Direito Á Alimentação. Reflexão Sobre A Proteção Social E O Papel Do Estado

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 16

SISTEMA DE ENSINO 100% ONLINE

SERVIÇO SOCIAL

AGDA ROBERTA MEDINA

“DIREITO Á ALIMENTAÇÃO. REFLEXÃO SOBRE A


PROTEÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO ESTADO”.

Cataguases/MG
2022
AGDA ROBERTA MEDINA

“DIREITO Á ALIMENTAÇÃO. REFLEXÃO SOBRE A


PROTEÇÃO SOCIAL E O PAPEL DO ESTADO”.

Individual apresentado à Universidade


Pitágoras Unopar, como requisito para
obtenção de nota nas disciplinas do 4º período
do curso de Serviço Social.

Cataguases/MG
2022
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................1
2. DESENVOLVIMENTO..............................................................................................3
3. CONCLUSÃO.........................................................................................................11
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................12
1

1.1 INTRODUÇÃO

O Serviço Social é uma profissão inserida na divisão social e técnica do


trabalho, realiza sua ação profissional no âmbito das políticas socioassistenciais, na
esfera pública e privada. Neste sentido, desenvolve atividades na abordagem direta
da população que procura as instituições e o trabalho do profissional e por meio da
pesquisa, da administração, do planejamento, da supervisão, da consultoria, da
gestão de políticas, de programas e de serviços sociais.
Segundo José Filho (2002, p.56): O Serviço Social atua na área das relações
sociais, mas sua especificidade deve ser buscada nos objetivos profissionais tendo
estes que serem adequadamente formulados guardando estreita relação com objeto.
Essa formulação dos objetivos garante-nos, em parte, a especificidade de uma
profissão. Em consequência, um corpo de conhecimentos teóricos, método de
investigação e intervenção e um sistema de valores e concepções ideológicas
conformariam a especificidade e integridade de uma profissão. O Serviço Social é
uma prática, um processo de atuação que se alimenta por uma teoria e volta à
prática para transformá-la, um contínuo ir e vir iniciado na prática dos homens face
aos desafios de sua realidade.
O assistente social é um profissional que tem como objeto de trabalho a
questão social com suas diversas expressões, formulando e implementando
propostas para seu enfrentamento, por meio das políticas sociais, públicas,
empresariais, de organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Para Netto
(1992, p.71), “a questão social, como matéria de trabalho, não esgota as reflexões”.
Sem sombra de dúvidas, ela serve para pensar os processos de trabalho nos quais
os assistentes sociais, em uma perspectiva conservadora, eram “executores
terminais de políticas sociais”, emanadas do Estado ou das instituições privadas que
os emprega.
A atuação do assistente social realiza-se em organizações públicas e privadas
e em diferentes áreas e temáticas, como: proteção social, educação, programas
sócioeducativos e de comunidade, habitação, gestão de pessoas, segurança
pública, justiça e direitos humanos, gerenciamento participativo, direitos sociais,
movimentos sociais, comunicação, responsabilidade social, marketing social, meio
ambiente, assessoria e consultoria, que variam de acordo com o lugar que o
2

profissional ocupa no mercado de trabalho, exigindo deste um conhecimento teórico-


metodológico, ético-político e técnico-operativo.
Esse profissional busca a inclusão social e a participação das classes
subalternas, por meio de formas alternativas e estratégica de ação. Pois procura
conhecer a realidade em que atua e possuir compromisso ético com a classe
trabalhadora e com a qualidade dos serviços prestados.
Para uma reflexão do Serviço Social na atualidade, com suas demandas e
perspectivas nesse momento histórico, é necessário situá-lo em sua trajetória
histórica e revelar o legado desse momento com seus rebatimentos no contexto do
século da globalização. Tempos em que a economia e o ideário neoliberal
intensificam as desigualdades sociais com suas múltiplas faces. Tempos em que
crescem as massas descartáveis, sobrantes e à margem dos direitos e sistemas de
proteção sociais. Tempos, portanto em que crescem as demandas por políticas
sociais, de um modo geral e, particularmente, por políticas de proteção social
(Yazbek, 2000, p.95-8), entre as quais se destaca, neste estudo, a Educação, como
campo privilegiado e desafiador para o exercício profissional.
3

