Aula Do Hermes Zaneti Junior

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DIREITO PROCESSUAL DOS

DESASTRES E O PROCESSO
ESTRUTURAL - MPSP

Professor Dr. Dr. Hermes Zaneti Jr.


Universidade Federal do Espírito Santo
Promotor de Justiça no Ministério Público do Espírito Santo
(MPES)
DESASTRE E PROCESSO CIVIL DOS DESASTRES
uma nova fronteira para um mundo = emergente sensibilidade e
complexidade das relações entre homem e natureza no antropoceno

“Desastre é sempre uma triste derrota de uma comunidade


em todos os sentidos: humanos, não humanos, econômicos,
sociais e ecológicos.” Deltón Winter de Carvalho.
Conceito de desastre

▪ O direito material dos desastres tem o seguinte conceito legal:


▪ “desastre: resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem
sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos, materiais ou
ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais” (Art. 2º, inc. VII,
Dec. 10.593/2020; Leis 12.340/2010 e 12.608/2012).
DESASTRE DO RIO DOCE (CASO SAMARCO/MARIANA-MG)
16/11/2015
30/11/2015
05/11/2015
Termo de Compromisso
Ação Civil Pública de 20
ROMPIMENTO DA Socioambiental (TCSA)
bilhões (União, Municípios,
BARRAGEM DE FUNDÃO preliminar com a empresa
Autarquias e Estados)
Samarco Mineração S/A –
Sede do MPES

02/03/2016
30/06/2016 – 17/08/2016
02/05/2016
Assinatura do TTAC
STJ suspende a homologação
Ação Civil Pública de 155
do TTAC/ TRF 1 anula
Homologação em Audiência bilhões
homologação do TTAC
no TRF1ª Região - BSB

HISTÓRIA DO CASO RIO DOCE – LINHA DO TEMPO


20/11/2016
18/01/2017-16/11/2017
25/06/2018
MPF denuncia 21
Termo de Acordo
pessoas naturais e 4
Preliminar (TAP) e TAC da Governança
pessoas jurídicas pelo
Aditivo ao TAP
Desastre do Rio Doce

26/10/2018

TAC da Não-Prescrição
das pretensões
individuais

HISTÓRIA DO CASO RIO DOCE – LINHA DO TEMPO


Atuação conjunta das
Instituições de Justiça Decisões em cascata: litígio
Acordos/ Programas de de alta complexidade e
indenização das vítimas conflituosidade interna
(MPF, MPES, MPMG, DPU,
DPES, DPMG)

PONTOS RELEVANTES DO CASO


DESASTRE DE BRUMADINHO/MG
Comparação entre os casos

Rio Doce MG/ES – 05/11/2015 Brumadinho MG – 25/01/2019

▪ Samarco (Controladoras Vale S.A e ▪ Vale S.A.


BHP Billiton S.A. – Anglo-australiana)
▪ 217 mortes identificadas e 87
▪ 19 mortes desaparecidos em 29 de março de
▪ Maior impacto ambiental da história do 2019
Brasil e maior do mundo envolvendo ▪ Maior “acidente” de trabalho da
barragens de rejeitos (62 milhões de
metros cúbicos) história do Brasil e um dos maiores
acidentes industriais do mundo
▪ Residências e propriedades rurais
destruídas, falta de água em diversos
municípios, proibição de pesca, povo
Krenak, turismo, indústria e comércio.
COVID-19 um desastre anunciado?

