Geografia Rural

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Geografia Rural

Prof. Anselmo das Neves Bueno


Prof. Carlos Odilon da Costa

Indaial – 2019
1a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2019

Elaboração:
Prof. Anselmo das Neves Bueno
Prof. Carlos Odilon da Costa

Revisão, Diagramação e Produção:


Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri


UNIASSELVI – Indaial.

B928g

Bueno, Anselmo das Neves

Geografia rural. / Anselmo das Neves Bueno; Carlos Odilon da


Costa. – Indaial: UNIASSELVI, 2019.

229 p.; il.

ISBN 978-85-515-0399-7

1. Geografia rural. - Brasil. I. Costa, Carlos Odilon da. II. Centro


Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 910.091734

Impresso por:
Apresentação
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Geografia Rural.
A partir do estudo deste livro, você conhecerá os conceitos fundamentais
da Geografia Rural e entenderá as relações desta disciplina com os espaços
agrários em nosso país e no mundo, bem como entenderá como os princípios
humanos podem ser aplicados no gerenciamento de recursos naturais.
Você perceberá que o desenvolvimento da sociedade implica a extração de
produtos da natureza e, consequentemente, na sua transformação.

Desta forma, ficará mais claro por que a degradação do meio ambiente,
em prol do desenvolvimento, tem sido alvo de análise e importantes debates.
Você entenderá que as consequências da degradação ambiental apresentam
efeitos negativos também para o desenvolvimento humano, suas atividades
econômicas e para a própria sociedade, decorrentes, entre outros fatores, da
expansão urbana, avanço da agropecuária sobre os biomas, assim como da
geração de energia e seus efeitos.

Compreenderá que as atividades econômicas realizadas nos espaços


agrícolas vão muito além apenas da produção de alimentos e sua distribuição,
pois são questões históricas de formas de ocupação e modelos de exploração
que podem desenvolver um território ou explorá-lo de maneira negativa,
aumentando a desigualdade social, a miséria e intensificando os problemas
ambientais como um todo, ocasionando um prejuízo generalizado para todos
que habitam este planeta.

No que se refere à dinâmica demográfica e à relação sociedade/


natureza, você verá que existe uma versão mais moderna que reconhece
a existência de outros fatores na equação população/meio-ambiente/
desenvolvimento/atividades econômicas. A pressão demográfica, neste
caso, não entraria como determinante dos problemas ambientais, como um
agravante.

Através dos gêneros de vida e do complexo geográfico, a Geografia


Rural desenvolveu várias preocupações e linhas de análises e investigações,
principalmente a dos tipos de agricultura. Dessa forma, o campo de estudo
da Geografia Rural ou agrária é o estudo da atividade espacial agrícola e
pecuária, que são alguns entre os diversos sistemas socioeconômicos na
atualidade.

  O ponto de vista do geógrafo agrário é o espacial e é dirigido


particularmente para o arranjo e distribuição dos padrões de atividade
agropecuária, bem como para seus processos geradores, cuja dinâmica
procura analisar e compreender a dimensão espaço-tempo.

III
Finalmente, podemos dizer que a Geografia Rural procura
principalmente contribuir para o planejamento e desenvolvimento da
agricultura ou das atividades agrárias, mas em termos de bem-estar social
e econômico das comunidades rurais e de todos os atores envolvidos nessa
atividade socioeconômica.

Boa leitura e bons estudos!


Prof. Anselmo das Neves Bueno

NOTA

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto


para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há
novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é


o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente,


apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador.
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto
em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa
continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de


Desempenho de Estudantes – ENADE.
 
Bons estudos!

IV
V
LEMBRETE

Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela


um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer teu conhecimento, construímos, além do livro


que está em tuas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela terás
contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementares,
entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar teu crescimento.

Acesse o QR Code, que te levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para teu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nessa caminhada!

VI
Sumário
UNIDADE 1 – GEOGRAFIA RURAL.....................................................................................................1

TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL...........................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................................3
2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL...............................................5
2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E TEÓRICOS................................................7
2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO RURAL...............................................8
2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA.........................................................13
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................19
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................20

TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO...........................23


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................23
2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO.................................................................24
2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS...................................................................................26
2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX.....................................................27
2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO CONTEMPORÂNEO . .................................30
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................41
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................42

TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS


CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL...............................................................45
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................45
2 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO MUNDO.......................................................46
2.1 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO BRASIL.......................................................52
2.2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL – SÉCULO XXI................................................................55
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................................62
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................63
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................64

UNIDADE 2 – ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE......................................................................67

TÓPICO 1 – NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE......................................69


1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................69
2 PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA NOVA RURALIDADE.............................................69
2.1 RURALIDADE CAMPO E CIDADE..............................................................................................76
2.2 DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE A NOVA RURALIDADE.......................................78
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................82
AUTOATIVIDADE..................................................................................................................................84

TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E


FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL................87
1 INTRODUÇÃO......................................................................................................................................87

VII
2 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO
COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO MUNDO......................................................................87
2.1 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL........................93
2.2 FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL.....................................99
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................105
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................107

TÓPICO 3 – OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A


SUSTENTABILIDADE.............................................................................................................109
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................109
2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (GLOBAL)...................................................109
2.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (AMÉRICA LATINA)...............................114
2.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS MECANIZADOS (BRASIL)....................117
2.2.1 Sistema Agrícola de Base Familiar......................................................................................118
2.2.2 Sistema Plantio Direto (SPD)................................................................................................119
2.2.3 Agroecologia...........................................................................................................................121
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................125
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................127
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................129

UNIDADE 3 – ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO..................................................131

TÓPICO 1 – INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO


RURAL...............................................................................................................................133
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................133
2 POLÍTICAS PÚBLICAS, INSTITUIÇÕES E DESENVOLVIMENTO RURAL.......................134
2.1 O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO ALIMENTAR...............................................................138
2.2 AGRO TURISMO E O TURISMO RURAL..................................................................................141
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................................147
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................148

TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL....................................................149


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................149
2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL MUNDIAL...................................................152
2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL LATINO AMERICANO............................154
2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO..............................................157
2.2.1 Movimento dos Sem Terra...................................................................................................161
2.2.2 Marcha das Margaridas........................................................................................................163
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................................167
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................169

TÓPICO 3 – ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA..........................171


1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................................171
2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ESPAÇO RURAL............................................................................176
2.1 BNCC GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NO ESPAÇO RURAL............................180
2.2 ENSINO GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO FUNDAMENTAL..........................................184
3 ENSINO DE GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO MÉDIO........................................................189
3.1 EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO ENSINO MÉDIO................................................................191
LEITURA COMPLEMENTAR..............................................................................................................194
RESUMO DO TÓPICO 3......................................................................................................................201
AUTOATIVIDADE................................................................................................................................202
REFERÊNCIAS........................................................................................................................................205

VIII
UNIDADE 1

GEOGRAFIA RURAL

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os conceitos pertinentes ao tema: questão agrária, questão agrí-


cola, uso e a exploração da terra no Brasil e no mundo;
• compreender as abordagens teóricas e históricas referentes à reprodução
do camponês e do latifundiário e suas relações com o capitalismo;
• saber as bases teóricas que consolidaram o capitalismo, como sistema he-
gemônico, no tocante à agricultura;
• entender o funcionamento do capitalismo e sua relação com a produção
do capital;
• compreender como se deu o desenvolvimento do Espaço Rural durante a
evolução do Sistema Capitalista Financeiro e Informacional;
• entender as diferenças na relação capitalista entre os países periféricos e
os países centrais no que se refere à agricultura;
• conhecer as origens da concentração fundiária brasileira, suas causas e
consequências;
• compreender que a estrutura agrária de um território (país, estado, municí-
pio) está diretamente relacionada à estrutura social, política e econômica.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade, você
encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.

TÓPICO 1 – ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO


RURAL
TÓPICO 2 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO
TÓPICO 3 – A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO
CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O
ESPAÇO RURAL

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

1
2
UNIDADE 1
TÓPICO 1

ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO


RURAL

1 INTRODUÇÃO

A formação histórica do meio rural brasileiro apresenta diferenças


marcantes em relação à formação do meio rural europeu e norte-americano, ao
mesmo tempo em que é muito parecido com o de outros países não desenvolvidos,
principalmente com os da América Latina. Basta lembrar as funções específicas
assumidas historicamente pelas cidades, a vinculação da grande agricultura de
origem colonial do mercado externo e a possibilidade de deserção da população
por um vasto território, para entender a particularidade brasileira no que se
refere à constituição e composição das sociedades locais, à relação campo/cidade
e às relações entre o que é “agricultura” e o que é “rural” (WANDERLEY, 1999).

FIGURA 1 – RURAL X URBANO

FONTE: <https://www.smartkids.com.br/content/articles/images/232/thumb/zona-urbana-zona-
rural.png>. Acesso em: 13 fev. 2019.

3
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

No Brasil, o meio rural foi historicamente percebido como constituindo


um “espaço diferenciado”, que corresponde a formas sociais distintas: as grandes
propriedades rurais (fazendas e engenhos), os pequenos aglomerados (povoados)
e padrões culturais específicos. Esses espaços, juntamente com as pequenas
cidades do interior, tiveram um importante papel na história do povoamento
brasileiro, como “pontos de apoio da civilização” (WANDERLEY, 1999, p. 18).

Contemporaneamente, as transformações introduzidas no meio rural


brasileiro pelo processo de “modernização conservadora” da sociedade e da
agricultura, iniciado depois da Segunda Guerra Mundial, levaram alguns autores
a caracterizar esse período pela ocorrência de um “processo de urbanização do
campo” (SILVA, 1997; CARNEIRO, 1998).

Como unidade político-administrativa, os municípios brasileiros têm


origem no modelo da República Romana que os impôs às regiões conquistadas,
como a Península Ibérica, de onde, naturalmente, chegou ao Brasil-Colônia
(IBAM, 2001; CIGOLINI, 2000).

De acordo com Guimarães (2006, p. 119), a evolução do espaço rural


brasileiro:

As condições naturais do território brasileiro favorecem o


desenvolvimento de uma atividade agropecuária em larga escala. Com
um relevo predominantemente plano, uma significativa diferenciação
climática e sendo detentor das maiores reservas de água doce
conhecidas, o Brasil se consolidou no mercado internacional como
um dos grandes produtores de grãos, carnes e bioenergia do mundo
contemporâneo. Essa trajetória da agropecuária nacional, embora
tenha seu desenvolvimento ligado a condições naturais favoráveis,
é, igualmente, indissociável dos condicionantes históricos, políticos,
sociais e geográficos que traçaram o processo de construção do espaço
rural brasileiro.

FIGURA 2 – ESPAÇO RURAL BRASILEIRO MODERNO

FONTE: <https://cursoenemgratuito.com.br/wp-content/uploads/2017/09/2.jpg>. Acesso em:


17 fev.2019.

4
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

Foi somente com a Constituição de 1824 que iniciou a verdadeira história


dos municípios brasileiros, pois “até então o que havia entre nós era o município
português, transportado para cá” (CIGOLINI, 2000, p. 34). Mas, no que se refere à
regulamentação das funções municipais, verifica-se que ela ocorreu somente em
1828, através de lei complementar que retirou a autonomia dos municípios. Com
isso, os municípios brasileiros tiveram limitadas suas liberdades, atribuições
e competências. Por outro lado, foi-lhes dada “margem para que se abrisse
discussão em torno das suas disposições, originando o fantasma da autonomia que
assombrou o período republicano” (CIGOLINI, 2000; BERNARDES; SANTOS;
WALCACER, 1983).

Também surgiam vilas e cidades sem a prévia existência de freguesias.


Tanto cidades quanto vilas podiam ser sedes de municípios.

Tradicionalmente, no Brasil, a decisão sobre a criação de uma vila ou


cidade ou sobre a elevação de um aglomerado pré-existente a esta ou
àquela condição sempre emanou de uma disposição governamental,
que não se prendia a qualquer requisito formal. A sede de uma
freguesia, a primitiva unidade territorial brasileira, podia ser
elevada arbitrariamente à vila ou diretamente à condição de cidade,
na Colônia como no Império. Também ocorreram fundações, numa
ou noutra categoria, não precedidas de freguesias, a instalação de
ambas sendo simultânea. Salvador, Rio de Janeiro e Filipéia foram
erigidas diretamente em cidades ainda no século XVI e, nos séculos
subsequentes, outras assim seriam implantadas, como Belém e São
Luiz, no norte, e Cabo Frio, no Rio de Janeiro, também fundadas
no início do século XVII, e Petrópolis, já em meados do século XIX”
(BERNARDES; SANTOS; WALCACER, 1993, p. 25).

Importante lembrar que na Colônia a Coroa se reservava o direito de
elevar as vilas à categoria de cidade. Mas também podiam criar vilas os donatários
ou seus representantes, desde que as terras estivessem sob sua jurisdição, sendo
os limites geográficos demarcados pelos limites das freguesias, sempre que se
tratasse de espaço com ocupação consolidada. Até existiam regras para que
cidades e vilas pudessem exercer suas diferentes funções, mas a decisão de criar
ou elevar uma localidade à categoria de vila, ou cidade, não obedecia à norma
alguma. Com a República, alguns governos estaduais tomaram iniciativas de
uniformizar seus respectivos quadros territoriais, mas foi só com o Estado Novo
que surgiram as diretrizes básicas nacionais de divisão territorial que continuam
até hoje.

2 ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO


RURAL
As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura,
fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração dos
municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade científica

5
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva crítica,


considerando a complexidade e dinamicidade das informações, sugerindo novos
caminhos, de modo radical, tal como considera Domingues (2011).

Dentro das escolas geográficas clássicas podemos citar a visão do


determinismo geográfico de Friedrich Ratzel (séc. XIX) e o ambientalismo
francês de Paul Vidal de La Blache (entre os séc. XIX e séc. XX), o que levou
muitos estudiosos a desenvolverem dentro do campo da geografia humana e
econômica a importância das atividades agrárias nos espaços rurais, assim como
a importância da produção industrial crescente dentro desses períodos após a
primeira e segunda revolução industrial. A demanda e a necessidade de matéria-
prima, oriunda do campo e a transformação das indústrias nas cidades, assim
como a crescente circulação de capital das atividades terciárias do comércio e
das prestações de serviços, criou uma verdadeira simbiose sistêmica das relações
econômicas, interligando cada vez mais as atividades econômicas entre campo e
cidade.

O geógrafo deve estudar o espaço geográfico considerando as relações


entre as causas e consequências no tempo e espaço. Para tanto, é preciso analisar
diferentes abordagens sobre a temática e suas diferentes definições da Geografia
Rural, como este livro demonstra. Precisamos analisar estes espaços de uma
forma crítica, porém, nunca de maneira isolada. A Ciência Geográfica não trata
ou aborda os estudos de seus espaços de maneira isolada, mas sempre interliga os
espaços físicos e naturais com os aspectos humanos, pois a Ciência Geográfica é a
amplitude da discussão das transformações e caracterizações dos espaços.

FIGURA 3 – UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO RURAL

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/66077/>. Acesso em: 29 jan. 2019.

6
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

2.1 O ESPAÇO RURAL: ASPECTOS CONCEITUAIS E


TEÓRICOS
Em específico, destacamos a contribuição da análise para o planejamento
e o ensino de geografia rural. Logo, a pesquisa se constitui numa reflexão
conceitual que se estruturou por meio de distintos referenciais teóricos acerca
do rural brasileiro e a sua relação com o urbano, bem como discute e apresenta
formas diferenciadas de ensino da disciplina no que tange à relação rural/
urbano e campo/cidade. Para entendermos o espaço rural, precisamos entender
principalmente as relações financeiras que envolvem as atividades econômicas,
as atividades produtivas, desde a produção de matéria prima – oriunda do campo
e dos espaços agrários – até as atividades de transformação das indústrias e da
prestação de serviços e comércio como um todo, fazendo com que essa relação
sistêmica seja uma ideia de compreensão entre todos os atores envolvidos na
construção destes espaços geográficos e dos territórios neles envolvidos.

A partir da discussão, fica evidente a justificativa que indica a relevância


do desenvolvimento do conhecimento científico, particularmente para o da
fragmentação geográfica sobre o espaço agrário. Baseado nesse princípio de
fragmentação do espaço geográfico entre rural e urbano, por exemplo, podemos
levantar o seguinte questionamento sobre a análise da fragmentação desses
espaços. Veja a figura a seguir para observar a fragmentação e a caracterização
destas áreas:

FIGURA 4 – AS DIFERENÇAS ENTRE O URBANO E O RURAL.

FONTE: <http://webquestfacil.com.br/pastas/12774/campo-cidade.jpg>. Acesso em: 29 jan.


2019.

7
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Para Abramovay (2000), o meio rural caracteriza-se por sua imensa


diversidade. Estabelecer tipologias capazes de captar uma grande diversidade
é uma das missões mais importantes das pesquisas contemporâneas voltadas
para a dimensão espacial do desenvolvimento. As diferentes paisagens, dos
meios rurais e urbanos, cada vez mais desenvolvem a hinterlândia de suas
atividades realizadas, não apenas a agricultura e a indústria, mas todo o processo
produtivo entre as suas relações nos territórios envolvidos busca a prática do
desenvolvimento regional entre esses espaços.

Abramovay (2000) aborda que o peso da agricultura entre nós é e será, por
um bom tempo, mais importante do que nos países desenvolvidos. Mas é óbvio
também que o desenvolvimento rural não pode ser confundido com o crescimento
da agricultura. O desafio (científico e político) está em descobrir as fontes e as
oportunidades de diversificação do tecido social, econômico e cultural das
regiões rurais e não em apostar todas as fichas num setor só, por mais promissor
que seja. A diversificação do mundo rural traz consigo, inevitavelmente, aquilo
que o sociólogo alemão Max Weber chamou de desencantamento do mundo,
num processo acelerado de racionalização das relações humanas.

O rural não é definido pelo setor agrícola, mas isso não o torna uma
espécie de mundo mágico existente à margem do conjunto da sociedade
e da racionalidade econômica. Seu processo de racionalização coloca-o
diante de oportunidades inéditas de afirmação social, cultural e
política. Que o livro de Favareto ajuda a descobrir (ABROMAVAY,
2007).

2.2 DIFERENTES FORMAS DE CLASSIFICAR O ESPAÇO


RURAL
O que define o espaço rural hoje? Antes de começar a responder a esta
pergunta, é necessário deixar claro que diferentemente do que ocorre nos espaços
urbanos em todo o planeta, onde há muitas similaridades nas formas e fenômenos
que esses espaços abrigam, existem realidades rurais das mais distintas no mundo.
Contudo, nos limitaremos a abordar algumas particularidades entre o rural
europeu e o de países subdesenvolvidos. Respeitar a premissa das desigualdades
entre os espaços rurais de países ricos e pobres é condição necessária para
compreender melhor o tema, para não cair na tentação das generalizações que na
maioria das vezes compromete a análise dos problemas.

O conceito de territórios assimétricos ajuda na tarefa de investigação


proposta para entendermos os conceitos destes espaços. Para González e Dasí
(2007), ao se estudar os territórios rurais, o pesquisador se depara com uma
dificuldade de análise, que consiste nas distintas formas de processos que ocorrem
no espaço rural de países ricos e de países pobres, tendo em vista que a função do
espaço rural nos primeiros, vai para além da produção de alimentos, enquanto
nos países pobres a função do rural é, essencialmente, a produção alimentar.

8
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

FIGURA 5 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS NOS PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

FONTE: <https://journals.openedition.org/confins/docannexe/file/8639/1460_pobreza_rural_
accroche_pi_acaua_maison_paysanne-small480.jpg>. Acesso em: 25 jan. 2019.

Portanto, o rural e o agrário teriam deixado de ser sinônimos há muito


tempo nos países desenvolvidos, por outro lado, nos subdesenvolvidos, os termos
rural e agrário continuam sendo considerados sinônimos.

FIGURA 6 – ESPAÇOS AGRÍCOLAS PAÍSES DESENVOLVIDOS

FONTE: <http://clebinho.pro.br/wp/wp-content/uploads/2015/09/paulo-soja-100.jpg>. Acesso


em: 25 jan. 2019.

Nos países ricos da Europa observa-se uma inflexão/inversão de fluxo


populacional – exceto da população jovem –, ou seja, um êxodo urbano rumo aos
espaços rurais. Esse processo se deve à emergência de um renascimento rural ou
uma nova ruralidade. A causa para essa inflexão seria uma percepção positiva
do rural, em meio ao despertar ecológico no presente século, motivada pelas más
9
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

condições de vida enfrentadas nas cidades grandes. Uma representação espacial


que obtém mais sucesso a cada dia, pois sugere uma alternativa de vida saudável,
próspera, tranquila e que tem trazido mudanças significativas no imaginário do
rural dos países ricos. O movimento migratório gera mudanças nesse “novo
rural” – europeu –, como a criação de atividades não agrícolas no espaço rural.
Tais demandas são possibilitadas pelas tecnologias de comunicação e por uma
boa infraestrutura (estradas, ferrovias, telefonia etc.).

Na Europa, este “novo rural” passa a ser o território das classes médias,
como afirmam os autores. Essas classes médias não priorizam a produção de
alimentos, mas procuram lugares amenos e belos, em que possam manter contato
com a natureza e a qualidade dos alimentos. Somado a isso, há um reforço do
sentimento de pertencimento (identificação) ao lugar. Realidade bem diferente é
encontrada no rural dos países pobres, em que a pobreza continua concentrada
nesse espaço. Resultado de um processo histórico de colonização e exploração –
saque – dos recursos desses países (GONZÁLEZ; DASÍ, 2007).

FIGURA 7 – POLÍTICA AGRÁRIA EUROPEIA, O NOVO RURAL

FONTE: <http://ec.europa.eu/agriculture/cap-for-our-roots/index_pt.htm>. Acesso em: 25 jan. 2019.

10
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

Há, portanto, uma continuidade destas desigualdades entre ricos e pobres,


possibilitada por um desenvolvimento desigual e combinado que promove
a transferência das riquezas naturais dos últimos aos primeiros e num mundo
em globalização, essa transferência se dá, sobretudo, através da negociação de
commodities nas principais bolsas de valores do planeta.

Cabe aqui abrir um parêntesis para citar o paradoxo enfrentado pelos


países pobres e exportadores de alimentos, este que consiste na dificuldade
de acesso aos mesmos alimentos que produzem, pois, significativa parte da
população desses países não possui dinheiro suficiente para adquiri-los. Em
resumo, a insegurança alimentar é a marca desses países.

E cada vez mais estas práticas de produção de alimentos e o medo da


escassez de recursos naturais traz um alerta para todos os territórios do planeta
sobre como as futuras gerações sobreviverão e se sustentarão com a disputa por
alimentos/nutrição de qualidade. Essa discussão abre o debate de como a produção
de alimentos é diferente da distribuição e que resulta em fome, desnutrição e
desigualdade entre todos os habitantes do planeta, em uma necessidade tão
simples e cada vez mais difícil de combater que é o simples ato de alimentar-se
dignamente.

A acumulação de capital promove a coerência imposta a processos, lógicas


e dinâmicas muito diversas e variadas entre os espaços territoriais envolvidos.
O processo de articulação, abertura e integração dos mercados recondiciona
as economias aderentes, forçando-as à convergência e à reacomodação de suas
estruturas. Quando se acelera o processo interativo, acirra-se a concorrência inter
e intraterritorial, por exemplo, como os espaços rurais e urbanos.

Os mercados localizados passam a ser expostos à pluralidade das formas


superiores de capitais estrangeiros. Na esteira da incorporação, multiplicam-
se as interdependências e as complementaridades regionais, que podem
acarretar o aumento tanto das potencialidades quanto de suas vulnerabilidades.
Metamorfoseia-se a densidade econômica de pontos seletivos no espaço: sua
capacidade diferencial de multiplicação, de reprodução e de geração de valor
e riqueza; sua capacidade de articulação inter-regional; o grau e a natureza das
vinculações e a densidade dos circuitos “produtivos”.

Mudam e diversificam-se os fluxos, o movimento de seus eixos de


circulação e seu potencial produtivo, a estrutura sócio-ocupacional de seus
habitantes e etc. As conexões e desconexões são muitas vezes rápidas e facilitadas
por diversos mecanismos. Diferenciam-se, ainda mais, as manifestações
territoriais dos processos de produção, de consumo, de distribuição, de troca
(circulação), que são, por natureza, marcadamente diversificadas espacialmente.
As temporalidades dos diversos espaços, crescentemente integrados, abreviam o
curso de vários processos históricos. Os espaços, tornados conexos, amplificam e
adensam seus fluxos.

11
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Considerando David Harvey como o maior expoente desta vertente


investigatória que procura pesquisar o desenvolvimento geográfico desigual dos
espaços geográficos aqui estudados, “[...] o campo e o meio urbano ocultam um
verdadeiro fermento de oposição, porém, se interligam dentro de suas atividades
humanas neles envolvidos” (HARVEY, 2000, p. 102). A citação a seguir resume
grande parte desta agenda: o estudo das contraposições, paradoxos e contradições
entre, de um lado, a capacidade crescente que o capital tem para se apropriar e
extrair excedentes (rendas diferenciais monopolistas) das diferenças locais, das
variações culturais locais etc. (Harvey, 2000), de outro, das amplas possibilidades
de construção dos “espaços da esperança”. Para esse autor,

A busca por essa renda leva o capital global a avaliar iniciativas


locais distintivas. Também leva à avaliação da singularidade, da
autenticidade, da particularidade, da originalidade, e de todos os
outros tipos de outras dimensões da vida social incompatíveis com
a homogeneidade pressuposta pela produção de mercadorias. Para o
capital não destruir totalmente a singularidade, base da apropriação
das rendas monopolistas, deverá apoiar formas de diferenciação,
assim como deverá permitir o desenvolvimento cultural local
divergente e, em algum grau, incontrolável, que possa ser antagônico
ao seu próprio e suave funcionamento. É em tais espaços que todos
os tipos de movimentos oposicionistas devem se organizar [...]. O
problema para o capital é achar os meios de cooptar, subordinar,
mercadorizar e monetizar tais diferenças apenas o suficiente para ser
capaz de se apropriar das rendas monopolistas disto. O problema
dos movimentos oposicionistas é usar a validação da particularidade,
singularidade, autenticidade e significados culturais e estéticos de
maneira a abrir novas possibilidades e alternativas [...] construindo,
de modo ativo, novas formas culturais e novas definições de
autenticidade, originalidade e tradição [...]. Ao procurarem explorar
valores de autenticidade, localidade, história, cultura, memórias
coletivas e tradição, abrem espaço para a reflexão e a ação política,
nas quais alternativas podem ser tanto planejadas como perseguidas
(HARVEY, 2005, p. 238).

Muitas formulações analíticas atuais sobre território estão exaltando em


demasia (muitas vezes banalizando) as potencialidades e a capacidade endógena
de uma única escala espacial (geralmente a menor) como inerentemente a melhor
para a promoção do desenvolvimento.

É certo que no âmbito local muitas ações importantes podem ser


articuladas, por exemplo, as escalas dos espaços rurais na nova economia global
e na sua maneira de produção, que pode ser empregada em pequenas áreas do
espaço, com muita tecnologia e recursos financeiros, como ocorre nos países
desenvolvidos. Desse modo, transforma os territórios devolutos em espaços
transformadores e produtivos, assim como nos países subdesenvolvidos em
que esses mesmos espaços, até mesmo com capacidade de maior produção
agrícola e pecuária com menor produção. Esses mesmos espaços e territórios
envolvidos acabam sendo mal aproveitados e ociosos, por não terem um olhar de
desenvolvimento regional, focados no crescimento de seus territórios junto com
seus atores envolvidos (BRANDÃO, 2004).

12
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

FIGURA 8 – ESPAÇOS RURAIS EM PAÍSES SUBDESENVOLVIDOS

FONTE: <http://jodama201.pbworks.com/f/1302001532/agricultura-familiar-1.jpg>. Acesso em:


29 jan. 2019.

2.3 O ESPAÇO RURAL E A QUESTÃO DO USO DA ÁGUA


Cada vez mais o espaço rural requer políticas produtivas com as práticas
ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento, uma prática não pode
mais ser separada da outra, não há como firmar o desenvolvimento extrativista,
agrícola e da pecuária sem buscar nas ciências ambientais a teoria e prática
para o crescimento econômico. O espaço rural não sobreviverá muito tempo se
continuarmos a adotar políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas
das populações, sem evitar um colapso econômico. É preciso intensificar as
relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e espécies de seres vivos, não
apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida planetária, para que possamos
garantir para as futuras gerações a possibilidade de existir em nosso meio
ambiente e continuar a produzir alimentos sem que a desigualdade, nas formas
de distribuição, agrave a sobrevivência de todas as espécies na Terra.

FIGURA 9 – USO DA ÁGUA NAS ATIVIDADES ECONÔMICAS MUNDIAIS

FONTE: Adaptado de Water for People, Water for Life, UNESCO, 2003

Considerado o grande mentor da ciência econômica moderna, Adam


Smith, escreveu em 1776, uma obra que explica como as nações ficam ricas e
que “O marco mais decisivo da prosperidade de qualquer país é o aumento no
número de seus habitantes” (SMITH, 1983, p. 56).

13
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Alves (2014, p. 220) aponta que: “Esta visão positiva do crescimento


populacional fez parte do pensamento político à luz do iluminismo e da
economia clássica. Pensadores como o marquês de Condorcet e William Godwin
– precursores do pensamento demográfico – tinham uma visão favorável do
crescimento econômico e populacional”.

FIGURA 10 – MAU USO DA TERRA NAS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

FONTE: <https://farm1.staticflickr.com/529/32780880885_562c1beb4b_z.jpg>. Acesso em: 28


jan. 2019.

Neste sentido, Alves (2014, p. 224) constata que:

O século XX apresentou o maior crescimento demográfico de toda


a história da humanidade, com a população mundial aumentando
quase quatro vezes (de cerca de 1,6 bilhão de habitantes em 1900 para
6 bilhões em 2000). Mas a taxa de fecundidade total (TFT), que estava
em torno de 5 filhos por mulher em meados do século, começou a
cair a partir de 1965 e chegou a 2,53 filhos na virada do milênio. Desta
forma, o ritmo de crescimento demográfico vai diminuir no século
XXI, embora deva continuar positivo, pois existe uma certa estagnação
da transição da fecundidade. A queda da fecundidade mundial foi
de 31,5% nos 20 anos anteriores à CIPD de 1994 e de 18% nos 20
anos posteriores. A Divisão de População da ONU, na revisão 2012,
estima uma TFT global de 2,24 filhos por mulher, no quinquênio 2045-
50, e de 2,0 filhos por mulher, no quinquênio 2095-2100. Portanto, a
estabilização da população mundial só seria alcançada, caso seja, no
início do século XXII.

Desta forma, parece intempestiva a afirmação de Camarano (2013, p. 606)


ao assinalar a ideia de que “mesmo que a fecundidade aumente em um futuro
próximo, é improvável que o declínio populacional seja abortado”.

14
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

Ao contrário, a projeção média da ONU estima uma população mundial de


10,9 bilhões de habitantes em 2100, um acréscimo de 4,8 bilhões de habitantes no
século XXI, quantidade superior, em termos absolutos, aos 4,5 bilhões do século
XX. Boa parte do atual crescimento populacional é inercial e seria equivocado
reforçar os argumentos dos alarmistas da superpopulação.

Contudo, colocar em pauta a iminência do declínio da população mundial


como se fosse uma ameaça de colapso da espécie humana, ignora o verdadeiro
perigo que é o círculo infernal que se abate sobre milhares de outras espécies
que estão sendo extintas e os ecossistemas que estão sendo desconfigurados.
Dizer que a redução da população prejudicará o crescimento econômico é
desconsiderar que, do ponto de vista mais amplo da sobrevivência da vida no
Planeta, o desenvolvimento tem se tornado o problema central.

O Living Planet Report (WWF, 2012) mostra que a pegada ecológica da


população mundial já superava em 50% a biocapacidade do Planeta, em 2008.
Ou dito de outra forma, a humanidade estava gastando em um ano o que a
capacidade regenerativa da natureza consegue repor em um ano e meio.

Outra metodologia que indica que as atividades antrópicas estão


ultrapassando os limites da Terra é conhecida como Fronteiras Planetárias. Johan
Rockström, da Universidade de Estocolmo e colegas (ROCKSTRÖM et al., 2009)
identificaram nove dimensões centrais para a manutenção de condições de vida
decentes para as sociedades humanas e o meio ambiente: mudanças climáticas;
perda de biodiversidade; uso global de água doce; acidificação dos oceanos;
mudança no uso da terra; depleção da camada de ozônio estratosférico; ciclo do
nitrogênio e fósforo; concentração de aerossóis atmosféricos; e poluição química.

FIGURA 11 – PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO E ARENIZAÇÃO

FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/
cb831aa5211af0d95855675c6192936d.jpg>. Acesso em: 28 jan. 2019.

15
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Por exemplo, em 2013, a concentração de CO2 na atmosfera ultrapassou


400 partes por milhão (ppm), bem acima das 280 ppm da era pré-industrial. O
limiar de segurança é de 350 ppm. Está em xeque o modelo que traz muitos
benefícios para poucos, poucos benefícios para muitos e nenhum benefício para
a natureza e a biodiversidade. Porém, o crescimento econômico tem sido uma
aspiração não só das forças capitalistas, mas também dos trabalhadores e dos
governos.

Para o mundo corporativo, isto certamente representa bilhões de novos


consumidores ávidos por casas, carros e aparelhos de TV (CEBDS, 2009). Neste
sentido, não há como discordar quando Ana Amélia diz: “Acredita-se que nenhum
país deseje o declínio populacional, pois isto tem implicações de várias ordens.
A primeira é a perda de poder econômico e geopolítico em relação a países onde
a população ainda cresce” (CAMARANO, 2013, p. 606). Mas a autora parece cair
em contradição ao considerar que a população não é um problema quando há
crescimento, mas se torna um problema quando há decrescimento. Realmente, o
declínio da população e da economia é um anátema do capitalismo. O desejo de
acumulação de riqueza pessoal e nacional, os interesses geoestratégicos do poder
político e as diversas forças pró-natalistas do mundo somam-se para manter por
mais tempo possível o processo de ampliação do desenvolvimento econômico.

A Escola da Economia Ecológica há muito tempo argumenta que “A


economia é um subsistema do ecossistema e o ecossistema é finito, não cresce e é
materialmente fechado”, como afirmou Herman Daly, que também considera que
o desenvolvimento atual tem gerado um “crescimento deseconômico”, com os
custos sendo maiores do que os benefícios. Ele completa: “Precisamos decrescer
até chegar a uma escala sustentável que, então, procuramos manter num estado
estacionário. O decrescimento, assim como o crescimento, não pode ser um
processo permanente” (IHU, 2011). Sem dúvida, tem aumentado o número de
pessoas que consideram o desenvolvimento o principal vetor de destruição das
fontes naturais da vida e da biodiversidade (ALVES, 2014, p. 219).

O capitalismo não consegue ser ao mesmo tempo socialmente inclusivo,


justo e ambientalmente sustentável. Por conta disso, alguns autores falam em
desenvolvimento sem crescimento, enquanto outros defendem a ideia do
decrescimento (LATOUCHE, 2009; DEMARIA et al., 2013; MEDIAVILLA, 2013;
ALVES, 2014b). Pouco antes da Rio+20, em 2012, a revista Estudos Avançados
da USP publicou um número com diversos artigos tratando dos limites do
crescimento econômico e a possibilidade do crescimento sustentável.

16
TÓPICO 1 | ASPECTOS TEÓRICOS E CONCEITUAIS DO ESPAÇO RURAL

FIGURA 12 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS

FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2016/09/size_960_16_9_mudancas-
climaticas3.jpg?quality=70&strip=info&w=920>. Acesso em: 28 jan. 2019.

O mau uso da água para a agropecuária por exemplo, pode ser uma
amostra de como lidamos com o uso dos recursos naturais de uma forma, que
sejam em nossa concepção, infinita, porém, não nos damos conta de que esses
recursos são finitos e que seu mau uso pode desencadear o aumento da fome, das
desigualdades sociais e mudanças climáticas cada vez mais catastróficas, em todo
o planeta. A agricultura e a pecuária são as atividades humanas que mais usam
por exemplo, o recurso hídrico desde o plantio e em toda a cadeia de produção.
Até chegar à mesa de toda a população, milhões e milhões de metros cúbicos de
água são necessários para produzir uma parcela mínima de alimentos. Se não
usarmos esse recurso de maneira mais sustentável e com a consciência de que irá
terminar, adiantaremos cada vez mais o colapso socioeconômico do planeta.

FIGURA 13 - MUDANÇAS CLIMÁTICAS E SEUS EFEITOS

FONTE: <http://twixar.me/J01T> Acesso em: 27 jan. 2019.

17
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

A poluição dos rios, que espalha as toxinas de cianobactérias, diminui


a disponibilidade de água doce e provoca a mortandade de peixes e da vida
aquática. Lagos, como o mar de Aral, estão diminuindo ou secando para atender
aos interesses da irrigação a fim de alimentar uma população crescente. Aumenta
a taxa de extinção de espécies e a degradação dos ecossistemas, com redução da
vida selvagem. As áreas produtivas diminuem, enquanto crescem os aterros de
descarte antrópico.

FIGURA 14 – REDUÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS

FONTE: <https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2016/03/cantareira-e1458674694213.
jpg>. Acesso em: 27 jan. 2019.

Três em cada quatro empregos do mundo são fortes ou moderadamente


dependentes de água, segundo a estimativa do Relatório das Nações Unidas
(UNESCO WWAP). Consequentemente, a  escassez  e os problemas de acesso à
água e ao saneamento podem limitar o crescimento econômico e a criação de
empregos no mundo  nas próximas décadas, de acordo com o documento, que
cita também a falta de investimentos em infraestrutura e os altos índices de
vazamentos nos sistemas hídricos  das cidades e dos espaços rurais globais,
inclusive de países desenvolvidos.

Diante da possibilidade de um colapso ambiental, as atividades humanas


deveriam ser direcionadas para a recuperação ecológica e não para a acumulação
da riqueza ostentatória em benefício de uma minoritária elite populacional.

Precisamos compreender que a produção do espaço rural e o cuidado


com o meio ambiente devem andar de mãos dadas. O rural não é definido pelo
setor agrícola e não o torna uma espécie de mundo mágico existente à margem
do conjunto da sociedade e da racionalidade econômica. Seu processo de
racionalização coloca-o diante de oportunidades inéditas de afirmação social,
cultural e política.

18
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• A formação e caracterização do Espaço Rural Brasileiro e mundial e o processo


histórico de formação destes territórios apresenta transformação contínua com
o uso das novas tecnologias adotadas no sistema de produção agrícola.

• Há diferentes formas de classificar o espaço rural brasileiro, partindo pelas


diferentes áreas e regiões do Brasil, assim como suas vocações e aptidões para
o agronegócio.

• Precisamos ter um olhar para o desenvolvimento regional, porém com respeito


ao meio ambiente e foco em políticas agrárias que tragam o crescimento
econômico, mas com a consciência sustentável ambiental.

19
AUTOATIVIDADE

1 As condições naturais do território brasileiro favorecem o desenvolvimento


de uma atividade agropecuária em larga escala. Com um relevo
predominantemente plano, uma significativa diferenciação climática e
sendo detentor das maiores reservas de água doce conhecidas, o Brasil se
consolidou no mercado internacional como um dos grandes produtores de
grãos, carnes e bioenergia do mundo contemporâneo. Como a extensão do
território brasileiro contribuiu e ainda contribui para que as atividades rurais
econômicas continuem a se expandir e cada vez mais tornam-se importantes
na economia de nosso país?

2 As relações entre campo/cidade e rural/urbano influenciam a agricultura,


fundamentando o entendimento sobre a organização e configuração
dos municípios do Brasil. Entretanto, essa realidade cogita a necessidade
científica de uma análise teórica categórica direcionada por uma perspectiva
crítica, considerando a complexidade e dinamicidade das informações.
De que maneira podemos observar o aumento das relações das atividades
econômicas no campo, com a migração dos trabalhadores para os centros
urbanos, chamado no século XX de êxodo rural?

3 É preciso intensificar as relações sistêmicas de todos os espaços envolvidos e


espécies de seres vivos, não apenas o ser humano, mas toda a cadeia da vida
planetária, para que possamos garantir para futuras gerações a possibilidade
de existir em nosso meio ambiente, e continuar a produzir alimentos sem
que a desigualdade, nas formas de distribuição, agrave a sobrevivência de
todas as espécies na Terra.

Uma das preocupações que envolvem o meio ambiente e a produção agrícola é


o uso da água de maneira predatória e inconsciente pelas populações mundiais
e pelos governos.

De acordo com o exposto, podemos afirmar que:

I- Cada vez mais o espaço rural requer a necessidade das políticas produtivas
com as práticas ambientais de sustentabilidade para o desenvolvimento,
uma prática não pode mais ser separada da outra.
II- O espaço rural não sobreviverá muito tempo se continuarmos a adotar
políticas predatórias, de interesses mínimos das parcelas das populações,
sem evitar um colapso econômico e cada vez mais crises humanitárias
causadas pela falta de alimentos e fome.
III- Precisamos voltar ao debate sobre população e desenvolvimento dentro
dos diferentes espaços, bem como o uso da terra e dos recursos naturais,
para criarmos boas perspectivas de futuro para o nosso Planeta.

20
Assinale a resposta CORRETA:
a) ( ) As alternativas I e II estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
c) ( ) Somente a alternativa I está correta.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

21
22
UNIDADE 1
TÓPICO 2

FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL


BRASILEIRO

1 INTRODUÇÃO
A formação do espaço brasileiro aconteceu muito antes da conquista de
nosso país no ano de 1500, século XV, pelos europeus. Essa ocupação ocorreu
desde a expansão dos povos indígenas pré-históricos, acerca de 12 mil anos, como
relatam alguns estudos arqueológicos, expressa em pinturas rupestres e fósseis
encontrados em todas as regiões do Brasil.

FIGURA 15 – PRIMEIROS CICLOS ECONÔMICOS DO BRASIL

FONTE: <https://4.bp.blogspot.com/-F1Gcrhd0m2c/UT4WB3BF-YI/AAAAAAAAEp0/W2
Ov00gh1bI/s1600/ Economia+no+século+XVI.jpg>. Acesso em: 29 jan. 2019.

23
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

2 ESPAÇO RURAL NO BRASIL COLÔNIA E IMPÉRIO


A primeira forma de ocupação do território brasileiro foi por meio das
capitanias hereditárias, sistema instituído no Brasil em 1536, pelo rei de Portugal
Dom João III. Foram criadas 14 capitanias, divididas em 15 lotes e distribuídas
para 12 donatários, que eram os representantes da nobreza portuguesa. Em troca,
esses donatários eram obrigados a pagar tributos à Coroa. Portanto, desde o início
da ocupação do Brasil por Portugal, o território brasileiro foi propriedade do
Estado. Nesse sentido, Faoro (2000, p. 6) argumenta que “[...] a coroa conseguiu
formar, desde os primeiros golpes da conquista, imenso patrimônio rural”.

FIGURA 16 – CAPITANIAS HEREDITÁRIAS

FONTE: <http://professorasueli-historia.blogspot.com/2009/05/mapa-das-capitanias-
hereditarias.html>. Acesso em: 13 fev. 2019.

24
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

Pode-se dizer que a divisão de terras por conta das capitanias hereditárias,
a primeira subdivisão do território brasileiro no espaço rural, formaram os
primeiros grandes latifúndios, grandes áreas rurais com o objetivo monocultor e
exportador. Foi o início de um problema fundiário, que persiste até hoje em nosso
país, que é a concentração de terras nas mãos de grandes latifundiários enquanto
a maioria da população não tem acesso à produção agropecuária por conta do
monopólio ou dominação total desses espaços rurais.

E
IMPORTANT

O que eram as Capitanias Hereditárias?


“Era o sistema que Portugal implantou no Brasil, que realizava a divisão das terras brasileiras
em longas faixas que partiam do litoral até os limites do Tratado de Tordesilhas. Cada faixa
de terra era considerado uma capitania e cada capitania tinha um responsável por ela, esses
responsáveis eram escolhidos pelo rei de Portugal, e ganhava o título de donatário”.

FONTE: https://www.estudokids.com.br/capitanias-hereditarias/. Acesso em: 13 fev. 2019.

Desde os primeiros anos do século XVI, as terras exploradas na América


portuguesa se resumiam ao litoral brasileiro, sendo que o pau-brasil era o
produto que mais interessava aos colonizadores. No entanto, a partir do fim da
primeira metade do século XVI em diante, ocorreu uma significativa mudança
na configuração do território, já que houve um aumento da interiorização da
ocupação, tendo em vista a conquista dos chamados sertões, regiões distantes
do litoral. Nosso país se resumia, nas primeiras décadas, das ocupações para a
exploração dos benefícios do pau-brasil, bem como para os tingimentos de roupas
e móveis com a resina extraída da planta.

Já a partir da segunda metade do século XVI, a cana-de-açúcar começa a


ser a primeira monocultura agrícola de grande expressão na nova economia da
colônia portuguesa e começa então o chamado primeiro grande ciclo econômico
da economia brasileira, com o principal objetivo de abastecer o mercado europeu.

25
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

FIGURA 17 – FASES OU CICLOS DA ECONOMIA BRASILEIRA

FONTE: <http://3.bp.blogspot.com/-uP9J-F6JK_0/VlS1EZlzFgI/AAAAAAAAEgA/zqfv
EM2WgU /s1600/Periodos%2Bda%2BHist%25C3%25B3ra%2Bdo%2BBrasil.jpg>. Acesso
em: 29 jan. 2019.

E
IMPORTANT

“Dessa forma, notamos que a fazenda açucareira representava bem mais que
um mero sistema de exploração das terras coloniais. Nesse mesmo espaço rural percebemos
a instituição de toda uma sociedade formada por hábitos e costumes próprios. O engenho
propiciou um sistema de relações sociais específico, conforme podemos atestar na obra
clássica “Casa Grande & Senzala” de Gilberto Freyre. Na qualidade de um espaço dotado
de relações específicas, o engenho e o açúcar trouxeram muitos aspectos culturais da
sociedade brasileira”.

FONTE: https://www.portalsaofrancisco.com.br/historia-do-brasil/ocupacao-do-territorio-
brasileiro. Acesso em: 29 jan. 2019.

2.1 A FÁBULA DOS CICLOS ECONÔMICOS


A ideia dos ciclos econômicos, baseada na análise histórica de que o período
colonial teria sido economicamente conduzido por eles, ou seja, sustentado
sucessivamente pela exportação de produtos específicos em determinados
períodos da história brasileira, primeiramente o pau-brasil, depois o açúcar, o ouro
e o café, não se sustenta mais como definição principal do subdesenvolvimento
do nosso país e do crescimento dos espaços rurais. Ao longo da colonização,
observamos que a incursão pelo interior do nosso território abriu caminho para o
conhecimento de novos espaços, plantas, frutas e raízes que compunham a nossa

26
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

vegetação. Nesse processo, o contato com as populações indígenas também foi


de suma importância para que os colonizadores conhecessem as potencialidades
curativas e culinárias das chamadas drogas do sertão.

2.1.1 Espaço rural no Brasil República e início do século XX


Os primeiros traços da agropecuária brasileira agroexportadora surgiram
no final do período imperial e início da velha República em meados de 1870 a
1890. Com isso, a caracterização do espaço rural brasileiro começou a se distinguir
pelos latifúndios monocultores, além disso, houve também a introdução da mão
de obra livre, com o objetivo de substituir a mão de obra servil e escravocrata
que perdurava desde o início da ocupação do território brasileiro. Nesse período,
ficava cada vez mais vigente a pressão dos segmentos urbanos, representado pela
burguesia civil e as forças militares, a favor da proclamação da República.

FIGURA 18 – ILUSTRAÇÃO REFERENTE À PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA EM 1889

FONTE: <https://www.cafeculturabrasil.com/wpcontent/uploads/2016/11/
proclamacao_da_republica_ by_ benedito_calixto_1893-1024x631.jpg>. Acesso em: 7
fev. 2019.

Com a Proclamação da República, em 1889, nosso país começou a passar


por uma desconstrução do espaço que até então era colônia de Portugal, durante
os períodos colonial e imperial, e passa a deliberar sobre representatividade
partidária com a nova política instalada no território. Cresceu a influência dos
partidários ao desenvolvimento, sendo tomadas algumas medidas favoráveis
à produção local, como por exemplo a lei do similar nacional, que proibia

27
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

a importação de produtos já fabricados no país (a abrangência dessa lei foi


severamente reduzida cerca de um século depois, nos governos neoliberais de
Fernando Collor de Mello e Fernando Henrique Cardoso).

Foi preciso esperar até a Revolução de 1930 para que um modelo de


desenvolvimento autônomo pudesse firmar-se. Aquele movimento colocou
um ponto final na República Velha e em sua política econômica liberal e pode
ser considerado o marco inicial daquilo que mais tarde ficou conhecido como
desenvolvimentismo nacional.

E
IMPORTANT

“Desde meados dos anos 1940, a agricultura brasileira vem passando, de forma
ininterrupta, por um profundo reajustamento produtivo, visando a sua modernização.
Esse processo, caracterizado por diferentes etapas, ocorre por meio de uma contínua
melhoria e ampliação do sistema logístico de infraestrutura de transporte e armazenagem,
e, institucionalmente, por meio de políticas visando ao aumento e à diversificação das
exportações e, principalmente, pela transformação da base técnica de produção do
setor agropecuário. Com isso, em seu decorrer, o processo de modernização vai sendo
permeado por um crescente aumento das trocas intersetoriais, o que implica a ampliação
e a intensificação das condições de produção agrícola e, no limite, na transformação deste
setor em um complexo agroindustrial mais completo, agora envolvendo um articulado
sistema de interesses e de ações intersetoriais.
Todas essas transformações decorrem de um rearranjo técnico-econômico e territorial
em que, necessariamente, não só há uma concentração da produção em determinados
produtos, como, simultaneamente, ocorre uma especialização dinâmica dos lugares em
que se realiza no espaço e no tempo. A sua forma de concretização no território varia em
função da época em que ocorre, do padrão técnico-científico disponível, bem como do
modo de como se dá a inserção dos diferentes países na economia-mundo e, sobretudo,
das políticas públicas adotadas na consecução dos objetivos almejados.
Entre 1940 e 1950, era inquestionável a primazia das atividades agropecuárias sobre o
conjunto da economia brasileira, aí compreendida não só o domínio econômico, como
social, político e cultural. Nesse período, e sem se considerar os produtos pecuários, o valor
da produção dos 20 principais produtos agrícolas, segundo Bernardes (1961), equivalia a
54% do valor de toda a produção industrial do País”.

FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17


fev. 2019.

A abertura de novas áreas de pastagens foi uma das principais causas


do aumento da área dos estabelecimentos verificados no período. Em “zonas
de ocupação mais antiga” como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul, esse processo se deu por “um recuo da área já cultivada” com
lavouras. A grande expansão da atividade pecuária, no entanto, se deu em áreas
de fronteira agrícola, sobretudo, pela “incorporação aos estabelecimentos rurais
de grandes trechos de campos de cerrado na Região Centro-Oeste [...], onde se
verificou o maior acréscimo relativo de área total” (BERNARDES, 1961, p. 103).
28
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

E
IMPORTANT

De acordo com o texto Evolução do espaço rural brasileiro de Luiz Sérgio Pires
Guimarães (IBGE, 2016, p. 124):

“Apesar de a expansão da pecuária predominar, havia também uma preocupação, por


parte do governo brasileiro, de ocupar essas áreas da Região Centro-Oeste com colônias
agrícolas para a produção de alimentos e matérias-primas a baixo custo. Com isso, criava-
-se, nos “sertões brasileiros”, um mercado para produtos industrializados, direcionando-se
um expressivo contingente populacional, sobretudo da Região Nordeste, para o interior
do País e, ao mesmo tempo, ocupando espaços até então vazios. Visando à implantação
desse projeto, foram criadas, em 1943, por iniciativa estatal, as Colônias Agrícolas Nacionais
de Goiás e de Mato Grosso, que, embora não atingissem seu objetivo de criar núcleos
de pequenos produtores, deram origem, respectivamente, aos municípios de Ceres e
Dourados.

