II Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia - Tablóide
II Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia - Tablóide
II Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia - Tablóide
“Crônicas Urbanas”
e “Solitude”
de 15 de março a 16 de maio
Museu da UFPa
“Diários da Cidade”
e “Do Outro Lado da Rua”
de 16 de março a 17 de abril
Museu Casa das Onze Janelas
atividades educaTIVAS
OFICINAS · PALESTRAS
ENTRADA FRANCA
Belém 2011
2 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Crônicas Urbanas
Ficha Técnica
Jader Barbalho Filho
diretor presidente
do diário do pará
Sumário Crônicas Urbanas
Camilo Centeno Passeio pela fotografia brasileira 3 A história da cidade tem com a história da fotografia uma
diretor geral da rba Leonardo Sette 4
Francisco Melo
cumplicidade especial. O século XIX acolheu a invenção e o de-
diretor financeiro
Luzes inimigas 4 senvolvimento da imagem fotográfica ao passo que imprimiu
RBA - Marketing Silas de Paula 6 às cidades o início de uma expansão espetacular. A dinâmica
Daniella Barion A beleza do caos 6 urbana no século da revolução industrial se viu refletida na ex-
gerente de marketing Roberta Carvalho 8 pansão da linguagem fotográfica. A imagem da cidade moder-
Cleide Monteiro Árvores que pulsam 8
coordenadora de marketing na se desenvolveu nas vanguardas fotográficas do século XX
Beleza que nasce do azul 10 tanto no processo fragmentado das linguagens experimentais
Goretti Coutinho
analista de eventos Em imagens, o mistério da fé 11 como também na nova atitude da fotografia documental como
Projeto Prêmio Diário Redutos da memória 12 diário do cotidiano. A modernidade urbana experimentou sua
Contemporâneo De Fotografia A fotografia e o museu contemporâneo 14 utopia na mesma medida em que a fotografia viveu sua utopia
Mariano Klautau Filho Projeto também investe em formação 15
supervisão e curadoria geral moderna. Esta experiência se intensifica quando o fotógrafo
Lana Machado
Fotografia sem fronteiras 16 desdobra a sua linguagem como resposta aos desafios da cidade
coordenadora de produção Das páginas para a galeria 20 contemporânea.
Irene Almeida · Regina Fonseca
produção
Joyce Nabiça · Rosinete Moraes
A cidade é um lugar privilegiado de ação da cultura. Nele o ar-
assistentes de produção tista contemporâneo é parte importante na reconstrução dos
Andrea Kellermann valores urbanos. Ele pensa a cidade como meio ambiente social
designer gráfico
e artístico e o re-configura como espaço concreto e ficcional
Amanda Aguiar · Dominik Giusti
assessoria de imprensa quando dialoga diretamente com ele. O fotógrafo não só é um
textos e entrevistas atento observador da cidade desde o seu nascimento, como
RBA - Tecnologia de Informática também é um ator fundamental nas representações e identida-
Antonio Fonseca des sociais do meio urbano. A cidade do século XXI é desafiadora
gerente de ti
para o fotógrafo contemporâneo porque é constituída de crise e
Aldo Alves
gerente de conteúdo online superação diante das questões sociais, ambientais e artísticas.
Leonidas Amorim
supervisor de desenvolvimento Espaço de ficção e realidade, a cidade se torna para fotografia
Oficinas
Oscar Alencar matéria inestimável constante de reflexão das relações entre
supervisor de webdesign
Museu da Universidade
arte e sociedade. As instituições internacionais manterão em
Federal do Pará 2011 em suas pautas a necessária discussão sobre meio ambiente
Jussara da Silveira Derenji
Processos da Cianotipia com Eduardo Kalif e florestas. Este fato reforçará a importância da auto-sustenta-
diretora Período: 7 a 11 de fevereiro bilidade no desenvolvimento da relação entre cultura e natureza.
