Teoria Geral de Administração

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

INSTITUTO DE ENSINO A DISTÂNCIA

Evolução Histórica da Administração pública de Moçambique desde a Primeira


Constituição de Moçambique Independente à primeira Constituição multipartidária de
Moçambique.

Nome: Fernando Caetano Caetano – Código: 708223429

Curso: Licenciatura em Administração Pública


Disciplina: Teoria Geral de Administração
Ano de frequência: 1º Ano

Tutor:

Quelimane, Junho de 2022


Índice

1. Introdução............................................................................................................................5
1.1. Objectivos........................................................................................................................6
1.1.1. Objectivo Geral...........................................................................................................6
1.1.2. Objectivos Específicos.................................................................................................6
1.2. Metodologia.....................................................................................................................6
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA......................................................................................7
2.1. Conceitos Básicos............................................................................................................7
2.1.1. Administração Pública.................................................................................................7
2.2. Evolução Histórica da Administração Pública Moçambicana.........................................8
2.2.2. Administração Publica Colonial Portuguesa em Moçambique..................................10
2.2.3. Moçambique Sob a Administração da Monarquia Portuguesa..................................11
2.2.4. Moçambique sob a Administração da Republica Portuguesa....................................12
2.2.5. Moçambique sob a Administração do Estado Novo..................................................13
2.2.6. Administração Pública Em Moçambique Após Independência.................................15
2.3. A Administração Pública moçambicana a Luz da Constituição de 90..........................17
2.4. Administração Pública em Moçambique à luz da Constituição de 2004.......................17
2.4.1. Traços da Constituição da República de Moçambique de 2004................................18
2.5. Órgãos Locais do Estado...............................................................................................18
2.5.1. Racionalização e Descentralização de Estruturas e Procedimentos de Prestação de
Serviços.....................................................................................................................................19
2.5.2. Formulação e Monitoria de Políticas Públicas...........................................................20
2.5.3. Profissionalização dos Funcionários do Sector Público.............................................21
2.5.4. Gestão Financeira e Prestação de Contas...................................................................22
2.5.5. Boa Governação e Combate à Corrupção..................................................................22
3. Conclusão..........................................................................................................................23
4. Bibliografia........................................................................................................................24

2
Classificação
Categorias Indicadores Padrões Nota
Pontuação Subtota
do
máxima l
tutor
 Índice 0.5
 Introdução 0.5
Aspectos
Estrutura 0.5
organizacionais  Discussão
 Conclusão 0.5
 Bibliografia 0.5
 Contextualização
(Indicação clara do 2.0
problema)
Introdução  Descrição dos
1.0
objectivos
 Metodologia adequada
2.0
ao objecto do trabalho
 Articulação e domínio
do discurso académico
Conteúdo (expressão escrita 3.0
cuidada, coerência /
Análise e coesão textual)
discussão  Revisão bibliográfica
nacional e internacional
2.0
relevante na área de
estudo
 Exploração dos dados 2.5
 Contributos teóricos
Conclusão 2.0
práticos
 Paginação, tipo e
Aspectos tamanho de letra,
Formatação 1.0
gerais paragrafo, espaçamento
entre linhas
Normas APA
Referências  Rigor e coerência das
6ª edição em
Bibliográfica citações/referências 2.0
citações e
s bibliográficas
bibliografia

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Folha para recomendações de melhoria: A ser preenchida pelo tutor
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1. Introdução
A administração pública em Moçambique passou por um longo processo de evolução e foi
dominada desde o período colonial ate ao Moçambique independente pelo ciclo de
centralização e descentralização da mesma. Foi também caracterizada sobretudo no período
colonial por um volume de decretos que muitas vezes ficavam nos papéis ou em teoria devido
a debilidade financeira e consequente dependência do capital internacional. Da independência
a terceira Republica a administração foi introduzindo reformas em virtude do alinhamento, em
primeiro lugar com relação a vontade dos parceiros de cooperação e em segundo lugar em
função da satisfação dos utentes.

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1.1. Objectivos

1.1.1. Objectivo Geral

Analisar a evolução histórica da administração pública de moçambique desde a primeira


constituição de moçambique independente à primeira constituição multipartidária de
moçambique.

1.1.2. Objectivos Específicos


 Demostrar a evolução histórica da administração pública de moçambique desde a primeira
constituição de moçambique independente à primeira constituição multipartidária de
moçambique;
 Caracterizar a primeiros passos de estabelecimento da administração publica em
moçambique; e
 Identificar as principais abordagens histórica da administração pública de moçambique
desde a primeira constituição de moçambique independente à primeira constituição
multipartidária de moçambique.

1.2. Metodologia

Tendo em conta o objectivo da pesquisa a abordagem é qualitativa, tem como objecto de


estudo “as intenções e situações, ou seja, trata-se de investigar ideias, de descobrir
significados nas acções individuais e nas interacções sociais a partir da perspectiva dos atores
intervenientes no processo”. (Coutinho 2018, p.28). Neste tipo de investigação no entender de
Vieira (2009), É tarefa do pesquisador levantar opiniões, crenças e significados das coisas nas
palavras dos sujeitos pesquisados. Sua realização busca o conhecimento sobre um assunto
pouco conhecido.

No que diz respeito aos objectivos a pesquisa é descritiva uma vez que busca descrever um
fenómeno ou situação em detalhe, especialmente o que está ocorrendo, permitindo abranger,
com exactidão, as características de um indivíduo, uma situação, ou um grupo, bem como
desvendar a relação entre os eventos (Severino, 2016).

