.
— Ela era bonita pelo menos? — Nicholas pressionou.
Uma visão cristalina de deslumbrantes olhos castanhos
chocolate e lábios vermelhos perfeitos encheram sua mente.
Donovan ergueu as mãos.
— Cara, eu não sei!
— Sim, ela era — Ella gritou por cima do ombro. Ela chegou
até o escritório de Donovan no final do corredor, o que queria
dizer, não muito longe.
— Algo deve estar errado com você se não notou um
rostinho bonito. — Uma luz pensativa penetrou nos olhos de
Nicholas. — Talvez você tenha notado.
— Mas você não gostou de notar — disse August.
— Sim, parece ser isso — disse Nicholas. — O que torna a
situação ainda mais interessante. — Ele e August assentiram em
uníssono.
Donovan beliscou a ponta do nariz. Droga, ele precisava de
novos amigos. Hoje. Agora mesmo. Seu telefone tocou com o
tom familiar de lembrete de compromisso. Graças a Deus.
— Por mais que eu adorasse ficar e continuar essa conversa
fascinante, eu tenho um lugar para estar. Vejo vocês, idiotas,
mais tarde.
Ele caminhou em direção à porta.
— Covarde — Nicholas gritou atrás dele. Donovan
continuou andando, fuzilando seus amigos por cima do ombro
enquanto saía. Ele contornou o prédio até o estacionamento e
entrou em sua Mercedes SUV preta.
Sim, ele se envolveu em um comportamento não-muito-
Donovan ontem, discutindo com a Crítica de Loja de
Cupcakes, então pensando nela em momentos aleatórios desde
então. Mas ele voltou a si. Era hora de procurar o conselho de
alguém em quem confiava implicitamente.
Alguns poderiam questionar sua lealdade à dona da equipe.
O futebol americano era um esporte brutal com uma economia
brutal. Essa economia raramente, ou nunca, funcionava a favor
dos jogadores. Sim, eles eram bem pagos, mas não tão bem
quanto os atletas de outros esportes. Pior, porém, seus
contratos não eram totalmente garantidos. Mas a Sra. T sempre
foi direta com ele. Ela disse o que quis dizer e quis dizer o que
disse.
Seu falecido marido havia comprado a equipe vinte anos
atrás, e cinco anos depois que ele faleceu, ela não vendeu a
equipe como todos os especialistas esperavam que fizesse. Hoje,
os Knights eram uma das franquias de maior sucesso da liga e
valiam mais de três bilhões de dólares.
Em outras palavras, não havia mais ninguém de quem ele
preferisse receber conselhos. Se alguém sabia como vencer as
probabilidades, era ela.
Vinte minutos depois, ele cumprimentou a pequena mulher
com um abraço. Ela sempre cheirava a perfume caro. Ela não se
importava nem um pouco que seus funcionários mais famosos
se elevassem sobre ela e a superassem em média em 58 quilos.
Ele deu um passo para trás. Ela usava seu cabelo grisalho em seu
costumeiro coque de negócios, junto com um elegante vestido
preto de grife.
— Como você está, Sra. T?
— Estou fabulosa como sempre, Donovan. — Ela
gesticulou para que ele a seguisse até seu escritório, que dava
para o campo de treino nas instalações de treinamento de
última geração da equipe. “Posso avaliar os jogadores e
treinadores enquanto faço outros trabalhos ao mesmo tempo”,
gostava de dizer.
O escritório era na verdade uma suíte. Sim, tinha a área de
trabalho pré-requisito de mesa e cadeira, mas também abrigava
uma área de estar separada com sofá, várias poltronas e frigobar.
Uma enorme TV dominava uma parede acima de uma lareira,
enquanto prateleiras abarrotadas de livros se alinhavam na
parede oposta. Fotos de sua família pontilhavam a sala, junto
com recordações de Knights. Ele viu um capacete que havia
assinado em sua noite de alistamento na lareira.
— Posso pegar um café para você? — ela gesticulou para o
bar. — Ou talvez algo mais forte?
Ele achou que deveria se abster de apontar que eram nove e
meia da manhã.
— Obrigado por perguntar, mas estou bem.
— Fique à vontade. — Ela pegou uma caneca de cerâmica
preta estampada com HBIC em vermelho de um lado e o
logotipo do escudo prateado dos Knights do outro. Donovan
optou por não se preocupar com o que mais enchia a xícara
além de café. Ela gesticulou para ele sentar em uma poltrona
enquanto ela se sentava em frente a ele. Ela cruzou as pernas e
se inclinou para ele. — Como vai?
Donovan esfregou a nuca.
— Tenho algumas coisas em mente.
— Tem certeza de que não quer algo do meu estoque? —
ela perguntou com um sorriso, e acenou em direção ao bar. —
Só forneço o melhor.
Ele suspirou.
— É tentador.
Uma expressão preocupada substituiu seu sorriso.
— Tem certeza de que deveria estar aqui sem seu agente? Ele
teria sua pele se pensasse que você está negociando uma
extensão de contrato sem ele.
Donovan riu.
— Eu posso lidar com Adam. Mas, não, não é por isso que
estou aqui. Não é relacionado ao futebol americano. Mas nós
dois estamos ansiosos pela oferta da equipe. — Ele tinha mais
um ano de contrato. As negociações de extensão do contrato já
haviam começado entre o agente de Donovan e a equipe, mas
nada era iminente. Era assim que as negociações de contrato
eram formadas. Ele já estava acostumado com isso. Ou tão bem
com isso quanto um jogador poderia estar.
Este pode ser seu último contrato, certamente o último com
garantia de um grande pagamento, já que ele era um jogador
“envelhecido” aos trinta. A NFL era selvagem assim.
— Eu tenho certeza que está. — Ela se recostou na almofada
e o estudou. — Então o que o incomoda?
Ele suspirou.
— É sobre a Sugar Blitz.
Ela assentiu, familiarizada com seu último
empreendimento.
— Certo. O que há?
Ele explicou rapidamente a queda nas vendas da confeitaria.
Ela assentiu, tomando seu café enquanto ele derramava suas
entranhas. Quando terminou, ele soltou um suspiro.
— Talvez eu queira aquele café. — Ele se levantou e
atravessou a sala para servir uma xícara. Enquanto fazia a
viagem de volta, ele rezou para que ela tivesse algumas palavras
de sabedoria durante o atraso.
— Lamento que você não tenha tido o sucesso que esperava.
Eu sei o quanto você trabalha duro, então essa não é a causa do
problema. — Ela ficou em silêncio por alguns segundos. —
Quando assumi a equipe, rapidamente percebi que não podia
descansar sobre os louros do meu marido. Tive que colocar
minha marca no time e impressionar a liga, que não estavam
interessados em ter uma mulher, uma mulher negra,
comandando uma de suas preciosas franquias.
“Eu me perguntei: ‘O que eu trago para a mesa? Como
posso fazer este time se destacar… para os torcedores e para os
jogadores que procuram um novo time para jogar?’. A resposta
veio a mim imediatamente. Minhas habilidades de escuta são
de primeira qualidade. Ouvi jogadores, treinadores, torcedores,
dirigentes da liga. Qualquer um que tivesse uma opinião sobre
como melhorar a equipe. Eu fui a partir daí.”
Donovan assentiu.
— Eu pensei que tinha percebido isso. Nossos cupcakes são
os melhores da cidade.
Seus lábios se abriram em um sorriso.
— Eu sei. É por isso que tenho um pedido semanal padrão
para a equipe do escritório principal.
— E é muito apreciado. — Ele sorriu pelo que parecia ser a
primeira vez desde... bem, desde que uma certa Crítica de Loja
de Cupcakes visitou sua loja.
A Sra. T tomou outro gole de café.
— Mas não podem ser apenas os cupcakes. As pessoas
adoram cupcakes, mas existem muitas empresas que os
fornecem. O que faz as pessoas quererem voltar à sua loja?
Ele sempre apreciou sua honestidade. Tinha sido por isso
que procurou a opinião dela. Ela não ia dizer a ele o que achava
que ele queria ouvir. Ele assentiu.
— Eu não sei, mas vou descobrir. Farei o que for preciso
para tornar a Sugar Blitz um sucesso.
Ela estudou seu rosto, então assentiu.
— Eu acredito que você vai. — Ela fez uma pausa, sua
cabeça inclinada para o lado em contemplação. Ela falou
devagar. — Sim, eu acredito que vai. — Ela voltou a se
concentrar nele, sua expressão agora afiada e determinada. —
Eu tenho um favor para pedir.
O que ela estava tramando? Donovan colocou a caneca de
lado, concedendo-se um precioso segundo para responder,
então deu a única resposta que fazia algum sentido.
— Qualquer coisa que você precise.
Ela assentiu como se seu consentimento sempre tivesse sido
garantido.
— Você tem a cabeça no lugar. Você percebe que o futebol
americano não dura para sempre. Você está focado. Admiro
sua inteligência. Sempre admirei. Você sabe disso.
Ele sentiu que havia mais em sua lisonja do que, bem,
lisonja.
— Obrigado, Sra. T.
A Sra. T colocou sua caneca na mesa ao lado de sua cadeira.
— Minha neta voltou recentemente para a cidade. Ela lutou
para encontrar seu lugar no mundo, e eu realmente acredito
que ela poderia se beneficiar aprendendo com um
empreendedor. Um empreendedor como você.
A tensão derreteu de seus ombros. Esse era o favor? Um
trabalho para sua neta?
— Ela não quer trabalhar para a equipe?
Os lábios da Sra. T se curvaram.
— Isso vem com seu próprio conjunto de expectativas e
pressões que não precisa agora, e não, ela não quer trabalhar
para a equipe. Por mais louco que pareça, ela não é muito de
esportes. Nem a sua mãe, na verdade. Isso me mata, mas
acontece. Acho que ela aprenderia muito com você.
Ele sorriu.
— Ficaríamos felizes em tê-la na Sugar Blitz.
Que mal poderia fazer? Eles sempre poderiam usar um par
extra de mãos na loja. E ei, ceder nesse assunto poderia ajudar
nas próximas negociações de contrato. Nada de errado com um
pouco de quid pro quo4.
Ela juntou as mãos.
— Maravilhoso. Eu vou pagar o salário dela, é claro.
A voz de Donovan ficou tensa.
— Eu posso pagar meus funcionários. — Sugar Blitz podia
não ser capaz de pagar um gerente com seus lucros atuais, mas
ele poderia e pagaria qualquer funcionário de meio período –
do próprio bolso, se chegasse a isso.
Ela assentiu.
— Orgulho e teimosia. Qualidades que eu entendo muito
bem. Não quis ofender, mas sei que estou lhe impondo uma
nova funcionária.
Ele balançou sua cabeça.
— Você não está impondo ninguém em mim.
— Obrigada, mas me desculpe mesmo assim. — Seu pedido
de desculpas foi genuíno. Ela era genuína. Foi por isso que ele a
procurou.
Ele sorriu.
— Desculpas aceitas. Mas estarei pagando à ela.
Ela riu, dando-lhe um tapinha no braço.
— Você é um bom homem, Donovan.

4
Quid pro quo: Tomar uma coisa pela outra.
Uma batida forte soou na porta.
Seus olhos brilharam.
— Deve ser ela. Entre — gritou ela.
Donovan se levantou ao lado dela quando Stacey, a
assistente de longa data da Sra. T, entrou. Alguém,
presumivelmente a neta mencionada, estava atrás dela, mas
Stacey bloqueou a visão de Donovan. A neta não era mais alta
que a avó, parecia.
— Sra. T, Jada está aqui — Stacey disse. — Na hora certa —
ela acrescentou, em um sussurro fingido.
— Eu posso ouvi-la, sabe — Jada disse secamente.
Donovan congelou. Aquela voz…
— Desculpe. — Stacey deu um passo para o lado, dando a
Donovan sua primeira visão clara de sua mais nova funcionária.
Que, por acaso, tinha lábios e olhos perfeitos da cor de lascas de
chocolate amargo.
Sua boca caiu aberta. Assim como a da neta.
— Você! — gritaram em uníssono.
Uma onda de vergonha consumiu Jada por inteira. Afinal, ele
sabia quem ela era? Ou ele descobriu de alguma forma e veio
aqui para chantagear a avó dela ou algo assim?
— Vocês se conhecem? — Vovó perguntou, um brilho
confuso, mas interessado, piscando em seus olhos.
Não havia como ela reviver o fiasco de ontem com sua avó
com a causa do dito fiasco ali mesmo, emitindo suas vibrações
severas. Em sua vasta experiência, os vice-diretores tentavam ser
seus amigos, enquanto os diretores eram os disciplinadores.
Não era como se ela pudesse ignorá-lo, no entanto. O escritório
de Vovó era grande e espaçoso, mas ele ainda ocupava muito
espaço. Os olhos dela foram atraídos para ele, assim como os
dele, aparentemente.
Vovó limpou a garganta, obviamente não interessada em ser
ignorada.
— Não! — Jada respondeu rapidamente.
— Sim! — disse o cara ao mesmo tempo.
Jada tentou não se contorcer quando Vovó deixou aquelas
respostas permanecerem no ar por alguns segundos.
— Entendo — ela finalmente disse. — Ou talvez, não. Há
algo acontecendo aqui que eu deva saber?
— Não. — Jada deu a sua avó o melhor sorriso de “sou
inocente, não há nada acontecendo aqui” que ela conseguiu.
Todas aquelas aulas de atuação profissional teriam que valer a
pena em algum momento, certo?
— Tem certeza? — Vovó levantou uma sobrancelha
enquanto cruzava os braços e se inclinava contra a mesa.
Nada bom. Vovó era uma mulher inteligente e poderia e
começaria a fazer perguntas realmente excelentes a qualquer
momento.
Essa crise precisava ser evitada mais do que saltos de gatinho.
Pense, Jada, pense.
— O que eu quis dizer é que não, nós não nos conhecemos,
mas nos encontramos brevemente ontem quando entrei
naquela loja de cupcakes perto do estádio. Uma coincidência
tão engraçada.
Ela até terminou com uma leve risada. Ela ignorou o leve
bufo do cara. Qual era o nome dele, afinal? Quem era ele?
— Sugar Blitz. — Vovó juntou as mãos, os olhos
arregalados. — Isso é incrível!
— Não, é? — Sua avó tinha ouvido falar da confeitaria, o
que era bom. O que não estava bem? A empolgação da avó por
Jada ter ouvido falar da confeitaria. E por que o Senhor
Chatonildo parecia confortável demais no escritório da Vovó?
O olhar dela se voltou para ele mais uma vez. Os ombros
maciços ainda eram enormes. As coxas grossas ainda eram
espessas. Seus jeans e Henley não faziam nada para esconder
esses fatos irrefutáveis.
Uma sensação de afundamento ecoou em seu estômago. Ele
não era enorme só porque era grande. Ele era grande porque...
— Donovan joga para os Knights, querida, então, sim —
Vovó disse. — Você saberia disso se você se interessasse pela
equipe, que faz parte do seu legado.
Sim, adicione isso à sua lista de falhas. Ela não se importou
muito sobre futebol americano e sentia pouca ou nenhuma
vergonha por esse fato, mas agir desatentamente era uma
questão totalmente diferente. Oh, Deus. Jada Espontânea
atacou novamente. O ronco em seu estômago aumentou de
agitação.
— Oh.
— A propósito, também sou dono da Sugar Blitz —
acrescentou Donovan.
Sim, ela descobriu isso também. Insulte os cupcakes do
homem, insulte o homem. Ela estava rebatendo mil jogadores
ou marcando um touchdown da vitória, usando a linguagem
do futebol americano. Mas ele ainda tinha aquele olhar de
desaprovação no rosto, então ela não se sentiu 100% mal… mas
como uns 90%. A cara fechada dele se aprofundou enquanto o
olhar dela se prolongava. Ok, isso faz com que se torne uns 85%.
Sua mandíbula se moveu de um lado para o outro antes de
falar, o profundo timbre de sua voz enchendo o ar.
— Você foi à loja em algum tipo de missão de
reconhecimento? Observar o terreno?
A boca de Jada se abriu.
— O quê? Não! Por que eu faria isso? — Adicione
arrogância à sua lista de falhas.
Seus lábios torceram e se tornaram um sorriso de auto-
satisfação.
Jada engoliu um rosnado. Por muito pouco. Ele estava
brincando com ela. Tentando tirar uma onda com ela. E
caramba, estava funcionando, e ele sabia disso.
— Estou tão feliz que você esteve lá. Você gostou do
cupcake, presumo? — Vovó interveio.
Ótimo.
Agora o Senhor Chatonildo – não, Donovan – a estudava
com interesse simples. Ela não poderia ser “indecente”
novamente porque isso só despertaria o interesse de Vovó, e ele
sabia disso. Era muito cedo para declarar Donovan seu
inimigo? Ela o conhecia há menos de vinte e quatro horas,
afinal.
Ignore-o. Jada virou-se para a avó.
— Eu gostei deles.
— Oh, sério? — ele se maravilhou atrás dela.
Os olhos dela o funilaram. Ele estava rindo dela. Os dentes
de Jada cerraram. Não, não era muito cedo para declará-lo seu
inimigo jurado. Era a hora certa, na verdade.
— Estou tão feliz em ouvir isso porque tive uma ideia
incrivelmente maravilhosa. — Vovó sorriu, claramente sem
noção das correntes ocultas de antipatia que fluíam em seu
escritório.
— O que é? — Jada conseguiu forçar com a garganta seca.
Seu estômago ainda estava pesado. Vovó parecia muito
satisfeita consigo mesma. Onde estava uma garrafa de Pepto-
Bismol extra forte quando ela precisava?
— Donovan concordou em deixá-la trabalhar na Sugar
Blitz pelos próximos seis meses. — Bem quando ela faria vinte
e seis anos. Vovó tinha pensado em tudo.
A montanha-russa de seu estômago mergulhou direto até os
joelhos. Jada piscou.
— Me desculpe. O quê?
— Você me ouviu. Não foi legal da parte dele?
A calma estava fora de questão no momento, mas ela
agarrou-a de qualquer maneira, mesmo quando a sentiu
escorregar por entre os dedos como grãos de areia.
— Vovó, você não pode pedir a ele para fazer isso.
— Por que não? Você precisa de um emprego. Ele tem um
emprego. — O Furacão-Vovó havia atacado novamente com
sua lógica infalível.
Jada gaguejou.
— Po-porque…
— Se ela não quiser fazer isso, eu certamente não quero
forçá-la — Donovan disse, todo superior falando com os pais
de um aluno medíocre. E assim, Jada abriu a sua boca para
exclamar a sua preocupação ao aceitar um trabalho com o
grande Donovan. Ela parou antes do último momento. Apenas
um pequeno meep escapou.
— Vovó, realmente, eu não acho que isso seja… — Sua voz
sumiu quando os olhos de Vovó se estreitaram.
— Humm — disse sua avó. — Donovan, você se importa se
eu falar com minha neta a sós? Entraremos em contato ainda
hoje sobre o emprego.
O olhar de Donovan encontrou o de Jada brevemente antes
de assentir.
— Claro, Sra. T. Estou ansioso para trabalhar com você,
Jada.
A maneira como ele disse o nome dela, com uma pitada de
zombaria no sotaque suave, a fez querer esmagá-lo com sua
boca inteligente. Mas ela não era uma pessoa violenta, ou assim
sempre acreditou. Ela forçou seus lábios em uma réplica de um
sorriso em vez disso.
— Tenha um bom dia.
Isso era o melhor que podia fazer. De jeito nenhum ela
poderia dizer que estava ansiosa para trabalhar com ele. Porque
não ia acontecer.
Ele assentiu mais uma vez, então partiu.
— Você gostaria de me dizer o que está acontecendo com
você e um dos meus jogadores favoritos? — Vovó perguntou
assim que a porta se fechou suavemente atrás de Donovan.
Porra, Vovó nunca perdia nada.
— Nada, Vovó. Como eu disse, ontem entrei na loja dele e
comprei um cupcake. Só isso.
Vovó não parecia convencida.
— O que você achou do cupcake?
— Como eu disse, era bom.
— Então você não deve ter nenhum problema em trabalhar
lá.
Jada ergueu as mãos.
— Oh, meu Deus, Vovó, o que você disse a ele? Ele deve
achar que sou patética se preciso que minha avó me ajude a
encontrar um emprego. — Uma nova expressão de angústia a
atingiu em cheio no rosto.
Vovó ergueu o queixo, o único sinal de que ela poderia ter
considerado ter ultrapassado os limites.
— Ele não pensa tal coisa. Eu simplesmente disse que você
estava procurando um emprego e achei que poderia aprender
muito com ele.
— E o que ele disse quando você ofereceu essa proposta?
— Ele disse que adoraria contratá-la.
— Porque ele não tinha outra escolha. Você assina os
cheques dele. — Jada gemeu.
— Seja como for, ele é um homem muito bom. — Jada se
conteve antes que um bufo escapasse. — Mais importante, ele
reconhece o quão breve uma carreira no futebol americano
profissional pode ser e se preparou muito bem para continuar
a ter sucesso depois que sua carreira de jogador terminar. Eu
não estava errada. Você pode aprender muito com ele.
Os ombros de Jada caíram com a lembrança de sua falta de
objetivo, embora Vovó não quisesse que fosse um desrespeito.
— Eu disse que poderia encontrar um emprego sozinha.
As sobrancelhas de Vovó se ergueram.
— E você encontrou?
Jada desviou o olhar.
— Não. Mas nós conversamos ontem à noite!
— Eu sei, querida. Não estou fazendo isso para puni-la. Na
verdade, acho que pode ser divertido. É uma loja de cupcakes.
Isso deveria ser… qual é essa palavra que vocês jovens gostam?
Oh, sim. Top.
Jada gemeu.
— Vovó, por favor, nunca use essa palavra novamente.
Vovó deu de ombros.
— Por que não? Eu possuo um time de futebol americano.
Tenho que ser capaz de me comunicar com meus jogadores.
— Vovó…
— Esta é minha oferta final. É hora de você se aplicar. Hora
de manter algo por mais de um mês.
Jada sabia disso. Sabia disso antes de ir para Minha Cara
Metade. Isso não significava que ela queria trabalhar com ele.
Mas não podia expressar sua opinião sem levantar suspeitas.
Então ela falou a sua próxima melhor opção. Fatos.
— Eu não cozinho. Eu não sei cozinhar.
— Felizmente, você estará assando cupcakes. Tenho certeza
de que Donovan ficará mais do que feliz em dar algumas dicas.
Não, essa era a última coisa que ela queria ou precisava.
Passar mais tempo do que o necessário com o Senhor...
— Vovó, qual é o sobrenome de Donovan?
Vovó suspirou em claro desespero sobre a falta de
conhecimento de sua neta sobre o trabalho de sua vida.
— Dell. Seu nome é Donovan Dell. Ele é apenas um dos
melhores laterais defensivos da liga de futebol americano.
O que quer que isso significasse. Ela tinha um nome
completo agora. Donovan Dell. Ela rolou o nome em sua
cabeça. Um nome forte para um homem com a mentalidade e
um físico forte. Não que isso fosse importante.
— Tenho certeza de que o Sr. Dell tem coisas mais
importantes a fazer do que cuidar de mim.
— Você vai trabalhar no negócio dele. Tenho certeza que
vai ficar tudo bem.
Vovó tinha uma resposta para tudo. Agora Jada estava
desesperada. Ela estava recorrendo a qualquer meio de ajuda.
— Por mais verdade que isso seja, Vovó, eu pareço do tipo
que usa polo e, Deus me livre, uma rede no cabelo? Esse não é
realmente o meu estilo. — Ela acenou com a mão para baixo de
sua figura. Uma visita a sua avó não era desculpa para não
parecer fofa. Casual, mas fofa. Um macacão listrado vermelho
e branco combinado com umas sandálias Jimmy Choo fofas.
Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto e elegante e
estava com uma maquiagem natural. Um look perfeito para um
dia ensolarado em San Diego.
Vovó lançou um olhar duro para ela.
— Sei que você gosta de moda, e sempre encorajei esse
interesse, mas me poupe das desculpas fúteis. Eu sei que você é
tudo menos isso.
Os ombros de Jada caíram.
— Eu não tenho sempre os melhores interesses no coração?
Jada assentiu, incapaz de negar essa afirmação. Sua avó
sempre a protegeu.
— O que, realmente, está acontecendo?
— Acho que pensei que poderia descobrir as coisas por
conta própria. — Ela não esperava que Vovó realmente tivesse
um plano antes de Jada pisar em seu escritório. Ela também não
tinha certeza de que sua avó estava falando sério. Ela pensou
que poderia persuadir Vovó a dar-lhe acesso antecipado ao seu
fundo fiduciário. Mas Vovó estava falando sério.
— E você ainda tem tempo. Você tem apenas vinte e cinco
anos. Isto é temporário. Quando seus seis meses terminarem,
terá seu fundo fiduciário e se tornará a capitã de seu próprio
navio. Eu tenho fé em você.
Jada não tinha tanta certeza. Ela raramente teve sucesso ou
ficou com algo por muito tempo. Ela não sabia como essa
situação seria diferente… não trabalhando para aquele homem,
de qualquer maneira. Mas ela queria seu fundo fiduciário. Ela
sufocou mais um gemido. Quem ela estava enganando? Ela
precisava de um emprego agora, esqueça o fundo fiduciário.
Dinheiro era dinheiro, e em menos de duas semanas, ela não
teria nenhum retorno. Ela não podia contar a Vovó o que seus
pais tinham feito. Ela não queria ser a fonte de uma possível rixa
entre sua mãe e sua avó.
O que era um pouco de farinha, redes no cabelo e uma polo
polyblend comparado a tudo isso? Era apenas por alguns
meses. Donovan não podia ser a única pessoa que trabalhava na
Sugar Blitz. Ela sairia, o ignoraria, ganharia dinheiro suficiente
para comprar comida e pagar suas contas, e receberia seu fundo
fiduciário no final de seu trabalho, muito obrigada.
Excelente. Parecia que seu inimigo havia se tornado seu
mentor. Absolutamente ótimo.

∗∗∗

Donovan pulou como um gato arisco quando a campainha da


porta da frente tocou. Seus ombros caíram quando um homem
atormentado usando um terno de negócios correu para dentro
da loja.
— É o dia da minha filha trazer lanches para a turma dela da
primeira série, e eu esqueci completamente.
Donovan sorriu.
— Não se preocupe, cara. Eu entendo. — Ele deu as boas-
vindas ao homem. Ele estava impaciente desde que acordou
naquela manhã.
Não que estivesse contando os minutos até sua mais nova
funcionária, Jada Townsend-Matthews, chegar. Ele
simplesmente não sabia o que esperar, isso era tudo. Ele gostava
de ordem e ações sensatas. Jada não prometeu nenhuma dessas
coisas.
Ele ficou mais do que um pouco surpreso ao receber o e-
mail da assistente da Sra. T na noite anterior informando que
Jada mal podia esperar para começar na Sugar Blitz.
Nenhuma mensagem da própria Jada, óbvio. Não que ele
tivesse previsto uma. Mas hoje era um novo dia, e ela estaria na
porta a qualquer momento. De qualquer forma, ele precisava
prestar atenção na pessoa mais importante da loja.
— Qual é o sabor favorito da sua filha?
Ele estava trabalhando no balcão da frente sozinho esta
manhã. Nicholas estava na cozinha trabalhando em um novo
sabor de cupcake, August não trabalhava até de tarde e Ella
estava atrasada.
O pai orgulhoso sorriu.
— Chocolate com granulado.
— Esse é bom. O que você acha de colocarmos uma mistura
de chocolate e baunilha?
O rosto do cara relaxou com alívio.
— Perfeito. Vou precisar de uma dúzia.
Depois de pegar uma caixa para viagem, Donovan abriu a
vitrine e retirou as guloseimas amanhecidas. Como sempre, seu
estômago roncou assim que os aromas deliciosos de chocolate,
creme e açúcar atingiram seu nariz. Ele sabia por vários testes de
sabor que os cupcakes eram espetaculares. Nicholas havia
aperfeiçoado as receitas simples, mas incrivelmente
importantes, durante seu primeiro ano com os Knights,
quando era um novato nervoso procurando explodir.
O cliente entregou seu cartão de crédito.
— Obrigado novamente. Você é o meu salva-vidas. Nunca
pensei que diria isso, mas não estou falando do que você faz no
campo de futebol americano. Eu sou um grande fã, mas isso
que você fez agora supera tudo de longe. Eu vou ser o pai mais
legal da história da primeira série graças a esses cupcakes.
Donovan sorriu.
— Ainda bem que pude ser útil. Volte sempre.
— Com certeza eu irei voltar. — O pai foi até a porta
enquanto Donovan conferia a caixa registradora e pegava mais
caixas para reabastecer o balcão.
— Oh, desculpe — disse o pai. — Eu estava com tanta pressa
que não vi você.
— Está tudo bem — uma voz suave e burguesa respondeu.
— Sem dano, sem problema.
A cabeça de Donovan se ergueu. Jada estava logo na entrada
da loja. Ela estava sorrindo para o pai. Donovan respirou
fundo. Um rosto perfeito, de alguma forma inexplicável,
tornou-se ainda mais perfeito com a simples ação. Mesmo que
ele não fosse o receptor dessa, ação isso não significava nada.
Inferno, ele nem sabia que ela sabia sorrir.
O pai ergueu a caixa.
— Estou com pressa. Tenho que levar isso para a escola da
minha filha antes da hora do lanche. — No entanto, ele não se
moveu, obviamente hipnotizado pela mulher deslumbrante na
frente dele. O prazer se espalhou por seu rosto.
— Ah, isso é tão bom. Eu teria adorado se meu pai tivesse
trazido cupcakes para minha aula. Sua filha é tão sortuda.
O pai, que claramente não estava com tanta pressa,
fodidamente se desvaneceu.
— Ah, não é nada. Você é muito gentil.
Ok, sim, isso foi o suficiente para uma sociedade de
admiração mútua. Donovan limpou a garganta. O olhar de
Jada se voltou para ele. O sorriso instantaneamente
desapareceu de seu rosto expressivo. Ele não sabia como de
alguma forma a expressão dela passou da alegria ao
aborrecimento em um nanossegundo graças a ele.
O pai olhou em sua direção, seu sorriso ágil desaparecendo
assim que seu olhar pousou no rosto de Donovan. Ele acenou
para Jada mais uma vez e finalmente partiu. Deixando
Donovan sozinho com sua mais nova funcionária. A neta da
sua chefe. Quem esteve nesta mesma loja dois dias atrás e
chamou seus cupcakes de decentes e o ambiente de sem graça.
Uma dor de cabeça de tensão pulsou atrás de seu olho
direito.
Foda-se a minha vida.
— É bom ver que você ainda está estendendo um tapete
vermelho para os clientes — disse Jada, entrando na loja como
se ela fosse a dona do lugar.
— Você é uma empregada, não um cliente — disse ele,
mesmo enquanto estremecia interiormente. Porra, ele
precisava se recompor. Ele nunca foi assim. Ele soava como um
rabugento. E ele parecia ainda mais um rabugento por usar a
palavra rabugento. Droga, todas aquelas palavras cruzadas que
seu avô gostava de obrigar ele a ajudá-lo a resolver.
Suas sobrancelhas perfeitas arquearam.
— De fato, eu sou. Obrigada pela lembrança.
— Eu não tinha certeza se você apareceria. — Donovan deu
a volta no balcão para ficar ao lado dela.
Ela fingiu ofegar.
— Mas então eu não seria capaz de ver aquele olhar de
rabugento em seu rosto, especialmente aquelas sobrancelhas
franzidas.
— Não há nada de errado com o meu rosto. — Donovan
imediatamente trabalhou para suavizar suas feições, fechando
as mãos em punhos ao lado do corpo para não franzir as
sobrancelhas. Ele não lhe daria a satisfação. Fazendo isso mais
satisfatório, já que ela já estava sorrindo para ele.
— Eu sinto muito. Podemos começar de novo? — ele
estendeu a mão. Ela olhou para a mão dele como se fosse um
tentáculo alienígena e se ela o tocasse, ele a levaria de volta para
seu covil em algum planeta distante. — Deixa para lá.
Ela segurou a mão dele enquanto ele se afastava. Suas palmas
se encontraram. Uma carga elétrica impulsiva subiu por seu
braço, chocando-o literal e figurativamente. Seu olhar fixou-se
no de Jada. O choque, a consciência foi fácil de identificar em
seus lindos olhos castanhos.
Ele precisava dizer alguma coisa. Fazer alguma coisa. Suas
mãos permaneceram entrelaçadas. Sua pele era macia, e ele não
queria deixá-la ir.
— Não, você está certo — disse ela, deslizando a mão e
recuando, deixando-o se sentindo estranhamente desolado. Ele
tinha esquecido com o que ela estava concordando. — Vamos
começar de novo — ela adicionou quando ele não falou.
— Certo. Ok — ele disse lentamente, seu cérebro ainda
girando, sua mão ainda formigando. Eles ainda estavam
mantendo o contato visual.
O sino acima da porta tocou.
— Donovan, sinto muito pelo atraso — disse Ella,
apressadamente ao entrar. — Precisava ter certeza de que meu
trabalho estava perfeito antes de entregá-lo e adormeci sem
ativar o alarme. Não vai acontecer de novo. — Sua torrente de
palavras parou quando viu Jada. Seus olhos se arregalaram em
reconhecimento. — Oi. Prazer em vê-la novamente. O que
você está fazendo aqui?
Donovan reuniu o máximo de células cerebrais que pôde.
— Ela é nossa mais nova contratação. Ella, você pode
mostrar a loja para a Jada? Eu tenho que fazer... algumas coisas,
sim, algumas coisas, no meu escritório.
Ele a deixou com Ella e desapareceu. Ele não correu. Se o seu
jeito de andar era um pouco mais rápido que o normal, era
apenas uma coincidência. Ele definitivamente não estava
correndo.

∗∗∗

Uma hora depois, Nicholas enfiou a cabeça no escritório de


Donovan.
— Eu terminei com o último lote de cupcakes s'mores5.
Acho que estou quase lá com a receita. O sabor do
marshmallow não está mais ultrapassando os dos biscoitos de
chocolate e nem os de maisena. Vou precisar que você
experimente o sabor.
Donovan abriu as mãos.
— Um trabalho duro, mas alguém tem que fazê-lo. Ei,
Nich…
— Você pode segurar esse pensamento rapidinho? Também
quero avisar a Ella. A última vez que não contei a ela sobre um
novo teste de sabor, não a ouvi por duas semanas — Nicholas

5
Um s'more é um petisco tradicional para fogueiras noturnas popular nos
Estados Unidos e no Canadá, consistindo de um marshmallow assado no fogo e
uma camada de chocolate entre duas fatias de biscoito graham cracker.
desapareceu antes que Donovan pudesse falar. Seu parceiro de
negócios retornou menos de trinta segundos depois. Ele fechou
a porta atrás de si e se encostou nela, cruzando os braços. Seus
olhos se estreitaram em confusão.
— Hum, quem é aquele lá fora com Ella?
Donovan suspirou.
— Nossa mais nova funcionária.
Nicholas piscou.
— Estamos contratando?
Donovan assentiu.
— Sim, especialmente quando ela é neta da Sra. T.
— Oh, tudo bem. Claro. Acho que seu encontro com a Sra.
T foi bom. — Sua cabeça inclinou para o lado. — Eu só dei
uma olhada rápida nela, e ela é bonita pra caralho.
Donovan ergueu a mão, cuidadosamente ignorando o
clarão de... algo vagamente esverdeado temporariamente
embaçando sua visão.
— Primeiro: não, você não está namorando uma
empregada. Segundo: você com certeza não está namorando a
neta da nossa chefe. — Ele hesitou. — E terceiro: ela também é
a mulher que veio no outro dia, você sabe, aquela que tinha
muito a dizer sobre a loja.
A boca de Nicholas se abriu.
— Nããão. Me diga mais.
Maldito fofoqueiro.
— Não há mais nada a se dizer.
Uma batida forte soou na porta. Nicholas saiu do caminho
quando Donovan disse ao recém-chegado para entrar.
Um segundo depois, August entrou.
— Por que há uma mulher estranha atrás do balcão com a
Ella?
Nicolau fechou a porta.
— Boa hora. Eu estava prestes a obter a novidade.
— Não há novidade — disse Donovan, com os dentes
cerrados.
— Você quer dizer que contratar a mulher que falou merda
sobre a loja não conta como uma novidade? Eu não considero
dessa forma — Nicholas disse.
— Você contratou a mulher que falou merda sobre a loja?
— August entrou na conversa, sua perplexidade era clara.
— Sim — Nicholas disse ansiosamente. — E não temos
permissão para sair com ela porque ele já fez sua reivindicação.
Os dentes de Donovan rangeram.
— Não há reivindicação. Ela é uma mulher adulta que pode
fazer o que quiser. Independentemente disso, vocês precisam
manter suas mãos com vocês mesmo.
Nicholas podia e tinha encantado as calcinhas de inúmeras
mulheres. Sem dúvida, Jada responderia melhor à abordagem
de Nicholas do que a de Donovan. O comportamento brusco,
argumentativo, combativo. O que não era seu estado habitual.
Ele geralmente era completamente lógico e calmo. Não que
importasse qual era o seu estado. Ele não estava interessado
nela. Ela não estava interessada nele, e mesmo que essas
declarações não fossem verdadeiras, eles ainda não
namorariam. Entrar em um relacionamento só o distrairia de
seus objetivos.
— Então ela trabalha aqui agora? — August perguntou,
ainda claramente confuso. — Tem certeza que é uma boa ideia?
— Sim. — Donovan explicou rapidamente a situação,
ignorando a forma como as expressões faciais de seus parceiros
de negócios alternavam entre diversão, confusão, espanto,
compreensão e, no caso de Nicholas, completa animação.
— Não se preocupe. Ela se reportará a mim e eu a treinarei.
Nicholas cutucou August com o cotovelo.
— Te disse. Ele já fez a reivindicação.
Donovan olhou para seu melhor amigo.
— Saia do meu escritório.
Jada ficou atrás enquanto Ella ajudava um cliente. Ela não sabia
mais o que fazer. Ela estava tão fora da sua zona de conforto.
Ella continuou olhando para ela como se fosse um inseto
sob um microscópio, parando sua inspeção sobre Jada somente
quando tinha que ajudar os clientes. Dois homens que ela
assumiu serem parceiros de negócios e companheiros de equipe
de Donovan, com base em seus físicos, deram uma olhada nela
e desapareceram na mesma parte da loja que Donovan tinha ido
antes.
Jada estava apenas tentando ficar fora do caminho. Ela não
queria deixar cair os cupcakes ou acidentalmente entregar o
produto errado a um cliente ou qualquer outra das ilimitadas
tragédias possíveis que passavam por seu cérebro.
Se seu olhar continuava focado no corredor, onde
anteriormente seu chefe tinha fugido como se os cães do
inferno o estivessem perseguindo, bem, isso era simplesmente
porque ele era a única pessoa que ela conhecia aqui. Não era
como se ela tivesse perdendo ou antecipando suas brincadeiras
antagônicas ou algo assim.
Mas o último cliente estava se afastando do balcão
carregando um pedido para viagem, e Ella voltou a olhar para
ela, enrolando uma de suas box braids6, que ficavam na altura
do ombro, em torno de seu dedo. Ela era uma garota bonita,
alguns centímetros mais alta que Jada, com olhos castanhos
curiosos, rosto redondo e de pele marrom-média.
— Há quanto tempo você trabalha aqui? — Jada
perguntou, para acabar com o constrangimento.
— Bem, a loja foi aberta há menos de três meses. Estou aqui
desde o início. Conheço Donovan minha vida inteira. Minha
família morava ao lado da dele em Oakland. Quando me mudei
para cá para fazer faculdade, precisava de um emprego com o
horário flexível, e ele estava precisando de ajuda, então aqui
estou eu. — Seus olhos se arregalaram. — Não se preocupe. Ele
é velho, e é basicamente meu irmão mais velho.
Jada riu. Donovan não parecia ter mais de trinta anos.
Então, a outra parte da resposta de Ella foi processada. Ela
piscou.
— Me preocupar?
— Eu estava aqui naquele dia.

6
As box braids também são conhecidas como “tranças Kanekalon” ou
“tranças sintéticas”. Elas são um estilo de penteado protetor onde o
entrançamento é feito nos fios naturais com a adição de cabelos sintéticos. Braids
se traduz como tranças, e box significa “Caixa”. Então, o nome do penteado se dá
porque as tranças são feitas com o cabelo dividido em mechas “quadradas”, ou
seja, cada trança fica “em uma caixa”.
— Oh. — Por alguma razão, ela teve dificuldade em se
lembrar de qualquer outra coisa além de seu, animado,
encontro com Donovan daquele dia.
— Eu também vi vocês quando entrei hoje — acrescentou
Ella, como se isso explicasse tudo. — Estava meio… quente —
ela continuou, quando Jada olhou para ela sem expressão.
Como responder a isso?
— Humm…
Ella estalou os dedos.
— Agora me lembro de onde te conheço. Isso não saía da
minha cabeça. Eu vi no Instagram. Você é aquela garota
daquele show! — Cada músculo do corpo de Jada congelou. —
Eu não posso acreditar que você fez aquilo — Ella continuou.
— Foi tão legal.
— Foi? — Ninguém havia dito isso a ela. Ela havia recebido
tantos xingamentos online que não lhe ocorrera que alguém
pudesse concordar com sua decisão de recusar a oferta de
casamento.
Ela assentiu.
— Oh, sim. Se você não estava gostando dele, não deveria
ter aceitado a proposta dele, e você não aceitou, e foi foda!
Levou um segundo para o elogio, um elogio real, ser
absorvido.
— Obrigada.
Ella a examinou por um segundo, então assentiu.
— Quer assumir o próximo cliente?
— Hum, com certeza. — Presumiu que Ella quis dar um
desconto para ela. Pela primeira vez naquela manhã, ela
começou a relaxar.
A campainha tocou, e uma mulher possuindo cachos
naturais e de peito estufado, usando uma legging preta e uma
camiseta escrito “Livros são nossos amigos” praticamente pulou
em cima do balcão. Ter tanta energia devia ser exaustivo.
Ella olhou para Jada. A hora dela era agora. Jada respirou
fundo. Ela poderia fazer isso. E ela queria fazer isso. Este era o
seu trabalho, e ela não queria estragar tudo. Além de precisar de
um salário, ela queria provar que podia fazer o que fosse preciso
para deixar sua avó orgulhosa. Ela queria provar a si mesma que
poderia se submeter a algo e ir até o fim com isso. Esta era sua
chance de ser uma Jada melhor. Uma Jada menos impulsiva.
Mais madura. Ela encheu seus pulmões com ar, então falou.
— Bem-vinda a Sugar Blitz. Como posso ajudá-la?
A cliente parou de examinar a vitrine para olhar para cima.
— Oi, eu nunca vi você aqui antes.
Jada sorriu.
— Hoje é meu primeiro dia.
— Eu sou Kendra. Sou dona da academia no final da rua. —
Ela ajustou os óculos de tartaruga no nariz. — Como está sendo
seu primeiro dia?
Jada mudou de um pé para o outro.
— Está indo tudo bem. Estou apenas tentando me adaptar
à loja.
— Bem, Sugar Blitz tem os melhores cupcakes da cidade.
Eu sou uma obcecada por cupcakes. Eu sei tudo sobre essas
coisas. Eu parei por curiosidade logo depois que eles abriram e
tenho feito pelo menos três visitas por semana desde então.
Jada riu.
— Há quanto tempo você é dona da academia?
— Um pouco mais de cinco anos. Você gosta de romance?
— Hum, bem… — Ela não odiava exatamente, mas dado o
estado de sua vida amorosa antes, durante e depois do show,
quanto menos pensasse nesse assunto, melhor. A pergunta foi
uma transição para perguntar sobre o show?
Kendra acenou com a mão.
— Vou tomar isso como um sim. — Ela apontou para sua
camisa de amantes de livros. — Eu administro um clube do
livro de romances mensal, temos uma reunião chegando e
sempre aceitamos novos membros. Novos pontos de vista são
sempre bem-vindos. Então, você vem para a próxima reunião?
Jada piscou com o convite rápido.
— Vou pensar sobre isso.
Kendra pegou um guardanapo do balcão e enfiou a mão na
bolsa, tirando uma caneta. Ela rapidamente rabiscou no papel.
— O livro que estamos lendo este mês se chama No Cowgirl
Left Behind. Eu não espero que você se lembre disso, então
estou anotando. Queremos incentivar a leitura para qualquer
tipo que seja melhor para o leitor, seja a leitura de livro físico, e-
book ou áudio, ou empretados da biblioteca. — Ela deu o
discurso todo sem tomar fôlego.
Jada pegou o papel porque não sabia mais o que fazer.
— Oh, ok.
— Eu também vou levar isso como um sim. — Kendra
piscou. — Foi assim que consegui ter sucesso por cinco anos.
Quero três cupcakes de morango e baunilha e dois de chocolate
com manteiga de amendoim. É o aniversário de um dos meus
funcionários e a manteiga de amendoim com chocolate é um
de seus favoritos. Nós treinamos e depois nos tratamos. — Ela
olhou para Jada com expectativa.
Jada começou.
— Certo. Três morangos e baunilha e dois de chocolate com
manteiga de amendoim a caminho. — Mais cedo, enquanto ela
estava atrás do balcão, ela também estudou Ella atentamente.
Ela pegou uma caixa primeiro, então pegou as sobremesas e as
colocou cuidadosamente na caixa, fechando a embalagem com
um gesto alegre. Kendra pagou com cartão de crédito, um tipo
de pagamento que a caixa registradora facilitavs a aceitação.
Quando o recibo foi impresso sem demora, Jada fez um
pequeno movimento de ombros. Talvez ela não fosse tão ruim
nisso, afinal.
— Perfeito. — Kendra apontou para o guardanapo que Jada
havia colocado de lado. — Vejo você aqui amanhã e na próxima
semana no clube do livro. A localização está um pouco no ar
agora, mas devemos ter um lugar para a reunião em breve. E
“não”, não está no meu vocabulário. — Ela piscou. — Mal
posso esperar para conhecê-la melhor, Jada Townsend-
Matthews. — Ela saiu da loja como um redemoinho.
Jada ficou boquiaberta. Kendra sabia quem ela era. Mas ela
não teve muito tempo para pensar nisso porque mais clientes
entraram. Ella deixou que ela cuidasse de todos eles, e ela
rapidamente entrou no ritmo, os recebendo na loja, anotando
os pedidos, não derrubando cupcakes e recebendo o
pagamento, com Ella lá para ajudá-la quando alguém pedisse
um cupcake especial disponível apenas às quartas-feiras.
Ela gostava de conversar com os clientes, saber como
estavam seus dias e porque eles escolheram os sabores que
escolheram. Se os próximos meses fossem assim, seu fundo
fiduciário seria dela em pouco tempo, dando-lhe a liberdade de
traçar o curso de sua vida com seus próprios termos, sem
interferência de seus entes queridos.
Enquanto ela limpava algumas migalhas do balcão, seus
movimentos pararam. A atmosfera na sala havia mudado.
Tinha se tornado carregado. Elétrico. Exatamente como
quando ela tocou a mão de Donovan mais cedo. Seus olhos se
concentraram no local onde Donovan estava passando,
seguido por outros dois homens. Eles eram um grupo
impressionante, todos grandes, em forma e cada um atraente à
sua maneira, mas ela só tinha olhos para aquele que conheceu.
Ele parou na frente do balcão e olhou para ela.
Ela ergueu uma sobrancelha. Ela não se intimidou, não
podia. Ela era Jada Townsend-Matthews, mesmo que tivesse
dificuldade em descobrir o que isso significava em
determinados dias. Mas ele não sabia disso. Ele foi coagido a tê-
la aqui. Ah, bem. Ela não ia agir desesperada para ter um
emprego, mesmo que ela estivesse. Além disso, não era como se
ele pudesse demiti-la. Sua avó o puniria. Com esse pensamento,
seus lábios se abriram em um sorriso.
Seus ombros enrijeceram, sua coluna se endireitou. Pobre
cara. Se ele não parasse de fazer isso, acabaria congelado naquela
posição, e opa, lá se foi sua carreira no futebol. Seu sorriso se
alargou.
Ele limpou a garganta, sem dúvida esperando que todos na
sala lhe dessem total atenção. Assim como um diretor em uma
reunião escolar.
— Jada, gostaria de apresentá-la aos meus parceiros,
Nicholas Connors e August Hodges.
Ela olhou para eles.
— Deixe-me adivinhar. Vocês jogam pelos Knights
também?
Nicholas se esgueirou até o balcão ao lado de seu
companheiro de equipe.
— Por que você acha isso? Nossa aura? Nossos físicos
poderosos?
Seus olhos cinzas brilharam. Flertar era obviamente seu
estado natural de ser. Ele provavelmente flertava com todas as
mulheres que entravam na loja. E mesmo ele era
definitivamente bonito, ela não sentiu um pingo de atração por
ele. Ele era inofensivo.
Jogar junto não era difícil e era igualmente inofensivo. Ela
inclinou a cabeça para o lado.
— Físicos poderosos? Eu não tinha notado.
Ao lado dela, Ella riu.
— Jada, você é minha nova melhor amiga.
Nicholas revirou os olhos parecendo um adolescente antes
de voltar seu olhar para Jada.
— Ah, uau. Cruel. Enfiou uma adaga no meu coração,
senhorita. — Ele bateu a mão no peito.
Jada riu.
— É a única maneira que eu sei ser.
Ele apoiou um cotovelo no balcão, lançou um rápido olhar
sobre seu ombro para Donovan, então piscou para ela.
— Gosto de você. Você é a mulher dos meus sonhos.
Jada riu, reconhecendo a piada pelo que era. Ela gostava
dele. Ele claramente não era de se levar a sério, e sentia falta de
rir. Quase tinha esquecido como era bom se entregar a isso.
— Acalme-se, Nicholas — disse Donovan, aquela voz severa
do diretor aparecendo. — Você não tem coisas para assar?
Nicholas piscou para ela novamente, claramente não
perturbado por seu parceiro de negócios, e deu um passo para
o lado.
— Acabei de terminar, como você sabe. Eu voltarei daqui a
pouco. Sim, Ella, eu ia lhe dizer que terminei meu último lote
de teste, não que você mereça provar minha última receita
culinária de cupcake. — Ele se virou para Jada com a mão sobre
o coração. — Por favor, prometa que ainda estará aqui quando
eu voltar.
Jada assentiu solenemente.
— Eu prometo.
Enquanto ele partia, o outro homem, que observava
silenciosamente a cena, estendeu a mão.
— Prazer em conhecê-la. Eu sou August. — Sua voz era
rouca e profunda e um pouco hesitante.
Ela apertou a mão dele. Sem surpresa, sua mão grande
engoliu a dela, mas seu aperto foi surpreendentemente suave.
— Prazer em conhecê-lo. Eu sou Jada.
August assentiu uma vez e não disse mais nada.
Obviamente, ele era um homem de poucas palavras, mas tinha
olhos gentis. Curiosos, também, mas a quietude dele trabalhou
ao seu favor, então ela deixou quieto.
Nicholas voltou alguns segundos depois, carregando uma
bandeja de cupcakes. A boca de Jada salivou. Ela podia sentir o
cheiro do marshmallow do outro lado da sala. Seu estômago
roncou quando ele chegou ao balcão, e ela deu uma boa olhada
nas sobremesas.
— Todos sejam gentis — disse Nicholas, torcendo as mãos.
— Estou perto de aperfeiçoar a receita. Estou quase lá, mas
ainda não está perfeito. Eles não contêm glúten, então
podemos oferecê-los a um tipo de clientela mais ampla. — O
cara que gostava de flertar se transformou em um padeiro
nervoso, mas sério. — Jada, como nossa mais nova funcionária,
você pode experimentar primeiro. — Talvez não
completamente sério. Um cara que gostava de flertar sempre
iria flertar.
Para seus olhos destreinados, os cupcakes pareciam
perfeitos. Eles cheiravam incrivelmente bem. Ele entregou-lhe
um, e ela deu uma grande mordida. A combinação perfeita de
chocolate ao leite, biscoitos e marshmallows fofos e doces
explodiu em sua língua. Ela não conseguiu evitar que um
gemido escapasse de sua boca. Ela estava oficialmente
apaixonada.
— Melhor do que decente, eu acho? — Donovan falou
lentamente em seu ouvido. Jada congelou quando um calafrio
traiçoeiro, porém delicioso, percorreu sua espinha, então se
virou para encará-lo. Ele deu a volta no balcão e estava de pé ao
lado dela, o calor de seu corpo entrando no dela.
Ela levantou a cabeça para encontrar seu olhar desafiador.
Ela deu outra mordida deliciosa e engoliu.
— Sim. Eles são ótimos. Você não os fez, não é?
Lá estava sua espinha atrevida novamente. Ela deveria parar
de incomodá-lo. Ele era seu chefe, afinal. Mas ele tornava isso
tão fácil, e era muito divertido. E ela não se divertia muito
ultimamente. Ela merecia um pouco de diversão. E ele que
começou. Desta vez, de qualquer maneira.
Atrás dele, seus co-proprietários riram. Ele olhou para eles
por cima do ombro, então voltou sua atenção para ela.
— Me deixe fazer um tour com você pela loja.
— Você terminou com aquela coisa em seu escritório? —
Ela realmente ia parar. Provavelmente. Ela tentaria.
— Vamos lá. — Ele girou, sem dúvida esperando que ela o
seguisse. Ela fez a única coisa que podia. Ela o seguiu.
E mostrou a língua em sua linha reta, recuando para trás.
Enquanto tentava não notar como sua camisa dobrada
chamava a atenção para a forma como seus ombros largos se
estreitavam em um V atraente. E como suas calças seguravam
uma bunda top de linha.
Jada mordeu o lábio.
Sim. Totalmente despercebido.

∗∗∗

Donovan foi para a cozinha. Mesmo sem o lembrete de Jada,


ele se sentiu culpado por abandoná-la mais cedo. Ele sabia, sem
olhar, que ela o seguia. Ele simplesmente sabia. Ele sentiu a
presença dela. Sua pele formigava sempre que ela estava perto.
Ele estava quase se acostumando com isso.
Ele abriu a porta e prendeu a respiração quando ela passou
por ele. Apesar de sua ação, um delicioso e leve aroma floral que
ela usava entrou por suas narinas. Era delicado, mas sedutor ao
mesmo tempo. Esse cheiro estava fazendo seu maldito trabalho,
fazendo-o querer se inclinar e descobrir se ela cheirava da
mesma forma por todo seu corpo.
— Então você estava falando sobre mim com seus meninos?
A voz dela o tirou de suas reflexões perigosas. Ele se
concentrou na causa de sua distração. Ela estava encostada na
geladeira, seus lábios pintados de vermelho torcidos em um
sorriso brincalhão.
Seus pés, claramente trabalhando por conta própria, se
aproximaram dela.
— O que te faz pensar isso?
Ela levantou o dedo indicador.
— Bem, você não negou, em primeiro lugar. — Outro dedo
subiu. — A segunda pista foi a maneira como Nicholas passou
pela loja, me viu, imediatamente se virou e desapareceu. —
Mais um dedo se juntou aos outros. — Terceiro, a maneira
como August entrou, me viu e continuou andando.
Donovan cruzou os braços sobre o peito.
— Ah, e você notou tudo isso?
— É difícil não notar. — Ela franziu seu nariz, e embora ele
nunca admitisse a outra pessoa, era meio fofo. Até mesmo
adorável.
— Desculpe por isso — Nicholas disse atrás dele. Donovan
girou. De onde ele veio?
Dando de ombros ao pedido de desculpas, Nicholas ergueu
uma bandeja vazia. August e Ella obviamente comeram todos
os cupcakes de s’mores da cozinha da loja.
— Eu vou sair daqui em um segundo. — Ele usou o sorriso
que as mulheres nunca resistiam em Jada. — A menos que você
queira que eu fique por aqui. Eu sou um guia turístico bem
melhor do que ele.
Ela riu, o som suave enchendo o ar.
— Eu aprecio a oferta, mas não me deixe te prender aqui. Sei
que isso vai ser difícil, mas vou me arriscar com seu
companheiro de equipe.
Nicholas riu.
— Eu não posso acreditar que você é a neta da Sra. T. Ela é
a melhor.
— Ela é mesmo. Tenho sorte de tê-la. — Ela sorriu para
Nicholas. Novamente. Ela ainda tinha que sorrir para
Donovan assim, não que isso importasse. Foi apenas algo que
ele notou. Nicholas sorriu de volta.
Donovan rosnou. Ele não conseguia parar.
— Você está bem? — ela perguntou.
Nicholas lhe deu um tapinha nas costas.
— Ele está bem. Só falta alguma fibra na dieta dele. E vou
embora antes que ele decida que proteína é mais importante e
me jogue no forno para assar. Eu tenho que tirar uma soneca
antes do meu grande encontro hoje à noite de qualquer
maneira. Vejo você amanhã, Jada. — Ele apontou para
Donovan. — Não destrua minha cozinha.
Donovan revirou os olhos, mas finalmente, seu
companheiro de equipe se foi. Ele não esperava mais
interrupções. Ella tinha que vigiar o balcão da frente, e August
evitava as pessoas o máximo possível.
Deixando Donovan sozinho com Jada. O que não era nada
para ficar animado, apesar de seu coração acelerado. Tudo
estava bem. Eles poderiam passar a próxima hora sem matar um
ao outro.
— Ele vai tirar uma soneca? — ela perguntou, franzindo a
testa. — É quase meio-dia.
— Ele chega aqui às seis da manhã para se preparar para o
dia, e não tenho certeza qual foi o último dia que ele teve que
não terminou com um encontro. Ele definitivamente precisa
de uma soneca ao meio-dia. — Ele prendeu a respiração. Como
ela reagiria a essa notícia?
— Menino ocupado — disse ela casualmente. — Já tive
alguns ex assim. — Ela deu de ombros. — Divertido por um
tempo, mas depois…
Ele não queria ouvir sobre seus relacionamentos anteriores.
— O que você acha de eu te dar uma aula de culinária? Eu
sei cozinhar, você sabe.
Seus lábios se curvaram novamente.
— Nisso você me pegou, hein?
Sim.
— Nicholas é o padeiro principal, mas todos nós
cozinhamos. Nós temos que saber isso para manter esse lugar.
Seus lindos olhos castanhos cor de chocolate brilhavam de
excitação e desafio.
— Então me mostre o que você sabe.
Jada perambulava enquanto Donovan juntava os ingredientes
e os equipamentos necessários para fazer cupcakes. Ela nunca
tinha pensado muito nisso, mas agora ela entendia. Um cara
que sabia o que estava fazendo em uma cozinha era quente
como o inferno. Mas isso era apenas uma observação geral.
Nada a ver especificamente com Donovan.
Ela se virou lentamente para examinar a cozinha, que
ocupava uma grande parte dos fundos do prédio. Uma área
clara e brilhante preenchida com vários balcões de aço
inoxidável. Equipamentos limpos e sofisticados. Donovan e
seus parceiros de negócios obviamente não pouparam nas
despesas.
Um grunhido fez seus olhos retornarem para seu novo
chefe. E ela ter notado a forma como seus bíceps flexionavam
de forma hipnotizante, graças às mangas curtas da polo, não
significava nada. Aquela pequena ruga que apareceu entre suas
sobrancelhas enquanto ele se concentrava não era nada bonita.
— O quê? — ela perguntou.
A cabeça de Donovan estava abaixada. Ele apontou para os
pés dela.
— O que é isso?
— Sapatos. — Sapatos muito fofos, na verdade. Sandálias
Jimmy Choo, para ser exata.
— São saltos. — Uh-oh. O Senhor Chatonildo reapareceu.
Sua carranca se aprofundou. — Trabalhamos em uma padaria.
Ficamos de pé o dia todo.
Sua manhã tinha ido bem, considerando todas as coisas. Ela
não iria deixar isso afetá-la. Ela usou seu tom mais amigável.
— Pensei nisso, então usei mmeus tamancos mais
confortáveis.
Eles tinham apenas sete centímetros. Ela geralmente usava
saltos com no mínimo de dez. Ela já tinha cedido o suficiente.
Donovan havia instruído, através da assistente da Vovó, que ela
usasse uma camisa branca simples e calças cáqui ou pretas. Ela
tinha ido com calças mais largas porque quem no mundo
possuía, muito menos usava calças cáqui? Eca. Mas os sapatos
eram indispensáveis.
Ela gostava de roupas, mas adorava sapatos. Eles elevavam
qualquer roupa de boa – ou, neste caso, positivamente chata –
a incrível e davam a ela um aumento de confiança sempre que
ela olhava para os pés.
— Eu presumo que tamancos sejam sinônimos de saltos. —
Ele não parecia ou soava impressionado com sua
engenhosidade.
— É mais um tipo de salto do que um sinônimo — disse ela,
balançando a mão para frente e para trás.
Sua cara feia aumentou, o que ela não achava que fosse
possível. Qual era o problema dele?
— Não se preocupe. Eu vou ficar bem. Quero dizer, nem
todos nós podemos usar tênis pretos simples com solas de cinco
centímetros. — Ops, ela não tinha a intenção de acrescentar
essa última parte.
Ele lançou um olhar que claramente dizia que estava
cansado de suas merdas, mas felizmente não disse mais nada
sobre seu calçado. Bom, porque os sapatos estavam começando
a incomodá-la um pouco. Mas ela nunca admitiria isso para ele,
de qualquer maneira. Sim, ela estava acostumada a usar saltos,
mas geralmente tinha pausas aqui e ali ou podia contar com
uma cadeira aparecendo magicamente, mas hoje, nem tanto.
Mas pelo menos os tamancos pretos eram fofos.
Ele caminhou até um armário alto, enfiou a mão dentro e
tirou dois aventais marrons com o logotipo da loja estampado
neles, depois voltou para o lado dela.
— Aqui está.
Seus dedos roçaram enquanto ele entregava a ela o avental.
Ela cuidadosamente ignorou o arrepio que correu por seu
braço com o contato e a maneira como ela respirou próximo a
ele. Seus dedos tremiam enquanto ela amarrava as cordas do
avental em volta da cintura sob o olhar intenso de Donovan.
— Não tenho certeza se marrom fica bem em mim.
— Ficou bem em você. — Ele se virou antes que ela pudesse
processar o elogio, e se ela pudesse rotular sua declaração, ele
teria parecido quase ressentido.
— Obrigada. Eu acho.
Um bipe soou no ar. Donovan tirou o telefone do bolso e
olhou para a tela por alguns segundos, seu rosto ficou branco,
o músculo em sua mandíbula era o único sinal de que ele não
estava tão calmo quanto parecia.
— Você está bem? — Não era sua função perguntar – ela
mal o conhecia –, mas ela reconhecia quando alguém estava
sendo afetado por algo que ele não queria que o afetasse.
Ele deslizou o telefone de volta no bolso.
— Nunca estive melhor.
Ela não acreditou nele, mas novamente, ela não o conhecia,
então ela simplesmente assentiu.
Ele esfregou a testa como se estivesse tentando apagar
qualquer pensamento que estivesse enchendo seu saco, então
apontou para as tigelas na mesa à sua frente.
— Vamos começar com algo simples. Cupcakes de baunilha
são os mais vendidos, por mais sem graça que sejam.
Jada congelou. Ela deveria ficar lisonjeada ou horrorizada
por ele aparentemente se lembrar de cada palavra que ela disse
a ele?
Ele atirou um sorriso rápido em sua direção. Ela exalou. Ele
não ia manter essa piada contra ela. Ok, começando a partir de
agora, ela seria melhor e iria parar de provocá-lo.
Ele pegou um tablet de uma gaveta debaixo da mesa e mexeu
nele algumas vezes.
— Estou pegando a receita para que você possa acompanhar
com mais facilidade — disse ele, como explicação.
Jada deu um sorriso tenso. Ele podia pedir a ela para ler a
receita. Ela vinha lidando com sua dislexia desde sempre e não
tinha vergonha de seu diagnóstico, mas nunca soube como as
pessoas reagiriam ao saber disso. Mas novamente, ninguém
poderia ser tão ruim quanto seus pais.
— Como você começou a cozinhar? — ela perguntou para
se distrair.
Ele olhou para cima.
— Minha mãe ensinou a mim e a minhas irmãs. Eu gostei
mais do que elas. Você cozinha?
Ela bufou.
— Isso é um grande não. Eu sou um gênio em pedir todos
os tipos de comida deliciosa em restaurantes, mas isso é até onde
minhas habilidades culinárias vão.
Aquela ruga estava começando a reaparecer em sua testa. Ela
tinha visto isso muitas vezes acontecendo com seus pais.
Desapontamento. Desconforto.
— Mas estou ansiosa para aprender — ela acrescentou
rapidamente.
Ele apertou os olhos.
— Você está? Você não parecia muito ansiosa no escritório
de sua avó.
Por que será? Ela não conhecia esse cara, e o que ela sabia
não sugeria que ele seria compreensivo.
— Trabalhar aqui foi ideia da minha avó. Eu não estava
preparada para te ver.
Ele a estudou como se soubesse que havia mais nessa
história, mas então assentiu como se tivesse decidido não
pressionar.
— Vamos começar.
Ela separou as pernas.
— O que você quer que eu faça?
Seus lábios se contraíram.
— Não fique como um linebacker7 antes de uma jogada
começar, por exemplo. Nenhuma luta vai acontecer nesta
cozinha, eu prometo.
Espere. O Senhor Chatonildo tinha senso de humor? Não,
não podia ser.
Ele ergueu as sobrancelhas, seus lábios se contraindo
novamente. Oh, certo. Ela ainda estava de pé como um
linebacker. Ela tinha sido exposta ao futebol o suficiente para
saber que um linebacker era um jogador de futebol americano,
então o que quer que ela estivesse fazendo no momento, não
estava certo. Ela estava nervosa, ok. Precisava processar o que
estava acontecendo. Esta era uma situação nova e estranha que
ela não tinha pedido para estar.

