ARTIGO

Degradao Biolgica do PVC em Aterro Sanitrio e

Avaliao Microbiolgica
Ana M. C. Grisa, Taysnara Simioni, Vicente Cardoso, Mara Zeni, Rosmary N. Brandalise
Centro de Cincias Exatas e Tecnologia, UCS
Brbara C. D. A. Zoppas
Centro de Cincia da Sade, UCS

TCNICO

Resumo: O poli(cloreto de vinila) (PVC) um dos polmeros utilizado no campo das embalagens e no setor caladista, e, em funo da sua
aplicao diversificada, apresenta elevados percentuais em aterros domsticos e industriais. um polmero amorfo podendo apresentar
diferentes teores de plastificante e outros aditivos responsveis pela sua estabilizao, os quais podem influenciar no tempo de vida til e
nas propriedades do produto final. Este trabalho apresenta o estudo da degradao qumica e biolgica de filmes de poli(cloreto de vinila)
flexvel (PVC-f), no aterro sanitrio So Gicomo, na cidade de Caxias do Sul/RS, antes e aps 330 dias de disposio. As amostras de
PVC-f antes e aps a disposio no aterro sanitrio foram avaliadas por anlise trmica (TGA), estrutural (FT-IR) e morfolgica (MEV e
MO). Observou-se que as amostras de PVC-f dispostas no aterro sanitrio (PVC-fa), apresentam um nico evento de perda de massa, em
relao ao PVC-f no degradado ou virgem (PVC-fv), alm de um maior % de perda de massa e de mudanas estruturais. Nas amostras de
PVC-fa foram observadas modificaes morfolgicas importantes para descrever os fenmenos de degradao como eroso da superfcie,
bioeroso, que propiciaram a ao das leveduras, bactrias e fungos presentes no meio no polmero aterrado.
Palavras-chave: Degradao, PVC, aterro sanitrio, microrganismos, tcnicas microscpicas.

Biological Degradation of PVC in Landfill and Microbiological Evaluation

Abstract: The poly (vinyl chloride) (PVC) is one of the polymers used in the field of packing materials and footwear sector, and due
its diversified applications, it has presented ina high percentage of domestic and industrial landfills It is an amorphous polymer and
may present different levels of plasticizer and other additives responsible for its stabilization, which can influence the lifetime and the
properties of the final product. This work presents the study of the chemical and biological degradation of poly (vinyl chloride) flexible
(PVC-f) films, at So Gicomo landfill, in Caxias do Sul city after 330 days of disposition. The samples of PVC-f were evaluated by
thermal (TGA), structural (FT-IR) and morphological (MEV and MO) analysis after disposition. Samples of PVC-f disposed to landfill
(PVC-fa) showed a single event of weight loss, when compared to PVC-f undegraded or virgin (PVC-fv), besides a higher weight loss
and structural changes. In the PVC-fa samples, morphological modifications were observed, which are very important to describe the
degradation phenomenon as superficial erosion and bioerosion, which propitiated the action of the yeast, bacteria and fungi present in the
environment on the disposed polymer.
Keywords: Degradation/biodegradation, PVC, landfill, microorganism, microscopy techniques.

CIENTFICO

Introduo
Segundo Chiellini e Solaro[1], os materiais polimricos
apresentam baixo custo e propriedades caractersticas, tais como
leveza e praticidade, o que leva a maioria dos usurios, descart-los
sem controle ou inadequadamente, ameaando ambientes naturais
e a qualidade de vida no planeta. Essa , de fato, uma questo
de grande relevncia, pois avaliar quanto tempo um material deve
resistir, antes de degradar ou biodegradar, para que seu descarte
final ocorra em condies ecologicamente aceitveis, um dos
desafios deste sculo.
Por sua forma e baixa densidade, as embalagens plsticas
respondem por 15 a 20% do volume do lixo urbano, ocupando um
espao considervel em aterros sanitrios, alm de promovem a
poluio visual pelo descarte indevido.
Segundo Paoli[2], o PVC o segundo polmero encontrado em
maior porcentual no resduo slido domstico das maiores cidades
do Brasil, ficando atrs somente dos polietilenos.
O PVC considerado um polmero verstil devido a sua
possibilidade em interagir com diferentes aditivos, o que pode
alterar suas caractersticas dentro de um amplo espectro de
propriedades, apresentando-se desde o rgido ao flexvel[3].

