II Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia - Tablóide

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mostras fotográficas

“Crônicas Urbanas”
e “Solitude”
de 15 de março a 16 de maio
Museu da UFPa

“Diários da Cidade”
e “Do Outro Lado da Rua”
de 16 de março a 17 de abril
Museu Casa das Onze Janelas

atividades educaTIVAS

OFICINAS · PALESTRAS

ENCONTROS COM ARTISTAS

ENTRADA FRANCA

Belém 2011
2 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Crônicas Urbanas
Ficha Técnica
Jader Barbalho Filho
diretor presidente
do diário do pará
Sumário Crônicas Urbanas
Camilo Centeno Passeio pela fotografia brasileira 3 A história da cidade tem com a história da fotografia uma
diretor geral da rba Leonardo Sette 4
Francisco Melo
cumplicidade especial. O século XIX acolheu a invenção e o de-
diretor financeiro
Luzes inimigas 4 senvolvimento da imagem fotográfica ao passo que imprimiu
RBA - Marketing Silas de Paula 6 às cidades o início de uma expansão espetacular. A dinâmica
Daniella Barion A beleza do caos 6 urbana no século da revolução industrial se viu refletida na ex-
gerente de marketing Roberta Carvalho 8 pansão da linguagem fotográfica. A imagem da cidade moder-
Cleide Monteiro Árvores que pulsam 8
coordenadora de marketing na se desenvolveu nas vanguardas fotográficas do século XX
Beleza que nasce do azul 10 tanto no processo fragmentado das linguagens experimentais
Goretti Coutinho
analista de eventos Em imagens, o mistério da fé 11 como também na nova atitude da fotografia documental como
Projeto Prêmio Diário Redutos da memória 12 diário do cotidiano. A modernidade urbana experimentou sua
Contemporâneo De Fotografia A fotografia e o museu contemporâneo 14 utopia na mesma medida em que a fotografia viveu sua utopia
Mariano Klautau Filho Projeto também investe em formação 15
supervisão e curadoria geral moderna. Esta experiência se intensifica quando o fotógrafo
Lana Machado
Fotografia sem fronteiras 16 desdobra a sua linguagem como resposta aos desafios da cidade
coordenadora de produção Das páginas para a galeria 20 contemporânea.
Irene Almeida · Regina Fonseca
produção
Joyce Nabiça · Rosinete Moraes
A cidade é um lugar privilegiado de ação da cultura. Nele o ar-
assistentes de produção tista contemporâneo é parte importante na reconstrução dos
Andrea Kellermann valores urbanos. Ele pensa a cidade como meio ambiente social
designer gráfico
e artístico e o re-configura como espaço concreto e ficcional
Amanda Aguiar · Dominik Giusti
assessoria de imprensa quando dialoga diretamente com ele. O fotógrafo não só é um
textos e entrevistas atento observador da cidade desde o seu nascimento, como
RBA - Tecnologia de Informática também é um ator fundamental nas representações e identida-
Antonio Fonseca des sociais do meio urbano. A cidade do século XXI é desafiadora
gerente de ti
para o fotógrafo contemporâneo porque é constituída de crise e
Aldo Alves
gerente de conteúdo online superação diante das questões sociais, ambientais e artísticas.
Leonidas Amorim
supervisor de desenvolvimento Espaço de ficção e realidade, a cidade se torna para fotografia

Oficinas
Oscar Alencar matéria inestimável constante de reflexão das relações entre
supervisor de webdesign
Museu da Universidade
arte e sociedade. As instituições internacionais manterão em
Federal do Pará 2011 em suas pautas a necessária discussão sobre meio ambiente
Jussara da Silveira Derenji
Processos da Cianotipia com Eduardo Kalif e florestas. Este fato reforçará a importância da auto-sustenta-
diretora Período: 7 a 11 de fevereiro bilidade no desenvolvimento da relação entre cultura e natureza.
Nilma das Graças Brasil de Oliveira Fotografia Documental com Guy Veloso Diante disto, propomos ao artista um contraponto com o tema
coordenadoria cultural Período: 22 a 26 de março
Norma Sueli Monte de Assis “Crônicas Urbanas”: traduzir a cidade como a floresta cultural
coordenadoria administrativa
Diálogos Fotográficos com Alexandre Sequeira que precisa ser repensada na mesma medida que as florestas
Raimundo Augusto Vianna Inscrições: 9 a 25 de março naturais e construir as imagens e histórias vividas no espaço
coordenadoria de acervo Período: 2 a 20 de abril urbano. O Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia em sua
e documentacao
Manoel Lima Pacheco
técnico de montagem Bate-papos abrangência nacional ocupa um posto de observação outro que
não é o sudeste brasileiro, e sim o norte-amazônico-urbano.
Paulo Souza Neste sentido, a cidade de Belém representa também uma ou-
coordenador ação Com Ernani Chaves trora utopia e atual crise urbana dentro da floresta. Convocamos
sócio-educativa
24/03 às 19h – IAP o fotógrafo a tomar a cidade como matéria em sua proposta
Toky Popytek Coelho
bolsista/ufpa-monitoria Com Fotojornalistas artística, seja qual for sua linguagem: do documental ao poético,
e ação educativa 31/03 às 19h – Museu Casa das Onze Janelas da instalação às ações, do cotidiano social às ficções subjetivas.
Tablóide Com Luiz Braga Convidamos o fotógrafo a recriar o tempo urbano e refletir sobre
Amanda Aguiar e Dominik Giusti 06/04 às 19h – IAP a cidade como meio-ambiente, espaço da experiência social e
textos Com Marisa Mokarzel
Amanda Aguiar lugar das imagens e vivências.
edição
28/04 às 19h – IAP
Andrea Kellermann Com Mariano Klautau Mariano Klautau Filho
design 12/05 às 19h – IAP Curador do Projeto Prêmio Diário Contemporâneo de Fotografia
Crônicas Urbanas II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 3

