Fake It Till You Bake It - Jamie Wesley
Fake It Till You Bake It - Jamie Wesley
Fake It Till You Bake It - Jamie Wesley
1
Se refere a Darth Vader, um personagem vilão da franquia Star Wars.
— Foi tudo uma piada para você?
Uma piada? Não. Uma chance de se divertir e não pensar no
futuro dela? Sim. Até que tudo foi para os ares em um bater de
asas. Um bater de asas? Qual era a dessa frase, afinal?
— Você é uma vadia sem coração — disse Darth Vader Nº2,
com uma fungada de desprezo.
Jada estremeceu, o insulto lhe deu um soco no estômago e a
deixou sem fôlego. Mostrar emoção era a última coisa que ela
deveria fazer nesta situação, mas caramba, ela era humana. Um
ser humano cheio de falhas, e muitas vezes irritante, de acordo
com seus familiares, mas um ser humano. Palavras
machucavam. Claro que seus críticos diriam que as ações
machucavam ainda mais.
— Com licença. Posso ajudar as senhoras com alguma
coisa? — Carrie apareceu ao lado de Jada.
Jada se agarrou a essa distração com todas as forças.
— Não, eu estava indo embora.
— O que está acontecendo? — A voz de Olivia atravessou a
loja.
Jada acenou para ela.
— Nada. A gente tem que ir.
Olivia direcionou as Darth Vaders um olhar mortal, mas
seguiu Jada para fora da loja sem mais comentários. Carrie
impediu as Darth Vaders de segui-las. Ainda assim, Jada
manteve a cabeça baixa e correu para o carro estacionado no
quarteirão.
— O que essas vadias te disseram? — Olivia disse quando
elas entraram na BMW prateada.
Jada piscou para conter as lágrimas.
— A mesma coisa que todo mundo diz.
— Quer que eu volte e dê uma surra nelas? — As sardas que
pontilhavam a pele negra de Olivia encobriam a sua natureza
feroz.
Jada lançou-lhe um olhar.
— Não, eu não quero porque eu teria que ligar para seus
pais e dizer que a menina dos olhos deles está na cadeia.
A carranca de Olivia não se desfez. Seus cachos castanhos
tingidos de vermelho balançaram quando ela se virou no banco
para espiar pela janela traseira.
— Talvez valha a pena.
— Garota, você tem um emprego, um emprego bom. Você
não precisa perdê-lo tentando me ajudar. — Ao contrário de
Jada, Olivia fez pós-graduação e um MBA focado em gestão de
hotéis e RH. Ela tinha uma vida inteira pela frente
administrando cadeias de hotéis cinco estrelas. Jada se sentia
vazia. — Eu não deveria ter saído de casa.
— Você não pode deixar essas vadias estragarem o seu dia.
— Eu sei. Ou pelo menos estou tentando me convencer
disso. — E ainda assim sua voz vacilou e uma, duas, caramba,
três lágrimas escorreram pelo seu rosto.
— Pelo menos você está linda.
Um sopro de gargalhada no peito com o inesperado elogio.
— Obrigada. — Sua melhor amiga sempre sabia o que dizer.
Mesmo que sua vida fosse uma bagunça, Jada fazia o possível
para garantir que seu lado de fora fosse sempre fabuloso. Se
outros pudessem gostar de histórias em quadrinhos, esportes
ou jardinagem ou o que diabos eles gostassem, ela poderia
gostar de maquiagem e roupas, caramba. Os apetrechos lhe
davam confiança e a faziam parecer bem. Todos saiam
ganhando.
Jada baixou o visor e inspecionou seu rosto no espelho.
Nenhum sinal da cobertura do cupcake, embora o gosto de
morango permanecesse em sua língua. Olhos apenas um pouco
vermelhos. Rímel e sombra no ponto. A base ainda fazendo sua
pele parecer luminosa e sem manchas. Aquele novo maquiador
estava fazendo seu trabalho. Ela deveria fazer uma resenha no
YouTube.
Exceto que a mídia social não era mais seu santuário. As
pessoas deixaram todos os tipos de mensagens "divertidas" em
suas diversas páginas. Ela desligou as notificações. Apenas o
orgulho a impediu de desativar as páginas, ou, pior, excluí-las
completamente. Se as pessoas quiserem mostrar suas bundas na
página de outra pessoa, então façam isso. Jada suspirou.
Olivia apertou seu braço.
— Se você quiser conversar, estou aqui.
— Eu sei, e aprecio isso. Mas estou bem agora. — Olivia
tinha ouvido todos os pensamentos tumultuosos em sua
cabeça desde que as filmagens terminaram e ainda mais quando
o programa começou a ser exibido. Não havia necessidade de
repetir a dose pela milésima vez.
Hora de seguir em frente. Literalmente. Ela deixou Olivia
em sua casa depois de recusar a oferta de sua amiga para jantar
e relaxar assistindo Netflix. Agora, ela precisava se
descomprimir das festividades da tarde sozinha.
Alguns minutos depois, seus ombros caíram de alívio
quando entrou em seu apartamento. Bem, não seu
apartamento, exatamente. Sua família era dona da propriedade
em Mission Hills, mas como ela era a única que estava lá no
momento, era dela.
Ela tirou seu salto-agulha de couro preto. Eles eram seu par
favorito, os que ela usava quando precisava de um pouco de
confiança extra, mas ela chegou ao fim de seu limite diário de
uso de saltos. Parecer chique sem esforço dava muito trabalho.
O jantar foi o próximo. Graças a Deus pelos aplicativos de
entrega de comida. Cozinhar não era seu forte. Seu telefone
tocou quando ela o tirou da bolsa. Ela gemeu com o nome que
apareceu na tela. Ela hesitou apenas meio segundo antes de
responder.
— Oi, Vovó.
— Ah, então você sabe atender o telefone? — Sua avó, a Sra.
Joyce Townsend, respondeu.
Jada deixou cair a cabeça em sua mão livre.
— Eu te amo, Vovó. — E amava. Tanto. Ela nunca diria que
sua avó era a única integrante da família que a amava porque
isso não era verdade. Seus pais e sua única irmã a amavam
profundamente. Eles também não a entendiam e queriam
transformá-la em alguém que entendessem. Vovó nunca tinha
feito isso.
A fungada de Vovó pelo telefone era alta e clara.
— Humpf. Não sei, considerando que esta é a terceira vez
que ligo para você nas últimas vinte e quatro horas.
Jada engoliu em seco quando a culpa a agarrou pela
garganta.
— Eu mandei uma mensagem para você.
— Mensagem? Eu quero ouvir a sua voz. Mas eu sei que
vocês, jovens, têm o mau hábito de pensar que enviar
mensagens de texto equivale a uma conversa real, que é a única
razão pela qual não chamei a polícia.
Jada foi para a sala de estar, reprimindo um suspiro.
— Eu sei.
— Bem, estou feliz que você finalmente voltou para casa.
Casa. Como em San Diego. Aos dezoito anos, a faculdade
em Nova York ofereceu a desculpa perfeita para sair. Desde
então, ela só fez visitas esporádicas em casa para ver sua família
e amigos.
— Eu sinto muito. — Ela falava muito isso. Ela estava
acostumada a dizer isso.
— Você teve um bom dia?
Espontaneamente, um homem e seus cupcakes surgiram em
sua consciência. Não as damas loucas de Darth Vader,
estranhamente.
— Foi bom.
— Você está bem?
A preocupação genuína na voz de sua avó quase a desfez.
Jada afundou no sofá.
— Já estive melhor, mas também já estive pior.
Vovó suspirou.
— Eu te disse que não achava que fazer aquela série era uma
boa ideia. Posso ser velha, mas sei que os produtores de reality-
shows não passam de abutres.
— Vivendo e aprendendo. — E não era como se tivesse sido
horrível. Não até o final, quando ela transformou a coisa toda
em uma exibição de merda, que os produtores adoraram. Bem,
depois que eles superaram seu choque e horror por ela ter
arruinado seus planos cuidadosamente construídos.
Lila Patterson, a criadora e produtora executiva do
programa, administrou um navio apertado e fez questão de
saber o que os participantes do programa diriam quase antes de
o dizerem. Ela tinha sido a principal pessoa a pressioná-la sobre
o porquê dela ter recusado a proposta de John.
Jada não tinha ideia do que dizer a ela, então deixou escapar
a primeira coisa que lhe veio à mente – que ela disse não porque
havia alguém em casa em quem ela não conseguia parar de
pensar. O executivo de TV tinha mudado um pouco o tom
quando o final foi ao ar e o programa recebeu mais atenção do
que em anos, mas Jada sabia que Lila estava descontente com
ela porque se recusou a dar entrevistas.
Depois de ouvir as primeiras mensagens de voz e o tom
bajulador de Lila, que pouco ajudava a disfarçar o quanto
estava chateada, Jada agora enviava todas as suas ligações para a
caixa postal e ignorava suas mensagens.
Vovó suspirou, felizmente interrompendo aquela linha de
pensamento perturbadora.
— Não é assim, Jada. Eu me preocupo. Como posso ter
certeza de que está bem se você nem vem me ver?
Jada olhou de lado para o telefone antes de levá-lo de volta
ao ouvido.
— Estamos indo pelo caminho da culpa, pelo jeito.
— Está funcionando?
— Sim.
A voz de Vovó se acalmou.
— Então eu não perdi meu toque.
Jada balançou a cabeça. Como se houvesse alguma chance
de isso acontecer. Sua avó era a pessoa mais inteligente e
perspicaz que conhecia. Seus pais e irmã eram todos gênios
certificados e Vovó os deixava comendo poeira.
— Você é demais.
— Obrigada! Você sabe que eu amo um elogio. Já que sei
que você sente o mesmo, aqui está um para você. Eu vejo o seu
potencial.
A gratidão varreu Jada. Sua avó muitas vezes tinha um sexto
sentido para dizer exatamente o que ela precisava ouvir.
— Obrigada, Vovó.
— De nada — disse Vovó. — Lembra-se do que
conversamos antes de você ir ao show?
À menção indireta de seu fundo fiduciário, o coração de
Jada gaguejou. Ela sempre contou com esse dinheiro para agir
como sua rede de segurança se seus pais alguma vez seguissem
com sua ameaça de deserdá-la se não “crescesse” e se juntasse a
seus negócios. Eles perguntaram mais uma vez depois que o
final foi ao ar. Ela recusou a oferta porque a) trabalhar para seus
pais parecia o inferno na terra e b) ela sabia que sempre poderia
pedir a Vovó acesso antecipado ao seu fundo fiduciário se
chegasse a isso. Eles informaram que no primeiro dia do mês, a
apenas dez dias, encerrariam suas contas de cartão de crédito e
não pagariam mais suas contas.
Ela deveria assumir o controle de seu fundo fiduciário aos
26 anos, mas apenas se sua avó a considerasse pronta. Ela tinha
planejado perguntar se poderia recebê-lo mais cedo, mas
agora... Ela engoliu em seco.
— Sim.
Vovó suspirou.
— Eu quero que você veja o potencial dentro de si. Você é
inteligente.
Sua avó foi a única pessoa a dizer isso. Jada estava
acostumada a ser descrita como divertida. Imprevisível,
também. Mas inteligente? Não.
— Obrigada.
— Já pensou nos próximos passos? — continuou sua avó.
— Sim. — Ela simplesmente não tinha inventado nada. Ela
tinha vinte e cinco anos e não tinha ideia do que queria ser
quando crescesse. Incrível.
A escola tinha sido difícil. Não impossível, mas difícil. A
maioria das pessoas pensaria que ficaria mais fácil quando ela
fosse diagnosticada com dislexia. Seus pais tinham visto isso
como sua falha pessoal. Eles compensaram demais com tutores
e médicos em abundância, o que a ajudou academicamente,
pelo menos.
Mesmo que ela não tivesse dislexia, as chances ainda não
estavam a seu favor de que ela pudesse acompanhar seus geniais
pais e irmã. Ela considerou rapidamente, mas fazer descobertas
científicas como seus pais e sua irmã faziam nunca seria sua
vocação.
Isso não significava que ela não queria agradar seus pais, o
que levou a um infeliz desvio para estudar direito na faculdade.
Eles ficaram perturbados. Ela odiou isso. Ela se formou em
humanas; por pouco, mas fez isso por pura teimosia, se nada
mais.
Seus pais não ficaram satisfeitos. Suas mentes práticas e
científicas não conseguiam se especializar em algo tão “frágil”
quanto humanas. Eles a pressionaram para se juntar à firma de
pesquisa médica. De acordo com eles, ela poderia trabalhar
como recepcionista, e eles contratariam os melhores
professores disponíveis se ela fosse para a pós-graduação e
obtivesse um “grau de verdade”. Ela fugiu para a Europa em vez
disso.
— Então você encontrou um emprego?
A ansiedade na voz de sua avó arrancou Jada de sua viagem
infernal pelas memórias. Ela limpou a garganta.
— Ainda não.
Não tinha sentido mentir para sua avó. Vovó sempre via
através dela. Mas Vovó não sabia o que seus pais tinham feito, e
ela não queria ficar entre sua mãe e sua avó.
— Tudo bem. — Vovó respondeu imediatamente, sempre
apoiando. — Eu não espero que você escolha a carreira dos seus
sonhos, e entendo que não queira trabalhar para mim ou para
seus pais.
O estômago de Jada se agitou com os nervos. Por que ela
sentiu um “mas” chegando?
— Mas você precisa de alguma direção — Vovó continuou.
Algo que iludiu Jada desde a formatura. Enquanto estava na
Europa, depois de viajar um pouco, ela se interessou na carreira
de DJ. Quem não gostava de dançar no clube com música
divertida? Exceto que não era tão glamoroso quanto imaginava.
Horas estranhas. Configurações desconhecidas, às vezes
inseguras. Salário instável e não confiável. Ela desistiu depois de
ser agarrada por muitos donos de clubes suados, desprezíveis e
nojentos que pensavam que ela estava usando o trabalho para
conhecê-los. O último cara tinha recebido uma bela joelhada
nas bolas por seu incômodo. Ele também falou mal dela para
todos os proprietários de todos os clubes notáveis em toda a
Europa.
Depois de suas aventuras no exterior, ela passou os últimos
anos em LA tentando se tornar uma atriz. Todos diziam que
ela era dramática, então por que não explorar seu estado natural
de ser? Infelizmente, querer ser atriz e ganhar a vida com isso
eram duas coisas completamente diferentes. Houve também
seu breve período como assistente de estilista, mas quanto
menos falar sobre isso, melhor.
O reality-show de namoro na TV, Minha Cara Metade, foi
um último esforço para ganhar uma carreira em potencial. No
mínimo, ela pensou que sairia do programa com credenciais
certificadas como influenciadora de mídia social, como muitos
dos concorrentes anteriores do programa. Em vez disso, ela
entrou em pânico e partiu o coração do Dr. John no final da
temporada porque seu intestino estava gritando que algo não
estava certo sobre o relacionamento deles. No processo, ela se
tornou a inimiga número um do público. Você não poderia
influenciar nada se as pessoas que você deveria influenciar a
odiassem.
— Espero que você consiga manter um emprego por um
tempo decente — continuou Vovó. — Se você puder fazer isso
por seis meses até seu aniversário e receber elogios de seu
supervisor, o fundo fiduciário é seu.
Seis meses?
Lá estava. O ultimato que ela estava temendo e evitando.
Jada pressionou a mão trêmula em seu estômago agitado. Se ela
não pudesse manter um emprego por seis meses, Vovó não
hesitaria em seguir com sua decisão de não dar a Jada seu fundo
fiduciário. Ela não era uma boba. Então Jada estaria realmente
sozinha, suas únicas opções eram voltar rastejando de volta para
seus pais ou acabar no sofá de Olivia, o que Olivia aceitaria, mas
Jada não.
Pena que ela nunca tenha encontrado aquela coisa que era
dela. Ela nem sabia se existia. Ela não era tão boa em nada.
Quando pensava sobre isso por muito tempo, aquela voz áspera
dentro de sua cabeça nunca deixava de sussurrar:
— Você é burra, é por isso.
O pânico brotou dentro dela, agarrando cada músculo de
seu corpo em um aperto de punho fechado, cortando sua
capacidade de respirar, mas ela o reprimiu. Por muito pouco.
Ela forçou seus lábios a se moverem.
— Eu entendo.
— Excelente. — A voz de Vovó se suavizou. — Eu não estou
fazendo isso para puni-la. Eu quero o melhor para você.
Jada fechou os olhos com força.
— Eu sei. — O ultimato soou maldoso, mas Jada entendeu.
Vovó acreditava nela. Ela simplesmente não entendia a pressão
que, involuntariamente, colocava em sua neta.
— Conversaremos amanhã. Espero que você tenha um
plano. Se não tiver, um lhe será fornecido. Vejo você às 10 da
manhã, no meu escritório.
Isso não foi um pedido.
O aperto de Jada no telefone aumentou. Ela precisava de
uma âncora, qualquer âncora, mesmo que fosse pequena.
— É claro. Mal posso esperar para vê-la.
— Humm. Você tem um jeito engraçado de mostrar isso. —
Essa era Vovó. Mostre amor, mas não tome merda nenhuma.
— Eu te amo, Vovó. Estarei lá pela manhã. — Jada desligou
e pressionou as palmas das mãos trêmulas contra as pálpebras.
Ela tinha menos de vinte e quatro horas para elaborar um
plano de vida que satisfizesse a pessoa que ela mais queria deixar
orgulhosa e evitar ficar sem um tostão. Nada demais.
Desmoronando contra as almofadas do sofá, ela soltou um
suspiro alto e tempestuoso. Oh, Deus. Onde estava um
cupcake para encher a cara quando ela mais precisava?
Um lento bater de palmas sinistro saudou Donovan no
momento em que ele entrou pela porta da frente da Sugar Blitz
na manhã seguinte. Ah, merda.
— Vocês podem parar com essa merda a qualquer momento
— ele disse para seus dois melhores amigos/parceiros de
negócios.
Felizmente eles pararam, mas seus sorrisos gêmeos
permaneceram.
— Bem, bem, se não é o embaixador da boa vontade do
cliente — disse Nicholas Connors.
Donovan olhou para o homem que ele conhecia nos
últimos sete anos. Eles se conheceram oficialmente quando o
figurão apareceu correndo de volta para o campo de
treinamento, com a certeza de que ele iria passar por cima da
liga – até que Donovan o derrubou durante sua primeira jogada
no treino.
— Bom dia para você também.
Nicholas abriu as mãos e riu.
— Ei, estou apenas repetindo o que ouvi. E o que eu ouvi
foi ma-ra-vi-lho-so!
— Eu imagino. — Donovan transferiu seu olhar para Ella,
que ficou absorta em encher os porta-guardanapos no balcão
da frente. Ele se virou para o outro membro do triunvirato de
melhores amigos. — Você tem alguma coisa para acrescentar?
August Hodges balançou a cabeça.
— Não, cara.
Donovan não ficou surpreso. August era um homem de
poucas palavras que realmente acreditava e vivia o ditado de
que as ações falavam mais alto que as palavras. Não havia mais
ninguém que Donovan preferiria ter vigiando suas costas.
August foi o zagueiro do time, aquele que entrou de cabeça
depois que a bola foi travada para bloquear os running backs2.
Ele passou por algumas merdas, mas ainda estava de pé e ia
trabalhar duro todos os dias, primeiro pela a equipe e agora pela
loja de cupcakes.
Eles se conheceram como jogadores de futebol americano
calouros da faculdade, ambos ansiosos para provar que
pertenciam, e imediatamente se uniram. Durante esses
primeiros dias, Donovan tinha sido um jogador de linha
ofensiva responsável pelo bloqueio de zagueiros como August,
antes que os treinadores percebessem que seus talentos seriam
2
Durante uma saída, o running back fica ao lado ou atrás do quarterback e
ele tem por função ganhar jardas terrestres, empurrando os rivais ou driblando os
jogadores de defesa com a bola na mão.
mais bem servidos do outro lado da bola. Então, quatro anos
depois, ambos foram convocados pelos Knights.
— Ele pode não ter nada a dizer, mas definitivamente tem
algo a fazer. — Nicholas estendeu a palma da mão para August.
Donovan sabia o que isso significava. Eles fizeram uma
aposta estúpida. Ele sabia porque participava da prática
regularmente com esses dois. Isso não significava que gostava
quando ele era o assunto de uma aposta.
— Em que diabos vocês dois apostaram?
— Se você apareceria em seu dia de folga — Nicholas
respondeu, alegria infundindo cada palavra. Donovan revirou
os olhos enquanto August pegava uma carteira de couro preta
do bolso de trás, tirava uma nota de vinte e a colocava na mão
de Nicholas.
Com o assunto resolvido, August voltou sua atenção para
Donovan.
— Nós podemos lidar com as coisas — disse, sua voz cheia
de sua habitual rouquidão, como se ele não estivesse
acostumado a falar. Uma descrição precisa, realmente.
— Eu sei — disse Donovan. E quis dizer isso. — Eu só
planejei parar por alguns minutos para informá-los sobre o que
aconteceu ontem, mas obviamente alguém me venceu. —
August teve o dia de folga e Nicholas já tinha saído depois de
passar a manhã assando antes do incidente. — Vou ver a Sra. T
e obter alguns conselhos sobre como podemos aumentar as
vendas.
— Então você não vai tirar o dia de folga. — Nicholas
suspirou seu desgosto. Não que ele não fosse um trabalhador.
Ele foi o melhor running back da liga. O talento por si só não o
levou até lá.
Quando Nicholas foi convocado por San Diego um ano
depois de Donovan e August, ele grudou ao lado de August,
querendo construir um relacionamento com o homem que
tornaria sua vida mais fácil no campo de futebol americano. O
que significava que ele estava lá sempre que Donovan se virava.
Donovan acabou gostando dele quando viu seu compromisso
com a equipe e dedicação à sua família e comunidade. Agora,
ele não conseguia imaginar a vida sem o homem que outros
apelidaram de “Garotão Nick”.
— Prometemos um ao outro que tiraríamos um dia por
semana para nós mesmos — acrescentou Nicholas.
Com sua pele macia e escura, mandíbula afiada, olhos
cinzentos e um sorriso sempre presente, Nicholas parecia um
maldito modelo da GQ3, mesmo vestido com a polo padrão
Sugar Blitz e calça cáqui. Havia uma razão para que o fizessem
trabalhar no balcão quando não estava assando. August era
mais atarracado, alguns centímetros mais alto que o metro e
setenta de Nicholas. August não dava a mínima para perseguir
os holofotes ou os recordes, deixando isso para seus parceiros
3
GQ é uma revista masculina mensal americana com foco em moda, estilo e
cultura para homens, através de artigos sobre comida, filmes, fitness, sexo,
música, viagens, esportes, tecnologia e livros.
de negócios. Jeans e uma camiseta de décadas com seus dreads
pretos puxados para trás em um rabo de cavalo baixo e uma
barba perfeitamente aparada que cobria a pele de mogno em
seu rosto era seu visual preferido quando não estava jogando
futebol americano.
Ambos cruzaram os braços, unidos em sua exasperação com
Donovan.
Ele se recusou a se sentir culpado. Não haveria descanso para
ele até que a loja voltasse a ter lucro consistentemente, e eles
pudessem pagar um gerente em tempo integral e mais
funcionários de meio período. Ontem, depois que a Crítica de
Loja de Cupcakes saiu, ele voltou para seu escritório e
examinou os números de vendas um pouco mais. Talvez se
encarasse por tempo suficiente, eles mudariam. Ou talvez ele
desenvolvesse alguns poderes mágicos para fazer isso acontecer.
Por que diabos não?
Quando percebeu que havia se aventurado em território
alucinógeno, ocorreu-lhe que conhecia alguém que sabia fazer
magia. Que transformara uma equipe insatisfatória em uma
grande história de sucesso. Ele fez uma ligação.
— Olha. É apenas uma reunião. Então eu vou descansar.
As sobrancelhas de Nicholas se ergueram.
— Você quer dizer ir malhar por duas horas?
Droga, por que seus amigos o conheciam tão bem? Sua
coluna endureceu.
— Ter uma loja de cupcakes não é…
— …desculpa para não ficar em forma para o futebol
americano — seus melhores amigos terminaram para ele.
Ele lhes deu a única resposta apropriada. Ele deu-lhes o dedo
do meio.
— Maduro — Nicholas entoou. — Mas chega disso. Conte-
me sobre essa cliente misteriosa. Eu quero ouvir a sujeira direto
da sua boca.
Donovan o encarou. Nicholas permaneceu imperturbável.
Donovan suspirou. Por que seu olhar não funcionava em seu
melhor amigo? Ou na Crítica de Loja de Cupcakes?
— Tudo bem. Certo. Ela estava falando merda sobre a loja
e disse que nossos cupcakes eram sem graça. Eu não estava com
vontade de ouvir, então ofereci um cupcake. Fim da história.
Nicholas balançou nos calcanhares.
— Uau. Eu quero conhecer a mulher que o fez esquecer de
ser educado o tempo todo.
O queixo de Donovan levantou.
— Fui educado.
Um bufo alto soou atrás de Donovan.
Donovan virou-se para o balcão. Ella limpou a garganta,
apontando para o rosto dela.
— Desculpe. Meu nariz. Alergias. Deve haver algum pólen
no ar.
Donovan a encarou.
— Não há alguns pratos que precisam ser lavados? Algum
inventário que precisa ser feito?
— Sim. Para já, chefe. — Ela disse isso com uma risadinha,
nem um pouco intimidada. Era o que acontecia quando você
contratava crianças de quem cuidava quando era um
adolescente com a cara cheia de espinhas. Sem respeito. Ela
virou a esquina e lentamente, muito lentamente, dirigiu-se para
a parte de trás do edifício.
— Alguma chance da cliente misteriosa fazer uma visita de
retorno? — Nicholas perguntou, claramente não interessado
em ser dissuadido de sua missão de colher fofocas.
— De jeito nenhum. — Ele ignorou a pontada de decepção
que o varreu, assim como ontem, quando ela saiu da loja.
— Que pena — disse August. Donovan lançou-lhe um
olhar. Agora ele escolhia falar?
Nicholas balançou a cabeça.
— Cara, eu sinto muito por ter perdido o show.
Donovan não sentia. Não havia sido o seu melhor
momento. Mais testemunhas só teriam piorado.
— Ela era bonita pelo menos? — Nicholas pressionou.
Uma visão cristalina de deslumbrantes olhos castanhos
chocolate e lábios vermelhos perfeitos encheram sua mente.
Donovan ergueu as mãos.
— Cara, eu não sei!
— Sim, ela era — Ella gritou por cima do ombro. Ela chegou
até o escritório de Donovan no final do corredor, o que queria
dizer, não muito longe.
— Algo deve estar errado com você se não notou um
rostinho bonito. — Uma luz pensativa penetrou nos olhos de
Nicholas. — Talvez você tenha notado.
— Mas você não gostou de notar — disse August.
— Sim, parece ser isso — disse Nicholas. — O que torna a
situação ainda mais interessante. — Ele e August assentiram em
uníssono.
Donovan beliscou a ponta do nariz. Droga, ele precisava de
novos amigos. Hoje. Agora mesmo. Seu telefone tocou com o
tom familiar de lembrete de compromisso. Graças a Deus.
— Por mais que eu adorasse ficar e continuar essa conversa
fascinante, eu tenho um lugar para estar. Vejo vocês, idiotas,
mais tarde.
Ele caminhou em direção à porta.
— Covarde — Nicholas gritou atrás dele. Donovan
continuou andando, fuzilando seus amigos por cima do ombro
enquanto saía. Ele contornou o prédio até o estacionamento e
entrou em sua Mercedes SUV preta.
Sim, ele se envolveu em um comportamento não-muito-
Donovan ontem, discutindo com a Crítica de Loja de
Cupcakes, então pensando nela em momentos aleatórios desde
então. Mas ele voltou a si. Era hora de procurar o conselho de
alguém em quem confiava implicitamente.
Alguns poderiam questionar sua lealdade à dona da equipe.
O futebol americano era um esporte brutal com uma economia
brutal. Essa economia raramente, ou nunca, funcionava a favor
dos jogadores. Sim, eles eram bem pagos, mas não tão bem
quanto os atletas de outros esportes. Pior, porém, seus
contratos não eram totalmente garantidos. Mas a Sra. T sempre
foi direta com ele. Ela disse o que quis dizer e quis dizer o que
disse.
Seu falecido marido havia comprado a equipe vinte anos
atrás, e cinco anos depois que ele faleceu, ela não vendeu a
equipe como todos os especialistas esperavam que fizesse. Hoje,
os Knights eram uma das franquias de maior sucesso da liga e
valiam mais de três bilhões de dólares.
Em outras palavras, não havia mais ninguém de quem ele
preferisse receber conselhos. Se alguém sabia como vencer as
probabilidades, era ela.
Vinte minutos depois, ele cumprimentou a pequena mulher
com um abraço. Ela sempre cheirava a perfume caro. Ela não se
importava nem um pouco que seus funcionários mais famosos
se elevassem sobre ela e a superassem em média em 58 quilos.
Ele deu um passo para trás. Ela usava seu cabelo grisalho em seu
costumeiro coque de negócios, junto com um elegante vestido
preto de grife.
— Como você está, Sra. T?
— Estou fabulosa como sempre, Donovan. — Ela
gesticulou para que ele a seguisse até seu escritório, que dava
para o campo de treino nas instalações de treinamento de
última geração da equipe. “Posso avaliar os jogadores e
treinadores enquanto faço outros trabalhos ao mesmo tempo”,
gostava de dizer.
O escritório era na verdade uma suíte. Sim, tinha a área de
trabalho pré-requisito de mesa e cadeira, mas também abrigava
uma área de estar separada com sofá, várias poltronas e frigobar.
Uma enorme TV dominava uma parede acima de uma lareira,
enquanto prateleiras abarrotadas de livros se alinhavam na
parede oposta. Fotos de sua família pontilhavam a sala, junto
com recordações de Knights. Ele viu um capacete que havia
assinado em sua noite de alistamento na lareira.
— Posso pegar um café para você? — ela gesticulou para o
bar. — Ou talvez algo mais forte?
Ele achou que deveria se abster de apontar que eram nove e
meia da manhã.
— Obrigado por perguntar, mas estou bem.
— Fique à vontade. — Ela pegou uma caneca de cerâmica
preta estampada com HBIC em vermelho de um lado e o
logotipo do escudo prateado dos Knights do outro. Donovan
optou por não se preocupar com o que mais enchia a xícara
além de café. Ela gesticulou para ele sentar em uma poltrona
enquanto ela se sentava em frente a ele. Ela cruzou as pernas e
se inclinou para ele. — Como vai?
Donovan esfregou a nuca.
— Tenho algumas coisas em mente.
— Tem certeza de que não quer algo do meu estoque? —
ela perguntou com um sorriso, e acenou em direção ao bar. —
Só forneço o melhor.
Ele suspirou.
— É tentador.
Uma expressão preocupada substituiu seu sorriso.
— Tem certeza de que deveria estar aqui sem seu agente? Ele
teria sua pele se pensasse que você está negociando uma
extensão de contrato sem ele.
Donovan riu.
— Eu posso lidar com Adam. Mas, não, não é por isso que
estou aqui. Não é relacionado ao futebol americano. Mas nós
dois estamos ansiosos pela oferta da equipe. — Ele tinha mais
um ano de contrato. As negociações de extensão do contrato já
haviam começado entre o agente de Donovan e a equipe, mas
nada era iminente. Era assim que as negociações de contrato
eram formadas. Ele já estava acostumado com isso. Ou tão bem
com isso quanto um jogador poderia estar.
Este pode ser seu último contrato, certamente o último com
garantia de um grande pagamento, já que ele era um jogador
“envelhecido” aos trinta. A NFL era selvagem assim.
— Eu tenho certeza que está. — Ela se recostou na almofada
e o estudou. — Então o que o incomoda?
Ele suspirou.
— É sobre a Sugar Blitz.
Ela assentiu, familiarizada com seu último
empreendimento.
— Certo. O que há?
Ele explicou rapidamente a queda nas vendas da confeitaria.
Ela assentiu, tomando seu café enquanto ele derramava suas
entranhas. Quando terminou, ele soltou um suspiro.
— Talvez eu queira aquele café. — Ele se levantou e
atravessou a sala para servir uma xícara. Enquanto fazia a
viagem de volta, ele rezou para que ela tivesse algumas palavras
de sabedoria durante o atraso.
— Lamento que você não tenha tido o sucesso que esperava.
Eu sei o quanto você trabalha duro, então essa não é a causa do
problema. — Ela ficou em silêncio por alguns segundos. —
Quando assumi a equipe, rapidamente percebi que não podia
descansar sobre os louros do meu marido. Tive que colocar
minha marca no time e impressionar a liga, que não estavam
interessados em ter uma mulher, uma mulher negra,
comandando uma de suas preciosas franquias.
“Eu me perguntei: ‘O que eu trago para a mesa? Como
posso fazer este time se destacar… para os torcedores e para os
jogadores que procuram um novo time para jogar?’. A resposta
veio a mim imediatamente. Minhas habilidades de escuta são
de primeira qualidade. Ouvi jogadores, treinadores, torcedores,
dirigentes da liga. Qualquer um que tivesse uma opinião sobre
como melhorar a equipe. Eu fui a partir daí.”
Donovan assentiu.
— Eu pensei que tinha percebido isso. Nossos cupcakes são
os melhores da cidade.
Seus lábios se abriram em um sorriso.
— Eu sei. É por isso que tenho um pedido semanal padrão
para a equipe do escritório principal.
— E é muito apreciado. — Ele sorriu pelo que parecia ser a
primeira vez desde... bem, desde que uma certa Crítica de Loja
de Cupcakes visitou sua loja.
A Sra. T tomou outro gole de café.
— Mas não podem ser apenas os cupcakes. As pessoas
adoram cupcakes, mas existem muitas empresas que os
fornecem. O que faz as pessoas quererem voltar à sua loja?
Ele sempre apreciou sua honestidade. Tinha sido por isso
que procurou a opinião dela. Ela não ia dizer a ele o que achava
que ele queria ouvir. Ele assentiu.
— Eu não sei, mas vou descobrir. Farei o que for preciso
para tornar a Sugar Blitz um sucesso.
Ela estudou seu rosto, então assentiu.
— Eu acredito que você vai. — Ela fez uma pausa, sua
cabeça inclinada para o lado em contemplação. Ela falou
devagar. — Sim, eu acredito que vai. — Ela voltou a se
concentrar nele, sua expressão agora afiada e determinada. —
Eu tenho um favor para pedir.
O que ela estava tramando? Donovan colocou a caneca de
lado, concedendo-se um precioso segundo para responder,
então deu a única resposta que fazia algum sentido.
— Qualquer coisa que você precise.
Ela assentiu como se seu consentimento sempre tivesse sido
garantido.
— Você tem a cabeça no lugar. Você percebe que o futebol
americano não dura para sempre. Você está focado. Admiro
sua inteligência. Sempre admirei. Você sabe disso.
