Dissertação de Mestrado-Victor Da Costa Santos-Fiocruz
Dissertação de Mestrado-Victor Da Costa Santos-Fiocruz
Dissertação de Mestrado-Victor Da Costa Santos-Fiocruz
Rio de Janeiro
2020
1
Trecho extraído. Serviço de immigração. A Immigração Orgão da Sociedade Central de Immigração, Rio de
Janeiro, anno II, n.16, dezembro de 1885, p.10. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239984/121
Acesso em 20 de março de 2018.
II
Rio de Janeiro
2020
III
BANCA EXAMINADORA
Suplentes:
Profa. Dra. Gisele Sanglard (Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde,
Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)
Rio de Janeiro
2020
IV
V
Dedicatória
À minha mãe, Maria Madalena, a meu pai, José Francisco (in memorian), e a todos que
me apoiaram nessa longa e difícil caminhada.
VI
VII
Agradecimentos
Resumo
Esta dissertação aborda a criação de locais de recepção aos imigrantes na Corte e na Província
do Rio de Janeiro no contexto da segunda metade do século XIX. Os objetos estudados são os
locais denominados como hospedarias de imigrantes, especificamente as da Ilha do Bom Jesus,
Morro da Saúde e Ilha das Flores. Ainda que muitas das fontes sobre a rotina do funcionamento
de tais hospedarias encontrem-se indisponíveis, busca-se através de relatórios ministeriais e
periódicos do período o rastreamento e discussão sobre as “ordens” que geriram estes locais, a
fim de compreender o que foi realizado em termos sanitários e assistenciais para recepcionar e
acolher estes imigrantes antes de irem para o seu destino final. Levou-se em consideração as
nuances entre a imigração subvencionada e a imigração espontânea, além do contexto de
insalubridade do período, condicionante da busca por melhorias nas estruturas de recepção e
acolhimento para os imigrantes, que diante do cenário de proeminente fim da escravidão,
tornaram-se alvos de ações governamentais, tanto no âmbito do trabalho quanto no âmbito da
higiene pública.
Abstract
This dissertation discusses the creation of places of reception for immigrants in the Court and
in the Province of Rio de Janeiro in the context of the second half of the 19th century. The
objects studied are the places called as inns of immigrants, specifically those of Ilha do Bom
Jesus, Morro da Saúde and Ilha das Flores. Although many of the sources about the routine
functioning of such inns are unavailable, we seek through ministerial and periodic reports of
the period the tracking and discussion about the "orders" that managed these places, in order to
understand what was carried out in terms of health and assistance to welcome and welcome
these immigrants before they go to their final destination. The nuances between subsidized
immigration and spontaneous immigration were taken into account, in addition to the context
of unhealthiness of the period, conditioning the search for improvements in reception and
reception structures for immigrants, who faced the scenario of prominent end of slavery, became
targets of government actions, both in the field of work and in the field of public hygiene.
Lista de ilustrações
Lista de tabelas
SUMÁRIO
Introdução ........................................................................................................................... p. 1
Considerações Finais.........................................................................................................p.171
Fontes.................................................................................................................................p. 175
Fontes primárias manuscritas ...................................................................................p. 175
Fontes primárias impressas ........................................................................................p.175
Bibliografia...........................................................................................................................p.216
1
Introdução
Deste modo, após avanços e recuos preliminares durante a presente pesquisa, optamos
por acrescentar mais dois objetos de estudo ao objeto inicial.
As hospedarias da Ilha do Bom Jesus e do Morro da Saúde juntaram-se à Hospedaria da
Ilha das Flores, que na proposta inicial seria abordada no contexto de transição entre os séculos
XIX e XX.
Localizada na ilha de mesmo nome às margens da Baía de Guanabara, a Hospedaria da
Ilha das Flores funcionou entre os anos de 1883 e 1966:
Em princípios do século XIX, a Ilha das Flores pertencia a Delfina Felicidade
do Nascimento Flores e seria denominada de Santo Antônio. É possível que o
seu nome atual decorra dessa proprietária, pois o local deveria ser conhecido
como a “ilha da D. Flores. ( ... ). O motorista que trafega pelo trecho da BR-
101, que fixa os limites entre os municípios de São Gonçalo e Niterói, avista
uma placa indicando a Base Naval da Ilha das Flores. Em um primeiro
momento há um certo estranhamento: mas, que ilha? Não há mais uma ilha.
As obras de construção da rodovia, na década de 1980, promoveram uma série
de aterramentos no local ligando-a ao continente. Apesar disso, o nome
continuou. (FERNANDES, 2013: 17-18)
2
O Projeto Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores é uma iniciativa do Grupo de Pesquisa "História
de São Gonçalo: Memória e Identidade", da Faculdade de Formação de Professores da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro criado em 1996, com a ideia inicial de produzir um Guia de Fontes para a História da cidade. A
continuidade dos trabalhos estruturou o grupo que vem procurando problematizar as experiências dos que viveram,
e vivem, nessa municipalidade, pelo recorte do local. Em parceria com o Comando da Tropa de Reforço dos
Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, esse Projeto inaugurou em 2012 o Museu a Céu Aberto da Ilha das Flores.
3
Carolina Oliveira Costa, Guilherme dos Santos Cavotti Marques e Carolline de Medeiros
Sanches, frutos de pesquisas desenvolvidas em tal projeto 3.
A primeira fornece um panorama histórico da criação da Hospedaria no final do século
XIX e o desenvolvimento de sua estrutura nas primeiras décadas de funcionamento para a
efetivação das políticas imigratórias brasileiras. A segunda, ao estudar a recepção realizada na
Ilha das Flores aos refugiados no imediato pós-segunda guerra procurou analisar esta recepção
a partir de facetas diversas, observando as reformas na estrutura física da hospedaria, a
discussão verificada na imprensa sobre o refugiado ideal a imigrar para o Brasil, bem como
propostas e apontamentos sobre os serviços desenvolvidos para sua recepção e as narrativas
memoriais construídas pelos refugiados que vivenciaram essa experiência. Já a terceira
investigou o processo de retomada das políticas migratórias por parte do governo federal
brasileiro entre os anos de 1907 e 1914 da Primeira República, dentro do contexto das “Grandes
Migrações”, de modo a considerar as leis e decretos do período como principais documentações
a serem utilizadas para compreensão das políticas do Estado.
No entanto, diferentemente de tais, a presente pesquisa buscou aprofundar a discussão
sobre a relação da política imigratória brasileira com as questões sobre salubridade e
insalubridade no contexto de criação de hospedarias na segunda metade do século XIX. Com o
objetivo de analisar a criação das hospedarias de imigrantes na capital da Corte e na província
do Rio de Janeiro e a relação destas com as ideias de assistência e saúde, fez-se necessário
recuar no período anteriormente proposto e investir no desbravamento de hospedarias
desconhecidas do grande público.
A Hospedaria da Ilha do Bom Jesus e a Hospedaria do Morro da Saúde ainda que não
tenham tido o período longevo de funcionamento como o da Hospedaria da Ilha das Flores,
puderam ser objetos tão propiciadores e relevantes para a compreensão daquele contexto quanto
esta última, e assim indicarem as nuances da política imigratória daquele período.
Ou seja, ao acrescentar as hospedarias da Ilha do Bom Jesus e do Morro da Saúde à da
Ilha das Flores como objetos de estudo, buscou-se mapear e compreender as características da
intensificação da política imigratória brasileira a partir da segunda metade do século XIX, e,
3
COSTA, Julianna Carolina Oliveira. Hospedaria da Ilha das Flores: um dispositivo para a efetivação das
políticas imigratórias (1883 – 1907). Dissertação (Mestrado em História Social) – Faculdade de Formação de
Professores, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2015; MARQUES, Guilherme dos Santos
Cavotti. A porta de entrada do Brasil: a recepção dos refugiados no pós-Segunda Guerra na Hospedaria de
Imigrantes da Ilha das Flores. Dissertação (Mestrado em História Social) - Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, 2017; SANCHES, Carolline de Medeiros. A retomada das políticas migratórias brasileiras
entre 1907-1914. Dissertação (Mestrado em História Social) – Programa de Pós-Graduação em História Social,
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2018.
4
Tendo em vista este aspecto, caro para presente pesquisa fez-se entender o constructo
consistente relativo à imigração no século XIX, sobretudo, adentrando especificamente nas
nuances que mais interessaram a pesquisa, como a política imigratória brasileira a partir de
1850 e a criação das hospedarias na segunda metade do século.
Antes de adentrarmos nas referências bibliográficas de tal período é interessante notar
como o fenômeno imigratório ainda está carregado de características historicamente produzidas
que fazem desse complexo sistema de relações um fenômeno intrinsecamente marcado pelo
embate entre a aceitação e a rejeição ao indivíduo estrangeiro, ao outro.
Isto fica explícito nas palavras Denise Cogo4 que, em entrevista à IHU On-line, do
Instituto Humanitas UNISINOS, em 7 de dezembro de 2018, menciona o fato da imigração, no
debate público, ser tratada como um problema e uma ameaça para as sociedades, implicando
assim no ensejo pelo controle, regulação e contenção de imigrantes e refugiados (MACHADO,
2019).
A pesquisadora também enfoca que apesar disso,
é importante desconstruirmos alguns desses discursos produzidos e
reproduzidos historicamente em relação ao ‘não nacional’ ou ao ‘estrangeiro’
e compreendermos as migrações como uma experiência humana que
historicamente traz contribuições sociais, culturais, políticas e econômicas às
sociedades, assim como pensar a mobilidade como um direito humano e
universal”. É importante compreender também, explica, que “os movimentos
migratórios são condicionados por uma multiplicidade de fatores de ordem
macro e microrrelacionados a cenários geopolíticos internacionais e nacionais,
como o das crises econômico-políticas, das guerras, dos governos autoritários
e ditatoriais, dos desastres ambientais, das mudanças nas políticas de controle
de fronteiras e de entrada de imigrantes em cada espaço nacional.
(MACHADO, 2019: 1).
4
Denise Cogo é graduada em Jornalismo, com mestrado e doutorado em Ciências da Comunicação pela
Universidade de São Paulo - USP e estágio de pós-doutorado na Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha.
Leciona no Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Práticas de Consumo da Escola Superior de
Propaganda e Marketing - ESPM, São Paulo, onde coordena o grupo de pesquisa “Deslocar”. Coordena também a
Plataforma de Mídias de Imigrantes de São Paulo desenvolvida em parceria com o Museu da Imigração do Estado
de São Paulo.
6
5
A ACNUR foi criada em dezembro de 1950 por resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas e iniciou suas
atividades em janeiro de 1951 tendo base a Convenção de 1951 da ONU sobre Refugiados e como objetivo inicial
reassentar refugiados europeus que estavam sem lar após a Segunda Guerra Mundial. Apud
https://www.acnur.org/portugues/historico/. Acesso em 2 de junho de 2019.
7
assegurasse certos recursos para os programas de colonização, poderia ser interpretada como
resultado da pressão dos grandes proprietários monocultores de café, que pretendiam drenar a
corrente de imigrantes para as suas fazendas, daí o interesse de que não mais se doasse terras
para a criação de núcleos coloniais6.
Em estudo acerca da migração internacional na história das Américas, Herbert Klein nos
apresenta um contexto para além do brasileiro (KLEIN, 2000). O autor realizou uma revisão da
evolução das populações americanas tratando desde o contexto da experiencia ibero- americana
no século XVI até o cenário Pós-Segunda Guerra Mundial. Nesse ínterim, o mesmo destacou
significativamente os fatores de repulsão e atração de imigrantes europeus no decorrer do século
XIX, denominando como “Grandes Migrações” o período compreendido entre 1880 e 1915, no
qual cerca de 30 milhões de imigrantes cruzaram o Oceano Atlântico, tendo esse fluxo entrado
em declínio devido à Primeira Guerra Mundial, a qual deteve, temporariamente, grande parte
da migração para a América.
Paulo César Gonçalves abordou o tema da busca de braços para lavoura na economia
cafeeira paulista no final do século XIX. O autor buscou realizar algumas reflexões sobre as
estratégias políticas engendradas pelos cafeicultores paulistas para arregimentar a força de
trabalho necessária à expansão da economia cafeeira nas décadas finais do século XIX,
discutindo a presença de dois grupos que participaram desse processo: os imigrantes europeus
e os nacionais livres, no caso, os retirantes fugidos das secas que assolaram o sertão cearense
(GONÇALVES, 2014).
A proeminente ascensão da economia cafeeira, principalmente a paulista no final do
século, e os questionamentos sobre a utilização da mão de obra escrava foram alguns dos fatores
que fizeram o Governo investir na vinda de imigrantes para se tornarem colonos. Tais
investimentos que se difundiram pelo Brasil, também ocorreram em países como os Estados
Unidos, Canadá e Argentina, onde hospedarias também foram criadas, como as de Castle
Garden (1855-1890)7 e Ellis Island (1892-1954), localizadas em Nova Iorque, e o Hotel de los
Immigrantes de La Rotonda (1882-1911) na Argentina8.
6
BRASIL. Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850. SENADO FEDERAL. Portal legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/legislacao/PublicacaoSigen.action?id=542128&tipoDocumento=LEI-
n&tipoTexto=PUB. Acesso em 17 de março de 2019.
7
Sobre a história e o funcionamento da hospedaria de Castle Garden (1855-1890) ver análise de: SVEJDA, George
J. Castle Garden as an Immigrant Depot (1855-1890). Washington, D.C.: National Park Service, 1968.
8
Uma análise sobre os movimentos migratórios na Região da Prata na segunda metade do século XIX e nas
primeiras décadas do século XX pode ser vista em GERSTNER, Laura Oliva. El alojamiento de inmigrantes en el
Río de la Plata, siglos XIX y XX: planificación estatal y redes sociales. Biblio 3W Revista Bibliográfica de
Geografía y Ciencias Sociales, Universidad de Barcelona, v.XIII, n.779, 25 de marzo de 2008. Disponível em:
http://www.ub.es/geocrit/b3w-779.htm Acesso em 2 de outubro de 2019.
10
As hospedarias de imigrantes seriam, neste caso, um dos fios da grande teia que
enredava os movimentos migratórios e os vários procedimentos e serviços criados para levar
milhões de europeus de sua origem ao destino americano, como agências locais e internacionais
e sociedades promotoras da imigração.
Nesse sentido, para Maria Isabel de Jesus Chrysostomo e Laurent Vidal as hospedarias
de imigrantes teriam sido territórios de espera, criadas juntamente às associações e sociedades
promotoras de migração para o controle e a triagem dos indivíduos que saíam da Europa e
chegassem na América. As hospedarias teriam se desenvolvido em meio aos debates sobre a
melhor forma de acolher os imigrantes, perpassando questões políticas, econômicas e médicas
que refletiram na busca pela forma espacial e arquitetônica mais adequada para o acolhimento
de imigrantes, bem como no tempo em que estes deveriam permanecer sob a responsabilidade
das autoridades (CHRYSOSTOMO; VIDAL, 2014).
Os deslocamentos que se intensificaram para América a partir da segunda metade do
século XIX, integrariam assim a dinâmica do desenvolvimento das relações capitalistas neste
período, caracterizando assim o período delimitado pela pesquisa.
Pensando na modificação que o fenômeno da migração é capaz de provocar, outra
importante contribuição é a de Odair da Cruz Paiva ao analisar tal fenômeno e a contribuição
dos migrantes e imigrantes na formação da sociedade paulista entre o final do século XIX e o
início do século XXI (PAIVA, 2013).
Em parceria com Soraya Moura, este mesmo autor realizou um minucioso trabalho
sobre aquela que foi a maior e mais importante hospedaria de imigrantes do Brasil e que
funcionou entre 1888 e 1978: a Hospedaria de Imigrantes de São Paulo, ou Hospedaria do Brás.
Como já mencionada anteriormente, localizada em bairro de mesmo nome, esta hospedaria
recepcionou cerca de 3,5 milhões de imigrantes no período em que funcionou (PAIVA, 2008).
Construída para abrigar cerca de 4 mil pessoas, a Hospedaria de Imigrantes encarregava-se de
receber e direcionar os trabalhadores estrangeiros para todo o Estado de São Paulo. Com o lema:
recepção, triagem e encaminhamento, a Hospedaria caracterizava assim sua relação com o
imigrante que permanecia em seu estabelecimento em média por uma semana. Ainda segundo
os autores, os serviços de alimentação e alojamento eram intercalados com os de controle
médico sanitário, registro e direcionamento ao trabalho e os serviços de higiene incluíam banho,
desinfecção e troca de roupas e inspeção médica. Para estes autores:
As hospedarias de imigrantes, construídas em vários países do continente
americano a partir da segunda metade do século XIX, cumpriram uma função
de destaque na dinâmica dos deslocamentos populacionais. Na Alemanha, no
Japão e na Itália, hospedarias de emigrantes foram erigidas no mesmo período.
11
Deste modo, o período delimitado pela pesquisa circunscreve alterações relevantes tanto
na temática imigratória, como nas questões ligadas à saúde.
Ao iniciarmos nossa análise na década de 1850 trabalhamos tanto com os corolários da
Lei Eusébio de Queirós9 e da Lei de Terras nas questões de imigração como com as
consequências das epidemias que grassaram a Corte e a província. De acordo com Chalhoub, a
capital seria uma cidade febril, alcançando o status de “cemitério dos imigrantes”
(CHALHOUB, 1996). Como exemplo, a primeira grande epidemia de febre amarela
compreendida entre dezembro de 1849 e setembro de 1850, causou a morte 4.160 pessoas
(REGO, 1873). Esta estimativa, referente ao Município da Corte, foi realizada à época pelo
médico José Pereira Rego (1816-1892) 10.
9
BRASIL. Lei nº 581, de 4 de setembro de 1850. SENADO FEDERAL. Portal legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/legislacao/PublicacaoSigen.action?id=542091&tipoDocumento=LEI-
n&tipoTexto=PUB. Acesso em 17 de março de 2019.
10
José Pereira Rego (Barão do Lavradio) nasceu em 24 de agosto de 1816, na cidade do Rio de Janeiro, e faleceu
em 22 de novembro de 1892. Doutorou-se, em 1838, na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, e destacou-se
no campo da saúde pública, principalmente por sua atuação na Junta Central de Higiene Pública, entre os anos de
1863-1881. REGO, JOSÉ PEREIRA. In Dicionário Histórico-Biográfico das Ciências da Saúde no Brasil (1832-
1930) - Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz. Disponível em http://www.dichistoriasaude.coc.fiocruz.br/cgi-
bin/wxis.exe/iah/scripts/. Acesso em 17 de março de 2019.
13
Epidemias como esta foram analisadas por Tânia Pimenta, Keith Barbosa e Kaori
Kodama a partir dos relatórios de presidentes de província do Rio de Janeiro produzidos entre
1835 e 1889 (PIMENTA; BARBOSA; KODAMA, 2015).
Tais autoras também utilizaram os relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios do
Império e os estudos do médico Pereira Rego para identificar e abordar as doenças que
atingiram os moradores da província do Rio de Janeiro imperial e os problemas de saúde
enfrentados por essa população.
Analisando doenças como a varíola, o cólera, a febre amarela e diferentes tipos de febre
e uma variedade de doenças registradas na segunda metade do século XIX, as autoras
estabeleceram uma relação dos surtos, endemias e epidemias de tais com a criação de casas de
caridade, hospitais, cemitérios públicos, alojamentos e lazaretos, enfim, a relação entre a
observação da higiene e a intervenção urbana, expressada fortemente por médicos que
exerceram funções para além do seu oficio.
Jaime Benchimol, por sua vez, analisou a instituição da microbiologia no Brasil em fins
do século XIX (BENCHIMOL, 2004). Considerando a febre amarela uma doença fruto de um
processo biológico e social, o autor focou no abatimento dessa doença sobre as coletividades
humanas no tempo e sua influência nas atividades políticas, econômicas, sociais e individuais,
bem como a formulação de teorias para explicá-la (BENCHIMOL, 1994). Em seu estudo,
Benchimol destacou a já mencionada primeira epidemia de febre amarela na capital do Império,
ocorrida entre 1849 e 1850, e como esta ensejou e mobilizou disputas teóricas sobre a etiologia
da mesma e sobre as propostas para o saneamento na província do Rio de Janeiro,
principalmente na capital da Corte (BENCHIMOL, 1990).
Em estudo mais específico sobre a relação entre saúde e imigração na Argentina do final
do século XIX e início do XX, Maria Silvia Di Liscia apontou os estudos comparativos como
uma importante ferramenta na constituição da historiografia da saúde e da enfermidade na
América Latina, a qual seria “una significativa base para la interpretación de índices
demográficos de análisis –natalidad, mortalidad, morbilidad, fecundidad…– así como de su
modificación en el tiempo” (DI LISCIA, 2016: 1). A autora ainda ressaltou a importancia da
imigração e dos imigrantes, que “(...) modificaron el perfil demográfico, la economía y la
cultura de diferentes naciones americanas (...)”, sendo a Argentina um país interessante a ser
estudado, dado a incidencia de imigrantes na constituição da sua população (DI LISCIA, 2016:
1).
Ainda nessa esteira da comparação, Maria Silvia Di Liscia e Fernanda Rebelo ao
analisarem o contexto de Brasil e Argentina entre 1890 e 1930, apresentaram uma proposta de
14
como trabalhar com as fontes que possibilitariam estabelecer a relação entre saúde e imigração
(DI LISCIA; REBELO-PINTO, 2018).
As autoras acreditam que no Brasil, para compreender a interseção entre imigração e
saúde ao nível de ações governamentais, é necessário recorrer a determinadas documentações
como os relatórios e informes ministeriais feitos pelos funcionários e enviados aos presidentes,
os anexos dos informes das repartições relacionadas à saúde pública, possibilitando a relação
com a política imigratória- como do Serviço de Higiene Marítima, da Inspeção de Saúde dos
Portos, do Serviço de Profilaxia da Febre Amarela, dos Hospitais Marítimos, dos alojamentos
e lazaretos, entre outras instituições. Assim como para estabelecer a relação entre políticas
imigratórias, saúde e ciência, é necessário recorrer às documentações do Instituto Sanitário
Federal, do Laboratório de Bacteriologia e do Serviço de Demografia Sanitária.
Tais autoras também destacaram a complexidade desta relação e as controvérsias e
debates entre as instituições que se relacionam a tais temas. Um exemplo citado é o embate
entre o Ministério da Agricultura e o Ministério da Justiça e Negócios Interiores. O primeiro
atenderia aos interesses dos latifundiários, e o segundo aos interesses dos higienistas. Estes
últimos, relatam as autoras, na epidemia de febre amarela de 1890 pediram a intervenção da
imigração por vincularem a doença com a aclimatação, enquanto os primeiros foram contra a
intervenção uma vez que a entrada de imigrantes significava a entrada de braços para a lavoura:
Tal cuestión obviamente surgió del terror causado por las dolencias
transmisibles (fiebre amarilla, peste y cólera), ya que el peligro del contagio
era tanto para la población que llegaba del interior como para los brasileños.
Las preocupaciones sobre inmigración y salud discurrieron en el ámbito de los
puertos, lo cual llevó a la necesidad de una legislación de profilaxis
internacional. En segundo lugar, es preciso destacar la contraposición entre
los intereses de los higienistas, o sea del MJNI y los intereses de los
hacendados, representados por el Ministerio de Agricultura. A partir de la
epidemia de fiebre amarilla de 1890, los higienistas pidieron la suspensión de
la inmigración pues de acuerdo a los avances científicos, había una
vinculación entre la fiebre amarilla y la aclimatación. (DI LISCIA; REBELO-
PINTO, 2018:117).
mais singular, mas sem deixá-las à margem do contexto, foi essencial a documentação oficial
produzida pelas instituições e órgãos subordinados ao Governo Imperial. Além desta
documentação, utilizamos também como subsídios os relatórios da Secretaria de Estado dos
Negócios do Império e da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, e alguns periódicos
do período delimitado que se encontram digitalizados na Hemeroteca da Biblioteca Nacional,
como o Almanak Laemmert, O Correio da Tarde, o Diario do Rio de Janeiro, o Correio
Mercantil, o Jornal do Commercio, O Parahyba, o Gazeta de Notícias, o Brazil- Médico e o A
Immigração.
Além disso, procurou-se analisar fontes como o Regulamento provisório para a
Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores, encontrado no Arquivo Público do Estado do Rio
de Janeiro na tentativa de estabelecer um diálogo entre as esferas médica e político-
administrativa do período11.
Sendo assim, ao analisarmos a criação destas hospedarias vinculando-as às questões de
saúde do período, a pesquisa possibilitou compreender um pouco mais da inserção dos preceitos
médicos nas instituições públicas, como também nos permitiu pensar um pouco mais sobre as
formas como as diferentes sociedades lidaram com a presença dos imigrantes estrangeiros, ou
seja, do outro, nelas mesmas.
Para tal foi importante utilizar como referências estudos sobre saúde como o de Gilberto
Hochman, Paula Xavier dos Santos e Fernando Pires-Alves que, com a proposta de entender o
sentido e a necessidade de incorporação da História no campo da Saúde Coletiva, apresentaram
uma introdução sobre as abordagens e perspectivas da historiografia latino-americana sobre este
campo de estudo (HOCHMAN; SANTOS; PIRES-ALVES, 2004). Pensando na ideia de saúde como
condicionante e determinante histórico e social, tais autores a caracterizam como uma
construção, influindo nas demais construções dos elementos de uma sociedade como as
identidades nacional, étnica, racial, geracional e de gênero, cabendo aos historiadores um papel
de formulação de questões mais amplas no intuito de desnaturalizarem os fatos e reconstruírem
os processos sociais e os caminhos da saúde pública.
Para Hochman, Santos e Pires-Alves, tal abordagem:
focaliza o poder, o Estado, as políticas, as instituições e os profissionais de
saúde, o impacto das intervenções sanitárias nas tendências das taxas de
morbidade e mortalidade e as respostas públicas e sociais a chamada transição
epidemiológica. Está particularmente atenta às relações entre instituições de
saúde e estruturas econômicas, sociais e políticas (HOCHMAN; SANTOS;
PIRES-ALVES, 2004: 41).
11
REGULAMENTO provisório para a hospedaria de imigrantes da Ilha das Flores. Arquivo Público do Estado do
Rio de Janeiro. Fundo PP. Notação: Pasta 479. Caixa 181. Maço 03. [s. d.].
16
desigual (COSTA, 2015). Ainda segundo este autor, essa desigualdade gerou algumas regiões
com excedente de mão de obra e outras com escassez, o que possibilitou à existência de áreas
de absorção e áreas de dispersão de mão de obra, ou seja, fatores de repulsão e fatores de
atração, considerando, significativamente as condições econômicas como as principais
responsáveis pela migração europeia. Ou seja,
a estruturação da economia mundial impulsionou milhões de europeus a
abandonar o seu continente devido à falta de trabalho, tanto nos campos como
nas cidades. Diante da miséria, as promessas dos engajadores ligados às
agências de imigração ou companhias de navegação subsidiadas, surgiram
como um raio de esperança para estes homens e mulheres que passaram a
enxerga nas Américas à possibilidade para uma melhor condição de vida.
Simultaneamente, uma rede de agente e subagentes se estendia pela Europa a
fim de recrutar trabalhadores para as grandes fazendas de café existentes no
Brasil, justamente durante o período em que ocorria a transição da mão-de-
obra escrava para a livre, ou, ainda, para promover a ocupação do vasto
território brasileiro (COSTA, 2015: 17).
Com base nisso, mesmo que na visão pós-estruturalista a migração seja entendida como
um processo de continuidade das relações construídas e mantidas pelo indivíduo e sua
comunidade entre os dois pólos envolvidos, devemos sempre considerar relevante as condições
dos países de origem, pois situações de crise contribuem para as migrações em massa.
É valido, nesse caso, seguir o alerta realizado por Joaquim da Costa Leite em estudo
realizado sobre a emigração portuguesa para o Brasil:
o tema da repulsão e atração (push-pull) não deve ser visto como exercício de
seleção de um fator e eliminação de outro, uma vez que nem a atração nem a
repulsão existem em termos absolutos, antes se definem uma em relação à
outra. Por outras palavras, as migrações não acontecem em função exclusiva
da necessidade ou da oportunidade, mas, sim, da conjugação, em situações
concretas da necessidade com a oportunidade (LEITE, 2000: 183).
Seguindo essa lógica, apesar dos estudos recentes conferirem atenção à autonomia do
sujeito, levando em consideração os diferentes projetos e as estratégias adotadas pelos
migrantes para realizarem tal deslocamento, não podemos afastar essa abordagem das
percepções estruturais, uma vez que a presente pesquisa busca analisar determinadas ações
políticas visando determinados grupos sociais.
Levaremos em consideração, como afirma Joaquim Leite, que já não podemos mais
enxergar a imagem tradicional do migrante sem instrução, que em situação de miséria era
movido cegamente pelo desejo de migrar. Deveremos olhar também para as demonstrações de
ponderação entre riscos e garantias que só seria possível com a disponibilidade de informações
20
enquanto a mão de obra era cara e escassa. Esta última condicionada pelas doenças endêmicas
que atingiram as populações indígenas isoladas e pela progressiva ineficácia da utilização do
índio como mão de-obra pelos espanhóis e portugueses, seja pela resistência à escravização ou
pelo alto custo que se tornou essa fonte de trabalho.
O que importa saber é que na transição do século XVIII para o XIX, na América Luso-
Hispânica, a colônia brasileira tinha absorvido quase 1,9 milhão de africanos para serem
escravizados e se tornado a mais importante zona do Império português com o progressivo
declínio de suas áreas na Ásia e na África, enquanto que na América do Norte, os Estados
Unidos no pós-independência, abriram o seu mercado à economia mundial, tornando a sua
marinha mercante a perder somente para a Inglaterra. Segundo Klein,
Na época do primeiro censo federal de 1790, contaram-se 3,1 milhões de
colonizadores brancos - todos, obviamente, imigrantes – e 757 mil escravos
africanos. Por volta de 1820 – período para o qual existem finalmente bons
dados estatísticos sobre a migração internacional – a população norte-
americana havia subido para 7,8 milhões de brancos e 1,7 milhão de escravos.
Estes últimos, apesar do fechamento, em 1808, do comercio escravo do
Atlântico para a América do Norte, aumentaram em número. Os Estados
unidos haviam surgido, então, como a terra de atração prioritária para os
migrantes europeus, uma posição que não abandonaria nos dois séculos
seguintes (KLEIN, 2000: 21).
europeus do Leste e do Sul, ou seja, italianos, poloneses, russos, gregos, entre outros, tiveram
nas condições socioeconômicas do desenvolvimento do capitalismo nos seus respectivos países
de origem, razões para migrarem.
Com o perfil do jovem adulto do sexo masculino predominante, imigrantes destas
nacionalidades passaram a se destacar, mas não a ponto de minimizarem o perfil das
nacionalidades predominantes até década de 1880. Ingleses, irlandeses, alemães, escandinavos,
portugueses e espanhóis permaneceram com significativos números de contingentes
populacionais destinados ao continente americano mesmo após a década de 1880. Sendo
constituídos fundamentalmente por camponeses e trabalhadores rurais e suas respectivas
famílias, esses grupos conseguiram no Brasil um importante espaço para permanecerem, uma
vez que, segundo Herbert Klein, “mesmo após 1880, o Brasil continuou a sublinhar mais a
importação de famílias que de trabalhadores solteiros do sexo masculino” (KLEIN, 2000, p.25).
