Jaqueline Wenderroscky José Lopes Veloso

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – UNIRIO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS - CCH

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEMÓRIA SOCIAL

JAQUELINE WENDERROSCKY JOSÉ LOPES VELOSO

EMPREENDEDORES DE MEMÓRIA:

MEMÓRIA, IDENTIDADE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CIDADE DE


SÃO GONÇALO

Rio de Janeiro

Outubro/2012
JAQUELINE WENDERROSCKY JOSÉ LOPES VELOSO

EMPREENDEDORES DE MEMÓRIA:

MEMÓRIA, IDENTIDADE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CIDADE DE


SÃO GONÇALO

Material apresentado ao Curso


de Mestrado do Programa de
Pós-Graduação em Memória
Social da Universidade Federal
do Estado do Rio de Janeiro,
como requisito parcial para
conclusão de curso.

Orientador: Professor Doutor Sergio Luiz Pereira da Silva

Rio de Janeiro

Outubro/2012
JAQUELINE WENDERROSCKY JOSÉ LOPES VELOSO

EMPREENDEDORES DE MEMÓRIA:

MEMÓRIA, IDENTIDADE E REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DA CIDADE DE


SÃO GONÇALO

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________
Professor Doutor Sergio Luiz Pereira da Silva
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO
(Orientador)

_________________________________________
Professor Doutor Rui Aniceto Nascimento Fernandes
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

_________________________________________
Professor Doutor Joaquim Justino Moura dos Santos
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

_________________________________________
Professor Doutor Francisco Ramos de Farias
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO

Rio de Janeiro

Outubro/2012
A Deus.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela realização deste trabalho, mais uma conquista em


minha vida; aos meus pais e a meu marido, amigos insubstituíveis, pelo apoio e
pelo conforto nas horas difíceis; à minha sogra, meu irmão e meus cunhados
pelo incentivo.

Foi fundamental a orientação do professor Sergio Luiz, sem ele esta


pesquisa não teria sido concluída, por isso, agradeço. Também agradeço aos
professores da banca por terem dedicado seu precioso tempo a mim e ao meu
trabalho.

Agradeço a toda equipe do Arquivo Central da UNIRIO pelo apoio e pelo


suporte técnico, assim também aos professores do Laboratório de Pesquisa em
História da Enfermagem (LAPHE), da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto.

Jamais poderia deixar de agradecer aos membros da Academia


Gonçalense de Letras, Artes e Ciências (AGLAC) por, tão gentilmente, me
receberem em suas reuniões. Agradeço especialmente ao Senhor Paulo Souto
e à Senhora Maria Nelma pela orientação, pela conversa e pela ajuda todas as
vezes que foram solicitados.

O meu sincero agradecimento à Hercília, à Andressa, aos colegas e aos


professores do PPGMS.

Por fim, agradeço a todos que estão em minha vida ou que


simplesmente passaram por ela e que, de alguma forma, mesmo que
involuntariamente, contribuíram para a minha caminhada.
“[...] Essa cidade que não se elimina da cabeça é como uma armadura
ou um retículo em cujos espaços cada um pode colocar as coisas que
deseja recordar: nomes de homens ilustres, virtudes, números,
classificações vegetais e minerais, datas de batalhas, constelações,
partes do discurso. Entre cada noção e cada ponto do itinerário pode-
se estabelecer uma relação de afinidades ou de contrastes que sirva
de evocação à memória. [...]”. (CALVINO, ano 1990, p. 19)
RESUMO

O presente trabalho dedica-se a analisar as representações sociais


realizadas por historiadores da cidade de São Gonçalo. Tais representações
estão presentes nas obras literárias produzidas por aqueles, que são
considerados por nós “empreendedores de memória”. Com essa perspectiva
fizemos o levantamento das obras publicadas a partir do ano de 1940 até o ano
de 2010, das quais selecionamos duas para serem analisadas efetivamente:
São Gonçalo Cinquentenário: História, Geografia, Estatística (1940) e O
município de São Gonçalo e sua história (2006), dos autores Luiz Palmier e
Maria Nelma Carvalho Braga, respectivamente. Havia duas questões
importantes a serem respondidas ao longo do trabalho, que juntamente com o
panorama de publicação das obras, constituíam-se em objetivos específicos,
que eram: saber como tais pesquisas contribuem para o resgate da memória
da cidade de São Gonçalo e qual seria a relevância de tais trabalhos com
relação à preservação da memória e identidade da população local.

Palavras-chave: São Gonçalo, representações sociais, empreendedores


de memória, memória e identidade.
ABSTRACT

This work is dedicated to analyze the social representations made by


historians of São Gonçalo. Such representations are present in literary works
produced by those who are considered by us "entrepreneurs of memory". With
this perspective we did a published works survey from the year 1940 to the year
2010, from which we selected two to be analyzed effectively: São Gonçalo
Cinquantenaire: History, Geography, Statistics (1940) and The municipality of
São Gonçalo and its history (2006), authors Luiz Palmier and Maria Nelma
Carvalho Braga, respectively. There were two important questions to be
answered throughout the work, which along with work`s panorama publication,
constituted themselves into specific objectives, which were: how such research
contribute to the memory recovery of the São Gonçalo city and what is the
relevance of such studies is when it comes to preserving the memory and
identity of the local population.

Keywords: São Gonçalo, social representations, entrepreneurs memory,


memory and identity.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................10

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE REFLEXÃO E ASPECTOS


METODOLÓGICOS...........................................................................................15

3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS.....................................................................26

4 A CIDADE: UMA CONSTRUÇÃO SIMBÓLICA E TERRITORIAL................30

4.1 Localização..................................................................................................30

4.2 Histórico.......................................................................................................34

4.3 Dados estatísticos........................................................................................36

4.4 Valorização simbólica..................................................................................42

4.4.1 Livros - suportes de memória...................................................................48

4.4.2 Os empreendedores de memória.............................................................55

4.4.3 Algumas instituições de memória em São Gonçalo.................................58

4.4.4 Representações em contexto: São Gonçalo em destaque......................60

5 ANÁLISE DOS LIVROS SELECIONADOS...................................................67

5.1 O lugar social do intelectual.........................................................................69

5.2 Conteúdo.....................................................................................................73

5.3 Análise dos objetivos específicos da pesquisa..........................................103

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................106

7 REFERÊNCIAS............................................................................................109

8 ANEXOS.......................................................................................................115

Anexo A – Hino Oficial do Município de São Gonçalo.....................................116


Anexo B – Fac-símile do jornal O Fluminense (Nictheroy, 10 julh.
1940)................................................................................................................117

Anexo C – Fac-símile do jornal O Fluminense (Nictheroy, 22 set.


1940)................................................................................................................118

Anexo D – Fac-símile do Jornal O Fluminense (Nictheroy, 24 set.


1940)................................................................................................................119

Anexo E – Fac-símile do Jornal O Fluminense (Nictheroy, 25 set.


1940)................................................................................................................120

Anexo F – Fac-símile do Jornal O Fluminense (Nictheroy, 24 nov.


1940)................................................................................................................121
10

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe uma análise da representação de São


Gonçalo, cidade esta localizada no Estado do Rio de Janeiro. Com esse
objetivo, utilizamos o material intelectual produzido por alguns escritores de
memórias passadas na cidade. Esse material de estudo é constituído por obras
literárias, pertencentes ao patrimônio intelectual, representativo do lugar.

Percebemos que um estudo sobre esse material bibliográfico


documental, tendo como enfoque a representação da cidade, a relevância dos
trabalhos intelectuais como suportes de memória e o empreendedorismo dos
próprios intelectuais, ainda não havia sido realizado. Muito embora existam, na
cidade de São Gonçalo, pesquisas e instituições que se dediquem ao passado
da cidade, com vistas à memória e à identidade dos gonçalenses, os quais
realizaram ou realizam trabalhos de suma importância para o local.

Desejando contribuir com essa discussão, analisamos os livros


produzidos por alguns intelectuais gonçalenses, os quais chamamos
“empreendedores de memória”, tendo em vista a importância dessas obras
para a cidade e para a memória social. Com essa perspectiva, os objetivos da
presente pesquisa foram: Traçar um panorama das obras literárias realizadas
sobre a cidade de São Gonçalo a partir de 1940; analisar como tais pesquisas
contribuem para o resgate da memória da cidade de São Gonçalo; refletir sobre
a relevância de tais trabalhos com relação à preservação da memória e
identidade da população local. E como objetivo geral, procuramos estudar a
representação da história gonçalense manifestada naquelas obras.

Utilizamos o conceito cunhado por Jelin (2001) “empreendedores de


memória” porque acreditamos que o trabalho realizado por aqueles intelectuais
se classifica como um empreendimento, ou seja, um empreendedorismo
intelectual da comunidade gonçalense. Jelin baliza o conceito
11

“empreendedores de memória” na expressão citada por Becker 1 (moral


entrepreneurs), em que o mesmo supõe que algumas pessoas sejam
necessárias para chamar a atenção do público para certos assuntos, elas se
empenham para que as coisas aconteçam e tentam recriar regras ou direcioná-
las. A autora toma “emprestada a noção de moral entrepreneur para aplicá-la
ao campo de lutas pelas memórias, onde os que se expressam e tentam definir
o campo podem ser vistos, frequentemente, como empreendedores da
memória”. (JELIN, 2002, p. 48)

Foi possível perceber, a partir da leitura de algumas publicações, que


esses intelectuais, frequentemente, valorizam a cidade de São Gonçalo,
prestigiando seu passado, seus antigos habitantes, pedindo cuidado e amor à
cidade aos atuais moradores. Foi acreditando que o trabalho dos intelectuais
fornecessem subsídios de memória, contribuindo para que esse passado não
esmaecesse, principalmente para a juventude da cidade, que fomos investigar
junto às obras literárias tais pressupostos.

Podemos elencar as obras localizadas e seus respectivos autores: São


Gonçalo Cinquentenário: História, Geografia, Estatística, escrita por Luiz
Palmier; História de São Gonçalo e Capela, Fazenda e Engenho, escrita por
Homero Thomaz Guião Filho; Escola Municipal Amaral Peixoto, Nobreza
Gonçalense, Eles nasceram em São Gonçalo, Da escola Julio Lima ao Colégio
Municipal Estephânia de Carvalho, Gonçalenses adotivos, escritas por
Salvador Mata e Silva; São Gonçalo no século XVI, São Gonçalo no século
XVII, São Gonçalo no século XVIII e São Gonçalo no século XIX, escritas por
Evadyr Molina e Salvador Mata e Silva; O Palacete dos Mimi, escrita por Ismael
de Souza Gomes; Guia de fontes para a história de São Gonçalo, organizada
por Luís Reznik e Márcia de Almeida Gonçalves; São Gonçalo – uma visão de
progresso, produzida pelo Núcleo Gonçalense de Memória, Pesquisas e
Promoções Culturais (MEMOR); O intelectual e a cidade: Luiz Palmier e a São
Gonçalo moderna, organizada por Luís Reznik; Neves: esplendor e
decadência, escrita por Aída de Souza Faria; Estudo dos topônimos
gonçalenses de origem Tupi, produzida pela Academia Gonçalense de Letras,

1
Becker, Howard S. (1971), Los extraños. Sociologia de la desviación, Buenos Aires: Tiempo
Contemporáneo.
12

Artes e Ciências (AGLAC); O município de São Gonçalo e sua história, escrita


por Maria Nelma Pereira Nunes; e São Gonçalo – Sua história e seus
monumentos, escrita por Marcos Vinícios Macedo Varella e Nilda Ferreira
Mendes Filha.

