Artigo Vanessa

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EDUCAÇÃO ESPECIAL E SEUS DESAFIOS NO ENSINO APRENDIZAGEM

VANESSA ARCANJO DA CONCEIÇÃO¹

RESUMO: O presente artigo aborda a questão da Educação Especial no


contexto escolar, especificando os desafios enfrentados como: barreiras
arquitetônicas, pedagógicas, lacunas na formação inicial e continuada dos
professores, postura dos professores e familiares em relação à inclusão do
aluno com deficiência na sala de aula do ensino regular. Para tanto, retrata-se
o contexto histórico, que incide desde a segregação, abandono, isolamento até
as políticas inclusivas em instituições especializadas e atendimento na
educação básica regular. Integra a pesquisa a legislação referente à garantia
do direito a pessoa com deficiência, enfatizando-se o que preconiza a
Constituição Federal, Lei de Diretrizes e Bases da Educação e a nova Base
Nacional Comum Curricular. Na perspectiva da educação especial inclusiva
não basta colocar o aluno na sala de aula comum, é preciso garantir a esse
aluno atendimento inclusivo, com atividades pedagógicas que possibilite seu
desenvolvimento integral e um ambiente escolar adaptado para sua
acessibilidade. Neste trabalho optou-se pela pesquisa de revisão bibliográfica
dos estudos já realizados sobre a temática, buscando copilar e analisar os
resultados desses estudos, demonstrando que desafios e como podem ser
superados, por meio da aplicação de políticas públicas voltadas para a pessoa
com deficiência e sua efetividade dentro da realidade escolar

Palavras-chave: Aluno com deficiência; Formação; Inclusão; Desafios; Ensino


Regular.

INTRODUÇÃO

O esforço conjunto de estudiosos, profissionais da educação, militantes


pelos direitos de pessoas com deficiência e a organizações da sociedade civil
organizada culminou na mudança de paradigmas no que se refere à proposta
de inclusão social e regular dessas pessoas, que até então, eram consideradas
“anormais”, segregadas do convívio social e impossibilitadas de desenvolverem
suas capacidades motoras, cognitivas e sociais.

1 Graduação em Gestão de Recursos Humanos pela Faculdade ....................................... (ano


de conclusão); Graduando (a) em 2ª Licenciatura e Formação Pedagógica Pela Faculdade
Campos Elíseos – Polo Surpreenda
2

As mudanças no sistema educacional do Brasil referente à Educação


Especial aconteceram com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional, Lei nº 9.394/96. Antes dessa lei, era ofertava uma escola
regular para atender os alunos considerados “normais” e uma escola especial
para atendimento as pessoas com deficiências. Contudo, essa modificação na
legislação propiciou o surgimento da proposta educacional inclusiva, onde os
alunos com deficiência passaram a ser incluído na sala de aula do ensino
regular, recebendo de acordo com a sua deficiência atendimento especializado
em caráter completar e suplementar nas salas de recursos pedagógicos
multifuncionais.
Os dados do Censo Escolar mostram que a modalidade Educação
Especial apresentou crescimento no número de matrículas e inclusão de
alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas
habilidades e/ou superdotação nas salas de aulas do ensino regular e
atendimento especializado nas salas de recursos multifuncionais. No Ensino
Fundamental foram 1,2 milhões de matrículas em 2018, o que representa um
acréscimo percentual de 33,2% em relação a 2014. No Ensino Médio, a
matrícula de alunos incluídos foi de 87,1% em 2014 para 92, 1% ano de 2018.
(BRASIL, 2019).
As informações apresentadas acima evidenciam o crescimento da
presença e inclusão dos alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas classes comuns do
ensino regular. Diante desse panorama apresentado, a questão problema
desse trabalho é: Quais são os desafios para implementação da proposta de
Educação Especial Inclusiva nas escolas regulares e como isso afeta o
processo de ensino aprendizagem?
Assim sendo o objetivo dessa pesquisa é responder a luz dos estudos já
existentes e na legislação vigente sobre a Educação Especial quais desafios
enfrentados pelas escolas, professores e alunos com deficiência na efetivação
dessa proposta de educação inclusiva no ensino regular. Para tanto se buscará
quais mudanças já aconteceram nas escolas em relação à acessibilidade
arquitetônica, as alterações curriculares, proposta pedagógica, formação dos
professores, relação com os familiares e a integração dos alunos com
deficiências.
3

