Jose Guida Neto
Jose Guida Neto
Jose Guida Neto
PUC-SP
DOUTORADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
DOUTORADO EM DIREITO
SÃO PAULO
2012
Banca Examinadora
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“A filosofia, hoje, não passa de um abuso
da palavra. É preciso retornar ao
sentimento de Sócrates e ao de Sêneca,
quando ao falar dos gramáticos, dos
geômatros e dos físicos, diziam: é
preciso ver se todos estes homens nos
ensinam a virtude ou não; se ensinam,
são filósofos.”
Abade Dinouart
This thesis seeks to demonstrate how, in the Principate (High Roman Empire -
the classic period from 27 BC to 284 AD), Stoic philosophy, absorbed by the
sovereign of Rome, influenced the Roman law. As a guiding principle, we use
the work of the jurist Ulpian in particular its “Liber Singularis Regularum” and the
Title I of Book I from the “Digesta” of the Justinian I the Great, emperor of
Easten Roman Empire. The history of the Principate is presented, preceded by
the reasons that led to the end of the Republic, and gave rise this kind of
Roman monarchy. After the presention of the history of the period, there is an
explanation of Stoic thought, with emphasis on the last phase of this ancient
school of philosophy, precisely the one that coincides with the Principate, and
represents the pinnacle of Latin philosophical thought. Once the history of the
period is presented together with the history of philosophy, then it is shown how
classical Roman law absorbed these ideas that were found in legal texts of the
jurist Ulpian. Completing the thesis, there is an explanation on how Ulpian’s
philosophy of justice was transmitted by means of the consolidation of Emperor
Justinian "Corpus Juris Civilis" , thereby contributing to the formation of the
Western civilization and, consequently, becoming the basis of Brazilian law.
SUMÁRIO
Introdução
......................................................................................12
CONCLUSÃO
................................................................................................ 173
REFERÊNCIAS
................................................................................................. 178
ANEXO:
Fragmentos das Regras de Ulpiano e seus equivalentes na
Legislação Civil Brasileira hodierna
................................................................................................ 188
12
INTRODUÇÃO
1
Ensaio de Michel Lind - escritor membro da New Americ Foundation, em Washington
publicado no jornal Folha de São Paulo, em 8 de outubro de 2000, no encarte Caderno Mais.
13
4
Diarquia (do gr. dúo 'dois' e archía 'governo'), forma de governo em que o poder é exercido
simultaneamente por dois chefes de Estado. Termo cunhado pelo historiador alemão
Theodor Mommsen (LELLO, 1954, p. 748).
15
5
Augusto (do latim augustus),que inspira veneração.
6
O estocismo da era clássica é a terceira última escola do estoicismo antigo.
16
Podemos citar Cícero (n. 106 a.C., m. 43 a.C.), Séneca (n. 2 d.C.,
m.66 d.C.), Epiteto ( n. 50 d.C., m. 130 d.C. ) e o Imperador Marco Aurélio (n.
121 d.C., m. 181 d.C. – reinou de 161 a 180 d. C.), entre os célebres romanos
fortemente influenciados pelos estóicos. Marco Aurélio enrijeceu a nova moral
pagã, acrescentando a ela seu próprio ódio ao prazer (ARIÈS, 2000, p. 215-
274).
Pode-se dizer que o estoicismo influenciou o Direito Clássico na
mesma medida em que a patrística influiu no Direito Pós-clássico.
Estudar a influência do estoicismo no conceito do Direito Natural
no período clássico, para melhor entendê-lo na atualidade, é o principal motivo
da escolha do tema em questão. Afinal, nos primeiros séculos da nossa era, o
estoicismo mudou o poder imperial, criando uma inevitável integração, ao
mesmo tempo em que gerava concorrência, entre o pensamento filosófico e os
princípios do direito.
O que se pretende com este estudo, é demonstrar como - no
Período Clássico - o pensamento estóico afetou o poder imperial e como essa
influência transformou o Direito e possibilitou a formulação do Direito Natural.
O objetivo desta pesquisa é analisar filosoficamente a origem da
concepção de Jus Naturale por meio de textos filosóficos de Cícero, Sêneca,
Epiteto e Marco Aurélio e textos jurídicos de Ulpiano. Outra meta aqui buscada
é a identificação do estoicismo com a naturalis ratio dos antigos, os direitos que
compunham o Direito Natural e a sua relação com a moral e com a religião.
O estoicismo demonstra como os conceitos de liberdade e justiça
são universais e devem estar em harmonia com a natureza. De acordo com as
leis naturais, tais conceitos chegam a ser confundidos com justiça divina, pois
são atemporais e existem desde sempre, dando a impressão de que foram
criados antes da criação do mundo. Este trabalho contribui originalmente com
a ciência jurídica brasileira, pois, ao buscar as raízes estóicas do Direito
Natural entre os romanos, critica a sociedade moderna positivista, que se
distanciou do objetivo primeiro do Direito, que é a busca pela justiça.
Esta pesquisa considera-se mais que uma retrospectiva científica,
ou um inventário do patrimônio jurídico antigo, ao procurar fazer um balanço
atual das instituições e das técnicas que nos foram legadas e que, em alguns
casos, foram relegadas a segundo plano.
17
O patriciado era formado por membros das gentes romanas que eram
um agrupamento de famílias situado num território tendo um chefe
(pater, de pai em latim, daí patrícios). Os membros das gentes eram
chamados gentiles, tinham instituições e costumes próprios e julgavam
descender de um antepassado, lendário e imemorial, do qual recebiam
o nome gentilício, que, portanto era comum a todos os gentiles. Na
realeza, somente os patrícios gozavam de todos os direitos civis e
políticos (ALVES, 2007, p. 09).
7
Magistratura - Dignidade, função do magistrado (do latim magistratus, derivado de magister
"mestre"), que era investido de autoridade por exercer cargo público de poder (LELLO, 1954,
p. 134). Os magistrados foram chamados pretores (prætores) em tempo de guerra (præ-itor,
aquele que vai à frente e guia o exército) e juízes (iudices) em tempo de paz (CANFORA,
2002, p.484). As características fundamentais das magistraturas republicanas são: a
temporariedade, a colegialidade, gratuidade e a irresponsabilidade (ALVES, 2007, p. 09).
8
Lúcio Júnio Bruto e Lúcio Tarquínio Colatino (CANFORA, 2002, p. 484).
20
9
Cônsul - em Roma era o magistrado supremo. Tal magistratura foi estabelecida em 509 a.C
por proposta de Lúcio Júnio Bruto (que foi o primeiro cônsul juntamente com Lúcio Tarquínio
Colatino). O consulado era uma diarquia sempre exercido por dois cônsules, justamente por
ter sido uma reação à monarquia (CANFORA, 2002, p. 484).
10
Senado (do latim senatus, de senior: mais antigo, mais velho, ancião) - durante a realeza era
o conselho do rei composto pelos chefes das famílias mais importantes. A partir de 509 a.C,
com a implantação da república, aumenta a importância do Senado. No começo, eram
escolhidos pelos reis e, com o advento da república, pelos cônsules e, mais tarde, pelos
censores que eram os mais altos dos magistrados (CANFORA, 2002, p. 492). Na república, o
Senado se torna o verdadeiro centro do governo (ALVES,2007, p. 18). Os componentes do
segundo triunvirato usurparam dos censores essa faculdade (ALVES, 2007, p. 19). Durante o
principado, o Senado manteve-se, aparentemente, em posição de destaque. Na realidade,
porém, sua atividade foi inspirada e orientada pelo príncipe (ALVES,2007, p. 34).
21
11
Tribuno da Plebe - os tribunos são representantes (chefes) das tribus. O tribunato da plebe
foi criado, segundo a tradição em 493/494 a.C, quando se verificou a primeira secessão da
plebe. Na origem, eram em número de cinco, depois dez em (já em 449 a.C); não eram
magistrados porque não podiam consultar os auspícios (CANFORA, 2002, p. 493). Entre as
atribuições do tribuno estava a cobrança de tributos a que estavam submetidas as tribos
romanas. A tribo (do latim tribus) é um aglomerado de famílias sob a autoridade de um chefe
que viviam na mesma região e provêm de um tronco ancestral comum, originalmente eram
três, chegando a trinta e cinco (LELLO, 1954, p.1.069). O povo romano dividia-se em tribos
(chefiadas por um tribuno) e cúrias (chefiadas por um curião). Cada tribo compunha-se de
dez cúrias (divisões locais constituídas de certo número de gentes qua aí tinham
domicílio)(ALVES,2007, p. 09).
22
12
Jeira, unidade de medida romana, cada jeira equivaleria a cerca de 2.500 m2 (VARRO, texto
digital).
23
13
Senatos-consultos: senatus consultum est quod senatus jubet atque constituit (senato-
consulto é aquilo que o senado manda e constitui...) (Gai. 1.2,4) (GAIUS, 2004, p. 38). Eram
as decisões, resoluções e acordos do Senado romano que regulavam assuntos de direito
público (ROLIM, 2000, p. 62). Na república, os senatos-consultos eram deliberações do
Senado, dirigidas somente aos magistrados (MARKY, 1995, p. 18).
14
SENATVSCONSVLTVM VLTIMVM: Trata-se de uma medida com a qual o Senado
reconhecia uma situação de maior gravidade na política interna do Estado e decidia confiar
aos cônsules a defesa dele, concedendo-lhes o direito de eliminar quem quer que fosse
causa da perturbação da ordem (CANFORA, 2002, p.493).
24
a.C15.
Cina era partidário e aliado de Mario e tornou-se seu sucessor
entre os populares depois da morte deste. Cornélia Cinila, filha de Cina, foi a
segunda esposa de Júlio César, sobrinho da esposa de Mário (LELLO, 1954, p.
556)
15
Devido aos quatro consulados consecutivos Cina foi também chamado tirano (CORNELL;
MATTHEWS, 2005, p. 63). .
