Adi 6590

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Supremo Tribunal Federal

Ementa e Acórdão

Inteiro Teor do Acórdão - Página 1 de 60

21/12/2020 PLENÁRIO

REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.590 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADV.(A/S) : RAFAEL DE ALENCAR ARARIPE CARNEIRO
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
AM. CURIAE. : COMITÊ BRASILEIRO DE ORGANIZAÇÕES
REPRESENTATIVAS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS - CRPD
ADV.(A/S) : RAFAEL KOERIG GESSINGER
ADV.(A/S) : FABIANO MENKE
ADV.(A/S) : DIEGO KRAINOVIC MALHEIROS DE SOUZA
ADV.(A/S) : ARTHUR FERRAZ VASEM
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE
SÍNDROME DE DOWN
ADV.(A/S) : RHOMENIG OLIVEIRA DE SOUZA
AM. CURIAE. : APABB - ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS
DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE
ADV.(A/S) : CAHUE ALONSO TALARICO
AM. CURIAE. : AUTSP ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE AUTISMO
ADV.(A/S) : CAMILLA CAVALCANTI VARELLA GUIMARAES
JUNQUEIRA FRANCO
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E
INTEGRAÇÃO DOS SURDOS (FENEIS)
ADV.(A/S) : BRUNO CESAR DESCHAMPS MEIRINHO
AM. CURIAE. : INSTITUTO ALANA
AM. CURIAE. : RNPI - REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA
ADV.(A/S) : THAIS NASCIMENTO DANTAS
ADV.(A/S) : ANA CLAUDIA CIFALI
ADV.(A/S) : PEDRO AFFONSO DUARTE HARTUNG

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
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ADI 6590 MC-R EF / DF

ADV.(A/S) : ISABELLA VIEIRA MACHADO HENRIQUES


AM. CURIAE. : GRUPO DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DAS
DEFENSORIAS PÚBLICAS ESTADUAIS E DISTRITAL
NOS TRIBUNAIS SUPERIORES (GAETS)
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DA
BAHIA
AM. CURIAE. : MOVIMENTO ORGULHO AUTISTA BRASIL (MOAB)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE SUPERAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
(ISI)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE PROMOÇÃO DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL (IPPCDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILIENSE DE DEFICIENTES
VISUAIS (ABDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO DEFICIENTE VISUAL
(AADV)
ADV.(A/S) : NADINE TALEIS
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (FENAPAES)
ADV.(A/S) : EDUARDO VIEIRA MESQUITA
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE DEFESA DOS DIREITOS DOS IDOSOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (AMPID)
ADV.(A/S) : JOELSON COSTA DIAS

EMENTA

Referendo de medida cautelar em ação direta de


inconstitucionalidade. Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020.
Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida. Ato normativo que inova no
ordenamento jurídico. Densidade normativa a justificar o controle
abstrato de constitucionalidade. Cabimento. Artigo 208, inciso III, da
Constituição Federal e Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência. Educação inclusiva como paradigma
constitucional. Inobservância. Medida cautelar deferida referendada.
1. O Decreto nº 10.502/2020 inova no ordenamento jurídico. Seu texto

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ADI 6590 MC-R EF / DF

não se limita a pormenorizar os termos da lei regulamentada (Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional), promovendo a introdução de
uma nova política educacional nacional, com o estabelecimento de
institutos, serviços e obrigações que, até então, não estavam inseridos na
disciplina educacional do país, sendo dotado de densidade normativa a
justificar o cabimento da presente ação direta de inconstitucionalidade.
Precedentes: ADI nº 3.239/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Rel. p/ o ac. Min.
Rosa Weber, Tribunal Pleno, DJe de 1º/2/2019; ADI nº 4.152/SP, Rel. Min.
Cezar Peluzo, Tribunal Pleno, DJe de 21/9/2011; ADI nº 2.155/PR-MC, Rel.
Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ de 1º/6/2001.
2. A Constituição estabeleceu a garantia de atendimento
especializado às pessoas com deficiência preferencialmente na rede
regular de ensino (art. 208, inciso III). O Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência - primeiro tratado internacional
aprovado pelo rito legislativo previsto no art. 5º, § 3º, da Constituição
Federal e internalizado por meio do Decreto Presidencial nº 6.949/2009 -
veio reforçar o direito das pessoas com deficiência à educação livre de
discriminação e com base na igualdade de oportunidades, pelo que
determina a obrigação dos estados partes de assegurar um sistema
educacional inclusivo em todos os níveis. Precedente: ADI nº 5.357/DF,
Rel. Min. Edson Fachin, Tribunal Pleno, DJe de 11/11/16.
3. O paradigma da educação inclusiva é o resultado de um processo
de conquistas sociais que afastaram a ideia de vivência segregada das
pessoas com deficiência ou necessidades especiais para inseri-las no
contexto da comunidade. Subverter esse paradigma significa, além de
grave ofensa à Constituição de 1988, um retrocesso na proteção de
direitos desses indivíduos.
4. A Política Nacional de Educação Especial questionada contraria o
paradigma da educação inclusiva, por claramente retirar a ênfase da
matrícula no ensino regular, passando a apresentar esse último como
mera alternativa dentro do sistema de educação especial. Desse modo, o
Decreto nº 10.502/2020 pode vir a fundamentar políticas públicas que
fragilizam o imperativo da inclusão de alunos com deficiência,

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transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou


superdotação na rede regular de ensino.
5. Medida cautelar referendada.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do


Supremo Tribunal Federal, em sessão virtual do Plenário de 11 a 18/12/20,
na conformidade da ata do julgamento, por maioria, em referendar a
decisão liminar para suspender a eficácia do Decreto nº 10.502/2020, nos
termos do voto do Relator, Ministro Dias Toffoli. Vencidos os Ministros
Marco Aurélio e Nunes Marques. O Ministro Roberto Barroso
acompanhou o Relator com ressalvas.

Brasília, 21 de dezembro de 2020.

Ministro DIAS TOFFOLI


Relator

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REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.590 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADV.(A/S) : RAFAEL DE ALENCAR ARARIPE CARNEIRO
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
AM. CURIAE. : COMITÊ BRASILEIRO DE ORGANIZAÇÕES
REPRESENTATIVAS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS - CRPD
ADV.(A/S) : RAFAEL KOERIG GESSINGER
ADV.(A/S) : FABIANO MENKE
ADV.(A/S) : DIEGO KRAINOVIC MALHEIROS DE SOUZA
ADV.(A/S) : ARTHUR FERRAZ VASEM
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE
SÍNDROME DE DOWN
ADV.(A/S) : RHOMENIG OLIVEIRA DE SOUZA
AM. CURIAE. : APABB - ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS
DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE
ADV.(A/S) : CAHUE ALONSO TALARICO
AM. CURIAE. : AUTSP ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE AUTISMO
ADV.(A/S) : CAMILLA CAVALCANTI VARELLA GUIMARAES
JUNQUEIRA FRANCO
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E
INTEGRAÇÃO DOS SURDOS (FENEIS)
ADV.(A/S) : BRUNO CESAR DESCHAMPS MEIRINHO
AM. CURIAE. : INSTITUTO ALANA
AM. CURIAE. : RNPI - REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA
ADV.(A/S) : THAIS NASCIMENTO DANTAS
ADV.(A/S) : ANA CLAUDIA CIFALI
ADV.(A/S) : PEDRO AFFONSO DUARTE HARTUNG

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ADV.(A/S) : ISABELLA VIEIRA MACHADO HENRIQUES


AM. CURIAE. : GRUPO DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DAS
DEFENSORIAS PÚBLICAS ESTADUAIS E DISTRITAL
NOS TRIBUNAIS SUPERIORES (GAETS)
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DA
BAHIA
AM. CURIAE. : MOVIMENTO ORGULHO AUTISTA BRASIL (MOAB)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE SUPERAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
(ISI)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE PROMOÇÃO DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL (IPPCDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILIENSE DE DEFICIENTES
VISUAIS (ABDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO DEFICIENTE VISUAL
(AADV)
ADV.(A/S) : NADINE TALEIS
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (FENAPAES)
ADV.(A/S) : EDUARDO VIEIRA MESQUITA
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE DEFESA DOS DIREITOS DOS IDOSOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (AMPID)
ADV.(A/S) : JOELSON COSTA DIAS

RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Trata-se de ação direta de inconstitucionalidade, com pedido de
medida cautelar, ajuizada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB/
NACIONAL), em face do Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020,
que instituiu a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa,
Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.
Eis o teor da norma impugnada:

“CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Educação

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Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da


Vida, por meio da qual a União, em colaboração com os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, implementará
programas e ações com vistas à garantia dos direitos à educação
e ao atendimento educacional especializado aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação.
Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:
I - educação especial - modalidade de educação escolar
oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino aos
educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
II - educação bilíngue de surdos - modalidade de
educação escolar que promove a especificidade linguística e
cultural dos educandos surdos, deficientes auditivos e
surdocegos que optam pelo uso da Língua Brasileira de Sinais -
Libras, por meio de recursos e de serviços educacionais
especializados, disponíveis em escolas bilíngues de surdos e em
classes bilíngues de surdos nas escolas regulares inclusivas, a
partir da adoção da Libras como primeira língua e como língua
de instrução, comunicação, interação e ensino, e da língua
portuguesa na modalidade escrita como segunda língua;
III - política educacional equitativa - conjunto de medidas
planejadas e implementadas com vistas a orientar as práticas
necessárias e diferenciadas para que todos tenham
oportunidades iguais e alcancem os seus melhores resultados,
de modo a valorizar ao máximo cada potencialidade, e eliminar
ou minimizar as barreiras que possam obstruir a participação
plena e efetiva do educando na sociedade;
IV - política educacional inclusiva - conjunto de medidas
planejadas e implementadas com vistas a orientar as práticas
necessárias para desenvolver, facilitar o desenvolvimento,
supervisionar a efetividade e reorientar, sempre que necessário,
as estratégias, os procedimentos, as ações, os recursos e os
serviços que promovem a inclusão social, intelectual,
profissional, política e os demais aspectos da vida humana, da

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cidadania e da cultura, o que envolve não apenas as demandas


do educando, mas, igualmente, suas potencialidades, suas
habilidades e seus talentos, e resulta em benefício para a
sociedade como um todo;
V - política de educação com aprendizado ao longo da
vida - conjunto de medidas planejadas e implementadas para
garantir oportunidades de desenvolvimento e aprendizado ao
longo da existência do educando, com a percepção de que a
educação não acontece apenas no âmbito escolar, e de que o
aprendizado pode ocorrer em outros momentos e contextos,
formais ou informais, planejados ou casuais, em um processo
ininterrupto;
VI - escolas especializadas - instituições de ensino
planejadas para o atendimento educacional aos educandos da
educação especial que não se beneficiam, em seu
desenvolvimento, quando incluídos em escolas regulares
inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e
contínuos;
VII - classes especializadas - classes organizadas em
escolas regulares inclusivas, com acessibilidade de arquitetura,
equipamentos, mobiliário, projeto pedagógico e material
didático, planejados com vistas ao atendimento das
especificidades do público ao qual são destinadas, e que devem
ser regidas por profissionais qualificados para o cumprimento
de sua finalidade;
VIII - escolas bilíngues de surdos - instituições de ensino
da rede regular nas quais a comunicação, a instrução, a
interação e o ensino são realizados em Libras como primeira
língua e em língua portuguesa na modalidade escrita como
segunda língua, destinadas a educandos surdos, que optam
pelo uso da Libras, com deficiência auditiva, surdocegos,
surdos com outras deficiências associadas e surdos com altas
habilidades ou superdotação;
IX - classes bilíngues de surdos - classes com enturmação
de educandos surdos, com deficiência auditiva e surdocegos,
que optam pelo uso da Libras, organizadas em escolas

