03 - 04 - 03 - Design de Roupas Zero Waste

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Design de roupas zero waste por meio da ferramenta CAD

G B Danilo 1 e D M Francisca2

1. Mestrando Danilo Gondim Breve, Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e
Humanidades/Têxtil e Moda, Rua Arlindo Béttio, 1000 – Jardim Keralux, São Paulo – SP, 03828-
000, Brasil.
2. Profa. Dra. Francisca Dantas Mendes, Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e
Humanidades/Têxtil e Moda, Rua Arlindo Béttio, 1000 – Jardim Keralux, São Paulo – SP, 03828-
000, Brasil.

Resumo
O presente artigo descreve métodos de criação de roupas zero waste (zero resíduos) por meio da
ferramenta CAD (Desenho Assistido por Computador), dando subsídio para a produção desse tipo de
vestuário em larga escala. Analisa a problemática da geração do resíduo têxtil e seus impactos
ambientais. Discute o conceito de Produção mais Limpa, abordando o design de moda zero waste
como uma estratégia que não gera resíduos têxteis durante o processo de confecção da roupa.
Apresenta estudos e resultados sobre a criação de duas saias com dois métodos diferentes de criação.
Considerando esse tema ainda novo e com poucas publicações, este artigo pretende apoiar o trabalho
de estudantes, professores e profissionais de design de moda no desenvolvimento de projetos
sustentáveis, assim como compartilhar resultados de investigação científica baseada no levantamento
bibliográfico.

Palavras-chave
Design de moda zero waste, design sustentável, produção mais limpa, resíduo têxtil, CAD.

Abstract
The present paper describes design methods of zero waste clothes by means of CAD (Computer Aided
Design) tool, giving subsidy to large scale production of this type of clothing. It analyzes the question
of textile waste generation and its environmental impacts. It discusses the Cleaner Production concept,
approaching zero waste fashion design as a strategy that doesn’t generate textile waste during the
garment making process. It presents studies and results on the creation of two skirts with two different
design methods. Considering this theme as new and with few publications, this paper intends to
support students, teachers and fashion design professional works in sustainable projects development,
as well as share scientific research results based on bibliographic survey.

Keywords
Zero waste fashion design, sustainable design, cleaner production, textile waste, CAD.

Resíduo têxtil
Os modos de vida e consumo da sociedade capitalista vêm afetando consideravelmente a relação do
homem com o ambiente. [1] Até meados do século XX a natureza era vista como bem inesgotável, no
entanto, essa concepção tem sido alterada em função dos danos ambientais causados pelas ações
humanas. [2] Hoje se vive uma crise relacionada ao aumento do consumo e da crescente exploração
dos recursos naturais, que deixa dúvidas quanto ao futuro do Planeta e dos seres vivos.

O setor industrial é responsável por boa parte dos impactos causados ao meio ambiente. [1] Isso se
deve à forma como tal setor utiliza os recursos naturais, aos seus processos produtivos ineficientes que

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geram grandes quantidades de sobras e, à falta de tratamento e destinação impróprios dos resíduos
produzidos.

A geração de resíduos é um fenômeno inevitável que ocorre nas indústrias diariamente, em volumes e
composições que variam conforme seu segmento de atuação e nível produtivo. [2] Denomina-se
resíduo os restos ou as sobras provenientes de um processo produtivo, considerados inúteis,
indesejáveis ou descartáveis.

A indústria de confecção do vestuário é a principal produtora de bens finais do complexo têxtil e o seu
produto possui um ciclo de vida comercial curto por se tratar de produto de moda, tendo em vista que
é ditado por tendências passageiras. Dessa forma, [3] ela é responsável por significativos impactos
ambientais decorrentes de seus processos produtivos e do elevado índice de consumo de seus
produtos, que são descartados muito antes do final do seu ciclo de vida.

Dentre os resíduos gerados por essa indústria, [1] os retalhos de tecidos representam a maior parte.
Esse material não só polui o solo, mas também representa o desperdício de um capital natural, visto
que no processo produtivo também são utilizados recursos como água e energia. [4] Tais resíduos são
gerados no setor de corte, onde ocorre, na maioria das vezes, grande desperdício devido à falta de
tecnologias que auxiliem no encaixe de moldes. [2] Os tamanhos, formas e volumes dessas sobras
variam de acordo com os formatos dos moldes, das larguras dos rolos de tecidos e do correto descanso
desses.