26
16
Ditador: do latim dictador - o que dita a lei, era na república romana um magistrado
extraordinário, detentor de plenos poderes, exercendo autoridade absoluta (imperium)
durante no máximo seis meses. Tal cargo era preenchido somente em condições
excepcionais durante graves crises políticas, militares ou econômicas. Era escolhido por um
dos cônsules em exercício durante a noite e, em seguida, aprovado pelo senado, que emitia
um senatus consultum para autorizar a nomeação. Tal título, instituído em 501 a.C., era
originalmente magister populi - senhor do povo. Acima da hierarquia da política republicana,
o ditador, isento de responsabilidade, fazia tudo quanto julgasse contribuir para o bem
político. Não era um cargo colegiado, dado ser único e, portanto, sem colega (LELLO, 1954,
p. 556).
27
escrupuloso na maneira de obter lucros. Fora o homem mais rico dos romanos
e, por isso, tornara-se uma potência política (MOMMSEN, 1962, p. 212).
Uma coisa é certa que tinham em comum: os três eram igual e
absolutamente ambiciosos. Trabalharam sinergeticamente por certo tempo
para conseguir controlar o governo, mas concorriam na busca do apoio da
plebe, fazendo promessas extravagantes na tentativa de aniquilarem-se
reciprocamente.
Os vinte anos seguintes (79-59 a.C.) representaram, na história
da República Romana, a última fase de crise antes do surgimento de César
(JAGUARIBE, 2001, p. 380).
que chegou a ter noventa mil homens, com o qual assolou a Itália
meridional, derrotando várias legiões e abrindo caminho para a Gália
Cisalpina, onde esperava dispersar seus seguidores, que, no entanto,
preferiram continuar saqueando a Itália. Espártaco forçou seu caminho
de volta para o Sul, planejando invadir a Sicília. (JAGUARIBE, 2001, p.
380).
17
É dessa ocasião a imortal frase atribuída a Pompeu: “Navegar é preciso, viver não é preciso”
(NAVIGARE NECESSE EST, VIVERE NON EST NECESSE). Sua origem está em A Vida de
Pompeu (50,2), de Plutarco. Pompeu, que precisava levar a Roma o trigo colhido nas
províncias, exorta a zarpar num momento de tormenta e vento impetuoso, em que os
marinheiros hesitam. Essa sentença, portanto, já em Plutarco, não equivale a uma simples
declaração de amor pela navegação, mas uma exortação à coragem e a abnegação pela
pátria (TOSI, 2000, p. 558).
31
19
Júlio César pretendia ser descendente do herói troiano Enéias filho da deusa Vênus. Enéias,
sobrevivente da guerra de Tróia, teria aportado na Itália e seus descendentes fundariam
Roma. Tanto Virgílio na Eneida (Æneis), quanto Tito Lívio na História de Roma (Ab Urbe
Condita Libri) atestam a origem divina de Enéias. Em Virgílio: “Entretanto o piedoso Enéias
[...] avança brandindo na mão duas lanças de largo ferro. Vênus, sua mãe, a ele se
apresentou saindo do bosque, [...] (VIRGÍLIO MARÃO, 1994, P. 25); e em Lívio: [...] seu
chefe era Enéias, filho de Anquises e de Vênus, que fugiram de sua pátria incendiada e
procuravam um local para se estabelecerem e fundar uma cidade [...] (LÍVIO, 1989, v. 1, p.
22).
20
Júlio César igualmente pretendia ser descendente dos primeiros reis de Roma. Rômulo, co-
fundador da cidade e seu primeiro rei, era da linhagem de Enéias por sua mãe, uma virgem
sacerdotisa vestal, que teria engravidado do deus Marte. Tanto Virgílio na Eneida (Æneis),
33
quanto Tito Lívio na História de Roma (Ab Urbe Condita Libri) atestam a filiação de Rômulo;
Em Virgílio: “Lá, durante três vezes cem anos, reinará a raça de Heitor, até que Ília, rainha e
sacerdotisa, fecundada por Marte, der à luz os gêmeos. Depois Rômulo, orgulhoso com a
fulva pele da loba, sua ama, receberá a nação e construirá os muros de Marte, e dará seu
nome aos romanos (VIRGÍLIO MARÃO, 1994, P. 25); e em Lívio: “Vítima de violação a vestal
deu à luz dois gêmeos e, fosse por boa-fé, fosse para enobrecer sua falta atribuindo-a a um
deus, responsabilizou Marte como autor daquela paternidade suspeita” (LÍVIO, 1989, v. 1, p.
25).
21
QUÆSTOR - durante o período real, os quæstores eram encarregados de algumas causas
criminais. Em 509 a.C, os quæstores tornaram-se magistrados públicos e foram ainda
encarregdos da administração do tesouro (CANFORA, 2002, p. 491).
22
PRÆSTOR - nos primeiros tempos da república, o pretor era o cônsul em armas. A partir de
367, ele passou a ser um magistrado encarregado de exercer em Roma exclusivamente a
jurisdição civil (prætor urbanus); a esse pretor veio juntar-se, em 241 a.C., o prætor
peregrinus, encarregado dos litígios junto aos estrangeiros ou entre estrangeiros e cidadãos
(CANFORA, 2002, p. 490).
34
23
Os ÆDILES CURALES eram membros do patriciado cujas funções eram exercidas na
vigilância dos mercados, em atividades de política urbana, na cura annonæ (abastecimento
da cidade de Roma), na preparação dos jogos, no cuidado dos arquivos (CANFORA, 2002,
p.484).
24
Pontífice Maximo (PONTIFEX MAXIMVS) - é o mais alto grau sacerdotal. Representava
todas as divindades reconhecidas pelo Estado, era superior a todos os outros sacerdotes
(CANFORA, 2002, p.489).
35
César alcança a ditadura depois que morre Crasso, mas não sem
antes enfrentar o outro ex-triunviro Pompeu, dito Magno.
25
Tradução livre do autor para: […] he had absolutely no authority to bring troops across it, the
significance of his action was plain. He had committed himself to civil war[…].
39
dito a famosa frase “O dado está lançado” (ALEA IACTA EST)26 e, com esse
ato, iniciou a guerra civil que sepultaria a República.
Tal atitude arriscada e inesperada de César surpreendeu a todos
e pegou seus inimigos desprevinidos. Confusos e inseguros, Pompeu e muitos
dos senadores preferiram fugir a enfrentar César de imediato, com ilusória
expectativa de que, ganhando tempo, poderiam estruturar um contra-ataque.
O mesmo temor que Aníbal levara a Roma, depois da batalha de
Canas, César disseminou ao atravessar o Rubicão. Pompeu,
desnorteado, não viu, nos primeiros momentos da guerra, outro partido
a tomar senão o que resta nos casos desesperados: soube apenas
ceder e fugir; saiu de Roma, ali deixando o tesouro público; não
conseguiu retardar o vencedor em lugar nenhum; abandonou uma
parte de suas tropas, a Itália inteira, e cruzou o mar (MONTESQUIEU,
2002, p.86).
26
ALEA IACTA EST- O dado está lançado. Essa frase é muito célebre, sendo citada com
frequência - inclusive em suas traduções nas várias línguas europeias - para dizer que, numa
situação de grave perigo, já se tomou a decisão sobre o que fazer e não é mais possível
voltar atrás. Segundo Suetônio (Vida de César), ela foi realmente pronunciada por Júlio
César em 10/11 de janeiro de 49 a.C., no momento em que atravessou o Rubicão, rio da
Romanha que marcava as fronteiras da Itália e que, portanto, nenhum comandante poderia
atravessar armado sem se tornar, automaticamente, inimigo de Roma: esse ato foi indicado
como início da guerra civil contra Pompeu. Essa frase é, na realidade, a tradução de uma
expressão proverbial grega, atribuída a César por Plutarco (Vida de César; Vida de Pompeu,
Apotegmas de Reis e Comandantes ) (TOSI, 2000, p. 725).
40
27
“Miles nocere in facie!” - Soldado, fere no rosto! - tinha gritado Cezar aos seus veteranos,
vendo os brilhantes cavalheiros do exército de Pompeu. Esses jovens patrícios, espantados,
puseram-se em fuga para não serem desfigurados pelas lanças dos legionários, e Cezar
ficou senhor do campo de batalha (CAMPOS, 1889, p. 35).
28
Plutarco (45 d.C/125 d.C), autor do período greco-romano, foi um filósofo e prosador,
historiador e moralista grego nascido na Queroneia. Teria escrito mais de 200 livros, entre
biografias e estudos nas mais diversas áreas, muitos dos quais se perderam (LELLO, 1954,
p. 570).
41
29
Caio Suetônio Tranquilo (69/141 d.C) foi um escritor e historiador escritor latino que viveu na
corte do imperador Adriano. (LELLO, 1954, p. 952).
30
O mesmo cronista romano acrescenta: dos seus amores, constavam também rainhas, entre
as quais Eunoé, da Mauritânia, mulher de Boguda. (SUETÔNIO, 2002, p. 59). Numa outra
passagem também de Suetônio o historiador vai mais além dizendo que César era um
sedutor inescrupuloso nestes termos: “[...] E porque ninguém duvidava do quanto ele era
infame na sodomia e no adultério, Cúrio pai chamou-lhe num de seus discursos, ‘o marido de
todas as mulheres e a mulher de todos os homens’.” (SUETÔNIO, 2002, p. 60).