6
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Conceitos Básicos

2.1.1. Administração Pública

Fazendo uma incursão sobre a literatura existente sobre a matéria, nota-se que não existe uma
definição única deste conceito, embora existindo convergência em alguns aspectos que
formam a base do conceito. Para sustentar esta afirmação, são trazidas neste trabalho algumas
definições que foram sendo produzidas por vários autores desta área da ciência e de
conhecimento.

Freitas do Amaral (2006), define a Administração Pública em sentido orgânico como sendo
“um sistema de órgãos, serviços e agentes do Estado bem como das demais pessoas colectivas
públicas, que asseguram em nome da colectividade a satisfação regular e continua das
necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar”

Segundo o mesmo autor, Administração Pública é a actividade típica dos serviços públicos e
agentes administrativos no interesse geral da colectividade, com vista a satisfação regular e
continua das necessidades colectivas de segurança, cultura e bem-estar, obtendo para o efeito
os recursos mais adequados e utilizando as formas mais convenientes”.

No entendimento do Governo de Moçambique e como definido no seu Plano Estratégico de


Desenvolvimento da Administração (PEDAP, também conhecido por ERDAP, 2011-2025 a
Administração Pública é “um conjunto de órgãos, serviços e funcionários e agentes do Estado,
bem como das demais pessoas colectivas públicas que asseguram a prestação de serviços
públicos ao cidadão” (MAE, 2011).

A Administração Pública é entendida num duplo sentido: sentido orgânico e sentido material.
No sentido orgânico, a administração pública é o sistema de órgãos, serviços e agentes do
Estado e de outras entidades públicas que visam a satisfação contínua das
necessidades colectivas.

No sentido material, a Administração Pública é a própria actividade desenvolvida por


aqueles órgãos, serviços e agentes do Estado. Em outras palavras, a Administração
Pública é dotada de poderes que se constituem em instrumentos de trabalho.

7
Em Moçambique, a administração pública, através dos respectivos serviços públicos é o
instrumento através do qual o estado materializa a vontade dos cidadãos. Com efeito, os
artigos 249 e 250 da CRM, e respectivos números, estabelecem que a administração pública
serve o interesse público e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos. Os seus órgãos obedecem à Constituição e à lei, e actuam com respeito pelos
princípios da igualdade, da imparcialidade, da ética e da justiça. Ainda, a administração
pública estrutura-se com base no princípio de descentralização e desconcentração,
promovendo a modernização e a eficiência dos seus serviços sem prejuízo da unidade de
acção e dos poderes de direcção do Governo.

Por seu turno, o Decreto no. 30/2001, de 15 de Outubro, define no seu artigos 5 e 6os
princípios de actuação dos serviços da administração pública, dos quais se pode destacar o
princípio da prossecução do interesse público e protecção dos direitos e interesses dos
cidadãos; e o princípio de justiça e de imparcialidade.

2.2. Evolução Histórica da Administração Pública Moçambicana

2.2.1. Primeiros Passos de Estabelecimento Da Administração Publica Em


Moçambique

Os portugueses chegam à o que é hoje Moçambique como consequência da expansão europeia


no século XV. Em 1498 uma embarcação liderada por Vasco Da Gama tendo desembarcado
no sul no rio Inharrime (Inhambane); no centro, no rio dos Bons Sinais (Quelimane) e no
norte, na Ilha de Moçambique. Do contacto obtido com os povos nativos e observado o
movimento comercial sobretudo a comercialização do ouro, seguiu-se a presença de
mercadores portugueses no terreno.

Estes mercadores fixam-se no séc. XVI numa primeira fase, em 1505 em Sofala e em 1507 na
Ilha de Moçambique. Como forma de criar postos de comércio e condições para a sua
protecção fundam as feitorias, em 1530 em cena, em 1537 em Tete e em 1544 em Quelimane.
Esses foram os primeiros passos de tendências para uma administração no que é hoje
Moçambique.

Com a separação administrativa de Moçambique da India portuguesa em 1752, foi


introduzido o municipalismo português em sete povoações nos anos de 1762 a 1764

8
nomeadamente: Inhambane, Sofala, Sena, Tete, Quelimane, Moçambique e Ibo. (Serra,
2000:23).

As disputas sobre África entre as potências imperialistas levou a realização da Conferência de


Berlim (15 de Novembro de 1884 a 26 de Fevereiro de 1885) o que veio a ditar a ocupação
efectiva de África tendo levado a sua partilha e posterior colonização.

Para Newitt (1997, p. 318, 321), a 28 de Maio de 1891, a Grã-Bretanha Portugal assinam um
tratado que alterava os termos anteriores sobre os limites fronteiriços. Assim emerge
Moçambique com as fronteiras e área que ostenta até hoje. Mas, até essa altura, 1891, a
Colónia de Moçambique que ficara cercada dentro de linhas de fronteiro fruto das
negociações acima referidas não apresentava quase nenhuma das características de um Estado
moderno. Faltava-lhe um sistema unificado de administração ou de direito, na sua grande
maioria não existia planeamento tinha muito pouco em matéria de rendimentos públicos ou de
infra-estruturas das comunicações e quase não possuía serviços mais elementares.

Dada a fraqueza financeira de Portugal para administrar um tão vasto território como
Moçambique, adoptou a política de portas abertas, que consistia na abertura ao capital
estrangeiro cedendo dois terços do território ao investimento estrangeiro os quais
administraram sob forma de companhias. Assim, a região que são agora as províncias de
Cabo Delgado e Niassa foram formalmente entregues em 1891 à administração da Companhia
do Niassa através de uma carta Majestática. (Serra, Opcit. Pag. 233).