Especificamente sobre os resíduos têxteis, [5] o Brasil produz 175 mil toneladas de resíduos da
indústria de confecção ao ano. São retalhos de calças, camisas e meias que poderiam ser
reaproveitados por outros setores da indústria. No entanto, mais de 90% dos restos de tecido são
descartados incorretamente.

[1] A armazenagem incorreta ou o excesso de deposição desses resíduos, não afeta somente o meio
ambiente, mas pode afetar diretamente a saúde do homem, principalmente em espaços urbanos com
densa concentração populacional. [2] Os resíduos, quando descartados erroneamente, podem
contaminar o solo e a água, levando anos ou décadas para ser absorvidos pela natureza.

Linke e Zanirato ressaltam que [1] não se deve apenas olhar para a destinação final, mas para todo o
processo, buscando diminuir a geração e o impacto desses resíduos ao longo de todo o sistema
produtivo. Destacam, ainda, que os retalhos de tecido causam sérios problemas ao meio ambiente:

[1] Quando contaminados com ó leo de máquina devem ser encaminhados a aterros
sanitários, pois podem causar danos a saúde humana. Esses retalhos apresentam
composições diferentes. O algodão é uma fibra natural e se degrada com facilidade,
mas o poliéster permanece centenas de anos no ambiente. Esses retalhos apresentam
grande quantidade de corantes e fixadores, esse excesso costuma sair na primeira
lavagem. Quando esse material é colocado a céu aberto ou gerenciado de forma
inadequada, ao entrar em contato com a água e umidade, boa parte desses corantes e
fixadores se desprende do tecido e lixiviam pelo solo. Nesse processo, partes mais
profundas ou águas subterrâneas podem ser contaminadas dependendo da
concentração de material que lixivia. Co m a umidade e a água, começam a acumular
fungos e bactérias, além de insetos e ratos. Deve-se levar em consideração que os
corantes presentes nesses tecidos apresentam em sua composição uma grande
quantidade de substâncias, inclusive metais pesados, que são transferidos para o solo
por meio do desprendimento dos corantes e no próprio processo de decomposição, o
que pode causar bioacumu lação.

2
Assim sendo, [2] atitudes devem ser tomadas pelos gestores das organizações, desde a escolha das
matérias-primas até o descarte dos produtos pelo consumidor, com foco na minimização ou, se
possível, na eliminação da geração de resíduos, que é a forma mais efetiva para combater a degradação
da natureza.

Produção mais Limpa


[3] Com o tempo, o entendimento sobre o sistema de geração de resíduos nas empresas foi evoluindo e
as mesmas passaram a não apenas resolver os problemas existentes, mas a preveni-los. O resíduo
deixou de ser um resultado esperado e passou a ser o resultado de falta de eficiência no processo.

[3] Com a Produção mais Limpa, técnica usada por algumas empresas a partir da década de 90, gera‐se
uma ação, com estudo de todo o processo produtivo, para definir a causa dos problemas, refletindo na
prevenção da geração de resíduos, efluentes e outros tipos de emissões. A proteção ambiental é parte
integrante de todos os processos da empresa, utilizando os recursos com eficiência, valorizando o
investimento, os custos e o meio ambiente e evitando desperdícios.

[6] O programa de Produção mais Limpa é uma estratégia integrada e preventiva que visa aumentar a
produtividade da empresa, diminuindo os custos de matéria-prima, energia, recursos naturais e,
consequentemente, reduzindo o impacto ambiental.

Segundo o Centro Nacional de Tecnologias Limpas (CNTL), [6] o início do programa de Produção
mais Limpa deve contemplar, primeiramente, a análise das práticas operacionais e buscar soluções de
housekeeping (boas práticas de Produção mais Limpa). As economias proporcionadas pelas boas
práticas operacionais podem viabilizar novos investimentos na empresa, inclusive em novas
tecnologias.

