Anjos 1998

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 10

Distribuição dos valores do índice de massa

corporal da população brasileira até 25 anos


Luiz Antonio dos Anjos,1 Gloria Valeria da Veiga 2
e Inês Rugani Ribeiro de Castro 3

RESUMO O presente artigo apresenta a distribuição em percentis do índice de massa corporal da popu-
lação jovem brasileira. As medidas de massa corporal e estatura de crianças e jovens de ambos
os sexos, do nascimento até os 25 anos, foram obtidas a partir da Pesquisa Nacional sobre Saúde
e Nutrição realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pelo Instituto Na-
cional de Alimentação e Nutrição em 1989, com o objetivo de descrever o estado de saúde e nu-
trição da população brasileira. Os valores do índice de massa corporal levantados pela pesquisa
tendem a decrescer na faixa etária de 1 a 6 anos, mantêm-se estáveis até cerca de 8 anos e au-
mentam progressivamente, até se estabilizarem por volta de 19 a 20 anos para mulheres e 20 a
21 anos para homens. A pesquisa também revelou que as meninas apresentam valores de índice
de massa corporal superiores aos dos meninos a partir dos 12 anos, bem como maiores diferenças
entre valores de percentis extremos (percentil 3 e 97). A comparação com dados de outros países
revelou que, em linhas gerais, o padrão de evolução do índice de massa corporal no Brasil
assemelha-se ao encontrado na França, Grã-Bretanha e Estados Unidos. As crianças e jovens
brasileiros apresentam valores médios de índice de massa corporal semelhantes aos norte-
americanos até os 6 anos e inferiores a partir dos 7 anos. A comparação entre a evolução da
mediana do índice de massa corporal em crianças e adolescentes brasileiros e britânicos revelou
valores sempre inferiores para as meninas brasileiras. Em relação à França, o índice de massa
corporal da população masculina brasileira é sistematicamente menor a partir dos 8 anos. Os
dados aqui apresentados podem servir para acompanhamento de tendências e comparações entre
estudos; seu uso para fins de triagem e monitoramento clínico é desaconselhável, dada a ampla
variação individual no processo de crescimento e desenvolvimento durante a adolescência.

1 Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde A adolescência é uma fase caracteri- tores genéticos e étnicos passam a ser
Pública, e Universidade Federal Fluminense, Facul- zada por alterações morfológicas, fisio- os principais fatores de influência so-
dade de Nutrição, Departamento de Nutrição
Social. Correspondência e pedidos de separatas
lógicas, psicológicas e sociais intensas e bre o desenvolvimento, contrastando
devem ser enviados para este autor no seguinte complexas, nas quais a nutrição desem- com a infância, em que se destacam os
endereço: Escola Nacional de Saúde Pública, Fun- penha um importante papel (1). É du- fatores ambientais. Como resultado,
dação Oswaldo Cruz, Rua Leopoldo Bulhões, 1480,
Manguinhos, CEP 21041-210, Rio de Janeiro, RJ, rante a adolescência, por exemplo, que existem enormes variações entre indi-
Brasil. Correio eletrônico: [email protected]. o indivíduo adquire aproximadamente víduos e populações em relação ao iní-
fiocruz.br 25% de sua estatura final e 50% de sua cio, duração, seqüência e magnitude
2 Universidade Federal Fluminense, Faculdade de
Nutrição, Departamento de Nutrição e Dieté- massa corporal (2). Alterações impor- dos eventos pubertários, principal-
tica, RJ, Brasil. Atualmente na Universidade Fe- tantes também ocorrem na composição mente entre 10 e 14 anos (3). A idade
deral do Rio de Janeiro, Instituto de Nutrição,
Departamento de Nutrição Social e Aplicada,
corporal, caracterizadas por depósito cronológica, portanto, perde parte de
RJ, Brasil. maior de gordura em meninas e de sua importância como condicionante
3 Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Insti- massa muscular em meninos (3, 4). do crescimento e desenvolvimento e dá
tuto de Nutrição, Departamento de Nutrição So-
cial e Aplicada e Secretaria Municipal de Saúde do Além da rapidez com que estas mu- lugar à maturação sexual como prin-
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. , RJ, Brasil. danças ocorrem, na adolescência os fa- cipal variável, traduzida pelo desen-

