1029-Texto Do Artigo-4109-1-10-20190307

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Resumo: Este artigo pretende discutir alguns aspectos

importantes ligados a afetividade como um fator


A DIMENSÃO DA AFETIVIDADE NA importante no relacionamento entre professor e
aluno e o ambiente de aprendizagem caracterizado
RELAÇÃO PROFESSOR/ALUNO pela responsabilidade de uma docência envolvendo o
professor em sua totalidade. Nossa discussão volta-se
para o Ensino Superior como uma instância onde a
empatia, a confiança e a afetividade entre professore e
aluno também é um processo fundamental.
Palavras-chave: Ensino Superior, Afetividade, Docência.

THE DIMENSION OF AFFECTIVENESS IN Abstract: This article discusses some important


aspects related to affective as an important factor
PROFESSOR/ STUDENT RELATIONSHIP in the relationship between teacher and student
and learning environment characterized by the
responsibility of teaching involving the teacher in its
entirety. Our discussion turns to higher education
as an instance where empathy, trust and affection
between teacher and student is also a fundamental
process.
Keywords: Higher education, Affection, Teaching.
Silvana Lovera Silva 1

Possui Graduação em Letras, Licenciatura Plena em Língua 1


Portuguesa, Língua Inglesa e Respectivas Literaturas (1993) (Fecivel/Cascavel/
PR-Unioeste). Mestrado em Letras /Teoria Literária e Literatura Comparada
(2000) (Unesp/Assis/SP). Especialista em Docência no Ensino Superior (2007)
(Univel/Cascavel/PR). Professora da Universidade Estadual do Tocantins
(Unitins) no Curso de Letras (UAB), Curso de Direito.
E-mail: [email protected]
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Introdução
Na antiguidade a produção de conhecimento tinha uma concepção diferente, era realizada
entre os indivíduos de forma bastante natural e informal. Segundo Rossini (2003, p35), os indivíduos
se encontravam em diversas situações, conversavam, discutiam, trocavam experiências, e com isso
automaticamente ensinavam uns aos outros aquilo que sabiam compartilhavam através de suas
experiências cotidianas e significativas, sempre procurando novos conhecimentos e experimentos
para dar respostas as suas necessidades da época.
A sociedade foi se modificando, a complexidade das transformações sociais, econômicas,
culturais e principalmente por causa da velocidade com que os conhecimentos e as informações
ganharam dimensões diversas alterando a realidade da educação em todos os âmbitos do processo
de ensino-aprendizagem.
Com o avanço da globalização, exigiu-se uma nova forma de socialização entre as pessoas.
“O mundo globalizado exige uma socialização cada vez mais intensa do ser humano, que deve ser
cada vez mais bem equipado intelectualmente e preparado emocionalmente para conviver em
harmonia com seu grupo social” (ROSSINI, 2003, p. 8).
Com o mundo da globalização as relações sociais se ampliaram exigindo das pessoas uma
maior aproximação, promovendo uma interação no cotidiano.
Diante dessas mudanças sociais de forma cada vez mais acelerada a educação deve realizar
uma leitura dessa realidade para que possa preparar seus educandos para os desafios que estão
postos frente a valores éticos, morais e espirituais, pois a escola não pode andar na contramão
dessa nova realidade social que a humanidade vive no mundo de hoje.
Encontramos na literatura a utilização de vários termos quanto à conceituação dos
fenômenos afetivos como as categorias afeto, emoção e sentimentos. Cada um tem seu significado
dentro do comportamento humano.
Engelmann (1978) ao realizar uma revisão terminológica em relação às variações semânticas,
ao longo do tempo, das palavras, emoções, sentimentos, estados de ânimo, paixão, afeto e estudos
afetivos, em diversos idiomas (francês, inglês, alemão, italiano e português), esperava conseguir
clarear e precisar as peculiaridades de significado de cada termo que, às vezes, são usados como
sinônimos. Tinha a intenção de corrigir o caráter vago e a inadequação de uso, em muitos casos.
A afetividade seria uma das primeiras manifestações afetivas do ser humano, suas
características no decorrer de seu desenvolvimento, bem como suas relações sociais,
desempenhando um papel fundamental da construção do conhecimento vinculado aos interesses
e necessidades individuais.
Meios de ação sobre as coisas circundantes, razão porque
a satisfação das suas necessidades e desejos tem de ser
realizada por intermédio das pessoas adultas que a rodeiam.
Por isso, os primeiros sistemas de reação que se organizam
sob a influência do ambiente, as emoções, tendem a realizar,
por meio de manifestações consoantes e contagiosas, uma
fusão de sensibilidade entre o individuo e o seu entourage
(WALLON, 1968, p.262).