São exemplos de boas práticas de Produção mais Limpa:


- Organização do estoque de matéria-prima e aviamentos;
- Organização do layout conforme a sequência operacional de montagem das peças;
- Reorganização dos intervalos de limpeza e de manutenção;
- Eliminação de perdas devido à procura de materiais;
- Melhoria de logística de compra, estocagem e distribuição de matérias-primas, insumos e produtos;
- Elaboração de manuais de boas práticas operacionais;
- Capacitação de pessoal envolvido no programa de Produção mais Limpa;
- Otimização dos fluxos de material;
- Melhoria do sistema de informação;
- Padronização de operações e procedimentos;
- Substituição de matérias-primas e aviamentos.

[6] As matérias-primas e aviamentos que geram baixo índice de reaproveitamento devido à baixa
qualidade, ou de difícil reciclagem, podem, muitas vezes, ser substituídas por outras menos
prejudiciais, auxiliando na redução do volume de resíduos.

Algumas modificações tecnológicas podem ser adotadas e [6] variam desde um nível relativamente
simples até mudanças substanciais que interfiram no tempo das operações, no consumo de energia ou
na utilização de matérias-primas. Um exemplo é a substituição do processo de encaixe e risco da
modelagem de um modelo manual para computadorizado.

As modificações no produto constituem outra abordagem importante. [6] Elas podem levar a uma
situação ecológica melhorada em termos de produção, utilização e disposição do resíduo. As
alterações devem melhorar o aproveitamento do tecido sem comprometer a qualidade do produto.

3
Neste contexto, o termo “design sustentável” tem ganhado importância no mundo da moda. Um
exemplo é o design de moda zero waste, cujo objetivo é a não geração de resíduos durante as etapas de
criação, modelagem e corte da roupa.

[3] O programa de Produção mais Limpa já é empregado em algumas empresas como estratégia
importante para o desenvolvimento sustentável. Nas empresas de confecção do vestuário, tem
proporcionado maior eficiência e reduzido a geração de resíduos por meio de melhorias nos processos.

Design de moda zero waste


Trabalhando fora do âmbito da moda, [7] Paul Palmer estabeleceu o sistema zero waste em 1972 e,
mais tarde, fundou o “Instituto Zero Waste”, publicando críticas sobre a indústria de resíduos moderna
e reciclagem, em particular.

[8] A abordagem zero waste foi trazida novamente por pesquisadores de design, cujos principais
nomes são Timo Rissanen e Holly McQuillan, que começaram a refiná-la. O termo zero waste surgiu
para a moda a partir de 2008, durante o estudo de Rissanen. [7] Isso levou muitos a pensar que o
design de moda zero waste fosse um fenômeno novo, mas, embora o termo seja novo, a prática é tão
antiga quanto fazer roupas de tecido.

Para Rissanen, uma roupa zero waste é uma peça desenhada e modelada de forma que, [7] quando
cortada, todo o tecido fica na peça e nada é deixado para trás como resíduo de corte. O design de moda
zero waste refere-se, portanto, às atividades e processos de design que geram essas peças.

Para Townsend e Mills, o design de moda zero waste [9] é o processo de eliminar a habitual perda de
tecido de 15 a 20% na fase de corte, criando um ou vários moldes integrados, utilizando toda a largura
e um comprimento predeterminado de tecido, desenvolvendo um molde que se adapta completamente
às suas dimensões.

A figura abaixo mostra a aplicação do zero waste em uma peça de roupa. Como se pode observar,
todas as partes do molde se conectam e cada cor se refere a uma parte da peça, gerando um formato
que se adequa à largura do tecido.

Figura 1. Jaqueta zero waste de David Telfer (https://qianwangtextile.tu mblr.co m/post/107918975401/ my -


fashion-show-project).

[8] Como o processo de design é guiado pelo objetivo de zero resíduos, todo o tecido deve ser usado
na peça de roupa e, uma vez que cada parte da modelagem limita outra parte, cada corte deve criar
uma forma que seja útil e se ajuste à função e à forma da roupa.

4
[8] O método é mais adequado para pequenos estúdios, produção exclusiva e design experimental. No
entanto, é possível adaptá-lo também à produção em larga escala, criando menos tamanhos diferentes
na produção, como, por exemplo, P, M e G.