A natureza disto? Para compreendê-la se faz necessário entender a política imigratória
brasileira, ou seja, se faz necessário remetermo-nos às primeiras ações e experiencias realizadas
pelo Governo brasileiro no que dizia respeito a tal tema, seja no imediato pós-independência ou
até mesmo na consideração do impacto da vinda da Corte portuguesa para o Brasil em 1808.
Como assinalado na introdução, fez-se necessário recorrer a estudos mais clássicos para
entender as características da imigração brasileira no século XIX.
Pensando na divisão em três fases, proposta por José Fernando Carneiro, o período
analisado na presente pesquisa inserir-se-ia predominantemente na primeira fase, que engloba
os anos entre 1808 e 1886 (CARNEIRO, 1950). Nessa fase, segundo o autor, o imigrante era
considerado como mão de obra suplementar ao trabalho escravo. A escravidão, por sua vez,
teria exercido forte influência para o empecilho à vinda de imigrantes europeus, arredios ao
estabelecimento em terras brasileiras em condições análogas às dos escravos brasileiros.
A análise realizada por Carneiro nos apresenta características gerais da imigração
apresentando elementos como o sistema de parcerias, as ideias sobre migração espontânea e
migração dirigida, a substituição da mão de obra ocorrida no final do século e a entrada de
imigrantes entre 1820 e 1947, no Brasil, que corresponderiam em números 4.903.991
imigrantes.
23
De acordo com uma tabela, elaborada pelo IBGE, a entrada de imigrantes no Brasil, entre
os anos de 1820 e 1975, se deu da seguinte forma:
12
Trata-se do Decreto de 25 de novembro de 1808, de D. João VI, cujo objetivo era permitir a concessão de
sesmarias aos estrangeiros residentes no Brasil, cujo teor era o seguinte: “Sendo conveniente ao meu real serviço
e ao bem público, aumentar a lavoura e a população, que se acha muito diminuta neste Estado; e por outros motivos
que me foram presentes: hei por bem, que aos estrangeiros residentes no Brazil se possam conceder datas de terras
por sesmarias pela mesma fórma, com que segundo as minhas reaes ordens se concedem aos meus vassallos, sem
embargo de quaesquer leis ou disposições em contrario. A Mesa do Desembargo do Paço o tenha assim entendido
e o faça executar.” BRASIL. Decreto de 25 de novembro de 1808. In Colecção das Leis do Brasil de 1808. Rio de
Janeiro: Imprensa Nacional, 1891, p. 166. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/historicos/dim/DIM-25-11-1808.htm
Acesso em 6 mai. 2020.
25
nativos, ou seja, a todos os pequenos agricultores, estimulando dessa forma expansão dos
latifúndios no Brasil.
Estes fatos fizeram com que a iniciativa privada investisse na criação de colônias
particulares, seja no modelo de núcleos coloniais, seja no estilo que ficou conhecido como
sistema de parceria. Nesse último, de acordo com Manuel Diégues Jr, os cafeicultores recebiam
empréstimos do governo imperial, em média dez contos de réis, que devolveriam em seis anos
sem juros. Com esse dinheiro, contratavam empresas para aliciarem e transportarem imigrantes
europeus (DIÉGUES JR., 1964). Destacou-se, como iniciativa pioneira nesse aspecto, a
introdução, em 1847, de 80 famílias, vindas da Alemanha, na fazenda paulista de Ibicaba, de
propriedade de Nicolau Pereira de Campos Vergueiro (1778-1859), político e fazendeiro de
café.
Todavia, para Luiza Iotti, a falta de clareza nos contratos estabelecidos com os
imigrantes enfraqueceu esse sistema, assim como a mentalidade escravista, destacada por
Petrone. Ou seja, não foi fácil introduzir o trabalhador livre em uma sociedade de mentalidade
escravista que estava acostumada a sujeitar sua força de trabalho a condições precárias do
próprio trabalho e de vida.
Deste modo, a criação de núcleos coloniais se sobrepôs ao de sistemas de parceria. De
acordo com Iotti, de 1850 a 1889 foram criadas 250 colônias no Brasil, sendo que destas 197
(78,8%) eram particulares, 50 (20%) imperiais e 3 (1,2%) provinciais. A autora destaca também
a variedade de decretos promulgados depois de 1850, autorizando o funcionamento de
sociedades colonizadoras e aprovando contratos celebrados entre o governo e particulares para
venda e colonização de terras devolutas (IOTTI, 2010).
Por sua vez, Petrone ressalta inúmeros exemplos de particulares ou sociedades que se
lançaram a organizar núcleos coloniais no sul do país (PETRONE, 1982). As terras no Rio
Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná podiam ser adquiridas a baixo custo do Estado ou de
particulares, o que possibilitava obter lucros com a venda de lotes aos imigrantes e suas famílias.
A autora também menciona um cenário diferente deste, o de São Paulo, no qual o
objetivo era atrair o imigrante acenando com a possibilidade dele se tornar pequeno proprietário
após um efetivo tempo de contribuição da sua força de trabalho nas fazendas de café. Ou seja,
os corolários decorrentes da Lei de Terras fizeram com que o governo paulista concedesse
alguns favores. Nesse sentido, aos colonos foi permitido o pagamento das terras em cinco
prestações, a contar do fim do segundo ano de seu estabelecimento; lotes para os filhos maiores
de 18 anos, que quisessem se estabelecer separadamente dos pais; edifício especial para
30
Apesar de ter sido sede da capital da Corte e lugar de entrada de muitos imigrantes pelo
porto, o Rio de Janeiro demorou para receber atenção de estudos relacionados à imigração como
outras regiões do país o foram. Isso pode ser explicado pela dificuldade em se realizar um
quadro estatístico sobre os contingentes que realmente ficaram nessa região, devido, ou ao
deslocamento destes para as províncias de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais ou Santa
Catarina, ou à proximidade geográfica entre a Província do Rio de Janeiro e a Corte que teria
feito com que a política imigratória realizada nesta região apresentasse especificidades.
No censo geral de 1872, o primeiro na história do Brasil, é possível ver tanto o
quantitativo da população nas províncias quanto no Município Neutro. Assim, em 1872 a
população na Província do Rio de Janeiro era de 782.724 habitantes. Entre estes, 292.637 eram
escravos e 490.087 eram livres. Dentre a população escrava, 20.743 mulheres eram
consideradas estrangeiras e 35.519 homens eram considerados estrangeiros. Entre a população
livre, 8.421 mulheres eram consideradas estrangeiras e 29.963 homens eram considerados
estrangeiros.
31
Assim como ocorre com estudos sobre outros temas, as pesquisas que se debruçam sobre
o contexto do Rio de Janeiro, no século XIX, devem atentar para as suas especificidades. Não
se pode cometer o equívoco de se estender os resultados de análises sobre esta região para todo
o restante do país. E por outro lado não se pode ignorar que a proximidade à sede do Império
de algumas regiões fluminenses trouxe implicações quanto às ações públicas para os maias
variados temas de que se cercavam.
Deste modo, faz-se necessário buscar elucidar as diferenças entre a Província e a capital
da Corte do Rio de Janeiro, e para tal é referência a pesquisa realizada por Maria de Fátima Silva
Gouvêa (GOUVÊA, 2008).
Ao utilizar como principal fonte a produção legislativa da assembleia provincial
fluminense, a autora analisou a dinâmica política que relacionou os diferentes grupos de
interesses existentes no período compreendido entre 1822 e 1889.
A autora destacou que não houve interesse dos políticos da província fluminense na
implementação do imigrante como mão de obra em tal região até pelo menos 1886. Assim, a
elite cafeeira provincial refletiu, na legislação, seus interesses na utilização da mão de obra do
trabalhador nacional durante quase todo o período imperial. No entanto, o mais importante é
compreender como se chegou a tal resultado. É necessário remetermo-nos ao período pós-
independência para compreendermos a situação da província do Rio de Janeiro.
Lembremos que, por abrigar a sede da capital do Império, a Província do Rio de Janeiro
ganhou importância neste início de século e foi palco de intensos eventos políticos que
marcaram as décadas de 1820 e 1830.
Nesses anos iniciais do Primeiro Reinado houve uma intensa atividade legislativa para
assegurar a governabilidade do novo governo tentando conciliar o modelo constitucional liberal
com a monarquia e a escravidão. Porém, o denominado Poder Moderador, que seguiu
32
centralizando o poder do governo central, incomodou as elites locais que buscavam autonomia
para as suas respectivas províncias.
A abdicação de D. Pedro I, em 1831, permitiu um rearranjo político e abriu espaço para
execução dos projetos das elites liberais, garantindo a ampliação de representatividade das
províncias na construção do Estado brasileiro. Expressão disto foi a lei n. 16, de 12 de agosto
de 1834, também conhecida como Ato Adicional, que alterou a Constituição de 1824 e ampliou
a dimensão das reformas liberais até então empreendidas.
Dentre modificações que o Ato Adicional propiciou, destacou-se a transformação da
sede da Corte, a cidade do Rio de Janeiro, em Município Neutro, constituindo-se numa unidade
administrativa distinta da província fluminense.
Como o mapa abaixo nos informa, a Província do Rio de Janeiro, na década de1850,
continha 85 freguesias distribuídas entre 20 vilas e 9 cidades que integravam as 8 comarcas
mais o Município Neutro. Este último, continha 16 freguesias, dez a mais do que a capital da
província, que passou a ser a cidade de Niterói. No entanto, 6 freguesias do Município Neutro
encontravam-se fora da cidade, expandindo-se administrativa e geograficamente13.
13
Freguesia de Inhaúma, Freguesia de Irajá, Freguesia de Campo Grande, Freguesia de Jacarepaguá, Freguesia de Guaratiba,
Freguesia da Ilha do Governador e Freguesia da Ilha de Paquetá.
33
COMARCA DE NICHTEROY
Ilustração I- Carta Topographica e Administrativa da Província do Rio de Janeiro e do Município Neutro. Disponível em:
https://i.pinimg.com/originals/e8/14/5e/e8145eec7bbf8b4c58f8883da7e95df9.jpg Acesso em 22 de novembro de 2019.
Segundo Gouvêa, até então a província e a cidade do Rio de Janeiro vinham sendo
mantidas sob a gestão da Secretaria de Estado dos Negócios do Império. Foi suprimido, então,
o Conselho de Estado, órgão profundamente identificado ao centralismo político e à
preponderância do Poder Executivo sobre os demais poderes.
Vale destacar também a transformação dos conselhos gerais de províncias em
assembleias legislativas provinciais. As províncias passaram a contar com duas esferas distintas
de decisão político-administrativa, a presidência da província, cuja nomeação cabia ao governo
central, e as assembleias legislativas, cujos membros eram escolhidos em eleições censitárias.
Por outro lado, o fim das eleições para juízes locais fez com que as câmaras municipais ficassem
34
Ilustração II- Carta topographica de parte da província do Rio de Janeiro e do município neutro: extraída da carta do Arquivo da Directoria da
Provincia. José Pereira de Sá. 1854. Disponível em:
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart534323/cart534323.jpg Acesso em 22 de novembro de 2019.
No entanto, esses grupos, segundo Gouvêa, só foram unificar suas estratégias políticas
a partir da década de 1870. Até este período, destaca a autora, eles tiveram que fazer o governo
funcionar perante um contexto de centralização política de um Estado monárquico, concretizado
na década de 1840. De acordo com a autora:
(...) muito pouco foi deixado sob a responsabilidade das instituições políticas
e administrativas provinciais, que ficaram completamente restritas em termos
de tentar inovar, criar ou mudar qualquer coisa relativa à organização político-
administrativa de suas províncias. Dentre as poucas áreas de atuação deixadas
a cargo dos cuidados provinciais estavam a educação, a organização e a
aprovação dos orçamentos provinciais e municipais (GOUVÊA, 2008:76).
35
Poderia estar aí umas das explicações para que a Província não investisse na força de
trabalho do imigrante?
Durante as décadas de 1850 e 1860, apesar da diversificação de visões nos grupos
fluminense, houve, ainda que em menor extensão, uma preocupação com o fluxo de imigrantes
europeus para suplementar a mão de obra escrava.
No entanto, é difícil falar em uma formulação e aplicação concreta de uma política de
imigração e colonização até a década de 1880, já que a mão de obra imigrante era vista como
suplementar e não substituta ao trabalho escravo. Por outro lado, quando a Província passou a
ter mais autonomia, em meados da década de 1870, a escolha dos fazendeiros fluminenses foi
a opção por atrair trabalhadores livres brasileiros ao invés de europeus. Segundo Gouvêa:
Desde o primeiro momento em que a matéria foi debatida, fazendeiros e
políticos na província consideraram a questão da substituição da mão-de-obra
escrava uma questão secundária em relação à necessidade de melhoria das vias
de transporte. Condições existentes na província fundamentaram tal escolha,
pois era cada vez mais evidente a inexistência de recursos econômicos que
pudessem de fato atrair imigrantes europeus. Isso era particularmente
significativo em face da presença de um grande contingente de trabalhadores
livres brasileiros na região, plenamente disponíveis para assumir o trabalho
necessário à manutenção das fazendas fluminenses. (GOUVÊA, 2008:57).
Ou seja, a utilização da mão de obra imigrante foi debatida não só pelos fazendeiros
como pela assembleia legislativa. Mas a escolha pela não intensificação de sua utilização, pelo
menos nesse primeiro momento, realizou-se de forma deliberada e consciente.
Enquanto que nas décadas de 1850 e 1860, os deputados provinciais tenham conferido
pouca importância a este tema, ante a necessidade de construir estradas na província, nas
décadas de 1870 e 1880, foi apresentado, como já mencionado, um cenário de estratégias
unificadas dos diferentes grupos que compunham a assembleia provincial legislativa, afim de
defenderem-na, no qual foi proposta a definição de uma estratégia relacionada à imigração. E
como já mencionado anteriormente, também, o interesse pela imigração e colonização europeia
não se realizou até os anos finais do Império.
Antes disso, novas diretrizes relacionadas à questão da mão de obra haviam sido
elaboradas. Em um cenário caracterizado pela promulgação da Lei do Ventre Livre em 1871 14
e pelas críticas de alguns deputados ao presidente da Província, por este proteger os interesses
do governo central em detrimento dos interesses provinciais, o tema da colonização europeia
foi abandonado. O dilema que se instaurou nesse sentido, e que ocasionara tal atitude, foi em
14
BRASIL. Lei n. 2.040, de 28 de setembro de 1871. Coleção das leis do Império do Brasil, Rio de Janeiro, v. 1,
p. 147, 1871. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/496715. Acesso em 12 de janeiro de 2019.
36
relação a como a província fluminense, então passando por condições financeiras precárias, iria
financiar a organização de um esquema de colonização europeia, e ao mesmo tempo pagar
salário aos trabalhadores livres.
A Província, próxima geograficamente à sede da Corte, mas já distinta política,
administrativa e economicamente de tal, não ficou fora deste contexto, pois, segundo Iraci
Girardi Presa, o Governo Imperial teve que determinar uma série de medidas visando conter os
gastos de uma forma geral (PRESA, 1977). Exemplos dessa contenção foram os gastos
diminutos referentes à colonização, tendo em vista de um déficit orçamentário causado, entre
outras coisas, pelos gastos com a Guerra do Paraguai e pelos gastos extras devido à seca no
Nordeste (UDAETA, 2013).
Deste modo, a questão da colonização europeia só retornou à pauta da Assembleia
Provincial Fluminense quando, em 1885, o Partido Conservador ocupou o Governo Provincial.
Mas nas quatro décadas anteriores, quando tal debate era secundário, a Província não deixou de
ser cenário da entrada de imigrantes. Porém, o que fica claro, é que seus sucessivos governos não
haviam investido na imigração da mesma forma como haviam feito as províncias de São Paulo
e do Paraná.
Na primeira, segundo Paulo César Gonçalves, a busca por braços para a lavoura fez com
que a imigração, dirigida pelo governo paulista, tivesse início na segunda metade do século XIX
(GONÇALVES, 2014). Ainda que, como já mencionamos, experiencias de núcleos coloniais,
no estilo de sistemas de parcerias, tivessem existido antes disso, foi somente, após 1850, que o
governo paulista passou a celebrar contratos com companhias ou associações como a Associação
Auxiliadora da Colonização e da Imigração, que ficou responsável pela introdução de 15 mil
imigrantes europeus no período de 5 anos.
Já no caso da província do Paraná, Iraci Girardi Presa destacou a existência de duas
hospedarias no contexto do Segundo Reinado: uma em Paranaguá e outra em Curitiba (PRESA,
1977). Utilizando fontes como os manuscritos de relatórios de diretores de colônias,
requerimentos de colonos e jornais, a autora analisou a política imigratória oficial e seus
objetivos, os métodos de aplicação e a reação dos imigrantes em relação à tal política nesta
província. Além de destacar a deficiência do serviço de hospedagem nas hospedarias, Presa
mencionou a existência de outras duas hospedarias que funcionaram no Rio de Janeiro, a do
Morro da Saúde e a da Ilha das Flores.
Os exemplos acima apresentam dois elementos importantes para o processo de
imigração no século XIX: as associações promotoras de imigração e as hospedarias de
imigrantes.
37
Ilustração III- Quadro geral da população do Estado do Rio de Janeiro, p.115. In Brasil. Ministério da Indústria, Viação e
Obras Públicas. Diretoria Geral de Estatística. Synopse do recenseamento de 31 de dezembro de 1890. Rio de Janeiro: Officina
da Estatistica, 1898, p.115. Disponível em: http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/227299. Acesso em 27 de janeiro de
38
empenhadas em trazer colonos para a província paulista, por meio de auxílio do governo, e
nesta direção permaneceram atuando até o final do Império e início da República, quando
também participaram da criação, em 1886, da Sociedade Promotora de Imigração, que
funcionaria até o ano de 1895 (GONÇALVES, 2017).
A Sociedade Promotora de Imigração, como uma instituição privada que se constituiu
para gerir os recursos públicos do governo geral, voltados para apoiar a imigração na província,
teve como função primordial intermediar as negociações entre os contratantes e os contratados
(imigrantes), e, também, propagar, via correspondência aos imigrantes, já instalados nas
hospedarias, as vantagens da imigração no Brasil, especialmente em São Paulo. Esta sociedade
concentrou, desde sua criação, as atividades de subsídio para a vinda de imigrantes, por meio
do pagamento de passagens, fornecimento de hospedagem, alimentação, e posterior realocação
dos imigrantes nas fazendas e núcleos coloniais paulistas (CHRYSOSTOMO; VIDAL, 2014).
A Sociedade, com sócios oriundos da elite cafeeira, e amparada pela legislação do
Império e da província que estabelecia o sistema de imigração por contrato, com reembolso da
passagem ao imigrante ou à família de imigrantes, alcançou seu apogeu quando assumiu a
administração da Hospedaria do Brás, cujas obras iniciadas em 1886 foram concluídas no ano
de 1888. De acordo com Paulo César Gonçalves, a construção desta hospedaria foi respaldada
pela Lei Provincial n. 56, de 21 de março de 1885, que havia autorizado o governo a construir
uma nova hospedaria de imigrantes, de forma a suprir a demanda de hospedagem em melhores
condições, tanto em termos quantitativos e qualitativos, que não eram plenamente atendidas
pelas hospedarias existentes, como a localizada no bairro do Bom Retiro (GONÇALVES,
2017).
A partir de então, e até 1895, quando deixou de funcionar, essa Sociedade teve acesso
livre aos imigrantes, para realizar as negociações contratuais, em um sistema em que o governo
comprometia-se a fornecer uma subvenção anual de 20 contos, pagos em prestações mensais, e
continuava responsável pelas despesas com alimentação, medicamentos, água, luz, móveis,
utensílios e manutenção do edifício. Ou seja, o controle da mão de obra foi exercido, em grande
medida, com sucesso pelos cafeicultores paulistas, pelo menos até o momento em que a referida
sociedade deixou de funcionar, quando outras formas de organização da imigração foram
instituídas, tendo em vista a reorganização do aparelho estatal com a República.
Esse jogo político foi abordado, também, por Chrysostomo e Vidal, quando trataram dos
locais de hospedagem de imigrantes, ao longo do século XIX, como territórios de espera
(CHRYSOSTOMO; VIDAL, 2014). Ao analisarem fontes como os relatórios da Secretaria de
Estado dos Negócios do Império da década de 1830, tais autores identificaram a Sociedade
41
Colonizadora da Bahia, criada em 1836 pelo estadista e diplomata brasileiro, Miguel Calmon
du Pin e Almeida (1796-1865) (Marquês de Abrantes), que tinha entre suas atribuições as
tarefas de recolher, proteger e sustentar os colonos até a sua contratação. Destacaram, ainda, o
auxílio do Governo Imperial na criação da Sociedade Promotora de Colonização, em 1836.
Segundo tais autores, esta sociedade, de caráter privado, tinha como objetivo a introdução de
colonos brancos, e de bons costumes no Império, fornecendo agasalho, proteção e comodidades
para o estabelecimento dos colonos em terras brasileiras.
No entanto, como já vimos, foi somente a partir do final dos anos de 1840, e início dos
anos 1850, com a reformulação do escopo legislativo voltado para impulsionar a imigração e a
colonização, que modificações começaram a ocorrer. Como exemplo dessas modificações,
estava o fato de que os presidentes das províncias poderiam auxiliar qualquer companhia quanto
ao estabelecimento de locais de recepção. Chrysostomo e Vidal destacaram que este foi o
contexto de criação, nos dois lados do Atlântico, de toda uma infraestrutura especializada para
regular a vinda, o estabelecimento e a distribuição dos imigrantes no território. Porém,
Ainda assim, tanto no Brasil quanto no exterior, os imigrantes se confrontaram
com a desorganização das instituições criadas e um relativo desinteresse dos
governos em relação aos abusos cometidos nessa transação comercial
(envolvendo negociantes, agentes, companhias de navegação, fazendeiros
etc.). Não é então de estranhar que os primeiros depósitos, casas e pequenos
hospitais para receber os imigrantes continuassem a ser improvisados.
Portanto, mesmo que muitas das províncias, no seu conjunto legislativo,
dessem autorização às companhias para auxiliar o estabelecimento de
depósitos de colonização, a verdade é que muito pouco investimento foi
realizado nesse ramo (CHRYSOSTOMO; VIDAL, 2014: 5).
Assim como Iotti, Gabriela Ucoski da Silva, igualmente atenta à questão dos lugares de
recepção, destaca que a Associação Central de Colonização, além de importar o quantitativo já
15
Bernardo Augusto Nascentes de Azambuja nasceu na cidade do Rio de Janeiro no segundo decênio do século
XIX e faleceu em 1875 ou 1876. Formou-se em Ciências Sociais e Jurídicas pela Faculdade de São Paulo. Entrou
para a carreira da magistratura, que deixou depois de ser nomeado juiz de direito. Serviu na Secretaria de Estado
dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. Exerceu o cargo de diretor na Diretoria das Terras
Públicas e Colonização e também foi deputado pelo Rio de Janeiro na legislatura de 1849 a 1852. AZAMBUJA,
BERNARDO AUGUSTO NASCENTES DE. In BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario
Bibliographico Brazileiro. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1883. 1v. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/221681. Acesso em 12 de fevereiro de 2019.
16
BRASIL. Decreto nº 1.584, de 2 de abril de 1855. SENADO FEDERAL. Portal Legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/legislacao/publicacaosigen.action?id=393335&tipodocumento=dec-n&tipotexto=pub.
Acesso em 17 de março de 2019.
43
Segundo Rosa Udaeta, a Hospedaria da Ilha do Bom Jesus, no Rio de Janeiro, foi usada,
na década de 1860, como o local para onde eram enviados os imigrantes contratados pela
Associação Central de Colonização. De acordo com esta autora, fontes “relatam problemas e
queixas dos portugueses que ficavam mais dias do que esperavam, às vezes meses, na Ilha do
Bom Jesus, aumentando a sua dívida com a Associação e que às vezes, eram obrigados a seguir
para trabalhar em São Paulo” (UDAETA, 2013: 61-62).
No entanto, neste período não houve retrocessos quanto à discussão sobre locais de
recepção de imigrantes. Segundo Chrysostomo e Vidal, “a experiência dessa instituição, muito
comentada no momento da sua criação, deixou como referência um modelo de administração
dos espaços de acolhimento” (CHRYSOSTOMO; VIDAL, 2014: 10).
Como exemplo, os autores citam a Sociedade Internacional de Imigração, que teve seu
estatuto aprovado pelo decreto nº3.628 de 16 de março de 186617 . Esta Sociedade teve, entre
seus fundadores, o político Aureliano Cândido Tavares Bastos (1839-1875), e funcionou apenas
por um ano. Chrysostomo e Vidal destacam que um dos objetivos da Sociedade Internacional
de Imigração era a constituição de um estabelecimento nos moldes de Castle Garden, estação
de imigrantes erguida entre 1808 e 1811 em Nova Iorque (EUA). Segundo Gabriela Silva, em
Castle Garden os imigrantes “eram minuciosamente examinados, a fim de verificar se nenhum
doente havia escapado do período de quarentena. Passado este momento, os imigrantes eram
levados para realizar o seu registro e receber as informações sobre seu destino” (SILVA, 2014:
86).
De acordo com George Svejda, no final da década de 1860, Castle Garden estava
inserido em uma estrutura constituída por doze departamentos responsáveis pela recepção dos
imigrantes: o Departamento de Embarque; o Departamento de Desembarque; o Departamento
de Registros; os Agentes Ferroviários; o Serviço de Entrega de Bagagens; os Corretores de
Câmbio; o Departamento de Informações; o Departamento de Correspondências; os Guardas;
o Departamento de Encaminhamento; a Enfermaria; e o Departamento de Trabalho (SVEJDA,
1968).
Assim como a Associação Central de Colonização, a Sociedade Internacional de
Imigração não conseguiu construir uma hospedaria própria, tendo que utilizar determinados
17
BRASIL. Decreto nº 3.628 de 16 de março de 1866. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1866, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1866. Tomo XXIX, Parte II, p.152-154. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3628-16-marco-1866-554358-
publicacaooriginal-72954-pe.html. Acesso em 16 de dezembro de 2019.
45
estabelecimentos, muitos dos quais não apropriados para funcionar como hospedarias, em um
contexto em que a insalubridade imperava na cidade do Rio de Janeiro.
De acordo com Luis Reznik e Julianna Carolina Oliveira Costa, a importância atribuída
ao trabalhador europeu, tendo em vista o iminente fim da escravidão, fez com que o Governo
Imperial adotasse medidas para estimular a imigração, como já vimos anteriormente, e também
se responsabilizasse em providenciar um local adequado para receber os imigrantes, que
chegavam à cidade do Rio de Janeiro, e que tinham como destino as colônias oficiais criadas
pelo Império (REZNIK; COSTA, 2019).
Segundo os autores, nesse cenário, o ministro e secretário de Estado dos Negócios da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Manoel Pinto de Souza Dantas (1831-1894), mandou
arrendar um conjunto de prédios situados no Morro da Saúde, de propriedade de José Rodrigues
Ferreira, dono de trapiche na região, e instalou ali uma hospedaria, a Hospedaria de Imigrantes
do Morro da Saúde.
A Hospedaria de Imigrantes do Morro da Saúde, criada em 1866, ficou inicialmente sob
a responsabilidade da Agência Oficial de Colonização, na Corte, órgão público do Governo
Imperial que cuidava dos assuntos ligados à imigração e colonização, e intermediava a
contratação dos imigrantes pelos fazendeiros, além de auxiliar os acordos de distribuição,
compra e venda de lotes de terra em núcleos coloniais18.
Segundo Rosa Udaeta, na Corte, a recepção dos imigrantes deveria ficar por conta do
contratado, amparados pela legalidade dos contratos entre particulares e o Governo Imperial,
que, em sua maioria, na década de 1860 e 1870, estabelecia que as despesas de transporte,
desembarque, agasalho, sustento, tratamento e quaisquer outras de que carecessem os
imigrantes importados pelo particular, bem como a condução de suas bagagens, correriam por
conta do mesmo, nos termos dos contratos celebrados com os imigrantes.
Ainda assim, a Agência Oficial de Colonização continuou recebendo os imigrantes na
Hospedaria do Morro da Saúde. Recebia os imigrantes que tinham contratos estabelecidos,
18
A Agência Oficial de Colonização foi criada em 1864 após a Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura,
Comércio e Obras Públicas ter dissolvido e absorvido a Associação Central de Colonização em 1863. Desse modo,
a Agência Oficial de Colonização, subordinada à Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e
Obras Públicas, substitui a instituição de caráter privado que era a Associação Central de Colonização. Apud SÁ,
Jesuino Marcondes de Oliveira e. In Relatório apresentado á Assembléia Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Segunda Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estados dos Negocios d´Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1865.
In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=6&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1186%2C0%2C4227%2C2981
Acesso em 6 de mai0 de 2020.
46
aqueles que chegassem de forma espontânea, ou seja, sem os agenciadores, e também aqueles
colonos descontentes que haviam abandonado as fazendas e voltado para o Rio de Janeiro, em
busca de novas colocações. Os espontâneos deviam receber agasalho e alimentação
gratuitamente, e aqueles que haviam abandonado as fazendas deveriam arcar com os custos de
alimentação e hospedagem.
Os assuntos relacionados à imigração e à colonização não eram tratados somente pela
Agência Oficial de Colonização, mas também pela Comissão do Registro Geral e Estatística
das Terras Públicas e Possuídas, criada pelo Aviso n. 9, de 30 de março de 1870 e presidida por
Bernardo Augusto Nascentes de Azambuja ( - 1876). Em 1876, com o decreto n.6.192, de 23
de fevereiro, estas instâncias, a Agência Oficial de Colonização e a Comissão do Registro Geral
e Estatística das Terras Públicas e Possuídas, foram fundidas e deram origem à Inspetoria Geral
de Terras e Colonização, a qual seria responsável pelas questões das terras e da imigração. A
Inspetoria foi criada dentro do processo de restruturação da Secretaria de Estado dos Negócios
da Agricultura, Comércio e Obras Públicas19.
Ainda que nesta reestruturação tenha sido proposto um novo local para acolher
imigrantes, a Hospedaria do Morro da Saúde manteve-se em funcionamento até princípios da
década de 1880. Contudo, esse funcionamento não foi ininterrupto. A Hospedaria foi interditada
nos anos de 1876 e 1881. Na primeira interdição, os imigrantes tiveram que ser alojados em
localidades no interior da província do Rio de Janeiro, como Mendes, Barra do Piraí, e na
Colônia de Porto Real. Já em 1881, os imigrantes foram alojados em um navio do Ministério
da Guerra, fundeado na Baía de Guanabara, fazendo com que os imigrantes fossem
transportados diretamente para São Paulo.
De acordo com Luis Reznik e Rui Fernandes, a precarização dos lugares utilizados, até
então, para alojarem os imigrantes, muitas vezes sem condições adequadas e outras vezes
inviáveis econômica e logisticamente, fez com que a Inspetoria Geral de Terras e Colonização
viesse a escolher, em 1883, a Ilha das Flores, localizada na Baía de Guanabara e a poucos
quilômetros do porto do Rio de Janeiro, como local para finalmente realizar a primeira
construção de uma hospedaria do Governo imperial (REZNIK; FERNANDES, 2014).
Através de relatórios imperiais, tais autores destacaram as atuações de outros órgãos na
constituição dessa nova hospedaria. Além da Inspetoria Geral de Terras e Colonização,
19
BRASIL. Decreto nº 6.129, de 23 de fevereiro de 1876. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1876, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1876. Tomo XXXIX, Parte II, vol.1, p.247-255. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-6129-23-fevereiro-1876-549093-
publicacaooriginal-64440-pe.html. Acesso em 17 de dezembro de 2019.