A opção por este tema da Educação Especial reflete as experiências


pessoais da acadêmica no cotidiano de uma escola de ensino regular que
possui inúmeros alunos com deficiência inclusos e justifica-se pela sua
relevância em contribuir com o debate focado nos desafios enfrentados pelas
escolas e seus profissionais nesse atendimento inclusivo dos alunos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento, altas
habilidades/superdotação, pois apesar do avanço e crescimento no número de
alunos matriculados, muitas escolas ainda não possuem infraestrutura
adequada para garantir a acessibilidade e locomoção, proposta curricular e
pedagógica que não contempla as espeficidades individuais, conforme prevê a
Base Nacional Comum Curricular e professores com qualificação insuficiente
e/ou sem formação inicial e continuada para atender esse público específico
nas salas de aulas regulares.

2 A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL

A história evolutiva do atendimento da educação especial revela um


passado de sofrimento, segregação, lutas e conquistas, mais que está longe do
fim. As batalhas em prol de uma educação especial de qualidade são
constantes, incessantes e que denotam uma busca pelo cumprimento e
aprimoramento da legislação em vigor.

2.1 LEIS QUE AMPARAM A EDUCAÇÃO ESPECIAL NO BRASIL

A legislação brasileira, no campo educacional destinado a pessoa com


deficiência, atualmente é ampla e com evidente destaque em defesa de uma
educação plural e inclusiva nas escolas regulares e atendimento especializado.
Todavia, nem sempre foi assim, a princípio era meramente assistencialista,
onde se garantia cuidados e proteção.
Depois se focou em assegurar tratamento especializado na área da
saúde, com a disponibilização de médicos e psicólogos. Evoluindo para a área
da educação, legislou-se que o aluno com deficiência deveria ser atendido em
escolas especiais e por fim na atualidade a legislação assegura que os
mesmos estejam inseridos e inclusos nas salas de aula do ensino regular,
4

participando ativamente de todas as atividades pedagógicas, culturais e


esportivas da escola, respeitando-se o seu ritmo e limitações.
Diante desse painel evolutivo da legislação brasileira, que concebeu a
Educação Especial como uma modalidade de ensino, precisa ser vencida as
resistências e maneira de pensar e agir da família e educadores, que na sua
grande maioria, pela falta de qualificação adequada para assegurar o direito
desse aluno a uma educação integradora e inclusiva, acaba resvalando para o
atendimento limitado a inserção baseada no desenvolvimento das interações
socais, sendo o aluno com deficiência apenas mais um na sala.
A carta magna brasileira concebida pela Assembleia Constituinte em
1988 trouxe inúmeros avanços e contribuições para o atendimento do aluno
com deficiência, assegurando-lhe por meio de seus dispositivos proteção e
direito a educação, como o Art. 208, inciso III, que prevê: “O dever do Estado
com a educação será efetivado mediante garantia de atendimento educacional
especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular
de ensino”.
A Constituição brasileira de 1988 em seus artigos 205, 206, 208 e 213
enfatiza que a educação é direito de todos, sendo que o Estado representado
pelos entes federados deve garantir e assegurar que mesmo a pessoa com
deficiência tenha acesso ao ensino nas mesmas condições que os demais
alunos, garantindo a eles atendimento especializado em horário complementar,
sendo necessário para isso prover recursos que possibilite infraestrutura
adequada, condições pedagógicas, professores preparados e recursos
pedagógicos e tecnológicos.
Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96, a
Educação Especial tornou-se uma modalidade de ensino, recebendo um
capítulo exclusivo. O capítulo V da LDBN em vigor engloba os alunos com
deficiência, transtornos globais de desenvolvimento, altas habilidades ou
superdotação. São dedicados três artigos: 58 a 60, onde se encontra a
explicação do que a educação especial, o que é assegurado por direito na
educação ao aluno com qualquer um dos aspectos citados anteriormente e
sobre o atendimento em instituições privadas e sem fins lucrativos.
5

Para uma melhor compreensão esses artigos serão detalhados e


explicitados abaixo. O artigo 58 da LDB 9.394/96 define educação especial
como:

“Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a


modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.”
(BRASIL, 1996).