Nilma das Graças Brasil de Oliveira Fotografia Documental com Guy Veloso Diante disto, propomos ao artista um contraponto com o tema
coordenadoria cultural Período: 22 a 26 de março
Norma Sueli Monte de Assis “Crônicas Urbanas”: traduzir a cidade como a floresta cultural
coordenadoria administrativa
Diálogos Fotográficos com Alexandre Sequeira que precisa ser repensada na mesma medida que as florestas
Raimundo Augusto Vianna Inscrições: 9 a 25 de março naturais e construir as imagens e histórias vividas no espaço
coordenadoria de acervo Período: 2 a 20 de abril urbano. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia em sua
e documentacao
Manoel Lima Pacheco
técnico de montagem Bate-papos abrangência nacional ocupa um posto de observação outro que
não é o sudeste brasileiro, e sim o norte-amazônico-urbano.
Paulo Souza Neste sentido, a cidade de Belém representa também uma ou-
coordenador ação Com Ernani Chaves trora utopia e atual crise urbana dentro da floresta. Convocamos
sócio-educativa
24/03 às 19h – IAP o fotógrafo a tomar a cidade como matéria em sua proposta
Toky Popytek Coelho
bolsista/ufpa-monitoria Com Fotojornalistas artística, seja qual for sua linguagem: do documental ao poético,
e ação educativa 31/03 às 19h – Museu Casa das Onze Janelas da instalação às ações, do cotidiano social às ficções subjetivas.
Tablóide Com Luiz Braga Convidamos o fotógrafo a recriar o tempo urbano e refletir sobre
Amanda Aguiar e Dominik Giusti 06/04 às 19h – IAP a cidade como meio-ambiente, espaço da experiência social e
textos Com Marisa Mokarzel
Amanda Aguiar lugar das imagens e vivências.
edição
28/04 às 19h – IAP
Andrea Kellermann Com Mariano Klautau Mariano Klautau Filho
design 12/05 às 19h – IAP Curador do Projeto Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia
Crônicas Urbanas II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 3
Luzes inimigas
medida o rigor da fotografia em 2010. A série fará itinerân-
urbana em preto e branco e a cia em todas as unidades da
fluidez do vídeo, a serviço de Aliança Francesa do Brasil, a
uma narrativa extremamente partir de março de 2011. Casal
pessoal”, destaca. de Betânia, Fotografia feita no
O júri, formado pelo cura- sertão pernambucano repro-
O pernambucano Leonardo colecionam prêmios em festi- vencedora do II Prêmio dor, historiador e crítico de duz o retrato tradicional de pa-
Sette é dono de uma trajetó- vais pelo Brasil e ele se pre- Diár io Con t emp or âne o arte Tadeu Chiarelli; a cura- rede e foi uma das ganhadoras
ria reconhecida no cinema. para para iniciar as filmagens de Fotograf ia – Crônicas dora e professora Marisa do 4° Concurso de Fotografia
Graduado em Historia do de “Leme”, filme contempla- Urbanas, na categoria “Diário Mokarzel; e o fotógrafo e Pernambuco Nação Cultural
Cinema pela Université Paris, do pelo Programa Petrobras Contemporâneo”. professor Alexandre Sequeira 2010.