Os plastificantes so uma categoria de aditivos mais

empregados com vistas a mudanas de propriedades no PVC,
nessa categoria so citados os ftalatos, fosfatos adipatos e citratos.
Normalmente esses atuam sobre as ligaes dipolo-dipolo e foras
de Van der Waals, atenuando-as, e, consequentemente, reduzindo
a rigidez do polmero, isto flexibilizando a estrutura polimrica,
ampliando o volume livre da cadeia polimrica[4-6].
Em temperaturas mais elevadas, a difuso e a evaporao
do plastificante aumenta e as perdas podem ocorrer devido
volatilidade, solubilidade, extrao e aos efeitos de migrao. A
difuso e migrao dos aditivos podem ser iniciadas pelo contato
do produto com gua, solventes, ou meio slido com uma afinidade
suficiente. A degradao qumica ou biolgica de plastificantes
na superfcie pode acontecer, dependendo das propriedades dos
plastificantes e das condies fsicas, qumicas e ambientais do
meio onde o polmero encontra-se inserido[7,8].
Alm dos plastificantes, outros aditivos como lubrificantes
modificadores de impacto, antioxidantes, estabilizantes trmicos
so incorporados ao PVC. Em relao estabilidade trmica,
os fabricantes tm utilizado sistemas alternativos, com bons

Autor para correspondncia: Ana M. C. Grisa, Centro de Cincias Exatas e Tecnologia, Universidade de Caxias do Sul,
Av. Francisco Getlio Vargas,1130, Petrpolis, CEP 95070-560, Caxias do Sul, RS, Brasil. E-mail: [email protected]

210

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011

Grisa, A. M. C. et al. - Degradao biolgica do PVC em aterro sanitrio e avaliao microbiolgica

resultados de estabilizao, tais como estabilizante zinco-clcio.

Compostos contendo enxofre ou estanho, so aceitos para aplicaes
de contato com alimentos, garrafas de gua e produtos mdicos. O
sistema estabilizador parcialmente consumido durante a vida til
dos produtos de PVC podendo no influenciar nos processos de
degradao. Cargas e corantes utilizados no PVC podem influenciar
as propriedades do produto final e, por consequncia, nos processos
de degradao[8-9], constituindo-se no substrato, em potencial, para o
crescimento microbiano[10-13].
Estudos de degradao trmica do PVC[14-17] indicam que a
degradao, sob atmosfera de nitrognio, ocorre basicamente
em duas etapas: a primeira, chamada desidroclorao, apresenta
macromolculas PVC que libera cloreto de hidrognio (HCl) com a
correspondente formao de estruturas conjugadas. A segunda etapa,
chamada condensao e fragmentao, corresponde a processos de
volatilizao provenientes da degradao dessas estruturas. Estudos
relatados na bibliografia[18-20] evidenciam que a etapa de incio de
degradao depende da taxa de aquecimento, bem como da massa
inicial do PVC. No entanto, em todos os casos, o comportamento
de degradao descrito pelas duas etapas definidas, revelada
normalmente pela mudana de colorao[21].
A degradao de um material polimrico pela ao de organismos
vivos, como: bactrias, fungos e algas, como decorrncia natural, no
meio ambiente, denominado biodegradao. A biodegradabilidade
primria de materiais polimricos a alterao na estrutura da
substncia qumica que resulta em: perda de propriedades do
polmero em condies anaerbias; H2O; sais minerais e biomassa.
Na biodegradao total, o material apresenta: pores com
mineralizao; degradao por microrganismos; produo de CO2,
metano (CH4) e H2O[22,23].
No processo de degradao biolgica de polmeros ocorre a
utilizao do mesmo e/ ou de seus aditivos, como fonte de carbono
e energia para os microrganismos.
Alguns fatores que podem induzir o processo de degradao
dos polmeros sintticos expostos no meio ambiente so: radiao
eletromagntica, tenses mecnicas, a temperatura, a umidade, o
pH, as impurezas e os microrganismos presentes, podendo ocorrer
por fenmenos complexos combinados na presena de calor, luz,
e/ou ao microbiana[24].
A degradao de resduo polimrico no aterro sanitrio pode
ocorrer por termo-oxidao, fotodegradao e/ ou ao microbiana.
Os fatores que induzem o processo de degradao no meio ambiente
so: luz, temperatura, umidade, impurezas e microrganismos[7].
O nmero de microrganismos em um grama de solo de: 108a
109 de bactrias verdadeiras; 107 a 108 de actinomycetes; 103 a
105de protozoa; 103 a 106 algas e 105 a 106 de fungos[7], sendo que os
gneros de fungos mais comuns, presentes no solo so: Penicillium,
Mucor, Rhizoporus, Fusarium, Cladosporium, Aspergillus e
Trichoderm[25-28].
Os microrganismos no aterro sanitrio, na degradao da matria
orgnica, e por consequncia, de estruturas polimricas presentes,
liberam estruturas proticas responsveis pelo metabolismo e
pela transformao/quebra de substncias que esto sujeitas
simultaneamente ao da lixiviao por chorume e pelas guas
de infiltrao. O chorume do aterro sanitrio possui uma matriz
orgnica de partculas slidas em suspenso e matria coloidal, que
permite que at mesmo substncias hidrofbicas, como os ftalatos,
sejam lixiviadas e dispersas em gua[29,30].
Segundo Vazzoller (2001)[31], os microrganismos, em aterro
sanitrio secretam estruturas proticas denominadas enzimas que
so responsveis pelo metabolismo, transformao/quebra de uma
substncia em outra. As clulas microbianas possuem arsenais
enzimticos que so tambm capazes de atuar sobre substncias

