Previdencia e Desmonte Do INSS

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Previdência Social em Contrarreforma:

o desmonte do INSS e os entraves ao acesso da classe


trabalhadora na pandemia da Covid-19

Edivane de Jesus1
Sabrina Fermiano Campos2
Introdução

A Covid-19, causada pelo novo coronavírus, foi identificada em dezembro de


2019 na província de Wuhan na China, se espalhou rapidamente pelo mundo,
demonstrando grande potencial de transmissibilidade e gravidade clínica. No
Brasil, o primeiro caso oficial de infecção foi notificado em fevereiro e a primeira
morte na segunda metade de março. A disseminação do vírus foi rápida, o país
contabiliza até o fechamento desse texto no início de dezembro de 2020 mais de
170 mil mortes em decorrência da doença.
Diante da gravidade da pandemia e em consonância com as orientações da
Organização Mundial de Saúde (OMS), autoridades governamentais do mundo todo
adotaram estratégias para mitigar a disseminação do coronavírus e conter mortes.
No Brasil, governo federal, estados e municípios regulamentaram medidas relativas
ao isolamento social e quarentena. Nessa esteira, a maior parte das instituições
públicas suspendeu, em algum período, o atendimento presencial. 
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), autarquia responsável pela
operacionalização do Regime Geral de Previdência Social teve seu atendimento
presencial interrompido em decorrência da pandemia de Covid-19, inicialmente,
por meio da Portaria n. 8.024 de 19 de março de 20203, que estabeleceu que o
atendimento ao público seria prestado exclusivamente através dos canais remotos.
Embora a suspensão do atendimento presencial seja legítima sob o ponto de vista
sanitário, essa situação vem causando desde março inúmeros entraves à população
que utiliza dos serviços da autarquia. 

1.  Assistente Social, Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de


Santa Catarina – UFSC, Membro do Núcleo de Estudos e Pesquisas Trabalho, Questão Social e América
Latina- NEPTQSAL – Contato: edivane.jesus@ufsc.  
2.  Assistente Social da Gerência Executiva do Instituto Nacional do Seguro Social - INSS/SC e mem-
bro da Diretoria do SNDPREVS/SC – Contato: [email protected].
3.  BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Portaria n. 8.024,
de 19 de março de 2020. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ed. 55, p. 67. 20 mar. 2020. Dis-
ponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-8.024-de-19-de-marco-de-2020-249028145.
Acesso em: 29 nov. 2020.

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Contudo, cabe demarcar que, antes do cenário gerado pela Pandemia, o INSS já
vinha passando por um conjunto de transformações com o advento do Programa
intitulado “INSS Digital”, implantado em 2016. Com mudanças graduais que
visam digitalizar cada vez mais os processos de benefícios, as rotinas de trabalho
e a forma de atendimento à população modificaram-se totalmente nos últimos
anos. Essas alterações foram intensificadas a partir de 2019, quando a maioria dos
requerimentos de benefícios e serviços passaram a ser feitos exclusivamente via
internet ou central telefônica. Essa mudança no modelo de atendimento agravou
a dificuldade de acesso para os cidadãos que, tanto por exclusão digital, quanto
por outras formas de exclusão social, não conseguem utilizar as tecnologias da
informação e comunicação.
Nesse sentido, sustentamos nesse artigo que as modificações administrativas,
que vem sendo implantadas no INSS desde 2016, compõe o conjunto de ações
da reforma do estado brasileiro e endossam o movimento de contrarreforma da
previdência social que, desde 1990, avança na direção do desmantelamento dos
direitos previdenciários estabelecidos pela Constituição Federal de 1988. 

1 O atendimento do INSS na pandemia de Coronavírus 

A Portaria n. 8.024 de 19 de março de 2020 estabeleceu que o atendimento


do INSS seria realizado exclusivamente através dos canais remotos (central
telefônica 135, site, aplicativo de celular e plantão telefônico – ofertado de acordo
com a capacidade das unidades), face o fechamento de todas as agências da
Previdência Social do país. Diante do agravamento da pandemia, outras normativas
prorrogaram o fechamento das Unidades do INSS por meses. Em 24 de agosto,
o Ministério da Economia/Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, emitiu
a Portaria Conjunta n. 464 que determinou a retomada gradual do atendimento
presencial nas agências do INSS a partir de 14 de setembro. No entanto, a maior
parte das agências do INSS do país continua fechada, como é o caso da maioria
das unidades de Santa Catarina. Várias são as razões para que essa situação se
mantenha: problemas estruturais, de adequação às normas sanitárias vigentes,
falta de servidores aptos ao retorno presencial, oferta de Equipamento de Proteção
Individual (EPI), como máscaras, luvas, álcool em gel, divisórias de acrílico nas
mesas e guichês, normativas regionais, entre outros.
Em Santa Catarina, o processo de interrupção do atendimento presencial nas
unidades do INSS se deu já a partir da publicação do Decreto Estadual n. 509, de

4.  BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Portaria Con-
junta n. 46, de 21 de agosto de 2020. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, ed. 162, p.15, 24
ago. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-conjunta-n-46-de-21-de-agosto-
-de-2020-273700994. Acesso em: 29 nov. 2020.

