Manual de Desenvolvimento Comunitario
Manual de Desenvolvimento Comunitario
Manual de Desenvolvimento Comunitario
DESENVOLVIMENTO
COMUNITÁRIO
2.ª edição
Hermano Carmo
ISBN: 978-972-674-587-7
Hermano Carmo
DESENVOLVIMENTO
COMUNITÁRIO
(2.ª edição)
Universidade Aberta
2007
© Universidade Aberta
Capa: João Madruga
© Universidade Aberta
Hermano Duarte de Almeida e Carmo
Nascido em 1950, efectuou os estudos secundários no Colégio Militar e no Liceu Nacional de Salvador
Correia de Sá em Luanda. Fez o Curso de Administração Ultramarina em 1970, a Licenciatura em Ciências
Sociais e Políticas em 1974 e o Mestrado em Ciência Política em 1985, no Instituto Superior de Ciências
Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa. Concluiu o Doutoramento em Ciências da Educação
na especialidade de Organização de Sistemas de Formação (1995) e a Agregação em Estudos Sociais, Grupo
disciplinar de Política e Acção Social (2002) na Universidade Aberta.
Professor Catedrático da Universidade Aberta onde foi Pró-Reitor (2000‑2006) e Director do Mestrado
em Relações Interculturais (1999-2006); colaborador do Centro de Estudos das Migrações e das Relações
Interculturais; tem leccionado seminários de Mestrado sobre Metodologia da Investigação (Comunicação
Educacional Multimedia, Relações Interculturais, Comunicação em Saúde e Administração e Gestão
Educacional); neste último foi responsável pela disciplina Organização e Gestão de Recursos Educativos.
Professor Catedrático convidado do ISCSP/UTL, onde lecciona, na Licenciatura em Serviço Social, as
disciplinas Serviço Social de Grupos e Serviço Social de Comunidades e Desenvolvimento Comunitário e, no
Mestrado em Ciência Política, a disciplina Funções Económicas e Sociais do Estado.
Desde 1970 desempenhou funções técnicas, docentes e de direcção no Centro de Acção Social Universitário,
Centro de Educação Especial de Lisboa, Centro Regional de Segurança Social de Lisboa, e nas Universidades
Nova, Técnica, Internacional e Aberta. Colaborou em diversas iniciativas académicas nas Universidades de
Girona, Granada e Internacional de Andalucia (Espanha), Florença (Itália), Pernambuco, UNESP – Assis, UF
de Santa Catarina e UVA do Ceará (Brasil), Agostinho Neto (Angola) e ISCE (Cabo Verde). Em 2002, foi-lhe
outorgado o título de professor visitante pelo Centro Universitário do Maranhão (Brasil).
Tem trabalhos nos domínios das Ciências Sociais, Ciências da Educação e Ciência Política, dos quais seis
dezenas estão publicados sob a forma de artigos ou ensaios, entre os quais Os dirigentes da administração
pública portuguesa (1985), Análise e intervenção organizacional (1986), Exclusão social. Rotas de intervenção
(Coordenação, 1996), Ensino superior a distância. Contexto mundial, Modelos ibéricos, (1997), Metodologia
da investigação: guia para auto-aprendizagem (com Manuela Malheiro Ferreira, 1998), O Desenvolvimento
Comunitário no dobrar do Século (1998), Educación intercultural a nivel de posgraduados y enseñanza
flexible. realidades y desafios (1998), Desenvolvimento comunitário (1999), Intervenção social com grupos
(2000), Problemas sociais contemporâneos (coordenação, 2001) e Rumos da intervenção social com grupos
no início do sec. XXI (no prelo).
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Nota à 2ª edição
Durante oito anos, o presente manual foi utilizado por estudantes de vários programas da Universidade
Aberta, quer como disciplina obrigatória (caso dos cursos de Ciências Sociais e de Acção Social) quer
opcional (noutros cursos).
Ao longo desse período, fui tendo conhecimento da sua aplicação noutros contextos institucionais e
curriculares de intervenção social (sobretudo nos domínios do trabalho social, enfermagem, animação
sócio-cultural e ciências de educação) do Ensino Superior Público, Cooperativo e Privado.
- procedeu-se à actualização de notas e fontes bibliográficas, de acordo com o que entretanto foi
publicado;
- na unidade 7, inseriu-se uma secção nova sobre redes e parcerias, dada a importância que estas
formas de organização têm vindo a assumir no trabalho comunitário;
- na unidade 8, inseriu-se informação nova acerca das parcerias entre escolas e comunidades em
programas de educação para a cidadania, sobre aprendizagens da educação intercultural,
sobre os efeitos sócio-políticos da exclusão social e, finalmente, sobre a evolução e dinâmica
dos direitos humanos.
Com a presente revisão, espero continuar a responder às expectativas dos diversos leitores, estudantes
ou profissionais, que apoiaram o livro ao longo do seu ciclo de vida e a quem agradeço o incentivo.
Bem hajam por isso.
O autor
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Desenvolvimento Comunitário
19 1. Introdução
24 Tempo disponível
24 Estrutura de conhecimentos
25 Concepções do Mundo e da Vida do autor
25 Teorias e conceitos
26 Modelos
26 Resultados esperados e valor acrescentado da aprendizagem
27 Públicos-alvo
30 Em síntese
31 Actividade final
31 Leituras complementares
7
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43 Caso 2.7. - Uma campanha contra o tifo (Perú)
44 Caso 2.8. - Diferentes modos de aprender
46 Em síntese
48 Actividade final
48 Leituras complementares
65 Em síntese
65 Actividade final
66 Leituras complementares
73 Conceitos-base
73 O conceito de Desenvolvimento
74 Um ponto de partida: o conceito de problema social
74 Uma aproximação terminológica
8
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75 Perspectiva de Lebret
76 Posição do Banco Mundial e do PNUD
77 A educação para o desenvolvimento
79 Actividade
79 O conceito de Comunidade
79 A ideia de comunidade nas Ciências Sociais
80 O conceito de comunidade em Ander-Egg
80 O conceito de comunidade na sociedade contemporânea
81 Actividade
82 A organização comunitária e o Serviço Social de Comunidades
82 Organização comunitária
83 Serviço social de comunidades
84 Actividade
84 O Desenvolvimento Comunitário
84 Dimensões do conceito
85 As raízes
86 Os princípios
87 A planetarização
88 Actividade
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108 Actividade
108 Em síntese
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140 Actividade
140 Em síntese
160 A obra
160 Educação como prática de liberdade
162 Educação e extensionismo rural
162 Extensió o comunicación? La conscientización en el medio rural
162 Pedagogia do oprimido (1970)
163 Os registos africanos
164 As obras da reaprendizagem do Brasil
166 Actividade
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175 Fundamentos socio-políticos da NVA
176 Metodologia da NVA
176 Análise da Situação
177 Escolha do objectivo
178 Primeiras Negociações
178 Apelo à Opinião Pública
179 Envio de ultimatos e acções directas
179 Caso 6.1 - O ultimato a Smuts
180 Caso 6.2 - O boicote às uvas da Califórnia
181 Actividade
182 Em síntese
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204 O que é planear?
205 Procedimentos obrigatórios nos actos de planear e organizar
205 Actividade
224 Em síntese
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231 A mudança na educação
232 Relação da escola com a comunidade: um exemplo
234 Comentário
235 Parceria/escola comunidade na educação para a cidadania
236 Desenvolver os talentos: construir identidades ricas
239 No fio da navalha: ser sujeito da sua história
240 Viver em comum: ser cidadão de corpo inteiro
240 A educação intercultural e a intervenção comunitária
241 A educação intercultural e as doutrinas da assimilação, da integração e
do pluralismo cultural
241 Aprendizagens da educação intercultural
242 Um grupo estratégico: os formadores
244 Actividade
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262 Variáveis em jogo na educação para a democracia
264 Papel do Desenvolvimento comunitário
265 Desenvolvimento comunitário e educação aberta e a distância
265 O ensino aberto e a distância
266 O EAD e a educação para a resolução de problemas básicos
267 O EAD e o reforço à educação formal
267 O EAD e o desenvolvimento da educação contínua
268 Em resumo
268 Actividade
270 Em síntese
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AGRADECIMENTOS
Não teria sido possível produzir este manual sem a contribuição de muita gente. Não sendo possível
nomear todos os que voluntária ou involuntariamente são meus credores, aqui fica o testemunho de
gratidão aos que de mais de perto acompanharam a minha caminhada neste domínio do desenvolvimento
comunitário:
à minha família que me ensinou precocemente os valores que fundamentam esta forma de intervir;
aos meus companheiros do Centro de Acção Social Universitária, com quem aprendi que uma
verdadeira consciência crítica não se limita a denunciar o que está mal mas deve arriscar-se a
anunciar o sonho do inédito viável;
aos meus professores, com quem aprendi que a inteligência e o afecto não são incompatíveis;
e, sobretudo
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1. Introdução
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SUMÁRIO
Objectivos
2. Tempo disponível
3. Estrutura de conhecimentos
3.1 Concepções do Mundo e da Vida do autor
3.2 Teorias e conceitos
3.3 Modelos
3.4 Resultados esperados e valor acrescentado da aprendizagem
4. Público-alvo
6. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
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Objectivos
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Razão de ser (na primeira pessoa …)
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Os pontos que se seguem estruturam-se, deste modo, de acordo com as quatro
vertentes referidas, nas quais se integraram as variáveis sugeridas por Gowin
para a construção de um qualquer conhecimento (Moreira e Buchweitz, 1993
e Novak e Gowin, 1996).
2. Tempo disponível
Recentemente, esse critério foi generalizado para toda a União Europeia pelas
chamadas recomendações de Bolonha, e integrado no sistema normativo
português pela Lei 49/2005 de 30 de Agosto e pelo Decreto-Lei 74/2006 de
24 de Março. De acordo com este quadro doutrinário e normativo, a presente
disciplina está prevista como semestral, o que implica um esforço de trabalho
correspondente por parte do estudante.
3. Estrutura de conhecimentos
Como atrás foi referido os contextos em que esta disciplina se insere podem
ser vários. Daqui decorre que a estrutura de conhecimentos a transmitir deva
apresentar-se sem quaisquer pré-requisitos para além dos decorrentes da
formação secundária completa do agrupamento de Ciências Económico-Sociais.
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Isto implica apenas uma formação mínima no domínio das Ciências Sociais,
correspondente à exigida para acesso aos cursos superiores com curricula
nesses domínios5 . 5
No caso particular dos es-
tudantes de Ciências Sociais
é evidente que, não sendo
indispensável, uma prepa-
ração prévia nas disciplinas
de Sociologia Geral, Antro-
3.1 Concepções do Mundo e da Vida do autor pologia Geral e Metodo-
logia das Ciências Sociais
permitir-lhes-á ancorar me-
lhor os conhecimentos des-
É um imperativo de honestidade intelectual e de cuidado epistemológico referir ta disciplina.
que as estratégias de organização curricular e de leccionação foram fortemente
condicionadas por quatro convicções do autor6 : 6
É claro que as convicções
do autor são partilhadas por
• a crença personalista de que o Homem é um fenómeno que não se toda a comunidade cien-
tifica, política e técnica que
repete; estruturou a doutrina, a teo-
ria e a metodologia do De-
• a de que os três valores explicitados na Revolução Francesa - senvolvimento Comunitá-
rio.
Liberdade, Igualdade e Fraternidade - constituem ainda grandes
referências éticas do nosso Tempo, dotadas de poder de agregação de
quereres comuns de culturas muito diferentes;
Para além disso fará naturalmente apelo ao contributo das Teorias Gerais da
Política Social e do Serviço Social e às suas aplicações ao Desenvolvimento
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Comunitário, sobretudo através das obras de Ander-Egg, Myriam Baptista e,
no nosso espaço, de Manuela Silva.
3.3. Modelos
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Como valor acrescentado da aprendizagem, pretende-se que o estudante
venha a atingir três ambiciosos objectivos:
4. Público-alvo
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5. Sistema de comunicação educacional
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5.1 Materiais
10
O instrumento fundamen-
Os materiais que integrarão a disciplina serão os seguintes : 10 tal de aprendizagem é o
manual, tanto para os estu-
dantes que trabalham em re-
• este manual, adequado para o trabalho em regime de gime de ensino presencial
auto-aprendizagem, que constituirá o texto de base; em anexo a este como para aqueles que es-
tão insrcitos em programas
manual indica-se uma bibliografia de obras de referência com caracter de ensino a distância. Para
facultativo uma vez que se pretende, de acordo com as orientações estes constitui também ma-
terial básico o conjunto dos
vigentes, que o manual seja auto-suficiente; testes formativos e respecti-
vos relatórios de correcção.
• um conjunto de videogramas, que procurarão mostrar algumas À semelhança do que se pas-
sa com outras disciplinas da
experiências de Desenvolvimento Comunitário em diferentes contextos Universidade aberta, todo
numa perspectiva de estudo de casos; este material poderá vir a ser
complementado com mate-
• uma série de audiogramas em que se promoverá o aprofundamento e rial audio-visual e em su-
porte digital de acordo com
a discussão de questões relevantes por especialistas; as disponibilidades logísticas
da Universidade Aberta.
• dois testes formativos, com uma estrutura11 análoga à que o estudante
irá encontrar no exame final; 11
A estrutura dos testes pro-
curará avaliar a aprendiza-
• dois relatórios de correcção dos testes formativos, em que se procurará gem de todas as unidades
indicar as respostas esperadas, assim como analisar os erros típicos e lectivas. A forma de
questionamento (tipo de
propor estratégias para a sua superação. resposta exigida, de escolha
múltipla, por associação,
curta ou longa) variará con-
soante o número de estudan-
tes incritos de modo a pre-
5.2 Interacção ver a sua correcção dentro
dos prazos estabelecidos.
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• participe nas sessões presenciais ou por videoconferência promovidas
pela equipa docente, em que se procurará fazer apresentação de
conteúdos mais problemáticos, responder a dúvidas e discutir casos.
5.3 Avaliação
6. Em síntese
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os tipos de pessoas a quem este manual se destina e os sistemas de comunicação
educacional passíveis de usar.
Actividade final
Leituras complementares
NOVAK, Joseph
2000 Aprender, criar e utilizar o conhecimento, Lisboa, Plátano.
NORTHEDGE, Andrew
1990 The good study guide, Milton Keynes, The Open University.
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2. O processo de intervenção social em comunidades
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SUMÁRIO
Objectivos
5. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
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Objectivos
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1. Elementos em jogo num processo de intervenção social
Consideremos duas situações reais, uma relatada por George Foster1 (1974: 1
Professor da Universidade
de Berkeley (Califórnia) este
14-15) e outra vivenciada pelo autor deste manual, que ilustram as antropólogo participou des-
consequências deste modo de pensar e agir. de o início dos anos cin-
quenta como perito de di-
versas organizações ligadas
a programas de desenvolvi-
mento comunitário nos do-
Caso 2.1 Construção de balneários e lavadouros em Vera Cruz mínios da saúde, educação
e engenharia, entre as quais
(México) a UNESCO. A sua experi-
ência no terreno, nomeada-
mente no México, Colôm-
No âmbito de um programa de saúde pública promovido pela administração bia, Peru, Brasil, Índia,
Paquistão, Filipinas, Afega-
mexicana um engenheiro projectou e construiu um equipamento para uma nistão e noutros países em
aldeia que combinava balneários e lavadouros. Tal empreeendimento obedecia desenvolvimento, granjeou–
-lhe justa fama como espe-
aos critérios de economia e de espaço a que ele estava habituado. Deste modo cialista em mudança de so-
mandou implantar os lavadouros lado a lado virados para uma parede onde ciedades tradicionais. Dois
dos seus principais livros,
foi instalada a canalização que os servia e que, simultâneamente, abastecia o autênticos clássicos da An-
conjunto de balneários construidos do outro lado da referida parede. O desenho tropologia Aplicada, são ci-
tados no final deste capítulo
do projecto permitiu uma construção a baixo custo e uma poupança de tempo em leituras complementa-
às mulheres, as quais passaram a dispor de acesso imediato a água potável res.
37
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Centro de Acção Social Universitário (CASU), aconselhando medidas
preventivas à população, diagnosticando a doença e preconizando terapêuticas
adequadas. Em dada altura uma jovem pediatra pertencente à equipa medicou
um bébé fortemente afectado na cabeça com um xarope de efeito sistémico.
Dias depois, fomos confrontados com uma violenta gritaria oriunda do posto
médico do CASU. Aproximando-nos, apercebemo-nos da indignação da mãe
da criança que invectivava a médica com abundantes insultos, acusando-a de
incompetência profissional por ter mandado pôr um champô que só fez com
que a cabeça da criança infectasse até chamando as moscas…!. A médica
por seu turno, extremamente ofendida, acusava a mulher de ignorante, uma
vez que não se tratava de um champô mas de um xarope. Se não percebeu
tinha obrigação de ler a bula…!
Actividade 2.1
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c) uma interacção entre o sistema-cliente e sistema interventor que se
traduz num conjunto de comunicações, através das quais se
pretendem identificar necessidades e recursos e organizar respostas
adequadas às primeiras através dos segundos;
Interacção
Sistema Sistema
interventor cliente
Ambiente
de Intervenção
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© Universidade Aberta
Isto leva-nos ao terceiro tipo de elemento presente em qualquer processo de
intervenção social: a interacção, ou seja o modo como os dois sistemas
comunicam e se relacionam.
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forma de uma mensagem verbal ou não verbal para um ou mais receptores
que a vão receber com os seus sensores (visuais, auditivos, tácteis e cinestésicos)
e, através de um processo de descodificação, também ele complexo, lhe vão
dar sentido, de acordo com os elementos de natureza emocional e cognitiva
que possuem. Tanto no processo de codificação como no de descodificação
das mensagens, a cultura dos protagonistas3 desempenha um papel essencial
na percepção, ou seja no reconhecimento, filtragem e contextualização da
informação. Quanto maior for a distância cultural entre os actores sociais 3
O termo cultura, frequen-
temente usado ao longo
mais difícil se torna o processo comunicacional. deste manual, designa a he-
rança social que qualquer
Nem sempre esta distância é evidente, sobretudo quando os protagonistas falam indivíduo recebe ao longo
da sua socialização. É a
a mesma língua e não têm traços exteriores que a indicie. A história seguinte acepção vulgar em Ciências
foi presenciada pelo autor num bairro de barracas onde decorria uma campanha Sociais não tendo a
conotação comum de con-
de planeamento familiar. junto de conhecimentos so-
bre Artes e Ciências que di-
ferencia os que os têm (os
cultos ) dos que não os têm.
Para as Ciências Sociais um
Caso 2.3 O caso da pílula partilhada camponês iletrado e um pro-
fessor universitário são am-
bos portadores de cultura
Ao fim de dois meses de campanha fomos confrontados com um desagradável não sendo cientificamente
incidente: uma mulher que havia frequentado as reuniões de formação e a correcto valorá-los. Para se
perceber de forma simples
quem, na consulta havia sido prescrita uma dada pílula anti-concepcional, esta questão, vale a pena ver
apareceu no posto médico para receber tratamento de escoriações e o filme Os deuses devem es-
tar loucos. Adiante voltar-
traumatismos ocasionados por uma violenta sova dada pelo seu companheiro se-á a esta questão.
habitualmente pessoa calma e pacífica. Interrogada sobre as razões do incidente
respondeu, um pouco agastada, que tinha tido a culpa de confiar na pílula,
indicada pela médica, o que não havia evitado que engravidasse. O marido
sabendo que ela estava a tomar a pílula e que apesar disso engravidou,
interpretou o facto como estando ela a enganá-lo com outro homem, agindo
em conformidade com os padrões habituais naquela cultura.
41
© Universidade Aberta
2.2 Problemas de percepção
5
Semelhante ao logotipo da Uma organização não governamental (ONG) de origem americana usa como
União Geral dos Trabalha-
dores (UGT).
logotipo um par de mãos que se apertam como símbolo de amizade5 . No
decurso de um programa de vacinação no Norte da Tailândia as equipas de
vacinação depararam com um obstáculo inesperado: sempre que entravam
nas aldeias a população fugia manifestando sinais de medo. Não conseguindo
prosseguir com a vacinação foi elaborado um inquérito que concluiu que o
logotipo da ONG pintado nas portas de todos os jeeps era responsável pelo
insólito comportamento da população: com efeito, para aqueles camponeses,
um par de mãos separadas do corpo é um símbolo inquietante do mundo dos
espíritos resultando daí sentimentos de medo e desconfiança sempre que
chegavam os jeeps das equipas de vacinação.
O problema aqui, como no caso anterior, foi o sistema interventor ter ignorado
que as diversas culturas têm diferentes padrões de associação, de acordo
42
© Universidade Aberta
com a sua experiência de vida: a percepção, ou seja a atribuição de
significado à informação recebida, depende do posicionamento ou
ancoragem dessa informação no sistema cognitivo do receptor que integra
toda a informação que este já possui, a qual lhe é transmitida de forma
organizada pela cultura onde foi socializado7 . 7
Para aprofundar esta ques-
tão vale a pena estudar a te-
oria da aprendizagem sig-
A divergência de percepções entre os protagonistas de um processo de nificativa de Ausubel. Uma
intervenção social planeada pode verificar-se em diversos domínios, obrigando breve introdução encontra-
se em Moreira, M.A.;
qualquer interventor social que queira ser eficaz, a manter uma constante auto- Buchweitz, B., 1993, Novak,
vigilância sobre os seus actos. Os casos que seguidamente se relatam descrevem Joseph; Gowin, Bob, 1996 e
Novak, Joseph, 2000 (vide
duas situações de divergência de percepções. bibliografia do capítulo an-
terior).
43
© Universidade Aberta
havia passado e que não havia sido consciencializado que o piolho era vector
do tifo:
11
Winitzkly, Nancy, 1995, Caso 2.8 Diferentes modos de aprender11
Salas de aula multi-cultu-
rais e de ensino integrado,
p.145, in Arends, Richard
I., 1995, Aprender a ensi- Pessoal escolar e os alunos geralmente pertencem a culturas diferentes com
nar, Lisboa, McGraw-Hill, diferentes formas de comunicação e diferentes crenças e valores. Por exemplo
pp 141-183.