qumicas sintticas oriundas das atividades antropognicas. Os

microrganismos envolvidos no processo de biodegradao atacam
a superfcie e colonizam-na em forma de biofilmes que, em contato
com os polmeros, causam modificaes[32].
A matria orgnica biodegradvel dos resduos slidos urbanos,
no aterro sanitrio, hidrolisada e transformada em produtos
intermedirios de degradao. Os cidos graxos volteis so liberados
no chorume. Durante a transio da fase inicial, acidognica, para
a fase metanognica, os microrganismos convertem o carbono
orgnico solvel em gs no aterro (predominantemente de metano e
dixido de carbono)[33].
Nos polmeros aterrados, pela presena dos microrganismos,
pode ocorrer um ataque superficial, colonizando a superfcie na
forma de um biofilme (microrganismos embebidos numa matriz
polimrica), podendo modificar as propriedades dos mesmos[32,34].
O biofilme pode mascarar as propriedades superficiais do
polmero, contaminando o meio adjacente. A consolidao dos
microrganismos na superfcie e o ataque de enzimas podem
promover a remoo de aditivos para fora da matriz polimrica,
alteraes na estabilidade mecnica dos mesmos, facilitar a entrada
e o acmulo de gua, causando o intumescimento do material, e por
fim, alterao na pigmentao de regies atacadas decorrentes da
ao microbiana[32,35,36].
Este trabalho tem como proposta analisar a degradao de
filmes de poli(cloreto de vinila) flexveis, PVC-f, aps 330 dias de
disposio em aterro sanitrio, pela anlise morfolgica, trmica e
dos microrganismos presentes na superfcie e no entorno dos mesmos.

Experimental
Preparao da amostra
Foram utilizadas como amostras, filmes de poli(cloreto de
vinila) flexvel (PVC-f), distribudos no comrcio da regio.
Os filmes de PVC-f, em triplicata, nas dimenses de 1313cm
foram lavados com soluo 7% de hipoclorito de sdio (NaClO),
por um perodo de 30 minutos; sendo em seguida expostos a um
banho de gua destilada por 24 horas, de acordo com a norma
ASTM D628898[37]. As amostras foram mantidas por 24 horas em
dessecador.
As amostras de PVC-f foram colocadas no interior de embalagens
confeccionadas com tela polietileno de 13 mesh (20 20 cm) e,
posteriormente, inseridos no aterro sanitrio SoGicomo, em
uma clula de disposio de resduos iniciada em julho de 2002, da
cidade de Caxias do Sul, profundidade de 2 m.
A Figura1 ilustra a metodologia de codificao e disposio dos
filmes na clula do aterro.
Aps 11 meses de aterramento (correspondendo h 330 dias),
os filmes de PVC-f foram retirados, lavados pela mesma tcnica j
descrita e caracterizados.

Caracterizao das amostras

Anlise trmica

As amostras de PVC-f virgem e aterrado foram avaliadas

por anlise termogravimtrica (TGA) em um equipamento da
marca Shimadzu, taxa de aquecimento de 10 C/min em N2.
Aproximadamente 10 mg de amostra foi submetida faixa de
temperatura de 25 a 800 C.
Anlise por espectrometria no infra vermelho por Transformada
de Fourier (FTIR)

A anlise da estrutura qumica das amostras foi realizada em um

espectrmetro de infravermelho em um equipamento Nicolet S10
Thermoscientific, com amostras na forma de filmes.

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011 211

Grisa, A. M. C. et al. - Degradao biolgica do PVC em aterro sanitrio e avaliao microbiolgica

Figura1. Metodologia de disposio dos filmes de PVC-f na clula 10 do aterro sanitrio So Gicomo.