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regulares inclusivas, em que a Libras é reconhecida como


primeira língua e utilizada como língua de comunicação,
interação, instrução e ensino, em todo o processo educativo, e a
língua portuguesa na modalidade escrita é ensinada como
segunda língua;
X - escolas regulares inclusivas - instituições de ensino que
oferecem atendimento educacional especializado aos
educandos da educação especial em classes regulares, classes
especializadas ou salas de recursos; e
XI - planos de desenvolvimento individual e escolar -
instrumentos de planejamento e de organização de ações, cuja
elaboração, acompanhamento e avaliação envolvam a escola, a
família, os profissionais do serviço de atendimento educacional
especializado, e que possam contar com outros profissionais
que atendam educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.
CAPÍTULO II
DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS
Art. 3º São princípios da Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida:
I - educação como direito para todos em um sistema
educacional equitativo e inclusivo;
II - aprendizado ao longo da vida;
III - ambiente escolar acolhedor e inclusivo;
IV - desenvolvimento pleno das potencialidades do
educando;
V - acessibilidade ao currículo e aos espaços escolares;
VI - participação de equipe multidisciplinar no processo
de decisão da família ou do educando quanto à alternativa
educacional mais adequada;
VII - garantia de implementação de escolas bilíngues de
surdos e surdocegos;
VIII - atendimento aos educandos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação no território nacional, incluída a garantia da

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oferta de serviços e de recursos da educação especial aos


educandos indígenas, quilombolas e do campo; e
IX - qualificação para professores e demais profissionais
da educação.
Art. 4º São objetivos da Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida:
I - garantir os direitos constitucionais de educação e de
atendimento educacional especializado aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação;
II - promover ensino de excelência aos educandos da
educação especial, em todas as etapas, níveis e modalidades de
educação, em um sistema educacional equitativo, inclusivo e
com aprendizado ao longo da vida, sem a prática de qualquer
forma de discriminação ou preconceito;
III - assegurar o atendimento educacional especializado
como diretriz constitucional, para além da institucionalização
de tempos e espaços reservados para atividade complementar
ou suplementar;
IV - assegurar aos educandos da educação especial
acessibilidade a sistemas de apoio adequados, consideradas as
suas singularidades e especificidades;
V - assegurar aos profissionais da educação a formação
profissional de orientação equitativa, inclusiva e com
aprendizado ao longo da vida, com vistas à atuação efetiva em
espaços comuns ou especializados;
VI - valorizar a educação especial como processo que
contribui para a autonomia e o desenvolvimento da pessoa e
também para a sua participação efetiva no desenvolvimento da
sociedade, no âmbito da cultura, das ciências, das artes e das
demais áreas da vida; e
VII - assegurar aos educandos com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação oportunidades de educação e aprendizado ao
longo da vida, de modo sustentável e compatível com as

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diversidades locais e culturais.


CAPÍTULO III
DO PÚBLICO-ALVO
Art. 5º A Política Nacional de Educação Especial:
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida tem
como público-alvo os educandos que, nas diferentes etapas,
níveis e modalidades de educação, em contextos diversos, nos
espaços urbanos e rurais, demandem a oferta de serviços e
recursos da educação especial.
Parágrafo único. São considerados público-alvo da Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida:
I - educandos com deficiência, conforme definido pela Lei
nº 13.146, de 6 de julho de 2015 - Estatuto da Pessoa com
Deficiência;
II - educandos com transtornos globais do
desenvolvimento, incluídos os educados com transtorno do
espectro autista, conforme definido pela Lei nº 12.764, de 27 de
dezembro de 2012; e
III - educandos com altas habilidades ou superdotação que
apresentem desenvolvimento ou potencial elevado em qualquer
área de domínio, isolada ou combinada, criatividade e
envolvimento com as atividades escolares.
CAPÍTULO IV
DAS DIRETRIZES
Art. 6º São diretrizes para a implementação da Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida:
I - oferecer atendimento educacional especializado e de
qualidade, em classes e escolas regulares inclusivas, classes e
escolas especializadas ou classes e escolas bilíngues de surdos a
todos que demandarem esse tipo de serviço, para que lhes seja
assegurada a inclusão social, cultural, acadêmica e profissional,
de forma equitativa e com a possibilidade de aprendizado ao
longo da vida;
II - garantir a viabilização da oferta de escolas ou classes

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bilíngues de surdos aos educandos surdos, surdocegos, com


deficiência auditiva, outras deficiências ou altas habilidades e
superdotação associadas;
III - garantir, nas escolas ou classes bilíngues de surdos, a
Libras como parte do currículo formal em todos os níveis e
etapas de ensino e a organização do trabalho pedagógico para o
ensino da língua portuguesa na modalidade escrita como
segunda língua; e
IV - priorizar a participação do educando e de sua família
no processo de decisão sobre os serviços e os recursos do
atendimento educacional especializado, considerados o
impedimento de longo prazo e as barreiras a serem eliminadas
ou minimizadas para que ele tenha as melhores condições de
participação na sociedade, em igualdade de condições com as
demais pessoas.
CAPÍTULO V
DOS SERVIÇOS E DOS RECURSOS DA EDUCAÇÃO
ESPECIAL
Art. 7º São considerados serviços e recursos da educação
especial:
I - centros de apoio às pessoas com deficiência visual;
II - centros de atendimento educacional especializado aos
educandos com deficiência intelectual, mental e transtornos
globais do desenvolvimento;
III - centros de atendimento educacional especializado aos
educandos com deficiência físico-motora;
IV - centros de atendimento educacional especializado;
V - centros de atividades de altas habilidades e
superdotação;
VI - centros de capacitação de profissionais da educação e
de atendimento às pessoas com surdez;
VII - classes bilíngues de surdos;
VIII - classes especializadas;
IX - escolas bilíngues de surdos;
X - escolas especializadas;
XI - escolas-polo de atendimento educacional

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especializado;
XII - materiais didático-pedagógicos adequados e
acessíveis ao público-alvo desta Política Nacional de Educação
Especial;
XIII - núcleos de acessibilidade;
XIV - salas de recursos;
XV - serviços de atendimento educacional especializado
para crianças de zero a três anos;
XVI - serviços de atendimento educacional especializado;
e
XVII - tecnologia assistiva.
Parágrafo único. Poderão ser constituídos outros serviços
e recursos para atender os educandos da educação especial,
ainda que sejam utilizados de forma temporária ou para
finalidade específica.
CAPÍTULO VI
DOS ATORES
Art. 8º Atuarão, de forma colaborativa, na prestação de
serviços da educação especial:
I - equipes multiprofissionais e interdisciplinares de
educação especial;
II - guias-intérpretes;
III - professores bilíngues em Libras e língua portuguesa;
IV - professores da educação especial;
V - profissionais de apoio escolar ou acompanhantes
especializados, de que tratam o inciso XIII do caput do art. 3º da
Lei nº 13.146, de 2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência, e o
parágrafo único do art. 2º da Lei nº 12.764, de 2012; e
VI - tradutores-intérpretes de Libras e língua portuguesa.
CAPÍTULO VII
DA IMPLEMENTAÇÃO
Art. 9º A Política Nacional de Educação Especial:
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida será
implementada por meio das seguintes ações:
I - elaboração de estratégias de gestão dos sistemas de
ensino para as escolas regulares inclusivas, as escolas

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especializadas e as escolas bilíngues de surdos, que


contemplarão também a orientação sobre o papel da família, do
educando, da escola, dos profissionais especializados e da
comunidade, e a normatização dos procedimentos de
elaboração de material didático especializado;
II - definição de estratégias para a implementação de
escolas e classes bilíngues de surdos e o fortalecimento das
escolas e classes bilíngues de surdos já existentes;
III - definição de critérios de identificação, acolhimento e
acompanhamento dos educandos que não se beneficiam das
escolas regulares inclusivas, de modo a proporcionar o
atendimento educacional mais adequado, em ambiente o menos
restritivo possível, com vistas à inclusão social, acadêmica,
cultural e profissional, de forma equitativa, inclusiva e com
aprendizado ao longo da vida;
IV - definição de diretrizes da educação especial para o
estabelecimento dos serviços e dos recursos de atendimento
educacional especializado aos educandos público-alvo desta
Política Nacional de Educação Especial;
V - definição de estratégias e de orientações para as
instituições de ensino superior com vistas a garantir a prestação
de serviços ao público-alvo desta Política Nacional de Educação
Especial, para incentivar projetos de ensino, pesquisa e extensão
destinados à temática da educação especial e estruturar a
formação de profissionais especializados para cumprir os
objetivos da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa,
Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida; e
VI - definição de critérios objetivos, operacionalizáveis e
mensuráveis, a serem cumpridos pelos entes federativos, com
vistas à obtenção de apoio técnico e financeiro da União na
implementação de ações e programas relacionados à Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida.
CAPÍTULO VIII
DA AVALIAÇÃO E DO MONITORAMENTO
Art. 10. São mecanismos de avaliação e de monitoramento

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da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva


e com Aprendizado ao Longo da Vida:
I - Censo Escolar;
II - Exame Nacional do Ensino Médio;
III - indicadores que permitam identificar os pontos
estratégicos na execução da Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida e os seus resultados esperados e alcançados;
IV - planos de desenvolvimento individual e escolar;
V - Prova Brasil; e
VI - Sistema de Avaliação da Educação Básica.
Art. 11. Serão incorporados aos mecanismos de avaliação e
de monitoramento de que tratam os incisos II ao V do caput dos
com a implementação da Política Nacional de Educação
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.
CAPÍTULO IX
DISPOSIÇÕES FINAIS
Art. 12. Compete ao Ministério da Educação a
coordenação estratégica dos programas e das ações decorrentes
da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva
e com Aprendizado ao Longo da Vida.
Art. 13. A colaboração dos entes federativos na Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida ocorrerá por meio de adesão
voluntária, na forma a ser definida em instrumentos específicos
dos respectivos programas e ações do Ministério da Educação e
de suas entidades vinculadas.
Art. 14. Para fins de implementação da Política Nacional
de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado
ao Longo da Vida, a União poderá prestar aos entes federativos
apoio técnico e assistência financeira, na forma a ser definida
em instrumento específico de cada programa ou ação.
Art. 15. A assistência financeira da União de que trata o
art. 14 ocorrerá por meio de dotações orçamentárias
consignadas na Lei Orçamentária Anual ao Ministério da
Educação e às suas entidades vinculadas, respeitada a sua área

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de atuação, observados a disponibilidade financeira e os limites


de movimentação e empenho.
Art. 16. Compete ao Conselho Nacional de Educação
elaborar as diretrizes nacionais da educação especial, em
conformidade com o disposto na Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida.
Parágrafo único. As diretrizes nacionais da educação
especial serão homologadas em ato do Ministro de Estado da
Educação.
Art. 17. A Política Nacional de Educação Especial:
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida
deverá ser utilizada, também, como referência para a Base
Nacional Comum Curricular, de que trata o art. 26 da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996.
Art. 18. Este Decreto entra em vigor na data de sua
publicação.”

O requerente sustenta que o ato impugnado violaria os arts. 3º,


inciso IV, e 208, inciso III, da Constituição Federal e os preceitos
fundamentais da educação, dos direitos das pessoas com deficiência, da
dignidade humana, da não discriminação e da proibição do retrocesso em
matéria de direitos humanos.
Em síntese, fundamenta que, apesar da finalidade declarada do
decreto impugnado, o ato normativo teria como real objetivo, ao prever o
incentivo à criação de escolas e classes especializadas para alunos com
deficiência, discriminar e segregar esses alunos. Nesse sentido, acrescenta
que o ato violaria o direito à educação inclusiva, apontando as
experiências positivas observadas na convivência de alunos com e sem
deficiência.
Aduz que o decreto iria de encontro à Convenção dos Direitos da
Pessoas com Deficiência (CDPD), a qual foi internalizada pelo
ordenamento jurídico pátrio com status de emenda constitucional, tendo
o Brasil assumido, com a convenção, o compromisso de eliminar barreiras
discriminatórias no acesso de pessoas com deficiência ao ensino regular.

