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A EVOLUÇÃO DO CONCEITO

DE DEPRESSÃO NO SÉCULO XX:


UMA ANÁLISE DA CLASSIFICAÇÃO DA DEPRESSÃO
NAS DIFERENTES EDIÇÕES DO MANUAL DIAGNÓSTICO E
ESTATÍSTICO DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA
(DSMs) E POSSÍVEIS REPERCUSSÕES DESTAS MUDANÇAS NA
VISÃO DE MUNDO MODERNA

Silvana A. T. Ferreira

RESUMO

Partindo do pressuposto de que as do curso de Medicina do qual sou profes-


produções do campo médico, de uma for- sora. Barulho de cadeiras, conversa e risos,
ma geral, e da psiquiatria, especificamente, e este alarido me soa agradável como sem-
se difundem para o público leigo e produ- pre, fazendo com que eu me sinta mais jo-
zem visões de mundo e modos de enten- vem do que sou de fato e parte daquele gru-
der o sujeito, este artigo pretende fazer um po esperançoso de pessoas recém-saídas
relato breve da história da evolução das da adolescência. Alguns alunos se aproxi-
classificações psiquiátricas ao longo do sé- mam pedindo orientação de estudo; outros
culo XX, estudando o caso do conceito e querem verificar se eu lhes dei presença na
classificação de depressão a partir da aná- pauta durante a chamada. Eu os atendo en-
lise das edições I, II, III, III-R, IV e IV-R quanto desligo o datashow, recolho minhas
dos Manuais Estatísticos e Diagnósticos coisas e me preparo para deixar o ambien-
dos Transtornos Mentais da Associação te. Invariavelmente, restam três ou quatro
Americana de Psiquiatria (DSMs). Ainda, no fundo da sala de aula. Esperam a confu-
a partir do acima exposto, discute as possí- são se desfazer para me procurar: “Profes-
veis repercussões que estas mudanças pro- sora, posso falar com você?” “Professora,
duziram na dinâmica de forças dentro do tem alguns minutos?” Algumas vezes sen-
campo psiquiátrico em si e, através da sua to com eles em roda e conversamos juntos;
divulgação para o público leigo, na con- em outras, a demanda é conversar indivi-
cepção que as pessoas em geral têm de si, dualmente. Queixam-se, em grande parte
de suas vicissitudes, do sofrimento psíqui- das vezes, de depressão. Depressão, neste
co e do que devem fazer para resolvê-los. contexto, na maioria das vezes, é um relato
de como se sentem mal após términos de
PALAVRAS-CHAVE: Depressão; Classi- namoro, risco de reprovação em discipli-
ficação em psiquiatria; DSM. nas, saudades de casa e outras coisas as-
sim. Eventualmente, pode incluir tristeza,
desânimo, dificuldades de aprender e le-
INTRODUÇÃO vantar da cama pela manhã. Este tipo de
demanda é quase rotineira, nem me chama
Fim da manhã. Acaba o segundo mais a atenção. O que surpreende é que,
tempo de aula da disciplina de Psiquiatria com raras exceções, ninguém se pergunta

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A evolução do conceito de depressão no século XX