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17 de março de 20205. Nesse ato, o governo do estado determinou, como medida


de controle à disseminação do coronavírus, a suspensão das aulas na rede pública
e particular de ensino, cancelamento de eventos, atividades em locais fechados
e descontinuação de atendimentos presenciais de órgãos públicos, em todo o
território catarinense.
Considerando a particularidade do público atendido pelo INSS, composto em
sua maioria por idosos, doentes, pessoas com deficiência e gestantes, não há dúvida
de que a medida de segurança foi de extrema importância para a preservação da
vida, tanto da população atendida, como dos servidores da autarquia. O fluxo de
pessoas nas agências é intenso e o tempo de permanência na sala de espera é longo,
tendo em vista o reduzido número de servidores disponíveis para o atendimento
ao público. Em relação às questões estruturais, é importante sinalizar que muitas
unidades não contam com um sistema de ventilação e circulação de ar adequado.
Ou seja, a emergência de saúde estabelecida pelo coronavírus somou-se a um
conjunto de condições desfavoráveis, tornando inviável a oferta de atendimento
presencial, sem colocar em risco a vida de segurados, usuários e trabalhadores
da instituição.
Nesse sentido, o INSS adotou medidas excepcionais de proteção social como as
contidas na Portaria n. 373 PRES/INSS, de 16 de março de 20206, que interrompeu
por 120 dias rotinas de atualização e manutenção de benefícios como:

I - bloqueio dos créditos dos benefícios por falta de realização da comprovação


de vida aos beneficiários residentes no Brasil ou no exterior;
II - exclusão de procuração por falta de renovação ou revalidação após 12
meses;
III - suspensão de benefício por falta de apresentação de declaração de cárcere;
IV - suspensão de benefício por falta de apresentação de CPF;
V - suspensão de benefício por não apresentação de documento que comprove
o andamento regular do processo legal de tutela ou curatela quando se tratar
de administrador provisório, além do prazo de 6 meses;
VI - o envio das cartas de convocação aos beneficiários com dados cadastrais
inconsistentes ou faltantes identificados pelo Sistema de Verificação
de Conformidade da Folha de Pagamento de Benefícios – SVCBEN e
5.  SANTA CATARINA. Decreto n. 509, de 12 de março de 2020. Diário Oficial dos Municípios
de Santa Catarina, Florianópolis, SC, 28 mar. 2020. Disponível em: https://diariomunicipal.sc.gov.br/
site/?r=site/acervoView&id=2422744Acesso em: 29 dez. 2020.
6.  BRASIL. Ministério da Economia. Instituto Nacional do Seguro Social/Presidência. Portaria n.
373, de 16 de março de 2020. Estabelece orientações quanto às medidas protetivas, no âmbito do
INSS, para enfrentamento da emergência de saúde pública decorrente da pandemia do coronavírus
(COVID 19). Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ed. 52, p.26, 17 mar. 2020. Disponível em:
https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-373-de-16-de-marco-de-2020-248328921. Acesso em: 29
nov. 2020.

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Pandemia, políticas públicas & sociedade

disponibilizados no Painel de Qualidade de Dados do Pagamento de Benefícios


– QDBEN; e
 VII - suspensão de benefícios por impossibilidade da execução do programa
de Reabilitação Profissional.

A Portaria n. 543, de 27/04/20207, por sua vez, instituiu medidas com vistas a
facilitar o acesso aos créditos dos benefícios como a autorização de transferência do
pagamento da modalidade “cartão magnético” para “conta corrente” do beneficiário. 
Outra normativa do período, a Lei 13.982/208, autorizou o INSS a antecipar 1
(um) salário-mínimo mensal (R$ 1.045,00) para os requerentes do benefício de
auxílio-doença, pelo período de 3 (três) meses, a contar da data de sua publicação,
ou até a realização de avaliação pela Perícia Médica Federal. Esta antecipação não
corresponde, contudo, a um auxílio-doença e somente poderá ser convertida
neste benefício após a realização da perícia médica, com o retorno das atividades
presenciais nas agências. 
Para o auxílio-doença o atendimento presencial é imprescindível, devido a
necessidade de avaliação da incapacidade pela perícia médica. Em razão da
pandemia e a suspensão do atendimento nas agências da previdência social,
os requerimentos de auxílio-doença passaram a ser realizados remotamente,
mediante a apresentação de atestados médicos. O atestado, contudo, precisa
atender expressamente normas estabelecidas pela perícia e nestes meses, puderam
ser observados vários entraves nesse processo: solicitações negadas por não
conformidade do atestado médico, demora para validação final do processo e
sobretudo a necessidade de tratamento de pendências administrativas. Outra
questão é o valor do adiantamento que, em muitos casos, é inferior ao salário de
benefício que o segurado faria jus, gerando impactos importantes na manutenção
de sua renda. 
Em relação ao Benefício de Prestação Continuada (BPC), benefício da política de
assistência social concedido a idosos e pessoas com deficiência, operacionalizado
pelo INSS, a Lei n. 13.982 autorizou a antecipação do valor de R$ 600,00 (seiscentos
reais), durante 3 (três) meses, a requerentes com processos aguardando análise.