164 Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 3(3), 1998


volvimento das características sexuais maturação sexual em que se encontra segunda fase, 36 domicílios (em mé-
secundárias (5, 6). Adolescentes da o adolescente. Entretanto, são escassos dia) foram sorteados para cada setor,
mesma idade e gênero, com a mesma os estudos populacionais sobre com- totalizando 14 455 domicílios investi-
massa corporal e estatura, podem atra- posição corporal associada à matura- gados, com dados sobre 63 213 brasi-
vessar fases idênticas de seu desen- ção sexual (16, 17). leiros de todas as idades (19).
volvimento em momentos diferentes. O objetivo do presente trabalho é A casuística do presente trabalho
Dessa forma, os critérios antropométri- apresentar a distribuição do IMC da compreendeu todos os indivíduos com
cos para avaliação nutricional na ado- população brasileira desde o nasci- até 25 anos de idade, não portadores
lescência são mais complexos do que mento até os 25 anos. Nosso intuito é de deficiência física que prejudicasse a
os critérios para avaliar crianças meno- contribuir para a discussão sobre ava- avaliação de estatura e massa corporal.
res de 10 anos, sobre os quais existe liação nutricional dos adolescentes As mulheres grávidas foram elimi-
consenso (7–9). brasileiros, na perspectiva de auxiliar nadas da análise. No total, dados de
A avaliação antropométrica do es- na construção de curvas nacionais que 16 641 e 17 135 pessoas do sexo femi-
tado nutricional de adolescentes em possam ser utilizadas em estudos po- nino e masculino, respectivamente, fo-
estudos populacionais ainda é tema de pulacionais para acompanhamento de ram analisados.
grande polêmica na literatura. Con- tendências e comparação com outros Além das medidas antropométricas
corda-se, porém, que é fundamental a países. de massa corporal e estatura, núcleo
avaliação da composição corporal (10) central da PNSN, foram coletadas, em
com incorporação do estagiamento questionários padronizados, informa-
maturacional (3). Com relação à ava- MATERIAIS E MÉTODOS ções sobre características demográ-
liação antropométrica, tem-se suge- ficas básicas e de saúde. Todas as
rido desde adaptações de curvas ame- O presente estudo é do tipo descri- informações foram coletadas nos do-
ricanas da relação massa corporal para tivo. O trabalho apresenta a distribui- micílios por duplas de entrevistadores
estatura (11) até a utilização de pon- ção dos valores de IMC da população treinados (antropometrista e anota-
tos de corte a partir da distribuição brasileira com base nos resultados dor). O IMC foi calculado pela divisão
do índice de massa corporal (IMC) na da Pesquisa Nacional sobre Saúde e do valor da massa corporal em quilo-
população (12). Nutrição (PNSN), realizada pelo Insti- gramas pelo quadrado da estatura em
Em países em desenvolvimento, tuto Brasileiro de Geografia e Estatís- metros (IMC = kg/m2). O IMC é uti-
além do diagnóstico de obesidade, tica (IBGE) e pelo Instituto Nacional de lizado largamente na avaliação do es-
persiste o desafio do diagnóstico de Alimentação e Nutrição (INAN) em tado nutricional de adultos por vários
deficiência energética que leva a qua- 1989. Tratou-se de um levantamento motivos: 1) sua alta correlação com a
dros de desnutrição (13). No caso des- nacional com amostra probabilística massa corporal e indicadores de com-
tes países, não é recomendável o uso da população brasileira, cujo objetivo posição corporal; 2) sua capacidade
de dados de massa corporal e estatura central foi descrever o estado de saúde de predizer riscos de patologias (20); e
— nem de índices destas medidas, e nutrição da população no seu con- 3) a não necessidade de se usar dados
como o índice de massa corporal — texto bio-socioeconômico. Para tanto, de referência antropométricos no diag-
obtidos a partir de estudos feitos em utilizou-se uma amostragem com- nóstico do estado nutricional, isto é,
países desenvolvidos. Isto se aplica plexa, de base domiciliar, cujos âmbi- utiliza-se um ponto de corte fixo ao in-
particularmente aos adolescentes, de- tos de análise foram as cinco grandes vés de um valor de distribuição popu-
vido à grande variação na estatura regiões geográficas brasileiras (Norte, lacional (por exemplo, um indivíduo
atingida durante esta fase, influen- Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste) com IMC > 30 apresenta um determi-
ciada por fatores genéticos e ambien- e as situações urbana e rural de cada nado risco relacionado à obesidade;
tais (14). Em países em desenvolvi- região, com exceção do Norte rural, não é necessário procurar em tabelas
mento, grandes proporções de jovens por problemas operacionais. Portanto, de distribuição de massa corporal o
apresentam baixa estatura, muitas ve- nove âmbitos foram analisados (18). valor de massa “ideal” para a sua esta-
zes como conseqüência de agravos Na primeira etapa da amostragem tura e em que proporção este valor
nutricionais na infância (15). Portanto, da PNSN, os nove âmbitos da pes- estaria acima de um valor teórico
utilizar como parâmetro os valores de quisa foram estratificados em três ní- “ideal”) (13). No presente trabalho,
IMC obtidos de populações cujos jo- veis socioeconômicos através de in- percentis selecionados de IMC foram
vens alcançam seu potencial genético formações de renda domiciliar média calculados, por sexo e faixa etária. Os
de crescimento pode levar a erros na do setor demográfico e da taxa de alfa- percentis selecionados foram os tradi-
avaliação nutricional. É necessário betização da população de 5 a 15 anos, cionalmente utilizados em estudos de
desenvolver uma metodologia antro- baseadas em projeções dos dados do distribuição de valores antropométri-
pométrica que avalie a relação entre censo nacional de 1980. Para cada es- cos populacionais.
massa corporal e estatura e que leve trato foram sorteados 18 setores cen- O programa estatístico SAS (21) foi
em consideração tanto um possível sitários, totalizando 54 setores em cada utilizado para o cálculo dos percen-
déficit estatural quanto o momento da âmbito e 486 em todo o país. Em uma tis não suavizados e dos valores mé-

Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 3(3), 1998 165


TABELA 1. Distribuição dos valores do índice de massa corporal (kg/m2) da população feminina brasileira em função da faixa etária,
Brasil, 1989a

Percentis
Faixa etária
(anos) No. 3 5 15 25 50 75 85 95 97

0 – 0,9 672 12,0 12,8 14,5 15,2 16,7 18,1 18,8 20,2 20,8
1 – 1,9 760 13,4 14,0 15,1 15,8 16,7 17,9 18,4 19,7 20,4
2 – 2,9 672 13,7 14,3 15,0 15,5 16,4 17,4 18,0 19,2 19,7
3 – 3,9 766 13,6 13,8 14,7 15,2 15,9 16,9 17,5 19,1 19,5
4 – 4,9 708 13,2 13,5 14,3 14,7 15,5 16,4 16,9 18,0 18,7
5 – 5,9 737 13,1 13,2 14,0 14,5 15,3 16,3 17,0 18,3 19,0
6 – 6,9 764 13,0 13,3 14,0 14,4 15,1 16,1 16,7 18,2 19,2
7 – 7,9 819 13,1 13,3 14,0 14,4 15,3 16,4 16,9 18,3 19,5
8 – 8,9 718 13,2 13,5 14,2 14,7 15,6 16,7 17,4 19,6 20,2
9 – 9,9 802 13,2 13,5 14,4 14,8 15,8 17,0 17,8 19,6 20,8
10 – 10,9 776 13,5 13,8 14,6 15,1 16,3 17,6 18,6 21,0 22,3
11 – 11,9 768 13,6 14,1 15,1 15,6 16,8 18,6 19,8 22,8 23,8
12 – 12,9 757 14,4 14,7 15,7 16,4 17,9 19,6 20,9 23,4 24,6
13 – 13,9 713 15,2 15,4 16,7 17,4 19,0 21,1 22,2 24,3 25,6
14 – 14,9 699 15,6 16,1 17,3 18,3 20,0 21,9 23,3 26,0 27,2
15 – 15,9 615 16,7 17,1 18,3 19,0 20,6 22,5 23,6 26,0 27,6
16 – 16,9 652 16,9 17,4 18,7 19,4 21,1 23,1 24,3 26,6 27,6
17 – 17,9 589 17,0 17,6 18,7 19,7 21,4 23,5 24,6 27,7 28,8
18 – 18,9 577 17,2 17,6 18,9 19,6 21,5 23,5 24,6 28,2 29,0
19 – 19,9 536 17,3 17,8 19,1 19,9 21,7 23,9 25,2 27,8 29,0
20 – 10,9 547 16,8 17,6 18,9 19,6 21,6 23,4 24,6 27,3 29,3
21 – 21,9 538 17,6 18,0 19,0 19,6 21,5 23,7 25,4 29,1 30,7
22 – 22,9 499 17,4 18,0 19,0 19,8 21,6 23,9 25,6 29,2 31,0
23 – 23,9 480 17,4 17,8 19,0 20,0 21,8 24,0 25,4 28,0 29,7
24 – 24,9 477 17,3 17,7 19,1 20,0 21,8 24,0 25,4 29,1 30,6
Total 16 641
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, 1989.

