Ecodesign: o Caminho para Uma Moda Verde em Santa Cruz Do Capibaribe - PE

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Ecodesign: o caminho para uma moda verde

em Santa Cruz do Capibaribe – PE

José Afonso Santos SILVA 1


Hélio Moreira do NASCIMENTO 2
Daniela VASCONCELOS 3
Tenaflae da Silva LORDELO 4
Anderson Alves de MORAIS 5

Resumo

O objetivo deste trabalho é despertar nos designers de moda à reflexão sobre uma produção
mais harmônica com o meio ambiente, visando a sustentabilidade em todos os processos
produtivos de suas empresas: criação, modelagem, prototipagem, corte, estamparia,
bordado, produção, acabamento, embalagem, propaganda, venda, entre outros. Este estudo
busca identificar a maneira como as empresas do segmento de moda em Santa Cruz do
Capibaribe - PE trabalham, observando a preocupação das mesmas com o meio ambiente,
pautadas em uma produção sustentável e visando um consumo ecologicamente mais
responsável. É cada vez mais visível os impactos causados ao planeta, em virtude do modo
como algumas empresas agem sem respeitar o meio-ambiente, comprometendo o futuro da
biodiversidade. Frente a esse cenário um desenvolvimento sustentáveis faz-se necessário,
especificamente dentro da indústria confeccionista de itens de moda, que vem contribuindo
para o aumento da poluição. O fato é que a indústria de confecção de roupas e produtos de
moda deve atrelar-se imediatamente a esta causa e se engajar junto com toda sociedade na
busca por um desenvolvimento mais sustentável.

Palavras-Chave: Design de moda. Ecodesign. Indústria Confeccionista.

Introdução

Este estudo busca identificar a maneira como as empresas do segmento de


moda em Santa Cruz do Capibaribe - PE trabalham, observando a preocupação das mesmas
com o meio ambiente, pautadas em uma produção sustentável e visando um consumo

1
Graduado em Design de Moda pela FADIRE. E-mail: [email protected].
2
Pós-graduando em Gestão Ambiental. E-mail: [email protected].
3
Pós-graduando em Gestão Ambiental. E-mail: [email protected]
4
Mestre em Comunicação e Cultura Contemporâneo pela UFBA. E-mail: [email protected]
5
Graduando em Jornalismo pela FAVIP. E-mail: [email protected].

Ano VII, n. 06 – Junho/2011


ecologicamente mais responsável. É cada vez mais visível os impactos causados ao planeta,
em virtude do modo como algumas empresas agem sem respeitar o meio-ambiente,
comprometendo o futuro da biodiversidade. Algumas soluções tais como o uso de matéria-
prima renovável, que não agrida o meio ambiente durante sua extração, processo de
produção, distribuição e descarte, abrem caminho para o desenvolvimento sustentável. Na
confecção de itens do vestuário é possível citar a utilização de tecidos orgânicos extraídos
das fibras do bambu, do algodão, a lã de animais e a seda que é produzida por um inseto
chamado de “bicho da seda”, que são todos extraídos de fontes renováveis.
O objetivo deste trabalho é despertar nos designers de moda à reflexão sobre uma
produção mais harmônica com o meio ambiente, visando a sustentabilidade em todos os
processos produtivos de suas empresas: criação, modelagem, prototipagem, corte,
estamparia, bordado, produção, acabamento, embalagem, propaganda, venda, entre outros.
De acordo com FERNADES e PORTELA (2000) as formas de desenvolvimento
econômico as quais buscam satisfazer apenas as necessidades, causaram transformações ao
meio ambiente, muitas vezes até com consequências irreversíveis, pois as mudanças nos
processos produtivos, ocorridas principalmente a partir da década de 1970, devido aos
rápidos avanços científico-tecnológicos, mais especialmente na área da informática e
comunicações, aumentaram consideravelmente o número de intervenções na natureza,
gerando um conflito quanto à qualidade do uso dos espaços e trazendo o velho debate entre
o lucro e a natureza. Após a revolução industrial e os grandes avanços tecnológicos as
empresas passaram a produzir em larga escala, fazendo uso de máquinas que substituíam o
trabalho humano e aumentavam o número de produtos produzidos, gerando lucro, o que
refletia no aumento dos processos de aquecimento global e outros impactos naturais.
A indústria confeccionista de itens de moda logo aderiu a industrialização, fazendo
uso de toda tecnologia possível para produzir mais rápido e em maior escala seus produtos,
obtendo maiores lucros, entretanto, toda essa modernização de maquinários acabou gerando
efeitos nocivos, a preocupação de tal indústria com o meio ambiente durante décadas foi
quase nulo, mas atualmente emerge um interesse por parte de empresários confeccionistas
em trabalhar com processos produtivos que visam a sustentabilidade, como máquinas com
motores que consomem menos energia, reaproveitamento dos resíduos gerados durante a

