13 Estudos À Gramática - Concepções de TRAVAGLIA

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ENSINO DE GRAMÁTICA: DA REGRA À PRÁTICA

Orlando da Silva Neto (1); Natan Severo de Sousa (2)

1 Universidade Estadual da Paraíba, [email protected]; 2 Universidade Estadual da


Paraíba, [email protected]

RESUMO:
Observando a importância do docente da área do ensino de língua desenvolver metodologias em que o
ensino de gramática não seja marcado pelo olhar tradicionalista, este artigo tem o objetivo de discutir
o ensino de gramática a partir de duas perspectivas: a primeira traz a gramática como um conjunto de
regras para “falar bem”; a segunda visa a gramática como ponto para prática comunicativa de
linguagem. Para isso, serão levantadas questões de concepções e de ensino de linguagem ligadas às
práticas pedagógicas executadas em ambientes escolares, considerando que na maioria das vezes a
primeira perspectiva de gramática é tratada como o “centro das atenções” nas aulas de português. O
estudo prosseguiu-se através de pesquisas bibliográficas, e se insere no campo qualitativo, analisando
referentes ao assunto, tais como (ANTUNES, 2003), (LUFT, 2009), (TRAVAGLIA, 2009) entre
outros, fundamentando-se também em documentos que norteiam as aulas de língua portuguesa
(BRSIL, 1998). Assim como qualquer outra profissão, o professor tem o dever de buscar
constantemente por mudanças, e refletir isso em suas práticas pedagógicas para que haja um
aprendizado que responda às exigências da sociedade atual. No que se diz respeito ao trabalho com a
gramática, manusear a linguagem como forma de interação traz maiores possibilidades para que isso
aconteça, desenvolvendo as competências comunicativas do aluno.

Palavras – chaves: Ensino, Práticas pedagógicas, Prática comunicativa.

INTRODUÇÃO
Considerando que a linguagem vem se modelando de acordo com as necessidades
comunicativas humanas, se faz necessário refletir acerca de como os profissionais da área do
ensino de língua lidam com esses processos de transfiguração de um novo paradigma. De
acordo com o que entendemos com a “lei da vida”, aquilo que me servia ontem, talvez hoje
não atenda às demandas que necessito para me colocar a frente das cobranças de um corpo
social. E no que se diz respeito ao ensino de português, é bastante comum ainda se deparar
com metodologias “arcaicas” envolvendo a gramática.
Numa perspectiva tradicionalista, a gramática vem sendo colocada como o “centro das
atenções” nas aulas de português para o “falar bem” do aluno. E isso é ruim? De fato, sim. Ela
é um componente bastante importante para a disciplina de Língua portuguesa, assim como
também a Literatura e a Produção Textual. E quando o docente visa à gramática como a
parcela maior, é normal que o ensino seja algo fragmentado. Tais componentes devem ser
trabalhados em conjunto, levando em consideração que cada parte se interliga, e que o aluno
vai fazer uso de uma quando estiver trabalhando com outra.
Só falar correto não condiz mais com aquilo que o mundo exige de um indivíduo. A
interação comunicativa ganhou espaço tanto no mercado de trabalho, como em qualquer outra
área em que se situa mais de um sujeito. O compreender a fala do seu semelhante, e vice-
versa, vale mais do que saber identificar o que é um substantivo.
Em seu trabalho Aulas de Português: Encontro & interação Irandé Antunes1 (2003)
explora, também, o mundo da gramática e salienta o modo tradicional de se trabalhar esse
componente. Termos como “Gramática descontextualizada”, “Inflexível”, “predominante”,
“voltada para nomenclatura” são usados pela autora para descrever como está sendo o papel
da matéria desenvolvido na maioria das vezes no contexto escolar.
O modo como a disciplina é tratada está diretamente ligado a concepções
(TRAVAGLIA, 2009). Se o docente reconhece que a gramática é a porta para o mundo, e que
se seu aluno dominar as regras gramaticais está automaticamente apto a qualquer situação
comunicativa, certamente esse professor pautará suas metodologias de ensino para que o
discente apenas aprenda (decore) tais especificidades.
Vale aqui lembrar que usamos nossa língua para nos comunicar com nossos
semelhantes, assim constituir um ato de interação. E é bastante claro que não é por entender o
que é um verbo, artigo, entre outras classes gramaticais que necessariamente um sujeito será
capaz de se colocar em um procedimento de interação com o seu congênere (BRASIL, 1998).
O contexto geralmente mede efeitos no ensino, sabendo que a gramática é reflexível
(ANTUNES, 2003), e em certos momentos não se pode explicá-la de forma universal.