Contudo a afetividade envolve uma concepção mais ampla, envolvendo várias manifestações
como sentimento e emoções. É com o aparecimento desde sentimento afetividade que ocorre às
transformações das emoções.

A Afetividade entre Professor e Aluno


Considerando que a afetividade na relação professor e aluno ocorrem em decorrência de
interações sucessivas, são a partir dessas relações que ambos adquirem novas formas de pensar e
agir e, dessa forma constrói-se novos conhecimentos.
Dentro dessa concepção trabalhada pelos autores já citados percebe-se que a afetividade
faz parte de todo o individuo como uma fonte geradora de energia e força que nos acompanha
desde o nascimento até a morte.
O adulto que constrói uma boa relação afetiva consegue adquirir segurança e equilíbrio com
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maior equilíbrio, passando a ter interesse pela realidade e com isso passa a realizar com maior
habilidade uma leitura do contexto que está inserido apresentando uma melhor compreensão e
um melhor desenvolvimento intelectual.
Existe uma ligação complementar entre o desenvolvimento afetivo e o intelectual, sendo que
a área intelectual apresenta as formas de cada etapa da afetividade, controla a atividade pessoal
na esfera das ações, da vontade, da memória, de pensamento, na instintiva complementando o
equilíbrio e harmonia da personalidade.
Diante dessa dinâmica Vygostski (1994) trabalha numa visão voltada essencialmente para a
importância das interações sociais, trazendo a ideia que a aprendizagem ocorre a partir da intensa
relação social entre os indivíduos. Portanto, o autor trabalha destacando a importância do outro
tanto no processo de construção de conhecimento quanto na constituição do próprio sujeito e de
sua maneira de pensar e agir com o meio social.
Na verdade, são as experiências vivenciadas com outras
pessoas é que irão marcar e conferir seus objetos afetivo,
determinando, dessa forma, a qualidade do objeto
internalizado. Nesse sentido, pode-se supor que, no processo
de internalização, estão envolvidos não só os aspectos
cognitivos, mas também os afetivos (TASSONI, 2005, p. 02).

No âmbito familiar temos caracterizados os primeiros vínculos afetivos que se inicia entre
os indivíduos. É a partir da relação com o outro, através do vinculo afetivo que, nos primeiros anos
de vida, que primeiramente envolve a relação pai-mãe-filho. Portanto, esse vínculo afetivo entre a
criança e o adulto estabelece a sustentação à etapa inicial do processo ensino aprendizagem.
No decorrer, do desenvolvimento, os vínculos afetivos vão
ampliando-se e a figura do professor surge com grande
importância na relação de ensino e aprendizagem, na época
escolar. Para aprender, necessitam-se dois personagens
(ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre
ambos. (...) Não aprendemos de qualquer um, aprendemos
daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar
(FERNÁNDEZ, 1991, pp. 47-52).