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confecção de seus artigos, o uso de tecidos orgânicos e o controle de água utilizada durante
os processos produtivos.
Devido ao presente cenário mundial onde cotidianamente percebem-se cenas de
destruição associadas a terremotos, maremotos, furacões, incêndios florestais causados por
conta da alta temperatura, enchentes provocadas por chuvas repentinas e avassaladoras,
entre outros fenômenos naturais, percebe-se que o planeta terra está respondendo agora por
vários anos de total desrespeito ao meio ambiente e está dando sinais de que da forma que
está não dá pra continuar. É de fundamental importância que a população mundial se volte
para esta causa tão nobre e una-se na busca por um desenvolvimento sustentável, onde seja
possível dar continuidade não só a vida humana, mas também a vida do planeta terra.
Frente a esse cenário um desenvolvimento sustentáveis faz-se necessário,
especificamente dentro da indústria confeccionista de itens de moda, que vem contribuindo
para o aumento da poluição. O fato é que a indústria de confecção de roupas e produtos de
moda deve atrelar-se imediatamente a esta causa e se engajar junto com toda sociedade na
busca por um desenvolvimento mais sustentável. Este projeto tem o intuito de
principalmente mostrar para os empresários e cidadãos a importância de possuírem práticas
produtivas responsáveis, práticas estas que se preocupem com o ser humano e com o meio
em que vive. Para o profissional de design é de fundamental importância conhecer e utilizar
técnicas de trabalho que visem sempre objetivos sustentáveis e que não afetem a esfera
global e os mais variados tipos de vida existentes na terra. Por isso, demonstra-se essencial
a elaboração de artigos científicos que tratem sobre o tema sustentabilidade, para que desta
forma sempre haja fontes de pesquisas que abordem em seus princípios éticos e morais a
preocupação devidamente correta com as formas de produção e utilização de matérias-
primas no processo produtivo de artigos de moda, no que se diz respeito a sustentabilidade.

Ecodesign, um caminho para a sustentabilidade

É perceptível o crescimento da consciência ecológica e o reconhecimento do atual


modelo de desenvolvimento que da prioridade a busca por evolução econômica e não
demonstra preocupação com o meio ambiente. Devido a isto, é notória uma mudança de

