Envelhecimento Demografico

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Maria João Valente Rosa* AnáliseSocial,vol.xxxi(139),1996 (5.

°), 1183-1198

Envelhecimento demográfico:
proposta de reflexão sobre o curso dos factos

APRESENTAÇÃO

O envelhecimento demográfico (ou seja, a evolução da estrutura etária


que se traduz por uma redução da importância dos indivíduos nas idades
mais jovens ou por um aumento da importância dos indivíduos nas idades
mais avançadas) constitui uma das principais características das sociedades
actuais, não sendo a portuguesa uma excepção1.
Em Portugal, entre 1960 e 1991, apesar de o volume total da população ter
aumentado em 11% (passando de 8,9 milhões para 9,9 milhões de habitantes),
a população nas idades mais jovens diminuiu (em 40% no grupo de idades
0-4 anos e em 16% no grupo de idades 5-14 anos) e a população nas idades
mais avançadas aumentou significativamente (em 35% no grupo de idades 50-
-64 anos, em 73% no grupo de idades 65-74 anos e em 122% no grupo de
idades 75 e mais anos). Daqui resulta uma profunda modificação do perfil
etário da população portuguesa, contando com cada vez mais indivíduos nas
idades superiores e com cada vez menos indivíduos nas idades mais baixas.
Sendo a idade mais do que uma variável cronológica, esta modificação da
estrutura etária naturalmente vai reflectir-se sobre múltiplos domínios da socie-
dade. O encerramento de algumas escolas primárias por falta de alunos, o
aumento do número dos que se encontram na idade de reforma e o aumento
do número de idosos hospitalizados por períodos mais longos (fruto do aumen-
to dos indivíduos na quarta idade) são disso exemplos.

* Departamento de Sociologia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Univer-


sidade Nova de Lisboa.
1
M. João Valente Rosa (1993 e 1996). 1183
Maria João Valente Rosa

Para além dos demógrafos, é cada vez maior o número de observadores


sociais que incluem, nas suas reflexões, a referência ao tema envelhecimento
demográfico. Implícita a muitas destas referências está uma determinada
perspectiva de encarar o curso dos factos.
Neste artigo pretendemos contribuir para esse debate sobre as formas de
as sociedades envelhecidas reagirem ao envelhecimento demográfico.
Para tal, iremos expor a nossa perspectiva, apresentando o envelhecimen-
to demográfico como uma evolução «natural» da sociedade e explicando em
que medida essa evolução, que à partida se apresenta como desvantajosa e
penosa para a sociedade, poderá não o ser necessariamente. Seguimos assim
uma orientação idêntica à que tem sido desenvolvida por Michel Loriaux, do
Instituto de Demografia da Universidade Católica de Lovaina, cientista que
propõe uma interpretação particular sobre o envelhecimento da estrutura
etária, entendendo-o como uma evolução congruente com o sistema social
global.

1. O CARÁCTER INELUTÁVEL DO ENVELHECIMENTO


DEMOGRÁFICO

O envelhecimento começou por ser encarado como uma catástrofe colec-


tiva, uma doença que afligia as sociedades industrializadas (havendo quem,
nesse sentido, o tivesse apelidado de «cancro social» ou de «peste branca»).
Este modo pejorativo de entender o envelhecimento demográfico fez com
que durante algum tempo se tivesse tentado travar a sua ocorrência.
As políticas de incentivo à fecundidade levadas a cabo por certos países
europeus (nomeadamente a França) são exemplo disso. Só que, contraria-
mente aos objectivos visados, os casais continuaram a «insistir» em descen-
dências reduzidas, que ficam aquém do número médio de filhos (2,1) dese-
jável para a população se renovar.
O fraco êxito desse tipo de iniciativas deve-se ao facto de os comportamen-
tos face à fecundidade e à mortalidade (levando a que cada vez nasçam menos
crianças e que cada vez se viva, em média, até mais tarde) não serem aleatórios.
Não foi por acaso que os níveis de fecundidade desceram e que aumentaram
as probabilidades de sobrevivência dos indivíduos nas várias idades. Essas
evoluções existem na interdependência com outras dinâmicas da sociedade:
científica e tecnológica; económica e social; política e cultural.
Deste modo, se a fecundidade e, posteriormente, a mortalidade são as
duas razões demográficas para o curso do processo de envelhecimento das
estruturas etárias e se o comportamento destas variáveis não é fortuito (in-
1184 tegrando uma ordem sistémica mais geral), logo é um engano esperar-se uma
Envelhecimento demográfico

modificação profunda na evolução da estrutura etária sem que as outras


estruturas societais (tecnológicas, económicas, familiares, culturais, sociais,
etc.) sofram, também elas, mutações importantes (M. Loriaux, 1995).
As expectativas em relação à travagem do processo de envelhecimento
demográfico são, assim, cada vez menores, aumentando as referências sobre
o carácter praticamente inelutável deste processo, como é o caso do relatório
sobre a Situação Demográfica da União Europeia (CE-1994), que apresenta
o envelhecimento demográfico do seguinte modo:

Trata-se de uma etapa normal da evolução humana que se funda num


progresso considerável, o alongamento da vida e da sua qualidade, e que
conduz a um estado demográfico estacionário. Mesmo os países em vias
de desenvolvimento estão actualmente em plena transição demográfica,
ou devem entrar nela a breve trecho, iniciando, assim, o seu processo de
envelhecimento. Tentar inverter esta tendência revela-se não apenas ilu-
sório, mas sobretudo inútil.

Todos os cenários demográficos construídos sobre o futuro das estruturas


etárias, nomeadamente para os vários países da UE, convergem, assim, no
seguinte ponto: prosseguimento da tendência para o acentuar dos níveis de
envelhecimento demográfico das populações.
A realidade portuguesa não é aqui excepção.
Recentemente (Maio de 1996) divulgámos uma projecção sobre a estru-
tura etária da população portuguesa para o ano 20102.
Atendendo-se às tendências observadas, tanto a nível do nosso país como
a nível de outras populações com modelos demográficos similares, conside-
raram-se, na elaboração do referido cenário, as seguintes hipóteses sobre a
mortalidade e a fecundidade: aumento dos valores de esperança de vida à
nascença, atingindo-se, em 2010, 74 anos para os homens e 81 anos para as
mulheres, e uma ligeira subida dos níveis de fecundidade após 1995 [mo-
mento em que se admite o valor mais baixo do índice sintético de
fecundidade (ISF), de 1,5], atingindo-se em 2010 um ISF de 1,73.

2
M. João Valente Rosa (1996), «Alterações demográficas da estrutura etária da populção
portuguesa a partir de 1960», comunicação apresentada no âmbito das 1 . as Jornadas do Fórum
Social, Lisboa (doc.. policopiado).
3
A razão de se ter admitido um ligeiro aumento do ISF reside, não na convicção de que
no futuro próximo aumentará a propensão para se ter filhos, mas no facto de se ter vindo a
registar em Portugal, após os anos 80, um retardar do projecto de se ter filhos (do que resulta
um aumento da idade média de fecundidade). Sendo o ISF um indicador conjuntural de
fecundidade, nãO é sensível a tais alterações de calendário e, no futuro, o seu valor provavel-
mente aumentará, à semelhança do que aconteceu noutros países (por exemplo, Suécia e 1185
Maria João Valente Rosa

Os resultados obtidos revelaram que em 2010, se o volume da população


portuguesa deverá ser praticamente o mesmo (aproximadamente 10 milhões)
do de 1991 (ano do último momento censitário), o seu perfil etário deverá
sofrer alterações significativas (figura n.° 1).

Pirâmide de idades para Portugal


observada em 1991 e projectada para 2010

[FIGURAR0 1]

G. I. G. I.
1991 90 + 90 +
2010
75-79 75-79
H r M 60-64 M 60-64
45-49 45-49
30-34 30-34
15-19 15-19
0-4 0-4
6 4 2 0 2 4 6 6 4 2 0 2 4 6
(percentagem) (percentagem)

Relativamente a 1991, em 2010 poderemos ter bastante menos indivíduos


com 0-14 anos (idade «jovem»), ligeiramente mais indivíduos com 15-64
anos (idade «activa») e bastante mais indivíduos com idade igual ou superior
a 65 anos (idade «idosa»). Daqui resulta uma alteração da importância rela-
tiva de cada um dos grupos de idade considerados em relação à população
total. O grupo de idade «jovem» poderá, inclusivamente, deixar de ser o
segundo grupo de idade mais numeroso da população, passando o grupo de
pessoas com mais de 65 anos («idosos») a ocupar esta posição. Por outro
lado, os grupos de idade «activa» e «idosa» contarão com cada vez mais
pessoas nas idades superiores. No caso das idades «idosas», esta situação
poderá atingir uma expressão verdadeiramente espectacular, com um número
de pessoas com mais de 75 anos (ou seja, nas idades em que se agudiza a
necessidade com os cuidados de saúde) a representar, em 2010, praticamente
metade de todos os que têm 65 e mais anos. Por fim, e quanto à relação idade
activa/ idades jovem e idosa, o seu valor global pode não sofrer grandes
alterações relativamente a 1991, continuando a ser o dobro do total das
idades «não activas». Contudo, isso não significa que tudo continue na
mesma, pois, se o número de indivíduos na idade «activa» por cada jovem