Dentro do Artigo 58 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


– Lei 9. 394/96 deixa evidente que o atendimento ao aluno com deficiência
deve começar na primeira etapa da educação básica, ou seja, na Educação
Infantil, conforme disposto no terceiro parágrafo: “A Oferta de educação
especial, dever constitucional do estado, tem início na faixa etária de zero a
seis anos, durante a educação infantil.” (BRASIL, 1996).
A LDBN/96 é enfática em reafirmar que a Educação Especial como
modalidade, deve ser executada na escola de ensino regular, resguardando os
direitos desses alunos e suas limitações.
A Base Nacional Comum Curricular - BNCC é um documento de
âmbito nacional que objetiva nortear estados e municípios na elaboração dos
seus currículos locais, determinando as competências gerais e específicas, as
habilidades e as aprendizagens essenciais que alunos de todo o território
brasileiro devem aprender na Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino
Médio. Alunos de escolas públicas e particulares terão por meio da BNCC
acesso aos mesmos conteúdos mínimos, independentemente da região,
estado, município e escola em que estuda.
A finalidade de uma Base Nacional Comum Curricular surgiu a partir da
necessidade de assegurar que todos os estudantes tivessem a mesmas
oportunidades de acesso ao conhecimento mínimo em todas as escolas
brasileiras, ofertando assim as mesmas condições de acesso, permanência e
sucesso com a aprendizagem dos conteúdos básicos essenciais, minimizando-
se a desigualdade educacional, as discrepâncias de conteúdos e melhorando
como consequência a qualidade do ensino ofertado.
A importância da BNCC se resume na possibilidade aberta aos
sistemas educacionais de elaborar seus currículos tendo como referência um
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arcabouço de conteúdos básicos comuns a todas as escolas da federação,


visando o desenvolvimento de competências e habilidades essenciais na
formação do cidadão do Século XIX, ou seja, um ser polivalente, com
conhecimento amplo e diversificado, conectado as novas tecnologias, com
preparo técnico para o mercado de trabalho 25 que seja comunicativo,
preocupado com as questões ambientais e saber exercer a empatia.
A Base Nacional Comum Curricular Prevista na Constituição de 1988,
na LDBN de 1996 e no Plano Nacional de Educação de 2014, Brasil (20018, p.
5).
Expressa o compromisso do Estado Brasileiro com a promoção de
uma educação integral voltada ao acolhimento, reconhecimento e
desenvolvimento pleno de todos os estudantes, com respeito às
diferenças e enfrentamento à discriminação e ao preconceito.
(BRASIL, 2018, P. 5).

Esse texto da BNCC ratifica as políticas educacionais brasileiras


voltadas para o princípio da inclusão quando expressa incisivamente em
acolher e desenvolver plenamente todos os estudantes, com respeito as suas
diferenças, combatendo o preconceito e atos de intolerância. Nesse caput
estão inseridos implicitamente os alunos com deficiência, que demandam os
mesmos direito de atendimento no ensino regular.
A Base Nacional Comum Curricular, Brasil (2017, p. 9) apresenta dez
competências gerais que o estudante brasileiro deverá ter desenvolvido ao final
da última etapa da Educação Básica, sendo que neste trabalho será
apresentado três dessas competências que inclui diretamente o aluno com
deficiência.
Competência 04 - Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou
visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e
digital –, bem como conhecimentos das linguagens artísticas,
matemática e científica, para se expressar e partilhar informações,
experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir
sentidos que levem ao entendimento mútuo. (BRASIL, 2017, P. 9).