Processo criativo do vestuário zero waste


Quanto ao método de criação, [7] a abordagem mais comum na indústria e no ensino de moda é o
processo que abrange as seguintes etapas: “design, molde, protótipo, alteração do design, alteração do
molde e peça piloto”. O designer faz o croqui que orienta o modelista na construção do molde. Este
molde é cortado no tecido e costurado, gerando um protótipo da peça. Em seguida, faz-se a prova do
protótipo em um modelo e, então, as alterações do desenho são definidas. Após alterar o desenho,
altera-se o molde e corta-se uma “peça piloto” que serve de modelo para a confecção do produto final.

O método é diferente quando se trata do processo de design de moda zero waste. Para Rissanen, a
estratégia de design zero waste [7] consiste, primeiramente, em criar o “molde base” pelo processo de
moulage, sem um desenho prévio. Esse molde determina o comprimento inicial do risco, mas tal
comprimento pode aumentar depois, caso necessário. O molde base é colocado, então, sobre o tecido,
onde é possível estudar os espaços que sobram para a criação de detalhes menores da peça, como
bolsos, cós, vistas etc.

Atualmente, no mercado, as peças zero waste são predominantemente cortadas utilizando-se as bases
da modelagem tradicional como princípio, se não como toda a estrutura do vestuário. [9] O molde base
pode ser usado como um guia no qual o modelista tem áreas fixas e controladas e, as outras partes da
peça, podem ser trabalhadas ao redor do desenho, permitindo certo controle e experimentação.

[10] No design de moda zero waste, a criação de riscos é também uma parte integrante da atividade de
design. No modo tradicional, o risco ocorre após o desenho e a modelagem (muitas vezes por alguém
distante do designer e do modelista) resultando em espaços entre as partes, que, normalmente, são
inutilizados. [10] Esse processo, quando apoiado por métodos digitais, pode produzir resultados ainda
maiores e mais flexíveis.

Embora cada designer possua seu método próprio de criação, Aakko e Niinimäki descrevem o [8]
método de design utilizado por Holly McQuillan, composto pelas seguintes técnicas:
1) Planned chaos (caos ordenado), no qual as bases da modelagem tradicional são usadas
como linhas-guias fixas;
2) Geo Cut (corte geométrico), que se baseia na utilização de formas geométricas, como
quadrados, triângulos e círculos;
3) Cut and Drape (cortar e drapear), uma combinação de corte fluido e aleatório e moulage.

[9] Já para Townsend e Mills (pp. 6-7, tradução nossa):

Não aplicar diretamente as mesmas regras e processos habituais da modelagem pode


revelar-se benéfico, mas contando com uma experiência do que parece certo [...].
Cada profissional deve encontrar seu próprio método de trabalho dentro do zero
waste, e o trabalho de Mills destaca como começar [...] usando métodos alternativos
aos moldes básicos [...]. Muitos praticantes novos começam co m o molde básico e
depois de terem desenhado a primeira parte do molde, eles são levados a
compreender o que as formas que sobraram poderiam se tornar. [...]. O mo lde básico
é uma ferramenta que pode ser manipulada rápida e facilmente até que suas origens
sejam irreconhecíveis, no entanto, muitas vezes ele é usado como um resultado final
que pode prejudicar a percepção criativa da técnica [...].

5
Além do objetivo sustentável do design de moda zero waste, que tem como critério a redução do
resíduo têxtil, essa técnica apresenta um lado bastante criativo. [8] Experimentar, com métodos de
modelagem zero waste, pode ajudar a promover soluções originais, criativas e mais sustentáveis em
todas as práticas de design de moda. [9] A modelagem criativa é um componente crítico do design de
moda contemporâneo. Um nível avançado de modelagem pode converter um item de roupa em uma
peça bem cortada e desejada pelo consumidor.

[9] A modelagem criativa constitui um conjunto de habilidades em contínuo desenvolvimento e o


design de moda zero waste é um método criativo de corte com resultados de design interessantes. [9]
Designers japoneses, tais como Issey Miyake, Rei Kawakubo, Yohji Yammamoto e Junya Watanabe
têm ampliado de forma consistente os limites da modelagem por meio de peças de vestuário
vanguardistas e atemporais.