Ele sentiu que havia mais em sua lisonja do que, bem,
lisonja.
— Obrigado, Sra. T.
A Sra. T colocou sua caneca na mesa ao lado de sua cadeira.
— Minha neta voltou recentemente para a cidade. Ela lutou
para encontrar seu lugar no mundo, e eu realmente acredito
que ela poderia se beneficiar aprendendo com um
empreendedor. Um empreendedor como você.
A tensão derreteu de seus ombros. Esse era o favor? Um
trabalho para sua neta?
— Ela não quer trabalhar para a equipe?
Os lábios da Sra. T se curvaram.
— Isso vem com seu próprio conjunto de expectativas e
pressões que não precisa agora, e não, ela não quer trabalhar
para a equipe. Por mais louco que pareça, ela não é muito de
esportes. Nem a sua mãe, na verdade. Isso me mata, mas
acontece. Acho que ela aprenderia muito com você.
Ele sorriu.
— Ficaríamos felizes em tê-la na Sugar Blitz.
Que mal poderia fazer? Eles sempre poderiam usar um par
extra de mãos na loja. E ei, ceder nesse assunto poderia ajudar
nas próximas negociações de contrato. Nada de errado com um
pouco de quid pro quo4.
Ela juntou as mãos.
— Maravilhoso. Eu vou pagar o salário dela, é claro.
A voz de Donovan ficou tensa.
— Eu posso pagar meus funcionários. — Sugar Blitz podia
não ser capaz de pagar um gerente com seus lucros atuais, mas
ele poderia e pagaria qualquer funcionário de meio período –
do próprio bolso, se chegasse a isso.
Ela assentiu.
— Orgulho e teimosia. Qualidades que eu entendo muito
bem. Não quis ofender, mas sei que estou lhe impondo uma
nova funcionária.
Ele balançou sua cabeça.
— Você não está impondo ninguém em mim.
— Obrigada, mas me desculpe mesmo assim. — Seu pedido
de desculpas foi genuíno. Ela era genuína. Foi por isso que ele a
procurou.
Ele sorriu.
— Desculpas aceitas. Mas estarei pagando à ela.
Ela riu, dando-lhe um tapinha no braço.
— Você é um bom homem, Donovan.
4
Quid pro quo: Tomar uma coisa pela outra.
Uma batida forte soou na porta.
Seus olhos brilharam.
— Deve ser ela. Entre — gritou ela.
Donovan se levantou ao lado dela quando Stacey, a
assistente de longa data da Sra. T, entrou. Alguém,
presumivelmente a neta mencionada, estava atrás dela, mas
Stacey bloqueou a visão de Donovan. A neta não era mais alta
que a avó, parecia.
— Sra. T, Jada está aqui — Stacey disse. — Na hora certa —
ela acrescentou, em um sussurro fingido.
— Eu posso ouvi-la, sabe — Jada disse secamente.
Donovan congelou. Aquela voz…
— Desculpe. — Stacey deu um passo para o lado, dando a
Donovan sua primeira visão clara de sua mais nova funcionária.
Que, por acaso, tinha lábios e olhos perfeitos da cor de lascas de
chocolate amargo.
Sua boca caiu aberta. Assim como a da neta.
— Você! — gritaram em uníssono.
Uma onda de vergonha consumiu Jada por inteira. Afinal, ele
sabia quem ela era? Ou ele descobriu de alguma forma e veio
aqui para chantagear a avó dela ou algo assim?
— Vocês se conhecem? — Vovó perguntou, um brilho
confuso, mas interessado, piscando em seus olhos.
Não havia como ela reviver o fiasco de ontem com sua avó
com a causa do dito fiasco ali mesmo, emitindo suas vibrações
severas. Em sua vasta experiência, os vice-diretores tentavam ser
seus amigos, enquanto os diretores eram os disciplinadores.
Não era como se ela pudesse ignorá-lo, no entanto. O escritório
de Vovó era grande e espaçoso, mas ele ainda ocupava muito
espaço. Os olhos dela foram atraídos para ele, assim como os
dele, aparentemente.
Vovó limpou a garganta, obviamente não interessada em ser
ignorada.
— Não! — Jada respondeu rapidamente.
— Sim! — disse o cara ao mesmo tempo.
Jada tentou não se contorcer quando Vovó deixou aquelas
respostas permanecerem no ar por alguns segundos.
— Entendo — ela finalmente disse. — Ou talvez, não. Há
algo acontecendo aqui que eu deva saber?
— Não. — Jada deu a sua avó o melhor sorriso de “sou
inocente, não há nada acontecendo aqui” que ela conseguiu.
Todas aquelas aulas de atuação profissional teriam que valer a
pena em algum momento, certo?
— Tem certeza? — Vovó levantou uma sobrancelha
enquanto cruzava os braços e se inclinava contra a mesa.
Nada bom. Vovó era uma mulher inteligente e poderia e
começaria a fazer perguntas realmente excelentes a qualquer
momento.
Essa crise precisava ser evitada mais do que saltos de gatinho.
Pense, Jada, pense.
— O que eu quis dizer é que não, nós não nos conhecemos,
mas nos encontramos brevemente ontem quando entrei
naquela loja de cupcakes perto do estádio. Uma coincidência
tão engraçada.
Ela até terminou com uma leve risada. Ela ignorou o leve
bufo do cara. Qual era o nome dele, afinal? Quem era ele?
— Sugar Blitz. — Vovó juntou as mãos, os olhos
arregalados. — Isso é incrível!
— Não, é? — Sua avó tinha ouvido falar da confeitaria, o
que era bom. O que não estava bem? A empolgação da avó por
Jada ter ouvido falar da confeitaria. E por que o Senhor
Chatonildo parecia confortável demais no escritório da Vovó?
O olhar dela se voltou para ele mais uma vez. Os ombros
maciços ainda eram enormes. As coxas grossas ainda eram
espessas. Seus jeans e Henley não faziam nada para esconder
esses fatos irrefutáveis.
Uma sensação de afundamento ecoou em seu estômago. Ele
não era enorme só porque era grande. Ele era grande porque...
— Donovan joga para os Knights, querida, então, sim —
Vovó disse. — Você saberia disso se você se interessasse pela
equipe, que faz parte do seu legado.
Sim, adicione isso à sua lista de falhas. Ela não se importou
muito sobre futebol americano e sentia pouca ou nenhuma
vergonha por esse fato, mas agir desatentamente era uma
questão totalmente diferente. Oh, Deus. Jada Espontânea
atacou novamente. O ronco em seu estômago aumentou de
agitação.
— Oh.
— A propósito, também sou dono da Sugar Blitz —
acrescentou Donovan.
Sim, ela descobriu isso também. Insulte os cupcakes do
homem, insulte o homem. Ela estava rebatendo mil jogadores
ou marcando um touchdown da vitória, usando a linguagem
do futebol americano. Mas ele ainda tinha aquele olhar de
desaprovação no rosto, então ela não se sentiu 100% mal… mas
como uns 90%. A cara fechada dele se aprofundou enquanto o
olhar dela se prolongava. Ok, isso faz com que se torne uns 85%.
Sua mandíbula se moveu de um lado para o outro antes de
falar, o profundo timbre de sua voz enchendo o ar.
— Você foi à loja em algum tipo de missão de
reconhecimento? Observar o terreno?
A boca de Jada se abriu.
— O quê? Não! Por que eu faria isso? — Adicione
arrogância à sua lista de falhas.
Seus lábios torceram e se tornaram um sorriso de auto-
satisfação.
Jada engoliu um rosnado. Por muito pouco. Ele estava
brincando com ela. Tentando tirar uma onda com ela. E
caramba, estava funcionando, e ele sabia disso.
— Estou tão feliz que você esteve lá. Você gostou do
cupcake, presumo? — Vovó interveio.
Ótimo.
Agora o Senhor Chatonildo – não, Donovan – a estudava
com interesse simples. Ela não poderia ser “indecente”
novamente porque isso só despertaria o interesse de Vovó, e ele
sabia disso. Era muito cedo para declarar Donovan seu
inimigo? Ela o conhecia há menos de vinte e quatro horas,
afinal.
Ignore-o. Jada virou-se para a avó.
— Eu gostei deles.
— Oh, sério? — ele se maravilhou atrás dela.
Os olhos dela o funilaram. Ele estava rindo dela. Os dentes
de Jada cerraram. Não, não era muito cedo para declará-lo seu
inimigo jurado. Era a hora certa, na verdade.
— Estou tão feliz em ouvir isso porque tive uma ideia
incrivelmente maravilhosa. — Vovó sorriu, claramente sem
noção das correntes ocultas de antipatia que fluíam em seu
escritório.
— O que é? — Jada conseguiu forçar com a garganta seca.
Seu estômago ainda estava pesado. Vovó parecia muito
satisfeita consigo mesma. Onde estava uma garrafa de Pepto-
Bismol extra forte quando ela precisava?
— Donovan concordou em deixá-la trabalhar na Sugar
Blitz pelos próximos seis meses. — Bem quando ela faria vinte
e seis anos. Vovó tinha pensado em tudo.
A montanha-russa de seu estômago mergulhou direto até os
joelhos. Jada piscou.
— Me desculpe. O quê?
— Você me ouviu. Não foi legal da parte dele?
A calma estava fora de questão no momento, mas ela
agarrou-a de qualquer maneira, mesmo quando a sentiu
escorregar por entre os dedos como grãos de areia.
— Vovó, você não pode pedir a ele para fazer isso.
— Por que não? Você precisa de um emprego. Ele tem um
emprego. — O Furacão-Vovó havia atacado novamente com
sua lógica infalível.
Jada gaguejou.
— Po-porque…
— Se ela não quiser fazer isso, eu certamente não quero
forçá-la — Donovan disse, todo superior falando com os pais
de um aluno medíocre. E assim, Jada abriu a sua boca para
exclamar a sua preocupação ao aceitar um trabalho com o
grande Donovan. Ela parou antes do último momento. Apenas
um pequeno meep escapou.
— Vovó, realmente, eu não acho que isso seja… — Sua voz
sumiu quando os olhos de Vovó se estreitaram.
— Humm — disse sua avó. — Donovan, você se importa se
eu falar com minha neta a sós? Entraremos em contato ainda
hoje sobre o emprego.
O olhar de Donovan encontrou o de Jada brevemente antes
de assentir.
— Claro, Sra. T. Estou ansioso para trabalhar com você,
Jada.
A maneira como ele disse o nome dela, com uma pitada de
zombaria no sotaque suave, a fez querer esmagá-lo com sua
boca inteligente. Mas ela não era uma pessoa violenta, ou assim
sempre acreditou. Ela forçou seus lábios em uma réplica de um
sorriso em vez disso.
— Tenha um bom dia.
Isso era o melhor que podia fazer. De jeito nenhum ela
poderia dizer que estava ansiosa para trabalhar com ele. Porque
não ia acontecer.
Ele assentiu mais uma vez, então partiu.
— Você gostaria de me dizer o que está acontecendo com
você e um dos meus jogadores favoritos? — Vovó perguntou
assim que a porta se fechou suavemente atrás de Donovan.
Porra, Vovó nunca perdia nada.
— Nada, Vovó. Como eu disse, ontem entrei na loja dele e
comprei um cupcake. Só isso.
Vovó não parecia convencida.
— O que você achou do cupcake?
— Como eu disse, era bom.
— Então você não deve ter nenhum problema em trabalhar
lá.
Jada ergueu as mãos.
— Oh, meu Deus, Vovó, o que você disse a ele? Ele deve
achar que sou patética se preciso que minha avó me ajude a
encontrar um emprego. — Uma nova expressão de angústia a
atingiu em cheio no rosto.
Vovó ergueu o queixo, o único sinal de que ela poderia ter
considerado ter ultrapassado os limites.
— Ele não pensa tal coisa. Eu simplesmente disse que você
estava procurando um emprego e achei que poderia aprender
muito com ele.
— E o que ele disse quando você ofereceu essa proposta?
— Ele disse que adoraria contratá-la.
— Porque ele não tinha outra escolha. Você assina os
cheques dele. — Jada gemeu.
— Seja como for, ele é um homem muito bom. — Jada se
conteve antes que um bufo escapasse. — Mais importante, ele
reconhece o quão breve uma carreira no futebol americano
profissional pode ser e se preparou muito bem para continuar
a ter sucesso depois que sua carreira de jogador terminar. Eu
não estava errada. Você pode aprender muito com ele.
Os ombros de Jada caíram com a lembrança de sua falta de
objetivo, embora Vovó não quisesse que fosse um desrespeito.
— Eu disse que poderia encontrar um emprego sozinha.
As sobrancelhas de Vovó se ergueram.
— E você encontrou?
Jada desviou o olhar.
— Não. Mas nós conversamos ontem à noite!
— Eu sei, querida. Não estou fazendo isso para puni-la. Na
verdade, acho que pode ser divertido. É uma loja de cupcakes.
Isso deveria ser… qual é essa palavra que vocês jovens gostam?
Oh, sim. Top.
Jada gemeu.
— Vovó, por favor, nunca use essa palavra novamente.
Vovó deu de ombros.
— Por que não? Eu possuo um time de futebol americano.
Tenho que ser capaz de me comunicar com meus jogadores.
— Vovó…
— Esta é minha oferta final. É hora de você se aplicar. Hora
de manter algo por mais de um mês.
Jada sabia disso. Sabia disso antes de ir para Minha Cara
Metade. Isso não significava que ela queria trabalhar com ele.
Mas não podia expressar sua opinião sem levantar suspeitas.
Então ela falou a sua próxima melhor opção. Fatos.
— Eu não cozinho. Eu não sei cozinhar.
— Felizmente, você estará assando cupcakes. Tenho certeza
de que Donovan ficará mais do que feliz em dar algumas dicas.
Não, essa era a última coisa que ela queria ou precisava.
Passar mais tempo do que o necessário com o Senhor...
— Vovó, qual é o sobrenome de Donovan?
Vovó suspirou em claro desespero sobre a falta de
conhecimento de sua neta sobre o trabalho de sua vida.
— Dell. Seu nome é Donovan Dell. Ele é apenas um dos
melhores laterais defensivos da liga de futebol americano.
O que quer que isso significasse. Ela tinha um nome
completo agora. Donovan Dell. Ela rolou o nome em sua
cabeça. Um nome forte para um homem com a mentalidade e
um físico forte. Não que isso fosse importante.
— Tenho certeza de que o Sr. Dell tem coisas mais
importantes a fazer do que cuidar de mim.
— Você vai trabalhar no negócio dele. Tenho certeza que
vai ficar tudo bem.
Vovó tinha uma resposta para tudo. Agora Jada estava
desesperada. Ela estava recorrendo a qualquer meio de ajuda.
— Por mais verdade que isso seja, Vovó, eu pareço do tipo
que usa polo e, Deus me livre, uma rede no cabelo? Esse não é
realmente o meu estilo. — Ela acenou com a mão para baixo de
sua figura. Uma visita a sua avó não era desculpa para não
parecer fofa. Casual, mas fofa. Um macacão listrado vermelho
e branco combinado com umas sandálias Jimmy Choo fofas.
Ela prendeu o cabelo em um rabo de cavalo alto e elegante e
estava com uma maquiagem natural. Um look perfeito para um
dia ensolarado em San Diego.
Vovó lançou um olhar duro para ela.
— Sei que você gosta de moda, e sempre encorajei esse
interesse, mas me poupe das desculpas fúteis. Eu sei que você é
tudo menos isso.
Os ombros de Jada caíram.
— Eu não tenho sempre os melhores interesses no coração?
Jada assentiu, incapaz de negar essa afirmação. Sua avó
sempre a protegeu.
— O que, realmente, está acontecendo?
— Acho que pensei que poderia descobrir as coisas por
conta própria. — Ela não esperava que Vovó realmente tivesse
um plano antes de Jada pisar em seu escritório. Ela também não
tinha certeza de que sua avó estava falando sério. Ela pensou
que poderia persuadir Vovó a dar-lhe acesso antecipado ao seu
fundo fiduciário. Mas Vovó estava falando sério.
— E você ainda tem tempo. Você tem apenas vinte e cinco
anos. Isto é temporário. Quando seus seis meses terminarem,
terá seu fundo fiduciário e se tornará a capitã de seu próprio
navio. Eu tenho fé em você.
Jada não tinha tanta certeza. Ela raramente teve sucesso ou
ficou com algo por muito tempo. Ela não sabia como essa
situação seria diferente… não trabalhando para aquele homem,
de qualquer maneira. Mas ela queria seu fundo fiduciário. Ela
sufocou mais um gemido. Quem ela estava enganando? Ela
precisava de um emprego agora, esqueça o fundo fiduciário.
Dinheiro era dinheiro, e em menos de duas semanas, ela não
teria nenhum retorno. Ela não podia contar a Vovó o que seus
pais tinham feito. Ela não queria ser a fonte de uma possível rixa
entre sua mãe e sua avó.
O que era um pouco de farinha, redes no cabelo e uma polo
polyblend comparado a tudo isso? Era apenas por alguns
meses. Donovan não podia ser a única pessoa que trabalhava na
Sugar Blitz. Ela sairia, o ignoraria, ganharia dinheiro suficiente
para comprar comida e pagar suas contas, e receberia seu fundo
fiduciário no final de seu trabalho, muito obrigada.
Excelente. Parecia que seu inimigo havia se tornado seu
mentor. Absolutamente ótimo.
∗∗∗
∗∗∗
5
Um s'more é um petisco tradicional para fogueiras noturnas popular nos
Estados Unidos e no Canadá, consistindo de um marshmallow assado no fogo e
uma camada de chocolate entre duas fatias de biscoito graham cracker.
desapareceu antes que Donovan pudesse falar. Seu parceiro de
negócios retornou menos de trinta segundos depois. Ele fechou
a porta atrás de si e se encostou nela, cruzando os braços. Seus
olhos se estreitaram em confusão.
— Hum, quem é aquele lá fora com Ella?
Donovan suspirou.
— Nossa mais nova funcionária.
Nicholas piscou.
— Estamos contratando?
Donovan assentiu.
— Sim, especialmente quando ela é neta da Sra. T.
— Oh, tudo bem. Claro. Acho que seu encontro com a Sra.
T foi bom. — Sua cabeça inclinou para o lado. — Eu só dei
uma olhada rápida nela, e ela é bonita pra caralho.
Donovan ergueu a mão, cuidadosamente ignorando o
clarão de... algo vagamente esverdeado temporariamente
embaçando sua visão.
— Primeiro: não, você não está namorando uma
empregada. Segundo: você com certeza não está namorando a
neta da nossa chefe. — Ele hesitou. — E terceiro: ela também é
a mulher que veio no outro dia, você sabe, aquela que tinha
muito a dizer sobre a loja.
A boca de Nicholas se abriu.
— Nããão. Me diga mais.
Maldito fofoqueiro.
— Não há mais nada a se dizer.
Uma batida forte soou na porta. Nicholas saiu do caminho
quando Donovan disse ao recém-chegado para entrar.
Um segundo depois, August entrou.
— Por que há uma mulher estranha atrás do balcão com a
Ella?
Nicolau fechou a porta.
— Boa hora. Eu estava prestes a obter a novidade.
— Não há novidade — disse Donovan, com os dentes
cerrados.
— Você quer dizer que contratar a mulher que falou merda
sobre a loja não conta como uma novidade? Eu não considero
dessa forma — Nicholas disse.
— Você contratou a mulher que falou merda sobre a loja?
— August entrou na conversa, sua perplexidade era clara.
— Sim — Nicholas disse ansiosamente. — E não temos
permissão para sair com ela porque ele já fez sua reivindicação.
Os dentes de Donovan rangeram.
— Não há reivindicação. Ela é uma mulher adulta que pode
fazer o que quiser. Independentemente disso, vocês precisam
manter suas mãos com vocês mesmo.
Nicholas podia e tinha encantado as calcinhas de inúmeras
mulheres. Sem dúvida, Jada responderia melhor à abordagem
de Nicholas do que a de Donovan. O comportamento brusco,
argumentativo, combativo. O que não era seu estado habitual.
Ele geralmente era completamente lógico e calmo. Não que
importasse qual era o seu estado. Ele não estava interessado
nela. Ela não estava interessada nele, e mesmo que essas
declarações não fossem verdadeiras, eles ainda não
namorariam. Entrar em um relacionamento só o distrairia de
seus objetivos.
— Então ela trabalha aqui agora? — August perguntou,
ainda claramente confuso. — Tem certeza que é uma boa ideia?
— Sim. — Donovan explicou rapidamente a situação,
ignorando a forma como as expressões faciais de seus parceiros
de negócios alternavam entre diversão, confusão, espanto,
compreensão e, no caso de Nicholas, completa animação.
— Não se preocupe. Ela se reportará a mim e eu a treinarei.
Nicholas cutucou August com o cotovelo.
— Te disse. Ele já fez a reivindicação.
Donovan olhou para seu melhor amigo.
— Saia do meu escritório.
Jada ficou atrás enquanto Ella ajudava um cliente. Ela não sabia
mais o que fazer. Ela estava tão fora da sua zona de conforto.
Ella continuou olhando para ela como se fosse um inseto
sob um microscópio, parando sua inspeção sobre Jada somente
quando tinha que ajudar os clientes. Dois homens que ela
assumiu serem parceiros de negócios e companheiros de equipe
de Donovan, com base em seus físicos, deram uma olhada nela
e desapareceram na mesma parte da loja que Donovan tinha ido
antes.
Jada estava apenas tentando ficar fora do caminho. Ela não
queria deixar cair os cupcakes ou acidentalmente entregar o
produto errado a um cliente ou qualquer outra das ilimitadas
tragédias possíveis que passavam por seu cérebro.
Se seu olhar continuava focado no corredor, onde
anteriormente seu chefe tinha fugido como se os cães do
inferno o estivessem perseguindo, bem, isso era simplesmente
porque ele era a única pessoa que ela conhecia aqui. Não era
como se ela tivesse perdendo ou antecipando suas brincadeiras
antagônicas ou algo assim.
Mas o último cliente estava se afastando do balcão
carregando um pedido para viagem, e Ella voltou a olhar para
ela, enrolando uma de suas box braids6, que ficavam na altura
do ombro, em torno de seu dedo. Ela era uma garota bonita,
alguns centímetros mais alta que Jada, com olhos castanhos
curiosos, rosto redondo e de pele marrom-média.
— Há quanto tempo você trabalha aqui? — Jada
perguntou, para acabar com o constrangimento.
— Bem, a loja foi aberta há menos de três meses. Estou aqui
desde o início. Conheço Donovan minha vida inteira. Minha
família morava ao lado da dele em Oakland. Quando me mudei
para cá para fazer faculdade, precisava de um emprego com o
horário flexível, e ele estava precisando de ajuda, então aqui
estou eu. — Seus olhos se arregalaram. — Não se preocupe. Ele
é velho, e é basicamente meu irmão mais velho.
Jada riu. Donovan não parecia ter mais de trinta anos.
Então, a outra parte da resposta de Ella foi processada. Ela
piscou.
— Me preocupar?
— Eu estava aqui naquele dia.
6
As box braids também são conhecidas como “tranças Kanekalon” ou
“tranças sintéticas”. Elas são um estilo de penteado protetor onde o
entrançamento é feito nos fios naturais com a adição de cabelos sintéticos. Braids
se traduz como tranças, e box significa “Caixa”. Então, o nome do penteado se dá
porque as tranças são feitas com o cabelo dividido em mechas “quadradas”, ou
seja, cada trança fica “em uma caixa”.
— Oh. — Por alguma razão, ela teve dificuldade em se
lembrar de qualquer outra coisa além de seu, animado,
encontro com Donovan daquele dia.
— Eu também vi vocês quando entrei hoje — acrescentou
Ella, como se isso explicasse tudo. — Estava meio… quente —
ela continuou, quando Jada olhou para ela sem expressão.
Como responder a isso?
— Humm…
Ella estalou os dedos.
— Agora me lembro de onde te conheço. Isso não saía da
minha cabeça. Eu vi no Instagram. Você é aquela garota
daquele show! — Cada músculo do corpo de Jada congelou. —
Eu não posso acreditar que você fez aquilo — Ella continuou.
— Foi tão legal.
— Foi? — Ninguém havia dito isso a ela. Ela havia recebido
tantos xingamentos online que não lhe ocorrera que alguém
pudesse concordar com sua decisão de recusar a oferta de
casamento.
Ela assentiu.
— Oh, sim. Se você não estava gostando dele, não deveria
ter aceitado a proposta dele, e você não aceitou, e foi foda!
Levou um segundo para o elogio, um elogio real, ser
absorvido.
— Obrigada.
Ella a examinou por um segundo, então assentiu.
— Quer assumir o próximo cliente?
— Hum, com certeza. — Presumiu que Ella quis dar um
desconto para ela. Pela primeira vez naquela manhã, ela
começou a relaxar.
A campainha tocou, e uma mulher possuindo cachos
naturais e de peito estufado, usando uma legging preta e uma
camiseta escrito “Livros são nossos amigos” praticamente pulou
em cima do balcão. Ter tanta energia devia ser exaustivo.
Ella olhou para Jada. A hora dela era agora. Jada respirou
fundo. Ela poderia fazer isso. E ela queria fazer isso. Este era o
seu trabalho, e ela não queria estragar tudo. Além de precisar de
um salário, ela queria provar que podia fazer o que fosse preciso
para deixar sua avó orgulhosa. Ela queria provar a si mesma que
poderia se submeter a algo e ir até o fim com isso. Esta era sua
chance de ser uma Jada melhor. Uma Jada menos impulsiva.
Mais madura. Ela encheu seus pulmões com ar, então falou.
— Bem-vinda a Sugar Blitz. Como posso ajudá-la?
A cliente parou de examinar a vitrine para olhar para cima.
— Oi, eu nunca vi você aqui antes.
Jada sorriu.
— Hoje é meu primeiro dia.
— Eu sou Kendra. Sou dona da academia no final da rua. —
Ela ajustou os óculos de tartaruga no nariz. — Como está sendo
seu primeiro dia?
Jada mudou de um pé para o outro.
— Está indo tudo bem. Estou apenas tentando me adaptar
à loja.
— Bem, Sugar Blitz tem os melhores cupcakes da cidade.
Eu sou uma obcecada por cupcakes. Eu sei tudo sobre essas
coisas. Eu parei por curiosidade logo depois que eles abriram e
tenho feito pelo menos três visitas por semana desde então.
Jada riu.
— Há quanto tempo você é dona da academia?
— Um pouco mais de cinco anos. Você gosta de romance?
— Hum, bem… — Ela não odiava exatamente, mas dado o
estado de sua vida amorosa antes, durante e depois do show,
quanto menos pensasse nesse assunto, melhor. A pergunta foi
uma transição para perguntar sobre o show?
Kendra acenou com a mão.
— Vou tomar isso como um sim. — Ela apontou para sua
camisa de amantes de livros. — Eu administro um clube do
livro de romances mensal, temos uma reunião chegando e
sempre aceitamos novos membros. Novos pontos de vista são
sempre bem-vindos. Então, você vem para a próxima reunião?
Jada piscou com o convite rápido.
— Vou pensar sobre isso.
Kendra pegou um guardanapo do balcão e enfiou a mão na
bolsa, tirando uma caneta. Ela rapidamente rabiscou no papel.
— O livro que estamos lendo este mês se chama No Cowgirl
Left Behind. Eu não espero que você se lembre disso, então
estou anotando. Queremos incentivar a leitura para qualquer
tipo que seja melhor para o leitor, seja a leitura de livro físico, e-
book ou áudio, ou empretados da biblioteca. — Ela deu o
discurso todo sem tomar fôlego.
Jada pegou o papel porque não sabia mais o que fazer.
— Oh, ok.
— Eu também vou levar isso como um sim. — Kendra
piscou. — Foi assim que consegui ter sucesso por cinco anos.
Quero três cupcakes de morango e baunilha e dois de chocolate
com manteiga de amendoim. É o aniversário de um dos meus
funcionários e a manteiga de amendoim com chocolate é um
de seus favoritos. Nós treinamos e depois nos tratamos. — Ela
olhou para Jada com expectativa.
Jada começou.
— Certo. Três morangos e baunilha e dois de chocolate com
manteiga de amendoim a caminho. — Mais cedo, enquanto ela
estava atrás do balcão, ela também estudou Ella atentamente.
Ela pegou uma caixa primeiro, então pegou as sobremesas e as
colocou cuidadosamente na caixa, fechando a embalagem com
um gesto alegre. Kendra pagou com cartão de crédito, um tipo
de pagamento que a caixa registradora facilitavs a aceitação.
Quando o recibo foi impresso sem demora, Jada fez um
pequeno movimento de ombros. Talvez ela não fosse tão ruim
nisso, afinal.
— Perfeito. — Kendra apontou para o guardanapo que Jada
havia colocado de lado. — Vejo você aqui amanhã e na próxima
semana no clube do livro. A localização está um pouco no ar
agora, mas devemos ter um lugar para a reunião em breve. E
“não”, não está no meu vocabulário. — Ela piscou. — Mal
posso esperar para conhecê-la melhor, Jada Townsend-
Matthews. — Ela saiu da loja como um redemoinho.
Jada ficou boquiaberta. Kendra sabia quem ela era. Mas ela
não teve muito tempo para pensar nisso porque mais clientes
entraram. Ella deixou que ela cuidasse de todos eles, e ela
rapidamente entrou no ritmo, os recebendo na loja, anotando
os pedidos, não derrubando cupcakes e recebendo o
pagamento, com Ella lá para ajudá-la quando alguém pedisse
um cupcake especial disponível apenas às quartas-feiras.
Ela gostava de conversar com os clientes, saber como
estavam seus dias e porque eles escolheram os sabores que
escolheram. Se os próximos meses fossem assim, seu fundo
fiduciário seria dela em pouco tempo, dando-lhe a liberdade de
traçar o curso de sua vida com seus próprios termos, sem
interferência de seus entes queridos.
Enquanto ela limpava algumas migalhas do balcão, seus
movimentos pararam. A atmosfera na sala havia mudado.
Tinha se tornado carregado. Elétrico. Exatamente como
quando ela tocou a mão de Donovan mais cedo. Seus olhos se
concentraram no local onde Donovan estava passando,
seguido por outros dois homens. Eles eram um grupo
impressionante, todos grandes, em forma e cada um atraente à
sua maneira, mas ela só tinha olhos para aquele que conheceu.
Ele parou na frente do balcão e olhou para ela.
Ela ergueu uma sobrancelha. Ela não se intimidou, não
podia. Ela era Jada Townsend-Matthews, mesmo que tivesse
dificuldade em descobrir o que isso significava em
determinados dias. Mas ele não sabia disso. Ele foi coagido a tê-
la aqui. Ah, bem. Ela não ia agir desesperada para ter um
emprego, mesmo que ela estivesse. Além disso, não era como se
ele pudesse demiti-la. Sua avó o puniria. Com esse pensamento,
seus lábios se abriram em um sorriso.
Seus ombros enrijeceram, sua coluna se endireitou. Pobre
cara. Se ele não parasse de fazer isso, acabaria congelado naquela
posição, e opa, lá se foi sua carreira no futebol. Seu sorriso se
alargou.
Ele limpou a garganta, sem dúvida esperando que todos na
sala lhe dessem total atenção. Assim como um diretor em uma
reunião escolar.
— Jada, gostaria de apresentá-la aos meus parceiros,
Nicholas Connors e August Hodges.
Ela olhou para eles.
— Deixe-me adivinhar. Vocês jogam pelos Knights
também?
Nicholas se esgueirou até o balcão ao lado de seu
companheiro de equipe.
— Por que você acha isso? Nossa aura? Nossos físicos
poderosos?
Seus olhos cinzas brilharam. Flertar era obviamente seu
estado natural de ser. Ele provavelmente flertava com todas as
mulheres que entravam na loja. E mesmo ele era
definitivamente bonito, ela não sentiu um pingo de atração por
ele. Ele era inofensivo.
Jogar junto não era difícil e era igualmente inofensivo. Ela
inclinou a cabeça para o lado.
— Físicos poderosos? Eu não tinha notado.
Ao lado dela, Ella riu.
— Jada, você é minha nova melhor amiga.
Nicholas revirou os olhos parecendo um adolescente antes
de voltar seu olhar para Jada.
— Ah, uau. Cruel. Enfiou uma adaga no meu coração,
senhorita. — Ele bateu a mão no peito.
Jada riu.
— É a única maneira que eu sei ser.
Ele apoiou um cotovelo no balcão, lançou um rápido olhar
sobre seu ombro para Donovan, então piscou para ela.
— Gosto de você. Você é a mulher dos meus sonhos.
Jada riu, reconhecendo a piada pelo que era. Ela gostava
dele. Ele claramente não era de se levar a sério, e sentia falta de
rir. Quase tinha esquecido como era bom se entregar a isso.
— Acalme-se, Nicholas — disse Donovan, aquela voz severa
do diretor aparecendo. — Você não tem coisas para assar?
Nicholas piscou para ela novamente, claramente não
perturbado por seu parceiro de negócios, e deu um passo para
o lado.
— Acabei de terminar, como você sabe. Eu voltarei daqui a
pouco. Sim, Ella, eu ia lhe dizer que terminei meu último lote
de teste, não que você mereça provar minha última receita
culinária de cupcake. — Ele se virou para Jada com a mão sobre
o coração. — Por favor, prometa que ainda estará aqui quando
eu voltar.
Jada assentiu solenemente.
— Eu prometo.
Enquanto ele partia, o outro homem, que observava
silenciosamente a cena, estendeu a mão.
— Prazer em conhecê-la. Eu sou August. — Sua voz era
rouca e profunda e um pouco hesitante.
Ela apertou a mão dele. Sem surpresa, sua mão grande
engoliu a dela, mas seu aperto foi surpreendentemente suave.
— Prazer em conhecê-lo. Eu sou Jada.
August assentiu uma vez e não disse mais nada.
Obviamente, ele era um homem de poucas palavras, mas tinha
olhos gentis. Curiosos, também, mas a quietude dele trabalhou
ao seu favor, então ela deixou quieto.
Nicholas voltou alguns segundos depois, carregando uma
bandeja de cupcakes. A boca de Jada salivou. Ela podia sentir o
cheiro do marshmallow do outro lado da sala. Seu estômago
roncou quando ele chegou ao balcão, e ela deu uma boa olhada
nas sobremesas.
— Todos sejam gentis — disse Nicholas, torcendo as mãos.
— Estou perto de aperfeiçoar a receita. Estou quase lá, mas
ainda não está perfeito. Eles não contêm glúten, então
podemos oferecê-los a um tipo de clientela mais ampla. — O
cara que gostava de flertar se transformou em um padeiro
nervoso, mas sério. — Jada, como nossa mais nova funcionária,
você pode experimentar primeiro. — Talvez não
completamente sério. Um cara que gostava de flertar sempre
iria flertar.