Microscopia tica e eletrnica de varredura

Ensaios foram realizados utilizando a tcnica de microscopia

tica (MO) em um equipamento da marca Nikon Epiphot 200;
ensaios de microscopia eletrnica de varredura (MEV) foram
realizados em um equipamento da marca Shimadzu SSX-550,
Superscan.
Aps 11 meses de disposio no aterro sanitrio, as amostras
foram coletadas em frascos plsticos de 100 mL esterilizados com
tampa de rosca. As amostras polimricas coletadas foram lavadas
com 10 mL de gua destilada estril e o lquido de lavagem foi
centrifugado por 10 minutos em uma centrfuga Fanem - Baby I
Modelo 206 BL. O sobrenadante foi desprezado e 0,1 mL do
sedimento foi semeado com ala de platina no meio Sabouraud e
incubado a 25 C por sete dias.
A identificao dos fungos presentes sobre os filmes polimricos,
no sedimento semeado nas placas de Petry, foi realizada atravs das
caractersticas macro e microscpicas, utilizando como referncia
literatura especializada alm de exemplares de txons da micoteca
do Laboratrio de Micologia da Universidade de Caxias do Sul. O
microscpio utilizado foi AXIOSTAR/ZEISS, com ampliao de
100 e 400[38,39].

Resultados e Discusso
As Figuras 2a e b apresentam os resultados da perda de
massa em cada evento dos filmes de a) PVC-f virgem (PVC-fv) e
b)PVC-f aterrado (PVC-fa), analisados de 25 a 800 C, obtidos nos
termogramas de TGA.
Na curva termogravimtrica do PVC-fv, Figura2a foi possvel
observar dois eventos de perda de massa, totalizando a perda
total de 94%. No primeiro evento de perda de massa, a mxima
velocidade de perda foi observada na temperatura de 281 C, com
perda de 75%; no segundo evento, a mxima velocidade de perda de
massa foi observada na temperatura de 453 C, com perda de 19%.
A primeira etapa de perda de massa foi atribuda a desidroclorao
do polmero, processo que ocorre entre 250 e 300 C, resultando na
formao de estruturas conjugadas. A segunda etapa, denominada

212

Figura2. Curvas de TGA, em atmosfera de N2, a) amostra de PVC-fv; e

b)amostra de PVC-fa, aps 330 dias de disposio no aterro sanitrio.

fragmentao e condensao, processo de volatilizao, atribudo

degradao das estruturas, e o processo que ocorre entre 350 e
500C[40].

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011

Grisa, A. M. C. et al. - Degradao biolgica do PVC em aterro sanitrio e avaliao microbiolgica

Na curva termogravimtrica do PVC-fa foi observado um nico

evento com temperatura de mxima velocidade de degradao,
a partir da derivada do TGA, em 475 C, e perda de massa de
98%. No foi observado o primeiro evento de perda de massa,
atribudo eliminao do HCl, como constatado no PVC virgem,
provavelmente devido ao tempo de aterramento (330 dias) em
presena de microrganismos, chorume, calor no aterro sanitrio.
O aumento do percentual de perda de massa do PVC-fa
ocorreu possivelmente devido quebra de cadeia do polmero[41] e
migrao do plastificante durante os 11 meses de disposio, no
aterro sanitrio.
A desidroclorao do PVC uma reao radicalar, que exige
uma energia de ativao baixa para seu incio, provoca a quebra das
ligaes na cadeia aleatoriamente e por razes termodinmicas os
aditivos tendem a migrar na superfcie[42].
Segundo Kelmuch[43], a interao entre os microrganismos e
a superfcie polimrica pode ser iniciada pelos aditivos, seguida
da degradao do polmero a produtos de baixa massa molecular,
com a formao de radicais polimricos e, por fim, o surgimento
de novos grupos funcionais. Ejlertsson etal.[37] evidenciaram que
as perdas de plastificantes foram predominantemente atribudas s
transformaes microbianas durante a fase metanognica do aterro.
A Figura3 ilustra os espectros no infravermelho dos filmes de
PVC-fv e do PVC-fa, retirados da clula C10 do aterro sanitrio,
aps 330 dias de disposio.
Com a anlise por FTIR das amostras de PVC-fv (Figura3),
em relao ao aterrado, foi possvel observar que, nas regies entre
2900 e 2980 cm-1, ocorreu modificaes nas intensidades das bandas,
atribuda deformao axial de grupos CH2[37-38]. Bandas caractersticas
dos aditivos presentes nos filmes de PVC so: 1740 cm-1 (CO de
ster); 1577 cm-1; 1539 cm-1 (atribudas presena de sais de cidos
carboxlicos e estearato de clcio e zinco); 1461 cm-1(CH2)[44,45].
A regio entre 715 e 667 cm-1 corresponde ao estiramento de
CCl no PVC, estas bandas podem ser visualizadas no PVC-fv no
sendo verificadas no PVC-fa, devido ao processo de desidroclorao
do PVC durante a degradao[20] uma vez que, segundo Gonzalez e
colaboradores[19], a regio de vibrao do CCl representada por
trs bandas diferentes, centradas em 690, 635 e 615 cm-1.
Os filmes de PVC-fa apresentaram mudanas na faixa de
1800 a 1600 cm-1, relativas aos grupos carbonlicos e de polienos,
devido migrao dos plastificantes. Como o ftalato de dioctila
(DOP) e outros ftalatos no se ligam quimicamente ao plstico
(PVC), so facilmente liberados da matriz polimrica (sofrem
lixiviao ou exsudao) durante o processamento, empacotamento
e armazenamento, podendo, assim, contaminar as substncias
que entram em contato com ele[46]. O decrscimo dos picos se
deve ao consumo dos grupos carbonila e ligaes duplas pelos
microrganismos, indicando a quebra da cadeia polimrica[47].
A comparao dos espectros no infravermelho do PVC-fv
e PVC-fa permite verificar que na regio entre 800 e 500 cm-1,
podem ser visualizadas vibraes caractersticas indicando que
possivelmente ocorreram mudanas estruturais durante 330 dias de
disposio no aterro sanitrio. Os defeitos estruturais, resultantes
da polimerizao podem induzir instabilidade trmica durante
a utilizao do PVC, porque a desidroclorao trmica do PVC
frequentemente inicia com cloro allico interno e tercirio e nas
cadeias principais[48,49].
A comparao dos espectros do PVC-f antes e aps a disposio
no aterro sanitrio, permitiu verificar no PVC-fv vibraes
caractersticas correspondentes ao estiramento C-Cl (cadeia
isottica, 690 cm-1) e ao estiramento C-Cl (cadeia sindiottica,
629 e 615 cm-1) no sendo verificadas no PVC-fa evidenciando a
ocorrncia de mudanas estruturais nas amostras aps 330 dias de
disposio no aterro sanitrio[19,50].