dios por sexo e faixa etária. A opção melhantes entre meninos e meninas; e 23.° ano (13,6 UIMC), respectiva-
WEIGHT foi utilizada de forma a até os 8 anos estes valores são ligeira- mente. Esta maior amplitude nos valo-
incluir o fator de expansão da amostra, mente inferiores para meninas. Dos 10 res de IMC para o sexo feminino pode
calculada como inverso da probabili- aos 19,9 anos, as meninas sistematica- ser visualizada pela comparação das
dade de seleção dos elementos (domi- mente apresentam valores mais altos. figuras 1 e 2.
cílios ou pessoas). A diferença entre os valores medianos
(percentil 50), que é de 0,2 unidades de
IMC (UIMC) no 11.° ano de vida, al- DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
RESULTADOS cança 1,7 UIMC na faixa de 14 a 14,9
anos. Esta diferença decresce no pe- O aumento dos valores de IMC ao
A distribuição dos valores de IMC ríodo subseqüente e chega a 0,5 UIMC longo da adolescência pode ser inter-
de crianças e jovens brasileiros de na faixa de 19 a 19,9 anos. pretado como um marcador de ama-
ambos os sexos, de 0 a 25 anos, obtidos A comparação entre os valores dos durecimento orgânico que expressa
na PNSN, está apresentada nas tabelas percentis (P) extremos (3 e 97), para aumento na proporção tronco/mem-
1 e 2 e ilustrada, para percentis sele- ambos os sexos (tabela 3), revela que, bros, na massa corporal, na estatura e
cionados, nas figuras 1 e 2. Observa-se até os 10 anos, a diferença entre o P 97 nas alterações da composição corporal.
que os valores de IMC decrescem de 1 e o P 3 alcança, no máximo, 9,2 UIMC. As diferenças sexuais no ritmo de
a 6 anos, mantêm-se estáveis até cerca A partir de então, as meninas apresen- amadurecimento, como a precocidade
dos 8 anos, voltam a aumentar até o tam diferenças sempre maiores do que feminina em relação aos estagiamen-
fim da faixa etária estudada e se esta- os meninos. Para meninos, a menor e a tos maturacionais (22, 23), explicam o
bilizam em torno dos 19 ou 20 anos maior diferenças ocorrem no 11.° ano padrão encontrado nas curvas brasi-
para mulheres e dos 20 ou 21 anos de vida (7,5 UIMC) e no 25.° ano (12 leiras, onde os valores medianos para
para homens. UIMC), respectivamente; enquanto meninas, que são sistematicamente su-
Até os 11 anos, aproximadamente, que, para meninas, a menor e a maior periores aos valores encontrados para
os valores medianos de IMC são se- diferenças ocorrem no 11.° (8,8 UIMC) meninos entre 12 e 20 anos, apresen-

166 Anjos et al. • Valores do índice de massa corporal da população brasileira até 25 anos
TABELA 2. Distribuição dos valores do índice de massa corporal (kg/m2) da população masculina brasileira em função da faixa etária,
Brasil, 1989 a

Percentis
Faixa etária
(anos) No. 3 5 15 25 50 75 85 95 97

0 – 0,9 685 12,6 13,0 14,8 15,7 17,4 18,7 19,4 20,9 21,8
1 – 1,9 768 14,2 14,6 15,6 16,2 17,1 18,2 18,9 20,0 20,4
2 – 2,9 701 14,5 14,7 15,5 15,8 16,7 17,7 18,2 19,3 19,9
3 – 3,9 776 13,6 14,2 15,0 15,4 16,2 17,1 17,6 18,6 19,2
4 – 4,9 754 13,5 13,9 14,6 15,1 15,8 16,7 17,2 18,4 18,7
5 – 5,9 767 13,3 13,6 14,3 14,8 15,5 16,4 16,9 18,5 20,0
6 – 6,9 835 13,3 13,6 14,3 14,7 15,4 16,3 16,9 18,0 18,8
7 – 7,9 879 13,4 13,5 14,2 14,6 15,5 16,3 16,9 18,6 20,0
8 – 8,9 803 13,4 13,7 14,3 14,8 15,6 16,6 17,2 18,5 20,0
9 – 9,9 767 13,4 13,7 14,5 15,0 15,9 16,9 17,5 19,6 21,2
10 – 10,9 780 13,7 14,1 14,8 15,2 16,1 17,1 18,0 20,0 21,2
11 – 11,9 782 13,9 14,3 15,1 15,6 16,5 17,6 18,7 21,3 22,4
12 – 12,9 721 14,1 14,5 15,4 15,9 16,9 18,2 19,1 22,0 23,1
13 – 13,9 732 14,8 15,1 16,0 16,5 17,7 19,2 20,1 21,9 23,4
14 – 14,9 742 15,1 15,4 16,4 17,1 18,3 19,8 20,8 22,4 23,4
15 – 15,9 616 15,5 15,7 17,2 17,8 19,1 20,7 21,7 23,8 24,7
16 – 16,9 689 16,2 16,6 18,0 18,6 19,8 21,5 22,5 24,1 24,8
17 – 17,9 596 16,8 17,2 18,4 19,1 20,4 21,8 22,6 24,3 25,0
18 – 18,9 624 17,3 17,8 19,1 19,6 21,0 22,4 23,3 25,1 25,7
19 – 19,9 542 17,9 18,1 19,2 19,8 21,2 22,9 23,8 25,7 27,4
20 – 20,9 478 17,9 18,4 19,6 20,3 21,7 23,1 24,1 25,8 26,7
21 – 21,9 578 18,1 18,5 19,7 20,5 21,8 23,2 24,0 26,5 27,6
22 – 22,9 541 18,0 18,4 19,7 20,5 21,9 23,6 24,9 26,9 27,8
23 – 23,9 477 18,4 18,8 19,8 20,6 22,0 23,7 24,6 26,9 27,8
24 – 24,9 502 18,1 18,6 19,9 20,6 22,4 24,2 25,4 28,5 30,1
Total 17 135
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, 1989.