do porquê de estar se sentindo deste modo: A PSIQUIATRIA ENTRE O FÍSICO


por que estou insatisfeito? Será que escolhi E O MORAL
o curso certo? Amo meu namorado? Qual
o sentido da vida? O que ocorre é diferen- A psiquiatria é saber ao qual cor-
te: grande parte de meus alunos faz uso de responde uma prática e uma tecnologia
antidepressivos e quer tirar dúvidas a este de cuidado que tem se ocupado, desde
respeito. A dose está certa? Devo trocar? seu surgimento, da apreensão, enunciação
É assim mesmo o efeito colateral? Não e solução das perturbações mentais das
surge demanda de psicoterapia; alguns, às quais padece o ser humano, dividindo-se,
vezes, verbalizam alguma curiosidade a ao longo de sua história, entre dois polos
respeito de psicanálise, mas não é o mais explicativos: o físico e o moral3. Entre as
frequente, e, geralmente, se acompanha de teorias e práticas desenvolvidas dentro do
comentários do tipo “muito caro”, “muito campo e representações a ele associadas,
demorado”, “não tenho tempo”. A regra é encontramos uma alternância e convivên-
medicação. Antidepressivos, ansiolíticos e cia daquelas que privilegiam os aspectos
metilfenidato, são estas providências que físico-orgânicos dos fenômenos e de outras
meus alunos tomam para lidar com seus que vão enfatizar as explicações de ordem
problemas, principalmente o primeiro. moral dos fenômenos. Esta disputa dentro
Fora isso, chopadas e Redbull para reba- do campo quanto às possíveis formas de
ter. Que história é esta? Há, no máximo, compreensão destas perturbações reflete a
duas décadas, o panorama era diferente: tensão constitutiva no modo moderno de
o paradigma para o manejo do sofrimento se representar a pessoa – o Indivíduo – em
causado pelas vicissitudes da vida diária suas diferentes formas de atualização4. O
costumava ser o conhecimento de si, o tra- surgimento da psiquiatria – sua teoria e
balho das próprias dificuldades no setting suas práticas – paradigmaticamente, ex-
constituído pelas psicoterapias/psicanáli- pressa e reifica a dualidade interna e ine-
se. O que mudou? Quando e de que forma rente à própria concepção de indivíduo.
este modelo foi substituído por um modelo Inaugurada pelo alienismo no fim
intervencionista exclusivo através de psi- do século XVIII, a medicina psiquiátrica,
cofármacos neste mesmo sofrimento? Cer- diferentemente de suas “companheiras”,
tamente, o que mudou não foi a capacidade surge distanciada do campo da anátomo-
do ser humano de sofrer no decorrer da sua patologia e à revelia de sua legitimação.
existência. Foi a forma de lidar com o so- Baseia-se em discurso moral que dá conta
frimento. da causalidade das doenças mentais e diri-
Fora as implicações que tal consta- ge seu interesse ao que está expresso, isto
tação produz no que diz respeito ao ensino é, aos afetos e comportamentos, em oposi-
médico e à dinâmica dos cursos de medi- ção à ideia de lesão, interna. Não podendo
cina e que tem recebido crescente atenção legitimar-se como o resto do saber médico,
no campo, utilizo esta experiência para in- o alienismo buscou sua positividade não
troduzir a discussão aqui proposta1,2. na possibilidade de desvendar os meca-
Trocando em miúdos, pretendo, nismos de doença, mas sim na capacidade
através da exposição das mudanças ocor- de cura ou controle do que é expresso na
ridas na classificação psiquiátrica ao longo doença mental (alteração de comporta-
do século XX, tentar explicar porque meus mento). A loucura alienada é vista, em seu
alunos não falam mais de si, mas sim de corpo teórico, como fruto da exacerbação
suas receitas e dos remédios que tomam. das paixões associada a uma incongruên-

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A evolução do conceito de depressão no século XX

cia da vontade em contê-las. Desta forma, Até pelo menos os anos 30 do sé-
aproxima-se da vida normal – paixão e culo XX, essas teorias fisicalistas, deter-
vontade fazem parte desta – porém, é vi- ministas e hereditaristas obtiveram grande
vência anormalmente intensa advinda de sucesso junto aos médicos e cientistas da
ocorrências cotidianas e inter-relações so- época, fundamentando políticas eugêni-
ciais patogênicas. Ao aproximar o que é cas em vários países do Ocidente. Após a
da loucura do que é da vivência normal, Segunda Guerra Mundial, entretanto, foi
propõe uma possibilidade de cura para a possível acompanhar o desenvolvimento
alienação, o tratamento moral e “recupera” de duas correntes teóricas da psiquiatria
a possibilidade do alienado ser visto como identificadas com o que chamamos de suas
um indivíduo5,6,7. “vertentes morais”. A primeira delas foi a
No entanto, a busca de lesões no psicanálise, a qual difundiu-se pelo mundo
cérebro ou disfunções físicas responsáveis ocidental, em especial Europa e EUA ao
pelas doenças mentais é tão antiga quanto longo das primeiras três décadas do século
Hipócrates e sua descrição de melancolia XX, a partir da publicação de A Interpre-
baseada na teoria dos humores8,9. Neste tação dos Sonhos de Sigmund Freud em
sentido, surge na França, na segunda me- 1899. A segunda foi o movimento interno
tade do século XIX, a teoria da degene- à psiquiatria que veio a ser genericamente
rescência, de orientação lamarckista, que chamado de antipsiquiatria e representado
afirmava ser a doença mental resultado de pela “psiquiatria democrática” italiana de
degeneração do sistema nervoso, causada, Franco Basaglia, cuja intenção final con-
por sua vez, por comportamentos inade- sistia na reinserção do louco na socieda-
quados de gerações anteriores. Teria, por- de que o havia excluído12. Em ambos os
tanto, uma causa física e seria hereditária. casos, desaparece a concepção de doença
Na passagem do século XIX para o XX, mental como fato biológico exclusivo. Em
surgem teorias localizacionistas na psi- substituição à ideia de diferença (ancora-
quiatria alemã, representadas pela figura da na biologia), estas vertentes morais da
de Emil Kraepelin. Esta mudança no cam- psiquiatria utilizaram o conceito de alteri-
po relacionou-se não só às dificuldades do dade: todos são iguais em valor (indivídu-
alienismo e do tratamento moral em cor- os), mas diferentes em sua subjetividade
responderem às expectativas, como tam- (dimensão intrapessoal singular).
bém ao fortalecimento do paradigma fisi- Neste mesmo período em que se
calista dentro do campo da medicina. Para assistia uma “psicanalização” da psiquia-
Kraepelin:1)os transtornos mentais deve- tria, ocorria, em paralelo, a revolução psi-
riam ser compreendidos em analogia às cofarmacológica que conviveu com o dis-
doenças físicas, ou seja, causas específicas curso e a ideologia psicanalíticos e com a
para síndromes específicas; 2)a classifica- ideologia antipsiquiátrica. Apenas com a
ção dos transtornos mentais deveria se ater contenção química atingida com o uso dos
à observação cuidadosa dos fenômenos vi- antipsicóticos, foi possível se controlar
síveis, só assim seria possível se identificar os comportamentos desviantes e “abrir as
grupamentos de sintomas com curso e evo- portas dos hospícios”7.
luções previsíveis; e 3)a pesquisa empírica Essa convivência amigável entre
iria, eventualmente, revelar as origens or- as vertentes morais da psiquiatria e sua
gânicas/bioquímicas dos transtornos men- vertente biológica representada pela psico-
tais, sendo as classificações os primeiros farmacologia não dura muito. Na década
passos deste processo10,11. de setenta, vai ser deflagrado o processo de