43
31
VENI, VIDI, VICI - Vim, vi, venci. Esse lema, ainda de uso comum para indicar uma ação
rápida, tempestiva e eficaz, é de Caio Júlio César: Plutarco, de fato, informa-nos que, em 47
45
Chegando à Ásia, César soube que Domício, batido por Fárnaces, filho
de Mitrídates, fugira do Ponto com um punhado de soldados; que
Fárnaces, continuando vigorosamente seus triunfos, se apodera da
Bitínia e da Capadócia e se prepara para invadir a pequena Armênia,
na qual provocara a rebelião de todos os reis e dos tetrarcas. César
marcha contra Fárnaces com três legiões, travando com ele uma
grande batalha, perto da cidade de Zela; destroça todo seu exército e o
repele do Ponto. Para fazer notar a rapidez nunca vista de sua vitória,
César escreveu a Amâncio, um de seus amigos de Roma, estas três
palavras somente: “Vim, vi, venci”. Em latim, as três palavras têm a
mesma desinência, o que dá à concisão um caráter ainda mais
surpreendente (PLUTARCO, 1958, p. 163)
a.C, depois da vitória de Zela sobre Fárnaces II, ele comunicou a notícia a Roma, confiando a
um mensageiro chamado Mácio uma mensagem lapidar e formalmente cativante. Essa
tradição também se reflete em Dion Cássio e em Apiano, enquanto Suetônio informa que,
durante o triunfo ocorrido na mesma campanha, o general mandou carregar um cartaz com a
inscrição para mostrar como a sua execução era fulminante (TOSI, 2000, p. 436).
46
fora anual. Foi nomeado Cônsul para o ano seguinte (PLUTARCO, 1958, p.
163).
Embora a cidade se encontrasse em completa desordem, não
pode ficar muito tempo, porque alguns homens favoráveis a Pompeu haviam se
refugiado na corte do rei Juba, na Numídia (MORILLON, 2004, p. 93).
Então, César se empreende novas e necessárias campanhas
militares contra os ainda remanescentes partidários de Pompeu, que não viam
com bons olhos sua Monarquia e defendiam a República. Primeiramente na
África, onde a resistência era liderada por Catão, o Jovem, e Metelo Cipião e,
posteriormente, na Espanha contra os filhos de Pompeu.
No final de 47 a.C, partiu para a África, venceu os republicanos
em Tapso e saqueou a província. Os sobreviventes, entre eles os dois filhos de
Pompeu, fugiram para a Espanha (CORNELL; MATTHEWS, 2005, p. 71).
O novo monarca de Roma, o primeiro chefe de toda a civilização
romano-helênica, César, tinha cinquenta e seis anos “[...] quando a batalha de
Tapso pôs em suas mãos o destino do mundo” (MOMMSEN, 1962, p. 294).
Quando voltou a Roma, o vencedor recebeu poderes e honras sem
precedentes. Ele foi nomeado ditador por dez anos. O Senado mandou
inscrever seu nome no frontão do Templo de Júpiter Capitolino e
colocar uma estátua de César em cima de um globo, no santuário, com
a inscrição: “Para César, o semideus” (MORILLON, 2004, p. 96)
foram igualmente encantadoras; mas, antes de terminar o ano, César teve que
partir para a Espanha, onde os filhos de Pompeu tramavam contra ele. Essa
nova guerra na Espanha foi longa e, durante a ausência de César, entra em
vigor o novo calendário Romano, que ele importara de Alexandria33.
Finalmente, os partidários republicanos fracassaram no campo de
Munda; o jovem Cneu Pompeu morreu (CORNELL; MATTHEWS, 2005, p. 71).
As cidades da Espanha submeteram-se uma depois da outra, foram obrigadas
a pagar tributos pesados e entregar seus tesouros (MORILLON, 2004, p. 107).
Depois da vitória de Munda, o Senado organizou novas festas em
honra do ditador. César recebeu o título de imperator34, “[...], podendo transmiti-
lo ao seu herdeiro, o direito de cunhar muedas com sua efígie, e o título de Pai
da Pátria”35 (MORILLON, 2004, p. 113).
Durante os últimos anos da vida do grande ditador, houve muitas
aparentes contradições. Foi dito que não desejava nada quanto ser rei,
ainda que tenha recusado esta possibilidade em vários momentos.
Marco Antônio, seu partidário incondicional, apresentou-lhe a coroa
três vezes e pediu que se tornasse monarca, César recusou a
coroação, declarando que “Só Júpiter é rei” (BENCHLEY, 2007, p. 61).
33
A civilização universal deve a Júlio César o calendário de 365 dias, introduzido em 1º. de
janeiro de 45 a.C. (CORNELL; MATTHEWS, 2005, p. 71). Auxiliado pelos melhores
especialistas, especialmente pelo astrônomo Sosígenes, César substituiu o ano lunar de 355
dias pelo ano solar de 365 dias e um quarto. Ao acrescentar um dia extra a cada quatro
anos, este calendário estava muito mais de acordo com a realidade do que o anterior
(MORILLON, 2004, p. 104).
34
IMPERATOR - título conferido por aclamação dos soldados ao seu chefe general vitorioso
(magistrado dotado de imperium). Além do exército, o Senado também podia aclamar o
imperator. IMPERIVM - direito de comando superior, militar e jurisdicional (habitualmente
contraposto à potetestas). O imperium reside no povo, mas é exercido pelo magistrado sobre
os cidadãos. Os magistrados que têm imperium têm todos os direitos dos que têm potestas e
mais: a) o direito de consultar os auspícios; b) o direito de recrutar e comandar exércitos e de
nomear oficiais; c) o direito de julgar no âmbito militar e civil; d) o direito de coerção; o direito
de convocar o povo para comícios. Os símbolos do imperium são os feixes e os litores
(CANFORA, 2002, p.488).
35
Pai da Pátria: título honorífico dado a um cidadão que salvou a pátria de um perigo
(MORILLON, 2004, p.113).
49
36
Lupercais - Festas anuais, celebradas a 15 de fevereiro em Roma, em honra a Luperco (Pã);
era uma festa grosseira onde se pedia a fertilidade das jovens. Banhados em sangue de uma
cabra ou de um cão imolados, depois lavados em leite, os lupercos nus, com uma pele de
bode nos ombros, corriam pela cidade, batendo na multidão com tiras de couro (LELLO,
1954, p. 109).
50
37
TV QVOQVE, BRUTE, FILI MI? - Essa conhecidíssima frase, símbolo de uma traição muito
grave e inesperada, teria sido pronunciada por Júlio César antes de tombar sob os golpes
dos conjurados. Com efeito, Suetônio e Dion Cássio afirmam ser falsa a informação dada por
alguns de que ele, reconhecendo o filho Brutus entre os conjurados, tivesse bradado: “até tu,
filho?” (costuma-se dizer que Brutus era filho adotivo de César, mas talvez Suetônio acredite
ter sido ele realmente filho de César, de vez que nessa mesma obra faz digressões sobre os
amores deste com Servília, mãe de Brutus) (TOSI, 2000, p. 128).
51
38
Tradução livre do autor: No princípio Roma foi governada por reis. Lucius Brutus estabeleceu
a liberdade e o consulado. As ditaduras foram mantidas em tempos de crise. O poder dos
decênviros não durou mais de dois anos, tampouco a jurisdição consular dos tribunos
militares foi de longa duração. Os despotismos de Cina e Sila foram breves; as forças de
Pompeu e Crasso logo se renderam perante César; e os exércitos de Lépido e Antônio diante
de Augusto; que, com o cansaço pela guerra civil, sujeitou o império sob o título de príncipe.
Tradução de J.L. Freire de Carvalho: Foi monárquico o primeiro governo de Roma. L. Bruto
lhe deu depois a liberdade, e os cônsules. A ditadura era temporária: a autoridade decenviral
nunca passava de dois anos: e o poder consular dos tribunos militares teve pouca duração.
Nem foi longo o domínio de Cina e Sila: e as forças de Pompeu e Crasso brevemente
cederam à superioridade de César; bem como as de António e Lépido, à fortuna de Augusto;
o qual achando os ânimos cansados com as discórdias civis, tomou posse do império com o
título de príncipe (TACITUS, 1950, p. 3).
39
Tácito (Cornelius Tacitus) - Historiador romano. Admite-se que tenha nascido de boa família,
entre 55 e 56 da nossa era. Seu falecimento parece ter ocorrido no ano 120. Autor de várias
obras historiográficas sendo as principais Historie (Histórias) e Ab excessu divi Augusti
(Desde a morte do divino Augusto), obra inacabada que a tradição chamou de Annales
(Anais) (TACITUS, 1950, p. V).
53
feitos de César e de suas glórias será reclamada e usurpada por muitos até a
nossa era. As consequências imediatas foram a guerra civil e o Principado, e
as consequências históricas desdobram-se até hoje.
1.2.1.1 - O Cesarismo
40
AVT CÆSAR AUT NIHIL-Trata-se de um lema de César Bógia, que obviamente tira partido
da igualdade do nome de batismo com a palavra que significa imperador (TOSI, 2000, p.
992).
57
Guerreiro, ou ainda, o Papa Terrível, seu pontificado durou dez anos, de 1503
até 1513 e ele, que já nascera Juliano, como Papa adota o nome Júlio II.
No final do século XVI, William Shakespeare, o maior autor de
língua inglesa, tido por muitos como o mais influente dramaturgo da história,
faz de Júlio César o protagonista de uma de suas peças: A Tragédia de Júlio
César (The Tragedy of Julius Cæsar), mais conhecida simplesmente como
Júlio César (Julius Cæsar).
Como já se pontuou, Júlio César fora Pontifex Maximus e,
posteriormente a ele, todos os imperadores romanos mantiveram esse título
religioso, mesmo os imperadores cristãos desde Constantino Magno. Foi
somente o Imperador Graciano, que, no século IV, não se considerando digno
desse ofício por acreditar que seria uma blasfêmia exercê-lo, recusou-se à
função que entendia como idolatria pagã. A partir de 378, o Papa de então, São
Damaso I, adotou o título de Pontífice, que fora de César. Hodiernamente, na
lista oficial dos títulos do Papa, expressa no Anuário Pontifício publicado pela
Santa Sede em Roma, consta, entre outros títulos papais, Sumo Pontífice da
Igreja Universal.