Para seus olhos destreinados, os cupcakes pareciam
perfeitos. Eles cheiravam incrivelmente bem. Ele entregou-lhe
um, e ela deu uma grande mordida. A combinação perfeita de
chocolate ao leite, biscoitos e marshmallows fofos e doces
explodiu em sua língua. Ela não conseguiu evitar que um
gemido escapasse de sua boca. Ela estava oficialmente
apaixonada.
— Melhor do que decente, eu acho? — Donovan falou
lentamente em seu ouvido. Jada congelou quando um calafrio
traiçoeiro, porém delicioso, percorreu sua espinha, então se
virou para encará-lo. Ele deu a volta no balcão e estava de pé ao
lado dela, o calor de seu corpo entrando no dela.
Ela levantou a cabeça para encontrar seu olhar desafiador.
Ela deu outra mordida deliciosa e engoliu.
— Sim. Eles são ótimos. Você não os fez, não é?
Lá estava sua espinha atrevida novamente. Ela deveria parar
de incomodá-lo. Ele era seu chefe, afinal. Mas ele tornava isso
tão fácil, e era muito divertido. E ela não se divertia muito
ultimamente. Ela merecia um pouco de diversão. E ele que
começou. Desta vez, de qualquer maneira.
Atrás dele, seus co-proprietários riram. Ele olhou para eles
por cima do ombro, então voltou sua atenção para ela.
— Me deixe fazer um tour com você pela loja.
— Você terminou com aquela coisa em seu escritório? —
Ela realmente ia parar. Provavelmente. Ela tentaria.
— Vamos lá. — Ele girou, sem dúvida esperando que ela o
seguisse. Ela fez a única coisa que podia. Ela o seguiu.
E mostrou a língua em sua linha reta, recuando para trás.
Enquanto tentava não notar como sua camisa dobrada
chamava a atenção para a forma como seus ombros largos se
estreitavam em um V atraente. E como suas calças seguravam
uma bunda top de linha.
Jada mordeu o lábio.
Sim. Totalmente despercebido.
∗∗∗
7
Linebacker é um jogador defensivo no futebol americano.
— Relaxe — disse ele.
Ele lia mentes também?
— Eu não vou dar nota para você e enviar um boletim para
sua avó — ele continuou, sua voz rouca e levemente irritada.
Ahh, isso era exatamente o que ela precisava para relaxar. O
reaparecimento do Senhor Chatonildo. A Terra havia
retornado à sua posição correta em seu eixo.
Ele lhe entregou o tablet. Se ela se certificasse de que seus
dedos não se tocassem, bem... tanto faz.
Ela tocou na tela algumas vezes para mudar a fonte para
Comic Sans e aumentar a fonte para dezesseis. Muito melhor.
Ela aprendeu várias maneiras de compensar sua dislexia. Seus
pais tinham garantido isso.
Uma crise evitada. Agora ela tinha que seguir a receita. Isso
foi muito mais aterrorizante. Suas tentativas de pratos ditos
fáceis, como ovos mexidos ou espaguete, sempre acabavam
como uma bagunça líquida, amarelada e intragável ou
macarrão mole em molho queimado – ou seja, um desastre.
Não era culpa dela que seus pais ocupados (e bem, ricos)
tivessem contratado um chef. Não havia necessidade de ela
aprender a cozinhar.
— O que você está fazendo? — ele perguntou.
Jada hesitou, mas não tinha do que se envergonhar. Se ele
agisse como um idiota, isso era com ele.
— Mudando a fonte. Eu tenho dislexia, e certas fontes
ajudam.
Ele assentiu.
— Oh, tudo bem. Se houver alguma modificação que você
precise fazer, é só me avisar.
Foi isso?
— Oh, agora está melhor, mas obrigada pela oferta.
— De nada. Agora, faça tudo o que eu mandar — disse
Donovan. Era isso. Foi um comando mandão, mas ele soou
quase... legal.
Ela deu uma rápida saudação.
— Todos obedeçam o capitão. Então, quantos cupcakes
você faz por dia?
— Aproximadamente doze dúzias. Costumava ser… — Sua
voz sumiu, e um olhar desconfortável se instalou em seu rosto.
— Ser o quê?
— Nada. — Seu tom deixou claro que ele não revelaria mais
nada.
Ok então. Parecia que ela não era a única que não tinha
desejo de expor sua alma hoje.
— Uau. Quase cento e cinquenta. Isso é um monte de
cupcakes. — Uma das maneiras que ela aprendeu a lidar com a
dislexia foi a memorização. Ela podia falar a tabuada de cabeça
como ninguém.
— Oferecemos o especial do dia, junto com nossos sabores
tradicionais e um favorito da estação. Pelo menos esse é o
objetivo. — Uma sombra cruzou as belas feições dele. Ele
remexeu os ombros e mostrou um sorriso claramente forçado
para ela.
— Vamos começar a fazer esses cupcakes.
Ele entregou a ela uma tigela de vidro idêntica à que estava
no balcão à sua frente.
— Você improvisa nas receitas? — ela perguntou, depois
que ele estudou a receita por pelo menos dez segundos como se
estivesse memorizando os passos.
— Não, deixo isso para Nicholas. Gosto de ter uma fórmula
para seguir.
Seus lábios se abriram em um sorriso.
— Você quer dizer uma receita?
Apesar de não conhecê-lo há muito tempo, ela não ficou
surpresa com sua resposta. Ele parecia ser alguém que gostava
de lógica e ordem. Alguém que estava preso com seu eu ilógico
e desordenado pelos próximos meses. Não era de admirar que
aquela ruga parecesse ter se fixado permanente entre suas
sobrancelhas. Não que isso importasse. Ela estava aqui para
trabalhar para ter acesso ao seu fundo fiduciário e,
posteriormente, controle total de sua vida. Não se tornar a
melhor amiga dele.
Ele revirou os olhos.
— Sim. Tanto faz. Gosto de saber que se sigo uma receita, o
resultado será exatamente o que quero e espero.
Ele quebrou dois ovos na tigela com precisão e movimentos
mínimos de sua mão e pulso.
Jada respirou fundo. Ela poderia fazer isso. Ela só tinha que
seguir exatamente o que ele fazia.
Um toque na borda da tigela, dois. Rachou! A casca se partiu
e a gema espirrou no balcão.
— Porcaria!
O líquido amarelo deslizou em uma gota lenta, mas sem
parar, espalhando-se pelo balcão impecável e depois descendo
pela lateral. Oh, não. O pânico subiu por seus calcanhares
enquanto ela girava em um círculo, procurando
freneticamente por uma toalha. Ela viu uma toalha vermelha e
limpou a bagunça que ela fez. Ela resmungava enquanto mais
da gema escorregava para o lado em uma corrida para o chão de
azulejos.
— Me desculpe.
— Ei, tudo bem. — A mão de Donovan pousou em seu
ombro, enviando um choque de sensação através dela. Ela
virou. Ele assentiu, seu rosto e voz igualmente calmos. — Não
se preocupe. É só um ovo.
— Eu não queria sujar esta linda cozinha. — Ela não queria
ver o mesmo olhar desapontado no rosto dele que ela tinha
visto tantas vezes nos rostos de seus pais toda vez que ela
estragava alguma coisa.
Ele apertou seu ombro, seu olhar uma combinação
hipnotizante de preocupação e simpatia.
— Todos nós começamos em algum lugar. Não se
preocupe. Temos uma geladeira cheia de ovos e um armário
cheio de material de limpeza. Eu posso limpar qualquer
bagunça que você fizer. Mas sim, por favor, lembre-se de que
os ovos vão na tigela.
Sua entrega inexpressiva a surpreendeu com uma
gargalhada. Eles compartilharam um sorriso.
— Já que você acha isso. — Enquanto seu coração
desacelerou para um ritmo mais normal, Jada voltou-se para o
balcão. Alguns golpes e a bagunça foi embora. Ela exalou.
— Qual é o seu sabor favorito?
Um breve sorriso tocou seus lábios.
— Um que é produzido em grande quantidade, chocolate
com manteiga de amendoim. É como um Reese, mas um
milhão de vezes melhor. Minha mãe os fazia para mim no meu
aniversário sempre que podia.
— Sempre que ela podia?
Seus ombros ficaram tensos.
— Ficávamos sem dinheiro por alguns anos. Quando
estávamos assim, cupcakes eram a última coisa em sua mente,
mas nos anos em que estávamos bem... aqueles eram os
melhores. — Ele olhou para ela. — Pare de enrolar.
— Ok, tudo bem. — Ela respirou fundo e seguiu suas
instruções. Ou pelo menos, tentou. A farinha era uma otária
escorregadia e gostava de criar poeira, mas ela continuou,
mesmo que passasse mais tempo limpando acidentes do que
fazendo qualquer coisa que pudesse ser chamada de cozinhar.
E houve o infeliz momento em que ela adicionou quatro
xícaras de açúcar em vez de duas e teve que recomeçar pela
terceira vez. Apesar de tudo, Donovan foi paciente. A maior
parte do tempo. Aquela ruga em sua testa nunca desapareceu,
mas ele não gritou pelo menos, então ela tomou isso como uma
vitória.
— Hora da batedeira. — Ele falou em direção ao enorme e
brilhante equipamento de aço inoxidável no balcão oposto.
Jada engoliu. A máquina era intimidante. Esqueça o doce.
Visões dos ingredientes voando pela cozinha limpa se ela
estragasse o tempo ou quaisquer que fossem as configurações
da batedeira estavam em sua cabeça. O nervosismo que ela
lutou contra retornaram com uma vingança.
— Aperte este botão. — Donovan mostrou a ela o que fazer.
Ela imitou seus movimentos com precisão, prendendo a
respiração. Ela soltou o botão. O maior dos milagres, o desastre
não aconteceu. Os ingredientes giraram e ficaram na tigela. Ela
soltou um gritinho e tentou transformá-lo em uma tosse mais
digna quando Donovan a olhou de lado, mas então algo ficou
preso em sua garganta. Ela acabou engasgando, dando a
impressão de que algo estava cortando seu pulmão.
Ele deu tapinhas nas costas dela.
— Você está bem?
Ela andou um pouco para frente. Pena que ela não podia
andar um pouco para longe de seu constrangimento.
— Sim, sim, estou bem. Qual é o próximo passo?
Ele a olhou, seu rosto impassível. Jada suspirou. Pelo menos
ele não estava rindo dela.
— Hora de assar.
Ele mostrou a ela como colocar a mistura na assadeira. Um
quarto da mistura pegajosa e líquida acabou no balcão, e a parte
que acabou na assadeira dela não tinha nada haver com a versão
uniformemente espalhada de Donovan. Mas ela fez isso. Ela só
tinha que aceitar a bagunça.
O aroma celestial de baunilha se espalhou pelo ar. Seu
estômago clamava por um cupcake. Se ela não tomasse
cuidado, ela teria cerca de dez cáries quando seu tempo na
Sugar Blitz terminasse.
— Quanto tempo vai ficar assando? — ela perguntou.
— Uns vinte minutos.
Ele se aproximou, trazendo seu calor e aroma amadeirado e
tentador com ele. Ela mandou que seus pés não se movessem.
— O quê?
— Você tem um pouco de farinha em seu… — Ele
gesticulou em direção ao rosto dela.
Ótimo. Esta foi a terceira vez que ela esteve na presença de
Donovan, e a segunda vez que ela acabou com algo em seu
rosto. Quais eram as chances? Ela limpou o nariz.
— Melhor?
Seus lábios se curvaram.
— Não, na verdade, não. — A ponta macia de seu polegar
acariciou sua bochecha. O ar se alojou na garganta de Jada. Ele
estava perto. O calor do corpo dele rolou sobre ela, criando um
casulo de calor delicioso no qual ela queria se aconchegar.
— Aqui. Entendi.
Seus lábios se separaram, o ar escapando em um ritmo
instável enquanto ela acompanhava o movimento de seu
polegar com olhos gananciosos. Ele esfregou o polegar e o
indicador juntos como se estivesse saboreando o toque de sua
pele, mas talvez ela estivesse imaginando coisas. Ele não se
afastou, no entanto. Nem ele tinha tirado os olhos dela. Seu
olhar deslizou para baixo. Seus lábios também se separaram. O
momento construído… permaneceu. Seus olhos escureceram
com a consciência. Ela ouvia seus batimentos cardíacos em seus
ouvidos.
— Tem um cara na frente insistindo em falar com o gerente.
Acho que ele é um fã e não aceita um não como resposta.
Jada girou. Ella ficou lá, os olhos encarando os dois.
Donovan se recuperou primeiro.
— E não podemos nos dar ao luxo de dizer não. — Ele
beliscou a ponta do nariz e correu em direção à porta. Ele
parou. — Eu estarei de volta em um minuto.
Ela acenou com a mão.
— Não se preocupe com isso. Eu entendo.
Ela precisava de tanto tempo sozinha quanto possível para
se recuperar. Sua respiração ainda estava forte e rápida, seu
pulso acelerado. O que foi isso? Eles quase...? Não!
O ar saiu de seus pulmões em alívio quando ele saiu com
Ella. Ok, hora de restaurar o equilíbrio dela. O que eles estavam
fazendo antes de... olharem um para o outro? Ela deu uma
rodadinha, observando seus arredores. Oh, certo. Eles estavam
em uma cozinha fazendo cupcakes. Seu olhar pousou nas
panelas em que despejaram a mistura. Tudo o que restava fazer
era colocar os cupcakes pré-assados no forno. Até ela poderia
lidar com isso.
∗∗∗
Eu gostaria de conversar.
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
Às 19h15, Donovan entrou em sua casa. August ia fechar a
Sugar Blitz esta noite. Donovan respirou fundo. Graças a
Deus. Ele estava derrotado. Ele não queria nada mais do que
colocar uma das refeições ricas em proteínas e nutrientes que
seu chef preparou para ele no micro-ondas e comê-la em sua
varanda enquanto ouvia e observava as ondas do mar batendo
na praia. Ele foi para a cozinha, pronto para colocar seu plano
em ação.
Às 19h18, bem quando tomou a decisão de comer bife com
macarrão à carbonara, seu telefone tocou. Ele pensou por um
momento em não responder, mas era sua irmãzinha, Sloane.
Ele sempre cuidou dela, especialmente devido ao caos em que
cresceram, e ele nunca foi capaz de não ajudá-la, mesmo que ela
agora fosse adulta. Ele se jogou em uma cadeira de sua mesa de
jantar e respondeu.
— Oi, como vai?
— O que há comigo? O que há com você? — ela gritou em
seu ouvido.
Ele arrancou o telefone antes que sofresse qualquer perda
permanente de audição, então cuidadosamente o trouxe de
volta ao ouvido.
— Sloane, posso fazer você baixar uma oitava da sua voz? Os
cães estão uivando no fundo enquanto conversamos.
— Desculpe — ela disse, em seu tom normal e firme. —
Estou tão animada.
— Animada com o quê? Você conseguiu uma promoção?
— Não, eu não consegui uma promoção e não tente me
enganar.
Enganá-la? De quê?
— O que você está falando?
— Estou falando sobre o fato de que você está no Tópicos
em destaque no Twitter.
Donovan abafou um gemido. Não poderia ser. Aquela
mulher não podia ter viralizado o vídeo só porque ela queria.
Não funcionava assim. Funcionava? Ele tinha sido sincero com
Jada. Ele não usava suas redes sociais. Ele tinha uma conta, é
claro. Ele não estava tão por fora. Mas a principal razão pela
qual ele os tinha era para evitar que os seus fãs fingissem ser ele
e postassem merdas malucas em seu nome. No entanto, ele não
faz nada nas suas contas. O que realmente não o torna querido
por sua irmãzinha, que ganhava a vida como assistente de mídia
social. Logo para virar gerente, de acordo com ela, embora
aparentemente não hoje.
Ele fez a pergunta para a qual não queria a resposta.
— Por que estou nos Tópicos em destaque no Twitter?
— Porque você beijou Jada de Minha Cara Metade! — ela
falou gritando novamente, mas esse era o menor de seus
problemas.
Seu estômago fez uma cratera. Merda. Graças a Deus que ele
ainda não tinha comido. Ok, isso foi dramático, e ele não era
dramático. Ele precisava relaxar. Ele ouviu sua irmã o suficiente
para saber que esses tópicos nas mídias sociais eram apenas isso.
Tópicos. Eles iam e vinham. Em trinta minutos, alguém que
gostava de atenção faria ou diria algo verdadeiramente
chocante, e ele logo seria uma história antiga.
— Você pode esquecer isso, por favor?
Sua irmã engasgou.
— Não! Estou ligando para Shana.
— Por favor, não. — Sua irmã mais velha, sem dúvida,
adoraria acrescentar sua opinião a esse assunto. Ela tinha uma
opinião sobre todos os aspectos de sua vida. Isso seria muito
bom para deixar passar.
— Tarde demais.
Sim, ele percebeu isso. O telefone já estava tocando. Sua
irmã mais velha atendeu alguns segundos depois.
— Oi.
— Sloane, você viu que Donovan está em alta no Twitter?
Porque ele beijou Jada? — ela fez o nome da Jada soar como se
ela fosse uma vadia escandalosa. E agora ele soava como um
velhote de um faroeste dos anos cinquenta.
— Garota, eu vi! — Sloane respondeu. — Você acredita
nisso?
— Oi, estou bem aqui — ele interrompeu, antes que elas
pudessem falar mais.
— Oh, você está na chamada, Donovan. Perfeito — disse
Shana. — Você sempre foi minha irmã favorita, Sloane.
Ele revirou os olhos e sufocou um suspiro.
— Agora nos conte tudo — ela continuou.
— Não deixe nenhum detalhe de fora — acrescentou
Sloane.
Suas irmãs estavam se juntando contra ele. Por que ele não
foi abençoado com um irmão ou pelo menos uma irmã que não
adorava provocá-lo ou investigar sua vida pessoal? Ele pegou a
única opção disponível para ele – protelar.
— Não há nada para contar.
— Não tente nos enganar, irmãozinho. — Shana disse,
soando exatamente como sua mãe.
— Você tem sorte que mamãe ainda não descobriu. — Disse
Sloane, sem dúvida pensando na mesma coisa que ele. — Ela
ficaria super ansiosa por você.
Isso realmente era verdade. Um pequeno sentimento de
culpa apertou seu coração. Jada não queria que ele dissesse a
ninguém que eles não estavam namorando, mas ele disse a ela
que não podia prometer isso a ela. E essas eram suas irmãs, em
quem ele confiava mais do que qualquer outra pessoa no
mundo. Se ele pedisse para elas ficarem de boca fechada, elas
fariam isso. No entanto, ele sentia que estava traindo Jada, o
que era o cúmulo do ridículo. Ele não fazia coisas ridículas.
Então isso era verdade, mas primeiro ele tinha perguntas.
— Me conte sobre este reality show.
— É muito bom — disse Shana. — Recheado de drama. É
como batatas fritas. Uma vez que você come um, você não
consegue mais parar.
Sloane murmurou em concordância.
— Basicamente, há o protagonista, e ele sai com um monte
de mulheres. Toda semana, os competidores votam em duas
mulheres que não querem ter um encontro. Eles formam
alianças. O líder tem o direito de fazer uma objeção por uma
semana em sua busca para encontrar seu primeiro e único
amor. E depois de todos os seus encontros ele elimina algumas
mulheres.
Donovan agarrou seu telefone.
— E o que a Jada tem haver com isso?
— Jada era a melhor, ou todo mundo pensava assim até o
final — disse Sloane. — Ela era engraçada e sempre falava o que
pensava com o cara, Dr. John, e os outros competidores. Ela e
John tinham uma ótima química.
— O cara ficou apaixonado — disse Shana. — Os
espectadores o amavam. Ele era genuíno e estava lá pelas razões
certas.
— Encontrar amor em um reality show? Tá, ok. —
Donovan tinha suas dúvidas.
— É verdade. Ele era o cara mais doce. Engraçado e gentil,
mas não era facilmente enganado por travessuras. Alguns dos
outros competidores não gostaram de como Jada e ele se davam
bem e tentaram separá-los, mas não funcionou. Eles estavam
sempre juntos.
Ele engoliu em torno do nó em sua garganta.
— Então eles o quê? Apaixonaram-se com um monte de
câmeras em seus rostos gravando todos os seus movimentos?
— Parecia que sim. Eles eram como o Ken e a Barbie Negros.
Lindos, engraçados, fotogênicos. Todos os espectadores
pensaram que eles teriam um final de contos de fadas com uma
proposta.
— Mas em vez disso ela largou o Solteiro Favorito da
América, essa era a manchete da capa da People — disse Sloane.
— Os fãs ficaram loucos.
Shana concordou.
— Alguns dos outros competidores disseram que ela estava
iludindo ele o tempo todo e eles realmente estavam certos.
Isso não soava como a mulher que ele conhecia. Certo, ele
não a conhecia há muito tempo, mas o olhar de devastação e
resignação em seu rosto na loja era real. Ele apostaria todo o seu
patrimônio nisso. E talvez isso o tornasse tão idiota quanto o
cara do reality show.
— O que aconteceu depois?
— Ela parou de postar coisas em suas contas de redes sociais
— disse Sloane. — Ninguém sabia onde ela estava – até esta
noite. O Tweet chegou a vinte e três mil retuítes, a propósito.
Por que ela estava na loja vestindo o uniforme?
Donovan suspirou.
— Porque ela trabalha lá.
— Desde quando? — Shana perguntou, sua voz cheia de
descrença e sem fôlego. Pelo menos ela não gritou como Sloane.
Donovan soltou um suspiro.
— Desde ontem.
— E você já estava beijando ela. Você é rápido, irmão. Quem
diria que você tinha esse lado? — Sloane provocou.
Ele gemeu.
— Não foi assim que aconteceu.
— Então nos diga a verdade, toda a verdade, e nada além da
verdade. Como ela passou de vilã de reality show a funcionária
da Sugar Blitz e a namorada de Donovan Dell?
— Ela não é minha namorada — disse ele, com os dentes
cerrados.
— Mas você enfiou a língua na garganta dela — disse sua
irmã mais velha lógica e direta, que nunca seria intimidada por
ele.
— Não, eu não fiz — disse ele, sobre as risadinhas de Sloane.
— Então nos diga o que está acontecendo — disse Shana,
claramente satisfeita consigo mesma por manobrá-lo em um
canto.
Donovan começou com como ela veio trabalhar na loja e
terminou com a razão pela qual Jada o beijou.
— É isso. Ela precisava de um substituto temporário e
aconteceu de eu ser o cara que estava ali. Nem mais nem menos.
Sua explicação foi recebida com alguns segundos de silêncio.
— Ah. É isso? — Shana finalmente disse.
— Sim. — Majoritariamente. Ele deixou de fora os detalhes
sobre como aquele foi o melhor primeiro beijo que ele já teve.
Como os lábios macios dela se agarraram tão tentadoramente
aos dele que ele não pôde deixar de responder. Como o gosto
dela o assombrava horas depois e ele ainda podia saboreá-la,
especialmente se ele fechasse os olhos e repetisse o abraço
frustrantemente curto na mente dele. O que ele tinha feito
aproximadamente cinquenta vezes desde que aconteceu. Sim,
suas irmãs não precisavam saber nada disso.
— Você não está realmente namorando.
— Não. — Ele ignorou a pontada de decepção que o
atingiu.
— Mesmo que você esteja no Twitter e as pessoas estejam
comentando que vocês dois pareciam almas gêmeas enquanto
olhavam nos olhos um do outro?
Jada tinha os olhos mais incríveis que ele já tinha visto.
— Donovan? — Sua irmã parecia muito esperançosa.
Ele gemeu.
— Não.
— Ah. Eu esperava que o que ela disse no programa fosse
verdade. Eu gostava muito dela e não entendia porque ela iria a
um show só para humilhar alguém. Não parecia algo que ela
faria.
— Nós não estamos namorando. — Ele disse isso porque
era verdade e talvez para se lembrar. Só porque ele sentiu algo
novo e doce e quente durante o beijo e se perdeu
temporariamente no sabor e no cheiro dela não significava
nada.
— Você quer namorar com ela? — Sloane perguntou,
aparentemente ainda esperançosa. — Parece que ela está
precisando de um cara.
— E namorar com ela pode aumentar suas vendas, dada a
reação no Twitter hoje à noite — acrescentou Shana, a
contadora pragmática.
— Não, eu não quero, e sério, Shana? — Se havia um
pequeno puxão de algo perto de seu coração que parecia
arrependimento, então tanto faz. Ele e Jada não estavam
destinados a ser nada além de chefe e empregada temporária.
Não importava o quão macios eram seus lábios ou quão bom
seu corpo se sentia contra o dele. — Tenho dois focos: fazer a
Sugar Blitz ter sucesso – sem namorar alguém com o único
propósito de fazer isso acontecer – e ganhar um Super Bowl na
próxima temporada. Não tenho tempo para mais nada agora.
— Especialmente para alguém que o deixava louco.
Às 8h45 da manhã, Jada dobrou à direita na rua da Sugar Blitz.
Que diabos?
Mesmo a um quarteirão de distância, ela não teve problemas
para identificar a cena que se desenrolava diante dela. Uma fila
de pessoas começava na porta da frente e se estendia pela
calçada até o sinal de pare no final do quarteirão. Eles estavam
aqui por causa dela? Essa era uma suposição arrogante, mas por
que mais tantas pessoas estariam aqui em uma manhã aleatória
de quinta-feira antes da abertura da loja?
Merda.
Olivia ligou para ela ontem à noite para que soubesse que ela
estava no Twitter e era o assunto do Instagram. Jada agradeceu
educadamente, encerrou a ligação, subiu na cama e optou por
esquecer a realidade assistindo a Mandou Bem. Bons
momentos de apostas baixas envolvendo pessoas que assavam
tão bem quanto ela era tudo o que ela podia lidar no momento.
Ela não queria pensar no vídeo de Tamara e nas reações a ele.
Aparentemente, essa não foi a melhor decisão. Ela deveria ter
bolado um plano para lidar com as consequências daquele
beijo. Jada soltou um suspiro. Ah, bem.
Felizmente, Donovan deu a ela o código para entrar pela
porta dos fundos. Ela dirigiu até o estacionamento atrás da loja
e parou em uma vaga, grata pelos vidros escuros de seu carro.
Ali atrás, tudo estava quieto. Normal.
Ela baixou o visor e inspecionou seu rosto no espelho. Pelo
menos seu cabelo e maquiagem estavam bons. Não havia
necessidade de mencionar a camisa pólo e a calça cáqui que ela
usava. Ou os Crocs. E isso foi o suficiente para ficar enrolando.
Ainda assim, ela manteve a cabeça baixa e entrou na loja o
mais rápido possível. Os fãs de reality shows podiam sentir o
cheiro do medo.
— Suponho que temos que agradecer a você por essa
multidão lá fora.
A cabeça de Jada se ergueu. Mas não era Donovan parado
ali. Era August, que tinha acabado de falar o maior número de
palavras que ela já tinha ouvido dele. Ela ofereceu um sorriso
fraco. Ele assentiu, seu pequeno sorriso simpático, e
desapareceu na cozinha.
Jada vagava pelo corredor, a indecisão prendendo-a ao local.
Sair para a frente da loja significava ver todas as pessoas do lado
de fora, que estariam olhando para ela através das janelas. Ela
poderia seguir August até a cozinha, mas isso significava
retornar à cena do fiasco do cozimento. A fumaça
provavelmente ainda pairava no ar, diminuindo os cheiros de
chocolate e baunilha. Ela estremeceu. E se August estava lá,
muito provavelmente, Nicholas também. Eles teriam
perguntas sobre O Beijo, supondo que Donovan não tivesse
contado.
Seu estômago embrulhou, a barra de cereal de morango que
ela se obrigou a comer naquela manhã estava rolando em seu
estômago como um tio bêbado na pista de dança em um
casamento. Oh, Deus, sua boca a colocou em problemas mais
uma vez, figurativa e literalmente.
Mas ela era uma adulta. Certo? Certo. Ela poderia fazer isso.
Ela jogou os ombros para trás e foi para a frente da loja. Ela
manteve os olhos em frente.
— Jada — Donovan chamou pela porta aberta de seu
escritório.
O coração de Jada parou. Ela parou no meio do caminho e
engoliu em seco. Obrigou seus pés a se virarem para encará-lo.
— Sim?
— Entre, por favor — disse ele, gesticulando com a mão.
Seu rosto estava impassível, assim como sua voz. Ela resolveu
aceitar isso ao invés de raiva ou aborrecimento. Ela assentiu. —
Feche a porta — ele adicionou, quando ela passou pela porta.
Ela obedeceu novamente, seguindo sua ordem.
Talvez ele fosse demiti-la. Ele teve uma noite para pensar
sobre isso, afinal. Certamente, ele sabia que ele e ela – eles –
tinham sido um tema quente de discussão nas mídias sociais na
noite passada. Ela desmoronou na cadeira na frente de sua mesa
em uma pilha bastante indigna, suas pernas incapazes de
sustentá-la por mais tempo. Talvez ele não tenha notado. Ela
levantou a cabeça. Suas sobrancelhas estavam quase tocando a
linha do cabelo. Seu olhar se desviou. Ele tinha notado. Não
havia importância. A dignidade era superestimada, de qualquer
maneira.
— Parece que estamos em uma situação difícil. — Sua voz
era calma, sem julgamentos. — Como você vai lidar com isso?
Jada se conteve antes que sua boca ficasse muito aberta. Ele
não a estava demitindo. Seus ombros esvaziaram. Ou talvez ele
quisesse que ela se despedisse?
— Há uma fila de pessoas do lado de fora da loja que, sem
dúvida, veio para ficar boquiaberta — continuou ele. — Você
pode trabalhar no balcão da frente ou pode ficar na cozinha e
ajudar Nicholas com a preparação da comida. August está
saindo em breve para passar alguns recados. Você pode ir com
ele se quiser.
— Você não está bravo? — ela perguntou com pressa.
Ele suspirou.
— Não, eu não sou doido. Embora geralmente a única vez
que alguém no Twitter se importa com o que estou fazendo é
durante um jogo, quando faço ou não uma jogada. As pessoas
especulando sobre minha vida amorosa não é o ideal, mas
pretendo ignorá-las. Elas ficarão entediadas e seguirão em
frente, se ainda não fizeram isso.
Ela deixou escapar a pergunta que estava zumbindo em sua
cabeça desde que ele exigiu falar com ela.
— Por que você está sendo legal comigo?
Ele se recostou na cadeira. A estudou com seus inteligentes
olhos escuros, não revelando nada.
— Você quer que eu seja mal com você? Grite com você?
— Não, mas eu entenderia se você fizesse isso. Eu coloquei
você em uma posição estranha ontem.
— Verdade, mas é uma coisa temporária que já vai passar.
— Ele encolheu os ombros. — Não me importo com as redes
sociais. Vai ser fácil para mim ignorar. Além disso, prometi à
sua avó que você poderia trabalhar aqui e sempre faço o
possível para cumprir minhas promessas.
Certo. Ele não se importava especificamente com ela. Ela
precisava se lembrar disso. Ela era um dever, nada mais, nada
menos.
— Quero trabalhar na frente. É para lá que eu estava indo
antes de você me mandar vir aqui. — Ela deu de ombros. —
Nós dois sabemos que sou um desastre na cozinha.
Ele assentiu.
— Verdade.
— Obrigada — ela disse secamente.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— As pessoas vão ficar encarando.
Jada estava orgulhosa de si mesma por não vacilar.
— Eu sei. Deixe que encarem.
— Você tem bom senso. Eu tenho que te dar parabéns por
isso.
Bom senso? As pessoas ainda usavam essa palavra?
— Espere. Isso é um elogio?
— Não deixe isso subir à sua cabeça. — Sua voz era calma e
comedida, mas se ela não estava enganada, um sorriso estava se
esforçando para tornar sua presença conhecida em seu rosto
normalmente impassível. Seus lábios, aqueles mesmos lábios
que ela tinha visto e provado uma e outra vez em seu sono
inquieto na noite passada, esticaram um pouco.
— Vou tentar. — Ela se levantou e foi até a porta, resoluta
em sua missão, embora suas pernas ainda estivessem um pouco
instáveis.
— Você vai ficar bem — ele disse para ela de volta. Elogios
mais efusivos. Se ela não tomasse cuidado, sua cabeça
começaria a aumentar a qualquer momento. Ela continuou seu
caminho para a frente da loja, sorrindo para si mesma.
— Aí está você — Ella gritou quando a viu. — Metade do
#JaDon.
Jada gemeu.
— Sério?
A adolescente assentiu com entusiasmo.
— Ah, sim. As pessoas que não te odeiam agora que te viram
com Donovan. Eles levaram cerca de dois segundos para chegar
a esse nome.
— Perfeito.
Gritos penetravam pelas janelas e portas. A multidão do
lado de fora tinha visto Jada. Ela fez o possível para ignorá-los
enquanto virava a esquina para se juntar a Ella na caixa
registradora.
Ella empurrou o queixo em direção à entrada.
— Acho que vão derrubar a porta se não abrirmos logo.
Jada se ocupou em servir uma xícara de café e tomou um
gole da bebida quente.
— Eles provavelmente querem rasgar minha garganta.
— Eles terão que passar por mim primeiro. — A voz feroz
de Ella combinava com sua expressão facial.
Jada piscou para conter as lágrimas inesperadas. O que ela
tinha feito para merecer tal lealdade tão rapidamente? Seus pais
certamente nunca sentiram esse desejo. Mais uma vez, ela
endireitou os ombros.
— Obrigada, mas eu não acho que isso seja necessário.
Estamos aqui para trabalhar e servir alguns cupcakes.
Ela assentiu.
— Então, lá vamos nós.
Jada levou um momento para desfrutar do doce, doce
silêncio enquanto Ella caminhava até a porta como se não
estivesse prestes a abrir o portal para o inferno. Jada mordeu o
lábio inferior. Talvez isso tenha sido um pouco dramático.
Talvez. Em poucos segundos, sua entrada na sociedade
indelicada começaria efetivamente. O giro da fechadura,
seguido pelo tinido da campainha no teto quando a porta se
abriu, ofereceu um soco duplo de um estrondo sônico aos seus
nervos.
As hordas do lado de fora entraram, olhando boquiabertas
para a loja como se nunca tivessem estado dentro de uma
confeitaria antes de virarem seus olhos de falcão para Jada. Ela
ergueu o queixo. Ela não conseguia parar de fazer seu suor
deslizar por sua têmpora, mas ela não iria se contorcer.
— Como posso ajudá-la? — ela perguntou à primeira pessoa
a chegar ao balcão da frente, uma mulher baixinha com um
longo rabo de cavalo, que parecia ter vindo direto de sua aula
de ioga e estava toda ágil e pronta para comer.
Ela praticamente saltou nas pontas dos pés.
— Uau. É mesmo você, Jada. Você trabalha aqui?
Jada colou em seu sorriso mais brilhante.
— Sim. Como posso ajudá-la?
A mulher a encarou como se esperasse que Jada dissesse
mais. Jada olhou de volta. Finalmente, a mulher suspirou.
— Vou levar dois cupcakes de baunilha.
