Geografia Da América Latina

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Geografia da América

Latina

Prof.ª Raqueline da Silva Santos

Indaial – 2022
2a Edição
Copyright © UNIASSELVI 2022

Elaboração:
Prof.ª Raqueline da Silva Santos

Revisão, Diagramação e Produção:


Equipe Desenvolvimento de Conteúdos EdTech
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada pela equipe Conteúdos EdTech UNIASSELVI

S237g
Santos, Raqueline da Silva
Geografia da América Latina. / Raqueline da Silva Santos – Indaial:
UNIASSELVI, 2022.
220 p.; il.
ISBN 978-65-5663-752-5
ISBN Digital 978-85-515-0558-8
1. Território latino-americano. - Brasil. II. Centro Universitário
Leonardo da Vinci.
CDD 900

Impresso por:
APRESENTAÇÃO
Olá, acadêmico! Seja bem-vindo ao Livro Didático Geografia da América Latina!

O presente livro tem como objetivo principal compreender a forma de ocupação


do território latino-americano, destacando aspectos sociais, econômicos, políticos e
ambientais dos países que compõem o território da América Latina.

Sabemos que o mundo é regionalizado a partir de divisões territoriais e dentre essas


divisões temos os continentes que são conhecidos como Europa, Ásia, África, Oceania,
Antártida e América. No contexto da América, sua regionalização está dividida em América
do Norte, América Central e América do Sul. Mas, então, onde se encaixa a América Latina?

A divisão da América perpassa outro tipo de regionalização por características


culturais, históricas e econômicas. Neste sentido, também, podemos considerar o
continente americano a partir de duas regionalizações: a América Anglo Saxônica, que
é constituída dos Estados Unidos e do Canadá e a América Latina que se constitui dos
países da América Central, da América do Sul e do México.

Essa regionalização possui uma divisão que leva em consideração aspectos


comuns entre os países membros, merece destaque a língua que derivou do latim, como
o português, francês e espanhol. No que se refere à formação territorial dos países da
América Latina, estes possuem um passado baseado na colonização o que marcou a
exploração da riqueza naturais de seus territórios.

Neste sentido, somos americanos que habitamos – para alguns parafraseando


Eduardo Galeano em seu livro “As veias abertas da América Latina” – “uma sub-América,
uma América de segunda classe, de nebulosa identidade” (GALEANO, 2011, p. 18).

Portanto, para compreendermos a América Latina convidamos você a viajar


conosco neste livro, que nos possibilitará, em três unidades, identificar a continuidade
do processo histórico da América Latina, assim como ter domínio dos conceitos básicos
de sua Geografia. Compreendendo a história, nos tornamos capazes de entender a
sociedade em que vivemos e os fatores determinantes da conjuntura atual, neste caso,
da conjuntura dos países que constituem a América Latina.

Na Unidade 1, abordaremos a formação histórica, a regionalização, aspectos físicos,


populacionais e econômicos da América Latina. Essa unidade tem como objetivo fazer você
apreender um pouco da colonização da América Latina e sua formação histórica e socioespacial.

O acadêmico de geografia precisa conhecer, além dos aspectos físicos, os


componentes históricos que constituem um fator fundamental para a construção
socioespacial dos territórios latino-americanos, assim como a criação das identidades
sociais. Pretendemos com isso, proporcionar a você, acadêmico, uma visão ampla das
diversas formas de regionalização da América, tais como: regionalização por critérios
físicos e regionalização por critérios socioeconômicos.

Em seguida, na Unidade 2, estudaremos as relações internacionais na América


Latina: teorias econômicas, migrações e a economia dos países latino-americanos.
Esta unidade é rica em informações sobre blocos econômicos, teorias econômicas e
as relações dos países latino-americanos na economia mundial. Nesta unidade, outro
ponto fundamental do nosso estudo são as migrações, as quais englobam temas como:
mercado econômico mundial, globalização, divisão internacional do trabalho, políticas
externas, os efeitos dos fluxos demográficos nesta macrorregião e, consequentemente,
as crises que provocam esses deslocamentos populacionais cada vez mais acentuados
com a expansão da era das redes, da economia e da globalização.

Por fim, na Unidade 3, estudaremos o papel do Brasil nas relações internacionais


da América Latina, destacando os conflitos fronteiriços, as cooperações econômicas entre
os países da América Latina e a integração destes para lidar no contexto da economia
mundial. Essa unidade é fundamental para entendermos quais são as relações do Brasil
na economia mundo, mas, principalmente, sua relação com os países latino-americanos,
uma vez que o Brasil é um país muito importante para a economia desta macrorregião.
No que tange às questões políticas, esta unidade abordará a ascensão e derrocada dos
governos militares e a formação dos movimentos sociais da América Latina.

Em cada unidade, você encontrará atividades, resumos e leituras complemen-


tares. Esses complementos são fundamentais para que possa analisar, refletir e com-
preender a geografia da América Latina, desenvolvendo um senso crítico a partir das
leituras, dos exercícios e das pesquisas que você pode fazer para ampliar seu estudo
sobre a temática em questão.

Pretendemos com este livro proporcionar a você, acadêmico, uma leitura ampla
sobre a América Latina, e esperamos que aproveite seus estudos e tenha possibilidade
de disseminar o conhecimento através da Geografia.

Bom estudo!

Prof.ª Raqueline da Silva Santos


GIO
Você lembra dos UNIs?

Os UNIs eram blocos com informações adicionais – muitas


vezes essenciais para o seu entendimento acadêmico
como um todo. Agora, você conhecerá a GIO, que ajudará
você a entender melhor o que são essas informações
adicionais e por que poderá se beneficiar ao fazer a leitura
dessas informações durante o estudo do livro. Ela trará
informações adicionais e outras fontes de conhecimento que
complementam o assunto estudado em questão.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os


acadêmicos desde 2005, é o material-base da disciplina. A partir
de 2021, além de nossos livros estarem com um novo visual
– com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a
leitura –, prepare-se para uma jornada também digital, em que
você pode acompanhar os recursos adicionais disponibilizados
através dos QR Codes ao longo deste livro. O conteúdo
continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada
com uma nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo
o espaço da página – o que também contribui para diminuir
a extração de árvores para produção de folhas de papel, por
exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto
de ações sobre o meio ambiente, apresenta também este
livro no formato digital. Portanto, acadêmico, agora você tem a
possibilidade de estudar com versatilidade nas telas do celular,
tablet ou computador.

Junto à chegada da GIO, preparamos também um novo


layout. Diante disso, você verá frequentemente o novo visual
adquirido. Todos esses ajustes foram pensados a partir de
relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os
materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade,
possa continuar os seus estudos com um material atualizado
e de qualidade.

QR CODE
Olá, acadêmico! Para melhorar a qualidade dos materiais ofertados a
você – e dinamizar, ainda mais, os seus estudos –, a UNIASSELVI disponibiliza materiais
que possuem o código QR Code, um código que permite que você acesse um conteúdo
interativo relacionado ao tema que está estudando. Para utilizar essa ferramenta, acesse
as lojas de aplicativos e baixe um leitor de QR Code. Depois, é só aproveitar essa facilidade
para aprimorar os seus estudos.
ENADE
Acadêmico, você sabe o que é o ENADE? O Enade é um
dos meios avaliativos dos cursos superiores no sistema federal de
educação superior. Todos os estudantes estão habilitados a participar
do ENADE (ingressantes e concluintes das áreas e cursos a serem
avaliados). Diante disso, preparamos um conteúdo simples e objetivo
para complementar a sua compreensão acerca do ENADE. Confira,
acessando o QR Code a seguir. Boa leitura!

LEMBRETE
Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma
disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conheci-


mento, construímos, além do livro que está em
suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem,
por meio dela você terá contato com o vídeo
da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complementa-
res, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de
auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que


preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!


SUMÁRIO
UNIDADE 1 - AMÉRICA LATINA: FORMAÇÃO HISTÓRICA, REGIONALIZAÇÃO,
ASPECTOS FÍSICOS, POPULACIONAIS E ECONÔMICOS................................ 1

TÓPICO 1 - FORMAÇÃO HISTÓRICA DA AMÉRICA LATINA...................................................3


1 INTRODUÇÃO........................................................................................................................3
2 A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA ...........................................................................................4
2.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA E SOCIOESPACIAL .................................................................................... 6
2.1.1 América Pré-Colombiana.............................................................................................................7
2.2 CONQUISTAS E COLONIZAÇÕES...................................................................................................... 10
2.3 SISTEMA COLONIAL: COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO NA AMÉRICA LATINA ..................... 11
3 INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA ........................................................................... 13
3.1 FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NA AMÉRICA LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS........... 15
3.1.1 A construção das identidades latino-americanas: cultura e sociedade . .................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1......................................................................................................... 20
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 22

TÓPICO 2 - REGIONALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA........................................................ 25


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 25
2 REGIONALIZAÇÃO ............................................................................................................27
2.1 REGIONALIZAÇÃO POR CRITÉRIOS FÍSICOS ...............................................................................28
2.1.1 Regionalização por critérios socioeconômicos ..................................................................30
2.2 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AMÉRICA LATINA .......................................................................31
2.3 PAÍSES QUE COMPÕEM A AMÉRICA LATINA................................................................................35
3 ASPECTOS NATURAIS: CLIMA, RELEVO E VEGETAÇÃO ................................................ 42
3.1 ASPECTOS POPULACIONAIS NA AMÉRICA LATINA ....................................................................43
3.1.1 Identidade cultural dos povos da América Latina .............................................................45
RESUMO DO TÓPICO 2......................................................................................................... 48
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................. 49

TÓPICO 3 - CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS .............................. 51


1 INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 51
2 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS ................. 52
2.1 INDUSTRIALIZAÇÃO ..........................................................................................................................53
2.1.1 Agricultura ..................................................................................................................................55
2.2 AMÉRICA LATINA: PERIFERIA DA ECONOMIA MUNDIAL .........................................................56
2.3 DESIGUALDADES SOCIAIS .............................................................................................................58
3 PANORAMA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA AMÉRICA LATINA ............................ 60
3.1 OS DESAFIOS DA FORÇA DE TRABALHO NA AMÉRICA LATINA ..............................................62
3.1.1 Blocos econômicos da América Latina.................................................................................63
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................. 68
RESUMO DO TÓPICO 3..........................................................................................................72
AUTOATIVIDADE...................................................................................................................73

REFERÊNCIAS.......................................................................................................................75
UNIDADE 2 — RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA: TEORIAS
ECONÔMICAS, MIGRAÇÕES E A ECONOMIA DOS PAÍSES
LATINO-AMERICANOS...................................................................................................81

TÓPICO 1 — TEORIAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA............................................... 83


1 INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 83
2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE (CEPAL):
O PENSAMENTO CEPALINO............................................................................................. 84
2.1 A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO ..................................................................................................86
2.1.1 A TEORIA DA DEPENDÊNCIA .................................................................................................. 88
2.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA . .....................................................................................................90
2.3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E ESTADOS UNIDOS.......................................................92
3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E EUROPA............................................................ 93
3.1 AMÉRICA LATINA E SUAS RELAÇÕES COM A ÁFRICA E A ÁSIA ..............................................96
3.1.1 Políticas econômicas externas................................................................................................ 97
RESUMO DO TÓPICO 1..........................................................................................................99
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................100

TÓPICO 2 - MIGRAÇÕES.....................................................................................................103
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................................103
2 GLOBALIZAÇÃO E MIGRAÇÃO INTERNACIONAL ........................................................ 104
2.1 MIGRAÇÕES NA AMÉRICA LATINA..................................................................................................106
2.2 FLUXOS MIGRATÓRIOS NA AMÉRICA DO SUL ...........................................................................108
2.3 FLUXOS MIGRATÓRIOS DO MÉXICO PARA OS ESTADOS UNIDOS.........................................109
3 EFEITOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E SOCIAIS DOS
FLUXOS MIGRATÓRIOS ................................................................................................... 110
3.1 CRISES MIGRATÓRIAS NA AMÉRICA LATINA ...............................................................................112
3.1.1 Xenofobia ....................................................................................................................................113
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................ 114
AUTOATIVIDADE................................................................................................................. 115

TÓPICO 3 - ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS............................................117


1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................117
2 PRINCIPAIS ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA............................................................ 118
2.1 MÉXICO ................................................................................................................................................120
2.1.1 Relações econômicas do México com a América Anglo-Saxônica.............................. 122
2.2 AMÉRICA CENTRAL . ........................................................................................................................ 124
2.3 AMÉRICA CENTRAL: ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO......................................................... 126
3 AMÉRICA DO SUL ............................................................................................................ 127
3.1 GOVERNOS MILITARES NA AMÉRICA LATINA: BRASIL; ARGENTINA E VENEZUELA............... 129
3.1.1 Mercado Comum do Sul (Mercosul): criação, características e países membros........... 133
LEITURA COMPLEMENTAR................................................................................................135
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................139
AUTOATIVIDADE................................................................................................................ 140

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................142
UNIDADE 3 — O BRASIL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS NA AMÉRICA LATINA:
DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO, INTEGRAÇÃO E
LIDERANÇA REGIONAIS..............................................................................149

TÓPICO 1 — FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS......151


1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 151
2 O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL................................................................................ 151
2.1 BRASIL NA AMÉRICA LATINA E NA AMÉRICA DO SUL ............................................................. 154
2.1.1 As relações fronteiriças do Brasil ......................................................................................... 157
3 AS POLÍTICAS EXTERNAS BRASILEIRAS......................................................................160
3.1 DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS FRONTEIRAS POLÍTICAS.......................161
4 CONFLITOS COLONIAIS..................................................................................................162
4.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL BRASILEIRO ............................................. 165
4.1.1 A era do Rio Branco (1902-1912)............................................................................................ 166
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................168
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................169

TÓPICO 2 - DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO:


RELAÇÕES ENTRE BRASIL E ARGENTINA......................................................171
1 INTRODUÇÃO.....................................................................................................................171
2 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA NO DECORRER DA HISTÓRIA ......... 172
2.1 BRASIL E ARGENTINA: DESCONFIANÇA E APROXIMAÇÃO...................................................... 173
2.1.1 Brasil e Argentina: conflitos geopolíticos............................................................................ 175
2.2 RELAÇÕES BILATERAIS: INSERÇÃO DO BRASIL E DA ARGENTINA NA ECONOMIA MUNDO.........176
2.3 GOVERNOS MILITARES: BRASIL E ARGENTINA..........................................................................180
3 DERROCADA DOS GOVERNOS MILITARES ....................................................................183
3.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA . ..........................................................................184
3.1.1 A contribuição dos movimentos sociais para o retorno à democracia
na América Latina . ..................................................................................................................186
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................188
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................189

TÓPICO 3 - BLOCOS ECONÔMICOS: INTEGRAÇÃO E LIDERANÇAS REGIONAIS


DA AMÉRICA LATINA....................................................................................... 191
INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 191
2 ORIGEM DOS BLOCOS ECONÔMICOS.............................................................................192
2.1 TIPOS DE BLOCOS ECONÔMICOS ................................................................................................ 193
2.1.1 Principais blocos econômicos da América Latina: vantagens e desvantagens....... 195
2.2 DO PACTO ANDINO À COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES – CAN........................................ 196
2.3 DA ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE LIVRE COMÉRCIO (ALALC) À
ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE INTEGRAÇÃO (ALADI).............................................. 197
3 UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS – UNASUL.....................................................199
3.1 INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA REGIONAL SUL-AMERICANA
(IIRSA); ALIANÇA BOLIVARIANA PARA AS AMÉRICAS (ALBA); ÁREA DE LIVRE
COMÉRCIO (ALCA)............................................................................................................................. 200
3.1.1 A Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC) . ...................... 204
LEITURA COMPLEMENTAR............................................................................................... 205
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................ 211
AUTOATIVIDADE.................................................................................................................212

REFERÊNCIAS.....................................................................................................................215
UNIDADE 1 -

AMÉRICA LATINA:
FORMAÇÃO HISTÓRICA,
REGIONALIZAÇÃO, ASPECTOS
FÍSICOS, POPULACIONAIS E
ECONÔMICOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• distinguir o processo de regionalização da América Latina;

• conhecer os aspectos da formação histórica e geográfica da América Latina;

• relacionar os aspectos da formação histórica com as condições econômicas, sociais,


políticas e ambientais dos dias atuais;

• discutir as transformações decorrentes do processo de formação territorial da


América Latina.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FORMAÇÃO HISTÓRICA DA AMÉRICA LATINA


TÓPICO 2 – REGIONALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA
TÓPICO 3 – CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

1
CONFIRA
A TRILHA DA
UNIDADE 1!

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2
UNIDADE 1 TÓPICO 1 -
FORMAÇÃO HISTÓRICA DA AMÉRICA
LATINA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, nós abordaremos a formação espacial da América
Latina, em seus aspectos históricos, físicos, populacionais e econômicos.

O estudo da América Latina requer uma análise de fatores externos, pois a


colonização dos diversos países que compõem essa macrorregião tem em comum a
colonização, a dizimação dos povos indígenas, a exploração de recursos naturais através
do uso de mão de obra escrava e a espacialização dos interesses dos países europeus
sobre o território latino-americano.

Este tópico abrange uma leitura histórico-geográfica que revela como a


colonização modificou as crenças, os valores culturais dos povos indígenas através
da violência, da imposição e da destruição provocada pelos europeus no mundo dos
colonizados (MAIA; FARIAS, 2020). Os aspectos físicos, sociais, econômicos, políticos
que propomos neste estudo tem como base essa colonização impositiva, que considerou
a América Latina como território inferior.

A expansão da lógica colonizadora sobre a América Latina criou identidades


sociais distintas, remodelando as existentes e criando novas identidades sob o vínculo
de submissão colonial. Com isso a América Latina foi se constituindo na raiz da
dependência, pois esteve submetida aos interesses externos e serviu como base de
exploração para o enriquecimento dos países europeus.

Neste sentido, trabalharemos com a ideia de desconstruir essa visão de subde-


senvolvimento que fora imposta historicamente, ou seja, está incluso nesse debate a ideia
de que os países colonizadores são mais desenvolvidos, tem uma condição mais elevada.

Nesta relação de desenvolvimento versus subdesenvolvimento é importante


construirmos uma leitura crítica que faremos neste Tópico 1, sobre a premissa de que o
“descobrimento”, da América Latina, ou as condições de subdesenvolvimento presentes nesse
território “nada mais foi que uma invenção forjada pela história colonial europeia e consolidada
pela expansão das ideias e instituições ocidentais” (MAIA; FARIAS, 2020, p. 582).

3
DICA
Para aprofundar seus estudos sobre a temática apresentada na introdução,
recomendamos para leitura o livro de Eduardo Galeano As veias abertas da
América Latina. Segue um trecho do livro que retrata a condição de exploração
da América desde o período colonial até os dias atuais. “É a América Latina, a
região das veias abertas. Do descobrimento até nossos dias, tudo sempre se
transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal
se acumulou e se acumula nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus
frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de
trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. O modo
de produção a estrutura de classes de cada lugar foram sucessivamente
determinados, do exterior, por sua incorporação à engrenagem universal do
capitalismo” (GALEANO, 2011, p. 18).

2 A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA
Desde o início do tópico falamos sobre a colonização da América. Você já saberia dizer
o que é colonização? O termo colonização é usado para designar a ocupação do território.
Neste sentido, a colonização da América é um dos principais elementos para compreender as
condições da pobreza e do subdesenvolvimento presente nos países americanos.

A colonização pode ser considerada como de exploração ou de povoamento. Na


América Latina, a colonização esteve centrada na exploração, ou seja, extrair ao máximo
as riquezas das colônias para abastecer os países colonizadores, as metrópoles. Já a
exploração de povoamento esteve centrada nos países da América Anglo-Saxônica
(Estados Unidos e Canadá), cujo objetivo estava em desenvolver as condições
internas. Essas diferenças entre os processos de colonização ditaram os rumos do
desenvolvimento dos países colonizados.

Os países que constituem a América Latina são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Esses
países estão organizados em grandes conjuntos regionais: o México, América Central
(que se divide em América Continental, que compreende uma faixa de terras emersas
entre a América do Norte e a América do Sul e o Caribe, que é a parte insular.

As Guianas, América Andina, América Platina e o Brasil, todos têm em comum


o processo de colonização. Ou como bem coloca Eduardo Galeano (2011, p. 55), são
as “regiões que foram as maiores produtoras de bens exportados para a Europa ou,
posteriormente para os Estados Unidos, e as mais caudalosas fontes de lucro”.

4
As condições de desenvolvimento socioeconômico da Europa no século XV
fizeram com que os exploradores fossem em busca de outros territórios para explorar.
Neste sentido, a América torna-se interessante para a Europa em virtude deste
continente estar em busca de aumentar sua produtividade através da exploração de
metais preciosos e da produtividade agrícola.

Foi por volta dos séculos XV e XVI que a expansão europeia foi provocando profundas
mudanças nos territórios de colonização. Modificaram a vida das populações indígenas e a vida
da população africana, os quais foram forçados para saírem de seus territórios e tornaram-se
mercadoria (ver GIO NOTA) para a força de trabalho no processo de colonização.

A chegada dos europeus modificou não só as formas de vida dos povos


indígenas e negros africanos, como modificou as relações econômicas, dando início a
novas formas de produção e circulação das mercadorias.

Esse processo de colonização coloca a América na relação econômica mundial,


mais especificamente na exportação de seus produtos para os países europeus. Essa nova
dinâmica das relações econômicas entre metrópoles (países europeus) e colônias permite
o estabelecimento do controle político e econômico através do “colonialismo, relação
estruturada em torno de [...] um novo padrão de poder” (GONÇALVES; QUENTAL, 2012, p. 6).

A colonização estimulou de forma violenta o “extermínio de populações inteiras”


por meio da “escravidão, da servidão e da (des)possessão de terras” (GONÇALVES;
QUENTAL, 2012, p. 7).

A forma de violência inserida na América Latina pelos colonizadores não


esteve voltada apenas na dizimação das populações, mas esteve presente também na
“exploração das riquezas naturais”. Essa condição histórica de exploração, dizimação e
expropriação das terras instituiu a “América [...] no sistema-mundo", tornando os países
europeus o centro do poder hegemônico do período colonial (QUENTAL, 2021, p. 58).

A colonização destruiu a identidade dos povos indígenas e negros africanos, seja por
meio da escravidão ou por meio da cristianização. Entre os séculos XVI e XVII houve uma
queda brusca da população indígena, as epidemias, a escravidão e o extermínio dos povos
nativos resultaram nas principais causas da destruição do modo de vida dos povos indígenas.

Quanto ao negro africano, sua destruição se dá desde a desterritorialização


forçada de seus países, sendo escravizados e explorados como força de trabalho aos
colonizadores. A relação colonial da América deixa marcas profundas na formação
histórica dos países e na formação socioespacial, condições que veremos no próximo
subtópico. Vamos estudar mais um pouco?

5
NOTA
A mercadoria pode ser concebida como um objeto que tem valor de uso
– utilidade de uma coisa – e valor de troca, ou seja, valor quantitativo,
proporção que as mercadorias se trocam, por exemplo, trocar uma pessoa
escravizada por outro produto. Neste sentido, a pessoa escravizada torna-
se mercadoria por ter valor de uso, ou seja, é útil como força de trabalho e
alguém pagou por ele em um valor de troca (MARX, 2017).

2.1 FORMAÇÃO HISTÓRICA E SOCIOESPACIAL


Neste subtópico, nós daremos continuidade aos estudos sobre o contexto histórico
da América Latina. A partir daqui estudaremos a América Pré-Colombiana, ou seja, o período
histórico antes da chegada de Cristóvão Colombo, ou dos europeus sobre o território americano.
Discutindo as conquistas e o sistema de colonização que fora implantando nos países.
Posteriormente, terminamos este subtópico com uma abordagem sobre a independência da
América Latina, como se deu a formação dos Estados Nacionais na América Latina e nos
Estados Unidos e por fim, a construção da identidade dos povos latino-americanos.

A formação histórica e socioespacial está relacionada ao processo de


constituição dos países latino-americanos e da formação desses espaços, enquanto
território que se organiza em diversos países e regiões. Para definirmos a formação
espacial e social tomemos como base a definição de Ruy Moreira, que destaca a

formação espacial como um combinado de ciclos espaciais de acumulação


e circuitos de reprodução a infraestrutura dos arranjos territoriais que a
relação societária e de sociabilidade cria para criar a formação social e
por meio desta criar-se a si mesmo. Já a formação social é a estrutura
mais ampla que tem nessas áreas da divisão da produção e do trabalho,
as áreas de forças e relações de produção e formação espacial, o elenco
localizado e territorialmente distribuído da arquitetura que dela faz um
articulado de modos de produção (MOREIRA, 2020, p. 399).

Esses ciclos de acumulação estão relacionados aos processos de produção e


exploração das colônias europeias. Essa exploração foi vista na extração de minerais,
como o ouro e a prata, a produção da monocultura canavieira, a produção do gado, a
produção algodoeira, a exploração das florestas etc. A extração de matérias-primas e a
produção das mercadorias definiram os ciclos da economia na América Latina.

Até aqui entendemos que a colonização da América é a história contada do ponto


de vista dos Europeus, de como esses povos expandiram a região. Mas, é importante
saber que, antes da chegada dos Europeus, existia outra América. Essa outra América,
denominada pré-colombiana, tinha diferentes povos que habitavam seu território.

6
De acordo com pesquisas arqueológicas, já havia civilizações organizadas na
América antes da chegada dos europeus, e os povos que ainda habitavam o território
americano tais como os incas, astecas, maias são os que mais temos conhecimento
sobre suas organizações e culturas.

A seguir, nós vamos estudar a América pré-colombiana, antes disso, observe o


UNI e confira a dica de estudo.

DICAS
Se você gosta de ler, recomendamos o autor Ciro Flamorion Cardoso. Ele foi um importante
historiador brasileiro que se debruçou sobre temas diversos, mas principalmente sobre
a História da América. Alguns textos dele podem ser encontrados no endereço: https://
marxismo21.org/ciro-flamarion-cardoso-1942-2013/, ou nas referências:

• A Afro-América: a escravidão no novo mundo. Editora Brasiliense, SP, 1982.


• América pré-colombiana. Editora Brasiliense, SP, 4. ed. 1981.
• História econômica da América Latina. Rio de Janeiro. Editora Graal, 1983.
• Escravo ou camponês? O protocampesinato negro nas Américas. Editora
Brasiliense, SP, 1987.

Esperamos que as dicas sejam importantes para o aprofundamento de seus


estudos. E não esqueça, a curiosidade nos permite avançar no conhecimento.

2.1.1 América Pré-Colombiana


Você deve se questionar? Qual é a origem dos povos americanos? De onde
vieram os povos Incas, Maias e Astecas? Será que a origem dos povos mencionados é
conhecida? Como sabemos que de fato eles existiam antes da colonização europeia?

Muitas respostas já foram construídas para nossos questionamentos, e uma


delas podem ser encontradas na arqueologia, ciência que estuda povos antigos através
da coleta e escavação, identificando costumes e culturas desses povos. Além da
arqueologia temos o estudo da etno-história.

Para Cardoso (1981, p. 11) “esse estudo torna-se essencial para reconstruir a
leitura das “estruturas econômicas, sociais, políticas, intelectuais dos diversos grupos
indígenas tratando de América Pré-Colombiana”.

A teoria mais aceita sobre o povoamento dos primeiros povos da América é a


travessia realizada pelo Estreito de Bering, canal de 85 km que separa duas massas
continentais, Ásia e América do Norte e dois oceanos, Pacífico e Ártico, conforme a Figura 1.

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FIGURA 1 – ESTREITO DE BERING

FONTE: <https://bit.ly/34wCDJH>. Acesso em: 17 ago. 2021.

Para muitos estudiosos esse estreito foi o local que permitiu a migração dos
primeiros povos para a América. As hipóteses sobre o povoamento da América é de que
“o estreito estaria congelado durante uma glaciação, o que permitiu a sua travessia”
(PENA, 2021, s.p.).

Além da tese mais aceita sobre o povoamento da América, a tese de origem


dos povos asiáticos e seu deslocamento pelo estreito de Bering, podemos contar com
outras, a do autoctonismo e a da origem polinésia, como podemos ver na citação de
Ferreira e Fernandes (2010, p. 131) sobre as três teorias que embasam os primeiros
indícios de povoamento na América.

Quem primeiro apresentou a hipótese do autoctonismo foi o Argentino


Florentino Ameghino, no início do século XX: para ele, antes mesmo
de o homem surgir em outros continentes, já existiam hominídeos na
Patagônia. Essa hipótese não tem sustentação científica, e ligava-se
ao movimento nacionalista argentino. A hipótese da origem polinésia
foi apresentada pelo francês Paul Rivet, que sustentava que alguns
homens teriam atravessado o oceano Pacífico, em canoas rudimentares.
Mas as pesquisas mais recentes construíram uma hipótese mais aceita:
a da origem asiática. De acordo com essa hipótese, grupos humanos,
em sucessivas levas, saíram da Mongólia, na Ásia, e emigraram, entre
14 e 12 mil anos atrás, para a América, aproveitando-se dos períodos
de glaciação, que transformaram o estreito de Bering num istmo que
podia ser transposto a pé. Alguns especialistas propõem, também, a
combinação de origens polinésia e asiática.

A tese sobre o povoamento da América foi construída sobre uma visão


eurocêntrica, ou seja, uma leitura a partir da perspectiva dos europeus. É preciso pensar
a nossa história a partir de nossa própria leitura, uma vez que, cada povo, cada cultura
explica a realidade de acordo com sua visão de mundo. Por isso, a visão da Europa sobre
a América deve ser contestada.

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Todavia, para nossos estudos delimitamos essa leitura sobre a caracterização de
alguns povos que construíram a história da América antes dos europeus, os Incas, os Maias e os
Astecas. Essas civilizações tinham diversos modos de organização, política, cultural, religiosa,
social e econômica. Para alguns estudiosos a melhor forma de estudar essas civilizações pode
ser agrupada em Mesoamérica, engloba os Maias e os Astecas, atual região do México e da
América Central e a Região Andina, engloba os Incas, consideramos a região atual do Equador,
Peru, Bolívia, norte do Chile e oeste da Argentina (BRAICK; MOTA, 2016).

A civilização Maia se desenvolveu entre os séculos III e X. A história deste povo


esteve ligada ao território atual do México e em algumas regiões da América Central. Sua
organização territorial estava dividida em “Cidades-Estados independentes, entre as quais
se destacavam Palenque, Tikal, Chichén-Itzá e Copán”. A sociedade estava dividida em dois
grupos: a população comum os setores privilegiados. A primeira divisão era composta por
agricultores e a segunda por governantes, sacerdotes e guerreiros (BRAICK; MOTA, 2016).

Algumas características marcam a história da civilização Maia, como o


desenvolvimento do calendário, os estudos de astronomia, matemática, arquitetura, pintura,
um sistema de escrita, a organização das atividades agrícolas etc. Infelizmente, a civilização
Maia declinou sua organização em função, não se sabe ao certo, de guerras civis entre as
cidades maias e para alguns historiadores o abandono das cidades decorreu das mudanças
climáticas, provocando a saída dos povos de regiões de estiagem para regiões produtoras.

Outra civilização Pré-Colombiana que merece destaque é a Asteca, que também se


formou em terras do atual México. Foi uma civilização que absorveu a cultura dos Maias e de
civilizações anteriores. Antes da colonização, com a chegada dos espanhóis no século XVI, os
Astecas eram detentores de um grande Império que tinha como capital a cidade de Tenochtitlán.

Tenochtitlán, capital do Império Asteca, era o centro administrativo,


onde se encontravam as grandes construções, como palácios, praças,
templos religiosos, mercados e canais utilizados para a irrigação e a
circulação de pequenas embarcações utilizadas para o transporte de
pessoas e produtos (BRAICK; MOTA, 2016, p. 11).

Essa estrutura do Império Asteca dividia a sociedade em estratos, nobreza


(camada social privilegiada), seguida dos comerciantes e artesãos especializados. Tinham
os camponeses e escravos e os prisioneiros de guerras. Na economia desenvolveram
uma agricultura sofisticada, na qual produziam milho, feijão, abóbora e variados tipos
de pimentas. Essa civilização foi destruída pelos colonizadores europeus, que tinham a
política de conquista e extermínio.

A civilização dos Incas constituiu-se a partir do século XII. Esse império foi considerado
um mais extenso da América pré-colombiana. Com um governo monárquico e teocrático,
o legislador era considerado descendente do Sol e adorado como um deus. Atualmente, os
Incas são bastante conhecidos por sua contribuição na construção de cidades como Cuzco e
Machu Picchu. Na economia, os Incas eram conhecidos pela agricultura, e cultivavam a terra
de forma coletiva e também tinham noções importantes de astronomia e matemática.

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Viu como temos história? Nossa formação espacial e territorial é importante
para compreendermos os impactos decorrentes das conquistas e colonizações dos
europeus, na dizimação dos povos e na mudança cultural, econômica, social e política
da história dos povos nativos.

2.2 CONQUISTAS E COLONIZAÇÕES


A conquista da América Latina por meio do processo de colonização estabeleceu
a apropriação de novas terras e a instalação de um novo poder, vindo da metrópole
colonizadora. Para Moraes (2005, p. 65) “a colonização envolve a criação de novas
estruturas econômicas”, assim como, estruturas sociais, políticas e de exploração territorial.

O domínio dos europeus sob as terras americanas, consolidou a conquista do


território e a exploração dos recursos naturais, da mão de obra existente, da dizimação
de povos, culturas e a criação de novas relações sob o território conquistado.

Há uma diversidade no processo de colonização pois as condições naturais, sociais


e a organização dos países diferenciavam bastante entre si. Como vimos, no item anterior,
alguns países já tinham sociedades estabelecidas e formas de organização constituídas.

Portanto, a conquista do território através da colonização permitiu aos colonizadores


criar possibilidade de se manter nos territórios “descobertos”, ou melhor, invadidos por eles.
A colônia precisava ser rentável, precisava produzir mercadorias, precisava dá um retorno
ao empreendimento dos colonizadores, por isso a exploração de riquezas minerais, como
o ouro, a prata e a produção da plantation foram fundamentais para o estabelecimento do
projeto de conquista colonial promovido pelas metrópoles europeias (MORAES, 2005).

Assim, a colonização estava estritamente relacionada com novas possibilidades


de desenvolvimento da economia, da exploração da força de trabalho, da instituição
da religiosidade dos colonizadores, da ocupação e do domínio territorial. Isso gerou um
sistema de organização voltado para fora, ou seja, a organização do território latino-
americano passa a ser constituído a partir da ótica da metrópole colonizadora.

Dessa forma, nosso estudo está pautado na análise da colonização e do


povoamento da América, da independência dos países latino-americanos, como estes
constituíram a formação de seus Estados e a partir dessa dinâmica processual que
podemos compreender como as identidades foram sendo criadas no contexto dos
países latino-americanos.

Neste sentido, convidamos você adentrar mais um pouco nos temas


anteriormente mencionados para compreendermos melhor a perspectiva colonial e a
desconstrução desta a partir da independência dos países latino-americanos.

10
2.3 SISTEMA COLONIAL: COLONIZAÇÃO E POVOAMENTO NA
AMÉRICA LATINA
Já abordamos a colonização. Já sabemos definir o que é a colonização. Sabemos
que a formação do espaço latino-americano ocorreu por um processo de formação
colonial. Mas, ainda não estudamos como ocorreu esse povoamento.

Então, a partir deste subtópico nos debruçaremos sob essa parte tão importante
na história e na geografia da América Latina, pois, o povoamento consolidou a formação
do território, definiu limites territoriais, fronteiras, organizou o espaço de acordo com
regiões, ou seja, os europeus estabeleceram uma nova geografia para o povoamento da
América com o seu sistema de colonização.

A América Latina foi colonizada predominantemente pelos espanhóis e portugueses.


Mas, nas áreas das Antilhas da América Central e as Guianas no Norte da América do Sul,
aparecem outros europeus no processo de colonização, tais como: os holandeses, os franceses
e os ingleses. Essa colonização na América Latina predominou a partir da exploração.

A região da América Latina foi colonizada predominantemente por espanhóis e


portugueses. As exceções são algumas Antilhas da América Central e das Guianas no
norte da América do Sul que foram colonizadas também por outros povos europeus,
como por exemplo, ingleses, franceses e holandeses. Em todas, no entanto, predominou
a colonização de exploração.

Mas, o marco da colonização da América ocorre a partir de 1492 com o estabe-


lecimento da primeira colônia, cujo responsável foi Cristóvão Colombo, o “descobridor”
(na verdade poderíamos afirmar que foi o invasor, pois só poderia ser descobridor se
não houvesse ninguém habitando o território que foi colonizador por ele). Essa ideia de
descobrimento oculta a verdade e romantiza a história, pois fortalece a ideia de supe-
rioridade eurocêntrica no processo histórico.

Portanto, as palavras colonização e conquista estão carregadas de uma


simbologia, e evidenciam os processos de invasão e violência cometida com os povos
indígenas pelos europeus. Se questionarmos os povos indígenas sobre a visão que
têm da conquista/colonização receberemos respostas como essa, extraída do texto de
Pinsky, no livro: História da América através de textos:

Nos caminhos jazem dardos quebrados; os cabelos estão espalha-


dos. Destelhadas estão as casas, incandescentes estão seus muros.
Vermes abundam por ruas e praças, e as paredes estão manchadas
de miolos arrebentados. Vermelhas estão as águas, como se alguém
as tivesse tingido, e se as bebíamos, eram água de salitre. Golpeá-
vamos os muros de adobe em nossa ansiedade e nos restava por
herança uma rede de buracos. Nos escudos esteve nosso resguardo,
mas os escudos não detêm a desolação (PINSKY, 1989, p. 29-30).

11
Essa história intitulada um “canto triste” asteca mostra-nos a violência dos europeus
sobre a América Latina, pois as consequências da colonização provocaram mudanças no
rumo de vida dos povos indígenas. Rumo consolidado há milhares de anos, que segundo
o professor Moya, do departamento de História do Barnard College na Universidade de
Columbia, no estado de Nova York, nos Estados Unidos, “os primeiros seres humanos a
chegar às Américas vieram do nordeste da Ásia há cerca de 15.000 anos” (MOYA, 2018,
p. 26). A América teve um povoamento tardio em relação aos outros continentes, como a
Europa e a Ásia, por exemplo. Portanto, já podemos afirmar que os primeiros habitantes das
Américas estiveram aqui muito antes da invasão realizada pelos europeus no século XV.

A história do povoamento americano é fundamentada nos estudos arqueológicos.


A arqueologia é uma ciência que nos possibilita conhecermos histórias que não foram
escritas. Para isso, esta ciência se debruça sobre o estudo de escavações de fósseis,
pinturas, monumentos e objetos antigos. Esses estudos permitem conhecer o nosso
passado e nossa cultura através das marcas deixadas nos materiais encontrados. O
debate em torno do povoamento da América parte de algumas teorias, como vimos
sobre a teoria mais aceita do Estreito de Bering.

Mas, voltando ao nosso tópico, o povoamento da América a partir do processo de


colonização representou a organização do território através dos interesses das metrópoles
colonizadoras. Ao se depararem com sociedades já estabelecidas os europeus não
hesitaram com seu projeto colonizador, enfrentando essas sociedades, destruindo-as e
provocando diversos conflitos, assim como, a resistência dos povos indígenas.

Contudo, à medida que povoaram a região latino-americana foram impondo


suas relações econômicas, políticas, religiosas e culturais. Isso provocou o deslocamento
de população, a dizimação dos indígenas, assim como a chegada de outros povos para
povoar os países latino-americanos.

Na América, as colônias foram divididas em colônias de exploração e colônias


de povoamento. A primeira tinha uma estrutura econômica centralizada, baseada na
grande propriedade e na produção da monocultura e o uso da mão de obra através
do trabalho escravo. As colônias de povoamento por sua vez, se caracterizavam pela
pequena propriedade, com uma produção baseada na policultura e a força de trabalho
na mão de obra familiar.

Essas diferenças na formação do território americano distinguiram o processo


de povoamento e o desenvolvimento desigual se estabeleceu entre os países da
América Anglo-saxônica (Estados Unidos e Canadá) e os países da América Latina
(englobando América Central, América do Sul e o México). O povoamento no período
colonial centralizou-se a partir dos espanhóis e portugueses. Os fluxos migratórios dos
europeus para o território latino-americano ocorreram em virtude da crise que a Europa
vivenciou no século XV e XVI. Além dos fluxos migratórios europeus houve o recebimento
das populações negras africanas que passaram por um processo de migração forçada.

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Esse novo povoamento desencadeou a organização de novos espaços
regionais, novos modos de produção e novas relações de trabalho. O povoamento
diverso desencadeou adaptações de acordo com as regiões que estava inserido. As
diversidades climáticas, edáficas e culturais são elementos que condicionaram um
povoamento e um desenvolvimento desigual no território americano, com isso os
europeus foram se fixando no território, criando políticas e estabelecendo suas relações
de colonização e povoamento, destituindo os indígenas de sua realidade.

DICA
Assista ao filme, 1492 – A conquista do paraíso. O filme teve lançamento em
8 de outubro de 1992, na Espanha, e está disponível na internet. Ele retrata
a expedição de Colombo para a América, a relação dos europeus com os
indígenas e a luta de Colombo para colonizar o território americano.

3 INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA LATINA


A independência das colônias americanas (Sul, Norte e Central) ocorreram entre
os séculos XVIII e XIX. Os fatores que levaram à independência da América Latina são
decorrentes de lutas e revoltas contra as metrópoles colonizadoras.

Os principais fatores apontados pelos historiadores são: a Revolução Francesa,


a Unificação da Alemanha e a Unificação da Inglaterra. A alta e excessiva cobrança de
impostos pelas metrópoles às colônias e os ideais de liberdade marcaram a luta pela
independência dos povos latino-americanos.

A independência dos países latino-americanos não aconteceu de forma


igualitária. O primeiro país a conseguir a independência foi o Haiti no ano de 1804.
A colonização da região haitiana foi feita pelos espanhóis e posteriormente pelos
franceses. É com base na influência dos ideais da Revolução Francesa, liberdade,
igualdade e direito à propriedade, que o Haiti lutou por sua independência e tornou-se
o primeiro Estado livre da América Latina.

A experiência do Haiti merece atenção por ter sido uma luta comandada pelos
negros, e naquele período grande parte dos negros eram escravos. Esse ato foi liderado
pelo ex-escravo Toussaint-Louverture, que foi preso em 1802 e morto em 1803 na
França. A luta não cessou e foi assumida por Jean-Jacques Dessalines, que declarou a
independência do país em 1804 (BRAICK; MOTA, 2016).

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Essa história parece fácil, é contada nos livros, mas sabemos que esse momento
histórico foi marcado por conflitos sangrentos, mas que a conquista da liberdade fora possível
devido ao enfraquecimento da França diante do processo revolucionário da luta pela abolição
dos escravos em suas colônias (BRAICK; MOTA, 2016). Nos países da América do Sul temos
duas figuras muito importantes que ficaram conhecidos por sua luta para que as colônias
fossem independentes e pela abolição dos escravos, Simón Bolívar e José de San Martin.

Simón Bolívar nascido no seio da aristocracia colonial, de boa família e formação


educacional, foi na contramão de sua realidade. Ele comandou revoluções e promoveu a
independência da Venezuela, Equador, Colômbia, Peru e Bolívia, esse último país recebe
este nome em homenagem a Simón Bolívar, que ficou conhecido como o “líder da libertação”.

Além de Bolívar, outro representante importante na luta pela independência


dos países latino-americanos foi o argentino José de San Martin, que tinha relações
políticas com o Simón Bolívar, mas tinham planos diferentes após a independência.
José de San Martin liderou movimento de independência na Argentina e no Chile, e
via a independência como a possibilidade de criar monarquias, já para Bolívar todas
as ex-colônias deveriam ser uma única grande República. Juntos eles lideraram a
independência do Peru que se concretizou em 1824.

No México, a independência foi diferente das outras colônias espanholas da


América, pois o movimento de independência teve um caráter mais popular e fora
liderado pelos padres Miguel Hidalgo e José Anderson de Andrade Pimentel. Esse
caráter popular estava ligado aos indígenas, aos homens pobres e livres, e aos mestiços.

Segundo Braick e Mota (2016, p. 133), “os rebeldes foram derrotados pelas forças
da Coroa” [...] o padre Hidalgo “foi preso e executado [...] Morelos assumiu a direção do
Movimento [...] declarou independência do México e formou um governo de base popular”.
Mas, as elites e a Coroa espanhola não satisfeitos com essa revolução social também
executaram Morelos. Com isso, a independência passa a ser responsabilidade das elites da
sociedade colonial, que em 1821 tornou-se livre devido ao Plano de Iguala (proposto pelo
militar Augustin Iturbide para criar uma monarquia no país) que fora aceito pelas elites e pela
igreja. Dois anos após o México tornou-se uma República (BRAICK; MOTA, 2016).

No Brasil, a independência também decorreu da crise do sistema colonial. Essa


crise foi impulsionada pela eclosão da Revolução Industrial, logo o sistema colonial
torna-se incompatível com as mudanças econômicas e a expansão do capitalismo. No
Brasil, segundo alguns historiadores, a independência do país teve forte ligação com a
transferência da corte portuguesa para a colônia, em 1808. A independência também é
resultado das relações políticas entre os portugueses e a elite brasileira, que insatisfeita
com os laços coloniais sugeria o caminho do separatismo. As relações de conflitualidade
levaram a Dom Pedro declarar a independência do país em 7 de setembro de 1822.

14
E para finalizar esse ponto, que tal sabermos um pouco da América do Norte,
ou seja, dos Estados Unidos. Afinal, eles foram colônia também, lembra? Só que foram
colônia de povoamento. Porém no século XVIII começaram a ter sua autonomia ameaçada
devido à Coroa Britânica passar a intensificar o controle das atividades comerciais.

Nos Estados Unidos, as colônias eram organizadas em treze. Não compartilhavam


de um sistema de unidade, mas com a autonomia ameaçada se uniram contra a Coroa
Britânica. Foi com a organização em congressos e sob a liderança de Thomas Jefferson
que foi dado início à criação da Declaração da independência. Essa declaração foi
finalizada em 4 de julho de 1776, com base nos princípios iluministas. Foi em 1783, após
lutas e confrontos que o governo britânico reconheceu a independência dos Estados
Unidos da América (BRAICK; MOTA, 2016).

Sabemos que a independência não colocou fim à escravidão e não foi motivo de
inclusão para as classes menos favorecidas terem direitos a melhores condições de vida. Pelo
contrário, a luta pela valorização dos povos indígenas, dos negros africanos, e a luta pela terra
dos camponeses permanece viva até hoje, pelos direitos sociais, políticos e econômicos.

3.1 FORMAÇÃO DOS ESTADOS NACIONAIS NA AMÉRICA


LATINA E NOS ESTADOS UNIDOS
Começamos com uma breve citação de Wasserman (2010, p. 177).

A formação do Estado nacional na América Latina corresponde a dois


processos indissociáveis: a internacionalização do modo de produção
capitalista que conduz à institucionalização do poder burguês no
mundo todo e, por outro lado, os processos de emancipação das
colônias ibéricas. O primeiro processo tem um caráter econômico-
social e o segundo é eminentemente político-militar. O vínculo reside
justamente na estreita articulação entre estes aspectos da realidade.

Ao lermos essa citação deveríamos nos perguntar: como relacionar o modo de


produção capitalista com a emancipação das colônias? A resposta seria que a condição
econômica vivenciada pela colonização levou ao que conhecemos hoje, ao capitalismo
mundial. Um sistema econômico que em suas diversas fases tinha como caráter
central sua expansão sobre os territórios, seja na busca de riquezas ou na produção e
circulação das mercadorias. Além do aspecto econômico, as relações políticas também
fundamentam o avanço do capital, a colonização, a busca pela autonomia das colônias,
a institucionalização dos Estados nacionais e a luta desses para se inserirem no contexto
das relações econômicas mundiais.

A queda do sistema colonial e o processo de formação dos novos Estados


na América Latina e nos Estados Unidos tiveram a inserção de novos sistemas
políticos, militares, econômicos. As antigas colônias que estavam no processo de
institucionalização do Estado enfrentaram diversas dificuldades, tais como “a escassez

15
de capitais necessários à implementação do volume a ser exportado, a disponibilidade de
mercados externos (problemas de demanda) e a queda do preço no mercado mundial”
(WASSERMAN, 2010, p. 183).

Essa situação fez com que a constituição dos Estados nacionais latino-
americanos buscasse se organizar para manter suas relações com o mercado. Contudo,
sabemos que essa situação não fora fácil devido “à ausência de um elemento aglutinador,
ou identidade nacional” entre as colônias (WASSERMAN, 2010, p. 181). Isso revela como
o processo de constituição dos novos Estados foi difícil. Para os historiadores que se
detêm aos estudos da América Latina,

O período que se segue às lutas pela Independência é conhecido


[...] como fase da anarquia. Essa expressão, que se tornou de uso
corrente pela historiografia latino-americana, remete às dificuldades
em conseguir construir ordenamentos estáveis, mas, ao mesmo
tempo, seleciona os casos empíricos entre os mais ou menos
capazes nesta tarefa, dependendo, conforme a tese, de quesitos
absolutamente subjetivos, como determinismos étnicos, geográficos
ou climáticos (WASSERMAN, 2010, p. 181).

As dificuldades em criar os Estados nacionais também se relacionavam ao tipo de


sistema que queriam manter, alguns queriam a monarquia e outros já lutavam pela formação
de repúblicas. Um dos principais objetivos era romper com o passado colonial, para isso
adotar outras posturas políticas e econômicas eram necessárias. Isso levou a “reformas
políticas, educacionais, jurídicas, econômicas e fiscais” (WASSERMAN, 2010, p. 184).

Aconstituição de cada Estado-Nação daAmérica Latina teve características peculiares,


ou seja, próprias do seu território e de sua formação histórica, política e características de suas
elites. Neste sentido, faremos uma breve apresentação da constituição dos principais países
da América Latina. Começamos nosso estudo pelo México.

A constituição do México, enquanto um Estado, resultou na divisão da classe


dominante em duas visões políticas, os liberais e os conservadores. Os primeiros
defendiam descentralização da política e a institucionalização do federalismo.

Os conservadores, por sua vez, defendiam o centralismo político. Com essa


divisão houve os conflitos de interesses entre a própria elite. O primeiro presidente do
país, foi o liberal Guadalupe Victoria, que teve como sucessor da mesma linha política,
Vicente Guerrero. Logo, os interesses dos liberais começaram a ser questionados pelos
conservadores que não concordavam com as reformas liberais que vinham acontecendo
no país (WASSERMAN, 2010).

Com os conflitos entre a própria elite, foi instituída, em 1834, a ditadura no


México pelo general Santa Anna, através de um golpe de Estado, golpe apoiado
pela elite conservadora. Apenas em 1856 houve o retorno dos liberais ao poder, que
instituíram reformas no Estado mexicano promovendo a expansão do capitalismo na
região (WASSERMAN, 2010).

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Na Argentina, a consolidação do Estado nação também resultou de lutas.
Um dos principais fatores que impedia o avanço da constituição do Estado Argentino
foram os Caudilhos (chefes políticos locais) e a falta de unificação, uma vez que estava
organizada em três principais regiões que não tinham os mesmos interesses. “A primeira
era a de Buenos Aires e sua província, a segunda à do litoral dos rios [...] e a terceira,
chamada do interior, Córdoba, La Rioja e Tucuman” (LIMA; NOGUEIRA, 2006, p. 3).

A falta de unidade entre as regiões e os interesses diferentes na


institucionalização do Estado Nação fez a Argentina demorar cerca de cinquenta anos
para se tornar um Estado Nacional. Os conflitos existentes entre dois projetos de Estado
estavam centralizados no Liberal-centralista e no Conservador-Federalista.

Vemos aqui uma situação interessante, havia necessidade de manter os


interesses conservadores, de aspecto colonial, em que o poder estava centralizado nos
interesses das elites. Porém, foi após muitos conflitos que o projeto Liberal-centralista
avança sobre a Argentina, instituindo um Poder Executivo e a luta para modernizar o
país (LIMA; NOGUEIRA, 2006).

O estudo da formação de cada Estado Nação da América Latina requer


pesquisa e análise de cada caso particular, pois a formação dos Estado Nação levou
a diferentes lutas, reinvindicações e interesses, sem falar que cada luta representou
interesses distintos na formação política e econômica dos países. No Chile, por
exemplo, a independência teve sua declaração em 12 de fevereiro de 1818, tendo como
representantes dessa luta José de San Martín e Bernardo O’Higgins.

De acordo com Gomes e Soares (2011, p. 68), o “Chile vai se diferenciar dos demais
países” na formação do Estado Nação. Os autores apontam três aspectos fundamentais:

o primeiro deles é a condição na qual se encontrava o Chile antes


dos movimentos independentistas; o segundo é como a elite que
assumiu o poder logo após a independência pensou o Estado chileno
enquanto nação e o terceiro é a maneira pela qual esta nação foi
se consolidando a partir de um discurso patriótico que tanto ecoou
naquele momento (GOMES; SOARES, 2011, p. 68).

A elite agrária buscava se manter no poder e exercer seu domínio sobre a


população. Para Gomes e Soares (2011), um período que merece atenção na leitura
sobre a formação do Estado Nação chileno é o período da ideologia marcada por
Diego Portales, ou como ficou conhecido de “Portalino”, ou seja, uma nação que devia
ser constituída a partir do patriotismo. No período de 1833 houve a promulgação da
constituição chilena que era bastante conservadora e “influenciada pelo pensamento
portalino”. Esse patriotismo ganhou terreno no Chile com a Guerra do Pacífico (1879 –
1883). A Guerra foi estabelecida por disputas políticas entre o Chile, o Peru e a Bolívia,
sendo o Chile o vencedor deste episódio, o que o fez expandir seu território.

17
Quanto à formação do Estado Nação Peruano e Boliviano havia muita
instabilidade. A independência do Peru ocorreu em 1821 e a da Bolívia em 1825. Para
Wasserman (2010, p. 194) esses países “não modificaram a ordem política, econômica e
social do período colonial”. O que evidencia suas fragilidades diante de outros países que
estavam no mesmo processo de consolidação do Estado-Nação. A estagnação política
e produtiva desses países só teve uma estabilidade a partir do século XX.

Quanto aos países da América Central, a consolidação do Estado-Nação não foi


conflituosa, pois segundo Wasserman (2010, p. 196), “a transição pacífica se explica pelo
fato da região não apresentar riquezas minerais significativas”. Logo, essa região teve
sua independência como um reflexo do México, pois Guatemala, Honduras, El Salvador,
Nicarágua e Costa Rica estavam ligadas ao território mexicano e em 1823 se separaram
do México e formavam as Províncias Unidas da América Central (WASSERMAN, 2010). As
diferenças na constituição desses Estados levaram à construção de identidades latino-
americanas bem distintas entre si, com culturas e sociedades com características
peculiares, que merecem atenção especial a seguir.

3.1.1 A construção das identidades latino-americanas:


cultura e sociedade
Símon de Bolívar proferiu um discurso em 1819, na cidade de Angostura, sobre
nossa identidade, questões que se perpetuam até os dias atuais: Qual é a nossa origem?
O que consolida nossa identidade enquanto povo? Descendentes de europeus? Ou
descendentes de indígenas? Descendentes de africanos? Ou somos frutos de um
processo de miscigenação? É interessante pensarmos sobre isso quando analisamos a
citação de Bolívar, vejamos:

Não somos europeus, não somos índios, mas sim uma espécie
intermédia entre os aborígenes e os espanhóis. Americanos por
nascimento e europeus por direito, nos encontramos em meio ao
conflito de disputar os títulos de propriedade aos nativos e manter-nos
no país que nos viu nascer, contra a oposição dos invasores. De maneira
que o nosso caso é extremamente extraordinário e complicado. [...]
Estamos colocados num grau inferior ao da servidão. Mantenhamos
presente que o nosso povo não é nem europeu, nem americano do
norte, é antes uma composição de África e América do que uma
emanação da Europa... é impossível determinar com propriedade a que
família pertencemos (BOLIVAR, 1819 apud MANCE, 1995, s.p.).

Essas reflexões presentes no texto evidenciam as diferenças culturais presentes


na América Latina e a busca pela constituição de uma identidade. Essa busca requer
romper com qualquer relação de dependência e dominação externa sob os territórios
latino-americanos e reconhecer a especificidade cultural de cada povo presente na
América sem colocar ninguém numa condição de inferioridade, portanto cabe aqui, a
valorização do indígena, do negro africano e dos mestiços, reconhecidos como povo
que contribui para a formação da nossa identidade.

18
A busca pela identidade cultural da sociedade latino-americana permeia um
debate profundo, devido terem-se formado primeiro os Estados e depois a busca
pela identidade nacional. Com diferenças culturais, étnicas, religiosas e linguísticas, a
identidade cria-se a partir de semelhanças e diferenças, e essas semelhanças, segundo
Mance (1995, s.p.) está na “demarcação territorial”, ou seja, “a identificação do nacional
é desdobrada da memória dos conflitos na disputa por territórios com países limítrofes,
emergindo os heróis da história oficial”.

Neste sentido, a identidade latino-americana se constitui desde o período


colonial, ela foi se consolidando, se reinventando e se afirmando enquanto povo latino-
americano. As dificuldades ainda presentes na identificação da identidade do povo latino-
americano é fruto dos resquícios coloniais e a sua formação histórica, porém, o que vemos
na constituição da nossa identidade seja indígena, negro africana, europeia, mestiça
é a necessidade de uma interculturalidade, pois, este é o caminho para que todos se
reconheçam e se respeitem no espaço diverso e único para os povos da América Latina.