Figura3. Espectro de FTIR do filme de a) PVC-fv; e b) PVC-fa aps 330

dias de disposio.

A Figura4 ilustra as micrografias ticas do PVC-f, antes e aps a

exposio, no perodo de 330 dias em aterro sanitrio evidenciandose no PVC-fa a adeso dos microrganismos nas partes mais escuras
da superfcie do material polimrico.
A colonizao de PVCs foi avaliada atravs da presena de
fungos pretos, ocorrida na superfcie, devido disponibilidade
de plastificantes. A remoo dos plastificantes ocorreu devido
ao de fungos como, por exemplo, Aureobasidium Pullulans e
bactrias do tipo Pseudomonas Aeruginosa[51,52] observados nesse
estudo.
O desenvolvimento da colorao na superfcie das amostras foi
atribudo ao conjunto de duplas ligaes conjugadas, formadas no
processo de degradao trmica (desidroclorao)[53] e as sequncias
de polienos podem conferir a colorao indesejada ao polmero[54].
As alteraes na colorao dos filmes tambm so atribudas
colonizao dos microrganismos, pela excreo de pigmentos
microbiais lipoflicos, caracterizando o processo de biodegradao
do polmero[32].
As microscopias eletrnicas de varredura (MEV) dos filmes de
PVC-f, antes e aps a disposio ao aterro sanitrio, encontram-se
ilustradas na Figura5.
As micrografias de amostras de PVC-fa aterradas apresentaram
superfcie polimrica com irregularidades, formao de material
extracelular, fissuras e furos. As amostras de PVC-fa sofreram
fragmentao e eroso da superfcie polimrica, caractersticas das
etapas para a formao do biofilme[28,44].
De acordo com Mersiowsky[55], plastificantes so
predominantemente consumidos por microrganismos, quer na
superfcie do PVC, quer nos resduos circundantes.

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011 213

Grisa, A. M. C. et al. - Degradao biolgica do PVC em aterro sanitrio e avaliao microbiolgica

Figura4. Micrografias tica de a) PVC-fv; e b) PVC-fa, aps 330 dias de disposio em aterro sanitrio (200).

(a)

(b)

Figura5. Micrografias do a) PVC-fv; e b) PVC-fa aps 330 dias disposio em aterro sanitrio (1500).

Figura6. Micrografias de fungos detectados e identificados a) Rhodotorula sp.; e b) Mucor sp. no material coletado dos filmes retirados do aterro sanitrio,
aps 330 dias de disposio (40).

