Poemas Pré Modernismo

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Vaso Chinês (Alberto de Oliveira) AS POMBAS (Raimundo Correia)

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o, Vai-se a primeira pomba despertada …


O MORCEGO (Augusto dos Anjos) Vai-se outra mais … mais outra … enfim
Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio, dezenas
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho. De pombas vão-se dos pombais, apenas
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede: Entre um leque e o começo de um bordado.
Raia sanguínea e fresca a madrugada …
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela igneo e escaldante molho. Fino artista chinês, enamorado, E à tarde, quando a rígida nortada
Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado, Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
"Vou mandar levantar outra parede..." Ruflando as asas, sacudindo as penas,
— Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho Na tinta ardente, de um calor sombrio. Voltam todas em bando e em revoada…
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede! Mas, talvez por contraste à desventura,
Quem o sabe?... de um velho mandarim Também dos corações onde abotoam,
Também lá estava a singular figura; Os sonhos, um por um, céleres voam,
Pego de um pau. Esforços faço. Chego Como voam as pombas dos pombais;
A tocá-lo. Minh'alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?! Que arte em pintá-la! a gente acaso vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim No azul da adolescência as asas soltam,
De olhos cortados à feição de amêndoa. Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
A Consciência Humana é este morcego! E eles aos corações não voltam mais…”
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto! XXX (Olavo Bilac)
A FLORISTA (Francisca Júlia)
Ao coração que sofre, separado
Suspensa ao braço a grávida corbelha, Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Segue a passo, tranqüila... O sol faísca... Não basta o afeto simples e sagrado
PLENA NUDEZ (Raimundo Correia) Os seus carmíneos lábios de mourisca Com que das desventuras me protejo.
Se abrem, sorrindo, numa flor vermelha.
Eu amo os gregos tipos de escultura: Não me basta saber que sou amado,
Pagãs nuas no mármore entalhadas; Deita à sombra de uma árvore. Uma abelha Nem só desejo o teu amor: desejo
Não essas produções que a estufa escura Zumbe em torno ao cabaz... Uma ave, arisca, Ter nos braços teu corpo delicado,
Das modas cria , tortas e enfezá-las. O pó do chão, pertinho dela, cisca, Ter na boca a doçura de teu beijo.
Olhando-a, às vezes, trêmula, de esguelha...
Quero em pleno esplendor, viço e frescura E as justas ambições que me consomem
Os corpos nus; as linhas onduladas Aos ouvidos lhe soa um rumor brando Não me envergonham: pois maior baixeza
Livres; da carne exuberante e pura De folhas... Pouco a pouco, um leve sono Não há que a terra pelo céu trocar;
Todas as saliências destacadas ... Lhe vai as grandes pálpebras cerrando...
E mais eleva o coração de um homem
Não quero, a Vênus opulenta e bela Cai-lhe de um pé o rústico tamanco... Ser de homem sempre e, na maior pureza,
De luxuriantes formas, entrevê-la E assim descalça, mostra, em abandono, Ficar na terra e humanamente amar.
Da transparente túnica através: O vultinho de um pé macio e branco
VIOLÕES QUE CHORAM (Cruz e Sousa) ISMÁLIA (Alphonsus de Guimarães)
Quero vê-la, sem pejo, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios Ah! plangentes violões dormentes, Quando Ismália enlouqueceu,
Nus... toda nua , da cabeça aos pés! mornos, Pôs-se na torre a sonhar...
Soluços ao luar, choros ao vento... Viu uma lua no céu,
Tristes perfis, os mais vagos contornos, Viu outra lua no mar.
Última Página (Olavo Bilac) Bocas murmurejantes de lamento. [...]
[...] No sonho em que se perdeu,
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos E sons soturnos, suspiradas mágoas, Banhou-se toda em luar...
Numa palpitação de flores e de ninhos. Mágoas amargas e melancolias, Queria subir ao céu,
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos No sussurro monótono das águas, Queria descer ao mar...
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos. Noturnamente, entre remagens frias.
E, no desvario seu,
Verão. (Lembras-te Dulce?) À beira-mar, sozinhos, Vozes veladas, veludosas vozes, Na torre pôs-se a cantar...
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos; Volúpias dos violões, vozes veladas, Estava longe do céu...
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos, Vagam nos velhos vórtices velozes Estava longe do mar...
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos... Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.
Tudo nas cordas dos violões ecoa E como um anjo pendeu
Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos, E vibra e se contorce no ar, convulso... As asas para voar. . .
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos, Tudo na noite, tudo clama e voa Queria a lua do céu,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor... Sob a febirl agitação de um pulso. Queria a lua do mar...

Carne, que queres mais? Coração, que mais queres? Que esses violões nevoentos e tristonhos As asas que Deus lhe deu
Passas as estações e passam as mulheres... São ilhas de degredo atroz, funéreo, Ruflaram de par em par...
E eu tenho amado tanto! e não conheço o Amor! Para onde vão, fatigadas no sonho, Sua alma, subiu ao céu,
Almas que se abismaram no mistério. Seu corpo desceu ao mar...

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