ele produziu e montou dois Cultural. Composta por 16 fotos – analisou 254 trabalhos vin-
longas e mais de 20 curtas, Só que há pouco menos acompanhadas pela exibição dos de todas as regiões do TEOR POLÍTICO
além de ter ministrado oficinas de um ano, Leonardo se des- contínua de um vídeo de sete Brasil. Cada um dos três ven-
de vídeo para jovens indígenas cobriu fotógrafo. E nada mais minutos, o trabalho - pro- cedores receberá um prêmio Em “As Luzes Inimigas”,
em várias partes da Amazônia. natural que tanta familiarida- duzido entre 2005 e 2008 na de R$ 10 mil. protestos de rua parecem
Como crítico, colabora desde de com o universo das ima- Cidade-Luz - levanta ques- Foi em om outubro de 2010 aprisionados como inofensivas
2006 com a revista Cinética, gens em movimento também tões sobre formatos, vídeo, que Leonardo produziu seu imagens de arquivo, graças a
publicação eletrônica focada impregnasse sua fotografia cinema, cinefilia e a própria primeiro trabalho fotográfico, um cenário antiquado – e ao
na reflexão crítica e ensaística estática fotografia. “‘As Luzes Inimigas’ A imagem apropriada, série preto e branco documental es-
sobre o cinema e o audiovisu- O artista celebra Paris é quase um roteiro de cine- de 12 fotografias, realizadas colhido pelo fotógrafo. “O ex-
al – também conhecida pelos como palco político e berço ma, fragmentado e visual e em aldeias indígenas amazô- cesso de luz contorna a dureza
textos ácidos. Seus curtas esplêndido da imagem em “As com apuro técnico impecá- nicas, entre julho de 2005 e de uma rica e velha sociedade,
“Ocidente” e “Confessionário” Luzes inimigas”, instalação vel”, elogia o curador geral setembro de 2010, premiada num país hoje governado com
Artista Premiado · Prêmio Diário Contemporâneo II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 5
Leonardo Sette
grave teor de extremismo”, O ano era 2007. “O flerte desi- “Pedras” é o registro de um
destaca o artista no texto de nibido com ideias da extrema ataque à barreira policial que
apresentação do projeto. direita foi parte importante da fecha o caminho ao escritório
Na imagem intitulada eficiente estratégia que levou do primeiro-ministro em uma
“Sarkozy-Le Pen”, vemos uma Sarkozy ao poder”, pontua época em que a França tinha
Paris às vésperas das eleições, Leonardo. até então o mais alto índice de
repleta de cartazes mostrando Em “Gás”, vemos fotógra- desemprego entre jovens da
o rosto do então candidato à fos atingidos por gás lacrimo- Europa. (A.A.)
presidência Nicolas Sarkozy gêneo durante repressão às
com o nome do líder da extre- manifestações estudantis em
ma direita Jean-Marie Le Pen. 2006. Já o díptico horizontal
6 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Prêmio Crônicas Urbanas · Artista Premiado
A beleza do caos
era 1984. “Fechei pensar no que hoje chama de
o estúdio, vendi “ficcionalização do cotidiano”.
meu equipamen- E buscou na movimentação
to, fiz um concur- apressada do ambiente urba-
so para a univer- no a poética da dissolução do
sidade e resolvi tempo, das formas, até onde
Seduzido pelo caos que é capixaba Silas de Paula des- ele se viu sufocado, entrou em estudar”, relembra. Foi morar já não seja possível distinguir
característica fundamental cobriu um novo sentido para crise. na Inglaterra, fez doutorado, realidade e ficção. “Andar no
dos grandes centros, com toda a sua fotografia. Habituado Começou a achar suas tornou-se professor. E perma- centro, durante alguns anos,
a velocidade dos atos e toda a ao preto e branco documen- imagens duras, angustiadas neceu 20 anos sem fotografar. perceber como é caótico e
complexidade da vida que há tal, clássico, e com vários tra- demais. O documental limi- Foi quando a vida acabou lhe como a maioria das pessoas
nesses espaços, o fotógrafo balhos autorais na bagagem, tava, não dava conta do que surpreendendo: a filha havia que não vivem aquele dia-a-dia
reclamam da desorganização,
me fez pensar em fazer algo”,
relembra.
Dessa inquietude nas-
ceu “Gente no Centro”, série
vencedora do Prêmio Diário
Contemporâneo de Fotografia
na categoria “Crônicas
Urbanas”. São cinco imagens
multicoloridas, quadradas,
não-nítidas, mergulhadas em
uma atmosfera de sonho, ima-
ginação. Das cenas ordinárias,
vemos irromper a figura huma-
na, sem rosto, anônima – ab-
sorvida pela pressa da rotina.
Não lhe basta a paisagem: “Eu
fotografo gente”, acentua.