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comportamento por parte da população mundial quanto as formas de elaboração de novos
produtos, principalmente aqueles que durante seu processo de extração, de produção e no
seu descarte, venham a provocar impactos direta ou indiretamente no equilíbrio ambiental
como a escassez de matérias-primas não-renováveis, a extinção de animais e/ou plantas e a
destruição de ecossistemas que levaram centenas de anos para serem construídos como é o
caso de corais de peixes e manguezais, o que acaba pondo em risco a continuação da
sobrevivência do homem e de outros seres vivos na terra. Segundo LEWIS & GERTSAKIS
(2001) o objetivo do ecodesign é elaborar produtos pensando primeiramente no meio
ambiente, responsabilizando-se com futuras consequências ambientais. O design é o
profissional responsável por grande parte dos projetos de desenvolvimento de produtos, em
múltiplas áreas, como moveleira, automobilística, moda, entre outras. É uma grande
responsabilidade para o design, o desafio da atualidade é projetar utilizando uma
metodologia de ecodesign, visando unicamente à sustentabilidade. O ecodesign utiliza-se
de conceitos como reduzir o uso de matéria-prima e dos recursos naturais, otimizar o
aproveitamento de resíduos, reduzir o impacto ambiental e aumentar a qualidade dos
produtos.
Na indústria confeccionista de itens de moda, o ecodesign pode ser utilizado de tal
forma: durante o processo de criação deve-se priorizar looks com matérias-primas
biodegradáveis, o trabalho de criação pode ser feito todo no computador inclusive a
divulgação pela internet para eliminar o uso de papéis, o enfesto e o encaixe das peças no
corte devem ser feitos com o objetivo de melhor aproveitamento possível, para que assim
não seja desperdiçada muita matéria-prima após o corte, o processo de estamparia deve dar
prioridade a tintas a base de água e que não poluam o meio ambiente durante sua produção
e utilização, durante o bordado é aconselhável a utilização de materiais não poluentes e
máquinas que poupem energia elétrica, os processos produtivos devem ser baseados em
conceitos sustentáveis que não agridam o meio ambiente nem os seres nele existente, os
resíduos gerados durante o corte e os processos produtivos devem ser reaproveitados pela
própria empresa para gerar novos produtos ou repassados para ONGs e entidades
filantrópicas que utilizam-se de resíduos industriais para criarem seus produtos, a fase de
acabamento dos produtos deve seguir as mesmas normas sustentáveis as sacolas plásticas

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utilizadas na embalagem devem ser feitas de materiais biodegradáveis e os resíduos gerados
devem ser destinados à reutilização.
Atualmente é notório que os resíduos industriais (sobras de matérias-primas durante
a produção) são de grande importância para o lucro das indústrias, pois, se reaproveitado da
maneira correta pode gerar novos produtos e novos lucros, podem também ser vendidos
para serem utilizados por ONGs e entidades filantrópicas que trabalham exatamente
criando produtos a partir de sobras de matérias-primas e do reaproveitamento de objetos e
acessórios já descartados e fora de uso. O trabalho do design é extremamente importante
para a obtenção de tais lucros, pois com técnicas de ecodesign a probabilidade de sucesso
nos projetos de reutilização e reaproveitamento de sobras e resíduos de matéria-prima é
bem maior. Para tanto, é necessário um grande trabalho de pesquisa sobre novos métodos e
parâmetros para desenvolverem-se novos produtos. As mais variáveis possibilidades de
materiais disponíveis ao nosso alcance, materiais estes que sirvam de matéria-prima e que
não agridam o meio ambiente durante seus processos de extração, produção, utilização e
descarte. O propósito é pensar no produto desde a extração de sua matéria-prima, os
processos industriais que serão utilizados para a produção do mesmo, a mão-de-obra, os
recursos necessários para sua fabricação, o uso, o reuso, a reciclagem e o descarte no meio
ambiente.
Deve-se também repensar as formas de produção de utensílios do vestuário,
pensando tais utensílios de forma mais sustentável, mudando o caráter de as roupas serem
descartáveis e tornando o ciclo da moda menos efêmero, produzindo roupas que utilizem-se
de matérias-primas renováveis, com mais durabilidade, qualidade e que possam ser
reutilizadas por ONGs e cooperativas após os seus descartes, para assim gerarem novos
produtos e diminuírem a inserção de insumos gerados pela indústria confeccionista de
artigos de moda no meio ambiente. Segundo MUTHESIUS apud (QUARANTE, 1992)
quando o objetivo é trabalhar de forma sustentável, o design desempenha uma função social
de tal maneira que engrandece o trabalho profissional elaborado, isso, graças a uma junção
entre a arte, a indústria, o trabalho manual e a percepção de que é necessário produzir de
maneira inteligente. É cada vez maior a preocupação com o meio ambiente, a população
está mobilizada para este fato, os governos que antes não davam muita atenção para a