Após essa breve digressão sobre mais de dois mil anos de
herança cesarista, fica fácil perceber o quão iludidos estavam os republicanos
que acreditaram que bastava assassinar o ditador para restaurar a República.
Como se fosse uma tarefa possível matar um imortal e ressuscitar o cadáver
da República. Esses conservadores não imaginaram nem mesmo a reação
adversa que se seguiu imediatamente. Eles se consideravam heróis e
paladinos da ética romana ancestral. O que eles não puderam perceber, no
calor dos fatos, é o que tão bem o ganhador do prêmio Nobel Theodor
Mommsen41, na obra História de Roma, descreve dois milênios depois:
Tal era esse homem único que parece tão fácil e que, no entanto, é tão
difícil de descrever. Sua natureza toda é de uma clareza transparente,
e a tradição conservou-nos sobre ele pormenores mais abundantes e
mais vivos do que sobre qualquer herói do mundo antigo. A idéia que
podemos fazer de tal homem pode variar, será talvez mais ou menos
oca ou profunda, mas não pode sofrer diferença sensível; para
qualquer espírito não totalmente pervertido, sua grande figura
apresenta-se com os mesmos traços essenciais, e, no entanto,
ninguém conseguiu torná-la viva. O segredo está justamente nessa
perfeição. [...] César é o homem inteiro e perfeito (MOMMSEN, 1962,
p. 301). Trabalhou e criou como jamais outro mortal o fez, e, como
41
Theodor Mommsen (1817-1903), historiador e filosofo alemão, Renovou, pelos seus estudos
de epigrafia o estudo do mundo latino e de sua antiguidade (LELLO, 1954, p. 270)
58
42
Tradução livre do autor para o original: In view of Octavian’s youth and inexperience, Anthony
at first did not view him as a threat. But it soon became clear that Octavian was succeeding in
his attempt to displace Anthony as leader of Caesar’s friends and supporters, especially
among the city populace and the veterans (BOATWRIGHT, 2004, p. 270).
61
autoridade era princips, Primeiro Cidadão do Estado. Por essa razão, seu
governo e de seus sucessores leva o nome de Principado (BURNS, 1959, p.
224). A palava Príncipe, o primeiro cidadão, possuía um sentido bastante vago
e, assim, não provocava os melindres dos republicanos impertinentes que
ainda sonhavam com a volta dos velhos tempos (GIORDANI, 2002, p. 61).
Segundo Tácito, em Anais (III. LVI):
Esse era o título que Augusto imaginara para designar o poder
supremo, não querendo tomar o nome de rei ou ditador, mas
procurando unicamente, debaixo de qualquer denominação que fosse,
apossar-se da autoridade soberana (TACITUS, 1950, p. 140).
43
A palavra auctoritas é derivada do verbo augere, “aumentar”, e aquilo que a autoridade ou os
da posse dela constantemernte aumentam é a fundação. Aqueles que eram dotados de
autoridade eram os anciãos, o Senado ou os patres, os quais a obtinham por descendência e
transmissão (tradição) daqueles que haviam lançado as fundações de todas as coisas
futuras, os antepassados chamados pelos romanos de maiores. [...] A autoridade em
contraposição ao poder (potestas), tinha suas raízes no passado (ARENDT, 2007, p. 163).
68
por fim, aqueles que consolidaram o cognome César como um título, pois
jamais foram adotados pelos julianos, são eles da dinastia Flaviana -
Vespasiano, Tito Flávio e Domiciano.
Entre esses imperadores, que governaram Roma no primeiro
século, encontram-se alguns brilhantes e preparados, outros desimportantes,
outros ainda celerados. Todavia, Augusto deixara uma herança robusta e o
Principado se consolidou e, a despeito da falta de lustro de alguns desses
líderes, esse período histórico preparou a era que se segue, quando, depois da
morte de Domiciano no ano de 96, o Império Romano viveu seus dias mais
faustosos.
44
Agripina Minor ou Agripina a jovem, bisneta de Augusto, irmã de Calígula, Imperatriz
consorte de Cláudio e mãe de Nero (LELLO, 1954, p. 74).
70
45
Agripina Maior, mãe de Calígula, era filha de Agripa e Júlia, deste modo neta de Augusto.
Casou com Germânico, neto de Lívia, por Druso, seu filho, irmão de Tibério. Germânico e
neto também de Marco Antônio e Otávia, por Antônia, filha destes, esposa de Druso (LELLO,
1954, p. 74).
71
46
Caio Cilino Mecenas (60 a.C. - 8 d.C.), estadista romano, amigo, ministro e conselheiro de
Augusto. Generoso patrocinador das artes, protegeu muitos dos mais célebres expoentes da
literatura latina, entre os quais Horácio, Virilio, Propércio, Tito Lívioe Ovídio. Seu nome
próprio tornou-se substantivo comum que, na maioria dos idiomas ocidentais modernos,é
sinônimo de financiador das artes (LELLO, 1954, p. 197).
47
Marco Vispânio Agripa (63 a.C. - 12 d.C.), general e almirante romano que liderou as vitórias
navais de Augusto contra Sexto Pompeu, na Sicília, e Marco Antonio, em Ácio. Era amigo de
Otávio e foi seu genro durante o casamento com Júlia, filha deste. Agripina, sua filha, é,
portanto, neta de Augusto e foi a mãe de Calígula (LELLO, 1954, p. 74).
72
48
Escribônia, matrona patrícia, muito mais velha que Otávio foi sua esposa, casou-se com ele
graças a alianças políticas. Escribônia era descendente direta de Sila e de Pompeu
(CURCHIN, texto digital). A única filha de Otávio, Júlia, fruto de seu casamento com sua
segunda esposa, Escribônia, foi célebre por sua beleza e pelos seus costumes desregrados;
casou três vezes sucessivamente com: Marcelo, seu primo (filho de Marco Antônio e Otávia);
Agripa (general amigo de seu pai) e Tibério (filho de Lívia e seu irmão adotivo). Sua má
conduta moral e seus notórios casos de adultério e orgias causaram-lhe a condenação pelas
leis promulgadas pelo próprio pai e, por isso, foi exilada.Júlia teve cinco filhos com Agripa,
sendo três homens e duas mulheres. Com Tibério, teve um filho homem. Os filhos varões de
Júlia morreram antes de seu avô Augusto
73
49
Ver notas 44, 45, 47 e 48.
75
50
Guarda Pretoriana: Criada por Augusto e dissolvida por Constantino, Magno, no século IV,
era um corpo de elite do exército romano cuja função era proteger o imperador (LELLO,
1954, p. 1.170).
76
51
Edward Gibbon (1737-1794): historiador e membro do parlamento inglês, do espírito do
iluminismo autor de A História do Declínio e Queda do Império Romano (The History of the
Decline and Fall of the Roman Empire) (GIBBON, 1978, p. V).
81
52
No original: If a man were called to fix the period in the history of the world, during which the
condition of the human race was most happy and prosperous, he would, without hesitation,
name that which elapsed from the death of Domitian to the accession of Commodus. The vast
extent of the Roman empire was governed by absolute power, under the guidance of virtue
and wisdom. The armies were restrained by the firm but gentle hand of four successive
emperors, whose characters and authority commanded involuntary respect. The forms of the
civil administration were carefully preserved by Nerva, Trajan, Hadrian, and the Antonines,
who delighted in the image of liberty, and were pleased with considering themselves as the
accountable ministers of the laws. Such princes deserved the honor of restoring the republic,
had the Romans of their days been capable of enjoying a rational freedom (GIBBON, 1978, p.
32).
53
Léon Pol Homo (1872-1957): historiador francês, do espírito do iluminismo autor de O Século
de Ouro do Império Romano (Le siècle d'or de l'empire romain. Les Antonins (96-192 ap. J.C)
(GIORDANI, 2002, p. 386).
82
54
Pausânias, geógrafo e historiador grego do século II, autor de Itinerário da Grécia (Periegesis
Hellados), obra composta por dez livros, é a melhor fonte em que os arqueólogos podem
procurar os locais de monumentos da antiguidade clássica.
85
Sétimo Severo (BOVO, 2006c, p. 14). Avito Bassiano preferia ser chamado de
Elagábalo.
Elagábalo (218-222) era sacerdote do deus dos montes (El
Gabal) em Emesa, na Síria (GIORDANI, 2002, p. 74). Ele rejeita as pompas
imperiais e quer ser chamado de Elagábalo, adotando o nome oriental do deus
que venera (BOVO, 2006c, p. 14). Seu período foi marcado pelos maiores
escândalos, o luxo mais insensato, voluptuosidades que envergonhariam o
próprio Nero (FRÓES, 2004, p. 90).
O imperador era um invertido sexual (JAGUARIBE, 2001, p. 401).
Efeminado, costumava vestir-se com roupas femininas e era chamado de
Domina –Senhora - ou Imperatrix - Imperatriz (FRÓES, 2004, p. 90). Durante
seu reinado, Ulpiano foi banido.
Uma das principais preocupações do novo imperador foi impor a
todo o Império o culto de sua divindade. A introdução dos ritos e costumes
orientais provocou forte repulsa em Roma (GIORDANI, 2002, p. 74). Os
próprios soldados passam a odiar esse imperador que entregava a
administração, efetivamente, ao filho de um cozinheiro, ou ao cocheiro de um
circo (FRÓES, 2004, p. 90).
Os soldados sublevaram-se e, em 222, Elagábalo foi morto. Seu
primo Alexandre Severo foi aclamado imperador aos quatorze anos
(GIORDANI, 2002, p. 74).
Alexandre Severo (222-235) foi imperador sob a direção de sua
mãe Júlia Memea e de sua avó Júlia Mesa, que procuravam desenvolver no
príncipe as viurtudes, rodeando-o de hábeis conselheiros, como os
jurisconsultos Paulo e Ulpiano (FRÓES, 2004, p. 90). Nos treze anos de
governo de Alexandre foi preponderante a atuação de sua avó e de sua mãe
(GIORDANI, 2002, p. 74).
