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RESUMO
ABSTRACT
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Stabile et al.
temporal and spatial resolution of rainfall data of rain gauges from Brazil’s National
Center for Monitoring and Early Warning of Natural Disasters (Cemaden), this paper
aimed to define intensity-duration rainfall thresholds for the municipality of Jaraguá
do Sul (Santa Catarina state, Brazil). Ten events with records of landslides were used
to calculate rainfall intensity — I (mm/h) and duration — D (h). A rainfall event was
defined by rains with an interval of up to 12 hours with no precipitation. Rainfall
thresholds were created plotting I and D data in a log-log graph and adjusted using
a Power Function with the same exponent as the regression line of the data. Two
rainfall thresholds were developed: A, which comprises any landslide occurrences,
and B, which embraces rainfall events capable of triggering ten or more landslides.
With average success rates of up to 29.8% and 62.5%, respectively, it was estimated
that 3.2% of the rainfall events that occurred between 2016 and May 2022 overcame
threshold A and that 0.4% overcame threshold B. Results encourage an increase in
research on intensity-duration rainfall thresholds in other Brazilian regions in order to
improve the capacity of predicting disasters caused by landslides.
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um registro sistemático da chuva em escala tempo- ção cálcio-alcalina geralmente básica, com porções
ral adequada para este tipo de análise (ex. a cada restritas de formações ferríferas, paragnaisses e ou-
10, 15 ou 60 min) a partir da instalação da rede tros tipos de rochas, e por Sedimentos Quaterná-
de pluviômetros automáticos do Centro Nacional rios, compostos por sedimentos aluvionares-cas-
de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais calheiras, areias e sedimentos siltico-argilosos. Na
(Cemaden), iniciada em 2011. porção norte do município, destacam-se os depósi-
Em vista disso, buscando ampliar as tos vulcânico-sedimentares do Grupo Campo Ale-
possibilidades de previsão de deslizamentos no gre e os maciços graníticos da Suíte Intrusiva da
Brasil e explorar o potencial das informações de Serra do Mar (TABALIPA 2019). Acerca da pedo-
chuva dos pluviômetros do Cemaden, esta pesquisa logia, verifica-se a predominância de cambissolos
teve como objetivo definir limiares de chuva do do tipo álico, distrófico e húmico álico, bem como
tipo intensidade-duração no município de Jaraguá de solos podzólicos vermelho-amarelo, latossóli-
do Sul (SC). cos álicos e podzólicos vermelho-amarelo álicos.
A oeste do município identifica-se menor porção
2 ÁREA DE ESTUDO de solos do tipo litólicos álicos (TABALIPA 2019).
Em relação aos aspectos geomorfológicos,
O município de Jaraguá do Sul (Figura 1), o município está localizado em área de planície
situado no nordeste de Santa Catarina, possui ex- formada na confluência de dois rios (Itapocu e Ja-
tensão territorial de 530,894 km2 e população esti- raguá), cercado por serras cristalinas subparalelas
mada em 184.579 habitantes (IBGE 2022). entre si, com disposição predominante NE-SW,
O substrato do município é formado prin- que se iniciam ao sul da Serra do Mar e do Pla-
cipalmente pelo Complexo Luiz Alves, que inclui nalto de São Bento do Sul, margeando todo lado
gnaisses granulíticos ortoderivados, de composi- leste do estado de Santa Catarina até a altura do
FIGURA 1 – Localização da área de estudo e setorização das áreas de risco. Adaptado de CPRM (2011, 2019).
FIGURE 1 – Location of the study area and sectorization of the risk areas. Adapted from CPRM (2011, 2019).
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Stabile et al.
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TABELA 1 – Síntese dos setores de risco em Jaraguá do Sul, SC. Adaptado de CPRM (2011, 2019).
TABLE 1 – Synthesis of the risk sectors in Jaraguá do Sul, SC. Adapted from CPRM (2011, 2019).