Philips (1972) estudou o modo como as crianças índias norte-americanas
aprendiam em casa e comparou-o com o modo esperado de aprendizagem na
escola. Philips observou que estas crianças se sentavam silenciosamente nas
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suas carteiras durante a aula, mesmo quando o professor lhes dirigia alguma
pergunta. A maioria dos americanos admitiria que estas crianças eram muito
tímidas ou que possuiam dificuldades de aprendizagem ou linguísticas,
remetendo-as, neste último caso, para classes de baixo desempenho ou de
ensino especial. Pelo contrário Philips verificou que no seio da sua própria
cultura era esperado que aprendessem através da observação de modelos
adultos sem interagirem com eles; que quando precisavam de ajuda deveriam
dirigir-se a irmãos mais velhos e não aos adultos; e que estavam habituados a
uma autodeterminação em casa muito maior do que a que era permitida na
escola.
Em segundo lugar, para que a sua acção seja eficaz, é necessário que o
interventor se conheça a si próprio e exerça uma rigorosa auto-vigilância
sobre os seus actos: só a partir desta autoscopia permanente é possível controlar
a sua acção, necessáriamente emoldurada pela cultura que interiorizou que
lhe moldou um conjunto de valores e atitudes próprios, os quais condicionam
o seu modo de ver o Mundo e a Vida e os seus comportamentos, traduzidos
em opiniões e condutas profissionais. Nenhuma intervenção social é inóqua,
decorrendo da postura do interventor como cidadão e como pessoa. É condição
de eficácia da acção, portanto, que este assuma um posicionamento autocrítico
sobre o seu desempenho. Só este lhe pode permitir evitar comportamentos
errados, frutos de preconceitos e esteriótipos sobre o sistema-cliente.
45
© Universidade Aberta
Em terceiro lugar, o interventor social deve conhecer os principais elementos
que integram o ambiente da intervenção (políticos, económicos e
socioculturais), que lhe traçam um quadro de ameaças e de oportunidades
estratégicas.
5. Em síntese
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Figura 2.2 - Mapa conceptual de um processo de intervenção social.
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Actividade final
Leituras complementares
FOSTER, George
1962 As culturas tradicionais e o impacto da tecnologia, Rio de Ja-
neiro, Fundo de Cultura
1974 Antropologia aplicada, Cidade do México, Fondo de de Cultu-
ra Economica
FREIRE, Paulo
1967 Educação como prática de liberdade, Rio de Janeiro, Paz e
Terra.
1968 O papel do trabalhador social no processo de mudança, in
Freire, P.,1977, Acção cultural para a libertação e outros es-
critos, Lisboa, Moraes, pp. 51-58.
1972 Pedagogia do Oprimido, Porto, Afrontamento
NETO, João Pereira
1972 A evolução social em Portugal depois de 1945 (contribuição
para o seu estudo), separata de “Estudos Políticos e Sociais”
IV, nº3, 1966
ROCHA-TRINDADE, Maria Beatriz (coord.)
1995 Sociologia das Migrações, Lisboa Universidade Aberta, bloco
multimedia integrando um manual, 10 videogramas, 6
audiogramas e um guia de exploração dos videogramas.
1996 Educação intercultural de adultos, Lisboa, Universidade Aberta
WINITZKLY, Nancy
1995 Salas de aula multiculturais e de ensino integrado, in Arends,
Richard I., 1995, Aprender a ensinar, Lisboa, McGraw-Hill,
pp 141-183.
48
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3. As alterações do ambiente de intervenção social
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SUMÁRIO
Objectivos
Actividade 3.1
Actividade 3.2
3. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
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© Universidade Aberta
Objectivos
52
© Universidade Aberta
Na unidade anterior apresentou-se um modelo simples, que representa os
principais elementos em jogo na intervenção social. Um desses elementos é
sem dúvida o ambiente social da intervenção, que lhe define uma moldura de
oportunidades e de limitações de natureza cultural e histórica que a
condicionam. Nesta unidade descrever-se-á resumidamente a evolução da
intervenção social em função desses condicionalismos ambientais.
53
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Variáveis 1ª vaga 2ª vaga 3ª vaga
Força humana e
Carvão; petróleo; Sol; marés; vento;
animal; algum
Energia nuclear (de fontes biomassa; etc. (de
aproveitamento do
perecíveis) fontes renováveis)
vento e da água
T Máquina a vapor; Electrónica; Biologia;
E motor eléctrico; computador,
C Tecnologia Rudimentar motor de combustão Engenharia Genética;
N interna; motor Engenharia Espacial;
O nuclear Oceanologia
S Divórcio entre
Sistema integrado
F produção e Advento do
de produção e
E consumo, prossumidor;
consumo; divisão
R mediatizado pelo desconcentração da
sexual do trabalho
A Economia mercado; divisão produção;
sem grandes cliva
sexual assente na descentralização do
gens entre produção
produção (Mitos se consumo; fim da
e consumo
xistas); economia economia subsidiada
subsidiada
Proliferação dos tipos
Família - Extensa - Nuclear de família além dos
anteriores
Ensino padronizado;
Ensino modular;
Ensino curriculum encoberto
proliferação de formas
Escola predominante mente (pontualidade,
S e conteúdos
informal; elitismo obediência,
O pedagógicos
repetição)
C
A Companhia;
I Economia
Unidades organização Organização Ad-hocrá
O predominan temente
económicas centralizada e tica; desconcentração
S familiar
burocratizada
F
Poder relativamente Poder muito
E Crise no Estado
fragmentado; alguns centralizado; um
R (interna e externa);
Sistema imperialismos novo papel social, o
A novas possibilidades
político regionais integrador; Estado-
para a pilotagem dos
Nação; imperialismos
sistemas políticos
à escala mundial
Media Elitismo dos Media Mass-Media Self-Media
Padronização;
I Modulação;
Não padronização; especialização;
N sistematização; des-
pouca especialização; sincronização
F sincronização;
Ideias-força tempo cósmico (tempo mecânico);
O desconcentração;
(tempo físico); concentração;
S dimensionação;
desconcentração maximização;
F descentralização
centralização
E
Relação com Evolução controlada;
R Dependência da Guerra à Natureza;
a Natureza, alteração da ideia de
A Natureza; crença na evolução e
tradição e progresso; diálogo com
fatalismo no progresso
modernidade a Natureza
54
© Universidade Aberta
Para caracterizar cada uma das três civilizações referidas, Toffler recorre a
um modelo analítico, que parte de três aspectos a que chamou tecnosfera,
sociosfera e infosfera, cada um dos quais com diversas variáveis-chave (figura
3.1). É este modelo que nos servirá de referência para caracterizar os contextos
societais da intervenção social.
55
© Universidade Aberta
uma grande interligação entre o crescimento das zonas de 2ª vaga, e o
empobrecimento de áreas de 1ª vaga, levando alguns autores a falar
2
Subsidiada em energia, de uma autêntica economia subsidiada2.
matérias primas e mão-de-
obra a baixos custos, pro-
venientes de áreas geográ-
• o poder, quer económico quer político, revela-se extremamente
ficas ou sociais dependen- centralizado. Expressões desse poder, o Estado-Nação e a organização
tes. Cfr. por exemplo,
Schumacher, E.F.(1980),
burocrática, atingiram limites anteriormente inatingidos, chegando a
Small is Beautiful (Um es- alcançar, quer um quer outra, dimensões planetárias;
tudo de economia em que
as pessoas também con-
tam), D. Quixote, Lisboa.
• a família, reduzida à dimensão nuclear, deixou de funcionar como
No mesmo sentido já Lebret unidade de produção, passando a ser substituída por empresas de cada
em 1958, havia escrito o seu
clássico Suicide ou survie de
vez maiores dimensões;
L‘Occident? (Les editions
Ouvrières, Paris), posterior- • os media expandem-se aos campos do audio-visual e atingem por
mente publicado em portu-
guês: Lebret, L.J. (1964),
vezes dimensões gigantescas, assumindo-se como fábricas de
Suicídio ou Sobrevivência informação padronizada, destinadas a grandes massas populacionais;
do Ocidente?, Livraria Mo-
rais, S. Paulo.
• toda a civilização da 2ª vaga, considera Toffler, repousa sobre um
conjunto de seis ideias-força que condicionam os comportamentos.
Essas ideias- -força, de padronização, especialização, sincronização,
concentração, maximização e centralização, determinaram uma crença
generalizada no progresso e uma posição arrogante do homem como
conquistador da Natureza.
56
© Universidade Aberta
• na economia, registou-se uma diversificação de agentes económicos,
um aumento em ritmo acelerado de pequenas e médias empresas a par
(por vezes mesmo em alternativa) das grandes empresas industriais,
uma desmassificação da produção, uma complexificação das redes de
distribuição e um crescente poder do consumidor. Em termos mundiais,
o modelo de economia subsidiada tem sido cada vez posto mais em
questão, se bem que subsista;
57
© Universidade Aberta
Actividade 3.1
58
© Universidade Aberta
• o critério da natureza dominante da actividade, que procura chamar
a atenção para a focagem da intervenção social, se na área das
necessidades sócio-económicas, sócio-políticas ou sócio-culturais.
De acordo com esta matriz orientadora pode afirmar-se que, nas sociedades
pré-industriais o ambiente da intervenção social se caracteriza por um nível
de actuação de baixa complexidade (individual, grupal, por vezes
organizacional e raramente comunitário) focado em aspectos de natureza
sócio-económica.
Situação geral
Com efeito, a intervenção social neste tipo de sociedades visa, em regra, resolver
necessidades de subsistência, ocasionadas por circunstâncias adversas
atribuidas a causas não controláveis pelo homem (seca, pobreza, doença,
morte...). Os sistemas-clientes são pessoas e famílias, os interventores a maior
parte das vezes também o são, de acordo com organização social vigente. A
legitimação da intervenção é, quase exclusivamente, de ordem ético-religiosa,
não se considerando que o Estado tenha o dever de ajudar, nem o cidadão o
direito de esperar ajuda. O modelo de intervenção é claramente assistencial.
Com a centralização política ocorrida a partir dos finais da Idade Média europeia
e com o modelo de Estado que daí emergiu, a preocupação do Poder Político
incidiu sobretudo nos fins de justiça e de segurança, assumindo-se
institucionalmente como Estado Protector (Rosanvallon, s/d). Ainda aqui, o
modelo de intervenção social assenta na responsabilidade moral da sociedade
civil.
59
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Em Portugal
Em 1498 por iniciativa da rainha D. Leonor, viúva de D. João II, foi criada a
primeira Misericórdia em Lisboa, directamente tutelada pela Igreja, seguindo-
4
Um tipo de assistência ino-
vador para a época (século se-lhe outras, em várias localidades tanto em território metropolitano como
XVI) foi protagonizado pe- ultramarino, à medida em que se foi processando a expansão para outros
los recolhimentos para con-
vertidas ou arrependidas, territórios. A rede de Misericórdias constituiu, durante muitos anos, a principal
instituições destinadas à re- rede de acção social em território português, mantendo-se activa até à
cuperação de prostitutas. “A
sua finalidade era retirar es- actualidade.
tas mulheres da prostituição
e dar-lhes um dote com que A par das Misericórdias foram instituidos pela família real e por diversas famílias
pudessem casar, enviando-
as muitas vezes para os ter- nobres diversos recolhimentos e mercearias, para fazer face ao aumento de
ritórios conquistados, a car- crianças orfãs e abandonadas, de viúvas e de outra população4 que havia
go das autoridades civis e
religiosas” (Tavares, M.J.F., caído em situação de pobreza em virtude de circunstâncias várias (guerra de
1989: 275). África, epidemias, e mais tarde das perdas resultantes da expansão).
60
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2.2 A intervenção social na sociedade industrial
61
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Keynesiano (EPK), justamente pela sua paternidade doutrinária. De acordo
com este autor (1995: xi), a política social do EPK tem três ingredientes básicos:
Em Portugal
62
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numa excessiva responsabilidade da sociedade civil, particularmente de
instituições de assistência da Igreja Católica, a que se juntou a acção suplectiva
mais ou menos tímida do Estado.
mal definidos, tem sido pródigo em convulsões sociais cuja análise não cabe
neste manual11 . Para aprofundar esta ques-
11
Política Política
Modelo de análise
neoconservadora social-democrata
1. Pleno emprego • Desinvestimento • Manutenção
2. Serviços sociais universais • Privatização • Serviços nacionais
• Desinvestimento • Rendimento mínimo
3. Combate à pobreza
quase total básico
63
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Uma segunda tendência que se observa, é para adequar as respostas sociais à
diversidade e complexificação dos problemas. Esta tendência, claramente
identificada nos resultados de um gigantesco programa de pesquisa realizado
em França, ao longo dos anos 90 do século passado (Chopart, 2003), teve
12
O programa de investiga-
ção, intitulado Observar os
como efeito a identificação de várias profissões ligadas à intervenção social12 .
empregos e as qualificações
das profissões da interven- Uma das equipas de investigação, coordenada por Élisabeth Maurel (cit in
ção social, foi financiado
por 8 instituições centrais,
Chopart, 2003: 35), partiu do conceito de intervenção social “utilizado para
reunidas num comité de pi- (...) ressituar as actividades dos profissionais do social enquanto produto de
lotagem e integrou equipas
de diversas universidades.
um conjunto de políticas públicas que contribuem para o tratamento da questão
social e para o desenvolvimento de diversas formas de solidariedade” e procurou
desconstruir o campo das profissões certificadas do trabalho social,
identificando seis funções transversais que se observavam no terreno: o
acolhimento, o acompanhamento social, a informação-orientação, a mediação,
a coordenação, a engenharia social e o desenvolvimento.
64
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Tipologia de trabalhos de intervenção social
Actividade 3.2
3. Em síntese
65
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Actividade final
Leituras complementares
Barreto, António
1996 A situação social em Portugal, 1960-1995, Lisboa, ICS
CASTELS, Manuel
2003 O poder da identidade, Lisboa, FC Gulbenkian, in A era da
informação: economia sociedade e cultura, vol II, c. 1997
2005 A sociedade em rede, Lisboa, FC Gulbenkian, 2ª edição, in A
era da informação: economia sociedade e cultura, vol I, c. 1996
COSTA, Joaquim
2002 Sociedade Portuguesa Contemporânea, Lisboa Universidade
Aberta
NAISBITT, John
1988 Macrotendências, Lisboa, Presença.
66
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PINTASILGO, M.L.
1985 Dimensões da Mudança, Lisboa, Afrontamento
RAMESH, Mishra
1995 O Estado-Providência na sociedade capitalista: estudo com-
parativo das políticas públicas na Europa, América do Nor-
te e Austrália, Lisboa, Celta
ROSANVALLON, Pierre
s/d A Crise do Estado Providência, 2ª ed., Lisboa, Inquérito, 1ª ed.
1984.
TOFFLER, Alvin
1981 A Terceira Onda, Rio de Janeiro, Record.
67
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Página intencionalmente em branco
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4. O desenvolvimento comunitário: enquadramento geral
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Página intencionalmente em branco
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SUMÁRIO
Objectivos
1. Conceitos-base
1.1 O conceito de Desenvolvimento
1.2 O conceito de Comunidade
1.3 A organização comunitária e o Serviço Social de Comunidades
2. O Desenvolvimento Comunitário
2.1 Dimensões do conceito
2.2 As raízes
2.3 Os princípios
2.4 A planetarização
6. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
71
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Objectivos
72
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Esta unidade destina-se a dar-lhe elementos de natureza teórico-conceptual
que lhe permitam enquadrar-se na problemática do desenvolvimento
comunitário. Como já escrevemos noutro lugar,
1. Conceitos-base
2
O texto que se segue resul-
1.1 O conceito de Desenvolvimento2 ta da adaptação de Carmo,
1996, A educação para o
desenvolvimento num con-
O campo semântico do termo desenvolvimento tem vindo a ser infestado por texto de diversidade, in II
Seminário de Formação em
uma acumulação excessiva (quase cancerígena) de definições. Para o clarificar- Interculturalidade, Grana-
mos iremos usar, nos pontos que se seguem, uma estratégia de aproximações da, no prelo em versão
castelhanae de Carmo,
sucessivas. 1997, op.cit.
73
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Um ponto de partida: o conceito de problema social
Se antigamente, por falta de tal consciência, muitas das situações que hoje são
consideradas problemas sociais não se traduziam como tal, com o fenómeno da
planetarização generalizaram-se alguns consensos em torno do que é minima-
mente desejável para a qualidade de vida das populações. Consensos que se
cristalizaram em torno do conceito de desenvolvimento, que passaremos segui-
damente a analisar.
74
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verbos denota entre outros significados uma cessação da situação primitiva
(ex.: desempatar, desoprimir, desmamar, desenganar, desimpedir. A palavra
envolver, por seu turno, significa, entre outras coisas, enredar (ex.: envolveu-
o na conspiração).
Perspectiva de Lebret
De facto, não foi numa acepção subjectiva e etnocêntrica que Lebret empregou
a expressão: com efeito, se a interpretarmos no contexto da sua obra6 , 6
Cfr. por exemplo, Lebret,
observaremos que a ideia de maior ou menor humanidade anda de mãos dadas L. J. (1964), Suicídio ou So-
brevivência do Ocidente?
com a de qualidade de vida em todas as suas facetas (material e espiritual), (c.1958), Morais Editora,
que ele caracteriza de forma extremamente rigorosa, decerto influenciado pela S.Paulo.
75
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7
Lebret tinha simultanea- sua dupla formação de base7 . Anda de igual forma ligada ao sentido etimológico
mente uma boa preparação
matemática, que havia re- acima expresso, uma vez que, para se alcançarem níveis superiores de qualidade
cebido na escola naval, e fi- de vida, é indispensável cessar com as situações típicas do subdesenvolvimento,
losófica, devida à sua for-
mação como dominicano. de enredamento social, de ciclos viciosos de pobreza, substituíndo-os por uma
Nos seus escritos, observa- dinâmica de crescimento e maturação.
se um feliz cruzamento de
rigor científico e de
voluntarismo militante. Tal-
vez por isso, João XXIII o
tenha chamado como peri- Posição do Banco Mundial e do PNUD
to ao Concílio Vaticano II,
onde desempenhou um pa-
pel de relevo na elaboração No mesmo sentido que Lebret, o Banco Mundial inicia o seu relatório sobre o
da Constituição Gaudium et desenvolvimento mundial em 1992 (Steer et al), afirmando que
Spes. Cfr. Malley, François
(s/d) Lebret: A Economia
Ao Serviço Dos Homens (c. (e)l logro de un desarrollo sostenido 8 y equitativo sigue siendo la
1968), União Gráfica, Lis- empresa más ardua que enfrenta el género humano. Apesar de los
boa.
avances logrados en el curso de las últimas generaciones, todavía hay
más de mil millones de personas que viven en condiciones de pobreza
8
A expressão desenvolvi- y sufren de un acceso totalmente insuficiente a los recursos y servicios
mento sustentado, foi difun-
dida em 1987 pela Comis-
de educación, salud, infraestructura, tierra y crédito que necessitarían,
são Mundial sobre o Meio para poder disfrutar de un mejor nivel de vida. Proporcionar
Ambiente e Desenvolvimen- oportunidades a fin de que estas personas- y los cientos de millones
to (Comissão Brundtland),
querendo significar um de- cuya situación no es mucho mejor- puedan hacer realidad todo su
senvolvimento “que satisfa- potencial es la empresa esencial del desarrollo.”(sublinhado nosso)
ça as necessidades do pre-
sente sem comprometer a
capacidade das futuras ge-
Por seu turno em recentes relatórios mundiais sobre o desenvolvimento humano,
rações para satisfazer as pró- publicados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
prias” cit. in op. cit. pag. 8.
O aspecto mais interessante
(PNUD, 1990-93) define-se desenvolvimento humano do seguinte modo:
desta definição, é a ideia de
solidariedade inter-gera- Le développement humain est un processus qui conduit à
cional, aproximando-se cla- l’élargissement de la gamme des possibilités qui s‘offrent à chacun.
ramente do pensamento de
Lebret. En principe, elles sont illimitées et peuvent évoluer avec le temps.
Mais quel que soit le stade de développement, elles impliquent que
soient réalisées trois conditions essentielles: vivre longtemps et en
bonne santé, acquérir un savoir et avoir accès aux ressources
nécessaires pour jouir d‘un niveau de vie convenable. Si ces conditions
ne sont pas satisfaites, de nombreuses possibilités restent inacessibles.
(Rapport...1993,: 115-116)
76
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Em qualquer das fontes referidas, a noção de desenvolvimento apresenta-se
ligada a dois critérios:
• o de uma situação que concede o acesso a recursos e serviços que
permitem, a uma população, desfrutar um melhor nível de vida;
• o de uma situação que permite tirar partido e aperfeiçoar o potencial
humano de um dado conjunto social.
77
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Áreas-chave Aprendizagens
Áreas
transversais:
Mudança • aprender a adaptar-se à mudança
• aprender a gerir a mudança (planear, organizar e controlar a
mudança)
Autonomia • aprender a ser autónomo sem se insularizar no individualismo
Democracia • aprender competências comunicacionais indispensáveis ao
exercício da democracia (ler, escrever, falar e escutar).
• aprender competências para o exercício da democracia
representativa (escolher, respeitar e substituír representantes).
• aprender competências para o exercício da democracia
participativa (preparar, tomar e executar decisões)
Solidariedade • aprender a ser solidário no espaço (nas dimensões
11
11
Para com as crianças, ado- individual , familiar, organizacional, comunitária, nacional e
lescentes, adultos e idosos mundial)
que integram as gerações
vivas. • aprender a ser solidário no tempo (para com as gerações
12 13
futuras e passadas )
12
A solidariedade com os Áreas específicas:
nossos netos é fundamento
do desenvolvimento susten- Ambiente • aprender a viver com qualidade protegendo o ambiente como
tado. património comum da humanidade actual e futura
População • educação para a paternidade e maternidade responsáveis
13
A defesa do património e
a assunção da História em
Saúde • educação para nutrição
todas as suas facetas positi- • educação para prevenção de doenças
vas e negativas integram a • treinamento sanitário básico
solidariedade com os ante-
passados. Cidadania • educação para produção
económica • educação para gestão de recursos
• educação para distribuição de bens e serviços
• educação para consumo
Mulheres • como agentes estratégicos de desenvolvimento
• como agentes estratégicos de democratização
Interculturalidade • educação para a identidade cultural
• educação para a diversidade cultural
• educação para o ecumenismo
Fonte:Carmo, 1995
78
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e da vida e áreas específicas, que os preparam para o exercício de papéis
particulares.