▪ Desastres podem ser identificados a partir de


▪ (i) suas causas
▪ (ii) suas consequências
▪ (iii) perda da estabilidade social
(i) suas causas:
▪ Coronavírus são vírus zoonóticos, passam de animais
para pessoas
▪ Um desastre biológico, causalidade natural
(antropocêno – difícil correlação de causalidade)
▪ O aquecimento global e a emergência climática
tendem a gerar desequilíbrios ecológicos que
fomentam essas novas doenças
ii) suas consequências:

▪ UNDRR – United Nations Office for Disaster Risk Reduction), responsável pela
uniformização conceitual em nível internacional, descreve desastre como
▪ “[...] uma perturbação grave do funcionamento de uma comunidade ou
sociedade em qualquer escala devido a eventos perigosos que interagem com
condições de exposição e capacidade, levando a um ou mais dos seguintes
itens: perdas e impactos humanos, materiais, econômicos e ambientais.”
▪ O direito material dos desastres tem o seguinte conceito legal:
▪ “desastre: resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo
homem sobre um ecossistema vulnerável, causando danos humanos,
materiais ou ambientais e consequentes prejuízos econômicos e sociais” (Art.
2º, inc. II, Dec. 7.257/2010; Leis 12.340/2010 e 12.608/2012).
Centre for Research on the Epidemiology of
Disasters - Universitè Catholique de Louvain –
Belgium
Evento danoso à condição de desastre: (a) 10 ou mais mortes humanas (efetivas ou
presumidas); (b) pelo menos 100 pessoas atingidas (necessitando de comida, água,
cuidados básicos e sanitários; desalojados e feridos); (c) ter sido declarado estado
de emergência; (d) ter havido um pedido de ajuda internacional.
“Os números da Covid-19 são capazes de demonstrar, sem a necessidade de maior
aprofundamento, que essa se enquadra como desastre, também a partir da análise
de sua intensidade, superando não apenas o número de óbitos (a), mas o número
de atingidos (b), como também, a declaração de Estado de Emergência (d). Não
bastassem todos estes “atributos”, a presente pandemia tem um gravíssimo efeito
colateral econômico.”
Mais de 430 mil mortos – Efeitos econômicos e sociais devastadores

(iii) perda da estabilidade social
“Os desastres são fenômenos extremos capazes de atingir a estabilidade sistêmica
social, num processo de irradiação e retroalimentação de suas causas e efeitos
econômicos, políticos, jurídicos e científicos.”
As famílias e o direito sucessório foram diretamente atingidos
SOLUÇÃO DE CONFLITOS:
INTERESSE, DIREITO E
PODER
“Direito raramente são claros.
Existem frequentemente – e algumas
vezes contraditórios – padrões [leis e
precedentes] que se aplicam. Alcançar
um acordo nos direitos, onde o
resultado determinará quem recebe o
que, muitas vezes pode ser difícil,
levando frequentemente as partes a
recorrer a terceiros para determinar
quem está certo.”
ROGERS, BORDONE, SANDER,
McEWEN, p. 110
Direito Processual dos Desastres

▪ O fim do processo é a tutela das pessoas e dos


direitos adequada, tempestiva e efetiva, mediante
o processo justo, para a prevenção, estímulo à
autocomposição e a resolução do conflito.
▪ Direito e conflito devem ser tratados de forma
adequada – a solução dos conflitos exige a
correta identificação dos “interesses”
Covid-19 e o Sistema de Justiça

Judicial Review/Autocontenção Tipologias de litígios

▪ ADI Competência Comum/Concorrente de ▪ Litígios individuais (pedidos de


União, Estados, Municípios cirurgias eletivas urgentes e não-
▪ ADPF/ACP “O Brasil Não Pode Parar” urgentes)
▪ ADI MP 966 – Prevenção e precaução e Critérios ▪ Controle de constitucionalidade
Científicos
▪ ADPF Indígenas ▪ Casos repetitivos (questões repetitivas
em direito de família)
▪ Obrigatoriedade das vacinas e possibilidade de
fechamento de templos religiosos ▪ Ações coletivas (Habeas Corpus
▪ CNJ/CNMP – Prazos processuais e incentivo à coletivo da prisão civil do devedor de
digitalização alimentos)
▪ “Processo estrutural”(?)
Lei da Covid 13.979, 6 de Fevereiro de 2020

