Infecção Hospitalar
Infecção Hospitalar
Infecção Hospitalar
1
Reitora da Universidade Federal de Goiás – UFG. Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Faculdade de Enfermagem -FEN/
UFG.
2
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da FEN/UFG.
3
Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da FEN/ UFG.
PALAVRAS-CHAVE: RESUMO: Trata-se de um artigo de atualização tendo como objetivo destacar aspectos conceituais
Infecção hospitalar. Cuidados sobre a infecção hospitalar de interesse para o cuidado de enfermagem, evidenciando os fundamentos
de enfermagem. Infecção – que norteiam a compreensão deste fenômeno de indiscutível importância epidemiológica para a assis-
prevenção e controle. tência à saúde. O tema é trabalhado no sentido de evidenciar a responsabilidade em controlar a infecção
como sendo papel inerente aos profissionais da equipe de saúde. Destaca-se a formação profissional
voltada para uma cultura prevencionista como condição necessária para se concretizar um programa de
controle e prevenção de infecção, descrevendo-se uma experiência local sobre a importância das ativi-
dades desenvolvidas pelo núcleo de pesquisa na área, como instrumento que interfere, positivamente,
nos resultados das ações dos enfermeiros. Evidencia-se o importante papel do enfermeiro no desenvol-
vimento das ações de prevenção e controle de infecção e a educação continuada como estratégia de
implementação de medidas eficazes na busca da qualidade do cuidado.
KEYWORDS: Cross ABSTRACT: Nursing practices and procedures play an indispensable role in the prevention of hospital
infection. Nursing care. infection. This review discusses the unquestionable importance of proper nursing practices related to
Infection – prevention & the control of infection. The establishment of a culture based on prevention is a requirement for any
control. infection control program. This paper also explains activities conducted by our research group that
identified procedures that affirm the role of nursing practices in the prevention and control of infection.
It is clear that continuing education represents the main strategy to implement effective measures for
providing quality health care.
PALABRAS CLAVE: RESUMEN: Las prácticas de la enfermería y los procedimientos juegan un papel indispensable en la
Infección hospitalaria. prevención de infección del hospital. Este artículo tiene como objetivo destacar los aspectos conceptuales
Atención de enfermería. respecto a la infección hospitalaria de grande interés para el cuidado de la enfermería, así como, la
Infección – prevención & importancia epidemiológica para la salud. Resalta la formación profesional volcada para una cultura
control. basado en la prevención como requisito para cualquier programa de control de la infección. Explica las
actividades dirigidas por el grupo de investigación en esta área, también identificó procedimientos que
afirman el papel de la enfermera en las prácticas de la prevención y el control de la infección. La
inplementación de la educación continuada representa la principal estrategia para desarrollar las medi-
das eficaces en la búsqueda de un cuidado con calidad a la clientela.
O fato de existir infecções evitáveis, aproxima- gestão em alguns destes documentos e que na última
damente 30%, exige da equipe de saúde e das institui- Portaria, número 2616, publicada em 1998, sua presen-
ções, responsabilidade ética, técnica e social no senti- ça aparece no time dos profissionais que, obrigatoria-
do de prover os serviços e os profissionais de condi- mente devem compor essa comissão na qualidade de
ções de prevenção, revelando-se em um dos pontos membro executor dos programas de controle de IH6.
fundamentais em todo o processo5. O controle das Outro fator que exerceu grande impacto sobre
infecções hospitalares é inerente ao processo de cui- as ações de controle foi a epidemia de Aids, que se
dar, estando o enfermeiro capacitado para prestar um tornou um grande desafio, pois as medidas de pre-
cuidado mais livre de riscos de infecções. venção e controle tiveram que ser implantadas para
todos os pacientes independente do risco presumido;
A QUEM CABE A RESPONSABILIDADE além disso, foi um desafio constante para as ações
DE CONTROLAR A IH ? educativas e de avaliação de riscos. Este fator foi o
mais significativo na prevenção e controle das IH com
A década de 70 viveu uma verdadeira impacto sobre todos os hospitais do mundo. A gravi-
reformulação das atividades de controle de infecção. dade, a letalidade da doença e inicialmente, a indefinição
Os hospitais americanos foram progressivamente ado- de suas formas de transmissão contribuíram para sen-
tando as recomendações emanadas de órgãos oficiais, sibilizar órgãos oficiais, hospitais e profissionais quan-
substituindo seus métodos passivos por busca ativa, to a necessidade de adoção de medidas preventivas7.