A competência quatro referente à utilização de diferentes linguagens no


processo de ensino aprendizagem, inclui a Língua Brasileira de Sinais – Libras
como uma das habilidades a serem trabalhadas em sala de aula, o que denota
uma necessidade imediata na formação dos professores, para que aprendam e
dominem essa linguagem e estejam qualificados a ensinarem a todos os
alunos.
7

Outra competência que se relaciona com a Educação Especial e a


inclusão do aluno com deficiência no ensino regular e a competência nove
descrita em Brasil (2017, p. 10) expressa:

Competência 9 - Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de


conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o
respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e
valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus
saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de
qualquer natureza. (BRASIL, 2017, P. 10).

Essa competência a ser desenvolvida pelos alunos sintetiza o


pensamento da educação especial inclusiva ao enfatizar a prática da empatia,
ou seja, a capacidade de sentir e colocar-se na mesma situação que o outro e
ao estabelecer o ato de acolher a todos dentro da sua diversidade
reconhecendo seus conhecimentos, capacidades de evoluir, respeitando todas
as singularidades.
Já na competência 10, Brasil (2017, p. 10) expressa:

Competência 10 - Agir pessoal e coletivamente com autonomia,


responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando
decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos,
sustentáveis e solidários. (BRASIL, 2017, P. 10).

A competência dez traduz o que se espera de todos os alunos,


incluindo o aluno com deficiência, que tenha autonomia e desenvolvam as
habilidades de superação e determinação diante das dificuldades e obstáculos,
sem perder os valores essenciais para o viver e conviver em sociedade.
A BNCC foi concebida numa perspectiva não somente focada em
estabelecer competências e habilidades para a educação básica de todo o
Brasil, mas trouxe implicitamente o princípio do sócio emocional, da empatia,
da equidade. Seu teor rejeita qualquer tipo de exclusão, pois visa diminuir as
contradições e discrepâncias que segregam e excluem os estudantes com
menos possibilidades de acesso e permanência. Também enfatiza o trabalho
diferenciado no atendimento em sala de aula regular ao aluno com deficiência
por meio da aplicação de práticas educativas diferenciadas, que respeitem os
limites e façam esse aluno avançar.
Inclui-se no bojo de combate à exclusão o compromisso com os
alunos com deficiência, reconhecendo haver dentro das escolas, uma mudança
8

de postura em relação ao estabelecimento de práticas pedagógicas que


realmente inclua o aluno, por meio de atividades curriculares diferenciadas e
que atendam as limitações e promovam o avanço e desenvolvimento
progressivo do aluno com deficiência.

2.2 PRINCIPAIS DESAFIOS DA PRÁTICA DOCENTE NA EDUCAÇÃO


ESPECIAL

Antes de relatar e analisar os principais desafios da prática docente


dentro da Educação Especial precisa-se fazer uma referência ao conceito de
educação inclusiva para que melhor entenda o papel da escola e dos
professores nesse processo tão debatido e pouco efetivado.
Sassaki (1998, p. 8) define a educação inclusiva como:
O processo que ocorre em escolas de qualquer nível preparadas para
propiciar um ensino de qualidade a todos os alunos
independentemente de seus atributos pessoais, inteligências, estilos
de aprendizagem e necessidades comuns ou especiais. A inclusão
escolar é uma forma de inserção em que a escola comum tradicional
é modificada para ser capaz de acolher qualquer aluno
incondicionalmente e de propiciar-lhe uma educação de qualidade.
Na inclusão, as pessoas com deficiência estudam na escola que
frequentariam se não fossem deficientes. (SASSAKI, 1998, P. 8).

A definição de inclusão proposta pelo autor acima, explicita que na


escola o aluno deve ser atendido na classe comum, independente das suas
condições físicas, sociais, religiosas, étnicas e gênero, ofertando a estes um
ensino igualitário, de qualidade e que permita o seu pleno desenvolvimento
para a prática da cidadania e para o trabalho.
Carvalho (2005, p. 81) amplia esse conceito explicitando que: A

o refletir sobre a abrangência do sentido e do significado do processo


de Educação inclusiva, estamos considerando a diversidade de
aprendizes e seu direito à equidade. Trata-se de equiparar
oportunidades, garantindo-se a todos - inclusive às pessoas em
situação de deficiência e aos de altas habilidades/superdotados, o
direito de aprender a aprender, aprender a fazer, aprender a ser e
aprender a conviver. (CARVALHO, 2005, P. 81).

