Obesidade, Sobrepeso e Atividade Física

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Artigo Original 21

Obesidade e sobrepeso: a prática regular de


exercícios físicos é possível?

Drª Giannina do Espírito-Santo


Doutorado em Educação Física
Centro Universitário Augusto Motta, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Esp. Murilo Ferreira Máximo


Especialista em Saúde Pública
Centro Universitário Celso Lisboa, Rio de Janeiro, Brasil

Renato César Ramos Lois


Professor de Educação Física
Centro Universitário Celso Lisboa, Rio de Janeiro, RJ, Brasil

RESUMO: O objetivo do estudo foi verificar as estratégias utilizadas pelo professor de


educação física escolar para estimular as crianças com obesidade/sobrepeso a praticarem
exercício físico regularmente. Trata-se de um estudo descritivo do tipo de campo. Foram
entrevistados individualmente 20 professores de Educação Física que atuam no ensino
fundamental e médio, em escolas no Município do Rio de Janeiro. Os resultados apontam
que os professores destacam a ludicidade como o foco principal para integrar as crianças
com obesidade/sobrepeso, e estas devem respeitar o limite do corpo. Atribuem o papel da
Educação Física escolar na perspectiva da prevenção da obesidade.

Palavras-chave: Obesidade. Exercício físico. Educação Física escolar.

Obesity and overweight: the regular practice of physical exercises is that possible?

ABSTRACT: The objective of the study was to evaluate the strategies used by physical
education teacher of the school to encourage obese children to exercise regularly. This is a
descriptive study of the type of field. Were individually interviewed 20 teachers of physical
education who work in high school in school located in City of Rio de Janeiro. The results
show that teachers emphasize the fun as the main focus for the integration of obese children,
and they must respect the limit of the body. Attribute the role of school physical education in
terms of prevention of obesity.

Keywords: Obesity. Exercise. Physical Education school.

INTRODUÇÃO
Nos países desenvolvidos, a obesidade infantil atinge proporções epidêmicas,
começando a substituir a desnutrição e as doenças infecciosas, tornando-se fator
significativo em problema de saúde pública (LUIZ et. al., 2005). É interessante ressaltar que
esse problema não atinge apenas os países desenvolvidos, pois na pesquisa realizada pelo
Ministério da Saúde, constatou houve um crescimento da obesidade de 2006 a 2008,
passando de 11,4% a 13%, o mesmo ocorrendo com a prática regular de exercícios físicos

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no lazer, que passou de 18,3% a 20,6%, este fato parece que não foi suficiente para
minimizar a ocorrência de obesidade (BRASIL, 2009).

As doenças crônicas figuram como principal causa de mortalidade e


incapacidade no mundo, responsável por 59% dos 56,5 milhões de óbitos
anuais. São os chamados agravos não-transmissíveis, que incluem doenças
cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer e doenças respiratórias
(OPAS, 2003, p. 7).

Quando se relaciona os dados de sobrepeso por região, a partir da pesquisa


realizada pelo Ministério da Saúde, verifica-se que a região com maior índice de sobrepeso
é a Sul e a de menor é a nordeste. Este fato pode ser observado na figura 1.

Percentual de adultos (≥ 18 anos) com excesso de peso (Índice de Massa


Corporal ≥ 25 kg/m2), por sexo, regiões brasileiras

SUL 45,83

SUDESTE 44,05

CENTRO-OESTE 45,15

NORDESTE 42,17

NORTE 44,79

40,00 41,00 42,00 43,00 44,00 45,00 46,00

Fonte: Vigitel (Dados obtidos em Brasil, 2009)

O sobrepeso e obesidade na infância são fatores facilitadores para um adulto nas


mesmas condições (McARDLE et al. 2003). Suñe et al. (2007) destacam a obesidade infantil
pode se apresentar acompanhada também de transtornos psicossociais e que cerca de 50%
dos obesos apresentam menor sociabilidade, menor rendimento escolar, baixa auto-estima,
além de distúrbios de humor e sono.
Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2003) existem no mundo
17,6 milhões de crianças obesas com idades menores que cinco anos e ainda o número de
crianças obesas entre 6 a 11 anos mais do que dobrou desde a década de 1960.