47
destacaram a atuação da Inspetoria Geral de Obras Públicas, para a qual o orçamento foi
apresentado, e da Junta Central de Higiene Pública, à qual coube aprovar a escolha do local em
função das condições de salubridade. Antes deste momento de criação da hospedaria, o interesse
do Governo Imperial pela Ilha das Flores havia se manifestado em 1876, quando para aquela
ilha, pertencente ao político e advogado José Ignácio Silveira da Motta (1811-1893), foi enviada
uma comissão do Imperial Instituto Fluminense de Agricultura, órgão vinculado à Secretaria de
Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, para avaliar as experiências
de piscicultura em curso.
Até a Hospedaria da Ilha das Flores ser inaugurada em 1883, os serviços de acolhimento
dos estrangeiros continuaram sendo realizados na Hospedaria do Morro da Saúde, que encerrou
suas atividades em 1881, e em uma estalagem particular no Baldeador, em Niterói. Vale
registrar, também, que existiram situações em que os imigrantes permaneceram nos navios ou
nas próprias instituições do Governo Imperial, na Corte (REZNIK; FERNANDES, 2014).
No mesmo ano de inauguração da Hospedaria da Ilha das Flores, 1883, foi fundada, no
Rio de Janeiro, a Sociedade Central de Imigração. Lucia Lippi Oliveira destacou a criação desta
Sociedade, que funcionou entre 1883 e 1891 no Rio de Janeiro, tinha como objetivo trazer
imigrantes para o trabalho em pequena propriedade, visando a transformar um país de latifúndio
monocultor em uma sociedade com cultura múltipla e de pequena propriedade (OLIVEIRA,
2002). Já Arthur Daltin Carrega, atentou para a preocupação com a modernização técnica,
cientifica e material presente na fundação desta Sociedade. Segundo este autor, esta Sociedade,
(...)militou a favor de melhorias na estrutura e nas leis do país com intuito de
garantir ao imigrante a inclusão social, o acesso à propriedade de terra e a
estrutura necessária para comercializar os seus produtos. Lutavam para que o
imigrante fosse acolhido pelo governo e pelo povo brasileiro, reconhecido
socialmente e, assim, compusesse a “grande nação” brasileira (CARREGA,
2015: 1).
Ou seja, para tal autor a Sociedade Central de Imigração representou, durante os anos
de seu funcionamento - 1883 a 1891 -, os anseios de indivíduos da nova classe média-alta
urbana, sobretudo intelectuais, profissionais independentes com treinamento científico e
técnico, altos funcionários públicos e negociantes envolvidos no comércio externo. De acordo
com Hall, os primeiros organizadores da Sociedade foram três destacados imigrantes alemães:
Karl von Koseritz (1830-1890), jornalista e deputado provincial do Rio Grande do Sul,
Hermann Blumenau (1819-1899), farmacêutico e fundador da colônia do mesmo nome na
província de Santa Catarina, e Hugo Alexander Gruber, editor do jornal Allgemeine Deutsche
Zeitung, no Rio de Janeiro. Vemos, então, uma composição diferente nesta associação em
relação à composição de outras associações e companhias, nas quais a se fazia bastante presente
a elite cafeicultora.
As ideias da Sociedade Central de Imigração, já no primeiro ano de seu funcionamento,
eram expressas no jornal mensal intitulado A Immigração. Por meio deste, a Sociedade divulgou
seus estatutos, publicou os informes aos imigrantes, e noticiou as informações acerca da
imigração europeia no país, do trabalho político por reformas necessárias, e da divulgação, na
Europa, da imigração para o Brasil. Entre os profissionais liberais, intelectuais, professores e
comerciantes que compunham a Sociedade, a meta principal que se estabeleceu era a criação
de uma forte classe média rural, composta por imigrantes europeus que seriam agricultores
independentes. Segundo Hall, a Sociedade criticava, com veemência, o sistema da grande
lavoura, que caracterizava a agricultura brasileira desde o século XVI.
Porém, ainda de acordo com este autor, a Sociedade Central de Imigração não deve ser
vista como progressista, uma vez que não discutiu a questão da abolição com veemência, ainda
que integrantes da mesma fossem abolicionistas. A existência da escravidão não era considerada
como um sério obstáculo ao tipo de imigração que a Sociedade tinha em mente. Esta, por sua
vez, não só não conseguiu colapsar o sistema de agricultura vigente, como também não conseguiu
emergiu seus integrantes como uma classe média nacional poderosa em conflito com a elite
agrária, ainda que caracterizassem um grupo reformista no final do Império e início da
República.
Este período de transição de regimes políticos circunscreveu mudanças na política
imigratória, que por ora não serão objeto de aprofundamento nessa dissertação. Tais mudanças,
no entanto, aconteceram no final do século XIX, e ligaram-se indissociavelmente ao processo
de amadurecimento que a política imigratória brasileira sofreu com a intensificação de ações
para além do campo legislativo, sobretudo, a partir dos anos 1850.
49
Ilustração IV-População do Distrito Federal. In Brasil. Ministério da Indústria, Viação e Obras Públicas. Diretoria Geral de
Estatística. Synopse do recenseamento de 31 de dezembro de 1890. Rio de Janeiro: Officina da Estatistica.1898, p.33. Disponível em:
http://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/227299. Acesso em 27 de janeiro de 2020.
20
Tabela 1 - População brasileira - 1776/1869. In IBGE. Memória. Sínteses históricas. Disponível em:
https://memoria.ibge.gov.br/sinteses-historicas/historicos-dos-censos/censos-demograficos. Acesso em 20 de
janeiro de 2020.
52
De acordo com esses números, nesses cinco anos, mais de 60 mil estrangeiros entraram
no país, com interesse de residência na Corte. No entanto, dados acerca do quantitativo da
população de estrangeiros na Corte somente foram encontrados no “Relatório sobre o
Arrolamento da População do Município da Corte em 1870”21 . Neste relatório de 1870 estavam
expressos o número da população total do município: 235.381 habitantes; o quantitativo de
livres e escravos, respectivamente, 185.289 e 50.092; a quantidade de homens e mulheres,
133.320 e 102.061, respectivamente; e a nacionalidade dos habitantes, sendo 156.705
brasileiros e 78.676 estrangeiros.
Já com o censo de 1872, como veremos no mapa demonstrativo a seguir, é possível ver
o quantitativo da população no Município Neutro e as características de tal, como a condição
de livre ou escravo, o sexo e a nacionalidade:
21
Relatório sobre o Arrolamento da População do Município da Côrte em 1870. In IBGE. População do Rio de
Janeiro (1799-1900). pp.6-30. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/monografias/GEBIS%20-%20RJ/RJ1799_1900.pdf
Acesso em 20 de janeiro de 2020.
54
Na população escrava, que era de 48.939, 6.877 homens eram considerados estrangeiros
e 4.096 mulheres eram consideradas estrangeiras. Enquanto na população livre, cujo total era
de 226.033 habitantes, 17.302 mulheres eram estrangeiras e 56.008 homens eram estrangeiros.
Enquanto isso, com uma população de 782.724 habitantes, a Província tinha 20.743 mulheres
estrangeiras e 35.519 homens estrangeiros numa população escrava de 292.637 pessoas. Entre
os livres, que somavam 490.087 pessoas, 8.421 mulheres eram consideradas estrangeiras e
29.963 homens eram considerados estrangeiros.
22
FERRAZ, Luiz Pedreira do Coutto. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Decima Legislatura pelo Ministro e Secretário D´Estado dos Negocios do Império Luiz Pedreira do Coutto Ferraz.
Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1857. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via
base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=25&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1205%2C-
1%2C4360%2C3076 Acesso em 17 de março de 2019.
57
23
BRASIL. Decreto nº 1.915, de 28 de março de 1857. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1857, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1857. Tomo XX, Parte II, p.123. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1915-28-marco-1857-557933-
publicacaooriginal-78700-pe.html. Acesso em 31 de janeiro de 2020.
BRASIL. Decreto nº 1.986, de 7 de outubro de 1857. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1857, Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1857. Tomo XX, Parte II, p.322. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1986-7-outubro-1857-558053-norma-pe.html.
Acesso em 31 de janeiro de 2020.
24
BRASIL. Decreto nº 3.254, de 20 de abril de 1864. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1864, Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1864. Tomo XXVII, Parte II, p. 59-60. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3254-20-abril-1864-554842-publicacaooriginal-
73797-pe.html. Acesso em 16 de dezembro de 2019.
58
25
SÁ, Jesuino Marcondes de Oliveira e. Relatório apresentado á Assembléia Geral Legislativa na Terceira Sessão
da Decima Segunda Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estados dos Negocios d´Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1865. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=6&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1186%2C0%2C4227%2C2981
Acesso em 6 de maio de 2020.
26
DANTAS, Manoel Pinto de Souza. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Decima Terceira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1867. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=8&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1093%2C-1%2C4184%2C2952
Acesso em 17 de março de 2019.
27
José Rodrigues Ferreira nasceu no Rio de Janeiro em 10 de abril de 1852, e faleceu em 1905. Formou-se em
Medicina em 1873 e especializou-se em obstetrícia e ginecologia. Após a conclusão do curso no Brasil foi para
Europa, onde esteve na Maternidade de Port Royal em Paris. Foi membro de estacadas academias científicas
internacionais, dente elas a Sociedade de Higiene e a Sociedade Química de Paris, as Sociedades de Obstetrícia de
Paris e da Filadélfia. No Brasil foi membro da Academia Imperial de Medicina da Sociedade Médico-Cirúrgica e
do Instituto Farmacêutico. Apud BLAKE, Augusto Victorino Alves Sacramento. Diccionario Bibliographico
Brasileiro. Rio de Janeiro: Conselho Federal de Cultura, 1970, vol. 2, p.168-171.
59
Nesses três anos apresentados no quadro acima, somam-se quase 28 mil estrangeiros
que desembarcaram no Rio de Janeiro. Muitos desses ficaram e outros saíram, seja para outras
províncias, o quê pode ser considerado como o mais recorrente, ou voltaram para o país de
origem. Decerto é que esse contingente contribuiu para o quantitativo de quase 85 mil
estrangeiros presentes no Município da Corte no ano de 1872, como já vimos anteriormente na
tabela V (página 64).
Após o ano de 1872, os números referentes à entrada de imigrantes no Rio de Janeiro só
voltariam a aparecer nos relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura no ano
de 1876. Nesse ano, de acordo o relatório apresentado à Assembleia Geral Legislativa na 1ª
60
Sessão da 16ª Legislatura, o quantitativo da entrada de imigrantes no país foi de 30.567, sendo
que 21.410 ingressaram pelo porto do Rio de Janeiro e outros 9.157 em portos diversos ao longo
do território28. O relatório informou que as nacionalidades com maior contingente na chegada
ao Rio de Janeiro foram a portuguesa com 7.184 imigrantes, a italiana com 6.701, a austríaca
com 3.530 e a alemã com 2.007 imigrantes.
O relatório também informou que entre os 21.410 imigrantes que chegaram ao Rio,
11.181 não permaneceram na Corte, ou seja, foram em sua maioria para outras províncias como
Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espirito Santo e São Paulo, e em menor quantidade
para freguesias da província do Rio de Janeiro.
Composta pela Comissão do Registro Geral das Terras Públicas e Possuídas e pela
Agencia Oficial de Colonização, a Inspetoria Geral de Terras e Colonização teve seu
28
ALMEIDA, Tomás José Coelho de. Relatório apresentado à Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Decima Sexta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Thomaz José Coelho de Almeida. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança 1877. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=19&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1232%2C0%2C4398%2C3102
Acesso em 17 de março de 2019.
29
ALMEIDA, Tomás José Coelho de. Relatório apresentado à Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Decima Sexta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Thomaz José Coelho de Almeida. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança 1877. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=19&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1232%2C0%2C4398%2C3102
Acesso em 17 de março de 2019.
30
ALMEIDA, Tomás José Coelho de. Relatório apresentado à Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Decima Sexta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Thomaz José Coelho de Almeida. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança 1877. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=19&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1232%2C0%2C4398%2C3102
Acesso em 17 de março de 2019.
61
31
BRASIL. Decreto nº 6.129, de 23 de fevereiro de 1876. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1876, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1876. Tomo XXXIX, Parte II, vol.1, p.247-255. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-6129-23-fevereiro-1876-549093-
publicacaooriginal-64440-pe.html. Acesso em 17 de dezembro de 2019.
62
32
Apud Relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. 1877-1882.
63
liberais urbanos da capital do Império, a Sociedade Central de Imigração exerceu seu papel de
promoção da imigração, fundamentada especialmente na propaganda e não na subvenção de
passagens como faziam outras associações e companhias. O boletim oficial da entidade,
intitulado A Immigração, apresentava as reflexões da Sociedade acerca das questões imigratória
e colonizatória, buscando, nesse sentido, por meio de uma propaganda essencialmente
ideológica, “ora persuadir grupos internos das transformações necessárias para o progresso e
ora para convencer estrangeiros, que tivessem intenções, de que o Império seria um bom
destino.”(CARREGA, 2019: 154).
Atribuir o aumento do número da entrada de imigrantes no Brasil, nas duas últimas
décadas do século XIX, a um fator isolado, como por exemplo à iniciativa da Sociedade Central
de Imigração, seria um equívoco. Por outro lado, devemos olhar para esta instituição
entendendo que esta estava inserida em um contexto no qual a propaganda para a vinda de
imigrantes também tinha se intensificado, assim como havia se fortificado a estrutura para
recepção e acolhimento dos imigrantes.
Os relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas, entre os anos de 1883 e 1891, período de funcionamento da Sociedade Central de
Imigração, apresentaram dados da entrada de imigrantes no porto do Rio de Janeiro, que teria
totalizado 473.264 imigrantes33. Ainda de acordo com tais relatórios, nesse mesmo período
teriam saído 378.772 imigrantes desse porto em direção às províncias, incluindo-se a do Rio de
Janeiro. E mais uma vez, as nacionalidades que apresentaram um maior quantitativo de
imigrantes ingressos foram: a italiana com 161.196 imigrantes, a portuguesa com 112.404, a
espanhola com 38.042, e a alemã com 18.096 imigrantes.
Entre os anos citados, os relatórios, ainda informam, que 19.860 imigrantes foram para
a província do Rio de Janeiro. Ao compararmos esses números com os referentes aos imigrantes
que permaneceram na capital, informados no relatório da Secretaria de Estado dos Negócios da
Agricultura, Comércio e Obras Públicas de 1891, podemos perceber a diferença entre as ações
relacionadas à política imigratória exercida pelo Governo Imperial, transformado em federal, e
pelo Governo Provincial, transformado em estadual. Somente no ano de 1891 o quantitativo de
imigrantes que permaneceu na capital foi de 12.535 imigrantes, sendo que neste mesmo ano,
7.151 imigrantes foram encaminhados para as outras regiões do Estado34.
33
Apud. Relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas. 1883-1891
34
FARIA, Antão Gonçalves de. Relatorio apresentado ao Vice-Presidente da República dos Estados Unidos do
Brazil pelo Ministro D´Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas engenheiro Antão
Gonçalves Faria em maio de 1892. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1892. In Relatórios Ministeriais (1821-
1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global
64
Uma ação importante, neste caso, foi a criação da Hospedaria de Niterói, localizada na
Ilha do Carvalho, próxima à Ilha das Flores. Tendo funcionado entre os anos de 1896 e 1899,
essa hospedaria do Estado do Rio de Janeiro recebeu atenção de Juliana Elianay Olimpio de
Abreu Pires em dissertação sobre as políticas de imigração no estado e os debates parlamentares
sobre tal (PIRES, 2018).
Nesse sentido, podemos aferir que o caráter complementar que a mão de obra imigrante
tinha em outras províncias do país desde a década de 1880, ainda se encontrava de forma
suplementar na província do Rio de Janeiro nos anos finais do Império e nos anos iniciais da
República.
Como vimos, a partir da década de 1850 as hospedarias começaram a serem vistas como
os locais mais adequados para a recepção e acolhimento de imigrantes. As três hospedarias que
estudaremos a seguir, a da Ilha de Bom Jesus, a do Morro da Saúde, e a da Ilha das Flores,
foram expressões do amadurecimento pelo qual a estrutura idealizada pela política imigratória
do Governo Imperial alcançou durante a segunda metade do século XIX.
A busca por estrangeiros para a colonização do território brasileiro e para a utilização
de sua mão de obra nas lavouras caracterizou essa política imigratória (CARNEIRO, 1950). A
tendência de se ter o imigrante colono em núcleos de pequena propriedade, assim como a
tendência de se ter o imigrante presente como braço na lavoura de café, refletiu-se na legislação
que foi sendo promulgada ao longo da segunda metade do século XIX. Os indicadores
referentes aos momentos com maior e menor criação de núcleos coloniais, e aos de maior ou
menor aproveitamento de imigrantes nas fazendas de café, indicaram uma política flutuante
para a imigração (PETRONE, 1987).
Todavia, as ações do Governo Imperial não se realizaram de forma isolada. Iniciativas
privadas, não só criando núcleos coloniais, mas também companhias e associações de promoção
à imigração fizeram parte dessa estrutura que se concretizou em meio ao período das “Grandes
Migrações” (KLEIN, 2000).
Vimos também que mesmo próximo ao Município da Corte, as ações do Governo
Provincial fluminense para atrair imigrantes para as fazendas da região se intensificaram
somente em meados da década de 1880, contexto em que as propagandas para a vinda de
imigrantes, como a realizada pela Sociedade Central de Imigração, também se fortificaram. O
estabelecimento de uma hospedaria, criada e mantida pelo Governo Imperial, se deu somente
com a criação da Hospedaria da Ilha das Flores, em 1883.
Nesse sentido, Hugo Segawa buscou entender o desenvolvimento das hospedarias de
imigrantes no Brasil no final do século XIX, enquanto um programa arquitetônico
intrinsicamente relacionado às migrações transoceânicas, estabelecendo analogias com os
hospitais de isolamento, lazaretos e prisões (SEGAWA, 1989).
De acordo com este autor, as primeiras hospedarias eram variações de lazaretos,
hospitais marítimos e estações de quarentena, sendo a concepção geral de hospedaria
proveniente das instalações que haviam sido criadas na América do Norte, ao longo do século
66
XIX. Segawa destaca que as hospedarias devem ser entendidas como soluções arquitetônicas
que congregaram isolamento sanitário e medidas profiláticas, quando se buscava combater
epidemias mortais em um cenário em que a navegação a vapor possibilitava uma circulação
mais rápida das doenças. Além disso, não se desfrutavam de conhecimentos medico-sanitários
capazes de combater as doenças por completo.
Embora congregassem o caráter assistencial e o médico de outras instituições, as
hospedarias diferenciavam-se, segundo Segawa, no momento em que
(...) adquirem personalidade própria quando impõem funções especificas
inexistentes em qualquer outro programa arquitetônico e, dentro do repertório
de conhecimentos arquitetônicos do período, responderam por uma complexa
estrutura de atendimento a um contingente cuja heterogeneidade étnica e
cultural eram inéditas em nosso ambiente. (SEGAWA, 1989: 40-41)
Embora a Hospedaria da Ilha das Flores, criada em 1883, tenha sido a primeira
estabelecida e mantida pelo Governo Imperial, a Hospedaria da Ilha do Bom Jesus, criada
anteriormente no final da década de 1850, sinalizava a relação entre o Governo Imperial e
particulares, e a busca pela criação de locais para recepção de imigrantes, viáveis econômica e
salutarmente. Por isso é caro começarmos nossa análise sobre as hospedarias a partir da criação
da Hospedaria da Ilha do Bom Jesus. Esta foi instalada em local que hoje está incorporado à
Ilha do Fundão, situado na região administrativa da Ilha do Governador, na Zona Norte da
cidade do Rio de Janeiro.
A Ilha do Bom Jesus, também denominada de Bom Jesus da Coluna, foi uma das oito
ilhas que foram, entre 1949 a 1952, aterradas e integradas para a criação da Cidade Universitária
da Universidade Federal do Rio de Janeiro. O local hoje corresponde à área do Centro de
Tecnologia, da Faculdade de Letras e da atual base do Exército Brasileiro (MENEZES et al,
2005).
67
Ilustração V- Ilha do Bom Jesus atualmente, integrada à Cidade Universitária na Ilha do Fundão- Rio de Janeiro. Google Maps,
2020. Disponível em: https://www.google.com/maps/place/Ilha+do+Bom+Jesus/@-22.8591661,-
43.2223659,3210m/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4!1s0x9979209cfe84e7:0x2fd9e34b50edcf6a!8m2!3d-22.8591667!4d-43.2136111.
Acesso em 27 de janeiro de 2020.
35
Igreja do Bom Jesus da Coluna é reinaugurada no Rio de Janeiro. IPHAN. Disponível em:
http://portal.iphan.gov.br/noticias/detalhes/2087. Acesso em 27 de janeiro de 2020.
36
Rio de Janeiro – Igreja do Bom Jesus. IPHAN. Disponível em: http://www.ipatrimonio.org/rio-de-janeiro-igreja-
do-bom-jesus/#!/map=38329&loc=-22.859478,-43.2123,17. Acesso em 27 de janeiro de 2020. Viva à Ilha do
68
Entende-se com isso que a preocupação com a insalubridade da cidade, e os seus efeitos
no contingente de imigrantes estrangeiros que desembarcava, já se apresentava como questão
relevante no período. A escolha do local teve relação com os surtos epidêmicos que já tinham
acontecido durante a década, e o início do funcionamento da hospedaria foi acelerado devido à
ocorrência de um surto de febre amarela, no ano de 1857, que atingiu lugares para além do
Município da Corte, como Campos e Magé (PIMENTA; BARBOSA; KODAMA, 2015). Este surto
fez com que as autoridades consulares dos imigrantes que estavam por vir, como os franceses e
norte-americanos, questionassem o Governo brasileiro sobre a escolha de um lugar para abrigar
esses imigrantes, fazendo com que o Governo tomasse as medidas mais urgentes, como
informou o relatório da Secretaria de Estado dos Negócios do Império do ano de 1857:
Já no interesse da saúde publica, já no da colonisação, proveu sobre a sorte
dos colonos recém-chegados.
Para que se não conservassem aglomerados à bordo dos navios até que
tivessem destino, resolveu manda-los recolher na hospedaria, que a associação
central de colonisação havia estabelecido na Ilha do Bom Jesus para
recebimento dos que fossem contractados por sua conta, responsabilisando-se
o governo pelas despesas que com aquelles se fizessem emquanto ahi se
demorassem40.
O relatório também informou que o Governo alugou outras casas antevendo uma
possível superlotação da hospedaria, que ainda se encontrava desocupada, mas que em breve
receberia os primeiros colonos contratados pela Associação Central de Colonização. Todavia,
de acordo com o relatório do médico Antonio Félix Martins (1812-1892), então presidente da
comissão administrativa do Hospital Marítimo de Santa Isabel, localizado em Jurujuba, Niterói,
aqueles que fossem acometidos pela febre amarela deveriam ser remetidos para tal hospital,
onde, porém, as despesas do tratamento deveriam ficar a cargo das empresas que haviam trazido
os colonos41.
39
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. O Correio da Tarde. Jornal comercial, politico, litterario e noticioso,
Rio de Janeiro, anno III, n.242, 23 de outubro 1857, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/090000/2601 Acesso em 27 de março de 2020.
40
OLINDA, Marquez de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima
Legislatura pelo Ministro e Secretário D´Estado dos Negocios do Império Marquez de Olinda Lima. Rio de Janeiro:
Typographia Universal de Laemmert, 1858, p.16. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados
Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=26&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1225%2C0%2C4449%2C3138 Acesso
em 17 de março de 2019.
41
MARTINS, Antonio Félix. Relatório dos Trabalhos da Commissão Administrativa do Hospital Marítimo de
Santa Isabel apresentado a Secretaria de Estado dos Negócios do Império pelo presidente da dita Commissão o
doutor Antonio Felix Martins. In OLINDA, Marquez de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na
70
Sendo assim, a utilização das instalações da Hospedaria da Ilha do Bom Jesus realizou-
se de forma antecipada ao previsto pela Associação Central de Colonização, o que não
significou que se realizou de forma improvisada. Em contrato celebrado com o Governo
Imperial, em 28 de março de 1857, uma das obrigações da Associação Central de Colonização,
estabelecida em seu artigo 13º, era:
(...) ter dentro de seis mezes, contados da approvação deste Contracto,
hospedarias e depositos provisorios nos lugares, que forem approvados pelo
Governo, para alojamento e sustento, quer dos colonos que importar, quer dos
que espontaneamente vierem para o Imperio sem contracto com empreza
alguma; com tanto que estes tenhão meios para pagar as despezas que tiverem
de fazer42.
Também ficou estabelecido que no “1º triennio depois deste Contracto deverá a
Associação ter prompta, pelo menos, huma grande hospedaria definitiva, sendo a planta do
edificio, suas condições hygienicas e Regulamentos internos dependentes da approvação do
Governo” 43.
A Hospedaria da Ilha do Bom Jesus foi inaugurada no dia 28 de novembro de 1857,
segundo a notícia veiculada na edição de 29 de novembro do Diario do Rio de Janeiro:
Foi hontem inaugurada a hospedaria provisória da Associação Central de
Colonisação na Ilha do Bom Jesus. Já para ella entrarão algumas das famílias
vindas no vapor Teutonia, e irão no 1º de dezembro 64 passageiros do mesmo
vapor contractados pela presidência da província do Rio Grande do Sul.
A hospedaria está montada com toda a decência, e as famílias desembarcadas
não parecem pertencer às classes inferiores, pois apresentam-se decentemente
vestidos e trazem grossa bagagem, inclusive um piano.44
A partir de então, menções à Hospedaria da Ilha do Bom Jesus, publicadas nos jornais
do Rio de Janeiro, principalmente, tornaram-se cada vez mais frequentes, seja em forma de
noticiário, informando a chegada de imigrantes, seja em forma de anúncio, divulgando o
estabelecimento. Como exemplos, podemos citar a edição de 11 de dezembro de 1857 do Jornal
Segunda Sessão da Decima Legislatura pelo Ministro e Secretário D´Estado dos Negocios do Império Marquez de
Olinda Lima. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1858. In Relatórios Ministeriais (1821-1960).
Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources
Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=26&s=0&cv=348&r=0&xywh=-
1098%2C0%2C4275%2C3015 Acesso em 17 de março de 2019.
42 BRASIL. Decreto nº 1.915, de 28 de março de 1857. Coleção de Leis do Império do Brasil de 1857, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1857. Tomo XX, Parte II, p.123. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1915-28-marco-1857-557933-
publicacaooriginal-78700-pe.html. Acesso em 31 de janeiro de 2020.
43
Ibidem.
44
CHRONICA Diaria. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVII, n.325, 29 de novembro de 1857,
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45483 Acesso em 27 de março de 2020.
71
Tal informativo também apresentou o valor diário da hospedagem de acordo com a idade
dos imigrantes. O valor para crianças de 2 a 5 anos, era de 500 réis por dia, e de 5 a 10 anos era
de 700 réis por dia. Para o indivíduo acima dos 10 anos a diária era de 1.000 réis. A localização
do escritório da Associação também era informada, o qual estava estabelecido na rua Direita,
nº15, onde seria possível obter mais detalhes, como o guia de recepção na hospedaria e a questão
do emprego para os colonos e emigrantes.
Na reportagem de O Correio da Tarde, o relato de imigrantes agradecendo pela estadia
na Hospedaria também foi utilizado como uma forma para promover a hospedaria:
Os colonos abaixo assignados, chegados no vapor Teutonio e tratados na
hospedaria estabelecida pela Associação Central de Colonisação, na ilha do
Bom Jesus, tem como dever confessar publicamente sua gratidão pelo bom
tratamento que aqui tiveram e pela afabilidade e boas maneiras com que os
acolheu e tratou o administrador d’este estabelecimento o Sr. A. V. da Rocha.
A bela e saudável situação d’esta ilha, o ar fresco e puro que n’ella se respira,
unida as circunstancias supra-declaradas, tornaram-no a estada n’este porto
sumamente agradável e alegre, e d’ella conservaremos sempre a mais saudosa
recordação.46
45
HOSPEDARIA de Emigrantes. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XXXII, n.340, 11 de dezembro de
1857, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/12232 Acesso em 27 de março de 2020.
46
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. O Correio da Tarde, Rio de Janeiro, anno III, n.291, 21 de dezembro
de 1857, p.2-3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/090000/2796 Acesso em 27 de março de 2020.
72
Esse mesmo periódico, assim como também o fez O Correio da Tarde, noticiou na
edição de maio a chegada de colonos de Portugal e da Galiza48. A notícia informou que os
favores concedidos pelo Governo Imperial, aos colonos importados pela Associação, havia
tornado as passagens mais baratas, e que entre os imigrantes que se encontravam naquela
Hospedaria havia “lavradores com famílias e sem ellas, carpinteiros navaes e de outras obras,
calafates, cavouqueiros, serradores, criados e criadas para o serviço domestico”49.
Além dos colonos citados, os noticiários informaram, entre maio e junho, a presença de
belgas, holandeses, franceses e alemães na Hospedaria do Bom Jesus, incluindo pedreiros,
marceneiros, ferreiros e serralheiros entre tais, profissões que não eram consideradas como
primordiais para a proposta de colonização50.
Na edição do Brasil Commercial, de 2 de junho de 1858, foi publicado um comunicado
em que foi mencionado a forma pela qual os imigrantes eram contratados, enfatizando-se a
melhoria que deveria ocorrer em tal questão por parte da Associação Central de Colonização:
“A Associação devia ter na hospedaria pessoa habilitada a fazer contractos para evitar as
delongas e transtornos que occasionão essas idas e voltas da côrte à ilha e vice-versa” 51.
A questão da distribuição e estabelecimentos dos imigrantes também apareceu no
relatório da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, referente ao ano de 1858, no qual
foi informado que a Associação Central de Colonização havia passado por embaraços para dar
destino aos imigrantes que haviam vindo por meio de uma agência de Paris, contrariando suas
47
HOSPEDARIA dos Emigrantes na Ilha do Bom Jesus. O Parahyba, Rio de Janeiro, anno I, n.23, 18 de fevereiro
de 1858, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/809047/88 Acesso em 27 de março de 2020.
48
COLONOS Portugueses e da Galiza. O Parahyba, Rio de Janeiro, anno I, n.46, 15 de maio de 1858, p.4.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/809047/184 Acesso em 27 de março de 2020.
COLONOS Portugueses e da Galiza. O Correio da Tarde, Rio de Janeiro, anno IV, n.100, 8 de maio de 1858, p.3.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/090000/3221 Acesso em 27 de março de 2020.
49
COLONOS Portugueses e da Galiza. O Parahyba, Rio de Janeiro, anno I, n.46, 15 de maio de 1858, p.4.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/809047/184 Acesso em 27 de março de 2020.
50
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XXXIII, n.140, 24 de maio
de 1858, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/12882 Acesso em 6 de maio de 2020.
COLONISAÇÃO. A Voz da Nação, anno I, n.1, 6 de junho de 1858, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/730122/4 Acesso em 6 de maio de 2020.
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro,
anno XV, n.206, 31 de julho de 1858, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15028 Acesso
em 6 de maio de 2020.
51
COMMUNICADO. Brasil Commercial, Rio de Janeiro, anno I, n.76, 2 de junho de 1858, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/810282/292 Acesso em 27 de março de 2020.
73
ordens. Desta forma, foi necessária a intervenção do Governo Imperial, por meio da Repartição
Geral das Terras Públicas, para distribuir os imigrantes por diferentes núcleos coloniais52.