19
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• A formação especial da América Latina se deu a partir do processo de colonização,


que determinou a exploração econômica dos países que constituem a região.
Tornando-se colônias dos países europeus, principalmente Espanha e Portugal,
a América Latina se constitui como uma invenção destes povos e, neste sentido,
explorou recursos naturais, assim como mão de obra dos povos originários, os
indígenas, e os povos africanos.

• A expansão colonial criou identidades sociais distintas e remodelamento das


identidades existentes, negando a cultura dos povos originários e os colonizadores
colocando-se na condição de culturas superiores, isso dificultou, portanto, a criação
da identidade dos povos latino-americanos depois da independência.

• A colonização exterminou populações indígenas, através de violência e destruição


do modo de vida dos povos originários. Além disso, a colonização foi responsável
pela expropriação de terra e concentração desta nas mãos de poucas pessoas.

• O povoamento da América não se deu com os europeus e sim com os povos


asiáticos, que fizeram seu deslocamento territorial através do estreito de Bering.

• A América Latina antes dos europeus tinha em seu território grandes civilizações,
Incas, Maias e Astecas com modo de vida próprio e organização política, cultural,
econômica e religiosa.

• O marco da colonização da América se deu em 1492, com a criação da primeira


colônia, sob responsabilidade de Cristóvão Colombo.

• Na América, as colônias foram divididas em colônias de exploração e colônias de


povoamento. A primeira tinha uma estrutura econômica centralizada, baseada na
grande propriedade e na produção da monocultura e o uso da mão de obra através
do trabalho escravo. As colônias de povoamento se caracterizavam pela pequena
propriedade, com uma produção baseada na policultura e a força de trabalho na
mão de obra familiar.

• A independência latino-americana não ocorreu de forma igualitária. Os países foram


se tornando independentes conforme os ideais da Revolução Francesa e a primeira
colônia a conseguir independência foi o Haiti.

20
• A formação dos Estados-Nação na América Latina constituiu-se de diversas lutas
pela consolidação de regimes políticos diferentes, disputas existentes em sua maioria
por uma elite conversadora que buscava manter seus poderes e uma luta de uma
elite liberal que buscava modernizar seus países e inserir no mercado internacional.

• A busca pela identidade cultural da sociedade latino-americana é um grande debate


que ainda se faz no contexto atual, pois há uma diversidade de povos nesses
territórios e o que consolidou essa identidade foi a demarcação dos territórios.

21
AUTOATIVIDADE
1 Leia o trecho a seguir: “É a América Latina, a região das veias abertas. Do
descobrimento aos nossos dias, tudo sempre se transformou em capital europeu ou,
mais tarde, norte-americano, e como tal se acumulou e se acumula nos distantes
centros do poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas ricas em minerais,
os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os
recursos humanos. O modo de produção e a estrutura de classes de cada lugar foram
sucessivamente determinados, do exterior [...]. Para cada um se atribuiu uma função,
sempre em benefício do desenvolvimento da metrópole estrangeira do momento, e
se tornou infinita a cadeia de sucessivas dependências, que têm muito mais do que
dois elos e que, por certo, também compreende, dentro da América Latina, a opressão
de países pequenos pelos maiores seus vizinhos, [...] a exploração de suas fontes
internas de víveres e mão de obra pelas grandes cidades e portos [...] (GALEANO,
2010, p. 18). Com base no que estudamos, o trecho do livro de Galeano discute:

FONTE: GALEANO, E. As veias abertas da América Latina. Tradução de Sérgio Franco. Porto Alegre,
L&PM, 2011. p. 18.

a) ( ) Sobre o período de Independência dos países latino-americanos.


b) ( ) Sobre a formação das identidades da sociedade latino-americana.
c) ( ) Sobre o processo de colonização europeia na América Latina.
d) ( ) Sobre o pacto colonial entre a América e os países europeus.

2 Os historiadores consideram que a América Latina foi uma invenção dos europeus.
Essa ideia de invenção é decorrente do fato de já haver civilizações sobre esses
territórios. Considera-se que quando os espanhóis chegaram à terra que denominaram
de América, já havia sociedades organizadas e centros urbanos consolidados, essas
civilizações eram conhecidas como Astecas, Maias e Incas. As civilizações Maia e
Asteca ocupavam a região atual do México e da América Central, já a região do Equador,
Peru, Bolívia, norte do Chile e Oeste da Argentina foi ocupada pelos Incas. Com base no
que estudamos sobre essas civilizações e a colonização, analise as sentenças a seguir:

I- A civilização Maia se desenvolveu entre os séculos III e X. Essa civilização está ligada
à história do atual México e uma das suas principais marcas é sua organização
territorial em Cidades-Estados independentes.
II- A civilização Asteca não recebeu influência de nenhuma outra civilização, era uma
sociedade que tinha baixo desenvolvimento agrícola e os europeus não tiveram interesse
nesta civilização, preservando, portanto, a cultura e os modos de produção dos Astecas.
III- A civilização dos Incas constituiu-se a partir do século XII. Esse império foi
considerado um dos mais extensos da América pré-colombiana. Atualmente, os
Incas são bastante conhecidos por sua contribuição na construção de cidades como
Cuzco e Machu Picchu.

22
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A independência das colônias americanas (sul, norte e central) ocorreu por volta do
século XVIII e XIX. Os fatores que levaram à independência da América Latina são
decorrentes de lutas e revoltas contra as metrópoles colonizadoras. De acordo com o
que estudamos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas.

( ) O primeiro país a conseguir a independência foi o Haiti no ano de 1804, com a


liderança do ex-escravo Toussaint-Louverture.
( ) No México, a independência foi liderada pelos ex-escravos Miguel Hidalgo e José
Anderson de Andrade Pimentel.
( ) Nos países da América do Sul, nós temos duas figuras que representaram a luta
pela independência das colônias e pela abolição da escravidão, estes foram: Simón
Bolívar e José de San Martin.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A América se consolidou em três grandes regiões: América do Norte, América Central


e América do Sul. Além dessa divisão geográfica, também há a divisão histórica, fruto
da colonização que divide a América em Anglo-Saxônica (Estados Unidos e Canadá) e
América Latina (México, América Central e América do Sul. Essa divisão histórica está
ligada à formação desses territórios em relação ao tipo de colonização que se estruturou.
Neste sentido, existem dois tipos de colonização, as de exploração e a de povoamento.
Disserte sobre a diferença que se estabelece para esses dois tipos de colonização.

5 O processo de colonização na América Latina provocou mudanças na vida dos


povos nativos, pois a disputa dos europeus por territórios de expansão comercial
e exploração provocou na América Latina um violento extermínio de populações
inteiras por meio da escravidão e da apropriação de terras pelos europeus. Neste
sentido, explique, como a colonização foi o ponto inicial para que os países europeus
se tonassem hegemônicos na economia colonial.

23
24
UNIDADE 1 TÓPICO 2 -
REGIONALIZAÇÃO DA AMÉRICA LATINA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos a Regionalização da América Latina. Regionalizar
serve para compreender o espaço geográfico a partir de sua fragmentação em territórios com
características particulares e homogêneas entre si. Neste sentido, nós estudaremos a regio-
nalização em aspectos físicos, socioeconômicos e dos países que compõem a América Latina.
Nos aspectos físicos/geográficos, nos deteremos à análise do clima, relevo e vegetação. Nos
aspectos sociais estudaremos a população e a identidade cultural dos povos da América Latina.

Conhecer os processos históricos da América Latina é reconhecer quem


somos. Você se reconhece como latino-americano? Ou como americano? Ou acha que
americano é quem mora nos Estados Unidos? Está na hora de desconstruirmos essas
ideias e centrarmos no reconhecimento de nossa história. Ainda que todos os países
latino-americanos tenham uma base colonial a realidade destes é bastante diversa.

Os países que abrangem a América Latina são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México,
Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. Esses
países estão organizados em grandes conjuntos regionais: o México, América Central,
Guianas, América Andina, América Platina e o Brasil. Observe a distribuição no Quadro 1
e no mapa da Figura 2 para compreender o perfil da divisão regional da América Latina.

QUADRO 1 – DISTRIBUIÇÃO DA AMÉRICA LATINA EM CONJUNTOS REGIONAIS

AMÉRICA AMÉRICA AMÉRICA


MÉXICO GUIANAS BRASIL
CENTRAL ANDINA PLATINA
Geografica- É dividia em Localizada Países da Neste conjunto Nosso país,
mente faz duas partes: ao Norte da América do regional estão os faz parte
parte da Amé- continental e América do Sul que tem a países banhados da América
rica do Norte. insular (ilhas). Sul, composta presença da pela Bacia do do Sul. É o
Historicamen- Constituída de pelos seguin- Cordilheira dos Prata, que é for- maior país
te faz parte vinte países e tes países e Andes. mada pelos rios da América
da América dezesseis de- territórios: E é composta Paraná, Paraguai Latina.
latina, em pendências. Guiana; Guia- pelos países: e Uruguai.
função da na Francesa; Venezuela, Os países que
colonização Suriname Colômbia, estão nesse con-
Espanhola. Peru, Equador, junto regional são:
Bolívia e Chile. Argentina, Para-
guai e Uruguai.
FONTE: A autora

25
FIGURA 2 – AMÉRICA LATINA

FONTE: <https://bit.ly/3pVTHjL>. Acesso em: 17 ago. 2021.

Esses países, que abrangem a América Latina, possuem culturas distintas,


condições de desenvolvimento diferentes, que apesar de serem compreendidos em
uma divisão regional não podem ser homogeneizados em suas características, físicas,
políticas, culturais e ambientais. Com base no Quadro 1 e no mapa da Figura 2, você já
consegue situar a América Latina? E já consegue dizer, portanto, o que esses países
tiveram em comum?

A seguir, nós abordaremos detalhadamente esses processos de regionalização.

26
DICA
Para compreender o conceito de região e regionalização sugerimos a leitura
dos livros a seguir para aprofundamento teórico:
• ANDRADE, M. C. Geografia, região e desenvolvimento. São Paulo:
Brasiliense, 1967.
• CORRÊA, R. L. Regionalização e organização espacial. São Paulo:
Ática, 2007.
• GOMES, P. C. da C. O conceito de região e sua discussão. In: CASTRO,
I. E.; GOMES, P. C.; CORRÊA, R. L. Geografia: conceitos e temas. Rio de
Janeiro: Bertrand Brasil, 1995, p. 49-76.
• LENCIONI, S. Região e geografia. São Paulo: EDUSP, 1999.

2 REGIONALIZAÇÃO
No estudo da regionalização temos como objetivo entender os diferentes modos e
critérios de regionalizar um continente. Essa regionalização pode se dar através de critérios
físicos, níveis de desenvolvimento e características econômicas. Através da regionalização
também podemos identificar, por meio da cartografia, os diferentes aspectos morfológicos,
climáticos e biogeográficos do continente (HISTÓRICO DA BNCC, 2021).

O processo de regionalização de qualquer território tem como base os interesses


governamentais, pois dividir para melhor governar é um critério que se estabelece para
as divisões regionais. É importante também reconhecermos que as regionalizações são
“reflexos dos processos sociais e econômicos das épocas em que elas foram elaboradas”
(BOSCARIOL, 2017, p. 188).

Para compreendermos a regionalização da América vamos conhecer alguns


aspectos físicos desta grande região. A América é o segundo maior continente do mundo
com 42.192.781 km². “Considerando as terras contínuas, a América se localiza totalmente
no hemisfério ocidental. O continente se estende de norte a sul, desde o paralelo 71° N até
o paralelo 56° S, e de leste a oeste, desde o meridiano de 35° O, na ponta do Seixas, no
Brasil, até o meridiano de 168° O, no Alasca [Figura]” (ADAS, 2018, p. 118).

Considerando, portanto, sua extensão norte-sul podemos dividi-la em três


conjuntos: América do Norte, América Central e América do Sul, conforme a posição
de suas terras (como vimos no mapa da Figura 2). Aqui, já temos uma primeira
regionalização, por aspectos físicos, que aprofundaremos a seguir. Outro processo de
regionalização da América é com base nos fatores culturais e econômicos, que também
veremos nas próximas páginas.

27
FIGURA 3 – AMÉRICA – POSIÇÃO GEOGRÁFICA

FONTE: Adas (2018, p. 118)

Antes de seguir, observe a Figura 3, faça uma leitura de localidade, observe como
são distribuídos os continentes do mundo e a posição que se encontra o continente
americano e suas subdivisões. A localização é um raciocínio geográfico muito importante
para a nossa aprendizagem enquanto professores e para nossos futuros alunos.

2.1 REGIONALIZAÇÃO POR CRITÉRIOS FÍSICOS


Já vimos o que é a regionalização e você já sabe que ela trata da divisão territorial
de uma região, país, município, cujo um dos objetivos está em organizar o planejamento
do território.

Na regionalização dos aspectos físicos são levadas em consideração as


seguintes características: a localização espacial; o relevo; a vegetação, o clima.

No mapa da Figura 3, você observa a divisão da América em Central, do Norte e


do Sul, essa divisão é física, pois ela leva em consideração os aspectos já mencionados.
Em relação às divisões e características do continente americano leia a citação a seguir:

A América do Norte, compreende os seguintes países: Canadá,


Estados Unidos e México. É considerada a menor porção do
continente americano. A América do Norte tem predomínio da língua
inglesa, mas há também o espanhol e o francês como idiomas
praticados no continente. América Central é formada de uma porção
ístmica ou continental e outra insular (ilhas) e constitui a “ponte”
entre a América do Norte e a América do Sul. Na porção ístmica,
formaram-se sete países. A porção insular é chamada de Antilhas
ou Caribe. Segundo a dimensão dessas ilhas, podem-se reconhecer
as Grandes Antilhas e as Pequenas Antilhas. A América do Sul

28
corresponde à porção do continente americano que se inicia nas
terras da Colômbia e se estende em direção sul. Compreende doze
países, um departamento francês de ultramar — a Guiana Francesa
— e o arquipélago das Malvinas ou Falklands, território ultramar do
Reino Unido (ADAS, 2018, p. 119).

Como vimos em Adas (2018), a divisão da América em três porções resulta de


características físicas, populacionais e sociais diferentes entre si.

Observemos que, devido à grande extensão do continente americano, os


aspectos físicos não são homogêneos, pelo contrário, há uma diversidade do clima e da
vegetação bastante significativa no continente.

O continente americano em sua extensão é banhado ao norte, pelo oceano


Glacial Ártico; ao sul, pelo oceano Glacial Antártico; a leste, pelo oceano Atlântico, e a
oeste, pelo oceano Pacífico.

FIGURA 4 – PAÍSES E OCEANOS

FONTE: <https://bit.ly/3t1mkhG>. Acesso em: 24 ago. 2021.

Ao observarmos o mapa da Figura 4, nós podemos constatar que o continente


americano ocupa terras do hemisfério norte, sul e oeste. E o continente é cortado pelos
trópicos de capricórnio e câncer. Você deve se perguntar? Mas, o que isso influencia ou
muda na regionalização. A posição do continente determina suas condições climáticas,
físicas e de relevo, por isso a visualização do mapa e a compreensão dessas divisões é
tão importante para identificarmos os aspectos físicos.

29
2.1.1 Regionalização por critérios socioeconômicos
Na divisão da América por aspectos socioeconômicos está a divisão cultural,
ou seja, a divisão em América Anglo Saxônica e América Latina (a qual estamos nos
dedicando a aprender). Essa divisão leva em consideração aspectos históricos,
linguísticos e aspectos de desenvolvimento. Neste sentido, compreende-se que América
Anglo Saxônica abrange os países mais desenvolvidos e que tiveram seu processo de
colonização a partir do povoamento e o predomínio da língua inglesa, mas no Canadá
existe também o francês como língua oficial, para a província do Quebec.

A América Anglo Saxônica teve seu povoamento por imigrantes provenientes


da Inglaterra, Irlanda, Alemanha, França e Escócia. A região é constituída pelos Estados
Unidos e o Canadá, países considerados com maior índice de desenvolvimento econômico.

A América Latina, por sua vez, como já estudamos nos tópicos anteriores,
engloba o México, os países da América Central e os países da América do Sul. A
característica predominante desta região é a colonização de exploração realizada pelos
portugueses e espanhóis, neste sentido, as línguas que predominam nesta região são as
línguas derivadas do latim, como o espanhol, francês e o português. Esse fator histórico
da colonização contribuiu para que a América Latina concentrasse até os dias atuais
menores índices de desenvolvimento econômico e maiores índices de desigualdade
social. Porém, nesta região existem países que têm se destacado economicamente,
como o Brasil, Argentina, Chile e o México, países de economia emergente.

No mapa da Figura 5, você pode observar a divisão regional que estamos


abordando neste subtópico. Observe que ela é bem diferente da divisão física, neste
caso, o México é um país que se classifica nessa divisão em função dos seus aspectos
históricos e de desenvolvimento.

30
FIGURA 5 – DIVISÃO REGIONAL POR ASPECTOS SOCIOECONÔMICOS

FONTE: <https://bit.ly/3sZdYXB>. Acesso em: 24 ago. 2021.

Podemos concluir que esse critério da regionalização por questões históricas


não é muito rigoroso quando se leva em consideração a linguagem, pois segundo o
professor Eduardo de Freitas (2021) em seu texto sobre as diferenças entre a América
Anglo Saxônica e a América Latina no site Brasil Escola na América Latina há países que
falam o inglês, tais como, Guiana, Trinidad e Tobago e também falam o holandês, falado
no Suriname. E outro fator importante que podemos chamar atenção é o Paraguai, que
preserva sua língua nativa, como o guarani e também fala espanhol.

2.2 ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AMÉRICA LATINA


Neste subtópico, nós vamos nos deter ao estudo dos aspectos geográficos,
relacionados aos aspectos físicos dos países no que se refere ao clima, ao relevo e
a vegetação. Aqui nos deteremos de maneira geral aos aspectos geográficos que
constituem a América Latina. No Subtópico 2.3, nos deteremos aos aspectos geográficos
dos principais países que compõem a América Latina.

Os climas que predominam na América Latina são bem distintos entre si em


função da posição geográfica do continente. Há, na América, regiões extremamente
frias e áreas com temperaturas elevadas. Os climas que predominam na América Latina
são: desértico ou árido; temperado; tropical; equatorial; subtropical e semiárido.

O relevo que predomina na América Latina também é bastante diversificado.


Mas as unidades geomorfológicas que mais predominam são: elevadas cordilheiras,
planícies, planaltos e baixadas litorâneas.

31
Você já deve ter ouvido falar de algumas formas de relevo da América Latina,
como a Cordilheira dos Andes, que é a maior cadeia de montanhas da América Latina
com 6.961 metros de elevação. Ela fica localizada nos países: Peru, Chile, Argentina,
Colômbia, Bolívia, Equador e Venezuela.

A vegetação da América Latina se caracteriza por diversidade fitogeográfica


formada por florestas tropicais, subtropicais e temperadas.

No Brasil, nós temos uma floresta tropical bastante conhecida, a floresta


Amazônica. Também há vegetações rasteiras como as savanas e vegetações desérticas,
como as xerófilas. Outra riqueza geográfica da América Latina que merece destaque é a
hidrografia, com bacias hidrográficas densas, como a Amazônia e a Platina.

A geografia física da América Latina é muito complexa e diversificada. É


importante estudar detalhadamente os aspectos físicos levando em consideração
o México, os países da América Central e os países da América do Sul, pois o clima,
o relevo, a vegetação e a hidrografia são bem diferenciadas entre esses países. Há
algumas semelhanças, mas com suas particularidades.

Observemos algumas imagens que caracterizam os aspectos geográficos da


América Latina.

32
FIGURA 6 – ASPECTOS GEOGRÁFICOS DA AMÉRICA LATINA

FONTE: Gardi et al. (2015, p. 18)

CLIMA

No mapa ilustra-se a classificação de Köppen Geiger para a ALC. Esta


classificação estabelece as seguintes categorias: clima tropical (A), com temperatura
média superior aos 18 °C todos os meses do ano e precipitações anuais superiores
à evapotranspiração. Subdivide-se em: tropical equatorial (Af), tropical de monção
(Am), tropical com inverno seco (Aw) e tropical com verão seco (As); clima seco (B),
onde as precipitações anuais são inferiores à evapotranspiração.

Subdivide-se por sua vez em: semiárido (BS, com as categorias semiárido
quente – BSh e semiárido frio – BSk) e árido (BW, incluindo árido quente – BWh – e árido
frio – BWk); clima temperado (C), no qual a temperatura média do mês mais frio está
entre 18 °C e -3 °C, enquanto no mês mais quente supera os 10 °C e as precipitações

33
superam a taxa de evapotranspiração. Este é subdividido em Cf (precipitações
constantes), Cfa (subtropical sem estação seca, verão quente), Cfb (oceânico, verão
suave), Cfc (oceânico subpolar), Cw (inverno seco), Cwa (subtropical com estação
seca, verão quente), Cwb (temperado com inverno seco, verão suave), Cwc (oceânico
subpolar com inverno seco), Cs (verão seco), Csa (mediterrâneo, verão quente), Csb
(oceânico mediterrâneo, verão suave) e Csc (oceânico subpolar com verão seco), o
clima temperado continental (D) caracteriza-se porque a temperatura média do mês
mais fria é menor que -3 °C e a do mês mais quente é superior aos 10 °C.

As precipitações superam a taxa de evapotranspiração. Subdivide-se em:


Df (precipitações constantes), Dfa (continental, sem estação seca), Dfb (semiboreal,
sem estação seca, verão temperado, inverno frio), Dfc (subpolar sem estação seca,
verão suave e curto e inverno frio), Dfd (subpolar sem estação seca, verão suave e
curto e inverno muito frio), Dw (inverno seco), Dwa (continental com inverno seco e
verão cálido, inverno frio), Dwb (inverno semiboreal seco, verão suave, inverno frio),
Dwc (subpolar com inverno seco), Dwd (subpolar com inverno seco, verão suave
e curto, inverno muito frio), Ds (verão seco), Dsa (continental mediterrâneo, verão
quente, inverno frio), Dsb (semiboreal mediterrâneo, verão suave, inverno frio), Dsc
(subpolar com verão seco, verão suave e curto, inverno frio), Dsd (subpolar com verão
seco, verão suave e curto, inverno muito frio); por último o clima frio (E), caracteriza-
se porque a temperatura média do mês mais quente é inferior a 10 °C. A vegetação é
geralmente escassa ou nula. Subdivide-se em ET (clima de tundra) e EF (clima polar).

FONTE: GARDI, C., A, M., et al. Atlas de solos de América Latina e do Caribe, 2015. Luxemburgo:
Comissão Europeia – Serviço das Publicações da União Europeia, 2015. p. 18. Disponível em: https://bit.
ly/3KCGOTP. Acesso em: 24 ago. 2021.

FIGURA 7 – RELEVO E HIDROGRAFIA

FONTE: <https://bit.ly/3tJ94x3>. Acesso em: 22 ago. 2021.

34
FIGURA 8 – VEGETAÇÃO

FONTE: <https://bit.ly/3vShTr1>. Acesso em: 21 set. 2021.

Essa diversidade representada nos mapas nos mostram a importância do


estudo da localização geográfica e da cartografia. Para ampliar nossos estudos sobre os
aspectos mais relevantes dos aspectos físicos da América Latina, nos aprofundaremos
no Subtópico 3, descrevendo as características fundamentais que englobam o clima, o
relevo e a vegetação da América Latina.

2.3 PAÍSES QUE COMPÕEM A AMÉRICA LATINA


Sabemos que a América Latina engloba o México, os países da América Central e
os países da América do Sul. Você sabe quais países são esses? Neste subtópico, vamos
conhecer cada um deles: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba,
Equador, El Salvador, Guatemala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai,
Peru, República Dominicana, Uruguai e Venezuela. E ao longo do livro você verá que
alguns desses países terão mais destaques em função de suas relações econômicas no
conjunto dos países da América Latina ou com os países de outros continentes.

Argentina tem como capital a cidade de Buenos Aires e faz parte da América do
Sul. O país tem uma extensão territorial de 2.780.400 km2, cuja densidade demográfica

35
está em 16,51 hab/km². O idioma oficial é o espanhol. A população do país é de 45.195.777
habitantes, dados referentes ao ano de 2020. O índice de desenvolvimento humano da
Argentina está em 0,845. Um índice considerado alto (PAÍSES, 2021).

NOTA
O Índice de Desenvolvimento Humano é usado para classificar o grau de
desenvolvimento de um país, ele mede a qualidade de vida das pessoas e foi
criado pelo Programa das Nações Unidas (PNUD) e é publicado anualmente
desde 1993. O IDH, como é conhecido, tem uma escala métrica de zero a
um, quanto mais próximo de um mais desenvolvido é o país e quanto mais
próximo de zero menos desenvolvido. A escala do IDH é organizada em
muito alto, alto, médio, baixo e muito baixo (IDH, 2021).

As regiões geográficas da Argentina estão divididas em Pampa, com clima


temperado e úmido e considerada uma das regiões mais férteis do mundo.

O Noroeste abrange o nordeste argentino, concentram-se, na divisão, grandes


bacias hidrográficas. É nessa região que temos a divisa da Argentina com o Brasil no
estado do Paraná com as belezas de Cataratas do Iguaçu.

Na região o clima é subtropical. Na área Noroeste do país, tem-se solo montanhoso,


e rico em minerais. Nessa área, o clima é cálido e desértico, predominando sol o ano todo.
Cuyo é outra divisão geográfica da Argentina. Em Cuyo, temos a famosa região da Cordilheira
dos Andes. Essa área é de abundantes recursos hídricos e uma área montanhosa com
bastante fertilidade do solo, com climas semiáridos e invernos frios e verões quentes. Por
fim, temos a Patagonia, ocupa metade sul do país, clima frio e úmido, área com inverno
rigoroso o que determina poucos habitantes por km2, em torno de 2.2 hab/km2.

Bolívia é um país pertencente à América do Sul, tem um território de


aproximadamente 1,1 milhão de km². Sua população está estimada em 11.673.029
habitantes e com uma densidade demográfica de 10,78 hab/km². O idioma que
prevalece no país é o espanhol, o Quíchua e Aimará (PAÍSES, 2021). O Índice de
Desenvolvimento Humano boliviano está em 0,718. O país é considerado um Estado
Plurinacional, “reconhecendo a autonomia indígena e seu direito à terra” (ANGELO, 2019,
s. p.). Em função do Plurinacional, a cultura é diversificada, entre influências indígenas e
espanhola. O país tem duas capitais, uma onde é considerada a capital Jurídica, Sucre
e outra considerada capital administrativa, La Paz (PAÍSES, 2021).

As fronteiras da Bolívia são, o Brasil, país que mantém estreita relações comerciais,
o Paraguai, a Argentina, o Chile e o Peru. O clima do país é diversificado com áreas frias e
secas, como nas regiões de planalto e áreas tropicais, onde se concentra a maior parte do

36
país. Nessas áreas, temos elevados índices pluviométricos, são áreas mais quentes. Essa
área vai desde o norte da floresta Amazônica ao leste das terras baixas.

A questão populacional boliviana é muito específica do país, pois enquanto a


maioria dos países latino-americanos teve suas populações indígenas dizimadas e ainda
hoje, os indígenas que lutam pela valorização continuam sendo dizimados, massacrados
e tendo seus direitos negados. O que na Bolívia chama atenção é que 65% da população
é indígena dos povos Aimará e Quíchua, esses últimos descendentes dos Incas. O país
é considerado um dos mais pobres da América do Sul, com baixo desenvolvimento
econômico em setores estratégicos como a agricultura, a exploração de recursos naturais.

O Brasil é um país que faz parte da América Latina e é considerado o maior


país da América do Sul. O Brasil é um dos principais países da América Latina, devido
a sua posição econômica no mercado mundial e suas relações com os países latino-
americanos. Com uma população de 212.559.40 habitantes, densidade demográfica de
25,43 hab/km2 e um Índice de Desenvolvimento Humano de 0.765 (PAÍSES, 2021).

O nosso país é organizado em cinco regiões, Centro-Oeste, Nordeste, Norte,


Sudeste e Sul, cada uma delas apresentam características diversas no clima, na vegetação
e na hidrografia. O Brasil detém uma riqueza fitogeográfica que pode ser caracteriza pela
Amazônia, Cerrado, Mata Atlântica, Mata de Araucárias e a Caatinga. Os climas no Brasil
também são diversos devido sua extensão territorial, temos os climas: equatorial, tropical,
tropical semiárido, tropical de altitude, tropical litorâneo e subtropical. O Brasil tem um
forte papel na América Latina, como veremos na Unidade 3 deste livro didático.

O Chile é outro país da América Latina que faz parte da América do Sul. Sua capital
é a cidade de Santiago, o país tem uma extensão territorial de 756.102Km2. A população
chilena segundo o site do IBGE é de 19.116.209 habitantes e sua densidade demográfica é
de 25,71hab/km² e um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,851. O relevo do Chile é
caracterizado por ser montanhoso e é famoso pela Cordilheira dos Andes. É um país com
paisagem e clima bastante diverso. No que se refere ao clima há regiões muito secas (norte
do país) e outras muito úmidas (sul do país), essa diversidade climática impacta na formação
da vegetação que é bastante heterogênea, com áreas secas apresentando vegetações
rasteiras e áreas úmidas com vegetações mais densas como florestas de araucárias.

Colômbia é um país da América do Sul, cuja capital é Bogotá e possui uma


extensão territorial de 1.138.910 km2. Sua população é de 50.882.884 habitantes que
se concentram em uma densidade demográfica bastante elevada, em torno de 45,86
hab/km2 e possui um Índice de Desenvolvimento Humano de 0,767. Caracteriza-se por
dois tipos de clima, o tropical e o subtropical. Seu relevo é dividido em três: Cordilheiras
Oriental, Ocidental e Central, a base dessa divisão é a Cordilheira dos Andes. O país
também tem uma rica hidrografia com rio Magdalena, o maior do país (PAÍSES, 2021).

37
Costa Rica é um país da América Central, capital São José e extensão territorial
de 51.100 km2. Sua população é de 5.094.114 habitantes e uma densidade demográfica
muito alta, de 99,77 hab/km² e um índice de desenvolvimento de 0,81. É um dos
principais países da América Central e também tem uma área geológica que ameaça
constantemente o país com terremotos. Tem uma diversidade de fauna, vegetação e
clima. Devido a sua localização entre dois grandes continentes, recebeu influência de
ambos na formação de seu território (PAÍSES, 2021).

Cuba é um país da América Central, sua capital é Havana e a extensão territorial


do país é de 110.860 km2. “A República de Cuba é um país insular localizado no mar
do Caribe”. A população do país está em 11.326.616 habitantes e o país tem uma alta
densidade demográfica com 106,41 hab/km² (PAÍSES, 2021).

Cuba é constituída por um arquipélago formado por 4.195 restingas, ilhotas e


ilhas. Com uma topografia predominante de planície e de clima tropical este país chama
atenção por seu regime político socialista e por uma alta taxa de alfabetização no país.

Equador é um país da América do Sul, cuja capital é Quito e uma extensão


territorial de 283.516 km2 e uma população de 17.643.060 habitantes, com uma
densidade demográfica de 71,04 hab/km². O Índice de Desenvolvimento Humano no
Equador é de 0,759. Suas fronteiras estão delimitadas entre a Colômbia e o Peru. O país
tem uma economia bastante diversificada com a produção do petróleo, exploração de
riquezas minerais, produção têxtil e agricultura (PAÍSES, 2021).

El Salvador é um país da América Central, sua capital é São Salvador e sua


extensão territorial é de 21.041 km2. El Salvador tem uma população de 6.486.201
habitantes e uma densidade demográfica de 313,04 hab/km², ou seja, uma alta
concentração populacional, principalmente, nas áreas urbanas (PAÍSES, 2021).

O IDH do país 0,673 é um índice médio na escala do desenvolvimento o que


evidencia que os indicadores de longevidade, educação e renda estão em uma escala
ainda baixa em relação aos países desenvolvidos. É importante ressaltar que mesmo os
países que tenham índices com alto desenvolvimento não necessariamente são países
ricos, pois o IDH mede as condições de qualidade de vida e não determina a riqueza
econômica do país (PAÍSES, 2021).

Guatemala, país da América Central, capital Cidade da Guatemala, extensão


territorial de 108.889 km2, com uma população de 17.915.567 habitantes, densidade
demográfica de 167,19 hab/km² e um índice de desenvolvimento médio de 0.663. O país
foi o centro da civilização Maia, é um território bastante montanhoso, na economia se
destaca pela agricultura, industrialização e o turismo (PAÍSES, 2021).

Haiti é um país caribenho, sua capital é Porto Príncipe. Tem uma extensão
territorial de 27.750 km2. As línguas que predominam no país são o francês e o crioulo.
Sua população é estimada em 11.402.533 habitantes e uma densidade demográfica de

38
413,73 hab/km². O país possui um IDH muito baixo com 0.51, o que evidencia uma alta
desigualdade social (PAÍSES, 2021).

Honduras é um país da América Central e tem uma extensão territorial de


112,090 km2, sua capital é Tegucigalpa. Sua população estimada é de 9.904.608
habitantes e 88,52 km2. O IDH do país é de 0,634 considerado médio dentro da escala
de desenvolvimento humano.

De acordo com a Britannica Escola (BOLÍVIA, 2021, s. p.), “Honduras tem uma
extensa costa setentrional (a norte) no mar do Caribe e outra, pequena e a sudoeste, no
oceano Pacífico. O país faz fronteira com Guatemala, El Salvador e Nicarágua. Quase todo
o território é montanhoso, mas no Nordeste há uma área pantanosa chamada costa do
Mosquito. O clima de Honduras é quente durante o ano inteiro”. Economicamente Honduras
se destaca pela indústria de alimentos e roupas e pela produção agrícola (BOLÍVIA, 2021).

O México é um país que faz parte da América do Norte quando falamos da


regionalização pelos aspectos físicos. Contudo quando abordamos a regionalização
pelos aspectos socioeconômicos o país entra no conjunto da América Latina, por que
isso? O México é um país que fora colonizado pelos espanhóis e se consolida a partir de
um baixo desenvolvimento econômico, características que o coloca no conjunto dos
países Latino-americanos.

O México abrange uma área de 1.958 201 km2 e uma população de 128,9 milhões
(IBGE, 2021). Essa população está distribuída em 31 estados e a capital do país se chama
cidade do México. A densidade demográfica do país é de 66,33 hab/km2. O país tem
como idioma oficial o espanhol e um Índice de Desenvolvimento Humano em 0,779
(PAÍSES, 2021). Observe a Figura 9 para conhecer os estados que constituem o México.

FIGURA 9 – ESTADOS DO MÉXICO

FONTE: <https://bit.ly/37lyGIX>. Acesso em: 25 ago. 2021.

39
O país conta com uma diversidade econômica, é o maior produtor de prata
do mundo, tem grande produção petrolífera (o setor é de importância crucial para a
economia mexicana, pois a produção de petróleo representa um terço da receita do
governo) é rico em exploração mineral, devido suas riquezas naturais, tem grande
exportação agrícola (ECONOMIA DO MÉXICO, 2021).

A economia do México é muito dependente dos Estados Unidos, principal


parceiro comercial do país. O país está entre as quinze maiores economias do mundo,
e é a segunda maior da América Latina. Para os economistas do banco Santander
“os principais desafios que a economia do México ainda precisa enfrentar incluem:
alta dependência da economia dos EUA, taxas de criminalidade altas e crescentes,
desigualdade de renda, enfraquecimento da infraestrutura e da educação e décadas de
falta de investimento no setor petrolífero” (ECONOMIA DO MÉXICO, 2021, s. p.).

No que se refere aos aspectos geográficos do México ele faz fronteira com
os Estados Unidos e é caracterizado por ser um território de platô, ou seja, uma área
elevada e plana. O país também é bastante suscetível aos abalos sísmicos e vulcões,
devido ao país estar localizado na confluência de diversas placas tectônicas: placa de
Rivera, Placa de Cocos, Placa do Caribe e Placa Norte Americana. Portanto, seu território
está localizado em uma área de instabilidade geológica (MELLO, 2021).

O clima do país é bem diversificado, de acordo com a Embaixada do México no


Brasil, essa diversidade está relacionada às diferenças de latitude e altitude no país. Com
a área do planalto central seco e ameno, as montanhas mais altas têm coberturas de
neves em períodos de inverno. Terras costeiras mais baixas, estão, sobretudo, na região
meridional do país, são terras mais úmidas e cálidas. O calor predomina nos meses de
abril a junho, os meses de julho a setembro são os mais chuvosos e os meses mais frios
ficam entre novembro e fevereiro (EMBAMEX, 2021).

Nicarágua, país da América Central. Capital Manágua, possui uma extensão


territorial de 130.370 km2 e uma população estimada em 6.624.554 habitantes. Sua
densidade demográfica é de 55,05 hab/km2 (PAÍSES, 2021). O país possui um clima muito
quente. No país também há uma frequência de terremotos e furacões. A economia do
país é baseada na agricultura. A pobreza na Nicarágua é bastante acentuada e o país é
considerado o segundo mais pobre da América, o primeiro é o Haiti.

O Panamá tem como capital a Cidade do Panamá. O país está localizado na


América Central e sua extensão territorial é de 75.420 km2, população estimada em
4.314.768 habitantes e uma densidade demográfica de 58.04 hab/km2. O Índice de
Desenvolvimento Humano do Panamá é considerado muito alto, está na escala de
0.815. O país é conhecido pelo Canal do Panamá, que tem importância econômica para
o país. O Canal do Panamá é uma via artificial marítima por onde passam os navios e
facilita o comércio marítimo, o canal está situado entre os oceanos Pacífico e Atlântico.
O país também tem destaque por suas indústrias petroquímicas, pelo turismo e pela
agricultura (PAÍSES, 2021).

40
Paraguai, país localizado na América do Sul. Tem como línguas oficiais o Espanhol
e o Guarani. Sua capital é a cidade de Assunção e a extensão territorial do país é de
406.752Km2. A estimativa da população do Paraguai é de 7.132.530 habitantes. A densidade
demográfica é de 17,95 hab/km2 e o Índice de Desenvolvimento Humano está em 0,728,
o que apresenta boas condições de desenvolvimento humano, mas no quesito economia
ainda precisa melhorar, pois é considerado um país pobre (PAÍSES, 2021).

Peru é um país localizado na América do Sul. Tem como capital a cidade de


Lima, sua extensão territorial é de 1.285.216 km2. Suas línguas predominantes são o
Espanhol, Quínchua (língua do povo Inca) e Aimará. Sua estimativa populacional é de
32.971.846 habitantes e sua densidade demográfica é de 25,76 hab/km2. O Índice de
Desenvolvimento Humano do Peru é de 0,777. O país faz fronteira com o Equador, o
Brasil, o Chile, a Bolívia e a Colômbia. O Peru é conhecido por ter os maiores lagos de
maior altitude do mundo, como o Titicaca. Na economia o país destaca-se pelo turismo
e pela exploração dos recursos naturais (PAÍSES, 2021).

República Dominicana é uma região Caribenha na América Central e tem como


capital a cidade de São Domingo. Sua extensão territorial é de 48.670 km2. Com uma
população estimada em 10.847.904 habitantes e uma densidade demográfica de 224,5
hab/km2. O IDH é de 0,756. A economia está centralizada em serviços de turismo,
indústria e agricultura (PAÍSES, 2021).

Venezuela, país da América do Sul, tem como capital a cidade de Caracas e


extensão territorial de 912.050 km2. Uma população de 28.435.943 habitantes e 32,24
hab/km2. Seu IDH é de 0.771. A Venezuela é conhecida por sua riqueza petrolífera. Mas,
há outros mineiras que são explorados pela economia venezuelana, ferro, carvão e a
bauxita, por exemplo. No país, a população concentra-se nas cidades e se constitui por
uma alta miscigenação (PAÍSES, 2021).

Quantas informações aprendemos até aqui! Aproveite para ler um pouco no GIO
NOTA, pois ele traz algumas informações complementares sobre nosso longo estudo

NOTA
Placas tectônicas são blocos que fazem parte da camada sólida externa do
planeta Terra, a crosta terrestre. Esses blocos são responsáveis por sustentar
os continentes e os oceanos. As placas possuem zonas de encontro. São
essas zonas as responsáveis pela formação dos terremotos, tsunamis e
vulcões. As principais placas são: Placa do Pacífico; Placa de Nazca; Placa
Sul-americana; Placa da América do Norte e do Caribe; Placa da África, Placa
da Antártida; Placa Indo-Australiana; Placa Euroasiática Ocidental; Placa
Euroasiática Oriental; Placa das Filipinas. Se quer saber mais sobre as placas
tectônicas, o estudo da Geologia é de fundamental importância.

41
3 ASPECTOS NATURAIS: CLIMA, RELEVO E VEGETAÇÃO
Os aspectos naturais já foram explorados anteriormente, aqui vamos nos
deter especificamente a identificar as características que definem os climas, o relevo
e a vegetação da América Latina e da América Anglo-Saxônica para que possamos
perceber as diferenças estabelecidas entre elas.

Na América Anglo-Saxônica, nós temos a Cordilheira do Alasca e as Montanhas


Rochosas, áreas consideradas os pontos mais altos desta região. Essas cadeias de
montanhas possuem uma extensão de 4.800 quilômetros. A área é rica em recursos
minerais como: cobre, ouro, prata, jazidas de petróleo, gás natural e carvão. O clima da
região é dominado pelo clima temperado continental. A vegetação está ligada ao clima
dos países. Na área do Canadá, principalmente ao Norte temos formações de tundra,
devido ao clima polar. No Canadá, também, há as florestas de coníferas, principal
formação vegetal do país e se encontra ao Sul do país. Nos Estados Unidos, há o clima
temperado e subtropical, as florestas temperadas, a tundra, as estepes são formações
vegetais características dos Estados Unidos.

A América Latina, objeto de nosso estudo, possui relevo muito semelhante em


toda a sua extensão: cadeias de montanhas na costa oeste, planícies centrais e planaltos
velhos e desgastados no Leste. As principais formações vegetais da América Latina
são: savanas, vegetação de altitude, estepes e pradarias, floresta tropical e equatorial,
floresta temperada e desertos.

O relevo da América Latina é antigo e apresenta altitudes modestas. Por se encontrar


no meio da placa tectônica Sul-Americana, longe das regiões de encontro de placas, não
possui dobramentos modernos em seu território (por isso as altitudes são baixas).

O clima, de forma geral, é quente e úmido, com exceção do sul (subtropical,


menos úmido e mais frio). As regiões próximas à linha do Equador registram variações
do clima equatorial (como o úmido e o superúmido). Nas regiões restantes, há variações
de clima tropical – como o tropical de altitude, o tropical típico e o tropical continental.

Os recursos naturais da região estão nas grandes formações vegetais, como a


floresta Amazônica, que propicia grande variedade de produtos a explorar para diversos
fins: da madeira aos frutos, da alimentação familiar à indústria cosmética e médica.
Recursos minerais também são numerosos e muito importantes economicamente, com
destaque para o petróleo, ferro, manganês e água, tendo o Brasil as maiores reservas
desses produtos (SÃO JOSÉ, 2021).

42
3.1 ASPECTOS POPULACIONAIS NA AMÉRICA LATINA
O estudo sobre a população está centrado na ciência da Demografia. Ciência que
estuda o comportamento da população, aumento, diminuição, envelhecimento, nascimento,
taxas de mortalidade, densidade demográfica, vários dados que permitem compreender
o perfil da população que habita algum território. No Brasil, por exemplo, temos dados
estatísticos sobre nossa população a partir do Censo Demográfico, que acontece de 10 em
10 anos, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Para entender o estudo sobre a população é necessário conhecer alguns


conceitos, tais como: população absoluta, população relativa, povoado, populoso,
taxa de natalidade, taxa de mortalidade, esperança de vida ao nascer etc. A população
absoluta é o total de habitantes que vivem naquele país, território.

Vimos, no subtópico 2.3, os países da América Latina e a quantidade de sua


população, ou seja, a população absoluta. A população relativa ou densidade demográfica,
que vimos no item 2.3, é o número de habitantes por quilômetro quadrado. Quando um país
é povoado, significa que possui um elevado número de habitantes por quilômetro quadrado.

Populoso, países que têm uma grande quantidade de habitantes. Taxa de


natalidade refere-se ao número de nascimento em um ano em determinado país. A
taxa de mortalidade, ao número de óbitos ocorridos. Esperança de vida ao nascer ou
expectativa de vida é a média que um indivíduo viverá no país em que nasceu.

Os dados se diferenciam entre os países, há países que as taxas de mortalidade


são mais altas e outros em que a esperança de vida é mais baixa. A análise desses
indicadores requer o estudo de tabelas, gráficos para nos apropriarmos dos dados
existentes e conseguirmos conhecer a realidade dos países que constituem a América
Latina, pensando em políticas públicas para mudar determinadas situações.

De acordo com o Nexo Jornal, em maio de 2021, “A expectativa de vida média de


mulheres residentes em cidades latino-americanas pode variar em mais de oito anos, de
74,4 a 82,7 anos, e em quase 14 anos entre os homens, de 63,5 a 77,4 anos (NEXO, 2021).

Os países que apresentam as maiores expectativas de vida são: “Panamá, Chile


e Costa Rica, onde as mulheres vivem entre 81 e 82 anos e os homens entre 75 e 77
anos, em média, conforme a cidade”, por outro lado, cidades que estão no “Brasil, México
e Peru” tem menores expectativas de vida para as mulheres (NEXO, 2021).

Nos últimos dois anos (2020 - 2021), com o agravamento da crise sanitária que
se instalou no mundo, devido à pandemia da Covid-19, muitos países latino-americanos
enfrentaram dificuldades significativas diante da pandemia, pois os níveis de pobreza, a falta
de saneamento básico, famílias grandes em espaços pequenos, foram agravantes para tornar
mais problemática a situação de desigualdade existente nos países da América Latina.

43
O documento intitulado “La paradoja de la recuperación en América Latina y
el Caribe Crecimiento con persistentes problemas estructurales: desigualdad, pobreza,
poca inversión y baja productividad” desenvolvido pela CEPAL, evidencia que:

No último ano, a taxa de extrema pobreza teria atingido 12,5% e a de


pobreza 33,7%. As transferências emergenciais para os setores mais
vulneráveis permitiram atenuar o aumento da pobreza na região em
2020 (passou de 189 milhões em 2019 para 209 milhões, podendo
ter sido de 230 milhões, e de 70 milhões em 2019 para 78 milhões,
podendo ter sido de 98 milhões no caso da extrema pobreza).
Essas transferências beneficiaram 326 milhões de pessoas, 49,4%
da população. No entanto, a desigualdade na distribuição de renda
aumentou (2,9% do índice de Gini). Enquanto, a insegurança alimentar
moderada ou grave atingiu 40,4% da população em 2020, 6,5 pontos
percentuais a mais do que em 2019. Isso significa que houve 44
milhões de pessoas mais em insegurança alimentar moderada ou
grave na região e 21 milhões passaram a sofrer com insegurança
alimentar grave (O CRESCIMENTO [...], 2021, s. p.).

Essa realidade de desigualdade na população da América Latina também decorre


da alta concentração urbana, sem planejamento. De acordo com a Comissão Econômica
para América Latina e o Caribe (CEPAL, 2020a, p. 8), “81% da população vive em localidades
classificadas como urbanas”. A América Latina é considerada a região mais urbanizada do
mundo. Para a CEPAL (2020a, p. 8) a América Latina destaca-se “por sua metropolização,
pois 35% da população vive em cidades de 1 milhão de habitantes ou mais. Na América
Latina temos cinco megalópoles com 10 milhões de habitantes ou mais, essas cidades
são Buenos Aires, Cidade do México, Lima, Rio de Janeiro e São Paulo”.

Com o processo de urbanização muitas dificuldades se constituem nos grandes


centros urbanos. Essas dificuldades ressaltam-se pelas desigualdades sociais, falta de
moradia, falta de acesso às condições básicas de vida: água, saúde, saneamento, alimentação.
Dificuldades sentidas pelas populações de baixa renda e por grupos de comunidades
tradicionais, como os indígenas, e populações de afrodescendentes, por exemplo.

Os grandes centros urbanos são grandes concentradores de um elevado nível de


segregação social, para a CEPAL (2020a, p. 10) além das desigualdades sociais a América
Latina conta com “as desigualdades estruturais de caráter político, econômico, social,
ambiental e sanitário que afetam os povos indígenas” e os povos afrodescendentes que
se encontram num “cenário de maior vulnerabilidade e risco” (CEPAL, 2020a, p. 10).

Em cinco países que concentram 80% da população indígena da


região [...] Chile, Colômbia, Guatemala, México e Peru, mais de 8
milhões de indígenas experimentam carências de acesso a água
potável na moradia. Alguns segmentos importantes da população
indígena também têm acesso limitado a serviços de saneamento
básico na habitação. Além disso, [...] a população afrodescendente
também [...] enfrenta um cenário de profundas desigualdades sociais
determinadas pelo racismo estrutural e institucional e expressadas,
por exemplo, em elevados níveis de pobreza, acesso desigual à
educação, condições habitacionais precárias, menor acesso aos
serviços de saúde e maior participação no emprego informal, entre

44
outros indicadores. O acesso desigual aos sistemas de saúde, a
discriminação institucional e a falta de perspectiva intercultural
nos serviços de saúde constituem uma barreira considerável para o
acesso em igualdade de condições das pessoas afrodescendentes e
dos povos indígenas ao sistema de saúde (CEPAL, 2020a, p. 10).

Os dados da CEPAL, em sua publicação sobre os Panoramas Sociais da


População, ressaltam as dificuldades vivenciadas pela população latino-americana. É
importante lembrarmos que as condições de desigualdades sociais desta região estão
ligadas ao seu passado histórico de colonização, isso é um fato que não podemos
ignorar. Na história estão as condições de desigualdades estruturais em relação a
determinados grupos populacionais, como os indígenas e os afrodescendentes, que
historicamente consolidaram-se à margem da elite colonizadora que negou durante
muito tempo direitos básicos aos grupos populacionais citados.

No que se refere à habitação na América Latina, segundo o Confederação Nacional


dos Municípios no Brasil, “o maior crescimento de moradias em favela está no continente
africano, com o valor absoluto de 237 milhões de pessoas. Na América Latina e Caribe,
durante o ano 2000, 115 milhões de pessoas viviam em favelas, já em 2014 observou-se
redução para 104 milhões. Em 2016, houve um acentuado crescimento para 112 milhões
de pessoas e, em 2020, são 109 milhões de pessoas nessa condição” (CNM, 2021.

A desigualdade tão forte na população latino-americana é reflexo da


colonização, de independência tardia dos países, assim como do desenvolvimento
industrial tardio e de problemas estruturais, o que provoca a fragilidade no
desenvolvimento econômico e social dos países.

3.1.1 Identidade cultural dos povos da América Latina


O que é identidade? Para Milton Santos (1999, p. 8) “a identidade é o sentimento de
pertencer àquilo que nos pertence”. Esse sentimento de pertencimento está relacionado
como nos vemos em determinados aspectos da realidade social, da relação entre os
indivíduos, como nos vemos no espaço que habitamos, como nos apropriamos deste
espaço, ou seja, nosso envolvimento e reconhecimento como pertencentes aquele espaço.

A identidade cultural por sua vez é considerada como “um sistema de


representação das relações entre indivíduos e grupos, que envolve o compartilhamento
de patrimônios comuns como a língua, a religião, as artes, o trabalho, os esportes,
as festas, entre outros. É um processo dinâmico, de construção continuada, que se
alimenta de várias fontes no tempo e no espaço” (OLIVEIRA, 2010, s.p.).

Quando analisamos a identidade cultural latino-americana podemos perceber


esse sistema de representações, diverso, específico de cada grupo social da América
Latina. Não há uma homogeneidade cultural em nossa região, pois somos diversos, e nos

45
constituímos de histórias e grupos sociais diferentes, como os indígenas, os europeus,
os negros africanos. Podemos considerar que não há uma identidade única na cultura
da América Latina, mas um interculturalismo entre diversos povos.

No contexto desse interculturalismo que nos deteremos em nosso estudo


conhecer essa diversidade é também nos reconhecermos enquanto latino-americanos,
uma vez que muitos de nós brasileiros não nos reconhecemos como latinos.

A identidade cultural da América Latina é bastante discutida devido à diversidade


presente no território, mas alguns povos se destacam por sua contribuição para a nossa
história, a história da criação da identidade latino-americana, pois antes da colonização,
não éramos a América e tampouco tínhamos indígenas. Mas, já que os nomes estão
estabelecidos, seguiremos identificando nossa identidade a partir dos povos existentes
em nossa região, que constituem a identidade cultural da América Latina.

Essa reflexão pode ser vista na fala de Caleffi (2003, p. 22):

Sob a categoria "indígena", [...] encontram-se diferentes grupos étnicos,


diferentes tanto entre si, como das sociedades nacionais, os quais
reivindicam parte de seus direitos baseados no princípio dos "Direitos
Originários". A classificação do colonizador “passou a ser uma categoria
de luta e uma identidade que, de atribuída tornou-se politicamente
operante, justamente por somar sob uma única classificação grupos
étnicos diferenciados, que tiveram nesta soma, sua força aumentada.

Os indígenas, por exemplo, são bem distintos entre si nos países latino-americanos.
Apresentam diversidades culturais e linguísticas. Esse grupo cultural contribuiu muito
para a expansão da América Latina, por meio de ensinamento, da força de trabalho,
dos conhecimentos da natureza, das influências alimentares. Os indígenas continuam
contribuindo com a expansão latino-americana. Hoje constituem lutas pelo reconhecimento
de seu povo e a demarcação de suas terras, debate muito importante no Brasil.

Os negros africanos (afrodescendentes), por sua vez, foram expropriados de


suas terras para servir como mão de obra nos países da América Latina, eram vistos
inicialmente como mercadoria. De acordo com Igreja e Agudelo (2014, p. 13), “os
afrodescendentes constituem uma parte significativa da totalidade da população
da América Latina e Caribe. Algumas estimativas oscilam entre 80 e 150 milhões de
afrodescendentes em um total de 900 milhões de habitantes de toda a região”.

Em relação à população dos afrodescendentes também há uma diversidade


entre eles, através dos aspectos regionais e culturais estabelecidos em suas relações
sociais. Há grupos “que desenvolveram práticas culturais e religiosidades específicas
(como as religiões afro-brasileiras, afro-cubanas, o vodu haitiano, os diferentes cultos
aos ancestrais dos garífunas da América Central, dos Saramaka ou dos Dyuka do
Suriname e mesmo algumas formas particulares sincréticas de catolicismo popular)”
(IGREJA; AGUDELO, 2014, p. 14).

46
No contexto atual da América Latina, nós temos necessidade de reconhecimento
dessas identidades, pois ainda há na região muito racismo e discriminação com o
negro e o indígena. Já avançamos muito na conquista de reconhecimento dos povos
indígenas e afrodescendentes, mas a luta é muito árdua, pois ainda há uma forte
valorização cultural do colonizador sobre nossos países, e evidenciado com o contexto
da globalização atual. A luta pela identidade cultural, é a construção da nossa identidade,
da nossa cultura e o respeito a diversidade presente no território da América Latina.

47
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Regionalizar é fragmentar o espaço em territórios particulares e homogêneos entre si.

• Existem diferentes modos de regionalização da América.

• A América divide-se em três grandes conjuntos do ponto de vista físico: América do


Norte, América Central e América do Sul. E do ponto de vista histórico a América se
divide em América Anglo-Saxônica e América Latina.

• Os países que constituem a América Latina são 20, dentre os quais estão: Argentina,
Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Guatemala,
Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana,
Uruguai e Venezuela. Esses países estão organizados em grandes conjuntos regionais:
o México, América Central, Guianas, América Andina, América Platina e o Brasil.

• O relevo da América Latina está dividido em unidades geomorfológicas que mais


predominam em elevadas cordilheiras, planícies, planaltos e baixadas litorâneas.

• A vegetação da América Latina se caracteriza por diversidade fitogeográfica formada


por florestas tropicais, subtropicais e temperadas.

• A América Latina se encontra no meio da placa tectônica Sul-Americana.

• Na América Latina boa parte da população está em regiões urbanas e que nessas
áreas apresentam grandes desigualdades sociais.

• Temos cinco megalópoles, essas cidades são Buenos Aires, Cidade do México, Lima,
Rio de Janeiro e São Paulo.

• A identidade latino-americana está em constante construção.

48
AUTOATIVIDADE
1 Com base nos estudos do nosso Livro Didático, a América Latina é uma região diversa
culturalmente, que tem muitas coisas em comum, como: a história, a colonização,
a luta pela independência dos países. Devido a essas características em comum,
englobamos na regionalização o México, a América Central e a América do Sul na
classificação da América Latina. Sobre essa divisão histórica e socioeconômica,
assinale a alternativa CORRETA.

a) ( ) Na América Latina, países como o Brasil, o México e o Guatemala apresentam


Índice de Desenvolvimento Humano elevado.
b) ( ) A América Latina engloba países da América Central, tais como: Belize, Guatemala,
Honduras, México, El Salvador.
c) ( ) Os países que constituem a América Latina são 20, dentre os quais estão: Argen-
tina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Gua-
temala, Haiti, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República
Dominicana, Uruguai e Venezuela.
d) ( ) Colômbia, Guatemala, México e Peru tem a maior parte de sua população
constituída de afrodescendentes.