Jada pegou as sobremesas e mandou a mulher embora. Uma
já foi, agora faltavam mais um milhão.
Os olhares eram muitos. Os sussurros não tão silenciosos
também. Mas contanto que eles comprassem cupcakes, ela não
se importava. Pelo menos sua decisão impulsiva de declarar
Donovan seu namorado havia feito algum bem não
intencional. Eles estavam muito mais ocupados do que durante
seus primeiros dois dias. Justamente quando a fila diminuiu, os
recém-chegados vieram para substituí-los. Os clientes se
sentaram nas mesas e olhavam para ela enquanto comiam seus
cupcakes e bebiam seu suco ou café enquanto fingiam que não
estavam tirando fotos dela com seus telefones. Mas de qualquer
forma, ela se colocou nesta posição. Ela teria que viver com isso.
As perguntas eram outra história.
— Onde está Donovan?
— Ele está ocupado. — Disse com um sorriso agradável.
Onde estava o Oscar dela?
— Há quanto tempo vocês dois estão juntos?
Jada fingiu que não ouviu. Donovan deixou claro que não
queria mentir sobre o namoro deles e ela respeitaria seus
desejos. Ela tinha feito bastante dano abrindo a boca e
declarando-o seu namorado para a Barbie fofoqueira.
A conversa aumentou de volume. Jada ergueu os olhos da
caixa registradora. Donovan e Nicholas tinham dobrado a
esquina. Nicholas, que Jada percebeu que adorava atenção, foi
direto para a multidão. Donovan veio em direção ao balcão da
frente. As mulheres na fila se aquietaram quando ele se
aproximou, então começaram a sussurrar furiosamente umas
para as outras. Ele acenou para eles e virou a esquina.
— O que você está fazendo aqui? — ela murmurou com o
canto da boca.
— Eu sou dono desse lugar — ele murmurou perto de seu
ouvido. Um arrepio percorreu seu corpo. Não importava.
Estava frio. — Mas, na verdade, Nicholas me disse que a fila
não diminuiu na última hora, então eu tive que vir ver por mim
mesmo.
— Faz sentido. — Ela olhou para cima e foi pega por seus
olhos escuros. — Mas você está colocando mais lenha na
fogueira.
— Eu estou? — Ele não parecia preocupado. Era isso que
acontecia quando você não fazia parte de um fandom de reality
show/cultura pop? Você não entendia o quão feroz e
interessado em cada detalhe de sua vida os fãs podiam ser?
Ao vir aqui, ele se colocou diretamente na frente da
fogueira, e era responsabilidade dela protegê-lo porque ele não
estaria lá se não fosse por ela… embora ele pudesse ter saído com
seu amigo August e encontrado algumas coisas para fazer. Mas
ele não tinha feito isso.
Eles trabalharam juntos por alguns minutos, atendendo
pedidos e recebendo. Ela o observou com o canto do olho. Ele
sorriu e conversou com os clientes como se ele realmente
soubesse ser encantador quando ele se dedicava a isso. Ele estava
sendo o professor favorito de todos agora, em vez do diretor
mal-humorado. Ele realmente parecia... humano.
Ele nem perdeu o foco ou a calma quando a clientela mais
ousada colocou seus telefones bem na frente de seu rosto e tirou
fotos.
— Oh, meu Deus, posso tirar uma foto de vocês dois? —
Um cliente perguntou.
Jada imediatamente balançou a cabeça.
— Desculpe, mas não podemos fazer isso. Nós temos uma
fila para atender.
— Nós não nos importamos — disse a mulher atrás dela. As
outras pessoas na fila rapidamente deram seu consentimento.
Com um esforço hercúleo, Jada forçou os lábios para cima.
— Ok. — Ela se aproximou de Donovan. Ela não olhou
para ele porque, bem, isso era estranho o suficiente.
A mulher abaixou o telefone.
— Sério, pessoal, vocês podem fazer melhor que isso. Vocês
parecem mais com alunos do ensino médio em seu primeiro
encontro do que com o novo casal mais bonito da América.
Ao lado dela, Donovan endureceu ainda mais. Oh, Deus. A
qualquer segundo ele ia desistir dela. Diria às mulheres que ela
era uma mentirosa e que só estava trabalhando lá porque sua
avó havia implorado a ele, seu empregado, para dar um
emprego à neta volúvel. Que eles não estavam de forma alguma,
namorando.
— Não tem nenhum problema. — Donovan chocou o
inferno fora dela envolvendo o braço em volta da cintura dela
e puxando-a contra seu lado. Bom Deus tinha feito esse
homem. Como uma parede de tijolos. Uma parede de tijolos
quente, realmente interessante de ser tocado, eu-quero-
explorar-cada-pedacinho-do-seu-corpo. Ela olhou para cima.
Seus olhos estavam diretamente sobre ela.
Assim, a memória do beijo de ontem passou como um filme
em sua cabeça. Em 4K. O deslizar decadente de seus lábios
contra os dela. Seu suspiro suave. Apesar de sua brevidade, o
poderoso impacto que teve sobre ela não podia ser negado. O
desejo de experimentar novamente o abraço quase a dominou.
Seus olhos escureceram, revelando a verdade. Ele também se
lembrava. Também queria experimentar de novo. Ela mal
estava ciente dos cliques rápidos das câmeras.
— Vocês podem dar um beijo?
Sim, uma ideia fantástica. Espere. O quê? Jada forçou uma
risada e se livrou de seu aperto, o deslizamento de sua mão
aquecendo-a até mesmo através do algodão de sua camisa.
Como seria sem nenhuma barreira? Espere. Não. Isso não ia
acontecer. Ela não queria que isso acontecesse. Certo? Certo.
Donovan tossiu em sua mão como se estivesse chocado com
o pedido. Jada voltou sua atenção para o cliente.
— Não, nós não podemos, desculpe. Um beijo que viralizou
é mais do que esperávamos.
A mulher fez beicinho por um segundo.
— Ah, tudo bem. Que tal uma selfie?
— Claro — disse Donovan, e fez um movimento para
contornar o balcão. Quem era este homem? Para onde foi o
autoritário Donovan, que tudo precisa fazer sentido?
— Jada. — O Senhor Chatonildo havia retornado.
Ah, certo. Eles estavam esperando por ela. Ela correu ao
redor do balcão para ficar do lado direito do cliente enquanto
Donovan ficou do lado esquerdo.
— Digam “X” — disse o cliente, então retrucou. Ela
abaixou o telefone. — Ah, isso é tão legal. Vou postar isso no
Facebook e no Insta agora mesmo. — Ela se afastou. Jada se
moveu para voltar ao seu lugar de direito atrás do balcão, mas o
próximo cliente a deteve.
— Ah, eu também quero uma foto — disse ela.
E assim começou a avalanche de fotos. Eventualmente, Jada
relaxou, seu sorriso se tornando mais natural. Talvez ela
pudesse ganhar a vida como influenciadora, afinal.
— Incomoda você que sua namorada seja uma vadia sem
coração? — A próxima cliente perguntou.
E assim o sorriso dela murchou até a inexistência. Esta era a
pergunta que ela esperava. Tinha experimentado antes de ficar
esperta e parar de verificar suas contas de mídias sociais. A bola
de ansiedade em seu estômago que tinha começado a se acalmar
começou a se contorcer e girar e saltar pelo pequeno espaço
novamente.
— Com licença? — A voz de Donovan atravessou a sala,
calma, forte em sua intensidade, atraindo a atenção de todos os
ocupantes.
Jada colocou a mão em seu antebraço nu.
— Está tudo bem.
— Não, na verdade não está. Ninguém fala com minha
namorada desse jeito.
A mandíbula de Jada se soltou de seu rosto e caiu direto no
chão. Ela não conseguia ouvir mais nada, só o zumbido em sua
cabeça. Quando ela saiu do seu mundo alguns segundos depois,
Donovan estava conduzindo a mulher até a porta e
gentilmente, mas com firmeza, empurrando-a para fora da
porta enquanto os outros clientes aplaudiam. Bem, aqueles que
não estavam gravando o espetáculo.
Ele voltou e ergueu a mão pedindo silêncio. Um movimento
tão básico, mas meio legal. E tão fodidamente quente.
— Obrigado a todos, mas os aplausos não são necessários.
Estamos felizes em servir quem quiser cupcakes e uma foto,
mas não vou tolerar grosserias.
Sua mensagem foi recebida em alto e bom som. Nos trinta
minutos seguintes, eles venderam cupcakes para clientes muito
ansiosos, mas sempre educados.
Jada continuou olhando furtivamente para ele com o canto
do olho. Quem era essa pessoa? Ele teve o seu corpo
sequestrado? Ela estava sonhando? Ela acordaria e seria
lembrada de que ele não tinha nenhum desejo de se associar a
ela de uma maneira romântica? Ele mal tolerava sua relação de
trabalho. Mas ela não acordou. Ele não contradisse ninguém
que comentou sobre seu relacionamento. Na verdade, ele
sorriu e continuou. O seu outro lado apareceria em breve, mas
por enquanto, ela gostava de saber que ninguém ia gritar com
ela e chamá-la de pessoa horrível quando ela menos esperasse.
Finalmente, a fila começou a se dissipar e ele se despediu e
desapareceu no corredor, sem dúvida para seu escritório para
fazer o que quer que ele fizesse em seu computador por horas a
fio. Não que ela prestasse muita atenção ao que ele fazia. Ela
trabalhava lá. Só fazia sentido saber o que estava acontecendo e
quem fazia o quê.
Ainda assim, ela ficou emocionada quando August veio
para substituí-la quando seu turno acabou. Até onde ela sabia,
ela não tinha cometido nenhum erro grave, mas sua mente
estava apenas parcialmente focada no seu trabalho. A outra
parte estava focada no homem que estava ao lado dela e disse o
que disse. Declarando que ela era sua namorada. O que a fez se
sentir como se estivesse no ensino médio, imaginando se o
garoto com quem ela tinha saído gostava dela o suficiente para
querer ser algo oficial. Não que ela quisesse isso com Donovan.
Entrar em um relacionamento não fazia sentido quando tudo
em sua vida era tão incerto e instável.
Ela estava livre para ir embora. Ela deveria ir embora, mas
por algum motivo ela parou na porta do escritório dele. Estava
fechado, o que era bom. Ele não podia vê-la parada ali
parecendo uma tola. Lado positivo.
— Está tudo bem? — perguntou Nicholas. Ele tinha saído
do banheiro, que ficava duas portas abaixo.
Jada tossiu.
— Sim, eu estava prestes a falar com Donovan.
Ele apontou para a porta.
— Não o deixe intimidar você. Eu não acho que ele percebe
que sua, uh, natureza engomada pode ser um pouco
desconcertante para outras pessoas. Seu latido é muito pior do
que sua mordida.
Jada ergueu o queixo.
— Eu não estou com medo.
Ele piscou.
— Bom ouvir isso. — Ele virou à direita, voltando para a
cozinha.
Ela não tinha mentido. Ela não estava com medo. Ela estava
apavorada. O que era ridículo. Ele teve todas as oportunidades
de mandá-la embora, nem contratá-la em primeiro lugar, e ele
nunca fez isso. Não, ele declarou ao mundo inteiro que eles
estavam namorando, e ela precisava descobrir o porquê. Então,
sim, era hora de combinar. Ela bateu rapidamente, sua mão
tremendo levemente na maçaneta da porta em seu comando
— Entre.
Ela abriu a porta e se balançou nos calcanhares. Pela
primeira vez, ele não estava sentado atrás de sua mesa como o
diretor esperando para dar uma detenção a um aluno mal-
comportado. Ele se inclinou contra a mesa, os braços cruzados
sobre o peito largo, o material de sua polo puxando contra seus
bíceps de dar água na boca como se ele estivesse esperando por
ela. Suas sobrancelhas arquearam.
— Você vai entrar ou apenas ficar aí?
Ela ergueu o queixo. Não mostraria medo. Iria encarar seu
caminho através disso, assim como ela fez todos os dias de sua
vida. Ela deu um passo à frente. Para ele. Em direção ao homem
que poderia estragar a sua reputação já destruída com quase
nenhum esforço. Em direção ao homem que a estudou com
um olhar duro e inabalável.
— Eu estava me perguntando quanto tempo levaria para
você aparecer. — Sua voz, profunda e hipnotizante, enviou
uma emoção correndo por ela. Mas ela tinha que ignorar isso.
Ela soltou uma pequena risada.
— Não é todo dia que um homem que declarou que não
mentiria dizendo que estávamos namorando, fez exatamente
isso menos de 24 horas depois. Eu entrei em um loop. — Ela deu
outro passo à frente, atraída por ele. — A questão é por quê.
Por que você fez isso?
Aquele olhar em seu rosto. Ela tentou, mas não conseguia
esconder. Cada emoção estava exposta. Quando aquela mulher
a chamou de vadia sem coração, antes que ela se lembrasse de
usar suas feições de volta em uma pessoa calma e
despreocupada, ele viu a devastação, a dor em seu rosto. E as
palavras saíram de sua boca.
Mais uma vez, ela estava tentando esconder o que estava
sentindo, mas estava lá, girando em seus olhos – confusão,
incerteza e uma esperança cintilante e trêmula. Ela queria que
as pessoas pensassem que ela era uma personagem mundana e
sofisticada – e ela era – mas isso não era tudo o que ela era. Ela
era uma mulher de sangue vermelho com inseguranças,
esperanças e sonhos como todo mundo. Como ele. E ela não
queria que ninguém soubesse. Assim como ele. Ele lidou com
isso tornando sua vida o mais ordenada possível e mantendo-se
o mais equilibrado possível. Ela fez isso com um bom e velho
senso, mesmo quando levou uma no queixo.
Ele não poderia ser o único a decepcioná-la. Ele pegou
alguns papéis em sua mesa.
— Você sabe o que são?
Sua cabeça inclinou para o lado enquanto ela olhava para ele
como se ele tivesse perdido sua maldita mente. Talvez ele
tivesse.
— Não. Eu deveria?
Ele sorriu. Ela o fez sorrir como nenhum outro havia feito
em muito tempo.
— Eles estão analisando nosso site nas últimas vinte e quatro
horas. Não vimos tráfego assim desde a semana de abertura da
Sugar Blitz.
— Isso é ótimo. — Ela mordeu o lábio como se não soubesse
mais o que dizer. E ele não pensou em como seria se fossem seus
dentes mordendo aquele lábio carnudo. O lábio que ele agora
tinha provas irrefutáveis que era totalmente beijável,
inegavelmente mordível.
Ele balançou sua cabeça. Isso não era importante. Nunca
seria importante. Eles eram duas pessoas diferentes que
precisavam tirar o melhor proveito dessa situação estranha.
Que era a única razão pela qual ele estava animado que ela tinha
parado em seu escritório em vez de sair para o dia. Sim.
Ele deu outro passo em direção a ela. Debaixo dos aromas de
baunilha e chocolate que permeavam a loja e agora se
agarravam a ela, ele captou um toque de algo floral. Algo
inebriante. Lírios, talvez.
— É ótimo, e é por isso que pensei um pouco mais na sua
proposta.
Suas sobrancelhas perfeitas se ergueram.
— É por isso que você declarou que estávamos namorando?
— A zombaria era sutil, mas clara. Ele se divertiu. Qualquer
incerteza que ele detectou que ela sentia desapareceu. Esta era a
Jada que basicamente disse que seus cupcakes eram sem graça
na primeira vez que se conheceram. A mesma mulher com
quem tinha sonhado naquela noite, embora não admitisse isso
para ninguém, especialmente para si mesmo.
Ele deu mais um passo à frente. Ele não podia evitar,
realmente não tinha vontade de tentar se conter.
— Sim, e é por isso que quero continuar fazendo isso.
Sua boca se abriu.
— Você está brincando, não é? — ela gaguejou.
— Por enquanto. Jada, eu sei que não nos conhecemos há
muito tempo, mas tenho a sensação de que você acha que eu
não tenho senso de humor. Se formos com essa premissa, é
claro que não estou brincando.
— Mas você disse, e eu falo: “Eu faço de tudo para ter uma
vida organizada. Eu não quero me distrair.” — Ela engrossou
sua voz em uma tentativa horrível de imitá-lo. Ele lutou para
evitar que seus lábios se contraíssem.
Ele realmente estava soando como se tivesse um pau na
bunda?
— Eu disse isso. No entanto, não posso ignorar a fila do lado
de fora daquela porta. Minha irmã me disse que ganhamos dez
mil fãs em nossa conta do Instagram desde ontem. Os pedidos
online aumentaram trezentos por cento. Tudo por causa do
interesse em nossa vida amorosa.
— Mas não estamos namorando. Não existe “nossa vida
amorosa”. — Seus olhos eram grandes e arregalados.
Ele não podia, não se perderia neles. Este foi um movimento
lógico, nada mais, nada menos.
— Eu pensei que você estaria pulando por causa disso. Foi
ideia sua, afinal.
— Sim, mas eu tive tempo para pensar. Estou tentando ir
para uma nova página. Não sendo tão impulsiva. Realmente
estou tentando assumir o controle da minha vida. — Suas mãos
entrelaçadas em sua cintura, suas unhas perfeitamente cuidadas
pintadas de um lindo tom de lavanda.
Ele não deveria estar notando um detalhe tão pequeno sobre
ela, mas ele notou Se ele estava sendo honesto consigo mesmo,
notou tudo sobre ela.
— Eu entendo esse desejo.
Sua cabeça levantou.
— Mesmo?
Ele assentiu.
— Eu não cresci no ambiente mais estável, então procurei
tornar minha vida o mais estável possível quando me tornei
adulto. — Ele abriu os braços. — Abrir uma loja de cupcakes é
a coisa mais impulsiva que fiz em anos, mesmo que tenha feito
todo tipo de análise para ter certeza de que seria um bom
investimento.
— Até agora. Porque você quer namorar comigo. — Seus
lábios, pintados de um vermelho profundo, curvaram. Seu
sangue se agitou. Ele conhecia o gosto daquele gloss e o adorava.
— Namoro falso. — Ele precisava se lembrar desse fato, se
ninguém mais.
Ela riu.
— Sim, meu bem. Namoro falso.
— Preciso que esta loja seja um sucesso, que permaneça
estável, e a única maneira de fazer isso acontecer é ter mais
clientes. Já pensei nisso.
Ela cruzou os braços.
— E a que conclusões ordenadas e baseadas em evidências
você chegou? — Jada voltou a rir silenciosamente dele. Você
poderia derrubá-la, mas ela sempre se levantaria, pronta e
disposta a colocá-lo em seu lugar. Ele ordenou a si mesmo que
não sorrisse.
— Que não temos que fazer muito mais do que fizemos
hoje. — Ele marcou os pontos um por um em seus dedos. —
Trabalhamos aqui juntos. Não discutimos.
Seu nariz enrugou.
— Ahh, sério? Isso não parece divertido.
Ele continuou como se ela não tivesse falado.
— Nós não negaremos quando alguém afirmar que estamos
namorando. Tiramos fotos quando alguém pedir. Se alguém
nos pedir um beijo, recusamos como fizemos hoje.
— Sem beijos, hein? — ela bateu no peito dele com um
único dedo. Foi o mais breve dos toques, mas fez sua frequência
cardíaca disparar de qualquer maneira. Ele precisava se
controlar. Como agora mesmo. Foi também um lembrete de
porquê beijar estava fora de questão. Ele gostava de ordem. Ele
gostava de ficar no controle. E ontem, ele perdeu o controle
temporariamente quando a beijou de volta. Ele não precisava
de nenhuma distração, e ela praticamente tinha uma luz de
neon acima de sua cabeça que soletrava DISTRAÇÃO.
Então por que você está tentando convencê-la a fazer isso,
idiota? Porque fazia sentido, dada a sua situação. Ele precisava
aumentar os negócios da loja para poder contratar um gerente
em breve. Se as pessoas apareciam porque achavam que
estavam namorando, não importava, desde que comprassem
cupcakes, o que o ajudaria a atingir seu objetivo. Isso era tudo.
Ela estava balançando a cabeça.
— Eu não estou arrastando você para minha bagunça. Eu
fui impulsiva. Eu tenho trabalhado nisso.
Ele implacavelmente freou o pânico que tentava afundar
suas garras nele em sua tentativa de desistir de sua proposta. Isso
era tudo uma questão de razão.
— É por isso que temos essas regras. Deve ser bem simples.
Vamos continuar a onda enquanto podemos. Não espero que
a atenção dure muito, mas se isso aumentar o reconhecimento
da nossa marca e conquistar alguns novos clientes, valerá a
pena. — Ele inclinou o queixo dela para cima porque, na
verdade, ele não deveria ter a chance de tocá-la? Afinal, ela o
havia escaldado através de sua camisa. — Preciso lembrá-la de
que essa farsa ajudará a salvar sua reputação e lhe dará uma
armadura para te proteger das flechas que serão disparadas em
seu caminho? Eu não esqueci o que aquela mulher disse lá fora.
Ou o que você disse ontem. Há mais pessoas por aí como ela,
certo? Pessoas que gostam de ser más com você, que não
hesitam em te chamar de todos os tipos de nomes.
Seus olhos se arregalaram. Ela assentiu. Ele acenou de volta.
Sim, ele sabia, e estava aqui para ajudar. Era a verdade. Sim, ele
era um bastardo egoísta por usá-la para seus próprios
propósitos, mas isso não significava que ele gostava de ver
aquele olhar de dor em seus olhos.
Então ela desviou o olhar.
— Ainda não tenho certeza se isso é uma boa ideia. Se tem
uma coisa que aprendi, é que nem toda atenção é boa.
— É por isso que estamos nisso juntos. Vamos confiar um
no outro. Vamos controlar a situação. — Ele estendeu a mão.
— Combinado?
Seus dentes agarraram seu lábio inferior enquanto ela
considerava sua oferta. Ele reprimiu um gemido. Ele não
deixaria uma ação involuntariamente sexy chegar até ele. Ele
estava no controle. Ele estava sempre no controle. Ele poderia
lidar com uma atração inconveniente, especialmente porque a
fonte da atração vivia o levando para um lugar que ele não sabia
se podia ir mais longe. Isso era o melhor para a Sugar Blitz.
E para ele?
— Será uma aventura — acrescentou.
— É mesmo, não é? Nunca resisto a uma aventura.
Combinado. — Seus olhos estavam brilhando. Sua mão suave
deslizou na dele, o deslizamento de suas palmas uma contra a
outra enviando uma onda de prazer pelo seu braço e sua
espinha.
Donovan engoliu o nó na garganta. No que diabos ele tinha
se metido?
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
Jada abriu a boca para lhe dizer que não era nada. Mas o olhar
em seu rosto a deteve. Como se ele se importasse e estivesse
pronto para matar dragões por ela. Quando foi a última vez que
alguém a olhou assim?
— Bem, é que eu só consigo pensar em como o próximo
evento, meu próximo evento, está começando em menos de
uma hora, e se não der certo?
Um “V” apareceu entre suas sobrancelhas.
— A reunião do clube do livro foi um sucesso.
Jada já estava balançando a cabeça.
— Isso foi uma coisa de última hora, então eu não tive
muito tempo para deixar os nervos e as dúvidas me comerem
viva. Isso é diferente. Estou planejando isso há uma semana.
Esta era uma festa de despedida de solteiro/seminário de
sexualidade para uma professora de uma universidade local,
que aparentemente tinha um milhão de amigos, que estavam
prontos para vir na Sugar Blitz em trinta minutos. A
professora, cliente frequente da Sugar Blitz, queria combinar
as travessuras de uma despedida de solteira com uma pseudo-
conferência destinada a garantir que seus amigos e entes
queridos estivessem totalmente sintonizados com sua própria
sexualidade, e Jada foi encarregada de garantir que isso
ocorresse.
Oh, Deus. Sua visão escureceu por um segundo. Ela parou
por um momento para inspirar um pouco de oxigênio. Mas
apenas por um momento. Ela precisava tirar isso do peito dela,
e ele se ofereceu para ouvir, então ele teria a experiência
completa de Jada.
— E se ninguém se divertir? Se eles não se divertirem, eles
vão contar para os amigos deles, que vão contar para os amigos
deles, e então ninguém vai vir neste lugar novamente, e então
você vai me demitir e eu não poderia reclamar porque seria
totalmente minha culpa.
Ela estava divagando. Ela podia ouvir a si mesma. Mas desde
que seus pensamentos começaram a se agitar dez minutos atrás,
quando ela olhou para o relógio e decidiu que ir a despensa era
desesperadamente necessário, tudo bem. Ele queria saber. Bem,
agora ele sabia.
Ele inclinou a cabeça para o lado, claramente esperando para
ver se ela recuperaria o fôlego e voltaria. Quando ela
permaneceu em silêncio, ele assentiu.
— Jada, eu não vou te demitir.
— Você pode! — Suas mãos se torceram.
Ele estendeu a mão para elas e apertou.
— Eu não vou, e a razão pela qual eu sei que não vou é
porque eu ainda não fiz isso. Eu não fiz isso quando você quase
incendiou minha cozinha. Eu não fiz isso quando você me
beijou e declarou que eu era seu namorado. Não fiz isso quando
você alugou meu negócio como espaço de reunião para um
clube do livro sem me perguntar primeiro. Eu não fiz isso
quando fui forçado a posar como modelo de capa enquanto
uma sala cheia de mulheres bêbadas gritavam e me incitavam a
mostrar a elas como era feito na reunião do clube do livro.
Quando ele colocava dessa forma... Oh, Deus. Por que ele não
a demitiu ainda? O pânico começou a rasgar o revestimento de
seu estômago novamente. Ela balançou a cabeça.
— Mas desta vez pode ser diferente!
Ele apertou as mãos dela novamente.
— Jada, olhe para mim. — Ela olhou para cima de onde as
mãos dele, tão grandes e cheias de cicatrizes, embalavam as dela
como se fossem uma carga preciosa. Seus olhos estavam firmes,
calmos e seguros. — Não vai ser diferente.
Ela balançou a cabeça, as dúvidas superando suas garantias.
Ela falhou antes. Ela estava no auge de uma reunião bem-
sucedida do clube do livro quando sugeriu organizar outros
eventos. Quando ela aprenderia a não ser tão impulsiva? Por
que dessa vez seria diferente?
— Como você sabe?
— Porque eu vi todo o trabalho duro que você fez para isso.
Você viu um buraco no mercado e estava querendo preenchê-
lo. Vi os resultados do seu trabalho duro… mais pessoas na loja
e mais pessoas retornando. O lugar parece, humm, interessante
esta noite.
Jada riu da expressão desconcertada em seu rosto. Ele era
muito fofo quando estava sendo sério.
— Não só isso, sua lista de convidados continua crescendo.
Você já disse a ela o que planejou, o que significa que eles estão
animados para vir e experimentar. Eles vão adorar estar aqui,
comendo nossos incríveis cupcakes e bebidas, e então eles vão
voltar. Todos nós ganhamos.
Quando ele colocava dessa forma... Seu estômago começou a
se acalmar. Só um pouco.
— Como você consegue ser tão lógico?
O canto de sua boca se ergueu.
— Você quer dizer como eu consigo não ser impulsivo?
— Sim, eu acho — ela murmurou.
Um largo sorriso se espalhou por seu rosto. Uau, ele estava
incrível. Tipo “uau”. O que não era o ponto. Sim, era uma boa
distração, mas não era o ponto. Ele encolheu os ombros.
— É assim que eu sou. — Ele desviou o olhar. Do jeito que
ele era? Ela não tinha tanta certeza. Antes que ela pudesse viajar
por aquele caminho potencialmente perigoso, ele soltou suas
mãos e apontou para ela. — Haverá um monte de gente
faminta aqui daqui a pouco. Você nos colocou nessa confusão
e vai nos tirar dela.
A última grama de nervosismo soltou seu aperto em seu
estômago. Ela assentiu em agradecimento.
— Intimidação. Ok, eu suponho que essa é uma técnica que
alguém poderia usar.
Ele assentiu.
— Os treinadores adoram usá-la. Olha, você obviamente
achou que era uma boa ideia, e você está nervosa, o que é
compreensível. Isso significa que você se importa. Todo
mundo fica nervoso.
— Até você?
Ele revirou os olhos.
— Sim, até eu, o Sr. Robô. Toda vez que eu piso em um
campo de futebol americano.
O quê?
— Você é um dos melhores jogadores defensivos da liga, ou
pelo menos é o que todos os seus fãs dizem quando vêm aqui
comprar cupcakes e acabam falando isso na sua cara. — Ele a
olhou de lado. Ela deu de ombros. — O quê? É verdade.
— Eu fico tão nervoso quanto quando eu estava no ensino
médio ou na faculdade e sabia que os olheiros estavam me
observando? Não. Eu jogo futebol americano há muito tempo.
Mas ainda quero fazer um bom trabalho toda vez que eu entrar
em campo. Saber que fiz tudo ao meu alcance para me preparar
me acalma.
Ela assentiu.
— Ter conforto na minha preparação.
— Exatamente.
— Algo mais te deixa nervoso? E seja honesto! O que
acontece na despensa fica na despensa — ela o lembrou,
quando ele parecia que poderia objetar.
Ele se acalmou e se inclinou contra a parede ao lado dela, seu
ombro roçando o dela antes de colocar mais alguns centímetros
entre eles. Ela mordeu o lábio antes que uma objeção pudesse
escapar.
Ela estava se tornando uma bruxinha gananciosa quando se
tratava de contato com ele. Ela tomaria quando e como
pudesse. Ela examinaria o porquê mais tarde. Agora, ela queria
saber o que o fazia vibrar. O que o tornou Donovan. Ela
também examinaria o porquê disso mais tarde. Neste
momento, ela só queria o conhecimento.
— Falhar — ele disse simplesmente.
Ela não ficou surpresa com a resposta. Ele estabelecia um
padrão alto para si mesmo. A pergunta era: por quê? Mas ela
não respondeu, sentindo que ele ainda estava lutando para
saber como continuar ou se deveria.
Ele agarrou seus braços, seus olhos se fechando por um
momento.
— Enquanto crescia, a estabilidade financeira era
inexistente. Você já conhece a barraca de limonada. Meu pai era
– é – viciado em jogos de azar. Ele estava sempre procurando o
próximo grande sucesso, certo de que aconteceria em sua
próxima aposta.
— Aconteceu?
Donovan soltou uma risada irônica.
— Sim, ocasionalmente. Apenas o suficiente para ele ansiar
pela próxima vitória, fazendo uma aposta ainda maior. Minha
mãe fez o possível para se manter forte, mas isso era difícil de
fazer quando você nunca sabe quando seu marido vai esvaziar
a conta bancária. — Ele se virou para ela, apoiando o ombro
direito na parede. — Eu não corro riscos. Eu penso
logicamente. Eu era bom no futebol americano e sabia que isso
poderia dar a toda a minha família uma estabilidade financeira
que só poderíamos sonhar se eu me mantivesse e me tornasse
profissional. Então eu fiz, e aconteceu.
— Você conseguiu. — Ela pegou a mão dele, precisando
oferecer o conforto que ele tão voluntariamente lhe deu.
Precisando dessa conexão, por mais simples e pura que fosse,
com ele.
Ele apertou a mão dela de volta.
— Aceitei, o que me permitiu arriscar, a primeira chance
que realmente consegui desde criança, quando meus melhores
amigos me convenceram a abrir uma loja de cupcakes. Eu
quero que a Sugar Blitz tenha sucesso, mas tem sido mais difícil
do que eu esperava e estou aprendendo novamente que nada é
garantido.
Jada gemeu.
— E aqui estou eu aumentando a incerteza e bagunçando as
coisas.
Outra risada irônica escapou.
— Sim e não.
Ela inspecionou os ângulos afiados e fascinantes de seu
perfil.
— O que isso significa?
— Significa que não vou deixar uma mulher impulsiva que
pensa que pode me dizer exatamente o que ela sente sempre que
acha que vai destruir meu negócio.
— Ei! — Ela estendeu a mão para empurrar seu peito.
A mão dele pegou a dela antes que ela fizesse contato. Sua
palma rodeou a dela. Sua respiração gaguejou quando ele a
puxou para mais perto, seu calor a rodeando.
— Jada, a trabalhadora, não me deixa nervoso. Mas Jada, a
mulher, sim.
Ela procurou seus olhos. Eles eram sombrios e sérios.
Focados apenas nela. Não que ela precisasse. Ele poderia estar
alimentando-a com uma linha, mas seu instinto lhe dizia que
não estava. As borboletas em seu estômago começaram a
bombar novamente.
— Como eu deixo você nervoso?
— Bem, caso você não tenha notado, eu gosto de lógica e
ordem. Calmaria. E nada disso entra em minha órbita quando
você está por perto.
Jada engoliu em seco, procurando as palavras.
— Eu sinto muito.
Seus lábios se curvaram.
— Não sinta. Não é sua culpa que você incline meu
equilíbrio para fora do eixo. Todos os dias, tento descobrir
como vou lidar com isso. Eu não sou como você. Gosto de
planilhas e análises SWOT8. Todos os dias, luto contra meus
instintos.
8
Análise SWOT é uma ferramenta de gestão que se baseia no estudo das
forças, fraquezas, oportunidades e ameaças a uma situação ou empresa, produto,
indústria etc.
Ela engoliu. Ela não conseguia desviar o olhar. Seu empate
era muito forte. Muito poderoso.
— O que seus instintos querem que você faça?
Ele não respondeu. Não com palavras.
O beijo foi mais doce que açúcar. Gentil. Persuasivo. Os
olhos de Jada se fecharam quando ela instantaneamente se
perdeu no abraço. Perdida nele. Beijar Donovan estava subindo
rapidamente na lista de suas atividades favoritas. Agora, ela não
conseguia pensar em nada que superasse isso. Ela poderia em
breve se tornar viciada nele. Para se sentir assim. Cuidada.
Desejada. Gostava de quem ela era.
Ela não sabia como isso aconteceu, mas suas costas estavam
contra a parede, seu peito duro pressionado contra o dela, e ele
estava levando o beijo mais fundo, mais fundo e mais fundo
como se não pudesse se cansar dela. Ela entendia como ele se
sentia. Ela estava rapidamente escorregando sob seu feitiço. A
língua dele entrelaçando com a dela em longos, sensuais e
decadentes escorregões. Um acasalamento perfeito e sensual
que drogou todos os seus sentidos. O beijo suavizou enquanto
ele se afastava lentamente, dando-lhe um momento para
respirar. Bem quando ela estava prestes a implorar por mais, ele
estava de volta, gemendo enquanto chupava seu lábio inferior.
Ele estava com fome. Faminto por ela.
Não mais do que ela estava por ele.
Ela ficou na ponta dos pés, procurando desesperadamente
uma conexão mais forte. Ele riu. Sua risada parou
abruptamente quando ela imitou sua ação e mordeu seu lábio
inferior. Ah, sim. Ela gostou disso. Eram macios e delicados.
Perfeitos. Ela repetiu a ação, seus dentes afundando na carne
gorda e saboreando-o.
— É assim? — ele murmurou, sua voz provocante.
— Sim — ela gemeu.
