CIÊNCIAS Políticas

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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Administração Publica

A legalidade do uso da Forca do Poder Estatal em tempos de Pandemia

Lindoca Manuel Nhacuongue: 71220674

Quelimane, Agosto de 2022


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em ensino de Geografia

A legalidade do uso da Forca do Poder Estatal em tempos de Pandemia

Trabalho de campo a ser submetido


a coordenação de curso de
licenciatura em Administração
Publica da UniSCED

Lindoca Manuel Nhacuongue: 71220674

Quelimane, Agosto de 2022


Índice
1. Introdução ............................................................................................................................. 3
1.1. Objectivos ..................................................................................................................... 4
1.1.1. Geral ...................................................................................................................... 4
1.1.1.1. Específicos ........................................................................................................ 4
2. Metodologia .......................................................................................................................... 4
3. Fundamentação teórica .......................................................................................................... 5
3.1. Pandemia ....................................................................................................................... 5
4. Conceito de corona vírus (Covid-19) .................................................................................... 5
5. Limitações aos direitos fundamentais ................................................................................... 6
6. Poder Policial ........................................................................................................................ 7
7. Poder de Polícia e Direitos Fundamentais ........................................................................... 10
8. A legitimidade do Exercício do Poder polícial em Tempos da Pandemia .......................... 10
9. Conclusão ............................................................................................................................ 12
10. Referência bibliográfica .................................................................................................. 13
1. Introdução

A COVID-19 é uma doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2, o qual


apresenta um quadro clínico que varia de infecções assintomáticas a quadros
respiratórios graves, como esclarece o Ministério da Saúde. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), a maioria dos pacientes com COVID-19 (cerca
de 80%) pode ser assintomática, e cerca de 20% dos casos podem requerer atendimento
hospitalar por apresentarem dificuldade respiratória, sendo que, desses casos,
aproximadamente 5% podem necessitar de suporte para o tratamento de insuficiência
respiratória.

O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31/12/19, após casos


registrados na China. Sua transmissão acontece de uma pessoa doente para outra por
contato próximo por meio de: toque do aperto de mão; gotículas de saliva; espirro;
tosse; catarro; objetos ou superfícies contaminadas, como celulares, mesas, maçanetas,
brinquedos, teclados de computador etc. Com o advento da pandemia do novo
Coronavírus (Covid-19), surgiu a necessidade de o Estado Moçambicano editar atos
normativos para prevenir e controlar a doença. Essas medidas invariavelmente
determinam restrições a direitos fundamentais.

Em que pese a atuação do poder público conter respaldo legal, nota-se que o
exercício do poder de polícia não é ilimitado, vez que, pelo fato de atentar contra
liberdades garantidas no texto constitucional, deverá a intervenção obedecer ao
equilíbrio entre autoridade e liberdade, mais precisamente, atender ao princípio da
proporcionalidade.

O presente trabalho objetiva examinar a legitimidade da intervenção estatal


limitadora de direitos fundamentais. De forma mais específica, verificar
acompatibilidade do exercício do poder de polícia em tempos de urgência
epidemiológica com a atual quadra dedesenvolvimento do ordenamento jurídico
vigente. Para tanto, parte-se da premissa de que existe uma relação intensa e dependente
entre as liberdades individuais e os atos de império, pois um limita o outro.

O trabalho está organizado em seis capítulos, no primeiro a introdução, o


Desenvolvimento no segundo, a apresentação dos resultados e a discussão dos mesmos
no terceiro, a conclusão no quarto e por fim as referências bibliográficas no quinto
capítulo.

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1.1.Objectivos
1.1.1. Geral
➢ Analisar o impacto da Legitimidade do uso da força do poder Estatal em
tempos da Pandemia em Moçambique.
1.1.1.1.Específicos
➢ Descrever as ênfasesque a protecção da saúde pública autoriza ao Estado
ter um poder (i) limitado, que entram em choque com os direitos
fundamentais.
➢ Descrever os impactos do poder da polícial no controle da Pandemia.
2. Metodologia

Na visão de GIL (1999), a metodologia é o método ou conjunto de


procedimentos intelectuais e técnicos adoptados para atingir determinado propósito ou
conhecimento, isto é, representa o caminho pelo qual se trilhou para chegar a um
determinado resultado.

Para a concretização do trabalho, baseou-se na revisão bibliográfica, que


consistiu na recolha de informações em diferentes obras que versam sobre o tema em
pesquisa recorrendo principalmente a três (3) técnicas, a saber:

Pesquisa Bibliográfica: consistiu na consulta e leitura de obras que versam


sobre o temaem abordagem, com o intuito de se construir uma base teórica sobre o
assunto em estudo.