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Destaca, também, que o ato questionado teria sido elaborado sem a


participação de pessoas com deficiência ou de entidades representativas
dos movimentos sociais ligados ao grupo, o que conferiria ilegitimidade
a ele.
Para fins de concessão de medida cautelar, afirma configurado o
requisito da fumaça do bom direito, pelas razões aduzidas na petição
inicial. Quanto ao perigo da demora, o requerente aponta para a
proximidade do início do próximo ano letivo, o que consolidaria as
segregações proporcionadas pelo decreto, bem como afetaria a vida dos
estudantes com deficiência de forma “grave e irreparável”.
Requer a suspensão cautelar da norma impugnada e, ao fim, a
“procedência integral da demanda para que, ao término do processo, seja
confirmada a medida liminar e a declarada a inconstitucionalidade do
Decreto 10.502/2020”.
Em 1º de dezembro de 2020, concedi a medida cautelar, ad
referendum do Plenário, para suspender a eficácia do Decreto nº
10.502/2020, ao tempo em que determinei a intimação da parte requerida,
bem como da Advocacia-Geral da União e da Procuradoria-Geral da
República, para se manifestarem antes do julgamento do referendo.
O Presidente da República afirmou, inicialmente, que o ato
impugnado não teria natureza autônoma, mas meramente regulamentar,
o que impediria o exame de sua compatibilidade direta com a
Constituição Federal e denotaria a inadequação da via eleita.
Quanto ao mérito, em suma, sustentou a constitucionalidade do ato
impugnado, o qual teria sido editado visando a ampliação da política de
educação especial, de modo a alcançar alunos com deficiência que não
estariam sendo beneficiados pelas escolas regulares inclusivas. Rejeita,
portanto, a alegação de que a política proposta seria discriminatória.
No que se refere à medida cautelar, considera ausentes os requisitos
para a sua concessão, pugnando pelo não referendo da decisão
monocrática.
A Advocacia-Geral da União manifestou-se pelo não conhecimento
da ação, sustentando a natureza regulamentar do decreto impugnado.

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Defende, além disso, o indeferimento da medida cautelar,


apontando para a ausência de fumus boni iuris, ao argumento de que o
intuito do decreto seria “criar alternativas educacionais para atender,
também, as demandas específicas do pequeno grupo de estudantes da
educação especial que não se beneficiam da escolarização comum, de
modo a impedir a sua evasão do ambiente escola”.
Assim, considera que a política educacional proposta “mantém a
diretriz de que o ensino especial deve ser ofertado preferencialmente na
rede regular, preservando o direito de escolha dos estudantes e suas
famílias quanto ao tipo de atendimento educacional a que pretendem
aderir”.
Nesse sentido, a AGU destaca que o Decreto nº 10.502/2020 não
violaria o princípio da vedação ao retrocesso, pois estaria a concretizar o
amplo direito à educação especial.
Por fim, alega que o periculum in mora também estaria ausente,
pois não haveria risco de dano aos alunos afetados pelo ato impugnado.
Até o momento da lavra deste relatório, não havia manifestação da
PGR acerca da medida cautelar.
Admiti o ingresso, como amici curiae, do Ministério Público do
Estado de São Paulo (MPSP), da Federação Brasileira das Associações de
Síndrome de Down (FBASD), do Comitê Brasileiro de Organizações
Representativas das Pessoas com Deficiências (CRPD), da Associação de
Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do
Brasil e da Comunidade (APABB), da Associação Paulista de Autismo
(AUTSP), da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos
(FENEIS), do Instituto Alana, da Rede Nacional Primeira Infância (RNPI),
do Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias Públicas Estaduais e
Distrital nos Tribunais Superiores (GAETS), do Movimento Orgulho
Autista Brasil (MOAB), do Instituto de Superação e Inclusão Social (ISI),
do Instituto de Promoção das Pessoas com Deficiência Visual (IPPCDV),
da Associação Brasiliense de Deficientes Visuais (ABDV), da Associação
de Amigos do Deficiente Visual (AADV), da Federação Nacional das
APAES (FENAPAES) e da Associacão Nacional do Ministério Público de

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Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência (AMPID).


Apresentaram sustentação oral a Federação Brasileira das
Associações de Síndrome de Down, o Partido Socialista Brasileiro (PSB), a
Rede Nacional Primeira Infância (RNPI), a Associação de Pais, Amigos e
Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco do Brasil e da
Comunidade (APABB), o Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias
Públicas Estaduais e Distrital nos Tribunais Superiores (GAETS), o
Instituto Alana, a Federação Nacional de Educação e Integração dos
Surdos (FENEIS), o Comitê Brasileiro de Organizações Representativas
das Pessoas com Deficiências (CRPD), a Associação Paulista de Autismo
(AUTSP) e o Ministério Público do Estado de São Paulo.
É o relatório.

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

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21/12/2020 PLENÁRIO

REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.590 DISTRITO FEDERAL

VOTO

O SENHOR MINISTRO DIAS TOFFOLI (RELATOR):


Na presente ação direta, discute-se a constitucionalidade do Decreto
nº 10.502, de 30 de setembro de 2020, que instituiu a Política Nacional
de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao
Longo da Vida.
Conforme relatado, deferi o pedido de medida cautelar para
suspender a eficácia do Decreto nº 10.502/2020, nos termos da decisão
monocrática a seguir transcrita, a qual submeto a referendo deste
Plenário:

“(...)
Decido.
Registro que se encontra também sob minha relatoria a
Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental nº 751,
com o mesmo objeto da presente ação, na qual determinei, em
22 de outubro de 2020, aplicação do procedimento análogo ao
previsto no art. 10, caput, da Lei nº 9.868/1999, reconhecendo a
necessidade de urgência na análise do caso.
Todavia, considerando que ainda se aguarda a instrução
inicial daquele processo e que o decurso do tempo poderia
causar prejuízos aos estudantes da educação especial, bem
como aos estabelecimentos de ensino, passo à análise do pedido
de medida cautelar veiculado nesta ação direta de
inconstitucionalidade.
Examinados os elementos havidos nos autos,
considerando a relevância do caso e a produção de efeitos da
norma impugnada, em caráter excepcional, examino
monocraticamente, ad referendum do Plenário, o pedido de
medida cautelar, sem a audiência dos órgãos ou das
autoridades das quais emanou o ato, conforme precedentes

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Voto - MIN. DIAS TOFFOLI

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ADI 6590 MC-R EF / DF

desta Corte, tais como: ADPF nº 130/DF-MC, Rel. Min. Ayres


Britto, DJ de 27/2/08; ADI nº 4.307/DF-MC, Rel. Min. Cármen
Lúcia, DJ de 8/10/09; ADI nº 4.598/DF-MC, Rel. Min. Luiz Fux,
DJe de 1º/8/11; ADI nº 4.638/DF-MC, Rel. Min. Marco Aurélio,
DJ de 1º/2/12; ADI nº 4.705/DF-MC, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
DJ de 1º/2/12; ADI nº 4.635-MC, Rel. Min. Celso de Mello, DJ de
5/1/12; ADI nº 4.917-MC, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJ de
21/3/13; e ADI 5.184-MC, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 9/12/14.
De início, verifico que a presente ação direta fora ajuizada
por partido político com representação no Congresso Nacional,
nos termos do art. 103, inc. VIII, da Constituição Federal,
estando o requerente devidamente representado mediante
instrumento de mandato específico para a presente
impugnação.
Quanto ao cabimento desta ação direta, tem-se que o
Supremo Tribunal Federal firmou o entendimento de que os
atos normativos para os quais se admite o controle concentrado
de constitucionalidade são aqueles dotados de abstração e
generalidade, ou seja, aqueles que possuem densidade
normativa suficiente a atrair a aferição de sua validade perante
a Constituição Federal.
A presente ação direta tem por objeto decreto
regulamentar, o que, em tese, afastaria o cabimento do controle
de constitucionalidade, por se tratar, em geral, de norma de
caráter secundário, que regulamenta outro ato normativo
infraconstitucional, e que, portanto, estaria sujeito apenas a um
controle de legalidade, cujo parâmetro seria a lei
regulamentada.
O Decreto nº 10.502/2020 foi editado pelo Presidente da
República, no uso da atribuição prevista no art. 84, inc. IV, da
Constituição, no intuito de regulamentar a Lei nº 9.394, de 20 de
dezembro de 1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional).
No exercício da regulamentação, o decreto instituiu a
Política Nacional de Educação Especial na qual consta,
inicialmente, a definição dos institutos que serão abordados ao

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ADI 6590 MC-R EF / DF

longo do texto, a exemplo das escolas e classes especializadas.


Em seguida, define os princípios, objetivos e diretrizes da
política inaugurada, além de estabelecer o seu público-alvo,
qual seja, os educandos com deficiência, transtornos globais de
desenvolvimento, altas habilidades ou superdotação.
Ainda, descreve quais serão os serviços e os recursos
utilizados, indica quais atores participarão da prestação dos
serviços de educação especial e define as ações para a
implementação da política nacional. Por fim, estabelece
mecanismos de avaliação e monitoramento da execução das
medidas e atribui ao Ministério da Educação a coordenação
estratégica dos programas e ações.
Extrai-se do Decreto nº 10.502/2020 uma inovação no
ordenamento jurídico, considerando que o seu texto não se
limita a pormenorizar os termos da lei regulamentada, mas
promove a introdução de uma nova política educacional
nacional, com o estabelecimento de institutos, serviços e
obrigações, que, até então, não estavam inseridos na disciplina
educacional do país.
Assim sendo, em que pese o fundamento de validade do
ato impugnado ser a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, vislumbro densidade normativa a justificar o
cabimento da presente ação direta de inconstitucionalidade,
tendo em vista tratar-se disciplina inovadora em matéria de
educação, a qual, ademais, encontra-se contemplada na
Constituição Federal, em seus artigos 205 a 214.
Nesse sentido, o parâmetro de controle a ser confrontado
diretamente com a norma questionada só pode ser o texto
constitucional, tendo o requerente apresentado argumentos
nesse sentido.
Vejamos os seguintes precedentes deste Supremo Tribunal
Federal:
‘EMENTAS: 1. INCONSTITUCIONALIDADE. Ação
direta. Objeto. Admissibilidade. Impugnação de decreto
autônomo, que institui benefícios fiscais. Caráter não
meramente regulamentar. Introdução de novidade

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normativa. Preliminar repelida. Precedentes. Decreto que,


não se limitando a regulamentar lei, institua benefício
fiscal ou introduza outra novidade normativa, reputa-se
autônomo e, como tal, é suscetível de controle
concentrado de constitucionalidade. 2.
INCONSTITUCIONALIDADE. Ação direta. Decreto nº
52.381/2007, do Estado de São Paulo. Tributo. Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços ICMS.
Benefícios fiscais. Redução de base de cálculo e concessão
de crédito presumido, por Estado-membro, mediante
decreto. Inexistência de suporte em convênio celebrado no
âmbito do CONFAZ, nos termos da LC 24/75. Expressão
da chamada guerra fiscal. Inadmissibilidade. Ofensa aos
arts. 150, § 6º, 152 e 155, § 2º, inc. XII, letra g, da CF. Ação
julgada procedente. Precedentes. Não pode o Estado-
membro conceder isenção, incentivo ou benefício fiscal,
relativos ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços ICMS, de modo unilateral, mediante decreto ou
outro ato normativo, sem prévia celebração de convênio
intergovernamental no âmbito do CONFAZ.’ (ADI nº
4.152/SP, Rel. Min. Cezar Peluzo, Tribunal Pleno, DJe de
21/9/2011)
‘EMENTA. AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. DECRETO Nº 4.887/2003.
PROCEDIMENTO PARA IDENTIFICAÇÃO,
RECONHECIMENTO, DELIMITAÇÃO, DEMARCAÇÃO
E TITULAÇÃO DAS TERRAS OCUPADAS POR
REMANESCENTES DAS COMUNIDADES DOS
QUILOMBOS. ATO NORMATIVO AUTÔNOMO. ART. 68
DO ADCT. DIREITO FUNDAMENTAL. EFICÁCIA
PLENA E IMEDIATA. INVASÃO DA ESFERA
RESERVADA A LEI. ART. 84, IV E VI, "A", DA CF.
INCONSTITUCIONALIDADE FORMAL.
INOCORRÊNCIA. CRITÉRIO DE IDENTIFICAÇÃO.
AUTOATRIBUIÇÃO. TERRAS OCUPADAS.
DESAPROPRIAÇÃO. ART. 2º, CAPUT E §§ 1º, 2º E 3º, E

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ART. 13, CAPUT E § 2º, DO DECRETO Nº 4.887/2003.