7
Linebacker é um jogador defensivo no futebol americano.
— Relaxe — disse ele.
Ele lia mentes também?
— Eu não vou dar nota para você e enviar um boletim para
sua avó — ele continuou, sua voz rouca e levemente irritada.
Ahh, isso era exatamente o que ela precisava para relaxar. O
reaparecimento do Senhor Chatonildo. A Terra havia
retornado à sua posição correta em seu eixo.
Ele lhe entregou o tablet. Se ela se certificasse de que seus
dedos não se tocassem, bem... tanto faz.
Ela tocou na tela algumas vezes para mudar a fonte para
Comic Sans e aumentar a fonte para dezesseis. Muito melhor.
Ela aprendeu várias maneiras de compensar sua dislexia. Seus
pais tinham garantido isso.
Uma crise evitada. Agora ela tinha que seguir a receita. Isso
foi muito mais aterrorizante. Suas tentativas de pratos ditos
fáceis, como ovos mexidos ou espaguete, sempre acabavam
como uma bagunça líquida, amarelada e intragável ou
macarrão mole em molho queimado – ou seja, um desastre.
Não era culpa dela que seus pais ocupados (e bem, ricos)
tivessem contratado um chef. Não havia necessidade de ela
aprender a cozinhar.
— O que você está fazendo? — ele perguntou.
Jada hesitou, mas não tinha do que se envergonhar. Se ele
agisse como um idiota, isso era com ele.
— Mudando a fonte. Eu tenho dislexia, e certas fontes
ajudam.
Ele assentiu.
— Oh, tudo bem. Se houver alguma modificação que você
precise fazer, é só me avisar.
Foi isso?
— Oh, agora está melhor, mas obrigada pela oferta.
— De nada. Agora, faça tudo o que eu mandar — disse
Donovan. Era isso. Foi um comando mandão, mas ele soou
quase... legal.
Ela deu uma rápida saudação.
— Todos obedeçam o capitão. Então, quantos cupcakes
você faz por dia?
— Aproximadamente doze dúzias. Costumava ser… — Sua
voz sumiu, e um olhar desconfortável se instalou em seu rosto.
— Ser o quê?
— Nada. — Seu tom deixou claro que ele não revelaria mais
nada.
Ok então. Parecia que ela não era a única que não tinha
desejo de expor sua alma hoje.
— Uau. Quase cento e cinquenta. Isso é um monte de
cupcakes. — Uma das maneiras que ela aprendeu a lidar com a
dislexia foi a memorização. Ela podia falar a tabuada de cabeça
como ninguém.
— Oferecemos o especial do dia, junto com nossos sabores
tradicionais e um favorito da estação. Pelo menos esse é o
objetivo. — Uma sombra cruzou as belas feições dele. Ele
remexeu os ombros e mostrou um sorriso claramente forçado
para ela.
— Vamos começar a fazer esses cupcakes.
Ele entregou a ela uma tigela de vidro idêntica à que estava
no balcão à sua frente.
— Você improvisa nas receitas? — ela perguntou, depois
que ele estudou a receita por pelo menos dez segundos como se
estivesse memorizando os passos.
— Não, deixo isso para Nicholas. Gosto de ter uma fórmula
para seguir.
Seus lábios se abriram em um sorriso.
— Você quer dizer uma receita?
Apesar de não conhecê-lo há muito tempo, ela não ficou
surpresa com sua resposta. Ele parecia ser alguém que gostava
de lógica e ordem. Alguém que estava preso com seu eu ilógico
e desordenado pelos próximos meses. Não era de admirar que
aquela ruga parecesse ter se fixado permanente entre suas
sobrancelhas. Não que isso importasse. Ela estava aqui para
trabalhar para ter acesso ao seu fundo fiduciário e,
posteriormente, controle total de sua vida. Não se tornar a
melhor amiga dele.
Ele revirou os olhos.
— Sim. Tanto faz. Gosto de saber que se sigo uma receita, o
resultado será exatamente o que quero e espero.
Ele quebrou dois ovos na tigela com precisão e movimentos
mínimos de sua mão e pulso.
Jada respirou fundo. Ela poderia fazer isso. Ela só tinha que
seguir exatamente o que ele fazia.
Um toque na borda da tigela, dois. Rachou! A casca se partiu
e a gema espirrou no balcão.
— Porcaria!
O líquido amarelo deslizou em uma gota lenta, mas sem
parar, espalhando-se pelo balcão impecável e depois descendo
pela lateral. Oh, não. O pânico subiu por seus calcanhares
enquanto ela girava em um círculo, procurando
freneticamente por uma toalha. Ela viu uma toalha vermelha e
limpou a bagunça que ela fez. Ela resmungava enquanto mais
da gema escorregava para o lado em uma corrida para o chão de
azulejos.
— Me desculpe.
— Ei, tudo bem. — A mão de Donovan pousou em seu
ombro, enviando um choque de sensação através dela. Ela
virou. Ele assentiu, seu rosto e voz igualmente calmos. — Não
se preocupe. É só um ovo.
— Eu não queria sujar esta linda cozinha. — Ela não queria
ver o mesmo olhar desapontado no rosto dele que ela tinha
visto tantas vezes nos rostos de seus pais toda vez que ela
estragava alguma coisa.
Ele apertou seu ombro, seu olhar uma combinação
hipnotizante de preocupação e simpatia.
— Todos nós começamos em algum lugar. Não se
preocupe. Temos uma geladeira cheia de ovos e um armário
cheio de material de limpeza. Eu posso limpar qualquer
bagunça que você fizer. Mas sim, por favor, lembre-se de que
os ovos vão na tigela.
Sua entrega inexpressiva a surpreendeu com uma
gargalhada. Eles compartilharam um sorriso.
— Já que você acha isso. — Enquanto seu coração
desacelerou para um ritmo mais normal, Jada voltou-se para o
balcão. Alguns golpes e a bagunça foi embora. Ela exalou.
— Qual é o seu sabor favorito?
Um breve sorriso tocou seus lábios.
— Um que é produzido em grande quantidade, chocolate
com manteiga de amendoim. É como um Reese, mas um
milhão de vezes melhor. Minha mãe os fazia para mim no meu
aniversário sempre que podia.
— Sempre que ela podia?
Seus ombros ficaram tensos.
— Ficávamos sem dinheiro por alguns anos. Quando
estávamos assim, cupcakes eram a última coisa em sua mente,
mas nos anos em que estávamos bem... aqueles eram os
melhores. — Ele olhou para ela. — Pare de enrolar.
— Ok, tudo bem. — Ela respirou fundo e seguiu suas
instruções. Ou pelo menos, tentou. A farinha era uma otária
escorregadia e gostava de criar poeira, mas ela continuou,
mesmo que passasse mais tempo limpando acidentes do que
fazendo qualquer coisa que pudesse ser chamada de cozinhar.
E houve o infeliz momento em que ela adicionou quatro
xícaras de açúcar em vez de duas e teve que recomeçar pela
terceira vez. Apesar de tudo, Donovan foi paciente. A maior
parte do tempo. Aquela ruga em sua testa nunca desapareceu,
mas ele não gritou pelo menos, então ela tomou isso como uma
vitória.
— Hora da batedeira. — Ele falou em direção ao enorme e
brilhante equipamento de aço inoxidável no balcão oposto.
Jada engoliu. A máquina era intimidante. Esqueça o doce.
Visões dos ingredientes voando pela cozinha limpa se ela
estragasse o tempo ou quaisquer que fossem as configurações
da batedeira estavam em sua cabeça. O nervosismo que ela
lutou contra retornaram com uma vingança.
— Aperte este botão. — Donovan mostrou a ela o que fazer.
Ela imitou seus movimentos com precisão, prendendo a
respiração. Ela soltou o botão. O maior dos milagres, o desastre
não aconteceu. Os ingredientes giraram e ficaram na tigela. Ela
soltou um gritinho e tentou transformá-lo em uma tosse mais
digna quando Donovan a olhou de lado, mas então algo ficou
preso em sua garganta. Ela acabou engasgando, dando a
impressão de que algo estava cortando seu pulmão.
Ele deu tapinhas nas costas dela.
— Você está bem?
Ela andou um pouco para frente. Pena que ela não podia
andar um pouco para longe de seu constrangimento.
— Sim, sim, estou bem. Qual é o próximo passo?
Ele a olhou, seu rosto impassível. Jada suspirou. Pelo menos
ele não estava rindo dela.
— Hora de assar.
Ele mostrou a ela como colocar a mistura na assadeira. Um
quarto da mistura pegajosa e líquida acabou no balcão, e a parte
que acabou na assadeira dela não tinha nada haver com a versão
uniformemente espalhada de Donovan. Mas ela fez isso. Ela só
tinha que aceitar a bagunça.
O aroma celestial de baunilha se espalhou pelo ar. Seu
estômago clamava por um cupcake. Se ela não tomasse
cuidado, ela teria cerca de dez cáries quando seu tempo na
Sugar Blitz terminasse.
— Quanto tempo vai ficar assando? — ela perguntou.
— Uns vinte minutos.
Ele se aproximou, trazendo seu calor e aroma amadeirado e
tentador com ele. Ela mandou que seus pés não se movessem.
— O quê?
— Você tem um pouco de farinha em seu… — Ele
gesticulou em direção ao rosto dela.
Ótimo. Esta foi a terceira vez que ela esteve na presença de
Donovan, e a segunda vez que ela acabou com algo em seu
rosto. Quais eram as chances? Ela limpou o nariz.
— Melhor?
Seus lábios se curvaram.
— Não, na verdade, não. — A ponta macia de seu polegar
acariciou sua bochecha. O ar se alojou na garganta de Jada. Ele
estava perto. O calor do corpo dele rolou sobre ela, criando um
casulo de calor delicioso no qual ela queria se aconchegar.
— Aqui. Entendi.
Seus lábios se separaram, o ar escapando em um ritmo
instável enquanto ela acompanhava o movimento de seu
polegar com olhos gananciosos. Ele esfregou o polegar e o
indicador juntos como se estivesse saboreando o toque de sua
pele, mas talvez ela estivesse imaginando coisas. Ele não se
afastou, no entanto. Nem ele tinha tirado os olhos dela. Seu
olhar deslizou para baixo. Seus lábios também se separaram. O
momento construído… permaneceu. Seus olhos escureceram
com a consciência. Ela ouvia seus batimentos cardíacos em seus
ouvidos.
— Tem um cara na frente insistindo em falar com o gerente.
Acho que ele é um fã e não aceita um não como resposta.
Jada girou. Ella ficou lá, os olhos encarando os dois.
Donovan se recuperou primeiro.
— E não podemos nos dar ao luxo de dizer não. — Ele
beliscou a ponta do nariz e correu em direção à porta. Ele
parou. — Eu estarei de volta em um minuto.
Ela acenou com a mão.
— Não se preocupe com isso. Eu entendo.
Ela precisava de tanto tempo sozinha quanto possível para
se recuperar. Sua respiração ainda estava forte e rápida, seu
pulso acelerado. O que foi isso? Eles quase...? Não!
O ar saiu de seus pulmões em alívio quando ele saiu com
Ella. Ok, hora de restaurar o equilíbrio dela. O que eles estavam
fazendo antes de... olharem um para o outro? Ela deu uma
rodadinha, observando seus arredores. Oh, certo. Eles estavam
em uma cozinha fazendo cupcakes. Seu olhar pousou nas
panelas em que despejaram a mistura. Tudo o que restava fazer
era colocar os cupcakes pré-assados no forno. Até ela poderia
lidar com isso.

∗∗∗

Um som alto e estridente soou através da loja de cupcake. Bip,


bip, bip!
Jada congelou. O que foi isso? Parecia o…
— Alarme de incêndio! — Os olhos de Ella se arregalaram.
Ela correu ao redor do balcão. Jada a seguiu. A porta do
escritório de Donovan se abriu, ele e August se juntaram a elas
em sua corrida louca para a cozinha. Jada começou a tossir
antes de Donovan abrir a porta.
Quando ele abriu, ela engasgou. Fios de fumaça cinzenta
encheram o ar. Fios de pavor, muito parecidos com a fumaça
que irritava seus olhos, começaram a se enrolar em seu
estômago e a golpeavam de dentro para fora. Pior ainda, os
outros ocupantes da sala começaram a tossir também. A
vergonha tomou conta dela, doendo dez vezes mais do que a
fumaça.
O olhar de Jada foi para o forno, de onde se originavam as
nuvens de fumaça.
— Oh, não — ela sussurrou. Ela correu para o forno e abriu
a porta. Redemoinhos grossos de fumaça sopraram
diretamente em seu rosto. — Oh, não. — A sua fala foi um
pouco mais alta agora.
Ela olhou para os caroços pretos e duros que podiam se
disfarçar como o carvão que o Papai Noel colocava nas meias
de crianças desobedientes. O que ela tinha feito? Isso tinha sido
culpa dela.
— Eu sinto muito.
Ela se sentia como uma criança desobediente que havia
desapontado seus pais. Nada de novo. Eles precisavam ir para o
lixo. Agora. Ela pegou a toalha vermelha no balcão, enfiou a
mão no forno e arrancou uma das assadeiras com muita força.
Ela cambaleou para trás e a assadeira escorregou de sua mão,
atingindo seu antebraço.
— Ai! — Ela deixou cair a assadeira no balcão com um
barulho quando uma dor aguda cortou seu braço. Lágrimas
brotaram em seus olhos. No momento, ela não sabia se a dor
que a atravessava devia-se mais à dor física ou emocional que
faziam dupla. Ela mordeu o lábio para evitar que um gemido
escapasse, mas não foi totalmente bem-sucedida.
— Você está bem? — Donovan fez a pergunta para ela. —
O que você está fazendo?
Ela não conseguia fazer seus lábios se mexerem para
responder. Ele agarrou seu antebraço e o virou. A pressão de
seus dedos grossos contra sua carne a encantou. Seus lábios
estavam virados para baixo. Ele a levou – bem, mais como a
puxou – até a pia. Ele abriu a água e enfiou o braço dela sob o
jato de água. Quando o líquido frio encostou na queimadura
isso a fez gritar e tentar se afastar. Ele não a deixou, segurando
seu braço sob o jato.
— Ella, pegue o kit de primeiros socorros — ele falou, sem
tirar os olhos de sua pele avermelhada. Seus olhos estavam
escuros e focados. Ella lhe entregou a caixa vermelha e branca
alguns segundos depois.
— Eu consigo fazer isso — disse Jada, tentando puxar seu
braço para longe. Ela não gostava que ele a tocasse. Isso a fez se
sentir inquieta. Calorosa.
— Eu sei — ele disse simplesmente. — Mas eu posso ter um
ângulo melhor para fazer o curativo do que você.
Tão mandão. Lógico. Óbvio. Nenhuma preocupação real
por ela. O que estava bem. Não que ele precisasse. Mal se
conheciam.
— Eu estou bem — ela murmurou. — Nada para se
preocupar.
— Você se machucou na minha loja, então sim, é minha
preocupação. — Sua voz permaneceu plana. Ele rasgou um
pacote de creme para queimaduras com os dentes.
Certo. Óbvio. Ela tentou dar mais um puxão em seu braço.
Ele apertou seu braço e fixou seu olhar nela. Ele estava
oficialmente cansado de suas tolices. Seu olhar dizia: “Mais um
movimento, e eu vou mandar você para a detenção, mocinha.”
Ela suspirou e baixou o olhar. Para um homem tão grande,
ele tinha um toque leve quando queria, seus dedos ásperos mal
acariciavam sua pele enquanto ele espalhava o creme em seu
braço e o massageava em sua pele lentamente e metodicamente,
cobrindo toda a ferida. O líquido frio e claro acalmou
imediatamente a pele que estava ardendo. Ele olhou para cima
e, ao aceno dela, e inspecionou vários tamanhos de curativos
antes de escolher um que aparentemente ficaria melhor. Ele o
desembrulhou, então cobriu a marca em seu braço. Ele
escolheu corretamente porque cada centímetro da queimadura
estava coberto.
Sua proximidade a afetou. Ele cheirava bem, mesmo através
do cheiro de cupcakes queimados. Aquele mesmo cheiro de
antes. Um leve toque de baunilha causado por um sabonete e
algo amadeirado. Nada disso era importante.
Ela voltou a se concentrar no que ele estava fazendo. Ele
virou o antebraço dela para frente e para trás algumas vezes,
examinando o que tinha feito.
— Bom? — ele perguntou. Seu olhar, escuro e intenso,
chocou com o dela.
— Sim — ela disse, sua boca agora seca graças a algo além da
fumaça.
Ele a soltou e esfregou uma mão em seu couro cabeludo.
— Então o que aconteceu? O que diabos você estava
fazendo? — ele falou, e seu olhar ficando cada vez mais
sombrio. — Você não ligou o cronômetro?
— Eu fiz isso. — Ela olhou mais de perto para a tela digital.
Oh, não. — Devo ter acidentalmente ajustado para duas horas
em vez de vinte minutos.
Um músculo saltou em sua mandíbula contraída.
— Olhe para toda essa fumaça. Você só está aqui há três
horas e quase incendiou a cozinha. Isso não vai funcionar.
A declaração, cheia de raiva mal controlada e aborrecida, a
machucou como um rasgo no tecido de sua camisa de seda
favorita. Ela foi um fracasso. Novamente. E ela mal tinha
começado. Não que isso importasse. Era assim que as coisas
sempre eram destinadas a ela.
— Eu sinto muito. — Evitando seu olhar, ela se apressou
para fora da sala. Ela ignorou o chamado de Ella pedindo para
esperar. Explodir em lágrimas na frente de algumas pessoas não
fazia parte do plano de hoje.
Donovan jogou a cabeça para trás e soltou sua irritação consigo
mesmo em um gemido longo e tempestuoso. Porra. O que foi
isso?
Seu coração estava prestes a voar para fora do peito, estava
batendo tão forte. Caos. Muito caos. Ele vivia sua vida com
ordem e calma. Ele fez o seu melhor para erradicar toda
imprevisibilidade e incerteza.
August olhou para ele, mas não disse uma palavra. Ele não
precisava. Donovan se sentia um merda sozinho. Ele nunca
perdeu a paciência assim. Merda.
Ella voltou correndo para a cozinha. Ela estava sozinha. Ela
não parecia feliz com ele.
— Ela foi embora, graças a você. O que foi isso? Todos nós
já queimamos cupcakes antes. Você não acha que foi um pouco
duro com ela?
Donovan esfregou o rosto com a mão trêmula. A adrenalina
que estava dirigindo suas ações nos últimos minutos
desapareceu como o ar de um balão estourado.
— Eu estraguei tudo, não foi?
Ela deu a ele o olhar que todas as irmãs e irmãs de
consideração mais novas davam aos irmãos mais velhos quando
percebiam que eles podiam estragar tudo.
— Sim. Com certeza.
As desculpas dos últimos dias, com a crescente evidência da
queda das vendas e de que ele não tinha tudo sob controle em
nenhum aspecto de sua vida, não eram suficientes. Ele não
deveria ter perdido a calma assim.
A preocupação com o bem-estar de Jada, uma descarga de
adrenalina por si só, o consumiu. Primeiro, ele entrou na sala
cheia de fumaça, sem saber se a sala estava pegando fogo. Então,
Jada gritou de dor. A única maneira de controlá-lo era se
concentrar na tarefa em mãos. Mas então essa tarefa chegou ao
fim. E ele ficou irritado com algo realmente bobo. Então não,
esse não era o seu melhor momento. Por mais que Jada o tivesse
enlouquecido, ela não merecia isso.
Ele ofereceu um meio sorriso para Ella.
— Também te amo, garota.
Ela não parecia apaziguada por sua fala.
— O que você vai fazer para consertar isso?
Ele suspirou.
— Vou dar um jeito.
Ele acenou com a cabeça para August, então voltou para seu
escritório. Ele tinha que fazer isso certo. De alguma forma. Ele
puxou o e-mail da assistente da Sra. T. Ótimo, lá estava. O
número do celular de Jada.
Ele discou rapidamente, mas ela não atendeu.
Isso não significava que ela estava se esquivando ativamente
de sua ligação. Donovan revirou os ombros, procurando algum
alívio da culpa que torcia seus músculos em nós. Muita gente
não atendia ligações de números estranhos. Ele estalou os
dedos. Mensagens de texto. Sim!
O que ele deveria dizer? Ele digitou uma mensagem.

Ei, aqui é o Donovan.

Não era ótimo, mas dava conta do recado.


Ela apenas leu a mensagem.
Ele tentou novamente.

Eu gostaria de conversar.

Nenhuma resposta. Droga. E agora?


Então algo o atingiu. Seus dedos voaram pelo telefone. Ele
lhe enviou uma mensagem que, sem dúvida, a levaria a cumprir
sua ordem.
— Por que você fez esse sorriso maligno? — Ella gritou ao
passar pela porta aberta.
O sorriso de Donovan se alargou. Estava mais para gênio do
mal.

∗∗∗

Esteja aqui amanhã de manhã às 9 horas. Se


não…
Jada olhou para o telefone, desejando que a mensagem de
texto mudasse.
Se não?
O que isso significava? Como ele ousava fazer isso? Aquele
diretor arrogante de camisa engomada! Ninguém falava com
ela assim. Bem, exceto seus pais, mas ela colocou distância entre
eles. Ninguém a tratava mal. Então ela iria lá tirar satisfação
com ele.
— Exceto que ele é meio que seu chefe, então eu não tenho
certeza se isso é uma boa ideia — Olivia disse, depois que Jada
desabafou por dez minutos completos. Ela saiu o mais rápido
possível do trabalho depois de receber a mensagem SOS de
Jada.
— Eu pensei que você estaria do meu lado — Jada
respondeu com um bufo enquanto dava outra volta ao redor
de sua sala de estar.
Olivia lançou-lhe um olhar.
— Estou do seu lado, e é por isso que estou dizendo para
você não ir lá tirar satisfações com ele.
— Mas ele é tão insuportável! Você viu a mensagem dele?
Os cachos de sua amiga saltaram quando ela assentiu.
— Sim, você me mostrou aproximadamente vinte vezes
desde que cheguei. Você também me disse que ele cuidou de
você depois que você se queimou. Talvez ele estivesse
preocupado com você e não soubesse como expressar essas
emoções de uma forma positiva.
— Humm. — Ela seria uma pessoa terrível se ignorasse essa
lógica e ficasse brava? Jada cruzou os braços, sem se importar
muito. — Por que você não me disse que ele jogava no time da
minha avó?
Olivia arqueou uma sobrancelha.
— Eu estava prestes a fazer isso até você dizer que seu
encontro com ele foi minha culpa, e então eu quase perdi meu
cupcake e acabei me distraindo.
Jada gemeu, deixando sua cabeça cair na mão.
— Isso é um desastre.
— Bem, pelo menos você come os cupcakes.
Jada parou de andar para olhar para sua melhor amiga.
— Sério?
Olívia deu de ombros.
— Estou tentando encontrar o lado bom. — Ela estalou os
dedos. — Oh, espere. Pensei em outro. Você começou a
trabalhar para três ótimos homens, um dos quais realmente
quer falar com você e sabia exatamente a coisa certa a dizer para
chamar sua atenção. Talvez você devesse conversar com ele.
Jada fez uma careta.
— Talvez você esteja certa, e eu não gosto disso. — Foi por
isso que ela ligou para Olivia. Sua amiga sempre a apoiava, e
podia contar com ela para corrigi-la.
Olivia se levantou do sofá e passou um braço em volta dos
ombros de Jada e apertou.
— Mas você vai lá, certo?
Jada suspirou.
— Eu acho que sim.
Foi por isso que ela entrou na Sugar Blitz às 8h58 da manhã
em ponto, como a chefe que ela esperava ser um dia. Não que
ela soubesse do que ela seria a chefe, mas ela iria fingir até
conseguir. Ou acabaria com isso. Ou queimaria, no caso dela.
Seja como for, ela estava aqui para enfrentar isso, de qualquer
forma. Ela sincronizou seu relógio com a hora padrão global, o
que parecia algo que Donovan apreciaria.
Para sua surpresa, ele ainda não estava na loja batendo o pé
e encarando um relógio. Ella, no entanto, correu até ela.
— Jada! Você voltou! — A adolescente jogou os braços ao
redor de Jada e apertou com força. — Eu estava muuuuito
preocupada.
O entusiasmo descarado e a genuinidade de Ella se
infiltraram em Jada. Ela apreciou muito, embora não tivesse
ideia do que tinha feito para gerar a amizade de Ella tão
rapidamente. Ela deu um passo para trás e observou ela. Sua
confusão deve ter se mostrado em seu rosto porque Ella riu.
— Conheço Donovan toda a minha vida. Ninguém abala
ele. Repetindo, ninguém. Ele é o Sr. Eu-tenho-um-plano-e-
tenho-que-segui-lo. Você mexe com ele.
Uma gargalhada surpresa borbulhou de Jada.
— E isso é uma coisa boa?
Ella assentiu com entusiasmo, fazendo suas tranças
balançarem.
— Com certeza.
— Não tenho certeza se ele concordaria. — E por falar em...
— Merda. Eu deveria estar encontrando ele agora.
Ela correu em direção ao escritório dele, acelerando seus
passos enquanto se aproximava. Depois de uma batida curta e
rápida, ele a convidou a entrar com aquela voz de diretor. Ah,
sim, ela definitivamente era a garota malcriada enviada para o
escritório do diretor. Não importava. Ela não era uma criança.
Ela diria sua parte e pediria, não imploraria, que ele não a
demitisse.
Quando ela entrou no escritório, ele sentou-se
imperiosamente atrás de sua mesa como o governante de seu
reino, esperando para ver seus súditos leais. Excelente. Ele havia
melhorado o personagem. Pior, ele estava batendo em seu
relógio, então ela não estava completamente errada. Viva as
pequenas vitórias.
— Você está atrasada — ele entoou.
Seus dentes imediatamente ficaram no limite.
— São 9:01.
— Mesma coisa que atrasada. — O brilho em seus olhos o
denunciou. Ele estava tentando pegá-la. Dar a ela um gostinho
de seu próprio remédio.
Seus olhos se estreitaram.
— Você é um valentão diabólico.
Porcaria. Não foi isso que ela quis dizer. Ele se recostou na
cadeira. O único sinal de que ele ficou surpreso com sua
explosão foi uma sobrancelha levantada. Ela se concentrou nele
como um talismã enquanto mordia o lábio. Ela não ia dizer
mais nada. Ela prometeu a Olivia que seria boa.
Ele gesticulou para que ela se sentasse. Como seus joelhos
estavam ameaçando desmoronar, ela não hesitou em aceitar a
oferta.
— Ficar sem emprego no primeiro dia seria uma grande
mudança. Mesmo assim não estava respondendo as ligações e
mensagens do seu chefe.
— Você não acha que minhas ações foram justificadas?
Preciso lembrá-lo do que você me disse antes e depois de eu ir
embora? Esteja aqui às 9h, se não. Quem diz isso? — Espere.
Ops. Essas não eram as palavras que ela deveria estar dizendo.
Ela deveria ser conciliadora. Mais madura. Mas sua sobrancelha
arrogante erguida a incitou. Além disso, ela sempre falava o que
pensava. Ela não podia evitar, então realmente não era culpa
dela. Ela era um trabalho em andamento.
— Eu disse aquilo. — Ele se endireitou na cadeira, sua
coluna ficou reta e rígida, e a estudou atentamente por alguns
segundos. Ela ergueu o queixo. Ela não iria se contorcer e dar-
lhe mais munição. Seus lábios se curvaram em outro sorriso
diabólico. — Quer saber o por quê?
— Claro. — Ela foi indiferente, até mesmo dando de
ombros para uma boa medida, mesmo que ela não tivesse
certeza se conseguiu. Ele poderia estar se preparando para
demiti-la e exigir que ela nunca mais voltasse nesta loja
novamente. E ela teria que aceitar. A menos que ela decidisse
implorar, o que seria horrível, humilhante e isso traria ânsia a
ela.
— Porque essa era a única maneira de garantir que você
aparecesse hoje. Eu sabia que você não seria capaz de resistir a
me colocar no meu lugar.
— Oh. — Ele já a conhecia tão bem? Parecia que Olivia
tinha descoberto algo. Ela não tinha certeza se isso era uma
coisa boa. Talvez isso significasse que ela era chata e previsível.
Nojento.
— Eu precisava que você aparecesse hoje por um motivo
específico. — Ele se levantou e deu a volta em sua mesa.
O sangue que corria por suas veias diminuiu para um
rastejar agonizante. Lá vinha. O velho “você está demitida”. O
“você não trabalha mais aqui”. O "você tem que ir embora”.
Ele caiu de joelhos na frente dela como se fosse propor ela em
casamento. Que diabos?
— O que você está fazendo? — sua voz saiu trêmula.
Ela quase o chutou no rosto, quando ele embalou seu pé e
tirou seus sapatos Ferragamo. Ela os procurou nas profundezas
de seu armário, por causa de uma memória profunda de tempos
atrás quando ela possuía sapatos que não eram saltos. Quando
ela estava prestes a perder toda a esperança, lá estavam elas –
sapatilhas de balé pegando poeira. Elas eram vermelhas, sua cor
favorita, e agora ele estava tirando-as.
— Não, sério, o que você está fazendo?
— Tenho que ver se o chinelo serve em você. — Ele olhou
para ela, um sorriso brincando no canto de seus lábios.
Espere. Ele estava sendo gentil? Ele sabia o que essa palavra
significava?
— Espera aí. O quê? — Graças a Deus ela fez pedicure na
semana passada em sua busca para se animar. Ele enfiou a mão
embaixo da cadeira ao lado da que ela estava sentada e tirou
uma caixa de sandálias azuis que ela não havia notado.
Certamente não estava lá antes. Certamente não. — Você me
comprou... sapatos?
— Sim. — Ele se sentou sobre os calcanhares e olhou para
ela.
Ela poderia se acostumar a ter esse homem grande e
ridiculamente bonito de joelhos, os músculos de suas coxas se
esticando contra o tecido de suas calças, tentando agradá-la de
qualquer forma que ela desejasse. Ela balançou a cabeça. Esses
eram pensamentos perigosos e indutores de fantasia, que ela
precisava tirar de seu cérebro e nunca mais pensar.
— Por quê?
— Porque notei que depois de ficar em pé por horas ontem,
você estava mancando um pouco. E por mais que você amasse
aqueles sapatos, eu poderia dizer que você estava se
machucando.
Ele estava prestando atenção em como ela estava e agindo de
acordo com o que viu? Ela não iria sorrir. Ela não faria.
— Ah.
Ele respirou fundo.
— E também porque preciso me desculpar por como agi.
Eu tenho me sentido um pouco sobrecarregado ultimamente,
e descontei em você. Você não merecia isso.
Graças a Deus ela estava sentada. Ele conseguiu mexer com
cada grama de tensão de seu corpo. Ela teria derretido todinha
no chão virando uma pilha desajeitada.
— Ah.
Ele deu um sorriso sedutor que fez seu coração catapultar
em seu peito.
— Isso é tudo que você tem a dizer?
Ela tentou lutar com sua massa cerebral para voltar a ser um
ser eloquente.
— Não, não é. Estou chocada, mas obrigada pelas desculpas.
Não esperava isso, mas agradeço novamente. — Ela fez uma
pausa. — Isso significa que você não está me demitindo?
— Sim, embora você quase tenha queimado minha cozinha.
— Eu não queimei sua cozinha!
Ele levantou um dedo.
— Eu disse quase.
— Foi só um pouco de fumaça! — Esse era o mantra que ela
repetia para si mesma desde que saiu correndo do lugar. Foi
realmente a única razão pela qual ela apareceu. Ok, e por causa
de seu texto – se não… Bem. Ela poderia admitir para si mesma.
Não para ele, óbvio.
Ele pegou uma caneta e um bloco de anotações em sua mesa
e fez uma marca.
Ela franziu a testa.
— O que você está fazendo?
— Um demérito por insubordinação. Acho que é do meu
interesse manter uma contagem. — Ele disse isso como se fosse
a coisa mais natural do mundo para ele estar fazendo. — Gosto
de estatísticas. Falando em estatísticas, eu não sabia o tamanho
do seu sapato, e é parcialmente por isso que escolhi este.
Seus olhos caíram para a caixa em seu colo, não era muito
fácil identificar as características do sapato pela caixa além de
um tamanho, indicando que era uma caixa de sapatos
masculinos. Ela realmente esperava que ele não tivesse
comprado sapatos masculinos para ela..
Ele gesticulou, um sorriso suave brincando em sua boca.
— Abra.
Jada respirou fundo e levantou a tampa. Ela enfiou a mão
na caixa e tirou… um Crocs?
Ela olhou para os tamancos pretos de borracha.
— O que é isso?
— Crocs.
Ela bufou sua frustração.
— Sim, eu sei disso, mas por que esses sapatos
especificamente? — Ela tinha visto outras pessoas – pessoas
privadas de qualquer senso de moda – usando-os
ocasionalmente, mas nunca lhe ocorreu comprar algumas para
si mesma.
— Porque eu não sabia o seu tamanho e estes são um pouco
flexíveis a respeito disso.
— Oh, tudo bem. — Ela ainda podia ficar chocada e tocada.
Quem sabia? Ela guardou tanto suas emoções ao longo dos
anos que quase esqueceu que tinha a capacidade de ser afetada
por um gesto gentil. Um gesto gentil de Donovan Dell, de todas
as pessoas. — Obrigada.
— Eu sei que o meme “Que Porra é Essa” está em sua cabeça
agora, mas experimente. Se você não gostar deles, vou fingir que
não estou olhando quando você entregar para Ella.
Jada riu. O cara tinha senso de humor. Chocante. Ela o
agradaria experimentando os sapatos, mas ela tinha certeza de
que suas sapatilhas já ajudariam. Ela calçou os Crocs, tentando
não estremecer ao ver como eles faziam seus pés parecerem o do
Mickey Mouse.
Donovan levantou, estendendo a mão. Ela o agarrou e
deixou que ele a pusesse de pé. Ela flexionou os dedos dos pés.
— Ah. Meu. Deus. — Os Crocs eram como pequenos
travesseiros de pelúcia que embalavam seus pés e eram incríveis.
Os anjos no céu estavam chorando de alegria. Ela nunca mais
iria tirar. Como nunca. Crocs eram vida.
— Confortáveis, não é?
Ela queria tirar aquele sorriso presunçoso do rosto dele, mas
não podia.
— Obrigada. Por mais que me doa admitir, você estava
certo. Eu realmente gostei deles. Acho que isso significa que
você não estava apenas sendo legal quando disse que não estava
tentando se livrar de mim.
— Não soe tão surpresa.
Jada o estudou.
— Você não vai me dedurar para a Vovó.
Seus lábios se franziram.
— Eu pensei em contar para sua avó. Essa foi a parte “se
não” da mensagem.
— Eu sabia!
— Mas eu nunca tive a intenção de fazer isso.
Suas mãos pousaram em seus quadris.
— Você realmente estava apenas tentando me irritar para
me fazer aparecer.
— Isso mesmo.
— Impressionante. No entanto, uma palavra de uma sábia.
Nunca se refira a ela como avó. Ela é muito grande para esse
título, como ela lembrava a mim, a minha irmã e meus primos
repetidamente enquanto crescíamos. Vovó é o único termo
aceitável que ela permitia. Segundo ela, é a combinação perfeita
de majestoso e é reconfortante.
Ele sorriu.
— Eu amo essa mulher.
A admiração genuína brilhou em seus olhos. Qualquer
pessoa que pudesse apreciar a força que sua avó tinha estava
bem com ela.
— Eu também.
— Então, uma trégua?
Ele estendeu a mão. Sua grande mão engoliu a dela. Ela
respirou fundo com o contato inofensivo. Jada forçou um
sorriso para esconder sua reação.
— Trégua.
Ela ia ignorar aquela chama estranha e rápida de algo
perverso e prazeroso que fluía através dela toda vez que eles se
tocavam. Não foi… nada.
Ele a irritou. Ela o irritou, e foi assim que aconteceu. Ela não
iria repetir os erros de seu passado, como se apaixonar por caras
rápido demais, não importasse o quão certo eles fossem para
ela.
Ela estava aqui para garantir que ela ganhasse o controle
sobre seu fundo fiduciário para que ela pudesse assumir
totalmente o controle de sua vida. Isso era tudo o que
importava. Bem, não completamente.
Agora que ela estava aqui, ela queria provar que era capaz de
mais do que quase (embora não realmente) incendiar uma
cozinha. Ela não havia pedido esse emprego, mas agora que o
tinha, queria provar que podia executá-lo bem. Ela não queria
ver aquela cara de decepção em seu rosto novamente. Ela tinha
visto a mesma cara de decepção em muitos outros rostos ao
longo de sua vida. Operação: Jada Recomeça Sua Vida foi
oficialmente iniciada.
Ela endireitou os ombros e encontrou o olhar de Donovan.
— Prometo fazer o meu melhor.
Isso era tudo o que importava.
Donovan estudou Jada com o canto do olho enquanto
preparava uma xícara de café fresco. Ela estava do outro lado da
sala conversando e rindo na mesa de clientes. Eles não se
falavam desde a reunião em seu escritório uma hora antes.
— Então — ela disse, franzindo o nariz. — Eu não acho que
cozinhar é para mim.
Era possível que “cozinhar” já tivesse sido pronunciado com
tanto desgosto e desconfiança antes?
— Já está desistindo?
Seus ombros se esvaziaram enquanto uma sombra cruzava
seu rosto.
— Vou desistir enquanto eu posso.
E ele se sentiu uma merda de novo. Droga.
— Ei, eu realmente sinto muito por ter sido grosseiro com
você.
— Eu sei — ela disse, com um breve sorriso que não
alcançou seus olhos antes de escapar.
Em vez de ir até ela, ele ficou em seu escritório, porque, o
que mais havia para dizer? Além disso, ele tinha trabalho a fazer
– encomenda de suprimentos, pagar faturas, olhar para os
números sombrios de vendas do dia anterior e não pensar em
como um simples ato de tocar o tornozelo de Jada o deixou
mais excitado do que ele ficava há muito tempo. O tornozelo
dela. Meu Deus. Ele voltou para a era vitoriana? E então ela
sorriu para ele – de verdade, sorriu – depois que ela sentiu o
conforto dos Crocs e o quanto eram maravilhosos foram
absorvidos. Ele sentiu como se tivesse levado um soco.
Mas era tudo bobagem. Bobagem inconsequente. Ele não
lidava com bobagens, sendo elas inconsequentes ou não. Ele fez
essa promessa para si mesmo anos atrás, e sua vida melhorou
incrivelmente. No que diz respeito a Jada, eram colegas
temporários, e era aí que precisavam começar e terminar.
Então, por que ele foi até o balcão da frente muito antes de
seu turno de trabalho começar? Oh, certo. Porque Jada era sua
funcionária e ele precisava monitorar seu progresso. Se
certificar de que ela não tentaria incendiar o lugar novamente.
E talvez porque ele ouviu a voz de Nicholas seguida por sua
risada depois que o turno de Ella terminou. Nicholas lhe deu
um sorriso de merda quando viu Donovan antes de se retirar
para a cozinha.
— Vou quebrar seu pescoço se você continuar olhando para
ela desse jeito — uma voz rabugenta soou atrás de Donovan.
Donovan virou-se para o balcão.
— O quê?
O barba grisalha olhando para ele não vacilou.
— Você me ouviu. Estou aqui há algum tempo e você não
percebeu. Posso ser velho, mas não sou tolo. Embora você
possa ser se tudo o que faz é observar sem fazer um movimento.
Ele estava sendo corrigido por um homem com idade
suficiente para ser seu avô. Incrível. Donovan limpou a
garganta.
— Bem-vindo a Sugar Blitz. Como posso ajudá-lo?
O velho riu enquanto observava o cardápio.
— Bem, eu não sei. Dê-me algum tempo para decidir.
Ele não tinha acabado de dizer que estava lá há um tempo?
Mas Donovan decidiu manter esse fato para si mesmo. Ele não
estava em posição de antagonizar os clientes, mesmo que falasse
a verdade.
Seus ombros se endireitaram quando Jada se juntou ao
velhote no balcão.
— Oi, Sr. Till. Bom ver você de novo.
— Oh, oi, Srta. Jada. — O Velho levantou as calças e puxou
a barriga para dentro antes de dar um tapinha na cabeça, onde
uma coroa de cabelos grisalhos circundava uma careca marrom
brilhante.
Donovan piscou.
— Espere. Você o conhece?
Jada virou aqueles incríveis olhos castanhos achocolatados
em sua direção, acertando-o bem no reflexo solar.
— Ah, sim, somos velhos amigos, certo, Sr. Till?
— Sim. Conheci ela ontem.
Ele sorriu para Donovan, certo de que ele ocupava um lugar
mais alto nas afeições de Jada do que Donovan.
— Eu disse a ele para voltar hoje depois que ele terminasse
de jogar xadrez para experimentar nossos cupcakes de red
velvet. — Seu sorriso e tom eram brilhantes e autênticos. — Ele
disse que red velvet era o seu favorito, mas tinham acabado.
— Sim, eu jogo xadrez com os caras no parque e minha
queda por doce estava me matando ontem. Este foi o lugar mais
próximo que eu pude conseguir alguma coisa doce.
Mas não era o seu lugar preferido, baseado em seu tom.
Donovan infundiu sua voz com seu melhor tom de
atendimento ao cliente: “Estou feliz por tê-lo aqui”.
— Bem, nós temos uma nova fornada de cupcakes red
velvet. Eles são os favoritos dos nossos clientes.
O Sr. Till fungou.
— Eu serei o juiz disso. — Sim, Donovan podia ver como
ele e Jada se uniram. Ele bateu os dedos no balcão enquanto
Donovan completava seu pedido. — Você joga xadrez?
— Um pouco. — Donovan deslizou a caixa sobre o balcão.
— Bom saber. — O Sr. Till deu a ele um olhar que dizia que
talvez Donovan não fosse um perdedor total.
— O Sr. Till disse que se ele gostasse dos cupcakes, ele traria
seus amigos do xadrez para cá — Jada disse.
Sr. Till apontou um dedo rugoso para ela.
— Eu disse que poderia, mocinha. Mas ainda tem um longo
caminho a percorrer antes que isso aconteça. — Ele pagou por
seus cupcakes e foi andando para uma mesa no canto da loja.
A campainha da porta da frente tocou. Uma mulher usando
um vestido listrado preto e branco, sem mangas e de aparência
rica, entrou.
Jada ergueu a mão em um aceno.
— Carrie!
Donovan piscou.
— Espere. Você a conhece também?
— Sim — ela sussurrou com o canto da boca.
— O que você está fazendo aqui? — A mulher elegante
perguntou a Jada quando chegou ao balcão.
— Eu trabalho aqui — Jada respondeu alegremente.
— Ah, que legal — A testa de Carrie franziu. — Você está
bem depois do que aconteceu no outro dia?
O que aconteceu no outro dia?
Jada dispensou a preocupação de Carrie.
— Ah, sim, estou bem.
Seu sorriso e tom eram tão alegres que Donovan quase
acreditou nela. Quase.
Carrie olhou por cima do ombro, então se inclinou para
frente e baixou a voz.
— Você viu aquela entrevista que o Dr. John fez com o
Extra? Ele diz que sente sua falta.
Quem diabos era o Dr. John?
— Não, eu não vi — Jada disse, sua voz ainda tão alegre que
Donovan quase acreditou que ele havia interpretado mal o
olhar aflito que apareceu em seu rosto com a menção daquele
tal de John. — Como posso te ajudar? — ela acrescentou
rapidamente, dando a volta por trás do balcão para ficar ao lado
de Donovan, trazendo seu perfume suave e sempre inebriante
com ela.
Carrie jogou seus longos cabelos castanhos para trás do
ombro.
— Não tenho certeza. Eu costumo ser das antigas e comer
chocolate, mas hoje pensei em tentar algo diferente para
comemorar algumas boas notícias. O que você sugere?
Jada a observou por um segundo.
— Bem, temos um novo sabor de s'mores hoje que lhe dá o
conforto do chocolate com um sabor extra.
Os olhos da mulher brilharam.
— Ooh, isso parece delicioso. Me dê meia dúzia para
viagem.
Donovan deu a si mesmo uma bomba mental. Jada
embrulhou os cupcakes enquanto ele fazia a venda.
— Agora que eu sei que você trabalha aqui, vou me
certificar de passar mais vezes e espalhar a notícia — disse
Carrie. Um minuto depois, outro cliente satisfeito, que
esperava manter sua promessa de trazer mais, saiu. Se ao menos
houvesse clientes mais satisfeitos. Ele olhou ao redor da loja.
Ainda haviam muitas mesas vazias. Os negócios estavam
estáveis, mas lentos. Sendo lento e constante ele não iria ganhar
esta corrida. Ele suspirou.
— Você está bem? — perguntou Jada.
— Sim, eu estou bem. — Compartilhar seus problemas não
era sua maneira de começar, e sobrecarregar alguém que ele
conhecia há menos de uma semana não lhe parecia justo.
Inferno, talvez ela pensasse que um fluxo lento de clientes era
normal e não faria nenhuma pergunta que ele não quisesse
responder. — Você realmente gostou daqueles cupcakes de
s'mores, hein?
— Sim. Eles eram tão bons. — Sua cabeça inclinou para o
lado em contemplação. — Mas acho que, além de deliciosos,
eles me fizeram lembrar como todo verão, meus pais levavam
minha irmã e eu para o acampamento por duas semanas. Eu
amava aquelas semanas. Eu era apenas Jada lá, sem nenhuma
das expectativas que vinham com minha vida cotidiana. — Um
sorriso suave tocou seus lábios vermelhos. — Lembro-me da
primeira vez que fiz um s'more. Foi confuso e divertido. Eu
estava com marshmallows e chocolate em todos os lugares do
meu rosto. Queimei meu marshmallow até ficar crocante – não
diga nada –, mas ninguém se importou. Estava carbonizado,
mas tão bom por causa disso. Então os biscoitos quebraram ao
meio e eu peguei tudo e enfiei na minha boca. Bons tempos.
Ela vivia uma vida com expectativas tão altas e uma de suas
memórias favoritas era fazer s'mores? Uau. Qual era a história
ali?
— Então, sim, vou comentar sobre esses cupcakes para
quem estiver na minha frente — disse Jada, apontando para o
caixa. — Nicholas me prometeu que iria fazer uma fornada
extra para que eu possa devorá-los na minha casa. — Ela ergueu
a mão. — E sim, eu vou pagar por eles.
Ele era tão óbvio assim? Bem, ele estava tentando
administrar um negócio, então nenhum pedido de desculpas
viria. O sorriso dela – natural, largo e brilhante – o
surpreendeu. Ela o estava provocando. Talvez eles tivessem
virado a página. E por que pensar nisso o fez sentir como se
tivesse conquistado uma montanha? Que ele poderia realizar
qualquer coisa que ele colocasse em sua mente?

∗∗∗

— Como posso te ajudar? — Jada perguntou à loira que se


aproximou do balcão algumas horas depois. A cliente estava
vestida com uma saia justa e com uma camisa de botão enfiada
para dentro da saia.
O ritmo de Jada estava diminuindo. Ella tinha feito um bom
trabalho treinando-a. Não foi tão difícil tirar os cupcakes da
assadeira, mas ela gostou de conversar com os clientes sobre
porquê hoje era o dia em que eles precisavam de um cupcake e
ajudá-los a escolher o sabor perfeito. Ela tinha o dom de falar.
A loira, que tinha passado muito tempo na cabine de
bronzeamento, olhou para ela através dos óculos de armação de
arame.
— Oi — ela disse novamente, depois de alguns segundos de
silêncio com um aceno desajeitado para chamar a atenção da
Senhorita Curiosa.
A mulher piscou.
Jada ofereceu seu sorriso mais encantador.
— Algum dos nossos cupcakes chamou sua atenção?
A loira piscou novamente como se tivesse esquecido que elas
estavam de fato em uma loja de cupcakes. Ela olhou para o
quadro do menu, então baixou o olhar para a vitrine.
— Vou querer um cupcake de baunilha.
— A caminho agora mesmo. — Jada decidiu que seria
melhor se ela mantivesse a conversa no mínimo. A mulher
ainda estava olhando para ela. Ela embalou o cupcake sem
perguntar se a mulher queria levar ou comer na loja, o que
tecnicamente era um mau atendimento ao cliente, mas
Donovan não estava lá, então ele não poderia lhe dar mais
desconsideração. Ele relutantemente a deixou em paz só depois
que ela apontou que havia demonstrado uma habilidade
razoável para pegar cupcakes da vitrine e pressionar alguns
botões na tela do computador conectado à caixa registradora.
Mas não antes de olhar para ela com uma mistura nada
insultante de suspeita e relutância.
A cliente pagou a sobremesa e depois foi para uma das mesas
que tinha uma visão clara do balcão da frente, ou seja,
exatamente onde estava Jada. Excelente. Por sorte, mais alguns
clientesa chegaram, o que manteve Jada ocupada. No entanto,
toda vez que ela olhava para cima, A Senhorita Curiosa estava
dando uma mordida microscópica em seu cupcake enquanto
mantinha os olhos fixos em Jada. Ela a reconheceu do show?
Jada reprimiu um suspiro. Provavelmente, não havia nada que
ela pudesse fazer sobre isso.
Jada deu uma volta pela loja para checar os clientes. O Sr.
Till estava comendo alegremente seu cupcake. Tudo estava
indo bem e não precisava de nada. Que pena. Ela estava
tentando limpar tudo o máximo que podia, pegando as
migalhas de uma mesa, pegando o embrulho que queria voar,
trazendo guardanapos extras para uma criança de quatro anos
feliz, mas finalmente ela admitiu que não havia mais nada que
pudesse fingir que prendesse sua atenção. Ela se forçou a parar
na mesa da Senhorita Observadora.
— Está tudo bem? Precisa de alguma coisa?
— Não, mas eu tenho uma pergunta. Você é Jada
Townsend-Matthews?
Jada assentiu lentamente. Seus ombros ficaram engessados.
Ela deliberadamente os relaxou. Ela não tinha nada do que se
envergonhar, e se esta mulher começasse a lhe encher o saco, ela
lidaria com isso. De alguma forma.
Os olhos da Senhorita Observadora se arregalaram.
— Ah, uau. Eu ouvi os rumores de que você estava
trabalhando aqui, mas eu tinha que ver por mim mesma. Eu
não podia acreditar.
Jada deu de ombros.
— Bem, eu estou.
— Eu apenas pensei que com suas conexões familiares você
estaria trabalhando em algum lugar...
— Em algum lugar o quê? — Jada estava quase cansada
dessa besteira. Não, este não era o emprego dos seus sonhos –
não que ela tivesse a menor ideia de qual era o emprego dos seus
sonhos –, mas este era um lugar mais do que decente para
trabalhar. Ela estava irritada por Vovó ter planejado esta tarefa
para ela, mas ela não estava envergonhada de estar aqui.
A mulher fez uma pausa, sentindo claramente que estava
pisando em gelo fino.
— Meu nome é Tamara McCarthy. Eu trabalho para
celebinfo.com. Devíamos fazer uma entrevista, obtendo seu
lado da história.
Oh, droga. Ela deveria tê-la ignorado. Ótima jogada, Jada.
Novamente.
— Eu não faço parte da mídia. — Mesmo que ela tivesse que
ignorar continuamente as ligações e e-mails de Lila, a produtora
executiva de Minha Cara Metade, perguntando e exigindo
que ela reconsiderasse. Ela queria que a história e seu
envolvimento com o show fossem embora o mais rápido
possível. Seus quinze minutos de fama não valeram a pena.
— Foi uma decisão tão interessante que você tomou —
Tamara continuou, como se Jada não tivesse falado.
— Obrigada. Precisa de alguma coisa?
— Você sabia que iria recusar o pedido do Dr. John antes da
cerimônia? Esse era o seu plano o tempo todo?
— Não. Eu tenho que ir. — Jada deu meia-volta e voltou
para o balcão da frente. Certamente aquela barreira na altura
da cintura a protegeria. O guincho do que parecia ser pernas de
cadeira deslizando contra o chão encheu o ar atrás dela. Jada
não se virou para ver o que estava acontecendo. O barulho dos
saltos no chão de concreto atrás dela confirmou sua suspeita de
qualquer maneira. Em vez disso, ela acelerou o passo. Quase lá.
Uma mão forte em seu braço a deteve. Ela queria jogar a mão
da mulher longe sem seus dedos perfeitamente cuidados, mas
isso definitivamente não estava no bom manual de
atendimento ao cliente, e ela prometeu a Donovan e a si mesma
que faria um bom trabalho. Ela se virou e forçou os lábios para
cima. — Posso falar uma coisa para você?
— Sim. Conte-me tudo. — Os olhos da loira estavam
brilhando. Ela era uma vampira pronta para sugar a vida de
Jada. Formidável.
— Eu não vou dizer nada.
Tamara deu a ela um olhar realista.
— Você tem que me falar algo. Sou a primeira pessoa a fazer
contato com a mulher mais notória da América.
— Isso é um pouco exagerado, você não acha?
Tamara balançou a cabeça.
— Não, na verdade não. Minha Cara Metade é o programa
número um entre as mulheres de dezoito a trinta e cinco anos
nos Estados Unidos. Não há escândalos de celebridades atuais
para desviar a atenção de você. Você é notória, garota
Aff, ótimo. Quando ela pararia de cometer erros que não a
levariam a lugar algum?
— Bem, eu realmente não vou falar nada.
— Todo mundo está interessado em saber o porquê você
recusou a proposta dele, mas estou muito mais interessada no
seu lado da história.
Jada apenas a encarou. Ela se recusou a dar qualquer
encorajamento a essa repórter ousada.
— Você disse que recusou porque havia outra pessoa em
quem você não conseguia parar de pensar e esperava se
reconectar com ele quando chegasse em casa.
Jada ignorou a forma como o fundo caiu de seu estômago.
— Certo.
— A internet está cheia de especulações sobre quem é esse
homem misterioso.
— Está? Eu não tinha notado.
— Só porque suas contas de mídia sociais estão
estranhamente quietas. As pessoas vasculharam suas contas
para ver se conseguiam descobrir quem é esse homem
misterioso. — Os olhos de Tamara brilharam com aquele olhar
de vampiro. Muito em breve, seu sorriso sedento de sangue se
espalharia demais, revelando pré-molares afiados. — Então,
quem é? Ele existe, não é?
Ah, merda. Ela não podia dizer que ele era puramente uma
invenção de sua imaginação. Então ela realmente seria uma
mulher morta andando.
— Claro que ele existe.
— Então, quem é ele? Quero dizer, vou escrever essa história
de qualquer maneira. Eu gostaria de ter uma parte sua para dar
equilíbrio.
Ah, ela não era uma defensora da ética jornalística?
— Eu não quero falar sobre ele. Eu não mencionei o nome
dele no programa por esse mesmo motivo. — Ou seja, porque
ele não existe, mas isso não era importante no momento.
— Bem, você falou com ele desde que voltou? Certamente
ele viu o show. Ele deve saber que você não conseguia parar de
pensar nele.
— Hum, bem...
— Ele entrou em contato com você?
— Hum...
— Ele não disse nada? Certamente você não o inventou,
não é? Essa seria uma história ainda mais louca. — Tamara
estava muito perto de Jada, seus olhos verdes redondos
esbugalhados com o desejo de conseguir um furo, qualquer
furo. Jada podia sentir o cheiro da cobertura de baunilha de seu
cupcake em seu hálito. Jada nunca havia pensado muito no
cheiro de glacê, mas sua doçura avassaladora a faria engasgar em
um futuro muito próximo. Ela reprimiu com força a sensação.
— O quê? Não, claro que não.
— Porque eu odiaria relatar isso. — Ódio, amor. Amor,
ódio. Tinha a mesma diferença.
Jada forçou um sorriso.
— Então, não.
— Dê-me algo, Jada. Todo mundo quer saber quem é esse
cara misterioso. Não quero presumir que você o inventou. Isso
seria muito embaraçoso para você.
Embaraçoso. Uma palavra simples que carregava tanto peso
para ela. Ela sempre foi uma vergonha para seus pais. Ela se
esforçou para não ser, mas nunca realmente conseguiu.
Humilhante. Desmoralizante. Ela já era uma vilã nacional. Ela
não iria, não poderia se tornar uma chacota nacional.
Seus pais nunca, jamais, deixariam que ela ouvisse o fim
disso. Os suspiros e olhares desapontados nunca cessariam.
Nem as exigências de que ela conseguisse um emprego de
verdade e parasse de decepcioná-los. Ela não poderia passar por
isso. Eles não a perdoaram por ir ao show, e era por isso que eles
decidiram parar de pagar suas contas. Essa humilhação extra
daria a eles toda a munição de que precisavam para detoná-la à
vontade. Ela não sabia se conseguiria sobreviver ao seu tipo
especial de preocupação misturada com perplexidade,
sobreposta ao constrangimento por não ser como sua irmã. O
que ela ia fazer? O que ela poderia fazer?
— Jada? Está tudo bem?
Oh, não. Donovan apareceu ao lado dela. Ela estava tão
concentrada em Tamara, a repórter ousada, que não o notou se
aproximando.
Tamara arrastou o olhar para cima e para baixo em seu físico
reconhecidamente impressionante, então se virou para ela.
— É ele?
— Ele? — perguntou Donovan.
— Sim, este é ele. Oi, querido.
Jada deu um passo à frente e encostou sua boca com a dele
antes que ele pudesse explodir seu lugar. Esta foi sua razão
inicial para beijá-lo. Mas esse pensamento rapidamente deu
lugar a “Uau, os lábios dele são bons”. Grossos, firmes e
exuberantes. Perfeito, em outras palavras. Lábios perfeitos que
estavam congelados sob os dela.
Jada endureceu. O que diabos ela estava fazendo? Ela não
podia simplesmente beijar alguém sem o seu consentimento.
Então ela sentiu um leve movimento da boca dele contra a
dela. Uma deliciosa fricção que enviou um grande arrepio por
sua espinha. Uma ligeira separação dos lábios, uma ligeira
inclinação da cabeça para um ângulo melhor. Ele a estava
beijando de volta. Habilmente, seus lábios magistrais
deslizavam suavemente contra os dela, saboreando-a, então
houve um beliscão – apenas uma pequena mordida contra seu
lábio inferior, apenas o suficiente para fazê-la desejar mais. Sua
respiração ficou presa em seus pulmões, e então ela estava livre.
Ela mal registrou os leves aplausos das pessoas que estavam na
loja.
Ela olhou para ele, seu peito arfando. Seus olhos, sempre tão
escuros e penetrantes, hipnotizavam-na com sua intensidade e
calor. Oh, sim, ele sentiu isso também. Ainda estava sentindo.
Sendo uma atração intensa, ela fez o possível para não
reconhecer. E ela tinha acabado de explodir tudo em
pedacinhos.
— Oh, meu Deus, isso é incrível — Tamara proclamou em voz
alta, tirando Jada do transe atordoado em que ela se colocou.
Ela abaixou um telefone que deve ter pego de algum lugar. —
Isso vai fazer essa filmagem viralizar. Foi ótimo. Não vejo a hora
de assistir novamente e postar. Que reportagem!
— Jada? — Donovan perguntou, sua voz baixa e sombria,
exigindo respostas.
— Ah, é por isso que você está trabalhando aqui? — Tamara
perguntou, felizmente não captando as vibrações estranhas que
estavam no ar.
Jada começou a falar involuntariamente.
— Sim, eu queria fazer algo discreto enquanto a poeira não
baixava, e ele sugeriu que eu viesse trabalhar aqui. Eu estava
ficando um pouco louca por estar enfiada no meu
apartamento. Ele não é o melhor? — ela virou as costas para
Tamara e implorou a ele com os olhos. Por favor, continue com
isso. Por favor. Eu vou ficar te devendo para sempre.
— Você é o dono deste lugar, certo? E joga para os Knight?
— perguntou Tamara.
— Sim — ele respondeu, sua voz curta e cortante. Ele estava
desconfiado e não estava dando mais informações do que o
necessário. Seus ombros relaxaram um pouco. Pelo menos ele
não tinha decidido falar a verdade. Por enquanto de qualquer
maneira. Um músculo em sua mandíbula dura estava batendo
em um ritmo constante e raivoso.
Tamara olhou para ela com um novo respeito.
— Garota, se ele é o motivo do porquê você estava voltando
para casa, eu também não teria dito sim. Eu posso ver porque
ele estava em sua mente quando você estava no programa.
— Jada. — Donovan advertiu.
— O que posso dizer? Eu sou uma garota de sorte. — Jada
disse. Ela tinha que tirar essa tal de Tamara daqui antes que
Donovan explodisse. Todo o seu corpo, pressionado contra o
dela, estava vibrando com a tensão reprimida. Seus dedos
pressionaram com força em sua cintura, ancorando-a ao seu
lado. Ele sentiu que ela poderia fugir, e ele não estava
totalmente errado.
— Um pouco da sua sorte passou para mim. Vou viralizar.
Eu tenho que escrever essa matéria e fazer o upload do vídeo
antes que alguém faça. Obrigada por me contar! — E assim, o
Furacão Tamara se foi. Os ombros de Jada caíram em total
alívio.
— Jada. Meu escritório. Agora mesmo. — O tom de
Donovan – severo, raivoso, furioso – imediatamente fez seus
ombros irem para cima até os ouvidos novamente. Uh-oh. Ela
pensou que tinha sobrevivido à tempestade. Ele girou nos
calcanhares. Ela queria mostrar a língua para ele, mas não tinha
o direito. Não depois do que ela tinha feito. Mas ela se arrastou
o mais devagar que podia nos seus novos Crocs. Eles fizeram
um barulho estridentemente absurdo contra o chão duro.
Chiado, chiado.
— Agora mesmo, Jada.
Sim, Senhor Chatonildo estava de volta. Ela respirou fundo
e alongou um pouco o passo, mas ele não deu mais ordens.
— O que raios foi aquilo? — ele perguntou assim que a
porta se fechou atrás dela. Pelo menos ele não gritou. Mas ele
não precisava. Claramente, ele estava acostumado com as
pessoas respondendo a qualquer pergunta que ele tivesse. O
comando calmo em seu tom, seu foco inabalável sobre ela foi
tão eficaz. Provavelmente mais.
Ela abriu a boca para responder.
— Eu... bem... é só...
— Fala logo, Jada. — Sim, ele estava cansado dessa merda.
— Você já ouviu falar de Minha Cara Metade?
Seus olhos brilharam.
— Não. — Ele inclinou a cabeça. Continue.
— É um reality show.
— E?
Ela fechou os olhos por um segundo.
— E é um dos reality shows mais populares do país. É um
programa de namoro. Eu estava nele. Cheguei até o fim, mas
recusei a proposta.
— Vá para a parte que termina com você me beijando e me
declarando seu namorado. — Ele assobiou a frase inteira, o que
foi meio impressionante, considerando que não havia uma
tonelada de s na frase. Ele ainda estava bravo, em outras
palavras.
Jada engoliu.
— Certo. Eu estou quase lá. Quando recusei a proposta,
disse que o motivo era porque estava sentindo falta de alguém.
— E? — ele perguntou, sua irritação clara.
— Essa pessoa não existe.
— Então?
Jada baixou os olhos, depois os ergueu. Ela se meteu nessa
confusão. Ela tinha que admitir isso.
— Olha, eu me tornei um vilã por causa disso.
— Uma vilã? Por que você estava em um reality show bobo?
— Sim, a internet me odeia.
— Só pode estar de brincadeira comigo. As pessoas
realmente se importam com o que acontece nos reality shows?
Ela deu de ombros.
— Quero dizer, esportes são os maiores reality shows por aí,
então sim.
— Jada. — O olhar bravo em seu rosto teria sido engraçado
se eles não estivessem falando sobre a vida dela.
— Certo. De volta ao ponto. Não, eu não estou brincando.
Você pode verificar minhas páginas de mídia social. Parei de
mexer nelas. O ódio é real.
— Porque você recusou uma proposta de casamento em um
programa de TV ridículo? As pessoas ainda assistem TV?
— Sim. E eles transmitiram. O que prolonga o tempo que
as pessoas ficam agitadas e querem expressar suas opiniões
importantes em várias plataformas de mídias sociais, que então
chamam a atenção nos meios de comunicação, que relatam
sobre isso, prolongando a vida da fofoca.
Donovan contornou sua mesa e afundou em sua cadeira de
couro, mais uma vez parecendo o rei do lugar.
— De volta ao ponto, Jada.
— Certo. Ela me reconheceu e começou a fazer todas essas
perguntas, e as pessoas já me odeiam, e eu não queria que elas
me odiassem mais e ela estava me pressionando e de repente
você apareceu.
— Então você me beijou?
— Sim! Comecei a falar antes que pudesse pensar. Me
desculpe, ok?
— Ela disse que planejava viralizar aquele vídeo de nós nos
beijando.
— Talvez ela esteja brincando. Viralizar não é nada
garantido. É relativo. Na maioria das vezes. — Às vezes.
Ele jogou as mãos no ar.
— Você acabou de dizer que era uma vilã nacional! Você
não acha que as pessoas vão se importar?
— Eu não sei — ela disse em uma voz pequena e
esperançosa, seus olhos baixos.
— Nós não estamos namorando.
— Eu sei disso, Donovan — ela disse, com os lábios rígidos.
Apesar daquele breve, mas escaldante beijo quente.
— Eu não faço reality shows. Faço o mínimo possível de
coisas para aparecer nas mídias sociais.
— Você faz? — Como devia ser isso? — Você tem o que,
oitenta anos?
Aquele músculo em sua mandíbula endureceu novamente.
— Não, sou o tipo de pessoa que tem muita coisa
acontecendo e por causa disso tomou a decisão de se concentrar
em coisas mais importantes.
— Ah. — Certo. Algumas pessoas tomavam essa decisão.
— Em outras palavras, eu não me importo com o que ela
publica.
— Sim, entendi. — Ela estendeu a mão sobre a mesa,
agarrando a mão dele. — Mas você vai precisar.
Ele olhou para as mãos entrelaçadas por um segundo antes
de erguer os olhos, agora inescrutáveis.
— Por quê?
— Porque eu sei o quão poderosas são as mídias sociais. —
Ela fechou os olhos por um instante. Não era hora de orgulho.
— E eu estou pedindo sua ajuda.
— O que isso significa exatamente?
— Que você não vai contar para todo mundo meu segredo.
O músculo em sua mandíbula mexeu novamente.
— E o que isso significa?
— Que se alguém perguntar se estamos namorando, você
não olha para eles como se eles tivessem perguntado se os
cupcakes da Sugar Blitz são desagradáveis.
Seus lábios se contraíram, só um pouco, mas ela percebeu.
— Então você quer que eu minta.
— Você sabe, a palavra “mentir” é muito forte para ser usada
nesse sentido.
Seus olhos escuros brilharam.
— Mas é o que é.
— Eu não estou pedindo para você mentir, apenas não...
negue.
— Oh, meu Deus, isso é ridículo. Estou seriamente
preocupado com uma mulher estranha entrando na minha loja
alegando que ela vai viralizar um vídeo meu beijando minha
mais nova funcionária que disse que eu era seu namorado. Eu
tenho esse direito, sabia? — Por um momento, ele pareceu
impressionado com o que ela o fez passar nos últimos dias.
Os ombros de Jada se curvaram para frente. Sua visão ficou
turva por um segundo. Lá vinha. Ele realmente ia demiti-la
agora.
— Sim, verdade.
Ele suspirou.
— Jada.
Sim, estava chegando a hora. Ela tinha ouvido aquele
suspiro toda a sua vida. Seus pais eram mestres nele, mas ela
ouviu o mesmo de professores, amigos e patrões. E agora
Donovan. Mas ela poderia culpá-lo?
Primeiro, ela queimou seus cupcakes, agora ela invadiu sua
vida pessoal. Falando nisso... ela engasgou.
— Você tem uma pessoa ou é casado? — Seu estômago
revirou com o pensamento. Mas só porque ela nunca quis ser
uma parte de uma traição, não porque o pensamento dele
tocando outra pessoa, amando outra pessoa a incomodava.
Agora ele olhou para ela como se ela tivesse perguntado se
ele achava que as ofertas dos cupcakes eram ruins.
— Não. Você acha que eu te beijaria, bem triste, e que se
dane os olhos de cachorrinho, se eu tivesse alguém esperando
por mim em casa?
Ela deu de ombros.
— Quero dizer... eu não sei.
— Exatamente. Não nos conhecemos. É por isso que não
faz sentido fingirmos que estamos namorando ou o que quer
que você tenha em mente. Nós literalmente nos conhecemos
há três dias. — Ele fez uma pausa. — Você estava falando sério
sobre não ter uma pessoa especial em casa?
Ela assentiu. Todos os seus ex eram ex por uma razão. Era
melhor deixar todos os desastres no passado. Ela não tinha
nenhum amigo próximo homem para quem ela pudesse ligar
para ajudar a tirá-la de sua última confusão.
— Ah. Bem. — Ele suspirou novamente. — Não, desculpe,
não posso fazer isso. Não faz sentido e isso vai terminar em um
desastre. Eu tenho muita coisa acontecendo para estar
desejando esse desastre. Eu tento deixar minha vida a mais
organizada possível. Eu tenho um plano para ser bem sucedido.
Estou mantendo esse plano – principalmente – nos últimos
quinze anos, e o plano está funcionando. Não posso me
distrair. Eu não vou me distrair. Não vou me preocupar com
uma mulher estranha entrando na minha loja dizendo que vai
viralizar um vídeo.
Jada ergueu o queixo enquanto suas esperanças
despencavam para as solas de seus Crocs.
— Está bem, então. Eu entendo.
E ela realmente entendia, mas isso não mudava os fatos.
Parecia que ela estava sozinha. Nada de novo aí. Ela sabia algo
sobre sobrevivência. Este foi mais um obstáculo em sua vida. Se
ela se sentiu um pouco mais sozinha desta vez porque sentiu
um pouco de conexão quando eles se beijaram, e enfrentariam
a intromissão da Tamara juntos, então estava tudo em sua
cabeça. E ele estava certo. Ela era uma grande distração.
Ela se meteu nessa confusão. Ela sairia sozinha. Sem a ajuda
de Donovan. De alguma forma.

