Ajuste Seu Artigo Assim
Ajuste Seu Artigo Assim
Ajuste Seu Artigo Assim
RESUMO
O ensino de Morfossintaxe ainda é um grande desafio para muitos docentes e vários são os entraves
para a realização de um trabalho produtivo em sala de aula, o que pode comprometer a aprendizagem
de aspectos importantes sobre o funcionamento da língua. Possivelmente, a concepção que os
professores têm sobre a língua, quando ainda atrelada a práticas tradicionais, pode prejudicar a
realização de atividades produtivas, com o objetivo de apresentar os aspectos morfossintáticos da
língua de maneira prática e funcional. Por outro lado, consideramos que a compreensão interacionista
da língua, assim como a busca por novas metodologias de ensino e o trabalho da análise linguística, a
partir de gêneros textuais, são algumas atitudes que podem contribuir para o sucesso do ensino e da
aprendizagem da Morfossintaxe. Nesse sentido, a atual pesquisa teve como objetivo central refletir
sobre o ensino e a aprendizagem da Morfossintaxe, assim como apresentar uma proposta de atividade
para trabalhar essa parte da gramática. Partimos de uma pesquisa documental, através da qual foram
consultadas orientações de documento oficiai relativas ao ensino de análise linguística e, em seguida,
fizemos uma pesquisa bibliográfica. Como resultados, foi possível compreender que, a partir da
organização do trabalho docente, com base em atividades reflexivas, tendo como ferramenta o gênero
fábula, o ensino de Morfossintaxe pode ser desenvolvido de maneira eficaz e exitosa. Como aporte
teórico, recorremos a autores, como Antunes (2003, 2007), Koch e Elias (2009), Perini (2019), assim
como a documentos oficiais, como os PCN (BRASIL, 1998).
INTRODUÇÃO
Ensinar gramática de uma língua, para muitos docentes, ainda é um grande desafio.
Isso porque demanda compreender que a concepção de língua e de ensino de gramática que
esse docente assume influencia, diretamente, em sua prática pedagógica e no sucesso, ou não,
de seu trabalho.
O ensino da gramática, não de hoje, é visto por muitos estudantes como algo
enfadonho, isso porque algumas práticas docentes insistem em apresentar as regras
gramaticais de maneira isolada, sem muita funcionalidade na vida cotidiana desses alunos. Tal
1
Professora efetiva do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba – IFPB,
[email protected].
2
Professora efetiva da prefeitura de Picuí-PB, [email protected]
constatação implica reconhecer que, um ensino meramente prescritivo, pouco contribui para o
uso consciente da língua nas mais variadas situações de uso.
METODOLOGIA
RESULTADOS E DISCUSSÃO
No processo de ensino de uma língua, o ensino de gramática precisa ser algo que faça
com que o estudante compreenda as regras gramaticais em contextos de uso para que o
aprendizado seja significativo. A gramática de uma língua pode ser concebida como o
elemento estruturante dessa língua, que atua na construção de sentido das palavras dentro da
frase ou do contexto interativo, contexto este fundamental para compreendermos que não
utilizamos palavras soltas ou aleatórias em uma frase, já que cada palavra ocupa um espaço e
uma função dentro da frase e internalizamos isso a partir do momento que começamos a
interagir com os falantes da língua.
No que se refere ao ensino de língua, é preciso que se ressalte que o aluno não precisa
dominar todas regras gramaticais de sua língua – como se isso fosse uma prerrogativa para
dominar um idioma - e esse aluno precisa, também, compreender que gramática e língua não
são a mesma coisa, mas que ambas se relacionam. Sobre essa questão, Antunes (2007, p. 39)
explicita que:
A concepção de língua e gramática são uma coisa só deriva do fato de,
ingenuamente se acreditar que a língua e constituída de um único componente:
A gramática. Por essa ótica saber uma língua equivale, a saber, sua gramática;
ou, por outro lado saber a gramática de uma língua equivale a dominar
totalmente essa língua. É o que se revela, por exemplo, na fala das pessoas
quando dizem que “alguém não sabe falar”. Na verdade essas pessoas estão
querendo dizer que esse alguém “não sabe falar de acordo com a gramática da
suposta norma culta”.
... uma coisa é saber a língua, isto é, dominar as habilidades de uso da língua
em situações concretas de interação, entendendo e produzindo enunciados
adequados aos diversos contextos, percebendo as dificuldades entre uma
forma de expressão e outra. Outra coisa é saber analisar a língua, dominando
conceitos e metalinguagens a partir dos quais se fala sobre a língua, se
apresentam suas características estruturais e de uso.