VIÉS SOCIAL
nos jornais para expulsá-los do que saibam”, conta. O “outro mundo têm vendedores pelas e de sobrevivência”, define. maior que precisa ser discuti-
centro”, diz Silas. “Converso lado” a que o artista se refere ruas e são aceitos e, muitas ve- “Com as fotos percebi, mais da, alguns problemas sérios.
com eles e explico que que- é a defesa desses personagens zes, elogiados pelos turistas. ainda, que o que queremos Mas pode ser um ponto de
ro mostrar um outro lado. como elementos fundamen- Não acho que eles têm que ser expulsar é algo que dá vida ao partida para uma discussão
Mesmo desconfiados, muitos tais para a vitalidade desses expulsos e sim encontrar um centro, que é bonito e mui- sobre o assunto”. (A.A.)
me deixam fotografá-los mas, espaços. jeito de uma convivência pa- tas vezes divertido. Lógico
às vezes, eu os fotografo sem “As maiores cidades do cífica. É uma questão cultural que existe uma complexidade
Silas de Paula
8 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Prêmio Diário do Pará · Artista Premiado
Roberta Carvalho
quem estará nas projeções.
Segundo Roberta, a base do
trabalho é a experimentação
e a expressividade das formas.
“A ‘symbiosi’ é realmente uma
busca deste projeto e ela se dá
quando há uma perfeita ade-
quação do corpo (do ser huma-
no ou da arte) com a natureza.
E isso, só experimentando ver
para sentir”.
Pela qualidade plástica,
aliada ao forte apelo concei-
tual, Roberta Carvalho foi a
grande vencedora na cate-
goria Diário do Pará. Quem
analisa é Alexandre Sequeira,
que integrou a comissão de
seleção do Prêmio. “O pro-
jeto apresenta projeções em
suportes não convencionais,
fazendo conexão curiosa com
outras linguagens. E concei-
tualmente humaniza a obra. A
poética não demanda conhe-
cimento específico na área. A
pessoa é seduzida, é encan-
tada facilmente, sem contar
a elegância plástica”, diz o
artista e professor.
O projeto também será
desenvolvido na Ilha do
Combu, por meio do edital
Microprojetos Mais Cultura
Amazônia Legal, do Ministério
da Cultura. A ideia é poder le-
var as projeções para o outro
lado do rio, onde o público es-
pectador possui contato diário
e intenso com a natureza.
Pensado inicialmente como
uma proposta de interação na
cidade, o projeto certamente
tomará outra dimensão. E
para Roberta, atravessar os
ambientes – seja no contexto
urbano versus ribeirinho, ou
ainda no âmbito institucio-
nal, como rua versus museu –
é a resolução de uma grande
questão: “Afinal, a arte é para
quem?”, indaga. (D.G.)
10 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Oficinas, Palestras e Bate-papos
Em imagens, o mistério da fé
fotógrafo Foram oito anos para foto- segundo o próprio ministran- que envolvem, por exem- fotografar, qual fonte de luz
Redutos da memória
luiz br aga é o fotógr afo convidado do
ii prêmio diário contemporâneo de fotografia
Luiz Braga
Cadeiras vazias. Um corre- xícaras, para adoçar a média. três fotografias em preto e pessoas, que estão ligadas co- Bruno de Menezes, na Cidade
dor. Xícaras penduradas. Uma Na mostra “Solitude”, com fo- branco e oito coloridas, nas tidianamente àqueles objetos, Velha. Desta residência, a ima-
máquina de costura. Um ferro tografias de Luiz Braga, fotó- quais feixes de luz e tons de que surgem lembranças dos gem de um mosquiteiro e uma
de passar roupas. Um vaso de grafo convidado do II Prêmio verde se destacam – o para- tempos de outrora e do afeto luminária de uma alcova. O
cristal sobre uma toalha de Diário Contemporâneo de ense apresenta um trabalho que existe impresso nas coisas fotógrafo recorda-se imedia-
crochê. Um copo americano Fotografia, vê-se memórias diferenciado. e nos cômodos de um lar. tamente que quando criança,
com café com leite, um açu- de quem não está. Sua longa trajetória ima- A mostra retrata momen- era em um lugar como esse