∗∗∗
Às 19h15, Donovan entrou em sua casa. August ia fechar a
Sugar Blitz esta noite. Donovan respirou fundo. Graças a
Deus. Ele estava derrotado. Ele não queria nada mais do que
colocar uma das refeições ricas em proteínas e nutrientes que
seu chef preparou para ele no micro-ondas e comê-la em sua
varanda enquanto ouvia e observava as ondas do mar batendo
na praia. Ele foi para a cozinha, pronto para colocar seu plano
em ação.
Às 19h18, bem quando tomou a decisão de comer bife com
macarrão à carbonara, seu telefone tocou. Ele pensou por um
momento em não responder, mas era sua irmãzinha, Sloane.
Ele sempre cuidou dela, especialmente devido ao caos em que
cresceram, e ele nunca foi capaz de não ajudá-la, mesmo que ela
agora fosse adulta. Ele se jogou em uma cadeira de sua mesa de
jantar e respondeu.
— Oi, como vai?
— O que há comigo? O que há com você? — ela gritou em
seu ouvido.
Ele arrancou o telefone antes que sofresse qualquer perda
permanente de audição, então cuidadosamente o trouxe de
volta ao ouvido.
— Sloane, posso fazer você baixar uma oitava da sua voz? Os
cães estão uivando no fundo enquanto conversamos.
— Desculpe — ela disse, em seu tom normal e firme. —
Estou tão animada.
— Animada com o quê? Você conseguiu uma promoção?
— Não, eu não consegui uma promoção e não tente me
enganar.
Enganá-la? De quê?
— O que você está falando?
— Estou falando sobre o fato de que você está no Tópicos
em destaque no Twitter.
Donovan abafou um gemido. Não poderia ser. Aquela
mulher não podia ter viralizado o vídeo só porque ela queria.
Não funcionava assim. Funcionava? Ele tinha sido sincero com
Jada. Ele não usava suas redes sociais. Ele tinha uma conta, é
claro. Ele não estava tão por fora. Mas a principal razão pela
qual ele os tinha era para evitar que os seus fãs fingissem ser ele
e postassem merdas malucas em seu nome. No entanto, ele não
faz nada nas suas contas. O que realmente não o torna querido
por sua irmãzinha, que ganhava a vida como assistente de mídia
social. Logo para virar gerente, de acordo com ela, embora
aparentemente não hoje.
Ele fez a pergunta para a qual não queria a resposta.
— Por que estou nos Tópicos em destaque no Twitter?
— Porque você beijou Jada de Minha Cara Metade! — ela
falou gritando novamente, mas esse era o menor de seus
problemas.
Seu estômago fez uma cratera. Merda. Graças a Deus que ele
ainda não tinha comido. Ok, isso foi dramático, e ele não era
dramático. Ele precisava relaxar. Ele ouviu sua irmã o suficiente
para saber que esses tópicos nas mídias sociais eram apenas isso.
Tópicos. Eles iam e vinham. Em trinta minutos, alguém que
gostava de atenção faria ou diria algo verdadeiramente
chocante, e ele logo seria uma história antiga.
— Você pode esquecer isso, por favor?
Sua irmã engasgou.
— Não! Estou ligando para Shana.
— Por favor, não. — Sua irmã mais velha, sem dúvida,
adoraria acrescentar sua opinião a esse assunto. Ela tinha uma
opinião sobre todos os aspectos de sua vida. Isso seria muito
bom para deixar passar.
— Tarde demais.
Sim, ele percebeu isso. O telefone já estava tocando. Sua
irmã mais velha atendeu alguns segundos depois.
— Oi.
— Sloane, você viu que Donovan está em alta no Twitter?
Porque ele beijou Jada? — ela fez o nome da Jada soar como se
ela fosse uma vadia escandalosa. E agora ele soava como um
velhote de um faroeste dos anos cinquenta.
— Garota, eu vi! — Sloane respondeu. — Você acredita
nisso?
— Oi, estou bem aqui — ele interrompeu, antes que elas
pudessem falar mais.
— Oh, você está na chamada, Donovan. Perfeito — disse
Shana. — Você sempre foi minha irmã favorita, Sloane.
Ele revirou os olhos e sufocou um suspiro.
— Agora nos conte tudo — ela continuou.
— Não deixe nenhum detalhe de fora — acrescentou
Sloane.
Suas irmãs estavam se juntando contra ele. Por que ele não
foi abençoado com um irmão ou pelo menos uma irmã que não
adorava provocá-lo ou investigar sua vida pessoal? Ele pegou a
única opção disponível para ele – protelar.
— Não há nada para contar.
— Não tente nos enganar, irmãozinho. — Shana disse,
soando exatamente como sua mãe.
— Você tem sorte que mamãe ainda não descobriu. — Disse
Sloane, sem dúvida pensando na mesma coisa que ele. — Ela
ficaria super ansiosa por você.
Isso realmente era verdade. Um pequeno sentimento de
culpa apertou seu coração. Jada não queria que ele dissesse a
ninguém que eles não estavam namorando, mas ele disse a ela
que não podia prometer isso a ela. E essas eram suas irmãs, em
quem ele confiava mais do que qualquer outra pessoa no
mundo. Se ele pedisse para elas ficarem de boca fechada, elas
fariam isso. No entanto, ele sentia que estava traindo Jada, o
que era o cúmulo do ridículo. Ele não fazia coisas ridículas.
Então isso era verdade, mas primeiro ele tinha perguntas.
— Me conte sobre este reality show.
— É muito bom — disse Shana. — Recheado de drama. É
como batatas fritas. Uma vez que você come um, você não
consegue mais parar.
Sloane murmurou em concordância.
— Basicamente, há o protagonista, e ele sai com um monte
de mulheres. Toda semana, os competidores votam em duas
mulheres que não querem ter um encontro. Eles formam
alianças. O líder tem o direito de fazer uma objeção por uma
semana em sua busca para encontrar seu primeiro e único
amor. E depois de todos os seus encontros ele elimina algumas
mulheres.
Donovan agarrou seu telefone.
— E o que a Jada tem haver com isso?
— Jada era a melhor, ou todo mundo pensava assim até o
final — disse Sloane. — Ela era engraçada e sempre falava o que
pensava com o cara, Dr. John, e os outros competidores. Ela e
John tinham uma ótima química.
— O cara ficou apaixonado — disse Shana. — Os
espectadores o amavam. Ele era genuíno e estava lá pelas razões
certas.
— Encontrar amor em um reality show? Tá, ok. —
Donovan tinha suas dúvidas.
— É verdade. Ele era o cara mais doce. Engraçado e gentil,
mas não era facilmente enganado por travessuras. Alguns dos
outros competidores não gostaram de como Jada e ele se davam
bem e tentaram separá-los, mas não funcionou. Eles estavam
sempre juntos.
Ele engoliu em torno do nó em sua garganta.
— Então eles o quê? Apaixonaram-se com um monte de
câmeras em seus rostos gravando todos os seus movimentos?
— Parecia que sim. Eles eram como o Ken e a Barbie Negros.
Lindos, engraçados, fotogênicos. Todos os espectadores
pensaram que eles teriam um final de contos de fadas com uma
proposta.
— Mas em vez disso ela largou o Solteiro Favorito da
América, essa era a manchete da capa da People — disse Sloane.
— Os fãs ficaram loucos.
Shana concordou.
— Alguns dos outros competidores disseram que ela estava
iludindo ele o tempo todo e eles realmente estavam certos.
Isso não soava como a mulher que ele conhecia. Certo, ele
não a conhecia há muito tempo, mas o olhar de devastação e
resignação em seu rosto na loja era real. Ele apostaria todo o seu
patrimônio nisso. E talvez isso o tornasse tão idiota quanto o
cara do reality show.
— O que aconteceu depois?
— Ela parou de postar coisas em suas contas de redes sociais
— disse Sloane. — Ninguém sabia onde ela estava – até esta
noite. O Tweet chegou a vinte e três mil retuítes, a propósito.
Por que ela estava na loja vestindo o uniforme?
Donovan suspirou.
— Porque ela trabalha lá.
— Desde quando? — Shana perguntou, sua voz cheia de
descrença e sem fôlego. Pelo menos ela não gritou como Sloane.
Donovan soltou um suspiro.
— Desde ontem.
— E você já estava beijando ela. Você é rápido, irmão. Quem
diria que você tinha esse lado? — Sloane provocou.
Ele gemeu.
— Não foi assim que aconteceu.
— Então nos diga a verdade, toda a verdade, e nada além da
verdade. Como ela passou de vilã de reality show a funcionária
da Sugar Blitz e a namorada de Donovan Dell?
— Ela não é minha namorada — disse ele, com os dentes
cerrados.
— Mas você enfiou a língua na garganta dela — disse sua
irmã mais velha lógica e direta, que nunca seria intimidada por
ele.
— Não, eu não fiz — disse ele, sobre as risadinhas de Sloane.
— Então nos diga o que está acontecendo — disse Shana,
claramente satisfeita consigo mesma por manobrá-lo em um
canto.
Donovan começou com como ela veio trabalhar na loja e
terminou com a razão pela qual Jada o beijou.
— É isso. Ela precisava de um substituto temporário e
aconteceu de eu ser o cara que estava ali. Nem mais nem menos.
Sua explicação foi recebida com alguns segundos de silêncio.
— Ah. É isso? — Shana finalmente disse.
— Sim. — Majoritariamente. Ele deixou de fora os detalhes
sobre como aquele foi o melhor primeiro beijo que ele já teve.
Como os lábios macios dela se agarraram tão tentadoramente
aos dele que ele não pôde deixar de responder. Como o gosto
dela o assombrava horas depois e ele ainda podia saboreá-la,
especialmente se ele fechasse os olhos e repetisse o abraço
frustrantemente curto na mente dele. O que ele tinha feito
aproximadamente cinquenta vezes desde que aconteceu. Sim,
suas irmãs não precisavam saber nada disso.
— Você não está realmente namorando.
— Não. — Ele ignorou a pontada de decepção que o
atingiu.
— Mesmo que você esteja no Twitter e as pessoas estejam
comentando que vocês dois pareciam almas gêmeas enquanto
olhavam nos olhos um do outro?
Jada tinha os olhos mais incríveis que ele já tinha visto.
— Donovan? — Sua irmã parecia muito esperançosa.
Ele gemeu.
— Não.
— Ah. Eu esperava que o que ela disse no programa fosse
verdade. Eu gostava muito dela e não entendia porque ela iria a
um show só para humilhar alguém. Não parecia algo que ela
faria.
— Nós não estamos namorando. — Ele disse isso porque
era verdade e talvez para se lembrar. Só porque ele sentiu algo
novo e doce e quente durante o beijo e se perdeu
temporariamente no sabor e no cheiro dela não significava
nada.
— Você quer namorar com ela? — Sloane perguntou,
aparentemente ainda esperançosa. — Parece que ela está
precisando de um cara.
— E namorar com ela pode aumentar suas vendas, dada a
reação no Twitter hoje à noite — acrescentou Shana, a
contadora pragmática.
— Não, eu não quero, e sério, Shana? — Se havia um
pequeno puxão de algo perto de seu coração que parecia
arrependimento, então tanto faz. Ele e Jada não estavam
destinados a ser nada além de chefe e empregada temporária.
Não importava o quão macios eram seus lábios ou quão bom
seu corpo se sentia contra o dele. — Tenho dois focos: fazer a
Sugar Blitz ter sucesso – sem namorar alguém com o único
propósito de fazer isso acontecer – e ganhar um Super Bowl na
próxima temporada. Não tenho tempo para mais nada agora.
— Especialmente para alguém que o deixava louco.
Às 8h45 da manhã, Jada dobrou à direita na rua da Sugar Blitz.
Que diabos?
Mesmo a um quarteirão de distância, ela não teve problemas
para identificar a cena que se desenrolava diante dela. Uma fila
de pessoas começava na porta da frente e se estendia pela
calçada até o sinal de pare no final do quarteirão. Eles estavam
aqui por causa dela? Essa era uma suposição arrogante, mas por
que mais tantas pessoas estariam aqui em uma manhã aleatória
de quinta-feira antes da abertura da loja?
Merda.
Olivia ligou para ela ontem à noite para que soubesse que ela
estava no Twitter e era o assunto do Instagram. Jada agradeceu
educadamente, encerrou a ligação, subiu na cama e optou por
esquecer a realidade assistindo a Mandou Bem. Bons
momentos de apostas baixas envolvendo pessoas que assavam
tão bem quanto ela era tudo o que ela podia lidar no momento.
Ela não queria pensar no vídeo de Tamara e nas reações a ele.
Aparentemente, essa não foi a melhor decisão. Ela deveria ter
bolado um plano para lidar com as consequências daquele
beijo. Jada soltou um suspiro. Ah, bem.
Felizmente, Donovan deu a ela o código para entrar pela
porta dos fundos. Ela dirigiu até o estacionamento atrás da loja
e parou em uma vaga, grata pelos vidros escuros de seu carro.
Ali atrás, tudo estava quieto. Normal.
Ela baixou o visor e inspecionou seu rosto no espelho. Pelo
menos seu cabelo e maquiagem estavam bons. Não havia
necessidade de mencionar a camisa pólo e a calça cáqui que ela
usava. Ou os Crocs. E isso foi o suficiente para ficar enrolando.
Ainda assim, ela manteve a cabeça baixa e entrou na loja o
mais rápido possível. Os fãs de reality shows podiam sentir o
cheiro do medo.
— Suponho que temos que agradecer a você por essa
multidão lá fora.
A cabeça de Jada se ergueu. Mas não era Donovan parado
ali. Era August, que tinha acabado de falar o maior número de
palavras que ela já tinha ouvido dele. Ela ofereceu um sorriso
fraco. Ele assentiu, seu pequeno sorriso simpático, e
desapareceu na cozinha.
Jada vagava pelo corredor, a indecisão prendendo-a ao local.
Sair para a frente da loja significava ver todas as pessoas do lado
de fora, que estariam olhando para ela através das janelas. Ela
poderia seguir August até a cozinha, mas isso significava
retornar à cena do fiasco do cozimento. A fumaça
provavelmente ainda pairava no ar, diminuindo os cheiros de
chocolate e baunilha. Ela estremeceu. E se August estava lá,
muito provavelmente, Nicholas também. Eles teriam
perguntas sobre O Beijo, supondo que Donovan não tivesse
contado.
Seu estômago embrulhou, a barra de cereal de morango que
ela se obrigou a comer naquela manhã estava rolando em seu
estômago como um tio bêbado na pista de dança em um
casamento. Oh, Deus, sua boca a colocou em problemas mais
uma vez, figurativa e literalmente.
Mas ela era uma adulta. Certo? Certo. Ela poderia fazer isso.
Ela jogou os ombros para trás e foi para a frente da loja. Ela
manteve os olhos em frente.
— Jada — Donovan chamou pela porta aberta de seu
escritório.
O coração de Jada parou. Ela parou no meio do caminho e
engoliu em seco. Obrigou seus pés a se virarem para encará-lo.
— Sim?
— Entre, por favor — disse ele, gesticulando com a mão.
Seu rosto estava impassível, assim como sua voz. Ela resolveu
aceitar isso ao invés de raiva ou aborrecimento. Ela assentiu. —
Feche a porta — ele adicionou, quando ela passou pela porta.
Ela obedeceu novamente, seguindo sua ordem.
Talvez ele fosse demiti-la. Ele teve uma noite para pensar
sobre isso, afinal. Certamente, ele sabia que ele e ela – eles –
tinham sido um tema quente de discussão nas mídias sociais na
noite passada. Ela desmoronou na cadeira na frente de sua mesa
em uma pilha bastante indigna, suas pernas incapazes de
sustentá-la por mais tempo. Talvez ele não tenha notado. Ela
levantou a cabeça. Suas sobrancelhas estavam quase tocando a
linha do cabelo. Seu olhar se desviou. Ele tinha notado. Não
havia importância. A dignidade era superestimada, de qualquer
maneira.
— Parece que estamos em uma situação difícil. — Sua voz
era calma, sem julgamentos. — Como você vai lidar com isso?
Jada se conteve antes que sua boca ficasse muito aberta. Ele
não a estava demitindo. Seus ombros esvaziaram. Ou talvez ele
quisesse que ela se despedisse?
— Há uma fila de pessoas do lado de fora da loja que, sem
dúvida, veio para ficar boquiaberta — continuou ele. — Você
pode trabalhar no balcão da frente ou pode ficar na cozinha e
ajudar Nicholas com a preparação da comida. August está
saindo em breve para passar alguns recados. Você pode ir com
ele se quiser.
— Você não está bravo? — ela perguntou com pressa.
Ele suspirou.
— Não, eu não sou doido. Embora geralmente a única vez
que alguém no Twitter se importa com o que estou fazendo é
durante um jogo, quando faço ou não uma jogada. As pessoas
especulando sobre minha vida amorosa não é o ideal, mas
pretendo ignorá-las. Elas ficarão entediadas e seguirão em
frente, se ainda não fizeram isso.
Ela deixou escapar a pergunta que estava zumbindo em sua
cabeça desde que ele exigiu falar com ela.
— Por que você está sendo legal comigo?
Ele se recostou na cadeira. A estudou com seus inteligentes
olhos escuros, não revelando nada.
— Você quer que eu seja mal com você? Grite com você?
— Não, mas eu entenderia se você fizesse isso. Eu coloquei
você em uma posição estranha ontem.
— Verdade, mas é uma coisa temporária que já vai passar.
— Ele encolheu os ombros. — Não me importo com as redes
sociais. Vai ser fácil para mim ignorar. Além disso, prometi à
sua avó que você poderia trabalhar aqui e sempre faço o
possível para cumprir minhas promessas.
Certo. Ele não se importava especificamente com ela. Ela
precisava se lembrar disso. Ela era um dever, nada mais, nada
menos.
— Quero trabalhar na frente. É para lá que eu estava indo
antes de você me mandar vir aqui. — Ela deu de ombros. —
Nós dois sabemos que sou um desastre na cozinha.
Ele assentiu.
— Verdade.
— Obrigada — ela disse secamente.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— As pessoas vão ficar encarando.
Jada estava orgulhosa de si mesma por não vacilar.
— Eu sei. Deixe que encarem.
— Você tem bom senso. Eu tenho que te dar parabéns por
isso.
Bom senso? As pessoas ainda usavam essa palavra?
— Espere. Isso é um elogio?
— Não deixe isso subir à sua cabeça. — Sua voz era calma e
comedida, mas se ela não estava enganada, um sorriso estava se
esforçando para tornar sua presença conhecida em seu rosto
normalmente impassível. Seus lábios, aqueles mesmos lábios
que ela tinha visto e provado uma e outra vez em seu sono
inquieto na noite passada, esticaram um pouco.
— Vou tentar. — Ela se levantou e foi até a porta, resoluta
em sua missão, embora suas pernas ainda estivessem um pouco
instáveis.
— Você vai ficar bem — ele disse para ela de volta. Elogios
mais efusivos. Se ela não tomasse cuidado, sua cabeça
começaria a aumentar a qualquer momento. Ela continuou seu
caminho para a frente da loja, sorrindo para si mesma.
— Aí está você — Ella gritou quando a viu. — Metade do
#JaDon.
Jada gemeu.
— Sério?
A adolescente assentiu com entusiasmo.
— Ah, sim. As pessoas que não te odeiam agora que te viram
com Donovan. Eles levaram cerca de dois segundos para chegar
a esse nome.
— Perfeito.
Gritos penetravam pelas janelas e portas. A multidão do
lado de fora tinha visto Jada. Ela fez o possível para ignorá-los
enquanto virava a esquina para se juntar a Ella na caixa
registradora.
Ella empurrou o queixo em direção à entrada.
— Acho que vão derrubar a porta se não abrirmos logo.
Jada se ocupou em servir uma xícara de café e tomou um
gole da bebida quente.
— Eles provavelmente querem rasgar minha garganta.
— Eles terão que passar por mim primeiro. — A voz feroz
de Ella combinava com sua expressão facial.
Jada piscou para conter as lágrimas inesperadas. O que ela
tinha feito para merecer tal lealdade tão rapidamente? Seus pais
certamente nunca sentiram esse desejo. Mais uma vez, ela
endireitou os ombros.
— Obrigada, mas eu não acho que isso seja necessário.
Estamos aqui para trabalhar e servir alguns cupcakes.
Ela assentiu.
— Então, lá vamos nós.
Jada levou um momento para desfrutar do doce, doce
silêncio enquanto Ella caminhava até a porta como se não
estivesse prestes a abrir o portal para o inferno. Jada mordeu o
lábio inferior. Talvez isso tenha sido um pouco dramático.
Talvez. Em poucos segundos, sua entrada na sociedade
indelicada começaria efetivamente. O giro da fechadura,
seguido pelo tinido da campainha no teto quando a porta se
abriu, ofereceu um soco duplo de um estrondo sônico aos seus
nervos.
As hordas do lado de fora entraram, olhando boquiabertas
para a loja como se nunca tivessem estado dentro de uma
confeitaria antes de virarem seus olhos de falcão para Jada. Ela
ergueu o queixo. Ela não conseguia parar de fazer seu suor
deslizar por sua têmpora, mas ela não iria se contorcer.
— Como posso ajudá-la? — ela perguntou à primeira pessoa
a chegar ao balcão da frente, uma mulher baixinha com um
longo rabo de cavalo, que parecia ter vindo direto de sua aula
de ioga e estava toda ágil e pronta para comer.
Ela praticamente saltou nas pontas dos pés.
— Uau. É mesmo você, Jada. Você trabalha aqui?
Jada colou em seu sorriso mais brilhante.
— Sim. Como posso ajudá-la?
A mulher a encarou como se esperasse que Jada dissesse
mais. Jada olhou de volta. Finalmente, a mulher suspirou.
— Vou levar dois cupcakes de baunilha.
Jada pegou as sobremesas e mandou a mulher embora. Uma
já foi, agora faltavam mais um milhão.
Os olhares eram muitos. Os sussurros não tão silenciosos
também. Mas contanto que eles comprassem cupcakes, ela não
se importava. Pelo menos sua decisão impulsiva de declarar
Donovan seu namorado havia feito algum bem não
intencional. Eles estavam muito mais ocupados do que durante
seus primeiros dois dias. Justamente quando a fila diminuiu, os
recém-chegados vieram para substituí-los. Os clientes se
sentaram nas mesas e olhavam para ela enquanto comiam seus
cupcakes e bebiam seu suco ou café enquanto fingiam que não
estavam tirando fotos dela com seus telefones. Mas de qualquer
forma, ela se colocou nesta posição. Ela teria que viver com isso.
As perguntas eram outra história.
— Onde está Donovan?
— Ele está ocupado. — Disse com um sorriso agradável.
Onde estava o Oscar dela?
— Há quanto tempo vocês dois estão juntos?
Jada fingiu que não ouviu. Donovan deixou claro que não
queria mentir sobre o namoro deles e ela respeitaria seus
desejos. Ela tinha feito bastante dano abrindo a boca e
declarando-o seu namorado para a Barbie fofoqueira.
A conversa aumentou de volume. Jada ergueu os olhos da
caixa registradora. Donovan e Nicholas tinham dobrado a
esquina. Nicholas, que Jada percebeu que adorava atenção, foi
direto para a multidão. Donovan veio em direção ao balcão da
frente. As mulheres na fila se aquietaram quando ele se
aproximou, então começaram a sussurrar furiosamente umas
para as outras. Ele acenou para eles e virou a esquina.
— O que você está fazendo aqui? — ela murmurou com o
canto da boca.
— Eu sou dono desse lugar — ele murmurou perto de seu
ouvido. Um arrepio percorreu seu corpo. Não importava.
Estava frio. — Mas, na verdade, Nicholas me disse que a fila
não diminuiu na última hora, então eu tive que vir ver por mim
mesmo.
— Faz sentido. — Ela olhou para cima e foi pega por seus
olhos escuros. — Mas você está colocando mais lenha na
fogueira.
— Eu estou? — Ele não parecia preocupado. Era isso que
acontecia quando você não fazia parte de um fandom de reality
show/cultura pop? Você não entendia o quão feroz e
interessado em cada detalhe de sua vida os fãs podiam ser?
Ao vir aqui, ele se colocou diretamente na frente da
fogueira, e era responsabilidade dela protegê-lo porque ele não
estaria lá se não fosse por ela… embora ele pudesse ter saído com
seu amigo August e encontrado algumas coisas para fazer. Mas
ele não tinha feito isso.
Eles trabalharam juntos por alguns minutos, atendendo
pedidos e recebendo. Ela o observou com o canto do olho. Ele
sorriu e conversou com os clientes como se ele realmente
soubesse ser encantador quando ele se dedicava a isso. Ele estava
sendo o professor favorito de todos agora, em vez do diretor
mal-humorado. Ele realmente parecia... humano.
Ele nem perdeu o foco ou a calma quando a clientela mais
ousada colocou seus telefones bem na frente de seu rosto e tirou
fotos.
— Oh, meu Deus, posso tirar uma foto de vocês dois? —
Um cliente perguntou.
Jada imediatamente balançou a cabeça.
— Desculpe, mas não podemos fazer isso. Nós temos uma
fila para atender.
— Nós não nos importamos — disse a mulher atrás dela. As
outras pessoas na fila rapidamente deram seu consentimento.
Com um esforço hercúleo, Jada forçou os lábios para cima.
— Ok. — Ela se aproximou de Donovan. Ela não olhou
para ele porque, bem, isso era estranho o suficiente.
A mulher abaixou o telefone.
— Sério, pessoal, vocês podem fazer melhor que isso. Vocês
parecem mais com alunos do ensino médio em seu primeiro
encontro do que com o novo casal mais bonito da América.
Ao lado dela, Donovan endureceu ainda mais. Oh, Deus. A
qualquer segundo ele ia desistir dela. Diria às mulheres que ela
era uma mentirosa e que só estava trabalhando lá porque sua
avó havia implorado a ele, seu empregado, para dar um
emprego à neta volúvel. Que eles não estavam de forma alguma,
namorando.
— Não tem nenhum problema. — Donovan chocou o
inferno fora dela envolvendo o braço em volta da cintura dela
e puxando-a contra seu lado. Bom Deus tinha feito esse
homem. Como uma parede de tijolos. Uma parede de tijolos
quente, realmente interessante de ser tocado, eu-quero-
explorar-cada-pedacinho-do-seu-corpo. Ela olhou para cima.
Seus olhos estavam diretamente sobre ela.
Assim, a memória do beijo de ontem passou como um filme
em sua cabeça. Em 4K. O deslizar decadente de seus lábios
contra os dela. Seu suspiro suave. Apesar de sua brevidade, o
poderoso impacto que teve sobre ela não podia ser negado. O
desejo de experimentar novamente o abraço quase a dominou.
Seus olhos escureceram, revelando a verdade. Ele também se
lembrava. Também queria experimentar de novo. Ela mal
estava ciente dos cliques rápidos das câmeras.
— Vocês podem dar um beijo?
Sim, uma ideia fantástica. Espere. O quê? Jada forçou uma
risada e se livrou de seu aperto, o deslizamento de sua mão
aquecendo-a até mesmo através do algodão de sua camisa.
Como seria sem nenhuma barreira? Espere. Não. Isso não ia
acontecer. Ela não queria que isso acontecesse. Certo? Certo.
Donovan tossiu em sua mão como se estivesse chocado com
o pedido. Jada voltou sua atenção para o cliente.
— Não, nós não podemos, desculpe. Um beijo que viralizou
é mais do que esperávamos.
A mulher fez beicinho por um segundo.
— Ah, tudo bem. Que tal uma selfie?
— Claro — disse Donovan, e fez um movimento para
contornar o balcão. Quem era este homem? Para onde foi o
autoritário Donovan, que tudo precisa fazer sentido?
— Jada. — O Senhor Chatonildo havia retornado.
Ah, certo. Eles estavam esperando por ela. Ela correu ao
redor do balcão para ficar do lado direito do cliente enquanto
Donovan ficou do lado esquerdo.
— Digam “X” — disse o cliente, então retrucou. Ela
abaixou o telefone. — Ah, isso é tão legal. Vou postar isso no
Facebook e no Insta agora mesmo. — Ela se afastou. Jada se
moveu para voltar ao seu lugar de direito atrás do balcão, mas o
próximo cliente a deteve.
— Ah, eu também quero uma foto — disse ela.
E assim começou a avalanche de fotos. Eventualmente, Jada
relaxou, seu sorriso se tornando mais natural. Talvez ela
pudesse ganhar a vida como influenciadora, afinal.
— Incomoda você que sua namorada seja uma vadia sem
coração? — A próxima cliente perguntou.
E assim o sorriso dela murchou até a inexistência. Esta era a
pergunta que ela esperava. Tinha experimentado antes de ficar
esperta e parar de verificar suas contas de mídias sociais. A bola
de ansiedade em seu estômago que tinha começado a se acalmar
começou a se contorcer e girar e saltar pelo pequeno espaço
novamente.
— Com licença? — A voz de Donovan atravessou a sala,
calma, forte em sua intensidade, atraindo a atenção de todos os
ocupantes.
Jada colocou a mão em seu antebraço nu.
— Está tudo bem.
— Não, na verdade não está. Ninguém fala com minha
namorada desse jeito.
A mandíbula de Jada se soltou de seu rosto e caiu direto no
chão. Ela não conseguia ouvir mais nada, só o zumbido em sua
cabeça. Quando ela saiu do seu mundo alguns segundos depois,
Donovan estava conduzindo a mulher até a porta e
gentilmente, mas com firmeza, empurrando-a para fora da
porta enquanto os outros clientes aplaudiam. Bem, aqueles que
não estavam gravando o espetáculo.
Ele voltou e ergueu a mão pedindo silêncio. Um movimento
tão básico, mas meio legal. E tão fodidamente quente.
— Obrigado a todos, mas os aplausos não são necessários.
Estamos felizes em servir quem quiser cupcakes e uma foto,
mas não vou tolerar grosserias.
Sua mensagem foi recebida em alto e bom som. Nos trinta
minutos seguintes, eles venderam cupcakes para clientes muito
ansiosos, mas sempre educados.
Jada continuou olhando furtivamente para ele com o canto
do olho. Quem era essa pessoa? Ele teve o seu corpo
sequestrado? Ela estava sonhando? Ela acordaria e seria
lembrada de que ele não tinha nenhum desejo de se associar a
ela de uma maneira romântica? Ele mal tolerava sua relação de
trabalho. Mas ela não acordou. Ele não contradisse ninguém
que comentou sobre seu relacionamento. Na verdade, ele
sorriu e continuou. O seu outro lado apareceria em breve, mas
por enquanto, ela gostava de saber que ninguém ia gritar com
ela e chamá-la de pessoa horrível quando ela menos esperasse.
Finalmente, a fila começou a se dissipar e ele se despediu e
desapareceu no corredor, sem dúvida para seu escritório para
fazer o que quer que ele fizesse em seu computador por horas a
fio. Não que ela prestasse muita atenção ao que ele fazia. Ela
trabalhava lá. Só fazia sentido saber o que estava acontecendo e
quem fazia o quê.
Ainda assim, ela ficou emocionada quando August veio
para substituí-la quando seu turno acabou. Até onde ela sabia,
ela não tinha cometido nenhum erro grave, mas sua mente
estava apenas parcialmente focada no seu trabalho. A outra
parte estava focada no homem que estava ao lado dela e disse o
que disse. Declarando que ela era sua namorada. O que a fez se
sentir como se estivesse no ensino médio, imaginando se o
garoto com quem ela tinha saído gostava dela o suficiente para
querer ser algo oficial. Não que ela quisesse isso com Donovan.
Entrar em um relacionamento não fazia sentido quando tudo
em sua vida era tão incerto e instável.
Ela estava livre para ir embora. Ela deveria ir embora, mas
por algum motivo ela parou na porta do escritório dele. Estava
fechado, o que era bom. Ele não podia vê-la parada ali
parecendo uma tola. Lado positivo.
— Está tudo bem? — perguntou Nicholas. Ele tinha saído
do banheiro, que ficava duas portas abaixo.
Jada tossiu.
— Sim, eu estava prestes a falar com Donovan.
Ele apontou para a porta.
— Não o deixe intimidar você. Eu não acho que ele percebe
que sua, uh, natureza engomada pode ser um pouco
desconcertante para outras pessoas. Seu latido é muito pior do
que sua mordida.
Jada ergueu o queixo.
— Eu não estou com medo.
Ele piscou.
— Bom ouvir isso. — Ele virou à direita, voltando para a
cozinha.
Ela não tinha mentido. Ela não estava com medo. Ela estava
apavorada. O que era ridículo. Ele teve todas as oportunidades
de mandá-la embora, nem contratá-la em primeiro lugar, e ele
nunca fez isso. Não, ele declarou ao mundo inteiro que eles
estavam namorando, e ela precisava descobrir o porquê. Então,
sim, era hora de combinar. Ela bateu rapidamente, sua mão
tremendo levemente na maçaneta da porta em seu comando
— Entre.
Ela abriu a porta e se balançou nos calcanhares. Pela
primeira vez, ele não estava sentado atrás de sua mesa como o
diretor esperando para dar uma detenção a um aluno mal-
comportado. Ele se inclinou contra a mesa, os braços cruzados
sobre o peito largo, o material de sua polo puxando contra seus
bíceps de dar água na boca como se ele estivesse esperando por
ela. Suas sobrancelhas arquearam.
— Você vai entrar ou apenas ficar aí?
Ela ergueu o queixo. Não mostraria medo. Iria encarar seu
caminho através disso, assim como ela fez todos os dias de sua
vida. Ela deu um passo à frente. Para ele. Em direção ao homem
que poderia estragar a sua reputação já destruída com quase
nenhum esforço. Em direção ao homem que a estudou com
um olhar duro e inabalável.
— Eu estava me perguntando quanto tempo levaria para
você aparecer. — Sua voz, profunda e hipnotizante, enviou
uma emoção correndo por ela. Mas ela tinha que ignorar isso.
Ela soltou uma pequena risada.
— Não é todo dia que um homem que declarou que não
mentiria dizendo que estávamos namorando, fez exatamente
isso menos de 24 horas depois. Eu entrei em um loop. — Ela deu
outro passo à frente, atraída por ele. — A questão é por quê.
Por que você fez isso?
Aquele olhar em seu rosto. Ela tentou, mas não conseguia
esconder. Cada emoção estava exposta. Quando aquela mulher
a chamou de vadia sem coração, antes que ela se lembrasse de
usar suas feições de volta em uma pessoa calma e
despreocupada, ele viu a devastação, a dor em seu rosto. E as
palavras saíram de sua boca.
Mais uma vez, ela estava tentando esconder o que estava
sentindo, mas estava lá, girando em seus olhos – confusão,
incerteza e uma esperança cintilante e trêmula. Ela queria que
as pessoas pensassem que ela era uma personagem mundana e
sofisticada – e ela era – mas isso não era tudo o que ela era. Ela
era uma mulher de sangue vermelho com inseguranças,
esperanças e sonhos como todo mundo. Como ele. E ela não
queria que ninguém soubesse. Assim como ele. Ele lidou com
isso tornando sua vida o mais ordenada possível e mantendo-se
o mais equilibrado possível. Ela fez isso com um bom e velho
senso, mesmo quando levou uma no queixo.
Ele não poderia ser o único a decepcioná-la. Ele pegou
alguns papéis em sua mesa.
— Você sabe o que são?
Sua cabeça inclinou para o lado enquanto ela olhava para ele
como se ele tivesse perdido sua maldita mente. Talvez ele
tivesse.
— Não. Eu deveria?
Ele sorriu. Ela o fez sorrir como nenhum outro havia feito
em muito tempo.
— Eles estão analisando nosso site nas últimas vinte e quatro
horas. Não vimos tráfego assim desde a semana de abertura da
Sugar Blitz.
— Isso é ótimo. — Ela mordeu o lábio como se não soubesse
mais o que dizer. E ele não pensou em como seria se fossem seus
dentes mordendo aquele lábio carnudo. O lábio que ele agora
tinha provas irrefutáveis que era totalmente beijável,
inegavelmente mordível.
Ele balançou sua cabeça. Isso não era importante. Nunca
seria importante. Eles eram duas pessoas diferentes que
precisavam tirar o melhor proveito dessa situação estranha.
Que era a única razão pela qual ele estava animado que ela tinha
parado em seu escritório em vez de sair para o dia. Sim.
Ele deu outro passo em direção a ela. Debaixo dos aromas de
baunilha e chocolate que permeavam a loja e agora se
agarravam a ela, ele captou um toque de algo floral. Algo
inebriante. Lírios, talvez.
— É ótimo, e é por isso que pensei um pouco mais na sua
proposta.
Suas sobrancelhas perfeitas se ergueram.
— É por isso que você declarou que estávamos namorando?
— A zombaria era sutil, mas clara. Ele se divertiu. Qualquer
incerteza que ele detectou que ela sentia desapareceu. Esta era a
Jada que basicamente disse que seus cupcakes eram sem graça
na primeira vez que se conheceram. A mesma mulher com
quem tinha sonhado naquela noite, embora não admitisse isso
para ninguém, especialmente para si mesmo.
Ele deu mais um passo à frente. Ele não podia evitar,
realmente não tinha vontade de tentar se conter.
— Sim, e é por isso que quero continuar fazendo isso.
Sua boca se abriu.
— Você está brincando, não é? — ela gaguejou.
— Por enquanto. Jada, eu sei que não nos conhecemos há
muito tempo, mas tenho a sensação de que você acha que eu
não tenho senso de humor. Se formos com essa premissa, é
claro que não estou brincando.
— Mas você disse, e eu falo: “Eu faço de tudo para ter uma
vida organizada. Eu não quero me distrair.” — Ela engrossou
sua voz em uma tentativa horrível de imitá-lo. Ele lutou para
evitar que seus lábios se contraíssem.
Ele realmente estava soando como se tivesse um pau na
bunda?
— Eu disse isso. No entanto, não posso ignorar a fila do lado
de fora daquela porta. Minha irmã me disse que ganhamos dez
mil fãs em nossa conta do Instagram desde ontem. Os pedidos
online aumentaram trezentos por cento. Tudo por causa do
interesse em nossa vida amorosa.
— Mas não estamos namorando. Não existe “nossa vida
amorosa”. — Seus olhos eram grandes e arregalados.
Ele não podia, não se perderia neles. Este foi um movimento
lógico, nada mais, nada menos.
— Eu pensei que você estaria pulando por causa disso. Foi
ideia sua, afinal.
— Sim, mas eu tive tempo para pensar. Estou tentando ir
para uma nova página. Não sendo tão impulsiva. Realmente
estou tentando assumir o controle da minha vida. — Suas mãos
entrelaçadas em sua cintura, suas unhas perfeitamente cuidadas
pintadas de um lindo tom de lavanda.
Ele não deveria estar notando um detalhe tão pequeno sobre
ela, mas ele notou Se ele estava sendo honesto consigo mesmo,
notou tudo sobre ela.
— Eu entendo esse desejo.
Sua cabeça levantou.
— Mesmo?
Ele assentiu.
— Eu não cresci no ambiente mais estável, então procurei
tornar minha vida o mais estável possível quando me tornei
adulto. — Ele abriu os braços. — Abrir uma loja de cupcakes é
a coisa mais impulsiva que fiz em anos, mesmo que tenha feito
todo tipo de análise para ter certeza de que seria um bom
investimento.
— Até agora. Porque você quer namorar comigo. — Seus
lábios, pintados de um vermelho profundo, curvaram. Seu
sangue se agitou. Ele conhecia o gosto daquele gloss e o adorava.
— Namoro falso. — Ele precisava se lembrar desse fato, se
ninguém mais.
Ela riu.
— Sim, meu bem. Namoro falso.
— Preciso que esta loja seja um sucesso, que permaneça
estável, e a única maneira de fazer isso acontecer é ter mais
clientes. Já pensei nisso.
Ela cruzou os braços.
— E a que conclusões ordenadas e baseadas em evidências
você chegou? — Jada voltou a rir silenciosamente dele. Você
poderia derrubá-la, mas ela sempre se levantaria, pronta e
disposta a colocá-lo em seu lugar. Ele ordenou a si mesmo que
não sorrisse.
— Que não temos que fazer muito mais do que fizemos
hoje. — Ele marcou os pontos um por um em seus dedos. —
Trabalhamos aqui juntos. Não discutimos.
Seu nariz enrugou.
— Ahh, sério? Isso não parece divertido.
Ele continuou como se ela não tivesse falado.
— Nós não negaremos quando alguém afirmar que estamos
namorando. Tiramos fotos quando alguém pedir. Se alguém
nos pedir um beijo, recusamos como fizemos hoje.
— Sem beijos, hein? — ela bateu no peito dele com um
único dedo. Foi o mais breve dos toques, mas fez sua frequência
cardíaca disparar de qualquer maneira. Ele precisava se
controlar. Como agora mesmo. Foi também um lembrete de
porquê beijar estava fora de questão. Ele gostava de ordem. Ele
gostava de ficar no controle. E ontem, ele perdeu o controle
temporariamente quando a beijou de volta. Ele não precisava
de nenhuma distração, e ela praticamente tinha uma luz de
neon acima de sua cabeça que soletrava DISTRAÇÃO.
Então por que você está tentando convencê-la a fazer isso,
idiota? Porque fazia sentido, dada a sua situação. Ele precisava
aumentar os negócios da loja para poder contratar um gerente
em breve. Se as pessoas apareciam porque achavam que
estavam namorando, não importava, desde que comprassem
cupcakes, o que o ajudaria a atingir seu objetivo. Isso era tudo.
Ela estava balançando a cabeça.
— Eu não estou arrastando você para minha bagunça. Eu
fui impulsiva. Eu tenho trabalhado nisso.
Ele implacavelmente freou o pânico que tentava afundar
suas garras nele em sua tentativa de desistir de sua proposta. Isso
era tudo uma questão de razão.
— É por isso que temos essas regras. Deve ser bem simples.
Vamos continuar a onda enquanto podemos. Não espero que
a atenção dure muito, mas se isso aumentar o reconhecimento
da nossa marca e conquistar alguns novos clientes, valerá a
pena. — Ele inclinou o queixo dela para cima porque, na
verdade, ele não deveria ter a chance de tocá-la? Afinal, ela o
havia escaldado através de sua camisa. — Preciso lembrá-la de
que essa farsa ajudará a salvar sua reputação e lhe dará uma
armadura para te proteger das flechas que serão disparadas em
seu caminho? Eu não esqueci o que aquela mulher disse lá fora.
Ou o que você disse ontem. Há mais pessoas por aí como ela,
certo? Pessoas que gostam de ser más com você, que não
hesitam em te chamar de todos os tipos de nomes.
Seus olhos se arregalaram. Ela assentiu. Ele acenou de volta.
Sim, ele sabia, e estava aqui para ajudar. Era a verdade. Sim, ele
era um bastardo egoísta por usá-la para seus próprios
propósitos, mas isso não significava que ele gostava de ver
aquele olhar de dor em seus olhos.
Então ela desviou o olhar.
— Ainda não tenho certeza se isso é uma boa ideia. Se tem
uma coisa que aprendi, é que nem toda atenção é boa.
— É por isso que estamos nisso juntos. Vamos confiar um
no outro. Vamos controlar a situação. — Ele estendeu a mão.
— Combinado?
Seus dentes agarraram seu lábio inferior enquanto ela
considerava sua oferta. Ele reprimiu um gemido. Ele não
deixaria uma ação involuntariamente sexy chegar até ele. Ele
estava no controle. Ele estava sempre no controle. Ele poderia
lidar com uma atração inconveniente, especialmente porque a
fonte da atração vivia o levando para um lugar que ele não sabia
se podia ir mais longe. Isso era o melhor para a Sugar Blitz.
E para ele?
— Será uma aventura — acrescentou.
— É mesmo, não é? Nunca resisto a uma aventura.
Combinado. — Seus olhos estavam brilhando. Sua mão suave
deslizou na dele, o deslizamento de suas palmas uma contra a
outra enviando uma onda de prazer pelo seu braço e sua
espinha.
Donovan engoliu o nó na garganta. No que diabos ele tinha
se metido?

∗∗∗

— Ei, Kendra, como posso te ajudar hoje? — Jada perguntou,


com um sorriso amigável.
A mulher vestida de calça cáqui e uma camisa de botão
apontou para a vitrine.
— Aqueles estão chamando minha atenção. Vou levar dois.
— Excelente escolha. — Sem outra palavra, Jada pegou dois
cupcakes de abóbora da vitrine e os empacotou. Esta tinha sido
a terceira vez de Kendra na loja esta semana. — Como está sua
mãe?
— Melhor. Ela tirou o gesso do braço e agora voltou a subir
as escadas como se nada tivesse acontecido. Isso está nos
deixando loucos, mas ela insiste que foi apenas um acidente e
ela não vai mudar seu estilo de vida. Não temos escolha a não
ser concordar. Meu pai prende a respiração toda vez que ela se
move, mas o que podemos fazer?
Jada balançou a cabeça em consideração. Vovó era
conhecida por sua teimosia.
Kendra entregou seu cartão de crédito.
— Você vai conseguir ir ao clube do livro na quinta-feira?
Jada passou o cartão e o devolveu.
— Vou tentar. Ainda não terminei o livro, mas estou
tentando.
— Garota, não deixe isso te impedir de ir. Metade das
pessoas aparece pelas bebidas e lanches grátis.
Jada riu.
— Vou me lembrar disso.
Kendra fez uma careta.
— Não tenho certeza de quanto tempo mais poderemos nos
encontrar.
Jada encostou o quadril no balcão.
— Por que não?
— O restaurante onde nos encontramos diz que eles querem
sua sala de volta nas noites de quinta-feira. Eles podem ganhar
mais dinheiro com a venda de alimentos do que com o nosso
insignificante aluguel da sala. Não conseguimos encontrar um
lugar grande e barato o suficiente com uma localização tão
central. — Ela deu de ombros. — É uma merda, mas é o que é.
Provavelmente verei você amanhã quando não precisar pensar
na situação. Tchau.
Jada se acalmou. E se…?
Seus dedos formigavam de excitação.
Não. Não era da conta dela. Literalmente não era da conta
dela. Mantenha sua boca fechada. Jada mordeu o lábio porque
certamente isso a impediria.
A mão de Kendra empurrou a porta.
— Espere!