214

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011

Grisa, A. M. C. et al. - Degradao biolgica do PVC em aterro sanitrio e avaliao microbiolgica

Estudos da colonizao de fungos e biodeteriorao do PVC por

Webb etal. (2000)[12] evidenciam que os fungos produzem esterases
extracellular que degradam os plastificantes e causam degradao
do PVC. A degradao progressiva muda microestrutura do
material devido aos oligmeros e monmeros liberados. De acordo
com o que foi observado neste estudo e por Gu[56] a degradao do
material pode se dar em funo da estrutura do mesmo, presena
da populao de microrganismos e pelas condies ambientais para
o crescimento microbiano ocorra.

Caracterizao do meio de exposio do PVC

A microbiota presente na degradao/biodegradao no meio
no qual o polmero foi exposto pode ser caracterizada mediante de
coleta de material do entorno do filme coletado[57].
Na anlise do material no entorno do filme polimrico, foi
constatada a presena de leveduras marrons e brancas, bactrias
brancas e beges, fungos filamentosos, brancos e dermceos no
identificados. O fungo filamentoso do gnero Mucor spp., e a
levedura Rhodotorula spp., identificados no estudo, presentes na
adeso no PVC-f, podem ser observados na Figura6.
A espcie do gnero Mucor constitue um grupo de
microrganismos responsveis pela produo de vrias enzimas
como amilases, lipases, pectinases e proteases que degradam a
matria orgnica presente no meio[58].

Concluses
A degradao de filmes de poli(cloreto de vinila) flexveis,
PVC-f, aps 330 dias de disposio em aterro sanitrio foi
comprovada pela diminuio de eventos de degradao por
termogravimetria, principalmente associado desidroclorao do
PVC com consequente quebra das ligaes da cadeia.
As alteraes na colorao dos filmes aterrados so atribudas
colonizao dos microrganismos, com formao de duplas ligaes
conjugadas e sequncias de polienos indicativos estes do processo
de degradao/biodegradao ocorrido[32].
Foram identificados neste estudo s leveduras como Rhodotorula
spp. e o fungo filamentoso do gnero Mucor spp.
Os resultados obtidos a partir dos espectros de FTIR evidenciaram
que as amostras de PVC-f aterradas sofreram mudanas estruturais
com o surgimento de novos grupos funcionais; diminuio nas
regies das bandas atribudas ao CCl e alterao nas bandas
relativas ao plastificante, devido ao dos microrganismos e do
meio ambiente.
O emprego de tcnicas de microscopia permitiu avaliar aspectos
importantes do fenmeno de biodegradao do polmero, como a
presena de fissuras e eroso da superfcie. Fissuras, decorrentes
da biodegradao do PVC, possivelmente podem ser consideradas
a fase inicial do processo; enquanto a bioeroso do polmero se
propaga na superfcie do polmero aterrado, pela ao dos fungos
presentes no meio.
Todas as caractersticas acima observadas permitiram constatar
a degradao qumica e biolgica de filmes de PVC flexvel aps
disposio por aproximadamente um ano, em aterro sanitrio, em
uma profundidade de 2 m, o que torna o estudo interessante sob o
ponto de vista ambiental e tecnolgico uma vez que, mesmo com
o uso de agentes de proteo, o PVC flexvel degrada, ps-uso, se
disposto em um sistema do tipo Aterro Sanitrio.

Agradecimentos
Os autores agradecem ao CNPq, a FAPERGS, Universidade
de Caxias do Sul pelo apoio financeiro e a CODECA S. A. pelo
apoio no Aterro Sanitrio de Caxias do Sul.