Então o beijo ficou mais quente. Mais selvagem. Necessário.
Os dentes se chocando. As línguas lutando. A luxúria
invadindo seu sistema. Ela queria mais. Precisava mais de
Donovan.
A excitação se acumulou entre suas coxas. Ele balançou
contra ela, sua dureza pressionando em seu estômago. Jada
engasgou em sua boca. Ele estava tão afetado quanto ela.
Queria tanto quanto ela. Ela agarrou a camisa dele, precisando
da âncora.
Não foi o suficiente.
Ela queria as mãos dele sobre ela.
— Me toque.
A necessidade em sua voz a assustou, mas ela não retirou sua
fala. Não poderia.
Jada gemeu em profundas apreciações quando a mão dele
passou por baixo de sua camisa e pressionou contra seu
estômago antes de deslizar para cima em direção a seus seios.
Nos recessos de seu cérebro, ela reconheceu que as batidas
rítmicas que estava ouvindo não vinham apenas de seu coração
acelerado, mas ela o ignorou. Esse beijo com Donovan era tudo
com que ela se importava. Ela nunca queria deixar este mundo
que eles construíram apenas para os dois.
Mas as batidas só aumentaram de volume.
— Jada, você está aí? As pessoas estão começando a aparecer.
— A voz veio do lado de fora da porta. Nicholas.
Eles se separaram. O coração de Jada disparou como se ela
tivesse acabado de correr por 10 quilômetros. Donovan olhou
para ela com olhos selvagens, seu peito arfando.
— O que é que foi isso? — ele murmurou, claramente mais
para si mesmo do que esperando que ela fosse responder.
A maçaneta começou a chacoalhar rapidamente. Os olhos
de Donovan se arregalaram. Adicione isso às coisas sobre as
quais ela se debruçaria mais tarde.
— Sim, estou aqui — ela gritou, forçando sua voz a
cooperar. — Vou sair daqui a pouco. Apenas procurando um
cartaz.
A maçaneta parou de chacoalhar.
— Boa ideia — disse Nicholas. O som de seus passos
desapareceu.
Donovan ainda parecia abalado. O que a fez se sentir
incrível. Beijá-la lhe causou todo esse efeito? Beijá-lo foi o
ponto mais alto de seu dia. Inferno, do ano dela. Mas ele parecia
consternado, se não completamente horrorizado.
Com as pernas instáveis, ela contornou sua figura imóvel e
se dirigiu para a porta. Ela parou com a mão na maçaneta e
fechou os olhos por um momento, reunindo todos os resíduos
de compostura que conseguiu reunir. Ela esteve aqui antes,
tendo que juntar as peças depois de erros terríveis e impulsivos
com outros homens. Ele não disse nada. Então dependia dela.
— Ei, não se preocupe com isso. Você lembra? O que
acontece na despensa fica na despensa.
No dia seguinte, Jada olhou fixamente para a foto dela e de
Donovan na tela do telefone, gravando cada pixel na memória.
Como a tola que ela obviamente era.
— Jada.
Ela deixou cair o braço e pressionou o telefone ao seu lado
como se pudesse forçar o dispositivo a se fundir no algodão de
seu vestido se tentasse o suficiente.
— Oi.
Donovan estreitou os olhos.
— Você está bem?
— Sim. — Ela empurrou os lábios para uma ênfase extra.
Ele continuou a estudá-la por um segundo, mas então ele
finalmente assentiu.
— Tudo bem. Pronta para fazer isso?
— Claro. — Jada o seguiu até seu SUV. Ela abriu a porta do
carro e puxou-se para o banco. Ela olhou para frente enquanto
Donovan abria a porta do lado do motorista e se sentava atrás
do volante. Ela absolutamente não pensou naquela foto. Ela
absolutamente não pensou em como a boca dele parecia
fantástica na dela ontem. Não. Ela pensou em como ele parecia
espantado depois do incidente e como eles estavam evitando
um ao outro desde a noite passada, falando apenas quando
necessário.
Mas eles não podiam mais fazer isso. Não hoje, de qualquer
maneira.
Eles concordaram que fazia sentido dirigir para a estação de
notícias juntos para sua aparição no Good Day, San Diego,
porque eles estavam "namorando" e indo para o mesmo lugar,
afinal. Nada demais. Fazia todo o sentido.
Exceto pela tensão implícita que ocupava muito espaço no
veículo. E seus hormônios que aparentemente não tinham
orgulho e não se importavam que Donovan não estivesse
exatamente empolgado por se sentir atraído por ela.
Não havia lugar para correr. Na confeitaria, pelo menos, ela
poderia escapar verificando um cliente ou ajudando Nicholas a
limpar ou fazer outras tarefas, não relacionadas a cozinha.
Ele ocupava tanto espaço. A largura de seu assento não era
páreo para a largura de seus ombros. Seu olhar caiu para as mãos
dele. Ele agarrou o volante e manuseou o carro habilmente. Ele
lidaria com seu corpo da mesma maneira, sabendo
instintivamente como agradá-la? Enquanto abafava um
gemido, ela se mexeu no assento de couro. O que havia de
errado com ela? Onde estava o orgulho dela?
Ele quebrou o silêncio primeiro.
— O que você estava olhando no seu telefone?
Ele havia notado. Merda. Ela podia mentir, mas mentir não
fazia sentido porque ela não tinha feito nada de errado… bem,
além de começar toda essa farsa.
Ela forçou uma risada totalmente alegre, totalmente casual.
— Você se lembra de Rose, a fotógrafa do clube do livro?
Ela me mandou algumas fotos do ensaio. — Ela hesitou. —
Você quer ver?
Ele levou um momento para responder.
— Claro.
Jada não conseguia entender absolutamente nada naquela
frase. Não houve inflexão. Sem hesitação. Bastava mostrar.
No próximo sinal vermelho, ela entregou o telefone para ele.
Ele silenciosamente percorreu as imagens, seu rosto impassível
como sempre. Ele estudou o último, o mesmo que capturou
sua atenção. Devia ter sido a última foto. Suas bocas estavam
tentadoramente próximas. Seu aperto em sua cintura era
intenso. Possessivo. Mas foi o olhar em seus olhos, o olhar em
seu rosto que a prendeu, uma saudade mútua. Desejo.
Conexão.
— O que você achou?
Seu olhar colidiu com o dela.
— Elas estão boas. Rose é uma fotógrafa talentosa. — Ele
entregou o telefone de volta para ela e pressionou o pé no
acelerador quando o sinal ficou verde.
Jada agarrou o telefone e olhou para frente, esperando que
ela projetasse calma, embora estivesse sentindo tudo menos
isso.
De acordo com o GPS do carro, eles estavam a dezessete
minutos do seu destino. Dezessete minutos para inalar seu
perfume, realçado pela loção pós-barba leve e sedutora que ele
usava. Dezessete minutos para ver os músculos de suas coxas se
alongarem e se contraírem enquanto ele navegava pelas ruas de
San Diego. Ela deveria ter insistido em dirigir. Qualquer coisa
para impedir sua mente de vagar por um caminho perigoso.
Não que isso importasse, mesmo que ela tivesse pensado no
beijo um milhão de vezes hoje. Ela e Donovan estavam
fingindo. O começo, o meio, o fim.
Ela ainda estava comandando a Operação: Jada-tem-
controle-sobre-sua-vida, e começar um relacionamento ou
aventura ou qualquer outra coisa só serviria como uma
distração. Ela não podia, não iria pular em algo com ele só
porque seus hormônios ficavam descontrolados sempre que ele
estava por perto. Só porque ele a fazia se sentir bem consigo
mesma isso não significava nada.
Ela sempre caía rápido demais. Ela estava virando uma nova
página. Não havia espaço em sua vida para um homem. Não
agora. Não mencionaria o fato de que ele era seu chefe e jogava
no time de sua avó. Essa era uma complicação que ela não
precisava.
E inferno, ela nem chegou à parte em que ele não disse nada
quando ela saiu da despensa. Ou aquele olhar horrorizado em
seu rosto.
— O evento correu bem ontem à noite — disse ele. — Você
fez bem. Nicholas disse que as pessoas estavam perguntando
como agendar eventos quando estavam saindo.
— Obrigada — disse ela. Sua graça salvadora. De alguma
forma, ela se recompôs para se concentrar na tarefa em mãos.
Ela se divertiu, sabendo que os outros estavam se divertindo,
em parte como resultado de seu trabalho duro. Ajudou o fato
de Donovan ter se afastado durante a noite. Seu elogio a
aqueceu mesmo quando a temperatura no carro permaneceu
fria.
Silêncio, aquele inimigo familiar, desceu novamente.
— Devemos conversar sobre o que aconteceu ontem à
noite.
Ah. Achar que ele decidiria passar os próximos quinze
minutos em silêncio tenso não era a melhor estratégia. Jada
olhou pela janela do passageiro. Ela não viu nada da paisagem.
— O que há para conversar? Nós nos beijamos. Isso foi um
erro. Fim.
Donovan suspirou.
— Jada.
— Não venha com “Jada” para cima de mim. Você é o único
que nem olhou para mim. — Ela se encolheu, ouvindo a dor e
a confusão em sua voz.
Ele suspirou novamente.
— Eu sinto muito. Eu não esperava…
Jada se virou quando ele não terminou seu pensamento. Ela
precisava saber.
— Você não estava esperando o quê?
Suas mãos com cicatrizes apertaram o volante enquanto ele
olhava para a frente.
— Minha reação intensa por você. Eu não sentia nada assim
há muito tempo, e isso me chocou. E quando estou chocado,
levo um minuto para me recompor.
Jada suspirou.
— Entendo. — E ela entendia. Ela ainda estava tendo
dificuldade em aceitar que ela sentiu tudo enquanto estava
presa em seus braços. Isso nunca tinha acontecido com ela
antes.
— Lamento que tenha parecido insensível. Essa nunca foi
minha intenção.
O coração de Jada deu um salto. Como não poderia? Sua
sinceridade soou verdadeira. Ele nunca foi nada além de um
cara sincero, mesmo quando ela o estava deixando louco. Se ele
podia ser honesto, ela também podia.
— Obrigada pelo pedido de desculpas. Eu estava me
sentindo um pouco magoada por causa de sua reação, mas o
que você disse faz sentido. Foi um momento, e acabou. Não é
como se nenhum de nós estivesse querendo começar alguma
coisa, certo?
— Certo. — Ele mostrou um sorriso tímido e incerto, e
ainda assim tão devastador, do jeito dele.
— Então, amigos?
Jada assentiu.
— Sim. Não posso prometer não fazer algo no futuro que
faça você suspirar de desespero, mas sim, somos amigos.
E se ela achasse que estava gostando dele? Bem, ela já havia
se lembrado das várias razões pelas quais ela e Donovan não
deveriam ter algo a mais. Essas razões ainda eram válidas, o que
deixava apenas um resultado viável. Somente amizade.
Ele riu, a leveza finalmente retornando aos seus olhos.
— Não há dúvida de que isso vai acontecer.
Jada esfregou as mãos.
— Mal posso esperar... Donny.
— É Donovan — ele disse com os dentes cerrados, suas
narinas dilatadas.
Ponto para Jada!
Jada riu. Isso era muito melhor do que um silêncio tenso.
— Sua mãe te chama de Donny. Eu vou te chamar de
Donny.
Conhecer sua mãe e irmãs foi revelador. Foi fácil escalar
Donovan como o impassível. Mais fácil para ela, pelo menos.
Qualquer coisa para manter suas emoções e sentimentos sob
controle. Mais fácil não pensar nele como um ser humano vivo,
respirando e carinhoso. Mas ela não podia mais fingir. Não
depois de ver o relacionamento amoroso e próximo que ele
compartilhava com sua mãe e irmãs. Não depois de ouvir a
história sobre um jovem Donovan tentando se aproximar e
cuidar da família dele. Ela imaginou um Donovan determinado
e resoluto reunindo seus suprimentos e saindo para montar
uma barraca de limonada, e seu coração se derreteu.
Ele lançou a ela o mesmo olhar desinteressado que ele sem
dúvida lançou nos clientes transitórios que se recusaram a
comprar sua limonada quando ele era jovem.
— Eu tenho o mesmo nome do meu avô, então ela me
chama de Donny para evitar confusão.
Ela estudou seu perfil e tentou ao máximo não se distrair
com sua mandíbula afiada e como ela não tinha aproveitado a
oportunidade para acariciá-lo no armário de suprimentos.
— Aposto que você tinha onze anos quando pediu para
parar de ser chamado de Donny.
— Dez anos, na verdade — ele murmurou.
Ela riu. Ela poderia totalmente fazer essa coisa de ser amigos.
Totalmente.
∗∗∗
∗∗∗
9
Rudolph ou Rudolfo a Rena de Nariz Vermelho, é uma rena fictícia que
possui um nariz vermelho incandescente, popularmente conhecida como a
"Nona Rena do Pai Natal".
verdadeiro. Vocês têm sorte de ter um ao outro. Vocês dois são
o casal perfeito.
Donovan chamou a atenção de Jada. O casal perfeito falso.
Esse era o acordo deles. Ele precisava se lembrar desse fato
inegável.
— No geral, tudo correu bem, você não acha? — Jada
perguntou quando eles voltaram para o carro de Donovan. —
Quero dizer, além daqueles trinta segundos em que pensei que
ia ter que lutar com esses saltos. — Ela tinha que dizer algo para
quebrar o silêncio prolongado. Algo para afastar a memória de
seu coração pulando quando Kayla disse que eles eram o casal
perfeito. Eles não eram o casal perfeito. Eles nem eram um
casal. Eram... colegas de trabalho, ou, mais precisamente, chefe
e empregada temporária. Amigos, até. No entanto, a frase
permaneceu. O casal perfeito.
Ele olhou na direção dela.
— Sim. Kayla se empolgou com os cupcakes, e acho que ela
realmente quis dizer isso e não por medo de ter enfiado o pé tão
fundo na garganta que nunca seria capaz de tirá-lo. A Sugar
Blitz teve uma grande publicidade. Nosso esquema está
funcionando. É ótimo. — Ele não parecia ótimo. Ele parecia
distraído.
— Você está preocupado com o que ela disse sobre você
namorar comigo para conseguir mais dinheiro da Vovó?
Ele balançou sua cabeça.
— Não. Nós dois sabemos que isso não é verdade. Mas
tenho uma confissão a fazer. Quando sua avó me pediu para
contratá-la, achei que concordar poderia me colocar em uma
posição melhor nas negociações do meu contrato.
Jada estalou os dedos.
— Eu sabia. Eu sabia que você tinha motivos péssimos. —
Ela riu do olhar aflito em seu rosto. — Donovan, sério, está
tudo bem. Eu conheço minha avó. Não tenho dúvidas de que
ela passou por cima de você e não lhe deu nenhuma opção real
além de me contratar, então faz todo o sentido que você estava
pensando no que poderia ganhar com isso. Você é a pessoa mais
honesta que eu já conheci, e se eu não te admirasse por isso, eu
te odiaria por isso.
— Sim, eu acho. — Ele não abriu um sorriso.
Jada estudou seu perfil. No que ele estava pensando? Ele
estava se arrependendo do acordo? Lamentando ela trabalhar
na loja? Bem, essa parte não fazia sentido. Eles estavam se dando
bem, e ela não disparou o alarme de incêndio novamente.
Ela riu.
— O que é tão engraçado?
— Só de pensar em como quase queimei sua cozinha.
— Então você admite! — Havia humor em sua voz.
Finalmente. Ela não queria examinar muito de perto como isso
a fazia se sentir bem.
Jada colocou seu tom mais altivo.
— Eu não faço esse tipo de coisa. Eu estava apenas usando
suas palavras para descrever a situação.
Seus olhos brilharam.
— Certo. — Ele se acalmou por um momento, então olhou
na direção dela. — Foi legal como você lidou com ela pedindo
para você ler as cartas de sinalização.
Os músculos dos ombros de Jada travaram. Lá estava. Ela
estava se perguntando quanto tempo levaria para ele trazer isso
à tona.
— Eu meio que esperava que você esquecesse isso.
As sobrancelhas de Donovan se desenharam em um V
profundo.
— Por quê? Uma deficiência de aprendizagem não é algo
para se envergonhar.
Seus ombros relaxaram um pouco.
— Eu sei disso, e ainda… — Ela deu de ombros.
— E ainda o quê? As pessoas te falam merda por ser
disléxica?
Jada olhou pela janela do passageiro para as paisagens que
passava, para se dar alguns segundos extras antes de responder.
Ela odiava falar sobre isso. Mas ele revelou uma parte de si
mesmo na despensa, e não importava o quão longe as coisas
tivessem ido depois, ela nunca esqueceria isso.
— Principalmente meus pais.
— Você está falando sério? Por que eles fariam isso?
Ela balançou a cabeça, como se aquele simples ato pudesse
desalojar todas as memórias dolorosas que se acumularam ali
desde a infância.
— A dislexia não se encaixava na narrativa da família de elite
perfeita e inteligente.
— A dislexia não tem nada a ver com inteligência. — Ele
parecia tão forte, tão chocado que as pessoas faziam esse tipo de
besteira. Ter esse homem ao seu lado lhe deu uma força que ela
nem sabia que estava perdendo.
Ela deu de ombros.
— Eles esperam a perfeição sem esforço. Uma dificuldade
de aprendizado meio que atrapalhou isso, e acho que eles nunca
vão me perdoar por isso.
— Isso é horrível.
Jada olhou em sua direção.
— Sim, no que diz respeito a eles, ou você é um gênio que
tira as melhores notas ou não é brilhante. Não tem muito
espaço para uma área cinzenta. — Sua voz sumiu quando ela se
lembrou de todas as vezes que eles involuntariamente a fizeram
sentir uma merda. Como se ela não fosse digna de amor por
causa de algo sobre o qual ela não tinha controle.
— Eu sinto muito. — Sua voz profunda a trouxe de volta ao
presente. — Entendo. Bem, mais ou menos. Não é exatamente
a mesma coisa, mas toda a minha vida, quando as pessoas
ouvem atleta, elas tendem a pensar automaticamente em
“jogadores burros”, até mesmo alguns dos treinadores, que nos
consideram peças de jogo musculosas que podem mover à
vontade no tabuleiro de xadrez, conhecido como o campo de
futebol americano. Eu me formei em administração de
empresas, embora meus treinadores da faculdade não
quisessem que eu me formasse.
— No que eles queriam que você se especializasse? — Sim,
ela estava feliz em seguir em frente com a conversa, mas
principalmente, ela queria cada pedaço de informação que
pudesse ter sobre ele. Ela queria saber tudo. Ela queria conhecê-
lo.
Ele ergueu os ombros largos.
— Cestaria. Não sei. O que quer que não tirasse meu foco
no campo. A economia empresarial exige uma carga de
trabalho muito grande para estudantes-atletas.
Jada resmungou.
— Estudantes-atletas? Parece que eles não se importaram
muito com a parte estudante dessa palavra.
— Isso mesmo. Eles não são pagos para se preocupar com
isso. Não teria sido tão ruim se um dos meus treinadores não
tivesse me dito que não achava que eu era inteligente o
suficiente para passar nas aulas.
Seu queixo caiu.
— Você está falando sério?
— Ah, sim. Sua chamada preocupação saiu pela culatra.
Fiquei ainda mais determinado a ser um especialista em
negócios.
Jada assentiu.
— As pessoas julgam e subestimam você. Eu entendo isso
totalmente.
Ela encontrou seus olhos. Ele entendia pelo que ela passava.
O calor se espalhou de seu coração através de suas veias.
— Eu sei que você gosta, e eu aprecio isso. Sério, é difícil, eu
sei, mas tente não deixar seus pais entrarem na sua cabeça ou
ficarem lá.
— Obrigado. E não que isso importe, mas eu sei que você
não é burro. Ninguém é. Você está um pouco tenso. — Ela
torceu o nariz. — Muito tenso.
Donovan riu enquanto parava em um sinal vermelho.
— Você tem razão.
Jada se animou.
— Eu tenho?
— Sim, sobre ninguém ser burro. Mas isso não é tudo. Você
também é impulsiva. Muito impulsiva, na verdade. Uma
constante encrenqueira que cria caos onde quer que vá.
Ele não disse isso como se estivesse irritado com esse fato.
Ele parecia quase bem com seu estado de ser. Ela se atreve a
dizer que ele parecia quase... impressionado? Ela sorriu.
— Obrigada.
Ele levantou a mão para um toca aqui. Com uma risada, ela
bateu palmas com ele e fez o seu melhor para ignorar o choque
de eletricidade que viajou por seu braço.
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
10
Personagens de Star Wars.
Ele recuou quando os dedos estalando apareceram a menos
de uma polegada de seu rosto.
— Terra chamando Donovan. Você está aí?
Donovan empurrou a mão de Nicholas para longe.
—Sim, sim.
Nicholas lançou-lhe um olhar.
— Você acabou de concordar em ficar pelado na frente de
toda a loja e cantar em um karaokê.
— O quê? — Donovan apertou os olhos, então balançou a
cabeça. — Não, eu não concordei!
Nicholas ergueu uma sobrancelha.
— Tem certeza?
Donovan vasculhou seu cérebro, tentando se lembrar do
que Nicholas disse. Ele não lembrava de nada.
— O que você quer?
Nicholas abriu a caixa e colocou os cupcakes dentro. Ele
olhou por cima do ombro.
— Eu quero saber por que você parece que descobriu que o
Papai Noel deixou um pedaço de carvão embaixo da árvore de
Natal.
— John Timmerman chegou alguns minutos atrás.
— O quê? Dr. John? — O fofoqueiro saltou super alto e
quase quebrou o pescoço para examinar a loja. — Ele veio?
Onde ele está?
— Ele saiu com a Jada. — Donovan pegou uma toalha e
esfregou o balcão com toda sua força. Isso era uma merda. Cada
partezinha disso.
Sim, Jada podia cuidar de si mesma, mas ele odiava vê-la
perturbada. E não havia como negar que ela ficou chocada até
a sola de seus Crocs ao ver aquela explosão de memórias no
passado.
O que aquele idiota queria? E talvez ele não fosse um idiota,
mas qualquer cara que aparecesse no trabalho de sua ex, um
trabalho onde ela também trabalhava com seu atual namorado,
seria qualificado como um idiota em sua concepção. E não, não
importava que tecnicamente eles não estivessem namorando.
Fodam-se os tecnicismos. Ele não gostou daquele cara
aparecendo. Ele cheirava a más notícias com sua colônia
avassaladora que era apenas um pouco melhor que o da marca
Axe.
— O que quer que ele esteja fazendo não é bom.
— Tem certeza de que não é só nisso que você quer
acreditar?
Donovan saltou. De onde diabos August tinha vindo?
Ele fez uma careta.
— Eu vou chutar sua bunda um dia se você se aproximar de
mim assim de novo.
— Você vem dizendo isso desde de que nos conhecemos e
ainda não fez isso, então… — Os ombros maciços de August se
ergueram em um encolher de ombros.
Donovan esfregou as têmporas em uma tentativa inútil de
conter a dor de cabeça. Seus ombros e estômago estavam
apertados. Sua pele estava coçando. Ele não gostou daquele tal
de John aparecendo do nada. E se Jada quisesse voltar com ele?
Antes que ele pudesse dizer a ela como se sentia? Ele tinha
planejado convidá-la para sair quando o turno dela acabasse.
Ele queria ir com calma, não tornar as coisas estranhas no
trabalho. Veja onde isso o levou. Porra.
— Você parece terrivelmente incomodado por algo que
você disse que não está te incomodando. — Nicholas pegou
uma xícara de café, tomou um gole e observou Donovan por
cima da bancada.
— Eu não estou incomodado. Estou preocupado com Jada.
Ela está lá fora sozinha com aquele cara.
— Jada viajou por todo o mundo sozinha. Tenho certeza de
que ela pode cuidar de si mesma.
— Claro que ela pode cuidar de si mesma, mas não tenho
ideia do que ele está dizendo a ela. Ela já passou por muita coisa.
Se ele está mexendo com a cabeça dela ou brincando com suas
vulnerabilidades, eu vou chutar a bunda dele. E ponto final.
Caramba. Onde ela está? — ele olhou para o relógio na parede.
Ela tinha saído dezessete minutos atrás. Muito tempo para
aquele cara dizer o que ele queria dizer e dar o fora. Ele jogou a
toalha no balcão. — Eu vou encontrá-la.
Enquanto ele se apressava ao redor do balcão, a campainha
da porta da frente tocou e Jada voltou para dentro da Sugar
Blitz. Imediatamente, todas as conversas na padaria ficaram
mudas. Nenhum dos clientes intrometidos tinha ido embora.
Depois de um segundo suspenso, mais cliques de câmera
encheram o ar.
Jada levou tudo com calma, ou pelo menos fez o possível
para dar essa aparência. Donovan estava começando a conhecê-
la melhor. Ela endireitou os ombros, ergueu o queixo e colocou
um sorriso em seu lindo rosto. Mas o sorriso não era genuíno,
seu andar não era firme, e ela apertou as mãos com bastante
força.
Donovan deu os três passos necessários para chegar até ela e
passou um braço em volta da sua cintura, o que ele percebeu
que tinha feito quando viu John pela primeira vez. Ela cedeu
ao seu lado. Porra. Ela não estava bem. Ele precisava tirá-la
daqui.
Ele caminhou com ela para seu escritório e fechou a porta
para o mundo exterior. Jada caiu contra a parede e fechou os
olhos.
— Jada, você está bem?
Ela não respondeu. Seu peito subia e descia rapidamente.
— Jada. — Ele fez o seu melhor para oferecer-lhe conforto,
mas agora ele estava em pânico. E ele nunca entrava em pânico.
Ele analisava a situação e apresentava a solução mais lógica. Mas
nada tinha sido lógico desde o momento em que ela apareceu
na Sugar Blitz. Ele não podia voltar ao modo como as coisas
eram. Mais importante, ele não queria.
— Jada — ele implorou.
Por fim, seus olhos se abriram. Em um movimento fluido,
ela se afastou da parede e deu um beijo rápido e forte na boca
dele, seus lábios macios estavam agarrados aos dele por um
breve momento, então caiu contra a porta novamente, seus
olhos se fechando novamente, sua respiração ainda acelerada.
Que porra?
O pânico bateu em seu peito. Ela estava em choque? Ele
examinou sua figura, procurando por quaisquer sinais de
angústia. Tudo parecia normal, mas ele sabia que nem todas as
feridas e cicatrizes estavam aparecendo do lado de fora.
— Você está bem? Aquele paspalhão fez ou disse algo ruim
para você?
Seus olhos se abriram.
— Paspalhão? Não — ela murmurou. — Você esteve
assistindo Clube dos Cafajestes ou algum outro canal obsceno
ou algo dos anos oitenta? Ou os anos noventa?
— Jada. — Ele não estava com disposição para que suas
brincadeiras desviassem de assuntos sérios agora. Ele precisava
ter certeza de que ela estava bem antes de desmaiar de
preocupação.
— Você percebe que todo o circo da mídia vai começar de
novo? Só que desta vez, vai ser tudo sobre um triângulo
amoroso. Jada está dominando suas artimanhas femininas
sobre dois homens e os atraindo para sua teia de destruição? —
Sua voz era leve e arejada, como se ela não pudesse acreditar que
estava nessa situação, mas achou hilário do mesmo jeito. —
Meus pais vão ter um ataque.
— Jada, eu não me importo com tudo isso. Eu me importo
com você. — Ele segurou seus ombros. — Você está bem?
Seus olhos travaram nos dele.
— Eu me perguntava o que aconteceria se eu o visse
novamente. As borboletas voltariam? Eu sentiria a mesma
faísca que senti na primeira noite em que nos conhecemos?
Você sabe, eu sempre me perguntei se aquela faísca era real, ou
era resultado da manipulação do produtor nos dizendo
repetidamente que estávamos prestes a conhecer o homem dos
nossos sonhos, que estava procurando por sua esposa. Eu seria
atingida por uma parede de arrependimento quando o visse?
Eu pediria outra chance ou ele cairia de joelhos e imploraria por
outra chance porque eu era a mulher dos seus sonhos?
Donovan engoliu em seco, tentando trazer um pouco de
umidade para a garganta que estava seca, e forçou a pergunta
enquanto ela dava voz aos medos que ele não queria
reconhecer.
— O que você descobriu?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios perfeitos.
— O tempo todo que ele estava falando comigo, eu não
conseguia parar de pensar em você. Eu queria que fosse você.
Eu quero estar com você. Só você. Sério.
Mais uma vez, seus lábios pousaram nos dele com um
propósito claro – seduzir. Ele sempre achava que tinha um
plano. Ela mordiscou seu lábio inferior até que sua boca se
abriu. Então ela estava dentro, deixando-o provar a doçura que
era Jada Townsend-Matthews. Ele felizmente se perdeu nela.
Suas línguas se encontraram em um lento e sensual deslizar.
Ele se aproximou. Estar perto não era perto o suficiente. Ele
amaldiçoou as roupas que separavam seus corpos. Ele queria
ver e adorar os seios macios pressionados contra seu peito. Ele
queria deitá-la em um mar de rosas e explorar cada centímetro
de seu corpo delicioso com as mãos e a boca. Ele nunca quis
nada mais.
Ela se afastou. Ele segurou um gemido indigno pela pele de
seus dentes.
Seus olhos procuraram os dele.
— Espere. Você sente o mesmo?
— Sim. Muito. — Ele nunca respondeu algo tão rápido em
toda a sua vida.
Seu sorriso deslumbrante parou seu coração por duas
batidas completas. Ele nunca tinha visto uma visão mais bonita
em sua vida do que uma Jada feliz e confiante.
— Ok, bom. De volta aos beijos.
Donovan sorriu.
— O prazer é todo meu.
Ele capturou seus lábios com os dele. Suas línguas se
entrelaçaram enquanto ele explorava sua boca. O cheiro dela o
cercava e o intoxicava. Ela o encantou. Ele não conseguia o
suficiente. Nunca teria o suficiente. Ele se balançou contra ela
e engoliu seu gemido quando ela percebeu o quão duro ele
estava. Gemeu quando ela colocou sua mão em seu cinto e o
puxou para mais perto.
O desejo corria em suas veias. Este era o lugar onde ele queria
estar. Com Jada, trancados longe do mundo exterior.
Espere. Ele se afastou, embora isso tomasse cada grama de
sua força de vontade.
— Isso significa que você deu um pé na bunda dele?
Ele queria ter certeza de que não havia mais mal-entendidos.
Que ela estava com ele nisso, o que quer que fosse.
— Você queria que eu usasse essas palavras exatas, não é? —
ela mordeu seu lábio. Espere. Esse era o trabalho dele. Ele se
inclinou para outro beijo, prestando uma atenção especial ao
lábio inferior carnudo que o atormentava desde o dia em que
se conheceram.
Relutantemente, ele se afastou e deu um aceno rápido.
— Eu não iria reclamar se você tivesse feito isso.
Ela acariciou sua bochecha. Ele se inclinou para o abraço,
desejando seu toque suave.
— Bem, eu não usei essas palavras exatas, mas eu o deixei
saber que ele e eu nunca seríamos um. Há outra pessoa na
minha vida a quem eu estou me dedicando.
A exultação encheu todos os seus poros.
— Perfeito. — Ele abaixou a cabeça novamente.
Eventualmente, Jada estava relutante para respirar. Seu coração
estava descontrolado, mas ela reuniu forças o suficiente para
passar o polegar pela mandíbula dura de Donovan e falar.
— Eu gosto de estar assim.
— Eu sei.
Ela revirou os olhos.
— Não seja todo machão. Eu sou a única que fez isso
acontecer.
— Eu ia fazer, mas você fez primeiro!
Agora ela estava intrigada.
— Ah, sério? O que esse momento envolvia?
— Bem, eu planejava exigir que você viesse falar comigo no
meu escritório quando seu turno terminasse. — Ele se inclinou
para mordiscar seu pescoço.
Só fazia sentido ela inclinar a cabeça para lhe dar melhor
acesso.
— Claro que você teria feito isso.
— Então eu planejava te dizer que eu estava reconsiderando
nosso relacionamento — ele murmurou contra o pulso
martelando na base de sua garganta.
Ela bufou, embora lutasse para acompanhar a linha da
conversa. Sua boca era extremamente talentosa.
— É claro. Da sua maneira perfeitamente lógica.
Quando ele levantou a cabeça, ela mal segurou um gemido.
— E você teria dito do seu jeito burguesa: “O que isso
significa?”.
— Não, eu não teria. — Ela deu um tapa no peito dele,
então decidiu ficar com a mão lá porque era um peito muito
bonito. Músculos flexionados sob seus dedos. Muito bom. —
Ok, sim, eu teria — ela acrescentou, em sua bufada.
— E eu teria dito: “Gostaria de discutir a situação durante o
jantar em um ambiente mais privado.”
— E eu teria dito: “Donovan Dell, você está me convidando
para um encontro?”.
— E eu teria dito que sim e então pularia da minha cadeira
para pegar você quando você desmaiasse e deslizasse para o
chão. — Ele arrastou sua boca da sua garganta até sua orelha
direita, provocando-a com os lábios e a língua.
Jada tentou organizar seus pensamentos, que se espalharam
por todos os cantos da terra. Seus lábios eram realmente
magistrais.
— Então, basicamente, eu estraguei tudo.
— Não, você fez tudo certo.
E assim, seu coração parou. Como no mundo ela achava que
tinha uma chance de resistir a ele? De resistir aos sentimentos
que ele despertava nela?
Ela ficou na ponta dos pés e inclinou a boca para a dele. Um
ajuste perfeito, assim como todas as outras vezes que eles se
beijaram. Prazer e desejo fluíram através de seu corpo em um
fluxo inflexível. Foi sua vez de gemer quando Donovan deu um
passo para trás.
— Por mais que eu queira ficar nos confins aconchegantes
do meu escritório e te beijar por horas e horas, acredito que meu
plano inicial ainda tem que valer.
— Um jantar? — Em seu aceno, ela sorriu. — Eu gosto de
comida. Acha que podemos fugir daqui? Tenho certeza de que
todos estão lá fora esperando para ver como vamos reagir à
visita de John.
— Eles vão se decepcionar. — Ele pegou a mão dela. — Nós
vamos sair pelos fundos. Vou mandar uma mensagem para
Nicholas dizendo que nós fugimos.
Olhar para esse lado lógico dele vinha a calhar.
— Isso soa como um plano.
Ele pressionou mais um beijo em seus lábios.
— Siga o meu carro. Vou enviar o endereço ao seu GPS para
o caso de nos separarmos.
— Onde estamos indo?
— Meu lar.
∗∗∗
Donovan pegou a mão de Jada assim que ela saiu do carro.
Tocá-la nunca seria algo ruim. Se ele fosse honesto consigo
mesmo, um sentimento que ele só poderia descrever como pura
alegria o invadiu quando o carro dela parou atrás dele. Isso era
real.
— Pronto para o nosso encontro?
Ela apertou os olhos.
— Encontro é sinônimo de mais beijos?