2 Sobre os tipos de clima que predominam na América Latina estão climas tropicais,
úmidos ou secos, tropical de altitude, clima equatorial. Cada um desses tipos
climáticos se distingue entre si e determinam as diferenças fitogeográficas e de
temperatura nos países da América Latina. Com base no que estudamos, analise as
sentenças a seguir:

I- O clima, de forma geral, é quente e úmido, com exceção do sul (subtropical, menos
úmido e mais frio).
II- As regiões próximas à linha do Equador registram variações do clima equatorial
(como o úmido e o superúmido).
III- Nas regiões centrais, o clima predominante da América Latina é frio polar,
caracterizando-se por baixas temperaturas e baixa densidade demográfica devido
às condições inóspitas de sobrevivência.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

49
3 Os países que constituem a América Latina apresentam diversidades populacionais,
tanto em questões culturais, níveis de desenvolvimento econômico e integração
política. No que se refere à população, a região conta com um significativo crescimento
urbano, crescimento de favelas e aumento da pobreza no espaço urbano. Em relação
aos aspectos da população da América Latina, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) Os países que apresentam as maiores expectativas de vida são: “Panamá, Chile e Costa
Rica, onde as mulheres vivem entre 81 e 82 anos e os homens entre 75 e 77 anos.
( ) No que se refere à habitação na América Latina, segundo a Confederação Nacional
dos Municípios no Brasil o maior crescimento de moradias em favelas está na
América Latina, principalmente nos Chile, México e Honduras.
( ) Nos últimos dois anos (2020- 2021), com o agravamento da crise sanitária que
se instalou no mundo, devido à pandemia da Covid-19, muitos países latino-
americanos tiveram seus níveis de pobreza diminuídos devido às políticas públicas
de seus governos diante do combate da Pandemia.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Em nosso estudo compreendemos que o continente americano tem uma divisão


territorial em aspectos físicos, que são levados em consideração para a divisão política do
continente. Aspectos históricos, que toma como direção a formação histórica dos países
e os aspectos socioeconômicos que se baseiam nas diferenças de desenvolvimento
dos países na região. Com base em nosso estudo, disserte sobre a divisão territorial do
continente americano em aspectos físicos e aspectos históricos e socioeconômicos.

5 Com a colonização dos europeus na América Latina, o processo de miscigenação entre


os povos, fica uma dúvida de como devemos identificar nosso povo. Bolívar em um de
seus escritos afirmou que “Não somos europeus, não somos índios, mas sim uma espécie
intermédia entre os aborígenes e os espanhóis. Americanos por nascimento e europeus
por direito, nos encontramos em meio ao conflito de disputar os títulos de propriedade
aos nativos e manter-nos no país que nos viu nascer, contra a oposição dos invasores.
De maneira que o nosso caso é extremamente extraordinário e complicado. [...] Estamos
colocados num grau inferior ao da servidão. Mantenhamos presente que o nosso povo não
é nem europeu, nem americano do Norte, é antes uma composição de África e América do
que uma emanação da Europa... é impossível determinar com propriedade a que família
pertencemos” (BOLÍVAR, 1819, p. 74). Com base neste trecho de Bolívar, disserte sobre a
problemática de identidade que se coloca a partir da perspectiva do autor.

FONTE: BOLÍVAR, S Discurso pronunciado por el General Bolívar al Congreso General de Venezuela en el acto
de instalación. Angostura, 15 feb. 1819.

50
UNIDADE 1 TÓPICO 3 -
CARACTERÍSTICAS DOS PAÍSES
LATINO-AMERICANOS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos as características sociais e econômicas
dos países latino-americanos. Os países latino-americanos estão em processo de
desenvolvimento econômico, são países que apresentam baixa industrialização,
predomínio do setor primário: produções agrícolas, extrações minerais, tiveram uma
industrialização tardia em relação aos países economicamente mais desenvolvidos,
apresentam problemas sociais como pobreza, violência, altos níveis de corrupção,
violência contra povos indígenas e racismo são alguns problemas enfrentados.

Quanto ao processo de desenvolvimento econômico, os países da América Latina


são considerados países em desenvolvimento. A maioria dos países concentram sua
produção econômica na exploração de recursos minerais e produtos de origem agrícola.

No Brasil, por exemplo, somos grandes produtores de soja e de cana-de-açúcar.


Na Venezuela e no México, temos grande exploração de petróleo. Nos recursos minerais,
temos o Brasil como um dos maiores produtores de manganês do mundo, Peru e México
são grandes produtores de prata e na Bolívia temos a produção do estanho (HEGAX, 2021).

Outro fator econômico importante da América Latina é em relação à agricultura,


que tem grande concentração de terras, produção de monoculturas. O território do
campo em alguns países, como o caso do Brasil, tem grandes conflitos fundiários,
e isso é evidenciado por movimentos de luta pela terra, com movimentos sociais de
indígenas e trabalhadores rurais sem-terra, que desde a década de 1950 reivindicam a
desconcentração de terras em nosso país.

Em geral, os países da América Latina são palcos de grandes conflitos de


movimentos sociais na luta por direitos que foram negados historicamente, por exemplo,
os grupos indígenas e os afrodescendentes e na luta ao combate às desigualdades sociais.

Por fim, neste tópico, estudaremos também as condições de trabalho na América


Latina, no contexto atual da globalização e do crescente neoliberalismo.

O aumento de empregos de baixa qualidade, a uberização do trabalho, baixos


salários, a informalidade, falta de proteção aos direitos dos trabalhadores são algumas
características desse século XXI na questão do trabalho. E para compreendermos
esses países e suas relações econômicas conheceremos os blocos econômicos que
constituem as políticas do comércio entre os países.

51
2 ASPECTOS SOCIAIS E ECONÔMICOS DOS PAÍSES
LATINO-AMERICANOS
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL) desde janeiro
de 1991 apresenta um panorama social dos países da América Latina. Esse panorama
tem como objetivo mostrar o perfil social e econômico dos países. O último panorama
foi o de janeiro de 2020, que evidenciou os impactos da Covid-19 sobre os países latino-
americanos. A leitura dos vários panoramas disponibilizados no site da CEPAL, é um
bom material para situarmos as problemáticas da questão social e criarmos estratégias
para melhorar as condições de desenvolvimento dos países.

De acordo com a CEPAL, desde 2015 vêm ocorrendo retrocessos na questão


do desenvolvimento social nos países latino-americanos. A pobreza atinge de maneira
diferenciada os países, mas isso tem sido preocupante de forma geral, uma vez que
vem ocorrendo um “baixo desenvolvimento econômico e profundas transformações
demográficas e no mercado de trabalho” (CEPAL, 2018, p. 7).

Atualmente, 30,1% da população da América Latina está abaixo da linha


de pobreza e 10,7% dos habitantes da região se encontram em situação de pobreza
extrema. Isso equivale a aproximadamente 185 milhões de pessoas em situação de
pobreza e 66 milhões de habitantes em situação de pobreza extrema (CEPAL, 2019a).
Esses dados revelam as dificuldades dos governos latino-americanos em erradicar a
pobreza e diminuir as desigualdades sociais. Um dos fatores que levam a porcentagens
como essas está na má gestão e nos altos níveis de corrupção em alguns países.

Os estudos econômicos da América Latina também podem ser pesquisados na CEPAL


desde janeiro de 1990, a instituição promove diferentes análises sobre o desenvolvimento da
economia, o desempenho interno e externo, abordando desde o crescimento ao retrocesso
econômico em alguns países, mercado de trabalho, políticas econômicas entre outros temas
que podem ser discutidos, analisados e podem resultar como base para que possamos
conhecer a realidade da economia dos países latino-americanos.

Com base nesses estudos da CEPAL, constatamos que nos últimos anos a
economia da América Latina passou por uma desaceleração “que afetou 17 dos 20 países
da América Latina” (CEPAL, 2019b, p. 9). Isso resulta de baixas taxas de crescimento,
fraco desempenho de investimentos e de exportações. Observe a fala do relatório de
“Estudo Econômico da América Latina e do Caribe – o novo contexto financeiro mundial:
efeitos e mecanismos de transmissão na região”, publicado em 2019.

A desaceleração do crescimento econômico enquadra-se num contexto


de baixa produtividade em que a taxa de crescimento desta está
estagnada ou é negativa, o que tampouco contribui para potencializar o
crescimento no médio prazo. O fraco desempenho econômico traduziu-
se em piora do mercado de trabalho, com aumento do emprego informal
e uma taxa de desocupação urbana em torno de 9,3%. A trajetória
econômica média dos países da região foi influenciada, em parte, por

52
um enfraquecimento sincronizado da economia mundial que derivou
num cenário internacional desfavorável para a região. As tensões
comerciais e os problemas geopolíticos redundaram em desaceleração
da dinâmica do crescimento mundial, maior volatilidade financeira e
piora das expectativas de crescimento futuro (CEPAL, 2019b, p. 7).

Vemos que a economia da América Latina sofre influências externas, ainda hoje
sua dependência está relacionada aos países de economias mais desenvolvidas, que
compram de nossos recursos para impulsionar a produção no mercado global.

As condições de desenvolvimento econômico entre os países da América


Latina são diferentes entre si, alguns países apresentam maior industrialização, outros
maiores níveis de desenvolvimento agrícola, contudo, todos ainda se encontram na
condição de dependência do mercado externo. Essas diferenças também determinam
as desigualdades econômicas e sociais na região. Para nos aprofundamentos sobre a
industrialização, a agricultura, a condição de periferia econômica da América Latina e os
problemas sociais, vamos dedicar tópicos específicos para cada tema.

2.1 INDUSTRIALIZAÇÃO
A industrialização da América Latina ocorreu de forma tardia, pois seus recursos
minerais estiveram durante muito tempo a serviço do crescimento e da modernização
dos países colonizadores. Portanto, essa condição tardia está relacionada ao processo de
colonização, e foi a partir da Segunda Guerra Mundial que o processo de industrialização
da América Latina se intensificou. Em função desse período histórico a região perdeu
acesso a muitos produtos que importava, pois a produção dos países europeus estava
voltada para abastecer os países em guerra.

A América Latina nesse período tinha uma relação muito forte com os países
industrializados, pois ela era exportadora de matéria-prima para esses países e importava
destes produtos industrializados, essa relação de dependência, durante muito tempo
fez com que a América Latina não impulsionasse seu setor industrial.

E no contexto vivenciado da 2ª Guerra Mundial seus produtos foram perdendo


mercado e com isso a América Latina precisou tomar medidas para o mercado interno,
preocupando-se com além da produção de matérias-primas. Neste sentido, alguns países
passaram a importar máquinas para produção de bens, o que evidenciou a necessidade
de produção para o mercado interno, portanto, podemos afirmar que as condições de
desenvolvimento industrial da América Latina dependeram de fatores externos e internos.

Para Unger (1977) os fatores “externos são a Grande Depressão e a II Guerra


Mundial” esses foram fatores que impulsionaram nosso desenvolvimento industrial.
No “âmbito interno de cada país, o início dos anos 1940 apresentava três aspectos
econômicos fundamentais “a) uma rede de infraestrutura relativamente suficiente para
iniciar novas atividades industriais [...], b) uma estrutura econômica razoavelmente sólida

53
na área agrícola [...], c) uma concentração de renda desproporcional” (UNGER, 1977, p.
64). Essas características são fundamentais para compreender o processo histórico de
desenvolvimento industrial da América Latina.

O Estado teve papel fundamental no processo de industrialização da América


Latina, com o investimento em desenvolvimento tecnológico. Foi entre os anos de 1950 e
1970 que muitos países experimentaram um crescimento econômico, a partir do avanço
da industrialização. Mesmo com esse marco do crescimento econômico, as condições
de desenvolvimento social não acompanharam esse processo, o que evidenciou um
aumento das desigualdades sociais nos países latino-americanos (SANTOS, 2020).

Brasil, México e Argentina foram os países que se destacaram no processo de


industrialização da América Latina e foram responsáveis pela metade da produção em
1930 a 1950. Os esforços dos países latino-americanos no processo de industrialização
resultaram na atratividade desses países para o mercado internacional. Muitas empresas
externas instalaram-se em alguns países como forma de expandir seu capital e aumentar
consequentemente sua produção com baixos custos. O que tornava atrativo era a mão de
obra excedente e fragilidade sindical. Os países ofereciam benefícios para as empresas
como isenções fiscais, tinha-se nesses países um mercado consumidor promissor, as
matérias-primas eram abundantes e as leis, principalmente, as ambientais, eram mais
frágeis que nos países desenvolvidos. Esses fatores impulsionaram a industrialização, a
urbanização e o crescimento produtivo de alguns países latino-americanos.

A inserção de empresas estrangeiras nos países latino-americanos impulsionou


a produtividade dessa região. No México, por exemplo, a inserção das indústrias
maquiladoras, mudou as condições de produção do país. A maioria das empresas
inseridas no país eram norte-americanas e o papel destas empresas no México não
era se tornarem empresas de desenvolvimento produtivo, tecnológico ou expandir o
investimento industrial na região, pelo contrário, as maquiladoras eram empresas
que consiste em montar peças de um mesmo produto que foram produzidas em
várias partes do mundo, ou seja, o barateamento da produção, o aumento da divisão
internacional do trabalho e consequentemente a dependência econômica do México
em relação aos Estados Unidos tornou-se maior. Desta forma, a industrialização, mesmo
acentuada na região, não promoveu o desenvolvimento pleno da industrialização, mas
continuou com processo de produção articulado a condições de dependência, devido
à tecnologia deficiente, e ainda continuarmos importando gêneros mais avançados
tecnologicamente dos países mais ricos.

As políticas de desenvolvimento industrial do Brasil, do México e da Argentina


ficaram conhecidas como industrialização por substituição de importações, assim,
os investimentos direcionavam-se para o mercado interno em setores de bens de
consumo, vestuário e gêneros alimentícios, por exemplo. Nos dias atuais, a economia tem
forte presença de multinacionais nos países da América Latina, devido aos benefícios
proporcionados pelos Estados para a inserção delas em nosso território, com isso hoje
nossas indústrias estão em setores como: agrícolas, extrativistas e alimentícios.

54
Os países mais industrializados são o Brasil, a Argentina e o México. Nos setores
das agroindústrias estão os mesmos países citados mais o Uruguai. A industrialização
está em constante expansão na América Latina e isso contribui para o crescimento
econômico, o aumento produtivo, o estabelecimento de relações comerciais entre os
países e o fortalecimento de nossas economias.

2.1.1 Agricultura
A América Latina tem na sua história uma base de formação agrícola e até os
dias atuais a agricultura é a principal atividade econômica dos países latino-americanos.
A estrutura fundiária da América Latina apresenta alta concentração de terras e
produção extensiva, sendo cada vez mais valorizada a produção de commodities para a
exportação, como a soja, o café, o milho, a cana-de-açúcar. Por outro lado, as pequenas
propriedades são responsáveis pela alimentação da população, pois são grandes
produtores de produtos como: inhame, batata, feijão, hortaliças, por exemplo.

As diferenças nesses modelos de produção entre as grandes e pequenas


propriedades são diferenciadas pela alta inserção de tecnologia no processo produtivo.
As grandes propriedades usam pouca mão de obra e altas tecnologias produtivas, é
uma grande empresa rural que hoje consideramos como agroindústria e fazem parte do
mercado do agronegócio. Já as pequenas propriedades não estão vinculadas ao grande
capital e usam força de trabalho familiar em sua maioria, em que predomina baixo uso
de tecnologia e consequentemente desvalorização no preço de suas mercadorias.

No que se refere às grandes propriedades, a produção para exportação está


centrada em produtos como o café, que tem El Salvador, Guatemala, Costa Rica,
Colômbia e Brasil como produtores destas commodities. O Brasil é um dos maiores
produtores da região. A soja também é outro produto muito desejado pelo mercado
mundial e os países latino-americanos concentram 50% da produção deste grão. O
Brasil, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMPRABA), no ano de
2021, o país produziu 135,409 milhões de toneladas de soja, isso torna o Brasil o maior
produtor de grão do mundo, ficando os Estados Unidos em segundo lugar.

A cana-de-açúcar também é um produto agrícola que está centrado nas grandes


propriedades e é um produto muito importante para o setor do agronegócio. De acordo
com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2021, p. 12), “a cana-de-açúcar
é considerada uma das grandes alternativas para o setor de biocombustíveis devido ao
grande potencial na produção de etanol e seus respectivos subprodutos. A agroindústria
sucroalcooleira nacional, diferentemente do que ocorre nos demais países, opera numa
conjuntura positiva e sustentável”. Para a instituição o Brasil é o maior produtor de cana-
de-açúcar do mundo e sua produção está direcionada para o açúcar e o etanol.

55
Outro setor da agricultura que têm destaque para os países da América Latina é
a criação de animais em larga escala, como a criação do gado e frango. Brasil, Argentina
e México são os maiores responsáveis por esse setor.

O Brasil é o maior exportador de carne de frango e um dos maiores donos do


rebanho bovino do mundo. A Argentina está em quarto lugar na produção de carne
bovina no mundo e o México figura entre um dos maiores produtores de frango. A
agricultura é de fundamental importância para a economia da região.

As diferenças produtivas entre os países da América Latina e entre os grandes


proprietários e os pequenos marcam desafios para a região, pois a grande produção
está voltada para o mercado externo e isso provoca grandes desigualdades no campo e
conflitos agrários em diversos países.

Para a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura


(FAO) é na agricultura familiar que temos a base de nossa alimentação e se investirmos
nessa área podemos garantir alimentação sustentável e erradicação da fome. Contudo,
enquanto estivermos direcionando os investimentos em apenas um setor, como é o
caso das grandes propriedades que recebem incentivos do governo, nossa agricultura, o
povo do campo e a fome continuará sendo uma problemática que precisa de constante
atenção na América Latina.

2.2 AMÉRICA LATINA: PERIFERIA DA ECONOMIA MUNDIAL


A condição da América Latina enquanto periferia está na sua base histórica de
colonização. No período colonial, a sociedade era organizada em Metrópoles e Colônias,
ou seja, aqueles que estavam no centro da economia mundial eram as metrópoles e as
colônias eram submissas aos centros. Hoje essa divisão dos países está no conceito
de centro e periferia. Neste sentido, os países centrais são aqueles que controlam a
economia mundial e as periferias estão na condição de dependência destes.

Os países da América Latina não estão no centro da economia mundial como


países socioeconomicamente desenvolvidos. Eles estão em condições de crescimento
de suas economias e da melhoria das condições de desenvolvimento social, por outro
lado, sabemos que ainda há muitos desafios para mudar o quadro de desigualdade
social tão forte nessa região. De acordo com Preciado (2008, p. 251) “os Estados-nação
têm capacidade de projetar-se como uma semiperiferia ativa”.

Neste sentido, países como o México, o Brasil, a Argentina, o Chile e a Venezuela


reforçam o papel da América Latina nas relações econômicas mundiais e se colocam
numa condição de países ativos, mantendo relações não só com países do Centro da
economia mundial, ou os países chamados desenvolvidos (Norte) mas, passam a manter
uma relação de periferia para periferia (Sul), ou seja, as relações econômicas não estão

56
apenas na condição de dependência dos países desenvolvidos, as relações ampliam-
se juntamente com outras nações periféricas definindo-se, neste sentido, uma relação
Sul-Sul e mudando o perfil da relações entre países do Norte e países do Sul.

Parafraseando Jaime Preciado (2008, p. 255), “nos processos de centro e


periferia, há um papel determinante da semiperiferia”. O autor nos mostra que na
América Latina temos países importantes na condição de semiperiferia, ou seja, países
que estão dominando processos econômicos, produtivos e se impondo nas relações
capitalistas mundiais, como é o caso do Brasil e do México, por exemplo.

Para o autor quando usamos os termos “centro e periferia” [...] não estamos
usando para identificar apenas países desenvolvidos e subdesenvolvidos, mas estamos
explicando processos mais complexos, pois para ele os países se “convertem em
centrais, porque dominam os processos de exploração [...] e as regiões periféricas são
definidas por sua condição de exploradas pelo centro e subordinadas a seus processos
centralizadores e concentradores de recursos” (PRECIADO, 2018, p. 255).

Com essa abordagem de Jaime Preciado podemos considerar que os países da


América Latina se encontram nessa condição periférica, mas podem também entrar na
condição de semiperiferia, pois o autor complementa:

Os processos de centro consistem em relações que combinam salários


relativamente altos, tecnologia moderna e um tipo de produção
diversificada. Os processos da periferia constituem uma combinação
de baixos salários, tecnologia mais rudimentar, resultando num tipo
de produção simples. A semiperiferia é o espaço que combina, de
uma forma particular, ambos os processos. Esse conceito se aplica
diretamente a zonas, regiões ou Estados que supõem a exploração da
periferia e sofrem a exploração do centro. Essa categoria é a que contém
maior dinamismo, e exige a incorporação de processos e perspectivas
políticas, a par da análise econômica (PRECIADO, 2018, p. 255).

Neste sentido, a América Latina tem países dentro de duas condições: a


periférica e a semiperiférica. Essa posição dos países determinam o papel dos países
latino-americanos nas relações econômicas mundiais, em acordos políticos, acordos
econômicos, acordos militares. São alianças que representam como esses países se
fortalecem e se institucionalizam em suas relações no capitalismo mundial.

Por exemplo, temos o Mercado Comum do Sul, como um bloco econômico que fortalece
as relações econômicas do Brasil, da Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela (veremos mais
sobre o MERCOSUL no item 3.1.1 deste tópico), assim como outros blocos e acordos econômicos
que estabelecem entre os países a criação de livres comércios, por exemplo.

Os acordos econômicos dos países latino-americanos visam fortalecer a posição


destes na economia mundial, mas os países precisam avançar muito ainda na economia,
no desenvolvimento de tecnologias, na produção, e principalmente na diminuição das
desigualdades socais, quadro que se agrava. Para os países latino-americanos ocupar
um papel relevante na economia mundial e sair da condição periférica precisa:

57
se encaixar em algumas cadeias que [...] contemplem [...] uma
economia moderna, infraestrutura básica, políticas industriais,
universidades bem aparelhadas, garantias sociais mínimas e a
formação de profissionais altamente qualificados, sem os quais não
se pode pensar em patamares mais elevados de desenvolvimento. É
uma agenda ainda em construção (PIRES, 2012, p. 137).

2.3 DESIGUALDADES SOCIAIS


Já falamos bastante da desigualdade que os países latino-americanos apresentam,
essa desigualdade pode ser considerada histórica e estrutural, pois ela constituiu a formação
dos países latino-americanos nas relações estabelecidas pelo processo de colonização.

Quando analisamos os países latino-americanos percebemos avanços na


educação, na economia, na saúde, mas ainda assim, somos a região mais desigual do
mundo, pois ainda temos em nossa região altos índices de pobreza, alta concentração
de terras, analfabetismo, altos índices de corrupção e violência.

Essas problemáticas têm sido agravadas com o processo de globalização, pois


ocorre uma modernização constante dos postos de trabalho e isso leva a um aumento do
desemprego, a perda de direitos e garantias trabalhistas são refletidas na precarização
do trabalho informal, como os trabalhos que cresceram nos últimos anos, o Uber é um
exemplo claro, o trabalho sem garantias.

A desestruturação das economias e a manutenção da desigualdade de renda são


reflexos da falta de investimentos nos setores econômicos, produtivos, educacionais.
Além disso, a globalização também promoveu e ainda promove grandes deslocamentos
populacionais entre os países latino-americanos, o aumento dos fluxos migratórios é
uma resposta à luta pela sobrevivência.

Essa América Latina caracterizada pela pobreza, pela condição periférica e pelas
desigualdades sociais é também o resultado das relações de dependência existente até
os dias atuais com os países mais desenvolvidos.

A inserção do capital externo sobre o território da América Latina determina a


continuidade da exploração da força de trabalho, da precarização do trabalho, da falta de
investimentos em setores necessários para desenvolver melhorias, como planejamento
urbano, avanço tecnológico e educação.

As condições de desenvolvimento nos aspectos socioeconômicos são diferentes


entre os países da América Latina.

Para a CEPAL a “maioria dos países” tem passado por um aumento da pobreza
de em torno de 209 milhões de pessoas, desse total 78 milhões estariam em situação de
pobreza. Com isso, percebe-se um aumento em relação ao ano de 2019 (veja o Gráfico 1).

58
GRÁFICO 1 – AMÉRICA LATINA (18 PAÍSES): PESSOAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA E POBREZA EXTRE-
MA, 1990-2020

FONTE: CEPAL (2021, p. 7)

Esse gráfico sobre a pobreza e a pobreza extrema na América Latina nos permite
perceber que a necessidade de investimento nos setores sociais sobre os países
latino-americanos torna-se cada vez mais essencial para alcançarmos a condição de
igualdade, criando possibilidades de melhoria de vida para a maior parte da população,
para que estes possam ter acesso à saúde, educação, emprego e renda.

Nossa condição estrutural e histórica de alta concentração de renda,


desigualdades raciais, étnicas são fatores que promovem um ciclo vicioso da pobreza
na América Latina.

Para a CEPAL (2019a, s. p.) “a diminuição da desigualdade de renda é fundamental


para retomar o caminho da redução da pobreza. É necessário crescer para igualar e
igualar para crescer. A superação da pobreza na região não exige apenas o crescimento
econômico; isso deve ser acompanhado por políticas redistributivas e políticas fiscais
ativas”. Portanto, a questão só seria resolvida se mudássemos as raízes desse ciclo
vicioso de pobreza que se perpetua na América Latina.

Por fim, se parafraseando a CEPAL (2019a, s. p.) concluímos que:

para erradicar a pobreza e reduzir a desigualdade e a vulnerabilidade


dos estratos de baixa e média renda, são necessárias políticas de
inclusão social e do trabalho. Também, é necessário um mercado
de trabalho que garanta emprego de qualidade e salários decentes,
eliminando barreiras na inserção de trabalho das mulheres e
fortalecendo o desenvolvimento de sistemas de proteção social
integrais e universais no âmbito do Estado de Bem-Estar Social,
focados nos direitos e na igualdade.

59
3 PANORAMA DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO NA
AMÉRICA LATINA
As condições de trabalho mudam muito ao longo da história. Inicialmente, na
América Latina, as condições de trabalho estavam relacionadas com a escravização.
Com a independência dos países e o fortalecimento do capital a partir do avanço da
industrialização mudam-se essas relações para o trabalho assalariado. Todavia, nos dias
atuais essa relação ainda permanece viva, mas muitas coisas perpassam as condições
de trabalho no mundo e na América Latina.

O trabalho está relacionado ao modo de produção capitalista, esse modo de produção


cada vez mais tem contribuído para a precarização do trabalho, pois a perda de direitos sociais,
trabalhistas tem se acentuado com reformas políticas e reformas de legislação com vista ao
aumento do lucro das empresas e a máxima exploração da força de trabalho.

No cerne desta problemática, o fortalecimento do capitalismo e o


enfraquecimento das lutas sociais, dos sindicatos são reflexos das da submissão do
trabalhador as condições de exploração no mercado de trabalho.

Com a globalização, o avanço das tecnologias, a expansão das multinacionais, as


privatizações de empresas públicas, os objetivos do capitalismo vão sendo expandidos
sobre várias nações e as condições de trabalho vão constantemente se modificando,
principalmente na garantia dos direitos trabalhistas.

Segundo Araújo (2019, s. p.), em texto publicado para o site Justificando em 2019,
as palavras como “flexibilização, terceirização, informalidade, tornam-se cada vez mais
frequentes no mundo do trabalho contemporâneo”. De forma geral, não só na América Latina,
isso é reflexo da globalização. A metamorfose do trabalho hoje pode ser caracterizada pela
ideia de “autonomia e empreendedorismo”, como por exemplo o Uber, Araújo (2019) destaca.

O Uber é um desses processos de autonomia pregada como possibilidade de


ter melhor renda, quando na verdade há uma informalização do trabalho e você torna-
se responsável pela própria manutenção laboral não tendo garantias trabalhistas nesse
sistema. Essa realidade que se perpetua também na América Latina reflete nossa
subordinação as imposições de trabalho lançada pelo capital, subordinação que nos
condiciona a tentativa de sobreviver.

Para Araújo (2019, s. p.) “com a gradativa e contínua destruição do trabalho


formal, com carteira assinada e os direitos sociais dela decorrentes, o que sobra é uma
desoladora precarização das condições de vida e existência da classe trabalhadora”.
Neste sentido, a crescente instabilidade do mercado de trabalho faz com que os
trabalhadores busquem possibilidade de sobrevivência diante dos trabalhos existentes
e consequentemente agrava-se nesse contexto as desigualdades vinculadas as
condições de trabalho na América Latina.

60
Essas desigualdades estão presentes entre homens e mulheres, jovens e negros.
O trabalho está relacionado à dignidade humana, à condição de se manter dentro das
relações de consumo: alimentação, moradia, vestimenta, transporte, saúde e lazer.
Portanto, o trabalho é fundamental para a manutenção de nossa vida. A desigualdade
que se alastra sobre o mercado de trabalho na América Latina está ligada também às
condições educacionais e à falta de políticas estatais para a qualificação da forma de
trabalho. A precarização é um projeto do próprio capital parta se manter forte dentro da
manutenção e do controle das relações trabalhistas.

Para o diretor da Organização Internacional do Trabalho, Vinícius Pinheiro, as


condições de trabalho na América Latina são refletidas através da “alta informalidade,
espaços fiscais reduzidos, desigualdade persistente, baixa produtividade e escassa
cobertura de proteção social, somados a problemas que ainda persistem como o
trabalho infantil e o trabalho forçado, fazem parte das questões pendentes na região”.
Para ele essas condições foram agravadas no contexto da pandemia do Covid-19, o
que de acordo com a Série Panorama Laboral de 2021da OIT (REGIÃO [...], 2021, s.p.), a
América Latina perdeu “26 milhões de empregos em um ano de pandemia”. Situação
que agrava as condições de sobrevivência da maior parte da população, aumenta a
pobreza e consequentemente a precarização do trabalho.

Ainda de acordo com Série Panorama Laboral 2021, houve um impacto de


desemprego muito intenso entre as mulheres, principalmente em setores econômicos
que foram bastante afetados como hotéis e restaurantes, e atividades dos setores
domésticos. A informalidade afeta uma em cada duas mulheres na região. Nos setores
econômicos altamente feminizadas, como o trabalho doméstico, a taxa de informalidade
atinge pelo menos 80/90 por cento (REGIÃO [...], 2021).

Por fim, para a OIT (REGIÃO [...], 2021) a persistência da pobreza é uma das
manifestações mais visíveis das dificuldades que a região experimenta para manter
um caminho de crescimento sustentado e inclusão social. Há um desafio crescente na
região, é preciso melhorar as condições de trabalho, cada vez mais urgente na América
Latina, pois a pandemia nos mostrou a necessidade de ampliarmos as condições de
desenvolvimento da região, uma vez que cada vez mais se agrava com as problemáticas
existentes no capitalismo mundial. Tornam-se necessárias medidas de recuperação dos
postos de trabalho, garantia de direitos e segurança laboral.

DICA
Para compreender o debate sobre a questão do trabalho no contexto atual da
globalização e o avanço da precarização trabalhista, recomendamos a leitura
do livro de Ricardo Antunes: O privilégio da servidão: o novo proletariado de
serviço na era digital. São Paulo: Boitempo Editorial, 2018.

61
3.1 OS DESAFIOS DA FORÇA DE TRABALHO NA AMÉRICA
LATINA
A categoria trabalho está relacionada ao homem e a natureza, em suas relações
de produção para sua subsistência e para a manutenção do capital. Para Marx o trabalho
é uma condição meramente humana (MARX, 2017). É o trabalho que torna a matéria-
prima em mercadoria, assim tornando-se valor de uso. Mas, “a forma de trabalho em si
não revela como este é constituído, quais as condições que é desenvolvido” (SANTOS;
MELCHIORETO, 2021, p. 5).

O trabalho é a base da formação da sociedade, ele dá forma as mercadorias,


ele determina as condições de sobrevivência, assim como, determina relações sociais,
econômicas e políticas, é por meio do trabalho que a sociedade evolui.

Para Ricardo Antunes (2021, s. p.), em seu texto na Enciclopédia Latino Americana
“o continente latino-americano nasceu sob a égide do trabalho”. Antes da colonização
nosso trabalho era coletivo e para a subsistência, com a colonização nossas condições
de trabalho passaram por profundas transformações que caracterizava a “expansão
comercial e a acumulação primitiva” do capital (ANTUNES, 2021, s.p.).

Podemos considerar que a primeira fase das condições de trabalho em nossa


região esteve, portanto, organizada sobre a escravidão. A segunda nas condições de
assalariamento devido a intensificação da Revolução Industrial na Europa e a terceira,
nos dias atuais, além do trabalho assalariado, a informalidade, a precarização da força
de trabalho na nossa região.

Nos dias atuais, as condições de trabalho estão refletidas numa conjuntura de


crise, pois a Covid-19 impactou a situação de trabalho na América Latina, principalmente
entre grupos menos qualificados, entre mulheres e jovens e trabalhadores domésticos.
Para a CEPAL e a Organização Internacional do Trabalho a retomada do mercado de
trabalho na América Latina será lenta.

A pandemia de COVID-19 ocorre em um momento de fragilidade


econômica mica na região da América Latina e do Caribe: nos
últimos anos, houve uma deterioração do PIB per capita, além de
um aumento da informalidade do trabalho, que já está atingindo
56% dos trabalhadores. Algumas projeções estimam que, devido à
crise causada pelo coronavírus, entre 5,4 e 18 milhões de empregos
podem ser perdidos na região, o que ele- varia o percentual de trabalho
informal para 62% de todos os empregos (ARBOLEDA et al., 2020, p. 1).

Essa crise sanitária e de empregabilidade é um desafio para os Estados e as


empresas que precisam lidar com a queda na produção, nos salários e no consumo. Essas
condições atuais levaram ao aumento da desigualdade nas relações de trabalho, assim
como, ao aumento das desigualdades sociais. Isso é marcado pela informalização do
trabalho que tem crescido nos últimos anos e se agravado com a crise de saúde global.

62
Esse quadro atual revela desafios para todos e é preciso que o Estado possa
garantir condições mínimas de renda para os trabalhadores, ou buscar estratégias de
garantir condições de trabalho pós a crise, aumentar os investimentos e benefícios para
pequenas e grandes empresas se recuperarem e possibilitar o aumento da oferta de
trabalho na região, pois vários setores produtivos foram atingidos.

DICAS
A Enciclopédia Latino-americana foi publicada em 2007 e sua versão ele-
trônica está disponível em: http://latinoamericana.wiki.br/. Ela é constan-
temente atualizada e nos ajuda a entender temas como: arquitetura; artes
plásticas; cinema; ciência e tecnologia; dança; ditaduras; diversidade cultu-
ral; diversidade sexual; diversidade étnica; economia; educação; educação
e universidade; energia; esporte; esquerda; estado; gastronomia e culiná-
ria; geopolítica; geopolítica e relações internacionais; igrejas e religiões; li-
deranças de movimentos e partidos; literatura; meio ambiente; migrações;
movimentos sociais e partidos; mídia; música; neoliberalismo; país; pensa-
mento social; questão agrária; questão ambiental; questão social; relações
internacionais; teatro; trabalho etc. Todos os temas em questão englobam
o contexto na América Latina. Vale a pena conhecer a enciclopédia.

3.1.1 Blocos econômicos da América Latina


Chegamos ao nosso último item do Tópico 1. Aqui nos deteremos a conhecer
o que são os blocos econômicos, quais são os tipos de blocos econômicos e quais os
blocos que constituem a América Latina. Com a globalização e o aumento das relações
econômicas mundiais se foram estabelecendo cada vez mais relações de troca entre as
economias mundiais, mas essas relações não se restringiram apenas à economia.

As questões culturais, políticas e sociais também foram afetadas com esse


processo que vem avançando desde a década de 1990. E sobre essa realidade que
os blocos econômicos surgem como uma possibilidade de diminuir fronteiras que os
países impõem sobre a circulação de pessoas e mercadorias.

Os blocos estão divididos em níveis diferentes de integração e podem ser


conhecidos como Zonas de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União
Econômica Monetária. Na América Latina, temos vários tipos de blocos tais como:
Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA); Área de Livre Comércio das Américas
(ALCA); Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); Comunidade Andina (CAN). Cada um
desses blocos é representado por diversos países membros ou associados. Além dos
blocos econômicos da América Latina temos também blocos na Europa, na Ásia e na
África. Veja alguns no mapa da Figura 10.

63
FIGURA 10 – PRINCIPAIS BLOCOS ECONÔMICOS DO MUNDO

FONTE: <https://bit.ly/3pUGB6s>. Acesso em: 21 set. 2021.

Vamos conhecer cada bloco que se constitui na América Latina.

• Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA)

Essa aliança foi proposta pelo ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez, na III
Cúpula de Chefes de Estado e de Governo da Associação de Estados do Caribe, realiza-
da em 2001, na Ilha da Margarida na Venezuela. De acordo com a Declaração Conjunta
entre o Presidente da República Bolivariana de Venezuela (Hugo Chávez Frías) e o Presi-
dente do Conselho da República de Cuba (Fidel Castro Ruz) para a criação da ALBA (de-
claração na íntegra no tópico da Leitura Complementar), eles consideram que a Aliança
deve ser “guiada pela solidariedade mais ampla entre os povos da América Latina e do
Caribe, que se baseia no pensamento de Bolívar, Martí Sucre, O’Higgins, San Martín, Hi-
falgo, Petion, Morazán, Sandino e tantos outros heróis, sem nacionalismos egoístas ou
políticas restritivas, que neguem o objetivo de construir uma Grande Pátria na América
Latina, como sonhavam os heróis de nossas lutas emancipatórias”. Essa aliança ocorre
contra os pressupostos da ALCA. Para os representantes da aliança a ALCA não cola-
bora para a independência da América Latina e fortalece a condição de dependência
desta região aos países economicamente mais desenvolvidos, ou os países do centro.
Atualmente a ALBA é formada pela Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua e Dominicana.

• Área de Livre Comércio das Américas (ALCA)

A ALCA foi criada em 1994 na Primeira Cúpula das Américas, mas mesmo com
as posições favoráveis de alguns países, ela nunca foi efetivada. “A iniciativa partiu
basicamente do Presidente Bill Clinton, retomando a ideia lançada por George Bush,

64
quando de sua visita à América Latina em 1992” (DRUMMOND, 2006, p. 1-2). Ela deveria
ser o maior bloco econômico da América Latina, mas muitos países ainda receiam
a efetividade do bloco, pois para estes, como é o caso do Brasil, da Venezuela e da
Bolívia por exemplo, a ALCA sendo institucionalizada favoreceria apenas ao Estados
Unidos devido as suas condições de desenvolvimento ser melhor que as dos países do
continente americano. A ALCA tinha como proposta diminuir as barreiras alfandegárias
e tarifárias, entre os países, facilitando desta forma o comércio na região.

• Comunidade Andina (CAN)

A CAN foi constituída pela Bolívia, Colômbia, Equador e Peru, Chile, Venezuela
em 26 de maio de 1969 pelo Acordo de Cartagena. Seu objetivo inicial era restringir a
entrada do capital estrangeiro. Hoje seus objetivos estão direcionados para alcançar
o desenvolvimento equilibrado e autônomo por meio da integração entre os países
membros. Esses países membros nos dias atuais são: Bolívia, Colômbia, Equador e Peru.
Observe os Quadros 2 e 3 elaborados por Sergio Goldbaum e Victor Nóbrega Luccas, da
Fundação Getúlio Vargas, que publicaram, em 2001, um artigo na Escola de Economia
da instituição sobre a Comunidade Andina. Nesses quadros podemos observar alguns
acontecimentos importantes da Comunidade, tais como: seu surgimento, acordos e
protocolos entre 1969 e 2010, suas crises e a saída da Venezuela.

QUADRO 2 – COMUNIDADE ANDINA DAS NAÇÕES

FONTE: Goldbaum e Luccas (2012, p. 5)

65
QUADRO 3 – CRONOLOGIA DAS CRISES DA CAN E DA SAÍDA DA VENEZUELA

FONTE: Goldbaum e Luccas (2012, p. 18)

Percebemos que a criação de um bloco econômico e sua manutenção não é


fácil, pois envolve interesses econômicos e políticos dos países, gerando diferentes
interesses entre os países membros, por isso a importância de definir os rumos do bloco,
seus objetivos e o papel de cada país nessas relações.

• Mercado Comum do Sul (MERCOSUL)

É o bloco mais importante da América Latina. Ele foi fundado em 1991, surgiu
como um instrumento de cooperação do desenvolvimento para a América do Sul. O
Brasil é um dos países mais importantes do bloco, seguido da Argentina, do Paraguai e
do Uruguai. Esses foram os países signatários do Tratado de Assunção, que estabeleceu
a criação do bloco. A Venezuela chegou a integrar o bloco em 2012, mas foi suspensa
em 2016, devido a uma ruptura de ordem democrática do país. Os outros países sul-
americanos participam na qualidade de estados associados. O objetivo do bloco é
formar um mercado comum que vise à livre circulação interna de bens e serviços, assim
como uma política comum entre os países no sentido econômico.

ESTUDOS FUTUROS
Na Unidade 2 do nosso Livro Didático, nós vamos estudar com mais apro-
fundamento este bloco devido a sua importância para a economia da
América Latina e principalmente da América do Sul. Pois 69,2% do Produto
Interno Bruto da América do Sul provém dos países membros do bloco.

66
Chegamos ao final da Unidade 1, esperamos que você tenha aprendido
muito, mas ainda não acabamos de fato. Como possibilidade de desenvolver novos
conhecimento sugerimos que você possa ler a declaração conjunta dos representantes
políticos da Venezuela e de Cuba na criação da ALBA. É um texto muito importante para
compreendermos relações políticas, diferentes posicionamentos políticos e os caminhos
e proposições para integrações econômicas. E após essa leitura faça a autoatividade
para fixar os conteúdos que você aprendeu até aqui.

Bom estudo!

67
LEITURA
COMPLEMENTAR
DECLARAÇÃO CONJUNTA VENEZUELA – CUBA

Fidel Castro Ruz


Hugo Chávez Frías

Durante a visita oficial do Presidente Hugo Chávez Frías a Cuba no décimo aniversário
de seu primeiro encontro com o povo cubano, houve um amplo e profundo intercâmbio entre
o Presidente da República Bolivariana da Venezuela e o Presidente do Conselho de Estado da
Venezuela. República de Cuba, acompanhados de suas respectivas delegações. Ambos os
Chefes de Estado concordaram em subscrever os seguintes pontos de vista:

Ressaltamos que a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) é a expressão


mais completa do apetite de dominação da região e que, se entrar em vigor, constituirá
um aprofundamento do neoliberalismo e criará níveis de dependência e dependência
sem precedentes, subordinação.

Fazemos uma análise histórica do processo de integração da América Latina


e do Caribe e constatamos que, longe de responder aos objetivos do desenvolvimento
independente e da complementaridade econômica regional, tem servido como
mecanismo para aprofundar a dependência externa e a dominação.

Observamos também os benefícios obtidos nas últimas cinco décadas pelas


grandes empresas transnacionais, o esgotamento do modelo de substituição de
importações, a crise da dívida externa e, mais recentemente, a disseminação das
políticas neoliberais, com maior transnacionalização das economias dos países latino-
americanos e caribenhos, e com a proliferação de negociações para a conclusão de
acordos de livre comércio da mesma natureza da ALCA, criam as bases que caracterizam
o panorama de subordinação e a demora que hoje sofre nossa região.

Portanto, rejeitamos firmemente o conteúdo e os propósitos da ALCA, e compartilhamos


a convicção de que a chamada integração em bases neoliberais que ela representa consolidaria
o panorama descrito e só levaria à ainda maior desunião dos países latino-americanos, à maior
pobreza e desespero dos setores majoritários de nossos países, à desnacionalização das
economias da região e a uma subordinação absoluta aos ditames do exterior.

Deixamos claro que embora a integração seja, para os países da América Latina
e do Caribe, condição essencial para aspirar ao desenvolvimento em meio à crescente
formação de grandes blocos regionais que ocupam posições predominantes na economia

68
mundial, somente a integração baseada na cooperação, na solidariedade e na vontade
comum de fazer avançar todo o consumo para níveis mais elevados de desenvolvimento,
pode satisfazer as necessidades e desejos dos países latino-americanos e caribenhos e,
ao mesmo tempo, preservar sua independência, soberania e identidade.

Concordamos que a Alternativa Bolivariana para as Américas (ALBA), proposta pelo


Presidente Hugo Chávez Frías por ocasião da III Cúpula de Chefes de Estado e de Governo
da Associação de Estados do Caribe, realizada na ilha de Margarita em dezembro de 2001,
delineia os princípios norteadores da verdadeira integração latino-americana e caribenha,
com base na justiça, e nos comprometemos a lutar juntos para torná-la realidade.

Afirmamos que o princípio fundamental que a ALBA deve guiar é a solidariedade


mais ampla entre os povos da América Latina e do Caribe, que se baseia no pensamento
de Bolívar, Martí, Sucre, O'Higgins, San Martín, Hidalgo, Petion, Morazán, Sandino e
tantos outros heróis, sem nacionalismos egoístas ou políticas nacionais restritivas que
neguem o objetivo de construir uma Grande Pátria na América Latina, como sonhavam
os heróis de nossas lutas emancipatórias.

Nesse sentido, concordamos plenamente que a ALBA não se realizará com


critérios mercantilistas ou interesses egoístas de lucro corporativo ou benefício
nacional em detrimento de outros povos. Somente uma visão latino-americanista
ampla, que reconhece a impossibilidade de nossos países se desenvolverem e serem
verdadeiramente independentes isolados, poderá realizar o que Bolívar chamou de “[...]
ver a formação da maior nação do mundo na América, menos por seu tamanho e riqueza
que pela sua liberdade e glória ", e que Martí concebeu como" América Nossa", para
diferenciá-la das demais América, apetites expansionistas e imperiais.

Expressamos também que o objetivo da ALBA é transformar as sociedades


latino-americanas, tornando-as mais justas, cultas, participativas e solidárias e que,
portanto, é concebido como um processo integral que garante a eliminação das
desigualdades sociais e promove a qualidade de vida, participação efetiva dos povos na
construção de seu próprio destino.

Compartilhamos o critério de que, para atingir os objetivos declarados, a ALBA


deve ser guiada pelos seguintes princípios e bases cardeais:

1. O comércio e o investimento não devem ser objetivos em si próprios, senão


instrumentos para conseguir um desenvolvimento justo e sustentável, pois a
verdadeira integração latino-americana e caribenha não pode ser filha cega do
mercado e também não pode ser uma simples estratégia para ampliar os mercados
externos ou estimular o comércio. Para consegui-lo, requere uma efetiva participação
do Estado como regulador e coordenador da atividade econômica.
2. Tratamento especial e diferenciado, que leva em consideração o nível de desenvolvimento
dos diversos países e o tamanho de suas economias, e que garante o acesso de todas
as nações que participam dos benefícios derivados do processo de integração.

69
3. Complementaridade econômica e cooperação entre os países participantes e a não
competição entre países e produções, de forma a promover uma especialização
produtiva eficiente e competitiva compatível com o desenvolvimento econômico
equilibrado de cada país, com estratégias de combate à pobreza e com a preservação
da a identidade cultural dos povos.
4. Cooperação e solidariedade que se expressam em planos especiais para os
países menos desenvolvidos da região, incluindo um Plano Continental contra o
Analfabetismo, utilizando tecnologias modernas já testadas na Venezuela; um plano
latino-americano de tratamento de saúde gratuito para os cidadãos que carecem
desses serviços e um plano regional de bolsas de estudo nas áreas de maior
interesse para o desenvolvimento econômico e social.
5. Criação do Fundo de Emergência Social, proposto pelo Presidente Hugo Chávez na
Cúpula dos Países da América do Sul, realizada recentemente em Ayacucho.
6. Desenvolvimento integrativo de comunicações e transporte entre os países da
América Latina e do Caribe, incluindo planos conjuntos para rodovias, ferrovias,
linhas marítimas e aéreas, telecomunicações e outros.
7. Ações para promover a sustentabilidade do desenvolvimento por meio de
regulamentações que protejam o meio ambiente, estimulem o uso racional dos
recursos e evitem a proliferação de padrões de consumo esbanjadores e alheios à
realidade de nossos povos.
8. Integração energética entre os países da região, que garante o abastecimento estável
de produtos energéticos em benefício das sociedades latino-americanas e caribenhas,
promovida pela República Bolivariana da Venezuela com a criação da Petroamérica.
9. Promoção do investimento de capitais latino-americanos na própria América
Latina e Caribe, com o objetivo de reduzir a dependência dos países da região de
investidores estrangeiros. Para tanto, seriam criados um Fundo Latino-americano
de Investimentos, um Banco de Desenvolvimento do Sul e a Sociedade Latino-
americana de Garantias Recíprocas, entre outros.
10. Defesa da cultura latino-americana e caribenha e da identidade dos povos da região,
com particular respeito e promoção das culturas autóctones e indígenas. Criação da
Televisora del Sur (TELESUR) como um instrumento alternativo a serviço da difusão
de nossas realidades.
11. As medidas de normas de propriedade intelectual, ao mesmo tempo que protegem
o patrimônio dos países latino-americanos e caribenhos contra a voracidade das
empresas transnacionais, não freiam a necessária cooperação em todas as áreas
entre nossos países.
12. Concertación de posiciones en la esfera multilateral y en los procesos de
negociación de todo tipo con países y bloques de otras regiones, incluida la lucha
por la democratización y la transparencia en los organismos internacionales,
particularmente en las Naciones Unidas y sus órganos.

No ano que comemora o 180º aniversário da gloriosa vitória de Ayacucho e


da convocação ao Congresso Anfictiônico do Panamá, que procurou abrir caminho
a um verdadeiro processo de integração de nossos países, frustrados desde então,

70
expressamos nossa convicção de que que agora, finalmente, com a consolidação da
Revolução Bolivariana e o incontestável fracasso das políticas neoliberais impostas
a nossos países, os povos latino-americanos e caribenhos estão a caminho de sua
segunda e verdadeira independência. O surgimento da Alternativa Bolivariana para as
Américas proposta pelo Presidente Hugo Chávez Frías no seu melhor.

Assinado em Havana, no dia 14 de dezembro de 2004.

Fidel Castro Ruz


Presidente do Conselho de Estado da República de Cuba

Hugo Chávez Frías


Presidente da República Bolivariana da Venezuela

FONTE: <https://bit.ly/3J3GKvZ>. Acesso em: 29 ago. 2021.

71
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os países latino-americanos estão em processo de desenvolvimento e são países


que apresentam baixa industrialização e predomínio do setor primário.

• A industrialização dos países da América Latina foi tardia.

• A agricultura é muito importante para a América Latina, pois temos países que são
grandes produtores econômicos de commodities e essas produção são importantes
para o mercado externo.

• A América Latina tem alguns blocos econômicos que facilitam as relações comerciais
entre os países membros, como a ALBA, a CAN e o Mercosul.

72
AUTOATIVIDADE
1 Com base nos estudos sobre os blocos econômicos que constituem acordos
comerciais da América Latina, podemos considerar que um bloco econômico pode
ser caracterizado por seus diferentes níveis de integração e podem ser conhecidos
como: assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Alba; Alca; CAN; Mercosul.


b) ( ) Zona aduaneira, União Comum, Zona Monetária.
c) ( ) Zonas de Livre Comércio, União Aduaneira, Mercado Comum e União Econômica
Monetária.
d) ( ) Alba, Zona Aduaneira, Mercosul, União Econômica.

2 As relações de trabalho nos últimos anos foram modificadas em função da globalização,


da crescente industrialização, e com isso houve muitas mudanças nas relações de
trabalho, nas leis trabalhistas, nas formas de contratação. Na América Latina essas
mudanças impactaram muitos países. Neste sentido, analise as sentenças a seguir
sobre as condições de trabalho na América Latina.

I- Trabalhos baseados em flexibilização, terceirização, informalidade, tornam-se cada


vez mais frequentes na América Latina.
II- Com a globalização, o avanço das tecnologias, a expansão das multinacionais, as
privatizações de empresas públicas o mercado de trabalho foi ampliado na América
Latina, gerando mais renda e desenvolvimento para os países.
III- A Covid-19 impactou profundamente as relações de trabalho na América Latina,
prejudicando principalmente mulheres e jovens.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 Os países da América Latina apresentam grandes desigualdades sociais. As condições de


subdesenvolvimento são agravadas pelo desemprego, desestrutura urbana, migrações,
modernização, aumento dos trabalhos informais etc. Sobre as desigualdades sociais na
América Latina, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

73
( ) Com a globalização e a modernização dos postos de trabalho, houve impactos
significativos na América Latina, tais como: aumento do desemprego, perda de
direitos e garantias dos trabalhadores, precarização do trabalho e aumento do
trabalho informal.
( ) A América Latina é caracterizada pela pobreza, pela condição periférica e pelas
desigualdades sociais. Mas países como o Brasil, Venezuela, Argentina e Chile
fogem dessas caracterizações por serem grandes exportadores e produtores na
economia mundial.
( ) Para a CEPAL, a maioria dos países da América Latina vão na contramão do
desenvolvimento, pois a pobreza tem aumentado nos últimos anos, principalmente
com a crise sanitária vivida pela Covid-19 no mundo.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A industrialização dos países latino-americanos é considerada tardia, pois enquanto


os países latino-americanos estavam na primeira fase da industrialização os países
europeus já tinham avançado muito, isso pode ser explicado por fatores externos e
internos. Explique, quais são esses fatores.

5 Podemos considerar a Área de Livre Comércio das Américas como um projeto de


bloco econômico, pois foi criada em 1994 e ainda não efetivada. A ALCA foi estruturada
para visar à integração econômica entre os países do continente Americano, que foi
pensada no Governo de Geog W. Bush, dos Estados Unidos. Há uma conflitualidade
na aceitação da Alca e por isso que sua criação ainda não foi efetivada. Explique o
motivo dessa situação?

74
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do professor). Disponível em: https://bit.ly/3tPhEun. Acesso em: 24 ago. 2021.

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CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE. Panorama


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CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE. Panorama


Social da América Latina 2020. Santiago, CL: CEPAL, 2021. Disponível em: https://bit.
ly/35NZDV5. Acesso em: 24 ago. 2021.

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UNGER, K. R. O processo de Industrialização Substitutivo de Importações latino-


americano (ISI) e seus problemas econômicos derivados. Revista de Administração
de Empresas, São Paulo, v. 17, n. 4, p. 63-72, 1977. Disponível em: https://bit.ly/3tMFpTN.
Acesso em: 27 ago. 2021.

WASSERMAN, C. História da América Latina: cinco séculos (temas e problemas). 4.


ed. Porto Alegre: Editora da UFRGS. 2010. p. 177-214.

79
80
UNIDADE 2 —

RELAÇÕES INTERNACIONAIS
NA AMÉRICA LATINA: TEORIAS
ECONÔMICAS, MIGRAÇÕES
E A ECONOMIA DOS PAÍSES
LATINO-AMERICANOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer as principais teorias econômicas da América Latina;

• identificar os principais fatores dos fluxos migratórios na América Latina;

• compreender os impactos decorrentes dos fluxos migratórios nos países de atração


e nos de expulsão;

• discutir sobre a economia dos principais países da América Latina;

• analisar os impactos sociais e econômicos decorrentes dos governos militares na


América Latina.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – TEORIAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA


TÓPICO 2 – MIGRAÇÕES
TÓPICO 3 – ECONOMIA DOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS

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UNIDADE 2 TÓPICO 1 —
TEORIAS ECONÔMICAS NA AMÉRICA LATINA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos as principais teorias econômicas
elaboradas pela Comissão Econômica para a América Latina (Cepal). A Comissão
Econômica para a América Latina foi criada em 1948 pela Organização das Nações
Unidas (ONU) para a busca de soluções entorno dos problemas econômicos vivenciados
pelos países latino-americanos. Lembre-se de que você conheceu um pouco da Cepal
na Unidade 1. Aqui vamos nos deter a conhecer a estrutura da Cepal e a construção do
seu pensamento para analisar a economia dos países da América Latina.

As teorias do pensamento Cepalino têm como base o pensamento de autores


como, Celso Furtado e Raul Prebisch. Essas teorias do desenvolvimento centram
sua análise na economia latino-americana, estas são conhecidas como a teoria da
dependência; a teoria da relação centro-periferia. As teorias Cepalinas apresentam
análises sobre o subdesenvolvimento dos países latino-americanos e proposições de
superação através dos investimentos em industrialização.

Este tópico abrange também uma leitura sobre as relações econômicas da


América Latina com os Estados Unidos, a Europa, África e Ásia. A América Latina, por ser
uma região que engloba países que fazem parte da América do Sul e da América Central,
tem diferentes relações econômicas, como veremos através das políticas externas
estabelecidas entre os países.

O estudo das teorias econômicas nos ajuda a compreender um período histórico im-
portante para a economia da América Latina (1950-1960), um período pós-guerra que possi-
bilitou a análise dos países em dois mundos: os dos desenvolvidos e os dos subdesenvolvidos.
Neste contexto histórico, as teorias Cepalinas são desenvolvidas para analisar as raízes do
subdesenvolvimento, a tardia industrialização e a condição dos países periféricos.

DICA
No YouTube, há um curso promovido pelo Espaço de estudo e análise da
América Latina (IELA) disponível gratuitamente. O nome do curso é: O que ler
para entender a América Latina? Acesse: https://bit.ly/3LHs7QA.

83
2 COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O
CARIBE (CEPAL): O PENSAMENTO CEPALINO
A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) foi criada em
1948. A Cepal é uma comissão regional das Nações Unidas, tem sede no Chile. Sua
fundação teve como objetivo contribuir para o desenvolvimento econômico da América
Latina. Desde a sua fundação, a Comissão promove e reforça as relações econômicas
entre os países da América Latina e do mundo. A Cepal tem ampliado seus estudos para
além de fatores econômicos, cada vez mais estuda questões sociais, desenvolvimento
sustentável, assentamentos humanos, assuntos de gênero, população e recursos
naturais. Nos aspectos econômicos seus estudos estão relacionados ao comércio
internacional, ao desenvolvimento produtivo, econômico e empresarial (CEPAL, 2021).