França), em resultado do aumento das taxas de fecundidade nas idades mais avançadas do
período fértil, ou seja, quando as mulheres do período fértil que actualmente têm idades jovens
1186 concretizarem o seu projecto diferido de terem filhos.
Envelhecimento demográfico

deverá aumentar no futuro, em contrapartida, serão cada vez menos os indiví-


duos em idade «activa» por cada idoso.
Estas alterações do perfil etário da população portuguesa que descreve-
mos em síntese, permitem concluir que, de 1991 (momento em que já reve-
lávamos níveis de envelhecimento significativos) para 2010, os níveis de
envelhecimento demográfico tenderão a agravar-se cada vez mais.
Dado que o reconhecimento de que, em princípio, as sociedades terão de
continuar a conviver com essa evolução da estrutura etária é uma matéria
cada vez mais consensual, as atenções começam a canalizar-se para as res-
postas aos vários problemas decorrentes deste processo.

2. A PROPÓSITO DOS INCONVENIENTES DO ENVELHECIMENTO


DEMOGRÁFICO: UM EXEMPLO

Entre os vários domínios permeáveis ao envelhecimento da estrutura


etária está o exercício da solidariedade da estrutura etária sobre o exercício
da solidariedade financeira entre gerações, numa situação em que o colectivo
assume a principal responsabilidade pela protecção dos indivíduos a partir de
uma certa idade.
O exercício de uma solidariedade extensiva a toda a colectividade nacio-
nal assenta numa relação (mediatizada pelo Estado) entre o dever de se
contribuir e o direito de se beneficiar de uma protecção, no caso da ocorrên-
cia de certas eventualidades (que se podem traduzir quer por uma redução
ou interrupção dos rendimentos profissionais, quer por um aumento das des-
pesas de carácter excepcional).
No caso particular da velhice (risco que se traduz por uma interrupção
dos rendimentos profissionais), o financiamento das respectivas pensões do
regime contributivo (as quais são uma importante parcela da despesa da
segurança social e tendem a ganhar uma cada vez maior relevância à medida
que o sistema de segurança social amadurece4) resulta fundamentalmente da
aplicação de uma técnica particular: a repartição alargada.
Esta técnica — repartição alargada — baseia-se num compromisso
geracional de tipo transversal, sendo, em cada momento do tempo, as con-
tribuições dos indivíduos activos (e/ou das entidades empregadoras) automa-
ticamente convertidas em pensões. A relação demográfica (número de pes-
soas em idade pós-activa/número de pessoas em idade activa) é um dos três
factores — o factor económico e o factor político (ou institucional) são os
outros — que intervêm na fórmula de equilíbrio desejável entre os que

Cf. Ribeiro Mendes (1995), pp. 413-414. 1187


Maria João Valente Rosa

pagam e os que recebem. Trata-se de uma equação matemática que André


Babeau (1985) configurou do seguinte modo:
A. O. s. t = V, r. m.

sendo:

A —
o número de pessoas em idade de serem activas;
O —
a taxa de ocupação dessas pessoas;
s —
o rendimento médio salarial;
t —
a taxa de quotização média em relação ao salário a título da pro-
tecção na velhice;
V — o número de pessoas em idade pós-activa;
r — a percentagem de pensionistas em relação a V;
m — o montante médio das pensões de velhice.