METODOLOGIA
Para discutir acerca dessa temática, o seguinte trabalho desenvolveu-se através de
pesquisa qualitativa de forma bibliográfica. Foram selecionados e estudados autores, citados
acima, que abraçam estudos que cogitam o ensino de gramática, sendo eles (ANTUNES, 2003),
(LUFT, 2009), (TRAVAGLIA, 2009) entre outros, fundamentando-se também em documentos que
norteiam as aulas de língua portuguesa (BRSIL, 1998. Antes de tudo, sabendo da grande
relevância, parte-se de pressupostos de concepções de linguagem, que está sempre atrelado a
modos nos quais o professor desenvolve suas metodologias, até chegar à demanda da
gramática e a importância de um olhar que busca a interação nessa esfera de conhecimento.
O esperado é que os docentes dessa área reflitam e busquem por adaptações ao mundo
atual, e procurem métodos novos para construir um saber com seu discente. Abrir os olhos de
que o melhor para o seu aluno é produzir e não reproduzir, aprender, diante de uma situação
de uso, e não decorar, e acima de tudo situa-se que existem vários contextos, e que cada um

1
Doutora em linguística pela Universidade Clássica de Lisboa, e professora na mesma área na Universidade
Estadual do Ceará.
tem suas especificidades. Se a língua está posta como um ato para interagir com outro, nada
melhor do que trabalhá-la de forma com que venha a aprimorar as competências
comunicativas do discente.

1 CONCEITOS DE LINGUAGEM E SUAS RELAÇÕES COM O ENSINO DE


LÍNGUA
Diante das demandas do ensino de português, é perceptível que o modo no qual
professor dessa área desenvolve suas práticas de ensino está atrelado com sua concepção de
linguagem. Para muitos, a linguagem está ligada a regras que precisam ser seguidas no
processo do pensamento para a enunciação. Necessariamente, nesse modo de ver a linguagem,
“as pessoas não falam bem porque não pensam”, segundo Travaglia (2009), que classificou
como “linguagem como expressão de pensamento”.
Quando o professor concebe a linguagem dessa maneira, normalmente ele corrobora
para um ensino que só dita regras do falar bem e do escrever correto, e se assegura de um
ensino tradicional. Nesse contexto, o aluno deve decorar inúmeras regras gramaticais
esquecendo-se do que realmente necessitam para se colocar diante de uma sociedade exigente.
Esse tipo de visão é o menos indicado aos professores dessa área, e o mais ocorrente no
contexto da sala de aula, por ser de fácil manuseio para o professor.
Acerca disso, os Parâmetros Curriculares De Língua Portuguesa (1998, p.39), sobre o
ensino de língua materna, diz que “O ensino de língua portuguesa tende a tratar a fala da e
sobre a linguagem como se fosse um conteúdo em si, não como meio para melhorar a
qualidade de produção lingüística.” Isso aponta como um ponto falho do ensino de língua,
sendo que o objetivo principal seria desenvolver as competências comunicativas do aluno.
Atenta ainda que:
É o caso, por exemplo, da gramática que, ensinada de forma
descontextualizada, tornou-se emblemática de conteúdo estritamente escolar,
do tipo que só serve para ir bem na prova e passar de ano – uma prática
pedagógica que vai da metalíngua para língua por meio de nomenclatura.
Em função disso, tem-se discutido se há ou não necessidade de ensinar
gramática. Mas essa é uma falsa questão: a questão verdadeira é para que e
como ensiná-la. (BRASIL, 1998, P.39)

A fragmentação e a decoreba são de serventia momentânea, e logo esquecida. Ao longo


de sua vida o sujeito deve constantemente fazer uso de ensinamentos realizado no contexto
escolar. O professor por sua vez deve traçar planos para que isso aconteça. Isso acontecerá de
modo adequado quando ele consegue certamente responder as questões de como e para que o
ensino da gramática.
Por outro lado, em seus estudos sobre linguagem, Travaglia (2009) aponta uma
concepção reconhecida por melhor representar o que seria o real objetivo de ensino de língua
materna, a construção de pontes de comunicação entre falantes de uma língua. A linguagem
como processo de interação. Segundo ele,