14 de dezembro do mesmo ano. Segundo a defesa áreas não legalizadas pela administração municipal.
civil municipal, entre os meses de novembro e de- Enfatiza ainda que a conformação do relevo de Ja-
zembro de 2008 foram registradas 13 vítimas fatais raguá do Sul, com declive acentuado, determina que
(12 em decorrência de deslizamentos), 147 feridos e apenas 42% de sua área total não seja constituída de
40 famílias desalojadas devido a sucessivos desliza- encostas e que somente 21,3 % de sua área urbana,
mentos, corridas de massa e inundações decorrentes até meados da década de 90, fossem considerados
da elevada e contínua precipitação (SILVA & PIN- urbanizáveis. Com o escasso espaço superficial pla-
TO 2013). no e livre de inundações, o município possui forte
Sobre este aspecto, SILVA (2014) chama crescimento populacional e consequente demanda
atenção para a insegurança nas áreas de instabilida- por moradia, o que tem levado à ocupação das en-
de natural do município, agravadas pela ocupação costas tanto pelas classes de baixa como de alta ren-
irregular de encostas de morros, fundos de vale e da (BUTZKE 1995 apud SILVA 2014).
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Stabile et al.
FIGURA 3 – Localização dos eventos com deslizamentos. A classificação dos eventos quanto à precisão es-
pacial segue os seguintes critérios: Ausente - informação fonte faz referência à ocorrência em município sem
detalhamento da localização; Baixa - informação fonte refere-se à ocorrência em nível de bairro ou região; Mé-
dia - informação fonte refere-se à ocorrência em nível de localização ou rua; Alta - informação fonte identifica
local específico com possibilidade de identificação de coordenada geográfica. Elaborado pelos autores.
FIGURE 3 – Location of events with landslides. The classification of events in terms of spatial precision follows the criteria: Absent
- source information refers to the occurrence in the municipality without detailing the location; Low - source information refers to
the occurrence at the neighborhood or region level; Average - source information refers to occurrence at location or street level; High
- source information identifies specific location with possibility of geographic coordinate identification. Prepared by the authors.
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riurbanas (Figura 4). A maior parte deles têm infor- cia (madrugada/manhã/tarde/noite). Cabe ressaltar
mações espaciais com precisão de bairro ou região que um dos grandes desafios para a construção de
e precisão temporal apenas do período da ocorrên- limiares confiáveis é a escassez de informações
TABELA 2 – Eventos com deslizamento em Jaraguá do Sul entre Janeiro/2016 e Maio/2022 utilizados para a
elaboração dos limiares.
TABLE 2 – Rainfall events with landslides in Jaraguá do Sul between January/2016 and May/2022 used for the elaboration of the
thresholds.
FIGURA 4 – Deslizamentos registrados em Jaraguá do Sul nos eventos 09 (a) e 05 (b), conforme códigos
informados na tabela 1. Fonte: (a) Prefeitura do Município de Jaraguá do Sul, disponível em https://scc10.
com.br/cotidiano/tempo/tres-imoveis-afetados-por-deslizamentos-em-jaragua-do-sul-passam-por-avaliacao-
-da-defesa-civil/, acesso em: 02/09/2022; (b) Prefeitura do Município de Jaraguá do Sul, disponível em <ht-
tps://g1.globo.com/sc/santa-catarina/verao/2019/noticia/2019/02/18/chuva-em-sc-causa-deslizamentos-deixa-
-familias-desabrigadas-e-vias-interditadas-nesta-segunda-feira.ghtml>, acesso em: 02/09/2022.
FIGURE 4 – Landslides recorded in Jaraguá do Sul in events 09 (a) and 05 (b), according to the codes reported in table 1. Source:
(a) Municipality of Jaraguá do Sul, available at https://scc10.com.br/cotidiano/tempo/tres-imoveis-afetados-por-deslizamentos-em-
-jaragua-do-sul-passam-por-avaliacao-da-defesa-civil/, accessed on: 02/09/2022; (b) Municipality of Jaraguá do Sul, available at
https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/verao/2019/noticia/2019/02/18/chuva-em-sc-causa-deslizamentos-deixa-familias-desabriga-
das-e-vias-interditadas-nesta-segunda-feira.ghtml, accessed on: 02/09/2022.