Outra região de fronteira agrícola, cuja ocupação se baseou na criação de colônias, foi a do
Paraná. Diferentemente da Região Centro-Oeste, o projeto de colonização nesse estado,
que tinha um caráter empresarial, foi, em princípio, bem-sucedido. A sua ocupação se deu
com base no estabelecimento de descendentes de italianos e alemães procedentes do
Rio Grande do Sul e Santa Catarina, que ocuparam pequenos lotes de terra no sudoeste e
oeste do Paraná. Cabe ressaltar que, além de uma pequena policultura de alimentos, eles
cultivavam a hortelã, destinada a empresas compradoras, a menta e a soja, esta última
utilizada apenas como forragem verde para alimentação de animais.

Outra área de fronteira agrícola existente, na década de 1940, localizava-se no Maranhão.


Diferentemente do Paraná e da Região Centro-Oeste, contudo, a frente de ocupação
naquele estado apresentou um caráter “espontâneo”, absorvendo um excedente
populacional proveniente do semiárido nordestino. Nessas áreas, estabeleceu-se um
sistema de produção agroextrativista em que se alia a agricultura de queima e o pousio
com o extrativismo das amêndoas de babaçu, principal base econômica do estado. Nesse
período, começa também a se intensificar a produção de arroz, cujo cultivo precedia, em
parte, a formação dos pastos para a pecuária em estabelecimentos maiores.

Assim, seja em áreas consolidadas ou de expansão, a produção agropecuária dos anos


1940-1950 estava estruturada sobre uma malha fundiária extremamente desigual, na
qual, ao lado de grandes estabelecimentos dedicados à pecuária e a lavouras de alto
valor comercial, coexistiam pequenos estabelecimentos que praticavam uma agricultura
destinada à subsistência e ao abastecimento do mercado interno. A maior parte dessa
produção era obtida por meio das diferentes formas do sistema de “meação”, relação de
trabalho então predominante na agricultura. O trabalho assalariado, quando empregado,
restringia-se a algumas grandes lavouras, sendo mais comumente utilizado nos períodos
em que a safra demandava um contingente mais elevado de mão de obra”.

FONTE: IBGE. Coordenação de Geografia. Brasil: uma visão geográfica e ambiental no


início do século XXI. Rio de Janeiro: IBGE, 2016. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.
br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17 fev. 2019.

29
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

2.2 ESPAÇO RURAL BRASILEIRO NO PERÍODO


CONTEMPORÂNEO
Atualmente o modelo do espaço rural brasileiro está centrado nos
resquícios da formação territorial passada, caracterizado pela grande concentração
de terras para a minoria da população com verdadeira vocação agropecuária.
Esta tornou-se uma das atividades econômicas mais importantes do nosso país
e uma das mais solidificadas para cruzar grandes crises econômicas no Brasil
e o no mundo, principalmente desde o início da globalização. Grande parte da
atividade agropastoril de nosso país é exportador e definido como agropecuária
moderna regional, pois há grandes diferenças entre as microrregiões do IBGE.
As regiões se diferem por causa de suas particularidades, desprezando sua
grandeza ou localização geográfica. São distintas por suas atuações com a
produção agropecuária (região da soja, milho, leite, tomate entre outras). Ainda
podemos destacar a subdivisão regional em 1967, em que o geógrafo brasileiro
Pedro Pinchas Geiger propôs uma outra divisão regional do país, em três regiões
geoeconômicas ou complexos regionais.

Uma outra força do capitalismo informacional globalizado em nosso


país está baseada nas exportações de commodities, que exporta matéria-prima de
maneira in natura, sem que seja necessário grande ou nenhum processamento.
Assim, em meados da década de 1960 e 1970 a adoção de uma série de políticas
públicas específicas para a chamada “modernização conservadora” da agricultura
provocou importantes transformações no setor, consolidando a grande agricultura
comercial, por meio da tecnização de seus processos produtivos e de uma maior
abertura ao mercado internacional. A modernização deste processo de novas
técnicas agrícolas e a ampliação das máquinas, como forma de produção no
campo brasileiro a partir desta década, também marca o grande início da indústria
automobilística e metalmecânica em nosso país. Nesse contexto, a produção
agropecuária apresentou um desempenho muito superior em comparação com
as décadas anteriores, devido tanto ao aumento da sua produtividade como da
diversificação das exportações agrícolas e da ampliação da produção. Ao final
desse período, a situação do mercado continuava favorável, com abundância de
créditos baratos, preços de insumos e bens de capital em declínio e os commodities
em alta, além do aumento do mercado consumidor, fazendo com que nosso país
começasse a entrar em uma nova era de produção e tecnização no espaço rural
nacional.

30
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

E
IMPORTANT

De acordo com Guimarães (2006):


“Esse quadro em que o setor agropecuário se estrutura, com base na expansão
e na modernização tecnológica da produção de commodities de alto valor comercial, foi
consolidado ao longo da década de 1970. Nesse período, foram ampliados os investimentos
públicos na infraestrutura, no armazenamento e na modernização da produção agropecuária
em larga escala. Chama a atenção o aumento da mecanização do setor agropecuário entre
os anos 1970 e 1980, quando a maioria dos estados mais que dobrou o número de tratores
utilizados. Estados com grande produção de grãos, como, Paraná, Goiás e Mato Grosso que
quintuplicaram as suas frotas nessa década. Só Mato Grosso (incluída a área do atual Mato
Grosso do Sul, para efeitos de comparação) passa de um total de 4 386 tratores, em 1970,
para 44 320 unidades, em 1980.
Como os preços das commodities internacionais eram ainda mais favoráveis que
na década anterior, ampliou-se a participação do Brasil, no mercado internacional, com o
aumento das exportações de vários produtos agrícolas, entre os quais se destacam a soja,
o café, o milho, a laranja (em suco), o açúcar e as carnes. Essas atividades modernizadas
aumentaram, inicialmente, suas áreas na Região Sul, nos Estados de Minas Gerais e São Paulo,
para, posteriormente, em meados da década, se expandirem sistematicamente por toda a
Região Centro-Oeste, e, por fim, atingindo o Estado do Pará, ampliando a fronteira agrícola
para áreas até então só parcialmente integradas à dinâmica de produção capitalista. Todo
esse dinamismo, baseado na grande oferta de capitais existentes no mercado internacional
e em uma política de crédito altamente subsidiada, deteriora-se a partir da crise do petróleo
de 1979, quando ocorre uma forte retração da economia internacional.
Dos anos 1980 até meados da década seguinte o crescimento da dívida externa
do Brasil e das taxas de juros internacionais provocou uma significativa redução dos
recursos para o financiamento rural e refletiu de imediato na redução das áreas de lavouras,
pastagens e pessoal ocupado na agricultura conforme verificado no período. A política de
crédito foi gradativamente substituída pela Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM)
como principal instrumento de incentivo para a expansão e desenvolvimento do setor
agropecuário. Apesar disso, o quadro de hiperinflação obrigou o governo a elaborar um
conjunto de políticas de ajustamento macroeconômico que materializadas em uma série
de planos econômicos restringiram a plena expansão do setor agropecuário.
Com a manutenção de um cenário macroeconômico desfavorável no Brasil,
delineou-se na década de 1990 sobretudo a partir do segundo quinquênio, a necessidade
de se construir um novo quadro institucional que permanece até o período atual e que
redefiniu o espaço entre o público e o privado nos mercados agroalimentares, alinhando
as novas diretrizes às exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC). O Estado
deixa, em grande medida, de ser o gestor das políticas públicas para o setor, passando
a exercer o papel de principal coordenador e fiscal destas. Isso implicou a “retirada do
governo de controles diretos na forma de preços ou compras e, em muitos casos, implicou
no desmantelamento de serviços de extensão e, também, na eliminação de políticas
setoriais mais ativas” (WILKINSON, 2003, p. 12). “Tais medidas vieram acompanhadas de
uma menor proteção tarifária e de uma maior abertura ao comércio internacional, levando
em vários casos a um aumento no ritmo de importação de alimentos”. Visando aumentar o
volume de investimentos diretos vindos do exterior, procedeu-se, conforme complementa
este autor, a uma “modificação da legislação sobre os níveis de participação de capitais
estrangeiros em empresas nacionais e a uma maior tolerância à remessa de lucros”
(WILKINSON, 2003, p. 27). Com isso, torna possível intensificar ainda mais a modernização
da agricultura, o que provocou um aumento da competitividade da produção brasileira
no comércio internacional, alavancando as exportações. As consequências desse novo
quadro foi a exacerbação das características do processo de modernização”.

FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17


fev. 2019.

31
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Com a intensificação do processo de globalização o conceito de região


passou a ser questionado, sobretudo porque alguns autores entendiam que a
globalização seria responsável por uma homogeneização espacial. A discussão
sobre globalização e região merecem destaque por causa da ideia do seu
potencial homogeneizador, já que no mundo globalizado não haveria espaço
para a diferenciação, bem como a região que guarda em sua essência a noção de
singularidade.

FIGURA 19 – TIPOS DE COMMODITIES

FONTE: <https://academy.alvexo.com/academy-basics/basic-articles/learn-to-trade-
commodities>. Acesso em: 17 fev. 2019.

Os territórios e os espações geográficos na atualidade estão fragmentados


pela ação e pela produção do capital globalizado, ideia centrada no discurso que
prega o fim do “Estado-Nação”, pois há de um lado a emergência de uma cultura
global e de outro uma economia também global (ARRAIS, 2007). Concorda-se
com Pontes (2007, p. 490) que defende que “a globalização pode não significar
homogeneização total, mas sim diferenciação de partes, isso ocorre devido as
diferentes potencialidades regionais e dos vários agentes” que atuam com forças
desiguais no território. Segundo Haesbaert e Limonad (2007, p. 40):

Se muitos autores afirmam que o mundo contemporâneo vive uma


era de globalização, outros, por sua vez, enfatizam como característica
principal do nosso tempo a fragmentação. Globalização e fragmentação
constituem de fato os dois polos de uma mesma questão que vem
sendo aprofundada, seja através de uma linha de argumentação que
tende a privilegiar os aspectos econômicos - e que enfatiza os processos
de globalização inerentes ao capitalismo -, seja através do realce de
processos fragmentadores de ordem cultural.

Para Elias e Pequeno (2007) a reestruturação do agronegócio e da


agropecuária não homogeneizou a produção ou os espaços agrícolas nem os
espaços urbanos. O que de fato acontece é um intenso processo de fragmentação
da produção e do espaço agrícola, em contraposição ao processo de globalização
da produção e do consumo agropecuário. Assim, entendendo a paisagem e a
32
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

região como categorias fundamentais para a leitura e a compreensão dos processos


ocorridos ao longo do tempo e da realidade atual da microrregião Ceres, propõe-
se pensar na noção de paisagem regional que não seria somente a junção das
duas importantes categorias, mas uma forma mais ampla e complexa de verificar
ao mesmo tempo as problemáticas postas pela dinâmica sucroenergética, as
diferenciações que o processo acarreta na região e que se apresenta por meio da
paisagem.

FIGURA 20 – AGRICULTURA E AS TENDÊNCIAS GLOBAIS

FONTE: <https://slideplayer.com.br/slide/1354290/>. Acesso em: 17 fev. 2019.

O processo histórico da formação do território brasileiro levou em


consideração os efeitos da industrialização e a configuração dos modelos de
ocupação das primeiras atividades econômicas do país, como os grandes ciclos
agrícolas da cana de açúcar no período colonial, do café entre a Colônia e o
Império e também o declínio da indústria cafeeira no início da Velha República e
o início da industrialização a partir da segunda metade do Século XX.

33
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

FIGURA 21 – DIVISÃO REGIONAL GEOECONÔMICA BRASILEIRA

FONTE: <https://estudegeografia.webnode.com.br/_files/200000164-8e2898f227/regioes%20
geoeconomicas.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019.

Legenda:

1) Amazônia

2) Centro-Sul

3) Nordeste

Com base na divisão, diferente do que se perpetua nas bases do IBGE,


os limites das regiões não são coincidentes com os estados. Tal fato representa
a noção de que um estado em face de suas características pode ter parte do seu
território em mais de uma região, como é o caso do Maranhão e de Minas Gerais.

O espaço rural brasileiro atualmente concentra a maior desigualdade


social e trabalhista de todas as atividades econômicas de nosso país, pois faltam
legislações que garantam ao produtor rural acesso básico ao desenvolvimento
humano e distribuição de renda. A produção principalmente dos pequenos
produtores é pouco valorizada no mercado interno e externo, pois há pouco
retorno. Hoje ainda há uma competição desleal entre o minifundiário policultor
e o grande agroexportador que concentra a maior parte das terras agricultáveis e
cultiváveis tanto para produção de grãos como para a produção pecuária e seus
derivados. A grande agroindústria está atenta principalmente para os grandes
produtores que possuem capacidade de competição e grande produção de
qualidade em sua matéria-prima.

34
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

FIGURA 22 – PRINCIPAIS PRODUTOS BRASILEIROS AGROPECUÁRIOS DE EXPORTAÇÃO

FONTE: <https://www.infoenem.com.br/wp-content/uploads/2017/07/dados_agropec.jpg>.
Acesso em: 13 fev. 2019.

E
IMPORTANT

A agropecuária e o extrativismo não são tratados com tanta relevância, um


equívoco que deve ser reparado, já que este setor apresenta grande representatividade no
volume de exportações brasileiras e corresponde em torno de 8% do PIB (Produto Interno
Bruto). A produção agrícola no Brasil teve início com a cultura da cana-de-açúcar pelos
portugueses durante o período colonial, que foi seguida pelo cultivo do café, principalmente
nos séculos XIX e XX e posteriormente pela pecuária bovina.
Atualmente, a cultura mais representativa do país é a da soja, principalmente na
região Centro-Oeste. Destinada à exportação, ela representa 9% da balança comercial. A
cana-de-açúcar, o café e a pecuária bovina ainda possuem importância na agropecuária
nacional e, além destes, também podemos encontrar produções de milho, laranja, trigo,
fumo, arroz, feijão, cacau e algodão.

FONTE: https://www.infoenem.com.br/geografia-no-enem-um-panorama-da-
agropecuaria-brasileira/. Acesso em: 13 fev. 2019.

35
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

FIGURA 23 – COLHEITA DE CANA-DE-AÇÚCAR MECANIZADA

FONTE: <http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/
Colheita+mecanizada+sem+despontador_000fk6rupcd02wyiv80sq98yqsxy7xf9.JPG>. Acesso
em: 13 fev. 2019.

Os estados que mais se destacam na agropecuária no Brasil desde as


primeiras décadas da segunda metade do século XX são os estados de São Paulo,
Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio de Janeiro, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul, porém, existe um crescimento na produção
rumo ao norte do país. O setor também está se tornando cada vez mais dependente
da tecnologia a qual gera melhorias nas máquinas, nos defensivos, nas sementes e
nos fertilizantes, de modo a ampliar a produção e aperfeiçoar os produtos.

E
IMPORTANT

“Assim, apesar de variações locais pouco significativas, o nível de concentração


da estrutura fundiária manteve-se elevado em todo o espaço agropecuário. Mesmo tendo
sido reduzida a área total dos estabelecimentos, estes intensificaram suas produções.
Apesar de a intensificação produtiva ter caracterizado o período, registraram-se também o
avanço e a abertura de novas áreas de fronteira agrícola, no sentido norte/nordeste.
Com a valorização da atividade agropecuária, o predomínio dos estabelecimentos
dirigidos pelos próprios proprietários aumentou. Apesar de o Brasil estar posicionado
como um grande produtor mundial de alimentos e de matéria-prima, tendo por base uma
produção agropecuária capitalista altamente tecnificada, era o trabalho familiar, e não o
assalariado, a principal forma de emprego da mão de obra em 2006. Essa mão de obra,
que representava 77% do total de trabalhadores rurais, de um modo geral, mantinha-se
ligada à pequena produção. Esta última, apesar da heterogeneidade de situações no que
diz respeito ao nível de modernização de seu processo produtivo, mantinha-se, em grande
parte, atrelada ao mercado interno, voltando sua produção, basicamente, aos alimentos
que compõem a cesta básica nacional.

36
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

Por fim, a série histórica da informação censitária, entre 1940 e 2006, revela que a agropecuária
brasileira vem se modernizando a partir de diferentes modelos produtivos que, em comum,
têm o fato de privilegiar a grande produção monocultora de alto valor comercial, destinada
à exportação, enquanto a pequena produção de fraca inserção no mercado e/ou voltada
à comercialização continua a ter papel relevante na produção alimentar para o mercado
interno. Se, em princípio, adotou-se um modelo de “substituições de importações”, a partir
de meados dos anos 1960, o setor rural passa a ser reconfigurado no padrão clássico da
modernização conservadora, cujos princípios e estratégias locacionais definem, em grande
parte, a geografia do espaço rural brasileiro na contemporaneidade”.

FONTE: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv97884_cap5.pdf. Acesso em: 17


fev. 2019.

FIGURA 24 – EXPANSÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA

FONTE: <http://marcosbau.com.br/geobrasil-2/1211-2/>. Acesso em: 13 fev. 2019.

37
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Existem atualmente amplas discussões sobre o tema abrangendo


principalmente o efeito do uso de  agrotóxicos  e da produção de  transgênicos.
A agricultura orgânica, ou seja, aquela que não faz uso de agrotóxicos, tem sido
cada vez mais defendida devido aos danos que os agrotóxicos podem causar
ao organismo. Entretanto, a agricultura orgânica acontece principalmente em
pequenas propriedades. Já o cultivo de transgênicos é questionado, pois não
se sabe ao certo o que a alteração do DNA feito nos organismos geneticamente
modificados pode causar em nossa saúde e no meio ambiente.

O agronegócio é importante para a compreensão das  ciências humanas


por causa das transformações na história do Brasil, dos debates que pode causar,
a importância na economia e as suas relações com o homem e com o meio.
Para Abramovay (1999), a nova dinâmica territorial dos espaços rurais requer
políticas públicas descentralizadas que valorizem os atributos locais e regionais
no processo de desenvolvimento, além da visão de que a integração do agricultor
com a indústria é o único caminho para a geração de empregos. O desafio está
em como criar condições para valorização de um território com variedade de
atividades e mercados.

Para Harvey (2012), as diferenças geográficas vão além dos legados


histórico-geográficos e estão relacionadas também com as estruturas político-
econômicas que reconfiguram o presente. A influência do capital internacional
baseado na maximização de lucros está por trás das atuais políticas. Além disso,
as políticas de desenvolvimento territorial tornaram-se, principalmente após
a década de 50, “fundamentalmente parte subsidiária da política econômica
(cumpre lembrar, capitalista) a nível nacional” (COSTA, 2000, p. 59).

Vejamos no quadro a seguir como classificar a atual estrutura agrária


Brasileira.

FIGURA 25 – EVOLUÇÃO DA ESTRUTURA BRASILEIRA

FONTE:<https://www.unicamp.br/unicamp/sites/default/files/inlineimages/img_ART_LM_
grafico_002_201 71206.jpg>. Acesso em: 13 fev. 2019.

38
TÓPICO 2 | FORMAÇÃO HISTÓRICA DO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

E
IMPORTANT

O setor de subsistência na economia brasileira: gênese histórica e formas de


reprodução

Guilherme C. Delgado

Caio Prado Jr., em sua obra Formação do Brasil Contemporâneo (1979), desenvolveu os
capítulos “Agricultura de Subsistência” e “Pecuária” do Brasil Colonial, mas adverte antes
que tais setores não constituem atividades fundamentais da economia colonial, centrada
no trinômio: grande propriedade, trabalho escravo e monocultura voltado ao comércio
exterior. Certamente a agricultura de subsistência e a pecuária não se encaixam neste
trinômio, embora já no período colonial “ocupassem” parcela expressiva da população em
extensão territorial muito vasta da colônia.

Mas não podemos colocá-las no mesmo plano, pois pertencem a outra


categoria, e a categoria de segunda ordem [...]. Trata-se de atividades
subsidiárias destinadas a amparar e tornar possível a realização das
primeiras. Não têm uma vida própria, autônoma, mas acompanham
aquelas, a que se agregam como simples dependência. Numa palavra,
não caracterizam a economia colonial brasileira e lhes servem apenas
de acessórios [...] (PRADO, 1979, p. 124).

É claro, na construção analítica da obra em questão, que o tripé grande propriedade/


trabalho escravo/monocultura, estrutura a produção da grande lavoura e da mineração na
produção de mercadorias para o setor externo.
Quando trata da agricultura de subsistência, da pecuária e mesmo das produções
extrativistas naquela obra, o tripé não se aplica, e o autor ora recorre ao argumento de setor
subsidiário residual, reflexo etc., ora faz uso de uma outra noção do setor de subsistência, na
qual se destaca sua especialização na provisão de gêneros de subsistência para o consumo
interno.

Já apontei acima os motivos principais porque fiz esta distinção


fundamental numa economia como a nossa, entre a grande
lavoura que produz para a exportação e a agricultura que chamei
de “subsistência” por destinar-se ao consumo e à manutenção da
própria colônia [...]. Há a considerar a natureza econômica intrínseca
de cada uma e outra categoria de atividade produtiva, o fundamento,
o objetivo primário, a razão de ser respectiva de cada uma delas. A
diferença aí é essencial, e já me ocupei suficientemente da matéria
(PRADO, 1979, p. 157).

Mais adiante, depois de exemplificar diversos ramos das atividades de subsistência no Brasil
Colonial, o autor conclui indicando um segundo caráter específico do setor de subsistência:

Assim, com maior ou menor independência do lavrador, e maior


ou menor extensão da lavoura respectiva, constituem-se a par das
grandes explorações, as culturas próprias e especializadas que se
destinam à produção de gêneros alimentícios de consumo interno
da colônia (grifo nosso). É um setor subsidiário da economia colonial,
depende exclusivamente do outro, que lhe infunde vida e forças
[...]. Em geral a sua mão-de-obra não é constituída de escravos: é o
próprio lavrador modesto e mesquinho que trabalha. Às vezes conta
com o auxílio de um ou outro preto ou mais comumente de algum
índio ou mestiço [...] (PRADO, 1979, p. 160-161).

39
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Em síntese, a noção de setor de subsistência, na obra de Caio Prado Jr., apresenta quatro
características a destacar:
a) atividade subsidiária que depende ora exclusivamente, ora parcialmente da grande
lavoura;
b) setor produtor de bens de consumo destinados ao autoconsumo da fazenda e ao
consumo interno da economia interna (da colônia), mas não à exportação;
c) especialização na produção de alimentos – um valor de uso, distinto das mercadorias
produzidas para o mercado externo; e
d) estrutura produtiva distinta da grande lavoura, visto que no setor de subsistência
praticamente não se utiliza o trabalho escravo, a produção é do tipo não monocultivo e
o estabelecimento produtivo é em geral de dimensões pequenas (familiar), produzindo
algum ou alguns produtos com mão-de-obra própria e/ou participação de inúmeras
relações de trabalho (dependendo da atividade), que em geral não são de trabalho
escravo, tampouco de trabalho assalariado.
Observa-se finalmente que, de acordo com Caio Prado Jr., o setor de subsistência alberga-
se na grande propriedade, geograficamente externa às zonas das grandes lavouras,
sujeita às relações fundiárias de dominação impostas pelo sistema de sesmarias. Porém,
diferentemente da grande lavoura, os agricultores de subsistência gozam de certa
autonomia, principalmente na pecuária, na qual os contratos de parceria entre proprietários
absenteístas e vaqueiros são completamente distintos dos “contratos” entre grandes
proprietários e os seus “moradores de condição” na grande lavoura.

FONTE: http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3234/1/Livro_Questao_Social.pdf.
Acesso em: 24 fev. 2019.

40
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• A formação do espaço rural brasileiro desde a ocupação pelos colonizadores


foi se modificando de acordo com a transformação do território nacional,
caracterizando o atual modelo agrário brasileiro.

• A evolução dos grandes ciclos econômicos desde a produção de cana-de-


açúcar e do café entre o período imperial e da velha república, assim como a
prática e a formação dos grandes latifúndios coloniais até as atuais práticas de
exploração da terra na atualidade.

• O espaço rural contemporâneo é o reflexo nos modelos de ocupação e exploração


do espaço desde os tempos coloniais e que as desigualdades e problemas com
a terra em nosso país é de cunho secular e histórico.

• De acordo com a Evolução da Estrutura Fundiária Brasileira, as pequenas


propriedades agrárias representam uma pequena parte na produção de
alimentos tanto para a agroindústria como para as exportações, o que não
acontece com as grandes áreas monocultoras exportadoras de commodities
agrícolas no espaço agrário do Brasil.

41
AUTOATIVIDADE

1 A esfera produtiva sempre esteve em destaque seja na produção de


produtos para exportação – que aconteceu durante a maior parte da história
econômica brasileira – seja no fornecimento de matérias-primas para o
surgimento e consolidação da agroindústria nacional. Atualmente é a
principal responsável pelos saldos positivos na balança comercial. Descreva
e explique o que são commodities.

2 Os países desenvolvidos adotaram a pequena agricultura como forma de


ocupação do espaço rural. Os países subdesenvolvidos são o paraíso dos
latifúndios e há a expropriação de milhões de trabalhadores rurais sem-terra
que deu sustentação para uma grande desigualdade social e um pequeno
mercado consumidor com baixo desenvolvimento social e econômico.
Como podemos descrever a atual situação dos espaços rurais e agrários nos
países subdesenvolvidos?

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) Caracterizado por latifúndios familiares monocultores e exportadores,
principalmente de commodities, produção de maneira in natura sem grande
transformação ou nenhuma.
b) ( ) Se destaca pela igualdade na distribuição de terras e pela atividade
familiar em pequenas áreas produtoras e policultoras, definidos como
minifúndios agroexportadores.
c) ( ) Identificado por um problema sistêmico e em cadeia generalizada nos
países subdesenvolvidos com concentração fundiária teremos a presença
do latifúndio e, consequentemente, o aumento dos trabalhadores sem-terra,
dos conflitos fundiários, das ocupações e da pobreza tanto no campo como
na cidade.
d) ( ) O desenvolvimento não perpassa os aspectos econômicos, sociais,
culturais e ambientais e para que haja equilíbrio no campo será necessária
uma maior distribuição da terra, ou seja, a exploração agrícola com base na
pequena agricultura familiar.

3 Uma série histórica da informação censitária, entre 1940 e 2006, revela


que a agropecuária brasileira vem se modernizando a partir de diferentes
modelos produtivos que em comum têm o fato de privilegiar a grande
produção monocultora de alto valor comercial, destinada para a exportação,
enquanto a pequena produção de fraca inserção no mercado e/ou voltada
para a comercialização continua a ter papel relevante na produção alimentar
para o mercado interno. A produção da agricultura familiar tem perdido
cada vez mais espaço com a concorrência das grandes agroindústrias em
nosso país, o que leva a intensificar a exploração de terras não como um
sustento do pequeno proprietário rural no campo e sim a aumentar os
lucros dos grandes conglomerados industriais no setor de alimentos, o qual
desfavorece o pequeno produtor por:
42
I- Criar incentivos agrícolas para as famílias de pequenas propriedades rurais.
II- Aumentar as diferenças dos trabalhadores rurais com os trabalhadores dos
espaços urbanos, intensificando a desigualdade social nestas áreas.
III- Cria concentração fundiária na mão de poucos proprietários rurais,
dificultando os segmentos de produção das famílias agrícolas.

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As alternativas I e II estão corretas.
b) ( ) As alternativas II e III estão corretas.
c) ( ) As alternativas I e III estão corretas.
d) ( ) Todas as alternativas estão corretas.

43
44
UNIDADE 1
TÓPICO 3

A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO


CONTEMPORÂNEO: AS NOVAS CONCEPÇÕES
SOBRE O ESPAÇO RURAL

1 INTRODUÇÃO
Atualmente vemos cada vez mais a influência da globalização e da
tecnologia no modo de produzir alimentos, na extração dos recursos naturais, no
aumento corrente da demanda de consumo por novos produtos, novas práticas
e hábitos alimentares. A necessidade de atender cada vez mais à grande oferta
na produção e diversificação de alimentos faz com que os sistemas produtivos
fiquem cada momento mais complexos e dinâmicos, aumentando a dificuldade ao
acesso alimentar em várias nações do planeta e transformando outras em caóticas
e centralizadoras. A compreensão das transformações que aconteceram e estão
acontecendo no rural brasileiro passa, necessariamente, pelo estudo do processo
histórico de constituição do rural enquanto espaço de produção e reprodução
social de sua população.

FIGURA 26 – TECNOLOGIA E AGROPECUÁRIA

FONTE: <http://cerradoeditora.com.br/cerrado/wp-content/uploads/2017/02/Drones-
Agricultura.jpg>. Acesso em: 17 fev. 2019.

45
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

E
IMPORTANT

De acordo com o texto de Ivo Elesbão em O espaço rural brasileiro em


transformação:

“As mudanças observadas no espaço rural dos países desenvolvidos passam também a ser
detectadas no espaço rural brasileiro que hoje é estudado à luz das mesmas transformações,
ampliando o enfoque que outrora recaía somente na produção de alimentos e matérias-
primas, para considerar também a relação com as atividades não agrícolas. Estas atividades,
praticadas por componentes de muitas famílias rurais, ganham importância na busca da
compreensão das transformações de que o rural brasileiro vem sendo palco e que se
intensificaram nos últimos tempos.

Neste artigo, analisam-se as transformações em curso, apoiando-nos para isso, em uma


revisão bibliográfica que tem o rural como objeto de estudo e que busca compreender
as mudanças que estão ocorrendo nesse espaço. Necessário se faz ressaltar que nem
de longe pode ser considerada uma reflexão exaustiva, pois entendemos as limitações
ao analisar um espaço que é estudado por várias áreas da Ciência e que congrega uma
enorme quantidade de trabalhos produzidos sobre o tema.

Nossa análise será dividida em duas partes e irá se pautar em algumas mudanças históricas
e na complexidade de relações de que o rural atualmente se reveste. Na primeira parte
buscaremos discorrer sobre as transformações no rural brasileiro ao longo do século XX
enfocando quatro grandes acontecimentos: o fim do último grande ciclo econômico
(ciclo do café); o processo de modernização da agricultura; a migração campo/cidade; e o
reconhecimento da importância da agricultura familiar. Na segunda parte nossa análise terá
como base a emergência de novas atividades e novos valores no rural contemporâneo, os
quais representam a diversidade de situações na teia de relações que se estabelecem entre
o rural e o urbano”.

FONTE: https://revistas.rcaap.pt/finisterra/article/view/1421/1117. Acesso em: 17 fev. 2019.

2 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO MUNDO


Mesmo com o crescimento vigente das atividades de transformação
e indústria no mundo, assim como a ampliação do setor de serviços, tanto na
empregabilidade como nas relações econômicas mundiais, destacamos, no setor
primário, o setor agropecuário que tem cada vez mais enfatizado as relações
de trabalho, produção e ocupação dos espaços produtivos, levantando novos
debates desde a desigualdade no campo em diversos países e continentes do
planeta como até mesmo a distribuição das terras nos territórios, mostrando o
agravamento e a fragilidade de determinadas nações em lidar com as questões
agrárias e a política de terras no mundo.

Ao trazer o debate para os dias atuais, verifica-se que muitas previsões


efetuadas sobre o destino do campesinato e de sua pequena unidade de produção não
se confirmaram ou sofreram alterações significativas e foram expressas inicialmente
na abordagem de Veiga (1991), na qual o autor ressalta que ao contrário do que se
46
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

previa, principalmente nas visões de Marx, Lênin e Kautsky, a classe camponesa não
desapareceu, porém, sofreu mutações significativas nas suas relações produtivas e
sociais, constituindo-se na base da produção agrícola nos países capitalistas centrais,
como os Estados Unidos e grande parte da União Europeia.

Observamos um crescente aumento da pobreza e conflitos relacionados


aos espaços produtivos desde a América Latina, África e Ásia como principal foco
do debate. A fome e a falta de alimentos ainda são o problema central em diversas
regiões do planeta, acirrando conflitos regionais entre os povos. O modo capitalista
de produção na construção da imagem da agricultura e sua representação através
do conceito que passou a ser difundido como agronegócio, enfatiza o crescimento
da agroindústria principalmente nos países em desenvolvimento no mundo como
o Brasil e demais países agroprodutores da América Latina. O uso dos termos
“agronegócio e agroindústria” se propagou tanto nos círculos acadêmicos quanto
nos meios políticos e de comunicação entre as nações do planeta. 

Mendonça, Pitta e Xavier (2012, p. 5) situa que:

A chamada  industrialização  da agricultura ocorre principalmente a


partir dos anos 1950, em um contexto de crise de superacumulação
de capital em nível mundial. No Brasil,  este modelo ganha força
principalmente a partir dos anos 1960 e combina a grande exploração
agrícola com o estímulo ao uso de insumos industriais. É no período
marcado pelo caráter monopolista ou imperialista do capital que se
observa o processo de industrialização da agricultura,  conhecido
popularmente como agronegócio.

A relação do agronegócio está ganhando força no capitalismo financeiro e


informacional da atualidade, desenvolvendo uma relação do sistema de produção
cada vez mais dependente das relações financeiras e econômicas da globalização.

FIGURA 27 – MODELO DE UM SISTEMA DE PRODUÇÃO AGROINDUSTRIAL

FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo/evolucao-
da-agricultura.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019.

47
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

A propriedade monopolista pressupõe a incorporação de todos


os momentos da chamada  cadeia produtiva. Como exemplos de grandes
conglomerados capitalistas do setor de produção de alimentos podemos citar
a Bunge e a Cargil, empresas com maior parte de capital estadunidense que
dominam o monopólio das grandes agroindústrias no mundo, desde o controle
das matérias-primas até a circulação das mercadorias, considerando-se o papel
essencial do capital financeiro. 

FIGURA 28 – EXEMPLO DE OLIGOPÓLIO DO AGRONEGÓCIO

FONTE: <http://www.ceisebr.com/uploads/conteudo/conteudo/2018/07/86Y
DL/1494545796776-20H5N9_510x400.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019. 

A internacionalização deste modelo através da exportação de capitais


aprofundou a  especialização dos monocultivos em determinados países e a
divisão internacional do trabalho, sistema que amplia a desigualdade social e as
diferenças entre a base da cadeia produtiva da base de uma pirâmide financeira
e produtiva, até o ápice das classes donas dos meios de produção, característica
que vem desde o período das grandes navegações e conquistas dos territórios
mundiais pelos europeus a partir de uma da herança colonial. 

48
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

E
IMPORTANT

“O tempo de produção consiste de duas partes: um período em que o


trabalho é realmente aplicado na produção, e um segundo período, durante o qual a
mercadoria “inacabada” é abandonada à influência de processos naturais, sem se submeter
simultaneamente ao processo de trabalho, tendo, como exemplos, os processos naturais,
químicos e fisiológicos. Enquanto o trabalho humano normalmente desencadeia esses
processos, após o ponto de partida iniciado pelo insumo-trabalho, o processo prossegue
de forma independente. Esses intervalos no processo de produção não criam nem valor e
nem mais-valia, é o que ressaltam os autores Mann e Dickinson (1987).

A produção agrícola é caracterizada não somente por um relativo longo tempo de produção
total (já que diversos cultivos são realizados anualmente), mas também por uma grande
diferença entre o tempo de produção e o tempo de trabalho; há um longo período em que
o tempo de trabalho é quase que completamente interrompido (exemplo disso, é o tempo
em que a semente leva para se desenvolver na terra). Neste caso, a redução do tempo de
produção é severamente afetada por fatores naturais e, assim, não pode ser facilmente
modificada socialmente ou manipulada, como ocorre na indústria propriamente dita. Na
produção pecuária, a reprodução dos animais é delimitada por processos naturais definidos.

Praticamente toda a pesquisa agrícola desenvolve esforços para reduzir a preponderância


do tempo de produção sobre o tempo de trabalho: inseminação artificial, processos de
alimentação forçada, desenvolvimento de sementes híbridas, cultivo de plantas em soluções
nutritivas e outros. Por isso, a capitalização da agricultura avança mais rapidamente nas
esferas onde o tempo de produção pode ser reduzido com sucesso. Inversamente, as
esferas de produção caracterizadas por uma certa rigidez da não-identidade entre tempo
de produção e tempo de trabalho não exercem a mesma atratividade ao grande capital,
sendo deixadas, então, ao pequeno produtor familiar.

A não identidade entre o tempo de produção e o tempo de trabalho estabelece uma


série de obstáculos à penetração capitalista em certas esferas da agricultura, que, pelo
fundamento biológico de seu processo produtivo, opõe resistência ao avanço da divisão
social do trabalho, e, assim, ao próprio domínio da socialidade capitalista, comprometendo,
no médio e longo prazo, a manutenção da taxa média de lucro do capital, já que este
não consegue circular e se reproduzir de maneira mais rápida e eficaz, como ocorre na
indústria (ABRAMOVAY, 1992).

Portanto, em razão dessas dificuldades, a grande propriedade produtora capitalista,


na agricultura, cedeu espaço para a pequena unidade de produção familiar, pois esta
última, preservando uma característica semelhante à das antigas unidades de produção
camponesas, conseguiu se reproduzir com taxas de lucro abaixo da taxa média de lucro,
porém com a utilização de instrumental produtivo altamente tecnificado e plenamente
integrado ao mercado, competindo em igualdade de condições com a grande propriedade
produtora capitalista, que, devido aos seus altos custos de manutenção e seu baixo e lento
retorno dos investimentos de capital, retira-se da competição e, consequentemente, da
produção agrícola.

Foi assim, então, que, nos países capitalistas centrais, coube à agricultura familiar o papel
de grande produtora e fornecedora de alimentos e insumos para indústria, a preços mais
baixos e em quantidade suficiente para garantir o abastecimento da população. Além disso,
possibilitou a manutenção da renda dos agricultores familiares, colaborando para a fixação
do produtor agrícola no campo, reduzindo significativamente o êxodo rural e melhorando

49
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

as condições de trabalho e de vida, tanto no campo como na cidade. Cabe ressaltar que
coube ao Estado um papel extremamente importante, pois ele operou como elemento
centralizador e responsável, em última análise, pela alocação da atividade dos agricultores.

Apesar da ocorrência dos fatos e acontecimentos levantados pelos diversos autores


acima, na qual a preponderância da agricultura familiar, nos países capitalistas centrais,
surgiu como fator decisivo para a derrocada de um dos pressupostos básicos de Marx e
seus seguidores, que previam o fim da pequena unidade de produção camponesa, e, por
conseguinte, da classe camponesa, e a preponderância da grande exploração capitalista,
em decorrência do desenvolvimento do modo de produção capitalista, outros aspectos
devem ser considerados na atual discussão”.

FONTE: SIQUEIRA, Oscar Graeff. O modo de produção capitalista e a agricultura.


COLÓQUIO – Revista do Desenvolvimento Regional – Faccat – Taquara/RS – v. 11, n. 2,
p. 113-131, jul./dez. 2014. Disponível em: https://seer.faccat.br/index.php/coloquio/article/
view/156/137. Acesso em: 12 set. 2019.

Observa-se que o modo de produção capitalista não tem medido esforços


para substituir ou apropriar-se de processos naturais de produção, em que a
natureza dita as regras do desenvolvimento de plantas e animais, trocando-os
por artificiais.

A produção agrícola teve um desenvolvimento significativo nos últimos


anos, com o avanço científico e tecnológico que proporcionou aos produtores
ampliar seus empreendimentos, com uso de tecnologias e implementos agrícolas,
tornando possível a incorporação e uso de novas terras, adubos químicos para
a correção de solos para o aumento de produção. Fatores que proporcionaram
uma otimização em todo o processo de produção, desde o plantio-colheita, até a
exportação e comercialização (OLIVEIRA, 2007). Entretanto, sem dúvida, o avanço
técnico foi impulsionado por grandes empresas multinacionais que associaram a
necessidade do campo ao acúmulo de capital. Porém, o que é produzido não
chega a todos de maneira igual, como nem todos têm o direito de produzir com
eficiência, já que o capitalismo dita as regras de produção e comercialização. Para
a compreensão da estrutura é necessário que o ensino de Geografia esteja voltado
para a explicação da lógica do modo de produção capitalista.

50
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

E
IMPORTANT

“A concentração fundiária no Brasil é resultado de uma distribuição de terra


que aconteceu no passado de forma desordenada e destinada, muitas vezes, a quem não
precisava. Sem contar que os lotes de terra eram gigantescos. Atualmente, grande parte
das terras brasileiras se encontra nas mãos de uma minoria de famílias, o que promove
o surgimento de uma enorme quantidade de trabalhadores desprovidos de terras para
cultivar o seu sustento e de sua família.

A disparidade existente na estrutura fundiária brasileira gera a insatisfação de várias classes


da sociedade (trabalhadores rurais, cientistas políticos, sociólogos, entidades religiosas, entre
outros), que apoiam a implantação da reforma agrária. Esse pensamento está alicerçado
em dois pontos determinantes: o primeiro é o fator social e o segundo, o econômico. O
fator social está relacionado ao fato de que há milhares de famílias que precisam de um
pedaço de terra para cultivar seu alimento, o que também, de certa forma, torna-se o seu
emprego. Já o fator econômico refere-se aos objetivos ligados à produção de alimentos
para o abastecimento interno, forçando a diminuição dos seus preços, que recentemente
foram inflacionados diante da crise mundial de alimentos. Incluindo ainda que esses
pequenos produtores podem se tornar exportadores para diversos países do mundo, o que
contribuiria para a economia do país.

Na tentativa de solucionar os fatores citados acima, a Nova Constituição Federal de 1988


trouxe um artigo que determina a aplicação da reforma agrária em propriedades rurais
que se encontram na categoria de improdutivas. No entanto, o artigo deixou falhas
por não expressar especificamente o que caracteriza uma propriedade improdutiva.
O desprovimento de informações específicas quanto a esse tipo de propriedade gerou
a ascensão dos problemas relacionados à luta pela terra, surgindo, inclusive, confrontos
armados que deixaram mortos e feridos, como o massacre do Eldorado dos Carajás (Pará).

A imprecisão de informações leva os sem-terra a interpretarem “ao pé da letra” o artigo da


Constituição Federal, portanto, quando esse grupo visualiza uma propriedade improdutiva,
eles se veem no direito de invadi-la. Do outro lado da questão, estão os proprietários dessas
terras que sempre negam essa condição, afirmando que elas são produtivas e que a invasão
não passa de um ato ilegal e criminoso. Nesse caso, o proprietário aciona o poder público,
exigindo uma atitude”.

FONTE: http://profisabelaguiar.blogspot.com/2014/12/voce-sabe-o-que-e-reforma-agraria.
html. Acesso em: 20 fev. 2019.

51
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

FIGURA 29 – CHARGE “KOIZAS DA VIDA” – A HEREDITARIEDADE DA TERRA

FONTE:<http://4.bp.blogspot.com/VzSAfIuHEBw/UsrCP728qEI/AAAAAAAADX8/Ph4Up39t7dw/
s1600/CHARGE-01-FABIANO-CARTUNISTA.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019.

Por fim, observamos que há diversas contradições no desenvolvimento do


capitalismo, pois a produção do capital nunca decorre de relações especificamente
capitalistas de produção, fundadas no trabalho assalariado e no capital. Para
que a relação capitalista ocorra é necessário que seus dois elementos centrais
estejam constituídos, ou seja, o capital produzido e os trabalhadores despojados
dos meios de produção. Entre as relações não capitalistas de produção estão o
campesinato ou agricultura camponesa e familiar e a propriedade capitalista
da terra das grandes empresas do agronegócio atual, baseadas na sujeição da
renda da terra ao capital, pois assim o capital pode subordinar a produção de tipo
camponês, especular com a terra, comparando-a e vendendo-a e por isso sujeitar
o trabalho que se dá na terra, sem que o trabalhador seja expulso, sem que se dê
a expropriação de seus instrumentos de produção.

2.1 A QUESTÃO AGRÁRIA E O CAPITALISMO NO BRASIL


No capitalismo, “[...] o processo de produção do espaço social determina
as suas formas por meio das relações sociais, que são compreendidas na tríade
formada pelo capital, trabalho assalariado e propriedades fundiárias [...]”
(FERNANDES, 1999, p. 24). A partir da citação podemos analisar que os espaços
agrários nos países desenvolvidos se deram de maneira diferente dos países
subdesenvolvidos ou em desenvolvimento como é o caso do Brasil.

52
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

A desigualdade no espaço rural do Brasil torna-se muito mais acirrada nas


áreas afastadas dos grandes centros urbanos do centro-sul brasileiro em direção ao
interior dos estados da federação, como algumas áreas da Amazônia e do centro
oeste brasileiro. Nestas áreas rurais, há uma grande gama de pobreza e difícil acesso
para a produção dos pequenos agricultores familiares no qual gera um problema
sistêmico e em cadeia generalizada nos países subdesenvolvidos, pois com essa
concentração fundiária, teremos a presença do latifúndio e consequentemente o
aumento dos trabalhadores sem-terra, dos conflitos fundiários, das ocupações e
da pobreza tanto no campo como na cidade.

FIGURA 30 – CONCENTRAÇÃO DE TERRAS NOS GRANDE LATIFÚNDIOS

FONTE: <http://brasil.agenciapulsar.org/wp-content/uploads/2017/07/CHARGE-REFORMA-
AGR%C3%81RIA-1985.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019

De acordo com Guanziroli et al. (2001, p. 15):

Os capitalistas que hoje ostentam os melhores indicadores de


desenvolvimento humano, dos Estados Unidos ao Japão, apresentam
um traço comum: a forte presença da agricultura familiar, cuja
evolução desempenhou um papel fundamental na estruturação
de economias mais dinâmicas e de sociedades mais democráticas
e equitativas. A expansão e dinamismo da agricultura familiar
basearam-se na garantia do acesso à terra que em cada país assumiu
uma forma particular, desde a abertura da fronteira oeste americana
aos ‘farmers’ até a reforma agrária compulsória na Coreia e em Taiwan
[...] a agricultura familiar desempenhou um papel estratégico [...] o de
garantir uma transição socialmente equilibrada entre uma economia
de base rural pra uma economia urbana e industrial.

O desenvolvimento perpassa os aspectos econômicos, sociais, culturais


e ambientais e para que haja equilíbrio no campo será necessária uma maior
distribuição da terra, ou seja, a exploração agrícola com base na pequena
agricultura familiar e de subsistência.
53
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

No Brasil as políticas agrárias têm sido debatidas a partir da proclamação


da constituição de 1988 quando um dos textos da nova carta magma, a política
agrária, começou a ser debatido. Infelizmente temos pouco apoio dos três poderes
da nossa República Federativa e pouco engajamento político para tratar e definir
metas efetivas sobre essa questão, pois há interesses particulares de grandes
produtores rurais e nos esquecemos das verdadeiras problemáticas sociais do
campo.

FIGURA 31 – AGRONEGÓCIO E O SOCIAL NO ESPAÇO RURAL

FONTE: <http://brasil.agenciapulsar.org/wp-content/uploads/2015/03/guarani-kaiowa-
agronegocio.jpg>. Acesso em: 20 fev. 2019

O Brasil é caracterizado como um dos países com a maior concentração


de terras do mundo e onde a maioria dos camponeses ou pequenos agricultores
continuam sem ter uma área para cultivar. As conclusões fazem parte de um
balanço realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os fatos ocorridos
no período de 2011 a 2014 e mostra que no período pesquisado aconteceram os
piores indicadores em matéria de reforma agrária dos últimos 20 anos. De acordo
com Fernandes (2001, p. 23-24):

A questão agrária é o movimento do conjunto de problemas relativos


ao desenvolvimento da agropecuária e das lutas de resistência dos
trabalhadores, que são inerentes ao processo desigual e contraditório
das relações capitalistas de produção [...] os problemas referentes à
questão agrária estão relacionados, essencialmente, à propriedade da
terra, consequentemente à concentração da estrutura fundiária; aos
processos de expropriação, expulsão e exclusão dos trabalhadores
rurais: camponeses e assalariados; à luta pela terra, pela reforma agrária
e pela resistência na terra; à violência extrema contra os trabalhadores,

54
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

à produção, abastecimento e segurança alimentar; aos modelos de


desenvolvimento da agropecuária e seus padrões tecnológicos, às
políticas agrícolas e ao mercado, ao campo e à cidade, à qualidade
de vida e dignidade humana [...] a questão agrária compreende as
dimensões econômica, social e política.

2.2 A QUESTÃO AGRÁRIA NO BRASIL – SÉCULO XXI


A questão agrária no início de século XXI acende novas e velhas questões
sobre a questão da terra no Brasil desde a época colonial, a concentração de terras
e a exploração pelos grandes latifundiários monocultores. A grande diferença
está na contínua modernização e mecanização do sistema de produção agrário ao
longo das últimas décadas do século XX e século XXI.

FIGURA 32 – OCUPAÇÃO DE TERRAS NO ESPAÇO RURAL BRASILEIRO

FONTE: <https://www.embrapa.br/documents/1355154/1529080/Gráfico+-
+ocupação+de+terras+no+Brasil+-+apresentação+Blairo+GAF/65352537-3395-4513-ba9c-
bcf794cfa478?t=1467741265151>. Acesso em: 19 fev. 2019.

55
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Delgado (2010), sobre a questão agrária, comenta que atualmente há


prevalência do agronegócio no modelo agrário brasileiro, ou seja, a antinomia
“reforma agrária” versus “modernização técnica”. A abordagem de Delgado
(2010) é centrada na perspectiva econômica, porém observaremos sob o olhar
geográfico, abordando questões correlacionadas e que conformam o cerne da
questão agrária brasileira no início de século.

FIGURA 33 – MODELO AGRÁRIO E AGRÍCOLA DO BRASIL ATUAL.

FONTE: <https://pt.slideshare.net/LarissaSantos19/slides-aula-11-modelo-agrrio-agrcola>. Acesso


em: 23 fev. 2019.

A concentração fundiária não é uma novidade na história brasileira, pois se


ressignifica a cada momento e o mesmo pode ser dito sobre a internacionalização
da agricultura. Se a colonização foi o marco inicial da invasão estrangeira – do
ponto de vista dos povos “indígenas” (tupis, guaranis, xavantes, ynanomamis
e tantos outros) – hoje vivemos uma nova onda de internacionalização da nossa
agricultura, expressa no domínio dos espaços agrários por grandes empresas
transnacionais e na compra de terras por empresas, fazendeiros e fundos
financeiros estrangeiros.

No dizer de David Harvey (2004, p. 121), estamos diante de um processo


de renovação do imperialismo, baseada na acumulação por espoliação:

56
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

Todas as características da acumulação primitiva que Marx menciona


permanecem fortemente presentes na geografia histórica do
capitalismo até nossos dias. A expulsão de populações camponesas e
a formação de um proletariado sem-terra tem se acelerado em países
como o México e a Índia nas três últimas décadas; muitos recursos
antes partilhados como a água, têm sido privatizados (com frequência
por insistência do Banco Mundial) e inseridos na lógica capitalista
da acumulação; formas alternativas (autóctones e mesmo, no caso
dos Estados Unidos, mercadorias de fabricação caseira) de produção
e consumo têm sido suprimidas. Indústrias nacionalizadas têm sido
privatizadas. O agronegócio substitui a agricultura familiar. E a
escravidão não desapareceu (particularmente no comércio sexual).

A produção agropecuária brasileira vem crescendo de forma extraordinária


principalmente na segunda metade do século XX em diante. Estima-se que 80,6%
do crescimento da produção agropecuária no país se referem aos ganhos de
produtividade entre os anos de 1975 a 2016.

O crescimento da produção e da produtividade resultou em um grande


alongamento da cadeia produtiva agrícola, com a expansão de vínculos com
as indústrias de fornecimento e de processamento, bem como com a crescente
ligação com os serviços sofisticados de pesquisa, de experimentação e difusão,
de consultorias em áreas da tecnologia da informação, da genética animal, da
agricultura de precisão e demais serviços relacionados com a propriedade e
indústrias da cadeia de produção. Infelizmente ainda não está reconhecida a
importância e os efeitos positivos da expansão da agropecuária na economia
brasileira.

É conhecida a contribuição positiva da produção de biocombustíveis para


o meio ambiente. Os biocombustíveis são produzidos a partir da cana-de-açúcar
e são atestados internacionalmente. Práticas reconhecidamente nocivas como o
despejo de vinhoto nos rios são coisas do passado.

NOTA

Em 2014 o setor agropecuário era um segmento muito grande. A cadeia


produtiva é longa e provavelmente representa 25% do PIB. O ano de 2013 foi exemplar, pois
enquanto a indústria cresceu 1,3% e o setor de serviços 2%, a agropecuária expandiu 7%.