[8] O design de moda zero waste desafia as formas tradicionais de design, enquanto facilita o
surgimento de formas inovadoras e uma nova estética. Embora esse tipo de roupa possibilite a
inovação de formas, que podemos definir como formas conceituais, Townsend e Mills relatam que [9]
um grande desafio, identificado por meio da pesquisa principal de Mills, foi compreender como criar
uma peça interessante, usável, desejável e contemporânea, ainda que não muito conceitual.

Além disso, o design de moda zero waste também pode ser agregado a outras práticas criativas ou
sustentáveis. Aakko e Niinimaki citam o trabalho de Varvara Zhemchuzhnikova, [8] que experimentou
combiná-lo com tecidos estampados manualmente, resultando em uma estética única.

Importância do sistema CAD na criação de peças zero waste


[11] O aumento da competitividade e a exigência de prazos de entrega mais curtos têm levado ao
crescente desenvolvimento e implementação de sistemas CAD na indústria têxtil e de vestuário.
Métodos de trabalho manuais estão sendo substituídos em favor de métodos informatizados.

[12] No processo de modelagem informatizada, um modelista consegue criar, em um único dia, seis a
oito modelos, em média, dependendo da complexidade dos mesmos. No processo manual essa
produtividade é reduzida para no máximo três modelos, também de acordo com a complexidade e a
quantidade de partes que o compõem.

[12] A expressão CAD significa - Computer Aided Design, cuja tradução é “Desenho Assistido por
Computador”. [12] O conceito CAD abrange qualquer atividade que, com o auxílio do computador,
desenvolve, analisa ou modifica o design de um produto ou processo. Surgiu na década de 60, no
contexto da engenharia mecânica e da engenharia aeroespacial, passando a ser utilizad o pela indústria
de confecção a partir da década de 80.

[11] O papel do sistema CAD é fornecer precisão e representação gráfica facilmente modificáveis. O
usuário pode visualizar quase o produto real na tela, permitindo modificações sem qualquer protótipo,
principalmente durante as fases iniciais do processo de design. É possível realizar a análise de projetos
complexos em pouco tempo e armazenar todo o projeto e história de processamento de determinado
produto para futura reutilização.

[12] Esses sistemas proporcionam um trabalho em escala real com a introdução de dados via mouse,
teclado e mesa digitalizadora. Outra maneira de digitalizar moldes é por meio do quadro digiflash, que
tem sido utilizado cada vez mais pelas empresas.

[12] Vale ressaltar que, em um sistema CAD, é possível criar um padrão de bases e gradações e, até
mesmo desenvolver bases de forma adequada diretamente na tela. Isso garante uma maior

6
produtividade, uma melhor qualidade do processo e, ainda, uma padronização de todas as bases
existentes em uma empresa de confecção.

[4] A tendência é que as empresas utilizem o design com o objetivo de produzir corretamente, de
forma mais eficaz, pelo preço certo, para o mercado certo, no tempo certo, o que significa o fim do
conceito do designer visto como um artista ou um artesão. O designer de hoje precisa ser capaz de
gerir o processo produtivo com responsabilidades na tomada de decisão, planejamento e conhecimento
da política empresarial. Deve ser tão eficiente e flexível como a empresa onde exerce a sua atividade,
estar informado sobre as novas técnicas de comunicação verbal e visual e, ter a capacidade de se
adaptar e utilizar os equipamentos mais recentes, como, por exemplo, o sistema CAD, entre outros.

[12] O perfil do profissional buscado pelas empresas é aquele que apresente uma postura de
estilista/modelista, que é uma pessoa extremamente criativa, bem qualificada, que goste de pesquisar,
seja atualizada, entenda de modelagem e conheça profundamente as ferramentas do sistema utilizado.

As variações da moda costumam ser graduais e, em termos de modelagem, mudanças radicais são
pouco comuns. [4] O sistema CAD pode ser empregado em pequenas alterações nos moldes base ou
recombinar peças de moldes existentes e, assim, formar novos estilos, oferecendo ao estilista e ao
modelista uma ferramenta de extrema utilidade.

[10] Certas fases do processo do design de moda zero waste podem se tornar mais fáceis e rápidas com
a ajuda de tecnologias digitais como o sistema CAD. Outros sistemas não destinados originalmente à
modelagem, como o Adobe Illustrator, também podem ser utilizados para a mesma função.