De acordo com Almeida Filho e Corrêa (2011, p. 93), “a Cepal foi, durante os anos
1950, e até os anos 1970, uma Escola do Pensamento”, ou seja, esteve voltada para interpretar
o desenvolvimento econômico da América Latina. Para os autores a Cepal confrontou
pensamento da visão dominante sobre o desenvolvimento e buscou nortear uma análise
sobre as condições de desenvolvimento econômico pós Segunda Guerra Mundial.

As teorias dominantes sobre desenvolvimento destacavam dois mundos:


os desenvolvidos e os subdesenvolvidos. Essas características atribuídas aos países
estavam ligadas às condições históricas. Para as teorias dominantes os países iam se
desenvolvendo conforme avançavam econômica, política e socialmente.

As fases levariam aos diferentes estágios de desenvolvimento, neste sentido,


os países subdesenvolvidos chegariam a condições melhores, ou seja, à medida que
tendiam a crescer economicamente chegariam à condição de países desenvolvidos.

Para contradizer essa lógica dominante a Cepal tinha outra vertente de análise.
Para a Comissão os países subdesenvolvidos não atingiriam as mesmas condições de
desenvolvimento dos países ricos, pois, o subdesenvolvimento foi impulsionado pela
própria dominação dos países desenvolvidos que por meio da exploração colonial
colocaram os países da América Latina na condição de periferia no sistema econômico
mundial, e essa condição é essencial para a manutenção do aumento do capital e do
poder dos países desenvolvidos sobre outras economias.

De acordo com Santos e Oliveira 2008, p. 5), “as ideias formuladas pelos cepalinos
buscaram identificar os problemas resultantes da tardia industrialização [...] e tiveram contribuição
inquestionável para o surgimento de uma teoria do subdesenvolvimento econômico”.

No primeiro ciclo de pensamento da Cepal, fins das décadas de 1940 e 1950, a


solução para o subdesenvolvimento de acordo com os estudiosos da Comissão era o
investimento massivo na industrialização, isso promoveria a melhoria das economias
periféricas (SANTOS; OLIVEIRA, 2008). A Cepal, através de seus pensadores, contribuiu

84
para que os países da periferia pudessem pensar a partir de sua realidade com a sua
própria interpretação, destituindo, desta forma, a leitura de sua realidade a partir da
análise dos países dominantes.

Uma segunda fase para a comissão é entre as décadas de 1950 e 1970. Nesse
período, “os focos de análise foram os problemas que obstruíram o desenvolvimento
econômico dos países periféricos” (SANTOS; OLIVEIRA, 2008, p. 6). Nesse período
surgiram duas teses a respeito da inflação e da heterogeneidade estrutural.

Um terceiro período que marca as fases da Cepal foi a década de 1990, com
o avanço das tecnologias. Esta nova fase “apresenta a conquista da estabilização
monetária as custas de rigorosas políticas de contenção fiscal por alguns países latino-
americanos [...] e reformas econômicas” (SANTOS; OLIVEIRA, 2008, p. 6).

A fundamentação das teorias da Cepal está baseada em alguns autores que


merecem atenção neste nosso estudo, a saber: Raul Prebisch, Celso Furtado, Fernando
Henrique Cardoso e Enzo Falleto. Cada um dos autores desenvolveu teorias para pensar
a América Latina. Raul Prebisch, com sua teoria estruturalista, defendia que para a
América Latina sair da condição periférica precisaria elevar a produtividade do trabalho.
Para ele havia uma relação entre centro e periferia, ou seja, os países que englobavam o
centro e a periferia determinavam, a partir de suas relações, a economia mundial.

Celso Furtado, por sua vez, teve uma abordagem mais ampla, ele aprofundou
o debate do subdesenvolvimento. Ou seja, os países periféricos, ou subdesenvolvidos
tinham essas condições em função dos processos históricos, como a exploração
europeia. Neste sentido, Furtado discorda que os países centrais passaram pelo
estágio de subdesenvolvimento para chegar às condições atuais de desenvolvimento.
Por fim, Falleto e Cardoso desenvolveram a teoria da dependência que evidenciava a
subordinação dos países da periferia em relação aos países centrais.

DICA
Para aprofundar seus estudos sobre as teorias da Cepal, você pode ler os seguintes livros:
• CARDOSO, F. H.; FALETTO, E. Dependência e desenvolvimento na América Latina:
ensaio de interpretação sociológica. 6. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1981.
• BIELSCHOWSKY, R. Cinquenta anos de pensamento na Cepal. Rio de Janeiro:
Record; Cofecon; Cepal, 2000. v. 1.
• CANO, W. América Latina: do desenvolvimentismo ao neoliberalismo. In: FIORI,
J. L. (Org.). Estados e moedas no desenvolvimento das nações. Petrópolis:
Vozes, 1999. p. 287-326. (Coleção Zero à Esquerda).
• CARDOSO, F. H. Originalidade da cópia: a Cepal e a ideia de desenvolvimento.
In: As ideias e seu lugar: ensaios sobre as teorias do desenvolvimento. 2. ed.
Petrópolis: Vozes, 1995. p. 27-80.

85
2.1 A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO
A definição do desenvolvimento no contexto da sociedade capitalista está
estritamente vinculada aos aspectos econômicos, ou seja, ao crescimento da
industrialização, da circulação, do lucro, do Produto Interno Bruto dos países, ou seja,
todos os indicadores econômicos norteiam a definição de desenvolvimento. Esse
pensamento sobre o desenvolvimento econômico, atrelado às ideias dos países centrais,
evidenciou a necessidade de os países periféricos pensarem outra possibilidade de
desenvolvimento, ou outra análise sobre a realidade dos países latino-americanos.

A economia dos países subdesenvolvidos precisava passar por processo de


transformação, ou seja, só conseguiriam ser desenvolvidas se estivessem superando os
estágios do desenvolvimento econômico, tais como, modernização, industrialização, aumento
produtivo. Mas, o que chama atenção nesta discussão é justamente o fato de a teoria do
desenvolvimento não levar em consideração fatores históricos dos países periféricos.

De acordo com Almeida e Salomão (2021, p. 11),

Os modelos de desenvolvimento até então discutidos não abordavam


a dimensão histórica do desenvolvimento econômico. Nesse sentido,
supor a revolução industrial e a modificação do paradigma de
produção subjacente à experiência inglesa como o único caminho de
desenvolvimento a ser seguido – por qualquer país, em qualquer contexto
– mostrava-se uma perspectiva limitada e irreal para a América Latina.

Na América Latina, o pensamento Cepalino vai na contramão dessa análise


eurocêntrica. A realidade dos países centrais não é capaz de ajudar na compreensão
dos países periféricos, em função das distintas formas de organização do espaço
econômico, social e político.

Para explicar as diferenças existentes entre esses países e compreender a


realidade dos países de economia periférica, os pensadores da Cepal tiveram como desafio
construir um pensamento próprio sobre o desenvolvimento econômico dos países.

Aqui merece atenção o pensamento de Raúl Prebisch e Celso Furtado que


fizeram a análise de nossas condições de subdesenvolvimento a partir da realidade dos
países da América Latina. Para os autores dessa perspectiva Cepalina, “o problema do
subdesenvolvimento estaria relacionado às próprias estruturas dos países, as quais
acarretariam uma deficiência na assimilação do progresso técnico e impossibilitariam a
homogeneidade social” (ALMEIDA; SALOMÃO, 2021, p. 11).

Raúl Prebisch foi um economista da Cepal. Exerceu cargos como: Secretário


Executivo entre 1950-1963; Diretor do Instituto Latino-americano e do Caribe de
Planejamento Econômico e Social (ILPES) e Diretor da Revista da Cepal. Prebisch deve
ser lembrado como um pesquisador que em sua trajetória buscou construir uma região

86
politicamente forte, integrada, econômica e socialmente desenvolvida e igualitária,
e internacionalmente aberta e dinâmica. Para Couto (2007, p. 47), o pensamento de
Prebisch pode ser analisado por cinco fases, a saber:

A primeira [...] entre os anos de 1943 e 1949: da sua aceitação do ciclo


econômico e do repúdio as teorias do equilíbrio. Na Segunda Etapa,
que cobre os anos de 1949 a 1959, são expostas as ideias [...] sobre o
sistema centro-periferia e a deterioração dos termos de intercâmbio. Na
Terceira Etapa, situada entre 1959 e 1963, aparece sua defesa pública
pela criação de um mercado comum latino-americano e o conceito de
insuficiência dinâmica da economia. A Quarta Etapa marca a passagem
de Prebisch pela Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento (Unctad), entre os anos de 1963 e 1969. A Quinta Etapa
tem início em meados dos anos 1970 e termina com sua morte em 1986.
É o momento em que Prebisch se aproxima do pensamento de Karl Marx
para propor uma síntese entre liberalismo e socialismo.

As teorias de Prebisch tem como base teórica os problemas do desenvolvimento.


Para o autor era necessário pensar alternativas para mudar os problemas da América-
Latina. Segundo COUTO, sobre a base dos problemas Prebisch tinha como “objetivo
desenvolver a industrialização, o comércio internacional, buscando a criação de um
mercado comum latino-americano" [...] Ainda segundo COUTO, o autor via “a expansão
do comércio mundial como um pré-requisito para o desenvolvimento da periferia [...] e
novas formas de acumulação e distribuição da renda (COUTO, 2007, p. 61).

Para complementar o pensamento sobre o desenvolvimento no âmbito da


Cepal, Celso Furtado é de suma importância. Para o autor era preciso superar a nossa
dependência em relação aos outros países. Furtado pensa o desenvolvimento para
além dos aspectos econômicos, valoriza a análise dos aspectos sociais e revela em sua
teoria “as implicações da distribuição de renda no processo de crescimento econômico”
(FURTADO, 1974, p. 20). Assim demonstra como as condições econômicas e sociais são
regidas pelas questões políticas dos países.

De acordo com Lins e Marin (2014, p. 11), “a teoria de Furtado também chama
atenção para a necessidade de reconhecimento da importância do trabalho simples
[...] por meio da inclusão de alternativas que ocasionassem alterações nas questões da
produtividade e [...] na distribuição de renda” (LINS; MARIN, 2014, p. 11.).

Através do pensamento de Furtado, nós podemos analisar os conceitos de


desenvolvimento e subdesenvolvimento. O subdesenvolvimento para o autor “nada tem
a ver com idade de uma sociedade ou de um país” (FURTADO, 1974, p. 20), parâmetro
para medir o grau de desenvolvimento ou subdesenvolvimento de um país está no “grau
de acumulação aplicado aos processos produtivos” (FURTADO, 1974, p. 20).

O desenvolvimento por sua vez, envolve questões produtivas e de acumulação


do capital e está estritamente vinculado às questões econômicas dos países e às
relações estabelecidas entre eles nos processos produtivos e na exploração dos
recursos dos países periféricos para os países centrais (LINS; MARIN, 2014).

87
Esse debate anterior nos faz concluir que a Teoria do Desenvolvimento teve um
papel importantíssimo para a Cepal, pois é a partir desta teoria que o objetivo de “fundar
uma base institucional que criasse condições de desenvolvimento para os países”
(DUARTE; GRACIOLI, 2007, p. 1) da América Latina e Caribe se constitui na Cepal.

Os argumentos desta teoria “defendia que os países latino-americanos só se


desenvolveriam a partir da montagem de um aparato industrial orientado pela ação
do Estado” (DUARTE; GRACIOLI, 2007, p. 1), fator falacioso, uma vez que o modelo
de desenvolvimento industrial impulsionado com a expansão do capital promoveu
desenvolvimento para poucos e por outro lado, precarizou a vida de muitas pessoas nos
países ditos subdesenvolvidos.

2.1.1 A teoria da dependência


A teoria da dependência teve bastante notoriedade a partir da década de
1960. Os autores que merecem atenção nesta teoria são: Ruy Mauro Marini, Theotonio
Santos e Vânia Bambirra. A teoria buscava “compreender as limitações de uma forma de
desenvolvimento que se iniciou em um período histórico no qual a economia mundial
já estava constituída sob a hegemonia de poderosos grupos econômicos e forças
imperialistas” (DUARTE; GRACIOLLI, 2007, p. 1).

O que caracteriza essa teoria é a condição de subordinação de alguns países


em relação a outros no capitalismo. Ou seja, os países centrais dominam os países de
economia periférica, estes que dependem dos primeiros.

Os países centrais são os países que controlam a economia mundial, tais como,
Estados Unidos, Japão e países da Europa, por outro lado, os países de economia
periférica são os que sofreram com o processo de colonização e esses são os países da
América Latina, África e alguns da Ásia. Para Theotônio dos Santos (2021, p. 255).

La dependencia es una situación en la cual un cierto grupo de países


tienen su economía condicionada por el desarrollo y expansión
de otra economía a la cual la propia está sometida. La relación de
interdependencia entre dos o más economías, y entre estas y el
comercio mundial, asume la forma de dependencia cuando algunos
países (los dominantes) pueden expandirse y autoimpulsarse, en tanto
que otros países (los dependientes) solo lo pueden hacer como reflejo de
esa expansión, que puede actuar positiva y/o negativamente sobre su
desarrollo inmediato. De cualquier forma, la situación de dependencia
conduce a una situación global de los países dependientes que los
sitúa en retraso y bajo la explotación de los países dominantes.

Com base nesta reflexão de Santos (2021), podemos considerar que a


dependência está definida pela forma que os países se relacionam na economia mundial,
a partir de seus processos produtivos. Os Estados Unidos, após a Segunda Guerra
Mundial, expandiram sua hegemonia econômica pelo mundo e com foco direcionado

88
para o setor industrial. Sua expansão provocou a integração da economia mundial,
principalmente, nos países de antiga colonização. De acordo com Santos (2020, p. 17),
essa expansão econômica dos Estados Unidos

[...] serviu de base para o novo desenvolvimento industrial do


pós-guerra e terminou se articulando com o movimento de
expansão do capital internacional, cujo núcleo eram as empresas
multinacionais criadas nas décadas de 40 a 60. Esta nova realidade
contestava a noção de que o subdesenvolvimento significava a
falta de desenvolvimento. Abria-se o caminho para compreender o
desenvolvimento e o subdesenvolvimento como o resultado histórico
do desenvolvimento do capitalismo, como um sistema mundial que
produzia ao mesmo tempo desenvolvimento e subdesenvolvimento.

Essa dicotomia entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento mostra os


limites da expansão do capital no que se refere à lógica do desenvolvimento. Na teoria
da dependência, a crítica estava direcionada "para compreender as limitações de um
desenvolvimento iniciado num período histórico em que a economia mundial já estava
constituída sob a hegemonia de enormes grupos econômicos e poderosas forças
imperialistas” (SANTOS, 2020, p. 18).

De acordo com Santos (2020), os economistas Magnus Blomstrom e Bjorn


Hettne foram importantes historiadores da teoria da dependência. Para Santos
(2000, p. 18), os autores identificaram dois antecedentes imediatos para o enfoque
da dependência, a saber: “a) Criação de tradição crítica ao eurocentrismo implícito na
teoria do desenvolvimento; b) O debate latino-americano sobre o subdesenvolvimento”.
Desta maneira, a teoria da dependência abrange a leitura do desenvolvimento e do
subdesenvolvimento, evidenciando como a economia dos países industrializados
atingiram e se expandiram sobre os países de menor industrialização.

Santos (2020), com base em André Gunder Frank (1991), destaca que os principais
autores da teoria da dependência são, Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto (que
de acordo com o autor também estão ligados à Escola Estruturalista) e “os demais
pensadores são: Baran, Frank, Marini, Dos Santos, Bambirra, Quijano, Hinkelammert,
Braun, Emmanuel, Amin e Warren” (SANTOS, 2020, p. 20).

A problemática da dependência está ligada ao sistema econômico mundial. É nesse


sistema que temos as relações entre centro e periferia e podemos compreender o papel
de cada país na economia mundial e como decidem suas condições de desenvolvimento
social, econômico e político. Infelizmente, os países da América Latina ainda se encontram
em condições de subordinação à economia dos países centrais e as decisões desses nas
relações econômicas mundiais. Nesse sentido, compreender o papel dos países do centro
e dos países da periferia é de suma importância para entender as condições sociais,
econômicas, culturais, políticas e ambientais dos países da América Latina.

89
DICA
Existem vários livros sobre o debate da Cepal na América Latina. Indicamos
dois que merecem nossa atenção.
• KATZ, C. A teoria da dependência cinquenta anos depois. Tradução
Maria Almeida. São Paulo: Ed. Expressão Popular, 2020.
• SANTOS, T. dos. A teoria da dependência: balanços e perspectivas.
Florianópolis: Editora Insular, 2020.

2.2 RELAÇÃO CENTRO-PERIFERIA


A noção de centro-periferia regeu durante as décadas de 1950 e 1960 o
pensamento da Cepal. Essa noção desenvolvida por Raúl Prebisch demonstra uma
realidade de países que centralizam o desenvolvimento econômico, ou seja, são
países com grande potencial de produção, desenvolvimento tecnológico, mão de obra
qualificada, por outro lado, o conceito de periferia está direcionado aos países com
economia de baixo desenvolvimento. Neste conceito de periferia encaixam-se os países
com condições de atraso econômico, baixa qualificação, altas taxas de desigualdades
sociais e econômicas, dependência do mercado externo, por exemplo.

A relação existente entre os países considerados do centro e da periferia podem ser


expressas por processos atrelados ao desenvolvimento industrial, ao crescimento econômico,
às relações de exportação e importação, à atuação de grandes empresas, por exemplo.

O centro distingue-se da periferia, principalmente, em função do crescimento


acelerado dos países desse grupo. As grandes empresas do centro passaram a se
espacializar nos países da periferia, impulsionando, desta forma, o poder que os países
do centro exercem sobre economias menos desenvolvidas.

Para Furtado (1974, p. 43) “as economias periféricas agravam as desigualdades


internas” em função dessa expansão industrial nos países periféricos”. Há um desafio,
pois, “a intensidade do crescimento no centro condiciona a orientação da industrialização
na periferia, pois as minorias privilegiadas desta última procuram reproduzir o estilo de
vida do centro” (FURTADO, 1974, p. 45).

Neste sentido, a relação entre centro-periferia é condicionada constantemente,


pois, quanto maior as mudanças no centro mais rápido o crescimento da desigualdade
na periferia, como afirma Furtado (1974, p. 45): “quanto mais intenso o fluxo de novos
produtos no centro [...] mais rápida será a concentração de renda na periferia”. É nesta
relação que permeiam as mudanças dos países periféricos e as imposições e controle
dos países centrais sobre as economias periféricas, sendo essas sempre prejudicadas
em relação às economias do centrais.

90
Por outro lado, os países periféricos têm adquirido papel importante em relação às
economias centrais, pois “as novas formas que o capitalismo está assumindo nos países
periféricos, faz com que estes não sejam independentes da evolução global do sistema”
(FURTADO, 1974, p. 58). Pelo contrário, a periferia oferece aos países centrais recursos
naturais, mão de obra barata e espaços para expandir as empresas dos países centrais.

Contudo, são os países do centro que dominam essas relações e neste sentido, os
países da periferia econômica, caracterizados em nosso estudo pelos países da América Latina,
estão atrasados, subordinados e nesse sentido, podemos afirmar que, o crescimento dos
países mais ricos, ou os centrais determinam as condições de pobreza dos países da periferia
econômica, no contexto dos países da América Latina. De acordo com Medeiros (2006, p. 45),

os países pobres exportam produtos primários para os países ricos


que então industrializam (agregando valor) e os vendem de volta para
as nações desprovidas. O valor adicionado das mercadorias custa
sempre mais do que as matérias-primas usadas para criar aqueles
produtos. Consequentemente, os países mais pobres nunca estariam
ganhando o bastante das suas exportações para compensar o
pagamento das importações.

A fala de Medeiros (2006) é importante para compreendermos as condições


de submissão dos países periféricos. Estes estão condicionados a serem apenas
exportadores de matérias-primas, a produção dos seus bens não tem grande valor no
mercado, como os bens produzidos pelos países do centro.

Nessa relação, nós podemos afirmar que a ideia de desenvolvimento tão difundida
pelos países do centro é um mito, pois, nessa lógica de dependência, os países da periferia
não conseguem avançar economicamente para alcançar os padrões de desenvolvimento
das economias centrais, pelo contrário, aumentam-se a desigualdade, a concentração de
renda, a precarização do trabalho nesses países de economias periféricas.

Você deve se perguntar, quais são os países do centro e quais são os países
da periferia? Há países da periferia além dos da América Latina? Os países do centro
são: Estados Unidos, Japão e os países do oeste europeu. Os países periféricos
são divididos em duas categorias: semiperiféricos e periféricos, o que evidencia a
necessidade de caracterizá-los. Os países semiperiféricos são países que estão na fase
de desenvolvimento, são eles: Brasil, Rússia, índia, China, África do Sul, Chile, Turquia e
México. E os periféricos são aqueles que estão à margem da economia mundial, pois,
tendem a apresentar baixos índices de desenvolvimento social e econômico quando
comparados aos outros países. Os países estão na África, na América Latina e na Ásia.

Vamos explorar as relações dos países da América Latina com os Estados


Unidos e com os países europeus nos próximos subtópicos.

91
2.3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E ESTADOS UNIDOS
As relações econômicas entre os países da América Latina e dos Estados
Unidos são consideradas turbulentas, segundo Tulchin (2016, s. p.), essa relação “é
marcada predominantemente por períodos de mal-estar, às vezes intensos, e frequente
menosprezo do Norte ao Sul e ressentimento no sentido inverso”.

O primeiro reflexo dessa relação surge após o período colonial quando os


Estados Unidos passam a considerar a América Latina “o seu quintal”. Essa posição
dos E.U.A ocorreu a partir de 1823 com a Doutrina Monroe, quando o presidente James
Monroe em seu discurso proferido em 2 de dezembro de 1823, disse que o “continente
americano não deveria aceitar nenhum tipo de intromissão europeia”, uma vez que,
nesse período o controle das potências europeias e as disputas entre as nações como
Portugal, Espanha, Inglaterra, Holanda e França era uma ameaça ao controle que
os E.U.A. queriam expandir sobre a América Latina (PIÑERO, 2019). O interesse pelas
nações da América Latina está nas riquezas minerais, naturais, energéticas, recursos
alimentícios, diversidade biológica, fertilidade das terras (PIÑERO, 2019). A riqueza da
América Latina é um grande “prato” para os interesses do capitalismo. Neste sentido,
os Estados Unidos sempre estiveram, nas últimas décadas, apoiando golpes, invasões
e ditaduras na América Latina.

Para Tulchin “desde o surgimento como nações, tanto os Estados Unidos quanto
os países latino-americanos, tiveram diferenças marcantes de visão sobre seu lugar
na política internacional e sobre a função que sua política externa teria na luta pela
estabilidade nacional” (TULCHIN, 2016, s. p.).

O continente americano tem características semelhantes em relação ao período


colonial, pois os países foram colônias dos países europeus. Contudo, existem bastantes
diferenças entre as nações da América do Norte e da América Latina no que se refere
a sua posição nas relações econômicas e políticas entre eles e em relação aos países
de outros continentes, como da Europa, da Ásia e da África. Essas diferenças estão
relacionadas ao poder que cada nação exerce na dinâmica do capital internacional.

Outro período que merece destaque nessas relações entre os E.U.A e a América
Latina é o período da Guerra Fria, que foi marcado por relações conflituosas entre os
países em questão, mas é a partir do século XIX, “depois da Guerra Hispano-Americana
de 1898, quando os EUA anexaram Porto Rico e estabeleceram um protetorado em
Cuba”, que as relações se tornaram turbulentas. Os Estados Unidos fizeram intervenção
militar e política nos países latino-americanos, o que evidencia a histórica hegemonia
dos E.U.A. sobre os países latino-americanos (TULCHIN, 2016, s. p.).

Essas relações foram determinadas desde a Segunda Guerra Mundial. Com o


fim da guerra, muita tensão se estabeleceu entre os países, mas os Estados Unidos
saíram fortalecidos da guerra e determinaram muitas relações econômicas e militares

92
entre os países latino-americanos. Mas, com o fim da Segunda Guerra Mundial (1945)
e o início da Guerra Fria, os países da América Latina sentiram na pele o avanço do
intervencionismo dos Estados Unidos.

O período da Guerra Fria foi caracterizado por uma abordagem cada vez mais
maniqueísta por parte dos Estados Unidos na tentativa de proteger sua segurança
no hemisfério. O país passou a dominar e expandir seu modelo de desenvolvimento
capitalista e contra a ofensiva comunista da União das Repúblicas Socialistas Soviética
(URSS). Neste sentido, os países latino-americanos iam se relacionando cada vez mais
com a lógica econômica dos EUA, e eles “passaram a criar suas próprias organizações
regionais” (TULCHIN, 2016, s. p.), isso já evidenciava as estratégias dos países
estabelecerem cooperação para lidar com as relações do mercado internacional.

Os EUA ocuparam, durante muitos anos, a hegemonia da economia mundial e


o domínio aos países subdesenvolvidos. Domínio estendido a partir da importação de
commodities, da exploração de recursos minerais, da expansão de suas multinacionais
e até mesmo na determinação política dos países subdesenvolvidos.

Essa hegemonia dos Estados Unidos sobre os países da América Latina, mudou muito
atualmente, pois, muitos desses países mantêm fortes relações com economias asiáticas,
tirando, desta forma, a hegemonia das relações econômicas com os Estados Unidos.

3 RELAÇÕES ENTRE AMÉRICA LATINA E EUROPA


As relações entre a América Latina e os países europeus ocorreu desde o
período colonial. Nos séculos XV e XVI, os países da Europa em função da expansão
marítima comercial tornaram os países da América Latina colônias de exploração,
as quais, eram exploradas, povoadas e tinham suas riquezas minerais, naturais e
extrativistas exploradas para as nações europeias, especialmente, Espanha, Portugal,
Holanda e Inglaterra. A exploração do território dos países hoje conhecidos como latino-
americanos foi responsável pelas primeiras relações estabelecidas entre as nações,
relações econômicas, sociais, políticas e ambientais. Neste sentido, a relação entre
colônias e metrópoles colocavam as nações latino-americana em desvantagem.

Desde a colonização, o papel dos países latino-americanos estava na exportação


de produtos primários e os países europeus na transformação destes em mercadorias.

As relações econômicas no contexto colonial eram de submissão. Todavia, com


a independência das nações latino-americanas, a criação de comunidades econômicas
e blocos econômicos foram modificando a posição da América Latina em relação aos
países europeus. De acordo com Pinto (2006, p. 12), “as relações formais entre a Europa
e os países da América Latina iniciaram-se desde que entraram em funcionamento as
instituições da Comunidade Econômica Europeia em 1958”.

93
As relações estabelecidas entre os países europeus tinham como objetivo
facilitar os fluxos econômicos entre os países membros, isso consequentemente,
respaldou sobre questões políticas e sociais. Na América Latina, a criação de blocos
como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), o Mercado Comum Centro Americano
(MCCA), o Pacto Andino e a Associação Latino-Americana de Desenvolvimento e
Integração (ALADI) fizeram que os países europeus apoiassem a integração entre os
países latino-americanos (PINTO, 2006).

O apoio dos países europeus aos países latino-americanos para Sá Pinto (2006,
p. 14), ocorre em virtude das “afinidades históricas e culturais” [...] entre os povos ibéricos
e os povos latino-americanos”.

A partir dessa posição de Messias de Sá Pinto (2006), podemos compreender


que as trocas estabelecidas entre as regiões, o interesse financeiro, as articulações para
exploração de recursos naturais, o fortalecimento das relações diplomáticas, relações
econômicas e o apoio para diminuir as desigualdades foram um dos principais motivos
para o fortalecimento entre as regiões em questão.

De acordo com Messias de Sá Pinto (2006, p. 17), “foram os países ibéricos os


grandes impulsionadores da focalização da UE na América Latina, particularmente no
que respeita as relações comerciais com os países do Mercosul”. Cada vez mais, a União
Europeia tem fortalecido sua parceria política e econômica com a América Latina.

Segundo a European Commision, em notícia publicada em 2019, em sua


plataforma eletrônica a relação entre a União Europeia e a América Latina estão pautadas
em “quatro prioridades: prosperidade, democracia, resiliência e governança global eficaz
para um futuro comum” (BILATERAL TRADE [...], 2019, s. p., tradução nossa). Observe como
a parceria entre a União Europeia e a América Latina sistematiza as quatro prioridades.

Parceria para a Prosperidade - apoiando o crescimento sustentável


e empregos decentes; redução das desigualdades socioeconômicas;
transição para uma economia digital, verde e circular; além de
fortalecer e aprofundar ainda mais a já sólida relação comercial e de
investimento.
Parceria para a Democracia - fortalecendo o regime internacional de
direitos humanos, incluindo a igualdade de gênero; empoderamento
da sociedade civil; consolidar o Estado de Direito; e garantir eleições
confiáveis e instituições públicas eficazes.
Parceria para Resiliência - melhorando a resiliência climática, meio
ambiente e biodiversidade; combate às desigualdades por meio de
tributação justa e proteção social; combate ao crime organizado;
aprofundar o diálogo e a cooperação em matéria de migração e
mobilidade, em particular para prevenir a migração irregular e o
tráfico de seres humanos.
Parcerias para uma governança global eficaz - fortalecendo o sistema
multilateral, inclusive para a governança climática e ambiental;
aprofundar a cooperação em paz e segurança; e implementação da
Agenda 2030 (BILATERAL TRADE [...], 2019, s. p., tradução nossa).

94
Tomando como base o princípio estabelecido nestas relações, percebemos que as
economias estão interconectadas e buscam estabelecer novas possibilidades de ampliar
o capital e explorar a classe trabalhadora, principalmente as dos países subdesenvolvidos.
Pois, essas relações mesmo que baseadas em cooperação, ainda apresentam
desigualdades extremas entre os países da União Europeia e os países da América Latina,
pois, mesmo com todas as melhorias nos países da América Latina, a região ainda precisa
equilibrar sua distribuição de renda, diminuir a pobreza, melhorar a segurança, avançar no
crescimento econômico, diminuir os níveis de corrupção, diminuir os impactos ambientais
são alguns dos desafios para melhorar as relações entre as regiões.

Por fim, para a European Commision a parceria entre a União Europeia e os países
latino-americanos também diz respeito a luta pelos “direitos humanos, democracia,
princípios de boa governança”. Neste sentido, é a união de forças que estabelecida entre as
nações pode construir para 2030 um futuro mais promissor (LATIN AMERICA, 2022, s. p.).

NOTA
A Comunidade Econômica Europeia foi um dos estágios da formação do bloco da União
Europeia. Antes de se tornar um dos maiores blocos do mundo a União Europeia passou por
diferentes estágios de desenvolvimento. O primeiro estágio foi o Benelux, um bloco criado na
Segunda Guerra Mundial. Esse nome correspondia as iniciais dos países integrantes, Bélgica (BE),
Holanda (NE) do inglês Netherland e Luxemburgo (Lux). O objetivo central era formar um mercado
comum, reduzir as tarifas aduaneiras. O segundo estágio foi a criação da Comunidade Europeia
do Carvão e do Aço. A criação da CECA estabeleceu como objetivo um acordo com a Alemanha
Ocidental e o intuito de compartilhar a produção de carvão mineral e minério, essa
etapa do bloco ficou conhecida como período de integração do mercado siderúrgico. O
terceiro momento é a criação em 1957 do Mercado Comum Europeu, ou como todos
conhecem, Comunidade Econômica Europeia. A criação dessa fase do bloco se deu
com o Tratado de Roma em 1957. O objetivo dos doze países membros estava voltado
para estabelecer a livre circulação de pessoas, mercadorias e capitais. No ano de
1991 com a criação do Tratado de Maastricht, é estabelecido a criação da União
Europeia, com objetivo de possibilitar a “livre circulação de pessoas, mercadorias,
bens e serviços entre os países-membros” (PENA, 2022, s. p.).

NOTA
A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, o planeta e a
prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica
17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS, e 169 metas,
para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro
dos limites do planeta. São objetivos e metas claras, para que todos
os países adotem de acordo com suas próprias prioridades e atuem
no espírito de uma parceria global que orienta as escolhas necessárias
para melhorar a vida das pessoas, agora e no futuro.

FONTE: <https://bit.ly/3GTIje0>. Acesso em: 18 fev. 2022.

95
3.1 AMÉRICA LATINA E SUAS RELAÇÕES COM A ÁFRICA E A ÁSIA
As relações entre os países em desenvolvimento podem ser destacadas como
a cooperação Sul-Sul. Essa cooperação engloba os países em desenvolvimento, e inclui
os países da África, da Ásia, América Latina e os países do Caribe e da Oceania.

Nosso estudo estará centrado na análise da articulação política, trocas


econômicas, relações científicas, tecnológicas e culturais estabelecidas entre os países
da África, da Ásia e da América Latina.

Os países do sul global podem ser identificados no mapa a seguir. Mesmo que
economias como a China e o Brasil sejam grandes, elas são economias subdesenvolvidas,
e são países que apresentam altos índices de desigualdades sociais, baixa escolarização,
mortalidade infantil etc. (WOLFF, 2020)

FIGURA 1 – PAÍSES DO NORTE E DO SUL GLOBAL

Em branco são os países do Norte, ou os denominados países desenvolvidos. Os países pontilhados são os
países do Sul, ou os países subdesenvolvidos.
FONTE: <https://bit.ly/3t0h9hH>. Acesso em: 22 fev. 2022).

Essas relações entre os países do Sul-Sul estabelecem o fortalecimento entre as


economias subdesenvolvidas e, por outro lado, diminuem o poder das economias centrais
sobre as nações. Os países emergentes, que se destacam nesse processo são: a China, o
Brasil, a Índia e a África do Sul. Esses países passaram por uma reestruturação nas relações
econômicas mundiais, aumentando sua participação nas exportações, nas relações
comerciais, tendo um maior dinamismo econômico, por exemplo, o aumento da produção
de commodities elevou a participação desses países nas relações internacionais e regionais,
integrando-se cada vez mais a relação Sul-Sul com foco para a África, Ásia e América Latina.

Os países emergentes, Brasil, Índia, China e África do Sul constituem junto com
a Rússia os famoso BRICS (“acrônimo cunhado em 2001 pelo banco de investimentos
Goldman Sachs, para indicar as potências emergentes que formariam, com os Estados
Unidos, as cinco maiores economias do mundo no século XXI” (O QUE É BRICS, 2019, s. p.).

96
Aqui é importante questionar, qual é a contribuição desses países emergentes em
suas relações econômicas para o conjunto dos países da América Latina? Para Gomes e
Balardim (2020) os BRICS representam um novo paradigma para o desenvolvimento, da
região da América Latina, pois apresentam propostas relevantes de reformas que beneficiam
a região que ainda é demarcada pela profunda desigualdade socioeconômica. Neste
sentido, os capitais dos países asiáticos e africano têm contribuído para muitos projetos de
desenvolvimento na América Latina, principalmente, a relação estabelecida com a China.

A China mantém relações mais intensas com Brasil, Peru, Colômbia, Chile,
Argentina, Cuba e Venezuela. Essas relações centram-se na abertura de novos
mercados, a exploração de produtos primários, o grande mercado consumidor da região
da América Latina são alguns dos fatores que estabelecem a relação da China nos países
latino-americanos e consequentemente esses países diminuem sua dependência em
relação aos Estados Unidos.

3.1.1 Políticas econômicas externas


A economia dos países da América Latina passa por crises constantes em
função das desigualdades estabelecidas na região. Com a crise do COVID-19, em
2020/2021, as taxas de desocupação, o aumento da pobreza, queda no crescimento
econômico são alguns dos fatores que modificam as relações das políticas econômicas
dos países da América Latina. De acordo com o “Estudo Econômico da América Latina
e do Caribe 2020: principais condicionantes das políticas fiscal e monetária na era pós-
pandemia de COVID-19", elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o
Caribe (Cepal), as “relações de troca da região, caiu em média 4,7% em 2020, o choque
negativo se concentrou nas economias exportadoras de hidrocarbonetos, enquanto as
exportadoras de alimentos e metais foram menos afetadas” (CEPAL, 2020, p. 11).

As políticas econômicas externas foram afetadas com a crise do COVID-19, os países


da sub-região da América do Sul foram os mais prejudicados, de acordo com a Cepal (2020).
Contudo, as relações econômicas externas se dão em diferentes níveis de integração, que
podem ser vistos nas diferentes formas de integração regional e internacional.

Como afirmam Santos, Camoça e Rodrigues (2020, p. 108-109), o “Mercado


Comum do Sul (MERCOSUL); o Acordo de Livre Comércio das Américas (NAFTA); Nações
Sul-Americanas (UNASUL); Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA)”
são projetos de integração regional que possibilitam a expansão desses países para se
fortalecerem e expandirem suas relações para os países desenvolvidos, como é o caso
das relações econômicas que alguns países estabelecem com países europeus e os EUA.

As relações econômicas externas são essenciais para um processo de


integração na economia mundial. Torna-se importante manter essas relações para evitar
isolamento diante das relações econômicas mundiais. Com a globalização a integração
das economias e as relações externas têm impactos políticos, econômicos e sociais.

97
Para Santos, Camoça e Rodrigues (2020, p. 110-111), os aspectos positivos da
integração entre países podem ser vistos em:

• aproveitamento das economias de escala;


• influência nas expectativas de investimento nacional e
estrangeiro;
• redução dos custos de transação; efeitos sobre as taxas de
crescimento;
• possível estabelecimento de uma arquitetura financeira regional;
• incorporação do progresso científico-técnico e da articulação
produtiva;
• elevação da produção e da produtividade;
• favorecimento da padronização de normas e regulações;
• estabelecimento de negociações ou de consultas prévias a fim de
evitar represálias;
• desconstrução das assimetrias regionais;
• intensificação da complementaridade produtiva;
• ampliação da participação de componentes sociais;
• impulsão de desenvolvimento com equidade; consecução de
projetos de infraestrutura física e energética;
• criação de mecanismos de defesa militar e econômica; e
• inserção mundial mais soberana com a elevação do poder de
barganha internacional.

Esses pontos elencados por Santos, Camoça e Rodrigues (2020) no processo


de integração entre as economias no mundo ou entre as relações regionais, mostram-
nos que as trocas comerciais, econômicas e políticas entre os países são bastantes
amplas e isso implica o direcionamento que o Estado toma em suas decisões, assim
como, para manter sua soberania nacional.

98
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Existem teorias econômicas que explicam a condição de subdesenvolvimento e


dependência dos países latino-americanos.

• A Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) tem uma estrutura de


pensamento que é embasada por autores como Celso Furtado, Raul Prebisch, Ruy
Mauro Marini, Enzo Faletto, Fernando Henrique Cardoso, Vânia Bambirra.

• As relações econômicas entre os países da América Latina, os Estados Unidos, a


Europa, Ásia e África.

• As raízes do subdesenvolvimento, a tardia industrialização e a condição dos países


periféricos da América Latina.

• As diferenças entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos na economia mundial.

99
AUTOATIVIDADE
1 A teoria da dependência explica relações econômicas entre os países. Essas relações
se dão entre os países chamados periféricos e os países centrais. Neste sentido, a
teoria da dependência, desenvolvida por Fernando Henrique Cardoso, Enzo Faletto,
Ruy Mauro Marini, Theotonio dos Santos e Vânia Bambirra, a partir da década de 1960,
possibilita a criação de relações políticas, sociais e econômicas entre os países. Mas,
essa teoria se explica através de: Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Condição de subordinação dos países da América Latina em relação aos países


de economias centrais.
b) ( ) Compreensão das formas de desenvolvimento dos países do centro e da
periferia, destacando como a economia da América Latina tem se desenvolvido
nos últimos anos.
c) ( ) Avanço do desenvolvimento dos países da América Latina após a Segunda Guerra
Mundial.
d) ( ) Problema do subdesenvolvimento relacionado as estruturas de dominação dos
países da América Latina.

2 A Comunidade Econômica Europeia (CEE) foi um estágio importante para consolidar


o bloco da União Europeia na economia mundial. A formação desse bloco passou por
diversas fases e tornou-se muito importante para as relações dos países europeus
e com os países da América Latina, pois o bloco passou a estabelecer as regras sob
as relações de importações, exportações e circulação de pessoas. Assim como,
impulsionou a criação de pactos comerciais entre os países. Com base no que
estudamos, analise as sentenças a seguir:

I- Cada vez mais, a União Europeia tem fortalecido sua parceria política e econômica
com a América Latina e tem se baseado em quatro prioridades: prosperidade,
democracia, resiliência e governança global eficaz para um futuro comum.
II- O estabelecimento das relações econômicas entre a Europa e os países latino-
americanos facilita que a região equilibre seu desenvolvimento igualando-se aos
aspectos sociais e econômicos da Europa, principalmente, no que se refere à
produção de commodities.
III- Na América Latina, a criação de blocos como o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL),
o Mercado Comum Centro Americano (MCCA), o Pacto Andino e a Associação
Latino-Americana de Desenvolvimento e Integração (ALADI) fizeram com que os
países europeus apoiassem a integração entre os países latino-americanos.

100
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A Comissão Econômica da América Latina (CEPAL) durante a década de 1950 foi


de suma importância para pensarmos as questões econômicas dos países latino-
americanos. Suas análises sobre os países, a realidade econômica destes permitiu que
os intelectuais da CEPAL discutissem as teorias econômicas para explicar as condições
de desenvolvimento dos países. Essas teorias ficaram conhecidas como: sistema
centro-periferia; estruturalismo cepalino; integração regional e seus pensadores podem
ser identificados por: Celso Furtado, Maria da Conceição Tavaras, Raul Prebisch. Neste
sentido, com base no que estudamos sobre as teorias econômicas desenvolvidas por
autores da Comissão Econômica para a América Latina e sobre o pensamento de Celso
Furtado, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) O pensamento da Cepal pode ser analisado por autores como: Celso Furtado que
abordou o debate do subdesenvolvimento, e explicou como os países periféricos
se encontravam na condição de submissão em relação aos países centrais.
( ) Celso Furtado, defendia que a América Latina só conseguiria sair da condição de
periferia se focasse na elevação produtiva e na industrialização.
( ) Furtado pensava o desenvolvimento além da economia, englobava os aspectos sociais
em sua teoria e afirmava que “as implicações da distribuição de renda no processo
de crescimento econômico” (FURTADO, 1974, p. 20). Assim demonstram como as
condições econômicas e sociais são regidas pelas questões políticas dos países.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) foi criada em 1948. A
Cepal é uma Comissão Regional das Nações Unidas, com sede no Chile. A Comissão
ao longo das décadas de estudo tem ampliado seus objetivos e envolve em seus
debates questões para além da economia, como: desenvolvimento sustentável,
assuntos de gênero, população, recursos naturais e questões sociais. Esse objetivo
atual foi modificado, pois o objetivo inicial da Cepal era: Disserte sobre o objetivo
inicial da comissão e evidencie a importância de se discutir para além dos aspectos
econômicos atualmente.

101
5 Na economia mundial os países do centro e da periferia estabelecem relações
econômicas e políticas. Focando na relação entre os países da periferia, que incluem
os países da África, da Ásia, da América Latina e os países do Caribe e Oceania, disserte
sobre a importância de os países da periferia manterem relações econômicas e retirar
o domínio dos países centrais sobre eles.

102
UNIDADE 2 TÓPICO 2 -
MIGRAÇÕES

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos as migrações na América Latina, o que
são migrações, os tipos de migrações, os efeitos desse fenômeno, as crises migratórias
e a xenofobia enfrentada pelos migrantes.

A migração é considerada um movimento de pessoas que saem do seu local


de residência habitual, para outro local, seja dentro do próprio país ou ultrapassando
fronteiras internacionais. De acordo com a Organização Internacional para a Imigração
(IOM) podemos identificar diversos conceitos-chave para identificar o fenômeno da
migração, tais como: “migração climática, deslocamento, migração interna, migração
internacional, migração irregular, migração de trabalho, migrante, migração segura,
ordenada e regular” etc. (IOM, 2021, s. p).

O fenômeno das migrações pode ser explicado por diversos momentos históricos,
o deslocamento das populações esteve inicialmente ligado à sua sobrevivência.
Contudo, no contexto atual, as condições migratórias são explicadas por diversas
questões, tais como: crises ambientais, crises políticas, guerras civis, busca pelo
trabalho, estudos, fuga de cérebros etc. Com a globalização houve uma intensificação
dos fluxos migratórios e está estritamente ligado às condições de desenvolvimento
econômico. As possibilidades de deslocamento aumentaram muito nos últimos anos,
em virtude, do aumento das comunicações e facilidade de transportes. Por outro lado,
esse fenômeno provoca pontos positivos e negativos, seja para o local de origem ou
para o local receptor desses fluxos migratórios.

No contexto da globalização e do avanço das relações internacionais, há o


aumento de circulação não só de pessoas, mas também de capitais e mercadorias o
que evidencia um romper de fronteiras e consequentemente uma inserção de influência
de determinadas nações sobre outras, com símbolos, cultura, imagens, valores etc.,
sendo alterados devido às novas relações econômicas e políticas impostas por esse
processo global (FERNÁNDEZ; PIZARRO, 2021). Neste sentido, o estudo das migrações
na América Latina, nesta Unidade 2, evidencia as condições econômicas, políticas e
sociais que promovem os fluxos migratórios na região e as consequências positivas e
negativas desse fenômeno tão presente no contexto da economia mundial.

103
DICA
Fenômeno relacionado à transferência de recursos na forma de capital
humano de uma região para outra, denominado fuga de cérebros
(brain drain), é particularmente importante. Esse fenômeno designa
a emigração de trabalhadores qualificados e, ao envolver fluxos de
capital humano, pode se configurar como alternativa para a redução da
pobreza, crescimento regional e redução de desigualdades espaciais.
Informações disponíveis em: SILVA, E. R. da. Composição e
determinantes da fuga de cérebros no mercado de trabalho
formal brasileiro: uma análise de dados em painel para o período
1995-2006 (DISSERTAÇÃO). Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
Disponível em: https://bit.ly/3hY4NR0.

2 GLOBALIZAÇÃO E MIGRAÇÃO INTERNACIONAL


A globalização é considerada um estágio da internacionalização do capitalismo
na economia mundial (SANTOS, 2000). Para Milton Santos (2006, p. 12), ela é “resultado
das ações que asseguram a emergência de um mercado global”, que se utiliza
dos grandes avanços das técnicas, tais como, as relações globais cada vez mais
intensificadas pela era das redes, e o aumento das trocas de informações de maneira
instantânea, são grandes marcas da globalização e que impactam sobre a mobilização
populacional. Com o processo de globalização a migração internacional tornou-se
bastante evidente no contexto da economia mundial. De acordo com o Instituto de
Migrações e Direitos Humanos no ano de 2021, havia 281 milhões de pessoas fora do seu
país de origem (MIGRANTES [...], 2021). Muitas são as motivações para os deslocamentos
populacionais, a maior ainda está na questão econômica, na busca pelo emprego e pela
melhoria da qualidade de vida. Mas, inúmeros fatores podem levar aos deslocamentos
populacionais, tais como “deslocamentos forçosos [...] normalmente provocados
por conflitos armados, domésticos e internacionais), as desigualdades sociais [...] as
assimetrias na distribuição dos benefícios oferecidos pela economia internacional, as
carências de capital humano e conhecimentos” (AVILA, 2005, p. 2). As migrações se
dão no sentido Sul-Norte em função das disparidades econômicas entre as regiões, na
primeira, as condições de subdesenvolvimento e as crescentes desigualdades sociais
impulsionam os deslocamentos populacionais, essas áreas tornam-se conhecidas como
áreas de repulsão. Já os países do Norte, em condições melhores de desenvolvimento
e melhores distribuições de renda, tornam-se áreas de atração.

De acordo com a Plataforma Eletrônica das Nações Unidas (INTERNATIONAL


[...], 2021, s. p., tradução nossa), que menciona o relatório de destaque das migrações
internacionais em 2020, “quase dois terços de todos os imigrantes internacionais vivem
em países de alta renda, em contraste com apenas 31% em países de renda média
e cerca de 4% em países de baixa renda”. No mesmo relatório chama-nos atenção o
grupo de migrantes refugiados que se deslocam em sua maioria para países de renda
baixa em média 50% dos migrantes internacionais, por outro lado, “os refugiados
104
representam cerca 3% de todos os migrantes internacionais em países de alta renda,
em comparação com os 25% nos países de renda média (INTERNATIONAL [...], 2021, s.
p., tradução nossa). É importante ressaltar aqui que há uma diferença entre migrantes e
refugiados. Para o a Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR,
s.d., s.p.) “os migrantes são pessoas que estão saindo voluntariamente de seus países
de origem”, por outro lado, os refugiados “são pessoas que estão deixando sua nação
devido a perseguições relacionadas à raça, nacionalidade, conflitos políticos, conflitos
armados” (HÜSELMANN, 2019, s.p.). Essa diferença também estabelece as condições
de vida desses grupos, pois o migrante pode voltar para seu local de origem sem riscos,
mas, os refugiados, já enfrentam dificuldades e riscos para fazer um retorno a sua nação.

No que tange aos deslocamentos populacionais da América Latina e Caribe,


podemos considerar que esses deslocamentos se fazem presente desde o processo
de colonização, com a chegada dos imigrantes europeus, africanos e asiáticos. De
acordo com Avila (2005), podemos dividir o estudo sobre os fluxos migratórios na
América Latina em cinco fases. A primeira seriam as grandes ondas pré-colombianas;
a segunda as ondas migratórias do período colonial, o terceiro ciclo seria a segunda
onda de imigração europeia que foi complementada com importantes fluxos asiáticos
(japoneses, chineses e árabes). O quarto ciclo é apresentado por Avila (2005) a partir
dos grandes fluxos de migrações internas, ou o que o autor chama de processo de
desenvolvimento para dentro. Podemos tomar como exemplo esse processo como os
fluxos migratórios dos mexicanos para os Estados Unidos e o último ciclo é caracterizado
pelos fluxos migratórios atuais, no sentido Sul-Norte.

Podemos concluir que, ora a América Latina tinha seus países como focos
de atração da imigração e no momento atual encontra-se como foco de repulsão.
Quais fatores provocam isso? O que é atração e repulsão? Os principais fatores que
condicionam os fluxos migratórios estão ligados às condições de desenvolvimento
das regiões. A economia, as relações políticas e as condições de desenvolvimento
são a base para a mudança no padrão dos fluxos migratórios em um país ou região.
A condição de país repulsor está ligada às baixas possibilidades de empregabilidade,
conflitos políticos, religiosos, desigualdades socioeconômicas. Por sua vez, os países
atrativos, são aqueles com melhores condições de desenvolvimento, melhor qualidade
de vida, melhores condições de saúde, segurança e educação. Podemos tomar como
exemplo dessas relações os Estados Unidos e o México que, segundo Avila (2005), a
comunidade mexicana nos EUA é majoritária e que os impactos decorrentes dos fluxos
migratórios causam efeitos tanto nos países de repulsão quanto nos países de atração.

Esses efeitos podem ser classificados em repulsão e atração. Ao primeiro, os


principais efeitos são gerados devido à instabilidade econômica, falta de emprego,
de oportunidades e baixos investimentos educacionais. Como efeitos dos fluxos
migratórios, essas regiões têm uma diminuição de sua população economicamente
ativa e tende a receber ativos financeiros da população que está fora de suas regiões.
Por outro lado, os fatores de atração de um país estão na melhoria da qualidade de vida,
na oportunidade de emprego, na melhoria educacional.

105
Outros fatores marcam os fluxos migratórios tais como: “desintegração familiar,
fuga de cérebros (recursos humanos qualificados), dificuldades de adaptação as culturas
diferentes, ao mercado de trabalho, vulnerabilidade social, discriminação, violação de direitos
humanos” (AVILA, 2005, p. 10). Os fluxos migratórios, portanto, apresentam uma dinâmica
que é conduzida pelas condições de desenvolvimento econômico, político, social e ambiental.

NOTA
No mundo existem instituições que dão apoio aos migrantes e aos
refugiados. Essas instituições são importantes para garantir os direitos
humanos, garantir assistência humanitária, inclusão social, laboral e
possibilitar condições dignas para migrantes ou refugiados em condições
de vulnerabilidade. Como exemplo, temos: Instituto Migração e Direitos
Humanos (IDHM); Organização Internacional para as Migrações (OIM) que é
coordenada pela Rede da Organização das Nações Unidas para Migração.
Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR).

2.1 MIGRAÇÕES NA AMÉRICA LATINA


Os fluxos migratórios na América Latina decorrem de vários períodos históricos,
como mencionado acima no subtópico 2. A partir do período colonial o impacto dos
fluxos migratórios dos países europeus sobre os países da América Latina, resultaram em
profundas marcas na cultura, no idioma, na religiosidade, na miscigenação populacional.
Além desses impactos, os processos de desenvolvimento social, econômico, político
foram frutos das migrações dos europeus para a América. Contudo, neste subtópico, nós
abordaremos o estudo dos fluxos migratórios na América Latina a partir da globalização
e das crises migratórias desta região no contexto atual.

Muitos são os desafios dos fluxos migratórios na América Latina. Com o avanço
da globalização, o crescimento econômico, as disparidades nas desigualdades sociais,
provocam grandes problemáticas nas condições de vida da maioria da população, que
precisam buscar alternativas para sobreviver. As desigualdades na América Latina
impulsionam na região grandes fluxos migratórios, seja para os países desenvolvidos ou
para os países com melhores condições dentro da própria região.

Na América Latina, os fluxos migratórios são constantes, mas muitas coisas mudaram
nas políticas migratórias, nas leis de proteção aos migrantes. Há países que determinam
restrições em torno dos deslocamentos populacionais, outros têm mais flexibilidade com os
fluxos migratórios, isso é condicionado em função do poder político que esteja no poder, ou
seja, vai entrar em questão as perspectivas do governo que esteja atuando no país.

Para André Derviche (2021, s.p.), em matéria publicada pelo jornal da Universidade de
São Paulo no dia 24 de março de 2021, “existe um movimento pendular entre esse vai e vem de

106
preferências ideológicas, a depender de qual coalização ocupa o governo”, ou seja, as políticas
migratórias, as aberturas de fronteiras e os fechamentos dessas está muito relacionado “a
uma demanda da base do governo e de seus apoiadores e da sua própria agenda

Na América Latina, nós temos um exemplo dessa mudança de políticas


migratórias em relação aos governos. Na Argentina, em 2017, o ex-presidente Mauricio
Macri promoveu alteração nas leis migratórias, como:

Programa de Informação Antecipada de Passageiros, que determinava


que, meia hora antes da saída de cada voo, as companhias aéreas
informem ao governo nome, sobrenome, passaporte, número de
voo e ticket de bagagem de todos os passageiros, caso as pessoas
tivessem cometidos crimes em seus países poderiam ser impedidas
de viajar ou deportadas, caso chegasse na Argentina (G1, 2017, s.p.).

Por outro lado, com a mudança de governo argentino, o novo presidente Alberto
Fernández, em 2021, revogou o decreto de Macri em relação à deportação de imigrantes
com antecedentes criminais. Para Andre Derviche (2021, s.p.), atualmente, “o governo
argentino sinaliza acolhimento a imigrantes com a Lei de Migração”.

Outro fator migratório que merece destaque na América Latina são as crises
migratórias, estas são provocadas por diversos fatores, políticos, econômicos, sociais,
ambientais. Nos últimos anos, entre 2019 e 2021, a crise migratória tornou-se um
fenômeno na América Latina, pois os grandes deslocamentos populacionais da
Venezuela entre os países circunvizinhos, chamou atenção do mundo, pois o grande
número de pessoas que se deslocava em busca de asilo e proteção fora muito grande.
Outro fator de migração que chamou atenção nos últimos anos, foram as mudanças
laborais no período da crise do Covid 19, com muita gente sem emprego, houve uma
crise sem precedentes na região da América Latina (MOHOR, 2021).

A crise migratória que mais chamou atenção nos últimos anos foi a crise da
Venezuela, a partir do ano de 2015, as condições econômicas e sociais do país agravaram-
se e com isso o fluxo populacional dos venezuelanos acentuou-se desde esse período de
2015 e com isso o Brasil recebeu muitos imigrantes em seu território, principalmente, na área
de fronteira, região norte do Brasil, no estado de Roraima. Os destinos dos venezuelanos
são os mais diversos, a tentativa para sair das condições precárias da região, faz com que
os cidadãos que se deslocaram para outras regiões enfrentassem diversas dificuldades, o
que torna o processo de migração mais difícil, pois muitas pessoas estão em condições
de vulnerabilidade e com isso precisam de apoio das instituições de ajuda humanitária.
Os principais pontos de passagem de migrantes na América Latina são sujeitos a riscos
a própria vida, pois são passagens ilegais. De acordo com a Santacecilia (2021, s.p.), na
América Latina muito migrantes “se movem a pé, utilizam cruzamentos fronteiriços
irregulares e atravessam rios, selvas, montanhas e desertos, assim como cruzando o
mar em embarcações não adequadas a esse fim”. São passagens arriscadas, que levam
a problemas como “sequestros, tráficos humanos, violência sexual, violência de gênero,
exploração laboral, extorsão por gangues e grupos criminosos” (SANTACECILIA, 2021, s.p.).

107
Diante de graves crises migratórias, cabe aos países fornecer ajuda humanitária
aos migrantes, pois a condição de vulnerabilidade estabelecida por meio das crises impacta
a vida de crianças, mulheres, adolescentes, adultos, ou seja, todos os grupos populacionais,
que se deslocam em busca da sobrevivência e na esperança de recomeçar sua vida.