Esta fórmula de repartição alargada assenta, assim, numa complementa-


ridade de interesses geracionais e a sua adopção serviu para se promover (ou
exercitar) uma solidariedade de tipo colectivo mediatizada pelo Estado.
Contudo, e dado que no futuro o envelhecimento demográfico deverá con-
tinuar e os níveis de ocupação dos indivíduos em idade activa não deverão
aumentar significativamente, o número de dependentes — pensionistas de
velhice — em relação ao colectivo tende a ser cada vez maior.
Estas questões financeiras com que se debatem as sociedades
envelhecidas (crescimento das despesas sociais, agravamento dos esforços de
contribuição, etc.) são, sem dúvida, importantes (tanto mais que elas poderão
pôr em risco a prática do mecanismo de solidariedade colectiva, que é um
eixo fundamental da actual ordem social). No entanto, elas só podem ser
devidamente compreendidas se tivermos em consideração todos os outros
aspectos que estão na base do dever de contribuir de uns e do direito de
beneficiar de outros.
À partida, essa relação de solidariedade financeira constitui uma resposta
para certos riscos sociais que afectam o cidadão. Um deles é o risco da
velhice, que resulta cada vez menos de factores de ordem biológico-funcio-
nal e cada vez mais de factores de ordem sócio-cultural e económica.
Com efeito, a idade constitui um importante factor de diferenciação sobre
o valor-interesse dos indivíduos perante o trabalho. O avanço na idade influi
positivamente num aumento dos custos salariais (dado que a remuneração
também é função da antiguidade), negativamente sobre a aptidão de apro-
priação das novas tecnologias (dado que o investimento nas qualificações
iniciais do trabalhador é significativo — aumentando o número dos jovens que
1188 entram no mercado de trabalho com diplomas —, mas o investimento na sua
Envelhecimento demográfico

formação posterior é reduzido) e negativamente sobre o desempenho de uma


determinada tarefa (dado que a ocupação dos postos de emprego não acompa-
nha a evolução das capacidades/aptidões dos indivíduos).
Face ao mercado de trabalho, as idades avançadas encontram-se clara-
mente em desvantagem comparativamente às outras, situação que se traduz
no direito ao benefício de rendimentos de substituição (reformas).
Na origem deste menor interesse do mercado de trabalho pelas idades
avançadas está a predominância de um modelo particular do ciclo de vida
(que se protagonizou em sociedades com estruturas etárias jovens) e o modo
como ele tem sido praticado nas sociedades envelhecidas.
Esse modelo dominante do ciclo de vida compreende três fases principais,
demarcadas por critérios cronológicos: uma fase central (período de vida
activo), em que o consumo é inferior à produção, o qual se encontra enquadra-
do por duas fases (pré-activa e pós-activa) em que o consumo supera a produ-
ção. A cada uma destas duas fases correspondem esforços de financiamento
com um significado bastante distinto: no caso da l.a fase (pré-activa), eles
visam essencialmente a formação para o futuro desempenho de um papel na
produção; no caso da 3.a fase (pós-activa), eles correspodem fundamentalmente
a uma compensação pelo desempenho de um determinado papel na produção.
Com o envelhecimento da estrutura etária aumenta o número de indiví-
duos na 3. a fase do ciclo de vida, situação que tende a agravar-se ainda mais
pelo facto de o peso do período de vida pós-activo se acentuar, por compa-
ração com o período de vida activo. As razões para isso são duas: alonga-
mento dos limites do período de vida pós-activo e encurtamento do período
de vida activo, fruto do alargamento do período de escolaridade e da preco-
cidade na entrada na fase pós-activa (figura n.° 2).

Importância das três principais fases do ciclo de vida


[FIGURA N.° 2]

Tempo

T+n
fase fase
fase mm
MINI
pré-activa pós-activa
activa

Idades 1189
Maria João Valente Rosa

Ninguém duvida de que as capacidades (tanto físicas como intelectuais)