∗∗∗

— Como você sabe o que ela costuma pedir? — Donovan


perguntou várias horas depois. Ele estava observando Jada nos
últimos minutos. Aparentemente, ele estava esperando por
Nicholas e August para que pudessem ter uma reunião. Isso
não explicava por quê ele precisava fazer isso no balcão da
frente em vez da mesa que ele havia pedido no canto da loja. Ele
disse a si mesmo que estava apenas certificando-se de que sua
mais nova funcionária estava se instalando. Logo depois, ele
disse a si mesmo que era um mentiroso. E ainda assim ele não
se afastou.
Ela deu de ombros.
— Sou boa em memorização. É meio que meu sobrenome.
Ela vem aqui todas as manhãs. Quero dizer, os baristas do meu
Starbucks favorito sabem do que eu gosto e pensei em
continuar a prática aqui. — Ela inclinou a cabeça para o lado.
— Você sabe o que alguns de seus clientes que vem com mais
frequência gostam?
— Não. Essa parte fica com Nicholas. — Ele franziu a testa.
Isso era algo que ele nunca tinha pensado. Ele era mais um cara
de números. Se eles oferecessem produtos de qualidade, as
pessoas retornariam e ganhariam dinheiro. Fácil-fácil.
Ela estalou.
— Ok, cara. Já que ele passa mais tempo na cozinha
aperfeiçoando suas receitas, acho que cabe a mim saber disso.
Acho que é bom para os negócios. Terry gosta de baunilha com
granulado. Bobby da farmácia da esquina gosta de red velvet.
— Ela o estudou. — Você precisa de algo?
Por que a pergunta o fez se sentir como um intruso em seu
próprio negócio?
— Oh, não. Apenas checando.
Ela sorriu.
— Oh, tudo bem. Estou bem. Nada de novo a relatar.
O que deveria ter sido sua deixa para se retirar para sua mesa
e seus relatórios e se preparar para sua reunião. Mas ele não
queria ir embora. Ele gostava de conversar com ela. O que
estava bem. Não havia mal nenhum em admitir isso.
Antes que ele pudesse inventar uma desculpa não
embaraçosa para o motivo de ainda estar ali, um cliente se
aproximou pedindo uma foto. Ele deveria estar acostumado
com isso. De certa forma, ele estava. Como um atleta
profissional de alto nível, os pedidos de selfie eram bastante
comuns. Mas ficar ao lado de Jada, muitas vezes com o braço
em volta dela como se fossem um casal verdadeiro, era
inquietante.
Ela se acomodou contra ele, de costas para ele, como se esta
fosse uma posição natural para eles. Como se tivessem feito isso
um milhão de vezes. Como se eles se encaixassem, duas peças de
conexão em um quebra-cabeça. Suas mãos pendiam ao seu
lado, mas formigavam com o desejo de levantar sua camisa e
tocar sua pele macia. O leve aroma de seu perfume o envolveu,
o mesmo cheiro que o assombrava em seus sonhos. Ela olhou
para ele e sorriu. Tudo o que ele tinha que fazer era se inclinar
para provar aqueles perfeitos lábios. Sua língua apareceu como
se ela também estivesse se lembrando de seu beijo muito breve.
— Ei, Donovan, você está pronto?
Jada saltou para longe dele. Ele instantaneamente sentiu
falta da pressão do corpo dela contra ele. Seu calor. Ela. O que
era completamente ilógico.
Donovan ignorou o sorriso no rosto de Nicholas e se juntou
a seu parceiro de negócios do outro lado do balcão.
— Sim. Onde está August?
— Estou aqui — disse August, entrando na loja pelos
fundos.
Donovan bateu palmas, determinado a ignorar o modo
como o sangue em suas veias continuava a bombear dez vezes
mais que o normal. Ele marchou até a mesa no canto e se
sentou.
Nicholas estendeu a mão enquanto se sentava.
— Me dê meu dinheiro, August.
Donovan gemeu. Ele não queria saber, mas precisava saber.
— No que vocês apostaram?
— Que você mudaria de ideia sobre o namoro falso.
Donovan olhou para os dois.
— Sério?
— Sim — disse Nicholas enquanto August abria sua
carteira. — Eu sabia que você ia ceder, mas August tinha suas
dúvidas.
August deu de ombros enquanto batia a nota de vinte
dólares na palma da mão de Nicholas. Ele abaixou seu corpo
grande em outra cadeira.
— Eu pensei que você iria manter a ordem e a verdade como
você sempre faz.
Nicholas deslizou a nota no bolso da calça.
— Mas eu que acertei.
Donovan revirou os olhos. Ele não ficou surpreso com
nenhuma dessas atitudes. Embora negasse até os confins da
terra, Nicholas era um romântico que não queria admitir isso.
August, por outro lado, conhecia de perto e pessoalmente as
desvantagens do amor.
— Podemos focar no motivo real dessa reunião, por favor?
Como vamos aumentar as vendas? Estamos ficando sem tempo
para chegar aonde queremos antes de contratar um gerente —
disse ele. — Alguém tem alguma ideia? Qualquer opinião
conta. — Donovan apontou para seus dois parceiros de
negócios.
August e Nicholas olharam para ele com duas expressões
vazias em seus rostos.
Donovan se recostou na cadeira.
— O quê?
— O objetivo de você “namorar” Jada não é aumentar as
vendas? — August perguntou, usando dois dedos para aspas no
ar.
— Ou você está fazendo isso para se aproximar dela? —
Nicholas interveio. — Quero dizer, eu reconheço um clima
quando vejo um.
— Clima? — August ecoou.
— Não, você não reconheceu um, idiota — Donovan
respondeu. — Não houve um clima.
Nicholas bufou.
— Talvez tenha se passado muito tempo desde que você
transou, você não reconhece quando rola um clima com uma
mulher bonita, inteligente e encantadora.
Donovan esticou o pescoço para ter certeza de que Jada não
tinha ouvido, então olhou para Nicholas.
— Primeiro, cale a boca. Segundo, sim, o objetivo de Jada e
eu fingindo namorar é aumentar as vendas, mas não podemos
confiar nisso. Algo novo e lascivo acontecerá amanhã para
desviar a atenção das pessoas, e seremos notícia velha.
Precisamos de algo um pouco mais substancial para manter o
ritmo. Não sei vocês, mas eu gosto de vendas. Isso é uma coisa
que os últimos dias me ensinaram. Posso mostrar-lhe os
relatórios. — Ele fez um movimento para entregar suas
planilhas codificadas por cores com seus gráficos e figuras
meticulosas.
— Não, estamos bem. — Nicholas rapidamente falou.
August ergueu as mãos em sinal de rejeição. Donovan riu e
colocou os papéis de lado. Seus sócios contavam com ele para
lhes dizer o que estava acontecendo com suas finanças, mas
nenhum deles gostava de se envolver no mundo dos números
diariamente. Mensalmente era o tempo que tinham. Duas vezes
por mês se eles estivessem se sentindo bem-dispostos.
August levantou um ombro.
— Uma promoção?
Nicholas assentiu.
— Isso sempre ajuda.
Donovan fez uma careta.
— Sim, mas eu esperava que pudéssemos chegar a algo que
traga um retorno maior, um retorno a longo prazo. Precisamos
pensar em algo maior.
Nicholas recostou-se na cadeira.
— Precisamos postar mais nas redes sociais. Estamos muito
parados por lá.
Donovan suspirou. Ele não odiava as redes sociais, mas eles
estavam ocupados demais para dedicar muito tempo a elas.
Antes de abrir a Sugar Blitz, ele perguntou a Sloane se ela
estaria interessada no trabalho, mas ela se manteve firme em sua
recusa, dizendo que queria estabelecer sua carreira fora da
sombra dele. Como resultado, eles contrataram uma empresa
para manter seu site e contas de mídias sociais, e postaram
regularmente, mas eles nunca moveram uma agulha pra nada.
Alguém limpou a garganta atrás dele. Não alguém. Mas
Jada. Donovan se virou em seu assento.
— Sim, Jada?
— Eu ouvi vocês conversando.
Ela ouviu? Tudo? Nicholas deu uma risadinha. Donovan ia
matá-lo. O que levaria mais tempo e causaria mais dor? Ele teria
que fazer alguma pesquisa. Ainda bem que ele adorava
pesquisar.
Jada sentou-se no único lugar aberto da mesa. Bem ao lado
de Donovan.
— Você teve um problema graças ao nosso pequeno
esquema, mas acho que nós dois sabíamos que não seria
sustentável para sempre. Nós realmente não fizemos nada para
alimentar o monstro da fofoca, por assim dizer.
Nicholas falou.
— Talvez vocês devessem…
Donovan franziu a testa.
— Talvez devêssemos o quê?
— Alimentar o monstro.
— O que isso significa exatamente? — Se seu amigo
sugerisse que ele e Jada tivessem uma sessão de amassos para as
câmeras, ele iria chutar sua bunda hoje, agora mesmo.
— Saíam para um encontro. Sejam vistos. Você passa todo
o seu tempo aqui. Há outros lugares em San Diego, pelo que
vejo.
Donovan revirou os olhos.
— Você namora o suficiente por nós dois.
Nicholas inclinou a cabeça.
— Sim, mas todo mundo espera isso de mim e ninguém
percebe. Ninguém posta vídeos dos meus encontros no
Twitter. Se você e Jada forem a um encontro em um lugar
muito público, eu garanto que eles vão.
Sair com Jada? Em um encontro? Agir como casal? Sem
chance. Ele não podia. Eles não podiam. Era uma ideia ridícula.
Ele se virou para August, mas seu primeiro melhor amigo
apenas deu de ombros. Ótimo. Isso significava que ele não
achava que era uma ideia terrível. Donovan balançou a cabeça.
— Não.
— Bem, que tal uma aparição na televisão? — perguntou
August.
— O quê? — De onde isso veio? Seus amigos estavam
conspirando pelas costas para bolar o plano mais estranho para
torturá-lo?
August deu de ombros casualmente, como se não tivesse
jogado uma bomba enorme no processo.
— Bem, um de nós precisa monitorar o e-mail comercial, e
nós – bem, você e Jada – receberam um pedido hoje para
aparecer no Good Day, San Diego.
Nicholas se inclinou para frente, seus olhos brilhando com
o desejo de causar mal e aumentar o caos.
— Eu gosto disso. Vá fazer alguns cupcakes, mencione a loja
um milhão de vezes, aja de forma amorosa e arranje-nos
algumas vendas. Imprensa positiva. Serão uns cinco minutos.
— Ele estalou os dedos. — Ou você pode seguir minha ideia
original de um encontro falso em um lugar muito público…
estou pensando em uma câmera de beijo em um jogo de
basquete.
— San Diego não tem time. — Tecnicamente era verdade,
mas Donovan estava se agarrando às migalhas e não se
importava. Ele precisava impedir que este trem despencasse
ainda mais.
— Los Angeles fica bem pertinho. — Aparentemente,
Nicholas estava determinado a manter o trem andando fora dos
trilhos. — Eles têm dois times de basquete. E eles têm paparazzi.
Melhor ainda. — Ele sorriu com o sorriso de um bastardo
presunçoso. Donovan ia matá-lo.
Jada ergueu a mão. Ela parecia um pouco em pânico, como
se as ideias de Nicholas e August a tivessem assustado, o que ele
não levaria para o lado pessoal. Uma de suas regras era fazer o
mínimo. O mínimo não incluía sair em um encontro ou
aparecer em um programa de TV como um casal.
— Hum, pessoal, por mais interessantes que essas ideias
pareçam, eu estava pensando mais em trazer o clube do livro do
bairro para cá — disse ela. — O lugar habitual deles vai expulsá-
los de lá.
Donovan franziu a testa.
— Não somos uma livraria ou uma biblioteca.
— Não, mas você tem um espaço grande o suficiente com
cadeiras confortáveis. Eles precisam de um espaço. Muitos
deles provavelmente nunca estiveram aqui antes e, se estiveram,
nunca é demais lembrá-los de que é um ótimo lugar. E... ahh...
— Desembucha. — Sempre que ela começava a gaguejar
assim, nunca significava coisas boas para ele.
Ela torceu o nariz.
— Eu meio que posso ter dito a eles que eles poderiam usar a
Sugar Blitz. Eu sinto muito. Eu sei que deveria ter perguntado,
mas Kendra parecia tão triste e este lugar é perfeito e não fique
bravo, por favor. Eu realmente acho que vai ser perfeito.
— Você fez o quê? — Algo começou a latejar atrás de seu
olho direito.
— Sabe, você deveria ir a um médico para olhar essa veia na
sua testa. Confirmar se está tudo bem com você.
O pulso bateu mais forte.
— Jada.
— Eu ia contar a você depois que meu turno acabasse, mas
você convocou esta reunião muito importante com seus
parceiros de negócios, então eu não pude. Mas então eu ouvi o
que você estava falando.
— Porque você estava atrás da porta — ele mordeu.
Nicholas limpou a garganta. Certo. Ele estava soando como
um idiota. Donovan acenou com a mão.
— Por favor, continue.
Jada respirou fundo.
— Eu posso lidar com tudo. Você não precisa fazer nada.
— O que é ótimo, mas não estamos prontos. Não estamos
preparados para trazer uma reunião do clube do livro. Não
podemos simplesmente abrir nossa loja para o caos.
— Cara. — August falou.
Donovan se conteve novamente. Certo. Ele precisava
relaxar. Ele soava como um zumbi, e foi ele quem pediu ideias.
Ele ergueu a mão.
— Que tipo de clube do livro?
— Romances. — Jada disse.
Ele poderia lidar com isso. Quão ruim poderia ser? Ele
suspirou.
Jada se endireitou, a ansiedade se espalhando por seu rosto
expressivo.
— Isso é um sim?
Ele a olhou de lado.
— Você já não disse a eles que sim?
Ela desviou o olhar por um segundo.
— Sim, mas eu não sou a dona deste lugar.
— Ah, então agora você se lembra disso. — Ele ignorou os
olhares de desaprovação de seus amigos. Ei, ele era quem ele era.
O sarcasmo era o resultado quando seu mundo ficava fora de
ordem.
Ela pulou, agora explodindo de energia, claramente não
mais perturbada por sua atitude.
— Vou entrar em contato com eles para arrumar tudo.
— Você vai planejar isso.
Ela se virou para ele.
— Quero dizer, sim, se estiver tudo bem. — Havia aquela
vulnerabilidade que ela tentou tanto esconder. A
vulnerabilidade que ele achava impossível resistir.
Lutando contra o desejo de pegar a mão dela, ele assentiu.
— Está bem.
— Prometo não queimar o lugar. — Um sorriso,
deslumbrante em sua intensidade e beleza, espalhou-se por seu
rosto.
Incapaz de resistir, Donovan se levantou, aproximando-se
dela como se ela fosse um ímã.
— Claro que você não vai. Eu estarei aqui. — Ele gesticulou
em direção a seus parceiros de negócios. — Todos nós
estaremos.
Ele ignorou os gemidos iguais de Nicholas e August.
Jada pegou o olhar de Kendra e deu o que ela esperava ser um
aceno firme e autoritário. Já era hora. O primeiro evento depois
da Sugar Blitz fechar, que Jada organizou em menos de dois
dias. Nada demais. Oh, Deus, ela ia vomitar. Jada enxugou as
palmas das mãos suadas no vestido.
Kendra se levantou e limpou a garganta.
— Antes de tudo, gostaria de agradecer a Jada por
recomendar que mudássemos nossas reuniões para cá e aos
proprietários da Sugar Blitz por nos permitir usar seu espaço e
por fornecer cupcakes e bebidas para desfrutarmos enquanto
estamos aqui. — Kendra abriu os braços, alegria brilhando em
seus olhos. — E também por nos agraciar com suas presenças
esta noite.
As outras oito mulheres aplaudiram e riram enquanto
lançavam olhares para os três homens presentes. Nicholas
acenou, como de costume, enquanto August estava pregado na
parede no fundo da sala, sem dúvida desejando poder se juntar
a ela. Donovan estava sentado com os braços cruzados,
examinando a situação, como se não pudesse esperar pela
chance de declarar a noite um desastre sem precedentes.
Ou talvez fosse apenas a imaginação hiperativa de Jada. Os
nervos lutavam com a esperança na boca do estômago. Ela não
tinha certeza de qual lado venceria.
Ela queria que esta noite corresse bem. Ela realmente queria
que esta noite corresse bem. Esta foi a ideia dela, afinal. Sua
chance de provar que ela não era uma merda e tinha algo a
acrescentar à Sugar Blitz além de sua notoriedade.
Pelo menos o lugar parecia bom. Menos estéril. Com a ajuda
silenciosa de August, ela acrescentou alguns toques festivos,
incluindo a colocação de pôsteres dos livros que o clube havia
lido no ano passado em cavaletes ao redor da sala. Vasos cheios
de flores vermelhas e roxas para imitar a capa da escolha desta
noite, serviram como peças centrais em todas as mesas, junto
com algumas lâmpadas para aquecer o espaço. Ela queria fazer
mais, mas estava com o tempo curto.
Ela estudou cuidadosamente o menu de bufê da Sugar Blitz
antes de fazer um pedido a Nicholas. Ela queria uma variedade
de cupcakes para que as pessoas pudessem experimentar novos
sabores divertidos e, ao mesmo tempo, ter o substituto dos
favoritos.
Nicholas havia aumentado a aposta, decorando as
sobremesas com cavalos, botas de caubói e chapéus. As
mulheres faziam ooh e aah com sua atenção aos detalhes.
Nicholas, obviamente, aproveitou a oportunidade para flertar
com as integrantes do clube, para seu deleite, quando entregou
os assados. A confeitaria também fornecia limonada, suco, café
e, mais importante, vinho, porque, de acordo com Kendra – o
que eram livros sem vinho? –, lógica infalível, na verdade.
As integrantes do clube já estavam se divertindo enquanto
se misturavam e elogiavam uns aos outros em suas roupas antes
do início da reunião. Todos usavam suas melhores roupas de
faroeste, que variavam de chapéus de caubói de plástico da
Party City, a botas de caubói de verdade e camisas de faroeste
com franjas de camurça.
Jada tinha um guarda-roupa amplo e variado, mas roupas
ocidentais não eram muito sua praia. Ela usava um vestido jeans
que a atingiu em botas de salto alto de camurça marrom que
poderiam se qualificar como ocidentais se alguém apertasse os
olhos com força. Donovan deu uma olhada nela, examinou sua
figura da cabeça aos pés com seus inescrutáveis olhos escuros, e
então se sentou na cadeira ao lado dela. Ele não tinha falado
uma palavra desde então. Ela estava tentando não levar o
silêncio dele para o lado pessoal.
— Estamos felizes em receber vocês aqui — disse Donovan
em resposta a Kendra, sua voz profunda contrariando a maioria
das outras vozes na sala.
Kendra assentiu e ergueu sua cópia de No Cowgirl Left
Behind.
— Todos nós tivemos a chance de ler o livro?
As integrantes do clube assentiram. E Donovan também.
Espere. O quê? Jada se inclinou.
— Você leu? — ela sussurrou.
— Isso não era uma cláusula para aparecer aqui? — ele
murmurou, virando a cabeça, colocando seus rostos, suas bocas,
a milímetros de distância. Ela inalou seu cheiro limpo e fresco
enquanto um arrepio de desejo deslizou por sua espinha. Seus
olhos estavam fixos nela, como se não houvesse mais ninguém
na sala. — Olhe só. Eu tenho o poder de surpreendê-la.
Ele não tinha ideia. Ele tinha o poder de fazê-la desejar
coisas, sentimentos que ela negou a si mesma por tanto tempo.
Sua respiração acelerou.
— Agora, haverá tempo para essas coisas amorosas mais
tarde — disse Kendra, para gerar risos das pessoas que tinham
comparecido. Com o coração acelerado, Jada recuou,
acomodando-se na cadeira. A distância não fez absolutamente
nada para impedi-la de sentir cada movimento de seu corpo ou
inalar o leve aroma de sua colônia.
— Estou tão feliz que você leu o livro, Donovan. — Kendra
continuou. — Estamos sempre ansiosos para obter uma
perspectiva masculina, mas isso só acontece de vez em quando,
quando um parceiro masculino se junta a nós. E esse é você
desta vez!
Donovan ergueu as mãos, parecendo um pouco
desconfortável, o que ela não achou adorável.
— Não tenho certeza se tenho muito a oferecer, mas estou
feliz por estar aqui.
— Nós amamos um homem que compartilha os interesses
amorosos, não é, senhoras?
As mulheres, por decreto universal, sorriram para ele. Jada
apertou os lábios para impedir que um gemido escapasse. Não
só eles teriam que manter a farsa esta noite, as mulheres estavam
olhando para o diretor cético como se ele fosse algum herói
conquistador voltando para casa.
E ela não podia culpá-las exatamente.
Isso não estava no plano, e ela precisava colocar a cabeça no
lugar agora. Ela pulou.
— Alguém quer beber vinho? — ela perguntou, quando
todos se viraram para olhar para ela.
Ela suspirou de alívio quando algumas mulheres estenderam
suas taças de vinho. Ela fez uma pesquisa contundente para
encontrar os melhores vinhos para combinar com cupcakes.
Segundo a internet, tratava-se mais do esforço do que da
execução. Qualquer vinho era bom com cupcakes, desde que
fosse abundante e fluido. Ela tinha ido com um bom Moscato.
As mulheres pareciam ter gostado. Elas beberam
generosamente entre mordidas de cupcakes.
Jada examinou a sala mais uma vez. No geral, tudo parecia
bem e as mulheres pareciam satisfeitas. Era verdade que elas
estavam apenas felizes por ter um lugar para sua discussão, mas
ela queria que elas se divertissem e se sentissem confortáveis
também. Uma casa longe de casa. Talvez recomendassem a seus
amigos e voltassem.
Kendra assentiu.
— Vamos começar. Esta história acompanha Becca, uma
proprietária de um rancho de cavalos, e Carlton, que teve a
infelicidade de receber o nome de um personagem em uma
comédia, mas superou esse fato digno de risadinha para se
tornar um proprietário de sucesso de vários hotéis boutique.
Ele vem para ficar no rancho dela porque está pensando em
comprá-lo e transformá-lo em um rancho que tem cama para
pessoas dormirem e café da manhã, e as travessuras acontecem,
como costumam acontecer em romances. Então Becca e
Carlton vão se conhecendo, tudo bem fofinho, quando ele
literalmente cai aos pés dela.
— O que é exatamente o oposto do que geralmente
acontece em romance — disse uma mulher chamada Cara, de
acordo com seu crachá. As outras mulheres assentiram.
— Graças a Deus. Que mulher não quer um homem bonito
aos seus pés? — disse Alex, outra integrante do clube.
— Sim, garota, sim — disse outra mulher chamada Lydia,
levantando a mão para um toca aqui.
— Quando Carlton chega ao rancho, ele não diz a Becca
porque está lá — disse Kendra. O grupo gemeu em uníssono.
Jada não as culpava. Toda leitora de romance sabia que quando
um interesse amoroso guardava segredos, a desgraça certamente
seguiria.
— O que você acha disso, Donovan? — perguntou Kendra.
Todos os olhos se voltaram para ele. Para seu crédito, ele não
murchou sob a atenção. Ele claramente recuperou o equilíbrio
e, ao contrário dela, não estava obcecado com aquele momento
em que estiveram perto o suficiente para se beijar.
— Bem, eu geralmente sou fã de honestidade, é a melhor
política. No entanto, ele havia ouvido acidentalmente a
conversa dela dizendo que ela nunca ouviria ninguém tentando
comprar o rancho e os jogaria fora na primeira oportunidade.
Ele também não tem certeza se quer comprar o rancho. Ele
estava lá apenas para obter informações sobre a terra.
Jada tinha ouvido o suficiente.
— Cara, vamos. Ele quer comprar o rancho. Nós todos
sabemos isso.
— Ele sabe que não quer levar uma surra antes mesmo de
poder dizer olá.
As mulheres riram. Claro que sim. Jada revirou os olhos. Ela
não se deixaria enganar pelo charme dele. Ela nem queria
admitir que ele tinha charme.
— Você sempre foi honesto com suas namoradas,
Donovan? — Lydia perguntou.
Ele assentiu sem hesitar.
— Sim, eu tento.
— Isso é verdade, Jada?
Ela o considerou. Considerado como ele a tratou desde o
primeiro dia, e como ele nunca tinha sido menos do que franco
com ela. E como ela apreciava isso.
— Sim, ele nunca teve medo de me deixar saber o que estava
em sua mente.
Ele nem tentou esconder seu sorriso. Seus olhos se
estreitaram. Então eles rolaram quando as integrantes do clube
suspiraram em uníssono. Agora elas teriam visões do Príncipe
Encantado dançando em suas cabeças. E talvez você também.
Jada balançou a cabeça. Ok, novamente, isso foi o suficiente
desse pensamento ridículo.
Felizmente, Lydia voltou sua atenção para outro lugar.
— E você, Nicholas?
— Acredito que a honestidade é a melhor política — disse
Nicholas, esfregando a nuca —, o que nem sempre me serviu
bem quando se trata de terminar um relacionamento.
Os olhos de Kendra se estreitaram.
— Então você é o tipo de amor que fica, mas não se apega a
pessoa?
— Bem…
— Sim. — Donovan entrou na conversa. Todos riram.
A discussão continuou com Donovan e Nicholas dando seu
ponto de vista masculino sobre a história, com as mulheres e
suas vaias bem-humoradas toda vez que defendiam Carlton por
não admitir a verdade, embora ele tivesse várias oportunidades
de fazê-lo. Todos concordaram que Becca e Carlton eram
perfeitos um para o outro.
Centímetro a centímetro, a tensão derreteu-se dos ombros
de Jada e a esperança fez com que os nervos de seu estômago
diminuíssem. O vinho fluiu e os cupcakes foram engolidos com
uma apreciação desenfreada. O sucesso estava oficialmente ao
seu alcance.
Quando a discussão chegou ao fim, Kendra juntou as mãos.
— Jada, além de beber vinho e discutir um livro, gostamos
de fazer uma atividade diferente a cada mês para realmente fazer
com que nosso clube do livro se destaque entre outros grupos.
— Oh, tudo bem. — Desconforto deslizou por sua pele.
Porque ela não sabia o que Kendra estava prestes a dizer. Eles
estiveram em contato constante nos últimos dias.
Ela ignorou o olhar intenso de Donovan perfurando um
buraco na lateral de seu rosto. Ele gostava de ordem. Ele queria
saber tudo antes que acontecesse.
Kendra se inclinou para frente.
— Rose é uma fotógrafa que faz sessões de fotos
personalizadas. — Ela apontou para uma mulher acenando
sentada em uma mesa a poucos metros de Jada. — Estávamos
interessados na ciência por trás das sessões de fotos de capa, e
ela prometeu nos mostrar como elas funcionam. No entanto, o
modelo masculino desistiu no último minuto, então pensamos
em fazer com que as integrantes do clube do livro posassem
individualmente como Becca com um fundo com tema de
rancho de cowboy.
— Tudo bem — disse Jada lentamente. Isso não soava
muito ruim. Não era como se ela não gostasse de ser
fotografada… bem, antes de toda a coisa de vilã da TV
acontecer, de qualquer maneira.
A voz de Kendra se elevou com muito entusiasmo.
— Mas com Donovan aqui, nós adoraríamos se vocês dois
recriassem a capa. Podemos exibir a foto em nosso site e contas
de mídias sociais e esperamos atrair mais membros. Vocês dois
são tão bonitos que faz todo o sentido fazerem isso.
O sangue nas veias de Jada cristalizou. Ainda bem, porque
correr gritando pela noite não enviaria a mensagem certa, e
provavelmente levaria a mais um momento viral nas redes
sociais. Ao lado dela, o rosto de Donovan ficou completamente
em branco.
— Vocês têm uma química incrível. Vocês vão ser ótimos.
— Kendra continuou, como se ela tivesse que convencê-los,
claramente atribuindo o silêncio deles à vergonha de se colocar
na frente da câmera, e não ao fato de que eles não estavam
namorando.
Jada balançou a cabeça.
— Eu não tenho certeza…
— Ah, não, vocês têm que fazer isso — Nicholas entrou na
conversa. August se afastou da parede para finalmente se juntar
ao grupo e acenar com a cabeça em aprovação a este novo
desenvolvimento.
Donovan olhou para seus amigos. Nicholas e August
sorriram de volta, claramente não intimidados por seu melhor
amigo. Ela acrescentou seu brilho à mistura. Seus sorrisos
diminuíram um pouco, mas eles não retiraram seus endossos.
Enquanto Rose se movia para preparar a sessão de fotos
improvisada, o olhar de Jada caiu para o livro em seu colo. A
capa era bem mansa em comparação com muitos outros
romances. O modelo masculino usava uma camisa abotoada, o
que, bem, não era um problema. Ela não iria fantasiar – espere,
não – pensar em um Donovan sem camisa e ser capaz de cobiçar
seu peito largo de perto. Só porque ela se lembrava com clareza
cristalina de como o peito dele esteve sob sua mão durante o
beijo totalmente não real, que não significava nada.
O que significava alguma coisa era o olhar entre as duas
pessoas na capa. Eles olharam nos olhos um do outro como se
tivessem encontrado suas almas gêmeas, seus lábios separados
por uma respiração. Mas os modelos de capa eram apenas isso.
Modelos. Eles estavam atuando, e se eles podiam fazer isso, Jada
também podia. Ela tinha sido uma atriz uma vez. Uma atriz mal
sucedida, mas tanto faz.
Kendra bateu palmas e se levantou.
— Ok, pessoal, vamos. Donovan, sua camisa não é a melhor,
mas nós colocamos isso em você, então terá que servir. A camisa
que temos é muito pequena. — Ela enfiou a mão na bolsa a seus
pés e tirou um chapéu de cowboy preto. — Espero que isso seja
melhor.
Donovan pegou o chapéu dela e o colocou na cabeça. Ele se
virou para Jada com as mãos estendidas como se dissesse: Como
estou?
Muito bom. Ok, sim, esse visual funcionou para ela. Quem
sabia que ela tinha uma queda por cowboys? Como ele ficaria
no lombo de um cavalo, com os músculos da coxa salientes?
Quente. Muito bem. Ela limpou a garganta.
— Você parece bem.
Kendra bufou.
— Garota, por favor. Ele é a escolha perfeita para a sessão de
fotos. Agora você, coloque isso. Vai caber. — Ela estendeu uma
camisa de flanela xadrez vermelha e azul. Jada pegou a camisa e
a vestiu sem comentários. Os nervos se levantaram dos mortos
como uma fênix para revirar seu estômago. A qualquer
segundo agora, ela estaria posando com Donovan.
Mas e daí? Ela precisava relaxar. Isso seria bom. Eles tirariam
algumas fotos, ririam, e isso seria o fim de tudo. Memórias de
seu beijo bombardeando seu cérebro iriam parar a qualquer
segundo agora.
Rose os orientou a ficarem juntos na frente de um fundo
que mostrava um cavalo e um cacto. Detalhes ocidentais
totalmente autênticos.
— Braço em volta da cintura dela e puxe-a com força,
Donovan. Jada, incline a cabeça ligeiramente para trás e
coloque a mão no peito dele.
Jada engoliu em seco e seguiu as ordens. Ela observou como
sua mão parecia funcionar independentemente de seu cérebro.
Ela se ergueu, então pousou em seu peito, diretamente sobre
seu peitoral direito. Calor penetrou através de sua camisa para
a mão dela. Ela afastou a palma da mão. Parecia que ela tinha
sido queimada, como se ela estivesse fazendo algo impertinente.
Mas isso era ridículo. Lentamente, sua mão se ergueu
novamente, então pousou sobre seu coração. A mão dele em
volta da cintura dela apertou, pegando-a desprevenida. Ela
tropeçou para frente, então se puxou para trás.
— Desculpe — ela murmurou.
— Sem problemas. — Ele não parecia afetado em tudo.
Claro que não. Não o Diretor Dell, que mantinha a calma o
tempo todo.
— Vocês dois são tão ridiculamente atraentes — disse
Kendra. — Deveria ser ilegal ter uma aparência tão incrível
quanto a de vocês juntos.
As outras mulheres riram, gritando seu acordo.
— Ok, estou pronta — disse Rose, levantando a câmera para
seu rosto. — Vamos lá.
Jada manteve o olhar grudado no pomo de adão dele e
tentou não vacilar a cada clique da câmera.
Rose abaixou sua câmera.
— Oh, meu Deus, gente, vocês parecem tão rígidos. Qual é
o problema?
Oh, certo. Eles deveriam ser um casal da vida real. Jada
exalou e relaxou os ombros.
O braço de Donovan em volta da cintura dela afrouxou
quando ele se virou para a fotógrafa. Jada perdeu a conexão
imediatamente.
— Eu sei que parece loucura, mas tentamos manter nosso
relacionamento privado, e não estou acostumado com câmeras
e pessoas me encarando quando estou com minha mulher.
Ele estava levando a culpa? Por que ele insistiu em ser
honesto?
As integrantes do clube do livro suspiraram como uma.
— Isso é certamente compreensível — disse Rose. — Vocês
são tão bonitos, eu esqueço que vocês não são profissionais.
Donovan, incline o chapéu para trás para que possamos dar
uma olhada melhor em seu rosto bonito.
Jada respirou fundo. O chapéu estava atrapalhando sua
conexão. Não mais.
— Olhe nos olhos um do outro como vocês estavam
fazendo antes. Finjam que não estou aqui. Aí está. Jada, toque
na mandíbula dele, fique na ponta dos pés, incline a cabeça para
trás.
O cabelo dele era surpreendentemente macio. Ela
continuou a acariciá-lo, incapaz de se conter. Seus olhos
desceram. Suas bocas estavam tão perto, tão dolorosamente
perto. Ela se sentiu tonta. Ele também sentiu. Seus olhos
escureceram, sua respiração ficou mais rasa. Ele lembrou. Ela
lembrou. Como seria ter mais? De verdade desta vez?
Espetacular, seus olhos responderam.
Jada ficou na ponta dos pés. Mais perto, mais perto, quase
lá...
— Isso deve bastar, e vocês dois — disse Rose. — Muito
melhor.
As integrantes do clube do livro aplaudiram, trazendo Jada
de volta ao presente. O rápido clique-clique da câmera havia
parado. O braço de Donovan, tão forte e seguro, caiu de sua
cintura, deixando-a desolada. A sessão de fotos de capa de
romance deles acabou.
De volta à realidade. Realidade onde eles não estavam
namorando. Realidade onde eles não tinham o direito de se
beijar.

∗∗∗

— Então, a festa do clube do livro correu bem — disse Jada,


depois que todas as integrantes do clube do livro saíram.
Nicholas tinha tirado August de lá também, murmurando
“você consegue” ao sair. Donovan revirou os olhos. Seu amigo
não poderia ser mais óbvio se tentasse. E ele com certeza não
tinha tentado.
— Foi? — Ele ainda estava tentando encontrar seu
equilíbrio. Apesar de todas as suas advertências para si mesmo,
sua atração por Jada Townsend-Matthews não estava
desaparecendo. Não, estava ficando fora de controle. Aquela
sessão de fotos quase acabou com ele. O engasgo em sua
respiração quando suas bocas quase se tocaram, o jeito que ele
desejou mergulhar sob sua camisa para tocar a pele por baixo,
para saber se era tão macia e perfumada quanto ele imaginava
que fosse.
Ela bateu os quadris com ele em um movimento brincalhão,
mas tocá-la nunca era inocente. Nunca sem significado. Nunca
sem ser uma promessa não cumprida.
— Sim, foi, e você sabe — disse ela. — Donovan, obrigada
por me deixar fazer isso. E por ler o livro. E por levar isso a sério.
— Ela se sentou, abriu o zíper das botas e tirou os sapatos,
dando a ele um breve e tentador vislumbre de suas coxas bem
torneadas.
Ele enxugou o queixo para ter certeza de que a baba não
estava aparecendo.
— Você sente falta dos Crocs, não é? — ele perguntou,
quando ela olhou para ele com uma sobrancelha levantada.
Seu sorriso, tão suave, tão natural, tão lindo, se espalhou por
seu rosto. Ela olhou ao redor da sala para se certificar de que
não havia nenhum espião escondido no canto, então se
inclinou em direção a ele.
— Já que somos só você e eu, vou admitir.
Ele riu. Ela o fazia sentir-se bem. Muito bom. E
despreocupado, como se o mundo inteiro não estivesse
contando com ele para fazer de tudo um sucesso.
Ela mordeu o lábio, atraindo os olhos dele mais uma vez para
seus lábios deliciosos.
— Então, eu estive pensando.
Oh, Deus. Donovan não pôde evitar que um gemido
escapasse de seus lábios.
Jada ergueu as mãos.
— Eu mereço isso. No entanto, estou dizendo.
Ele cruzou os braços sobre o peito.
— Irei julgar isso, continue.
Jada revirou os olhos.
— Eu estava pensando que talvez devêssemos ir no Good
Day, San Diego.
Ele piscou. Isso não é o que ele esperava que ela dissesse, mas
ele deveria saber que poderia esperar o inesperado dela.
— Por quê?
— Porque vai gerar interesse na loja, e esse é o objetivo desse
relacionamento falso.
Ele pegou a mão dela, puxando-a para ficar de pé.
— Tem certeza? Você sabe que se fizermos o show, eles vão
perguntar sobre o seu tempo em Minha Cara Metade.
Ela endireitou os ombros e ergueu o queixo, sempre
guerreira.
— Eu sei, mas eu posso lidar com isso. É hora de eu parar de
me esconder. — Ela virou sua mão para desenhar um círculo na
palma dele. O ar ficou preso em seus pulmões. Por que o toque
dela o afetava tanto? — Além disso, eu vou ter você lá como
reforço. — Um sorriso provocante puxou seus lábios,
puxando-o mais fundo em sua teia, uma teia que ele estava
achando cada vez mais difícil de resistir.
— E isso não é tudo.
Ele sorriu. Jada sempre era Jada, e ele estava começando a...
apreciá-la.
— Por que não estou surpreso?
— Esta noite foi um grande sucesso. — Ela falou com
pressa, como se tivesse praticado o discurso e quisesse falá-lo
antes que ele a impedisse. — Eu estava pensando que
deveríamos fazer mais eventos. Ficar aberto para que as pessoas
possam vir aqui depois que os bares e clubes fecharem. Quem
precisa de tacos quando você pode ter açúcar para absorver o
álcool?
Ele apontou para o peito em falsa indignação.
— Eu preciso de tacos. Nunca diga não aos tacos. É o meu
lema de vida.
Ela riu, revirando os olhos.
— Ok, corrigido. Mas meu ponto se mantém. Precisamos
fazer deste lugar um destino, um ponto de encontro da
vizinhança. Eu tenho que admitir que você abriu a loja aqui por
causa da localização privilegiada. Precisamos aproveitar isso.
Posso ser sincera?
— E quando você não é? — A determinada empresária Jada
era a Jada mais sexy.
— Você gosta de números. Você vê seus clientes como
estatísticas, os cupcakes como estoque, mas isso é realmente
estranho.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— É isso?
— Sim. — Ela disse, seus olhos cor de chocolate brilhando
com determinação e convicção. — Existem muitas outras lojas
de cupcakes para confiar apenas nos números para mantê-lo à
frente. Você precisa de mais. Organizar eventos especiais e abrir
após o que o expediente oferece é a oportunidade perfeita para
atrair seus vizinhos. Este é o lugar perfeito para sentar, relaxar,
ficar chapado e se relacionar. O que mais eles poderiam pedir?
Donovan não conseguia tirar os olhos dela.
— Eu não sei, mas eu suponho que você vai me dizer.
— Sim, eu vou. Por que não usamos esse grande espaço
maravilhoso…
— Você não chamou isso de sem graça na primeira vez que
esteve aqui?
Ela acenou para longe dessa verdade.
— Isso não é importante, mesmo que o lugar precise de uma
nova decoração, para ser honesta. O importante é que nós
precisamos fornecer eventos aqui.
Donovan a estudou.
— Você continua dizendo “nós”.
O queixo de Jada levantou.
— Sim, porque quero planejar os eventos. Como você disse,
fiz um bom trabalho esta noite. Acredito que essa pode ser
minha maneira de agregar valor à Sugar Blitz. — Um sorriso
suave foi colocado em seus lábios deliciosos. — Nós dois
sabemos que não será com as minhas habilidades na cozinha.
— Ela endireitou os ombros. — Então, sim, eu quero planejar
os eventos.
Determinação, junto com uma dose de incerteza, estava em
seus olhos. Ela mordeu o lábio, esperando por sua resposta.
Preparando-se para ele recusá-la. Decepcioná-la.
Isso não ia acontecer. Sua maneira de fazer as coisas não
tinha dado certo. Esta noite foi um sucesso. Seu entusiasmo era
certamente contagiante, sua determinação admirável. Ele não a
decepcionaria.
— O que você sugere?
Ela soltou um gritinho que era francamente fofo demais
para as palavras que ele não podia acreditar que estava
admitindo para si mesmo, e bateu palmas.
— Deixe-me cuidar disso.
Donovan fungou. Algo novo estava no ar. Algo além de açúcar
e chocolate. Algo familiar. Algo aterrorizante.
O perfume de sua mãe.
— Donovan, você está bem?
Ele mal assimilou a pergunta de Jada. Não quando…
Donovan girou, então piscou, esperando, rezando para que
seus olhos o estivessem enganando. Ele piscou novamente.
Nada havia mudado. Merda.
E não havia absolutamente nada que ele pudesse fazer para
evitar o desastre iminente.
Com os braços estendidos, sua mãe o tocou com suas duas
irmãs logo atrás. Sua mãe passou os braços ao redor dele,
cantarolando do jeito que as mães faziam quando não viam seus
filhos há um tempo, e apertou o mais forte que conseguia,
mesmo que ela mal chegasse ao peito dele.
Ele baixou a cabeça e respirou o cheiro reconfortante de
rosas. Sua mãe chamava isso de seu perfume de assinatura. Ele
chamava de lar.
Mas por que ela estava aqui? Mais importante, como ele
poderia levá-la para sair antes que ela causasse estragos? Ela
apertou mais uma vez, então o soltou.
— Donny, meu bebê. — Ela deu um tapinha na bochecha
dele com uma mão suave, um sorriso orgulhoso se espalhou em
seus lábios. — Faz tanto tempo.
Ele não pôde deixar de sorrir.
— Jantamos juntos há uma semana e meia atrás.
Sua mãe deu um passo em volta dele como se ele não tivesse
falado.
— E quem temos aqui?
Ele enviou uma mensagem telepática para Jada abandonar a
nave, mas aparentemente ela não havia recebido a mensagem.
Ou talvez ela tivesse e simplesmente decidiu ignorá-lo com base
no olhar de total alegria em seu rosto.
— Olá, sou Jada Townsend-Matthews.
Não. Isso não poderia estar acontecendo. Ele não se
incomodou em tentar abafar seu gemido, não que sua mãe ou
irmãs estivessem prestando atenção nele. Não quando sua mais
nova funcionária/namorada falsa estava ali conversando com
sua mãe como se essa fosse a situação mais natural do mundo.
— Desculpe — sua irmã, Shana, murmurou atrás de sua
mãe. Okay, certo. Ela levou a mãe deles até aqui, ele não tinha
dúvidas. Como a mais velha, ela sempre considerou sua
responsabilidade apoiar sua mãe em qualquer esquema que ela
criasse, bom ou ruim. Não que ele pudesse contar com sua irmã
mais nova, Sloane, para evitar o desastre também. Em suas
próprias palavras, ela “adorava uma bagunça quente”.
— Prazer em conhecê-la, Jada. Eu sou Sandra Dell.
Jada estendeu a mão, mas sua mãe nunca conhecia um
estranho dessa forma. Ela acenou para longe daquele gesto
educado como o incômodo inconsequente que ela achava que
era e deu um passo à frente para envolver Jada em um abraço
apertado.
— Oh, querida. Um aperto de mão é tão formal, não acha?
Jada levantou lentamente as mãos e deu um tapinha nas
costas da outra mulher.
— Concordo.
Sua mãe deu um passo para trás, radiante.
— Eu tive que vir conhecer a mulher que roubou o coração
do meu bebê.
Donovan beliscou a ponta do nariz e gemeu novamente.
Jada riu, ainda o ignorando.
— Estou tão feliz que você tenha vindo. Donovan se parece
com você, então só posso supor que você é a mãe dele.
Sua mãe a considerou por um momento, então assentiu.
— Gosto de você. Você não disse que achava que eu era a
irmã mais velha dele, isso é uma fala muito idiota. Você falou
algo real.
Jada riu.
— Bem, eu tento.
Sua mãe enviou uma fungada de desaprovação em sua
direção.
— Estou desapontada por ter ouvido falar sobre o
relacionamento de vocês por alguns parentes que passam
muito tempo no Facebook.
Donovan deu um passo à frente.
— Mamãe, você sabe que eu só apresento as pessoas mais
importantes da minha vida para você.
— Você está dizendo que eu não sou importante? — Jada
perguntou, seus olhos brilhando e seus lábios se contraindo
com a óbvia luta para segurar o riso.
— Claro que não, querida — disse ele, com os dentes
cerrados.
Ele poderia contar a verdade para sua mãe. Essa era uma
opção. Não era uma boa opção, mas era uma opção. Ele e suas
irmãs já haviam concordado em manter isso em segredo,
porque sua mãe era conhecida por sua capacidade de não
guardar um segredo. Se ela soubesse a verdade sobre seu
“relacionamento” com Jada, ela estaria no telefone com sua
irmã falando tudo que não deveria antes que ele pudesse dizer
que era mentira. No entanto, ele e suas irmãs também
concordaram que não levariam a mãe para a loja, para que ele
pudesse manter o mínimo de mentiras, mas esse plano
obviamente deu errado. Ele levou um momento para olhar de
lado para as duas irmãs.
Sua mãe juntou as mãos.
— Caso Donny não tenha te contado, eu amo o amor.
Quando vi aquele vídeo de vocês dois, sabia que tinha que
conhecer a mulher que colocou aquele olhar no rosto
carrancudo do meu filho. Venha, venha, sente-se.
Ela se dirigiu a uma mesa, obviamente esperando que Jada a
seguisse. Ele ficou para trás com suas irmãs.
— Sério? Nenhuma de vocês poderia não ter trazido ela até
aqui?
Shana lhe mostrou um olhar realista.
— Quando alguém já foi capaz de detê-la quando ela se
decidiu de algo? Tia Darlene mandou aquele vídeo para ela e
pronto. Ela disse que viria aqui, quer a trouxéssemos ou não.
— E você sabe que não tínhamos intenção de perder essa
diversão — acrescentou Sloane, alegria cobrindo cada palavra.
Donovan suspirou. O que estava feito estava feito, e ele
precisava fazer uma interferência antes que sua mãe sacasse suas
fotos de bebê pelado ou perguntasse a Jada o que achava de lhe
dar alguns netos. Seu passo acelerou quando sua mãe começou
a rolar pelo telefone. Ele exalou quando chegou ao lado dela e
viu que ela estava mostrando fotos de sua sobrinha e sobrinho,
e não dele, para Jada.
— A família é muito importante para nós — disse sua mãe.
— E para você?
O sorriso de Jada diminuiu um pouco. A maioria não teria
notado. Ele não era a maioria das pessoas. Não quando se
tratava de Jada Townsend-Matthews. Os olhos de Donovan se
estreitaram em contemplação.
— Bem, minha avó é dona dos Knights — disse Jada.
Sua mãe engasgou.
— Você é neta da Sra. T? Então, você é ainda mais família
do que eu pensava. Ela, realmente, tem sido maravilhosa para
Donny e todos nós.
Jada assentiu.
— Ela é a melhor.
— E os seus pais? — Sua mãe não estava satisfeita. Claro que
ela não estava. Ela era intrometida, mas também era muito
protetora com seus filhos.
A voz de Jada perdeu um pouco de sua vibração habitual.
— Meus pais e minha irmã estão todos aqui em San Diego.
Meus pais são donos de uma empresa de pesquisa médica. Eles
são todos médicos e cientistas.
Sua mãe deu de ombros.
— Bom para eles, mas todos nós temos que encontrar nosso
caminho neste mundo. Agora para as coisas boas. Como você
conheceu meu filho?
Jada olhou em sua direção, um sorriso brincando em seus
lábios vermelhos.
— Eu parei aqui para comer um cupcake, porque estava
com vontade.
— E foi amor à primeira vista? — sua mãe perguntou, toda
esperança ansiosa.
— Não, não foi. Ela insultou meus cupcakes — disse
Donovan. Eles concordaram em manter sua “história de amor”
o mais próximo possível da verdade.
Sua mãe gritou.
— Eu amo isso! Meu filho pode ser um pouco tenso. Ele é
muito tenso. Eu sabia que a mulher que roubaria seu coração
teria que ser alguém que perfurasse aquele exterior antipático.
Ele jogou as mãos para cima.
— Antipático? Sério, mamãe? Eu estou bem aqui.
Sandra dispensou sua objeção.
— Você vai ficar bem. Você sabe a verdade quando a ouve.
— Eu também — disse Jada, lançando um sorriso em sua
direção. — E você está absolutamente certa, senhora, mas ele
também tem alguns pontos positivos.
Sloane se inclinou em sua direção.
— Onde estão seus parceiros de negócios? — ela perguntou
casualmente, olhando ao redor.
— Nicholas está na cozinha. — Donovan consultou o
relógio. — August deve chegar a qualquer minuto. — A
campainha da porta da frente tocou. — Falando no diabo. —
Ele acenou para August.
August caminhou sem pressa.
— Sra. Dell, é sempre bom ver você.
Ela o abraçou como se ele fosse um de seus filhos.
— É bom ver você também, filho. Como você está?
Ele abaixou a cabeça.
— Estou bem.
Shana acenou.
— Bom te ver, August. Meus filhos mal podem esperar para
você cuidar deles novamente e mostrar a eles como consertar
outra torneira pingando.
Ele ofereceu um pequeno sorriso.
— Eu amo isso. Me avise quando você precisar. — Ele
enviou um breve aceno de cabeça na direção de Sloane, antes
de continuar seu caminho pelo corredor.
Ela bufou quando ele recuou.
— Bom ver você também, August. Aliás, estou bem.
— Sloane — Donovan falou. Era uma vez, quando August
tinha tratado ela como sua irmã mais nova. O relacionamento
deles havia esfriado anos atrás, embora nenhum dos dois
dissesse o porquê.
Seus olhos se arregalaram.
— O quê? Eu não fiz nada.
— Vocês dois, parem — disse Sandra. — Ainda não
terminei de falar com Jada. O que você acha de jogadores de
futebol terem uma loja de cupcakes?
Jada olhou em sua direção antes de responder.
— Acho fantástico e divertido.
Sua mãe assentiu com aprovação.
— Concordo. Você sabia que este não é o primeiro negócio
dele?
Donovan gemeu.
— Mãe.
Ele não falava sobre seu passado. Não tinha sentido.
Aprender com o passado e fazer do presente e do futuro o
melhor que podiam ser era importante. Era como ele vivia sua
vida. Como ele passou pelos seus tempos difíceis.
Jada se inclinou para frente.
— Não, eu não sabia. Conte-me mais.
— Quando ele tinha oito anos, ele ouviu uma discussão que
eu estava tendo com seu pai. Seu pai havia jogado fora o
dinheiro que precisávamos para pagar o aluguel. Eu não estava
feliz. Fiquei chateada e preocupada e deixei meu marido de
lado. O que eu não sabia era que Donovan estava do lado de
fora ouvindo. Quando fui verificar meu filho, não consegui
encontrá-lo em casa. — Sua voz suavizou com a memória. —
Finalmente o encontrei do lado de fora vendendo limonada.
Ele disse que ia ficar lá até que tivéssemos dinheiro suficiente,
para que então não precisássemos nos mudar.
Donovan baixou o olhar para a mesa. Ele nunca esqueceria
como se sentiu ouvindo seus pais lançando insultos um ao
outro. Com seu pai oferecendo desculpas e promessas que,
mesmo naquela época, ele sabia que eram besteiras.
Desamparado, mas determinado a consertar as coisas.
Determinado a fazer sua mãe se sentir melhor. Naquele
momento, o controle se tornou muito importante para ele.
Donovan apertou sua coxa enquanto ele tentou manter essas
emoções antigas, porém familiares, afastadas. Uma mão – a
mão de Jada – cobriu a dele. Ela apertou. O conforto que ela
oferecia tão desinteressadamente o acalmou imediatamente.
Ele ignorou o olhar de conhecimento que suas irmãs trocaram.
— Essa é a coisa mais fofa que eu já ouvi — disse Jada.
Sua mãe assentiu.
— Nunca estive mais orgulhosa dele do que naquele
momento. Eu sabia que tipo de homem ele estava destinado a
ser, e ele não fez nada além de provar que eu estava certa. Ele
tem cuidado de sua família e amigos desde então, inclusive
abrindo esta loja porque é o que seus amigos queriam e
precisavam. — Ela olhou para suas mãos entrelaçadas, então se
levantou. — Bem, acho que tomamos o suficiente do seu
tempo.
Donovan acompanhou sua mãe e irmãs até a porta. Na
entrada, Sandra parou e deu um tapinha na bochecha dele.
— Descobri o que vim encontrar.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Que era?
Sua mãe tocou seu braço, sua voz e rosto ficando sérios.
— Se Jada é boa para você. Ela é. Ela tem um bom senso de
humor e se preocupa com você. Faz você pensar em outra coisa
além da negociação do contrato e das vendas da loja. Há mais
na vida do que dinheiro. Não a deixe escapar.
Com precisão infalível, Donovan se concentrou na mulher
em questão. Ela estava de pé no balcão, rindo de algo que Ella
havia dito, seu corpo todo envolvido no esforço, a cabeça
jogada para trás, os ombros tremendo. Se segurar não era o jeito
de Jada. Seus lábios se curvaram. Para o bem ou para o mal. Ela
certamente virou o mundo dele de cabeça para baixo. Talvez
isso não fosse uma coisa tão ruim.
Que diabos estava acontecendo? Donovan não tinha certeza se
sua mandíbula poderia ser levantada. Tinha sido
permanentemente colada no chão.
Quando ele concordou em fazer novos eventos para trazer
novos negócios, ele não tinha ideia de que isso levaria a ter
pérolas, consolos, vibradores e pênis falsos pendurados nas
paredes da Sugar Blitz. Jada. Esta nova decoração tinha suas
impressões digitais por toda parte.
Onde ela estava?
Ele deu meia-volta e foi para a cozinha, onde a tinha visto
pela última vez.
No caminho, Donovan parou do lado de fora do armário de
suprimentos. A luz saiu de debaixo da porta fechada. Ele
inclinou a orelha para a porta. Talvez alguém estivesse lá
dentro, mas ele não ouviu nada. Nicholas provavelmente tinha
esquecido de apagar a luz. Mas Donovan pagava as contas por
aqui. Não haveria desperdício de energia em seu turno.
Ele pegou a chave de seu escritório, destrancou a porta,
entrou e tateou ao longo da parede em busca do interruptor de
luz quando a porta se fechou atrás dele. Seus dedos se fecharam
ao redor do interruptor quando um flash de movimento
acendeu em sua visão. Donovan virou-se, espiando o quarto.
Jada estava encolhida no canto dos fundos, parecendo que
estava tentando desaparecer na parede de tijolos vermelhos
atrás dela.
Ele franziu a testa, aproximando-se dela, incapaz de se
conter, um destino que estava se tornando muito familiar para
ele.
— O que você está fazendo aqui? Você está bem?
Ela se afastou da parede, erguendo o queixo teimoso,
claramente determinada a dar uma performance convincente.
Ela lançou um olhar desafiador em sua direção.
— Sim.
Pena que sua voz tremeu.
Inquietação e preocupação o impeliram para mais perto.
— Por alguma razão, eu não acredito em você. Você está se
escondendo?
Ela levantou o queixo mais alto.
— Claro que não estou me escondendo.
Ele olhou ao redor da sala.
— Então você estava procurando alguma coisa?
— Sim. — Jada por excelência, sempre determinada a sair
descaradamente de qualquer situação.
Ele deu a ela o olhar que sempre enviava a atletas
profissionais correndo para se proteger.
— Então o que você está procurando?
Seus músculos da garganta trabalharam para cima e para
baixo antes que ela girasse seu olhar descontroladamente ao
redor da sala.
— Hum... açúcar.
— É logo ali. — Ele apontou para a prateleira contendo
sacos e mais sacos de açúcar.
— Ah, obrigada. — Ela tentou se mover ao redor dele, mas
ele a deteve com uma mão em seu braço. Ela respirou fundo
com o toque leve, mas não se afastou. Bom, porque ele não
queria deixar ir. Mas ele fez, seus dedos deslizando por sua pele
macia até que ele não agarrou nada além de ar.
Ele olhou profundamente em seus olhos.
— O que está acontecendo?
Ela balançou a cabeça, desviando o olhar, obviamente ainda
insegura de dizer a ele o que estava acontecendo.
— Nós poderíamos sair daqui sem falar sobre isso. Ou você
pode aproveitar que o está na despensa para desabafar.
Isso trouxe um pequeno sorriso aos lábios dela.
— O que acontece na despensa fica na despensa?
Ele falou direto do seu coração.
— Com certeza. Você pode me dizer qualquer coisa.

∗∗∗

Jada abriu a boca para lhe dizer que não era nada. Mas o olhar
em seu rosto a deteve. Como se ele se importasse e estivesse
pronto para matar dragões por ela. Quando foi a última vez que
alguém a olhou assim?
— Bem, é que eu só consigo pensar em como o próximo
evento, meu próximo evento, está começando em menos de
uma hora, e se não der certo?
Um “V” apareceu entre suas sobrancelhas.
— A reunião do clube do livro foi um sucesso.
Jada já estava balançando a cabeça.
— Isso foi uma coisa de última hora, então eu não tive
muito tempo para deixar os nervos e as dúvidas me comerem
viva. Isso é diferente. Estou planejando isso há uma semana.
Esta era uma festa de despedida de solteiro/seminário de
sexualidade para uma professora de uma universidade local,
que aparentemente tinha um milhão de amigos, que estavam
prontos para vir na Sugar Blitz em trinta minutos. A
professora, cliente frequente da Sugar Blitz, queria combinar
as travessuras de uma despedida de solteira com uma pseudo-
conferência destinada a garantir que seus amigos e entes
queridos estivessem totalmente sintonizados com sua própria
sexualidade, e Jada foi encarregada de garantir que isso
ocorresse.
Oh, Deus. Sua visão escureceu por um segundo. Ela parou
por um momento para inspirar um pouco de oxigênio. Mas
apenas por um momento. Ela precisava tirar isso do peito dela,
e ele se ofereceu para ouvir, então ele teria a experiência
completa de Jada.
— E se ninguém se divertir? Se eles não se divertirem, eles
vão contar para os amigos deles, que vão contar para os amigos
deles, e então ninguém vai vir neste lugar novamente, e então
você vai me demitir e eu não poderia reclamar porque seria
totalmente minha culpa.
Ela estava divagando. Ela podia ouvir a si mesma. Mas desde
que seus pensamentos começaram a se agitar dez minutos atrás,
quando ela olhou para o relógio e decidiu que ir a despensa era
desesperadamente necessário, tudo bem. Ele queria saber. Bem,
agora ele sabia.
Ele inclinou a cabeça para o lado, claramente esperando para
ver se ela recuperaria o fôlego e voltaria. Quando ela
permaneceu em silêncio, ele assentiu.
— Jada, eu não vou te demitir.
— Você pode! — Suas mãos se torceram.
Ele estendeu a mão para elas e apertou.
— Eu não vou, e a razão pela qual eu sei que não vou é
porque eu ainda não fiz isso. Eu não fiz isso quando você quase
incendiou minha cozinha. Eu não fiz isso quando você me
beijou e declarou que eu era seu namorado. Não fiz isso quando
você alugou meu negócio como espaço de reunião para um
clube do livro sem me perguntar primeiro. Eu não fiz isso
quando fui forçado a posar como modelo de capa enquanto
uma sala cheia de mulheres bêbadas gritavam e me incitavam a
mostrar a elas como era feito na reunião do clube do livro.
Quando ele colocava dessa forma... Oh, Deus. Por que ele não
a demitiu ainda? O pânico começou a rasgar o revestimento de
seu estômago novamente. Ela balançou a cabeça.
— Mas desta vez pode ser diferente!
Ele apertou as mãos dela novamente.
— Jada, olhe para mim. — Ela olhou para cima de onde as
mãos dele, tão grandes e cheias de cicatrizes, embalavam as dela
como se fossem uma carga preciosa. Seus olhos estavam firmes,
calmos e seguros. — Não vai ser diferente.
Ela balançou a cabeça, as dúvidas superando suas garantias.
Ela falhou antes. Ela estava no auge de uma reunião bem-
sucedida do clube do livro quando sugeriu organizar outros
eventos. Quando ela aprenderia a não ser tão impulsiva? Por
que dessa vez seria diferente?
— Como você sabe?
— Porque eu vi todo o trabalho duro que você fez para isso.
Você viu um buraco no mercado e estava querendo preenchê-
lo. Vi os resultados do seu trabalho duro… mais pessoas na loja
e mais pessoas retornando. O lugar parece, humm, interessante
esta noite.
Jada riu da expressão desconcertada em seu rosto. Ele era
muito fofo quando estava sendo sério.
— Não só isso, sua lista de convidados continua crescendo.
Você já disse a ela o que planejou, o que significa que eles estão
animados para vir e experimentar. Eles vão adorar estar aqui,
comendo nossos incríveis cupcakes e bebidas, e então eles vão
voltar. Todos nós ganhamos.
Quando ele colocava dessa forma... Seu estômago começou a
se acalmar. Só um pouco.
— Como você consegue ser tão lógico?
O canto de sua boca se ergueu.
— Você quer dizer como eu consigo não ser impulsivo?
— Sim, eu acho — ela murmurou.
Um largo sorriso se espalhou por seu rosto. Uau, ele estava
incrível. Tipo “uau”. O que não era o ponto. Sim, era uma boa
distração, mas não era o ponto. Ele encolheu os ombros.
— É assim que eu sou. — Ele desviou o olhar. Do jeito que
ele era? Ela não tinha tanta certeza. Antes que ela pudesse viajar
por aquele caminho potencialmente perigoso, ele soltou suas
mãos e apontou para ela. — Haverá um monte de gente
faminta aqui daqui a pouco. Você nos colocou nessa confusão
e vai nos tirar dela.
A última grama de nervosismo soltou seu aperto em seu
estômago. Ela assentiu em agradecimento.
— Intimidação. Ok, eu suponho que essa é uma técnica que
alguém poderia usar.
Ele assentiu.
— Os treinadores adoram usá-la. Olha, você obviamente
achou que era uma boa ideia, e você está nervosa, o que é
compreensível. Isso significa que você se importa. Todo
mundo fica nervoso.
— Até você?
Ele revirou os olhos.
— Sim, até eu, o Sr. Robô. Toda vez que eu piso em um
campo de futebol americano.
O quê?
— Você é um dos melhores jogadores defensivos da liga, ou
pelo menos é o que todos os seus fãs dizem quando vêm aqui
comprar cupcakes e acabam falando isso na sua cara. — Ele a
olhou de lado. Ela deu de ombros. — O quê? É verdade.
— Eu fico tão nervoso quanto quando eu estava no ensino
médio ou na faculdade e sabia que os olheiros estavam me
observando? Não. Eu jogo futebol americano há muito tempo.
Mas ainda quero fazer um bom trabalho toda vez que eu entrar
em campo. Saber que fiz tudo ao meu alcance para me preparar
me acalma.
Ela assentiu.
— Ter conforto na minha preparação.
— Exatamente.
— Algo mais te deixa nervoso? E seja honesto! O que
acontece na despensa fica na despensa — ela o lembrou,
quando ele parecia que poderia objetar.
Ele se acalmou e se inclinou contra a parede ao lado dela, seu
ombro roçando o dela antes de colocar mais alguns centímetros
entre eles. Ela mordeu o lábio antes que uma objeção pudesse
escapar.
Ela estava se tornando uma bruxinha gananciosa quando se
tratava de contato com ele. Ela tomaria quando e como
pudesse. Ela examinaria o porquê mais tarde. Agora, ela queria
saber o que o fazia vibrar. O que o tornou Donovan. Ela
também examinaria o porquê disso mais tarde. Neste
momento, ela só queria o conhecimento.
— Falhar — ele disse simplesmente.
Ela não ficou surpresa com a resposta. Ele estabelecia um
padrão alto para si mesmo. A pergunta era: por quê? Mas ela
não respondeu, sentindo que ele ainda estava lutando para
saber como continuar ou se deveria.
Ele agarrou seus braços, seus olhos se fechando por um
momento.
— Enquanto crescia, a estabilidade financeira era
inexistente. Você já conhece a barraca de limonada. Meu pai era
– é – viciado em jogos de azar. Ele estava sempre procurando o
próximo grande sucesso, certo de que aconteceria em sua
próxima aposta.
— Aconteceu?
Donovan soltou uma risada irônica.
— Sim, ocasionalmente. Apenas o suficiente para ele ansiar
pela próxima vitória, fazendo uma aposta ainda maior. Minha
mãe fez o possível para se manter forte, mas isso era difícil de
fazer quando você nunca sabe quando seu marido vai esvaziar
a conta bancária. — Ele se virou para ela, apoiando o ombro
direito na parede. — Eu não corro riscos. Eu penso
logicamente. Eu era bom no futebol americano e sabia que isso
poderia dar a toda a minha família uma estabilidade financeira
que só poderíamos sonhar se eu me mantivesse e me tornasse
profissional. Então eu fiz, e aconteceu.
— Você conseguiu. — Ela pegou a mão dele, precisando
oferecer o conforto que ele tão voluntariamente lhe deu.
Precisando dessa conexão, por mais simples e pura que fosse,
com ele.
Ele apertou a mão dela de volta.
— Aceitei, o que me permitiu arriscar, a primeira chance
que realmente consegui desde criança, quando meus melhores
amigos me convenceram a abrir uma loja de cupcakes. Eu
quero que a Sugar Blitz tenha sucesso, mas tem sido mais difícil
do que eu esperava e estou aprendendo novamente que nada é
garantido.
Jada gemeu.
— E aqui estou eu aumentando a incerteza e bagunçando as
coisas.
Outra risada irônica escapou.
— Sim e não.
Ela inspecionou os ângulos afiados e fascinantes de seu
perfil.
— O que isso significa?
— Significa que não vou deixar uma mulher impulsiva que
pensa que pode me dizer exatamente o que ela sente sempre que
acha que vai destruir meu negócio.
— Ei! — Ela estendeu a mão para empurrar seu peito.
A mão dele pegou a dela antes que ela fizesse contato. Sua
palma rodeou a dela. Sua respiração gaguejou quando ele a
puxou para mais perto, seu calor a rodeando.
— Jada, a trabalhadora, não me deixa nervoso. Mas Jada, a
mulher, sim.
Ela procurou seus olhos. Eles eram sombrios e sérios.
Focados apenas nela. Não que ela precisasse. Ele poderia estar
alimentando-a com uma linha, mas seu instinto lhe dizia que
não estava. As borboletas em seu estômago começaram a
bombar novamente.
— Como eu deixo você nervoso?
— Bem, caso você não tenha notado, eu gosto de lógica e
ordem. Calmaria. E nada disso entra em minha órbita quando
você está por perto.
Jada engoliu em seco, procurando as palavras.
— Eu sinto muito.
Seus lábios se curvaram.
— Não sinta. Não é sua culpa que você incline meu
equilíbrio para fora do eixo. Todos os dias, tento descobrir
como vou lidar com isso. Eu não sou como você. Gosto de
planilhas e análises SWOT8. Todos os dias, luto contra meus
instintos.

8
Análise SWOT é uma ferramenta de gestão que se baseia no estudo das
forças, fraquezas, oportunidades e ameaças a uma situação ou empresa, produto,
indústria etc.
Ela engoliu. Ela não conseguia desviar o olhar. Seu empate
era muito forte. Muito poderoso.
— O que seus instintos querem que você faça?
Ele não respondeu. Não com palavras.
O beijo foi mais doce que açúcar. Gentil. Persuasivo. Os
olhos de Jada se fecharam quando ela instantaneamente se
perdeu no abraço. Perdida nele. Beijar Donovan estava subindo
rapidamente na lista de suas atividades favoritas. Agora, ela não
conseguia pensar em nada que superasse isso. Ela poderia em
breve se tornar viciada nele. Para se sentir assim. Cuidada.
Desejada. Gostava de quem ela era.
Ela não sabia como isso aconteceu, mas suas costas estavam
contra a parede, seu peito duro pressionado contra o dela, e ele
estava levando o beijo mais fundo, mais fundo e mais fundo
como se não pudesse se cansar dela. Ela entendia como ele se
sentia. Ela estava rapidamente escorregando sob seu feitiço. A
língua dele entrelaçando com a dela em longos, sensuais e
decadentes escorregões. Um acasalamento perfeito e sensual
que drogou todos os seus sentidos. O beijo suavizou enquanto
ele se afastava lentamente, dando-lhe um momento para
respirar. Bem quando ela estava prestes a implorar por mais, ele
estava de volta, gemendo enquanto chupava seu lábio inferior.
Ele estava com fome. Faminto por ela.
Não mais do que ela estava por ele.
Ela ficou na ponta dos pés, procurando desesperadamente
uma conexão mais forte. Ele riu. Sua risada parou
abruptamente quando ela imitou sua ação e mordeu seu lábio
inferior. Ah, sim. Ela gostou disso. Eram macios e delicados.
Perfeitos. Ela repetiu a ação, seus dentes afundando na carne
gorda e saboreando-o.
— É assim? — ele murmurou, sua voz provocante.
— Sim — ela gemeu.
Então o beijo ficou mais quente. Mais selvagem. Necessário.
Os dentes se chocando. As línguas lutando. A luxúria
invadindo seu sistema. Ela queria mais. Precisava mais de
Donovan.
A excitação se acumulou entre suas coxas. Ele balançou
contra ela, sua dureza pressionando em seu estômago. Jada
engasgou em sua boca. Ele estava tão afetado quanto ela.
Queria tanto quanto ela. Ela agarrou a camisa dele, precisando
da âncora.
Não foi o suficiente.
Ela queria as mãos dele sobre ela.
— Me toque.
A necessidade em sua voz a assustou, mas ela não retirou sua
fala. Não poderia.
Jada gemeu em profundas apreciações quando a mão dele
passou por baixo de sua camisa e pressionou contra seu
estômago antes de deslizar para cima em direção a seus seios.
Nos recessos de seu cérebro, ela reconheceu que as batidas
rítmicas que estava ouvindo não vinham apenas de seu coração
acelerado, mas ela o ignorou. Esse beijo com Donovan era tudo
com que ela se importava. Ela nunca queria deixar este mundo
que eles construíram apenas para os dois.
Mas as batidas só aumentaram de volume.
— Jada, você está aí? As pessoas estão começando a aparecer.
— A voz veio do lado de fora da porta. Nicholas.
Eles se separaram. O coração de Jada disparou como se ela
tivesse acabado de correr por 10 quilômetros. Donovan olhou
para ela com olhos selvagens, seu peito arfando.
— O que é que foi isso? — ele murmurou, claramente mais
para si mesmo do que esperando que ela fosse responder.
A maçaneta começou a chacoalhar rapidamente. Os olhos
de Donovan se arregalaram. Adicione isso às coisas sobre as
quais ela se debruçaria mais tarde.
— Sim, estou aqui — ela gritou, forçando sua voz a
cooperar. — Vou sair daqui a pouco. Apenas procurando um
cartaz.
A maçaneta parou de chacoalhar.
— Boa ideia — disse Nicholas. O som de seus passos
desapareceu.
Donovan ainda parecia abalado. O que a fez se sentir
incrível. Beijá-la lhe causou todo esse efeito? Beijá-lo foi o
ponto mais alto de seu dia. Inferno, do ano dela. Mas ele parecia
consternado, se não completamente horrorizado.
Com as pernas instáveis, ela contornou sua figura imóvel e
se dirigiu para a porta. Ela parou com a mão na maçaneta e
fechou os olhos por um momento, reunindo todos os resíduos
de compostura que conseguiu reunir. Ela esteve aqui antes,
tendo que juntar as peças depois de erros terríveis e impulsivos
com outros homens. Ele não disse nada. Então dependia dela.
— Ei, não se preocupe com isso. Você lembra? O que
acontece na despensa fica na despensa.
No dia seguinte, Jada olhou fixamente para a foto dela e de
Donovan na tela do telefone, gravando cada pixel na memória.
Como a tola que ela obviamente era.
— Jada.
Ela deixou cair o braço e pressionou o telefone ao seu lado
como se pudesse forçar o dispositivo a se fundir no algodão de
seu vestido se tentasse o suficiente.
— Oi.
Donovan estreitou os olhos.
— Você está bem?
— Sim. — Ela empurrou os lábios para uma ênfase extra.
Ele continuou a estudá-la por um segundo, mas então ele
finalmente assentiu.
— Tudo bem. Pronta para fazer isso?
— Claro. — Jada o seguiu até seu SUV. Ela abriu a porta do
carro e puxou-se para o banco. Ela olhou para frente enquanto
Donovan abria a porta do lado do motorista e se sentava atrás
do volante. Ela absolutamente não pensou naquela foto. Ela
absolutamente não pensou em como a boca dele parecia
fantástica na dela ontem. Não. Ela pensou em como ele parecia
espantado depois do incidente e como eles estavam evitando
um ao outro desde a noite passada, falando apenas quando
necessário.
Mas eles não podiam mais fazer isso. Não hoje, de qualquer
maneira.
Eles concordaram que fazia sentido dirigir para a estação de
notícias juntos para sua aparição no Good Day, San Diego,
porque eles estavam "namorando" e indo para o mesmo lugar,
afinal. Nada demais. Fazia todo o sentido.
Exceto pela tensão implícita que ocupava muito espaço no
veículo. E seus hormônios que aparentemente não tinham
orgulho e não se importavam que Donovan não estivesse
exatamente empolgado por se sentir atraído por ela.
Não havia lugar para correr. Na confeitaria, pelo menos, ela
poderia escapar verificando um cliente ou ajudando Nicholas a
limpar ou fazer outras tarefas, não relacionadas a cozinha.
Ele ocupava tanto espaço. A largura de seu assento não era
páreo para a largura de seus ombros. Seu olhar caiu para as mãos
dele. Ele agarrou o volante e manuseou o carro habilmente. Ele
lidaria com seu corpo da mesma maneira, sabendo
instintivamente como agradá-la? Enquanto abafava um
gemido, ela se mexeu no assento de couro. O que havia de
errado com ela? Onde estava o orgulho dela?
Ele quebrou o silêncio primeiro.
— O que você estava olhando no seu telefone?
Ele havia notado. Merda. Ela podia mentir, mas mentir não
fazia sentido porque ela não tinha feito nada de errado… bem,
além de começar toda essa farsa.
Ela forçou uma risada totalmente alegre, totalmente casual.
— Você se lembra de Rose, a fotógrafa do clube do livro?
Ela me mandou algumas fotos do ensaio. — Ela hesitou. —
Você quer ver?
Ele levou um momento para responder.
— Claro.
Jada não conseguia entender absolutamente nada naquela
frase. Não houve inflexão. Sem hesitação. Bastava mostrar.
No próximo sinal vermelho, ela entregou o telefone para ele.
Ele silenciosamente percorreu as imagens, seu rosto impassível
como sempre. Ele estudou o último, o mesmo que capturou
sua atenção. Devia ter sido a última foto. Suas bocas estavam
tentadoramente próximas. Seu aperto em sua cintura era
intenso. Possessivo. Mas foi o olhar em seus olhos, o olhar em
seu rosto que a prendeu, uma saudade mútua. Desejo.
Conexão.
— O que você achou?
Seu olhar colidiu com o dela.
— Elas estão boas. Rose é uma fotógrafa talentosa. — Ele
entregou o telefone de volta para ela e pressionou o pé no
acelerador quando o sinal ficou verde.
Jada agarrou o telefone e olhou para frente, esperando que
ela projetasse calma, embora estivesse sentindo tudo menos
isso.
De acordo com o GPS do carro, eles estavam a dezessete
minutos do seu destino. Dezessete minutos para inalar seu
perfume, realçado pela loção pós-barba leve e sedutora que ele
usava. Dezessete minutos para ver os músculos de suas coxas se
alongarem e se contraírem enquanto ele navegava pelas ruas de
San Diego. Ela deveria ter insistido em dirigir. Qualquer coisa
para impedir sua mente de vagar por um caminho perigoso.
Não que isso importasse, mesmo que ela tivesse pensado no
beijo um milhão de vezes hoje. Ela e Donovan estavam
fingindo. O começo, o meio, o fim.
Ela ainda estava comandando a Operação: Jada-tem-
controle-sobre-sua-vida, e começar um relacionamento ou
aventura ou qualquer outra coisa só serviria como uma
distração. Ela não podia, não iria pular em algo com ele só
porque seus hormônios ficavam descontrolados sempre que ele
estava por perto. Só porque ele a fazia se sentir bem consigo
mesma isso não significava nada.
Ela sempre caía rápido demais. Ela estava virando uma nova
página. Não havia espaço em sua vida para um homem. Não
agora. Não mencionaria o fato de que ele era seu chefe e jogava
no time de sua avó. Essa era uma complicação que ela não
precisava.
E inferno, ela nem chegou à parte em que ele não disse nada
quando ela saiu da despensa. Ou aquele olhar horrorizado em
seu rosto.
— O evento correu bem ontem à noite — disse ele. — Você
fez bem. Nicholas disse que as pessoas estavam perguntando
como agendar eventos quando estavam saindo.
— Obrigada — disse ela. Sua graça salvadora. De alguma
forma, ela se recompôs para se concentrar na tarefa em mãos.
Ela se divertiu, sabendo que os outros estavam se divertindo,
em parte como resultado de seu trabalho duro. Ajudou o fato
de Donovan ter se afastado durante a noite. Seu elogio a
aqueceu mesmo quando a temperatura no carro permaneceu
fria.
Silêncio, aquele inimigo familiar, desceu novamente.
— Devemos conversar sobre o que aconteceu ontem à
noite.
Ah. Achar que ele decidiria passar os próximos quinze
minutos em silêncio tenso não era a melhor estratégia. Jada
olhou pela janela do passageiro. Ela não viu nada da paisagem.
— O que há para conversar? Nós nos beijamos. Isso foi um
erro. Fim.
Donovan suspirou.
— Jada.
— Não venha com “Jada” para cima de mim. Você é o único
que nem olhou para mim. — Ela se encolheu, ouvindo a dor e
a confusão em sua voz.
Ele suspirou novamente.
— Eu sinto muito. Eu não esperava…
Jada se virou quando ele não terminou seu pensamento. Ela
precisava saber.
— Você não estava esperando o quê?
Suas mãos com cicatrizes apertaram o volante enquanto ele
olhava para a frente.
— Minha reação intensa por você. Eu não sentia nada assim
há muito tempo, e isso me chocou. E quando estou chocado,
levo um minuto para me recompor.
Jada suspirou.
— Entendo. — E ela entendia. Ela ainda estava tendo
dificuldade em aceitar que ela sentiu tudo enquanto estava
presa em seus braços. Isso nunca tinha acontecido com ela
antes.
— Lamento que tenha parecido insensível. Essa nunca foi
minha intenção.
O coração de Jada deu um salto. Como não poderia? Sua
sinceridade soou verdadeira. Ele nunca foi nada além de um
cara sincero, mesmo quando ela o estava deixando louco. Se ele
podia ser honesto, ela também podia.
— Obrigada pelo pedido de desculpas. Eu estava me
sentindo um pouco magoada por causa de sua reação, mas o
que você disse faz sentido. Foi um momento, e acabou. Não é
como se nenhum de nós estivesse querendo começar alguma
coisa, certo?
— Certo. — Ele mostrou um sorriso tímido e incerto, e
ainda assim tão devastador, do jeito dele.
— Então, amigos?
Jada assentiu.
— Sim. Não posso prometer não fazer algo no futuro que
faça você suspirar de desespero, mas sim, somos amigos.
E se ela achasse que estava gostando dele? Bem, ela já havia
se lembrado das várias razões pelas quais ela e Donovan não
deveriam ter algo a mais. Essas razões ainda eram válidas, o que
deixava apenas um resultado viável. Somente amizade.
Ele riu, a leveza finalmente retornando aos seus olhos.
— Não há dúvida de que isso vai acontecer.
Jada esfregou as mãos.
— Mal posso esperar... Donny.
— É Donovan — ele disse com os dentes cerrados, suas
narinas dilatadas.
Ponto para Jada!
Jada riu. Isso era muito melhor do que um silêncio tenso.
— Sua mãe te chama de Donny. Eu vou te chamar de
Donny.
Conhecer sua mãe e irmãs foi revelador. Foi fácil escalar
Donovan como o impassível. Mais fácil para ela, pelo menos.
Qualquer coisa para manter suas emoções e sentimentos sob
controle. Mais fácil não pensar nele como um ser humano vivo,
respirando e carinhoso. Mas ela não podia mais fingir. Não
depois de ver o relacionamento amoroso e próximo que ele
compartilhava com sua mãe e irmãs. Não depois de ouvir a
história sobre um jovem Donovan tentando se aproximar e
cuidar da família dele. Ela imaginou um Donovan determinado
e resoluto reunindo seus suprimentos e saindo para montar
uma barraca de limonada, e seu coração se derreteu.
Ele lançou a ela o mesmo olhar desinteressado que ele sem
dúvida lançou nos clientes transitórios que se recusaram a
comprar sua limonada quando ele era jovem.
— Eu tenho o mesmo nome do meu avô, então ela me
chama de Donny para evitar confusão.
Ela estudou seu perfil e tentou ao máximo não se distrair
com sua mandíbula afiada e como ela não tinha aproveitado a
oportunidade para acariciá-lo no armário de suprimentos.
— Aposto que você tinha onze anos quando pediu para
parar de ser chamado de Donny.
— Dez anos, na verdade — ele murmurou.
Ela riu. Ela poderia totalmente fazer essa coisa de ser amigos.
Totalmente.