Actividade 4.1
Desde cedo o conceito de comunidade foi discutido com detalhe pelas Ciências
Sociais, no contexto da observação do fenómeno da urbanização. É ao
sociólogo alemão Ferdinand Tönnies que tem sido atribuida a primeira
teorização do conceito por contraposição ao de sociedade14 . Para este autor, a 14
Tönnies, F., 1977, Comu-
nauté et société: categories
comunidade é uma forma de vida antiga que se desenvolveu a partir da fondamentales de la
agregação de famílias num mesmo espaço, caracterizando-se por uma coesão sociologie pure, Paris, Retz/
CEPL, tradução francesa da
social baseada em laços de sangue, de amizade, de costume e de fé. Com o 1ª ed. de 1887.
79
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crescimento do processo de urbanização decorrente da industrialização, o
modelo de organização social transforma-se em sociedade:
80
© Universidade Aberta
Após um longo período em que esteve relativamente latente, a questão
comunitária foi recentemente reacendida em virtude da explosão multicultural,
ocasionada pela concentração de grandes massas populacionais portadoras de
diferentes culturas, e da alteração da balança de Poder decorrente do fim da
guerra fria simbolicamente marcada pela queda do muro de Berlim em 1989.
Actividade 4.2
81
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1.3 A organização comunitária e o Serviço Social de
Comunidades
Organização comunitária
82
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sociais: a população idosa é considerada frequentemente como um Na última unidade deste
20
83
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Actividade 4.3
2. O Desenvolvimento Comunitário
84
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• finalmente uma dimensão prática pelas consequências que a sua
aplicação tem no terreno, tanto pela implicação das comunidades no
processo do seu próprio Desenvolvimento como pela alteração das
práticas profissionais a que obriga.
2.2 As raízes
85
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Comunitário como instrumento de desenvolvimento dos territórios em vias de
descolonização.
2.3 Os princípios
86
© Universidade Aberta
• o princípio da auto-sustentação que defende que os processos de
mudança planeada sejam equilibrados e sem rupturas, susceptíveis de
manutenção pela população-alvo e dotados de mecanismos que
previnam efeitos perversos ocasionados pelas alterações provocadas;
2.4 A planetarização
87
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Superior de Ciências Sociais e Política Ultramarina da Universidade Técnica
de Lisboa, quer nos Institutos Superiores de Serviço Social.
Actividade 4.4
88
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Tipo Situações Objectivos Estratégias
Americano • Bairros • Criar comunidades • Consciencializar
Ex: EUA dormitórios através do necessidades comuns
• Escolas despertar do • Descobrir formas de
comunitárias espírito de cooperação
• Centros de saúde cooperação optimizando os
recursos existentes
Afro-asiático • Países sem • Reconstruir a • Integrar o DC no
Ex: Ghana, recursos ou com estrutura social e Plano Nacional
Índia recursos naturais económica (centralização numa
não optimizados • Optimizar os alta autoridade)
• Más condições recursos existentes • Pôr o aparelho de
estruturais a nivel nacional Estado ao serviço do
(sociais e DC
económicas)
• Falta grave de
quadros
Latino • Países e Regiões • Suplantar • Definir regiões e
Ex:França com dualismos dicotomias inter- zonas-problema
(Aspéres) estruturais regionais e • Concentrar recursos
assimetrias cidade- nessas zonas para
campo provocar efeitos de
mudança rápida e
colher efeitos de
demonstração
Europeu • Países e Regiões • Utilizar o DC como • Integração dos dois
Ex: Itália com sistemas de meio para niveis de
(Sardenha) Desenvolvimento dinamizar o desenvolvimento
Regional Desenvolvimento (Regional e Local)
regional
Para ultrapassar esse problema, Manuela Silva na obra citada sugeriu uma
tipologia a que chamou conceptual, que distingue três tipos, de acordo com a
complexidade do sistema-cliente:
• Tipo integrado correspondente, na tipologia anterior, ao afro-asiático,
caracterizado pela aplicação das técnicas de Desenvolvimento
Comunitário à escala nacional;
• Tipo adaptado, análogo ao europeu, sempre que o projecto tenha
escala regional;
89
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• Tipo Projecto-Piloto, semelhante ao latino e ao americano, quando a
escala de intervenção é mais restrita.
Actividade 4.5
90
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Modelo A Modelo B Modelo C
Características
Desenvolvimento local Planeamento social Acção social
Auto-ajuda; capacidade Resolução de problemas Substituição das relações de
Tipos de metas
comunitária e integração; (metas concretos da comunidade poder e de acesso a recursos
de acção
orientadas para processos) (metas orientadas para (metas orientadas para processos
comunitária
resultados) e resultados)
Assunções Anomia; carência de relações Problemas sociais Populações em desvantagem;
respeitantes aos humanas e de padrões substantivos; saúde física e injustiça social, depravação
problemas da democráticos de solução de mental, alojamento, lazer; iniquidade
comunidade problemas;.
Estratégia Intenso envolvimento da Reunião racional de factos Cristalização de resultados e
básica de população na solução dos seus caracterizadores dos organização das pessoas em
mudança próprios problemas problemas e decisões função de alvos inimigos
Características Comunicação consensual entre
das tácticas e grupos da comunidade; grupo de Consenso ou conflito Conflito ou acção contestatária,
técnicas de discussão acção directa; negociação
mudança
Catalizador; coordenador; Compilador e analisador de Activista; advogado; agitador;
Papéis dos
formador professor em matéria de factos; programador; “parte louça” (broker);
interventores
resolução de problemas. implementador negociador, “guerrillheiro”
sociais
Facilitador
Meio de Manipulação de pequenos grupos- Manipulação de dados e de Manipulação de organizações de
mudança tarefa organizações formais massas e de processos políticos
Como encaram Empregados e Alvos externos da acção;
as estruturas de Colaboradores patrocinadores opressores a ser coagidos
poder
Fronteiras da Comunidade total ou
comunidade- Comunidade geográfica total segmento ( por vezes Segmento de comunidade
-cliente “comunidade funcional”)
Assunções no
que respeita aos Interesses comuns ou conciliáveis Interesses conciliáveis ou Interesses em conflito
interesses no em conflito dificilmente conciliáveis;
interior da recursos escassos
comunidade
Concepção de Cidadãos Consumidores Vítimas
população
cliente
Participante no processo Consumidores ou Empregadores, membros
Concepção do
interactivo de solução dos recipientes constituintes
papel do cliente
problemas
Conselhos de Bem-Estar; Movimentos sociais tipo
Instituições, D. C. no 3º Mundo; Conselhos Municipais de Alinsky, Poder negro,
Corpo de Paz; Grupos de Planeamento, Burocracia movimentos feministas,
Tipo de agência
Consumidores, etc. federal Planeamento sindicatos, movimentos de
ambiental, Grupos de consumidores, grupos radicais
planeamento regional
Trabalhador de aldeia, de Dirigente ou técnico de Organizador local
Posições
vizinhança, consultor de DC, planeamento
práticas
extensionista rural
Educador de adultos, trabalhador Demógrafo, especialista Sindicalista, organizador de
de grupos não clínicos, em estudos sociais, grupos minoritários, organizador
Profissões
profissional de dinâmica de administrador público, de movimentos dos direitos
análogas
grupos, extensionista rural técnico de planeamento humanos, trabalhador de
hospitalar associações de inquilinos.
Fonte: Jacobsen, Michael; Heitkamp, Thomasine (1995) Working with comunities, in Johnson,
Wayne et al (1995) , The social services. An introduccion, Itasca, F.E. Publishers, pp 311-324
91
© Universidade Aberta
4. Relato de algumas experiências
Antecendentes
Após o processo que culminou com a independência (1957), esta antiga colónia
britânica viu-se confrontada com problemas de natureza estrutural dos quais
se salientavam um território com fracas infra-estruturas e uma sociedade pós-
colonial carecida de quadros técnicos e políticos, com um forte processo de
êxodo rural e com uma fraca experiência de vivência democrática.
Finalidades
Organização do projecto
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Os principais objectivos do projecto mostram claramente a sua ambição:
• Eliminação do analfabetismo
• Aumento do rendimento do sector agrícola
• Prevenção do desemprego e do êxodo rural
• Melhoria das comunicações
• Promoção da saúde pública da educação e do lazer
• Educação da mulher para a economia doméstica e educação dos filhos
• Estímulo ao artesanato e à pequena indústria
Uma primeira lição a tirar desta experiência é a de que, quanto maior for a
escala de um projecto, mais recursos políticos e económicos requer, não
sendo suficiente a congregação de vontades individuais. A segunda, é a de
que projectos desta dimensão, ainda que muito descentralizados, necessitam
de uma mínima massa crítica organizacional, com
93
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sem a qual são ineficazes (por não conseguirem atingir os objectivos desejados)
ou ineficientes (porque os alcançam a custos excessivos)
Caracterização
Dada a sua dimensão, foi necessário recorrer ao apoio externo, tanto no que
respeita ao enquadramento técnico como ao apoio financeiro.
Áreas-chave de intervenção
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Resultados
Caracterização
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Intervenção
Implicações
Acções
(criação de novas necessidades e recursos)
1. Reconstrução das • possibilidade de introduzir pneus nas carroças ⇓
estradas (asfaltagem) • redução dos estragos nas estradas e dos cavalos de
com trabalho tracção⇓
voluntário⇓ • maior confiança nas estratégias cooperativas e quebra
da mentalidade fatalista tradicional⇓
• necessidade sentida de modernizar as técnicas
produtivas para melhorar os rendimentos
2. Modernização das • Necessidade de tractores⇓
técnicas produtivas⇓ • Aquisição de 57 tractores⇓
• Ensino da sua utilização⇓
• necessidade sentida de dar trabalho ao antigo ferreiro⇓
3. O ferrador/carpinteiro é • aumentam os rendimentos⇓
treinado para se se • é criado maior poder de compra⇓
tranformar em mecânico • necessidade sentida de melhorar as condições
de tractores⇓ habitacionais
4. Concebe-se um Plano • Fortalece-se uma atitude de planeamento⇓
Director Municipal⇓ • Surgem novas necessidades de consumo como o desejo
de adquirir equipamento doméstico⇓
5. Criação de uma • Melhoria da situação das mulheres⇓
cooperativa de consumo • Quebra da mentalidade fatalista tradicional
para aquisição de fogões,
máquinas de lavar e outros
electrodomésticos⇓
96
© Universidade Aberta
possível alterar as técnicas produtivas no sentido de melhorar os rendimentos
das famílias.
Caracterização
Com 152 habitantes, situada na zona da raia, no fim da estrada (no sentido
literal) a cerca de dez quilómetros do concelho de Campo Maior, a aldeia de
Ouguela tinha vindo a sofrer desde há vários anos, os custos da sua situação
periférica. O predomínio de população idosa, a economia estagnada e um
castelo em ruinas, eram alguns dos sinais mais evidentes desses custos.
Intervenção
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© Universidade Aberta
• a Delegação Escolar que se associou à rede com recursos do projecto
escolas isoladas;
• o jornal Notícias de Campo Maior dando visibilidade ao projecto;
• a comissão de moradores de Ouguela;
• diversos particulares dos quais é de realçar um antigo professor do
primeiro ciclo do ensino básico, entusiasta desde a primeira hora.
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© Universidade Aberta
• o estudo para a reabilitação patrimonial do castelo e das habitações
que se localizam no seu interior para posterior utilização em turismo
de habitação;
Com uma população de 121.5 milhões de habitantes (1991), um PNB per cap.
de 380 US$dol. (1990), uma esperança média de vida de 58 anos (1991) e
uma taxa de mortalidade de menores de cinco anos de 134 por mil (1991), o
Paquistão situava-se entre os países mais pobres do mundo, na última década
do século XX32. Os seus indicadores educacionais eram coerentes com a UNICEF, 1993, Situação
32
mundial da infância,
situação geral do país: de acordo com dados de 1985, apenas 47% da sua UNICEF, Brasília.
população entre 5 e 10 anos de idade ia à escola, reduzindo-se o contingente,
para 27% se considerarmos a coorte dos 11 aos 13 anos, e para 13% no grupo
dos 14 e 15 anos33 . 33
Williams, J., 1992,
Meeting National Needs
Se os indicadores globais revelavam um quadro preocupante a situação de Through Distance
Education: The approach
certos grupos sociais era dramática. Era o caso da mulher rural que apresentava of the Allama Iqbal Open
uma taxa de alfabetização de 7.3% . Esta situação decorria, não só da fraca e University, Pakistan,
ICDE, Bolletin vol. 29, p56.
geograficamente assimétrica oferta do sistema de ensino, sobretudo no
que respeitava à rede de equipamentos escolares, aos poucos professores e às
verbas disponíveis, mas também a razões de natureza cultural e religiosa,
que levavam a restringir a procura por parte da mulher em geral, e da
camponesa em particular.
Foi neste contexto que a Allama Iqbal Open University, através do seu
gabinete de extensão universitária e projectos especiais (Bureau for University
Extension and Special Projects) passou a oferecer, desde 1985, vários programas
educativos um dos quais, o Basic Functional Education Programme (BFEP),
seguidamente se relata.
99
© Universidade Aberta
alfabetização, mas a melhoria da qualidade de vida, através do ensino de
“saberes” que aumentassem a capacidade de melhorar o seu quotidiano, como
a puericultura, a higiene, a electrificação das aldeias, os primeiros socorros, a
gestão doméstica, o sistema de crédito agrícola e o planeamento familiar.
Todo o sistema se baseava numa forte interacção criada entre a equipa central
da Universidade, encarregada de produzir os materiais, e as equipas de campo,
compostas por díades mistas, os Field Workers, para poderem trabalhar com
populações de ambos os sexos, mediadas por coordenadores de campo a tempo
inteiro (Field Co-ordinators).
Esse líder era, seguidamente, alvo de um treino que durava uma semana, por
cada módulo escolhido (que dura em média seis semanas), em que ia aprender
a apresentá-lo através dos dois tipos de materiais adoptados: cartazes indutores
(flip-charts), com linguagem iconográfica e audiogramas produzidos em
linguagem localmente inteligível. Na sexta sessão, o grupo discutia com um
profissional todas as questões suscitadas nas cinco sessões prévias.
34
A presente secção foi ela- 5. O Desenvolvimento Comunitário na actualidade34
borada a partir de um arti-
go (Carmo, 1998) cuja
identificação encontrará no
final desta unidade. A importância dada pela Academia ao estudo e ensino deste processo de
intervenção social é retratada pela investigação publicada e pelos programas
lectivos oferecidos nas várias instituições de ensino.
35
Vide sobre esta questão
Câmara, J.B., 1986, CÂMA- Com a consciência que o levantamento duma e doutros não pode ser exaustivo,
RA, A III Revolução Indus-
trial e o Caso Português, dada a velocidade com que a produção de informação ocorre35 e tendo em
in “Portugal Face à III Re- conta a sua dimensão planetária pode, no entanto fazer-se uma ideia aproximada
volução Industrial; Seminá-
rio dos 80”, Lisboa, ISCSP, dos rumos que actualmente se desenham através da consulta de algumas bases
pp. 63-111. de dados disponíveis.
100
© Universidade Aberta
5.1 Tendências da investigação
Dissertações
101
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4. A infância e a juventude constituem também áreas escolhidas ainda
que apenas por cinco dissertações.
Monografias e artigos
A maior parte dos artigos que incidem a atenção sobre minorias debruça-se
sobre grupos minoritários específicos como imigrantes, desalojados e outros
102
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grupos altamente vulneráveis. Os restantes referem aspectos diversos do trabalho
social com minorias, nomeadamente as questões da educação intercultural e
do bilinguismo
103
© Universidade Aberta
• questões relativas às minorias
• trabalho com crianças e jovens
• apoio à família
104
© Universidade Aberta
• nos cursos de Serviço Social e de Política Social é habitual incluir o
ensino dos seus princípios e estratégias em disciplinas consagradas à
aprendizagem da teoria e método do Serviço Social, considerado sob
forma integrada ou tridimensional (Casos, Grupos e Comunidades);
neste último caso aparece como parte integrante do Serviço Social de
Comunidades.
Para isso muito contribuiu a revista Estudos Políticos e Sociais criada em 1963
e sucessora da Estudos Coloniais (1948-1954) e da Estudos Ultramarinos
(1955-1962), que conseguiu congregar um numeroso grupo de investigadores
oriundos de vários campos disciplinares, que apresentaram trabalhos sobre
diversas temáticas de que se salientam:
105
© Universidade Aberta
• aplicação do Desenvolvimento Comunitário em contexto urbano;
• aspectos particulares do desenvolvimento comunitário como a
promoção da mulher, a saúde comunitária, o impacto sócio-cultural de
grandes investimentos e a toxicodependência.
Para além do ISCSP, o ensino do Desenvolvimento Comunitário tem sido
sobretudo leccionado nas Licenciaturas em Serviço Social, nos respectivos
Institutos Superiores e na Universidade Católica, como parte integrante das
disciplinas de Serviço Social.
106
© Universidade Aberta
Os resultados dessa consulta foram os seguintes:
107
© Universidade Aberta
Da análise dos documentos acima referenciados parece portanto poder
concluir-se que o Desenvolvimento Comunitário se tem vindo a assumir como
uma eficaz e eficiente estratégia de intervenção à escala meso e macro.
Actividade 4.6
6. Em síntese
108
© Universidade Aberta
Actividade final
Leituras complementares
ANDER-EGG, E.
1980 Metodologia y Practica del Desarrollo de la Comunidad,
Tarragona, UNIEUROP (10ª ed.).
BAPTISTA, Myriam V.
1973 Desenvolvimento da Comunidade, S. Paulo, Cortez e Moraes
(3ªed.).
CARMO, H.
1995 Educação para o desenvolvimento: um imperativo estratégi-
co, in Poder e sociedade. Jornadas interdisciplinares (Actas),
Lisboa, Universidade Aberta.
1997 Ensino Superior a Distância: contexto mundial, Lisboa, Uni-
versidade Aberta.
1998 O Desenvolvimento Comunitário no dobrar do Século, in Po-
lítica Social, Lisboa ISCSP.
CASTELS, Manuel
2003 Identidades territoriais: a comunidade local, in O poder da
identidade, Lisboa Fundação C. Gulbenkian, pp 72-82.
109
© Universidade Aberta
JACOBSON , Michael. e HEITKAMP, Thomasine
1995 Working with communities, in Johnson, H. Wayne 1995, The
social services: an introduction, Itasca, Illinois,F.E.Peacock
Publishers.
NOWAK, Jürgen
2001 O trabalho social de rede: a aplicação das redes sociais no
trabalho social, in Mouro, Helena e Simões, Dulce, (coord) 2001,
100 anos de serviço social, Coimbra, Quarteto.
SILVA, Manuela
1962 Desenvolvimento Comunitário: uma técnica de promoção so-
cial, Lisboa, Associação Industrial Portuguesa.
110
© Universidade Aberta
5. Antropologia aplicada e desenvolvimento comunitário
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Página intencionalmente em branco
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SUMÁRIO
Objectivos
4. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
113
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Objectivos
114
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Nas primeiras unidades deste manual o leitor apercebeu-se dos principais Este cientista social fran-
1
115
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enquadramento nestes e agências especializadas das Nações Unidas, então criadas6 , que
noutros conceitos básicos
das Ciências Sociais, suge- contribuiram para essa tendência; mais recentemente com a criação de
re-se a consulta de Dicioná- diversas organizações não governamentais (ONGs) e de empresas
rios de especialidade. Entre
os mais acessiveis no mer- transnacionais registou-se um acrescido interesse pela contribuição da
cado recomendam-se os se- Antropologia para a resolução de problemas de ordem prática ocorridos
guintes: Boudon, Raymond
et al. (coord.), 1990, Dici- em vários domínios7 .
onário de Sociologia, Lis-
boa, D.Quixote; Marshall,
Gordon, 1994, The concise
Oxford dictionary of
Sociology, Oxford/New
York, Oxford University 1.2 A Antropologia Aplicada no Reino Unido
Press; Panoff e Perrin,
1973, Dicionário de
Etnologia, Lisboa, Edições
70.
Já durante a segunda metade do sec. XIX a contribuição dos antropólogos
havia sido solicitada no âmbito da luta contra a escravatura. Foi, no entanto,
6
De facto a Organização com a necessidade de operacionalizar a doutrina definida na Conferência de
Mundial de Saúde (OMS),
a Organização das Nações
Berlim que obrigava as potências coloniais à ocupação efectiva dos territórios,
Unidas para a Educação, a que este ramo da Antropologia se evidenciou.
Ciência e a Cultura
(UNESCO), a Organização
para a Alimentação Agricul-
tura (FAO), o Fundo das
NNUU para a Infância Antes e durante a primeira guerra mundial
(UNICEF) e outras, tiveram
um papel marcante no de-
senvolvimento da Antropo-
No Reino Unido isto foi particularmente evidente nos primeiros anos do século
logia Aplicada no pós-guer- XX, em que a necessidade de resolver problemas práticos de administração
ra, por se haverem assumi-
do como empregadores de
local, que exigia um conhecimento profundo dos usos, costumes e idiomas
antropólogos e financia- das populações administradas, esbarrou com a ignorância generalizada dos
dores de projectos.
administradores. Esta circunstância motivou quase todas as grandes figuras
7
Com o aumento da visibi- da antropologia britânica a articular a sua curiosidade académica com os
lidade do fenómeno desafios postos pela política colonial de administração indirecta:
multicultural, os cientistas
sociais e os antropólogos em
particular têm sido chama- seria muito difícil citar uma obra de antropologia de primeira ordem
dos a dar o seu contributo durante a época clássica, que não tivesse ligação directa ou indirecta
como consultores técnicos.
com “necessidades” administrativas. Todos os grandes antropólogos
Cfr. Rocha-Trindade, M.
Beatriz, coord., 1996, Edu- britânicos, exceptuando talvez Radcliffe-Brown, foram chamados em
cação intercultural de graus diversos a dedicar-se à antropologia aplicada (Leclerc, 1973:
adultos, Lisboa, Universi-
dade Aberta. 85).