Com isso, percebemos que dominar a língua vai muito além de saber o conjunto de
regras gramaticais de uma língua. Saber a língua implica não apenas saber usá-la em
diferentes situações de interação, adequando-a a esses contextos, mas também saber seus
conceitos e metalinguagens, bem como suas características estruturais e de uso.
... a escola não estimula a formação de leitores, não deixa os alunos capazes
de ler e entender manuais, relatórios, códigos, instruções, poemas, crônicas,
resumos, gráficos, tabelas, artigos, editoriais e muitos outros materiais
escritos. Também não deixa os alunos capazes de produzir por escrito esses
materiais. Ou seja, tem "uma pedra no meio do caminho" da aula de
português. E a trajetória não se faz (...).
Nesse sentido:
Assim, a atividade docente voltada para a análise de aspectos gramaticais precisa ser
planejada com o objetivo de propiciar um trabalho produtivo e significativo, no sentido de
promover a aprendizagem dos conteúdos gramaticais em contextos de usos da língua. Com o
ensino de Morfossintaxe, não seria diferente e muitas são as possibilidades de desenvolver
metodologias de ensino interessantes e produtivas.
A proposta da atividade seria organizada em etapas, cada uma delas com seus
propósitos claramente definidos para a promoção do desenvolvimento do trabalho com a
turma. Inicialmente, seria apresentada aos alunos uma breve reflexão acerca de que é a
Morfossintaxe e por que seria relevante conhecer essa parte da gramática da língua
portuguesa.
Em seguida, seria necessário discutir o fato de que se aprende a usar a língua de modo
proficiente, observando-a em uso real, através de textos produzidos em diversos gêneros
textuais dos diversos domínios discursivos. Nesse momento, seria interessante apresentar ao
aluno que a língua se realiza na prática, na interação entre os seus usuários, que se comunicam
com propósitos definidos de comunicação, em determinados contextos.
Após essa explanação, seria o momento de apresentar um exemplar desse gênero para
reflexão com a turma. Na proposta aqui colocada, trabalharemos com o texto “O cão e a
lebre”, de Esopo, em sua versão traduzida para o português por Guilherme Figueredo (2005).
É interessante que, antes de ler o texto, o professor apresente algumas informações relativas
ao autor, ao seu contexto histórico para situar a sua obra e estimular a curiosidade dos
estudantes.
Consideramos relevante observar a leitura como uma atividade realizada em etapas,
cada uma assumindo uma função determinada com o objetivo de propiciar a compreensão
leitora de maneira proficiente. Dessa forma, iniciaríamos com uma pré-leitura da fábula
(desenvolvendo tarefas com o objetivo de motivar o leitor a conhecer o conteúdo do texto,
identificar os seus objetivos para a realização da leitura), passando para a leitura propriamente
dita (concebendo-a como a construção da compreensão, dos sentidos do texto, assim,
observando o estilo da fábula, a seleção vocabular, os efeitos de sentido da disposição do
léxico no exemplar da fábula analisada), até a realização de atividades no momento da pós-
leitura (momento em que a turma seria estimulada a continuar aprendendo e compreendendo,
com a realização de um breve debate acerca da compreensão do texto e solicitação de
produção de resumo da leitura realizada) (SOLÉ, 1998).
Na etapa que compreende a fase da leitura propriamente dita, procederíamos a uma
leitura reflexiva, evidenciando para a turma o fato de que a leitura é um ato individual de
construção de sentidos num contexto de interação entre o autor, o texto e o leitor, sendo uma
atividade distinta para cada leitor, dependendo de seus interesses e objetivos do momento
(ANTUNES, 2003). Com a leitura da fábula escolhida para a turma, seria uma oportunidade
de conversar com todos e todas sobre as estratégias que podemos utilizar para a realização da
compreensão, apresentando métodos que possam contribuir com a construção de sentidos,
partindo da ativação dos conhecimentos prévios do leitor, seja o linguístico, o interacional, de
textos e o enciclopédico (KOCH; ELIAS, 2009).