de um indivíduo que actualmente tenha 65 ou 70 anos sejam completamente
diferentes das de um indivíduo com a mesma idade há trinta anos atrás. Só
que, apesar disso e da melhoria das condições de saúde das populações
também verificada, os parâmetros no que respeita à entrada na 3.a fase não
acompanharam essa evolução. Em Portugal, por exemplo, embora a esperan-
ça de vida aos 65 anos tenha passado, de 1960/1961 para 1990/1991, de 13,0
anos para 14,1 anos, no caso do sexo masculino, e de 15,3 anos para 17,3
anos, no caso do sexo feminino, a idade normal de reforma (65 anos para os
homens e 62 anos para as mulheres) foi fixada em 1963 (Decreto n.° 45266,
de 23 de Setembro).
Daqui resulta uma cada vez mais nítida distinção entre duas categorias
que integram esta fase: a terceira idade (que vai desde a cessação da activi-
dade profissional até por volta dos 75-80 anos) e a quarta idade (que
corresponde ao grupo com mais de 75 ou de 80 anos, com incapacidades
funcionais cada vez mais manifestas).
Por outro lado, e muito embora se seja biologicamente velho cada vez
mais tarde, a idade com que se é remetido para essa posição de
marginalidade económica e social não só não tem em conta este aspecto,
como até tende, paradoxalmente, a ocorrer cada vez mais cedo (o que resulta
num agravamento dos indivíduos da terceira idade).
Entre 1981 e 1991, em Portugal, embora as curvas de actividade feminina
se tenham aproximado da masculina, é visível (em ambos os sexos) uma
diminuição dos níveis de actividade dos activos mais jovens e dos activos
mais velhos (figura n.° 3).
Relativamente às idades mais jovens, essa situação pode, em grande
parte, explicar-se pelo prolongamento da escolarização dos jovens. Nessa
década (quadro n.° 1), enquanto a população com 12-24 anos diminuiu ape-
nas em 2%, a população deste grupo etário que se encontra a exercer uma
profissão diminuiu em 8%. No caso dos indivíduos nas idades avançadas, a
quebra observada dos níveis de actividade (por volta dos 50 anos), bastante
antes de se atingir a idade de reforma (65 anos), prende-se, essencialmente,
com a existência de uma discriminação das idades mais avançadas face ao
trabalho (por via da reforma, do desemprego ou das políticas de emprego que
estão na base da adopção de mecanismos de pré-reforma ou de reforma
antecipada). Com efeito, entre 1981 e 1991 (quadro n.° 1), embora o total de
indivíduos com 55-64 anos tenha aumentado em 14%, a população deste
grupo etário a exercer uma profissão diminuiu em cerca de 2%.
Ora, nestas circunstâncias, o envelhecer da população, para além de con-
tribuir para desequilibrar a relação financeira entre gerações contribuintes e
gerações beneficiárias, representa uma redução de «proveitos» do capital
1190 humano. Por um lado, diminui o peso da parcela mais jovem da população,
Envelhecimento demográfico

Percentagens da população com actividade económica por grupos de idade,


para Portugal, em 1981 e em 1991 (sexos separados)

[FIGURA N.° 3]

Fonte: XII e XIII Recenseamentos Gerais da População, INE, Lisboa.

População portuguesa residente, e a exercer profissão, por grandes grupos etários,


em 1981 e 1991 (sexos reunidos)
(em milhares)
[QUADRO N.° 1]

População residente População a exercer profissão*


Grupos
Taxa Taxa
de idade
1981 1991 de variação 1981 1991 de variação
(percentagem) (percentagem)

12-24 2 140,2 2 096,0 -2,1 889,3 814,6 -8,4


25-54 3 606,8 3 843,9 + 6,6 2 428,7 2 793,4 + 15,0
55-64 964,0 1 094,7 + 13,6 419,1 412,3 -1,6

* Não inclui as situações: militar de carreira e serviço militar obrigatório.


Fontes: XII e XIII Recenseamentos Gerais da População, INE, Lisboa.

considerada um importante potencial económico futuro (sem que isso signi-


fique, necessariamente, uma redução no global das despesas com a sua for-
mação). Por outro lado, aumenta a parcela da população marginal ao merca-
do de trabalho, que, por ser mais velha, é considerada menos interessante em
termos do seu contributo para a produção, e dos que reclamam (por direito)
rendimentos de substituição (reformas), fruto da perca do estatuto de activo. 1191
Maria João Valente Rosa

Daí que haja quem, neste sentido, entenda essa evolução da estrutura
etária como uma condenação da sociedade, relativamente à qual pouco mais
se pode fazer do que, em cada momento do tempo, tentar-se paliar (enquanto
for possível) alguns dos seus efeitos.