O período de publicação dos livros está compreendido entre 1940 e


2009, sendo este, também, o recorte temporal do trabalho. Isso se deu em
virtude do ano de 1940 ter sido o do cinquentenário de São Gonçalo, data
importante para a cidade.

Inicialmente precisamos observar que o livro São Gonçalo


Cinqüentenário: História, Geografia, Estatística, já mencionado, foi publicado
em um período oportuno, em que cidadãos e políticos acreditavam na cidade e,
mais que isso, eles acreditavam no progresso para São Gonçalo, com o
crescimento e a instalação de novas indústrias, com a expansão do mercado
de trabalho e com a inauguração do primeiro hospital. Reznik e Fernandes
(2003, p. 13) mencionam que

Entre os anos 1920 e 1950, São Gonçalo se transformou: a


municipalidade tomou para si a tarefa de organização do espaço
público e dos serviços essenciais para a população.
Implementaram-se, naquele momento, serviços essenciais de
água, luz, arruamentos, telefonia, entre outros. Durante os anos
de 1930, com ênfase para o período do Estado Novo (1937 –
1945), organizaram-se serviços de saúde, assistência à
maternidade e à infância, e intensificaram-se as preocupações
com as áreas da educação e da cultura.

Por esse motivo, dividimos a produção das obras em dois momentos: o


primeiro conclamava os cidadãos a apostarem que o progresso chegaria à
cidade, com o reconhecimento por parte de todo o país dos recursos oferecidos
por São Gonçalo e por sua importância econômica. É um momento de
valorização do passado, com vistas à modernização futura de São Gonçalo. O
segundo momento seria aquele em que os autores tentam resgatar toda a
riqueza histórica da cidade, seus monumentos, seus cidadãos ilustres, seu
passado rural e economicamente ativo, com o intuito de conclamar aos
habitantes cuidado e amor ao lugar onde vivem, porque, para aqueles, o
espaço gonçalense é um lugar de valor. É um momento de exaltação do
passado, com vistas à memória e à identidade dos gonçalenses.
13

O trabalho de pesquisa foi dividido em seis capítulos: 1 Introdução; 2


Pressupostos teóricos de reflexão e fundamentação da pesquisa; 3
Representações Sociais; 4 A Cidade: uma construção simbólica e territorial, 5
Análise dos livros selecionados, 6 Considerações finais, seguidos das
referências bibliográficas e dos anexos. Tais capítulos foram dispostos de
forma que pudéssemos estabelecer o conceito e usos da representação social,
que é o alicerce da pesquisa, por isso o seu entendimento é questão
fundamental para a realização desse trabalho; apresentar a história, as
memórias e a dinâmica da cidade; expor as obras literárias sobre São Gonçalo;
mostrar a ação simbólica e ativa dos intelectuais (os empreendedores de
memória) gonçalenses; além, é claro, de analisar as obras realizadas por
aqueles, sobre o prisma das representações sociais. Foi a partir dessa
configuração, que tentamos realizar as conexões necessárias para a
compreensão da pesquisa.

Também, tentamos posicionar os intelectuais no tempo e no espaço,


procurando localizar o lugar de fala dos mesmos. Pois, a partir dessa reflexão,
podemos situar nosso próprio posicionamento em relação ao espaço social,
que é a cidade de São Gonçalo, e em relação aos próprios intelectuais. Haja
vista que mesmo tentando nos distanciar do problema estudado, mesmo
tentando nos tornar neutros diante da pesquisa, apesar de tudo isso, como
dizem alguns autores, é muito difícil nos tornarmos indiferentes, principalmente
quando fazemos parte do cenário. Araújo (2008, p. 113) menciona que

É o olhar do pesquisador que constrói o seu objeto de pesquisa


e, certamente, este está prenhe de subjetividade e
individualidade. Seu olhar traz consigo o reflexo daquilo que ele
tem em mente, ou seja, fragmentos de sua história de vida,
problemas que viveu, experiências que acumulou, além daquilo
que ele pretende fazer num futuro próximo.

Isso quer dizer que “no processo de apreensão e análise das


representações sociais, estabelece-se uma relação entre o pesquisador e o
pesquisado” (ARAÚJO, 2008, p. 113) e que essa relação sempre promove
alguma modificação, trazendo elementos para a pesquisa, mesmo que
inconscientemente.
Quando se trata de seres vivos, e com mais razão quando se
trata de seres humanos não há observação pura, toda
14

observação já é uma intervenção, não se pode experimentar ou


observar sem mudar algo no sujeito. Toda teoria é ao mesmo
tempo prática e, inversamente, toda ação supõe relações de
compreensão. (MERLAU-PONTY, 1990, p. 57, apud ARAÚJO,
2008, p. 115)

Infelizmente, o projeto precisou ser modificado em alguns quesitos, a


pesquisa precisou ser redirecionada, em virtude do curto período de tempo
disponível. Porém, este fato, de maneira alguma prejudicou o entendimento do
trabalho, porque, de qualquer forma, esta pesquisa não se esgota aqui. Há,
ainda, uma série de análises pendentes que estão por fazer, necessitando
apenas que alguém ou alguns a valorizem, pois, entendemos que tudo o que
há no universo humano só tem importância quando recebe valor, que esse
valor é atribuído de acordo com a necessidade do ser humano de utilizar,
apropriar-se ou de pertencer a um lugar ou sociedade. Dessa maneira, essa
valorização acontece a partir do momento em que a cultura é resgatada, em
que o patrimônio e os monumentos passam a fazer sentido para a sociedade a
que pertencem, assim como quando o território é reconhecido e a história é
levantada, contada e registrada por meio da pesquisa.
15

2 PRESSUPOSTOS TEÓRICOS DE REFLEXÃO E FUNDAMENTAÇÃO DA


PESQUISA

São muitos os autores que corroboraram com essa pesquisa. Autores


que trabalham os espaços sociais, a representação social, a memória e a
identidade, e outros assuntos que direta ou indiretamente fazem parte da
constituição de todos os fenômenos sociais, como por exemplo, questões
ligadas à modernidade, estigmas e preconceitos, etc.

É difícil selecionar algumas obras e descartar outras, até mesmo porque


novas leituras são bem-vindas. É complicado analisar problemas sem sermos
influenciados por algumas ideias. Mesmo tendo em mente o objetivo principal
de nossa pesquisa, por vezes tendemos a outras análises e críticas em virtude
do material reunido por nós.

Dessa maneira, escolhemos alguns trabalhos para nos nortear nessa


jornada. São livros, artigos, dissertações e teses que julgamos relevantes como
fontes de informações e que forneceram subsídios para nossa busca.

Todas as publicações sobre São Gonçalo, encontradas, foram material


precioso e de muita valia, não apenas por representarem o próprio objeto de
pesquisa como, também, por constituírem informação necessária em vários
momentos, pois como bem nos lembra Santos “a reconstrução da história de
um lugar ou de uma localidade implica partir do princípio de que a história está
presente em todos os lugares, em todos os momentos” (SANTOS, 2002, p.
110). Santos, que estuda a ‘história do lugar’, defende a importância desse
estudo para a sociedade, pois o mesmo “[...] tem se revelado ainda mais
visível, nas últimas décadas, nas escolas, nas ruas, nas famílias, nas
comunidades de que fazem parte, nos lugares onde se situam com suas
particularidades” (SANTOS, 2002, p. 107).

Não fomos aos arquivos consultar documentos para extrair a história de


São Gonçalo, utilizamos os mencionados livros como fonte de consulta. Não
podemos dizer se todos os autores foram exatos ou verdadeiros em suas
16

declarações, mas o que é a verdade senão a representação daquilo que


gostaríamos que fosse verdadeiro?

Sabemos que alguns autores utilizaram fontes primárias para realizarem


suas pesquisas, outros escreveram as suas próprias memórias, possivelmente
na tentativa de salvaguarda-las, e outros, ainda, fazem parte de grupos de
pesquisas em centros universitários. Não obstante, optamos por não distingui-
los entre historiadores, pesquisadores, memorialistas ou qualquer outra
nomenclatura que os definam e os discriminem, para nós todos os livros são
fonte de consulta, de memória e de história. Nascimento Fernandes (2009, p.
24), que trabalhou a historiografia fluminense, menciona em sua tese que “[...]
a historiografia produzida fora dos círculos universitários é estigmatizada como
tradicionalista, factual, evolutiva, política, com forte cunho biográfico e
autobiográfico, que tende para o pitoresco, o anedótico, o exótico”. No entanto,
corroborando com nosso pensamento, o mesmo esclarece:

[...] engloba-se nesse grupo uma gama variada e díspar de


estudiosos, desde aqueles que escrevem pequenas notas para a
história de uma instituição ou personagem, até aqueles que se
dedicaram a desenvolver extensos inventários da história de
uma cidade ou região. (NASCIMENTO FERNANDES, 2009, p.
24)

Assim, buscamos nesse material embasamento teórico para justificar


nossa afirmação de que os intelectuais de São Gonçalo sejam
empreendedores de memória, tal qual mencionado por Jelin (2001). Autores
como Palmier (1940) e Braga (2006) descrevem o cenário histórico e
econômico, em contextos diversos, que perpassam o tempo, o espaço e a
memória local. Reznik (2003) e seus companheiros de pesquisa nos auxiliam
no exercício de pensar a São Gonçalo por outro prisma, a do progresso,
proposta por Luiz Palmier. Nunes (2002) realizou um levantamento de todos os
Chefes de Executivo de São Gonçalo, facultando-nos uma visão mais ampla
sobre a situação política e administrativa ao longo tempo. Faria (2004), Silva
(1990; 1996; 1995; 1998), Gomes (1996), Varella (s/d) e outros nos mostram
um pouco das memórias, dos rastros e ruínas que permanecem na vida e no
espaço social daqueles habitantes.
17

Num outro contexto de reflexão estão as obras interpretativas como as


obras de Ortiz (2006), Cultura Brasileira e Identidade Nacional e a de Hall
(2005), A Identidade Cultural da Pós-modernidade, importantes para que
possamos compreender a formação das identidades nacionais, problemas
culturais, representações, criações simbólicas e ideológicas, modernidade,
pertencimento, etc.

Achamos interessante a posição de Ortiz (2006) ao relacionar o


intelectual à ação politicamente orientada, deixando clara a necessidade dessa
figura para a interpretação e orientação da cultura popular, transformando-a em
cultura globalizante. Segundo o autor, “são eles que descolam as
manifestações culturais de sua esfera particular e as articulam a uma totalidade
que as transcende” (ORTIZ, 2006, p. 141).