2.1 DESENVOLVIMENTO

Ao se observar a situação geradora de aprendizagem, podemos partir e


pressupor da matéria semestral Fundamentos Históricos, Teóricos e Metodológicos
do Serviço Social. Nesta primeira parte trabalho inicialmente busca-se apresentar o
contexto histórico em que se desenvolveu o Movimento de Reconceituação do
Serviço Social a partir da ditadura militar (1964 a 1985) e o processo de renovação
do Serviço Social, para que assim possamos entender a real situação de Sr.
Joaquim.
A renovação do Serviço Social implica na formação de uma pluralidade
profissional, perspectivas diversificadas que é “radicado nos procedimentos
diferentes que embasam a legitimação prática e a validação teórica, bem como nas
matrizes teóricas a que elas se prendem” (NETTO, 2005).
A Reconceituação rompe com as práticas do Serviço Social Tradicional
trazendo uma nova roupagem e um verdadeiro significado no que diz respeito à
atual identidade profissional. O profissional de Serviço Social é o responsável por
intervir mediante as refrações da questão social que segundo Iamamoto (2010) é
apreendida como o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade
capitalista.
Netto (2005) afirma que a existência do Serviço Social crítico é a prova
conclusiva da permanente atualidade da Reconceituação. E com o passar dos anos
os reflexos do Movimento de Reconceituação são vistos no âmbito profissional do
Serviço Social. A assistente social entrevistada destaca algumas influências da
Reconceituação no agir profissional na contemporaneidade.
No que diz respeito ao exercício profissional, nos deparamos na atualidade
com algumas situações que nos remetem ao Serviço Social Tradicional
assistencialista e paliativo, mas por outro lado há profissionais comprometidos com
esse Serviço Social mais crítico, comprometido e preocupado em intervir nas
refrações da questão social. Com isso, questionamos a profissional se o Movimento
de Reconceituação exerce alguma influência no seu agir profissional.
Entende-se que no processo de Reatualização do Conservadorismo, busca-se
aperfeiçoar as antigas práticas profissionais de acordo com as novas exigências do
perfil profissional, ou seja, busca-se mantê-las num viés mais crítico que pudesse
apresentar argumentos plausíveis para adentrar a nova prática profissional. Essa
4

perspectiva “supunha reatualizar o conservadorismo, embutindo-o numa ‘nova


proposta’, ‘aberta’ e ‘em construção’” (NETTO, 2005, p.203).
Nesse contexto cabe expor que o lastro conservador não foi erradicado do
Serviço Social pela perspectiva modernizadora; com vista na seção precedente, ela
explorou particularmente o seu vetor reformista e subordinou a suas expressões às
condições das novas exigências que a “modernização conservadora” colocou ao
exercício profissional (NETTO, 2005).
Como já apontamos em outra ocasião (MOLINA, 2011, p. 23; 90), os
movimentos sociais se constituíram em elementos de grande relevância na história
das conquistas sociais em nosso país. Assim, eles nascem da iniciativa popular, cujo
objetivo tem origem e é motivado pelas mazelas ocorridas no interior da sociedade
seja pela imposição de um regime autoritário, seja entre o universo do capital em
detrimento ao trabalho, pela exclusão de certos grupos sociais, pela assimetria de
gênero e de raça, dentre outros destemperos.
A população Brasileira se manteve forte para com a ditadura que havia no
país e dentro desse contexto ditatorial foi prevalecida a força e a organização dos
movimentos estudantis e da classe operária em seus sindicatos (CARVALHO,
2004), comunidades eclesiais de base (CEBs) e pastorais, que ganhou força com a
participação dos demais setores da sociedade que sofriam as consequências desta
forma de governo.
O período da Ditadura Militar no Brasil provocou um tempo propício para a
efervescência dos movimentos sociais uma vez que, dentro das Universidades, as
inserções e consolidação dos cursos de Ciências Sociais com a reforma pedagógica
dos cursos propiciaram um pensamento mais crítico frente à interpretação de nossa
realidade. Os estudantes, com um entendimento da situação junto a indignação dos
demais indivíduos que não aceitavam esse modelo de governo ditatorial, formaram
uma massa de combate organizada. Sobre o papel dos movimentos sociais neste
contexto.
Gohn (2011, p. 23) pondera o quanto é inegável “que os movimentos sociais
dos anos 1970/1980, no Brasil, contribuíram decisivamente, via demandas e
pressões organizadas, para a conquista de vários direitos sociais, que foram
inscritos em leis na nova Constituição Federal de 1988”. O movimento de oposição e
contestação ao regime militar tinha um propósito claro: defesa dos valores do Estado
democrático e crítica a toda forma de autoritarismo estatal. A resposta do governo
5

