Lições de Direito Administrativo I
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Aula 1
1.3 - Direito Público e Direito Privado. Direito Administrativo no contexto do Direito Público.
Estado O conceito de Estado varia segundo o ângulo em que é considerado, podendo ser visto
sob três vertentes: sociológica, política e constitucional.
Ana Prata, assevera que o termo direito usa-se, fundamentalmente, em duas acepções:
2 – Direito subjectivo – poder ou faculdade, provindo do direito objectivo, de que dispõe uma
pessoa, e que se destina, normalmente, à realização de um interesse juridicamente relevante.
Os Poderes de Estado, na clássica tripartição de Montesquieu, até hoje adoptada nos Estados de
Direito, são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.
A divisão de poderes, é feita através da atribuição de cada uma das funções governamentais
(legislativa, executiva, jurisdicional) a órgãos específicos, que levam as denominações das
respectivas funções;
– artigos 168 a 199 Poder legislativo, 200 a 211 Poder executivo, 212 a 248 Poder judicial
Especialização funcional: significa que cada órgão é especializado no exercício de uma função.
Dentro dessa visão da separação das actividades estatais, temos que eles legislam, administram e
julgam, já que não existe a separação absoluta entre os poderes.
Mas cada um deles possui o que se chama função típica e atípica; aquela exercida com
preponderância é a típica e, a função exercida secundariamente é a atípica.
Aspectos Gerais - A maior divisão do Direito Positivo, também a mais antiga, é a representada
pelas classes do Direito Público e Direito Privado, peculiar aos sistemas jurídicos de tradição
romano-germânica.
A distinção entre o Direito Público e o Privado é útil no plano didáctico e benéfica do ponto de
vista prático, pois favorece a pesquisa, o aperfeiçoamento e a sistematização de princípios de um
género e de outro.
Direito público é aquele que regula a organização e funcionamento do Estado e demais entes
públicos, e das relações entre eles, como titulares do poder público, e os particulares;
Direito privado é aquele que regula as relações entre particulares, ou entre entes públicos e
particulares, mas despidos os primeiros de prerrogativas de autoridade.
2 - DIREITO ADMINISTRATIVO.
2.3 – Fontes
2.3.1 – Lei
2.3.2 – Jurisprudência
2.3.3 – Doutrina
2.3.4 - Costume
O impulso decisivo para a formação do DA foi dado pela teoria da separação dos Poderes
desenvolvida por Montesquieu, e acolhida universalmente pelos Estados de Direito.
O advento do Estado de Direito, com a Revolução Francesa, modificou a situação então em vigor
que assentava na concentração de todos os poderes nas mãos do Soberano .
Isto foi uma consequência simultânea do princípio da separação de poderes e da concepção da lei
– geral, abstracta e de origem parlamentar – como reflexo da vontade geral.
Actualmente não existe mais controvérsia sobre a autonomia didáctica e científica do Direito
Administrativo diante dos demais ramos jurídicos.
O DA é um ramo do direito público, todavia, seu objecto não é restrito a relações jurídicas
regidas pelo direito público. Em um Estado democrático, como o nosso, - artigo 3 da CRM; a AP
actua nos mais diversos sectores - até mesmo como agente económico -, sendo frequentes as
situações em que ela deve figurar nas relações jurídicas despida de prerrogativas públicas.
Nesses casos, quando a AP comparece sem revestir a qualidade de poder público, as relações
jurídicas de que participe são regidas, predominantemente, pelo direito privado, estando ausentes
as prerrogativas especiais típicas do direito público.
Não obstante, tais relações jurídicas são objecto do DA, estando sempre sujeitas, em variável
medida, a regras e princípios próprios desse ramo do direito.
Confrontar alínea i), do n.º 1 do artigo 43 do Estatuto dos Magistrados Judiciais, aprovado pela
Lei n.º 7/2009, de 11 de Marco, e alínea h), do n.º 2 do artigo 113, e artigo 115, ambos do
Regulamento de Contratação Pública, aprovado pelo Decreto n.º 15/2010, de 24 de Maio.