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tos de chuva e levando em conta os estudos citados, Cabe notar que mesmo nos casos em que o
decidiu-se definir o evento de chuva a partir da au- horário aproximado da ocorrência de deslizamen-
sência de chuva por um período de pelo menos 12 to era conhecida, sendo estes exceções à precisão
h (antes ou depois do evento). temporal geral, foram utilizados os valores de I
A intensidade (I), medida em mm/h, e a du- e D do evento de chuva como um todo, ou seja,
ração (D), medida em horas, foram então estabele- mesmo após a virtual ocorrência do deslizamen-
cidas para cada um dos eventos de chuva com des- to. O uso da intensidade média e da duração do
lizamento. A figura 6 ilustra três eventos de chuva evento de chuva na sua totalidade é o método mais
utilizados neste estudo. A partir deles fica nítida a difundido na aplicação de limiares intensidade-
problemática da definição do evento de chuva: nas -duração (GUZZETTI et al. 2007, 2008), e dife-
figuras 6b e 6c um mesmo evento tem vários picos rem de métodos que consideram o horário preciso
de intensidade com períodos de ausência de chuva dos deslizamentos para calcular a chuva deflagra-
ou chuva fraca, de modo que uma especificação di- dora (ex. ALEOTTI 2004). Há duas justificativas
versa para o evento de chuva resultaria em valores principais para esta escolha. A primeira baseia-se
de I e D diferentes. na baixa precisão dos registros de deslizamento,
FIGURA 6 – Gráficos representando três eventos de chuva, códigos 10 (a), 09 (b) e 05 (c) conforme a tabela 2.
Cada barra azul representa a intensidade da chuva (mm/h) em um período de 10 min tal como mensurado pelo
pluviômetro automático.
FIGURE 6 – Graphs representing three rain events, codes 10 (a), 09 (b) and 05 (c) as shown in table 2. Each blue bar represents the
intensity of rain (mm/h) over a 10-minute period as measured by the automatic rain gauge.
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Stabile et al.
de modo que o uso do horário do deslizamento deslizamento com o mesmo expoente β da linha de
na análise seria impossível na maioria dos casos regressão. Foi possível elaborar dois limiares de
e provavelmente adicionaria erros aos registros de chuva para o município de Jaraguá do Sul. O Li-
intensidade e duração da chuva. A segunda advém miar A (Equação 2) abrange quaisquer ocorrências
da possibilidade de comparação com os eventos de de deslizamento, enquanto o Limiar B (Equação
chuva que não geram deslizamentos. 3) delimita os eventos de precipitação capazes de
deflagrar dez ou mais deslizamentos. Nota-se que
não há diferença visível da relação entre I e D en-
4 LIMIARES INTENSIDADE-DURAÇÃO
tre aqueles eventos com apenas um deslizamento
Os limiares Intensidade-Duração (ID) são e aqueles que compreendem de dois a nove desli-
normalmente representados por uma Função Po- zamentos.
tência na seguinte forma (Equação 1): 𝐼 = 36,456𝐷 −0,76 (1,83 < 𝐷 < 105,3) (Equação 2)
𝐼 =∝ 𝐷 𝛽 (Equação 1) 𝐼 = 64,816𝐷 −0,76 (1,83 < 𝐷 < 105,3) (Equação 3)
Onde: I é a intensidade (média) da chuva Estes limiares delimitam eventos com
(mm/h), D é a duração da chuva (h), enquanto α e 1,83<D<105,33 e I variando entre 1,88 e 41,08
β são parâmetros da equação. mm/h. O Limiar B, particularmente, foi sistemati-
Para a construção dos limiares de Jaraguá do zado a partir de apenas três eventos com durações
Sul os dados de I e D dos eventos de chuva com curtas ou muito longas, sem dados intermediários,
deslizamentos (Tabela 2) foram plotados em um devendo ser observado com cautela.
gráfico log-log. A distribuição dos pontos mostrou Alguns estudos (GUZZETTI et al. 2007,
uma clara correlação negativa entre I e D (Figura SAITO et al. 2010) têm apontado que os mecanis-
7), levando à interpretação de que chuvas mais in- mos para deflagração de deslizamentos nas chuvas
tensas necessitam de menos tempo para deflagrar de forte intensidade e curta duração provavelmente
deslizamentos. não são exatamente os mesmos das chuvas mais
Após o ajuste da linha de regressão dos dados longas e de menor intensidade. Por outro lado, os
na forma de uma função potência, o limiar foi esta- dados da figura 6 sugerem que mesmo em chuvas
belecido no limite inferior de todos os eventos com de longa duração há picos de alta intensidade de
chuva que podem estar também associados à defla-
gração de deslizamentos, denotando que as ocor-
rências precisam de um gatilho, mesmo com altos
volumes de chuva antecedente.