7.  BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Portaria


n. 543, de 27 de abril de 2020. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, 29 abr. 2020. Ed. 81,
p.42, 29 abr. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-543-de-27-de-abril-
-de-2020-254497287. Acesso em: 27 abr. 2020.
8. BRASIL Lei n. 13.982, de 2 de abril de 2020. Atos do Poder Legislativo. Diário Oficial da União:
Seção 1 – Extra, Brasília, DF, ano 64, p.1, 2 abr. 2020. Disponível em: https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/
lei-n-13.982-de-2-de-abril-de-2020-250915958. Acesso em: 29 nov. 2020.
BRASIL. Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998. Modifica o sistema de
previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providências. Diário Oficial da União:
Brasília, DF, 16 dez. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/
emc/emc20.htm. Acesso em: 29 nov. 2020. 

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Esta antecipação possibilitaria assegurar alguma renda aos requerentes até que
fossem reestabelecidos os serviços presenciais (Serviço Social e Perícia Médica),
necessários a finalização de suas solicitações. 
É importante sinalizar que todas essas informações acerca das normativas e
fluxos adotados pelo INSS durante a pandemia, só puderam ser alcançados pela
população pelos canais remotos. Assim, se antes do fechamento das agências
muitos cidadãos já encontravam inúmeras dificuldades de acesso, por falta de
conhecimento da legislação e dos trâmites burocráticos do INSS, durante o período
em tela, tais dificuldades foram maximizadas.
Ao longo dos meses de atendimento remoto exclusivo, o Serviço Social do
INSS destacou-se na assistência à população por meio do plantão telefônico, via
e-mail, ou utilizando-se do aplicativo Whatsapp. Muito embora os atendimentos
presenciais do Serviço Social como avaliação social, parecer social e socialização
de informações individual, estivessem suspensos, o plantão remoto permitiu que
muitos cidadãos conseguissem acessar informações sobre direitos previdenciários
e assistenciais num momento de grande necessidade. Frequentes foram os relatos
de segurados e usuários acerca das tentativas sem sucesso de acesso a informações
e benefícios via internet, problemas com senhas e inconsistências cadastrais, que
somente após o contato e a articulação entre Serviço Social e setor administrativo
puderam ser resolvidos.
Os contatos do plantão do Serviço Social das unidades do INSS, foram amplamente
divulgados nos municípios de Santa Catarina, através da internet, rádio, cartazes,
equipamentos da política de assistência social, saúde, educação e ONGs. Além
disso, o trabalho de assessoria à rede, com o suporte, em especial, às equipes dos
Cetros de Referência de Assistência Social – CRAS, foi intensificado neste período,
e fundamental para que o segurado, que procurou orientações através de outros
serviços públicos, não ficasse sem orientação.
Em meados de setembro de 2020, algumas agências do INSS em todo país foram
reabertas, respeitando protocolos de segurança, além de atendimento restrito a
agendamentos como perícia médica e avaliações sociais. Mesmo nas agências que
retomaram este atendimento presencial, os segurados permanecem sem acesso a
informações e orientações gerais. Dessa forma, o atendimento em modo plantão,
continua sendo requisitado pela população de forma expressiva e vem gerando
uma densa demanda de trabalho para os servidores envolvidos9.

9.  SANTA CATARINA. Conselho Regional de Serviço Social (CRESS) – 12ª Região. Reunião Amplia-
da do Serviço Social nas Políticas de Assistência e Previdência Social: Desafios frente ao contex-
to das alterações no atendimento à população pelo INSS. Florianópolis, SC, 12 ago. 2020. Disponível
em: http://cress-sc.org.br/2020/08/12/reuniao-ampliada/. Acesso em: 29 nov. 2020.