FONTE: http://www.agricultura.gov.br/noticias/agropecuaria-puxa-o-pib-de-2017. Acesso


em: 20 fev. 2019.

57
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

Os segmentos industriais ligados ao agro foram os que tiveram melhor


desempenho: caminhões, tratores, implementos, fertilizantes, defensivos e
produtos veterinários. Contrapor agricultura com a indústria é um conceito
superado. Boa parte da indústria trabalha em conjunto com a produção agrícola
e demonstra forte dinamismo tecnológico, compondo o que se chama de
agronegócio.

FIGURA 34 – DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO NO CAMPO

FONTE: <https://static.mundoeducacao.bol.uol.com.br/mundoeducacao/conteudo_legenda/
aceef70abc091dc82939f5ea7cb96eef.jpg>. Acesso em: 23 fev. 2019

O processo de desenvolvimento econômico caracteriza-se por uma


constante mudança e uma sucessão de desafios que surgem a cada sucesso.
Fatores externos sempre apresentam novas agendas como é o caso da discussão
sobre o aquecimento global e os seus impactos no setor, algo inexistente há 15
anos. Apesar do enorme avanço e da mudança no crescimento agrícola a lista
atual de desafios continua grande. É o que tentamos mostrar em seguida.

A infraestrutura brasileira ficou pequena para acomodar o extraordinário


crescimento da produção e dos mercados. Individualmente é sem dúvida o maior
problema do setor, uma vez que os gastos com o complexo armazém-transporte-
porto estão se tornando proibitivos e já limitam a expansão da área plantada. É
uma questão conhecida e não evolui com o passar do tempo, ficando estagnada.

58
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

Novos corredores de exportação, particularmente a construção de uma


saída pelo norte do país, são indispensáveis e continuarão a pressionar o sistema
produtivo mesmo que amadureçam alguns projetos mais viáveis para a solução
da questão. Certamente a infraestrutura só melhorará quando a confiança e a
regulação possa atrair grupos consideráveis de capital privado.

Na verdade, a melhor forma de aumentar a produtividade da economia


brasileira nos dias de hoje é a construção de uma boa solução logística. Isso vale
tanto para o campo quanto para a cidade. Ganhos nessa área implicarão mais
renda e produção, mais exportações e com preços menores para os consumidores.

O sucesso do pacote tecnológico desenvolvido nas últimas décadas


introduz permanentes desafios agronômicos tanto para a pesquisa quanto para a
produção. Neste último caso, a intensificação dos cultivos num ambiente tropical
mantém a porta aberta para novas pragas como foi o caso recente da rápida
expansão da ameaçadora lagarta exótica Helicoverpa armigera que ainda desafia o
agricultor e acrescenta mais custos à produção.

É preciso registrar que a verdadeira solução teria de passar por uma


ampliação de atividades preventivas (rotação de culturas, manejo integrado de
pragas, vazio sanitário e áreas de refúgio) que são atendidas apenas de forma
parcial. Por sua vez, os desafios agronômicos foram apontados no excelente
artigo Sete teses sobre o mundo rural brasileiro (conferir nas Referências). Do ponto
de vista institucional cabe registrar que o Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento está muito enfraquecido (terceiro desafio). A contínua troca de
titulares numa estrutura na qual operam quase 40 ministérios torna a coordenação
entre unidades quase impossível. Entretanto, a maior parte da agenda que afeta o
setor é multidisciplinar e extrapola a atuação do Ministério da Agricultura o que
torna extraordinariamente difícil o encaminhamento satisfatório das questões
regulatórias.

É particularmente verdadeiro no que tange à aprovação de novas


variedades geneticamente modificadas, aos novos defensivos e produtos
veterinários de qualquer natureza. Por trás dessa situação existe mais do
que confusão burocrática: existe uma questão ideológica não resolvida e mal
acomodada no nosso presidencialismo de coalisão. A resistência hoje está
fortemente concentrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa)
que sistematicamente tenta impedir a aprovação de produtos ecologicamente
equilibrados já em uso em regiões que têm grande cuidado com o meio ambiente,
como a Europa.

Os mecanismos de transferência de grãos não funcionaram a contento e a


perda de capital dos agricultores foi enorme. O adequado manejo de água no país
ainda é limitado. Buainain et al (2013, p. 20) declaram que

59
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

O caso do rio São Francisco é revelador: o rio está definhando, os


prometidos programas de revitalização não ocorreram, e o projeto de
transposição está inconcluso. Além disso, é possível que as outorgas
de água para irrigação tenham ido além do razoável, o que estaria
impedindo a recomposição dos reservatórios na região e reduzindo
a produção de energia elétrica. O país simplesmente não tem ainda
um bom programa de manejo integrado de água, algo que está se
tornando um problema global.

Uma questão antiga – as relações de trabalho na agricultura – ainda


permanece tumultuada, a despeito do fato de o documento legal que estatui
normas para o trabalho no campo ser datado de 1973. Questões ligadas à jornada
de trabalho, ao transporte e à alimentação de trabalhadores não residentes na
propriedade são objeto de disputa judicial com alguma regularidade. Esse também
é o caso dos trabalhadores migrantes, aqueles provenientes de outras regiões,
que são contratados temporariamente para períodos de colheita (os chamados
safristas). Até hoje não existe uma regulamentação adequada para o trabalho
temporário, atividade rural obrigatória no mundo inteiro, em épocas de colheita.
Ademais, aqui e ali emergem denúncias de trabalho escravo nessas regiões, onde
os trabalhadores são invariavelmente submetidos a situações degradantes de
alimentação, habitação, saúde, higiene e segurança.

Finalmente, uma questão tipicamente urbana inseriu-se no contexto rural:


a disputa sobre a terceirização das atividades. Já é antiga a acusação feita por
sindicatos e aceita pelo Ministério Público e pela Justiça do Trabalho de que a
terceirização de atividades da forma como é tratada, é sinônimo de precarização
dos serviços, o qual leva as autoridades a não aceitar a terceirização se a julgarem
como atividade-fim da empresa. Como não há uma definição que discrimine com
clareza a atividade-meio da atividade-fim prevalece a interpretação do juiz, o
qual vira objeto de inúmeras contestações por parte dos empresários que por sua
vez argumentam, com alguma razão, que no mundo moderno muitas atividades
são exercidas por grupos de empresas.

FIGURA 35 – SISTEMA INTEGRADO DE PRODUÇÃO

FONTE: <https://3rlab.files.wordpress.com/2016/10/sistema-integrado-1.jpg?w=474&h=276>.
Acesso em: 23 fev. 2019.

60
TÓPICO 3 | A QUESTÃO AGRÁRIA NO CAPITALISMO CONT.: AS NOVAS CONCEPÇÕES SOBRE O ESPAÇO RURAL

Um exemplo comum de ampliação de tecnologia na produção no campo


brasileiro é a da informática: para a maior parte das empresas a contratação de
terceiros é decisiva, pois não possuem nem porte nem capacidade financeira para
manter uma equipe própria. No caso da agricultura, existe uma ação antiga que
busca evitar a atividade de terceirização de plantio, de cultivo e de colheita de
laranjas, operadas pelas grandes indústrias de suco.

Para Vieira, Figueiredo e Reis (2014, p. 1085),

Diante dessas considerações, o futuro da agricultura no Brasil passa,


primeiramente, pela manutenção dos ganhos de produtividade das
regiões ricas, notadamente o aumento da produtividade da terra
com ênfase na extensão da safra. Secundariamente, mas não menos
importante, a agricultura do estado dependerá mais uma vez do
seu principal ativo, o capital humano, para incorporação de novas
produções e de áreas marginais à economia.

Neste sentido, a infraestrutura deve ser considerada, especialmente a


questão logística e a energética o qual requer novos modelos de participação
do poder público. Deve-se incentivar a participação de fontes renováveis de
energia, como etanol, biodiesel e eletricidade gerada a partir da biomassa e
estabelecer rotas alternativas para o transporte das safras, cada vez maiores, com
o estabelecimento de hidrovias e melhorar o acesso aos portos da região norte
do país. Os investimentos, até pelo porte financeiro, não podem ficar a cargo
exclusivo do poder público, no entanto, sua presença é fundamental na medida
em que as soluções requerem novos arranjos institucionais que não se viabilizam
sem uma firme e clara liderança do poder público.

61
UNIDADE 1 | GEOGRAFIA RURAL

LEITURA COMPLEMENTAR

O papel e a importância da agricultura familiar no desenvolvimento rural


brasileiro contemporâneo

Lauro Mattei

Desde o início do processo de ocupação do território brasileiro a


agricultura familiar – por muito tempo chamada de agricultura de subsistência –
faz parte da rotina das atividades produtivas do país. Todavia, ao longo de todo
período imperial, e também nos períodos subsequentes, este tipo de agricultura
não recebeu praticamente nenhum apoio governamental para se desenvolver
adequadamente.

Constata-se, ainda, que durante o processo de modernização da agricultura


brasileira (décadas de 1960 e 1970), as políticas públicas para a área rural, em
especial a política agrícola, privilegiaram os setores mais capitalizados e a esfera
produtiva das commodities voltadas ao mercado internacional e produzidas nos
grandes latifúndios, com o objetivo de fazer frente aos desequilíbrios da balança
comercial do país. Para o setor da agricultura familiar, o resultado dessas políticas
foi altamente negativo, uma vez que grande parte desse segmento ficou à margem
dos benefícios oferecidos pela política agrícola, sobretudo nos itens relativos ao
crédito rural, aos preços mínimos e ao seguro da produção.

De um modo geral, se pode dizer que até o início da década de 1990 não
existia nenhum tipo de política pública, com abrangência nacional, voltada ao
atendimento das necessidades específicas do segmento social de agricultores
familiares, o qual era, inclusive, caracterizado de modo meramente instrumental
e bastante impreciso no âmbito da burocracia estatal brasileira.

Neste cenário foi criado, em 1996, o Programa Nacional de Fortalecimento


da Agricultura Familiar (PRONAF), para atender a uma antiga reivindicação
das organizações dos trabalhadores rurais, as quais demandavam a formulação
e a implantação de políticas de desenvolvimento rural específicas para o maior
segmento da agricultura brasileira, porém o mais fragilizado em termos de
capacidade técnica e de inserção nos mercados agropecuários.

FONTE: https://ren.emnuvens.com.br/ren/article/view/500/396. Acesso em: 24 fev. 2019

62
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A questão agrária no capitalismo contemporâneo e as novas concepções sobre


o espaço rural, as transformações que vem ocorrendo no meio agrário no Brasil
e no mundo através da ótica do sistema econômico capitalista.

• O crescimento do espaço rural brasileiro apresenta distorções no


desenvolvimento, criando épocas e períodos diferentes nos níveis de
crescimento econômico no campo em nosso país, acirrando as desigualdades
sociais na atualidade.

• Neste momento social, econômico e político aos quais o Brasil e o Mundo tem
passado que a ocupação e exploração dos espaços rurais tem enfatizado a
exploração do capital humano e aumentando a participação – nas economias –
dos países nas atividades agropecuárias e extrativistas.

• O avanço e a modernização da agropecuária e a ampliação do uso de tecnologias


em nosso país e regiões, antes não exploradas, para fins agrários se tornando
novos territórios agroindustriais e exportadores.

63
AUTOATIVIDADE

1 Até hoje não existe uma regulamentação adequada para o trabalho


temporário, atividade rural obrigatória no mundo inteiro, em épocas de
colheita. Ademais, aqui e ali emergem denúncias de trabalho escravo nessas
regiões, onde os trabalhadores são invariavelmente submetidos a situações
degradantes de alimentação, habitação, saúde, higiene e segurança.
Finalmente, uma questão tipicamente urbana inseriu-se no contexto rural: a
disputa sobre a terceirização de atividades.

Como podemos descrever a atuação da terceirização do trabalho nos espaços


rurais no Brasil conforme a Lei nº 13.429/2017  que alterou a Lei nº 6.019/74,
pois mudanças substanciais foram estabelecidas nas relações de trabalho com
a empresa de prestação de serviços a terceiros, principalmente sob o aspecto
da possibilidade do contrato de trabalhadores para o exercício da atividade-
fim?

2 O Brasil é caracterizado como um dos países com a maior concentração de


terras do mundo e cerca de 200 mil camponeses continuam sem ter uma
área para cultivar. As conclusões fazem parte de um balanço realizado pela
Comissão Pastoral da Terra (CPT) sobre os fatos ocorridos no período de
2011 a 2014 e mostra que nos quatro anos pesquisados  aconteceram os
piores indicadores em matéria de reforma agrária dos últimos 20 anos.

Sobre o exposto, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) O Brasil possui uma política agrária bem estruturada e definida desde o


início da Nova República.
b) ( ) Os problemas referentes à questão agrária estão relacionados
essencialmente com a propriedade da terra, consequentemente com a
concentração da estrutura fundiária, com os processos de expropriação,
expulsão e exclusão dos trabalhadores rurais.
c) ( ) O crescimento da produção e da produtividade resultou em um grande
alongamento da cadeia produtiva agrícola, com a expansão de vínculos
entre as indústrias de fornecimento e de processamento e com a crescente
ligação com os serviços sofisticados.
d) ( ) O processo de desenvolvimento econômico no espaço rural brasileiro
não é caracterizado por uma constante mudança e uma sucessão de desafios
que surgem a cada sucesso no sistema produtivo nacional, favorecendo
todo o sistema produtivo.

64
3 Para que a relação capitalista ocorra é necessário que seus dois elementos
centrais estejam constituídos, ou seja, o capital produzido e os trabalhadores
despojados dos meios de produção. Entre as relações não capitalistas de
produção estão o campesinato ou agricultura camponesa e a propriedade
capitalista da terra, baseadas na sujeição da renda da terra ao capital,
pois assim o capital pode subordinar a produção de tipo camponês, pode
especular com a terra, comparando-a e vendendo-a e por isso sujeitar o
trabalho que se dá na terra, sem que o trabalhador seja expulso, sem que se
dê a expropriação de seus instrumentos de produção.

Sobre o termo campesinato ou agricultura camponesa, assinale a alternativa


CORRETA:

a) ( ) Utiliza para o seu crescimento o foco na produção junto ao agronegócio


e as exportações, desenvolvendo todos os segmentos de produção do espaço
rural.
b) ( ) Atribui-se ao campesinato à prática da agricultura familiar ou
camponesa sem grandes investimentos financeiros para a produção
familiar.
c) ( ) O termo campesinato é utilizado para definir agricultores das
cooperativas agrícolas que fornecem sua produção diretamente para as
agroindústrias.
d) ( ) Trata-se de agricultura camponesa ou campesinato a prática de
produção agropecuária voltada para a exportação de produtos agrícolas.

65
66
UNIDADE 2

ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer os conceitos pertinentes aos temas: rural, novas ruralidades e a


relação entre campo cidade;
• compreender os desafios e possiblidades da nova ruralidade e observar as
convergências de olhares entre o rural e o urbano;
• compreender como se deu o desenvolvimento dos processos de moder-
nização, industrialização e formação dos complexos agroindustriais no
Brasil e no mundo;
• entender os sistemas agrícolas contemporâneos e a sustentabilidade em
âmbito global na América Latina e no Brasil;
• compreender a estrutura dos complexos industriais no decorrer do
processo de modernização, industrialização e formação dos complexos
agroindustriais no mundo e no Brasil.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. Em cada um deles, você
encontrará atividades que o auxiliarão a fixar os conhecimentos abordados.

TÓPICO 1 – NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE.


TÓPICO 2 – OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO,
INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS
AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL.
TÓPICO 3 – OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A
SUSTENTABILIDADE.

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

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68
UNIDADE 2
TÓPICO 1

NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, os estudos referentes ao Espaço Rural e a sua configuração
na Modernidade – caracterizado por mudança de vida, comportamento e acesso
as tecnologias no campo – iniciaram pelos anos de 1970, sobretudo nos Estados
Unidos da América e França.

Como foi mencionado por Wanderley (2009, p. 203): “[...] os chamados


países do capitalismo são frequentemente vistos, senão como modelos, pelo
menos como referências que apontam os rumos das transformações econômicas e
sociais que demais países tenderão de alguma forma a vivenciar”. Essa disposição
é baseada nas inúmeras transformações socioeconômicas pelas quais o mundo
passou ao longo do processo histórico que sucederam primeiramente nos países
desenvolvidos e posteriormente nos países subdesenvolvidos.

Tem-se evidenciado que nos últimos anos existe uma significativa


disposição para a relação da vida em espaços rurais como a mais apropriada
aos habitantes da cidade. Deste modo, ocorre a valorização do espaço rural,
já que é relacionada à natureza, pois constata-se que a urbanização é ligada à
industrialização, em especial a industrialização da agricultura que estava acabando
com os poucos vestígios naturais de que existem na Terra. Nesse contexto, os
habitantes da cidade enxergam o campo como um escape do estresse e tentam
desfrutar das qualidades do espaço rural, resultando numa grande procura deste
espaço para a construção de uma segunda moradia ou mesmo definitiva ou ainda
para praticar o turismo rural.

Esta nova configuração do Espaço Rural e a nova relação entre Rural e


Urbano são nosso foco de estudo.

2 PRINCIPAIS CONCEITOS E TEMAS DA NOVA RURALIDADE


O conceito de rural ou de urbano são idênticos a tantos outros que só
existem em relação direta com o seu oposto tal como acontece com a pobreza e
a riqueza, por exemplo. Para pensar os termos da relação entre os dois polos, a
primeira dificuldade que se impõe é justamente a própria delimitação. É preciso
reconhecer a especificidade do rural, não para separá-lo do urbano, mas para
integrá-lo de maneira complementar.

69
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Portanto, para entendermos a questão envolvendo a Nova Ruralidade em


seus aspectos de relações sociais, políticas e econômicas, é necessário também
entender a construção do meio urbano e a sua relação com o campo nos últimos
tempos. Nas palavras de Lobão (2018, p. 2) “[...] novas funcionalidades e novos
modelos [...]” do rural tem modificado as suas relações sociais e econômicas a
partir das novas necessidades da sociedade, como por exemplo, a ampliação da
produtividade agrícola. Essas novas funcionalidades e novos modelos resultam
na nova ruralidade”.

Na base da emergência da nova ruralidade de acordo com Abramovay


(2003), há pelo menos uma transformação qualitativa na articulação das três
dimensões principais que admitem a definição do rural: a proximidade com a
natureza, a relação com as cidades e as relações interpessoais resultantes da baixa
densidade populacional. Quanto a proximidade com a natureza: os recursos
naturais antes destinados à produção de bens primários, são atualmente objeto
de novas formas de utilidade social, principalmente voltados à conservação da
biodiversidade, o bom emprego das potencialidades paisagísticas e a procura
de fontes renováveis de energia. Já a relação com as cidades: nesta dimensão os
espaços rurais dão lugar a uma maior distinção e relação intersetorial de suas
economias. Quanto aos relacionamentos interpessoais: trocam a homogeneidade
e o isolamento pela ação crescente de distinção de um indivíduo do outro e
de heterogeneização, combinada com maior mobilidade física, com a nova
representação populacional e com a crescente conexão entre negócios antes
nitidamente independentes no rural e no urbano, comércios de bens e serviços.

Para se compreender o rural sob um aspecto não normativo é preciso adotar


dois processos. No primeiro existe a necessidade de perceber o desenvolvimento
(desenvolvimento não é o mesmo que crescimento da economia) não como uma
ideia, mas sim pelos conceitos descritos num “[...] dever ser [...]” (RIVERO, 2003
apud FAVARETO, 2007, p. 2), porém, “[...] como evolução de configurações sociais
determinadas, analisando as interdependências entre meio-ambiente, instituições
e estruturas sociais a partir de um enfoque de sua trajetória em longo prazo”
(RIVERO, 2003 apud FAVARETO, 2007, p. 2). Já o segundo, é a definição que
consiste na peculiaridade deste “[...] tipo de espaço que é o rural [...]” (FAVARETO,
2006 apud FAVARETO, 2007, p. 2).

ATENCAO

Para entendermos na prática a nova ruralidade e os novos objetivos para a


produção do desenvolvimento econômico no Brasil, precisamos entender que esses
espaços de produção agrícola estão se tornando cada vez mais dinâmicos em um processo
de constante mudanças devido ao consumo humano, ou seja, a nova ruralidade converte-
se em espaços de consumo. O que acarreta em termos geográficos essas mudanças?

70
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

Atualmente é quase comum adicionar o adjetivo “novo” ao se falar da


característica do rural no mundo moderno. Comenta-se em “novo rural” ou em
“novas ruralidades” e em muitos casos sem uma análise aprofundada em esclarecer
o que é atual e o que é contínuo. Isto implica, principalmente, em conhecer qual
o resultado desta nova condição, “[...] insinuada pela adjetivação crescentemente
vista na bibliografia sobre estudos rurais, em termos de instâncias empíricas
fundamentais e de articulações conceituais para entendê-las” (FAVARETO, 2007,
p. 2).

De acordo com Favareto (2006, p. 103), “[...] a oposição campo-cidade se


desloca para a contradição rural-urbano”. Enquanto a primeira diz respeito:

[...] ao contraste entre espaços, sendo os campos o lugar de realização


de atividades predominantemente primárias, destacadamente a
agricultura, na segunda o estatuto fundante da distinção desloca-se
para o grau de artificialização destes espaços e seus impactos para os
modos de vida, exigindo assim uma abordagem capaz de combinar
critérios ecológicos com outros de caráter social e econômico. O rural
mostra-se não mais uma categoria passível de ser apreendida em
termos setoriais e sim territoriais (FAVARETO, 2006, apud PRADO;
RIBEIRO, 2017, p. 53).

O rural tem sido estudado por distintas pesquisas agrárias e estas têm
comprovado nas últimas décadas a formação de uma “ruralidade contemporânea”
para Carneiro (1999) ou um “novo rural” de acordo com Graziano (1999) ou
segundo Wanderley (2000) uma “nova ruralidade”. Segundo estes pesquisadores,
o espaço rural não pode ser mais tomado tão somente como o conjunto de
atividades agropecuárias e agroindustriais em benefício da sua modernização
e mecanização; da crise reprodutiva da agricultura familiar; das novas funções
e novos tipos de atividades no campo; e da conformação de novas identidades
sociais no ambiente rural.

Existem questionamentos sobre um novo rural. A articulação entre a


atividade não-agrícola com a agricultura por membros de famílias camponesas
é um método tão antigo quanto é o campesinato brasileiro (CARNEIRO, 2006).
Deste modo, poderíamos concluir que o rural exclusivamente agrícola nunca
existiu em algum período da história. Já na concepção de Veiga (2004, p. 64), “[...]
o que é novo nessa ruralidade pouco tem a ver com o passado, pois nunca houve
sociedades tão opulentas como as que hoje estão valorizando sua relação com a
natureza”.

Quanto a nova ruralidade para Wanderley (2000), é uma construção


histórica que comporta uma dimensão produtiva e uma dimensão patrimonial a
ser desfrutada e conservada. Em concordância com esse conceito Favareto (2006)
esclarece que a nova ruralidade não se limita às travessas clássicas de concepção
das dinâmicas rurais, dentre os quais se sobressaem o econômico.

71
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

A ruralidade seriam as características de tudo aquilo que se está relacionada


à vida rural, as condições materiais e morais da existência das populações
rurais. Nesta concepção “[...] a ruralidade não é uma realidade “empiricamente
observável”, no entanto uma “representação social”, determinada culturalmente
por atores sociais (CARNEIRO, 1999, p. 162 apud MENEGATI; HESPANHOL,
2005, p. 2). Os autores citam o conceito de ruralidade de acordo com Abramovay
(2000):

[...] de natureza territorial e não setorial e o mesmo se aplica à noção


de urbano. As cidades não são definidas pela indústria nem o campo
pela agricultura [...] Ainda que em muitos casos a agricultura ofereça
o essencial das oportunidades de emprego e geração de renda em
áreas rurais, é preferível não defini-las por seu caráter agrícola. Há
evidências de que os domicílios rurais (agrícolas e não-agrícolas)
engajam-se em atividades econômicas múltiplas, mesmo nas regiões
menos desenvolvidas. Além disso, conforme as economias rurais se
desenvolvem, tendem a ser cada vez menos dominadas pela agricultura
(ABRAMOVAY, 2000, p. 7 apud MENEGATI; HESPANHOL, 2005, p.
2).

A partir da década de 1980 o Brasil sofreu grandes mudanças nas relações


rural/urbano. Ocorreu o êxodo rural devido à Revolução Verde que estimulou
uma massa de trabalhadores às grandes cidades, originando ao mesmo tempo
transformações nas relações de produção no ambiente rural (VILELA, 2002),
bem como crise do modelo vigente atual de acordo com Vilela (2002), de modo
paralelo a um processo de desestruturação/reestruturação do ambiente rural, em
que os afazeres rurais mais tradicionais apresentam sua importância econômica
diminuída, cedendo lugar a outros afazeres que são criados ou recriados com
uma eficácia socioeconômica significativa em relação até mesmo aos trabalhos
não-agrícolas.

O atendimento à demanda urbana passa a reestruturar o ambiente rural


em conjunturas sociopolíticas reservadas, originando oportunidades de mercado
altamente distintas para inúmeros grupos de renda (VILELA, 2002). Estão inclusas
uma grande extensão de bens localizados como: residência, atividades de lazer,
áreas de conservação, entre outras, servindo em grande parte para atender à classe
média urbana contemporânea que procura o ambiente rural para fugir da vida
urbana. Deste modo, uma grande variedade de atores novos e velhos competem
por recursos nesse ambiente rural, de acordo com Vilela (2002, p. 99):

[...] no qual a agricultura poderá tornar-se crescentemente residual,


ainda que os agricultores mantenham uma presença social e ideológica
representativas do rural e de seu caráter territorial. O espaço
rural passa, assim, a ser palco do surgimento de novas categorias
socioprofissionais, dotadas de experiências as mais diversas, em busca
de um lugar em um velho/novo espaço revalorizado.

72
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

O espaço citado por Vilela (2002), e que é o território brasileiro, torna-


se revalorizado. Conforme Sabourin e Teixeira (2002), surge como componente
fundamental do desenvolvimento rural por apresentar como principal
característica a diversidade que resultou construções e progressos históricos,
econômicos, culturais e sociais.

Sabourin e Teixeira (2002, p. 23) conceituam o território como “[...]


um espaço geográfico construído socialmente, marcado culturalmente e
delimitado institucionalmente”. As ações direcionadas para o seu planejamento
e desenvolvimento devem manifestar as intenções dos habitantes locais. Além
disso, são resultados de um processo almejado, dividido, produtor de riquezas
e redistributivo, a partir da declaração de parcerias entre os atores públicos,
privados, nacionais, regionais ou locais envolvidos.

Por esse motivo, Sabourin e Teixeira (2002, p. 28) comentam que “[...] o
planejamento e o desenvolvimento dos territórios rurais passam a exprimir as
dimensões de fenômenos locais, regionais, nacionais e internacionais”. Segundo
os autores, nesse processo a intervenção entre os interesses individuais e coletivos
é dificultada pela globalização das atividades econômicas, pela definição de
objetivos, pelo estabelecimento de metas de curto e longo prazos e até mesmo
pela valorização da particularidade da localidade.

Segundo Vilela (2002), as relações territoriais atualmente estão marcadas


pela influência que a globalização desempenha no local, bem como a importância
do local perante a globalização. Schneider (2004, p. 90) considera essa influência
da globalização no local como “[...] o quadro atual é profundamente marcado por
um processo de ampliação da interdependência nas relações sociais e econômicas
em escala internacional”. Para Schneider (2004), isto demonstra que a globalização
é uma particularidade da extraordinária habilidade da adaptação que a economia
capitalista tem em âmbito mundial e da relação de dependência entre as condições
de tempo e espaço no processo global de produção de produtos.

Nessa totalidade, Perico e Ribeiro (2005) sugerem a existência de uma


nova ruralidade que nela está implantada a redefinição do rural. É necessária a
reavaliação da ideia de que o rural é a população dispersa, baseada exclusivamente
na produção agropecuária, para advir à reconstrução do objeto de trabalho e
de política, ao determinar o setor rural como “[...] território construído a partir
do uso e da apropriação dos recursos naturais, de onde são gerados processos
produtivos, culturais, sociais e políticos” (PERICO; RIBEIRO, 2005, p. 19).

Deste modo, os autores comentam que devido a sua potencialidade como


território, o âmbito rural passa a ser estratégico no desenvolvimento absoluto
e harmônico da região. Do mesmo modo, a formação de capital social, de
institucionalidade e de capital político se depara, nos territórios rurais, com a
oportunidade adequada, a partir do fortalecimento dos costumes tradicionais, de
suas comunidades e de seus próprios modos de organização.

73
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Atualmente está acontecendo a valorização dos ambientes rurais,


principalmente nos países desenvolvidos e é um acontecimento novo que pouco
tem a ver com “[...] as relações que essas sociedades mantiveram no passado com
tais territórios” (VEIGA, 2006, p. 334), pois nunca houveram sociedades tão ricas
e nem tanta valorização da sua relação com o meio ambiente. A “revolução do
espaço” que produz a “sociedade urbana” tende a renovar a ruralidade, porém
mediante mutação, e não “renascimento” (VEIGA, 2004).

[...] na atual etapa da globalização, a ruralidade dos países avançados


não desapareceu, nem renasceu, fazendo com que as duas hipóteses
fossem ao mesmo tempo parcialmente verificadas e refutadas, o
que leva à formulação de uma terceira: o mais completo triunfo da
urbanidade engendra a valorização de uma ruralidade que não está
renascendo, e sim nascendo (VEIGA, 2004, p. 58).

Essa valorização é o resultado do reconhecimento da importância das


áreas rurais para a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade globalizada
por conter nelas três vetores: a conservação do patrimônio natural e da
biodiversidade, o aproveitamento econômico das amenidades naturais pelo
turismo e a exploração de fontes alternativas e renováveis de energia. O rural que
ainda não foi modificado ou destruído pela agressão das atividades do homem
deve ser progressivamente conservado, mesmo admitindo-se no território a
existência de atividades econômicas de baixo impacto. Contudo, faz com que
aconteçam inéditas combinações socioeconômicas no território rural que está
mais próximo ou aberto (VEIGA, 2006).

Para Lefebvre (2001, p. 75), a aversão “urbanidade-ruralidade” aumenta


ao invés de dissipar-se, à medida que a aversão “cidade-campo” se enfraquece.
Bagli (2006, p. 82) cita que apesar das transformações sucedidas no campo
estarem direcionadas a uma homogeneização dos espaços, a “[...] intensificação
das relações se estabelecem justamente pela manutenção das peculiaridades”.

Os espaços ampliam suas inter-relações porque as diferenças existentes


em cada um deles favorecem a busca pelo outro como tentativa de suprimir
possíveis ausências”, como por exemplo, a prática do turismo rural, conforme
Figura 1. A valorização do espaço rural associada à natureza pelos habitantes das
cidades, pois enxergam o rural como um escape para o estresse, e tentam gozar
das amabilidades do espaço rural, resultando numa maior demanda do espaço
rural à “[...] construção de uma segunda residência ou para a sua residência
definitiva ou mesmo para a prática do turismo” (MATOS; MEDEIROS, 2011, p.
1-2).

74
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

FIGURA 1 - TURISMO RURAL

FONTE: <https://www.cidadeecultura.com/wp-content/uploads/2016/08/Morungaba-Turismo-
Rural-Haras-Hipica-Sao-Silvano-ft-Ken-Chu-bx.jpg>. Acesso em: 24 fev. 2019.

A distinção entre o rural e o urbano nos países do capitalismo avançado


e nos países latino-americanos, asiáticos e africanos nos quais a urbanização se
deu como ação de subdesenvolvimento, seria admissível pensar que a ruralidade
se expressará de modo específico (FAVARETO, 2007). Todavia, com relação ao
caso do Brasil, para Stürmer (2008, p. 45) citando Veiga (2003), existe a carência
da elaboração de um “[...] plano estratégico de desenvolvimento sustentável
com diretrizes, objetivos e metas, que favoreçam sinergias entre a agricultura e
os setores terciários e secundários das economias locais”, de modo a cultivar as
vantagens comparativas e ainda as competitivas dessas regiões.

Veiga (2003) compreende que o desenvolvimento regional passa pela


estabilidade entre o fortalecimento da capacidade concorrencial do território e
a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes, o que é alcançado a partir
da criação de novas formas de parceria entre os atores envolvidos, sejam eles
públicos, privados, nacionais, regionais ou locais.

O Estado e a sociedade apresentam problema em agir com a mudança


de paradigma constituída na construção dessa nova ruralidade. Fazendo com
que o discurso, as políticas e os programas em prol do desenvolvimento rural
nem sempre congreguem os novos temas e, frequentemente, acabam alterando
o aspecto dos velhos valores e práticas adotados anteriormente, minimizando à
dimensão setorial dos seus aspectos agrícola e agrário (FAVARETO, 2007). Mas
para que esta ideia seja vencida, há a necessidade que os líderes do agronegócio
sobrepujem o discurso setorial e atuem no desenvolvimento territorial. Incluindo
também a capacidade de auxiliar e de ser favorecido pelo desenvolvimento
sustentável das localidades sob sua autoridade e das quais dependerá a
conservação de sua própria competitividade (FAVARETO, 2007).

75
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

2.1 RURALIDADE CAMPO E CIDADE


Para efeitos analíticos os municípios com menos de 20 mil habitantes não
deveriam ser considerados urbanos no Brasil (VEIGA, 2004). Segundo o IBGE
(2018a), baseado neste parâmetro que vem sendo usado desde a década de 1950,
seria considerada rural a maior parte dos municípios brasileiros (68,4%) que
possui até 20 mil habitantes em 2018 e abriga apenas 15,4% da população do país
(32,1 milhões de habitantes), o que por si só seria suficiente para desmantelar a
situação de urbanização do país para 70%.

Não há possibilidade de falar do campo e da cidade como coisas


diferentes porque: o campo está na cidade e a cidade está no campo. Portanto,
é mais garantido falar sobre o rural considerando: a) o rural não mais ou não
exclusivamente como divisão específica; b) o rural não mais ou não tão-somente
como produção agrícola ou agropecuária; c) o rural como reprodução social e
simbólica, ou seja, pode-se afirmar que o rural, independentemente de onde
se habita ou do que se faz, é uma percepção de mundo, uma maneira como os
indivíduos e os grupos instituem suas inclusões sociais e também bem-sucedidas
(PESSOA, 2007).

FIGURA 2 – CIDADE E CAMPO

FONTE: <https://fotos.web.sapo.io/i/o8f0789f8/8865036_gZONM.jpeg>.
Acesso em: 22 fev. 2019.

No Brasil, considera-se cidade toda sede de município e área urbanizada


como “[...] toda área de vila ou de cidade, legalmente definida como urbana e
caracterizada por construções, arruamentos e intensa ocupação humana [...]”,
apenas desconsidera-se as “[...] funções peculiares dos diferentes aglomerados
[...]”, assim o urbano passa a ser “[...] definido a partir de carências e não de suas
próprias características”. Para o autor, populações inferiores a 20.000 habitantes
são consideradas cidades, porém, realmente seriam “[...] aldeias, povoados e
vilas. Superestimação de nosso grau de urbanização” (MARQUES, 2002, p. 97-
98).

76
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

A cidade é caracterizada pelo agrupamento e é espaço favorável à


prática de trabalhos que demandam encontro, proximidade ou probabilidade de
diálogo, especificação e complementaridade de papéis e empregos. Já o campo, é
caracterizado pela extensão e disseminação, acolhe técnica e economicamente a
execução de outras atividades (SPOSITO, 2006).

E o espaço urbano é o território em que se estende a modernidade e a


cotidianidade no mundo contemporâneo, segundo Lefebvre (2001). Logo, o
campo é onde há a prevalência da natureza, embora a agricultura e outras tarefas
a transformam, mas não lhe separam da sua prioridade “geográfica”. Ainda que
não seja exterior à natureza, o espaço urbano é mais propriamente produzido
como

[...] um lugar de produção e de obras. A produção agrícola faz


nascer produtos; a paisagem é uma obra. Esta obra emerge de uma
terra lentamente modelada, originariamente ligada aos grupos
que a ocupam através de uma recíproca sacralização que é a seguir
profanada pela cidade e pela vida urbana (LEFEBVRE, 2001, p. 73).

Deste modo, o espaço rural e urbano “[...] não podem ser compreendidos
separadamente [...]”, para Marques (2002, p. 96). E Moreira (2012) defende que
mesmo que o rural e o urbano sejam distintos não significa que os mesmos
sejam desconexos, muito pelo contrário, o que comprova a existência de uma
aproximação entre ambos, uma justaposição que não significa o fim deles.
O “[...] rural não desapareceu neste processo tampouco parou no tempo. O
rural é dinâmico, e este dinamismo cria a adaptabilidade deste modo de vida”
(MOREIRA, 2012, p. 50).

O espaço rural tem passado atualmente por um conjunto de modificações


com expressiva força sobre seus papéis e teor social. Essas transformações estão
profundamente relacionadas com as características urbanas que são absorvidas
pelo espaço rural, numa conexão capitalista de consumo e produção em
quantidade e de modificação dos objetos e formas em produtos (MARQUES,
2002). Segundo Wanderley (2001, p. 33), “As relações entre o campo e a cidade não
destroem as particularidades dos dois polos e, por conseguinte, não representam
o fim do rural; o continuum se desenha entre um polo urbano e um polo rural,
distintos entre si e em intenso processo de mudança em suas relações”.

Desde os anos 70, sobretudo em países desenvolvidos, a urbanização do


campo foi impulsionada pelo desenvolvimento do capitalismo e também pela
industrialização da agricultura. E a proliferação de atividades não-agrícolas no
campo, como o turismo, comércio e ainda a prestação de serviços com significado
transformado, porém, com natureza diferente do urbano, também contribuiu
(MARQUES, 2002). Conforme Marques (2002, p. 99), “Enquanto a dinâmica
urbana praticamente independe de relações com a terra, tanto do ponto de vista
econômico, como social e espacial, o rural está diretamente associado à terra,
embora as formas como estas relações se dão sejam diversas e complexas”.

77
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Quanto a questão da relação cidade-campo, na contemporaneidade se


transforma sendo que “Nos países industriais, a velha exploração do campo
circundante pela cidade [...]”, núcleo de acúmulo “[...] do capital [...]”, abre
mão do lugar para formas mais perspicazes de superioridade e de abuso, [...]
tomando-se a cidade um centro de decisão e aparentemente de associação”
(LEFEBVRE, 2001, p. 74). Já a divisão territorial do trabalho, “[...] o afastamento
e contrassenso cidade-campo integram a divisão do trabalho social que não está
nem ultrapassada nem contida [...]” (SPOSITO, 2006, p. 116).

2.2 DESAFIOS E POSSIBILIDADES FRENTE A NOVA


RURALIDADE
No Brasil, nos anos 1970 a população no campo alcançou seu pico com
mais de 40 milhões de pessoas, ou seja, cerca de 45% de habitantes do total
nacional. Após este período, a população campestre entrou em total redução e
em 1996 atingiu quase 34 milhões de indivíduos, alcançando somente 22% da
totalidade do país, segundo Camarano e Abramovay (1999). De acordo com
o IBGE (2018b), o último censo agrário apresentou a informação de que há 15
milhões de trabalhadores rurais. Comparando com o censo agrário de 2006,
observa-se uma diminuição de 1,5 milhão de habitantes, inclusos agricultores,
suas famílias, além da mão de obra temporária e permanente (IBGE, 2018b).

As informações de cada censo do IBGE confirmam o êxodo do espaço


rural, principalmente nas áreas mais pobres (CARNEIRO, 2008). Se o espaço
rural for encarado como um espaço intocado, sem influência das cidades, serão
construídas políticas distorcidas,

[...] pela via da “urbanização do campo”, para superar a decadência e


a pobreza rural, condenando-o ao esvaziamento demográfico, social e
cultural. Mas, caso o rural for encarado como capaz de preencher as
funções necessárias à reprodução do modo de vida de seus habitantes
e útil às cidades, então será possível construir uma estratégia de
desenvolvimento articulada aos anseios do meio rural. A renovação
das discussões sobre a sociedade rural brasileira passa, portanto, pela
superação do mito da urbanização do campo (CARNEIRO, 2008, p.
60).

Para compreender as ruralidades, torna-se importante observar as


convergências de olhares entre o rural e o urbano. Quando analisamos uma
série de acontecimentos sequenciais e ininterruptos do rural-urbano, o fazemos
a partir da história dos atores sociais, das experiências vividas e ideologias que
são construídas com o caminhar das estações. Por conseguinte, as ruralidades
emergem hoje exatamente diante de uma mudança do valor que o rural começa a
ganhar, tanto por parte de citadinos como dos próprios agricultores que o compõe.
Sobressai-se a discussão levantada por Schneider (2009), o qual afirma que por
mais que ainda não consolidado, há uma alteração cognitiva sobre o espaço rural,
tanto por parte de estudiosos, planejadores de políticas públicas e atores sociais.

78
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

A valorização destes espaços tradicionais, não somente de ordem da


natureza intocada, mas também de culturas ainda preservadas, já que elas são
consideradas sobreposições históricas que acompanham uma harmonia com a
natureza e a valorização da terra; apreciam sabedorias passadas historicamente;
apresentam simbologias e formam um imaginário social rural; e construíram
historicamente uma identificação com o território (MATOS; MEDEIROS, 2011). A
marca principal dessa nova realidade (o turismo rural e a produção agroecológica)
vem sendo cada vez mais apropriada pelo capital que se aproveita dessas
potencialidades para progredir sobre a nova ruralidade (ALENTEJANO, 2003).

Uma das razões que não pode ser negada, porém em muitas vezes é
negligenciada, é o isolamento espacial destas culturas tradicionais rurais, que
por um longo período da história do país persistiu. A concepção de culturas
tradicionais também é produto de seu esquecimento, em que os indivíduos
históricos construíam relações territoriais que permaneciam por longínquas
gerações. A transformação nestes espaços era vagarosa, e o tempo e compasso de
vida também (SANTOS, 2006).

Embora analisar o espaço rural nacional e as ruralidades, sem entender


esta maior conectividade advinda pelo processo de globalização, torna-se um
erro. É imprescindível então ter um entendimento da necessidade de se analisar
as culturas tradicionais a partir da relação e não do isolamento (SUZUKI, 2013).
Parte-se do princípio que estas têm conexões atualmente que cada vez mais
significam uma interligação com o espaço urbano, seja pelo contato físico ou por
meios de comunicação.

A sociedade fundada na aceleração do ritmo da industrialização


passa a ser questionada pela degradação das condições de vida dos
grandes centros. O contato com a natureza é, então, realçado por um
sistema de valores alternativos, neoruralista e antiprodutivista. O ar
puro, a simplicidade da vida e a natureza são vistos como elementos
“purificadores” do corpo e do espírito poluídos pela sociedade
industrial (CARNEIRO, 1999, p. 57).

Assim, o movimento de modernização e a extensão deste espaço urbano


para o espaço rural gera ao mesmo tempo a compreensão de novas ideias sobre
distantes estruturas deste espaço, como, por exemplo, a produção alimentar; os
impactos ambientais e as mudanças das maneiras de se viver (CARNEIRO,1999).

79
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

FIGURA 3 – RELAÇÃO ENTRE O CAMPO E A CIDADE

FONTE: <http://2.bp.blogspot.com/-sC5mp-SkjGQ/Ud4ZOraNZXI/AAAAAAAAAIc/BItBpWrz
Ddc/s640/Interdepend%C3%AAncia.jpg>. Acesso em: 23 fev. 2019.

A longa evolução da relação entre o campo e a cidade denota visivelmente


a permanência do fenômeno rural no mundo moderno, mesmo no período e
nos países em que a urbanização foi mais atuante (PRADO; RIBEIRO, 2017).
Assim, “[...] a oposição campo-cidade se desloca para a contradição rural-urbano.
Enquanto a primeira diz respeito ao contraste entre espaços”.

[...] sendo os campos o lugar de realização de atividades


predominantemente primárias, destacadamente a agricultura, na
segunda o estatuto fundante da distinção desloca-se para o grau de
artificialização destes espaços e seus impactos para os modos de vida,
exigindo assim uma abordagem capaz de combinar critérios ecológicos
com outros de caráter social e econômico. O rural mostra-se não mais
uma categoria passível de ser apreendida em termos setoriais, e sim
territoriais (FAVARETO, 2006, p. 103 apud PRADO; RIBEIRO, 2017, p.
53).

Mas no território rural, além de desafios também existem possibilidades


frente à nova ruralidade. Pode-se considerar essas possibilidades como o “[...]
conjunto de atividades não-agrícolas, as que mais vêm solicitando os espaços
rurais são as ligadas ao lazer – chácaras e sítios de lazer – e ao turismo em suas
mais diversas formas” (ZUQUIM, 2007, p. 108). Atividades tais como: turismo
verde, turismo ecológico, agroturismo, ecoturismo, turismo rural etc. Assim o
campo:

80
TÓPICO 1 | NOVAS RURALIDADES E RELAÇÃO CAMPO CIDADE

[...] voltou a ser “visto”, não somente como lugar essencialmente


agrário, mas também como lugar ao qual se poderiam incorporar os
avanços tecnológicos, e lugar capaz de responder às novas demandas
modernas sobre o campo – como atividades rurais não agrícolas de
turismo, de lazer, da agricultura voltada a nichos de mercado especiais,
de atividades de preservação e de conservação da natureza. Essas
atividades, nos últimos anos, vêm solicitando muito desses espaços
rurais, inclusive espaços há algum tempo esquecidos geográfica e
economicamente (ZUQUIM, 2007, p. 4).

Observa-se que nesse novo modelo do espaço rural é possível criar


possibilidades de “[...] organização territorial e de desenvolvimento rural”
(ZUQUIM, 2007, p. 5) e deste modo pode proporcionar “[...] melhores condições
de fixação e de construção do habitat rural, desde que haja políticas públicas
compensatórias para a moradia, a agricultura e a natureza, das populações que
se encontram em graves condições de empobrecimento rural” (ZUQUIM, 2007,
p. 5). Deste modo, devagar, progride a concepção de que só o urbano é ligado ao
moderno e o espaço rural deixa de ser o local atrasado e obsoleto. Mas um lugar
com distintas atividades, espaço em que há a articulação das novas tecnologias
para a produção, habitação e o desfrutar, com o cuidado do meio ambiente
(ZUQUIM, 2007).

Além das possibilidades Gonçalves (1997) cita como desafios: os conflitos


oriundos das modificações sobre a composição do trabalho do campo que foram
fortes, com a diminuição integral dos empregos, relacionada à urbanização da
força de trabalho. O autor adiciona ainda as transformações na sazonalidade e a
cobrança de mão de obra qualificada.

DICAS

Vamos conhecer a paisagem rural? Acesse o link: http://portaldoprofessor.mec.


gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=178 e veja um plano de aula da disciplina de Geografia
para o Ensino Fundamental.

81
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Para entendermos a questão envolvendo a Nova Ruralidade em seus aspectos


de relações sociais, políticas e econômicas, é necessário também entender a
construção do meio urbano e sua relação com o campo nos últimos tempos.

• Na base da emergência da nova ruralidade, de acordo com Abramovay


(2003) há pelo menos uma transformação qualitativa na articulação das três
dimensões principais que admitem a definição do rural: a proximidade com
a natureza, a relação com as cidades e as relações interpessoais resultadas da
baixa densidade populacional que lhe é característica.

• Para compreender o rural sob um aspecto não normativo é preciso adotar dois
processos. No primeiro, existe a necessidade de perceber o desenvolvimento
não como uma ideia, mas sim pelos conceitos descritos num “dever ser”. Já no
segundo, é a definição do que consiste a peculiaridade deste “tipo de espaço
que é o rural”.

• O rural tem sido estudado por distintas pesquisas agrárias e estas


têm comprovado nas últimas décadas a formação de uma “ruralidade
contemporânea” ou um “novo rural” ou uma “nova ruralidade”. O espaço
rural não pode ser mais tomado tão-somente como o conjunto de atividades
agropecuárias e agroindustriais em benefício da sua modernização e
mecanização; da crise reprodutiva da agricultura familiar; das novas funções
e novos tipos de atividades no campo e da conformação de novas identidades
sociais no ambiente rural.

• A ruralidade seria as características de tudo aquilo que se está relacionada à


vida rural, as condições materiais e morais da existência das populações rurais.
Nesta concepção a ruralidade não é uma realidade “empiricamente observável”,
no entanto, uma “representação social” determinada culturalmente por atores
sociais.

• As relações territoriais atualmente estão marcadas pela influência que a


globalização desempenha no local, também como a importância do local perante
a globalização. Nessa totalidade, sugerem a existência de uma nova ruralidade
que nela está implantada a redefinição do rural. É necessária a reavaliação
da ideia de que o rural é a população dispersa, baseada exclusivamente na
produção agropecuária, para advir à reconstrução do objeto de trabalho e de
política, ao determinar o setor rural como “território construído a partir do
uso e da apropriação dos recursos naturais, de onde são gerados processos
produtivos, culturais, sociais e políticos”.

82
• Atualmente está acontecendo a valorização dos ambientes rurais. Essa
valorização é o resultado do reconhecimento da importância das áreas rurais
para a qualidade de vida e o bem-estar da humanidade globalizada, por conter
nelas três vetores: a conservação do patrimônio natural e da biodiversidade;
o aproveitamento econômico das amenidades naturais pelo turismo e a
exploração de fontes alternativas e renováveis de energia.

• Não há possibilidade de falar do campo e da cidade como coisas diferentes


porque: o campo está na cidade e a cidade está no campo. Portanto, é mais
garantido falar sobre o rural considerando: a) o rural não mais ou não
exclusivamente como divisão específica; b) o rural não mais ou não tão-somente
como produção agrícola ou agropecuária; c) o rural como reprodução social e
simbólica, ou seja, pode-se afirmar que o rural, independentemente de onde
se habita ou do que se faz, é uma percepção de mundo, uma maneira como
os indivíduos e os grupos instituem suas inclusões sociais e também bem-
sucedidas.

• No território rural, além de desafios também existem possibilidades frente a


nova ruralidade. Pode-se considerar essas possibilidades como o “conjunto de
atividades não-agrícolas, as que mais vêm solicitando os espaços rurais são as
ligadas ao lazer – chácaras e sítios de lazer – e ao turismo em suas mais diversas
formas”. Atividades tais como: turismo verde, turismo ecológico, agroturismo,
ecoturismo, turismo rural etc.

83
AUTOATIVIDADE

1 Quando analisamos uma série de acontecimentos sequenciais e


ininterruptos do rural-urbano, o fazemos a partir da história dos atores
sociais, das experiências vividas e ideologias que são construídas com
o caminhar das estações. Por conseguinte, as ruralidades emergem
hoje exatamente diante de uma mudança do valor que o rural começa a
ganhar, tanto por parte de citadinos como dos próprios agricultores que
o compõe. Sobre a ruralidade e as novas tecnologias aplicada ao campo,
podemos afirmar que:

Analise as sentenças e assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) As novas tecnologias no sistema de produção favorecem o aumento
da produtividade, mas diminui os potenciais de exportação de insumos
agrícolas.
b) ( ) O sistema de produção agrícola do Brasil possui um alto sistema de
produtividade independente das mudanças na ruralidade em nosso país.
c) ( ) A interdependência da produção do campo com as cidades gera um
sistema interdepende e constante crescimento na cadeia produtiva.
d) ( ) As novas tecnologias nada impactam com a ampliação do sistema de
produção e não interferem no crescimento da produção de alimentos.

2 As relações territoriais atualmente estão marcadas pela influência que


a globalização desempenha no local, também como a importância do
local perante à globalização, segundo Vilela (2002). Para Schneider
(2004, p. 90), essa influência da globalização no local como “[...] quadro
atual é profundamente marcado por um processo de ampliação
da interdependência nas relações sociais e econômicas em escala
internacional”. Para o autor, isto demonstra que a globalização é uma
particularidade da extraordinária habilidade da adaptação que a
economia capitalista tem em âmbito mundial, da relação de dependência
entre as condições de tempo e espaço no processo global de produção de
produtos. A globalização possui um importante papel no novo espectro
da ruralidade de nosso país.

