Antropologia

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Antropologia Forense

Arqueologia Forense - Aplicação de métodos e técnicas da Arqueologia à escavação de


vestígios numa cena de crime.

Antropologia Forense - Subdisciplina da Antropologia que aplica os métodos e técnicas


da Antropologia Biológica em processos legais, civis ou humanitários.

A Antropologia Forense baseia-se em várias áreas do saber:


• Biologia do Esqueleto
• Arqueologia
• Direito

Objetivos
• Identificação do indivíduo a partir de esqueletos, corpos em adiantado estado
de decomposição, carbonizados, fragmentados, mumificados e restos mortais
não identificados.
• Têm-se aplicado, igualmente, os conhecimentos desta área em situações que
envolvem responsabilidade criminal (e.g. idade e imputabilidade penal: 16 anos
| CPP art. 19º) ou de enquadramento civil e/ou legal (e.g. migrantes,
refugiados, indocumentados).

Equipa Interdisciplinar
A estreita colaboração entre especialistas vai permitir:
• identificar o cadáver;
• estimar o intervalo de tempo entre a morte e a descoberta do corpo;
• descobrir pistas que elucidem as circunstâncias da morte.
A seleção de especialistas vai depender das especificidades do contexto.
A investigação pode reunir especialistas de diversas áreas:
• Antropólogos
• Patologistas
• Tanatologistas
• Entomólogos
• Médicos dentistas
• Médicos legistas
• Tafonomistas
• Investigadores criminais

Antropólogo Forense
Deve possuir conhecimentos interdisciplinares:
• Osteologia
• Odontologia
• Tafonomia
• Patologia geral
• Entomologia

Seleção do especialista de acordo com a datação da morte

Patologista Forense vs. Antropólogo Forense

• Patologista forense: Examina cadáveres com tecidos moles; Foca-se na


informação dos tecidos moles
• Antropólogo forense: Analisa o esqueleto; Foca a sua análise nos tecidos duros

No entanto, como a decomposição do corpo é um processo contínuo, o trabalho


destes especialistas pode entrecruzar-se:
(1) o antropólogo forense pode ser fundamental em casos de putrefação
avançada ou em situações de morte recente com politraumatismos ao nível do
esqueleto;
(2) o patologista pode ser fundamental quando existem tecidos mumificados no
esqueleto
Análise de restos esqueletizados
Finalidades fundamentais:
1) Determinar se os ossos têm interesse forense;
2) Estimar a causa e as circunstâncias da morte;
3) Documentar os factos que sucederam antes, durante e a seguir à morte;
4) Identificar o indivíduo:
➢ Sexo
➢ Idade à morte
➢ Ancestralidade
➢ Estatura
➢ Patologia
➢ Indícios de cuidados médico-terapêuticos

FUNDAMENTAL
• Preparação cuidadosa de cada intervenção;
• Registar o cenário antes de mexer e recolher;
• Manter a Cadeia de Custódia.

Cenários de atuação
Desastres em larga escala
Causados normalmente por agentes naturais, mas também podem ser causados por
fatores humanos.

Catástrofes naturais
• Exemplos: Tsunami na Tailândia, furação Katrina, sismo no Haiti,
sismo/tsunami no Japão.
• Objetivos: Identificação das vítimas.

Terrorismo
• Exemplos: Torres Gémeas, Londres, Mali, etc..
• Objetivos: Identificação das vítimas e, se for o caso, dos terroristas.
Acidentes em larga escala
• Exemplos: Aviação, ferroviários, industriais, etc..
• Objetivos: Identificação positiva das vítimas.

Genocídios e valas comuns


• Exemplos: Ex-Jugoslávia, Espanha, Ruanda, Sudão, Iraque, Afeganistão,
Camboja, Guatemala, Síria, etc..
• Objetivos: Identificação das vítimas; recolha de evidências/provas do genocídio
de modo a condenar os responsáveis por crimes contra a humanidade e por
crimes de guerra.

Outras situações forenses


• Exemplos: Homicídios, suicídios, acidentes, mortes suspeitas, etc..
• Objetivos: Identificação das vítimas e recolha de evidências que elucidem sobre
o modo e as causas da morte.