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A evolução do conceito de depressão no século XX

mudança do paradigma psicanalítico pelo psicanálise.


paradigma biológico no interior do campo Em função da alta prevalência de
psiquiátrico. Esta mudança será coroada transtornos mentais impulsionada pelas
pela “revolução terminológica” do DSM- demências, no ano de 1989, o Congresso
III, publicado em 1980. Americano deliberou que a década de 90
fosse a “década do cérebro” e, de fato, este
período foi marcado por maciços investi-
A REVOLUÇÃO CLASSIFICATÓRIA mentos financeiros no desenvolvimento
NO CAMPO DA PSIQUIATRIA NO de tecnologias diagnósticas e terapêuticas
SÉCULO XX E SUAS CONSEQUÊN- (como psicofármacos e neuroimagem) e
CIAS: OS DSMs no campo da pesquisa (genética, neuroquí-
mica).
Vamos examinar essa mudança Ao longo deste processo, o au-
de paradigma através da exploração da mento do número de quadros classifica-
mudança radical na dinâmica classificató- dos como categorias diagnósticas (Tab.1)
ria na psiquiatria ocorrida em 1980 com a correspondeu a um aumento do número de
publicação da terceira versão do Manual quadros passíveis de serem tratados atra-
Estatístico e Diagnóstico dos Transtornos vés da administração de psicofármacos.
Mentais da Associação Americana de Psi- Neste contexto, uma determinada concep-
quiatria (Diagnostic and Statistic Manual ção acerca do sujeito ganhou força e po-
of Mental Disorders, American Psychiatric der de convencimento, onde o cérebro em
Association) o DSM-III. Se a ênfase às ex- sua fisicalidade adquiriu papel central nas
plicações morais (entre elas, a psicanálise) representações sobre o fenômeno humano
se manteve estável até a segunda metade e o adoecer, e padrões de comportamento,
da década de setenta, a partir daí fica fla- anteriormente considerados desviantes ou
grante uma retomada do fisicalismo pela socialmente problemáticos, passaram a ser
psiquiatria americana. Este movimento foi reconhecidos como categorias diagnósticas
chamado de neokraepelinianismo e repre- e codificados como perturbação mental.
sentou o retorno a um modelo que enfati- Este fato foi chamado de “expansionismo
zava a atividade classificatória categorial e neuroexplicativo”13. Estes comportamen-
opõe-se ao ponto de vista dimensional da tos – biologicamente determinados – eram

Tabela 1. Número de categorias diagnósticas nas diferentes edições dos DSMs.

Versão Ano No Total de Diagnósticos No Total de Páginas

I 1952 106 130


II 1968 182 134
III 1980 265 494
III-R 1987 292 567
IV 1994 297 886
FONTE: American Psychiatric Association, Diagnostic and Statistical Manual of Mental Di-
sorders, I–IV (Washington, DC: American Psychiatric Association, 1952, 1968, 1980, 1987,
1994). (Mayes & Horwitz ,2005).

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A evolução do conceito de depressão no século XX

passíveis de intervenção apenas através da grande destaque na psiquiatria americana


prescrição de medicamentos. da época. Foi sistema classificatório base-
Após décadas de convívio, e mes- ado em uma compreensão biopsicossocial
mo de predomínio da psicanálise, o campo da doença mental, concebida como uma
psiquiátrico foi invadido por outra lógica: reação a problemas da vida e situações de
a problemática mental saiu da esfera da dificuldade impingidas individualmente.
autorreflexão e passou a ser compreendi- Meyer enfatizava uma “concepção globa-
da, exclusivamente, como a necessidade lista do ser humano e de suas capacidades
de medicação eficiente no controle de suas de adaptação” e opunha-se à concepção
manifestações. kraepeliniana das “doenças mentais – enti-
Esta passagem da hegemonia dos dades”. Defendia que os transtornos men-
conceitos psicanalíticos – e socioculturais tais eram modos de reação desadaptativos
– para uma hegemonia de conceitos fisi- a situações diversas. Em contraste à abor-
calistas pode ser acompanhada através da dagem descritiva de Kraepelin, a concep-
análise de ocorrências internas ao campo ção “reativa ou ambiental” de Meyer gera-
psiquiátrico e que vão acontecer, em espe- va a ideia de um gradiente de transtornos
cial, a partir do início da década de oitenta mentais que se alongava de um extremo
(ainda que tenham se iniciado na década – a saúde mental – até o outro – a doença
anterior), a saber: as alterações na nosolo- mental grave15.
gia psiquiátrica – mudanças terminológi-
cas na classificação dos transtornos psiqui-
átricos nas diferentes edições do DSM14. O DSM-IIB