FIGURA 1. Percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m2) da população


feminina brasileira em função da idade, 1989a

30
29 P 95
28
27
26 P 85
Índice de massa corporal (kg/m2)

25
24
23
22 P 50
21
20
19 P 15
18 P5
17
16
15
14
13
12
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Idade (anos)
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição, 1989.

Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 3(3), 1998 167


FIGURA 2. Percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m2) da população tam diferenças cada vez maiores até os
masculina brasileira em função da idade, 1989a 15 anos — período de maior contraste
entre os dois sexos —, decrescendo
30 depois, à medida em que os estagia-
29 mentos de meninos e meninas se
28 P 95 aproximam.
27 Quanto à comparação com estudos
26 de outros países, pode-se observar
P 85
Índice de massa corporal (kg/m2)

25 que, em linhas gerais, o padrão de evo-


24 lução do IMC, no Brasil, assemelha-se
23 ao encontrado na França (24), Grã-
P 50
22 Bretanha (25, 26) e Estados Unidos
21 (27–30): queda dos valores entre 1 e 6 a
20 P 15
8 anos de idade; a partir daí, aumento
19 constante do IMC, pelo menos até 18
P5
18
anos, que é a idade passível de com-
17
paração entre quatro dos cinco estudos
16
(os dados do estudo realizado na Grã-
15
Bretanha vão somente até os 15 anos).
14
Embora estes estudos tenham sido
13
realizados em diferentes épocas e não
12
apresentem metodologia idêntica (por
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
exemplo, há diferenças no desenho
Idade (anos)
— longitudinal ou transversal — e nas
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional características amostrais) àquela utili-
sobre Saúde e Nutrição, 1989.
zada em nosso estudo, eles podem ser
utilizados na comparação entre os per-
fis globais de cada país (tabelas 4–6).
Por exemplo, a comparação entre a
TABELA 3. Valores de percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m2 ) por evolução da mediana do IMC em
faixa etária das populações masculina e feminina, Brasil, 1989 a
crianças e adolescentes brasileiros e
Meninas (1) Meninos (2) (1) – (2) em crianças e adolescentes britânicos
Faixa etária (tabela 4), revela que, entre meninas,
(anos) P 97 P3 P 97 – P 3 (a) P 97 P3 P 97 – P 3 (b) a–b
os valores são sempre inferiores para
0 – 0,9 20,8 12,0 8,8 21,8 12,6 9,2 0,4 a população brasileira, com diferenças
1 – 1,9 20,4 13,4 7,0 20,4 14,2 6,2 0,8 que aumentam até o 12.° ano de vida e
2 – 2,9 19,7 13,7 6,0 19,9 14,5 5,4 0,6 decrescem depois. Em relação aos me-
3 – 3,9 19,5 13,6 5,9 19,2 13,6 5,6 0,3
4 – 4,9 18,7 13,2 5,5 18,7 13,5 5,2 0,3
ninos, os valores passam a ser menores
5 – 5,9 19,0 13,1 5,9 20,0 13,3 6,7 0,8 a partir do 6.° ano; as diferenças são
6 – 6,9 19,2 13,0 6,2 18,8 13,3 5,5 0,7 cada vez maiores até o 10 .° ano e se
7 – 7,9 19,5 13,1 6,4 20,0 13,4 6,6 0,2 estabilizam em torno de 1 UIMC até o
8 – 8,9 20,2 13,2 7,0 20,0 13,4 6,6 0,4 16.° ano de vida.
9 – 9,9 20,8 13,2 7,6 21,2 13,4 7,8 0,2
10 – 10,9 22,3 13,5 8,8 21,2 13,7 7,5 1,3
Já em relação ao estudo logitudinal
11 – 11,9 23,8 13,6 10,2 22,4 13,9 8,5 1,7 do Fels (30) pode-se notar que, entre
12 – 12,9 24,6 14,4 10,2 23,1 14,1 9,0 1,2 a população feminina, os valores mé-
13 – 13,9 25,6 15,2 10,4 23,4 14,8 8,6 1,8 dios de IMC brasileiros assemelham-
14 – 14,9 27,2 15,6 11,6 23,4 15,1 8,3 3,3 se aos resultados obtidos através do
15 – 15,9 27,6 16,7 10,9 24,7 15,5 9,2 1,7
16 – 16,9 27,6 16,9 10,7 24,8 16,2 8,6 2,1 primeiro modelo matemático usado
17 – 17,9 28,8 17,0 11,8 25,0 16,8 8,2 3,6 no estudo norte-americano e são sem-
18 – 18,9 29,0 17,2 11,8 25,7 17,3 8,4 3,4 pre superiores aos do segundo modelo
19 – 19,9 29,0 17,3 11,7 27,4 17,9 9,5 2,2 apresentado. Entre a população mas-
20 – 20,9 29,3 16,8 12,5 26,7 17,9 8,8 3,7
culina, os valores brasileiros são maio-
21 – 21,9 30,7 17,6 13,1 27,6 18,1 9,5 3,6
22 – 22,9 31,0 17,4 13,6 27,8 18,0 9,8 3,8 res do que os dois modelos aos 6 anos.
23 – 23,9 29,7 17,4 12,3 27,8 18,4 9,4 2,9 Aos 12 e 18 anos os valores de IMC
24 – 24,9 30,6 17,3 13,3 30,1 18,1 12,0 1,3 para os meninos brasileiros estão em
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional
situação intermediária em relação aos
sobre Saúde e Nutrição, 1989. dois modelos.