Todo o processo de ensino aprendizagem está impregnado de afetividade, considerando as


interações sociais neste contexto, especificamente, na relação entre alunos, professores, conteúdo
escolar. Portanto, existe uma base afetiva embasando essas relações, conforme assevera Tassoni
(2005, p03)
As experiências vividas em sala de aula ocorrem
inicialmente, entre os indivíduos envolvidos, no plano
externo (interpessoal). Através da mediação, elas vão
se internalizando (intrapessoal), ganham autonomia
e passam a fazer parte da historia individual. Essas
experiências também são afetivas. Os indivíduos
internalizam as experiências afetivas com relação a um
objeto específico
As relações sociais fazem parte do cotidiano, são engrenagens fundamentais no
desenvolvimento pessoal e profissional de um indivíduo. Portanto, a análise da afetividade na
relação professor-aluno envolve interesse e interações, pois a educação é uma das peças mais
importante e fundamental que agrega valores na vida humana. Segundo Gadotti (1999, p. 02):
[...] o educador para pôr em prática o diálogo, não deve
colocar-se na posição de detentor do saber, deve antes,
colocar-se na posição de quem não sabe tudo, reconhecendo
que mesmo um analfabeto é portador do conhecimento mais
importante: o da vida.
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Nesta relação o professor deve ultrapassar os limites somente do conhecimento do


conteúdo/informações, e preocupar-se com o processo de construção da cidadania do aluno.
Portanto, para que isso aconteça, é necessária à sensibilização e comprometimento do professor
de que seu papel é de facilitador de aprendizagem, procurando compreender, numa relação de
afetividade, os sentimentos, a história da vida dos seus alunos e tentar promover à autonomia
social.
A relação professor e aluno em sala de aula é expressa pela relação que o professor tem com
a sociedade e com cultura. Abreu; Masetto (1990 p. 115) afirmam que
...é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do que
suas características de personalidade que colabora para uma
adequada aprendizagem dos alunos; fundamenta-se numa
determinada concepção do papel do professor, que por sua
vez reflete valores e padrões da sociedade.

Considerando a importância da relação de afetividade, empatia, confiança e respeito entre


a relação professores e alunos em sala de aula no Ensino Superior que se desenvolva o processo
de ensino aprendizagem Siqueira (2005 p. 01) afirma que os educadores não podem permitir que
tais sentimentos interfiram no cumprimento ético de seu dever de professor. Assim, situações
diferenciadas adotadas com um determinado aluno (como melhorar a nota deste, para que ele não
fique de recuperação), apenas norteados pelo fator amizade ou empatia, não deveriam fazer parte
das atitudes de um “formador de opiniões”.
Sobretudo, a afetividade na relação entre professor e aluno depende, especificamente, do
ambiente estabelecido pelo professor, da relação de aceitação/empatia com seus alunos, de sua
capacidade de ouvir, interagir e discutir. Essa relação se complementa entre o conhecimento do
professor e do aluno.
Porque a afetividade é a base da vida. Se o ser humano não
está bem afetivamente, sua ação como ser social estará
comprometida, sem expressão, sem força, sem vitalidade. Isto
vale qualquer área da atividade humana, independentemente
de idade, sexo, cultura (ROSSINI, 2001, p. 16).