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Pandemia, políticas públicas & sociedade

2 A contrarreforma do estado e o desmonte do INSS

As dificuldades de acesso às informações, benefícios e serviços previdenciários


são históricas na vida da população brasileira. A burocracia estatal e a complexa
legislação previdenciária sempre foram enigmas para a classe trabalhadora
que para ser atendida, durante muitas décadas, precisava enfrentar longas filas
em frente às agências da Previdência Social. Há alguns anos esse obstáculo foi
gradativamente mudando de formato e as filas físicas das agências deram lugar
a filas virtuais.
Em 2005 o INSS instituiu um sistema de agendamento por canais remotos
(internet e telefone 135) para requerimento de benefícios e serviços. Por este
modelo, os segurados/usuários passaram a ser orientados sobre a obrigatoriedade
de agendar previamente seus atendimentos, comparecendo às unidades do INSS
munidos de formulários e da documentação na data marcada. Esta medida que
substituiu a fila presencial por meses de espera em uma fila virtual, já trouxe
vários obstáculos aos cidadãos. No entanto, uma série de serviços e rotinas da
autarquia permaneciam disponíveis pelo atendimento espontâneo, disponibilizado
diariamente nas agências, inclusive os pertinentes à orientação e informação.
Essa realidade começa a se modificar a partir de 2016 com a implantação do
Programa intitulado “INSS Digital” que, com mudanças graduais alterou por
completo o modelo de atendimento da autarquia, de presencial para o remoto,
digitalizando requerimentos, processos de benefícios e alterando rotinas de
trabalho. Tais mudanças foram intensificadas no ano de 2019, quando a maioria
dos requerimentos de benefícios e serviços passaram a ser feitos exclusivamente
via internet, pelo aplicativo “Meu INSS”10 ou pela central telefônica 135, sem
nenhum contato com servidores. Uma vez digitalizados e centralizados na nuvem,
os requerimentos podem ser analisados por qualquer servidor de qualquer local
do país.
Sob o signo da modernização e agilidade na tramitação dos processos, o novo
formato de atendimento do INSS tornou-se uma realidade em todo território
nacional. Nas mais de 1500 unidades físicas da autarquia pelo país, o segurado/
usuário é atendido apenas presencialmente para serviços previamente agendados
como: perícia médica, cumprimento de exigência administrativa, avaliação social,
parecer social, socialização de informações sociais, solicitação de extratos como
créditos de benefício, carta de concessão, apresentação de carta de defesa, recurso
ou entrega de documentação solicitada. 
Entre outras tantas razões, essa profunda alteração administrativa foi a forma
encontrada pelo governo para responder a degradação exponencial da autarquia,

10.  BRASIL. Governo Federal. Meu INSS. 2020. Disponível em: https://meu.inss.gov.br/central/#/lo-
gin?redirectUrl=/. Acesso em: 29 nov. 2020. 

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tanto do ponto de vista da infraestrutura, quanto da força de trabalho disponível


no INSS. A aposentadoria de quase metade do contingente de servidores nos
últimos cinco anos e a ausência de concursos públicos, coloca em choque a
necessidade do cidadão, que busca os serviços da Instituição, e a capacidade de
absorção dessa demanda.
Em relação às rotinas de trabalho dos servidores, o INSS estabeleceu metas
por produtividade, condicionando-as a gratificações financeiras. Nesse modelo,
a manutenção do salário do trabalhador está diretamente atrelada a aferição de
metas pré-estabelecidas, quantificadas em pontuações por processos ou demandas
analisadas. Outra mudança substancial no processo de trabalho da autarquia diz
respeito à adoção do teletrabalho. Grande parte dos servidores agora trabalha de
casa, por produção, sem carga horária e cumprimento de jornada nas instalações
físicas da instituição. Apesar do governo alardear que o teletrabalho se configura
como benefício para os servidores, na prática, o modelo apresenta um sem número
de fragilidades e problemas. As metas impostas são difíceis de serem alcançadas
em face aos problemas de estrutura, como sistemas instáveis e frequentemente
inoperantes. Além disso o trabalho é precarizado ao passo que o servidor é obrigado
a arcar com todos os custos dos meios de trabalho (local, mobiliário, computador,
energia elétrica e internet), sem receber nenhuma ajuda de custo no que tange
a esta infraestrutura.
Ou seja, antes mesmo da pandemia de Covid-19 e seus efeitos chegarem ao
Brasil, as reformas no âmbito administrativo do INSS, com a alteração do modelo de
atendimento e adoção de inovações tecnológicas, já traziam incontáveis barreiras
ao acesso da população brasileira aos direitos previdenciários e ao Benefício de
Prestação Continuada – BPC. A Portaria SEPRT n. 23046, de 202011, estabeleceu que
no mês de outubro de 2020, o valor médio da renda mensal do total de benefícios
pagos pelo Instituto foi de R$ 1.353,40 (um mil, trezentos e cinquenta e três reais
e quarenta centavos), o que evidencia a vulnerabilidade econômica da população
atendida. 
Para este extrato populacional, o acesso à internet e tecnologias de informação
se dá de forma precária ou não é uma realidade. Dados do IBGE12 mostram que no
Brasil, a exclusão digital atinge cerca de 45,9 milhões de pessoas. Muitos segurados
e requerentes não dispõem de computador ou telefone celular ou possuem
11. BRASIL. Portaria SEPRT n. 23046 de 4 de novembro de 2020. Estabelece que, para o mês de
outubro de 2020, o valor médio da renda mensal do total de benefícios pagos pelo Instituto Nacional
do Seguro Social – INSS é de R$ 1.353,40 (um mil, trezentos e cinquenta e três reais e quarenta cen-
tavos). Diário Oficial da União: Brasília, DF, 5 nov. 2020. Disponível em: https://www.legisweb.com.br/
legislacao/?id=403750. Acesso em: 29 nov. 2020.
12.  INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domicílios Contínua – PNAD Contínua. [2020]. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/esta-
tisticas/multidominio/condicoes-de-vida-desigualdade-e-pobreza/17270-pnad-continua.html?=&t=o-
-que-e Acesso em: 30/11/2020.