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O sedentarismo é um fator contribuinte para o quadro de obesidade. O estilo de vida


mais sedentário, como assistir televisão durante muitas horas em substituição a atividades
de lazer mais dinâmicas (andar de bicicleta, caminhada, jogos com bolas, entre outros)
contribui para o aumento da prevalência de obesidade e adolescentes mais ativos tendem a
ter menor quantidade de gordura corporal; esse fato se deve pelo baixo nível de atividade
física durante esse tempo de assistência à TV e o maior consumo de alimentos pobre
nutricionalmente (SILVA; MALINA, 2003).
Salgadinhos, doce, pizzas, fast food, são alimentos preferidos das crianças. Este fato
pode contribuir para ocorrência da obesidade, visto que são comidas com alto teor de
gordura e calorias. Dessa maneira Silva e Malina (2003) salientam ao se analisar a
composição do lanche escolar consumido por crianças e adolescentes, observa-se que
possui altos teores energéticos, fornecendo em média 500 a 700 kcal, sendo
aproximadamente, metade das calorias em forma de gordura.
Pimenta e Palma (2001) realizaram um estudo, onde foram coletados dados
antropométricos de 56 crianças (29 meninos e 27 meninas) com idade entre 10 e 11,9 anos.
Através de um questionário verificaram dados sobre a rotina diária das crianças, a respeito
de atividade física e/ou esportes, horas dedicadas à televisão e, ainda, sobre o hábito
esportivo dos pais, então, de posse dessa amostra e dos dados coletados viu-se a grande
tendência das crianças ao sedentarismo. A média de tempo diário dedicado à atividade
física por criança foi de 476,25 minutos enquanto que o tempo para assistir televisão foi de
1.103, 03 minutos. Comparou-se também a influência do tempo de atividade física (TAF) e o
tempo de televisão (TTV) sobre a obesidade, e o resultado mostra que quanto maior for o
TTV maior foi o percentual de gordura.
Portanto, as crianças devem ter uma alimentação equilibrada e precisam ser
estimuladas a fazer alguma atividade física e/ou esportiva que lhes dê prazer, afastando-as
do sedentarismo, para enfim diminuir o número de pessoas obesas na idade adulta. (op.
cit.).
“Os pais, a escola, o professor de educação física devem atuar como incentivadores
desse processo, pois a prevenção da obesidade infantil parece ser o melhor caminho” (op.
cit. p. 23).
O ambiente familiar influência no desenvolvimento da obesidade na criança. Hábitos
de ingerir fast-food, modificações da composição da ingestão dos alimentos ricos em
gorduras, refrigerantes, ricos em açúcar com altos índices glicêmicos e aumento da porção
das refeições, são hábitos da família que podem levar à obesidade infantil. Pesquisas
demonstram (SILVA; MALINA, 2003; LEE, 2007; ANJOS, 2006), também que a inatividade
da família contribui para a inatividade da criança.

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O estudo de Oliveira e Fisberg (2003) verificou que a obesidade infantil ficou


inversamente relacionada com a prática da atividade física sistemática. A presença de TV,
computador e videogame nas residências, além do baixo consumo de verduras, foram
fatores citados influenciadores desse comportamento.
Para Oliveira (2004, p.107)

A obesidade na infância e adolescência é um importante fator de risco para


o desenvolvimento das doenças cardiovasculares na vida futura. Desta
maneira, torna-se necessária à implementação de medidas intervencionistas
e de prevenção no combate a este distúrbio nutricional em indivíduos mais
jovens, como o aumento da atividade física, a implantação de programas de
exercício físico e o incentivo à aquisição de hábitos alimentares saudáveis.