Marque a afirmativa CORRETA que descreve esse cenário no Espaço Agrícola


de produção nacional.
a) ( ) A globalização amplia de maneira geral o sistema de produção,
favorecendo todos na cadeia produtiva nacional.
b) ( ) O sistema de produção de alimentos nada tem a haver com a
globalização e as exportações das commodittes brasileiras.
c) ( ) A globalização e as exportações nacionais favorecem principalmente o
pequeno produtor rural e as grandes agroindústrias no Brasil.
d) ( ) Os grandes produtores e latifundiários são as classes rurais mais
favorecidas com a globalização, com as tecnologias e com as exportações de
alimentos em nosso país.
84
3 A longa evolução da relação entre o campo e a cidade denota visivelmente
a permanência do fenômeno rural no mundo moderno mesmo no período
e nos países em que a urbanização foi mais atuante (PRADO; RIBEIRO,
2017). Por que a ruralidade pode ser considerada como um dos novos
desafios para o desenvolvimento do Espaço Rural e das áreas urbanas no
Brasil?

85
86
UNIDADE 2 TÓPICO 2
OS PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO,
INDUSTRIALIZAÇÃO E FORMAÇÃO DOS
COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, o foco deste tópico é discutir as concepções que são
utilizadas para análise das relações que se estabeleceram entre os setores agrícola
e industrial e que caracterizaram a produção agropecuária brasileira nas últimas
décadas.

Paralelamente à implantação no Brasil de um setor industrial produtor


de bens de produção voltado para a agricultura, ocorreu a modernização e o
desenvolvimento em escala nacional de um mercado para os produtos industriais
do sistema agroindustrial. Esse processo ficou conhecido como "modernização da
agricultura" e nele ocorreram modificações significativas na forma de se produzir.

Poder-se-ia recuperar estes estudos através de diversos recortes, mas


nos pareceu mais interessante privilegiar os estudos que discutem diretamente
as relações setoriais entre agricultura e indústria e a formação do Complexo
Agroindustrial. O termo Complexo Agroindustrial tem sido utilizado para
descrever articulações entre os setores agrícola e industrial que vêm ocorrendo
na agricultura brasileira.

E por último a relação destes fenômenos com os conteúdos de geografia


em sala de aula.

2 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO, INDUSTRIALIZAÇÃO


E FORMAÇÃO COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO
MUNDO
A modernização e a industrialização agrícola tiveram na Revolução
Verde a sua maior causa (LOBÃO, 2018). Ela modificou as relações de produção
e trabalho no ambiente rural e as inovações tecnológicas dominaram a produção,
especialmente com o processo de mecanização do campo e o emprego de insumos
químicos e biológicos modernos, como fertilizantes e defensivos agrícolas
utilizados para o controle de seres vivos prejudiciais à plantação.

87
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Com as revoluções industriais, o espaço rural se tornou cada vez mais


integrado e subordinado ao espaço urbano. O processo de modernização
da agricultura desencadeou diversas transformações no campo, alterando
profundamente as formas de produção agrícola dos países. O processo de
modernização do campo corresponde à implantação de novas tecnologias e
maquinários no processo de produção no meio rural. A modernização agrícola,
para Paiva (1971, p. 178 apud LOBÃO, 2018, p. 8) é “[...] o processo de melhoria
da agricultura pela adoção de técnicas modernas [...]”. Essa conceituação se
restringe somente às particularidades de produção stricto sensu. Ao mesmo
tempo, reconhece-se que a definição de modernização agrícola é mais ampla,
especialmente quando se procura trabalhar com aspectos de origem mais
limitada, por exemplo, como é a situação das unidades de produção individual
ou ainda de um pequeno grupo de agricultores nativos de determinado país ou
região particular que não basicamente adotam métodos novos, mas exibem um
padrão moderno em relação a diversos grupos.

Kageyama (1997) faz as devidas distinções analisando que em muitos


casos as considerações sobre a modernização e industrialização da agricultura
e formação de complexos agroindustriais são adotadas como sinônimos. Para a
autora:

Por modernização da agricultura se entende basicamente a mudança


na base técnica da produção agrícola. É um processo que ganha
dimensão nacional no pós-guerra com a introdução de máquinas na
agricultura (tratores importados), de elementos químicos (fertilizantes,
defensivos, etc.), mudanças de ferramentas e mudanças de culturas
ou novas variedades. [...] A “industrialização da agricultura” envolve
a ideia de que a agricultura acaba se transformando num ramo de
produção semelhante a uma indústria, como uma “fábrica” que
compra determinados insumos e produz matéria-prima para outros
ramos da produção [...] Finalmente, no período pós-75, temos a
constituição do que se vem chamando de complexos agroindustriais.
São vários complexos que se constituem, ao mesmo tempo em que a
atividade agrícola se especializa continuamente (KAGEYAMA et al.,
1990, p. 113-115).

O processo de modernização se torna irreversível com a industrialização


da agricultura. A produção agrícola regrediria somente no caso de uma regressão
da base técnica da industrialização. A situação é que o término do processo de
modernização da agricultura resulta na sua industrialização. Esse atributo “[...]
representa a subordinação da Natureza ao capital, que, gradativamente, liberta
o processo de produção agropecuária das condições naturais dadas, passando a
fabricá-los sempre que se fizerem necessárias” (KAGEYAMA, 1997, p. 114).

88
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

NOTA

Sobre os complexos agroindustriais e as empresas agroindustriais, organizadas


em complexos agroindustriais, com suas estruturas geralmente localizadas em regiões
constituídas por municípios de pequeno e médio porte, absorvem a produção na forma
de matéria-prima do seu entorno local e regional. Esta matéria-prima é produzida
geralmente com especificidade e em produção de escala, junto às pequenas propriedades
de predomínio de mão de obra familiar e de pequenas cooperativas agrícolas.

Deste modo, a modernização da agricultura dá liberdade para a


produção agrícola, tornando-a independe das condições naturais impostas
pela Natureza. Assim, surge a teoria da modernização que admite entender
que há a possibilidade da transformação de uma economia agrícola tradicional
em uma avançada e eficaz, apta para alcançar o desenvolvimento econômico,
especialmente por meio do aperfeiçoamento da tecnologia. Aspectos como
o emprego de insumos de produção modernos e o melhoramento do apoio
educacional permitem as transformações tecnológicas dentro do campo da
agricultura. Essas transformações beneficiam a aumento da produtividade dos
fatores de produção e a elevação das taxas de retorno das ações agropecuárias,
sendo estes o objetivo final do desenvolvimento agrícola (CONCEIÇÃO;
CONCEIÇÃO, 2004).

Mas no desenvolvimento agrícola, no mesmo país, existem disparidade


entre os lavradores e por este motivo nem todos conseguem os benefícios da
modernização agrícola, já que há também um custo envolvido, assim muitos
ainda estão na agricultura primitiva. Paiva (1971) considera que nos países em
desenvolvimento não há igualdade quanto à modernização da agricultura, uma
vez que não existem agricultores rústicos e contemporâneos convivendo no mesmo
território. O autor, analisa a apresentação de produtores que usam tecnologias
avançadas e técnicas modernas, originários de grandes centros de estudo e
experimentação e a vivência de pequenos agricultores com estado tecnológico
rudimentar “[...] que se mantêm ainda no estágio da ‘agricultura de enxada’, sem
aplicar quaisquer dos conhecimentos e insumos que caracterizam a agricultura
moderna [...]” (PAIVA, 1971, p. 172). Para o autor, esse fato é denominado de
dualismo tecnológico.

Dualismo tecnológico na agricultura brasileira existe já que o presente e o


passado compartilham a mesma região, ou seja, há a modernização agrícola com
a mecanização do campo, e a agricultura rudimentar com instrumentos arcaicos
como a enxada convivendo num mesmo local. Para Conceição e Conceição (2004),
historicamente considera-se no processo de modernização agrícola, a mecanização
do campo culpada pela diminuição de força de trabalho braçal no setor agrícola.
No que lhe concerne, a terra é poupada pelas inovações químico-biológicas.

89
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Portanto, para os autores, as duas transformações têm permitido a


maximização da produção dentro de um próprio território, através do aumento
da produtividade integral dos fatores de produção, assim sendo, uma produção
capital-intensiva. Há, mesmo que em menor dimensão, redução da força de
trabalho agrícola com as inovações biológicas, no decorrer da adaptação de
algumas culturas. Com uma maior oposição ou mesmo as tornando padronizadas
no seu processo de amadurecimento, essas culturas têm admitido o emprego cada
vez maior de máquinas que supram a mão de obra (CONCEIÇÃO; CONCEIÇÃO,
2004).

Os atores econômicos que agem nesse sistema sempre estão determinados


a buscar inovações tecnológicas, para aumento do seu lucro e para estarem a frente
da concorrência, segundo Kugizaki (1983). Assim, todas as organizações se veem
acuadas na renovação das suas tecnologias e aumento da sua produtividade,
sendo que isso acontece a partir do reinvestimento de fração do seu lucro no
processo produtivo. O autor esclarece, contudo, o aumento do uso dos fatores de
produção não uniformemente, já que o fator trabalho tende a ganhar um aumento
relativamente inferior que os outros. Ou seja, o investimento no fator mão de obra
é inferior aos demais, como por exemplo em tecnologia. Deste modo, favorecendo
a diminuição da demanda pelo fator mão de obra e, logo, expandindo-se o
contingente de indivíduos desempregados ou subempregados, no setor agrícola
e não agrícola. Assim, quanto mais investimento em novas tecnologias, menos
trabalho e mais desemprego e subemprego em todos os setores. Por exemplo,
hoje utilizam colheitadeiras na lavoura, demandando de menos mão de obra e
tempo.

Albuquerque (1984) pretende em seu estudo despertar a atenção para o


agroindustrial no mundo, pois ele a considera como:

[...] maior ritmo de crescimento das indústrias que se relacionam


com a agricultura, prescindindo da intermediação do capital
comercial. É falar em indústrias especializadas em fornecer insumos
para a agricultura com tal porte econômico que possam financiar
diretamente os agricultores — ou forçar o Estado a lançar linhas de
crédito subsidiadas para tal — e em indústrias com tal capacidade
de processamento que exijam especialização da produção de um
grande número de produtores rurais. É falar, por fim, num mercado
monopólico, ou pelo menos claramente oligopólico, tanto para as
indústrias que fornecem insumos para a agropecuária como para
as que processam sua produção. Nesse sentido, as raízes de alguns
subsetores do sistema agroindustrial datam do século passado e do
início deste. Já "nasceram", por assim dizer, de grande porte. O caso
mais conhecido, o da Nestlé, levava, em 1890, um analista econômico
da época - Karl Kautsky - a declarar que "180 aldeias (da Suíça)
perderam sua autonomia econômica e se tornaram caudatárias da
Casa Nestlé. Os seus habitantes ainda são, exteriormente, proprietários
de suas terras, mas já não são camponeses livres". No Brasil, o Grupo
Matarazzo — de raízes itahanas, mas de capital nacionalizado é, desde
o início do século XX, um exemplo, entre outros, de feliz integração
de indústrias de aumentos, têxtil e de controle da produção agrícola
de grandes glebas - particularmente de algodão. Esse grupo viria a

90
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

dividir poder com a Sanbra e a Anderson Clayton nessa mesma área


de algodão e seus derivados após 1934. Estas duas empresas, aliás,
já antes dos anos 50 se instalaram como complexo agroindustrial e,
em 1947 e em 1948, foram, apenas as duas, responsáveis por 9,0% do
total de todas as exportações brasileiras (ALBUQUERQUE, 1984, p.
162-187).

Não obstante, Schuh (1973) explica que principalmente no pós-Segunda


Guerra Mundial, muito se confiou no mecanismo de propagação das novas
tecnológicas no setor agrícola, como forma de desenvolvê-la igualmente em um
país ou região. Entretanto, trata de corroborar que essa confiança no poder de
propagação das novas tecnológicas precisava de mais compreensões. Segundo o
autor, os processos inovadores acontecem tendendo a se localizarem em espaços
específicos. Portanto, acontecem em realidades diferentes e com características
intrínsecas àqueles ambientes em que se desenvolvem. Do mesmo modo, os
processos inovadores são de complexa mudança de uma localidade para outra,
não constituindo um processo com tendência a advir tão espontaneamente.

Em 1957 foi publicada a obra A Concept of Agribusiness de autoria de John


Davis e Ray Goldberg (MENDONÇA, 2015), e assim agribusiness foi traduzido
para o idioma português como agronegócio.

A publicação traz como premissa central a ideia de que o campo estaria


passando por grandes transformações a partir de uma “revolução
tecnológica”, tendo como base o “progresso” científico utilizado na
agricultura. Sob essa perspectiva, seria necessário formular políticas
públicas de apoio à grande exploração agrícola diante do aumento
dos custos de produção, transporte, processamento e distribuição de
alimentos e fibras (MENDONÇA, 2015, p. 376).

Davis e Goldberg (1957 apud MENDONÇA, 2015, p. 376), conceituam


“[...] a agricultura como parte integrante da indústria que já teria existido há
150 anos quando os camponeses produziam alimentos, instrumentos, insumos,
combustível, morada, roupagens e utensílios domésticos”. A fundamental
transformação notada nas “fazendas modernas” é que deixaram de ser
autossustentáveis e tornam-se comerciais, com sua produção fundamentada nos
monocultivos. Deste modo, atividades como armazenamento, processamento e
distribuição foram transferidas para outras organizações que ainda passaram
a fabricar produtos industrializados empregados neste modelo agrícola, como
tratores, caminhões, combustível, adubos, ração, pesticidas, entre outros. Assim,
surge:

Então a proposta de se utilizar o termo “agronegócio”, pois, segundo os


autores, “nosso vocabulário não acompanhou o ritmo do progresso”.
Este “progresso”, descrito no livro, significaria que “nossas fazendas
não poderiam operar nem por uma semana se estes serviços fossem
cortados” (DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 2 apud MENDONÇA, 2015,
p. 376).

91
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Os autores ainda destacam que (DAVIS; GOLDBERG; 1957, p. 7 apud


MENDONÇA, 2015, p. 376) o “[...] ímpeto da mecanização agrícola [...]”
expressava uma subordinação crescente de produtos fabricados por segmentos
industriais, com destaque para máquinas, tratores e fertilizantes químicos, para
compensar o esgotamento da fertilidade da terra. Este processo exigia grande
quantidade de energia e excitou a ampliação da produção petrolífera. Do mesmo
modo, a indústria genética e farmacêutica desenvolvia sementes transgênicas e
processos de inseminação artificial, o que penetrava, por um lado, a segmentação
da produção agropecuária e, por outro, a constituição de grandes monopólios
industriais que se apropriavam da renda do solo, bem como parte do que
constituiria o chamado agronegócio. Os autores incluem proprietários de terra e
indústrias, associações de empresários, instituições de pesquisa, universidades,
grupos de lobby, também o governo que assumiria o papel de apoiar pesquisas e
políticas de regulamentação e comércio.

O agronegócio representaria entre 35% e 50% da economia


estadunidense. Para chegar a esses números, o estudo compara o
total que os consumidores americanos gastaram em 1954, US$ 236,5
bilhões, com o que foi gasto em alimentos, bebidas, tabaco, sapatos,
roupas e acessórios, que somaria cerca de US$ 93 bilhões, ou 40% do
total consumido naquele ano (DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 8).

O detalhamento deste cálculo mostra os seguintes montantes em


bilhões de dólares: alimentos industrializados (26,3), alimentos não
processados (10,0), gastos em restaurantes (16,4), produtos têxteis
(11,0), produtos de couro (3,0), bebidas alcoólicas (1,5), lã e papel
(3,0), tabaco (2,8), vendas no atacado e exportação (15,0), outros (3,0)
(DAVIS; GOLDBERG, 1957 apud MENDONÇA, 2015, p. 377).

Mendonça (2015, p. 378) citando Davis e Goldberg (1957, p. 376), menciona


fatores “negativos” e expressam apreensão com “desajustes e desequilíbrios”
em um desenvolvimento “evolutivo” que originaria problemas complicados
na relação entre “fazendas comerciais” e agricultores camponeses pobres. Os
autores confirmam as mudanças na estrutura econômica da agropecuária nos
Estados Unidos entre os anos de 1947 a 1954. Em relação à mão de empregada, o
total de trabalhadores conservou-se estável, em cerca de 24 milhões, porém, em
relação ao total da força de trabalho empregada existiu uma redução de 41% para
37%. Mas houve um acréscimo considerável nas despesas de produção, sendo
que, entre estes, 111% são depreciação de máquinas, 70% custo com operação de
veículos, 57% com fertilizantes, 35% com sementes e 59% com mão de obra. A
soma de vendas do setor em termos totais cresceu 56%, mas a margem de lucro
diminuiu 19%.

A pesquisa menciona dados sobre o “retorno realizado por hora de


todo o trabalho e gerência das fazendas”, isto é, a taxa de mais-valia social no
setor, que apresentou uma queda de 25,5% entre anos de 1947 a 1954, segundo
Mendonça (2015, p. 378 citando DAVIS; GOLDBERG, 1957, p. 11-15). Os dados
citados esclarecem uma tendência de crise de superprodução no processo de
industrialização da agricultura, que se diferencia pelo aumento proporcional

92
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

dos custos de produção em relação ao período de trabalho necessário. Assim, tal


desequilíbrio significa a desproporção entre elementos do capital fixo em relação
à mão de obra agregada na agricultura.

Kageyama (1997) comenta que ao final da década de 1980 um trabalho


aplicou seu estudo em diversos casos de complexos agroindustriais, com base
em um tratamento individualizado das relações entre suas partes componentes.
Este estudo destacou algumas diferenças estruturais e relações internas, o
que implica diferentes configurações matriciais (consumo intermediário,
especialização/ endogenia da indústria fornecedora, etc.). Apesar de ter exposto
uma periodização na qual as conformações dos diversos complexos que
pesquisou também surgiram como fatos recentes. De acordo com Ramos (2007),
o trabalho despertou a atenção para a carências de análises particularizadas
sobre cada complexo e que tenham em conta suas distintas inserções no mercado
internacional de bens (processados ou não); suas diferentes fases ou graus de
agroindustrialização e, sobretudo, a necessidade de se refletir a formulação
e implementação de políticas agrícolas específicas, dadas as diferentes
configurações estruturais de cada um.

Os processos de modernização e industrialização e a formação dos


complexos agroindustriais no Brasil para o desenvolvimento rural iniciaram na
década de 1950, mas somente se consolidaram nos anos 1960, conforme será visto
a seguir.

2.1 PROCESSOS DE MODERNIZAÇÃO E


INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL
O projeto de desenvolvimento rural brasileiro teve o objetivo da expansão
e da concretização do agronegócio que resultou na ampliação da produtividade
e investimentos para o Brasil pela exportação, e as implicações dos custos sociais
e ambientais crescentes, de acordo com Marques (2002). No país, muitas das
modificações estão ligadas ao projeto de desenvolvimento rural seguido pelo
mesmo.

93
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

FIGURA 4 – AGROINDUSTRIAL

FONTE: <https://agrivence.com.br/agroindustria-se-recupera-e-impulsiona-pib-do-agronegocio-
em-2018/>. Acesso em: 3 mar. 2019.

No Brasil, o processo de modernização da agricultura iniciou-se na década


de 1950, e teve como base as importações de meios de produção mais avançados
daquele período. Entretanto, a sua consolidação aconteceu somente na década de
1960, com a implantação no país de um setor industrial direcionado à produção
de equipamentos e insumos para o campo.

Na década de 1960, depois da industrialização pesada agenciada


pelo Plano de Metas (1956-1960), o governo brasileiro se deu conta
da imprescindibilidade de instalar novas políticas que objetivassem
a modernização da agricultura nacional, dado a necessidade
econômica do país. Essa ânsia era evidenciada pelas pretensões
de setores agrários que eram dados como atrasados em relação ao
setor industrial recém-implantado, sendo que esse, por sua vez,
preocupava-se com uma apropriada oferta interna de alimentos e
matérias-primas. O Plano de Metas ocorreu durante o governo de
Juscelino Kubitschek, membro do Partido Social Democrático (PSD).
Os maiores objetivos do plano eram de construir uma infraestrutura
básica à integração do sistema industrial brasileiro, antecipando-se à
demanda, sendo o eixo Rio de Janeiro-São Paulo-Minas Gerais o mais
importante. Tal plano compreendia os setores de energia, transportes,
indústrias de base, alimentação e educação, no qual os três primeiros
foram os mais beneficiados. Para cada setor havia metas, sendo que
o de energia possuía cinco; de transportes sete; de indústria de base
onze; de alimentação seis e de educação somente um. Também existia
a chamada meta-síntese, que compreendia a construção de Brasília.
As fontes para esse financiamento advinham de recursos externos
(OLIVEIRA, 2016, p. 27).

Sobre o “maior número de metas do plano”, segundo Oliveira (2016, p. 27)


citando Rangel (2000, p. 42), comenta “[...] a introdução de novas técnicas, por sua
vez, supondo o emprego de um equipamento muito diferente do anteriormente
usado, exige a criação das indústrias correspondentes – as indústrias de base”.

94
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

Essas indústrias surgem para concretizar a modernização da agricultura com a


inserção de um novo padrão tecnológico no país. Apesar disso, no Plano de Metas
as políticas direcionadas para a agricultura ainda eram modestas, com apenas
3,2% dos investimentos planejados voltados ao setor alimentício.

Todo o crescimento ocorrido no período do governo Kubitschek pode


ser entendido como um modelo direcionado à concretização de um “[...]
desenvolvimento econômico acelerado [...]” (OLIVEIRA, 2016, p. 26). De tal
modo, o Estado deveria desempenhar a função de agente indutor desse processo,
quer comprovando às direções da economia e direcionando os investimentos,
quer investindo em setores básicos, como infraestrutura. (RANGEL, 2000 apud
OLIVEIRA, 2016). A propósito da “mecanização da agricultura”, a meta do plano
era aumentar o número de tratores para 72.000, no entanto, “em meados de 1960
já passava de 77.000 tratores”, deste modo, superando-a, segundo Oliveira (2016,
p. 27 citando Lafer, 1975).

Segundo Martine (1991), 69% da frota de tratores do país estavam


concentrados nos estados de São Paulo e do Rio Grande do Sul, já em outras
regiões a proporção era ínfima. Até meados da década de 1960 a tecnologia
agrícola empregada na maior parte do país era rudimentar, mesmo estando
em processo de modernização desde o final da II Segunda Guerra Mundial.
Em relação a proporção de todos os estabelecimentos, a maioria possuía pouca
maquinaria moderna. Para o autor, no Brasil a agricultura apresentava como
objetivo aumentar a produção agrícola e regularizar o fornecimento de alimentos
e não se modernizar. Ao mesmo tempo, existia o fato de que o país não possuía
um parque industrial apto para tal dinamismo, já que os países desenvolvidos
detinham a tecnologia.

Comparando os países desenvolvidos com o Brasil, o processo de


modernização da agricultura do país foi tardio. Conforme Oliveira (2016, p. 28),
“[...] esse processo não se deu do mesmo modo e nem na mesma intensidade em
todos os estados, tendo o período mais lento de modernização entre os anos de
1965 e 1967, graças ao período de reorganização política que o Brasil confrontava-
se, o Regime Militar”. A economia brasileira passou por um período particular da
sua história após o golpe militar de 1964. O panorama de crise dos primeiros anos
da década de 1960 foi transmudado, de modo que a partir de 1967 o crescimento
rápido do Produto Interno Bruto (PIB) foi permitido, caracterizando o chamado
“Milagre Econômico Brasileiro” que persistiu até por volta de 1973 (OLIVEIRA,
2016).

O Milagre Econômico Brasileiro foi fruto das várias políticas de


investimentos produtivos que vinham desde o governo de Juscelino
Kubitschek, continuando por toda década de 1960, gerando deste
modo grandes estruturas produtivas e também a modernização da
agricultura. De acordo com Resende (1990), a inflação no começo da
década de 1960 chegou a alcançar 83,2% a.a., todavia foi combatida por
um programa de estabilização econômica implementado entre 1964
e 1968. No primeiro trimestre de 1964 chegou em aproximadamente

95
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

100% a.a., já em 1969 estava em torno de 20%. Concomitantemente,


o aumento do PIB que em 1963 era de 0,6%, recuperou-se após
1966, e já em 1968 atingia a taxa de 9,8% (RESENDE, 1990). Tal
desempenho do aglomerado econômico nessa fase foi acompanhado
por transformações na estrutura produtiva do país. Segundo Cordeiro
Neto (2007, p. 2), “no que concerne ao setor primário, por meio do
processo denominado modernização conservadora, a agricultura
incorporou mudanças significativas” (OLIVEIRA, 2016, p. 29).

Para Martine (1991), a transformação da agricultura camponesa numa


agricultura moderna era um dos focos dessa modernização, ajustando o país às
exigências do mercado externo, frente à expansão industrial e a necessidade cada
vez maior de produção de matéria-prima. No entanto, a oligarquia rural nunca foi
adepta à modernização e aos investimentos pesados, sendo forçada pelo Estado
congregado ao capital industrial e financeiro. Para o autor, a principal questão
envolvendo a agricultura estava no abastecimento urbano em quantidade e
preços adequados. E com o êxodo rural rápido no momento, havia a diminuição
da mão de obra no meio rural, porém, um crescente avanço de consumo de
mantimentos nas áreas urbanas, acontecimentos que instigaram a intuição de
políticas direcionadas para a lavoura.

Fica evidente que a questão da modernização da agricultura não se


resumia ao aspecto produtivo em si, mas na armazenagem, transporte
e comercialização, buscando quebrar o isolamento do produtor e
criar meios mais eficientes para que os produtos agrícolas chegassem
ao consumidor final. Esse modelo adotado nas décadas de 1960
e 1970 era direcionado ao consumo de capital e tecnologia externa,
ou seja, grupos especializados passavam a abastecer os produtores
com insumos, desde maquinários, sementes, adubos, agrotóxicos e
fertilizantes (BALSAN, 2006 apud OLIVEIRA, 2016, p. 29-30).

Neste contexto, Graziano Neto (1985) percebe uma modificação significativa


no cenário agrícola brasileiro analisando os indicadores de modernização nesse
período. A utilização de fertilizantes cresceu a uma taxa média de 60% ao ano e
25% dos agrotóxicos. Mesmo não sendo tão alto em outros anos, esse crescimento
se estendeu pelas décadas posteriores.

O crescimento do cenário agrícola resultou das inovações tecnológicas no


meio rural, já que os agricultores buscavam um maior rendimento, expandindo
as áreas cultivadas e também melhorando sua produtividade, mas para que
pudessem obter os maquinários e os insumos necessários para esse aumento, a
“[...] opção de aquisição era facilitada pelo acesso ao crédito rural, determinando
o endividamento e a dependência dos agricultores” (BALSAN, 2006, p. 126).
Segundo o autor, devido a demanda, em 1965 foi criado pelo governo o Sistema
Nacional de Crédito Rural (SNCR), assim provando a importância de um
tratamento distinto do setor público em relação à agricultura, comparativamente
aos demais setores produtivos brasileiros.

96
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

Tal medida foi instituída pelo presidente Castelo Branco (1964-1967),


no qual direcionou os recursos financeiros para os setores econômicos
conforme o grau de necessidade de cada. Esse conjunto de medidas
faziam parte de reformas institucionais implementadas pelo Plano
de Ação Econômica do Governo (PAEG), que buscava integrar um
panorama adequado à retomada dos investimentos e à superação
da crise dos primeiros anos da década de 1960 (GREMAUD;
VASCONCELLOS; TONETO JUNIOR., 2007 apud OLIVEIRA 2016, p.
30).

Durante o governo militar ainda foram criadas várias instituições


direcionadas ao desenvolvimento das atividades produtivas, conforme relata
Benites (2000), como o Organismo de Coordenação de Crédito Rural (CNCR),
o Fundo de Democratização do Capital das Empresas (FUNDECE), o Fundo
de Financiamento para a Aquisição de Máquinas e Equipamentos Industriais
(FINAME) e o Fundo de Financiamento de Estudos de Projetos e Programas
(FINEP). Além das transformações na base técnica, também foram sentidas nas
relações sociais de produção, especialmente pela modificação no processo da
atividade agrícola, em que o trabalhador deixa de ser o agente ativo, o controlador
do processo de trabalho, para se tornar um complemento das máquinas.
(GRAZIANO, 1996). Assim, as tentativas de transformar o rural do Brasil:

[...] tinham como metas alcançar um crescimento econômico em


um país em desenvolvimento, que possuía nítidas diferenças em
comparação com outros países que tiveram uma industrialização
menos tardia, acarretando assim um desequilíbrio econômico e social.
A incessante busca pelo crescimento da economia brasileira, além
do esforço para a superação dos pontos críticos que abocanhava o
crescimento, levou a identificar quais os motivos do adiamento no
desenvolvimento da agricultura nacional. Deste modo, a nova política
agrícola brasileira deveria considerar um processo de modernização,
aumentar e diversificar a produção e ganhos na produtividade. Em
suma, essas transformações na base produtiva deveriam incluir, desta
maneira, o surgimento de modernos setores produtores de máquinas,
implementos e insumos agrícolas (OLIVEIRA, 2016, p. 31).

No final da década de 1960, a agricultura inicia vínculos com outros


setores de produção, tornando-se dependente dos insumos que recebe de
distintos segmentos industriais. A produção não mais se limita exclusivamente
a bens de consumo final ou na comercialização de mercadorias in natura, mas,
ao mesmo tempo, na produção de bens intermediários ou matérias-primas para
outras indústrias de transformação. E existiam outras características importantes
provenientes da modernização que não foram apenas referentes as técnicas de
produção, mas também a modernização da circulação, da armazenagem e da
comercialização da produção. Além disso, compreendia toda uma estrutura de
acompanhamento de colheitas, de financiamento, de extensão rural e ainda da
pesquisa agropecuária (MESQUITA, MENDES, 2009 apud OLIVEIRA, 2016).

Na década de 1970, a modernização na agricultura modificou as relações


produtivas agregando o campo com a cidade, agricultura e indústria. A propósito
da modernização e a geografia agrária:

97
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Considerando que o sentido das mudanças foi dado em direção à


consolidação das relações campo-cidade, evidenciadas pelos papéis
que passaram a exercer a agricultura e a indústria na economia
nacional, os estudos de Geografia Agrária deixaram de ser tipicamente
agrícolas e incorporaram de forma definitiva a vertente social como
definidora da postura geográfica sobre o assunto (FERREIRA, 2002,
p. 288).

Após os anos 1990, muitas pesquisas na geografia agrária e urbana


partiram para as interpretações das inter-relações dos espaços contínuos:

O espaço rural foi altamente alterado com esse incremento de


tecnologias e a aproximação das relações industriais em boa parte
do campo brasileiro, mas esta mudança vem sendo realizada
paulatinamente desde a década de 1960, sendo acelerada pós 1990.
Nesse sentido, as temáticas sobre a relação campo e cidade ou
urbanização do campo vem ganhando força no discurso geográfico
brasileiro (ALVES; FERREIRA, 2011, p.11).

Os assuntos a respeito da multifuncionalidade dos espaços rurais, como


a pluriatividade (turismo rural, camping, pesque e pague etc.) são discutidos a
partir dos anos 90, principalmente depois dos estudos realizados por Graziano
(1999) sobre o “Novo Rural Brasileiro”. O referido estudo demonstrou a crescente
participação dessas atividades na renda das famílias camponesas e também dos
empresários rurais. Porém, o estudo sofreu várias críticas de outros autores
como Alentejano (2003), já que a renda não-agrícola é presente no orçamento
das famílias rurais antes da década de 1990, ou seja, não há nada de novo nesta
situação.

Essas novas ruralidades no urbano são observadas por meio de hortas


urbanas ou agricultura urbana, além das questões sociológicas pelos migrantes
nativos de áreas rurais que residem na cidade e cultivam tradições e culturas
tradicionais. As cidades do agronegócio são cidades organizadas numa
perspectiva da agropecuária. Dessa visão o campo é quem determina os processos
e estruturas da cidade (ELIAS; PEQUENO, 2005).

É importante frisar que a reestruturação da agropecuária não


homogeneizou a produção ou os espaços agrícolas, nem tão pouco
os espaços urbanos que crescem com este processo. O que ocorre em
contraposição ao processo de globalização da produção e do consumo
agropecuário é um intenso processo de fragmentação da produção
e do espaço agrícola. Assim sendo, como recurso de método para
compreensão da urbanização brasileira, do espaço agrário e das
cidades do agronegócio, temos que considerar esta fragmentação, que
torna cada vez mais diferenciados os espaços agrícolas e as cidades do
agronegócio (ELIAS; PEQUENO, 2005, p. 30).

“O processo de modernização da agricultura tornou forte a distinção


do campo brasileiro, uma vez que aumentou as lacunas existentes entre os
produtores rurais demandadores de inovações mecânicas, físico-químicas e
biológicas” e os produtores mais simples (OLIVEIRA, 2016, p. 31). Dessa inclusão

98
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

do aprimoramento tecnológico, procedeu um processo irreversível, instituindo,


portanto, os Complexos Agroindustriais (CAIs) (OLIVEIRA, 2016), conforme será
analisado a seguir.

2.2 FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS


NO BRASIL
Na década de 1950 não existia conceito próprio do inter-relacionamento
das funções afins da agricultura ou das atividades com produtos agropecuários
como o armazenamento, o processamento e a industrialização, conforme
explica Araújo (1982, p. 238) citado por Cavalcante (2018, p. 30), nem os
americanos tinham, mas o prof. John Davi que apresentou em 1955 o seu
trabalho no Congresso de Distribuição de Produtos Agrícolas, em Boston,
pela primeira vez disse a palavra agribusiness, conceituando como “[...] a soma
total de todas as operações envolvendo a produção e distribuição de insumos
agrícolas; operações de produção na fazenda; armazenamento, processamento
e distribuição de produtos agrícolas e dos produtos deles derivados”, de acordo
com Araújo (1982, p. 238) citado por Cavalcante (2018, p. 30). Deste modo, o
agribusiness compreenderia, contemporaneamente, “[...] todas as funções que o
termo agricultura abrangeria à época da agricultura tradicional”, Araújo (1982,
p. 238) citado por Cavalcante (2018, p. 30).

NOTA

A concepção de agribusiness é “[...] uma das denominações dadas aos


Complexos Agroindustriais (CAI) e foi desenvolvida inicialmente nos Estados Unidos
(EUA.). [...] Essa definição generalizou a utilização do termo agribusiness para explicitar a
crescente inter-relação setorial entre a agricultura e a indústria” (OCNER FILHO, 2017, p.
12). Além da tradução do termo agribusiness para o português, também se traduziu “[...]
para o francês como filière (cadeias) e a dimensão histórica foi considerada no contexto do
desenvolvimento capitalista do setor agropecuário”. Graziano da Silva (1998, p. 68) citando
Malassis (1973),

[...] considera a cadeia agroalimentar como o setor da economia


agrícola constituído por um conjunto de empresas que estão
envolvidas na produção agrícola e na sua transformação. A sua
estrutura é caracterizada por um subsetor a montante (que fornece os
bens de produção), o subsetor agrícola e o subsetor que transforma e
distribui os produtos agrícolas e alimentares.

99
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

O conceito original de agronegócio tem a ver com uma origem estática


(GRAZIANO, 1996). O conceito se destina então unicamente ao aumento da noção
de agricultura, que nos Estados Unidos dos anos 50 não poderia ser abordada
como setor primário, porque na sua dinâmica produzia insumos e também
estava em crescente interligação de setores. Deste modo, conforme a tradução, a
expressão tornou-se Complexo Agroindustrial (GRAZIANO, 1996).

Entende-se por Complexo Agroindustrial:

[...] o conjunto de relações entre indústria e agricultura na fase em


que esta mantém intensas conexões para trás, com a indústria para
a agricultura e para frente, com as agroindústrias e outras unidades
de intermediação que exercem impactos na dinâmica agrária. O
Complexo Agroindustrial é uma forma de unificação das relações
entre os grandes departamentos econômicos com os ciclos e as esferas
de produção, distribuição e consumo, relações estas associadas às
atividades agrárias (MÜLLER, 1989, p. 41).

Segundo Marafon (1998), foi Müller (1989) quem mais contribuiu para
a definição de complexo agroindustrial no Brasil. Sendo que neste processo a
economia natural é substituída pelas por atividades agrícolas associadas à moderna
industrialização, a intensificação da divisão do trabalho e das trocas intersetoriais, a
especialização da agricultura e a troca do comércio pelo interno e externo. Kageyama
(1987), Graziano (1996) e outros estudiosos, analisam a existência de um Complexo
Rural, precedente à constituição dos intitulados Complexos Agroindustriais
(CAIs), numa condição em que haveria uma dinâmica muito simplória no qual o
setor rural ou a atividade agrícola, sustentava poucas ou quase nenhuma relação
com atividades externas às fazendas, a não ser com o comércio externo para um
exclusivo produto, geralmente, em todo o circuito produtivo com valor mercantil
como o caso da cafeicultura desde o século XIX. Em 1950 o Complexo Rural chega
ao seu apogeu e submerge num processo de colapso e desarticulação.

FIGURA 5 – LAVOURA DE CAFÉ

FONTE: <http://museudaimigracao.org.br/wp-content/uploads/2015/08/Foto-cafe-123.jpg>.
Acesso: 15 mar. 2019.
100
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

Para o fim do predomínio do Complexo Rural, no cenário econômico


brasileiro, foi decisivo uma forte atuação estatal que visava a industrialização e
a modernização da agricultura, processo impulsionado, principalmente, depois
da Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, as mudanças na base técnica
da produção agropecuária surgiram com a importação de máquinas, tratores,
adubos e outros insumos, concretizando-se quando esses bens de capital e
insumos agrícolas começam a ser produzidos no mercado interno substituindo
às importações (LOPES, 1993).

A agricultura perdeu território para a industrialização na década de 1950.


Esse processo, para ser viabilizado, demandou políticas que alteravam os preços
na economia e também gerou uma transferência ampla da renda agrícola para
diversos setores. O Brasil ocupa posições importantes no ranking mundial de
produção e exportação de bens provenientes do complexo agroindustrial, sendo
o agronegócio a atividade econômica mais aberta e competitiva no mercado
externo (LOPES, 1993).

Já no século XX iniciou o processo de apropriação da agricultura pelo


capital. A análise indica o surgimento da inter-relação que passaria a incidir
entre a agricultura e a indústria e originaria o processo de industrialização
da agricultura. Contudo, somente a agroindústria não era o bastante para a
existência de um complexo agroindustrial. Para que isso acontecesse era preciso
analisar alguns condicionantes econômicos que do mesmo modo são estruturais
e temporais, isto é, um nível elevado de uniões entre distintas esferas e atividades
econômicas (KAUTSKY, 1980).

FIGURA 6 – DISTRIBUIÇÃO DO AGRONEGÓCIO NO BRASIL

FONTE: <https://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/desvendando-o-
agronegocio-no-brasil2/desvendando-o-agronegocio-no-brasil-15.jpg>. Acesso: 16 mar. 2019.

101
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Costuma-se dividir o estudo do agronegócio em três partes. A primeira


parte aborda os negócios agropecuários propriamente ditos, que representam
desde os pequenos até os grandes produtores rurais, constituídos na forma de
pessoas físicas, ou seja, fazendeiros ou camponeses, ou de pessoas jurídicas, isto
é, empresas. Já na segunda parte, os negócios montantes aos da agropecuária,
representados pelas indústrias e comércios fornecedores de insumos para a
produção rural, como os fabricantes de fertilizantes, defensivos químicos,
equipamentos etc. E por último, na terceira parte, estão os negócios à jusante
dos negócios agropecuários, desde a compra, o transporte, o beneficiamento,
a venda dos produtos agropecuários até o consumidor final. Estão nesta
definição os frigoríficos, as indústrias têxteis e de calçados, os empacotadores,
os supermercados e os distribuidores de alimentos, segundo o Agrocomunica
(2018).

Para melhor compreensão do conceito de complexo agroindustrial é


necessário conhecer a definição. A agroindústria como “[...] todo o segmento
industrial de produtos alimentícios, as indústrias que transformam matéria-prima
agropecuária em produtos intermediários para fins alimentares e não alimentares
como casos especiais, as indústrias de óleos vegetais não comestíveis, de insumos
agropecuários” segundo Dorighello (2003, p. 37 apud Lourenço (2010).

Segundo Araújo (2005), citado por Lourenço (2010), a agroindústria


apresenta dois grupos distintos de agroindústrias: as alimentares e as não
alimentares. Gonçalves (2005) comenta que essas organizações se transformaram
em operações altamente especializadas. Além disso, foi criado um novo arranjo
de funções externas à fazenda: a produção de insumos agrícolas e fatores de
produção, compreendendo máquinas e implementos, tratores, combustíveis,
fertilizantes, suplementos para ração, vacinas e medicamentos, sementes
melhoradas, inseticidas, herbicidas, fungicidas entre outros itens, ainda serviços
bancários, técnicos de pesquisa e informação.

Conforme Araújo (2005, p. 93 apud LOURENÇO 2010, p. 27) “[...]


na agroindústria existem dois grupos distintos de agroindústrias”. As
“Agroindústrias não alimentares: como fibras, couros, calçados, óleos vegetais
não comestíveis e outras; Agroindústrias alimentares: voltadas para a produção
de alimentos (líquidos e sólidos), como sucos, polpas, extratos, lácteos, carnes e
outros” (ARAÚJO, 2005, p. 93 apud LOURENÇO 2010, p. 27).

Nas agroindústrias alimentares e não alimentares os procedimentos


industriais são bem distintos uns dos outros, enquanto que os cuidados
são maiores e bastante específicos nas agroindústrias alimentares,
nas não alimentares os procedimentos industriais gerais são bastante
similares aos de indústrias de outros setores. Sendo assim, os cuidados
adotados pelas agroindústrias alimentares se justificam, pois elas
tratam da produção de alimentos e têm uma preocupação muito
maior, que é a segurança alimentar dos consumidores, com o objetivo
de fornecimento de alimento seguro para a saúde do consumidor
(LOURENÇO, 2010, p. 27).

102
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE MODER., INDUSTRI. E FORMAÇÃO DOS COMPLEXOS AGROINDUSTRIAIS NO BRASIL

A propriedade agrícola alterou seu trabalho de subsistência para uma


operação comercial enquanto os agricultores consomem cada vez menos a
própria produção. Este moderno agricultor é um especialista, preso nas operações
de cultivo e também de criação. Todavia, as funções de armazenar, processar e
distribuir alimento e fibra vão se transferindo, em ampla escala, para instituições
que estão fora da fazenda (ARAÚJO, WEDEKIN; PINAZZA, 1990).

Fora da fazenda constituiu-se complexas estruturas e armazenamento,


transporte, processamento, industrialização e distribuição ainda melhores. Os
complexos agroindustriais atualmente exercem significativa importância na
economia do Brasil, citando-se todas as organizações que desenvolvem atividades
no processo de produção, elaboração e distribuição dos produtos da agricultura
e pecuária, abrangendo desde a produção e fornecimento de recursos até que
o produto final chegue aos consumidores. De acordo com Gonçalves (2005), as
instituições que incorporam o Complexo Agroindustrial são: aquelas diretamente
envolvidas no processo, aquelas de apoio indireto à realização das atividades na
tomada de decisões, tais como o governo e suas políticas e o sistema financeiro e
de crédito.

Os setores que compõem o Complexo agroindustrial são: produção


agropecuária: engloba os inúmeros tipos de cultivo e criações; instituições:
envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário, como: crédito,
assistência técnica, extensão, pesquisa, entre outros; indústria de insumos:
abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para o atendimento
das necessidades produtivas agropecuárias, por exemplo: corretivos, fertilizantes,
defensivos, implementos, equipamentos, entre outros; comercialização: diz
respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos produtos agropecuários,
como: cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de comercialização, entre
outros; indústria de processamento: inclui os setores industriais com produção
predominantemente baseada em matérias-primas de origem agropecuária
(GONÇALVES, 2005).

Os Complexos Agroindustriais são considerados o novo modo de


organização da atividade agrícola depois da sua modernização e industrialização,
período em que a agricultura passa a ser inter-relacionada com outras atividades,
estabelecendo relações diretas com a indústria. Nos CAI completos a agricultura
vincula-se diretamente com os fornecedores de insumos, maquinário e
equipamentos, e ainda com as agroindústrias processadoras dos seus produtos. Os
processos produtivos modificaram com a introdução das inovadoras tecnologias,
portanto, a agricultura deixa de ser um setor separado e autônomo e se incorpora
a um complexo produtivo (GONÇALVES, 2005).

103
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

DICAS

BNCC: GEOGRAFIA AGROINDUSTRIA MODERNA E COMPLEXOS AGRO


INDUSTRIAIS
Caro acadêmico, com a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), a Geografia
é incorporada desde os anos iniciais do Ensino Fundamental. Na nova abordagem proposta,
o foco recai sobre o pensamento espacial e o raciocínio geográfico. Para se aproximar
dos objetivos de aprendizagem, o professor também precisa se apropriar de conteúdos
procedimentais. A Base reforça a ideia da Geografia como um componente importante
para entender o mundo, a vida, o cotidiano, o mundo do trabalho.
Essa é a grande contribuição da Geografia para os alunos da Educação Básica: desenvolver
o pensamento espacial, estimulando o raciocínio geográfico para representar e interpretar
o mundo em permanente transformação, relacionando componentes da sociedade e da
natureza. Importante também destacar e relacionar a BNCC no componente curricular
Geografia com o assunto estudado neste livro de estudos.
Caro acadêmico, para saber mais e relacionar com o assunto estudado, acesse: http://
basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Sucesso em seus estudos!

104
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Com as revoluções industriais, o espaço rural se tornou cada vez mais integrado
e subordinado ao espaço urbano. O processo de modernização da agricultura
desencadeou diversas transformações no campo, alterando profundamente
as formas de produção agrícola dos países. O processo de modernização do
campo corresponde à implantação de novas tecnologias e maquinários no
processo de produção no meio rural.

• O processo de modernização se torna irreversível com a industrialização da


agricultura. A produção agrícola regrediria somente no caso de uma regressão
da base técnica da industrialização. A situação é que o término do processo de
modernização da agricultura resulta na sua industrialização.

• No desenvolvimento agrícola, no mesmo país, existem disparidades entre


os lavradores e por este motivo nem todos conseguem os benefícios da
modernização agrícola, já que há também um custo envolvido, assim muitos
ainda estão na agricultura primitiva.

• Dualismo tecnológico na agricultura brasileira existe, já que o presente e o


passado compartilham a mesma região, ou seja, há a modernização agrícola
com a mecanização do campo e a agricultura rudimentar com instrumentos
arcaicos como a enxada convivendo num mesmo local.

• O projeto de desenvolvimento rural brasileiro teve o objetivo da expansão e da


concretização do agronegócio que resultou na ampliação da produtividade e
investimentos para o Brasil pela exportação e as implicações dos custos sociais
e ambientais crescentes.

• No Brasil, o processo de modernização da agricultura iniciou-se na década de


1950 e teve como base as importações de meios de produção mais avançados
daquele período. Entretanto, a sua consolidação aconteceu somente na década
de 1960, com a implantação no país de um setor industrial direcionado à
produção de equipamentos e insumos para o campo.

• No final da década de 1960, a agricultura inicia vínculos com outros setores


de produção, tornando-se dependente dos insumos que recebe de distintos
segmentos industriais. A produção não mais se limita exclusivamente a bens
de consumo final ou na comercialização de mercadorias in natura, mas, ao
mesmo tempo na produção de bens intermediários ou matérias-primas para
outras indústrias de transformação.

105
• Na década de 1970 a modernização na agricultura modificou as relações
produtivas, agregando o campo com a cidade, agricultura e indústria. A
propósito da modernização e a geografia agrária, após os anos 1990, muitas
pesquisas na geografia agrária e urbana partiram para as interpretações das
inter-relações dos espaços contínuos.

• Os assuntos a respeito da multifuncionalidade dos espaços rurais, como a


pluriatividade (turismo rural, camping, pesque e pague etc.) são discutidos a
partir dos anos 90, principalmente depois dos estudos realizados por Graziano
(1999) sobre o Novo Rural Brasileiro. O referido estudo demonstrou a crescente
participação dessas atividades na renda das famílias camponesas e também
dos empresários rurais.

• As novas ruralidades no urbano são observadas por meio de hortas urbanas ou


agricultura urbana, além das questões sociológicas pelos migrantes nativos de
áreas rurais que residem na cidade e cultivam tradições e culturas tradicionais.
As cidades do agronegócio são cidades organizadas numa perspectiva da
agropecuária. Nessa visão o campo é quem determina os processos e estruturas
da cidade.

• Entende-se por Complexo Agroindustrial: “[...] o conjunto de relações entre


indústria e agricultura na fase em que esta mantém intensas conexões para
trás, com a indústria para a agricultura e para frente, com as agroindústrias e
outras unidades de intermediação que exercem impactos na dinâmica agrária.
O Complexo Agroindustrial é uma forma de unificação das relações entre os
grandes departamentos econômicos com os ciclos e as esferas de produção,
distribuição e consumo, relações estas associadas às atividades agrárias”
(MÜLLER, 1989, p. 41).

• Os setores que compõem o Complexo Agroindustrial são: produção


agropecuária: engloba os inúmeros tipos de cultivo e criações; instituições:
envolve os vários serviços prestados ao setor agropecuário, como:
crédito, assistência técnica, extensão, pesquisa, entre outros; indústria de
insumos: abrange os ramos industriais e comerciais que se orientam para
o atendimento das necessidades produtivas agropecuárias, por exemplo:
corretivos, fertilizantes, defensivos, implementos, equipamentos, entre outros;
comercialização: diz respeito aos serviços de estocagem e comercialização dos
produtos agropecuários, como: cooperativas, atacadistas, varejistas, redes de
comercialização, entre outros; indústria de processamento: inclui os setores
industriais com produção predominantemente baseada em matérias-primas
de origem agropecuária (GONÇALVES, 2005).

106
AUTOATIVIDADE

1 Os Complexos Agroindustriais são considerados o novo modo de


organização da atividade agrícola depois da sua modernização e
industrialização, período em que a agricultura passa a ser inter-relacionada
com outras atividades, estabelecendo relações diretas com a indústria.
Como podemos verificar a ligação do crescimento do Produto Interno Bruto
(PIB) com a produção industrial e o crescimento do setor agroindustrial
em nosso país?

Assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) O crescimento do PIB está diretamente ligado com as importações dos
insumos agrícolas e com a diminuição do consumo interno de produtos
agrícolas.
b) ( ) Os complexos agroindustriais ampliam as exportações e a velocidade
do segmento de produção dos pequenos e médios produtores rurais.
c) ( ) Os complexos agroindustriais apenas favorecem o grande produtor
rural não havendo crescimento no PIB nacional.
d) ( ) O crescimento do PIB não tem nada a ver com o crescimento dos
complexos agroindustriais, pois as exportações do setor primário de nosso
país é apenas feito por commodity.

2 No Brasil, o processo de modernização da agricultura iniciou-se na década


de 1950 e teve como base as importações dos meios de produção mais
avançados daquele período. Entretanto, a sua consolidação aconteceu
somente na década de 1960, com a implantação no país de um setor industrial
direcionado à produção de equipamentos e insumos para o campo.

Sobre a modernização no campo em nosso país, assinale a alternativa


CORRETA:
a) ( ) O Brasil é considerado um país de agricultura e pecuária moderna, mas
essa condição só começou a ocorrer a partir do início do século XXI, pois
até então não havíamos passado por nenhum processo de modernização
agropastoril.
b) ( ) A modernização no campo em nosso país é desigual quando observamos
os complexos regionais brasileiros que favorecem mais as regiões norte e
nordeste com espaços mais modernos e o centro-sul com o predomínio de
minifundiários com agricultura familiar e extrativista.
c) ( ) Os espaços agrários seguem a mesma dificuldade de desenvolvimento
regional de muitas áreas de nosso país, caracterizado ainda como um país
com regiões mais desenvolvidas que outras, favorecendo o mau uso da terra
e aproveitamento dos potencias de produção alimentar.
d) ( ) As desigualdades regionais se restringem apenas as regiões extrativistas
do norte do país, mais precisamente as famílias coletoras da floresta
Amazônica.

107
3 O agronegócio ou em inglês agribusiness tem o conceito que se destina
unicamente ao aumento da noção de agricultura que nos Estados Unidos
dos anos 50 não poderia ser abordada como setor primário, porque na sua
dinâmica, produzia insumos e também estava em crescente interligação
de setores. O que se entende então por Complexo Agroindustrial no
agronegócio?