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Pandemia, políticas públicas & sociedade

aparelho incompatível com a instalação de aplicativos, sem acesso à internet ou


com internet de baixa velocidade. Por outro lado, ainda que tecnologicamente o
acesso exista isso não basta, é necessário ter familiaridade com criação de senhas,
saber “navegar” no site e aplicativo, anexar documentos, entre outras ações. Ou seja,
os entraves colocados nesse modelo de atendimento, precisam ser analisados de
forma mais profunda, considerando sobretudo, o público atendido pela autarquia
e a realidade da população brasileira.
Enfatizamos assim que, os impactos gerados pela Pandemia, só agudizaram
problemas pré-existentes. A mudança para o modelo de atendimento e a
digitalização dos processos, além de criar barreiras, não foi capaz de fazer frente
ao esvaziamento no quadro de servidores no INSS. A falta de trabalhadores no órgão
continua gerando um impacto direto no tempo de espera para atendimento, bem
como na conclusão dos processos concessórios, afinal, mesmo que em trabalho
remoto, ainda é prerrogativa do servidor a análise dos processos. 
Ao encontrar a porta do INSS fechada, a população (a parcela que não desiste
diante das dificuldades que encontra pelo caminho) parte em busca de serviços
capazes de dar vazão às suas necessidades. Os entraves no acesso aos serviços
do INSS têm tornado central a figura do atravessador, seja ele o advogado ou
outro profissional com algum conhecimento do sistema. Estabelecimentos onde
pessoas pagam para usar computador e internet (cibercafé e lan house) também
tem prestado esse tipo serviço, assim como os equipamentos de proteção básica
da assistência social que, em grande medida, vem assumindo essa demanda. 
Entendemos assim, que o conjunto de mudanças tratados até aqui está longe de
ser um infortúnio, uma estratégia de gestão mal sucedida. Ao contrário, configura-
se como eficaz forma de controle e cerceamento dos direitos previdenciários,
enquanto parte de um projeto de reconfiguração das funções do estado, com vistas
a atender os interesses do capital em crise desde a década de 1970. 

3 O movimento de contrarreforma da previdência social

O modelo de Estado, implementado a partir do final da década de 1970 no


mundo está centralmente articulado à necessidade de retomada das taxas de lucro
e recuperação do crescimento econômico do grande capital. Como resultado deste
processo tem-se a acentuação da exploração e precarização das condições de vida
da classe trabalhadora. Nesta direção um arcabouço de políticas de orientação
neoliberais, passou a orientar o ajuste estrutural das economias periféricas.
Assim, sob imposição de instituições financeiras e organismos internacionais,
desde os anos 1990, o Estado brasileiro vem implantando uma agressiva

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Edivane de Jesus | Sabrina Campos

contrarreforma13 da seguridade social, cujo principal alvo tem sido a previdência


social. O andamento desta contrarreforma oscila conforme uma junção de fatores
conjunturais, que determinam sua intensidade, mas avança na direção da redução
da previdência pública e ampliação do mercado da previdência privada.
Na década de 1990 a política de previdência foi alvo de uma dura contrarreforma
que atacou muitas das conquistas expressas na nova constituição. A Emenda
Constitucional n. 2014, promulgada pelo governo Fernando Henrique Cardoso
(FHC), reformulou as bases do Regime Geral de Previdência Social (RGPS): reforçou
o caráter contributivo da política, reduziu prestações, tornando-a menos inclusiva,
introduziu a filiação obrigatória e a exigência de equilíbrio financeiro e atuarial.
Entre as alterações mais contundentes desta reforma estão: o rebaixamento do
teto dos benefícios do RGPS, a taxação de aposentados e o fator previdenciário,
que faz com que muitos trabalhadores tenham uma drástica redução no valor do
benefício, nos casos de aposentadoria por tempo de contribuição.
Se a contrarreforma realizada em 1998 teve como foco principal o RGPS,
atingindo, portanto, os trabalhadores do setor privado, em 2003 o governo Lula, por
meio da Emenda Constitucional n. 4115, centrou o ataque ao Regime Próprio dos
Servidores Públicos (RPPS). De acordo com Mota16, a reforma realizada por Lula,
que acabou com o direito à aposentadoria integral por tempo no serviço público,
abriu as portas à previdência complementar e por consequência ao rentismo,
fonte valorosa ao grande capital.
Dilma Rousseff vence a eleição em 2014 com a defesa de uma plataforma política
de avanços sociais, especialmente no tocante a serviços públicos básicos. No
entanto, antes mesmo de tomar posse anuncia uma “minirreforma” da Previdência

13. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Pre-
vidência Social e dá outras providências. Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, 14 ago. 1998.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 28 nov. 2020. 
14. BRASIL. Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998. Modifica o sistema de
previdência social, estabelece normas de transição e dá outras providências. Diário Oficial da União:
Brasília, DF, 16 dez. 1998. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/
emc/emc20.htm. Acesso em: 29 nov. 2020. 
15. BRASIL. Emenda Constitucional n. 41, de 19 de dezembro de 2003. Modifica os arts. 37, 40,
42, 48, 96, 149 e 201 da Constituição Federal, revoga o inciso IX do § 3 do art. 142 da Constituição
Federal e dispositivos da Emenda Constitucional n. 20, de 15 de dezembro de 1998, e dá outras provi-
dências. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 31 dez. 2003. Disponível em:  http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc41.htm. Acesso em: 29 nov. 2020.
16.  MOTA, A. E. Crônica de uma morte anunciada: as reformas da Previdência Social Brasileira nos
anos 90 e 2000. In: Braga, L; CABRAL, M. S. R. (Org.). O Serviço Social na Previdência. 4. ed. São
Paulo: Cortez, 2011, v. 1, p. 137-155.

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Pandemia, políticas públicas & sociedade

Social, via MPs 66417 e 66518, e logo que 2014 se inicia põe em prática um ajuste
fiscal com cortes em diversas áreas. As Medidas Provisórias 664 e 665 foram
convertidas respectivamente nas Leis n. 13.135 e 13.134, de junho de 201519, e
trouxeram modificações na pensão por morte, auxílio-doença, aposentadoria por
invalidez, auxílio-reclusão, abono salarial e seguro-desemprego. No mesmo viés das
contrarreformas anteriores, estas medidas reduziram direitos dos trabalhadores,
tanto dos servidores públicos como dos trabalhadores do setor privado, filiados
ao RGPS.
A crise econômica, somada a uma grave crise política, marca o segundo
mandato de Dilma, o que culmina no golpe parlamentar de 2016, que contou com
a participação decisiva do judiciário, grande mídia e movimentos da sociedade
supostamente anticorrupção. O governo de Michel Temer assume a tarefa de impor,
em pouco mais de dois anos, uma agenda política/econômica ousada, alinhada
aos interesses do grande capital. As contrarreformas encaminhadas por Temer
avançaram sobre direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora.
Foram aprovadas no período modificações na Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), a terceirização das atividades-fim e enviada ao Congresso Nacional uma
Proposta de Emenda Constitucional n. 287 (PEC 287). 
A PEC 287 propunha a alteração de diversas regras referentes aos benefícios
da previdência e do Benefício de Prestação Continuada, da assistência social,
englobando o Regime Geral da Previdência Social (RGPS) e Regimes Próprios de
Previdência Social (RPPS), aprofundando a convergência das regras entre os dois
regimes previdenciários. A proposta de contrarreforma foi alvo de uma intensa
mobilização popular que aglutinou os trabalhadores em todo o Brasil. Foram

