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Projeto Ético-Político
da categoria: entre a pandemia e
as epidemias e as endemias
de nossa sociedade
DOI: 10.12957/rep.2023.72463
Recebido em 16 de setembro de 2022.
Aprovado para publicação em 26 de setembro de 2022.
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Atribuição 4.0 Internacional.
Introdução
trato social. Há algo que cabe ao assistente social fazer, desenvolver, trabalhar,
intervir, que não é do campo de outras atividades profissionais, que, igual-
mente a ele, respondem a demandas sócio-históricas bem definidas e que
estão em pleno desenvolvimento. Sim. Nossa profissão está em pleno desen-
volvimento e está se desenvolvendo num mundo cujos marcadores legais,
frutos de lutas de diversos segmentos da sociedade, estão se desmanchando.
Nesse caminho, também os direitos, que para nós pareciam tão sólidos. Mas,
como disseram Marx e Engels (2012, p. 67):
O PEP enfrentou por sua primeira vez uma pandemia, mas está
desde sua origem confrontando-se com as epidemias e as endemias de pensa-
mentos e ações dentro e fora da categoria profissional. No campo da produção
e da reprodução das relações sociais, esses movimentos “epi e endêmicos”
são recorrentes, influenciam diretamente a categoria e a desafia. O desafio
não é às instituições que representam a categoria nem às unidades de for-
mação acadêmica (UFA); o desafio é feito a cada profissional diariamente
em seu espaço sócio-ocupacional. As decisões econômicas, suas mani-
festações nos orçamentos da união do Estado e dos municípios, em sincronia,
determinam serviços, espaços profissionais e resultados. A experiência diária
do trato dado à economia sinaliza o tempo todo o mar de pessoas e famílias
que está fora das ações e lá ficarão. O trato político, muitas vezes partidário,
dado às condições objetivas de vida e de sobrevida das pessoas e suas famílias
tem emagrecido, e em alguns territórios tem definhado, estruturas que eram
conhecidas do público local.
Os dados, os números e as caras das pessoas não atendidas são
conhecidas por qualquer assistente social. Sei que cada profissional, esteja
ele no lugar mais ermo desse país, reconhece e vivencia o desafio de
materializar os 11 princípios do Código de Ética, pedra angular do PEP, em
sua realidade concreta. O PEP tem três grandes desafios a serem enfrentados
com a realidade desenhada da forma que apresentei: primeiro, estruturar-se
na formação profissional via estudo aprofundado da teoria social crítica para
trabalhadores. Destaco esse aspecto por observar que, sem a discussão a
partir da teoria social crítica na formação, não se consegue manter a intenção
de ruptura; sem isso, a profissão está caminhando para um lugar, mesmo
que o discurso esteja noutro. Em outras palavras, precisamos formar assistentes
sociais para o serviço social avançar. O segundo desafio no cenário de-
senhado é: sem projeto de intervenção não há Projeto Ético-Político. Nos
cadernos de orientação das políticas públicas, nas normativas dessas políticas,
não há intenção de ruptura. Executar essas normas e orientações sem
mediação não expressa nossos compromissos ético-políticos. Todos nós nos
orgulhamos de sermos a única categoria profissional que tem um Projeto
Ético-Político. Ele germina nos projetos de intervenção. O terceiro desafio
do PEP é fazer-se conhecer através do trabalho realizado pelos e pelas assis-
tentes socias. É importante retomar o trabalho socioeducativo, a dimensão
andragógica do fazer profissional que está sendo subsumido pelos instru-
mentos predefinidos de muitas políticas.
Considerações finais
mentos atuais. Cada elemento deve ser entendido para ser reforçado e co-
letivizado. Só assim podemos reafirmar a intenção de ruptura como um
projeto coletivo das e dos profissionais, que pode ser visto como um elemento
diferenciador na forma de esses sujeitos realizarem suas atividades profis-
sionais.
Sabemos que não cabe a uma categoria profissional ser a lo-
comotiva da história. Mas somos trabalhadores que atendem trabalhadores,
e isso tem um significado. Precisamos, talvez, parar de atender “usuários”
das políticas. Precisamos atender trabalhadores e trabalhadoras, seus filhos
e filhas. Precisamos entender que as políticas públicas não são o fim da
nossa profissão, mas um meio de estarmos próximos desse público. Pre-
cisamos voltar a trabalhar com projetos de intervenção, via pela qual nossa
especificidade profissional flui e dá visibilidade a cada profissional, e não
por manuais ou cadernos de orientação, que são úteis e necessários, mas
são, igualmente, instrumentos.
O Projeto Ético-Político da profissão será feito pelos homens e
mulheres da profissão, que afirmam através da sua práxis cotidiana não só
os valores construídos no processo de formação. O PEP não é um mantra ou
discurso, mas sobretudo um movimento vivo de e em um mundo concreto.
É preciso estudar os clássicos com mais consistência e sem dogmatismo, he-
rança do fazer conservador. É preciso socializar a discussão do PEP, con-
centrá-la, reproduz valores que não estão no centro da constituição de nossa
formação. É preciso socializar reflexões para que possamos cumprir nossa
parte na história da profissão e da sociedade.
Vamos permanecer alertas! É necessário que o ensino, a pesquisa,
a extensão e o fazer profissional em serviço social debatam essas questões
com todos os sujeitos envolvidos. Pouco poderemos fazer se poucos deba-
terem, estenderem e tematizarem essas questões. Os elementos do PEP
precisam ser defendidos pelos estudantes e profissionais, não como um pan-
fleto, mas como elemento orientador do fazer profissional visível a quem
emprega, a quem é atendido e a quem presta o atendimento. Os dois níveis
de cuidado sinalizados no início desse artigo precisam ser consciente e prati-
camente enfrentados: “a lição já sabemos de cor. Só nos resta aprender”. E
eu afirmo: Só nos resta fazer. É preciso retomar as bases da profissão para
combater as pandemias, as endemias e as epidemias sociais.
É importante assumir que não é a profissão que corre riscos, mas
as pedras angulares da profissão, sim. Mais ainda, é importe sedimentar a
discussão de que mexer nessas pedras angulares da profissão é redefini-las,
e que esse processo está acontecendo. Isso está acontecendo conosco e sem
nós. Retomemos o trabalho de base, o marxismo com Marx, os projetos de
intervenção, e tornemos visível no nosso fazer a nossa intencionalidade e
identidade profissional.
Referências