O carácter majestático das companhias implicava a ostentação de muitos poderes ou até


mesmo uma certa autonomia em relação ao território podendo ter, para o caso das que
operaram em Moçambique, o poder de cunhar sua própria moeda, emitir selos e cobrar
impostos.

Portugal promulgou por duas vezes, em 1832 e em 1854, decretos que visavam pôr fim ao
sistema de Prazos no vale do Zambeze tendo estes na prática prevalecido e mais tarde
reestruturados, agora, agindo como estados militares. (idem, pag. 262/3). Foi neste espaço
onde a partir de 1892 se implantaram as companhias arrendatárias e subarrendatárias da
Zambézia, ao que corresponde as actuais Províncias de Tete e Zambézia.

Através do decreto, em especial, de 11 de Fevereiro de 1891 atribuem-se poderes majestáticos


para administrar e explorar uma área de 134.822 Km2, cobrindo as actuais Províncias de
Manica e Sofala à Companhia de Moçambique. Os direitos concedidos a esta Companhia

9
incluíam: o monopólio do comércio; o exclusivo das concessões mineiras e de pesca ao longo
da costa; colectar impostos e taxas; construir e explorar portos e vias de comunicação; o
privilégio de concessão a terceiros dos encargos daí derivados; privilégios bancários e postais
(incluindo a emissão de moedas e selos); o direito de transferência de terras a pessoas
individuais e colectivas. (ibidem, pag. 304)

Por seu turno, o governo português contentava-se com os 10% dos dividendos distribuídos e
7.5% dos lucros líquidos totais e a garantia de recuperação do território expirado o prazo da
concessão. (idem)

De todo o território moçambicano ficou sob administração directa de Portugal as actuais


Províncias de Nampula, Inhambane, Gaza e Maputo.

2.2.2. Administração Publica Colonial Portuguesa em Moçambique


A administração colonial contou com dois pilares fundamentais, sendo o primeiro a estrutura
colonial representada pelo Governador, Administrador e Chefe do Posto (cidadãos de origem
portuguesa), e o segundo a estrutura tradicional representada pela figura do Régulo ou mesmo
Regedor (moçambicano de gema). O segundo pilar era submisso em hierarquia ao primeiro
mas, ao nível da base mantinha-se e impunha-se segundo os usos e costumes da região
contando sobretudo com o braço estado – polícia, sipaio, cabo de terra, chicote, palmatória e
espingarda. Veja-se o seguinte trecho:

Segundo o artigo 96ᵒ. Da RAU, os regedores indígenas eram de sucessão hereditária, directa
ou colateral, segundo os usos e costumes locais, retendo o Governo o direito de escolher entre
os parentes mais próximos, quando o herdeiro não conviesse à administração. Não havendo
herdeiros, seria investido quem fosse escolhido pela população e aceite pelo Governo.In
Cabaço. Pag 75

Administrativamente a designação de Moçambique como parte de Império português variou


atendendo os contextos históricos de cada época. No período da ocupação efectiva, finais do
séc. XIX, olhando pela vanglória de ser detentor de um pedaço de terra em África o território
moçambicano era chamado de Colónia de Moçambique; nos anos de 1907 são desenvolvidas
reformas tendentes a uma descentralização da administração em relação as colónias o que leva
a designação de Província de Moçambique até 1930. Com o nacionalismo económico de
Salazar que tinha como fim último uma administração centralizada, adoptando uma política
de portas fechadas, Moçambique volta a designação de Colónia de Moçambique. Em virtude
10
do Pan – Africanismo acompanhado pela pressão internacional sobretudo a ONU e ao nível
de Africa com a proliferação na zona de movimentos nacionalistas, e como diz Mondlane
(1976: 38), Portugal começou a sentir necessidade de defender a sua posição colonial e inicia
negociações para ser admitido na ONU; mas, para tal teve de introduzir algumas alterações
para modernizar a estrutura das suas colónias, eis que em 1951 transformou as colónias em
Províncias Ultramarinas, tornando-as parte integrante de Portugal esperando evitar as decisões
da ONU relativas aos territórios sem governo próprio.

Por outro lado, procurava suavizar o termo para designar suas pretensões e portanto, substitui
o termo Colónia por Província passando Moçambique mais uma vez a designar-se de
Província de Moçambique (Província Ultramarina). E vai se alterando por tabela o nome do
Ministério que tutelava as colónias passando de: Ministério das colónias para Ministério do
Ultramar e, consequentemente o Ministro deixa de ser Ministro das Colónias para designar-se
por Ministro do Ultramar.

2.2.3. Moçambique Sob a Administração da Monarquia Portuguesa


A história Administrativa e Politica de Moçambique durante o período colonial, é vista por
Newitt (1997, p.344), como um diálogo entre tendências centralizadoras e descentralizadoras.