[10] Como se trabalha essencialmente com um risco durante a maior parte do processo, o trabalho com
moldes em meia escala, manual ou digital são soluções úteis. Além disso, trabalhar com auxílio de
recursos digitais permite ao designer imprimir moldes em pequena escala para a realização de testes,
possibilitando o desenvolvimento do design sem o corte e desperdício de grandes quantidades de
tecido. As bases da modelagem podem ser facilmente copiadas e recortadas em partes, propiciando
alterar a largura e o comprimento do tecido com pouco esforço.

[10] Outras vantagens da integração fácil de métodos computadorizados no processo de design são o
desenho para estamparia digital e a portabilidade de um arquivo. Uma vez que se entenda o processo e
as limitações dos sistemas CAD, eles podem permitir o fácil desenvolvimento de peças de roupa zero
waste, na sua totalidade ou como parte de um processo maior da etapa de criação do produto.

Estudos e Resultados
Partindo-se dos métodos utilizados por McQuillan (caos ordenado, corte geométrico e cortar e
drapear) para o desenvolvimento de peças zero waste, foram selecionados para o presente estudo os
dois primeiros métodos (caos ordenado e corte geométrico). O terceiro método (cortar e drapear) não
foi utilizado, uma vez que se refere especificamente à moulage, técnica realizada sobre o manequim e
que, portanto, inviabiliza o emprego do sistema CAD. Dessa forma, apresentam-se neste estudo os
métodos de criação de dois modelos de saia zero waste.

Com o objetivo de acelerar o processo de criação e modelagem do vestuário zero waste, e possibilitar
sua inserção em uma escala industrial, optou-se pela utilização de um sistema CAD. O presente artigo
não pretende explicar a utilização das ferramentas do sistema, mas, sim, descrever os métodos de
criação das peças e apresentar os resultados do estudo. É um incentivo à concepção de mais modelos
de roupas zero waste por outros pesquisadores, estudantes e profissionais da moda.

7
Para a aplicação das técnicas selecionadas optou-se pelo modelo de saia evasê, definindo-se uma
largura de tecido padrão, de 1,40 metros, dentro da qual a modelagem deve se enquadrar, a fim de não
gerar desperdício. Com relação à tabela de medidas, o tamanho 40 foi utilizado como referência para a
confecção dos dois moldes.

O presente estudo não pretende tratar da gradação de moldes. [13] A gradação é uma técnica utilizada
para reproduzir um molde em outros tamanhos, que é modificado tanto verticalmente quanto
horizontalmente. Atualmente, muitos fabricantes utilizam computadores para fazer a gradação. [11]
Existem vários softwares específicos em que se pode criar moldes, gradação de modelos, fazer o
encaixe dos moldes para cálculo de consumo e risco para corte.

A gradação convencional de um molde de vestuário ocorre após os processos de design e modelagem.


[10] Não é possível gradar uma peça de vestuário zero waste da forma convencional. Sobre a gradação
de peças zero waste ainda se sabe muito pouco. [7] Rissanen, em seu estudo, propõe cinco métodos
diferentes, que devem ser usados conforme cada tipo de peça.

Estudo 1 - Saia evasê pelo método “caos ordenado” (figuras 2 e 3)


Primeiramente, desenhou-se um retângulo com a largura do tecido e uma altura inicial. Como a
técnica do caos ordenado consiste em utilizar as bases da modelagem como linhas guias, foi utilizado
um molde base de saia evasê. O molde das costas foi dividido ao meio para a aplicação do zíper e as
duas metades foram posicionadas de forma invertida (ponta cabeça), para permitir um melhor encaixe
dentro do retângulo. O posicionamento dos moldes em relação à altura foi fundamental para ocupar a
largura do tecido e definir a altura final do retângulo. Além disso, no centro das costas foi adicionada
uma margem de costura maior, com o fim de auxiliar no preenchimento dessa largura e possibilitar ao
usuário a realização de eventuais ajustes. O cós foi desenhado na largura do tecido (como uma espécie
de cinto) permitindo que o usuário faça diferentes amarrações na parte detrás da roupa. A barra foi
desenhada em linha reta para a preencher os espaços vazios. As partes de tecido excedentes, geradas
na curva da cintura, foram utilizadas como ornamentação para a abertura de bolsos na parte frontal. O
desenho pontilhado define a posição dos bolsos. Nas figuras abaixo é possível observar a modelagem
obtida com o sistema CAD e o produto final confeccionado em meia escala.

