13 Estudos À Gramática - Concepções de TRAVAGLIA
13 Estudos À Gramática - Concepções de TRAVAGLIA
13 Estudos À Gramática - Concepções de TRAVAGLIA
RESUMO:
Observando a importância do docente da área do ensino de língua desenvolver metodologias em que o
ensino de gramática não seja marcado pelo olhar tradicionalista, este artigo tem o objetivo de discutir
o ensino de gramática a partir de duas perspectivas: a primeira traz a gramática como um conjunto de
regras para “falar bem”; a segunda visa a gramática como ponto para prática comunicativa de
linguagem. Para isso, serão levantadas questões de concepções e de ensino de linguagem ligadas às
práticas pedagógicas executadas em ambientes escolares, considerando que na maioria das vezes a
primeira perspectiva de gramática é tratada como o “centro das atenções” nas aulas de português. O
estudo prosseguiu-se através de pesquisas bibliográficas, e se insere no campo qualitativo, analisando
referentes ao assunto, tais como (ANTUNES, 2003), (LUFT, 2009), (TRAVAGLIA, 2009) entre
outros, fundamentando-se também em documentos que norteiam as aulas de língua portuguesa
(BRSIL, 1998). Assim como qualquer outra profissão, o professor tem o dever de buscar
constantemente por mudanças, e refletir isso em suas práticas pedagógicas para que haja um
aprendizado que responda às exigências da sociedade atual. No que se diz respeito ao trabalho com a
gramática, manusear a linguagem como forma de interação traz maiores possibilidades para que isso
aconteça, desenvolvendo as competências comunicativas do aluno.
INTRODUÇÃO
Considerando que a linguagem vem se modelando de acordo com as necessidades
comunicativas humanas, se faz necessário refletir acerca de como os profissionais da área do
ensino de língua lidam com esses processos de transfiguração de um novo paradigma. De
acordo com o que entendemos com a “lei da vida”, aquilo que me servia ontem, talvez hoje
não atenda às demandas que necessito para me colocar a frente das cobranças de um corpo
social. E no que se diz respeito ao ensino de português, é bastante comum ainda se deparar
com metodologias “arcaicas” envolvendo a gramática.
Numa perspectiva tradicionalista, a gramática vem sendo colocada como o “centro das
atenções” nas aulas de português para o “falar bem” do aluno. E isso é ruim? De fato, sim. Ela
é um componente bastante importante para a disciplina de Língua portuguesa, assim como
também a Literatura e a Produção Textual. E quando o docente visa à gramática como a
parcela maior, é normal que o ensino seja algo fragmentado. Tais componentes devem ser
trabalhados em conjunto, levando em consideração que cada parte se interliga, e que o aluno
vai fazer uso de uma quando estiver trabalhando com outra.
Só falar correto não condiz mais com aquilo que o mundo exige de um indivíduo. A
interação comunicativa ganhou espaço tanto no mercado de trabalho, como em qualquer outra
área em que se situa mais de um sujeito. O compreender a fala do seu semelhante, e vice-
versa, vale mais do que saber identificar o que é um substantivo.
Em seu trabalho Aulas de Português: Encontro & interação Irandé Antunes1 (2003)
explora, também, o mundo da gramática e salienta o modo tradicional de se trabalhar esse
componente. Termos como “Gramática descontextualizada”, “Inflexível”, “predominante”,
“voltada para nomenclatura” são usados pela autora para descrever como está sendo o papel
da matéria desenvolvido na maioria das vezes no contexto escolar.
O modo como a disciplina é tratada está diretamente ligado a concepções
(TRAVAGLIA, 2009). Se o docente reconhece que a gramática é a porta para o mundo, e que
se seu aluno dominar as regras gramaticais está automaticamente apto a qualquer situação
comunicativa, certamente esse professor pautará suas metodologias de ensino para que o
discente apenas aprenda (decore) tais especificidades.
Vale aqui lembrar que usamos nossa língua para nos comunicar com nossos
semelhantes, assim constituir um ato de interação. E é bastante claro que não é por entender o
que é um verbo, artigo, entre outras classes gramaticais que necessariamente um sujeito será
capaz de se colocar em um procedimento de interação com o seu congênere (BRASIL, 1998).
O contexto geralmente mede efeitos no ensino, sabendo que a gramática é reflexível
(ANTUNES, 2003), e em certos momentos não se pode explicá-la de forma universal.