Passeio pela fotografia brasileira


ii prêmio diário contemporâneo revela olhares sobre a cidade PREMIADOS
A dinâmica urbana como Crônicas Urbanas, destina- do projeto, que recebeu 247 Prêmio Crônicas Urbanas
metáfora da própria ex- do aos fotógrafos que apre- inscrições de 45 cidades bra- Silas José de Paula (CE)
pansão da linguagem foto- sentem trabalhos de abor- sileiras, consagrou os paraen-
gráf ica norteia o II Prêmio dagem documental, voltada ses Octávio Cardoso e Paulo Prêmio Diário Contemporâneo
Diário Contemporâneo de ao cotidiano ou originados Wagner Oliveira, e o coletivo Leonardo Sette (PE)
Fotografia. Depois de se de- de um projeto autoral de do- Parênteses, de São Paulo, es-
bruçar sobre a diversidade cumentação; Prêmio Diário colhidos nas categorias “Brasil Prêmio Diário do Pará
cultural brasileira em sua Contemporâneo, voltado a Brasis”, “Diário do Pará” e Roberta Carvalho (PA)
primeira edição, desta vez o todos os artistas seleciona- “Diário Contemporâneo”,
projeto toma como ponto de dos cujo trabalho fotográfico respectivamente. SAIBA MAIS
partida a cidade como lugar dialogue com a instalação, ví-
privilegiado de ação da cul- deo, objeto ou performance; FORMAÇÃO
tura. E propõe ao artista um e Prêmio Diário do Pará, vol- Para ver a lista de selecionados e a
exercício sobre o universo tado exclusivamente a fotó- O projeto prevê uma ampla programação completa do projeto, acesse
urbano, seu cotidiano, suas grafos paraenses ou atuantes programação que inclui ciclo www.diariocontemporaneo.com.br.
imagens e representações. no Pará por pelo menos três de palestras, encontros com
A ideia é exaltar a foto- anos, abrangendo todas as artistas, oficinas, atividades Novidades também pelo Twitter:
graf ia em suas múltiplas propostas conceituais. de arte-educação e publica- www.twitter.com/premiodiario.
possibilidades de lingua- Os trabalhos foram julga- ção de livro. Segundo Jader
gem, suporte e poética, sob dos por uma comissão forma- Barbalho Filho, diretor presi-
o tema “Crônicas Urbanas”. da pelo pesquisador e artista dente do Diário, o caráter de
O concurso, voltado a ar- visual Alexandre Sequeira, e formação do projeto, que não
tistas de todo o Brasil, ofe- os pesquisadores e curado- se encerra enquanto prêmio, “Nosso estado sempre se Diário Contemporâneo tem
receu três prêmios no valor res Tadeu Chiarelli e Marisa busca incentivar o surgimento destacou pelo talento dos o objetivo claro de aproxi-
de R$ 10 mil cada: Prêmio Mokarzel. A primeira edição de novos artistas. seus fotógrafos. E o Prêmio mar artistas do público e, ao
mesmo tempo, dar a chance
Anderson Coelho

aos paraenses ou residentes


no estado de conhecer ainda
mais a produção local e na-
cional. As oficinas e ativida-
des programadas durante o
evento permitem a formação,
o aperfeiçoamento e a reve-
lação de novos talentos”, diz.
Na ocasião do lançamen-
to, em dezembro, Karla de
Melo gerente de comunica-
ção regional da Vale, patroci-
nadora do projeto, destacou
que “o catálogo proporciona
um convite: a partir da visão
particular de cada fotógrafo,
podemos entender melhor a
diversidade que torna nosso
país um lugar único. Além
disso, cada fotograf ia pro-
porciona um deleite visual
que faz bem ao olhos e à
alma”. (A.A.)
4 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Prêmio Diário Contemporâneo · Artista Premiado

Leonardo Sette do projeto, Mariano Klautau


Filho. “Conversam na mesma
com Menção Honrosa no Prix
Photo Web Aliança Francesa

Luzes inimigas
medida o rigor da fotografia em 2010. A série fará itinerân-
urbana em preto e branco e a cia em todas as unidades da
fluidez do vídeo, a serviço de Aliança Francesa do Brasil, a
uma narrativa extremamente partir de março de 2011. Casal
pessoal”, destaca. de Betânia, Fotografia feita no
O júri, formado pelo cura- sertão pernambucano repro-
O pernambucano Leonardo colecionam prêmios em festi- vencedora do II Prêmio dor, historiador e crítico de duz o retrato tradicional de pa-
Sette é dono de uma trajetó- vais pelo Brasil e ele se pre- Diár io Con t emp or âne o arte Tadeu Chiarelli; a cura- rede e foi uma das ganhadoras
ria reconhecida no cinema. para para iniciar as filmagens de Fotograf ia – Crônicas dora e professora Marisa do 4° Concurso de Fotografia
Graduado em Historia do de “Leme”, filme contempla- Urbanas, na categoria “Diário Mokarzel; e o fotógrafo e Pernambuco Nação Cultural
Cinema pela Université Paris, do pelo Programa Petrobras Contemporâneo”. professor Alexandre Sequeira 2010.
ele produziu e montou dois Cultural. Composta por 16 fotos – analisou 254 trabalhos vin-
longas e mais de 20 curtas, Só que há pouco menos acompanhadas pela exibição dos de todas as regiões do TEOR POLÍTICO
além de ter ministrado oficinas de um ano, Leonardo se des- contínua de um vídeo de sete Brasil. Cada um dos três ven-
de vídeo para jovens indígenas cobriu fotógrafo. E nada mais minutos, o trabalho - pro- cedores receberá um prêmio Em “As Luzes Inimigas”,
em várias partes da Amazônia. natural que tanta familiarida- duzido entre 2005 e 2008 na de R$ 10 mil. protestos de rua parecem
Como crítico, colabora desde de com o universo das ima- Cidade-Luz - levanta ques- Foi em om outubro de 2010 aprisionados como inofensivas
2006 com a revista Cinética, gens em movimento também tões sobre formatos, vídeo, que Leonardo produziu seu imagens de arquivo, graças a
publicação eletrônica focada impregnasse sua fotografia cinema, cinefilia e a própria primeiro trabalho fotográfico, um cenário antiquado – e ao
na reflexão crítica e ensaística estática fotografia. “‘As Luzes Inimigas’ A imagem apropriada, série preto e branco documental es-
sobre o cinema e o audiovisu- O artista celebra Paris é quase um roteiro de cine- de 12 fotografias, realizadas colhido pelo fotógrafo. “O ex-
al – também conhecida pelos como palco político e berço ma, fragmentado e visual e em aldeias indígenas amazô- cesso de luz contorna a dureza
textos ácidos. Seus curtas esplêndido da imagem em “As com apuro técnico impecá- nicas, entre julho de 2005 e de uma rica e velha sociedade,
“Ocidente” e “Confessionário” Luzes inimigas”, instalação vel”, elogia o curador geral setembro de 2010, premiada num país hoje governado com
Artista Premiado · Prêmio Diário Contemporâneo II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 5

Leonardo Sette
grave teor de extremismo”, O ano era 2007. “O flerte desi- “Pedras” é o registro de um
destaca o artista no texto de nibido com ideias da extrema ataque à barreira policial que
apresentação do projeto. direita foi parte importante da fecha o caminho ao escritório
Na imagem intitulada eficiente estratégia que levou do primeiro-ministro em uma
“Sarkozy-Le Pen”, vemos uma Sarkozy ao poder”, pontua época em que a França tinha
Paris às vésperas das eleições, Leonardo. até então o mais alto índice de
repleta de cartazes mostrando Em “Gás”, vemos fotógra- desemprego entre jovens da
o rosto do então candidato à fos atingidos por gás lacrimo- Europa. (A.A.)
presidência Nicolas Sarkozy gêneo durante repressão às
com o nome do líder da extre- manifestações estudantis em
ma direita Jean-Marie Le Pen. 2006. Já o díptico horizontal
6 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Prêmio Crônicas Urbanas · Artista Premiado