∗∗∗

Jada abriu seu pó compacto e observou sua aparência no


espelho. O suor que ela podia sentir gotejando em seu couro
cabeludo não escorregou por seu rosto, felizmente. Ela tinha
borrado sua maquiagem de qualquer maneira. Ela nunca saiu
de casa sem suas ferramentas inestimáveis. Maquiagem era uma
armadura, e ela precisava ter certeza de que seu equipamento
estava em perfeitas condições o tempo todo.
Ela apertou os lábios. Sem batom nos dentes. Ela adora esse
tom. Era o batom que ela usava quando queria se sentir
confiante. Fenty 67. Uma cor ousada que destacava sua pele.
— Você parece bonita — disse Donovan, sentado ao lado
dela no sofá na sala verde onde eles esperavam que um produtor
os levasse ao estúdio para gravar.
Ela fechou o compacto.
— Com elogios como esse, ficarei surpresa se minha cabeça
passar pela porta.
— Você não precisa que eu diga que você é uma mulher
bonita. — Ele disse isso claramente, sem uma pitada de
zombaria. Como se fosse uma verdade simples que não pudesse
ser discutida.
Ele também não parecia feliz com isso, e ainda assim seu
coração, aquele músculo estúpido, gaguejou de alegria.
— Obrigada. Eu acho.
Seu telefone apitou com uma mensagem recebida. Ele o
pegou, franziu a testa para a tela por um segundo, então enfiou
o telefone de volta no bolso. Um suspiro cheio de frustração
acompanhou o gesto.
— Más notícias? — perguntou Jada.
— Não é nada.
Não parecia nada, mas antes que ela pudesse decidir se
deveria ou não pressionar seu novo “amigo”, a porta se abriu e
uma mulher na casa dos trinta anos apareceu, usando um fone
de ouvido.
— Oi, eu sou Jenny, uma das produtoras. Vocês estão
prontos para ir ao set?
Jada respirou fundo e se levantou lentamente.
— Estou tão pronta como nunca.
Ela e Donovan seguiram Jenny um atrás do outro pelo
corredor. As paredes estavam forradas com fotos de convidados
ao longo dos anos e fotos dos momentos mais infames no
programa. Ela e Donovan acabariam na parede? Ela esperava
que não. Ela queria entrar e sair sem um novo escândalo. Ou o
desejo de implorar para beijá-lo novamente.
Jenny os apresentou à apresentadora, Kayla Ruiz, uma
mulher deslumbrante de cabelos castanhos, enquanto dois
assistentes de produção colocavam os microfones neles.
Infelizmente, essa tarefa não demorou muito e logo eles
estavam sentados em dois bancos de metal ao lado de Kayla,
esperando o programa voltar de um intervalo comercial.
Por que ela achou que isso era uma boa ideia? Ela deveria ter
ficado de boca fechada. Mas não, ela queria agradecer a
Donovan por deixá-la organizar a reunião do clube do livro e
conseguir mais clientes para a loja.
Por trás da câmera, Jenny fez a contagem regressiva.
— Três, dois…
Kayla instantaneamente se transformou em uma
apresentadora profissional de TV.
— Bem-vindo de volta ao Good Day, San Diego. Hoje,
temos a sorte de ter Donovan Dell, uma das estrelas do San
Diego Knights, e Jada Townsend-Matthews, que vocês devem
se lembrar, estrelou a temporada mais recente de Minha Cara
Metade. Ela também é neta da dona dos Knights, Joyce
Townsend. Mas tudo isso é notícia velha. O que vocês podem
ou não saber é que Donovan é co-proprietário da Sugar Blitz,
a mais nova loja de cupcakes de San Diego, e Jada trabalha lá
com ele, e eles são o casal mais novo e mais quente de San Diego.
Bem-vindos, Jada e Donovan.
Jada jogou os ombros para trás. Aqui vamos nós.

∗∗∗

— Obrigada por nos receber. — Jada disse confiante enquanto


Donovan acenava.
Ele só podia supor que o gesto parecia tão estranho quanto
realmente aparentava. Ele não estava acostumado a estar na
câmera com inúmeras luzes quentes brilhando sobre ele. No
campo de futebol, ele ignorava, depois esquecia
completamente as câmeras assim que o jogo começava e ele
ficava absorto na ação no campo.
Quanto a Sugar Blitz, Nicholas geralmente lidava com a
mídia. Ele nunca conheceu uma câmera que ele não gostasse.
Donovan ficou mais do que feliz em ceder os holofotes. Pena
que havia um holofote atualmente brilhando diretamente
sobre ele, transformando o estúdio em um verdadeira caixa de
macarrão chinês quente.
A apresentadora sorriu para o público de casa.
— Hoje, Jada e Donovan vão nos mostrar como fazer os
cupcakes perfeitos que farão sua família e amigos implorar por
mais.
— Ou pelo menos ir até a Sugar Blitz para comê-los — Jada
brincou.
Uma bolha de riso explodindo de seu peito o surpreendeu,
ajudando a deixá-lo à vontade. Jada sorriu para ele como se
estivessem compartilhando uma piada particular. Como se o
momento na despensa não tivesse acontecido. Mas tinha. Seus
olhos brilhantes e sorriso brilhante o deslumbrou. Nada de
novo aí.
A apresentadora Kayla limpou a garganta e olhou para ele
com expectativa.
— Certo. — Ele bateu palmas e gesticulou para os
ingredientes colocados na mesa na frente deles. — Nós vamos
fazer cupcakes de baunilha. Eles são os nossos número um por
causa do nosso ingrediente secreto, que vou revelar apenas para
as pessoas que assistem e depois para todas as pessoas que, sem
dúvida, assistirão mais tarde no YouTube, Facebook e Twitter.
Kayla riu.
— Apenas alguns, certo? Jada, você é confeiteira?
— Eu não sou — ela disse enfaticamente. — Donovan vai
fazer todo o trabalho hoje. Estou aqui para torcer. Mas vou
dizer que Donovan é um ótimo professor. — Seu olhar se
desviou para ele. — Ele é super paciente comigo.
— Foi isso que te atraiu em Donovan? Sua paciência?
Donovan desviou os olhos para a apresentadora. Oh, ela era
suave. Ele tinha que dar crédito a ela por seguir a fofoca de
forma tão perfeita.
Para seu crédito, Jada seguiu com ele.
— Com certeza. Eu sabia que ele era especial quando eu
bagunçava as coisas na cozinha e ele continuou me
incentivando.
— Há quanto tempo vocês dois estão se vendo?
Enquanto Kayla falava, Donovan começou a misturar os
ingredientes.
Jada distraidamente entregou-lhe a garrafa de baunilha antes
de responder.
— Eu o conheci antes de entrar em Minha Cara Metade, e
não conseguia parar de pensar nele enquanto estava no
programa. Quando chegou a hora de tomar essa decisão final,
tive que ser honesta comigo mesma.
Kayla assentiu como se estivesse conduzindo uma entrevista
contundente.
— Essa honestidade levou a uma reação interessante dos fãs
do programa. Donovan, você viu o abuso que Jada sofreu
online?
Ele assentiu.
— Eu vi, e é um absurdo completo.
Ao lado dele, Jada estremeceu, claramente surpresa por ele
ter buscado os ataques em sua direção. Ele encolheu os ombros.
Ele não havia mencionado porque não tinha certeza se ela
queria falar sobre isso.
— Eu usaria uma linguagem pesada, mas reconheço que este
não é um programa de fim de noite na parte premium ou
serviço de streaming — acrescentou.
Kayla fez uma cara de “own” – para a câmera.
— Jada, você é uma mulher de sorte por ter alguém
defendendo você assim. — Sua expressão endureceu. — Claro,
há algumas especulações de que nem tudo que reluz é ouro.
Donovan congelou. Ela sabia que eles não estavam
realmente namorando?
— Houve algumas especulações de que Donovan está
namorando você para conseguir um contrato melhor com os
Knights — ela continuou.
A fúria cresceu em Donovan tão rápido que quase
obscureceu sua visão. Uma gargalhada alta o impediu de
colocar Kayla tão na linha que ela nunca olharia de soslaio
novamente.
Jada bateu com a mão na mesa.
— Você está falando sério agora? Ele está namorando
comigo para conseguir um contrato melhor? Isso seria um
grande inferno. Ele é o homem mais honesto que eu já conheci
e a última pessoa a fazer algo tão dissimulado. Ele nem sabia
quem eu era quando nos conhecemos. Por favor, peça
desculpas a ele agora ou eu vou sair desse programa.
Jada estava falando sério. Ela olhava para todo mundo como
uma guerreira pronta para defender sua família. Ele foi tocado
além da crença. Apesar de tudo o que aconteceu entre eles,
apesar da forma como ele feriu seus sentimentos naquela
despensa, ela ainda o protegeu.
Os olhos de Kayla se arregalaram.
— Eu sinto muito. Eu não quis ofender. Eu só queria saber
sua opinião sobre alguns dos rumores que estão por aí.
— Esse boato é falso, eu posso assegurar. — disse Donovan,
sua voz calma e firme com determinação. Jada pegou sua mão,
silenciosamente, oferecendo conforto.
Kayla considerou os dois.
— Sim, eu posso dizer que é. Minhas sinceras desculpas. —
Ela se virou para a câmera com um sorriso. — E antes que eu
possa ser demitida por falar demais, por que não vamos para a
receita? Jada, já que você não vai cozinhar hoje, se importa de
direcionar a atenção a você lendo os ingredientes?
Ela empurrou o queixo em direção a um cara de vinte e
poucos anos, um dos assistentes de produção, que estava
segurando cartões de sinalização.
Jada hesitou, depois limpou a garganta.
— Claro, sem problemas. Bem, na verdade, pode haver um
problema. Eu tenho dislexia, então se eu hesitar ou pronunciar
algo errado, é por isso.
— Ah, se você quiser, eu posso fazer isso — disse Kayla.
Jada ergueu a mão.
— Não, eu quero fazer isso. A dislexia não é o fim do
mundo. Aprendi a compensar e a trabalhar melhor quando a
situação exige. Pode ser difícil, mas não quero dar a impressão
de que não posso fazer algo por causa desse problema.
Ela não olhou para ele o tempo todo em que falou. Por quê?
Ela achava que ele iria tirar sarro dela? Que ele era tão idiota?
Era isso que todas as suas interações a levaram a acreditar?
— Você está absolutamente certa — disse Kayla. — Quando
você estiver pronta.
Jada estendeu a mão para ele, sinalizando que estava tudo
bem com ele indo em frente.
— Adicionaremos a manteiga e o açúcar, depois
adicionaremos dois ovos, o nosso ingrediente secreto, e a
farinha — disse Jada enquanto Donovan e Kayla
demonstravam em suas respectivas tigelas.
Assim como no campo de futebol, ele logo esqueceu as
câmeras e ficou absorto na receita. Ele e Nicholas prepararam
porções dos cupcakes para que tivessem tempo de passar por
todo o processo no segmento de cinco minutos. Ele bateu o
açúcar e a manteiga em uma mistura espumosa na tigela de
vidro enquanto Jada observava.
— Bom trabalho, Donovan. Você pode ser capaz de ganhar
a vida com isso algum dia. — Jada piscou. — Agora é hora do
ingrediente especial. — Ela olhou para a esquerda, depois para
a direita, depois se inclinou para a frente e sussurrou
zombeteiramente. — O iogurte.
Donovan riu. Ela era natural. Ele podia ver porque os
espectadores foram atraídos por ela naquele programa. Na
direção dela, ele derramou a mistura na assadeira de cupcake.
Era uma assadeira com seis buracos, ao contrário da panela de
duas dúzias que eles usavam na loja. Ele sorriu. Isso trouxe de
volta memórias de cozinhar com sua mãe durante os tempos
menos tumultuados de sua infância, ou os momentos em que
ambos precisavam de uma distração dos tempos tumultuados.
Kayla olhou para a câmera.
— Através do milagre da televisão, nossos cupcakes estão
prontos. — Ela tirou a panela do forno e engasgou. — Estes
parecem incríveis, Donovan.
— Eles estão — disse Jada. — E deixe-me lher dizer, a cereja
é realmente a cereja no topo do bolo.
— Então vamos colocar isso. — Ele e Kayla pegaram seus
talheres de glacê. — Você também, Jada. A parte difícil acabou
agora.
Ela mostrou a língua para ele, enquanto Kayla ria. Jada
pegou o saco de confeiteiro.
— Quais sabores estão dentro do saco, Donovan?
Ele piscou.
— É uma surpresa. Aperte suavemente. — Ele esperou
enquanto as duas mulheres espremiam suavemente, soltando
um pequeno jato de glacê. Ele não iria pensar em como Jada
estava linda, com a testa franzida em profunda concentração, a
língua aparecendo entre os lábios vermelhos entreabertos. Esse
era o batom que ela usava quando eles se beijaram. Ele apostaria
tudo o que possuía nesse fato.
Ele ainda se lembrava do gosto de seus lábios. Ele assistiu o
clipe de seu primeiro beijo muitas vezes para contar. Se
Nicholas e August soubessem o quão alto o número foi –
inferno, se Jada soubesse – ele nunca pararia de ouvir sobre. Ele
disse isso a si mesmo e então apertou o play novamente de
qualquer maneira. E essas fotos? Donovan balançou a cabeça.
Não, ele precisava parar.
Eles concordaram em ser amigos menos de uma hora atrás,
então era isso que eles seriam, não importava o que ele e/ou seu
coração quisessem.
— Eu tenho morango — Jada disse, sua alegria clara. A
alegria dela o deleitou. A loja havia se tornado um negócio para
ele, dinheiro, planilhas e gastos. Ele havia perdido de vista a
razão pela qual ele disse sim à loja em primeiro lugar, aquelas
memórias de sua infância, o simples prazer de cozinhar com sua
mãe. Jada estava trazendo de volta todos aqueles bons
sentimentos.
— Eu tenho chocolate — disse Kayla. — O que é ótimo,
mas sinto que vou estragar tudo.
— É tudo sobre a ação do pulso — disse ele. — Pressione
suavemente o saco e mova o pulso em um círculo para espalhar
o glacê uniformemente.
Assim que ele terminou, um grande pedaço de glacê caiu da
bolsa de Jada. O cupcake parecia que uma bolsa de sangue havia
explodido em cima dele.
— Merda — ela murmurou, sua cabeça caindo.
— Ei, ei, nada disso — disse ele. — Todos nós começamos
como iniciantes. Alguns de nós permanecem nessa fase por
mais tempo do que outros.
Seus olhos se arregalaram, sua tristeza claramente esquecida.
— Ei!
Ele deu de ombros, seus lábios se contraindo.
— Só estou sendo honesto.
— Por que você não me mostra como fazer isso, Sr.
Espertinho?
Antes que ele pudesse pensar sobre isso, ele deu um passo
atrás dela e agarrou seu pulso. Ele reconheceu seu erro
imediatamente. Ela se encaixava perfeitamente nele. Sua pele
era macia e suave. Ele seria um tolo se não notasse a forma como
o pulso dela acelerou sob seus dedos. Ele se inclinou para
sussurrar em seu ouvido.
— Você tem que ter paciência. Devagar. — Ele guiou a mão
dela enquanto ela espalhava a cobertura sobre um cupcake
diferente. Ele a soltou para se impedir de girá-la em seus braços
e beijá-la como ele desejava fazer, embora ele tivesse gastado
muito tempo lembrando por que isso era uma má ideia. —
Veja, isso é uma nota mediana, mas não horrível. Eu sabia que
você poderia fazer isso.
— O quê? — Ela girou. Antes que ele pudesse piscar ou
pensar em se proteger, ela tirou a cobertura vermelha do bolo e
passou no nariz dele. Sua cabeça inclinou para o lado. — Como
vai, Rudolph9?
Seus olhos se estreitaram enquanto ele lutava para conter o
riso.
— Você vai pagar por isso.
Seus olhos dançaram com zombaria.
— Sim, como? Não tenho medo de você.
— Vocês dois são adoráveis — disse Kayla, sacudindo
Donovan de volta ao presente. Eles estavam em um estúdio de
TV, não em um mundo privado de sua própria criação.
Infelizmente.
— Obrigada por estar aqui hoje. — Kayla virou-se para
dirigir-se à câmera. — Se você quiser experimentar esses
cupcakes maravilhosos, visite a Sugar Blitz. Donovan e Jada
estarão te esperando. Já voltamos.
— E fora do ar. — Jenny gritou, enviando o programa para
o comercial.
— Eu posso ver porque você deixou aquele outro cara
comendo poeira e porque vocês tem seu próprio shipper de
casal — disse Kayla. — As pessoas correspondem ao amor

9
Rudolph ou Rudolfo a Rena de Nariz Vermelho, é uma rena fictícia que
possui um nariz vermelho incandescente, popularmente conhecida como a
"Nona Rena do Pai Natal".
verdadeiro. Vocês têm sorte de ter um ao outro. Vocês dois são
o casal perfeito.
Donovan chamou a atenção de Jada. O casal perfeito falso.
Esse era o acordo deles. Ele precisava se lembrar desse fato
inegável.
— No geral, tudo correu bem, você não acha? — Jada
perguntou quando eles voltaram para o carro de Donovan. —
Quero dizer, além daqueles trinta segundos em que pensei que
ia ter que lutar com esses saltos. — Ela tinha que dizer algo para
quebrar o silêncio prolongado. Algo para afastar a memória de
seu coração pulando quando Kayla disse que eles eram o casal
perfeito. Eles não eram o casal perfeito. Eles nem eram um
casal. Eram... colegas de trabalho, ou, mais precisamente, chefe
e empregada temporária. Amigos, até. No entanto, a frase
permaneceu. O casal perfeito.
Ele olhou na direção dela.
— Sim. Kayla se empolgou com os cupcakes, e acho que ela
realmente quis dizer isso e não por medo de ter enfiado o pé tão
fundo na garganta que nunca seria capaz de tirá-lo. A Sugar
Blitz teve uma grande publicidade. Nosso esquema está
funcionando. É ótimo. — Ele não parecia ótimo. Ele parecia
distraído.
— Você está preocupado com o que ela disse sobre você
namorar comigo para conseguir mais dinheiro da Vovó?
Ele balançou sua cabeça.
— Não. Nós dois sabemos que isso não é verdade. Mas
tenho uma confissão a fazer. Quando sua avó me pediu para
contratá-la, achei que concordar poderia me colocar em uma
posição melhor nas negociações do meu contrato.
Jada estalou os dedos.
— Eu sabia. Eu sabia que você tinha motivos péssimos. —
Ela riu do olhar aflito em seu rosto. — Donovan, sério, está
tudo bem. Eu conheço minha avó. Não tenho dúvidas de que
ela passou por cima de você e não lhe deu nenhuma opção real
além de me contratar, então faz todo o sentido que você estava
pensando no que poderia ganhar com isso. Você é a pessoa mais
honesta que eu já conheci, e se eu não te admirasse por isso, eu
te odiaria por isso.
— Sim, eu acho. — Ele não abriu um sorriso.
Jada estudou seu perfil. No que ele estava pensando? Ele
estava se arrependendo do acordo? Lamentando ela trabalhar
na loja? Bem, essa parte não fazia sentido. Eles estavam se dando
bem, e ela não disparou o alarme de incêndio novamente.
Ela riu.
— O que é tão engraçado?
— Só de pensar em como quase queimei sua cozinha.
— Então você admite! — Havia humor em sua voz.
Finalmente. Ela não queria examinar muito de perto como isso
a fazia se sentir bem.
Jada colocou seu tom mais altivo.
— Eu não faço esse tipo de coisa. Eu estava apenas usando
suas palavras para descrever a situação.
Seus olhos brilharam.
— Certo. — Ele se acalmou por um momento, então olhou
na direção dela. — Foi legal como você lidou com ela pedindo
para você ler as cartas de sinalização.
Os músculos dos ombros de Jada travaram. Lá estava. Ela
estava se perguntando quanto tempo levaria para ele trazer isso
à tona.
— Eu meio que esperava que você esquecesse isso.
As sobrancelhas de Donovan se desenharam em um V
profundo.
— Por quê? Uma deficiência de aprendizagem não é algo
para se envergonhar.
Seus ombros relaxaram um pouco.
— Eu sei disso, e ainda… — Ela deu de ombros.
— E ainda o quê? As pessoas te falam merda por ser
disléxica?
Jada olhou pela janela do passageiro para as paisagens que
passava, para se dar alguns segundos extras antes de responder.
Ela odiava falar sobre isso. Mas ele revelou uma parte de si
mesmo na despensa, e não importava o quão longe as coisas
tivessem ido depois, ela nunca esqueceria isso.
— Principalmente meus pais.
— Você está falando sério? Por que eles fariam isso?
Ela balançou a cabeça, como se aquele simples ato pudesse
desalojar todas as memórias dolorosas que se acumularam ali
desde a infância.
— A dislexia não se encaixava na narrativa da família de elite
perfeita e inteligente.
— A dislexia não tem nada a ver com inteligência. — Ele
parecia tão forte, tão chocado que as pessoas faziam esse tipo de
besteira. Ter esse homem ao seu lado lhe deu uma força que ela
nem sabia que estava perdendo.
Ela deu de ombros.
— Eles esperam a perfeição sem esforço. Uma dificuldade
de aprendizado meio que atrapalhou isso, e acho que eles nunca
vão me perdoar por isso.
— Isso é horrível.
Jada olhou em sua direção.
— Sim, no que diz respeito a eles, ou você é um gênio que
tira as melhores notas ou não é brilhante. Não tem muito
espaço para uma área cinzenta. — Sua voz sumiu quando ela se
lembrou de todas as vezes que eles involuntariamente a fizeram
sentir uma merda. Como se ela não fosse digna de amor por
causa de algo sobre o qual ela não tinha controle.
— Eu sinto muito. — Sua voz profunda a trouxe de volta ao
presente. — Entendo. Bem, mais ou menos. Não é exatamente
a mesma coisa, mas toda a minha vida, quando as pessoas
ouvem atleta, elas tendem a pensar automaticamente em
“jogadores burros”, até mesmo alguns dos treinadores, que nos
consideram peças de jogo musculosas que podem mover à
vontade no tabuleiro de xadrez, conhecido como o campo de
futebol americano. Eu me formei em administração de
empresas, embora meus treinadores da faculdade não
quisessem que eu me formasse.
— No que eles queriam que você se especializasse? — Sim,
ela estava feliz em seguir em frente com a conversa, mas
principalmente, ela queria cada pedaço de informação que
pudesse ter sobre ele. Ela queria saber tudo. Ela queria conhecê-
lo.
Ele ergueu os ombros largos.
— Cestaria. Não sei. O que quer que não tirasse meu foco
no campo. A economia empresarial exige uma carga de
trabalho muito grande para estudantes-atletas.
Jada resmungou.
— Estudantes-atletas? Parece que eles não se importaram
muito com a parte estudante dessa palavra.
— Isso mesmo. Eles não são pagos para se preocupar com
isso. Não teria sido tão ruim se um dos meus treinadores não
tivesse me dito que não achava que eu era inteligente o
suficiente para passar nas aulas.
Seu queixo caiu.
— Você está falando sério?
— Ah, sim. Sua chamada preocupação saiu pela culatra.
Fiquei ainda mais determinado a ser um especialista em
negócios.
Jada assentiu.
— As pessoas julgam e subestimam você. Eu entendo isso
totalmente.
Ela encontrou seus olhos. Ele entendia pelo que ela passava.
O calor se espalhou de seu coração através de suas veias.
— Eu sei que você gosta, e eu aprecio isso. Sério, é difícil, eu
sei, mas tente não deixar seus pais entrarem na sua cabeça ou
ficarem lá.
— Obrigado. E não que isso importe, mas eu sei que você
não é burro. Ninguém é. Você está um pouco tenso. — Ela
torceu o nariz. — Muito tenso.
Donovan riu enquanto parava em um sinal vermelho.
— Você tem razão.
Jada se animou.
— Eu tenho?
— Sim, sobre ninguém ser burro. Mas isso não é tudo. Você
também é impulsiva. Muito impulsiva, na verdade. Uma
constante encrenqueira que cria caos onde quer que vá.
Ele não disse isso como se estivesse irritado com esse fato.
Ele parecia quase bem com seu estado de ser. Ela se atreve a
dizer que ele parecia quase... impressionado? Ela sorriu.
— Obrigada.
Ele levantou a mão para um toca aqui. Com uma risada, ela
bateu palmas com ele e fez o seu melhor para ignorar o choque
de eletricidade que viajou por seu braço.
∗∗∗

— Se não é o herói conquistador e a heroína retornando. —


Nicholas gritou, quando Jada e Donovan entraram na loja.
— Você é ridículo — disse Donovan, balançando a cabeça.
— Eu estou certo. — Nicholas abriu os braços. — A maioria
das pessoas aqui viu os pombinhos no Good Day, San Diego e
veio ver vocês pessoalmente. Ou pelo menos isso é o que todos
estão falando.
E como Nicholas era o chefe da fofoca, Donovan não
duvidou da veracidade de sua declaração.
— Vocês fizeram um ótimo trabalho — disse Ella. — Todo
mundo estava perguntando quando vocês voltariam. Acho que
vai ter um monte de selfies.
Jada parecia um pouco em pânico, como se estivesse tendo
dificuldade em acreditar que os clientes realmente tinham
vindo em paz.
Certo.
— Antes de fazermos isso, Jada, posso falar com você por
um segundo no meu escritório?
Sua testa franziu.
— Hum, sim. Claro.
— Estaremos de volta em alguns minutos — ele gritou para
a sala em geral. Ele colocou a mão na parte inferior das costas
de Jada e relutantemente deixou a mão cair quando chegaram
à porta de seu escritório. O que era ridículo. Eles eram amigos.
Nada mais. Eles concordaram menos de duas horas atrás.
Ele abriu a porta e a seguiu para dentro.
— E aí? — ela perguntou, tomando um assento.
Ele se sentou na outra cadeira ao lado dela.
— Você parecia em pânico lá fora, então acho que devemos
checar as mídias sociais. Ou pelo menos mensagens de texto
para ver como nossa aparência foi recebida.
Jada esfregou a testa.
— Acho que preciso trabalhar em minhas habilidades de
atuação.
— Comigo você não precisa.
Seus lábios se esticaram em um breve sorriso.
— Obrigada. Você tem razão. As mídias sociais e eu não
temos o melhor relacionamento agora, então tenho mantido
distância.
A raiva brotou dentro dele. Ele desejou poder tirar a dor que
ela sofreu de pessoas escondidas atrás de seus teclados apenas
pela força de sua vontade.
— Eu sinto muito.
Jada soltou um suspiro.
— Não é sua culpa. As redes sociais dão e tiram. Se estou
olhando pelo lado positivo, todo esse ódio me levou direto para
você. Eu não teria entrado em pânico e te beijado e te
apresentado como meu namorado.
Ele mexeu as sobrancelhas.
— E no processo, descobrindo o quão bom de beijo eu sou.
Ela revirou os olhos, a luz escura neles agora substituída por
humor.
— Oh, meu Deus. Você é tão ridículo. Não vou inflar seu
ego concordando. Veja as redes sociais, por favor. Tenho
mensagens em abundância que vão contar a história. — Seu
telefone vibrou, ressaltando seu ponto. — A primeira é de
Olivia. — Ela riu. — Ela disse que eu parecia uma supermodelo,
meus sapatos eram fabulosos e demos a melhor energia de
#JaDon. É por isso que ela é minha melhor amiga.
Donovan ergueu os olhos de seu telefone.
— O que mais você tem?
— Deixe-me ver. Carrie, ela trabalha na boutique da rua.
Kendra e o resto dos membros do clube do livro. — Jada riu.
— Todos disseram que fomos muito bem. Oh, espere. Aqui
está uma de Lila, a produtora de Minha Cara Metade. Não
vou ler esse. Ela está me incomodando para fazer entrevistas, e
eu sei que ela vai ficar chateada por eu ter feito uma sozinha. —
Ela suspirou, seus ombros caindo.
— Você está bem? — Donovan perguntou, colocando a
mão em seu ombro. — O que há de errado?
Ela levantou a cabeça. Decepção nadou em seus lindos
olhos.
— Acho que estava esperando uma mensagem dos meus
pais ou da minha irmã. — Ela soltou uma pequena risada. —
Não sei por quê. Eles nem veem muito Good Day, San Diego.
Mas ela estava ferida do mesmo jeito. Estava escrito em todo
o rosto dela.
Jada ergueu o queixo.
— Não importa. Todas as mensagens que li foram positivas.
Estou aliviada.
Ele não acreditou nela, mas o olhar em seu rosto o alertou
para não pressionar, então ele simplesmente acenou com a
cabeça.
— Até onde eu sei, as mídias sociais estão indo bem. A única
coisa negativa que posso encontrar são algumas pessoas nos
dizendo para não ostentar nosso relacionamento em todos os
lugares. É impróprio ou algo assim.
Jada riu.
— Eu não disse algo sobre ser incapaz de vencer? O que mais
eles disseram?
Ele levantou o telefone ao nível dos olhos.
— A química de Jada e Donovan está fora da corrente. Não
é à toa que ela deixou o Dr. John comendo poeira. Onde posso
encontrar meu próprio Donovan, um homem que não tem
medo de mostrar seu lado mais suave e nos dizer o quanto ele
aprecia sua mulher?
Jada bufou.
— Claro, você leria um tweet elogiando você.
— Meio difícil não fazer. Existem muitos deles.
Ela pegou um bloco de notas adesivas da mesa dele e jogou
na cabeça dele. Ele se esquivou facilmente do míssil rosa-
choque, que ricocheteou inofensivamente na parede branca e
deslizou para o chão.
Ele deu de ombros quando ela rosnou para ele.
— Você tem que se esforçar mais do que isso se quiser
vencer o rei.

∗∗∗

Donovan pegou um guardanapo que havia caído no chão e


usou uma toalha para limpar as migalhas que alguns clientes
que partiram recentemente deixaram para trás. Seu telefone
tocou no bolso de trás. Outra chamada de parabéns? Ou
alguma outra coisa? Seus ombros enrijeceram quando ele
pegou o telefone e suspirou quando viu o nome na tela. Adam,
seu agente. Ele foi até a mesa mais distante da loja.
— E aí, cara? Tem alguma notícia sobre a extensão do
contrato?
O sotaque do Brooklyn de Adam flutuou pelo alto-falante.
— Na verdade, é por isso que estou ligando. Eu vi uma parte
sua no Good Morning, San Diego esta manhã.
Donovan encostou-se à parede.
— Ok. E o que, que tem?
— Tem certeza que é uma boa ideia namorar a neta da sua
chefe?
Donovan olhou em volta para se certificar de que ninguém
o ouviria. Por sorte, ninguém estava prestando atenção nele.
— Por que isso é da sua conta?
— Eu sou seu agente, e qualquer coisa que afete seu
contrato é minha preocupação. O tribunal da opinião pública
se importa. Se as pessoas pensam que você está namorando com
ela para ganhar mais dinheiro, não parece bom. Queremos o
público do nosso lado quando estamos pedindo milhões de
dólares. Talvez você devesse terminar esse relacionamento ou
seja lá o que for.
Ele preferia mastigar seu braço. Espere. Não. Ele prometeu
a Jada. É por isso que o pensamento de terminar seu
“relacionamento” o deixou enjoado.
— Isso não vai acontecer.
Adam suspirou.
— Eu suspeitei que você diria isso. Você parecia um bobo
apaixonado.
A mandíbula de Donovan se apertou.
— Posso desligar?
— Não, não, não. Tudo bem. Que tal você pedir à sua nova
namorada para convencer sua chefe de te dar alguns termos
mais favoráveis no contrato?
A mão de Donovan apertou o telefone.
— Eu não vou pedir para Jada fazer isso!
— Você não vai pedir a Jada para fazer o quê?
Merda. Ele estava tão ocupado tentando conter sua fúria
que não a viu chegar até ele.
Ele encontrou seus olhos preocupados. Merda.
— Adam, adeus. Faça o seu trabalho ou encontrarei outra
pessoa para fazer por você.
— O que está acontecendo? — ela perguntou assim que ele
pressionou o ícone para encerrar a chamada.
A verdade sempre foi seu cartão de visitas.
— Meu agente é um idiota. — Ele rapidamente retransmitiu
os pensamentos de Adam e como ele os rejeitou.
A angústia se espalhou por seu rosto.
— Eu não quero colocá-lo em uma posição em que você
esteja em desacordo com as pessoas em sua vida por minha
causa.
Donovan balançou a cabeça.
— Não se preocupe. Não é você. Adam se preocupa com
dinheiro, por isso o contratei, mas ele às vezes pode ir longe
demais. Não é a primeira vez. Não será a última. Mas eu o
colocarei na linha. — Ele tocou o braço dela. Ele não podia
evitar. — Eu tenho você. Isso não é culpa sua.
Ela assentiu, mas a dúvida permaneceu em seu olhar. O que
aconteceu com ela para fazê-la duvidar de si mesma? Resolver
o quebra-cabeça que era Jada havia se tornado seu objetivo
número um na vida.

∗∗∗

— Você realmente vai nos obrigar a fazer isso? — August


perguntou, seu desgosto claro.
“Isso" sendo a maratona de Minha Cara Metade.
— Claro que sim — Donovan respondeu alegremente de
sua cozinha, onde ele estava pegando lanches e cerveja. — E
você veio, então não pode reclamar.
Ele ordenou que August e Nicholas aparecessem em sua
casa depois que a Sugar Blitz fechasse a noite, mas quem se
importava com os detalhes?
— Uma ova que vou fazer isso — August murmurou. Mas
ele não se moveu de seu poleiro no sofá de Donovan.
— Não vai te fazer nenhum bem — Nicholas informou de
onde ele estava esparramado no sofá de dois lugares. — Eu
tentei.
Donovan atravessou a sala de estar e depositou as batatas
fritas, pipoca e bebidas na mesa de centro antes de dar um tapa
na nuca de Nicholas. Ele deu dois passos para fora do caminho
antes que seu amigo pudesse retaliar.
— Meu homem aqui está correto.
E ele sabia que eles o protegeriam, não importasse o quê.
Eles o apoiariam de qualquer maneira que ele precisasse.
Mesmo que isso incluísse assistir a um reality show de namoro
na TV. Além disso, eles eram filhos da puta intrometidos. Bem,
Nicholas era, de qualquer maneira.
Ele definitivamente precisava do apoio deles enquanto se
torturava vendo Jada se apaixonar por outro homem em alta
resolução. Ainda assim, Donovan estava determinado, embora
um pouco enjoado.
Ele precisava entender Jada. Não se tratava mais de querer
entendê-la. Ele precisava entendê-la como precisava de ar para
sobreviver.
A necessidade – o desejo – de entendê-la completamente e
por tudo que ela passou pesava sobre ele.
Foi por isso que ele alistou seus meninos para esta missão.
Ele confiava nas opiniões de seus melhores amigos e sabia que
eles provavelmente perceberiam algo que ele não perceberia.
Ele era lógico, seguia os fatos, o que não considerava um
problema, mas de acordo com as pessoas mais próximas a ele,
sua mentalidade o tornava desatento aos porquês e como as
pessoas tomavam as decisões confusas.
No entanto, todos esses fatos não pararam as dúvidas e o
“que porra ele estava fazendo?” de soar em um loop em seu
cérebro.
— É melhor que isso seja bom — disse Nicholas. —
Cancelei um encontro para estar aqui.
Agora, isso era fraternidade.
— Obrigado, cara.
Ele se juntou a August no sofá. Ele já havia selecionado o
programa na plataforma de streaming em sua TV. Tudo o que
ele tinha que fazer era pressionar o play. Ele enfiou algumas
batatas fritas na boca e passou uma cerveja para Nicholas em
vez disso.
— Pare de enrolar — disse August.
Porra, às vezes era uma droga ter amigos que te conheciam
melhor do que você mesmo.
— Eu não estou…
— Você está. — Nicholas apontou para a TV.
— Tudo bem.
Hora do show. Ele apertou o play. A temporada teve apenas
seis episódios. Ele poderia passar por isso, e ei, se ele precisasse
avançar em algumas cenas, estava tudo bem.
Os créditos de abertura tocaram com uma batida musical
leve e otimista que, sem dúvida, deveria deixar o público de
bom humor. Pena que teve o efeito oposto em Donovan. Mas
isso foi ideia dele, então ele a veria até o fim amargo.
— Quem é esse idiota? — Nicholas perguntou, comendo
pipoca, sobre o anfitrião.
O cara esbanjou esperteza com seu sorriso largo demais e
folheados e maneira falsa de “ah, merda”. Donovan fez uma
careta.
— Vince Baker.
Nicholas e August caíram na gargalhada quando o
protagonista do programa, o Doutor John Timmerman,
estimado anestesista, foi apresentado.
— Existe uma razão para eles precisarem gravar um vídeo
dele tomando banho para provar o quão bom médico ele é? —
perguntou Nicholas.
Donovan não se importava. O show passou a apresentar os
competidores. Vinte mulheres disputariam o coração do Dr.
John, e Jada era uma delas. Saber que ela finalmente recusou a
proposta do Dr. John não impediu que o ciúme queimasse
profundamente em seu interior.
E lá estava ela. Linda como sempre. Ela usava um vestido
preto até o chão bordado com fios de ouro. Seu cabelo parecia
uma cascata sobre seu ombro em ondas. Aquele idiota, Dr.
John, sorriu para ela e beijou sua mão como o idiota que ele
claramente era.
Donovan rosnou.
— Você vai mesmo passar por isso? — perguntou Nicholas.
— A diversão ainda nem começou.
Certo. Ele precisava relaxar. Ele se acomodou para ver Jada
se apaixonar por outro homem.
Duas horas depois, ele não havia se movido de seu assento.
— Droga, isso está ficando bom — disse Nicholas. — Quero
dizer, já sabemos como isso termina, mas estou entretido.
Como se Candace fosse a vilã, mas será que o velho vai notar?
August apontou para Nicholas.
— Certo! E quem ele vai escolher para iniciar este episódio,
Angela ou Destiny? Eu preciso saber. Precisamos de mais
pipoca.
— Claramente, a escolha certa é Angela. Eles não têm
química, mas isso não vai acontecer se ele continuar ouvindo
Candace.
Donovan mal prestou atenção neles. Ele só tinha olhos para
Jada. Mesmo nas cenas em que ela não estava, ele se perguntava
o que ela estava fazendo. Ela estava pensando em John? Sobre
se apaixonar por ele?
Quando ela estava na câmera, ela era Jada. Engraçada,
inteligente, observadora sobre os pontos fortes e fracos de seus
colegas concorrentes e com um lugar nas afeições de John.
Ela não tinha medo de expressar suas opiniões, mas
encorajava os outros competidores. Ela manteve a calma. Sem
medo de fazer piadas. Ela sempre foi ela mesma. E essa era uma
pessoa doce e bem-intencionada que ocasionalmente se metia
em apuros por causa de suas decisões impulsivas.
Mas, se ele não soubesse melhor, ele diria que havia uma
tensão em torno de sua boca. O brilho nos olhos dela não era
tão forte quanto ele estava acostumado a ver. Ela estava
sentindo o estresse do momento? Ela e o Dr. John tinham uma
boa química. Ele a levou para jogar minigolfe no primeiro
encontro e não conseguiu parar de sorrir. “Eu amo o seu
espírito competitivo.” Jada ria e socava o punho toda vez que
dava uma tacada. Era a risada que ele desejava ouvir, tão cheia
de vida e alegria. Então, ele seguiu com um piquenique no
décimo oitavo buraco. As outras mulheres não a viam como
uma ameaça até então.
— Você está bem, cara? — perguntou Nicolau.
— Sim, por que eu não estaria? — Ele se contorceu para
encontrar uma posição melhor em seu sofá, que ele comprou
porque era o móvel mais confortável que ele já tinha
encontrado.
— Porque sua mulher está beijando outro homem
enquanto conversamos.
Donovan olhou para seu amigo.
— Ela não é minha… — A respiração saiu dele. Eles tinham
ido para a próxima cena. Tinha acabado. Graças a Deus.
Ela não era sua mulher, mas ele queria que ela fosse. E não
era o ciúme falando. Ele queria ser o único a colocar um sorriso
no rosto dela. Ele queria que ela o defendesse. Ele queria
defendê-la e saber que era real. Que eles eram reais. Que não
tinham prazo de validade.
— Nervos, certo? É só nervosismo — disse ela em uma
entrevista. — Tudo está se movendo tão rápido, mas ele é o cara
perfeito. Qualquer garota teria sorte em conhecê-lo. — Ela
nunca disse que teria sorte em conhecê-lo.
Aquele olhar cego de pânico em seus olhos era óbvio
quando o Dr. John declarou seu amor por ela durante o final
da temporada. Donovan desejou ter estado lá para confortá-la.
Dizer a ela que tudo iria ficar bem.
Donovan se endireitou. Ele poderia estar lá para ela agora.
E ele ia dizer isso a ela. Foda-se o namoro falso. Ele queria
que fosse real.
Por tanto tempo, ele segurou tanto um plano de quem
acreditava que deveria ser perfeito para todos os outros que ele
perdeu de vista quem ele era.
Ele queria a leveza que ela trouxe para sua vida. Ele não se
divertia há muito tempo. Ele gostava de quem ela era. Ela
trouxe o caos e ele queria mais. O caos veio de Jada ser
descaradamente Jada. Ela não estava tentando ser alguém que
ela não era. E ele adorava isso.
Ele queria mais dela. Ele queria que ela fosse dele. Ele queria
ser dela.
Deveria ter sido óbvio para ele. Por que mais ele passaria
uma noite assistindo Minha Cara Metade com seus dois
melhores amigos?
Ela tinha ido ao programa à procura de amor? Ele não sabia,
mas sabia que queria ser o único a dar isso a ela. Ele queria ser o
único a confortá-la quando ela temia que ninguém fizesse isso.
Ela sentia o mesmo? Só havia uma maneira de descobrir.
Jada sorriu para as duas mulheres que se aproximaram do
balcão da frente.
— Ei, prazer em vê-las novamente, Gwen e Tracy. Como
posso ajudá-las?
— Você pode pegar para a gente os melhores cupcakes da
cidade, é claro. — Gwen disse com um sorriso largo.
Tracy apontou para sua roupa de calças de ioga e uma regata
sobre um top esportivo.
— Que melhor maneira de nos recompensar por um bom
treino do que com um cupcake da melhor confeitaria da
cidade?
Jada sorriu.
— Faz todo o sentido para mim.
Tracy foi à festa de despedida de solteira e educação sexual e
mencionou que treinava na academia a dois quarteirões, mas
nunca soube que a Sugar Blitz existia.
— Como você está, meu bem? — perguntou Tracy.
— Bem. — E ela estava. A aparição no Good Day, San Diego
foi melhor do que ela poderia imaginar. Seu relacionamento
com Donovan estava no melhor lugar que já estivera. Não que
eles estivessem em um relacionamento de verdade. Se ela às
vezes pensava em como ele a fazia rir como ninguém fazia há
muito tempo, ou como ele a apoiou silenciosamente na
despensa ou no programa, ou como ele a beijou, bem, então...
nada. Eles concordaram que eram apenas amigos, e foi isso.
Ela não iria virar estraga prazeres para alguém que não tinha
dado indicação que a considerava algo além de uma amiga
irritante ou namorada falsa. Eles eram amigos, e tudo bem. Ela
precisava de amigos, e ele estava lá para ela quando ela
embarcou neste novo capítulo em sua vida. Operação: Jada-
tem-controle-sobre-sua-vida ainda estava em ação. E foi isso.
Ela se concentrou em seus clientes.
— Qual seu estado de espírito de hoje?
— Vou querer um redemoinho de abóbora. — Gwen disse.
— Eu vou querer um chocolate com manteiga de
amendoim — disse Tracy. — Pegue o maior que tiver. Se vou
comer de volta todas as calorias que queimei treinando, vou
fazer isso com estilo.
Jada riu e anotou o pedido.
— Aproveitem, senhoras.
Elas pegaram seus cupcakes e se dirigiram para uma das
poucas mesas disponíveis.
Jada examinou a loja com olhos ansiosos. A maioria das
mesas estava cheia de clientes felizes comendo cupcakes e
tomando café ou limonada. Um contraste gritante de seus
primeiros dias na loja. E isso se devia, em grande parte, a ela –
algumas não intencionais, mas outras muito intencionais. Seu
trabalho trouxe novos clientes que se transformaram em
clientes recorrentes. Além da reunião do clube do livro e da
despedida de solteira, eles realizaram uma noite de solteiros,
juntando pessoas com base em seus cupcakes favoritos, e
algumas festas de aniversário, todas divertidas e bem-sucedidas.
Esse sentimento estranho fluiu em suas veias, lhe dando energia
e orgulho.
Ela abaixou a cabeça para verificar a vitrine. Eles estavam
ficando sem cupcakes de baunilha. O especial de hoje – calda
de mocha – estava vendendo rapidamente, mas eles tinham
reabastecido há menos de uma hora, então eles deviam servir
por um bom tempo. Apenas cinco de chocolate com manteiga
de amendoim sobraram. Eles precisavam de mais desses
também, ou então Katrina, que vinha todos os dias para
comprar cupcakes para seus funcionários em sua empresa de
design como uma felicidade de tarde, não ficaria feliz.
Jada congelou. Algo estava diferente. Talvez até errado? O
barulho quieto da conversa que permeava a loja alguns
segundos atrás tinha morrido de repente. Jada levantou a
cabeça. E ofegou.
Dr. John Timmerman, a estrela de Minha Cara Metade,
estava parado na entrada da loja, examinando o interior. E
todos haviam notado. O silêncio desapareceu tão rapidamente
quanto surgiu. Sussurros altos e cliques de telefones com
câmera encheram o ar.
A observação de John parou quando ele a viu. Um sorriso
confiante se espalhou por seu rosto bonito e ele seguiu em
direção a ela com passos largos e decididos. Não havia dúvida
de que ele era um homem impressionante. Todos os outros
competidores tinham pirado quando ele foi apresentado a eles,
encantados que o show conseguiu garantir uma estrela tão
fotogênica. Ele tinha cerca de um metro e oitenta de altura,
alguns centímetros mais baixo que Donovan. Ele tinha o físico
musculoso de um homem que passava muito tempo na
academia e vivia de frango cozido e arroz.
Seus dentes eram brancos e perfeitos. Seu rosto era
perfeitamente simétrico. Um nariz afilado pairava sobre lábios
que não eram nem muito finos nem muito cheios. A pele negra
esticada sobre as maçãs do rosto altas. Ele tinha cílios longos,
muitas mulheres, incluindo Jada, pagavam muito dinheiro para
replicar.
Ele era perfeito.
Ela o rejeitou em rede nacional.
E ele estava aqui.
Seu coração, que havia parado de bater quando ela o viu pela
primeira vez, começou a bater novamente três vezes mais
rápido que o normal.
O que ele estava fazendo aqui?
— O que você está fazendo aqui? — ela deixou escapar
quando ele parou na frente do balcão.
Ele deu a risada estrondosa que soava tão bem na câmera.
— Aí está a Jada que eu senti tanta falta.
O que ele estava fazendo aqui? Ele tinha vindo para falar
umas boas por ela ter largado ele em rede nacional agora que o
choque de sua rejeição havia passado? Ela ofereceu um sorriso,
embora os músculos de seu rosto resistissem fortemente a seus
esforços.
— Você me conhece. Eu sou uma pessoa engraçada.
Seu almoço revirou em seu estômago. Sushi não era uma
boa escolha quando você estava prestes a experimentar uma
grande reviravolta. Mas talvez isso não estivesse prestes a
ocorrer. Ela precisava permanecer positiva.
Seu sorriso não tinha desaparecido.
— Eu dirigi de Los Angeles até aqui.
Jada piscou surpresa.
— Você não é de Minnesota? — Ele falou muitas vezes
sobre sua criação no meio-oeste americano no programa e o
quanto ele amava cidades que fazem fronteira com outras, neve
e tudo mais.
Ele apoiou um quadril no balcão como se planejasse ficar lá
por um tempo.
— Eu me mudei para a Califórnia há algumas semanas.
Tenho que aproveitar as oportunidades que vem com estar no
programa. Tirei um tempo da minha profissão. Eu sempre
posso voltar se as coisas não derem certo.
— Ah. Certo. — Ela não podia culpá-lo. Afinal, “explorar
as oportunidades” tinha sido sua principal razão para ir ao
show.
John não tinha parado de cegá-la com seus dentes brancos.
Claro, ele poderia estar apenas esperando para atraí-la para uma
falsa sensação de segurança antes de dar um pé na bunda dela.
Sim, não havia nada em seu contrato com o programa que
dissesse que ela era obrigada a aceitar uma proposta de
casamento se solicitada, mas era esperado. O protagonista não
foi ao programa para ficar envergonhado.
Ela apertou as mãos atrás das costas, enquanto lutava para
pensar em outra coisa para dizer. Não havia ninguém para
resgatá-la. O turno de Ella não havia começado e os donos
estavam em outras partes da confeitaria. Gritar por ajuda
parecia grosseiro. Ela baixou as mãos e endireitou os ombros.
Além disso, ela não precisava de nenhuma ajuda. Ela era Jada
Townsend-Matthews, não precisava de ninguém para ajudá-la.
Ou outras coisas.
— Como posso ajudá-lo? Você quer um cupcake?
Ele não olhou para a vitrine.
— Você está realmente trabalhando aqui, hein? Uau. A
mídia social sabe tudo, mas uma parte de mim ainda achava isso
algo difícil de acreditar.
Ela ergueu o ombro direito em um encolher de ombros.
— Sim. Estou trabalhando aqui.
— Isso é ótimo. O último mês foi um turbilhão para mim
com entrevistas e aparições na TV. — Ele não parecia
perturbado pelos cliques incessantes das câmeras na sala atrás
deles. Ela desejou poder dizer o mesmo. Usou tudo de si para
não vacilar a cada clique. — Você está maravilhosa. — Ele
continuou, examinando sua aparência.
Jada piscou.
— Ah. Obrigada. Você também está ótimo. — Talvez o fim
disso estivesse chegando agora. Não houve muito tempo para
conversar depois da rejeição. Os produtores a levaram para uma
entrevista, e ela não o procurou. Por que ele iria querer falar
com a mulher que o largou na frente das câmeras, na frente de
milhões de pessoas? Até onde ela sabia, ele também não havia
pedido aos produtores para vê-la.
John se endireitou em toda a sua altura.
— Podemos ir para algum lugar e conversar?
— Agora não. Eu sou a única olhando a loja. — Mas as
câmeras ainda estavam clicando, então talvez pudessem.
Por cima do ombro, Jada viu Donovan virando a esquina.
Ele parou quando viu todos com suas câmeras levantadas,
todos apontando na mesma direção, sem tentar ser sutil. Seu
olhar balançou em sua direção. Seus olhos se estreitaram, então
se arregalaram quando viu John. Seus passos eram decididos
enquanto ele se dirigia a eles.
Ele contornou o balcão e passou um braço em volta da
cintura dela. Ela se inclinou para o abraço, deixando sua força
penetrar nela. Ver John a deixou desequilibrada. Donovan
inclinou a cabeça, com sua realeza natural, na direção de John.
— Engraçado te ver aqui.
A tal declaração de Donovan. Ele não era de se esconder
atrás de besteira e fingir que não sabia quem era seu ex-quase-
noivo.
John, por sua vez, não mostrou nenhum sinal de
intimidação. Ninguém nunca disse não para ele. Ele sempre
conseguia o que queria. Ela percebeu esse aspecto de sua
personalidade desde o início, e os produtores só continuaram a
atendê-lo durante as filmagens.
— Ei, como você está, cara? Eu sou John. — Ele estendeu a
mão para um aperto de mão. Donovan não fez nenhum
movimento para apertá-la. John limpou a garganta. — Vim ver
Jada. Ver como ela estava.
Jada soltou Donovan e se virou para ele.
— Você se importa de vigiar o balcão por alguns minutos?
A expressão de Donovan não mudou. Ele estudou o rosto
dela por alguns segundos. Sua voz permaneceu firme. Firme.
— É claro. Sem pressa.
Sem outra palavra, Jada conduziu John em direção à porta
com um acompanhamento de cliques de câmera. Sem dúvida,
alguém estava ao vivo twittando todo o encontro e/ou
entrando em contato com o TMZ enquanto ela caminhava.
Mas não havia nada a fazer sobre isso. Ela não tinha feito nada
de errado, exceto despejar inesperadamente a estrela de um
reality show durante o final da temporada e depois mentir sobre
ter outra pessoa mais importante fora do programa, mas fora
isso, ela era perfeitamente inocente.
Uma vez fora da loja, Jada girou em círculo. Ela precisava
afastá-lo das paredes envidraçadas da vitrine. Ela avistou um
banco mais acima no quarteirão e foi naquela direção. John deu
um passo ao lado dela. Ele parecia entender que ela queria um
pouco de privacidade antes de retomar a conversa. Felizmente,
eles não passaram por outras pessoas, e os clientes da confeitaria
ficaram todos dentro da loja. Ou talvez eles tivessem lentes do
celular com aproximação e não precisassem estar a menos de
seis metros para tirar fotos decentes. Afinal, todo mundo era
um paparazzi amador hoje em dia.
Ela chegou ao banco e caiu sem a menor cerimônia no
assento de madeira. Fechando os olhos, ela ergueu o rosto para
o céu, onde o sol brilhava alto e brilhante, e deixou os raios
absorvê-la e lhe darem força. Era um dia lindo, nada que
indicasse que seu mundo tinha virado de cabeça para baixo
menos de dez minutos atrás.
O banco deslocou-se ligeiramente. John sentou-se ao lado
dela. Seus olhos se abriram. Ele a observou com curiosidade e –
se ela estivesse cheia de si mesma – interesse. Ok, este não era
um momento para ser modesta. Ela sabia como era o interesse
de um homem, e John definitivamente estava emitindo as
vibrações. Mas talvez não. Esperava que não. Quando eles
tinham tempo juntos no show, borboletas de atração enchiam
sua barriga. Agora esse espaço estava reservado para os nervos.
Não parecia nada como quando ela estava perto...
Jada balançou a cabeça.
— O que você está fazendo aqui, John? — Sua voz saiu mais
áspera do que ela gostaria, mas esse era um pequeno preço a
pagar. Ela precisava assumir o controle da situação.
Seus lábios, cheios e sensuais, se curvaram em um sorriso
divertido. Ela primeiro foi atraída por seu sorriso. Quando ele
aumentava a voltagem máxima, poderia ser devastador. Mas
então ela notou que ele o usava em todos, do elenco à equipe,
sempre que queria.
— Eu vim para ver você — disse ele, com sua voz suave de
barítono.
Ela não pôde deixar de compará-lo ao sotaque de Donovan,
com suas arestas. Ela achou falta de autenticidade, se estava
sendo honesta consigo mesma.
— Por quê?
Ele jogou a cabeça para trás e riu.
— É por isso. Senti falta do seu tipo particular de
comunicação brutalmente honesta.
— Ainda bem que pude te agradar com isso. Como você
tem estado? — Ela realmente queria saber. Entrar em contato
com ele depois, nunca parecia certo. Por que ele iria querer
ouvir algo dela? Ei, sou eu, a mulher que te rejeitou na TV
nacional. Viu algum filme bom recentemente? É, não.
— Estou bem. — Ele colocou a mão sobre o coração. — De
verdade.
— Você manteve contato com a equipe Minha Cara
Metade?
Ele assentiu.
— Sim. Lila me manda mensagem algumas vezes,
certificando-se de que estou bem.
Jada não recebeu a mesma consideração, mas isso era de se
esperar. A única coisa que ela recebeu foram e-mails e ligações
perguntando, depois exigindo que ela fizesse entrevistas.
— Isso é ótimo. E você não está com raiva de mim? — Ela
procurou a verdade em seus olhos.
— Descobri que a raiva geralmente é uma manifestação de
mágoa. Para mim, tanto faz.
Ai. Ela sentiu isso no fundo de sua alma. Ela estremeceu
antes que pudesse se conter.
Ele tocou o braço dela.
— Ei, não faça isso. Estou apenas sendo honesto. Eu não
estava tentando me envergonhar ou envergonhar você.
Quando você me recusou, eu passei pelos estágios do luto. Não
posso dizer que cheguei à aceitação, mas estou tentando. Eu
estava tão irritado e confuso. Eu quebrei meu cérebro tentando
descobrir o que deu errado. — Ele desviou o olhar por um
momento. — Então o programa começou a ser exibido e eu
estava fazendo entrevistas. Foi muito. Eu pensei que estava
indo bem, e então vi você nas redes sociais com aquele cara e
não pude acreditar. — Seus olhos se estreitaram. — Mas
realmente, aquele cara? Um atleta parceiro do Grinch.
Uma risada surpresa saiu de seu peito. Ele sempre foi capaz
de fazê-la rir.
— Descrição interessante, mas ele é um cara legal.
— Mas ele é o cara certo? Eu sei que você disse que não
conseguia parar de pensar nele enquanto estava no programa,
mas espero que não tenha conseguido parar de pensar em mim
quando as câmeras paravam de estar ao seu redor. Tivemos
bons momentos, Jada. Você tem que admitir isso.
A mão que ele descansou em cima dela apertou, em seguida,
virou a palma da mão e levemente correu o polegar pela palma
em um gesto sensual. Perigo, perigo começou a piscar em letras
vermelhas brilhantes na frente de seu rosto. Ela casualmente
retirou a mão.
— John.
— Jada. Você pode pelo menos admitir que tivemos bons
momentos? — Seus olhos escuros imploraram a ela para fazer
isso.
Ela suspirou. Situação atual à parte, mentir realmente não
era seu estilo.
— Nós tivemos.
— Você pensou em mim desde que as gravações
terminaram?
Ela pensou. Afinal, ela não tinha nenhuma razão real para
recusá-lo, apenas algo em seu intestino lhe dizendo que algo
não estava certo. Tantas perguntas encheram sua mente depois.
Ela tinha cometido um erro? Ela realmente o devastou, o
machucou? Ele alegou estar apaixonado por ela. Embora,
depois de assistir ao programa, ela agora soubesse que ele havia
dito a mesma coisa para as outras duas finalistas também. Mas
ela era a que ele tinha escolhido. E o amor não estava faltando
em sua vida pelo que parecia uma eternidade?
Ela pensou momentaneamente em mentir, mas isso não era
justo com nenhum deles. Ela mentiu o suficiente. Ela assentiu.
Ele bombeou seu punho.
— Eu sabia!
— Mas isso não significa que eu queira continuar com você.
Estou... saindo com alguém. — Mesmo que não fosse real. Seu
estômago se contraiu em protesto contra essa verdade.
Ele assentiu como se esperasse a resposta dela.
— Entendi. Na minha versão de um conto de fadas você o
largaria aqui e agora. Não quero colocá-la em uma situação
ruim, mas quero que saiba que há outra opção para você. — Ele
riu. — Como o mundo gira. Eu era o cara com várias mulheres
atrás de mim e agora você tem que me escolher.
Jada deu um sorriso fraco. Falar estava um pouco além de
suas capacidades no momento. Ele a chocou pra caramba. Ele
queria voltar com ela? Tipo de verdade?
Ele apertou a mão dela novamente.
— Não se esqueça de nós, é tudo o que estou pedindo. Eu a
surpreendi. Basta pensar sobre isso. Pense em como éramos
bons juntos. — Ele gesticulou com a mão livre. — Eu posso te
levar para longe disso. Você não quer trabalhar em uma loja de
cupcakes pelo resto da vida.
Certo. A loja. O trabalho dela. A situação atual de sua vida.
— Ah... sim. Uau. — Jada ficou com as pernas trêmulas.
John se levantou e juntou as duas mãos dela.
— Podemos ser os queridinhos da mídia que deveríamos ter
sido. Os novos Bonnie e Clyde.
— Eles mataram pessoas, então... não, não podemos, mas
entendo seu ponto.
Ele riu, uma ação além dela agora.
Sua mente estava girando em um ciclo de rotação. Seu
coração estava correndo mais rápido do que uma criança que
viu o Mickey Mouse na Disneyland. Isso era um desastre. Que
teia retorcida ela teceu. Ela largou um quase noivo com a
desculpa de que tinha alguém fora do programa, e o homem
que interveio para ajudá-la em sua mentira estava começando a
significar mais para ela do que ela jamais imaginou ser possível.
Mas ela não tinha ideia se ele sentia o mesmo, e agora o quase
noivo estava de volta, professando que nunca tinha deixado de
amá-la.
John abaixou a cabeça para olhar diretamente nos olhos
dela.
— Então o que você diz? O que vai ser?
— Donovan. Donovan. Donovan! — Nicholas deu um
tapinha no braço dele. — Donovan, o que está acontecendo?
Donovan mal registrou a pergunta ou o cheiro divino das
sobremesas recém-assadas que Nicholas carregava. Ele estava
muito ocupado pensando naquele idiota que teve a coragem de
aparecer aqui em sua loja, fazendo aquele sorriso falso e cheio
de dentes muito grandes. Mas ele não era a maior preocupação
de Donovan.
Jada estava bem? Ele não sabia, e isso o estava matando.
Nicholas colocou a fornada de cupcakes no balcão.
— Por que todos estão olhando pela janela, agindo como se
tivessem visto Beyoncé e Jay-Z? Agora que penso nisso,
devemos trabalhar nisso, descobrir como trazê-los na
confeitaria. Ou talvez o Mandaloriano e o Baby Yoda10. Os
verde adoram cupcakes.
— Sim, isso soa bem. O que você quiser. — Donovan
esticou o pescoço, tentando localizar Jada andando de volta,
mas não havia ninguém lá. Apenas uma calçada vazia. Quando
ela voltaria? Ela estava bem? Talvez ele devesse verificar.