A obesidade infantil está associada a conseqüências negativas para a saúde da


criança e do adolescente, incluindo dislipidemias, inflamações crônicas, aumento da
tendência à coagulação sangüínea, disfunção endotelial, resistência à insulina, diabetes tipo
2, hipertensão, complicações ortopédicas, alguns tipos de cânceres, apnéia do sono,
estatohepatite não alcoólica. Quadro psicológico conturbado, com diminuição da auto-
estima, depressão e distúrbio da auto-imagem, também está associado à obesidade infantil
(LUIZ et. al. 2005).
Um dos fatores sociais relacionados à obesidade infantil é por causa da violência,
pois no mundo em que vivemos atualmente está perigoso para sair de casa por diversos
fatores: seqüestros para transplante de órgãos, estupros, roubos, tiros de balas perdidas, e
outros, etc. Os pais para terem a maior segurança deixam seus filhos dentro de casa,
assistindo televisão, jogando vídeo-game e computador (SILVA; MALINA, 2003).
Bracco et al. (2002) verificaram que por um lado crianças obesas apresentam maior
gasto energético decorrente de exercício físico quando comparadas com crianças não
obesas, mas por outro lado, apresentam menores níveis de exercício físico quando
comparadas com crianças não obesas.
O exercício físico é outro fator que pode combater e prevenir a obesidade infantil.
Partindo desta premissa Alves (2003) nos leva a acreditar que ser fisicamente ativo desde a
infância apresenta muitos benefícios, não só fisicamente, mas também nas esferas social e
emocional, e pode levar a um melhor controle das doenças crônicas da vida adulta. Além
disso, a exercício físico melhora o desenvolvimento motor da criança, ajuda no seu
crescimento e estimula adesão as sua prática.
Para o autor existem três grandes vantagens do exercício físico em crianças:
1) as crianças são mais saudáveis: têm menos excesso de peso,
apresentam uma melhor performance cardiovascular, número menor

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de crises de asma, além de apresentarem uma maior densidade


óssea; 2) esses efeitos são transferidos para idade adulta; 3)
manutenção do hábito na vida adulta (ALVES, 2003, p. 5).

Este estudo torna-se importante para alertar aos pais e professores sobre os
problemas que a obesidade infantil pode causar no futuro, do papel do exercício físico
contribuindo na prevenção e auxílio do tratamento deste quadro, alertando também para a
alimentação adequada.
Com mais satisfação no momento de realizar atividades físicas, trará como
conseqüência mais motivação, o que produzirá mais vontade de exercitar. Dessa maneira, o
exercício deixa de ter uma conotação martirizante e chata.
Em função do contexto apresentado, este estudo tem como objetivo verificar as
estratégias utilizadas pelo professor de educação física escolar estimular as crianças
obesas a praticarem exercício físico regularmente.

METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo do tipo de campo, que segundo Gil (2006, p. 44) “as
pesquisas deste tipo tem como objetivo principal a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis”.
Compõe o corpus do estudo 20 professores de Educação Física que atuam no
ensino fundamental e médio, em escolas do Rio de Janeiro.
Foi eleito como instrumento do presente estudo a entrevista individual, que de acordo
com Gil (2006) “é bastante adequada para obtenção de informações acerca do que as
pessoas sabem, crêem, esperam, sentem ou desejam, pretendem fazer, fazem ou fizeram,
bem como acerca das suas explicações ou razões a respeito das coisas precedentes” (p.
117).
No dia da entrevista foi entregue aos professores o termo de consentimento livre e
esclarecidos (em duas vias, uma ficou com o informante e outra para o pesquisador), que
autorizou o uso dos dados coletados sem revelar a identidade dos informantes.
Para o tratamento dos dados coletados a Análise de Conteúdo, conforme proposta
de Franco (2003), dentro de suas propostas optou-se pela análise temática, visto que esta
se apresenta de forma apropriada para este tipo de pesquisa.
Segundo Franco (2003) esta técnica tem por objetivo ir além do aparente e do dito,
busca captar e interpretar desocultando as informações necessárias para ter o máximo de
rigor científico.