3. A APOSTA NO ENVELHECIMENTO DEMOGRÁFICO

Uma perspectiva, talvez menos pessimista, sobre o envelhecimento da


estrutura etária tem sido desenvolvida por Michel Loriaux.
Com efeito, a alteração da estrutura etária e o progresso da vida média
das populações são concomitantes com outras modificações que a sociedade
tem vindo a sofrer (algumas delas entendidas como verdadeiras conquistas
sociais): êxodo rural, aumento da produtividade, redução do tempo de traba-
lho, instauração do sufrágio universal, criação da segurança social, assalaria-
mento da mão-de-obra, feminização do emprego, aumento do nível de
instrução, etc.
De acordo com Michel Loriaux, o envelhecimento demográfico, porque
integra uma «ordem sistémica» global e complexa, deve ser interpretado, não
como uma condenação a que as sociedades se terão de sujeitar, mas como
um processo natural perante o qual as sociedades se deverão adaptar. Não
existem estruturas etárias «boas» ou «más» sem se ter por referência o tipo
de sociedade em que se manifestam (M. Loriaux, 1995).
Uma estrutura etária jovem pode ser vantajosa numa sociedade tradicio-
nalmente rural, com forte predominância do factor trabalho e que reclama
uma mão-de-obra abundante e vigorosa fisicamente. Em contrapartida, a
mesma estrutura etária jovem pode revelar-se desvantajosa quando
transferida para uma sociedade industrial avançada, com forte concentração
capitalista, onde a automatização e a robotização substituem cada vez mais
o homem e onde a produção de riqueza tende a depender mais da qualidade
da mão-de-obra do que da sua quantidade.
Deste modo, o envelhecimento da estrutura etária não se apresenta, à
partida, contrário ao dinamismo da sociedade, nomeadamente em termos
económicos.
Hugues de Jouvenel (1996) nota, a este respeito, que o essencial da
riqueza depende, não, como outrora, do trabalho do homem sobre a matéria,
mas essencialmente da inteligência, ideia que decorre da seguinte afirmação
proferida pela Comissão Europeia do Livro Branco sobre o Crescimento,
Competitividade e Emprego (1996): «75% a 95% da massa salarial das
empresas são actualmente consagrados prioritariamente a funções ligadas à
organização (informática, engenharia, formação, contabilidade, comerciali-
1192 zação e investigação) e não à produção directa. A capacidade organizativa
Envelhecimento demográfico

torna-se, assim, uma das componentes determinantes da competitividade


empresarial.»
Por outro lado, e tal como refere o relatório mundial da Organização
Mundial do Trabalho (OIT) (1995), não há um modelo que possa ser apli-
cado indistintamente a todos indivíduos sobre o seu interesse perante o tra-
balho. As exigências variam consoante o tipo de trabalho, e, se a idade retira
alguns atributos ao indivíduo (embora de forma diferente, consoante cada
um), como sejam reflexos rápidos, precisão de visão, força física, existem
outros que a idade concede, nomeadamente a experiência e a serenidade
perante o imprevisto, que podem ser fundamentais para o desempenho de
certas funções. Também não existem provas de que as capacidades de adap-
tação ao exercício de novas funções e de assimilação de conhecimentos-
-informação sejam apenas função da idade, dependendo igualmente do modo
como cada um, ao longo da sua vida, exercita estas características.
De acordo com tais constatações, a existência de uma estrutura etária
envelhecida não significa, assim, necessariamente uma evolução desvantajo-
sa para a sociedade. A verdadeira razão de ser desvantajosa poderá estar na
falta de adequação entre o curso dos factos demográficos e o modo dominan-
te de organização social, levando a que as sociedades envelhecidas não apro-
veitem convenientemente o envelhecimento das suas estruturas etárias.
De entre as várias tentativas de se responder aos problemas que acom-
panham o envelhecimento demográfico conta-se a actuação, em cada mo-
mento do tempo, sobre as fórmulas de financiamento ou de benefício. Com
efeito, algumas medidas deste tipo têm vindo a ser propostas com o objectivo
de repor a igualdade da relação entre as duas parcelas da equação: contribui-
ções-prestações.
As modificações previstas pela nova Lei de Bases da Segurança Social,
nomeadamente no que diz respeito à idade da pensão de velhice das mulhe-
res (que passará, a partir de 1999, para os 65 anos), ao período de garantia
mínimo para acesso às pensões de velhice (que passa de dez para quinze
anos) ou à fixação da taxa máxima de formação da pensão de velhice em
80%, são disso exemplo. Aliás, o Decreto-Lei n.° 329/93, de 25 de Setembro,
aponta explicitamente como principal razão para tais modificações o enve-
lhecimento demográfico: «Com efeito, os problemas e desafios que se colo-
cam decorrem de factores que, em Portugal, à semelhança dos demais países
europeus, se enquadram no progressivo envelhecimento da população [...]
Importa, assim, acompanhar os efeitos da evolução verificada nos domínios
económico, social e familiar, à luz do binómio respeitante ao reconhecimento
do direito às pensões e às respectivas fontes do seu financiamento.»
Não é nosso propósito criticar o interesse prático de tais medidas, que
Hugues de Jouvenel (1996), numa comunicação apresentada no Fórum So-
cial Europeu, designou por «política de ajustamento dia a dia». Este tipo de 1193
Maria João Valente Rosa