INCONSTITUCIONALIDADE MATERIAL.
INOCORRÊNCIA. IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO. 1. Ato
normativo autônomo, a retirar diretamente da
Constituição da República o seu fundamento de
validade, o Decreto nº 4.887/2003 apresenta densidade
normativa suficiente a credenciá-lo ao controle abstrato
de constitucionalidade. 2. (...). Ação direta de
inconstitucionalidade julgada improcedente.’ (ADI nº
3239/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Relator(a) p/ Acórdão
Min. Rosa Weber, Tribunal Pleno, DJe de 1º/2/2019)
‘EMENTA: - DIREITO CONSTITUCIONAL E
TRIBUTÁRIO. ICMS: "GUERRA FISCAL". AÇÃO DIRETA
DE INCONSTITUCIONALIDADE DE DISPOSITIVOS DO
REGULAMENTO DO ICMS (DECRETO Nº 2.736, DE
05.12.1996) DO ESTADO DO PARANÁ. ALEGAÇÃO DE
QUE TAIS NORMAS VIOLAM O DISPOSTO NO § 6º DO
ART. 150 E NO ART. 155, § 2º, INCISO XII, LETRA "g", DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL, BEM COMO OS ARTIGOS
1º E 2º DA LEI COMPLEMENTAR Nº 24/75. QUESTÃO
PRELIMINAR, SUSCITADA PELO GOVERNADOR,
SOBRE O DESCABIMENTO DA AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE, PORQUE O DECRETO
IMPUGNADO É MERO REGULAMENTO DA LEI Nº
11.580, DE 14.11.1996, QUE DISCIPLINA O ICMS
NAQUELA UNIDADE DA FEDERAÇÃO, ESTA ÚLTIMA
NÃO ACOIMADA DE INCONSTITUCIONAL. MEDIDA
CAUTELAR. 1. Tem razão o Governador, enquanto
sustenta que esta Corte não admite, em A.D.I.,
impugnação de normas de Decreto meramente
regulamentar, pois considera que, nesse caso, se o Decreto
exceder os limites da Lei, que regulamenta, estará
incidindo, antes, em ilegalidade. É que esta se coíbe no
controle difuso de legalidade, ou seja, em ações outras, e
não mediante a A.D.I., na qual se processa, apenas, o
controle concentrado de constitucionalidade. 2. No caso,

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porém, a Lei nº 11.580, de 14.11.1996, que dispõe sobre o


ICMS, no Estado do Paraná, conferiu certa autonomia ao
Poder Executivo, para conceder imunidades, não-
incidências e benefícios fiscais, ressalvando, apenas, a
observância das normas da Constituição e da legislação
complementar. 3. Assim, o Decreto nº 2.736, de 05.12.1996,
o Regulamento do ICMS, no Estado do Paraná, ao menos
nesses pontos, não é meramente regulamentar, pois, no
campo referido, desfruta de certa autonomia, uma vez
observadas as normas constitucionais e complementares.
4. Em situações como essa, o Plenário do Supremo
Tribunal Federal, ainda que sem enfrentar, expressamente,
a questão, tem, implicitamente, admitido a propositura de
A.D.I., para impugnação de normas de Decretos.
Precedentes. Admissão da A.D.I. também no caso
presente. 5. Algumas das normas impugnadas não podem
ser objeto de consideração desta Corte, em A.D.I., porque,
temporárias, já produziram os respectivos efeitos antes de
sua propositura, ficando sujeitas ao controle difuso de
constitucionalidade, nas vias e instâncias próprias, e não
ao controle concentrado, ’in abstrato’, segundo
jurisprudência já pacificada no Tribunal. Quanto a elas,
portanto, a Ação está prejudicada e por isso não é
conhecida. 6. A Ação é, porém, conhecida no que concerne
às demais normas referidas na inicial. E, a respeito, a
plausibilidade jurídica (’fumus boni iuris’) e o ’periculum
in mora’ estão caracterizados, conforme inúmeros
precedentes do Tribunal, relacionados à chamada ’guerra
fiscal’, entre várias unidades da Federação, envolvendo o
I.C.M.S. 7. Conclusões: a) não é conhecida, porque
prejudicada, a Ação Direta de Inconstitucionalidade,
quanto ao art. 51, inciso V, e seu § 5º, ’a’; ao inciso I do art.
577, ambos do Decreto nº 2.736, de 05.12.1996
(Regulamento do ICMS do Paraná); ao item 78 do Anexo I;
ao item 6 da Tabela I do Anexo II; ao item 17-A da Tabela I
do Anexo II; e ao item 22 da Tabela I do Anexo II; b)

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conhecida a A.D.I., quanto aos demais dispositivos


impugnados na inicial, e deferida a medida cautelar, para
suspender a eficácia, a partir desta data, das seguintes
normas do mesmo Decreto (nº 2.736, de 5.12.1996, do
Paraná): I - art. 15, III, ’d’; II - art. 51, IV, §§ 3º e 4º; III - art.
51, XV e § 15; IV - art. 51, XVI e § 15; V - art. 51, XVII e §
16; VI - art. 54, inc. I; VII - art. 57, § 2º, "a" e "c"; VIII - art.
78 e seu parágrafo único; IX - art. 92-A; X - artigos 572 a
584, excetuado, apenas, o inc. I do art. 577. 8. Todas as
questões decididas por unanimidade.’ (ADI nº 2.155
MC/PR, Rel. Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ de
1º/6/2001)
Por não haver óbice ao conhecimento da ação direta de
inconstitucionalidade, passo à análise do pedido de medida
cautelar.
Restam presentes os requisitos do fumus boni iuris e do
periculum in mora para a concessão da medida cautelar.
O Decreto nº 10.502, de 30 de setembro de 2020, promoveu
alterações na política nacional de educação, contendo previsão
da implementação de escolas e classes específicas para
atendimento de alunos da educação especial, em contexto de
aprendizagem separado dos demais educandos, das quais
destaco, por exemplo, as escolas especializadas, as classes
especializadas, as escolas bilíngues de surdos e as classes
bilíngues de surdos.
A ordem constitucional brasileira, inaugurada em 1988,
manifestou preocupação com a proteção das pessoas com
deficiência, albergando políticas e diretrizes de inserção desses
indivíduos nas diversas áreas da vida em sociedade, como no
trabalho (art. 7º, inc. XXXI), no serviço público (art. 37, inc.
VIII), na previdência (art. 201, § 1º, inc. I), na assistência social
(art. 203, incs. IV e V) e, como se detalhará adiante, na educação
(art. 208, inc. III).
Em matéria educacional, a Constituição estabeleceu a
garantia de atendimento especializado às pessoas com
deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Na

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mesma linha afirmativa, há poucos anos, incorporou-se ao


ordenamento constitucional a Convenção Internacional sobre
os Direitos das Pessoas com Deficiência, primeiro tratado
internacional aprovado pelo rito legislativo previsto no art. 5º, §
3º, da Constituição Federal, o qual foi internalizado por meio do
Decreto Presidencial nº 6.949, de 25 de agosto de 2009.
O art. 24 da convenção veio justamente reforçar o direito
das pessoas com deficiência à educação livre de discriminação
e com base na igualdade de oportunidades, pelo que
determina a obrigação dos Estados Partes de assegurar um
sistema educacional inclusivo em todos os níveis, assim
preceituando:
2. Para a realização desse direito, os Estados Partes
assegurarão que:
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas
do sistema educacional geral sob alegação de deficiência
e que as crianças com deficiência não sejam excluídas do
ensino primário gratuito e compulsório ou do ensino
secundário, sob alegação de deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao
ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao
ensino secundário, em igualdade de condições com as
demais pessoas na comunidade em que vivem;
c) Adaptações razoáveis de acordo com as
necessidades individuais sejam providenciadas;
d) As pessoas com deficiência recebam o apoio
necessário, no âmbito do sistema educacional geral, com
vistas a facilitar sua efetiva educação;
e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas
sejam adotadas em ambientes que maximizem o
desenvolvimento acadêmico e social, de acordo com a
meta de inclusão plena.
Percebe-se, portanto, que o Brasil internalizou, em seu
ordenamento constitucional, um compromisso com a
educação inclusiva, ou seja, com uma educação que agrega e
acolhe as pessoas com deficiência ou necessidades especiais no

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ensino regular, ao invés segregá-las em grupos apartados da


própria comunidade.
Trata-se de compromisso internacional que havia sido
manifestado, ainda em 1994, na Declaração de Salamanca sobre
Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades
Educativas Especiais, elaborada na Conferência Mundial de
Educação Especial, com a representação de 88 governos, entre
eles, o Brasil, e 25 organizações internacionais.
No documento, constam orientações para ações em níveis
regionais e internacionais, das quais destaco:
‘6. A tendência em política social durante as duas
últimas décadas tem sido a de promover integração e
participação e de combater a exclusão. Inclusão e
participação são essenciais à dignidade humana e ao
desfrutamento e exercício dos direitos humanos. Dentro
do campo da educação, isto se reflete no desenvolvimento
de estratégias que procuram promover a genuína
equalização de oportunidades. Experiências em vários
países demonstram que a integração de crianças e jovens
com necessidades educacionais especiais é melhor
alcançada dentro de escolas inclusivas, que servem a
todas as crianças dentro da comunidade. É dentro deste
contexto que aqueles com necessidades educacionais
especiais podem atingir o máximo progresso educacional
e integração social. Ao mesmo tempo em que escolas
inclusivas provêem um ambiente favorável à aquisição de
igualdade de oportunidades e participação total, o sucesso
delas requer um esforço claro, não somente por parte dos
professores e dos profissionais na escola, mas também por
parte dos colegas, pais, famílias e voluntários. A reforma
das instituições sociais não constitui somente um tarefa
técnica, ela depende, acima de tudo, de convicções,
compromisso e disposição dos indivíduos que compõem a
sociedade.
7. Princípio fundamental da escola inclusiva é o de
que todas as crianças devem aprender juntas, sempre

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que possível, independentemente de quaisquer


dificuldades ou diferenças que elas possam ter. Escolas
inclusivas devem reconhecer e responder às necessidades
diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e
ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação de
qualidade à todos através de um currículo apropriado,
arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de
recurso e parceria com as comunidades. Na verdade,
deveria existir uma continuidade de serviços e apoio
proporcional ao contínuo de necessidades especiais
encontradas dentro da escola.
8. Dentro das escolas inclusivas, crianças com
necessidades educacionais especiais deveriam receber
qualquer suporte extra requerido para assegurar uma
educação efetiva. Educação inclusiva é o modo mais
eficaz para construção de solidariedade entre crianças
com necessidades educacionais especiais e seus colegas.
O encaminhamento de crianças a escolas especiais ou a
classes especiais ou a sessões especiais dentro da escola
em caráter permanente deveriam constituir exceções, a ser
recomendado somente naqueles casos infreqüentes onde
fique claramente demonstrado que a educação na classe
regular seja incapaz de atender às necessidades
educacionais ou sociais da criança ou quando sejam
requisitados em nome do bem-estar da criança ou de
outras crianças.’
Recentemente, no referendo na medida cautelar na Ação
Direta de Inconstitucionalidade nº 5.357/DF, da relatoria do
Ministro Edson Fachin, este Supremo Tribunal afirmou a
obrigatoriedade, por parte das escolas privadas, além das
escolas públicas, de implementação de atendimento
educacional adequado e inclusivo às pessoas com deficiência,
conforme previsto na Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Na ocasião, a maioria do Plenário acompanhou o voto do
Ministro relator, no qual foi suscitado o status constitucional da

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Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com


Deficiência, para fundamentar a vedação da exclusão de
pessoas com deficiência ou necessidades especiais do sistema
geral de educação.
O Ministro Edson Fachin destacou que ’o ensino inclusivo
milita em favor da dialógica implementação dos objetivos
esquadrinhados pela Constituição da República. É somente com
o convívio com a diferença e com o seu necessário acolhimento que
pode haver a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, em
que o bem de todos seja promovido sem preconceitos de origem, raça,
sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (Art. 3º, I
e IV, CRFB’.
O julgado restou assim ementado:
‘EMENTA: AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. MEDIDA CAUTELAR.
LEI 13.146/2015. ESTATUTO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA. ENSINO INCLUSIVO. CONVENÇÃO
INTERNACIONAL SOBRE OS DIREITOS DA PESSOA
COM DEFICIÊNCIA. INDEFERIMENTO DA MEDIDA
CAUTELAR. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI
13.146/2015 (arts. 28, § 1º e 30, caput, da Lei nº
13.146/2015). 1. A Convenção Internacional sobre os
Direitos da Pessoa com Deficiência concretiza o princípio
da igualdade como fundamento de uma sociedade
democrática que respeita a dignidade humana. 2. À luz da
Convenção e, por consequência, da própria Constituição
da República, o ensino inclusivo em todos os níveis de
educação não é realidade estranha ao ordenamento
jurídico pátrio, mas sim imperativo que se põe mediante
regra explícita. 3. Nessa toada, a Constituição da
República prevê em diversos dispositivos a proteção da
pessoa com deficiência, conforme se verifica nos artigos 7º,
XXXI, 23, II, 24, XIV, 37, VIII, 40, § 4º, I, 201, § 1º, 203, IV e
V, 208, III, 227, § 1º, II, e § 2º, e 244. 4. Pluralidade e
igualdade são duas faces da mesma moeda. O respeito à
pluralidade não prescinde do respeito ao princípio da