Silas de Paula ele queria fazer


e mostrar. O ano
se tornado fotógrafa.
Com ela, Silas aprendeu a

A beleza do caos
era 1984. “Fechei pensar no que hoje chama de
o estúdio, vendi “ficcionalização do cotidiano”.
meu equipamen- E buscou na movimentação
to, fiz um concur- apressada do ambiente urba-
so para a univer- no a poética da dissolução do
sidade e resolvi tempo, das formas, até onde
Seduzido pelo caos que é capixaba Silas de Paula des- ele se viu sufocado, entrou em estudar”, relembra. Foi morar já não seja possível distinguir
característica fundamental cobriu um novo sentido para crise. na Inglaterra, fez doutorado, realidade e ficção. “Andar no
dos grandes centros, com toda a sua fotografia. Habituado Começou a achar suas tornou-se professor. E perma- centro, durante alguns anos,
a velocidade dos atos e toda a ao preto e branco documen- imagens duras, angustiadas neceu 20 anos sem fotografar. perceber como é caótico e
complexidade da vida que há tal, clássico, e com vários tra- demais. O documental limi- Foi quando a vida acabou lhe como a maioria das pessoas
nesses espaços, o fotógrafo balhos autorais na bagagem, tava, não dava conta do que surpreendendo: a filha havia que não vivem aquele dia-a-dia
reclamam da desorganização,
me fez pensar em fazer algo”,
relembra.
Dessa inquietude nas-
ceu “Gente no Centro”, série
vencedora do Prêmio Diário
Contemporâneo de Fotografia
na categoria “Crônicas
Urbanas”. São cinco imagens
multicoloridas, quadradas,
não-nítidas, mergulhadas em
uma atmosfera de sonho, ima-
ginação. Das cenas ordinárias,
vemos irromper a figura huma-
na, sem rosto, anônima – ab-
sorvida pela pressa da rotina.
Não lhe basta a paisagem: “Eu
fotografo gente”, acentua.

VIÉS SOCIAL

A experiência como profes-


sor na Universidade Federal
do Ceará, na convivência com
os alunos e seus questiona-
mentos, também aguçou o
olhar do artista. Em uma das
várias manhãs de exercícios
fotográficos no Mercado São
Sebastião, em Fortaleza, um
personagem em especial lhe
chamou a atenção: o vendedor
ambulante. “A mídia pauta es-
tes vendedores como uma pra-
ga. Mas eles, com suas cores,
dão vida ao centro”, defende.
É claro que não é fácil fo-
tografá – los. Camelôs não
costumam simpatizar com
fotógrafos. “Eles acham que
vamos fazer uma denúncia
Artista Premiado · Prêmio Crônicas Urbanas II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 7

nos jornais para expulsá-los do que saibam”, conta. O “outro mundo têm vendedores pelas e de sobrevivência”, define. maior que precisa ser discuti-
centro”, diz Silas. “Converso lado” a que o artista se refere ruas e são aceitos e, muitas ve- “Com as fotos percebi, mais da, alguns problemas sérios.
com eles e explico que que- é a defesa desses personagens zes, elogiados pelos turistas. ainda, que o que queremos Mas pode ser um ponto de
ro mostrar um outro lado. como elementos fundamen- Não acho que eles têm que ser expulsar é algo que dá vida ao partida para uma discussão
Mesmo desconfiados, muitos tais para a vitalidade desses expulsos e sim encontrar um centro, que é bonito e mui- sobre o assunto”. (A.A.)
me deixam fotografá-los mas, espaços. jeito de uma convivência pa- tas vezes divertido. Lógico
às vezes, eu os fotografo sem “As maiores cidades do cífica. É uma questão cultural que existe uma complexidade

Silas de Paula
8 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Prêmio Diário do Pará · Artista Premiado

Roberta Carvalho EXPERIMENTAÇÃO

Árvores que pulsam


A artista foi convidada pela
Associação Fotoativa para re-
alizar projeções durante o
Colóquio de Fotografia, há
dois anos, quando teve o in-
sight de que deveria integrar
Fugir de obviedades e de uma imagem à copa de um dos
temas clichês para integrar jambeiros da Casa das Onze
arte e natureza é um desafio. Janelas. “Fui olhar o espaço
A artista Roberta Carvalho para planejar a ação, que era
tem isso em mente. O desejo no piso superior, e procurei,
de trabalhar instigada pela procurei... Pensei em várias
relação homem / natureza coisas e fui pra casa. Dormi
sempre foi um desejo antigo. pensando na proposta e acor-
Na verdade, ela busca essa dei com a imagem exata e o
integração para compreender local a ser projetado: a árvo-
algo primário: que o homem re”, relembra a artista, acres-
é natureza. É tudo orgânico, centando que o resultado foi a
biológico. Não à toa o ter- conjunção de diversas experi-
mo que define essa relação, ências precedentes.
“simbiose”, dá título a um de Pronto. Estava feito o
seus trabalhos em que a ideia primeiro “Symbiosis”, que
primeira está imbricada com deu vida ao desejo íntimo de
a construção de um discurso Roberta de falar de natureza
artístico em que homem e na- por meio da da arte e também
tureza são elementos centrais. de levar a arte para um espaço
“A ideia do ‘Symbiosis’ é mais acessível, de fácil enten-
restaurar essa identidade e dimento. “Para mim, a arte
fazer com que literalmente deve apontar para a vida e não
nos vejamos nessa natureza para arte”, explica-se. Agora
da qual nos separamos e vice- consolidado como projeto de
-versa”, explica. Simbiose é a projeção de fotografia e ví-
palavra usada para descrever a deo, o “Symbiosis” tem uma
relação entre dois ou mais or- metodologia própria e um dos
ganismos de espécies diferen- processos de pesquisa é fazer
tes, em que não há perdas para um estudo formal das copas
nenhum deles e acontece de das árvores para selecionar a
forma mutuamente vantajosa. figura humana a ser projetada.
Projeto Symbiosis – ven- O critério básico da esco-
cedor na categoria Diário lha do corpo a ser projetado
do Pará, do II Prêmio Diário relaciona-se bastante com
Contemporâneo de Fotografia sua questão formal. Já houve
– foi sendo desenvolvido ao casos, no entanto, em que a
longo dos anos, por meio de relação conceitual falou mais
experimentação artística com alto na opção pela imagem. Em
imagem e vídeo e pesquisas uma das exibições do projeto,
sobre linguagem audiovisual. E por exemplo, o rosto de uma
quase sempre com um desejo criança foi projetado em uma
de aliar o projeto às questões árvore “jovem”, no meio de di-
da natureza, com uma pro- versas árvores muito maiores.
posta não usual, na tentativa As imagens em geral são de
de descobrir possíveis espaços rostos de homens, crianças,
de projeção, não óbvios. e da própria artista, mas não
Artista Premiado · Prêmio Diário do Pará II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 9