criando núcleos para o controle de infecção e Com isto, a saúde ocupacional, no que diz res-
aprofundando em estudos sobre o tema. No Brasil, peito aos agentes biológicos, foi se integrando ao con-
juntamente com a implantação de um modelo alta- trole de infecção, incluindo nas estratégias de vigilância
mente tecnológico de atendimento (cirurgia cardíaca), a observação da equipe de saúde, para se identificar
surgiram as primeiras Comissões de Controle de In- os fatores e procedimentos de risco e a adoção de
fecção Hospitalar (CCIH). medidas adequadas de controle.
Os anos 80 representaram, nos Estados Uni- Em decorrência disso, em 1987 foram
dos, uma consolidação das experiências desencadeadas publicadas pelos Centers for Disease Control and Prevention
na década anterior. As monitorações microbiológicas (CDC), normas de precauções universais e isolamen-
rotineiras de pessoal e ambientes deixaram de ser rea- to de substâncias corpóreas, definindo cuidados bási-
lizadas, e os métodos de vigilância epidemiológica cos a serem tomados com todos os pacientes, inde-
foram progressivamente aperfeiçoados, racionalizan- pendentemente de seu diagnóstico, e em 1996, reali-
do o tempo de coleta, utilizando pistas diagnósticas e zou-se uma ampla revisão destas medidas hoje deno-
informatizando progressivamente a consolidação dos minadas de precauções baseadas na transmissão e pre-
dados, liberando tempo para interpretação, desenvol- cauções padrão8.
vimento de atividades educativas e abordagem pró- Boas práticas assistenciais decorrem da integração
ativa dos episódios de infecção. de todos os setores e o controle de infecção vem as-
A década de 80 foi muito importante para o sumindo um papel relevante de assessoria. Ele interage
desenvolvimento do controle das IH no Brasil. Co- com a saúde ocupacional, em medidas de controle
meçou a ocorrer uma conscientização dos profissio- referentes a afastamentos de profissionais, imunizações
nais de saúde a respeito do tema com a instituição de e prevenção de patologias de aquisição hospitalar; atua
CCIH em vários Estados do país. Em junho de 1883 em conjunto com a comissão interna de prevenção de
o MS publicou a Portaria 196, primeiro documento acidentes, principalmente na ênfase às precauções pa-
normativo oficial. Em 1992 publicou a Portaria 930 drão; nas comissões de revisão de prontuários e óbi-
que entre outros avanços defendia a busca ativa de tos, pois fornecem subsídios para detecção de casos
casos. Em 1997 aprova a Lei 9431, tornando obriga- de infecção hospitalar e seus fatores de risco; na pa-
tório a presença da CCIH e do Programa de controle dronização de materiais e insumos, procurando racio-
de IH independente do porte e da estrutura hospita- nalizar custo/ benefício das medidas de controle das
lar. A implantação e execução destes programas deve- infecções em relação às tecnologias oferecidas; farmácia
riam reduzir a incidência e a gravidade das IH ao má- e medicamentos com padronização de
ximo possível. Vale destacar que a presença do enfer- antimicrobianos; auxilia comissões de controle de qua-
meiro como membro das CCIH aparece como su- lidade, por meio de seus indicadores epidemiológicos;
integração à administração auxiliando nas decisões tecnologia, deve ser prioridade, pois um bom aten-
sobre conveniência e prioridade no investimento em dimento não é mensurado somente pelo avanço
tecnologia. Além disso, assessora a instituição e seus tecnológico dos equipamentos.
membros em processos jurídicos6. O hospital que tem filosofia voltada para a va-
Observamos, com freqüência, a concepção dos lorização dos recursos humanos, buscando introdu-
profissionais de que o controle de IH é de responsa- zir, alterar e aprimorar comportamentos e atitudes,
bilidade das CCIH, dessa forma se excluem da sua está mais próximo de atingir o grau de excelência de
responsabilidade pessoal, conferindo um super po- seu atendimento.Dentro da estrutura organizacional,
der às comissões, que de fato, isoladamente, pouco cada trabalhador deve ter papel definido e cumpri-lo
podem fazer. Por outro lado, esta visão confere aos com a máxima competência, procurando agir de acor-
integrantes da comissão uma condição de superiori- do com os princípios básicos de sua profissão.