militar foi sempre dura no sentido de reprimir tais manifestações, com violência,
tortura, e alcançou seu auge com o famoso AI-5 (Ato Institucional número 5), que
vigorou de 1968 a 1979.
Nesse período, cada movimento social foi forjando sua identidade, suas
formas de atuação, pautas de reivindicações, valores, seus discursos que o
caracterizavam e o diferenciavam de outros. "Foram grupos que construíram uma
nova forma de fazer política e politizaram novos temas ainda não discutidos e
pensados como constituintes do campo político. Nesse processo ampliam o sentido
de política e o espaço de se fazer política" (EVANGELISTA, 2004, p. 35).
Os estoques mundiais de alimentos tornaram-se bastante escassos e, nesse
momento, a ideia de segurança alimentar ficou quase exclusivamente ligada à
produção agrícola. Com a Revolução Verde, que aumentou a produtividade da
agricultura ainda na mesma década, porém, compreendeu-se que o aumento
significativo da produção agrícola não era suficiente para acabar com a fome e a
desnutrição, que seguiam atingindo gravemente parcela importante da população
mundial. O direito à alimentação passou a ser compreendido como resultado de
ações intersetoriais.
No Brasil, a CNA foi extinta e substituída pelo Inan (Instituto Nacional de
Alimentação e Nutrição), considerado um dos “projetos de impacto” do governo
militar na área da assistência alimentar. O Inan instituiu um conjunto de programas
direcionados às populações em situação de vulnerabilidade social. A partir de
meados da década de 1970, o binômio alimentação-educação cedeu espaço para
alimentação-renda, o que redirecionou as políticas alimentares e nutricionais do
país.
A Sociologia Crítica implica, a partir de suas análises, na busca de resoluções
para os problemas sociais em questão. Ela está relacionada às questões morais e
suas transformações e normalmente vem acompanhada de um tom de denúncia ou
descobrimento. A pobreza, as desigualdades sociais e econômicas, aspectos
culturais, dentre outros, são normalmente alvos dela. Dilemas éticos, como pena de
morte e aborto, também são objeto da critica social.
Para alguns autores como Michael Wazer (1985) pode ser compreendida
como interpretação; se toda realidade é objeto de interpretação, a crítica social é
uma nova interpretação da realidade. Assim poderemos ter uma ideia de como a
6