2.2 FLUXOS MIGRATÓRIOS NA AMÉRICA DO SUL


Os fluxos migratórios intrarregionais na América do Sul têm se acentuado nos
últimos anos em virtude do crescimento econômico de alguns países e da facilidade de
conseguir trabalho e os documentos de residências. Os países que constituem a América
do Sul são: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru,
Suriname, Uruguai e Venezuela. Com as dificuldades de imigrar para a Europa e para os
Estados Unidos as migrações inter-regionais se intensificaram.

Os fluxos migratórios na América do Sul, tanto de entrada quanto de saída


populacional mudou muito nos últimos anos. Com a crise econômica de 2008, as
imigrações para o Brasil, Argentina e Equador foram acentuadas com a chegada de
haitianos, senegaleses, filipinos e bengalis, cubanos, sírios, bolivianos e venezuelanos
(UEBEL; ABAIDE, 2018).

Para Uebel e Abaide (2018), esses grupos apresentam características em comum


nos fatores migratórios. Os autores destacam que em torno de "25 mil cubanos passaram
a residir nos países sul-americanos desde 2001 até 2006” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 56).

Os principais países que receberam fluxos migratórios dos cubanos foram: o


Peru, Argentina, Brasil e a Colômbia. Já os fluxos migratórios dos haitianos, que se deu
a partir de “2010, com o terremoto e depois em 2016 com o furacão Matthew de 2016.
São em torno de 100 mil haitianos vivendo na América do Sul, os quais estão em países
como, Brasil, Argentina e Equador” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 56).

Outro caso apontado pelos autores são os fluxos migratórios dos senegaleses,
estes são em 25 mil e cujos países: Brasil, Argentina e Chile centram os maiores grupos
de migrantes desse país. A dinamicidade das migrações revela na América do Sul, uma
região atrativa e facilitadora dos fluxos migratórios. Os sírios são outro grupo populacional
que se expandiu para o Brasil. É um grupo populacional que também enfrenta diversos
desafios, tais como, adaptação cultural e adaptação linguística (UEBEL; ABAIDE, 2018).

Uma das situações mais delicadas dos fluxos migratórios é a “situação das famílias
bengalis e filipinas, cujo principal destino são as Guiana Francesa, Guiana, Suriname
e o Brasil” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 61). Temos as famílias bolivianas que segundo
Uebel e Abaide (2018), “a imigração boliviana domina os rankings migratórios de Brasil,
Argentina, Chile, Peru, Equador e estão entre os principais grupos no Paraguai, Venezuela
e Colômbia” (UEBEL; ABAIDE, 2018, p. 61). Por fim, temos as famílias de venezuelanos
que nos chamam atenção desde 2016, pois desde esse período as crises econômicas,

108
políticas, sociais e democráticas fragilizaram as condições de desenvolvimento do país.
Esses fluxos inter-regionais evidenciam as fragilidades econômicas, políticas e sociais
da América do Sul, assim como, destacam os principais países receptores de migração
e as constantes mudanças provocada pela inserção populacional nos países.

2.3 FLUXOS MIGRATÓRIOS DO MÉXICO PARA OS ESTADOS


UNIDOS
Você já deve ter ouvido falar sobre os conflitos migratórios entre os Estados
Unidos e o México, ou sobre, as barreiras nas fronteiras e a tentativa de muitas pessoas
passarem pelas fronteiras sem serem percebidos pelos policiais. Por outro lado, você
também já ouviu sobre imigração ilegal, deportação, exploração da força de trabalho
dos imigrantes. Esses são algumas informações que a maioria da população sabe sobre
os fluxos migratórios do México para os EUA.

De acordo com Dias (2008, p. 12), “o início da emigração mexicana rumo ao


Norte poderia apontar-se para 1848, ano em que se firmou o Tratado de Guadalupe
Hidalgo, pelo qual o México se viu forçado a ceder aos Estados Unidos quase metade do
seu território, incluindo áreas hoje de intensa presença mexicana como a Califórnia, o
Arizona e parte do Novo México”.

Neste sentido, podemos compreender que as relações entre os fluxos migratórios


do México para os Estados Unidos é motivo de conflitos constantes. O México é um país
subdesenvolvido que faz fronteira com os Estados Unidos, maior potência econômica
mundial. Logo, é natural que as pessoas que estejam em condições de vulnerabilidade
tendam a querer migrar para regiões mais desenvolvidas. De acordo com Morales (2009,
p. 6), “o México é um dos países latino-americano com maior número de emigrantes”.

Os emigrantes, são pessoas que saem do seu local de origem e tendem a


imigrar para outro país ou região. Neste sentido, historicamente, os fluxos imigratórios
são acentuados para os Estados Unidos. Os grandes fluxos migratórios para os EUA
têm como base o sonho americano, que consiste numa “ideia popular, divulgada após
a independência, que afirmava em documento que todos os homens são criados da
mesma forma e tem como princípios básicos a liberdade, a vida, a propriedade e a busca
pela felicidade. Isso resultou em um imaginário de um país livre, totalmente desenvolvido
e democrático” (ORAZEM, 2021, s.p.).

Esse imaginário torna-se atrativo para migrantes do México e de outros países.


O México torna-se a porta de entrada para que pessoas de outros países tenham acesso
ao sonho americano. Mas, o sonho pode tornar um pesadelo quando muito migrantes se
deslocam de forma irregular, sujeito a deportação, exploração, violência, desaparecimento
etc. A tentativa de entrar irregular no país coloca em risco a vida dos migrantes.

109
O controle dos fluxos migratórios nos Estados Unidos foi intensificado a partir
de 11 de setembro de 2001 e isso gerou vários tipos de violências aos migrantes. O
controle excessivo está delimitado por Leis, barreiras naturais, como montanhas e rios e
barreiras artificiais, como a criação de muros. Para Moreira, a decisão de migrar não está
apenas atrelada à vontade individual, para ele “existe uma cadeia de estruturas e atores
sociais que condiciona essa decisão” (MOREIRA, 2016, p. 3).

Para Moreira (2016, p. 3):

Existe uma cadeia de estruturas e atores sociais que condiciona


essa decisão. [...] A passagem pelo México tem um significado não
só para os migrantes, mas para os círculos sociais que lhes apoiam,
as redes criminosas que lucram com eles, as instituições financeiras
que lucram com as remessas e as instâncias públicas que procuram
dar um enquadramento legal à migração. Acrescenta-se a isso a
demanda pela força de trabalho migrante no local de destino. Não
se pode dizer que o migrante é estruturalmente lesivo à sociedade
e à economia dos Estados Unidos. Pelo contrário, nem é por isso
que o migrante é levado à condição de indocumentado ou “ilegal”.
Existe aqui uma dialética de atração e repulsão, em que o sistema
capitalista em crise necessita explorar a força de trabalho precária
do migrante indocumentado para aumentar a taxa de lucro, e só
pode fazê-lo se o migrante for levado à condição de indocumentado
desde o início do processo, e mantido nela. Os fluxos migratórios aos
Estados Unidos, passando pelo México, não são espontâneos, mas
provocados e delimitados por atores e estruturas que se aproveitam
da travessia e da força de trabalho dos migrantes indocumentado.

Essas estruturas revelam como se torna necessário manter desigualdades


socioeconômicas nos países e vender a ideia de que os países desenvolvidos são os
espaços que podem melhorar a vida dos imigrantes. Isso leva a uma problemática
estrutural que tem impactos na vida do migrante bem como na família dele. Isso causa
efeitos diversos, econômicos, políticos e sociais, como veremos no próximo subtópico.
Por outro lado, hoje o México já não é apenas considerado como país de trânsito
migratório para os EUA. O país passou a ser considerado como “uma nação de acolhida
e que tem como objetivo no ano de 2021 superar a cifra inédita de 100.000 solicitações
de asilo” (TORRADO et al., 2021, s.p.).

3 EFEITOS DEMOGRÁFICOS, ECONÔMICOS, POLÍTICOS E


SOCIAIS DOS FLUXOS MIGRATÓRIOS
Para a Declaração Universal de Direitos Humanos, migrar é um direito humano.
Esse direito pertence a qualquer pessoa, etnia, cultura etc., contudo, os Estados têm
limitado esse direito de migração, impondo barreiras e leis cada vez mais severas para
os fluxos migratórios. Neste sentido, o direito de migrar passa a ser dificultado para
muitas pessoas que migram em busca de melhores condições de vida e que não têm

110
condições em seu país de origem. Contudo, é importante, ressaltarmos aqui que, os
fluxos migratórios não causam apenas impactos nos países receptores de imigrantes,
os impactos também são causados desde o país de origem desses emigrantes.

Podemos dividir os países, para compreendermos os efeitos migratórios, em


países de atração e países de repulsão. Os primeiros são atrativos devido às condições
de desenvolvimento e possibilidades de conseguir emprego e melhorar de vida. Por
outro lado, os países de repulsão são aqueles que apresentam menores condições de
desenvolvimento, baixos índices de empregabilidade e dificuldades sociais e econômicas.

Neste sentido, os efeitos são distintos para cada país, seja os de atração ou os
de repulsão. Contudo, o próprio migrante também sofre com algumas problemáticas,
como dificuldade de adaptação, preconceito, dificuldade de moradia etc.

Os países de atração tendem a ter um crescimento populacional, em virtude dos


intensos fluxos migratórios, apresentam maiores índices populacionais, maiores ofertas
de mão de obra, muitas vezes, essas são precarizadas. Muitos postos de trabalho desses
países de atração são ocupados apenas por imigrantes, tais como, bares, restaurantes,
supermercados, açougues, postos de gasolina, trabalhos de baixa remuneração. Por outro
lado, os países de repulsão, normalmente, perdem sua força de trabalho ativa, ou seja, a
PEA, pois muitos que estão em idade de trabalhar, nestes lugares, tendem a migrar.

Outro fator que chama atenção é a diminuição da população, mas, normalmente,


muitos ativos financeiros são enviados para as famílias que ficaram para trás, o que
consequentemente, evidencia a possibilidade de movimentar a economia das regiões
repulsoras com ativos enviados pelos migrantes.

Para Rosa Pérez Perdomo (2007, p. 111), “as pessoas que emigram levam consigo
sua própria cultura, hábitos, costumes, religião, crenças e estados de saúde”.

Além dos desafios que são encontrados do ponto de vista econômico, têm-se
os sociais, pois o emigrante precisa “adotar um novo ambiente social e cultural que o
pode levar a redefinir seu sistema de valores” (PERDOMO, 2007, p. 112).

Como também, sofrem com as condições de adaptação, procura de emprego,


enfrentamento a preconceitos, mas principalmente o emigrante perde suas redes de
apoio social e passa a sofrer com o isolamento ou marginalização no novo país. Portanto,
as implicações decorrentes do processo migratório, vão além de impactos demográficos e
econômicos, estas impactam a vida do imigrante, que sofre dificuldades no âmbito social,
econômico e enfrente outras variáveis que podem agravar o processo de adaptação, como
“barreiras de linguagem e os preconceitos sociais e étnicos” (PERDOMO, 2007, p. 112).

111
3.1 CRISES MIGRATÓRIAS NA AMÉRICA LATINA
Crises migratórias podem ser consideradas a problemática de um grande número de
pessoas que se deslocam para outras regiões por conflitos políticos, econômicos, escassez
alimentar, escassez hídrica, intolerância religiosa, problemas ambientais, entre outros
fatores. Essa crise normalmente provoca grande deslocamento populacional, em situação
de desespero, para chegar a algum país que possa dar asilo para os refugiados que estão
fugindo dos seus locais de origem. Na América Latina, as crises migratórias nos últimos anos
estiveram centradas no grande deslocamento populacional dos haitianos e venezuelanos.
Os haitianos têm ganhado destaque nos fluxos migratórios com o a destruição ocorrida no
Haiti em 2010 por conta do terremoto. Essa destruição causou muitos problemas sociais e
econômicos e muitos viram na migração a possibilidade de recomeçar.

Os haitianos ainda continuam migrando dentro da América Latina, inicialmente,


os principais países foram o Brasil e o Chile, atualmente, segundo Torrado et al. (2021,
s. p.), intitulado: “O êxodo silencioso dos haitianos na América”, relata um pouco dessa
migração contínua, que hoje está centrada na região de fronteiras da Colômbia e do
Panamá. Ainda assim, de acordo com Torrado et al. (2021), até agosto de 2020, eram mais
de 143.000 haitianos no Brasil, estes em sua maioria estão concentrados em São Paulo e
Rio Grande do Sul. Na década de 2010 a 2020, muitos haitianos conseguiram residência
permanente no Brasil. As principais razões para isso foram por “razões humanitárias”,
pois, as condições de desenvolvimento no Haiti ainda são bastante precárias. No que
se refere ao fluxo migratório dos venezuelanos, estes têm se deslocado devido à crise
política e econômica do país. A Venezuela tem enfrentado uma crise sem precedentes,
chegando a faltar produtos básicos e alimentos para a população. Essa crise fez com que
muitos venezuelanos migrassem para outros países, como: Colômbia, Chile, Equador,
Argentina, Peru e Brasil. De acordo com o “Alto Comissariado das Nações Unidas para
Refugiados (ACNUR) e da Organização Internacional para as Migrações (OIM), há mais de
4,6 milhões de venezuelanos fora do seu país” (CHIARINI, 2019, s.p.).

Para o país receptor receber grandes fluxos migratórios é um desafio, em nosso


caso, o estado de Roraima foi um estado que sofreu, e ainda sofre, com a chegada dos fluxos
populacionais. Sem infraestrutura adequada para grandes contingentes populacionais, o
enfrentamento a situação de migração e o apoio do estado são necessárias para que
o imigrante possa ter condições de moradia, escolaridade e trabalho. Neste sentido, os
imigrantes enfrentam diversas dificuldades para além das quais eles fugiram do seu local
de origem, isso revela uma grande aversão dos estrangeiros pelo povo brasileiro, ou seja,
a xenofobia, é outro fator que impacta na vida dos migrantes, nas condições sociais e
econômicas. Por fim, o Estado, enquanto nação deve conseguir desenvolver políticas
públicas para inserir as populações em condições de vulnerabilidade social.

112
3.1.1 Xenofobia
O termo xenofobia refere-se ao medo que as pessoas têm do estrangeiro,
ou refere-se ao “ódio, receio, hostilidade e rejeição em relação aos estrangeiros” (LA
GARZA, 2011, p. 1). De acordo com La Garza (2011, p. 1), a xenofobia é uma “discriminação
por preconceitos religiosos, históricos, culturais e nacionais) isso leva a uma segregação
do imigrante”. A Convenção Internacional Sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial (LA GARZA, 2011, p. 1) afirma que “uma das formas mais comuns
da xenofobia, é o racismo. Para a Convenção Internacional no Brasil, em seu Art. 1º parte
I, destaca que a expressão “discriminação racial” significa qualquer distinção, exclusão,
restrição ou preferência baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou
étnica” (LA GARZA, 2011, p. 1).

A xenofobia é a causa de atos violentos, atos preconceituosos, atos de injustiças,


discursos de ódio contra os imigrantes em determinados países. Os trabalhadores
migrantes são vistos como intrusos no mercado de trabalho do país de entrada. A
xenofobia também é expressa em discursos de que os imigrantes são os responsáveis pelo
aumento da criminalidade, da pobreza, da desigualdade social em alguns países. Contudo,
a xenofobia se expressa de maneira diferente entre os imigrantes, pois há fatores que
devem ser levados em consideração. A aversão pode ser por origem geográfica, gênero,
etnia, classe social, religião. A depender dos casos em questão a xenofobia se manifesta
de maneira bem distinta entre diferentes grupos. No Brasil, a xenofobia é crime de acordo
com a Lei nº 7.716, de janeiro de 1989. Em seu artigo 1º a lei afirma que “serão punidos, na
forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia,
religião ou procedência nacional” (MORAIS, 2018, s. p.).

113
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As migrações são deslocamentos populacionais e têm diversos fatores: políticos,


econômicos e ambientais. E que as migrações podem ser consideradas como
migração espontânea e migração forçada.

• As migrações podem ter aspectos positivos e negativos, e no contexto da


globalização as migrações tornaram-se bastante evidentes na economia mundial.

• As migrações ocorrem em dois grandes sentidos: Sul e Norte, essa realidade ainda
se dá em função das disparidades econômicas entre as regiões centrais e as regiões
periféricas.

• Há diferença entre os refugiados e migrantes. Os refugiados “são pessoas que estão


deixando sua nação devido a perseguições” e os migrantes saem voluntariamente
do seu local de origem.

• Há diferentes intencionalidades no fluxo migratório, e que na América Latina, esses


fluxos são distintos, mas, têm muita coisa em comum, como a precarização da
mão de obra do trabalhador migrante, os impactos sociais, econômicos, políticos e
demográficos que atingem o migrante e ao empresário.

• A xenofobia é uma aversão ao estrangeiro e no Brasil é considerada crime.

114
AUTOATIVIDADE
1 As migrações podem ser consideradas como um fenômeno que está na base da
formação da sociedade, pois os deslocamentos populacionais estão presentes em
diversos momentos históricos. Nos dias atuais, as migrações podem ser classificadas
como migração por crises ambientais, crises políticas, guerras civis, busca por trabalho,
estudo, fuga de cérebros, ou seja, há diversos motivos para os fluxos migratórios. Tendo
isso em vista, sobre as diversas formas de migrações, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As migrações internacionais entre os países do Sul-Norte têm como fator principal


as disparidades econômicas entre os países. Nos países do Sul, as condições
de desigualdades sociais provocam grandes deslocamentos populacionais. Nos
países do Norte, por sua vez, por terem melhores condições de desenvolvimento
são considerados países mais atrativos para os fluxos migratórios.
b) ( ) A intensificação dos fluxos migratórios nos últimos anos decorre da abertura de
fronteiras dos países desenvolvidos, pois a maioria dos países mais ricos precisa de
mão de obra, devido à maior parte de sua população ser mais idosa, isso faz com
que a maioria dos países ricos, facilitem a entrada de imigrantes em seus países.
c) ( ) Com o avanço da globalização, a expansão das empresas nos países
subdesenvolvidos e a melhoria da condição de vida dos países da América Latina,
os fluxos migratórios têm diminuído nos últimos anos, pois não se tem mais a
necessidade de migrar para conseguir emprego. A globalização permitiu que os
países mais pobres ampliassem seus postos de emprego.
d) ( ) As migrações na América Latina decorrem principalmente da busca por melhores
condições de estudos, emprego. Os países que mais são atrativos dentro da
América Latina são: Uruguai, Paraguai, Chile, Brasil e Venezuela.

2 Considera-se que a migração é um direito humano, isso está definido na Declaração


Universal de Direitos Humanos. Neste sentido, o direito de migrar é atribuído a qualquer
pessoa, etnia, cultura etc., mas, nos últimos anos, esse direito vem sendo limitado por
muitos países que têm políticas migratórias restritivas, pois compreendem que os
fluxos migratórios geram problemas para o desenvolvimento de seus países. Com
base no texto acima, analise as sentenças a seguir:

I- O México já não é apenas considerado como país de trânsito migratório para os EUA
O país passou a ser considerado como “uma nação de acolhida”.
II- O Brasil é um dos países da América Latina que mais controla os fluxos migratórios,
nos últimos anos, devido à grande entrada de imigrantes do Haiti e da Venezuela.
III- O controle dos fluxos migratórios nos Estados Unidos foi intensificado a partir de 11
de setembro de 2001 e isso gerou vários tipos de violências aos migrantes.

115
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 De acordo com a Lei nº 9459, de 13 de maio de 1997, serão punidos os crimes “resultantes
de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.
Com base nessa lei a xenofobia é considerada crime. Com base no termo xenofobia,
classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Podem ser considerados xenofobia, atitudes e comportamentos discriminatórios


com os estrangeiros, ao migrante, ao refugiado.
( ) O Brasil por ser um país muito acolhedor, as pessoas que chegam aqui na condição
de migrante ou refugiado, não sofrem com xenofobia, pelo contrário, existe apoio e
acolhimento da população brasileira para ajudar o estrangeiro.
( ) Para O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, com o aumento
da migração no mundo, devido ao aumento dos deslocamentos populacionais
forçados, como guerras, perseguições políticas, violação dos direitos humanos,
crises econômicas, a xenofobia e intolerância crescem na mesma medida.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Crises migratórias podem ser consideradas a problemática de um grande número


de pessoas que se deslocam para outras regiões por conflitos políticos, econômicos,
escassez alimentar, escassez hídrica, intolerância religiosa, problemas ambientais,
entre outros fatores. Essa crise normalmente provoca grande deslocamento
populacional, em situação de desespero, para chegar a algum país que possa dar asilo
para os refugiados que estão fugindo dos seus locais de origem. Disserte sobre uma
das maiores crises migratórias da atualidade na América Latina, os deslocamentos
populacionais em massa da Venezuela para outros países.

5 Os fluxos migratórios causam impactos nos países receptores de imigrantes e nos


países deixados por estes. Podemos dividir os países, para compreendermos os efeitos
migratórios, em países de atração e países de repulsão. Os primeiros são atrativos
devido às condições de desenvolvimento e possibilidades de conseguir emprego e
melhorar de vida. Por outro lado, os países de repulsão são aqueles que apresentam
menores condições de desenvolvimento, baixos índices de empregabilidade e
dificuldades sociais e econômicas. Neste sentido, disserte sobre os impactos dos
fluxos migratórios nos países de atração e nos países de repulsão.

116
UNIDADE 2 TÓPICO 3 -
ECONOMIA DOS PAÍSES
LATINO-AMERICANOS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a economia dos países latino-americanos.
Os principais países que abordaremos, neste tópico, serão o México e suas relações
econômicas com a América Anglo-Saxônica. Falaremos também dos países que mais
têm destaque na economia na América Central e na América do Sul. Além da questão
econômica, nós abordaremos a questão dos governos militares na América Latina,
principalmente, no Brasil, na Argentina e na Venezuela. Falar da política desses países
implica falar da posição destes nas condições econômicas mundiais, em seu contexto
histórico e atual. Por fim, abordaremos a questão do Mercado Comum do Sul, sobre
sua criação, suas características e sobre os países membros. O MERCOSUL é o bloco
econômico mais importante da América Latina, principalmente para a América do Sul,
este bloco é responsável por 69,2% do PIB da região.

A economia dos países da América Latina tem passado por vários desafios,
com uma estrutura econômica baseada na agricultura, pecuária, extrativismo e
industrialização, os países da América Latina ainda possuem baixas condições de
desenvolvimento. E mesmo que algumas economias se destaquem, como é o caso
do Brasil, do Chile, do México, muitos países, assim como os citados anteriormente,
vêm passando por uma profunda crise, altas inflações, fechamento de mercados,
crescimento do subemprego, precarização do trabalho, aumento do trabalho informal,
todas esses problemas, antes já existentes, foram agravados entre os anos de 2020 e
2021 em virtude, da pandemia da COVID-19.

De acordo com o Estudo Econômico da América Latina e do Caribe 2021,


publicado pela Cepal (2021, p. 7), a economia da América Latina tem um novo desafio,
pois com a COVID-19 “as perspectivas econômicas mostram crescentes divergências
entre os países”, alguns retomaram suas atividades econômicas e tendem a se recuperar
e outros, em função da falta de políticas governamentais para auxiliar a população e no
empenho em aplicar vacinas, para retomar as atividades, as condições de desigualdades
aumentaram muito, diminuindo o poder de compra das populações, aumentando a
insegurança alimentar e isso implica um baixo desenvolvimento na região.

O estudo da economia dos países latino-americanos revela as diferenças


produtivas na região e o alto índice de desemprego, fechamento de empresas, baixos
investimentos. Neste sentido, nos próximos subtópicos, deteremos nosso estudo sobre
essas problemáticas relacionando-as às principais economias da América Latina.

117
2 PRINCIPAIS ECONOMIAS DA AMÉRICA LATINA
As dez maiores economias da América Latina são: Argentina, Brasil, Bolívia,
Chile, Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai. Observe o mapa para
localizar os países.

FIGURA 2 – PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

FONTE: Silva e Silva (2016, p. 45)

118
Todo país tem características que marcam o seu desenvolvimento econômico,
estabelece relações com o mercado interno e com o mercado regional. Todavia, a
predominância da economia na região ainda está centrada no setor primário, como o
extrativismo, mineração e agropecuária.

Na industrialização, os países da América Latina, iniciaram de forma tardia. Brasil,


Argentina, México e Chile são países que tiveram impulso na industrialização com a Segunda
Guerra Mundial, pois os países que estavam em guerra tinham dificuldades de exportar
e importar os produtos que necessitavam. Com isso, Brasil, Argentina, México e o Chile
tornaram-se foco das empresas para a expansão industrial, que se tornou tardia em relação
aos países desenvolvidos, dos quais, muitos países latino-americanos são dependentes.

As condições econômicas dos países latino-americanos são muito parecidas,


são economias que tiveram como base a colonização. Tem base de dependência, altas
concentração fundiária e desigualdade social, assim como apresentam altas inflações
e altos impostos. As economias desses países, atualmente, especificamente no século
XXI, têm enfrentado grandes desafios devido ao avanço neoliberal em seus territórios,
que contribuem para agravar ainda mais os problemas socioeconômicos da região,
favorecendo o fortalecimento do capital.

No contexto pandêmico, a partir do ano de 2020, a crise sanitária da COVID-19,


escancarou ainda mais as problemáticas da região, assim como a economia mundial,
que teve uma retração, a América Latina se viu diante de uma problemática sem
precedentes. Essa retração implica a diminuição da produção, circulação e consumo.
No contexto da América Latina, muitos países que mantêm fortes relações econômicas
com os países da Europa e da Ásia viram sua economia despencar devido à crise
sanitária. De acordo com a Cepal (2020, p. 5), “a crise desencadeou uma contração do
comércio internacional, resultando sob flutuação de preços, volatilidade dos mercados
financeiros”, isso decorreu das medidas necessárias para combater a COVID-19, como
as medidas de confinamento adotada por muitos países. Isso impactou vários setores
da economia. As principais economias como, Brasil, México, Argentina, entre outras,
sofreram bastante com a queda na economia em virtude da pandemia. Segundo o Banco
Mundial (2022, s. p.), “a pandemia da COVID-19 expôs o Brasil a um desafio sanitário e
econômico sem precedentes. Trouxe incertezas à estrutura de política macroeconômica,
principalmente ao cenário fiscal, o que se traduz em riscos negativos que requerem uma
forte consolidação fiscal e a adoção de reformas estruturais”.

Contudo, não só o Brasil sofreu com os problemas decorrentes da pandemia,


os países da América Latina, que já apresentam baixas condições de desenvolvimento,
tiveram bastante dificuldades na adaptação das restrições sanitárias. O aumento do
desemprego e da informalidade na região aumentou e gerou além da crise da saúde,
o agravamento da crise econômica, já vivenciada pela maioria dos países latino-
americanos. Mesmo diante dessa conjuntura, para a Bárcena (2021, s. p.) “a América
Latina e o Caribe crescerão em 2021”.

119
Para Alicia Bárcena (2021, s. p.), secretária-executiva da Cepal, esse crescimento
pode ser explicado “por uma baixa base de comparação [...] além dos efeitos positivos
derivados da demanda externa e da alta nos preços dos produtos básicos (commodities)
exportados pela região, bem como pelos aumentos da demanda agregada”.

DICA
No site da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe são
disponibilizados vários estudos de pesquisas, relatórios, coleções de
livros, monografias, documentos de reuniões e conferências. Esses
documentos englobam temas como: assuntos de gênero, agenda 2030
para o desenvolvimento sustentável, Covid-19, Comércio internacional,
desenvolvimento econômico, produtivo, empresarial, social e sustentável,
além de dados sobre estatísticas dos países latino-americanos em diversos
campos de pesquisa, como população, recursos naturais, infraestrutura,
gestão pública e planejamento. Para saber sobre essas informações não
deixe de acessar o site da Cepal: https://www.cepal.org/pt-br.

2.1 MÉXICO
País localizado na América do Norte. Na divisão socioeconômica, encontra-se
na região da América Latina. Concentra sua população em áreas urbanas. É um país
marcado por grandes fluxos migratórios para os Estados Unidos, assim como local de
passagem de migrantes para o EUA

Segundo o Instituto Nacional de Estatística e Geografia do México (INEGI, 2021),


o país tem 125.200.000 habitantes em 2018, a religião predominante é a católica com
88% da população. Por outro lado, os protestantes e evangélicos são 5,2% da população
e 4,3% professam outras religiões.

O México é considerado, desde 1917 uma República representativa, democrática,


laica, federal, composta de estados livres. Constitui-se de 31 estados. A capital do país é
a Cidade do México, a média da expectativa de vida é de 75 anos. Em 2019, constatou-
se que 41,9% da população vivia em situação de pobreza.

A economia do México mantém fortes relações com os Estados Unidos e com


os países da América Latina. De acordo com a Organização Mundial do Comércio, o
México é 11º exportador do mundo e o 12º importador.

De acordo com a site do Banco Santander (VALORES [...], 2021, s.p.), o México
“exporta principalmente veículos e peças, máquinas de processamento de dados
automáticos, combustíveis minerais, petróleo e maquinário. Quanto às importações, o
México adquire óleos de petróleo, outros que não o bruto, parte de veículos e circuitos
eletrônicos integrados”.

120
Com uma economia extremamente dependente, o México relaciona-se com
os Estados Unidos que compram mais de ¾ de suas exportações, além dos EUA, o
México mantém relações com os países da União Europeia e o Canadá. No que tange às
importações, o país concentra nos Estados Unidos, China, União Europeia e no Japão.

O México mantém acordos econômicos com vários países, mas o principal


acordo é com os Estados Unidos e o Canadá. Esse acordo, desde 1994, era conhecido
como Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (NAFTA), porém, em julho de 2020,
esse tratado foi atualizado para um novo acordo entre os países e substitui o NAFTA
pelo USMCA, sigla correspondente ao nome dos países. Esse novo acordo oficializado
no governo de Donald Trump objetiva o protecionismo dos Estados Unidos, no contexto
de um mercado mais livre, seguro e favoreça o crescimento econômico. As mudanças
desse acordo são (VALORES [...], 2021).

QUADRO 1 – MUDANÇAS DO ACORDO ECONÔMICO EUA, MÉXICO E CANADÁ: DO NAFTA AO USMCA

• Setor automotivo: o novo acordo pretende impedir que indústrias se transfiram


para locais de mão de obra mais barata. A ideia é que cerca de 75% das peças de
um carro sejam fabricadas nos Estados Unidos por trabalhadores que recebam em
média 16 dólares por hora.
• Setor de laticínios: o Canadá concordou em diminuir as barreiras do setor de
laticínios, já que o governo dos Estados Unidos classificava a proteção dos produtos
lácteos injusta com altas tarifas de importação. Assim, amplia-se o mercado de
laticínios entre Canadá e Estados Unidos.
• Validade do acordo: o acordo deixará de vigorar em dezesseis anos.
• Propriedade intelectual: aumento a proteção, oferecendo-a a farmacêuticos
e inovadores agrícolas. Essa proteção também está direcionada para os direitos
autorais de escritos e compositores.
• Comércio eletrônico: USMCA veta produtos aduaneiros distribuídos digitalmente,
como livros e jogos.
FONTE: Adaptado de Sousa (2022)

Os acordos comerciais são necessários para que os países possam abrir seus
mercados, eliminar as barreiras alfandegárias, contribuir para dinamizar a economia e
consequentemente impulsionar o aumento da produtividade e fortalecer as relações
políticas entre os países membros.

Para os países subdesenvolvidos como o México, ter relações comerciais que


impactam sobre a economia, geração de emprego e renda, viabilizam o aumento
produtivo do país, por outro lado, acabam se subordinando aos interesses dos países
mais desenvolvidos economicamente.

Podemos constatar isso com a instalação das empresas maquiladoras no


território do México a partir da década de 1960. De acordo com Arrieta (2022, s.p.),

121
as empresas maquiladoras são aquelas que realizam a manufatura
parcial, encaixe ou empacotamento de um bem sem que sejam as
fabricantes originais. Ou seja, são fábricas de encaixe, manufatureiras
e de serviços, destinadas à transformação, elaboração ou reparo de
mercadorias de procedência estrangeira cujo destino principal é a
exportação para os Estados Unidos.

A instalação das empresas maquiladoras no México resultaram de um


acordo com os Estados Unidos na década de 1960, “estabeleceu-se a Política de
Fomento à Indústria Maquiladora de Exportação em coordenação com o Programa de
Industrialização da Fronteira Norte” (ARRIETA, 2022, s.p.).

Esse acordo tinha como objetivo aumentar as condições de trabalho no México, mas
principalmente diminuir os fluxos migratórios para os Estados Unidos. Isso foi possível devido
aos benefícios que o governo mexicano cedeu às grandes indústrias, que se expandiam pelos
países mais pobres em busca de diminuir os custos de produção e aumentar seus lucros.

Portanto, o México, como país periférico, beneficiou a lógica das grandes


empresas dando a elas: “cargas tributárias nulas, baixos custos de transporte, normas
ambientais débeis, custo trabalhista mínimo” (ARRIETA, 2022, s.p.). Essas empresas
impactam sobre a vida da população mexicana, os trabalhadores sofrem condições de
precarização salarial e trabalhista e se submetem a essas empresas pela necessidade
de sobrevivência. De acordo com Baumgratz e Cardin (2019, p. 90),

a maquila não pode ser pensada como maneira exclusiva de


desenvolvimento do país. Ela requer uma força de trabalho barata
para garantir o lucro das indústrias, gerando a longo prazo uma
superexploração de uma força de trabalho desqualificada e [...] o lucro das
empresas são investidos no país de origem, o imposto cobrado é baixo,
e parte dele ainda pode ser revertido para a empresa, sem mencionar os
danos ambientais causados e muitas vezes não considerados.

Portanto, as empresas maquiladoras ao mesmo tempo que contribuem para


o desenvolvimento da economia mexicana, diminuindo o desemprego, por exemplo,
ainda assim provocam uma extrema dependência do México em relação aos Estados
Unidos, o que permite ainda um intenso fluxo migratório na região.

2.1.1 Relações econômicas do México com a América Anglo-


Saxônica
As relações econômicas do México com os países da América Anglo-Saxônica,
Estados Unidos e Canadá destacam-se pelo acordo político com o NAFTA em 1994 e
que hoje é um acordo denominado USMCA (sigla referente ao nome dos países Estados
Unidos, México e Canadá).

Essas relações entre dois países mais desenvolvidos economicamente e um


país com baixo desenvolvimento estabelece acordos nas exportações, importações,

122
fluxo de mercadorias e serviços, legislações alfandegárias e consequentemente a
dominação dos mais desenvolvidos sob o menos desenvolvido.

Contudo, em nosso estudo, queremos destacar a forte relação do México com os


Estados Unidos, inicialmente conflituosa desde a Guerra que os dois países tiveram entre
os anos 1946-1948. Atualmente, essa relação se dá no campo econômico, através da
USMCA, das trocas comerciais, exportações e importações e das empresas maquiladoras.

Economicamente, a integração dos países latino-americanos é muito


importante. O México, por exemplo, tem uma forte dependência dos Estados Unidos,
por outro lado, essa relação é econômica, pois, na circulação de pessoas, o México e os
EUA têm conflitos constantes por serem países de região de fronteira entre si.

No entanto, esse conflito não está ligado apenas às migrações, o México é um


país subdesenvolvido, que apresenta altos índices de desigualdade social, com isso
aceita as imposições estadunidenses e continua um país extremamente dependente
dos EUA nas relações econômicas.

Além dessa dependência, os conflitos são constantes entre os dois países e


para Naddi (2015), esses conflitos se dão em função das relações estabelecidas ao
longo do tempo, como os conflitos territoriais. Vejamos a fala dela:

Os conflitos ocorridos entre estes dois países, pautados principalmente


no aspecto territorial, faz com que o México baseie sua desconfiança jus-
tamente sob este ímpeto expansionista e intervencionista estaduniden-
se. Por outro lado, os Estados Unidos, possuindo instituições mais madu-
ras, desconfia das instituições, governo e estrutura social mexicana, pois
entende esta instabilidade de seu vizinho do sul como uma ameaça à sua
segurança nacional. A partir dos governos desenvolvimentistas mexica-
nos no século XX, a histórica desconfiança entre os vizinhos foi adminis-
trada por meio de uma troca de garantias. Enquanto os Estados Unidos
não interviessem na democracia mexicana e em sua autonomia externa,
o México garantiria sua estabilidade interna no sentido de não perturbar a
segurança nacional dos Estados Unidos (NADDI, 2015, p. 81.

Naddi (2015) nos ajuda a compreender como os dois países estabelecem


relações diplomáticas para garantir a segurança nacional dos EUA e a democracia
mexicana. Mas, isso não é tão fácil de se estabelecer, uma vez que, o México por ser
menos desenvolvido e está no limite territorial com os EUA, é a área de maior acesso
para os fluxos migratórios, tanto de migrantes estrangeiros quanto do próprio país.

A relação entre o México e os EUA é marcada pelo comércio produtivo e pela


expansão das maquilas, como falamos anteriormente.

O sistema empreendido pelas maquiladoras, de importação de


produtos de alto valor agregado para aplicação de trabalho com o uso
extensivo de mão de obra, e posteriormente, reexportação destes ao
mercado estadunidense, cria uma relação de dependência entre as
exportações e importações (NADDI, 2015, p. 81).

123
É nessa dependência que ocasiona falta de dinamismo econômico no México, pois
a produção está direcionada para exportação. Nessa dependência, consequentemente, a
industrialização do país torna-se tardia e os investimentos nas relações de trabalho são
baixos, pois paga-se baixos salários. Mas, por outro lado, as empresas recebem bastante
benefícios para gerar emprego e se fazer presente na economia mexicana (NADDI, 2015).

Vemos que as relações entre os países impactam sobre ambos, quando os Estados
Unidos sofreram a crise econômica em 2008, o México também sofreu economicamente,
pois o país depende das exportações para os EUA, contudo, podemos dizer que, há uma
dependência mútua nessas relações econômicas entre os países, mas claro que essa
dependência não é igual, uma vez que os EUA é a primeira potência econômica mundial.

2.2 AMÉRICA CENTRAL


Observe a Figura 3, a seguir, ela destaca o território da América Central. Já vimos
na Unidade 1, um pouco das características da América Central, quando falamos da
regionalização do continente americano. Sabemos que a América Central se subdivide
em continental e insular.

A parte continental está nos limites fronteiriços com a América do Norte


e a América do Sul, nessa parte tem-se sete países: Costa Rica, Belize, El Salvador,
Guatemala, Honduras, Nicarágua e Panamá.

Na parte insular, formada por ilhas, temos ilhas localizadas no Mar das Antilhas,
que se divide em: grandes Antilhas, pequenas Antilhas e Bahamas. Essa parte é o
famoso mar do Caribe, que constitui o território de Cuba, Haiti, Jamaica, Haiti, Porto
Rico e República Dominicana.

As pequenas Antilhas englobam as nações Antígua e Barbuda, Barbados,


Dominica, Granada, Santa Lúcia, São Cristóvão, Nevis, São Vicente, Granadinas e
Trinidad e Tobago, e cinco possessões do Reino Unido: Anguilla, Ilhas Cayman, Ilhas
Turks e Caicos, Ilhas Virgens Britânicas e Montserrat, Holanda, França e Estados Unidos
também têm possessões nessa região.

A Holanda tem as Antilhas Holandesas e Aruba. França, Guadalupe e Martinica e


os Estados Unidos, as Ilhas Virgens Americanas (GUITARRARA, 2022).

124
FIGURA 3 – AMÉRICA CENTRAL

FONTE: <https://bit.ly/3s9tU9z>. Acesso em: 18 fev. 2022.

A América Central é conhecida por uma economia com pouco desenvolvimento


e tem como base o turismo, a agricultura e pequenas indústrias. Esta região tem como
aporte econômico o Bloco do Mercado Comum Centro-Americano (MCCA). Este bloco
surgiu em 1960 e o objetivo foi de promover a paz na região, afetada por graves conflitos
bélicos (REPRESENTAÇÃO [...], 2022).

A América Central tem a maioria dos seus países constituída de povos indígenas,
mestiços e europeus. Nesta região, o idioma principal é o espanhol, mas, em outros
territórios há outros idiomas, como: inglês, francês, holandês e outros dialetos.

No que se refere à industrialização, o país produz alimentos, bebidas, tabacos


e se concentra na produção de roupas, sapatos, medicamentos, produtos químicos,
cimento, papel e produtos de madeira. Outro fator que contribui para a economia da
região é o turismo, que movimento muito a economia da região (OLIVEIRA, 2019).

De acordo com Palicer (2017), a América Central é considerada uma região fraca,
com pouca influência no sistema internacional. A região para o autor é palco de altos
índices de pobreza e desigualdade social com todas suas terríveis consequências como a
forme e a violência. Além desses fatores a região conta com baixa capacidade industrial,
consequentemente, é uma região cujo Produtos Interno Bruto é muito baixo e ainda
tem maior dependência estrangeira (PALICER, 2017, p. 45). Mesmo com dependência
estrangeira a América Central atua economicamente no cenário internacional e se
organiza através de blocos econômicos como o MCCA. Veremos no próximo subtópico,
a questão da economia e do desenvolvimento na região.

125
2.3 AMÉRICA CENTRAL: ECONOMIA E DESENVOLVIMENTO
Palicer (2017, p. 52) afirma que “o adjetivo Central que se transforma em elemento
do substantivo composto América Central se refere à posição estratégica dessa região,
que se encontra entre as Américas do Sul e do Norte”. Essa fala de Palicer (2017), retrata
a importância geoestratégica da região, que é constituída de pequenos Estados, baixo
desenvolvimento e considerada como uma região periférica.

A economia da América Central é considerada periférica devido aos baixos


índices de desenvolvimento, mão de obra barata e matérias-primas de baixo custo.
Esses fatores já foram muito importantes na economia para a expansão das grandes
empresas para territórios subdesenvolvidos.

Hoje, com as novas relações de trabalho, a necessidade de qualificação da força


de trabalho para atender às necessidades do mercado, assim como, as facilidades dos
transportes e da comunicação, são fatores que evidenciam a desvalorização da região
no contexto da economia internacional. Neste sentido, o desenvolvimento econômico,
ao mesmo tempo que produz riqueza, gera pobreza. Isso é próprio do sistema capitalista
que vivenciamos. Essas desigualdades provocadas pelo capital podem ser expressas
através das desigualdades sociais, territoriais, baixo investimento produtivo, na indústria,
na cultura, no turismo, baixo investimento tecnológico.

A economia da região é centrada na produção do café, açúcar, frutas tropicais


e bananas. Esses produtos são voltados para a economia de exportação. A América
Central também depende muito da economia dos Estados Unidos, pois o país é uma
potência econômica mundial e exerce muita influência em países subdesenvolvidos.
Portanto, o desenvolvimento desigual provocado pelo sistema capitalista também
explica a formação de paraísos fiscais na região das Ilhas das Bahamas e Cayma, devido
às flexibilidades nas cobranças de impostos.

A América Central para integrar-se regionalmente criou o Mercado Comum Centro-


Americano, que teve vigor a partir de 4 de junho de 1961. O Bloco conta com a integração de
Honduras, Nicarágua, Costa Rica, El Salvador e Guatemala (KYNOSHITA, 2012). O objetivo do
MCCA de acordo com seus artigos primeiro e segundo dizem o seguinte:

Artículo I. Los Estados contratantes acuerdam establecer entre


ellos um mercado común que deberá quedar perfeccionad o em
um plazo máximo de cinco años a partir de la fecha de entrada em
vigencia de este Tratado. Se comprometen además a constituir uma
unión aduanera entre seus territorios.
Articulo II. Para los fines del artículo anterior las Partes contratantes
se comprometen a perfeccionar uma zona centroamericana
de libre comnercio em um plazo de cinco anõs y adoptar um
arancel centroamericano uniforme em los términos del Convenio
Centroamericano sobre Equiparación de Gravámenes a la importación
(KINOSHITA, 2012, s. p.).

126
Podemos ver que no artigo primeiro, já na década de 1960, os países
objetivavam estabelecer um mercado comum entre eles, comprometendo-se a
construir uma união aduaneira entre seus territórios e constituírem uma zona de livre
comércio entre os países membros.

Muitos fatores determinaram o pouco avanço do bloco, em virtude de


conflitos políticos e de acordo com KINOSHITA (2012, s. p.) “escassez de recursos e de
oportunidades de expansão do mercado interno; escassa vinculação pelo que se refere a
infraestrutura limítrofe dos países membros e a instabilidade política”. O desenvolvimento
da América Central com todos os limites políticos, sociais e econômicos, torna-se um
desenvolvimento periférico, além do mais, seu bloco tem como parceiro principal a maior
potência econômica mundial, os Estados Unidos, o que evidencia, consequentemente,
uma condição de dependência.

ATENÇÃO
Os paraísos fiscais são países que tem flexibilidade na cobrança de
impostos, para o dinheiro depositado nas instituições financeiras. Nesse
esquema tem-se a garantia do anonimato dos donos do dinheiro. De
acordo com Alonso, na Enciclopédia Latino Americana), “os paraísos
fiscais funcionam como refúgio seguro para indivíduos e empresas que
burlam os fiscos nacionais [...] são considerados espaços de lavagem
de dinheiro, como dinheiro obtido com atividades ilícitas, como o
tráfico de drogas e armas, a corrupção política e o contrabando”.

FONTE: <https://bit.ly/3tQmabM>. Acesso em: 18 fev. 2022.

3 AMÉRICA DO SUL
Começamos esse subtópico identificando a América do Sul através da
representação cartográfica. Observe o mapa a seguir:

127
FIGURA 4 – AMÉRICA DO SUL

FONTE: <https://bit.ly/3LLz42W>. Acesso em: 8 nov. 2021

A América do Sul é constituída de 12 países e um território, a Guiana Francesa.


Essa porção do continente americano constitui-se de uma diversidade geológica,
climática, econômica, política e cultural. A língua predominante nesta região é o
Português e o Espanhol, em virtude do processo colonial europeu sobre o território
americano. Esse processo colonial dizimou povos originários da região e que até os dias
atuais, seus descentes reivindicam o direito à terra, reconhecimento de seu território,
história, cultura e costumes.

No Brasil, por exemplo, temos os indígenas que têm sofrido com diversos tipos
de violência por parte do Estado, da sociedade civil, dos grandes grileiros de terras, donos
do setor do agronegócio, que têm dizimados os indígenas para expandir a exploração das
terras produtivas, provocando conflitualidades que, muitas vezes, destrói modos de vida
indígena, provoca mortes, violência. Por outro lado, a luta indígena é forte, mesmo que o
impacto desses conflitos ainda seja grande no Brasil e em alguns países da América do Sul.

128
A região também é conhecida por sua diversidade na fauna, na flora e nos
recursos hídricos. A diversidade de paisagens na região vai de desertos, cordilheiras,
geleiras, florestas úmidas. Há também na região climas tropicais com altas temperaturas
e subtropicais com temperaturas mais amenas.

Em relação ao relevo apresenta-se na região cadeias de montanhas, planícies


centrais, planaltos, serras. Os recursos hídricos é outra riqueza presente na região, como
a bacia amazônica e platina (POLON, 2022).

A América do Sul tem economias subdesenvolvidas. A economia dos países da


América do Sul representa baixo desenvolvimento industrial e centram a produção na
produção de commodities.

A região apresenta um fraco desempenho econômico em relação a outras


economias mundiais. Além de fraco desenvolvimento econômico, a região lida com um
histórico de países que tiveram ditaduras.

Ainda hoje muitos países vivenciam crises políticas e altos níveis de corrupção.
Esses fatores impactam sobre as condições socioeconômicas da população, impactando em
desemprego, falta de renda, informalidade, miséria, desigualdades sociais extremas na região.

A industrialização na região se deu de forma tardia, e os países que mais têm se


destacado no setor industrial é o Brasil, o Chile, a Argentina, Colômbia e Uruguai. Tendo
os principais setores sendo destacados pelo beneficiamento de produtos da agricultura,
principalmente do setor do agronegócio, e da produção de bens de consumo. Entretanto,
o Brasil e a Argentina são dois países que têm se destacado em uma indústria mais
avançada, principalmente, nos setores de extração, siderurgia e refino do petróleo.

3.1 GOVERNOS MILITARES NA AMÉRICA LATINA: BRASIL;


ARGENTINA E VENEZUELA
As décadas de 1960 e 1980 marcaram as formas de governo ditatoriais na
América Latina, principalmente, na América do Sul (COGGIOLA, 2001).

As ditaduras deixaram marcas profundas na sociedade, devido aos impactos


decorrentes dessa forma de governo, que determinava repressões, fechamento de
instituições, como sindicatos, ameaças aos mais diversos grupos de movimentos sociais,
instabilidade econômica, falta de liberdade de expressão, censuras e perseguições política.

Para COGGIOLA (2001, p. 11), há alguns pontos em comum nos regimes militares,
sejam os regimes mais populistas ou os regimes mais repressivos, “é o intenso poderio
econômico, social e político da instituição militar”.

129
Para Emir Sader (2022, s. p.), na Enciclopédia Latino-americana, as ditaduras
implantadas no século XX, tiveram como objetivo principal “a doutrina de segurança
nacional”. Isso refletiu a instalação desse regime em países como o Brasil (1964), Bolívia
(1964), Argentina (1966 e 1976); Chile (1973) e Uruguai (1973).

Esses regimes militares, que foram os responsáveis pela implantação de ditaduras,


surgiram no contexto da Guerra Fria, com apoio dos Estados Unidos, cujo discurso
permeava o combate ao comunismo. Para Emir Sader (2022, s. p.), existiam diferenças
entre a forma como a ditadura ocorreu nos países latino-americanos, para ele

A brasileira, instalada ainda no longo ciclo expansivo do capitalismo


internacional, pôde beneficiar-se de investimentos, imprimir um
novo ciclo expansivo à economia do país e manter a presença do
Estado na economia, particularmente mediante empresas estatais.
A ditadura militar Argentina, instalada em 1966, fracassou e, quando
os militares voltaram ao poder, em 1976, a economia mundial já se
encontrava em recessão, condenando o regime militar à estagnação.

A ditadura na Venezuela é marcada pela eleição de Hugo Chavéz, em 1998 e


início do seu governo em 1999. Com a ascensão dos militares ao poder, a democracia se
enfraqueceu e instalou-se no país uma ditadura de esquerda. Diferentemente do Brasil
e Argentina, que tiveram forte poder político de direita.

As ditaduras militares marcaram a “derrota de forças populares, movimentos


sociais”, repressão a intelectuais críticos ao sistema (SADER, 2022, s. p.). Além disso,
as ditaduras foram marcadas por violência, mortes, sequestros, perseguição, tortura e
assassinato de militantes e opositores.

Até os dias atuais, boa parte desses crimes que aconteceram na ditadura
“ficaram impunes em todos os países em que elas existiram” (SADER, 2022, s.p.).

Sader (2022), afirma que alguns países, como o Chile e a Argentina, tiveram
algumas condenações correspondentes pelos crimes, como o caso de Augusto
Pinochet, que foi processado.

Observe o mapa a seguir retirado da plataforma eletrônica da Fundação Getúlio


Vargas, que nos dá um panorama das ditaduras nos países latino-americanos.

130
FIGURA 5 – DITADURAS MILITARES NA AMÉRICA LATINA

FONTE: <https://bit.ly/3ByF1vF>. Acesso em: 18 fev. 2022.

Na Argentina, quando visualizamos o mapa, vemos que torturas, repressão,


desaparecimentos, guerrilha rural e urbana foram comuns no país. De acordo com
o Memorial da Democracia (COMEÇA [...], 1976, s. p.), o regime ditatorial no país foi
“responsável pela morte e desaparecimento de cerca de 30 mil pessoas num período de
sete anos – um em cada mil argentinos, a maioria jovens, foi assassinado por militares”.

No Brasil, a ditadura teve início a partir da década de 1964, decorrente de um


golpe militar realizado contra o Governo João Goulart, o “Jango”. O governo de Jango
era visto como uma ameaça ao país, pois por ser populista, próximo aos movimentos
sociais e aos sindicatos, discutia-se que o presidente era um “perigo comunista”. A
ditadura em nosso país aconteceu em um contexto de guerra fria, período quando havia
duas disputas na economia mundial, uma comandada pelos Estados Unidos, com um
viés estritamente capitalista e outra comandada pela União das Repúblicas Socialistas
Soviéticas (URSS) de cunho socialista. Nesse sentido, havia medo da expansão do
comunismo, com isso os EUA passaram a apoiar os militares no Brasil.

131
A ditadura no Brasil durou 21 anos, até 1985. Esse período foi marcado por vários
governos, Castelo Branco (1946-1967); governo de Costa e Silva (1967-1969); governo
Médici (1969-1974); governo de Geisel (1974-1979) e, por fim, o governo de Figueiredo
(1979-1985). As principais características que marcaram o poder militar no Brasil foram
perseguições políticas, torturas, desaparecimento de corpos assassinados pelo Estado,
censura. De acordo com Lara e Silva (2015, p. 276), a ditadura promoveu “o declínio dos
direitos sociais e o avanço do poder político e econômico das classes dominantes”.

Em cada governo da ditadura militar foram criados cinco Atos Institucionais.


Esses atos tinham como objetivo realizar mudanças nas eleições, conceder poder
às Forças Armadas, ao Poder Executivo. Esses atos estabeleceram eleições diretas,
votação da Constituição de 1967 e dava direito ao Presidente da República para intervir
nos estados sem limites constitucionais. Esses atos são considerados como os aparatos
da repressão, pois regularam censura, sequestro, tortura, execuções e ataques à bomba.

DICA
Para melhor entender os atos institucionais recomenda-se a leitura deles
na íntegra no Portal da Legislação. Disponível em: https://bit.ly/3LK1QB3.

Os principais apoiadores do Golpe de 1964 foram: empresários, imprensa,


classe média e Estados Unidos. O apoio desses grupos contribuiu para que ocorressem
milhares de mortos e desaparecidos, aumento da desigualdade social, alta inflação,
endividamento do país, aumento da corrupção.

Na Venezuela, as repressões, o desaparecimento e a guerrilha rural marcaram


o período ditatorial. Mas, um fator que marca a história da ditadura na Venezuela é que
ela não se deu como na Argentina e no Brasil, ou seja, tomada do poder por militares.

A Venezuela teve sua ditadura instalada pela “regressão constitucional”, ou


seja, pelo processo de corrompimento das instituições. Com a instabilidade política e
econômica provocada pela crise do petróleo na década de 1958, “um grupo de militares
liderados por Hugo Chávez se rebelou contra o presidente Carlos Andrés Pérez, o golpe
falhou, mas Chávez ganhou a admiração de muitos venezuelanos” e concorreram as
eleições, sendo eleito em 1998 com 56% dos votos”. (MUNDO EDUCAÇÃO, s.p.).

De acordo com Ramos (2020, s.p.), o governo de Chavéz (1993-2013) teve como
principais características:

132
• implantação de medidas socialistas;
• forte interferência política;
• centralização do poder;
• enfraquecimento democrático;
• perseguição;
• prisão de opositores políticos.

A ditadura de Chávez finalizou com sua morte em 2013 e teve acesso ao poder
seu vice Nicolás Maduro, que continuou com as mesmas políticas de Chavéz. Atualmente,
a Venezuela passa por uma crise política e econômica que tem impactado na vida
de milhares de venezuelanos. As problemáticas da Venezuela provocaram uma forte
crise migratória, na qual milhares de venezuelanos buscavam refúgio para conseguir
melhores condições de vida. Isso decorreu em um grande conflito político entre Maduro
e a oposição, representada por Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente do país
em 2019 e que até hoje não conseguiu derrubar Maduro do poder (RAMOS, 2020, s.p.).

NOTA
Steven Levitsky e Daniel Ziblatt – dois conceituados professores de Harvard
elaboraram uma análise sobre o colapso as democracias, no livro intitulado: Como
as Democracias morrem? Esse livro é muito importante para compreendermos
discussões sobre o governo de Hitler, Mussolini, sobre as ditaduras na América
Latina e o contexto atual.

3.1.1 Mercado Comum do Sul (Mercosul): criação,


características e países membros
Na Unidade 1, nós conhecemos um pouco do Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL). Neste subtópico, nosso intuito é abranger a discussão explanando sobre
a criação do bloco, as principais características, os países membros, a importância para
a economia dos países membros e para a América Latina como um todo.

O MERCOSUL foi estabelecido pelo Tratado de Assunção em março de 1991. Esse


tratado foi assinado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, com o objetivo de fortalecer
a economia dos países membros. Além dos países membros, o bloco conta com os países
associados, devido aos acordos financeiros, relações políticas, econômicas e sociais. Esses
países são: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. A Venezuela também fazia parte do bloco,
mas está suspensa do Bloco, perdeu seus direitos. Esse fato é decorrente do desrespeito por
parte do Estado venezuelano aos princípios democráticos do MERCOSUL. Por outro lado, o
Estado Plurinacional da Bolívia atualmente encontra-se em processo de adesão ao bloco.

133
De acordo com a Plataforma Eletrônica do Mercosul (OBJETIVOS [...], 2021, s. p.),
o bloco tem como objetivos principais:

1. Circulação de bens, serviços e fatores produtivos entre os países,


através de outros, da eliminação dos direitos alfandegários e
restrições não tarifárias à circulação de mercadorias e de qualquer
outra medida de efeito equivalente.
2. O estabelecimento de uma tarifa externa comum e a adoção de
uma política comercial comum em relação a terceiros Estados ou
agrupamentos de Estados e a coordenação de posições em foros
econômico-regionais e internacionais.
3. A coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais entre os
Estados Partes – de comércio exterior, agrícola, industrial, fiscal,
monetária, cambial e de capitais, de serviços, alfandegária, de
transportes e comunicações e outras que se acordem –, a fim
de assegurar condições adequadas de concorrência entre os
Estados Partes.
4. O compromisso dos Estados Partes de harmonizar suas
legislações, nas áreas pertinentes para lograr o fortalecimento do
processo de integração.