dade, uma vez que é conhecida muito mais como Uma das preocupações crescentes refere-se a
fiscalizadores das medidas instituídas para o controle, como preparar o profissional de saúde para o CIH,
do que parceiros que devem caminhar juntos nesta considerando a sua interdisciplinaridade. Viabilizar o
construção de uma nova práxis no controle de IH, contato do estudante com todas as normas e legisla-
que necessariamente deve ser coletiva. ção orientadora e reguladora da prevenção e controle
O êxito do programa está diretamente relacio- de infecção é um importante caminho e quanto mais
nado com o envolvimento de todos. A responsabili- precoce isso for feito na graduação, maior a chance
dade de prevenir e controlar a IH é individual e cole- do futuro profissional em assimilar estes ensinamentos.
tiva. Sem a assimilação e implementação dos proce- Entretanto, dada a complexidade e abrangência da
dimentos corretos por quem executa no paciente, com infecção, seu controle e suas implicações nas ações
a necessária integração com a equipe da CCIH, o pro- assistenciais, a prevenção e controle devem compor
blema da IH sempre será um entrave na prestação de as políticas da instituição e formação profissional, bem
serviços à saúde. como, fazer parte da sua cultura.
Desta forma, cabe ressaltar que os Assim sendo, os princípios, normas e postula-
controladores de infecção têm a responsabilidade de dos relacionados à prevenção e controle da IH devem
instituir a política institucional para prevenir e contro- compor o currículo dos profissionais da saúde de modo
lar a infecção, porém, o sucesso do programa depen- integrado, onde as disciplinas específicas para a forma-
derá do envolvimento de todos os profissionais que ção profissional dos diferentes cursos possam carregar
atuam na prestação da assistência hospitalar. De nada a filosofia e a prática da prevenção e CIH.
adianta o conhecimento do fenômeno e das medidas De acordo com nossa vivência no ensino, o
preventivas, se quem presta assistência não as adota exemplo dado pela equipe de saúde, no seu exercício
no seu fazer profissional. A enfermagem, através do profissional, tem maior repercussão na aprendizagem
cuidado prestado, integra o trabalho dos demais pro- dos alunos do que uma disciplina específica com to-
fissionais, possibilitando incrementar esta política dos os métodos e técnicas recomendadas. As bases
institucional de CIH. do controle de IH devem ser assimiladas e emprega-
das por todas as disciplinas porque são aplicadas, ou
O PROFISSIONAL DE SAÚDE E O CON- pelo menos deveriam ser, na realização de qualquer
TROLE DA INFECÇÃO HOSPITALAR procedimento diagnóstico ou terapêutico, todos os
envolvidos precisam ser atuantes.
Na assistência à saúde, independente de ser pre- Todas as formas possíveis para mudar com-
venção, proteção ou tratamento e reabilitação, o indi- portamento dentro de qualquer organização requerem
víduo deve ser visto como um ser integral, que não se a escolha de estratégia educacional conjugada a um
fragmenta para receber atendimento em partes. As programa com objetivos bem definidos. A preven-
IH são multifatoriais, e toda a problemática de como ção e o CIH estão relacionados à promoção à saúde e
reduzir as infecções, intervir em situações de surtos e devem refletir preocupação no sentido de que as pes-
manter sob controle as infecções dentro de uma ins- soas consigam livrar-se de fatores que as predispõem
tituição, deve ser resultado de um trabalho de equipe. para comportamentos insalubres para si próprias e para
O aprimoramento de recursos humanos em os pacientes. A educação em saúde tem como objeti-
uma instituição, inclusive para racionalizar a vo explicitar valores, aumentar a autopercepção acer-
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vertentes. Os trabalhos foram iniciados com um projeto cos administrativos e representantes estudantis. Desta
de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de De- forma, as estratégias e conquistas são resultantes de
senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), en- um trabalho coletivo não apenas da CCIO, direção e
volvendo uma professora pesquisadora, dois bolsistas coordenação do curso, mas da comunidade acadêmi-
do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cien- ca como um todo, motivada para discuti-las, viabilizá-
tífica-CNPq (PIBIC-CNPq), duas professoras em for- las e implementá-las.
