Entrevista Psicólogo - Desafios Da Profissão - 10.11.2020
Entrevista Psicólogo - Desafios Da Profissão - 10.11.2020
Entrevista Psicólogo - Desafios Da Profissão - 10.11.2020
Eu posso dizer que vocês hoje estão muito melhores, com esses instrumentos todos (se
referindo à internet e plataformas online). Na época, eu iniciei lá na Unisinos, que era
um curso muito bom. Depois de 4 semestres eu voltei para Porto Alegre, na PUCRS. Eu
entrei num grupo de 63 pessoas. Dos quais 60 eram mulheres. Não tinham esses
instrumentos como vocês estão tendo de chegar e entrar em contato. Nós tivemos que
estudar todo o código de ética do psicólogo. Tem coisas de bom gosto, tipo os bons
costumes, que não tem como a gente errar, mas tinham coisas que a gente tinha que
decorar, para chegar na prova e fazer uma prova decente com aquilo que tu acha que tem
que ser. Hoje tem muito mais condições de fazer isso, porque essa parte de informática
está à disposição. Lá naquele tempo não tinha telefone celular. (eu entrei em 1984).
Estava começando o e-mail…, era duro trabalhar. Agora vocês têm mais. Isso não
significa que aquela formação foi melhor do que essa aqui de agora. Acho que a de
agora tem muito mais problema, assim, metralhadora giratória na comunicação sobre
tudo. Se tu tem uma atenção ampla, atenção difusa, e fica olhando todas essas coisas, tu
termina não indo a lugar nenhum. Tu até tem que ter essa atenção difusa e perceber de
todos esses estímulos aquilo que vai ao encontro (não de encontro), ao encontro das tuas
aspirações. Vou citar aqui para vocês, nível de aspiração. Vocês têm que firmar nisso.
Muita gente entra (na psicologia) até pra se conhecer melhor etc., e aí, vai terminar
vendo que encontrou várias coisas, outras coisas mais, isso não vai resolver a vida dela,
mas pode ajudar se for um sujeito competente, que vai e estuda e tal, analisa, faz
algumas coisas do tipo assim, uma meditação, faz um mergulho no seu universo interno,
pra ver qual seu potencial possível de aplicar nesse contexto todo e aí ir em busca disso.
Dar o primeiro passo.
Sim, me pediram atestado médico para cobrir faltas. Mas disse a ele que não seria
cúmplice pois tenho a minha ética, não só ele como os pais foram a minha procura, não
briguei com eles apesar de um dos pais ficar bravo. Não foi a primeira vez que tentou
conseguir atestado.
Creio que o CRP faz o máximo que ele pode fazer para fiscalizar. Contudo, eu gostaria
de deixar no ar alguma coisa. Não gosto dessa história de coaching. Em Buenos aires,
sou vice-presidente da federação sulamericana de esportes para paz e lá tem uma rádio
que ocasionalmente me liga para eu falar a respeito da ética na psicologia. Em um uma
dessas ligações eu falei sobre essa questão do coaching. Sinceramente, eu acredito que
os órgãos de psicologia deveriam ser mais rígidos quanto a isso e tomar uma atitude,
pois esse pessoal – sem nenhuma formação específica – faz um curso de um final de
semana e se intitula coach. Claro que nem todos são essencialmente ruins, o Muricy, que
é um grande treinador de futebol, por exemplo, tem curso de coaching e é um cara sério,
pelo contato que tive com ele no Inter deu para perceber isso. O problema é quando
usam desse título para tratar questões emocionais de um atleta e não tem competência
para tal, tem que ser psicólogo. Nesse sentido, o conselho regional e o federal tem que
tomar uma atitude urgente quanto a isso, pois isso afeta terrivelmente o trabalho do
psicólogo.