O professor deve estar aberto às mudanças diante das transformações sociais, econômica,
cultural, educacionais, buscando educar para a autonomia, para a liberdade, enfocando o lado
positivo dos alunos e para a formação de um cidadão consciente de suas obrigações e de suas
responsabilidades sociais.
Os postulados de Vygotsky parecem apontar para a necessidade de criação de uma escola
bem diferente da que conhecemos. Uma escola em que as pessoas possam dialogar, duvidar, discutir,
questionar e compartilhar saberes. Onde há espaço para transformações, para as diferenças, para
o erro, para as contradições, para a colaboração mútua e para a criatividade. Uma escola em que
os professores e alunos tenham autonomia, possam pensar, refletir sobre seu próprio processo de
construção de conhecimento e ter acesso a novas informações.
A afetividade na relação professor e aluno vem se alterando e, segundo Borges (1995, p.02),
os professores deverão valorizar mais os alunos, ou seja, o professor deverá assistir o aluno além do
conteúdo que deve aplicar. É importante considerar que esse processo não significa que o professor
abandonará seus conteúdos, pois somente aqueles professores que adquirem habilidades e
competências de seu conhecimento sobre seus conteúdos é que são capazes de se libertarem dos
mesmos, para efetivamente, voltar-se um olhar para as necessidades de seus alunos.
Assim, o professor deverá valorizar seu aluno incentivando que o mesmo avance em seu
processo de ensino aprendizagem, onde o aluno possa construir e reconstruir, elaborar e reelaborar
seu conhecimento considerando a sua habilidade e seu ritmo e, nesta dinâmica, a afetividade
poderá ampliar e implementar o processo educativo nesta relação professor e aluno.
Segundo Borges (1995, p. 03) deve-se considerar os procedimentos metodológicos
voltado a atingir a aprendizagem dos alunos, encontrando uma aproximação entre o processo
cognitivo e emocional, bem como conhecer e observar a história de vida do educando, buscando,
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principalmente nos conceitos de afetividade, uma abertura para a cidadania. Isso levará o professor
a uma dinâmica maior na produção do conhecimento e não apenas como transmissor deste.
O professor usando a afetividade poderá gerar e gerenciar uma grande quantidade de
informação e conhecimento, trabalhando nesta dinâmica vai conseguir atingir um resultado maior
dentro da produção de conhecimento. Ainda conforme Abreu; Masetto(1990, p.115)
...é o modo de agir do professor em sala de aula, mais do
que suas características de personalidade que colabora para
uma adequada aprendizagem dos alunos. O modo de agir do
professor em sala de aula fundamenta-se numa determinada
concepção do papel do professor, que por sua vez reflete
valores e padrões da sociedade

A relação de afetividade entre professor e aluno deve se dar num ambiente (clima) que facilite
ao aluno adquirir os conhecimentos. Para facilitar o aprendizado do aluno, os professores segundo
os mesmos autores, devem adquirir, desenvolver algumas habilidades que são: “autenticidade”,
“apreço ao aprendiz” e “compreensão empática”.
Para Abreu; Masetto (1990, p. 120) esta relação entre professor e aluno
1. Favorece situações em classe nas quais o aluno se sente à
vontade para expressar seus sentimentos.
2. Faz com que a composição dos grupos de estudo varie no
decorrer do curso.
3. Tenta evitar que poucos alunos monopolizem a discussão.
4. Compartilha com a classe na busca de soluções para
problemas surgidos com o próprio professor, como o curso ou
entre alunos.
5. Expressa aprovação pelo aluno que ajuda colegas a atingires
os objetivos do curso.
6. Respeita e faz respeitar diferenças de opinião, desde que
sejam opiniões bem fundamentadas.
7. Expressa aprovação pelo aluno que toma iniciativa, desde
que estas contribuam para o crescimento da classe.
8. Usa vocabulário que é claramente compreendido pelo
aluno.

A análise na relação de afetividade entre professor e aluno, indica que neste contexto,
fundamentalmente depende, do clima que o professor estabelece, da relação de empatia do
professor frente os seus alunos e, contudo, a disposição do ambiente interativo, desafiador e
inovador que busca modificar o processo do ensino aprendizagem neste contexto de sala de aula.
Portanto, o professor do século XXI é aquele que ensina o aluno a aprender e a ensinar a
outrem o que aprendeu e essa relação deve se dar numa dinâmica de afetividade onde o professor
promove o acesso a informação para que o aluno possa a caminhar com liberdade de expressão e,
consequentemente esse momento que irá se consolidar o aprender-ensinar-aprender.