Igualmente relevante, a obra de Hall (2005) tem muito a contribuir com a


elaboração do presente trabalho, já que a preocupação central de seu livro é a
questão da identidade na modernidade. Ele estuda a “crise de identidade” e as
transformações que deslocam as antigas estruturas e abalam “os quadros de
referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social”
(HALL, 2005, p. 7). Segundo o autor, é necessária uma narração para que a
história construída seja passada e repassada por gerações a uma comunidade
imaginada. Porém, ele levanta algumas questões fundamentais para que
possamos compreender a lógica da diferença e das descontinuidades, por
exemplo, “como é imaginada a nação moderna?” e, consequentemente, “que
estratégias representacionais são acionadas para construir nosso senso
comum sobre o pertencimento ou sobre a identidade nacional?”.

Supomos tais leituras imprescindíveis, pois nos permitem raciocinar por


analogias, traçando correspondência entre a questão de uma identidade
nacional e a questão identitária, simbólica e ideologicamente criada para uma
cidade, que, no nosso caso, é a cidade de São Gonçalo.

O assunto “memória” foi e tem sido amplamente debatido por diversos


autores. Procuramos abordar esse tema relacionando-o a outros pontos-chave
que são o espaço, os grupos sociais e a construção simbólica de uma
identidade. Com esse intuito utilizamos as ideias de Halbwachs (1990) sobre a
18

memória coletiva e a memória individual. Para o autor a memória individual é


sempre pautada na memória coletiva, e

[...] nossas lembranças permanecem coletivas, e elas nos são


lembradas pelos outros, mesmo que se trate de acontecimentos
nos quais só nós estivemos envolvidos, e com objetos que só
nós vimos. É porque, em realidade, nunca estamos sós”.
(HALBWACHS, 1990, p. 26)

O referido autor nos explica o porquê de nos esquecermos dos


acontecimentos quando nos afastamos de um grupo. Segundo ele, mesmo que
nós tenhamos vivenciado certas experiências com determinado grupo, quando
nos afastamos por um tempo, ou quando não há mais pontos de contato entre
nós e aquele, nossas lembranças se apagam. E mesmo que remanescentes
daquele grupo tentem ativá-las, nós não nos lembraremos mais. Isso ocorre
porque é necessário que continuemos a participar do grupo, das preocupações
existentes no seio desse, é preciso que haja “uma semente de rememoração”
para que possamos ter em comum uma memória.

Dando continuidade ao pensamento de coletividade, Halbwachs (1990)


sugere que temos necessidade de uma comunidade afetiva para que nossas
memórias continuem a concordar com a memória dos outros.

[...] Para que nossa memória se auxilie com a dos outros, não
basta que eles nos tragam seus depoimentos: é necessário
ainda que ela não tenha cessado de concordar com suas
memórias e que haja bastante pontos de contato entre uma e as
outras para que a lembrança que nos recordam possa ser
reconstruída sobre um fundamento comum. (HALBWACHS,
1990, p. 34)

Dessa maneira, Halbwachs (1990) contribui para pensarmos as


atividades dos empreendedores de memória, da distância entre esses e os
cidadãos gonçalenses e, ainda, da distâncias entre esses últimos e a própria
cidade.

Continuando o processo de construção social da memória, outro autor


importante, que contribui com suas reflexões sobre memória e identidade é o
Pollak (1989; 1992). O autor menciona a memória vivida, que ele identifica
muito bem na história oral ou como ele chama, nas “histórias de vida”. Mas,
admite também que há outro tipo de memória, que é adquirida por “tabela”,
19

quase que herdada, e muito enraizada nos grupos sociais, embora nem
sempre os mesmos a tenham vivido. “São acontecimentos dos quais a pessoa
nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que,
no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou
não” (POLLAK, 1992, p 201).

Foi fundamental para a pesquisa refletirmos a questão da representação


de São Gonçalo realizada pelos empreendedores de memória, pois, é um
quesito importante para entendermos de que maneira o fazem ou fizeram, o
porquê de sua ação e qual o significado desse trabalho em suas vidas e na
vida dos habitantes da cidade. Dessa maneira, trabalharemos com os
conceitos de representação social, esfera pública e espaço social, e
empreendedores de memória, trabalhados por Jovchelovitch (1995; 2000;
2008), Minayo (1995), Bourdieu (2010), Jelin e Langland (2003), entre outros
autores.

No livro Os contextos do saber, Jovchelovitch (2008) dialoga


constantemente com o conceito de representação social, sua relação com os
homens e o cotidiano. Para a autora

[...] Pela representação, indivíduos e comunidades não apenas


representam um determinado objeto e um estado de coisas no
mundo, mas também revelam quem são e o que consideram
importante, as inter-relações em que estão implicados e a
natureza dos mundos sociais que habitam. [...]
(JOVCHELOVITCH, 2008, p. 38)

Jovchelovitch (2008, p. 38) considera que “a formação da representação


é uma tarefa pública, um processo contexto-dependente vinculado às
condições sociais, políticas e históricas que configuram contextos
determinados”. É sempre interessante o que a autora tem a nos dizer sobre
“representação”. Seus estudos baseados na Teoria da Representação, de
Moscovici, se adéquam e muito a nossa pesquisa sobre a representação de
São Gonçalo nos livros produzidos pelos historiadores da cidade. Como não
concordar com a autora quando a mesma menciona que, “a representação é a
matéria e a substância do saber, a estrutura subjacente a todos os sistemas de
saber, o material que constitui todo saber possível que temos dos outros, do
nosso mundo e nós mesmos” (JOVCHELOVITCH, 2008, p. 41-42)?
20

Assim, consideramos Jovchelovitch uma autora fundamental para a


análise de nosso objeto de pesquisa, tendo em mente que “todos os saberes
são feitos de representação e expressam um desejo de representar”
(JOVCHELOVITCH, 2008, p. 42). Da mesma forma não podemos deixar de
pensar que “[...] o trabalho da representação envolve sujeitos em relação a
outros sujeitos [...]” e que “[...] a representação pertence ao ‘entre’ da
comunicação humana e da ação social e não é o produto de mentes individuais
fechadas em si mesmas” (JOVCHELOVITCH, 2008, p. 73).

Dessa maneira, a autora é de importância ímpar para a elaboração


desse trabalho de pesquisa. Contudo, outros autores se dispuseram a estudar
as representações sociais, como Jodelet (2001), Minayo (1995), além de
Moscovici (2001), entre outros.

Para Jodelet (2001, p. 17) as representações são sociais e importantes


em nossa vida cotidiana porque “elas nos guiam no modo de nomear e definir
conjuntamente os diferentes aspectos da realidade diária [...]”. Minayo (1995, p.
89) as descreve em dois momentos, como um termo filosófico “que significa a
reprodução de uma percepção retida na lembrança ou do conteúdo do
pensamento” e, nas Ciências Sociais, “como categorias de pensamento que
expressam a realidade, explicam-na, justificando-a ou questionando-a”
(MINAYO, 1995, p. 89). Moscovici (2001, p. 63) em seu vasto estudo sobre
representação social, a define como um fenômeno que é a representação de
“uma coisa ou uma noção” em que “não produzimos unicamente nossas
próprias ideias e imagens: criamos e transmitimos um produto
progressivamente elaborado em inúmeros lugares, segundo regras variadas”.
Ele se aprofunda ainda mais no discurso dizendo que nossas representações
são sociais não apenas pelo fato de possuírem um objeto comum ou por serem
compartilhadas, mas que isso se deve ao fato de que existe uma categoria de
pessoas responsáveis em disseminar os conhecimentos científicos e artísticos:
“médicos, terapeutas, trabalhadores sociais, animadores culturais, especialistas
das mídias e do marketing político”. E que, além disso, dever-se-ia dar mais
atenção a esses especialistas que, segundo ele, “recorrem a métodos supondo
um conhecimento de vida psíquica e uma visão do aspecto coletivo, do mais
alto interesse” (MOSCOVICI, 2001, p. 63).
21

Assim, a partir dessas leituras, podemos concluir que, sem o Outro, não
existiria essa estrutura dinâmica que é a representação social. Tudo é realizado
em função do Outro, sem essa interação não haveria diálogo, o que tornaria a
representação sem sentido. No entanto, existe um local onde a representação
se faz presente, que é a esfera pública, também trabalhada por Jovchelovitch.
Para ela:

A esfera pública portanto, como o espaço que existe em função


da pluralidade humana, como o espaço que se sustenta em
função de diversidade humana, como o espaço que introduz a
noção de transparência e ‘prestação de contas’, como o espaço
que encontra sua forma de expressão no diálogo e na ação
comunicativa, traz para o centro da nossa análise a dialética
entre o Um e o Outro, e sublinha a importância das relações
entre sujeito-outros sujeitos-sociedade para dar conta dos
possíveis significados tanto da vida individual como da vida
pública. (JOVCHELOVITCH, 1995, p. 70).

Bourdieu (2010) introduz o conceito de “espaço social”, que a nosso ver,


assemelha-se ao conceito de esfera pública, exposto acima. O autor analisa
toda a estrutura desse campo, pelo lado político, social, cultural, étnico, etc.
Para Bourdieu “falar de um espaço social, é dizer que se não pode juntar uma
pessoa qualquer com outra pessoa qualquer, descurando as diferenças
fundamentais, sobretudo econômicas e culturais”. (BOURDIEU, 2010, p. 138).
Em seus estudos o peso econômico e cultural é fundamental para manter e
hierarquizar as relações entre indivíduos, nesse espaço. Esse seria um espaço
de relações, um campo de disputas e forças impostas a todos que nele entrem.

Como dissemos na introdução, para nós é bastante rica a expressão


“empreendedores de memória”, pois, achamos que a mesma se enquadra
perfeitamente aos escritores de São Gonçalo. Um ponto importante para Jelin
(2002) é que o empreendedor de memória se envolve pessoalmente em um
projeto, mas arrasta outras pessoas com ele, “gerando participação e uma
tarefa organizada de caráter coletivo” (JELIN, 2002, p. 48). Essa pessoa busca
novas ideias e novas formas de expressá-las, com criatividade e determinação.

Jelin e Langland (2003) ressaltam que a transformação de sentido não é


automática ou produto da sorte, exige esforço e dedicação humana. Assim, os
empreendedores de memória são sujeitos ativos que atuam em processos
sociais que necessitam marcar espaços.
22

Para discutirmos o espaço, que é a cidade, autores como Le Goff (1998)


e Pesavento (2002) nos auxiliam no exercício de pensá-la por diversas
perspectivas. Le Goff analisa a cidade nas suas estruturas intrínsecas, desde a
Idade Média, traçando um panorama das cidades contemporânea, medieval e
antiga. Ele se baseia nas comparações entre essas sociedades para descrever
o que há de semelhança entre uma e as outras cidades. Pesavento descreve a
cidade como um espaço que pode e que deve ter um lado de materialidade,
mas, que, também, possui um lado sensível, imaginado, que são
representações imaginárias construídas pela história e pela memória.
Conforme citação:

Podemos pensar a cidade, antes de tudo, pela sua faceta mais


evidente: ela é, sobretudo, materialidade: ela é pedra, tijolo,
ferro, cimento, vidro, madeira, natureza, também, enfim. Cidade
é volume, espaço, superfície. É via pública que se materializa
em traçado, é espaço construído, é edificação que foi erigida em
monumento, é ainda equipamento urbano e serviço público
exteriorizado na sua concretude.