O autor ao estabelecer o conceito de educação inclusiva refere-se à


integração do aluno deficiente ou com altas habilidades, não só no sentido de
socialização, mais ter assegurado os mesmos direitos que os demais alunos de
9

aprender os conteúdos e participar das atividades programadas, respeitando


suas limitações e potencialidades.
A meta 4 do Plano Nacional de Educação, Brasil (2014, p. 24) destaca
a efetivação da educação especial inclusiva por meio da universalização do
atendimento, conforma consta no texto abaixo:

META 4 - Universalizar, para a população de 4 (quatro) a 17


(dezessete) anos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, o acesso à
educação básica e ao atendimento educacional especializado,
preferencialmente na rede regular de ensino, com a garantia de
sistema educacional inclusivo, de salas de recursos multifuncionais,
classes, escolas ou serviços especializados, públicos ou
conveniados. (BRASIL, 2014, P. 24).

Nesse sentido o Plano Nacional de Educação estabelece que todas as


crianças e os adolescentes entre 4 a 17 anos que apresente qualquer tipo de
deficiência, transtornos de desenvolvimento, habilidades especiais ou
superdotação devem ter acesso à educação básica e ao atendimento
especializado, com preferência de atendimento no ensino regular de ensino,
seguindo os princípios da educação inclusiva.
Para a efetivação da educação especial dentro do ambiente escolar,
em especial na sala de aula, onde se processa na prática o ensino
aprendizagem, muitos desafios precisam e devem ser superados. Como já foi
apresentado no corpo deste trabalho existe todo um respaldo legal que ampara
e define como deve acontecer essa implementação da educação especial
inclusiva, instituindo com a previsão de metas e estratégias que visam a
superação dos obstáculos ligados diretamente a questão arquitetônica das
escolas, falta de formação e qualificação dos professores, mudanças na
estrutura curricular e pedagógica da escola, relação escola-família, postura
pedagógica dos professores e da equipe escolar.
Os principais desafios para que a Educação Especial se concretize
dentro do ambiente escolar são: barreiras arquitetônicas, formação inicial e
continuada dos professores, concepção curricular e pedagógica das escolas,
ausência de recursos didáticos, pedagógicos e tecnológicos e postura
resistente de professores e pais. Todos os desafios que são encontrados no
ambiente escolar servem para de certa forma ajustar o que se está sendo feito,
corrigindo-se os erros e melhorando cada vez mais essa oferta.
10

Um dos principais desafios a ser superado ainda em relação à


educação especial inclusiva dentro da escola é a resistência dos educadores e
pais. De um lado professores que adotam uma postura defensiva, usando
como contraponto para sua dificuldade em atender as especificidades do aluno
com deficiência, devido sua má formação teórica e prática, o número excessivo
de aluno por turma, a capacidade do mesmo em executar as atividades
propostas, a falta de materiais didáticos e pedagógicos, entre tantas outras
desculpas. Por outro lado, temos pais dos alunos que devido a falta de
conhecimento e o preconceito não aceitam que seus filhos estudem em sala
juntamente com um aluno com deficiência por acreditar que o rendimento da
turma irá ser prejudicado.
Nesse sentido Glat (1995 apud Artioli, 2006, p. 2) expõe o pensamento
de ainda existente:

Podem existir leis determinando que os estabelecimentos de ensino


aceitem matrículas de alunos com deficiência, mas não existe
legislação que possa determinar que as pessoas devam aceitar e ter
um contato mais próximo com eles. (GLAT, 1995 APUD ARTIOLI,
2006, P. 2).