Efetivamente, mesmo que os deslizamentos
sejam deflagrados pela água que imediatamente in-
filtra na encosta e gera forças de percolação, erosão
e saturação do solo (TATIZANA et al. 1987, FER-
NANDES et al. 2001), sabe-se que a precipitação
antecedente atua na redução da resistência ao cisa-
lhamento (GUIDICINI & IWASA 1977, TATIZA-
NA et al. 1987) e favorece a percolação da água no
solo devido à condutividade hidráulica na condição
saturada (GUIDICINI & IWASA 1977, WOLLE &
CARVALHO 1989, ALEOTTI 2004, GODT et al.
2006).
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Stabile et al.
Calculamos os eventos de chuva acima dos para o Limiar A e entre 0% e 100% (=35%) para
limiares estabelecidos para cada um dos pluviôme- o Limiar B.
tros de Jaraguá do Sul (Tabela 3) e, em seguida, ava- Os pluviômetros 04A e 06A (Figura 5), situ-
liamos uma taxa de acerto, conforme a equação 4. ados mais a leste do município, apresentam taxas
𝐸𝑙𝑖𝑚𝑖𝑎𝑟;𝑑𝑒𝑠𝑙𝑖𝑧𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 de acerto notadamente mais baixas. Acreditamos
𝑇𝐴 (%) = × 100 (Equação 4) que isto ocorra por estarem mais distantes da
𝐸𝑙𝑖𝑚𝑖𝑎𝑟
maioria dos deslizamentos registrados no muni-
Onde: TA (%) é a taxa de acerto do limiar na- cípio, bem como por representarem muitas vezes
quele pluviômetro; Elimiar é o total de eventos acima um momento diferente da chuva daqueles pluviô-
do limiar registrados no pluviômetro; Elimiar;deslizamento metros situados mais a montante, entre as serras
é o total de eventos acima do limiar no pluviômetro e morros do vale do rio Itapocu. Já o pluviôme-
e com registro de deslizamentos (ou da quantidade tro 02A tem uma taxa de acerto particularmente
de deslizamentos prevista pelo limiar). baixa para o Limiar B. A explicação sustenta-se
Cabe notar que, uma vez que no nosso estu- no fato deste pluviômetro ter seu funcionamento
do o cálculo da intensidade (I) e da duração (D) suspenso em meados de 2019, antes que dois dos
dos eventos com deslizamento utilizou um pluvi- três registros de eventos com dez ou mais desli-
ômetro de referência para cada um dos eventos, é zamentos em Jaraguá do Sul tivessem ocorrido.
possível que um evento com deslizamento esteja Efetivamente, quando excluímos os pluviômetros
abaixo do limiar em pluviômetros diferentes da- 04A e 06A dos cálculos de taxa de acerto do Li-
quele, principalmente quando eles estão mais dis- miar A e excluímos os pluviômetros 02A, 04A e
tantes (Figura 9). Assim, o mesmo evento de chuva
06A dos cálculos de taxa de acerto do Limiar B,
que causou o(s) deslizamento(s) pode ter valores
as taxas médias aumentam para 29,8% no Limiar
de precipitação menores ou estar registrado em ou-
A e 62,5% no Limiar B.
tro horário em pluviômetros diferentes, devido ao
deslocamento e à dinâmica da tempestade. 5.1 Considerações sobre a intensidade e os acumu-
Sobre a frequência da ocorrência de eventos lados prévios de chuva
acima dos limiares (Tabela 3), nota-se que eventos
acima do Limiar A representam entre 2,6% e 3,6% A observação da figura 9 nos permite veri-
do total de eventos (=3,2%) e que eventos acima ficar também que os eventos de chuva acima do
do Limiar B constituem entre 0,1 e 0,9 (=0,4%) Limiar A e sem registros de deslizamentos se con-
do total de eventos de chuva registrados. As taxas centram tanto nos eventos de curta duração (até 6
de acerto variam entre 12,5% e 33,3% (=25,5%) h), como nos eventos de chuva de longa duração
Limiar A Elimiar;deslizamento** 5 4 6 3 7 6 6
2 2 2 4 1 6 3
Elimiar
(0,3%) (0,5%) (0,3%) (0,5%) (0,1%) (0,9%) (0,4%)
Limiar B Elimiar;deslizamento** 1 0 1 1 1 1 2
* Os códigos dos pluviômetros foram resumidos, todos eles são precedidos pela sequência “4208906”.