168 Anjos et al. • Valores do índice de massa corporal da população brasileira até 25 anos
TABELA 4. Valores medianos do índice de massa corporal (kg/m2) das populações brasi- Ainda em relação aos norte-
leira e britânica, distribuídos por faixa etária e sexo americanos, os brasileiros apresentam
valores médios de IMC semelhantes
População brasileiraa População britânicab até os 6 anos e inferiores a partir dos 7
Faixa etária
(anos)c Meninos Meninas Meninos Meninas anos. Esta diferença chega a 2,1 UIMC
para a faixa etária de 10 a 11 anos para
3 – 3,9 16,2 15,9 16,2 16,0
4 – 4,9 15,8 15,5 15,8 15,7 o sexo feminino (tabela 5) e 2,7 UIMC
5 – 5,9 15,5 15,3 15,6 15,6 para a faixa etária de 15 a 16 anos para
6 – 6,9 15,4 15,1 15,7 15,7 o sexo masculino (tabela 6). Para a
7 – 7,9 15,5 15,3 16,0 16,1 faixa de 1 a 19 anos (percentis e idades
8 – 8,9 15,6 15,6 16,3 16,4
passíveis de comparação entre os dois
9 – 9,9 15,9 15,8 16,7 16,9
10 – 10,9 16,1 16,3 17,1 17,5 estudos), as diferenças entre P 95 e P 5
11 – 11,9 16,5 16,8 17,5 18,1 são inferiores entre os americanos até 4
12 – 12,9 16,9 17,9 18,0 18,9 a 5 anos e, depois, são geralmente su-
13 – 13,9 17,7 19,0 18,7 19,7 periores; a maior diferença entre os
14 – 14,9 18,3 20,0 19,4 20,5
15 – 15,9 19,1 20,6 20,1 21,3
percentis é de 5 UIMC (tabelas 7 e 8).
Entre meninas, a maior diferença é
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional verificada na faixa etária de 9 a 10 anos
sobre Saúde e Nutrição, 1989.
b Referência 21. (27).
c As faixas de idade no estudo britânico foram relativas ao meio de cada intervalo, por exemplo: para o intervalo de 3 a 3,9
Em relação à França (24) os valores
anos, o estudo britânico considerou a faixa de 3,5 anos.
da população feminina brasileira são
bastante semelhantes até os 16 anos e
levemente superiores a partir desta
idade (UIMC > 1). Já os dados da po-
pulação masculina brasileira apresen-
tam valores sistematicamente infe-
TABELA 5. Valores médios do índice de massa corporal (kg/m2) por faixa etária das popu- riores a partir dos 8 anos, com uma
lações femininas brasileira, francesa e norte-americana diferença entre 0,2 e 0,8 UIMC.
Faixa etária Brasil a Estados Unidos b França c Estados Unidos d
Um dado não disponível que seria
interessante comparar é a idade a par-
0 – 0,9 16,8 17,4 tir da qual o IMC se estabiliza, ou, pelo
1 – 1,9 17,0 16,2 16,1 menos, passa a aumentar em um ritmo
2 – 2,9 16,7 16,0 15,6
lento. Isto permitiria inferir se há di-
3 – 3,9 16,1 15,6 15,5
4 – 4,9 15,7 15,3 15,6 ferenças, em termos populacionais, na
5 – 5,9 15,7 15,3 / 14,7e 15,3 15,7 idade em que o crescimento termina.
6 – 6,9 15,4 15,4 16,1 No caso brasileiro, esta estabilização
7 – 7,9 15,7 15,6 16,4 parece ocorrer em torno dos 20 anos,
8 – 8,9 15,9 16,0 17,5
9 – 9,9 16,2 16,5 17,8
o que sugere ser esta a idade mínima
10 – 10,9 16,8 17,0 18,9 em que o IMC pode ser utilizado,
11 – 11,9 17,5 18,3 / 15,9 17,5 19,4 lançando-se mão dos limites de corte
12 – 12,9 18,5 18,4 20,1 sugeridos na literatura (13, 31).
13 – 13,9 19,4 19,3 21,1 Comumente, em publicações que
14 – 14,9 20,4 19,9 20,6
15 – 15,9 20,8 20,5 21,8
divulgam curvas de IMC produzidas
16 – 16,9 21,5 20,6 22,3 em estudos semelhantes ao nosso,
17 – 17,9 21,7 21,0 / 20,1 20,6 22,3 estimula-se o uso destas curvas como
18 – 18,9 22,1 20,8 22,5 referência para fins de triagem (sele-
19 – 19,9 22,1 20,9 ção, a partir de um ponto de corte, de
20 – 20,9 21,8 21,0
21 – 21,9 22,2 indivíduos ou grupos que apresentam
22 – 22,9 22,4 risco nutricional) e monitoramento
23 – 23,9 21,7 ambulatorial (26), geralmente de pes-
24 – 24,9 22,3 soas obesas (12). Embora tentador,
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional dada a grande escassez de instrumen-
sobre Saúde e Nutrição, 1989.
b Referência 30.
tos de avaliação antropométrica de
c Referência 24. adolescentes e a facilidade de opera-
d Referência 27.
cionalização do IMC, este tipo de apli-
e Valores obtidos através de dois modelos matemáticos diferentes. Idades não coincidem plenamente com os outros estudos.

Por exemplo, nas três faixas etárias deste estudo, utilizaram-se os valores referentes às idades 5,5 – 6,5; 11,5 – 12,5; e
cação de curvas de IMC deve ser rea-
17,5 – 18,5. valiado, por vários motivos.

Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 3(3), 1998 169


TABELA 6. Valores médios do índice de massa corporal (kg/m2) por faixa etária das popu-
lações masculinas brasileira, francesa e norte-americana

Faixa etária Brasil a Estados Unidos b França c Estados Unidos d

0 – 0,9 17,2 17,7


1 – 1,9 17,3 16,6 16,3
2 – 2,9 16,8 16,1 15,9
3 – 3,9 16,2 15,8 15,8
4 – 4,9 15,9 15,6 15,6
5 – 5,9 15,9 15,6 / 15,2e 15,5 16,0
6 – 6,9 15,6 15,6 16,0
7 – 7,9 15,7 15,9 16,6
8 – 8,9 16,0 16,2 16,8
9 – 9,9 16,2 16,6 18,0
10 – 10,9 16,5 16,9 18,7
11 – 11,9 16,9 18,4 / 16,4 17,4 18,8
12 – 12,9 17,3 18,0 19,6
13 – 13,9 18,1 18,7 20,2
14 – 14,9 18,8 19,6 20,8
15 – 15,9 19,4 20,0 22,1
16 – 16,9 20,2 20,7 21,7
17 – 17,9 20,4 22,2 / 21,3 21,1 22,7
18 – 18,9 21,0 21,3 23,0
19 – 19,9 21,4 21,8
20 – 20,9 21,9 22,1
21 – 21,9 22,1
22 – 22,9 22,3
23 – 23,9 22,2
24 – 24,9 22,6
a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição, 1989.
b Referência 30.
c Referência 24.
d Referência 27.
e Valores obtidos através de dois modelos matemáticos diferentes. Idades não coincidem plenamente com os outros estudos. Por

exemplo, nas três faixas etárias deste estudo, utilizaram-se os valores referentes às idades 5,5 – 6,5; 11,5 – 12,5; e 17,5 – 18,5.