Além da questão do emprego, a questão alimentícia também foi noticiada em edições
do Correio Mercantil e do Jornal do Commercio, nos dias 12 e 13 de dezembro de 1858
respectivamente53. Estas matérias informaram a compra de suprimentos, como arroz, açúcar
mascavo, azeite, bacalhau, pó de café, farinha de mandioca, feijão, toucinho, banha derretida,
vinagre, chá e pão, para consumo da Hospedaria do Bom Jesus. Analisando a folha de
pagamento dos empregados da Associação, para o ano de 1857, Chrysostomo e Vidal
destacaram a presença de alguns corpos profissionais, como administradores, médicos,
enfermeiros, cozinheiros, serventes, marinheiros, foguistas, comerciantes e capelães
(CHRYSOSTOMO; VIDAL, 2014).
Apesar de não possuirmos dados precisos acerca do quantitativo de imigrantes que
passou pela Hospedaria do Bom Jesus, nos anos finais da década de 1850, sabemos, de acordo
com a tabela IV apresentada anteriormente nesta dissertação (página 64), que no final desta
década o número da entrada de imigrantes no Império teria aumentado, embora tenha ocorrido
uma queda no ano de 1857.
A intenção de atrair mais imigrantes fez com que o Governo Imperial estabelecesse, em
1858, um regulamento para a distribuição e estabelecimento dos imigrantes no Império. Este
regulamento reforçou a disposição da Associação Central de Colonização em receber as
demandas por imigrantes, e a responsabilidade da mesma com o contrato e o transporte dos
imigrantes até o porto de desembarque. O relatório da Secretaria de Estado dos Negócios do
Império, de 1858, assim informou:
Por este regulamento, contendo instrucções concernentes ao recebimento,
distribuição e estabelecimento de imigrantes no paíz, tem proporcionado o
governo imperial favores e vantagens; não só aos que espontaneamente
chegarem aos portos do império, e quiserem estabelecer-se nas colônias
creadas pelo governo, comprando ahi terras; como aos que, dentro do prazo
52
MACEDO, Sérgio Teixeira de. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império Sérgio Teixeira de Macedo.
Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1859. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via
base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=27&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1108%2C-
1%2C4231%2C2985 Acesso em 17 de março de 2019.
53
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal., Rio de Janeiro,
anno XV, n.335, 12 de dezembro de 1858, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15557
Acesso em 27 de março de 2020.
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XXXIII, n.342, 13 de
dezembro de 1858, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/13763
Acesso em 31 de março de 2020.
74
54
MACEDO, Sérgio Teixeira de. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império Sérgio Teixeira de Macedo.
Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1859. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via
base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=27&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1108%2C-
1%2C4231%2C2985 Acesso em 17 de março de 2019.
55
CHRONICA Diária. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.47, 19 de fevereiro de 1858,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45787 Acesso em 27 de março de 2020.
56
CHRONICA Diária. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.49, 21 de fevereiro de 1858,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45795 Acesso em 27 de março de 2020.
57
COLONOS. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro, anno XV, n.90, 4 de abril de
1858, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/14559 Acesso em 27 de março de 2020.
75
No ano de 1859, esse mesmo periódico informou sobre a morte de um imigrante que
estava na Hospedaria da Ilha do Bom Jesus. O imigrante havia contraído febre amarela, fora
conduzido ao Hospital Marítimo de Santa Isabel, mas não havia resistido58.
Ainda assim, o relatório da Secretaria de Estado dos Negócios do Império, referente ao
ano de 1859, que, curiosamente não apresentou nenhuma informação sobre a Hospedaria de
Bom Jesus no tópico referente à emigração, informou sobre a necessidade de mais braços para
a lavoura e sobre a forma pela qual os fazendeiros estavam lidando com o auxílio fornecido
pelo Governo Imperial:
(...)infelizmente não estão as encomendas por elles feitas na proporção do que
se devia esperar á vista da necessidade do supprimento dos braços que lhes
faltão e das vantagens que lhes são offerecidas.
Apenas teve a Associação Central de Colonisação encomendas de differentes
fazendeiros para o engajamento de 2.178 colonos com a expressa declaração
de que fossem portugueses, sendo apenas uma de pequeno numero de
italianos59.
58
NOTICIAS Diversas. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro, anno XVI, n.138, 20
de maio de 1859, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/16179
Acesso em 31 de março de 2020.
59
PEREIRA FILHO, João de Almeida. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na Quarta Sessão da
Decima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império João de Almeida Pereira Filho.
Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1860, p.58-59. In Relatórios Ministeriais (1821-1960).
Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources
Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=28&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1163%2C-
1%2C4404%2C3107 Acesso em 17 de março de 2019.
60
MONTEIRO, Candido Borges. Relatorio da Associação Central de Colonização apresentado à Assembleia Geral
dos acionistas na sessão de 22 de maio de 1860. Colonisação. O Paiz, Rio de Janeiro, anno I, n.10, 29 de maio de
1860, p.1-2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364843/33 Acesso em 27 de março de 2020.
76
61
BRASIL. Decreto Legislativo n. 1.067 de 28 de julho de 1860. Coleção das Leis do Império do Brasil, Rio de
Janeiro, 1860. Tomo XXI, parte 1, p. 15. In SENADO FEDERAL. Portal legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/sicon/#/pesquisa/lista/documentos Acesso em 6 de maio de 2020.
62
BRASIL. Decreto n. 2.747, de 16 fevereiro de 1861. In Coleção das leis do Império do Brasil, Rio de Janeiro,
1861. Tomo XXIV, parte 2, p. 127. In SENADO FEDERAL. Portal legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/sicon/#/pesquisa/lista/documentos Acesso em 6 de maio de 2020.
BRASIL. Decreto n. 2.748, de 16 de fevereiro de 1861. In Coleção das leis do Império do Brasil, Rio de Janeiro,
1861. Tomo XXIV, parte 2, p. 129. In SENADO FEDERAL. Portal legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/sicon/#/pesquisa/lista/documentos Acesso em 6 de maio de 2020.
77
Embora tenha funcionado até março de 186564, a Hospedaria da Ilha do Bom Jesus, de
acordo com o trecho citado acima, possuía um caráter provisório, o que também foi afirmado
em algumas edições de periódicos do período. Mesmo não sendo uma hospedaria definitiva,
como o Governo Imperial desejava, o caráter provisório não impediu que a Hospedaria da Ilha
do Bom Jesus funcionasse até a meados da década de 1860, período em que a Associação
Central de Colonização ficou limitada ao papel de intermediadora dos anseios dos fazendeiros
e do Governo Imperial, não tendo conseguido, assim, cumprir plenamente sua missão inicial de
promover a vinda de 50 mil imigrantes65.
O Governo Imperial, principalmente em épocas de surto das doenças que mais
grassavam a cidade do Rio de Janeiro, como a febre amarela, a varíola e o cólera, tinha na Junta
Central de Higiene um importante mediador para que as instalações no convento dos
Franciscanos pudessem ser utilizadas pela Associação Central de Colonização. Nesse sentido,
não podemos deixar de considerar a Hospedaria da Ilha do Bom Jesus como a primeira e
significativa tentativa de criação de um local de recepção de imigrantes na capital da Corte.
No ano de 1861, o relatório da 3ª diretoria da Secretaria de Estado dos Negócios da
Agricultura, ou seja, da repartição das Terras Públicas e Colonização, informou que a
63
MELLO, Manoel Felizardo de Souza e. Relatorio da Agricultura, Commercio e Obras Públicas apresentado á
Assembléa Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Primeira Legislatura pelo respectivo Ministro e
Secretario de Estado Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert,
1862. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do
Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=1&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1139%2C0%2C4356%2C3072
Acesso em 17 de março de 2019.
64
DANTAS, Manoel Pinto de Souza. Relatorio apresentado á Assembleá Geral Legislativa na Segunda Sessão da
Decima Terceira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocioas da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=9&s=0&cv=1&r=0&xywh=179%2C1760%2C2046%2C1443
Acesso em 17 de março de 2019.
65
BELLEGARDE, Pedro de Alcantara. Relatorio apresentado á Assembleia Geral Legislativa na Terceira Sessão
da Decima Primeira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Pedro de Alcantara Bellegarde. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1863, p.84. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=2&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1175%2C-1%2C4140%2C2921 Acesso
em 17 de março de 2019.
78
66
AZAMBUJA, Bernardo Augusto Nascente de. Relatorio das Terras Publicas e Colonisação apresentado em 28
de fevereiro de 1862 ao Illustrissimo e Excellentissimo Senhor Ministro e Secretario d’Estado dos Negocios da
Agricultura, Commercio e Obras Públicas pelo Diretor da Terceira Diretoria Bernardo Augusto Nascentes de
Azambuja. Rio de Janeiro: Typographia de João Ignacio da Silva, 1868, p.32. In MELLO, Manoel Felizardo de
Souza e. MELLO, Manoel Felizardo de Souza e. Relatorio da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Primeira Legislatura pelo respectivo
Ministro e Secretario de Estado Manoel Felizardo de Souza e Mello. Rio de Janeiro: Typographia Universal de
Laemmert, 1862. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=1&s=0&cv=560&r=0&xywh=-1155%2C-1%2C4356%2C3073
Acesso em 17 de março de 2019.
67
Ibidem, p.2.
68
BELLEGARDE, Pedro de Alcantara. Relatorio apresentado á Assembleia Geral Legislativa na Terceira Sessão
da Decima Primeira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Pedro de Alcantara Bellegarde. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1863, p.84. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=2&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1175%2C-1%2C4140%2C2921 Acesso
em 17 de março de 2019.
79
69
BELLEGARDE, Pedro de Alcantara. Relatorio apresentado á Assembleia Geral Legislativa na Primeira Sessão
da Decima Segunda Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Pedro de Alcantara Bellegarde. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1864. p.28. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=4&s=0&cv=1&r=0&xywh=28%2C1517%2C2070%2C1460
Acesso em 17 de março de 2019.
70
RIBEIRO, Domiciano Leite. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima
Segunda Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Domiciano Leite Ribeiro. Rio de Janeiro: Typographia Paula Brito, 1864, p.22. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global
Resources Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=5&s=0&cv=2&r=0&xywh=-
1167%2C-1%2C4140%2C2921
Acesso em 17 de março de 2019.
71
SÁ, Jesuino Marcondes de Oliveira. Relatório apresentado á Assembléia Geral Legislativa na Terceira Sessão
da Decima Segunda Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estados dos Negocios d´Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Jesuino Marcondes de Oliveira e Sá. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1865.
In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=6&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1186%2C0%2C4227%2C2981 Acesso
em 6 de mai0 de 2020.
80
72
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado pelo Dr. Ignácio da
Cunha Galvão. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868, p.14. In . DANTAS, Manoel Pinto
de Souza. Relatorio apresentado a Assembleia Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Terceira
Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocioas da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=9&s=0&cv=445&r=0&xywh=-1071%2C-1%2C4093%2C2888
Acesso em 17 de março de 2019.
73
Ibidem, p.14.
81
Enquanto a Hospedaria da Ilha de Bom Jesus, considerada como provisória, mas ainda
assim uma hospedaria do Governo Imperial, tenha pertencido à Associação Central de
Colonização, a Hospedaria do Morro da Saúde iniciou suas atividades sob a responsabilidade
direta da Agência Oficial de Colonização, que como já mencionado nesta dissertação, teve sua
criação possibilitada pelo decreto de 20 de abril de 186476.
A Agência Oficial de Colonização ficou responsável pela Hospedaria do Morro da
Saúde até 1876, quando a Inspetoria Geral de Terras e Colonização foi criada pela Secretaria
de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas e aglutinou assim como a
Agência Oficial, a Comissão do Registro Geral e Estatística das Terras Públicas e Possuídas 77.
74
SOUZA, Antonio Francisco de Paula. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Quarta Decima
Segunda Legislatura pelo Ministro e Secretario da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Dr. Antonio
Francisco de Paula Sousa. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1866. In Relatórios Ministeriais (1821-
1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global
Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=7&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1131%2C0%2C4356%2C3072
Acesso em 17 de março de 2019.
75
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado pelo Dr. Ignácio da
Cunha Galvão. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868, p.14. In . DANTAS, Manoel Pinto
de Souza. Relatorio apresentado a Assembleia Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Terceira
Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocioas da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=9&s=0&cv=445&r=0&xywh=-1071%2C-1%2C4093%2C2888
Acesso em 17 de março de 2019.
76
BRASIL. Decreto nº 3.254, de 20 de abril de 1864. In Coleção de Leis do Império do Brasil de 1864, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1864. Tomo XXVII, Parte II, p. 59-60. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-3254-20-abril-1864-554842-publicacaooriginal-
73797-pe.html. Acesso em 16 de dezembro de 2019.
77
BRASIL. Decreto n. 6.129, de 23 de fevereiro de 1876. In Coleção de Leis do Império do Brasil de 1876, Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1876. Tomo XXXIX, Parte II, vol.1, p.247-255. Disponível em:
82
O Morro da Saúde recebeu esse nome por estar situado próximo ao bairro da Saúde,
embora esteja geograficamente localizado no bairro da Gamboa, ambos pertencentes à Zona
Central da cidade do Rio de Janeiro.
Ilustração VI- Localização do Morro da Saúde. Apud Localização e Itinerário para o Morro da Saúde. In
Cidade-Brasil. Disponível em: https://www.cidade-brasil.com.br/nos-arredores-morro-da-saude.html.
Acesso em 27 de janeiro de 2020.
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-6129-23-fevereiro-1876-549093-
publicacaooriginal-64440-pe.html Acesso em 17 de dezembro de 2019.
83
78
DANTAS, Manoel Pinto de Souza; FERREIRA, José Rodrigues. Contracto que fez o governo imperial, para
arrendamento do predio sito no morro da Saude, de propriedade do Dr. José Rodrigues Ferreira, debaixo das
seguintes condições. p.1-2. In DANTAS, Manoel Pinto de Souza. Relatorio apresentado á Assembléa Geral
Legislativa na Primeira Sessão da Decima Terceira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios
da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia
Perseverança, 1867. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=8&s=0&cv=329&r=0&xywh=-1087%2C-1%2C4140%2C2921
Acesso em 17 de março de 2019.
84
79
NOTICIAS. Jornal do Brazil, Rio de Janeiro, anno I, n.16, 13 de março de 1867, p.1-2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/809861/61 Acesso em 27 de março de 2020.
80
DANTAS, Manoel Pinto de Souza. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Decima Terceira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia Perseverança, 1867. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=8&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1093%2C-1%2C4184%2C2952
Acesso em 17 de março de 2019.
85
MORRO DA SAÚDE
Ilustração VII- Localização da Hospedaria do Morro da Saúde. Parte do mapa. Mc KINNEY, A.M.; LEEDE R., R. Guia e plano
da Cidade do Rio de Janeiro. [S. I.]: [S. I.]. 1838. Disponível em:
http://objdigital.bn.br/acervo_digital/div_cartografia/cart309960/cart309960.jpg. Acesso em 12 de novembro de 2019.
81
Ibidem, p.68.
82
Ibidem, p.69.
86
O bom agasalho e tratamento que tiveram estes imigrantes, assim como os que
os teem precedido, na vasta e commoda hospedaria estabelecida pelo governo
no Morro da Saude, dão testemunho da efficacia, com que este cura do bem-
estar dos que, deixando sua terra natal, vem associar-se aos nossos
destinos(...)83.
As instalações da Hospedaria, que possibilitaram que ali fosse realizado esse bom
tratamento, foram descritas no relatório da Agência Oficial de Colonização do mesmo ano. De
acordo com Ignacio da Cunha Galvão, diretor da Agência, o estabelecimento que abrigava uma
casa de saúde e que passara a abrigar a hospedaria, apresentava as seguintes instalações:
(...) um corpo central com dois pavimentos, contendo 17 salas e quartos no 1º
pavimento onde se acommodão 210 leitos, e 5 no 2º onde se acommodão 36;
4 saletas que ficarão servindo para refeitorio, uma grande varanda, dispensa e
cosinha; um corpo separado em um só pavimento térreo, contendo 4 aposentos
que admittem 90 leitos; uma casa de sobrado de 3 janellas, com frente á rua
que termina no trapiche, da qual o pavimento térreo serve de deposito das
bagagens e os altos admitem 55 leitos; comprehende emfim uma boa chácara,
que serve de passeio e recreio dos imigrantes, o que é por elles altamente
apreciado depois de uma longa viagem de mar84.
83
DANTAS, Manoel Pinto de Souza. Relatorio apresentado a Assembleia Geral Legislativa na Segunda Sessão da
Decima Terceira Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocioas da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=9&s=0&cv=1&r=0&xywh=179%2C1760%2C2046%2C1443
Acesso em 17 de março de 2019
84
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado pelo Dr. Ignácio da
Cunha Galvão. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868, p.18. In DANTAS, Manoel Pinto
de Souza. Relatorio apresentado a Assembleia Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Terceira
Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocioas da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
Manoel Pinto de Souza Dantas. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1868. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=9&s=0&cv=445&r=0&xywh=-1071%2C-1%2C4093%2C2888
Acesso em 17 de março de 2019.
87
Nas edições de 1868 e 1869 do Almanaque Laemmert, a Hospedaria foi descrita como
um “bello edifício no morro da Saude com grande jardim na frente e vista para a cidade e
litoral”86. A edição de 1868 informou que seu escritório abria no horário de 9:30h da manhã e
85
Ibidem, Anexo. Disposições Regulamentares para a Hospedaria do Governo destinada aos Imigrantes.
86
HOSPEDARIA dos Emigrantes. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e da Província do Rio
de Janeiro. Rio de Janeiro, Em Casa dos Editores-Proprietarios Eduardo e Henrique Laemmert –1868, anno XXV,
Segunda Série XVIII, p.329. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/313394x/27763
88
fechava as 4h da tarde, onde era possível obter “informações sobre colonias, terras publicas e
favores que o governo concede aos imigrantes, assim como existem mappas das colonias,
provincias, e tudo que interessa ao immigrante, e empregados que fallão as linguas inglesa,
franceza, a allemã e dinamarquesa”87. A Hospedaria estava pronta para receber 400 imigrantes,
e garantia àquele que se destinasse a qualquer colônia do Governo, o seguinte:
(...)pousada e alimentação gratuita e bem assim o tratamento em suas
enfermidades; e o que não se destinar ás colonias e tiver outro qualquer destino
poderá ser admitido na hospedaria pagando antes no escriptorio 5 dias
adiantados, na conformidade da tabela abaixo mencionada, dando-se-lhe um
recibo de tallão que apresentado na hospedaria lhe dá o direito á pousada e
alimentação, sendo-lhe resituido o restante no caso que o mesmo não complete
os dias que pagou.
Por cada dia de estada, adultos 800 réis; de 2 á 9 annos 500 réis. Os menores
de 2 annos nada pagarão88.
de febre amarela que havia atingido a capital da Corte entre os anos de 1869 e 1870. Todavia,
o estrago que se realizou na Hospedaria, assim como na Ilha do Mocanguê, não foi tão extenso
pois estes estabelecimentos haviam sido atingidos na fase inicial da epidemia, entre abril e
dezembro de 186991.
Elogios às instalações do edifício do Dr. José Rodrigues Ferreira também estavam
presentes no relatório da Agência Oficial de Colonização referente ao ano de 1869. Este
relatório informou que foram recolhidos 125 imigrantes na Hospedaria durante o ano, sendo
104 adultos e 21 menores de 10 anos92 . Além deste número, outros 255 imigrantes, que haviam
regressado insatisfeitos das colônias do Governo, receberam sustento na Hospedaria.
O relatório também apresentou um mapa dos gêneros alimentícios consumidos pelos
imigrantes na Hospedaria e um inventário dos objetos existentes na Hospedaria, ambos
produzidos pelo administrador Fortunato Marques de Souza, que voltaria a fazê-los no relatório
de 187093.
No mapa apresentado no relatório de 1869 foi informado que haviam sido consumidos,
de janeiro a dezembro de 1869, os seguintes alimentos: açúcar, arroz, azeite de sebo, azeite
doce, bacalhau, banha, batatas, café, chá, carne seca, carne verde, cebola, farinha, feijão,
manteiga, pimenta da Índia, pão, sal e vinagre. No inventário, no mesmo relatório, foram
listados os objetos existentes na Hospedaria:
91
REGO, José Pereira. Sessão Geral em 28 de março de 1870. Annaes Brasilieneses de Medicina, Rio de Janeiro,
Tomo XXII, n.2, julho de 1870, p.52. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/062014/5494
Acesso em 27 de março de 2020.
92
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado por Ignacio da Cunha
Galvão. Anno de 1869.Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1870, Anexo J. In
ALBUQUERQUE, Diogo Velho Cavalcanti de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Segunda
Sessão da Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretario da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque. Rio de Janeiro: Typographia Universal de E. & H. Laemmert, 1870. In
Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for
Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=11&s=0&cv=314&r=0&xywh=-1117%2C-1%2C4265%2C3009
Acesso em 17 de março de 2019.
93
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado por Ignacio da Cunha
Galvão.1870. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1871, Anexo E, tabelas 11 e 12. In SILVA,
Theodoro Machado Freire Pereira da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Theodoro Machado Freire Pereira da Silva. Rio de Janeiro: Typographia Universal de E. & H. Laemmert,
1871. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do
Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=12&s=0&cv=283&r=0&xywh=-986%2C-1%2C3794%2C2677
Acesso em 17 de março de 2019.
90
Tabela VIII- Inventário da Hospedaria do Morro da Saúde realizado em 1º de janeiro de 1870. Apud Tabela n.12. In
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatório da Agência Oficial de Colonização de 1869. Rio de Janeiro: Typographia do
Diario do Rio de Janeiro, 1870, Anexo94.
94
ALBUQUERQUE, Diogo Velho Cavalcanti de. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na
Segunda Sessão da Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Públicas Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque. Rio de Janeiro: Typographia Universal de
E. & H. Laemmert, 1870. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=11&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1114%2C0%2C4227%2C2981 Acesso
em 17 de março de 2019.
91
Mesmo diante dessa estruturação, sabemos que, como demonstrado anteriormente pela
tabela VI (página 67), a entrada de imigrantes na segunda metade da década de 1860 não
alcançou números expressivos e condizentes com o projetado pelo Governo Imperial, tendo
somente ultrapassado o quantitativo dos 10 mil imigrantes que haviam ingressado no ano de
1867. Foi somente em meados da década de 1870 que o fluxo imigratório passou a apresentar
a entrada de mais 20 mil imigrantes por ano, tanto que o relatório da Agência Oficial de
Colonização, no ano de 1870, informou que durante este ano haviam sido hospedados no Morro
da Saúde apenas 58 imigrantes recém-chegados e 168 imigrantes, que haviam regressado das
colônias do Governo, totalizando 226 imigrantes. O mesmo relatório informou, ainda, que a
“média durante o anno do número de dias de estada na hospedaria de um immigrante foi de 25
dias (...)”95.
A estadia de colonos que haviam regressado dos núcleos coloniais do Governo foi
abordada na edição de 15 de julho de 1870 do periódico A Reforma da seguinte maneira:
A hospedaria do morro da Saude, que até subir ao poder o actual ministério
estava cheia de imigrantes procedentes da Europa e da America do Norte,
desde então só recebe os nossos colonos que emigram, maldizendo da má fé
do governo.
Esses estrangeiros que assim retiram-se do império, serão outros tantos
pregoeiros contra o Brazil, e augmentarão o descredito, em que tem cahido
este desafortunado paiz96 .
A edição ainda informou que naquele momento havia 68 colonos na Hospedaria, e que
estes solicitavam passagem para poderem migrar para os Estados Unidos.
Este mesmo periódico, em edição de 28 de outubro do mesmo ano, informou que o
agente oficial de colonização, Ignácio da Cunha Galvão, havia expulsado, da Hospedaria, os
imigrantes que não aceitavam propostas de particulares97 . Essa situação se repetiu em 1873,
quando Galvão novamente deu autorização para o administrador da Hospedaria expulsar oito
95
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado por Ignacio da Cunha
Galvão. 1870. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1871, Anexo E, tabelas 11 e 12. In SILVA,
Theodoro Machado Freire Pereira da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Theodoro Machado Freire Pereira da Silva. Rio de Janeiro: Typographia Universal de E. & H. Laemmert,
1871. Anexo F. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=12&s=0&cv=283&r=0&xywh=-986%2C-1%2C3794%2C2677
Acesso em 17 de março de 2019.
96 OS COLONOS emigrantes. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno II, n.156, 15 de julho de 1870,
98
EXPULSÃO de alguns immigrantes da hospedaria do governo. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro,
anno V, n.274, 29 de novembro de 1873, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=226440. Acesso em 31 de março de 2020.
99
BRASIL. Decreto nº 6.129, de 23 de fevereiro de 1876. In Coleção de Leis do Império do Brasil de 1876, Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1876. Tomo XXXIX, Parte II, vol.1, p.247-255. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-6129-23-fevereiro-1876-549093-
publicacaooriginal-64440-pe.html Acesso em 17 de dezembro de 2019.
100
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonização. In ITAÚNA, Barão de. Relatorio
apresentado á Assembleá Geral Legislativa na Quarta Sessão da Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e
Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Cândido Borges Monteiro. Rio
de Janeiro: Typographia Universal de E. & H. Laemmert, 1872. Annexo D. In Relatórios Ministeriais (1821- 1960).
Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources
Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=13&s=0&cv=245&r=0&xywh=-1087%2C0%2C4092%2C2886
Acesso em 17 de março de 2019.
101
BARRETO, Francisco do Rego Barros. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira
Sessão da Decima Quinta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Públicas Francisco do Rego Barros Barreto. p.18. Rio de Janeiro: Typographia Americana,
93
1872. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do
Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=14&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1082%2C0%2C4178%2C2947
Acesso em 17 de março de 2019.
102
BORGES, Manoel Gomes. Relatorio dos Trabalhos executados no 1º Distrito da Inspectoria Geral das Obras
Públicas da Corte durante o anno de 1873. p.7. In PEREIRA JUNIOR, José Fernandes da Costa. Relatório
apresentado á Assembleá Geral Legislativa na Terceira Sessão da Decima Quinta Legislatura pelo Ministro e
Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas José Fernandes da Costa Pereira
Junior. Rio de Janeiro: Typographia Americana, 1874. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de
dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível
em: http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=16&s=0&cv=956&r=0&xywh=-765%2C-1%2C3448%2C2433
Acesso em 17 de março de 2019.
103
PEREIRA JUNIOR, José Fernandes da Costa. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira
Sessão da Decima Quinta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Públicas José Fernandes da Costa Pereira Junior. Rio de Janeiro: Typographia Americana,
1874, p.170. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents
do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=16&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1221%2C-1%2C4184%2C2952 Acesso
em 17 de março de 2019.
94
Todavia, sabemos que esta substituição viria a ocorrer somente três anos após esta
declaração, cabendo à Agência Oficial de Colonização lidar nesse interim, por exemplo, com
os casos de febre amarela na Hospedaria do Morro da Saúde, o que fez com que o
estabelecimento fosse fechado provisoriamente em janeiro de 1873.
Ainda que tal fato não tenha sido informado no relatório da Secretaria responsável, essa
situação pode ser conferida nos periódicos A Nação e A Reforma104. Ambos informaram que,
por indicação de Ignácio da Cunha Galvão, a comissão sanitária de socorro aos imigrantes havia
fechado a Hospedaria e transferido para o Alto da Serra os imigrantes que iriam para as colônias
do Estado.
A febre amarela voltaria a influenciar o fechamento da Hospedaria em 1876, quando, de
acordo com Reznik e Fernandes, a epidemia que atingiu a cidade do Rio de Janeiro fez com que
a administração fechasse a Hospedaria e alugasse alojamentos no interior da província do Rio
de Janeiro para receber os imigrantes. Mendes, Barra do Pirahy, e a Colônia de Porto Real foram
os locais escolhidos até que a Hospedaria fosse reaberta no ano seguinte (REZNIK;
FERNANDES, 2014).
Analisando os relatórios da Inspetoria, assim como Reznik e Fernandes também fizeram,
Julianna Costa comentou sobre esse acolhimento provisório de imigrantes fora da capital da
Corte:
Esta situação também foi noticiada na edição de 16 de março de 1876 do Diario do Rio
de Janeiro, em que um estabelecimento na localidade de Mendes foi adotado como hospedaria
do governo105. Nesse contexto, a Inspetoria Geral de Terras e Colonização já havia unificado
104
NOTICIARIO. Commissão sanitária de socorro aos immigrantes. A Nação: Jornal Politico, Comercial e
Literário, Rio de Janeiro, anno II, n.22, 29 de janeiro de 1873, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/586404/697 Acesso em 27 de março de 2020.
CHRONICA geral: Internação dos immigrantes. A Reforma: Orgão Democrático. Rio de Janeiro, anno V, n.23,
p.2, 30 de janeiro de 1873, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/4423
Acesso em 27 de março de 2020.
105
NOTICIARIO. Movimento de emigrantes. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LIX, n.72, 16 de
março de 1876, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/34273
Acesso em 27 de março de 2020.
95
106
FACTOS diversos. A Reforma: Orgao Democratico, Rio de Janeiro, anno X, n.93, 26 de abril de 1878, p.1-2.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/10438
Acesso em 6 de maio de 2020.
BOLETIM. O Cruzeiro, Rio de Janeiro, anno I, n.130, 11 de maio de 1878, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/238562/771 Acesso em 6 de maio de 2020.
CÔRTE. Monitor Campista, Rio de Janeiro, anno XLI, n.121, 27 e 28 de maio de 1878, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/030740/2918 Acesso em 6 de maio de 2020.
A MENINA cearense. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno IV, n.199, 21 de julho de 1878, p.1. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_01/4318 Acesso em 6 de maio de 2020.
107
MACEDO, Manoel Buarque de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Setima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Manoel Buarque de Macedo. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=22&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1224%2C-1%2C4478%2C3159
Acesso em 17 de março de 2019.
96
ano de 1879. Ainda que tenham entrado 22.189 estrangeiros de 3ª classe, somente 1.549 vieram
subvencionados pelo Governo.
O sistema de imigração oficial ou subvencionada deveria ser abolido como disposto no
Decreto nº 7570 de 20 de dezembro de 1879108, que suspendeu a execução do Regulamento
para as Colônias do Estado, que havia sido promulgado em janeiro de 1867109. De acordo com
o ministro Manoel Buarque Macedo, ao assumir a administração da pasta em março de 1880, o
cenário encontrado era o da suspensão de tal Regulamento e da publicação do Aviso do dia 21
de janeiro de 1880, promulgado por seu antecessor, João Lins Vieira Cansansão de Sinimbu,
para os consulados da Alemanha, Itália, França, Áustria-Hungria e Inglaterra na Corte, no qual
era definido que “nenhum compromisso assumiria d’então em diante o Governo Imperial com
relação aos immigrantes que chegassem aos portos do Imperio, devendo elles desembarcar e
estabelecer-se, como lhes conviesse, á custa de seus próprios recursos”110 .
Sinimbu, no entanto, não planejava colocar a questão da imigração e colonização em
segundo plano. De acordo com Julianna Costa, a preocupação com as despesas dos serviços
imigratórios foi uma constante no governo imperial e consequentemente, durante anos os
recursos destonados a esses serviços foram significativos nos planejamentos orçamentários
(COSTA, 2015). Segundo a autora, para Sinimbu, era obrigação do Estado intervir na
colonização do país, atraindo europeus para o território brasileiro também como força de
trabalho. E se por um lado a imigração subvencionada receberia menos incentivo, por outro, o
Estado deveria realizar medidas para a promoção da imigração espontânea, o quê, gradualmente
reduziria o papel do próprio Estado nas questões imigratórias.