10
Personagens de Star Wars.
Ele recuou quando os dedos estalando apareceram a menos
de uma polegada de seu rosto.
— Terra chamando Donovan. Você está aí?
Donovan empurrou a mão de Nicholas para longe.
—Sim, sim.
Nicholas lançou-lhe um olhar.
— Você acabou de concordar em ficar pelado na frente de
toda a loja e cantar em um karaokê.
— O quê? — Donovan apertou os olhos, então balançou a
cabeça. — Não, eu não concordei!
Nicholas ergueu uma sobrancelha.
— Tem certeza?
Donovan vasculhou seu cérebro, tentando se lembrar do
que Nicholas disse. Ele não lembrava de nada.
— O que você quer?
Nicholas abriu a caixa e colocou os cupcakes dentro. Ele
olhou por cima do ombro.
— Eu quero saber por que você parece que descobriu que o
Papai Noel deixou um pedaço de carvão embaixo da árvore de
Natal.
— John Timmerman chegou alguns minutos atrás.
— O quê? Dr. John? — O fofoqueiro saltou super alto e
quase quebrou o pescoço para examinar a loja. — Ele veio?
Onde ele está?
— Ele saiu com a Jada. — Donovan pegou uma toalha e
esfregou o balcão com toda sua força. Isso era uma merda. Cada
partezinha disso.
Sim, Jada podia cuidar de si mesma, mas ele odiava vê-la
perturbada. E não havia como negar que ela ficou chocada até
a sola de seus Crocs ao ver aquela explosão de memórias no
passado.
O que aquele idiota queria? E talvez ele não fosse um idiota,
mas qualquer cara que aparecesse no trabalho de sua ex, um
trabalho onde ela também trabalhava com seu atual namorado,
seria qualificado como um idiota em sua concepção. E não, não
importava que tecnicamente eles não estivessem namorando.
Fodam-se os tecnicismos. Ele não gostou daquele cara
aparecendo. Ele cheirava a más notícias com sua colônia
avassaladora que era apenas um pouco melhor que o da marca
Axe.
— O que quer que ele esteja fazendo não é bom.
— Tem certeza de que não é só nisso que você quer
acreditar?
Donovan saltou. De onde diabos August tinha vindo?
Ele fez uma careta.
— Eu vou chutar sua bunda um dia se você se aproximar de
mim assim de novo.
— Você vem dizendo isso desde de que nos conhecemos e
ainda não fez isso, então… — Os ombros maciços de August se
ergueram em um encolher de ombros.
Donovan esfregou as têmporas em uma tentativa inútil de
conter a dor de cabeça. Seus ombros e estômago estavam
apertados. Sua pele estava coçando. Ele não gostou daquele tal
de John aparecendo do nada. E se Jada quisesse voltar com ele?
Antes que ele pudesse dizer a ela como se sentia? Ele tinha
planejado convidá-la para sair quando o turno dela acabasse.
Ele queria ir com calma, não tornar as coisas estranhas no
trabalho. Veja onde isso o levou. Porra.
— Você parece terrivelmente incomodado por algo que
você disse que não está te incomodando. — Nicholas pegou
uma xícara de café, tomou um gole e observou Donovan por
cima da bancada.
— Eu não estou incomodado. Estou preocupado com Jada.
Ela está lá fora sozinha com aquele cara.
— Jada viajou por todo o mundo sozinha. Tenho certeza de
que ela pode cuidar de si mesma.
— Claro que ela pode cuidar de si mesma, mas não tenho
ideia do que ele está dizendo a ela. Ela já passou por muita coisa.
Se ele está mexendo com a cabeça dela ou brincando com suas
vulnerabilidades, eu vou chutar a bunda dele. E ponto final.
Caramba. Onde ela está? — ele olhou para o relógio na parede.
Ela tinha saído dezessete minutos atrás. Muito tempo para
aquele cara dizer o que ele queria dizer e dar o fora. Ele jogou a
toalha no balcão. — Eu vou encontrá-la.
Enquanto ele se apressava ao redor do balcão, a campainha
da porta da frente tocou e Jada voltou para dentro da Sugar
Blitz. Imediatamente, todas as conversas na padaria ficaram
mudas. Nenhum dos clientes intrometidos tinha ido embora.
Depois de um segundo suspenso, mais cliques de câmera
encheram o ar.
Jada levou tudo com calma, ou pelo menos fez o possível
para dar essa aparência. Donovan estava começando a conhecê-
la melhor. Ela endireitou os ombros, ergueu o queixo e colocou
um sorriso em seu lindo rosto. Mas o sorriso não era genuíno,
seu andar não era firme, e ela apertou as mãos com bastante
força.
Donovan deu os três passos necessários para chegar até ela e
passou um braço em volta da sua cintura, o que ele percebeu
que tinha feito quando viu John pela primeira vez. Ela cedeu
ao seu lado. Porra. Ela não estava bem. Ele precisava tirá-la
daqui.
Ele caminhou com ela para seu escritório e fechou a porta
para o mundo exterior. Jada caiu contra a parede e fechou os
olhos.
— Jada, você está bem?
Ela não respondeu. Seu peito subia e descia rapidamente.
— Jada. — Ele fez o seu melhor para oferecer-lhe conforto,
mas agora ele estava em pânico. E ele nunca entrava em pânico.
Ele analisava a situação e apresentava a solução mais lógica. Mas
nada tinha sido lógico desde o momento em que ela apareceu
na Sugar Blitz. Ele não podia voltar ao modo como as coisas
eram. Mais importante, ele não queria.
— Jada — ele implorou.
Por fim, seus olhos se abriram. Em um movimento fluido,
ela se afastou da parede e deu um beijo rápido e forte na boca
dele, seus lábios macios estavam agarrados aos dele por um
breve momento, então caiu contra a porta novamente, seus
olhos se fechando novamente, sua respiração ainda acelerada.
Que porra?
O pânico bateu em seu peito. Ela estava em choque? Ele
examinou sua figura, procurando por quaisquer sinais de
angústia. Tudo parecia normal, mas ele sabia que nem todas as
feridas e cicatrizes estavam aparecendo do lado de fora.
— Você está bem? Aquele paspalhão fez ou disse algo ruim
para você?
Seus olhos se abriram.
— Paspalhão? Não — ela murmurou. — Você esteve
assistindo Clube dos Cafajestes ou algum outro canal obsceno
ou algo dos anos oitenta? Ou os anos noventa?
— Jada. — Ele não estava com disposição para que suas
brincadeiras desviassem de assuntos sérios agora. Ele precisava
ter certeza de que ela estava bem antes de desmaiar de
preocupação.
— Você percebe que todo o circo da mídia vai começar de
novo? Só que desta vez, vai ser tudo sobre um triângulo
amoroso. Jada está dominando suas artimanhas femininas
sobre dois homens e os atraindo para sua teia de destruição? —
Sua voz era leve e arejada, como se ela não pudesse acreditar que
estava nessa situação, mas achou hilário do mesmo jeito. —
Meus pais vão ter um ataque.
— Jada, eu não me importo com tudo isso. Eu me importo
com você. — Ele segurou seus ombros. — Você está bem?
Seus olhos travaram nos dele.
— Eu me perguntava o que aconteceria se eu o visse
novamente. As borboletas voltariam? Eu sentiria a mesma
faísca que senti na primeira noite em que nos conhecemos?
Você sabe, eu sempre me perguntei se aquela faísca era real, ou
era resultado da manipulação do produtor nos dizendo
repetidamente que estávamos prestes a conhecer o homem dos
nossos sonhos, que estava procurando por sua esposa. Eu seria
atingida por uma parede de arrependimento quando o visse?
Eu pediria outra chance ou ele cairia de joelhos e imploraria por
outra chance porque eu era a mulher dos seus sonhos?
Donovan engoliu em seco, tentando trazer um pouco de
umidade para a garganta que estava seca, e forçou a pergunta
enquanto ela dava voz aos medos que ele não queria
reconhecer.
— O que você descobriu?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios perfeitos.
— O tempo todo que ele estava falando comigo, eu não
conseguia parar de pensar em você. Eu queria que fosse você.
Eu quero estar com você. Só você. Sério.
Mais uma vez, seus lábios pousaram nos dele com um
propósito claro – seduzir. Ele sempre achava que tinha um
plano. Ela mordiscou seu lábio inferior até que sua boca se
abriu. Então ela estava dentro, deixando-o provar a doçura que
era Jada Townsend-Matthews. Ele felizmente se perdeu nela.
Suas línguas se encontraram em um lento e sensual deslizar.
Ele se aproximou. Estar perto não era perto o suficiente. Ele
amaldiçoou as roupas que separavam seus corpos. Ele queria
ver e adorar os seios macios pressionados contra seu peito. Ele
queria deitá-la em um mar de rosas e explorar cada centímetro
de seu corpo delicioso com as mãos e a boca. Ele nunca quis
nada mais.
Ela se afastou. Ele segurou um gemido indigno pela pele de
seus dentes.
Seus olhos procuraram os dele.
— Espere. Você sente o mesmo?
— Sim. Muito. — Ele nunca respondeu algo tão rápido em
toda a sua vida.
Seu sorriso deslumbrante parou seu coração por duas
batidas completas. Ele nunca tinha visto uma visão mais bonita
em sua vida do que uma Jada feliz e confiante.
— Ok, bom. De volta aos beijos.
Donovan sorriu.
— O prazer é todo meu.
Ele capturou seus lábios com os dele. Suas línguas se
entrelaçaram enquanto ele explorava sua boca. O cheiro dela o
cercava e o intoxicava. Ela o encantou. Ele não conseguia o
suficiente. Nunca teria o suficiente. Ele se balançou contra ela
e engoliu seu gemido quando ela percebeu o quão duro ele
estava. Gemeu quando ela colocou sua mão em seu cinto e o
puxou para mais perto.
O desejo corria em suas veias. Este era o lugar onde ele queria
estar. Com Jada, trancados longe do mundo exterior.
Espere. Ele se afastou, embora isso tomasse cada grama de
sua força de vontade.
— Isso significa que você deu um pé na bunda dele?
Ele queria ter certeza de que não havia mais mal-entendidos.
Que ela estava com ele nisso, o que quer que fosse.
— Você queria que eu usasse essas palavras exatas, não é? —
ela mordeu seu lábio. Espere. Esse era o trabalho dele. Ele se
inclinou para outro beijo, prestando uma atenção especial ao
lábio inferior carnudo que o atormentava desde o dia em que
se conheceram.
Relutantemente, ele se afastou e deu um aceno rápido.
— Eu não iria reclamar se você tivesse feito isso.
Ela acariciou sua bochecha. Ele se inclinou para o abraço,
desejando seu toque suave.
— Bem, eu não usei essas palavras exatas, mas eu o deixei
saber que ele e eu nunca seríamos um. Há outra pessoa na
minha vida a quem eu estou me dedicando.
A exultação encheu todos os seus poros.
— Perfeito. — Ele abaixou a cabeça novamente.
Eventualmente, Jada estava relutante para respirar. Seu coração
estava descontrolado, mas ela reuniu forças o suficiente para
passar o polegar pela mandíbula dura de Donovan e falar.
— Eu gosto de estar assim.
— Eu sei.
Ela revirou os olhos.
— Não seja todo machão. Eu sou a única que fez isso
acontecer.
— Eu ia fazer, mas você fez primeiro!
Agora ela estava intrigada.
— Ah, sério? O que esse momento envolvia?
— Bem, eu planejava exigir que você viesse falar comigo no
meu escritório quando seu turno terminasse. — Ele se inclinou
para mordiscar seu pescoço.
Só fazia sentido ela inclinar a cabeça para lhe dar melhor
acesso.
— Claro que você teria feito isso.
— Então eu planejava te dizer que eu estava reconsiderando
nosso relacionamento — ele murmurou contra o pulso
martelando na base de sua garganta.
Ela bufou, embora lutasse para acompanhar a linha da
conversa. Sua boca era extremamente talentosa.
— É claro. Da sua maneira perfeitamente lógica.
Quando ele levantou a cabeça, ela mal segurou um gemido.
— E você teria dito do seu jeito burguesa: “O que isso
significa?”.
— Não, eu não teria. — Ela deu um tapa no peito dele,
então decidiu ficar com a mão lá porque era um peito muito
bonito. Músculos flexionados sob seus dedos. Muito bom. —
Ok, sim, eu teria — ela acrescentou, em sua bufada.
— E eu teria dito: “Gostaria de discutir a situação durante o
jantar em um ambiente mais privado.”
— E eu teria dito: “Donovan Dell, você está me convidando
para um encontro?”.
— E eu teria dito que sim e então pularia da minha cadeira
para pegar você quando você desmaiasse e deslizasse para o
chão. — Ele arrastou sua boca da sua garganta até sua orelha
direita, provocando-a com os lábios e a língua.
Jada tentou organizar seus pensamentos, que se espalharam
por todos os cantos da terra. Seus lábios eram realmente
magistrais.
— Então, basicamente, eu estraguei tudo.
— Não, você fez tudo certo.
E assim, seu coração parou. Como no mundo ela achava que
tinha uma chance de resistir a ele? De resistir aos sentimentos
que ele despertava nela?
Ela ficou na ponta dos pés e inclinou a boca para a dele. Um
ajuste perfeito, assim como todas as outras vezes que eles se
beijaram. Prazer e desejo fluíram através de seu corpo em um
fluxo inflexível. Foi sua vez de gemer quando Donovan deu um
passo para trás.
— Por mais que eu queira ficar nos confins aconchegantes
do meu escritório e te beijar por horas e horas, acredito que meu
plano inicial ainda tem que valer.
— Um jantar? — Em seu aceno, ela sorriu. — Eu gosto de
comida. Acha que podemos fugir daqui? Tenho certeza de que
todos estão lá fora esperando para ver como vamos reagir à
visita de John.
— Eles vão se decepcionar. — Ele pegou a mão dela. — Nós
vamos sair pelos fundos. Vou mandar uma mensagem para
Nicholas dizendo que nós fugimos.
Olhar para esse lado lógico dele vinha a calhar.
— Isso soa como um plano.
Ele pressionou mais um beijo em seus lábios.
— Siga o meu carro. Vou enviar o endereço ao seu GPS para
o caso de nos separarmos.
— Onde estamos indo?
— Meu lar.

∗∗∗
Donovan pegou a mão de Jada assim que ela saiu do carro.
Tocá-la nunca seria algo ruim. Se ele fosse honesto consigo
mesmo, um sentimento que ele só poderia descrever como pura
alegria o invadiu quando o carro dela parou atrás dele. Isso era
real.
— Pronto para o nosso encontro?
Ela apertou os olhos.
— Encontro é sinônimo de mais beijos?
Ele riu. Ela nunca deixava de diverti-lo.
— Provavelmente.
Ela bateu palmas.
— Então vamos. — Ela o puxou para a porta da frente.
Uma vez dentro da casa, ele a levou direto para a cozinha.
Ela se virou e ficou na ponta dos pés. Emocionado por ela ter
aceitado o convite, ele aninhou o queixo dela e abaixou a
cabeça. Ele queria ir devagar, tomar seu tempo na esperança de
se lembrar de cada momento. Ele pacientemente tomou seus
lábios deliciosos, contente em saborear sua doçura. Até que ela
gemeu. Aquele som, tão sexy... o que ela fazia com ele sem nem
mesmo tentar. Seus lábios se separaram, e ele a puxou para mais
perto para um beijo longo e intenso que sacudiu seu cérebro.
Ele riu um pouco quando as mãos dela foram vagando,
puxando a bainha de sua camisa. Então ele respirou fundo
quando a mão dela encontrou sua pele debaixo da Polo. Quem
diria que mãos tão pequenas poderiam causar tanto estrago?
Suas palmas percorreram a carne sensível de seu estômago,
deixando arrepios em seu rastro. Como seria ter aquelas mãos
gananciosas tocando uma parte mais sensível, mas ansiosa dele?
— Eu quero tocar você inteiro — ela murmurou contra sua
boca, aparentemente lendo sua mente, o desejo em sua voz
aumentando o fogo em seu sangue.
Então um som alto e indesejável juntou-se à diversão.
Relutantemente, afastando-se de seu toque intoxicante,
Donovan sorriu para ela.
— Seu estômago discorda.
Seus lábios puxaram em um beicinho.
— Mas, mas…
— Eu prometi um jantar e não vou deixar você desmaiar em
mim.
— Mas, mas… — Mais uma vez, seu estômago deu sua
opinião.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Você estava dizendo?
Jada ergueu o queixo.
— Tudo bem. Você me prometeu comida, então onde está
a comida?
Sim, não havia como negar. Seu tom de burguesa o deixava
quente como o inferno.

∗∗∗
Vinte minutos depois, eles estavam acomodados em seu
enorme sofá, perto o suficiente para Jada tocar em Donovan
sempre que quisesse. Perto o suficiente para se deitar se o clima
mudasse.
Era fofo que ele quisesse cuidar dela. Ela ainda não podia
acreditar que ela estava aqui com ele e eles não estavam
brigando, a menos que, eles estarem chegando perigosamente
perto de rasgar as roupas um do outro contasse. Uma atividade
que ela planejava fazer em um futuro próximo.
— Pare de olhar para mim assim — ele rosnou.
— Assim como? — ela perguntou com sua voz mais
inocente. — Estou simplesmente curtindo esta refeição
fantástica que sua chef fez. — Ela gesticulou em direção ao
prato em seu colo que continha frango perfeitamente assado,
batatas fritas que praticamente derreteram em sua boca e os
melhores aspargos que ela já provou.
Quando ela expressou surpresa por ele não estar cozinhando
porque adorava cozinhar, ele a lembrou que não tinha muito
tempo para cozinhar, com a confeitaria e sua outra carreira em
tempo integral de jogar futebol americano. Sua chef era mais
experiente do que ele sobre o que ele precisava para manter seu
corpo nas melhores condições.
Jada examinou sua bela forma mais uma vez. Ela mal podia
esperar para colocar as mãos nele novamente. Ah, sim. Ela
definitivamente precisava dar seus elogios à chef.
Ele a olhou de lado.
— Duvido. Quer me contar o que aconteceu com John?
Jada engasgou com uma mordida naquele aspargo perfeito.
Depois de tomar um gole de água, ela olhou para o homem que
ela estava fantasiando sobre fazer todo tipo de coisas perversas.
Agora, essas coisas perversas incluíam assassinato.
— Essa é uma maneira de estragar o clima.
Sua expressão permaneceu imperturbável.
— Preciso lembrá-la que você só percebeu que queria ficar
comigo depois que ele apareceu?
— Você disse que íamos acabar aqui de qualquer maneira
— ela imediatamente respondeu.
Ele abaixou a cabeça por um segundo.
— Nós estaríamos, se você concordasse, mas eu não
esperava ter que esperar para ver se ele poderia reconquistar
você primeiro.
Ela estava com tantos problemas. Ele era totalmente fofo
demais.
— Isso não ia acontecer. — Embora fosse bom saber que ela
não deixou John com nenhum dano persistente, a onda de
atração não se materializou. Nem tinha a necessidade
esmagadora de estar em sua presença. Não, esse sentimento era
reservado apenas para o homem sentado a alguns centímetros
de distância, atualmente observando seu rosto.
— Ele aceitou isso bem?
— Sim, na maior parte. Ele ficou desapontado, mas aceitou
como um cavalheiro. Ele disse que tinha que dar uma última
chance, mas esperava que pudéssemos continuar amigos.
Donovan grunhiu. Então ele chocou o inferno fora dela.
— Eu assisti o reality show.
Desta vez, um pedaço de frango teve a honra de ficar preso
em sua garganta, fazendo-a ter um ataque de tosse. Ele estendeu
a mão com um braço comprido e a golpeou nas costas. Quando
ela terminou de se envergonhar e pôde respirar novamente, ela
olhou para ele.
— Você não pode dizer coisas assim.
Ele teve a audácia de sorrir.
— Por que não?
Jada jogou as mãos para cima.
— Porque você sempre agiu como se mal soubesse o que era
esse reality show!
— É por isso que eu assisti. Isso não é minha praia, mas senti
que havia uma grande parte de você que eu não conhecia ou
entendia.
O que era muito doce, e não simplesmente mortificante. Ele
realmente assistiu ao show? Seu cérebro estava tendo
dificuldade em aceitar o fato. Ela assumiu que ele tinha lido um
artigo e era por isso que ele sabia quem era John.
Ele levantou um dedo quando ela gemeu.
— Embora, eu gostaria de ouvir essa história de você. Você
terminou de comer? — Quando ela assentiu, ele depositou os
dois pratos na mesa de café e a puxou para mais perto até que
suas costas descansassem contra seu peito duro. — Não se
preocupe. Peguei você.
Peguei você. Uma frase tão simples, mas funcionou. Será que
alguém, além de sua avó e sua melhor amiga, realmente a
protegeu? Certamente, nenhum parceiro romântico por
qualquer período de tempo. Ou seus pais.
Jada encheu os pulmões e expirou.
— Fui contatada pelo programa através do Instagram, eles
me perguntaram se eu estava interessada em participar. Eu
tinha acabado de bombar em outra audição em Los Angeles e
disse sim. E não tinha mais nada acontecendo. — Ela deu de
ombros. — Eu tinha visto um episódio ou dois ao longo dos
anos. Eu fiz algumas pesquisas sobre o programa e os
competidores e descobri que as pessoas basicamente
transformaram ser competidores de reality shows em carreiras
de tempo integral. Achei que poderia usar a exposição para
lançar uma carreira lucrativa como influenciadora social.
— O que aconteceu no programa? — ele desenhou círculos
nas costas de sua mão com um dedo indicador
surpreendentemente suave.
Achando reconfortante, ela se concentrou naquele
movimento enquanto falava sobre a memória.
— Achei que seria uma experiência única na vida. Uma
aventura. E foi! Nunca esperei me apaixonar.
O movimento circular de Donovan parou.
— E você se apaixonou?
Jada estava feliz por não ter que olhá-lo nos olhos.
— Pensei que tinha, ou poderia ter. Quer dizer, eu gostava
dele. Os encontros eram divertidos. Nós rimos muito. Alguns
dos outros concorrentes me disseram que eu era um sucesso.
Que eu era claramente sua favorita. Eu sempre tentei não me
adiantar, dar um passo de cada vez. Essa atitude realmente
funcionou em meu benefício. Eu facilitava as coisas para ele.
Ele me disse que podia relaxar perto de mim.
Ele voltou a acariciar a mão dela.
— Mas você recusou a proposta dele.
Essa decisão mudou sua vida para sempre de maneiras que
ela nunca tinha sido capaz de imaginar. Jada suspirou.
— Sim.
Ela prendeu a respiração, seu corpo inteiro tenso. Ele ia
perguntar por quê? Essa era sempre a próxima pergunta de
todos. A pergunta que ela ainda tinha dificuldade em
responder.
— Você sabia que a resposta seria tão brutal? — Ele se
moveu para embalar seu corpo ainda mais, fazendo-a afundar
nele. Sua força a impulsionou.
Jada balançou a cabeça.
— Não a princípio. Quando o programa começou a ser
exibido, meus números de seguidores nas redes sociais
explodiram. O que era bom. Os espectadores estavam torcendo
por nós e me mandando mensagens para me dizer que não
podiam esperar até o episódio final porque sabiam que eu ia
ganhar, e nós éramos o casal mais fofo. Conforme as semanas
passavam e eu recebia mais e mais mensagens, eu sabia que ia
ser ruim. — Ela fez uma careta. — Mas eu ainda não estava
preparada para a resposta. Ou talvez eu não fosse tão casca
grossa quanto pensei que fosse.
— Cascas grossas podem ser superestimadas.
Jada virou-se para encontrar seu olhar.
— Sim, meu terapeuta sempre me diz que posso sentir o que
sinto. Às vezes é difícil lembrar, quanto mais seguir esse
conselho. Ela me faz fazer afirmações quando eu realmente
começo a me bater. Aparentemente, eu não deveria ser tão dura
comigo mesma.
— Você não deveria. Você é incrível. — Ele apertou sua
cintura. — Mais uma pergunta, por que você disse não?
Aí estava. Mas ela não estava chateada. Ele a fazia sentir-se
segura. Compreendida. Sem julgamentos. Ela vasculhou seu
cérebro para evocar suas emoções e pensamentos daquela noite.
Ela queria dar a ele uma resposta o mais honesta possível. Ela se
acomodou contra seu peito, deixando seu calor absorvê-la.
— Algo não estava certo. Ele e eu não nos daríamos bem
juntos. — Sua voz se aquietou. — Não era uma coisa que eu
pudesse apontar, mas meus instintos estavam gritando para que
eu fugisse.
— Você seguiu seus instintos. Nada de errado com isso.
Jada soltou uma risada sem alegria.
— Exceto quando você tem produtores na sua cara
constantemente perguntando o que deu errado. Lila, a
responsável, não estava tentando ouvir meus instintos. Então
inventei que tinha alguém fora do programa.
Donovan deu um beijo em sua têmpora.
— Parece que você não gosta muito de seus instintos.
— Você já sabe que meus pais não são tão tolerantes com
minha dislexia. Eles querem que eu encontre um emprego de
verdade. Um trabalho que faça sentido para eles. Eles são muito
analíticos. Ciências Humanas como profissão não fazia sentido
para eles. Ser DJ na Europa não fazia sentido para eles. Ir ao
reality show não fazia sentido para eles. — Ela bufou uma
risada. — Eles não são muito compreensivos com coisas que
não fazem sentido para eles.
— Você tem dificuldade em tirar as vozes deles da sua
cabeça.
Ela o encarou novamente, confortando-se com a
compreensão em sua expressão.
— Sim. As vozes estão lá há vinte e cinco anos. — Ela
abaixou a cabeça. — Eles me cortaram como resultado de ir ao
show e eu os envergonhar ainda mais. Segundo eles, eu precisava
crescer.
Ele franziu a testa.
— O que você quer dizer com eles cortaram você?
— Significa que tenho sorte de ter um emprego para
comprar mantimentos e pagar minha conta de luz. Eles não me
expulsaram do meu condomínio, pelo menos, mas apenas
porque eles são donos dele.
Choque passou por seu rosto.
— Uau.
— Sim. E não posso contar a Vovó porque ela ficaria furiosa
com minha mãe, e por que estou protegendo minha mãe de
novo? — ela riu. — De qualquer maneira, ir ao show foi como
se eu tivesse ouvido eles. Fazia sentido fazer o que sou boa – ser
apresentável – para lançar uma nova carreira. Então tudo
explodiu na minha cara porque eu não conseguia controlar
minhas tendências naturais.
— Suas tendências naturais fazem você ser você.
Um pequeno sorriso puxou seus lábios.
— Parece que me lembro de alguém me chamando de
impulsiva.
Ele entrelaçou seus dedos.
— Eu posso ter sido um pouco precipitado nessa avaliação.
— Pelo menos você está me falando isso. Eu sou impulsiva.
— Você é, mas estou aprendendo que isso não é de todo
ruim.
Jada se manobrou de modo que ela estava montada em suas
coxas duras. Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele e
deslizou para frente até que os seios roçaram seu peito. Ah, sim.
Ela gostou dessa posição. Deveria ter feito antes.
— O que mais não é tão ruim sobre mim?
— Você quer elogios?
Ela olhou para o movimento para cima e para baixo de seu
pomo de Adão enquanto ele ria. Ela queria seguir aquele
movimento com a língua, começando pela boca. Em breve.
Muito em breve. Depois dos elogios.
— Sim. Claro que sim.
Donovan inclinou a cabeça para o lado, então estalou os
dedos.
— Você trouxe mais clientes para a loja.
Ela deu um soco no ombro dele.
— Sério?
— Ok, tudo bem. Que tal você ser engraçada, rápida em seus
pés, boa com os clientes, uma ótima organizadora de eventos?
Linda.
Ela pensou sobre isso.
— Ok, assim é melhor.
Ele apertou sua cintura com dedos fortes e seguros e a puxou
para frente mais um centímetro precioso até que apenas uma
respiração separou seus corpos. Seu olhar fixou em seus lábios
entreabertos. Sua respiração acelerou. Ele iria beijá-la agora?
Fazia cerca de trinta minutos desde a última vez que sentira a
boca dele na dela. Uma vida inteira. Seus olhos se fecharam e
ela se inclinou para frente.
— E quanto a mim?
Seus olhos se abriram.
— O quê?
— Onde estão meus elogios? — Seus olhos brilharam.
A luxúria corria em suas veias, e ele tinha piadas? Ela
estreitou os olhos. Foda-se. Ela se virou e examinou a grande
sala de estar com sua sensação leve e arejada e vista para o mar
do lado de fora da grande janela de sacada.
— Eu gosto da sua casa. Não é o que eu esperava.
— O que você esperava?
Ela deu um beijo leve na tentadora pele marrom de sua
garganta.
— Algo moderno. Um arranha-céu.
Sua garganta vibrou com o riso sob a boca dela.
— Você não está tão longe. Quando assinei pela primeira
vez com a equipe, comprei um arranha-céu. Morei lá por alguns
anos.
Ela estava vagamente prestando atenção ao que ele estava
dizendo. Seus lábios, os inferiores tão cheios e exuberantes,
estavam atraindo a maior parte de seu foco.
— O que aconteceu?
Ele sorriu.
— Eu o vendi por um bom dinheiro.
Ela de brincadeira deu um soco no braço dele.
— Sério?
— Sim, mas isso não é tudo — acrescentou, quando ela
levantou a mão novamente. — Eu queria um lugar mais
tranquilo. Mais espaçoso. Uma casa de verdade, não um prédio.
— No entanto, esta é uma casa tranquila, e grande.
Ele encolheu os ombros.
— Gosto do meu espaço, porém mais importante, é na
praia. Os vizinhos não são muito próximos. Eu gosto de surfar.
Ok, agora isso chamou sua atenção. Sua boca caiu aberta.
— Você surfa?
Ele sorriu.
— Você não?
Jada torceu o nariz.
— Eu tentei uma vez no ensino médio. Caí da prancha antes
que pudesse me levantar, fui atingida na cabeça com a prancha
e decidi voltar para terra firme. — Ela sorriu. — Eu escutei
meus instintos me dizendo que isso não era para mim.
— Talvez você precisasse de um professor melhor.
— Você está oferecendo?
— Você vai me ouvir?
Jada abaixou a cabeça para mordiscar seu delicioso pescoço
novamente.
— Talvez. Como você começou a surfar?
— Na faculdade. Um dos meus treinadores sugeriu isso
como uma maneira de relaxar. Eu pensei que ele estava louco,
mas ele basicamente forçou todos nós a fazer uma aula como
um exercício de construção de equipe.
— Como passou de uma atividade obrigatória para uma
atividade desejável?
— Gostei de estar na água com o sol e silêncio me cercando.
Eu podia pensar ou não pensar, o que eu estivesse precisando
naquele momento.
— Você foi bom nisso na primeira tentativa?
Ele riu.
— Não. Caso você não tenha notado, eu sou bem grande.
Eu tive que aprender a encontrar meu centro de gravidade em
uma prancha que não é nada estável. Mas eu aprendi
eventualmente, e nunca mais olhei para trás. Eu vou te mostrar
como surfar é bom.
Fim de falatório.
— Ok. Parece legal, mas estou mais interessada no que posso
aprender esta noite.
— Como o quê?
— Se você beija tão bem quanto eu me lembro. — Ela
beliscou seus lábios até que o som de sua respiração irregular
encheu o ar. — Se você parece tão bem quanto eu sinto. — Ela
deslizou as mãos sob a camisa dele e se familiarizou com seu
incrível abdômen, seus dedos traçando as linhas duras e fundas.
Bom Deus. Melhor do que ela imaginava. Ela balançou contra
ele e fez contato com sua ereção rapidamente crescente.
Vitória!
Ela balançou novamente. Gemeu com o contato. Não foi o
suficiente. Ela queria mais. Ela queria tudo.
— Jada. — O calor em seus olhos a chamuscou. Ela estava
pronta para ser queimada.
Sua mão deslizou por sua nuca e afundou em seu cabelo,
puxando-a para mais perto até que seus lábios colidiram. O
beijo foi selvagem e incendiário. Descontrolado. Jada
mergulhou de cabeça nos sentimentos de admiração e luxúria
que a varreram. Este era o lugar onde todas as discussões, flertes,
provocações estavam sendo feitas.
Seus lábios se entrelaçaram perfeitamente enquanto suas
línguas brigavam, deslizando, enroscando-se uma na outra em
uma dança faminta e desenfreada. Ela era gananciosa e nunca
teria o suficiente. A excitação estava surgindo através dela. Ela
pressionou contra sua ereção, desesperada para chegar mais
perto, querendo sentir sua dureza entre suas pernas. Ansiando
pelo momento em que ele a preencheria.
Ele arrastou seus lábios pela pele sensível de sua garganta,
seus dentes fazendo o contato mais nu, mas, ah, tão poderoso.
A picada a emocionou. Ele girou sua língua na base de sua
garganta, fazendo com que seu pulso disparasse. Então sua
boca estava na dela novamente, procurando, então exigindo
uma resposta, suas mãos passando seu corpo, frustrando-a com
os toques leves. Ela queria suas mãos ásperas sobre ela sem nada
no meio.
— Jada. — Ele parecia que estava sendo torturado. O desejo
rodou descontrolado em seus olhos escuros.
Não havia dúvida de como essa noite terminaria. Como
sempre esteve destinado a terminar. Sua voz saiu segura e
orgulhosa.
— Sim.
A fome no rosto de Donovan emocionou Jada. O calor em seus
olhos fritou suas terminações nervosas. Ela mal podia esperar
para entrar em combustão.
Seus olhos nunca deixaram os dela enquanto ele lentamente,
tão lentamente desabotoou os botões de sua polo Sugar Blitz.
Ele deslizou um dedo dentro e roçou a sua carne sensível. Ela
engasgou quando arrepios subiram ao longo de sua pele.
Ele deu um beijo duro em seu pescoço um segundo antes de
sua camisa ser colocada sobre sua cabeça. Ela mal registrou o
movimento antes de sua boca pousar em sua clavícula nua. Jada
engasgou por um pouco de ar necessário enquanto ele arrastou
os lábios em sua carne até encontrar a alça de seu sutiã. Ele
lentamente seguiu a linha do material de renda para baixo sobre
a curva de seu seio, provocando-a. Atormentando-a.
Emocionando-a. Ela estremeceu. Sua cabeça pendeu para trás,
silenciosamente oferecendo-lhe mais. Uma risada retumbou do
fundo de seu peito, mas logo seu sutiã encontrou um destino
semelhante ao de sua camisa.
O leve toque de seus dedos em seus mamilos foi o suficiente
para tê-los enrugando e parecendo bolinhas apertadas.
— Você é tão linda. — Ele parecia encantado com a visão
dela.
Jada rosnou quando suas mãos escorregaram. Ela queria
suas mãos, sua boca sobre ela. Agora.
— Donovan.
— Hum? — ele murmurou contra sua garganta, suas mãos
agora em sua cintura, subindo mais alto, sobre sua carne
trêmula, mas sem tocá-la onde ela queria. Ela cravou as unhas
em seus ombros largos para chamar sua atenção.
Jada reuniu seus pensamentos dispersos o melhor que pôde.
— Por favor.
— É isso que você quer? — Sua língua e dentes rasparam ao
longo da curva externa de seu seio, tão perto de onde ela o
queria, mas ainda tão longe. Ele repetiu a ação em seu outro
seio. Tudo o que ela tinha a oferecer era um gemido
desesperado. Ela agarrou a parte de trás de sua cabeça com as
mãos trêmulas, precisando da âncora e esperando atraí-lo para
mais perto.
— Ou isto? — ele puxou seu seio mais fundo em sua boca,
sua língua lambendo seu mamilo duro, finalmente dando a ela
a solução que ela procurava. Ela gritou com a sensação
inebriante. Ele não parou, sua língua rodopiando sobre ela de
novo e de novo, acrescentando uma pitada de dentes de vez em
quando, mantendo-a oscilando no limite. Justo quando ela
pensou que não aguentaria mais, ele trocou de seio e
recomeçou a tortura.
Uma resposta compreensível estava além dela no momento.
Ela mal conseguia manter a razão enquanto a luxúria se retorcia
dentro dela, crescendo de forma febril. Ela rebolou contra seu
pau, buscando alguma liberação da tortura, mas ele não parecia
interessado em oferecer misericórdia.
Ela mal percebeu que estava cantando seu nome até que ele
se afastou dela. Seus olhos eram selvagens. Ela tinha feito isso
com ele. Ainda assim, ele cuidou dela, gentilmente deitando-a
de costas contra o couro macio como se ela fosse uma carga
preciosa.
— Você é tão bonita — ele murmurou.
O elogio enviou calor em cascatas através dela.
— Você já disse isso antes.
— Porque é verdade.
Ela se deleitou sob seu olhar ardente. Ela não pôde deixar de
arquear as costas um pouco. Prendendo-se quando seus olhos
avidamente rastrearam cada movimento dela.
Um leve sorriso quebrou seu rosto sério.
— Você acha mesmo que tem controle sobre isso, não é?
— Sim. — Ele a deixou indefesa. Ela queria ter o mesmo
efeito sobre ele. Ela se levantou para beliscar a linha dura de sua
mandíbula. Sorriu quando estremeceu. — Tire sua camisa. É o
justo.
— Verdade. — Ele obedeceu.
Ela mordeu o lábio para evitar que outro gemido escapasse
quando olhou para o peito dele. Ela era uma mulher de sorte,
muita sorte. A deliciosa pele escura que ela mal podia esperar
para provar. Redemoinhos macios de pelos pretos cobriam seus
peitorais duros. Os pelos se alinhavam da maneira mais
intrigante em uma linha que descia pelo abdômen bem
definido até a cintura.
Ela tinha dado seus cumprimentos a chef mais cedo. Mas se
comida boa e saudável levava a esse abdômen, ela não tinha
dado à mulher os devidos agradecimentos. Sua boca encheu de
água com o desejo de seguir sua trilha feliz para a terra
prometida com a boca. Em breve. Muito em breve.
Ela acenou si mesma com um dedo torto. Com uma
arrogante sobrancelha levantada, as mãos dele seguraram o
corpo dela. Ele cobriu o corpo dela com o dele, pressionando-a
nas almofadas macias, acomodando-se entre suas pernas. A
situação mais maravilhosa que ela já se encontrou. Ele era todo
calor e dureza contra sua suavidade acolhedora. Jada se
emocionou com o contato. Os pelos em seu peito fizeram
cócegas em seus seios. Ela virou a cabeça em seu pescoço e
inalou um pulmão cheio de Donovan.
Ele se levantou em suas mãos e olhou para ela, tinha
admiração em seus olhos. Admiração que combinava com os
dela.
— Uau — eles sussurraram juntos.
— Estamos realmente aqui, hein? — ela disse.
Ele assentiu.
— Nós estamos.
Ela sabia como ele se sentia. Ela não estava nisso sozinha. Ela
levantou a cabeça, sedenta por outro beijo, enquanto suas mãos
vagavam, se esforçando para tocar cada centímetro da pele lisa
e marrom que ela podia alcançar. Os cumes e planos de seu
corpo a fascinaram.
Ele se empurrou contra ela, enviando outra onda de
sensação em cascata por ela.
— De novo — disse ela, em parte demanda, em parte
frustração que as roupas ainda os separavam. Ele repetiu a ação.
Jada gemeu em aprovação. Ela o queria ali onde ela era tão
macia e molhada.
Então ele baixou a boca para a dela. Outro beijo alucinante
se seguiu. Quando ele finalmente afastou sua boca, seu peito
arfando, ela deu beijos famintos e desesperados na linha forte
de seu pescoço e ombros largos e musculosos. Em qualquer
lugar que seus lábios e língua pudessem alcançar.
Então ele se foi e ela não tentou impedir que um gemido
indigno escapasse. Ela o queria de volta agora. Ela se levantou
em seu cotovelo. A vista era espetacular. Músculos ondulavam
em toda a sua glória quando ele se despiu de suas calças e cuecas.
Ela queria fazer isso, mas ela permitiria. Na próxima vez. Ele era
magnífico. Longo e duro. Sua boca encheu de água novamente.
Um pulso palpitou entre suas pernas. Sim.
Ele examinou sua figura, então ergueu uma sobrancelha
arrogante. Ah, certo. Ela precisava retribuir o favor. Ela se
levantou e rapidamente se livrou de sua calça e calcinha.
Ele olhou para ela da cabeça aos pés, deixando um rastro de
calor enquanto fazia isso.
— Vale a pena repetir. Você é tão linda.
Antes que ela pudesse responder ou se deliciar com o elogio,
ele se abaixou, a passou por cima do ombro e saiu da sala. Bom
Deus, o homem tinha uma bunda de classe mundial. Redonda
e apertada e mordível. O que não era importante no momento.
Mais tarde, porém. Ela bateu em suas costas duras como um
tijolo.
— Me coloque no chão.
Ele continuou como se não sentisse ou ouvisse nada, não
parando até que ele entrou em um quarto e prontamente a
deixou cair. Ela saltou na cama, e então se levantou nos
cotovelos.
— Ei!
Ela iria ignorar como este era possivelmente o colchão mais
confortável em que ela já esteve e com os lençóis mais luxuosos.
O homem sabia a contagem de fios. Ele dobrou um joelho na
cama e se arrastou para cima até cobrir o corpo dela. Ela inalou
o cheiro dele, rapidamente ficando intoxicada novamente.
Dicas de cedro e oceano e Donovan.
Ela precisava prová-lo. Ela arrastou seus dentes ao longo de
um tendão em seu pescoço.
— Você estava dizendo? — ele sussurrou contra seu ouvido.
Ela acariciou sua mandíbula, o cabelo macio de sua sombra
de cinco horas raspando deliciosamente contra sua palma.
Como seria a sensação de sua barba contra a pele entre suas
coxas? Se houvesse alguma justiça no mundo, ela saberia mais
cedo ou mais tarde.
— Cale a boca e me beije de novo.
Ele estremeceu dramaticamente.
— Essa voz de burguesa é só para mim.
Ele cortou sua risada com a boca. Então ela estava se
afogando novamente nele, em como ele a fazia sentir. Estimada.
Desejada.
Sua boca talentosa deslizou por seu corpo, seu destino claro,
embora ele tenha feito vários desvios, primeiro para sua
clavícula, depois para seus seios novamente, então a curva de
seu quadril.
Jada agarrou os magníficos lençóis com as duas mãos e
continuou curtindo a viagem. Então ele estava entre suas
pernas, adorando-a como se ela fosse uma deusa. Ela se sentia
como uma deusa.
Sua boca e mãos eram mágicas. Primeiro, houve os beijos
suaves em ambas as coxas com mordiscadas rápidas de seus
dentes, seguidos por lambidas suaves de sua língua. O arranhão
suave de sua barba em sua pele aumentou seu prazer, como ela
suspeitava. Círculos suaves em seu clitóris com o polegar e o
dedo indicador a fizeram arquear as costas e ofegante para
respirar. Então sua língua juntou-se à ação sobre a carne
sensível. Jada ofegou, insegura de que sobreviveria ao delicioso
ataque aos seus sentidos.
— Baby, você está tão molhada — ele sussurrou contra ela.
Maravilha e desejo encheram seu tom.
Ela sabia. Ela sabia.
Mas ele não terminou.
Ele deslizou um dedo dentro dela, depois outro,
trabalhando nela enquanto ele manuseava seu clitóris em um
movimento rítmico. Novas chamas se construíram dentro dela.
Ele passou a língua por suas dobras sensíveis uma vez, duas
vezes, antes de retornar ao seu clitóris.
Jada gritou, arqueando o pescoço. Dolorida.
Ele não parou.
Não quando ela implorou. Não quando ela suplicou.
Graças a Deus. Ela ofegava por mais. Implorou-lhe que a
libertasse dessa tortura. Que continuasse. Ele tomou as deixas
dela, alternando entre diminuir e acelerar o ritmo de seus dedos
e língua enquanto ela respondia: “Sim. Gostei disso. Por favor.
Donovan.”
Ela olhou para baixo enquanto ele olhava para cima. A
expressão em seu rosto a deslumbrou. Determinado. Intenso.
Focado nela. Certificando-se de que ela estava sendo cuidada.
Desperto. Selvagem.
— Qualquer coisa que você quiser, baby.
Ele abaixou a cabeça e continuou a se deliciar com ela como
se fosse um banquete. Fortes deslizamentos de sua língua foram
seguidos por redemoinhos mais lentos. Bem quando ela estava
prestes a explodir, ele suavizou seu toque. A tortura continuou
até que ela não aguentou mais.
— Donovan — ela implorou. — Não posso…
— Eu sei, baby.
Um aperto suave em seu clitóris com os dentes e ela estava
sobre a borda, caindo direto para o abismo.
— Você está bem? — ele sussurrou perto de seu ouvido,
algum tempo depois. Ele se deitou ao lado dela, embalando sua
mão, esfregando o polegar sobre sua palma.
Os tremores secundários continuaram a varrê-la. Mas ela
tinha energia suficiente para passar uma perna sobre seu
quadril até que estava montada nele.
— Nunca estive melhor.
Cedendo ao desejo que nunca esteve longe do topo de sua
lista de desejos, ela deslizou as mãos pelo corpo dele,
começando em seu abdômen fabuloso dividido ao meio por
sua trilha feliz e trabalhando para cima. Seu pelo encaracolado
no peito era macio e elástico sob suas palmas. Ela manuseou
seus mamilos e sorriu em seu suspiro estrangulado. Encantada
com a forma como eles endureceram sob suas mãos ansiosas.
Ela adorava que o afetasse tanto quanto ele a afetava. Ela mexeu
as sobrancelhas.
— Mas aqui está a coisa. Eu não acabei. Nós não
terminamos. Nem mesmo perto.
— Eu estava esperando que você dissesse isso. Por que você
não abre aquela gaveta? — ele empurrou o queixo em direção a
mesinha de mogno.
— Não diga mais nada. — Jada mergulhou em direção ao
móvel e voltou triunfante segurando o santo graal – uma
camisinha. — Você se importa se eu fizer as honras.
— Faça como você quiser.
Ela rasgou o pacote e deslizou para baixo de seu corpo
magnífico até que ela montou em seus quadris. Ela olhou para
seu pau, lambendo os lábios. Ela realmente não tinha dado
tanta atenção a essa parte quanto ela gostaria, mas as chamas do
desejo não podiam ser ignoradas, e ela precisava dele dentro
dela agora. Ele assobiou quando ela o agarrou, então o acariciou
para cima e para baixo, sua carne dura e quente, mas ele se
acalmou quando ela cuidadosamente rolou a camisinha por seu
comprimento.
Apoiando-se em seu abdômen flexionado, ela aliviou-se
sobre ele, palpitações de desejo acelerando em cada flexão de
seus músculos internos. Eles mantiveram contato visual
durante todo o ato, sua conexão desprotegida e verdadeira.
Quando ele estava totalmente dentro dela, seus olhos se
fecharam com a sensação de finalmente ser um com ele. Ela
engoliu em seco. Gozar não poderia ser tão bom. Eles se
encaixam como se tivessem sido feitos especificamente um para
o outro.
Seu aperto em sua coxa aumentou.
— Jada. — Ele estava tremendo debaixo dela. — Eu quero
fazer isso bom para você, mas eu preciso que você se mova,
baby.
Jada se levantou, ofegante com o choque de excitação que a
atravessou. Com a mão na cintura dela, ele a guiou de volta para
baixo, e eles rapidamente encontraram um ritmo que
funcionou. Seus suspiros simultâneos confirmaram isso. Seus
olhos escuros fitaram os dela, recusando-se a deixá-la ir. Não
que ela quisesse ir. Não eram apenas seus corpos que estavam
conectados. Também eram suas almas. Ela apertou seus
músculos internos ao redor dele, sentindo sua rápida inalação
de ar com o movimento. Então seus dedos mágicos se juntaram
à ação em seu clitóris.
— Oh, meu Deus. — Jada não conseguia mais se
concentrar. Não conseguia mais manter aquele ritmo
cuidadoso e medido. Ela só podia sentir como a tempestade a
destruiria enquanto ela corria para o fim.
Ela gritou de surpresa quando Donovan os virou. Nunca
parando o movimento glorioso de seus quadris, ele guiou sua
perna sobre seu quadril e surpreendentemente alcançou mais
fundo dentro dela com um impulso experiente. Ela segurou o
passeio, as faíscas voando alto e brilhante por todo o seu corpo,
enquanto o ritmo dele acelerava. Ele revirou os quadris,
pressionando contra seu clitóris, e sua boca engoliu seu grito
quando ela caiu de cabeça sobre a borda.
Com seu encorajamento, ela gozou mais algumas vezes,
trazendo outro clímax para ela antes de finalmente jogar a
cabeça para trás em um grito rouco quando um orgasmo
tomou conta dele.

∗∗∗

Donovan estava tendo problemas para recuperar o fôlego, mas


pelo menos seu corpo havia esfriado. Ele deslizou a mão pelo
cabelo de Jada e deu um beijo em sua testa. Ele sorriu quando
ela se aconchegou ao seu lado. Seu cérebro era um turbilhão,
pedaços da última hora flutuando dentro e fora de sua
consciência. Mas havia uma coisa que ele não teve dificuldade
em entender. Jada estava aqui. Com ele. Ele nunca esteve mais
contente em sua vida.
— Você tem uma cama incrível — ela murmurou.
Donovan riu. Como ele não poderia?
— É nisso que você está pensando?
Ela rolou, apoiou-se em seu estômago, e olhou para ele,
mechas despenteadas de cabelo escuro caindo ao redor de seus
ombros, seus lábios deliciosos agora nus, mas não menos
tentadores. Ele prendeu a respiração. Sua beleza nunca deixava
de atordoá-lo.
— Quero dizer, sim. — Seus lábios se esticaram em um
sorriso provocante. — O que mais eu deveria estar pensando?
— E quanto a isso? — Ele a puxou para cima e fez o seu
melhor para empurrar todos os pensamentos racionais de sua
mente. Ele começou provocando seus lábios, mantendo o beijo
leve até que ela murmurou sua decepção, então ele deu a ela o
que ela queria. O que ambos queriam. Era a coisa mais distante
de uma dificuldade. Jada tinha gosto de sol, como tudo o que
ele poderia querer e muito mais. Do que ele nunca se cansaria.
Ele queria oferecer a ela o mesmo prazer. Quando ele se afastou,
ela estava ofegante com uma expressão atordoada no rosto.
Ele sabia que o sorriso em seu rosto gritava arrogância. Ele
não se importou.
Ela o fez porque seus olhos se estreitaram. Jada fungou.
— Então você pode beijar11. Nas palavras da inimitável
Shania Twain, isso não me impressiona muito.
Seus lábios se contraíram.
— Shania Twain? Sério?
Ela deu um tapa no braço dele.
— Sim, realmente. Ela é uma lenda. Entre outras coisas.
Ele a olhou de lado.
— Se você diz. Se minhas habilidades de beijo não
impressionaram você, então o que impressiona?
Ela considerou a pergunta por um segundo.
— Comida. Parece que estou com bastante fome.

11
Refere-se à música “When You Kiss Me” da Shania Twain.
— Você está, hein? Então vamos pegar um pouco de
comida. Você quer sobremesa?
— Com certeza, mas primeiro isso. — Ela prendeu seus
lábios com os dela e deu o melhor que pôde, habilmente
explorando sua boca com habilidade considerável, seus lábios e
língua trabalhando em conjunto para levá-lo à loucura. Ele
estava ofegante quando o beijo terminou.
— Você está bem? — ela perguntou, arqueando aquelas
sobrancelhas perfeitas, seus lábios tentadores curvados em um
sorriso conhecedor.
— Nunca me senti melhor. — Ele saiu da cama e ficou de
pé sobre as pernas que não eram muito firmes. Ele pegou
algumas calças de moletom de uma cadeira e entrou nelas. —
Uma camiseta é melhor para você?
— Sim, por favor.
Ele pegou duas de seu closet e voltou para seu quarto.
— Aqui está.
Ele lutou para não dar um gritinho como um neandertal
quando ela levantou a camisa dos Knights até o nariz e inalou.
Ele sorriu para si mesmo com o pequeno resmungo dela
quando vestiu a camisa.
Quando eles entraram na cozinha, Jada juntou as mãos.
— O que você tem? Um cheesecake? Bolo de chocolate
holandês?
— Nada.
Seu sorriso caiu.
— O que você quer dizer com nada? Achei que você tivesse
uma chef pessoal.
— Eu tenho, mas ela não faz sobremesas. Eu recebo o
suficiente disso na loja. E não estou quebrando minha
promessa de fornecer sobremesa. Nós vamos fazer cupcakes.
Jada piscou.
— Oh, você quer dizer que você vai fazê-los, e eu vou assistir.
— Não. Não pense que perdi você evitando todas as
oportunidades de voltar para a cozinha na Sugar Blitz.
— Isso é porque eu fui um desastre.
— Você não foi um desastre.
Ela enviou-lhe um olhar realista.
— Tivemos que recomeçar três vezes. Continuei
derramando coisas. Você continuou de cara fechada. E então
eu quase explodi a cozinha. Tenho certeza que isso conta como
um desastre.
— Pare. Não posso ter alguém trabalhando para mim com
medo de entrar na cozinha. Estou aqui para ajudar e orientar,
não para ficar de cara fechada.
Jada fungou.
— Você é capaz de não ficar de cara fechada?
— Você não está me distraindo. Só vamos fazer meia dúzia
de cupcakes de chocolate. Simples. Sem grandes surpresas.
Nenhum forno de nível profissional.
— Sim, você tem equipamentos caros aqui. — Ela
gesticulou em direção aos aparelhos de aço inoxidável
decididamente sofisticados.
Donovan deu de ombros.
— Ainda é um forno simples.
— Eu não cozinho. — Seu beicinho era adorável. Tudo nela
era adorável. Ele estava com tantos problemas, e não dava a
mínima.
— Você não vai cozinhar. Você vai assar. — Ele passou os
braços em volta da cintura dela e olhou em seus olhos. — De
qualquer forma, eu acredito em você.
— Obrigada. — Jada examinou a cozinha com os olhos
arregalados, então se virou para ele. — Ok, sim. Eu quero
tentar. Boa ideia.
Ele recuou surpreso.
— Sério?
Ela endireitou os ombros à sua maneira Jada.
— Sim, estou determinada a ser uma pessoa melhor e
acreditar mais em mim mesma. Até prometo não lhe dar a
oportunidade de dizer que tentei incendiar sua cozinha.
— Ei, eu me desculpei por isso.
Ela o cutucou no peito.
— Com Crocs! É por isso que você deveria se desculpar. Me
presenteando com aquelas abominações fora de moda.
— Você ama esses sapatos. Você está usando eles agora. —
Eles desviaram o olhar pela sala de estar a caminho da cozinha
para que ela pudesse pegá-los.
Jada olhou para seus sapatos.
— Bem, sim, mas ainda assim…
Ele cruzou os braços.
— Mas ainda o quê?
Seu queixo levantou.
— Mas ainda tenho que reclamar porque sua cabeça já é
grande o suficiente.
— Você gosta da minha cabeça grande.
Ela revirou os olhos.
— Talvez.
— Definitivamente.
— Que seja. — Ela fechou as mãos em punhos, socou o ar e
saltou na ponta dos pés. — Então, vamos fazer isso?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— O quê? Boxe?
Ela estreitou os olhos.
— Eu vou ignorar você.
— Você não pode. Eu tenho que te mostrar o que fazer.
— Ah, aí está o maníaco por controle.
— Você vai assar ou me insultar?
Ela torceu o nariz.
— Os dois?
— Por que eu aguento você?
— Minha inteligência deslumbrante e brilhante?
— Sim, algo desse tipo. Ou talvez seja a maneira como você
não tem medo de falar o que pensa e defender o que acredita,
não importa o que seja.
O sorriso que floresceu em seu rosto fez seu coração
gaguejar.
— Sério?
Ele a puxou para mais perto. Ele não precisava mais resistir
à tentação de tocá-la sempre que quisesse.
— Sim, realmente. Você é corajosa e me faz rir.
Ela enterrou o rosto em seu peito.
— Você quer dizer chorar?
— Ei, estou tentando te dar um elogio. Aproveita. — Ele
procurou os olhos dela até encontrar o que estava procurando
– a crença no que ele estava dizendo a ela.
Ela assentiu.
— Ok. Obrigada. Você também não é tão ruim.
— Obrigado. Mas, por favor, entenda que retirarei cada
palavra que disse se você incendiar minha cozinha.
Jada congelou.
— Você é o pior.
— Você quis dizer o melhor, eu sei. Foi um pequeno deslize.
Acontece com os melhores. — Ele se esquivou de seu empurrão
brincalhão e pegou ovos e leite da geladeira. Ele empurrou o
queixo em direção ao balcão atrás dela. — A farinha e o açúcar
estão ali.
Ele a acompanhou durante o processo. Ela se concentrou
ferozmente, combinando com ele passo a passo. O olhar
intenso em seu rosto era sexy como o inferno. Eles só pararam
duas vezes – ok, três vezes – para beijos demorados e
duradouros, e para ele deslizar a mão sob sua camisa para sentir
aquela pele macia que ele adorava acariciar.
— Veja, isso não foi tão ruim — disse Donovan enquanto
deslizava as formas de cupcake no forno. Ele largou a toalha na
bancada. — O que você está fazendo?
Ela estava debruçada sobre o telefone, sem prestar atenção
nele.
— Configurando o alarme no meu telefone.
Donovan piscou.
— Por quê? Já ajustei o timer do forno.
Ela olhou para cima.
— Não vou correr nenhum risco. Você sabe o que é melhor
do que um alarme? Dois alarmes. E sabe o que é melhor do que
dois alarmes? Três. — Ela deu alguns passos até o micro-ondas
e ajustou o timer. — Vai ser ótimo quando meus cupcakes
forem melhores que o seu.
Donovan cruzou os braços.
— Vão ser?
— Ah, sim.
Ela estava tão ocupada sorrindo para ele que nunca viu a
farinha vindo em sua direção. Ele acertou um golpe perfeito. O
ingrediente atingiu seu peito bem em cima do logotipo do San
Diego Knights. Ela engasgou.
— Donovan!
Ele riu, jogando a cabeça para trás. Grande erro. Assim que
sua cabeça voltou à sua posição vertical natural, pedaços de
farinha caíram em sua boca. Ele gaguejou e se virou para o
balcão, tossindo.
Jada colocou a mão em suas costas.
— Donovan, você está bem?
O açúcar deu um tapa na bochecha dela. Ela engasgou.
— Ah, agora começou.
Donovan correu ao redor da ilha e se agachou. Se seus
amigos e familiares pudessem vê-lo agora, suas mandíbulas se
soltariam permanentemente de seus rostos. Isso não era como
ele era. Mas ele queria que fosse.
O que tinha acontecido com ele? Jada. Era tudo Jada.
Ele nunca relaxava. Sempre havia outra montanha para
escalar, outro objetivo para alcançar aquela sensação
indescritível de segurança, uma sensação que era muito rara
quando criança, mas aqui esta noite com Jada, sua mente não
estava correndo com pensamentos sobre o que viria a seguir, de
como tornar a loja ou qualquer um de seus outros
empreendimentos mais bem-sucedidos. Ele estava sendo bobo
com a mulher que invadiu tantos de seus pensamentos nas
últimas semanas e ele não preferia estar em outro lugar.
Jada. Era tudo Jada.
Agora ele tinha uma guerra de comida para vencer.
Os ingredientes que eles estavam usando estavam bem
acima dele. Tudo o que ele tinha que fazer era estender a mão e
agarrá-los. O que restava? Gotas de chocolate, alguns ovos,
granulado. Onde estava Jada? Tudo o que ele podia ouvir era
sua própria respiração irregular.
— Lembre-se de manter meu cabelo fora disso, amigo. —
Ela avisou. Sua voz veio do outro lado da ilha. Ela estava perto
da geladeira.
Ele riu.
— Cresci com uma mãe e duas irmãs negras. Eu nunca
sonharia em cometer tal heresia. Mas o resto de você? Sim, vou
acertar em tudo. — Mas ele tinha que ser furtivo e metódico
sobre seu ataque. Certificar-se de atacar no momento exato. Ele
manteve sua posição, sem mover um músculo, esforçando-se
para ouvir se ela se movia.
— Donovan, Donovan, venha jogar. Você começou isso.
Isso mesmo. Ele tinha. Ele pulou e pegou um punhado de
confeitos em uma ação suave. Ele lançou seu míssil e os viu cair
em cascata no chão em uma espiral triste, nunca atingindo seu
alvo. Jada pegou algumas gotas de chocolate e jogou nele.
Donovan enviou açúcar voando em sua direção, então se
esgueirou atrás dela quando ela se virou para evitar que a coisa
branca atingisse seu rosto. Ele passou os braços em volta da
cintura dela. Ela gritou, então se acomodou contra seu peito,
cobrindo suas mãos com as dela.
— Acho que isso significa que eu ganhei — disse ele.
Ela gaguejou.
— Tanto faz, cara.
— Nunca mude, Jada. Nunca mude. — Donovan riu
enquanto avaliava os danos. Farinha, granulado e açúcar
decoravam o chão e as bancadas do espaço normalmente
imaculado. — Uau. Fizemos uma bagunça. — Ele não tinha
arrependimentos.
— Nós? Isso foi tudo foi você, senhor. No entanto, tive a
melhor performance. — Sua risada cintilante encheu a sala e
seu espírito.
— Se sente melhor? — ele perguntou, acariciando o lado de
seu pescoço. Ele não se cansava de tocá-la. De estar com ela. A
leveza que ela trouxe à vida dele não podia ser exagerada. Ele
nem tinha percebido que algo estava faltando até que ela veio
rugindo em seu mundo, insultando-o a cada passo. Ela cheirava
tão bem, mesmo através da farinha e do açúcar. Como o sol e
as flores. Ele nunca iria se enjoar desse cheiro.
— Um pouco— ela murmurou.
— Um pouco? Eu não devo estar fazendo algo certo. Eu
tenho que me esforçar mais. — Ele a virou em seus braços e
cobriu sua boca com a dele. Beijá-la era uma experiência nova e
melhorava a cada vez. Ele não podia acreditar que tinha perdido
tanto tempo não fazendo isso em todas as oportunidades. A
teimosia não o levou a lugar nenhum, a não ser sentir-se privado
de sua doçura.
Ele se afogou voluntariamente nela, em seu gosto, em seu
cheiro, em sua essência. Suas línguas se entrelaçaram em um
movimento completo e lento. O tempo deixou de ter
significado.
Levou alguns segundos para ele reconhecer que o bipe
incessante não era a batida de seu coração. Ele relutantemente
se separou. Os olhos de Jada se arregalaram.
— Os cupcakes! — eles gritaram simultaneamente.
— Você está um pouco mais energizado esta manhã —
Nicholas disse a Donovan na manhã seguinte.
— Energizado? Ok, velhote. — Donovan serviu uma xícara
de café, adicionou um pouco de açúcar e tomou um gole
profundamente, agradecido pela bebida quente.
Nicholas apoiou um cotovelo em cima da vitrine e lançou
um olhar duro para ele.
— Não tente me enganar. Você sabe que é verdade.
— Se você diz. — Não que Donovan se envergonhasse da
nova mudança em seu relacionamento com Jada, e raramente,
ou nunca, escondia coisas de seu melhor amigo. Mas essa coisa
com Jada era nova e ele queria protegê-la e saboreá-la com todo
o seu valor antes que eles deixassem pessoas de fora com suas
opiniões indesejadas.
— Você e Jada saíram daqui que nem ninjas ontem.
— Eu mandei uma mensagem para você. E pare de assistir
esses filmes.
— Donovan, vamos — disse August, juntando-se a eles. Eles
decidiram fazer dupla contra ele. Excelente. Ele não tinha sorte
de ter dois melhores amigos? E não havia clientes esperando
para fazer o pedido para distraí-los.
Ele foi com sua única opção – protelar.
— O quê?
Nicholas suspirou.
— Pelo menos nos diga o que aconteceu com o Dr. Imbecil.
A mão de Donovan apertou a caneca enquanto ele se
lembrava do que Jada lhe dissera.
— Ele disse que queria voltar. Jada disse que não.
— Então por que você está rangendo os dentes?
— Porque ele teve a maldita coragem de aparecer aqui
quando sabe que ela está em um relacionamento.
— Ela está? — Nicholas trocou um olhar conhecedor com
August.
Porra. Ele foi bem direto nessa.
— Podemos dizer que você não está pronto para falar sobre
isso, então vamos deixá-lo em paz — disse August.
— Nós vamos? — O fofoqueiro do Nicholas torceu o lábio
em desacordo.
August fixou um olhar duro em Nicholas.
— Sim, nós vamos.
Nicholas suspirou, seus ombros caindo. August não batia o
pé com muita frequência, mas quando o fazia, as pessoas
obedeciam.
— Ok, tudo bem, mas quando você estiver pronto para
falar, estaremos prontos para ouvir.
Donovan deu um tapinha no peito dele.
— Obrigado, cara. Eu agradeço.
— Você parece mais feliz do que eu vejo há muito tempo.
— August fez essa observação, então fez seu costume de
desaparecer, murmurando algo sobre a necessidade de
consertar uma torneira pingando em um dos banheiros.
A campainha da porta da frente tocou, e lá estava ela,
parecendo mais bonita do que qualquer mulher tinha direito,
mesmo em seu uniforme feio, como ela se referia, em uma polo
verde-azulada Sugar Blitz, calça cáqui e Crocs. Seu coração
pulou uma batida como um aluno da nona série com cara cheia
de espinhas vendo sua paixonite perto de seu armário antes do
início das aulas.
Nicholas bateu a mão no balcão, chamando a atenção de
Donovan.
— August estava certo, você sabe. É bom te ver assim. —
Então ele, também, foi para a parte de trás da loja, depois de
gritar uma saudação para Jada.
— Oi — disse Donovan, contornando o balcão. Ele soava
como um tolo obcecado. Provavelmente parecia um também.
Não havia muito o que fazer a respeito. Ele estava. Ele olhou ao
redor. Mais do que nunca, ele estava ciente dos clientes da
padaria observando cada movimento deles. Isso nunca o
incomodou muito porque eles não estavam namorando de
verdade. Mas agora eles estavam, e ele queria proteger o
relacionamento. Ele queria protegê-la. Ele a viu e a ouviu
magoada na noite passada enquanto ela falava sobre o
problema que ela enfrentou nas mídias sociais.
— Oi — ela disse, oferecendo um sorriso trêmulo. Ela
também não sabia como agir. Os sussurros e os cliques da
câmera do telefone não diminuíram desde que ela entrou.
Poderia muito bem dar a eles algo para falar. Por que diabos
não? Eles queriam saber como as coisas terminaram depois que
o Dr. John apareceu, certo? E todo mundo achava que eles
estavam namorando de qualquer maneira.
Ele enrolou um braço ao redor de sua cintura fina, puxou-a
para ele e abaixou a cabeça. Ela o encontrou no meio do
caminho. O desejo lhe deu um soco no estômago assim que
suas bocas se encontraram. Ele sorveu seus lábios como um
homem morrendo de sede, saboreando o gosto dela. A língua
dela deslizou dentro de sua boca e ele a puxou para mais perto,
mal contendo um gemido que ameaçou escapar.
Começar isso foi uma péssima ideia porque ele não
conseguia mais parar. Ele relutantemente recuou quando as
vaias e gritos dos clientes da padaria se tornaram muito altos
para serem ignorados.
— Arranjem um quarto — o Sr. Till resmungou a caminho
de sua mesa favorita nos fundos, a que ele alegou que lhe dava
a visão perfeita de tudo o que acontecia na loja.
Donovan balançou a cabeça para o velho, então se
concentrou na mulher que chamava sua atenção.
— Oi.
Ela riu, um sorriso sedutor se estendendo por seu rosto
bonito, todos os vestígios anteriores de nervosismo se foram.
— Oi.
Ele a puxou para um abraço. Sim, essa coisa de
relacionamento real era fantástica para um novo capítulo.

∗∗∗

— Então, o que você planejou para esta noite, Jada? — Ella


perguntou, de uma maneira que ela sem dúvida considerava
inocente. Ela estava bisbilhotando e fazendo perguntas
importantes nas últimas duas horas de seu turno. Jada se
esquivou e desviou o máximo que pôde, sem saber o quanto
Donovan queria que ela divulgasse sobre o novo status de seu
relacionamento. Sem saber o que ela mesma queria revelar.
Não ajudou que Donovan estivesse sentado em uma mesa
próxima com Nicholas e pudesse ouvir a pergunta de Ella.
Ela não queria presumir que estava passando a noite com
Donovan ou anunciar isso para alguém caso ele não estivesse
confortável com isso, mas dado os olhares incendiários que ele
estava lançando para ela quando achava que ninguém estava
prestando atenção, ela não achava presunçoso da parte dela
acreditar que sua presença seria bem-vinda.
— Como não temos um evento hoje à noite, planejei ir
procurar um presente de aniversário para minha avó.
— Oh. — O rosto de Ella caiu em decepção. Jada encontrou
o olhar divertido de Donovan sobre a cabeça do adolescente.
"Continue firme”, ele murmurou. Ela mordeu o lábio para se
impedir de rir.
— Por que você não vai com ela, Donovan? — perguntou
Nicholas.
Jada engasgou com a limonada. Seus amigos eram realmente
intrometidos, medalhistas de ouro olímpicos de classe mundial.
Donovan manteve a calma, apenas acariciando o queixo.
— Por que você acha que eu deveria fazer isso?
Nicholas rapidamente se endireitou em sua cadeira. Ele
pegou seu telefone e acenou.
— Você não é o único que pode fazer análises quando o
clima está bom. Nossos acessos e impressões de mídias sociais
estavam fora dos gráficos ontem quando o Dr. John apareceu.
As pessoas estão se perguntando o que está acontecendo com
vocês dois. Fotos de #JaDon fora da loja aumentarão o
interesse. Precisa colocar essa hashtag em alta novamente. E
pare para jantar enquanto estiver fora. Sente-se no pátio de
qualquer restaurante que você escolher para que as pessoas
possam ver vocês. Ah, sim, e vocês têm que passar por todos no
restaurante ao entrar e sair para que as pessoas vejam vocês
também.
Jada trocou outro olhar com Donovan antes de ele inclinar
a cabeça para o lado e encarar seu co-proprietário.
— Quando você se tornou tão diabólico?
Nicholas mostrou o sorriso que causou tantos desmaios.
— Aprendi com os melhores.