A segunda edição do manual, o


AS ALTERAÇÕES NA NOSOLOGIA DSM-II, foi publicada em 1968, em para-
PSIQUIÁTRICA - OS DSMS:O DSM-IA lelo à CID-08, apesar de já haver intenção
de serem compatíveis. Nesta edição do
Um interesse renovado pela abor- manual, o paradigma psicanalítico de com-
dagem ambulatorial dos transtornos men- preender as perturbações mentais se tornou
tais a partir da Segunda Guerra Mundial ainda mais evidente. Apesar de nesta edi-
originou a publicação, em 1952, de nova ção ter sido abandonada a noção dos trans-
classificação americana mais adequada à tornos mentais como reação aos eventos
prática extra-asilar, o Manual Diagnóstico de vida, há flagrante continuidade entre a
e Estatístico dos Transtornos Mentais, pri- primeira e a segunda edição do DSM, vis-
meira edição (o DSM-I). Foi desenvolvido to que ambas utilizam a psicanálise como
referencial para compreensão e tratamento
pela Associação Americana de Psiquiatria
dos transtornos mentais, além de ressalta-
como uma alternativa à Classificação In-
rem a natureza simbólica dos sintomas.
ternacional das Doenças (CID), à época
Ainda que os DSM-I e II confi-
em sua sexta versão, produzida pela Orga-
gurassem classificações americanas feitas
nização Mundial da Saúde. para a psiquiatria americana, o apelo por
Este manual – o DSM-I – foi pro- uma classificação internacional nunca dei-
fundamente marcado pela psicanálise e xou de existir no campo psiquiátrico como
pelas ideias de Adolf Meyer, psiquiatra de um todo.

A.Diagnostic and Statistic Manual, first edition. American Psychiatric Association, 1952. www.psychiatryonline.com/DSMPDF/dsm-i.pdf.
B.Diagnostic and Statistic Manual, second edition. American Psychiatric Association, 1968. www.psychiatryonline.com/DSMPDF/dsm-ii.pdf.

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A evolução do conceito de depressão no século XX

O DSM-III E EDIÇÕES tras em todos os lugares – diagnosticado


SUBSEQUENTESC da mesma forma11,17. A ausência de sistema
classificatório e diagnóstico estruturado
Um estudo colaborativo trans- num campo psiquiátrico dominado pela
nacional sobre processo diagnóstico em psicanálise tornava este passo mais difícil
esquizofrenia vinha sendo desenvolvido e inviabilizava pesquisas no campo.
com a coordenação da OMS na década de Outra preocupação da época (dé-
setenta. Este estudo, chamado de Estudo cadas de 60 e 70), além da confiabilidade e
Piloto Internacional sobre a Esquizofrenia, validade dos sistemas classificatórios, era
revelou que este transtorno era diagnosti- a definição dos limites do que deveria ser
cado mais comumente nos EUA e União considerado doença psiquiátrica12,17,18. Em
Soviética do que no resto do mundo16. Este artigo, Bayer& Spitzer18 descrevem como
estudo não teria tido tanto impacto se, na a opinião pública e representantes de den-
mesma época, não estivesse em jogo um tro do próprio campo psiquiátrico começa-
novo conceito na terapêutica em psiquia- ram a questionar o que chamavam da “cru-
tria. Até os anos cinquenta, a psiquiatria zada psicanalítica”, onde os psiquiatras
mantinha seu referencial psicológico pur- teriam colocado a seu cargo a “missão de
gando o campo dos transtornos biologi- mudar o mundo, a qual havia levada a pro-
camente determinados e transferindo a fissão ao limite da extinção”. Sobre isto,
responsabilidade por transtornos cuja etio- Russo e Venâncio12 discutiram que, com
logia orgânica/tratamento farmacológico a difusão da psicanálise pelos países cen-
eram descobertos: assim, os transtornos trais do Ocidente, difundiu-se também um
relacionados a alterações hormonais ou de- modo específico de se conceber o ser hu-
ficiências vitamínicas passaram aos cuida- mano, as relações familiares e amorosas.
dos dos endocrinologistas e clínicos gerais, A classificação “neurose” transformou-se
os transtornos psiquiátricos secundários à em um “modo de ser” que, por sua vez, se
sífilis passaram aos cuidados do infectolo- articulava a um certo estilo de vida – “inte-
gista e a epilepsia passou a ser objeto de lectualizado, levemente transgressor, con-
atenção dos neurologistas, por exemplo. testador”. Ser neurótico, então, tornou-se
Porém, a descoberta dos psicofár- fonte de status e o tratamento psicanalíti-
macos na década de cinquenta e a eviden- co muito mais do que um tratamento: era
ciação de sua eficácia diferencial no tra- uma forma de autoconhecimento e modo
tamento dos transtornos psiquiátricos fez de distinção.
com que esta modalidade terapêutica (me- As primeiras iniciativas para a
dicamentos) fosse incorporada ao campo, confecção da terceira revisão do manual
apesar das resistências11. A promessa de foram tomadas em 1974, quando foi de-
descoberta de psicofármacos de última ge- signada a Força-Tarefa para Nomenclatura
ração que pudessem oferecer tratamento que deveria iniciar os trabalhos na nova
medicamentoso específico para uma gama edição do DSM19. A terceira edição do ma-
cada vez maior de transtornos psiquiátri- nual (futuro DSM-III) foi preparada entre
cos valorizou a preocupação com “diag- 1974 e 1979, e publicada em 1980. Sua
nóstico correto” para cada caso e que cada publicação representou uma ruptura abso-
caso fosse sempre – por todos os psiquia- luta com a classificação que até então era