As actividades de AP em sentido material que, embora exercidas por particulares, o são sob
regime de direito público – vide artigo 3 da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto, são objecto do DA
Em síntese, o objecto do DA abrange todas as relações internas à AP, todas as relações entre a
AP e os administrados, predominantemente regidas pelo direito público ou pelo direito privado,
bem como actividades de AP em sentido material exercidas por particulares sob regime de
direito público.
O DA é o ramo de Direito Público constituído pelo sistema de normas jurídicas que regulam a
organização, o funcionamento e o controlo da AP e as relações que esta, no exercício da
actividade administrativa de gestão pública, estabelece com outros sujeitos de Direito.
Direito Administrativo é o ramo do direito público que estuda princípios e normas reguladores
do exercício da função administrativa.
Se, enfim, se adoptar o critério dos poderes de autoridade, também o DA é o Direito Público
porque a actuação da AP surge investida de poderes de autoridade.
b) Normas funcionais: regulam o modo de agir de específico da AP, estabelecendo processos de
funcionamento, métodos de trabalho, tramitação a seguir, etc; v.g., Lei n.º 14/2011, de 10.08.
c) Normas relacionais: são as que regulam as relações entre a AP e os outros sujeitos de Direito
no desempenho da actividade administrativa, v.g., dever de notificação - artigo 34
Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e
Prestação de Serviços ao Estado, aprovado pelo Decreto n.º 15/2010, de 24 de Maio.
E quem vai preencher as lacunas são os Tribunais Administrativos, aplicando a esses casos
normas até aí inexistentes.
c) Autonomia: O DA é um ramo autónomo de Direito diferente dos demais pelo seu objecto e
pelo seu método, pelo espírito que domina as suas normas, pelos princípios gerais que as
enforcam. O DA é um ramo de Direito diferente do Direito Privado – mais completo, que forma
um todo, que constitui um sistema, um verdadeiro corpo de normas e de princípios subordinados
a conceitos privados desta disciplina e deste ramo de Direito.
d) Codificação parcial: Sabe-se o que é um código: um diploma que reúne, de forma sintética,
científica e sistemática, as normas de um ramo de Direito. Em Moçambique, o Direito
Administrativo não está unificado em um código próprio, e sim disciplinado em leis esparsas.
O DA tem sua formação norteada por quatro fontes principais: a lei, a jurisprudência, a doutrina
e os costumes.
Fonte é o local de onde algo provém. No Direito, as fontes são os modos de formação e revelação
das normas jurídicas.
A lei é a fonte primordial do DA, em razão da rigidez que nosso ordenamento empresta ao
princípio da legalidade nesse ramo jurídico – artigo 249 da CRM.
Os costumes sociais só têm importância como fonte do DA quando de alguma forma influenciam
a produção legislativa ou a jurisprudência, ou seja, menos que uma fonte secundária, são, quando
muito, uma fonte indirecta – artigo 9 do Regulamento da Lei de Terras, aprovado pelo Decreto
n.° 66/98, de 8 de Dezembro.
A praxe administrativa, nos casos de lacuna normativa, funciona efectivamente como fonte
secundária de direito administrativo, podendo mesmo gerar direitos para os administrados, em
razão dos princípios da fundamentação, lealdade, da boa-fé, da moralidade administrativa, entre
outros – vide alínea e), do n.º 1 do artigo 121 da Lei n.º 14/2011, de 10 de Agosto.
2.4 – Interpretação
O veículo introdutor de normas e sanções no Direito é o texto jurídico. Porém, para seu
cumprimento e compreensão de suas sanções, torna-se necessário extraí-las do texto legal.
Interpretação é o processo técnico que revela, a partir do texto legal, o sentido e o alcance
das normas e sanções jurídicas.
Essa técnica compreende certas operações, que a experiência consagrou. A primeira traduz-se no
exame do texto a partir das palavras que o formam, é a chamada interpretação literal.
A significação das palavras empregadas na lei deve ser objecto de escrupuloso estudo, se têm
uma acepção técnica, deve partir – se do princípio de que o legislador as empregou com esse
sentido.
Quando a palavra não é empregada em acepção técnica, então procurar-se-á a sua acepção
comum.
Concluído o exame literal do texto não deve o intérprete ficar por aí, mesmo quando o sentido
lhe pareça claríssimo: é preciso penetrar o espírito da lei, o pensamento que a determinou e
informa, e a isso nos conduz a interpretação lógica mediante suas operações: exame do objectivo
da lei, seu enquadramento sistemático e político, indagação da sua história, apuramento do
conteúdo implícito.