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igualdade. E na atual quadra histórica, uma leitura focada


tão somente em seu aspecto formal não satisfaz a
completude que exige o princípio. Assim, a igualdade não
se esgota com a previsão normativa de acesso igualitário a
bens jurídicos, mas engloba também a previsão normativa
de medidas que efetivamente possibilitem tal acesso e sua
efetivação concreta. 5. O enclausuramento em face do
diferente furta o colorido da vivência cotidiana, privando-
nos da estupefação diante do que se coloca como novo,
como diferente. 6. É somente com o convívio com a
diferença e com o seu necessário acolhimento que pode
haver a construção de uma sociedade livre, justa e
solidária, em que o bem de todos seja promovido sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB). 7. A
Lei nº 13.146/2015 indica assumir o compromisso ético de
acolhimento e pluralidade democrática adotados pela
Constituição ao exigir que não apenas as escolas públicas,
mas também as particulares deverão pautar sua atuação
educacional a partir de todas as facetas e potencialidades
que o direito fundamental à educação possui e que são
densificadas em seu Capítulo IV. 8. Medida cautelar
indeferida. 9. Conversão do julgamento do referendo do
indeferimento da cautelar, por unanimidade, em
julgamento definitivo de mérito, julgando, por maioria e
nos termos do Voto do Min. Relator Edson Fachin,
improcedente a presente ação direta de
inconstitucionalidade.’ (ADI nº 5.357 MC-Ref/DF, Rel. Min.
Edson Fachin, Tribunal Pleno, DJe de 11/11/2016)
Não se pretende afirmar aqui que o ordenamento
constitucional veda a existência de classes e escolas
especializadas, até porque a própria Constituição ressalva que a
inclusão das pessoas com deficiência na rede regular de ensino
se dará preferencialmente.
Aliás, trata-se de possibilidade aventada na Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (arts. 4º, al. I, inc. III, e

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58, § 2º), a qual, todavia, expressa a excepcionalidade da


medida de exclusão, estabelecendo como primeira hipótese a
matrícula de todos os alunos no sistema geral.
A título de ilustração das políticas públicas que vinham
sendo implementadas na área da educação especial, registro
que o Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999, que
regulamentou a Lei Federal nº 7.853, de 24 de outubro de 1989,
a qual dispõe sobre a integração social das pessoas com
deficiência, estabeleceu, em seu art. 24, ’a matrícula compulsória
em cursos regulares de estabelecimentos públicos e particulares de
pessoa portadora de deficiência capazes de se integrar na rede regular
de ensino’.
Por sua vez, o Decreto nº 6.094, de 24 de abril de 2007,
estabeleceu como diretriz para a atuação da União a garantia do
“acesso e permanência das pessoas com necessidades educacionais
especiais nas classes comuns do ensino regular, fortalecendo a inclusão
educacional nas escolas públicas (art. 2º, inc. IX)”.
Registre-se, ainda, o Decreto nº 7.611, de 17 de novembro
de 2011, que dispõe sobre o atendimento educacional
especializado enquanto o conjunto de atividades, recursos de
acessibilidade e pedagógicos utilizados de forma
’complementar à formação dos estudantes com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento, como apoio permanente e
limitado no tempo e na frequência dos estudantes às salas de recursos
multifuncionais ou suplementar à formação de estudantes com altas
habilidades ou superdotação’.
É bem verdade que a educação inclusiva nem sempre foi o
paradigma para a escolarização de pessoas com deficiência no
Brasil, sendo certo que, por muito tempo, foi dado um olhar
precipuamente terapêutico, com pouca ênfase às atividades
educacionais e acadêmicas.
A partir dos anos 1970, a educação especial passou a ser
institucionalizada, com foco em garantir o acesso de alunos com
deficiência à escola, mediante a implementação de serviços
especializados paralelos ao ensino regular. Ocorreu que, na
esteira de uma tendência mundial direcionada à inclusão de

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grupos excluídos, formou-se uma nova concepção de educação


especial, a partir da noção de que as pessoas com deficiência
devem acessar as condições de vida usufruídas pelos demais
membros da sua comunidade.1
Uma nova forma de pensar a deficiência e as necessidades
especiais no contexto educacional culminou na noção de
educação inclusiva, que ’se baseia justamente no pressuposto de que
se a escola oferecer um currículo flexível e vinculado aos interesses
individuais e sociais dos alunos, garantir acessibilidade de locomoção e
comunicação em suas dependências, e desenvolver metodologias e
práticas pedagógicas que atendam às demandas individuais, todos
terão condições de aprender e se desenvolver juntos’.2
O paradigma da educação inclusiva, portanto, é o
resultado de um processo de conquistas sociais que afastaram
a ideia de vivência segregada das pessoas com deficiência ou
necessidades especiais para inseri-las no contexto da
comunidade. Assim, apesar de coexistir com a implementação
de escolas e classes especializadas, não comporta a
transformação da exceção em regra, pois significaria uma
involução na proteção de direitos desses indivíduos.
Assim, em uma interpretação sistemática dos princípios e
dispositivos constitucionais aplicáveis à matéria, é de se
ressaltar a absoluta prioridade a ser concedida à educação
inclusiva, não cabendo ao Poder Público recorrer aos
institutos das classes e escolas especializadas para furtar-se às
providências de inclusão educacional de todos os estudantes.
Nesse sentido, a Política Nacional de Educação Especial
ora questionada parece ir de encontro ao paradigma descrito,
ao deixar de enfatizar a absoluta prioridade da matrícula dos
educandos com deficiência ou necessidades especiais no
sistema educacional geral, ainda que demande adaptações por
1 GLAT, Rosana; PLETSCH, Márcia Denise; DE SOUZA FONTES, Rejane. Educação
inclusiva & educação especial: propostas que se complementam no contexto da escola aberta
à diversidade. Educação, v. 32, n. 2, p. 343-355, 2007.
2 GLAT, Rosana; PLETSCH, Márcia Denise; DE SOUZA FONTES, Rejane. Educação
inclusiva & educação especial: propostas que se complementam no contexto da escola aberta à
diversidade. Educação, v. 32, n. 2, p. 343-355, 2007, p. 350.

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parte das escolas.


Esclarecedor é o conceito apresentado pelo decreto para as
escolas regulares inclusivas. Vejamos:
‘Art. 2º(...)
X - escolas regulares inclusivas - instituições de
ensino que oferecem atendimento educacional
especializado aos educandos da educação especial em
classes regulares, classes especializadas ou salas de
recursos.’
Salta aos olhos o fato de que o dispositivo trata as escolas
regulares inclusivas como uma categoria específica dentro do
universo da educação especial, como se houvesse a
possibilidade de existirem escolas regulares não-inclusivas.
Ocorre que a educação inclusiva não significa a implementação
de uma nova instituição, mas a adaptação de todo o sistema de
educação regular, no intuito de congregar alunos com e sem
deficiência no âmbito de uma mesma proposta de ensino, na
medida de suas especificidades.
Ademais, também se mostra problemática a previsão, no
decreto, para a implementação de escolas bilíngues de surdos
enquanto instituições de ensino da rede regular, apresentada
como uma opção para aqueles que fazem uso da Língua
Brasileira de Sinais (Libras). Isso porque não se vislumbra, a
priori, óbices para que escolas do sistema educacional geral se
adaptem para o atendimento de tais alunos, como aliás, vinha
ocorrendo antes da edição do ato questionado.
Portanto, verifico que o Decreto nº 10.502/2020 pode vir a
fundamentar políticas públicas que fragilizam o imperativo da
inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede
regular de ensino, pelo que, diante do exposto, considero
configurada a fumaça do bom direito para efeito de concessão
de medida cautelar.
Por sua vez, o perigo da demora também está
configurado, tendo em vista que a proximidade do início de
um novo período letivo pode acarretar a matrícula de

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educandos em estabelecimentos que não integram a rede de


ensino regular, em contrariedade à lógica do ensino inclusivo.
No caso, aguardar o julgamento definitivo da presente
ação direta pode trazer prejuízos aos alunos deslocados
indevidamente para escolas ou classes especializadas, bem
como aos entes públicos que vierem a organizar os respectivos
sistemas educacionais com observância ao Decreto nº
10.502/2020.
Assim sendo, suspender o ato impugnado é medida que
homenageia a segurança jurídica.
Pelo exposto, concedo a medida cautelar pleiteada, ad
referendum do Plenário, para suspender a eficácia do Decreto
nº 10.502/2020, submetendo esta decisão à referendo na sessão
virtual que se inicia no dia 11/12/2020 (…).”

Nos mesmos termos, destaco, inicialmente, o cabimento da presente


ação direta, considerando que o ato normativo impugnado, em que pese
figurar formalmente como um decreto regulamentar, inovou no
ordenamento jurídico ao estabelecer institutos, serviços e obrigações, que,
até então, não estavam inseridos na disciplina educacional do país.Assim,
constato que o Decreto nº 10.502/2020 possui densidade normativa a
atrair a competência do Supremo Tribunal Federal para a aferição de sua
validade perante a Constituição da República, conforme decidido, por
exemplo, na ADI nº 4.152/SP, Rel. Min. Cezar Peluzo, Tribunal Pleno, DJe
de 21/9/11; na ADI nº 3.239/DF, Rel. Min. Cezar Peluso, Rel. p/ o ac. Min.
Rosa Weber, Tribunal Pleno, DJe de 1º/2/2019; e na ADI nº 2.155 MC/PR,
Rel. Min. Sydney Sanches, Tribunal Pleno, DJ de 1º/6/01.
Quanto ao pedido de medida cautelar, ratifico a presença dos
requisitos do fumus boni iuris e do periculum in mora, a justificar a
confirmação de seu deferimento.
Conforme mencionado, o atendimento de pessoas com deficiência na
rede regular de ensino, em caráter preferencial, é garantia constitucional
positivada no art. 208, inciso III, da Carta de 1988, e internalizada
mediante a aprovação da Convenção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência pelo rito legislativo análogo ao das emendas

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constitucionais, o que veio a reforçar o dever do Estado em garantir uma


educação inclusiva, livre de discriminação e baseada na igualdade de
oportunidades.
Trata-se, portanto, de um compromisso internacional assumido pelo
Brasil para a inserção das pessoas com deficiência no sistema
educacional geral, de forma a promover o desenvolvimento de alunos
com e sem deficiência em um ambiente inclusivo e plural, superando a
lógica da estigmatização e da segregação das pessoas com necessidades
especiais. É o que indica o art. 24 da Convenção:

“2. Para a realização desse direito, os Estados Partes


assegurarão que:
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas do
sistema educacional geral sob alegação de deficiência e que as
crianças com deficiência não sejam excluídas do ensino
primário gratuito e compulsório ou do ensino secundário, sob
alegação de deficiência;
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao ensino
primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino
secundário, em igualdade de condições com as demais pessoas
na comunidade em que vivem;
c) Adaptações razoáveis de acordo com as necessidades
individuais sejam providenciadas;
d) As pessoas com deficiência recebam o apoio necessário,
no âmbito do sistema educacional geral, com vistas a facilitar
sua efetiva educação;
e) Medidas de apoio individualizadas e efetivas sejam
adotadas em ambientes que maximizem o desenvolvimento
acadêmico e social, de acordo com a meta de inclusão plena.”

Destaco, ainda, a Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas


e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, elaborada, em
1994, na Conferência Mundial de Educação Especial, com a participação
do Brasil, na qual ficou consignado o princípio de que “todas as crianças
devem aprender juntas, sempre que possível, independentemente de

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quaisquer dificuldades ou diferenças que elas possam ter”.