▪ Art. 1º Esta Lei dispõe sobre as medidas que poderão ser adotadas para
enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional
decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019.
▪ § 1º As medidas estabelecidas nesta Lei objetivam a proteção da coletividade.
▪ Lei 14.046 – Turismo e cultura - Lei 14.034/2020 – Transporte aéreo
Daniel Farber – Fases (Modelo Circular)

▪ (a) prevenção e mitigação (risk mitigation, fase inibitória ou de remoção do


ilícito);
▪ (b) resposta de emergência (emergence response, tutela de urgência);
▪ (c) compensação (compensation and insurance, tutela ressarcitória);
▪ e
▪ (d) reconstrução (rebuilding, tutela ressarcitória na forma específica).
▪ FARBER, Daniel. Disaster Law and Emerging Issues in Brazil. Revista de estudos
constitucionais, hermenêutica e teoria do direito (RECHTD), 4 (1): 2-15, jan.-jun.
2012.
Atenção aos Riscos e aos Vulneráveis (Life
ain’t fair!)
▪ ”(i) ter que exercer sua contribuição para o ciclo de gestão circular do risco em cada
uma das fases de um desastre (prevenção e mitigação; resposta emergencial;
compensação; reconstrução), a fim de colaborar globalmente com a necessidade de
mitigação dos impactos; (ii) enfrentar a necessidade de fornecer estabilidade à
situações caóticas, trazendo seus respectivos âmbitos de atuação de um modelo
operacional em colapso, para uma nova normalidade; (iii) ter que fornecer absoluta
prioridade e adotar como premissa orientadora das decisões jurídicas a função do
Direito para redução das vulnerabilidades sociais, físicas ou tecnológicas
(informacionais); (iv) diante das incertezas postas em jogo, a maior sensibilidade do
Direito às dimensões desta para graduações proporcionais nas medidas preventivas ou
precaucionais emergenciais a serem impostas, com parcimônia e equilíbrio; (v) por se
tratar de riscos e impactos de grande magnitude, o Direito deve orientar suas decisões
a partir de informações científicas, dotadas de credibilidade, mesmo que estas
estejam em estágios iniciais de testes ou pesquisas, de incertezas ou mesmo ante a
precariedade de dados.”
SARAT, Austin – Dimensões do Direito dos
Desastres
▪ (a) manter a operacionalidade do Direito (higidez do sistema judiciário e
controle de constitucionalidade);
▪ (b) lutar contra a ausência do Direito (precedentes, processo estrutural e
necessidades de tutela);
▪ (c) fornecer estabilização e reacomodação das vítimas (medidas
administrativas e judiciais na disfunção do poder público – ex. leitos de hospital,
locais de tratamento adequados, isolamento e distanciamento social);
▪ (d) promover a identificação das vítimas e responsáveis (tutelas declaratória e
condenatória); e
▪ (e) reduzir a vulnerabilidade futura (processo estrutural – medidas legislativas,
administrativas e judiciais).
PROCESSO E DADOS ESTATÍSTICOS
“O problema tem-se visto obscurecido além de
toda medida razoável por uma teia de ideias
preconcebidas, sem base empírica, que geram
visão distorcida da realizada e conduzem à
utilização de estratégias inadequadas e, por isso,
ineficazes. (...) Não precisamos de exemplos
acidentais; precisamos, sim, de dados estatísticos
colhidos e tratados com boa técnica. A estatística,
todos sabemos, lida com grandes números;
quando se despreza tal princípio, chega-se a
conclusões tão risíveis como seria tachar de
criminosos 100% da população estrangeira de
certa cidade, porque o único estrangeiro nela BARBOSA MOREIRA, José Carlos. O Problema
residente cometeu um delito (...)” da duração dos processos: premissas para uma
discussão séria. In: BARBOSA MOREIRA, José
Carlos. Temas de Direito Processual. Nona
Série. Rio de Janeiro: Saraiva, 2007.
“A mudança de uma visão de mundo
antropocêntrica para uma datacêntrica não será
meramente uma revolução filosófica. Será uma
revolução prática (...) Ideias só mudam o mundo
quando mudam o nosso comportamento”