Teoria Crítica dialogou com seu tempo, tanto em relação aos fatos quanto às ideias,
e quais os impactos que esta teve no mundo à sua época.
Esta é a fresta teórica por onde a Sociologia Crítica apresenta suas principais
alternativas de transformação social, pautadas nos conceitos de relação, utopia e
ideologia. Tais pressupostos nos permitem compreender que a realidade é o que
está e o que não está posto e se foi construída é também mutável.
Estas concepções iniciais trazidas por Guareschi (2001) podem parecer
básicas a primeira vista, mas de fato auxiliam a compreender, em essência, duas
matrizes de pensamentos de onde, ao longo da modernidade, derivaram diversas
posturas filosóficas e políticas.
Com o passar do tempo, a Sociologia Crítica foi tomando distância e distinção
de alguns desses campos fundantes, como a Psicanálise e a filosofia existencialista,
que, a seu ver, se restringiam demasiadamente a análise do indivído, dando pouca
relevância aos fenomenos externos-sociais. (ROSO, 2008, p. 50).
Existe uma preocupação acerca do Direito no sentido em que é acolhido como
transformador social, para que seja possível é preciso que o direito esteja atento as
questões históricas e culturais de um povo, a função social deve ser contemplada
dentro de um Estado Democrático de Direito. (STRECK, 2013, p.34).
A compreensão acerca da relação entre o constitucionalismo dentro de um
Estado Democrático de Direito e a conexão com a democracia participativa através
dos direitos fundamentais individuais implicam em conceituar tais institutos para
estruturar um entendimento sólido. Dessa forma a democracia e jurisdição
constitucional também precisam ser definidas e
“isso significa afirmar que, enquanto a Constituição é o fundamento de
validade (superior) do ordenamento e consubstanciadora da própria atividade
político-estatal, a jurisdição constitucional passa a ser a condição de possibilidade
do Estado Democrático de Direito”. (STRECK, 2013, p.37).
O termo Estado de Direito foi substituído por Estado Democrático de Direito,
incorporado na Constituição Federal de 1988 como o garantidor do efetivo exercício
dos direitos civis, sociais, liberdades, entre outros direitos. Está expresso no
Preâmbulo e definido pelo Artigo 1º, ligado ao princípio da legalidade e concretizar o
princípio da igualdade, é o núcleo-base em que se acopla a democracia e os direitos
humanos fundamentais conquistados. (CANOTILHO, 2013, p.116).
7

Deste modo, o Estado Democrático de Direito possui como objetivo permitir


que o Estado garanta as liberdades civis e os direitos e garantias fundamentais,
além dos direitos humanos através da proteção jurídica estabelecida.
Para Moraes o Estado Democrático de Direito seria “caracterizador do Estado
Constitucional, significa que o Estado se rege por normas democráticas, com
eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades
públicas aos direitos e garantias fundamentais” (MORAES, 2010, p. 06). Desta
forma, o autor continua afirmando que o princípio democrático “exprime
fundamentalmente a exigência da integral participação de todos e de cada uma das
pessoas na vida política do país, a fim de garantir o respeito à soberania popular”
(MORAES, 2010, p. 06).
Para Sarlet; Marinoni; Mitidiero, o Estado democrático de Direito seria fundado
na “harmonia social e assume o compromisso (na ordem interna e internacional)
com a solução pacífica de controvérsias” (2014, p.79).
O grande desafio pelo qual, aquém de todas as reformas políticas já
instituídas no Brasil, de cunho social e econômico, ainda é a desigualdade social.
“Apesar de ser a oitava economia do mundo, o Brasil está entre os Países mais
desiguais, isto é, em que é maior a distância entre ricos e pobres”. (AVELAR;
CINTRA, 2004. p.31). 
Os direitos sociais são direitos fundamentais da pessoa humana, consagrados
na Constituição brasileira e também em instrumentos jurídicos internacionais que o
Brasil se comprometeu juridicamente a respeitar e efetivar. Assim, portanto, além do
imperativo ético e jurídico do respeito à Constituição, existe a exigência de respeito
aos compromissos assumidos em nível internacional. É importante considerar a
perspectiva de que deixando de cumprir as obrigações jurídicas constantes de sua
própria Constituição ou de compromissos internacionalmente assumidos, o Brasil
seja enquadrado entre os mais atrasados com relação aos direitos humanos, e seja
mesmo acionado em Tribunais internacionais, se persistirem as lamentáveis e
desmoralizantes investidas, vergonhosas e inconstitucionais, contra os direitos
sociais.
O reconhecimento dos direitos sociais pelos teóricos do Direito ocorreu no
Brasil durante o período de vigência da ditadura de Getúlio Vargas, que durou de
1930 a 1945. Sob influência da Carta Del Lavoro, lei italiana definindo os direitos dos
trabalhadores, já haviam sido implantadas no sistema jurídico brasileiro normas
8