Exame do objectivo da lei – toda norma se destina a regular certas relações sociais para
satisfação de determinada necessidade colectiva.
Apuramento do conteúdo implícito – há casos em que o sentido da lei compreende na sua letra
certos poderes que estão necessariamente implicados na expressão verbal.
Algumas vezes basta aplicar regras de lógica formal, v.g., quem pode mais pode o menos, a lei
que confere um poder ou direito legitima os meios indispensáveis para o respectivo exercício.
Se a CRM confere aos tribunais o poder de não aplicar as leis inconstitucionais – artigo 214 –
implicitamente lhes dá o direito de apreciar se a lei é ou não contrária à Constituição.
O DA não é refractário, em linhas gerais, à aplicação analógica das regras do Direito Privado,
mas, sendo um ramo do Direito Público, nem todos os princípios de hermenêutica do Direito
Privado lhe são adequados. A diversidade de seu objecto, a natureza específica de suas normas,
os fins sociais a que elas se dirigem, o interesse público que elas visam sempre a tutelar, exigem
regras próprias de interpretação e aplicação das leis, actos e contratos administrativos.
A nosso ver, a interpretação do Direito Administrativo, além da utilização analógica das regras
do Direito Privado que lhe forem aplicáveis, há de considerar, necessariamente, esses três
pressupostos: 1.º) a desigualdade jurídica entre a AP e os administrados; 2.º) a presunção de
legitimidade dos actos da AP; 3.º) a necessidade de poderes discricionários para a AP atender ao
interesse público.
As leis administrativas visam, geralmente, a assegurar essa supremacia do Poder Público sobre
os indivíduos, enquanto necessária à consecução dos fins da Administração.
Ao aplicador da lei compete interpretá-la de modo a estabelecer o equilíbrio entre os privilégios
estatais e os direitos individuais, sem perder de vista aquela supremacia.
Essa presunção, embora relativa (juris tantum), acompanha toda a actividade pública,
dispensando a AP da prova de legitimidade de seus actos.
Afora estas regras privativas do DA, valem os métodos interpretativos consignados no CC entre
os artigos 5 a 13 na medida em que estabelecem os princípios gerais para aplicação do Direito.
Com o Direito Constitucional o DA mantém estreita afinidade e íntimas relações, uma vez que
ambos cuidam da mesma entidade: o Estado – ver artigos 249 a 253 da CRM.
Com o Direito Tributário e com o Financeiro são sensíveis as relações do DA, dado que as
actividades vinculadas à imposição e arrecadação de tributos, à realização da receita e
efectivação das despesas públicas, são eminentemente administrativas – Lei n.º 9/2002, de 12.02.
Direito do Trabalho: o regime jurídico aplicado aos empregados públicos coincide em larga
medida com o previsto na Lei do Trabalho.
c) proibição de diferenças salariais, n.° 2 do artigo 48 do EGFAE, aprovado pela Lei n.°
14/2009, de 17.03, n.° 3 do artigo 108 da Lei do Trabalho, n.º 3 do artigo 112 da CRM;
Direito Internacional Público: As regras jurídicas originárias dos pactos internacionais de que
Moçambique é signatário ingressam no ordenamento nacional dotadas de força cogente,
vinculando os órgãos e agentes da AP, v.g., a Carta Africana Sobre os Valores e Princípios da
Função Pública, ratificada pela Resolução n.° 67/2012, de 28 de Dezembro.
Direito Penal: as condutas reveladoras de maior lesividade à AP estão tipificadas como “Crimes
cometidos no exercício de funções”, cujas punições são indicadas nos artigos 477 a 522 do
Código Penal, aprovado pela Lei n.° 35/2014, de 31 de Dezembro. Tal circunstância já seria
suficiente para demonstrar a estreita relação que o DA mantém com o Direito Penal – ver artigo
68 do Código Penal, aprovado pela Lei n.° 35/2014, de 31 de Dezembro.
2.6 – Princípios do DA
Princípios são regras gerais que a doutrina identifica como condensadoras dos valores
fundamentais de um sistema.
