Fichas
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O nacional-
desenvolvimentismo em tempos de Getúlio Vargas (1951-1954). IN: FERREIRA,
Jorge; DELGADO, Lucília de Almeida Neves (orgs.). O Brasil Republicano - Vol. 3 -
O tempo da experiência democrática: da democratização de 1945 ao golpe civil-militar
de 1964: Terceira República (1945-1964). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2019.
“A eficácia da opção pela estabilidade pode ser aferida pelos resultados alcançados ao
final do primeiro ano de governo. Se comparados ao ano anterior, os investimentos
públicos registraram queda de 3% e a participação do governo na formação bruta de
capital fixo, de 8%.”
“Tal preferência pela estabilização aparece com mais nitidez até os primeiros meses de
1952 [...] passou a expandir o crédito a empresas e pessoas físicas. Além disso, a
ampliação das dívidas dos estados, municípios e Distrito Federal demonstrava que o
rigor fiscal da União estava sendo paulatinamente afrouxado.”
“Assim sendo, observa-se que o início do SGV foi marcado, de fato, pela adoção de
medidas estabilizadoras. Essa constatação invalida a tese do populismo econômico, uma
vez que, de acordo com os modelos anteriormente apresentados, a primeira fase de
governos populistas configuraria um ciclo em que, obrigatoriamente, seriam
empregadas medidas abertamente pró-crescimento e redistributivas sem qualquer
preocupação com a estabilidade.”
“Uma das principais medidas que ilustram a mudança paulatina na política econômica
nessa fase foi a aprovação, em janeiro de 1953, da chamada Lei do Mercado Livre (Lei
1.807). Com o objetivo de atrair capital estrangeiro via liberdade cambial e
afrouxamento dos critérios para reinvestimentos, a alteração na política de câmbio
mostrava-se simpática ao capital estrangeiro. Por outro lado, demonstrava o
compromisso do governo com a industrialização, uma vez que se mantinham tanto a
segmentação das importações por faixas de acordo com a essencialidade dos bens (em
conformidade com a substituição de importações), quanto das exportações em
categorias conforme o peso do produto na pauta, de forma a incentivar sua
diversificação. Estabelecia-se, na prática, um sistema de taxas múltiplas de câmbio que
buscava compatibilizar crescimento econômico de longo prazo com os limites impostos
pelo balanço de pagamentos. No contexto de crise cambial, pretendia-se administrar
perdas e ganhos segundo um critério político e pró-desenvolvimento. A Lei do Mercado
Livre, entretanto, não alcançou o resultado esperado. Pressionado, por um lado, pela
crise econômica – aumentos da inflação e dos déficits público e externo – e, por outro,
pelo acirramento da crise política entre sindicatos (à esquerda) e a União Democrática
Nacional (UDN) (à direita), Vargas promoveu, em junho de 1953, uma reforma
ministerial na qual empossou João Goulart no Ministério do Trabalho e Osvaldo Aranha
na Fazenda. Diante do impasse externo e da ameaça do crescimento da inflação, a nova
equipe econômica lançou, em outubro do mesmo ano, sua mais importante medida, a
Instrução 70 (I-70) da Sumoc, que visava a estabilidade no balanço de pagamentos
concomitantemente ao equilíbrio fiscal.”
“No curto prazo, os resultados foram positivos, uma vez que o governo logrou atenuar
os efeitos mais prementes da crise cambial. A balança comercial encerrou o ano de 1953
com resultado positivo, contribuindo para que o balanço de pagamentos registrasse um
pequeno superávit, invertendo a tendência do ano anterior. A inflação, entretanto,
acelerava-se e atingia cerca de 20% ao final de 1953. Paralelamente, as despesas da
União e o crédito concedido pelo Banco do Brasil ao Tesouro Nacional também
aumentavam, evidenciando o caráter expansionista das políticas fiscal e monetária no
período.”