mação em pesquisa e duas bolsistas voluntárias. Mudanças na estrutura física foram viabilizadas
Durante estes treze anos de funcionamento, pas- para que as orientações técnicas pudessem ser
saram pelo NEPIH, 35 bolsistas PIBIC/ CNPq; 54 implementadas, como por exemplo, a construção de
bolsistas voluntários e foram realizadas 36 expurgos nos ambulatórios e clínicas, uma vez que os
monografias de final de curso de graduação, além artigos eram lavados nas mesmas pias destinadas à la-
de sete de especialização. vagem das mão. Após a constituição da CCIO, foram
No quadro docente atual, temos quatro profes- construídas duas clínicas, as quais tiveram os seus pro-
soras doutoras, duas doutorandas e duas com o título jetos submetidos à apreciação da CCIO e sob sua
de mestre. Em andamento temos oito dissertações de orientação foram levados em consideração aspectos
mestrado, cujo programa foi iniciado na FEN em 2003. relacionados ao controle de infecção em odontologia.
Destaca-se que o NEPIH funcionou durante sete anos O detergente comum foi substituído pelo de-
com uma professora doutora. tergente enzimático, apropriado à lavagem de artigos.
O reconhecimento da importância do núcleo, As luvas grossas e os demais Equipamentos de Prote-
na região, pode ser inferido pela alta procura, pelos ção Individual (EPI) tornaram-se obrigatórios para o
hospitais, por enfermeiros (as) que tenham passado uso nos expurgos. A secagem dos artigos, que era fei-
pelo NEPIH, para comporem as CCIH. Os alunos ta com papel-toalha, foi substituída por toalhas de te-
que freqüentaram o núcleo são habilitados para mon- cido, de uso único, cujo processamento foi viabilizado
tar serviços e comissões de controle de infecção. Hoje, pela Faculdade. Foram instituídas rotinas para que to-
eles já estão presentes, também, no interior do Esta- dos os alunos, nas diferentes disciplinas pudessem ser
do. Os nossos bolsistas saem motivados a darem conti- orientados.
nuidade à sua formação acadêmica, inscrevendo-se nos Várias mudanças referentes ao processamento
programas de pós-graduação. de artigos foram instituídas. Construiu-se um Centro
Com o propósito de explicitar as ações realiza- de Esterilização, adquiriu-se uma autoclave de barrei-
das pelo NEPIH, detalharemos uma de suas ativida- ra pré-vácuo, com capacidade de 432 litros, com se-
des que foi realizada em parceria com outra unidade paração entre as áreas suja e limpa. O serviço hoje é
da UFG no desenvolvimento de um projeto que re- coordenado por uma enfermeira, a qual é responsá-
sultou em uma tese de doutorado15, que, mostra pos- vel pelos controles físico, químico e biológico dos pro-
sibilidades de ação do enfermeiro em diferentes áreas cessos de esterilização.
da saúde, nas quais se podem desenvolver ações efeti- A Comissão de Controle de Infecção
vas de prevenção e controle das infecções. implementou um curso de capacitação para os funci-
Esse estudo vinculado ao Núcleo foi desenvol- onários dos serviços gerais, orientando-os sobre as
vido em uma Faculdade de Odontologia, com o apoio várias rotinas, como separação dos baldes e luvas para
do seu Conselho Diretor, de integrantes do corpo as áreas administrativas, ambulatórios, esterilização e
docente, discente e administrativo, que demonstraram banheiros utilizando as cores como diferencial,
interesse em discutir estratégias para o controle de in- obrigatoriedade do uso dos EPI, rotina semanal da
fecção. Na realidade, o estudo veio ao encontro das limpeza terminal das áreas clínicas, descrevendo
expectativas deste grupo e desencadeou a detalhadamente as etapas do processo, inclusive para
implementação de medidas de controle de infecção. a limpeza concorrente.
A primeira ação neste sentido foi a criação de Foi criado um plano de gerenciamento dos resí-
uma comissão que com aprovação do Conselho Di- duos gerados na faculdade (RSS) que implementou
retor foi instituída a “Comissão de Controle de Infec- coleta seletiva e demais etapas, que passa atualmente
ção da Faculdade de Odontologia” (CCIO) da Uni- por adaptações para atender a RDC nº 30616. Foi
versidade Federal de Goiás em maio de 1998. construído abrigo de resíduos infectantes, conforme
A Comissão é formada por professores, técni- projeto da Vigilância Sanitária do Estado.
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