1200-Article Text-2311-1-10-20200109
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Abstract: The present article has elements to subsidize a reflection on the professional work, the
condition of wages of the social assistants and the refutations in the professional field, understanding
that from the circumstances that cross this field, it becomes vulnerable to the conservative advance.
For this, we discuss the constitutive relationship of conservative thinking and Social Work, the
condition of salaried employees of professionals and the contradictory dimension of professional work.
We point beyond the limits to print emancipatory social direction by making professional, and the
"results" of this work, possibilities of creating resistance to the conservative advance within the
profession driven by the crisis of capital.
Key words: Professional field, wage labor and conservatism.
INTRODUÇÃO
1
Estudante de Pós-Graduação, Universidade Federal de São Paulo, E-mail: [email protected].
2
Estudante de Pós-Graduação, Universidade Federal de São Paulo, E-mail: [email protected].
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Considerando as análises que Netto (2006) faz das perspectivas que compõem o
movimento de renovação, tem-se como sua primeira expressão, a perspectiva
modernizadora na década de 1960, tendo como base os documentos de Araxá e
Teresópolis. Essa vertente “captura” o “tradicional” sobre novas bases, não há um
rompimento, visa à integração e ao desenvolvimento, conforme passagem do documento de
Araxá que caracteriza o Serviço Social “pela ação junto a indivíduos com desajustamentos
familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais
inadequadas.” (CBCISS, 1886:24, apud NETTO, 2006, p.167).
Os documentos de Araxá e Teresópolis têm influências neotomistas5, o primeiro com
uma base teórica estrutural-funcionalista e base ideológica reformista conservadora com o
viés desenvolvimentista; o segundo equivale “à plena adequação do Serviço Social à
ambiência própria na “modernização conservadora” conduzida pelo Estado ditatorial em
benefício do grande capital...” (Netto, 1999, p. 193).
Na década de 1970 e entrada dos anos 1980, tendo iniciado nos seminários de
Sumaré e Alto da Boa Vista, a vertente da reatualização do conservadorismo surge entre
ruptura e continuidade. Como voltar ao “conservantismo” inicial seria muito difícil, já que se
tinha de um lado o conservadorismo e de outro, quadros com influências marxistas, houve
um movimento de reatualizar o conservadorismo, embutir uma nova roupagem a ele. Essa
perspectiva substitui o “pensamento causal” (positivismo) pela compreensão
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(fenomenologia), que objetiva uma ajuda psicossocial .
Até aqui, o que explicitamos são vertentes de um projeto conservador da profissão,
contrário ao da perspectiva renovadora, chamada por Netto (2006) de intenção de ruptura,
que experimentou um desenvolvimento diferente das perspectivas anteriores. Surgiu na
década de 1970 dentro da estrutura universitária, especialmente em Minas Gerais,
posteriormente em 1980 ultrapassou os muros da academia com um caráter de oposição,
pois colidia com a ordem no plano teórico-cultural, profissional e político.
No contexto de lutas pela democratização do país, o Serviço Social teve o seu
movimento de renovação crítica. Nos anos de 1980, se consolidou e ganhou hegemonia o
projeto ético-político da profissão que tem como teleologia a transformação social, sua
aproximação com os “marxismos” e com as ciências sociais, trazendo uma perspectiva
crítica, emancipatória e um claro compromisso com a classe trabalhadora. Conforme consta
5
Filosofia de base cristã tem como princípio a dignidade humana e o bem comum, sob duas dimensões
o corpo e a alma. (NETTO, 2006).
6
O Serviço Social [...] se propõe a um desenvolvimento da consciência reflexiva de pessoas a partir do
movimento dialético entre o conhecimento do sujeito como ‘ser no mundo’ e o conhecimento do sujeito como
‘ser sobre o mundo’. Isto se realiza numa dimensão temporal e histórica. [“...] Este processo se dinamiza
através do diálogo, entendido aqui, como uma forma de ajuda psicossocial” (CBCISS, 1986: 185-186, apud
NETTO, 2006, p.207).
em sua base jurídica-legal, o Código de Ética do(a) Assistente Social (Lei n. 8662/93) no seu
VIII Princípio Fundamental deixa nítido uma “opção por um projeto profissional vinculado ao
processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação, exploração de
classe, etnia e gênero”.