116
© Universidade Aberta
Foi ao abrigo desse acordo que cientistas sociais como Seligman8 , Evans Este antropólogo britâni-
8
9
Professor da Universidade
Enquanto decorria a primeira guerra mundial (1915), foram feitos no território de Oxford, com trabalhos
da Nova Guiné estudos sobre os Papuas. Quatro anos mais tarde (1919) foi de campo sobretudo feitos
em territórios africanos
criada na Cidade do Cabo a primeira Cátedra de Antropologia Banto (Sudão, Zaire, Quénia,
enquanto que no Departamento de Estudos Indígenas era criada uma secção Etiópia e outros, este antro-
pólogo notabilizou-se pelos
antropológica. É também dessa época (1920) que data o primeiro estudo seus estudos ao serviço da
sobre os Ashanti na Costa do Ouro (Ghana). administração colonial.
10
Este antropólogo britâni-
co, ficou conhecido pelos
trabalhos de Antropologia
O período entre guerras Aplicada que realizou, na
Nigéria e no Sudão, ao ser-
No período entre-guerras, como atrás foi referido, a aplicação da Antropologia viço do governo britânico.
fez-se sentir com maior evidência em contextos de aculturação, tanto no que
respeitava ao estudo sobre o impacto da mudança nas culturas tradicionais, 11
O termo pretendia desig-
nar a situação de vazio cul-
como em investigações sobre o então chamado fenómeno da destribalização11 tural (anomia em termos
dos contingentes populacionais que se começaram a concentrar nas cidades durkheimianos), decorren-
te do abandono dos pa-
após fugirem das condições adversas (fome, guerra ...) dos locais onde viviam. drões culturais tradicionais
(das suas comunidades de
Após a segunda guerra mundial e com os processos de descolonização a AA origem) sem substituição
por novos padrões culturais.
britânica praticamente deixou de ter expressão significativa. Este fenómeno observável
em diversos contextos mi-
gratórios noutras zonas do
globo, teve em África esta
designação pelo facto de fre-
quentemente a comunidade
1.3 A Antropologia Aplicada nos Estados Unidos de origem corresponder a
uma tribo. Como veremos
adiante, a noção de vazio
cultural escondia frequen-
Enquanto na Europa a Antropologia era posta ao serviço da administração temente a ignorância dos
colonial, nos Estados Unidos os antropólogos dirigiam os seus olhares para o observadores relativamente
à formação de subculturas
estudo de culturas alienígenas, através de trabalhos de campo bem delimitados, marginalizadas. Cfr. Castels
como resposta aos excessos da corrente evolucionista unilinear do século XIX, (2003: 72-82).
que havia desenvolvido grandes teorias dedutivas sobre a evolução do Homem
sem grande fundamentação empírica.
117
© Universidade Aberta
Antes da segunda guerra mundial
Tal movimento foi protagonizado por antropólogos como Franz Boas e pelos
12
O estudo de Ruth Benedict
seus discípulos (ex:Herskowits, Lowie, Sapir, Ruth Benedict, Margaret Mead)
sobre os padrões de cultura que, no período entre as duas grandes guerras se dedicaram ao estudo de
dos Kwakiutl da Colúmbia
Britânica (Canadá) e dos
pequenas comunidades culturalmente homogéneas tanto em território
Pueblo do Arizona e Novo americano12 como noutras paragens13 numa perspectiva monográfica. A
México (1934, Patterns of
culture, N. York) é um
excepção parece ter sido o conjunto de trabalhos de campo integrados na
exemplo paradigmático. estratégia de aplicação aos índios, da política do New Deal (Foster, 1974:
299).
13
Vide por exemplo, Mead,
M. . 1968, Coming of age
in Samoa, N. York, William
Morrow & Company, 1º ed.
de 1927; 1970, Growing up Durante a 2ª guerra mundial
in New Guinea N. York,
Dell, 1º ed. de 1930; 1963, A situação descrita alterou-se substancialmente com o começo da segunda
Sex and temperament in
three primitive societies, N. guerra mundial e com as consequentes necessidades de entender diferentes
York, Dell, 1º ed. de 1935; locais e gentes. De acordo com a nova conjuntura, os serviços dos antropólogos
1971, New lives for old:
cultural transformation - foram procurados por muitos departamentos das Forças Armadas,
1928-1953, , N. York, Dell, nomeadamente nos seguintes domínios:
1º ed. de 1956.
118
© Universidade Aberta
cidadãos americanos de origem japonesa, à análise de conteúdo das
emissões de propaganda da Rádio Tóquio, e ainda, a uma árdua
pesquisa de natureza documental (Carmo, 1997: 156-157).
119
© Universidade Aberta
Aplicações
Algumas obras ilustrativas
dominantes
• Martins, M. Morais, 1958, Contacto de culturas no Congo português
(Achegas para o seu estudo), Lisboa, Junta de Investigações do
Aculturação Ultramar.CEPS, 166 pp.
• Monteiro, Ramiro L., 1973, A família nos muceques de Luanda,
Lisboa, ISCSP/UTL..
• Almeida, P. V. ,1968, Irrigação e Cooperativismo, Lisboa, CEPS,
237pp.
• Fonseca, I., 1987, Impacto sócio-cultural da barragem do Alqueva
na Freguesia da Luz, EPS (3-4).
• Franco, C. G., 1966, Da utilidade e viabilidade dos métodos de
Desenvolvimento Comunitário em programas de promoção sócio-
Desenvolvimento
económica em algumas regiões de Angola, Lisboa, ISCSPU, 176 pp.
rural
• Moreira, C.D., 1988, A entreajuda e a cooperação em meio rural,
EPS (3-4), pp 49-76.
• Neto, J.P., 1988 Desenvolvimento e mudança cultural, EPS (1-2), pp
39-132.
• Possinger, H., 1970, Extensão rural, EPS (1-2), pp 65-84.
• Trigo de Morais, 1964, O colonato do Limpopo, EPS (2).
• Carmo,H., 1996, A educação para o Desenvolvimento num contexto
Educação de diversidade, in Olhares sobre a diferença. Jornadas de
Antropologia, ISCSP/UTL, 22-24- Abril de 1996.
• Bilhim,João F., 1988, Cultura Organizacional: estudo do Instituto
de Engenharia de Sistemas e Computadores (INESC), Lisboa,
Organizações ISCSP/UTL.
• Bilhim, João F.,1993, Factores Organizacionais do Sistema
Português de I&D, Lisboa, ISCSP/UTL..
• Castro Coelho, 1965, Aspectos da política de povoamento em
Moçambique, EPS (2), pp 425-486.
• Rolo, J., 1966, Reordenamento rural em Angola, Lisboa, ISCSPU,
Ordenamento do 158 pp.
território • VVAA, Lisboa, Colóquios sobre problemas de povoamento Junta de
Investigações do Ultramar.CEPS, 156 pp.
• VVAA, Lisboa, Colóquios sobre problemas humanos nas regiões
tropicais Junta de Investigações do Ultramar.CEPS, 125 pp.
• Carmo,A. 1997, A igreja católica na China e em Macau no contexto
Pastoral do SE asiático: que futuro?, Macau, Fund. Macau/Instit. Cultural de
Macau/Inst. Português do Oriente.
• Fernandes,
J.A., 1966, A mulher africana. Alguns aspectos da sua
Promoção
promoção social em Angola EPS (2), pp 575-684 e EPS (3), pp 1027-
da mulher
1096.
• Neto,J.P., 1967, O especialista em Ciências Sociais perante o
Saúde pública
problema da saúde pública EPS (1), pp 25-36.
• Mendes, Afonso, 1958, A Huila e Moçamedes (Considerações sobre o
trabalho indígena), Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar.CEPS,
208 pp.
Trabalho
• Neto, José P, 1964, O Baixo Cunene. Subsídios para o seu
Desenvolvimento, Lisboa, Junta de Investigações do Ultramar.CEPS,
217 pp.
120
© Universidade Aberta
Actividade 5.1
121
© Universidade Aberta
Deste modo, a contribuição da AA não se circunscreveu a uma mera
engenharia social instrumentalizada pelos poderes dominantes ao serviço de
uma dada prática política (policy), mas assumiu-se também como consciência
crítica mais ou menos distanciada dessa prática (politics), reivindicando o
direito de ter um estatuto autónomo nos sistemas-interventores e de ser
ouvida nos processos de tomada de decisão.
122
© Universidade Aberta
povos oprimidos19 . Em termos político-doutrinários duas contribuições Vide a este propósito, a
19
123
© Universidade Aberta
usarem capa longa e chapéus de abas largas, ordem que subsequentemente se
estendeu ao público em geral. O furor resultante é conhecido na história como
o motim de Squilacci, e resultou na expulsão do odiado estrangeiro. O seu
sucessor espanhol, o conde de Arandas, conquanto simpatizasse com as
restrições no vestuário, revogou a ordem. Conseguiu o seu objectivo facilmente
tornando a capa comprida e o chapéu de abas largas o uniforme oficial do
carrasco (Foster, 1963: 181).
124
© Universidade Aberta
permite uma evidente empatia na interacção. Tal capital traduz-se em quatro
tipos de saberes (figura 5.2):
1 A1 B1 C1
2 A2 B2 C2
3 A3 B3 C3
.... … … …
N AN BN CN
Fase de pré-estudo
125
© Universidade Aberta
Definidas as características globais do sistema-cliente, cabe ao antropólogo
proceder ao estudo mais detalhado dos elementos da cultura do sistema-
21
Por exemplo no caso de cliente que possam ter relação com o projecto de intervenção21 .
um projecto de educação
para a saúde estudar mais
detalhadamente os padrões
de comportamento habitu-
ais (de higiene, nutrição, Fase de planeamento
prevenção da saúde em ge-
ral, padrões de actuação face Nesta fase o antropólogo pode colaborar em três tipos de tarefa:
à doença, etc.).
• operacionalização do problema e discussão do programa de
intervenção daí decorrente;
• análise dos obstáculos que provavelmente se irão encontrar, de acordo
com o conhecimento global do sistema-cliente;
• recomendação de medidas para a ultrapassagem de tais obstáculos.
126
© Universidade Aberta
Avaliação final
Actividade 5.2
127
© Universidade Aberta
3.1 Actualidade da questão na Agenda Internacional
A alusão à pobreza e à ati- Sendo um problema de todos os tempos23 a questão da pobreza ganhou
23
128
© Universidade Aberta
Fonte: Grant, 1994: 25
129
© Universidade Aberta
Fonte: Grant, 1994: 49
130
© Universidade Aberta
3.2 Aspectos conceptuais: a pobreza como carência e como presença
para a análise da pobreza (figura 5.5), os quais, mais tarde com Manuela Silva
(B. Costa, e Silva, 1985, 1989) iria aprofundar e submeter ao teste da Bruto da Costa, A., 1984,
29
131
© Universidade Aberta
Conceito Critério Descrição Situações
Pobreza Rendimento (R) Grupos ou pessoas portadores de um - Campos de
absoluta rendimento abaixo do qual não podem refugiados.
fazer a despesa mínima necessária à - B. Lata, favelas,
manutenção da vida. Distingue-se em muceques, etc
P. primária (R < mínimo necessário à
manutenção meramente física) e
P. secundária (R < despesas primárias
de habitação, transportes, etc.)
Pobreza Espaço Representação social da pobreza numa Ser pobre em
relativa (cultural) e dada cultura e num dado momento Portugal, hoje, é
Tempo histórico. diferente de o ser há
(histórico) 30 anos, e de o ser,
hoje, na Dinamarca
ou em Angola.
Pobreza Auto-imagem Representação da pobreza feita pelo O mesmo R tem
subjectiva prório,de acordo com a sua experiência diferentes
existencial de luta pela sobrevivência significados e usos
para os velhos
pobres ou para os
novos pobres.
Pobreza Norma Ex: considerar-se pobre aquele que Atribuição do
convencional tiver um R < X Rendimento Social
de Inserção.
Pobreza Extensão da Total: carece de todo o tipo de recursos - Famílias multi-
total/parcial carência carenciadas
Parcial: carece de alguns recursos - Famílias com
carências
delimitadas
Pobreza Duração Permanente: de longa duração - desempregados há
permanente/ mais de 1 ano
/temporária - desempregados
Temporária: situação conjuntural ou de recentes
curta duração
•
132
© Universidade Aberta
que a pobreza tem tendência a desenvolver-se em sociedades que apresentam
as seguintes características:
133
© Universidade Aberta
I - Relação com a sociedade envolvente II - Natureza da comunidade
1. Falta de recursos económicos 33. Más condições habitacionais
2. Medo 34. Amontoamento (sobrelocação)
3. Suspeita 35. Fraca organização
4. Discriminação 36. Consciência de pertença face ao
exterior
5. Apatia
6. Salários baixos III - Caracterização da família
7. Desemprego e subemprego crónicos 37. Ausência da infância, como fase
protegida
8. Rendimentos baixos 38. Iniciação sexual prematura
9. Ausência de posse de propriedades 39. Uniões livres em casamentos
consensuais
10.Ausência de posse de economias 40. Alta taxa de abandonos
11.Ausência de reservas alimentares no lar 41. Alta taxa de famílias chefiadas por
mães
12.Ausência de dinheiro no dia-a-dia 42. Maior conhecimento do parentesco
materno
13.Alta taxa de uso de penhores para 43. Maior autoritarismo
crédito
14.Alta taxa de uso de agiotas locais 44. Falta de vida privada
15.Créditos locais espontâneos 45. Enfase verbal sobre a solidariedade
16.Uso de roupas e mobiliário em 2ª mão familiar, desmentida na prática
17.Prática de compra de pequenas
quantidades de géneros IV - Aspectos individuais
18.Baixa produção e baixo consumo 46.Forte sensação de marginalidade,
19.Baixa taxa de alfabetização desamparo, dependência, inferioridade,
resignação e fatalismo
20.Baixa participação nos sindicatos 47.Alta incidência de privação materna e
21.Baixa participação nos partidos políticos de oralidade
22.Baixa participação associativa 48. Estrutura fraca do ego
23.Baixa utilização dos bancos 49. Confusão quanto à identificação sexual
24.Baixa utilização dos hospitais 50.Falta de controle sobre os impulsos.
25.Baixa utilização de grandes lojas Espontaneidade comportamental
26.Baixa utilização dos museus e galerias 51.Orientação quase exclusiva para o
27.Ódio à polícia Presente. Fraco sentido de Passado e
Futuro.
28.Desconfiança face à hierarquia da 52. Machismo
“outra cidade” (governo, administração, 53. Tolerância quanto a patologia
etc.) fisiológica
29.Desconfiança face à Igreja 54. Ausência de consciência de classe
30.Consciência dos valores da classe 55. Baixo nível de aspirações
média, mas sem os praticarem
31.Alta taxa de casamento consensual 56. Exaltação da aventura como um valor
32.Alta taxa de jus materno 57. Presença quotidiana da violência
134
© Universidade Aberta
A descrição de Lewis condensada na figura 5.6 é extremamente rica e
impressionista, descrevendo a (sub)cultura da pobreza com abundância de
pormenores. Da sua análise pode facilmente verificar-se que a condição de
pobreza para além de querer significar estar numa condição de falta de recursos
também sublinha um determinado estilo de vida, com padrões de
comportamento próprios, directamente ligados a estratégias de sobrevivência
para fazer face à situação de carência.
Apesar do seu valor descritivo, uma das limitações que tem sido apontada à 32
Outras críticas lhe têm sido
feitas tanto de natureza po-
descrição de Lewis é a de que tem demasiados indicadores dando a todos a lítica como metodológica.
mesma importância32 . Procurando ultrapassar essa dificuldade vejamos um Franz Fanon, por exemplo
em Os condenados da Ter-
modelo integrador da cultura da pobreza inspirado em Lewis, em que se ra (s/d, Lisboa, Ulmeiro, 1º
sublinham oito aspectos essenciais de uma cultura de pobreza33 : ed. francesa de 1958) acusa
Lewis de desprezar a capa-
cidade revolucionária dos
portadores de culturas de
pobreza. Do ponto de vista
metodológico, têm-se apon-
tado algumas fragilidades no
Economia de método de selecção dos in-
sobrevivência quiridos, uma vez que Lewis
não explicita os critérios uti-
lizados para a escolha das
histórias de vida. O mérito
deste autor é, no entanto, ter
chamado a atenção para a
Alimentação
presença de factores
Habitação e espaço quantitativa e
Saúde precária identificadores da pobreza
envolvente degradados qualitativamente para além da simples carên-
deficiente cia de recursos.
33
Carmo, H., 1993: 321-333.
Família em risco ou já
desagregada
135
© Universidade Aberta
• O primeiro aspecto caracterizador é a economia de sobrevivência na
qual, quotidianamente, os agregados familiares se confrontam com a
necessidade de capturar rendimentos suficientes para sobreviver. Esta
situação, está associada a altos índices de desemprego ou de
subemprego, a baixos salários e a baixos índices de produtividade.
Nestes agregados é comum as pessoas utilizarem formas de crédito de
emergência, recorrendo por exemplo, a casas de penhores e a agiotas
locais o que as endivida ainda mais. Deste modo, a conquista da
34
É o que alguns autores
denominam cultura de ur- sobrevivência diária é o seu principal objectivo34 .
gência (Castels, 2003: 78).
O êxito das experiências de • A segunda característica liga-se à habitação: Com efeito, as zonas
microcrédito (das quais foi
pioneiro o Prémio Nobel onde vivem são normalmente degradadas, como degradada é a
da Paz de 2007, Muhammad habitação, sem condições para uma qualidade de vida socialmente
Yunus, com a criação, em
1983 do Banco Grameen) aceitável. O exíguo espaço habitacional, cria condições de
deve-se em muito a ser uma amontoamento e de falta de intimidade.
resposta adequada às econo-
mias de sobreviência. Cfr.
Yunus, 2002. • Outro quadro associado às comunidades pobres, é a saúde precária,
com altas taxas de morbilidade e maiores taxas de mortalidade de
menores de cinco anos que as verificadas nas áreas circundantes.
136
© Universidade Aberta
O que foi o CASU?
Para a execução de tal plano a equipa do CASU, até então apenas composta
37
As únicas excepções eram
por voluntários37 , apercebeu-se da necessidade de recrutar um pequeno grupo duas educadoras de infân-
de técnicos que funcionassem como assessores da Direcção e como núcleo cia que trabalhavam no jar-
dim infantil e duas
de formação e enquadramento dos voluntários. Tal desígnio foi alcançado monitoras que apoiavam as
com o recrutamento de três técnicos para as áreas de serviço social, salas de estudo, todas pagas
pela SCML.
investigação social e saúde pública, graças a um pequeno subsídio da
Fundação Gulbenkian.
137
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Foram vários dos quais se 1972/73: primeiros resultados do enquadramento técnico
38
138
© Universidade Aberta
- Projecto médico-sanitário com as seguintes áreas-chave:
planeamento familiar, socorrismo, higiene, puericultura; consultas
médicas e saneamento básico com acções relativas a águas lixos
e esgotos.
- Projecto de educação para o desenvolvimento: com valências
de creche, jardim de infância, salas de estudo, formação
profissional (esta não chegou a começar) e alfabetização42 . Neste campo foi pioneira
42
a experiência do estudante
Francisco Cordovil que foi
- Projecto tempos livres, integrando actividades desenvolvidas viver para uma barraca na
durante o período lectivo (fins de semana) e de férias (Natal, Quinta da Curraleira, onde
desenvolveu um programa
Páscoa e Verão), com valências de apoio aos clubes recreativos de alfabetização segundo o
locais, desporto, excursões, e colónias de férias abertas e método Paulo Freire.
fechadas43. 43
Nas colónias abertas as
crianças iam dormir a casa;
O trabalho desenvolvido ao longo dos anos que precederam a revolução de as fechadas funcionavam
1974 procurou dar voz e protagonismo à população local. Isto permitiu, logo em regime residencial e des-
tinavam-se a adolescentes.
que o ambiente se tornou favorável, nomeadamente com a revolução, que os
residentes da Quinta do Bacalhau organizassem uma cooperativa de habitação,
sugestivamente chamada Cooperativa Portugal Novo, e conseguissem um
realojamento completo44 . 44
Nos outros dois bairros,
Monte-Coxo e Curraleira a
população não conseguiu o
A experiência relatada permite sublinhar três factores relevantes que realojamento pretendido
contribuiram para o seu êxito: devido à confluência de di-
versos factores de entre os
quais merecem realce a fal-
• os laços de parceria que se criaram entre CASU e população em vez ta de coesão das comissões
de uma relação paternalista de natureza meramente assistencial; de moradores e a maior di-
mensão dos bairros.
139
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Actividade 5.3
4. Em síntese
Actividade final
140
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Leituras complementares
AMARO, Fausto
2001 Filhos e netos da pobreza, Lisboa, Fundação Nossa Senhora
do Bom Sucesso.
BASTIDE, Roger
1971 Anthropologie Appliquée, Paris, Payot.
BENEDICT, R.
1972 O Crisântemo e a espada, S. Paulo, Perspectiva.
BRUTO DA COSTA, A.
1998 Exclusões sociais, Lisboa, Gradiva.
CARMO, Hermano (coord.); Alves, S.; Dias, I.; Monteiro, S.; Albuquerque, R.
1996 Exclusão social: rotas de intervenção, Lisboa, ISCSP.
FOSTER, George
1974 Antropologia aplicada, Cidade do México, Fondo de de Cultu-
ra Economica.
s.d. As Culturas tradicionais e o impacto das tecnologias, Rio de
Janeiro, Fundo de de Cultura Económica.
LECLERC, G.
1973 Crítica da Antropologia, Lisboa, Estampa.
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6. Sociologia de intervenção e desenvolvimento comunitário
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Página intencionalmente em branco
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SUMÁRIO
Objectivos
5. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
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Objectivos
146
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1. Domínio e vertentes da Sociologia de intervenção
Actividade 6.1
147
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1.1 O que é a Sociologia de Intervenção?