Os acontecimentos da década de 1890 haviam dado origem a fortes exigências de


descentralização administrativa e autonomia colonial e desenvolveu-se nas reformas de 1907.
(idem)

Nestas reformas Aires de Ornelas, Ministro da Marinha e do Ultramar, inspirado por António
Enes, faz publicar a Reforma Administrativa de Moçambique na qual se definiu a divisão
administrativa do território e a orgânica do quadro dos funcionários administrativos. (Cabaço,
2010, p.74)

A colónia era dirigida por um governador – geral e dividida em distritos em cada um dos
quais a autoridade era delegada a um governador de distrito. Os distritos por sua vez,
subdividiam-se em circunscrições que representavam a unidade principal da estrutura
administrativa. Estas assumiam as designações de conselhos se, na sua jurisdição vivessem
mais de 2000 “civilizados” realizavam-se eleições entre os residentes para uma Câmara
Municipal como a sede administrativa. O administrador era coadjuvado por um secretário que
o substituía no seu impedimento. O administrador desempenhava as funções de governo e
juiz. Depois vinha a figura do chefe do posto que prestava contas ao administrador, competia-
11
lhe: decidir sobre as vidas das populações; administrava a justiça, cobrava impostos,
controlava a movimentação das pessoas, procedia ao recenseamento da população, fiscalizava
e orientava o trabalho dos régulos, assegurava a manutenção de infra-estruturas, garantia os
serviços postais, supervisava os serviços de saúde de entre outros. Sempre acompanhado por
um intérprete e um grupo de sipaios. A área de cada posto administrativo englobava
regedorias ou regulados, sob a autoridade de um regedor, também designado por régulo.
(idem)

A administração pública nesse período foi dominada por funcionários recrutados, pelo menos
os mais categorizados, das forcas armadas como consequência de escassez de recursos
humanos qualificado para a burocracia.

2.2.4. Moçambique sob a Administração da Republica Portuguesa


Em 1910 foi deposta a Monarquia e instaurada a Republica. A alteração do regime político
em Portugal influenciou na administração pública tanto na metrópole, como nas suas colónias.

A Republica pretendia conceder mais autonomia às colónias e fortificar a autoridade


administrativa dos governos coloniais. Um ano após instauração da Republica, em 1911, foi
redigida uma constituição na qual o artigo 67ᵒ rezava o seguinte: “ Predominará, na
administração das províncias ultramarinas, o sistema de descentralização, como leis especiais
adequadas ao estado de civilização de cada uma delas”. No mesmo ano, 1911, foi criado em
Lisboa o Conselho Colonial que mais tarde passou a chamar-se de Conselho Ultramarino
eleito indirectamente por assembleias dos principais colonos nas províncias de ultramar com a
missão de aconselhar o Ministro e servir de tribunal judicial ouvindo os recursos contra a
administração (nota-se aqui, uma tentativa de diferenciar a administração da justiça). Em
1913 é elaborada a Lei Orgânica de Moçambique que procurava criar autonomia da Província
em matéria de definição de políticas mas, não funcionou devido a eclosão da I Guerra
Mundial no ano que se seguiu. (Newitt, 1997, p.347)

A constituição saída no contexto dos ventos de mudanças do regime político português em


1910,dissocia oficialmente a Igreja do Estado e retira os subsídios às missões católicas e em
1914 é publicado um novo código de trabalho.

A I Guerra Mundial ajudou Portugal a debelar alguns focos de resistência a ocupação colonial
sobretudo na região norte de Moçambique por exemplo, os Macondes do planalto de Mavia,
tendo ditado o controle de todo o território moçambicano e consequentemente na necessidade

12
de Portugal tornar a sua administração mais eficaz. Eis que, em 1919 são elaborados e
divulgados novos regulamentos sobre os prazos colocando-os sob alçada dos governadores
distritais e acabaram com a autonomia administrativa das companhias. Em 1920 cria-se um
novo regime colonial baseado na Carta Orgânica segundo a qual, o governo de Moçambique
ficava separado de Lisboa sendo autónomo e dirigido por um alto-comissário com categoria
de Ministro, “com poderes para controlar o seu próprio orçamento, contrair empréstimos e
administrar o país independentemente de Lisboa” (ibidem, pag. 374). Assim, Moçambique
conheceria também uma Assembleia Legislativa constituída por funcionários. Com tudo isso
pretendia-se fazer da colónia espécie de um estado unitário moderno baseado numa
administração local e responsável. (idem)

Há que referir que, todas as medidas divulgadas através de regimentos em relação a


autonomia das colónias quer na Monarquia, quer na Republica foram de todo apenas vontades
manifestas em teoria porque, na prática ou eram as companhias que detinham o monopólio de
actuação nos territórios a elas concedidas ou eram os bancos (como é o caso do Banco
Nacional do Ultramar), e o capital estrangeiro que controlava a economia nas zonas
reservadas a administração directa do governo.

2.2.5. Moçambique sob a Administração do Estado Novo


Em 1926 um grupo de Generais portugueses liderou um golpe de estado que derrubou o
governo que instituíra a primeira República em Portugal. Olhando para as dificuldades
financeiras que o país enfrentava, convidou para o Governo o Professor de Economia da
Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar para ajudar na resolução em especial
dos problemas das finanças de Portugal. Em 1930 Salazar ascende ao cargo de Primeiro-
Ministro e com ajuda de Marcelo Caetano elabora uma nova constituição.

No que tocava a administração em Moçambique diz Newitt, que Salazar e Caetano olhavam
como o símbolo de tudo o que existia de errado na primeira Republica: caos administrativo,
falta de políticas económicas e financeiras coerentes, inflação e uma moeda sem valor,
domínio estrangeiro, fraqueza e humilhação internacional. A visão de Salazar era de ter uma
sociedade assente nos princípios católicos da autoridade e da família (tendências de voltar a
unir o Estado a Igreja); da probidade financeira e da moeda forte; do progresso económico
planeado alcançado sobretudo com os recursos internos; da neutralidade firme da
independência nacional; e de uma missão civilizadora em África afirmada na sua forma
clássica na nova Constituição aprovada para Moçambique em 1933. (Cfr. Pag. 391)
13
Por todos os aspectos constatados como maus na visão de Salazar, a sua resolução passava
por operação de profundas reformas na administração do império português. Portanto, são
avançados para o efeito, em 1930, dois principais instrumentos, o Acto Colonial e a Carta
Orgânica ( que tinham em essência o nacionalismo económico de Salazar).