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ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS


Para a constituição da análise temática procedeu-se primeiramente a uma
categorização inicial por informante. A partir deste momento, buscou-se a categorização
propriamente dita, onde foram estabelecidas as freqüências1 das categorias e subcategorias
para estriar as idéias centrais de cada tema.

Caracterização dos Sujeitos do Estudo


O quadro 1 demonstra as principais características dos sujeitos pesquisados, pode-
se verificar que em relação à idade houve mais homogeneidade, entretanto quanto ao
tempo de atuação nota-se que ocorreu uma maior variação em relação à experiência.
Foi perguntado aos informantes se já realizaram alguma pós-graduação, dos 20
informantes apenas uma não fez, cabe ressaltar que dos 19 cursos lato sensu, 12 foram
relacionados à educação física escolar.

Média Desvio Padrão


Idade (anos)
41,75 7,73
Masculino Feminino
Sexo (n=20)
8 12
Tempo de atuação Média Desvio Padrão
(anos) 17,25 7,15
Quadro 1: Caracterização dos sujeitos do estudo

Significados de Obesidade
Esse tema foi trabalhado com a técnica de associação livre de idéias, onde os
professores eram perguntados: quando você pensa em obesidade, o que lhe vem à cabeça?
Essa forma de abordar nos permite verificar a representação imediata que o informante tem
sobe o assunto, estabelecendo um fio condutor para o desenvolvimento da interpretação
dos conteúdos das entrevistas.

Quadro 2: Significados de obesidade


CATEGORIAS SUBCATEGORIAS Frequência
sedentarismo (5) Falta da educação física no ensino infantil (1); natividade 14

1
Nos quadros de cada tema são colocados entre parênteses, ao lado de cada categoria e
subcategoria, o número de ocorrência nos discursos dos informantes, entretanto, por vezes, algumas
categorias não apresentam esse número, pois são categorias sínteses. Essa estratégia foi aplicada
para poder dar melhor coesão para a discussão dos dados.

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(2); falta de exercício físico (4); Gasto de energia (2)

alimentação (3) Alimentação inadequada (6) 9

Tecnologia (1) Computador (2) 3


doença (4) Prejudicial à saúde (1); Não é saudável (1) 6
Gordura (3) 3
Relaxamento (1); Orientação (1); Integração
Influência familiar (2) família/escola (1); Falta de informação (1); desatenção 8
dos pais (1); Falta de limite (1)
Conscientização (1) 1
Genótipo/Fenótipo
1
(1)
Qualidade de vida (1) 1
Hábitos inadequados
1
(1)

Podemos notar como o sedentarismo, a alimentação, doença dentre outros, são


fatores verificados no dia-a-dia dos profissionais que atuam na educação física escolar e
que vem sendo abordado por vários autores como fatores determinantes para o quadro de
obesidade. A criança hoje em dia é considerada sedentária, pois ela pratica muito pouco
exercício físico diariamente, no qual gastam pouca energia, além de complicações que
dificultam o crescimento saudável (SILVA; MALINA, 2003).
Pimenta e Palma (2001, p. 23) afirmam “é um papel dos pais, da escola e do
professor de educação física atuar como incentivadores desse processo, pois a prevenção
da obesidade infantil parece ser o melhor caminho”.
A alimentação foi um das categorias de maior destaque para esses professores, este
fato pode estar associado em relação ao que é tratado na literatura sobre o assunto. Nieman
(1999) relata que ingerir alimentos ricos em fibras (pão integral, arroz integral, linhaça,
cereais, etc.), tem sido associada com menor risco de câncer de colo e de doenças
cardíacas e é importante para o auxílio no controle de glicemia dos diabéticos.