Esse aceitar o outro com suas limitações e possibilidades, em especial


na sala de aula regular é o desafio que se impõe a ser superado por inúmeros
professores que se colocam despreparado para atender com equidade o aluno
com deficiência, deixando-o na maioria das vezes, de lado na sala de aula,
apenas sob os cuidados de outra pessoa, sem lhe oferecer a oportunidade de
aprender e conviver.
Apesar do avanço no número de matrículas de alunos com deficiência
no ensino regular, incluídos nas classes comuns, o que demanda dos
professores um melhor preparo para atendê-los, verifica-se na prática que os
mesmos não estão preparados pedagógica e metodologicamente para
desempenhar o papel de educar na diversidade, pois falta aos cursos de
formação de professores um melhor aprofundamento sobre a educação
especial nas questões que implicam diretamente na inclusão e não apenas na
caracterização patológica de cada deficiência.
Nesse aspecto Daniela Alonso, especialista em educação inclusiva, em
artigo publicado na Nova Escola Digital (2013), destaca essa lacuna nos cursos
de formação de professores ao relatar que:
11

O programa curricular dos cursos de formação de professores prioriza


o estudo das deficiências quanto às suas caracterizações e condições
específicas. Esse programa mantém o modelo conhecido da
Educação especial, que sobrepõe a formação do especialista à
formação do professor comum. (NOVA ESCOLA DIGITAL, 2013).

Entende-se com base na afirmação acima que os cursos tem como


foco fazer o professor conhecer a deficiência e não como trabalhar em sala
com o aluno com deficiência. Importa-se em formar um professor especialista
que conheça as espeficidades de cada deficiência, focando o ensino no limite
do atendimento e não nas possibilidades de fazer esse aluno avançar.
Neste sentindo Bueno (1999, p. 15) já constatava que:

(...) na medida em que, por um lado, os professores do ensino regular


não possuem preparo mínimo para trabalharem com crianças que
apresentam deficiências evidentes e, por outro lado, grande parte dos
professores do ensino especial tem muito pouco a contribuir com o
trabalho pedagógico desenvolvido no ensino regular, na medida em
que têm calcado e construído sua competência nas dificuldades
especificas do alunado que atende (...) (BUENO 1999, P. 15).

Corroborando com o que foi exposto acima se verifica que o professor


do atendimento especializado foca nas dificuldades e limitações do aluno com
deficiência atendido na sala de recurso, deixando de oferecer ao professor da
turma regular o suporte pedagógico necessário ao trabalho com o aluno com
deficiência.
A formação continuada com foco na educação inclusiva, quando
acontece também foco o debate nas características e problemas de cada
deficiência. Não existe uma preocupação em debater o que é possível fazer
para o aluno avançar em um trabalho diferenciado que inclua todos da turma.
O que se percebe e que mesmo com tantas formações, cursos de
especialização, oficinas, seminários e debates, que ainda não se há uma
efetiva participação dos professores, a formação não depende somente do
chefe imediato não, depende de o professor querer.
Garantir a acessibilidade, em especial de locomoção do aluno com
deficiência no espaço escolar, é um grande desafio para a escola, visto que
não depende exclusivamente dela, uma vez que fazer as adaptações na
infraestrutura física e material depende de recursos financeiros.
Almeida (2015) ao falar sobre a acessibilidade arquitetônica expõe a
importância de superação desse desafio ao colocar que:
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A acessibilidade arquitetônica de espaços físicos é essencial para a


efetiva participação e autonomia de pessoas com necessidades
especiais como deficiências visuais e de locomoção, em diferentes
contextos relevantes como casa e escola. A acessibilidade dos
ambientes escolares é ainda componente fundamental para a
inclusão escolar de crianças com diversas condições de saúde,
notadamente aquelas com déficits de mobilidade uma vez que a
participação escolar da criança com disfunção depende de sua
interação dinâmica e recíproca com o ambiente (ALMEIDA, ET AL.
2015, P. 75).

