Jaqueline Wenderroscky José Lopes Veloso
Jaqueline Wenderroscky José Lopes Veloso
Jaqueline Wenderroscky José Lopes Veloso
EMPREENDEDORES DE MEMÓRIA:
Rio de Janeiro
Outubro/2012
JAQUELINE WENDERROSCKY JOSÉ LOPES VELOSO
EMPREENDEDORES DE MEMÓRIA:
Rio de Janeiro
Outubro/2012
JAQUELINE WENDERROSCKY JOSÉ LOPES VELOSO
EMPREENDEDORES DE MEMÓRIA:
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________
Professor Doutor Sergio Luiz Pereira da Silva
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
(Orientador)
_________________________________________
Professor Doutor Rui Aniceto Nascimento Fernandes
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ
_________________________________________
Professor Doutor Joaquim Justino Moura dos Santos
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO
_________________________________________
Professor Doutor Francisco Ramos de Farias
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
Rio de Janeiro
Outubro/2012
A Deus.
AGRADECIMENTOS
1 INTRODUÇÃO................................................................................................10
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.....................................................................26
4.1 Localização..................................................................................................30
4.2 Histórico.......................................................................................................34
5.2 Conteúdo.....................................................................................................73
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................106
7 REFERÊNCIAS............................................................................................109
8 ANEXOS.......................................................................................................115
1 INTRODUÇÃO
1
Becker, Howard S. (1971), Los extraños. Sociologia de la desviación, Buenos Aires: Tiempo
Contemporáneo.
12
[...] Para que nossa memória se auxilie com a dos outros, não
basta que eles nos tragam seus depoimentos: é necessário
ainda que ela não tenha cessado de concordar com suas
memórias e que haja bastante pontos de contato entre uma e as
outras para que a lembrança que nos recordam possa ser
reconstruída sobre um fundamento comum. (HALBWACHS,
1990, p. 34)
quase que herdada, e muito enraizada nos grupos sociais, embora nem
sempre os mesmos a tenham vivido. “São acontecimentos dos quais a pessoa
nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que,
no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou
não” (POLLAK, 1992, p 201).
Assim, a partir dessas leituras, podemos concluir que, sem o Outro, não
existiria essa estrutura dinâmica que é a representação social. Tudo é realizado
em função do Outro, sem essa interação não haveria diálogo, o que tornaria a
representação sem sentido. No entanto, existe um local onde a representação
se faz presente, que é a esfera pública, também trabalhada por Jovchelovitch.
Para ela:
história de São Gonçalo? O que você acha desse trabalho? (como contribuição
para a população gonçalense?) 4) Qual é a sua ligação com a cidade? 5)
Qual(is) símbolo(s) representariam a cidade para você?
3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
[...] faz com que se torne real um esquema conceptual, com que
se dê a uma imagem uma contrapartida material, resultado que
tem, em primeiro lugar, flexibilidade cognitiva: o estoque de
indícios e de significantes que uma pessoa recebe, emite e
movimenta no ciclo das infracomunicações pode tornar-se
superabundante.
[...] objetivar é reabsorver um excesso de significações
materializando-as (e adotando assim certa distância a seu
respeito). É também transplantar para o nível de observação o
que era apenas inferência ou símbolo.
2
Ver GUARESCHI, Pedrinho A. “Sem dinheiro não há salvação”: ancorando o bem e o mal
entre neopentecostais. In: Textos em representações sociais. 2 ed, Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.
3
“O espaço potencial é o lugar da mediação, do unir o que para sempre nos parece à parte,
juntando novamente o que tinha sido separado e criando dentro de suas fronteiras um mundo
simbólico que pode acomodar o Eu e Outro, fantasia e realidade, (...) o racional e o irracional”.
(JOVCHELOVITCH, 2008, p. 67)
30
4.1 Localização
4
Endereço eletrônico da Prefeitura Municipal de São Gonçalo - : www.saogoncelo.rj.gov.br.
Link para mapas fornecidos pelo site: http://www.saogoncalo.rj.gov.br/mapas.php.
33
5
Endereço eletrônico: http://www.pmsg.rj.gov.br/urbanismo/plano_diretor.php
34
4.2 Histórico
Uma das correntes históricas6 afirma que no final do século XVI inicia-se
a construção da capela dedicada a São Gonçalo D’Amarante, às margens do
Rio Imboaçú, começando a surgir o povoado de São Gonçalo. Com a
aglomeração de casas ao redor da capela e no percurso que hoje conhecemos
como Zé Garoto até o Centro de São Gonçalo, formou-se a Aldeia de São
Gonçalo, Sendo elevada à categoria de freguesia em 1647.