O Mercosul é muito importante para estabelecer políticas econômicas entre os


países membros. O bloco permite a livre circulação de pessoas e serviços. Os principais
produtos exportados pelo bloco são: automóveis de passageiros, partes e acessórios dos
veículos, papel e cartão, veículos rodoviários e produtos de indústria de transformação.
O Brasil é um dos principais exportadores do bloco. Os principais destinos da exportação
são: Argentina, Paraguai e Uruguai.

Os principais produtos importados pelo Brasil dos países membros, principalmente


no ano de 2020, foram: veículos automóveis para transporte de mercadorias e usos
especiais, produtos de indústria de transformação, veículos automóveis de passageiros,
cereais, farinhas e leite. O principal parceiro do Brasil na importação é a Argentina, com
66% de importação dos nossos produtos. O Mercosul é muito importante para os países
membros e associados, ele permite as relações para além da América do Sul. O Brasil, por
ser o país de maior participação, acaba tendo grande representatividade e importância
para o bloco, seja nas relações inter-regionais ou nas relações internacionais.

134
LEITURA
COMPLEMENTAR
O AMANHÃ NÃO ESTÁ À VENDA

Ailton Krenak

Parei de andar mundo afora, cancelei compromissos. Estou com a minha família
na aldeia Krenak, no médio rio Doce. Há quase um mês, nossa reserva indígena está
isolada. Quem estava ausente regressou, e sabemos bem qual é o risco de receber
pessoas de fora. Sabemos o perigo de ter contato com pessoas assintomáticas. Estamos
todos aqui e até agora não tivemos nenhuma ocorrência.

A verdade é que vivemos encurralados e refugiados no nosso próprio território


há muito tempo, numa reserva de 4 mil hectares – que deveria ser muito maior se a
justiça fosse feita –, e esse confinamento involuntário nos deu resiliência, nos fez mais
resistentes. Como posso explicar a uma pessoa que está fechada há um mês num
apartamento numa grande metrópole o que é o meu isolamento? Desculpem dizer isso,
mas hoje já plantei milho, já plantei uma árvore. Faz algum tempo que nós na aldeia
Krenak já estávamos de luto pelo nosso rio Doce. Não imaginava que o mundo nos traria
esse outro luto. Está todo mundo parado. Quando engenheiros me disseram que iriam
usar a tecnologia para recuperar o rio Doce, perguntaram a minha opinião. Eu respondi:
“A minha sugestão é muito difícil de colocar em prática. Pois teríamos de parar todas as
atividades humanas que incidem sobre o corpo do rio, a cem quilômetros nas margens
direita e esquerda, até que ele voltasse a ter vida”. Então um deles me disse: “Mas isso é
impossível”. O mundo não pode parar. E o mundo parou.

Vivemos hoje esta experiência de isolamento social, como está sendo definido o
confinamento, em que todas as pessoas têm de se recolher. Se durante um tempo éramos
nós, os povos indígenas, que estávamos ameaçados da ruptura ou da extinção do sentido
da nossa vida, hoje estamos todos diante da iminência de a Terra não suportar a nossa
demanda. Assistimos a uma tragédia de gente morrendo em diferentes lugares do planeta,
a ponto de na Itália os corpos serem transportados para a incineração em caminhões.

Essa dor talvez ajude as pessoas a responder se somos de fato uma humanidade. Nós
nos acostumamos com essa ideia, que foi naturalizada, mas ninguém mais presta atenção no
verdadeiro sentido do que é ser humano. É como se tivéssemos várias crianças brincando
e, por imaginar essa fantasia da infância, continuassem a brincar por tempo indeterminado.
Só que viramos adultos, estamos devastando o planeta, cavando um fosso gigantesco de
desigualdades entre povos e sociedades. De modo que há uma sub-humanidade que vive
numa grande miséria, sem chance de sair dela – e isso também foi naturalizado.

135
O presidente da República disse outro dia que brasileiros mergulham no esgoto e
não acontece nada. O que vemos nesse homem é o exercício da necropolítica, uma decisão
de morte. É uma mentalidade doente que está dominando o mundo. E temos agora esse
vírus, um organismo do planeta, respondendo a esse pensamento doentio dos humanos com
um ataque à forma de vida insustentável que adotamos por livre escolha, essa fantástica
liberdade que todos adoram reivindicar, mas ninguém se pergunta qual o seu preço.

Esse vírus está discriminando a humanidade. Basta olhar em volta. O melão-de-


são-caetano continua a crescer aqui do lado de casa. A natureza segue. O vírus não mata
pássaros, ursos, nenhum outro ser, apenas humanos. Quem está em pânico são os povos
humanos e seu mundo artificial, seu modo de funcionamento que entrou em crise.

É terrível o que está acontecendo, mas a sociedade precisa entender que


não somos o sal da terra. Temos que abandonar o antropocentrismo; há muita vida
além da gente, não fazemos falta na biodiversidade. Pelo contrário. Desde pequenos,
aprendemos que há listas de espécies em extinção. Enquanto essas listas aumentam, os
humanos proliferam, destruindo florestas, rios e animais. Somos piores que a Covid-19.
Esse pacote chamado de humanidade vai sendo descolado de maneira absoluta desse
organismo que é a Terra, vivendo numa abstração civilizatória que suprime a diversidade,
nega a pluralidade das formas de vida, de existência e de hábitos.

Os únicos núcleos que ainda consideram que precisam se manter agarrados


nessa Terra são aqueles que ficaram meio esquecidos pelas bordas do planeta, nas
margens dos rios, nas beiras dos oceanos, na África, na Ásia ou na América Latina.
Esta é a sub-humanidade: caiçaras, índios, quilombolas, aborígenes. Existe, então, uma
humanidade que integra um clube seleto que não aceita novos sócios. E uma camada
mais rústica e orgânica, uma sub-humanidade, que fica agarrada na Terra. Eu não me
sinto parte dessa humanidade. Eu me sinto excluído dela.

Fomos, durante muito tempo, embalados com a história de que somos a


humanidade e nos alienamos desse organismo de que somos parte, a Terra, passando
a pensar que ele é uma coisa e nós, outra: a Terra e a humanidade. Eu não percebo
que exista algo que não seja natureza. Tudo é natureza. O cosmos é natureza. Tudo
em que eu consigo pensar é natureza. Nós, a humanidade, vamos viver em ambientes
artificiais produzidos pelas grandes corporações, que são os donos da grana. Agora esse
organismo, o vírus, parece ter se cansado da gente, parece querer se divorciar da gente
como a humanidade quis se divorciar da natureza. Ele está querendo nos “desligar”,
tirando o nosso oxigênio. Quando a Covid-19 ataca os pulmões, o doente precisa de
um respirador, um aparelho para alimentação de oxigênio, senão ele morre. Quantas
máquinas dessas vamos ter de fazer para 7 bilhões de pessoas no planeta?

A nossa mãe, a Terra, nos dá de graça o oxigênio, nos põe para dormir, nos
desperta de manhã com o sol, deixa os pássaros cantar, as correntezas e as brisas se
moverem, cria esse mundo maravilhoso para compartilhar, e o que a gente faz com ele?
O que estamos vivendo pode ser a obra de uma mãe amorosa que decidiu fazer o filho

136
calar a boca pelo menos por um instante. Não porque não goste dele, mas por querer lhe
ensinar alguma coisa. “Filho, silêncio”. A Terra está falando isso para a humanidade. E ela é
tão maravilhosa que não dá uma ordem. Ela simplesmente está pedindo: “Silêncio”. Esse
é também o significado do recolhimento. Quem dera eu pudesse fazer uma mágica para
nos tirar desse confinamento, que pudesse fazer todos sentirem a chuva cair. É hora de
contar histórias às nossas crianças, de explicar a elas que não devem ter medo. Não sou
um pregador do apocalipse, o que tento é compartilhar a mensagem de um outro mundo
possível. Para combater esse vírus, temos de ter primeiro cuidado e depois coragem.

Vemos algumas pessoas defenderem a manutenção da atividade econômica,


dizendo que “alguns vão morrer” e é inevitável. Esse tipo de abordagem afeta as pessoas
que amam os idosos, que são avós, pais, filhos, irmãos. É uma declaração insensata, não
tem sentido que alguém em sã consciência faça uma comunicação pública dizendo
“alguns vão morrer”. É uma banalização da vida, mas também é uma banalização do
poder da palavra. Pois alguém que fala isso está pronunciando uma condenação, tanto
de alguém em idade avançada, como de seus filhos, netos e de todas as pessoas que
têm afeto uns com outros. Imagine se vou ficar em paz pensando que minha mãe ou
meu pai podem ser descartados. Eles são o sentido de eu estar vivo. Se eles podem ser
descartados, eu também posso.

Governos burros acham que a economia não pode parar. Mas a economia é uma
atividade que os humanos inventaram e que depende de nós. Se os humanos estão em
risco, qualquer atividade humana deixa de ter importância. Dizer que a economia é mais
importante é como dizer que o navio importa mais que a tripulação. Coisa de quem acha
que a vida é baseada em meritocracia e luta por poder. Não podemos pagar o preço que
estamos pagando e seguir insistindo nos erros. Michel Foucault tem uma obra fantástica,
vigiar e punir, na qual afirma que essa sociedade de mercado em que vivemos só considera
o ser humano útil quando está produzindo. Com o avanço do capitalismo, foram criados
os instrumentos de deixar viver e de fazer morrer: quando o indivíduo para de produzir,
passa a ser uma despesa. Ou você produz as condições para se manter vivo ou produz
as condições para morrer. O que conhecemos como Previdência, que existe em todos os
países com economia de mercado, tem um custo. Os governos estão achando que, se
morressem todas as pessoas que representam gastos, seria ótimo. Isso significa dizer:
pode deixar morrer os que integram os grupos de risco. Não é ato falho de quem fala; a
pessoa não é doida, é lúcida, sabe o que está falando.

Desde muito tempo, a minha comunhão com tudo o que chamam de natureza
é uma experiência que não vejo ser valorizada por muita gente que vive na cidade. Já
vi pessoas ridicularizando: “ele conversa com árvore, abraça árvore, conversa com o
rio, contempla a montanha”, como se isso fosse uma espécie de alienação. Essa é a
minha experiência de vida. Se é alienação, sou alienado. Há muito tempo não programo
atividades para “depois”. Temos de parar de ser convencidos. Não sabemos se estaremos
vivos amanhã. Temos de parar de vender o amanhã. Penso naqueles versos do Carlos
Drummond de Andrade: “Stop./ A vida parou/ ou foi o automóvel?”. Essa é uma parada
para valer. O ritmo de hoje não é o da semana passada nem o do ano novo, do verão,

137
de janeiro ou fevereiro. O mundo está agora numa suspensão. E não sei se vamos sair
dessa experiência da mesma maneira que entramos. É como um anzol nos puxando
para a consciência. Um tranco para olharmos para o que realmente importa.

Tem muita gente que suspendeu projetos e atividades. As pessoas acham que
basta mudar o calendário. Quem está apenas adiando compromissos, como se tudo fosse
voltar ao normal, está vivendo no passado. O futuro é aqui e agora, pode não haver o ano
que vem. Ninguém escapa, nem aquelas pessoas saindo de carro importado para mandar
seus empregados voltarem ao trabalho, como se fossem escravos. Se o vírus os pegar, eles
podem morrer, igual a todos nós. Com ou sem Land Rover. As cidades são sorvedouros de
energia: se faltar eletricidade, as pessoas morrem fechadas nos seus apartamentos, sem
conseguir descer. Não tivemos capacidade crítica para pensar as consequências de uma
crise sanitária nos grandes centros urbanos, e preciso confessar que tenho dó de quem
vive nessas metrópoles. Muitas pessoas vivem sozinhas nesses centros, deixamos de ser
sociais porque estamos num local com mais 2 milhões de pessoas.

Em artigo que li sobre a pandemia, o sociólogo italiano Domenico De Masi cita a


obra profética A peste, de Albert Camus: a peste pode vir e ir embora sem que o coração do
homem seja modificado. Ele cita um trecho inteiro do romance em que o personagem diz
algo assim: o bacilo que trouxe aquela mortandade, que parece que tinha sido dominado,
podia continuar oculto em alguma dobra, algum corrimão, janela, poltrona, só esperando
o dia em que, infortúnio ou lição aos homens, a peste acordará seus ratos para mandá-los
morrer numa cidade feliz. Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos, é
porque não valeu nada a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro. Depois disso
tudo, as pessoas não vão querer disputar de novo o seu oxigênio com dezenas de colegas
num espaço pequeno de trabalho. As mudanças já estão em gestação. Não faz sentido
que, para trabalhar, uma mulher tenha de deixar os seus filhos com outra pessoa. Não
podemos voltar àquele ritmo, ligar todos os carros, todas as máquinas ao mesmo tempo.
Seria como se converter ao negacionismo, aceitar que a Terra é plana e que devemos
seguir nos devorando. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira

FONTE: Adaptada de <https://bit.ly/37maHcE>. Acesso em: 18 fev. 2022.

138
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As economias da América Latina têm baixo desenvolvimento, e com a crise da


COVID-19, essas economias passaram a enfrentar uma crise sem precedentes
devido ao fechamento de setores econômicos e aumento do desemprego.

• As principais economias da América Latina são: Argentina, Brasil, Bolívia, Chile,


Colômbia, Equador, México, Paraguai, Peru e Uruguai.

• A economia da maioria dos países da região está centrada no setor primário.

• O México tem como principal parceiro comercial os Estados.

• No México existem empresas maquiladoras resultantes de acordo econômico do


país com os Estados Unidos na década de 1960.

• O México tem grande dependência econômica dos Estados Unidos.

• A América Central está entre a América do Sul e América do Norte. A região é


conhecida por ter uma economia de baixo desenvolvimento e o aporte econômico
dela está no Mercado Comum Centro-Americano.

• Alguns países da América-Central são sedes de paraísos fiscais. Estes países têm
flexibilidade na cobrança de impostos em relação ao dinheiro depositado nas
instituições financeiras.

• Os países da América do Sul são em 12 e que nesta região está o Brasil.

• A América do Sul é rica em flora, fauna e recursos hídricos, porém a economia dos
países tem baixo desenvolvimento.

• Entre as décadas de 1960 e 1980, os países da América Latina vivenciaram formas


de governos ditatoriais que deixaram profundas marcas.

• O MERCOSUL é o principal bloco econômico da América do Sul e o Brasil é o país que


mais se destaca em relação às exportações e importações.

139
AUTOATIVIDADE
1 Com base no que estudamos sobre a economia dos países latino-americanos,
sabemos que eles têm características em comum em função do processo colonial
na região. A economia dos países latino-americanos, especificamente no século
XXI, enfrenta grandes desafios devido ao avanço do neoliberalismo nos países. Isso
determina um padrão econômico que pode ser explicado por:

a) ( ) Industrialização tardia, dependência econômica, alta concentração fundiária e


elevado grau de desigualdade social.
b) ( ) Crescimento econômico acelerado para os países do MERCOSUL, devido ao
aumento de exportações dos países membros para países europeus.
c) ( ) Recuperação econômica acentuada da maioria dos países latino-americanos
após a crise do COVID-19.
d) ( ) Aumento na geração de emprego, em função do crescimento econômico dos
países latino-americanos, aumento das exportações para países europeus, forte
articulação econômica com as maiores potências mundiais.

2 Considera-se que as empresas maquiladoras no México têm grande importância para


a economia do país, pois o acordo estabelecido entre os Estados Unidos e o México
para instalação das empresas no país tinha como objetivo aumentar as condições
de trabalho no México. Esse acordo estabeleceu a Política de Fomento à Indústria
Maquiladora de Exportação em coordenação com o Programa de Industrialização da
Fronteira Norte. Sobre as empresas maquiladoras, analise as sentenças a seguir:

I- As empresas maquiladoras são aquelas que realizam a manufatura parcial, encaixe


ou empacotamento de um bem sem que sejam as fabricantes originais. Ou seja,
são fábricas de encaixe, manufatureiras e de serviços, destinadas à transformação,
elaboração ou reparo de mercadorias de procedência estrangeira cujo destino
principal é a exportação para os Estados Unidos.
II- As empresas maquiladoras são muito importantes para o México, pois diminuiu os
fluxos migratórios da população mexicana, uma vez que, essas empresas têm altos
salários, investimento na qualificação da mão-de-obra e tornou-se responsável pela
autonomia econômica do México.
III- A instalação das maquilas no México foi possível porque o governo mexicano cedeu
para as grandes indústrias benefícios tais como: cargas tributárias nulas, baixos
custos de transportes, normas ambientais débeis e custo trabalhista mínimo.

140
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 As formas de governo ditatoriais implantadas na América Latina tiveram como


objetivo a doutrina da segurança nacional e o combate ao comunismo. Sabemos
que esse regime se instalou em países como o Brasil (1964); Bolívia (1964); Argentina
(1966 E 1976); Chile (1973); Uruguai (1973) e Venezuela (1998). De acordo com o que
estudamos sobre as ditaduras na América Latina, classifique V para as sentenças
verdadeiras e F para as falsas:

( ) As ditaduras militares marcaram a “derrota de forças populares, movimentos sociais”,


repressão a intelectuais críticos ao sistema. As ditaduras foram marcadas por violência,
mortes, sequestros, perseguição, tortura e assassinato de militantes e opositores.
( ) Os crimes cometidos na ditadura foram todos resolvidos nos últimos anos, e
a maioria dos militares que provocaram esses crimes sofreram penalidades e
perderam seus cargos.
( ) No Brasil, a ditadura durou 21 anos. Foi um período marcado por cinco governos
e perseguições “políticas, torturas, desaparecimento de corpos assassinados pelo
Estado, censura”.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A ditadura na Venezuela teve início com o governo de Hugo Chávez que se rebelou
contra o presidente Andrés Pérez. Mesmo com a falha do golpe Chávez ganhou
admiração popular e foi eleito com 56% dos votos nas eleições da Venezuela em 1993.
De acordo com o que estudamos sobre a ditadura na Venezuela, principalmente no
governo de Chavéz, explique quais são as principais características do governo no
período que atuou (1993-2013).

5 O MERCOSUL foi estabelecido pelo Tratado de Assunção em março de 1991. Os países


que assinaram o tratado foram, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. O objetivo central
do bloco é fortalecer a economia dos países membros. Mas, há outros objetivos que
direcionam a relação econômica entre os países. Disserte sobre os objetivos que
ampliam as relações econômicas do MERCOSUL.

141
REFERÊNCIAS
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148
UNIDADE 3 —

O BRASIL E AS RELAÇÕES
INTERNACIONAIS NA AMÉRICA
LATINA: DOS CONFLITOS
FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO,
INTEGRAÇÃO E LIDERANÇA REGIONAIS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecer a formação territorial do Brasil;

• compreender como o Brasil se apresenta no contexto mundial;

• conhecer as políticas externas brasileiras;

• entender as relações de conflitos territoriais e políticos do país;

• analisar as relações bilaterais entre Brasil e Argentina;

• conhecer os governos militares do Brasil e da Argentina;

• compreender a importância dos movimentos sociais na América Latina;

• mostrar os principais blocos econômicos da América Latina.

PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer dela, você encontrará
autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS


TÓPICO 2 – DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À COOPERAÇÃO: RELAÇÕES ENTRE BRASIL
E ARGENTINA
TÓPICO 3 – BLOCOS ECONÔMICOS: INTEGRAÇÃO E LIDERANÇAS REGIONAIS DA
AMÉRICA LATINA

CHAMADA
Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure
um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

149
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A TRILHA DA
UNIDADE 3!

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150
UNIDADE 3 TÓPICO 1 —
FORMAÇÃO TERRITORIAL DO BRASIL E
SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 1, abordaremos a formação territorial do Brasil e suas
relações internacionais. A formação territorial do Brasil tem como ponto de partida o
período colonial ao longo do século XVI. A formação do país ocorre por determinações
externas, europeias, que determinaram nossa condição de país periférico.

O período colonial determinou os rumos econômicos, sociais e políticos que


foram se constituindo no Brasil. Conhecer esse período histórico de formação do nosso
território torna-se essencial para compreendermos as relações atuais do Brasil na
economia mundo e sua posição nas relações políticas e econômicas no contexto global.

Ainda, no Tópico 1, nosso estudo abordará a questão das revoltas coloniais e o


papel que exerceram para os conflitos no território brasileiro. Tinham essas revoltas dois
tipos de interesses: os nativistas e os separatistas. As primeiras eram caracterizadas
como conflitos entre os colonos e os interesses da elite colonial. Já a revolta separatista
defendia a independência em relação ao território de Portugal.

Para finalizar este tópico estudaremos as políticas externas do país e as


relações fronteiriças, pois estas determinaram conflitos territoriais, como a questão
Cisplatina, que foi um conflito entre 1825 e 1828. Esse conflito ocorreu entre o Brasil e
Argentina. Essa guerra foi considerada a primeira do Brasil, o país saiu derrotado e com
isso agravaram-se crises econômicas no período do governo de Dom Pedro I. Apesar da
guerra ter sido estabelecida entre o nosso país e a Argentina, com o fim dela, esse último
perdeu a área da Cisplatina e quem a obteve foi a República Oriental do Uruguai.

Para que possamos embarcar neste tópico, sugerimos que faça as leituras
de autores que podem contribuir para pensar essa análise no Brasil, tais como, Celso
Furtado, Antônio Carlos Robert de Moraes, Caio Prado Jr, Ruy Moreira e Gilberto Freyre.

2 O BRASIL NO CONTEXTO MUNDIAL


O território brasileiro foi consolidado no período colonial. Para Moraes (2011, p.
18) “o território é um espaço social, que não pode existir sem uma sociedade que o crie
e qualifique [...] sendo construído com base na apropriação e transformação dos meios
criados pela natureza”. A criação do território brasileiro, considerado como produto social,

151
resultou de interesses externos. Esses interesses foram marcados pelo período colonial,
foi nesse período que tivemos uma das bases da criação para os estados nacionais da
América Latina (MORAES, 2011). Esse primeiro momento histórico marca a relação do
Brasil com as fronteiras mundiais.

Por ser um país de grande extensão territorial, de grandes riquezas naturais, de


diversidades de espécies e com um grande potencial produtor, o Brasil, historicamente tem
uma importância nas relações internacionais. No período Colonial (1500-1822), era considerado
como um país exportador de matérias-primas. No período Imperial (1822-1889), o país
continuava exercendo um importante papel internacional, com abertura de portos em 1808,
aumentou as possibilidades de integração econômica e social, com a entrada de pessoas em
nosso país. No período Republicano (período dividido em República Velha (1989 – 1930); Era
Vargas (1930 – 1945); República Populista (1945 – 1964); Governo Militar (1964 – 1985) e o Brasil
atual) a força econômica do Brasil esteve centrada na sua condição de agroexportador. O país
exportava café, algodão, açúcar, ou seja, os produtos primários eram e ainda são a principal
fonte de nossas relações econômicas no que se refere às exportações.

Nos dias atuais, o Brasil de acordo com o texto da Constituição de 1988, no artigo
4º, tem as relações internacionais regidas pelos seguintes princípios: I - independência
nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não
intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos
conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Além disso, no que se refere às
relações no contexto da América Latina, a Constituição em seu Parágrafo único do artigo
4, afirma que: “a República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política,
social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade
latino-americana de nações” (BRASIL, 1988). Vimos que o Brasil e suas relações no contexto
mundial e na América Latina é regido pela própria Constituição, com isso podemos destacar
a importância do nosso papel nas relações globais, uma vez que temos a garantia dessas
relações e dos princípios que as regem pautada no principal documento do país.

Neste sentido, o Brasil tem uma participação importante nas relações globais,
no contexto econômico e político. O papel que o país desempenha nas relações com
outros países, sejam os países centrais ou periféricos é muito importante para as
políticas internas e externas.

A posição do Brasil, ou de qualquer país nas relações globais não são estanques,
pelo contrário, modifica-se constantemente por diversos fatores: políticos, econômicos,
sociais. Neste sentido, o país tem um papel diferente de acordo com as mudanças
ocorridas no mundo e dentro do próprio território nacional.

Para Oliveira (1999) o fim da Guerra Fria (1947-1989), tinha-se como perspectiva
mundial a expansão das ideias liberais, ou seja, o livre mercado, a proteção da
propriedade privada, liberdades individuais e baixa participação do Estado. Contudo, os

152
valores liberais na América Latina foram vistos como a possibilidade de que os Estados
Unidos estabelecessem uma relação mais liberal com a região, ou seja, modificariam
suas formas de relacionamento com a região, mas os Estados Unidos continuaram
sendo hegemônicos em suas determinações econômicas. Nas palavras de Oliveira (1999,
p. 206), isso resultou em “duas macrotendências no contexto latino-americano: uma
liberalização traduzida pelo processo de aberturas de seus mercados e outro projeto de
renegociação do sistema interamericano”.

Nesse primeiro momento pós-Guerra Fria, os Estados Unidos foi o centro


de influências das trocas comerciais entre o Brasil, no contexto da América Latina.
Contudo, a partir do avanço da participação dos países asiáticos na economia mundial,
a expansão das relações econômicas se ampliou e o Brasil com sua forte participação
no Mercado Comum do Sul e sua ascensão a partir dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) foi estabelecendo outras formas de participar da economia e da
política internacional, com a ampliação da abertura de mercados, trocas comerciais,
exportações e participação em cúpulas climáticas, por exemplo.

Neste texto, vamos evidenciar o país no contexto mundial em dois aspectos:


econômicos e políticos. O primeiro a que nos detemos é o econômico. Como o Brasil
participa da economia mundial? No contexto econômico, as relações internacionais
do Brasil podem ser destacadas pela sua participação no Mercado Comum do Sul
(MERCOSUL), nas suas relações a partir do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do
Sul) e sua participação no G20. Cada uma dessas relações exerce objetivos diferentes.

Por exemplo, o Brasil no Mercosul tem um papel de grande importância, pois


o país é responsável por boa parte do PIB gerado entre os países membros. Por ser o
país mais importante do MERCOSUL, seguido pela Argentina, estes acabam tendo mais
vantagens nas relações comerciais. Essa posição de liderança que o Brasil tem diante
do MERCOSUL se dá em função de suas condições de desenvolvimento econômico
serem melhor do que os países membros e com isso, o país determina um grande papel
para si e para a América do Sul nas relações políticos econômica mundiais.

Contudo, na participação dos BRICS, o Brasil perdeu um papel significativo nos


últimos anos, de acordo com Alexandre Busch (2021, s.p.), na página eletrônica do Brasil
de Fato “o decepcionante desenvolvimento econômico dos países na última década é
a principal razão por que, hoje, o termo BRICS quase não tem relevância”. Com pouca
aproximação política entre os países, e grande competitividade entre eles, se coloca
uma diferença entre os países que fazem referência a tal acrônimo, que era usado para
englobar os países emergentes que tinham possibilidades de alcançar os mais ricos.
Na conjuntura apresentada por Busch (2021, s.p.), o Brasil “quase não oferece produtos
competitivos para o mercado mundial [...] a indústria está encolhendo” o poder de
compra do povo brasileiro encolheu nos últimos anos, houve o aumento da pobreza,
esse contexto reflete uma retração do país no grupo dos países emergentes, sendo
visto no contexto atual, como um país em recessão na questão econômica.

153
O país também faz parte do G-20, que é um grupo formado pelas maiores
economias do mundo e a União Europeia. O Brasil está entre as economias emergentes
que fazem parte deste grupo e tem como objetivo favorecer negociações internacionais.
Os países membros são responsáveis por 80% da economia mundial e participam
de reuniões anuais quando discutem questões políticas, econômicas, ambientais e
de saúde. A participação do Brasil no grupo permitiu ao país novas possibilidades e
perspectivas no âmbito internacional e trouxe novos desafios. O país teve forte influência
no grupo na crise de 2008, quando o G-20 se reuniu em Seul. Essa influência decorreu
do crescimento econômico do Brasil no período e suas fortes relações internacionais
devido à política diplomática do governo Lula. Nos dias atuais o país vem passando por
um desafio, pois a crise econômica, ampliada em função da pandemia da COVID-19,
nos anos de 2020/2021 e com a crise política do governo atual, o país tem registrado
baixo crescimento. Quando comparado aos países membros do grupo, o crescimento
para 2022, é avaliado como o menor. Para o Fundo Monetário Internacional (FMI) “o
crescimento esperado para o país em 2022 é o menor projetado em relação a outros
países emergentes como Rússia, Argentina e África do Sul” (CARRANÇA, 2021, s.p.).

O cenário do Brasil nos aspectos políticos está associado as questões


econômicas, uma vez que, as relações políticas determinam as relações econômicas
entre os países. O Brasil tem sofrido no âmbito internacional devido à postura adotada
pelo governo nos últimos anos. O país tem sido visto, no âmbito global, como instável
desde 2016, período do Impeachment. Com a crise pandêmica nossa situação se
agravou, uma vez que o governo em vigor, vai na contramão das políticas internacionais
adotadas pela Organização Mundial da Saúde. A crise gerou a ampliação do desemprego,
da pobreza e da instabilidade econômica do país. Reflete desta forma, para as relações
externas e internas fragilidade política diante da resolução dos problemas que o país
enfrenta (MATTA; SOUTO; SEGATA; 2021).

2.1 BRASIL NA AMÉRICA LATINA E NA AMÉRICA DO SUL


O Brasil está posicionado tanto na América do Sul quanto na América Latina,
debate já abordado em outros tópicos deste livro didático. Aqui queremos evidenciar a
liderança do país na América do Sul e na América Latina. O Brasil tem um peso diferente
nas regiões da América, devido sua economia e seu contingente populacional. O país
tem reforçado seu setor produtivo, modernizando-o e isso gerou uma “estabilização
econômica” nos últimos anos. Faz parte dessa estabilização a criação do MERCOSUL,
por exemplo (SORJ; FAUSTO, 2013).

Nesta direção, na América do Sul, o Brasil é lembrado por sua forte posição no
MERCOSUL. Na América Latina, o Brasil se caracteriza pelas desigualdades sociais e
condições de subdesenvolvimento, assim como por sua liderança regional em virtude
do grande número populacional e o desenvolvimento industrial da região.

154
Para a Michel Alaby (2020, s.p.), em sua plataforma eletrônica, nos últimos anos
o Brasil “abriu mão de sua liderança natural na América Latina em questões políticas e
de integração econômica, energética e comercial, permitindo que nosso peso político
na região diminuísse”.

As relações do Brasil com seus países vizinhos na América Latina são muito
importantes para manter estabilidade entre as relações comerciais. Essas devem ser
mantidas por questões políticas e econômicas.

Para Sorj e Fausto (2013, p. 8) “a América Latina tem sido dominada pelo
discurso da integração regional”, essa integração tem resultado em “termos de fluxos
de investimentos, de bens, serviços, de pessoas e de infraestrutura”. Por exemplo,
“as exportações brasileiras para a América Latina [...] (SORJ E FAUSTO, 2013, p. 8).
As principais exportações do Brasil para seus países vizinhos estão nos produtos
manufaturados e nas commodities (ALABY, 2020).

Para Sorj e Fausto (2013, p. 68) “é na esfera econômica onde os desafios do


Brasil na afirmação de sua liderança aparecem mais desordenados. Por um lado, vários
países da região veem o Brasil como um país extremamente protecionista. Por outro
lado, o Brasil tem na América Latina seu principal mercado para suas manufaturas”.

Esse espaço vem sendo perdido em função da expansão dos produtos chineses
em escala global, com isso o número de importações da Ásia tem aumentado nos
últimos anos pelos países latino-americanos.

A presença da China na América Latina ocorre com a expansão econômica


do país asiático em meados dos anos 2000. Essa expansão deu lugar para que países
emergentes ocupassem e se destacassem nas relações econômicas internacionais.
Com a China a influência sobre os países latino-americanos ocorreu em diversos setores
tais como: importação, exportação e investimentos. As relações sul-sul são importantes
para a expansão das economias periféricas, para o Observatório de Política da China
(COLABORAN [...], 2008, s.p.) as relações do país com a América Latina tornam-se
possível pois, “os dois lados estão em estágios semelhantes de desenvolvimento e
compartilham uma ampla gama de interesses”.

Nessa relação, a China ao longo dos últimos anos, desde 2000, tornou-se um
importante parceiro comercial dos países da América Latina e da América do Sul. O
país asiático “firmou uma série de acordos de cooperação econômica e tecnológica
com países latino-americanos, oferecendo garantias de que as relações econômicas
bilaterais se desenvolverão de maneira saudável e sólida” (COLABORAN [...], 2008, s.p.).
Com essa cooperação, a abertura de mercados, as políticas de mitigação sociais e o
aumento das exportações o Brasil tornou-se um grande parceiro da China, e também
foi modelo econômico a ser seguido, principalmente no governo Lula, devido às políticas
sociais, para mitigação da pobreza.

155
Para Abi-Rama (2020) o papel brasileiro na América do Sul pode-se analisar a
partir de diferentes percepções, tais como subimperialismo, capital-imperialismo, posição
intermediária do país entre os centros imperialistas e a periferia. Para esclarecermos o
imperialismo e o subimperialismo descrito na fala de Abi-Rama, o autor destaca que:

O imperialismo surge da enorme concentração de capital em


determinados países e de seu transbordamento para além de suas
fronteiras estatais. O subimperialismo, por sua vez, nasce de um
processo similar que, contudo, se coloca em marcha com grande
poder do capital dos países centrais. Esses capitais encontram-se
no âmago das economias “intermediárias” e são responsáveis por
uma aceleração de seu processo de industrialização, monopolização
e exportação de manufaturas e capitais. Diferente da chegada dos
países imperialistas a esta etapa, nos subimperialistas é o capital
internacional que impulsiona a expansão industrial e a atuação
internacional, desnacionalizando, contudo, os setores mais dinâmicos
dessas economias (ABI-RAMA, 2020, p. 60).

Os países subimperialistas, como é o caso do Brasil, exercem uma influência


regional, mas essa influência também é condicionada pelos investimentos dos
capitais dos países centrais. O país exerce influência no contexto da América do Sul,
principalmente, no setor industrial.

Para Abi-Rama (2020, p. 76) a “produção brasileira manteve-se diversificada,


dominando ramos consideráveis com grau de tecnologia”. Nos últimos anos, o país
atingiu setores econômicos na América do Sul, que outros países não chegaram, assim
o país passa a dominar as relações de exportação para a América do Sul, mas mantendo
as importações de produtos primários (ABI-RAMA, 2020).

O Brasil tem um importante papel na integração regional dos países da América


Latina e da América do Sul. Esse papel exercido pelo país decorre de sua força regional,
que atua cada vez mais organizando as estratégias para manter os projetos dentro das
relações da América do Sul e da América Latina.

Portanto, o Brasil tem uma atuação regional muito importante que determina
suas relações fronteiriças, seja no mercado inter-regional ou no mercado internacional.
Essas relações fronteiriças do Brasil tornam-se importantes, pois de acordo com a
Castilho (2015, p. 1-2) “a faixa de fronteira brasileira abarca 11 Unidades da Federação,
588 municípios e mais de 10 milhões de habitantes. A extensão de suas [...] fronteiras e
o número de países com os quais faz divisa conferem à região papel central na integração
regional com os vizinhos sul-americanos e também no desenvolvimento do país”.

156
2.1.1 As relações fronteiriças do Brasil
Acadêmico, antes de discutirmos as principais relações fronteiriças no Brasil, é
importante distinguir alguns conceitos, como fronteira, limite e divisa. As fronteiras são conhecidas
pela separação entre países, essas podem ser artificiais (pontes, estradas, monumentos, ou seja,
criada pelas pessoas) e naturais (montanhas, vales, rios, criadas pela natureza).

A divisa, por sua vez, é usada para separar estados, como divisas entre Santa
Catarina e Paraná, por exemplo. E os limites são usados para separar os municípios, como
Blumenau e Pomerode. Dito isto, nosso estudo discorrerá sobre as fronteiras entre o Brasil.

Como já sabemos, o Brasil é um país de grande extensão territorial com 8.516.000


km² localizado na América do Sul, e a faixa de fronteira do Brasil está delimitada com 10
países dos 12 existentes na América do Sul.

Os únicos países que não fazem fronteira com o Brasil são o Chile e o Equador.
Observe o Quadro 1, ele retrata as extensões territoriais de fronteiras entre os países da
América do Sul e o Brasil.

QUADRO 1 – EXTENSÃO DAS FRONTEIRAS ENTRE BRASIL E PAÍSES DA AMÉRICA DO SUL

PAÍSES DEFINIÇÕES
A fronteira do Brasil com a Bolívia tem extensão de 3.423,2 km, dos
quais 2.609,3 km são por rios e canais, 63,0 km por lagoas e 750,9 km
BOLÍVIA
por linhas convencionais. Estados brasileiros que fazem fronteira com a
Bolívia: Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
A fronteira do Brasil com o Peru tem extensão de 2.995,3 km, dos quais
2.003,1 km são por rios e canais, 283,5 km por linhas convencionais e
PERU
708,7 km por divisor de águas. Estados brasileiros que fazem fronteira
com o Peru: Acre e Amazonas.
A fronteira do Brasil com a Venezuela tem extensão de 2.199,0 km, dos quais
VENEZUELA 90,0 km são por linhas convencionais e 2.109,0 km por divisor de águas.
Estados que fazem fronteira com a Venezuela: Amazonas e Roraima.
A fronteira do Brasil com a Colômbia tem extensão de 1.644,2 km, dos
quais 808,9 km são por rios e canais, 612,1 km por linhas convencionais
COLÔMBIA
e 223,2 km por divisor de águas. Estado brasileiro que faz fronteira com
a Colômbia: Amazonas.
A fronteira do Brasil com a Guiana tem extensão de 1.605,8 km, dos
GUIANA quais 698,2 km são por rios e canais e 907,6 km por divisor de águas.
Estados brasileiros que fazem fronteira com a Guiana: Roraima e Pará.
A fronteira do Brasil com o Paraguai tem extensão de 1.365,4 km, dos quais
PARAGUAI 928,5 km são por rios e 436,9 km por divisor de águas. Estados brasileiros
que fazem fronteira com o Paraguai: Paraná e Mato Grosso do Sul.

157
A fronteira Brasil com a Argentina tem extensão de 1.261,3 km, dos
quais 1.236,2 km são por rios e apenas 25,1 km por divisor de águas.
ARGENTINA
Estados brasileiros que fazem fronteira com a Argentina: Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul.
A fronteira do Brasil com o Uruguai tem extensão de 1.068,1 km, dos
quais 608,4 km são em rios e canais, 140,1 km em lagoas, 57,6 km por
URUGUAI
linhas convencionais e 262,0 km por divisor de águas. Estado brasileiro
que faz fronteira com o Uruguai: Rio Grande do Sul.
A fronteira do Brasil com a Guiana Francesa tem extensão de 730,4 km,
GUIANA
dos quais 427,2 km são por rios e 303,2 km por divisor de águas. Estado
FRANCESA
brasileiro que faz fronteira com a Guiana Francesa: Amapá.
A fronteira do Brasil com o Suriname tem extensão de 593,0 km, dos
SURINAME quais os 593,0 km são por divisor de águas. Estados brasileiros que
fazem fronteira com o Suriname: Amapá e Pará.
FONTE: Castilho (2015, p. 1-2)

Todas as fronteiras entre os Estados decorrem da necessidade de separar os


territórios e delimitar a soberania de cada país. Cada fronteira determina onde começa
e onde termina um país, ou seja, onde está demarcado o poder do país sobre o território
em que ele se localiza. Essas fronteiras servem também para proteger o território e evitar
entrada ilegal de pessoas, armas, drogas, contrabando de uma forma geral (FREITAS, 2022).

Na Figura 1, podemos visualizar as fronteiras que demarcam os países da


América do Sul.

FIGURA 1 – AS FRONTEIRAS BRASILEIRAS

FONTE: <https://bit.ly/3pfkG9E>. Acesso em: 29 dez. 2021.

158
De acordo com Santos e Barros (2016, p. 56),

a faixa de fronteira brasileira é derivada do processo histórico, que


teve como principal fundamento a preocupação com a segurança
e soberania nacional da colônia, desde os seus tempos do
descobrimento, passando pelos dois períodos do Império, pelas fases
das República e chegando aos dias recentes.

As fronteiras no Brasil e seus países vizinhos geraram conflitos e confrontos,


como a Guerra do Paraguai (1864-1870). Mas, foi no início do século XX, que o “chanceler
Barão do Rio Branco, encerrou as disputas com os países vizinhos”, essas disputas não
tiveram confrontos, mas “consolidou a demarcação das fronteiras nacionais tanto ao
norte [...] quanto ao sul” do país (SANTOS; BARROS, 2016, p. 57).

Essas relações bilaterais do Brasil foram consolidadas a partir de acordos,


possibilitando a demarcação de fronteiras e as relações entre os países. Para Santos e
Barros (2016, p. 59) as relações bilaterais entre os países de fronteiras

podem ser definidas em três níveis: i) elevado: são aqueles países


em que há uma sinergia considerada de integração; ii) moderado:
são aqueles países em que existe uma integração mediana e/ou
iniciante; e iii) baixa: são aqueles países em que não há nenhuma
integração oficial ou inexistem ações conjuntas.

Esses níveis evidenciam os graus de integração entre os países fronteiriços.


Para os autores, no primeiro nível, encontram-se Argentina e Uruguai. No segundo nível,
teríamos Paraguai, Venezuela, Colômbia, Bolívia e Peru e no terceiro, seriam as relações
com o Suriname, a Guiana e a Guiana Francesa (SANTOS; BARROS, 2016).

DICA
Prezado acadêmico! Se você tem interesse sobre o surgimento das fronteiras no Brasil,
recomendamos o livro do professor Soares Teixeira intitulado “História da formação
das fronteiras do Brasil”. O livro discorre sobre a história e a geopolítica construtoras de
fronteiras; a fusão das fronteiras do Brasil; o imperialismo inglês e francês na Amazônia
brasileira; demarcação das fronteiras do Brasil com as Guianas francesa, holandesa e inglesa;
fronteira com a Venezuela; do Brasil com a Colômbia; a fronteira do Peru é abordada sobre
uma leitura do grande caminho do Pacífico para o Atlântico; destaca as relações de
pressões na fronteira do Brasil com a Bolívia; os limites do Brasil com o Paraguai,
Argentina e Uruguai e, por fim, faz uma abordagem de como há interesses em
torno do mar nessas fronteiras e as delimitações marítimas dos territórios da
América do Sul. Para adquirir o livro você pode acessar o link a seguir e baixá-lo
em seu computador. Acesse: https://bit.ly/37hYyFt.

159
3 AS POLÍTICAS EXTERNAS BRASILEIRAS
Você sabia que no Brasil temos um Ministério das Relações Exteriores? Ele é o
responsável pela política externa do país. Ela é considerada como “uma política pública, ou
seja, um conjunto definido de medidas, decisões e programas utilizados pelo governo de
um país”. As políticas externas dos países direcionam-se para negociações econômicas,
comerciais, aproximação política e cultural. Essas políticas podem ser definidas de duas
formas: bilateralmente: relação entre dois países e multilateralmente: quando os
países participam de organizações ou fóruns internacionais.

De acordo com Borelli (2018, s.p.),

A formulação da política externa deve levar em conta o que ocorre


tanto em nível nacional, como em nível internacional. Apesar de
ser uma política voltada para o exterior, sua direção e os parâmetros
a serem seguidos são determinados pelas autoridades do país no
plano nacional. Sendo assim, a formulação de uma Política Externa
deve considerar tanto as questões internas – como os interesses
da sociedade e os valores culturais do país – quanto questões
internacionais – como a distribuição de poder no cenário internacional
e a atuação das organizações internacionais.

De forma geral os principais exemplos de políticas externas são: visitas


oficiais (visitas de Estado); encontro de ministros; acordos bilaterais ou multilaterais;
representações no exterior; participação em organização internacional; formação de
blocos ou grupos econômicos; participações em missões de paz (BORELLI, 2018).

Os representantes da política externa em um país são os chefes de Estado ou de


Governo. No Brasil nosso maior chefe é o Presidente da República. Mas há outras figuras
importantes nessas relações exteriores como: os diplomatas, o chanceler ou Ministro
das Relações Exteriores, embaixadores, cônsules e adidos militares. Além dos agentes
oficiais para a execução das políticas externas temos os “atores informais – ou não
oficiais – [...] figuras públicas, a mídia, organizações nacionais e internacionais, grandes
empresas, estudiosos e acadêmicos”. Normalmente esse grupo informal é considerado
como “grupo de interesses” (BORELLI, 2017a, s.p.)

Após essa breve abordagem em que caracterizamos o que é política externa, quais
são os agentes responsáveis e como ela atua de forma mais genérica, agora nos deteremos
nas especificidades do Brasil. O país sempre foi considerado um Estado diplomático, ou
seja, mais pacífico. Assim, a forte diplomacia do Brasil é uma grande característica do país
nas relações exteriores. Os princípios que regem nossa política externa concentram-se
em: soberania, autonomia, desenvolvimento nacional e não intervenção.

Na história do Brasil, o início das relações exteriores foi marcado pelo “pai da
diplomacia brasileira” o Barão do Rio Branco, cujo nome oficial era José Maria da Silva
Paranhos Júnior. O Barão esteve no Ministério das Relações Exteriores no início do
século XX (1902-1912). Nos dez anos que atuou no Ministério marcou sua gestão “por

160
grandes feitos, como a negociação para o estabelecimento das fronteiras territoriais
e uma arquitetura política relativamente estável e mais amistosa com os países da
América do Sul” (BORELLI, 2017b, s.p.).

DICA
Para saber mais do processo histórico das relações exteriores em diversos
períodos históricos recomenda-se o estudo do livro de CERVO, A.; BUENO,
C. História da política exterior do Brasil. 2. ed. Brasília: Editora Universidade
de Brasília, 2002, que se encontra disponível na internet.

3.1 DISPUTAS TERRITORIAIS E CONSOLIDAÇÃO DAS


FRONTEIRAS POLÍTICAS
As disputas territoriais decorrem de fatores políticos, econômicos e estratégicos,
no intuito de aumentar seu território, dominar áreas específicas, que muitas vezes são
detentoras de recursos naturais que ajudam na produção econômica de alguns países,
como é o caso do petróleo. A configuração territorial brasileira que conhecemos hoje
nem sempre se apresentou assim. Nossa primeira delimitação do território foi feita com
o Tratado de Tordesilhas, no ano de 1494. O Tratado foi um acordo entre Portugal e
Espanha para demarcar e dividir as terras conquistadas.

A ampliação do nosso território teve a participação do movimento dos


bandeirantes e os entradistas, que foram precursores na expansão das fronteiras no
Brasil (OLIVEIRA, 2015). A expansão territorial na história do Brasil explica-se por fatores
políticos, econômicos e sociais. Merecem destaque os conflitos da Guerra da Cisplatina,
Guerra do Paraguai e a Revolução Acreana.

A Guerra da Cisplatina foi a primeira na história do Brasil, enquanto nação independente.


O período do conflito foi entre 1825 e 1828. Esse conflito ocorreu entre o Império do Brasil e
as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). A disputa pelo controle da Cisplatina,
que hoje é uma região correspondente ao Uruguai, decorreu da tensão que existia entre os
habitantes dessa região, e visava garantir o controle sobre o estuário (porto) sul da América e
sobre todo o comércio que era transportado dali (SILVA, 2022).

A Guerra do Paraguai (1864 – 1870) foi considerada como um dos maiores


conflitos armados da América Latina. Essa guerra foi travada entre o Paraguai e a Tríplice
Aliança (composta por Império brasileiro, Argentina e Uruguai).

O início decorreu de um conflito interno que surgiu no Paraguai, mas que


tomou proporções regionais. As principais causas desse conflito se expressam nos

161
“desentendimentos quanto às fronteiras entre os países, a liberdade de navegação dos
rios platinos, as disputas pelo poder por parte das facções locais” (GOIÁS, 2022, s.p.).

A Revolução Acreana é outro marco dos conflitos territoriais no Brasil, decorrente


do enfrentamento entre Brasil e Bolívia, cujo foco estava no conflito pelo controle da
borracha. A revolução durou entre 1889 e 1903. Essa disputa fez com que o Brasil, a
partir do Tratado de Petrópolis, adquirisse o território do Acre em 1904, tornando-o parte
do território, mas seu reconhecimento enquanto estado só ocorreu no ano de 1962.

4 CONFLITOS COLONIAIS
O período colonial ficou marcado pelo domínio de Portugal sobre o território
brasileiro. Esse período histórico também foi marcado por revoltas e conflitos. As revoltas
desse período ficaram divididas em nativistas e separatistas. Essas revoltas ocorrem
devido ao regime político da época, o Pacto Colonial, que regia o mercantilismo entre os
Estados. A lógica desse regime pautava-se na relação econômica entre a metrópole e
a colônia. Para alguns historiadores, esse regime determinava que a colônia servia para
atender às necessidades da metrópole.

O Pacto Colonial entre a metrópole (Portugal) e a colônia (Brasil) era determinado


pelas relações comerciais entre ambas, nas quais a Metrópole possuía o monopólio
comercial e produtivo, controlava a economia da colônia e enriquecia com base na
exploração que não podia produzir manufaturas, exportava recursos primários como:
metais preciosos, matérias-primas e gêneros tropicais. Foi dessa relação econômica
que os conflitos nativistas e separatistas aconteciam.

O primeiro caracterizava-se por conflitualidades entre os colonos e buscavam


o fim do regime colonial, os principais conflitos foram: a Revolta de Beckman, a Revolta
dos Emboabas, a Revolta dos Mascates, a revolta de Filipe dos Santos e as revoltas
dos povos originários, como os indígenas e os povos negros africanos que foram
escravizados. Já os conflitos separatistas desejavam a separação de Portugal, lutando
pela independência em relação à metrópole, os conflitos mais conhecidos foram a
Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana (PEREIRA, 2021).

Observe o mapa na Figura 2, ele retrata os principais locais que ocorreram as


revoltas do período colonial.

162
FIGURA 2 – CONFLITOS NO PERÍODO COLONIAL

FONTE: <https://bit.ly/35ryYge>. Acesso em: 21 fev. 2022.

163
No que tange às revoltadas nativistas, a Revolta dos Beckman ocorreu no estado do
Maranhão em 1684. Tinha como objetivo melhorias na administração colonial. Essa revolta
foi liderada por dois irmãos: Manuel Beckman e Tomas Beckman. A Revolta dos Emboabas
tinha como objetivo lutar pela exclusividade na exploração do ouro. Os bandeirantes foram
a principal figura dessa guerra, que aconteceu entre 1708 e 1709. A Guerra dos Mascates
por sua vez ocorreu no estado de Pernambuco, entre 1710 e 1711. O conflito era entre os
senhores de engenho de Olinda e os comerciantes portugueses que viviam em Recife. De
acordo com Brandão (2014, s.p.) as revoltas nativistas “focavam em insatisfações pontuais
contra o domínio português para melhorar certas condições de ordem pública”.

Outra revolta nativista que merece atenção é a de Filipe Santos (ou Vila Rica), ocorrida
no ano de 1720, que marcou o “descontentamento dos donos de minas de ouro em Vila Rica
com a cobrança do quinto e a instalação das casas de fundição” (NAUJORKS, 2020, p. 2).

As revoltas indígenas se deram basicamente em função da expansão da ocupação


de terras em nosso país. Como a Guerra dos Bárbaros, envolveu centenas de indígenas
que resistiam à expansão dos portugueses, por outro lado, há histórico de indígenas que se
alinharam aos holandeses, por exemplo, durante a ocupação de Pernambuco. Portanto, os
indígenas também conflitavam entre si e com seus colonizadores. De acordo com Moraes
(2001), os conflitos entre os colonizadores, portugueses e holandeses, contribuiu também
para a fuga de escravos que criaram Palmares. Para Moraes (2001, p. 110) a consolidação
de Palmares foi uma fratura na soberania dos colonizadores.

A guerra entre holandeses e portugueses no Brasil acabou levando


à grande fuga dos escravos. A tática portuguesa de desarticular
os engenhos e botar fogo nos canaviais propiciou grande fuga
de escravos, que foram se concentrando em Alagoas, na serra da
Barriga, gerando a segunda fratura do ponto de vista da soberania:
o Quilombo de Palmares. O episódio de Palmares foi minimizado na
história brasileira. Primeiro, vale lembrar que Palmares durou quase
cem anos, um século. No seu auge, por volta de 1650, chegou a ter
70.000 habitantes, que era mais ou menos a população da área
mais povoada da colônia, na época, o Recôncavo Baiano. Então
não foi uma coisa secundária. Palmares foi uma clara situação de
extraterritorialidade no domínio português, era um Estado autônomo,
que inclusive negociava com portugueses e holandeses. Foi uma
segunda fratura: Palmares, durante o século XVII.

Os movimentos separatistas como mencionamos anteriormente: a Inconfidência


Mineira e a Conjuração Baiana, para Brandão (2014, s.p.) “ocorreram justamente contra
as exigências, as cobranças e os abusos cometidos pela metrópole portuguesa para
com a sociedade dos colonos brasileiros, essa que já se encontrava em um certo grau
de interação social que permitia questionar tais fatos”.

A Inconfidência Mineira (Minas Gerais, em 1789) foi marcada pela luta da


independência de Minas e contra a exploração dos portugueses. Um dos principais
punidos por essa luta foi Tiradentes, que foi esquartejado e morto em praça pública,
para que servisse de exemplo a quem tentasse organizar outra revolta. A Conjuração

164
Baiana por sua vez teve como objetivo separar o Brasil de Portugal e pôr fim ao trabalho
escravo. Esta revolta ocorreu em 1798. Os conflitos fazem parte da história do Brasil,
estes determinaram a constituição de novos espaços, novas relações de poder, novas
posturas políticas e novas relações econômicas.

4.1 A QUESTÃO CISPLATINA NO PERÍODO IMPERIAL


BRASILEIRO
A maioria dos conflitos territoriais entre países tem como foco o interesse
econômico, devido aos potenciais de exploração de determinados territórios. Na
questão Cisplatina não foi diferente. Lembre-se de que, cisplatino é um adjetivo que se
refere ao que está aquém do Rio da Prata, nesse caso o Uruguai. A guerra ocorreu entre
1825 e 1828 no período Imperial do Brasil, que envolveu nosso território e Buenos Aires.
A província Cisplatina, hoje é território do Uruguai. A cobiça sobre esse território esteve
ligada ao seu potencial hídrico, devido ao Rio da Prata e sua localização estratégica
para navegações. A origem do conflito teve como principal motivo “o bloqueio naval dos
portos do Rio da Prata”. Para Siqueira (2018, p. 65), o estudo desta guerra nos ajuda a
compreender “as origens e a história da política externa entre Brasil e Argentina”.

Os fatores históricos da guerra podem ser considerados por períodos.

• 1821: anexação da Província Oriental do Uruguai, ao Brasil, como Província Cisplatina.


• 1822: Dom Pedro rompeu com Portugal e iniciou a Guerra da Independência do
Brasil. Ainda nesse ano, houve divisão entre as tropas que ocupavam o território
da Cisplatina. Alguns desejavam a independência e outros queriam continuar sob o
domínio de Portugal.
• 1825: Os uruguaios solicitaram independência do Brasil e apoio de Buenos Aires.
Declararam, nesse mesmo ano, sua separação do Brasil, solicitando a incorporação
das Províncias Unidas, tratado aceito por Buenos Aires.
• 1828 – O Uruguai foi reconhecido como território independente pelo Brasil e pela
Argentina (PROVÍNCIA CISPLATINA, 2022).

O estudo sobre esse pedaço da América nos permite compreender as raízes dos
países platinos, pois “o Prata carrega consigo um conjunto de experiências políticas,
culturais, étnicas, surgimento de identidades e de atores sociais que modelam e
reinventam a todo momento as relações sociais e os conflitos políticos ali estabelecidos”
(SIQUEIRA, 2018, p. 65).

O Brasil perdeu o território da Cisplatina, que se tornou independente e o


Imperador Dom Pedro I, perdeu sua popularidade.

A Guerra da Cisplatina foi a primeira na história do Brasil, enquanto nação


independente. De acordo com Silva (2022, s.p.), os principais objetivos da Guerra da

165
Cisplatina era “garantir o controle sobre o estuário (porto) sul da América e sobre todo o
comércio que era transportado ali”; garantir o domínio sobre parte das colônias espanholas”,

Apesar desses objetivos gerais da Guerra, cada país tinha seus próprios
interesses sobre o território. Para o Brasil o desejo era colocar “fim à rebelião e retomar
o controle da Cisplatina”. Para o Uruguai, o principal objetivo era “anexar a região às
Províncias Unidas (Argentina)” e para as Províncias Unidas “derrotar o Brasil e garantir
a anexação da Cisplatina” (SILVA, 2022, s.p.). A Guerra não permitiu nem ao Brasil nem
as Províncias anexar seu território sob domínio da Cisplatina, pelo contrário, assinaram
acordo de paz e concederam a independência da Cisplatina.

4.1.1 A era do Rio Branco (1902-1912)


A era do Rio Branco foi marcada pela diplomacia de José Maria da Silva
Paranhos Júnior. Esse nome extenso ficou conhecido quando recebeu o título de Barão
em 1888, após a Proclamação da República. Muitas ações deram destaque ao Barão,
a mais celebrada foi o “traçado dos limites territoriais do Estado brasileiro”. Barão do
Rio Branco foi Ministro das Relações Exteriores. Antes disso já atuava na diplomacia
brasileira, sendo cônsul do Brasil na Inglaterra. A atuação da diplomacia de Rio Branco
foi muito importante para o Brasil, principalmente nas questões do território do Acre.