108
BRASIL. Decreto nº 7.570, de 20 de dezembro de 1879. In Coleção de Leis do Império do Brasil de 1879, Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1879. Vol.1, pt II, página 755. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-7570-20-dezembro-1879-548843-
publicacaooriginal-64056-pe.html. Acesso em 31 de janeiro de 2020.
109
BRASIL. Decreto nº 3.784, de 19 de janeiro de 1867. In Coleção de Leis do Império do Brasil de 1867, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1867. Vol.1, pt II, página 31. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-1915-28-marco-1857-557933-
publicacaooriginal-78700-pe.html. Acesso em 31 de janeiro de 2020.
110
MACEDO, Manoel Buarque de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Setima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Manoel Buarque de Macedo. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1880. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=22&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1224%2C-1%2C4478%2C3159
Acesso em 17 de março de 2019.
97
111
Ibidem, p.64.
112
D’AVILA, Henrique Francisco. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Henrique Francisco D’Avila. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=25&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1248%2C-1%2C4702%2C3317
Acesso em 17 de março de 2019.
98
& Cia. (OLIVEIRA, 2008). Em fevereiro de 1881 a Hospedaria foi novamente fechada por se
encontrar em condições insalubres, ocasionando a ida de imigrantes para um navio do
Ministério da Guerra, fundeado na Baía de Guanabara (REZNIK; FERNANDES, 2014).
A Hospedaria do Morro da Saúde, que fora criada com o propósito de acolher os
imigrantes em trânsito que tinham como destino colônias daqui ou de outras províncias, e que
também aceitava outros tipos de imigrantes, mesmo o Governo Imperial não se comprometendo
a garantir a gratuidade dos serviços prestados a estes, sofreu com a precarização de sua
manutenção.
O seu fechamento não implicou na suspensão da busca por uma hospedaria definitiva,
objetivo abordado em diversos documentos desde a década de 1850, nem tampouco no seu
esquecimento. De certa forma, a Hospedaria do Morro da Saúde contribui para o
amadurecimento da estrutura para a recepção de imigrantes. Se por um lado, o seu fechamento
representou a busca por um lugar maior e mais salubre, por outro, a rotina do seu funcionamento
não foi esquecida. O relatório da Inspetoria Geral de Terras e Colonização de 1881 destacou
que não só a metodologia da construção de tabelas referentes às despesas da Hospedaria, como
o próprio regulamento do extinto estabelecimento seria utilizado como parâmetro para o
funcionamento do edifício que seria utilizado como a nova hospedaria do Governo113.
O regulamento da Inspetoria Geral de Terras e Colonização, aprovado em 1876, e os
relatórios ministeriais dos anos finais da década de 1870 e dos anos iniciais da década de 1880,
apresentaram a instalação de um estabelecimento adequado para a recepção de imigrantes como
uma condição importante para a promoção da vinda de imigrantes, fossem estes subvencionados
ou os espontâneos.
Ainda que não existisse a necessidade de um edifício como o de Castle Garden, dos
Estados Unidos, tendo em vista a diferença entre os números de imigrantes que ingressavam
em tal país e no Brasil, um edifício para hospedagem de imigrantes com capacidade para receber
um quantitativo maior se fazia cada vez mais necessário114. Desta forma, os gestores da
113
CHAVES, Alfredo Rodrigues Fernandes. Inspectoria Geral das Terras e Colonisação. Relatorio apresentado a
S. Ex. Sr. Conselheiro José Antonio Saraiva, Presidente do Conselho de Ministros, Ministro e Secretario D´Estado
dos Negocios da Fazenda e interino da Agricultura, Commercio e Obras Públicas por Alfredo Rodrigues Fernandes
Chaves, Inspector Geral. In SARAIVA, José Antonio. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na
Primeira Sessão da Decima Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Públicas José Antonio Saraiva. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1882. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=23&s=0&cv=1802&r=0&xywh=-1012%2C0%2C4055%2C2860
Acesso em 17 de março de 2019.
114
SARAIVA, José Antonio. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da Decima
Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
99
José Antonio Saraiva. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1882. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido
via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=23&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1264%2C0%2C4670%2C3294 Acesso
em 6 de maio de 2020.
115
A digitalização foi realizada pelo Arquivo Nacional (AN), atualmente subordinado ao Ministério da Justiça e
Segurança Pública, e os livros fazem parte do Fundo do Departamento Nacional de Povoamento que reúne um
conjunto documental sobre movimentos migratórios no Brasil. Além dos livros de registros de imigrantes na
Hospedaria da Ilha das Flores, entre 1883 e 1932, o Fundo conta com registros de imigrantes na Hospedaria de
imigrantes do Pinheiro entre 1892 e 1893; os registros de imigrantes na Agência Central de Imigração entre 1893
e 1897, e todo o ano de 1902; além de movimentos de imigrantes no Porto do Rio de Janeiro entre 1877 e 1896.
Apud ARQUIVO NACIONAL. Acervo. Entrada de Estrangeiros. Disponível em:
http://arquivonacional.gov.br/br/?option=com_content&view=article&id=17. Acesso em 2 de abril de 2020.
100
116
MARQUES, Guilherme dos Santos Cavotti. A porta de entrada do Brasil: a recepção dos refugiados no pós-
Segunda Guerra na Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores. Dissertação (Mestrado em História Social) -
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017; SANCHES, Carolline de Medeiros. A retomada
das políticas migratórias brasileiras entre 1907-1914. Dissertação (Mestrado em História Social) – Programa de
Pós-Graduação em História Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2018.
101
Ao final do ano de 1968, o espaço da Ilha das Flores passou a ser propriedade da
Marinha do Brasil que faz uso de tal até os dias atuais para a realização de suas atividades e
instalação de Organizações Militares do Corpo de Fuzileiros Navais. Nesse interim a Ilha foi
acoplada ao continente, no processo de construção da Rodovia Niterói Manilha, que é um trecho
da rodovia BR-101 (FERNANDES; SILVA, 2012).
Ilustração VIII- Ilha das Flores atualmente, integrada à Cidade de São Gonçalo- Rio de Janeiro. Google Maps, 2020.
Disponível em: https://www.google.com/maps/place/Ilha+das+Flores/@-22.8469717,-
43.1056389,1605m/data=!3m2!1e3!4b1!4m5!3m4!1s0x998359f2af75ed:0x7f90540b3e2d3b02!8m2!3d-22.8465485!4d-
43.1014068. Acesso em 27 de janeiro de 2020.
O Inspetor Geral interino das Terras e Colonização, Manoel Maria de Carvalho, também
mencionou o projeto e o orçamento previsto para a construção da hospedaria, propostos pela
Inspetoria de Obras Públicas em seu relatório referente ao ano de 1881. O Inspetor Geral
ressaltou, ainda, que só faltava a definição do local, pois havia divergido do presidente da Junta
Central de Higiene Pública, Antonio Corrêa de Souza Costa, com relação ao local proposto
inicialmente119.
117
SARAIVA, José Antonio. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da Decima Oitava
Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negociosda Agricultura, Commercio e Obras Públicas José Antonio Saraiva.
Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1882. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian
Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=23&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1264%2C0%2C4670%2C3294 Acesso em 6 de
maio de 2020.
118
BARROS, Antonio Augusto Monteiro de. Obras Publicas. Inspcetoria Geral das Obras Publicas da Côrte. 1881 (Janeiro a
Setembro). Relatorio apresentado a S. Ex. Sr. Conselheiro José Antonio Saraiva, presidente do Conselho de Ministros, Ministro e
Secretario de Estado dos Negocios da Fazenda e interino dos da Agricultura, Commercio e Obras Publicas por Antonio Augusto
Monteiro de Barros, Inspector geral. p.6. In SARAIVA, José Antonio. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na
Primeira Sessão da Decima Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e
Obras Públicas José Antonio Saraiva. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1882. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido
via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=23&s=0&cv=1500&r=0&xywh=-1176%2C0%2C4446%2C3136
Acesso em 17 de março de 2019.
119
CARVALHO, Manoel Maria de. Immigração e Colonisação. Inspectoria Geral das Terras e Colonisação. Relatorio
apresentado a S. Ex. Sr. Conselheiro Manoel Alves de Araujo, Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Publicas por Manoel Maria de Carvalho, Inspector Geral interino. In ARAUJO, Manoel Alves de.
Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Oitava Legislatura pelo Ministro e
Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas Manoel Alves de Araujo. Rio de Janeiro:
103
Typographia Nacional, 1882. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=24&s=0&cv=350&r=0&xywh=-1174%2C-1%2C4347%2C3067
Acesso em 17 de março de 2019.
120
D’AVILA, Henrique Francisco. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Públicas Henrique Francisco D’Avila. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1883. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=25&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1248%2C-1%2C4702%2C3317
Acesso em 17 de março de 2019.
121
Ibidem.
104
De acordo com Reznik e Fernandes, a escolha da Ilha das Flores foi em decorrência das
condições de salubridade e da facilidade de acesso dos navios de pequeno porte a partir do porto
do Rio de Janeiro. A distância que a Ilha das Flores apresentava da capital da Corte e da capital
da província fluminense, foi considerada uma relação de proximidade equilibrada. Ou seja,
ficava perto dos centros administrativos, podendo ter papel importante na estrutura da política
imigratória, e também poder contar com os hospitais São João Batista e Santa Isabel,
localizados em Niterói, para o atendimento de casos mais graves. Por outro lado, situada na
Baía de Guanabara, estava relativamente afastada dos centros que frequentemente eram
afetados por epidemias (REZNIK; FERNANDES, 2014).
Ilustração IX- Vista da Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores em 1888. In FERREIRA, Felix. A província do Rio de Janeiro.
Notícias para o emigrante. Rio de Janeiro: Imprensa a vapor H. Lombaerts & Comp., 1888. p. 23.
A gravura acima ilustra bem a viabilidade da instalação de uma hospedaria na Ilha das
Flores, não só pela curta distância do porto do Rio de Janeiro, como próxima de águas
navegáveis e de estradas férreas.
Ademais, a existência de uma linha telegráfica, entre a cidade de Niterói e as Fortalezas
da Barra, possibilitava certa agilidade na transmissão de informações sobre a entrada de vapores
com imigrantes, e reforçou mais ainda a escolha por aquele local.
105
Beatriz Kushnir tratou a Hospedaria da Ilha das Flores como um espaço quarentenário,
que isolou os imigrantes de doenças que assolavam a cidade do Rio de Janeiro (KUSHNIR,
2008).
Reznik e Fernandes, no entanto, ao analisarem os relatórios do Ministério da
Agricultura, tanto do período imperial quanto do republicano, refutaram a hipótese da prática
de quarentena na Hospedaria nas últimas décadas do século XIX, uma vez que esta seria
realizada em outros espaços. Porém, isso não exclui a relevância da questão sanitária no
funcionamento da Hospedaria, uma vez que a escolha de seu local, por exemplo, se relacionava
diretamente com as questões de salubridade na Corte.
Os autores destacaram que a questão sanitária era uma constante nos relatórios
ministeriais, e durante os anos iniciais de funcionamento da Hospedaria, a preocupação dos
ministros foi a de comentar sobre o estado sanitário satisfatório da hospedaria, o que
possibilitava que o porto fosse seguro e capaz de atender as demandas para recepcionar e abrigar
os imigrantes.
De acordo com Reznik e Costa, a criação desta Hospedaria se deu de acordo com os
preceitos higienistas vigentes na época. A escolha de um local para isolar os imigrantes na costa
leste da Baía de Guanabara, a cerca de 5.000 metros do porto do Rio de Janeiro, se deu em
decorrência da incidência de epidemias de febre amarela, que, desde o início da segunda metade
do século XIX, retornavam à capital do Império, em todo verão. Higienistas atribuíam a
ocorrência da doença às precárias condições sanitárias da cidade do Rio de Janeiro, que
propiciava a multiplicação do germe e infecção da atmosfera. Na medida em que os médicos
reinterpretaram a doença, à luz da teoria pasteuriana, foram sendo adotados novos
procedimentos para a recepção de imigrantes, e consequentemente novas estruturas para o
funcionamento desta Hospedaria (REZNIK; COSTA, 2019).
Sem aluguel e sem arrendamentos, foi assim que em 1º de maio de 1883 “começou a
hospedaria da ilha das Flôres, a receber immigrantes, dos quaes se contam actualmente 478
alojados, tendo-se mantido inalteradas as condições de salubridade”122. A sua criação
representou mais uma etapa do amadurecimento das ações relacionadas à política imigratória
no país.
Inserida no contexto das “Grandes Migrações”, quando também foram criadas
hospedarias no norte e sul do país, como em Belém no Pará, em Florianópolis, em Porto Alegre,
e em Vitória, todas no litoral, a criação da Hospedaria da Ilha das Flores, segundo Reznik e
122
Ibidem, p.222.
106
Fernandes, teve como propósito propiciar o tripé estabelecido para a imigração: recepção,
triagem e encaminhamento (REZNIK; FERNANDES, 2014).
Assim, a Hospedaria da Ilha das Flores começou a funcionar em 1º de março de 1883,
quando:
[...] o ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, Afonso Augusto
Moreira Penna, ordenou que depois de desembarcar no Porto do Rio de
Janeiro, todos os passageiros vindos de portos estrangeiros em 3ª classe
deveriam ser imediatamente transportados, com as suas respectivas bagagens,
até a Ilha das Flores, onde seriam acolhidos gratuitamente até o máximo de
oito dias.123
123
PENNA, Affonso Augusto Moreira. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Quarta Sessão da
Decima Oitava Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas Affonso Augusto Moreira Penna. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1884, p.214. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=26&s=0&cv=2&r=0&xywh=-1241%2C0%2C4641%2C3273
Acesso em 17 de março de 2019.
107
Desta forma, a Hospedaria da Ilha das Flores recebeu nos anos finais do Império um
contingente significativo de imigrantes, chegando a hospedar no ano seguinte à Proclamação
da República, 66.494 imigrantes, como podemos ver no quadro abaixo. Neste quadro
apresentamos, além dos dados referentes aos anos iniciais de funcionamento da hospedaria, o
número de imigrantes que ingressaram no Brasil e no Rio de Janeiro entre os anos de 1883 e
1890:
Além dos relatórios ministeriais, que apresentavam relevantes informações sobre o fluxo
de imigrantes e sobre as obras realizadas na Hospedaria da Ilha das Flores, os periódicos da
época também noticiavam em suas matérias dados sobre a hospedaria. Segundo o regulamento
da Inspetoria Geral das Terras e Colonização, a hospedaria deveria contar com intérpretes,
médicos, enfermeiros, auxiliares e um administrador, ou diretor, nomeado pelo Inspector Geral.
As nomeações para o quadro da Hospedaria da Ilha das Flores eram, frequentemente,
veiculadas pelos periódicos, especialmente nos periódicos de grande circulação no Rio de
Janeiro. Na Gazeta de Notícias, de 23 de janeiro de 1883, foi noticiado que Francisco Xavier
da Cunha, que fora diretor do Diario Official, foi nomeado, pela portaria de 10 de janeiro, para
108
o cargo de diretor da escola prática de agricultura da Ilha das Flores, o qual também ficava
“encarregado de administrar a hospedaria de imigrantes que tem de ser estabelecida na próxima
ilha denominada Ananaz”124. A Ilha de Ananaz referida integrava o arquipélagos formado pelas
ilhas Mexingueira e das Flores.
Já a nomeação de Tertuliano Cezar Gonzaga, que havia sido médico do Hospital São
João Batista no ano de 1882, para o posto de médico, na Hospedaria da Ilha das Flores, foi
noticiada na edição de 2 de março de 1883 do periódico A Folha Nova125.
Segundo o Almanak Laemmert para 1884, o quadro de pessoal da Hospedaria da Ilha
das Flores estava constituído por: diretor- Francisco Xavier da Cunha; intérpretes - Joaquim de
Oliveira Barbosa e Eduardo Nicolich126. No Almanak para 1885, o diretor ainda era Francisco
Xavier da Cunha, o intérprete Eduardo Nicolich, o escriturário Joaquim de Oliveira Barbosa, o
fiel era Manoel Polycarpo da Silva127.
O Almanak de Nictheroy, para o ano de 1889, apresentou dados sobre as demais funções
que eram exercidas na Hospedaria da Ilha das Flores. Cunha, Nicolich e Silva continuavam em
seus respectivos cargos, e Barbosa, além de escriturário era intérprete. Como amanuense, quem
exercia a função era Napoleão Smith. No setor da enfermaria e da farmácia, o enfermeiro era
Eduardo Vianna Cerrão, o farmacêutico era Taciano Accioli Monteiro e o médico era Miguel
Zacharias de Alvarenga, fazendeiro na região do 2º distrito de São Gonçalo, que residia em
Icaraí, onde também atendia pela manhã. Além de Nicolich, o serviço externo era composto por
seu auxiliar, Carlos Marcondes de Brito, por dois patrões para as lanchas a vapor, por dois
maquinistas, dois foguistas e seis marinheiros para os batelões. E no serviço interno, além do
fiel Polycarpo da Silva, faziam parte o encarregado das bagagens, Oscar Correia de Mattos,
dois incumbidos da desinfecção, dois cozinheiros, quatro serventes, um maquinista para os
motores no estabelecimento, um pedreiro e um carpinteiro128. As informações sobre estes
124
[POR PORTARIA]. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno IX, n.23, 23 de janeiro de 1883, p.1. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/4830 Acesso em 25 de março de 2020.
125 INFORMAÇÕES. A Folha Nova, Rio de Janeiro, anno III, n.101, 2 de março de 1883, p.1. Noticias
Commerciaes. A Folha Nova, Rio de Janeiro, anno III, n.104, 7 de março de 1883, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/363723/392 Acesso em 25 de março de 2020.
126
HOSPEDARIA de Immigrantes da Ilha das Flôres. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
da Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Em Casa dos Editores-Proprietários Eduardo e Henrique
Laemmert, anno XLI, 1884, p.102. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/313394x/56516 Acesso em 25 de março de 2020.
127
HOSPEDARIA de Immigrantes da Ilha das Flôres. Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Corte e
da Província do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Em Casa dos Editores-Proprietários Eduardo e Henrique
Laemmert, anno XLII, 1885, p.104. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/313394x/58516 Acesso em 27 de março de 2020.
128
HOSPEDARIA dos Immigrantes. Almanak de Nictheroy: Comercial, Administrativo, Noticioso, Industrial,
Mercantil e Indicador de Nictheroy para o anno de 1889. Nictheroy: Typographia Salesiana do Collegio de Artes
e Officios de Santa Rosa, Azevedo & Marques Editores e Proprietários, anno I, 1889, p.102. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/828947/99 Acesso em 27 de março de 2020.
109
129
REGULAMENTO provisório para a hospedaria de imigrantes da Ilha das Flores. Arquivo Público do Estado
do Rio de Janeiro. Fundo PP. Notação: Pasta 479. Caixa 181. Maço 03. [s. d.].
110
130
IMMIGRAÇÃO. Echo do Imperio, Rio de Janeiro, anno I, n.2, 7 de junho de 1884, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/247847/2 Acesso em 27 de março de 2020.
131
NOTICIAS Commerciaes. A Folha Nova, Rio de Janeiro, anno III, n.588, 4 de julho de 1884, p.3. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/363723/2339 Acesso em 27 de março de 2020.
132
NOTICIAS da Côrte. Monitor Campista, Rio de Janeiro, anno XLVIII n.138, 14 de junho de 1885, p.2.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/030740/23545 Acesso em 27 de março de 2020.
111
melhorias na Hospedaria e em junho do mesmo ano informou que 1.152 imigrantes receberam
auxilio do Governo na Hospedaria da Ilha das Flores133.
Nos periódicos de grande circulação podemos destacar as chegadas de imigrantes
noticiadas pelo Gazeta de Noticias. Entre 1883 e 1889 este periódico noticiou não só a chegada
de imigrantes italianos, alemães, portugueses e espanhóis, como também dados sobre o
movimento mensal de entrada e saída de imigrantes134. Na edição de 31 de outubro de 1889, o
periódico noticiou a posse do Sr. Lycurgo José de Mello como novo diretor da Hospedaria da
Ilha das Flores, o qual foi apresentado aos funcionários pelo ex-diretor, Francisco Xavier da
Cunha135.
Assim como o Gazeta de Notícias fizera anteriormente, O Paiz também noticiou, por
diversas vezes, os números de entrada de imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores e o seu
movimento mensal136. Noticiou, igualmente, a nomeação de Miguel Archanjo de Paula Lima,
formado pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1887, como médico da Hospedaria de Ilha
das Flores, e a exoneração de João da Silva Ramos137 , em 1889.
133
HOSPEDARIA da Ilha das Flores. Constitucional: Orgão do Partido Conservador, Rio de Janeiro, anno I,
n.32, 19 de maio de 1889, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/808903/136 Acesso em 27 de
março de 2020.
IMMIGRAÇÃO. Constitucional: Orgão do Partido Conservador, Rio de Janeiro, anno I, n.50, 6 de junho de 1889,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/808903/207 Acesso em 27 de março de 2020.
134
ANNUNCIOS. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno IX, n.192, 11 de julho de 1883, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=103730_02. Acesso em 2 de abril de 2020.
NOTAS a Margem. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno IX, n.350, 16 de dezembro de 1883, p.1. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/6272 Acesso em 2 de abril de 2020.
MANUMISSÕES. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno X, n.342, 7 de dezembro de 1884, p.1. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/7923 Acesso em 2 de abril de 2020.
SOCIEDADE Central de Immigração. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XI, n.36, 5 de fevereiro de 1885,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/8195
Acesso em 2 de abril de 2020.
A SEMANA. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XI, n.95, 5 de abril de 1885, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/8456 Acesso em 2 de abril de 2020.
COUSAS Politicas. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XI, n.152, 1º de junho de 1885, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/8715 Acesso em 2 de abril de 2020.
ENTRELINHAS. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.12, 12 de janeiro de 1887, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11481 Acesso em 2 de abril de 2020.
IMMIGRAÇÃO. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIV, n.189, 8 de julho de 1888, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/14039 Acesso em 2 de abril de 2020.
135
[TOMOU ontem posse]. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XV, n.304, 31 de outubro de 1889, p.1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/16449 Acesso em 27 de março de 2020.
136
NOTICIARIO. O Paiz, Rio de Janeiro, anno I, n.68, 7 de dezembro de 1884, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_01/269 Acesso em 2 de abril de 2020.
NOTICIARIO. O Paiz, Rio de Janeiro, anno II, n.35, 5 de fevereiro de 1885, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_01/516 Acesso em 2 de abril de 2020.
NOTICIARIO. O Paiz, Rio de Janeiro, anno III, n.5, 5 de janeiro de 1886, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_01/1925 Acesso em 2 de abril de 2020.
O CAFÉ do Brazil. O Paiz, Rio de Janeiro, anno IV, n.945, 8 de maio de 1887, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_01/3923 Acesso em 2 de abril de 2020.
137
NOTICIARIO. O Paiz, Rio de Janeiro, anno VI, n.1796, 7 de setembro de 1889, p.1. Disponível em:
112
Porém, segundo Julianna Costa, na década seguinte as notícias e dados sobre a Hospedaria
estamparam com mais frequência as páginas de tal periódico. Pelo fato do Governo Republicano
ter delegado aos Estados a responsabilidade de promover a imigração, bem como de recepcionar
e alojar os seus respectivos imigrantes, os gastos da União com a manutenção da Hospedaria da
Ilha das Flores diminuíram drasticamente. Essa precariedade de recursos foi estampada nas
páginas de jornais como O Paiz (COSTA, 2015).
O Diario de Noticias também publicou em suas páginas o mesmo tipo de notícias sobre a
hospedaria da Ilha das Flores, veiculadas em outros periódicos. Em suas edições publicadas,
entre os anos de 1884 e 1887, reservou um espaço denominado “Immigração” para informar o
movimento mensal de imigrantes na Hospedaria138.
Nesse sentido os periódicos foram importantes fontes de informação, especialmente para
cruzarmos estas informações com as dos livros de registro da Hospedaria e com os relatórios
ministeriais.
De acordo com Julianna Costa, parte significativa dos imigrantes alojados na Hospedaria
da Ilha das Flores, na década de 1880, se dirigiu para a região sul do país, onde havia inúmeros
núcleos coloniais (COSTA, 2015).
Com a Proclamação da República, a Inspetoria Geral de Terras e Colonização foi
reorganizada através do decreto n. 603, de 26 de julho de 1890139. A Hospedaria da Ilha das
Flores permaneceu subordinada ao Inspetor Geral, já que se localizava na Capital Federal. As
hospedarias dos demais estados ficaram sob responsabilidade dos delegados e agentes da
imigração e colonização, surgindo assim novas hospedarias em diversos pontos do país, como
a Hospedaria do Cristal em Porto Alegre.
A partir de 1891, a Hospedaria da Ilha das Flores passou a ser subordinada ao Ministério
da Indústria, Viação e Obras Públicas. No entanto, essa não foi uma mudança efetiva de
jurisdição, mas apenas de nomenclatura. A lei n. 23 de 30 de outubro de 1891 transformou a
Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas em Ministério
140
BRASIL. Lei n. 23, de 30 de outubro de 1891. In Colecao das leis da Republica dos Estados Unidos do Brasil,
Rio de Janeiro, v. 1, parte 1, p. 42-45, 1892. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/1824-
1899/lei-23-30-outubro-1891-507888-norma-pl.html. Acesso em 15 de novembro de 2019.
141
BRASIL. Decreto n.6.455 de 19 de abril de 1907. In Diário Official - 4/5/1907, Página 3086. Disponível em:
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-6455-19-abril-1907-502417-publicacaooriginal-
1-pe.html. Acesso em 15 de novembro de 2019. BRASIL. Decreto n.6.479 de 16 de maio de 1907. In Diário Official
- 15/8/1907, Página 6145. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900- 1909/decreto-6479-
16-maio-1907-527639-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 15 de novembro de 2019. BRASIL. Decreto
n.6.668 de 3 de outubro de 1907. In Diário Official - 17/10/1907, Página 7493. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1900-1909/decreto-6668-3-outubro-1907-523242-
publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em 15 de novembro de 2019.
114
responsabilidade do MTIC, entre 1930 e 1954, o cenário da Ilha foi por muitas vezes utilizado
para este fim (SANTOS, 2016).
Entre 1954 e 1966, a Hospedaria voltou a ser de responsabilidade do Ministério da
Agricultura, ficando, como já mencionado, primeiramente sob a responsabilidade do Instituto
Nacional de Imigração e Colonização (INIC), e entre 1964 e 1966, do Instituto Nacional de
Desenvolvimento Agrário (INDA). No entanto, o fluxo anual de imigrantes entre 1954 e 1966
não conseguiu chegar aos 2 mil imigrantes142, denotando assim a perda de relevância do papel
da Hospedaria no início da segunda metade do século XX.
142
Números disponíveis no sítio da Tropa de Reforço dos Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil. Disponível em:
http://www.trpref.mb/historico_ilha_flores.html. Acesso em 2 de abril de 2020.
115
Ainda que o discurso oficial brasileiro sobre a assistência à saúde para o imigrante tenha
sido muito mais presente na primeira metade do século XX, em consonância com a construção
do projeto urbano e econômico do Estado (Marques; Afonso; Silveira, 2014 ), a assistência
prestada na Santa Casa e nas hospedarias de imigrantes na segunda metade do século nos
permitem considerar a relevância que tais instituições tiveram nesse contexto em que, mesmo
não havendo um sistema de saúde regulamentado, a preocupação com a saúde do imigrante não
passou despercebida.
Uma das formas de se perceber essa preocupação, pode estar no que Renato Gama-Rosa
Costa apontou como o aprofundamento da relação entre história da assistência em saúde e a
arquitetura, que nem sempre se mostra evidente (COSTA, 2011). Porém, segundo Costa, essa
117
relação pode ser expressa na construção dos espaços para tratamento médico, sobretudo os
hospitais e os sanatórios.
O autor destacou a complexidade que passou a envolver as estruturas de saúde,
principalmente depois do nascimento do hospital moderno, em fins do século XVIII. Utilizando
como referência Michel Foucault, Costa menciona que na concepção do hospital moderno
nenhuma teoria médica por si mesma seria suficiente para definir um programa hospitalar. Para
Foucault, o projeto de arquitetura para um bom hospital seria algo bem complexo,
desconhecendo-se os efeitos e as consequências que agiriam sobre as doenças, cabendo um
estudo cada vez mais empírico para o aprimoramento.
Decerto é que medidas como ventilação dos quartos, o estabelecimento de uma distância
saudável entre os leitos e a separação de atividades, como cirurgia e expurgo de material sujo e
dejetos, eram medidas cada vez mais aceitas, inclusive no Brasil, onde,
(...)o hospital moderno nasceu na passagem do modelo religioso para o
modelo pavilhonar, em meados do século XIX, e procurava
acompanhar a trajetória dessas construções na Europa, regidas
primeiramente sob o princípio da construção em claustro, mas que
sofreram profundas transformações depois do higienismo e ainda mais
com os trabalhos de Louis Pasteur e a bacteriologia (COSTA, 2011:
55).
particulares dialogaram com os interesses governamentais, haja vista as parcerias para a criação
de associações, companhias e sociedades. Essas associações e companhias foram algumas das
facetas por meio das quais diferentes sujeitos da elite latifundiária, ou intelectual, puderam
expressar seus interesses na imigração, além das oportunidades que lhes eram apresentadas
tendo em vista sua presença nas casas legislativas, tanto das províncias, quanto da Corte.
Deste modo, os imigrantes que aqui chegavam tinham diferentes funções sociais e
econômicas, e assim diferentes atores da sociedade brasileira procuravam discutir o modo de
recebê-los e as implicações decorrentes de sua presença no país.
Além da preocupação da elite agrária brasileira, o contexto da segunda metade do século
XIX marcou os primórdios da atuação dos médicos higienistas na esfera política, os quais
passaram a se comprometer com uma ótica que enxergava a saúde como um componente
necessário para o desenvolvimento da sociedade capitalista no século XIX.
Higienistas, fazendeiros de café e altos funcionários do Governo Imperial, que
buscavam promover a vinda de estrangeiros saudáveis para serem colonos e trabalhadores livres
no território brasileiro, conferiram muita atenção às doenças mais letais que acometiam a
população, em particular aos estrangeiros que procuravam se estabelecer em terras brasileiras,
quando, sobretudo, estes imigrantes começavam a galgar um significativo papel na economia
brasileira, até então fundamentada em bases escravistas.
Nessa ótica era preciso equilibrar as noções dos meios externo e interno, ou seja, sanear
os ambientes para se obter uma melhor saúde do corpo, pois as condições de vida e de trabalho
apresentadas então nas cidades, acumulando pessoas e estreitando os contatos, faziam com que
aumentasse a ocorrência de epidemias.
Abordando a ação dos médicos junto ao Estado, George Rosen destacou que, ao longo
do século XIX houve diferentes esforços visando a centralização das administrações para a
saúde pública, notando-se, especialmente a partir da segunda metade de tal século, mudanças
mais efetivas no que dizia respeito à administração da saúde e saneamento, com ações via
processo de higienização procurando atingir o espaço urbano (ROSEN, 1994).
Já para Michel Foucault, essa higienização urbana seria uma das etapas da formação da
medicina social, e teria se desenvolvido na França, no final do século XVIII. Proveniente da
urbanização, essa preocupação com a higiene pública dos ambientes calçou o que para tal autor
caracterizaria à “Medicina da Força do Trabalho”, surgida na Inglaterra, no século XIX, ou seja
o objetivo de controlar a saúde e o corpo dos trabalhadores, a fim de torná-los aptos ao
trabalho e menos perigosos como vetores de doenças à população mais rica (FOUCAULT,
2004).