São Gonçalo só foi elevada à categoria de vila em 1890, ano em que foi
instalada a Intendência Municipal. A criação da Prefeitura Municipal e o cargo
de prefeito aconteceram em janeiro de 1904, pelo então governador do Estado,
Nilo Peçanha7.
6
Outra corrente histórica afirma que a primeira capela dedicada a São Gonçalo D’Amarante foi
construída às margens do Rio Guaxindiba
7
Informações obtidas no livro O município de São Gonçalo e sua história. BRAGA, Maria
Nelma Carvalho (2006).
35
Uma observação que Braga (2006) faz é que São Gonçalo não
comemora seu aniversário desde a doação da sesmaria e sim a partir de sua
emancipação político-administrativa. Segundo a autora, em 2005, a cidade
completou 426 anos de existência, sendo 358 anos como freguesia e 115 anos
de emancipação política.
8
“José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo perpetuou-se a história brasileira como Mons.
Pizarro, autor das Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das Províncias anexas à Jurisdição
do Vice-Rei do Estado do Brasil”. (GALMADES, 2007, p. 8).
36
Crescimento Populacional
Idade
0a4 58.788 58.763 25
5a9 66.262 66.203 59
10 a 14 81.772 81.610 162
15 a 19 78.159 78.119 40
20 a 24 80.493 80.475 18
25 a 29 85.974 85.962 12
30 a 39 165.384 165.261 123
40 a 49 147.323 147.207 116
50 a 59 115.417 115.313 104
60 a 69 69.610 69.557 53
70 ou mais 50.546 50.529 17
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
Idade
0a4 29.624 29.611 12
5a9 33.388 33.362 26
10 a 14 41.654 41.569 85
15 a 19 38.604 38.600 4
20 a 24 38.853 38.835 18
25 a 29 41.225 41.225 -
30 a 39 79.216 79.182 34
40 a 49 69.708 69.627 81
50 a 59 59.982 52.943 39
60 a 69 30.499 30.446 53
70 ou mais 19.511 19.494 17
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
Idade
0a4 29.165 29.152 12
5a9 32.874 32.841 33
10 a 14 40.118 40.041 77
15 a 19 39.555 39.519 36
20 a 24 41.640 41.640 -
25 a 29 44.749 44.737 12
30 a 39 86.168 86.079 89
40 a 49 77.615 77.580 35
50 a 59 62.435 62.370 65
60 a 69 39.111 39.111 -
39
Aos poucos essas áreas rurais foram deixando de existir dando lugar
aos loteamentos para moradia da população que não parava de crescer.
Mendonça (2007, p. 21) explica:
[...] A atividade agrícola, principalmente a produção de laranja e
banana, enfrenta problemas com a concorrência. Na década de
1950 iniciam-se novos loteamentos como o Jardim Catarina,
Trindade e Jardim Alcântara, estabelecendo-se na década de
1960 o fim da zona rural do município.
Observemos a tabela:
Tempo de moradia Pessoas
residentes
Menos de 1 ano 11.264
1 ano 11.547
2 anos 11.679
3 anos 11.798
4 anos 12.372
5 anos 12.780
10 anos 17.149
15 anos 16.484
20 anos 16.242
25 a 29 anos 85.974
30 a 34 anos 86.877
35 a 39 anos 78.507
40 a 44 anos 75.106
45 a 49 anos 72.217
50 a 54 anos 63.223
55 a 59 anos 52.194
60 a 69 anos 69.610
70 a 79 anos 36.276
80 a 89 anos 12.600
90 a 99 anos 1.729
100 anos ou mais 69
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.
9
Tombada pela Lei Municipal nº 101, de 11 de dezembro de 1985.
10
, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 23 de
março de 1940.
11
Pesquisa realizada no Jornal O Fluminense no período de 1940 - 2010, disponível na
Fundação Biblioteca Nacional.
43
Assim, como toda cidade, São Gonçalo possui seus símbolos oficiais,
que são o brasão, a bandeira e o hino. O Brasão Oficial de São Gonçalo e a
Bandeira Municipal foram instituídos por meio da Deliberação nº 557/69, de 10
de setembro de 196912. Representam o passado próspero e a esperança de
um futuro promissor, de uma cidade que estava entre as riquezas agrícolas e
industriais.