∗∗∗

Donovan abriu a porta da Burberry.


— O que você dá para uma mulher que pode comprar tudo
o que ela quer?
Jada atravessou a entrada, acidentalmente esbarrando de
propósito em Donovan.
— Essa é uma pergunta que eu fiz um milhão de vezes.
— Você encontrou a resposta?
Boas lembranças voltaram para Jada rapidamente.
— Passei por uma fase na adolescência em que pensei que
tinha que ser grande ou não valia a pena. — Ela torceu o nariz.
— Me tornei um pouco consciente de quanto dinheiro minha
família tinha. Achei que poderia chamar a atenção dos adultos
da minha família se comprasse algo grandioso para eles. Meus
pais são um pouco…
Donovan se aproximou de um trio de manequins vestidos
com os lendários casacos xadrez da marca.
— Um pouco o quê?
Jada tocou a manga de um dos casacos. Caro. Chique.
— Um pouco – e coloca muito nisso – não como eu. Eles
aceitaram os presentes, gostavam mesmo deles. Quem não
gosta de um tour privado pelos bastidores da vinícola que
produz seu vinho favorito? Depois de me agradecerem,
perguntaram por que não tirei dez nos exames de matemática e
ciências e se precisava de mais aulas particulares.
Donovan colocou a mão na parte inferior das costas dela.
— Eu sinto muito.
— Obrigada. — Jada se inclinou para o conforto por um
momento antes de caminhar em direção a uma exibição de
lenços que chamou sua atenção.
— O que aconteceu com a Sra. T?
Jada ergueu um cachecol xadrez.
— Provavelmente comprei para ela algo semelhante a este
lenço no aniversário dela, se não exatamente o mesmo lenço.
Ela disse que era bonito, mas eu poderia dizer que ela não estava
deslumbrada, então no ano seguinte, eu tentei mais. Cartões de
crédito são facilitadores do mal. Ela colocou o presente de lado
e pediu para me ver a sós. Ela disse: “Jada, pensei que te criei
melhor do que isso. Desperdiçar dinheiro para se exibir não é o
caminho.”
Os ombros de Donovan tremeram de tanto rir.
— Eu posso vê-la dizendo isso. O que você fez depois?
— Eu queria deixá-la orgulhosa, é claro. Tive um ano para
pensar nisso. Eu pensei muito sobre isso. Percebi que ela valoriza
o tempo em família. E os Knights vencendo. Mas a família
sempre vem em primeiro lugar. No ano seguinte, dei a ela um
vale-presente que dizia que ela e eu iríamos almoçar juntas, só
nós duas, uma vez por mês, fora de nossas reuniões familiares
normais. — Jada sorriu com as lembranças que nunca deixaram
de aquecer seu coração. — Você pensou que eu tinha dado a
ela as chaves do armário de moda da Vogue ou as escolhas
número um de um projeto para os próximos dez anos.
Ele estendeu os braços, franzindo a testa.
— Então o que estamos fazendo aqui?
Jada lançou-lhe um olhar.
— Eu gosto de olhar para as roupas bonitas. — E olhar era
tudo o que ela podia fazer. Seus pais não mudaram de ideia
sobre seus cartões de crédito. Mas ela tinha um teto sobre sua
cabeça, um trabalho que amava e um homem que... adorava.
Ela não tinha reclamações. E honestamente, ela não tinha
perdido muito as compras. Sim, ela estava gostando de estar na
loja, mas ela descobriu outras coisas que lhe davam – ousava
dizer – mais prazer do que comprar roupas. — Posso fazer um
pequeno desvio antes de começar a trabalhar. Eu mereço uma
recompensa. Eu tenho trabalhado muito duro em uma certa
loja de cupcakes.
— Você tem? — ele brincou.
— Eu certamente tenho. — Ela levantou o queixo e
marchou para fora da loja. Donovan a alcançou com poucos
passos. Maldito seja ele e suas longas pernas.
Rindo, ele pegou a mão dela e entrelaçou os dedos.
— Você realmente vai comprar um presente para a Sra. T?
— Com certeza. Eu sempre dou um presente a ela. Eu não
fiz meu trabalho se não a fizer grunhir, quanto mais alto,
melhor.
— Dê-me seus maiores sucessos.
Jada esfregou as mãos.
— Houve uma vez em que comprei um boné dos Raiders
para ela.
Donovan gargalhou.
— Você comprou um boné para ela do nosso maior rival?
Isso é brilhante.
Jada se enfeitava.
— Obrigada. Nunca a vi tão indignada. Quer dizer, eu não
acompanho o futebol, mas já a ouvi menosprezá-los o
suficiente ao longo dos anos para saber que o presente seria
perfeito. Corri para fora da sala para impedir que minhas
risadas me denunciassem enquanto ela abria o presente. Então
ela gritou para eu voltar no quarto. Ela disse: “Agora que me
acalmei, reconheço que isso foi um presente engraçado, então,
nesse sentido, eu aprovo. Nunca mais traga essa porcaria para
minha casa.” Então ela acendeu a lareira e jogou o boné dentro.
Ele subiu em uma gloriosa bola de chamas.
O riso retumbou de seu peito.
— O que mais?
Jada deu uma risadinha quando uma lembrança em
particular veio à mente.
— Ela adora o jardim ao redor de sua propriedade. É seu
orgulho e alegria. Variedade premiada de flores e árvores, com
um belo lago para equilibrar as coisas, todas cuidadosamente
selecionadas por ela, até onde a vista alcança. Ela adorava
quando Casa e Jardim aparecia alguns anos atrás. Sempre que
conversávamos, era tudo o que ela conseguia falar. Comprei
para ela uma família inteira de flamingos infláveis, gnomos de
jardim e uma bela piscina inflável para eles beberem. Mandei
entregar e montar alguns dias antes da sessão de fotos. Isso foi
grandioso.
— Você pensou muito nos presentes dela.
— Eu tento. O truque é se divertir com isso. Às vezes, o
presente certo se apresenta como os gnomos de jardim. Outras
vezes, penso nisso por meses e acabo andando pelo shopping
esperando a inspiração chegar. Como hoje. Estou um pouco
ocupada, se você não percebeu. — Ela parou de repente. — É
isso. É perfeito. Vovó está sempre ocupada e, como neta dela, é
meu dever ajudá-la de qualquer maneira que puder. — Ela
agarrou a mão dele. — Vamos sair daqui. Vovó vai adorar sua
assinatura no solteirosdaterceiraidade.com.

∗∗∗

Depois do jantar, durante o qual eles seguiram as instruções de


Nicholas comendo em um restaurante que os colocava à vista
dos outros clientes e de quem passava na rua, eles voltaram para
o carro dele. Donovan pegou seu telefone quando recebeu um
beep vindo de seu celular, era uma mensagem de texto. Ele
observou a tela, seu rosto cuidadosamente em branco. Ele
balançou a cabeça, então enfiou o telefone no bolso de trás.
— Tudo certo? — perguntou Jada.
— Sim, não se preocupe.
Ela não acreditou nele. Ele parecia distraído, a um milhão de
quilômetros daqui. Mas ela não podia forçá-lo a contar a ela. E
não era a primeira vez que ele tinha aquele olhar em seu rosto
depois de uma mensagem.
Ele estava guardando segredos. Era o lembrete que ela
precisava para guardar seu coração e não apenas entregá-lo a ele
como ela tinha feito a vida toda, em relacionamentos
anteriores. O que eles tinham era novo, então ela precisava
tomar seu tempo.
— Toda essa situação tem sido tão estranha para mim —
disse ele um minuto depois, acenando para uma mulher que
chamou seus nomes do outro lado da rua.
— Como assim? — Jada estudou seu perfil.
— Estou acostumado com as pessoas me reconhecendo e
querendo falar sobre futebol americano, mas agora sou aquele
cara namorando a Jada do Minha Cara Metade. Estou sendo
mais reconhecido do que nunca.
Jada assentiu.
— Sim, esse é o poder das mídias sociais.
Donovan balançou a cabeça.
— E da fofoca.
Eles pararam no carro dele. Jada não queria que seu tempo
juntos terminasse. Mas a verdade é que eles não tinham planos
para a noite. Ele poderia deixá-la em seu carro na confeitaria e
seguir seu caminho alegremente. Ela olhou para ele com
curiosidade. Ele não tinha pego a chave para destrancar a porta.
— E aí? — ela perguntou, colocando a bolsa no ombro.
Sua cabeça inclinou para o lado.
— Aqui está uma coisa. Eu me diverti esta noite.
Um sorriso provocante brincou em seus lábios. Ela deveria
parar de olhar para esses lábios. Agir como se ela tivesse
tranquilidade. Mas eles eram tão sedutores e mordíveis. E
lambíveis.
Tranquilidade. Certo.
Ela limpou a garganta e apontou para si mesma.
— Aqui está minha coisa. Eu também.
Ele se inclinou.
— Aquelas pessoas ali com suas câmeras, nem mesmo estão
tentando fingir que não estão tirando fotos e vídeos de nós,
estão esperando que a gente se beije — ele sussurrou em seu
ouvido. Ela estremeceu. Ela não pôde evitar. Sua voz profunda
fez algo com ela. Algo muito, muito legal.
Jada assentiu.
— Eu estou ciente disso.
— Agora, podemos dar a eles o que eles querem.
Ela assentiu novamente.
— Poderíamos.
— Mas eu quero que você saiba que eu estaria te beijando
porque não te beijei nas últimas duas horas e quinze minutos e
isso está me matando. Eu não dou a mínima para quem está
assistindo ou o que acaba no Instagram. — Seus olhos
escureceram com interesse enquanto seu olhar faminto se
demorava em sua boca. Ela lambeu os lábios e sorriu para si
mesma quando ele gemeu.
A bola estava em seu campo. Ele não iria pressioná-la. Ele
expôs sua posição. Com o qual ela respondeu com um sim.
Embora houvessem câmeras apontadas para eles, esse beijo era
para eles. Só para eles. A noite passada não tinha que ser um
acaso.
Jada ergueu a mão e a curvou na nuca dele enquanto se
levantava na ponta dos pés. O primeiro toque de seus lábios
enviou um suspiro em cascata por seu corpo. Ou talvez fosse
esse o som que ela fazia. Seus lábios tinham um gosto melhor
do que ela se lembrava, e ela tinha uma memória cristalina.
Seus olhos se abriram quando o beijo chegou ao fim.
— Como foi isso? — ele murmurou contra seus lábios.
Ela fingiu pensar seriamente na pergunta.
— Um forte nove de dez.
Ele bateu a mão no peito.
— Uau. Ok. Uma estaca no meu coração, mas eu posso
aguentar.
— Eu estava pensando que precisamos de um pouco mais
de prática.
Donovan fez uma careta.
— Sério? Acho que vou para casa e relaxar pelo resto da
noite. Trabalhar em minhas habilidades de beijo. Sozinho.
Jada inclinou a cabeça para o lado.
— Oh, sério? Sim, eu também. Na verdade, não preciso.
Minhas habilidades estão perfeitas.
— Estão. — Ele acenou com a mão para frente e para trás,
um sorriso brincando em seus lábios. — Eles estão bem. Mas
você sabe, minha casa é meio quieta, e eu meio que me
acostumei a ter uma mulher falante por perto. Uma que nunca
tem medo de expressar sua opinião e não dá a mínima para
poupar meus sentimentos.
Jada revirou os lábios para impedir que um sorriso tomasse
conta de seu rosto. Levaria algum tempo para se acostumar
com esses sentimentos quentes e confusos que ele inspirava
nela.
— Sério? Ela parece ser legal. Eu gostaria de conhecê-la.
— Você me lembra ela, na verdade. — Ele estalou os dedos
como se alguma ideia profunda tivesse acabado de lhe ocorrer.
— Ei, você gostaria de vir? Só para manter esse impulso de ter
uma mulher opinativa por perto. Eu ficaria bem com isso.
— Que mulher resiste a um convite desses?
— Espero que alguém perceba o quanto eu gosto de passar
tempo com ela e não quero que este dia acabe.
Seu coração derreteu. Droga, ele podia ser encantador
quando queria. Ela pensaria que ele estava tendo aulas com
Nicholas, mas falar besteira não era o jeito de Donovan. Se ele
disse isso, ele quis dizer isso. E a certeza absoluta disso fez seu
coração pular algumas batidas. Ela sorriu.
— Eu adoraria.

∗∗∗

O telefone de Jada tocou uma saudação animada. Donovan


sorriu. O toque era tão Jada.
Eles chegaram em sua casa alguns minutos atrás e se
acomodaram em seu sofá.
Ela tirou o telefone da bolsa, verificou a tela e soltou um
suspiro.
— Desculpe. Eu tenho que atender isso. — Ela não estava
ou parecia emocionada com a perspectiva. — Olá — ela disse,
injetando alegria claramente falsa em sua voz. Ela se levantou e
se afastou alguns metros, mas ele ainda podia ouvir seu lado da
conversa. Não que ela estivesse falando muito. Principalmente
“sim” e “não”, e “hum”. Quem estava na chamada estava
claramente dirigindo a conversa.
Ela suspirou e deixou cair a cabeça em sua mão livre. Ele não
gostou de sua linguagem corporal. Ombros caídos. Derrotada.
Essa não era a Jada que ele conhecia. A Jada que ele estava vindo
para... cuidar.
— Eu não… — Ela começou, então se acalmou. Seus
ombros quadrados. — Certo. Sim, claro. Vejo vocês em breve.
— Você está bem? — ele perguntou, depois que ela
encerrou a ligação com uma punhalada pontiaguda de seu dedo
na pobre e indefesa tela do telefone.
Seus lábios se esticaram em um sorriso que mais se
assemelhava a uma careta torturada.
— Adivinhe quem vem para jantar. 12

∗∗∗

O olhar de perplexidade no rosto de Donovan teria sido


engraçado se sua vida não fosse uma clássica comédia de erros.
Ele se levantou do sofá e a puxou para um abraço.
— O que você está falando? Você está bem?
Ela baixou a cabeça para frente em seu peito forte e inalou o
cheiro fresco de algodão de sua camisa sob os cheiros de
baunilha e chocolate e granulado, aromas que agora
sinalizavam conforto.
— Nunca estive melhor.
Donovan esfregou suas costas.
— De alguma forma eu duvido disso. Em quem eu tenho
que bater, ou pelo menos ter uma conversa séria?
Isso provocou um sorriso mais genuíno dela. Ela suspirou.

12
Referência ao filme “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”.
— Esse era meu pai, com minha mãe fazendo uma aparição
especial.
— Entendo — ele disse, sua voz indicando que ele, de fato,
entendia a gravidade da situação. — O que eles queriam?
Ela se inclinou para trás para olhar para ele.
— Meus pais, ou melhor, vários sócios de meus pais, nos
viram no Good Day, San Diego e queimaram as linhas
telefônicas para perguntar aos meus pais sobre nosso
relacionamento.
— Ah — ele disse, piscando, claramente não esperando essa
resposta.
— Sim. Ah. — Jada virou-se e começou a andar pela sala. —
Meus pais se opõem moralmente a se sentirem desinformados
em toda e qualquer situação e ficaram constrangidos. Não
saber algo, se eles realmente se importam com isso ou não, é
equivalente ao mal para eles. Eles são cientistas e gostam de
conhecimento. Eles ficaram ainda mais chocados ao saber que
sua mãe me conheceu, enquanto eles não conheceram você.
Seus amigos ficaram emocionados ao mostrar fotos de sua mãe
em sua visita à loja que acabou nas mídias sociais.
Isso simplesmente não funcionaria. Eles não se importavam
com Donovan ou qualquer relacionamento em que ela se
encontrasse envolvida, mas não saber disso quando alguém
perguntava – esse era o pecado.
— Eles disseram que você foi convidado para me
acompanhar ao jantar de aniversário da Vovó.
— Ah, entendo. — Agora, ele soava calmo. Até parecia. Mas
como ele poderia estar?
Oh, Deus, agora o constrangimento estava começando a
abrir caminho em seu coração para se sentar ao lado da
mortificação sobre o comando de seus pais. Ele pensaria que ela
havia planejado o convite e estava colocando expectativas em
um relacionamento totalmente novo? Sim, eles se divertiram
juntos e fizeram um ótimo sexo, mas eles estavam em um
relacionamento falso menos de quarenta e oito horas atrás.
Talvez ele pensasse que ela já estava planejando uma viagem
até o altar. Oh, Deus. O pânico afundou seus tentáculos em sua
pele e se espalhou como uma erupção cutânea de ação rápida.
Ela bateu as mãos sobre os olhos e gemeu.
— Eu sinto muito.
— Eu sou Sidney Poitier ou Ashton Kutcher neste
cenário?13
Essa reação foi suficiente para fazê-la espiar por entre os
dedos.
— O quê?
— Você disse adivinhe quem vem para o jantar. Suponho
que foi uma referência a uma das versões desse filme.
Ela deixou cair as mãos.
— Ah, certo.

13
Aqui o personagem faz menção a Sidney Poitier, que é o ator principal de
“Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, e Ashton Kutcher, ator do filme “A Família
da Noiva” que no caso é uma refilmagem de “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”.
Ele apontou para si mesmo.
— Quero dizer, eu não acho que tenho energia de menino
branco pálido, mas quem sabe?
Uma gargalhada explodiu em seu peito. Ele definitivamente
não tinha energia de menino branco pálido. Donovan era todo
Donovan. Quente, incrível e excelente. Energia BD14 por todo
o caminho.
— Você está seguro nessa parte.
Ele soltou um assobio alto e dramaticamente enxugou a
testa.
— Ótimo, mas isso deixa o Sr. Poitier, mas todos os
envolvidos neste cenário são negros, então não tenho certeza se
isso se encaixa também. Embora eu compartilhe o mesmo
brilho suave e jovial que o estimado Sr. Poitier, se é que posso
dizer isso. — Ele acariciou o queixo.
Ela riu.
— Claro que você diria isso — ela acalmou. —
Honestamente, você não é Sidney ou Ashton. Eu sou a má
influência voltando para casa para uma multidão cética pronta
e disposta a julgar cada movimento e palavra minha. Vai ser um
momento alegre, deixe-me dizer.
— Por que você não disse não?
Ela levou a mão ao peito em choque simulado.

14
“Big Dick Energy”, que quer dizer alguém que tem confiança mas não é
arrogante.
— Não se diz não às estimadas unidades parentais de
Townsend-Matthews. Nunca lhes ocorreria que um de seus
descendentes ou seus subordinados faria uma coisa dessas. —
Ela esfregou as têmporas esperando que pudesse evocar alguma
solução mágica se ela pensasse sobre isso o suficiente. —
Desculpe por arrastar você para isso.
Ele afastou as mãos dela do rosto.
— Não precisa se desculpar. Estamos nisso juntos. Dissemos
isso desde o primeiro dia. Agora que somos nós de verdade,
quero dizer ainda mais.
Jada o encarou. Ela estava com tantos problemas. Ela estava
começando a se apaixonar por seu namorado não tão falso.
— Pronta para fazer isso? — perguntou Donovan.
Eles chegaram à casa dos pais dela cinco minutos atrás, mas
Jada não tentou sair de sua SUV. Ela olhou pela janela como se
nunca tivesse visto a casa de estilo espanhol com seu telhado de
gesso antes. Quando ela não respondeu, ele colocou a mão em
seu joelho.
— Jada.
Ela pulou como se estivesse presa em um transe. Ela piscou
duas vezes.
— Não, na verdade, não. Estou enlouquecendo, mas sim,
vamos.
Ela saiu do carro sem mais comentários e caminhou em
direção à casa com passos rápidos. Ele a alcançou na porta.
— Vamos repassar o plano mais uma vez — ela disse, sem
olhar para ele.
— Estamos namorando — disse ele de cor. — Namoro falso
nunca entrará na conversa. Você entrou na loja antes de ir ao
reality show. Rolou um clima, mas você se comprometeu com
o show e não achou que poderia ser real, então você foi, mas
porque eu sou a melhor coisa do mundo, você não conseguia
parar de pensar em mim enquanto estava lá, e nos
reconectamos quando você voltou. Nós namoramos em
segredo até depois do final, quando poderíamos ir a público.
— Perfeito. — Ela levantou a mão para bater, mas parou
antes que seu punho fizesse contato com a madeira — Ainda
pirando, a propósito.
— Eu sei, mas estou aqui.
Ela olhou por cima do ombro para ele, então assentiu. Sem
mais delongas, ela bateu, e alguns segundos depois, uma mulher
que parecia uma versão mais velha e conservadora de Jada
atendeu. Sua mãe, claramente. Seu cabelo castanho escuro,
com alguns fios de cor cinza, estava preso em um coque bem
arrumado. Ela usava calças pretas e um suéter azul leve. Nada
obviamente extravagante, mas Donovan reconhecia roupas de
qualidade quando as via. Seus olhos escuros, tão parecidos com
os de sua filha, estavam avaliando e não perderam nada.
— Jada, estou tão feliz que você conseguiu vir. Por favor,
entre.
Donovan colocou a mão nas costas de Jada e a seguiu para
dentro. Merda. Ela estava tremendo. A mão dele apertou a
cintura dela. Ele desejou poder puxá-la para um abraço e dizer
a ela que tudo ficaria bem. Mas sua mãe estava ao alcance da
voz, e Jada proibiu expressamente qualquer demonstração
pública de afeto. Seus pais não eram fãs. Ainda assim, ele não
pôde resistir a um aperto rápido em sua cintura.
Jada recostou-se levemente contra ele.
— Mãe, este é Donovan Dell.
Ele estendeu a mão direita.
— É um prazer conhecê-la, Dra. Townsend-Matthews.
Ela apertou a mão dele em um gesto simples e profissional e
inclinou a cabeça em sua direção.
— Pontos por você usar meu título, mas por favor me
chame de Nina. Meu marido e minha outra filha estão
esperando na sala.
Com o canto do olho, ele viu Jada erguer o pulso para olhar
o relógio. Ele apertou sua cintura novamente. Eles não estavam
atrasados. Ela poderia relaxar nisso. Mas em outras coisas? Bem,
ainda não sabiam se a resposta era boa ou ruim.
Ele fez umas pesquisas antes de vir esta noite. Seus pais eram
médicos e cientistas, assim como a irmã de Jada. Essas
credenciais podiam intimidar o mais seguro dos indivíduos.
A casa era espaçosa e bem equipada, mas sem demonstrar
ostentação demais. Eram pessoas que tinham dinheiro, mas não
sonhavam em enfeitar sua casa. A casa estava decorada com
itens caros, mas discretos, como se profissionais tivessem sido
chamados para o trabalho sem muita participação dos
moradores da casa. Pisos de madeira, toques de bom gosto de
azuis e verdes misturados com a paleta neutra de cinzas e
brancos. O calor que ele tanto associava a Jada estava faltando.
Eles passaram por uma escada em espiral e entraram na sala
localizada nos fundos da casa. Um homem e uma mulher
estavam de pé em frente ao sofá seccional que dominava o
espaço. O pai e a irmã de Jada, claramente. Assim como sua
mãe, o pai de Jada estava vestido simplesmente com uma camisa
azul bem-feita e uma calça. Ele tinha o cabelo grisalho cortado
rente e uma estatura mediana. A irmã de Jada o olhou com
curiosidade. Sem surpresa, ela e Jada tinham uma notável
semelhança uma com a outra, embora ela tivesse alguns
centímetros a mais que Jada.
— Jada, estou feliz que você se juntou a nós esta noite — seu
pai disse. — Por que você não nos apresenta ao seu homem?
Jada agarrou a mão de Donovan.
— Donovan, este é meu pai, Walter. Pai, conheça Donovan
Dell e, como tenho certeza que você sabe, ele joga para os
Knights.
As sobrancelhas de seu pai se juntaram.
— Claro que eu sei. Você acha que vou deixar alguém
namorar minha filha sem descobrir tudo o que há para saber
sobre ele, especialmente quando não sabíamos que ele existia há
três dias?
Donovan tomou isso como a ameaça que obviamente
deveria ser. E o fato de que seu pai se importava pouco com os
negócios da família de sua esposa.
Jada suspirou, um V de estresse aparecendo entre seus olhos.
— Donovan, esta é minha irmã, Patrice.
Donovan acenou para eles.
— É bom conhecer vocês dois. Obrigado por me convidar.
— Isso deve ser divertido — disse Patrice, olhando para ele
com especulação — Mal posso esperar até que Vovó chegue
aqui.
Nina consultou o relógio.
— Ela pode chegar a qualquer minuto. Minha mãe nunca
se atrasa, especialmente quando estamos comemorando seu
aniversário. Por que não nos sentamos enquanto esperamos
que ela chegue? Podemos nos conhecer melhor.
Donovan e Jada estavam sentados em uma ponta do grande
sofá enquanto seus pais ficavam na outra. Patrice estava sentada
em uma cadeira que combinava com o sofá em frente a Jada.
Donovan pegou a mão de Jada. Ela olhou para ele, seus
lábios deslizando em um sorriso trêmulo. Aquele brilho
familiar em seus olhos havia retornado. Bom. Lá estava a
mulher com quem ele... se importava.
Merda. Um punho apertou seu coração, cortando sua
capacidade de respirar. Sim, ele se importava com ela, gostava
de estar em sua companhia, mas e se fosse algo mais? Mas não
podia ser. Ainda não. Você não se apaixona por alguém que
conhece há menos de um mês. Não fazia sentido. Não era
lógico. Seu cérebro se rebelou com o pensamento mesmo
quando seu coração saltou.
Um sino tocando cortou seus pensamentos desordenados.
— Deve ser minha mãe — disse Nina, levantando-se. —
Vou abrir a porta.
— Olá a todos — uma voz familiar soou da porta um
minuto depois. A Sra. T ficou ali, bastante satisfeita por ter
todos os olhos sobre ela, parecendo majestosa como sempre,
apesar de seu tamanho diminuto.
— Vovó — Jada e Patrice exclamaram simultaneamente.
Walter se levantou e deu alguns passos para encontrá-la.
— Joyce, seja bem-vinda. Feliz Aniversário! — Ele colocou
a mão em seu cotovelo e a guiou para a cadeira vazia ao lado de
Patrice.
— Obrigada, mas vamos lembrar que parei de contar
aniversários anos atrás.
Sua testa franziu em confusão, claramente não entendendo
essa lógica.
— Certo.
Nina tomou o lugar do marido, depositando beijos
educados nas bochechas da mãe.
— Feliz aniversário.
A Sra. T voltou seu olhar de falcão para a filha.
— Eu trabalhei por vinte e seis horas exaustivas e
intermináveis antes de dar à luz a você, e isso é tudo que eu
recebo?
Nina alisou o cabelo para trás, embora nem um fio de cabelo
estivesse fora do lugar.
— Mãe, realmente. Você tem que ser tão... extravagante?
A Sra. T balançou a cabeça.
— Eu sabia que não deveria ter mandado você para a escola
particular chique para alunos superdotados. Eles encheram sua
cabeça com todos os tipos de ciência e matemática e sugaram
todo o humor de você.
— Eu também te amo, mãe — Nina disse secamente. — E
não, um desejo de feliz aniversário não é tudo o que tenho para
você. Eu te dei um presente e estou feliz por você estar aqui.
A Sra. T deu-lhe um tapinha na bochecha.
— Assim está bem melhor. Amo você, querida. — A Sra. T
acenou com a mão quando suas netas se levantaram. — Vocês
já estavam sentadas, e eu sei que vocês me amam tanto quanto
eu amo vocês. — A Sra. T juntou as mãos. — Bem, bem, o que
temos aqui? — ela perguntou como se não tivesse visto
Donovan no momento em que pisou na sala. — Acho que os
rumores de namoro são verdadeiros.
Donovan sorriu.
— Prazer em vê-la, Sra. T.
— Olhe para os meus mundos colidindo. Nunca pensei que
veria esse dia. Um jogador do meu time na casa da minha filha
ao lado da minha neta, que não poderia se importar menos com
futebol americano.
Nina gemeu.
— Mãe.
— Só estou falando a verdade. — Um sorriso se esticou em
seu rosto. — Donovan, ouvi dizer que os parabéns estão vindo.
Fechamos um novo contrato com seu agente.
Jada ofegou, dando-lhe um tapa no braço.
— O quê? Você não me contou! Isso é incrível.
Ele encolheu os ombros.
— Esta noite não deveria ser sobre mim.
— O que é muito doce, mas bem desnecessário.
A Sra. T assentiu.
— Minha neta está certa. Podemos comemorar mais de uma
coisa hoje. Agora vamos comer. Eu posso sentir o cheiro das
minhas comidas favoritas, e elas não vão ser comidas sozinhas.
Os pais de Jada trocaram um olhar confuso antes de abrir
caminho para a sala de jantar formal.

∗∗∗

Jada estava fazendo o possível para não surtar, mas ter Donovan
lá já ajudava muito. Ele irradiava calma.
Ela sorriu para ele quando ele estendeu a cadeira para ela. Ele
se sentou ao seu lado, enquanto sua irmã e avó se sentaram em
frente a eles. Seus pais estavam sentados em extremidades
opostas da mesa.
Vovó estava certa sobre uma coisa. Seus pais não pouparam
gastos com a comida. Um verdadeiro banquete foi espalhado
sobre a mesa. Filé de costela, legumes assados, cogumelos na
manteiga de alho, risoto, salada Cobb e pão francês macio.
Realmente todos os favoritos da Vovó.
— Donovan, tenho certeza que você sabe que nossa filha
não nos contou que vocês dois estavam namorando — Walter
disse enquanto a comida circulava pela mesa.
O estômago de Jada se contraiu. O que ela não daria para
estar em algum lugar – em qualquer lugar – além daqui.
— Aprendi que é melhor deixar o quando e onde revelar esse
tipo de informação para a minha parceira — disse Donovan,
claramente tentando ser o mais diplomático possível. Ela
deveria saber que ele teria a resposta perfeita. Seu estômago se
acalmou um pouco.
Sua mãe limpou a garganta.
— Uma resposta muito delicada. Como vocês se
conheceram?
Vovó se endireitou na cadeira e capturou o olhar de Jada.
— Sim, Jada, conte-nos como vocês se conheceram.
Jada trocou olhares com Donovan. Uma coisa era mentir
para seus pais, o que tecnicamente já não era bom, ela supôs.
Outra coisa era mentir quando sua avó, que sabia a verdade e
podia acabar com o disfarce em um piscar de olhos, estava
sentada a menos de um metro e meio de distância. Ela não tinha
pensado nisso, obviamente.
Jada respirou fundo e basicamente deixou escapar a história
que ela e Donovan inventaram.
— Foi assim mesmo? — Vovó disse, quando Jada fez uma
pausa para recuperar o fôlego. Humor encheu sua voz.
— Sim — Jada disse sem olhar para sua avó. Ela enfiou um
pedaço de pão na boca. Esperançosamente, eles poderiam
mudar de assunto para alguma pesquisa empolgante em que
sua irmã e seus pais estavam trabalhando. Os últimos
acontecimentos no gabinete do prefeito. O clima. Qualquer
coisa.
Vovó os estudou sobre sua taça de vinho.
— Donovan, o que você pensou quando viu minha neta
pela primeira vez?
Jada forçou o pão pela garganta apertada. Ela deveria saber
melhor.
Os lábios de Donovan se abriram em um largo sorriso. A
respiração de Jada ficou presa. Droga, ele estava indo bem.
Ele olhou para ela.
— Ela entrou na loja de salto alto com roupas caras e
perfeitas e um cabelo perfeito. Eu pensei que ela era a pessoa
mais burguesa que eu já tinha visto na minha vida.
— Ei! — Jada deu um tapa no braço dele, enquanto seus
familiares riam. Ele não tinha que dizer toda a verdade.
— Mas então eu realmente olhei para ela e pensei que ela era
a pessoa mais linda que eu já tinha visto. — Ele ergueu a mão
dela e deu um beijo suave em seu pulso, depois nas costas de sua
mão. Seu coração gaguejou uma vez, então duas vezes, então
acelerou para o dobro do seu ritmo normal. O que ele estava
fazendo com ela? — Desde então, aprendi que seu exterior
desaparece em comparação com seu interior.
— Bem, bem, bem — Vovó murmurou, lançando a Jada
um olhar de aprovação.
— Uau — disse sua irmã. — Isso fez meu coração bater
rápido. Eu gostaria que alguém falasse sobre mim assim.
Jada olhou para Patrice em choque. Sua irmã genial estava
com ciúmes de Jada? Sem chance. Embora elas não tivessem
um relacionamento amargo, elas nunca foram particularmente
próximas. Elas não tinham muito em comum. Patrice sempre
foi muito estudiosa e focada na carreira, sua cabeça enterrada
em um livro enquanto a de Jada estava presa nas nuvens.
Seus pais não disseram nada, sem dúvida atordoados em
silêncio. Eles realmente não lidavam bem com emoções ou
demonstrações públicas de afeto.
Seu estômago roncando relaxou. Vovó claramente achou
toda a situação divertida, e se não fosse a vida de Jada, ela
também acharia engraçado.
— Onde você estudou, Donovan? — sua mãe perguntou.
— UCLA.
As sobrancelhas de sua mãe se ergueram.
— Entendi.
A mão de Jada apertou sua taça de vinho.
— Mãe, a UCLA é uma universidade perfeitamente
respeitável.
— Eu não disse que não era, querida.
Aquela dor de cabeça de tensão que começou a atingi-la à
medida que se aproximavam da casa de seus pais atingiu como
uma marreta agora.
Seu pai falou.
— Você recebeu uma bolsa, eu presumo, já que você é um
jogador de futebol americano profissional?
Donavan assentiu.
— Sim, embora tenha me formado em economia para
cuidar de negócios.
— Com todo o respeito a minha sogra, nunca fui muito de
esportes. Conheci Nina na biblioteca da faculdade em uma
tarde de sábado porque era o lugar mais tranquilo do campus.
O comportamento de Donovan não mudou.
— Os esportes não são para todos, mas aprendi muitas
habilidades para a vida praticando esportes profissionais, como
resolução de problemas e trabalho em equipe.
O rosto de seu pai se contorceu com perplexidade. Ele
realmente não entendia porque as pessoas não se especializam
em ciências de alguma forma.
— Entendi. Bem, pelo menos isso é útil. Muito mais sensato
que humanas. — A comida de Jada se tornou chumbo em seu
estômago. Claro, seu pai não percebeu. Ele continuou falando.
— Nós possuímos e administramos uma empresa de pesquisa
médica. A ciência, nós amamos. Mas às vezes, o lado dos
negócios cansa.
— Humanas é um grande curso, mas sim, Jada me contou
sobre o seu negócio. O que vocês pesquisam?
Seu pai se animou. Não havia nada que ele gostasse mais do
que discutir sua pesquisa, mesmo que noventa e nove por cento
da população não tivesse ideia do que ele estava falando.
— Pesquisa biomédica sobre hipertensão pulmonar. As
doenças cardíacas são a principal causa de morte nos EUA, mas
os americanos negros têm trinta por cento mais chances de
morrer do que os americanos brancos.
— É um trabalho importante o que você está fazendo.
Seu pai tomou um gole de vinho.
— Obrigado. Tentamos convencer Jada a trabalhar
conosco, mas ela rejeitou persistentemente nossas ofertas de
emprego.
Sua mãe se inclinou para frente.
— Sim, vagar por Nova York, Europa e Los Angeles era
muito mais importante para ela do que ter uma carreira estável
fazendo um trabalho significativo nos ajudando a melhorar o
conhecimento científico do mundo. Eu nunca vou entender
isso.
Jada desejou poder estar louca. Talvez ela devesse estar
brava. Ela nunca machucou ninguém por causa de suas
escolhas na vida, na verdade trouxe humor para alguns, mas
seus pais não se importavam ou entendiam. Gostavam de fatos
e números. Teorias que podiam ser comprovadas ou refutadas.
A ciência não se importava com sentimentos.
Seu pai assentiu com a cabeça em concordância com sua
mãe.
— Sim, queríamos que ela voltasse para casa, mas ela decidiu
que um reality show era a melhor opção. Você viu o show,
Donovan?
Donovan apertou a perna dela por baixo da mesa.
— Eu vi.
— Não consigo entender por quê ou como alguém acha que
pode encontrar um parceiro, muito menos um cônjuge, em um
reality show.
Ele encolheu os ombros.
— Coisas estranhas acontecem. De qualquer forma,
adoramos tê-la trabalhando na loja.
— Sim, uma loja de cupcakes, não é? — sua mãe perguntou.
— Sim, é um trabalho de amor para mim e meus parceiros
de negócios. Esperávamos trazer um pouco de capricho e bons
doces para San Diego.
Jada enfiou um cogumelo na boca para impedir que um
suspiro escapasse. Sua mãe e seu pai estavam em modo de
dupla. Hora de seu pai falar.
— Você fez umas análises de negócios na abertura da loja?
A propriedade fica em uma parte popular da cidade. Você
poderia vender o prédio por uma boa quantia. Não tenho
certeza se as margens de lucro de uma confeitaria são boas.
Donovan, por ser quem era, lidou com o interrogatório
como um profissional.
— Eu pesquisei bastante sobre o melhor uso para a
propriedade, e então meus parceiros de negócios e eu decidimos
que você não pode colocar um preço nos sonhos. Estamos indo
bem, graças em grande parte à influência de Jada.
— Entendi. — Sua mãe se virou. — Jada, vimos vocês dois
no programa matinal. Era realmente necessário trazer à tona a
sua dislexia?
Jada pousou cuidadosamente o garfo. Não adiantava mais
fingir que estava gostando da comida ou até mesmo comer.
Seus pais sempre faziam isso. Faziam-na sentir que nenhuma de
suas escolhas era boa o suficiente. Mas ela tinha que se
defender. Ela tinha que tentar.
— É a verdade, e eu queria que ela entendesse o porquê se
eu errasse nas palavras dos cartões de sinalização.
A confusão se instalou no rosto de sua mãe.
— Por que você teria feito isso? Conseguimos os melhores
tutores e terapeutas que o dinheiro poderia comprar para
ajudá-la.
— O dinheiro não pode curar a dislexia — Jada murmurou.
Seu pai resmungou.
— Claro que não. Nós sabemos isso. Afinal, somos
médicos. No entanto, não vimos a relevância de você ter falado
aquilo naquele momento. Você estava indo muito bem.
— Na verdade, você deveria se orgulhar de sua filha por
trazer isso à tona. — Donovan disse calmamente, mas com
força. — Várias pessoas nos procuraram para agradecê-la por
mencionar a dislexia e as terapias e soluções alternativas que ela
aprendeu a usar. Uma mãe disse que perguntou ao médico do
filho sobre eles, e isso já o ajudou na sala de aula. E eu não contei
o quanto ela nos ajudou a aumentar os negócios na loja em seu
curto período de tempo lá. Ela tem sido uma dádiva de Deus.
— O que exatamente você está fazendo, Jada? — Sua mãe
perguntou, sem dúvida mais do que feliz em deixar a discussão
sobre dislexia para trás.
Jada ergueu o queixo.
— Estou planejando eventos.
— Ah. Entendi. — Ela não achou esta notícia
impressionante.
— Nina. — Sra. T avisou.
— Acho que você não entende — disse Donovan. — A
visão dela é incrível. Ela tem o pulso na comunidade e
instintivamente sabe o que eles estão procurando.
A cadeira de Jada raspou contra o piso de madeira.
— Donovan, não se preocupe. Com licença. Perdi o apetite.

∗∗∗

Jada andou pela cozinha, esperando, rezando para se cansar o


suficiente para que a raiva que conduzia seus movimentos se
esvaísse dela. Ter vindo tinha sido um grande erro. Mas ela
tinha feito isso de qualquer forma, porque ela era uma tola sem
esperança. Seus pais nunca iriam aceitá-la, ter orgulho dela.
Que tolice pensar que fariam. Planejar eventos em uma loja de
cupcakes? Isso, de forma alguma, podia ser comparado a salvar
a humanidade.
Passos soaram atrás dela.
— Don… — Ela se virou. Não era Donovan. — Vovó, o que
você está fazendo aqui? Você deveria estar comendo bolo e
abrindo presentes. Eu te dei um presente incrível.
Vovó deu um passo à frente e colocou os braços ao redor de
Jada.
— Farei isso depois de ter certeza de que minha neta está
bem.
Jada deixou cair a cabeça no ombro da avó. Abraços
reconfortantes de Vovó foram o modo como ela sobreviveu a
sua infância com seu bem-estar mental e emocional
praticamente intactos.
— Estou bem.
Vovó deu um passo para trás, segurando as mãos.
— Você não está, mas estará.
Jada enxugou a lágrima estúpida que se recusou a ser
contida.
— Como você sabe?
— Porque você vem de uma linhagem saudável de
Townsend, fortes o suficiente para resistir aos genes fracos de
Matthews.
Uma gargalhada borbulhou no peito de Jada. Seu pai não
ficaria feliz. Ele havia feito o sequenciamento do mapa genético
por diversão e ficou extremamente feliz com os resultados.
Vovó se inclinou contra o balcão.
— Mas essa não é a única razão. A única pessoa que eu já vi
defender sua parceira tão ferozmente quanto Donovan fez por
você, foi seu avô, que Deus descanse sua alma, quando aqueles
velhos homens brancos que ligavam para o escritório não
conseguiam imaginar que era uma mulher que comandava um
time, mesmo com seu marido como seu parceiro. Ele os
colocou em seu lugar bem mais de uma vez.
Jada deu de ombros.
— Donovan é um cara legal. Ele teria feito isso por qualquer
um.
— Talvez, mas ele teria parecido que estava a meio segundo
de pular sobre a mesa para atacar seu pai como se ele fosse o
quarterback do time adversário em vez de um cientista nerd de
57 anos?
— Vovó…
— Não fale nada. Agora, eu sei que você e Donovan não
estavam namorando quando se conheceram no meu escritório.
Vocês mal podiam suportar ver um ao outro. Eu não sei que
esquema vocês dois inventaram com toda essa coisa de namoro,
mas eu reconheço um homem e uma mulher apaixonados.
Cada músculo do corpo de Jada congelou.
Sim, Vovó tinha feito o impensável – fez com que ela
parasse de ficar obcecada e fervendo por seus pais. Agora,
pensamentos sobre seus sentimentos por seu namorado
lotavam cada canto de seu cérebro.
Donovan não poderia estar apaixonado por ela, a eterna
fracassada, poderia? Ela não poderia estar apaixonada por ele
tão rapidamente, poderia?
— O que está pensando? — Donovan acomodou seu corpo
grande ao lado de Jada na toalha de praia e estendeu uma taça
de vinho. Jada pensou seriamente em pegar a garrafa de vinho
da outra mão e beber direto dela, mas isso parecia um exagero.
Ela se reservou o direito de mudar de ideia, no entanto.
— Estou pensando em muitas coisas. — Jada aceitou a taça
com gratidão e tomou um gole profundo e fortificante do
excelente Chardonnay, depois voltou sua atenção para as ondas
do oceano.
Eles voltaram para a casa dele depois do jantar do inferno e,
depois de um breve desvio para a cozinha para tomar vinho,
foram direto para a praia. O luar lançava um brilho
sobrenatural em seus arredores. Não havia outra alma na praia.
Jada agradeceu. Ela precisava de tranquilidade.
Ele colocou a mão sobre o coração.
— Eu fiz algo de errado. Você aceita cartões de crédito?
Um breve sorriso tocou seus lábios. Ele sempre poderia fazê-
la sorrir mesmo quando ela se sentia um lixo.
— Somente dinheiro, mas para você, vou abrir uma exceção.
Ele enrolou um braço em volta da cintura dela, e ela deitou
a cabeça em seu peito duro. Seu coração batia firme e seguro
debaixo de sua orelha. Infelizmente, a calma permaneceu fora
de seu alcance. Tantos pensamentos estavam se agitando em
sua cabeça.
— Estou disposto a fazer qualquer coisa, você sabe — disse
ele calmamente.
Por que ele sempre sabia a coisa certa a dizer? O que ela fez
para merecer ter esse homem ao seu lado, que a apoiava e a
encorajava em todos os momentos, apesar de tudo que ela o fez
passar?
— Eu sei. — Jada suspirou. Seus pais, o que Vovó disse. Foi
muito. Os pensamentos sobre tudo isso continuavam zunindo
em sua cabeça. Ela foi com a preocupação mais segura, menos
assustadora e mais imediata. — Meus pais são meus pais e
esperar que eles mudem é uma esperança tola. Desculpe por ter
feito você passar por isso.
— Não peça desculpas. Eu estava lá por vontade própria. —
Ele colocou uma mecha de cabelo chicoteando em torno de seu
rosto atrás da orelha.
— Sim, mas… — Ela se encolheu, lembrando das coisas que
seus pais haviam dito.
— Ei, não se preocupe comigo. Lamento que você teve que
passar por isso. Os pais te colocam no inferno, eu sei.
Ele era homem forte, mas tinha seus próprios demônios, e
se ela pudesse, ela queria estar lá para ele como ele estava para
ela. Jada levantou a cabeça e olhou para ele.
— Posso te fazer uma pergunta?
Seu olhar estava fixo nela.
— Claro. Vá em frente.
— O que aconteceu com seu pai? Você não fala sobre ele.
Donovan suspirou como se estivesse esperando essa
pergunta. Ou talvez a situação com seu pai tivesse o deixado
cansado. Ele levou a taça de vinho à boca e voltou seu olhar
escuro para o oceano.
— Ele ainda está em Oakland. Meus pais se divorciaram
quando eu estava no segundo ano do ensino médio. Minha mãe
finalmente teve o suficiente, mas os tempos eram difíceis. Não
tínhamos muito para começar, e então o pouco apoio que ele
oferecia desapareceu. Minha mãe e Sloane se mudaram para cá
permanentemente quando fui chamado para jogar. Shana veio
logo depois.
Jada colocou a mão em sua coxa.
— Você tem um relacionamento com ele?
— Acho que depende do que você quer dizer com
relacionamento.
Um sinal soou. Donovan pegou seu telefone e olhou para a
tela. Ele bufou uma respiração.
— Suas orelhas devem estar quentes.
Ele estendeu o telefone. Jada pegou e rapidamente leu o
texto de alguém listado como Guy no telefone.

Ei, filho, preciso de 5 mil dólares, só para me


sustentar no próximo mês. O aluguel está vencido
e o dinheiro está apertado.

Jada passou o telefone de volta para ele.


— Ele pede dinheiro com frequência?
A mandíbula de Donovan se apertou enquanto ele olhava
para o oceano.
— Eu mando dinheiro para ele todo mês. Minha mãe não
sabe, o único que sabe é o August. Eu pensei que se ele tivesse
uma base financeira decente, ele poderia recuperar sua vida.
Jada esfregou os músculos tensos de suas costas.
— E?
— Funcionou por um tempo, mas o vício em jogos de azar
é muito grande. Acho que não entendi isso completamente até
estar na liga e enviar a ele dinheiro suficiente para viver uma
vida confortável. Ele voltou com tudo para os jogos, e sim, eu
não sabia. Quando ele está ganhando, ele voa alto. Quando as
perdas batem, fica feio. Ultimamente, ele tem sido ainda mais
persistente do que o habitual pedindo cada vez mais. — Ele
virou para encará-la. — Todas aquelas mensagens e ligações
que eu tenho ignorado? Elas eram dele. Deixá-lo na mão parece
sangue frio, mas não sei o que fazer.
O luar lançava uma sombra sobre seu rosto, mas não
escondia sua incerteza, seu desconforto. Jada encostou a cabeça
no ombro dele e olhou, sem ver, para a água. Ela desejou ter
algumas palavras de sabedoria para oferecer. Desejou que ela
pudesse assumir sua mágoa.
— Você é um bom filho.
— Às vezes não parece.
Eles ficaram em um silêncio confortável por alguns
minutos. Embora a noite tivesse sido pesada, não havia outro
lugar onde ela preferisse estar. Ninguém mais com quem ela
preferiria estar.
Donovan apertou sua coxa.
— Vamos falar de outra coisa.
Jada assentiu, ansiosa para se livrar do peso da noite.
— Bom plano. Sabe, você me prometeu uma aula de surfe.
Seus lábios se curvaram.
— Eu não esqueci, mas como está escuro agora, isso vai ter
que esperar. Tenho outras boas notícias.
Jada juntou as mãos.
— Mais boas notícias? — Ela ergueu a palma da mão. —
Espere. Nova regra. Sempre que tiver uma boa notícia, você
deve compartilhar imediatamente. Parabéns novamente pelo
novo contrato, mas ainda estou brava por você não ter me
contado antes, a propósito.
Ele riu.
— Eu tinha planejado contar a você depois do jantar, mas a
Sra. T estragou a surpresa. Adam finalmente parou de ser ruim
e negociou como o agente de classe mundial que ele é.
Eles trocaram um olhar, lembrando-se dos pedidos idiotas
iniciais do agente para que Donovan terminasse com ela ou
Jada falasse docemente com Vovó.
— Então, sim, parabéns pelo contrato. — Ela deu um tapa
no braço dele. — Qual é a outra boa notícia?
— Eu entrei em contato com a Rose.
A fotógrafa da reunião do clube do livro?
A boca de Jada caiu. De todas as coisas que ele poderia ter
dito, isso não estava nem perto de seus dez principais
candidatos.
— Por que você entrou em contato com ela?
— Porque eu queria que ela me enviasse as fotos que ela
tirou de nós. — O “dã” não foi dito, mas foi muito implícito.
O coração de Jada deu um salto no peito. — De qualquer
forma, estamos trocando mensagens e ela concordou em fazer
uma sessão de fotos para a loja.
Ela mal levantou o queixo. Agora ele a chocou novamente.
— Uma sessão de fotos? Você está falando sério? Por quê?
Seus olhos brilharam.
— Não sei se você se lembra, mas na primeira vez que esteve
na Sugar Blitz, você disse que o lugar era sem graça e, por algum
motivo, nunca consegui esquecer isso. Rose vai vir e tirar fotos
de nossos cupcakes – fotos divertidas e animadas – que
podemos pendurar nas paredes.
A animação passou através dela. Jada ofegou.
— E ela também pode tirar fotos de você, August e Nicholas
assando e interagindo com os clientes e brincando. Vai ser
perfeito!
Donovan fez uma careta.
— Sim, não tenho certeza se August vai concordar com isso.
— Por que não? Eu vou falar com ele. Ele gosta de mim.
Viva as boas ideias!
— Obrigado. — Uma luz perigosa e sexy entrou em seus
olhos. — Tenho outra boa ideia.
Ela colocou o copo de lado, o sangue já engrossando em suas
veias.
— Diga.
Ele colocou sua taça ao lado dela, então se inclinou e deu um
beijo suave em seu pescoço enquanto deslizava a mão sob seu
vestido.
— Que tal eu mostrar a você em vez disso?

∗∗∗

Enquanto Donovan oferecia uma excelente distração para seus


pais e sua opinião sobre ela e suas escolhas de vida, no dia
seguinte Jada ainda estava obcecada com o que Vovó disse. E a
maneira como ela se sentiu quando ele disse que procurou as
fotos que eles tiraram.
Portanto, ela fez a única coisa que fazia sentido quando ela
chegou em casa do trabalho. Ela chamou sua melhor amiga
para tomar sorvete.
— Então ele me defendeu dos meus pais. — Jada deixou a
tigela de lado e pulou no sofá. Andar de um lado para o outro
a acalmaria. Talvez. Esperançosamente.
A colher de Olivia caiu em sua tigela quando sua boca se
abriu.
— Ele defendeu você do Dr. e a Dra. Townsend-Matthews?
Aposto que eles reagiram bem ao serem informados de que
estavam errados. Eles sempre têm os fatos do seu lado.
Jada chegou ao final da sala e voltou para sua amiga.
— Bem, Donovan fala a língua deles. Ele segue a lógica e eles
também, então ele sabia exatamente o que dizer para fazê-los
parar de me dar sermões. Foi bem impressionante.
Olivia mexeu as sobrancelhas.
— Foi mesmo?
Jada mostrou a língua para sua melhor amiga.
— Pare.
— Eu não vou, não. Apenas uma de nós tem algo
remotamente parecido com romance em sua vida e certamente
não sou eu. Não sou eu que faço sexo selvagem e apaixonado
com um homem ridiculamente atraente, que se esforçou para
tirar algumas fotos que vocês tiraram. Minha vida é tipo:
devemos abrir um novo hotel? Que novos funcionários isso
terá? Estou vivendo indiretamente através de você.
A boca de Jada torceu.
— Sim.
A cabeça de Olivia inclinou para o lado.
— O quê? O que é esse olhar no seu rosto? O que você não
está me dizendo?
Jada alcançou o sofá e se sentou.
— Meu pai perguntou a ele o que ele achava de mim quando
nos conhecemos e ele disse que achava que eu era uma
burguesa.
Olivia deu outra mordida em seu Rocky Road e deu de
ombros.
— Você é. Nada de novo aí.
Jada a encarou.
— Preciso fazer um teste para uma nova melhor amiga?
Olivia bufou.
— Como se você pudesse achar alguém melhor do que eu.
Absolutamente verdade, mas ela não iria inchar a cabeça de
sua melhor amiga concordando verbalmente.
— De qualquer forma, ele então disse que me achava bonita
e mais bonita por dentro do que por fora.
— E você ainda não declarou seu amor eterno? Garota.
Garota. Admiro sua coragem e resiliência. Isso não poderia ser
eu.
O sorvete em seu estômago começou a coagular.
— Fui impulsiva toda a minha vida, e foi assim que acabei
com um namorado falso em primeiro lugar.
Olivia a encarou, claramente confusa.
— Mas não há nada falso sobre o que está acontecendo
agora.
Jada pulou do sofá para dar outra volta pela sala.
— Mas eu não deveria estar levando as coisas devagar? Não
apressar as coisas? Eu deveria trabalhar lá para ganhar o
controle do meu fundo fiduciário e decidir o que quero para
minha vida, não encontrar um homem para me distrair. Estou
no caminho certo. Encontrei algo em que sou boa e não quero
estragar isso.
— Ele não está distraindo você. Você está indo bem. Ele
disse que você estava.
— Mas e se as coisas não derem certo? Meus
relacionamentos não dão certo!
Olivia apontou a colher para ela.
— Você nunca namorou Donovan Dell.
Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas. E não era esse
o principal dos problemas? Ele era definitivamente único e a
fazia desejar coisas que ela nunca soube que queria. Mas tudo
poderia dar certo, contanto que ela não estragasse tudo.

∗∗∗
— Você conheceu os pais dela? Uau. Esse relacionamento está
indo bem rápido — disse Nicholas.
Donovan colocou uma panela suja na pia, assobiando
enquanto a água quente atingiu sua pele.
— Realmente? Eu não pensei sobre isso. — O que não era o
jeito dele, admitia, mas quando estava com Jada, estava
totalmente comprometido. Ele não sentiu a necessidade de
analisar todos os aspectos de seu relacionamento porque tudo
era tão natural entre eles. Isso não significava que eles estavam
indo rápido. Certo?
Nicholas, sempre o melhor multitarefa do grupo, mediu os
ingredientes para seu último experimento de cupcake,
chocolate com framboesa, enquanto falava. Ele alegou que suas
habilidades de multitarefa foram úteis quando ele fez
malabarismos com várias mulheres.
— Vamos recapitular. Você jantou com os pais dela.
— Só porque souberam que ela conheceu minha mãe e
minhas irmãs.
— O que não nega meu ponto. Durante este jantar, você
disse aos pais e sua avó, que por acaso é nossa chefe, que ela é
mais bonita por dentro do que por fora. Estou certo?
Donovan esfregou a panela como se sua vida dependesse
disso.
— Você está correto.
— E você não estava mentindo quando disse isso, estou
certo?
— Você está... correto — Donovan disse com os dentes
cerrados. Se ele não estivesse mergulhado em pratos e espuma,
ele pensaria seriamente em bater em seu melhor amigo.
— Na minha opinião, parece que você está apaixonado.
A toalha escorregou de sua mão, espirrando água por toda
parte. Donovan mal percebeu. O ar saiu de seus pulmões em
um assobio. Donovan fez a única coisa que podia fazer. Ele
desviou.
— O que você sabe sobre estar apaixonado?
Nicholas abriu um ovo e o colocou na tigela.
— Nada, mas eu assisti um monte de comédias românticas
sentimentais nos meus encontros com Netflix e relaxamento e
os caras nesses filmes sempre acabam parecendo com você
agora.
— Ah, meu Deus, você está falando sério agora? Eu não
estou te ouvindo. — Logicamente, não fazia sentido. Ele não
podia estar apaixonado. Não tão cedo. O que ele e Jada tinham
era ótimo, mas era novo. Futebol americano e Sugar Blitz ainda
vinham em primeiro lugar. Certo?
— Bem, Nick, o Garoto Bonito pode não saber nada sobre
amor, mas eu já me apaixonei antes e reconheço os sinais reais,
não o tipo de filme, e você se deu mal — disse August de onde
estava reabastecendo a geladeira.
Donovan gemeu.
— Sério? Você também? — Quanta broderagem. — Você
apostou nisso?
— É, porque isso teria sido uma aposta de merda. — August
deu de ombros. — Eu falo o que eu vejo.
Isso ele sempre fez. Sempre. Donovan olhou para o homem
que conhecia desde que era um arrogante de dezoito anos
determinado a conquistar o mundo e vencer a qualquer custo.
Tanto ele quanto Nicholas estavam tão certos sobre os
sentimentos de Donovan. Inferno, eles nem sabiam que ele
havia procurado Rose para essas fotos.
Donovan tropeçou. Merda.
Ele estava tão ferrado. Ele se apaixonou por Jada Townsend-
Matthews, a pessoa mais imprevisível que ele já conheceu, que
viveu para abalar seu mundo cuidadosamente ordenado.
E ele ficou feliz com isso? Quando foi a última vez que a
felicidade influenciou em suas decisões?

∗∗∗

Jada girou em um círculo, a alegria pulsando em suas veias.