Por meio de um processo lógico denominado abstração indutiva, os estudiosos extraem da
totalidade de normas específicas as ideias -chave que animam todo o complexo de regras.
Prossecução do interesse público, respeito pelo direito dos particulares, legalidade, igualdade,
imparcialidade, ética, justiça, hierarquia, simplificação, descentralização, desconcentração e
aproximação.
A noção de interesse público traduz uma exigência – a exigência de satisfação das necessidades
colectivas. Pode-se distinguir o interesse público primário dos interesses públicos secundários:
O interesse público primário, é aquele cuja definição compete aos órgãos governativos do
Estado, no desempenho das funções política e legislativa;
Os interesses públicos secundários, são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas cuja
satisfação cabe à AP no desempenho da função administrativa.
Essa é uma condição para a própria subsistência do grupo social. Em termos práticos, cria uma
desigualdade jurídica entre a Administração e os administrados.
Por essa razão, a Administração, como defensora dos interesses públicos, recebe da lei poderes
especiais não extensivos aos particulares.
3) impenhorabilidade dos bens públicos - alínea a), do artigo 60 da Lei n.º 9/2002, 12 de
Fevereiro;
Embora o princípio da legalidade continue a desempenhar essa função, o certo é que se conclui
entretanto que não basta o escrupuloso cumprimento da lei por parte da Administração Pública
para que simultaneamente se verifique o respeito integral dos direitos subjectivos e dos direitos
legítimos dos particulares.
Essas outras formas de protecção que existem para além do princípio da legalidade, são muito
numerosas. Destacamos as mais relevantes:
b) Extensão da responsabilidade da Administração aos danos causados por factos casuais, bem
como por actos ilícitos que imponham encargos ou prejuízos especiais e anormais aos
particulares – artigo 58 da CRM;
O Princípio da Justiça, significa que na sua actuação a AP deve harmonizar o interesse público
específico que lhe cabe prosseguir com os direitos e interesses legítimos dos particulares
eventualmente afectados. Princípio da justiça “strictu senso”: todo o acto administrativo
praticado com base em manifesta injustiça é contrário à Constituição e, portanto, é ilegal,
podendo ser anulado em recurso contencioso pelo Tribunal Administrativo competente.
A AP não pode escolher como quiser entre várias soluções igualmente possíveis: para cada caso
só há uma solução correcta, só há uma solução justa.
Princípio da descentralização: A Constituição vem dizer que a AP deve ser descentralizada, isso
significa que a lei fundamental toma partido a favor de uma orientação descentralizadora, e por
conseguinte, recusa qualquer política que venha a ser executada num sentido centralizador.
Princípio da desconcentração: impõe que a AP venha a ser, gradualmente, cada vez mais
descentralizada. Recomenda que em cada pessoa colectiva pública as competências necessárias à
prossecução das respectivas atribuições não sejam todas confiadas aos órgãos de topo da
hierarquia, mas distribuídas pelos diversos níveis de subordinados.
Princípio da simplificação
2.6.3 – Legalidade
2.6.6 – Boa-fé
Na AP não há liberdade nem vontade pessoal. Enquanto na administração particular é lícito fazer
tudo que a lei não proíbe, na AP só é permitido fazer o que a lei autoriza.
A lei para o particular significa "pode fazer assim"; para o administrador público significa
"deve fazer assim".
A noção de interesse público traduz uma exigência – a exigência de satisfação das necessidades
colectivas.
O interesse público primário, é aquele cuja definição compete aos órgãos governativos do
Estado, no desempenho das funções política e legislativa;
Os interesses públicos secundários, são aqueles cuja definição é feita pelo legislador, mas cuja
satisfação cabe à AP no desempenho da função administrativa.
Este princípio tem numerosas consequências práticas, das quais importa citar as mais
importantes:
1) Só a lei pode definir os interesses públicos a cargo da AP: não pode ser a AP a defini-los;
2) Em todos os casos em que a lei não define de forma complexa e exaustiva o interesse público,
compete à AP interpretá-lo, dentro dos limites em que o tenha definido;
3) A noção de interesse público é uma noção de conteúdo variável. Não é possível definir o
interesse público de uma forma rígida e inflexível;
4) Definido o interesse público pela lei, a sua prossecução pela Administração é obrigatória;
6) Só o interesse público definido por lei pode constituir motivo principalmente determinado de
qualquer acto administrativo. Assim, se um órgão da administração praticar um acto
administrativo que não tenha por motivo principalmente determinante, o interesse público posto
por lei a seu cargo, esse acto estará viciado por desvio de poder, e por isso será um acto ilegal,
como tal anulável contenciosamente.