TABELA 7. Valores de percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m 2) por faixa etária das populações femininas brasileira
e norte-americana a

Estados Unidos b Brasil c


Faixa etária
(anos) P 95 P5 P 95 – P 5 (a) P 95 P5 P 95 – P 5 (b) Estados Unidos – Brasil (a–b)

2 – 2,9 18,5 14,1 4,4 19,2 14,3 4,9 0,5


3 – 3,9 17,7 13,6 4,1 19,1 13,8 5,3 1,2
4 – 4,9 18,0 13,7 4,3 18,0 13,6 4,5 0,2
5 – 5,9 19,6 13,5 6,1 18,3 13,2 5,0 1,1
6 – 6,9 19,3 13,6 5,7 18,2 13,3 4,9 0,8
7 – 7,9 19,9 13,8 6,1 18,3 13,3 5,0 1,1
8 – 8,9 20,3 13,9 6,4 19,6 13,5 6,1 0,3
9 – 9,9 25,2 14,2 11,0 19,6 13,6 6,0 5,0
10 – 10,9 24,1 13,7 10,4 21,0 13,8 7,2 3,2
11 – 11,9 26,2 14,9 11,3 22,8 14,1 8,6 2,7
12 – 12,9 26,3 14,9 11,4 23,4 14,7 8,7 2,7
13 – 13,9 28,5 15,2 13,3 24,3 15,4 8,9 4,4
14 – 14,9 28,8 16,4 12,4 26,0 16,1 9,9 2,5
15 – 15,9 26,6 17,1 9,5 26,0 17,2 8,9 0,6
16 – 16,9 29,1 17,7 11,4 26,6 17,4 9,1 2,3
17 – 17,9 31,3 17,4 13,9 27,7 17,6 10,1 3,8
18 – 18,9 30,7 17,8 12,9 28,2 17,6 10,6 2,3
19 – 19,9 29,0 18,3 10,7 27,8 17,8 10,0 0,7
a Apresentadas só as faixas comuns aos dois estudos.
b Referência 27.
c Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, 1989.

170 Anjos et al. • Valores do índice de massa corporal da população brasileira até 25 anos
TABELA 8. Valores de percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m2) por faixa etária das populações masculinas brasileira
e norte-americana a

Estados Unidosb Brasil c


Faixa etária
(anos) P 95 P5 P 95 – P 5 P 95 P5 P 95 – P 5 Estados Unidos – Brasil (a–b)

2 – 2,9 18,4 14,4 4,0 19,3 14,7 4,6 0,6


3 – 3,9 17,8 14,2 3,6 18,6 14,2 4,4 0,8
4 – 4,9 18,1 14,0 4,1 18,4 13,9 4,5 0,4
5 – 5,9 18,0 13,7 4,3 18,6 13,6 4,9 0,6
6 – 6,9 21,1 14,0 7,1 18,0 13,6 4,4 2,7
7 – 7,9 19,8 13,7 6,1 18,6 13,6 5,1 1,0
8 – 8,9 20,8 13,7 7,1 18,5 13,7 4,8 2,3
9 – 9,9 21,8 13,7 8,1 19,6 13,8 5,8 2,3
10 – 10,9 24,4 14,6 9,8 20,1 14,1 5,9 3,9
11 – 11,9 26,4 14,8 11,6 21,3 14,3 7,0 4,6
12 – 12,9 25,0 15,0 10,0 22,0 14,5 7,5 2,5
13 – 13,9 24,8 15,9 8,9 21,9 15,1 6,8 2,1
14 – 14,9 25,1 16,6 8,5 22,5 15,5 7,0 1,5
15 – 15,9 26,6 16,8 9,8 23,8 15,8 8,0 1,8
16 – 16,9 28,0 18,1 9,9 24,1 16,7 7,5 2,4
17 – 17,9 28,3 17,8 10,5 24,3 17,2 7,1 3,4
18 – 18,9 29,9 18,1 11,8 25,1 17,8 7,3 4,7
19 – 19,9 30,2 18,8 11,4 25,7 18,1 7,6 3,8
a Apresentadas só as faixas comuns aos dois estudos.
b Referência 27.
c Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição, 1989.