17. BRASIL. Medida Provisória 664, de 30 de dezembro de 2014. Altera as Leis n. 8.213, de 24 de


julho de 1991, n. 10.876, de 2 junho de 2004, n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990, e a Lei n. 10.666, de 8
de maio de 2003. Diário Oficial da União: Brasília, DF, 31 dez. 2014. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/mpv/mpv664.htm#:~:text=MEDIDA%20PROVIS%C3%93RIA%20
N%C2%BA%20664%2C%20DE%2030%20DE%20DEZEMBRO%20DE%202014.&text=Altera%20as%20
Leis%20n%C2%BA%208.213,8%20de%20maio%20de%202003. Acesso em: 29 nov. 2020.
18. BRASIL. Medida Provisória 665, de 30 de dezembro de 2014. Altera a Lei n. 7.998, de 11 de
janeiro de 1990, que regula o Programa do Seguro-Desemprego, o Abono Salarial e institui o Fundo
de Amparo ao Trabalhador – FAT, altera a Lei n. 10.779, de 25 de novembro de 2003, que dispõe sobre
o seguro-desemprego para o pescador artesanal, e dá outras providências. Diário Oficial da União:
Brasília, DF, Edição Extra, 30 dez. 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/mpv/mpv665.htm. Acesso em: 29 nov. 2020.
19. BRASIL. Lei n. 13.134, de 16 de junho de 2015. Altera as Leis n. 7.998, de 11 de janeiro de 1990,
que regula o Programa do Seguro-Desemprego e o Abono Salarial e institui o Fundo de Amparo ao
Trabalhador (FAT), n. 10.779, de 25 de novembro de 2003, que dispõe sobre o seguro-desemprego
para o pescador artesanal, e n. 8.213, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre os planos de benefí-
cios da Previdência Social; revoga dispositivos da Lei n. 7.998, de 11 de janeiro de 1990, e as Leis n.
7.859, de 25 de outubro de 1989, e no 8.900, de 30 de junho de 1994; e dá outras providências. Diário
Oficial União: Brasília, DF, 17 jun. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2015/lei/l13134.htm. Acesso em: 17 jun. 2015. 

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Edivane de Jesus | Sabrina Campos

várias manifestações, dois dias de greve geral e uma marcha que reuniu milhares
em Brasília que, somadas a todas as ações locais, pressionaram os parlamentares
e a proposta de reforma foi sobrestada. É neste período também, que tem início
o conjunto de reformulações administrativas no âmbito do Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), apresentadas como soluções modernizadoras pela gestão,
que trouxeram um sem número de entraves ao acesso da população, ou seja,
restrição de direitos.
Uma conjuntura complexa, que uniu crise econômica, descrédito com a política
e uma ofensiva conservadora, nas eleições presidenciais de 2018, alça ao poder
Jair Bolsonaro. A continuidade da contrarreforma da Previdência Social, figura
como ponto central de sua rasa plataforma de campanha e, no segundo mês do
mandato, o governo envia ao Congresso a PEC n. 06/2019, propondo alterações
que afetariam tanto a vida de trabalhadores vinculados ao regime geral, como
aos regimes públicos, com exceção dos militares. Além de drásticas modificações
nas condicionalidades de acesso a benefícios previdenciários, como valores de
benefícios, idade para aposentadoria, alíquotas, tempo de contribuição, e no
benefício de Prestação Continuada (BPC), a proposta de Bolsonaro ancorou-se
em duas proposições: a desconstitucionalização da legislação previdenciária e a
implantação do regime de capitalização.
A PEC 06/2019 propunha a modificação do artigo 40 e 201 da Constituição Federal,
o que possibilitaria que normas gerais de organização e funcionamento dos regimes
de Previdência passassem a ser regulamentadas por Lei Complementar (LC) e
ordinária, facilitando a aprovação de futuras reformas. Assim, Leis Complementares
poderiam definir valor de contribuições, condicionalidades de acesso, regras de
cálculo, reajuste de benefícios e mesmo os mecanismos para equacionamento
de possíveis déficits. A PEC também propôs o estabelecimento do regime de
capitalização, onde trabalhadores ao iniciarem sua vida laboral passariam a
contribuir de forma individual para fundos privados de previdência. A aprovação
desse ponto da proposta acabaria, assim, com o regime de repartição simples e
solidário da previdência social brasileira e individualizaria a responsabilidade
pela proteção social.
A aprovação da contrarreforma foi assumida como prioridade pela equipe
econômica, liderada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, que anunciou que a
medida traria, no período de dez anos, a economia de um trilhão de reais aos cofres
públicos. O governo usou de um conjunto de estratégias para conseguir o apoio
necessário à aprovação, recorrendo à propaganda no formato de merchandising
em programas da televisão aberta e investindo numa milionária campanha

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Pandemia, políticas públicas & sociedade

publicitária20. Outro artifício utilizado foi a liberação de verbas parlamentares21


em meio às discussões sobre a reforma, prática também utilizada por governos
anteriores. 
A proposta original sofreu modificações substanciais ao longo da tramitação,
entre estas: o modelo de capitalização ficou de fora; o salário-mínimo permaneceu
como piso para os benefícios; as mudanças relacionadas ao Benefício de Prestação
Continuada (BPC), ao abono salarial e à contribuição/acesso dos trabalhadores
rurais foram retiradas; o tempo de contribuição mínimo previsto para as mulheres
foi diminuído, bem como o dos homens, com ingresso no regime de previdência
até a data de promulgação da emenda; além disso, estados e municípios, foram
excluídos da reforma, e receberam prazo até 31 de julho de 202022, para adequarem
seus sistemas previdenciários de modo alinhado com o texto da Emenda.
A contrarreforma da previdência de Bolsonaro foi aprovada com ampla maioria
no Congresso e no Senado, inclusive com votos da oposição, e promulgada em
12 de novembro de 2020 em sessão solene no Congresso Nacional23. O governo
estima que a economia será de 800 bilhões em dez anos, no entanto, em nenhum
momento discorre sobre o impacto dessa reforma para a classe trabalhadora e
para a economia do país.
Este breve retrospecto permite observar que, a partir dos anos 1990 há o
estabelecimento de um movimento de contrarreforma da política de previdência
social, que avança sobre os direitos historicamente conquistados pela classe
trabalhadora, a depender de condições conjunturais, com maior ou menor
intensidade. Para estes ataques os diferentes governos que estiveram no comando
do país nos últimos 30 anos, utilizaram-se de estratégias diversas. Foram realizadas
alterações estruturais, com modificações de preceitos constitucionais relativos
à previdência social, mas também foram realizadas mudanças na legislação
infraconstitucional e no âmbito da organização administrativa do INSS. Todas