O texto que acaba de analisar enquadra-se naquilo que alguns autores chamam
Sociologia de Intervenção (Rémi Hess, 1982). Mais do que um ramo é uma
perspectiva das Ciências Sociais (e da Sociologia em particular) que assume
a virulência da influência do investigador no seu objecto de estudo, e que a
utiliza com o intuito explícito de produzir melhorias sociais no quadro de uma
ética de liberdade e de solidariedade. Distingue-se, assim, da perspectiva
sociológica tradicional que procurava evitar a interferência do investigador no
objecto de estudo, de vários modos, buscando, nessa perspectiva distanciada,
uma objectividade análoga à que se julgava possível alcançar nas Ciências
4
Sobre a questão da objec-
tividade da investigação ci-
Físico-Naturais4 .
entífica e nas Ciências Soci-
ais em particular cfr. SAN- Esta perspectiva de fazer ciência intervindo, tem assumido uma grande
TOS, Boaventura Sousa,
1991, Um discurso sobre as
heterogeneidade de formas no terreno. Apesar dessa diversidade todas as
Ciências, 5ª ed., Porto, experiências que partilham desta perspectiva partem de uma premissa comum:
Afrontamento. Depois da
revolução introduzida pelo
a constatação de que o saber não é monopólio do sistema-interventor mas
princípio da incerteza de que este e o sistema-cliente possuem capitais de informação sobre a
Heisenberg, a comunidade
científica tem adoptado uma
realidade social que devem pôr em comum a fim de, juntos, construírem
atitude mais humilde face à um valor acrescentado de conhecimento.
objectividade: esta passou
a ser considerada, não como
um ponto que se alcança
De acordo com Hess (1984: 7) qualquer tipo de processo de intervenção inicia-
mas como uma direcção se com a formulação de um pedido por parte do sistema-cliente (ou de quem
que é imperioso tomar.
o represente), que se caracteriza pela expressão de uma necessidade social,
decorrente da consciência de um dado problema, muitas vezes de contornos
pouco definidos. Justamente em consequência da indefinição referida, a primeira
tarefa do interventor consiste em identificar, em diálogo com o sistema-cliente,
o problema desencadeador do pedido formulado.
148
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processo de intervenção que se segue. A esta fase Rémi Hess chama a definição
da encomenda (1984:7). Aqui o valor acrescentado da intervenção exprime–
-se de dois modos:
149
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Sobre a vida e obra de 1.2 Precursores da Sociologia de Intervenção
6
Paris, Librairie de
l’Humanité, 1ª ed. de 1902) melhorar a sua qualidade de vida. Uma das variáveis estratégicas desses estudos
Lenine propõe as grandes era o orçamento familiar que estudado ao pormenor, fornecia informações
linhas de orientação políti-
ca para os militantes do par- preciosas sobre os recursos das famílias e o modo como esses recursos eram
tido bolchevique postulan- utilizados.
do a criação de uma organi-
zação pequena e coesa de
interventores políticos pro- Numa outra linha situaram-se os autores da corrente marxista: primeiro o
fissionais em alternativa a próprio Marx6 e o seu companheiro político Engels7 , mais tarde Lenin8 e
uma organização maior mas
de menor coesão. Mao-Tse-Tung9 , postularam que para a melhoria da qualidade de vida das
9
Em livros como Relatório
populações seria indispensável uma alteração do sistema de poder existente,
sobre uma investigação precedido do respectivo estudo da situação. A intervenção proposta por estes
feita no Hunan a respeito
do movimento camponês
autores difere da de Le Play tanto pela sua tónica sócio-política como pela
(1927) e Sobre a prática sua postura macro-social.
(1937) in Mao Tsetung,
1971, Obras escolhidas de
Mao Tsetung, Pequim, Edi-
Num contexto intimista de relação médico-doente, Freud defende que a
ções em Línguas Estrangei- mudança desejável (da situação de doença para a cura) passa por um processo
ras, Tomo I, pp 19-84 e
499-524), Mao considera
de intervenção em que o terapeuta ajuda o paciente a recordar e verbalizar
indispensável que a acção situações esquecidas da sua infância. Deste modo a cura é precedida de
política seja precedida de in-
quéritos às condições de
uma investigação partilhada sobre o passado. A identificação e análise dos
vida das populações acontecimentos críticos que marcaram o desenvolvimento psicológico do
10
O leitor poderá aprofundar
paciente (feitas através da intervenção psicanalítica) constitui, assim, parte
este tipo de intervenção na indispensável do processo de cura (resultado desejado).
disciplina de intervenção
social com grupos. Para
além das leituras recomen-
dadas, recomenda-se, pela
sua natureza introdutória, os
seguintes trabalhos: 1.3 A Sociologia de Intervenção em contexto micro10
Dreyfus, Catherine (1980),
Psicoterapias de grupo,
Lisboa/S. Paulo, Verbo;
Luft, J. (1976), Introdução Com Kurt Lewin e o seu método de pesquisa-acção em situação de grupo e
à dinâmica de grupo, Lis- com Jacob Levi Moreno e os seus trabalhos sobre sociometria, psicodrama e
boa Moraes, (3ª edição);
Maisonneuve, J. (s/d) A Di- sociodrama, a Sociologia de Intervenção11 ganhou visibilidade nos meios
nâmica dos grupos, Lisboa, académicos. Através dos seus trabalhos estes dois autores demonstraram que
Livros do Brasil, (c. 1967);
e Muchielli, R. (1971) La o grupo pode ser usado como unidade de intervenção social eficaz, tanto para
dynamique des groupes -
applications pratiques, Pa- • mudar os comportamentos (opiniões e condutas) dos elementos que
ris, Librairies Techniques
Entreprise Moderne, ESF. o integram, como para
150
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• operar mudanças no ambiente externo ao próprio grupo. 11
Seguimos aqui a
categorização de Hess igno-
rando, por ser irrelevante
A estratégia de intervenção de qualquer destes autores difere da preconizada para este manual, se seria
por Freud, entre outros aspectos, porque o campo de investigação para a acção mais correcto incluir estes
autores no campo da Psico-
não é o Passado do sistema-cliente mas o seu Presente (investiga-se para agir logia ou da Sociologia. A
no aqui e no agora). Neste terreno, o Passado e o Futuro do sistema-cliente questão parece ser mais de
corporativismo académico
não são ignorados mas surgem como raiz e como expectativa do Presente, que de interesse real numa
respectivamente. área tipicamente interdis-
ciplinar.
realidade.
Apesar das reservas postas por alguns autores, pode também considerar-se a
obra do sociólogo francês Michel Crozier13 , enquadrável na Sociologia de 13
Por exemplo, de 1963, Le
phenomène bureaucratique,
Intervenção. A sua estratégia de actuação consiste na realização de um inquérito Paris, Seuil e de 1977,
clássico à organização em análise e pela posterior apresentação e discussão L’acteur et le système, Pa-
ris, Seuil.
dos resultados com o sistema-cliente. A principal crítica que lhe têm feito reside
no fraco papel conferido aos analisados no decorrer do processo, que não têm
papel activo, nem nas fases do pedido e da encomenda nem na recolha e
análise de dados (Hess, 1982:145-152).
151
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Vide sobre isto, por exem- Numa linha mais activa e próxima da sócio-análise de Elliot Jacques posiciona-
14
152
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Entre os trabalhos que adoptaram esta última postura é de salientar a Vida e 18
No número temático da
revista Psicologia que foi
morte do Chile popular, diário de pesquisa-acção que relata a sua vivência publicada em sua homena-
dos últimos tempos do regime de Salvador Allende e do golpe de Estado gem, cuja identificação en-
contra no fim desta unidade
encabeçado por Pinochet. em leituras recomendadas,
pode encontrar uma
Um outro autor por vezes esquecido mas que teve uma influência decisiva na listagem da sua obra.
1887 - Nasce
1914 - Bacharelato em Matemática
1915 - Alista-se na Escola Naval
1916 - Conclui o curso para oficial
1923 - Entra para o noviciado dominicano
1933 - Funda a Juventude Marítima Cristã; actividade de organização
sindical dos marítimos. Faz estudos de campo sobre o sector
aperfeiçoando a técnica do inquérito-participação
1944 - Funda o Centro de Estudos Economia e Humanismo e uma
revista com o mesmo nome. A sua contribuição assume
dimensão internacional.
1945/51 - Faz diversos trabalhos de campo na Europa e América Latina.
1958 - Funda o IRFED. Publica o Suicídio ou sobrevivência do
Ocidente.
1959 - Estudos no Vietname e Senegal.
1964 - Nomeado perito para o esquema XIII (que daria origem à
Gaudium et Spes) do Concílio Vaticano II.
1966 - Morre.
153
© Universidade Aberta
A técnica do inquérito-participação, que aplicou pela primeira vez em 1933
com comunidades de pescadores da Bretanha, constituiu uma importante
contribuição metodológica para a Sociologia de Intervenção em contexto
comunitário, não deixando de ser curioso o silêncio de vários autores sobre
este facto. Os seus procedimentos integravam os seguintes passos:
1. reconhecimento da comunidade;
Os livros que escreveu ao longo da sua vida, de que se destacam Reveille for
22
Convém esclarecer que o
termo radical tem, para os
radicals (1946) e Rules for radicals (1971)22 , mostram uma escrita vigorosa,
americanos o significado de (fazendo) às vezes pensar no Príncipe de Maquiavel ou num Que faire?
progressista.
aperfeiçoado (Hess, 1982: 132).
154
© Universidade Aberta
(...) A sua técnica e trabalho é construir grupos ou organizações
comunitárias enraizadas num bairro e cujo fim é ajudar os habitantes
do bairro a organizarem-se, quer dizer, a defender os seus direitos
(Hess, 1982: 129).
155
© Universidade Aberta
A metodologia de intervenção de Alinsky que se reconhece facilmente no
modelo C de intervenção comunitária de Rothman (vide supra, unidade 4),
foi amplamente difundida, tanto através dos seus escritos e prática como do
seu magistério, sobretudo após ter criado um instituto para formação de
trabalhadores sociais radicais (o IAF Institute).
156
© Universidade Aberta
2. O método Paulo Freire, paradigma da Sociologia da
intervenção
157
© Universidade Aberta
Ano Obras de referência para a intervenção
Vida
(idade) comunitária
1921 Nasce no Recife.
1931 (10) A família desloca-se para Jaboatão.
1934 (13) O pai morre.
Ingressa na Faculdade de Direito de
1943 (22)
Recife.
Casa. Ensina Língua Portuguesa no
1944-1947
Colégio Oswaldo Cruz, onde havia
(23-26)
estudado.
Contacta com a educação de adultos-
1947-1957
trabalhadores (Funções dirigentes no
(26-36)
SESI, uma Confederação sindical).
Nomeado membro do Conselho
1956-1961 Consultivo de Educação, mais tarde é
(35-40) nomeado dirigente na Prefeitura
Municipal do Recife.
Doutoramento em Filosofia da
1959 (38)
Educação. Concurso para professor.
Certificado de livre docente da cadeira
1960 (39)
de História e Filosofia da Educação.
Destituído das suas funções pela Junta
1964 (43) Militar.
Asila-se na Embaixada da Bolívia.
Trabalha no Chile como assessor do 1967 - Educação como prática de liberdade.
Instituto de Desarollo Agropecuário e 1968 - Educação e extensionismo rural.
1964-1969 do Ministério da Educação e como 1968 - Acção cultural para a libertação.
(43-48) consultor da UNESCO junto do
Instituto de Capacitación y
Investigación en Reforma Agraria.
1969-1970 Professor da Universidade de Harvard 1969 - Extensió o comunicación?
(48-49) (EUA). 1970 - Pedagogia do oprimido.
Consultor especial do Conselho 1977 - Cartas à Guiné-Bissau.
Mundial das Igrejas (Suiça). Professor
1970-1979
na Universidade de Genéve.
(49-58)
Missões da UNESCO por todo o
Mundo.
Amnistiado volta ao Brasil para 1980 - Quatro cartas aos animadores e às
reaprender o país. animadoras culturais (de S.Tomé).
1980 (59) Professor da PUC-S.Paulo e da
Universidade de Campinas –
UNICAMP.
1986 (65) Morre a primeira mulher.
1988 (67) Casa novamente.
Secretário da Educação da Prefeitura de 1991 - A educação na cidade.
1989-91 S. Paulo, convidado pelo Partido dos
(68-70) Trabalhadores. Faz reformas no sistema
de ensino público.
1991-1997 Volta à vida académica na USP, PUC- 1993 - Pedagogia da esperança.
(70-76) SP e UNICAMP. 1995 - À sombra desta mangueira.
1997 (76) Morre. 1996 - Pedagogia da autonomia.
Fonte: Gadotti (1996)
Figura 6.3 - Paulo Freire: vida e obra.
158
© Universidade Aberta
Entre 1944 e 1957 esteve ligado ao sector de educação e cultura do SESI
(órgão da Confederação Nacional da Indústria), primeiro como Director, depois
como Superintendente. Nessas funções ganhou uma forte experiência na área
de educação de adultos trabalhadores. Após esses anos de vivências no terreno
concluiu o Doutoramento em Filosofia da Educação na Universidade de Recife.
Desde então, a par da alfabetização de adultos a que continuou ligado,
dedicouse ao ensino superior leccionando em cursos de Serviço Social e de
formação de professores. Em 1956, com 35 anos, passou a fazer parte do
Conselho Consultivo de Educação do Recife, tendo mais tarde ingressado
como Director do Departamento de Documentação e Cultura daquela
prefeitura.
Sendo obrigado a sair do país pela Junta Militar, viveu cinco anos no Chile,
um ano nos Estados Unidos e dez anos em Genéve. Ao longo desses 16 anos
de exílio teve ocasião de aperfeiçoar o seu método em contextos diferenciados
e de o divulgar por todo o mundo, tanto em contexto académico29 como não 29
Freire foi professor con-
vidado de várias Universi-
académico30 . dades das quais se salientam
as de Santiago do Chile,
Regressado ao Brasil em 1980, dedicou-se, conforme afirmou então, a Harvard e Genéve, tendo
coleccionado ao longo da
reaprender o seu país, continuando a dedicar-se ao ensino e à sua vida 28 títulos de
investigação-acção, primeiro na Pontifícia Universidade Católica de S. Paulo Doutoramento Honoris
Causa.
(PUC-SP) e na Universidade de Campinas (UNICAMP), depois também na
Universidade de S. Paulo (USP). Dois anos após a morte da primeira mulher 30
Sob o patrocínio da
volta a casar (1988) com uma amiga de longa data, Ana Maria, tal como Elza UNESCO e do Conselho
Mundial das Igrejas Paulo
ligada à educação e que, como ela, teve o duplo papel de companheira de Freire palmilhou todos os
afectos e de práticas profissionais. continentes, ensinando o seu
método através de muitas
centenas de intervenções em
Num breve interregno, entre 1989 e 1991 e já com perto de setenta anos, seminários e cursos e acom-
aceita o desafio de Luiza Erundina de Sousa, recém-eleita prefeita de S. Paulo panhando diversos projec-
tos de alfabetização no ter-
pelo Partido dos Trabalhadores (PT), para coordenar a política de educação reno ao longo dos 16 anos
daquele gigantesco município. Nessas funções teve ocasião de orientar em que esteve impedido de
regressar ao Brasil. Por iro-
numerosas pequenas reformas na escola pública introduzindo uma nova nia da História, a comuni-
dinâmica de participação de todos os agentes educativos. dade internacional deve à
Junta Militar a difusão mun-
dial do pensamento deste
grande educador.
159
© Universidade Aberta
Figura profundamente carismática pelo testemunho de coerência entre as teses
que defendia e a prática que gostosa e empenhadamente viveu, deixou
seguidores por todo o mundo quando morreu (1997). Indicador do valor
científico e prático da sua contribuição é, sem dúvida, o conjunto de publicações
que sobre ela se têm produzido, quer em várias centenas de artigos e ensaios,
quer no volume extraordinário de teses de mestrado e doutoramento que têm
vindo a público (Gadotti, 1996: 327-556).
Actividade 6.3
2.2 A obra
Ao longo da sua longa vida como educador Paulo Freire escreveu várias
dezenas de livros e artigos, feitos sozinho ou em parceria, traduzidos em
diversos idiomas31 . O discurso interdisciplinar da sua obra dominado por
referências das Ciências da Educação, da Antropologia, Ciência Política,
31
A Pedagogia do Oprimi-
do, sem dúvida a sua obra Sociologia, Filosofia e Teologia, é simultaneamente denso e coloquial, fruto
mais conhecida foi, por do permanente vai-vem entre a sua actividade teórico-reflexiva e a sua prática
exemplo, traduzida em 20
línguas. cívica de educador empenhado.
160
© Universidade Aberta
Acção cultural: acção desencadeada pelas pessoas que aprendem a “ler” e a
“escrever” a sua realidade, actuando sobre ela para a transformar, assumindo-se
como criadores de cultura.
Alienação: situação em que o indivíduo está privado da razão, perdendo o domínio
de algo que lhe pertence (político, económico, cultura, etc.).
Círculo de cultura: escola não tradicional onde se pratica a educação
problematizadora.
Codificação: representação de uma situação vivida pelo educando no seu quotidiano
através de linguagem icónica (desenhos, slides, etc) a fim se poder proceder à sua
problematização.
Condicionamento ideológico: processo pelo qual as pessoas são levadas a
desenvolver um comportamento automático e acrítico perante a realidade social,
sob a forma de opiniões e condutas, fruto da socialização da ideologia dominante.
Consciência crítica: percepção que revela as razões explicativas de uma dada
realidade social, para além do que o condicionamento ideológico faz entender.
Conscientização: Processo educativo que permite, a educadores e educandos, ganhar
uma consciência crítica. Passa por um triplo processo de observar objectivamente
a realidade em questão, de descodificá-la comparando o ser da situação com o
dever ser desejado, e por definir estratégias para a sua transformação através de uma
acção cultural.
Cultura: é tudo o que as pessoas criam e que aparece como resultado da sua acção
sobre o mundo.
Descodificação: processo de análise crítica das situações codificadas.
Educar: acto dialógico do professor com o aluno, em que ambos ensinam e
aprendem com o outro assumindo serem ambos criadores e portadores de cultura.
ninguém educa ninguém. Ninguém se educa a si mesmo. Os homens educam-se
entre si mediatizados pelo mundo (Freire, 1972: 79).
Educação bancária: estilo de educação pelo qual o professor, considerado único
detentor do capital Saber (cultura), transmite-o (deposita-o) mecanicamente ao
educando que o recebe acriticamente assumindo não ser detentor de cultura.
Educação problematizadora ou libertadora: estilo de educação em que o professor
se assume como companheiro do educando na busca do saber, usando como estratégia
um permanente diálogo crítico (ver educar e conscientização). A educação constitui
uma das mais importantes práticas para a conquista do valor da liberdade (Freire,
1967)
Inédito viável: possibilidade de acção transformadora anteriormente não tentada
(inédita) mas possível (viável) ou de acção em direcção a objectivos ainda não
alcançados (inéditos) mas alcançáveis (viáveis). Sem um prévio processo de
conscientização, um processo inédito mas viável ou uma meta inédita mas viável
são categorizados frequentemente como utópicos, isto é inalcançáveis.
Palavra geradora: palavra muito usada pelo grupo de educandos na sua linguagem
quotidiana, que serve para gerar outras palavras com o fim de se chegar à 33
O leitor poderá aprofun-
aprendizagem da leitura e da escrita. dar o conjunto de conceitos
usados por Paulo Freire em
Problematização: acção de reflectir sobre o que se disse, procurando o porquê e o Gadotti, op. cit., pp 709-734.
para quê dos objectos de análise. Nesta caixa limitamo-nos a
transcrever de forma livre
aqueles que são indispensá-
Fonte: Gadotti (1996)
veis à compreensão deste
Fig. 6.4 - Principais conceitos integradores do pensamento de Paulo Freire33 texto.
161
© Universidade Aberta
• a educação é um instrumento de libertação, uma vez que exige um
acto de conscientização;
No mesmo ano estes textos são publicados com outros inéditos acerca da
humanização da educação e do papel educativo das Igrejas na América Latina,
sob o título Acção cultural para a libertação (editado em Portugal em 1977).
Este livro é, sem dúvida, o mais conhecido e traduzido deste autor. Trata-se de
uma obra de maturidade em que são sistematizadas as principais linhas de
162
© Universidade Aberta
pensamento desenvolvidas em escritos anteriores, mas de forma mais
sistematizada. Em resumo, as suas ideias-chave contidas na Pedagogia do
oprimido são as seguintes:
163
© Universidade Aberta
A prática reflectida foi a da cooperação entre a sua equipa e a das jovens
Repúblicas da Guiné-Bissau e de S. Tomé e Príncipe acabadas de ganhar a
sua independência política.
Na primeira obra começa com uma longa introdução em que o autor procura
37
Os resultados das campa- adequar as teses das suas obras anteriores, empiricamente alicerçadas em
nha da Guiné foram bastan-
te desanimadores (Torres, projectos-piloto, à escala de um país. Seguem-se dezasseis cartas a Mário
1996 in Gadotti, op. cit p Cabral, Comissário Nacional para a Educação e Cultura, e à Comissão
137), provavelmente devi-
do ao erro voluntarista de Nacional de Alfabetização. A principal tónica do livro reside na ideia que no
se haver querido alfabetizar processo de ajuda internacional, ajudados e cooperantes se empenhem numa
na língua da Administração,
o português, em vez de se relação dialógica, evitando situações de educação bancária decorrentes de
adoptarem as línguas mater- atitudes paternalistas ou infantilizadas37.
nas dos educandos. Vários
estudos sobre bilinguismo
têm apontado vários contras Na segunda, retoma um diálogo epistolar com os animadores locais, procurando
a essa estratégia, se bem que com eles reflectir a sua experiência da criação de círculos de cultura.
a segunda não seja isenta de
críticas, uma das quais a de
que a alfabetização em lín-
gua materna só tem sucesso
a longo prazo quando essa As obras da reaprendizagem do Brasil
língua tem um suporte es-
crito utilizável no dia a dia.
Em caso negativo os alfa- Foi dito atrás que, ao regressar do exílio, Paulo Freire afirmou ser seu primeiro
betizados de Hoje transfor- objectivo querer reaprender o seu país, atitude sábia esquecida com
mam-se em analfabetos fun-
cionais de Amanhã. frequência pelos que, por contingências várias (de natureza económica, política,
académica, entre outras), estiveram afastados do seu país de origem.
Há outros escritos impor- Os seus últimos escritos38 reflectem justamente esta atitude curiosa e crítica
38
164
© Universidade Aberta
Na Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido
(1993), procura reflectir sobre a realidade latino-americana nos 25 anos que
mediaram as duas obras, retratando diversas lutas sociais que entretanto se
travaram. Tal reflexão continua em Á sombra desta mangueira (1995) onde
procurou desmistificar as teses do neoliberalismo dos anos noventa.