Ao longo da adolescência, a com- portanto, obesos e desnutridos. Por- risco nutricional em adolescentes. Esta
posição corporal sofre intensas modi- tanto, não se pode afirmar que o per- tem sido dirigida para o diagnóstico de
ficações e, também, diferenciações fil encontrado equivale ao desejável obesidade ou sobrepeso. Atualmente,
entre meninos e meninas. Assim, um em termos de saúde, mas sim, que tem sido cada vez mais corrente suge-
mesmo valor de IMC, dependendo do equivale ao perfil de uma dada popu- rir os percentis 85 e 95 ou 90 e 95 de
gênero e do grau de maturação, terá lação num dado momento. Logo, não curvas nacionais (norte-americanas,
diferentes significados em termos de parece prudente inferir níveis de por exemplo) como pontos de corte
composição corporal e, por conse- risco nutricional a partir das curvas para sobrepeso e obesidade (12, 28, 29,
guinte, de risco nutricional. Fica rela- produzidas. 32, 33). Os principais questionamentos
tivizada, portanto, a validade deste ín- O segundo fator limitante refere-se em relação a estas proposições referem-
dice para os fins propostos (triagem e à ausência de associação do IMC ao se à pouca elucidação sobre a associa-
monitoramento ambulatorial). Para estagiamento de maturação sexual, ção entre as faixas superiores a estes
que a aplicação do IMC tenha vali- principal variável condicionante do percentis e o risco de adoecer. Por ou-
dade, os instrumentos construídos de- crescimento e desenvolvimento na ado- tro lado, apontam para o fato de que,
vem levar em conta as modificações e lescência. Como já comentamos, exis- em populações que tendem à obesi-
diferenciações acima citadas, que não tem variações individuais em relação dade, os valores de IMC correspon-
estão plenamente contempladas nas aos eventos pubertários. Por isto, o uso dentes a estes percentis podem ser
curvas construídas. Apesar do IMC ser destas curvas para fins de triagem e mais altos que o desejável em termos
semelhante entre os sexos durante a monitoramento pode levar a diagnós- de saúde. Na verdade, faltam informa-
adolescência, com valores levemente tico equivocado. Por exemplo: duas ções sobre a característica composicio-
superiores para a população feminina, meninas de 12 anos que apresentem o nal do aumento da massa corporal
os valores de dobras cutâneas variam, mesmo valor de IMC terão, a princípio, encontrada em várias populações e
aumentando com a idade nas meninas o mesmo diagnóstico antropométrico, sua relação com a morbi-mortalidade,
e diminuindo nos meninos (13). quando deveriam ter diagnósticos e principalmente entre adolescentes.
Além disso, há fatores limitantes prognósticos diferentes, dependendo Para desnutrição em crianças de até
para a adoção das curvas como refe- do seu estágio de maturação sexual. 10 anos e obesidade em adultos, a as-
rência: o primeiro diz respeito ao fato O terceiro argumento leva em conta sociação entre a antropometria e os
de a amostra estudada ser representa- a discussão sobre os pontos de corte a agravos à saúde são bem estabeleci-
tiva de toda a população, incluindo, serem adotados para a definição de dos. Para toda a população, os dados

Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 3(3), 1998 171


da PNSN evidenciam um quadro de FIGURA 3. Percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m2 ) das populações
ganho de estatura e massa corporal em femininas brasileira a e norte-americana b em função da idade
relação aos dados obtidos durante o
32
estudo nacional de despesas familiares
31
(ENDEF) realizado na década de 70 30
(14). Apesar disso, os valores do per- P 95 EUA
29
centil 95 do IMC da população adoles- 28 P 95 Brasil
cente brasileira são bastante inferiores 27

Índice de massa corporal (kg/m2)


aos da população norte-americana (fi- 26
guras 3 e 4). É de se esperar que os va- 25
lores para a população brasileira ten- 24
23
derão a aumentar e se aproximar dos
22
valores norte-americanos em alguns 21
anos, o que não parece desejável se o 20
incremento de IMC representar depo- 19 P 5 EUA
sição de gordura, como parece ocorrer 18 P 5 Brasil
na população americana (34, 35). 17
Em relação ao baixo peso, evento 16
15
importante de ser acompanhado na
14
realidade nacional, há discussão ama- 13
durecida somente para adultos com 12
sugestão de limites de corte para tal 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
fim (13). A mesma lógica de se usarem
Idade (anos)
os extremos superiores da distribuição
(P 85 e 95) poderia ser usada para se a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional
sobre Saúde e Nutrição, 1989.
estabelecer o baixo peso, nesse caso b Referência 27.
com os valores extremos inferiores (P
15 ou 5). No caso do P 5, as curvas
brasileiras e norte-americanas de IMC
se assemelham, principalmente para a
população feminina (figura 3). Fato FIGURA 4. Percentis (P) selecionados do índice de massa corporal (kg/m2) das populações
aparentemente semelhante pode ser masculinas brasileira a e norte-americana b em função da idade
observado nos estudos britânico e
32
francês (24, 25). Isto parece sugerir a 31
possibilidade de haver limites de corte 30 P 95 EUA
para baixo peso cujo uso poderia ser 29
universal. Evidentemente, mais estu- 28
dos são necessários, com incorporação 27
Índice de massa corporal (kg/m2)

do estagiamento maturacional e esta- 26 P 95 Brasil


belecimento da relação entre o IMC e 25
24
agravos à saúde, para que tais limites
23
de corte possam ser sugeridos. 22
As curvas apresentadas de distri- 21
buição de IMC da população entre 0 e 20
25 anos trazem uma primeira contri- 19 P 5 EUA
buição para o conhecimento da distri- 18 P 5 Brasil
buição deste índice na população bra- 17
16
sileira. Deve-se garantir, em estudos
15
futuros com adolescentes, a associação
14
da maturação sexual às medidas an- 13
tropométricas. O perfil encontrado ex- 12
pressa diferenças esperadas na matu- 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22
ração entre a população masculina e
Idade (anos)
feminina e assemelha-se, em linhas a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição, dados da Pesquisa Nacional
gerais, aos de estudos realizados na sobre Saúde e Nutrição, 1989.
França e nos Estados Unidos. b Referência 27.