** Para o cálculo de Elimiar;deslizamento do Limiar A foram utilizados todos os eventos com deslizamento e acima do limiar,
enquanto para o Limiar B foram utilizados apenas os eventos com dez ou mais deslizamentos e acima do limiar.
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FIGURA 9 – Eventos de chuva registrados em cada um dos pluviômetros, com destaque para os even-
tos com ocorrência de deslizamentos. Pode acontecer de eventos com deslizamentos estarem plotados
abaixo dos limiares por não ser o seu pluviômetro de referência. Os eventos com ocorrência no plu-
viômetro de referência são aqueles em que os dados de I e D utilizados para a construção dos limiares
foram coletados naquele pluviômetro e estão destacados. Código dos pluviômetros representados em
cada gráfico: (a) 420890601A, (b) 420890602A, (c) 420890603A, (d) 420890604A, (e) 420890605A,
(f) 420890606A, (g) 420890607A.
FIGURE 9 – Rain events recorded in each of the pluviometers, highlighting the events with landslide occurrences. It may
happen that events with landslides are plotted below the thresholds because it is not their reference rain gauge. The events with
landslide occurrence in the reference rain gauge are those in which the I and D data used to build the thresholds were collected
in that rain gauge and are highlighted. Code of the rain gauges represented in each graph: (a) 420890601A, (b) 420890602A, (c)
420890603A, (d) 420890604A, (e) 420890605A, (f) 420890606A, (g) 420890607A.
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Stabile et al.
(acima de 24 h). Sabe-se que os limiares inevitavel- mente, os principais indutores dos deslizamentos
mente representam uma simplificação da relação registrados entre 2016 e maio/2022 em Jaraguá do
entre a chuva e a deflagração de movimentos de Sul são os próprios eventos de chuva deflagradores.
massa (ALEOTTI 2004), de modo que não sendo
a chuva a causa direta das rupturas e sim a infiltra- 6 POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO EM
ção da água na encosta e todos os mecanismos ge- SISTEMAS DE ALERTA
otécnicos envolvidos, a ocorrência de deslizamen-
tos irá variar também em função de outros fatores Os limiares intensidade-duração trazem
controladores como as propriedades hidrológicas e novas perspectivas quanto às possibilidades de
físicas do solo, a geomorfologia do terreno, a estru- emissão de alertas de deslizamentos no território
tura geológica, a cobertura vegetal, assim como as brasileiro. Diferentemente dos limiares tradicio-
interferências antrópicas. Estas últimas, no caso de nalmente utilizados que empregam acumulados de
deslizamentos isolados reportados pelas Defesas chuva em 24, 48 ou 72 h, os limiares intensidade-
Civis, certamente têm influência muito grande na -duração são capazes de predizer os eventos de
instabilização das encostas. chuva de curta duração que potencialmente podem
Certamente esta justificativa associada à deflagrar deslizamentos.
subnotificação de ocorrências explica parte dos Contudo, no caso do uso desses limiares em
eventos de chuva acima dos limiares e sem des- um sistema de alertas, há de se ponderar um núme-
lizamentos. Contudo, interessou-nos saber se ro considerável de eventos falsos positivos, sobre-
outros aspectos da chuva, particularmente os pi- tudo para o Limiar A. Isso pode ocorrer, nas taxas
cos de intensidade e os acumulados prévios, não aqui reportadas, pela subnotificação das ocorrên-
poderiam esclarecer por que alguns eventos de cias de deslizamento pelos motivos já descritos no
chuva acima dos limiares não foram capazes de item 3.1, mas também pelos limiares de chuva tra-
deflagrar deslizamentos. Para isso foi calculada a tarem-se de modelos simples de uma realidade am-
intensidade máxima da chuva (em 10 min e em plamente complexa. Por isso, um sistema de alertas
1 h) de cada um dos eventos de chuva acima dos deve envolver necessariamente a conscientização
limiares (Figura 10a 10b) e o acumulado de chuva da população não só acerca dos riscos (INTRIERI
em até 96 h antes do evento considerado (Figura et al. 2013, WMO 2018), mas também das limi-
10c e 10d). tações metodológicas na previsão dos fenômenos.