C.Diagnostic and Statistic Manual, third edition. American Psychiatric Association, 1980./ Diagnostic and Statistic Manual, third edition -
revised. American Psychiatric Association, 1987./ Diagnostic and Statistic Manual, fourth edition. American Psychiatric Association, 1994.

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A evolução do conceito de depressão no século XX

utilizada, visto que rompeu com o ecletis- Na impossibilidade de conseguir


mo das classificações anteriores propondo legitimidade e pertencimento ao campo
não apenas uma nomenclatura única, mas, biomédico através dos mesmos mecanis-
sobretudo, uma única lógica classificató- mos que as outras áreas, a psiquiatria agora
ria; e, além disso, representou uma ruptura justificava sua posição com recurso a dois
com a classificação psicanalítica12,13,14,20. pilares principais:1) a possibilidade de
Comparando-se as três primeiras identificar cada transtorno através de cri-
versões do manual, verifica-se diferen- térios pré-definidos, mensuráveis e aces-
ça marcante no que diz respeito ao modo síveis à observação empírica e 2) a possi-
como os sintomas são concebidos. Se no bilidade de confirmação de teorias sobre a
DSM I e II sintomas eram expressões po- patogênese dos transtornos mentais a partir
limórficas de processos subjacentes (que da possibilidade de verificação e testagem
ocorriam sob a superfície) – o mesmo fornecida pela nova classificação. O DSM-
sintoma, ou um determinado conjunto de III baseava-se em critérios operacionais,
sintomas poderia, em casos diferentes, es- não relacionados a qualquer referência te-
tarem referidos a mecanismos diferentes. órica em particular.
Não eram fornecidos critérios objetivos (e O DSM-III é considerado a pri-
observáveis) para determinar as fronteiras meira nosologia psiquiátrica padroniza-
entre as categorias diagnósticas. Para os da amplamente utilizada nos EUA17. Em
autores da terceira versão, há, no entan- sua estrutura, é um inventário de mais de
to, necessariamente, uma fronteira clara duzentos transtornos psiquiátricosd, onde
e discernível entre o doente e o normal, e cada transtorno é definido por uma lista de
entre as diferentes doenças mentais, sendo características que são necessárias para o
necessário definir rigorosamente tais fron- diagnóstico11. A racionalidade subjacente
teiras. ao DSM-III é, fundamentalmente, clas-
O DSM III é um manual que se sificatória e pró-diagnóstica. O DSM-III
atribui a característica de ser a-teórico, e sugeree – por sua estrutura objetiva – que
de possuir estrutura em que cada transtor- categorias diferentes referem-se a entida-
no é identificado por critérios acessíveis à des de fato diferentes e não apenas a di-
observação e mensuração empíricas, com ferenças quantitativas de uma mesma enti-
alto grau de confiabilidade. A insistência dade, forma alternativa de se compreender
sobre a objetividade das novas categorias os processos psicopatológicos. Sua estru-
e sobre o seu caráter descritivo originou- tura é categorial e dificulta conexões en-
se na crítica recorrente ao modelo classi- tre suas muitas classes diagnósticasf. Esta
ficatório anterior, o qual se fundamentaria perspectiva contradiz a teoria de que os
em critérios etiológicos – ou seja, em pro- transtornos mentais podem ser abordados
cessos subjacentes, inferidos pelos clíni- de forma processual (ou dimensional, isto
cos, visto que não acessíveis à observação é, compreendidos como alterações quanti-
empírica e, nem tampouco, comprovados tativas do funcionamento mental normal),
através de testes ou exames complementa- modelo psicopatológico de compreensão
res, nos moldes das demais disciplinas do da psicanálise, por exemplo. A difusão
campo biomédico. e aceitação do DSM-III pela psiquiatria

d. Ver Tabela 1 para o número de categorias diagnósticas das edições subsequentes, sempre crescente.
e. Não há referência explícita ao modo de concepção de doença no texto do manual.
f. Diferentemente do conceito de inconsciente freudiano e a noção de reação de A. Meyer permitem o estabelecimento conexões entre os
diferentes processos patológicos.