Como foi visto, o governo de Elagábalo foi um desastre, e sua
avó Júlia Mesa não podia se permitir falhar novamente ao articular o governo
de seu neto mais jovem Alexandre, sob pena de por em desgraça sua casa
real. Por isso, ela e Júlia Memea mãe do novo imperador, têm o cuidado de
cercar o jovem governante de sábios conselheiros e tutores. As matronas da
dinastia Severa, ao escolherem Ulpiano como conselheiro direto de Alexandre
e alçá-lo a chefe dos pretorianos, repetem a estratégia de Agripina mãe de
90
55
Apolônio, orador, filósofo e taumaturgo grego néo-pitagórico do primeiro século, oriundo de
Tiana na província romana da Capadócia na Ásia Menor. Foi comparado a Jesus Cristo por
paleocristãos (LELLO, 1954, p. 183).
56
Ver nota 3.
91
Zenão não era cidadão ateniense e, como tal, não tinha direito de
adquirir um edifício; por este motivo dava suas lições num pórtico que
fora pintado pelo célebre Polignoto60. Em grego, pórtico se diz stoa, e
por esta razão a nova escola teve, justamente, o nome de stoa ou
57
A época helenística é nome dado ao período que se segue às conquistas de Alexandre
Magno das terras do Mediterrâneo oriental e da Ásia até a Índia. A era do helenismo
estende-se até a expansão imperial romana e é frequentemente considerada um período de
transição, declínio e decadência entre o brilho da Grécia Clássica e o poder do Império
Romano (LELLO, 1954, p. 1200).
58
Ágora (do grego γορ, assembleia) é um termo que, na Antiga Grécia, designava a principal
praça pública das cidades (LELLO, 1954, p. 44).
59
Acrópole (do grego κρόπολις, cidade alta) era uma cidadela, na parte central das cidades
gregas, localizada na região mais elevada do relevo (LELLO, 1954, p. 70).
60
Polignoto é um renomado pintor grego do século V a.C. Nascido na ilha de Tasos, foi levado
para Atenas graças ao seu excelente trabalho. Em Atenas, teve seu valor reconhecido e lhe
foi concedida a cidadania ateniense. É citado por inúmeros autores da antiguidade, inclusive
por Aristóteles, que elogiava o valor moral de sua obra (LELLO, 1954, p. 579).
96
61
Logos (palavra; discurso, gr.) - Na filosofia de Platão, Deus como fonte das ideias. Por
extensão, para os estoicos, significa também razão. Para a escola dos neoplatônicos, um dos
aspectos da Divindade. Na teologia cristã, o Verbo de Deus, segunda pessoa da Trindade
(LELLO, 1954, p. 90).
99
O sábio não erra nunca, porque não possui opinião, mas ciência. O
sábio faz tudo bem o que faz, porque o faz com reto logos, com justo
espírito. O sábio é grande, robusto, altivo e forte. Grande enquanto
pode conseguir coisas que escolhe e se propõe; robusto, enquanto se
100
62
Apatia [Do gr. apatheia] - estado de insensibilidade, de quem não é suscetível a nenhuma
emoção. Filosoficamente, estado em que a alma se torna insensível às paixões e à dor; para
os estoicos, estado de insensibilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos,
alcançado mediante o alargamento da compreensão filosófica. Etimologicamente: gr.
apátheia 'insensibilidade, calma estoica, apatia', através do lat. apathía; composto de a(n)
dito privativo, negativo, do grego, + patia do grego páthé, és estado passivo, sofrimento, mal,
doença, dor, aflição (HOUAISS, texto digital).
63
Eudaimonia (gr. eudaimon, feliz composta de (eu) bem disposto e (daimon) que tem um
poder divino) - Teoria moral fundada na ideia da felicidade concebida como bem supremo
(LELLO, 1954, p. 936).
101
verdade, ele já nasce com uma vocação cosmopolita, pois seus primeiros
filósofos, apesar de ensinarem em Atenas, são estrangeiros.
Os estudiosos já esclareceram suficientemente que na história do
Pórtico é necessário distinguir três períodos: o período do antigo
pórtico, que vai do final do século IV a todo século III a.C, no qual a
filosofia do Pórtico é gradativamente desenvolvida e sistematizada por
64
obra da grande tríade de escolarcas : Zenão, Cleanto e, sobretudo,
Crísipo. (REALE, 2011, p. 15).
Zenão de Cício (c. 332 a.C. - 262 a.C.), que foi o fundador da
escola estoica, era de origem fenícia, nasceu em Chipre, na cidade de Cício -
atual Lanarca (BOMBASSARO; PAVIANI; ZUGNO, 2003, p. 160). A ilha de
Chipre, naqueles tempos, era um importante entreposto comercial que ligava o
Mediterrâneo ocidental e oriental (LELLO, 1954, p.1215).
Em 312/311 a.C., chegou em Atenas, proveniente da ilha de Chipre,
um jovem de raça semítica, com intenção de tomar contato direto com
as fontes da cultura helênica e dedicar-se inteiramente à filosofia. Era
Zenão, o homem que deveria fundar a que, talvez, tenha sido a maior
das escolas da era helenística (REALE, 2011, p. 261).
64
Escolarca (gr. σχολάρχης, skholárkhês) - Diretor superintendente de escolas de filosofia na
Grécia Antiga (LELLO, 1954, p. 570).
65
Demétrio de Magnésia - escritor grego contemporâneo a Cícero (SMITH, 2005, p. 704).
66
Crátes de Tebas (c.368 a.C. - c. 288 a.C.) - filósofo grego helenístico da escola cínica. Ele
era originário de Tebas, foi discípulo de Diógenes de Sínope (LELLO, 1954, p. 655).
67
Pólemon de Atenas (c.340 a.C. - c. 273 a.C.) - filósofo grego helenístico, sucedeu Xenócrates
na direção da Academia de Platão (LELLO, 1954, p. 577).
103
68
Perípato, que em grego quer dizer passeio, refere-se ao sistema de Aristóteles, pois, em seu
Liceu, ensinava e refletia enquanto caminhava (LELLO, 1954, p. 518).
69
Diógenes de Sínope, também chamado Diógenes, o Cínico (Sinope c. 413 a.C. - Corinto c.
327 a.C.) - filósofo grego e o mais célebre representante da escola cínica (LELLO, 1954, p.
758).
70
Xenócrates (c.406 a.C. - c. 314 a.C.) - filósofo grego nascido na Calcedônia; discípulo de
Platão, cujas doutrinas se esforçou por conciliar com o pitagorismo. Foi escolarca da
Academia de Platão (LELLO, 1954, p. 1205).
71
Diógenes Laércio (180-240) foi um historiador grego que viveu no Império Romano na época
do Principado. Autor de uma biografia dos filósofos antigos “Vidas e doutrinas dos filósofos
ilustres”, que é uma composição sem crítica, mas na qual se fornecem preciosos
ensinamentos e citações úteis sobre as principais doutrinas da Antiguidade, sendo assim
essencial para o estudo da filosofia grega. (LELLO, 1954, p. 758).
104
72
O Hino a Zeus não chegou completo até nós, como já se pontuou, no entanto o trecho aqui
transcrito - extraído de CHAUÍ (2010, p. 112-113) - não contém todos os versos conhecidos,
mas somente aqueles que enfatizam e sintetizam os dogmas estoicos.
107
Crísipo foi o mais sábio e mais fecundo dos estoicos. Ele deu a
doutrina desta escola a sua forma histórica. Depois dele, o estoicismo
se espalhou por todo Hélade73. Foi provavelmente Crísipo que dividiu o
sistema estoico em três partes: a lógica, a física ou ciências naturais, a
moralidade ou ética74 (PENA, 1989, p. 23).
73
Hélade - nome primitivo e original da Grécia (LELLO, 1954, p. 1200).
74
Tradução livre do autor para o original em francês: “Chrysippe fut lui le plus savant et le plus
fécond des stoïciens. Il a donné à la doctrine de cette école sa forme historique. Áprès lui, le
stoïcisme se propagea à travers l'Hellade. C'est probablement Chrysippe qui a divisé le
système stoïcien en trois parties: la Logique, la Physique ou la Science Naturelle, la Morale
ou Ethique”.
108
75
Diógenes da Babilônia (c. 240 a.C. - c. 150 a.C.), também conhecido como Diógenes de
Selêucia, nasceu em Selêucia do Tigre, na Mesopotâmia, então Babilônia. Foi escolarca do
Pórtico sucedendo Crísipo. Preferivelmente chamado de Diógenes da Babilônia, para que
não se confunda com os homônimos, os já citados Diógenes de Sínope e Diógenes Laércio,
e ainda com o seu contemporâneo e conterrâneo o filósofo epicurista igualmente
denominado Diógenes de Selêucia (SMITH, 2005, p. 722).
76
Públio Cornélio Cipião Emiliano Africano, dito o Jovem, ou o Africano Menor (Publius
Cornelius Scipio Æmilianus Africanus) nasceu em 185 a.C e morreu em 129 a.C.; era neto de
109
139 a.C. (REALE, 2011, p. 109). O contato de Panécio com Cipião e seu grupo
é um momento intenso e catártico para ambos. A partir de então, Panécio,
admirado e entusiasmado com a cultura romana, retoma questões relativas à
ética e à política, guiando o estoicismo por um caminho que leva à comunhão
com a moral romana (CHAUÍ, 2010, p. 178).
Em contrapartida, graças a Cipião e seus convivas, o pensamente
estoico floresce na sociedade romana. Em torno de Cipião se reunia um grupo
de amigos da política e das artes para promover atividades de interesses
literários, filosóficos e culturais, em geral com orientação helenística. Esse
grupo exerceu uma influência notável no desenvolvimento da filosofia e da
cultura latina.