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sustentabilidade – estavam atrelados a teoria de riqueza x natureza – agora se vêem
obrigados a tomarem a decisão correta antes que seja tarde. A estratégia dos governantes é
pressionar as empresas, indústrias e cidadãos para agirem de forma sustentável, sendo
assim, a tendência é que no futuro deverão aparecer novas formas de produção, novos tipos
de produtos que supram as necessidades dos seres humanos sem agredirem o meio
ambiente, novas formas de trabalho e de consumo mais responsáveis, etc.
De início o custo para as empresas será alto, com a mudança na maneira de
produzir, será necessário comprar novas máquinas que se adequem ao desenvolvimento
sustentável, mudar a forma com a qual trabalha-se sem respeito algum pela natureza,
porém, com o passar do tempo tudo voltará ao normal, e ainda melhor, será possível viver
de maneira sustentável. O design terá cada vez mais espaço no mercado, com a necessidade
de novos projetos para as empresas e indústrias, o design utilizando-se do “ecodesign”,
buscará encontrar novas e melhores formas projetuais para a produção e o consumo dos
produtos por ele produzidos, não se esquecendo de procurar formas e materiais que
satisfaçam o uso ergonômico e estético, seja este produto de moda ou de outras áreas.
Muitas empresas já perceberam que o desenvolvimento sustentável gerou um novo
nicho de mercado, a partir daí, começaram a produzir seus produtos de forma que estes
busquem cada vez mais atingir níveis satisfatórios de sustentabilidade, para desta forma
conquistarem um novo grupo de consumidores que surgiram após este conceito. Os
cidadãos estão cada vez mais exigentes quanto aos efeitos causados ao meio ambiente pelos
produtos consumidos cotidianamente, as empresas que se comprometeram com o objetivo
de gerar produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, saíram na frente neste novo
mercado e vão conquistando cada vez mais a confiança e credibilidade de seus clientes, a
tendência é que cada vez mais a sociedade passe a pressionar e cobrar mais sustentabilidade
por parte das indústrias – de moda ou não – e dos lideres governistas.
Muitas são as propostas de melhoramentos prometidas por grande parte dos
empresários, propostas do tipo: “a cada produto vendido por nossa empresa, uma nova
arvore será plantada”, o discurso é bonito, porém na prática isto não costuma acontecer,
muitas vezes trata-se apenas de estratégias de marketing para atrair novos clientes, o que
não pode continuar acontecendo de forma alguma. A terra precisa seriamente de cuidados

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sustentáveis para se manter habitável, as propagandas e discursos devem ser postos em
prática para assim gerar novas expectativas de vida no planeta. O conceito de
sustentabilidade deve penetrar realmente na cabeça dos empresários, lideres políticos e
consumidores, levando o desenvolvimento sustentável a sério e cumprindo-o ao pé da letra,
respeitando a natureza e cultivando quaisquer que sejam os recursos, renováveis ou não,
preocupando-se com a forma com qual irão viver as novas gerações, tornado-se sujeitos
“ecoalfabetizados 6 ” que saibam conviver em harmonia com o meio em que vivem, sendo
assim, viverão bem as gerações do presente e do futuro.

Categorias analíticas, com base nos estudos de Almeida (2002) e de Lewis &
Gertsakis (2001)

De acordo com os estudiosos citados acima, para se obterem produtos de


caráter sustentável será preciso mudanças principalmente na escolha da matéria-prima ideal
a ser utilizada e nos processos de produção de produtos e/ ou serviços, para tanto, neste
trabalho será apresentada uma pesquisa realizada e engajada com quatro importantes
fatores produtivos da industria confeccionista de artigos moda em Santa Cruz do
Capibaribe. Os fatores a serem pesquisados serão: 1) matéria-prima; 2) processo produtivo;
3) sobras do processo produtivo; 4) marketing.