medidas ajuda, por certo, a restabelecer (pelo menos a curto prazo) o equi-
líbrio visado. Duvidamos, sim, é de que o interesse desses dispositivos vá
além do quase imediato.
Este tipo de medidas, destinadas a aliviar situações de momento, corre o
risco de se desactualizar se, como tudo indica, o envelhecimento demográfico
prosseguir, existindo um limite a partir do qual se torna inaceitável continuar-
-se a reduzir os direitos de benefício ou a aumentar os deveres de contribuição.
Há já quem, inclusivamente a este respeito, alerte para o agravamento das
situações de exclusão social e para a eventualidade de um combate de inte-
resses entre gerações de consequências sociais dramáticas, caso se continue
a insistir neste modo imediatista de se reagir aos factos.
Deste modo, e para além deste tipo de medidas ou das conhecidas tenta-
tivas de «desinvestimento» do Estado no financiamento das reformas por via
do reforço do papel das empresas privadas (em especial das companhias de
seguros), seria útil reflectir-se sobre formas alternativas à organização social
dominante, no sentido de se aligeirar a estreita relação (interdependência)
existente entre o cidadão e o Estado, sem que com isso se comprometam as
garantias de sobrevivência social do cidadão (em especial quando as incapa-
cidades funcionais impedem o exercício de uma actividade), de se aproveitar
as potencialidades do processo de envelhecimento demográfico, de se faci-
litar a inclusão social dos mais velhos e de se retardar, tanto quanto possível
(e de acordo com a vontade e capacidade de cada indivíduo), as manifesta-
ções individuais de perca de autonomia financeira e social.

4. PISTAS PARA O PLANEAMENTO DAS SOCIEDADES


ENVELHECIDAS

Tal como nota Michel Loriaux (1995), é possível limitar os inconvenien-


tes e optimizar as vantagens do envelhecimento demográfico, tendo também
em conta que, como tudo indica, o perfil dos futuros seniores (estatuto social,
necessidades e aspirações, capital cultural e económico, etc.) não é coinci-
dente com o actual.
Na área do marketing, as potencialidades do envelhecimento da estrutura
etária já começaram a ser detectadas, aumentando as referências sobre o
interesse em se investir num segmento particular de mercado: o senior mar-
keting. Os produtos propostos para este segmento de mercado são tão
variados como os destinados a qualquer outro (desde os produtos
relacionados com os cuidados de saúde ou de alimentação até ao lazer e à
cultura), mas têm em conta não só as necessidades específicas derivadas da
1194 idade, como o facto de deste grupo tenderem a fazer parte indivíduos com
Envelhecimento demográfico

cada vez maiores recursos materiais e intelectuais e com mais tempo


disponível (MUPIES: mature upscale post-professionals).
Mas não é só nessa área (marketing) que a adaptação ao curso da estru-
tura etária deve ser considerada.
Parece ser consensual o desejo de que o curso da estrutura etária não
dificulte o alcance de grandes objectivos da sociedade, nomeadamente a
harmonia, a justiça e a equidade social. Contudo, não basta enunciar objec-
tivos/ideais, por mais interessantes que sejam. É preciso também desenvolver
esforços no sentido de os atingir.
Nesse esforço de adaptação da sociedade ao curso da estrutura etária, e
apenas a título exemplificativo, seguem-se algumas propostas de reflexão
relativas ao mercado de trabalho.
A este respeito, várias questões poderiam levantar-se:

— Será que existirão razões (ou vantagens colectivas) importantes e


objectivas para o não aproveitamento deste recurso humano com ida-
des avançadas?
— Será que a sociedade retira verdadeiros benefícios económicos e so-
ciais ao prescindir dos contributos da parcela da população mais idosa,
que tende a ser cada vez mais numerosa?
— Será que a utilização da idade como variável de ajustamento para o
combate ao desemprego dos mais jovens é razoável, nomeadamente
no plano económico-fínanceiro?
— Será que, ao afastar-se um trabalhador com uma idade mais avançada,
está a facilitar-se o emprego dos mais jovens, ou em determinadas
circunstâncias isso não acontece e as empresas aproveitam essa
«chance» para se reorganizarem, investindo em capital fixo, em vez
de o fazerem em capital humano?
— Etc.