Nessa concepção o que o indivíduo faz ao usar a língua não é tão-somente


traduzir e exteriorizar um pensamento, ou transmitir informações a outrem,
mas sim realizar ações, agir, atuar sobre o interlocutor (ouvinte/leitor). A
linguagem é pois um ligar de interação humana, de interação comunicativa
pela produção de efeitos de sentidos entre interlocutores, em uma dada
situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico
(TRAVAGLIA, 2009, p.23)

Nesse modo de conceber a linguagem, o professor atenta para o desenvolvimento da


competência do aluno de gerar comunicação em qualquer que seja o contexto. O indivíduo
não só traduz ou decodifica a mensagem enviada pelo emissor, como também age sobre ela,
buscando o significado que vem subjacentemente. O que caracteriza essa concepção é o
diálogo. As regras não são dispensadas, porém não são colocadas como algo exclusivo, o que
seria mais recomendado por pesquisadores de práticas de ensino dessa área como Irandé
Antunes.
O ensino de gramática a partir da linguagem como interação vai bem além de
memorizar que substantivo é a classe de palavras que nomeia todos os seres vivos e não vivos,
que adjetivo é a palavra que expressa uma característica ou qualidade, entre outras
observações. O professor busca uma contextualização, considerando que toda regra tem sua
ressalva. O aluno “cresce profissionalmente” sabendo responder questões envolvendo sua
língua materna, e ainda agir sobre qualquer situação que o integra aos seus semelhantes.
Sobre isso:
Enquanto o professor de português fica apenas analisando se o sujeito é
“determinado” ou “indeterminado”, por exemplo, os alunos ficam privados
de tomar consciência de que ou eles se determinam a assumir o destino de
suas vidas ou acabam todos, na verdade, “sujeitos inexistentes”.
(ANTUNES, 2003, p.17)
Sendo assim, no que se trata do quesito criticidade, é também um ponto que deve ser
trabalhado nas aulas de língua. A gramática está ai como uma base de interação se trabalhada
junta às outras demanda da disciplina. O ensino onde o professor só despeja regras
gramaticais nas “cabeças depósitos” dos alunos é de fato uma tarefa facilitada para ambas as
partes, docente e discente. Mas, profissionalmente, menos reconhecidos. Todos têm em si uma
capacidade de adquirir conhecimento sobre qualquer coisa, a questão é o modo no qual se
estudou sobre a tal coisa.

2 ESTUDOS À GRAMÁTICA: CONCEPÇÕES NUMA PERSPECTIVA TRAVAGLIA


Se essa pesquisa implica-se no trabalho com a gramática, nada mais justo que trazer
conhecimentos sobre ela, e o modo como ela e tratada por um grande pesquisador da área,
Travaglia. Luiz Carlos Travaglia, professor de língua portuguesa e linguística, além de
pesquisador do Instituto de Letras e Linguística, da Universidade Federal de Uberlândia.
Graduado em Licenciatura Plena em Letras – Portugês/Ingês, possui doutorado em linguística
pela UNICAMP, e pós-doutorado na mesma área pela UFRJ. Desenvolveu uma variedade de
artigos, e contribuições para livros, trazendo também algumas obras completas em seu nome.
Em sua obra Gramática e interação: uma proposta para o ensino de gramática,
Travaglia aponta três modos de conceber a gramática. A primeira, chamada gramática
normativa, é conhecida como um guia do falar e escrever bem. Nessa concepção, gramática é
composta por um sistema de regras que rege todo o conjunto de uma língua. Dessa maneira,
para reconhecer essa língua, o sujeito deve ter em memória essas regras e colocá-las em
prática sempre que for fazer uso da linguagem.
Fica claro que nesse modo de ver a gramática, só é considera a linguagem padrão,
culta, sendo que os desvios dessas regras são vistos como erros, e particularidades de
variações da língua, caracterizada na oralidade, são menosprezadas. Dentro dessa concepção,
percebe-se outras variadas definições, apontadas pelo autor como: “Estética, Elitista ou
Aristocrática, Política, Comunicacional e Histórica”. Cada uma como peculiaridades ligadas
aos princípios normativos.
A segunda concepção, conhecida como gramática descritiva, trabalha descrevendo a
estruturação e o funcionamento da língua. Isto é, regras que estudiosos, no ramo da
linguagem, determinam para explicar a língua em uso e seu funcionamento. Sobre a definição
nesse modo de reconhecer a gramática, Franchi (1991) apud Travaglia (2009), diz que “é um
sistema de noções mediante as quais se descrevem os fatos de uma língua, permitindo associar
a cada expressão dessa língua, uma descrição estrutural e estabelecer suas regras de uso, de
modo a separar o que é gramatical do que não é gramatical”(p.27).
Seguindo essa linha, em que é proposto o funcionamento da língua em uso, nessa
segunda concepção, diferentemente da primeira, a variação linguística é considerada de uma
forma em que cada contexto de uso tem regras especificas a seguir. A questão é saber
diferenciar as esferas ligadas ao uso de expressões linguíticas. Especialidades da língua,
como a oralidade é excepcional para determinar o que rege esse conceito de gramática. Veja:

São representantes dessa concepção as gramáticas feitas de acordo com as


teorias estruturalistas que privilegiam a descrição da língua oral e as
gramáticas feitas segundo a teoria gerativista-transformacional que trabalha
como enunciados ideais, ou seja, produzidos por uma falante ouvinte ideal.
As correntes linguísticas que dão base a esse tipo de gramática têm em
comum o fato de proporem uma homogeneidade do sistema linguístico,
abstraindo a língua de su contexto, ou seja, elas trabalham com um sistema
formal abstrato que regularia o uso que se tem em cada variedade linguístico.
(TRAVAGLIA, 2009 p. 27-28)

Por ultimo, a terceira forma de conceber a linguagem, a gramática internalizada, é


caracterizada por regras que o sujeito aprendeu desde o início da utilização da língua falada
com seus semelhantes na sua comunidade, sem a necessidade de uma instrução direta. Nesta
hipótese, que é de fato, os seres humanos já nascem com uma capacidade de interagir com
seus congêneres, e ao decorrer do seu desenvolvimento físico e mental há, também, um
aprimoramento de sua fala, mesmo sem o acesso a escolarização. Assim, como diz Franchi
(1991) apud Traváglia (2009) a “própria dotação genética humana”. Os Parâmetros
Curriculares Brasileiro de Língua Portuguesa, sobre o uso da língua, fala que

As situações de comunicação diferenciam-se conforme o grau de


formalidade que exigem. E isso é algo que depende do assunto tratado, da
relação entre os interlocutores e da intenção comunicativa. A capacidade de
uso da língua oral que as crianças possuem ao ingressar na escola foi
adquirida no espaço privado: contextos comunicativos informais, coloquiais,
familiares. (BRASIL, 1998, p.49)

Levando em conta que nessa concepção a língua é observada como uma toda
variedade possível utilizada por uma sociedade para criar situações comunicativas, não
existem erros gramaticais, mas sim o uso inadequado para com aquela situação comunicativa,
apontado pelo contexto social. Também não se encontra livros dessa gramática, considerando
que por ser internalizada, é algo natural dos humanos. Isso faz parte da capacidade inata de
desenvolver competências próprias de um usuário de determinada língua.
Vale ressaltar que além de esses três modos de ver a gramática, ainda é possível listar
um série de tipos de gramática segundo a obra de Traváglia. Os onzes (11) tipos listados são:
1) Normativa, 2) Descritiva, 3) internalizada, 4) implícita, 5) Explícita, 6) Reflexiva, 7)
Contrastiva, 8) Geral, 9) Universal, 10) Histórica, 11) Comparada. Cada uma com
peculiaridades que caracterizam-nas2.
Refletindo diante dos possíveis modos de conceber a linguagem, nenhuma das três
opções pode ser descartada do contexto escolar. Considerando que em alguns momentos o ser
humano necessita de, e é posto em, situações de uso formal da linguagem, como também em
outras ocasiões o indivíduo deve se colocar diante de outras variedades da língua para que
haja de fato uma interação com o próximo. Partindo pro contexto escolar, o professor deve ter
noções sobre as mais várias formas da comunicação, e trabalhar isso com seu aluno, tanto a
gramática normativa, quanto à descritiva e a internalizada. Nunca foi intenção dessa pesquisa
falar que trabalhar tal gramática é errado, mas sim trabalhar fragmentadamente e de forma
isolada uma gramática não é recomendado.