Após o momento de leitura e da compreensão do texto, o professor poderá fazer uma
breve reflexão sobre o texto lido com o objetivo de identificar, junto com a turma, os aspectos
que o caracteriza como fábula, assim como poderiam discutir sobre a possibilidade de
associar o seu conteúdo com a realidade da turma, de suas experiências sociais. Em seguida, o
professor procederia à análise morfossintática a partir do texto, este considerado como um
objeto de ensino de língua, com o objetivo de refletir a organização da estrutura do texto, a
forma se organizam os sintagmas, os possíveis sentidos das palavras, no texto, verificando as
possibilidades, ou não, de inversões das palavras, se isso implica alguma alteração de sentido
ou não.
Um cão caçador viu uma lebre escondida numa moita. Quis logo caçá-la, mas
a lebre disparou a correr e desapareceu. Por ali passava um pastor que viu como o cão
perdeu a lebre e disse:
- você se julga um caçador? A lebre é dez vezes menor do que você e mesmo
assim você a perdeu!
- você se esquece, pastor – respondeu o cão -, que eu estava só procurando o
que comer, enquanto a lebre estava procurando salvar a vida dela!
Ainda com esse exemplo, seria uma excelente oportunidade para refletir que sentidos
poderiam ser extraídos com a inversão da ordem em que a expressão “cão caçador” se
apresenta, na perspectiva dos possíveis sentidos da palavra “cão”. Desse modo, poderia
realizar alguns questionamentos: o que poderia ser compreendido com a construção “caçador
cão”? Alteraria a compreensão da ideia que o texto pretende aludir? Apresentando-se após a
palavra “caçador”, que sentido poderia ser atribuído à palavra “cão”? Em que outras
situações podemos usar “cão” como adjetivo? Esses questionamentos são bastante produtivos
no sentido de ampliar as possibilidades de sentidos e de classificações morfossintáticas de
uma determinada palavra.
Além desse exemplo de reflexão, outro nos parece pertinente: quais as possibilidades
de distribuição das palavras dentro de um sintagma? Nesse ponto, seria trabalhado com a
turma a concepção de que essas palavras formam constituintes de uma sentença e que há
condições para a sua disposição numa oração, ressaltando que esses constituintes se trata de
“... partes da sentença que recebem significado coerente, e que podem às vezes aparecer em
outras posições na sentença (...)” (PERINI, 2019, p. 30).
Nessa perspectiva de análise, é importante enfatizar que “... um constituinte (...) tem
propriedades formais e também semânticas” (PERINI, 2019, p. 31) e isso deve ser levado em
consideração na ocasião da análise da sentença. Tendo como base a fábula de Esopo,
poderemos propor à turma a observação do período “Um cão caçador viu uma lebre escondida
numa moita” e, a seguir, questionar se é possível alterar a posição das palavras de forma
aleatória, como em “caçador viu um uma escondida lebre cão moita numa”. Possivelmente, o
aluno irá perceber que a inversão sem critérios, sem observar as relações que uma palavra
apresenta com as demais, provoca uma construção agramatical, como o agrupamento de
palavras, mas poderá perceber que outras inversões não causam prejuízos à compreensão,
como em “respondeu o cão / o cão respondeu”, em que verbo e seu sujeito podem ter sua
posição alterada, mantendo a coerência.
Igual relevância vemos na reflexão sobre o uso dos artigos e os sentidos que eles
podem suscitar no texto. É o caso das construções “Um cão caçador viu uma lebre escondida
numa moita” e “(...) o cão perdeu a lebre e disse (...)”. Essa abordagem contribui para a
compreensão, não só do valor morfossintático dos artigos (artigos definidos e indefinidos,
assumindo função sintática de adjuntos adnominais), como uma reflexão contextual,
propiciando ao aluno a oportunidade de perceber os sentidos de indefinição seguida da
atribuição da definição dos termos substantivos.
Como podemos perceber, várias são as possibilidades de análise morfossintática que
podem ser realizadas nas aulas de língua portuguesa em turmas de oitavo ano do ensino
fundamental, a partir de um ensino produtivo, significativo e contextualizado de aspectos
gramaticais. Assim, é importante ressaltar que, quando o docente organiza um trabalho com a
Morfossintaxe a partir de textos em gêneros adequados à etapa de escolarização do estudante
e isso se dá com ênfase em um ensino de gramática contextualizado, o processo de ensino e
de aprendizagem se configura como uma atividade relevante para o estudante, que tem a
oportunidade de analisar os fenômenos da língua em uso.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola Editorial,
2003.
________. Muito além da gramática: por um ensino de línguas sem pedras no caminho.
Belo Horizonte: Ed. Parábola, 2007.