— Yuval Noah Harari

HARARI, Yuval Noah. Homo Deus. Uma Breve História


do Amanhã. Trad. Paulo Geiger. São Paulo: Companhia
das Letras, 2016, p. 392.
Questões de alta complexidade, grande
impacto e repercussão: Unaí, Boate Kiss,
Mariana (Rio Doce) e Brumadinho
▪ Taxonomia Unificada CNJ/CNMP
▪ Assunto 12.626 - Covid-19
NUPROC – Núcleo de Direito Processual
MPES
▪ A taxonomia nos permite acompanhar
▪ A) Total de movimentos: pesquisas quantitativas
▪ Total de autos
▪ Total de autos judiciais
▪ Total de autos judiciais por matéria
▪ B) Pesquisas qualitativas – leitura dos autos a partir do sistema interno
▪ C) Estratégias de atuação
ESTATÍSTICAS GTRD E NUPROC/MPES
INDENIZAÇÃO DE ÁGUA NO CASO RIO DOCE

VALORES DAS INDENIZAÇÕES

R$ 2.000,00 (dois mil


reais)
112
R$ 1.000, 00 (um
31%
mil reais)
247
69%

R$ 1.000, 00 (um mil reais) R$ 2.000,00 (dois mil reais)


IRDR 040 DA TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO DOS
JUIZADOS ESPECIAIS
INFLUÊNCIA DO IRDR 040 DA TURMA DE UNIFORMIZAÇÃO DOS JUIZADOS
ESPECIAIS

Decisões que não


citaram o IRDR n. 040
Decisões que citaram o
como fundamentação
IRDR n. 040 na
185
fundamentação
75%
62
25%

Decisões que citaram o IRDR n. 040 na fundamentação Decisões que não citaram o IRDR n. 040 como fundamentação
Precedentes em tempo de Covid-19: Cortes
Supremas importam?

a) Precedentes estruturantes
que ficarão para o futuro
b) Precedentes emergênciais
para situações de crise e
aplícáveis ultrativamente
para outras crises similares
c) Precedentes errados,
decisões tomadas de
▪ DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes; PEIXOTO, Ravi. forma impensada e não
Brazilian Precedents in Covid-19 - Supreme Court refletida, que devem ser
Matters? In.: NYLUND, Anna; KRANS, Bart (eds). Civil superadas!
Courts Coping with Covid-19. The Hague: Eleven, 2021.
PLANO DE TRABALHO: PROCESSO
ESTRUTURAL
1- O Problema e o Prego: Um Exemplo - Elementos do Processo
Estrutural
2 – A Caixa de Ferramentas: O Código de Processo Civil Brasileiro
de 2015 e sua Aplicação Direta aos Processos Coletivos e aos
Processos Estruturais;
3 – Organizando as Ferramentas (Boas-Práticas): A Recomendação
n. 76 do CNJ e o Saneamento do Processo como Ferramenta de
Certificação da Tutela Coletiva Adequada ao Problema Estrutural;
4 – Ferramentas que Funcionam: Modos para Implementar a Meta
Estabelecida (Juiz Gestor, Facilitador, Delegação de Atividades)
Modelo processual
tradicional:

­ Predomínio do processo
individual e reducionista

­ Lógica binária do perdedor X


vencedor

­ Voltado à resolução de questões


envolvendo justiça comutativa:
mesmo nos processos coletivos

MODELOS PROCESSUAIS: ­ Provimentos de restauração de


status quo e retributivos

PROCESSO ESTRUTURAL
DIREITO FUNDAMENTAL À ORGANIZAÇÃO
E AO PROCEDIMENTO: STATUS ACTIVUS
PROCESSUALIS
“O futuro no desenvolvimento do Estado prestacional
pertence à lei de condução e especialmente às leis de
organização e procedimento. Leis de condução não são
concebidas apenas como reação a uma situação concreta
de deficiência em direitos fundamentais, mas também
devem superar futuros problemas de política de direitos
fundamentais que se encontrem na mesma situação. Seus
meios são elásticos e passíveis de revisão. Processos com
relevância para os direitos fundamentais e direcionados por
meio da combinação de formas novas e tradicionais na lei
de direção constituem esse tipo de lei.”
HABERLE, Peter. Direitos Fundamentais no Estado
Prestacional. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2019, p.
21
ALGUMAS PREMISSAS PRECISAM SER ESTABELECIDAS:

a) o direito processual deve ser pensado e estruturado para atender as necessidades


de tutela das pessoas, grupos de pessoas e a partir do direito material;
b) há necessidade de adequar o procedimento à complexidade do conflito para que as
pessoas e o próprio direito fundamental material sejam adequadamente protegidos,
especialmente ao tratar do direito dos desastres que é fundado no risco e na
precaução;
c) as normas fundamentais da efetividade e da segurança jurídica exigem a revisão dos
conceitos de ação, jurisdição e processo para manter em equilíbrio os interesses e
direitos das partes com a função de solução adequada do conflito pelo processo como
direito constitucional aplicado.
LUIZ GUILHERME MARINONI
“para a integração processo-direito material é imprescindível, além da classificação das
tutelas, que o direito de ação seja pensado como direito fundamental, ou melhor, como direito
fundamental à efetividade da tutela jurisdicional. Como é óbvio, não se trata de dar apenas
um novo nome ao direito de ação, mas sim de retirar todas as consequências do status de
um direito alçado ao nível de fundamental. (...) A compreensão do direito de ação como
direito fundamental confere ao intérprete luz suficiente para a complementação do direito
material pelo processo e para a definição das linhas desse último na medida das
necessidades do primeiro. Ou seja, a perspectiva do direito fundamental à efetividade da
tutela jurisdicional permite que o campo da proteção processual seja alargado, de modo
a atender a todas as situações carecedoras de tutela jurisdicional”, MARINONI, Luiz
Guilherme. Técnica Processual e Tutela dos Direitos. São Paulo: RT, 2014 (Introdução, 1ª ed.
versão digital, baseada na 4ª ed. impressa)
DIREITO FUNDAMENTAL MATERIAL E DIREITO
FUNDAMENTAL PROCESSUAL - RELAÇÃO

“O aspecto jurídico-material dos direitos fundamentais


no Estado prestacional ganha força por meio de
processos. O “clipe”, que vincula o Estado e os direitos
fundamentais de forma adequada de acordo com a sua
mudança funcional, é uma “reserva prestacional de
direito processual” à altura das várias relações jurídicas
no Estado prestacional (relações de planejamento,
direção, subsídio e controle).”, idem, p. 53.
HISTÓRIA DO ATIVISMO JUDICIAL (?): JUIZ-
GERENTE, JUIZ-FACILITADOR, EXPERIMENTALISMO
Owen Fiss – uma construção empírica explicada à luz da doutrina dos
casos de (des)segregação racial, reformas de instituições hospitalares,
presídios, atuação da polícia em relação à juventude negra (The Civil
Rights Injunction, 1978 – o triunfo do caso Brown – “property rights”
“associeted with the ownership of the land” –
Structural injunction e specific performance
– case management
– do juiz gerente ao juiz facilitador/moderador, do juiz facilitador
ao experimentalismo (decisões em cascata – método da tentativa e
erro)
Estrutural: facilitar o diálogo institucional entre os Poderes (Públicos e
Mercado)
Multipolar/Policêntrico: intervenção em contraditório do Poder Público e
da sociedade, reforçando os interesses públicos em choque (meio ambiente
e moradia, meio ambiente e trabalho)
Dialogal: abertura ao diálogo entre o juiz, as partes, os representantes