Nessa toada, citei precedente deste Supremo Tribunal, qual seja, o
referendo na medida cautelar na Ação Direta de Inconstitucionalidade nº
5.357/DF, da relatoria do Ministro Edson Fachin, no qual foi afirmada a
obrigatoriedade, por parte das escolas privadas, além das escolas
públicas, de implementação de atendimento educacional adequado e
inclusivo às pessoas com deficiência, conforme previsto na Lei nº 13.146,
de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Naquela assentada, a maioria do Plenário acompanhou o voto do
Ministro Relator, no qual foi suscitado o status constitucional da
Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência,
para fundamentar a vedação da exclusão de pessoas com deficiência ou
necessidades especiais do sistema geral de educação.
Constou do voto do Relator que “o ensino inclusivo milita em favor
da dialógica implementação dos objetivos esquadrinhados pela
Constituição da República. É somente com o convívio com a diferença e
com o seu necessário acolhimento que pode haver a construção de uma
sociedade livre, justa e solidária, em que o bem de todos seja promovido
sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras
formas de discriminação (Art. 3º, I e IV, CRFB)” (DJe de 11/11/16).
Destaco novamente que o ordenamento constitucional não proíbe a
existência de classes e escolas especializadas, tendo a própria
Constituição ressalvado que a inclusão das pessoas com deficiência na
rede regular de ensino se dará “preferencialmente”. O atendimento em
classes, escolas ou serviços especializados está expressamente previsto na
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (art. 58, § 2º).
Ocorre que, de uma interpretação sistemática das normas
constitucionais e infraconstitucionais aplicáveis à matéria, extrai-se que a
educação na rede regular de ensino é o paradigma para a educação
especial, devendo o Poder Público adotá-la como ponto de partida para
a formulação de políticas educacionais para as pessoas portadoras de
deficiência. Revela-se, portanto, imperativa a adoção de providências
voltadas à inclusão educacional de todos os estudantes no ensino

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ADI 6590 MC-R EF / DF

regular.
O paradigma da educação inclusiva é o resultado de um processo
de conquistas sociais que afastaram a ideia de vivência segregada das
pessoas com deficiência ou necessidades especiais para inseri-las no
contexto da comunidade. Subverter esse paradigma significa, além de
grave ofensa à Constituição de 1988, um retrocesso na proteção de
direitos desses indivíduos.
Acrescento que o termo “preferencialmente”, presente no art. 208,
inc. III, da Constituição Federal, foi objeto de análise pela Procuradoria
Federal dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal. Vejamos:

“3. Quanto ao ’preferencialmente’ constante da


Constituição Federal, art. 208, inciso III
Este advérbio refere-se a atendimento educacional
especializado, ou seja, aquilo que é necessariamente diferente
no ensino escolar para melhor atender às especificidades dos
alunos com deficiência. Isto inclui, principalmente,
instrumentos necessários à eliminação das barreiras que as
pessoas com deficiência têm para relacionar-se com o ambiente
externo. Por exemplo: ensino da Língua brasileira de sinais
(Libras), do código Braile, uso de recursos de informática e
outras ferramentas tecnológicas, além de linguagens que
precisam estar disponíveis nas escolas comuns para que elas
possam atender com qualidade aos alunos com e sem
deficiência.
O atendimento educacional especializado deve estar
disponível em todos os níveis de ensino escolar, de
preferência nas escolas comuns da rede regular. Este é o
ambiente escolar mais adequado para se garantir o
relacionamento dos alunos com seus pares de mesma idade
cronológica e para a estimulação de todo o tipo de interação
que possa beneficiar seu desenvolvimento cognitivo, motor,
afetivo.
Esse atendimento funciona em moldes similares a outros
cursos que complementam os conhecimentos adquiridos nos

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níveis de Ensino Básico e Superior, como é o caso dos cursos de


línguas, artes, informática e outros. Portanto, esse atendimento
não substitui a escola comum para pessoas em idade de acesso
obrigatório ao Ensino Fundamental (dos sete aos 14 anos) e será
preferencialmente oferecido nas escolas comuns da rede
regular. Diferente de outros cursos livres, o atendimento
educacional especializado é tão importante que é garantido pela
Constituição Federal.
A Constituição admite mais: que o atendimento
educacional especializado seja também oferecido fora da rede
regular de ensino, em outros estabelecimentos, já que, como
referimos, seria um complemento e não um substitutivo da
escolarização ministrada na rede regular para todos os alunos3”

A Política Nacional de Educação Especial ora questionada,


portanto, parece contrariar o paradigma descrito, por claramente retirar
a ênfase da Política de Educação Especial da inclusão no ensino regular,
passando a apresentar esse último como mera alternativa dentro do
sistema de educação especial.
No decreto, o trecho que melhor esclarece esse fato é o conceito
apresentado para as escolas regulares inclusivas, as quais são tratadas
como uma categoria específica dentro do universo da educação especial,
como se houvesse a possibilidade de existirem escolas regulares não
inclusivas. Vejamos:
“Art. 2º (...)
X - escolas regulares inclusivas - instituições de ensino que
oferecem atendimento educacional especializado aos
educandos da educação especial em classes regulares, classes
especializadas ou salas de recursos.”

Ocorre que, como mencionei na decisão ora submetida a referendo, a

3 BRASIL. Ministério Público Federal. O acesso de estudantes com deficiência às


escolas e classes comuns da rede regular de ensino. Fundação Procurador Pedro Jorge de
Melo e Silva (Orgs). 2. ed. ver. e atualiz. Brasília: Procuradoria Federal dos Direitos do
Cidadão, 2004.

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educação inclusiva não se refere apenas a uma modalidade de ensino,


constituindo-se no paradigma constitucional para a educação da criança
com deficiência, a qual demanda a adaptação de todo o sistema de
educação regular, de modo a congregar alunos com e sem deficiência no
âmbito de uma mesma proposta de ensino, na medida de suas
especificidades.
Interessa destacar que, conforme informa o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), vinculado ao
Ministério da Educação, no censo escolar do ano de 2018, verificou-se
que, entre os educandos de 4 a 17 anos da educação especial, houve um
aumento no percentual de matrículas em classes comuns, passando de
87,1% em 2014 para 92,1% em 2018,4 o que denota o potencial inclusivo
das políticas que vinham sendo implementadas até então.
Assim sendo, por considerar que o Decreto nº 10.502/2020 pode
subsidiar políticas públicas que venham a fragilizar o imperativo da
inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na rede regular de
ensino, concluo estar configurada a fumaça do bom direito para efeito de
confirmação da medida cautelar concedida monocraticamente.
O requisito do perigo da demora também está presente, tendo em
vista a proximidade do início do próximo ano letivo e a possibilidade de
que os alunos afetados pelo decreto sejam excluídos de estabelecimentos
do sistema geral de educação, em flagrante contrariedade à lógica do
ensino inclusivo.
Ademais, além de trazer prejuízos aos alunos deslocados
indevidamente para escolas ou classes especializadas, aguardar o
julgamento definitivo da presente ação direta pode impactar os entes
públicos que vierem a organizar os respectivos sistemas educacionais
com observância ao Decreto nº 10.502/20.

4 Disponível em
<http://portal.inep.gov.br/artigo/-/asset_publisher/B4AQV9zFY7Bv/content/censo-escolar-
2018-revela-crescimento-de-18-nas-matriculas-em-tempo-integral-no-ensino-
medio/21206#:~:text=Outros%20n%C3%BAmeros%20%E2%80%93%20O%20Censo
%20Escolar,matr%C3%ADculas%20reduziu%207%2C1%25.>

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Nesses termos, reitero que suspender o ato impugnado é medida


que homenageia a segurança jurídica.
Ante as razões apresentadas, voto pelo referendo da decisão
liminar.

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REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.590 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADV.(A/S) : RAFAEL DE ALENCAR ARARIPE CARNEIRO
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
AM. CURIAE. : COMITÊ BRASILEIRO DE ORGANIZAÇÕES
REPRESENTATIVAS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS - CRPD
ADV.(A/S) : RAFAEL KOERIG GESSINGER
ADV.(A/S) : FABIANO MENKE
ADV.(A/S) : DIEGO KRAINOVIC MALHEIROS DE SOUZA
ADV.(A/S) : ARTHUR FERRAZ VASEM
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE
SÍNDROME DE DOWN
ADV.(A/S) : RHOMENIG OLIVEIRA DE SOUZA
AM. CURIAE. : APABB - ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS
DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE
ADV.(A/S) : CAHUE ALONSO TALARICO
AM. CURIAE. : AUTSP ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE AUTISMO
ADV.(A/S) : CAMILLA CAVALCANTI VARELLA GUIMARAES
JUNQUEIRA FRANCO
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E
INTEGRAÇÃO DOS SURDOS (FENEIS)
ADV.(A/S) : BRUNO CESAR DESCHAMPS MEIRINHO
AM. CURIAE. : INSTITUTO ALANA
AM. CURIAE. : RNPI - REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA
ADV.(A/S) : THAIS NASCIMENTO DANTAS
ADV.(A/S) : ANA CLAUDIA CIFALI
ADV.(A/S) : PEDRO AFFONSO DUARTE HARTUNG
ADV.(A/S) : ISABELLA VIEIRA MACHADO HENRIQUES
AM. CURIAE. : GRUPO DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DAS
DEFENSORIAS PÚBLICAS ESTADUAIS E DISTRITAL

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NOS TRIBUNAIS SUPERIORES (GAETS)


PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DA
BAHIA
AM. CURIAE. : MOVIMENTO ORGULHO AUTISTA BRASIL (MOAB)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE SUPERAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
(ISI)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE PROMOÇÃO DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL (IPPCDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILIENSE DE DEFICIENTES
VISUAIS (ABDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO DEFICIENTE VISUAL
(AADV)
ADV.(A/S) : NADINE TALEIS
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (FENAPAES)
ADV.(A/S) : EDUARDO VIEIRA MESQUITA
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE DEFESA DOS DIREITOS DOS IDOSOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (AMPID)
ADV.(A/S) : JOELSON COSTA DIAS

VOTO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO – O Partido Socialista


Brasileiro – PSB ajuizou ação direta, com pedido de liminar, buscando ver
declarada a incompatibilidade, com a Constituição Federal, do Decreto nº
10.502/2020, a versar a Política Nacional de Educação Especial: Equitativa,
Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida. Transcrevo o teor, para
fins de documentação:

CAPÍTULO I DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 1º Fica instituída a Política Nacional de Educação


Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida, por meio da qual a União, em colaboração com os
Estados, o Distrito Federal e os Municípios, implementará
programas e ações com vistas à garantia dos direitos à educação

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e ao atendimento educacional especializado aos educandos com


deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação.

Art. 2º Para fins do disposto neste Decreto, considera-se:


I – educação especial - modalidade de educação escolar
oferecida, preferencialmente, na rede regular de ensino aos
educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação;
II – educação bilíngue de surdos - modalidade de
educação escolar que promove a especificidade linguística e
cultural dos educandos surdos, deficientes auditivos e
surdocegos que optam pelo uso da Língua Brasileira de Sinais -
Libras, por meio de recursos e de serviços educacionais
especializados, disponíveis em escolas bilíngues de surdos e em
classes bilíngues de surdos nas escolas regulares inclusivas, a
partir da adoção da Libras como primeira língua e como língua
de instrução, comunicação, interação e ensino, e da língua
portuguesa na modalidade escrita como segunda língua;
III – política educacional equitativa - conjunto de medidas
planejadas e implementadas com vistas a orientar as práticas
necessárias e diferenciadas para que todos tenham
oportunidades iguais e alcancem os seus melhores resultados,
de modo a valorizar ao máximo cada potencialidade, e eliminar
ou minimizar as barreiras que possam obstruir a participação
plena e efetiva do educando na sociedade;
IV – política educacional inclusiva - conjunto de medidas
planejadas e implementadas com vistas a orientar as práticas
necessárias para desenvolver, facilitar o desenvolvimento,
supervisionar a efetividade e reorientar, sempre que necessário,
as estratégias, os procedimentos, as ações, os recursos e os
serviços que promovem a inclusão social, intelectual,
profissional, política e os demais aspectos da vida humana, da
cidadania e da cultura, o que envolve não apenas as demandas
do educando, mas, igualmente, suas potencialidades, suas
habilidades e seus talentos, e resulta em benefício para a

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sociedade como um todo;


V – política de educação com aprendizado ao longo da
vida - conjunto de medidas planejadas e implementadas para
garantir oportunidades de desenvolvimento e aprendizado ao
longo da existência do educando, com a percepção de que a
educação não acontece apenas no âmbito escolar, e de que o
aprendizado pode ocorrer em outros momentos e contextos,
formais ou informais, planejados ou casuais, em um processo
ininterrupto;
VI – escolas especializadas - instituições de ensino
planejadas para o atendimento educacional aos educandos da
educação especial que não se beneficiam, em seu
desenvolvimento, quando incluídos em escolas regulares
inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e
contínuos;
VII – classes especializadas - classes organizadas em
escolas regulares inclusivas, com acessibilidade de arquitetura,
equipamentos, mobiliário, projeto pedagógico e material
didático, planejados com vistas ao atendimento das
especificidades do público ao qual são destinadas, e que devem
ser regidas por profissionais qualificados para o cumprimento
de sua finalidade;
VIII – escolas bilíngues de surdos - instituições de ensino
da rede regular nas quais a comunicação, a instrução, a
interação e o ensino são realizados em Libras como primeira
língua e em língua portuguesa na modalidade escrita como
segunda língua, destinadas a educandos surdos, que optam
pelo uso da Libras, com deficiência auditiva, surdocegos,
surdos com outras deficiências associadas e surdos com altas
habilidades ou superdotação;
IX – classes bilíngues de surdos - classes com enturmação
de educandos surdos, com deficiência auditiva e surdocegos,
que optam pelo uso da Libras, organizadas em escolas
regulares inclusivas, em que a Libras é reconhecida como
primeira língua e utilizada como língua de comunicação,
interação, instrução e ensino, em todo o processo educativo, e a

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língua portuguesa na modalidade escrita é ensinada como


segunda língua;
X – escolas regulares inclusivas - instituições de ensino
que oferecem atendimento educacional especializado aos
educandos da educação especial em classes regulares, classes
especializadas ou salas de recursos; e
XI – planos de desenvolvimento individual e escolar -
instrumentos de planejamento e de organização de ações, cuja
elaboração, acompanhamento e avaliação envolvam a escola, a
família, os profissionais do serviço de atendimento educacional
especializado, e que possam contar com outros profissionais
que atendam educandos com deficiência, transtornos globais do
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação.