O grêmio de amigos, conhecido como Círculo de Cipião77, jamais
foi uma organização formal. Seus integrantes tinham uma visão cultural comum
que se caracterizava por uma grande abertura aos valores do mundo grego. A
influência inovadora do grupo causou impacto na cultura romana, então ainda
fortemente conservadora e ligada aos rígidos ditames da arcaica e
tradicionalista moral dos seus ancestrais. Destaca-se, nesse âmbito, a
afirmação no mundo romano do conceito dos humanistas gregos, ou seja, a
Cipião o Africano (militar que liderara o exército Romano na Batalha de Zama em 202 a.C,
derrotando o general cartaginês Aníbal). Cipião Emiliano recebeu uma educação esmerada e
jamais perdeu uma oportunidade de aumentar sua vasta cultura grega. Além de culto, ele
também era reconhecido por suas nobres virtudes tipicamente romanas, como a coragem em
combate, a eloquência retórica e o talento político. Foi um general competente e entre outros
êxitos militares se sublinha a destruição de Cartago na Terceira Guerra Púnica (LELLO,
1954, p.558).
77
O termo Círculo dos Cipiões, aceito pelos historiadores modernos, já era adotado por
Cícero e corresponde à expressão “grex scipionis”, utilizada por ele no fragmento 69 do seu
texto “Laelius de Amicitia” (Da Amizade) para indicar um grupo de pessoas com inclinações
culturais afins que frequentavam e conviviam com a família Cipião (GUIDA NT, texto digital).
Em duas traduções do fragmento 69, temos:
“Mas, na amizade, é de suma importância que nos coloquemos no nível dos inferiores.
Existem, contudo, personalidades eminentes, como acontecia com Cipião em meio ao que
eu poderia chamar de nosso rebanho. Mas ele nunca se julgou superior a Filo, Rúpilio,
Múmio ou outros amigos de condição inferior, diante de seu irmão Quinto Máximo, homem
notável mas que não se igualava a si e era mais velho, demonstrava o respeito que se tem
por um superior. Além disso, queria dar a todos os seus, meios de aumentar o próprio
prestígio.” (CÍCERO, 2001, p. 83);
“É no entanto da maior importância em amizade apagar a diferença de nível social com um
inferior. Pois às vezes há personalidades excepcionais, como era Cipião dentro, digamos,
de nosso círculo. Ora, jamais, seja com Filo, com Rúpilio, ou com Múmio, ele se colocou
acima, nem com nenhum de seus amigos de uma condição social inferior. Assim, com seu
irmão Quinto Máximo, personagem notável mas que não se lhe equiparava, e que lhe era
mais avançado em idade, Cipião comportava-se como diante de um superior, e queria que
através dele pudesse realçar a imagem de todos os familiares.” (CÍCERO, 1997, p. 122)
grifos nossos.
110
morais mais elevadas já escritas, legitimadas pelo fato de que sua vida
pessoal concordava inteiramente com suas ideias e ideais
(JAGUARIBE, 2001 p. 427-428).
78
Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra? - Esse dramático e expressivo início
da primeira Catilinária de Cícero ainda é famoso, sendo comumente citado como referência a
pessoas - ou coisas - que submeteram a paciência alheia a duras provas. Foi grande sua
fama já na Antiguidade sendo usada por outros autores latinos (TOSI, 2000, p.756).
115
79
(O tempora, O mores !) O sucesso dessa exclamação, ainda usada para expressar as
espantosas depravações de uma época decadente em que se esteja vivendo, deve-se ao
fato de ser usada com frequência por Cícero para enfatizar sua indignação com a situação
escandalosa. Outros autores já na Antiguidade a usaram com referência explícita a Cícero
(TOSI, 2000, p.362).
80
Caio Salústio Crispo (86 a.C - 34 a.C) - refinado e metódico historiador romano. Na política,
era partidário de César e fez uma carreira pública muito inferior às suas obras literárias
(LELLO, 1954, p. 821).
81
Ver nota 14.
82
Ver nota 35.
116
83
O substantivo masculino cicerone, atualmente no vernáculo de boa parte dos idiomas
ocidentais, e que quer dizer: pessoa que guia, mostra e explica a visitantes ou a turistas os
aspectos importantes ou curiosos de determinado lugar, foi cunhado dada a célebre
eloquência de Cícero, estabelecendo-se uma comparação desse com os guias turísticos
romanos, graças à efusividade dos últimos (HOUAISS, texto digital).
117
85
Os Trinta Tiranos que o espartano Lisandro impôs à vencida Atenas em 404 a.C. Seu chefe
foi Crítias, discípulo dos sofistas e de Sócrates. Permaneceram, ao longo dos séculos, como
símbolo do regime oligárquico e cruel (CÍCERO, 2004b, p. 57).
121
86
Xenofonte (c.430 a.C. - 355 a.C.), historiador grego nascido na Ática, foi discípulo de
Sócrates. (CÍCERO, 2004b, p. 93).
87
Ciro II, o Grande, fundador do Império Persa no século VI a.C. (LELLO, 1954, p. 560).
88
Fonte era a deusa da água (CÍCERO, 2004b, p. 94).
89
Numa Pompílio, segundo rei lendário de Roma, que teria reinado de 714 a.C. a 671 a.C. Era
de origem sabina e presidiu a organização da cidade romana, à qual deu as primeiras leis
(LELLO, 1954, p. 366).
90
Cornélios - antiga família do patriciado romano da qual Cina era membro. Ver nota 15.
122
91
Macróbio é um escritor e filósofo pagão de Roma, que viveu no século V. É autor das
Saturnais e do Comentário ao Sonho de Cipião (LELLO, 1954, p. 126).
92
Ver 76.
93
Marco Pórcio Catão (Marcus Porcius Cato) dito Catão, o Velho (Cato, Maior) (c. 234 a.C.-
149 a.C.), escritor, militar e político romano, muito atuante durante a segunda guerra púnica,
tornou célebre a frase “Ceterum censeo Carthaginem esse delendam” - Por outro lado, acho
que Caratago deve ser destruída.- que usava para concluir seus discursos no Senado
qualquer que fosse o assunto em discussão. Essa anedota é lembrada por diversos autores
da antiguidade, inclusive Cícero (TOSI, 2000, p. 426).
123
94
Demóstenes (c. 384 a.C. - 322 a.C.) foi um político e orador grego, antagonista de Felipe II
da Macedônia (LELLO, 1954, p. 709).
125
2.3.2 - Sêneca
à sua carreira pública. “Pode-se mesmo dizer que ao, menos grande, parte de
seus escritos, de sua filosofia e de sua ética são frutos de suas reflexões sobre
sua existência como atuante da vida política de seu tempo” (BITTAR, 2010, p.
264-265). A filosofia de Sêneca é a do Pórtico por excelência. Mesmo
conhecendo outras escolas filosóficas, não é eclético como Cícero e, com ele,
o estoicismo afirma-se como a filosofia de Roma durante o Principado.
Portanto, a vida feliz está fundada de modo inamovível num juízo reto
e certo. Assim a alma é pura e desembaraçada de todos os males,
apta a evitar não só as dilacerações mas também as picadas da
adversidade. Sempre se manterá de pé no lugar em que se deteve e
defenderá o seu posto, a despeito das iras e dos ataques da sorte. No
tocante ao prazer, ele envolve o homem por todos os lados,
insinuando-se na alma para amolecê-la com sucessivas carícias, e
seduzi-la inteira ou parcialmente: mas quem dentre os mortais com
algum resto de dignidade humana, quereria ser lisonjeado dia e noite,
abandonar a alma e dedicar-se ao cuidado do corpo? (SÊNECA, 2001,
p. 14-15).
O bem supremo é imortal, não sabe o que é perecer, não fica saciado
nem se arrepende. Uma alma reta nunca se transforma nem é odiosa
a si mesma, em nada se afasta do melhor modo de viver; o prazer,
porém, extingue-se justamente quando mais deleita, o seu campo não
é muito amplo e, por isso, logo sacia, causa tédio e definha depois do
primeiro impulso. Não pode ser firme aquilo cuja natureza consiste na
mudança. E assim não pode ter substância definida aquilo que vem e
passa com maior velocidade, e perecerá com o uso de si mesmo;
chega onde cessa e, ao começar, já tende para o fim (SÊNECA, 2001,
p. 18-19).
Deve-se aprender a viver por toda a vida, e, por mais que tu talvez te
espantes, a vida toda é um aprender a morrer. Muitos dos maiores
131
Para quem vive bem, não importa o quanto tempo se vive. Aquele
que vive bem alcançará a paz no além. Quem vive bem é o sábio que cultiva a
virtude - isso é posto de maneira didática na maioria dos seus escritos. Não
existe redenção, mas desprendimento. Em “Epistulæ Morales ad Lucilium”
(Aprendendo a Viver), ensina: “A vida é como um drama: não importa quanto
durou, mas como se representou. Não tem a mínima importância a altura em
que a acabes. Acaba-se quando quiseres; mas cuida de lhe dar um bom
desfecho” (SÊNECA, 2002, p. 34).
Contudo, mesmo confiante na paz eterna para a alma do justo,
Sêneca não descuida de pensar em um modo de tornar a vida humana na terra
também feliz. A solução que encontra é que o homem, sabiamente, almeje uma
felicidade possível, de ordem prática. Para conviver com as inevitáveis
adversidades, o homem deve se adaptar às suas capacidades, as
oportunidades que de fato estão ao seu alcance, evitando desejar o impossível,
o inatingível. O homem que conhece a efemeridade das coisas é
desinteressado e abnegado, é feliz porque tem uma alma tranquila, não vive
atormentado ou frustrado. A obra “De Tranquillitate Animi” (Da Tranqüilidade
da Alma) versa sobre isso.Um exemplo é o seguinte trecho:
Abandonando essas coisas que não podem ser feitas ou apenas
podem ser feitas de modo muito difícil, sigamos as coisas próximas e
que alimentam nossa esperança. Saibamos que todas as coisas são
igualmente volúveis; embora exteriormente possam ter diversas faces,
por dentro são iguais e vãs. Não invejamos a sorte dos que estão em
posição privilegiada. O que parece ser altura é, na verdade, um
precipício. (SÊNECA, 2009, p. 66).