3 DA REGRA À PRÁTICA
Depois de muito falar sobre perspectivas de gramática e linguagem, finalmente abre-se
espaço para uma discussão do ensino de gramática no contexto escolar. Diante de tudo que já
foi exposto em relação à temática, têm-se uma pequena noção do cominho a ser seguido pelos
profissionais da área do ensino de língua. Nada mais lindo que uma bela teoria para situar-se
em um campo social, nada melhor do que ter um norte quando se tem que seguir numa trilha
dentro de uma mata espessa. Porém, parece ser um pouco mais difícil de relacionar a teoria à
prática.
Partindo da fase de formação dos profissionais dessa área, nota-se que muito é instruído
sobre como levantar metodologias para que se consigam realmente resultados ao lecionar
aulas de português. É importante observar que as grades curriculares das instituições de
ensino superior possuem uma preocupação quando se trata dos modelos de ensino e práticas
pedagógicas. Como exemplo disso, observando a grade curricular da Universidade Estadual
da Paraíba, UEPB, destaca-se, aqui, a disciplina Prática Pedagógica I e II, que está posta
exatamente para essas instruções.

2
Para se aprofundar sobre os tipos de gramáticas veja em: Luiz Carlos Travaglia, Gramática e interação: uma
proposta para o ensino de gramática, p.30-37.
Analisando a ementa da disciplina, observa-se que está em pauta métodos para o ensino
de gramática, e o apreço por procedimentos para a gramática como uma das ferramentas de
interação comunicativa. Consequentemente, logo é desprezada a forma tradicional, e mais
usada, na qual é classificada por fragmentação e o uso isolado.
Após sua formação, o professor de língua português ainda conta com documentos
dispostos pelo Ministério da Educação, que aponta o caminho a percorrer. Em várias
passagens dos PCNs de língua portuguesa fica claro o modo como a língua deve ser tratada, e
o objetivo do ensino de língua materna. Segundo eles (1998, p.23), “O domínio da língua
materna tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio
dela que o homem se comunica, tem informações, expressa e defende pontos de vista, partilha
ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.” Novamente apontamentos que tudo
envolve a interação com o próximo.
Dessa maneira, ainda atenta, na pág. 90, que, “Saber o que é substantivo, adjetivo,
verbo, artigo, preposição, sujeito, predicado, etc. não significa ser capaz de construir bons
textos, [produzir unidades de sentidos linguísticos, transmitir um enunciado que será,
impreterivelmente, captado por um receptor] empregando bem esses conhecimentos.” O
professor é informado o quanto o ensino tradicional da gramática torna-se falho, e que isso é
visível quando discente consegue, por exemplo, definir sujeito e verbo, mas permanece com
problemas de concordância.
Partindo para a prática, particularmente no ensino da gramática, Irandé Antunes, (2003)
aponta o que realmente acontece nas aulas de português. A descontextualização é constante.
Saber “o que é” é posto como mais importante do que “saber como usar”. E o aluno é
informado que sua própria língua, por ele usada desde os 2 ou 3 anos de idade, e muito difícil,
e será desenvolvida uma perspectiva desanimadora, como fala Luft (2009, p.65) “uma das
principais causas de um ensino de língua materna mal orientado, na escola tradicional, é o
pressuposto de que o aluno não sabe a língua. Isso leva a concentrar o esforço em “ensinar”
coisas, sobretudo teoria gramatical e regras.”Acerca disso, Travaglia também aponta que:

O ensino de gramática em nossas escolas tem sido primordialmente


prescritivo, apegando-se a regras de caráter normativo que como vimos, são
estabelecidas de acordo com a tradição literária clássica, da qual é tirada a
maioria dos exemplos. Tais regras e exemplos são repetidos anos a fio como
formas “corretas” e boas a serem imitadas na expressão do pensamento.
(TRAVAGLIA, 2009, p.101)
Metodologias pautam-se em uso fragmentado, sem explanação pra o real uso, palavras
isoladas sem os sujeitos que caracterizam um discurso (Emissor→Receptor). O exercício se
torna monótono, seguido de decorebas que serão, sem dúvidas, esquecidas por esses
discentes. É notável a prioridade de uma gramática imutável, estática, que sempre pregará o
que é certo, e se fugir desse cominho certamente será notificado do erro. O real objetivo pra o
ensino de língua materna, de desenvolver a capacidade comunicativa aprimorando sua língua,
é posto de lado, dando lugar ao simples fato de nomenclaturas. Reconhecer nomes das
unidades gramaticais gera apenas o conhecimento sobre o que é, não como usá-las.
Em contrapartida, as indagações de “qual o motivo de não colocar as instruções em
prática?” podem ser respondias, rasamente, pelos simples fatos de facilidade diante de um
sistema complexo. Não convenhamos, apena, em culpar o docente desse ensino fraquejado.
Diante das exigências de um sistema difícil de cumprir, o professor se ver obrigado em
procurar um caminho que facilite um pouco para ele, e a saída, para o docente da área de
língua portuguesa é o ensino prescritivo da gramática normativa, descritos nos dois parágrafos
anteriores.
Sobretudo, porém, o professor é o principal sujeito para que mudanças, em todos os
aspectos, aconteçam. Quando se instrui sujeitos ativos de linguagem, refletimos uma
perspectiva de pessoas capazes de criticar e buscar por aquilo que é de fato seu. O docente
deve visar essa formação ativa para seu aluno, e com isso deixar para trás metodologias
arcaicas e dar prioridade ao novo mundo. O professor de língua portuguesa precisa desapegar-
se das nomenclaturas, precisa para de centrar as suas aulas em regras gramaticais.
O ensino de gramática é muito importante, e não é intenção deste descartar esse
ensino. A questão é como se trabalha, e o problema de a predominação do centrar-se num
ensino que dita o que é certo e errado. É importante que o docente de língua desenvolva
metodologias que abrace a gramática como forma de interação, e com isso o ensino descritivo
e a gramática internalizadas também sejam exploradas, para que seus discentes desenvolvam
suas capacidades comunicativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a gramática como um instrumento de uso para interagir e se comunicar
com o próximo, diante do exposto, percebe-se ainda uma vulnerabilidade quando se trata do
ensino acerca desse conhecimento. Mesmo que muito se instrua sobre o melhor e verdadeiro
modo a ser tratado à gramática, é perceptível que alguns professores de língua portuguesa se
prendem a uma única alternativa de centrar suas metodologias em ensino de regras e
nomenclaturas de unidades gramaticais, considerada falha por pesquisadores de práticas de
ensino quando se trata de língua.
Um das características desse ensino é a relação de concepções distorcidas que alguns
professores têm a respeito das aulas de língua portuguesa. Ainda é comum encontrar docentes
que pensam que aulas de português são aulas de etiquetas para falar e escrever correto, sendo
isso uma descrição estupidamente fraca a respeito do lecionar nessa esfera de conhecimento.
Outro ponto que pode interferir nas práticas pedagógicas dos professores são as exigências de
um sistema fraquejado, que sobrecarregam e deixam preocupações, fazendo esses procurarem
medidas lamentavelmente prejudiciais a seus alunos.
Diante de três concepções de gramáticas, pode-se notar a seguinte bifurcação: de um
lado o interesse do falar e escrever correto, de outro lado, a importância de desenvolver
competências marcadas por agir sobre seu semelhante. O ensino da gramática normativa não
deve ser estancado, apenas ser formulado de modo que abarque também a gramática
descritiva, não esquecendo os conhecimentos de mundo. Cabe ao professor saber identificar o
que é produtivo para o aluno, e o que é apenas reprodução meramente prescindível. Numa
perspectiva “Regras do escrever e falar correto x Ferramenta para interação” optar pela
segunda opção é o melhor caminho.

REFERÊNCIAS:

ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação, 8ª Ed. – São Paulo: Parábola
Editora, 2003

BRASIL. Parâmetros curriculares nacionais: primeiro e segundo ciclos do ensino


fundamental: língua portuguesa. Brasília, MEC/SEF 1998.

LUFT, Celso, Pedro 1921-1995. Língua e Liberdade: por uma nova concepção de língua
materna 8 ed. São Paulo: Ática, 2009.

TRAVAGLIA, Carlos Luiz. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de


gramática. 11. Ed. São Paulo: Cortez, 2009.

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