02 Fundamentos Educacao Especial
02 Fundamentos Educacao Especial
02 Fundamentos Educacao Especial
Ao final do século XIX e início do século XX, sob uma concepção segregacionista, surgiram as
instituições de internação e asilamento de todos que tinham sequelas físicas ou mentais.
Na década de 1950 foram criadas as escolas especiais de atendimento exclusivo aos alunos
com deficiência, então chamados de excepcionais. Posteriormente, as disposições da LDB (Lei
4.024/1961) apontavam o direito dos excepcionais à educação, preferencialmente no sistema
geral de ensino.
A Constituição Federal do Brasil de 1988, assim como outros documentos oficiais, consoante
com a demanda humana e social por inclusão das pessoas com necessidades especiais nas
diversas instâncias sociais, preconiza o acesso e a permanência dessa população nas escolas
regulares.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN (Lei 9.394/1996) define que o
atendimento educacional especializado deve ser oferecido preferencialmente na rede regular
de ensino para os educandos com necessidades educacionais especiais, devendo assegurar-
lhes “currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender
às suas necessidades”.
Ao regulamentar o Capítulo V – Educação Especial da LDB em vigor, o Conselho Nacional de
Educação, por meio da Resolução 2/2001, determinou a obrigatoriedade dos sistemas de
ensino quanto à matrícula de todos os alunos, cabendo às escolas se organizar para o
atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as
condições necessárias para uma educação de qualidade para todos.
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Dessa forma, em oposição ao paradigma da integração, a inclusão escolar implica a
organização das escolas no sentido de apresentar as condições necessárias para suprir as
necessidades educacionais de todos os alunos em um ambiente pedagógico acolhedor e
diversificado, contribuindo assim de maneira significativa para o seu desenvolvimento
cognitivo, desiderativo, social e psicomotor.
A Convenção da Guatemala (1999, p. 3), promulgada no Brasil pelo Decreto 3.956/01, reafirma
que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais
que as demais pessoas, definindo discriminação como toda diferenciação, exclusão ou
restrição baseada em deficiência, antecedente de deficiência, consequência de deficiência
anterior ou percepção de deficiência presente ou passada que tenha o efeito ou propósito de
impedir ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de
deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades fundamentais.
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No tocante à educação, a Convenção das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos da pessoa
com deficiência, publicada em 2006 e ratificada no Brasil em 2008 (DOU de 10/07/2008), pelo
Decreto Legislativo 186, que confere à Convenção equiparação à Constituição Federal/1988,
aponta que os Estados parte reconhecem o direito das pessoas com deficiência à educação.
Para efetivar esse direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os
Estados parte assegurarão sistema educacional inclusivo em todos os níveis, bem como o
aprendizado ao longo da vida.
Para a realização desse direito, os Estados parte assegurarão
1. Que as pessoas com deficiência não sejam excluídas do sistema educacional geral sob
alegação de deficiência e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do
ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob alegação de
deficiência; (...)
2. Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam adotadas em ambientes que
maximizem o desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão
plena.
Corroborando com esses fundamentos, a Secretaria de Educação Especial do Ministério da
Educação publicou, em janeiro de 2008, a Política Nacional de Educação Especial na
perspectiva da Educação Inclusiva, objetivando:
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A Educação Especial, na perspectiva da educação inclusiva, define sua atuação junto ao ensino
regular prevendo o emprego de procedimentos didático-pedagógicos e a disponibilização de
materiais e equipamentos específicos, assim como o atendimento educacional especializado,
que promovam a aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais.
Faz-se necessária, portanto, uma política educacional de qualidade, em que todos os alunos
recebam o apoio particular requerido por suas necessidades individuais de aprendizagem, com
vistas à educação inclusiva, cujo desenvolvimento viabiliza a ampliação da democracia social.
No decorrer dos últimos anos, constatou-se, por intermédio dos Censos Escolares do
MEC/INEP, o aumento do número de alunos com necessidades educacionais especiais
matriculados nas escolas e o aumento do total de alunos incluídos nas classes comuns e
consequentes avanços em sua escolarização e em todas as áreas do seu desenvolvimento
humano.
Apesar dos vários movimentos, no decorrer dos anos, na luta pelos direitos das pessoas com
deficiência, ainda vemos perpetuar na sociedade manifestações (veladas e reveladas) de
preconceito e discriminação relacionados a essas pessoas.
Iniciativas públicas e privadas da Educação Especial foram e ainda são marcadas por uma
concepção assistencialista, protecionista e caritativa que dificultam o processo de inclusão dos
alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns das escolas regulares.
Permanece ainda a ideia equivocada de incapacidade desses alunos para aprender e avançar
na escolarização.
Sob os pontos de vista legal, educacional, político e filosófico, o direito à inclusão desses
sujeitos parece estar assegurado, mas a sociedade precisa dar consistência entre o seu
discurso legal e a sua prática social.
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González (1997) chama atenção para o fato de que são poucos os professores que, motivados
por um processo de autorreflexão, procuram vias para confrontar suas representações e
desenvolver capacidades ou características pessoais que lhe permitam enfrentar com sucesso
os desafios da educação do alunado que requer educação especial junto com os demais
alunos. Segundo o autor, existe a tendência dominante de restringir o processo educativo a
um conjunto de saberes, recursos, estratégias e ações, não levando em conta a relevância da
intersubjetividade entre os professores e esse alunado.
Contrapondo-se a todos esses desafios, Monteiro e Castro (1997) verificaram em seus estudos
que os adultos portugueses entendem que o convívio com a criança deficiente pode aumentar
a autoestima da criança não deficiente, diversificar sua experiência, ampliar suas competências
sociais e fazer com que aprenda a respeitar as diferenças.
Outras pesquisas dão conta dos benefícios para as pessoas com deficiência a partir da
convivência, trocas, interações com as pessoas não deficientes que vão para além da
aprendizagem formal/escolar. São experiências valiosas e imensuráveis, pois interferem na
personalidade, na subjetividade, nos valores, nas crenças, no senso crítico, na cultura,
permitindo a essas pessoas ampliar seus horizontes, desejos, sonhos e planos para o futuro. É
dada a elas a oportunidade de aprender a se proteger, a se defender, a lidar e superar
frustrações e perceber que as outras pessoas, com ou sem deficiência, experimentam todas
essas adversidades, que fazem parte da vida.
Apenas a educação não pode mudar o destino das crianças com necessidades especiais ou
daquelas que são marginalizadas, assim como não pode mudar, sozinha, o destino de
ninguém, mas a introdução das diferenças sociais (pobres e ricos, negros e brancos, deficientes
e não deficientes) na escola e em todo o convívio social pode ajudar a atenuar a violência
social existente, expressada sob forma de discriminação. Para eliminar a discriminação
precisaríamos mudar a estrutura de nossa sociedade, posto que ela imanentemente gera
violência; para atenuá-la, medidas educacionais são importantes (Adorno, 1995, p. 119-138).
Para concluir, pensamos ser a escola um espaço privilegiado, um terreno fértil para introduzir
e fortalecer a ideia da inclusão dos alunos com deficiência, de maneira a estender às famílias e
aos outros grupos sociais essa nova concepção e esse novo paradigma.