O papel da Educação Física Escolar diante da Obesidade


Nesse tema procurou-se saber a visão dos professores em relação à contribuição da
Educação Física Escolar na prevenção ou diminuição da obesidade.
Quadro 3: O papel da Educação Física diante da obesidade
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS Frequência

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Trabalho de base/Educação Infantil (1); problemas


Prevenção (2) 5
(1); diabetes (1)
Orientação(5) Alertar (1); esclarecer (1); promoção da saúde (1) 8
Conscientização (2); saúde (1); estética (1);
Informação (3) 8
Educação (1)
Melhorar qualidade
Bem-estar físico e mental (1) 2
de vida (1)
Alimentação adequada (1); Nutricionista (1); Tabela
Alimentação (5) de calorias (1); reeducação alimentar (1); orientação 12
(1); hábitos (1); nutrição (1)
Gasto de energia (1); alongamento (1); Inclusão (1);
Exercício físico (10) Participação nas aulas (1); ludicidade (3); reeducar 19
(1); aspectos sociais (1).

Para os informantes destacam que o papel da educação física é o de incentivar a


prática de exercícios físicos e o cuidado com a alimentação. O discurso dos professores
está alinhado aos dos fisiologistas, visto que estes trazem a relação gasto calórico e ingesta
como preponderantes na prevenção das doenças hipocinéticas (HASKELL et al., 2007;
McARDLE et al., 2003). De acordo com as recomendações do American College Medicine
Sports (HASKELL et al., 2007) é necessário que sejam realizados 30 minutos de exercícios
físicos diários, com intensidade moderada ou 20 minutos de três a quatro vezes por semana
com intensidade de moderada a intensa, para contribuir para a diminuição da prevalência de
doenças hipocinéticas.

Inclusão/Exclusão de Alunos Obesos


A partir desse tema verificou-se a importância de uma Educação Física para todos,
planejada com atividades de inclusão x interação dos alunos nas aulas de Educação Física
escolar.
Como fator de inclusão a exploração das habilidades, promovendo atividades
adaptadas e prazerosas aparecem como principais estratégias para a participação nas
aulas.
Já a exclusão é interessante observar que as subcategorias não apresentaram
destaque para as questões relacionadas aos aspectos motores e de aptidão física, isso nos
leva interpretação que os aspectos comportamentais dos colegas é que detém maior
atenção dos professores. Por outro lado, verifica-se que haja um relevante componente de

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auto-exclusão detectado pelos professores, na medida em que foram recorrentes em seus


discursos.
Essas declarações são muito importantes, pois a exclusão pode ser um fator
influenciador num quadro de depressão. Segundo Luiz et. al. (2005) a obesidade pode levar
à depressão, como sentimentos de tristeza, irritabilidade, agressividade e mudanças de
comportamentos que são indicadores de depressão na infância interferindo na vida da
criança e prejudicando seu desempenho escolar e convívio familiar.
Quadro 4: Inclusão/exclusão de alunos obesos
CATEGORIAS SUBCATEGORIAS Frequência
atividades lúdicas (2); atividades prazerosas (2);
estimulo a exercício físico (2); incentivo (1);
Participação na aula capacidade (1); adaptação (1); atividades à escolha
25
(9) do aluno (1); personalidade do aluno (1); jogos
cooperativos (1); Qualidades do aluno (1); critério de
avaliação (2); motivação (1)
discriminação (6); preconceito (2); descoordenação
motora (1) pouca aptidão física (1); Desrespeito (1);
auto-exclusão (1); timidez (2); vergonha (14); apelidos
Exclusão (4) (4); estética (1); trabalhar a auto-estima (1); aparência 47
física (3); Transferência de Culpa (1); Culto ao Corpo
(1); Padrão de Beleza (1); Incapazes excluídos (2);
Inibição (1); Despercebido (1); Desinteresse (2)
Não Adaptadas (1); Participação (3); Participação
Obrigatória (1); Inclusão (2); Cooperação (3);
Autonomia (2); Independência (1); Não-exclusão (2);
Integração (1) Capazes (1); Companheirismo (1); Solidariedade (1); 40
Auto-Estima (3); Engraçado (1); Brincadeiras (1); Bem
resolvidas (1); Particularidades (1); aceitos (6); Não-
Constrangimento (2); Incentivar (4); Prevenção (2)
Individualidade (2); Resgate de Valores (1); Jogos por
Habilidades (1); Adaptação da Roupa (3); Adaptação
Explorar as das Atividades (10); Atividades de Força (3); Grau de
40
habilidades (9) dificuldade (4); Atividades Prazerosas (1); Medo da
prática (1); Respeitar as Limitações (1); Prazer na
realização (1); Eventos inclusivos (1); Condução de