básicas reconhecendo alguns direitos à classe trabalhadora, identificando tais


direitos como direitos sociais.
Outro dado paralelo, também de especial relevância, é o fato de que a
Constituição de 1988 não só proclamou e consagrou os direitos individuais e os
direitos econômicos, sociais e culturais como direitos fundamentais de todos os
seres humanos, sem exclusões e discriminações, mas também fixou expressamente
os meios de proteção e reivindicação dos direitos fundamentais, em caso de ofensa
ou da denegação de tais direitos em decorrência de omissões dos responsáveis por
sua efetivação. E tanto as autoridades públicas legalmente competentes – que não
só podem, mas devem agir em defesa dos direitos fundamentais dos brasileiros –
mas também a cidadania, por iniciativa individual ou de grupos sociais, pode acionar
os poderes públicos responsáveis, para a efetivação dos direitos fundamentais
constitucionalmente proclamados e garantidos.
Sendo assim, o Estado Democrático foi uma das grandes conquistas da
humanidade. No correr de milênios as formas de convivência humana foram sendo
modificadas, em decorrência de múltiplos fatores, entre os quais a percepção da
necessidade de um governo do grupo social que definisse e implantasse formas de
organização que fossem benéficas para todos os componentes do grupo.
Com o passar do tempo e a afirmação de lideranças sociais foi ocorrendo uma
degradação dos princípios fundamentais que levaram à organização da convivência
e os que assumiram o governo da sociedade foram colocando seus interesses como
prioritários.
Em decorrência, acabaram sendo definidas as classes sociais privilegiadas e,
estabelecendo a desigualdade social, as necessidades e os objetivos específicos
das pessoas e dos segmentos sociais inferiores foram sendo postos em plano
secundário, chegando-se ao extremo de seu desprezo e sua denegação quando
isso fosse considerado necessário ou conveniente para os segmentos superiores.
As transformações no mundo do trabalho e seus impactos nos diversos
campos profissionais têm constituído pauta central do debate contemporâneo.
A reestruturação do capital mundializado, que no Brasil intensificou-se nas
últimas décadas do século XX, provocou mudanças qualitativas na organização e na
gestão da força de trabalho e na relação de classes, interferindo fortemente nos
trabalhos profissionais das diversas categorias, suas áreas de intervenção e seus
suportes de conhecimento e de implementação, conforme José Paulo Netto (1996).
9