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A evolução do conceito de depressão no século XX

americana podem, então, ser considera- A EVOLUÇÃO DO DIAGNÓSTI-


das o resultado da hegemonia do ponto de CO DE DEPRESSÃO DENTRO DAS
vista biomédico, pois o DSM-III impli- EDIÇÕES DO MANUAL DIAG-
cou na classificação de doenças e não de NÓSTICO E ESTATÍSTICO DOS
indivíduos doentes. O adágio “sujeito em TRANSTORNOS MENTAIS (DSMS)
sofrimento psíquico” foi substituído por
“paciente portador de transtorno mental”. Na primeira edição do Manual
Em decorrência disso, as doenças mentais Estatístico e Diagnóstico dos Transtornos
passaram a ser concebidas como localiza- Mentais da Associação Americana de Psi-
das “fora dos sujeitos”g. Segundo os de- quiatria (1952), chama a atenção a presença
fensores do DSM-III, este fato colaboraria universal da categoria reação (que implica
para o fim do estigma que acompanha os a noção da participação obrigatória de fa-
doentes mentais que deixam de ser doen- tores ambientais na gênese dos transtornos
tes passando a ter uma determinada doen- mentais) e da utilização de termos oriun-
ça. Além disso, aproxima a psiquiatria da dos da psicanálise, sugerindo uma posição
biomedicina já que ter uma doença corres- teórica dentro do campo (em oposição à
ponde mais ao domínio do corpo do que ao pretensa posição a-teórica do DSM-III e
domínio da mente21,22,23. edições subsequentes). Depressão pode ser
Desde o DSM-III, observa-se uma classificada no DSM-I em três categorias
relação de claro continuísmo entre este ma-
diagnósticas pertencentes a duas classes do
nual e suas subsequentes revisões: não há
sistema classificatório (Tab. 2).
alterações importantes na orientação, es-
No DSM-II observa-se que, apesar
trutura ou formato geral nas edições sub-
da saída do termo reação do corpo princi-
sequentes do referido manualh. As mudan-
pal da classificação (permanece apenas de
ças referem-se, basicamente, à inclusão ou
forma acessória, se mantém o referencial
exclusão de novos diagnósticos ou revisão
ao saber psicanalítico e o comprometimen-
das definições e/ou critérios utilizados para
to a uma posição teórica dentro de cinco
sua caracterização. A necessidade de deli-
categorias diagnósticas, em duas classes
mitar fronteiras claras entre os diferentes
do sistema classificatório (Tab.3).
transtornos levou a uma superespecifica-
A partir do DSM-III, com poucas
ção das categorias diagnósticas. Assim
variações até o atual DSM-IV-R (exempli-
é que um dos resultados mais impressio-
ficado, o DSM-IV), a presença de sintoma-
nantes da nova classificação foi o aumen-
tologia depressiva inclui-se em nove cate-
to exponencial do número de categorias
gorias diagnósticas de apenas uma classe
diagnósticas (Tab.1). A classe diagnóstica
do sistema classificatório, no capítulo dos
Transtornos Mentais Orgânicos é extinta
Transtornos do Humor, os quais estão rela-
no DSM-IV, pois ela implicaria, incorreta-
cionados à etiologia ancorada numa estru-
mente, segundo seus autores, que os outros
transtornos do manual não teriam base orgâ- tura cerebral disfuncional, de origem ainda
nica11,12,14,23. não desvendada (Tab.4)24,25,26.
Esta visão exclui dicotomias an-
tigamente utilizadas, a saber: neurótica X
psicótica; endógena X exógena ou reativa,

g. Estas alterações, na concepção das doenças, vai se dar, é claro, tanto dentro do campo como no saber leigo.
h. Motivo pelo qual colocamos ênfase na análise do DSM-III, apesar de já existirem edições subsequentes (DSM-III-R, DSM-IV e DSM-
IV-R).

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A evolução do conceito de depressão no século XX

Tabela 2. Categorias diagnósticas onde pode se incluir o diagnóstico de depressão no


DSM-I (1952).

TRANSTORNOS DE ORIGEM PSICOGÊNCIA OU SEM CAU-


SA CLÍNICA CLARAMENTE DEFINIDA OU LESÃO ESTRU-
TURAL DO CÉREBRO
TRANSTORNOS PSICÓTICOS
— X TRANSTORNOS DE ORIGEM PSICOGÊNCIA OU SEM
CAUSA TANGÍVEL E CLARAMENTE DEFINIDA OU ALTE-
RAÇÃO ESTRUTURAL
000-xl2 Reação maníaco-depressiva, tipo depressivo (301.1)
000-xl4 Reação depressiva psicótica (309.0) *
TRANSTORNOS PSICONEURÓTICOS
— X TRANSTORNOS DE ORIGEM PSICOGÊNCIA OU SEM
CAUSA TANGÍVEL E CLARAMENTE DEFINIDA OU ALTE-
RAÇÃO ESTRUTURAL
000-x06 Reação depressiva(314)

FONTE: Diagnostic and Statistic Manual,first edition. American Psychiatric Association,


1952. www.psychiatryonline.com/DSMPDF/dsm-i.pdf.