METODOLOGIA
Para discutir acerca dessa temática, o seguinte trabalho desenvolveu-se através de
pesquisa qualitativa de forma bibliográfica. Foram selecionados e estudados autores, citados
acima, que abraçam estudos que cogitam o ensino de gramática, sendo eles (ANTUNES, 2003),
(LUFT, 2009), (TRAVAGLIA, 2009) entre outros, fundamentando-se também em documentos que
norteiam as aulas de língua portuguesa (BRSIL, 1998. Antes de tudo, sabendo da grande
relevância, parte-se de pressupostos de concepções de linguagem, que está sempre atrelado a
modos nos quais o professor desenvolve suas metodologias, até chegar à demanda da
gramática e a importância de um olhar que busca a interação nessa esfera de conhecimento.
O esperado é que os docentes dessa área reflitam e busquem por adaptações ao mundo
atual, e procurem métodos novos para construir um saber com seu discente. Abrir os olhos de
que o melhor para o seu aluno é produzir e não reproduzir, aprender, diante de uma situação
de uso, e não decorar, e acima de tudo situa-se que existem vários contextos, e que cada um
1
Doutora em linguística pela Universidade Clássica de Lisboa, e professora na mesma área na Universidade
Estadual do Ceará.
tem suas especificidades. Se a língua está posta como um ato para interagir com outro, nada
melhor do que trabalhá-la de forma com que venha a aprimorar as competências
comunicativas do discente.
Levando em conta que nessa concepção a língua é observada como uma toda
variedade possível utilizada por uma sociedade para criar situações comunicativas, não
existem erros gramaticais, mas sim o uso inadequado para com aquela situação comunicativa,
apontado pelo contexto social. Também não se encontra livros dessa gramática, considerando
que por ser internalizada, é algo natural dos humanos. Isso faz parte da capacidade inata de
desenvolver competências próprias de um usuário de determinada língua.
Vale ressaltar que além de esses três modos de ver a gramática, ainda é possível listar
um série de tipos de gramática segundo a obra de Traváglia. Os onzes (11) tipos listados são:
1) Normativa, 2) Descritiva, 3) internalizada, 4) implícita, 5) Explícita, 6) Reflexiva, 7)
Contrastiva, 8) Geral, 9) Universal, 10) Histórica, 11) Comparada. Cada uma com
peculiaridades que caracterizam-nas2.
Refletindo diante dos possíveis modos de conceber a linguagem, nenhuma das três
opções pode ser descartada do contexto escolar. Considerando que em alguns momentos o ser
humano necessita de, e é posto em, situações de uso formal da linguagem, como também em
outras ocasiões o indivíduo deve se colocar diante de outras variedades da língua para que
haja de fato uma interação com o próximo. Partindo pro contexto escolar, o professor deve ter
noções sobre as mais várias formas da comunicação, e trabalhar isso com seu aluno, tanto a
gramática normativa, quanto à descritiva e a internalizada. Nunca foi intenção dessa pesquisa
falar que trabalhar tal gramática é errado, mas sim trabalhar fragmentadamente e de forma
isolada uma gramática não é recomendado.
3 DA REGRA À PRÁTICA
Depois de muito falar sobre perspectivas de gramática e linguagem, finalmente abre-se
espaço para uma discussão do ensino de gramática no contexto escolar. Diante de tudo que já
foi exposto em relação à temática, têm-se uma pequena noção do cominho a ser seguido pelos
profissionais da área do ensino de língua. Nada mais lindo que uma bela teoria para situar-se
em um campo social, nada melhor do que ter um norte quando se tem que seguir numa trilha
dentro de uma mata espessa. Porém, parece ser um pouco mais difícil de relacionar a teoria à
prática.
Partindo da fase de formação dos profissionais dessa área, nota-se que muito é instruído
sobre como levantar metodologias para que se consigam realmente resultados ao lecionar
aulas de português. É importante observar que as grades curriculares das instituições de
ensino superior possuem uma preocupação quando se trata dos modelos de ensino e práticas
pedagógicas. Como exemplo disso, observando a grade curricular da Universidade Estadual
da Paraíba, UEPB, destaca-se, aqui, a disciplina Prática Pedagógica I e II, que está posta
exatamente para essas instruções.