Arqueologia vs. Forense


Descoberta de restos humanos:
• áreas densamente arborizadas,
• praias,
• lixeiras,
• poços,
• casas abandonadas,
• grutas ou outras cavidades naturais

Grutas/cavidades naturais: Funcionavam como espaços funerários durante a Pré-


história.
Monumentos religiosos e seus adros: Igrejas, capelas, conventos; funcionavam como
espaço funerário até meados do século XIX.
Procedimentos metodológicos a adotar na Cena de Crime
As cenas do crime que envolvem restos esqueléticos são normalmente muito
complexas. Por conseguinte, a sua análise é complexa, exigindo um apurado
conhecimento de:
o Técnicas arqueológicas
o Biologia do esqueleto
o Direito (ou seja, enquadramento legal).
O rigor na exposição/decapagem dos ossos e no registo da informação condiciona o
potencial e a validade dos exames posteriores.
Os procedimentos incorrectos no local podem originar a destruição de provas ou
inviabilizá-las.
• Protocolo de escavação
o Localização
o Escavação
o Registo
o Exumação

• Descoberta
o Frequentemente acidental:
▪ Recentes= INMLCF e PJ
▪ Antigos = DGPC
▪ Incertos = INMLCF e PJ
o Inventário de todas as pessoas desaparecidas na região para um período de
pelo menos 15 anos.
o Quando a investigação é programada, no sentido de se localizar uma
sepultura clandestina, é importante que se considerem critérios de
prospecção e localização.

• Localização programada
o Na localização – batida de terreno – deve ter-se atenção:
▪ Distúrbio da vegetação;
▪ Irregularidades da superfície;
▪ Coloração e compactação do solo;
▪ Objectos semi-enterrados ou encontrados à superfície;
▪ Presença de animais necrófagos;
▪ Pegadas, lixo e marcas de pneus.
o Pode recorrer-se a cães pisteiros, imagens de satélite, fotografias aéreas,
detectores de metais, geo-radar, etc..
Fotografia aérea que permite a
identificação de sepulturas
através das diferentes
colorações de vegetação bem
como marcas de arrastamento
ou de veículos.
Auxília na localização e
determinação do espaço de
procura.

• Escavação
o O exame dos restos mortais e de outros vestígios deve ser multidisciplinar
e interdisciplinar, sendo imprescindível que se inicie no local onde estes
foram descobertos. Os procedimentos a seguir permitem maximizar a
quantidade e qualidade de informação.
o ATENÇÃO! É impossível recuperar a informação se esta não for recolhida
no campo.

• Procedimentos de escavação
o Sepultura:
▪ Fotografia inicial
▪ Desenho técnico inicial
▪ Registo topográfico
▪ Identificação do contexto de inumação
▪ Delimitação da vala
▪ Adaptar a metodologia de escavação ao contexto
▪ Decapagem cuidadosa respeitando a estratigrafia
▪ Fotografias gerais e de pormenor
▪ Croquis e desenhos à escala
o Restos esqueletizados:
▪ Decapagem/Exposição dos ossos
▪ Registo da estratigrafia e características dos sedimentos envolventes
▪ Manutenção in situ do espólio
▪ Descrição exaustiva dos restos mortais, dos vestígios/evidências e
da sepultura
▪ Numerar todos os vestígios, ósseos e não ósseos
▪ Registo fotográfico (gerais e de pormenor)
▪ Desenho técnico (pode ser substituído pela ortofotografia)
▪ Coordenação tridimensional dos restos mortais e evidências (é
fundamental registar e inserir todas as peças e evidências)
▪ Registo em fichas próprias
▪ Levantamento e acondicionamento individualizado com indicação
da proveniência espacial
▪ Recolha de todos os vestígios associados e registo da sua localização

• Registo
o Registar e fotografar o local antes, durante e depois da recolha;
o Identificação precisa de cada osso e evidências in situ;
o Posição exacta de cada osso, da sua orientação anatómica e da sua relação
com os restantes elementos ósseos, assim como com outras evidências e
restantes elementos da sepultura;
o Ortofotografia;
o Desenho (croquis e desenho à escala);
o Levantamento e acondicionamento individualizado das peças;
o Análise morfológica e métrica e elaboração do inventário dos achados;
o Arquitetura da sepultura.

• Registo de dados antropológicos


o Documentar os restos mortais
o Representatividade e qualidade dos ossos
o Perfil biológico
o Alterações ósseas patológicas
o Evidências de trauma
! O registo em ficha de campo é fundamental;
A descrição detalhada dos ossos que se podem degradar é de vital relevância. Por
exemplo: as condições de preservação do osso coxal impedem frequentemente a
sua observação no laboratório, pelo que é imprescindível estabelecer a diagnose
sexual ainda com o esqueleto in situ.!