É no seguimento deste questionar sobre pré-juízos que têm comandado


as nossas opções quotidianas, nomeadamente sobre a relação idade-trabalho-
-produção, que Michel Loriaux fala da possibilidade de se limitarem os incon-
venientes e optimizarem as vantagens do envelhecimento demográfico, avan-
çando com algumas propostas nesse sentido: a abolição das barreiras de idade,
a instauração de alternâncias — entre o trabalho, a formação e o lazer — na
organização do ciclo de vida, o encorajamento aos reformados do exercício de
segundas carreiras, etc.
Mas para isso torna-se, em nosso entender, necessário proceder a uma
análise rigorosa sobre as vantagens/inconvenientes em se adoptar tal perspec-
tiva, assim como averiguar a razoabilidade prática dessa proposta. 1195
Maria João Valente Rosa

Neste sentido, avançamos com algumas iniciativas, que não são mais do
que exemplos sobre um tipo de caminho que poderia ser explorado:

a) Analisar mais de perto a relação entre a produtividade e a idade, por


profissões e tipo de actividade.
Se as exigências perante o trabalho dependem das profissões e do
tipo de actividade e se a idade retira atributos ao indivíduo e confere
outros, interessava conhecer que tipo de profissões/actividades ficam
(ou ficarão, de acordo com o perfil dos futuros seniores) afectadas/
beneficiadas com o envelhecimento das suas estruturas;
b) Estudar a relação entre o desemprego das idades jovens e a inserção
dos trabalhadores com idades mais avançadas no mercado de trabalho,
pois, à partida, tudo parece indicar que a saída de um trabalhador mais
idoso do mercado de trabalho (por reforma ou pré-reforma) não tem
correspondência directa na entrada de um indivíduo mais jovem neste
mercado;
c) Analisar os factores (de ordem institucional, económica, social, cultu-
ral, etc.) que poderão contribuir para a discriminação, por parte dos
empresários ou de outros indivíduos com poder de chefia, dos indiví-
duos em função da idade e para que se acredite que o trabalho de um
jovem, em idêntica situação, interessa sempre mais que o de um
menos jovem;
d) Estudar as propostas de formação complementar ou paralela à forma-
ção de base de cada trabalhador, que acompanharia o curso de vida de
um indivíduo, após a sua entrada no mercado de trabalho e (por tipos
de trabalho, de empregadores e de trabalhadores) a receptividade desta
proposta, de que forma poderia ser estimulada a sua prática, que áreas
deveriam privilegiar-se, quais os custos/benefícios da necessária arti-
culação entre os tempos de trabalho e de formação, de que forma essa
prática poderia contribuir para estimular o exercício de segundas car-
reiras, etc;
é) Levantar as exigências do mercado de trabalho, por sectores de acti-
vidade, destinadas a orientar a formação complementar dos trabalha-
dores (à semelhança do que, por exemplo, tem sido tentado a nível da
adequação entre a educação e o emprego);
j) Estudar o tipo de actividades que haveria interesse em promover no
exercício de segundas carreiras (combinando a vontade dos actuais
trabalhadores com o interesse social dos vários trabalhos possíveis) e
construir um modelo favorável ao exercício declarado de segundas
carreiras que contemplasse modos de articulação entre o trabalho/
formação/lazer e fórmulas de relação entre a remuneração de trabalho
1196 e a pensão de reforma.
Envelhecimento demográfico

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de envelhecimento demográfico não deverá esgotar-se nos


tempos mais próximos. Embora se reconheça que estamos a envelhecer
demograficamente, continuamos a ter alguma dificuldade em nos habituar-
mos a esta ideia. Em vez de uma política coerente sobre o envelhecimento
demográfico, conhecem-se medidas «tímidas» (por vezes contraditórias umas
em relação às outras) destinadas à resolução de certos problemas pontuais
que vão surgindo.
Pensamos que a preocupação com o presente não deve ser só por causa
dele, mas também (e, talvez, acima de tudo) por causa do futuro que ele
contém.
Neste sentido, desenvolvemos uma leitura particular dos factos, que se
afirma na abordagem do envelhecimento demográfico em situação. Em fun-
ção dela, e com a finalidade de se reverem preconceitos e práticas sociais
pouco congruentes com a conquista de um ideal de sociedade economica-
mente vigorosa e socialmente equilibrada e equitativa, avançámos com uma
pista para o planeamento da sociedade em virtude do envelhecimento da sua
estrutura etária. Isto não significa que o lado correcto para se começar seja
aquele que propusemos, sendo qualquer crítica bastante útil, mas desde que
vise mais do que a simples inércia. Pensamos que chegou o momento de a
sociedade portuguesa se lançar numa reflexão prospectiva sobre si mesma.
De outro modo, está-se, provavelmente, a contribuir para a construção de
uma sociedade futura pouco inteligente, no sentido em que não sabe exac-
tamente para onde caminha e com cada vez menor capacidade de actuar face
aos vários desafios que se lhe vão colocando.

BIBLIOGRAFIA

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Maria João Valente Rosa

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