Ele riu. Ela nunca deixava de diverti-lo.
— Provavelmente.
Ela bateu palmas.
— Então vamos. — Ela o puxou para a porta da frente.
Uma vez dentro da casa, ele a levou direto para a cozinha.
Ela se virou e ficou na ponta dos pés. Emocionado por ela ter
aceitado o convite, ele aninhou o queixo dela e abaixou a
cabeça. Ele queria ir devagar, tomar seu tempo na esperança de
se lembrar de cada momento. Ele pacientemente tomou seus
lábios deliciosos, contente em saborear sua doçura. Até que ela
gemeu. Aquele som, tão sexy... o que ela fazia com ele sem nem
mesmo tentar. Seus lábios se separaram, e ele a puxou para mais
perto para um beijo longo e intenso que sacudiu seu cérebro.
Ele riu um pouco quando as mãos dela foram vagando,
puxando a bainha de sua camisa. Então ele respirou fundo
quando a mão dela encontrou sua pele debaixo da Polo. Quem
diria que mãos tão pequenas poderiam causar tanto estrago?
Suas palmas percorreram a carne sensível de seu estômago,
deixando arrepios em seu rastro. Como seria ter aquelas mãos
gananciosas tocando uma parte mais sensível, mas ansiosa dele?
— Eu quero tocar você inteiro — ela murmurou contra sua
boca, aparentemente lendo sua mente, o desejo em sua voz
aumentando o fogo em seu sangue.
Então um som alto e indesejável juntou-se à diversão.
Relutantemente, afastando-se de seu toque intoxicante,
Donovan sorriu para ela.
— Seu estômago discorda.
Seus lábios puxaram em um beicinho.
— Mas, mas…
— Eu prometi um jantar e não vou deixar você desmaiar em
mim.
— Mas, mas… — Mais uma vez, seu estômago deu sua
opinião.
Suas sobrancelhas se ergueram.
— Você estava dizendo?
Jada ergueu o queixo.
— Tudo bem. Você me prometeu comida, então onde está
a comida?
Sim, não havia como negar. Seu tom de burguesa o deixava
quente como o inferno.
∗∗∗
Vinte minutos depois, eles estavam acomodados em seu
enorme sofá, perto o suficiente para Jada tocar em Donovan
sempre que quisesse. Perto o suficiente para se deitar se o clima
mudasse.
Era fofo que ele quisesse cuidar dela. Ela ainda não podia
acreditar que ela estava aqui com ele e eles não estavam
brigando, a menos que, eles estarem chegando perigosamente
perto de rasgar as roupas um do outro contasse. Uma atividade
que ela planejava fazer em um futuro próximo.
— Pare de olhar para mim assim — ele rosnou.
— Assim como? — ela perguntou com sua voz mais
inocente. — Estou simplesmente curtindo esta refeição
fantástica que sua chef fez. — Ela gesticulou em direção ao
prato em seu colo que continha frango perfeitamente assado,
batatas fritas que praticamente derreteram em sua boca e os
melhores aspargos que ela já provou.
Quando ela expressou surpresa por ele não estar cozinhando
porque adorava cozinhar, ele a lembrou que não tinha muito
tempo para cozinhar, com a confeitaria e sua outra carreira em
tempo integral de jogar futebol americano. Sua chef era mais
experiente do que ele sobre o que ele precisava para manter seu
corpo nas melhores condições.
Jada examinou sua bela forma mais uma vez. Ela mal podia
esperar para colocar as mãos nele novamente. Ah, sim. Ela
definitivamente precisava dar seus elogios à chef.
Ele a olhou de lado.
— Duvido. Quer me contar o que aconteceu com John?
Jada engasgou com uma mordida naquele aspargo perfeito.
Depois de tomar um gole de água, ela olhou para o homem que
ela estava fantasiando sobre fazer todo tipo de coisas perversas.
Agora, essas coisas perversas incluíam assassinato.
— Essa é uma maneira de estragar o clima.
Sua expressão permaneceu imperturbável.
— Preciso lembrá-la que você só percebeu que queria ficar
comigo depois que ele apareceu?
— Você disse que íamos acabar aqui de qualquer maneira
— ela imediatamente respondeu.
Ele abaixou a cabeça por um segundo.
— Nós estaríamos, se você concordasse, mas eu não
esperava ter que esperar para ver se ele poderia reconquistar
você primeiro.
Ela estava com tantos problemas. Ele era totalmente fofo
demais.
— Isso não ia acontecer. — Embora fosse bom saber que ela
não deixou John com nenhum dano persistente, a onda de
atração não se materializou. Nem tinha a necessidade
esmagadora de estar em sua presença. Não, esse sentimento era
reservado apenas para o homem sentado a alguns centímetros
de distância, atualmente observando seu rosto.
— Ele aceitou isso bem?
— Sim, na maior parte. Ele ficou desapontado, mas aceitou
como um cavalheiro. Ele disse que tinha que dar uma última
chance, mas esperava que pudéssemos continuar amigos.
Donovan grunhiu. Então ele chocou o inferno fora dela.
— Eu assisti o reality show.
Desta vez, um pedaço de frango teve a honra de ficar preso
em sua garganta, fazendo-a ter um ataque de tosse. Ele estendeu
a mão com um braço comprido e a golpeou nas costas. Quando
ela terminou de se envergonhar e pôde respirar novamente, ela
olhou para ele.
— Você não pode dizer coisas assim.
Ele teve a audácia de sorrir.
— Por que não?
Jada jogou as mãos para cima.
— Porque você sempre agiu como se mal soubesse o que era
esse reality show!
— É por isso que eu assisti. Isso não é minha praia, mas senti
que havia uma grande parte de você que eu não conhecia ou
entendia.
O que era muito doce, e não simplesmente mortificante. Ele
realmente assistiu ao show? Seu cérebro estava tendo
dificuldade em aceitar o fato. Ela assumiu que ele tinha lido um
artigo e era por isso que ele sabia quem era John.
Ele levantou um dedo quando ela gemeu.
— Embora, eu gostaria de ouvir essa história de você. Você
terminou de comer? — Quando ela assentiu, ele depositou os
dois pratos na mesa de café e a puxou para mais perto até que
suas costas descansassem contra seu peito duro. — Não se
preocupe. Peguei você.
Peguei você. Uma frase tão simples, mas funcionou. Será que
alguém, além de sua avó e sua melhor amiga, realmente a
protegeu? Certamente, nenhum parceiro romântico por
qualquer período de tempo. Ou seus pais.
Jada encheu os pulmões e expirou.
— Fui contatada pelo programa através do Instagram, eles
me perguntaram se eu estava interessada em participar. Eu
tinha acabado de bombar em outra audição em Los Angeles e
disse sim. E não tinha mais nada acontecendo. — Ela deu de
ombros. — Eu tinha visto um episódio ou dois ao longo dos
anos. Eu fiz algumas pesquisas sobre o programa e os
competidores e descobri que as pessoas basicamente
transformaram ser competidores de reality shows em carreiras
de tempo integral. Achei que poderia usar a exposição para
lançar uma carreira lucrativa como influenciadora social.
— O que aconteceu no programa? — ele desenhou círculos
nas costas de sua mão com um dedo indicador
surpreendentemente suave.
Achando reconfortante, ela se concentrou naquele
movimento enquanto falava sobre a memória.
— Achei que seria uma experiência única na vida. Uma
aventura. E foi! Nunca esperei me apaixonar.
O movimento circular de Donovan parou.
— E você se apaixonou?
Jada estava feliz por não ter que olhá-lo nos olhos.
— Pensei que tinha, ou poderia ter. Quer dizer, eu gostava
dele. Os encontros eram divertidos. Nós rimos muito. Alguns
dos outros concorrentes me disseram que eu era um sucesso.
Que eu era claramente sua favorita. Eu sempre tentei não me
adiantar, dar um passo de cada vez. Essa atitude realmente
funcionou em meu benefício. Eu facilitava as coisas para ele.
Ele me disse que podia relaxar perto de mim.
Ele voltou a acariciar a mão dela.
— Mas você recusou a proposta dele.
Essa decisão mudou sua vida para sempre de maneiras que
ela nunca tinha sido capaz de imaginar. Jada suspirou.
— Sim.
Ela prendeu a respiração, seu corpo inteiro tenso. Ele ia
perguntar por quê? Essa era sempre a próxima pergunta de
todos. A pergunta que ela ainda tinha dificuldade em
responder.
— Você sabia que a resposta seria tão brutal? — Ele se
moveu para embalar seu corpo ainda mais, fazendo-a afundar
nele. Sua força a impulsionou.
Jada balançou a cabeça.
— Não a princípio. Quando o programa começou a ser
exibido, meus números de seguidores nas redes sociais
explodiram. O que era bom. Os espectadores estavam torcendo
por nós e me mandando mensagens para me dizer que não
podiam esperar até o episódio final porque sabiam que eu ia
ganhar, e nós éramos o casal mais fofo. Conforme as semanas
passavam e eu recebia mais e mais mensagens, eu sabia que ia
ser ruim. — Ela fez uma careta. — Mas eu ainda não estava
preparada para a resposta. Ou talvez eu não fosse tão casca
grossa quanto pensei que fosse.
— Cascas grossas podem ser superestimadas.
Jada virou-se para encontrar seu olhar.
— Sim, meu terapeuta sempre me diz que posso sentir o que
sinto. Às vezes é difícil lembrar, quanto mais seguir esse
conselho. Ela me faz fazer afirmações quando eu realmente
começo a me bater. Aparentemente, eu não deveria ser tão dura
comigo mesma.
— Você não deveria. Você é incrível. — Ele apertou sua
cintura. — Mais uma pergunta, por que você disse não?
Aí estava. Mas ela não estava chateada. Ele a fazia sentir-se
segura. Compreendida. Sem julgamentos. Ela vasculhou seu
cérebro para evocar suas emoções e pensamentos daquela noite.
Ela queria dar a ele uma resposta o mais honesta possível. Ela se
acomodou contra seu peito, deixando seu calor absorvê-la.
— Algo não estava certo. Ele e eu não nos daríamos bem
juntos. — Sua voz se aquietou. — Não era uma coisa que eu
pudesse apontar, mas meus instintos estavam gritando para que
eu fugisse.
— Você seguiu seus instintos. Nada de errado com isso.
Jada soltou uma risada sem alegria.
— Exceto quando você tem produtores na sua cara
constantemente perguntando o que deu errado. Lila, a
responsável, não estava tentando ouvir meus instintos. Então
inventei que tinha alguém fora do programa.
Donovan deu um beijo em sua têmpora.
— Parece que você não gosta muito de seus instintos.
— Você já sabe que meus pais não são tão tolerantes com
minha dislexia. Eles querem que eu encontre um emprego de
verdade. Um trabalho que faça sentido para eles. Eles são muito
analíticos. Ciências Humanas como profissão não fazia sentido
para eles. Ser DJ na Europa não fazia sentido para eles. Ir ao
reality show não fazia sentido para eles. — Ela bufou uma
risada. — Eles não são muito compreensivos com coisas que
não fazem sentido para eles.
— Você tem dificuldade em tirar as vozes deles da sua
cabeça.
Ela o encarou novamente, confortando-se com a
compreensão em sua expressão.
— Sim. As vozes estão lá há vinte e cinco anos. — Ela
abaixou a cabeça. — Eles me cortaram como resultado de ir ao
show e eu os envergonhar ainda mais. Segundo eles, eu precisava
crescer.
Ele franziu a testa.
— O que você quer dizer com eles cortaram você?
— Significa que tenho sorte de ter um emprego para
comprar mantimentos e pagar minha conta de luz. Eles não me
expulsaram do meu condomínio, pelo menos, mas apenas
porque eles são donos dele.
Choque passou por seu rosto.
— Uau.
— Sim. E não posso contar a Vovó porque ela ficaria furiosa
com minha mãe, e por que estou protegendo minha mãe de
novo? — ela riu. — De qualquer maneira, ir ao show foi como
se eu tivesse ouvido eles. Fazia sentido fazer o que sou boa – ser
apresentável – para lançar uma nova carreira. Então tudo
explodiu na minha cara porque eu não conseguia controlar
minhas tendências naturais.
— Suas tendências naturais fazem você ser você.
Um pequeno sorriso puxou seus lábios.
— Parece que me lembro de alguém me chamando de
impulsiva.
Ele entrelaçou seus dedos.
— Eu posso ter sido um pouco precipitado nessa avaliação.
— Pelo menos você está me falando isso. Eu sou impulsiva.
— Você é, mas estou aprendendo que isso não é de todo
ruim.
Jada se manobrou de modo que ela estava montada em suas
coxas duras. Ela enrolou os braços em volta do pescoço dele e
deslizou para frente até que os seios roçaram seu peito. Ah, sim.
Ela gostou dessa posição. Deveria ter feito antes.
— O que mais não é tão ruim sobre mim?
— Você quer elogios?
Ela olhou para o movimento para cima e para baixo de seu
pomo de Adão enquanto ele ria. Ela queria seguir aquele
movimento com a língua, começando pela boca. Em breve.
Muito em breve. Depois dos elogios.
— Sim. Claro que sim.
Donovan inclinou a cabeça para o lado, então estalou os
dedos.
— Você trouxe mais clientes para a loja.
Ela deu um soco no ombro dele.
— Sério?
— Ok, tudo bem. Que tal você ser engraçada, rápida em seus
pés, boa com os clientes, uma ótima organizadora de eventos?
Linda.
Ela pensou sobre isso.
— Ok, assim é melhor.
Ele apertou sua cintura com dedos fortes e seguros e a puxou
para frente mais um centímetro precioso até que apenas uma
respiração separou seus corpos. Seu olhar fixou em seus lábios
entreabertos. Sua respiração acelerou. Ele iria beijá-la agora?
Fazia cerca de trinta minutos desde a última vez que sentira a
boca dele na dela. Uma vida inteira. Seus olhos se fecharam e
ela se inclinou para frente.
— E quanto a mim?
Seus olhos se abriram.
— O quê?
— Onde estão meus elogios? — Seus olhos brilharam.
A luxúria corria em suas veias, e ele tinha piadas? Ela
estreitou os olhos. Foda-se. Ela se virou e examinou a grande
sala de estar com sua sensação leve e arejada e vista para o mar
do lado de fora da grande janela de sacada.
— Eu gosto da sua casa. Não é o que eu esperava.
— O que você esperava?
Ela deu um beijo leve na tentadora pele marrom de sua
garganta.
— Algo moderno. Um arranha-céu.
Sua garganta vibrou com o riso sob a boca dela.
— Você não está tão longe. Quando assinei pela primeira
vez com a equipe, comprei um arranha-céu. Morei lá por alguns
anos.
Ela estava vagamente prestando atenção ao que ele estava
dizendo. Seus lábios, os inferiores tão cheios e exuberantes,
estavam atraindo a maior parte de seu foco.
— O que aconteceu?
Ele sorriu.
— Eu o vendi por um bom dinheiro.
Ela de brincadeira deu um soco no braço dele.
— Sério?
— Sim, mas isso não é tudo — acrescentou, quando ela
levantou a mão novamente. — Eu queria um lugar mais
tranquilo. Mais espaçoso. Uma casa de verdade, não um prédio.
— No entanto, esta é uma casa tranquila, e grande.
Ele encolheu os ombros.
— Gosto do meu espaço, porém mais importante, é na
praia. Os vizinhos não são muito próximos. Eu gosto de surfar.
Ok, agora isso chamou sua atenção. Sua boca caiu aberta.
— Você surfa?
Ele sorriu.
— Você não?
Jada torceu o nariz.
— Eu tentei uma vez no ensino médio. Caí da prancha antes
que pudesse me levantar, fui atingida na cabeça com a prancha
e decidi voltar para terra firme. — Ela sorriu. — Eu escutei
meus instintos me dizendo que isso não era para mim.
— Talvez você precisasse de um professor melhor.
— Você está oferecendo?
— Você vai me ouvir?
Jada abaixou a cabeça para mordiscar seu delicioso pescoço
novamente.
— Talvez. Como você começou a surfar?
— Na faculdade. Um dos meus treinadores sugeriu isso
como uma maneira de relaxar. Eu pensei que ele estava louco,
mas ele basicamente forçou todos nós a fazer uma aula como
um exercício de construção de equipe.
— Como passou de uma atividade obrigatória para uma
atividade desejável?
— Gostei de estar na água com o sol e silêncio me cercando.
Eu podia pensar ou não pensar, o que eu estivesse precisando
naquele momento.
— Você foi bom nisso na primeira tentativa?
Ele riu.
— Não. Caso você não tenha notado, eu sou bem grande.
Eu tive que aprender a encontrar meu centro de gravidade em
uma prancha que não é nada estável. Mas eu aprendi
eventualmente, e nunca mais olhei para trás. Eu vou te mostrar
como surfar é bom.
Fim de falatório.
— Ok. Parece legal, mas estou mais interessada no que posso
aprender esta noite.
— Como o quê?
— Se você beija tão bem quanto eu me lembro. — Ela
beliscou seus lábios até que o som de sua respiração irregular
encheu o ar. — Se você parece tão bem quanto eu sinto. — Ela
deslizou as mãos sob a camisa dele e se familiarizou com seu
incrível abdômen, seus dedos traçando as linhas duras e fundas.
Bom Deus. Melhor do que ela imaginava. Ela balançou contra
ele e fez contato com sua ereção rapidamente crescente.
Vitória!
Ela balançou novamente. Gemeu com o contato. Não foi o
suficiente. Ela queria mais. Ela queria tudo.
— Jada. — O calor em seus olhos a chamuscou. Ela estava
pronta para ser queimada.
Sua mão deslizou por sua nuca e afundou em seu cabelo,
puxando-a para mais perto até que seus lábios colidiram. O
beijo foi selvagem e incendiário. Descontrolado. Jada
mergulhou de cabeça nos sentimentos de admiração e luxúria
que a varreram. Este era o lugar onde todas as discussões, flertes,
provocações estavam sendo feitas.
Seus lábios se entrelaçaram perfeitamente enquanto suas
línguas brigavam, deslizando, enroscando-se uma na outra em
uma dança faminta e desenfreada. Ela era gananciosa e nunca
teria o suficiente. A excitação estava surgindo através dela. Ela
pressionou contra sua ereção, desesperada para chegar mais
perto, querendo sentir sua dureza entre suas pernas. Ansiando
pelo momento em que ele a preencheria.
Ele arrastou seus lábios pela pele sensível de sua garganta,
seus dentes fazendo o contato mais nu, mas, ah, tão poderoso.
A picada a emocionou. Ele girou sua língua na base de sua
garganta, fazendo com que seu pulso disparasse. Então sua
boca estava na dela novamente, procurando, então exigindo
uma resposta, suas mãos passando seu corpo, frustrando-a com
os toques leves. Ela queria suas mãos ásperas sobre ela sem nada
no meio.
— Jada. — Ele parecia que estava sendo torturado. O desejo
rodou descontrolado em seus olhos escuros.
Não havia dúvida de como essa noite terminaria. Como
sempre esteve destinado a terminar. Sua voz saiu segura e
orgulhosa.
— Sim.
A fome no rosto de Donovan emocionou Jada. O calor em seus
olhos fritou suas terminações nervosas. Ela mal podia esperar
para entrar em combustão.
Seus olhos nunca deixaram os dela enquanto ele lentamente,
tão lentamente desabotoou os botões de sua polo Sugar Blitz.
Ele deslizou um dedo dentro e roçou a sua carne sensível. Ela
engasgou quando arrepios subiram ao longo de sua pele.
Ele deu um beijo duro em seu pescoço um segundo antes de
sua camisa ser colocada sobre sua cabeça. Ela mal registrou o
movimento antes de sua boca pousar em sua clavícula nua. Jada
engasgou por um pouco de ar necessário enquanto ele arrastou
os lábios em sua carne até encontrar a alça de seu sutiã. Ele
lentamente seguiu a linha do material de renda para baixo sobre
a curva de seu seio, provocando-a. Atormentando-a.
Emocionando-a. Ela estremeceu. Sua cabeça pendeu para trás,
silenciosamente oferecendo-lhe mais. Uma risada retumbou do
fundo de seu peito, mas logo seu sutiã encontrou um destino
semelhante ao de sua camisa.
O leve toque de seus dedos em seus mamilos foi o suficiente
para tê-los enrugando e parecendo bolinhas apertadas.
— Você é tão linda. — Ele parecia encantado com a visão
dela.
Jada rosnou quando suas mãos escorregaram. Ela queria
suas mãos, sua boca sobre ela. Agora.
— Donovan.
— Hum? — ele murmurou contra sua garganta, suas mãos
agora em sua cintura, subindo mais alto, sobre sua carne
trêmula, mas sem tocá-la onde ela queria. Ela cravou as unhas
em seus ombros largos para chamar sua atenção.
Jada reuniu seus pensamentos dispersos o melhor que pôde.
— Por favor.
— É isso que você quer? — Sua língua e dentes rasparam ao
longo da curva externa de seu seio, tão perto de onde ela o
queria, mas ainda tão longe. Ele repetiu a ação em seu outro
seio. Tudo o que ela tinha a oferecer era um gemido
desesperado. Ela agarrou a parte de trás de sua cabeça com as
mãos trêmulas, precisando da âncora e esperando atraí-lo para
mais perto.
— Ou isto? — ele puxou seu seio mais fundo em sua boca,
sua língua lambendo seu mamilo duro, finalmente dando a ela
a solução que ela procurava. Ela gritou com a sensação
inebriante. Ele não parou, sua língua rodopiando sobre ela de
novo e de novo, acrescentando uma pitada de dentes de vez em
quando, mantendo-a oscilando no limite. Justo quando ela
pensou que não aguentaria mais, ele trocou de seio e
recomeçou a tortura.
Uma resposta compreensível estava além dela no momento.
Ela mal conseguia manter a razão enquanto a luxúria se retorcia
dentro dela, crescendo de forma febril. Ela rebolou contra seu
pau, buscando alguma liberação da tortura, mas ele não parecia
interessado em oferecer misericórdia.
Ela mal percebeu que estava cantando seu nome até que ele
se afastou dela. Seus olhos eram selvagens. Ela tinha feito isso
com ele. Ainda assim, ele cuidou dela, gentilmente deitando-a
de costas contra o couro macio como se ela fosse uma carga
preciosa.
— Você é tão bonita — ele murmurou.
O elogio enviou calor em cascatas através dela.
— Você já disse isso antes.
— Porque é verdade.
Ela se deleitou sob seu olhar ardente. Ela não pôde deixar de
arquear as costas um pouco. Prendendo-se quando seus olhos
avidamente rastrearam cada movimento dela.
Um leve sorriso quebrou seu rosto sério.
— Você acha mesmo que tem controle sobre isso, não é?
— Sim. — Ele a deixou indefesa. Ela queria ter o mesmo
efeito sobre ele. Ela se levantou para beliscar a linha dura de sua
mandíbula. Sorriu quando estremeceu. — Tire sua camisa. É o
justo.
— Verdade. — Ele obedeceu.
Ela mordeu o lábio para evitar que outro gemido escapasse
quando olhou para o peito dele. Ela era uma mulher de sorte,
muita sorte. A deliciosa pele escura que ela mal podia esperar
para provar. Redemoinhos macios de pelos pretos cobriam seus
peitorais duros. Os pelos se alinhavam da maneira mais
intrigante em uma linha que descia pelo abdômen bem
definido até a cintura.
Ela tinha dado seus cumprimentos a chef mais cedo. Mas se
comida boa e saudável levava a esse abdômen, ela não tinha
dado à mulher os devidos agradecimentos. Sua boca encheu de
água com o desejo de seguir sua trilha feliz para a terra
prometida com a boca. Em breve. Muito em breve.
Ela acenou si mesma com um dedo torto. Com uma
arrogante sobrancelha levantada, as mãos dele seguraram o
corpo dela. Ele cobriu o corpo dela com o dele, pressionando-a
nas almofadas macias, acomodando-se entre suas pernas. A
situação mais maravilhosa que ela já se encontrou. Ele era todo
calor e dureza contra sua suavidade acolhedora. Jada se
emocionou com o contato. Os pelos em seu peito fizeram
cócegas em seus seios. Ela virou a cabeça em seu pescoço e
inalou um pulmão cheio de Donovan.
Ele se levantou em suas mãos e olhou para ela, tinha
admiração em seus olhos. Admiração que combinava com os
dela.
— Uau — eles sussurraram juntos.
— Estamos realmente aqui, hein? — ela disse.
Ele assentiu.
— Nós estamos.
Ela sabia como ele se sentia. Ela não estava nisso sozinha. Ela
levantou a cabeça, sedenta por outro beijo, enquanto suas mãos
vagavam, se esforçando para tocar cada centímetro da pele lisa
e marrom que ela podia alcançar. Os cumes e planos de seu
corpo a fascinaram.
Ele se empurrou contra ela, enviando outra onda de
sensação em cascata por ela.
— De novo — disse ela, em parte demanda, em parte
frustração que as roupas ainda os separavam. Ele repetiu a ação.
Jada gemeu em aprovação. Ela o queria ali onde ela era tão
macia e molhada.
Então ele baixou a boca para a dela. Outro beijo alucinante
se seguiu. Quando ele finalmente afastou sua boca, seu peito
arfando, ela deu beijos famintos e desesperados na linha forte
de seu pescoço e ombros largos e musculosos. Em qualquer
lugar que seus lábios e língua pudessem alcançar.
Então ele se foi e ela não tentou impedir que um gemido
indigno escapasse. Ela o queria de volta agora. Ela se levantou
em seu cotovelo. A vista era espetacular. Músculos ondulavam
em toda a sua glória quando ele se despiu de suas calças e cuecas.
Ela queria fazer isso, mas ela permitiria. Na próxima vez. Ele era
magnífico. Longo e duro. Sua boca encheu de água novamente.
Um pulso palpitou entre suas pernas. Sim.
Ele examinou sua figura, então ergueu uma sobrancelha
arrogante. Ah, certo. Ela precisava retribuir o favor. Ela se
levantou e rapidamente se livrou de sua calça e calcinha.
Ele olhou para ela da cabeça aos pés, deixando um rastro de
calor enquanto fazia isso.
— Vale a pena repetir. Você é tão linda.
Antes que ela pudesse responder ou se deliciar com o elogio,
ele se abaixou, a passou por cima do ombro e saiu da sala. Bom
Deus, o homem tinha uma bunda de classe mundial. Redonda
e apertada e mordível. O que não era importante no momento.
Mais tarde, porém. Ela bateu em suas costas duras como um
tijolo.
— Me coloque no chão.
Ele continuou como se não sentisse ou ouvisse nada, não
parando até que ele entrou em um quarto e prontamente a
deixou cair. Ela saltou na cama, e então se levantou nos
cotovelos.
— Ei!
Ela iria ignorar como este era possivelmente o colchão mais
confortável em que ela já esteve e com os lençóis mais luxuosos.
O homem sabia a contagem de fios. Ele dobrou um joelho na
cama e se arrastou para cima até cobrir o corpo dela. Ela inalou
o cheiro dele, rapidamente ficando intoxicada novamente.
Dicas de cedro e oceano e Donovan.
Ela precisava prová-lo. Ela arrastou seus dentes ao longo de
um tendão em seu pescoço.
— Você estava dizendo? — ele sussurrou contra seu ouvido.
Ela acariciou sua mandíbula, o cabelo macio de sua sombra
de cinco horas raspando deliciosamente contra sua palma.
Como seria a sensação de sua barba contra a pele entre suas
coxas? Se houvesse alguma justiça no mundo, ela saberia mais
cedo ou mais tarde.
— Cale a boca e me beije de novo.
Ele estremeceu dramaticamente.
— Essa voz de burguesa é só para mim.
Ele cortou sua risada com a boca. Então ela estava se
afogando novamente nele, em como ele a fazia sentir. Estimada.
Desejada.
Sua boca talentosa deslizou por seu corpo, seu destino claro,
embora ele tenha feito vários desvios, primeiro para sua
clavícula, depois para seus seios novamente, então a curva de
seu quadril.
Jada agarrou os magníficos lençóis com as duas mãos e
continuou curtindo a viagem. Então ele estava entre suas
pernas, adorando-a como se ela fosse uma deusa. Ela se sentia
como uma deusa.
Sua boca e mãos eram mágicas. Primeiro, houve os beijos
suaves em ambas as coxas com mordiscadas rápidas de seus
dentes, seguidos por lambidas suaves de sua língua. O arranhão
suave de sua barba em sua pele aumentou seu prazer, como ela
suspeitava. Círculos suaves em seu clitóris com o polegar e o
dedo indicador a fizeram arquear as costas e ofegante para
respirar. Então sua língua juntou-se à ação sobre a carne
sensível. Jada ofegou, insegura de que sobreviveria ao delicioso
ataque aos seus sentidos.
— Baby, você está tão molhada — ele sussurrou contra ela.
Maravilha e desejo encheram seu tom.
Ela sabia. Ela sabia.
Mas ele não terminou.
Ele deslizou um dedo dentro dela, depois outro,
trabalhando nela enquanto ele manuseava seu clitóris em um
movimento rítmico. Novas chamas se construíram dentro dela.
Ele passou a língua por suas dobras sensíveis uma vez, duas
vezes, antes de retornar ao seu clitóris.
Jada gritou, arqueando o pescoço. Dolorida.
Ele não parou.
Não quando ela implorou. Não quando ela suplicou.
Graças a Deus. Ela ofegava por mais. Implorou-lhe que a
libertasse dessa tortura. Que continuasse. Ele tomou as deixas
dela, alternando entre diminuir e acelerar o ritmo de seus dedos
e língua enquanto ela respondia: “Sim. Gostei disso. Por favor.
Donovan.”
Ela olhou para baixo enquanto ele olhava para cima. A
expressão em seu rosto a deslumbrou. Determinado. Intenso.
Focado nela. Certificando-se de que ela estava sendo cuidada.
Desperto. Selvagem.
— Qualquer coisa que você quiser, baby.
Ele abaixou a cabeça e continuou a se deliciar com ela como
se fosse um banquete. Fortes deslizamentos de sua língua foram
seguidos por redemoinhos mais lentos. Bem quando ela estava
prestes a explodir, ele suavizou seu toque. A tortura continuou
até que ela não aguentou mais.
— Donovan — ela implorou. — Não posso…
— Eu sei, baby.
Um aperto suave em seu clitóris com os dentes e ela estava
sobre a borda, caindo direto para o abismo.
— Você está bem? — ele sussurrou perto de seu ouvido,
algum tempo depois. Ele se deitou ao lado dela, embalando sua
mão, esfregando o polegar sobre sua palma.
Os tremores secundários continuaram a varrê-la. Mas ela
tinha energia suficiente para passar uma perna sobre seu
quadril até que estava montada nele.
— Nunca estive melhor.
Cedendo ao desejo que nunca esteve longe do topo de sua
lista de desejos, ela deslizou as mãos pelo corpo dele,
começando em seu abdômen fabuloso dividido ao meio por
sua trilha feliz e trabalhando para cima. Seu pelo encaracolado
no peito era macio e elástico sob suas palmas. Ela manuseou
seus mamilos e sorriu em seu suspiro estrangulado. Encantada
com a forma como eles endureceram sob suas mãos ansiosas.
Ela adorava que o afetasse tanto quanto ele a afetava. Ela mexeu
as sobrancelhas.
— Mas aqui está a coisa. Eu não acabei. Nós não
terminamos. Nem mesmo perto.
— Eu estava esperando que você dissesse isso. Por que você
não abre aquela gaveta? — ele empurrou o queixo em direção a
mesinha de mogno.
— Não diga mais nada. — Jada mergulhou em direção ao
móvel e voltou triunfante segurando o santo graal – uma
camisinha. — Você se importa se eu fizer as honras.
— Faça como você quiser.
Ela rasgou o pacote e deslizou para baixo de seu corpo
magnífico até que ela montou em seus quadris. Ela olhou para
seu pau, lambendo os lábios. Ela realmente não tinha dado
tanta atenção a essa parte quanto ela gostaria, mas as chamas do
desejo não podiam ser ignoradas, e ela precisava dele dentro
dela agora. Ele assobiou quando ela o agarrou, então o acariciou
para cima e para baixo, sua carne dura e quente, mas ele se
acalmou quando ela cuidadosamente rolou a camisinha por seu
comprimento.
Apoiando-se em seu abdômen flexionado, ela aliviou-se
sobre ele, palpitações de desejo acelerando em cada flexão de
seus músculos internos. Eles mantiveram contato visual
durante todo o ato, sua conexão desprotegida e verdadeira.
Quando ele estava totalmente dentro dela, seus olhos se
fecharam com a sensação de finalmente ser um com ele. Ela
engoliu em seco. Gozar não poderia ser tão bom. Eles se
encaixam como se tivessem sido feitos especificamente um para
o outro.
Seu aperto em sua coxa aumentou.
— Jada. — Ele estava tremendo debaixo dela. — Eu quero
fazer isso bom para você, mas eu preciso que você se mova,
baby.
Jada se levantou, ofegante com o choque de excitação que a
atravessou. Com a mão na cintura dela, ele a guiou de volta para
baixo, e eles rapidamente encontraram um ritmo que
funcionou. Seus suspiros simultâneos confirmaram isso. Seus
olhos escuros fitaram os dela, recusando-se a deixá-la ir. Não
que ela quisesse ir. Não eram apenas seus corpos que estavam
conectados. Também eram suas almas. Ela apertou seus
músculos internos ao redor dele, sentindo sua rápida inalação
de ar com o movimento. Então seus dedos mágicos se juntaram
à ação em seu clitóris.
— Oh, meu Deus. — Jada não conseguia mais se
concentrar. Não conseguia mais manter aquele ritmo
cuidadoso e medido. Ela só podia sentir como a tempestade a
destruiria enquanto ela corria para o fim.
Ela gritou de surpresa quando Donovan os virou. Nunca
parando o movimento glorioso de seus quadris, ele guiou sua
perna sobre seu quadril e surpreendentemente alcançou mais
fundo dentro dela com um impulso experiente. Ela segurou o
passeio, as faíscas voando alto e brilhante por todo o seu corpo,
enquanto o ritmo dele acelerava. Ele revirou os quadris,
pressionando contra seu clitóris, e sua boca engoliu seu grito
quando ela caiu de cabeça sobre a borda.
Com seu encorajamento, ela gozou mais algumas vezes,
trazendo outro clímax para ela antes de finalmente jogar a
cabeça para trás em um grito rouco quando um orgasmo
tomou conta dele.
∗∗∗
11
Refere-se à música “When You Kiss Me” da Shania Twain.
— Você está, hein? Então vamos pegar um pouco de
comida. Você quer sobremesa?
— Com certeza, mas primeiro isso. — Ela prendeu seus
lábios com os dela e deu o melhor que pôde, habilmente
explorando sua boca com habilidade considerável, seus lábios e
língua trabalhando em conjunto para levá-lo à loucura. Ele
estava ofegante quando o beijo terminou.