Referncias Bibliogrficas
1. Chiellini, E. & Solano, R. - Environmentally Degradable Polymers
and Plastics in: Anais do International Workshop on Environmentally
Degradable and Recyclable Polymers in Latin America, Campinas, SP
(1989).
2. Paoli, M. A. D. & Spinace, M. A. - Quim. Nova, 28, p.65 (2005).
3. Madaleno, E.; Rosa, D. S.; Zawadzki, S. F.; Pedrozo, T. H. & Ramos,
L. P. - Polmeros, 4, p.263 (2009). http://dx.doi.org/10.1590/S010414282009000400004
4. Raimundo Junior., I. M. & Almeida, Y. M. B. - Sens. Actuators B., 139,
p.222 (2009).
5. Rabello, M. - Aditivao de polmeros, Artliber Editora, So Paulo
(2001).
6. Rodolfo Junior, A.; Nunes, L. R. & Ormanji, W. - Tecnologia do
PVC, Pr Editores Associados, So Paulo (2006).
7. Gchter R. & Mller, H. - Taschenbuch der Kunststoff-Additive, in:
Handbook of Plastics Additives; 3rd ed., Carl Hanser Verlag, Munich
(1990).
8. Mersiowsky, I.; Weller, M. & Ejlertsson J. - Water Res., 35, p.3063
(2001). http://dx.doi.org/10.1016/S0043-1354(01)00027-6
9. Marcilla, A.; Garcia, S. & Garcia-Quesada, J. C. - Polym. Test., 27,
p.221 (2008).
10. Vinhas, G. M.; Souto-Maior, R. M.; Lapa,C. M. & Almeida, Y. M.
B. - Mat. Res., 6, p.497 (2003). http://dx.doi.org/10.1590/S151614392003000400012
11. Gumargalieva, K. Z.; Zaikov, G. E.; Semenov, S. A. & Zhdanova, O.
A. - Polym. Degrad. Stab., 63, p.111 (1999). http://dx.doi.org/10.1016/
S0141-3910(98)00071-8
12. Webb, J. S.; Nixon, M.; Eastwood, I.; Greenhalgh, M.; Robson, G. D.
& Handley, P.S. - Appl. Environ. Microb., 66, p.3194 (2000). http://
dx.doi.org/10.1128/AEM.66.8.3194-3200.2000
13. Liu, Y.; Liu, W. & Hou, M. - Polym. Degrad. Stabil., 92, p.1565 (2007).
http://dx.doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2007.05.003
14. Bockhorn, H.; Hornung, A.; Hornung, U. - J. Anal. Appl. Pyro., 50,
p.77 (1999). http://dx.doi.org/10.1016/S0165-2370(99)00026-1
15. Slapak, M. J. P; Van Kasteren, J. M. N. & Drikenburg, A. A. H. - Comput.
Theor. Polym. Sci., 10, p.481 (2000). http://dx.doi.org/10.1016/S10893156(99)00055-0
16. Anthony, G. M. - Polym. Degrad. Stab., 64, p.353 (1999). http://dx.doi.
org/10.1016/S0141-3910(98)00129-3
17. Marongiu, A.; Faravelli, T.; Bozzano, G.; Dente, M. & Ranzi, E. - J.
Anal. Appl. Pyrol., 70, p.519 (2003). http://dx.doi.org/10.1016/S01652370(03)00024-X
18. Montaudo, G. & Puglisi, C. - Polym. Degrad. Stab., 33, p.229 (1991).
http://dx.doi.org/10.1016/0141-3910(91)90019-N
19. Gonzalez, N.; Mugica, A. & Fernandez-Berridi, M. - Polym.
Degrad. Stab., 91, p.629 (2006). http://dx.doi.org/10.1016/j.
polymdegradstab.2004.12.015
20. Zhu, H. M.; Jiang, X. G.; Yan, J. H.; Chi, Y. & Cen, K. F. - J. Anal. Appl.
Pyrolysis, 82, p.1 (2008). http://dx.doi.org/10.1016/j.jaap.2007.11.011
21. Rodolfo, A. & Mei, L. H. - Polmeros, 17, p.3 (2007).
22. American Society for Testing Materials - ASTM D - 883-99,
Terminology Relating to Plastics, ASTM Standards, Philadelphia
(1999).
23. Palmisiano, A. C.& Pettigrew, C. A. - Bioscience, 42, p.80 (1992).
24. Gu, J. D.; Ford, T.; Thorp, K. & Michell, R. - Inter. Biodeter. Biodegr.,
37, p.197 (1996). http://dx.doi.org/10.1016/S0964-8305(96)00035-2
25. Putzke, J. & Putzke, MT. L. - Os reinos dos Fungos, v.2, EDUNISC,
Santa Cruz do Sul, (2002).

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011 215

Grisa, A. M. C. et al. - Degradao biolgica do PVC em aterro sanitrio e avaliao microbiolgica