Cidade é, sobretudo, materialidade erigida pelo homem, é ação


humana sobre a natureza. Cidade é, pois sociabilidade:
comporta atores e relações sociais, personagens, grupos,
classes, práticas de interação e de oposição. Marcas que
registram uma ação social de domínio e transformação, no
tempo, de um espaço natural.

Mas a cidade é, ainda, sensibilidade. É construção de um ethos,


que implica na atribuição de valores ao que se convenciona
chamar de urbano, é produção de imagens e percepção de
emoções e sentimentos, é expressão de utopias, desejos e
medos, assim como é prática de conferir sentidos e significados
ao espaço e ao tempo, que se realizam na e por causa da
cidade. (PESAVENTO, 2002, p. 24)

Em suas reflexões sobre tempo e espaço, Pesavento (2002, p. 24)


argumenta que a cidade “é um lugar no tempo, na medida em que é um espaço
com reconhecimento e significação estabelecidos na temporalidade” e que “ela
é um momento no espaço, pois expõe um tempo materializado”. Porém, seria
necessária, ainda, uma representação do tempo passado no tempo presente
para que a “cidade de pedra” e a “cidade sensível” (ou percebida ou, ainda,
construída) possam se articular e interagir:

É, [...] nesta medida, que uma cidade inventa seu passado,


construindo um mito das origens, descobre pais ancestrais,
elege seus heróis fundadores, identifica um patrimônio, cataloga
23

monumentos, transforma espaços em lugares com significados.


Mais do que isso, tal processo imaginário de invenção da cidade
é capaz de construir utopias, regressivas ou progressivas,
através das quais a urbs sonha a si mesma. (PESAVENTO,
2002, p. 25)

Para que pudéssemos analisar a importância dos intelectuais para a


cidade, nos trabalhos realizados na esfera pública e com relação à população,
utilizamos o livro do já mencionado Ortiz (2006), com o capítulo em que se
propõe a refletir sobre a mediação realizada por aqueles; e com Miceli (2001)
vemos a relação existente entre Estado e intelectuais, assim como a
construção dos perfis intelectuais e as estratégias para entendermos sua
formação.

Os livros sobre representação social, cujos autores já foram


mencionados anteriormente, serão utilizados para análise das obras
selecionadas e, também, procuramos em Fiorin (2011) subsídios para a análise
do discurso.

Para consolidar nossa pesquisa consultamos a Biblioteca Municipal de


São Gonçalo, localizada no Centro Cultural Joaquim Lavaoura; A biblioteca da
Faculdade de Formação de Professores (FFP), pertencente à Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a biblioteca do Centro Cultural Brasil –
Estados Unidos, todas essas instituições situadas em São Gonçalo, além de
utilizarmos os recursos da Internet como instrumento de busca. Nesses locais
localizamos livros, teses e dissertações que versavam sobre o tema.

Alguns trabalhos acadêmicos fornecem importante suporte para a nossa


discussão teórica, por tratarem da história de personagens, lugares e assuntos
pertinentes ao da nossa pesquisa. Morais (2009) escreveu um capítulo
interessante em sua dissertação, intitulado A cidade e a memória, em que
aborda a construção da memória no espaço urbano. Silva (2008) realizou um
estudo sobre a institucionalização do folclore no Brasil, mais especificamente
em Goiás, e a contribuição dos intelectuais para este movimento. Nascimento
Fernandes (2009) contribui com seu estudo sobre a Região Fluminense e
sobre a representatividade dos trabalhos intelectuais realizados fora das
instituições acadêmicas. Santos mapeou toda a antiga Freguesia de Inhaúma,
24

constatando seu auge e decadência, assim como, também, analisa todo o


processo de urbanização e transformação social.

Ao realizar levantamento dos trabalhos acadêmicos, ao nível de pós-


graduação, específicos sobre São Gonçalo e assuntos relacionados à cidade,
encontramos uma pequena produção. Eles discutem sobre diversos assuntos,
os quais podemos elencar: a experiência de mulheres na pesca na Ilha de
Itaoca (São Gonçalo) e sobre a tradição repassada às gerações; a respeito das
transformações econômicas e sociais ocorridas em São Gonçalo em virtude da
construção do trecho viário da Rodovia Niterói – Manilha da BR 101; a cerca do
esvaziamento industrial no bairro de Neves; sobre as lutas políticas e
organizativas da classe operária do Município de São Gonçalo, entre os anos
quarenta e cinquenta; quanto à concentração industrial no município; com
relação à administração do prefeito Jayme Mendonça de Campos, no período
compreendido entre 1977 – 1983.

Alguns livros, artigos, teses e dissertações foram utilizados desde o


início do projeto, outros foram incorporados ao longo da pesquisa. Alguns deles
foram bastante consultados, inclusive para citações, e outros, igualmente
importantes, forneceram embasamento teórico e metodológico para a
realização da presente dissertação.

Além de coletar os dados disponíveis nas obras literárias selecionadas,


também procuramos dois intelectuais gonçalenses, em busca de maiores
informações, sendo um deles a autora Maria Nelma Carvalho Braga e o outro o
senhor Paulo Souto (advogado, escritor e artista plástico). Esse encontro, que
preferimos chamar apenas de “conversa”, foi realizado para que os mesmos, a
partir de algumas perguntas, pudessem discorrer sobre a sua realidade, a
realidade dos demais cidadãos e a realidade da própria cidade de São
Gonçalo. Utilizamos também um questionário que fora realizado em outra
oportunidade, em umas das disciplinas do PPGMS, direcionado para o autor
Jorge Cesar Pereira Nunes.

As mencionadas perguntas foram as seguintes: 1) você acha que a


população gonçalense se identifica com a cidade? 2) O que você acha da
cidade de São Gonçalo? 3) Qual sua opinião sobre os livros publicados sobre a
25

história de São Gonçalo? O que você acha desse trabalho? (como contribuição
para a população gonçalense?) 4) Qual é a sua ligação com a cidade? 5)
Qual(is) símbolo(s) representariam a cidade para você?

O questionário direcionado a Nunes apresenta questões pertinentes a


obra escrita por ele “Chefes de executivo e vice-prefeitos de São Gonçalo”
(ainda assim, foi possível utiliza-lo na dissertação). Pretendíamos aplica-lo a
outros autores, porém, não foi possível. Vejamos: 1) Senhor Jorge, na
apresentação de seu livro, à página 10 da 2ª edição, Luís Reznik escreveu:
“[...] Não foi apenas a curiosidade que o estimulou, mas a afetividade por essa
cidade”. O que o motivou a realizar a pesquisa sobre os chefes de executivo de
São Gonçalo, além, é claro, da vontade de esclarecer aos jovens quem foram
os Prefeitos, numa relação exata de nomes e datas? (Quero dizer, que
sentimento é esse tão especial por São Gonçalo que o levou a pesquisar e
escrever sobre esse assunto?) 2) O senhor reside ou residiu em São Gonçalo?
Quanto tempo? 3) O que o levou a anexar fotografias e documentos à sua
relação? O senhor recebeu alguma orientação para isso? 4) Quando o senhor
sentiu a necessidade de escrever sobre o assunto? Em que ano ou período de
sua vida? 5) Quanto tempo o senhor levou para organizar e publicar o livro? 6)
Podemos ler em seu livro que algumas vezes o senhor trabalhou com alguns
homens públicos. O senhor cogitou alguma vez a possibilidade de se dedicar à
política gonçalense, podendo assumir um cargo político? 7) Nos
“esclarecimentos” o senhor diz que consultou alguns políticos para tirar
dúvidas a cerca de uma substituição de prefeito, precisando recorrer aos
jornais e que, embora quisesse utilizar apenas documentos oficiais, isso não foi
possível. O senhor contou também com a memória de outras pessoas e a sua
própria em alguns momentos da pesquisa? 8) O senhor já fez antes algum
outro trabalho em prol da memória gonçalense? Existem outros projetos nesse
sentido? 9) Foi feita alguma divulgação desse trabalho? Qual ou quais? 10) O
senhor sabe informar se o público alvo teve acesso a esse trabalho?
26

3 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Neste capítulo achamos importante discutir um pouco sobre as


representações sociais, para que pudéssemos abordar os tópicos seguintes,
que são questões fundamentais para compreensão desse trabalho de
pesquisa, e que direta ou indiretamente são pautados pelas relações
decorrentes das representações produzidas em sociedade. Jovchelovitch
(2008, p. 33) realça que “a realidade do mundo humano é, em sua totalidade,
feita de representação e não faz sentido falar de realidade em nosso mundo
humano sem o trabalho da representação”.

As representações seriam as construções simbólicas que fazemos para


nós mesmos ou para os objetos ao nosso redor. Essa teoria, amplamente
estudada nas Ciências Sociais, nos dá conta daquilo que praticamos
cotidianamente, repetidamente e da qual fazemos parte, sem mesmo
percebermos. Tudo o que realizamos em nossa vida está contido e contêm
representações. A forma como nos vestimos, como falamos, como nos
apresentamos, como interagimos com o outro, tudo o que revelamos sobre nós
e sobre nossa vida é uma representação daquilo que somos e da forma como
vivemos.

Jovchelovitch (2008, p. 35) nos explica que as representações não são


construções individuais, “[...] elas implicam um trabalho simbólico que emerge
das inter-relações” entre o individuo, o outro e o mundo com o objetivo de
construir significados, “de criar realidade”. Assim, compete à representação
criar e transformar as “visões de mundo”.

Segundo Jodelet (2001, p. 17), nós criamos representações para


interagir com o mundo a nossa volta, para que possamos nos ajustar a ele, “[...]
elas nos guiam no modo de nomear e definir conjuntamente os diferentes
aspectos da realidade diária, no modo de interpretar esses aspectos, tomar
decisões e [...] posicionar-se frente a eles de forma defensiva”. Porém, isso
acontece naturalmente, sem nos darmos conta. As representações “[...]
circulam nos discursos, são trazidas pelas palavras e veiculadas em
27

mensagens e imagens midiáticas, cristalizadas em condutas e em


organizações materiais e espaciais” (JODELET, 2001, p. 17-18).

Podemos caracterizar a representação social como “[...] uma forma de


conhecimento, socialmente elaborada e partilhada, com um objetivo prático, e
que contribui para a construção de uma realidade comum a um conjunto social”
(JODELET, 2001, p. 22).

De fato, representar ou se representar corresponde a um ato de


pensamento pelo qual um sujeito se reporta a um objeto. Este
pode ser tanto uma pessoa, quanto uma coisa, um
acontecimento material, psíquico ou social, um fenômeno
natural, uma ideia, uma teoria etc.; pode ser tanto real quanto
imaginário ou mítico, mas é sempre necessário. Não há
representação sem objeto. (JODELET, 2001, p. 22)

As representações sociais tem uma função muito interessante que é a


de transformar algo que provoque estranhamento ao grupo em algo familiar.
Esse trabalho de ressignificação, de reconstrução a partir de algo já
anteriormente concebido, pode ser realizado utilizando-se dois mecanismos
próprios das representações sociais, que são a “objetivação” e a “ancoragem”.