Pesquisa virtual: consistiu na consulta de artigos disponíveis na Internet, com


finalidade de recolher informações complementares, tal como algumas figuras que
aparecem nos anexos.

Pesquisa documental: esta técnica consistiu na consulta de documentos


institucionais como relatórios de actividades, entre outros que foram úteis para o tema
em estudo. E para a redacção do trabalho foi usado o seguinte aplicativo informático:
Microsoft Office Word2010, assim sendo, os resultados estão apresentados em forma de
texto e quadros de modo a tornar a compreensão da informação mais clara.

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3. Fundamentação teórica
3.1.Pandemia

Segundo Vieira (1971), afirma que “Pandemia é uma palavra de origem grega,
formada com o prefixo neutro pan que significa todo e demos que significa povo. Foi
pela primeira vez empregada por Platão em seu livro das leis”.

Vieira (1971), diz que “Platão usou da palavra no sentido genérico, referindo-se
a todo acontecimento capaz de alcançar toda a população. No mesmo sentido, a palavra
foi usada por Aristóteles. Galeno utilizou o adjectivo pandêmico em relação às doenças
epidêmicas de grande difusão”.

A incorporação definitiva do termo pandemia no glossário médico formou-se a


partir do século XVIII encontrando-se no seu registro em Francês no Dictionaire
Universel Françaiset Latin, de Trévoux de 1771.

Em português foi o vocábulo dicionarizado com termo médico por Domingos


Vieira44 em 1873. O conceito moderno de pandemia é o de epidemia de grandes
proporções que se espalha em vários países e em mais de um continente. Exemplo
tantas vezes citado é a chamada Gripe espanhola que seguiu a

Segundo Vieira (1971), enfatiza que “Primeira Guerra mundial, nos anos de
1918-1919 e que causou a morte de cerca de 20 milhões de pessoas em todo o mundo.
No entanto, de acordo com Rayquard, Barbosa ettal. De forma geral, a pandemia é o
nome dado a ocorrência epidêmica caracterizada por larga distribuição espacial
atingindo várias nações”.

Em outras palavras, a pandemia pode ser tratada como ocorrência de uma série
de epidemias localizadas em diferentes regiões e que ocorrem em vários países ao
mesmo tempo.

4. Conceito de corona vírus (Covid-19)

Segundo Cambrão (2020), afirma que “De acordo com Pedrito Cabrão, os
coronavírus pertencem a uma grande família de vírus que causam doenças que variam
de gripes comuns e doenças respiratórias mais graves como a Síndrome de oriente
médio (MERS-CoV) identificada em 2012 e a síndrome respiratória aguda grave
(SARS-CoV) identificada em 2002”.

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De acordo com Vargas assim como Ferreira et al48 no que diz respeito a
infecção pelo novo corona vírus (2019-nCoV), o espectro clínico não está descrito
completamente bem como não se sabe o padrão de letalidade, mortalidade, efectividade
e transmissibilidade.

Segundo Cambrão (2020), enfatiza que “Não havendo ainda cura definitiva, o
uso de vacinas e outros medicamentos disponíveis actualmente é de suporte e não
definitivo. A transmissibilidade dos pacientes infectados por SARS-CoV é em média de
7 dias após o início dos sintomas. No entanto, dados preliminares do Novo Coronavírus
(2019-nCoV) sugerem que a transmissão pode ocorrer, mesmo sem o aparecimento de
sinais e sintomas”.

Até o momento, não há informação suficiente que defina quantos dias anteriores
ao início dos sinais e sintomas uma pessoa infectada passa a transmitir o vírus. A OMS
declarou a Covid-19 como pandemia no dia 11 de Março de 2020 porque o vírus já
tinha se alastrado quase por todos os países do mundo, cerca de 114 países
tinhamconfirmado a presença da Covid-19 e com cerca de 1118 mil casos globais.

5. Limitações aos direitos fundamentais

Segundo Novais (2010, p. 193), afirma que “Os direitos fundamentais não são
direitos ilimitados ou ilimitáveis. Vivendo os indivíduos numa sociedade, é normal que
o Direito seja chamadoa limitar os direitos fundamentais de modo a proteger os direitos
fundamentais de outras pessoas ou ainda a garantir bens jurídicos de relevo específico,
como a segurança ou a ordem pública”.