Ainda, conforme Netto (1996), o problema teórico-analítico reside em explicitar


e compreender como, na particularidade prático-social de cada profissão, traduz-se
o impacto das transformações societárias, determinando as mediações que
conectam as profissões particulares àquelas transformações.
A análise do impacto dessas transformações no âmbito do exercício
profissional agrega um complexo de determinações e mediações essenciais para
elucidar seu significado no processo de produção e reprodução das relações sociais,
configurado "enquanto exercício profissional especializado que se realiza por meio
do trabalho assalariado alienado" (Iamamoto, 2007, p. 214; grifos do original).
As análises dos dilemas do exercício profissional exige a compreensão das
determinações objetivas das relações capitalistas sobre a profissão. O processo de
trabalho capitalista é presidido pela inversão do domínio do trabalho morto sobre o
trabalho vivo. Seguindo a análise de Marx, a "dominação do capitalista sobre o
trabalhador é, consequentemente a da coisa sobre o homem, do trabalho morto
sobre o trabalho vivo, do produto sobre o produtor" (Marx, 1978, p. 20).
Conforme Iamamoto (2007, p. 214), a condição assalariada de inserção
profissional no efetivo exercício, mediada pelas demandas e requisições do mercado
de trabalho, sintetiza tensões entre o direcionamento que a profissão pretende
imprimir em seu trabalho concreto e as determinações do trabalho abstrato, inerente
ao trabalho capitalista.
Segundo Iamamoto (2007), a condição assalariada do exercício profissional
pressupõe a mediação do mercado de trabalho. Assim, as exigências impostas
pelos distintos empregadores materializam demandas, estabelecem funções e
atribuições, impõem regulamentações específicas a serem empreendidos no âmbito
do trabalho coletivo. Além disso, normas contratuais condicionam o conteúdo e
estabelecem limites e possibilidades às condições de realização da ação
profissional.
O assalariamento do trabalho se expande e se generaliza, constituindo um
novo modo de vida social. A propriedade privada dos meios de produção, ao separar
os produtores dos instrumentos necessários à produção, impõe aos vendedores da
força de trabalho a produção de um valor que não lhe pertencem e que não visa
satisfazer suas necessidades. Pela alienação de sua capacidade de trabalho por
determinado tempo, o trabalhador recebe um salário para reconstituir e manter sua
10

capacidade produtiva, garantindo assim a continuidade da oferta da força de


trabalho quando o capital dela demandar.
Aumentando e acelerando os efeitos da acumulação, a centralização do
capital amplia e acelera ao mesmo tempo as transformações qualitativas na
composição técnica do capital. Ocorre crescente acréscimo de sua parte constante
em relação à sua parte variável, reduzindo assim a demanda relativa de trabalho.
O Serviço Social é, então, demandado enquanto partícipe do conjunto de
profissões justificadas pelas necessidades de controle da força de trabalho e de
legitimação da ordem societária burguesa, bem como das instituições e do próprio
Estado, como mediadores das classes e projetos em disputa na sociedade.
O Estado, ao buscar legitimação política, torna-se permeável a demandas da
classe trabalhadora, que podem nele fazer incidir seus interesses e suas
reivindicações imediatas. Nessas condições, as expressões da questão
social podem tornar-se objeto de uma intervenção contínua e sistemática do Estado,
tornando-se alvo de políticas sociais (Netto, 2006b, p. 29).
A necessidade de compatibilizar as questões relativas aos interesses da
industrialização e acumulação capitalista à legitimação do sistema com as
necessidades das classes trabalhadoras são demandas que requererem e legitimam
socialmente a profissão, enquanto partícipe da divisão social do trabalho capitalista
em sua fase monopólica.
As particularidades desse processo, no Brasil, evidenciam que o Serviço
Social se institucionalizou e se legitimou profissionalmente como um dos recursos
mobilizados pelo Estado e pelo empresariado, com o suporte da Igreja Católica, na
perspectiva de enfrentamento e regulação da chamada questão social, quando a
intensidade e a extensão de suas manifestações no cotidiano da vida social
adquirem expressão política (Iamamoto e Carvalho, 1986).
O Serviço Social, no Brasil, afirmou-se como profissão requisitada pelo setor
público, face à progressiva ampliação da função reguladora do Estado, e vinculada a
organizações patronais privadas, de caráter empresarial, dedicadas às atividades
produtivas e a prestação de serviços sociais (Iamamoto e Carvalho, 1986, p. 79).
A interpretação do Serviço Social no conjunto das relações de produção e
reprodução da sociedade burguesa exige a apreensão das particularidades
históricas que configuram as relações entre as classes sociais e destas com o
Estado. Nessa perspectiva, diferentes análises buscam afirmar a profissão nas
11

particularidades que reconfiguram as expressões da questão social e dos padrões


de regulação com que se defrontam as políticas sociais.