Considerando o exposto acima se pode dizer que dentro da escola a


inclusão do aluno com deficiência depende da adequação dos espaços físicos
e materiais para que possa ter acessibilidade de locomoção, integração,
interação e participação ativa em todas as atividades propostas.
Além de promover uma transformação na adaptação da estrutura física
e material da escola, outro desafio a ser superado é a instituição de um projeto
pedagógico inclusivo que demonstre não somente no papel a vocação
pedagógica e curricular em realmente promover a inclusão do aluno com
deficiência com os demais alunos da unidade escolar.
Essa exigência de mudanças na concepção curricular e pedagógica
das escolas foi enfatizada no Artigo 15 da Resolução do Conselho Nacional de
Educação de 2001, que institui as DNEE - Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica.

Art. 15. A organização e a operacionalização dos currículos escolares


são de competência e responsabilidade dos estabelecimentos de
ensino, devendo constar de seus projetos 37 pedagógicos as
disposições necessárias para o atendimento às necessidades
educacionais especiais de alunos, respeitadas, além das diretrizes
curriculares nacionais de todas as etapas e modalidades da
Educação Básica, as normas dos respectivos sistemas de ensino.
(CNE, 2001, P. 4).

Fica claro que é no projeto pedagógico que a escola coloca a sua


intencionalidade e reafirma seu compromisso de ofertar uma educação de
qualidade e equitativa. Contudo, preciso expressar isso por meio da
implementação de um currículo que englobe atividades que contribua para o
desenvolvimento e participação de todos os alunos. Incluindo-se nesse rol os
com deficiência.
Considerando-se que a inclusão do aluno com deficiência na escola
regular é um direito assegurado em lei e que o mesmo deve dispor da mesma
13

igualdade de atendimento que os demais e levando em conta as espeficidades


e diversidade de cada tipo de deficiência faz-se necessário a escola dispor de
recursos materiais, didáticos e tecnológicos que permita ao professor em sala
de aula prover um ensino inclusivo.
Para a existência de uma educação especial inclusiva, conforme
preconizada na legislação nacional é necessária conforme apontado no item
anterior a superação de vários desafios que perpassam pela formação do
professor, mudanças no currículo e projeto pedagógico da escola, na postura e
concepções de professores e pais, na adaptação física e material que garanta
a acessibilidade e a liberação de recursos financeiros para aquisição de
materiais didáticos e tecnológicos. Como se percebe os desafios são muitos e
superá-los é preciso.
Para a Nova Escola Digital (2013) maneira de amenizar esses desafios
é a escola ter pleno conhecimento de que:

Não basta receber a matrícula de alunos com deficiência, é preciso


que ofereça condições para a operacionalização de um projeto
pedagógico inclusivo. A inclusão deve garantir a todas as crianças e
jovens o acesso à aprendizagem por meio de todas as 38
possibilidades de desenvolvimento que a escolarização oferece.
(Nova Escola Digital, 2013).

Para que a escola tenha um projeto pedagógico inclusivo é necessário


que conheça as leis que respaldam o direito da pessoa com deficiência, bem
como o que está estabelecido no plano de metas para a educação do seu
estado ou município, para que esteja cobrando a destinação dos recursos
necessários a acessibilidade arquitetônica e a aquisição de materiais didáticos
e tecnológicos.
Outra forma de amenizar a situação é estimular que os professores
busquem a qualificação profissional, por meio da formação inicial ou em cursos
de pósgraduação com foco na educação especial inclusiva, bem como
desenvolver na escola um plano de formação continuada que permita aos
professores refletirem sobre a educação inclusiva, metodologias e práticas
pedagógicas diferenciadas para atendimento ao aluno com deficiência.
Uma atitude que configura mudança na postura dos professores em
relação a inclusão do aluno com deficiência na sala comum é focar nas suas
14

competências, ou seja, no que ele pode desenvolver em parceria com os


demais alunos, sempre respeitando seu ritmo e tempo de aprendizagem.
A escola como coletivo deve promover debates reflexivos com seus
profissionais, alunos e pais em torno da educação especial inclusiva a fim de
vencer as resistências e quebrar os preconceitos existentes. Esses momentos
de estudo e reflexão devem acontecer de forma continuada como forma de
aperfeiçoamento profissional, visando sempre à superação das dificuldades e o
progresso do aluno incluído.
A superação dos desafios ligados a inclusão do aluno com deficiência
no ensino regular é algo que acontece dia após dia, de maneira sutil, sempre
partindo das experiências e vivências que vai se adquirindo com o fazer
pedagógico, na interação com esses alunos e seus familiares.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para a realização do presente artigo definiu-se a pesquisa de cunho