Tabela 3. Categorias diagnósticas onde se pode incluir o diagnóstico de depressão no


DSM-II (1968).

III. PSICOSE NÃO ATRIBUÍDA A CONDIÇÕES FÍSICAS LISTA-


DAS ACIMA (295-298)

296 Transtornos Afetivos maiores


.0 melancolia involutiva
.2 doença maníaco-depressiva, tipo depresivo)
.34 doença maníaco-depressiva, tipo circular, deprimido

298 Outras psicoses


.0 Reação psicótica depressiva((psicose depressiva reativa)

IV. NEUROSES (300)


300 Neuroses
.4 neurose depressiva

FONTE: Diagnostic and Statistic Manual, second edition. American Psychiatric Association,
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86 Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


A evolução do conceito de depressão no século XX

Tabela 4. Categorias diagnósticas onde se pode incluir o diagnóstico de depressão no


DSM-IV (1994).
TRANSTORNOS DO HUMOR
Episódio Depressivo Maior (único)
Transtornos Depressivos
F32.x - 296.xx Transtorno Depressivo Maior
F34.1 - 300.4 Transtorno Distímico
F32.9 - 311 Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação

Transtornos BipolaresF30.
x/F31.x - 296.xx Transtorno Bipolar I, fase depressiva
F31.8 - 296.89 Transtorno Bipolar II, fase depressiva
F34.0 - 301.13 Transtorno Ciclotímico
F06.xx - 293.83 Transtorno do Humor Devido a... [Indicar a Condição
Médica Geral],tipo depressivo
F06.xx - 293.84 Transtorno do Humor Induzido por Substância, tipo
depressivo
FONTE:Diagnostic and Statistic Manual,fourth edition. American Psychiatric Association,
1994.

as quais introduziam a questão da singula- tiva”) que se assume a partir do DSM-III,


ridade e alteridade no campo do diagnósti- implicou, de fato, na adoção de uma visão
co psiquiátrico. Observa-se que inclusive fisicalista da depressão e da perturbação
a categoria distimia encontra-se listada mental de uma forma geral. É assim que
neste capítulo. Transtorno Distímico in- o surgimento e difusão do sistema classi-
clui os quadros leves, de longa duração, ficatório proposto pelo DSM-III e edições
que, anteriormente, se enquadravam no subsequentes correspondem à paulatina
campo das depressões neuróticas ou per- ascensão do fisicalismo da chamada psi-
sonalidade depressiva e objeto de atuação quiatria biológica (em detrimento da cha-
da psicanálise. Com esta modificação, este mada psiquiatria dinâmica psicanalítica)
diagnóstico passa a ser identificado com a como vertente dominante no panorama
classe maior dos Transtornos do Humor e psiquiátrico mundial, cada vez mais bio-
passível de sofrer intervenção também e/ médico21,26,27.
ou exclusivamente por via farmacológi-
ca14. Assim, sob a radical ruptura termi-
nológica que caracterizou a evolução do CONCLUSÃO
modo de se classificar/diagnosticar a de-
pressão, pode-se acompanhar um processo A atual predominância da vertente
de distanciamento também radical de certa biomédica/fisicalista no campo psiquiátri-
teoria sobre os transtornos mentais, teoria co está presente, também, na forma de sua
esta que apontava para processos mentais divulgação ao público leigo, o que pode
(ou psicológicos) subjacentes aos transtor- ser quase que diariamente constatado atra-
nos. O pressuposto empiricista implicado vés do teor do que é publicado em jornais
na posição “a-teórica” (e, por isso “obje- e revistas nacionais e internacionais28,29.