Matéria-prima – é o nome dado a um material que sirva de entrada para um


sistema de produção qualquer. Na confecção de artigos do vestuário podem ser
classificados: tecidos, aviamentos, corantes, tintas de estampária etc.

Processo produtivo – é a combinação de fatores de produção que proporciona


a obtenção de um dado produto final. Na industria do vestuário poderia ser no caso a

6
Ecoalfabetizado significa compreender esta interdependência no local onde vivemos e como essa
interconexão pode ser usada para benefício mútuo de seres humanos e de toda a teia da vida na floresta de
sequóias, nos bosques de carvalhos, nas praias e vales de nossa região. CAPRA (1996).

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construção sistêmica de uma calça jeans, desde o corte – passando por todos os outros
processos – até a embalagem do produto.

Sobras do processo produtivo – é toda matéria-prima não aproveitada durante


o processo produtivo e que “provavelmente” vai para o lixo. Na confecção de artigos de
moda se caracterizam em restos de tecidos, cones de plástico, papel de risco entre outros.
Estes resíduos podem ser transformados em novos produtos e o reaproveitamento destas
sobras é muito importante para a empresa e sociedade.

Marketing – é uma função organizacional e um conjunto de processos que


envolvem a criação, a comunicação e a entrega de valor para os clientes, bem como a
administração do relacionamento com eles, de modo que beneficie a organização e seu
público interessado. (AMA - American Marketing Association - Nova definição de 2005).
É uma ferramenta de extrema importância no mundo da moda, sendo a forma de
apresentação do produto para os clientes. Agora mais do que nunca as empresas utilizam-se
de campanha publicitarias que envolvem a sustentabilidade, resta saber se o que diz a
propaganda pode ser realmente posto em pratica.

Análise das empresas

Após os resultados das pesquisas feitas em três empresas de Santa Cruz do


Capibaribe, o resultado não foi satisfatório, pois as mesmas demonstram um nível
prematuro de práticas produtivas de artigos de moda, no que se diz respeito a
sustentabilidade. As três empresas aparentam estarem muito presas a um sistema
capitalista, que objetiva principalmente lucros financeiros e deixa de lado a preocupação
com o meio ambiente e com os seres vivos nele existentes. Porém até mesmo a própria
administração da cidade de Santa Cruz do Capibaribe, deixa muito a desejar, pois ainda não
possui uma coleta seletiva, não tem uma política de redução da taxa tributária caso a
empresa atinja níveis satisfatórios de sustentabilidade e não cobra das empresas formas de
trabalho mais consciente no que se diz respeito ao meio ambiente.

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Dentre as três empresas os níveis de sustentabilidade praticados quanto aos seus
aspectos produtivos, são muito parecidos, utilizam basicamente os mesmos tipos de
matéria-prima e trabalham de formas semelhantes umas das outras. O universo desta
pesquisa é de apenas três empresas, devido à isto, não pode-se afirmar que seja um
problema local generalizado, mas, isto leva a acreditar que já se tornou uma prática
produtiva local e cultural, que precisa ser mudada gradativamente para que possa-se atingir
um nível sustentável satisfatório na região de Santa Cruz do Capibaribe. O fato de as três
empresas armazenarem e separarem devidamente os resíduos do processo produtivo,
apenas para vendê-los à partes interessadas e que muitas vezes as empresas não sabem que
rumo ou em que estes resíduos serão transformados, demonstra que isto é feito apenas com
por um motivo: o fato de gerarem uma renda extra com a venda dos resíduos. O que não
deveria funcionar desta forma, pois, o que deveria acontecer – segundo os princípios
sustentáveis já expostos neste trabalho – era uma política de reaproveitamento e
reutilização dos resíduos gerados durante os processos produtivos. Além de se gerar o
mínimo de resíduos possível, é preciso saber o que vai acontecer com esses resíduos, é
necessário fazer com que estes sejam reaproveitados da melhor forma possível, sendo
reutilizados por ONGs, entidades filantrópicas, entre outros, para que assim estas
organizações possam dar um destino correto para tais sobras.
Percebe-se que um dos únicos esforços feitos pelas empresas analisadas é o uso de
máquinas com motores que reduzem o gasto de energia elétrica, fato que acontece nas
empresas “B” e “C”, a empresa “A” ainda não possui esses tipos de máquinas, pretendendo
implantá-las brevemente. O conceito de sustentabilidade está presente nos discursos de
políticos e de grandes empresas atualmente, mas infelizmente a falta de compromisso das
três empresas com o meio ambiente, impede que as mesmas façam melhor proveito desta
“onda” de sustentabilidade, não permitindo que as três utilizem-se deste conceito para
criarem suas campanhas publicitárias, mas as três empresas objetivam aderir a esta “onda”
o mais rápido possível. O que demonstra que as empresas estão percebendo que precisam
mudar ou seria mais obvio falar que elas precisam se adaptar as mudanças globais.
A empresa “B” demonstra estar mais próxima na busca por atingir níveis
sustentáveis satisfatórios, pois ainda não utiliza-se de muitas práticas que visem a