7) A prossecução de interesses privados em vez de interesse público, por parte de qualquer
órgão ou agente administrativo no exercício das suas funções, constitui corrupção e como tal
acarreta todo um conjunto de sanções, quer administrativas, quer penais, para quem assim
proceder;
8) A obrigação de prosseguir o interesse público exige da AP que adopte em relação a cada caso
concreto as melhores soluções possíveis, do ponto de vista administrativo (técnico e financeiro):
é o chamado dever de boa administração.
Exemplo: ordem de demolição expedida por causa de pintura descascada na fachada do imóvel.
Nesse caso, não há ilegalidade no conteúdo (intensidade) da decisão, mas quanto à sua
abrangência territorial (extensão).
O princípio da boa-fé consagrado no artigo 8 da Lei n.º 14/2011, de 10.08, não apresenta
especificidade no que respeita à sua aplicação à AP. Sobressaem, porém, os dois limites
negativos que ele coloca à actividade administrativa pública:
a) A Administração Pública não deve atraiçoar a confiança que os particulares interessados
puseram num certo comportamento seu;
b) A AP também não deve iniciar o procedimento legalmente previsto para alcançar um certo
objectivo com o propósito de atingir um objectivo diverso, ainda que de interesse público.
Como se pode notar, por esse princípio, podemos afirmar com justa razão que na actividade
administrativa a regra deve ser a informação e não o segredo. Os limites ao direito à
informação só tem justificação quando confrontado com direitos e valores legais de igual ou
de maior valia, como são os relativos à segurança interna e externa, à investigação criminal e à
reserva da intimidade das pessoas ou quando a recusa de informação se fundamente num dever
funcional legalmente previsto como são, por ex., os casos do segredo de justiça, do segredo da
correspondência ou da confidencialidade fiscal.
2.6.9 – Decisão
2.6.10 – Desburocratização, eficiência e eficácia
2.6.12 - Fundamentação
2.6.13 – Transparência
2.6.14 - Gratuidade
Princípio da decisão - O poder tem para o agente público o significado de dever para com a
comunidade e para com os indivíduos, no sentido de que quem o detém está sempre na obrigação
de exercitá-lo. Pouca ou nenhuma liberdade sobra ao administrador público para deixar de
praticar actos de sua competência legal. Daí por que a omissão da autoridade ou o silêncio da
AP, quando deva agir ou manifestar-se, gera responsabilidade para o agente omisso e autoriza a
obtenção do acto omitido por via judicial – artigo 124 da Lei n.° 7/2014, de 28.02;
O objectivo do princípio da eficiência é assegurar que os serviços públicos sejam prestados com
adequação às necessidades da sociedade que os custeia.
Para a Professora Maria Sylvia Di Pietro, o princípio em foco apresenta dois aspectos:
b) quanto ao modo de organizar, estruturar e disciplinar a AP, exige-se que este seja o mais
racional possível, no intuito de alcançar melhores resultados na prestação dos serviços públicos.
Busca-se o atingimento de objectivos traduzidos por boa prestação de serviços, do modo mais
simples, mais rápido, e mais económico, melhorando a relação custo/benefício da actividade da
AP. O administrador deve sempre procurar a solução que melhor atenda ao interesse público,
levando em conta o óptimo aproveitamento dos recursos públicos, conforme essa análise de
custos e benefícios correspondentes.
Princípio da eficácia – obtenção dos efeitos desejados com a medida adoptada, procurando a
maximização do seu impacto no desenvolvimento económico e social.
