Governos Militares

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 6

Governos Militares

Os governos militares no Brasil, que foram de 1964 até 1985, contaram com o
Governo de 5 Presidentes, sendo eles: Castelo Branco (1964-1967), Costa e Silva
(1967-1968), Médici (1969-1974), Geisel (1974-1979) e Figueiredo (1979-7985).
Economicamente, costumamos separar esse período em 4 fases.
A primeira fase, o PAEG, que durou de 1964 até 1967, é caracterizada pelas reformas
estruturais da economia brasileira. A segunda fase, o Milagre Econômico, contemplando o
período de 1968 até 1973, foi um período de altas taxas de crescimento do PIB, utilizando-se
do conceito de “primeiro crescer para depois dividir”. A terceira fase, II PND, que durou de
1974 até 1979, resultou em crescimento econômico, porém, a economia cresceu em marcha
forçada. A quarta e última fase, Crise dos anos 80, passando de 1980 até 1985, foi quando a
conta começou a ser paga.

PAEG

No início da década de 60, após o fim do Governo Kubitschek, renúncia de Jânio


Quadros e início do Governo Goulart, o Brasil enfrentava o que se chamaria posteriormente
como a Primeira Grande Crise Brasileira da Era Industrial. O Brasil passava por uma grande
queda de investimentos, uma resultante contração do aumento do PIB e um aumento da
inflação e do déficit público. Diante desse cenário, somado à “ameaça comunista”, vivia-se
um período de grande inquietação política, que se resultava na não governabilidade de João
Goulart, tanto por falta de apoio, quanto por aprovações de projetos. Essa inquietação foi
aumentando de maneira exponencial, até que, em 31 de março de 1964, os militares tomaram
o poder e impuseram Castelo Branco como o novo presidente da República do Brasil.
Como medida para contornar os problemas econômicos sofridos à época, Castelo
Branco implementou, com a liderança dos Ministros Roberto Campos e Octávio de Bulhões,
o Plano de Ação Econômica do Governo - PAEG, que tinha como meta três objetivos: a
redução do déficit público, restrição do crédito e aperto monetário, e arrocho o salarial.
Assim, realizando reformulações estruturais e conjunturais na economia brasileira.
Conjunturalmente falando, a grande preocupação na época era a inflação, que já se
encontrava próxima dos 90% e era diagnosticada como uma inflação de demanda. Diante
disso, adotou-se uma política fiscal e monetária contracionista, com a redução dos gastos
públicos, aumento dos juros e redução do valor real dos salários. Embora fosse uma política
“tradicional”, de certa forma foi eficaz em seu objetivo, reduzindo a inflação de 90%, em
1964, para 30%, em 1967.
Porém, a realização mais importante foi a reforma estrutural da economia brasileira,
dividida em duas grandes reformas: a reforma tributária e a reforma monetária-financeira. No
que tange à tributação, o governo extinguiu os impostos sobre o valor total dos produtos,
chamados de impostos em cascata, e instituiu impostos sobre valor adicionado, deixando de
taxar o valor total de um bem final e passando a taxar o valor adicionado em cada etapa da
produção desse mesmo bem. Assim, criava-se uma nova maneira de tributar, que é utilizada
até os dias atuais, instituindo impostos como: IPI, ISS, ICM(S), entre outros.
Uma segunda ação do PAEG na reforma tributária foi uma maior centralização dos
impostos na Mão da União, onde os impostos arrecadados eram direcionados à União, que
repartia e repassava de volta aos estados e municípios. Para isso, o Governo criou o Fundo de
Participação dos Estados e Municípios (FPEM), responsável por realizar essa ação.
Também frutos da reforma tributária do PAEG, o FGTS e o PIS se consolidaram
como forma de poupança compulsória para o governo.
Nos aspectos monetários-financeiros, foi criada a chamada correção monetária (pai da
posterior hiperinflação dos anos 80), revogando a Lei da Usura, que limitava a taxa de juros a
12% ao ano, podendo agora reajustar preços e contratos com base na inflação. Adveio,
também, da PAEG, a criação da ORTN, o nosso primeiro título público, utilizado para a
captação de novos recursos; a criação do Banco Central, em substituição à SUMOC,
implementando um sistema mais definido e organizado; a criação de um Sistema Financeiro
da Habitação - SFH, que resultou na criação do Banco Nacional da Habitação (BNH), com o
objetivo de financiar a construção de casas próprias no Brasil, financiado via caderneta da
poupança e FGTS; por fim, houve também a reformulação de todo o mercado de capitais,
dinamizando as bolsas de valores.
O PAEG, em suas consequências, trouxe uma completa mudança na estrutura
institucional da economia brasileira, adaptando-a às necessidades de uma economia
industrial; aumentou drasticamente a captação de recursos do Governo, em função da nova
estrutura do sistema tributário (mais impostos e centralização das taxas na mão da União);
trouxe novos órgãos e instrumentos ao sistema financeiro, que facilitaram a acumulação de
poupança pelos agentes econômicos e a sua canalização para investimentos produtivos (S=I),
viabilizando a retomada do crescimento; e gerando uma grande redução da inflação.
Porém, existem outros resultados além dos resultados técnicos e aparentes. O PAEG e
suas reformulações também foram responsáveis pela concentração de renda e retardamento
do ritmo de crescimento econômico. A inflação foi contida, mas às custas da redução do
poder aquisitivo dos trabalhadores, com a redução dos salários reais. O Plano também
acentuou os desníveis econômicos regionais, além de instaurar uma maior concentração
bancária.
Portanto, de fato o PAEG conseguiu contornar o problema principal da economia à
época: a inflação, cortando toda a demanda que excedia o nível de pleno emprego, onde, a
custos dos trabalhadores, acabou preparando o terreno da economia brasileira para a sua
próxima fase, o Milagre Econômico.