CAPÍTULO II DOS PRINCÍPIOS E DOS OBJETIVOS

Art. 3º São princípios da Política Nacional de Educação


Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida:
I – educação como direito para todos em um sistema
educacional equitativo e inclusivo;
II – aprendizado ao longo da vida;
III – ambiente escolar acolhedor e inclusivo;
IV – desenvolvimento pleno das potencialidades do
educando;
V – acessibilidade ao currículo e aos espaços escolares;
VI – participação de equipe multidisciplinar no processo
de decisão da família ou do educando quanto à alternativa
educacional mais adequada;
VII – garantia de implementação de escolas bilíngues de
surdos e surdocegos;
VIII – atendimento aos educandos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação no território nacional, incluída a garantia da
oferta de serviços e de recursos da educação especial aos
educandos indígenas, quilombolas e do campo; e

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IX – qualificação para professores e demais profissionais


da educação.
Art. 4º São objetivos da Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida:
I – garantir os direitos constitucionais de educação e de
atendimento educacional especializado aos educandos com
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas
habilidades ou superdotação;
II – promover ensino de excelência aos educandos da
educação especial, em todas as etapas, níveis e modalidades de
educação, em um sistema educacional equitativo, inclusivo e
com aprendizado ao longo da vida, sem a prática de qualquer
forma de discriminação ou preconceito;
III – assegurar o atendimento educacional especializado
como diretriz constitucional, para além da institucionalização
de tempos e espaços reservados para atividade complementar
ou suplementar;
IV – assegurar aos educandos da educação especial
acessibilidade a sistemas de apoio adequados, consideradas as
suas singularidades e especificidades;
V – assegurar aos profissionais da educação a formação
profissional de orientação equitativa, inclusiva e com
aprendizado ao longo da vida, com vistas à atuação efetiva em
espaços comuns ou especializados;
VI – valorizar a educação especial como processo que
contribui para a autonomia e o desenvolvimento da pessoa e
também para a sua participação efetiva no desenvolvimento da
sociedade, no âmbito da cultura, das ciências, das artes e das
demais áreas da vida; e
VII – assegurar aos educandos com deficiência,
transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou
superdotação oportunidades de educação e aprendizado ao
longo da vida, de modo sustentável e compatível com as
diversidades locais e culturais.

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CAPÍTULO III DO PÚBLICO-ALVO

Art. 5º A Política Nacional de Educação Especial:


Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida tem
como público-alvo os educandos que, nas diferentes etapas,
níveis e modalidades de educação, em contextos diversos, nos
espaços urbanos e rurais, demandem a oferta de serviços e
recursos da educação especial.
Parágrafo único. São considerados público-alvo da Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida:
I – educandos com deficiência, conforme definido pela Lei
nº 13.146, de 6 de julho de 2015 - Estatuto da Pessoa com
Deficiência;
II – educandos com transtornos globais do
desenvolvimento, incluídos os educados com transtorno do
espectro autista, conforme definido pela Lei nº 12.764, de 27 de
dezembro de 2012; e
III – educandos com altas habilidades ou superdotação
que apresentem desenvolvimento ou potencial elevado em
qualquer área de domínio, isolada ou combinada, criatividade e
envolvimento com as atividades escolares.

CAPÍTULO IV DAS DIRETRIZES

Art. 6º São diretrizes para a implementação da Política


Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida:
I – oferecer atendimento educacional especializado e de
qualidade, em classes e escolas regulares inclusivas, classes e
escolas especializadas ou classes e escolas bilíngues de surdos a
todos que 5 demandarem esse tipo de serviço, para que lhes
seja assegurada a inclusão social, cultural, acadêmica e
profissional, de forma equitativa e com a possibilidade de
aprendizado ao longo da vida;
II – garantir a viabilização da oferta de escolas ou classes

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bilíngues de surdos aos educandos surdos, surdocegos, com


deficiência auditiva, outras deficiências ou altas habilidades e
superdotação associadas;
III – garantir, nas escolas ou classes bilíngues de surdos, a
Libras como parte do currículo formal em todos os níveis e
etapas de ensino e a organização do trabalho pedagógico para o
ensino da língua portuguesa na modalidade escrita como
segunda língua; e
IV – priorizar a participação do educando e de sua família
no processo de decisão sobre os serviços e os recursos do
atendimento educacional especializado, considerados o
impedimento de longo prazo e as barreiras a serem eliminadas
ou minimizadas para que ele tenha as melhores condições de
participação na sociedade, em igualdade de condições com as
demais pessoas.

CAPÍTULO V DOS SERVIÇOS E DOS RECURSOS DA


EDUCAÇÃO ESPECIAL

Art. 7º São considerados serviços e recursos da educação


especial:
I – centros de apoio às pessoas com deficiência visual;
II – centros de atendimento educacional especializado aos
educandos com deficiência intelectual, mental e transtornos
globais do desenvolvimento;
III – centros de atendimento educacional especializado aos
educandos com deficiência físico-motora;
IV – centros de atendimento educacional especializado;
V – centros de atividades de altas habilidades e
superdotação;
VI – centros de capacitação de profissionais da educação e
de atendimento às pessoas com surdez;
VII – classes bilíngues de surdos;
VIII – classes especializadas;
IX – escolas bilíngues de surdos;
X – escolas especializadas;

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XI – escolas-polo de atendimento educacional


especializado;
XII – materiais didático-pedagógicos adequados e
acessíveis ao público-alvo desta Política Nacional de Educação
Especial;
XIII – núcleos de acessibilidade;
XIV – salas de recursos;
XV – serviços de atendimento educacional especializado
para crianças de zero a três anos;
XVI – serviços de atendimento educacional especializado;
e
XVII – tecnologia assistiva.
Parágrafo único. Poderão ser constituídos outros serviços
e recursos para atender os educandos da educação especial,
ainda que sejam utilizados de forma temporária ou para
finalidade específica.

CAPÍTULO VI DOS ATORES

Art. 8º Atuarão, de forma colaborativa, na prestação de


serviços da educação especial:
I – equipes multiprofissionais e interdisciplinares de
educação especial;
II – guias-intérpretes;
III – professores bilíngues em Libras e língua portuguesa;
IV – professores da educação especial;
V – profissionais de apoio escolar ou acompanhantes
especializados, de que tratam o inciso XIII do caput do art. 3º da
Lei nº 13.146, de 2015 - Estatuto da Pessoa com Deficiência, e o
parágrafo único do art. 2º da Lei nº 12.764, de 2012; e
VI – tradutores-intérpretes de Libras e língua portuguesa.

CAPÍTULO VII DA IMPLEMENTAÇÃO

Art. 9º A Política Nacional de Educação Especial:


Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida será

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implementada por meio das seguintes ações:


I – elaboração de estratégias de gestão dos sistemas de
ensino para as escolas regulares inclusivas, as escolas
especializadas e as escolas bilíngues de surdos, que
contemplarão também a orientação sobre o papel da família, do
educando, da escola, dos profissionais especializados e da
comunidade, e a normatização dos procedimentos de
elaboração de material didático especializado;
II – definição de estratégias para a implementação de
escolas e classes bilíngues de surdos e o fortalecimento das
escolas e classes bilíngues de surdos já existentes;
III – definição de critérios de identificação, acolhimento e
acompanhamento dos educandos que não se beneficiam das
escolas regulares inclusivas, de modo a proporcionar o
atendimento educacional mais adequado, em ambiente o menos
restritivo possível, com vistas à inclusão social, acadêmica,
cultural e profissional, de forma equitativa, inclusiva e com
aprendizado ao longo da vida;
IV – definição de diretrizes da educação especial para o
estabelecimento dos serviços e dos recursos de atendimento
educacional especializado aos educandos público-alvo desta
Política Nacional de Educação Especial;
V - definição de estratégias e de orientações para as
instituições de ensino superior com vistas a garantir a prestação
de serviços ao público-alvo desta Política Nacional de Educação
Especial, para incentivar projetos de ensino, pesquisa e extensão
destinados à 7 temática da educação especial e estruturar a
formação de profissionais especializados para cumprir os
objetivos da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa,
Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida; e
VI – definição de critérios objetivos, operacionalizáveis e
mensuráveis, a serem cumpridos pelos entes federativos, com
vistas à obtenção de apoio técnico e financeiro da União na
implementação de ações e programas relacionados à Política
Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida.

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Voto Vogal

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ADI 6590 MC-R EF / DF

CAPÍTULO VIII DA AVALIAÇÃO E DO


MONITORAMENTO

Art. 10. São mecanismos de avaliação e de monitoramento


da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva
e com Aprendizado ao Longo da Vida:
I – Censo Escolar;
II – Exame Nacional do Ensino Médio;
III – indicadores que permitam identificar os pontos
estratégicos na execução da Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida e os seus resultados esperados e alcançados;
IV – planos de desenvolvimento individual e escolar;
V – Prova Brasil; e
VI – Sistema de Avaliação da Educação Básica.

Art. 11. Serão incorporados aos mecanismos de avaliação e


de monitoramento de que tratam os incisos II ao V docaputdo
art. 10 indicadores que permitam identificar resultados obtidos
com a implementação da Política Nacional de Educação
Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida.

CAPÍTULO IX DISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 12. Compete ao Ministério da Educação a


coordenação estratégica dos programas e das ações decorrentes
da Política Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva
e com Aprendizado ao Longo da Vida.

Art. 13. A colaboração dos entes federativos na Política


Nacional de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com
Aprendizado ao Longo da Vida ocorrerá por meio de adesão
voluntária, na forma a ser definida em instrumentos específicos
dos respectivos programas e ações do Ministério da Educação e
de suas entidades vinculadas.

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Voto Vogal

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ADI 6590 MC-R EF / DF

Art. 14. Para fins de implementação da Política Nacional


de Educação Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado
ao Longo da Vida, a União poderá prestar aos entes federativos
apoio técnico e assistência financeira, na forma a ser definida
em instrumento específico de cada programa ou ação.

Art. 15. A assistência financeira da União de que trata o


art. 14 ocorrerá por meio de dotações orçamentárias
consignadas na Lei Orçamentária Anual ao Ministério da
Educação e às suas entidades vinculadas, respeitada a sua área
de atuação, observados a disponibilidade financeira e os limites
de movimentação e empenho.

Art. 16. Compete ao Conselho Nacional de Educação


elaborar as diretrizes nacionais da educação especial, em
conformidade com o disposto na Política Nacional de Educação
Especial: Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da
Vida.
Parágrafo único. As diretrizes nacionais da educação
especial serão homologadas em ato do Ministro de Estado da
Educação.