• Síntese
o O registo de campo providencia informes sobre as relações espaciais e
estratigráficas e acerca dos restos mortais que são fundamentais para a
compreensão do enterramento e da acção dos factores tafonómicos.
o O registo constitui um procedimento crítico na análise do contexto, pois
a partir do momento em que os restos forem remexidos nunca mais se
poderá reconstituir a condição original, pelo que se deve anotar a
maior quantidade de informação possível.
• Deposição à superfície
o É comum que os restos cadavéricos estejam alterados ou destruídos,
podendo apresentarem-se dispersos, quer por acção da fauna
(roedores, necrófagos), quer por condições ambientais (chuva, vento,
exposição solar, deslizamentos de terra).
o A dispersão dificulta identificação das peças osseas e camufla os
acontecimentos peri mortem e a forma como o corpo foi deposto no
solo

• Fundamental
o registar e fotografar o local antes, durante e depois da recolha;
o documentar todos os restos e evidências;
o fotografias gerais e de pormenor;
o Croquis e desenhos à escala;
o registo de dados antropológicos;
o recolha das peças ósseas;
o recolha da fauna associada;
o geo-referenciar os vestígios.

Fundamental
Preparação cuidadosa de cada intervenção
Registar o cenário antes de mexer e recolher
Manter a Cadeia de Custódia

• Síntese dos procedimentos de campo


o 1º Delimitar e vedar a área;
o 2º Estabelecer pontos de referência;
o 3º Fotografar, filmar e desenhar o cenário;
o 4º Recolher todos os objectos descobertos nesta área;
o 5º Expor os restos cadavéricos e as evidências;
o 6º Fotografar, filmar e desenhar os restos expostos e evidências associadas;
o 7º Descrição exaustiva dos achados e seu inventário;
o 8º Consolidação dos ossos mais frágeis;
o 9º Exumação dos achados;
o 10º Análise (morfológica e métrica) preliminar dos achados;
o 11º Acondicionamento, catalogação, e transporte dos achados.

• Protocolo de Snow
o Os restos ósseos são humanos?
o Representam um único individuo ? Ou vários?
o Quando ocorreu a morte?
o Que idade tinha o falecido?
o Qual o seu sexo?
o Qual a sua ancestralidade?
o Qual a sua estatura? Peso corporal ?
o O esqueleto mostra anomalias anatómicas, indícios de doenças ou
traumatismos antigos suficientemente singulares para se estabelecer uma
identificação positiva?
o Qual a causa de morte?
o Qual o modo da morte (e.g. natural, acidente, homicídio, desconhecido)?

• Tafonomia
o Termo definido pelo paleontólogo I. Efremov e deriva etimologicamente do
grego taphos, que significa túmulo ou enterramento e nomos, que quer
dizer lei.
o Estuda o conjunto de processos e a complexa sequência de transformações
que se operam nos seres vivos desde a sua morte até ao momento em que
são descobertos.
o A aplicação dos princípios da tafonomia aos contextos médico-legais
denomina-se por tafonomia forense. Esta analisa os processos por que
passam os restos mortais desde a morte do indivíduo até chegarem às
mãos do investigador. Cabe a este traçar o perfil tafonómico.
As interpretações do exame tafonómico são importantes para:
o Estabelecer o tempo decorrido desde a morte
o Reconstituir o ambiente
o Detetar cenários desconhecidos post mortem
o Reconstituir acontecimentos peri mortem e post mortem
o Discriminar entre testemunhos de um trauma acidental ou intencional e
modificações de ordem natural.

Fenómenos transformativos destrutivos

Autólise Processo de
destruição
celular
Putrefação Decomposição
fermentativa
Maceração Afeta os afogados
Fenómenos transformativos conservadores

Mumificação Desidratação rápida que impede a ação microbiana.


Saponificação Comum em valas comuns. Transformação do cadáver
(adipocera) em substância de consistência untuosa, dando um
aspeto de cera.
Calcificação Petrificação ou calcificação do corpo. Ocorre em fetos
retidos no útero.
Corificação Pele de cor e aspeto de couro. Fenómeno raro que
pode ocorrer dentro de urnas metálicas.
Congelação Temperaturas muito baixas.
Fossilização Perda completa da matéria orgânica.

• Fatores extrínsecos determinantes na velocidade de decomposição (Krogman e


Iscan, 1986).

Condições Fatores Alta Baixa


Exposição ao ar X
Vento X
Água X
Neve X
À Superfície Temperatura elevada e humidade X
relativamente baixo
Temperatura elevada e humidade X
relativamente alta
Temperatura baixa e humidade X
relativamente baixo
Temperatura baixa e humidade X
relativamente alta
pH do solo ácido X
pH do solo alcalino ou neutro X
Profundidade X
Inumação em caixão X
Do enterramento
Inumação sem caixão X
Inumação com caixão X

• Tafonomia | Esqueleto
Fatores intrínsecos:
o Tamanho do osso
o Forma do osso
o Densidade óssea
o Sexo
o Idade à morte
o Patologia
A melhor forma de se estimar o tempo que decorreu entre a morte e a descoberta dos
restos esqueletizados é avaliar o contexto onde foram encontrados e examinar
minuciosamente todos os objetos pessoais como próteses, relógio, moedas,
artefactos antigos, etc..
A quantidade de informação que potencialmente pode ser extraída dos restos mortais
é extensa, mas esta depende das condições de preservação do corpo.
• Natureza dos restos esqueléticos
o Os restos encontrados são humanos ou animais?
ID fácil: esqueletos e ossos completos
ID difícil: ossos fragmentados, desarticulados, mal preservados e
incinerados.