Ano 10, Janeiro a Março de 2011 87


A evolução do conceito de depressão no século XX

Considerando que a difusão dos saberes biomédica, alavancada pela evolução da


de uma forma geral para o público leigo, dinâmica classificatória, o processo se dá
e do saber médico, especial e especifica- de outra forma: a rigor, não se pode nem
mentei, interage com os sistemas simbó- caracterizá-lo como um projeto. Neste
licos e relaciona-se com as concepções e caso, radicaliza-se a influência dos efeitos
visões de mundo da atualidade30,31, pode-se padronizadores do mercado, mais favore-
supor que as modificações no campo psi- cendo a construção de uma identidade via
quiátrico e sua divulgação produziram al- consumo que via reflexão. Esta afirmativa
terações na forma como os sujeitos tomam cristaliza-se na categoria das “pílulas da
conhecimento de si e como lidam com seus felicidade” utilizada fartamente para os
problemas, sofrimento e sintomas. O en- antidepressivos, e de como o bem-estar
tendimento dos transtornos mentais e sua vai estar relacionado à possibilidade de
evolução como construções culturais que acesso às novas drogas que cada vez pos-
organizam e dão significado à experiência suem mais indicações de uso. Em relação
de sofrimento psíquico e que se referem ao cuidado médico-sanitário, o indivíduo
aos sistemas mais amplos de significação da atualidade deixou de ser paciente para
da sociedade se contrapõe à concepção se tornar consumidor ativo das novidades
interna do campo médico-psiquiátricoj de lançadas no mercado farmacêutico sendo
que o fenômeno de adoecimento psíquico que sua identidade passou a ser construída
(ou físico) é universal, atemporal e acultu- através do consumo de bens e serviços (e
ral29. Esta ideia costuma ser partilhada por saberes e práticas, consequentemente)25,28.
agentes de ambas as vertentes do campo A concepção de pessoa agenciada
psiquiátrico (psicanálise, de um lado, psi- pela psiquiatria biomédica é ilustrada pela
quiatria fisicalista do outro), ainda que a Fig.1: o ser desamparado, dependente e in-
classificação de transtornos através de suas capaz, produzido pela depressão pode ser
manifestações externas e comportamentais tratado e, assim, revertido em seu oposto,
(característica da psiquiatria biomédica) – através do uso de medicamentos. Apesar
sinais e sintomas – promova esta aborda- da impotência que, aparentemente, acom-
gem. panha a representação de um indivíduo
Ainda que ambas – psicanálise e sujeito ao evento fortuito da doença que
psiquiatria biomédica – sejam responsá- deve ser tratada quimicamente, este é tam-
veis pela formulação e promoção de de- bém dono de si. O medicamento é um bem
terminados estilos de vida, a primeira se de consumo que pode ser gerenciado por
aproxima mais do que se denomina expe- quem dele precisa. Neste sentido, a pessoa
riência de vida personalizada. Esta afirma- da psiquiatria biomédica padece menos de
ção pode ser ilustrada pela comparação incertezas e tende a viver sob maior influ-
dos projetos de felicidade implícitos em ência do mercado como fonte de estilos de
cada uma das duas. Na teoria psicanalítica, vida.
este se relaciona a um processo trabalho- A este respeito, consideramos que
so – a busca do autoconhecimento –, re- o projeto da psiquiatria biomédica encon-
ferido ao próprio indivíduo. A felicidade tra-se bastante identificado com estas ca-
aí se aproxima da ideia de singularidade e racterísticas, visto que é adequado e serve
autoconhecimento, além da possibilidade a esta “concepção comportamental” do
de construção de si32,33. Já na psiquiatria indivíduo e conforma-se com a caracteri-

i.Por ser, em nossa cultura, o discurso identificado como legítimo para tratar das coisas do corpo, saúde, doença e representações afins.
j. Esta concepção também está presente no saber comum.

88 Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


A evolução do conceito de depressão no século XX

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90 Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto, UERJ


TITULAÇÃO DOS AUTORES

Luiz Augusto Brites Villano Lilian Oliveira e Cruz de Aragão


Professor Adjunto da Faculdade de Ciências Médicas/ Psicóloga do HUPE/UERJ.
UERJ; Mestre em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medi-
cina Social da UERJ; Doutor em Psiquiatria e Psicologia Marcos C.F. Baptista
Médica pela Universidade Federal de São Paulo. Médico psiquiatra e psicanalista. Professor colaborador
e Coordenador do Setor de Psicoterapia e Psicanálise da
Abdon L.G. Nanhay UDA de Psiquiatria/FCM/UERJ.
Professor Docente da Secretaria Estadual de Educação do
Rio de Janeiro; Médico pela Faculdade de Ciências Médi- Osvaldo Luiz Saide
cas/UERJ. Livre-Docente e Professor Adjunto de Psiquiatria; Coor-
denador do PROEXA – Programa de Extensão em Alco-
Amaury José da Cruz Junior ologia (UERJ).
Vice-Presidente da Sociedade Brasileira de Perícias Mé-
dicas; Médico da Equipe do Proexa/UERJ; Médico Perito
Sheila Abramovitch
Judicial; Médico do Trabalho.
Professora adjunta de Psiquiatria da Infância e Adolescên-
cia da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ.
André Luiz Carvalho Netto
Médico psiquiatra, com Residência na especialidade no
Silvana A.T. Ferreira
HUPE/UERJ.
Doutora em Saúde Coletiva pelo Instituto de Medicina
Social da UERJ; Professora da disciplina de Psiquiatria do
Emylucy M P Paradela Departamento de Especialidades Médicas da Faculdade
Professora visitante do Departamento de Medicina Inter- de Medicina da UERJ.
na da Faculdade de Ciências Médicas da UERJ; Mestre e
Doutora em Saúde Pública pelo Instituto de Medicina So-
Thaís Simões
cial da UERJ; Especialista em Geriatria pela Associação
Médica psiquiatra, com Curso de Especialização na espe-
Medica Brasileira.
cialidade na FCM/UERJ.

Gabriela Serfaty
Médica Residente de Psiquiatria do HUPE/UERJ.

Ano 10, Janeiro a Março de 2011 9

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