Cabe assinalar, o movimento de renovação não extinguiu o conservadorismo da
profissão, que em momento de crise do capital fica mais explícito e enquanto a demanda
que o sustenta existir,
[...] estará presente no Serviço Social, ora mais fortalecido, ora menos, porém
sempre atualizando-se para responder adequadamente às requisições que lhes são
formuladas. Ele é uma tendência constitutiva dessa profissionalidade, o que não
quer dizer que seja a única (Santos, 2007, p.58).
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Um período conhecido com reestruturação produtiva traz a forma de produção toyotista e passa a produzir
por demanda, produtos variados, exigindo a polivalência e seguindo o caminho da terceirização e
subcontratação. Essa nova forma traz ainda mais efeitos devastadores para classe trabalhadora: redução do
proletariado fabril; incremento do subproletariado (trabalho parcial, terceirizado, informais e desempregado e
etc.); aumento do trabalho feminino de uma forma precarizada e desregulamentada; exclusões de jovens e
velhos do mercado de trabalho, dentre outros. A classe trabalhadora sofre um processo de heterogeinização,
fragmentação e complexificação (ANTUNES, 2015).
A direção do trabalho do assistente social não é dada somente pelo sujeito que o
realiza, apenas por sua intencionalidade, é dado também pelas circunstâncias, pelas
condições objetivas sob as quais ele não tem controle. Isso quer dizer, que mesmo com
uma direção pautada no projeto ético-político hegemônico da profissão, o “resultado” pode
ser conservador. Raichelis (2011) aponta que essas são as contradições entre a direção
social8 que o assistente social pretende imprimir ao seu trabalho e as exigências impostas
pelos empregadores aos trabalhadores assalariados.
Por esses fatores, o campo profissional fica tão vulnerável ao avanço
conservadorismo, principalmente se pensarmos as políticas sociais como uma das principais
mediações do trabalho profissional, sendo elas diretamente atingidas pelo processo de
mundialização9 do capital, que traz a tais políticas, diretrizes para focalização,
descentralização, desfinanciamento e regressão dos direitos do trabalho (Iamamoto, 2009).
Segundo Leite e Valle (2018) na atualidade, os assistentes sociais são chamados
para veicular o discurso propagador do “consenso ativo dos trabalhadores” em torno dos
objetivos dos empregadores, que fornecem aos assistentes sociais os instrumentos e meios
para o desenvolvimento de seu trabalho, “definem demandas, condições de trabalho e o
objeto (recorte da questão social) pelo qual recai a ação profissional” (Raichelis, 2011).
Raichelis (2011) demonstra que as condições objetivas conferem materialidade ao
fazer profissional, mas é preciso considerar as condições subjetivas que consiste,
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[...] a expressão da construção coletiva do Serviço Social brasileiro nas últimas quatro décadas, tecidas nas
lutas sociais pela emancipação política, tendo como horizonte a construção de outra sociabilidade para além
do capital (Raichelis, 2018, p.27).
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[...] o capitalismo avançou em sua vocação de internacionalizar a produção e os mercados, aprofundando o
desenvolvimento desigual e combinado entre as nações e no seu interior entre as classes e grupos sociais no
âmago das relações dialéticas entre imperialismo e dependência (MANDEL, 1985 apud Iamamoto, 2009).
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
políticas sociais residuais, condições de trabalho flexíveis orientadas pelo uma lógica
neoliberal, tornando-se terreno fértil ao avanço conservador.
Diante desse campo profissional, atravessado por circunstâncias que condicionam a
direção social do trabalho dos (as) assistentes sociais, Iamamoto (2009, p.34) aponta um
“desafio intelectual e histórico de fundamental importância ao Serviço Social em uma dupla
perspectiva: para apreender as várias expressões que assumem, na atualidade, as
desigualdades sociais e as lutas contra as mesmas; e para projetar formas de resistência e
de defesa da vida e dos direitos, germinadas no presente [...]”. Reforçando a necessidade e
urgência da segunda perspectiva, pois “a luta pela afirmação de direitos é hoje também uma
luta contra o capital” (Iamamoto, 2009, p.1).
4. REFERÊNCIAS
NETTO, José Paulo. Ditadura e Serviço Social: Uma análise do Serviço Social
no Brasil pós-64. São Paulo: Cortez, 2006.