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Bola (1); Ludicidade (1)


Conscientização (4); Auto-Suficiência (1); Motivação
(3); Estímulo (2); Respeito (3); Conversa (1); Interação
(2); Diálogo (2); Valorização (1); Família (1); Alegria
Orientação (4) (1) Felicidade (1); Problemas Sociais (1); 37
Esclarecimento (1); Auxílio (1); Problemas Sociais (1);
Comunicação (1); Bem-estar físico e mental (4);
diálogo (2).
Rolamento (1); Elaboração da Aula (1); Estratégias
(1); Deslocamento em Velocidade (1); Alimentação
Planejamento (1) 11
(2); Preocupação (1); Jogos (1); Recreação (1);
Dificuldade (1)

Interferência do Exercício físico e Desenvolvimento Motor


Nesse quadro a importância atribuída pelos professores ao exercício físico e ao
desenvolvimento motor a prevenção da obesidade infantil.
As dificuldades geradas pela limitação física imposta pelo excesso de peso e os
aspectos psicológicos ganharam maior representatividade no discurso dos professores.
Conforme estudos de Luiz et al. (2005, p. 36)

Sentimentos de tristeza, irritabilidade e agressividade, dependendo da


intensidade e da freqüência, podem ser indícios de quadros depressivos em
crianças. As súbitas mudanças de comportamentos nas crianças, não
justificadas por fatores estressantes, são de extrema importância para
justificar um diagnóstico de transtornos depressivos. Os sintomas
depressivos podem interferir na vida da criança de maneira intensa,
prejudicando seu rendimento escolar e seu relacionamento familiar e social.

Para melhorar o interesse dos alunos à prática de exercício físico, os professores os


incluem nas aulas através de atividade lúdicas e recreativas respeitando o limite do corpo.

Quadro 5: Interferência da Exercício físico e desenvolvimento motor


CATEGORIAS SUB-CATEGORIAS No. Ocorrência
gordura (1), excesso de peso (1), nível da obesidade
dificuldade (2) 9
(1), sedentária (1), habilidades físicas (3).
auto-estima (1); vergonha (2); exclusão (1); emocional
psicológico (1) 6
(1).

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individualidade
1
biológica (1)
Brinquedo cantado Jogos Cooperativos (1); Teatro (1); Fantoche (1);
5
(1) Jogos Recreativos (1);
Diminui o cansaço (1); Menos desgaste (1);
Conscientização (1); Auto-estima (1); Estimular
atividades (1); Sem impacto (2); Menos intensidade
Exercício Físico (1) (1); Baixa Freqüência cardíaca (1); Natação (2); 26
Hidroginástica (2); Alongamento (2); Corrida (3);
Caminhada (3); Aquecimento (1); Atividade adequada
(1); Arremesso de Peso (1); Força (1)
Estimular à
Perda de peso (1) 2
Alimentação (1)
Avaliação do Aluno (1); Indicar qualidade física (1);
Coordenação (2); Equilíbrio (2); Lateralidade (2);
Adequação de Velocidade (6); Coordenação Óculo-segmentar (1);
29
Conteúdos (1) Agilidade (4); Dificuldade (2); Acompanhamento (1);
Criatividade (1); Saltar (1); Levantar (1); Destreza (1);
Reação motora (1); Psicomotora (1)
Adaptação da
Ajuste (1); Medo (1); Vergonha (1); Estímulo (1) 5
atividade (1)
Comprometimento
Amplitude Articular (1); Crescimento (1) 3
(1)

Alimentação dos Alunos na Escola


Nesse quadro podemos notar os fatores intervenientes como a cantina da escola que
influenciam para um mau hábito alimentar e uma forma de alertar a todos quanto à
obesidade infantil.