De acordo com Moura (2016, s.p.), em seu atlas da história brasileira o Barão
“não acreditava que a contenda, da problemática do Acre, pudesse ser resolvida por
meio de decisão arbitral baseada em documentação histórica, já que aquele território
jamais fora reconhecido como brasileiro”.

Havia o interesse do capital internacional, como a empresa norte-americana


que tinha o direito de explorar a borracha da Bolívia e os conflitos de interesse entre a
Bolívia e o Brasil. Para Rio Branco, o desfecho dessa problemática só deveria ocorrer
com acordo entre os países. De fato, o acordo se “deu através da incorporação ao
território nacional de 190 mil quilômetros quadrados, com a contrapartida de três mil
quilômetros quadrados, mais dois milhões de libras entregues ao governo boliviano, e
o compromisso de construir a estrada de ferro Madeira- Mamoré” (MOURA, 2016, s.p.).

A era do Rio Branco foi marcada nos governos de Rodrigo Alves (1902 – 1906);
Afonso Pena (1906 – 1909); Nilo Peçanha (1909 – 1910) e Hermes da Fonseca (1910 –1914).
A diplomacia permitiu que sua atuação fosse além da relação com a compra do Acre.
Estabeleceu negociações de fronteiras com “Argentina, Bolívia, Guiana Francesa e Peru”.
Outro fator preponderante de seu trabalho foi a “promoção dos fluxos migratórios para
o Brasil e agente no processo de estabelecimento da ordem institucional burocrática
da Primeira República” (MOURA, 2016, s.p.). A postura diplomática e apaziguadora
fez com que o Barão fosse o responsável por lançar uma nova política internacional
para o Brasil. De acordo com Burns (1964, p. 381), a política externa do Brasil, sob a

166
liderança de Rio Branco tinha como objetivos “igualdade das nações, aceitação do novo
corolário da Doutrina de Monroe, uma amizade mais estreita com os Estados Unidos e o
engrandecimento do Brasil”.

Vemos que, as relações do Brasil no contexto mundial vão além das políticas
atuais, elas têm como base um processo histórico de relações externas assim como,
evidenciam o papel dos políticos, diplomatas na tomada de decisões e articulações com
outros países, seja na disputa territorial ou nas relações econômicas.

167
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• O território é definido como um espaço social, que só pode existir sob uma sociedade
que o crie e o qualifique.

• O território brasileiro é fruto da criação colonial.

• O Brasil teve vários períodos: Colonial; Imperial; República – esta dividida em


República Velha, Era Vargas, República Populista e Governos Militares.

• O país se consolidou nas relações internacionais a partir da colonização e de sua


condição de agroexportador.

• A Constituição Brasileira de 1988 rege os princípios das relações internacionais.

• No contexto econômico, as relações internacionais do Brasil podem ser destacadas


pela sua participação no Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), nas suas relações a
partir do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e sua participação no G20.

• As relações do Brasil com seus países vizinhos na América Latina são muito
importantes para manter estabilidade entre as relações comerciais.

• A parceria econômica dos países latino-americanos com a China é muito importante para
as exportações e o papel que esses países exercem nas relações econômicas mundiais.

• O Brasil tem um importante papel na integração regional dos países da América


Latina e da América do Sul.

• As políticas externas do país são consideradas como uma política pública, ou seja, um
conjunto definido de medidas, decisões e programas utilizados pelo governo de um país.

• O Brasil vivenciou a Guerra da Cisplatina e a Guerra do Paraguai com o objetivo de


disputas territoriais. E na época colonial também sofreu com revoltas nativistas e
separatistas.

• A era do Rio Branco foi fundamental para o desenvolvimento da diplomacia no Brasil


e suas relações internacionais.

168
AUTOATIVIDADE
1 Com base no que estudamos sobre as relações internacionais do Brasil, vimos que nossa
Constituição de 1988, em seu artigo 4º, rege essas relações com base em alguns princípios.
Esses buscam a integração econômica, política, social e cultural nas relações internacionais
com outros países. Sobre estes princípios que regem as relações internacionais, de acordo
com a Constituição brasileira de 1988, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) I - Independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autode-


terminação dos povos; IV - não intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI
- defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo
e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
b) ( ) I - Dependência nacional; II - prevalência dos direitos migratórios; III - indepen-
dência dos povos; IV - intervenção; V - superioridade entre os Estados; VI - de-
fesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao
racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X -
negação da concessão de asilo político.
c) ( ) I - Independência nacional; II - negação aos direitos humanos; III - autodeterminação
dos povos; IV - intervenção política e econômica; V - igualdade entre os Estados; VI
- defesa da paz; VII - solução dos conflitos (guerras, acordos); VIII - repúdio ao terro-
rismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político apenas para os países latino-americanos.
d) ( ) I - Independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeter-
minação dos povos; IV - intervenção; V - igualdade entre os Estados na determi-
nação das relações econômicas; VI - defesa da paz interna; VII - solução militar
dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os
povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político.

2 Considera-se que as fronteiras, as divisões e os limites são importantes delimitações


territoriais para definir onde começa e onde termina o poder de um país, um estado ou
município. Neste sentido, cada uma dessas categorias expressa diferentes definições.
Com base no que estudamos, analise as sentenças a seguir:

I- As fronteiras são conhecidas pela separação entre países, essas podem ser
artificiais (pontes, estradas, monumentos, ou seja, criada pelas pessoas) e naturais
(montanhas, vales, rios, criadas pela natureza). A divisa, por sua vez, é usada para
separar estados. Os limites são usados para separar os municípios.
II- O Brasil é um país que tem a faixa de fronteira delimitada com os 12 países da América do Sul.
III- Todas as fronteiras entre os Estados decorrem da necessidade de separar os territórios
e delimitar a soberania de cada país. Cada fronteira determina onde começa e onde
termina um país, ou seja, onde está demarcado o poder do país sobre o território no

169
qual este se localiza. Essas fronteiras servem também para proteger o território e evitar
entrada ilegal de pessoas, armas, drogas, contrabando de uma forma geral.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 As disputas territoriais do Brasil são decorrentes de diversos fatores: políticos,


econômicos, estratégicos. As principais disputas do país decorreram no intuito de
aumentar o território brasileiro e dominar áreas específicas. As principais guerras
foram a Guerra da Cisplatina, Guerra do Paraguai e a Revolução Acreana. Com base
no que estudamos, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) A Guerra da Cisplatina foi a primeira na história do Brasil, enquanto nação


independente. O período do conflito foi entre 1825 e 1828. Esse conflito ocorreu
entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina).
( ) A Revolução Acreana não ocorreu devido ao Tratado de Petrópolis, que o Barão do
Rio Branco firmou entre Brasil e Bolívia facilitando a aquisição do Acre para que nosso
país pudesse controlar a exploração da borracha. O acordo foi aceito pela Bolívia sem
nenhuma manifestação, pois eles precisavam do dinheiro que receberam do Brasil.
( ) A Guerra do Paraguai (1864-1870) foi considerada como um dos maiores conflitos
armados da América Latina. Essa Guerra foi travada entre o Paraguai e a Tríplice
Aliança (composta pelo Império brasileiro, a Argentina e o Uruguai).

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 Os conflitos coloniais eram divididos em nativistas e separatistas. O primeiro


caracterizava-se por conflitualidades entre os colonos e buscavam o fim do regime
colonial, os principais conflitos foram: a Revolta de Beckman, a Revolta dos Emboabas,
a Revolta dos Mascates e a Revolta de Filipe dos Santos. Já os conflitos separatistas
desejavam a separação de Portugal, lutando pela independência em relação à
metrópole, os conflitos mais conhecidos foram a Inconfidência Mineira e a Conjuração
Baiana. Disserte sobre as principais características de cada um desses conflitos.

5 A guerra da Cisplatina ocorreu entre 1825 e 1828 no período Imperial do Brasil, que
envolveu nosso território e Buenos Aires. A província Cisplatina, hoje, é território do
Uruguai. A origem do conflito teve como principal motivo o bloqueio naval dos portos do
Rio da Prata. Neste contexto, disserte sobre os principais fatores históricos da guerra.

170
UNIDADE 3 TÓPICO 2 -
DOS CONFLITOS FRONTEIRIÇOS À
COOPERAÇÃO: RELAÇÕES ENTRE BRASIL E
ARGENTINA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 2, abordaremos as relações entre o Brasil e a Argentina.
Essas relações nem sempre foram tão harmônicas como nos dias atuais. Historicamente,
as relações entre esses dois países já foram de aproximação e de muita desconfiança. Os
países já se enfrentaram em conflitos geopolíticos e ambos tiveram governos militares,
que resultaram na perda da democracia dos países.

As relações desses países são marcadas a partir da independência. A Argentina


a partir de 1816 e o Brasil a partir de 1822. Para alguns historiadores, nesses períodos,
se estabeleceram relações instáveis, devido aos conflitos de fronteiras existentes
no período, tendo em vista que havia disputas territoriais, como a que conhecemos
no Tópico 1, a Guerra da Cisplatina. Outras discordâncias ocorreram, mas a que mais
chamou atenção, além da guerra citada, foi a construção da Usina Itaipu.

Para Candeas (2005, p. 2),

As aproximações entre Argentina e Brasil ocorreram até os anos 70 de


forma irregular – perpassando regimes tão diversos como os de Urquiza,
Mitre, Roca, Sáenz Peña, Justo, Perón e Frondizi – e se intensificaram
desde os anos 80 – passando igualmente por governos tão díspares
como os de Videla, Alfonsín, Menem, Duhalde e Kirchner. Essa consta-
tação sugere que a natureza do relacionamento com o Brasil passou de
conjuntural a estrutural, independentemente do regime político (ditadu-
ra, democracia) ou da situação econômica (inflação, crise, estabilidade,
crescimento). Por outro lado, é evidente que o aprofundamento da de-
mocracia e do desenvolvimento econômico fortalece estruturalmente a
relação bilateral, no sentido de maior integração.

A relação bilateral estabelecida entre o Brasil e a Argentina, nos dias atuais,


nos mostra a importância de estabelecermos os vínculos internacionais, facilitando a
comunicação entre os países e fortalecendo os acordos políticos e econômicos. Mas,
como firma Candeas (2005, p. 4), as relações ora estremecidas e ora apaziguadas entre
os dois países podem ser caracterizadas por muitos fatores, tais como: “geografia,
rivalidade estratégica, economia, burocracias de Estado, política interna (disputa entre
modelos de desenvolvimento)". Convidamos você, acadêmico, a compreender melhor
essa relação nos próximos subtópicos do nosso livro didático.

171
2 AS RELAÇÕES REGIONAIS NA BACIA DO PRATA NO
DECORRER DA HISTÓRIA
A Bacia do Prata ou Bacia Platina como é conhecida é a segunda maior bacia
hidrográfica do planeta e tem grande importância para a América do Sul. A bacia hidrográfica
é constituída como um conjunto de terras delimitadas pelos divisores de águas que são
drenadas pelo rio principal, seus afluentes e subafluentes (O QUE É [...], 2013).

A Bacia Platina ocupa um território com cerca de 3,1 milhões de km², abrange o
Brasil, Uruguai, Bolívia, Paraguai e Argentina. Esse “complexo hidrográfico está centrado
no rio Paraná [...] que é responsável pelo abastecimento de água de grande parte da
região da Tríplice Fronteira” (OLIVEIRA; CAZALBÓN; RODRIGUES, 2019, p. 3).

Para Oliveira, Cazalbón e Rodrigues (2019, p. 3), a Bacia Platina

chama atenção no que diz respeito ao seu volume hídrico, e à


capacidade de reposição anual, sendo uma região perene quanto aos
índices pluviométricos – devido ao clima tropical e subtropical úmido
no qual se encontra – fator que faz com que a região não venha a
sofrer com fenômenos como a escassez hídrica.

Esta bacia, portanto, tem grande potencial econômico, o que a torna área de
disputas territoriais e conflitos geopolíticos. Como podemos observar na Figura 3, a
abrangência territorial da Bacia do Prata apresenta uma grande extensão que envolve
diversos territórios com interesses distintos.

FIGURA 3 – LOCALIZAÇÃO BACIA DO PRATA

FONTE: <https://bit.ly/3JStDO7>. Acesso em: 29 dez. 2021.

172
Ao observarmos o mapa vemos que esse grande potencial hídrico que se
estende na América do Sul é muito importante para a geração de energia. Isso sempre
foi um fator importante para o desenvolvimento industrial do Brasil e da Argentina.

Conforme Oliveira, Cazalbón e Rodrigues (2019, p. 3),

A grande capacidade de produção energética, a controle sobre a


distribuição de água e o acesso às vias de navegação intercontinental
foram os principais catalisadores para a eclosão de diversos focos
de conflito entre os Estados que compartilham dos recursos hídricos
platinos, como por exemplo Brasil, Argentina e Paraguai, que
compartilham em sua Tríplice Fronteira, os recursos da região do
Salto das Sete Quedas, a principal Foz do Rio Paraná.

Qualquer território estratégico será palco de conflitos. A Bacia Platina é uma área
de estratégias para os países banhados por ela, pois envolve não só a produção energética,
como a navegação, escoamento produtivo e a subsistência das populações do seu entorno.

Os principais conflitos nessa área foram a Guerra da Cisplatina (1825-1828),


como já estudamos anteriormente. Outro conflito foi a Guerra da Prata (1851-1852),
outro conflito entre Brasil e Argentina na disputa pelo território do Uruguai e a própria
Guerra do Paraguai são marcos nos conflitos fronteiriços nessa região. Outra que merece
destaque, segundo Oliveira, Cazalbón e Rodrigues (2019), é a “Guerra do Chaco (1932-
1935) decorrente do conflito entre a Bolívia e o Paraguai na região do Chaco.

Essa dinâmica econômica e histórica na Bacia do Prata contribuiu para a


formação do MERCOSUL, evidenciando as dificuldades para a criação de uma política
de integração internacional entre os países.

2.1 BRASIL E ARGENTINA: DESCONFIANÇA E APROXIMAÇÃO


Começamos esse subtópico analisando o Quadro 2, elaborado por Candeas
(2005). O autor faz uma grande contribuição histórica para compreendermos as relações
bilaterais entre o Brasil e a Argentina. Mais que isso, ele permite que visualizemos desde
o século XIX até o momento atual, século XXl, como essa relação entre os países se
modificou ao longo dos anos.

No primeiro momento, os países vivenciavam uma instabilidade estrutural e


atualmente vivenciam uma relação mais estável. Isso foi possível porque e saíram das
relações com base nas rivalidades para as relações de cooperação.

173
QUADRO 2 – RELAÇÃO BILATERAL – BRASIL E ARGENTINA

Relações
Estratégia de inserção Relações Argentina-
PERÍODO Argentina-
global da Argentina América Latina
Brasil
Instabilidade Dependência em relação Isolacionismo e não
estrutural com à Grã-Bretanha, europe- ingerência. Apesar disso,
1810-1898
predomínio da ísmo e enfrentamento intervenções no Uruguai
rivalidade com os EUA. e Guerra do Paraguai.
Neutralidade nas guerras Protagonismo
1898-1914 Instabilidade mundiais. diplomático e mediação
conjuntural
1914-1945 Terceira posição: autonomia na Guerra do Chaco.
e busca de
heterodoxa em relação aos Busca de integração
cooperação com
EUA e universalização de comercial. Tentativa
1946-1955 momentos de
contatos diplomáticos e de “exportação” do
rivalidade
comerciais. peronismo.

Alinhamento aos EUA,


1955-1961 Busca de solução de
embora com busca de
litígios territoriais e de
espaços de autonomia.
Instabilidade interdependência na
conjuntural com Tentativa de reedição da questão cubana.
1962-1973
predomínio da autonomia heterodoxa.
1973-1976 rivalidade Oscilação entre
Hostilidade em relação
autonomia heterodoxa
ao Chile e combate à
1976-1979 e alinhamento aos EUA.
“infiltração comunista”.
Guerra das Malvinas.
1979-1983Construção da
Persistência do modelo Referência para a redemo-
estabilidade
heterodoxo com ênfase cratização e impulso à inter-
1983-1988 estrutural pela
no mundo não alinhado. dependência econômica.
cooperação
Alinhamento aos EUA.
Fundador do Mercosul.
Não proliferação e
1988-1989 Construção da Tentar representar interes-
busca de protagonismo
estabilidade ses estratégicos dos EUA.
estratégico global.
estrutural pela
1989-2001 Integração. Aproximação
integração Atualização da autonomia
com Venezuela e arestas
Desde 2002 heterodoxa.
com Chile.
FONTE: Candeas (2005, p. 3)

Após observarmos o Quadro 2, percebemos que os dois países estiveram em


constantes conflitos antes de chegarem ao atual estágio, ou seja, o da estabilidade,
seja pela cooperação ou pela integração. Essa dualidade e desconfiança tem como base
histórica, como vimos a Guerra da Cisplatina. Para Ribeiro et al. (2022, s.p.), “foi somente
a partir dos anos 1970 que as tensões entre os dois países começaram a ser aparadas”.

174
Um dos marcos mais decisivos para essa aproximação foi o fim das ditaduras militares
vivenciadas pelos países na década de 1980. A Argentina teve o fim de sua ditadura em
1983 e o Brasil em 1985.

Com esse processo de redemocratização dos países, as relações binacionais


foram se estreitando. Para o professor Severo (2015) essa aproximação permitiu a
criação da Comissão Mista de Alto Nível de Cooperação e Integração Bilateral. Esta
elaborou a Ata para a Integração Argentino-Brasileira e criou o Programa de Integração
e Cooperação Econômica (PICE) em 1986.

De acordo com Severo (2015, s.p.),

Os temas dos protocolos incluíam complementação de abastecimento


alimentício, expansão do comércio, empresas binacionais, assuntos
financeiros, energia, cooperação aeronáutica e nuclear, siderurgia,
transporte terrestre e marítimo, comunicações, administração pública,
moeda comum, indústria automotriz, alimentícia e de bens de capital.

Com a ampliação das relações entre o Brasil e a Argentina, os países se tornaram


parceiros comerciais entre si. Tanto para o Brasil, quanto para a Argentina as relações
de importação e exportação entre si são muito importantes para o desenvolvimento de
suas economias.

De acordo com a Open Market (CONHEÇA [...], 2021, s.p.),

[...] os principais produtos exportados pelo Brasil para a Argentina são


automóveis passageiros, partes e peças para veículos, automóveis e
tratores, produtos manufaturados e minérios de ferro. Da Argentina
compramos automóveis para transporte de mercadorias, trigo e até
legumes, raízes e tubérculos, preparados ou conservados.

Nos últimos anos, com a crise econômica que a Argentina vivencia, nossas
exportações caíram consideravelmente para o país. Segundo Bueno (2021, s.p.), “em
2019 tínhamos vendido 9.723,83 US$ Bilhões para os amigos argentinos. Já em 2020,
exportamos para os argentinos apenas 8,5 US$ bilhões, portanto, uma queda de 13,3%
nas vendas”. A articulação entre esses dois países, a cooperação e as relações bilaterais
tornam-se muito importantes para a economia da América do Sul, ambos fortalecem o
MERCOSUL assim como, as relações regionais.

2.1.1 Brasil e Argentina: conflitos geopolíticos


Já vimos que as relações entre Brasil e Argentina nem sempre foram de
parceria. Somente com o fim das ditaduras militares que a abertura para relações de
cooperação tornou-se possível. A parceria, que hoje conhecemos desses dois países, é
estratégica, tanto para a economia quanto para a expansão destes nas relações com o
mundo. É uma integração que permite uma projeção de ambos no cenário geopolítico e
econômico da América do Sul e da integração destes na economia-mundo.

175
Para Grassi (2019, p. 3) a

Argentina e Brasil são vizinhos mutuamente imprescindíveis e suas


relações são prioritárias para ambos os países, os quais agregaram
nas últimas décadas uma ampla agenda de cooperação, incluindo
áreas consideradas sensíveis, como a nuclear. Essa parceria
consolidada foi e continua a ser fundamental também para o avanço
de processos de integração regionais.

A integração regional é uma estratégia geopolítica importante, pois ela amplia


o poder dos países nas regiões. Os conflitos geopolíticos: Guerra da Cisplatina, Guerra
da Prata e do Paraguai determinaram os antagonismos entre os países que buscavam
expandir sua influência sobre as relações de poder no mundo e na própria região. Esses
conflitos foram direcionados pelas disputas territoriais e o intuito de ampliação do poder
dos países sobre a América do Sul.

Para Simões (2019, p. 121) “a superação geopolítica confrontacionista [...] balizou


a orientação voltada à cooperação com os países sul-americanos, com incidência
marcante na delineação da defesa nacional enquanto política pública”.

Atualmente, essa geopolítica entre os países é de integração, abrindo possibilidades


para construir uma região com desenvolvimento que integre os países da América do Sul
a partir da cooperação e projete-os na economia mundial, nas relações de exportações,
importações, participação em blocos econômicos. Ou seja, o fator geopolítico que delimita
os países em questão nos dias atuais já não é respaldado por conflitos, mas por uma
integração sólida, que tem beneficiado a unidade entre os países da América do Sul.

2.2 RELAÇÕES BILATERAIS: INSERÇÃO DO BRASIL E DA


ARGENTINA NA ECONOMIA MUNDO
Até aqui percebemos que as relações bilaterais são muito importantes para que
os países estabeleçam acordos entre si, definindo regras para as suas relações.

Podemos considerar na geografia internacional dois tipos de relações: as


bilaterais e as multilaterais. A primeira é considerada a partir da relação estabelecida
entre dois países. A segunda é estabelecida de três ou mais países. Tanto uma quanto
a outra têm como objetivo criar acordos e regras que possam direcionar suas relações
econômicas, políticas, ambientais e socioculturais. “Assegurando o desenvolvimento do
intercâmbio entre os países” (DALPIAZ, 2022, s.p.).

De acordo com Brasil (2014, s.p.) “as relações bilaterais são estratégicas para a
inserção do Brasil na região e no mundo”.

Com a constituição e fortalecimento da confiança e da cooperação “Brasil e


Argentina representam cerca de dois terços do território, da população e do PIB da

176
América do Sul”. Nessa integração bilateral temos o fortalecimento da “economia e da
indústria dos dois países” (BRASIL, 2014, s.p.).

A participação do capital brasileiro e na Argentina e da Argentina no Brasil


representam também a integração de diversos setores econômicos, como “siderúrgico,
petrolífero, bancário, automotivo, têxtil, calçadista, de máquinas agrícolas, de mineração
e construção civil” (BRASIL, 2014, s.p.).

Para o Ministério das Relações Exteriores do Brasil “a forte dinâmica bilateral, marcada
pelo elevado percentual de produtos de alto valor agregado, tem importantes impactos em
setores estratégicos das duas economias, sobretudo na indústria” (BRASIL, 2014, s.p.).

Os principais marcos da relação bilateral entre os dois países podem ser


expressos em reuniões da “Comissão Bilateral de Produção e Comércio; Comitê
Permanente de Política Nuclear; Foro de coordenação entre ministros das Relações
Exteriores e de Defesa, em formato de Diálogo Político-Militar”.

No entanto, a maior instância bilateral entre esses países, que é responsável pelas
políticas binacionais para a fronteira é a Comissão de Cooperação e Desenvolvimento
Fronteiriço (2011) que vem atuando desde 2011 e atendendo as demandas da integração
fronteiriça entre os países (BRASIL, 2014).

Observe o Quadro 3, com informações retiradas do Ministério das Relações


Exteriores. Este quadro destaca a cronologia das relações bilaterais entre os dois países.

QUADRO 3 – PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS NAS RELAÇÕES BILATERAIS –


BRASIL E ARGENTINA

ANO ACONTECIMENTO
1821 – O governo português, instalado no Rio de Janeiro, é o primeiro a
reconhecer a independência Argentina.
1823 – Argentina é o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil
e a estabelecer relações diplomáticas com o império.
1825 – O Congresso de Buenos Aires proclama a reintegração da Banda
1821-1833 Oriental ao território argentino. A Argentina rompe relações com o Brasil,
que declara guerra. Início da Guerra da Cisplatina.
1828 – Assinada, no Rio de Janeiro, Convenção de Paz que põe fim à
Guerra da Cisplatina e formaliza a independência do Uruguai.
1833 – O Brasil reconhece o direito argentino sobre as ilhas Malvinas,
ocupadas pelo Reino Unido.

177
1850 – Rompimento das relações diplomáticas do Brasil com o governo de
Juan Manuel de Rosas, na Argentina.
1851 – Firmado, em Montevidéu, Convênio para uma aliança ofensiva e
defensiva contra Rosas entre Brasil, Uruguai e as províncias argentinas de
Entre Ríos e Corrientes. Rosas declara guerra ao Império brasileiro.
1852 – Juan Manuel de Rosas é derrotado pela coalizão entre Brasil,
1850-1870
Uruguai e as províncias argentinas de Entre Ríos e Corrientes.
1856 – Celebrado o Tratado de Amizade, Comércio e Navegação entre o
Brasil e a Argentina, que garante a livre navegação do rio da Prata.
1864 – Início da Guerra do Paraguai.
1865 – Brasil, Argentina e Uruguai assinam o Tratado da Tríplice Aliança.
1870 – Fim da Guerra do Paraguai.
1889 – Brasil e Argentina firmam Tratado de Arbitramento para a pronta
solução da questão de limites pendente na região de Palmas
1889 – A Argentina reconhece o regime republicano no Brasil (19 de
1889-1899
novembro) 1898 – Firmado tratado de limites entre Brasil e Argentina.
1899 – O presidente da Argentina, Julio Roca, visita o Brasil. É a primeira
visita oficial de um chefe de Estado estrangeiro ao país.
1900 – O presidente do Brasil, Campos Sales, visita a Argentina. É a primeira
visita, em caráter oficial, de um chefe de Estado brasileiro ao exterior.
1922 – Elevada à categoria de Embaixada a Legação do Brasil em Buenos Aires.
1935 – O presidente do Brasil, Getúlio Vargas, viaja ao Prata e realiza visita oficial
1900-1969 à Argentina. Brasil e Argentina fazem mediação da solução da Guerra do Chaco.
1961 – Encontro de Uruguaiana, entre os presidentes Jânio Quadros (Brasil) e
Arturo Frondizi (Argentina), no qual se assina o Convênio de Amizade e Consulta.
1969 – Assinatura do Tratado da Bacia do Prata, por Brasil, Argentina,
Bolívia, Paraguai e Uruguai.
1972 – O presidente da Argentina, Alejandro Lanusse, visita o Brasil e assina com
o presidente do Brasil, Emílio Médici, acordos bilaterais de integração física.
1977 – Divergências sobre a Usina de Itaipu levam ao fechamento da
fronteira entre Brasil e Argentina. São iniciadas conversas trilaterais para
tratar da construção da usina.
1979 – Brasil, Argentina e Paraguai assinam o Acordo Tripartite sobre
Coordenação Técnico-Operativa para o Aproveitamento Hidrelétrico de
Itaipu e Corpus.
1972-1988
1980 – Visita do presidente do Brasil, João Baptista Figueiredo, à Argentina.
Desde 1935 um presidente brasileiro não visitava o país.
1980 – O presidente da Argentina, Jorge Videla, visita o Brasil.
1982 – O Brasil se mantém neutro na Guerra das Malvinas, mas reconhece
a soberania Argentina sobre as ilhas.
1985 – Início do processo de aproximação Brasil-Argentina. "Declaração
de Iguaçu" é firmada pelos presidentes José Sarney e Raúl Alfonsín, na
fronteira entre os países (30 de novembro).

178
1986 – O presidente do Brasil, José Sarney, realiza visita de Estado à
Argentina. É assinada a "Ata de Integração Brasileiro-Argentina", que
estabelece o Programa de Integração e Cooperação Econômica (PICE)
1988 – Assinatura do Tratado de Integração, Cooperação e Desenvolvimento,
com base no PICE.
1990 – Assinatura da Ata de Buenos Aires pelos presidentes Fernando
Collor e Carlos Menem. Brasil e Argentina decidem conformar um mercado
comum até o final de 1994 (6 de julho).
1991 – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai firmam o Tratado para a
1990-1995 constituição do Mercado Comum do Sul (Mercosul).
1991 – Criação da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle
de Materiais Nucleares (ABACC).
1995 – Entrada em vigor da União Aduaneira do MERCOSUL, com a adoção
de tarifa externa comum (TEC).
2002 – Luiz Inácio Lula da Silva visita Argentina em sua primeira viagem
como presidente eleito (2 de dezembro).
2002 – Visita ao Brasil do presidente da Argentina, Eduardo Duhalde.
2004 – Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Néstor Kirchner assinam
a Ata de Copacabana (março).
2002-
2006 – Visita de Estado do presidente da Argentina, Néstor Kirchner, ao
2007
Brasil (janeiro).
2007 – Visita de trabalho do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva,
à Argentina (27 de abril).
2007 – Adoção do Mecanismo de Integração e Coordenação Bilateral
Brasil-Argentina – MICBA (dezembro).
2011 – Visita da presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, à Argentina, para a posse
da presidenta Cristina Kirchner, em seu segundo mandato (10 de dezembro).
2012 – Visita do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Antonio de
Aguiar Patriota, à Argentina. Criação do "Diálogo de Integração Estratégica"
(11 de outubro).
2015 – Visita da presidenta da República Argentina, Cristina Fernández de
Kirchner, a Brasília, por ocasião da XLVIII Cúpula dos Chefes de Estado do
2011-2016 Mercosul e Estados Associados (17 de julho).
2015 – Reunião de trabalho entre a presidenta Dilma Rousseff e a presidenta
da República Argentina, Cristina Fernández de Kirchner (17 de julho).
2016 – Em sua primeira viagem ao exterior, o ministro José Serra visita
Buenos Aires, ocasião em que mantém encontro de trabalho com a chanceler
Susana Malcorra e é recebido pelo presidente Mauricio Macri. Assinatura do
Memorando de Entendimento entre o Brasil e a Argentina para a Criação do
Mecanismo de Coordenação Política Brasil-Argentina (23 de maio).

179
2017 – I Reunião do Mecanismo de Coordenação Política Brasil-Argentina
(Brasília, 30 de maio).
2018 – Viagem do secretário-geral das Relações Exteriores à Argentina.
I Reunião do Diálogo Político-Estratégico Brasil-Argentina. II Reunião do
Mecanismo de Coordenação Política Brasil-Argentina (16 de abril).
2018 – Assinatura do Memorando de Entendimento entre Brasil e Argentina
2017-2019
sobre Regulamentos Técnicos do Setor Automotivo (24 de agosto).
2018 – Assinatura da Declaração de Montevidéu sobre Cooperação Nuclear
Empresarial Brasil-Argentina (17 de dezembro).
2019 – Acordo comercial Brasil-Argentina para o setor automotivo – Nota
Conjunta do Ministério das Relações Exteriores e do Ministério da Economia
(3 de outubro).
FONTE: Adaptado de Brasil (2014)

Ao prestarmos atenção nesse detalhamento de informações disponíveis pelo


MRE, vemos que desde 1821 as relações entre Brasil e Argentina, sejam de conflito
ou cooperação, vem ocorrendo. Com isso, podemos afirmar que ambos os países são
importantes entre si, pois determinam a produção, o comércio e consequentemente a
participação das relações exteriores.

2.3 GOVERNOS MILITARES: BRASIL E ARGENTINA


Governos ditatoriais são regimes não democráticos, baseados em governos
mais repressores. Normalmente, uma ditadura é constituída a partir de golpes de Esta-
do. O ditador tende a ser uma pessoa que não aceita oposição a suas ideias.

Vimos na Unidade 2 do nosso livro didático alguns aspectos da ditadura mili-


tar no Brasil, Argentina e na Venezuela (confira também, na mesma unidade, a Fi-
gura 5, que evidencia as ditaduras na América Latina). Neste subtópico vamos cen-
trar nosso estudo no Brasil e na Argentina.

No Brasil, a ditadura militar durou 21 anos (1964-1985). Ela pode ser estudada
em três fases. A primeira, quando houve a legalização do regime autoritário, por meio de
decretos-lei e de uma nova Constituição.

A segunda fase pode ser considerada a partir do “recrudescimento da repressão


e da violência estatal contra os opositores da ditadura”. E a terceira fase, pode ser consi-
derada a partir da “reabertura política, com a Lei da Anistia e o movimento pelas eleições
diretas para presidente” (ORIGENS [...], c2022, s.p.).

A ditadura do Brasil deixou profundas marcas na nossa história. Tortura, de-


saparecimento de civis, negação de direitos, perseguições, represálias, autoritarismo,

180
violência, crise econômica, alta da inflação. Das ações do governo militar os Atos Insti-
tucionais (AI) merecem destaque aqui.

Os Atos intitulados por número (AI-1; AI-2; AI-3; AI-4 e AI-5) são considerados
como “leis com força constituinte, imposta pelos militares e juristas autoritários. [...] O
objetivo era reforçar o poder do Presidente da República, passando por cima das forma-
lidades constitucionais e dos direitos individuais” (ORIGENS [...], c2022, s.p.).

A edição do AIs foi feita pelos “Comandantes e Chefe do Exército, da Marinha e


da Aeronáutica ou pelo Presidente da República, para garantir a estabilidade do regime”
(RESUMO [...], 2021, s.p.).

Observe o Quadro 4 com os principais objetivos dos principais atos, pois ao lon-
go da ditadura foram emitidos 17 Atos Institucionais.

QUADRO 4 – ATOS INSTITUCIONAIS BRASILEIROS

ATO INSTITUCIONAL
OBJETIVO
(AI)
1964: foi responsável por alterar a Constituição de 1946.
AI-1 Conferiu poder aos Comandantes das Forças Armadas para
suspender direitos políticos e cassar mandatos legislativos.
1965: instituído para colocar os partidos políticos na ilegalidade
AI-2
e definir o bipartidarismo.
1966: tornou eleições para governadores estaduais indiretas,
AI-3 evitando, assim, dissidências entre o governador eleito e o
prefeito da capital.
1966: permitir a reabertura do Congresso Nacional, em recesso
AI-4 desde o golpe. O objetivo da abertura foi permitir a aprovação da
constituição de 1967 e manter a imagem de legitimidade do regime.
1968: caráter mais autoritário ao regime por meio das seguintes
medidas: suspensão do habeas corpus para determinados crimes;
fechamento do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas
AI-5 e das Câmaras de Vereadores; autorização para o Presidente
da República decretar estado de sítio por tempo indeterminado,
suspender direitos políticos e cassar mandatos eletivos; permitiu
confiscar bens privados e intervir em todos os estados e municípios.
FONTE: Adaptado de Resumo [...] (2021)

No período ditatorial do Brasil, cinco presidentes estiveram no poder, que foram


eleitos indiretamente, a saber: Humberto de Alencar Castello Branco (1964-1967); Arthur
da Costa e Silva (1967-1969); Emilio Garrastazu Médici (1969-1974); Ernesto Geisel (1974-
1979); João Batista Figueiredo (1979-1985).

181
Só a partir de do governo Figueiredo, com a aprovação da Lei da Anistia (1979),
houve maior abertura no país. Esse último governo permitiu o retorno dos exilados,
o perdão dos crimes políticos, a extinção do bipartidarismo. A primeira eleição direta
ocorreu em 1989 com a eleição do Presidente Fernando Collor de Melo, que não chegou
ao término do seu governo sofrendo impeachment em 1992.

Na Argentina, o golpe militar foi instaurado em 1976. A presidente María Estela


Martínez, teve seu posto destituído por uma “junta militar formada pelo general Jorge Rafael
Videla, pelo almirante Emilio Massera e pelo brigadeiro Orlando Agostí, sob a justificativa de
conter os desgovernos e a inflação, e de combater a influência socialista” (ALTMAN, 2021,
s.p.). O país teve uma ditadura muito violenta, deixando a marca de 30 mil mortos.

Tornaram-se prática cotidiana de agentes repressores os sequestros,


as prisões arbitrárias, as torturas, as mortes, a ocultação de
cadáveres, a censura aos meios de comunicação, a intervenção nos
sindicatos, a proibição de greves, a dissolução dos partidos políticos,
a suspensão da vigência do Estatuto do docente e a eliminação de
organizações políticas de esquerda (ALTMAN, 2021, s.p.).

Para Ribeiro (2021, p. 100) “as práticas repressivas empregadas entre 1976 e
1983 ficaram conhecidas como uma “guerra suja” com o emprego do terror pelo Estado.
A repressão e as diversas formas de violência foram muito presentes na Argentina”.

O pilar da ditadura nesse país esteve voltado para: “a repressão das Forças
Armadas frente aos movimentos dos trabalhadores, a perseguição ideológica à
Resistência Peronista de 1955; a Doutrina Nacional; as experiências contraguerrilhas
internas utilizadas pelo exército francês na guerra da Argentina e da Indochina; e a
guerra contrarrevolucionária estadunidense” (RIBEIRO, 2021, p. 104).

Os governos que ocuparam o poder na Argentina no período ditatorial foram


três, a saber: o general Juan Carlos Onganía, o general Roberto Marcelo Levingston e
o general Alejandro Agustín Lanusse. Esse período ditatorial teve fim em 1983 com a
inserção democrática no país a partir da eleição de Raul Alfosín.

O fim da ditadura esteve alinhado aos fracassos desse regime, no âmbito


econômico, social e político. O último elemento que fez estremecer a ditadura na
Argentina foi a derrota para os ingleses na Guerra das Malvinas, que foi um conflito entre
Argentina e a Grã-Bretanha na disputa pela posse das Ilhas Malvinas.

O fim da ditadura na Argentina levou “milhões de argentinos às urnas no dia 30


de outubro de 1983 para escolher um novo Congresso, 22 governadores, parlamentares
das províncias, prefeitos, vereadores e a eleição do presidente Raúl Alfonsín” (DITADURA
ARGENTINA, 2013, s.p.). A realidade enfrentada pelo então presidente não foi fácil, pois teve
que encarar um país com diversas crises e problemáticas sociais. A redemocratização do
país recuperou os direitos civis e as instituições democráticas foram reconstituídas, dando à
Argentina e aos argentinos a possibilidade de um novo horizonte político, social e econômico.

182
DICA
• Se quiser conhecer e se aprofundar na história da Ditadura Militar no Brasil a plataforma
eletrônica Memórias da Ditadura, projeto idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog, tem
diversos conteúdos sobre esse período, imagens, documentos, documentários, apoio ao
educador com diversos materiais e planos de aulas. Para você, acadêmico de Geografia,
compreender esse período é muito importante, pois o conteúdo histórico nos ajuda a
compreender categorias importante da Geografia: política, espaço, tempo, a
questão dos meios de comunicação, entender o contexto da Guerra Fria, economia,
desigualdades sociais. Alguns desses conteúdos podem ser trabalhados por você
na sala de aula. Portanto, aproveite e pesquise no portal Memórias da Ditadura.
Disponível em: https://bit.ly/3w6hNMP.
• Outra plataforma que contribui para informações relevantes é o Memorial da
Democracia. Considerado um museu virtual por disponibilizar tantos documentos
que nos ajudam a conhecer a história marcada pela busca da democracia, pela
igualdade e pela justiça social. Disponível em: https://bit.ly/3Je9zWm.

3 DERROCADA DOS GOVERNOS MILITARES


A decadência dos governos militares, tanto no Brasil quanto na Argentina, decorreu
do descontentamento da população com o regime. No Brasil, diversos movimentos
sociais, como as greves operárias do ABC Paulista e o movimento Diretas Já (movimento
em que a população reivindicava o direito de escolha através do voto), pressionaram para
a reabertura da democracia no país. Na Argentina, o conflito com os ingleses na Guerra
das Malvinas foi outro fator que evidenciou a queda dos governos militares.

Contudo, cabe ressaltar que, esses movimentos foram ocorrendo de forma


tímida já no governo de Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo, que “promoveu a
anistia aos punidos pelo Ato Institucional AI-5 e também extinguiu o bipartidarismo
permitindo criação de novos partidos” (WESTIN, 2019, s.p.).

O governo militar foi dando abertura para os movimentos, pois já não conseguia
mais sustentar a forma de governo ditatorial, as crises econômicas, os altos níveis de
inflação, as torturas, a falta de liberdade de expressão, o aumento da dívida externa,
levaram a população a continuar lutando pelos seus direitos e pressionar cada vez mais
o governo ditatorial (PARON, 2020).

O processo de redemocratização do país trouxe a promulgação da Constituição


de 1988. Isso demonstra que, a democracia é a forma que permite garantir os direitos
civis da população. Na Argentina, como já ressaltamos, o fim da ditadura esteve ligado
à eleição de Raúl Alfonsín em 1983. Mas, a queda do regime ditatorial também esteve
atrelada às crises vivenciadas no período, como: econômicas, sociais e políticas. De
acordo com Batista (2019, p. 17),

183
O colapso da ditadura argentina, baseado na incapacidade da
Junta Militar de manter a governabilidade diante das dificuldades
encontradas e das diversas crises que atingiram o governo de forma
simultânea, tem no insucesso do projeto político e econômico, mas
também na atuação da sociedade civil, fatores determinantes para
falência do Proceso de Reorganización Nacional, implodido por
diversos conflitos que se tornaram insuportáveis por atingirem seu
ápice de forma concomitante.

A falência do projeto da ditadura argentina destaca a importância da democracia


no governo, com participação popular e garantia de direitos. Ainda para Batista (2019,
p. 20) “o declínio da legitimidade do governo militar possibilitou o novo fortalecimento
de entidades importantes da sociedade civil”. É a perspectiva de um novo horizonte
que se estabelece para que “sindicatos, movimentos estudantis, partidos políticos,
ativismo dos direitos humanos” pudessem se reestabelecer na sociedade lutando por
suas pautas” (BATISTA, 2019, p. 20).

3.1 MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA


Os movimentos sociais são uma forma da sociedade civil se organizar para
reivindicar algo. São de diversos tipos, isso varia de acordo com as pautas políticas dos
grupos. Existem movimentos do campo, da cidade, de mulheres, de negros, indígenas,
gênero, político, ambiental, trabalhista. As organizações são de diversos tipos. Maria da
Gloria Gohn, em seu livro Teoria dos Movimentos Sociais, destaca que

Movimento social refere-se à ação dos homens na história. Esta ação


envolve um fazer – por meio de um conjunto de procedimentos – e
um pensar – por meio de um conjunto de ideias que motiva ou dá
fundamento à ação. Trata-se de uma práxis portanto. Podemos ter
duas acepções básicas de movimento: uma ampla, que independe
do paradigma teórico adotado, sempre que se refere às lutas
sociais dos homens, para a defesa de interesses coletivos amplos
ou de grupos minoritários; conservação de privilégios; obtenção
ou extensão de benefícios e bens coletivos etc. A outra acepção
se refere a movimentos sociais específicos, concretos, datados
no tempo, e localizados num espaço determinado. Na primeira
acepção, a categoria básica é a da luta social e tem um caráter
cíclico. Os movimentos são como as ondas e as marés, vão e voltam
e isto ocorre não por causas naturais – se assim o fosse estaríamos
fazendo uma análise etapista-evolucionista do fenômeno. O fluxo e
refluxo também não se refere a relações de causalidade mecânica,
num círculo causa-efeito. Os movimentos vão e voltam segundo
a dinâmica do conflito social, da luta social, da busca do novo ou
reposição/conservação do velho. Esses fatores conferem às ações
dos movimentos caráter reativo, ativo ou passivo. Destaca-se ainda
que nossa concepção de luta social não implica nenhum tipo de
determinação ou sobredeterminação, do tipo utilizado por Athusser
(1970), em que toda e qualquer luta social é sempre uma luta contra
o capitalismo, dado a determinação econômica em última instância.
A luta das mulheres do movimento feminista é um bom exemplo
para elucidar o campo de ação dos movimentos, não subjugado a
nenhuma ordem ou escala de "luta principal ou secundária". Outro

184
alerta necessário sobre a concepção ampliada de movimento social
é que nem tudo o que muda na sociedade é sinônimo ou resultado
da ação de um movimento social. Movimentos sociais são uma das
formas possíveis de mudança e transformação social. Na segunda
acepção a categoria fundamental é de força social, traduzida
numa demanda ou reivindicação concreta, ou numa ideia-chave
que, formulada por um ou alguns, e apropriada por um grupo, se
torna um eixo norteador e estruturador da luta social de um grupo
– qualquer que seja seu tamanho – que se põe em movimento. As
colocações acima trazem à luz outros elementos essenciais para
a construção de um paradigma explicativo das ações coletivas, no
intuito de fundamentar o conceito de movimento social para além
das evidências empíricas (GOHN, 1997, p. 247-248).

Na América Latina existem diversos movimentos sociais. Esses movimentos se


multiplicaram a partir da década de 1960. Para Petry (2008, p. 9),

No cenário latino-americano os movimentos sociais estão


voltados para três grandes áreas: a urbana, a rural e a indígena,
não menosprezando os demais que são peculiares da sociedade
contemporânea. O surgimento e a consolidação dos movimentos
dos povos indígenas, que avançam no cenário político e se associam
à mobilização camponesa e aos diferentes movimentos urbanos,
alcançam uma significativa presença local, regional e continental.
Assim, no Brasil, o MST conquista uma relevância política e difunde
sua experiência para outros países como a Bolívia, o Paraguai; no
México, o EZLN intensifica as lutas camponesas e indígenas contra as
políticas de liberalização da agricultura; na Argentina, os piqueteros,
desde 1999, ocupam um lugar de destaque no cenário de protestos
contra o neoliberalismo, tornando-se um movimento emblemático
nas lutas contra o desemprego; no Peru, a Frente Ampla Cívica de
Arequipa, que se mobiliza contra a venda das empresas públicas, etc.

Os movimentos sociais têm perspectivas diversas, contudo, no contexto que


estamos estudando, na questão da ditadura, podemos afirmar que, os movimentos
sociais foram muito importantes para o processo de redemocratização dos países
que vivenciaram a ditadura na América Latina. Infelizmente, esse processo de
redemocratização foi estagnado naquilo que Petry menciona como “democracia eleitoral”,
o que não contribuiu efetivamente para que os movimentos tivessem “participação
decisória na democracia” (PETRY, 2008, p. 13). Nisso respalda a continuidade da luta
dos movimentos sociais, pela busca e garantia de direitos.

Goirand (2009) destaca alguns movimentos na América Latina a partir da


década de 1960, período de grande surgimento de movimentos sociais. Como exemplo
ela evidencia o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (1979); o Movimento
Ecologista do Equador (1987); Movimentos Urbano Popular (MUP – 1981) no México;
os Piqueteras, na Argentina, organizações criadas em 1997, como: Federación de
Tierra, Vivienda y Habitát e a Unión de Trabajadores Desocupados (UTD); no Equador,
ela destaca as mobilizações indigenistas e a criação da Confederação Nacional dos
Indígenas do Equador (1986); na Bolívia (1982) destaca a Central Indígena do Oriente
Boliviano, criada em 1982 (CIDOB).

185
O crescimento dos movimentos decorrentes da democratização dos países da
América Latina impactou na conquista de direitos, no reconhecimento de determinados
grupos sociais, na constante luta contra o Estado, de acordo com as diversas pautas
dos movimentos sociais.

Atualmente, muitos movimentos saíram do campo apenas da reivindicação


e do enfrentamento para também constituir-se no campo político, como estratégia
para que suas reivindicações sejam atendidas. As ações dos movimentos sociais
são feitas através do enfrentamento por meio de passeatas, congressos, formação
política, marchas, reivindicações e protestos como forma de expressarem suas lutas,
reivindicações e enfrentar o poder estabelecido.

3.1.1 A contribuição dos movimentos sociais para o retorno


à democracia na América Latina
A ação dos movimentos sociais foi fundamental para o retorno à democracia
na América Latina. O enfrentamento ao Estado contra a situação política existente
desencadeou conflitos entre as classes sociais.

No Brasil, por exemplo “os movimentos operários, foram responsáveis pela


realização de forte pressão perante o governo dos militares” (PINHEIRO; FABRIZ,
2017, p. 308). Além das greves que os operários do ABC Paulista fizeram houve outros
movimentos de destaque como o movimento Diretas Já.

Para os autores citados anteriormente, a atuação desses movimentos, que se


articulam a partir de suas necessidades, na luta por seus direitos e contra o modelo
político existente, torna-se importante, pois constroem “uma identidade, pleiteiam a
efetividade de determinado direito”, organizando-se para lutar pela dignidade humana
(PINHEIRO; FABRIZ, 2017, p. 318).

Para Cavalcanti (2019, s.p.) "as oposições que surgirem aos regimes autoritários
na América Latina [...] incluíram diversos sujeitos e instituições sociais”. Na Bolívia, o
processo de redemocratização se deu a partir de 1978 e se consolidou em 1980.

Cavalcanti (2019, s.p.) afirma que esse processo decorreu das “pressões para que
o então presidente militar Hugo Suarez convocasse eleições diretas para a presidência”
e essas pressões se deram no âmbito dos movimentos sociais que não concordavam
com a situação política existente, as condições de repressão, desigualdades sociais e
a falta de direitos, como o de ir e vir, o de expressão, são alguns dos exemplos. Porém,
há outros fatores como as crises econômicas, as repressões que também foram pautas
dos movimentos sociais (CAVALCANTI, 2019).

186
Na Argentina, os movimentos que lutaram pela abertura política também
clamavam pelo fim da ditadura militar e pela abertura econômica. O Movimento Mães
da Praça de Maio foi um movimento de destaque na Argentina, ele “denuncia o regime
político do país, no período ditatorial e busca pelo paradeiro de seus filhos desaparecidos
durante a ditadura na Argentina” (CAVALCANTI, 2019, s.p.).

A redemocratização uruguaia aconteceu graças a um acordo entre


Gregório Álvarez, o Partido Colorado, a União Cívica e a Frente Ampla,
determinando a realização de eleições diretas para a presidência.
Em 1985 o primeiro presidente Civil pós-ditadura chegou ao poder:
Julio Maria Sanguinetti. No Chile Augusto Pinochet, considerado um
dos mais violentos ditadores da história da América Latina enfrentou
o movimento em prol da democracia chamado NO. O movimento
insuflou a população e fez tamanha pressão que Pinochet renunciou
ao cargo. Patrício Aylwin foi o primeiro presidente após o processo de
redemocratização chileno (CAVALCANTI, 2019, s.p.).

Portanto, consideramos que os Movimentos Sociais foram muito importantes para que
as pressões em torno dos regimes ditatoriais surtissem efeitos. A reconstrução dos regimes
democráticos na América Latina abriu novos horizontes sociais, políticos e econômicos.

187
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• As relações entre Brasil e Argentina nem sempre foram tão harmônicas.

• Na América Latina, muitos países tiveram governos militares.

• Houve disputas territoriais entre Brasil e Argentina, como a Guerra da Cisplatina.

• Existem relações econômicas e políticas de duas formas: as bilaterais, quando


ocorrem entre dois países, e relações multilaterais, quando ocorrem com três ou
mais países.

• A Bacia do Prata ou Bacia Platina, como é conhecida, é a segunda maior bacia


hidrográfica do planeta e tem grande importância para a América do Sul.

• Entre o Brasil e a Argentina, as relações de importação e exportação entre si são


muito importantes para o desenvolvimento de suas economias.

• As ditaduras no Brasil e na Argentina deixaram profundas marcas sociais,


econômicas e políticas.

• Os movimentos sociais foram atores importantes para a redemocratização dos


países que vivenciaram a ditadura militar.

188
AUTOATIVIDADE
1 Na América Latina, os movimentos sociais foram muito importantes para a redemocratização
dos países. Na Argentina merecem destaque vários movimentos, como o Movimento
das Mães da Praça de Maio, que lutaram pela abertura política do país e tinham uma
reivindicação própria. Sobre esse movimento, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) Foi um movimento que denunciava o regime político da Argentina e tinha


como objetivo saber o paradeiro dos seus filhos, que foram sequestrados e
desaparecidos durante o período ditatorial.
b) ( ) Foi um movimento que defendeu a abertura política da Argentina, mas que se
reunia na Praça de Maio para reivindicar os direitos trabalhistas das mulheres.
c) ( ) Foi um movimento que denunciava a violência contra as mulheres na Argentina
durante o período da ditadura.
d) ( ) Foi um movimento de mães que buscava saber do paradeiro dos filhos que foram
para a Guerra da Cisplatina.

2 No Brasil, a ditadura criou os Atos Institucionais que são considerados como leis. Eles
tinham força constituinte e foram impostos no período da ditadura pelos militares e
juristas e tinham como objetivo reforçar o poder do Presidente da República. Esse
poder passava por cima das formalidades constitucionais e dos direitos individuais.
Analise as sentenças a seguir:

I- O AI-4 determinou a reabertura do Congresso Nacional, que estava em recesso


desde o golpe militar. Esse Ato foi decretado em 1966 e teve como objetivo permitir
a aprovação da constituição de 1967.
II- O AI-1 foi decretado em 1964 e foi responsável por colocar os partidos políticos na
ilegalidade e definir o bipartidarismo.
III- O AI- 5 foi o ato mais autoritário do regime, ele teve como medidas: suspensão do
habeas corpus para determinados crimes; fechamento do Congresso Nacional, das
Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores; autorização para o Presidente
da República decretar estado de sítio por tempo indeterminado, suspender direitos
políticos e cassar mandatos eletivos; permitiu confiscar bens privados e intervir em
todos os estados e municípios.

Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

189
3 Com a ampliação das relações entre o Brasil e a Argentina, os países se tornaram
parceiros comerciais entre si. Tanto para o Brasil, quanto para a Argentina, as relações
de importação e exportação entre si são muito importantes para o desenvolvimento
de suas economias, classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) Os principais produtos exportados pelo Brasil para a Argentina são automóveis,


partes e peças para veículos e tratores, produtos manufaturados e minérios de
ferro. Da Argentina, compramos automóveis para transporte de mercadorias, trigo
e até legumes, raízes e tubérculos, preparados ou conservados.
( ) A articulação entre esses dois países, a cooperação e as relações bilaterais têm
provocado conflitos geopolíticos entre os países que não concordam com essa
cooperação, principalmente os países ligados ao MERCOSUL.
( ) Os principais marcos da relação bilateral entre os dois países podem ser expressos
em reuniões da Comissão Bilateral de Produção e Comércio; Comitê Permanente
de Política Nuclear; Foro de coordenação entre ministros das Relações Exteriores
e de Defesa, em formato de Diálogo Político-Militar. Mas, a maior instância bilateral
entre esses países, que é responsável pelas políticas binacionais para a fronteira é
a Comissão de Cooperação e Desenvolvimento Fronteiriço.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 As relações bilaterais Brasil e Argentina são estratégicas para o desenvolvimento


econômico dos países. Essas relações se dão a partir da cooperação e no fortalecimento
da economia e da indústria dos dois países. Sobre essa cooperação, explane como
esses países se relacionam.

5 Governos ditatoriais são regimes não democráticos baseados em governos mais


repressores. Normalmente, uma ditadura é constituída a partir de golpes de Estado. O
ditador tende a ser uma pessoa que não aceita oposição a suas ideias. Neste contexto,
disserte sobre as fases e as principais características da ditadura no Brasil de 1964.

190
UNIDADE 3 TÓPICO 3 -
BLOCOS ECONÔMICOS: INTEGRAÇÃO E
LIDERANÇAS REGIONAIS DA AMÉRICA LATINA

1 INTRODUÇÃO
Acadêmico, no Tópico 3, abordaremos a origem dos blocos econômicos na
América Latina e quais são os tipos de blocos que predominam na região. A união dos
países para criação dos blocos econômicos torna-se essencial para fortalecer as relações
econômicas. No contexto atual da globalização, as relações entre os países estão cada
vez mais interligadas. E isso revela a importância dos países se articularem cada vez mais
para avançar nas trocas comerciais globais. Como vimos ao longo do nosso livro didático,
a América Latina constitui-se como uma região com baixos índices de desenvolvimento e
intensas desigualdades sociais. Contudo, muitos países da região têm forte influência na
economia mundial e nesse sentido, a articulação por meio dos blocos torna-se essencial
para fortalecer a participação dos países nas trocas comerciais globais. A integração dos
países através de blocos econômicos tem vantagens e desvantagens. As vantagens
estabelecem a facilidade de trocas comerciais através da eliminação de tarifas e barreiras
alfandegárias. Os países que participam de blocos econômicos tendem a contribuir para
o desenvolvimento interno. Por outro lado, essas articulações entre países podem impedir
relações com países fora do bloco, devido às dificuldades em relação às trocas comerciais.

Na América Latina, os blocos econômicos mais conhecidos, já vimos ao longo


de nosso livro, são: o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), a Área de Livre Comércio
das Américas (ALCA) e a Aliança Bolivariana para as Américas (ALBA). Em nossos
próximos subtópicos, nos dedicaremos a estudar além da ALCA e da ALBA, outros blocos
importantes para a região, como a Associação Latino-Americana de Livre Comércio
(ALALC); Associação Latino-Americana de Integração (ALADI); do Pacto Andino à
Comunidade Andina de Nações (CAN); União das Nações Sul-americanas (UNASUL);
Comunidade de Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC).

O estudo dos blocos econômicos na região da América Latina é muito importante


para compreendermos as relações econômicas, pois muitos países precisam estabelecer
essas trocas comerciais para que possam diminuir suas fragilidades econômicas. Neste
sentido, para os países da América Latina a consolidação dos blocos torna-se essencial
para promover o fortalecimento das economias da região.

191
2 ORIGEM DOS BLOCOS ECONÔMICOS
Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o fortalecimento da economia dos Estados
Unidos, os países europeus arrasados pela guerra, com suas economias fragilizadas
buscaram soluções para se fortalecer. Uma das primeiras iniciativas foi a integração
econômica entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo no ano de 1944, mas se consolidou
apenas em 1948. Conhecido como Benelux, esse bloco pode ser considerado como a
primeiro bloco de integração entre os países que buscavam se fortalecer economicamente.
Para Menezes e Penna Filho (2006) a integração econômica europeia foi celebrada com
a Criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA – 1951). Essa comunidade
“abriu caminho para o futuro da integração europeia, constituindo-se, portanto em um
marco importante da União Europeia” (MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p. 25).