Atenção:
Ossos de fetos ou recém-nascidos: podem ser confundidos com ossos de pequenos
animais. A sua identificação não é fácil pois estes não exibem muitas semelhanças
anatómicas com os ossos de adultos.

o Osso completo e/ou parcialmente fragmentado:


Ver as características anatómicas do osso (são particulares e características de
uma determinada espécie animal);
Possuir bons conhecimentos de anatomia humana e anatomia zoológica.

o Ossos fragmentados e pequenos fragmentos:


Ver diferenças anatómicas;
Ver estrutura óssea: os ossos de animais não humanos apresentam uma
camada de osso cortical mais espessa do que a do Homem;
A estrutura microscópica também é diferente.

Atenção:
A identificação pode ser auxiliada pela observação de alterações post mortem de
natureza humana como marcas que indiciam o desmanche e corte do animal para
consumo.

o Estrutura microscópica (histomorfologia) do osso cortical:


Humanos: O osso exibe estruturas circulares denominadas por sistemas
Harvesianos. Os osteons estão espalhados e uniformemente espaçados
dentro do osso.
Animais: Os osteons tendem a estar alinhados em fileiras horizontais
rectangulares (osso plexiforme).

Devido à enorme variabilidade de padrões encontrada nas várias espécies (e


mesmo entre ossos do mesmo animal), o padrão plexiforme permite
descartar a origem humana, mas a existência de uma distribuição dispersa
e espaçada não é conclusiva

• Número de indivíduos
o Sepultura individual: inumação de um único indivíduo;
o Sepultura colectiva: presença de diversos indivíduos no mesmo espaço.
Podemos também observar a desarticulação total ou parcial dos esqueletos
mais antigos.
o Sepulturas reutilizadas
o Inumação primária: o indivíduo não foi remexido após o seu enterramento,
apresentando-se na sua posição anatómica original.
o Inumação secundária: se os ossos do indivíduo estiverem desarticulados,
mostra que ocorreram duas fases no seu processo de inumação. Primeiro
sofreu uma fase de descarnamento e depois os seus ossos foram recolhidos
e enterrados noutro local.

• Método de Ubelaker (1974)


o Método criado para determinar o NMI a partir de ossos recuperados num
ossário de índios americanos.
o O cálculo é feito para cada tipo de osso separadamente.
o Consideram-se os ossos completos e fragmentos ósseos de regiões
particulares que pertençam a um único indivíduo (e.g. região da pirâmide
petrosial do osso temporal).
o Para os ossos pares deve-se previamente separá-los de acordo com a sua
lateralidade e a sua estimativa ser realizada separadamente.
o Nos não-adultos deve também considerar-se o comprimento das diáfises.
o O maior valor obtido, entre os dois lados, representa o NMI para o osso em
análise.
o O método só deve ser utilizado em ossos bem preservados.

• Método de Herrmann et al. (1990)


o Cada tipo de osso longo é dividido em diversas regiões anatómicas
identificáveis.
o O número de divisões dependerá do estado de fragmentação dos ossos.
o Após a determinação do número de divisões necessárias para cada osso,
elabora-se uma tabela com essas divisões definidas.
o As tabelas são por tipo de osso e lateralidade.
o Os ossos completos e fragmentos são representados nas respetivas tabelas
por meio de uma reta vertical proporcional às regiões ósseas presentes.
o Quando todos os ossos e fragmentos estiverem representados na tabela
contam-se as retas verticais existentes em cada linha da tabela.
o Os valores traduzem o número de ossos (ou indivíduos) que estão
representados na amostra, pela região correspondente à linha da tabela.
o O NMI é representado pelo valor mais elevado obtido pelas diferentes
linhas da tabela.
o Para se estimar o número máximo de indivíduos, considera-se o caso
extremo em que todos os ossos/fragmentos pertencem a indivíduos
diferentes. Para este cálculo basta contar todas as retas verticais da tabela.
o O método é muito útil quando os ossos longos estão muito fragmentados.
o Tem a vantagem de permitir determinar o número de indivíduos
representados na amostra como possibilita a análise da
representação numérica de cada osso (variabilidade na
representação óssea).
o Calculam-se o número mínimo e o número máximo de
indivíduos.

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