As figuras 10a e 10b sugerem que nos even- A UNDRR (2015) define que um sistema
tos de chuva com duração acima de 24 h, os picos de alerta corresponde a um sistema integrado de
de intensidade parecem ter tido alguma importân- monitoramento de perigos, previsão e predição,
cia na deflagração de deslizamentos. Verifica-se avaliação de risco de desastres, assim como a siste-
que 80% destes eventos de chuva com deslizamen- mas para comunicação e preparação que permitem
tos tiveram um pico de chuva de pelo menos ~40 que indivíduos, comunidades, governos, empresas
mm/h em 10 min e ~20 mm/h em 1h. Da mesma e outros tomem medidas para reduzir os riscos de
forma, 80% dos eventos de chuva com D > 24h e desastres antes da ocorrência dos eventos perigo-
sem deslizamentos têm picos de chuva abaixo des- sos. Consequentemente, a antecedência é um com-
tes valores. ponente fundamental dos alertas.
De fato, estes resultados corroboram as análi- No exemplo dos limiares aqui definidos para
ses de GUIDICINI & IWASA (1977) e TATIZANA Jaraguá do Sul (SC), o ideal é que o alerta seja emi-
et al. (1987) de que os escorregamentos rasos são tido antes de atingir o Limiar A, que já prediz a
deflagrados por processos geomecânicos relacio- ocorrência de deslizamentos pontuais. Tendo em
nados aos eventos de precipitação de forte inten- conta que os deslizamentos são fenômenos rápi-
sidade. Mesmo eventos de precipitação que geram dos, que ocorrem no espaço temporal de alguns
altos acumulados, especialmente acima de 24 h, segundos ou minutos, a única maneira de prevê-los
precisam de picos de chuva intensa para deflagrar e enviar alertas com antecedência suficiente é utili-
deslizamentos, ainda que menores do que os picos zando a previsão do tempo.
de chuva que instabilizam as encostas em eventos Fatalmente, a previsão do tempo irá adicionar
de menor duração. incertezas ao alerta emitido, que se somam àquelas
Por outro lado, as figuras 10c e 10d não apre- já inerentes aos limiares de chuva, especialmente
sentam dados consistentes com qualquer conclusão para os sistemas meteorológicos convectivos que
a respeito dos acumulados prévios. Consequente- se desenvolvem rapidamente e causam chuvas que
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(a) (b)
(c) (d)
FIGURA 10 – Gráficos mostrando as relações entre chuva e duração dos eventos acima do Limiar A (para os
eventos de chuva sem deslizamentos foram considerados os dados do pluviômetro 420890607A). Os gráficos
(a) e (b) apresentam a relação entre os picos de intensidade de chuva de cada evento (em 10 min e em 1 h) e a
sua duração. Os gráficos (c) e (d) representam a relação entre os acumulados de chuva prévios (desconsiderado
o evento deflagrador) em até 96 horas e a duração e intensidade dos eventos acima do Limiar A.
FIGURE 10 – Graphs showing the relationships between rainfall and duration of events above Threshold A (for rainfall events
without landslides, data from pluviometer 420890607A were considered). Graphs (a) and (b) show the relationship between the
rainfall intensity peaks of each event (in 10 minutes and in 1 hour) and their duration. Graphs (c) and (d) represent the relationship
between previous rainfall accumulated (disregarding the triggering event) in up to 96 hours and the duration and intensity of events
above Threshold A.
atingem os limiares em poucas horas. Portanto, a visão do tempo apropriados para emissão de alertas
compreensão dos sistemas meteorológicos capazes com a antecedência necessária. Neste sentido, os
de gerar chuvas que ultrapassam os limiares para limiares intensidade-duração fornecem um impor-
deflagração de deslizamentos, bem como sua sazo- tante ponto de partida, pois permitem discernir os
nalidade e frequência, é fundamental para se deter- eventos de curta duração daqueles eventos causa-
minar os equipamentos, modelos e métodos de pre- dos por fenômenos climáticos mais duradouros.
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de Desastres Naturais (Cemaden), Estrada Doutor Altino Bondesan, 500, Distrito de Eugênio de Melo,
CEP: 12.247-016, São José dos Campos, SP, Brasil. E-mails: [email protected], rafael.
[email protected], [email protected], [email protected], marcio.
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* Autor correspondente
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