26. Black, J. - Microbiology, Principles and Explorations, 4rd ed., p.738

(1999).
27. Pace, N. R. - Science, 276, p.734 (1997). http://dx.doi.org/10.1126/
science.276.5313.734
28. Pace, N. R. - ASM News, 65, p.328 (1999).
29. Bauer, M. J. & Herrmann, R. - Waste Manag. Res., 16, p.446 (1998).
http://dx.doi.org/10.1177/0734242X9801600507
30. Mersiowsky, I. & Weller M. in: Conference Energie und Umwelt,
Freiberg, Germany, (2000).
31. Vazzoler, R. F. - Microbiologia e Saneamento Ambiental. USP, So
Paulo (2001).
32. Fleming, H. C. - Polym. Degrad. Stabil., 59, p.309 (1998).
33. Stegmann, R. - Waste Manag. Res., 1, p.201 (1983). http://dx.doi.
org/10.1177/0734242X8300100125
34. Kaczmarek, H. & Swiatek, M. A. - Polym. Degrad. Stabil., 83, p.35
(2004). http://dx.doi.org/10.1016/S0141-3910(03)00202-7
35. Nortermans, S.; Dormans, J. & Mead, G. C. - Biofouling., 5, p.1
(1991).
36. Ejlertsson, J.; Alnervik, M. & Svensson, B. H. - Environ. Sci. Technol.,
31, p.2761 (1997). http://dx.doi.org/10.1021/es961055x
37. American Society for Testing Materials - ASTM D - 6288-98,
Standard Practice for Separation Washingof Recycled Plastics Prior
Testing, ASTM Standards, Philadelphia (1998).
38. Barnett, H. I. & Hubter, B. B. Illustated Genera of Imperfect Fungi,
Mac Millan Publish Company, New York (1972).
39. Lacaz, C. S.; Porto, E.; Heins-Vaccari, E. M. & Melo, N. T. - Guia
para identificao: fungos, actinomicetos, algas de interesse mdico,
Sarvier/Fapesp, So Paulo (1998).
40. Benavides, R.; Edge, M.; Allen, N.S.; Mellor, M.; Harvey, H.;
Schmets, G. - Polym. Degrad. Stabil., 53, p.319 (1996). http://dx.doi.
org/10.1016/0141-3910(96)00092-4
41. Panzarini, L. C. A & Guedes, S. M. L. - Caracterizao de Filmes de
PVC enxertados e heparinizados via radiao gama por espectroscopia
FTIR, in: Anais do 8 Congresso Brasileiro de Polmeros, Aguas de
Lindoia (2007).
42. Sun, Q.; Shi, X.; Lin, Y.; Zhu,H.; Wang, X.; Cheng, C. & Liu, X. J.
Thermograv. Mass Spectra., 17, p.242 (2007).

216

43. Kelmuch, P. P. - Polym. Degrad. Stabil., 21, p.183 (1990).

44. Beltran, M.; Marcilla, A. - J. Eur. Polym., 33, p.1135 (1997). http://
dx.doi.org/10.1016/S0014-3057(97)00001-3
45. Pielichowski, K.; Njuguna, J. - Rapra Technol. Limit., 320 (2005).
46. Santana, G.M. - Efeitos do Plastificante Dehp - Di(2-Etilexil)Ftalato
Sobre o Sistema Reprodutor de Ratos Wistar, Dissertao de Mestrado,
Universidade Federal do Paran, Curitiba (2002).
47. Jacinto, W. & Sinag, R.- Int. J. Biotechnol. Biochem., 6, p.157(2010).
48. Ray S. S. & Okamoto, K. M. - Macromolecules, 36, p.2355 (2003).
http://dx.doi.org/10.1021/ma021728y
49. Balkose, D. - Adv. Polym. Technol., 17, p. 63(1998).
50. Mcneill, I. C.; Memetea, L. & Cole, W. J.- Polym. Degrad. Stab., 49,
p.181 (1995). http://dx.doi.org/10.1016/0141-3910(95)00064-S
51. Hamilton, N. F. Biodeterioration of flexible polyvinyl chloride films
by fungal organisms, in: Biodeterioration 5. T. A. Oxley & S. Barry
(ed.), John Wiley & Sons Ltd., Chichester (1983).
52. Roberts, W. T. & Davidson, P. M. - Appl. Environ. Microbiol., 51,
p.673 (1986).
53. Arkis, E. & Balkose, D. - Polym. Degrad. Stabil., 88, p.46 (2005).
http://dx.doi.org/10.1016/j.polymdegradstab.2004.02.021
54. Jennings, T. C.; Starnes Junior, W. H. - PVC stabilizers and
lubricants, in: PVC handbook, C. E. Wilkes, J. W. Summers & C. A.
Daniels (ed.), Hanser Gardner Publishers, Cincinnati (2005).
55. Mersiowsky, I. - Prog. Polym. Sci. 27, p.2227 (2002). http://dx.doi.
org/10.1016/S0079-6700(02)00037-0
56. Gu, J.-D. - Int. Biodeterior. Biodegrad., 52, p. 69 (2003). http://dx.doi.
org/10.1016/S0964-8305(02)00177-4
57. Grisa, A. M. C. - Estudio de la Degradacin de los Polmeros
Commodities en el Medio Ambiente, Tese Doutoramento, Universidade
de Leon, Leon 2004.
58. Alves; M. H.; Takaki, G. M. C.; Porto, A. L. F. & Milanez, A. I.- Braz.
J.Microbiol., 33, p.3 (2002).
Enviado: 01/11/09
Reenviado: 30/11/10
Aceito: 02/12/10
DOI: 10.1590/S0104-14282011005000046

Polmeros, vol. 21, n 3, p. 210-216, 2011