Segundo Hedges (199: 42), os dois documentos marcaram o fim da autonomia formal da
Província de Moçambique, que passou a designar-se de Colónia. Centralizaram-se os poderes
legislativos e financeiros nas mãos do Ministro das Colonias.

Em 1933, foi publicada a Reforma administrativa do Ultramar (RAU), na qual se determinava


que a administração local ficaria sujeita ao mandato efectivo de Lisboa. É introduzida pela
primeira vez um regime de Inspecções administrativas com vista a verificar o nível de
cumprimento dos regulamentos vigentes. (idem). Portanto, estava-se diante de uma
administração centralizada quer em termos formais/teóricos, quer em termos práticos.

Os acontecimentos que sucederam a II Guerra Mundial sobretudo a emergência de


movimentos nacionalistas em Africa, como exemplificou Modlane (1976:38), a explosão em
1961 da insurreição armada em Angola permitiu a alguns liberais do Governo português
aumentar as sua influencias e fazer passar as suas ideias reformistas que foram expressas na
nova Lei Orgânica do Ultramar de 1963 e, já em 1961 ter-se-ia abolido o estatuto de indígena
passando todos a estatuto de cidadão português (em teoria).

A nova Lei Orgânica do Ultramar de 1963 alargou (em teoria), a representatividade nas
Províncias Ultramarinas; permitiu uma extensão do sistema municipal, em que os
funcionários locais são eleitos pelos habitantes da zona. Abria também a possibilidade de
participar nas eleições legislativas em Lisboa. Mas é preciso saber que havia uma cláusula que
impedia a participação dessas eleições a população africana. (ibidem. Pag. 39).

Com a revolução dos Cravos que culminou com o golpe de Estado a 25 de Abril de 1974 em
Portugal, seguiu-se a um novo Governo comprometido com o restabelecimento de direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos na Constituição. Herdeira de uma guerra contra a
FRELIMO assina a 7 de Setembro de 1974 um Acordo de Cessar-fogo em Lusaka e se cria
um Governo de transição que preparava a transferência do poder politico e com ele todas
outras formas de poder ao povo moçambicano. E em 25 de Junho de 1975 Moçambique
proclama a sua Independência (Total e Completa), e rompe com a administração portuguesa.

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2.2.6. Administração Pública Em Moçambique Após Independência
O Estado moçambicano nasce da proclamação da independência em 25 de Junho de 1975 e,
para melhor compreensão da sua evolução vale a pena dividir em três momentos
designadamente: a Primeira Republica, a Segunda Republica e a Terceira Republica.

A Primeira Republica, inaugura-se com a proclamação da independência em 1975 e é


anunciada como Republica Popular de Moçambique pela Constituição de 1975 e vai até 1986
com a morte de Samora Machel.

Segundo Rocha (2001, p.81), a Constituição de 75 definia em princípios gerais a


subordinação da política do Estado à FRELIMO e impunha o sistema de partido único. O
terceiro Congresso da FRELIMO realizado em Fevereiro de 1977 definiu a linha Marxista –
Leninista do Governo moçambicano e determinava que Moçambique seria um país Socialista.

Na base disso cria-se um Aparelho de Estado centralmente planificado que sobrevivia a


múltiplas adversidades desde os recursos materiais aos humanos. O que levou ao chamamento
dos jovens ainda a frequentar a escola a integrar no aparelho de Estado, os chamados Jovens
de 8 de Março, como também, a precipitação na formação de moçambicanos no exterior
sobretudo nos países socialistas.

Na hierarquia governativa estava no topo o Presidente da Republica; ao nível central: os


Ministros; ao nível da base: os Governadores Provinciais, os Administradores Distritais, os
Chefes dos Postos Administrativos e Chefes das Localidades.

A ideia do Homem novo levou a tendências de reestruturação social, Freyre (apud. Cabaço,
2010:284), refere que esperava-se com essa ideia a desestruturação das principais referências
tradicionais (ritos, símbolos, relações de parentesco, hierarquia linhageira, etc). Adicionados a
outros factores estratégicos para a defesa da independência as autoridades tradicionais, os
régulos, foram excluídos da administração pública. Este Governo era suportado por um
Conselho de Ministros constituído por quinze ministérios e o presidente da República era o
Chefe do Governo. Fizeram parte dessa República os seguintes ministérios: Ministério do
Estado na Presidência; Ministério da Defesa Nacional; Ministério do Interior; Ministério do
Desenvolvimento e Planificação Económica; Ministério dos Negócios Estrangeiros;
Ministério da Justiça; Ministério da Informação; Ministério da Educação e Cultura; Ministério
da Indústria e Comércio; Ministério da Agricultura; Ministério das Finanças; Ministério do

15
Trabalho; Ministério dos Transportes e Comunicações; Ministério da Saúde e Ministério das
Obras Públicas e Habitação.

A Segunda República é inaugurada com o Presidente Joaquim Alberto Chissano, vai até 1992,
ano da assinatura dos Acordos de Paz de Roma. A Republica foi marcada pela alteração da
Constituição em 1990 que, operou profundas mundanas na administração pública. A
passagem do sistema socialista para o capitalista arrastava consigo a saída do mono
partidarismo para multipartidarismo. Nascia assim, um Estado de Direito assente na divisão
tripartida de poderes (Executivo, Legislativo e Judicial), cria condições para a transformação,
em 1995, da Assembleia Popular para Assembleia da Republica como também o princípio da
descentralização que através de Leis avulso, em 1998 manifestou-se nas autarquias locais
(vulgos Municípios).