A Afetividade em Sala de Aula


Atualmente o professor precisa desenvolver habilidades que possibilitem uma melhor
adaptação às novas culturas e aos novos padrões de conduta social. Além disso, o acelerado
processo de globalização em que se encontra o mundo insere o homem em um ambiente de alta
competitividade e seletividade. Nesse contexto, a relação professor-aluno representa um esforço
a mais na busca da praticidade, afetividade e eficiência no preparo do educando para a vida, numa
redefinição do processo ensino aprendizagem.
Deste modo cada professor deve ter bem definido o seu papel nesse contexto social, onde a
relação professor-aluno passa a ser alvo de pesquisas, na busca do diálogo, do livre debate de ideias,
da interação social e da redução da importância do trabalho individualizado. A relação professor-
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aluno ultrapassa os limites profissionais, escolares, de bimestres e de ano letivo. Na verdade, é


uma relação que deixa marcas, e que deve sempre buscar a afetividade e o diálogo como forma de
construção do espaço escolar.
Ser professor não é tarefa fácil, requer amor e habilidade, pois professor não é aquele que
simplesmente transmite o conhecimento. De acordo com Paulo Freire (1996, p. 47), “... ensinar não
é transmitir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”.
Portanto ser professor é criar possibilidades.
Segundo Içami Tiba, (1998. p.105) mostra que o relacionamento professor-aluno melhora
muito quando o aluno inverte o papel com o professor. É uma maneira de o aluno sentir-se com
o poder daquele que fala que explica. Além do mais, é supereducativo, pois o aluno passa a
respeitar o professor. Alguns professores sentem que seu relacionamento com os alunos determina
o clima emocional da sala de aula. Esse clima poderá ser positivo, de apoio ao aluno, quando o
relacionamento é afetuoso, cordial. Neste caso, o aluno sente segurança, não teme a crítica e a
censura do professor. Ao realizar uma prova ou apresentar um trabalho o aluno se sente mais
confiante.
Na relação ensino-aprendizagem em sala de aula a afetividade vem a ser um fator relevante
de interação do docente, pessoa e profissional com a pessoa do aluno em sala de aula. Para
Grillo (2004, p.79-80), nenhum professor é professor isoladamente, mas sempre num encontro
com a individualidade de cada aluno, a qual constrói a heterogeneidade de um grupo. Toda
essa heterogeneidade torna mais contingente a dimensão pessoal e se expressa de forma mais
concreta na relação professor-aluno acentuando a responsabilidade do professor e a conduta da
afetividade aliada ao compromisso de auxiliar na construção do conhecimento do aluno. Gauthier
(1998) ao abordar o relacionamento entre professor e aluno ressalta a importância de que nesta
relação fique bem clara a razão primeira da presença de aluno e professor na sala de aula: que é a
pratica educativa, traduzida em ensino e em aprendizagens cognitivas e afetivas, estimulando-se
ao mesmo tempo, uma formação que possibilite ao aluno “aprender a conhecer aprender a fazer,
aprender a conviver e aprender a ser”.
Desta forma a afetividade como um fator importante no relacionamento entre professor
e aluno e o ambiente de aprendizagem caracteriza que a docência envolve o professor em sua
totalidade. Sua pratica é resultado do saber, do fazer e principalmente do ser, significando um
compromisso comigo mesmo, com a sociedade e sua transformação.
Buscar uma resposta pronta para a afetividade no relacionamento entre professor e aluno
seria ilusório e inútil, pois as situações de sala de aula reúnem tantas especificidades como ensino,
aprendizagem, relacionamentos interpessoais resultando num interjogo de afetividade, valores,
diferenças, o que exige “também muito de sensibilidade e intuição do professor para fazer a leitura
precisa do que está ocorrendo no momento exato”. Assim na relação professor-aluno a afetividade
pode ser destacada como um fator que contribuirá para a riqueza da intenção levando ao respeito
às diferenças no que tange a conhecimento prévio, tempo de cada aluno, área de formação,
oportunidades para o exercício do crítico.
Gadotti (1989, p.11) aponta para as expectativas dos alunos que vão além das técnicas e dos
conteúdos a serem passados, mas existe uma busca maior pelo afeto a ternura e o acolhimento.
Ainda que não saiba ou que não revele, o aluno sente prazer numa prática que articula processos
cognitivos e processos vitais, pois no dizer de Assmann, se aprende não só com o cérebro, mas
com o coração. Não se tem a pretensão de colocar em segundo plano um conteúdo organizado
e necessário ao aluno, mas de incluir no ensino acadêmico novas categorias como as que ele cita
Gadotti (1989, p.11) “o quotidiano, a fala, o entorno, a singularidade, o vivido (...), a reinvenção da
utopia, da paixão, da escuta e até das lágrimas” estes aspectos englobam a afetividade.
Trabalhar a afetividade proporciona ao aluno perceber valores como: liberdade, honestidade,
fidelidade, responsabilidade, autonomia pessoal, compreensão, amizade, criatividade, crítica
construtiva, alguns de tantos aspectos fundamentais para o ensino-aprendizagem em sala de aula.
Para Masdevall (2003, p.44), educar, etimologicamente, vem de dirigir e para dirigir deve-
se exercer uma ação de condução, para o que é necessária uma disciplina, que por sua vez não
deve ser entendida apenas no sentido de normas impostas, mas sim com o objetivo claro de
ajudar os alunos a serem mais livres. Neste aspecto afetividade pode ser um fator importante no
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cumprimento dessa tarefa.