A responsabilidade pelo risco, destina-se a reparar os sacrifícios causados a uma pessoa ou grupo
de pessoas por actividades legítimas da AP;
Princípio da fundamentação - Assim como todo cidadão, para ser acolhido na sociedade, há de
provar sua identidade, o acto administrativo, para ser bem recebido pelos cidadãos, deve
patentear sua legalidade, vale dizer, sua identidade com a lei. Desconhecida ou ignorada sua
legitimidade, o acto da autoridade provocará sempre suspeitas e resistências, facilmente
arredáveis pela fundamentação. O acto não fundamentado, quando o devia ser, presume-se não
ter sido executado com toda a ponderação desejável, nem ter tido em vista um interesse público
da esfera de sua competência. Pela fundamentação, o administrador público justifica sua acção
administrativa, indicando os factos (pressupostos de facto) que ensejam o acto e os preceitos
jurídicos (pressupostos de direito) que autorizam sua prática.
Marcello Caetano, em sua obra Princípios Fundamentais de Direito Administrativo, página 122,
põe alguma luz sobre o tema ao dizer que: “a fundamentação consiste em deduzir expressamente
a resolução tomada das premissas em que assenta, ou em exprimir os motivos por que se resolve
de certa maneira, e não de outra. Não interessa, aliás, ao jurista conhecer quaisquer motivos da
vontade administrativa, mas tão-somente os motivos determinantes, aquelas razões de direito ou
considerações de facto objectivamente anotadas sem cuja influência a vontade do órgão
administrativo não se teria manifestado no sentido em que se manifestou.”
Há actos, no entanto, que dispensam fundamentação escrita. Basicamente isso ocorre em cinco
casos:
e) Ordens legítimas dadas pelos superiores hierárquicos aos seus inferiores em matéria de
serviço e na forma legal; Ver artigos 121 a 123, e alínea b), do n.º 2 do artigo 129, todos da Lei
n.º 14/2011, de 10 de Agosto.
A teoria dos motivos determinantes afirma que o motivo apresentado como fundamento fáctico
da conduta vincula a validade do acto administrativo.
Quanto aos actos gerais, isto é, dirigidos a destinatários indeterminados, a publicidade depende
de publicação na imprensa. Exemplo: anúncio de concurso público – ver artigo 32 do
Regulamento de Contratação de Empreitada de Obras Públicas, Fornecimento de Bens e
Prestação de Serviços ao Estado, aprovado pelo Decreto n.º 15/2010, de 24 de Maio;
3 - ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.
3.1 - Conceito
3.2 - Actividade.
3.3 - Poderes.
Em sentido lato, administrar é gerir interesses, segundo a lei, a moral e a finalidade dos bens
entregues à guarda e conservação alheias.
Quanto aos meios, também diferem. Com efeito na Administração privada os meios, jurídicos,
que cada pessoa utiliza para actuar caracterizam-se pela igualdade entre as partes: os particulares,
são iguais entre si e, em regra, não podem impor uns aos outros a sua própria vontade, salvo se
isso decorrer de um acordo livremente celebrado. O contrato é assim, o instrumento jurídico
típico do mundo das relações privadas;
Administração Pública, em sentido material, é o conjunto das funções necessárias aos serviços
públicos em geral;
PODERES DA ADMINISTRAÇÃO
Para bem atender ao interesse público (1), a Administração é dotada de poderes administrativos -
distintos dos poderes políticos - consentâneos e proporcionais aos encargos que lhe são
atribuídos. Tais poderes são verdadeiros instrumentos de trabalho, adequados à realização das
tarefas administrativas. Daí o serem considerados poderes instrumentais, diversamente dos
poderes políticos, que são estruturais e orgânicos, porque compõem a estrutura do Estado e
integram a organização constitucional.
Poder Vinculado – existe do quando a lei atribui determinada competência definindo todos os
aspectos da conduta a ser adoptada, sem atribuir margem de liberdade para o agente público
escolher a melhor forma de agir.
acção administrativa, modelando cada um dos actos a serem praticados pelo administrador, mas,
como isto não é possível, dadas a multiplicidade e diversidade dos factos que pedem pronta
solução ao Poder Público, o legislador somente regula a prática de alguns actos administrativos
que reputa de maior relevância, deixando o cometimento dos demais ao prudente critério do
administrador.
Sempre que o legislador outorga uma competência, é obrigado a fazê-lo por meio de dispositivos
legais traduzidos em conceitos jurídicos, cujo grau de imprecisão determina inevitavelmente a
natureza discricionária da competência atribuída.