Quadro 6: Alimentação dos Alunos na Escola


CATEGORIAS SUB-CATEGORIAS No. Ocorrência
refrigerantes (9); massas (2) ; biscoitos (2); salgados (5) ;
diversidade alimentos gordurosos (1) ; batata frita (1); habúrguer (1) ;
alimentar (1) chesburguer (1) ; sanduíches (1); fast food (1); doces (1) 26

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alimentação
na escola (1) suco (1); pão careca (1); cereal (1) 4

Os professores entrevistados destacam que a dieta tem um papel determinante na


regulação energética e demonstram uma grande preocupação com o papel da escola
contribuindo para um quadro favorável. Entretanto, o lanche da escolar estar inadequado,
pois no discurso com os professores, foi verificado que os adolescentes no seu dia-a-dia
não procuram fazer uma alimentação apropriada. De acordo com Luiz et al. (2005, p.36)

Vários fatores são importantes na gênese da obesidade, como os


genéticos, os fisiológicos e os metabólicos; no entanto, os que poderiam
explicar este crescente aumento do número de indivíduos obesos parecem
estar mais relacionados às mudanças no estilo de vida e aos hábitos
alimentares. O aumento no consumo de alimentos ricos em açúcares
simples e gordura, com alta densidade energética, e a diminuição da prática
de exercícios físicos, são os principais fatores relacionados ao meio
ambiente.

Auto-Estima dos Alunos


No quadro abaixo procuramos saber dos professores o que mais atrapalha os alunos
obesos no desempenho de atividades físicas na escola e o que mais influencia essa auto-
estima.

Quadro 7: Auto-Estima dos Alunos


No.
CATEGORIAS SUB-CATEGORIAS Ocorrência
individualidade (2) hábitos de vida (1) 3
participação da aula (1); bloqueio não participar da
baixa-estima (8) aula (1); desvalorização (2). 12

Segundo relatos dos professores a baixa-estima é o principal fator que influencia


numa mudança de comportamento e na participação nas aulas ou em programas de
exercício físico.
As contribuições que podem ser advindas de uma reflexão dos professores estão
relatadas por Darido (2001, p. 68),

[...] o aluno deve aprender a jogar [...], mas juntamente com esses
conhecimentos, deve aprender quais os benefícios de tais práticas [...]
Dessa forma, mais do que ensinar a fazer, o objetivo é que os alunos e

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alunas obtenham uma contextualização das informações, como também


aprendam a se relacionar com os colegas, reconhecendo quais os valores
estão por trás de tais práticas.

A auto-estima está relacionada a fatores psicológicos, sociais e da individualidade


biológica que acarreta alguns problemas como a desvalorização, timidez e vergonha, devido
a esses fatores as crianças obesas não participam do exercício físico (LUIZ et. al. 2005).

CONCLUSÃO
Diante do relato dos professores, focalizamos algumas questões importantes. Os
professores destacam a ludicidade como o foco principal para integrar as crianças obesas
ou com sobrepeso e estas devem respeitar o limite do corpo.
A forma como os professores vêem o papel da Educação Física escolar na
perspectiva da prevenção da obesidade está relacionada principalmente sobre o exercício
físico e a alimentação. Estes criticam os hábitos alimentares dos adolescentes, pois se
concentram em fast food, refrigerantes e biscoitos.
A partir dos resultados verificados no estudo, podemos sugerir que o papel dos
professores de Educação Física e da escola deve estar centrado em estratégias de
informação sobre os problemas que a obesidade causa, orientando sobre a importância da
prática regular de exercício físico e da alimentação adequada; dando oportunidade de
espaços favoráveis para essas práticas, para que possibilitem a necessidade hábitos
saudáveis durante sua vida.

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Recebido em: 20 de fevereiro de 2011


Aprovado em: 10 de abril de 2011

Endereço para correspondência


Gianina do Espirito-Santo
[email protected]

Corpus et Scientia, ano 7, vol. 7, n. 1, p. 21-34, maio 2011


ISSN: 1981-6855 (http://www.unisuam.edu.br/corpus)

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