119
Dorothy Porter, por sua vez, destacou que, embora não houvesse, até fins do século XIX,
uma política pública de saúde regulamentada, desde a antiguidade questões de higiene pessoal
e pública influenciaram nas ações coletivas de regulamentação das condições ambientais e a
regulamentação do comportamento individual para benefício da sociedade, como, por exemplo,
o isolamento dos doentes, utilizado para proteger os saudáveis (PORTER, 1994; 2001).
De acordo com Dina Czeresnia, a segunda metade do século XIX foi um período em
que medicina e política estreitaram sua relação, expandindo assim o movimento pela higiene
dos espaços pautado em normas da saúde em que os médicos envolvidos relacionavam as
doenças com o ambiente e com as relações sociais desiguais (CZERESNIA, 1997).
Segundo Czeresnia, desde o início do século XIX havia dois grupos que defendiam
posições distintas em relação ao contágio das doenças. Os contagionistas, que afirmavam que a
doença se propagava individualmente de um para o outro e que estimularam práticas de controle
e cerceamento. E os anticontagionistas que relacionavam as doenças à constituição atmosférica,
enfatizando práticas de controle ambiental (CZERESNIA, 2000). Para Erwin H. Ackerknecht,
a discussão sobre contágio esteve intrinsecamente ligada os corolários sociais e econômicos da
sua expressão material, ou seja, as consequências das quarentenas para as classes industrial e
comercial, uma vez que as quarentenas significavam fonte de perdas e limitação à expansão de
tais. Por sua vez, os anticontagionistas eram, além de cientistas, reformadores empenhados em
defender a liberdade do indivíduo e do comércio contra práticas que pudessem obstaculizar tal
liberdade (ACKERKNECHT, 1948).
Assim como Czeresnia, Sidney Chalhoub destacou os debates em torno dos enfoques
miasmático e bacteriológico das doenças, enfocando que no contexto de estabelecimentos de
procedimentos e criação de serviços para a recepção e acolhimento de imigrantes, destacava-se
a preocupação com a saúde destes indivíduos e as respectivas doenças que pudessem acometê-
los (CHALHOUB, 1996). Na visão de Chalhoub, os médicos também foram responsáveis por
apoiar o projeto imigratório quando ele passou a ter um viés higienista racista no final do século
XIX e início do XX.
Esses debates médicos também foram analisados por Jaime Benchimol ao estudar a
instituição da microbiologia no Brasil em fins do século XIX (BENCHIMOL, 2004). A partir
da análise de matérias publicadas, tanto em periódicos científicos quanto nos de grande
circulação do período, o autor revela que, principalmente na década de 1890, os debates
ocorriam diariamente na imprensa, e já discutiam o princípio de que a febre amarela era causada
por um germe. Ainda assim, para analisar a mudança na concepção da natureza contagiosa da
120
Nesse sentido, a preocupação com as cidades portuárias foi uma questão latente neste
período, haja vista a intensa circulação de pessoas e mercadorias que tornavam estas cidades
mais vulneráveis às epidemias. A saúde dos portos ganhou atenção, ao longo do Império,
especialmente a partir da criação da Inspeção de Saúde Pública do Porto do Rio de Janeiro, em
1829, que tinha a atribuição de verificar o estado sanitário das embarcações e decidir se estavam
desimpedidas ou deveriam realizar quarentena143.
Segundo Dilma Cabral e Angélica Ricci Camargo, tal órgão complementou o cenário
das mudanças realizadas na divisão de responsabilidades, entre o governo central, as províncias
e as municipalidades, na administração dos assuntos referentes à saúde da população e à
salubridade das cidades. Na Corte, o serviço deveria ser desempenhado por uma comissão
composta por provedor da saúde, professor de saúde, intérprete, que serviria também de
secretário, guarda bandeira e guardas que fossem necessários (CABRAL; CAMARGO, 2017).
O regulamento determinou, ainda, que todas as embarcações mercantis ou de guerra,
nacionais ou estrangeiras, que aportassem no Rio de Janeiro, fossem submetidas às visitas de
saúde, excetuando-se das visitas sanitárias apenas as embarcações de menor porte, voltadas ao
comércio interno e da costa. Para a visitação, os navios deviam ficar fundeados no ancoradouro
de Jurujuba, em Niterói. Os prazos das quarentenas seriam definidos de acordo com os portos
de origem dos navios.
143
BRASIL. Decreto de 17 de janeiro de 1829. Actos do Poder Executivo de 1829. Rio de Janeiro, 1829. Parte II,
p.4-9. Disponível em: https://www.camara.leg.br/Internet/InfDoc/conteudo/colecoes/Legislacao/Legimp-
L_10.pdf#[0,{%22name%22:%22FitR%22},-280,-15,698,610]. Acesso em 20 de janeiro de 2020.
122
144
BRASIL. Decreto de 23 de abril de 1836. In Coleção das Leis do Império do Brasil de 1836, Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1861. Parte II, p.24-25. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-
legislativa/legislacao/doimperio/colecao3.html. Acesso em 15 de dezembro de 2019.
145
BRASIL. Decreto nº 268, de 29 de janeiro de 1843. In Coleção das Leis do Império do Brasil de 1843, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1868. Tomo VI, Parte II, p.30-35. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao4.html. Acesso em 15 de dezembro
de 2019.
123
Porém, foi com a já mencionada epidemia da febre amarela, que matou mais de 4 mil
pessoas, que foram introduzidas mudanças profundas nas ações no campo da saúde no Império.
146
SILVA, Manoel Vieira da. Reflexões sobre alguns dos meios propostos por mais conducentes para a melhoria
do clima da cidade do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Impressão Régia, 1808.
124
De acordo com as estimativas da época, apresentadas pelo médico José Pereira Rego, a
epidemia de febre amarela, ocorrida entre 1849 e 1850, levou a óbito 4.160 pessoas no
município da Corte, e 254 pessoas na Província. Segundo esse médico, a febre amarela na Corte
“apresentou três phases distinctas no seu reinado epidêmico; a primeira estendendo-se de 1850
a 1853, quatro annos; a segunda de 1857 a 1861, cinco annos; a terceira abrangendo os annos
de 1869 e 1870, dous annos (...)”147.
A Secretaria de Estado dos Negócios do Império, que assumiu o comando da saúde
pública, pediu à Academia Imperial de Medicina que elaborasse um plano para combater o
terrível mal que matara principalmente as categorias mais abastadas da cidade. Esta solicitação
resultou na proposição pelos médicos, em 1849, da criação de uma Comissão Central de Saúde
Pública, para tratar do combate à epidemia. Esta Comissão contou com a presença de médicos
como Cândido Borges Monteiro, Antonio Felix Martins, José Pereira Rego, Luiz Vicente
Simoni, e José Francisco Sigaud, entre outros.
A partir daí foi proposta a divisão da cidade em paróquias e distritos com comissões
paroquiais de Saúde Pública compostas de subdelegados, fiscais e de três médicos; da criação
de um serviço de assistência gratuita aos pobres, com médicos, remédios, dietas, etc.; da
assistência sanitária pelas comissões, a navios, mercados, prisões, hospitais, conventos,
colégios, quartéis, teatros, igrejas, etc., velando pelo seu bom estado de higiene, enfim, de
estruturas que pudessem evitar, tratar e combater as doenças e acometidas por tais.
Apresentava-se assim uma relação entre a higiene e a intervenção urbana, expressa
fortemente pelas ações de médicos que ocupavam postos em instâncias governamentais e
instituições voltadas à higiene pública.
Essa relação também pode ser analisada a partir da ocorrência de epidemias de febre
amarela, cólera, varíola, tuberculose e diferentes tipos de febre e uma variedade de doenças
registradas na segunda metade do século XIX, e a criação de casas de caridade, hospitais,
cemitérios públicos, alojamentos e lazaretos, como fizeram Tânia Pimenta, Keith Barbosa e
Kaori Kodama ao analisarem estas epidemias a partir dos relatórios de presidentes de província
do Rio de Janeiro produzidos entre 1835 e 1889 (PIMENTA BARBOSA; KODAMA, 2015).
Apresentando a diferenciação da atenção dispensada ao Município da Corte em relação
às políticas de saúde adotadas, as quais não eram aplicadas da mesma forma no restante do país,
as autoras destacaram que tendo em vista as dificuldades dos presidentes de província em obter
informações sobre as localidades, seus relatórios não apresentavam um conjunto expressivo de
147
REGO, José Pereira. Memoria historica das epidemias da febre amarella e cholera-morbo que têm reinado no
Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional, 1873, p.43.
125
informações sobre as questões de saúde locais. Desta forma, as autoras precisaram cruzar
diferentes fontes documentais para compreender as principais questões da província e as
reivindicações locais, como os relatórios da Secretaria de Estado dos Negócios do Império e os
estudos, do já mencionado, médico José Pereira Rego, a fim de identificar e abordar as doenças
que atingiram os moradores da província do Rio de Janeiro imperial e os problemas de saúde
enfrentados por essa população.
As autoras também informaram sobre a mortalidade da febre amarela nos anos de 1852,
que levou a óbito 1.943 pessoas na corte, de 1857 com 1.868 mortos, e de 1873, 1875 e 1876,
que, apenas na região urbana do município neutro, vitimou respectivamente 3.659, 1.292 e
3.476 pessoas. Além da epidemia de febre amarela, as autoras trataram também da primeira
epidemia de cólera, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro nos anos de 1855 e 1856, levando
a óbito 4.828 pessoas. Nos anos de 1867 e 1868, o cólera atingiu novamente a província, mas
em menor intensidade, se comparada com a primeira epidemia de 1855.
Segundo Dilma Cabral e Angélica Camargo, a chegada da febre amarela ao Rio de
Janeiro, em 1850, promoveu alterações na organização dos serviços sanitários, como a
aprovação de um crédito extraordinário, a ser despendido exclusivamente na melhoria da
salubridade da capital, e a criação da Junta de Higiene Pública. Criada pelo decreto nº 598, de
14/09/1850, a Junta de Higiene, composta por um Presidente, pelo inspector do Instituto
Vacínico, e o Provedor da Saúde do Porto do Rio de Janeiro, incorporou os estabelecimentos
da Inspeção de Saúde do Porto do Rio de Janeiro, e do Instituto Vacínico. Entre suas atribuições
estava a polícia medica nas visitas das embarcações, que até então eram feitas pela Inspeção da
Saúde do Porto, e das boticas, lojas de drogas, mercados, armazéns, e todos os estabelecimentos
que pudessem representar algum risco à saúde pública148.
Em 1851, com o decreto n. 828, de 29 de setembro, foi reformulado o regulamento da
Junta de Higiene Pública, que passou a ser denominada Junta Central de Higiene Pública. Por
este decreto seriam criadas Comissões de Higiene Pública nas províncias do Pará, Maranhão,
Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul, as visitas sanitárias ás embarcações continuariam a
ser realizadas, e a Inspeção de Saúde dos Portos continuava subordinada à direção da Junta
Central de Higiene Pública, o órgão central, localizada na capital do Império, a cidade do Rio
de Janeiro149.
148
BRASIL. Decreto n.598, de 14 de setembro de 1850. In SENADO FEDERAL. Portal Legislação. Disponível
em: http://legis.senado.leg.br/norma/597608/publicacao?tipoDocumento=DPL-n&tipoTexto=PUB
Acesso em 17 de março de 2019.
149
BRASIL. Decreto n.828, de 29 de setembro de 1851. In SENADO FEDERAL. Portal Legislação. Capturado
em 27 fev. 2020. Online. Disponível em:
126
Neste mesmo ano, entre as medidas adotadas para o combate às moléstias contagiosas,
foi criado o Lazareto da Jurujuba, estabelecido na enseada de Jurujuba em Niterói, o qual foi
transformado, em março de 1853, no Hospital Marítimo de Santa Isabel. Em 1859, o decreto nº
2.409, estabeleceu um novo regulamento para a Inspeção de Saúde dos Portos, estabelecida na
cidade do Rio de Janeiro, além de ter ampliado sua composição nas províncias da Bahia,
Pernambuco e Maranhão, Pará e S. Pedro do Sul150.
Em 1861, pelo decreto nº2.734, o Hospital Marítimo de Santa Isabel e os lazaretos
ficaram sob a dependência da Inspeção de Saúde dos Portos, as quarentenas foram substituídas
pelas desinfecções dos navios, e foi estabelecido que seriam realizadas duas visitas no porto do
Rio de Janeiro. Ficou, igualmente, definida uma nova estrutura para a Inspeção de Saúde dos
Portos, no Rio de Janeiro e nas províncias. O novo regulamento também definiu que para os
cargos de inspetor e ajudante só poderiam ser nomeados ‘doutores em medicina’ que soubessem
falar francês ou inglês151. Já em 1863, o decreto nº3.059 determinou que sempre que o Hospital
Marítimo de Santa Isabel deixasse de receber doentes, haveria no porto do Rio de Janeiro
somente dois ajudantes do inspetor de saúde e as duas visitas sanitárias aos navios seriam feitas
pelo vapor152.
Na década de 1870, período em que ocorreram dois surtos de febre amarela no Rio de
Janeiro, em 1873 e 1876, os serviços sanitários foram reorganizados em diversas cidades
marítimas do Império153.
Nesse contexto, segundo Chalhoub, a febre amarela já havia se tornado um problema de
saúde pública, diferentemente do que ocorrera durante a década de 1850. Como vimos em sua
própria analise sobre a posição adotada pelo Governo Imperial perante a doenças como varíola,
tuberculose e febre amarela, seria passível de uma relativização da atenção dispendida em
http://legis.senado.leg.br/norma/389622/publicacao?tipoDocumento=DEC-n&tipoTexto=PUB
Acesso em 15 de dezembro de 2019
150
BRASIL. Decreto nº 2.409, de 27 de abril de 1859. In Coleção das Leis do Império do Brasil de 1859, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1859. Tomo XXII, Parte II, p.389-397. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao5.html. Acesso em 15 de dezembro
de 2019.
151
BRASIL. Decreto nº 2.734, de 23 de janeiro de 1861. In Coleção das Leis do Império do Brasil de 1861, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1861. Tomo XXIV, Parte II, p.76-88. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao6.html. Acesso em 15 de dezembro
de 2019.
152
BRASIL. Decreto nº 3.059, de 11 de março de 1863. In Coleção das Leis do Império do Brasil de 1863, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1863. Tomo XXVI, Parte II, p.54-55. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao6.html. Acesso em 16 de dezembro
de 2019.
153
BRASIL. Decreto nº 6.378, de 15 de novembro de 1876. In Coleção das Leis do Império do Brasil de 1876, Rio
de Janeiro: Typographia Nacional, 1876. Tomo XXXIX, Parte II, vol.1, p.1137-1143. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao7.html. Acesso em 17 de dezembro
de 2019.
127
154
BRASIL. Decreto nº 9.159, de 1 de março de 1884. Actos do Poder Executivo de 1884. Rio de Janeiro, 1884,
p.81-82. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao8.html.
Acesso em 17 de dezembro de 2019.
155
BRASIL. Decreto nº 9.554, de 3 de fevereiro de 1886. Actos do Poder Executivo de 1886. Rio de Janeiro, 1886.
p. 57-102. Disponível em: https://www2.camara.leg.br/atividade-legislativa/legislacao/doimperio/colecao8.html.
Acesso em 17 de dezembro de 2019.
128
Na Corte, o serviço sanitário dos portos passou a responder pelo socorro médico e pela
polícia sanitária dos navios, ancoradouros e litoral, além das quarentenas marítimas. Na
execução dos serviços, a Inspetoria-Geral de Saúde dos Portos tinha a jurisdição no porto do
Rio de Janeiro, e as províncias ficaram sob a alçada dos inspetores de saúde dos portos das
províncias.
Já mais para o final do século XIX, essa relação entre higiene e intervenção urbana
também pode ser compreendida a partir da análise dos congressos científicos e convenções
sanitárias, realizados a partir da década de 1880. Após a ocorrência de uma epidemia de cólera
na Argentina e no Uruguai, o governo Imperial decidiu, em 1887, pelo fechamento dos portos
nacionais. Em decorrência de tal medida, e do impacto que causaria para o comércio entre os
países, o Império brasileiro e as repúblicas platinas procuraram discutir a realização de um
congresso sanitário para formular uma legislação própria. E neste contexto foi estabelecida, em
1887, uma convenção sanitária realizada pelo Império brasileiro e pelas repúblicas da Argentina
e do Uruguai, buscando aumentar o controle e a vigilância quanto a entrada de doenças nestes
países (CHAVES, 2013).
A realização destas convenções denotava não só a preocupação com a vida econômica
dos países, mas também a busca pelo conhecimento e pelo controle de doenças, como a peste,
a varíola e a febre amarela, que eram consideradas as principais moléstias no período.
Neste período, as quarentenas passaram de medida profilática principal à categoria de
medida profilática realizada em última necessidade, aplicável somente quando novas
exigências, tais como a vigilância médica, a vacinação, a notificação e a desinfecção, não
fossem realizadas com sucesso (REBELO, 2010).
Rebelo ainda destaca:
(...) as práticas sanitárias no final do século XIX e início do XX sugerem
múltiplas articulações e confluências entre explicações miasmáticas e
contagionistas. Os higienistas clássicos, em sua maioria infeccionistas, longe de
desaparecerem, encontraram suporte na teoria pasteuriana, o que gerou a
permanência da desinfecção e o controle da insalubridade nos centros urbanos.
O convívio entre contagionistas, que não duvidavam dos germes, com os
infeccionistas, preocupados com o “ar viciado”, gerou uma continuidade entre
teorias propostas e medidas sanitárias programadas (REBELO, 2010: 23).
E poderemos conferir a seguir a preocupação com o agasalho e sustento desses imigrantes que
desembarcaram no território brasileiro e passaram pelas hospedarias de imigrantes.
Ou pelo compromisso firmado por essa mesma Associação com o Governo Imperial
para a realização de tais ações:
Apromptar, pelo menos dentro do primeiro triennio, uma grande hospedaria
definitiva, cuja planta, condições hygiencias, e regulamentos serão aprovados
pelo governo, assim como o será uma relação ou tabela dos preços do
alojamento e comestíveis, e bem assim do serviço necessário ao desembarque
dos colonos e suas bagagens, que tiver de fazer transportar para os ditos
depósitos e hospedarias, entendendo-se com os empresários de colonisação
para que o transporte destes estabelecimentos até o lugar do destino se faça
pelo preço mais favorável, e sob condições razoáveis157.
156
BRASIL. Decreto nº 1.584, de 2 de abril de 1855. In SENADO FEDERAL. Portal Legislação. Disponível em:
http://legis.senado.leg.br/legislacao/publicacaosigen.action?id=393335&tipodocumento=dec-n&tipotexto=pub.
Acesso em 17 de março de 2019.
157
FERRAZ, Luiz Pedreira do Coutto. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão
da Decima Legislatura pelo Ministro e Secretário D´Estado dos Negocios do Império Luiz Pedreira do Coutto
Ferraz. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1857. p.23. In Relatórios Ministeriais (1821-1960).
Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources
Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=25&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1205%2C-
1%2C4360%2C3076 Acesso em 17 de março de 2019.
130
descrever a rotina de procedimentos sanitários, fez com que buscássemos por meio dos
periódicos e relatórios ministeriais apresentar um panorama dessas ações em tais hospedarias.
Ao abordar a criação da Hospedaria da Ilha do Bom Jesus, vimos que o início de seu
funcionamento foi acelerado por um surto de febre amarela que acometeu a cidade do Rio de
Janeiro no ano de 1857, o que fez com que as instalações fossem utilizadas pela primeira vez
por imigrantes que não vieram por meio da Associação Central de Colonização.
Antes de ser utilizada como hospedaria, o local foi utilizado como lazareto para receber
não só imigrantes, como pessoas de outros grupos sociais. Nesse caso, os religiosos do convento
na Ilha, é que eram os responsáveis por tratar dos doentes acolhidos.
Ao definir a Ilha do Bom Jesus como sede da hospedaria provisória, a Associação
Central de Colonização preteriu momentaneamente as instalações na quinta imperial da Ponta
do Cajú, até então as únicas que haviam apresentado boas condições para instalação de tal
estabelecimento e assumiu a obrigação de zelar pela conservação do edifício do convento e de
restituição assim que a necessidade cessasse158.
Ainda assim, a Ilha do Bom Jesus e a Ponta do Caju estabeleceriam fácil comunicação
uma vez que tal espaço poderia ser atravessado em cerca de cinco minutos, facilitando a
recepção dos imigrantes que viessem por conta da Associação ou por outro meio.
Além de preços cômodos, a edição do Diario do Rio de Janeiro de 26 de outubro de
1857 descreve as condições do local que seria sede da hospedaria:
O lugar oferece as maiores facilidades para desembarque e embarque, está fora
do contacto da população da côrte, e conseguintemente ao abrigo das
enfermidades, que porventura appareção159.
158
[Parte Official] Ministerio do Imperio. Repartição Geral das Terras Públicas, Expediente do mez de agosto-Dia
12. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XXXII, n.254, 15 de setembro de 1857, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/11884 Acesso em 2 de abril de 2020.
AZAMBUJA, Bernardo Augusto Nascente de. [Communicações]. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno
XXXVII, n.277, 11 de outubro 1857, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45291
Acesso em 2 de abril de 2020.
159
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVI, n.292, p.3,
26 de outubro de 1857. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45352
Acesso em 2 de abril de 2020.
131
Ilustração X- Atual Ilha do Bom Jesus e Ponta do Caju, município do Rio de Janeiro-Rio de Janeiro. Google Maps, 2020.
Disponível em: https://www.google.com/maps/place/Mercado+Carioca+do+Caju/@-22.867304,-
43.2179133,2779m/data=!3m1!1e3!4m5!3m4!1s0x997ed5cb1a4991:0xf972b544a6ebeb46!8m2!3d-22.8783043!4d-43.2157582.
Acesso em 27 de janeiro de 2020.
Mesmo não recebendo a hospedaria provisória, foi proposto que o espaço da Ponta do
Caju abrigasse um deposito provisório, assim como as dependências do convento na Ilha do
Bom Jesus passariam abrigar quando uma hospedaria definitiva fosse construída no próprio
espaço da Ponta do Cajú, cedido pelo imperador D. Pedro II à Associação durante um período
de 60 anos a um módico arrendamento160 . Ao redigir um relatório de trabalho da Associação
Central de Colonização, Bernardo Augusto Nascentes de Azambuja, diretor da mesma, relatou
a realização de estudos sobre a localidade da Ponta do Caju e como a futura edificação deveria
ser construída:
Já se tem alli feito os necessarios estudos sobre o terreno e os convenientes
exames ácerca de suas excelentes proporções, continua-se com outros para
que se consiga construir um prédio corresponda ao seu destino, sem luxo,
porém segundo os preceitos da arte, nas verdadeiras condições hygienicas,
com solidez e elegância.
Collocada em frente a barra, contendo uma espaçosa chácara coberta de
frondosas alamedas, rodeada de praia em grande extensão de seu contorno,
abastecida de agua potável, refrescada pelas brizas do dia e da noite, tendo
fácil communicação por mar e por terra, e dominando de sobre a pequena
eminencia, em que será levantado o edifício da hospedaria, a vasta bahia de
Nictheroy, não pode a imperial quinta, á que me refiro, deixar de oferecer aos
emigrantes uma habitação invejavel, em lugar saudavel, aprazivel e até mesmo
de recreio161.
160
15 de dezembro. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVI, n.340, p.1, 15 de dezembro de 1857.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45543 Acesso em 2 de abril de 2020.
161
AZAMBUJA, Bernardo Augusto Nascente de. [Communicações]. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
anno XXXVI, n.299, 2 e 3 de novembro de 1857, p.2. Disponível em:
132
165
AZAMBUJA, Bernardo Augusto Nascente de. [Associação Central de Colonização]. Relatório apresentado na
sessão extraordinária da Assembleia Geral. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XXXIII, n.119, 3 de maio
de 1858, p.1-2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_04/12784 Acesso em 2 de abril de 2020.
AZAMBUJA, Bernardo Augusto Nascente de. Relatório apresentado na sessão extraordinária da Assembleia Geral
[Associação Central de Colonização]. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.117, 2 de maio
1858, p.1-2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/46067 Acesso em 2 de abril de 2020. 166
BRASIL. Decreto nº 2.168, de 1º de Maio de 1858. In Coleção de Leis do Império do Brasil de 1858, Rio de
Janeiro: Typographia Nacional, 1858. Vol. 1 pt II, página 276. Disponível em:
https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1824-1899/decreto-2168-1-maio-1858-557097-publicacaooriginal-
77406-pe.html. Acesso em 25 de fevereiro de 2020.
134
permitir aos passageiros subir ao convez por mais de hum dia, com suas roupas
de cama para serem arejadas, as fará desinfectar com o chlorureto de cal, ou
outra substancia desinfectante, tantas vezes, quantas for conveniente.
Art. 19. A bordo deverá haver os utensilios de cozinha e mesa em numero e
qualidade sufficientes para os passageiros, e o Capitão he obrigado a fazer
distribuir por estes nas horas estabelecidas pelo Regulamento no art. 15 o
comer já preparado. Ficão prohibidos os utensilios de cobre para o serviço de
cozinha e mesa.
Art. 20. Na coberta da embarcação não poderão ser transportados carne, peixe,
ou outros generos, que possão produzir infecção no ar.
Art. 21. Nos portos, em que as embarcações arribarem, serão os Capitães
obrigados a sustentar os passageiros, quer a bordo, quer em terra, quando por
qualquer motivo não se possão conservar embarcados. Nestes portos, sempre
que for necessario, se fará nova provisão de mantimentos, de agua e de
conbustivel, regulada pelo numero de passageiros, e duração da viagem ao
porto do destino167.
167
Ibidem.
168
MACEDO, Sérgio Teixeira de. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império Sérgio Teixeira de Macedo.
Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1859. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via
base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=27&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1108%2C-
1%2C4231%2C2985 Acesso em 17 de março de 2019.
.
135
Ainda que tenha pedido rapidez na resolução de tal problema, só é possível perceber um
movimento nessa direção na edição de junho do Correio Mercantil, onde encontramos um
anúncio à procura de quem executasse o serviço:
Contrata-se de empreitada a factura de seis quartos com 12 palmos de largura,
divisões de pinho da Suecia e competentes portas, no salão do pavimento
inferior da hospedaria da ilha do Bom Jesus; recebendo-se para este fim
propostas na rua Direita n.15, 1º andar, até o dia 30 do corrente170.
Assim como as obras, a questão alimentícia também foi tema dos anúncios concernentes
à Hospedaria da Ilha do Bom Jesus. Alimentos como arroz, açúcar mascavo, café, carne de
vaca, farinha de mandioca, feijão e pão, eram alguns dos suprimentos que integraram os
informativos escritos por Manoel Teixeira Coimbra, funcionário da Associação, noticiados em
edições de periódicos como o Jornal do Commercio e o Correio Mercantil nos anos finais da
década de 1850171. Nesses informativos, as propostas deveriam ser entregues em carta fechada
na Rua Direita, nº 15, 1º andar.
Estes dois periódicos também transcreveram, em edições de janeiro de 1861, a
mensagem de Manoel Teixeira Coimbra de 8 de janeiro daquele ano, na qual constava o
recebimento de propostas no escritório da Associação, a informação de que o contrato deveria
169
Repartição Geral das Terras Públicas. Boletim do Expediente do Governo. Ministério do Império. Rio de
Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve, Tomo 5, n. 5, p.4-5, dezembro de 1859.
Disponível em:
Acesso em 2 de abril de 2020.
170
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XVII, n.173, 23 de junho de 1860, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/17753 Acesso em 2 de abril de 2020.
171
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XV, n.335, 12 de dezembro de 1858, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15557 Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XV, n.336, 13 de dezembro de 1858, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15561 . Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Agencia official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XXXIII, n.342, 13 de dezembro de 1858, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/18424
Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XVI, n.201, 23 de julho de 1859, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15581
Acesso em 2 de abril de 2020.
136
ter a duração de seis meses e que incluía o fornecimento de alimentos como: pão, carne, café,
manteiga, banha, batatas, açúcar, arroz, feijão, vinagre e azeite172.
Tais assuntos também foram objeto de notícias nos anos seguintes. Enquanto o Diario
do Rio de Janeiro informou, em abril de 1862, a preparação de madeira pela Companhia Ponta
da Area para a construção de camas destinadas à Hospedaria da Ilha do Bom Jesus, as edições
do Correio Mercantil e do Jornal do Commercio, nos anos de 1862 e 1863, publicaram a
mensagem de Manoel Teixeira Coimbra sobre o fornecimento de alimentos para a Hospedaria
da Ilha do Bom Jesus173.
Apesar do hiato existente entre o fim da Hospedaria da Ilha do Bom Jesus e a
inauguração da Hospedaria do Morro da Saúde, a questão alimentícia nas hospedarias não
deixou de ser noticiada nos periódicos. Em edições de 1864 e 1865 do Correio Mercantil e do
Diario do Rio de Janeiro, por exemplo, foram publicadas mensagens do então agente oficial de
colonização, Ignácio da Cunha Galvão, sobre a busca por fornecedores de alimentos para os
estabelecimentos considerados pelo Governo Imperial como hospedarias destinadas aos
imigrantes, como os da Praia Formosa e da Rua da Imperatriz174.
172
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XVIII, n.10, 10 de janeiro de 1861, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/18535 Acesso em 2 de abril de 2020.
173
ESTALEIRO. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XLII, n.117, 29 de abril de 1862, p.2. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/15655 . Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XIX, n.199, 20 de julho 1862, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/20716 Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XIX, n.192, 1º de agosto de 1862, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/20764 Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XIX, n.194, 3 de agosto de 1862, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/20773 Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XX, n.38, 7 de fevereiro de 1863, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/21508 Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XX, n.39, 8 de fevereiro de 1863, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/21512 Acesso em 2 de abril de 2020.
COIMBRA, Manoel Teixeira. Associação Central de Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XXXVIII, n.38, 7 de fevereiro de 1863, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/21507
Acesso em 2 de abril de 2020.
174
GALVÃO, Ignacio da Cunha. Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de
Janeiro, anno XXI, n.140, 21 de maio de 1864, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/23362 Acesso em 2 de abril de 2020.
GALVÃO, Ignacio da Cunha. Agencia official de colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno
XLIV, n.328, 29 de novembro de 1864, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/19306
Acesso em 2 de abril de 2020.
GALVÃO, Ignacio da Cunha. Agencia official de colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XXII, n.155, 16 de junho de 1865, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/24866 Acesso em 3 de abril de 2020.
137
GALVÃO, Ignacio da Cunha. Agencia official de colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XXII, n.157, 18 de junho de 1865, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/24914 Acesso em 3 de abril de 2020.
175
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. DECLARAÇÕES. Agencia official de colonisação. Diario do Rio de
Janeiro, Rio de Janeiro, anno L, n.153, 17 de junho de 1867, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/21947 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XLVI, n.171, 21 de junho de 1867, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_05/12092 Acesso
em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XLVII, n.350, 17 de dezembro de 1867, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_05/13037 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XXIV, n.349, 20 de dezembro de 1867, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/28519 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. DECLARAÇÕES. Agencia official de colonisação. Diario do Povo: Politico,
Litterario, Noticioso e Commercial, Rio de Janeiro, anno II, n.141, 20 de junho de 1868, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/367737/801 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. DECLARAÇÕES. Agencia official de colonisação. Diario do Povo: Politico,
Litterario, Noticioso e Commercial, Rio de Janeiro, anno II, n.142, 21 de junho de 1868, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/367737/805 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XXV, n.171, 21 de junho de 1868, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/29248 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XXV, n.173, 23 de junho de 1868, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/29256 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico,
Universal, Rio de Janeiro, anno XXV, n.175, 25 de junho de 1868, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/29264 Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XLVII, n.348, 15 de dezembro de 1868, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_05/14760
Acesso em 3 de abril de 2020.