Considerações Finais
Espera-se que com este trabalho alguns esclarecimentos tenham sido feitos, principalmente
em relação a grande importância da Afetividade como fator libertador na relação entre professor e
aluno no Ensino Superior.
A Afetividade deve ser vista como um fator fundamental na aprendizagem e no
estabelecimento de elos sociais sólidos e maduros, não unicamente para o ensino básico,
fundamental e médio, mas de muita relevância e urgência no Ensino Superior.
Os estudos e pesquisas mostraram que estamos no caminho correto e que o Ensino Superior
também carece de um aprimoramento no relacionamento entre professor e aluno na forma de uma
Afetividade que liberta e que produz cidadãos mais responsáveis e maduros nos relacionamentos
sociais e basicamente em toda a sua construção e solidificação da personalidade. Temos assim,
um processo ensino-aprendizagem que conduz um professor mediador das relações sociais, como
peça importante para a empatia com a disciplina em sua relação madura com o aluno, fazendo com
que o conhecimento seja partilhado construindo conteúdos mais práticos e vivenciais, aliando a
qualidade ao gosto pela disciplina e ao respeito pelo entre o professor e o aluno.
Percebemos que a Afetividade faz parte do todo do indivíduo como uma fonte geradora de
energia e força que nos acompanha desde o nascimento até a morte. Portanto é também no Ensino
Superior, tendo o professor como um aliado e mediador de conteúdos que são repassados através
de um relacionamento de afetividade que o aluno, na sua passagem de jovem a vida adulta, terá na
construção de uma boa relação afetiva adquirido mais confiança, segurança e equilíbrio, passando
a ter interesse pela realidade e com isso a realizar com maior habilidade uma leitura do contexto
no qual está inserido apresentando uma melhor compreensão e um melhor desenvolvimento
intelectual.
Para tanto, o professor também deve estar com sua maturidade afetiva bem desenvolvida
e aliada ao aspecto intelectual, no qual no relacionamento entre professor e aluno, torna-se de
suma importância. Pois, conforme os autores citados no decorrer do trabalho, a área intelectual
apresenta as formas de cada etapa da afetividade, controlando a atividade pessoal na esfera
das ações, da vontade, da memória, do pensamento, na instintiva completando o equilíbrio e a
harmonia da personalidade.
Portanto, o processo Ensino-Aprendizagem em sala de aula no Ensino Superior, deve estar
impregnado de Afetividade, considerando as interações sociais neste contexto, especificamente, na
relação entre alunos, professores e conteúdo.

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Recebido em 3 de dezembro de 2018.


Aceito em 22 de fevereiro de 2019.

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