há um rigor para a escolha de

Roberta Carvalho
quem estará nas projeções.
Segundo Roberta, a base do
trabalho é a experimentação
e a expressividade das formas.
“A ‘symbiosi’ é realmente uma
busca deste projeto e ela se dá
quando há uma perfeita ade-
quação do corpo (do ser huma-
no ou da arte) com a natureza.
E isso, só experimentando ver
para sentir”.
Pela qualidade plástica,
aliada ao forte apelo concei-
tual, Roberta Carvalho foi a
grande vencedora na cate-
goria Diário do Pará. Quem
analisa é Alexandre Sequeira,
que integrou a comissão de
seleção do Prêmio. “O pro-
jeto apresenta projeções em
suportes não convencionais,
fazendo conexão curiosa com
outras linguagens. E concei-
tualmente humaniza a obra. A
poética não demanda conhe-
cimento específico na área. A
pessoa é seduzida, é encan-
tada facilmente, sem contar
a elegância plástica”, diz o
artista e professor.
O projeto também será
desenvolvido na Ilha do
Combu, por meio do edital
Microprojetos Mais Cultura
Amazônia Legal, do Ministério
da Cultura. A ideia é poder le-
var as projeções para o outro
lado do rio, onde o público es-
pectador possui contato diário
e intenso com a natureza.
Pensado inicialmente como
uma proposta de interação na
cidade, o projeto certamente
tomará outra dimensão. E
para Roberta, atravessar os
ambientes – seja no contexto
urbano versus ribeirinho, ou
ainda no âmbito institucio-
nal, como rua versus museu –
é a resolução de uma grande
questão: “Afinal, a arte é para
quem?”, indaga. (D.G.)
10 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Oficinas, Palestras e Bate-papos

Beleza que nasce do azul


fotógrafo eduardo kalif ministra a oficina “processos de cianotipia”
refletir historicamente seus Outro aspecto suscitado
Fotos Eduardo Kalif

usos sociais e midiáticos”, pelos processos artesanais,


defende. completa Kalif, é a questão
A pesquisa começou na do “momentum fotográfico”,
Fundação Curro Velho – onde o intervalo de tempo em que a
Eduardo trabalhou por 17 anos fotografia é produzida - o mo-
à frente da gerência de audio- mento em que é construída a
visual - e foi aprofundada no imagem.
Instituto de Artes do Pará, “Hoje tudo é tão instan-
onde o artista foi bolsista por tâneo que não há tempo de
duas vezes. avaliar e refletir sobre o que
Para Kalif, foram opor- se faz. A produção de imagens
tunidades imprescindíveis chega aos zilhões por minuto,
na sua trajetória com a livre no mundo todo. São quase dez
experimentação. Em 2006, bilhões de olhos produzindo
ele desenvolveu o projeto ou consumindo imagens.
“Identidades Refletidas”, que Hoje quase todo mundo
resultou em trabalhos em fotografa, no entanto, com
grande formato, compostos pouco ou nenhum poder de
por imagens “fotografadas proposição e transformação.
cianotipicamente” de mora- Cabe agora ao educador visual
dores do centro comercial de redirecionar seu olhar para a
Belém. Imagens gigantes em possibilidade de provocar a re-
silhueta, enigmas impressos flexão: consumimos ou somos
Na Paris de 1839, o gordi- mais de dez anos. A técnica Cianotipia”, que apresentou a em anil. consumidos pelas imagens?”,
nho e bigodudo Louis Jacques exige paciência. Banhada na técnica também conhecida “Ali, discutia-se a fotografia questiona.
Daguerre escrevia seu nome luz do sol por longos minutos, como “blueprint” a alunos de como identidade e identifica-
na história como autor do imersa em sais de ferro, a folha arte, fotógrafos profissionais e ção. Discutia-se também os
primeiro processo fotográfi- de papel é lavada com cuida- amadores, trabalhando o con- suportes fotográficos e seus
co. Depois de anos de expe- do em água corrente. Ao secar, ceito de educação ambiental limites, além do conceito
rimentos secretos, ele enfim origina imagens marcadas por patrimonial. mesmo de fotografia, como
desvendara os segredos da um azul saturado, intenso, ví- linguagem liberta dos equi-
câmara escura. vido. “Os processos fotográ- DISCUSSÃO CRÍTICA pamentos tecnológicos”, ex-
Entretanto, o êxito de ficos artesanais do século XIX plicita. (A.A.)
Daguerre, tido como mar- são excelentes provocadores O interesse pela cianotipia
co oficial do surgimento da estéticos contemporâneos, - a “alquimia luminosa”, como
fotografia, não sepultou os com enorme potencial de ex- o próprio fotógrafo define -
processos artesanais que lhe pressão plástica para o fotó- não veio simplesmente como
precederam. E a simplicida- grafo ou artista visual”, des- curiosidade histórica, mas a
de dessas experiências – que taca Kalif. partir da possibilidade da sua
parecem mágicas diante do utilização como recurso para
automatismo da fotografia BLUEPRINT discussão crítica da imagem.
digital – faz com que sejam “Entendendo a produção da
constantemente revisitadas Convidado do II Prêmio fotografia, compreendendo
por artistas contemporâneos. Diário Contemporâneo de fo- a tecnologia que a concebe,
Um desses processos, a tografia – “Crônicas Ubanas”, você se torna um pouco mais
cianotipia, seduz o olhar do ele ministrou entre 7 e 11 de fe- capaz de avaliar os processos
fotógrafo Eduardo Kalif há vereiro a oficina “Processos da ideológicos que a motivam e
Oficinas, Palestras e Bate-papos II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 11

Em imagens, o mistério da fé
fotógrafo Foram oito anos para foto- segundo o próprio ministran- que envolvem, por exem- fotografar, qual fonte de luz

guy veloso grafar 118 grupos em todas as


cinco regiões do Brasil. Mas
te. Com o recorte do projeto
“Penitentes”, densa pesquisa
plo, técnicas de abordagem
pessoal.
aproveitar.
“Meu equipamento é dis-
ministra até chegar à completude, Guy iniciada em 2002, Guy foi con- creto e o primeiro contato é

a oficina construiu uma rede de infor-


mações e contatos necessários
vidado pelos curadores Moacir
dos Anjos e Agnaldo Farias para
PESQUISA sem a câmera. Já fiquei qua-
tro anos para obter autori-
“fotografia para planejar suas viagens e compor a mostra oficial da 29ª Para fotografar os grupos zação e quando consegui o