LIMA, Franklin Brasileiro Jansen. Agencia official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XLVII, n.353, 20 de dezembro de 1868, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_05/14786
Acesso em 3 de abril de 2020.
AGENCIA official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XLVIII, n.349, 17 de dezembro
de 1869, p.2 Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_05/16624 Acesso em 3 de abril de 2020.
138
1871, seria nomeado administrador da Hospedaria do Morro da Saúde, na qual dizia que as
propostas para o fornecimento de gêneros deveriam ser enviadas para o escritório da Agência
Oficial de Colonização, então localizado na Rua do Hospício, nº 186176.
Até 1875, este mesmo periódico apresentou este tipo de anúncio em ao menos uma
edição ao longo do ano, apresentando as informações acerca do fornecimento de alimentos à
Hospedaria. Entre 1872 e 1874, os anúncios escritos pelo então escriturário Luiz José de Souza,
informaram que as propostas deveriam ser enviadas para a Rua da Alfandega, nº 145, constando
assim um novo endereço da Agência Oficial de Colonização177. Em 1875, por sua vez, o Largo
do Paço, nº 5, constou como novo endereço da Agência, no anúncio escrito pelo ainda
escriturário Luiz José Souza178.
Durante tal década, a mensagem convocando a apresentação de propostas para o
fornecimento de alimentos para a Hospedaria do Morro da Saúde, também foi publicada em
edições do Jornal do Commercio, de O Globo, da Gazeta de Noticias e de A Reforma.
176
FRITSCH, Francisco Antonio. Agencia official de colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno
LIII, n.164, 16 de junho de 1870, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/25973
Acesso em 3 de abril de 2020.
FRITSCH, Francisco Antonio. Agencia official de colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno
LIII, n.347, 16 de dezembro de 1870, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/26707
Acesso em 3 de abril de 2020.
FRITSCH, Francisco Antonio. Agencia official de colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno
LIII, n.349, 18 de dezembro de 1870, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/26715
Acesso em 3 de abril de 2020.
NOTICIARIO. Ministerio da Agricultura. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LIV, n.243, 2 de setembro
de 1871, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/27748
Acesso em 3 de abril de 2020.
177
SOUZA, Luiz José de. DECLARAÇÕES. Agencia Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, anno LV, n.164, 16 de junho de 1872, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/28886 Acesso em 3 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. AGENCIA Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LVI,
n.352, 23 de dezembro de 1873, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/31072
Acesso em 3 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. AGENCIA Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LVII,
n.168, 19 de junho de 1874, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/31772
Acesso em 3 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. AGENCIA Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LVII,
n.173, 24 de junho de 1874, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/31793
Acesso em 3 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. DECLARAÇÕES. Agencia Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de
Janeiro, anno LVII, n.356, 25 de dezembro de 1874, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/32530 Acesso em 3 de abril de 2020.
178
SOUZA, Luiz José de. AGENCIA Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno
LVIII, n.346, 17 de dezembro de 1875, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/33934
Acesso em 3 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. AGENCIA Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LVIII,
n.348, 19 de dezembro de 1875, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/33943 Acesso
em 3 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. AGENCIA Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LVIII,
n.355, 26 de dezembro de 1875, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/33970 Acesso
em 3 de abril de 2020.
139
179
PAGAMENTOS. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do Commercio,
Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno II, n.69, 11 de março de 1875, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/369381/850 Acesso em 4 de abril de 2020.
180
REQUERIMENTOS despachados pelo Ministerio da Agricultura. A Reforma: Órgão Democrático, Rio de
Janeiro, anno X, n.115, 22 de maio de 1878, p.3.Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/10528
Acesso em 4 de abril de 2020.
181
RIO DE JANEIRO Gas Company Limited. A Reforma: Órgão Democrático, Rio de Janeiro, anno X, n.157, 13
de julho de 1878, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/10878
Acesso em 4 de abril de 2020.
RIO DE JANEIRO City Improvements Limited. A Reforma: Órgão Democrático, Rio de Janeiro, anno X, n.232,
11 de outubro de 1878, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/11157
Acesso em 4 de abril de 2020.
O MINISTERIO da Agricultura deu despacho aos requerimentos seguintes. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro,
anno IV, n.281, 11 de outubro de 1878, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_01/4674
Acesso em 4 de abril de 2020.
182
FRITSCH, Francisco Antonio. Agencia official de colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno
XLIX, n.166, 18 de junho de 1870, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/816
Acesso em 4 de abril de 2020.
FORNECIMENTO. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno L, n.353, 22 de dezembro de 1871, p.4. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/3868 Acesso em 4 de abril de 2020.
VIANNA, Ernesto da C. de Araujo. Inspetoria Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, anno LVI, n.176, 26 de junho de 1877, p.6. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/16184 Acesso em 4 de abril de 2020.
140
como por exemplo, o já citado José Moreira da Fonseca Souza, e os nomes de Casimiro José
Teixeira Alves e João Gonçalves Pacheco, que foram responsáveis por fornecer alimentos no
início do ano de 1878183.
Este tipo de informativo, que também fazia parte da lógica de funcionamento de outros
estabelecimentos como os hospitais, denotavam não só a preocupação que existia com a
alimentação dos imigrantes, como também uma das facetas da organização desses
estabelecimentos destinados a recepção dos mesmos. Tal faceta também pode ser percebida nas
tabelas produzidas para os relatórios ministeriais, nas quais constavam o consumo desses
gêneros alimentícios na Hospedaria do Morro da Saúde, e o número de rações realizadas, ou
seja, das porções de alimento calculada para o consumo diário, ou para cada refeição, cujos
dados reproduzimos a seguir nas Tabelas X e XI:
VIANNA, Ernesto da C. de Araujo. Inspetoria Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, anno LVI, n.177, 27 de junho de 1877, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/16189 Acesso em 4 de abril de 2020.
VIANNA, Ernesto da C. de Araujo. Inspetoria Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, anno LVI, n.178, 28 de junho de 1877, p.5. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/16197 Acesso em 4 de abril de 2020.
VIANNA, Ernesto da C. de Araujo. Inspetoria Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, anno LVI, n.179, 29 de junho de 1877, p.5. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/16205 Acesso em 4 de abril de 2020.
VIANNA, Ernesto da C. de Araujo. Inspetoria Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, anno LVI, n.180, 30 de junho de 1877, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/16211 Acesso em 4 de abril de 2020.
183
REQUERIMENTOS. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.122, 2 de maio de 1878, p.1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18317 Acesso em 4 de abril de 2020.
REQUERIMENTOS. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.142, 22 de maio de 1878, p.2. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18454 Acesso em 4 de abril de 2020.
141
Totais
Número de rações de adultos 9425
Número de rações de menores de 2 a 9 anos 2724
Libras de açúcar 3044 20/128
Libras de arroz 2307 36/128
Quartilhos de azeite de sebo 300
Quartilhos de azeite doce 10
Libras de bacalhau 384
Libras de banha 690 34/128
Libras de batatas 1876
Libras de café 1746
Libras de chá 151
Libras de carne seca 464
Tonelada de carne verde 10,389
Tonelada de carvão de pedra 64/128
Número de cebolas 1750
Quartas de farinha 24
Quartas de feijão 132
Número de achas de lenha 16,000
Libras de manteiga 24
Libras de Pimenta da Índia 20
Número de pães 12,982
Libras de sabão 450
Quartas de sal 13
Número de Vassouras 36
Quartilhos de Vinagre 252
Tabela X- Mapa do consumo de gêneros alimentícios na Hospedaria do Morro da Saúde de 1º de janeiro à 31 de
dezembro de 1869. Apud SOUSA, Fortunato Marques. Tabela n.11-Mapa do consumo na hospedaria do governo,
correspondente as rações de emigrantes adultos, e 2 à 9 anos desde o 1º de janeiro à 31 de dezembro de 1869, e média
que tocou à cada um, sendo a dos menores na rasão de metade. In GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatório da Agência
Oficial de Colonização de 1869. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1870. Anexo184.
184
ALBUQUERQUE, Diogo Velho Cavalcanti de. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na
Segunda Sessão da Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Públicas Diogo Velho Cavalcanti de Albuquerque. Rio de Janeiro: Typographia Universal de
E. & H. Laemmert, 1870. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=11&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1114%2C0%2C4227%2C2981 Acesso
em 17 de março de 2019.
142
Totais
Número de rações adultas 7.620
Número de rações de menores de 2 a 9 anos 3.193
Libras de açúcar 2.789 59/128
Libras de arroz 1.968 45/128
Quartilhos de azeite de sebo 376
Libras de Bacalhau 96
Libras de Banha 510 100/128
Libras de Batatas 1.216
Libras de Café 1.518 10/128
Libras de Chá 82
Libras de Carne Seca 96
Libras de Carne Verde 9.547
Número de Cebolas 1.425
Quartas de Farinha 20
Quartas de Feijão 124
Número de Achas de Lenha 15.500
Libras de Manteiga 8
Libras de Pimenta da Índia 30
Número de Pães 10.939
Libras de Sabão 235
Quartas de Sal 17
Número de Vassouras 54
Quartilhas de Vinagre 232
Tabela XI- Mapa do consumo de gêneros alimentícios na Hospedaria do Morro da Saúde de 1º de janeiro à 31 de
dezembro de 1870. Apud SOUSA, Fortunato Marques. Tabela n.11-Mapa do consumo na hospedaria do governo,
correspondente as rações de emigrantes adultos, e 2 à 9 anos desde o 1º de janeiro à 31 de dezembro de 1870, e média
que tocou à cada um, sendo a dos menores na rasão de metade. In GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatório da Agência
Oficial de Colonização de 1870. Rio de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1871, Anexo185.
185
SILVA, Theodoro Machado Freire Pereira da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira
Sessão da Decima Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura,
Commercio e Obras Publicas Theodoro Machado Freire Pereira da Silva. Rio de Janeiro: Typographia Universal
de E. & H. Laemmert, 1871. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian
Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=12&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1111%2C-1%2C4140%2C2921 Acesso
em 17 de março de 2019.
143
Meses Despesa Número de dias Média por dia Importância Frações Total geral
Geral dos desprezadas das despesas
gêneros
consumidos
De De De De menores De adultos De menores
adultos menores adultos de 2 a 9 de 2 a 9 anos
de 2 a 9 anos
anos
Janeiro 218$910 207 36 $885 $442 262$845 15$902 $193 278$910
Fevereiro 211$917 197 1$073 211$775 $172 211$947
Março 223$295 246 8 $893 $446 219$678 3$568 $049 223$295
Abril 288$933 105 72 $033 $328 263$275 23$616 $042 288$933
Maio 278$761 592 62 $039 $320 258$328 20$398 $035 378$761
Junho 291$271 395 65 $081 $340 268$995 22$100 $175 391$270
Totais 1.573$146 1.932 263 $766 $383 1.486$896 87$584 $665 1.573$146
A média para 1.479$912 $163 1.573$146
adulto deste
semestre é de
766 rs.. e de
menor 388 rs
Julho 233$150 289 62 $641 $320 243$380 19$840 $230 263$650
Agosto 227$365 294 18 $750 $375 220$500 6$750 $115 227$303
Setembro 144$590 171 18 $803 $402 137$313 7$236 $041 144$399
Outubro 199$725 274 $728 199$472 $253 199$725
Novembro 235$072 345 $681 234$945 $127 235$072
Dezembro 236$335 338 23 $676 $30 228$488 7$771 $073 236$236.
Totais 1.306$737 1.802 121 8701 $350 1.264$298 41$600 $839 1.300$737
A média para 1.263$202 42.$350 1.185 1.306$737
adulto deste
semestre é de
701 rs. E a de
menor é de 350
rs
Resumo das despesas feitas no 1º e 2º semestre de 1871
1º semestre 1.573$116 1.932 213 $766 $383 1.186$896 87$584 $636 1.573$145
2º semestre 1.306$737 1.802 121 $701 $330 1.264$298 44$600 $839 1.306$737
Totais 2.879$883 3.734 364 $735 $367 2.751$191 127$181 1$505 2.879$883
A média para 2.744$499 133$588 1$805 2.879$883
adulto de todo a
no é de 735 rs.
E a de menor de
2 a 9 anos é de
367 rs
Tabela XII- Resumo das despesas com alimento na Hospedaria do Morro da Saúde no ano de 1871. Apud Fritsch,
Francisco Antonio. Tabela n.11 A- Resumo das despesas feitas nesta Hospedaria com o alimento de 3.734 rações de
adultos e 364 ditas de menores de 2 a 9 annos, do 1º de Janeiro a 31 de Dezembro de 1871, percebendo estes últimos á
razão de metade daqueles. In GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatório da Agência Oficial de Colonização de 1871. Rio
de Janeiro: Typographia do Diario do Rio de Janeiro, 1872. Anexo D186.
186
In ITAÚNA, Barão de. Relatorio apresentado á Assembleá Geral Legislativa na Quarta Sessão da Decima
Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Públicas
Cândido Borges Monteiro. Rio de Janeiro: Typographia Universal de E. & H. Laemmert, 1872. In Relatórios
Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research
Librairies-Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=13&s=0&cv=245&r=0&xywh=-1087%2C0%2C4092%2C2886
Acesso em 17 de março de 2019.
144
Movimento de imigrantes do Rio de Janeiro para as províncias, Transporte de imigrantes do Rio de Alimentação
pela hospedaria de imigrantes Janeiro para as províncias, pela hospedaria de imigrantes
de imigrantes na hospedaria
Tabela XIII- Resumo das despesas efetuadas na capital do Império pelo Ministério do Império entre janeiro e março
de 1885. Apud VASCONCELLOS, Francisco de Barros e Accioli de. Quadro demonstrativo da despesa efetuada
durante o ano de 1885, na capital do Império, com o movimento de imigrantes, a cargo da Inspetoria Geral das Terras
e Colonização.187
187
PRADO, Antonio da Silva. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da
Vigesima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Publicas Antonio da Silva Prado. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1886. p.23. In Relatórios Ministeriais (1821-
1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global
Resources Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=28&s=0&cv=1&r=0&xywh=-
1464%2C-1%2C4943%2C3487 Acesso em 17 de março de 2019.
145
Pessoal empregado na hospedaria da Ilha das Alimentação Aquisição Concertos de Transporte de imigrantes do Rio de Janeiro
Flores de imigrantes de embarcações para as províncias
na material
hospedaria flutuante
Administrativo Subalterno Total Companhias de Estradas de Total
23:722$341 1:070$081 3:350$280 navegação Ferro
Movimento de imigrantes no porto do Rio de Alojamento de imigrantes na hospedaria Obras concluídas na Diversas Soma total
Janeiro hospedaria
Tabela XIV- Resumo das despesas efetuadas na capital do Império pelo Ministério da Agricultura entre abril de
dezembro de 1885. Apud VASCONCELLOS, Francisco de Barros e Accioli de. Quadro demonstrativo da despesa
efetuada durante o ano de 1885, na capital do Império, com o movimento de imigrantes, a cargo da Inspetoria Geral
das Terras e Colonização.188
188
Ibidem.
189
SILVA, Rodrigo Augusto da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Quarta Sessão da
Vigesima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Publicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889, p.115. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=28&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1464%2C-1%2C4943%2C3487 Acesso
em 17 de março de 2019.
PRADO, Antonio da Silva. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Primeira Sessão da Vigesima
Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras Publicas
Antonio da Silva Prado. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1886. p.23. In Relatórios Ministeriais (1821-1960).
Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources
Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=28&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1464%2C-1%2C4943%2C3487
Acesso em 17 de março de 2019.
146
190
CASTRO, A. J. de Magalhães. MINISTERIO da Agricultura. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LXIV,
n.12, 12 de janeiro de 1886, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_07/14491 Acesso em 4
de abril de 2020.
147
2ª Nenhuma proposta será aceita sem que o proponente nella declare, por
extenso, sem claro, entrelinha ou rasura o preço de cada artigo.
3ª As propostas serão escriptas com tinta preta.
4ª Não se receberá proposta alguma depois do dia e hora acima designados. 5ª
As propostas serão organisadas de modo que os artigos de ferragens, ou todos
aquelles que forem da mesma especie, possão ser contratados com um só
fornecedor.191
191
Ibidem.
192
HOSPEDARIA da Ilha das Flores. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LXIV, n.130, 11 de maio de
1886, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_07/15234 Acesso em 4 de abril de 2020.
INSPECTORIA Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LXVI, n.355, 21 de
dezembro de 1888, p.5. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_07/21876
Acesso em 4 de abril de 2020.
CASTRO, A. J. de Magalhães. INSPECTORIA Geral das Terras e Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de
Janeiro, anno LXVII, n.355, 22 de dezembro de 1889, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_07/24235 Acesso em 4 de abril de 2020.
193
SOLICITARAM-SE do Ministerio da fazenda os seguintes pagamentos. Diario do Brazil, Rio de Janeiro, anno
V, n.171, 23 de julho de 1885, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/225029/3951
Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.20, 20 de janeiro de 1887,
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11527 Acesso em 4 de abril de 2020. DERAM-SE
as ordens necessárias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.167, 16 de junho de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12223 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.246, 3 de setembro de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12621 Acesso em 4 de abril de 2020.
194
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.8, 8 de janeiro de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11457 Acesso em 4 de abril de 2020.
148
PARA pagamento das seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.125, 5 de maio de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12015 Acesso em 4 de abril de 2020.
DERAM-SE as ordens necessárias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.167, 16 de junho de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12223 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.200, 19 de julho de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12389 Acesso em 5 de abril de 2020.
DERAM-SE as ordens necessárias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.318, 14 de novembro de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12963 . Acesso em 5 de abril de 2020. FORAM
ordenados os seguintes pagamentos. Diario Ilustrado, Rio de Janeiro, anno I, n.96, 20 de julho de 1887,
p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/243051/372 . Acesso em 4 de abril de 2020.
195
O FORNECIMENTO. Gazeta da Tarde, Rio de Janeiro, anno VII, n.224, 30 de setembro de 1886, p.2.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226688/6532 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.8, 8 de janeiro de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11457 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.38, 7 de fevereiro de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11621 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.128, 8 de maio de 1887,
p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12032 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.200, 19 de julho de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12389 Acesso em 5 de abril de 2020.
196
DERAM-SE as ordens necessárias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.312, 8 de novembro de
1887, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12933 Acesso em 5 de abril de 2020.
197
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIV n.214, 2 de agosto de 1888,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12457 Acesso em 5 de abril de 2020.
198
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.71, 12 de março de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11779 Acesso em 5 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.248, 5 de setembro de 1888,
p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/14352 Acesso em 5 de abril de 2020.
199
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.58, 27 de fevereiro de
1887, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11719 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.71, 12 de março de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/11779 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.123, 3 de maio de 1887,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/12007 Acesso em 4 de abril de 2020.
VÃO ser pagas as seguintes quantias. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XIII, n.248, 5 de setembro de 1887,
p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/14352 Acesso em 5 de abril de 2020.
149
Nesse sentido, podemos perceber uma coadunação dos serviços e alimentos referidos
nos informes com as informações apresentadas nos relatórios ministeriais, inclusive as tabelas
com o consumo dos alimentos.
Além da alimentação e de uma boa estadia, preocupação fundamental também era o
tratamento de doenças que acometiam os imigrantes. Embora casos mais graves fossem
encaminhados aos hospitais, as hospedarias exerceram significativo papel nessa função,
passível de ser explorada não só pelos relatórios ministeriais como os próprios periódicos do
período.
Decerto é, que na década de 1880 o funcionamento da Hospedaria da Ilha das Flores
contou com mais aportes do que as hospedarias anteriores, não só em relação à questão médica,
como em questões gerais.
Um bom exemplo foi a reportagem do Jornal do Commercio, do dia 26 de outubro de
1890, transcrita pelo boletim de outubro do mesmo ano no periódico A Immigração. Tal boletim
informou que sob a direção do Dr. Lycurgo de Mello, a recepção dos imigrantes na Hospedaria
da Ilha das Flores naquele período era realizada da seguinte forma:
O serviço de recebimento dos immigrantes no alojamento é feito com
methodo, pôr forma que o immigrante, logo que desembarca, se dirige para o
pateo da chamada, recebendo ahi um cartão de certificado, com o seu nome, e
com o numero de volume da bagagem, que é logo enviada para o armazém; e
outro cartão declarando o numero de rações a que tem direito, para si, e para
as pessoas de sua família.
O cartão de rações, que são em numero de três diariamente, da direito ao
immigrante, por oito dias, para, ou seguir o destino que desejar, ou vir durante
este prazo á cidade procurar colocação.
Por estes cartões, escriptos em diversas línguas, o immigrante, quando tem de
embarcar, recebe a sua bagagem já marcada com o competente destino. A
marca consiste em letreiros impressos com a cor correspondente ao destino,
sendo declaradas nos mesmos, tanta a estação que tem de receber bagagem,
como aquella a que ella é destinada.
O próprio immigrante acompanha a bagagem desde o armazém até o lanchão
que a tem de conduzir. Além disso há um empregado da hospedaria
encarregado do serviço de embarque e desembarque das bagagens, que as
acompanha até a estrada de ferro ou vapor que as deve conduzir.
[...] São frequentemente desinfectados todos os alojamentos e o terreno em
volta da hospedaria.
O estabelecimento tem seis grandes alojamentos em cima e outros dous na
parte térrea, podendo acommodar com largueza 2000 imigrantes.
O refeitório, asseiado e arejado, tem grandes mesas de mármore sobre madeira
e os competentes bancos, podendo servir a 800 pessoas de cada vez[...]
A enfermaria, que fica ao lado da hospedaria, [...]é visitada diariamente por
dous médicos, os Drs Publio de Mello e Carlos Gross, tem enfermeira,
enfermeiro e a competente pharmacia.
A lavanderia é toda de pedra e nella poderá lavar simultaneamente 50 pessoas.
[...] O immigrante, com o mesmo cartão da ração, recebe diariamente sabão
para lavagem de roupa.
150
Durante essa epidemia de febre amarela, no início ano de 1889, a Hospedaria da Ilha
das Flores também foi notícia em edições do Gazeta de Noticias. Na edição do dia 21 de
200
HOSPEDARIA de immigrantes da Ilha das Flôres. A Immigração: Orgão da Sociedade Central de Immigração,
Rio de Janeiro, anno VII, n.72, outubro de 1890, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239984/621
Acesso em 6 de abril de 2020.
201
MOVIMENTO de immigrantes- Ilha das Flôres. A Immigração: Orgão da Sociedade Central de Immigração,
Rio de Janeiro, anno III, n.27, dezembro de 1886, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239984/254
Acesso em 6 de abril de 2020.
NOTA da redacção. A Immigração: Orgão da Sociedade Central de Immigração, Rio de Janeiro, anno VI, n.54,
fevereiro de 1889, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239984/476 Acesso em 6 de abril de 2020.
202
[RECEBEMOS]. O Paiz, Rio de Janeiro, anno II, n.86, 28 de março de 1885, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/178691_01/720 Acesso em 4 de maio de 2020.
203
HOSPEDARIA de immigrantes em Pinheiros. A Immigração: Orgão da Sociedade Central de Immigração,
Rio de Janeiro, anno VI, n.54, fevereiro de 1889, p.8. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239984/476
Acesso em 6 de abril de 2020.
151
fevereiro, o periódico informou que o ministro da Agricultura havia decidido que, durante a
epidemia, o médico e o farmacêutico da Hospedaria deveriam residir na Ilha das Flores, de
forma que fosse possível a realização de exame imediato nos imigrantes que desembarcassem
no local204.
Já a edição de 27 de fevereiro informou que a Hospedaria enviava frequentemente os
doentes de febre amarela para a Santa Casa da Misericórdia. Por sua vez, como o hospital dessa
instituição não recebia doentes de febre amarela e varíola, os mesmos acabavam sendo
encaminhados para o Hospital de Jurujuba205.
No mesmo ano, o Diario de Noticias e a Cidade do Rio informaram sobre a nomeação
de dois médicos para a Hospedaria. Enquanto as edições de 7 de setembro de tais periódicos
noticiaram a nomeação do Dr. Miguel Archanjo de Paula Lima para o lugar do Dr. João da Silva
Ramos, a edição de 3 de dezembro da Cidade do Rio informou sobre a nomeação do Dr. Carlos
Gross, formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro206.
Além de ser objeto de notícias nos periódicos, a preocupação com o estado sanitário na
Ilha das Flores também podia ser percebida nos relatórios ministeriais. No relatório do
Ministério do Império de 1884, por exemplo, foi informado que, apesar da manifestação de
difteria em alguns imigrantes recolhidos na Hospedaria da Ilha das Flores, a disseminação da
bactéria havia sido contida e não se propagado, não só na Hospedaria, como em toda cidade do
Rio, graças às precauções tomadas pela Junta Central de Higiene Publica207.
Já nos relatórios do Ministério da Agricultura, entre os anos de 1886 e 1888, podemos
ver a ênfase ao bom estado sanitário em que se encontrava a Hospedaria neste período, e
constatar o amadurecimento da estrutura para recepção de imigrantes.
Apesar disso, o relatório de 1886 informou sobre o falecimento de seis imigrantes que
“desembarcaram atacados das molestias de que sucumbiram, sendo duas de caracter contagioso
204
O SR. MINISTRO interino da agricultura. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XV, n.52, 21 de fevereiro
de 1889, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/15213 Acesso em 6 de abril de 2020.
205
É SABIDO e notório. Gazeta de Noticias, Rio de Janeiro, anno XV, n.58, 27 de fevereiro de 1889, p.1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/103730_02/15241 Acesso em 6 de abril de 2020.
206
FOI nomeado. Diario de Noticias, Rio de Janeiro, anno VI, n.1545, 7 de setembro de 1889, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/369365/6224 Acesso em 6 de abril de 2020.
PARA que se pudesse dar uma colocação. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, anno III, n.202, 7 de setembro de 1889,
p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/085669/2232 Acesso em 6 de abril de 2020.
FOI nomeado para o lugar de medico. Cidade do Rio, Rio de Janeiro, anno III, n.276, 3 de dezembro de 1889, p.1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/085669/2515 Acesso em 6 de abril de 2020.
207
VASCONCELLOS, João Florentino Meira de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na
Primeira Sessão da Decima Nona Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império João
Florentino Meira de Vasconcellos. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1885. In Relatórios Ministeriais (1821-
1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global
Resources Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=55&s=0&cv=1&r=0&xywh=-
1094%2C0%2C4010%2C2828 Acesso em 10 de abril de 2020.
152
e que não se desenvolveram entre os demais habitantes da Ilha[...]”208. Albuminúria, que define
a perda da proteína albumina na urina; Angina Diftérica, que é o aumento do volume das
amígdalas, além da hiperemia de toda a faringe; e Sarampão, uma forma violenta do sarampo,
foram as doenças que haviam causado estes óbitos, em um cenário em que as recomendações
eram de que os casos de doenças mais graves deveriam ser encaminhados aos hospitais, como
o São João Batista.
Com novas enfermarias, sendo uma para homens, e outra para mulheres, a Hospedaria
tinha naquele ano três médicos responsáveis pelos cuidados dos imigrantes: o Dr. João da Silva
Ramos, o Dr. José Francisco de Paula e Silva e o Dr. Miguel Zacarias de Alvarenga.
Em 1887 e 1888, corroborando com a busca de uma melhor organização, os relatórios
ministeriais de tais anos apresentavam tabelas referentes às doenças que haviam sido tratadas
na enfermaria da Hospedaria. Em 1887 foram tratadas as seguintes doenças na enfermaria da
Hospedaria:
208
SILVA, Rodrigo Augusto da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Segunda Sessão da
Vigesima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Publicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1887, p.12. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=29&s=0&cv=1&r=0&xywh=-408%2C867%2C2364%2C1667
Acesso em 17 de março de 2019
209
SILVA, Rodrigo Augusto da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Vigesima Legislatura pelo Ministro e Secretário de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Publicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1888, p.11-12. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
153
Tanto nesta tabela, quanto na que destacaremos a seguir, podemos conferir uma maior
frequência entre casos relacionados a problemas estomacais e intestinais, à infecções
respiratórias e um aumento nos casos de malária e febre verminosa.
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=30&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1226%2C-1%2C4594%2C3241 Acesso
em 17 de março de 2019.
210
SILVA, Rodrigo Augusto da. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na Quarta Sessão da
Vigesima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios da Agricultura, Commercio e Obras
Publicas Rodrigo Augusto da Silva. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1889, p.115. In Relatórios Ministeriais
(1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-
Global Resources Network. Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=28&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1464%2C-1%2C4943%2C3487
Acesso em 17 de março de 2019.
154
Rheumatismo 10
Abcessos 8
Nevralgia 30
Embraço gástrico 313
Entero-colite aguda 198
Anginas 86
Metrorragia 3
Impaludismo 137
Congestão e comoção cerebral 2
Hyperhemia medular 1
Febre verminosa 125
Anemia 12
Eczema 69
Cólica Intestinal 32
Atrepsia 3
Úlceras simples 39
Rupias syphiliticas 4
Laringites 7
Adenites 6
Balano-postite 1
Contusão 4
Conjunctivite catarral 24
Sarampão 90
Estomatite 12
Feridas contusas 20
Cancro venereo 11
Fractura do fêmur 1
Bronchites 107
Febre Puerperal 37
Broncho-pneumonia 37
Otite externa 1
Total 1.411
Tabela XVI- Enfermidades tratadas na enfermaria da Hospedaria da Ilha das Flores no ano de 1888.
Apud Relatório do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas do ano de 1888 211.
211
Ibidem, p.12.
155
A Hospedaria da Ilha das Flores, no entanto, não pode ser vista como a única que
contribuiu para essa melhora na logística de recepção aos imigrantes. As hospedarias da Ilha do
Bom Jesus e do Morro da Saúde também tiveram que lidar com situações ligadas à questão
sanitária e médica. E embora estas outras hospedarias tenham sido objeto de um número menor
212
REGULAMENTO provisório para a hospedaria de imigrantes da Ilha das Flores. Arquivo Público do Estado
do Rio de Janeiro. Fundo PP. Notação: Pasta 479. Caixa 181. Maço 03. [s. d.], p.3-4.
213
Ibidem, p.4.
214
Ibidem, p.4-5.
156
de notícias nos periódicos e nos relatórios ministeriais, também representaram uma face desse
processo de construção de um sistema para recepção de imigrantes.
Nos anos finais da década de 1850, então sob a administração de Antonio Severiano da
Rocha, a preocupação na Hospedaria da Ilha do Bom Jesus era de que fosse realizada uma boa
recepção aos imigrantes que chegassem no porto em períodos de epidemia, uma vez que, em
conformidade com o estabelecido pela Provedoria de Saúde, todos os indivíduos que chegassem
deveriam ir direto para tal hospedaria.
Essa recomendação foi destacada no relatório do Hospital Marítimo de Santa Isabel, de
1857215, o qual relatava que em caso dos imigrantes serem acometidos por graves doenças, estes
deveriam ser encaminhados para o Hospital, e que as despesas com o tratamento ficariam por
conta dos importadores responsáveis. A recomendação também foi noticiada na edição de 19
216
de fevereiro de 1858 do Diario do Rio de Janeiro . Nesse ano, inclusive, o relatório do
Ministério do Império também havia informado que no mês de fevereiro haviam desembarcado
59 imigrantes que ficaram “sem direção, abandonados, doentes e em estado de miséria”217,
tendo sido necessária a intermediação do presidente da Associação para recolher os doentes à
Santa Casa, e os restantes à hospedaria, até que pudessem seguir destino.