Para Moscovici (1978, p. 110. Apud Araújo, 2008, p. 106), a objetivação

[...] faz com que se torne real um esquema conceptual, com que
se dê a uma imagem uma contrapartida material, resultado que
tem, em primeiro lugar, flexibilidade cognitiva: o estoque de
indícios e de significantes que uma pessoa recebe, emite e
movimenta no ciclo das infracomunicações pode tornar-se
superabundante.
[...] objetivar é reabsorver um excesso de significações
materializando-as (e adotando assim certa distância a seu
respeito). É também transplantar para o nível de observação o
que era apenas inferência ou símbolo.

Araújo (2008, p. 106) explica que a partir do processo de objetivação,


“[...] o grupo social adquire novos dados para o seu conjunto de ideias e
informações sobre a realidade”.
Guareschi (1995, p. 212) observa que existem, dentro da sociedade,
dois universos de pensamento distintos, que são os universos consensuais e
os universos retificados. Segundo o autor, os universos retificados são aqueles
por onde circulam as ciências, “[...] que procuram trabalhar com o mais
possível de objetividade, dentro de teorizações abstratas [...]” (1995, p. 212). E,
28

ainda, para Guareschi, os universos consensuais seriam aqueles em que as


práticas do cotidiano circulam, onde as representações sociais são produzidas,
isto é, são “[...] conhecimentos produzidos espontaneamente dentro de um
grupo, fundados na tradição e no consenso [...]”. O “estranho”, o “não familiar”
ao grupo seria justamente produzido no universo retificado, necessitando que
alguém ou alguns, chamados de “divulgadores científicos” por Guareschi
(1995), fizesse a transposição do que se encontra nesse universo para o
universo consensual. Essas pessoas seriam os jornalistas, os comentaristas
econômicos e políticos, os professores, os empreendedores de memória,
pessoas que ocupam um lugar de destaque entre os grupos sociais.
O outro mecanismo formativo de representação social é a ancoragem,
que segundo Araújo (2008, p. 107) se encarrega de relacionar aquilo que é
desconhecido à representação social já existente. Assim, a ancoragem
[...] Vai ligá-lo aos dados já conhecidos, fazendo uma correlação,
buscando semelhanças e efetuando uma classificação
hierarquizada. Todavia, deve-se levar em consideração que esse
processo não é neutro, assim sendo, essa ligação não se dá
aleatoriamente, mas com dados conhecidos e repletos de
símbolos e histórias que posicionarão o novo elemento num
lugar “positivo” ou “negativo”, de acordo com o conjunto de fatos
que o grupo já conhece.

Jovchelovitch (2000, p 81) explica que “a objetivação e a ancoragem são


as formas específicas de mediação social das representações sociais, que
elevam para um nível ‘material’ a produção simbólica de uma comunidade”.

Após refletirmos sobre todas essas proposições que cercam as


representações sociais, procuramos expor os tipos de representação
percebidos por nós ao longo da pesquisa:

 A cidade – São Gonçalo possui uma história criada por


historiadores. As informações que utilizamos para apresenta-la
são provenientes dessas fontes, impregnadas de subjetividade e
de intencionalidade. Dessa forma é a própria cidade uma forma
de representação social;
 As obras literárias – Essas são o objeto principal de nosso estudo,
nelas estão contidos alguns tipos de valorização simbólica,
importantes para nossa pesquisa;
29

 Os intelectuais – São eles os considerados empreendedores de


memória, os mediadores simbólicos, os responsáveis pela
transposição de ideias e de ideais.
 As instituições de memória – São espaços de reunião dos
intelectuais, lugares onde esses expõem suas ideias e realizam
seus trabalhos intelectuais.
 A mídia – É o local onde a representação se oficializa, onde
podemos observar a “ancoragem do ‘bem’” ou a “ancoragem do
‘mau’”2.

Assim, para analisarmos nosso objeto de pesquisa, que é a


representação de São Gonçalo nos livros dos intelectuais gonçalenses, não
poderíamos deixar de observar o objeto desses, que é a cidade de São
Gonçalo. Esse fato se explica porque “[...] a representação social é sempre
representação de alguma coisa (objeto) e de alguém (sujeito)” e, também,
porque “[...] tem com seu objeto uma relação de simbolização (substituindo-o) e
de interpretação (conferindo-lhe significações)” (JODELET, 2001, p. 27).

Dessa maneira, é também a própria cidade uma construção simbólica, a


representação do pensamento coletivo. Escrever sobre ela é partilhar seus
significados, é criar um espaço potencial3, um lugar de memória, um lugar de
pertença.

2
Ver GUARESCHI, Pedrinho A. “Sem dinheiro não há salvação”: ancorando o bem e o mal
entre neopentecostais. In: Textos em representações sociais. 2 ed, Petrópolis/RJ: Vozes, 1995.
3
“O espaço potencial é o lugar da mediação, do unir o que para sempre nos parece à parte,
juntando novamente o que tinha sido separado e criando dentro de suas fronteiras um mundo
simbólico que pode acomodar o Eu e Outro, fantasia e realidade, (...) o racional e o irracional”.
(JOVCHELOVITCH, 2008, p. 67)
30

4 A CIDADE: UMA CONSTRUÇÃO TERRITORIAL E SIMBÓLICA

Neste capítulo apresentaremos um pouco a cidade, segundo


informações obtidas através de dados oficiais do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), como também a partir de informações colhidas
das obras literárias sobre São Gonçalo.

Os dados oficiais geralmente são aqueles quantitativos, representado o


local em números, como por exemplo: total de residentes da zona urbana; total
de residentes da zona rural; total de residentes homens; total de residentes
mulheres etc. Aqueles trazidos pelos livros que contam a história da cidade,
embora contenham datas e, às vezes números, são, em sua maioria, dados
qualitativos, subjetivos e carregados de valor simbólico. Ou seja, embora não
se tenha completa certeza do que se diz, é necessário dizer alguma coisa, é
preciso construir uma memória, um suporte de apoio histórico para a população
daquela cidade.

4.1 Localização

São Gonçalo é uma das cidades pertencentes ao estado do Rio de


Janeiro. Compreende uma extensão de 251,3 km² e possuía em torno de
1.000.000 de habitantes, segundo estimativas do IBGE do ano de 2010. Então,
a localização exata da cidade pode ser visualizada no mapa a seguir:
31

Fonte: Google Maps

A cidade de São Gonçalo faz divisa com a cidade de Niterói, a de


Itaboraí e a de Magé, conforme exposto no mapa acima, sendo cortada pela
Rodovia BR 101, desde o bairro de Neves, passando por pelo menos mais 11
bairros, que são: Porto Velho, Gradim, Porto Novo, Boa Vista, Boaçu, Porto do
Rosa, Itaúna, Luiz Caçador, Jardim Catarina, Santa Luzia e Guaxindiba. Outra
rodovia que passa por alguns bairros da cidade de São Gonçalo é a RJ 104,
pelos bairros de Maria Paula, Tribobó, Colubandê, Laranjal, Vista Alegre e
Monjolos, unindo-se nesse ponto à RB 101. O mapa seguinte mostra essas
duas rodovias, no trecho que vai de Neves a Guaxindiba.

Fonte: Google Maps

E devido a grande dimensão da cidade, São Gonçalo se distribui em


cinco distritos, que estão dispostos conforme o mapa:
32

Fonte: Site da Prefeitura Municiapal de São Gonçalo4

Dentro dos distritos estão noventa e um bairros, que se organizam da


seguinte forma:

 1º Distrito, com 6.800 hectares, possui 30 bairros: Palmeira, Itaoca,


Fazenda dos Mineiros, Porto do Rosa, Boaçu, Zé Garoto, Brasilândia,
Bairro Rosane, Vila Iara, Centro (conhecido como Rodo de São
Gonçalo), Rocha, Lindo Parque, Tribobó, Colubandê, Mutondo, Galo
Branco, Estrela do Norte, São Miguel, Mutuá, Mutuaguaçú, Mutuapira,
Cruzeiro do Sul, Bairro Antonina, Nova Cidade, Trindade, Luiz Caçador,
Recanto das Acácias, Itaúna, Salgueiro e Alcântara.
 2º Distrito, com 7.200 hectares, possui 20 bairros: Almerinda, Jardim
Nova República, Arsenal, Maria Paula, Arrastão, Anaia Pequeno, Jóquei,
Coelho, Amendoeira, Jardim Amendoeira, Vila Candoza, Anaia Grande,
Ipiíba, Engenho do Roçado, Rio do Ouro, Várzea das Moças, Santa
Isabel, Eliane, Ieda e Sacramento.
 3º Distrito, com 5.100 hectares, possui 17 bairros: Jardim Catarina, Raul
Veiga, Vila Três, Laranjal, Santa Luzia, Bom Retiro, Gebara, Vista
Alegre, Lagoinha, Miriambi, Tiradentes, Pacheco, Barracão, Guarani,
Monjolo, Marambaia, Largo da Ideia e Guaxindiba.

4
Endereço eletrônico da Prefeitura Municipal de São Gonçalo - : www.saogoncelo.rj.gov.br.
Link para mapas fornecidos pelo site: http://www.saogoncalo.rj.gov.br/mapas.php.
33

 4º Distrito, com 1.200 hectares, possui 13 bairros: Boa Vista, Porto da


Pedra, Porto Novo, Gradim, Porto Velho, Neves, Vila Lage, Porto da
Madama, Paraíso, Patronato, Mangueira, Parada 40 e Camarão.
 5º Distrito, com 2.400 hectares, possui 10 bairros: Venda da Cruz,
Covanca, Santa Catarina, Barro Vermelho, Pita, Zumbi, Tenente Jardim,
Morro do Castro, Engenho Pequeno e Novo México.

A prefeitura municipal informa, em seu endereço eletrônico, que além


desses noventa e um bairros, existem dezoito reconhecidos pela população,
cujos nomes não foram divulgados.

No mesmo endereço eletrônico encontramos o Plano Diretor do


município, que se constitui em um

[...] instrumento básico para orientar a política de


desenvolvimento e de ordenamento da expansão urbana do
município.

É uma lei municipal elaborada pela prefeitura com a


participação da Câmara Municipal e da sociedade civil que visa
estabelecer e organizar o crescimento, o funcionamento, o
planejamento territorial da cidade e orientar as prioridades de
investimentos. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SÂO GONÇALO,
2006)

Os objetivos desse documento são os de

[...] orientar as ações do poder público visando compatibilizar os


interesses coletivos e garantir de forma mais justa os benefícios
da urbanização, garantir os princípios da reforma urbana, direito
à cidade e à cidadania, gestão democrática da cidade.
(PREFEITURA MUNICIPAL DE SÂO GONÇALO, 2006)

Achamos interessante mencionar o Plano Diretor Municipal Participativo


de São Gonçalo5, pois, embora esse tenha sido elaborado no ano de 2006, na
primeira gestão da prefeita Aparecida Panisset, caracteriza, ainda assim, a
situação atual da cidade E, também, não deixa de ser um documento
representativo do espaço gonçalense, visto que esse trata de todos os
assuntos que lhe dizem respeito, como história, aspectos ambientais, clima,
vegetação e fauna, programa social, uso e ocupação do solo, circulação e
transporte, gestão municipal, entre outros.