documental” obter permissão para fotogra-


far. O percurso deste projeto é
Bienal de São Paulo em 2010.
Durante a oficina, o fotó-
de alimentadores das almas,
como também são conhecidos
pneu do carro que eu estava
furou”, conta. Isso aconteceu
o cerne da oficina “Fotografia grafo mostrará como se desen- os penitentes, Guy precisou em Juazeiro, na Bahia. O nor-
Para compor a série Documental”, o segundo cur- volveram as pesquisas prévia contatar antes historiadores, deste foi a região onde tudo
“Penitentes: dos Ritos de so oferecido pelo II Prêmio e de campo. “Falaremos sobre sociólogos, antropólogos, e começou e onde se tem maior
Sangue à Fascinação do Fim Diário Contemporâneo de como elaborar um projeto prá- entidades como secretarias registro de penitentes. Mas
do Mundo”, o fotógrafo Guy Fotografia. A atividade, gra- tico de fotografia documental e de cultura municipais, além em 2009 Guy começou a supor
Veloso foi até comunidades tuita, acontece entre 22 e 26 das fases que envolvem o pla- de representantes dos pró- poderiam existir penitentes
distantes do interior do país de março. nejamento, desde a escolha prios grupos. nas cinco regiões brasileiras.
e lá passou vários períodos, Saber como elaborar um do tema, até a pré-produção, Antes de fotografar, sem- Jamais pesquisador algum
como Semana Santa e Dia de projeto de pesquisa e de reali- os contatos, a exibição, pós- pre procura conversar com os divulgou essa informação. Guy
Finados, em busca de grupos zação de um ensaio deste gê- -produção, etc”, explica. fotografados, entender como Veloso testemunhou os grupos
que ainda hoje realizam rituais nero é o primeiro passo para a Além disso, a oficina tam- se dá o ritual, imaginar qual religiosos de norte a sul. A pes-
de penitência. consolidação de um trabalho, bém irá tratar de elementos a melhor localização para quisa foi o suporte essencial
para a realização do projeto,
que no início era intuitivo.
Foto Guy Veloso

“Agora é tudo mais sistemati-


zado. O estudo é fundamental.
É importante sempre querer sa-
ber mais sobre o assunto, tanto
historicamente quanto emocio-
nalmente. O ensaio sai sempre
melhor”, destaca o fotógrafo.
Exemplos do envolvimen-
to emocional foram algumas
intempéries no meio do proje-
to, como furto de uma câmera
filmadora em Aracajú, dengue
em Oriximiná, depressão no
Ceará em decorrência do tema
e brigas por telefone com
a então namorada. “Nunca
pensei em desistir, mas uma
vez já ‘dei um tempo’, saí de
Juazeiro com raiva, estava fi-
cando tenso demais com os
cânticos tristes e evocações à
morte. Fui para Recife, para a
praia e fiquei apenas dois dias.
Depois voltei correndo para
lá, para o sertão, para o meu
tema”. (D.G.)
12 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Artista Convidado

Redutos da memória
luiz br aga é o fotógr afo convidado do
ii prêmio diário contemporâneo de fotografia
Luiz Braga

Cadeiras vazias. Um corre- xícaras, para adoçar a média. três fotografias em preto e pessoas, que estão ligadas co- Bruno de Menezes, na Cidade
dor. Xícaras penduradas. Uma Na mostra “Solitude”, com fo- branco e oito coloridas, nas tidianamente àqueles objetos, Velha. Desta residência, a ima-
máquina de costura. Um ferro tografias de Luiz Braga, fotó- quais feixes de luz e tons de que surgem lembranças dos gem de um mosquiteiro e uma
de passar roupas. Um vaso de grafo convidado do II Prêmio verde se destacam – o para- tempos de outrora e do afeto luminária de uma alcova. O
cristal sobre uma toalha de Diário Contemporâneo de ense apresenta um trabalho que existe impresso nas coisas fotógrafo recorda-se imedia-
crochê. Um copo americano Fotografia, vê-se memórias diferenciado. e nos cômodos de um lar. tamente que quando criança,
com café com leite, um açu- de quem não está. Sua longa trajetória ima- A mostra retrata momen- era em um lugar como esse
careiro. Objetos que represen- A exposição segue em car- gética, marcada pela forte tos importantes da vida de que ele adormecia. Por várias
tam ausências: a falta de al- taz no Museu da Universidade presença humana, aqui se faz Luiz Braga, com situações fo- vezes recorda-se da madrinha,
guém para sentar, para passar Federal do Pará. Na série de inversa. tografadas em casas distintas, que costurava. O estalar das
pelo corredor, para beber nas 11 imagens inéditas – são É por meio da falta das como a do escritor paraense agulhas fixando a linha no
Artista Convidado II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 13

“Aos 54 anos, de repente me feita na casa de Dona Zuleide. uma imagem em detrimento
confrontei com a vida. Não A vizinha morava em uma casa de outras”, explica. No outro
perdi pai nem mãe. Eu vou ser da Travessa Tirandentes, no lado da rua, Dona Zuleide não
avô. Mas podem acontecer bairro do Reduto, em frente está mais. Ela faleceu em 2005
muitas mudanças no período de onde hoje localiza-se o seu e a casa em que morava pro-
de seis meses. A vida vem e de estúdio fotográfico. E sempre vavelmente foi vendida e agora
repente você sente o tranco. a observava na janela, com um está demolida. Resta apenas o
Vou ter que lidar em breve com cachorro pequinês nas mãos. muro frontal, com uma parte
isso”, explica-se. Católica, a vizinha sempre da porta, que está trancada
O pontapé para essa per- recebia as peregrinações da com cadeados e correntes.
cepção do trabalho surgiu com imagem de Nossa Senhora de “O que existia de afetivi-
o trabalho de uma fotógrafa Nazaré, durante a quadra do dade, de tradição nesse es-
norte-americana que fotogra- Círio. Em uma dessas visitas, paço de convivência, não há
fou a casa da avó. “Aquilo foi o em 2003, o fotógrafo decidiu mais”, lamenta o fotógrafo.
start que estava faltando pra que deveria registrar a fé da- A edição do vídeo é assinada
eu conseguir amarrar o meu quele grupo de idosos. por Alberto Bitar, editor de fo-
pensamento. Olhei e disse: Foram mais de cem foto- tografia do Diário do Pará. E
é isso. Essas fotos acabaram grafias feitas naquele mo- na trilha sonora, as ladainhas
sendo a realização de um de- mento. Luiz explica que não que são cantadas em novenas,
sejo de partilhar as minhas haveria como selecionar ape- marcadas pelo barulho das de-
lembranças com os outros”, nas uma parte para realizar molições e construções que
diz. uma mostra; era necessário assolam o bairro. (D.G.)
Mas para Luiz, o trabalho mostrar ainda o estágio da
teve outra configuração. Ele perda. “O vídeo foi feito para
foi em busca do outro para mostrar tudo, sem eleger
mostrar suas referências. O
desejo era externar o quanto
esses objetos fizeram parte da
sua vida e o remetem às pes-
soas queridas, aos momen-
pano ainda é latente. Também quintal de sua antiga casa, tos especiais, aos lugares da
lembra do crochê que ela fa- onde cadeiras de ferro foram memória. É um trabalho mais
zia. “Tinha em todo lugar. Te abandonadas. Esta é a única profundo. “No momento em
confesso que não gostava, imagem feita com objetos que que eu me lanço nesses obje-
achava cafona. Mas quando pertenceram à sua família. A tos, estou em busca do meu
saí da adolescência - quando mais recente, de 2004, e úni- sentimento”. Ao invés de foto-
negava tudo isso -, e consegui ca feita com tecnologia digital, grafar a finitude impressa nas
enxergar o que tem de carinho mostra uma cena comum das coisas ao seu redor, Luiz partiu
e afeto naqueles pontos... pas- tabernas de bairro: uma média em busca dos objetos dos ou-
sei a entender”, diz. com um açucareiro de metal tros, para através destes falar
“O conceito da exposição desgastado, “onde a colher do seu afeto e do receio das
surgiu pelas trocas afetivas, de nunca está no lugar certo”, ele perdas.
coisas que aconteceram comi- observa. Foram quase trinta
go, que falam a mesma coisa. anos para perceber a unidade VÍDEO
Essas fotos acabaram sendo entre as 11 fotografias.
a realização de um desejo de A dinâmica da produção Em outro trabalho tam-
partilhar as minhas lembran- de Luiz é assim: o tempo dá bém inédito e desta vez em
ças com os outros”, conta. o tom, a cor, o conceito. E vídeo, Luiz apresenta a crô-
“Solitude” só faz sentido nes- nica de uma relação urbana,
EXPOSIÇÃO se exato momento da existên- de bairro. O vídeo “Do outro
cia do fotógrafo. Luiz explica lado da rua”, apresentado
As fotografias, a princípio, o motivo para expor algo tão no Laboratório das Artes, no
não foram feitas para uma subjetivo: a necessidade de Museu Casa das Onze Janelas,
mostra específica. A primei- externar questões pessoais e o autor apresenta cerca de 70
ra data de 1975, e mostra o confrontar a finitude da vida. fotografias de uma novena
14 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Oficinas, Palestras e Bate-papos