“Apesar de os direitos fundamentais serem universais e inalienáveis, a sua


interdependência e a vida em sociedade trazem, na prática do dia-a-dia, a necessidade
de determinar os limites aos direitos fundamentais” (Novais, 2010).

Segundo Novais (2010), afirma que “A primeira questão a considerar, neste


âmbito, será a da restrição aos direitos fundamentais. Esta matéria remete-nos, por
exemplo, para a problemática de saber se, e como, pode o direito à inviolabilidade do
domicílio e da correspondência ser limitado de forma a facilitar uma investigação
criminal (pense-se, por exemplo, nas escutas telefónicas ou buscas interdependência”.

Ou, ainda, por exemplo, de saber se e em que medida a liberdade de imprensa e


dos meios de comunicação social pode justificar a publicação de informação pessoal ou

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sobre a vida privada de um indivíduo quer dizer, questiona-se até aonde vai a liberdade
de imprensa e dos meios de comunicação social, quando se considera o direito à
privacidade das pessoas e o direito de acesso à informação por parte do público.

Novais (2010), enfatiza que “Por conseguinte, a restrição aos direitos


fundamentais assume uma importância especial no regime jurídico dos direitos
fundamentais. No entanto, há que distinguir entre as restrições e as intervenções
restritivas aos direitos fundamentais, estas últimas objecto da nossa atenção mais
abaixo”.

6. Poder Policial

As sociedades patriarcais romana e grega introduzem o poder de polícia à


sociedade ocidental, com conceito próximo ao de política, ambos associados à
constituição do Estado. Política significava viver na polis, submetendo-se a uma forma
de governo entre membros autônomos em grau de igualdade, na qual decisões
acontecem mediante compromissos e sem uso da violência.

“Já polícia designava a atuação fora da polis, a vida familiar, em que o patriarca
comandava seus subordinados despoticamente, os bens e as pessoas da casa eram seus
recursos, assim como o uso da violência” (BinemboJm, 2016, p. 27-28).

“Essa dicotomia entre poderes adquiriu nova dinâmica durante o período feudal
europeu. Ali, o senhor feudal, assemelhado ao patriarca, exercia polícia sobre seus
servos, vassalos e familiares, bem como praticava política com os demais senhores
feudais com os quais não possuía relação de subordinação” (BinemboJm, 2016, p. 28-
29).

Percebe-se que o poder de polícia deixa o âmbito doméstico, passando a atuar


também na vida dentro da polis, vez que se concentram na mesma figura, Estado e
patriarca, pelo menos em relação ao feudo independente.

Essa ampliação do poder de polícia é intensificada durante o período absolutista


europeu, sistema político contraposto ao modelo feudal, no qual o rei, embora
considerado primeiro entre iguais, tinha poder bastante limitado ou até mesmo
figurativo. O poder político era, na verdade, fragmentado entre a igreja, o monarca e a
nobreza (ASSIS, 2016, p. 3-4).

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“Diferente de sua contraparte feudal, o rei absolutista exercia de fato o poder. O
monarca baixava leis, instituía e cobrava tributos, comandava o exército, nomeava
funcionários, organizava a justiça etc” (Arruda, 1974, p. 61).

Essa dimensão do poder de polícia, que de fato continha toda a atividade


administrativa, justificando inclusive a expressão Estado de Polícia, começou a ter suas
primeiras restrições durante a Revolução Francesa, sendo efetivamente afetado por dois
grandes giros do direito administrativo: o regime democrático constitucional,
contemporâneo ao pós-guerra, que busca a legitimidade da organização e
funcionamento da Administração Pública em oposição ao regime autocrático; e o
pragmático, esforço concentrado na aproximação entre teorias e experiências de fato,
analisando decisões ante as consequências práticas, em contexto concreto, sem
referência a premissas teóricas inquestionáveis (BINENBOJM, 2016, p. 23-60).

“O democrático constitucional influencia os aspectos político-


jurídicos do poder de polícia, superando o conceito de seu exercício
em razão de uma supremacia geral do Estado sobre o particular em
favor de uma fonte de legitimidade extraída dos direitos fundamentais
e da democracia, sem chegar a formar uma sujeição completa em
favor do particular, mas se tratando de um conjunto de compromissos
entre particular e coletividade que habilitam e delimitam a atividade
ordenadora do poder de polícia” (BinenboJm, 2016, p. 63-65).

“Já a contribuição pragmática implica em submeter o texto constitucional que


legitima o poder de polícia a uma análise que considera as consequências práticas das
decisões para enfrentamento de problemas concretos” (BinenboJm 2016, p. 66-68).