5
Endereço eletrônico: http://www.pmsg.rj.gov.br/urbanismo/plano_diretor.php
34

Tendo, nessa subcapítulo, situado São Gonçalo, em termos espaciais,


no próximo abordaremos um pouco da história da cidade, a partir das
informações encontradas nos livros selecionados.

4.2 Histórico

A história da cidade inicia-se em 1579, com a doação de uma sesmaria


ao fidalgo Gonçalo Gonçalves, português, morador da cidade do Rio de
Janeiro. Esse recebeu, por doação, terras do lado oriental da Baía de
Guanabara, com a extensão de 1.000 braças (2.200.000 m) de frente para o
mar por 1.500 braças (3.300.000 m) de fundo para o interior de uma região rica
em pau-brasil.

Uma das correntes históricas6 afirma que no final do século XVI inicia-se
a construção da capela dedicada a São Gonçalo D’Amarante, às margens do
Rio Imboaçú, começando a surgir o povoado de São Gonçalo. Com a
aglomeração de casas ao redor da capela e no percurso que hoje conhecemos
como Zé Garoto até o Centro de São Gonçalo, formou-se a Aldeia de São
Gonçalo, Sendo elevada à categoria de freguesia em 1647.

No século XVIII os engenhos de cana-de-açúcar, a criação de gado e a


lavoura de milho, contribuíram para aumentar a ocupação do solo gonçalense.
No entanto, no século seguinte, em 1819, a Freguesia de São Gonçalo, entre
outras, passa a fazer parte da recém-criada Vila Real da Praia Grande, que foi
elevada à categoria de cidade em 1834, sendo denominada Niterói.

São Gonçalo só foi elevada à categoria de vila em 1890, ano em que foi
instalada a Intendência Municipal. A criação da Prefeitura Municipal e o cargo
de prefeito aconteceram em janeiro de 1904, pelo então governador do Estado,
Nilo Peçanha7.

6
Outra corrente histórica afirma que a primeira capela dedicada a São Gonçalo D’Amarante foi
construída às margens do Rio Guaxindiba
7
Informações obtidas no livro O município de São Gonçalo e sua história. BRAGA, Maria
Nelma Carvalho (2006).
35

Braga (2006, p. 17) montou um cronograma dos principais fatos


ocorridos em São Gonçalo desde a doação da sesmaria, vejamos:

 De Sesmaria (4/1579) até a elevação de Freguesia


(2/1647) perfazem 68 anos;
 De Freguesia (2/1647) até passar a pertencer a Niterói
(5/1819) perfazem 172 anos;
 De Distrito de Niterói (5/1819) até a elevação de Vila
(9/1890) perfazem 71 anos;
 De Vila (9/1890) a Município (10/1890) perfazem 20 dias;
 De Município (10/1890) até retornar a Niterói (5/1982)
perfazem 1 ano e 7 meses;
 De Distrito de Niterói (5/1892) até retornar a Município
(12/1892) perfazem 7 meses;
 De Município (12/1892) a elevação de Cidade (11/1922)
perfazem 30 anos;
 De Cidade (11/1922) até retornar a Vila (1923) perfaz
menos de um ano;
 De Vila (1923) até retornar a Cidade (12/1929) perfazem
6 anos.

Uma observação que Braga (2006) faz é que São Gonçalo não
comemora seu aniversário desde a doação da sesmaria e sim a partir de sua
emancipação político-administrativa. Segundo a autora, em 2005, a cidade
completou 426 anos de existência, sendo 358 anos como freguesia e 115 anos
de emancipação política.

Todas essas informações, embora nem todos os gonçalenses


conheçam, estão registradas nos livros publicados sobre a cidade. Se exata ou
não, é a história que está exposta, é a verdade que podemos conhecer. É o
passado difícil, porém, glorioso da promissora São Gonçalo. Braga (2006, p.
32) esclarece que

A história, apresentada até o início do século XX, da cidade de


São Gonçalo, derivou-se das anotações deixadas por
Monsenhor José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo
(Monsenhor Pizarro)8, quando de suas visitas eclesiásticas a
esse local. A partir dessas suas anotações escreveu o Dr. Luiz
Palmier o livro ‘São Gonçalo Cinquentenário’, em 1940. Esse foi
o único instrumento de pesquisa da história do município por
mais de 30 anos e, ainda hoje, é o mais citado, embora os novos
pesquisadores tenham comprovado novas versões sobre a sua
criação. Os questionamentos sobre os fatos acerca da criação
do município partiram do princípio que a primeira data a ser

8
“José de Souza Azevedo Pizarro e Araújo perpetuou-se a história brasileira como Mons.
Pizarro, autor das Memórias Históricas do Rio de Janeiro e das Províncias anexas à Jurisdição
do Vice-Rei do Estado do Brasil”. (GALMADES, 2007, p. 8).
36

citada na história de São Gonçalo é a de 1646, data em que a


sesmaria foi transformada em freguesia. A partir deste fato
novas dúvidas surgiram e a luta para desvenda-las ainda hoje
continuam a ser pesquisadas.

Percebemos, também, ao longo da leitura das obras acerca da história


de São Gonçalo que há várias controvérsias na história de São Gonçalo, com
relação a datas e até mesmo sobre o fundador da cidade. No entanto, os
historiadores não se cansam de investigar e de tentar encontrar a verdadeira
história através dos documentos. Braga busca nas versões de outros autores
informações relevantes para desvendar a história.

A partir da leitura dos livros selecionados, percebemos que São Gonçalo


tem muitas histórias, mas que, muitas vezes, é desconhecida ou pouco
valorizada por seus habitantes na atualidade.

4.3 Dados estatísticos

O local que, inicialmente, era basicamente rural, já em 1916 possuía em


torno de 30.000 habitantes e, em 2010, aproximadamente, 1.000.000. Braga
(1998), na 2ª edição do seu livro O município de São Gonçalo e sua história,
expõe o crescimento populacional a partir de 1950:

Crescimento Populacional

1950 107.787 Acréscimo/habitantes


1965 193.476 15 anos – 185.689
1970 430.271 05 anos – 136.795
1975 534.058 05 anos – 103.787
1980 614.688 05 anos – 80.630
1995 778.831 15 anos – 164.143
1996 833.379 01 ano – 54.548
37

Como podemos observar, após 1950, a cidade absorveu grande número


de novos moradores. Em 1996, a população cresceu quase a metade do seu
crescimento nos 15 anos anteriores.

Dados mais recentes mostram o crescimento populacional e as


características da população em São Gonçalo:

População Total Urbana Rural


residente

Idade
0a4 58.788 58.763 25
5a9 66.262 66.203 59
10 a 14 81.772 81.610 162
15 a 19 78.159 78.119 40
20 a 24 80.493 80.475 18
25 a 29 85.974 85.962 12
30 a 39 165.384 165.261 123
40 a 49 147.323 147.207 116
50 a 59 115.417 115.313 104
60 a 69 69.610 69.557 53
70 ou mais 50.546 50.529 17
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Na tabela anterior e nas duas seguintes podemos observar que ou a


população rural diminuiu ou não se declara pertencente aquele meio ou
definitivamente São Gonçalo se urbanizou, pois, apenas algumas poucas
pessoas ainda se declaram pertencentes a um espaço rural. Braga (2006, p.
74) expõe que

A partir da década de 50, quando o município ainda tinha uma


grande área rural, houve o crescimento populacional dos 2º e 3º
Distritos.

Em 1962, com a Deliberação (370/62), o município deixou de


receber incentivos e financiamento para a agricultura, destinado
aos agricultores de São Gonçalo. Essa decisão beneficiou os
municípios de Niterói, Itaboraí, Maricá e outros mais distantes
que receberam o repasse da verba destinada a financiamentos a
38

São Gonçalo e dos impostos que foram redistribuídos entre


estes.

A autora menciona que a partir de 1990 essas mesmas áreas voltaram a


ser consideradas zonas rurais, passando Edson Ezequiel, então prefeito, a
pleitear novamente o Incentivo Agrícola para São Gonçalo.

População Homens Urbana - Rural - Homens


residente Homens

Idade
0a4 29.624 29.611 12
5a9 33.388 33.362 26
10 a 14 41.654 41.569 85
15 a 19 38.604 38.600 4
20 a 24 38.853 38.835 18
25 a 29 41.225 41.225 -
30 a 39 79.216 79.182 34
40 a 49 69.708 69.627 81
50 a 59 59.982 52.943 39
60 a 69 30.499 30.446 53
70 ou mais 19.511 19.494 17
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

População Mulheres Urbana - Rural - Mulheres


residente Mulheres

Idade
0a4 29.165 29.152 12
5a9 32.874 32.841 33
10 a 14 40.118 40.041 77
15 a 19 39.555 39.519 36
20 a 24 41.640 41.640 -
25 a 29 44.749 44.737 12
30 a 39 86.168 86.079 89
40 a 49 77.615 77.580 35
50 a 59 62.435 62.370 65
60 a 69 39.111 39.111 -
39

70 ou mais 31.035 31.035 -


Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Mendonça (2007, p. 20) observa que

São Gonçalo, inicialmente grande produtor de açúcar desde o


século XVIII quando ainda era uma freguesia. Sua importância
nessa produção continua até meados do século XIX e, somente
no final deste e início do século XX, a atividade é alterada pelo
surto industrial ocorrido na região, principalmente no período de
1892-1930.[...]

Aos poucos essas áreas rurais foram deixando de existir dando lugar
aos loteamentos para moradia da população que não parava de crescer.
Mendonça (2007, p. 21) explica:
[...] A atividade agrícola, principalmente a produção de laranja e
banana, enfrenta problemas com a concorrência. Na década de
1950 iniciam-se novos loteamentos como o Jardim Catarina,
Trindade e Jardim Alcântara, estabelecendo-se na década de
1960 o fim da zona rural do município.

A tabela a seguir demonstra como a partir das décadas de 40 e 50 a


cidade começou a receber mais pessoas, provavelmente em virtude das
indústrias que se instalaram no local. Palmier (1940, p. 101), já mencionava:

[...] As indústrias, localizadas no perímetro urbano representam a


maior riqueza da cidade. Em torno das fábricas de fósforos,
vidros, doces, tintas, grandes fornos, laminação, produtos de
pesca, cerâmica, soda cáustica e tantas outras, aglomeram-se
muitas vilas que reúnem população de alguns milhares de
operários.