165
© Universidade Aberta
Actividade 6.4
166
© Universidade Aberta
5. Desenvolvimento do trabalho de alfabetização que envolve, em cada
sessão
• a apresentação de um desafio ao grupo sob a forma de uma
situação codificada;
• a animação do grupo com o objectivo de descodificar a situação
(tema gerador) e de fazer emergir as palavras geradoras;
• trabalho com o grupo sobre as palavras geradoras
desmontando-as em bocados (sílabas), descobrindo as respectivas
famílias (através de combinações de vogais) e encontrando novas
palavras e frases através da sua combinação.
Actividade 6.5
167
© Universidade Aberta
3. Empowerment e advocacy, dois conceitos integradores
As origens deste modo de intervenção são antigas, podendo dizer-se que ela
é resultante de diversos movimentos sociais que, em vários tempos e de vários
168
© Universidade Aberta
modos, procuraram que as pessoas assumissem um papel activo na construção
da sua história pessoal e colectiva. Constituem exemplos desses movimentos
(Simon, 1994, cit in Pinto, 1998)41 : 41
Como refere esta autora,
convém salientar no entan-
to que, alguns dos movi-
• a revolução protestante, o capitalismo mercantil e industrial42, os mentos referidos tiveram
movimentos transcendentalistas e anarquistas, com a sua doutrina efeitos perversos de
disempowerment. Foi o caso
de responsabilização de cada indivíduo pelas suas opções e com a do capitalismo com o seu
crença nas possibilidades humanas de auto-aperfeiçoamento; contingente de problemas
sociais acompanhados de
uma alienação de grandes
• a democracia Jeffersoniana, as experiências de comunidades massas populacionais redu-
utópicas e os vários movimentos de alargamento dos direitos cívicos, zidas à condição de objec-
tos da História.
económicos, sociais e culturais, com o seu apelo à cidadania activa,
no contexto da defesa dos princípios da liberdade, igualdade e 42
Os dois movimentos apre-
sentaram muitas ligações
fraternidade; como bem o demonstrou
Max Weber na sua obra clás-
Mais recentemente e já após a segunda guerra mundial constituíram influências sica sobre a ética protestan-
te e o espírito do capitalis-
importantes para o desenvolvimento da ideia de empowerment, os seguintes mo.
movimentos sociais:
169
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3.2 A advocacy
A partir de diversos trabalhos recentes (cit in Pinto, 1998: 21), regista-se alguma
convergência de pontos de vista sobre os princípios orientadores para a prática
do empowerment que se podem resumir nas seguintes orientações:
170
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Decorrente da multiplicidade de tendências que lhe deram origem, o conceito
de empowerment não é consensual. Como conceito-moda que é, tem sido
muitas vezes alvo de apropriação por parte de correntes político-doutrinárias 45
Um exemplo claro disto é
antagónicas, que o utilizam como arma de arremesso para defenderem os seus o uso deste estilo de actua-
pontos de vista 45 . Em suma, apresentando virtualidades notáveis, ção, por parte da corrente
neoliberal, para dar força à
nomeadamente para a perspectiva de intervenção comunitária que designámos sua política de diminuição
como modelo C de Rothman (ver unidade IV), há que utilizar estes dois da intervenção estatal. Em
contrapartida as correntes
conceitos e as estratégias a que apelam com prudência dada a ambivalência de de esquerda usam-no para
que são portadores. fundamentar as suas políti-
cas de fortalecimento de po-
pulações vulneráveis no
sentido de ganharem capa-
cidade reivindicativa face ao
Estado.
4. A não-violência activa, uma estratégia de intervenção
social46 46
Para aprofundar este pon-
to vide Carmo (1983),
Muller (1972, 1997, 1998)
e Vasto (1971).
Foi dito atrás que os processos de intervenção social em comunidades se cruzam,
com frequência, com questões ligadas aos respectivos sistemas de poder. Isto
é óbvio se pensarmos que grande parte dos problemas sociais se relacionam
com desigualdades de acesso aos recursos, necessários a garantir a qualidade
de vida das populações.
171
© Universidade Aberta
4.1 Aspectos conceptuais
172
© Universidade Aberta
A violência legal ou institucionalizada de que nos fala Valla, ocorre através
de quadros normativos explicitamente violentos como os que permitem a
pena de morte, os que legitimam os interrogatórios sob violência, a
regulamentação prisional desumana, etc); mas também se regista em quadros
normativos implicitamente violentos, por omissão ou por inoperância,
vulneráveis à acção violenta dos actores legais (através da insuficiência de
garantias constitucionais, de lacunas legais e de omissões regulamentares.
As raízes desta estratégia são muito antigas encontrando-se alusões a este modo
de actuar em diversos textos sagrados do judaísmo, do cristianismo, do
islamismo, do budismo e do hinduísmo. A actuação dos primeiros cristãos
face aos seus perseguidores é um exemplo da antiguidade desta técnica e, São conhecidas as figuras
55
do Mahatma Gandhi e de
simultaneamente, da sua eficácia real, traduzida na cristianização do império Nehruh na Índia, de
romano. Gandhi, Luthuli e do pró-
prio Nelson Mandela na
África do Sul, de Allinsky,
Na consciência profana a alternativa não-violenta à resolução dos problemas Luther King e Cesar Chavez
pela força registou uma significativa evolução através dos tempos, tanto na nos Estados Unidos, de
Lech Walesa na Polónia, de
progressiva instauração de ordens jurídicas mais humanizadas, como no D. Helder Câmara e Paulo
crescente avanço dos direitos humanos. Freire no Brasil e de tantos
outros que, com a sua práti-
ca e a sua liderança deram
Para isso muito contribuiu o carisma de grandes figuras recentes que visibilidade à estratégia de
protagonizaram lutas gigantescas em favor da dignidade humana55 bem como NVA.
173
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a eficácia dos resultados dessa estratégia no terreno, em alternativa à acção
Exemplos evidentes de vi- violenta56. As várias correntes e figuras que defendem a NVA como forma de
56
Os dois primeiros problemas não devem ser ignorados. A chave para a sua
resolução parece estar na análise dos custos comparativos da acção de NVA.
De acordo com estes autores a acção tem legitimidade se os danos por si
causados forem menores que os danos que a actual situação causa. Por outro,
lado ainda que seja uma coacção moral, interessa compará-la com a situação
presente no início da acção. O critério que preside à legitimação da acção é,
portanto, o da violência menor e não o da ausência de violência.
174
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Quanto ao terceiro problema, pode ser evitado com uma organização das
acções, que vise controlar e encaminhar para acções não-violentas, as
energias desencadeadas pelo processo de consciencialização da injustiça.
Esta questão remete para a necessidade de uma pedagogia e de uma gestão
da não-violência de que se falará a seguir.
A análise dos conflitos que assolam o planeta mostra que uma das mais fortes
raízes das atitudes favoráveis à resolução de problemas por via violenta, reside 58
Thoreau, H.D., 1987, A
no modo como os actores sociais foram socializados: populações que viveram desobediência civil, Lisboa,
prolongadas situações de conflito armado, interiorizaram os valores e padrões Edições Antígona.
175
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injusta, mas deve conter elementos que integrem o anúncio de
61
Vide na figura 6.4 a noção alternativas viáveis61 .
de inédito viável.
63
Este princípio, enunciado
por Gandhi e seguido por Análise da Situação
todos os doutrinadores da
NVA, defende que a busca
da Verdade constitui o de-
Neste primeiro passo pretendem-se atingir dois objectivos:
sígnio humano fundamen-
tal: ninguém se pode consi- • conhecer as características da injustiça, uma vez que a ignorância
derar dono da Verdade pelo
que a deve procurar tanto
da situação fornece argumentos ao adversário porque trai o princípio
em si como no Outro ainda da Verdade acima de tudo63 , retirando a imagem de autenticidade do
que seja um adversário (o
termo inimigo é proposita-
movimento perante a opinião pública;
damente excluido do voca-
bulário da NVA). Para pro- • avaliar a relação de forças em presença, que consiste em: fazer um
curar a Verdade, o único
método legítimo e eficaz é
retrato rigoroso da situação recolhendo provas adequadas, confrontar
o da não violência, deven- o retrato efectuado com a matriz ética defendida, localizar a injustiça
do o militante da NVA acei-
tar o sofrimento que daí
a denunciar e a combater, identificar potenciais adversários e suas
pode decorrer para a sua li- razões, identificar potenciais aliados, activos e passivos, identificar
berdade e integridade físi-
ca. Estes três princípios in-
as principais redes de poder de decisão (sede do Poder), identificar
tegram a doutrina do as concepções do Mundo e da vida em presença (ideologia do Poder)
Satyagraha, etimologi-
camente busca da verdade
e identificar o quadro jurídico que dá cobertura à situação de injustiça
(Carmo, 1983: 16). (forma do Poder).
176
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Análise da situação
Escolha do objectivo
Primeiras negociações
Envio de um ultimato
Acções directas
Escolha do objectivo
177
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sobre a população retirando-lhe confiança sobre a viabilidade de
futuramente lutar pelos seus direitos;
64
A precisão do objectivo • deve ser preciso e limitado no tempo e no espaço64;
pode observar-se pela res-
posta clara e rigorosa às clás-
sicas perguntas de Lasswell: • deve ter em conta a futura reconciliação com o adversário ou, pelo
o quê? quem? onde? quan- menos, a coexistência pacífica com ele, após o termo do processo de
do? quanto? como? e por-
quê? bem como pela respos- intervenção.
ta afirmativa à questão: este
objectivo é avaliável? Ou
seja, está equacionado de
modo a podermos concluir
num dado horizonte tempo- Primeiras Negociações
ral que o conseguimos (ou
não) alcançar? As primeiras negociações visam
• abrir canais de comunicação entre as partes em litígio (suportes de
informação, sistemas de mediatização dos discursos, etc); e
• reduzir os filtros comunicacionais (estereótipos e outros filtros
produtores de ruído na transmissão e na interpretação das mensagens).
178
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Os tipos de apelo podem ser vários: comunicados, petições, desfiles, marchas,
greves de fome limitadas, entre outros. Dois aspectos revelam-se indispensáveis
nesta fase:
179
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objecção de consciência, a recusa colectiva ao imposto, a greve parcial (nas
68
O hartal consiste na greve
suas diversas versões, desde que não apoiadas em piquetes com acção agressiva
geral não só da população sobre quem quer trabalhar), a greve geral e o hartal68 .
activa mas de toda a socie-
dade civil. Os casos de
hartal são raros, registando-
se ocorrências durante o
processo de independência
da Índia e após a invasão
soviética da Hungria, em
1956.
Caso 6.2 O boicote às uvas da Califórnia
Nessa altura, César Chavez decidiu organizar o boicote às uvas, tendo-se criado
piquetes de boicote em todos os Estados Unidos os quais se revelaram de
grande eficácia. Organizou-se seguidamente uma marcha de 500 km para a
cidade de Sacramento a fim de dar publicidade ao movimento. Em Boston foi
feita uma representação da Boston tea party culminando no lançamento de
caixas de uvas ao mar. Em muitos sítios organizaram-se comités de apoio
formando-se pouco a pouco uma opinião favorável, o que permitiu o suporte
financeiro dos grevistas. Os proprietários decidiram então exportar o mais
possível os excedentes que tinham. O sindicato dos estivadores em S. Francisco
recusou-se a carregar a uva destinada ao Oriente. Em Inglaterra, Finlândia,
Suécia e Noruega os estivadores entretanto alertados, recusaram-se a
descarregar toneladas de uva. Apesar da intervenção das forças armadas que
fizeram compras maciças para os soldados do Vietname o boicote não foi
quebrado. Após cinco anos de luta os proprietários cederam tendo reconhecido
o sindicato e as suas reivindicações em 29 de Julho de 1970. Na sua declaração
final Chavez referiu: (...) Hoje, numa altura em que há tanta violência neste
país estamos felizes por mostrar que este acordo justifica a nossa posição: a
justiça social pode ser realizada pela acção não-violenta (Carmo, 1983: 40-41)
180
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As acções directas de intervenção visam uma confrontação directa com o
adversário, contrariamente às acções de não cooperação que têm por objectivo
retirar-lhe as fontes de poder69 . O movimento Greenpeace é um exemplo de 69
Poderá encontrar uma aná-
lise mais detalhada em
uma ONG que recorre com frequência a este tipo de acções, dispondo já de Carmo, 1983 e Muller, 1972
uma experiência e de uma organização logística bastante sofisticada.
Actividade 6.6
Imagine que na sua zona de residência vai ser instalada uma central de
tratamento de lixos e que não se regista acordo entre a população e a
autarquia sobre tal investimento.
181
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5. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
BARBIER, René
1997 A pesquisa-acção, Brasília, U.de de Brasília.BRASILEAD.
BROWn, M. e May, J.
1990 O Movimento Greenpeace, Lisboa, Círculo de leitores.
CARMO, Hermano
1983 Não violência activa e sistema político, Lisboa, ISCSP, in Estu-
dos Políticos e Sociais vol. XI, nºs 1 e 2, 1983.
182
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FREIRE, Paulo
1967 Educação como prática da liberdade, Rio de Janeiro, Paz e
Terra.
1972 Pedagogia do Oprimido, Porto, Afrontamento.
MULLER, Jean-Marie
1972 Strategie de l’action non violente, Paris, Fayard.
1997 Princípios e métodos de intervenção civil, Lisboa, Instituto
Piaget.
1998 O princípio de não violência: percurso filosófico, Lisboa, Ins-
tituto Piaget.
HESS, Remi
1982 Sociologia de Intervenção, Lisboa, Rés
PINTO, Carla
1998 Empowerment: uma prática de serviço social, in VVAA, 1998,
Política social, Lisboa ISCSP.
183
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7. Metodologia da intervenção comunitária
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SUMÁRIO
Objectivos
3. Redes e parcerias
3.1 Os novos desafios
3.2 Papel das Misericórdias
3.3 A questão das parcerias
4. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
187
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Objectivos
188
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1. Uma bússola para a intervenção comunitária: a abordagem
sistémica
Era uma vez, há muitos anos, na distante Índia, seis cegos decidiram
dar um passeio pela selva. Em dada altura, tendo esbarrado com um
obstáculo, um deles bradou. - Cuidado! Uma serpente!
Esta velha história indiana que já ouvimos contada de mil diferentes maneiras,
chama a atenção para dois problemas bem prosaicos com que qualquer
interventor social se depara permanentemente.
O segundo ensinamento desta história tem a ver com o erro comum a qualquer
dos seis primeiros protagonistas: é que qualquer deles tinha uma percepção
parcial da realidade. Para identificarem o inesperado obstáculo, foi necessária
a ajuda do servo que possuia uma visão de conjunto do mesmo. Em qualquer
situação de intervenção social e, por maioria de razão, se se tratar de uma
intervenção em comunidades, o sistema-interventor dificilmente será eficaz se
não possuir uma visão de conjunto sobre o sistema-cliente e sobre o ambiente
em que se processa a intervenção.
189
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1.1 O macroscópio
2
O texto que se segue é uma 1.2 O nevoeiro informacional2
adaptação resumida do que
se escreveu em Carmo,
1997, Ensino superior a
distância ..., op. cit., pp 78 Uma das características da realidade social que nos rodeia é justamente a sua
e sgs. complexidade, o que dificulta extraordinariamente o seu entendimento. Para
exprimir esta dificuldade Edgar Morin propõe o conceito de nevoeiro
3
Morin, E., s/d, As grandes informacional 3 , que impede o homem contemporâneo de enxergar
questões do nosso tempo,
Lisboa, Editorial Notícias, convenientemente a realidade que o rodeia. De acordo com este autor, o
pp. 19-26, data da 1ª ed. nevoeiro informacional integra três componentes que funcionam como filtros
1981.
entre o observador e a realidade:
190
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• A sub-informação, segundo elemento do nevoeiro informacional, 4
As grelhas de análise para
estudo e diagnóstico de co-
decorre dos insuficientes dados sobre o que nos envolve. Uma típica munidades propostas por al-
situação de sub-informação era a dos cartógrafos do século XIX que, guns autores, com excessi-
vas variáveis, conduzem a
para não fantasiarem os seus mapas se viam coagidos a representarem situações de sobre-informa-
extensas regiões desconhecidas a branco. ção. Voltaremos ao assunto.
5
Muitas são as situações de
• Para dificultar ainda mais a percepção ainda existe a pseudo- sub-informação em interven-
informação, ou seja o conjunto de informações deliberada ou ção social. Três exemplos
nos bastarão para ilustrar esta
involuntariamente deformadas sobre a realidade social. questão: a falta de conheci-
mento sobre as estratégias
No seu quotidiano profissional, o interventor social confronta-se com qualquer de sobrevivência das famí-
lias que vivem abaixo do li-
dos três filtros referidos. Bastará ao leitor pensar na quantidade de informação miar de pobreza absoluta -
com que foi confrontado apenas no último mês, entre noticiários, publicidade, que só em 1985 se soube
abrangerem mais de um ter-
propaganda, informação de natureza profissional, etc, para entender a dimensão ço das famílias portuguesas,
do problema. pelo estudo pioneiro de Bru-
to da Costa e Manuela Silva
- a ignorância sobre o quo-
tidiano das populações que
vivem de noite e dormem
de dia nas grandes cidades e
1.3 A questão da informação no trabalho comunitário a falta de informação exis-
tente sobre as crianças de
rua e sobre os sem-abrigo.
Qualquer destes grupos são
No trabalho comunitário esta questão põe-se com particular incidência: é preciso clientes privilegiados dos tra-
ter uma metodologia rigorosa que permita seleccionar informação relevante balhadores sociais que, no
entanto, têm em geral um
sobre as comunidades com as quais se trabalha a fim de conhecimento superficial do
seu modo de viver.
• diagnosticar os seus recursos e necessidades;
6
Fontes de pseudo-informa-
ção são os inúmeros
• programar linhas de actuação adequadas; esteriótipos difundidos tan-
to pelos meios de comunica-
• e evitar situações de sobre 4 , sub5 e pseudo-informação6 que ção social como pelos apa-
rentemente objectivos rela-
obscurecem a visibilidade dos problemas. tórios profissionais. Nas pró-
prias comunidades, se o
É neste contexto que a abordagem sistémica se torna um poderoso instrumento interventor não se acautela,
tomará como verdadeira
de trabalho em dois diferentes aspectos: muita informação difundida
pelos vários grupos em pre-
• como esperanto7 científico e técnico, permite que diferentes agentes sença que frequentemente o
tentam instrumentalizar.
com formações diversas possam falar uma mesma linguagem simples,
apesar dos seus múltiplos pontos de vista; 7
O esperanto foi uma língua
internacional criada em 1887
• como ferramenta metodológica, salienta os principais elementos em por Zamenhof, que assenta na
jogo em cada situação e as suas principais relações. máxima internacionalidade
das raízes e na invariabilidade
dos elementos lexicológicos
(in Dicionário enciclopédico
Koogan-Larrousse-Selec-
ções,1978). Ao designar a
abordagem sistémica como
um esperanto científico-técni-
co, pretende-se sublinhar a sua
vocação transdisciplinar.
191
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Transcenderia os limites 1.4 O que é a abordagem sistémica?
8
192
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diagnóstico acerca da sua actual situação, que posteriormente servirá de 12
Para o fazer recorreu-se ao
fundamento ao programa de actuação12 . modelo do avião, diagrama
inicialmente concebido como
instrumento de análise e in-
tervenção organizacional
(Carmo, 1986, 1997), mas
Ambiente
que permite de igual forma
Ambiente interno da Produtos da
salientar os principais ele-
externo da comunidade: comunidade:
mentos em jogo na análise e
comunidade: intervenção comunitária.
Circuitos Imagens de futuro
Ameaças Estrutura formal e Bens
Oportunidades informal Serviços
Rede
comunicacional
Cultura
13
Ex: como é que uma co-
munidade rural se organiza
para dar resposta à procura
Numa primeira aproximação (figura 7.1) poderemos formular três conjuntos de produtos hortícolas da
de perguntas: vila mais próxima? como é
que num dado bairro urba-
no os residentes se organi-
• Quanto ao seu ambiente externo, expressão que aqui é sinónimo de zam para reagir ao aumento
sistema contextual ou de macrossistema, interessa saber os aspectos de assaltos supostamente fei-
tos por habitantes de um
ou características do meio exterior que condicionam a vida da bairro vizinho?
comunidade em causa, ou no sentido do seu desenvolvimento
(oportunidades) ou do seu atraso (ameaças); por exemplo, a presença
ou ausência de equipamentos sociais em zonas contíguas à comunidade Quando aqui se fala em
14
193
© Universidade Aberta
Procurando objectivar mais a nossa análise, há que ter em conta que nem
todas as características do ambiente externo afectam directamente a
comunidade. Por exemplo, num concelho com uma alta taxa de desemprego,
esse problema não se distribui de igual modo por todas as freguesias, uma vez
que a população activa e a oferta de emprego se encontra desigualmente
repartida. Deste modo interessa distrinçar, do quadro de ameaças e
oportunidades que configuram o ambiente externo, aquelas que efectivamente
afectam a comunidade em causa sob a forma de inputs relevantes (figura
7.2).
Ambiente
Ambiente Inputs interno da Produtos da
externo da relevantes da comunidade comunidade
comunidade: comunidade Circuitos
Estrutura formal Imagens de
Ameaças Exigências e informal futuro
Oportunidades Recursos Rede Bens
comunicacional Serviços
Cultura
16
Uma comunidade que cria
Numa terceira aproximação, interessa saber com que rapidez e com que
milícias populares para res- qualidade responde a comunidade às exigências referidas (figura 7.3).
ponder a uma onda de as-
saltos, por exemplo, respon-
de de forma atempada mas
Para usar os exemplos acima referidos, não basta saber que uma dada
não adequada aos inputs do comunidade rural se dedica ao cultivo de produtos hortícolas em quantidade:é
ambiente uma vez que, para
além da ilegalidade da reac-
preciso saber com que ritmo o faz para responder às necessidades do mercado
ção, tem uma eficácia duvi- regional e se esses produtos têm a qualidade suficiente15 que lhes permita
dosa por criar condições
para o aumento de violên-
serem competitivos face à concorrência. Do mesmo modo, não basta saber
cia e, portanto, para a redu- que a comunidade urbana reage à onda de assaltos: é preciso saber se o faz
ção da segurança que pre-
tendia restabelecer.
atempadamente e de forma adequada16 .