A fotografia e o museu
ajuda a formar artistas. Que
importância dá para a forma-
ção nessa área? Por que re-
comendaria a um aspirante a
artista um curso formal?

contemporâneo
Eu acredito que a univer-
sidade hoje em dia é um dos
raros espaços em nossa so-
ciedade em que o debate crí-
tico continua fermentando. É

crítico de e pesquisa”, em que discutiu


temas como a inserção cada
museológico e museográfico
atento será possível diminuir
obrigará a todos os museus da
Universidade a empreenderem
neste sentido que recomendo
aos aspirantes a artistas que
arte tadeu vez mais forte da fotografia na o abismo que há entre públi- mudanças significativas em frequentem a universidade por-

chiarelli arte contemporânea e o papel


cultural que exerce o museu de
co e arte contemporânea.
Como isso se dá, na prática?
seus respectivos regimentos.
Tal necessidade de mudança
que ali, mais do que aprender
técnicas e procedimentos ele
realizou arte hoje. Penso que o museu – e es- estrutural coincide com o pe- complementará sua formação

bate-papo “Um museu de arte con-


temporânea pode ter um pa-
tou pensando em um museu
de arte contemporânea – deve
ríodo de preparação de mu-
dança física do MAC-USP que
no diálogo franco e crítico com
professores e colegas. Porque
no museu pel mais ativo do que aquele explicitar ao máximo sua es- deverá em breve ocupar um o artista hoje em dia – e já faz

da ufpa de simples armazém de obras


e/ou de balcão para exposi-
trutura, pois, assim, deixará
claro os parâmetros que re-
espaço no Parque Ibirapuera.
E o mais interessante é que
tempo! – deixou de ser um mero
artesão. Ele é um intelectual
ções que chegam de qualquer gem a produção contemporâ- todas essas mudanças vão fundamental para a sociedade
“Ao sair de algumas expo- lugar”, apregoa. No encontro, nea. Tornando essas estrutu- ocorrer no início das comemo- e, portanto, sua formação deve
sições em museus, galerias e conduzido pela curadora e ras mais cristalinas é possível rações dos 50 anos do MAC – conter não apenas as especia-
bienais, muitas pessoas expe- professora Marisa Mokarzel, tornar o museu e a arte que ele que será em 2013. Dá para ima- lidades técnicas (se ele julgar
rimentam certo amargor rela- Chiarelli também apresentará expõe em questões de interes- ginar o que tudo isto significa necessário) mas, sobretudo, o
cionado à sensação de que não obras que integram o acervo se para a sociedade. e significará para a instituição. estudo, o debate e a crítica.
são cultas. A razão desse sen- do MAC-SP e discutirá como Não acha que a figura do Você é professor-doutor Qual a sua opinião sobre a
timento reside no fato de que este acervo está sendo repen- curador também exerce um da USP há 27 anos, ajudou e crítica fotográfica feita hoje
muito daquilo que observaram sado no novo projeto de mu- papel fundamental nessa

Foto Daniel Pinto


não possui conexão com aqui- dança espacial do MAC – um conquista?
lo que, durante anos, foram dos maiores e mais ousados A figura do curador den-
ensinadas a entender como projetos de museu contem- tro do museu é fundamental
arte”. Tadeu Chiarelli defende: porâneo na América Latina. para a sua política. Todo mu-
talvez seja esta a grande razão Confira a seguir o bate-papo. seu deve ter sua equipe de
para que muitos deixem de Que papel cultural exerce curadores, responsáveis por
frequentar exposições de arte o museu de arte na sociedade segmentos específicos da co-
contemporânea. Apartada do de hoje? leção. Repare que não me refi-
grande público, portanto, a Penso que um museu de ro a curadores independentes,
produção atual tende ao inin- arte contemporânea pode ter mas a curadores de acervo.
teligível, à ausência de senti- uma papel mais ativo do que Será a equipe de curadores
do, ao silêncio. aquele de simples armazém quem estabelecerá a política
Crítico de arte, historiador de obras e/ou de balcão para global da instituição e seus
e atual diretor do MAC-USP – exposições que chegam de contatos com a sociedade.
Museu de Arte Contemporânea qualquer lugar, sem conexão A mudança no MAC-USP
da Universidade de São Paulo, profunda com o acervo já exis- traz vários aspectos simbóli-
Chiarelli é considerado um tente e com a política própria cos. O que significa pra você
dos mais atuantes curadores do museu. Penso que o museu essa fase? Olhando para o fu-
de arte brasileira contempo- tem que ser um espaço não turo, o que vê como seus de-
rânea. Convidado do Prêmio apenas de recepção e discus- safios à frente do novo MAC?
Diário Contemporâneo de são da arte, mas também, no O período que vivemos
Fotograf ia, ele participou, limite, pode ser também um é muito importante para o
em fevereiro, do bate-papo espaço de produção artística. MAC-USP: no f inal do ano
“A Fotograf ia e o Museu Você defende que somen- passado foi votada a autono-
Contemporâneo: curadoria te com base em um modelo mia dos museus da USP e isso
Seleção das Obras II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 15

no Brasil?