O Hino Oficial de São Gonçalo (em anexo) foi escrito pelo professor
Geraldo Pereira Lemos e musicado pelo maestro Joyleno dos Santos. Foi
instituído pela Deliberação Municipal nº 567/70, de 30 de julho de 1970 e
cantado em público, pela primeira vez, em 22 de setembro de 1970 13. O hino
representa uma cidade à espera do progresso, vivendo a pleno vapor os
encantos de uma era industrial, como podemos observar nos estrofes a seguir
(BRAGA, 2006, p. 178):
[...]
13
Ibdem.
45
[...]
46
[...]
14
Imagem enviada por Wagner Carvalho, gonçalense e morador da cidade de São Gonçalo.
47
15
Ibdem.
16
O outro rio seria o Guaxindiba.
17
“[...] corta toda a zona urbana da cidade até o Boaçu”. (...) sua extensão é de 8 km. [...]
(BRAGA, 2006, p. 189)
48
pertence apenas a uma geração e não se restringe aos que vivem. [...]”. Pois,
segundo a autora:
NOME PROFISSÃO
Luiz Palmier Escritor, historiador, jornalista, farmacêutico,
médico, político e professor
Maria Nelma Carvalho Braga Professora e pesquisadora
Após mudar-se para São Gonçalo Palmier fez vários planos para
melhoria da cidade. Reznik e Fernandes (2003) expõem que ele propôs “uma
modernização dos hábitos da população da região, associando higiene a
civilidade”, tendo participado ativamente do projeto para construção do Hospital
de São Gonçalo, “num lugar estratégico”, nas proximidades da Igreja de São
Gonçalo de Amarante.
A autora afirma, ainda, que o mesmo foi diretor médico do Hospital de São
Gonçalo, diretor-técnico do Centro de Puericultura e presidente de honra da
Associação do Hospital de São Gonçalo e que, além de escrever o São
Gonçalo Cinquentenário, foi autor de outras obras, como Cidades Fluminenses,
A lepra, problema mundial e Monografia do Município de Sapucaia.
Palmier também teria sido colaborador dos jornais O São Gonçalo, A
Gazeta, O Fluminense, O Estado, Jornal do Brasil, Jornal do Comércio, entre
outros.
[...]
Como político, Luiz Palmier não viu realizado seu sonho como
candidato a Deputado Federal, não conseguiu vitória nas urnas,
contudo, foi vereador em 1930, pela Câmara Municipal de São
Gonçalo, Deputado a Assembléia Fluminense de 1936 a 1937.
Sobre o MEMOR:
Representações político-administrativas
Representações econômicas
Representações culturais
Talvez tenha sido na área cultural que São Gonçalo mais tenha se
destacado no período analisado. Houve lançamento de livro, construção de
escolas, preocupação ambiental, entre outros movimentos, além da publicação
da história e monumentos da cidade nos especiais de aniversário, assim como,
também, divulgação de exposições, sendo o ponto alto das comemorações, o
66
A primeira obra foi escolhida por ser uma obra de referência para a
comemoração dos cinquenta anos de emancipação político-administrativa de
São Gonçalo, corroborando com o momento de celebração da época. Dessa
forma, podemos perceber que seu objetivo é exaltar aquele espaço social, seu
povo e sua história.
[...] não existem considerações, por mais gerais que sejam, nem
leituras, tanto quanto se possa estendê-las, capazes de suprimir
a particularidade do lugar de onde falo e do domínio em que
realizo uma investigação. Essa marca é indelével. (CERTEAU,
2011, p. 45)
letrados etc” (CERTEAU, 2011, p. 47). Para o autor, a pesquisa está submetida
a questões particulares e é em função desse lugar particular “que se instauram
os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos
e as questões, que lhes serão propostas, se organizam” (CERTEAU, 2011, p.
47).
[...]