194
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Rapidez de
resposta
relativamente
aos inputs do
ambiente
externo
Ambiente
Ambiente Inputs interno da Produtos da
externo da relevantes da comunidade comunidade
comunidade: comunidade Circuitos
Estrutura formal Imagens de
Ameaças Exigências e informal futuro
Oportunidades Recursos Rede Bens
comunicacional Serviços
Cultura
Qualidade de
resposta
relativamente
aos inputs do
ambiente
externo
Actividade 7.1
195
© Universidade Aberta
2. Passos para a intervenção em comunidades
Uma vez dotado de uma bússola que lhe permite seleccionar informação
relevante sobre uma dada comunidade onde pretende intervir, o leitor está em
condições de realizar uma reflexão mais aprofundada sobre vários
procedimentos que integram a metodologia de intervenção. Para o fazer
recorreremos aos ensinamentos de Ander-Egg (1980, 1995), autor com grande
experiência neste domínio.
196
© Universidade Aberta
à mudança, ao prolongar excessivamente a fase de estudo e diagnóstico
os interventores reforçam esse tipo de atitudes e comportamentos.
197
© Universidade Aberta
4. execução do plano geral
5. avaliação geral
Lançar “pontes”
198
© Universidade Aberta
• entre comunidade e ambiente tendo em conta que várias situações–
-problema podem ser resolvidas com recurso a meios externos à própria
comunidade, a qual muitas vezes se encontra geográfica, económica
ou socialmente insularizada.
199
© Universidade Aberta
Em suma, esta caracterização prévia tem como principal objectivo detectar
factores que possam constituir obstáculos ou estímulos à mudança, não
perdendo de vista que o mesmo factor pode revestir-se dos dois aspectos.
200
© Universidade Aberta
diminuindo anualmente por esse facto. Era preciso consciencializar a população
disto, e levá-la a tomar conta do solo. Como havia muitos habitantes que queriam
aprender a ler, aproveitou este desejo e foi elaborado um plano educativo,
utilizando como material de leitura temas alusivos ao problema do solo. Em
reuniões com os agricultores, foram solicitados dados sobre as colheitas
anteriores a fim de ser possível um confronto. Lentamente os habitantes
captaram o problema da erosão do terreno e o técnico pacientemente aguardou
23
Brito, M. A. Quintela de,
até este momento para sugerir um programa de conservação do solo23. 1965, Prospecção de neces-
sidades e recursos - Auto-
inquérito, in 1965, Desen-
volvimento comunitário,
Seminário de estudo sobre
desenvolvimento comunitá-
Este caso é ilustrativo dos vários tipos de necessidades e do seu relacionamento rio e técnicas auxiliares de
ao longo do processo de intervenção(figura 7.4). promoção social comunitá-
ria, Lisboa, IAF pag.101.
Identificar recursos
24
1985, Lisboa, Presença,
Um dos autores mais lidos e conceituados no domínio da Gestão, Peter Drucker, pag. 42.
num livro sugestivamente intitulado Inovação e gestão24 refere:
Um “recurso” é uma coisa que não existe até o homem descobrir uma
utilização para algo existente na Natureza, e desse modo a dotar de
um valor económico. Até essa altura, as plantas não passam de ervas
e os minérios não são mais que pedras. Há pouco mais de um século,
nem o petróleo que empapava o solo nem a bauxite, o minério do
alumínio, eram recursos. Eram coisas nocivas, ambas faziam com que
201
© Universidade Aberta
o solo não fosse fértil. O fungo da penicilina era uma praga não um
recurso. Os bacteriologistas davam-se a grandes trabalhos para protejer
as suas culturas de contaminação por parte dele. Mas então em 1920,
um médico londrino, Alexander Fleming, compreendeu que essa
“praga” era precisamente o bactericida que os bacteriologistas
procuravam - e o fungo da penicilina tornou-se um valioso recurso. O
mesmo se aplica às esferas social e económica.
O diagnóstico
202
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Técnicas de recolha de dados
Actividade 7.2
203
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2.2.2 Investigação geral: variáveis relevantes
O que é planear?
204
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Procedimentos obrigatórios nos actos de planear e organizar
Actividade 7.3
205
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2.4 Execução e administração de programas em Desenvolvimento
Comunitário
O que é administrar?
Como facilmente se vê, administrar (ou gerir) não é tarefa fácil exigindo
conhecimentos diversos e maturidade emocional. A verdade porém é que
qualquer projecto de desenvolvimento comunitário exige esta função, pelo
que quem quer que seja que venha a trabalhar neste domínio precisa de
desenvolver competências nas áreas referidas.
206
© Universidade Aberta
2.5 Motivação e liderança em intervenção comunitária:
aproximações teóricas
B. Necessidades de segurança
C. Necessidades de pertença
D. Necessidades de estima
E. Necessidades de auto-realização
207
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Teoria da realização pessoal de Mc Clelland
Teoria de Homans
208
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Teoria do processo de maturação de Argyris
Variáveis A B
Modelo imaturo Modelo maduro
Atitude global Passiva Activa
Atitude perante os outros Dependente Independente
Comportamentos Padronizados Adequados
Interesses Superficiais Profundos
Atitude face ao tempo Curto prazo Médio prazo
Consciência de si Estereotipada Objectividade
• Pai ⇒ Criança,
• Criança ⇒ Pai, ou
• Adulto ⇒ Adulto,
209
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Teoria de Argyris sobre os estilos de supervisão
Estilos de supervisão
Pressupostos básicos do
A B
interventor face ao cliente
Controlador Liberal; participativo;
(Mc Gregor)
directivo facilitador
X
XA XB
Desconfiança
Y
YA YB
Confiança
Tipo A Tipo C
• Alta prioridade à relação • Alta prioridade à relação
• Baixa prioridade à tarefa • Alta prioridade à tarefa
Tipo B Tipo D
• Baixa prioridade à relação • Baixa prioridade à relação
• Baixa prioridade à tarefa • Alta prioridade à tarefa
210
© Universidade Aberta
Implicações práticas para o trabalho comunitário:
Já atrás foi afirmado que a avaliação deve ser considerada uma ferramenta
para monitorar a execução de um dado plano e não apenas a sua etapa final.
3. Redes e parcerias31
211
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industrial e da informação. Os efeitos de tal processo sobre as pessoas e as
famílias são significativos, reduzindo drasticamente o capital social, traduzido
em níveis de confiança e de cooperação bastante baixos.
212
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Outros autores têm vindo a defender vigorosamente a necessidade de combater
as identidades assassinas (Malouf, 1999), valorizando as múltiplas pertenças
de cada ser humano sem as amputar, na consciência da unidade do género
humano e na convicção dos seus objectivos comuns (Dalai-Lama, 2000) e da
eficácia de uma colaboração pacífica na resolução dos problemas (Muller,
1997, 1998).
A glocalização
Uma das mais poderosas tendências que se têm observado nas sociedades
contemporâneas é a que alguns autores designam por glocalização, ou seja o
processo simultâneo e de forças opostas a que as sociedades contemporâneas
(e os seres humanos individualmente considerados) estão sujeitas, de
globalização e de localização.
213
© Universidade Aberta
Efeitos nos actores sociais
Mas como vivem as pessoas, todo este processo, em que o Futuro entra cada
vez mais depressa no Presente sem pedir licença? Observemos, antes de mais,
os três grupos etários clássicos (crianças e jovens, adultos e idosos) dos actores
individuais.
Para tornar o problema mais agudo, vive-se hoje, no mundo, numa conjuntura
de retórica neoliberal triunfalista, que privilegia as relações dissociativas
entre actores sociais como a competição e o conflito, em detrimento de relações
associativas como a cooperação e a solidariedade.
214
© Universidade Aberta
Um grupo frequentemente negligenciado nestas análises é o dos mais velhos,
muitas vezes remetidos para o sótão social das inutilidades, numa atitude
consistente com a cultura de desperdício a que a sociedade de consumo nos
tem habituado.
Para entender os efeitos da conjuntura nos idosos, interessa recordar que este
grupo já não é o que era:
Por outro lado, com a perda de peso relativo do modelo de família nuclear,
têm aumentado significativamente vários sistemas convivenciais alternativos
como os solos37, as uniões de facto, os casais sem filhos, os núcleos 37
Termo usado para desig-
nar pessoas que vivem sozi-
monoparentais, as famílias agregadas, e tornados visíveis outros sistemas nhas por opção (ex: adultos
anteriormente raros ou ostracizados como o das comunidades geriátricas ou solteiros ou separados) ou
por circunstâncias que não
os pares homossexuais. controlam (ex: viuvez).
215
© Universidade Aberta
urgente repor, por via do fortalecimento de redes sociais de apoio que
rejuvenesçam a sociedade civil.
Com mais de meio milénio, este modelo de intervenção social tem, ainda hoje,
uma importância decisiva na sociedade portuguesa, quer no campo da acção
social quer no da saúde. Bastará dizer que, em 1998, no conjunto das quase
quatro mil entidades gestoras de equipamentos sociais (3951) localizados em
Portugal Continental, as 311 Misericórdias existentes correspondiam a 8% da
38
Fontes: Ministério do Tra- rede de instituições e a 11 % das entidades sem fins lucrativos38 . De acordo
balho e da Solidariedade, com a Carta Social publicada nesse ano, os 761 equipamentos das Misericórdias
1998, Carta social: rede de
serviços e equipamentos, correspondiam a 8 % da oferta geral e a 17 % da oferta existente em
Lisboa, MTS. Departamen- organizações sem fins lucrativos (Nunes, Reto e Carneiro, 2001: 86).
to de Estudos, Prospectiva e
Planeamento: 31; Nunes,
Francisco, Reto, Luís e Car- Dos dados expostos pode afirmar-se sem exagero, que as Misericórdias
neiro, Miguel, 2001, O ter- constituem actualmente um modelo organizacional de intervenção viável,
ceiro sector em Portugal:
delimitação, caracteriza- nos campos da acção social e da saúde, legitimado por mais de quinhentos
ção e potencialidades, Lis- anos de tradição e de prática.
boa, INSCOOP.
216
© Universidade Aberta
Responsabilidade das Misericórdias na Sociedade-Providência Santos, Boaventura
39
217
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duas dezenas de equipamentos. Isto é particularmente importante para os
distritos do interior, que normalmente se encontram pior equipados que os do
litoral.
Valências F %
CONTINENTE 1822 100
Idosos 951 52
Crianças e jovens 790 43
Família e comunidade 28 2
Pessoas com deficiência 27 2
Outras 26 1
218
© Universidade Aberta
Sendo incontestável que desempenham um papel extremamente útil, tanto por
oferecerem serviços de saúde e acção social particularmente a idosos, crianças
e jovens, como pelo facto de criarem e manterem um significativo número de
postos de trabalho, importa agora reflectir se as misericórdias podem fazer
mais e melhor pelo desenvolvimento local dentro das suas funções
tradicionais.
Para reflectirmos sobre esta questão, vale a pena recordar uma das tendências
inquietantes da intervenção social local: a dispersão de recursos em
actividades muito diversificadas. Esta situação tem como efeitos
encontrarmos na mesma zona diversos serviços a oferecerem o mesmo tipo de
respostas, às vezes aos mesmos utentes enquanto que, diversos cidadãos, que
carecem de cuidados específicos, não os encontram.
Tendo em conta esta situação, parece ser lógico defender que as misericórdias
(aliás como todas as instituições do terceiro sector) se devem concentrar
naquilo que fazem (ou podem fazer) bem, e não se devem dispersar por
actividades múltiplas, muitas vezes com elevados custos e eficácia duvidosa.
Por muito generosas que possam ser as intenções, não é previsível que uma
mesma instituição possa prestar serviços diversificados (Figura 7.11) e de
elevada qualidade a toda a população. Normalmente, à excessiva
diversificação da oferta corresponde a redução da sua qualidade.
219
© Universidade Aberta
Como corolário desta tese, parece ser evidente que a diversificação da oferta
em matéria de intervenção social (particularmente nos domínios da saúde,
segurança social e educação), deve ser feita não tanto pela criação de múltiplas
valências na mesma instituição, mas pela articulação em parcerias sólidas
entre instituições especializadas.
Por seu turno, na Carta Social publicada em 14 de Julho de 2000 pelo governo
português, pode observar-se, particularmente no capítulo consagrado às novas
respostas (pp 377 e sgs), a importância dada à organização de parcerias para
a implementação de respostas eficazes e eficientes aos novos desafios.
220
© Universidade Aberta
Parece pois ser consensual a tese de que para a qualificação das respostas aos
problemas sociais contemporâneos é indispensável uma articulação complexa
de recursos, sob a forma de uma organização em rede na qual os actores
(indivíduos e organizações) se assumem como parceiros:
A armadilha da retórica
Ainda que com motivações generosas, tal posição pode ser extremamente
perniciosa para a implantação de parcerias sólidas e auto-sustentadas. E isto
porque enferma de vários erros de avaliação:
221
© Universidade Aberta
para respostas padrão a problemas sociais tipificados, o modelo
burocrático é mais eficiente que o ad-hocrático.
• Por seu turno o termo parceiro significa aquele que participa em ...,
que compartilha de ..., o que apela para um tipo de relação horizontal.
Os parceiros não têm uma relação hierárquica, são pares.
222
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forma é indispensável que cada um aprenda a comunicar melhor (a
ler, escrever, falar e escutar melhor), individualmente e em grupo.
pessoais e institucionais.
Neste contexto, as misericórdias são decisivas: pela sua filosofia, pela sua
história, pela sua missão particular, pelo seu actual papel no quadro da
intervenção social, pelo seu enraizamento na cultura dos portugueses, as
misericórdias constituem não só um instrumento de realização da solidariedade
social, mas uma expressão viva da fraternidade cidadã.
Actividade 7.4
Tendo em conta as actividades 7.1 a 7.4, e com base no que acabou de ler
relativamente ao trabalho em parceria, elabore um conjunto de
recomendações práticas a distribuir aos diversos parceiros com vista a
dotar a rede de melhor capacidade de resposta aos problemas detectados.
223
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4. Em síntese
Esta unidade iniciou com uma breve reflexão sobre a complexidade da realidade
social, causadora daquilo que Morin chama nevoeiro informacional.
Actividade final
Leituras complementares
ANDER-EGG, Ezequiel
1980 Metodologia y Pratica del Desarollo de la Comunidad,
Tarragona, UNIEUROP, (10ª ed.).
224
© Universidade Aberta
ANDER-EGG, Ezequiel e Aguilar, M.J.
1995 Avaliação de programas e serviços sociais, Petrópolis, Vozes, 2ª
ed.
CARMO, Hermano
1986 Análise e intervenção organizacional, Lisboa, FUNDETEC.
1995 Avaliação em Intervenção comunitária, in Estudos de home-
nagem ao Professor Adriano Moreira, vol II, Lisboa, ISCSP, pp
671-689, (original de 1992).
HERSEY e BLANCHARD
1986 Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da
liderança situacional, S. Paulo, EPU.
LAPIERRE, J.W.
s/d A Análise dos sistemas políticos, Lisboa, Rolin.
ROSNAY, Joel de
1977 O Macroscópio, para uma visão global, Lisboa, Arcádia.
225
© Universidade Aberta
Página intencionalmente em branco
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8. Campos específicos do desenvolvimento comunitário
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Página intencionalmente em branco
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SUMÁRIO
Objectivos
6. Em síntese
Actividade final
Leituras complementares
229
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Objectivos
• educação intercultural;
230
© Universidade Aberta
Nesta última unidade de aprendizagem discute-se brevemente a aplicação do
Desenvolvimento Comunitário a diversas situações no terreno.
Hoje a situação alterou-se drasticamente: o Futuro entra cada vez mais depressa
no Presente sem pedir licença (Toffler, 1970, 1980, 1990), daí resultando um
processo de mudança acelerada que, na expressão feliz de Margaret Mead,
nos confere o estatuto de migrantes no Tempo (Mead, 1969) levando outros
autores a considerar estarmos a entrar numa espécie de Idade do Ferro
Planetária (Morin, 1991).
231
© Universidade Aberta
Em contrapartida regista-se o alargamento da formação contínua, à medida
em que se vai tomando consciência da degradabilidade do saber e do seu ciclo
de vida cada vez mais curto. Este facto, associado
• ao alargamento da escolaridade obrigatória,
• ao alargamento das taxas de cobertura dos ensinos secundário e
terciário
• e à generalização da ideia de que a educação não se deve circunscrever
às camadas infanto-juvenis mas estender-se
- a montante, às coortes infantis pré-escolares e,
- a jusante, a toda a população adulta, activa ou não,
O insucesso, por seu turno, pode ser limitado a alguns períodos escolares, a
uma deficiente interacção com determinados professores ou a certas disciplinas
ou, generalizado, criando condições para a ocorrência de uma primeira ou de
novas reprovações.
4
Exs: Cuidar dos irmãos en-
quanto os pais trabalham, Finalmente o abandono pode dever-se a razões de natureza extra-escolar,
contribuir com o seu traba-
lho para o orçamento fami- como à necessidade de desempenhar precocemente papéis de adulto4 , ou ser
liar, gravidez precoce, etc.). consequência de situações directamente ligadas à escola como insucessos
232
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académicos e problemas de natureza disciplinar, que podem fazer emergir
comportamentos de isolamento, depressão, refúgio em grupos de pares mal
sucedidos na escola, etc.
233
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fazer parte um contrato personalizado de formação com objectivos e tarefas
bem definidos para todos os protagonistas do processo.
Sistemas-cliente: Sistemas-cliente:
• estudante • estudante
• colegas • colegas
• professor(es) • professor(es)
• pessoal não • pessoal não docente
docente • família
• família • comunidade
• comunidade • (ex: hospital,
• (ex: hospital, autarquias, ONGs)
autarquias,
ONGs,)
1.3 Comentário
234
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que com ela têm de concertar estratégias. As áreas-chave da sua actuação são
as seguintes:
10
O texto que se segue cons-
titui parte de Carmo, H.,
2005, Parceria escola–co-
munidade na educação
1.4 Parceria escola/comunidade na educação para a cidadania10 para a cidadania, in Con-
ferência Internacional sobre
Promoção do bem-estar na
Para alcançar melhores resultados nos domínios referidos, a escola tem de se escola, Painel - Escola e co-
munidade: uma sinergia
articular com a comunidade envolvente através de parcerias sólidas11 . Ao iniciar para o bem-estar, 6-7 de
o trabalho, a questão que imediatamente se coloca é em que áreas é que uma Maio de 2005, Seixal, Uni-
versidade Aberta.
parceria entre a escola e a comunidade se pode realizar?
As áreas são inúmeras. Para ilustrar a variedade de domínios em que a Verifique, no capítulo an-
11
235
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Perante uma tal diversidade de opções, há que estabelecer prioridades
educativas. Do ponto de vista do autor deste texto, sendo a grande finalidade
de qualquer parceria deste género, a promoção do desenvolvimento pessoal
e social dos alunos, tal desígnio deve abranger três vertentes (figura 8.3):
Desenvolver competências
Desenvolver talentos Desenvolver a autonomia
para viver em comum
236
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diagramados a partir da teoria das inteligências múltiplas de Howard Gardner,
do conceito de inteligência emocional de Goleman e da tipologia de
comportamentos éticos de Dalailama (2000), o que permite isolar 10 traços
identificadores. (figura 8.4)
que definem a
identidade
da
do
da da da
pessoa
integra integra
Figura 8.4
237
© Universidade Aberta
Ao estabelecer uma parceria escola-comunidade, com vista ao desenvolvimento
dos talentos individuais dos alunos para construir identidades mais ricas,
percebemos que, à partida, a família e a escola isoladamente não cobrem, em
regra, todas as necessidades educativas da criança e do adolescente:
Desenvolver os talentos
(construir identidades)
2. Lógico-matemáticos • Escola
3. Espaciais • Rede comunitária de apoio
4. Musicais Portanto:
5. Cinestéticos-corporais • Colmatar as zonas desguarnecidas
6. Naturalistas ou biológicos (3, 4, 5, 6)
• Reforçar zonas estratégicas
7. Interpessoais
(7, 8, 9, 10)
8. Intrapessoais
9. Ética reactiva (disciplina interior)
10. Ética proactiva (factores
fomentadores de solidariedade)
Figura 8.5
• Grande parte das famílias procura incidir o seu papel educativo nos
domínios emocionais e éticos (domínios 7,8,9 e 10).
238
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No fio da navalha: ser sujeito da sua história
Liderança
Capacidade para mobilizar através do consentimento
níveis
Aprendizagem
Valores
239
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No quadro de uma parceria da escola com a comunidade, a fim de conseguir
que cada aluno possa vir a ser suficientemente autónomo para ser sujeito da
sua própria história, um dos instrumentos que imediatamente ocorre é o fomento
do trabalho voluntário a partir da escola.
para o desenvolvimento,
ponto 1.1. da unidade IV. à realização das teses da Revolução Francesa14 , contribuindo para a criação
de uma sociedade mais livre, mais igualitária e mais fraterna, em que os seus
segmentos aprendam, não só a saber respeitar a diferença mas também a tirar
partido da diversidade para viver melhor.
240
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A educação intercultural e as doutrinas da assimilação, da integração e do
pluralismo cultural
241
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No domínio do Saber fazer:
3. aprender a gerir informação
4. aprender a comunicar
5. aprender a gerir situações de diversidade
242
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Tipos Exemplos Efeitos previsíveis
Formadores • Educadoras de infância • Redução de comportamentos racistas
de crianças • Enfermeiros e xenófobos por parte dos
• Professores educadores, das crianças e,
indirectamente das suas famílias.
• Produtores / realizadores
de rádio e televisão • Interiorização de atitudes de respeito
educativa pela diferença.
• Criação de hábitos de cooperação
entre culturas
• Redução do absentismo e do
abandono escolar
• Aumento do sucesso escolar
Formadores • Professores • Redução do absentismo escolar
de jovens • Líderes juvenis • Aumento do sucesso do ensino e
• Líderes comunitários formação
(políticos, religiosos, e • Redução do abandono escolar e do
sociais) abandono das acções de formação
• Profissionais de profissional
intervenção social • Prevenção de problemas sociais de
• Profissionais da comportamento desviado
comunicação social
(jornalistas, produtores,
realizadores,
publicitários, etc.)