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sustentabilidade, porém, tem planos de implantá-las no prazo máximo de até um ano,
planos como o projeto intitulado de: “Dez motivos sustentáveis para ser cliente da empresa
B”, que tem como objetivo diminuir os impactos ambientais causados com a produção de
seus produtos. As empresa “A” e “C” demonstram interesse em implantar práticas
sustentáveis em seus meios de produção, mas ainda não têm nenhum projeto concreto, o
que mostra que entre as três empresas pesquisadas, a empresa “B” está na frente no que se
diz respeito a sustentabilidade.
Nenhuma das três empresas possuem certificação ISO (International Organization
for Standardization), que é um órgão internacional responsável por avaliar as práticas
sustentáveis das empresas e organizações no que se diz respeito a qualidade dos produtos e
processos (meios) de produção. Para avaliar a sustentabilidade praticada por empresas e
organizações a ISO criou uma série de normas chamada: “Série ISO 14000”, que fica
responsável por regulamentar processos, produtos e serviços quanto aos aspectos
sustentáveis, pode-se entender melhor a série ISO 14000 na página 31 do suposto trabalho.
As empresas precisam tratar do assunto “sustentabilidade” com mais seriedade,
devem se apegar aos conceitos sustentáveis demonstrados durante este trabalho, conceitos
que indicam que o produto deve ser pensado desde o seu nascimento (criação) até a sua
morte (descarte), pensando em todas as fases dos processos produtivos, pois, só porque se
trata de uma indústria confeccionista de artigos de moda, isto não quer dizer que não se
deva pensar de onde é extraída a matéria-prima, como é tingido o tecido, entre outros, pelo
contrário, todas estas fases têm que ser avaliadas com cuidado, pois se a empresa tem um
processo produtivo adequado e que respeita o meio ambiente, isto de nada adianta se ela
utiliza uma matéria-prima que cause efeitos nocivos ao meio ambiente, que agride o planeta
terra durante sua extração e sua produção, como foi dito durante todo este trabalho, todas as
partes precisam ser levadas em conta, pois produto meio sustentável não ajuda a combater
efeitos como o aquecimento global por exemplo, ou o produto é sustentável ou não é, o
meio termo não contribui muito para que possa-se atingir um nível de sustentabilidade
satisfatório.
O fato é que as empresas de Santa Cruz do Capibaribe, precisam mudar suas
práticas produtivas de artigos de moda, adaptando-se as mudanças impostas pelo planeta