Milagre Econômico

Após o Governo Castelo Branco e a finalização do PAEG, a economia brasileira


experimentou o que chamamos de Milagre Econômico. Anônimo Delfim Neto, o atual
Ministro da Fazenda após o Governo Castelo Branco, preparou o país para um crescimento
rápido e em altas taxas. A inflação que ocorrera no governo anterior, com a redução da
demanda, passou-se para uma inflação de custos (uma análise mais cuidadosa mostra que, na
verdade, a inflação de custos estava latente na economia, porém oculta pelo crescimento da
demanda, e somente emergiu quando foi feito o controle da mesma). Assim, Delfim Neto
institui algumas medidas visando o aumento do crescimento (fontes do crescimento), sendo
elas: o aumento dos gastos públicos; investimentos em infraestrutura (energia, transportes,
comunicações, siderurgia e mineração); aumento dos investimentos e quantidade de empresas
estatais; expansão do crédito (i.e. redução dos juros) ao consumidor (focado na classe alta e
média), visando o consumo de bens duráveis (veículos, eletrodomésticos, televisões, entre
outros.) e a construção civil (casas e moradias); aumento das exportações, e; entrada de
capital externo, por haver alta liquidez internacional, ou seja, havia muito dinheiro barato no
mundo com juros baixos, que foram utilizados pelo Governo para financiar os projetos
maiores (que posteriormente gera um endividamento externo).
Como consequência dessas medidas adotadas por Costa e Silva, em maneiras
técnicas, o Brasil apresentou médias de taxas de crescimento de 10% ao ano, aumentou a
produção industrial, juntamente das exportações, e aumentou a dívida externa, triplicando-a,
já que um dos meios de captação de recursos à época era a utilização do capital externo.
Também houve uma concentração econômica de bancos e empresas, pois o Governo
incentivava suas junções, tornando-as cada vez maiores e concentradas. Indo além, é
importante ressaltar também a expansão de obras públicas no Brasil sem planejamento
algum, ignorando suas consequências a longo prazo, sendo boas ou ruins, como a Rodovia
Transamazônica, que gerou altos custos porém não é a solução ideal para o problema.
E, como principal problema gerado, temos a concentração de renda, que embora não
fosse novidade no Brasil, nesse período, foi marcada por um grande aumento. Os incentivos
ao crédito para a população apenas beneficiavam a classe média e alta, não sendo acessível
para a população mais pobre, ou seja, houve um grande crescimento econômico mas apenas
para uma parte da população, com os ricos ficando mais ricos e os mais pobres sem acesso a
esse acontecimento. A justificativa do Governo da época para tal fenômeno ficou conhecida
como a “teoria do bolo”, que defende a ideia de que era necessário um processo de contração
de renda inicial, a fim de elevar a poupança e, consequentemente, o investimento. Assim,
segundo o Ministro, era preciso que o país crescesse primeiro para depois distribuir a renda.
Porém, percebe-se que o exposto não foi o acontecido, já que o país continua com um alto
nível de concentração de renda.