108
UNIDADE 2 TÓPICO 3
OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A
SUSTENTABILIDADE

1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico! Os sistemas produtivos baseados unicamente no uso
de insumos e na utilização intensiva de máquinas para o preparo do solo, como
arados e grades mostraram-se inadequados e insustentáveis para a produção.

Com outro direcionamento surgiram no Brasil e no mundo movimentos


de agricultura alternativos ao convencional, contrapondo-se ao uso abusivo de
insumos agrícolas industrializados, da dissipação do conhecimento tradicional e
da deterioração da base social de produção de alimentos.

Os sistemas sustentáveis de produção agrícola (agricultura, pecuária e


silvicultura) podem ser conceituados como o conjunto de técnicas e práticas que
visam à produção de alimentos, fibras, madeira e agroenergia, de forma a atender
três requisitos fundamentais: ser economicamente viável, ambientalmente correto
e socialmente justo. Esses sistemas têm como objetivo a produção com mínimo
impacto aos recursos naturais, através do uso racional dos insumos, do respeito à
legislação ambiental e trabalhista.

A partir desses movimentos surgiram correntes de atuação com diversas


denominações para diferentes sistemas de produção empregados em diferentes
condições ambientais, apresentando resultados satisfatórios do ponto de vista
ecológico, agronômico, econômico e social. A agroecologia é uma ciência surgida
na década de 1970 como forma de estabelecer uma base teórica para esses diferentes
movimentos de agricultura não convencional. A agroecologia propõe alternativas
para minimizar a artificialização do ambiente natural pela agricultura e apresenta
uma série de princípios e metodologias para estudar, analisar, dirigir, desenhar e
avaliar agroecossistemas. Esse será nosso foco de estudo no tópico a seguir.

2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (GLOBAL)


A agricultura como um todo abrange elementos e processos conectados
que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, pela
transformação de insumos originados pelos seus elementos. Este conjunto de
processos e instituições interligadas por objetivos comuns forma um sistema que,
por sua vez, engloba diversos sistemas menores, ou subsistemas (OSORIO et al.,

109
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

2017). Os sistemas agrícolas compõem um arranjo de elementos que funcionam


como uma unidade. E na sua composição há animais, plantas e um conjunto da
flora e fauna de uma região (HART, 1979).

O surgimento da Revolução Verde teve uma boa atuação em termos


produtivos em áreas favorecidas de um clima estável e energia barata. A partir
deste período, “Milhões de hectares foram transformados em sistemas agrícolas de
larga escala, especializados e dependentes de insumos industriais” (NICHOLLS;
ALTIERI, 2012, p. 14).

Existindo poucos investimentos para a ampliação da “[...] capacidade


de adaptação da agricultura industrial às mudanças climáticas ou aos eventos
climáticos extremos, a não ser por ações baseadas em ‘fórmulas mágicas’, como a
transgenia, com a qual se espera que as culturas produzam mesmo em condições
de estresse ambiental” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 14).

Apresentam-se poucos trabalhos “[...] na elaboração de práticas de manejo


que aumentem a resiliência da agricultura às mudanças climáticas” (NICHOLLS;
ALTIERI, 2012, p. 14). Mas existem inúmeras constatações que provam “[...] que
os manejos de base agroecológica contribuem enormemente nesse sentido”.
Vários estudos que revelaram “[...] que agricultores familiares que adotam
esses manejos conseguem lidar com as alterações climáticas, minimizando as
quebras de safra” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 14). E os resultados de diversos
estudos recomendam que esses manejos atribuem “[...] maior capacidade de
resistência a eventos climáticos, proporcionando menor vulnerabilidade e maior
sustentabilidade aos sistemas agrícolas no longo prazo” (NICHOLLS; ALTIERI,
2012, p. 14).

Com base nessas evidências, vários especialistas têm sugerido que o


resgate de sistemas de manejo tradicionais, juntamente com o emprego
de estratégias de manejo de base agroecológica, pode representar o
único caminho viável e robusto para aumentar a produtividade, a
sustentabilidade e a resiliência da produção agrícola (NICHOLLS;
ALTIERI, 2012, p. 14).

Foram citados poucos “[...] exemplos de como agroecossistemas


complexos” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 15) apresentam a capacidade de
se moldarem e resistirem as implicações das transformações do clima. Já os
sistemas agroflorestais são capazes de suavizar o choque das grandes flutuações
de temperatura sobre as culturas, conservando-as do mesmo modo em condições
mais próximas dos reais. “Cultivos de café mais sombreados protegem as culturas
da queda nos índices de precipitação e da redução da disponibilidade de água no
solo em função de seu estrato superior florestal, reduzindo a evaporação do solo
e aumentando a infiltração de água no solo” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 15).

Há a união consente que os agricultores produzam diversas culturas ao


mesmo tempo, reduzindo os riscos. Ou seja, os policultivos proporcionam maior
equilíbrio de rentabilidade e menor declínio de produtividade durante temporadas
de seca. Segundo Carvalho (2018, p. 25-26) citando ALTIERI et al., (2003):
110
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

[...] sistemas agrícolas mais diversificados dispõem de mais recursos


que podem estimular a ação de inimigos naturais, além de garantir
maior resiliência ao ambiente, devido à quantidade de interações
ocorrendo no sistema, diferente do que ocorre nos cultivos sob
regime de monocultura, onde a presença de uma única espécie pode
gerar desequilíbrios e instabilidades ambientais, além de favorecer o
surgimento de inimigos naturais, pragas ou doenças.

Os sistemas silvipastoris intensivos são outro exemplo “[...] que combinam


arbustos forrageiros plantados em altas densidades, árvores, palmeiras e
pastagens. Nesses sistemas, é possível manter uma alta lotação animal e ainda
produzir leite e carne por meio do pastejo rotacionado” (NICHOLLS; ALTIERI,
2012, p. 15). Os exemplos citados apresentam uma combinação de benefícios
produzidas pelos sistemas distintos de produção “[...] como regulação da água,
microclima favorável, biodiversidade e estoques de carbono, não só fornece bens
e serviços ambientais para os produtores, mas também proporciona uma maior
resiliência às mudanças climáticas” (NICHOLLS; ALTIERI, 2012, p. 15).

QUADRO 1 – DISTINÇÕES ENTRE SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS (REVOLUÇÃO


VERDE) E SISTEMAS AGRÍCOLAS TRADICIONAIS

SISTEMAS AGRÍCOLAS SISTEMAS AGRÍCOLAS


TRADICIONAIS CONTEMPORÂNEOS (REVOLUÇÃO VERDE)
Complexos e extremamente Monoculturas geneticamente uniformes (cultivos
diversos (cultivos diversificados homogêneos de variedades de laboratório); perda
com sementes nativas milenares de de variedades antigas e a perda irrecuperável de
grande variabilidade genética). material genético e de alternativas alimentícias.
A cada ciclo produtivo da agricultura A cada safra novos insumos externos, como
de base camponesa, são utilizadas sementes, adubos químicos, agrotóxicos,
sementes nativas, solo fertilizado petróleo e irrigação são necessários e precisam
por processos ecológicos da natureza ser adquiridos.
manejados pelos agricultores, água
do ambiente, que são recursos
endógenos que foram mantidos por
gerações, visto que a agricultura
nativa tem como base em seu
conhecimento tradicional a interação
solo–planta– água–ecossistema.

111
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

As sementes “melhoradas” somente são


São utilizadas sementes nativas. produtivas com base no pacote tecnológico.
Sem os insumos adicionais, seu desempenho é
inferior ao das variedades nativas. Portanto, o
termo “variedades de alto rendimento” pode
ser considerado enganoso, pois não é pelas
características intrínsecas que as variedades
apresentam alta produtividade. Além disso, com
o estreitamento das bases genéticas da agricultura,
as culturas ficaram fragilizadas e vulneráveis a
desequilíbrios, as chamadas “pragas” e doenças
(que decorrem de aumento da população de uma
ou outra espécie por causa de desequilíbrios
ecológicos nas interações ecológicas da cadeia
alimentar) e as variações climáticas.
A base dessa agricultura é sustentável,
responsável pela conservação das Não conserva as condições de produtividade.
condições de produtividade.
O solo é visto como uma unidade
viva, rico em organismos que fazem a Considera o solo como substrato, adiciona
aeração e a decomposição da matéria adubo químico e água, e prepara-o com o uso de
orgânica, renovam os nutrientes e máquinas.
fertilizam o solo de um ciclo para o
outro.
As variedades nativas não são As monoculturas que privilegiam algumas
produzidas somente para o mercado: variedades ameaçam a grande diversidade de
são cultivadas para produzir espécies nativas e seus usos múltiplos.
comida, forragem para os animais O pacote da Revolução Verde foi criado
e fertilizantes orgânicos para o para substituir a diversidade em dois níveis:
solo, e podem ser consideradas, monoculturas de grãos que substituíram os
sob vários aspectos, melhores do cultivos mistos e a rotação de culturas diversas
que as chamadas “melhoradas e base genética limitadíssima, priorizando a
cientificamente por seleção de certas produção como mercadoria para venda.
características que respondem bem
ao pacote”.
FONTE: PEREIRA (2012, p. 687-689).

No Quadro 1, observamos várias diferenças entre os sistemas agrícolas


contemporâneos (Revolução Verde) e os sistemas agrícolas tradicionais. Outra
diferença a destacar: os sistemas agrícolas contemporâneos são amplamente
dependentes de combustíveis a base de petróleo, pois utilizam nos seus
maquinários e para produzirem fertilizantes, diferente dos sistemas agrícolas
tradicionais, já que a maioria das pequenas propriedades emprega um ínfimo
de insumos derivados de combustíveis fósseis, ocasionando vários benefícios e
gerando um impacto ambiental reduzido, menos dinheiro gasto e aumento da
resiliência com relação às flutuações no preço dos combustíveis fósseis (NIELSEN,
2012).

112
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

Observa-se que a dinâmica do sistema agrícola contemporâneo e alimentar


mundial é menos tumultuado e confuso que os sobressaltos dos preços, das
penúrias, da fome e das ferozes negociações mercantis internacionais permitem
compreender. Os movimentos na superfície dos mercados e nas diretrizes
agrícolas se esclarecem pelo arranjo, o funcionamento e a dinâmica do sistema
agrícola e alimentar mundial. Este foi um sistema que se formou, realmente
somente ao longo das últimas décadas, por constituir relação entre agriculturas
bem distintas, produzidas no decorrer dos 10.000 anos de uma história agrária
incrivelmente distinguida segundo as regiões do globo (MAZOYER; ROUDART,
2010).

Ora, esse sistema agrícola e alimentar mundial, composto por


subsistemas regionais relativamente especializados, concorrentes e
muito desiguais na eficiência, se desenvolve de maneira contraditória
e divergente. Por um lado um número reduzido de propriedades e
de regiões do mundo sempre acumula mais capitais, concentra os
cultivos e as criações mais produtivas e conquista, sem cessar, novas
partes de mercado. Por outro lado, regiões muito extensas e a maioria
dos camponeses do mundo mergulham na crise e na indigência até
serem excluídas. De um lado, uma agricultura que pode pecar por
excesso de meios; de outro, uma agricultura que, na falta de meios,
não renova a fertilidade dos ambientes que explora. Essa colossal
distorção do sistema agrícola e alimentar mundial está na base das
enormes desigualdades de renda e de desenvolvimento que existem
entre os países (MAZOYER; ROUDART, 2010, p. 551-552).

Segundo os autores, se infelizmente a Terra estivesse numa lei


desenvolvimentista tão impetuosamente conflitante, não constituiria dúvida
de que o destino fosse mais parecido com um conjunto de ilhas prósperas e
guarnecidas, espalhadas em um mar de pobreza, num mundo próspero que aos
poucos vai absorvendo cada ilha, uma depois da outra com resquício de miséria.

Para Foley (2011), a demanda mundial de alimentos está crescendo


velozmente, como também os impactos ambientais da ampliação agrícola. Ao
intensificar a agricultura, o homem fez dela uma dominadora ameaça à Terra, já
que consome 38% da extensão do mundo.

Além da extensão do mundo que os sistemas agrícolas consomem,


também precisarão de água, porém, sofrerão com a escassez de água e com as
alterações climáticas que podem aumentar o risco de problemas de produção.
As reivindicações daí decorrentes da água, alimentos e energia irão fortificar
os conflitos da utilização do solo e aumentar os impactos ambientais. Por este
motivo devemos com urgência harmonizar nossas crescentes necessidades
consumistas com a proteção do meio ambiente. Também devemos produzir
mais alimentos com o mínimo de recursos e isso pode acontecer por meio da
agricultura sustentável (BROOKS, 2014).

113
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

A agricultura sustentável busca a assistência aos agricultores, recursos e


comunidades por meio da promoção de práticas de cultivo e técnicas que são
lucrativas, ambientalmente benéficas e boas para as comunidades. Há necessidade
da proteção da biodiversidade e dos solos cultiváveis para o futuro da produção
de alimentos. E também existe a necessidade da proteção da variedade genética
para salvaguardar a resiliência dos ecossistemas (BROOKS, 2014).

Podemos citar o exemplo do Centro de Sistemas de Conhecimento


Tradicional (CIKS), localizado na Índia que busca garantir que os saberes
tradicionais sobre diversas espécies sejam revalorizados nos sistemas agrícolas
contemporâneos, de acordo com Nicholls e Altieri (2012). Por meio da
agrobiodiversidade estão conhecendo uma abundância de espécies que resistem
as secas, as pragas e também as doenças. Ainda os auxiliou na produção de
alimentos de modo adaptado às condições da localidades, tradições e culturas.
Além disso, proporcionam produtividades maiores. Os autores consideram que
um dos maiores desafios no século XXI é produzir mais para suprir as necessidades
alimentares da comunidade que a cada dia cresce mais, porém, reduzindo os
desperdícios gerados pelo consumo e consequentemente os prejuízos à natureza.

2.1 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS


(AMÉRICA LATINA)
Segundo os indicadores do Inter-American Development Bank (IADB,
2014), a América Latina deve crescer 80% até 2050 no setor agrícola, já a sua
população teve um aumento de mais de 35% no mesmo período. Os indivíduos
pobres deste território consumem entre 50% e 80% de sua renda com alimentação,
sendo que aproximadamente 2/3 da população rural total ainda vive na pobreza
de acordo com a IADB (2014) citado por Ferreira et al. (2016). A agricultura
Latino-Americana está num lento desenvolvimento produtivo, sendo que a taxa
de crescimento anual da produtividade total dos fatores aumentou somente 1,9%
entre os anos de 1961 a 2007, comparado com o percentual de 2,4% nos países
da Organisation for Economic Co-operation and Development (OECD). Já nas
nações da América Central e do Caribe, em que há limitação de terras, é um fator
determinante da ampliação da produção, a taxa de crescimento é ainda inferior,
1,1% para o mesmo período (IADB, 2014 citado por FERREIRA et al., 2016, p. 439).

De acordo com Agroanalysis (2014, apud FERREIRA et al., 2016, p. 440):

Contudo, a América Latina e o Caribe já se estabeleceram como a maior


região exportadora líquida de alimentos do mundo. A produção quase
que total é destinada à exportação. De acordo com o IADB (2014), a
América Latina e o Caribe alcançaram só uma fração de seu potencial
para aumentar a produção agrícola, tanto para o consumo regional
como para a exportação mundial. Entretanto, o cenário de concentração
de terras férteis nas mãos de poucos proprietários e a falta de terras
para que todos possam cultivar levaram ao surgimento de áreas de

114
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

intenso conflito nesses países. A relação fundiária conturbada fez com


que, em vários países, fossem criados projetos de reforma agrária
com o objetivo de fazer melhor distribuição das terras. Países que já
adotaram reformas nesse sentido são México, Cuba, Peru e Chile.

Considera-se que 28% da terra agricultável tem uma potencialidade


alta para a ampliação sustentável da superfície cultivada no planeta e 36% da
terra está cerca de seis horas dos comércios locais o que corrobora com a real
potencialidade agrícola desses países em extensão de terras, bem como o acesso
ao escoamento dessa produção (ZEIGLER; TRUITT NAKATA, 2014). Mas, esses
fatores são reunidos a uma série de condições desfavoráveis para o progresso
de novas formas de agricultura produtiva e sustentável com o meio ambiente
da região, por exemplo. Ainda carecem ser priorizados para melhorar o
desenvolvimento da região as operações de organismo os créditos internacionais,
investimentos públicos e privados, políticas de ação e ciência agrícola (ZEIGLER;
TRUITT NAKATA, 2014).

O aumento da produtividade e da produção alimentar regional na


América Latina e no Caribe são oriundos das contribuições dos investimentos
em infraestrutura rural. E os organismos internacionais, como o Inter-American
Development Bank (IADB), são responsáveis pelo financiamento sobretudo da
construção e da reabilitação da irrigação, drenagem e controle de enchentes. Além
disso, quanto aos projetos de desenvolvimento produtivo, o IADB ainda apoiou
a infraestrutura regional ou nacional e na área rural apoiou estradas, eletricidade
e água, para o desenvolvimento da pecuária (IADB, 2014 apud FERREIRA et al.,
2016).

O Programa de Serviços Agrícolas Provinciais (PROSAP) em 2004,


financiou outros projetos de desenvolvimento agropecuário, como nas regiões
do norte da Argentina e em 2006 com inversões em irrigação, estradas rurais
e eletrificação, ainda investimentos em assuntos pertinentes à gestão da água.
Outro exemplo, em 2008 na Bolívia, foi efetivado um programa nacional de
irrigação, com destaque na bacia hidrográfica (IADB, 2014 apud FERREIRA et
al., 2016). “O IADB também financiou programas de irrigação para o Brasil, no
estado de Tocantins, em 2010. Os demais países latino-americanos também foram
contemplados por esse programa, como Guatemala (2006), Guiana (2004), Haiti
(2005 e 2007) e Jamaica (2004)” (FERREIRA et al., 2016, p. 440). Em 2010, no Brasil,
no estado de Tocantins, o IADB financiou programas de irrigação. Já em 2004
a Guiana e a Jamaica, em 2005 e 2007 o Haiti e a Guatemala em 2006, também
foram contemplados por esse programa (FERREIRA et al., 2016). Referenciado
as transferências de dinheiro aos produtores rurais, isso pode contribuir com
a garantia de certo nível de renda para os agricultores, observando que esses
programas também podem ser empregados como política para maximizar
a produtividade, para a ampliação das transferências condicionais de renda
para a adoção de tecnologias por meio da melhor gestão das propriedades
rurais. Como exemplo, no Brasil, os créditos de custeio, de investimento ou de
comercialização podem ser solicitados ao Governo Federal mediante cooperativas
de crédito ou por mediação dos bancos, ambos financiados pelo Banco Nacional

115
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), bem como pelos Fundos


Constitucionais de Financiamento (IADB, 2014). “O Patca (Proyecto de Apoyo
a la Transición Competitiva Agroalimentaria) e o Procampo do México e da
República Dominicana também são exemplos de transferência de renda ao setor
agrícola” (IADB, 2014, apud FERREIRA, 2016, p. 440).

Na América Latina observa-se de forma intensa dois tipos de agricultura: a


de subsistência e a de caráter comercial (quase sempre predomina a monocultura).
Exemplo disso é o café, base de grande parte das rendas de exportação dos
países latino-americanos como: Costa Rica, Colômbia, El Salvador e Guatemala.
E a banana também apresenta grande importância econômica para países como
Panamá e Honduras, segundo CEPAL (2014) citado por Ferreira (2016). Segundo
CEPAL (2014 apud FERREIRA, 2016, p. 441), as monoculturas

[...] que se estabeleceram nos países da América Latina possuem


índices de produtividade bastante elevados. Dentre as culturas que
se destacam estão soja, cana-de-açúcar, frutas, trigo e cacau. Contudo,
muitos países são responsáveis ainda pela exportação de carne bovina,
abastecendo os mercados da Europa, por exemplo.

O Brasil enquadra-se na “primeira economia desse bloco de países,


segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior” (MDIC,
2014 citado por FERREIRA, 2016, p. 441), pois considera o Brasil como um dos
país mais produtivos do globo, tanto em quantidade, quanto por ser produtivo
(MDIC, 2014 citado por FERREIRA, 2016, p. 441). Segundo os autores, nas últimas
três décadas “[...] a área plantada de grãos cresceu 42% [...]” (MDIC, 2014 citado
por FERREIRA, 2016, p. 441), crescendo cerca de 230%. Ou seja, enquanto a área
plantada prosseguiu cerca de 20 milhões de hectares, a produção ampliou em
cerca de 135 milhões de toneladas e resultou num rendimento produtivo de em
torno de 3,5% ao ano. Caso os outros países da América-Latina apresentassem a
produtividade semelhante ao Brasil, a área cultivada seria de quase 20% inferior e
assim a economia seria de cerca de 8,5 milhões de hectares, segundo MDIC (2014)
citado por Ferreira (2016).

Quanto aos sistemas agrícolas contemporâneos da América Latina podemos


destacar a Agroecológica como um movimento com o objetivo de preservar o
meio ambiente e ao mesmo tempo promover o crescimento socioeconômico dos
pequenos lavradores. “Em face da exclusão política e social desses agricultores,
esse movimento caracterizou-se por uma clara orientação de fazer crescer seu
insignificante peso político nas sociedades latino-americanas” (KHATOUNIAN,
2001, p. 28) Já os sistemas agrícolas brasileiros são fundamentais para a economia
do país e existem vários relacionados a sustentabilidade, como será abordado a
seguir.

116
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

2.2 SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS


MECANIZADOS (BRASIL)
A partir da manifestação da chamada Revolução Verde, nas décadas de
1960 e 1970, o espaço rural brasileiro vem passando por inúmeras mudanças “[...]
a qual se baseia no aumento da produtividade agrícola, [...] e do uso intensivo de
insumos químicos, mecanização e irrigação” (SALAMONI, 2000, p. 51).

A discussão sobre a Revolução Verde surge com uma expectativa do


Primeiro Mundo a respeito das inovações tecnológicas e desenvolvimento,
principalmente o econômico direcionado ao “Terceiro Mundo”, como expressa
Gómez (2006, p. 185):

O discurso da Revolução Verde estava repleto de uma perspectiva


ocidental sobre a ciência, o progresso e a economia, que deviam
promover-se (impor-se, se for preciso) nos países do chamado Terceiro
Mundo. Em consonância com a teoria da modernização, que era o
modelo de desenvolvimento próprio desses anos [...] a Revolução
Verde identificava no Terceiro Mundo uma série de carências que
deviam ser satisfeitas, à base de aumentar quantitativamente os bens
e os serviços. Ao mesmo tempo, essa febre produtivista, que em teoria
beneficiaria os países pobres, servia tanto para aumentar a produção de
matérias-primas baratas, destinadas às agroindústrias do denominado
Primeiro Mundo que as beneficiavam, incrementando seu valor, como
para aumentar a produção de maquinário e insumos químicos desses
países ricos que vendiam para os países pobres.

A Revolução Verde tinha por finalidade a dominação dos meios naturais


“[...] com base na indústria química de adubos sintéticos e de agroquímicos, bem
como no uso intensivo de energia, pesquisa genética, máquinas e equipamentos”,
segundo Mazzoleni e Oliveira (2010) citado por Maciel (2014, p. 502). Assim,
esse modelo de agricultura é facilitado até adaptar alguma natureza para o
acompanhamento uniformizado por medidas tecnológicas.

A partir dos anos 1980 surgem novas formas de organização das atividades
no meio rural brasileiro, características que podem ser associadas ao processo de
modernização da agricultura (GRAZIANO; GROSSI; CAMPANHOLA, 2002, p.
39). O “novo rural” para Graziano, Grossi e Campanhola (2002) é dividido em três
grandes grupos: agropecuária moderna, atividades não agrícolas relacionadas
com a habitação e o lazer e as novas atividades impulsionadas por nichos de
mercado. O autor pondera sobre uma provável segmentação das atividades no
espaço rural, em vista que existem diversas atividades realizadas ao mesmo
tempo no rural do Brasil, devido especialmente a sua proporção. Este aspecto
acende um debate sobre quais seriam realmente os papéis e/ou os “novos” papéis
da agricultura. Nesse período de exaltação pela contemporaneidade pensava-
se que nenhuma “[...] pesquisa poderia ser feita fora da modernidade química,
nenhum financiamento poderia contemplar sistemas agrícolas rudimentares,
nenhum consumidor mereceria um produto que não fosse seguro e moderno”
(MAZZOLENI; OLIVEIRA, 2010, p. 571).

117
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

Com a maximização da produção de alimentos através do emprego


intenso de adubos químicos e da mecanização, surgiram sérias implicações em
relação ao seu uso na natureza. Logo a sociedade questiona sobre a relação dos
efeitos ocasionados pelo uso de agroquímicos com os riscos à saúde. A partir
dessa forma de pensar descobriram a necessidade da aquisição de alimentos
que não prejudicasse a saúde e deste modo modificou o mercado consumidor e
também as suas exigências. Deste modo, o produto agrícola produzido de forma
tradicional, antes desvalorizado por não ser produzido de forma moderna com
a agricultura química padronizada, torna-se o preferido e o mais valorizado com
uma recompensa no preço por ser orgânico (MAZZOLENI; OLIVEIRA, 2010).

Neste contexto surgem os inúmeros sistemas agrícolas contemporâneos


voltados à sustentabilidade. A seguir apresentaremos três sistemas agrícolas
empregados no Brasil.

2.2.1 Sistema Agrícola de Base Familiar



Agricultura familiar é uma alternativa produtiva que gera trabalho e
renda, diminuindo a pobreza e a desigualdade da renda rural. Desse modo, a
produção familiar rural, dada sua amplitude, possui uma importante função para o
desenvolvimento da sociedade de forma generalizada, sobretudo quando se destacam
as pequenas propriedades rurais (MACIEL et al., 2014). A agricultura familiar exerce
um importante papel na economia brasileira, pois ela “[...] é a 8ª maior produtora de
alimentos do mundo. Se considerada a produção agrícola nacional, o país salta para
a 5ª posição, com faturamento anual de US$ 84,6 bi” (BRASIL, 2018).

FIGURA 7 – AGRICULTURA FAMILIAR

FONTE: <http://genjuridico.com.br/wp-content/uploads/2014/11/roca_agrifamiliar.jpg>. Acesso


em: 31 mar. 2019.

118
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

A agricultura familiar se caracteriza quando a família é ao mesmo


tempo a proprietária dos modos de produção e trabalha nas próprias unidades
produtivas. Assim, todos os procedimentos usados na produção são decididos
pelos próprios agricultores que empregam seus conhecimentos tradicionais em
todos os tratos culturais, começando pela seleção do local onde será o plantio, o
modo de preparação do solo, as formas de colheita, finalizando com o plano de
como será a comercialização do produto final (WANDERLEY, 2001). Algumas
vantagens desse modo de produção são: a utilização do conhecimento puramente
tradicional dos produtores, a “[...] gestão da foça de trabalho, particularmente
relevantes em processos de produção intensivos em trabalho que exigem tratos
culturais delicados e cuidadosos que dificilmente podem ser compensados pela
firma patronal” (GUANZIROLI et al., 2001, p. 6).

A agricultura familiar gera trabalho local e reduz o êxodo rural, além de


diversificar os sistemas de produção, permitindo uma atividade econômica em
maior equilíbrio com o meio ambiente, contribui para o desenvolvimento das
localidades e exerce um importante papel na economia brasileira (MACIEL et al.,
2014).

2.2.2 Sistema Plantio Direto (SPD)


O Sistema Plantio Direto (SPD) é o modelo de “[...] manejo
conservacionista que envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a
produtividade [...]” e gera a conservação ou melhoramento continuo do ambiente.
O SPD baseia-se na “[...] ausência de revolvimento do solo, em sua cobertura
permanente e na rotação de culturas” (SALTON; HERNANI; FONTES, 1998,
p. 16-17). Implica, ao mesmo tempo, uma modificação no modo de ponderar
a “[...] atividade agropecuária a partir de um contexto socioeconômico com
preocupações ambientais” (SALTON, HERNANI; FONTES, 1998, p. 16-17).
“A rotação de culturas é fundamental para se obter os efeitos esperados desse
sistema” (SALTON; HERNANI; FONTES, 1998, p. 16-17).

Este sistema exige adaptação local do método, pois acata três condições
mínimas: “[...] não revolvimento do solo, rotação de culturas e uso de culturas de
cobertura para formação de palhada, associada ao manejo integrado de pragas,
doenças e plantas daninhas” (EMBRAPA, 2004, p. 2 apud HOFF, et al., 2011, p.
488).

119
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

FIGURA 8 – PRINCÍPIOS BÁSICOS QUE REGEM O SISTEMA PLANTIO DIRETO

FONTE: <http://blog.agropro.com.br/wp-content/uploads/2016/01/Plantio-direto-diagrama.jpg>.
Acesso em: 30 mar. 2019.

O plantio direto na palha foi introduzido primeiramente nos estados


do Sul do Brasil por volta da década de 70, numa tentativa de minimizar as
perdas de solo, fertilizantes, corretivos, sementes, combustível e trabalho,
sem considerar os custos ambientais e as perdas de rendimentos das culturas
provocadas principalmente pela erosão hídrica, pelo relevo ondulado e pelo mau
gerenciamento das propriedades. Os primeiros estados que adotaram o Sistema
Plantio Direto foram os estados do Paraná e do Rio Grande do Sul que também
desenvolveram a tecnologia no mesmo período do tempo (HOFF, et al., 2011).

FIGURA 9 – SISTEMA PLANTIO DIRETO

FONTE: <http://blog.agropro.com.br/wp-content/uploads/2015/08/DSC_1778.jpg>. Acesso em:


30 mar. 2019.

120
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

Há no país uma escala crescente na adoção do Sistema Plantio Direto. O


sistema em 2004

[...] ocupava quase 22 milhões de hectares dos 42,5 milhões de hectares


destinados à produção de grãos no Brasil, segundo os dados estimados
pela Febrapdp (2004). Em 2007, segundo Rocher (2009), este número
chegou a 26 milhões de hectares, mais de 50% do total plantado no
País. A expansão das áreas exploradas sob o SPD teve um crescimento,
da safra 1992/1993 para a safra 2003/2004, de mais de 1000%, o que
permite inferir que as áreas sob o sistema ainda possuem uma taxa
de crescimento positiva. Segundo dados ainda da Federação Brasileira
de Plantio Direto na Palha (2004), os Estados pioneiros na difusão do
SPD, Rio Grande do Sul e Paraná, são também os Estados com a maior
área de adoção do SPD, respectivamente, 3.593 mil hectares e 4.961 mil
hectares, no período 2000-01, seguidos, na ordem, por Mato Grosso
do Sul (1.699 mil ha), São Paulo (1.017 mil ha) e Santa Catarina (986
mil ha). Os Cerrados, e especificamente Mato Grosso do Sul, são os
que apresentaram a maior taxa de crescimento da área em SPD: cerca
de 20% entre as safras 1999/2000 e 2000/2001, sendo estas as áreas de
maior possibilidade de ampliação na adoção do sistema, mas que
ainda dependem de uma maior intensificação da pesquisa centrada
nas plantas de cobertura que possam resistir aos períodos secos (HOFF
et al., 2011, p. 489-490).

A instituição que se destaca na pesquisa do Sistema Plantio Direto no


Paraná e no Brasil é o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) com uma linha de
pesquisa direcionada ao pequeno produtor, “[...] desenvolvendo equipamentos
que utilizam tração animal” (HOFF et al., 2011, p. 489-490).

2.2.3 Agroecologia
A agroecologia é uma vertente agronômica que engloba técnicas
ecológicas de cultivo com sustentabilidade social, incorpora fontes alternativas
de energia e sua principal preocupação é “[...] sistematizar todos os esforços num
modelo tecnológico socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente
sustentável” (AMBIENTA BRASIL, s. p., 2019). Segundo Dabrowska (2012, p. 7),
agroecologia é

Um conjunto significativo e crescente de redes, movimentos e


organizações da sociedade civil em todo o mundo vem se organizando
para afirmar a perspectiva agroecológica perante a opinião pública e os
órgãos oficiais nacionais e supranacionais. Tomando como referência
o relatório da Avaliação Internacional sobre Conhecimento, Ciência e
Tecnologia Agrícola para o Desenvolvimento (IAASTD, na sigla em
inglês), argumentam que esse é o caminho para o enfrentamento da
crise sistêmica global que tem na agricultura uma de suas principais
causas e vítimas. A mensagem principal do manifesto Tempo de Agir,
assinado por organizações da sociedade civil de todo o mundo, é que
agricultura de base agroecológica pode produzir comida suficiente
para alimentar uma população humana crescente e contribuir para
a criação de sistemas sociais mais justos e adaptados às mudanças
climáticas.

121
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

A partir dos anos 60 e 70, o movimento ambientalista passou a interagir


com a agroecologia. “Porque os assuntos do ambientalismo coincidiam com a
agroecologia, eles infundiram ao discurso agroecológico uma atitude crítica
em relação à agronomia orientada para a produção e sensibilizaram para
um grande número de assuntos relacionados aos recursos” (HECHT, 1993,
p. 11). Ao mesmo tempo, as críticas do movimento ambientalista foram
gradativamente influenciando posições políticas em áreas estratégicas, como
no caso da reavaliação das metas de desenvolvimento agrícola nos Estados
Unidos e dois tipos de consequências resultaram no conflito da crise ambiental
da agricultura global: nas regiões tecnológica e industrialmente mais evoluídas
houve um escasso comprometimento da intensidade do uso de produtos
agroquímicos na agricultura e a confiança em seu emprego, bem como não
reduziu significativamente a utilização de recursos energéticos. Mas, “[...] nas
situações em que tanto os camponeses como a nação estavam pressionando pelos
recursos, onde prevaleciam estruturas distributivas regressivas e onde o enfoque
das regiões temperadas não era apropriado às condições ambientais locais, a
perspectiva agroecológica parecia de especial relevância” (HECHT, 1993, p. 13).

A agroecologia tem uma forte aplicabilidade por grande parte de famílias


camponesas e também por estar amarrada a movimentos sociais, além de abordar
questões referentes a agricultura e ao meio ambiente, tanto no Brasil quanto na
América Latina, constituindo um sistema agrícola importante para a sociedade e
a ciência.

A proposição da agroecologia está sendo aplicada fortemente no


universo da agricultura familiar, onde a família desempenha um papel
fundamental na gestão e na condução das atividades agroecológicas. A
agroecologia se desenvolve também ancorada em movimentos sociais
e aborda questões de desenvolvimento através de redes sociotécnicas
que legitima um conjunto de formas de agricultura, transformando
a paisagem agrária contemporânea. A agroecologia desencadeia
uma ruptura paradigmática e promove a emergência de debates e de
críticas à agricultura convencional e consequentemente defende um
conjunto de valores políticos e sociais associados ao ideário de uma
sociedade justa e igualitária. A agroecologia é legitimada no Brasil e
na América Latina por sua forte relação com o movimento social. O
tema agroecologia coloca no debate público a questão do poder da
ciência sobre o desenvolvimento da sociedade, destacando a natureza
política do que está por trás das opções tecnológicas dos diferentes
modelos utilizados na agricultura, portanto, a agroecologia coloca a
questão mais geral da importância da relação entre sociedade e ciência
(ABREU; BELLON, 2014, p. 12).

Abreu, Bellon e Torres (2016), definem o movimento para a conservação


da agroecologia “de desenvolvimento rural de dimensões múltiplas” que surgem
refazendo o meio campestre, enquanto também recupera e conserva cenários
da natureza, resgatando conhecimentos relacionados à produção alimentar,
dinamiza a fabricação de fibras, técnicas artesanais e moda ecológica empregando
fontes recuperáveis e assim, reinventando a “consciência ética e humanista no
espaço rural”.

122
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

A agroecologia é resultado da ruptura cultural das comunidades


científicas e de grupos envolvidos no desenvolvimento rural, ou
seja, a crítica ao modelo produtivista mostra-se concretamente na
busca de práticas agrícolas de natureza ecológica e na introdução de
inovações alternativas como, por exemplo, o manejo ecológico dos
solos e a aplicação de princípios sociais da agroecologia. Essa atitude
social crítica, reflexiva, é necessária em contextos em evolução, em
particular tendo em vista a regulamentação da produção, que faz com
que agroecologia passe a ser uma disciplina de referência, do ponto de
vista das práticas agrícolas e da busca por equidade social, podendo
servir de exemplo para outras formas de agricultura. A análise indica
que a evolução da agroecologia depende da força da interação entre
os movimentos sociais, redes científicas e construção de políticas
públicas, tal como demonstramos no caso brasileiro, com avanços,
mas pleno de incertezas no campo político e institucional (ABREU;
BELLON, 2014, p. 12).

FIGURA 10 – A AGROECOLOGIA COMO RESULTADO DA ARTICULAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES


TÉCNICO-PRODUTIVA, SOCIOCULTURAL, ECONÔMICA E POLÍTICA

FONTE:<http://twixar.me/9j1T> Acesso em: 30 mar. 2019.

Observamos, consequentemente, como a agroecologia estabelece que se


relacionem em seu campo os conhecimentos de sistemas científico-tecnológicos,
agricultura tradicional, social e culturalmente dependente, ambiente e ecologia
(HECHT, 1993).

123
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

NOTA

Acadêmico, você quer ler um exemplo de plano de aula sobre Agricultura


orgânica: uma alternativa viável de sustentabilidade? Então acesse o link: http://
portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=25764.

124
TÓPICO 3 | OS SISTEMAS AGRÍCOLAS CONTEMPORÂNEOS E A SUSTENTABILIDADE

LEITURA COMPLEMENTAR

Especialistas imaginam o futuro dos alimentos na América Latina e no Caribe

Flore de Preneuf

Banco Mundial lidera iniciativa que busca garantir que os sistemas agrícolas e alimentares da
ALC conduzam ao crescimento inclusivo, gerem empregos e contribuam para alimentar parte
da população mundial de maneira sustentável, nutritiva e segura.

Especialistas em agricultura se reuniram na Costa Rica esta semana para


identificar oportunidades e ameaças que poderiam afetar os sistemas alimentares
e agrícolas na América Latina e no Caribe (ALC).

O workshop reuniu a formuladores de políticas, pesquisadores e


representantes de grupos de produtores, empresas do agronegócio, organizações
da sociedade civil e agências de desenvolvimento, para examinar cenários
futuros prováveis e identificar ações que poderiam ser realizadas para facilitar o
surgimento de sistemas agrícolas e alimentares dinâmicos, produtivos e modernos.
As conclusões do workshop servirão como insumos para um importante relatório
sobre o futuro dos sistemas agrícolas e alimentares na ALC.

"Os resultados deste workshop serão usados para moldar as mensagens-


chave do relatório e assegurar que estas mensagens sejam pertinentes para uma
ampla gama de atores e principais parceiros", disse Michael Morris, economista
agrícola líder do Banco Mundial.

125
UNIDADE 2 | ESPAÇO RURAL E MODERNIDADE

O objetivo do relatório é melhorar a compreensão das oportunidades de


transformação oferecidas pelos sistemas agrícolas e alimentares da ALC para
contribuir para o crescimento, emprego e a segurança alimentar, enquanto se
mantêm as dotações de capital natural nos âmbitos mundial e local. A elaboração
do relatório vem de uma aliança liderada pelo Grupo Banco Mundial, da qual
participam o Instituto Internacional de Pesquisa sobre Políticas Alimentares
(IFPRI), o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o Instituto
Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), McKinsey & Company
(McKinsey) e The Nature Conservancy (TNC).

Com base nos resultados de trabalhos analíticos anteriores, os participantes


do workshop construíram uma série de cenários futuros que refletiram diferentes
combinações de fatores impulsionadores, como as mudanças climáticas, mudanças
nas dietas humanas, o surgimento de tecnologias disruptivas e o aumento da
escassez de terras agrícolas e água para irrigação. Depois de elaborar uma
descrição detalhada de cada cenário e imaginar seus impactos no crescimento,
na pobreza, na segurança alimentar e no meio ambiente, os participantes
identificaram as ações necessárias para salvaguardar o desempenho dos sistemas
agrícolas e alimentares em cada um dos cenários, se estes se tornaram realidade.
Algumas das ações são projetadas para a proteção contra riscos potencialmente
catastróficos, outras para permitir aos atores chave aproveitar as oportunidades
que poderiam surgir, e outras, conhecidas como "grandes apostas", para alterar a
trajetória de todo o sistema agrícola e alimentar.

Durante o evento realizado em 19 de fevereiro, os participantes chegaram


ao consenso de que a ALC pode desempenhar um papel fundamental na
contribuição à segurança alimentar mundial e na geração de serviços ambientais
de importância no âmbito global. Em seus comentários, Eugenio Díaz-Bonilla,
chefe do Programa da América Latina e no Caribe do IFPRI, enfatizou que é vital
gerenciar o desenvolvimento de sistemas agrícolas, rurais e de alimentares de
uma forma que se permita equilibrar os objetivos de crescimento inclusivo, a
redução da pobreza e a sustentabilidade.

O anfitrião da atividade e diretor-geral do IICA, Manuel Otero, destacou


o papel que a agricultura da ALC desempenha no mundo. "A agricultura está em
nosso DNA, e cabe a nós aproveitar a oportunidade para nos tornarmos aqueles
que irão garantir a segurança alimentar mundial", disse.

A partir de uma perspectiva de longo prazo, o relatório, que deverá estar


pronto até o final de 2019, analisa as ações necessárias, hoje e nos próximos anos,
para garantir que sistemas agrícolas e alimentares da ALC levem a um crescimento
inclusivo, gerem empregos e contribuam para alimentar as cerca de 9,5 bilhões
de pessoas em todo o mundo em 2050, de forma sustentável, nutritiva e segura.

FONTE: https://www.grupocultivar.com.br/noticias/especialistas-em-agricultura-imaginam-o-
futuro-dosalimentos-na-america-latina-e-no-caribe. Acesso: 20 mar. 2019.

126
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• A agricultura como um todo abrange elementos e processos conectados


que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, pela
transformação de insumos originados pelos seus elementos. Este conjunto de
processos e instituições interligados por objetivos comuns forma um sistema
que, por sua vez, engloba diversos sistemas menores ou subsistemas (OSORIO
et al., 2017). Os sistemas agrícolas compõem um arranjo de elementos que
funcionam como uma unidade. E na sua composição há um conjunto da flora
e fauna de uma região (HART, 1979).

• Observa-se que a dinâmica do sistema agrícola contemporâneo e alimentar


mundial é menos tumultuado e confuso que os sobressaltos dos preços, das
penúrias, da fome e das ferozes negociações mercantis internacionais permitem
compreender. Os movimentos na superfície dos mercados e das diretrizes
agrícolas se esclarecem pelo arranjo, funcionamento e dinâmica do sistema
agrícola e alimentar mundial.

• Além da extensão que os sistemas agrícolas consomem, também precisarão


de água, porém, sofrerão com a sua escassez e com as alterações climáticas
que podem aumentar o risco de problemas de produção. As reivindicações
decorrentes da água, alimentos e energia fortificarão os conflitos da utilização
do solo e aumentarão os impactos ambientais.

• A agricultura sustentável busca a assistência aos agricultores e comunidades


por meio da promoção de práticas de cultivo e técnicas que são lucrativas,
ambientalmente benéficas e boas para as comunidades. Há a necessidade da
proteção da biodiversidade e dos solos cultiváveis para o futuro da produção
de alimentos.

• Quanto aos sistemas agrícolas contemporâneos da América Latina podemos


destacar a Agroecológica como um movimento que tem o objetivo de preservar
o meio ambiente e ao mesmo tempo promover o fator socioeconômico dos
pequenos lavradores. Em face da exclusão política e social desses agricultores,
o movimento caracterizou-se por uma clara orientação de fazer crescer seu
insignificante peso político nas sociedades latino-americanas.

127
• A partir dos anos 1980 surgem novas formas de organização das atividades no
meio rural brasileiro, características que podem ser associadas ao processo de
modernização da agricultura (GRAZIANO; GROSSI; CAMPANHOLA, 2002).
O “novo rural” para Graziano; Grossi; Campanhola (2002) é dividido em três
grandes grupos: agropecuária moderna, atividades não agrícolas relacionadas
com a habitação e lazer e as novas atividades impulsionadas por nichos de
mercado.

• Agricultura familiar é uma alternativa produtiva, pois gera trabalho e


renda, diminuindo a pobreza e a desigualdade de renda rural. A produção
familiar rural, dada sua amplitude, possui uma importante função para o
desenvolvimento da sociedade de forma generalizada, sobretudo quando se
destacam as pequenas propriedades rurais.

• A agricultura familiar se caracteriza quando a família é ao mesmo tempo


a proprietária dos modos de produção e trabalha nas próprias unidades
produtivas. Assim, todos os procedimentos usados na produção são decididos
pelos próprios agricultores que empregam seus conhecimentos tradicionais em
todos os tratos culturais, começando pela seleção do local onde será o plantio,
o modo de preparação do solo, as formas de colheita, finalizando com o plano
de como será a comercialização do produto final.

• O Sistema Plantio Direto (SPD) é o modelo de “manejo conservacionista que


envolve todas as técnicas recomendadas para aumentar a produtividade” e
que gera a conservação ou o melhoramento contínuo do ambiente. O SPD
baseia-se na “ausência de revolvimento do solo, em sua cobertura permanente
e na rotação de culturas”.

• A agroecologia é uma vertente agronômica que engloba técnicas ecológicas de


cultivo com sustentabilidade social. Ela também incorpora fontes alternativas
de energia e sua principal preocupação é “sistematizar todos os esforços num
modelo tecnológico socialmente justo, economicamente viável e ecologicamente
sustentável”.

128
AUTOATIVIDADE

1 Os sistemas agrícolas do planeta cada vez mais sofrerão com a escassez de


água e alterações climáticas que podem aumentar o risco de problemas de
produção. As reivindicações daí decorrentes em relação a água, os alimentos
e a energia fortificarão os conflitos da utilização do solo e aumentarão os
impactos ambientais. Por esse motivo devemos com urgência harmonizar
nossas crescentes necessidades consumistas com a proteção do meio
ambiente. Também devemos produzir mais alimentos com o mínimo de
recursos e isso pode acontecer por meio da agricultura sustentável, já que
busca a assistência aos agricultores, os recursos e as comunidades por
meio da promoção de práticas de cultivo e técnicas que são lucrativas,
ambientalmente benéficas e boas para as comunidades (BROOKS, 2014).

De acordo com o exposto, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) A escassez de água e toda a alteração no meio natural impactará cada vez
mais a produção de alimentos, tornando cada vez mais caro e competitivo
os mercados internos e externos.
b) ( ) A produção de alimentos está pouco relacionado com as questões
naturais, pois hoje com o nível tecnológico avançado podemos produzir em
qualquer lugar do mundo.
c) ( ) A produção de alimentos deve ser feita de maneira sustentável, porém
utilizando o máximo dos recursos hídricos disponíveis.
d) ( ) A abundância de recursos hídricos de nada adianta na produção de
alimentos se as comunidades e as empresas não ampliarem a promoção de
práticas de cultivo e técnicas que são lucrativas, porém, ambientalmente
benéficas ao mercado externo.

2 A agricultura familiar é uma alternativa produtiva que gera trabalho e


renda, diminuindo a pobreza e a desigualdade de renda rural. A produção
familiar rural, dada a sua amplitude, possui importante função para o
desenvolvimento da sociedade de forma generalizada, sobretudo quando
se destacam as pequenas propriedades rurais. O que pode corroborar com
as técnicas agrícolas de agricultura familiar?

De acordo com o exposto, assinale a alternativa CORRETA:


a) ( ) O incentivo de políticas públicas aos grandes produtores rurais e as
agroindústrias.
b) ( ) O crescimento da agroindústria para a compra de produtos fornecidos
por agricultores familiares a baixo custo de produção.
c) ( ) O incentivo de políticas públicas para a agricultura familiar como a
criação de cooperativas produtoras para os pequenos e médios produtores
agrícolas.
d) ( ) O crescimento da agricultura familiar não favorece o crescimento da
produção das agroindústrias, pois as matérias primas deste segmento é
oriundo dos grandes produtores rurais.
129
3 Os sistemas agrícolas mais diversificados dispõem de mais recursos que
podem estimular a ação de inimigos naturais, além de garantir maior
resiliência ao ambiente, devido à quantidade de interações ocorrendo no
sistema, diferente do que ocorre nos cultivos sob regime de monocultura,
em que a presença de uma única espécie pode gerar desequilíbrios e
instabilidades ambientais, além de favorecer o surgimento de inimigos
naturais, pragas ou doenças. Cite uma característica de cada um dos
sistemas agrícolas tradicionais e contemporâneos da Revolução Verde:

a) Sistemas Tradicionais:
b) Sistemas Contemporâneos:

130
UNIDADE 3

ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E


EDUCAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• entender a atuação das Instituições e políticas públicas para o desenvolvi-


mento rural nos espaços agrários de nosso país;
• entender as funções e as finalidades da produção alimentar familiar e in-
dustrial nos espaços agrários tanto para atender a demanda de alimentos
nacional como para o agro comércio nacional e internacional;
• entender o crescimento e as práticas cada vez mais frequentes do turismo
rural como atividade econômica aplicada nestas áreas, antes de produção
apenas agropecuária, e atualmente como ampliação das atividades do
terceiro setor das atividades econômicas;
• entender a importância dos movimentos sociais no campo e suas articu-
lações sociais para a melhoria da qualidade de vida das populações mais
carentes nos espaços rurais do Brasil;
• compreender que os movimentos sociais vão além da revindicação de ter-
ras no Brasil e no mundo, mas sim ao direito à produção de renda através
das atividades agropecuárias e exploração digna e sustentável nos espa-
ços agrários.
• enteder a importância da abordagem deste tema desde o Ensino Funda-
mental e Médio Básico de acordo com as Bases Nacionais Curriculares
para Educação, como também no Ensino Superior;
• compreender também o papel da Ciência Geográfica na construção do es-
paço agrário e a influência na construção da sociedade moderna e crítica
dos espaços econômicos e na produção de renda familiar e de subsistência.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você
encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O


DESENVOLVIMENTO RURAL
TÓPICO 2 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL
TÓPICO 3 – ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

CHAMADA

Preparado para ampliar teus conhecimentos? Respire e vamos em


frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverás
melhor as informações.

131
132
UNIDADE 3
TÓPICO 1
INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O
DESENVOLVIMENTO RURAL

1 INTRODUÇÃO
Neste primeiro tópico serão abordados os temas: Políticas Públicas,
Instituições e Desenvolvimento Rural; O espaço rural e a produção alimentar; e
por último, Agroturismo e o Turismo Rural.

Pode-se conceituar políticas públicas como intervenções realizadas pelo


Estado com a finalidade da promoção do crescimento econômico e do bem-estar,
no seu sentido ampliado, segundo Lima (2014). E os Ministérios da Agricultura
e Desenvolvimento Rural, formulam as políticas de geração de bem-estar e
promoção humana na área rural, e produtivistas, que segundo Lima (2014, p.
86), os sindicatos rurais intermediam, “[...] estas políticas estão mudando seus
sistemas produtivos e melhorando as condições de vida”.

Quanto ao termo desenvolvimento, há uma diversidade de concepções


para este, devido a existência de diversos autores que estudam o tema, tais como:
Furtado, Sem e Sachs, segundo Gonçalves e Pedroso (2016). Para estes autores, para
compreender a concepção de desenvolvimento deve-se considerar as liberdades
individuais, o bem-estar e o respeito da sustentabilidade ambiental. Neste
contexto, Schneider (2007 apud GONÇALVES, PEDROSO, 2016) destaca que, ao
mesmo tempo, é uma construção política e ideológica, que se está amarrada em
certos condicionantes da história. E que a comprovação da existência entrelaçada
a um determinado território somente é provável em face da existência de outro
em situação diversa. “Logo, há, em um e no outro caso, uma construção social,
uma crença decorrente de uma valoração da realidade” (SCHNEIDER, 2007 apud
GONÇALVES, PEDROSO, 2016, p. 4).

Já as discussões acerca do desenvolvimento rural têm revelado várias


particularidades importantes da população campestre, segundo Gonçalves e
Pedroso (2016). Essas particularidades intrínsecas ao espaço rural fazem com que
as questões e direitos básicos dos agricultores desenvolvam um difícil conjunto de
relações que aumentam sobremaneira os problemas de cooperação e intervenção.
Demandas de ordem social, econômica e produtiva facilmente desempenham
uma influência determinante sobre o modo como o Estado intervirá no centro
daquele grupo.