careiro. Objetos que represen- A exposição segue em car- gética, marcada pela forte tos importantes da vida de que ele adormecia. Por várias
tam ausências: a falta de al- taz no Museu da Universidade presença humana, aqui se faz Luiz Braga, com situações fo- vezes recorda-se da madrinha,
guém para sentar, para passar Federal do Pará. Na série de inversa. tografadas em casas distintas, que costurava. O estalar das
pelo corredor, para beber nas 11 imagens inéditas – são É por meio da falta das como a do escritor paraense agulhas fixando a linha no
Artista Convidado II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 13
“Aos 54 anos, de repente me feita na casa de Dona Zuleide. uma imagem em detrimento
confrontei com a vida. Não A vizinha morava em uma casa de outras”, explica. No outro
perdi pai nem mãe. Eu vou ser da Travessa Tirandentes, no lado da rua, Dona Zuleide não
avô. Mas podem acontecer bairro do Reduto, em frente está mais. Ela faleceu em 2005
muitas mudanças no período de onde hoje localiza-se o seu e a casa em que morava pro-
de seis meses. A vida vem e de estúdio fotográfico. E sempre vavelmente foi vendida e agora
repente você sente o tranco. a observava na janela, com um está demolida. Resta apenas o
Vou ter que lidar em breve com cachorro pequinês nas mãos. muro frontal, com uma parte
isso”, explica-se. Católica, a vizinha sempre da porta, que está trancada
O pontapé para essa per- recebia as peregrinações da com cadeados e correntes.
cepção do trabalho surgiu com imagem de Nossa Senhora de “O que existia de afetivi-
o trabalho de uma fotógrafa Nazaré, durante a quadra do dade, de tradição nesse es-
norte-americana que fotogra- Círio. Em uma dessas visitas, paço de convivência, não há
fou a casa da avó. “Aquilo foi o em 2003, o fotógrafo decidiu mais”, lamenta o fotógrafo.
start que estava faltando pra que deveria registrar a fé da- A edição do vídeo é assinada
eu conseguir amarrar o meu quele grupo de idosos. por Alberto Bitar, editor de fo-
pensamento. Olhei e disse: Foram mais de cem foto- tografia do Diário do Pará. E
é isso. Essas fotos acabaram grafias feitas naquele mo- na trilha sonora, as ladainhas
sendo a realização de um de- mento. Luiz explica que não que são cantadas em novenas,
sejo de partilhar as minhas haveria como selecionar ape- marcadas pelo barulho das de-
lembranças com os outros”, nas uma parte para realizar molições e construções que
diz. uma mostra; era necessário assolam o bairro. (D.G.)
Mas para Luiz, o trabalho mostrar ainda o estágio da
teve outra configuração. Ele perda. “O vídeo foi feito para
foi em busca do outro para mostrar tudo, sem eleger
mostrar suas referências. O
desejo era externar o quanto
esses objetos fizeram parte da
sua vida e o remetem às pes-
soas queridas, aos momen-
pano ainda é latente. Também quintal de sua antiga casa, tos especiais, aos lugares da
lembra do crochê que ela fa- onde cadeiras de ferro foram memória. É um trabalho mais
zia. “Tinha em todo lugar. Te abandonadas. Esta é a única profundo. “No momento em
confesso que não gostava, imagem feita com objetos que que eu me lanço nesses obje-
achava cafona. Mas quando pertenceram à sua família. A tos, estou em busca do meu
saí da adolescência - quando mais recente, de 2004, e úni- sentimento”. Ao invés de foto-
negava tudo isso -, e consegui ca feita com tecnologia digital, grafar a finitude impressa nas
enxergar o que tem de carinho mostra uma cena comum das coisas ao seu redor, Luiz partiu
e afeto naqueles pontos... pas- tabernas de bairro: uma média em busca dos objetos dos ou-
sei a entender”, diz. com um açucareiro de metal tros, para através destes falar
“O conceito da exposição desgastado, “onde a colher do seu afeto e do receio das
surgiu pelas trocas afetivas, de nunca está no lugar certo”, ele perdas.