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terra, pois não basta continuar com uma forma local e cultural que prioriza
desenvolvimento econômico e deixa o meio ambiente em segundo ou terceiro plano. As
empresas analisadas demonstram estarem preocupadas com a causa, o que é um bom sinal,
porém, elas não podem mais esperar para mudarem, precisam mudar já, os impactos
ambientais estão presentes no dia-a-dia e na esfera global, o que precisa ser feito é buscar
novos meios de produção mais sustentáveis para que se possa combater à estes efeitos
herdados de gerações passadas e que não podem mais ser deixados como herança para as
gerações futuras. Pode-se concluir que as Três empresas de Santa Cruz do Capibaribe, estão
engatinhando para um futuro mais sustentável, o que não deixa de ser um ponto positivo,
mas é preciso que elas comecem a caminhar à passos mais largos, para atingir bons níveis
de sustentabilidade o mais breve possível.

Considerações finais

Com este trabalho foi possível analisar e compreender a forma produtiva de artigos
de moda de três empresas em Santa Cruz do Capibaribe, percebendo-se que as mesmas
ainda não possuem práticas sustentáveis satisfatórias de acordo com o referêncial teórico
desta pesquisa, pois a preocupação com os lucros das empresas vêm antes que a
preocupação com o meio ambiente. Desta forma as empresas “A”, “B” e “C” se
demonstram ainda em um processo inicial de transição para um futuro mais sustentável, a
partir do momento em que demonstram certa preocupação com o caso, mas ainda
considera-se um nível insatisfatório e pequeno mediante o tamanho do problema que
enfrenta o planeta terra.
Considerado uma etapa importante e fundamental na criação de artigos de moda, o
processo produtivo deve basear-se em práticas sustentáveis para atingir as expectativas do
público consumidor atual, público este que está se preocupando cada vez mais com o meio
ambiente. Por isso, tal processo não pode ser pensado separadamente dos outros processos
que compõem a cadeia produtiva de moda, pois como definem os autores citados durante
este trabalho, o produto deve ser elaborado pensando-se em todos os processos que
precisarão ser efetuados para que o mesmo fique pronto, desde a extração de sua matéria-

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prima, passando pelos processos de criação, produção, acabamento, distribuição, venda e
descarte.
As empresas de Santa Cruz do Capibaribe precisam tomar conhecimento sobre as
normas ambientais de especificações e certificações da Série ISO 14000 e tentarem se
adaptar a tais normas, pois a ISO é uma organização internacional muito importante,
devido a isto, as empresas que recebem o certificado ISO são reconhecidas mais facilmente
e encontram menos barreiras para exportarem seus produtos por exemplo. Inclusive a ISO
14000 emite um selo chamado de “selo verde” o que certifica que o seu produto ou serviço
respeita normas de sustentabilidade.
O suposto trabalho indica que os resíduos gerados durante os processos produtivos
de artigos de moda – não diferente de outras cadeias produtivas – devem ser devidamente
separados e armazenados, pois os mesmos servem de matéria-prima para a criação de novos
produtos, como as sobras de tecidos por exemplo, servem para fazer outras peças como
cochas e almofadas de retalho (patchwork). Os resíduos podem ser reaproveitados pela
própria empresa ou ainda serem vendidos ou doados para terceiros, como ONGs e
entidades filantrópicas, que darão novos rumos a estes resíduos, fazendo com que eles se
transformem em novos produtos ao invés de se tornarem lixo.
Este trabalho vem mostrar para os empresários de Santa Cruz do Capibaribe e
região o quanto é importante fazer uso da sustentabilidade durante seus processos
produtivos, pois, agora mais do que nunca, o conceito sustentabilidade se tornou um belo
nicho de mercado, do ponto de vista que a classe consumidora está dando maior valor aos
produtos chamados de “sustentáveis”. As propagandas envolvendo a sustentabilidade estão
ganhando cada vez mais espaço no cenário global, isto devido ao fato de a população
mundial está preocupada com o futuro do planeta. O uso de práticas sustentáveis torna-se
cada vez mais necessário e agora pode ser considerado também uma boa estratégia de
negócio, o que acaba se tornando bom para os empresários e para o meio ambiente que é o
mais importante.

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