133
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

E o meio que o Estado intervém neste setor é pelas políticas públicas que
beneficiam os interesses do agro turismo, do turismo rural e principalmente dos
pequenos produtores rurais, já que as fomentações desses segmentos geram
renda, decrescimento do êxodo rural e incremento no desenvolvimento rural.
Segundo o Ministério do Turismo (MTur) o turismo rural é “[...] o conjunto
das atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometidas com a
produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e
promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade” (BRASIL, 2003).
Segundo Araújo, Bahia e Ferreira (2011), o Turismo Rural na Agricultura Familiar
(TRAF) e o agroturismo são segmentos reconhecidos legitimamente pelo MTur e
têm como características principais o maior contato dos turistas com as atividades
nas propriedades campestres. Contudo, o TRAF distingue-se pela inclusão no
conjunto do turismo do segmento da agricultura familiar.

2 POLÍTICAS PÚBLICAS, INSTITUIÇÕES E


DESENVOLVIMENTO RURAL
As políticas públicas são fomentadas por instituições como os governos:
federal, estadual e municipal que investem em pesquisas e deste modo
promovem o desenvolvimento rural. Segundo Stumpf Júnior e Balsadi (2015),
para o desenvolvimento rural há a necessidade da “[...] adoção e apropriação
dos resultados da pesquisa pública pelos agricultores, assim como os impactos
(econômicos, sociais e ambientais) dessa incorporação [...]”, também são
dependentes expressivamente “[...] das políticas de crédito, de preço mínimo, de
armazenamento, de seguro agropecuário, de comercialização e de infraestrutura,
como estradas e acesso à água e energia elétrica”. São dependentes, além disso,
“[...] da condição de saúde, de moradia, de alimentação e de acesso à educação”
(STUMPF JÚNIOR; BALSADI, 2015, p. 522).

Há um enorme leque de leis, políticas públicas e programas que apoiam


o desenvolvimento rural e corroboram com esta “indissociabilidade”, segundo
Stumpf Júnior e Balsadi (2015, p. 523), tais como:

Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar


(Pronaf); Programa de Aquisição de Alimentos (PAA); Programa
Nacional de Biodiesel (PNB); Política Nacional de Assistência Técnica
e Extensão Rural (Pnater); Seguro da Agricultura Familiar (SEAF);
Lei da Agricultura Familiar; Lei Orgânica de Segurança Alimentar;
Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF);
Programa Nacional de Desenvolvimento Sustentável de Territórios
Rurais (Pronat); Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE);
Programa de Garantia de Preços Mínimos (PGPM); Política Nacional
sobre Mudança do Clima (PNMC); Plano ABC (agricultura de baixa
emissão de carbono); Integração Lavoura Pecuária Floresta (ILPF);
Pronamp (Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor); Política
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo) e Plano
Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Planapo); e Política
Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (PSAN).

134
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Stumpf Junior e Balsadi (2015) comentam que a maior parte das ações do
governo iniciaram depois dos anos 2000, exceto o Pronaf, já que neste período
ocorreu “[...] um maior compromisso dos formuladores de políticas públicas
com o desenvolvimento rural, ao mesmo tempo em que “[...] expandiram‑se os
espaços de diálogo, participação e interlocução das organizações da sociedade
civil [...]” com as três esferas governamentais: “[...] federal, estadual e municipal
[...]”, conforme afirmam Stumpf Junior e Balsadi (2015, p. 523).

Essa expansão de ações evidencia que “[...] as agendas para o


desenvolvimento rural e as formas de superação dos legados históricos de exclusão
e pobreza se fortaleceram a partir deste reconhecimento do protagonismo dos
territórios e da realidade dos atores locais [...]”, de acordo com Stumpf Júnior
e Balsadi (2015, p. 523). Entretanto, ocasionou “novos e complexos desafios no
sentido de melhor coordenação” destas ações, de modo a realizar a implementação
e seu “papel transformador”. Sobre “à integração interinstitucional”, para o
autor, há necessidade de observar a inclusão de distintos “atores, dentre os quais
se destacam”, conforme ressaltam Stumpf Júnior e Balsadi (2015, p. 523):

[...] o Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (SNPA), as


instituições de assistência técnica e extensão rural, instituições
internacionais, instituições de fomento à pesquisa e de financiamento
da atividade agropecuária, ministérios, prefeituras, instituições de
desenvolvimento regional e empresas privadas.

“Essa integração” objetiva basicamente o estabelecimento da colaboração


“entre os atores envolvidos em prol da geração de conhecimentos e tecnologias
que contribuam para a solução de problemas concretos da sociedade brasileira,
potencializando os resultados de processos de inovação aberta” (STUMPF;
BALSADI, 2015, p. 523). Na configuração atual, a ação da pesquisa pública na
resolução de questões é:

[...] buscada por meio da sua associação a políticas públicas nos âmbitos
dos órgãos ligados a Ciência, Tecnologia e Inovação; Agricultura;
Desenvolvimento Agrário, Meio Ambiente e Desenvolvimento Social.
Além dos recursos próprios alocados nas instituições de pesquisa,
ao longo do tempo, instituições como o Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Fundações
Estaduais de Amparo à Pesquisa e vários Ministérios têm estabelecido
editais de financiamento à pesquisa, alguns em parceria com a
Embrapa e com as Oepas (STUMPF JÚNIOR; BALSADI, 2015, p. 524).

Por meio do Decreto nº 8.252, de 26 de maio de 2014, foi criada a Agência


Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater). “Somos um Serviço
Social Autônomo, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, de
interesse coletivo e de utilidade pública” (BRASIL, 2014a). Os objetivos da Anater
são:

135
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Promover, estimular, coordenar e implementar programas de


assistência técnica e extensão rural, com vistas à inovação tecnológica
e à apropriação de conhecimentos científicos de natureza técnica,
econômica, ambiental e social;
Promover a integração do sistema de pesquisa agropecuária e
do sistema de assistência técnica e extensão rural, fomentando o
aperfeiçoamento e a geração de novas tecnologias e a sua adoção pelo
público previsto no artigo 3° do Decreto n° 8.252, de 26 de maio de
2014;
Apoiar a utilização de tecnologias sociais e os saberes tradicionais pelo
público previsto no artigo 3° do Decreto n° 8.252, de 26 de maio de
2014;
Credenciar e acreditar pessoas físicas e jurídicas prestadoras de
serviços de assistência técnica e extensão rural;
Promover programas e ações de caráter continuado para a qualificação
de profissionais de assistência técnica e extensão rural que contribuam
para o desenvolvimento rural sustentável;
Contratar serviços de assistência técnica e extensão rural conforme
disposto em regulamento;
Articular-se com os órgãos públicos e pessoas jurídicas de direito
público e privado, incluindo consórcios municipais para o
cumprimento de seus objetivos;
Colaborar com as unidades da Federação na criação, implantação e
operação de mecanismo com objetivos afins aos da ANATER;
Monitorar e avaliar os resultados das pessoas físicas e jurídicas
prestadoras de assistência técnica e extensão rural com que mantenha
contratos ou convênios;
Envidar os esforços necessários para universalizar os serviços de
assistência técnica e extensão rural para o público previsto no artigo 3°
do Decreto n° 8.252, de 26 de maio de 2014;
Envidar os esforços para ampliar os serviços de assistência técnica às
organizações econômicas do público previsto no artigo 3° do Decreto
n° 8.252, de 26 de maio de 2014;
Promover a articulação prioritária com os órgãos públicos estaduais
de extensão rural visando a compatibilizar a atuação em cada unidade
da Federação e ampliar a cobertura da prestação de serviços aos
beneficiários (BRASIL, 2014b).

Para Stumpf Júnior e Balsadi (2015), o objetivo principal é expandir


os serviços da Anater e promover sua união com o estudo agropecuário para
assegurar que a maior parte dos camponeses acessem as informações e tecnologias
desenvolvidas no Brasil pelas diversas instituições científicas, contribuindo para
o aumento da produtividade, da renda, da qualidade de vida das famílias rurais
e expandir o acesso dos camponeses às políticas públicas.

De acordo com o parágrafo (§) 3º da Lei nº 12.897, de 18 de dezembro de 2013:


“As competências previstas nos incisos II e V do § 2º serão realizadas em estreita
colaboração com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA”.
Já o Art. 2º deixa claro que “A Anater dará prioridade às contratações de serviços
de assistência técnica e extensão rural para o público previsto no art. 3º da Lei nº
11.326, de 24 de julho de 2006, e para os médios produtores rurais”. E no Parágrafo
único diz que: “A contratação dos serviços de assistência técnica e extensão rural
para o público previsto no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006, observará
o disposto nos arts. 3º e 4º da Lei nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010 (BRASIL, 2013).

136
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Outro dado importante é que cerca de 85% dos estabelecimentos do


espaço rural no Brasil pertencem aos agricultores familiares. E estes produzem
“[...] 70% do feijão nacional, 34% do arroz, 87% da mandioca, 46% do milho, 38%
do café e 21% do trigo. O setor também é responsável por 60% da produção de
leite e por 59% do rebanho suíno, 50% das aves e 30% dos bovinos [...]” (FENATA,
2019). Outra situação constatada pela Secretaria de Agricultura Familiar e
Cooperativismo: “[...] o governo trabalha com uma série de políticas públicas
para reduzir o êxodo rural e tornar a produção dessas famílias mais eficiente.
Entre elas, uma das mais importantes é da titulação da terra. Com esse título,
esses trabalhadores ganham acesso a crédito rural e a programas como os de
assistência técnica” (FENATA, 2019).

Lima (2014, p. 99) em sua pesquisa observa que o “meio rural brasileiro”
está em evolução permanente, inclusive como resultado das várias políticas
públicas que vêm sendo executadas há anos, gerando [...] alguns casos em
benefícios em termos de qualidade de vida e melhoria significativas na produção.
Há em certos casos também o registro da adoção de novas tecnologias”.

Para Lima (2014, p. 99), as interferências do “Estado brasileiro por meio


de políticas públicas específicas ao meio rural, principalmente programas como
o PRONAF [...] reestruturam a agricultura, especialmente [...] os grupos de
agricultores excluídos socialmente e que desenvolvem atividades tipicamente
familiares” (LIMA, 2014, p. 99) que colaboram para a manutenção das populações
no campo e assim minimizam o êxodo rural e cooperam com a ampliação
da produção “[...] de alimentos e matérias primas [...]” (LIMA, 2014, p. 99). E
certamente na ausência dessas intervenções do Estado haveria mais pobreza
atualmente, segundo informam Gonçalves e Pedroso (2016, p. 13):

As Políticas Públicas que incidem sobre o meio rural constituem-se


em espaço de grande importância para o fortalecimento do grupo
social dedicado à produção em regime familiar. Dentre as medidas
implementadas, é imprescindível evidenciar políticas como o
Programa de Aquisição de Alimentos, por meio do qual ocorre
a aquisição de gêneros alimentícios que serão, posteriormente,
repassados para pessoas em situação de vulnerabilidade através da
rede socioassistencial ou usadas pelos serviços públicos na merenda
escolar.

Aparece, deste modo, a questão da verificação de “[...] quais políticas


públicas agrícolas, pesqueiras, agrárias e de promoção social têm sido ofertadas
pelo Estado brasileiro, ao meio rural, tendo os Sindicatos como parceiros
permanentes” (LIMA, 2014, p. 99), sobretudo a ação destas no campo. Para o autor
os Sindicatos Rurais são: “[...] organizações sociais, que se dedicam a defender
os interesses de seus associados, interesses econômicos, culturais, públicos e
sociais nas diversas esferas públicas. Seus principais interesses se voltam para a
defesa da categoria a qual representa, pensando no bem comum e na organização
coletiva” (LIMA, 2014, p. 86).

137
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Por meio dos Sindicatos Rurais muitos programas e projetos do Governo


Federal são aplicados ao campo, com vistas ao aumento da produção e obtenção
de melhorias nas condições de vida de toda à população que está em atividade
no campo.

NOTA

Olá, acadêmico! Você percebeu que neste tópico encontramos diversas siglas
e muitas delas estão relacionadas com o ambiente escolar, por isso, destacamos duas siglas:

• Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf):

O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) financia


projetos individuais ou coletivos, que geram renda aos agricultores familiares e assentados
da reforma agrária. O programa possui as mais baixas taxas de juros dos financiamentos
rurais, além das menores taxas de inadimplência entre os sistemas de crédito do País. O
acesso ao Pronaf inicia-se na discussão da família sobre a necessidade do crédito, seja
ele para o custeio da safra ou atividade agroindustrial, seja para o investimento em
máquinas, equipamentos ou infraestrutura de produção e serviços agropecuários ou não
agropecuários. 

FONTE: http://www.ceplac.gov.br/radar/Artigos/artigo26.htm. Acesso em: 12 nov. 2019.

• Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE):

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) oferece alimentação escolar


e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação
básica pública. O governo federal repassa, a estados, municípios e escolas federais, valores
financeiros de caráter suplementar efetuados em 10 parcelas mensais (de fevereiro a
novembro) para a cobertura de 200 dias letivos, conforme o número de matriculados em
cada rede de ensino.

FONTE: https://www.fnde.gov.br/programas/pnae. Acesso em: 12 nov. 2019.

2.1 O ESPAÇO RURAL E A PRODUÇÃO ALIMENTAR


O espaço rural como alvo de análise tem na sua produção uma moral e
uma constituição de modos e vida expressivos que acabam gerando atrativos à
população da cidade. Entretanto, um dos apoios do designado turismo rural está
no conceito de multifuncionalidade da agricultura, tendo como suposição que a
pedra angular que distingue esta prática socioespacial são as técnicas agrárias e
o simbolismo originado por estas. Froehlich et al. (2004) destaca que aparecem na
atualidade pesquisas que propendem a analisar os múltiplos papéis do rural que
tendem a romper com a visão do rural segmentado.

138
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Em primeiro lugar, o espaço rural não se define mais exclusivamente


pela atividade agrícola. Como já foi observado, é significativa a
redução de pessoas ocupadas na agricultura, dado que se associa
ao aumento do número de pessoas residentes no campo exercendo
atividades não- agrícolas e ao aparecimento de uma camada relevante
de pequenos agricultores que combinam a agricultura com outras
fontes de rendimento (GRAZIANO DA SILVA, 1996 apud CARNEIRO,
1998, p. 56).

Para Graziano da Silva (2002), a partir da década de 1980 emergem novos


modelos de organização das atividades no meio rural no país, com distinções
que podem ser relacionadas ao processo de modernização da agricultura.
Para o autor, o “novo rural” divide-se em três grandes grupos: agropecuária
moderna, atividades não agrícolas ligadas à moradia e lazer e novas atividades
impulsionadas por nichos de mercado.

Graziano da Silva (2002) pondera sobre uma provável divisão em


segmentos das atividades no espaço rural, em vista que existem várias atividades
realizadas simultaneamente no rural do Brasil, devido sobretudo a sua amplitude.
Esta situação gera uma discussão sobre quais seriam verdadeiramente os papéis
e/ou os novos papéis da agricultura. Na percepção de Carneiro e Maluf (2003, p.
19):

A abordagem da multifuncionalidade da agricultura se diferencia


por valorizar as peculiaridades do agrícola e do rural e suas outras
contribuições que não apenas a de bens privados, além dela repercutir
as críticas às formas predominantes assumidas pela produção agrícola
por sua insustentabilidade e pela qualidade duvidosa dos produtos
que gera.

Portanto, para os agricultores a multifuncionalidade seria uma das


estratégias de reprodução socioespacial, de maneira que valoriza as práticas
características de cada recorte espacial, rompendo com o conceito dos três setores
da economia: primário, secundário e terciário, conforme relata Carneiro e Maluf
(2003, p. 19):

A noção de multifuncionalidade rompe com o enfoque setorial e


amplia o campo das funções sociais atribuídas à agricultura que deixa
de ser entendida apenas como produtora de bens agrícolas. Ela se
torna responsável pela conservação dos recursos naturais (água, solos,
biodiversidade e outros), do patrimônio natural (paisagens) e pela
qualidade dos alimentos.

A partir deste contexto, Carneiro e Maluf (2003, p. 19) consideram que


os papéis da agricultura familiar estão centrados especialmente em quatro
dimensões básicas da multifuncionalidade:

139
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

1º Reprodução socioeconômica das famílias, onde se analisa as fontes


geradoras de renda, as condições de permanência no campo e as
práticas de sociabilidade.
2º Promoção da segurança alimentar da sociedade em geral e das
próprias famílias rurais, abrangendo a produção para o autoconsumo
e para a comercialização.
3º A manutenção do tecido sociocultural, se referindo as condições de
vida e da reprodução das culturas locais.
4º Preservação e conservação dos recursos naturais e da paisagem
rural, entendido como o uso e gestão da natureza e as relações com as
atividades produtivas.

Estas múltiplas funções constituídas no espaço rural consentem,


respectivamente, com o estabelecimento de atividades não agrícolas que
diversificam a possibilidade de geração de renda entre as famílias camponesas, e
também valorizam os saberes e práticas dos agricultores (CARNEIRO; MALUF,
2003). Segundo os autores, dentro desta percepção multifuncional da agricultura
familiar o turismo rural vem se desenvolvendo como mais uma opção de aquisição
de renda complementar e propicia a conservação das culturas e de modos de uso
e gestão das riquezas naturais.

FIGURA 1 – AGRICULTURA FAMILIAR

FONTE: <http://appsuma.com.br/wp-content/uploads/2018/12/blog-07.jpg>. Acesso em: 15


maio 2019.

Um desafio encontrado, foi o espaço rural brasileiro, que no decorrer dos


anos de 1970 e 1980 “[...] sofreu um intenso processo de êxodo rural. A mecanização
da produção agrícola expulsou trabalhadores do campo que se deslocaram para
as cidades em busca de oportunidades de trabalho” (IBGE, 2019). Atualmente,
o deslocamento do espaço rural para o espaço urbano permanece, entretanto,
“em percentuais menores”. (IBGE, 2019). Conforme as informações do Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios realizada em 2015 (IBGE, 2019), observou-se
que cerca de 85% da população do Brasil residem no espaço urbano. E cerca de
15% residem no espaço rural.

140
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Além disso, segundo o Censo Agro 2017 citado pelo Instituto Humanitas
Unisinos (2018), “[...] nos últimos anos houve uma intensificação do domínio
do agronegócio sobre a agricultura brasileira resultando, entre outras coisas,
nesse processo de expulsão da população do campo e na redução do emprego”.
Paulo Alentejano em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos (2018), declarou
que houve ampliação: “[...] das culturas que são controladas mais diretamente
pelo agronegócio em detrimento das culturas alimentares básicas. Então, a área
cultivada com soja, com milho, com cana, que são produtos que vão virar ração,
combustível, deu uma ampliada. E caiu a área destinada à produção de alimentos
básicos: arroz, feijão, mandioca”.

Podemos observar que há múltiplas atividades econômicas desenvolvidas


no espaço rural e algumas geram renda aos camponeses como a agricultura
familiar e outras como o agronegócio, além disso, existem o agroturismo e o
turismo rural, que são abordados a seguir.

NOTA

Um Tema complexo e polêmico foi tratado neste tópico: a questão da


alimentação. Ao tratar sobre alimentação, tratamos também sobre a fome. Na geografia,
um autor que pesquisou e escreveu sobre a fome foi Josué de Castro.
Aos 38 anos de idade, Josué de Castro publica sua obra de maior repercussão:
Geografia da fome que foi traduzida em mais de 25 idiomas. Este livro, de 1946, é uma
referência fundamental no estudo do tema e logo foi reconhecido com o Prêmio Pandiá
Calógeras, da Associação Brasileira dos Escritores e com o Prêmio José Veríssimo, da
Academia Brasileira de Letras. Assim, Josué explica o objetivo de seu trabalho.
O mapeamento do Brasil a partir de suas características alimentares deixou clara a
trágica situação da fome no país, que não poderia mais ser atribuída a fenômenos naturais,
mas a sistemas econômicos e sociais que poderiam ser transformados para o benefício da
população.

FONTE: http://www.projetomemoria.art.br/JosuedeCastro/cont_pens1.htm. Acesso em: 29


out. 2019.

2.2 AGRO TURISMO E O TURISMO RURAL


Quando se fala em turismo em áreas não urbanas, de acordo com
a definição de Schneider (2007 apud GONÇALVES, PEDROSO, 2016) há
necessidade de refletir o espaço rural como uma área de sociabilidade, ambiente
promissor para manifestações culturais variadas, um espaço onde incide a
interação do homem com o meio ambiente, acontecimentos que vão além da
mera produção de alimentos e ingredientes para alimentação.

141
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

FIGURA 2 – O TURISMO RURAL

FONTE: <http://twixar.me/vR1T>. Acesso em: 15 maio 2019.

Segundo Niederle (2007), o espaço rural deixa de ser considerado apenas


um fator econômico e passa a obter valor por outros fatores, como o cenário,
tradição, gastronomia, artesanato entre outros. Mas o reconhecimento oficial no
turismo do campo como opção de exploração econômica das propriedades rurais
para fins de tributação somente ocorreu em 2015 por meio da Lei nº 13.171, de 21
de outubro de 2015 (BRASIL, 2015, p. 2):

Dispõe sobre o empregador rural; altera as Leis nos 8.023, de 12 de


abril de 1990, e 5.889, de 8 de junho de 1973; e dá outras providências.
[...]
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA
Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte
Lei:
Art. 1º (VETADO).
Art. 2º O § 1o do art. 3o da Lei no 5.889, de 8 de junho de 1973, passa a
vigorar com a seguinte redação:
"Art. 3º .....................................................................................
§ 1º Inclui-se na atividade econômica referida no caput deste artigo,
além da exploração industrial em estabelecimento agrário não
compreendido na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada
pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, a exploração do turismo
rural ancilar à exploração agroeconômica........................................" (NR)
Art. 3º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Assim, começaram a ser consideradas como atividade rural a administração


e hospedagens, o fornecimento de alimentação e bebidas em hotéis e restaurantes,
organização de eventos artísticos e religiosos relacionados ao campo, também
a promoção de visitas a propriedades rurais produtivas ou importantes
historicamente, bem como a exploração do dia a dia da área rural. No Brasil
vários autores pesquisaram o turismo e Beni (2001) foi o primeiro a conceituar
uma tipologia. Ele dividiu o turismo em 15 tipos e somente 5 se desenvolvem
com maior amplitude em espaços rurais: turismo de aventura, turismo ecológico
e ecoturismo, que se destacam por deslocamentos, em regra, a espaços naturais, e
agro turismo e turismo rural, particularmente para o deslocamento a áreas rurais.

142
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Na distinção entre Agroturismo e o Turismo Rural, para Beni (2001), o


agroturismo é o deslocamento de indivíduos a espaços rurais com roteiros
planejados ou espontâneos, com ou sem pernoite. Já o turismo rural é o
deslocamento de indivíduos a espaços rurais com roteiros planejados ou
espontâneos, com ou sem pernoite, para desfrute de paisagens e acomodações
rurais.

Para Beni (2001) o agroturismo e turismo rural são como atividades com
praticamente os mesmos atributos, entretanto diferenciando-se somente na
questão do comportamento do turista. No agroturismo o visitante é convidado
a participar dos trabalhos rurais desenvolvidos na propriedade e no turismo
rural o hóspede exclusivamente desfruta do ambiente agrícola. O autor cita
outra distinção entre as duas modalidades: no turismo rural a estrutura pode
ser construída ou transformada para receber o visitante, já no agroturismo as
acomodações e equipamentos podem ser adequados para atender o passeante
desde que as particularidades originais e arquitetônicas sejam conservadas. Para
Pereira et al. (2007, p. 2) citando Ribeiro (1998) o agro turismo é:

[...] o conjunto de “atividades internas à propriedade, que geram


ocupações complementares às atividades agrícolas, as quais continua
a fazer parte do cotidiano da propriedade, em menor ou maior
intensidade. Devem ser entendidas como parte de um processo de
agregação de serviços aos produtos agrícolas e bens não-materiais
existentes nas propriedades rurais (paisagem, ar puro etc.) a partir
do” tempo livre “das famílias agrícolas, com eventuais contrações
de mão de obra externa. São exemplos de atividades associadas ao
agroturismo: a fazenda-hotel, o pesque-pague, a fazenda de caça,
a pousada, o restaurante típico, as vendas diretas do produtor, o
artesanato, a industrialização caseira e outras atividades de lazer
associadas à recuperação de um estilo de vida dos moradores do
campo”.

Para Schneider (2006) o agro turismo é uma das modalidades de turismo


rural exercidas no país, ao lado do ecoturismo, turismo cultural, esportivo e
ecológico. Sendo que todas essas modalidades unem ações centradas em espaços
rurais tais como: hotéis fazenda que oferecem serviços e atividades de acolhimento,
hospedagem, transporte, alimentação, lazer, diversão e entretenimento, entre
outros.

Já Campanhola e Graziano da Silva (2000) conceituam agroturismo como


a totalidade de atividades incrementadas dentro da propriedade que fazem parte
das tarefas agrícolas, tais como hotel fazenda, pesque-pague, pousada, restaurante
típico, vendas diretas do produtor. Isto é, todas as tarefas que se relacionam com
o dia a dia dos camponeses.

Quanto ao turismo rural, segundo Elesbão (2014), apareceu por todo


o país e por este motivo há a necessidade de abordar a temática considerada
a variedade do espaço rural do país, em que a atividade de turismo rural vai
se estabelecendo devido as características de cada local, aparecendo então o
problema em determinar um modelo único.
143
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

O Ministério do Turismo define o turismo rural como “[...] o conjunto


de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometidas com a
produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e
promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade” (BRASIL, 2003, p.
11). Na década de 1980, o turismo rural surgiu no Brasil, Argentina e Uruguai,
conforme corroboram Roque (2009) e Tiscoski (2011). E em meados do século XX,
como atividade econômica, surgiu na Europa e nos Estados Unidos. Na Europa
iniciou por meio da criação do Programa LEADER, que era um programa de
desenvolvimento rural em 1991, fez com que muitos países implementassem
políticas públicas de apoio ao Turismo Rural e à outras atividades não-agrícolas
capazes de revitalizar os territórios rurais. Seguindo o exemplo europeu e
acreditando no desenvolvimento do Turismo Rural também como forma de
criar postos de trabalho e valorizar o patrimônio natural e histórico, hoje, esse
segmento do turismo é trabalhado por países de todas as partes do mundo.

Na década de 1990, na Europa, sobressai-se os empreendimentos no


turismo rural dos países: Alemanha, Espanha, Portugal, Suíça, Suécia, França,
Itália, Áustria, entre outros, segundo Tiscoski (2011). Ainda na mesma década,
as primeiras ações brotaram no Japão, na África e na Oceania. E a partir dos
anos 2000 surgiram também na Mongólia, Madagascar e Ucrânia, de acordo com
Tiscoski (2011).

FIGURA 3 – TURISMO RURAL NA EUROPA OCIDENTAL

FONTE: <https://meioambiente.culturamix.com/blog/wp-content/gallery/agricultura-na-
europa-3/Agricultura-na-Europa-7.jpg>. Acesso em: 15 maio 2019.

No Brasil, embora a visitação a propriedades rurais seja uma prática


conhecida em algumas regiões, apenas na década de 1980 passou a
ganhar status de atividade econômica. Nessa época, começou a ser
encarada com profissionalismo e caracterizada como Turismo Rural,
quando determinadas propriedades em Santa Catarina, no Rio
Grande do Sul e Espírito Santo, principalmente devido às dificuldades
do setor agropecuário, decidiram diversificar suas atividades e receber
turistas. Desde então, esse segmento vem crescendo gradativamente
nas diferentes regiões do Brasil, favorecido pela diversidade cultural
resultante dos processos de colonização (TISCOSKI, 2011, p. 75-76).

144
TÓPICO 1 | INSTITUIÇÕES E POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL

Quanto às mudanças oriundas pelo turismo rural no local em que está


inserido, Tiscoski (2011) considera os gastos financeiros realizados pelo turista
como a primeira fase de um resultado propagador que pode ser analisado sob
duas perspectivas: a presença do turista desencadeia a circulação monetária
em determinada localidade à medida que gasta dinheiro com hospedagem e
produtos comercializados no local, este dinheiro é reinvestido em aquisição de
bens a serem processados e consumidos outra vez, e o estímulo ao surgimento de
novas empresas à medida que a atividade gera chances de negócio.

Para a Associação Brasileira de Turismo Rural (ABTR, 2019), são quatro


os pilares do Turismo Rural: “Incremento de Receita”, “Geração de Empregos”,
“Preservação do Meio Ambiente” e “Preservação do Patrimônio Rural”. Para
Trzaskos, Baum e Trobia (2010) se desenvolvidos esses fatores em união com
a população da área, surgirão vários benefícios como emprego e renda aos
camponeses, além da proteção da área natural, aliada à preservação das tradições
deste povo. Assim, atualmente, o turismo rural brasileiro é considerado como
segmento da economia que aparece como uma possibilidade de reconsiderar o
rural no país. Não oponente, este conforma-se ainda como uma promessa, tendo
observado que sua organização se encontra em um processo, apesar de ínfimo, de
planejamento no âmbito nacional (BRASIL, 2013). Em razão do caráter dinâmico
da atividade turística, somado à necessidade de promoção do desenvolvimento,
surgem novos segmentos turísticos, dentre os quais vem despontando, de
forma promissora e com incontestável potencial em nosso país, o Turismo Rural
(BRASIL, 2013, p. 3).

Várias discussões surgem como tentativa para a compreensão desta prática


espacial. O desenvolvimento do setor torna-se expressivo a tal ponto que obriga
o Ministério do Turismo a lançar algumas documentações com a finalidade de
direcionar o turismo rural no país. Mesmo com este movimento e a importância
deste em termos de interiorização do turismo brasileiro, ainda existem questões
conceituais em conjunto com falta de estudos neste setor, os quais evidenciam a
necessidade urgente de se analisar este segmento. Principalmente através de um
planejamento territorial, conforme relata Souza (2006).

Souza (2006) defende a concepção de que o planejamento territorial do


turismo rural deve se estruturar diretamente a partir da identidade territorial local
para ponderar o rural e consequentemente, o turismo. Centrada na identidade
territorial construída historicamente em cada microescala, o Estado em conjunto
com os agentes privados pode criar estratégias que desenvolvam a atividade do
turismo rural. Assim, para o autor, o planejamento do turismo rural deve estar
pautado na constituição de políticas públicas que valorizem os atores locais e
seus saberes transmitidos pelos seus antepassados.

Se assim estiver, o experimento prático cotidiano e o “saber local” dos


camponeses deverão ter liberdade de expressão e ser congregados “à analise
planejadora”, segundo Souza (2006, p. 69). Apenas a partir da premissa de
redefinição dos saberes locais e da valorização das características da identidade

145
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

como estrutura, para apreciar o turismo rural, é que poderemos ponderar em um


planejamento territorial que viabilize o desenvolvimento regional, de acordo com
a afirmação do autor.

Kanitz (2010) completa que para o planejamento territorial viabilizar


o desenvolvimento regional, por meio do turismo rural, há a necessidade de
seguir os Planos Nacionais de Turismo, os quais tem sua constituição em 2003
e configuram-se como o fundamental documento no Brasil para gerir estas
atividades, já que apontam diretrizes para que os governos estaduais, secretarias
e outros atores envolvidos possam implementar suas políticas públicas.

DICAS

Plano de aula de Geografia com atividades para o 6º ano do Ensino Fundamental


sobre compreender a importância da agricultura sustentável como uma alternativa para o
uso inadequado do solo na agricultura: A agricultura sustentável como alternativa para o
mau uso do solo na agricultura. Acesse: <https://novaescola.org.br/plano-de-aula/6319/a-
agricultura-sustentavel-como-alternativa-para-o-mau-uso-do-solo-na-agricultura>.

146
RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico, você aprendeu que:

• Para o desenvolvimento rural há a necessidade da adoção e apropriação dos


resultados da pesquisa pública pelos agricultores, assim como os impactos
(econômicos, sociais e ambientais) dessa incorporação, também são dependentes
expressivamente das políticas de crédito, de preço mínimo, de armazenamento,
de seguro agropecuário, de comercialização e de infraestrutura, como estradas
e acesso à água e energia elétrica. São dependentes, além disso, da condição de
saúde, de moradia, de alimentação e de acesso à educação.

• O espaço rural como alvo de análise tem na sua produção uma moral e uma
constituição de modos e vida expressivos que acabam gerando atrativos à
população da cidade. Entretanto, um dos apoios do designado turismo rural
está no conceito de multifuncionalidade da agricultura, tendo como suposição
que a pedra angular que distingue esta prática socioespacial são as técnicas
agrárias e o simbolismo originado por estas.

• As múltiplas funções constituídas no espaço rural consentem, respectivamente,


o estabelecimento de atividades não agrícolas que diversificam a possibilidade
de geração de renda entre as famílias camponesas e também valoriza os
saberes e práticas dos agricultores. Dentro desta percepção multifuncional
da agricultura familiar, o turismo rural vem se desenvolvendo como mais
uma opção de aquisição de renda complementar e também de propiciar a
conservação das culturas e de modos de uso e gestão das riquezas naturais.

• Há múltiplas atividades econômicas desenvolvidas no espaço rural e algumas


geram renda aos camponeses como a agricultura familiar e outras como o
agronegócio, além destas, existem o agroturismo e o turismo rural.

• As distinções entre o Agroturismo e o Turismo Rural dependem do


comportamento do turista. No agroturismo o visitante é convidado a participar
dos trabalhos rurais desenvolvidos na propriedade e as acomodações e
equipamentos podem ser adequados para atender ao passeante desde que as
particularidades originais e arquitetônicas sejam conservadas. E no turismo
rural, o hóspede exclusivamente desfruta do ambiente agrícola e a estrutura
pode ser construída ou transformada para receber esse visitante.

147
AUTOATIVIDADE

1 As múltiplas funções constituídas no espaço rural consentem,


respectivamente, com o estabelecimento de atividades não agrícolas
que diversificam a possibilidade de geração de renda entre as famílias
camponesas e valorizam os saberes e práticas dos agricultores. Dentro desta
percepção multifuncional da agricultura familiar, o turismo rural vem se
desenvolvendo como mais uma opção de aquisição de renda complementar.
Podemos afirmar como produção de renda no campo, principalmente em
rendas complementares as seguintes atividades:

a) ( ) Desenvolver conservação das culturas locais e regionais como modos


de uso e gestão das riquezas naturais e dos recursos locais para a produção
agropecuária.
b) ( ) Aprimorar as importações de insumos agrícolas para o aumento da
produção agrária, pois a qualidade de produtos importados é superior aos
nacionais.
c) ( ) Enfocar nos incentivos fiscais para o aumento de produção agropecuária,
pois o grande problema do desemprego no campo ser maior que das cidades é
exclusivamente das questões tributárias.
d) ( ) Desenvolver apenas o turismo rural como única e atual forma de renda
dos trabalhadores do campo.

2 O espaço rural deixa de ser considerado apenas um fator econômico e


passa a obter valor por outros fatores, como: cenário, tradição, gastronomia,
artesanato entre outros. Uma atividade econômica nos Espaços Rurais
que vem crescendo é o Turismo Rural ou o Ecoturismo, essas atividades
entram como opções de exploração econômica das propriedades rurais e
os potenciais que possam ser desenvolvidos para aprimorar a aquisição da
renda familiar dos proprietários rurais e dos moradores das áreas rurais.

Sobre esse tema, podemos afirmar que:


a) ( ) O turismo rural é irrisório na produção e aprimoramento da renda dos
proprietários rurais.
b) ( ) As práticas de aprimoramento da renda nas áreas rurais em nosso país
têm atualmente como grande aliado o turismo rural sustentável.
c) ( ) O turismo rural é apenas uma complementação da renda das famílias
nos espaços rurais, nunca serão a principal atividade de produção de renda.
d) ( ) As propriedades agrárias que investem no turismo rural não podem se
tornar competitivas no mercado externo, por isso há uma desaceleração na
produção de renda nestas áreas e prejuízo para os proprietários rurais que
investem nesta modalidade econômica.

148
UNIDADE 3
TÓPICO 2
MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

1 INTRODUÇÃO
No Tópico 2 serão abordados os seguintes temas: movimentos sociais
no espaço rural mundial, movimentos sociais latino-americanos e movimentos
sociais brasileiros. Segundo a teoria dos Novos Movimentos Sociais, atos
coletivos armam-se a partir de repertórios criados sobre assuntos e dificuldades
em circunstâncias conflituosas e de contestação. Para Melucci (2001), esses atos
coletivos são produzidos por orientações propositadas desenvolvidas dentro
de um campo de oportunidades e reservas. Desta maneira, a formação de ações
coletivas depende da mediação das capacidades cognitivas dos atores individuais
e de suas estratégias.

Ribeiro e Cleps Júnior (2011, p. 78), consideram os movimentos sociais


rurais:

[...] processos de luta social e política protagonizada por organizações


representativas de agricultores familiares, camponeses e trabalhadores
rurais sinalizam uma problemática que ganha espaço no debate de
atualização da questão agrária: as disputas territoriais e conflitualidades
entre os modelos de desenvolvimento do agronegócio e da agricultura
camponesa/familiar.

Os movimentos sociais são a ação de conflito oriundo de atores dos


grupos sociais que lutam pelo domínio do sistema de ação da história, segundo
Touraine (2006). E em toda sociedade há um movimento social que representa
não uma básica mobilização, mas uma concepção de transformação social. O
autor completa que nenhum movimento social é definido apenas pelo conflito, e
sim pelo seu anseio de dominar o movimento histórico. Neste contexto, Touraine
(2006) define que o movimento social acontece por meio de três princípios:
princípio de identidade; princípio de oposição: princípio de totalidade. Pedon
(2009, p. 10) em sua tese conceitua movimentos sociais como um:

[...] tipo de mobilização coletiva de caráter perene, organizada e que


realiza, por meio de suas ações, uma crítica aos fundamentos da
sociedade atual, baseada nos processos de acumulação da riqueza
e concentração do poder manifestados na forma do território. Esses
processos têm como resultado a exclusão e a subordinação das
classes populares. A proposta de conceituação dessas manifestações
numa perspectiva geográfica baseia-se na formulação e emprego dos
conceitos de movimentos socioespaciais e movimentos socioterritoriais,
inserindo, dessa forma, a perspectiva geográfica no campo da teoria
social crítica.

149
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Já o movimento socioterritorial, Fernandes (2000, p. 60) considera uma


reflexão essencial para a compreensão dos movimentos sociais para “[...] além
de suas formas de organização, mas também pelos processos que desenvolvem,
pelos espaços que constroem, pelos territórios que dominam”. Isto é, um modo
de considerar os movimentos sociais a partir de uma visão geográfica por meio
das dimensões espacial e territorial. O autor, observa que não há distinção prática
entre um movimento social ou socioterritorial, deste modo, podendo o mesmo
ser visto como um movimento social ou como um socioterritorial.

FIGURA 4 – OS MOVIMENTOS SOCIAIS DO ESPAÇO RURAL

FONTE: <http://agroecologia.redelivre.org.br/files/2012/06/mato%20grosso.jpg>. Acesso em: 15


maio 2019.

A partir dos anos 60, em várias regiões acadêmicas do mundo


ocidental, o estudo dos movimentos sociais ganhou espaço, densidade
e status de objeto científico de análise e mereceu várias teorias. Tudo
isso ocorreu porque, em parte, os movimentos ganharam visibilidade
na própria sociedade, enquanto fenômenos históricos concretos
(GOHN, 1997, p. 10).

Os atos e táticas de resistência dos movimentos sociais rurais instituem


condições para que as suas questões sejam propagadas e atinjam inclusive as
instâncias de decisão do Estado. Os movimentos sociais apresentam, na sua
constituição, a característica de contestação da existência na qual fazem parte e
se formam para gerar o rompimento de uma condição de ausência de direitos.
No Brasil, os movimentos sociais rurais são transformações sociais no campo que
têm incidido tanto através da luta por terra quanto nas valorações estabelecidas
aos trabalhadores rurais (TOURAINE, 2006; MELUCCI, 2001).

150
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

Delgado e Bergamasco (2017, p. 10) afirmam que os movimentos sociais,


em conjunto com a iniciativa do Estado e da Academia, exerceram uma função
importante na demarcação da Agricultura Familiar como um exemplo de
agricultura, como segmento agregador “[...] de direitos e como identidade política
unificadora de uma diversidade de unidades familiares no campo.

Para Delgado e Bergamasco (2017), encontram-se dentre os movimentos


que se destacam as lutas das mulheres rurais pela conquista de seus direitos e
de seus “[...] espaços de autonomia [...]”. (DELGADO; BERGAMASCO, 2017, p.
10). Ao mesmo tempo, observa-se a importância do registro das questões como
o êxodo rural dos mais jovens, “[...] tendencialmente definitiva, as migrações
sazonais e ou pendulares, que se apresentam como desafios, tanto na avaliação
da dinâmica da própria Agricultura Familiar quanto na formulação de políticas
públicas para o setor [...]”, segundo Delgado e Bergamasco (2017, p. 10).

Fabrini (2007, p. 15) completa que há um conjunto distinto de movimentos


sociais rurais que resistem e lutam contra as estruturas de desapropriação
e subordinação dos quais se destacam os seguintes: “[...] movimentos dos
assalariados temporários, posseiros, mulheres agricultoras, e agora, camponesas,
atingidos por barragem, indígenas, sem-terra”.

Esses movimentos estão espalhados pelo mundo, cada um com sua


importância. Alguns movimentos sociais no espaço rural serão abordados,
inicialmente os de nível mundial.

NOTA

Olá, acadêmico! Ainda sobre os movimentos sociais é importante saber que:


os movimentos sociais brasileiros ganharam mais importância a partir da década de 1960,
quando surgiram os primeiros movimentos de luta contra a política vigente, ou seja, a
população insatisfeita com as transformações ocorridas tanto no campo econômico
e social. Mas, antes, na década de 1950, os movimentos nos espaços rural e urbano
adquiriram visibilidade. As ações coletivas mais conhecidas no Brasil são o Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MSTS) e os
movimentos em defesa dos índios, dos negros e das mulheres.

FONTE: https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/movimentos-sociais-resumo/. Acesso


em: 29 out. 2019.

151
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL MUNDIAL


Com a crise mundial na área agrícola nas décadas de 1970 e 1980,
ocorreram pactos multilaterais, como na Rodada Uruguaia do GATT, antecessor
da Organização Mundial do Comércio (OMC) e nos blocos regionais como o
Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (NAFTA) e o Mercado Comum
do Sul (MERCOSUL), inserindo a agricultura latino-americana no contexto dos
mercados globalizados (SCHERER-WARREN, 2000).

Segundo Favero (1998 apud SCHERER-WARREN, 2000, p. 36), este


contexto dos mercados globalizados originou “[...] três categorias de agricultores:
os integrados, que se organizam em sindicatos, cooperativas e associações
especializadas; os precários, que participam de associações locais e redes; e os
excluídos, que formam movimentos” (FAVERO, 1998 apud SCHERER-WARREN,
2000, p. 36).

FIGURA 5 – MOVIMENTOS SOCIAIS NO CAMPO PELO MUNDO

FONTE: <https://marxcio.files.wordpress.com/2011/03/1131_bolivia-movimentos-sociais.gif>.
Acesso em: 15 maio 2019.

Em 1980, surge o movimento social o Karnataka State Farmers Union


(KRRS), traduzindo Associação de Agricultores do Estado de Karnataka,
localizado na Índia. Surgiu como um movimento de fazendeiros. Eles veem o
movimento como parte de um processo muito longo de construção de uma nova
sociedade, que deve ser conduzida por pessoas em nível local até o nível global,
mas o envolvimento ativo e direto da sociedade como um todo, de acordo com
Via Campesina (2017). O KRRS é um movimento gandhiano e é incorporado pela
Via Campesina.

152
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

Em 1983, no auge da construção de grandes projetos de barragens, foi


criada em São Francisco/EUA a International Rivers Network. A Rede contava com
a “[...] participação de agricultores e ecologistas [...]”, e o espírito de integração na
heterogeneidade registrou-se “[...] pelos participantes do Primeiro Encontro dos
Povos Afetados pelas Barragens [...]”, concretizado no ano de 1997: “[...] e somos
fortes, diversos e unidos e nossa causa é justa. Para simbolizar nosso crescimento,
declaramos que o dia 14 de março será, a partir de agora, o Dia Internacional de
Ação contra Barragens e Rios, Água e Vida” (SOCIAL MOVEMENT LIST, 2000
apud SCHERER-WARREN, 2000b, p. 36, tradução nossa).

FIGURA 6 – MOVIMENTO DA VIA CAMPESINA

FONTE: <https://viacampesina.org/en/wp-content/uploads/sites/2/2007/09/2007-09-28%20
KRRS.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.

Quanto ao surgimento da Via Campesina, aconteceu em 1992, “[...]


quando os líderes de movimentos camponeses de diversas regiões reuniram-se
no II Congresso da UNAG – Unión Nacional de Agricultores y Granaderos de
Nicarágua”, realizado na cidade de Manágua, Nicarágua (RIBEIRO, SOBREIRO
FILHO, 2012, p. 2). Mas somente em 1993 é oficializado o movimento, conforme
relatam Ribeiro e Sobreiro Filho (2012).

Podemos compreender com a espacialização da Via Campesina


Brasil a importância desse movimento na luta por um projeto contra
hegemônico desafiando as organizações dominantes. Vimos que a
manifestação é a forma fundamental para a construção e expansão
do movimento. A Via Campesina é um movimento articulador de
movimentos camponeses e não camponeses, sendo uma expressão
da conflitualidade da reprodução das relações capitalistas (RIBEIRO;
SOBREIRO FILHO, 2012, p. 14).

Para Ribeiro e Sobreiro Filho (2012, p. 1) a Via Campesina articula


organizações em nível global e regional, com a finalidade de se afrontar “[...] ao
atual modelo de desenvolvimento no campo: o agronegócio: e também, constitui-
se como um dos principais movimentos que lutam contra o modelo neoliberalista”.

153
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Atualmente considera-se a Via Campesina como a maior articulação de


trabalhadores em nível mundial, pois conta “[...] com articulações em 70 países
de todos os continentes”. Assim, as populações rurais procuram a construção da
solidariedade internacional, por meio “[...] das lutas e articulações de base [...]”,
segundo afirmação de Egon Heck, secretariado nacional do Conselho Indigenista
Missionário (CIMI) (MST, 2016, s. p.).

Segundo Heck (MST, 2016, s. p.):

Dentre as principais bandeiras de luta levantadas estão: terra/território,


luta pela demarcação das terras indígenas, quilombolas e populações
tradicionais, juntamente com acento na reforma agrária ampla e
popular; luta pela soberania alimentar e alimentação saudável, sem
agrotóxicos e sementes transgênicas; além disso, estarão em pauta
questões mais conjunturais como a defasa da Previdência, do petróleo
e contra a violência.

Segundo Ribeiro e Sobreiro Filho (2012, p. 1), o movimento se particulariza


partindo “[...] de manifestações, ocupações de terras e das propostas alternativas
questionando sobre temas relevantes da nossa sociedade, tais como: reforma
agrária; soberania alimentar; campesinato; agricultura camponesa sustentável;
questão de gênero; direito humanos e outros”.

Além dos movimentos sociais citados existem inúmeros outros, como os


movimentos sociais latino-americanos, os quais serão abordados a seguir.

2.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL LATINO


AMERICANO
A América Latina abrange a maior parte das nações das Américas do Sul
e Central. Ela engloba Cuba,  Haiti, República Dominicana, México, Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador,
Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru,
República Dominicana,  Uruguai e Venezuela, como é possível visualizar na
Figura 7:

154
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

FIGURA 7 – MAPA DA AMÉRICA LATINA

México
Belize
Guatemala Honduras
El Salvador Nicarágua
Costa Rica Venezuela Suriname
Guinea Francesa
Panamá
Equador

Brasil
Peru

Bolívia
Paraguai
Chile

Argentina
Uruguai

FONTE: <https://www.researchgate.net/figure/Figura-1-Mapa-dos-paises-componentes-da-
America-Latina-onde-esta-situado-o-Brasil-Fonte_fig1_321282199>. Acesso em: 16 maio 2019.

Durante anos a “luta pela reforma agrária” se estende com “[...] outras
lutas na América Latina [...]”, os movimentos sociais, de acordo com Oliveira
Neto (2015, p. 198), debatem a necessidade da ampliação das políticas com a
finalidade de assegurar tanto a terra, quanto a qualidade de vida dos agricultores,
e também as políticas relacionadas à produção, que comportem a entrada destes
produtos rurais a outros mercados.

Todo este desenvolvimento conduzido pelo capitalismo globalizado e


pela lógica capitalista financeira mundial nas décadas de 1990 e de 2000 “[...]
transformou países em desenvolvimento como o Brasil e outros da América
Latina, ao impor medidas de ajuste estrutural às economias nacionais e ao Estado”
(RIBEIRO; CLEPS JUNIOR, 2011). Estes “[...] ajustes abriram caminho para a
globalização, que afetou o mundo da agricultura e os sistemas agroalimentícios
na América Latina” (TEUBAL, 2008 apud RIBEIRO, CLEPS JUNIOR, 2011, p. 85).

Após os anos 2000 ampliaram-se as discussões sobre os movimentos sociais


rurais na América Latina (RIBEIRO; CLEPS JÚNIOR, 2011). E a discussão sobre o
tema ampliou-se por meio de eventos, tais como: “[...] o Simpósio Internacional
de Geografia Agrária (2009; 2007; 2005; 2003) e o Grupo de Trabalho sobre
Desenvolvimento Rural vinculado ao Conselho Latino-americano de Ciências
Sociais (CLACSO)” (RIBEIRO; CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 78).

155
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Por meio dos movimentos sociais rurais, a agricultura do capital “[...]


passou a ter papel central na economia de países como Brasil” (PAULINO, 2008
apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 85). Porque foi escolhida para a geração
de “[...] saldos comerciais [...]” (PAULINO, 2008 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR,
2011, p. 85) por meio das exportações. E ao mesmo tempo, o Estado garantiu “[...]
condições ao avanço e à consolidação desse modelo agrícola, mediante subsídios
de várias ordens, em particular creditícios” (PAULINO, 2008 apud RIBEIRO,
CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 85).

Consequentemente, brotaram resultados sociais claros na agricultura,


produzidos por um “[...] caminho de desenvolvimento concentrador e excludente
em que camponeses e trabalhadores rurais não se veem incluídos, exceto sob a
égide da expropriação e exploração, nessa nova etapa de modernização técnica
da agricultura” (PAULINO, 2008 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 85).

Organizações de trabalhadores rurais, agricultores familiares e


camponeses de vários países, em especial na América Latina, ante as mudanças
advindas pela globalização, defendem-se por meio da atualização de sua “[...]
agenda política e reorientando seu campo de conflitos; nela, o enfrentamento e a
luta política contra o modelo do agronegócio surgem como elemento central”, de
acordo com Teubal (2008, p. 148-149 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 86).

Teubal (2003 apud RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 86) analisam esse
fenômeno:

Até fins do milênio, em todo o continente latino-americano, manifesta-


se o ressurgimento de importantes movimentos sociais camponeses,
incluindo movimentos que intercalam comunidades indígenas,
movimentos de médios e pequenos produtores e/ou trabalhadores
rurais. Como consequência, a questão da terra e a reforma agrária
adquirem uma nova identidade.

As consequências dos movimentos e das suas discussões e ações “[...]


podem ser visualizados como uma reação contra a consolidação de um sistema
de agronegócios sob a égide do neoliberalismo” (RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011,
p. 86).

Outro movimento importante foi o Zapatista, localizado na região


mexicana de Chiapas, em 1994 e que ocupou diversas cidades numa “[...]
manifestação contra a NAFTA (North American Free Trade Agreement)”. Além
disso, “[...] contestava as novas formas de dominação global do capital, defendia
o direito e o respeito a manutenção das diversidades culturais, no caso a indígena
(SOCIAL MOVEMENT LIST, 2000 apud SCHERER-WARREN, 2016, p. 36,
tradução nossa)”. Com o auxílio da internet constituiu uma rede de apoiadores
internacionais, segundo Gadea (1999) e Rossiaud (1999) apud Scherer-Warren
(2016, p. 32-33). E em 1996, aconteceu o Encontro Internacional em Chiapas,
realizado pelos zapatistas:

156
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

[...] com a presença de cerca de 6.000 ativistas e intelectuais, onde se


deu continuidade a um novo desenho para a atuação da sociedade
civil nos problemas globais. Um ano após, num encontro na Espanha,
esta articulação foi denominada de Ação Global dos Povos (Peoples
Global Action), passando a ser coordenada por dez movimentos
sociais amplos e inovativos, dentre os quais o Movimento Sem-Terra
(MST do Brasil) e o Karnataka State Farmers Union (KRRS da Índia)
(SCHERER-WARREN, 2000, p. 32-33).