“Assim, o poder de polícia atualmente é entendido comoordenação


econômica e social que conforma liberdade e propriedade por
prescrições estatais, objetivando proteção aos direitos fundamentais e
coletivos definidos democraticamente de acordo com a Constituição,
erigindo um sistema de incentivos a comportamentos sociais
desejáveis e desestimulando indesejáveis de acordo com finalidades
político-jurídicas predeterminadas” (BinenboJm, 2016, p. 71).

Esse sentido amplo abrange os poderes Legislativo e Executivo.

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“Numa interpretação mais restrita, poder de polícia se dá nas intervenções
estatais gerais, como regulamentos, ou específicas, como autorizações ou licenças,
emanadas pelo Poder Executivo para prevenir atividades particulares de encontro ao
interesse social” (Mello, 2010, p. 822).

Características essenciais do poder de polícia Os principais atributos


relacionados ao poder de políciasão: a discricionariedade, a auto executoriedade, a
coercibilidade e a indelegabilidade do poder de polícia a pessoas jurídicas de direito
privado.

A discricionariedade, muito presente nas medidas do poder de polícia, não é


regra absoluta. Primeiramente, a lei dá a margem de liberdade quanto à apreciação de
determinados elementos, como o motivo ou o objeto.

“Da mesma forma, em grande parte dos casos concretos, a Administração decide
o melhor meio e momento de agir ou a sanção aplicável diante das previstas legalmente.
Nessas circunstâncias, o poder de polícia é discricionário. Entretanto, em face de
determinados requisitos, a solução previamente estabelecida deve ser adotada. Nesse
momento, o poder é vinculado” (Di Pietro, 2019, p. 154-155).

“A polícia referida difere da polícia judiciária, vez que a primeira se predispõe


unicamente a impedir e paralisar atividades antissociais; já a última se preocupa com a
responsabilização dos violadores da ordem jurídica. Cabe ressaltar que, enquanto a
judiciária observa as regras da legislação processual penal, a administrativa é regida
pelas normas administrativas” (Mello, 2010, p. 835).

Em relação à auto-executoriedade, a maioria das medidas da polícia


administrativa carrega essa característica, segundo a qual a Administração pode adotar,
independente de autorização judicial, as medidas coativas necessárias.

“Obviamente, o particular sempre pode recorrer ao Judiciário para sustar


providência da qual tenha fundado receio de ilegalidade ou para receber indenizações
por medidas ilegais” (Mello O, 2010, p. 841-843).

“A coercibilidade é indissociável da auto-executoriedade, e o ato de polícia é


autoexecutável, porque é dotado de força coercitiva” (Di Pietro 2019, p. 155).

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Quanto à indelegabilidade do exercício do poder de polícia a pessoas jurídicas
de direito privado, a jurisprudência, incluído o Supremo Tribunal Federal (STF), tem
reconhecido essa vedação sob o argumento de que se trata de atividade típica do Estado.

Os atributos referidos anteriormente somente podem ser exercidos por quem seja
legalmente competente (DI PIETRO, 2019, p. 157).

Ainda, como todo ato administrativo, mesmo que predominantemente


discricionário, o poder de polícia tem limitações impostas pela lei quanto à
competência, à forma, aos fins e até mesmo em relação aos motivos ou ao objeto.

“No que concerne a estes dois últimos, ainda que domine a discricionariedade,
esta deve ser exercida nos limites legais” (DI Pietro, 2019, p. 158).

7. Poder de Polícia e Direitos Fundamentais

Existem três situações em que os direitos fundamentais atuam como um limite


ao poder de polícia, sendo seu exercício efetivamente inconstitucional.

“A primeira ocorre quando a medida adotada contraria literalmente o âmbito de


proteção de um direito fundamental. Dentro desse âmbito, estão os fatos, os atos, os
estados ou as posições jurídicas pela norma que o garante” (BinenboJm, 2016, p. 117).

Ou seja, quando a própria norma estabelece o campo de atuação do direito


fundamental, não pode o poder de polícia tentar limitá-lo, tanto por ato normativo
quanto administrativo. Ainda, no caso do Brasil, onde grande parte dos direitos
fundamentais encontra-se prevista no texto constitucional (CF/88, arts. 5º a 17), pode-se
dizer que medida policial que busque diminuir o campo predeterminado é
inconstitucional.