95
Átrida refere-se aos descendentes do mítico rei Atreu, entre eles Agamemnom e Menelau
(LELLO, 1954, p. 248). Nessa passagem, alude, especificamente, a Agamêmnom.
134
sendo conivente com o exílio a ela imposto pelo rei Creonte, por crimes que ela
teria cometido para beneficiar seu cônjuge. Nesse diálogo, Jasão, que livre da
esposa se casará com a filha do rei, informa Medeia do exílio, sem remorso ou
culpa, pois tem vergonha de ter tido a vida salva pelos crimes dela. Medeia
lembra a ele que quem colhe vantagens de um crime é criminoso, e quem se
envergonha de viver deve abandonar a vida:
JASÃO:
- Só resta imputares-me teus próprios crimes.
MEDEIA:
- Sim, são teus, teus: quem aproveita um crime, desse crime é autor.
Todos podem afirmar que tua esposa é infame:
somente tu tens o dever de defendê-la, de proclamar sua inocência.
A teus olhos deve ser inocente quem é culpado por te favorecer.
JASÃO:
- Como é odiosa a vida quando temos vergonha de tê-la recebido.
MEDEIA:
- Não devemos conservá-la, quando temos vergonha de tê-la recebido.
(SÊNECA apud PESSANHA, 1980, p. 233).
2.2.3 - Epiteto
Não peça que as coisas cheguem como
você as deseje, mas as deseje tal como
chegam, e assim terá paz.
Epiteto; ““Enchiridion” -
(Manual ou Máximas)
(EPITETO , 2009, p. 22).
96
Orígenes (Alexandria do Egito 185 - Tiro 254) era teólogo e exegeta, filósofo da patrística,
apologista de grande fecundidade, tentou uma fusão entre o cristianismo e o platonismo.
Escreveu a obra “Contra Celso”, defendendo o cristianismo (LELLO, 1954, p. 906). Celso, o
filósofo neoplatônico do século II (não o jurisconsulto do século I), atacava o cristianismo
frontalmente (LELLO, 1954, p. 516).
97
Celso, o filósofo neoplatônico do século II (não o jurisconsulto do século I), atacava o
cristianismo frontalmente (LELLO, 1954, p. 516).
136
98
Antístenes (c.445 a.C - c. 365 a.C) era ardente discípulo de Sócrates, defendia uma vida
virtuosa e ascética (LELLO, 1954, p. 170).
137
confissões, eram impressões íntimas que ele decidira expressar por escrito e
que, afortunadamente, não se perderam. “Isso deu à obra uma singularidade
inovadora, não pertencendo a nenhum dos gêneros literários conhecidos pela
filosofia” (CHAUÍ, 2012, p. 316). São comumente denominadas “Meditações”,
mas também há quem se refira a elas por outros nomes, como “Pensamentos”,
“Solilóquios” e “ O Guia do Imperador”, ou ainda “O imperador Marco Aurélio
para si mesmo”.
“Entre os expoentes do novo Pórtico, ele é o que mais restringe a
filosofia à problemática moral, colorindo-a não menos do que Sêneca e Epiteto
com fortes tintas religiosas” (REALE, 2008, p. 110).
“Nas “Meditações”, muitas reflexões concernem à sociedade.
Primeiro, porque o homem é um animal social; depois, porque o problema da
vida política colocava-se diretamente para o imperador” (HUISMAN, 2004, p.
665).
Uma das características do pensamento de Marco Aurélio, que mais
impressiona o leitor dos “Solilóquios”, é a insistência com a qual é
tematizada e afirmada a caducidade das coisas e a inexorável
passagem, a sua monotonia, a sua insignificância e substancial
nulidade (REALE, 2008, p. 110).
1980, p. 303); e na meditação 38 do mesmo livro IX, deste modo: “Se ele
pratica o mal, causa dano a si mesmo. Mas e se ele não fez o mal?”
(ANTONINO, 2007, p. 160);
O imperador esclarece por que perdoar na seguinte citação Livro
VII, pensamento 26:
Quando alguém falta para contigo, pensa imediatamente que a ideia
do bem ou do mal o levou a cometer a falta; quando o tiveres
verificado, passarás a ter pena dele e não sentirás surpresa nem
cólera. Com efeito, ou tu mesmo continuarás pensando sobre o bem
de maneira igual ou semelhante e, portanto, deves perdoar-lhe, ou já
não formas ideias iguais sobre o bem e o mal e mais fácil te será a
complacência para com o engano (MARCO AURÉLIO apud
PESSANHA, 1980, p. 291).
Vale lembrar que Marco Aurélio, mesmo tendo vivido no século II,
não se converteu ao cristianismo, que ainda era uma religião de escravos cujo
culto nem era permitido. No entanto, tal qual Sêneca, insiste na transitoriedade
das coisas deste mundo e espera a conflagração universal.
“Eis alguns pensamentos muito eloquentes, que dizem respeito
ao vorticoso devir, que, segundo Marco Aurélio, arrasta e devora todas as
coisas” (REALE, 2008, p.210):
Livro IV, pensamento 5 - Tal qual o nascimento, a morte é um mistério;
nos mesmos elementos de que ele nos compõe, ela nos dissolve. Em
suma, não é motivo de vergonha; não é incompatível com a condição
de ser inteligente, nem com o plano da estrutura (MARCO AURÉLIO
apud PESSANHA, 1980, p. 273).
Livro IX,
pensamento 19 - Tudo está em transformação. Tu próprio estás numa
alteração contínua e, em um certo sentido, perecendo; todo o Universo
também.
pensamento 29 - A causa universal é uma torrente, tudo ela carrega.
pensamento 33- Cedo estará destruído tudo que vês; as testemunhas
da destruição, por sua vez, serão destruídas; quem morre em extrema
velhice e o morto prematuro se acharão em situação idêntica. (MARCO
AURÉLIO apud PESSANHA, 1980, p. 303-304).
100
Tradução livre do autor: Direito de resposta graças à autoridade e conforme e orientação do
príncipe.
147
101
Aqui Edito se refere ao Edito Perpétuo (Edictum Perpetuum), obra empreendida pelo
jurisconsulto Sálvio Juliano por ordem do imperador Adriano para fixar os editos dos
magistrados definitivamente, por isso denominou-se perpétuo (ALVES, 2007, p. 36).
102
Massuris Sabinu: Sabiniano, jurisconsulto do século I descendente de um dos assassinos de
César, Casio, tinha ascendentes jurisconsultos ilustres (MEIRA, 1996, p.121).
148
104
Publio Terêncio Afro (Publius Terentius Afer - Cartago c. 195 a.C. - c. 159 a.C.) poeta e
dramaturgo romano. Fazia parte do Círculo de Cipião. Autor do adágio humanista por
excelência: “Homo sum ; humani nihil a me alienum puto” ( Sou um homem: nada do que é
humano me é estranho (LELLO, 1954, p. 1009).
105
Em Terêncio o mote é similar não igual Summum ius, summa malitia (Sumo Dirteito, suma
malícia) (TOSI, 2000, 508).
150
106
MONIER, Raymond. Manuel élémentaire de droit romain. Paris, Domat Montchrestien, 1947,
p. 48; apud (GIORDANI, 2000, p.15).
107
Tradução livre do autor para o original em francês: Les préoccupations pratiques
n’empêchent pás les juristes de s’elever aux principes maraux qui dominent le droit.
151
3.2 - Ulpiano
108
Digesto, do latim dirigere, que significa pôr em ordem, Pandectas, do grego pandékoma,
que significa recolho tudo(ROLIM, 2000, p. 92)
109
Prefeito pretoriano ou prefeito do pretório, chefe da guarda pretoriana (LELLO, 1954, p. 626
e 633); Ver também notas: 22 (pretor) e 50 (guarda pretoriana).
152
e, com sua morte, seu primo Alexandre Severo ascende ao trono imperial em
222 (AZEVEDO, 2005, p. 81).
Alexandre, amparado pelas matronas dos Severos - sua mãe
Júlia Memea e sua avó Júlia Mesa -, reabilita Ulpiano, que é chamado de volta
à corte. O jurisconsulto torna-se conselheiro do novo imperador, que faz dele
præfectus annonæs (prefeito das provisões, que se ocupava do abastecimento
dos grãos e vegetais na cidade de Roma).
Ulpiano torna-se preceptor do jovem Imperador Alexandre e
estabelece com ele laços estreitos de amizade, ocupando o cargo de chefe do
conselho de regência. Como se mencionou na primeira parte deste trabalho,
Ulpiano foi para o jovem Severo o que fora Sêneca para Nero. As matronas
Severo, tal qual Agripina Minor, quiseram preparar o soberano, confiando sua
educação a um mentor capaz e de reputação ilibada.
Por ser o principal conselheiro do novo imperador, Ulpiano é logo
alçado à dignidade de prefeito do pretório no ano de 222. Na prefeitura
pretoriana, era extremamente impopular entre os seus subordinados, pois lhes
havia diminuídos os exorbitantes privilégios concedidos no reinado de
Elagábalo. Havia um clima de descontentamento generalizado no corpo da
guarda pretoriana graças à severidade e continência instauradas por Ulpiano. A
tensão entre o prefeito e seus subordinados culminou em uma conjuração
contra Ulpiano. A guarda pretoriana amotinada o assassinou em 228
(AZEVEDO, 2005, p. 81).
Ulpiano, “escritor fecundo e excelente vulgarizador” (GIORDANI,
2000, p.183), é o autor mais citado no Digesto do imperador Justiniano; foi um
dos maiores expoentes da Jurisprudência Clássica e suas formulações e
sistematizações do direito civil sobrevivem até hoje.