A Terceira Republica começa em 1994 com a realização das primeiras Eleições Geraisatravés
de voto directo e secreto. Destacaram-se como avanços na administração a existência de três
Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário com os seus respectivos presidentes; a nova
Constituição de 2004 que aprofundou a descentralização e desconcentração do poder tendo
ditado por via de Leis avulso a alteração dos Conselhos Executivos para Governos Distritais
em tabela as secretarias Distritais e a figura do Secretario Permanente; criação de novos
Distritos e reconhecimento das Autoridades Tradicionais; actualização do Regulamento do
Estatuto do Funcionário e Agente do Estado; informatização do património do Estado,
implementação do E-Sistaf e E-folio; de entre outras reformas no sector publico.

2.3. A Administração Pública moçambicana a Luz da Constituição de 90

A revisão da Constituição teve um marco importante, com a sua aprovação em 30 de


Novembro de 1990 o que terá trazido várias modificações no seio da Administração Pública,
porque foi nesse período em que o sistema de economia centralmente planificado conheceu os
seus últimos momentos, marcando nova era do pluralismo político e da economia do mercado
em Moçambique.

Após as primeiras eleições gerais e multipartidárias em 1994, o Governo saído vencedor


(Frelimo) deu iniciam ao processo de reconstrução nacional, face as consequências funestas
trazidas pela guerra civil que durou dezasseis anos, daí que as eleições multipartidárias
trouxeram uma mudança política significativa no contexto da democratização em
Moçambique, dando uma efectiva implantação de um Estado de Direito.
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2.4. Administração Pública em Moçambique à luz da Constituição de 2004
A Constituição da República de Moçambique de 2004, passou a ser constituído pelo Conselho
de Ministros, da qual o Presidente da República é quem preside, seguido do Primeiro-Ministro
e outros Ministros. No entanto podem ser convocados para participar em reuniões do
Conselho de Ministros os Vice-Ministros e os Secretários de Estado e que na sua actuação, o
Conselho de Ministros observa as decisões do Presidente da República e as deliberações da
Assembleia da República.

Das tarefas encarregues ao conselho de Ministros destacam-se:

 Assegurar a Administração do País;


 Garantir a integridade territorial;
 Velar pela Ordem Pública, Segurança e estabilidade dos cidadãos;
 Promover o desenvolvimento económico e social;
 Desenvolver e consolidar a legalidade e realizar a política externa do país.

Em suma a Administração Pública a luz da Constituição de 2004, tem em primazia servir os


interesses públicos e na sua actuação respeita os direitos e liberdades fundamentais dos
cidadãos. Igualmente os órgãos da Administração Pública obedecem à Constituição e à lei,
baseando pelos princípios de igualdade, imparcialidade, ética e justiça patente no art. 249 da
Constituição da Republica de Moçambique.

2.4.1. Traços da Constituição da República de Moçambique de 2004


A Administração Pública estrutura-se com base no princípio de descentralização e
desconcentração, promovendo a modernização e a eficiência dos serviços;

Promove a simplificação de procedimentos administrativos e a aproximação dos serviços


públicos aos cidadãos, art. 250 da CRM, coadjuvado com o Decreto nº 30/2001 de 15 de
Outubro que aprova as Normas de Funcionamento dos Serviços da Administração Pública
estabelecendo os princípios da actuação da Administração Pública, Principio da legalidade,
Principio da prossecução do interesse público e protecção dos direitos e interesses dos
cidadãos.

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2.5. Órgãos Locais do Estado
Os órgãos locais do Estado conforme citam artigos 262, 263 e 264 da Constituição da
República de Moçambique, têm como função à representação do Estado ao nível local para a
Administração e o Desenvolvimento do respectivo Território e contribuem para a integração e
unidade nacional. No seu funcionamento, os órgãos locais do Estado, promovem a utilização
dos recursos disponíveis e garantem a participação activa dos cidadãos e incentivam a
iniciativa local na solução dos problemas das comunidades, respeitando na sua actuação as
atribuições, competências e autonomia das autarquias locais e a realização de tarefas e
programas económicos, culturais e sociais de interesse local e nacional, observando o
estabelecido na Constituição, deliberações da Assembleia da República, do Conselho de
Ministros e dos órgãos do Estado do escalão superior.

Para assegurar a participação das comunidades na definição das prioridades das Acções de
Desenvolvimento Económico Local, foi instituído um fundo de investimento de iniciativa
local, que é gerido pelos Governos Distritais, cuja utilização é concertada pelo Governo
Distrital com os Conselhos Consultivos Locais, que estão em funcionamento nos Distritos,
Postos Administrativos e Localidades.