Tudo estava pronto. Quem disse que os adultos não podem ter
festas de aniversário depois do expediente em uma loja de
cupcakes? Ela não.
Amanda Spencer, CEO de uma empresa de tecnologia local
de muito sucesso e filha de um ex-prefeito de San Diego, queria
ter um pouco de capricho para sua festa de aniversário de
quarenta anos. Se Jada fizesse um bom trabalho, ela tinha
certeza de que outros negócios seguiriam.
A pedido da aniversariante, que se considerava realeza de
San Diego, flâmulas roxas e prateadas estavam penduradas nas
luminárias. Uma faixa de “FELIZ ANIVERSÁRIO”,
novamente em roxo e prata, estava pendurada ao longo de uma
parede. Cada mesa tinha uma peça central personalizada junto
com lembrancinhas em cada assento. Jada riu. Basicamente, ela
havia projetado uma recepção de casamento para o aniversário
de Amanda.
Ela consultou o relógio. Os convidados começariam a
chegar em poucos minutos. Cinquenta pessoas, todas
querendo diversão, e ela daria a elas.
Jogos, bebidas, comida, música – ela pensou em tudo.
Amanda adorava karaokê, então Jada, com a permissão de
Donovan, comprou uma máquina e alugou um pequeno
palco. Essa decisão trouxe para casa a reserva. Amanda estava
pensando em fazer a festa surpresa em um bar de karaokê, mas
a aniversariante também gostou da comida da Sugar Blitz,
então Jada aceitou a oferta.
Cupcakes recém-assados – chocolate, red velvet e oreo –
soletravam o nome de Amanda. Um belo toque, se ela pudesse
dar sua opinião.
O sino sobre a porta da frente tocou. Colocando seu melhor
sorriso de anfitriã, Jada virou-se para cumprimentar os
primeiros convidados. O sorriso morreu em uma morte triste e
repentina. O sangue em suas veias coagulou.
Que diabos?
De alguma forma, ela conseguiu que suas cordas vocais, que
haviam travado em estado de choque, funcionassem.
— O que você está fazendo aqui?
— Oi, é bom ver você de novo também, Jada — disse Lila
Patterson, com uma sobrancelha arqueada. Ela era uma mulher
alta, o que não a impedia de usar saltos altos. Suas concessões
para as longas horas de filmagem foram alisar o cabelo castanho
escuro para trás em um rabo de cavalo elegante e rígido, um
estilo que chamava a atenção para as maçãs do rosto e pele
pálida, e usava botas de salto de sete centímetros, camisetas de
seda de grife e jeans.
Jada balançou a cabeça.
— Desculpe. Estou transtornada. Você é a última pessoa
que eu esperava que entrasse pela porta. — As mensagens e
ligações haviam parado na última semana. Jada esperava que
isso significasse que Lila tinha seguido em frente.
Lila assentiu.
— Compreensível. — Ela afundou graciosamente em uma
cadeira como se fosse a dona do lugar e deu uma rápida olhada
ao redor. Ela provavelmente pensava que sim. Ninguém falava
não a Lila Patterson, certamente não na rede em que Minha
Cara Metade foi ao ar. O reality show foi um sucesso genuíno,
e Lila foi considerada uma mente genial. Jada tinha certeza de
que não perdeu nada em seu exame. Seus afiados olhos verdes
voltaram para Jada. — Decoração bonita.
— Obrigada. — Jada fez uma careta. — Eu não quero ser
rude, mas você não pode ficar aqui. Talvez possamos nos
encontrar amanhã. A loja está fechada para uma festa de
aniversário. Os convidados chegarão a qualquer minuto.
— Eu sei.
Jada piscou.
— Você sabe? O que você sabe?
Lila cruzou a perna direita sobre a coxa esquerda.
— Que os convidados devem chegar para a festa de
aniversário de Amanda Spencer. Amanda é uma grande amiga
minha. É sempre bom ter contatos com todas as esferas da vida
quando você está no ramo.
Jada se recompôs o melhor que pôde.
— Ah, então você é uma das convidadas? Isso é ótimo.
— Não, eu não sou uma das convidadas. Eu sou a
convidada.
A compostura estava se tornando mais difícil de manter. O
cérebro de Jada lutava para acompanhar as revelações
chocantes.
— Desculpa, o quê?
Lila gesticulou para que Jada se sentasse à sua frente. Ela
sentiu que seu mundo estava prestes a virar de cabeça para
baixo, e ela precisava de todo o apoio que pudesse obter para
não afundar no chão em uma pilha indigna depois que ela
desmaiasse. Choque. Mas talvez ela estivesse sendo dramática.
Hora de juntar tudo. Ela endireitou os ombros e respirou
fundo.
Lila procurou seus olhos. Ela devia ter encontrado o que
estava procurando – provas de que Jada não ia desmaiar –
porque assentiu.
— Eu sou sua única convidada. Não há festa de aniversário.
Jada pressionou as pontas dos dedos nas têmporas,
esperando evitar uma dor de cabeça que se aproximava
rapidamente.
— O quê? Por quê?
— Não se preocupe. Você ainda será paga.
Jada balançou a cabeça.
— Isso é ótimo, mas essa não é minha preocupação
imediata. Por que você passaria por todo esse caminho para
marcar uma festa de aniversário e dar instruções muito
específicas para sua execução, apenas para que tudo fosse falso?
Lila deu de ombros.
— Admito que parte disso foi para minha própria diversão.
Mas eu também queria ver se você poderia executar minha
visão, o que você fez, tão bom para você.
Jada balançou a cabeça, esperando que a ação fizesse tudo
fazer sentido.
— Mas por quê? Por que você se importaria se eu pudesse
planejar uma festa?
Lila abriu os braços, como se a resposta fosse óbvia.
— Eu tenho seguido você desde que o final do programa foi
ao ar. O que vem sendo dito na rua é que você amadureceu
desde o seu tempo no reality show. Eu tinha que ver por conta
própria. Eu poderia ter ligado, mas você não entrou em contato
com mais ninguém do programa. Você certamente não tinha
respondido minhas ligações e mensagens.
Jada se recusou a se sentir culpada por sua decisão de se
divorciar inteiramente dos concorrentes e da equipe do
programa. A toxicidade que ela experimentou online e às vezes
pessoalmente, não resultou em um desejo saudável de manter
contato com alguém que a lembrasse daquela época. Ela
começou de novo e estava em um lugar muito melhor. Tanto
que ela sentia que merecia o bem que tinha vindo em seu
caminho – uma nova carreira e um homem que se importava
com ela tanto quanto ela se importava com ele.
Ela não ia deixar Lila estragar o mundo dos sonhos em que
ela estava vivendo. Ela iria bater um papo por mais alguns
minutos, então a tiraria daqui. Ela podia ser educada por cinco
minutos.
— Você está certa, mas você está aqui agora, então como
você tem passado?
Lila riu.
— Estou bem. Agora. Acho que não preciso te dizer que
fiquei furiosa por você ter recusado a proposta de John, mas
acabou sendo a melhor coisa que aconteceu com a série em
anos. Todo mundo ainda está falando sobre isso, mesmo
aquelas pessoas que acreditam que são boas demais para reality
shows. Ninguém é bom demais para uma boa fofoca.
Jada inclinou a cabeça para o lado.
— Sim, eu sei. Eu estou vivendo isso. Feliz por ter feito isso,
embora essa nunca tenha sido minha intenção.
— O que passei a apreciar em você é sua honestidade. John
não era o cara certo para você, e você não se conformou.
— Obrigada. — Elogios eram sempre bons, mas seu instinto
lhe dizia para não confiar neste.
— Mas você nem sempre é honesta, não é?
A voz de Lila poderia cortar vidro. Ou pelo menos cortar
Jada. Apenas uma vida inteira lidando com seus pais a salvou
de vacilar e mostrar a mão.
— Eu não sei do que você está falando.
Lila apoiou os cotovelos na mesa e juntou os dedos.
— Bem, depois de sua revelação, e depois que me acalmei o
suficiente para parar de ficar com raiva, pensei em tudo que
sabia sobre você. Sobre as verificações de antecedentes que
fazemos em todos os concorrentes e, francamente, não fazia
sentido que você tivesse alguém em casa. Você nos disse que seu
último relacionamento digno de menção terminou há um ano.
Sua verificação de antecedentes confirmou isso.
Ela não iria estremecer. Ela não daria munição a Lila. Jada
olhou fixamente para Lila e infundiu em sua voz o máximo de
confiança que conseguiu reunir.
— Donovan e eu não estávamos em um relacionamento
antes de eu ir para o show, mas nós nos conhecemos. Eu não
violei as regras do show.
As sobrancelhas de Lila se ergueram.
— Sim, estou ciente de que essa é a história que você contou
a todos.
— O que você quer, Lila?
Lila franziu os lábios finos e vermelhos.
— O que eu quero? Muito, muito mais. Minha Cara
Metade foi ótimo e fez minha carreira, mas o que eu realmente
quero é expandir meu império. E eu preciso de um novo show
– uma perspectiva imperdível – para fazer isso acontecer. É aí
que você, minha querida Jada, entra.
Calma. Fique calma.
— O que você está falando?
— Você é natural. Os fãs te amam. Bem, quando eles não
estão te odiando.
Jada não seria dissuadida, mesmo que a sala parecesse estar
girando cada vez mais rápido ao seu redor.
— Do que você está falando, Lila?
— Estou falando sobre o fato de que originalmente tinha
um arco de redenção em mente para você, envolvendo uma
personalidade com a qual já estou familiarizada. — Lila se
inclinou para frente, sua vibração maligna se espalhando pelo
ar como um vírus mortal. — Pedi a John para ver se ele poderia
voltar com você, com o pensamento de vocês estrelarem um
novo show juntos, mas ele não conseguiu fazer isso. Então eu
tive que ir para o Plano B, que eu realmente gosto mais. Do que
estou falando, querida Jada? Estou falando sobre o fato de que
seu relacionamento com Donovan é uma mentira.
— Não, não é — Jada disse com os lábios rígidos. Ela sempre
pensou que a frase sobre seu sangue gelar era uma hipérbole.
Agora ela sabia que não era.
Lila zombou.
— Não se preocupe em negar isso. Eu não sou estúpida, e
você não é uma grande mentirosa. Eu vi aquele beijo quando
chegou ao Twitter. Foi dissecado de todas as maneiras
possíveis. Ele ficou atordoado quando você o beijou. Você
pode negar, mas eu sou muito melhor no jogo da publicidade
do que você. — Ela acenou com a mão. — Mas todo esse
aborrecimento pode ser evitado se vocês dois concordarem em
fazer um show juntos sobre seu relacionamento e esta
maravilhosa lojinha de cupcakes que você tem aqui. Se você
não fizer isso, vou expor sua mentira, o que fará com que sua
mentira inicial pareça uma pequena mentira e supere a reação
negativa que você recebeu do público. A reação será, suponho,
pelo menos três vezes pior. Quero ajudá-lo a evitar esse destino.
A América ama #JaDon.
Lila deu de ombros, como se estivesse oferecendo a Jada
uma chance de ir a uma aula de ciclismo, se ela quisesse.
— Eu só quero dar a eles mais sobre seu relacionamento.
O zumbido nos ouvidos de Jada se recusou a diminuir. As
palavras de Lila – não, a ameaça de Lila – soavam sem parar em
sua cabeça. Ela tinha que proteger Donovan. Ele não tinha feito
nada de errado.
Isso era tudo culpa dela. Se ela nunca tivesse aberto a boca,
não uma, mas duas vezes, nada disso estaria acontecendo. Lila
não poderia estar à altura da ocasião como a Bruxa Malvada do
Reality Show se Jada não tivesse mentido. Tudo que Jada tocou
se transformou em um tornado, destruindo tudo em seu
caminho.
Ela deveria saber que as coisas boas não duravam muito
tempo.
Donovan sempre presumiu que nada o deixaria mais furioso do
que quando descobriu que seu pai havia jogado fora o pouco
dinheiro que a mãe de Donovan conseguira economizar para
um dia chuvoso. Ele fez a descoberta naquela tarde fatídica
durante seu segundo ano no ensino médio, quando sua mãe foi
demitida de seu emprego e eles precisavam desse dinheiro para
pagar o aluguel. Essa foi a gota d'água para sua mãe, que pediu
o divórcio logo depois. No entanto, eles chegaram
perigosamente perto de serem expulsos de sua casa. Apenas a
bondade dos amigos da família impediu que isso acontecesse.
Ele resistiu ao desejo de socar o rosto presunçoso e sem
remorso de seu pai porque, em última análise, isso não
resolveria nada. Em vez disso, ele prometeu naquele momento
nunca mais ser tão vulnerável e sempre estar lá para proteger e
apoiar aqueles que amava. Ele teve sucesso. Até hoje.
Ele falhou, e por causa de seu fracasso, Jada foi ferida.
Inaceitável porra.
A fúria percorreu por suas veias enquanto Jada relatava seu
encontro com Lila, a produtora de TV que decidiu trabalhar
como chantagista. Ele estava absolutamente bravo com Lila.
Como ela se atrevia?
Ele canalizou suas emoções – seu desejo de vencer, seu
desejo de estar lá para seus companheiros e treinadores, seu
desejo de deixar sua família orgulhosa – em seu jogo em campo
para trazer a destruição e o caos que o jogo exigia. Fora do
campo, ele controlou suas emoções para garantir que sua vida
seguisse o caminho que ele havia traçado. Agora isso estava
sendo ameaçado, e ele não sabia como parar.
— Eu não posso acreditar nisso. Isso é uma bobagem total.
Ela acha que pode vir aqui e mudar nossas vidas, a menos que
cedamos às suas exigências. Mesmo se o fizermos, algo me diz
que ela não vai parar por aí. Ela quer destruir nossas vidas.
Quem faz isso? Por que alguém faria isso? — Sua respiração
estava ficando rápida e furiosa. Suas unhas cravaram em suas
palmas enquanto ele lutava contra a vontade de bater em
alguma coisa.
Seu mundo estava ficando fora de controle, suas emoções
tomando o melhor dele. Ele não sabia o que fazer ou como
desacelerar seu cérebro para encontrar uma solução. O que
diabos ele iria fazer sobre isso?
— Qual é a porra do problema dela?
— Sinto muito — Jada disse em voz baixa.
Donovan parou, então girou. Ele estava tão desanimado e
desapontado.
Para onde foi a forte e corajosa Jada? Ela estava caída em
uma cadeira. Seus olhos estavam baixos, seus ombros curvados
como se ela estivesse tentando se proteger de alguma coisa. De
quem? Dele? Ele deu dois passos largos em direção a ela e se
inclinou para segurar seus ombros. Ele tinha sido um idiota
egoísta, só pensando em como isso o afetava. Era ela quem
realmente sofria.
— Baby, do que você sente muito?
— Por colocar você nesta bagunça. — Sua voz saiu pequena
e tímida.
— Você não me colocou nessa bagunça. Lila colocou.
Ela passou a mão pelo cabelo.
— Mas não teria chegado a esse ponto se eu não tivesse
mentido sobre ter alguém fora do programa.
Donovan balançou a cabeça.
— Eles estavam martelando você sobre por que você
recusou a proposta de John e não parariam até que você lhes
desse uma resposta satisfatória. E não se atreva a dizer que não
deveria ter recusado a proposta daquele idiota, dado tudo o que
ele fez.
Ela esfregou o rosto com a mão trêmula.
— Eu sei, eu sei, mas então eu combinei a mentira com outra
mentira sobre você ser meu namorado.
Ele apertou os ombros dela.
— Uma mentira com a qual eu concordei, a propósito.
Jada já estava balançando a cabeça antes que ele terminasse
de falar.
— Não importa. Ela não se importa que somos um casal de
verdade agora. Ela provavelmente não acreditaria em nós,
mesmo se lhe disséssemos. Eu gostaria de poder desaparecer.
Fazer tudo isso ir embora. Sinto muito por ter colocado você
nesta bagunça. Tudo que eu toco vira lixo.
Ele a puxou para sair de sua cadeira e deu um abraço que ele
estava precisando mais do que ela. Ele suspirou quando seu
corpo macio contornou o dele. Eles eram um ajuste perfeito.
Sempre seria se ele tivesse algo a dizer sobre isso.
— Ei, estamos nisso juntos. Eu me recuso a deixar você arcar
com toda a culpa. Olhe para o que você realizou. Caso você não
tenha notado, a loja não estava indo tão bem até você aparecer
e insultar a mim e a loja, e depois me intimidar até conseguir
fazer melhorias.
Uma bolha de riso muito bem-vinda saiu dela.
— Eu não te intimidei. Só fiz algumas sugestões. — Ela deu
um passo para trás e olhou para ele. Lágrimas se acumularam
em seus lindos olhos. — Obrigada por ser tão legal. Eu não te
mereço.
Ele sabia de onde isso estava vindo. Seus pais a faziam sentir
que suas realizações nunca eram suficientes. Que ela nunca era
o suficiente.
— Venha comigo. — Ele agarrou a mão dela e puxou ela
atrás dele em seu quarto. Ele parou quando alcançou a parede
dos fundos e a colocou na frente dele para ficar na frente do
espelho. — Hora da afirmação.
Ela olhou para ele de soslaio no espelho.
— Hora de afirmação? Agora?
— Sim, agora. Vamos lá. Você quem disse que eles ajudam
você.
— Você não deveria ouvir o que eu digo!
Ele atirou-lhe um olhar.
— Jada. Pare de procrastinar.
— Tá bom. Intimidador. — Ela endireitou os ombros e
olhou para seu reflexo. — Oh, meu Deus, estou horrível.
Chorar não ajuda quando se está tentando manter aquele
brilho nos olhos.
— Jada… — Ele avisou.
— Está bem, está bem. Eu sou Jada Townsend-Matthews, e
sou o suficiente.
Ele bufou.
— Isso foi horrível.
— Ei!
Ele foi resoluto.
— Tente mais uma vez.
Ela separou as pernas e olhou para seu reflexo.
— Sou Jada Townsend-Matthews, e sou o suficiente.
— Melhor. Mais uma vez.
— Sou Jada Townsend-Matthews e sou suficiente. Eu sou
Jada Townsend-Matthews, e sou o suficiente. — A cada
recitação, sua voz ficava mais forte e clara. A tensão em seus
ombros diminuiu um pouco. Sua respiração se acalmou. Isso
era melhor. Muito melhor.
— Meu nome é Jada Townsend-Matthews, e eu sou o
suficiente. Meu nome é Jada Townsend-Matthews, e eu... vou
dar uma surra na bunda dela!
Ah, merda.

∗∗∗

Jada ficou chateada. Irritada como se ela não pudesse se


lembrar. Quando o final foi ao ar e as pessoas a perseguiram nas
redes sociais, ela aceitou, acreditando que ela decepcionaria a
todos e esperando que desaparecer faria o ódio acabar mais
cedo. Ela tinha ido ao show esperando encontrar uma maneira
de assumir o controle de sua vida. Isso não deu certo, mas a
levou a um caminho para descobrir quem ela queria ser e o que
ela queria fazer. Ela não ia deixar ninguém tirar isso dela. Não
agora. Nunca.
Ela estava pronta para lutar. Ela estava pronta para assumir
o controle de sua vida mais uma vez.
Jada cruzou a perna esquerda sobre o joelho direito, apoiou
os cotovelos na mesa e juntou os dedos.
— Obrigada por concordar em me ver.
— Fiquei surpreso, mas feliz em receber a ligação. — John a
agraciou com o sorriso que tinha causado efeitos incontáveis
em mulheres no país. Inclusive, ela tinha sido afetada também.
Muito tempo atrás. Agora ela o reconhecia pela tolice praticada
que ele fazia. Seu instinto sabia, mesmo que sua mente não
soubesse.
Ela queria lidar com isso sozinha. A certeza calma e lógica
que ela absorveu de estar perto de Donovan deu-lhe paz na
situação. Ela queria dizer a John o que ela pensava sobre ele –
ele merecia saber disso – mas ela queria mais respostas. Ou, pelo
menos, o primeiro. Donovan se opôs… sem dúvida porque ele
pensou que ela iria chutar a bunda de John e estragar a mobília
em seu escritório, mas ela se manteve firme.
Ela veio preparada vestindo sua melhor armadura – um
terno preto Gucci sob medida que abraçava suas curvas e seus
sapatos de salto alto vermelhos favoritos Louboutin de couro.
Ela adorava aqueles sapatos. Ela passeou pelas ruas de Paris e
Nova York com esses sapatos. Sentia falta do Crocs, da camisa
polo e da calça cáqui que estava acostumada a usar, mas
precisava combater fogo com fogo. Depois de uma ida ao
cabeleireiro e uma hora no espelho aplicando cuidadosamente
sua maquiagem, ela estava fabulosa e armada para a batalha.
John ergueu o olhar de onde estivera cobiçando suas pernas.
— Atrevo-me a dizer que esse encontro significa que você
pensou melhor na minha oferta?
As sobrancelhas de Jada arquearam.
— Você pensou que eu pediria para você me encontrar no
escritório do meu namorado se eu planejasse terminar com ele
e fugir para Hollywood com você?
Um músculo em sua mandíbula, que não era tão duro como
ela pensava uma vez, se contraiu.
— Coisas estranhas acontecem. Eu só pensei que você
queria um lugar tranquilo para conversar.
Ela inclinou a cabeça.
— Eu queria. — De jeito nenhum ela o convidaria para seu
apartamento, e eles não podiam se encontrar na loja ao alcance
da voz dos clientes e donos/funcionários da loja, que tinham
opiniões que gostariam de compartilhar. — Você chegou a
sentir alguma coisa por mim, John, ou foi tudo pelo programa?
O rosto do Dr. John suavizou na agradável expressão de eu-
sou-um-cara-bom que ele havia aperfeiçoado.
— Claro que sim. Eu te amei. Você acha que eu voltaria aqui
para uma possível rejeição se não a amasse?
Ele era bom. Ela tinha que dar o braço a torcer. A angústia,
a incerteza em sua voz soaram de alto nível. Talvez ele tivesse
um futuro em Hollywood. Pena que ela não dava a mínima.
Ela conhecia as verdadeiras profundezas de seu caráter.
— Pode parar aí, John. Lila me contou sobre o pequeno
esquema que vocês dois estavam fazendo.
Choque, então uma pitada de raiva, passou por seu rosto
antes que ele novamente suavizasse aquelas emoções
desagradáveis.
— Eu não tenho certeza do que ela disse a você…
Jada ergueu a mão.
— Chega de besteira. Nós dois sabemos que é verdade. Você
já se importou comigo, realmente me amou?
Ele desinflou contra sua cadeira.
— Sim, Jada, eu me importava com você. Amor? Nós
estávamos bem juntos. Eu sabia que você era uma estrela no
momento em que te conheci. Juntos, podemos ir longe.
— Então, a resposta para isso é não.
Uma luz perigosa estava em seus olhos.
— Não seja totalmente inocente. Você me fez parecer um
tolo na TV nacional! Por que você recusou minha proposta?
— Porque eu não te amava, e não parecia certo. — Agora
que ela sabia o que era o certo, ela não podia acreditar o quão
perto ela tinha chegado de cometer um erro gigantesco. — Eu
não quis te envergonhar, e por isso peço desculpas. Eu deixei as
coisas irem longe demais.
John chupou os dentes, o som desagradável reverberando na
sala silenciosa, puxando suas emoções para mais perto do
limite.
— Acho que você não me convidou aqui para me dizer que
mudou de ideia sobre nós, não é?
— Um ponto para você — disse ela, apontando para ele. —
Você é médico, então imaginei que a inteligência estava em
algum lugar. Eu estava errada por fugir de você no programa, e
você merece ouvir isso de mim. Eu não tinha certeza dos meus
sentimentos e era muito covarde para enfrentá-los, até que isso
fosse tarde demais. Por isso, eu peço desculpas. Mas tentar me
chantagear? Isso é baixo, muito baixo e errado.
Ele suspirou.
— Eu pensei que você diria sim. Estávamos bem juntos,
Jada. Oportunidades como essa não aparecem com muita
frequência.
— Você tem uma boa carreira como médico!
John fez uma careta.
— Um médico anônimo em um hospital anônimo em
Minnesota. Eu gosto de atenção. Gosto das oportunidades e do
dinheiro vindo em minha direção. Eu gosto de pessoas
chamando meu nome quando eu ando na rua.
Sim, todas aquelas oportunidades que ela pensou que
queria. Ela suspirou.
— Bem, boa sorte. Mas se você fizer algo assim de novo, eu
não serei tão doce assim.
Ele a estudou por um segundo.
— Você é forte, muito mais forte do que eu pensava.
Jada olhou para ele.
— Elogios não vão te levar a lugar nenhum, amigo, mas
obrigada. Eu me sinto mais forte do que jamais me senti em
toda minha vida. — Ela se levantou e deu alguns passos até a
porta. — E porque estou me sentindo assim, tenho mais uma
surpresa para você.
Ela abriu a porta. John recuou na cadeira quando Donovan
entrou.
Ela não deveria se deliciar com o olhar assustado no rosto de
John, mas ela gostou. Ela trabalharia nisso mais tarde.
— Você sabe quando eu disse que terminamos? Eu menti.
Olá, Lila.
Os olhos de John, já arregalados, se transformaram em pires
quando Lila saiu de trás de Donovan. Ela inclinou a cabeça.
— Jada. John.
Jada acenou para Lila. Lila estava ansiosa demais para se
encontrar com ela e Donovan, sem dúvida pensando que ela
concordaria com o Plano B de Lila.
Jada queria a reunião em seu próprio território, para dar o
melhor tom e estar em um lugar familiar e poderoso. Ela não
sabia ou se importava com futebol americano, mas tinha
aprendido uma ou duas coisas com sua avó ao longo dos anos.
O sorriso presunçoso de Lila diminuiu quando viu John.
— O que ele está fazendo aqui?
— Oh, nós vamos chegar a isso daqui a pouco. Sente-se por
favor.
Ela e Donovan sentaram em frente a Dupla Terrível. Tê-lo
ali a acalmou. Ela nunca acreditou que encontraria alguém que
a protegesse como Donovan fazia. Ela não sabia o que fez para
merecê-lo, mas estava grata mesmo assim.
— Obrigada por ter vindo, Lila.
Os lábios finos de Lila se curvaram na caricatura de um
sorriso.
— O prazer é todo meu. Presumo que você nos chamou
aqui porque mudou de ideia sobre fazer o show com John ou
gostou da minha nova ideia do show com você e Donovan.
John e eu estamos aqui para sua resposta final, certo?
— Você até pode pensar que é por isso, mas não — disse
Donovan, seu olhar duro cortando entre Lila e John.
Lila endireitou-se.
— Então, por que estamos aqui?
Jada colocou um sorriso açucarado.
— Para conversar, é claro. Agora, pelo que me lembro, sua
teoria de trabalho é que Donovan e eu não estamos realmente
namorando, e você vai nos expor por fraudes se não fizermos o
que você disser.
O olhar de Lila disparou para John por um segundo.
— Isso soa…
— Direto, eu sei. Bem, a piada é sua. — Jada silenciosamente
adicionou vadia. — Porque somos um casal.
— Nós somos. — Donovan levantou a mão dela e deu um
beijo gentil nas costas da sua mão.
O último dos nervos de Jada se desvaneceu quando uma
raiva justa tomou seu lugar.
— Claro, é a nossa palavra contra a sua, eu sei. Para que você
acredite em mim, eu poderia descrever a localização e a forma
de uma cicatriz de sua infância em uma parte de seu corpo que
não está em exibição agora, mas tenho certeza que você pode
usar sua imaginação para lembrar porque eu sei que ela existe.
Eu não mencionei a parte em que nossos amigos e familiares
nos apoiarão sobre o status do nosso relacionamento.
— Se você insiste em nos “expor” — disse Donovan, sua voz
dura como gelo, usando aspas no ar. — Teremos que nos expor
por conta própria. Certas pessoas, como executivos de rede,
provavelmente não estão muito interessados em que seus
funcionários se envolvam em chantagem. Além disso, Jada é
amada. Você sabe disso, e eu sei disso. Tenho certeza de que os
fãs dela adorariam preencher suas menções no Twitter com
todos os tipos de respostas criativas se soubessem o que você
está tentando fazer.
— Você não tem prova da chantagem. — Os olhos de Lila
cuspiram fogo.
Jada ergueu um dedo indicador bem cuidado.
— Ah, mas eu tenho. Você sabe como você ficava ligando e
deixando mensagens? Que boba eu sou, pensei que você estava
me pedindo para fazer entrevistas. Que você queria, eu acho,
tecnicamente. Finalmente consegui ouvir as mensagens de voz.
— Ela torceu o nariz. — Uau. Vocabulário realmente criativo
você tem aí, Lila. Essa última mensagem de voz foi bem bizarra.
Eu não estava esperando as ameaças sobre como você iria me
destruir, como você iria vazar rumores prejudiciais sobre mim,
como você estava por trás de muito do ódio que recebi online
com contas de bots. — Jada fez uma careta. — Que coisa feia.
Você parecia bêbada ou drogada quando admitiu, então você
pode não se lembrar de ter dito tudo, mas você disse.
Jada manteve o olhar fixo em Lila. Ela ignorou o suspiro de
John.
A pele já pálida de Lila ficou assustadoramente branca.
— Eu não sei do que você está falando.
Jada fungou.
— Ah, acho que sabe sim. Realmente, eu odiaria que essas
mensagens caíssem em mãos erradas.
Lila zombou, seu verniz finalmente rachando.
— Você não ousaria. Você é uma garota rica e mimada.
Você não tem coragem.
A coragem de suas convicções varreu Jada.
— Continue dizendo isso a si mesma.
Jada virou-se para o outro membro da equipe de chantagem.
— Quanto a você, John, tenho certeza de que as pessoas
adorariam saber que seu perfeito Sr. America enviou
mensagens para três concorrentes de Minha Cara Metade com
uma história, dizendo que queria voltar com elas, todas ao
mesmo tempo. — Jada estalou os dedos. — Esqueci de
mencionar que encerrei minha pausa das redes sociais para
verificar minhas mensagens? Eu adoro quando as mulheres se
apoiam.
Jada deu aos covardes um momento para responder.
Quando nenhum fez, ela ofereceu o tiro mortal.
— Se nenhum desses raciocínios convencerem vocês, e eu
não consigo imaginar porquê não, por favor, lembre-se que essa
garota rica e mimada tem uma avó bilionária que a ama muito.
Se eu contar a ela o que vocês dois tentaram fazer comigo, ela
vai arruinar a vida de ambos, mal levantando um dedo. Ao
contrário do que você acredita, Lila, não faço ameaças falsas.
Sugiro que vocês dois se afastem e esqueçam meu nome.
Lila e John trocaram um olhar e pularam da cadeira ao
mesmo tempo. John abriu a porta e cambaleou para trás.
Nicholas e August apareceram na porta, ambos com expressões
de malícia iminente. John engoliu em seco, então passou por
eles com Lila em seus calcanhares.
Donovan fechou a porta nos rostos radiantes de seus melhores
amigos e virou-se para a pessoa mais importante de sua vida.
— Conseguimos, baby! Você foi tão foda.
Ele passou os braços em volta da cintura dela, pegou-a e
girou em um círculo.
Rindo, ela lhe deu um tapa nos ombros.
— Coloque-me no chão.
— Não antes de eu fazer isso. — Ela estava na altura perfeita
para ele beijar e ele aproveitou imediatamente. Beijá-la era uma
experiência nova e cada vez melhor. Ele se perdeu no gosto e
cheiro dela. Ele manteve o abraço suave e lânguido, querendo
saborear o momento. Saboreá-la. Conectar-se com ela.
Ele a amava. E ele ia contar a ela. Agora.
Donovan terminou o beijo, seu peito arfando, o sangue
rugindo em suas veias. Ele relutantemente a colocou de pé,
odiando perder a conexão.
Jada deu um passo para trás – para longe dele – suas mãos se
torcendo juntas na cintura.
— Nós precisamos conversar.
A testa de Donovan franziu enquanto ele lutava para
controlar seus sentidos rebeldes.
— Falar sobre o quê?
Sua garganta subiu e desceu.
— Sobre nós.
Donovan lutou para manter a calma.
— Sobre nós?
— Precisamos... acabar com as coisas.
Donovan cambaleou para trás.
— O quê? Do que diabos você está falando? Acabamos de
dizer a Lila e John que somos um casal de verdade porque
somos!
— Eu sei, mas não podemos... não devemos continuar.
— Por que diabos não?
Ele não se consolava com o fato de que ela parecia miserável.
O pânico estava rasgando suas entranhas em pedaços,
obliterando sua capacidade de pensar direito. A mulher que ele
amava, a única mulher que ele já amou, estava lhe dizendo que
ela não só não se sentia da mesma forma, mas ela nem mesmo
queria que houvesse um eles em tudo.
— Isso é porque eu estava pensando em mim quando você
me contou sobre Lila?
Jada balançou a cabeça vigorosamente.
— Não, não, não. Isso é tudo sobre mim.
Ele não acreditou nela. Ele estava tão preocupado consigo
mesmo que não teve tempo para verificar imediatamente como
ela estava. E ele estava fazendo isso de novo. Ele a conhecia. Ele
sabia que não tinha estado sozinho. Sabia que o beijo que
tinham acabado de compartilhar era mais do que luxúria
mútua.
Ele foi até ela e embalou sua bochecha, seu polegar
acariciando sua pele macia.
— Baby, me diga o que está acontecendo.
— Eu preciso fazer isso por mim. — Ela se esquivou de seu
toque, abrindo um novo buraco em seu peito onde seu coração
costumava residir.
— Fazer o quê? — Ele queria que ela dissesse isso. Colocasse
em palavras a ação que o destruiria.
— Não trabalhar mais aqui. — Ela apertou os olhos bem
fechados, como se estivesse dando a si mesma uma conversa
estimulante para continuar. — Não estar com você.
— Por quê? — Ele ouviu a súplica em sua voz. Ele não deu
a mínima. Agora não era hora para orgulho.
Seus olhos se abriram.
— Vim trabalhar na Sugar Blitz para convencer minha avó
de que eu era responsável o suficiente para obter o controle do
meu fundo fiduciário. Eu sempre fui uma bagunceira, alguém
que não conseguia ficar muito tempo com alguma coisa,
torcendo o vento daqui para lá, de impulso em impulso. Achei
que tinha encontrado o que procurava aqui, mas novamente
quase trouxe um desastre à sua porta por causa de mais uma
decisão impulsiva que tomei.
Donovan juntou as mãos dela e apertou.
— Mas nós resistimos a essa tempestade juntos.
Jada assentiu.
— Eu sei que fizemos, mas é difícil esquecer que eu fui a
causa em primeiro lugar, e eu não quero colocar você nessa
posição novamente. — Uma lágrima escorreu por sua
bochecha. Ele estendeu a mão para limpá-la. Ele não pôde
evitar. A dor dela era a dor dele.
Jada endireitou os ombros.
— Para realmente ser a adulta que quero ser, preciso estar
sozinha, não em um emprego que minha avó escolheu para
mim, mesmo que eu tenha passado o melhor momento da
minha vida aqui. Eu não quero ser aquela idiota impulsiva para
o resto da minha vida. Eu me recuso a ser. Nós nos movemos
tão rápido, e eu passei a confiar em você. Eu preciso descobrir
quem eu sou e o que eu quero, e me manter em pé antes de me
comprometer com alguém. Preciso de um tempo.
Os olhos dela imploravam por compreensão. Mas ele não
podia. O amor por ela o consumia, e ele queria dizer a todos,
todos os malditos dias como ele se sentia.
Mas não era isso que ela queria dele.
Se ele pensasse sobre isso racionalmente, logicamente, ele
poderia entender. Levou tudo dentro dele, mas ele controlou
suas emoções. Se ela precisasse de tempo, se ela não visse um
futuro com ele, então ele respeitaria sua decisão. Não
importava o quanto isso o devastava.
Mas ele passou por muitos eventos emocionalmente
desgastantes e esmagadores na vida, e ele os superou,
concentrando-se no que viria a seguir e certificando-se de que
nunca mais seria vulnerável. Isso não seria diferente.
Ele engoliu sua dor e ergueu o queixo.
— Ok.

∗∗∗

Jada seguiu Stacey até o escritório de Vovó. Sua avó se levantou


e foi até ela.
— Jada, que surpresa maravilhosa.
Ela estendeu os braços e Jada agradecida caiu no abraço. Ela
nunca se sentiu pior. Ser adulto era uma merda. Ela sentia falta
de Donovan mais do que jamais imaginara ser possível. Fazia
menos de dois dias, mas parecia que uma parte – uma parte
gigante – dela estava faltando. Ela não sabia se ela se sentiria
inteira novamente. Mas era um passo necessário para ela. Ela
precisava descobrir quem ela era fora de um relacionamento,
fora de um trabalho entregue a ela. Mas doía tanto não vê-lo
todos os dias. Não ser capaz de beijá-lo sempre que o clima
subia. Não ser capaz de provocá-lo quando ele ficava muito
sério.
— Jada, querida, o que foi? — Vovó a levou para sua área de
estar.
Jada afundou em uma das cadeiras de pelúcia e respirou
fundo. Hora de arrancar o curativo.
— Deixei meu emprego.
Vovó se acomodou na outra cadeira.
— Por quê? Você adora trabalhar lá. Você adora trabalhar
lá com Donovan.
— Porque é hora de eu crescer e assumir o controle da
minha vida. E não, eu não quero falar sobre Donovan.
Vovó a estudou, preocupação enchendo seus olhos.
— Ok. Nós não temos que falar sobre ele se você não quiser,
mas o que você quer dizer com é hora de você crescer?
Os ombros de Jada esvaziaram.
— Eu trabalhei na Sugar Blitz porque você me colocou lá.
Vovó pegou a mão dela.
— E você cresceu. Eu nunca te vi assim. Você está mais
determinada. Você está mais focada. Você está alegre. Eu
sempre tive orgulho de você por se manter firme, não
importasse o que fosse jogado em seu caminho, e por manter
seu senso de identidade, mas agora estou feliz por você.
Jada assentiu, mal segurando as lágrimas.
— Gostei de trabalhar lá, planejando eventos e conhecendo
os clientes e convertendo as pessoas a irem mais
frequentemente.
— Então, qual é o problema?
— Não quero ter um emprego porque minha avó me
colocou lá. Gostei do que estava fazendo na Sugar Blitz, mas
preciso seguir em frente, planejando eventos por conta própria.
— Ela ergueu o queixo. — Eu quero fazer isso. Provar a mim
mesmo que eu consigo.
Vovó suspirou.
— Jada, eu sei que seus pais tiraram seus cartões de crédito e
pararam de pagar suas contas. Sua mãe achou que você tinha
me contado, algo que você deveria ter feito. Ela e eu trocamos
algumas palavras sobre isso, acredite.
Jada fez uma careta.
— É por isso que eu não te contei.
— Humpf. — Os lábios de Vovó se torceram em desacordo
por um momento, mas então ela ergueu as mãos em súplica. —
Bem, agora que você não está mais trabalhando na loja de
cupcakes, posso lhe dar acesso ao seu fundo fiduciário.
Jada balançou a cabeça.
— Não, você não pode.
— Por que não? Você precisa de dinheiro para comer. E é o
seu dinheiro.
— Eu só deveria ter nos meus vinte e seis anos, se eu pudesse
provar a você que posso manter um emprego, no qual eu falhei
miseravelmente, admito, mas tenho um plano.
Vovó examinou seu rosto, abriu a boca como se pretendesse
discutir, mas então ela suspirou.
— Ok, se você está determinada a fazer isso, então eu apoio
você. Como posso ajudar? — Ela estalou os dedos. — Eu sei.
Posso dar-lhe um emprego no planejamento do nosso
departamento de marketing de eventos. Eu sempre quis alguém
da linhagem Townsend trabalhando para a equipe.
Jada riu pela primeira vez no que pareceu uma eternidade.
— Vovó, isso é exatamente o que eu não quero!
— Eu só quero te ajudar, querida. Me preocupo com você.
Jada cobriu o coração com a mão. O amor e o apoio de sua
avó significava o mundo para ela.
— Eu sei que você se preocupa. Um mês atrás, você me
perguntou se eu tinha um plano. Eu não tinha, até então.
— Mas você tem um agora?
Jada assentiu.
— Eu tenho. Não tenho certeza se é tão bom, mas eu tenho.
Fiz alguns contatos enquanto trabalhava na loja de cupcakes.
Tenho algumas pistas sobre trabalhos de planejamento de
eventos. Eles são pequenos, mas eu tenho que começar em
algum lugar. Espero que se eu puder provar a você que estou
falando sério e que sou boa nisso nos próximos meses, você me
dará acesso ao meu fundo fiduciário no meu aniversário para
que eu possa investir mais dinheiro no meu negócio.
Ela ergueu o queixo, pronta para a resposta de sua avó, não
importava qual fosse.
Vovó apertou a mão dela.
— Jada, eu te amo e estou aqui para ajudar em qualquer
coisa que você precisar, seja apoio emocional ou financeiro.
Acontece que eu sei uma coisa ou duas sobre como administrar
um negócio de sucesso. Eu adoraria ser sua mentora com meus
deveres de avó.
Os lábios de Jada se ergueram em um sorriso trêmulo.
Mesmo que seu coração estivesse se partindo, pelo menos uma
área de sua vida poderia estar em ascensão.
— Eu aceito.

∗∗∗

— Onde está Jada? — Sr. Till perguntou enquanto se


aproximava do balcão.
Donovan suspirou.
— Você faz essa pergunta todos os dias.
Sr. Till encolheu os ombros no sinal universal para “E o quê
que têm?”
Donovan suspirou e abriu a vitrine para pegar o cupcake de
red velvet, o único cupcake que serviam que valia a pena, de
acordo com o Sr. Till. Ele fechou a porta com um pouco mais
de força do que o necessário.
— Ela não trabalha mais aqui, se você quer saber.
Quando ele dava essa resposta aos clientes que
perguntavam, geralmente seguia com: “Ainda estamos
namorando, mas decidimos ser mais reservados sobre nosso
relacionamento”. Em parte porque ele queria que fosse verdade
e em parte para protegê-la. Ele nunca causaria
intencionalmente sua angústia. Ele preferia cortar o braço com
uma serra enferrujada.
O Sr. Till fez uma careta.
— Filho, vou te dar um conselho. Você não é tão brilhante,
mas talvez isso cause alguma efeito. — Ele apontou um dedo
ossudo para o peito de Donovan. — Se você deixar uma mulher
assim ir sem lutar, então você é um idiota.
Donovan deslizou o cupcake pelo balcão.
— Você vai pagar por isso ou não?
Ele não dava a mínima para estar sendo rude com um
cliente. A essa altura, o Sr. Till era da família, vindo aqui todos
os dias e metendo o nariz nos negócios de todos como um
patriarca. Além disso, ele não estava de bom humor. Jada saiu
por vontade própria e não entrou em contato nenhuma vez nos
últimos três meses. Ele verificou seu telefone, seu e-mail e até
mesmo suas mensagens nas suas contas de mídias sociais a cada
dois minutos para ter certeza. Ela não estava pronta. Talvez ela
nunca estivesse pronta. Inferno, talvez ela tivesse terminado
completamente e não pensasse nele um milhão de vezes por dia
como ele pensava nela.
E ele não podia escapar dela, mesmo aqui no trabalho.
Mesmo que os clientes não estivessem perguntando sobre ela,
tudo o que ele precisava fazer era olhar para cima e ver seu
trabalho em todos os lugares.
Ele tinha continuado com a sessão de fotos. Rose era uma
fotógrafa brilhante. A arte original chata e obsoleta foi
substituída com as fotos de Rose – fotos artísticas e divertidas
das ofertas da loja, junto com fotos de clientes sentados ao
redor das mesas, rindo e comendo. Seus clientes mais
frequentes ficaram emocionados ao serem convidados a
participar da sessão de fotos. Ele e Nicholas até persuadiram
August a tirar algumas fotos dos três na cozinha, rindo e
assando. As fotos foram exibidas com perfeição em paredes
pintadas de um amarelo suave e acolhedor.
Mais importante, os negócios estavam crescendo. Sugar
Blitz era agora um ponto de encontro do bairro, onde os
membros da comunidade podiam pegar um cupcake e
conversar com os amigos. Um novo gerente em tempo integral
foi definido para começar na próxima semana.
Nada disso teria acontecido sem a influência de Jada.
Caramba.
O Sr. Till resmungou.
— Sim, sim, eu vou pagar. Não seja grosso comigo só
porque estou certo. — Ele pagou, então se arrastou para sua
mesa, onde alguns de seus companheiros de xadrez esperavam.
Ele só lançou um olhar – você é um idiota – por cima do
ombro. Uma melhoria. Normalmente, ele recebia três boas
sacudidas de cabeça.
— Ele está certo, você sabe. — Nicholas se aproximou,
carregando uma assadeira com cupcakes recém-assados.
August o seguiu, segurando outra assadeira, assentindo.
Donovan suspirou, o cansaço pressionando seus ombros.
Ele já tinha ouvido tudo isso antes. Mas o que diabos eles
esperavam que ele fizesse sobre isso? Foi Jada quem saiu. Foi ela
quem disse que não queria ficar com ele.
— Temos mesmo que falar sobre isso pela milionésima vez?
Nicholas e August trocaram um olhar, depois assentiram
em uníssono.
— Você limpou seu smoking para o evento Knights in
Shining Armor? — perguntou Nicholas.
Emocionado com a mudança de assunto, Donovan deu o
suspiro e reviravolta que Nicholas sem dúvida esperava.
— Sim, papai, eu fiz isso.
O evento Knights in Shining Armor foi uma arrecadação de
fundos para o clube Boys & Girls local. Donovan e alguns de
seus companheiros de equipe que se voluntariam e doaram
dinheiro para a organização que estava sendo homenageada.
Normalmente, ele estaria ansioso pelo evento, mas
ultimamente não esperava por nada. Pelo menos sua mãe, com
quem sempre podia contar para animá-lo, estava indo como
seu par. Ele assumiu que Jada preencheria esse papel, mas ele
achava um monte de coisas, então…
Nicholas lhe deu um tapa nas costas.
— Excelente. Vejo você lá. E tente aprender o que é um
sorriso antes de aparecer. Você não quer assustar as crianças.

∗∗∗
Cinco horas depois, Donovan entrou no salão de baile do US
Grant Hotel, no centro de San Diego, com sua mãe ao seu lado.
Ele fez o seu melhor para fingir que tudo estava bem. Ela sabia
que ele e Jada não estavam mais se vendo, mas respeitava seus
desejos de não entrar em detalhes.
— Uau. Este lugar é chique — disse sua mãe.
Era.
Donovan estivera ali várias vezes antes, mas sempre ficava
surpreso com a pura elegância da sala. Vários candelabros de
ouro e diamantes estavam pendurados no teto. Centrais de
flores elegantes e extravagantes pontilhavam todas as mesas. O
tapete sob seus pés era chique. Todos os participantes usaram
seus melhores e mais sofisticados acessórios e estavam prontos
para abrir seus talões de cheques por uma excelente causa.
Tudo o que ele tinha que fazer era sorrir e apertar as mãos dos
doadores, prometer que os Knights ganhariam o Super Bowl na
próxima temporada e aceitar uma placa quando seu nome for
chamado. Em qualquer outro momento, essa tarefa seria fácil.
Até mesmo agradável.
Esta noite, ele se sentiu um merda.
Mas ninguém se importava ou precisava saber. Sua dor era
só dele, para ser tratada mais tarde em algum período de tempo
indeterminado. Ele estendeu a mão.
— Vamos?
Eles entraram na sala e foram imediatamente varridos para
um mundo de fotos e conversas com colegas de equipe que ele
não via desde o fim da temporada, funcionários da equipe e
participantes de eventos.
A sala estava lotada. Ele só teve breves vislumbres de
Nicholas e August, apenas o suficiente para trocar acenos antes
de serem varridos. O tempo se arrastava enquanto uma dor de
cabeça o perseguia a cada passo. Ele repetidamente se lembrou
de sorrir.
Um ruído familiar cortou a conversa geral que enchia a sala.
Donovan girou. Um flash de vermelho chamou sua atenção.
Ele contornou um casal conversando em uma mesa alta e parou
no meio do caminho. Seu coração saltou em sua garganta.
Jada. Ela estava aqui. Foi sua risada efervescente que
chamou sua atenção. Ela estava conversando com um
convidado e ainda não o tinha visto. Ele aproveitou
imediatamente para olhar sua aparência.
Ela usava um vestido vermelho brilhante até o chão que
abraçava sua figura fantástica, mergulhando em sua cintura e
queimando para cobrir seus quadris. Seu cabelo escuro caía
sobre um ombro em ondas suaves. Ela parecia sofisticada e
deslumbrante. Sua maquiagem ousada chamou a atenção para
aqueles incríveis olhos castanhos chocolate.
O que ela estava fazendo aqui? Este não era um evento
oficial da equipe, embora muitos de seus companheiros e
responsáveis de equipe estivessem aqui, então ela não poderia
estar aqui por ordem da Sra. T.
Sua mãe se moveu em sua linha de visão, bloqueando sua
visão de Jada. Ele deu um passo para a direita, mas já era tarde
demais. Ela se foi, engolida pela multidão.
Caramba. Ele deveria ir atrás dela? E dizer o quê? Ela o
largou, afinal. Mais do que provavelmente, ela estava aqui
como doadora como quase todo mundo. Ela não estava aqui
para ele.
Ao som de um pigarro, ele baixou o olhar para sua mãe, que
o observava com muito interesse. Ele se esquivou com sucesso
de todas e quaisquer perguntas sobre Jada. Parecia que sua boa
sorte estava prestes a acabar.
— Você sabe, eu posso dizer que você está sofrendo. Você
parece miserável a noite inteira. Eu tenho sido muito paciente,
respeitando sua privacidade, mas eu sou sua mãe, então isso
chega ao fim agora. — Ela colocou a mão em sua manga. —
Vamos para um lugar mais calmo para conversar.
Ele a seguiu até um canto, longe da conversa e da orquestra
que fornecia o pano de fundo musical. Sua mãe não perdeu
tempo.
— Donny, o que está acontecendo? Por que você está aqui
comigo em vez de Jada?
Donovan empurrou a resposta além de uma garganta
apertada.
— Não estamos mais nos vendo. Você sabe disso.
Sua mãe assentiu.
— Sim, eu sei. A questão é por quê? — Quando ele
permaneceu em silêncio, ela suspirou. — Posso te contar um
pequeno segredo? — Ela olhou ao redor, presumivelmente
para ter certeza de que ninguém poderia ouvi-los. — Eu sabia
que você e Jada não estavam realmente namorando no dia em
que fui na loja. — Ela ergueu a mão quando o choque o varreu.
— Agora, eu sei que você e suas irmãs pensam que eu não sei
guardar um segredo, mas eu sei. Afinal, eu era casada com seu
pai. Eu conheço você muito bem, e eu podia dizer que as coisas
estavam um pouco erradas entre vocês dois, mas eu também
podia dizer que você realmente queria que fosse verdade, e eu
queria que você descobrisse tudo sozinho. Obviamente, você
descobriu, mas depois estragou tudo.
Donovan trabalhou sua mandíbula de lado a lado, as
emoções ainda tão cruas e irregulares.
— Eu estava preparado para dizer a ela que me apaixonei por
ela, mas ela terminou as coisas antes que eu pudesse.
— E você a deixou ir.
Donovan passou a mão na nuca, a frustração o
despedaçando.
— O que mais eu deveria fazer?
— Não deixe seu pai continuar a governar sua vida.
Ele cambaleou para trás com aquele soco no estômago.
— O que isso significa?
Sua mãe estava decidida.
— Significa que eu sei que ele ainda liga para você pedindo
dinheiro, e que você responde. Converso o tempo todo com
pessoas do bairro antigo. Eles me contam a tolice que seu pai
está fazendo, para que eu possa proteger meus filhos o máximo
possível. — Ela suspirou. — Seu pai machucou você, ele
machucou todos nós, e eu sempre estarei chateada comigo
mesma por não ter nos libertado antes.
Ele tinha ouvido o suficiente.
— Você fez o melhor que pôde. Você é uma ótima mãe.
Nunca duvide disso.
Ela deu um tapinha no braço dele.
— Obrigada, meu filho favorito, mas é verdade que seus pais
o influenciam, para o bem ou para o mal. A lição que você
aprendeu foi se concentrar em tirar quaisquer surpresas e
reviravoltas de sua vida. Se você pudesse ser financeiramente
estável, então a vida seria tranquila.
Donovan ficou quieto, incapaz de negar suas alegações.
— Então Jada apareceu. Ela sacudiu você e seu mundo e
você caiu duro. Mas então ela te acertou com a maior surpresa
de todas ao terminar as coisas e você recuou. Sim, suas irmãs me
contaram o que aconteceu.
Donovan suspirou. Ele não podia ficar bravo com suas
irmãs por estragar tudo. Ele deveria saber. Eles eram muito
unidos para terem segredos.
— O que eu deveria fazer? Eu não posso fazê-la ficar
comigo. — A angústia ainda o consumia, ainda perseguia seus
calcanhares a cada curva. Ele não tinha certeza de quando isso
não aconteceria. Se alguma vez o faria.
— Não, você não pode, porque Jada é independente. Mas
também sei que esta é a primeira vez que você está na mesma
sala com ela em três meses. Você está realmente preparado para
deixar por isso mesmo?
Não, ele não estava. Não por um longo tempo. Era hora de
parar de viver no passado e lutar por seu futuro com tudo o que
tinha dentro dele.
Teoricamente, Jada estava se divertindo. Esta noite era a prova
de que seguir seus sonhos estavam valendo a pena. Como ela
disse a Vovó, ela usou as conexões que ganhou trabalhando na
Sugar Blitz para garantir vários pequenos shows de
planejamento de eventos. Isso levou a mais eventos, o que a
levou a estar aqui esta noite. Um cliente recomendou seus
serviços ao organizador do evento, Sydney, quando a assistente
de Sydney teve que ficar de cama nos últimos dois meses de
gravidez. No que dizia respeito a Jada, qualquer experiência era
uma boa experiência, e ela aceitou prontamente o novo
emprego.
Ela alegremente fez o trabalho pesado que lhe foi pedido,
desde encher um milhão de balões até organizar uma infinidade
de planilhas, para garantir que este evento fosse um sucesso.
Eles estavam arrecadando dinheiro para uma causa nobre.
Ao seu redor, as pessoas estavam se divertindo, graças, em parte,
aos seus esforços.
Então, sim, teoricamente, ela estava se divertindo. Mas ela
não conseguia parar de pensar que Donovan estava em algum
lugar nesta sala lotada. Ela quase hiperventilou quando soube
que ele era um dos homenageados da noite e pensou por um
momento em desistir. Mas ela rapidamente caiu em si e
percebeu que era impulsivo e algo que a velha Jada teria feito.
Em vez disso, ela abaixou a cabeça e voltou ao trabalho.
Isso não significava que ela não pensava nele
aproximadamente um milhão de vezes por dia. Ela até tentou
ensaiar o que diria se o visse esta noite, mas nunca conseguiu
pensar em nada que fizesse justiça ao quanto ele significava para
ela. O que ele ainda significava para ela. Ela teria coragem se
tivesse a chance?
Mais cedo, ela pensou que o tinha visto de relance, pensou
que era sua hora de descobrir, mas então alguém chamou seu
nome e, quando ela voltou ao local, ele não estava mais lá, se
fosse ele em primeiro lugar.
Sempre que alguém perguntava sobre ele, perguntava sobre
eles, ela sorria, acenava com a cabeça e dizia que estava
trabalhando esta noite, então eles não podiam passar muito
tempo juntos, mas ela certamente transmitiria seus parabéns.
Tudo em um dia de trabalho.
E seu coração doía ainda mais por isso. Estava doendo há
noventa e dois dias, três horas e vinte e sete minutos. Mas quem
estava contando?
Ela sentia falta dele. Aí estava, ela admitiu isso. Mas ela fez a
coisa certa, salvando-o de seu caos. Ela tinha feito a coisa certa,
concentrando-se em si mesma.
Então por que você vai para casa todas as noites e passa o
tempo imaginando no que ele está fazendo? Querendo saber se
ele está pensando em você também?
— Jada!
Ela se virou para ver Sydney vindo em sua direção.
— Jada, precisamos começar a contabilizar os vencedores do
leilão silencioso.
Uma hora depois, Jada encontrou uma namoradeira em um
canto afastado do saguão do hotel e desmaiou. Esse negócio de
planejamento de eventos não era brincadeira. Ela estava
correndo sem parar, apagando pequenos incêndios que
apareciam a cada três minutos. Ela estava exausta. Exausta, mas
feliz.
Principalmente feliz.
Além de ver como ele aceitou seu prêmio, ela não tinha visto
Donovan. Isso foi provavelmente o melhor. Explodir em
lágrimas no meio de um salão de baile não era exatamente um
grito de profissionalismo.
Ela inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, exalando.
Ela precisava dessa pausa. Ela precisava do silêncio.
Donovan encheu seus pensamentos. O sorriso dele. Sua
presença. A perda de Donovan. Sua paciência. Sua
determinação. O jeito que ele olhava para ela. Ela perdeu tudo.
Ela sentia falta dele.
A dor só tinha ficado mais forte.
Ela se afastou para descobrir seu lugar no mundo e protegê-
lo dela e do caos que ela trouxe para sua vida.
Você é uma covarde. Ela balançou a cabeça, mas o
pensamento traiçoeiro permaneceu.
Você deixou o melhor homem que você já conheceu ir embora
porque você estava com medo de não ser suficiente para ele. Dele
perceber que você não era inteligente. Dele ficar entediado.
Onde isso a levou?
Apesar de ter encontrado o que procurava em sua vida
profissional, ela não estava tão realizada quanto esperava. Mas
ela poderia fazer algo sobre isso. Se ela tivesse coragem.
Ela estava pronta para reivindicar o que – quem – ela
precisava em sua vida pessoal?
Sim, ela estava. Esta noite. Agora. Antes que ele tivesse a
chance de sair.
Os olhos de Jada se abriram quando ela saltou da cadeira. Ela
correu em direção ao salão de baile, quase colidindo com um
grupo de turistas e suas malas.
— Desculpe — ela chamou de volta por cima do ombro,
nunca diminuindo. Ela era uma mulher em uma missão para
conseguir seu homem.
Ela correu e deu de cara em uma parede de tijolos,
ricocheteando.
— Ufa.
Não, não é uma parede. Um corpo humano. Ela olhou para
cima, preparando-se para se desculpar. As palavras morreram
em sua garganta, a surpresa deixando-a muda.
— Jada. — Donovan estava lá em toda a sua bela e não
imaginária glória. Suas sobrancelhas arquearam, um sorriso
brincando em seus lábios carnudos. — Indo para algum lugar?
Ela balançou a cabeça.
— Não mais.
— Bom. Você é uma mulher difícil de se encontrar. — Sua
voz profunda retumbou, atada com um fio de humor. Ele era
tão bonito, tão perfeito. Seus dedos coçaram para traçar a linha
de sua mandíbula bem barbeada, mas ela não tinha mais esse
direito. Ela virou as costas para esse direito. — Pelo que ouvi,
você tem muito a ver com o sucesso desta noite.
— Obrigada. O que você está fazendo aqui em vez de no
salão de baile? — ela sussurrou, no caso de estar sonhando.
Esperando que ele dissesse...
— Procurando você. — Seus olhos escuros estavam fixos
nela.
— Por quê? — Esperança, aquele ser sempre otimista,
floresceu em seu peito.
— Porque nunca foi uma opção que eu não faria.
Seu coração gaguejou. Talvez ela pudesse ter esse direito. Ele
agarrou seu braço para guiá-la para fora do caminho quando
alguém quase esbarrou nela. Jada mal notou a outra mulher.
Ela só tinha olhos para Donovan.
— Você está bem? — Quando ela assentiu, ele apontou para
um sofá a alguns metros de distância. — Quer se sentar ao meu
lado?
Enquanto ela o seguia, ela acompanhava cada movimento
dele com olhos gananciosos. Fazia tanto tempo desde que ela o
viu. Desde que ela esteve perto o suficiente para tocá-lo. Ela
respirou fundo quando ele se sentou ao lado dela, com apenas
uma pequena almofada separando-os.
— Você está linda.
— Obrigada — disse ela. Seu pulso estava trovejando alto
em seus ouvidos. — Você também está bonito.
Seu corpo – seus ombros largos, cintura fina e coxas duras –
tinha sido feito para usar um smoking.
Seus lábios se torceram em um breve sorriso.
— Obrigado.
Aqui estava sua chance. Hora de encurralar todos os
pensamentos em torno de seu cérebro e deixá-lo saber o que ele
significava para ela.
Ele falou antes que ela tivesse a chance.
— Estou feliz que nós dois estamos aqui esta noite. Quando
estávamos no meu escritório pela última vez, a conversa não foi
como eu esperava. Você disse o que tinha a dizer, e eu apenas
deixei você ir. Na época, pensei que estava fazendo a coisa certa,
mas a verdade é que estava com medo.
Sua boca caiu aberta.
— Medo do quê?
— Dos sentimentos que você inspira em mim. Eu estava
vagando pela vida, certo de que tinha o plano perfeito, lógico e
previsível, e você veio e explodiu tudo, e era exatamente o que
eu precisava. Quero te agradecer por isso.
— De nada. — Seu coração se alegrou com sua admissão,
mas ela tinha que saber. — Isso é tudo?— Ele estava aqui para
tirar isso do peito e dizer adeus a ela para sempre? Seu coração
despencou no chão de mármore.
— Não. — Ele descansou o braço no encosto do sofá, tão
perto do corpo dela. Ela desejava que ele fechasse a distância. —
Eu preciso me desculpar com você.
Jada balançou a cabeça, sua mente ainda girando.
— Pelo o quê?
— Eu ouvi o que você estava dizendo, e eu não estava lá para
você. Não gosto de emoções e de me sentir fora de controle, e
quando as coisas começam a ficar reais, eu costumo recuar. Em
vez de oferecer meu apoio a você, desliguei e fingi que estava
tudo bem. Não sei se algum dia vou me perdoar por isso. Você
estava duvidando de si mesma, e eu não disse nada para
tranquilizá-la. Eu deveria ter te lembrado que você estava
incrível na loja de cupcakes. Eu deveria ter lhe dito que amo a
imprevisibilidade que você traz para minha vida. Eu amo como
você me faz sentir inteiro, e você me fez perceber que não quero
passar a vida pensando que o sucesso financeiro é tudo o que
importa, porque não é. Você salvou meu negócio, porém mais
importante, você me salvou.
Lágrimas brotaram em seus olhos. Ele os enxugou com o
polegar.
— Não chore ainda. Eu não terminei.
Ela riu.
— Desculpa. Por favor, continue, senhor.
— Você traz alegria e amor à minha vida. Eu amo suas
supostas imperfeições. Eu deveria ter dito que acredito em
você, e quero que faça o mesmo. Eu deveria ter dito a você que
você tem muito a oferecer ao mundo, e eu quero um lugar na
primeira fila para o seu crescimento contínuo.
Jada não conseguia respirar. Finalmente, finalmente, ele a
tocou, unindo seus dedos. Ele deu um beijo suave nas costas de
sua mão. Ela testemunhou tudo através das lágrimas
embaçando sua visão. Graças a Deus pelo rímel à prova d'água.
— Eu deveria ter dito te amo, e que irei até o fim do mundo
por você.
— Sério? — ela perguntou, ainda um pouco incerta de que
ela, Jada, a fodida impulsiva, poderia ter tanta sorte.
— Sim, realmente, baby. Você me ama? — O toque de
timidez em sua voz, em seu rosto, derreteu quaisquer dúvidas
remanescentes. Ele colocou tudo em ordem. Este homem
estaria sempre lá para ela, e ela planejava estar lá para ele.
Ela assentiu, então tocou sua testa na dele.
— Quando eu esbarrei em você – desculpe por isso, a
propósito – eu estava correndo para voltar ao salão de baile para
lhe dizer que eu te amo tanto, tanto. Você não tem ideia. Me
desculpe, eu me assustei. Não posso prometer que não vai
acontecer novamente, mas prometo não correr de novo.
Obrigada por ser a força estabilizadora que eu preciso na minha
vida. Obrigada por acreditar em mim quando eu não
acreditava. Eu não estaria experimentando tudo de bom na
minha vida se você não estivesse nela. Obrigada por ser você.
Você é o melhor homem que eu já conheci. Você é Donovan
Dell, e você é suficiente, do jeito que você é. — Ela acariciou
sua mandíbula forte, emocionada por não ter mais que negar a
si mesma o prazer. — Sim, eu te amo com todo o meu coração.
Eu até te amo mais do que meus sapatos.
Jada levantou a bainha até o chão de seu vestido para revelar
o Crocs que ela havia trocado no meio da noite. Ela cortou a
risada dele com a boca. Fazia noventa e dois dias, quatro horas
e aproximadamente vinte e três minutos desde que ela o beijou
pela última vez. Ela não jogaria fora sua chance. Agora ou em
qualquer outro momento.
— Uau, mulher, você está incrível — disse Donovan, quando
Jada entrou no pátio de sua casa.
— Obrigada. Obrigada. — Jada deu um pequeno giro, se
endireitando quando a fenda na altura da coxa em seu vestido
azul-petróleo se abriu para revelar sua perna direita e seus saltos
de prata Louboutin. — Você também não está tão ruim.
Donovan acariciou o queixo.
— Eu tento.
Ele fazia mais do que tentar. Ele usava um terno cinza carvão
sob medida que abraçava seus ombros largos e mostrava suas
pernas poderosas. Sua camisa branca contrastava perfeitamente
com sua pele. A gravata azul-petróleo combinava exatamente
com o vestido dela.
Ele era o homem mais bonito que ela já tinha visto, e ele era
todo dela.
Em alguns meses, eles estariam na frente de sua família e
amigos para oficializar, mas hoje eles estavam tirando fotos de
noivado. Ela mal podia esperar.
Ele puxou a gravata.
— Era realmente necessário nos arrumarmos para isso?
Poderíamos ter usado polos Sugar Blitz em homenagem aos
velhos tempos.
Jada lançou-lhe um olhar.
— Senhor, em primeiro lugar, já incorporamos Sugar Blitz
com a cor azul esverdeado. Mais importante, estas são nossas
fotos de noivado, não um anúncio para sua loja.
Donovan bufou.
— Você só quer se exibir no Instagram.
Ela ergueu o queixo.
— Não, eu quero um símbolo do nosso amor imortalizado
no filme. Este é um momento de um ciclo completo para nós.
Rose fez nossa primeira sessão de fotos, e ela está fazendo esta.
É perfeito. — Ele a olhou de lado. — E tudo bem, sim, eu quero
bombar no Instagram para todos os haters de #JaDon. Além
disso, você pode me culpar? Nós somos muito bons juntos.
Os ombros de Donovan sacudiram de tanto rir.
A alegria a percorreu com o som despreocupado. Ela nunca
se cansaria de vê-lo feliz. Ela nunca se cansaria de saber que lhe
trazia tanta alegria quanto ele trazia para ela.
As coisas com seu pai não eram perfeitas – provavelmente
nunca seriam – mas Donovan havia retornado a Oakland para
uma conversa franca com seu pai, e seu pai concordou em obter
ajuda para seu vício em jogos de azar. Ele até seguiu alguns
conselhos meses depois, e até agora, tudo bem.
— Eu te amo — ela murmurou. Às vezes, ela ainda não
conseguia acreditar que podia dizer isso sempre que tinha
vontade.
— Venha aqui — ele murmurou, envolvendo um braço em
volta da cintura dela e puxando-a para ele. Jada ansiosamente
ficou na ponta dos pés para encontrar os lábios dele.
— Não, não, não — disse Rose, juntando-se a eles no pátio.
— Guarde isso para as fotos.
Eles gemeram, mas se separaram e a seguiram até a praia.
— Não diga nenhuma palavra — ela disse para Donovan
enquanto tropeçava na areia. Talvez os Louboutins não fossem
a melhor escolha dada a localização, mas ela os amava.
— Eu não ousaria — ele sussurrou de volta. — Eu valorizo
muito a minha vida.
Jada se esforçou para olhá-lo de lado mesmo enquanto ria.
Ela amou o quanto ele a fazia rir. Ela soltou um suspiro quando
chegaram ao local designado. Jada protegeu os olhos e estudou
o local. O sol estaria se pondo em uma hora, criando um brilho
fantástico de luz. A água caia na praia. O cenário perfeito. Não
poderiam ter escolhido um lugar melhor.
Ela não poderia ter escolhido um homem melhor. Oito
meses se passaram desde a noite em que voltaram a ficar juntos.
Eles não tinham se separado desde então. A vida só tinha
melhorado a cada dia.
Os negócios na Sugar Blitz estavam tão bons que eles
estavam se preparando para abrir uma segunda loja. Ela ganhou
acesso ao seu fundo fiduciário e colocou o dinheiro em bom
uso, iniciando a JTM Events. Os negócios estavam bem desde
então. A maravilha das maravilhas, seus pais compareceram a
um banquete de premiação que ela havia planejado para um
hospital local e a elogiaram por um trabalho bem feito. Jada
quase desmaiou.
— Ok, isso é perfeito — disse Rose, verificando a
iluminação. — Entrem em posição. Vocês já sabem o que fazer.
Jada encontrou os olhos dançantes de Donovan. De fato,
eles sabiam.
Donovan circulou sua cintura com um braço e a puxou para
perto. Por orientação de Rose, Jada pousou a mão esquerda
sobre o coração dele, para melhor exibir o solitário anel de
diamantes.
— Perfeito — disse Rose, enquanto sua câmera clicava. —
Olhem profundamente nos olhos um do outro. Pense em um
drama glamoroso.
— Sim, Donovan. Dê-me um drama glamoroso — Jada
disse, rindo. — Me faça queimar.
Ele deu um tapa na bunda dela, então a pegou,
surpreendendo-a com um suspiro, e a girou em um círculo. Ele
cortou a risada dela com um beijo demorado.
— Vocês dois são realmente adoráveis — Rose resmungou
quando eles pararam para respirar. — Se eu não gostasse de
vocês dois, eu os odiaria com todo o meu ser.
— Obrigado, Rose — eles disseram em uníssono.
Sinos e bipes encheram o ar em um som estranho e
inflexível, interrompendo a configuração pura. Seus telefones,
que estavam inocentemente deitados em um cobertor a poucos
metros de distância, foram os culpados.
— O que está acontecendo? — Donovan colocou Jada no
chão, então se aproximou para pegar os aparelhos. Ele entregou
o celular dela.
Ela percorreu os textos e notificações de mídia social que
estavam chegando em uma inundação torrencial. Ela abriu
uma mensagem de Olivia.

VOCÊ VIU ISSO?

Um link para um tweet foi anexado. Donovan olhou por


cima do ombro dela enquanto ela clicava.
— Sem chance. — disse Donovan, enquanto o vídeo que era
reproduzido no tweet. — Ele vai ficar irritado.
Jada balançou a cabeça.
— Com toda certeza. August se tornou viral!
Para minha mãe e minha família, eu amo vocês para todo o
sempre. Clydell, obrigada por incentivar e compartilhar meu
amor pelos esportes.
Para as Destin Divas, estou tão feliz por ter todos vocês e
agradeço a Deus o tempo todo que Farrah esqueceu que eu não
me comprometi totalmente com nosso primeiro retiro porque
estava sendo mesquinha e guardou uma vaga para mim de
qualquer maneira. Vocês me inspiram todos os dias e este livro
não existiria sem o apoio de vocês. Mando saudações especiais
para Synithia e Sharon por lerem a proposta do livro que deu
início a tudo.
Piper Huguley, minha irmã de consideração, obrigada por
sempre ser uma ouvinte e por me fazer rir e agarrar minhas
pérolas em sua ferocidade.
Obrigada à minha agente, Sara Megibow, por me guiar nesse
processo louco. Você é muito mais positiva do que eu, o que é
uma coisa boa (pelo menos para mim). HAHAHA.
À minha editora, Jennie Conway, que acreditou nesta
história desde o primeiro dia. Obrigada por entender minha
visão e ser paciente comigo. Confie em mim, eu sei que nem
sempre facilito as coisas. Agradecimentos especiais pelo título!
É perfeito.
A todos da St. Martin's que contribuíram para a publicação
desse livro, obrigada por amarem os livros e fazerem o que
fazem. Sou eternamente grata.
Quando participei da minha primeira reunião da RWA
anos atrás, tomei a decisão de me sentar ao lado da mulher que
também parecia estar sozinha e da minha idade. Eu estava certa
em fazer isso. Roni Loren, obrigada por todos os seus anos de
amizade.
Mariah Ankenman, obrigada por ler este livro e me avisar
que não era/estava uma droga. Todo mundo deveria ter a sorte
de ter uma pessoa torcendo por você ao seu lado.
Para todos os leitores de romances, nós, autores, não
poderíamos e não saberíamos o que fazer sem vocês. Se você leu
meus outros livros ou se este é o seu primeiro, obrigada do
fundo do meu coração.
Tenho certeza de que esqueci alguém, e estou com o
estômago apertado por isso. Isso não significa que eu não o ame
ou agradeça, porque eu amo. Sou apenas uma mulher na casa
dos quarenta anos, cuja memória não é tão boa quanto
costumava ser. E não vamos falar de idade novamente, ok?

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