172 Anjos et al. • Valores do índice de massa corporal da população brasileira até 25 anos
REFERÊNCIAS

1. Suárez A, Arguilles JM. Nutritional evalua- adultos: uma revisão da literatura. Rev Saude 26. Cole TJ, Freeman JV, Preece MA. Body mass
tion of adolescents: usefulness of anthropo- Publica 1992;26:431–436. index reference curves for the UK, 1990. Arch
metric indicators in the diagnosis of obesity. 14. Brasil, Ministério da Saúde, Instituto Nacional Dis Child 1995;73:25–29.
Acta Paediatr Hung 1986;27:303–310. de Alimentação e Nutrição (INAN). Perfil de 27. National Center for Health Statistics (NCHS).
2. Heald EP. Adolescent nutrition. Med Clin crescimento da população brasileira de 0 a 25 anos: Anthropometric reference data and prevalence of
North Am 1975;59(6):1329–1336. Pesquisa Nacional sobre Saúde e Nutrição. Brasí- overweight. DHHS Publication No (PHS) 87-
3. Duarte MFS. Maturação física: uma revisão da lia: INAN; 1990. 1688; 1987.
literatura, com especial atenção à criança bra- 15. Satyanarayana K, Krishna TP, Rao BSN. 28. Hammer LD, Kraemer HC, Darrel MW, Ritter
sileira. Cad Saude Publica 1993;9(supl 1):71–84. Effect of early childhood undernutrition and PL, Dornbusch SM. Standardized percentile
4. Malina RM. Adolescent growth and matura- child labour on growth and nutritional curves of body-mass index for children and
tion: selected aspects of current research. status of rural Indian boys around Hyde- adolescents. Am J Dis Child 1991;145:259–263.
Yearb Phys Anthropol 1978;21:63. barad. Hum Nutr Clin Nutr 1986;40(2): 29. Must A, Dallal GE, Dietz WH. Reference data
5. Tanner JM. Growth at adolescence. Oxford: 131–139. for obesity: 85th and 95th percentiles of body
Blackwell Scientific Publications; 1962. 16. Duarte MFS. Maturação física: uma revisão mass index (wt/ht2) and triceps skinfold
6. Saito MI. Desnutrição. Em: Coates V, Fran- da literatura, com especial atenção à criança thickness. Am J Clin Nutr 1991;53(4):839–846.
çoso LA, Beznos GW, eds. Medicina do adoles- brasileira. Cad Saude Publica 1993;9(supl 30. Siervogel RM, Roche AF, Guo S, Mukherjee D,
cente. São Paulo: Sarvier; 1993:59–65. 1):71–84. Chumlea WC. Patterns of change in weight/
7. Habicht JP, Martorell R, Yarbrough C, Malina 17. Forbes GB. Human body composition: stature from 2 to 18 years: findings from long-
RM, Klein RE. Height and weight standards Growth, aging, nutrition and activity. New term serial data for children in the Fels lon-
for preschool children: How relevant are eth- York: Springer-Verlag; 1987. gitudinal growth study. Int J Obes 1991;15:
nic differences in growth potential? Lancet 18. Fletcher PR [documento mimeografado]. 479–485.
1974;1(858):611–614. Pesquisa nacional sobre saúde e nutrição — plano 31. Anjos LA. O índice de massa corporal só deve
8. Waterlow JC, Buzina R, Keller W, Lane JM, de amostragem. Brasília: OIT/PNUD/IPLAN/ ser usado em indivíduos com mais de 20 anos
Nichaman NZ, Tanner JM. Presentation and IPEA; 1987. de idade. Em: Centro de Estudos do Labora-
use of height and weight data for comparing 19. Fletcher PR [documento mimeografado]. Pes- tório de Aptidão Física de São Caetano do Sul
the nutritional status of groups of children quisa nacional sobre saúde e nutrição: a seleção dos (CELAFISCS). Anais do XIX Simpósio Interna-
under the age of 10 years. Bull World Health elementos da amostra na segunda etapa de cional de Ciências do Esporte. São Caetano do
Organ 1977;55(4):489–498. amostragem. Brasília: OIT/PNUD/IPLAN/ Sul, SP: CELAFISCS; 1994:194.
9. World Health Organization. Use and inter- IPEA; 1988. 32. Maffeis C, Schutz Y, Piccoli R, Gonfiantini E,
pretation of anthropometric indicators of nu- 20. Waaler HT. Hazard of obesity: the Norwegian Pinelli L. Prevalence of obesity in children in
tritional status. Bull World Health Organ experience. Acta Med Scand Suppl 1988;723: north-east Italy. Int J Obes 1993;17: 287–294.
1986;64(6):929–941. 17–21. 33. Malina RM, Zavaleta AN, Little BB. Estimated
10. Roche AF, Siervogel FM, Chumlea WC, Webb 21. SAS/STAT 6.03 [programa de computador]. overweight and obesity in Mexican-American
P. Grading body fatness from limited anthro- Gary, North Carolina: SAS Institute Inc; 1988. school children. Int J Obes 1986;10:483–491.
pometric data. Am J Clin Nutr 1981;34: 22. Heald EP. Adolescent nutrition. Med Clin 34. Gortmaker SL, Dietz WH, Sobol AM, Wheler
2831–2838. North Am 1975;59:1329–1336. CA. Increasing pediatric obesity in the United
11. Veiga GV, Sampei MA, Sawaya AL, Sigulem 23. Marino DD, King JC. Nutritional concerns States. Am J Dis Child 1987;141:535–540.
DM. Adaptação do critério antropométrico during adolescence. Pediatr Clin North Am 35. Lohman TG. Advances in body composition as-
para avaliação do estado nutricional de ado- 1980;27:125–139. sessment. Champaign, Illinois: Human Kinet-
lescentes em dois níveis socioeconômicos. J 24. Rolland-Cachera MF, Cole TJ, Sempé M, ics; 1992.
Pediatr (Rio J) 1992;68:26–33. Tichet J, Rossignol C, Charraud A. Body mass
12. Himes JH, Dietz WH. Guidelines for over- index variations: centiles from birth to 87
weight in adolescent preventive services: rec- years. Eur J Clin Nutr 1991;45:13–21.
ommendations from an expert committee. Am 25. White EM, Wilson AC, Greene SA, McCowan
J Clin Nutr 1994;59(2):307–316. C, Thomas GE, Cairns AY, Ricketts IW. Body
13. Anjos LA. Índice de massa corporal (kg/m2) mass index centile charts to assess fatness of Manuscrito recebido em 30 de novembro de 1995. Aceito
como indicador do estado nutricional de British children. Arch Dis Child 1995;72:38–41. em versão revisada em 6 de setembro de 1996.

ABSTRACT This paper presents the percentage distribution of the body mass index of the Brazil-
ian population from birth to age 25, based on a national survey conducted in 1989. Sur-
vey data show that body mass index decreases from birth until around 6 years of age,
Distribution of body mass reaching a plateau at 8 years and progressively increasing until the age of 19 or 20
index in the Brazilian years for females and 20 or 21 for males. The survey also revealed that after the age of
12 females present a greater body mass index than males, as well as a larger range of
population under percentile values (from 3 to 97). A comparison with data from other countries showed
25 years of age that the body mass index profile in Brazil is similar to that observed in France, Great
Britain, and the United States. Before the age of 6, Brazilian youngsters have a mean
body mass index that resembles that of North American children, and a lower one
thereafter. A comparison between the median body mass index of Brazilian and
British youngsters revealed consistently lower values among Brazilian females. When
compared to that of France, Brazil’s male population has a systematically lower body
mass index after the age of 8. It is suggested that the data presented in our study be
used only for comparing groups of individuals and studies, and not for screening or
clinical monitoring, due to the great variability in growth patterns during adolescence.

Rev Panam Salud Publica/Pan Am J Public Health 3(3), 1998 173

Você também pode gostar