bibliográfico em artigos, monografias e leis afim de fazer uma abordagem
descritiva sobre a Educação Especial e seus desafios.
Visando fazer uma fundamentação teórica consistente buscou-se nos
trabalhos de Sassaki (1998); Carvalho (2015) e Bueno (1999) os aportes
necessários para abordar a temática da Educação Especial, ampliando o
entendimento do assunto a partir da análise da legislação vigente: Constituição
Federal, Leis de Diretrizes e Bases da Educação e Plano Nacional de
Educação.
Adotou-se para a realização deste trabalho a pesquisa de revisão
bibliográfica em documentos legais como: Constituição Federal do Brasil, Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei nº 9.394/1996, Base
Nacional Comum Curricular – Educação Infantil e Ensino Fundamental,
pareceres e portarias do Ministério da Educação - MEC que regulamentação a
Educação Especial, bem como em artigos, monografias e livros que retratam
os avanços e desafios da efetivação da Educação Especial no ambiente
escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
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A realização desse artigo permitiu aprofundar numa temática


extremamente relevante no meio educacional, que apesar de ser assegurada
como um direito, ainda se constitui como um desafio a ser superado: a
verdadeira inclusão do aluno com deficiência no ensino regular.
Quando a legislação resguardou o direito de incluir o aluno com
deficiência no ensino regular, sobreveio uma série de desafios para que isso se
efetivasse na prática, pois não bastava colocar o aluno integrado aos demais,
sem condições de atendê-lo nas suas especificidades e necessidades.
A inclusão verdadeira como um processo contínuo e que precisa dia a
dia ser aperfeiçoado por meio das experiências e vivências forjadas no chão da
escola, requer das autoridades competentes e da escola mudanças no
atendimento ao aluno deficiência.
É possível afirmar que a escola atual ainda consegue segregar o aluno
com deficiência, quando o recebe e o deixa isolado em um canto da sala, sem
permitir a ele a oportunidade de desenvolver suas competências e conviver de
igual para igual com os demais alunos nas atividades programadas. Isso
implica numa mudança de concepção curricular e pedagógica de um ensino
regular para um ensino regular inclusivo.
No contexto da educação especial inclusiva assegurada em lei, não é
possível a existência de uma escola homogênea, que faça acepção de pessoas
por causa da sua deficiência. Nesse processo, a escola precisa-se desenvolver
um projeto pedagógico inclusivo que contemple práticas e atividades rotineiras
de inclusão alinhadas ao atendimento especializado das salas de recursos
multifuncionais.
Isso condiciona a necessidade de um aperfeiçoamento do professor
quer por meio de especialização na área da educação especial, quer por meio
da participação continua em programas de formação continuada que visam não
somente oferecer conhecimento das características das deficiências, mas sim
ofertar a possibilidade de debater e refletir a partir do fazer pedagógica que
acontece na sala de aula, trocando experiências e fortalecendo o processo
ensino aprendizagem inclusivo.
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REFERÊNCIAS

ARTIOLI, Ana Lucia. A educação do aluno com deficiência na classe comum: a visão
do professor. Psicol. Educ. n.23 São Paulo dez. 2006.
BRASIL. Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica.
MEC SEESP, 2001

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília: Senado Federal, 1988.

______. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez.
1996.

______. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF:


MEC, 2017. Disponível em: Acesso em: 1 junho. 2019.

BUENO, J.G. Crianças com necessidades educativas especiais, política


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Revista Brasileira de Educação Especial, vol.3, n.5, 7-25, 1999.

CARVALHO, Rosita Edler. Educação Inclusiva com os Pingos nos Is. 2. ed.
Porto Alegre: Mediação, 2005.

SASSAKI, Romeu Kazumi. Integração e Inclusão: do que estamos falando?


Temas sobre Desenvolvimento, v.7, n.39. 1998.

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