— Você está bem? — ela perguntou, arqueando aquelas
sobrancelhas perfeitas, seus lábios tentadores curvados em um
sorriso conhecedor.
— Nunca me senti melhor. — Ele saiu da cama e ficou de
pé sobre as pernas que não eram muito firmes. Ele pegou
algumas calças de moletom de uma cadeira e entrou nelas. —
Uma camiseta é melhor para você?
— Sim, por favor.
Ele pegou duas de seu closet e voltou para seu quarto.
— Aqui está.
Ele lutou para não dar um gritinho como um neandertal
quando ela levantou a camisa dos Knights até o nariz e inalou.
Ele sorriu para si mesmo com o pequeno resmungo dela
quando vestiu a camisa.
Quando eles entraram na cozinha, Jada juntou as mãos.
— O que você tem? Um cheesecake? Bolo de chocolate
holandês?
— Nada.
Seu sorriso caiu.
— O que você quer dizer com nada? Achei que você tivesse
uma chef pessoal.
— Eu tenho, mas ela não faz sobremesas. Eu recebo o
suficiente disso na loja. E não estou quebrando minha
promessa de fornecer sobremesa. Nós vamos fazer cupcakes.
Jada piscou.
— Oh, você quer dizer que você vai fazê-los, e eu vou assistir.
— Não. Não pense que perdi você evitando todas as
oportunidades de voltar para a cozinha na Sugar Blitz.
— Isso é porque eu fui um desastre.
— Você não foi um desastre.
Ela enviou-lhe um olhar realista.
— Tivemos que recomeçar três vezes. Continuei
derramando coisas. Você continuou de cara fechada. E então
eu quase explodi a cozinha. Tenho certeza que isso conta como
um desastre.
— Pare. Não posso ter alguém trabalhando para mim com
medo de entrar na cozinha. Estou aqui para ajudar e orientar,
não para ficar de cara fechada.
Jada fungou.
— Você é capaz de não ficar de cara fechada?
— Você não está me distraindo. Só vamos fazer meia dúzia
de cupcakes de chocolate. Simples. Sem grandes surpresas.
Nenhum forno de nível profissional.
— Sim, você tem equipamentos caros aqui. — Ela
gesticulou em direção aos aparelhos de aço inoxidável
decididamente sofisticados.
Donovan deu de ombros.
— Ainda é um forno simples.
— Eu não cozinho. — Seu beicinho era adorável. Tudo nela
era adorável. Ele estava com tantos problemas, e não dava a
mínima.
— Você não vai cozinhar. Você vai assar. — Ele passou os
braços em volta da cintura dela e olhou em seus olhos. — De
qualquer forma, eu acredito em você.
— Obrigada. — Jada examinou a cozinha com os olhos
arregalados, então se virou para ele. — Ok, sim. Eu quero
tentar. Boa ideia.
Ele recuou surpreso.
— Sério?
Ela endireitou os ombros à sua maneira Jada.
— Sim, estou determinada a ser uma pessoa melhor e
acreditar mais em mim mesma. Até prometo não lhe dar a
oportunidade de dizer que tentei incendiar sua cozinha.
— Ei, eu me desculpei por isso.
Ela o cutucou no peito.
— Com Crocs! É por isso que você deveria se desculpar. Me
presenteando com aquelas abominações fora de moda.
— Você ama esses sapatos. Você está usando eles agora. —
Eles desviaram o olhar pela sala de estar a caminho da cozinha
para que ela pudesse pegá-los.
Jada olhou para seus sapatos.
— Bem, sim, mas ainda assim…
Ele cruzou os braços.
— Mas ainda o quê?
Seu queixo levantou.
— Mas ainda tenho que reclamar porque sua cabeça já é
grande o suficiente.
— Você gosta da minha cabeça grande.
Ela revirou os olhos.
— Talvez.
— Definitivamente.
— Que seja. — Ela fechou as mãos em punhos, socou o ar e
saltou na ponta dos pés. — Então, vamos fazer isso?
Ele ergueu uma sobrancelha.
— O quê? Boxe?
Ela estreitou os olhos.
— Eu vou ignorar você.
— Você não pode. Eu tenho que te mostrar o que fazer.
— Ah, aí está o maníaco por controle.
— Você vai assar ou me insultar?
Ela torceu o nariz.
— Os dois?
— Por que eu aguento você?
— Minha inteligência deslumbrante e brilhante?
— Sim, algo desse tipo. Ou talvez seja a maneira como você
não tem medo de falar o que pensa e defender o que acredita,
não importa o que seja.
O sorriso que floresceu em seu rosto fez seu coração
gaguejar.
— Sério?
Ele a puxou para mais perto. Ele não precisava mais resistir
à tentação de tocá-la sempre que quisesse.
— Sim, realmente. Você é corajosa e me faz rir.
Ela enterrou o rosto em seu peito.
— Você quer dizer chorar?
— Ei, estou tentando te dar um elogio. Aproveita. — Ele
procurou os olhos dela até encontrar o que estava procurando
– a crença no que ele estava dizendo a ela.
Ela assentiu.
— Ok. Obrigada. Você também não é tão ruim.
— Obrigado. Mas, por favor, entenda que retirarei cada
palavra que disse se você incendiar minha cozinha.
Jada congelou.
— Você é o pior.
— Você quis dizer o melhor, eu sei. Foi um pequeno deslize.
Acontece com os melhores. — Ele se esquivou de seu empurrão
brincalhão e pegou ovos e leite da geladeira. Ele empurrou o
queixo em direção ao balcão atrás dela. — A farinha e o açúcar
estão ali.
Ele a acompanhou durante o processo. Ela se concentrou
ferozmente, combinando com ele passo a passo. O olhar
intenso em seu rosto era sexy como o inferno. Eles só pararam
duas vezes – ok, três vezes – para beijos demorados e
duradouros, e para ele deslizar a mão sob sua camisa para sentir
aquela pele macia que ele adorava acariciar.
— Veja, isso não foi tão ruim — disse Donovan enquanto
deslizava as formas de cupcake no forno. Ele largou a toalha na
bancada. — O que você está fazendo?
Ela estava debruçada sobre o telefone, sem prestar atenção
nele.
— Configurando o alarme no meu telefone.
Donovan piscou.
— Por quê? Já ajustei o timer do forno.
Ela olhou para cima.
— Não vou correr nenhum risco. Você sabe o que é melhor
do que um alarme? Dois alarmes. E sabe o que é melhor do que
dois alarmes? Três. — Ela deu alguns passos até o micro-ondas
e ajustou o timer. — Vai ser ótimo quando meus cupcakes
forem melhores que o seu.
Donovan cruzou os braços.
— Vão ser?
— Ah, sim.
Ela estava tão ocupada sorrindo para ele que nunca viu a
farinha vindo em sua direção. Ele acertou um golpe perfeito. O
ingrediente atingiu seu peito bem em cima do logotipo do San
Diego Knights. Ela engasgou.
— Donovan!
Ele riu, jogando a cabeça para trás. Grande erro. Assim que
sua cabeça voltou à sua posição vertical natural, pedaços de
farinha caíram em sua boca. Ele gaguejou e se virou para o
balcão, tossindo.
Jada colocou a mão em suas costas.
— Donovan, você está bem?
O açúcar deu um tapa na bochecha dela. Ela engasgou.
— Ah, agora começou.
Donovan correu ao redor da ilha e se agachou. Se seus
amigos e familiares pudessem vê-lo agora, suas mandíbulas se
soltariam permanentemente de seus rostos. Isso não era como
ele era. Mas ele queria que fosse.
O que tinha acontecido com ele? Jada. Era tudo Jada.
Ele nunca relaxava. Sempre havia outra montanha para
escalar, outro objetivo para alcançar aquela sensação
indescritível de segurança, uma sensação que era muito rara
quando criança, mas aqui esta noite com Jada, sua mente não
estava correndo com pensamentos sobre o que viria a seguir, de
como tornar a loja ou qualquer um de seus outros
empreendimentos mais bem-sucedidos. Ele estava sendo bobo
com a mulher que invadiu tantos de seus pensamentos nas
últimas semanas e ele não preferia estar em outro lugar.
Jada. Era tudo Jada.
Agora ele tinha uma guerra de comida para vencer.
Os ingredientes que eles estavam usando estavam bem
acima dele. Tudo o que ele tinha que fazer era estender a mão e
agarrá-los. O que restava? Gotas de chocolate, alguns ovos,
granulado. Onde estava Jada? Tudo o que ele podia ouvir era
sua própria respiração irregular.
— Lembre-se de manter meu cabelo fora disso, amigo. —
Ela avisou. Sua voz veio do outro lado da ilha. Ela estava perto
da geladeira.
Ele riu.
— Cresci com uma mãe e duas irmãs negras. Eu nunca
sonharia em cometer tal heresia. Mas o resto de você? Sim, vou
acertar em tudo. — Mas ele tinha que ser furtivo e metódico
sobre seu ataque. Certificar-se de atacar no momento exato. Ele
manteve sua posição, sem mover um músculo, esforçando-se
para ouvir se ela se movia.
— Donovan, Donovan, venha jogar. Você começou isso.
Isso mesmo. Ele tinha. Ele pulou e pegou um punhado de
confeitos em uma ação suave. Ele lançou seu míssil e os viu cair
em cascata no chão em uma espiral triste, nunca atingindo seu
alvo. Jada pegou algumas gotas de chocolate e jogou nele.
Donovan enviou açúcar voando em sua direção, então se
esgueirou atrás dela quando ela se virou para evitar que a coisa
branca atingisse seu rosto. Ele passou os braços em volta da
cintura dela. Ela gritou, então se acomodou contra seu peito,
cobrindo suas mãos com as dela.
— Acho que isso significa que eu ganhei — disse ele.
Ela gaguejou.
— Tanto faz, cara.
— Nunca mude, Jada. Nunca mude. — Donovan riu
enquanto avaliava os danos. Farinha, granulado e açúcar
decoravam o chão e as bancadas do espaço normalmente
imaculado. — Uau. Fizemos uma bagunça. — Ele não tinha
arrependimentos.
— Nós? Isso foi tudo foi você, senhor. No entanto, tive a
melhor performance. — Sua risada cintilante encheu a sala e
seu espírito.
— Se sente melhor? — ele perguntou, acariciando o lado de
seu pescoço. Ele não se cansava de tocá-la. De estar com ela. A
leveza que ela trouxe à vida dele não podia ser exagerada. Ele
nem tinha percebido que algo estava faltando até que ela veio
rugindo em seu mundo, insultando-o a cada passo. Ela cheirava
tão bem, mesmo através da farinha e do açúcar. Como o sol e
as flores. Ele nunca iria se enjoar desse cheiro.
— Um pouco— ela murmurou.
— Um pouco? Eu não devo estar fazendo algo certo. Eu
tenho que me esforçar mais. — Ele a virou em seus braços e
cobriu sua boca com a dele. Beijá-la era uma experiência nova e
melhorava a cada vez. Ele não podia acreditar que tinha perdido
tanto tempo não fazendo isso em todas as oportunidades. A
teimosia não o levou a lugar nenhum, a não ser sentir-se privado
de sua doçura.
Ele se afogou voluntariamente nela, em seu gosto, em seu
cheiro, em sua essência. Suas línguas se entrelaçaram em um
movimento completo e lento. O tempo deixou de ter
significado.
Levou alguns segundos para ele reconhecer que o bipe
incessante não era a batida de seu coração. Ele relutantemente
se separou. Os olhos de Jada se arregalaram.
— Os cupcakes! — eles gritaram simultaneamente.
— Você está um pouco mais energizado esta manhã —
Nicholas disse a Donovan na manhã seguinte.
— Energizado? Ok, velhote. — Donovan serviu uma xícara
de café, adicionou um pouco de açúcar e tomou um gole
profundamente, agradecido pela bebida quente.
Nicholas apoiou um cotovelo em cima da vitrine e lançou
um olhar duro para ele.
— Não tente me enganar. Você sabe que é verdade.
— Se você diz. — Não que Donovan se envergonhasse da
nova mudança em seu relacionamento com Jada, e raramente,
ou nunca, escondia coisas de seu melhor amigo. Mas essa coisa
com Jada era nova e ele queria protegê-la e saboreá-la com todo
o seu valor antes que eles deixassem pessoas de fora com suas
opiniões indesejadas.
— Você e Jada saíram daqui que nem ninjas ontem.
— Eu mandei uma mensagem para você. E pare de assistir
esses filmes.
— Donovan, vamos — disse August, juntando-se a eles. Eles
decidiram fazer dupla contra ele. Excelente. Ele não tinha sorte
de ter dois melhores amigos? E não havia clientes esperando
para fazer o pedido para distraí-los.
Ele foi com sua única opção – protelar.
— O quê?
Nicholas suspirou.
— Pelo menos nos diga o que aconteceu com o Dr. Imbecil.
A mão de Donovan apertou a caneca enquanto ele se
lembrava do que Jada lhe dissera.
— Ele disse que queria voltar. Jada disse que não.
— Então por que você está rangendo os dentes?
— Porque ele teve a maldita coragem de aparecer aqui
quando sabe que ela está em um relacionamento.
— Ela está? — Nicholas trocou um olhar conhecedor com
August.
Porra. Ele foi bem direto nessa.
— Podemos dizer que você não está pronto para falar sobre
isso, então vamos deixá-lo em paz — disse August.
— Nós vamos? — O fofoqueiro do Nicholas torceu o lábio
em desacordo.
August fixou um olhar duro em Nicholas.
— Sim, nós vamos.
Nicholas suspirou, seus ombros caindo. August não batia o
pé com muita frequência, mas quando o fazia, as pessoas
obedeciam.
— Ok, tudo bem, mas quando você estiver pronto para
falar, estaremos prontos para ouvir.
Donovan deu um tapinha no peito dele.
— Obrigado, cara. Eu agradeço.
— Você parece mais feliz do que eu vejo há muito tempo.
— August fez essa observação, então fez seu costume de
desaparecer, murmurando algo sobre a necessidade de
consertar uma torneira pingando em um dos banheiros.
A campainha da porta da frente tocou, e lá estava ela,
parecendo mais bonita do que qualquer mulher tinha direito,
mesmo em seu uniforme feio, como ela se referia, em uma polo
verde-azulada Sugar Blitz, calça cáqui e Crocs. Seu coração
pulou uma batida como um aluno da nona série com cara cheia
de espinhas vendo sua paixonite perto de seu armário antes do
início das aulas.
Nicholas bateu a mão no balcão, chamando a atenção de
Donovan.
— August estava certo, você sabe. É bom te ver assim. —
Então ele, também, foi para a parte de trás da loja, depois de
gritar uma saudação para Jada.
— Oi — disse Donovan, contornando o balcão. Ele soava
como um tolo obcecado. Provavelmente parecia um também.
Não havia muito o que fazer a respeito. Ele estava. Ele olhou ao
redor. Mais do que nunca, ele estava ciente dos clientes da
padaria observando cada movimento deles. Isso nunca o
incomodou muito porque eles não estavam namorando de
verdade. Mas agora eles estavam, e ele queria proteger o
relacionamento. Ele queria protegê-la. Ele a viu e a ouviu
magoada na noite passada enquanto ela falava sobre o
problema que ela enfrentou nas mídias sociais.
— Oi — ela disse, oferecendo um sorriso trêmulo. Ela
também não sabia como agir. Os sussurros e os cliques da
câmera do telefone não diminuíram desde que ela entrou.
Poderia muito bem dar a eles algo para falar. Por que diabos
não? Eles queriam saber como as coisas terminaram depois que
o Dr. John apareceu, certo? E todo mundo achava que eles
estavam namorando de qualquer maneira.
Ele enrolou um braço ao redor de sua cintura fina, puxou-a
para ele e abaixou a cabeça. Ela o encontrou no meio do
caminho. O desejo lhe deu um soco no estômago assim que
suas bocas se encontraram. Ele sorveu seus lábios como um
homem morrendo de sede, saboreando o gosto dela. A língua
dela deslizou dentro de sua boca e ele a puxou para mais perto,
mal contendo um gemido que ameaçou escapar.
Começar isso foi uma péssima ideia porque ele não
conseguia mais parar. Ele relutantemente recuou quando as
vaias e gritos dos clientes da padaria se tornaram muito altos
para serem ignorados.
— Arranjem um quarto — o Sr. Till resmungou a caminho
de sua mesa favorita nos fundos, a que ele alegou que lhe dava
a visão perfeita de tudo o que acontecia na loja.
Donovan balançou a cabeça para o velho, então se
concentrou na mulher que chamava sua atenção.
— Oi.
Ela riu, um sorriso sedutor se estendendo por seu rosto
bonito, todos os vestígios anteriores de nervosismo se foram.
— Oi.
Ele a puxou para um abraço. Sim, essa coisa de
relacionamento real era fantástica para um novo capítulo.
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
12
Referência ao filme “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”.
— Esse era meu pai, com minha mãe fazendo uma aparição
especial.
— Entendo — ele disse, sua voz indicando que ele, de fato,
entendia a gravidade da situação. — O que eles queriam?
Ela se inclinou para trás para olhar para ele.
— Meus pais, ou melhor, vários sócios de meus pais, nos
viram no Good Day, San Diego e queimaram as linhas
telefônicas para perguntar aos meus pais sobre nosso
relacionamento.
— Ah — ele disse, piscando, claramente não esperando essa
resposta.
— Sim. Ah. — Jada virou-se e começou a andar pela sala. —
Meus pais se opõem moralmente a se sentirem desinformados
em toda e qualquer situação e ficaram constrangidos. Não
saber algo, se eles realmente se importam com isso ou não, é
equivalente ao mal para eles. Eles são cientistas e gostam de
conhecimento. Eles ficaram ainda mais chocados ao saber que
sua mãe me conheceu, enquanto eles não conheceram você.
Seus amigos ficaram emocionados ao mostrar fotos de sua mãe
em sua visita à loja que acabou nas mídias sociais.
Isso simplesmente não funcionaria. Eles não se importavam
com Donovan ou qualquer relacionamento em que ela se
encontrasse envolvida, mas não saber disso quando alguém
perguntava – esse era o pecado.
— Eles disseram que você foi convidado para me
acompanhar ao jantar de aniversário da Vovó.
— Ah, entendo. — Agora, ele soava calmo. Até parecia. Mas
como ele poderia estar?
Oh, Deus, agora o constrangimento estava começando a
abrir caminho em seu coração para se sentar ao lado da
mortificação sobre o comando de seus pais. Ele pensaria que ela
havia planejado o convite e estava colocando expectativas em
um relacionamento totalmente novo? Sim, eles se divertiram
juntos e fizeram um ótimo sexo, mas eles estavam em um
relacionamento falso menos de quarenta e oito horas atrás.
Talvez ele pensasse que ela já estava planejando uma viagem
até o altar. Oh, Deus. O pânico afundou seus tentáculos em sua
pele e se espalhou como uma erupção cutânea de ação rápida.
Ela bateu as mãos sobre os olhos e gemeu.
— Eu sinto muito.
— Eu sou Sidney Poitier ou Ashton Kutcher neste
cenário?13
Essa reação foi suficiente para fazê-la espiar por entre os
dedos.
— O quê?
— Você disse adivinhe quem vem para o jantar. Suponho
que foi uma referência a uma das versões desse filme.
Ela deixou cair as mãos.
— Ah, certo.
13
Aqui o personagem faz menção a Sidney Poitier, que é o ator principal de
“Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, e Ashton Kutcher, ator do filme “A Família
da Noiva” que no caso é uma refilmagem de “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”.
Ele apontou para si mesmo.
— Quero dizer, eu não acho que tenho energia de menino
branco pálido, mas quem sabe?
Uma gargalhada explodiu em seu peito. Ele definitivamente
não tinha energia de menino branco pálido. Donovan era todo
Donovan. Quente, incrível e excelente. Energia BD14 por todo
o caminho.
— Você está seguro nessa parte.
Ele soltou um assobio alto e dramaticamente enxugou a
testa.
— Ótimo, mas isso deixa o Sr. Poitier, mas todos os
envolvidos neste cenário são negros, então não tenho certeza se
isso se encaixa também. Embora eu compartilhe o mesmo
brilho suave e jovial que o estimado Sr. Poitier, se é que posso
dizer isso. — Ele acariciou o queixo.
Ela riu.
— Claro que você diria isso — ela acalmou. —
Honestamente, você não é Sidney ou Ashton. Eu sou a má
influência voltando para casa para uma multidão cética pronta
e disposta a julgar cada movimento e palavra minha. Vai ser um
momento alegre, deixe-me dizer.
— Por que você não disse não?
Ela levou a mão ao peito em choque simulado.
14
“Big Dick Energy”, que quer dizer alguém que tem confiança mas não é
arrogante.
— Não se diz não às estimadas unidades parentais de
Townsend-Matthews. Nunca lhes ocorreria que um de seus
descendentes ou seus subordinados faria uma coisa dessas. —
Ela esfregou as têmporas esperando que pudesse evocar alguma
solução mágica se ela pensasse sobre isso o suficiente. —
Desculpe por arrastar você para isso.
Ele afastou as mãos dela do rosto.
— Não precisa se desculpar. Estamos nisso juntos. Dissemos
isso desde o primeiro dia. Agora que somos nós de verdade,
quero dizer ainda mais.
Jada o encarou. Ela estava com tantos problemas. Ela estava
começando a se apaixonar por seu namorado não tão falso.
— Pronta para fazer isso? — perguntou Donovan.
Eles chegaram à casa dos pais dela cinco minutos atrás, mas
Jada não tentou sair de sua SUV. Ela olhou pela janela como se
nunca tivesse visto a casa de estilo espanhol com seu telhado de
gesso antes. Quando ela não respondeu, ele colocou a mão em
seu joelho.
— Jada.
Ela pulou como se estivesse presa em um transe. Ela piscou
duas vezes.
— Não, na verdade, não. Estou enlouquecendo, mas sim,
vamos.
Ela saiu do carro sem mais comentários e caminhou em
direção à casa com passos rápidos. Ele a alcançou na porta.
— Vamos repassar o plano mais uma vez — ela disse, sem
olhar para ele.
— Estamos namorando — disse ele de cor. — Namoro falso
nunca entrará na conversa. Você entrou na loja antes de ir ao
reality show. Rolou um clima, mas você se comprometeu com
o show e não achou que poderia ser real, então você foi, mas
porque eu sou a melhor coisa do mundo, você não conseguia
parar de pensar em mim enquanto estava lá, e nos
reconectamos quando você voltou. Nós namoramos em
segredo até depois do final, quando poderíamos ir a público.
— Perfeito. — Ela levantou a mão para bater, mas parou
antes que seu punho fizesse contato com a madeira — Ainda
pirando, a propósito.
— Eu sei, mas estou aqui.
Ela olhou por cima do ombro para ele, então assentiu. Sem
mais delongas, ela bateu, e alguns segundos depois, uma mulher
que parecia uma versão mais velha e conservadora de Jada
atendeu. Sua mãe, claramente. Seu cabelo castanho escuro,
com alguns fios de cor cinza, estava preso em um coque bem
arrumado. Ela usava calças pretas e um suéter azul leve. Nada
obviamente extravagante, mas Donovan reconhecia roupas de
qualidade quando as via. Seus olhos escuros, tão parecidos com
os de sua filha, estavam avaliando e não perderam nada.
— Jada, estou tão feliz que você conseguiu vir. Por favor,
entre.
Donovan colocou a mão nas costas de Jada e a seguiu para
dentro. Merda. Ela estava tremendo. A mão dele apertou a
cintura dela. Ele desejou poder puxá-la para um abraço e dizer
a ela que tudo ficaria bem. Mas sua mãe estava ao alcance da
voz, e Jada proibiu expressamente qualquer demonstração
pública de afeto. Seus pais não eram fãs. Ainda assim, ele não
pôde resistir a um aperto rápido em sua cintura.
Jada recostou-se levemente contra ele.
— Mãe, este é Donovan Dell.
Ele estendeu a mão direita.
— É um prazer conhecê-la, Dra. Townsend-Matthews.
Ela apertou a mão dele em um gesto simples e profissional e
inclinou a cabeça em sua direção.
— Pontos por você usar meu título, mas por favor me
chame de Nina. Meu marido e minha outra filha estão
esperando na sala.
Com o canto do olho, ele viu Jada erguer o pulso para olhar
o relógio. Ele apertou sua cintura novamente. Eles não estavam
atrasados. Ela poderia relaxar nisso. Mas em outras coisas? Bem,
ainda não sabiam se a resposta era boa ou ruim.
Ele fez umas pesquisas antes de vir esta noite. Seus pais eram
médicos e cientistas, assim como a irmã de Jada. Essas
credenciais podiam intimidar o mais seguro dos indivíduos.
A casa era espaçosa e bem equipada, mas sem demonstrar
ostentação demais. Eram pessoas que tinham dinheiro, mas não
sonhavam em enfeitar sua casa. A casa estava decorada com
itens caros, mas discretos, como se profissionais tivessem sido
chamados para o trabalho sem muita participação dos
moradores da casa. Pisos de madeira, toques de bom gosto de
azuis e verdes misturados com a paleta neutra de cinzas e
brancos. O calor que ele tanto associava a Jada estava faltando.
Eles passaram por uma escada em espiral e entraram na sala
localizada nos fundos da casa. Um homem e uma mulher
estavam de pé em frente ao sofá seccional que dominava o
espaço. O pai e a irmã de Jada, claramente. Assim como sua
mãe, o pai de Jada estava vestido simplesmente com uma camisa
azul bem-feita e uma calça. Ele tinha o cabelo grisalho cortado
rente e uma estatura mediana. A irmã de Jada o olhou com
curiosidade. Sem surpresa, ela e Jada tinham uma notável
semelhança uma com a outra, embora ela tivesse alguns
centímetros a mais que Jada.
— Jada, estou feliz que você se juntou a nós esta noite — seu
pai disse. — Por que você não nos apresenta ao seu homem?
Jada agarrou a mão de Donovan.
— Donovan, este é meu pai, Walter. Pai, conheça Donovan
Dell e, como tenho certeza que você sabe, ele joga para os
Knights.
As sobrancelhas de seu pai se juntaram.
— Claro que eu sei. Você acha que vou deixar alguém
namorar minha filha sem descobrir tudo o que há para saber
sobre ele, especialmente quando não sabíamos que ele existia há
três dias?
Donovan tomou isso como a ameaça que obviamente
deveria ser. E o fato de que seu pai se importava pouco com os
negócios da família de sua esposa.
Jada suspirou, um V de estresse aparecendo entre seus olhos.
— Donovan, esta é minha irmã, Patrice.
Donovan acenou para eles.
— É bom conhecer vocês dois. Obrigado por me convidar.
— Isso deve ser divertido — disse Patrice, olhando para ele
com especulação — Mal posso esperar até que Vovó chegue
aqui.
Nina consultou o relógio.
— Ela pode chegar a qualquer minuto. Minha mãe nunca
se atrasa, especialmente quando estamos comemorando seu
aniversário. Por que não nos sentamos enquanto esperamos
que ela chegue? Podemos nos conhecer melhor.
Donovan e Jada estavam sentados em uma ponta do grande
sofá enquanto seus pais ficavam na outra. Patrice estava sentada
em uma cadeira que combinava com o sofá em frente a Jada.
Donovan pegou a mão de Jada. Ela olhou para ele, seus
lábios deslizando em um sorriso trêmulo. Aquele brilho
familiar em seus olhos havia retornado. Bom. Lá estava a
mulher com quem ele... se importava.
Merda. Um punho apertou seu coração, cortando sua
capacidade de respirar. Sim, ele se importava com ela, gostava
de estar em sua companhia, mas e se fosse algo mais? Mas não
podia ser. Ainda não. Você não se apaixona por alguém que
conhece há menos de um mês. Não fazia sentido. Não era
lógico. Seu cérebro se rebelou com o pensamento mesmo
quando seu coração saltou.
Um sino tocando cortou seus pensamentos desordenados.
— Deve ser minha mãe — disse Nina, levantando-se. —
Vou abrir a porta.
— Olá a todos — uma voz familiar soou da porta um
minuto depois. A Sra. T ficou ali, bastante satisfeita por ter
todos os olhos sobre ela, parecendo majestosa como sempre,
apesar de seu tamanho diminuto.
— Vovó — Jada e Patrice exclamaram simultaneamente.
Walter se levantou e deu alguns passos para encontrá-la.
— Joyce, seja bem-vinda. Feliz Aniversário! — Ele colocou
a mão em seu cotovelo e a guiou para a cadeira vazia ao lado de
Patrice.
— Obrigada, mas vamos lembrar que parei de contar
aniversários anos atrás.
Sua testa franziu em confusão, claramente não entendendo
essa lógica.
— Certo.
Nina tomou o lugar do marido, depositando beijos
educados nas bochechas da mãe.
— Feliz aniversário.
A Sra. T voltou seu olhar de falcão para a filha.
— Eu trabalhei por vinte e seis horas exaustivas e
intermináveis antes de dar à luz a você, e isso é tudo que eu
recebo?
Nina alisou o cabelo para trás, embora nem um fio de cabelo
estivesse fora do lugar.
— Mãe, realmente. Você tem que ser tão... extravagante?
A Sra. T balançou a cabeça.
— Eu sabia que não deveria ter mandado você para a escola
particular chique para alunos superdotados. Eles encheram sua
cabeça com todos os tipos de ciência e matemática e sugaram
todo o humor de você.
— Eu também te amo, mãe — Nina disse secamente. — E
não, um desejo de feliz aniversário não é tudo o que tenho para
você. Eu te dei um presente e estou feliz por você estar aqui.
A Sra. T deu-lhe um tapinha na bochecha.
— Assim está bem melhor. Amo você, querida. — A Sra. T
acenou com a mão quando suas netas se levantaram. — Vocês
já estavam sentadas, e eu sei que vocês me amam tanto quanto
eu amo vocês. — A Sra. T juntou as mãos. — Bem, bem, o que
temos aqui? — ela perguntou como se não tivesse visto
Donovan no momento em que pisou na sala. — Acho que os
rumores de namoro são verdadeiros.
Donovan sorriu.
— Prazer em vê-la, Sra. T.
— Olhe para os meus mundos colidindo. Nunca pensei que
veria esse dia. Um jogador do meu time na casa da minha filha
ao lado da minha neta, que não poderia se importar menos com
futebol americano.
Nina gemeu.
— Mãe.
— Só estou falando a verdade. — Um sorriso se esticou em
seu rosto. — Donovan, ouvi dizer que os parabéns estão vindo.
Fechamos um novo contrato com seu agente.
Jada ofegou, dando-lhe um tapa no braço.
— O quê? Você não me contou! Isso é incrível.
Ele encolheu os ombros.
— Esta noite não deveria ser sobre mim.
— O que é muito doce, mas bem desnecessário.
A Sra. T assentiu.
— Minha neta está certa. Podemos comemorar mais de uma
coisa hoje. Agora vamos comer. Eu posso sentir o cheiro das
minhas comidas favoritas, e elas não vão ser comidas sozinhas.
Os pais de Jada trocaram um olhar confuso antes de abrir
caminho para a sala de jantar formal.
∗∗∗
Jada estava fazendo o possível para não surtar, mas ter Donovan
lá já ajudava muito. Ele irradiava calma.
Ela sorriu para ele quando ele estendeu a cadeira para ela. Ele
se sentou ao seu lado, enquanto sua irmã e avó se sentaram em
frente a eles. Seus pais estavam sentados em extremidades
opostas da mesa.
Vovó estava certa sobre uma coisa. Seus pais não pouparam
gastos com a comida. Um verdadeiro banquete foi espalhado
sobre a mesa. Filé de costela, legumes assados, cogumelos na
manteiga de alho, risoto, salada Cobb e pão francês macio.
Realmente todos os favoritos da Vovó.
— Donovan, tenho certeza que você sabe que nossa filha
não nos contou que vocês dois estavam namorando — Walter
disse enquanto a comida circulava pela mesa.
O estômago de Jada se contraiu. O que ela não daria para
estar em algum lugar – em qualquer lugar – além daqui.
— Aprendi que é melhor deixar o quando e onde revelar esse
tipo de informação para a minha parceira — disse Donovan,
claramente tentando ser o mais diplomático possível. Ela
deveria saber que ele teria a resposta perfeita. Seu estômago se
acalmou um pouco.
Sua mãe limpou a garganta.
— Uma resposta muito delicada. Como vocês se
conheceram?
Vovó se endireitou na cadeira e capturou o olhar de Jada.
— Sim, Jada, conte-nos como vocês se conheceram.
Jada trocou olhares com Donovan. Uma coisa era mentir
para seus pais, o que tecnicamente já não era bom, ela supôs.
Outra coisa era mentir quando sua avó, que sabia a verdade e
podia acabar com o disfarce em um piscar de olhos, estava
sentada a menos de um metro e meio de distância. Ela não tinha
pensado nisso, obviamente.
Jada respirou fundo e basicamente deixou escapar a história
que ela e Donovan inventaram.
— Foi assim mesmo? — Vovó disse, quando Jada fez uma
pausa para recuperar o fôlego. Humor encheu sua voz.
— Sim — Jada disse sem olhar para sua avó. Ela enfiou um
pedaço de pão na boca. Esperançosamente, eles poderiam
mudar de assunto para alguma pesquisa empolgante em que
sua irmã e seus pais estavam trabalhando. Os últimos
acontecimentos no gabinete do prefeito. O clima. Qualquer
coisa.
Vovó os estudou sobre sua taça de vinho.
— Donovan, o que você pensou quando viu minha neta
pela primeira vez?
Jada forçou o pão pela garganta apertada. Ela deveria saber
melhor.
Os lábios de Donovan se abriram em um largo sorriso. A
respiração de Jada ficou presa. Droga, ele estava indo bem.
Ele olhou para ela.
— Ela entrou na loja de salto alto com roupas caras e
perfeitas e um cabelo perfeito. Eu pensei que ela era a pessoa
mais burguesa que eu já tinha visto na minha vida.
— Ei! — Jada deu um tapa no braço dele, enquanto seus
familiares riam. Ele não tinha que dizer toda a verdade.
— Mas então eu realmente olhei para ela e pensei que ela era
a pessoa mais linda que eu já tinha visto. — Ele ergueu a mão
dela e deu um beijo suave em seu pulso, depois nas costas de sua
mão. Seu coração gaguejou uma vez, então duas vezes, então
acelerou para o dobro do seu ritmo normal. O que ele estava
fazendo com ela? — Desde então, aprendi que seu exterior
desaparece em comparação com seu interior.
— Bem, bem, bem — Vovó murmurou, lançando a Jada
um olhar de aprovação.
— Uau — disse sua irmã. — Isso fez meu coração bater
rápido. Eu gostaria que alguém falasse sobre mim assim.
Jada olhou para Patrice em choque. Sua irmã genial estava
com ciúmes de Jada? Sem chance. Embora elas não tivessem
um relacionamento amargo, elas nunca foram particularmente
próximas. Elas não tinham muito em comum. Patrice sempre
foi muito estudiosa e focada na carreira, sua cabeça enterrada
em um livro enquanto a de Jada estava presa nas nuvens.