20.  PRAZERES, L. Governo gasta R$ 183 mi em campanhas para reforma da Previdência desde
2016. Economia Uol, Brasília, 8 abr. 2019.
21.  AMARAL, L.; MAZIEIRO, G.; TEMÓTEO, A. Governo pede R$ 3 bi para honrar emendas e aprovar
Previdência na Câmara. UOL, Brasília, 6 ago. 2019. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noti-
cias/redacao/2019/08/06/governo-faz-pedido-de-r-3-bi-extras-apos-negociacao-para-votar-previdencia.
htm. Acesso em: 15 jun. 2020.
22.  BRASIL. Ministério da Economia. Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. Portaria n.
1.348, de 3 de dezembro de 2019. Dispõe sobre parâmetros e prazos para atendimento das disposi-
ções do artigo 9º da Emenda Constitucional n. 103, de 12 de novembro de 2019, para Estados, Distrito
Federal e Municípios comprovarem a adequação de seus Regimes Próprios de Previdência Social
- RPPS. (Processo n. 10133.101237/2019-73). Diário Oficial da União: Seção 1, Brasília, DF, 4 dez. 2019.
ed. 234, p. 32. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-1.348-de-3-de-dezembro-
-de-2019-231269862. Acesso em: 21 jun. 2020.
23.  MUGNATTO, S. Reforma da previdência é promulgada. Agência Câmara de Notícias, Brasília,
DF, 12 nov. 2019.

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Edivane de Jesus | Sabrina Campos

essas transformações têm em comum a perspectiva contrarreformista, uma vez


que caminham para a retração de direitos.
 Entendemos assim, que a compreensão do que vem ocorrendo na estrutura
do INSS, não se explica de forma isolada, pela apreensão da instituição em si,
seu formato de atendimento e as dificuldades agravadas pela pandemia a partir
de março de 2020. Exige remeter, com as devidas mediações, à determinação
mais ampla que está no âmago da crise estrutural do sistema capitalista, que em
sua reestruturação empreende estratégias de restauração em que se inscrevem
o conjunto de contrarreformas da previdência social. O Estado busca, assim,
adaptar seus aparelhos burocráticos, no caso o INSS, na direção de viabilizar
a operacionalidade da política de previdência nos moldes determinados pelo
grande capital.

Considerações finais

Desde março de 2020, quando o Brasil adotou medidas de isolamento social e


quarentena, com vistas ao enfrentamento da emergência sanitária causada pelo
novo coronavírus, a população se defronta com uma série de dificuldades de acesso
à previdência social. Isto porque as unidades do INSS tiveram seu atendimento
presencial suspenso por meses e, desde setembro, retomam de forma gradual a
oferta de alguns serviços.  
Os entraves à efetivação dos direitos previdenciários, no entanto, não são
novidade para os trabalhadores segurados e demais atendidos pela autarquia
responsável por operacionalizar o RGPS. Sem dúvida, a pandemia trouxe
contratempos, mas a ausência de atendimento presencial é uma realidade que
os segurados são obrigados a encarar desde que o INSS, há alguns anos, colocou
em prática a transição do modelo de atendimento presencial para o atendimento
via canais remotos. 
O projeto INSS Digital alterou por completo as rotinas da instituição, que
atualmente oferece quase que a totalidade de seus serviços via internet, aplicativo
e central telefônica. Em um país periférico como o Brasil, isso representa uma
barreira praticamente instransponível, sem que se possa contar com auxílio de
terceiros, para grande parte da população brasileira, de baixa renda, reduzida
escolaridade e excluída digitalmente.
Longe de ser uma casualidade, os obstáculos que a população encontra para
acessar os benefícios e serviços previdenciários que lhe restaram (agora na pandemia
com o fechamento das agências físicas), são parte do projeto contrarreformista que
avança há 30 anos no país na direção da reorganização das funções do Estado, em
especial da previdência, com vistas a atender as necessidades do capital financeiro.

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