A União Europeia é um dos maiores exemplos de integração econômica


regional entre países. Seus avanços integram relações econômicas, sociais, políticas,
de segurança e ambientais. Os países membros da União Europeia, com exceção
de Inglaterra, Suécia e Dinamarca, já adotaram uma única moeda, o euro. A União
Europeia, portanto, é pioneira na integração econômica e monetária e um grande
exemplo para a integração dos países americanos.

A integração dos países da América Latina também é fruto de acordos históricos.


Tentativas ao longo da história foram feitas para pensar uma região cada vez mais integrada.
Esse sonho de integração teve início a partir de 1830 com Simón Bolivar, que tinha como
objetivo o resgate da unidade latino-americana. Costa (2011, p. 28) afirma que esse processo
de integração a partir da perspectiva de Bolívar “tinha como precedentes as conquistas
alcançadas pelos diversos países latino-americanos como suas independências, lutou
bravamente pela realização do primeiro tratado de união latino-americana no Congresso
do Panamá”. Mas, essa primeira tentativa não alcançou seu objetivo. Outra tentativa de
integração se deu em 1941, “quando brasileiros e argentinos fizeram um ensaio de ‘União
Aduaneira’” (COSTA, 2011, p. 28), mas não obtiveram resultados.

Outras tentativas de integração ocorreram em 1959 com a “Operação Pan-


Americana", que contribuiu para a reaproximação do Brasil e Argentina. Em 1960, houve
à fundação da Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC). No texto de
Samuel Santile Costa “Mercosul: As Históricas Tentativas de Fazer da América Latina um
Bloco Econômico”, o autor aborda perspectivas de integração da América Latina e em
uma de suas passagens destaca que

a Associação Latino-americana de Integração incorporou as relações


da ALACL e criou três objetivos: a) estabelecer de forma gradual e
progressiva um mercado comum latino-americano; b) permitir
mediante condições de reciprocidade o comércio intrarregional e c)
promover ao comércio complementações econômicas e ampliação
dos mercados (COSTA, 2011, p. 31).

192
O processo de integração regional precisa estabelecer metas para os países, definir
suas relações de forma clara, pois envolve dificuldades nos processos de integrar uma
região. Conflitos ideológicos, oposição política, crises econômicas, não cumprimento das
medidas, desrespeito às ações delimitadas em grupos. Integrar os países regionalmente é
um desafio, mas no contexto atual, cada vez mais, torna-se necessária a relação de trocas
comerciais entre os países. Outro bloco que se constituiu no continente latino-americano
foi o Mercado Comum do Sul, tema que já abordamos em outros subtópicos.

Todavia, é importante destacarmos que, o surgimento do MERCOSUL além de


potencializar a economia da região e dos países membros, facilitou a comunicação com
países centrais e contribuiu para determinar a relação entre a exportação e importação,
pois “a maioria dos bens produzidos em qualquer dos países, deveriam circular livremente
dentro da região” (MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p. 47).

De modo geral, a criação dos blocos econômicos após o contexto da Segunda


Guerra Mundial evidenciou as inúmeras possibilidades de integração econômica entre
os países, isso leva a diferentes níveis de integração. Cada bloco que conhecemos tem
um nível diferente um do outro, há blocos que podem ser denominados de Zona de Livre
Comércio; União Aduaneira, Mercado Comum e União Monetária, vamos conhecer um
pouco mais dos tipos de blocos no Subtópico 2.1.

INTERESSANTE
Acadêmico! É importante ressaltar que a União Europeia, desde 2017, iniciou um processo de
saída do Reino Unido do bloco. Esse processo ficou conhecido como Brexit (é uma abreviação
para British exit – saída britânica, na tradução literal para o português), termo usado
para falar da decisão do Reino Unido em deixar a União Europeia. Essa decisão
chamou atenção do mundo todo, pois é a primeira vez que um país deixa a União
Europeia desde sua integração. A relação do Reino Unido no bloco durou 47 anos. A
decisão foi tomada através de um plebiscito com a população em 2016, quando a
maioria optou por sair do Bloco. Apesar da decisão de saída, o Reino Unido só
saiu efetivamente em 31 de janeiro de 2020. Para saber mais, consulte o site
da BBC NEWS, que tem uma vasta explicação sobre esse debate. Disponível em:
https://bbc.in/3M3R4po.

2.1 TIPOS DE BLOCOS ECONÔMICOS


Os blocos econômicos se organizam em diferentes níveis de integração. Esses
níveis variam de acordo com as relações econômicas entre os países membros. Observe
no Quadro 5, os quatro níveis de integração dos blocos, suas características e os níveis
de cada bloco que estamos estudando.

193
QUADRO 5 – NÍVEIS DOS BLOCOS ECONÔMICOS

TIPOS CARACTERÍSTICAS BLOCOS ECONÔMICOS


Zona de Livre
Impostos de importação e exportação USMCA (Estados Unidos,
Comércio ou
reduzidos ou eliminados. México e Canadá - antigo
Área de Livre
Livre circulação de mercadorias. NAFTA.
Comércio
Tem as mesmas características da Zona
de Livre Comércio. Mas seu diferencial MERCOSUL;
está na Tarifa Externa Comum (TEC), ou União Europeia;
seja, os países membros tem as mesmas União Aduaneira da África
União Aduaneira taxas de exportação e importação entre Austral (Southern África
eles. Para países de fora, os membros Customs Union – SACU).
padronizam a taxa entre eles antes de
comercializar seus produtos.
Visa eliminar a concorrência externa.
Possui algumas características em
comum com a União Aduaneira, como a
TEC e o livre comércio.
Mercado
O diferencial é que as pessoas dos países União Europeia.
Comum
membros podem morar, trabalhar nos
países do bloco. Permite a livre circulação
de mão de obra, capitais e serviços.
Possui todas as características descritas dos
União
outros estágios de integração. Seu diferencial
Econômica União Europeia.
é que chegou a um estágio o qual os países
Monetária
membros usam a mesma moeda.
FONTE: Adaptado de Freire e Almeida (2011)

Os estágios de integração possuem semelhanças e diferenças. O Mercosul


apesar de ter o nome Mercado Comum do Sul, ele não está na categoria de mercado e
sim de União Aduaneira. Segundo Costa (2011, p. 24), é um estágio ainda incompleto,
por “ainda existirem exceções à Tarifa Comum Externa”.

Para Menezes e Penna Filho (2006) a integração econômica e muito importante,


pois ela apresenta diversas vantagens. Eles afirmam que os resultados altamente
positivos das economias integradas já são possíveis ser visto com

a expansão do mercado, a economia de escala em algumas atividades


econômicas, o aumento da produção, melhor preço e até qualidade.
Também a união de várias economias dá ao grupo mais força de
barganha nas negociações no comércio internacional. Apareceria
ainda a especialização como resultado da competição, trazendo
mais eficiência na produção e permitindo até competir com outras
economias de fora da integração. Com mercado maior, economia
de escala e competição estabelecida, a tecnologia avançaria e

194
as economias estariam em condições de participarem mais do
processo. Os preços dos produtos tenderiam a ser estáveis, com
circulação favorável na região em que fossem produzidos a custos
menores. Em um mercado amplo, o salário do trabalhador e a geração
de emprego poderiam ser maiores. No plano político, as tensões e
os desentendimentos podem diminuir por causa da aproximação
proveitosa, e as fricções menores não perturbariam as relações entre
os parceiros. No aspecto cultural, se a integração funcionar, será
mais fácil entender a vivência interna dos países integrados. Ela pode
quebrar barreiras entre países vizinhos e ajudá-los no crescimento
econômico. Principalmente no atual estágio mundial, não é possível
que países de uma mesma região continuem a se ignorar no plano
comercial e histórico (MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p. 5).

Nesse contexto dos níveis de integração, vemos que no contexto global a


integração torna-se um desafio, mas que é necessário para que os países se fortaleçam
na economia mundial, principalmente, os países em desenvolvimento que passam a
ter mais força diante dos países desenvolvidos para articular as relações econômicas.
Frisamos que mesmo que haja esses níveis de integração que vários países vivenciam
na organização de blocos econômicos ainda há muitas vantagens e desvantagens
nessa relação, item de discussão a seguir.

2.1.1 Principais blocos econômicos da América Latina:


vantagens e desvantagens
Os principais blocos econômicos da América Latina são: Associação Latino-
americana de Livre Comércio (ALALC); Associação Latino-americana de Integração
(ALADI); Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); Comunidade Andina de Nações (CAN);
Área de Livre Comércio das Américas (ALCA); Alternativa Bolivariana das Américas
(ALBA); Aliança do Pacífico (AP); Comunidade de Estados Latino-Americanos e
Caribenhos (CELAC). Cada um desses blocos tem suas próprias características, que
iremos ver adiante. A integração dos blocos na América Latina transformou a integração
regional, pois colocou a maioria dos países nas relações de concorrência global.

A América Latina tem se desenvolvido muito nos últimos anos com a integração
dos seus países. A ajuda mútua que se estabelece através da integração econômica
estimula o comércio interno e externo. Além dos aspectos econômicos que melhoraram
na região com a integração dos países as questões sociais também se dinamizaram,
através da inserção de novas empresas, que geraram novas fontes de renda, melhoria
do padrão de vida em alguns países, isso é reflexo da expansão comercial, que elevou o
consumo da população na região e estabeleceu novas formas de comercialização o que
impactou significativamente na região.

Apesar das melhorias que surgem com a integração regional ainda há muitos
desafios a serem enfrentados pelos países que se articulam através de blocos
econômicos. Neste sentido, nós podemos dividir a integração regional na América Latina
em relações vantajosas e desvantajosas. As principais vantagens são: desenvolvimento
195
econômico dos países, menor custo dos produtos, eliminação de tarifas de exportação
e importação e o aumento gradativo do Produto Interno Bruto. Criação de associação
de ajuda mútua, maior facilidade de locomoção entre pessoas, bens e informações,
políticas comuns de desenvolvimento econômico e social (MENDONÇA, 2022).

As desvantagens são: ausência de soberania nacional, enfraquecimento


do multinacionalismo frente ao fortalecimento da economia regional, polarização
das economias globais, falta de liberdade econômica das empresas em participar de
mercados mais abrangentes e a possibilidade de países com economia frágil afetarem
os mais desenvolvidos (MENDONÇA, 2022). Esse quadro de vantagens e desvantagens
que surgem na integração regional diferencia-se de país para país, isso está atrelado às
condições do desenvolvimento desses países e suas articulações na economia mundial.
Alguns países se sobressaem mais que outros em virtude de terem economias mais
consolidadas e isso faz com que alguns se encontrem em posição de vantagem e outros
não. Contudo, a relação de integração regional favorece tanto os países mais fortes
quanto os mais fragilizados, em alguns aspectos sociais, econômicos e políticos.

2.2 DO PACTO ANDINO À COMUNIDADE ANDINA DE NAÇÕES


– CAN
A Comunidade Andina das Nações era conhecida inicialmente como Pacto Andino.
Surgiu em “1969 a partir do Acordo de Cartagena que foi antecedido pela Declaração de Bogotá,
1965 e pela criação da Corporação Andina de Fomento, de 1968” (GOLDBAUM; LUCCAS, 2012,
p. 2). Os países que contribuíram para a formação do Acordo foram: Bolívia, Chile, Colômbia,
Equador e Peru. Os países que atualmente fazem parte da CAN: Bolívia, Colômbia, Equador,
Peru, esses como membros ativos e como membros associados temos: Argentina, Brasil,
Paraguai, Uruguai e Chile (MIRANDA, 2006). A integração desses países é estabelecida pela “livre
circulação de bens, serviços, capitais e até de pessoas” (MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p. 72).

De acordo com Goldbaum e Luccas (2012, p. 2), o surgimento desse bloco foi uma
“iniciativa do presidente do Chile, na época, Eduardo Frei”. Essa iniciativa surgiu devido às
dificuldades enfrentadas pela Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).
Essa associação criada em 1960, por meio do Tratado de Montevidéu tinha como objetivo
integrar os países da América Latina, mas alguns países se sentiam em desvantagens e isso
criou problemáticas internas que decorreu no atraso da integração (GOLDBAUM; LUCCAS).

Para Miranda (2006, p. 17) a criação da Comunidade Andina pode ser visualizada
em dois cenários:

[o] primeiro cenário, século XIX, aconteceram conferências


marcadas pelo desejo de superar o recente colonialismo e pelos
nacionalismos políticos dos Estados Latinos. Num segundo cenário,
século XX, o movimento integracionista latino-americano lidou com
o panamericanismo e a liderança Norte-Americana, duas grandes
guerras mundiais, a liberalização do comércio internacional

196
NOTA
O Panamericanismo corresponde a uma forma de organização internacio-
nal em que interesses econômicos e interesses de hegemonia política se
mesclam em uma situação assimétrica de relações entre Estados. O pana-
mericanismo, desde seu surgimento dominado pelos Estados Unidos.

FONTE: MIRANDA, F. V. de. Comunidade andina aspectos históricos e insti-


tucionais. 2006. 47 f. Monografia (Graduação em Relações Internacionais) – Centro
Universitário de Brasília, Brasília, DF, 2006. p. 20. Disponível em: https://bit.ly/3teCioJ;
Acesso em: 11 jan. 2022.

O objetivo do Pacto Andino era “promover o desenvolvimento equilibrado


e harmônico dos países membros, acelerar seu crescimento mediante integração
econômica, facilitar o processo de integração e estabelecer condições favoráveis para
converter a ALALC em um mercado comum” (Tradução livre do Acordo de Cartagena,
1969, Artigo 1 (MIRANDA, 2006, p. 5).

O Pacto Andino com as dificuldades enfrentadas nas relações de integração entre


os países membros: como problemas econômicos, saída do Chile, golpes de Estado, crises
econômicas na América Latina foi alterado e transformou-se em Comunidade Andina das
Nações (CAN). A alteração decorreu do Protocolo de Trujilo, assinado em 1996. Com isso
a organização do bloco foi modificada e estruturou-se o “Sistema Andino de Integração
(SAI), que era constituída por seis órgãos: Conselho Presidencial Andino; Conselho Andino
de Ministros de Relações Exteriores; Comissão da Comunidade Andina; Secretaria Geral da
Comunidade Andina Tribunal de Justiça da Comunidade Andina e o Parlamento Andino”
(MIRANDA, 2006, p. 8). A Comunidade Andina, assim como outros blocos econômicos,
proporciona a melhoria das relações comerciais, pois facilita a comercialização dos
produtos com preços mais baixos e permite que a circulação de bens possa impulsionar a
economia dos países membros e melhorar a integração regional.

2.3 DA ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE LIVRE


COMÉRCIO (ALALC) À ASSOCIAÇÃO LATINO-AMERICANA DE
INTEGRAÇÃO (ALADI)
A criação da Associação Latino-americana de Livre Comércio (ALALC) tinha como
objetivo ampliar o livre comércio na América Latina, tanto em países de economia maiores
quanto em menores. Isso gerou conflitos entre os países, pois os “de economia menores
tinham receio de abrir as portas para o comércio e serem sufocados pelas maiores” economias
(MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p. 15). As disparidades nos níveis de desenvolvimento entre
os países membros fez com que a integração não ocorresse, pois os países não entravam
em acordo comum. Mesmo os países de maior economia permitindo a comercialização
dos produtos de menor economia em seus territórios, ainda assim, não foi possível uma

197
ampliação da participação das economias menores, devido a sua baixa produtividade. O
que consequentemente, sempre os colocava em posição de desvantagem. As economias
maiores por sua vez saíram em vantagem por terem mais condições de investir na produção
e circulação de mercadorias (MENEZES; PENNA FILHO, 2006).

Em virtude desses conflitos, a ALALC não conseguiu se sustentar enquanto


um bloco de integração regional, com isso surge a Associação Latino-Americana de
Integração (ALADI), que a substituiu em função do Tratado de Montevidéu em 1980
(MIRANDA, 2006). Com a substituição “o novo organismo foi a alternativa encontrada
para a integração econômica continuar a existir” (MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p.
17). As crises e conflitos na ALALC fez com que a ALADI flexibilizasse prazos. Com isso
“não se impunha mais nada, os sócios não tinham mais obrigações firmes entre si”,
(MENEZES; PENNA FILHO, 2006, p. 17-18). o que levou a muitos autores, como Menezes
e Penna Filho (2006, p. 17) a afirmarem que a ALADI “teve um desempenho morno e
quase ninguém percebeu sua atuação”.

Para Miranda (2006, p. 26) “a criação da ALADI visava a um processo de


integração mais inteligente, adequado à situação latina. Basicamente, em termos
políticos, a ALADI verificou a impossibilidade da formação de uma zona de livre comércio
e adotou uma política reducionista para a realização de compromissos quantitativos
e provisórios”. Portanto, o bloco contribuiu para reforçar “a supremacia dos interesses
individuais de seus países membros” (MIRANDA, 2006, p. 26).

A ALADI é considerada um grupo de integração na América Latina. Com a


participação de doze países membros: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Equador,
México, Panamá, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Os princípios que regem a
associação, definidos com a assinatura do Tratado de Montevidéu de 1980 são: “pluralismo
em matéria política e econômica; convergência progressiva de ações parciais para a
criação de um mercado comum latino-americano, flexibilidade, tratamento diferenciais
com base no nível de desenvolvimento dos países membros e multiplicidade nas formas
de concertação de instrumentos comerciais” (O QUE É ALADI, 2021, s.p.).

Na plataforma eletrônica da Aladi, a associação afirma que o bloco tem como


pressuposto promover a criação de uma área de preferências econômicas na região,
cujo objetivo é estabelecer

um mercado comum latino-americano, através de três mecanismos:


uma preferência tarifária regional, aplicada a produtos originários
dos países-membros frente às tarifas em vigor para terceiros países;
acordos de alcance regional (comuns a todos os países-membros);
e acordos de alcance parcial, com a participação de dois ou mais
países da área (O QUE É ALADI, 2021, s.p.).

Desta forma a Associação Latino-Americana de Integração tem sido para a


América Latina um projeto que permite integração multilateral, cooperação horizontal
com outros movimentos de integração do mundo. Tem sido uma grande apoiadora para

198
fomentar a integração econômica entre os países da América Latina tanto em âmbito
regional quando mundial (O QUE É ALADI, 2021).

3 UNIÃO DAS NAÇÕES SUL-AMERICANAS – UNASUL


A União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) difere do bloco econômico do
Mercosul. Ela se caracteriza por ser uma entidade com propostas mais abrangentes,
que vai além do âmbito econômico englobando também relações culturais, sociais,
políticas, ambientais e científicas e o fortalecimento e proteção da democracia. Os
países membros da UNASUL são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador,
Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela.

A partir de 2008 com a aprovação da UNASUL ficaram estabelecidos


oito conselhos “para promover a cooperação no nível sul-americano: i) defesa; ii)
desenvolvimento social; iii) saúde; iv) educação, cultura, ciência, tecnologia e inovação;
v) problema mundial das drogas; vi) infraestrutura e planejamento; vii) energia; e viii)
economia e finanças” (BRASIL, 2011, s.p.).

A UNASUL foi criada através de um Tratado entre as nações sul-americanas


em 2008. O Tratado Constitutivo da UNASUL é composto de 27 artigos. Em seu art. 2º o
Tratado aponta seu principal objetivo.

A União de Nações Sul-americanas tem como objetivo construir,


de maneira participativa e consensuada, um espaço de integração
e união no âmbito cultural, social, econômico e político entre seus
povos, priorizando o diálogo político, as políticas sociais, a educação,
a energia, a infraestrutura, o financiamento e o meio ambiente,
entre outros, com vistas a eliminar a desigualdade socioeconômica,
alcançar a inclusão social e a participação cidadã, fortalecer a
democracia e reduzir as assimetrias no marco do fortalecimento da
soberania e independência dos Estados (BRASIL, 2008)

A constituição da UNASUL abriu mais possibilidades de diálogos entre os países


da América do Sul. É outra tentativa de construir junto à América do Sul. É a proposta
de uma integração que fortaleça as relações entre os países na questão regional e
internacional. De acordo com Melo (2014, p. 27),

A Unasul já nasceu como uma organização internacional dotada de


personalidade jurídica, tendo como objetivo principal a concertação
política e a integração da infraestrutura e dos povos sul-americanos. Sua
organização foi pautada em valores e princípios considerados comuns
aos países da região, como a paz, a democracia, a soberania, a não
intervenção, a não proliferação de armas nucleares, a autodeterminação
dos povos. E, mais: uma ideia de solidariedade entre os países e seus
povos que devem se construir enquanto sul-americanos.

A UNASUL também tem um forte caráter político na relação dos países da América
do Sul. Atualmente tem como membros ativos o Uruguai, Guiana, Bolívia, Suriname e
Venezuela. A união dos países foi estremecida em 2012, com a suspensão do Paraguai
199
pelos membros. Para os países membros houve golpe contra o governo democrático de
Fernando Lugo. Em 2018 suspenderam sua participação na União a Argentina, o Brasil,
Chile, Colômbia, Paraguai, Peru e Uruguai e em 2019 o Equador (VELA, 2022).

A região vem passando por instabilidades políticas e econômicas e isso tem


gerado novas proposições para as relações de integração entre os países, uma delas
ocorreu em Santiago no Chile, em 2019, onde foi “sinalizada a criação de uma nova
organização Sul-Americana, denominada provisoriamente como Progresso da América
do Sul (PROSUL)” (VELA, 2022, s.p.).

As várias tentativas de integração da América do Sul mostram que apesar


das fragilidades, dos conflitos de interesses e das dificuldades os países da região
têm buscado propor ações que viabilizem as decisões entre os países nas instâncias
econômicas, políticas, sociais, culturais e ambientais.

3.1 INICIATIVA PARA A INTEGRAÇÃO DA INFRAESTRUTURA


REGIONAL SUL-AMERICANA (IIRSA); ALIANÇA BOLIVARIANA
PARA AS AMÉRICAS (ALBA); ÁREA DE LIVRE COMÉRCIO (ALCA)
Neste subtópico, nós abordaremos três propostas de integração na América
Latina. A primeira é sobre a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana
(IIRSA). A iniciativa da IIRSA foi criada em 2000 a partir de uma Reunião de Presidentes
da América do Sul, que ocorreu em Brasília. De acordo com Honório (2017, s.p.), “a
instituição foi uma das primeiras formada pelos doze países da América do Sul, proposta
pelo governo brasileiro e em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID)”. O principal objetivo da presente iniciativa foi desenvolver “obras de infraestrutura
que interligasse fisicamente as principais regiões econômicas do subcontinente com o
intuito de diminuir custos de transporte e circulação de mercadorias visando o aumento
dos níveis de exportação intra e extrarregional” (HONÓRIO, 2017, s.p.).

Os países que integram a IIRSA são Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia,
Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela. De acordo com a o
site da Cosiplan (IIRSA [...], 2022, s.p.), a instituição “tornou-se um fórum essencial para
os doze países planejarem a infraestrutura do território sul-americano", neste sentido, a
união dos países já gerou diversos resultados, como:

O desenvolvimento e aplicação da Metodologia Indicativa de Plane-


amento Territorial que resultou num Portfólio consensual de mais
de 500 projetos de infraestruturas de transportes, energia e co-
municações, organizados em nove Eixos de Integração e Desenvol-
vimento (EIDs); A conformação da Agenda de Implementação do
Consenso (AIC) 2005-2010, que consiste num conjunto de 31 pro-
jetos prioritários com forte impacto na integração física do território;
O desenvolvimento de projetos na área de Processos Setoriais de
Integração (PSIs); O desenvolvimento e aplicação de novas fer-
ramentas e metodologias de planejamento (IIRSA [...], 2022, s.p.)

200
Esses resultados são fruto dos planos de estratégia que a IIRSA vem
desenvolvendo nos últimos anos. A IIRSA, a partir de 2011, passou a integrar o trabalho
do Conselho Sul-Americano de Infraestrutura e Planejamento da UNASUL para articular
o “planejamento da integração física regional sul-americana" (IIRSA [...], 2022, s.p.).
Em 2009, a IIRSA passou a fazer parte do Conselho Sul-americano de Infraestrutura
e Planejamento (COSIPLAN) da UNASUL. O Cosiplan é considerado “um órgão de
coordenação e articulação de programas e projetos de integração da infraestrutura
regional dos países” (COSTA; GONZALEZ, 2014, p. 35). A partir dessa conjuntura a
IIRSA torna-se “um fórum técnico de planejamento da integração física e regional do
subcontinente; com funções de planejamento, avaliação e monitoramento da execução
dos projetos de integração física regional” (COSTA; GONZALEZ, 2014, p. 35).

Para Costa e Gonzalez (2014, p. 39), a IIRSA “pouco conseguiu avançar no que
tange ao desenvolvimento e à integração efetiva da infraestrutura física da região”. Por
outro lado, mesmo tendo pouco avanço, a IIRSA provocou outras iniciativas de integração
de infraestrutura na região. Os fatores de seu baixo avanço podem ser destacados pela:

i) a falta de mecanismos para fazer frente a complexidade da carteira


de projetos, inerente a programas de integração física de caráter
internacional; ii) os desequilíbrios existentes entre os países em termos
de capacidades institucionais; iii) a oferta insuficiente de recursos
financeiros dada a carência de mecanismos críveis para alavancá-los;
iv) a inexistência de mecanismos de mitigação de riscos financeiros,
políticos e normativos inerentes ao financiamentos dos projetos; e v)
a falta de uma liderança regional que mantivesse vigente o consenso
sobre a importância da integração da infraestrutura física como
mecanismo fundamental de desenvolvimento da competitividade da
região (COSTA; GONZALEZ, 2014, p. 39).

Segundo Peregalli, Panez e Aguiar (2020, s.p.), “a década de 2005 a 2015 foi o
período de maior desenvolvimento da iniciativa da IIRSA, quando houve um aumento
de quase 100% no número dos projetos, passando de 335 para 562 (dos quais, até hoje,
160 foram concluídos)”.

Com isso, vemos que a iniciativa da IIRSA mesmo com um amplo objetivo
conseguiu dar passos significativos nos projetos de integração de infraestrutura. Esses
projetos podem são elaborados nas seguintes instâncias: transporte, comunicação,
rodoviário, ferroviário, hidroviário, energia, esses projetos geram a necessidade de
infraestrutura, integração entre os países, investimento financeiros, recursos humanos.
Apesar de atuar em diversos projetos, a IIRSA não conseguiu alcançar seu objetivo
principal, ou seja, não houve uma interligação física entre as principais regiões
econômicas da América do Sul. Outra aliança que merece nossa atenção é Aliança
Bolivariana para as Américas (ALBA). “A proposta dessa aliança surgiu com o presidente
da Venezuela, Hugo Chávez. Em 2001 com a realização da III Cúpula de Chefes de
Estado e de Governo da Associação de Estados do Caribe, realizada na Ilha Margarida
na Venezuela firmou-se em Havana, com a assinatura de Fidel Castro e Hugo Chávez a
criação da ALBA” (FREITAS, 2011, p. 4).

201
Para Simioni (2017, p. 53) a “ALBA é um híbrido entre Organização Internacional e
acordo multilateral”. O bloco promove acordos bilaterais ou multilaterais entre membros
e não membros, incentivando projetos transnacionais de bem-estar social e criando,
assim, um espaço para o fortalecimento da região.

IMPORTANTE
O presidente Hugo Chávez junto ao governo cubano fez a seguinte declaração sobre a
ALBA, no ano de 2004.

DECLARAÇÃO CONJUNTA

Concordamos plenamente que a ALBA não se concretizará com critérios mercantis ou interesses
egoístas de ganho empresarial ou benefício nacional em detrimento de outros povos. Somente uma
ampla visão latino-americana, que reconheça a impossibilidade de nossos países se desenvolverem
e serem verdadeiramente independentes isoladamente, poderá alcançar o que Bolívar chamou de
"... ver a formação da maior nação do mundo na América, exceto por seu tamanho e riqueza que
por sua liberdade e glória", e que Martí concebeu como "Nossa América", para diferenciá-la das
outras Américas, apetites expansionistas e imperiais. Também expressamos que o objetivo
da ALBA é transformar as sociedades latino-americanas, tornando-as mais justas, cultas,
participativas e solidárias e que, portanto, é concebida como um processo integral
que garante a eliminação das desigualdades sociais e promove a qualidade de vida e
participação efetiva dos povos na formação de seu próprio destino.

FONTE: Traduzida de <https://bit.ly/3MQcjeU>. Acesso em: 12 jan. 2022.

A ALBA parte de princípios de “complementação, cooperação, solidariedade e


respeito à soberania dos países” (FREITAS, 2011, p. 6).

De acordo com a Declaração que inaugura o novo bloco, os seguintes


princípios e bases serão observados: 1. O comércio e os investimen-
tos serão instrumentos para alcançar um desenvolvimento justo e
sustentável tendo o Estado como regulador e coordenador da ati-
vidade econômica; 2. Tratamento especial e diferenciado, tendo em
vista as assimetrias de desenvolvimento entre os países-membros,
com o objetivo de maximizar os benefícios do processo de integra-
ção; 3. A complementariedade econômica; 4. Cooperação e solida-
riedade, como forma de adequar os diferentes níveis de desenvolvi-
mento e focado na luta contra o analfabetismo, promoção da saúde e
educação; 5. Criação de um fundo emergencial; 6. Desenvolvimento
como forma de integrar as comunicações e transportes; 7. Propiciar
a sustentabilidade do desenvolvimento; 8. Integração energética; 9.
Fomentar os investimentos de capitais latino-americanos na própria
região; 10. Defesa da cultura e identidades dos povos que integram
o bloco; 11. Defesa da propriedade intelectual frente aos avanços de
empresas transnacionais; 12. Concertação de posições nas esferas
multilaterais e defesa da democracia e transparência das instâncias
internacionais. Tendo em vista estas disposições fica clara sua con-
traposição aos princípios neoliberais largamente adotados quando
da conformação de blocos regionais (FREITAS, 2011, p. 6-7).

202
A ALBA é um posicionamento de negação ao neoliberalismo imposto pelos
Estados Unidos. A aliança é estratégica para beneficiar os países latino-americanos.
Em 2006, Evo Morales, introduziu a ALBA – TCP por meio do Tratado do Comércio dos
Povos. A ALBA também deve ser considerada um meio de fazer oposição à Área de Livre
Comércio das Américas (ALCA), pois essa área que visava liberar o comércio na América
Latina, só contribuiria para o desenvolvimento dos Estados Unidos (SIMONI, 2017).

As “negociações para o estabelecimento da ALCA foram iniciadas com a Cúpula


das Américas, realizada em dezembro de 1994, em Miami, Estados Unidos. Mas, as
negociações oficiais foram lançadas em abril de 1998 na Segunda Cúpula das Américas,
em Santiago no Chile” (ANTECEDENTES [...], 2022, s.p.).

De acordo com Drummond (2001, p. 7), a iniciativa para a criação da ALCA “partiu
basicamente do presidente Bill Clinton, retomando a ideia lançada por George Bush, em 1992”.

Os Chefes de Estado e de Governo participantes desse evento


estabeleceram que o processo de negociações da ALCA seria
equilibrado, amplo e congruente com a OMC e constituiria um
compromisso único. Também concordaram que o processo de
negociação seria transparente e levaria em conta as diferenças nos
níveis de desenvolvimento e tamanho das economias das Américas
a fim de facilitar a plena participação de todos os países. Além disso,
acordaram que as negociações deveriam visar a contribuir para
elevar os níveis de vida, melhorar as condições de trabalho dos
povos das Américas e proteger melhor o meio ambiente. Finalmente,
definiram a estrutura sob a qual seriam conduzidas as negociações
(ANTECEDENTES [...], 2022, s.p.).

A Área de Livre Comércio (ALCA) não foi efetivada até os dias atuais. Essa ideia
em estabelecer um comércio livre que englobasse todo o continente americano poderia
favorecer o crescimento do continente, mas o que se viu ao longo do processo de
integração foram que os Estados Unidos seria o mais beneficiado e o mais controlador
dessas relações no âmbito das trocas comerciais.

Neste sentido, a ALCA estaria voltada para beneficiar a expansão produtiva dos
Estados Unidos. Como há muitas controvérsias para a implantação da ALCA os países
“têm procurado desenvolver alternativas que possam” fortalecer os países nas trocas e
integrações comerciais, e com isso surgem o “fortalecimento do MERCOSUL, da CAN, da
UNASUL” (FRANCISCO, 2022, s.p.).

Alternativas de integração que englobam os países da América com exceção


dos Estados Unidos. Em virtude das disparidades e da rejeição por parte de alguns
países, a ALCA teve suas negociações paradas em 2005.

203
3.1.1 A Comunidade de Estados Latino-americanos e do
Caribe (CELAC)
Assim como todos os blocos, alianças e grupos apresentados anteriormente em
nosso livro didático, a Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe (CELAC) é outra
proposta de diálogo inter-regional, que tem como membros os trinta e três países da América
Latina e Caribe. A iniciativa da CELAC teve início em 2008 com a primeira Cúpula de Chefes
de Estado e de Governo da América Latina e Caribe sobre a Integração e Desenvolvimento
(CALC). Abrangência ampla a CELAC se organizou a partir da perspectiva da “cooperação que
englobasse toda a região latino-americana". Neste sentido, de acordo com Mathias (2017, p. 4),

a CELAC conclama os países membros ao debate para a formulação


de propostas que visem à construção de uma política regional integral
antidrogas; convoca a solidariedade internacional para a situação do
Haiti; apoia à reclamação argentina acerca da desmilitarização das
Ilhas Malvinas, Geórgia do Sul e Sandwich do Sul, ocupadas pela Grã-
Bretanha desde o século XIX. Além de não se contrapor às iniciativas
sub-regionais como o Mercado Comum do Cone Sul (MERCOSUL),
Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), a União
de Nações Sul-Americanas (UNASUL) e Comunidade Econômica
do Caribe (CARICOM). Do mesmo modo, recomenda aos governos
Latino-americanos que discutam no âmbito da Organização das
Nações Unidas (ONU) sobre a autodeterminação e independência da
população de Porto Rico, território “autônomo” dos Estados Unidos.

A CELAC é um grande passo para o diálogo entre os países membros. Esse diálogo
tem se estabelecido através de diversos temas como desenvolvimento social, educação,
desarmamento nuclear, agricultura familiar, cultura, finanças, energia e meio ambiente.

Como mecanismo representativo da América Latina e Caribe, a


CELAC assume entre suas atribuições o diálogo da Comunidade
com outros países e grupos regionais. Entre eles estão o Diálogo
CELAC com a União Europeia, o Fórum CELAC-China, o Mecanismo
de Diálogo com a Federação Russa, bem como a aproximação com a
República da Coreia, o Conselho de Cooperação dos Estados Árabes
do Golfo, Turquia e Japão. A CELAC busca complementar a arquitetura
regional existente com base na não duplicação de esforços, a fim de
potencializar elementos comuns e fomentar a complementaridade.
A CELAC pode ser resumida da seguinte forma: É um mecanismo
de diálogo e de acordo político. É um mecanismo articulador,
que funciona com base no consenso. É um fórum que avança na
convergência de ações e interesses comuns. É uma plataforma que
facilita uma maior presença da nossa região no mundo. É um espaço
para enfrentar desafios comuns (QUE ÉS LA CELAC, 2022, s.p.).

Por fim, podemos considerar a CELAC como uma novidade no âmbito das
relações internacionais entre os países latino-americanos e caribenhos. Seus membros
são: Antigua y Barbuda; Argentina, Bahamas, Barbados, Belize, Bolívia, Brasil, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Federación de San Cristobal y Nieves,
Grenada, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Jamaica, Mancomunidad de Dominica
México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana, San Vicente y las
Granadinas, Santa Lucía, Suriname, Trinidade e Tobago, Uruguai e Venezuela.
204
LEITURA
COMPLEMENTAR
A HISTÓRIA DA ALCA

Ana Maria Stuart

Na história de pouco mais de um século de relações predominou o conflito entre


a vocação hegemônica da grande nação do Norte e as resistências das nações latino-
americanas que, com características diversas, expressaram sua vontade de autonomia.

Há autores que explicam essa relação a partir das diferenças nos processos de
formação dos Estados, considerando o movimento de expansão territorial dos Estados
Unidos após a declaração da independência como determinante dessa vocação,
enquanto na América Latina as lutas políticas teriam postergado a formação dos
Estados nacionais (GOROSTIAGA, 1991).

Outros entendem que houve uma inserção internacional diferente durante o


período colonial. Os Estados Unidos teriam se beneficiado de um certo das colônias
britânicas nos acontecimentos europeus, em especial nas mudanças políticas e
econômicas havidas no século XVIII, enquanto as colônias ibéricas se mantiveram
marginalizadas (TULCHIN, 1990). Apesar dessas digressões, o importante é a constatação
da expansão dos Estados Unidos no século XXI, feita à custa de perdas territoriais do
México, o que marcou profundamente a natureza das relações no continente.

A Espanha já havia antecipado essa vocação de expansão do Norte em direção ao


Sul, segundo o relato de Luis de Onis, embaixador espanhol nos EUA em 1812: “A cada dia
desenvolvem-se mais e mais as ideias ambiciosas desta República e confirma-se seu olhar hostil
contra a Espanha. Vossa Excelência já sabe, pela minha correspondência, que este governo
quer fixar seus limites na desembocadura do Rio Norte ou Bravo, seguindo seu curso até o grau
31 e daí traçando uma linha reta até o mar Pacífico, tomando para si as províncias de Texas,
Nuevo Santander, Coahuila, Nuevo México e parte de Nueva Vizcaya e La Sonora. Parecerá um
delírio esse projeto a toda pessoa sensata, mas o projeto existe e há um plano do governo sobre
essas províncias, incluindo também a ilha de Cuba, como parte natural dessa República”.

A mensagem do presidente Monroe, em 1823, adotada como princípio ou


doutrina de política externa norte-americana, teve o objetivo primeiro de coibir a
extensão da influência europeia nas Américas: “Os continentes americanos, pela
condição de Estados livres e 21 independentes que têm assumido e sustentam, não
devem ser considerados, doravante, como sujeitos a futura colonização por nenhuma
potência europeia” (PERKINS, 1964).

205
A Doutrina Monroe, como declaração unilateral de política externa, inaugurou
uma prática mantida pelos governos, republicanos ou democratas, que se reservaram o
direito de interpretá-la segundo seus interesses.

A expansão territorial ganhava a opinião pública: “[...] é nosso Destino Manifesto


expandir-nos e possuir todo o continente que a Providência nos tem posto à frente
para o desenvolvimento do grande experimento da liberdade e a federação de Estados”
(Morning News, Nova York, dezembro de 1845).

A guerra contra o México, que originou a tomada do estado do Texas em 1836 e


culminou com a perda de mais de 50% do território mexicano, foi a prova da vigência do
interesse nacional norte-americano na formulação da Doutrina Monroe: “América para
os americanos” significava América para os norte-americanos!

Após a guerra civil norte-americana, em pleno processo de expansão colonial


europeu na África e na Ásia, gerador de tensões entre as grandes potências, fortaleceu-
se a corrente que defendia o nacionalismo expansionista, expressando a força do
“industrialismo triunfante”.

Concomitantemente, desenvolvia-se a percepção “idealista” dessa política,


baseada na convicção de que a nação norte-americana tinha uma missão internacional
a cumprir na defesa da democracia e da liberdade, contra os despotismos.

Portanto, mesmo em tempos de Pax Britânica, os Estados Unidos já


implementavam uma política autônoma, dando origem, no século XIX, a disputas de
influências sobre a América Latina.

DA PRIMEIRA CONFERÊNCIA PAN-AMERICANA À SEGUNDA GUERRA

Nesse contexto de disputa de influências, no ano de 1881 o secretário de Estado


James G. Blaine convidou as nações latino-americanas para uma conferência sobre
questões relativas ao comércio internacional e à arbitragem nas disputas interamericanas.

Avatares de política interna atrasaram a convocação. A Primeira Conferência Pan-


americana se reuniu, finalmente, em 1889-1890 na cidade de Washington, com o objetivo
de transformar a América Latina em um mercado natural e privilegiado para as manufaturas
norte-americanas que, na época, não eram competitivas em relação à indústria europeia.

A oposição da Grã-Bretanha a esse projeto encontrou um porta-voz eficaz no


próprio continente: a representação argentina que, em função de seu vínculo privilegiado
com a grande potência europeia, estava disposta a enfrentar a proposta de Blaine. A
pauta da conferência, elaborada unilateralmente pelo governo norte-americano, previa
a adoção de medidas destinadas à formação de uma união alfandegária americana –
um “Zollverein continental” – à moda da união alemã.

206
As instruções recebidas pelos delegados argentinos Roque Sáenz Peña e
Manuel Quintana foram precisas: “A formação de uma liga alfandegária americana
envolve, à primeira vista, o propósito de excluir a Europa das vantagens acordadas no
seu comércio. Tal pensamento não pode ser simpático ao governo argentino, que não
gostaria de ver enfraquecidas suas relações comerciais com aquela parte do mundo para
onde enviamos nossos produtos e de onde recebemos capitais e mão de obra”. Sáenz
Peña cumpriu bem a missão, concluindo seu discurso de oposição à união alfandegária
confrontando o lema de Monroe: “Seja a América para a Humanidade!”.

Enquanto isso, no Brasil era declarada a República, provocando uma mudança


na delegação. Salvador de Mendonça representou o novo governo e manteve o
alinhamento com as posições latino-americanas, apesar da aproximação com os
Estados Unidos promovida pela nova República.

Em seu livro de memórias, publicado em 1913, Mendonça relata o papel mediador


que lhe coube nas negociações com o secretário de Estado, Blaine: “Disse-lhe com firmeza
que quinze votos latino-americanos estavam dispostos a fazer questão de que saísse da
conferência nesse dia a eliminação da conquista, e que essa maioria me encarregara de
lhe comunicar esse propósito. Desejávamos apenas tornar mais completo o arbitramento
obrigatório e garantir de modo solene a integridade, a soberania e a independência de
todas as nações de nosso continente. Abolida a conquista, cessariam as suspeitas de
vizinhos contra vizinhos e principalmente contra a sua grande e poderosa nação”.

O fracasso da 1ª Conferência Pan-americana foi originado, principalmente,


pelas posturas das delegações da Argentina e do Brasil, que lideraram o voto contrário à
união alfandegária, desmontando o projeto dos Estados Unidos de construir o “sistema
pan-americano” sob hegemonia norte-americana. As Conferências Pan-americanas do
México (1901- 1902), Rio de Janeiro (1906) e Buenos Aires (1910) obtiveram resultados
pouco expressivos, gerando a impressão de que o panamericanismo, depois de Blaine,
tinha perdido significação central na agenda do Departamento de Estado. A ação unilateral
prevaleceu e restou aos fóruns multilaterais o tratamento de questões consensuais,
determinando um paulatino esvaziamento político da agenda pan-americana.

Após a Guerra Hispano-Americana de 1898, o foco da política externa norte-


americana tinha se voltado para os países da América Central e do Caribe, inaugurando
uma etapa marcada pela agressividade. A “americanização do mundo” era vista com alarme
na Europa e, também, na América Latina. No Brasil, a assinatura do Tratado de Comércio
com os Estados Unidos já tinha sido objeto de duras críticas de setores com interesses
econômicos industrialistas. No Congresso Nacional, durante a sessão de 9 de fevereiro de
1891, o deputado Vinhaes manifestava: “Há muito tempo que os Estados Unidos da América
do Norte desejam fazer um tratado de comércio com o Brasil, tomando, já se vê, a parte
do leão para si. Um dos principais paraninfos do Tratado nos Estados Unidos foi Blaine,
secretário-geral do governo de Washington. Aquele estadista é conhecido no mundo como
um dos mais aferrados protecionistas quando se trata de assuntos internos, tornando-se o
mais exaltado livre-cambista logo que venha à baila assunto de caráter externo”.

207
No plano geopolítico, a imposição da emenda Platt a Cuba, a separação do
Panamá da Colômbia e a construção e posse do canal interoceânico consagraram a
supremacia da potência emergente, que ganhava o reconhecimento das potências
europeias. O bloqueio da Venezuela por parte da Inglaterra, Alemanha e Itália, com o
objetivo de exigir o pagamento da dívida que o governo venezuelano havia suspenso,
originou a tomada de posição do presidente Roosevelt, que desenharia as relações dos
Estados Unidos com a América Latina e a Europa no século XX.

O Estado norte-americano abandonava para sempre os sonhos dos Founding


Fathers, se transformava em “polícia do continente” e aprofundava o intervencionismo,
seja pela pressão diplomática, seja por meios militares.

O Corolário Roosevelt à Doutrina Monroe, formulado em discurso presidencial


de 1904, era explícito: “A perversidade crônica, ou uma impotência que resulte na perda
geral da unidade da sociedade civilizada, poderia necessitar, em última instância, da
intervenção de uma nação civilizada. No hemisfério ocidental, a adesão dos Estados
Unidos à Doutrina Monroe pode forçar esse país, em casos flagrantes de perversidade
ou impotência, ao exercício de um poder de polícia internacional”.

O intervencionismo nos países da América Central e do Caribe e, em especial,


no México revolucionário, marcou as três primeiras décadas do século. O “idealismo
wilsoniano”, inspirador da Sociedade das Nações, não se aplicava às relações hemisféricas.

A chegada do segundo Roosevelt ao poder provocou uma profunda reestruturação


do governo dos Estados Unidos e de sua política externa. Implementou-se um reajuste
nas relações com a América Latina, que ficaria explícito na Política de Boa Vizinhança
apresentada na Conferência Pan-americana de 1933. A democracia liberal como paradigma
político foi o combustível que reanimou o espírito missionário do “destino manifesto” na
preparação da luta contra o nazifascismo. Roosevelt pressentira, desde o início de seu
governo, que essa luta levaria os Estados Unidos a entrar na guerra. Seria, portanto,
imprescindível contar com todo o hemisfério unido, vinculado por um conjunto de acordos
permanentes, fundamentados em visões político-estratégicas compartilhadas.

DA SEGUNDA GUERRA À DÉCADA DE 1980

Uma segunda etapa nas relações Estados Unidos-América Latina corresponde


ao período da Guerra Fria, durante o qual se consolidou o poderio global e a hegemonia
continental norte-americana.

Após a Segunda Guerra é assinado o Tratado Interamericano de Assistência


Recíproca (Tiar), durante a Conferência de Rio, em 1946, e dois anos depois se completa
o arcabouço institucional com a fundação da Organização dos Estados Americanos
(OEA), com o objetivo de remodelar as relações hemisféricas nos marcos da Guerra Fria.

208
Apesar da retórica, o projeto de Boa Vizinhança havia sido abandonado em
prol da política de alinhamento estratégico. Os imperativos da segurança militar, no
interesse de atrelar a América Latina ao campo ocidental vis a vis da União Soviética e
de seu bloco de poder, abriram profundas gretas nas pilastras da ordem interamericana.

A derrota do presidente de Guatemala, Jácobo Arbenz, em 1954, foi paradigmá-


tica. Os Estados Unidos justificaram sua intervenção aberta a partir da Resolução XXXII
sobre a “Preservação e defesa da democracia na América” (OEA, 1948). A frustração da
Operação Pan-americana, proposta por Juscelino Kubitschek, pode ser explicada como
parte dessa estratégia que privilegiava a segurança.

Por outro lado, as tentativas de desestabilizar a Revolução Cubana; a intervenção


no golpe militar de 1964 no Brasil – primeiro de uma série na América Latina –, e a invasão
da República Dominicana foram as evidências de um processo de controle hemisférico
que originou um longo processo de resistência na América Latina.

Foi uma época de fortalecimento da ideia de uma integração continental que excluísse
os Estados Unidos. A formação da Alalc, do Pacto Andino e do Mercado Comum Centro-Ame-
ricano foram tentativas de implantação de um modelo integracionista latino-americano. As in-
consistências e contradições entre os processos nacionais e esses projetos de integração regio-
nal foram aprofundadas pela irrupção de governos ditatoriais em muitos dos países da região.

DOS ANOS 1980 AOS NOSSOS DIAS

Este período é marcado pelo esforço dos governos norte-americanos para implemen-
tar uma política para a América Latina que funcione como instrumento de recomposição do
seu papel hegemônico mundial, claramente comprometido na década de 1970. A decadência
relativa da indústria norte-americana, se comparada com as da Alemanha e do Japão, alarmava
as empresas multinacionais americanas que sofriam perdas bilionárias. Para evitar o colapso, a
proposta foi de imitar a agressividade exportadora daqueles países e diminuir o enorme déficit
comercial. Para implementar esta estratégia, os Estados Unidos necessitavam da América Lati-
na. Isto é, dos mercados da América Latina. Exatamente como um século atrás.

Henry Kissinger recomendava: “Não faz sentido que o capitalismo estatal


continue sendo supremo ao sul do Rio Bravo... A privatização, a livre entrada de fluxos
de capital e a redução do poder estatal devem ser elementos-chave de nosso programa.
O México deve ser nosso caso de ensaio. As relações México-Estados Unidos devem
servir de modelo para as negociações com outros países latino-americanos”.

Salinas de Gortari, eleito presidente em 1989, aprofundou o processo iniciado por


Miguel De La Madrid. Em junho de 1990, anunciava, junto ao presidente Bush, a intenção de
formar uma área de livre comércio, incluindo o Canadá. O Nafta (North American Free Trade
Agreement) foi concebido como âncora de uma nova política hemisférica: duas semanas
depois, Bush enviava uma mensagem ao Congresso lançando a Iniciativa para as Américas.

209
A gravíssima crise econômica e política que assolou o México no final de 1994 e
a revolta zapatista jogaram água gelada no início da vigência do tratado.

Nesse contexto, o Departamento de Estado convocou a Cúpula das Américas,


que se reuniu em Miami, em dezembro de 1994, com a presença de todos os países do
continente, exceto Cuba. A agenda dessa reunião pretendia focalizar questões como
Governabilidade, Direitos Humanos e Desenvolvimento Sustentado, mas os assuntos
relativos ao comércio ganharam logo centralidade. Surgiu assim a proposta da Alca
(Área de Livre Comércio das Américas).

Ao longo dessa história, ressalta a questão da hegemonia norte-americana. As


outras nações do continente, impossibilitadas de exprimir suas vocações de autonomia em
função de vulnerabilidades econômicas, políticas e institucionais, jogaram diferentes papéis
para conseguir uma inserção internacional compatível com os interesses “nacionais” que,
na maioria dos casos, se identificam com interesses particulares das elites dominantes.

As práticas de alinhamento automático às posições norte-americanas, como as


desenvolvidas pelos governos brasileiros até a década de 1970, com breves interrupções,
mostraram-se incompatíveis com a formulação de projetos de desenvolvimento nacional.
De outro lado, nações como o México e a Argentina, de longa tradição contestatória da
hegemonia norte-americana, passaram a implementar políticas externas subordinadas
aos interesses dominantes na região.

A possibilidade de redesenhar uma política hemisférica que não responda a


imperativos hegemônicos dependerá da capacidade dos governos em exprimir os
interesses da sociedade e da democratização do processo de integração no plano
regional. Romper com o modelo de integração autoritária é o desafio que se coloca aos
povos do continente, incluindo o povo norte-americano.

O histórico das relações hemisféricas deixa transparecer profundas desigualdades


nas relações entre os Estados e, ainda, dentro das fronteiras nacionais. A integração de
importantes setores da população que vivem à margem da cidadania e dos mercados, em
vários países da América Latina, deverá ocupar os corações e as mentes dos formuladores
de uma nova integração hemisférica. Em primeiro lugar, será necessário impulsionar
políticas públicas que priorizem as necessidades e os interesses das maiorias, defendendo
o aprofundamento e a democratização dos processos sub-regionais como o Mercosul.

A negociação hemisférica proposta para a Conferência de Cúpula de Santiago


não parece responder a esses objetivos. A modificação do rumo dependerá da
capacidade de intervenção e de resistência dos que defendem um modelo de integração
que respeite a vocação autônoma dos povos das Américas

FONTE: STUART, A. M. A história da Alca. In: CODAS, G.; JAKOBSEN, K.; SPINA, R. (orgs). Alca dez anos: fracas-
so e alerta a novas negociações. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2015. Disponível em: https://
bit.ly/35XxwTC. Acesso em: 11 jan. 2022.

210
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você adquiriu certos aprendizados, como:

• Os blocos econômicos são relações estabelecidas entre os países para facilitar as


trocas comerciais.

• Os blocos econômicos se organizam em diferentes níveis de organização: zona de


livre comércio, união aduaneira, mercado comum e união monetária.

• As primeiras iniciativas para criação de blocos econômicos ocorreram na Europa


após a Segunda Guerra Mundial.

• Os principais blocos da América Latina são: CAN; ALALC; ALADI; UNASUL; IIRSA;
ALBA; ALCA; CELAC e o Mercosul.

• A integração dos países por meio de blocos econômicos tem vantagens e desvantagens.

211
AUTOATIVIDADE
1 Com base no que estudamos sobre os estágios de integração dos blocos econômicos,
vimos que há níveis diferentes que englobam características específicas para
determinar as relações entre os países membros do bloco. Os níveis de integração
são quatro, a saber: zona de livre comércio, união aduaneira, mercado comum e união
monetária. Sobre esses níveis, assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) A união aduaneira tem como diferencial a Tarifa Externa Comum (TEC), ou seja,
os países membros têm as mesmas taxas de exportação e importação entre
eles. Para países de fora, os membros padronizam a taxa entre eles antes de
comercializar seus produtos.
b) ( ) O Mercosul é o único bloco que atingiu o nível de mercado comum, cuja
característica principal está no livre comércio e na circulação de pessoas, ou seja,
mão de obra, capitais e serviços.
c) ( ) A área de livre comércio tem como característica principal o uso da mesma
moeda por todos os países membros de um bloco nesse estágio.
d) ( ) A união econômica ou monetária é uma característica do antigo NAFTA, atual
USMCA Estados Unidos, México e Canadá.

2 Na América Latina, os blocos econômicos mais conhecidos são: o Mercado Comum do


Sul (Mercosul), a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Aliança Bolivariana
para as Américas (ALBA). A Associação de Latino-Americana de Livre Comércio
(ALALC); Associação Latino-americana de Integração (ALADI); Comunidade Andina de
Nações (CAN); União das Nações Sul-americanas (UNASUL); Comunidade de Estados
Latino-americanos e do Caribe (CELAC). Com base nas informações que tivemos ao
longo do Livro Didático sobre cada um desses blocos, analise as sentenças a seguir:

I- A Comunidade Andina das Nações foi uma iniciativa do presidente do Chile, na


época, Eduardo Frei. Essa iniciativa surgiu devido às dificuldades enfrentadas pela
Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC).
II- A ALCA se efetivou a partir de 2005 com a inserção de todos os países do continente
americano no Bloco, inclusive Cuba, que mesmo divergindo das propostas do bloco
não podia ficar de fora devido à necessidade de integração econômica regional.
III- A União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) se caracteriza por ser uma entidade
com propostas no âmbito econômico e que engloba também relações culturais,
sociais, políticas, ambientais e científicas. Os países membros da UNASUL são
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname,
Uruguai e Venezuela.

212
Assinale a alternativa CORRETA:

a) ( ) As sentenças I e II estão corretas.


b) ( ) Somente a sentença II está correta.
c) ( ) As sentenças I e III estão corretas.
d) ( ) Somente a sentença III está correta.

3 A integração dos países através de blocos econômicos tem vantagens e desvantagens.


As vantagens estabelecem a facilidade de trocas comerciais através da eliminação de
tarifas e barreiras alfandegárias. Os países que participam de blocos econômicos tendem a
contribuir para o desenvolvimento interno. Por outro lado, essas articulações entre países
podem impedir relações com países fora do bloco, devido às dificuldades em relação às
trocas comerciais, sobre as vantagens e desvantagens dos países se articularem em blocos
econômicos classifique V para as sentenças verdadeiras e F para as falsas:

( ) As principais vantagens dos países se articularem em blocos econômicos são:


desenvolvimento econômico dos países, menor custo dos produtos, eliminação de
tarifas de exportação e importação e o aumento gradativo do Produto Interno Bruto.
( ) Os países que se articulam através de blocos econômicos adquirem as mesmas vantagens,
independentemente do nível de desenvolvimento econômico em que se encontram.
( ) As principais desvantagens em articular-se através de blocos econômicos para os
países são ausência de soberania nacional, enfraquecimento do multinacionalismo
frente ao fortalecimento da economia regional, polarização das economias globais, falta
de liberdade econômica das empresas em participar de mercados mais abrangentes.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência CORRETA:

a) ( ) V – F – F.
b) ( ) V – F – V.
c) ( ) F – V – F.
d) ( ) F – F – V.

4 A Associação Latino-Americana de Integração (ALADI) surgiu como uma resposta aos


conflitos da Associação Latino-americana de Livre Comércio (ALALC). Os conflitos
decorreram das diferenças econômicas entre os países membros. As diferenças
econômicas provocaram vantagens das economias maiores sobre as menores,
com isso a ALALC não se sustentou enquanto Bloco. Em função da problemática
apresentada, disserte sobre a substituição da ALALC pela ALADI e evidencie porque
essa nova associação foi a melhor alternativa encontrada.

213
5 A União das Nações Sul-Americanas (UNASUL) se caracteriza por ser uma entidade
com propostas culturais, sociais, políticas, ambientais e científicas e o fortalecimento
e proteção da democracia. Os países membros da UNASUL são: Argentina, Bolívia,
Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e
Venezuela. A constituição da UNASUL abriu mais possibilidades de diálogos entre
os países da América do Sul. Neste contexto, disserte sobre os conselhos que foram
estabelecidos a partir de 2008 para a organização da UNASUL.

214
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