2
Para se aprofundar sobre os tipos de gramáticas veja em: Luiz Carlos Travaglia, Gramática e interação: uma
proposta para o ensino de gramática, p.30-37.
Analisando a ementa da disciplina, observa-se que está em pauta métodos para o ensino
de gramática, e o apreço por procedimentos para a gramática como uma das ferramentas de
interação comunicativa. Consequentemente, logo é desprezada a forma tradicional, e mais
usada, na qual é classificada por fragmentação e o uso isolado.
Após sua formação, o professor de língua português ainda conta com documentos
dispostos pelo Ministério da Educação, que aponta o caminho a percorrer. Em várias
passagens dos PCNs de língua portuguesa fica claro o modo como a língua deve ser tratada, e
o objetivo do ensino de língua materna. Segundo eles (1998, p.23), “O domínio da língua
materna tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio
dela que o homem se comunica, tem informações, expressa e defende pontos de vista, partilha
ou constrói visões de mundo, produz conhecimento.” Novamente apontamentos que tudo
envolve a interação com o próximo.
Dessa maneira, ainda atenta, na pág. 90, que, “Saber o que é substantivo, adjetivo,
verbo, artigo, preposição, sujeito, predicado, etc. não significa ser capaz de construir bons
textos, [produzir unidades de sentidos linguísticos, transmitir um enunciado que será,
impreterivelmente, captado por um receptor] empregando bem esses conhecimentos.” O
professor é informado o quanto o ensino tradicional da gramática torna-se falho, e que isso é
visível quando discente consegue, por exemplo, definir sujeito e verbo, mas permanece com
problemas de concordância.
Partindo para a prática, particularmente no ensino da gramática, Irandé Antunes, (2003)
aponta o que realmente acontece nas aulas de português. A descontextualização é constante.
Saber “o que é” é posto como mais importante do que “saber como usar”. E o aluno é
informado que sua própria língua, por ele usada desde os 2 ou 3 anos de idade, e muito difícil,
e será desenvolvida uma perspectiva desanimadora, como fala Luft (2009, p.65) “uma das
principais causas de um ensino de língua materna mal orientado, na escola tradicional, é o
pressuposto de que o aluno não sabe a língua. Isso leva a concentrar o esforço em “ensinar”
coisas, sobretudo teoria gramatical e regras.”Acerca disso, Travaglia também aponta que:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando a gramática como um instrumento de uso para interagir e se comunicar
com o próximo, diante do exposto, percebe-se ainda uma vulnerabilidade quando se trata do
ensino acerca desse conhecimento. Mesmo que muito se instrua sobre o melhor e verdadeiro
modo a ser tratado à gramática, é perceptível que alguns professores de língua portuguesa se
prendem a uma única alternativa de centrar suas metodologias em ensino de regras e
nomenclaturas de unidades gramaticais, considerada falha por pesquisadores de práticas de
ensino quando se trata de língua.
Um das características desse ensino é a relação de concepções distorcidas que alguns
professores têm a respeito das aulas de língua portuguesa. Ainda é comum encontrar docentes
que pensam que aulas de português são aulas de etiquetas para falar e escrever correto, sendo
isso uma descrição estupidamente fraca a respeito do lecionar nessa esfera de conhecimento.
Outro ponto que pode interferir nas práticas pedagógicas dos professores são as exigências de
um sistema fraquejado, que sobrecarregam e deixam preocupações, fazendo esses procurarem
medidas lamentavelmente prejudiciais a seus alunos.
Diante de três concepções de gramáticas, pode-se notar a seguinte bifurcação: de um
lado o interesse do falar e escrever correto, de outro lado, a importância de desenvolver
competências marcadas por agir sobre seu semelhante. O ensino da gramática normativa não
deve ser estancado, apenas ser formulado de modo que abarque também a gramática
descritiva, não esquecendo os conhecimentos de mundo. Cabe ao professor saber identificar o
que é produtivo para o aluno, e o que é apenas reprodução meramente prescindível. Numa
perspectiva “Regras do escrever e falar correto x Ferramenta para interação” optar pela
segunda opção é o melhor caminho.
REFERÊNCIAS:
ANTUNES, Irandé. Aula de Português: encontro & interação, 8ª Ed. – São Paulo: Parábola
Editora, 2003
LUFT, Celso, Pedro 1921-1995. Língua e Liberdade: por uma nova concepção de língua
materna 8 ed. São Paulo: Ática, 2009.