Na região de Chiapas, no México conviviam grupos indígenas e


camponeses de modo simplório de acordo com suas culturas. A principal
atividade da região de Chiapas é a agrária e a partir da efetivação do Tratado
Norte-Americano de Livre Comércio entre México e Estados Unidos passou a ser
discutida em âmbito internacional, segundo Simonetti (2012).

Nos anos 90, essas comunidades foram mais afetadas visto que a
entrada em vigor no NAFTA contemplava mudanças de alguns
artigos na Constituição Mexicana. Aquela que mais alterava a vida
dessas comunidades foi o artigo 27 que prevê a regulamentação
agrária, propriedade da terra e bem-estar dos camponeses. A alteração
proposta visava destruir a propriedade coletiva da terra – Ejidos
– principal conquista da Revolução de 1910. Ao incentivar o livre
mercado da propriedade rural, com prejuízo dos pequenos lavradores
que, sem infraestrutura agrícola e sem incentivos econômicos,
encontram-se em absoluta desvantagem no mercado agrícola. A
reforma favoreceu o renascimento de uma estrutura agrícola do
latifúndio, inimigo principal da revolução de Emiliano Zapata,
intensificando o conflito no campo. Tal mudança teve um impacto
em Chiapas, onde as milícias privadas armadas a serviço do grande
latifundiário, levaram as organizações camponesas e indígenas à luta
armada pela defesa do chão, do sustento e da própria cultura (FELICE,
1998 apud SIMONETTI, 2012, p. 126-127).

Além do Movimento Zapatista (SIMONETTI, 2012), podemos citar


como exemplos de movimentos sociais rurais na América Latina: o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), movimento brasileiro de base
rural, tendo como preocupação principal o mapeamento da formação de redes
transnacionais, numa definição amplificada (RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011). O
MST será apresentado posteriormente.

2.2 MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL


BRASILEIRO
No Brasil existem diversas pesquisas acerca do papel ativo dos movimentos
sociais na luta por direitos e garantias de grupos excluídos dentro da sociedade.
A articulação de atuações coletivas que operam como oposição à exclusão e que
geram novas dinâmicas sociais, sendo na cidade ou mesmo no campo, vem se
restabelecendo e conquistando novos contornos sociais, segundo Picolotto (2007).

157
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

E as atuações e estratégias de oposição dos movimentos sociais rurais


surgem cunhando condições para que as suas questões sejam divulgadas
para que alcancem as instâncias decisórias do Estado. Os movimentos sociais
apresentam na sua origem a característica de contestação da realidade na qual
estão fundamentados e se constituem para a promoção da ruptura de uma
circunstância de falta de direitos. (PICOLOTTO, 2007).

Uma das batalhas materiais de emergência, do dia a dia de bases dos


movimentos sociais rurais, é a terra. Pois ela “[...] constitui um dos elementos
centrais a partir do qual deriva a atuação dos movimentos de resistência”
(MIRANDA; FIUZA, 2017, p. 128). Porém, existem movimentos predominantes
que reivindicam o domínio da terra, e já outros que resistem pela utilização
sustentável desta (MIRANDA; FIUZA, 2017). Deste modo, nota-se que “[...] as
lutas dos movimentos sociais já não mais se voltam para a conquista do poder do
Estado, mas contra o próprio poder, na medida em que reconhecem uma crise do
Estado e do poder na sociedade atual” (MIRANDA; FIUZA, 2017, p. 128).

A história dos movimentos sociais do campo no território brasileiro surgiu


a partir de duas principais frentes: as Ligas Camponesas, entre as décadas de
1940 e 1960, localizadas na Região Nordeste, e nos anos 1980 surgiu o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conforme explicam Miranda e Fiúza
(2017). Mas a partir dos anos 90, a agricultura mundial passou por mudanças
importantes perante os novos padrões de acumulação e exploração sob a égide do
capitalismo monopolista mundializado, segundo Oliveira (2004b apud RIBEIRO,
CLEPS JUNIOR, 2011).

Segundo Ribeiro e Cleps Júnior (2011, p. 76), nesse período,

[...] a atuação de corporações transnacionais ligadas aos negócios


agrícolas nas etapas de produção, processamento, pesquisas e difusão
de biotecnologia e no setor alimentício ganhou relevo, num movimento
de expansão da agricultura capitalista que delineou, desde então, uma
nova etapa de modernização técnica da agricultura no país, designada
como agronegócio.

Esse acontecimento marca o espaço rural e o trabalho agrícola no Brasil,


e ainda abrange distintos esferas da sociedade. Este método envolve até “[...]
subordinações, resistências e respostas dos trabalhadores rurais, camponeses
e suas organizações políticas, frente a esse novo cenário desenhado para a
agricultura brasileira [...]”, segundo Ribeiro e Cleps Junior (2011, p. 77). Para eles,
no país, o modelo mais evidente desse aspecto de mobilização social advém das
principais organizações relacionadas à Via Campesina, tais como:

158
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-terra (MST), do Movimento


dos Pequenos Agricultores (MPA), da Comissão Pastoral da Terra (CPT)
e do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). Destes, o MST
se destaca graças ao alcance expressivo de sua atuação, manifestada
em discursos, notas públicas, entrevistas e demais estratégias, que
se propagam no cenário público nacional, como também por ações
diretas em que a pauta de denúncia e contestação ao agronegócio se
pronuncia (RIBEIRO, CLEPS JÚNIOR, 2011, p. 77).

Segundo Touraine (2006, p. 175), neste contexto os movimentos sociais são


“[...] atores de um conflito, agindo com outros atores organizados, que lutam pelo
uso social dos recursos culturais e materiais, aos quais os dois campos atribuem,
tanto um com o outro, uma importância central”. Para o autor, os movimentos
sociais exibem uma forte característica, na medida em que focam diretamente
no sistema político, e tratam de estabelecer uma identidade que lhes comporte
atuar sobre si próprios e sobre a sociedade em completo, através de técnicas,
importâncias e regras sociais que formam um sistema de conhecimento.

No Brasil, os movimentos sociais rurais apresentaram grande evidência


nos anos 1950 com as Ligas Camponesas, especialmente na Região Nordeste.
Elas caíram na clandestinidade nas décadas de 1960 e 1970 e nos anos 1980
retornaram aos manifestos com a colaboração da igreja católica e também de
partidos esquerdistas, tal como o Partido dos Trabalhadores (PT). De acordo com
Grybowsky (1994), as dificuldades vivenciadas pela maior parte da população
camponesa, especialmente os trabalhadores assalariados, os agricultores e as
suas famílias, estavam presos a exploração e a marginalização gerada pela
modernização agrária no campo.

Porém, o campo, a partir da década de 1970, suportou as decorrências deste


desenvolvimento excludente, corroborado na deterioração dos recursos naturais,
na centralização fundiária, no êxodo rural, nas modificações dos sistemas de
produção e ainda de relações sociais. Neste contexto, os diversos atores sociais,
como trabalhadores rurais, boias-frias, mulheres, jovens e pequenos produtores
rurais, começaram a se organizar, demonstrando resistência aos problemas
decorrentes deste processo de modernização. Nesta totalidade, Martins (1989)
alega que a resistência campestre é uma batalha pela terra e pela preservação
de uma história. Ela é fundamentada no trabalho coletivo do mutirão, também
na preservação da agricultura familiar e ainda na sociabilidade entre vizinhos,
parentes e compadres como uma opção concreta à degradação e à miséria.

Uma parte considerável dos movimentos sociais rurais possui uma


história injusta, já que a ideia que prevaleceu até o final dos anos 1980, de
tentar novas práticas políticas e também sociais, foi se misturando ao processo
de instrumentalização do Estado por meio partidário, conforme comenta Ricci
(2005). Deste modo, diversos movimentos sociais se legitimaram pelos partidos
políticos. E os movimentos sociais ao se legitimarem, segundo Cohen e Arato
(2000), também se racionalizam, procurando resguardar os seus direitos, além de
se aprovisionar com novas e criativas forças sociais.

159
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Neste caso, para Cohen e Arato (2000), os movimentos sociais as vezes


são defensivos e já outras ofensivos. Defensivos quando se posiciona no
desenvolvimento de identidades, de base local, que atuam sobre a consciência
e a tradição dos grupos. Já em seu aspecto ofensivo, estão as estratégias no jogo
de poder entre atores externos, visando se incluir institucionalmente no sistema
político e intervir nas políticas públicas.

Para Miranda e Fiuza (2017, p. 17), os movimentos sociais apresentam


a capacidade de combinar uma pluralidade de modelos de ação que vão de
estratégias duvidosas e interruptivas, tais como:

[...] os protestos públicos, passeatas e ocupações, até ações formais de


encaminhamento de demandas. O conjunto dessas ações e formas de
resistência é contingente e dinamizado pela relação com a sociedade
civil e com o Estado em cada contexto histórico específico. No que
diz respeito aos movimentos sociais rurais, estes têm intensificado
a sua participação nas disputas que envolvem a luta pela terra e o
controle social das políticas públicas relacionadas ao campo, buscando
fortalecer a agricultura familiar.

No entanto, segundo Miranda e Fiuza (2017, p. 17), “[...] nas últimas


décadas os movimentos sociais rurais [...]” exibem-se com outras compreensões e
técnicas, mais associadas ao habitual, das atitudes e dos anseios das pessoas que
dependem da lavoura.

Observa-se várias entidades religiosas articuladas com os movimentos


sociais rurais, como a igreja católica, que movimentavam atividades religiosas e
também políticas comunitárias desenvolvidas através das Comunidades Eclesiais
de Base (CEBs) de acordo com a história relacionadas à agricultura familiar.
“As CEBs, como se analisa posteriormente, introduziram elementos culturais
e simbólicos que cimentaram a confiança e a solidariedade nas conexões entre
os agricultores locais” (FREITAS; FREITAS, 2013 apud FREITAS; FERREIRA;
FREITAS, 2019, p. 18).

FIGURA 8 – CEBS DO BRASIL

FONTE: <http://cebsdobrasil.com.br/wpcontent/uploads/2018/08/20799461_753044231550121
_1812877185126960276_n-665x365.jpg>. Acesso em: 11 set. 2019.

160
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

Para Freitas, Ferreira, Freitas (2019, p. 18) que citam Petrini (1984) as CEBs
são:

[...] grupos de cristãos que se reuniam regularmente na casa das


famílias rurais ou nos centros comunitários, a fim de discutirem a
Bíblia e debaterem sobre as questões sociais, econômicas e políticas
que os afligia. A ideia de comunidade posta pela CEBs vinha de
sua organização por grupos formados por indivíduos de uma
mesma identificação geográfica: as comunidades rurais. O elemento
“comunidade” e o debate em torno das “relações fraternas” reforçavam,
entre os participantes [agricultores familiares], a proximidade social e
a solidariedade.

Quanto ao “[...] trabalho desenvolvido pelas CEBs [...]”, Cintrão, 1996


citado por Freitas; Ferreira; Freitas, (2019, p. 18), observa a desaprovação da prática
social vivida ao destacar as questões econômicas e sociais oriundos da distinção e
do abuso dos trabalhos dos desafortunados. Outro pilar que sustentava a atuação
das CEBs, conforme citado pelo autor, era a crença cristã, com base em apegos
éticos e de assistência. “A atuação das CEBs, como descrito, marcadamente tenta
romper com a grande correlação de forças que existia com o Estado e entre grandes
fazendeiros e pequenos agricultores, promovendo mais autonomia e consciência
crítica”, de acordo com Freitas, Ferreira, Freitas (2019, p. 19).

2.2.1 Movimento dos Sem Terra


A organização do MST surgiu em 1979 e nos anos 1980 se fortaleceu.
Na década de 1990 começou a participar ativamente do movimento cidadão
planetário, conforme explica Scherer-Warren (2016, p. 35). E a partir dos anos 2000,
o MST reúne três níveis principais de participação no movimento, propagando,
concomitantemente, as mediações da igreja católica, “marxista-leninista” e
também do “movimento cidadão”, de acordo com Scherer-Warren (2016, p. 37).

Os níveis do MST são três, as bases, as lideranças e as articulações/redes


transindenitárias:

a) As bases – os membros dos acampamentos ou assentamentos (os sem-


terra propriamente ditos), sujeitos aos processos de conscientização a
partir da prática e da convivência no movimento ou, conforme BOGO
(1998b), quando afirma que uma das linhas de ação do MST "é para
formar novos seres humanos, [pois]... a transformação de um latifúndio
em pequenas propriedade privadas... não leva a nada... o que constrói
uma sociedade é a mudança de caráter das pessoas e a mudança de
conduta das pessoas". Há uma grande diversidade cultural-regional
destas bases, e frequentemente, os processos de formação política não
são facilmente assimilados pelas culturas locais e geram resistências
ou conflitos (QUEIROZ, 1999 apud SCHERER-WARREN, 2016, p. 37).

161
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

b) As lideranças – participam na estrutura organizativa do MST, que


compreende coordenações locais (de assentamento e acampamento),
regionais, estaduais e nacional e direções estaduais e nacional, todas
sob a forma de coletivos sem presidência" (BERGER, 1998, p. 98). Nos
quadros políticos do movimento e busca da uniformidade de atuação,
seguindo princípios organizativos da segunda mediação mencionada
acima (as lutas de massa). Neste caso, discursivamente o sujeito
individual se dilui no coletivo como, por exemplo, no uso da expressão
"a gente" em lugar de "eu", "evidenciando o desejo de apresentar o
lugar do líder como um lugar de apagamento da individualidade e
de submissão ao coletivo" (QUEIROZ, 1999, p. 2000 apud SCHERER-
WARREN, 2016, p. 37-38).
c) As articulações/redes transindenitárias – referem-se ao nível da
participação conjunta do MST com outros movimentos sociais e
cidadãos simpatizantes em redes de informação, de vigília e de
resistência e manifestações massivas locais, regionais, nacionais e
transnacionais. Aqui encontramos redes mais horizontalizadas, menos
estruturadas e na qual a discursividade sobre o direito a participação
e vigília cidadã sobre decisões públicas que lhe dizem respeito, toma
vulto (SCHERER-WARREN, 2016, p. 38).

Simonetti (2012, p. 128) ressalta que em esfera global, o MST participa


da Via Campesina, que articula organizações camponesas dos diversos países e
que “[..] lutam por terra, reforma agrária e política agrícola adequada a pequena
produção’”. Quanto ao Setor de Direitos Humanos, o movimento, segundo
Simonetti (2012, p. 128):

[...] desenvolve um trabalho de formação e divulgação dos direitos


básicos e essenciais do cidadão brasileiro, da legislação geral e
específica da questão agrária, nos diversos cursos e encontros do
MST. Organiza as denúncias em âmbito nacional e junto aos órgãos
internacionais. Recentemente na ONU, o MST foi representado pela
Franciscan and Dominicans Fundation denunciando os constantes
desrespeitos aos Direitos Humanos por parte do governo brasileiro.

FIGURA 9 – MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA (MST)

FONTE: <https://terradedireitos.org.br/wp-content/uploads/2010/06/050524mst.jpg>. Acesso


em: 16 maio 2019.

162
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

Quanto às mulheres do MST, elas participam e em muitos casos lideram


ativamente as lutas em prol das terras, porém, não eram reconhecidas e nem
favorecidas pelos Planos e Projetos de Reforma Agrária, segundo Sales (2007).
O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), por meio da
Portaria nº 981/2003, tornou obrigatória os títulos das terras em nome do homem
e da mulher, em casos de casamento ou união estável (SALES, 2007).

Quanto às desigualdades de gênero, sobre os direitos das agricultoras,


criaram-se projetos que consideram as suas demandas. Sales (2007, p. 441)
comenta que para:

A ampliação significativa da cidadania feminina no campo


desencadeou-se principalmente com a Constituição de 1988, quando
no artigo 226, § 5°, foi reconhecida a igualdade entre homens e
mulheres na família, e no artigo 189, parágrafo único, estabelecida a
igualdade de direitos entre homens e mulheres na obtenção de título de
domínio ou de concessão de uso de terras para fins de reforma agrária.
Essas conquistas são fundamentais, expressam a luta das mulheres,
no entanto elas esbarram em outros obstáculos, como a falta de
documentos e escolaridade. A dificuldade de lidar com atividades do
mundo público, como abrir conta bancária, por exemplo, é reforçada
pelas práticas e costumes sexistas, que colaboram com a perpetuação
da subordinação das mulheres rurais.

Porém, para o reconhecimento legítimo das camponesas nas atividades


da agricultura há a necessidade de leis e de diversas atuações, unidas para
o empoderamento destas mulheres, assim elas poderão desfrutar os direitos
adquiridos.

2.2.2 Marcha das Margaridas


Um olhar sobre os movimentos de mulheres rurais de um modo geral nos
faz ver que houve transformações tanto na sua forma organizativa como no seu
aparecimento público. Vários movimentos, representando identidades sociais e
políticas diversas, emergiram no espaço público, através de ações e mobilizações
que, ao se fazerem crescentes, deram visibilidade às mulheres rurais. Uma dessas
ações, a Marcha das Margaridas, propõe, mediante suas reivindicações, mudanças
que podem ser entendidas tanto como econômico-estruturais quanto simbólico-
culturais, ao apresentar demandas que incluem tanto o reconhecimento cultural,
o reconhecimento da diferença, quanto a redistribuição econômica (AGUIAR,
2016).

As reivindicações históricas das mulheres rurais, como as


previdenciárias e de direitos sociais, dirigidas ao Estado, somaram-
se outras, relacionadas a temas produtivos e vinculados a um projeto
estratégico de desenvolvimento rural, o qual, na sua concepção,
questiona a ação do agronegócio, reafirma a importância do papel da
agricultura familiar e questiona o lugar das mulheres na sociedade.
Além disso, a Marcha das Margaridas vem mostrando, a cada ano em

163
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

que ocorre, uma extraordinária capacidade de ampliar as dimensões


constitutivas da identidade das trabalhadoras rurais, ao se nomearem
mulheres do campo, da floresta e das águas, de ampliarem as suas
bandeiras de lutas e de reafirmarem os seus direitos, ao propor a
construção de políticas públicas que respondam as suas reivindicações.
Tal feito é potencializado pelo contínuo processo de crescimento da
sua capacidade articulatória e de mobilização, o que determina a força
e o alcance das reivindicações, bem como o poder de negociação das
Marchas das Margaridas no decorrer desses 15 anos (AGUIAR, 2016,
p. 289-290).

Silva (2017, p. 2) ressalta que a Marcha das Margaridas congrega vários


movimentos de mulheres rurais e urbanas, nas esferas “regional, nacional e
internacional”, tais como:

Contag – Confederação dos Trabalhadores na Agricultura, Cut –


Central Única dos Trabalhadores, CNS – Conselho Nacional dos
Seringueiros e movimentos autônomos de mulheres e feministas,
como a Marcha Mundial de Mulheres, o MIQCB – Movimento de
Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu, o MMTR – NE – Movimento
de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Nordeste, Redelac – Rede de
Mulheres Rurais da América Latina e Caribe e outros.

Por fim, diante dos processos de transformação em curso no campo,


incluindo as florestas e as águas em toda a sua diversidade e dinâmica, e dos
conflitos e resistências em que vivem suas populações, principalmente, diante
da expansão do agronegócio e dos impactos dos grandes projetos que norteiam
o modelo de desenvolvimento vigente, e que impactam sobremaneira a vida as
mulheres que ali vivem, talvez o grande desafio que se apresenta hoje paras as
mulheres rurais, camponesas, mulheres do campo, da floresta e das águas, enfim,
seja a construção da unidade (AGUIAR, 2016).

FIGURA 10 – MARCHA DAS MARGARIDAS

FONTE: <http://www.marchamundialdasmulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/08/
marchamargaridas-300x190.jpg>. Acesso em: 16 maio 2019.

164
TÓPICO 2 | MOVIMENTOS SOCIAIS NO ESPAÇO RURAL

Para Aguiar (2016), o progresso da articulação dos movimentos numa


mesma constituição é um desafio aos movimentos de mulheres de uma maneira
geral, porém, principalmente, a Marcha das Margaridas, devido a sua função de
articuladora.

Para Aguiar (2016):

Enfrentar esse desafio significa se desvencilhar das identidades


protegidas e impulsionar processos dialógicos que promovam um
amplo debate sobre a realidade das mulheres do campo, da floresta e
das águas no contexto atual, e sobre as bases de um projeto político de
sociedade (ou de desenvolvimento) a partir da perspectiva feminista
(AGUIAR, 2016, p. 290).

Segundo o Caderno de Apresentação da Marcha Mundial das Mulheres


(2019, p. 5):

Desde 2000 até agora, já aconteceram 5 Marchas das Margaridas. É


a maior manifestação de mulheres rurais da América Latina. As
principais bandeiras das mulheres dos campos, das águas e das
florestas são: justiça social, democracia, autonomia, igualdade e
liberdade. As Margaridas elaboram plataformas políticas pautando:
reforma agrária; soberania alimentar; valorização do trabalho das
mulheres; direitos trabalhistas, sociais e previdenciários; valorização
do salário mínimo; educação e saúde pública no campo; combate à
violência; agroecologia e sustentabilidade; economia solidária etc. Em
2019, a Marcha das Margaridas tem sua 6ª edição. A Marcha acontece
em agosto, mas sua preparação e mobilização se inicia muitos meses
antes, em um processo amplo e contínuo por todo o país. A Margarida
que os poderosos quiseram calar espalhou sua semente.

Silva (2017) menciona como precursoras dos movimentos sociais:


Elizabeth Teixeira e Margarida Alves: “Elizabeth Teixeira foi uma das primeiras
mulheres que se destacou na defesa dos direitos dos(as) trabalhadores(as)
rurais”, presidiu a Liga Sapé no final dos anos 1950. “Margarida Alves associa-se
às lutas em defesa dos direitos dos/as trabalhadores rurais”, presidiu o Sindicato
no início da década de 1980 e fundou o CENTRU – Centro de Educação e Cultura
do Trabalhador Rural.

Além dos movimentos sociais de mulheres rurais, existem os movimentos


sindical rural e também os de jovens rurais, entre outros, todos com os mesmos
objetivos: melhores condições de vida, reconhecimento da identidade e terras
para trabalhar.

165
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

DICAS

Leia sobre a realidade da reforma da Previdência no campo no Brasil.


Disponível em: http://www.ctb.org.br/site/noticias/rurais/a-cruel-reforma-da-previdencia-
para-as-mulheres-rurais: Acesso em: 2 abr. 2019.

DICAS

Plano de aula – Movimentos sociais brasileiros urbanos e rurais


Plano de aula de Geografia com atividades para o 8º ano do Ensino Fundamental sobre
distinguir as ações de movimentos sociais urbanos e rurais no Brasil, a partir de suas
localizações e lógicas espaciais de atuação. Para saber mais acesse: https://novaescola.org.
br/plano-de-aula/6039/movimentos-sociais-brasileiros-urbanos-e-rurais. Acesso em: 2 abr.
2019.

166
RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os movimentos sociais são a ação de conflito oriunda de atores dos grupos


sociais que lutam pelo domínio do sistema de ação da história. E que em toda
sociedade há um movimento social que representa não uma básica mobilização,
mas uma concepção de transformação social.

• A Via Campesina articula organizações em nível global e regional, com a


finalidade de afrontar o atual modelo de desenvolvimento no campo: o
agronegócio, e também, constitui-se como um dos principais movimentos
que lutam contra o modelo neoliberalista. Atualmente, considera-se a Via
Campesina como a maior articulação de trabalhadores em nível mundial, pois
conta “com articulações em 70 países de todos os continentes” (MST, 2016).

• Organizações de trabalhadores rurais, agricultores familiares e camponeses de


vários países, em especial na América Latina, ante as mudanças advindas pela
globalização, defendem-se por meio da atualização de sua “agenda política e
reorientando seu campo de conflitos; nela, o enfrentamento e a luta política
contra o modelo do agronegócio surgem como elemento central”, conforme
Teubal (2008, p. 148-149 apud RIBEIRO, CLEPS JUNIOR, 2011, p. 86).

• Outro movimento importante é o Zapatista, localizado na região mexicana de


Chiapas, em 1994, que ocupou diversas cidades numa manifestação contra a
NAFTA (North American Free Trade Agreement). Além disso, contestava as
novas formas de dominação global do capital, defendia o direito, o respeito e a
manutenção das diversidades culturais, no caso a indígena.

• A história dos movimentos sociais do campo no território brasileiro surgiu a


partir de duas principais frentes: as Ligas Camponesas, entre as décadas de 1940
e 1960, localizadas na Região Nordeste e nos anos 1980 surgiu o Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), conforme explicam Miranda e
Fiúza (2017). Mas a partir dos anos 1990, a agricultura mundial passou por
mudanças importantes perante os novos padrões de acumulação e exploração
sob a égide do capitalismo monopolista mundializado.

• A organização do MST surgiu em 1979 e nos anos 1980 se fortaleceu. Na década


de 1990 começou a participar ativamente do movimento cidadão planetário. E
a partir dos anos 2000, o MST reuniu três níveis principais de participação no
movimento, propagando, concomitantemente, as mediações da igreja católica,
marxista-leninista e também do movimento cidadão.

167
• Um olhar sobre os movimentos de mulheres rurais de um modo geral nos
faz ver que houve transformações tanto na sua forma organizativa como no
seu aparecimento público. Vários movimentos, representando identidades
sociais e políticas diversas, emergiram no espaço público, através de ações e
mobilizações que ao se fazerem crescentes, deram visibilidade às mulheres
rurais. Uma dessas ações: a Marcha das Margaridas propõe mediante suas
reivindicações, mudanças que podem ser entendidas tanto como econômico-
estruturais quanto simbólico-culturais, ao apresentar demandas que incluem
tanto o reconhecimento cultural, o reconhecimento da diferença, quanto à
redistribuição econômica.

168
AUTOATIVIDADE

1 Delgado e Bergamasco (2017, p. 10) afirmam que os movimentos sociais, em


conjunto com a iniciativa do Estado e da Academia, exerceram uma função
importante na demarcação da Agricultura Familiar como um exemplo de
agricultura, como segmento agregador “[...] de direitos e como identidade
política unificadora de uma diversidade de unidades familiares no campo”.
Para os autores encontram-se entre os movimentos que se destacam as lutas
das mulheres rurais pela conquista de seus direitos e de seus “[...] espaços
de autonomia [...]”. Ao mesmo tempo, observa-se a importância do registro
das questões como o êxodo rural dos mais jovens, “[...] tendencialmente
definitiva, as migrações sazonais e ou pendulares, que se apresentam como
desafios, tanto na avaliação da dinâmica da própria Agricultura Familiar
quanto na formulação de políticas públicas para o setor [...]”.

De acordo com o texto e sobre as migrações do campo para cidade podemos


afirmar que:

a) ( ) Os movimentos migratórios do campo para cidade, conhecido Êxodo


Rural, é a melhor alternativa para melhorar a renda familiar para
determinados membros de famílias agrícolas, pois se torna uma opção de
ampliação e melhoria da qualidade de vida dos indivíduos que tem sua
origem de trabalho e produção de renda oriundas do campo.
b) ( ) A melhor opção para diminuir os direitos dos trabalhadores do campo
em nosso país é praticar a migração para as áreas urbanas como forma de
busca de atividades laborais e renda familiar.
c) ( ) Os direitos dos trabalhadores do campo devem ser iguais os dos
trabalhadores urbanos, a luta por igualdade e qualidade de vida e serviços
nos espaços rurais facilita a permanência dos trabalhadores rurais nas áreas
agrícolas de nosso país e fortalece a produção de renda no campo.
d) ( ) As lutas pelos direitos dos trabalhadores rurais devem ser diferenciadas
entre as mulheres e os homens, pois ambos executam atividades produtivas
diferentes no campo e essa prática corrobora com a ampliação dos direitos
entre os gêneros.

2 O desenvolvimento conduzido pelo capitalismo globalizado e pela lógica


capitalista financeira mundial nas décadas de 1990 e de 2000 “[...] transformou
países em desenvolvimento como o Brasil e outros da América Latina ao
impor medidas de ajuste estrutural às economias nacionais e ao Estado”,
ressaltam Ribeiro e Cleps Júnior (2011, p. 85). Deste modo, segundo Ribeiro
e Cleps Júnior (2011, p. 85), a agricultura do capital “[...] passou a ter papel
central na economia de países como o Brasil [...]”, porque foi escolhida para
a geração de “saldos comerciais” por meio das “exportações”, ao mesmo
tempo, o Estado garante “condições ao avanço e à consolidação desse
modelo agrícola. As exportações se tornaram uma importante forma de

169
ampliação da produção interna e ampliação do desenvolvimento do PIB –
Produto Interno Bruto de nosso país. Sobre essa questão das exportações,
podemos afirmar que:

a) ( ) As exportações dos produtos agropecuários de nosso país se tornaram


importante fonte de renda para pequenos e grandes produtores rurais e
auxiliou na ampliação da balança comercial brasileira.
b) ( ) As exportações não devem ultrapassar as importações, pois o saldo da
balança comercial nacional ficará positivo apenas se houver um equilíbrio
deste indicativo da balança.
c) ( ) As importações devem sempre ser mais atrativas no setor agropecuário
no Brasil, pois apresentam melhor qualidade dos insumos agrícolas que
os nacionais, não tendo capacidade de concorrência com os produtos
nacionais.
d) ( ) O equilíbrio da balança comercial só ocorrerá se nós exportamos mais
que importarmos, pois quanto maior as exportações mais lucro haverá para
nosso país principalmente no setor industrial, não havendo concorrência e
consequentemente a diminuição dos preços dos produtos que compõem a
estrutura dos insumos agropecuários.

170
UNIDADE 3
TÓPICO 3

ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

1 INTRODUÇÃO
Para o embasamento teórico deste tema foram realizados levantamentos
bibliográficos e históricos sobre a educação escolar no meio rural e sobre o ensino
de Geografia. Também foram analisados documentos oficiais como a Lei de
Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDB). Para compreender a educação do
espaço rural brasileiro se faz necessário estabelecer uma relação entre as políticas
educacionais direcionadas para essa modalidade de ensino.

No Brasil, somente a partir dos anos 1920 a educação para os sujeitos


do campo assume a centralidade das discussões e debates acadêmicos, devido
principalmente ao aumento do movimento migratório interno. Anteriormente,
a escola ofertada no espaço rural se caracterizava por sua descontinuidade e
desordenamento, não existindo uma legislação que embasasse a sua organização.
Neste período (1930) consolida-se o que diversos autores denominaram de
“Ruralismo Pedagógico”. Esta denominação refere-se a uma corrente de
pensamento influenciada pelas discussões promovidas pelos chamados pioneiros
da Nova Escola, iniciada nos anos de 1920 (RIBEIRO, 2010, p. 172). Foram
implantados programas de extensão rural e currículos específicos para as escolas
rurais visando manter os sujeitos no campo e evitar problemas, como por exemplo,
o êxodo rural. Com o fim do Estado Novo (1945), durante a redemocratização
brasileira, a educação para a população que residia no campo tinha continuidade
através de diversos projetos, entre eles destacava-se a Comissão Brasileiro-
Americana de Educação das Populações Rurais (CBAR), a qual buscava o “[...]
desenvolvimento de regiões campestres com a criação de programas de extensão
de Centros de Treinamentos para professores” (BELTRAME; CARDOSO;
NAWROSKI 2011, p. 112).

Os programas criados pela CBAR tinham como finalidade conter o êxodo


rural ou do fluxo migratório da população do campo para os espaços urbanos e
assim, estimular o desenvolvimento econômico das comunidades rurais. O alto
índice de analfabetos evidenciava o fracasso da educação rural que fundamentava
a ideia defendida pelo “ruralismo pedagógico”, o qual sugeria uma escola que
atendesse à demanda rural associando a sua formação com a produção agrícola
para que os filhos dos agricultores permanecessem no campo.

171
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

FIGURA 11 – A EDUCAÇÃO NO CAMPO

FONTE: <https://image.slidesharecdn.com/aeducaonocampo2-160925000314/95/a-educao-
no-campo-2-1-638.jpg?cb=1474761888>. Acesso em: 24 maio 2019.

Nessa perspectiva, compreende-se que a escola rural foi um instrumento


significativo para a expansão do capitalismo no Brasil, acompanhando a
desconstrução do modo de vida dos trabalhadores rurais, principalmente no que
diz respeito ao trabalho, aos saberes construídos historicamente e a sua cultura.
Aliado a esta perspectiva, em 1950 realizou-se a Campanha Nacional de Educação
Rural (CNER).

Não obstante, mesmo com o trabalho da CBAR e da CNER os anos que


seguiram foram marcados pela intensificação do êxodo rural, embora houvesse
a convicção de que a educação pudesse conter os problemas relacionados com a
migração das populações para o espaço urbano. Essas novas ideias aprofundaram
o afastamento dos povos do campo de sua realidade, pois a proposta de uma
educação regionalizada não dialogava com a realidade desta população, não
só desconsiderando a sua cultura e seus valores, mas também evidenciando a
rigidez dos projetos destinados ao espaço rural, de acordo com Ribeiro (2010).

A escola rural está profundamente distanciada da realidade do trabalho


e da vida dos agricultores, uma vez que a educação tem sido utilizada pelas
classes dominantes para manter a classe trabalhadora rural subordinada aos
seus interesses. Por essa razão, “[...] a escola rural continua hoje, como sempre
esteve, a mercê de modelos urbanos, distante, muito distante das necessidades do
trabalho e da produção de vida camponesa e até mesmo de seus valores básicos
mais profundos” (RIBEIRO, 2010, p. 176).

172
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 4.024/61 favoreceu


em parte os projetos que vinham sendo propostos para as escolas rurais brasileiras
deixando a educação rural a cargo das administrações municipais. Estas por sua
vez não contavam com grandes recursos, o que implicava na falta de infraestrutura
das escolas. A referida lei contribuiu para a “[...] manutenção da dicotomia da
formação de professores para o campo e para a cidade” (BELTRAME, 2011, p. 113),
comprovando a percepção de que o homem do campo não precisa de escola, pois,
“[...] para plantar não é necessário saber ler e escrever com fluência, tampouco ser
proficiente nas ciências e na matemática” (BELTRAME, 2011, p. 113).

Diante do contexto histórico da educação brasileira observa-se que até o


período de redemocratização (1985) as escolas rurais haviam sido contempladas
por políticas de ensino. É a partir da Constituição Federal de 1988, que a pauta
passa a ser a educação, mesmo não citando diretamente a educação do/no campo
(BELTRAME, 2011). Para Mancebo (2009), a Constituição de 1988 é um marco
importante, pois destaca a ruptura com um modelo ditatorial que minimizava os
direitos dos cidadãos, denotando que a partir desse período que os movimentos
sociais encontram espaço para reivindicar os direitos garantidos por lei.

A Educação do Campo surge com o propósito de construir uma escola


engajada em um projeto popular, a qual vem ressignificando a teoria e a prática
da educação rural. Destaca-se no processo histórico de consolidação da educação
do campo a Conferência Nacional por uma Educação Básica do Campo (1998), a
qual contou com a contribuição do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, reafirmando a pertinência da luta por políticas públicas e um projeto
educativo adequado à demanda dos sujeitos que vivem e trabalham no campo,
estabelecendo a partir deste momento um novo referencial para discussão e
mobilização popular: Substituía-se a denominada educação rural pela educação
do campo.

FIGURA 12 – O CRESCENTE ACESSO DA TECNOLOGIA NO CAMPO

FONTE: <https://www.portal.ufpa.br/images/Educacao_no_campo.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.

173
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

A Educação do Campo que vem sendo discutida no âmbito acadêmico


põe em debate a sua matriz formativa. Muito se discute sobre a sua formação e
consolidação. Nas palavras de Fernandes (2012) entende-se que:

Não existe outra fonte de nascedouro da Educação do Campo, embora


diversas pessoas e instituições tenham se apropriado dessa ideia, mas
jamais se apropriarão do movimento de luta e resistência que marca
a identidade camponesa no seu fazer-se do dia a dia que possibilita
a todos nós compreendermos o Paradigma Originário da Educação
do Campo. Esta luta é uma semeadura. Plantamos nos campos dos
desafios as esperanças e as resistências (FERNANDES, 2012, p. 15).

Frigotto (2010) complementa quando afirma que denominação de


Educação do Campo:

[...] engendra um sentido que busca confrontar, há um tempo, a


perspectiva colonizadora extensionista, localista e particularista
com concepções e métodos pedagógicos de natureza fragmentária e
positivistas. Esse confronto, que se expressa na forma semântica, só
é possível de ser entendido, social e humanamente, no processo de
construção de um movimento social e de um sujeito social e político
– Movimento dos Sem Terra (MST) – que disputa um projeto social e
educacional contra-hegemônico (FRIGOTTO, 2010, p. 36).

A Educação do Campo no cenário da educação brasileira se propõe


como uma educação emancipatória e atua no sentido de superar as relações
sociais capitalistas. Conforme proposto pela Resolução do Conselho Nacional
de Educação (CNE), “[...] torna-se fundamental para reivindicação de políticas
educacionais a elaboração das diversas práticas educativas” (SILVA, 2006, p. 61).

NOTA

A partir de Christóffoli (2006) entende-se que a escola do campo tem por meta
preparar o sujeito que vive e almeja melhorar as suas condições de vida no meio rural, pois
trata desde os interesses ligados à política, à cultura e à economia dos diversos grupos de
trabalhadores do campo. Nesse cenário, de busca por melhoras na qualidade da educação
do campo, surgem as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas com o
intuito de promover avanços no sentido de tornar o ensino voltado para esta população,
adequado as suas especificidades, pois historicamente não passava de uma adaptação do
ensino ofertado no espaço urbano.

FONTE: Revista Interface, n. 9, jun. 2015, p. 111.

174
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

FIGURA 13 – O ACESSO À EDUCAÇÃO NO CAMPO

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/e/educacao-campo.jpg>. Acesso em: 24


maio 2019.

Nosso país possui atualmente um parecer técnico para o estudo definido


como as Diretrizes Operacionais para a Educação nas Escolas Básicas do Campo,
de acordo com os novos parâmetros da Base Curricular Nacional, a BNCC, que
a partir de 2020 entrará em vigor em todo território nacional para a educação
Básica e Profissionalizante.

As Diretrizes Operacionais para a Educação nas Escolas Básicas do


Campo (BRASIL, 2002a) garantem a universalização do acesso da população na
Educação Básica e a Educação Profissional de Nível Técnico (BRASIL, 2002a, Art.
3º), bem como o desenvolvimento social economicamente justo e ecologicamente
sustentável (BRASIL, 2002a, Art. 4º). Contemplando a diversidade do campo
em todos os seus aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero,
geração e etnia (BRASIL, 2002a, Art. 5º).

O projeto institucional das escolas do campo busca garantir a gestão


democrática construindo mecanismos que possibilitem estabelecer relações entre
a escola, a comunidade local, os movimentos sociais, os órgãos normativos do
sistema de ensino e os demais setores da sociedade (BRASIL, 2002a, Art. 10),
consolidando desta forma a autonomia das escolas, o fortalecimento dos conselhos
(BRASIL, 2002a, Art. 11), promovendo o aperfeiçoamento dos docentes (BRASIL,
2002a, Art.12). Assim, as diretrizes estabelecem a identidade da escola do campo:

Pela sua vinculação às questões inerentes à sua realidade, ancorando-


se na temporalidade e saberes próprios dos estudantes, na memória
coletiva que sinaliza futuros, na rede da ciência e tecnologia disponível
na sociedade e nos movimentos sociais em defesa de projetos que
associem as soluções exigidas por essas questões à qualidade social da
vida coletiva no país (BRASIL, 2002a, p. 37).

175
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

O Ensino da Geografia, tanto para o Ensino Fundamental como para o


Ensino Médio, tem um papel importante no resgate não apenas do conhecimento
do território nas atividades econômicas primárias, mas para a compreensão da
interrelações que o campo e os espaços urbanos possuem em nosso país, que as
atividades tanto nos espaços rurais como nos espaços urbanizados estão cada vez
mais relacionados ao desenvolvimento e promove a necessidade da igualdade
social nestas áreas.

O ensino de geografia tem como papel resgatar identidades, fomentar


criatividades, colaborar na construção de personalidades equilibradas,
capazes de atuar nos diversos espaços da sociedade com o diferencial da
ética e da cidadania planetária. Devemos fazer com que o aluno perceba
qual a importância do espaço, na constituição de sua individualidade
e da(s) sociedade(s) de que ele faz parte (escola, família, cidade, país
etc.). Um dos maiores objetivos da escola, e também da Geografia, é
formar valores de respeito ao outro, respeito às diferenças (culturais,
políticas, religiosas), combate às desigualdades e às injustiças sociais
(OLIVEIRA, 1994, p. 3).

FIGURA 14 – A CONSTRUÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/conteudo/images/
dd849f54604db4ced57dd14de7b5e901.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.

2 ENSINO DE GEOGRAFIA E ESPAÇO RURAL


O Ensino de Geografia e a Geografia nos Espaços Rurais, conforme
analisada anteriormente, deve estar ligada ao modelo de vida do campo. Para
tanto, ressalta-se a importância e as especificidades deste modelo de educação
para a geografia no processo de resgate da identidade do sujeito e de sua
conscientização.

176
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Um ensino de geografia que se pretende integrador deve levar em


conta essa complexidade da realidade do campo brasileiro, articulando
em sua dinâmica as particularidades e especificidades do lugar, sem
desconsiderar as interconexões das escalas, ou seja, compreender o
lugar é, antes de tudo, pensá-lo como uma totalidade constituída por
espaços e tempos locais e globais (DAVID, 2010, p. 44).

O ensino de geografia permite que a escola do campo seja analisada a


partir do lugar e das pessoas que o habitam. Ensinar Geografia deve estar atrelado
a desvendar a espacialidade das práticas sociais e desta forma cabe a geografia
instrumentalizar o aluno para que consiga conhecer o lugar onde vive. A escola
do campo se institui como um espaço onde são reproduzidas as dinâmicas sociais
rurais e o professor de Geografia possui desafios no que tange a ação educativa
dos sujeitos do campo centrado na construção de conhecimentos e também na
significação do lugar, atrelando o mesmo a perspectiva global.

FIGURA 15 - AS ESTRATÉGIAS DO ENSINO DE GEOGRAFIA

FONTE: <https://s1.static.brasilescola.uol.com.br/be/e/geo[1].jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.

David (2010), afirma que:

Um ensino de geografia que se pretende integrador deve levar em


conta essa complexidade da realidade do campo brasileiro, articulando
em sua dinâmica as particularidades e especificidades do lugar, sem
desconsiderar as interconexões das escalas, ou seja, compreender o
lugar é, antes de tudo, pensá-lo como uma totalidade constituída por
espaços e tempos locais e globais (DAVID, 2010, p. 44).

O ensino de Geografia na escola do campo deve se propor a discutir a


realidade que está posta para os sujeitos do campo, compreender a sua dinâmica
e especificidade. Nesse sentido, analisar a Educação do Campo na perspectiva
geográfica nos remete a noção de lugar, o qual é caracterizado como “[...] um
espaço onde o homem está inserido, mantendo relações sociais, nos fazendo
refletir sobre o nosso papel no mundo” (WIZNIEWSKY, 2010, p. 32).

177
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Segundo Wizniewsky (2010), essas dinâmicas abarcam o encontro entre o


professor e o lugar, sua inserção na comunidade escolar, a construção de projetos
que valorizem o espaço rural em que a escola seja condutora de inserção social;
planejamento adequado do ensino voltado para os sujeitos do campo e as suas
expectativas, instrumentalizando-o para a permanência no campo. Compreende-
se que uma das atribuições da Geografia na educação básica hoje é pensar e
entender o mundo e sua organização, tarefa que desafia os docentes no sentido
de tornar válido para o aluno os conhecimentos que se propõem construir.

Pensar uma escola para o espaço rural que esteja adequada as


especificidades da população do campo, exige mais que a escolarização, pois essa
estrutura é em muitos casos uma referência para a comunidade, tendo como um
dos seus pilares o trabalho dos docentes que precisam compreender e valorizar
esse lugar. Dessa forma, fica clara a ideia de que a formação de professores para as
escolas do campo deve ser voltada para esse público e não apenas uma reprodução
da escola urbana. Além disso, a própria organização da escola do campo envolve
uma série de dinâmicas e de práticas que se estabelecem a partir da escola, de
modo que integre a comunidade onde se insere a escola e os profissionais que ali
exercem seu oficio.

Um dos imperativos desta construção na ciência geográfica é a análise


cartográfica, a qual contribui nesse aspecto em relação a percepção e leitura
que os alunos podem ter do espaço. Desse modo, o mapa mental torna-se
uma ferramenta de comunicação que permite o uso de uma linguagem para a
representação espacial da vida (TESSMANN; DUARTE; DIAS, 2015).

Nesse aspecto, Richter afirma que se torna essencial “[...] incorporar os


mapas mentais nas atividades de sala de aula, como linguagem cartográfica em
busca da associação entre os saberes cotidianos e científicos” (RICHTER, 2013, p. 1).

Logo, a percepção do espaço apontado pelo autor pode ser analisada e


compreendida a partir dos mapas mentais no ensino da Geografia, os quais são
imagens espaciais que vão além da representação do espaço vivido, ou seja, a
percepção dos lugares vividos pelas pessoas. Os mapas mentais valem-se do
universo simbólico e são produzidos por acontecimentos, sentimentos, ideias e
envolvem o subjetivo e a imaginação. Desta forma, enriquecem a representação
da realidade de determinado grupo social e possibilita a compreensão da sua
leitura de mundo (TESSMANN; DUARTE; DIAS, 2015).

178
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

FIGURA 16 – AS TRANSFORMAÇÕES DO ESPAÇO E A GEOGRAFIA RURAL

FONTE: <https://www.estudopratico.com.br/wp-content/uploads/2013/01/exodo-rural-
campones-platacao.jpg>. Acesso em: 24 maio 2019.

Quanto ao ensino de Geografia na escola do campo percebe-se a necessidade


de uma formação continuada, pois proporciona um maior embasamento para
que seja possível uma construção de conhecimento tanto para o professor
em formação quanto para o aluno. Para tanto nos afirma Callai (2012, p. 259):
“Nós, professores que conhecemos a realidade das escolas em que atuamos,
precisamos reconhecer também as capacidades e os interesses da comunidade
e nos instrumentalizarmos, cada vez mais, com o conhecimento que produzirá a
nossa capacidade de agir”.

Devemos pensar uma educação do campo que possibilite manter a


identidade deste espaço, para que os sujeitos se vejam enquanto sujeitos-históricos
atuantes no processo de transformação do lugar onde vivem. É importante que a
escola mantenha em sua prática pedagógica o resgate histórico da legitimidade
do seu movimento e que o ensino seja entendido por esses sujeitos nas suas
experiências do cotidiano. Logo, atribui-se a ciência geográfica a responsabilidade
de fazer essa leitura crítica do lugar, do local para o global e de propor uma análise
interdisciplinar do ensino (DAVID, 2010, p. 44). Destaca-se que o mapa mental
surge como uma ferramenta essencial do ensino de geografia, em vista que o
mesmo proporciona conhecimento não somente sobre a percepção do espaço por
parte do aluno, mas também acerca de sua visão de mundo.

A construção desse tipo de mapa não provém somente do campo


das experiências dos indivíduos sobre os lugares vividos; eles
também resultam do conhecimento histórico social da própria
sociedade, que é perpassada de geração para geração. [...] os mapas
mentais transcendem essa escala de relação e são registros de uma
representação do conhecimento humano ao longo do tempo, que
expressa pela linguagem cartográfica, suas interpretações sobre o
meio em que vivem (RICHTER, 2013, p. 4).

179
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Evidencia-se que os mapas mentais criados pelos alunos na referida


pesquisa apontaram para a importância da discussão sobre o conceito de lugar
como espaço de vivência, sem ser negado ou reduzido a uma escala de análise
meramente expositiva.

NOTA

A sociedade contemporânea exige que o professor de geografia, como


um profissional que atua na organização social, tenha um posicionamento contra as
desigualdades sociais. Portanto, temos a necessidade de refletirmos sobre as consequências
do processo educativo. Dessa maneira, ao analisar a disciplina de Geografia no contexto
rural, entendemos que os conteúdos ministrados necessitam ser revistos, discutidos e
planejados, com o intuito de que esse conhecimento possa ser apreendido, transmitido,
analisado e elaborado, de forma a auxiliar na organização do espaço geográfico do aluno.

2.1 BNCC GEOGRAFIA NA EDUCAÇÃO BÁSICA E NO


ESPAÇO RURAL
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um documento que
regulamenta as aprendizagens essenciais a serem trabalhadas nas escolas
brasileiras públicas e particulares da Educação Infantil, Ensino Fundamental e
Ensino Médio para garantir o direito à aprendizagem e o desenvolvimento pleno
de todos os estudantes. A Base estabelece dez competências gerais que devem
guiar o trabalho em todos os anos e em todas as áreas de conhecimento. Cada área
e cada componente curricular possuem suas competências específicas. Em cada
componente estão definidas unidades, objetos de conhecimento e as habilidades.

No contexto da Geografia e da BNCC está inserida na área de Ciências


Humanas, pois contribui para que os alunos desenvolvam a cognição, ou seja,
sem prescindir da contextualização marcada pelas noções de tempo e espaço,
conceitos fundamentais da área. Cognição e contexto são, assim, categorias
elaboradas conjuntamente, em meio a circunstâncias históricas específicas,
nas quais a diversidade humana deve ganhar especial destaque, com vistas ao
acolhimento da diferença.

O raciocínio espaço-temporal baseia-se na ideia de que o ser humano


produz o espaço em que vive, apropriando-se dele em determinada circunstância
histórica. A capacidade de identificação dessa circunstância impõe-se como
condição para que o ser humano compreenda, interprete e avalie os significados
das ações realizadas no passado ou no presente, o que o torna responsável tanto
pelo saber produzido quanto pelo controle dos fenômenos naturais e históricos
dos quais é agente.

180
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

A abordagem das relações espaciais e o consequente desenvolvimento do


raciocínio espaço-temporal no ensino de Ciências Humanas devem favorecer a
compreensão, pelos alunos, dos tempos sociais e da natureza e de suas relações
com os espaços. A exploração das noções de espaço e tempo deve se dar por meio
de diferentes linguagens, de forma a permitir que os alunos se tornem produtores e
leitores de mapas dos mais variados lugares vividos, concebidos e percebidos. Na
análise geográfica, os espaços percebidos, concebidos e vividos não são lineares.
Portanto, é necessário romper com essa concepção para possibilitar uma leitura
geo-histórica dos fatos e uma análise com abordagens históricas, sociológicas e
espaciais (geográficas) simultâneas. Retomar o sentido dos espaços percebidos,
concebidos e vividos nos permite reconhecer os objetos, os fenômenos e os lugares
distribuídos no território e compreender os diferentes olhares para os arranjos
desses objetos nos planos espaciais.

As Ciências Humanas devem estimular uma formação ética, elemento


fundamental para a formação das novas gerações, auxiliando os alunos a construir
um sentido de responsabilidade para valorizar os direitos humanos; o respeito ao
ambiente e à própria coletividade; o fortalecimento de valores sociais, tais como
a solidariedade, a participação e o protagonismo voltados para o bem comum e
sobretudo, a preocupação com as desigualdades sociais.

Cabe ainda às Ciências Humanas cultivar a formação de alunos


intelectualmente autônomos, com capacidade de articular categorias de
pensamento histórico e geográfico em face de seu próprio tempo, percebendo as
experiências humanas e refletindo sobre elas, com base na diversidade de pontos
de vista. Os conhecimentos específicos na área de Ciências Humanas exigem
clareza na definição de um conjunto de objetos de conhecimento que favoreçam
o desenvolvimento de habilidades e que aprimorem a capacidade dos alunos
pensarem diferentes culturas e sociedades, em seus tempos históricos, territórios e
paisagens (compreendendo melhor o Brasil, sua diversidade regional e territorial).
E que os levem a refletir sobre a sua inserção singular e responsável na história da
sua família, comunidade, nação e mundo. Ao longo de toda a Educação Básica,
o ensino das Ciências Humanas deve promover explorações sociocognitivas,
afetivas e lúdicas capazes de potencializar sentidos e experiências com saberes
sobre a pessoa, o mundo social e a natureza.