PROCESSO dos demais poderes, o Ministério Público e a sociedade (audiências


públicas e amici curiae)
Cognição ampla e profunda: de modo a propiciar ao juiz o
ESTRUTURAL assessoramento necessário ao pleno conhecimento da realidade fática e
jurídica (revisão da estabilidade objetiva e subjetiva da demanda)

CARACTERÍSTICAS Cooperativo (colaborativo e participativo): dever geral de cooperação


ampliado

GERAIS Prospectivo e distributivo: decisões para o futuro (enquanto durar


determinado estado de coisas) e socialmente equilibradas (
Flexível: tanto no procedimento (preclusões dinâmicas), quanto na
execução (decisões em cascata - experimentalismo)
Sujeito a informação, debate e controle: por qualquer meio adequado,
processual ou extraprocessual (accountability)
Soluções consensuais, construídas e executadas de comum acordo com
o Poder Público e demais agentes envolvidos
NÃO É SOLUÇÃO
MÁGICA!
Aplicação Direta do CPC/2015
aos processos estruturantes e ao
processo coletivo

Processo Coletivo, Microssistema e


Modelo Cooperativo

Exemplos de situações limite: audiências


públicas.
JORGE LUIS BORGES - DO RIGOR DA CIÊNCIA

DO RIGOR NA CIÊNCIA ...Naquele Império, a


Arte da Cartografia alcançou tal
Perfeição que o mapa de uma única
Província ocupava toda uma Cidade, e o
mapa do império, toda uma Província.
Com o tempo, esses Mapas Desmesurados
não foram satisfatórios e os Colégios de
Cartógrafos levantaram um Mapa do
Império, que tinha o tamanho do Império
e coincidia pontualmente com ele. Menos
Afeitas ao Estudo da Cartografia, as
Gerações Seguintes entenderam que esse
dilatado Mapa era Inútil e não sem
Impiedade o entregaram às Inclemências
do Sol e dos Invernos. Nos desertos do
Oeste perduram despedaçadas Ruínas
do Mapa, habitadas por Animais e por
Mendigos; em todo o País não há outra
relíquia das Disciplinas Geográficas.
(Suárez Miranda: Viajes de Varones
Prudentes, livro quarto, cap. XLV, Lérida,
1658.)
A.1) Problema estrutural
A.2) Processo estrutural
A.3) Decisão estrutural
A.4) Características típicas, mas não
essenciais: a multipolaridade, a
coletividade e a complexidade;
A.5) Características essenciais: o
problema estrutural, a implementação
de um estado ideal de coisas, o
procedimento bifásico e flexível, e a
consensualidade.
Elementos para uma teoria do
processo estrutural aplicada ao
processo civil brasileiro, DIDIER,
ELEMENTOS PARA UMA TEORIA DOS PROCESSOS ALEXANDRIA, ZANETI, Repro 303.
ESTRUTURAIS
“O problema estrutural se define pela existência de
um estado de desconformidade estruturada – uma
situação de ilicitude contínua e permanente ou uma
situação de desconformidade, ainda que não
propriamente ilícita, no sentido de ser uma situação
O PROBLEMA que não corresponde ao estado de coisas considerado
ideal. Como quer que seja, o problema estrutural se
ESTRUTURAL configura a partir de um estado de coisas que
necessita de reorganização (ou de reestruturação).”
DIDIER JR., Fredie; ZANETI JR., Hermes; OLIVEIRA,
Rafael Alexandria de. Elementos para uma teoria do
processo estrutural aplicada ao processo civil
brasileiro. Revista de Processo, v. 303, p. 45-81, mai.
2020, versão eletrônica.
DECISÃO ESTRUTURAL – PRINCÍPIO E REGRA
“decisão estrutural é aquela que, partindo da constatação de um estado de desconformidade,
estabelece o estado ideal de coisas que se pretende seja implementado (fim) e o modo pelo
qual esse resultado deve ser alcançado (meios). Em essência, a decisão estrutural não
estrutura, mas sim reestrutura o que estava desorganizado.
Essa decisão tem conteúdo complexo.
Primeiro, ela prescreve uma norma jurídica de conteúdo aberto; o seu preceito indica um
resultado a ser alcançado – uma meta, um objetivo – assumindo, por isso, e nessa parte, a
estrutura deôntica de uma norma-princípio.
Segundo, ela estrutura o modo como se deve alcançar esse resultado, determinando
condutas que precisam ser observadas ou evitadas para que o preceito seja atendido e o
resultado, alcançado – assumindo, por isso, e nessa parte, a estrutura deôntica de uma norma-
regra.” Ibidem.
BIFÁSICO – DECLARAÇÃO DO PROBLEMA
ESTRUTURAL E PRIMEIRAS MEDIDAS
Art. 356. O juiz decidirá parcialmente o mérito quando um ou mais dos pedidos
formulados ou parcela deles:
I - mostrar-se incontroverso;
II - estiver em condições de imediato julgamento, nos termos do art. 355 .
Decisão agravável – art. 1.015, II, CPC.
CPC plástico, adaptável e flexível