8. A legitimidade do Exercício do Poder polícial em Tempos da Pandemia

Os tópicos anteriores levam à constatação de que poder de polícia e direitos


fundamentais se relacionam intrinsecamente e atuam de forma que um limita o outro.
Ou seja, a atuação ordenadora do Estado pode restringir liberdades individuais, mas por
elas também é limitado, na medida em que o poder público, durante sua atividade
regulatória, não poderá se afastar dos valores albergados na Constituição e provocar a
aniquilação das garantias alcançadas.

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Verifica-se então o problema: quando a intervenção estatal limitadora de direitos
fundamentais será legítima? Quando existir equilíbrio entre autoridade e
liberdade.Quando houver efetiva e real supremacia do interesse coletivo. Quando a
coerção mantiver finasintonia entre as razões e os objetivos que a fundamentam. Em
síntese, quando a atuação do poder público for proporcional. Explica-se.

Antes de adentrar na investigação da proporcionalidade na seara da


administração pública, tema de interesse do artigo, necessárias algumas considerações
gerais sobre esseimportante postulado jurídico.

“Existem princípios que são mais fáceis de compreender do que de conceituar. A


proporcionalidade é um deles. Ela esteve presente em diversos ramos do Direito, seja na
aplicação da pena criminal, seja na noção de abuso do civilista ou, ainda, como meio de
conter a discricionariedade do Poder Estatal no âmbito administrativo” (Tavares, 2015,
p. 629).

Para Paulo Bonavides (2006, p. 393), o aludido princípio possui dois principais
sentidos: amplo e restrito. Em sentido mais amplo, é a regra fundamental a quem devem
obedecer tanto aos que exercem, quanto os que padecem do poder. Numa dimensão
menos larga, se caracteriza pelo fato de presumir a existência da relação adequada entre
um ou vários fins determinados e os meios que são levados a cabo.

Logo, nesta última acepção, haverá violação do princípio toda vez que os meios
destinados a realizar um fim não são por si mesmos apropriados, e/ou quando a
desproporção entre meios e fim é particularmente evidente ou manifesta.

“Será proporcional a opção que melhor atender a tarefa de otimização das regras
em disputa, considerando-se que cada qual apresenta pesos variáveis de importância
conforme o caso concreto que esteja em exame” (Hesse, 1983, p. 46).

Dessa forma, o princípio da proporcionalidade, conhecido por limite dos limites,


atua como ferramenta indispensável para impingir a legitimidade e a adequação das
normas com os ditames da justiça e da razão. Todavia, o exercício do referido método
interpretativo não pode ser realizado de forma crua, pouco elaborada e com base em
critérios subjectivos.

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9. Conclusão

Diante do discutido, foi constatada a possibilidade derestrição ao direito


fundamental de locomoção sem que necessariamente seja a medida administrativa
eivada por autoritarismo.

No discorrer do trabalho, foram analisadas as origens do poder de polícia, sua


relação embrionária com a ausência de limites e seu percurso até o entendimento
contemporâneo, marcado por esforços contínuos em afastar sua característica primordial
e substituí-la por bases de legitimidade. Foram demonstradas as contribuições que as
transformações do direito administrativo forneceram à sua polícia. Ainda, foi delineado
o conceito atual, com suas características marcantes. Em seguida, foi estudada a relação
entre as medidas policiais e os direitos fundamentais, abordando as áreas inalcançáveis
e as possibilidades de intervenção para harmonizar a coexistência destes com outros
semelhantes e mesmo com interesses coletivos.

A atuação do direito administrativo durante as situaçõesde emergência e


excepcionais também foi analisada. Visitadas as primeiras doutrinas a abordarem o
assunto, entendeu-se pelas conclusões mais modernas que propõem a existência de
regime jurídico próprio em épocas imprevisíveis. Tal regime é necessariamente
temporário e com requisitos preestabelecidos.Abordado o caso concreto da limitação ao
direito de locomoção especificamente em razão da pandemia, foram apresentadas as
primeiras decisões judiciais sobre o assunto.

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10. Referência bibliográfica
1. Arruda, J. J. A. (1974). História moderna e contemporânea. São Paulo
2. BinenboJm, G. (2016). Poder de polícia, ordenação, regulação. Belo
Horizonte
3. Cabrão, P. (2020). Covid-19 e as suas implicações em
Moçambique.Maputo
4. DI Pietro, M. S. Z. (2019). Direito administrativo. Rio de Janeiro
5. Mello, C. A. B. (2010). Curso de direito administrativo. São Paulo
6. Vieira, F. (1871). Grande dicionário. Porto

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