Considerando esses pressupostos, e em articulação com as competências


gerais da Educação Básica, a área de Ciências Humanas deve garantir aos alunos
o desenvolvimento de algumas competências específicas:

• Compreender a si e ao outro como identidades diferentes, de forma a exercitar o


respeito a diferença em uma sociedade plural e promover os direitos humanos.
• Analisar o mundo social, cultural e digital e o meio técnico-científico-
informacional com base nos conhecimentos das Ciências Humanas,
considerando suas variações de significado no tempo e no espaço, para intervir
em situações do cotidiano e se posicionar diante de problemas do mundo
contemporâneo.

181
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

• Identificar, comparar e explicar a intervenção do ser humano na natureza


e na sociedade, exercitando a curiosidade e propondo ideias e ações que
contribuam para a transformação espacial, social e cultural, de modo a
participar efetivamente das dinâmicas da vida social.
• Interpretar e expressar sentimentos, crenças e dúvidas com relação a si mesmo,
aos outros e as diferentes culturas, com base nos instrumentos de investigação
das Ciências Humanas, promovendo o acolhimento e a valorização da
diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades,
culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.
• Comparar eventos ocorridos simultaneamente no mesmo espaço e em espaços
variados, e eventos ocorridos em tempos diferentes no mesmo espaço e em
espaços variados.
• Construir argumentos, com base nos conhecimentos das Ciências Humanas,
para negociar e defender ideias e opiniões que respeitem e promovam os direitos
humanos e a consciência socioambiental, exercitando a responsabilidade e o
protagonismo voltados para o bem comum e a construção de uma sociedade
justa, democrática e inclusiva.
• Utilizar as linguagens cartográfica, gráfica e iconográfica e diferentes gêneros
textuais e tecnologias digitais de informação e comunicação no desenvolvimento
do raciocínio espaço-temporal relacionado com a localização, distância, direção,
duração, simultaneidade, sucessão, ritmo e conexão.

Estudar Geografia é uma oportunidade para compreender o mundo


em que se vive, na medida em que esse componente curricular aborda as ações
humanas construídas nas distintas sociedades existentes nas diversas regiões do
planeta. Ao mesmo tempo, a educação geográfica contribui para a formação do
conceito de identidade, expresso de diferentes formas: na compreensão perceptiva
da paisagem que ganha significado à medida que, ao observá-la, nota-se a
vivência dos indivíduos e da coletividade; nas relações com os lugares vividos;
nos costumes que resgatam a nossa memória social; na identidade cultural e na
consciência de que somos sujeitos da história, distintos uns dos outros e por isso,
convictos das nossas diferenças.

Para fazer a leitura do mundo em que vivem, com base nas aprendizagens
em Geografia, os alunos precisam ser estimulados a pensar espacialmente,
desenvolvendo o raciocínio geográfico. O pensamento espacial está associado ao
desenvolvimento intelectual que integra conhecimentos não somente da Geografia,
mas também de outras áreas (como Matemática, Ciência, Arte e Literatura). Essa
interação visa a resolução de problemas que envolvem mudanças de escala,
orientação e direção de objetos localizados na superfície terrestre, efeitos de
distância, relações hierárquicas, tendências a centralização e a dispersão, efeitos
da proximidade e vizinhança etc.

O raciocínio geográfico, uma maneira de exercitar o pensamento espacial,


aplica determinados princípios para compreender aspectos fundamentais da
realidade: a localização e a distribuição dos fatos e fenômenos na superfície
terrestre, o ordenamento territorial, as conexões existentes entre componentes

182
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

físico-naturais e as ações antrópicas. Essa é a grande contribuição da Geografia


aos alunos da Educação Básica: desenvolver o pensamento espacial, estimulando
o raciocínio geográfico para representar e interpretar o mundo em permanente
transformação e relacionando componentes da sociedade e da natureza. Para
tanto, é necessário assegurar a apropriação de conceitos para o domínio do
conhecimento fatual (com destaque para os acontecimentos que podem ser
observados e localizados no tempo e no espaço) e para o exercício da cidadania.

Ao utilizar corretamente os conceitos geográficos, mobilizando o


pensamento espacial e aplicando procedimentos de pesquisa e análise das
informações geográficas, os alunos podem reconhecer: a desigualdade nos
usos dos recursos naturais pela população mundial; o impacto da distribuição
territorial em disputas geopolíticas; e a desigualdade socioeconômica da
população mundial em diferentes contextos urbanos e rurais. Desse modo, a
aprendizagem da Geografia favorece o reconhecimento da diversidade étnico-
racial e das diferenças dos grupos sociais, com base em princípios éticos (respeito
à diversidade e combate ao preconceito e à violência de qualquer natureza). Ela
também estimula a capacidade de empregar o raciocínio geográfico para pensar
e resolver problemas gerados na vida cotidiana, condição fundamental para o
desenvolvimento das competências gerais previstas na BNCC.

Nessa direção, a BNCC está organizada com base nos principais conceitos
da Geografia contemporânea, diferenciados por níveis de complexidade. Embora
o espaço seja o conceito mais amplo e complexo da Geografia, é necessário que
os alunos dominem outros conceitos mais operacionais e que expressam aspectos
diferentes do espaço geográfico: território, lugar, região, natureza e paisagem.
O conceito de espaço é inseparável do conceito de tempo e ambos precisam ser
pensados articuladamente como um processo. Assim como para a História, o
tempo é para a Geografia uma construção social que se associa com a memória e
cm as identidades sociais dos sujeitos. Do mesmo modo, os tempos da natureza
não podem ser ignorados, pois marcam a memória da Terra e as transformações
naturais que explicam as atuais condições do meio físico natural. Assim, pensar a
temporalidade das ações humanas e das sociedades por meio da relação tempo-
espaço representa um importante e desafiador processo na aprendizagem de
Geografia.

FONTE: Adaptado da Base Nacional Comum Curricular. Disponível em: http://


basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 18 de set. 2019.

Caro acadêmico, partindo deste bloco de conteúdo, convidamos você


a refletir sobre a temática do espaço rural com as propostas apresentadas na
BNCC para o ensino de Geografia e a Educação Básica e também das Ciências
Humanas. Pense em futuras aulas, metodologias e conteúdos.

183
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

2.2 ENSINO GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO


FUNDAMENTAL
O ensino Fundamental nas áreas rurais, assim como nos espaços urbanos,
também está direcionado para os primeiros 9 anos básicos do ensino em nosso
país, compreendendo do 1º ano ao 9º ano do Ensino Fundamental, pois de acordo
com a Constituição Federal de 1988 a educação passa a ser direito fundamental
garantido a todo e qualquer indivíduo, independentemente em que local
esse indivíduo reside e vive. Desse modo, a educação fornecida à população
camponesa deve ser garantida no mesmo patamar de igualdade que é fornecida
para a população urbana.

O ensino de Geografia na Educação Básica, à luz das novas Bases Nacionais


Curriculares, as BNCC, tanto no espaço rural como no espaço urbano, possuem
as competências necessárias para adequar os conteúdos e os temas transversais,
como incorporar o estudo da geografia uma nova abordagem proposta pelo
documento, a ênfase recai sobre o pensamento espacial e o raciocínio geográfico.
Buscar o discernimento de como esses espaços são mudados tanto pelos aspectos
naturais como pelas atividades antrópicas, ou seja, causadas pelo próprio
homem, para se aproximar dos objetivos de aprendizagem. O professor precisa
se apropriar de conteúdos procedimentais.  Para desenvolver nos estudantes o
raciocínio da ciência geográfica e articular princípios básicos como conhecimento
de Sistemas de produção agrários e modos de exploração da terra, a compreensão
das dimensões do uso destes espaços e os atores inseridos neles que contribuem
para as transformações e as alterações nestes espaços.

Após a Constituição de 1988 surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação


(9394/96) que vai delinear as principais ideias que norteiam as práticas educativas
no campo, quanto à metodologia, à didática, ao calendário escolar etc. Por fim, o
Decreto nº 7352/2010, dispõe sobre a política educacional do campo, bem como
sobre o Programa Nacional de Educação de Reforma Agrária (PRONERA). As
Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, em 3 de
abril de 2002, pela Resolução CNE/CEB 1 e regulamentada por quinze artigos,
sem fragmentar o projeto global de educação do país.

O estudo da Geografia Rural ou Agrária se torna fundamental para


nortearmos o Ensino desta disciplina também nas áreas rurais, e a importância
de estudar as leis que regulamentam a educação do campo, pois introduzem no
contexto escolar camponês, práticas educacionais condizentes com a realidade,
a cultura e a identidade do povo do campo, possibilitando um resgate cultural
da população camponesa, como também permite que essa população permaneça
em seu espaço rural, sem se deslocar para os centros urbanos, a fim de melhores
condições de vida. Isso significa dizer uma educação do campo e no campo.

184
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

O professor de Geografia que atua e ensina essa disciplina nas áreas


rurais de nosso país, tem como principal responsabilidade levantar pensamentos
e análises críticas das transformações do espaço com seus discentes, levando-os a
uma autoanálise da necessidade que sua participação, como agente atuante neste
espaço, têm e a importância para as transformações positivas para toda uma
sociedade que depende da produção econômica das áreas rurais e da produção
de renda nestes espaços de forma sustentável e coerente para todos os atores
envolvidos nesta transformação.

A Educação da Geografia no campo é uma área de ensino que tem


como objetivo a educação de crianças, jovens e adultos que vivem no campo e
dependem do campo em suas atividades laborais. Portanto, trata-se muito além
de uma disciplina de bases curriculares, trata-se de uma linha de pensamento
que atribui a uma política pública que possibilita o acesso ao direito à educação
de milhares de pessoas que vivem fora do meio urbano e que precisam ter esse
direito garantido nas mesmas proporções em que é garantido para a população
urbana e nos conhecimentos destes espaços.

FIGURA 17 – OS DIFERENTES ESPAÇOS GEOGRÁFICOS NO CAMPO

FONTE: <http://www.contag.org.br/imagens/ctg_noticia_52917664_31072017185135.jpg>.
Acesso em: 24 maio 2019.

Para que possamos desenvolver o ensino de geografia no campo,


precisamos entender as diferentes realidades que existem, por exemplo, em nosso
território nacional as diferentes realidades de desenvolvimento e as diferentes
atuações das atividades econômicas de acordo com a realidades dos espaços
como o conhecimento de solo, clima, hidrografia, precisamos buscar analisar
e estudar os diferentes espaços no gigantesco território deste país, precisamos
classificar os aspectos físicos ou naturais com as diferentes populações e vocações
de produtividade, só assim conseguiremos atingir verdadeiras formas para
conhecer e desenvolver o campo em nosso país.

185
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

O Decreto Nº 7352/2010 em seu artigo 1º conceitua população de campo e


escola do campo:

Populações do campo:

[...] agricultores familiares, os extrativistas, os pescadores artesanais,


os ribeirinhos, os assentados e acampados da reforma agrária,
os trabalhadores assalariados rurais, os quilombolas, os caiçaras, os
povos da floresta, os caboclos e outros que produzam suas condições
materiais de existência a partir do trabalho no meio rural (grifo nosso).
Escola do campo: aquela situada em área rural, conforme definida
pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, ou
aquela situada em área urbana, desde que atenda predominantemente
a populações do campo (BRASIL, 2010, grifos nossos).

Nesse sentido, faz-se necessária uma educação que respeite e valorize


a cultura da população na qual a escola está inserida, a fim de que os alunos
construam suas identidades de forma positiva e valorativa.

O Brasil sendo um país historicamente de origem agrária, no qual o


sistema econômico era direcionado para o colonialismo, o latifúndio e o trabalho
escravo, a educação rural não é tratada nas constituições de 1824 e 1891. Mesmo
que de maneira frágil a Constituição de 1934 aponta algum tratamento para a
educação rural no que tange ao financiamento e apresenta uma relevância maior
de tratamentos aos aspectos educacionais, lembrando que essa preocupação vai
basear-se no termo adaptar.

No decorrer do desenvolvimento econômico brasileiro surgem outras


Constituições como a de 1937 e 1946. A de 1937 enfoca a importância da educação
profissional no contexto da indústria, mas não traz propostas para o ensino
agrícola. Enquanto a Constituição de 1946 retoma o incentivo ao ensino na zona
rural contemplado pela Constituição de 1934, diferenciando-se da mesma, porque
transfere todo o ensino rural para a empresa privada, inclusive o ensino agrícola.
Posteriormente, as constituições de 1967 e na emenda de 1969 repetem a questão
de financiamentos e intensificam-se a questão de adaptar a escola à realidade
rural (KOLLING; CERIOLI; CALDART, 2002).

Em 1964 surgem os movimentos que em pleno período da Ditadura


Militar tem o objetivo de atingir a modernização fazendo a assepsia das pressões e
conflitos sociais. No período de transição correspondente a Nova República, entre
1985 e 1989, em nome do combate ao autoritarismo foi introduzido uma política
da “racionalidade democrática” que acabou gerando dispersão e descontrole de
recursos justificando práticas clientelistas.

Portanto, é nesse contexto que se fortalece a pressão sobre a Constituição


de 1988, conseguindo que os artigos 208 e 210 trouxessem uma concepção que
considerasse as especificidades do campo como local diferenciado e ao mesmo
tempo fazendo parte da sociedade como um todo. A regulamentação da Lei de

186
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Diretrizes e Bases de nº 9.394/96, no art. 28 e incisos, estabeleceram uma nova


forma de sociabilidade no âmbito da política, quando submete o processo de
adaptação que até então vinha sendo estabelecido pelas outras Constituições por
adequação. Além de reconhecer a diversidade sociocultural e o direito à igualdade
e à diferença, também encaminha uma política educacional para a educação rural.

Como educadores na área do ensino da geografia, tem-se um compromisso


com a formação da cidadania de nossos alunos, de possibilitar que ele construa
relações com o espaço em que está inserido e que seja capaz de transformá-lo, a
partir da leitura da sua realidade através da observação e a interpretação como um
todo, formado por uma ponte de conhecimento através de recursos não verbais
como gráficos, desenhos, estatísticas e outros. O conteúdo é muito importante para
o ensino de Geografia, mas a interpretação geográfica é o essencial. Segundo Rego,
Suertegaray e Heidrich (2003), essa interpretação atravessa os fatos geográficos
e estabelece articulações em nível crescente que constitui uma rede de muitos
nexos, com inter-relações de ordens diversas. Também são “[...] extremamente
vastos e cada vez mais vão aumentando, o que significa que deve ser feita uma
seleção destes, o que tem sido uma tarefa bastante árdua para os professores”
(CASTROGIOVANI; CALLAI; KAERCHER, 2008, p. 103). Vê-se que o professor
de geografia se encontra em uma posição difícil e este deve fazer o melhor que
pode para selecionar conteúdos relevantes e, ao mesmo tempo, interessantes
para os seus alunos. Como uma orientação nesta tarefa, Castrogiovani; Callai e
Kaercher (2008) reflete que:

[...] o conteúdo da Geografia [...] é o material necessário para que o


aluno construa o seu conhecimento, aprenda a pensar. Aprender a
pensar significa elaborar, a partir do senso comum, do conhecimento
produzido pela humanidade e do confronto com os outros saberes
(do professor, de outros interlocutores), o seu conhecimento. Este
conhecimento, partindo dos conteúdos de Geografia, significa “uma
consciência espacial” das coisas, dos fenômenos, das relações sociais
que se travam no mundo (CASTROGIOVANI; CALLAI; KAERCHER,
2008, p. 95).

A formação continuada dos professores e o projeto político-pedagógico


não devem limitar-se aos conteúdos curriculares porque “[...] o grande desafio
da escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado o seu papel de mera
‘repetidora’ de programas de ‘treinamento’, é ousar assumir o papel predominante
na formação dos profissionais” (VEIGA; CARVALHO, 1994, p. 50).

A melhoria da qualidade da formação profissional e a valorização do


trabalho pedagógico implicam, também, a indissociabilidade entre a formação
inicial e a formação continuada. O reforço a valorização dos profissionais da
educação, garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional permanente
significa “[...] valorizar a experiência e o conhecimento que os professores têm a
partir de sua prática pedagógica” (VEIGA; CARVALHO, 1994, p. 51).

187
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Durante muito tempo e até mesmo ainda nos dias atuais a educação nas
área rurais além de limitadas aos primeiros anos do ensino fundamental, eram
insuficientes para atender toda a população rural que necessitava da escola e
da formação continuada para o aprimoramento técnico dos estudantes para a
formação básica, principalmente para a aplicabilidade destas técnicas em sua
propriedade rural e de produção em que atuam como os principais agentes
transformadores de seus espaços. “A educação rural era predominantemente
vista como algo que atendia a uma classe da população que vivia num atraso
tecnológico, subordinado, a serviço da população dos centros urbanos” (ROSA;
CAETANO, 2008, p. 23).

Esse tipo de educação predominou até a segunda metade do século XX,


em que não havia uma preocupação com a cultura e costumes do homem do
campo. Isso significa dizer que a educação voltada para as pessoas do campo
era fora da realidade na qual a escola estava inserida. O que se pretendia era
formar pessoas para o mercado de trabalho urbano, fato que contribui muito para
o êxodo rural, isso por conta da falta de valorização da cultura camponesa, pois
muitos dos materiais didáticos eram voltados para a realidade urbana, ou seja,
uma pedagogia distanciada da realidade camponesa, sem qualquer significação
para os alunos do campo (ROSA; CAETANO, 2008, p. 28).

De acordo com as Diretrizes Operacionais para a Educação nas Escolas


de Campo, Resolução CNE/CEB Nº 1/2002 (BRASIL, 2002a), os professores com
formação no âmbito urbano que atuavam nas escolas rurais, “[...] desenvolviam
um projeto educativo ancorado em formas racionais, valores e conteúdos próprios
da cidade, em detrimento da valorização dos benefícios que eram específicos do
campo” (BRASIL, 2002a, p. 270).

FIGURA 18 – EDUCAÇÃO E AS DIRETRIZES PARA AS REGIÕES RURAIS

FONTE: <https://www.ebah.com.br/content/ABAAAfmJYAH/educacao-no-campo>. Acesso em:


24 maio 2019.

188
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Tal fato sem dúvida ocasionava uma prática educativa desvinculada da


realidade dos educandos camponeses, tornando-se uma prática sem significação.
Com relação à educação do Ensino Fundamental do campo, verifica-se que essa
começa a se intensificar a partir da segunda metade do século XX, através de
reivindicações de movimentos sociais e da sociedade civil que desejavam uma
educação voltada para os interesses e necessidades da população do campo, bem
como uma educação que valorizasse a cultura e a identidade dessa população.
Percebe-se que com tais movimentos havia o desejo de uma educação inclusiva e
autônoma (TRAVESSINI, 2015, p. 29).

A partir da realização da I Conferência Nacional por Uma Educação


do Campo, em 1998, “[...] a expressão campo passa a substituir o termo rural.
Entende-se que, em tempos de modernização, com esta expressão campo, há uma
abrangência maior de sociedades diversas que habitam as regiões do país que
não se dizem urbanas” (ROSA; CAETANO, 2008, p. 23).

A educação do campo deve ser aquela que se baseia em práticas educativas


e pedagógicas que estejam de acordo com a realidade da população camponesa,
bem como que leve em conta a cultura e as tradições das pessoas que vivem
no âmbito rural. Observa-se que é uma educação que surge em resposta aos
movimentos sociais do campo que sempre buscavam uma educação condizente
com a vida e os hábitos dos alunos da zona rural.

NOTA

BNCC Geografia Ensino Fundamental e Espaço Rural


O componente Geografia da BNCC foi dividido em cinco unidades temáticas comuns ao
longo do Ensino Fundamental, em uma progressão das habilidades.
Caro acadêmico, pesquise, busque informações e conhecimentos referentes à BNCC e
à Geografia, olhe as unidades temáticas, os objetos de conhecimentos e habilidades que
estão em relação com o estudo do espaço rural na geografia. Pense em futuras aulas,
metodologias e conteúdos. Para saber mais acesse: http://basenacionalcomum.mec.gov.
br/abase/.
Sucesso em sua investigação!

3 ENSINO DE GEOGRAFIA RURAL NO ENSINO MÉDIO


Para começarmos a abordagem do Ensino de Geografia, em especial na
realidade atual do campo Brasileiro, precisamos abordar para nossos estudantes
primeiramente o conhecimento de espaço e as diferentes maneiras que se encontra
no território nacional, os conteúdos contemplados em bases da Geografia Regional
do Brasil e do Mundo. Assim, poderemos abordar os processos históricos da

189
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

construção dos territórios, os processos políticos, econômicos, sociais, ambientais


e culturais e conseguiremos relacionar com os assuntos atuais e enfatizar o que
mais se destaca em cada situação, como no contexto cartográfico, tanto de forma
conceitual como nas próprias análises das escalas dos territórios.

A proposta para o Ensino Médio das BNCCs no Brasil, que entrarão em


vigor a partir de 2020, são bastantes abrangentes e envolvem tanto as organizações
internacionais nos espaços urbanos como nas atividades industriais, no setor de
serviços e de tecnologias, bem como no espaço rural, ligado com as atividades
agropecuárias e de extrativismo, assim como as atividades econômicas de maneira
geral em cada ambiente e com seus fluxos de problemas socioambientais.

Quando analisamos essas relações de produção, de construção do capital


e de trabalho em diferentes territórios, contextos e culturas, discutindo o papel
destas relações na construção, consolidação e transformação das sociedades,
percebemos o quanto estão cada vez mais ligadas às atividades produtivas.

Percebe-se que as políticas públicas não são destinadas para a maioria


da classe trabalhadora, o que evidencia um baixo atendimento no que se refere
à política educacional do Ensino Médio, sendo que esta realidade se manifesta
de forma agravada no campo. Entretanto, a educação é um direito de todos
assegurado pela Constituição Brasileira de 1988, em consonância com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), um dever do Estado e da família
garanti-la ao indivíduo. Mas isso não acontece de forma plena, pois o Estado se
exime de sua responsabilidade política de garantir a educação. Tal política, em
alguns locais quando esta é oferecida, acaba sendo uma educação desqualificada,
caracterizada pela dependência e pela reprodução da ordem social vigente.

As Diretrizes Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo,


homologada em 3 de abril de 2002 e a proposição dos cinco elementos essenciais
para que a escola do campo cumpra seu papel de inserção cidadã da população
rural na definição dos rumos da sociedade brasileira, são os pontos de partida
para adentrar-se no projeto político pedagógico e no conteúdo de Geografia, a
fim de compreender o espaço geográfico e descobrir qual a contribuição desses
materiais nas aulas e na formação do professor do ensino fundamental. Baseados
pela Resolução Nº 1, são regularizados pelos Arts. 4º e 5º: orientam a proposta
pedagógica e organização curricular; o Art.7º: a organização do sistema de ensino
e estrutura escolar; os Arts. 8º e 9º: a gestão escolar participativa e valor das
parcerias; os Arts. 12º e 14º: a formação inicial e continuada dos professores e os
Arts. 14º e 15º: o financiamento da educação nas escolas do campo.

É dever do Estado promover a educação, pois está garantido na Constituição


de 1988, Artigo 217: “[...] o Estado elaborará política para o ensino fundamental
e médio de orientação e formação profissional, visando entre outras finalidades,
auxiliar, através do ensino agrícola, a implantação da reforma agrária” (KOLLING
et al., 2002, p. 69). Os autores colocaram o Estado em destaque, pois segundo eles,
as políticas públicas não são destinadas à maioria da classe trabalhadora.

190
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

As escolas de ensino médio existentes no campo sofrem com o descaso


do Estado, há deficiência no quadro profissional, falta de estrutura, de material
didático, falta de compromisso com o calendário escolar, enfim, fatores que
dificultam o processo de construção de uma educação de qualidade.

O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA


– tem como público alvo: jovens e pessoas adultas de assentamentos que não
tiveram a oportunidade de estudar, a fim de que tenham acesso à educação básica
(alfabetização, ensino fundamental e médio), técnicos profissionalizantes de nível
médio e cursos superiores e de especialização (BRASIL, 2016). Segundo Andrade e
Di Pierro (2004, p. 30) o referido programa “[...] tem como público alvo a população
dos projetos de assentamentos (PA) da reforma agrária, implantados pelo Incra
ou por órgãos estaduais responsáveis por políticas agrárias e fundiárias”. O Art.
12 do Decreto nº 7352 de 4 de novembro de 2010, traça os objetivos do Programa
Nacional de Educação na Reforma Agrária (PRONERA), quais sejam:

I- oferecer educação formal aos jovens e adultos beneficiários do Plano


Nacional de Reforma Agrária – PNRA, em todos os níveis de ensino;
II- melhorar as condições do acesso à educação do público do PNRA;
III- proporcionar melhorias no desenvolvimento dos assentamentos
rurais por meio da qualificação do público do PNRA e dos
profissionais que desenvolvem atividades educacionais e técnicas nos
assentamentos (BRASIL, 2010).

O PRONERA é um programa importante para jovens e adultos que vivem


em assentamentos e os quais estão diretamente ligados à reforma agrária, visto
que através desse programa busca-se resgatar a cidadania desses indivíduos, bem
como à elevação da autonomia e da autoestima, “[...] da capacidade de organização
social e política e ao processo de conscientização política” (ANDRADE; DI
PIERRO, 2004, p. 42).

O referido programa dá possibilidades aos indivíduos de participarem


da vida civil de forma autônoma e independente, mas principalmente poder
participar das decisões que envolvem as questões dos assentamentos e demais
questões sociais, econômicas, políticas, as quais são importantes para exercerem
a cidadania com dignidade em uma sociedade democrática de direito.

3.1 EFETIVAÇÃO DA POLÍTICA DO ENSINO MÉDIO


De fato, a luta pela efetivação e reconhecimento para a qualidade do
Ensino Médio, principalmente no campo, fortalece um conjunto de relações
sociais que se constitui e é constituída nessas relações dialeticamente. Dessa
maneira, as diferentes concepções de educação para a libertação ou a manutenção
da ordem, estão presentes no ensino médio, expondo seu caráter dual, existindo
a predominância da concepção dominante (liberal) que propõe ao sistema
educacional uma função utilitarista e regida pelos interesses de mercado.

191
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

O sistema educacional encontra-se vinculado aos interesses do capital que


ao longo dos anos vem passando por mudanças de acordo com as transformações
ocorridas no mundo do trabalho. No ensino médio isso se evidencia com
frequência, pelo fato do estudante ainda estar construindo sua identidade, sendo
articulado com os modelos econômicos, com os Parâmetros Curriculares para o
Ensino Médio – PCNEM –, que estão construindo essa articulação. “[...] O estudo
dos parâmetros curriculares para ensino médio – PCNEM –, talvez o principal
instrumento de divulgação da Reforma, deixa clara a vinculação da reforma ao
cenário presente nos diagnósticos dos organismos internacionais que, em última
instância, naturalizam as mudanças no sistema do capital” (RODRIGUES, 2010).

Em face às contradições existentes nessa sociedade é preciso que o Ensino


Médio, como última etapa da educação básica, desenvolva princípios e objetivos
que contemplem as necessidades socioculturais, políticas e econômicas dos
sujeitos que a constituem, reconhecendo-os não como cidadãos e trabalhadores
de um futuro incerto, mas como sujeitos constituídos de direitos e deveres, que
devem ter acesso ao conhecimento historicamente acumulado pela humanidade
(FRIGOTTO, 2004).

Nesse sentido, a educação do campo busca uma educação emancipatória,


universalizada, que atenda às necessidades da classe trabalhadora, e luta por
educação básica do campo, que atenda aos jovens camponeses. O ensino médio,
como uma das etapas da educação básica, é importante que atenda duas dimensões
da vida do educando: tanto a profissional como a básica, articulando para que
não haja precedência de uma sobre outra. O ensino médio integrado, é garantido
pelo Decreto nº 5.154/2004, como uma das formas pela qual ensino médio e a
educação profissional podem se articular, revogando o Decreto nº 2.208/97 que
impossibilitava essa integração.

[...] Ao integrar, por um lado, trabalho, ciência e cultura, tem-se a


compreensão do trabalho como mediação primeira da produção da
existência social dos homens, processo esse coincide com a própria
formação humana, na qual conhecimento e cultura são produzidos. O
currículo elaborado sobre essas bases não hierarquiza os conhecimentos
nem os respectivos campos das ciências, mas os problematizam em
suas historicidades, relações e contradições (CIAVATTA; RAMOS,
2012).

192
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

DICAS

BNCC GEOGRAFIA ENSINO MÉDIO E ESPAÇO RURAL


O Ensino Médio é a etapa final da Educação Básica, direito público subjetivo de todo
cidadão brasileiro. Para além da necessidade de universalizar o atendimento, tem-se
mostrado crucial garantir a permanência e as aprendizagens dos estudantes, respondendo
as suas demandas e aspirações presentes e futuras. A dinâmica social contemporânea
nacional e internacional, marcada especialmente pelas rápidas transformações decorrentes
do desenvolvimento tecnológico, impõe desafios ao Ensino Médio. Para atender as
necessidades de formação geral, indispensáveis ao exercício da cidadania e a inserção no
mundo do trabalho, e responder a diversidade de expectativas dos jovens quanto a sua
formação, a escola que acolhe as juventudes tem de estar comprometida com a educação
integral dos estudantes e com a construção de seu projeto de vida. Para orientar essa
atuação, torna-se imprescindível recontextualizar as finalidades do Ensino Médio
Caro acadêmico, pesquise, busque informações e conhecimentos referentes a BNCC e a
Geografia em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#medio/a-area-de-ciencias-
humanas-e-sociais-aplicadas. Acesso em: 18 de set. 2019.

DICAS

Plano de aula – Paisagens rurais


Acadêmico, acesse o Plano de aula de Geografia com atividades para 6° ano do Ensino
Fundamental sobre o Mundo do trabalho. Acesse: https://novaescola.org.br/plano-de-
aula/5313/paisagens-rurais. Acesso em: 18 set. 2019.

193
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

LEITURA COMPLEMENTAR

UM PROJETO POLÍTICO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO

Adriana Rodrigues da Silva


Aline Weber Sulzbacher

Na perspectiva de um projeto político, em escala nacional, a educação


do campo começou a avançar em 1998, com a criação do Programa Nacional de
Educação na Reforma Agrária (PRONERA) e com a elaboração das Diretrizes
Operacionais para a Educação Básica nas Escolas do Campo, realizada pela
Câmera de Educação Básica do Conselho Nacional. Pelo que está explicitado no
documento da 1ª Conferência Nacional - Por uma Educação Básica do Campo
(1998), há necessidade de projetos educativos que contemplem a população
campesina integralmente.

Em síntese, com as discussões realizadas desde 1998, percebe-se a


construção de políticas públicas que contemplam os sujeitos do campo. A política
de educação do campo e o PRONERA buscam dar visibilidade para todos que
referencialmente se enquadram no significante campo, por meio do Decreto nº
7.352/2010.

Os avanços conquistados com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional (LDB) de 1996 e com as Diretrizes Operacionais para a Educação Básica
nas Escolas do Campo, aprovadas em 2001 propõem a adequação da escola à vida
do campo (BISPO; MENES, 2008).

No estado de Minas Gerais, essa mesma valorização se dá com a publicação


pela Secretaria de Estado da Educação das Diretrizes Estaduais para a Educação
do Campo e com a criação da Subsecretaria de Educação para o Campo (SEE/
Minas Gerais, 2015). Essa nova forma de pensar a produção do campo está acima
da produtividade e valores econômicos, inserindo-se como parte de um sistema
simbólico com identificação, pertencimento e cultura que materializa a vida e a
promove no local em que ela acontece.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB


(2007), a educação básica para a população rural apresenta peculiaridades que
precisam ser adaptadas ao modo de vida do campo e da região em que se insere,
contemplando a diversidade. Quanto à metodologia “particularmente propícia
para esta modalidade, destaca-se a pedagogia da alternância (sistema dual),
criada na Alemanha em 1930, e hoje, difundida em inúmeros países, inclusive
no Brasil” (MEC, SEB, DICEI, 2013, p. 45). Assim, as EFAs são consideradas uma
forma de implementação de um projeto de educação do campo que se apoia na
alternância, ou seja:

194
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

[...] a ALTERNÂNCIA, que significa o conjunto dos períodos


formativos que se repartem entre o meio sócio profissional, seja na
própria família ou na empresa e a escola. Isto sempre dentro de uma
interação educativa “escola-meio”. Hoje em dia, a palavra alternância
está sendo frequentemente utilizada pelos sistemas educativos de
vários países, obrigando-os a diferenciar a concepção da Alternância,
tal como é praticada nas EFAs, daquelas de outros sistemas educativos
(UNEFAB, 1999, p.19).

O processo educacional intitulado como pedagogia da alternância


foi criado na França, comprometido com a necessidade de desenvolver as
potencialidades rurais. O modelo educacional chegou ao Brasil em 1969, no Estado
do Espírito Santo3. Em sua gênese, a pedagogia da alternância buscou associar
aprendizado técnico com o conhecimento crítico do cotidiano comunitário,
num momento em que as políticas públicas encontravam-se historicamente
determinadas pela expansão da hegemonia do sistema capitalista. O cenário
não foi muito diferente para a criação da EFA de Veredinha, como se confirma
no seguinte fragmento extraído do Regimento da EFAV:

[...] o agricultor familiar era totalmente desprovido de apoio dos


órgãos públicos, tanto na área da saúde, apoio técnico e financeiro,
como e principalmente no setor educacional rural, onde todo o
processo metodológico e didático-pedagógico focalizava o âmbito
urbano/industrial (REGIMENTO EFAV, 2010, p.2).

A pedagogia da alternância é realizada em dez sessões para cada tempo.


Nas palavras de Gimonet (2007, p. 140), o tempo escolar se configura em “um
tempo-espaço de encruzilhadas e de encontros, de trocas e de confrontos, de
análise e de síntese, de organização e de regulação dos processos da alternância,
mas também, de personalização e de socialização”. O tempo comunidade
é mergulhar no saber popular; “é o espaço-tempo em que os educandos
reflexivamente relacionam, confrontam e praticam os seus aprendizados”
(ROCHA – ANTUNES, 2012, p. 177).

A educação como uma luta pela permanência no campo

A Escola Família Agrícola de Veredinha (EFAV) está localizada na


comunidade rural de Gameleira, Município de Veredinha, na região do Alto Vale
Jequitinhonha - MG. O município apresenta 28 comunidades rurais e a atividade
econômica predominante é a agricultura, muito embora em declínio após a década
de 1970, com a progressiva consolidação da silvicultura de eucalipto (também
chamado de “deserto verde”).

De forma geral, no Vale do Jequitinhonha, a partir de 1970, intensificaram-


se as políticas públicas com os incentivos fiscais e crediário para a implantação
de atividade florestal. Como exemplo, o Decreto-lei nº 1.134/1971 estabelecia
descontos de até 50% (cinquenta por cento) do valor do imposto de renda
devido na declaração de rendimentos para pessoas jurídicas com aplicações em
empreendimentos florestais, como florestamento ou reflorestamento.

195
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

A ocupação das chapadas no Vale do Jequitinhonha pela monocultura


do eucalipto foi à custa da expropriação fundiária dos agricultores que,
historicamente, 4 ocupavam esse espaço. A situação obrigou a migração da
população que vivia no campo. Consequentemente, a região teve uma redução
da sua população rural e, principalmente, da economia provida pela agricultura
familiar.

O processo de reterritorização foi ignorado pelo poder público, pactuando


com o modelo de desenvolvimento excludente e predatório. Conforme Zhouri e
Zucarelli (2008), “as problemáticas para a população das comunidades está no
uso dos recursos naturais”, destacando-se:

[...] o desmatamento do cerrado e das cabeceiras de nascentes para


o plantio de eucalipto, que acentua a redução do volume de água
e/ou extinção de córregos e ribeirões que são/eram utilizados pelas
comunidades ribeirinhas; a monocultura provoca a mortandade
de animais silvestres que perdem seu habitat natural; a construção
da malha viária das áreas de plantio acarreta processos erosivos
e carreamento de solo para os córregos e veredas; a movimentação
intensiva do solo na área de chapada e bordas assoreia as nascentes
e corpos hídricos; o uso excessivo de agrotóxicos contamina as águas
superficiais, o lençol freático e o solo; além dos conflitos pelos usos da
água, tanto por causa da escassez, assoreamento e poluição, quanto
pelo represamento de cursos d’água nas cabeceiras a fim de abastecer
caminhõespipa empregados na irrigação dos viveiros da empresa, em
prejuízo das famílias que vivem à jusante do barramento e que, muitas
vezes, dependem exclusivamente daquele curso d’água (ZHOURI;
ZUCARELLI, 2008, p. 08).

Os impactos da monocultura de eucalipto ainda estão longe de serem


apreendidos em sua totalidade. Além dos danos ecológicos, conforme descrito
por Zhouri e Zucarelli (2008), há outros prejuízos nos âmbitos social, cultural,
econômico, político, etc. Em geral, este modelo de projeto de desenvolvimento
rural é instituído “de cima para baixo” e, muitas vezes, sem conhecimento da
realidade do campo e dos sujeitos que o habitam.

No caso do município de Veredinha, a ocupação das chapadas pela


monocultura de eucalipto trouxe graves impactos na dinâmica da economia
e reprodução social no espaço rural. As atividades econômicas em todas as
comunidades são agropecuárias, com cultivos de roças, criação de pequenos
animais, a rotação de cultura e manuseio dos solos que variam dependendo da
localização da comunidade. Algumas comunidades ribeirinhas cultivam nas
encostas do rio Itamarandiba; outras, situadas perto das chapadas, criam animais
soltos nas grotas próximas à moradia, em comunidades que enfrentam a falta de
água os animais são criados presos. Por fim, caracterizam determinado modo de
vida que tem por base o uso e gestão dos recursos naturais que o meio oferece.
Um modo de vida que fundamenta saberes sobre o meio, hábitos alimentares e
cultura, que constituem e especificam a territorialidade camponesa do alto Vale
do Jequitinhonha.

196
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

Diante do contexto histórico do processo de desterritorialização que


ocorreu na década de 1990, no Vale do Jequitinhonha, e tomando por base a
necessidade de uma educação conectada com a realidade do campo, o Centro de
Agricultura Vicente Nica (CAV)5 realizou a mobilização de diferentes agentes que
atuam no campo, organizados por lideranças comunitárias, sindicais, associações,
população em geral e entidades preocupadas com o desenvolvimento territorial
sustentável6. A mobilização desses atores sociais contribuiu sobremaneira para
criação da Escola Família Agrícola de Veredinha (EFAV).

O CAV, principal apoiador, junto com o movimento social do campo,


representado pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Veredinha, com uma
articulação estadual, federal e, na escala local, com a Associação Mineira das
Escolas Famílias Agrícola (AMEFA) somaram esforços para a criação da EFAV,
de modo a atender uma demanda dos agricultores familiares que desejavam
uma formação para jovens do campo. O movimento destacou-se em 2003 com
a constituída Associação Comunitária de Desenvolvimento Educacional e
Agropecuária de Veredinha – ACODEFAV7, responsável pela manutenção e
gestão da EFAV.

Uma pesquisa realizada em 2005 pela ACODEFAV e o CAV apresentou


uma visão geral da condição de estudo das crianças, adolescentes e jovens das
comunidades pesquisadas no município de Veredinha. O estudo revelou que
dos 94 alunos da zona rural de Veredinha que se matricularam na 5ª série em
1998, apenas 39 concluíram a 8ª série em 2001. Além disso, somente 33 destes se
matricularam no 1º ano do Ensino Médio em 2002 e apenas 15 concluíram, ou
seja, menos de 16% dos alunos da zona rural concluíam o Ensino Médio (grifo
nosso). Uma das principais justificativas para desistência dos estudos referia-se à
migração para as cidades do interior paulista, em busca de emprego na atividade
da cana-de-açúcar.

A evasão nos anos finais do Ensino Fundamental nas escolas do município


de Veredinha e a dificuldade de sucessão das atividades da agricultura familiar
eram alguns dos fatores da conjuntura local e regional para que a criação de uma
escola do campo emergisse como uma demanda dos agricultores. Conforme
registros da EFAV, um dos sócios fundadores aponta que, em primeira reunião nos
Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Veredinha, eram muitas as motivações,
no entanto, era “a necessidade porque os jovens homens estudavam o 9º ano
e paravam para trabalhar e outros ficavam na cidade pela falta de transporte,
vendo isso surgiu a ideia, também a qualidade de ensino e a educação do campo”
(J.A.C., Mimeo-EFAV, 2016).

Em outro caso, a motivação envolve também a necessidade de “ter uma


escola mais adequada com a realidade do trabalhador, porque a outra escola não
é destinada ao ensino do jeito que qualifica a pessoa na agricultura e também
para livrar do transporte todo dia” (V.B.A., Mimeo-EFA, 2016). Segundo Arroyo
(2014), o movimento do campo contra o deslocamento dos estudantes para fora
dos seus territórios é um processo de territorialização do direito à educação,
sendo que a presença física da escola reforça seu lugar.
197
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

É importante observar a trajetória dos sujeitos que se empenharam na


criação da escola. Em um dos relatos, um dos fundadores, que trabalha na escola,
descreve sua juventude no campo e as dificuldades para se profissionalizar. Em
decorrência disso, tinha interesse pela educação do campo no território do Alto
e Médio Jequitinhonha, uma vez que havia público e necessidade de se pensar
outro tipo de educação para esses jovens:

O objetivo foi criar uma escola diferente para uma boa formação do
futuro do filho do agricultor que até então estava perdendo o vínculo
do campo, eles saiam para estudar de madrugada e regressavam
sonolentos e cansados, os pais não passava o trabalho do campo. O
saber produzir sem degradar tanto o meio ambiente e interesse dos
jovens para trabalhar no campo (J.M.A.S., MimeoEFAV, 2016).

São presentes nas discussões o sentimento de construção histórica da


associação e a memória das inúmeras dificuldades encontradas para a criação
da EFAV. Hoje, são muitos desejos apresentados, destacando-se o transporte
e melhoria e ampliação da infraestrutura escolar. De modo geral, a avaliação
apontada nos relatos é que o “objetivo foi alcançado, porque está formando os
alunos, os nossos filhos na realidade do campo, foi isso que a gente esperava”
(J.A.C., Mimeo-EFAV, 2016).

Conforme dados da EFAV, um dos sócio-fundadores da ACODEFAV


relata o processo de criação da escola:

[...] a gente foi amadurecendo, dando passos lentos, mas firmes para
a criação da nossa escola. Sabendo que o público estava garantido,
tivemos o cuidado na época da criação da inauguração do Estatuto
de não criar uma escola somente de Veredinha, mas para região
circunvizinha e em nível de território (J.M.A.S., Mimeo-EFAV, 2016).

A EFAV foi fundada em março de 2011, depois da doação do terreno


por um agricultor e a efetivação do Programa Nacional de Desenvolvimento
Sustentável de Territórios Rurais (PRONAT) com recursos para construção
do prédio em conjunto com a prefeitura de Veredinha. As ações do PRONAT
foram incorporadas pelo Território da Cidadania do Alto Jequitinhonha numa
realidade regional. Depois de nove anos de articulação e muita luta, a escola
inicia seus trabalhos com duas turmas de jovens estudantes, ofertando o Ensino
Médio integrado ao Curso de Técnico em Agropecuária, com a metodologia
da Pedagogia da Alternância, em regime quinzenal, alternando tempo escola e
tempo comunidade. Nesse sentido, procura garantir uma educação de qualidade
vinculada às problemáticas da sua região de atuação, valorizando os saberes, a
cultura e a tradição local. É neste contexto que pode ser constatada a contribuição
da escola para a população, pois o trabalho pedagógico considera a valorização
de sua história, sua cultura, seu modo de vida, articulado aos saberes científicos,
sistematizados historicamente.

198
TÓPICO 3 | ENSINO DA GEOGRAFIA RURAL NA EDUCAÇÃO BÁSICA

É a partir das ameaças às condições de permanência no campo, de


reprodução social, de dificuldade de acesso aos meios de produção (em especial
a terra), que os agricultores se organizam em torno de um projeto de educação do
campo, via instituição da Escola Família Agrícola. Um projeto que traz a realidade,
a territorialidade camponesa para dentro da sala de aula, contribuindo para o
processo de reconhecimento dos desafios da realidade e suas possibilidades
de superação. Escola Família Agrícola se efetiva, assim, como uma proposta de
educação do e para o campo. Nessa perspectiva, transforma-se em um projeto
político de reconhecimento e aperfeiçoamento dos saberes, além oportunizar aos
jovens trabalhar no meio, como profissionais formados em consonância com os
princípios da agroecologia. Essa política educacional voltada para o contexto
rural visa superar a dificuldade dos jovens do campo no acesso à educação
escolar, normalmente restrita à escola urbana, seja pela distância espacial, seja
pela ruptura e distância de sentidos, uma vez que o modelo educacional vigente
nas cidades normalmente é pautado em conteúdos curriculares que pouco
dialoga com a realidade dos jovens do campo – ou, ainda pior, estigmatizam
esses sujeitos em suas diferenças.

Por meio de alguns diálogos informais, realizados durante a observação


sistemática, entende-se que a escola foi criada com intuito de fortalecer a
agricultura familiar e, por isso, tem como público-alvo os filhos de agricultores,
visando garantir o processo de sucessão familiar no campo. O coordenador do
CAV, principal parceiro da escola, tem recebido estudantes egressos, destacando
que os formados “têm demonstrando uma capacidade de amadurecimento e
aprendizagem” e ainda:

Os jovens já estão retornando para suas propriedades com mais


capacidade, estão continuando os estudos, e sendo inseridos no
mercado de trabalho, inclusive em organizações que lidam no
próprio meio rural com a agricultura familiar. Então, mais que isso
o envolvimento e engajamento das famílias, parceiros, enfim (V.S.M.,
Mimeo-EFAV, 2016).

A Escola Família Agrícola de Veredinha cumpre seu papel de formação,


embora ainda enfrente várias dificuldades, inclusive frente ao poder público.
Uma das questões que expressa a realidade do campo no Brasil refere-se à
dificuldade de apoio financeiro (e de infraestrutura) para a implementação dos
projetos profissionais, desenvolvidos pelos jovens no último ano de formação.
O projeto apresenta-se como uma das possibilidades de permanência, conforme
indica o relato:

Se eu estou no campo até hoje, não exatamente no campo, mas


trabalhando para o campo, devo à escola que permitiu ter outro ponto
de vista da nossa região, do nosso lugar e a dar valor no meio onde
vivemos, trabalho para melhorar onde vivemos. [...] nasci no campo,
minhas raízes são do campo e acredito muito nesse campo (J.G.D.,
Mimeo-EFAV, 2016).

199
UNIDADE 3 | ESPAÇO RURAL: SOCIEDADE E EDUCAÇÃO

Ainda com relação às contribuições da Escola Família Agrícola de


Veredinha, um estudante, egresso em 2013, afirmou: “quando estudei na escola,
tudo ou a maioria era voltado para o campo, pude conhecer melhor e a trabalhar
no campo com poucos recursos” (M.S.S., Mimeo-EFAV, 2016). Como profissional,
esse egresso aplica seus conhecimentos na propriedade da família, com uma
produção consorciada com a natureza, com correção dos solos e preservação da
água.

Portanto, há conquistas expressivas da EFAV, pois, conforme atesta


o seguinte fragmento “a escola hoje, ela já tem um crédito bastante grande na
sociedade local, regional e se faz conhecido até mesmo fora do país” (V.S.M.,
Mimeo-EFAV, 2016).
FONTE: http://www.revistaedugeo.com.br/ojs/index.php/revistaedugeo/article/view/459. Acesso
em: 24 maio 2019.

200
RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico, você aprendeu que:

• Os parâmetros educacionais e as políticas públicas que envolvem o processo


de aplicação e ampliação do acesso a educação como um todo ensino nos
espaços agrários e o Ensino de Geografia como um processo iluminador e
transformador do Espaço Geográfico principalmente nos territórios agrários.

• Os avanços da Geografia Agrária promovem o processo de evolução no ensino


aprendizado desde o início do Ensino Fundamental até os anos finais.

• O crescimento do Ensino Médio e as políticas públicas que envolvem esse


processo da educação básica no campo em nosso país e quais são as políticas
públicas e as iniciativas governamentais e da sociedade civil na transformação
deste processo educacional.

• Os principais objetivos dos estudos dos espaços agrários para o Ensino


Fundamental e Médio a luz das novas Bases Curriculares Nacionais para
Educação Básica e o Ensino de Geografia como estruturara norteadora para
entendermos as relações destas atividades econômicas do campo com os
espaços urbanos.

• A formação continuada dos professores e o projeto político-pedagógico não


devem limitar-se aos conteúdos curriculares, porque possuímos grandes
desafios como profissionais da educação na construção de indivíduos críticos e
transformadores sociais.

• Os movimentos populacionais do campo para os espaços urbanos sempre


constituíram a necessidade de busca para melhores condições de vida entre as
populações do campo para as cidades.

201
AUTOATIVIDADE

1 A Educação do Campo surge então com o propósito de construir uma


escola engajada em um projeto popular, a qual vem ressignificando a teoria
e a prática da educação rural. Destaca-se também no processo histórico
de consolidação da educação do campo a Conferência Nacional por uma
Educação Básica do Campo (1998), a qual contou com a contribuição do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, reafirmando a pertinência
da luta por políticas públicas e um projeto educativo adequado a demanda
dos sujeitos que vivem e trabalham no campo, estabelecendo a partir deste
momento um novo referencial para discussão e mobilização popular.

Sobre os investimentos e ampliação da educação básica no campo podemos


concordar com:
a) ( ) A educação do campo sempre deve ser diferenciada das regiões urbanas,
pois as atividades econômicas destas áreas são diferentes das cidades onde
os investimentos são maiores, principalmente para educação no Ensino
Médio.
b) ( ) Nunca haverá igualdade na educação do campo com as zonas urbanas,
pois as políticas públicas existentes na atualidade não podem ser modificadas
para não causar maior amplitude de diferenças e de qualificação entre os
estudantes da educação básica de nosso país.
c) ( ) A ampliação e o melhoramento da educação do campo precisam e
devem construir um novo desenvolver da história e projetar ampliação
da qualificação humana e da renda com a aquisição de conhecimentos e
melhoramentos de técnicas na produção no campo, ampliando as ofertas
de trabalho no campo e fazendo com que o produtor e seus descendentes
permaneçam nas regiões agrárias de nosso país.
d) ( ) A educação no campo deve ser diferenciada de acordo com a realidade
de cada região brasileira, as mais desenvolvidas como a centro-sul devem
conter mais investimentos governamentais que as demais regiões menos
desenvolvidas, como a nordeste e a região Amazônica.

2 O ensino de geografia permite que a escola do campo seja analisada a


partir do lugar e das pessoas que o habitam. Ensinar Geografia deve estar
atrelado a desvendar a espacialidade das práticas sociais e desta forma
cabe a geografia instrumentalizar o aluno para que consiga conhecer o
lugar onde vive. Inserido nesta perspectiva, um dos papéis desempenhados
pelo professor é instigar o aluno nesta tarefa, e assim criar uma relação de
pertencimento e identificação com esse lugar.

202
Sobre o Ensino da Geografia Rural na educação básica de nosso país podemos
dizer que:
a) ( ) O ensino da geografia em escolas rurais pouco favorece as comunidades
agrícolas e sua ampliação das atividades econômicas. Deve-se ampliar
apenas o ensino de disciplinas da área de exatas para o crescimento das
atividades econômicas no campo.
b) ( ) O ensino da Geografia no campo em nosso país, possui desafios no que
tange a ação educativa dos sujeitos do campo centrado na construção de
conhecimentos e também na significação do lugar, atrelando o mesmo a
perspectiva global.
c) ( ) O ensino de Geografia na escola do campo não deve se propor a discutir
a realidade que está posta para os sujeitos do campo, compreender a sua
dinâmica e especificidade, pois essa perspectiva não ajuda a desenvolver o
senso crítico nos alunos das áreas rurais.
d) ( ) As atribuições da Geografia na educação básica atual é pensar e entender
o mundo e sua organização, tarefa que não desafia os docentes no sentido
de tornar válido para o aluno os conhecimentos que se propõe à construção,
tornando um pensamento empírico e sem criticidade lógica.

203
204
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