Seus pais não disseram nada, sem dúvida atordoados em
silêncio. Eles realmente não lidavam bem com emoções ou
demonstrações públicas de afeto.
Seu estômago roncando relaxou. Vovó claramente achou
toda a situação divertida, e se não fosse a vida de Jada, ela
também acharia engraçado.
— Onde você estudou, Donovan? — sua mãe perguntou.
— UCLA.
As sobrancelhas de sua mãe se ergueram.
— Entendi.
A mão de Jada apertou sua taça de vinho.
— Mãe, a UCLA é uma universidade perfeitamente
respeitável.
— Eu não disse que não era, querida.
Aquela dor de cabeça de tensão que começou a atingi-la à
medida que se aproximavam da casa de seus pais atingiu como
uma marreta agora.
Seu pai falou.
— Você recebeu uma bolsa, eu presumo, já que você é um
jogador de futebol americano profissional?
Donavan assentiu.
— Sim, embora tenha me formado em economia para
cuidar de negócios.
— Com todo o respeito a minha sogra, nunca fui muito de
esportes. Conheci Nina na biblioteca da faculdade em uma
tarde de sábado porque era o lugar mais tranquilo do campus.
O comportamento de Donovan não mudou.
— Os esportes não são para todos, mas aprendi muitas
habilidades para a vida praticando esportes profissionais, como
resolução de problemas e trabalho em equipe.
O rosto de seu pai se contorceu com perplexidade. Ele
realmente não entendia porque as pessoas não se especializam
em ciências de alguma forma.
— Entendi. Bem, pelo menos isso é útil. Muito mais sensato
que humanas. — A comida de Jada se tornou chumbo em seu
estômago. Claro, seu pai não percebeu. Ele continuou falando.
— Nós possuímos e administramos uma empresa de pesquisa
médica. A ciência, nós amamos. Mas às vezes, o lado dos
negócios cansa.
— Humanas é um grande curso, mas sim, Jada me contou
sobre o seu negócio. O que vocês pesquisam?
Seu pai se animou. Não havia nada que ele gostasse mais do
que discutir sua pesquisa, mesmo que noventa e nove por cento
da população não tivesse ideia do que ele estava falando.
— Pesquisa biomédica sobre hipertensão pulmonar. As
doenças cardíacas são a principal causa de morte nos EUA, mas
os americanos negros têm trinta por cento mais chances de
morrer do que os americanos brancos.
— É um trabalho importante o que você está fazendo.
Seu pai tomou um gole de vinho.
— Obrigado. Tentamos convencer Jada a trabalhar
conosco, mas ela rejeitou persistentemente nossas ofertas de
emprego.
Sua mãe se inclinou para frente.
— Sim, vagar por Nova York, Europa e Los Angeles era
muito mais importante para ela do que ter uma carreira estável
fazendo um trabalho significativo nos ajudando a melhorar o
conhecimento científico do mundo. Eu nunca vou entender
isso.
Jada desejou poder estar louca. Talvez ela devesse estar
brava. Ela nunca machucou ninguém por causa de suas
escolhas na vida, na verdade trouxe humor para alguns, mas
seus pais não se importavam ou entendiam. Gostavam de fatos
e números. Teorias que podiam ser comprovadas ou refutadas.
A ciência não se importava com sentimentos.
Seu pai assentiu com a cabeça em concordância com sua
mãe.
— Sim, queríamos que ela voltasse para casa, mas ela decidiu
que um reality show era a melhor opção. Você viu o show,
Donovan?
Donovan apertou a perna dela por baixo da mesa.
— Eu vi.
— Não consigo entender por quê ou como alguém acha que
pode encontrar um parceiro, muito menos um cônjuge, em um
reality show.
Ele encolheu os ombros.
— Coisas estranhas acontecem. De qualquer forma,
adoramos tê-la trabalhando na loja.
— Sim, uma loja de cupcakes, não é? — sua mãe perguntou.
— Sim, é um trabalho de amor para mim e meus parceiros
de negócios. Esperávamos trazer um pouco de capricho e bons
doces para San Diego.
Jada enfiou um cogumelo na boca para impedir que um
suspiro escapasse. Sua mãe e seu pai estavam em modo de
dupla. Hora de seu pai falar.
— Você fez umas análises de negócios na abertura da loja?
A propriedade fica em uma parte popular da cidade. Você
poderia vender o prédio por uma boa quantia. Não tenho
certeza se as margens de lucro de uma confeitaria são boas.
Donovan, por ser quem era, lidou com o interrogatório
como um profissional.
— Eu pesquisei bastante sobre o melhor uso para a
propriedade, e então meus parceiros de negócios e eu decidimos
que você não pode colocar um preço nos sonhos. Estamos indo
bem, graças em grande parte à influência de Jada.
— Entendi. — Sua mãe se virou. — Jada, vimos vocês dois
no programa matinal. Era realmente necessário trazer à tona a
sua dislexia?
Jada pousou cuidadosamente o garfo. Não adiantava mais
fingir que estava gostando da comida ou até mesmo comer.
Seus pais sempre faziam isso. Faziam-na sentir que nenhuma de
suas escolhas era boa o suficiente. Mas ela tinha que se
defender. Ela tinha que tentar.
— É a verdade, e eu queria que ela entendesse o porquê se
eu errasse nas palavras dos cartões de sinalização.
A confusão se instalou no rosto de sua mãe.
— Por que você teria feito isso? Conseguimos os melhores
tutores e terapeutas que o dinheiro poderia comprar para
ajudá-la.
— O dinheiro não pode curar a dislexia — Jada murmurou.
Seu pai resmungou.
— Claro que não. Nós sabemos isso. Afinal, somos
médicos. No entanto, não vimos a relevância de você ter falado
aquilo naquele momento. Você estava indo muito bem.
— Na verdade, você deveria se orgulhar de sua filha por
trazer isso à tona. — Donovan disse calmamente, mas com
força. — Várias pessoas nos procuraram para agradecê-la por
mencionar a dislexia e as terapias e soluções alternativas que ela
aprendeu a usar. Uma mãe disse que perguntou ao médico do
filho sobre eles, e isso já o ajudou na sala de aula. E eu não contei
o quanto ela nos ajudou a aumentar os negócios na loja em seu
curto período de tempo lá. Ela tem sido uma dádiva de Deus.
— O que exatamente você está fazendo, Jada? — Sua mãe
perguntou, sem dúvida mais do que feliz em deixar a discussão
sobre dislexia para trás.
Jada ergueu o queixo.
— Estou planejando eventos.
— Ah. Entendi. — Ela não achou esta notícia
impressionante.
— Nina. — Sra. T avisou.
— Acho que você não entende — disse Donovan. — A
visão dela é incrível. Ela tem o pulso na comunidade e
instintivamente sabe o que eles estão procurando.
A cadeira de Jada raspou contra o piso de madeira.
— Donovan, não se preocupe. Com licença. Perdi o apetite.
∗∗∗
∗∗∗
∗∗∗
— Você conheceu os pais dela? Uau. Esse relacionamento está
indo bem rápido — disse Nicholas.
Donovan colocou uma panela suja na pia, assobiando
enquanto a água quente atingiu sua pele.
— Realmente? Eu não pensei sobre isso. — O que não era o
jeito dele, admitia, mas quando estava com Jada, estava
totalmente comprometido. Ele não sentiu a necessidade de
analisar todos os aspectos de seu relacionamento porque tudo
era tão natural entre eles. Isso não significava que eles estavam
indo rápido. Certo?
Nicholas, sempre o melhor multitarefa do grupo, mediu os
ingredientes para seu último experimento de cupcake,
chocolate com framboesa, enquanto falava. Ele alegou que suas
habilidades de multitarefa foram úteis quando ele fez
malabarismos com várias mulheres.
— Vamos recapitular. Você jantou com os pais dela.
— Só porque souberam que ela conheceu minha mãe e
minhas irmãs.
— O que não nega meu ponto. Durante este jantar, você
disse aos pais e sua avó, que por acaso é nossa chefe, que ela é
mais bonita por dentro do que por fora. Estou certo?
Donovan esfregou a panela como se sua vida dependesse
disso.
— Você está correto.
— E você não estava mentindo quando disse isso, estou
certo?
— Você está... correto — Donovan disse com os dentes
cerrados. Se ele não estivesse mergulhado em pratos e espuma,
ele pensaria seriamente em bater em seu melhor amigo.
— Na minha opinião, parece que você está apaixonado.
A toalha escorregou de sua mão, espirrando água por toda
parte. Donovan mal percebeu. O ar saiu de seus pulmões em
um assobio. Donovan fez a única coisa que podia fazer. Ele
desviou.
— O que você sabe sobre estar apaixonado?
Nicholas abriu um ovo e o colocou na tigela.
— Nada, mas eu assisti um monte de comédias românticas
sentimentais nos meus encontros com Netflix e relaxamento e
os caras nesses filmes sempre acabam parecendo com você
agora.
— Ah, meu Deus, você está falando sério agora? Eu não
estou te ouvindo. — Logicamente, não fazia sentido. Ele não
podia estar apaixonado. Não tão cedo. O que ele e Jada tinham
era ótimo, mas era novo. Futebol americano e Sugar Blitz ainda
vinham em primeiro lugar. Certo?
— Bem, Nick, o Garoto Bonito pode não saber nada sobre
amor, mas eu já me apaixonei antes e reconheço os sinais reais,
não o tipo de filme, e você se deu mal — disse August de onde
estava reabastecendo a geladeira.
Donovan gemeu.
— Sério? Você também? — Quanta broderagem. — Você
apostou nisso?
— É, porque isso teria sido uma aposta de merda. — August
deu de ombros. — Eu falo o que eu vejo.
Isso ele sempre fez. Sempre. Donovan olhou para o homem
que conhecia desde que era um arrogante de dezoito anos
determinado a conquistar o mundo e vencer a qualquer custo.
Tanto ele quanto Nicholas estavam tão certos sobre os
sentimentos de Donovan. Inferno, eles nem sabiam que ele
havia procurado Rose para essas fotos.
Donovan tropeçou. Merda.
Ele estava tão ferrado. Ele se apaixonou por Jada Townsend-
Matthews, a pessoa mais imprevisível que ele já conheceu, que
viveu para abalar seu mundo cuidadosamente ordenado.
E ele ficou feliz com isso? Quando foi a última vez que a
felicidade influenciou em suas decisões?
∗∗∗
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∗∗∗
∗∗∗
Cinco horas depois, Donovan entrou no salão de baile do US
Grant Hotel, no centro de San Diego, com sua mãe ao seu lado.
Ele fez o seu melhor para fingir que tudo estava bem. Ela sabia
que ele e Jada não estavam mais se vendo, mas respeitava seus
desejos de não entrar em detalhes.
— Uau. Este lugar é chique — disse sua mãe.
Era.
Donovan estivera ali várias vezes antes, mas sempre ficava
surpreso com a pura elegância da sala. Vários candelabros de
ouro e diamantes estavam pendurados no teto. Centrais de
flores elegantes e extravagantes pontilhavam todas as mesas. O
tapete sob seus pés era chique. Todos os participantes usaram
seus melhores e mais sofisticados acessórios e estavam prontos
para abrir seus talões de cheques por uma excelente causa.
Tudo o que ele tinha que fazer era sorrir e apertar as mãos dos
doadores, prometer que os Knights ganhariam o Super Bowl na
próxima temporada e aceitar uma placa quando seu nome for
chamado. Em qualquer outro momento, essa tarefa seria fácil.
Até mesmo agradável.
Esta noite, ele se sentiu um merda.
Mas ninguém se importava ou precisava saber. Sua dor era
só dele, para ser tratada mais tarde em algum período de tempo
indeterminado. Ele estendeu a mão.
— Vamos?
Eles entraram na sala e foram imediatamente varridos para
um mundo de fotos e conversas com colegas de equipe que ele
não via desde o fim da temporada, funcionários da equipe e
participantes de eventos.
A sala estava lotada. Ele só teve breves vislumbres de
Nicholas e August, apenas o suficiente para trocar acenos antes
de serem varridos. O tempo se arrastava enquanto uma dor de
cabeça o perseguia a cada passo. Ele repetidamente se lembrou
de sorrir.
Um ruído familiar cortou a conversa geral que enchia a sala.
Donovan girou. Um flash de vermelho chamou sua atenção.
Ele contornou um casal conversando em uma mesa alta e parou
no meio do caminho. Seu coração saltou em sua garganta.
Jada. Ela estava aqui. Foi sua risada efervescente que
chamou sua atenção. Ela estava conversando com um
convidado e ainda não o tinha visto. Ele aproveitou
imediatamente para olhar sua aparência.
Ela usava um vestido vermelho brilhante até o chão que
abraçava sua figura fantástica, mergulhando em sua cintura e
queimando para cobrir seus quadris. Seu cabelo escuro caía
sobre um ombro em ondas suaves. Ela parecia sofisticada e
deslumbrante. Sua maquiagem ousada chamou a atenção para
aqueles incríveis olhos castanhos chocolate.
O que ela estava fazendo aqui? Este não era um evento
oficial da equipe, embora muitos de seus companheiros e
responsáveis de equipe estivessem aqui, então ela não poderia
estar aqui por ordem da Sra. T.
Sua mãe se moveu em sua linha de visão, bloqueando sua
visão de Jada. Ele deu um passo para a direita, mas já era tarde
demais. Ela se foi, engolida pela multidão.
Caramba. Ele deveria ir atrás dela? E dizer o quê? Ela o
largou, afinal. Mais do que provavelmente, ela estava aqui
como doadora como quase todo mundo. Ela não estava aqui
para ele.
Ao som de um pigarro, ele baixou o olhar para sua mãe, que
o observava com muito interesse. Ele se esquivou com sucesso
de todas e quaisquer perguntas sobre Jada. Parecia que sua boa
sorte estava prestes a acabar.
— Você sabe, eu posso dizer que você está sofrendo. Você
parece miserável a noite inteira. Eu tenho sido muito paciente,
respeitando sua privacidade, mas eu sou sua mãe, então isso
chega ao fim agora. — Ela colocou a mão em sua manga. —
Vamos para um lugar mais calmo para conversar.
Ele a seguiu até um canto, longe da conversa e da orquestra
que fornecia o pano de fundo musical. Sua mãe não perdeu
tempo.
— Donny, o que está acontecendo? Por que você está aqui
comigo em vez de Jada?
Donovan empurrou a resposta além de uma garganta
apertada.
— Não estamos mais nos vendo. Você sabe disso.
Sua mãe assentiu.
— Sim, eu sei. A questão é por quê? — Quando ele
permaneceu em silêncio, ela suspirou. — Posso te contar um
pequeno segredo? — Ela olhou ao redor, presumivelmente
para ter certeza de que ninguém poderia ouvi-los. — Eu sabia
que você e Jada não estavam realmente namorando no dia em
que fui na loja. — Ela ergueu a mão quando o choque o varreu.
— Agora, eu sei que você e suas irmãs pensam que eu não sei
guardar um segredo, mas eu sei. Afinal, eu era casada com seu
pai. Eu conheço você muito bem, e eu podia dizer que as coisas
estavam um pouco erradas entre vocês dois, mas eu também
podia dizer que você realmente queria que fosse verdade, e eu
queria que você descobrisse tudo sozinho. Obviamente, você
descobriu, mas depois estragou tudo.
Donovan trabalhou sua mandíbula de lado a lado, as
emoções ainda tão cruas e irregulares.
— Eu estava preparado para dizer a ela que me apaixonei por
ela, mas ela terminou as coisas antes que eu pudesse.
— E você a deixou ir.
Donovan passou a mão na nuca, a frustração o
despedaçando.
— O que mais eu deveria fazer?
— Não deixe seu pai continuar a governar sua vida.
Ele cambaleou para trás com aquele soco no estômago.
— O que isso significa?
Sua mãe estava decidida.
— Significa que eu sei que ele ainda liga para você pedindo
dinheiro, e que você responde. Converso o tempo todo com
pessoas do bairro antigo. Eles me contam a tolice que seu pai
está fazendo, para que eu possa proteger meus filhos o máximo
possível. — Ela suspirou. — Seu pai machucou você, ele
machucou todos nós, e eu sempre estarei chateada comigo
mesma por não ter nos libertado antes.
Ele tinha ouvido o suficiente.
— Você fez o melhor que pôde. Você é uma ótima mãe.
Nunca duvide disso.
Ela deu um tapinha no braço dele.
— Obrigada, meu filho favorito, mas é verdade que seus pais
o influenciam, para o bem ou para o mal. A lição que você
aprendeu foi se concentrar em tirar quaisquer surpresas e
reviravoltas de sua vida. Se você pudesse ser financeiramente
estável, então a vida seria tranquila.
Donovan ficou quieto, incapaz de negar suas alegações.
— Então Jada apareceu. Ela sacudiu você e seu mundo e
você caiu duro. Mas então ela te acertou com a maior surpresa
de todas ao terminar as coisas e você recuou. Sim, suas irmãs me
contaram o que aconteceu.
Donovan suspirou. Ele não podia ficar bravo com suas
irmãs por estragar tudo. Ele deveria saber. Eles eram muito
unidos para terem segredos.
— O que eu deveria fazer? Eu não posso fazê-la ficar
comigo. — A angústia ainda o consumia, ainda perseguia seus
calcanhares a cada curva. Ele não tinha certeza de quando isso
não aconteceria. Se alguma vez o faria.
— Não, você não pode, porque Jada é independente. Mas
também sei que esta é a primeira vez que você está na mesma
sala com ela em três meses. Você está realmente preparado para
deixar por isso mesmo?
Não, ele não estava. Não por um longo tempo. Era hora de
parar de viver no passado e lutar por seu futuro com tudo o que
tinha dentro dele.
Teoricamente, Jada estava se divertindo. Esta noite era a prova
de que seguir seus sonhos estavam valendo a pena. Como ela
disse a Vovó, ela usou as conexões que ganhou trabalhando na
Sugar Blitz para garantir vários pequenos shows de
planejamento de eventos. Isso levou a mais eventos, o que a
levou a estar aqui esta noite. Um cliente recomendou seus
serviços ao organizador do evento, Sydney, quando a assistente
de Sydney teve que ficar de cama nos últimos dois meses de
gravidez. No que dizia respeito a Jada, qualquer experiência era
uma boa experiência, e ela aceitou prontamente o novo
emprego.
Ela alegremente fez o trabalho pesado que lhe foi pedido,
desde encher um milhão de balões até organizar uma infinidade
de planilhas, para garantir que este evento fosse um sucesso.
Eles estavam arrecadando dinheiro para uma causa nobre.
Ao seu redor, as pessoas estavam se divertindo, graças, em parte,
aos seus esforços.
Então, sim, teoricamente, ela estava se divertindo. Mas ela
não conseguia parar de pensar que Donovan estava em algum
lugar nesta sala lotada. Ela quase hiperventilou quando soube
que ele era um dos homenageados da noite e pensou por um
momento em desistir. Mas ela rapidamente caiu em si e
percebeu que era impulsivo e algo que a velha Jada teria feito.
Em vez disso, ela abaixou a cabeça e voltou ao trabalho.
Isso não significava que ela não pensava nele
aproximadamente um milhão de vezes por dia. Ela até tentou
ensaiar o que diria se o visse esta noite, mas nunca conseguiu
pensar em nada que fizesse justiça ao quanto ele significava para
ela. O que ele ainda significava para ela. Ela teria coragem se
tivesse a chance?
Mais cedo, ela pensou que o tinha visto de relance, pensou
que era sua hora de descobrir, mas então alguém chamou seu
nome e, quando ela voltou ao local, ele não estava mais lá, se
fosse ele em primeiro lugar.
Sempre que alguém perguntava sobre ele, perguntava sobre
eles, ela sorria, acenava com a cabeça e dizia que estava
trabalhando esta noite, então eles não podiam passar muito
tempo juntos, mas ela certamente transmitiria seus parabéns.
Tudo em um dia de trabalho.
E seu coração doía ainda mais por isso. Estava doendo há
noventa e dois dias, três horas e vinte e sete minutos. Mas quem
estava contando?
Ela sentia falta dele. Aí estava, ela admitiu isso. Mas ela fez a
coisa certa, salvando-o de seu caos. Ela tinha feito a coisa certa,
concentrando-se em si mesma.
Então por que você vai para casa todas as noites e passa o
tempo imaginando no que ele está fazendo? Querendo saber se
ele está pensando em você também?
— Jada!
Ela se virou para ver Sydney vindo em sua direção.
— Jada, precisamos começar a contabilizar os vencedores do
leilão silencioso.
Uma hora depois, Jada encontrou uma namoradeira em um
canto afastado do saguão do hotel e desmaiou. Esse negócio de
planejamento de eventos não era brincadeira. Ela estava
correndo sem parar, apagando pequenos incêndios que
apareciam a cada três minutos. Ela estava exausta. Exausta, mas
feliz.
Principalmente feliz.
Além de ver como ele aceitou seu prêmio, ela não tinha visto
Donovan. Isso foi provavelmente o melhor. Explodir em
lágrimas no meio de um salão de baile não era exatamente um
grito de profissionalismo.
Ela inclinou a cabeça para trás e fechou os olhos, exalando.
Ela precisava dessa pausa. Ela precisava do silêncio.
Donovan encheu seus pensamentos. O sorriso dele. Sua
presença. A perda de Donovan. Sua paciência. Sua
determinação. O jeito que ele olhava para ela. Ela perdeu tudo.
Ela sentia falta dele.
A dor só tinha ficado mais forte.
Ela se afastou para descobrir seu lugar no mundo e protegê-
lo dela e do caos que ela trouxe para sua vida.
Você é uma covarde. Ela balançou a cabeça, mas o
pensamento traiçoeiro permaneceu.
Você deixou o melhor homem que você já conheceu ir embora
porque você estava com medo de não ser suficiente para ele. Dele
perceber que você não era inteligente. Dele ficar entediado.
Onde isso a levou?
Apesar de ter encontrado o que procurava em sua vida
profissional, ela não estava tão realizada quanto esperava. Mas
ela poderia fazer algo sobre isso. Se ela tivesse coragem.
Ela estava pronta para reivindicar o que – quem – ela
precisava em sua vida pessoal?
Sim, ela estava. Esta noite. Agora. Antes que ele tivesse a
chance de sair.
Os olhos de Jada se abriram quando ela saltou da cadeira. Ela
correu em direção ao salão de baile, quase colidindo com um
grupo de turistas e suas malas.
— Desculpe — ela chamou de volta por cima do ombro,
nunca diminuindo. Ela era uma mulher em uma missão para
conseguir seu homem.
Ela correu e deu de cara em uma parede de tijolos,
ricocheteando.
— Ufa.
Não, não é uma parede. Um corpo humano. Ela olhou para
cima, preparando-se para se desculpar. As palavras morreram
em sua garganta, a surpresa deixando-a muda.
— Jada. — Donovan estava lá em toda a sua bela e não
imaginária glória. Suas sobrancelhas arquearam, um sorriso
brincando em seus lábios carnudos. — Indo para algum lugar?
Ela balançou a cabeça.
— Não mais.
— Bom. Você é uma mulher difícil de se encontrar. — Sua
voz profunda retumbou, atada com um fio de humor. Ele era
tão bonito, tão perfeito. Seus dedos coçaram para traçar a linha
de sua mandíbula bem barbeada, mas ela não tinha mais esse
direito. Ela virou as costas para esse direito. — Pelo que ouvi,
você tem muito a ver com o sucesso desta noite.
— Obrigada. O que você está fazendo aqui em vez de no
salão de baile? — ela sussurrou, no caso de estar sonhando.
Esperando que ele dissesse...
— Procurando você. — Seus olhos escuros estavam fixos
nela.
— Por quê? — Esperança, aquele ser sempre otimista,
floresceu em seu peito.
— Porque nunca foi uma opção que eu não faria.
Seu coração gaguejou. Talvez ela pudesse ter esse direito. Ele
agarrou seu braço para guiá-la para fora do caminho quando
alguém quase esbarrou nela. Jada mal notou a outra mulher.
Ela só tinha olhos para Donovan.
— Você está bem? — Quando ela assentiu, ele apontou para
um sofá a alguns metros de distância. — Quer se sentar ao meu
lado?
Enquanto ela o seguia, ela acompanhava cada movimento
dele com olhos gananciosos. Fazia tanto tempo desde que ela o
viu. Desde que ela esteve perto o suficiente para tocá-lo. Ela
respirou fundo quando ele se sentou ao lado dela, com apenas
uma pequena almofada separando-os.
— Você está linda.
— Obrigada — disse ela. Seu pulso estava trovejando alto
em seus ouvidos. — Você também está bonito.
Seu corpo – seus ombros largos, cintura fina e coxas duras –
tinha sido feito para usar um smoking.
Seus lábios se torceram em um breve sorriso.
— Obrigado.
Aqui estava sua chance. Hora de encurralar todos os
pensamentos em torno de seu cérebro e deixá-lo saber o que ele
significava para ela.
Ele falou antes que ela tivesse a chance.
— Estou feliz que nós dois estamos aqui esta noite. Quando
estávamos no meu escritório pela última vez, a conversa não foi
como eu esperava. Você disse o que tinha a dizer, e eu apenas
deixei você ir. Na época, pensei que estava fazendo a coisa certa,
mas a verdade é que estava com medo.
Sua boca caiu aberta.
— Medo do quê?
— Dos sentimentos que você inspira em mim. Eu estava
vagando pela vida, certo de que tinha o plano perfeito, lógico e
previsível, e você veio e explodiu tudo, e era exatamente o que
eu precisava. Quero te agradecer por isso.
— De nada. — Seu coração se alegrou com sua admissão,
mas ela tinha que saber. — Isso é tudo?— Ele estava aqui para
tirar isso do peito e dizer adeus a ela para sempre? Seu coração
despencou no chão de mármore.
— Não. — Ele descansou o braço no encosto do sofá, tão
perto do corpo dela. Ela desejava que ele fechasse a distância. —
Eu preciso me desculpar com você.
Jada balançou a cabeça, sua mente ainda girando.
— Pelo o quê?
— Eu ouvi o que você estava dizendo, e eu não estava lá para
você. Não gosto de emoções e de me sentir fora de controle, e
quando as coisas começam a ficar reais, eu costumo recuar. Em
vez de oferecer meu apoio a você, desliguei e fingi que estava
tudo bem. Não sei se algum dia vou me perdoar por isso. Você
estava duvidando de si mesma, e eu não disse nada para
tranquilizá-la. Eu deveria ter te lembrado que você estava
incrível na loja de cupcakes. Eu deveria ter lhe dito que amo a
imprevisibilidade que você traz para minha vida. Eu amo como
você me faz sentir inteiro, e você me fez perceber que não quero
passar a vida pensando que o sucesso financeiro é tudo o que
importa, porque não é. Você salvou meu negócio, porém mais
importante, você me salvou.
Lágrimas brotaram em seus olhos. Ele os enxugou com o
polegar.
— Não chore ainda. Eu não terminei.
Ela riu.
— Desculpa. Por favor, continue, senhor.
— Você traz alegria e amor à minha vida. Eu amo suas
supostas imperfeições. Eu deveria ter dito que acredito em
você, e quero que faça o mesmo. Eu deveria ter dito a você que
você tem muito a oferecer ao mundo, e eu quero um lugar na
primeira fila para o seu crescimento contínuo.
Jada não conseguia respirar. Finalmente, finalmente, ele a
tocou, unindo seus dedos. Ele deu um beijo suave nas costas de
sua mão. Ela testemunhou tudo através das lágrimas
embaçando sua visão. Graças a Deus pelo rímel à prova d'água.
— Eu deveria ter dito te amo, e que irei até o fim do mundo
por você.
— Sério? — ela perguntou, ainda um pouco incerta de que
ela, Jada, a fodida impulsiva, poderia ter tanta sorte.
— Sim, realmente, baby. Você me ama? — O toque de
timidez em sua voz, em seu rosto, derreteu quaisquer dúvidas
remanescentes. Ele colocou tudo em ordem. Este homem
estaria sempre lá para ela, e ela planejava estar lá para ele.
Ela assentiu, então tocou sua testa na dele.
— Quando eu esbarrei em você – desculpe por isso, a
propósito – eu estava correndo para voltar ao salão de baile para
lhe dizer que eu te amo tanto, tanto. Você não tem ideia. Me
desculpe, eu me assustei. Não posso prometer que não vai
acontecer novamente, mas prometo não correr de novo.
Obrigada por ser a força estabilizadora que eu preciso na minha
vida. Obrigada por acreditar em mim quando eu não
acreditava. Eu não estaria experimentando tudo de bom na
minha vida se você não estivesse nela. Obrigada por ser você.
Você é o melhor homem que eu já conheci. Você é Donovan
Dell, e você é suficiente, do jeito que você é. — Ela acariciou
sua mandíbula forte, emocionada por não ter mais que negar a
si mesma o prazer. — Sim, eu te amo com todo o meu coração.
Eu até te amo mais do que meus sapatos.
Jada levantou a bainha até o chão de seu vestido para revelar
o Crocs que ela havia trocado no meio da noite. Ela cortou a
risada dele com a boca. Fazia noventa e dois dias, quatro horas
e aproximadamente vinte e três minutos desde que ela o beijou
pela última vez. Ela não jogaria fora sua chance. Agora ou em
qualquer outro momento.
— Uau, mulher, você está incrível — disse Donovan, quando
Jada entrou no pátio de sua casa.
— Obrigada. Obrigada. — Jada deu um pequeno giro, se
endireitando quando a fenda na altura da coxa em seu vestido
azul-petróleo se abriu para revelar sua perna direita e seus saltos
de prata Louboutin. — Você também não está tão ruim.
Donovan acariciou o queixo.
— Eu tento.
Ele fazia mais do que tentar. Ele usava um terno cinza carvão
sob medida que abraçava seus ombros largos e mostrava suas
pernas poderosas. Sua camisa branca contrastava perfeitamente
com sua pele. A gravata azul-petróleo combinava exatamente
com o vestido dela.
Ele era o homem mais bonito que ela já tinha visto, e ele era
todo dela.
Em alguns meses, eles estariam na frente de sua família e
amigos para oficializar, mas hoje eles estavam tirando fotos de
noivado. Ela mal podia esperar.
Ele puxou a gravata.
— Era realmente necessário nos arrumarmos para isso?
Poderíamos ter usado polos Sugar Blitz em homenagem aos
velhos tempos.
Jada lançou-lhe um olhar.
— Senhor, em primeiro lugar, já incorporamos Sugar Blitz
com a cor azul esverdeado. Mais importante, estas são nossas
fotos de noivado, não um anúncio para sua loja.
Donovan bufou.
— Você só quer se exibir no Instagram.
Ela ergueu o queixo.
— Não, eu quero um símbolo do nosso amor imortalizado
no filme. Este é um momento de um ciclo completo para nós.
Rose fez nossa primeira sessão de fotos, e ela está fazendo esta.
É perfeito. — Ele a olhou de lado. — E tudo bem, sim, eu quero
bombar no Instagram para todos os haters de #JaDon. Além
disso, você pode me culpar? Nós somos muito bons juntos.
Os ombros de Donovan sacudiram de tanto rir.
A alegria a percorreu com o som despreocupado. Ela nunca
se cansaria de vê-lo feliz. Ela nunca se cansaria de saber que lhe
trazia tanta alegria quanto ele trazia para ela.
As coisas com seu pai não eram perfeitas – provavelmente
nunca seriam – mas Donovan havia retornado a Oakland para
uma conversa franca com seu pai, e seu pai concordou em obter
ajuda para seu vício em jogos de azar. Ele até seguiu alguns
conselhos meses depois, e até agora, tudo bem.
— Eu te amo — ela murmurou. Às vezes, ela ainda não
conseguia acreditar que podia dizer isso sempre que tinha
vontade.
— Venha aqui — ele murmurou, envolvendo um braço em
volta da cintura dela e puxando-a para ele. Jada ansiosamente
ficou na ponta dos pés para encontrar os lábios dele.
— Não, não, não — disse Rose, juntando-se a eles no pátio.
— Guarde isso para as fotos.
Eles gemeram, mas se separaram e a seguiram até a praia.
— Não diga nenhuma palavra — ela disse para Donovan
enquanto tropeçava na areia. Talvez os Louboutins não fossem
a melhor escolha dada a localização, mas ela os amava.
— Eu não ousaria — ele sussurrou de volta. — Eu valorizo
muito a minha vida.
Jada se esforçou para olhá-lo de lado mesmo enquanto ria.
Ela amou o quanto ele a fazia rir. Ela soltou um suspiro quando
chegaram ao local designado. Jada protegeu os olhos e estudou
o local. O sol estaria se pondo em uma hora, criando um brilho
fantástico de luz. A água caia na praia. O cenário perfeito. Não
poderiam ter escolhido um lugar melhor.
Ela não poderia ter escolhido um homem melhor. Oito
meses se passaram desde a noite em que voltaram a ficar juntos.
Eles não tinham se separado desde então. A vida só tinha
melhorado a cada dia.
Os negócios na Sugar Blitz estavam tão bons que eles
estavam se preparando para abrir uma segunda loja. Ela ganhou
acesso ao seu fundo fiduciário e colocou o dinheiro em bom
uso, iniciando a JTM Events. Os negócios estavam bem desde
então. A maravilha das maravilhas, seus pais compareceram a
um banquete de premiação que ela havia planejado para um
hospital local e a elogiaram por um trabalho bem feito. Jada
quase desmaiou.
— Ok, isso é perfeito — disse Rose, verificando a
iluminação. — Entrem em posição. Vocês já sabem o que fazer.
Jada encontrou os olhos dançantes de Donovan. De fato,
eles sabiam.
Donovan circulou sua cintura com um braço e a puxou para
perto. Por orientação de Rose, Jada pousou a mão esquerda
sobre o coração dele, para melhor exibir o solitário anel de
diamantes.
— Perfeito — disse Rose, enquanto sua câmera clicava. —
Olhem profundamente nos olhos um do outro. Pense em um
drama glamoroso.
— Sim, Donovan. Dê-me um drama glamoroso — Jada
disse, rindo. — Me faça queimar.
Ele deu um tapa na bunda dela, então a pegou,
surpreendendo-a com um suspiro, e a girou em um círculo. Ele
cortou a risada dela com um beijo demorado.
— Vocês dois são realmente adoráveis — Rose resmungou
quando eles pararam para respirar. — Se eu não gostasse de
vocês dois, eu os odiaria com todo o meu ser.
— Obrigado, Rose — eles disseram em uníssono.
Sinos e bipes encheram o ar em um som estranho e
inflexível, interrompendo a configuração pura. Seus telefones,
que estavam inocentemente deitados em um cobertor a poucos
metros de distância, foram os culpados.
— O que está acontecendo? — Donovan colocou Jada no
chão, então se aproximou para pegar os aparelhos. Ele entregou
o celular dela.
Ela percorreu os textos e notificações de mídia social que
estavam chegando em uma inundação torrencial. Ela abriu
uma mensagem de Olivia.