II PND

Em 1973, no auge do crescimento brasileiro, onde o PIB alcançara a marca de 14%, os


países exportadores de petróleo à época se reuniram e formaram um cartel, passando a ditar a
oferta de petróleo mundial e reduzindo-a drasticamente, quadruplicando os níveis de preço do
petróleo e levando o mundo ao que chamamos de O Primeiro Choque do Petróleo.
Como o Brasil era um país extremamente dependente da importação do mesmo, houve
um impacto grande na economia. Com o fim do Governo Médici e a ascensão de Geisel como
o novo Presidente da República, o Governo se deparou com a seguinte situação para contornar
a crise mundial: reduzir a importação, com um ajuste interno e redução do crescimento
econômico, ou continuar o crescimento utilizando-se do crédito externo. Uma alternativa a
essa dicotomia entre o ajuste interno e o desenvolvimento com financiamento foi o Segundo
Plano de Desenvolvimento Econômico - II PND, que promoveu um ajuste estrutural de oferta
de longo prazo, simultaneamente à manutenção do crescimento econômico.
O II PND, dentre seus propósitos e realizações, contou com alterações das
propriedades de industrialização brasileira, saindo do atual foco em produção de bens de
consumo duráveis (carros, eletrodomésticos, televisores) e partindo para o foco de produção
em bens de capital e insumos básicos (aço, alumínio, zinco, minério de ferro, etc.), com altos
investimentos nesses setores por parte do governo, utilizando-se, principalmente, de empresas
estatais.
A atual conjuntura de crise mundial (alto preço do petróleo) também incentivou o
Governo a buscar alternativas energéticas ao petróleo, o que resultou em acordos
internacionais a fim de construir usinas nucleares no Brasil, construir hidrelétricas, como a
Usina de Itaipu, e o Proalcool, o programa responsável pela criação de motores
automobilísticos movidos à etanol e a utilização do mesmo.
O governo também buscou implementar um maior protecionismo em cima das
empresas nacionais, protegendo-as da concorrência externa e, assim, fazendo-as crescer.
Porém, hoje esse posicionamento é visto com algumas ressalvas, já que pode ter atrasado o
avanço tecnológico brasileiro com leis como a lei da informática, em que só eram permitidas
empresas nacionais nesse ramo, impedindo empresas externas e mais avançadas de investirem
no Brasil.
Outro ponto do II PND, foi a manutenção do uso de capital externo, já feita
anteriormente pelo ministro da fazenda Delfim Neto, para investimentos produtivos, que
trouxe grandes consequências posteriormente, como o aumento da dívida externa.
Esse período também ficou marcado pela ideia de “Brasil Potência”, onde o Governo
buscava passar a imagem de ser uma grande potência mundial, utilizando-se de slogans como
“Brasil, ame ou deixe-o” e obras faraônicas, como a ponte Rio-Niterói, Hidrelétricas de Itaipu
e Tucuruí, etc.
O II PND tinha como problemas centrais o apoio político e o financiamento. A lógica
do modelo era a seguinte: as empresas estatais eram responsáveis pela criação da demanda
derivada, onde a sua produção seria responsável pela demanda por outros bens e serviços, que
seria suprida por empresas privadas. Como era muito mais fácil obter capital externo em
nome das empresas estatais, houve uma restrição ao crédito nacional às estatais, ficando
exclusivo às empresas privadas, financiadas através do Banco do Brasil e do BNDE. O que
forçou as empresas estatais a se endividarem externamente.
Como o Plano ocorria durante o fim da ditadura, onde já não haviam-se mais muitos
apoios em relação a mesma, o apoio político necessário para o lançamento das obras era
advindo por meio de barganhas, o que fez com que houvesse uma descentralização do
investimento, espalhando a industrialização por todo o brasil e saindo do eixo RJ-SP-MG.
Como consequência do Plano, o Brasil conseguiu manter o crescimento econômico e
diversificar a indústria, porém, da mesma forma que andar em altas velocidades, com um
veículo em marcha lenta, traz severos resultados ao motor, forçar a economia a crescer em
marcha lenta, também. Ao se aproveitar do capital barato e forçar o endividamento externo
das estatais, no prosseguir da crise mundial, as dívidas que anteriormente estavam dentro do
previsto, dobraram de valores, gerando um aprofundamento da dívida externa, deterioração
das finanças públicas e má reputação das empresas estatais a longo prazo.
Resumidamente, como resultados do II PND, temos o endividamento e uma alta
inflação, mesmo que os objetivos gerais tenham sido alcançados. O que não se esperava era
que em 1979 ocorreria um Segundo Choque do Petróleo, piorando ainda mais a situação
econômica brasileira e levando à Quarta e última fase da economia na Ditadura Militar, a
Crise dos Anos 80.

Você também pode gostar