HISTORIA DSM PDF
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Silvana A. T. Ferreira
RESUMO
cia da vontade em contê-las. Desta forma, Até pelo menos os anos 30 do sé-
aproxima-se da vida normal – paixão e culo XX, essas teorias fisicalistas, deter-
vontade fazem parte desta – porém, é vi- ministas e hereditaristas obtiveram grande
vência anormalmente intensa advinda de sucesso junto aos médicos e cientistas da
ocorrências cotidianas e inter-relações so- época, fundamentando políticas eugêni-
ciais patogênicas. Ao aproximar o que é cas em vários países do Ocidente. Após a
da loucura do que é da vivência normal, Segunda Guerra Mundial, entretanto, foi
propõe uma possibilidade de cura para a possível acompanhar o desenvolvimento
alienação, o tratamento moral e “recupera” de duas correntes teóricas da psiquiatria
a possibilidade do alienado ser visto como identificadas com o que chamamos de suas
um indivíduo5,6,7. “vertentes morais”. A primeira delas foi a
No entanto, a busca de lesões no psicanálise, a qual difundiu-se pelo mundo
cérebro ou disfunções físicas responsáveis ocidental, em especial Europa e EUA ao
pelas doenças mentais é tão antiga quanto longo das primeiras três décadas do século
Hipócrates e sua descrição de melancolia XX, a partir da publicação de A Interpre-
baseada na teoria dos humores8,9. Neste tação dos Sonhos de Sigmund Freud em
sentido, surge na França, na segunda me- 1899. A segunda foi o movimento interno
tade do século XIX, a teoria da degene- à psiquiatria que veio a ser genericamente
rescência, de orientação lamarckista, que chamado de antipsiquiatria e representado
afirmava ser a doença mental resultado de pela “psiquiatria democrática” italiana de
degeneração do sistema nervoso, causada, Franco Basaglia, cuja intenção final con-
por sua vez, por comportamentos inade- sistia na reinserção do louco na socieda-
quados de gerações anteriores. Teria, por- de que o havia excluído12. Em ambos os
tanto, uma causa física e seria hereditária. casos, desaparece a concepção de doença
Na passagem do século XIX para o XX, mental como fato biológico exclusivo. Em
surgem teorias localizacionistas na psi- substituição à ideia de diferença (ancora-
quiatria alemã, representadas pela figura da na biologia), estas vertentes morais da
de Emil Kraepelin. Esta mudança no cam- psiquiatria utilizaram o conceito de alteri-
po relacionou-se não só às dificuldades do dade: todos são iguais em valor (indivídu-
alienismo e do tratamento moral em cor- os), mas diferentes em sua subjetividade
responderem às expectativas, como tam- (dimensão intrapessoal singular).
bém ao fortalecimento do paradigma fisi- Neste mesmo período em que se
calista dentro do campo da medicina. Para assistia uma “psicanalização” da psiquia-
Kraepelin:1)os transtornos mentais deve- tria, ocorria, em paralelo, a revolução psi-
riam ser compreendidos em analogia às cofarmacológica que conviveu com o dis-
doenças físicas, ou seja, causas específicas curso e a ideologia psicanalíticos e com a
para síndromes específicas; 2)a classifica- ideologia antipsiquiátrica. Apenas com a
ção dos transtornos mentais deveria se ater contenção química atingida com o uso dos
à observação cuidadosa dos fenômenos vi- antipsicóticos, foi possível se controlar
síveis, só assim seria possível se identificar os comportamentos desviantes e “abrir as
grupamentos de sintomas com curso e evo- portas dos hospícios”7.
luções previsíveis; e 3)a pesquisa empírica Essa convivência amigável entre
iria, eventualmente, revelar as origens or- as vertentes morais da psiquiatria e sua
gânicas/bioquímicas dos transtornos men- vertente biológica representada pela psico-
tais, sendo as classificações os primeiros farmacologia não dura muito. Na década
passos deste processo10,11. de setenta, vai ser deflagrado o processo de
A.Diagnostic and Statistic Manual, first edition. American Psychiatric Association, 1952. www.psychiatryonline.com/DSMPDF/dsm-i.pdf.
B.Diagnostic and Statistic Manual, second edition. American Psychiatric Association, 1968. www.psychiatryonline.com/DSMPDF/dsm-ii.pdf.
C.Diagnostic and Statistic Manual, third edition. American Psychiatric Association, 1980./ Diagnostic and Statistic Manual, third edition -
revised. American Psychiatric Association, 1987./ Diagnostic and Statistic Manual, fourth edition. American Psychiatric Association, 1994.
d. Ver Tabela 1 para o número de categorias diagnósticas das edições subsequentes, sempre crescente.
e. Não há referência explícita ao modo de concepção de doença no texto do manual.
f. Diferentemente do conceito de inconsciente freudiano e a noção de reação de A. Meyer permitem o estabelecimento conexões entre os
diferentes processos patológicos.
g. Estas alterações, na concepção das doenças, vai se dar, é claro, tanto dentro do campo como no saber leigo.
h. Motivo pelo qual colocamos ênfase na análise do DSM-III, apesar de já existirem edições subsequentes (DSM-III-R, DSM-IV e DSM-
IV-R).
FONTE: Diagnostic and Statistic Manual, second edition. American Psychiatric Association,
1968. www.psychiatryonline.com/DSMPDF/dsm-ii.pdf
Transtornos BipolaresF30.
x/F31.x - 296.xx Transtorno Bipolar I, fase depressiva
F31.8 - 296.89 Transtorno Bipolar II, fase depressiva
F34.0 - 301.13 Transtorno Ciclotímico
F06.xx - 293.83 Transtorno do Humor Devido a... [Indicar a Condição
Médica Geral],tipo depressivo
F06.xx - 293.84 Transtorno do Humor Induzido por Substância, tipo
depressivo
FONTE:Diagnostic and Statistic Manual,fourth edition. American Psychiatric Association,
1994.
i.Por ser, em nossa cultura, o discurso identificado como legítimo para tratar das coisas do corpo, saúde, doença e representações afins.
j. Esta concepção também está presente no saber comum.
Gabriela Serfaty
Médica Residente de Psiquiatria do HUPE/UERJ.