NOVO CÓDIGO E Código da Recodificação


Diálogo de fontes: a) sistemático de coerência; b)
NOVO complementariedade (supletiva) e subsidiariedade; c)
influências recíprocas (reflexividade).
PROCEDIMENTO
COMUM
DEVER GERAL DE COOPERAÇÃO – COMUNIDADE DE
TRABALHO E TEORIA DA INTERPRETAÇÃO/DECISÃO
Modelo cooperativo de processo – (Art. 6º, CPC).
A) Case management: legal (arts. 139, VI – prazos e ordem de produção de provas;
arts. 327, § 2º e 1.049, par. Único, CPC); judicial (arts. 139, IV, art. 69, 357, § 3º,
CPC); negocial (art. 190 e 200, CPC);
B) Fatos;
C) Direito;
D) Estímulo à autocomposição.
(Conclusões dos trabalhos preparatórios para o ELI/UNIDROIT – C.H. Remco Van Rhee;
Alan Uzelac, Emmanuel Jeuland and others).
APLICAÇÃO DIRETA DO CPC AOS PROCESSOS
ESTRUTURAIS
Normas fundamentais: primazia do julgamento de
mérito, cooperação;
Saneamento consensual e compartilhado: art. 357,
boa-fé e interpretação do pedido e da decisão em §§ 2º e 3º;
conformidade com o conjunto do texto (arts. 5º, 322,
§ 2º e 489, § 3º, CPC); Distribuição dinâmica do ônus da prova: Art. 373,
§ 1º;
negócios processuais típicos: calendarização
processual e probatória (arts. 191; 357, § 8º; 471), ART. 515, § 2º, mudança das partes e do objeto da
tais como a calendarização da perícia, a perícia execução (exemplo de Guarapari – fornecimento
consensual etc.; de leitos por rede privada ou construção de
hospital?)
Precedentes (arts. 926, 927, 489, § 1º, V e VI);
Entidades de infraestrutura específica com
Negócios processuais atípicos (arts. 190 e 200, “delegação” de atividade executiva (Fundação
CPC); RENOVA)
Técnicas estruturantes: modelo de tipicidade
flexível, adequação e generalização das astreintes
(art. 139, III e IV);
APLICAÇÃO DIRETA DO CPC AOS PROCESSOS
ESTRUTURAIS
Atuação do MP como fiscal do produção antecipada da prova, art. 381
ordenamento jurídico, art. 178, todos
poderes de parte (aditar o pedido – art. 400 (cancelamento da súm. 372 – dever
litisconsorte ativo ulterior – “processos de produção de prova)
coletivos”) art. 472, pareceres elucidativos suficientes
audiência preliminar de mediação ou conexão probatória, art. 55, § 3º
conciliação, art. 334
cooperação jurisdicional, art. 69, § 2º II e VI
reconvenção em processo coletivo, art.
343, § 5º recurso de terceiro, art. 996 (substituto
processual – caso do TAC por colegitimado)
distribuição sobre ônus da prova, art. Execução provisória da astreinte com
373, § 1º depósito dos valores, art. 537, § 3
RECOMENDAÇÃO N. 76 CNJ – BOAS PRÁTICAS
Art. 4o Recomendar aos juízes que, na III – as principais questões de fato e de
decisão de saneamento e organização direito a serem discutidas no processo; e
do processo coletivo, procurem verificar
e definir claramente: IV – a existência eventual de conexão,
continência, litispendência ou coisa