Acho que o mais gratificante é que também somos docentes. Há um tempo atrás eu fiz
um mestrado na PUC, em psicologia, na parte de educação, e lá tinha dois cursos de
mestrado para médicos. E por que isso? Eles já sabiam que o MTE, método de técnica
de ensino, dá muito certo, eles tinham essa visão mais à frente de que eles são docentes.
E nós psicólogos também somos. Nesse sentido, eu acho que a transmissão de
conhecimento é o que nos faz imortais e vou explicar por que acho isso. Eu tenho um
encontro anual com ex-alunos e fazemos um almoço. Dentre eles, tenho alunos ali que
são bisavós, passei para eles muitos ensinamentos que eles passaram para seus filhos,
seus netos. E esse conhecimento, vai passando de uma geração para outra e isso vai se
tornando imortal. É lindo. Certamente, nós somos imortais e quem possibilita isso é a
pessoa que dá apoio a alguém numa parte importante da vida dessa pessoa. E nós temos
isso na mão, como psicólogos. Outro fator valioso, nesse contexto, é que aprendemos
tanto com os pacientes quanto com os alunos. É impressionante. E se tem alguma coisa
que eu pudesse dizer para influenciar vocês de alguma forma, seria o seguinte: vai para o
google e pesquise alguma coisa que você se interessa. Pegue um assunto qualquer,
traduza e leia. Conhecimento nunca é demais. Eu, por exemplo, não sei russo, mas se eu
quero um assunto eu uso o tradutor e leio tudo. Sempre fui assim, de querer saber sobre
vários assuntos e, hoje em dia, eu tenho atuação e pacientes em vários países: Estados
Unidos Itália, Espanha, Alemanha, Inglaterra e França. Então, em suma, o mais
gratificante de ser psicólogo, sem dúvida, é a transmissão de conhecimento. Nós somos
imortais, uma vez que é o conhecimento passado adiante que fica e isso nos faz ser
eternos.
Em geral de tirar partido da tua opinião, tua assinatura. Tive contato com pessoas do
exército e da polícia que já me pediram atestado psicológico para comprar armas. Isso
pode te dar muito dinheiro e dinheiro não é ruim, mas fico pensando que há muitas
pessoas de má fé e tu pensa que essa testagem será usada corretamente mas não, como
nas experiências que tive no meu estágio no Instituto Psiquiátrico Forense. Tive
pacientes esquizofrênicos/assassinos e eles são persuasivos.
Vocês estão em uma área promissora. Lembro quando eu era pró-reitor de pós-graduação
e levei os alunos da Faculdade Feevale para a Europa e lá os responsáveis de
universidades importantes comentaram como nossa área é promissora e não faltará
atuação, igualmente como da educação física, informática e turismo. Façam também um
aprofundamento na educação física, nas academias, por exemplo, sempre terá alguém
necessitando desse apoio da psicologia. Lembrando sempre do estudo, investiguem,
saibam, que lembrarão sempre de vocês no momento de pedir um apoio, e terão sempre
respeito.
O que mais surpreendeu o grupo foram algumas questões citadas pelo entrevistado
relacionadas com a falta de ética, como por exemplo: o fato de a imprensa
pressionar psicólogos e/ou clubes para obterem informações privilegiadas, como dar
um “presentinho” para a secretaria e convidar atleta para alguma festa com bebida e
se aproveitar para saber de assuntos mais reservados. Nesse sentido também,
surpreendeu-nos quando o entrevistado mencionou sobre interesses de má fé para
com o psicólogo, como por exemplo testes psicológicos para a liberação de porte de
armas, que as pessoas faziam suborno com os profissionais para obter essa
liberação. Além disso, chamou muito a atenção do grupo o fato do entrevistado
ressaltar muito e incentivar o estudo continuado e destacar a importância também de
se ter graduação ou formação em outra área complementar, a fim de ampliar as
possibilidades profissionais (ele se referia ao fato de ele também ter graduação em
Educação Física e também especialização em Métodos de Tècnica de Ensino, e
quão importante foi para as oportunidades que teve).