coisas que aconteceram comi- observa. Foram quase trinta
go, que falam a mesma coisa. anos para perceber a unidade VÍDEO
Essas fotos acabaram sendo entre as 11 fotografias.
a realização de um desejo de A dinâmica da produção Em outro trabalho tam-
partilhar as minhas lembran- de Luiz é assim: o tempo dá bém inédito e desta vez em
ças com os outros”, conta. o tom, a cor, o conceito. E vídeo, Luiz apresenta a crô-
“Solitude” só faz sentido nes- nica de uma relação urbana,
EXPOSIÇÃO se exato momento da existên- de bairro. O vídeo “Do outro
cia do fotógrafo. Luiz explica lado da rua”, apresentado
As fotografias, a princípio, o motivo para expor algo tão no Laboratório das Artes, no
não foram feitas para uma subjetivo: a necessidade de Museu Casa das Onze Janelas,
mostra específica. A primei- externar questões pessoais e o autor apresenta cerca de 70
ra data de 1975, e mostra o confrontar a finitude da vida. fotografias de uma novena
14 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Oficinas, Palestras e Bate-papos
A fotografia e o museu
ajuda a formar artistas. Que
importância dá para a forma-
ção nessa área? Por que re-
comendaria a um aspirante a
artista um curso formal?
contemporâneo
Eu acredito que a univer-
sidade hoje em dia é um dos
raros espaços em nossa so-
ciedade em que o debate crí-
tico continua fermentando. É
no Brasil?
R$ 1.200 – conferida a todos relaciona com instalação, ví- fotografia urbana em preto poéticas e propostas conceitu- entre homem e natureza.
os 21 artistas selecionados. Os deo, objetos ou performances, e branco e a fluidez do vídeo, ais, destinado somente a fotó- Além da premiação e da
trabalhos estão reunidos na foi conquistado pelo pernam- em uma narrativa em tom grafos paraenses ou residen- mostra, a programação prevê
mostra “Crônicas Urbanas” bucano Leonardo Sette, que confessional. tes atuantes no Pará. “Projeto ciclo de palestras, bate-papos,
em cartaz até o dia 16 de maio impressionou o júri com a Roberta Carvalho venceu Symbiosis” constrói-se de pro- encontros com artistas, ofici-
no MUFPA. instalação “Luzes Inimigas”, na categoria Diário do Pará, jeções multimídia em copas de nas e atividades de arte-edu-
em que articula o rigor da prêmio que abrange todas as árvores, discutindo a interação cação. (A.A.)
DIVERSIDADE
“É um conjunto de traba-
lhos que desmonta um en-
tendimento mais conserva-
dor. Mais do que escolher os
melhores, reunimos um grupo
que aponta questões muito re-
levantes para a discussão da
linguagem fotográfica hoje, da
sua amplitude”, diz Alexandre
Sequeira. “Premiados e sele-
cionados circunscrevem um
campo de discussão extenso,
reflexões maduras, que preci-
sam ser observadas”.
Marisa Mokarzel concor- José Diniz Everaldo Nascimento
da. “O júri ficou atento para
o fato de que não se trata de
um salão, ou seja, a discussão
vai muito além do caráter pu-
ramente competitivo. Temos,
afinal, um grupo de 21 premia-
dos, entre artistas iniciantes
e experientes. São crônicas
urbanas sob os mais variados
pontos de vista, o exercício da
fotografia em suas múltiplas
possibilidades, sem distin-
ções”, complementa.
Premiado na categoria
“Crônicas Urbanas”, destina-
da a trabalhos de abordagem Fernanda Grigolin Francilins Castilho
Viviane Gueller
20 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Diàrios da Cidade · Mostra Convidada
Cezar Magalhães