Foto Irene Almeida


Penso que a crítica, de uma
maneira geral, está em baixa.
Nós, no Brasil estamos perce-
bendo que, nos jornais, a crí-
tica cedeu lugar para o release
ou o “achismo” de repórteres
nem sempre bem formados. A
crítica migrou para a universi-
dade e lá permanece em gran-
de parte alijada de um contato
mais produtivo com a socieda-
de. No campo específico da fo-
tografia é interessante notar
como grande parte do que se
escreve parte de preconceitos
e de opiniões meramente pes-
soais sem nenhuma densidade
maior.
E qual o lugar da fotogra-
fia na arte contemporânea
brasileira?
Eu não vejo um “lugar”
para a fotografia na arte con-
temporânea. Creio que a arte
contemporânea é fotográfica.
Você também integra a co-
missão de seleção do Prêmio A comissão de seleção do projeto: Alexandre Sequeira, Marisa Mokarzel e Tadeu Chiarelli. A avaliação dos 254 trabalhos recebidos consumiu três dias.
Diário Contemporâneo de

Projeto também investe em formação


Fotografia. Qual a impor-
tância de projetos dessa na-
tureza - que não se encerram
enquanto prêmio e envolvem programação intensa, que se estende até maio, inclui bate-papos, oficinas e encontros com artistas
atividades de formação - na O II Prêmio Diário expôs o trabalho Chaves, que tem re- Filho, curador geral Inscrições: até 25 de
cadeia (produtiva, acadêmi- Contemporâneo traz “Penitentes: dos conhecido percurso do projeto, também março. Período: 2 a
ca, profissional) da fotografia também uma extensa Ritos de Sangue à acadêmico sobre es- conversarão com o 20 de abril.
brasileira? programação parale- Fascinação do Fim tética; a professora público, assim como - Bate-papo com
Penso que toda iniciativa la às mostras, como do Mundo” na 29ª e curadora Marisa os fotojornalistas do Ernani Chaves
que busca pensar na forma- palestras, oficinas e Bienal Internacional Mokarzel, também Diário do Pará. 24/03 às 19h – IAP.
ção profissional de jovens de visitas monitoradas de São Paulo; e dedicada à reflexão Aguarde a divul- - Bate-papo com
talento deve ser valorizada. O com alunos de esco- “Experimentos e análise crítica da gação do número de Fotojornalistas
Prêmio Diário Contemporâneo las públicas de Belém. da Fotograf ia arte produzida no vagas, horários e lo- 31/03 às 19h – Museu
de Fotografia, a meu ver, redi- Como par te do Contempor ânea”, Estado; e novamente, cais de realização de Casa das Onze
mensiona os aspectos mera- projeto, são ofe- com Alexandre o fotógrafo e também cada atividade. Vale Janelas.
mente burocráticos que ativi- recidas três of ici- Sequeira. professor Alexandre lembrar que toda - Bate-papo com Luiz
dades como essas costumam n a s: “Pr o c e s s o s Os bate-papos, de Sequeira, que estabe- a programação é Braga
ter, para buscar, de fato, in- da Cianotipia”, mi- caráter reflexivo e de lece o contraponto, já gratuita. 06/04 às 19h – IAP.
tervir nos rumos profissionais nistrada em feve- elucidação das acep- que também produz - Bate-papo com
da juventude ou daqueles que reiro por Eduardo ções contemporâne- trabalho autoral. AGENDE-SE: Marisa Mokarzel
estão começando na carreira. Kalif; “Fotograf ia as sobre a linguagem Luiz Braga, fo- 28/04 às 19h – IAP.
Considero isso um valor posi- Documental”, minis- fotográf ica, serão tógrafo homenage- - Oficina “Diálogos - Bate-papo com
tivo e que merece ser apoiado. trada por Guy Veloso, proferidas pelo pro- ado desta edição, Fotográf icos” com Mariano Klautau
(A.A.) que recentemente fessor da UFPA Ernani e Mariano Klautau Alexandre Sequeira 12/05 às 19h – IAP.
16 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Crônicas Urbanas · Artistas Selecionados

Fotografia sem fronteiras


confira os artistas selecionados e premiados do ii prêmio
diário contemporâneo de fotografia - crônicas urbanas
Uma obra de arte, para ser
contemporânea, não precisa
apontar para as novas mídias
– destaca o fotógrafo e pro-
fessor Alexandre Sequeira.
Pode sim, voltar no tempo e
mergulhar nos primórdios da
imagem, obtida com rudimen-
tares processos artesanais de
impressão fotográfica. Pode
dialogar com o desenho, com
a pintura, lançando um olhar
diverso sobre a imagem está-
tica. Ou ainda reverter esse
sentido e, criando a ilusão de
Felipe Baenninger Péricles Mendes
movimento, remeter à gênese
do cinema. Contemporâneo,
enfim, é o alargamento das
relações possíveis com a fo-
tografia. E essa expansão é a
principal marca dos trabalha-
dos selecionados ao II Prêmio
Diário Contemporâneo de
Fotografia, que teve o resul-
tado divulgado no dia 15 de
fevereiro.
“Além da diversidade dos
trabalhos, nos chamou aten-
ção o potencial na represen-
tação da imagem fotográfica
aliada a outras esferas da ima- Fernanda Antoun Cia de Foto
gem na tecnologia”, destaca
o curador geral do prêmio,
Mariano Klautau Filho. A co-
missão julgadora – formada
pelo curador, historiador e crí-
tico de arte Tadeu Chiarelli; a
curadora e professora Marisa
Mokarzel; e o fotógrafo e pro-
fessor Alexandre Sequeira –
analisou 254 trabalhos vindos
de todas as regiões do Brasil.
Cada vencedor recebeu um
prêmio de R$ 10 mil, além uma
ajuda de custo para a produ-
ção dos trabalhos, no valor de
Anita Lima
Artistas Selecionados · Crônicas Urbanas II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 17

R$ 1.200 – conferida a todos relaciona com instalação, ví- fotografia urbana em preto poéticas e propostas conceitu- entre homem e natureza.
os 21 artistas selecionados. Os deo, objetos ou performances, e branco e a fluidez do vídeo, ais, destinado somente a fotó- Além da premiação e da
trabalhos estão reunidos na foi conquistado pelo pernam- em uma narrativa em tom grafos paraenses ou residen- mostra, a programação prevê
mostra “Crônicas Urbanas” bucano Leonardo Sette, que confessional. tes atuantes no Pará. “Projeto ciclo de palestras, bate-papos,
em cartaz até o dia 16 de maio impressionou o júri com a Roberta Carvalho venceu Symbiosis” constrói-se de pro- encontros com artistas, ofici-
no MUFPA. instalação “Luzes Inimigas”, na categoria Diário do Pará, jeções multimídia em copas de nas e atividades de arte-edu-
em que articula o rigor da prêmio que abrange todas as árvores, discutindo a interação cação. (A.A.)
DIVERSIDADE