Em maio de 1858, por sua vez, o Correio Mercantil noticiou sobre o tratamento de
doentes por febre amarela no Hospital anteriormente mencionado, onde nove pacientes haviam
falecido por tal moléstia, sendo um deles proveniente da Hospedaria da Ilha do Bom Jesus 218.
Já em maio do ano seguinte, o relatório da Associação Central de Colonização, transcrito na
edição de 29 de maio de 1860 do periódico O Paiz, Cândido Borges Monteiro, presidente da
215
MARTINS, Antonio Félix. Relatório dos Trabalhos da Commissão Administrativa do Hospital Marítimo de
Santa Isabel apresentado a Secretaria de Estado dos Negócios do Império pelo presidente da dita Commissão o
doutor Antonio Felix Martins. In OLINDA, Marquez de. Relatorio apresentado á Assembléa Geral Legislativa na
Segunda Sessão da Decima Legislatura pelo Ministro e Secretário D´Estado dos Negocios do Império Marquez de
Olinda Lima. Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1858. In Relatórios Ministeriais (1821-1960).
Obtido via base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources
Network. Disponível em: http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=26&s=0&cv=348&r=0&xywh=-
1098%2C0%2C4275%2C3015 Acesso em 17 de março de 2019.
216
CHRONICA Diária. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.47, 19 de fevereiro de 1858,
p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/45787 Acesso em 27 de março de 2020.
217
MACEDO, Sérgio Teixeira de. Relatorio apresentado a Assembléa Geral Legislativa na Terceira Sessão da
Decima Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negocios do Império Sérgio Teixeira de Macedo.
Rio de Janeiro: Typographia Universal de Laemmert, 1859. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via
base de dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network.
Disponível em:
http://ddsnext.crl.edu/titles/100#?c=0&m=27&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1108%2C-1%2C4231%2C2985
Acesso em 17 de março de 2019.
218
NOTICIAS Diversas. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro, anno XVI, n.138,
20 de maio de 1859, p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/16179
Acesso em 11 de abril de 2020.
157
Associação, relatou que a hospedaria estava desempenhado bem o seu papel na recepção e
acolhimento dos imigrantes “cuidando do seu desembarque, e dando-lhes o destino que tem
sido indicado sem perceber comissão ou remuneração alguma”219.
No entanto, o cenário no início da década de 1860 era outro. De acordo com o relatório
do Ministério da Agricultura, para o ano de 1861, a Associação Central, que atuava
fundamentalmente na intermediação entre os fazendeiros e os colonos assalariados, tinha a seu
cargo a Hospedaria da Ilha do Bom Jesus e se mantinha “sem exigir do governo outros auxilios
pecuniarios”220, além dos que já lhe haviam sido prestados.
Nesse hiato ocorrido entre o término do funcionamento da Hospedaria da Ilha do Bom
Jesus e o início de funcionamento da Hospedaria do Morro da Saúde, outros espaços foram
utilizados como hospedarias e manifestaram preocupação com a questão sanitária e médica. A
hospedaria localizada na Rua da Imperatriz, de responsabilidade da Sociedade Internacional da
Imigração, por exemplo, contou com médicos voluntários que se ofereceram para tratar
gratuitamente dos imigrantes que porventura necessitassem de cuidados durante a estadia221.
Podemos destacar os nomes do médico oculista Guilherme Naegeli; do médico homeopata
Antonio Augusto Ferreira Soares; e de José Ribeiro de Souza Fontes (1821-1893), doutor pela
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro e, entre outros cargos, cirurgião efetivo da Santa Casa
de Misericórdia e de vários hospitais da Ordem Terceira.
Até o início da década de 1870, a Hospedaria do Morro da Saúde não teve problemas
em relação a epidemias ou às doenças graves que afetavam os imigrantes que ali residiram. O
agente oficial Ignacio da Cunha Galvão, no Relatório da Agencia Official de Colonisação,
apresentou entre as medidas a serem demandadas a aquisição do prédio e da chácara do morro
da Saúde, onde estava instalada a hospedaria222. Esta demanda já havia sido apresentada nos
219
MONTEIRO, Candido Borges. Relatorio da Associação Central de Colonisação apresentado à Assembléa Geral
dos acionistas na sessão de 22 de maio de 1860. Apud Colonisação. O Paiz, Rio de Janeiro, anno I, n.10, 29 de
maio de 1860, p.1-2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364843/33 Acesso em 11 de abril de 2020.
220
MELLO, Manoel Felizardo de Souza e. Relatorio da Repartição dos Negocios da Agricultura, Commercio e
Obras Publicas apresentado á Assembleia Geral Legislativa na Segunda Sessão da Decima Primeira Legislatura
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de Laemmert, 1862. p.56. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de dados Brazilian Government
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http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=1&s=0&cv=1&r=0&xywh=-1139%2C0%2C4356%2C3072
Acesso em 17 de março de 2019.
221
CHRONICA Nacional- Novembro de 1866. Novo e Completo Indice Chronologico da Historia do Brasil, Rio
de Janeiro, Typographia Universal de Laemmert, 1866, p.195-196. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=707619&PagFis=1606&Pesq=%22sociedade%20internac
ional%22 Acesso em 12 de abril de 2020.
SOCIEDADE Internacional de Immigração. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XLVI, n.144, 17 de
junho de 1866, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/20665 Acesso em 12 de abril de
2020.
222
GALVÃO, Ignácio da Cunha. Relatorio da Agencia Official de Colonisação apresentado por Ignacio da Cunha
Galvão. 1870. In SILVA, Theodoro Machado Freire Pereira da. Relatório apresentado á Assembleia Geral
Legislativa na Terceira Sessão da Decima-Quarta Legislatura pelo Ministro e Secretario de Estado dos Negócios
da Agricultura, Commercio e Obras Públicas Theodoro Machado Freire Pereira da Silva. Rio de Janeiro:
158
relatórios do Ministério da Agricultura dos anos de 1867, 1868 e 1869, como destacou o agente
oficial de colonização, Ignácio da Cunha Galvão.
Esse pedido, porém, sobreveio aos casos de febre amarela que apareceram na
Hospedaria no final do ano de 1869 e início do ano de 1870. Em edição de 12 de junho de 1870,
o Jornal do Commercio noticiou que durante a epidemia de febre amarela, ocorrida entre o final
do ano anterior e início de 1870, uma família inglesa instalada na hospedaria, teve quatro de
seus integrantes acometidos pela febre amarela, os quais, seguindo as recomendações da Junta
de Higiene Pública, foram removidos e tratados no hospital da Santa Casa da Misericórdia do
Rio de Janeiro223.
Em 1873, o fechamento da Hospedaria do Morro da Saúde ainda era notícia nos
periódicos. Nas edições de 29 de janeiro do periódico A Nação, e de 30 de janeiro de A Reforma,
foi noticiado que, por indicação de Ignácio da Cunha Galvão, então agente oficial de
colonização, a Comissão sanitária de socorros aos imigrantes havia decidido fechar
provisoriamente a Hospedaria do Morro da Saúde, para evitar um surto de febre amarela no
local, o que teria ocasionado a transferência dos imigrantes, ali instalados, para outros locais no
alto da serra224.
A incidência de um novo surto de febre amarela na cidade do Rio de Janeiro no início
de 1878, o quê poderia consequentemente atingir à Hospedaria do Morro da Saúde, fez com
que o Governo dispendesse esforços para a preservação da saúde dos imigrantes. No Diario do
Rio de Janeiro, foi informado que a Agência Oficial de Colonização havia tomado as medidas
necessárias “(...) para a internação dos emigrantes logo depois da sua chegada; bem como para
conserval-os afastados dos centros populosos e nas melhores condições hygienicas durante a
sua curta permanência no nosso porto”225. Outros alojamentos foram estabelecidos em Mendes,
Typographia Universal de E. & H. Laemmert, 1871. In Relatórios Ministeriais (1821-1960). Obtido via base de
dados Brazilian Government Documents do Center for Research Librairies-Global Resources Network. Disponível
em: http://ddsnext.crl.edu/titles/108#?c=0&m=12&s=0&cv=283&r=0&xywh=-986%2C-1%2C3794%2C2677
Acesso em 17 de março de 2019.
223
EXTRACTOS do relatório do Ministerio da Agricultura. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno XLIX,
n.160, 12 de junho de 1870, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/785 Acesso
em 11 de abril de 2020.
224
NOTICIARIO. Commissão sanitária dos soccoros aos immigrantes. A Nação: Jornal Politico, Comercial e
Literário, Rio de Janeiro, anno II, n.22, 29 de janeiro de 1873. p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/586404/697 Acesso em 11 de abril de 2020.
CHRONICA geral: Internação dos immigrantes. A Reforma: Orgão Democrático. Rio de Janeiro, anno V, n.23,
30 de janeiro de 1873, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/4423 Acesso em 11 de abril
de 2020.
225
NOTICIARIO- Movimento de emigrantes. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LIX, n.72, 16 de
março de 1876, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib=094170_02&pasta=ano%20187&pesq=%22hospedaria%2
2
Acesso em 11 de abril de 2020.
159
Barra do Piraí e na colônia de Porto Real visando remediar os efeitos que a febre amarela
poderia ocasionar na recepção desses indivíduos.
Em 1878, o Jornal do Commercio voltou a noticiar sobre uma enfermidade na
Hospedaria do Morro da Saúde. Desta vez tratou de casos de varíola na hospedaria, também
descrita como hospedaria de retirantes cearenses, por ter recebido neste período uma
significativa leva de migrantes do nordeste226. Esses migrantes, por sua vez, foram vacinados
entre os dias 23 e 31 de maio, por ordem do Governo Imperial. Foram 374 pessoas vacinadas
na hospedaria pelo médico Joaquim Cardoso de Mello Reis ( - 1920), doutor em Medicina pela
Faculdade de Medicina da Bahia que atuou nos hospitais da Misericórdia e da Beneficência
Portuguesa na década de 1870227. Em notícia publicada na edição de 14 de agosto deste jornal,
o médico Maximiano Marques de Carvalho (1820-1896) comentou que dada a incidência de
varíola entre os retirantes do nordeste instalados em hospedarias no Rio de Janeiro, e tendo em
vista a contagiosidade desta enfermidade, algumas ações deveriam ser tomadas pelo ministro
do Império:
Há mais de três mezes que se desenvolveu a varíola entre os pobres retirantes
do Ceará aglomerados nas hospedarias desta cidade. Este mal se communicou
aos habitantes das casas vizinhas; hoje vai grassando por toda esta capital. É
necessário que o Sr. ministro do império mande sahir para longe desta cidade
do Rio de Janeiro todos estes pobres, e que os empregue em alguns trabalhos
uteis.
É necessário mais que se desinfecte já todas estas hospedarias e enfermarias
de bexiguentos, queimando, tres vezes por dia, assucar com alcatrão228.
226
EMIGRANTES cearenses. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.156, 5 de junho de 1878, p.1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18553 Acesso em 11 de abril de 2020.
FOLHETIM. Cartas de um caipira. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.158, 7 de junho de 1878,
p.1. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18569
Acesso em 11 de abril de 2020.
SECCA do Ceará e as estradas de ferro. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.160, 9 de junho de
1878, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18583
Acesso em 11 de abril de 2020.
CASO grave. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.201, 20 de julho de 1878, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18857 Acesso em 11 de abril de 2020.
227
VACCINA. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.163, 12 de junho de 1878, p.1. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18601 Acesso em 11 de abril de 2020.
EMIGRANTES do norte. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.164, 13 de junho de 1878, p.1.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/18607 Acesso em 11 de abril de 2020.
228
CARVALHO, Maximiano Marques de. Saude publica. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LVII, n.226,
14 de agosto de 1878, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/19027 Acesso em 11 de
abril de 2020.
160
229
COLONOS. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro, anno XV, n.90, 4 de abril de
1858, p.2. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/14559 Acesso em 27 de março de 2020.
161
informativos e anúncios nos periódicos, como o Correio da Tarde, o Diario do Rio de Janeiro,
o Correio Mercantil e Instructivo, Politico, Universal, nas quais havia referências aos
imigrantes portugueses e de Galiza, como lavradores, carpinteiros, calafates, cavouqueiros,
surradores e criados e criadas230.
Já nas edições de julho e agosto de 1858 do Correio Mercantil foi noticiado que entre
os alemães, belgas, franceses e holandeses presentes na hospedaria da Ilha do Bom Jesus,
encontravam-se profissionais como “alfaiate, tecelão, canteiro, ferreiro, ourives, relojoeiro,
padeiro, confeiteiro, tanoeiro, tintureiro, caldeireiro, vidraceiro, machinista de vapor, torneiro,
sirgueiro, ebanista, fabricante de pianos e gente própria para o serviço domestico”231.
Contudo, foi na década de 1870, que houve um significativo crescimento desse estilo de
informativo. Periódicos como O Globo, A Nação, A Reforma e o Jornal do Commercio
passaram a publicar cada vez mais um tipo de propaganda sobre as qualificações dos imigrantes
alojados na hospedaria do Governo.
No ano de 1872, por exemplo, enquanto o Diario do Rio de Janeiro e o Jornal do
Commercio noticiaram, em duas de suas edições ao longo do ano, e o Correio do Brazil em três
edições, o periódico A Reforma contabilizou quatorze edições nas quais foram publicados
anúncios ofertando a mão de obra de imigrantes.
Entre janeiro e março de 1872, este estilo de informativo apareceu em edições do
Correio do Brazil, do Jornal do Commercio e do Diario do Rio de Janeiro232. Além desses
230
COLONOS Portugueses e da Galiza. O Correio da Tarde, Rio de Janeiro, anno IV, n.100, 8 de maio de 1858,
p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/090000/3221 Acesso em 27 de março de 2020. COLONOS
Portugueses e da Galiza. O Correio da Tarde, Rio de Janeiro, anno IV, n.101, 10 de maio de 1858,
p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/090000/3226 Acesso em 27 de março de 2020.
COLONOS Portugueses e da Galiza. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.125, 10 de maio
de 1858, p.2. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=094170_01&PagFis=45528&Pesq=%22hospedaria%20+
%20bom%20jesus%22 Acesso em 27 de março de 2020.
COLONOS Portugueses e da Galiza. O Correio da Tarde, Rio de Janeiro, anno IV, n.102, 11 de maio de 1858,
p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/090000/3230 Acesso em 27 de março de 2020.
COLONOS. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro, anno XV, n.126, 11 de maio de
1858, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/14708 Acesso em 27 de março de 2020.
COLONOS Portugueses e da Galiza. O Correio da Tarde, Rio de Janeiro, anno IV, n.103, 12 de maio de 1858,
p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/docreader/090000/3234 Acesso em 27 de março de 2020. COLONOS
Portugueses e da Galiza. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno XXXVIII, n.129, 14 de maio de 1858, p.2.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_01/46116
Acesso em 27 de março de 2020.
231
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro,
anno XV, n.206, 31 de julho de 1858, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15028 Acesso em 27 de março de 2020.
ASSOCIAÇÃO Central de Colonisação. Correio Mercantil, e Instructivo, Politico, Universal, Rio de Janeiro,
anno XV, n.207, 1 de agosto de 1858, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/217280/15032 Acesso
em 27 de março de 2020.
232
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. Correio do Brazil, Rio de Janeiro, anno I, n.10, 11 de
janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239100/79 Acesso em 11 de abril de 2020.
162
SOUZA, Luiz José de. Agencia Official de Colonisação. Correio do Brazil, Rio de Janeiro, anno I, n.51, 23 de
fevereiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239100/248
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Official de Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LI, n.55, 24
de fevereiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/4258
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LV,
n.69, 11 de março de 1872, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/28490
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Official de Colonisação. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LI, n.72, 12
de março de 1872, p.5. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/4367
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Official de Colonisação. Diario do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, anno LV,
n.70, 12 de março de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/094170_02/28495
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, Luiz José de. Agencia Official de Colonisação. Correio do Brazil, Rio de Janeiro, anno I, n.69, 12 de
março de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/239100/320 Acesso em 12 de abril de 2020.
233
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno
IV, n.5, 9 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3149
Acesso em 11 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.6, 10 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3153
Acesso em 12 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.7, 11 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3157
Acesso em 12 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.8, 12 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3161
Acesso em 12 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.9, 13 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3165
Acesso em 12 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Official de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.10, 14 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3169
Acesso em 12 de abril de 2020.
234
SLAUGHTER, Phil. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno
IV, n.5, 9 de janeiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3149
Acesso em 11 de abril de 2020.
163
Souza, como podemos ver naqueles publicados em A Reforma235. Esse periódico, entretanto,
não publicou este tipo de informativo nos anos seguintes, diferentemente do que viria a ocorrer
com o Jornal do Commercio.
Em 1874 o Jornal do Commercio publicou alguns informativos diferenciando-se
daqueles do início dos anos 1870. Os anúncios nas edições de junho de 1874 informavam não
só a profissão, como o estado civil dos imigrantes. Continha, também, informações sobre a
existência na Hospedaria de padeiros franceses e alemães em busca de trabalho. Também havia
na Hospedaria um pedreiro francês, e sua respectiva família, e uma viúva alemã com uma filha
de 8 anos de idade236. Já em edições de novembro a dezembro deste mesmo ano, os informativos
anunciavam que dentre os numerosos imigrantes recém-chegados, havia carpinteiros, pedreiros,
pintores, alfaiates, ferreiros, caldeireiros, sapateiros e padeiros237. Neste mesmo ano, O Globo
e A Nação também publicaram um número significativo destes informativos.
235
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno
IV, n.39, 21 de fevereiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3285
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.40, 22 de fevereiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3289
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.41, 23 de fevereiro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3293
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.51, 6 de março de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3333
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.52, 7 de março de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3337
Acesso em 12 de abril de 2020.
SOUZA, LUIZ José de. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.56, 12 de março de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/3353
Acesso em 12 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.285, 10 de dezembro de 1872, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/4264
Acesso em 12 de abril de 2020.
SLAUGHTER, Phil. Agencia Oficial de Colonisação. A Reforma: Orgão Democrático, Rio de Janeiro, anno IV,
n.288, 13 de dezembro de 1872, p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/226440/4277
Acesso em 12 de abril de 2020.
236
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.152, 3 de junho de 1874, p.5.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/8726 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.153, 4 de junho de 1874, p.6. Disponível
em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/8733 Acesso em 12 de abril de 2020.
237
AGENCIA Official de Colonisação. Locação de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.305,
3 de novembro de 1874, p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/9781
Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.329, 27 de novembro de 1874, p.4.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/9944 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.331, 29 de novembro de 1874, p.3.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/9956 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.334, 2 de dezembro de 1874, p.3.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/9975 Acesso em 12 de abril de 2020.
164
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.336, 4 de dezembro de 1874, p.3.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/9991 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.337, 5 de dezembro de 1874, p.3.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/9997 Acesso em 12 de abril de 2020.
ALUGÃO-SE 100 immigrantes. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.355, 23 de dezembro de 1874,
p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/10120 Acesso 12 de abril de 2020.
ALUGÃO-SE 100 immigrantes. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.356, 24 de dezembro de 1874,
p.6. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/10126 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. Jornal do Commercio, Rio de Janeiro, anno LII, n.360, 29 de dezembro de 1874, p.4.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/364568_06/10155 Acesso em 12 de abril de 2020.
165
238
LOCAÇÃO de serviços. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
Commercio, Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.81, 24 de outubro de 1874, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/369381/319 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
Commercio, Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.82, 25 de outubro de 1874, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/369381/322 Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
Commercio, Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.84, 27 de outubro de 1874, p.3. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/369381/330 Acesso em 12 de abril de 2020.
ALUGAM-SE sessenta immigrantes. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos
interesses do Commercio, Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.91, 3 de novembro de 1874, p.4.
Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/369381/359 Acesso em 12 de abril de 2020.
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LOCAÇÃO de serviços. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
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LOCAÇÃO de serviços. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
Commercio, Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.119, 1º de dezembro de 1874, p.3. Disponível em:
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ALUGAM-SE 150 immigrantes. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses
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Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.125, 7 de dezembro de 1874, p.4. Disponível em:
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ALUGA-SE 100 immigrantes. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
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ALUGA-SE 100 immigrantes. O Globo: Orgão da Agencia Americana Telegraphica dedicado aos interesses do
Commercio, Lavoura e Industria, Rio de Janeiro, anno I, n.141, 23 de dezembro de 1874, p.4. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/369381/559 Acesso em 12 de abril de 2020.
239
LOCAÇÃO de serviços. A Nação: Jornal Politico, Comercial e Literário. Rio de Janeiro, anno III, n.268, 3 de
dezembro de 1874 p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/586404/2778
Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. A Nação: Jornal Politico, Comercial e Literário. Rio de Janeiro, anno III, n.270, 5 de
dezembro de 1874 p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/586404/2786
Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. A Nação: Jornal Politico, Comercial e Literário. Rio de Janeiro, anno III, n.271, 7 de
dezembro de 1874 p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/586404/2789
Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. A Nação: Jornal Politico, Comercial e Literário. Rio de Janeiro, anno III, n.272, 9 de
dezembro de 1874 p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/586404/2794
Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. A Nação: Jornal Politico, Comercial e Literário. Rio de Janeiro, anno III, n.273, 10 de
dezembro de 1874 p.3. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/586404/2797
Acesso em 12 de abril de 2020.
LOCAÇÃO de serviços. A Nação: Jornal Politico, Comercial e Literário. Rio de Janeiro, anno III, n.277, 15 de
dezembro de 1874 p.4. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/586404/2814
166
dos anos 1870, apresentando o número de imigrantes que buscavam empregos, as profissões
que exerciam e o local onde poderia ser realizado o contato, no caso, a rua da Boa Vista, nº12,
placa Morro da Saúde.
Os informativos presentes nas edições do A Nação, em 1875, não fugiam este modelo,
e também apresentavam tais informações, consideradas essenciais aos interessados em contratar
os serviços dos imigrantes. Eram um tipo de classificados do século XIX, onde a principal
função comunicativa seria expor o que se pretendia, sem deixar de lado a persuasão, ou seja, a
intenção de convencer o leitor, no caso, aqueles que necessitassem dos serviços de tais
imigrantes.
As associações, agências e sociedades promotoras da imigração tiveram que vencer não
só os problemas e as resistências internas, como também as externas, representadas nas imagens
de uma natureza selvagem e de um clima tropical hostil, e nas notícias sobre as epidemias no
Brasil, que eram veiculadas na Europa.
Podemos citar alguns exemplos, como as palavras do engenheiro André Rebouças ao
regressar ao Brasil após viagem à Europa e ao Estados Unidos, entre os anos de 1872 e 1873:
Cumpre ter sempre em vista que a insalubridade do Brazil é o argumento
capital dos que contrariam a immigração, amedrontando os colonos, e que
melhorar as condições hygienicas do Rio de Janeiro e de todas as cidades do
Imperio é não só cumprir um dever municipal, como também trabalhar
diretamente para attrahir estrangeiros a este paiz243.
E também a visão defendida pela Junta de Higiene, no início da década de 1880, sobre
o que deveria ser realizado em termos da higiene pública e privada no Rio de Janeiro:
Convem que se tracte seriamente da hygiene publica e privada, porque a ella
se liga em grande parte a nossa prosperidade, dela depende o futuro da
immigração que ainda é hoje difícil para o nosso paiz, porque o Brazil gosa,
bem que injustamente, dos foros de paiz pestifero, á vista das epidemias que
tem visitado sua capital, devidas á falta quase absoluta de precauções
hygienicas244.
243
REBOUÇAS, André. Portos de Commercio: Novos estudos durante a viagem a Europa e aos Estados Unidos
em 1872 e 1873. Revista do Instituto Polytechnico Brasileiro, Rio de Janeiro, Lithographia e Typographia do
Imperial Instituto Artistico, anno VII, n.3, 1872. p.115. Disponível em:
http://memoria.bn.br/DocReader/334774/826 Acesso em 16 de abril de 2020.
244
A Juncta de Hygiene e as Pharmacias. União Medica, Rio de Janeiro, anno I, n.6, 15 de junho de 1881, p. 341-
352. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/337333/257 Acesso em 16 de abril de 2020.
245
PIMENTEL, Antonio Martins de Azevedo. Estado hygienico actual do Rio de Janeiro (Continuação). IX-Hoteis
e Hospedarias). O Brazil-Medico. Revista Semanal de Medicina e Cirurgia, Rio de Janeiro, anno III, n.32, 1º de
setembro de 1889, p.249-251. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/081272/1252
Acesso em 16 de abril de 2020.
169
doença, a qual foi atribuída uma grande mortalidade no Rio de Janeiro em seus “verões de 1850,
52, 57, 60, 70, 73, 75, 76, 78, 80, 83, 86, 89 e 91”246.
Apesar desse cenário, o fluxo de imigrantes foi crescendo lentamente na década de 1870,
e como vimos, alcançou seu ápice nas décadas de 1880 e 1890.
As propagandas oficiais e de entidades particulares, que foram sendo elaboradas no
decorrer da metade da década de 1880, pela Sociedade Central de Imigração, entidade criada
em 1884 e da qual o engenheiro André Rebouças fez parte anos depois, tiveram significativo
papel nisso, ao possibilitarem uma certa reversão deste cenário epidêmico do país, embora as
epidemias na Corte tenha tido certos momentos de recuos, mas nunca foram extintas por
completo.
“A propaganda servia para eliminar possíveis dúvidas quanto à imigração e melhorar a
imagem do país — mesmo que isso significasse não ser totalmente verdadeiro nas informações
fornecidas” (SOUZA, 2018). Ou seja, tanto os órgãos públicos como as instituições privadas,
utilizaram-se dessa ferramenta para tentar atrair imigrantes para o Brasil, apresentando aos
estrangeiros as vantagens e potencialidades de uma determinada região.
A recepção e o acolhimento nos estabelecimentos oficias eram temas presentes nessas
propagandas, podendo serem vistas, não só em periódicos, como o já citado Boletim da
Sociedade Central de Imigração, como também na publicação “Guia do Emigrante para o
Imperio do Brazil”, de autoria do Inspetor Geral das Terras e Colonização, Francisco de Barros
e Accioli de Vasconcellos, publicada em 1884.
Nesse Guia, a Hospedaria da Ilha das Flores apareceu como sendo o principal espaço de
recepção de imigrantes. Referiu-se, também, às situações em que os imigrantes não aceitavam
se hospedar nessa hospedaria, e as opções que lhes eram oferecidas:
Aquelles immigrantes que não querem recolher-se á Ilha das Flores para d’ahi
seguirem a seu destino têm a faculdade de solicitar até 3 mezes depois da sua
chegada, á inspectoria geral das terras e colonisação, na Travessa do Paço n.3,
passagem para qualquer ponto do Imperio para onde quiserem seguir, a qual
lhes é concedida gratuitamente mediante a simples apresentação do respectivo
passaporte247.
Por outro lado, a estadia na hospedaria se concretizava após o imigrante aceitar ou não
a oferta feita pelo agente da Inspetoria Geral, que visitava os navios, de hospedagem na
246
ROCHA FARIA, Carlos Teles de. Estudo epidemiológico da febre amarella em geral e particularmente no Rio
de Janeiro (Conclusão). O Brazil-Medico: Revista Semanal de Medicina e Cirurgia, Rio de Janeiro, anno V, n.48,
1 de janeiro de 1892, p.381-385. Disponível em: http://memoria.bn.br/DocReader/081272/2358
Acesso em 16 de abril de 2020.
247
VASCONCELLOS, F. de B. e Accioli de. Guia do emigrante para o Império do Brazil. Rio de Janeiro:
Typographia Nacional, 1884.
170
“pitoresca Ilha das Flores, na formosa bahia do Rio de Janeiro, a 50 minutos da cidade, na qual
se gosa de um ameno clima, constantemente refrescado pelas brisas do mar, o que a torna
essencialmente salubre e agradável aos seus habitantes”248.
Nesse Guia, que foi traduzido para vários idiomas, foi descrita a beleza do local, o
funcionamento da hospedaria, da enfermaria ao depósito de bagagens, da alimentação à
imunidade da Ilha em tempos de epidemia. Relatou, ao tratar da recepção dos imigrantes, sobre
a possibilidade de saída dos imigrantes para o continente.
Ao mesmo tempo em que se avançava nas iniciativas para melhorar a imagem do país e
atrair os imigrantes, na segunda metade do oitocentos, o Governo e as entidades particulares
tinham que lidar com uma certa heterogeneidade da formação profissional dos grupos de
imigrantes que por aqui desembarcavam.
Embora algumas nacionalidades tenham contribuído com números significativos de
imigrantes, constituindo assim grupos consistentes capazes de estabelecerem vínculos
comunitários, as hospedarias tiveram que lidar com pessoas que nem sempre aceitavam ou
estavam dispostas a se tornar braços para a lavoura, sobretudo por já possuírem suas profissões
e estarem diante de um novo contexto sócio-cultural.
248
Ibidem, p.7.
171
Considerações finais
Receber e acolher o outro em seu território nunca foi uma das tarefas mais fáceis na
história.
No entanto, os deslocamentos populacionais fizeram, e continuam fazendo parte da vida
das pessoas nas mais diversas sociedades. Fazem parte da construção dessas mesmas
sociedades, influindo e propiciando discussões sobre importantes áreas que as compõem.
A presente pesquisa buscou discutir uma face desse deslocamento populacional: a
relação da política imigratória brasileira com as questões sobre salubridade e insalubridade do
contexto da segunda metade do século XIX. Consideramos particularmente a criação de locais
de recepção e acolhimento de imigrantes no Rio de Janeiro a partir da década de 1850 à década
de 1880, e como esses indivíduos foram “agasalhados e sustentados” nesses locais.
Foi necessário apresentarmos o panorama da imigração no Brasil e no cenário
internacional, a fim de compreender o contexto desses deslocamentos, as motivações das
pessoas que emigraram e dos países que estavam dispostos ou careciam de suas presenças.
Foi necessário também abordarmos a política imigratória brasileira e sua aplicabilidade
levando em consideração as nuances que se realizaram entre a capital da Corte e as províncias,
mais particularmente a Província do Rio de Janeiro, compreendendo assim a preferência da elite
fluminense em substituir os escravos por trabalhadores nacionais antes de pensar na mão de
obra imigrante, pelo menos até a década de 1880, diferente das províncias sulistas e da paulista.
Nesse cenário em que leis começavam a indicar o proeminente fim da escravidão, vimos
que estruturas de promoção, recepção e acolhimento começaram a se intensificar a partir da
década de 1850.
Paralelamente ao incentivo à colonização das terras, fio condutor da política imigratória
imperial durante todo o século XIX, o Governo viu as sociedades, agências e associações de
cunho privado passarem a dialogar cada vez mais com sua estrutura na busca por braços para a
lavoura. Isso dependeu, inclusive, do grupo que estava no poder e que maior pressão exerceu
sobre o aparato político-administrativo em diferentes momentos.
Embora a imigração espontânea fosse almejada tanto pelo Governo como pelos
particulares, o espectro da imigração dirigida não conseguiu ser amenizado, fazendo com que
a ação da estrutura administrativa imperial tenha sido forte e decisivamente cara a intensificação
dos fluxos imigratórios, mesmo no período das “Grandes Migrações”.
172
FONTES
• Fontes primárias manuscritas:
Arquivo Nacional
- Fundo do Departamento Nacional de Povoamento:
Hospedaria da Ilha das Flores: Livros de registro. 1883,1884,1885,1886, 1887, 1888.
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Sr. Dr. Antonio da Rocha Fernandes Leão, para o Serviço da Imigração. BR RJANRIO
F2.0.MAP.182.
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