Os portos tiveram grande importância para o aceleramento das


indústrias em São Gonçalo, Palmier (1940, p. 101) explica, que à sua época, o
parque industrial tendia ao crescimento “graças às facilidades proporcionadas
para a instalação de novas indústrias, principalmente na região dos Portos à
margem da Guanabara”. Braga (2003) esclarece que durante seu
desenvolvimento, São Gonçalo chegou a possuir 14 portos: Porto de Neves,
Porto da Luz, Porto da Lira, Porto da Ponte, Porto da Bandeira, Porto do Paiva,
Porto de Guaxindiba, Porto da Vala, Porto Velho, Porto Novo, Porto da Pedra,
Porto da Madama, Porto do Gradim e Porto do Rosa. Segundo a autora, esses
seriam “[...] responsáveis pelo grande movimento de mercadorias, não só de
São Gonçalo como de outras localidades” (BRAGA, 2006, p. 92).
40

Observemos a tabela:
Tempo de moradia Pessoas
residentes
Menos de 1 ano 11.264
1 ano 11.547
2 anos 11.679
3 anos 11.798
4 anos 12.372
5 anos 12.780
10 anos 17.149
15 anos 16.484
20 anos 16.242
25 a 29 anos 85.974
30 a 34 anos 86.877
35 a 39 anos 78.507
40 a 44 anos 75.106
45 a 49 anos 72.217
50 a 54 anos 63.223
55 a 59 anos 52.194
60 a 69 anos 69.610
70 a 79 anos 36.276
80 a 89 anos 12.600
90 a 99 anos 1.729
100 anos ou mais 69
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Mendonça (2007, p. 23) também avalia a importância da


linha férrea que ligava Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, segundo o autor

A linha férrea que ligava o Município de Niterói a Itaboraí


passando por São Gonçalo e a linha auxiliar que ia de Niterói ao
Município de Maricá, também foram fatores importantes para a
expansão da indústria e a formação do tecido urbano no eixo
Niterói – São Gonçalo. Tanto o trecho da chamada Estrada de
Ferro Maricá, quanto o trecho até Porto das Caixas em Itaboraí,
pertenciam à Estrada de ferro The Leopoldina Railway, ligando a
cidade de Niterói ao interior do Estado do Rio de Janeiro.
41

Como podemos verificar na tabela abaixo, é grande o número de


pessoas que possuem renda entre meio salário e dois salários mínimos, e
mesmo assim, nessa pesquisa não temos como identificar quais entre eles
possuem carteira assinada ou possuem trabalho informal.

Remuneração / Pessoas de 10 anos


Salário mínimo ou mais de idade

Até 1/4 7.244


Mais de 1/4 a 1/2 10.878
Mais de 1/2 a 1 196.499
Mais de 1 a 2 195.980
Mais de 2 a 3 65.440
Mais de 3 a 5 45.029
Mais de 5 a 10 23.248
Mais de 10 a 15 2.447
Mais de 15 a 20 1.094
Mais de 20 a 30 378
Mais de 30 134
Sem rendimento 326.435
Sem declaração 2.092
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2010.

Para Mendonça (2007, p. 42),

[...] O mercado de trabalho local, como em muitos Municípios do


Brasil, ainda vive o efeito retardado desse crescimento
demográfico de duas últimas décadas e acumula um contingente
populacional de baixa escolaridade e renda, principalmente em
São Gonçalo.

Ainda, segundo Mendonça, (2007, p. 48) o surgimento indiscriminado de


loteamentos em São Gonçalo “[...] contribui até hoje para a segregação e
concentração da pobreza em determinados bairros [...]”.
Atualmente a cidade é governada pela prefeita Maria Aparecida
Panisset, que está em seu segundo mandato, tendo sido eleita pela primeira
vez em 03 de outubro de 2004 e reeleita em 05 de outubro de 2008. Ela foi a
primeira mulher a entrar no quadro de prefeitos da cidade de São Gonçalo.
42

4.4 Valorização simbólica

Da época áurea da cidade, descrita nas obras sobre São Gonçalo,


pouca coisa restou. E o pouco que ficou, faz parte do patrimônio histórico da
cidade. Entre eles estão a Igreja Matriz de São Gonçalo de Amarante, ponto de
referência de todos os gonçalenses; a capela de Nossa Senhora da Luz 9, que
fazia parte da Fazenda da Luz, e a casa da Fazenda Colubandê 10, atual sede
do Batalhão Florestal de São Gonçalo.

Tanto Braga quanto Souto apontou a Igreja Matriz de São Gonçalo de


Amarante, a Fazenda Colubandê e a capela de Nossa Senhora da Luz como
um dos símbolos mais importantes da cidade. O Palacete dos Mimi também foi
lembrado, no entanto, a construção não existe mais.

Como diz Pesavento (2002), a cidade não é feita apenas de ferro e


concreto, ela também é feita de imaterialidade, de sensações, de capital
cultural e de símbolos. Ela também precisa ser construída simbolicamente na
cabeça das pessoas. É importante que essas tragam em si o sentimento de
pertença e reconheçam em cada símbolo da cidade um pouco de sua vida.

O aniversário da cidade é no dia 22 de setembro, data em que houve


sua emancipação político-administrativa. Nesse período ocorrem os festejos
comemorativos, ocasião em que os feitos da administração pública e dos
políticos que participam dessa, são lembrados, em que os desfiles cívicos
acontecem na rua principal. Podemos perceber que ao longo dos 122 anos de
emancipação os governantes procuram sempre manter certas aparências,
tentando representar São Gonçalo como uma cidade moderna e longe de
problemas antigos11, mas que persistem até os dias atuais: problemas de
saneamento básico, habitação, socioeconômico e cultural são constantes na
região.

9
Tombada pela Lei Municipal nº 101, de 11 de dezembro de 1985.
10
, tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 23 de
março de 1940.
11
Pesquisa realizada no Jornal O Fluminense no período de 1940 - 2010, disponível na
Fundação Biblioteca Nacional.
43

Assim, como toda cidade, São Gonçalo possui seus símbolos oficiais,
que são o brasão, a bandeira e o hino. O Brasão Oficial de São Gonçalo e a
Bandeira Municipal foram instituídos por meio da Deliberação nº 557/69, de 10
de setembro de 196912. Representam o passado próspero e a esperança de
um futuro promissor, de uma cidade que estava entre as riquezas agrícolas e
industriais.

Fonte: Site da prefeitura de São Gonçalo

Segundo Braga (2006, p. 176):

O primeiro brasão de São Gonçalo foi criado em 28 de março de


1931, através do Ato nº 38. Porém esse ato só entrou em vigor
no dia 22 de julho de 1936, através do Ato nº 20.

Por deliberação Municipal 557/69, de 10 de setembro de 1969,


foi criado o novo Brasão de Armas do município de São
Gonçalo.

Nessa mesma deliberação foi criada a Bandeira do Município de


São Gonçalo nas cores azul e branco.

A título de esclarecimento, lembramos aos munícipes e


autoridades que, embora em sua deliberação não esteja definida
a tonalidade do azul, deve ser respeitada a tradição que desde a
sua criação foi usado: o azul na tonalidade escura. Portanto,
nosso símbolo não pode ficar com a tonalidade do seu azul à
mercê da preferência de quem a encomenda ou da
disponibilidade da cor em estoque de quem a fabrica.

Salvador (1990) faz a descrição do Brasão Heráldico de São Gonçalo:

Escudo português cortado, de três faixas. Na parte superior de


goles (vermelho), um cocar indígena encimando duas flechas em
aspas; uma estrela de cinco pontas e o esboço do mapa do
Estado do Rio de Janeiro, tudo em ouro. Na parte média, em
campo de blau (azul), uma roda dentada de ouro sobrepondo o
12
Informações disponíveis no endereço eletrônico da Prefeitura de São Gonçalo:
http://www.saogoncalo.rj.gov.br
44

desenho de uma construção de seis torres com duas chaminés


nas extremidades laterais, tudo em prata; na inferior, em campo
de sinople (verde), um rio ondado de prata, e sobre este, no
centro, um monte encimado por um Cruzeiro, tudo em ouro.
Como suportes, à dextra (direita) um ramo de café frutado e à
sinestra (esquerda), a cana-de-açúcar, tudo nas suas cores.
Abaixo do escudo, listel de goles (vermelho) com a divisa São
Gonçalo e as datas 1646 (sic) – 1890, de sable (negro). Em cima
o escudo a coroa mural de prata, com cinco torres, símbolo de
cidade.

O Hino Oficial de São Gonçalo (em anexo) foi escrito pelo professor
Geraldo Pereira Lemos e musicado pelo maestro Joyleno dos Santos. Foi
instituído pela Deliberação Municipal nº 567/70, de 30 de julho de 1970 e
cantado em público, pela primeira vez, em 22 de setembro de 1970 13. O hino
representa uma cidade à espera do progresso, vivendo a pleno vapor os
encantos de uma era industrial, como podemos observar nos estrofes a seguir
(BRAGA, 2006, p. 178):

São Gonçalo, cidade mui singela

Erguida nos encantos de aquerela,

Namorada de nós os gonçalenses...

Cidade que cresce dia-a-dia,

Monumento eternal, sol de alegria,

Orgulho bem maior dos fluminenses...

[...]

Tens usinas com muitas chaminés

Que logo dizem prontas quem tu és:

Oficina onde bate rijo o malho...

Macedo, Palmier, eis o talento,

Estephania, ó que grande monumento,

Eis homens, fortes, prontos ao trabalho

Mas, também, representa uma cidade que não se esquece do seu


passado (embora não mencione como era esse passado), e exalta o povo
gonçalense e suas crenças. Vejamos as duas últimas estrofes (BRAGA, 2006,
p. 178):

13
Ibdem.
45

Tens igrejas festivas, cujos sinos

Bimbalham puros sons, bem cristalinos,

Da cidade fazendo pompa e glória...

Em Neves, Alcântara ou Gradim,

Certamente esta graça tu tens sim,

A graça que engalana a tua história...

Teu passado, cidade, foi honroso,

Teu futuro será maravilhoso,

E o teu presente fúlgida verdade...

Teu povo sempre ordeiro e liberal

Semeia no teu seio maternal

As propícias sementes da bondade...

Todos esses símbolos fazem parte do espaço, porém, a representação


da cidade está onde os habitantes a reconhecem. Não saímos às ruas e não
fomos às escolas dos bairros gonçalenses para perguntar se a população
conhece o hino de cor, ou se sabem as cores da bandeira, porém,
indubitavelmente todos conhecem e reconhecem na Igreja Matriz um símbolo
da cidade. Os intelectuais entrevistados concordam que a Igreja Matriz se
tornou um ponto estratégico da cidade, que, embora, tenha sido modificada
durante o tempo, conserva ainda, nos dias atuais, o reconhecimento dos
gonçalenses. E isso não acontece por acaso, pois essa foi uma das primeiras
construções de São Gonçalo.

A Igreja Matriz de São Gonçalo de Amarante está situada no bairro Zé


Garoto e foi construída, segundo Braga (2006) entre 1579 e 1601. A autora
descreve a igreja com riqueza de detalhes:

Seu altar-mor, de estilo barroco-rococó, foi todo construído em


madeira trabalhada, data da segunda metade do século XVIII.
Sobre suas cornijas sobrepostas em suas colunas de estilo
salomônicas, foram formados em suas reentrâncias 4 sefarins
(anjos da 1ª hierarquia).

[...]
46

Seu altar-mor (altar principal) é composto do Sacrário e da


imagem de São Gonçalo. Em sua nave central foram construídos
quatro altares. À esquerda, o primeiro altar possuía as imagens
de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos e São Benedito; o
segundo, a imagem de Nossa Senhora do Rosário dos Brancos.
À direita, o primeiro altar possuía a imagem de São Miguel e o
segundo, a imagem do Divino Espírito Santo. Esses altares
substituíram o único altar frontal da nave central, demolido, antes
da sua ampliação.