Figura 2. Molde da saia evasê pelo método “caos ordenado” (Elaborada pelos autores).

8
Figura 3. Vista frontal (Elaborada pelos Figura 4. Vista lateral esquerda (Elaborada
autores). pelos autores).

Figura 5. Vista posterior (Elaborada pelos Figura 6. Vista lateral d ireita (Elaborada
autores). pelos autores).

Estudo 2 - Saia evasê pelo método “corte geométrico”


Primeiramente, desenhou-se um retângulo com a largura do tecido e uma altura inicial. Como a
técnica escolhida se baseia em figuras geométricas, a saia foi idealizada para conter oito partes em
forma de trapézio. Para definir o formato retangular do molde e permitir a aplicação do zíper, um dos
trapézios foi dividido ao meio, formando as metades do centro costas. Para se definir a base menor do
trapézio, a medida da cintura foi dividida por oito. Para definir a base maior, a largura do tecido serviu
como parâmetro. O cós foi desenhado na largura do tecido (como uma espécie de cinto) , permitindo
que o usuário faça diferentes amarrações na parte detrás da roupa. Nas figuras abaixo é possível
observar a modelagem obtida com o sistema CAD e o produto final confeccionado em meia escala.

9
Figura 7. Molde da saia evasê pelo método “corte geométrico” (Elaborada pelos autores).

Figura 8. Vista frontal (Elaborada pelos Figura 9. Vista lateral esquerda (Elaborada
autores). pelos autores).

Figura 10. Vista posterior (Elaborada pelos Figura 11. Vista lateral direita (Elaborada
autores). pelos autores).

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Considerações finais
A aplicação do zero waste como técnica de design de produto de moda ainda precisa ser mais
difundida empresas e escolas de moda, e implementada pelos designers e empresários de moda. No
Brasil, ainda é bastante desconhecida, mesmo por profissionais da área da moda. O presente artigo nos
mostra que é possível utilizar tal técnica em conjunto com ferramentas digitais que facilitam e
aceleram o processo de criação, contribuindo, assim, para a aplicação do zero waste não apenas em
ateliês de roupas exclusivas, mas, também, para a produção em larga escala.

Os resultados do estudo apresentam peças com design inovador e potencial de venda, comparadas a
peças zero waste com design conceitual e formas de difícil aceitação por grande parte dos
consumidores. Dessa maneira, o estudo exposto por este artigo contribui com o design de moda
sustentável, posto que propõe eliminar a geração de resíduos têxteis da etapa de corte da roupa, com
aproveitamento máximo do tecido.

O estudo fornece subsídio para estudantes, professores e profissionais interessados em estratégias


sustentáveis na moda. Técnicas como as descritas devem ser mais estudadas e incentivadas nos cursos
de moda para desenvolver uma consciência sobre sustentabilidade nos estudantes, a fim de capacitar
futuros profissionais engajados na moda sustentável, preocupados com o Planeta e as futuras gerações.

Este artigo apresenta estudos sobre moldes de saia evasê, porém há muito que se pesquisar sobre a
roupa zero waste. Estudos para outros modelos de saias e outras peças, como calças, blusas, camisetas,
vestidos, são necessários e contribuirão em muito para a evolução dessa técnica, que possibilita
inovação em termos de design e ainda não gera resíduos de tecidos.

Para a produção da roupa zero waste em larga escala, o emprego do sistema CAD é essencial. Porém,
além das vantagens proporcionadas por ele, é preciso que se desenvolvam mais estudos sobre o
processo de gradação desses moldes, pois a confecção de tamanhos diferentes é fundamental para esse
tipo de negócio, mesmo que sejam apenas três tamanhos - P, M e G.

Referências
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meio urbano em Maringá / Pr. VI Congr. Iberoam. Estud. Territ. y Ambient., São Paulo:
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