3.1 CONCLUSÃO

À categoria profissional do Serviço Social, fica o desafio de preparar


profissionais aptos para lidar com as contradições do presente apresentadas pela
ordem neoliberal e pelo neoconservadorismo no conhecimento, e o compromisso
com a qualidade na formação que, consequentemente, perpassa todo o trabalho
profissional evitando que o Serviço Social fique burocrático, tecnicista, mercantil e
“sem vida”.
Tal desafio para os assistentes sociais é, portanto, a busca de um
posicionamento ético e político que se insurja contra os processos de alienação
vinculados à lógica capitalista, impulsionando-os a trabalhar na busca de romper
com a dependência, a subordinação, a despolitização, e assim poder manter vivas
as forças sociais motivadoras da esperança de uma nova sociedade e da
capacidade de luta no cenário social e profissional.
Efetivamente, o Serviço Social pode interferir na construção de direitos sociais
e sujeitos políticos contribuindo com movimentos sociais e lutas da categoria como
garantia legal da profissão na Política Educacional das três esferas nacionais: União,
Estados e Municípios. É o que será trabalhado nos próximos capítulos por meio dos
dados documentais (pesquisa documental) e empíricos da pesquisa de campo.
Reafirma seu empenho em contribuir no sentido de que a formação da
graduação e pós-graduação em Serviço Social substancie e respaldem cada vez
mais a plataforma emancipatória da profissão, na resistência às mais diversas
formas de exclusão, opressão e violências que no tempo presente se adensam e
atualizam como demanda privilegiada ao ensino de qualidade e à pesquisa no
Serviço Social.
Nesse contexto, situa-se o mundo da pesquisa científica que a categoria
profissional enveredou nas décadas passadas, e fortalece-se, nos dias atuais, a
12

aproximação do profissional e o científico, do profissional e do político e do


profissional com as condições e relações de trabalho. (Faleiros, 2005, p.28).

4.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, José Murilo. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 5. ed. Rio de


Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.
CANOTILHO, J.j Gomes et al (Org.). Comentários à Constituição do Brasil. São
Paulo: Saraiva/almedina, 2013.
EVANGELISTA, Carlos Augusto Valle. Direitos Indígenas: o debate na Constituinte
de 1988. Dissertação (Mestrado em História Social). Programa de Pós-
Graduação em História Social. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: UFRJ/IFICS, 2004. Acessado em 02/09/2015.
GUARESCHI, Pedrinho. Ideologia. Pag. 89- 103. IN: Psicologia Social
Contemporânea: Livro Texto. ORG. JACQUES, Maria e GUARESCHI, Pedrinho.
Petrópolis: Vozes, 2008.
GUARESCHI, Pedrinho. Sociologia Crítica: Alternativas de mudança. 66 Edi.
Porto Alegre: EDIPUCRS, 2011.
GUARESCHI, Pedrinho. Entrevista Aberta Sobre a Sociologia Crítica. Porto
Alegre: UFRGS, 2013. (Material não impresso, não publicado).
GOHN, Maria da Glória. Teoria dos Movimentos Sociais: Paradigmas clássicos
e contemporâneos. São Paulo: Loyola, 2000.
IAMAMOTO, Marilda Vilela. O serviço social na contemporaneidade: trabalho e
formação profissional. 19. Ed. São Paulo: Cortez, 2010.
MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e legislação
constitucional. 8. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
NETTO, José Paulo. O Movimento de Reconceituação: 40 anos depois. In: Revista
Serviço Social e Sociedade. Nº 84 – ANO XXVI. São Paulo: Cortez, 2005.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de
Direito Constitucional. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de
Direito Constitucional. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014.
SILVA, Maria Ozanira Silva. O Serviço Social e o popular: resgate teórico-
metodológico do projeto profissional de ruptura. 5 ed. São Paulo:Cortez, 2009.
13

STRECK, Lenio Luiz. Jurisdição constitucional e decisão jurídica. 3. ed. São


Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.
ROSO, Adriane. Comunicação. IN: Psicologia Social Contemporânea: Livro
Texto. ORG. JACQUES, Maria e GUARESCHI, Pedrinho. Petrópolis: Vozes, 2008.
Pp. 146-158.

Você também pode gostar