Uma administração pública voltada para o cidadão, com melhoria da qualidade dos
serviços públicos e o aperfeiçoamento das respostas administrativas oferecidas à
sociedade

A Agenda 2025 é categórica ao considerar que “as instituições devem ser estruturadas para
que a mudança de titulares de órgãos governamentais não crie rupturas nem impeçam a
prossecução de políticas, projectos e acções em curso”, e advoga a favor da promoção da
“cultura de Estado e despersonalização das instituições públicas”

A não definição clara do papel do sector público em relação ao sector privado e à sociedade
civil, designadamente no que respeita às definições de políticas públicas, à regulamentação e
regulação das relações na sociedade, bem como à resolução de conflitos decorrentes do seu
próprio funcionamento. A institucionalização incompleta das responsabilidades e dos
mecanismos e formas de participação das organizações e representantes da sociedade civil,
designadamente das comunidades locam, bem como do sector privado na gestão de questões
de interesse público. A tendência de as organizações do sector público realizarem ainda

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algumas funções, para além da sua vocação principal e do que seria o seu papel num Estado
orientado para as funções necessárias de promoção, regulamentação, garantia de equidade e
protecção dos direitos de cidadania e da ordem pública e a falta, insuficiência ou deficiência
na definição das missões, objectivos e funções das organizações do sector público, com
maior gravidade no que se refere aos escalões de níveis inferiores e uma dimensão
inadequada do sector público, face à natureza e escala dos serviços a serem prestados, da
escassez dos recursos do Estado e do critério de sustentabilidade dos serviços públicos,
permite-nos elencar os seguintes desafios da administração pública em Moçambique:

2.5.1. Racionalização e Descentralização de Estruturas e Procedimentos de Prestação


de Serviços

Nesta componente, a Análise Funcional e Reestruturação dos Ministérios é a principal


actividade. Este exercício, permitirá aos ministérios reflectirem sobre a sua missão e
objectivos estratégicos, suas funções e estruturas que melhor possam permitir o cumprimento
da finalidade e razão da sua existência, e sobre o destino a dar às funções actualmente
existentes: se serão mantidas a nível central ou provincial, se serão abolidas, privatizadas ou
transferidas para outros sectores incluindo agências ou ONG´s. A Análise Funcional é uma
oportunidade para os ministérios alocarem funções e recursos de forma mais efectiva em prol
da criação de uma capacidade maior de resposta às demandas da sociedade. Ocorrendo isto, a
reforma terá um impacto económico evidente, porque permitirá ao Estado criar as condições
necessárias para que os agentes económicos tenham as suas iniciativas implementadas, de
forma eficiente e eficaz.

Por outro lado, a privatização e/ou contratação de algumas funções do Estado abre espaço a
uma maior competitividade na prestação de serviços públicos, com fortes possibilidades de
melhoria de sua qualidade e criação de novas formas de rendimento. Ademais, a redução do
tempo de resposta bem como da burocracia no funcionamento do sector público e
particularmente no licenciamento das actividades económicas, previstas sob esta componente
e já em curso, são medidas que estimularão consideravelmente os investimentos tanto internos
como externos, com um impacto positivo na economia.

A Estratégia Global da Reforma do Sector Público é um programa do Governo integrando


todas as reformas em curso nos ministérios e governos provinciais. Com esta nova
abordagem, as mudanças que vinham sendo sectoriais e isoladas passam a ser integradas e

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interdependentes, com uma única direcção, visando a melhoria da prestação de serviços
públicos ao cidadão e o desenvolvimento de um ambiente favorável ao crescimento do sector
privado.

Para o alcance desses objectivos, estão previstas mudanças profundas na gestão e capacitação
dos recursos humanos, nas estruturas e procedimentos de prestação de serviços, no processo
de gestão de políticas públicas e na programação orçamental e gestão financeira. Estas
reformas contribuirão consideravelmente para a promoção da boa governação e combate à
corrupção, ao aumentar a capacidade de resposta do sector público às demandas dos cidadãos,
através da criação de mecanismos de prestação de contas e transparência e pela redução de
oportunidades de acesso ilícito aos recursos públicos. A ocasião faz o ladrão. É preciso
reduzir senão eliminar os espaços para a corrupção.

2.5.2. Formulação e Monitoria de Políticas Públicas


A melhoria do processo de gestão de políticas públicas é um dos objectivos pretendidos com a
Análise Funcional e Reestruturação dos Ministérios. A melhoria da capacidade de
formulação, implementação e monitoria de políticas públicas contribuirá consideravelmente
para o crescimento económico, porque permitirá dar resposta adequada das demandas
existentes na sociedade. No caso da economia, o sector público terá a capacidade para intervir
onde a sua presença se revele necessária para estimular o desenvolvimento, e terá uma função
mais regulatórias onde haja perigo de ocorrência de disfunções do mercado e de
desequilíbrios na interacção entre os agentes económicos. Os processos participativos,
previstos na nova lei dos órgãos locais do Estado, serão um insumo necessário a este tipo de
intervenção dos poderes públicos, na perspectiva de acomodar institucionalmente a
governação participativa no nosso país. Um exemplo de suma importância que está a ser
implementado neste sentido é o “Observatório do PARPA”, através do qual o Governo
ausculta a sociedade e incorpora contribuições que visam melhorar os métodos de trabalho na
formulação e monitoria de políticas públicas. Por outro lado, estão previstos, no âmbito da Lei
dos Órgãos Locais do Estado Fóruns Consultivos aos vários níveis como um mecanismo de
consulta periódico entre o Governo e a sociedade, na promoção da governação participativa e
ampliação da democracia.