Formadores • Os mesmos referidos • Os mesmos resultados que para os
de adultos para os jovens jovens
• Gestores de recursos • Emergência de mais grupos de
humanos (tanto de cidadãos, activos e competentes no
organizações oficiais seio das comunidades.
como particulares Melhoramento da produtividade das
organizações públicas, cooperativas
e privadas
Formadores • Profissionais de • Melhoramento da qualidade de vida
de idosos intervenção social dos idosos
Alteração da imagem social do
idoso de problema para recurso
243
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• os recursos materiais (instalações e equipamentos) e financeiros são
insuficientes.
244
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2.1 Apoio a cidadãos fragilizados por condições de saúde
particulares
unidade 4.
Alguns dos programas atrás referidos podem ser desenvolvidos nos Centros
de Saúde que constituem instrumentos fundamentais da organização e do
desenvolvimento das comunidades locais.
Para além deste tipo de acções, os Centros de Saúde, que estão particularmente
vocacionados para a prestação de cuidados primários, podem melhorar
substancialmente os seus serviços recorrendo às técnicas de intervenção
comunitária. São exemplos de acções em que tal tem sido observado, diversas
campanhas de vacinação em massa, programas de apoio a grávidas em geral e
245
© Universidade Aberta
a certos grupos de risco (mães demasiado novas ou demasiado velhas), acções
19
O campo da educação para de educação para a saúde19 e programas de prevenção de epidemias
a saúde é muito amplo,
abrangendo áreas tão diver-
sas como a educação para a
saúde mental, para o plane-
amento familiar, a forma-
ção de socorristas e 2.3 Acção a partir de instituições de cuidados diferenciados de saúde
paramédicos, o ensino de
medidas de prevenção con-
tra as chamadas doenças de
mãos sujas (ex: cólera, sar- Os hospitais como recursos da comunidade deveriam ser encarados pelos
na), etc. utilizadores como instituições seguras e instrumentos de cura. No entanto,
quer pelas condições envolventes20 , quer pela falta de recursos, quer ainda
20
Os exemplos de condições
envolventes ameaçadoras
pela situação objectivamente frágil em que o utilizador se encontra - por estar
para quem entra num hos- doente ou por requerer acompanhamento específico21 - a vivência de uma
pital são inúmeros. Bastará
fazer referência aos espaços
estadia num hospital é habitualmente traumática.
frios e despersonalizados e
à cultura organizacional Neste sentido, é desejável que, a par dos cuidados diferenciados de saúde
autoritária, em que o cida-
dão-utilizador tem frequen-
prestados nessas instituições, sejam desenvolvidas acções que permitam ao
temente a sensação de perda doente
da cidadania, pelo modo
como lhe é negado o acesso • durante a sua estadia, sentir-se tratado como pessoa, sem perda dos
à informação que lhe diz
respeito, pela dinâmica seus direitos de cidadania;
inter-pessoal infantilizadora,
etc. • após ter alta, contar com ajuda logística e apoio psico-social no local
onde vai convalescer.
21
É o caso das grávidas em
risco, por exemplo.
É nestas duas vertentes que o serviço social hospitalar tem um papel
extremamente importante a desempenhar, servindo de interface entre o
cidadão-utilizador e a comunidade hospitalar e entre o hospital e a comunidade
envolvente.
Actividade 8.2
246
© Universidade Aberta
3. Desenvolvimento comunitário e exclusão social
247
© Universidade Aberta
Exclusão Social
% de % de população
Rend. dos 10% Nº de
% de população desempregados + ricos/rend. activa com
c/rend.<2 na população formação homicídios por
dos 10% + % > 15 anos % de população
activa superior 100 mil
US$dol/dia pobres alfabetizados < 15 anos habitantes
Figura 8.8
248
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semiperiférica (médio alto), a par da Grécia e ao nível de alguns dos novos
países da União Europeia como a Chipre, República Checa, Eslováquia e
Eslovénia e a países como a Islândia, Coreia do Sul e Nova Zelândia. Para
esta posição, razoável em termos globais mas baixa em termos europeus,
contribuiu sobretudo a baixa escolarização e a forte desigualdade social.
249
© Universidade Aberta
enfraquecendo o capital social (Fukuyama, 2000; Josine Junger-Tas,
2001), e
- reforça, objectivamente, comportamentos de violência de vários tipos
(violência política, social, ... doméstica)
Qualquer que seja a escala do combate à pobreza (local, estatal, ...) será
indispensável articular as políticas a desenvolver com os três valores herdados
da Revolução Francesa, que constituem património europeu doado à
Humanidade: a liberdade, a igualdade e a solidariedade, novo nome dado
à Fraternidade. A História dos últimos 200 anos mostrou que se não houver
um equilíbrio entre eles, construir-se-á uma sociedade mutilada.
250
© Universidade Aberta
comunidades de vizinhança, através de medidas como o
desenvolvimento do associativismo e da vigilância dos locais de
residência (mais olhos na rua), num processo de responsabilização
crescente.
24
Parte do texto desta sec-
3.4 Crianças e jovens em situação de exclusão social24 ção pode encontrar-se na
íntegra em Carmo (1993:
321-333)
A infância é considerada em todas as culturas, como uma fase que deve ser
particularmente protegida, quer em virtude da fragilidade da própria criança,
quer pelo facto desta ser o garante da sobrevivência futura do grupo.
251
© Universidade Aberta
O consenso então verificado entre os 71 Presidentes e Primeiros Ministros
presentes, decorreu da tomada de consciência da gravidade da situação em
que se encontram actualmente as crianças (e adolescentes) em muitos países.
25
Expert, F.; Myers, W. De entre elas, a UNICEF considera sete grupos de alto risco25 , sobre os
(1988), Análises de situa- quais devem incidir especiais preocupações dos governos e das Organizações
ção: crianças em circuns-
tâncias especialmente difí- Não Governamentais (ONGs), uma vez que configuram situações que afectam
ceis, 1988/91, Bogotá, o desenvolvimento da criança e do jovem, ou fazem mesmo perigar a sua
UNICEF.
existência física:
• crianças em estratégia de sobrevivência;
• crianças maltratadas e abandonadas
26
Grant, 1991, Situação
Mundial da Infância,
Brasília, UNICEF, p. 36.
• crianças institucionalizadas
• crianças em conflito armado
27
Existe já vária investiga-
ção sobre crianças na rua (as • crianças em desastres naturais e ecológicos
que trabalham ou vivem
durante o dia nas artérias das • crianças com necessidades específicas
grandes cidades) e crianças
de rua (as que além disso • crianças de rua
dormem na rua). Para
aprofundar esta questão po-
derá recorrer a bibliografia
Segundo estimativas da UNICEF, são actualmente obrigadas a trabalhar para
produzida pela UNICEF, sobreviver cerca de oitenta milhões de crianças em todo o mundo. Dessas,
pelo Instituto de Apoio à
Criança, e a diversos traba-
trinta milhões vivem nas ruas das grandes cidades, em virtude de terem fugido
lhos académicos que encon- de casa, de terem sido abandonadas ou de terem ficado órfãs (Carmo, 1993:
trará em instituições de en-
sino superior como o ISCSP/
324).
UTL ou a Universidade
Aberta. A maioria é privada de cuidados com a saúde e educação e quase todas são
levadas a enfrentar a difícil escolha entre resistir ou aderir, à violência, ao
crime, à prostituição e ao uso de drogas, que são a realidade da vida da rua
28
No trabalho com crianças
e adolescentes de (e na) rua desde Lima e Rio de Janeiro até Bombaim, Lagos e Nova York26.
é importante não esquecer
que o primeiro e principal Para além do estigma da pobreza, muitas destas crianças e adolescentes
trabalho é com os própri-
os, respeitando a autonomia confrontam-se com a acusação frequentemente infundada de viverem à custa
por eles dolorosamente da delinquência, o que as tem tornado alvos fáceis para os instrumentos de
conquistada. A intervenção
é feita por animadores de repressão pública e privada27 .
rua, com apoio técnico de
retaguarda que após o esta- A resposta a este tipo de situações tem de ser necessariamente de natureza
belecimento de uma relação
estável com a criança a aju- comunitária, envolvendo um trabalho com o próprio jovem28, com a família
dam a construir um projec- (quando existe), com a rede de instituições públicas e privadas de protecção
to de vida que pode passar
pela sua reintegração na fa- social e com a comunidade de residência (de onde fugiram) e de fuga (para
mília, na escola e/ou num onde foram residir).
posto de trabalho (Carmo,
1993:328-331).
252
© Universidade Aberta
3.5 Adultos em situação de exclusão social Sobre esta situação reveja
29
o ponto 3. Da unidade 5.
30
As acções de protecção
São muitos os grupos de adultos em situação de exclusão social. Para além social em situações de alto
das situações referidas em pontos anteriores destacam-se, pela sua gravidade, risco pessoal e familiar, pas-
sam por medidas para ga-
as famílias em situação de pobreza absoluta, os imigrantes e minorias étnicas rantir níveis de alimentação,
excluídas, os sem abrigo, os desempregados e os reclusos e ex-reclusos. saúde, habitação, emprego
e rendimento mínimo, que
permitam evitar o agrava-
A questão da pobreza já atrás debatida29 , requer medidas de alta complexidade mento da situação social do
que envolvem toda a comunidade envolvente bem como um esforço político sistema-cliente e ganhar es-
paço de manobra para in-
considerável, no sentido não só de combater os seus efeitos imediatos30 mas tervenções continuadas so-
também de evitar a sua reprodução inter-geracional31 . bre os factores de reprodu-
ção de situações de pobre-
za.
Os imigrantes e minorias étnicas são grupos particularmente vulneráveis a
todo o género de exploração32 , em virtude das características que os identificam 31
As acções continuadas
como física, cultural e juridicamente diferentes. A intervenção comunitária sobre os factores de repro-
dução da pobreza, inte-
necessária, passa obrigatoriamente pelo desenvolvimento de programas de gram programas de educa-
educação intercultural, pela necessidade de se ter em conta o muitas vezes ção geral e para a cidada-
nia, orientação e formação
presente bilinguismo e pela indispensabilidade de integrar nesses programas profissional e reforço dos
estratégias claras de prevenção do racismo e da xenofobia. factores de resiliência.
32
Vale a pena sublinhar que
Um grupo que tem vindo a crescer de forma preocupante é o dos desalojados o tipo de exclusão e a inten-
ou sem-abrigo33 . Com demasiada frequência esta tendência tem resultado de sidade com que ocorre va-
ria, não só de acordo com
medidas políticas incorrectas, como a desinstitucionalização apressada de factores históricos e cultu-
doentes mentais sem o cuidado de encontrar alternativas viáveis para substituir rais da sociedade
envolvente, mas também
os internamentos crónicos, ou em virtude da desregulamentação neoliberal com as características dos
cujos nefastos efeitos sócioeconómicos afectam dominantemente os indivíduos grupos excluídos.
já de si fragilizados por outras circunstâncias como os idosos, os doentes
mentais, os ex-reclusos, as crianças, etc. Sobre os sem-abrigo vide
33
253
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e ex-reclusos. exigindo um apoio personalizado para a sua reinserção na
comunidade.
36
O texto que serviu de base 3.6 Idosos em situação de exclusão36
a esta secção foi apresenta-
do pelo autor na sua forma
original, numa intervenção
no painel sobre Formação
O fenómeno da velhice, tal como o vemos hoje, é relativamente novo. Esta
ao longo da vida, do 2º afirmação, aparentemente paradoxal, merece uma explicação.
Encontro de Professores
Aposentados, no Funchal,
em Fevereiro de 1997
Em primeiro lugar, é novo na sua dimensão: por exemplo, a esperança média
intitulado Potencialidades de vida nos EUA, no começo do século, era de 45 anos. Menos de 10% da
do ensino aberto e a dis-
tância para a população
população tinha mais de 55 anos e só uma pessoa em cada vinte e cinco chegava
mais velha. aos 65 anos. Hoje são numerosos os adolescentes que conhecem todos os
avós, contrariamente à geração dos seus pais para quem conhecer todos os
avós era relativamente raro. Em consequência, prevê-se que a população com
mais de 85 anos irá crescer, em 2030, para o triplo da sua dimensão de 1980
(Mann, 1995, in Johnson, 1995: 223).
A complexidade do fenómeno apela cada vez mais para uma reflexão séria no
sentido de se combater o preconceito designado por alguns autores como
etarismo (ageism), tão grave como os do etnocentrismo, do racismo e do
sexismo, mas até agora menos visível que os seus pares.
254
© Universidade Aberta
Objectivos do Tipos de formação
Tipo de Idades de
Características trabalho para populações
idoso referência
comunitário idosas
Novos Dos 55-60 aos • autónomos • ajudar a adaptar- • formação de
idosos 75-80 anos • devido às se à situação de segunda
campanhas anti- reforma, sobretudo oportunidade
tabágica, pela ao tempo livre como
alimentação oportunidade para o • formação para o
racional e pelo seu desempenho de
fomento do desenvolvimento papéis sociais
exercício físico, pessoal e para o compatíveis com a
regista-se uma desempenho de sua idade e
melhoria substancial papéis socialmente experiência
da saúde deste úteis
grupo etário • ajudar a
reorganizar o dia-
a-dia
• ajudar a definir
novas metas de
vida
Velhos Acima dos 75- • cada vez mais • garantir apoio psico-
idosos 80 anos dependentes social
• menor saúde física e • garantir ajuda
mental logística
Actividade 8.3
255
© Universidade Aberta
4. Desenvolvimento comunitário e acção macrossocial
256
© Universidade Aberta
camadas, a partir do desafio de grupos sociais dominados, em face de grupos
40
Adaptação do autor.
dominantes40 : Galtung antecede a geração
zero pelo desafio ao clero
- Geração zero: a Igreja desafia a aristocracia; pela secularização e sugere
uma quarta geração, resul-
- Primeira geração: a burguesia desafia a aristocracia; tante do desafio do não Oci-
dente ao Ocidente (Galtung,
- Segunda geração: os camponeses e trabalhadores (industriais) desafiam 1994:226).
a burguesia;
- Terceira geração: Mulheres, crianças, outros povos e a Natureza
desafiam a tecnocracia.
O reforço normativo
De acordo com Hegarty, (1999:25)
257
© Universidade Aberta
- Os Pactos Internacionais para os Direitos Civis e Políticos e sobre
os Direitos Económicos, Sociais e Culturais (1966), actualmente
com 136 e 135 aderentes respectivamente, que procuraram clarificar a
Declaração Universal (idem: 27-28);
A dificuldade de execução
258
© Universidade Aberta
- Por outro lado, a conjuntura explosiva criada por uma globalização
desequilibrada, pela revolta dos Condenados da Terra (Fanon, s.d.)
que culminou nos acontecimentos do 11 de Setembro de 200142 , tem 42
Para aprofundar os argu-
mentos e a evolução das prá-
criado um quadro preocupante, de retrocesso dos direitos, liberdades ticas terroristas, vide Fanon,
e garantias. s.d. e Moreira, 2002, 2004.
A intervenção no terreno
259
© Universidade Aberta
44
Forças Armadas ou 4.3 Organização comunitária em situações de ameaça à protecção
Militarizadas (Exército,
Marinha, Força Aérea, Guar- civil
da Nacional Republicana,
Polícia de Segurança Públi-
ca e Cruz Vermelha).
Outras situações que requerem grande maturidade emocional e capacidade
45
Sapadores Bombeiros, de gestão por parte dos interventores sociais são as de ameaça à protecção
Bombeiros Municipais e
Bombeiros Voluntários.
civil nomeadamente devido à ocorrência de cheias, terramotos, epidemias e
conflitos armados.
46
Na Administração Central
(AC) e Regional (AR), há Para ilustrar a complexidade do que está em jogo, observe-se a figura 8.5 em
que identificar os serviços
envolvidos da área da saú-
que se listam, de modo meramente exemplificativo, alguns dos principais
de (ex: Instituto Nacional de problemas a resolver em caso de emergência de protecção civil bem como
Emergência Médica, Insti-
tuto Nacional de Sangue,
agentes e serviços que podem coordenar, executar ou fornecer meios.
Hospitais, Centros de Saú-
de), segurança social (ex:
Direcções Gerais, Centros
Regionais, Estabelecimen- Acções a Agentes envolvidos
tos, Equipas de acção soci- desenvolver FAM
44
Bomb.
45 46
AC/ AR Autarquia
47 48
SNPC Empresas
49 50
ONGs…
al), agricultura, ambiente e
Acções de
outros.
emergência:
47
Câmara Municipal, Junta
Salvamento e
de Freguesia, Serviços Téc-
1ºsocorro
nicos Municipais.
Emergência
médica pré-
48
Serviço Nacional de Pro- -hospitalar
tecção Civil. 1º abrigo e
alimentação
49
Por área de actividade e Transportes
produto acabado (bens e Comunicações
serviços). Coordenação
Acções de
50
Cooperativas, Instituições reorganização:
Particulares de Solidarieda-
de Social, Escuteiros, Orga- Infra-
nizações religiosas, clubes -estruturas
51
52
Construção e reparações
de habitações provisórias ou Figura 8.10 - Intervenção em situações de protecção civil.
definitivas.
53
Reparação e fornecimento
de equipamentos domésticos
e de trabalho.
54
Reparação e fornecimen-
to de equipamentos de pro-
dução.
260
© Universidade Aberta
Como decorre da análise da figura 8.10, nestas situações é exigido que o sistema-
interventor actue com o máximo de eficácia e de eficiência, num curto espaço
de tempo para
• caracterizar a situação-problema nas suas linhas mestras,
distinguindo os problemas que requerem acção imediata dos que, sendo
importantes exigem uma resposta diferida.
• desenhar um plano de intervenção55 com resultados a atingir de 55
O hábito de elaborar e
manter actualizados planos
imediato, a curto e a médio prazo; de emergência para fazer
face a várias situações de ris-
• identificar, mobilizar e organizar os recursos necessários à co para as populações tem,
intervenção. em vários momentos e lo-
cais, sido responsável pelo
salvamento de muitas pes-
soas e bens. Seria recomen-
dável, por isso, que cada
comunidade concebesse os
4.4 Trabalho comunitário em programas internacionais seus planos de emergência
contra riscos colectivos.
261
© Universidade Aberta
5. Rumos promissores para o século XXI
Como referimos noutro lugar (Carmo, 1997: 140), nas sociedades deste final
de século
262
© Universidade Aberta
Educação para a democracia
É uma
Aprendizagem significativa
do que é
Democracia
vista como
traduzida em prática de
263
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• em segundo lugar a ideia de que a democracia deve ser encarada
como meta, querendo com isto dizer-se que este conceito configura
um quadro axiológico de referência traduzido,
- na assunção de um conjunto de direitos humanos como projecto
comum da humanidade,
- no reconhecimento da necessidade de vida em comum em
condições de estabilidade sócio-política, e
- na valorização das práticas de cidadania como instrumentos
57
Reveja acerca disto o pon- de aperfeiçoamento pessoal e social57 .
to 2 da unidade 6 sobre o
método Paulo Freire.
• em terceiro lugar a constatação de que a democracia deve também
ser entendida como um método de sociabilidade, um caminho para
viver melhor em comum, que exige práticas de comunicação, de
participação e de representação, as quais requerem um treino prévio
que integra, a nosso ver, um conjunto de dez aprendizagens básicas.
264
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5.2 Desenvolvimento comunitário e educação aberta e a 60
O texto que se segue foi
distância60 extraído de Carmo, 1996a,
1996b e 1997.
Este tipo de ensino nasceu e desenvolveu-se ao longo dos últimos 150 anos
sob múltiplos formatos que, de comum, têm duas características dominantes:
265
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Em âmbito Europeu, o próprio Tratado de Maastricht menciona
expressamente a necessidade de considerar métodos de ensino a distância na
formação de recursos humanos para a União Europeia. No mesmo contexto e
sentido, é de mencionar a inclusão da educação aberta e a distância como
Acção do Programa Sócrates das Comunidades Europeias e a criação de
sistemas de ensino e formação a distância para apoiar o processo de revisão e
de reforço das estruturas educativas dos países da Europa Central e de Leste,
tarefa essa assumida pelas Redes da European Association of Distance
Teaching Universities (EADTU) e European Distance Education Network
(EDEN).
266
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A formação intensiva de técnicos de desenvolvimento comunitário tem sido
uma preocupação constante. A IGNOU, por exemplo, oferece um curso em
Desenvolvimento Rural com duração de três meses, para população sem
qualificações académicas e desenvolve programas diversos nas áreas de
educação para a saúde, gestão dos recursos hídricos, educação paramédica,
entre outros, frequentados por muitos milhares de pessoas que trabalham no
terreno, as quais de outro modo nunca poderiam aceder a qualquer tipo de
formação.
267
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Tal êxito tem sido legitimado pelo cuidado posto numa trilogia de estratégias
educativas:
Em resumo
Actividade 8.5
268
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Programas de acção
Áreas-chave Hipóteses de apoio através do EAD
comunitária
Programas • Famílias em risco • Cursos formais (bacharelatos,
comuns licenciaturas, mestrados e
• Voluntariado social doutoramentos)
• Cursos de formação profissional (não
formais e livres)
• Articulação de serviços
• Cursos de formação de voluntários
(para o exercício da liderança e de
• Apoio a organizações de
tarefas específicas)
economia social
• Formação contínua para pessoal
dirigente, técnico, administrativo e
auxiliar de organizações públicas e
particulares
Crianças • Amas e creches • Formação de amas
familiares • Formação de voluntários
• Centros infantis • Formação de pessoal
• Adopções • Formação de pais adoptivos
• Colocações familiares • Formação de familiares de crianças
• Crianças deficientes e deficientes
suas famílias
Jovens • Apoio psicossocial a • Formação de voluntários
jovens • Formação de pessoal
• Associativismo juvenil • Formação de líderes juvenis
• Jovens deficientes • Formação de jovens deficientes
Idosos • Apoio domiciliário • Formação de voluntários de Apoio
• Centros de idosos (de Domiciliário
convívio e de dia) • Formação de pessoal
• Lares de retaguarda • Formação contínua para os idosos
(tipo universidade de terceira idade)
Minorias • Minorias étnicas • Formação de pessoal
• Novos pobres • Formação de voluntários
• Sem abrigo • Formação para a integração
• Crianças da rua
•…
269
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6. Em síntese
A unidade foi concluída com uma discussão sobre dois campos em que se
começa a observar a grande utilidade do desenvolvimento comunitário como
instrumento sócio-educativo: a educação para a democracia e a educação
aberta e a distância.
Actividade final
270 6444
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272
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© Universidade Aberta
Página intencionalmente em branco
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