Cada um dos conceitos mencionados pode adquirir significados diferentes nas leis ou diante das
situações concretas.
Poder disciplinar é a faculdade de punir internamente as infracções funcionais dos funcionários,
agentes e demais pessoas sujeitas à disciplina dos órgãos e serviços da Administração. O poder
disciplinar é correlato como poder hierárquico, mas com ele não se confunde.
Daí a exacta afirmativa de Marcello Caetano de que "o poder disciplinar tem sua origem e razão
de ser no interesse e na necessidade de aperfeiçoamento progressivo do serviço público".
Conforme a gravidade do facto a ser punido, a autoridade escolherá, entre as penas legais, a que
consulte ao interesse do serviço e a que mais bem reprima a falta cometida.
Neste campo é que entra o discricionarismo disciplinar. Isto não significa, entretanto, que o
superior hierárquico possa punir arbitrariamente, ou sem se ater a critérios jurídicos.
Não é este o significado da discricionariedade disciplinar. O que se quer dizer é que a AP pode e
deve, atendo-se aos princípios gerais do Direito e às normas administrativas específicas do
serviço, conceituar a falta cometida, escolher e graduar a
pena disciplinar, em face dos dados concretos apurados pelos meios regulares - processo
disciplinar ou meios sumários -, conforme a maior ou menor gravidade da falta, ou a natureza da
pena a ser aplicada.
Interno porque somente pode ser exercido sobre agentes público, nunca em relação a
particulares.
É não permanente à medida que é aplicável apenas se e quando o servidor cometer falta
funcional.
É discricionário porque a AP pode escolher, com alguma margem de liberdade, qual a punição
mais apropriada a ser aplicada ao agente público.
Poder hierárquico é o de que dispõe o Executivo para distribuir e escalonar as funções de seus
órgãos, ordenar e rever a actuação de seus agentes, estabelecendo a relação de subordinação
entre os servidores do seu quadro de pessoal. Hierarquia é a relação de subordinação existente
entre os vários. órgãos e agentes do Executivo, com a distribuição de funções e a gradação da
autoridade de cada um. O poder hierárquico tem por objectivo ordenar, coordenar, controlar e
corrigir as actividades administrativas, no âmbito interno da Administração Pública.
Ordena as actividades da AP, repartindo e escalonando as funções entre os agentes do Poder, de
modo que cada um possa exercer eficientemente seu encargo; coordena, entrosando as funções
no sentido de obter o funcionamento harmônico de todos os serviços a cargo do mesmo órgão;
controla, velando pelo cumprimento da lei e das instruções e acompanhando a conduta e o
rendimento de cada servidor; corrige os erros administrativos, pela acção revisora dos superiores
sobre os actos dos inferiores. Desse modo, a hierarquia actua como instrumento de organização e
aperfeiçoamento do serviço e age como meio de responsabilização dos agentes administrativos,
impondo-lhes o dever de obediência.
Poder de polícia é a faculdade de que dispõe a AP para condicionar e restringir o uso e gozo de
bens, actividades e direitos individuais, em benefício da colectividade ou do próprio Estado.
Por esse mecanismo, que faz parte de toda Administração, o Estado detém a actividade dos
particulares que se revelar contrária, nociva ou inconveniente ao bem-estar social, ao
desenvolvimento e à segurança nacional. Desde já convém distinguir a polícia administrativa,
que nos interessa neste estudo, da polícia de manutenção da ordem pública. Advirta-se, porém,
que a polícia administrativa incide sobre os bens, direitos e actividades, ao passo que a polícia de
manutenção da ordem pública actua sobre as pessoas, individualmente ou indiscriminadamente.
e) é sempre geral: o poder de polícia estende -se à generalidade dos indivíduos, não se
restringindo a limitar particularmente ninguém. Nisso difere da servidão administrativa, que
sempre atinge bem determinado;
f) cria obrigações de não fazer (regra geral): normalmente o poder de polícia estabelece
deveres negativos aos particulares, estabelecendo obrigações de não fazer. Em casos raros, pode
gerar deveres positivos, por exemplo, na obrigação de atendimento da função social da
propriedade;
g) não gera indemnização: pelo facto de atingir a todos, o exercício regular do poder de polícia
não causa danos específicos que possam resultar no direito ao recebimento de indemnização;