5.2 Conteúdo
Nosso Desbravador
Nosso Padroeiro
Palacete do Mimi
Capitanias Hereditárias
Regentes de Portugal
Regentes do Brasil
Presidentes do Brasil
77
A partir do exposto podemos dizer que o primeiro livro foi publicado por,
pelo menos, dois motivos: o primeiro motivo seria comemorativo, com a
intenção não somente de registrar, como também de informar aos munícipes e
aos exteriores a esse da importância de São Gonçalo nos diferentes aspectos:
social, econômico, cultural etc; o segundo, a nosso ver, seria de expor, pôr em
relevância, o trabalho dos administradores locais. O segundo livro também
apresenta, como argumento, dois motivos para sua existência: um seria o
desejo da autora de tornar conhecida a história da cidade, como também, de
esclarecer alguns fatos históricos duvidosos e confusos, como, por exemplo, as
versões da história de São Gonçalo; o segundo motivo seria a vontade de
conscientizar a população gonçalense. Dessa maneira o livro O município de
São Gonçalo e sua história, poderia ser utilizado como um instrumento para
futuras pesquisas.
[...]
[...]
[...]
18
“O enunciador e o enunciatário são o autor e o leitor. Não são o autor e o leitor reais (...), mas
o autor e o leitor implícitos, ou seja, uma imagem do autor e do leitor construída pelo texto.”
(FIORIN, 2011, p. 56)
83
Isso nos leva aos três tipos de categorização das representações sociais
(político-administrativas, econômicas e culturais), já mencionadas, às quais nos
propusemos. Tentamos identificar nas obras literárias sobre São Gonçalo as
principais representações da cidade, dentro dessas categorias, que a nosso ver
são as principais e carregam em si diversos tipos de valoração simbólica.
Representações político-administrativas
[...]
19
Vicente Licínio Cardoso foi nomeado prefeito através do decreto 1.490, de 17 de junho de
1916, que restabelecia o lugar de prefeito no município de São Gonçalo.
88
20
O autor não informa a data da posse.
89
[...]
Representações econômicas
23
“Após morte de um de seus fundadores, o Dr. Luiz Palmier, em 16 de outubro de 1955, o
Hospital Municipal de São Gonçalo passou a chamar-se Hospital Municipal Dr. Luiz Palmier.”
(BRAGA, 2006, p. 250)
92
para Braga, não tem valor, por se tratar de bens com valores simbólicos
agregados. Observemos os trechos retirados de São Gonçalo Cinquentenário:
24
Leia-se “expectativa”.
93
[...]
25
Leia-se: “concorrência”.
95
É claro que para Palmier era menor o período de tempo que o separava
da emancipação político-administrativa de São Gonçalo. Era tempo suficiente
para que ele acreditasse que o município cresceria economicamente, em
virtude de tudo o que produzia e em virtude da abertura de suas portas às
indústrias. Mas não era suficiente para que ele visse que São Gonçalo não
atenderia as suas expectativas. Por isso seu discurso era otimista, mesmo
diante das dificuldades. Ele pensava grande, nos parece que ele esperava o
melhor para a cidade, que era promissora, e para sua população.
[...]
[...]
[...]
Representações culturais
[...]
26
Leia-se: “Reminiscências”.
100
[...]
[...]
[...]
[...]
[...]
[...]
[...]
Enquanto Palmier via com sentimento de ternura uma cidade que tinha
todos os atributos para se modernizar e progredir, Braga vê com o mesmo
sentimento de ternura e com saudosismo a cidade perdida, mas que, segundo
a própria, pode ser recuperada para se transformar em um lugar melhor,
dependendo apenas daqueles que nela habitam.
Porém, Braga também não deixa a desejar, suas críticas e elogios são
todos para São Gonçalo e seus cidadãos. A obra O município de São Gonçalo
e sua história deixa transparecer a necessidade que autora tem de chamar a
atenção da população gonçalense para sua cidade. A vontade de informar e o
sentimento de pertencimento que a autora transmite transformam-se em
mecanismo, fornecendo subsídios de memória e de identidade.
109
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jelin (2001, p. 33) explica que existe uma relação entre discurso e
experiência, e que para aqueles que não tiveram as experiências do passado,
“[...] a memória é uma representação do passado construída como
conhecimento cultural compartido por gerações e por diversos/as outros/as”.
Também Pollak (1992) menciona a possibilidade de compartilharmos histórias
passadas, não por vivência, mas “por tabela”, a partir da memória de outras
pessoas ou de uma memória coletiva.
problemas identificados em São Gonçalo. É essa forma de agir que nos leva a
compara-los ao que Jelin (2001) denomina de “empreendedores de memória”,
ou seja, são pessoas que agem ativamente em prol de uma ideia.
7 REFERÊNCIAS