“É um conjunto de traba-
lhos que desmonta um en-
tendimento mais conserva-
dor. Mais do que escolher os
melhores, reunimos um grupo
que aponta questões muito re-
levantes para a discussão da
linguagem fotográfica hoje, da
sua amplitude”, diz Alexandre
Sequeira. “Premiados e sele-
cionados circunscrevem um
campo de discussão extenso,
reflexões maduras, que preci-
sam ser observadas”.
Marisa Mokarzel concor- José Diniz Everaldo Nascimento
da. “O júri ficou atento para
o fato de que não se trata de
um salão, ou seja, a discussão
vai muito além do caráter pu-
ramente competitivo. Temos,
afinal, um grupo de 21 premia-
dos, entre artistas iniciantes
e experientes. São crônicas
urbanas sob os mais variados
pontos de vista, o exercício da
fotografia em suas múltiplas
possibilidades, sem distin-
ções”, complementa.
Premiado na categoria
“Crônicas Urbanas”, destina-
da a trabalhos de abordagem Fernanda Grigolin Francilins Castilho

documental voltada ao coti-


diano ou originados de um
projeto autoral de documen-
tação, o cearense Silas José de
Paula conferiu uma atmosfera
onírica a cenas aparentemen-
te triviais na série “Gente no
Centro”, em que registra o
movimento diário no centro
da cidade, com sua suas ruas
movimentadas, seus camelôs
e sua pressa característica.
O prêmio “Diário
Contemporâneo”, destinado
a trabalhos cujo conceito se
Ionaldo Rodrigues Marina Borck
18 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Crônicas Urbanas · Artistas Selecionados

Fabio Okamoto Haroldo Sabóia

Pedro David Carlos Dadoorian

Keyla Sobral Ricardo Macêdo


Artistas Selecionados · Crônicas Urbanas II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 19

Viviane Gueller
20 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Diàrios da Cidade · Mostra Convidada

Das páginas para a galeria


fotógrafos do diário do pará integram mostra
especial na casa das onze janelas
Uma das grandes no- fotografia do Diário. Agora, es- árvores derrubadas; de ou- Alberto Bitar, acrescentando jornal para uma galeria, certas
vidades do Prêmio Diário tas imagens enfim sairão dos tro, cenas corriqueiras da que fotógrafos como Wagner intenções e práticas mais fac-
Contemporâneo de Fotografia arquivos e acervos direto para periferia, o colorido de uma Almeida e Anderson Coelho tuais abrem espaço para uma
nesta segunda edição é a rea- as paredes do museu. quitanda de frutas, as luzes do vão apresentar trabalhos iné- leitura mais plástica da ação
lização de uma coletiva espe- Mariano conta que a ideia caos urbano, o movimento de ditos, em vídeo. Ambos foram de registro, livre das legendas
cial, no Museu Casa das Onze foi lançada pela fotógrafa chegada na capital paraense editados e produzidos em e das informações objetivas”,
Janelas, com imagens dos re- Irene Almeida, que também pela visão dos ribeirinhos, de parceria com Alberto Bitar. A diz o curador geral do projeto,
pórteres fotográficos do jor- compõe a equipe de organiza- quem mora do outro lado do escolha pela linguagem acon- Mariano Klautau Filho.
nal Diário do Pará. “Diários da ção do projeto, e foi proposta rio Guamá, crianças brincan- teceu pelo conceito que eles Este é mais um espaço
Cidade” que segue em cartaz justamente porque aqueles do de futebol em uma rua de queriam mostrar. Em “Lume”, que abarca o Prêmio Diário
até 15 de abril, reúne trabalhos fotógrafos estão diretamente piçarra. “A cidade é a protago- de Wagner, um som veloz, rá- Contemporâneo de Fotografia,
de 18 artistas. relacionados com a dinâmi- nista”, ressalta um dos cura- pido, dá o tom das imagens que este ano terá mais um mês
“Eles possuem um tra- ca da cidade, registrando-a dores da mostra, Alberto Bitar. do trânsito caótico de Belém, disponível para as visitações, o
balho que não é mostrado. diariamente. à noite, em que luzes bran- que vai viabilizar a ampliação
Vamos aproximar esse univer- Nas fotografias apresenta- ACERVO cas e vermelhas dos carros das ações educativas. A expo-
so, trazer o dia-a-dia da cidade das, a cidade de Belém e ou- compõem as fotografias. Já sição seguirá em cartaz até o
para a fotografia contempo- tras dos arredores com suas “Algumas imagens não em “Margem”, de autoria de dia 15 de abril. (D.G.)
rânea. É a maneira de chegar belezas e tristezas. Cenas das foram publicadas no jornal, Anderson, a ideia é retratar a
até esses arquivos”, explica editorias de Polícia e Cidades mas marcaram muito quando saída diária de pessoas que
Mariano Klautau Filho, cura- são predominantes: de um foram feitas, ficaram na nos- moram nas ilhas ao redor de
dor geral do projeto, que as- lado, crimes, incêndios, de- sa memória. Selecionamos as Belém, rumo à capital. PARTICIPANTES
sina a curadoria da mostra es- sastres como o desabamen- fotografias em conjunto com Segundo Alberto, são ví-
Adauto Rodrigues
pecial ao lado de Alberto Bitar to do prédio na Travessa Três cada fotógrafo, tiramos ou- deos que se completam e
e Octávio Cardoso, editores de de Maio, enchentes de ruas, tras do acervo do jornal”, diz por isso vão estar dispostos Alex Ribeiro
diametralmente na sala da Amaury Silveira
exposição do Museu Casa das Anderson Coelho
Onze Janelas. “É a Belém de
Antônio Melo
dentro e de fora. São olhares
que se completam. Um mostra Celso Rodrigues
a correria de Belém e outro a Cezar Magalhães
calma do rio”, comenta. Para Everaldo Nascimento
Mariano Klautau Filho, essa é
Keylon Feio
a oportunidade de resgatar de
acervos e arquivos trabalhos Marcelo Lelis
intimamente ligados à temáti- Marcos Santos
ca urbana e que possuem ima- Mário Quadros
gens que nem sempre são ex-
Mauro Ângelo
postas. O objetivo da mostra
é aproximar o dia-a-dia da ci- Ney Marcondes
dade e a arte contemporânea. Rogério Uchôa
“Pela natureza de seu tra- Tarso Sarraf
balho, estes fotógrafos têm
Thiago Araújo
uma relação com o cotidia-
no muito intensa, diferente Wagner Almeida
de todos nós. Ao transpor o
trabalho das páginas de um
Ney Marcondes
Artistas Selecionados · Diàrios da Cidade II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 21

Wagner Almeida Alex Ribeiro

Adauto Rodrigues Amaury Silveira

Anderson Coelho Celso Rodrigues


22 · II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia Diàrios da Cidade · Artistas Selecionados

Cezar Magalhães

Antonio Melo Keylon Feio

Everaldo Nascimento Marcelo Lelis


Artistas Selecionados · Diàrios da Cidade II Prêmio Díario Contemporâneo de Fotografia · 23

Marcos Santos Mário Quadros

Mauro Ângelo Rogério Uchôa

Tarso Sarraf Thiago Araújo


realização apoio patrocínio

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