A maioria dos textos de Ulpiano se perdeu, mas são conhecidos
justamente pelas abundantes citações contidas no Digesto. A versão das
Regras de Ulpiano (Ulpiani Líber Sigularis Regularum), que hoje se tem notícia,
é provavelmente um resumo da original, e deve ter sido redigida no final do
século III.
153
110
Eurípides (Salamina c. 480 a.C. - Macedônia c. 406 a.C), notável poeta trágico grego.
111
Sófocles (c. 495 a.C. - c. 405 a.C), célebre dramaturgo grego (LELLO , 1954, p. 924)
154
112
Dikê - Deusa da justiça, equivalente à deusa romana Justiça (SOUZA, 1979, p. 108).
.
155
podem ser cumpridas ou não, mas, uma vez reguladas pela lei, importa que
sejam desempenhadas (BOBBIO, 2006, p. 16-17).
A noção de Direito Natural expressa na dramaturgia da Grécia
Clássica e estudada pelos seus filósofos é transmitida e reexaminada no
período helenístico, sobretudo pelos adeptos da filosofia do Pórtico. “Mais tarde
os estoicos equiparam-no à reta razão. Os Romanos desenvolveram a noção
estoica. Ulpiano curva-se perante esse código, resultante dos ensinamentos da
Natureza” (GUSMÃO, 1999, p. 35).
O estoicismo esculpiu outros conceitos dos quais se vale, hoje,
a ciência jurídica. O conceito de homem político, trabalhado
por Aristóteles, passa a ter dimensão ampla de homem
sociável ou comunitário. Essa abertura conceitual aponta para
a dimensão de cosmopolitismo. A lei humana ganha o respaldo
da lei divina porque ela é fruto do logos supremo. Assim a lei
positiva não é mera convenção. Ela participa da consistência
da lei eterna que se manifesta na lei natural (FERACINE,
2011b, p. 88).
113
Ver nota 61.
156
consideradas comuns a todos os povos, são por isso aplicáveis não só aos
cidadãos romanos, como também aos estrangeiros” (MARKY, 2012, p.15).
É preciso notar que também o ius gentium é incluído no Direito
Natural (BOBBIO, 2006, p. 15). Décadas antes de Ulpiano, o jurisconsulto
Gaio, nas suas Institutas, já afirma que o Direito das Gentes (ius gentium) é
comum a todos os povos porque decorre da reta razão e o denomina Direito
Natural no parágrafo inaugural de sua obra. “O ius gentium foi assim concebido
como um ius naturale. Os dois termos eram sinônimos (CHAMOUN, 1977, p.
29).
(Gai. 1.1.) Do Direito Civil e Natural. 1. Todos os povos que
são regidos por leis e costumes usam um Direito que, em
parte, lhes é próprio e, em parte, é comum a todos os homens,
pois o Direito que cada povo promulga para si mesmo esse lhe
é próprio e se chama Direito Civil, Direito inerente à própria
cidade. Mas o direito que a razão natural constituiu entre todos
os homens e entre todos os povos que o observam, chama-se
Direito das Gentes, como se disséssemos o direito que todos
os povos usam. Assim, também, o povo romano usa um Direito
que, em parte, lhe é próprio e, em parte, comum a todos os
homens (GAIUS, 2004, p. 37).
114
Tradução livre do autor para o original em francês: “L'esclavage n'est pas conforme au droit
naturel car, par nature, tous les hommes sont libres. Il s'agit là d'emprunts à la doctrine
stoïcienne”.
115
Ver nota 3.
160
116
Tradução livre do autor para o original em francês: “Les préceptes fondamentaux du droit,
tels qu'ils sont formules par Ulpian, illustrent ce souci d'équité et les liens étroits qui, pour les
romains, unissaient la morale et le droit.”.
161
comando em que declara que agir dentro da lei para obter vantagem ilícita é o
mesmo que burlar a lei. Isso evidente é uma demonstração de crença em um
Direito que advém da Natureza e, portanto, está acima dos textos da lei, assim
declarou (D.1.3.30 - Ulpianus III ad edictum): “Pois se dá fraude à lei quando se
faz aquilo que a lei não quer que se faça mas não proíbe que se faça. E a
mesma distância que existe da fraude ao que se faz contra legem”
(JUSTINIANO, 2002, p. 51).
Ulpiano também se ocupou do costume como fonte do Direito
(D.1.3.33 - Ulpianus libro primo de officio proconsullis): “o costume diuturno sói
observar-se como direito e lei em relação àquelas coisas que não decorrem do
direito escrito” (JUSTINIANO, 2002, p.52); e sobre o mesmo tema: (D.1.4.2 -
Ulpianus fideicomissorum libro quarto) Nas novas coisas a serem estabelecidas
deve ser evidente a utilidade para que se deixe de lado um direito que por
muito tempo foi tido como justo (JUSTINIANO, 2002, p. 56).
O costume ao qual ele se refere é o costume dos antepassados
que os romanos chamavam de mores maiorum (costume dos antepassados),
antiqui mores (antigos costumes), mores civitates (costumes civis dos
fundadores da cidade). Na visão romana, os costumes transmitidos pela
tradição conservam uma verdade essencial, daqueles que fundaram a cidade e
que, por tradição, legaram bons hábitos. Esses costumes, adquiridos em uma
comunidade rústica e despojada, em contato íntimo com a natureza, foram
transmitidos desde tempos imemoriais.
Aceitar o costume dos antepassados é uma forma de
reconhecimento ao trabalho, à virtude e à autoridade daquelas gerações
precedentes. Para os romanos, aqueles que sucedem os patres (pais da pátria)
têm o dever de engrandecer um projeto civilizatório. O conteúdo dos mores é:
pudor, pudicitia, religio, pietas, gratia, reverentia, fides, parcimonia, verecundia,
existimatio, officium117 (CORREIA; SCIASCIA, 1949, p. 22).
117
Pudor, pudicícia, religião, piedade, gratidão, reverência, fé, parcimônia, respeito, reputação,
dever (tradução livre do autor).
163
118
Tito Lívio (Titus Livius - Pádua c. 59 a.C - 19 d.C), historiador romano, autor da História de
Roma (Ab Urbe Condita Libri), contando desde a legendária fundação da cidade em 753
a.C. até seu tempo (LELLO, 1954, p. 1033).
119
Rapto das Sabinas é o episódio mítico dos primórdios da história de Roma no qual os
fundadores da cidade, para conseguir esposas ardilosamente, raptam as donzelas da
cidadela Sabina próxima a Roma (LELLO, 1954, p. 804).
164
120
JUSTINIANUS, Flavius Petrus Sabbatius, Imperador do Oriente (483-565) – Passou para
história como Justiniano I, foi imperador bizantino de 527 até sua morte em 565. De origem
humilde, casado com a dançarina Teodora, foi nomeado cônsul ligado ao trono por seu tio
Justino I, a quem sucedeu. Considerado um dos mais importantes soberanos da antiguidade
tardia, tanto no plano político, quanto no legislativo e religioso. Seu maior legado é a
compilação normativa posteriormente conhecida como CORPVS IVRIS CIVILIS, que, ainda
hoje, é a base do ordenamento jurídico mais difundido no mundo. (GUIDA NT, texto digital b).
169
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALBERGARIA, Bruno. Histórias do Direito. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 14. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2007.
BITTAR, Eduardo C.B. Curso de Ética Jurídica. 7ª. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010.
179
CUNHA, Eliel Silveira (org.). Grandes Filósofos. São Paulo: Nova Cultural,
2005.
CÍCERO, Marco Túlio. Dos Deveres. Trad. Angélica Chiapeta. São Paulo:
Martins Fontes, 1999.
CÍCERO, Marco Túlio. Orações. Trad. Pe. Antônio Joaquim. São Paulo:
Martin Claret, 2004.
CÍCERO, Marco Túlio. Tratado das Leis. Trad. Marino Kury. Caixias do
Sul: EDUCS, 2004b.
GAIUS. Institutas. Trad.José Cretella Jr. e Agnes Cretella. São Paulo: RT,
2004.
GIBBON, Edward. The Decline and Fall of The Roman Empire. 22. ed.
Londres: Encyclopædia Britannica, 1978. 2v.
KLABIN, Aracy Augusta Leme. História Geral do Direito. São Paulo: RT,
2004.
LÍVIO, Tito. História de Roma. Trad. Paulo Matos Peixoto. São Paulo:
Paumape,1989, 6 vols.
LUIZ, Antônio Filardi. Curso de Direito Romano. São Paulo: Atlas, 1999.
184
SÊNECA, Lúcio Aneu. Da Vida Feliz. Trad. João Carlos Cabral. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
VIEIRA, Jair Lot (Coord.). Lei das XII Tábuas – Código de Hamurabi –
Código de Manu. Bauru: Edipro, 2000.
ANEXO
Fragmentos das Regras de Ulpiano e seus equivalentes da
Legislação Civil Brasileira hodierna
121
“Os Sui Juris exercem por si só os seus direitos, representam a unidade da família e, por
isso, podem ter outras pessoas sob o seu poder. São donos de sua pessoa física e do seu
patrimônio, não estão sujeitos a ninguém.”(CRETELL JR., 2001b, p. 75).
189
(Ulp. 8.7.) Quem não tem filho, pode adotar alguém como neto
(ULPIANO, 2002, p. 49).
122
Ad-rogação é o ato pelo qual o paterfamilias (pai de família Sui Juris) faz entrar para sua
família um outro paterfamilias, na qualidade de filius (filho).(CRETELL JR., 2001b, p. 87).
190
E no Código Civil:
Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por
escritura pública ou testamento, dotação especial de bens
livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se
quiser, a maneira de administrá-la.
Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para
fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.
E o Código Civil:
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados
conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
192