2.5.3. Profissionalização dos Funcionários do Sector Público


A melhoria da qualificação dos recursos humanos é fundamental para o sucesso da Análise
Funcional, porque é o garante de que as novas estruturas a serem criadas serão competente e
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adequadamente geridas. Por outro lado, no âmbito do desenvolvimento dos recursos humanos
está prevista a adopção de uma nova política salarial, que ligará a remuneração ao
desempenho e/ou gestão por resultados. Este elemento irá introduzir uma maior
competitividade pelos recursos humanos qualificados entre o sector público e o sector
privado, e reduzirá, em certa medida, a crónica fuga de quadros do primeiro para o segundo.
Como resultado global, o país tenderá a ter um padrão comum de qualificação dos recursos
humanos tanto no sector público como no privado, que pelos incentivos existentes tenderão a
ser, pelos menos nas funções estratégicas, de um nível alto. A economia poderá se beneficiar
disso com a tendência a uma busca constante de maior qualificação pelos que pretendem
entrar no mercado de trabalho. Este aspecto de formação e desenvolvimento de recursos
humanos nacionais tecnicamente qualificados é que reduzirá drasticamente o eterno
argumento de contratação de mão-de-obra estrangeira preterindo-se a nacional. Por isso é que
a nossa primeira aposta para o sucesso da reforma está na formação e treinamento profissional
porque é um dado adquirido que “a qualidade e riqueza de um País depende dos seus
recursos humanos”.

Um instrumento importante aprovado pelo Governo e em processo de implementação é o


Sistema de Formação em Administração Pública (SIFAP), que já é uma realidade no País.
Trata-se de um programa compreensivo de treinamento e formação profissional incorporando
métodos formais e não formais de educação, incluindo o ensino modular e à distância. No
presente o SIFAP é implementado e coordenado através de três Institutos de Formação
Pública e Autárquica (IFAPAs) existentes em Lichinga (para servir as províncias da zona
norte), na Beira (para as províncias da zona centro), e na Matola (para as províncias da zona
sul. Também se encontra já em actividade o Instituto Superior de Administração (ISAP), uma
instituição de cariz vocacional de ensino superior destinado a coordenar cursos formais,
cursos de pequena duração e investigação aplicada sobre a administração pública em
Moçambique.

2.5.4. Gestão Financeira e Prestação de Contas


Por tradição a gestão financeira nos países em via de desenvolvimento é reconhecidamente
um dos aspectos mais críticos do sector público. No entanto, a má gestão financeira, além de
abrandar a capacidade do Estado na provisão de serviços públicos e de sustento do seu próprio
funcionamento, incorpora em si o fantasma dos défices públicos, cujas formas de
financiamento quase sempre se revelam nefastas para a economia nacional, o que pode dilatar

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as taxa de juros, sendo uma das consequências decorrente a retracção de investimentos,
aumento do desemprego e queda da economia, problema este já identificado em Moçambique
e que as autoridades governamentais têm vindo a envidar esforços, para impugnar o cenário
no quadro da sua governação.

A aprovação da Lei da Administração Financeira do Estado e a sua regulamentação, bem


como as reformas tributárias em curso, são elementos da Reforma que contribuirão
consideravelmente para a melhoria do quadro fiscal.

Em suma, uma maior responsabilidade fiscal terá um efeito positivo na economia, porque
eliminará alguns dos elementos que podem prejudicar os esforços de desenvolvimento
económico. No entanto, torna-se necessário aprofundar de forma participativa o tipo de
reforma fiscal que não asfixie o desenvolvimento do sector empresarial nas grandes e médias
empresas e muito menos prejudicar a emergência e desenvolvimento dos pequenos
empreendedores.

2.5.5. Boa Governação e Combate à Corrupção


O fenómeno da corrupção é outra face da moeda que assola o sector público e tem custos
económicos elevados, porque contribui para a retracção dos investimentos, pois, consiste no
uso ilícito dos recursos públicos para fins particulares. No âmbito do sector público ela
floresce com a falta de transparência, burocracia excessiva, procedimentos de estruturas
demasiadas e complexas.

No entanto, no âmbito do sector público ela floresce onde há falta de transparência, excessiva
burocracia, procedimentos e estruturas demasiado complexas. Por essa razão, o combate à
corrupção decorre naturalmente das mudanças positivas que forem operadas nas estruturas e
procedimentos de prestação de serviços, na profissionalização da Administração Pública, e
modernização na gestão e desenvolvimento de recursos humanos, na gestão de políticas
públicas e na gestão financeira e melhoria de mecanismos de prestação de contas.

Portanto, o combate à corrupção, é parte integrante da Reforma porque cada componente da


Estratégia Global da Reforma do Sector Público contribui na redução de oportunidades de
acesso ilícito aos recursos públicos. Ao se melhorar o funcionamento dos elementos acima
indicados, reduz-se o espaço para práticas ilícitas. Desta forma, o combate à corrupção
estimula o desenvolvimento económico porque reduz os custos de transacção dos agentes
económicos e promove o ambiente para uma efectiva boa governação.

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3. Conclusão
O país a cada dia que passa novos desafios se revelam urgindo a necessidade de satisfaze-
los, por vezes as soluções dependem da maquina administrativa que nem esta sempre a
altura do desafio. Pelo que, é importante inovar sempre e, na medida do possível actualizar
os regulamentos com vista as situações a curto, médio e longo prazo.

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4. Bibliografia

Cabaço, J. L. (2010). Moçambique Identidades, Colonialismo e Libertação, Marimbique,


Maputo.

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1961, Vl 2, 2 ͣ Edição, Livraria Universitária, Maputo.

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Newitt, M. (1997). História de Moçambique, Publicação Europa – América, Portugal, 1997

Rocha, A. (2001). Moçambique Historia e Cultura, Textos Editores, Moçambique.

Serra, C. (2000). História de Moçambique: Primeiras Sociedades Sedentárias e Impacto dos


Mercadores (200/300-1885), Agressão Imperialista, 1886-1930,Vl 1, Livraria
Universitária, Maputo.

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