I – o(s) grupo(s) titular(es) do(s) julgada, em relação a outras
direito(s) coletivo(s) objeto do processo demandas coletivas ou individuais e a
coletivo, com a identificação e possibilidade e conveniência de
delimitação dos beneficiários; suspensão das ações individuais
correlatas. [ Não há listispendência
II – a legitimação e a entre ação individual e ação coletiva –
representatividade adequada do mas técnicas de suspensão, reunião de
condutor do processo coletivo; processos etc. são possíveis].
RECOMENDAÇÃO N. 76 CNJ – BOAS PRÁTICAS
Art. 5o Recomendar que sejam Art. 6o Recomendar que a determinação
definidos, pelo juiz ou relator, os dos beneficiados possa ser feita na decisão
poderes do amicus curiae e de saneadora ou na sentença, mediante a
eventuais terceiros, na decisão que indicação precisa da categoria, classe,
solicitar ou admitir a sua intervenção, grupo, caracterização dos atingidos e
bem como a necessidade de realização beneficiados, lista ou relação
de audiência pública, fixando as apresentada, bem como por outro meio,
respectivas regras pertinentes. físico ou eletrônico, que permita a
identificação dos respectivos indivíduos.
[distinção entre substituição processual
e representação processual – art. 5º,
XXI, CF/1988 e art. 129, III e § 1º,
CF/1988).
EQUILÍBRIO NECESSÁRIO: DONA
CAMILA (TELEFONIA FIXA) E
SELVANIO RODRIGUES (IRDR
SAMARCO)
Art. 8o Recomendar que os incidentes de
resolução de demandas repetitivas e os recursos
repetitivos sejam, respectivamente, suscitados,
selecionados ou instruídos, a critério do órgão
judicial, quando possível, preferencialmente, a
partir de processos coletivos, se esses, de fato,
fornecerem, nas suas peças, arrazoados e
eventuais decisões, elementos que sejam
considerados os melhores em termos de
representatividade da controvérsia, tendo em vista,
em especial, a abrangência, o debate, a
diversidade e a profundidade de fundamentos,
argumentos e teses apresentados e relacionados
com a questão de direito comum a ser decidida.
REFLEXÃO SOBRE O ATIVISMO JUDICIAL E
O VOLUNTARISMO DAS INSTITUIÇÕES DE
JUSTIÇA
"No Brasil, ao contrário de outros países, o juiz não cria
obrigações de proteção do meio ambiente. Elas jorram
da lei, após terem passado pelo crivo do Poder
Legislativo. Daí não precisarmos de juízes ativistas, pois o
ativismo é da lei e do texto constitucional." REsp
650.728-SC, Rel. Min. Herman Benjamin.

ZANETI JR., Hermes. Constitucionalismo Garantista e


Precedentes Vinculantes em Matéria Ambiental. Revista
de Direito Ambiental, v. 78, p. 179-214, 2015.
NÃO EXISTEM DIREITOS
FUNDAMENTAIS SEM
DEMOCRACIA E SEM
DEMOCRACIA NÃO
EXISTEM DIREITOS
FUNDAMENTAIS

DEMOCRACIA É PROGRESSO: A
DEMOCRACIA BRASILEIRA É UMA
DEMOCRACIA DE DIREITOS
MUITO OBRIGADO!
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