Art. 17. A Política Nacional de Educação Especial:


Equitativa, Inclusiva e com Aprendizado ao Longo da Vida
deverá ser utilizada, também, como referência para a Base
Nacional Comum Curricular, de que trata o art. 26 da Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996.

Art. 18. Este Decreto entra em vigor na data de sua


publicação.

O Decreto, sob o ângulo da compatibilidade, ou não, com a Lei


Maior, disciplina a política de educação especial, visando ampliar o
alcance. Não inovou na ordem jurídica e não se mostra ato normativo
abstrato autônomo.
É inviável impugnar, em sede de controle abstrato, diploma voltado

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Voto Vogal

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ADI 6590 MC-R EF / DF

a regulamentar norma primária – Leis nº 9.394/1996 (Lei de Diretrizes e


Bases da Educação Nacional) e 13.146/2015 (Estatuto da Pessoa com
Deficiência). A subsistência, ou não, resolve-se em outro campo – o da
legalidade.
Ante a jurisprudência, não cabe a atuação do Supremo. Assento a
inadequação da via escolhida.
Divirjo do Relator, para inadmitir a ação direta.

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Voto Vogal

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21/12/2020 PLENÁRIO

REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.590 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI


REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADV.(A/S) : RAFAEL DE ALENCAR ARARIPE CARNEIRO
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO -GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE
SÃO PAULO
AM. CURIAE. : COMITÊ BRASILEIRO DE ORGANIZAÇÕES
REPRESENTATIVAS DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIAS - CRPD
ADV.(A/S) : RAFAEL KOERIG GESSINGER
ADV.(A/S) : FABIANO MENKE
ADV.(A/S) : DIEGO KRAINOVIC MALHEIROS DE SOUZA
ADV.(A/S) : ARTHUR FERRAZ VASEM
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE
SÍNDROME DE DOWN
ADV.(A/S) : RHOMENIG OLIVEIRA DE SOUZA
AM. CURIAE. : APABB - ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS
DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE
ADV.(A/S) : CAHUE ALONSO TALARICO
AM. CURIAE. : AUTSP ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE AUTISMO
ADV.(A/S) : CAMILLA CAVALCANTI VARELLA GUIMARAES
JUNQUEIRA FRANCO
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E
INTEGRAÇÃO DOS SURDOS (FENEIS)
ADV.(A/S) : BRUNO CESAR DESCHAMPS MEIRINHO
AM. CURIAE. : INSTITUTO ALANA
AM. CURIAE. : RNPI - REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA
ADV.(A/S) : THAIS NASCIMENTO DANTAS
ADV.(A/S) : ANA CLAUDIA CIFALI
ADV.(A/S) : PEDRO AFFONSO DUARTE HARTUNG

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Voto Vogal

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ADI 6590 MC-R EF / DF

ADV.(A/S) : ISABELLA VIEIRA MACHADO HENRIQUES


AM. CURIAE. : GRUPO DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DAS
DEFENSORIAS PÚBLICAS ESTADUAIS E DISTRITAL
NOS TRIBUNAIS SUPERIORES (GAETS)
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DA
BAHIA
AM. CURIAE. : MOVIMENTO ORGULHO AUTISTA BRASIL (MOAB)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE SUPERAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL
(ISI)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE PROMOÇÃO DAS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL (IPPCDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILIENSE DE DEFICIENTES
VISUAIS (ABDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO DEFICIENTE VISUAL
(AADV)
ADV.(A/S) : NADINE TALEIS
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (FENAPAES)
ADV.(A/S) : EDUARDO VIEIRA MESQUITA
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO
PÚBLICO DE DEFESA DOS DIREITOS DOS IDOSOS E
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (AMPID)
ADV.(A/S) : JOELSON COSTA DIAS

VOTO VOGAL

1. Acompanho o relator para referendar a medida cautelar,


com a ressalva de que reservo a possibilidade de revisitar o tema da
educação especial de pessoas com deficiências que afetam a comunicação,
e em particular no que diz respeito à educação bilíngue de surdos, no
julgamento do mérito da presente demanda.

2. Como registrado pelo Min. Dias Toffoli na decisão de


concessão da cautelar, o modelo de educação inclusiva – de acordo com o
qual alunos com e sem deficiência devem conviver no mesmo ambiente

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Voto Vogal

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ADI 6590 MC-R EF / DF

escolar – é resultado de um processo de conquistas sociais e deve ser


priorizado. Com efeito, a Organização das Nações Unidas – ONU
recomenda o modelo de educação inclusiva, em linha com a orientação
adotada pelo relator.

3. Não obstante, considero relevante pontuar que existe um


amplo debate a respeito da adequação das escolas bilíngues para surdos
que utilizam a Língua Brasileira de Sinais – LIBRAS. Há entidades
representativas da comunidade surda que sustentam que tais alunos se
desenvolvem melhor nas escolas que adotam a LIBRAS como primeira
língua e o Português como segunda língua, e registram a existência de
estudos nesse sentido. Existem, inclusive, entidades que sustentam que os
surdos se identificam como uma minoria linguística, de forma que as
escolas bilíngues de surdos poderiam ser comparadas a escolas
internacionais (e.g. escolas americanas e francesas que funcionam no
Brasil). Nesse sentido é a manifestação da Federação Nacional de
Educação e Integração dos Surdos – FENEIS (Doc. 207), do Instituto
Nacional de Educação de Surdos – INES [1] e, no contexto internacional,
da Federação Mundial de Surdos, da Federação Mundial de Surdocegos e
da International Disability Caucus (IDC) [2].

4. Portanto, voto no sentido de referendar a medida cautelar,


com a ressalva a respeito da possibilidade de revisitar a matéria relativa à
educação de alunos que possuem especificidades relacionadas à
comunicação no julgamento do mérito desta ação.

NOTAS DE RODAPÉ

[1] Ofício nº 341/2020/DG/INES.

[2] Ilias Bantekas, Michael Ashley Stein, Dimitris Anastasiou (Ed.).


The UN Convention on the Rights of Persons with Disabilities – A
Commentary, Oxford University Press: 2018. p. 698.

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Extrato de Ata - 21/12/2020

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PLENÁRIO
EXTRATO DE ATA

REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.590
PROCED. : DISTRITO FEDERAL
RELATOR : MIN. DIAS TOFFOLI
REQTE.(S) : PARTIDO SOCIALISTA BRASILEIRO - PSB
ADV.(A/S) : RAFAEL DE ALENCAR ARARIPE CARNEIRO (25120/DF,
409584/SP)
INTDO.(A/S) : PRESIDENTE DA REPÚBLICA
PROC.(A/S)(ES) : ADVOGADO-GERAL DA UNIÃO
AM. CURIAE. : MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO
PROC.(A/S)(ES) : PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO
PAULO
AM. CURIAE. : COMITÊ BRASILEIRO DE ORGANIZAÇÕES REPRESENTATIVAS
DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIAS - CRPD
ADV.(A/S) : RAFAEL KOERIG GESSINGER (47110/RS)
ADV.(A/S) : FABIANO MENKE (47159/RS)
ADV.(A/S) : DIEGO KRAINOVIC MALHEIROS DE SOUZA (95287/RS)
ADV.(A/S) : ARTHUR FERRAZ VASEM (117543/RS)
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO BRASILEIRA DAS ASSOCIAÇÕES DE SÍNDROME DE
DOWN
ADV.(A/S) : RHOMENIG OLIVEIRA DE SOUZA (30757/ES)
AM. CURIAE. : APABB - ASSOCIAÇÃO DE PAIS, AMIGOS E PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA, DE FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL E DA COMUNIDADE
ADV.(A/S) : CAHUE ALONSO TALARICO (214190/SP)
AM. CURIAE. : AUTSP ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE AUTISMO
ADV.(A/S) : CAMILLA CAVALCANTI VARELLA GUIMARAES JUNQUEIRA FRANCO
(133150/RJ, 156028/SP)
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DE EDUCAÇÃO E INTEGRAÇÃO DOS
SURDOS (FENEIS)
ADV.(A/S) : BRUNO CESAR DESCHAMPS MEIRINHO (48641/PR)
AM. CURIAE. : INSTITUTO ALANA
AM. CURIAE. : RNPI - REDE NACIONAL PRIMEIRA INFÂNCIA
ADV.(A/S) : THAIS NASCIMENTO DANTAS (377516/SP)
ADV.(A/S) : ANA CLAUDIA CIFALI (80390/RS)
ADV.(A/S) : PEDRO AFFONSO DUARTE HARTUNG (329833/SP)
ADV.(A/S) : ISABELLA VIEIRA MACHADO HENRIQUES (155097/SP)
AM. CURIAE. : GRUPO DE ATUAÇÃO ESTRATÉGICA DAS DEFENSORIAS
PÚBLICAS ESTADUAIS E DISTRITAL NOS TRIBUNAIS SUPERIORES (GAETS)
PROC.(A/S)(ES) : DEFENSOR PÚBLICO-GERAL DO ESTADO DA BAHIA
AM. CURIAE. : MOVIMENTO ORGULHO AUTISTA BRASIL (MOAB)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE SUPERAÇÃO E INCLUSÃO SOCIAL (ISI)
AM. CURIAE. : INSTITUTO DE PROMOÇÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
VISUAL (IPPCDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO BRASILIENSE DE DEFICIENTES VISUAIS (ABDV)
AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS DO DEFICIENTE VISUAL (AADV)
ADV.(A/S) : NADINE TALEIS (60255/DF)
AM. CURIAE. : FEDERAÇÃO NACIONAL DAS APAES (FENAPAES)
ADV.(A/S) : EDUARDO VIEIRA MESQUITA (23508/GO)

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Supremo Tribunal Federal
Extrato de Ata - 21/12/2020

Inteiro Teor do Acórdão - Página 60 de 60

AM. CURIAE. : ASSOCIAÇÃO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO DE DEFESA


DOS DIREITOS DOS IDOSOS E PESSOAS COM DEFICIÊNCIA (AMPID)
ADV.(A/S) : JOELSON COSTA DIAS (10441/DF, 157690/MG)

Decisão: O Tribunal, por maioria, referendou a decisão liminar


para suspender a eficácia do Decreto nº 10.502/2020, nos termos do
voto do Relator, vencidos os Ministros Marco Aurélio e Nunes
Marques. O Ministro Roberto Barroso acompanhou o Relator com
ressalvas. Falaram: pelo interessado, a Dra. Izabel Vinchon
Nogueira de Andrade, Secretária-Geral de Contencioso da AGU; pelo
amicus curiae Federação Brasileira das Associações de Síndrome de
Down, a Dra. Ana Claudia Mendes De Figueiredo; pelo amicus curiae
Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos
dos Idosos e Pessoas com Deficiência – AMPID, o Dr. Joelson Dias;
pelo amicus curiae Rede Nacional Primeira Infância - RNPI, o Dr.
Caio Leonardo Bessa Rodrigues; pelo amicus curiae Associação de
Pais, Amigos e Pessoas com Deficiência, de Funcionários do Banco
do Brasil e da Comunidade - APABB, o Dr. Cahue Alonso Talarico;
pelo amicus curiae Grupo de Atuação Estratégica das Defensorias
Públicas Estaduais e Distrital nos Tribunais Superiores – GAETS, a
Dra. Renata Flores Tibyriçá, Defensora Pública do Estado de São
Paulo; pelo amicus curiae Instituto Alana, a Dra. Thaís Nascimento
Dantas; pelo amicus curiae Federação Nacional de Educação e
Integração dos Surdos – FENEIS, o Dr. Bruno César Deschamps
Meirinho; pelo amicus curiae Comitê Brasileiro de Organizações
Representativas das Pessoas com Deficiências – CRPD, o Dr. Rafael
Koerig Gessinger; pelo amicus curiae Associação Paulista de
Autismo - AUTSP, a Dra. Camilla Cavalcanti Varella Guimarães
Junqueira Franco; e, pelo amicus curiae Ministério Público do
Estado de São Paulo, o Dr. Mário Luiz Sarrubbo, Procurador-Geral
de Justiça de São Paulo. Plenário, Sessão Virtual de 11.12.2020 a
18.12.2020.

Composição: Ministros Luiz Fux (Presidente), Marco Aurélio,


Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Dias Toffoli,
Rosa Weber, Roberto Barroso, Edson Fachin, Alexandre de Moraes e
Nunes Marques.

Carmen Lilian Oliveira de Souza


Assessora-Chefe do Plenário

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