[...]

A partir de 1970, a igreja sofreu reformas que aos poucos foi


descaracterizando sua construção concluída, após quase 100
anos, no século XIX e definida como original e a sua beleza
arquitetônica de estilo barroco classicizante.

Seu altar-mor, hoje, pouco lembra seu aspecto original de estilo


barroco. Destruído pelo cupim, com o passar dos anos,
praticamente não mais existe. Apenas sua frente resista ao
tempo. Seus altares laterais (quatro ao todo), totalmente
modificados, foram revestidos de azulejos, como todo seu
interior e a fachada externa. Seu altar-mor transformou-se numa
pintura de fundo de parede representando a Muralha de
Jerusalém e uma cruz. (BRAGA, 2006, p. 97-98)

A Igreja Matriz na atualidade:

Créditos da imagem: Wagner Carvalho (2008)14

Seu altar-mor, na atualidade:

14
Imagem enviada por Wagner Carvalho, gonçalense e morador da cidade de São Gonçalo.
47

Créditos da imagem: Wagner Carvalho (2008)15

Tanto Palmier quanto Braga discorrem em seus livros sobre o


surgimento da capela, atual Igreja Matriz, e do povoado em seu entorno, no
século XVI. No entanto Braga procura esclarecer o “boato” sobre a existência
de outra capela construída às margens de outro rio 16 que não o conhecido rio
Imboaçu17, que teria sido a primeira capela de São Gonçalo. O fato é que,
sendo primeira ou não, a Igreja Matriz de São Gonçalo permanece no
imaginário da população.

Como menciona Halbwachs (1990, p. 80) “[...] a memória coletiva não se


confunde com a história [...”]. Isso quer dizer que é necessário que as pessoas
reconheçam sua cidade, seus monumentos, seu patrimônio e a si próprias
como pertencentes a um grupo, que se sintam ligadas àquele espaço social
com todos os seus símbolos. E não é a história que vai dizer àquelas pessoas
o que elas devem adotar como símbolo do lugar onde vivem, e sim, a “memória

15
Ibdem.
16
O outro rio seria o Guaxindiba.
17
“[...] corta toda a zona urbana da cidade até o Boaçu”. (...) sua extensão é de 8 km. [...]
(BRAGA, 2006, p. 189)
48

de uma sequência de acontecimentos” (HALBWACHS, 1990, p. 80) que dão


suporte ao grupo.

4.4.1 Livros - suportes de memória

Supomos que uma das melhores formas, ou a mais utilizada


ultimamente, para se guardar as memórias, é escrevendo sobre elas. Le goff
(1984) menciona que o aparecimento da escrita permitiu progressos à memória
coletiva, sendo uma delas a comemoração, a celebração por meio de um
monumento comemorativo, de um acontecimento memorável. Outro progresso
é o documento escrito em suporte especialmente destinado à escrita. Este
último tipo apresenta duas funções principais:

[...] uma é o armazenamento de informações, que permite


comunicar através do tempo e do espaço, e fornecer ao homem
um processo de marcação, memorização e registro; a outra, ao
assegurar a passagem da esfera auditiva à visual, permite
reexaminar, reordenar, retificar frases e até palavras isoladas.
(GOODY, apud LE GOFF, 1984, p. 17)

Assim, escrever sobre lugares, tradições, culturas, passou a ser uma


fórmula contra o esquecimento; ou, talvez, uma forma de manipular a memória.
É pensando na memória como uma construção social, que iniciamos uma
reflexão sobre a reconstrução da mesma a partir de alguns livros produzidos
por historiadores, professores, pesquisadores, intelectuais, enfim,
empreendedores de memória, que se interessam em registrar o passado de
São Gonçalo.

Entre os diversos materiais produzidos sobre o assunto, escolhemos


priorizar o bibliográfico, em suporte papel, redigido e publicado em formato de
livro. Esse objeto, que é a produção intelectual sobre São Gonçalo, está sendo
pesquisado para que possamos compreender a representação dessa cidade,
realizada por aquelas pessoas, na esfera pública.

Jovchelovitch (1995, p. 68) menciona que “[...] a vida pública fornece as


condições necessárias para a permanência e a história, já que ela não
49

pertence apenas a uma geração e não se restringe aos que vivem. [...]”. Pois,
segundo a autora:

[...] Ainda que este é o espaço que todos entram ao nascer e


deixam para trás ao morrer, ele mesmo transcende o ciclo de
vida de uma geração. Sua imortalidade envolve sua capacidade
para produzir, manter e transformar uma história que permanece
nos artefatos e narrativas humanas. [...] (JOVCHELOVITCH,
1995, p. 68)

De acordo com Jevchelovitch (2000, p. 82), é na vida pública que as


representações se desenvolvem e ganham concretude, pois são propiciadas
pelas “suas instituições específicas, seus rituais e significados”. A autora nos
explica que isso se dá porque “a formação da representação é uma tarefa
pública, um processo contexto-dependente vinculado às condições sociais,
políticas e históricas que configuram contextos determinados”
(JOVCHELOVITCHE, 2008, p. 36). A vida pública ou esfera pública seria o
espaço público onde as pessoas e os objetos podem ser vistos por meio de
suas representações.

Bourdieu (2010) chama esse espaço de “espaço social”. Para o autor


esse espaço é um campo onde diversas forças atuam, sendo esse um campo
de classes. Bourdieu (2010, p. 135) descreve assim o campo social:

[...] como um espaço multidimensional de posições tal que


qualquer posição actual pode ser definida em função de um
sistema multidimensional de coordenadas cujos valores
correspondem aos valores das diferentes variáveis pertinentes:
os agentes distribuem-se assim nele, na primeira dimensão,
segundo a composição do seu capital – quer dizer, segundo o
peso relativo das diferentes espécies no conjunto das suas
posses. [...].

Dessa maneira, selecionamos vinte obras literárias que representassem


São Gonçalo. Tais obras foram localizadas na Biblioteca Municipal de São
Gonçalo e na biblioteca do Instituto Cultural Brasil – Estados Unidos (ICBEU),
sede São Gonçalo. Dessas, a mais antiga remete-se ao cinquentenário da
cidade, que aconteceu em 1940, e a mais recente ao ano de 2010.

Realizamos um panorama das obras localizadas, com seus respectivos


autores, ano de publicação e assunto:
50

 São Gonçalo Cinquentenário: História, Geografia, Estatística – Escrita


por Luiz Palmier, publicada no ano de 1940, procura descrever a cidade
sob os aspectos históricos, econômicos, geográficos, estatísticos e
culturais. O autor faz um trabalho minucioso, reunindo datas e
informações relevantes para a formação identitária gonçalense, como a
criação da Freguesia de São Gonçalo e a instalação do Município.
Palmier, também, exibe diversas fotografias de diversos pontos da
cidade e produz um texto rico em detalhes.
 História de São Gonçalo – Escrita por Homero Thomaz Guião Filho,
publicada no ano de 1968, o autor apresenta São Gonçalo,
mencionando sua situação geográfica, passando por todo o histórico da
cidade, quando ainda era sesmaria e todo seu processo até chegar à
categoria de cidade, mencionando, inclusive seu processo de
industrialização, comércio, cidadãos ilustres, etc. 71 p.;
 Capela, Fazenda e Engenho – Escrita por Homero Tomaz Guião,
publicada em 1973, aborda além da história das capelas, fazendas e
engenhos a própia história de São Gonçalo e do Brasil. 97 p.
 Escola Municipal Amaral Peixoto – Escrita por Salvador Mata e Silva,
publicada em 1990, conta a história da escola, do seu benemérito que
era o dono da fazenda onde a escola foi construída (sr. Felipe José
Correa (Sinhozinho Corrêa), entre outras personalidades. A Escola
Municipal Amaral Peixoto está situada na Av. Edson, s/nº, no bairro
Lindo Parque, São Gonçalo. 64 p;
 Nobreza Gonçalense – Escrita por Salvador Mata e Silva, publicada em
1990, dedica-se a registrar os nomes dos moradores ilustres de São
Gonçalo, entre eles estão Barão do Bom Retiro, Barão de Itaoca, Barão
de Pacheco, Barão do Rio do Ouro, Barão de São Gonçalo, Conde de
Beaurepaire (pai e filho), Visconde de Beaurepaire e Visconde de
Itaúna. 32 p.
 Eles nasceram em São Gonçalo – Escrita por Salvador Mata e silva,
publicada em 1995, elenca os principais personalidades de São Gonçalo
(Adalberto Pereira da Rosa, Afrânio Sayão de Paula Antunes, Aída de
Souza Faria, Alberto José de Paula e Silva, Antonio da Costa Maia,
51

Armando Rodrigues, Célia Pereira Rosa, Cesar Augusto de Mattos,


Egílio Justi, Evady Molina, Floriano Branco, Florisbela Maria Nunes
Haase, Francisco Fugêncio Soren, Geremias de Mattos Fontes, Gerson
Nunes Praça, Haydée Soares de Azeredo Coutinho, Henrique Pedro
Carlos de Beaurepaire Rohan (visconde), Irene Barbosa Ornellas,
Jayme Mendonça de Campos, João Ferreira Goulart (Cônego), Osmar
Leitão, Osvaldo Ornelas, entre outros). 109 p.
 São Gonçalo no século XVI – Escrita por Salvador Mata e Silva e Evadyr
Molina, pubicada em 1995, relata os desafios de Portugal e o novo
mundo (Brasil), sobre a chegada dos europeus à Baía de Guanabara,
menciona as cartas geográficas da Baía de Guanabara, sobre os índios
que viviam nas terras de São Gonçalo e sobre as sesmarias, inclusive
sobre a de São Gonçalo e seu “mais importante sesmeiro” Gonçalo
Gonçalves. 83 p;
 São Gonçalo no século XVII – Escrita por Evadyr Molina e Salvador
Mata e Silva, publicada em 1997, trata da história gonçalense abordando
os aspectos de ocupação de Guaxindiba, criação da Vigairaria
(invocação a São Gonçalo), as fazendas e engenhos, capelas, atividade
econômica e folclore da região gonçalense. 131 p;
 Da escola Júlio Lima ao Colégio Municipal Estephânia de Carvalho –
Escrita por Salvador Mata e Silva, publicada em 1986, contempla a
história de São Gonçalo e seus governantes, a história da Escola Júlio
Lima, construída na Fazenda do Laranjal, no 3º distrito de São Gonçalo,
atualmente conhecida como Colégio Municipal Estephânia de Carvalho
e a história da Fazenda do Laranjal.
 O Palacete dos Mimi – Escrita por Ismael de Souza Gomes, publicada
em 1996, aborda a história do palacete descrevendo a beleza da
construção, intitulada patrimônio de São Gonçalo, os áureos tempos e o
declínio da família que lá morava, Família Rocha Lima. 82 p.
 Gonçalenses adotivos – Escrita por Salvador Mata e Silva, publicada em
1996, perfaz a bibliografia de pessoas que adotaram a cidade de São
Gonçalo para residir, entre elas estão: Adélia de Freitas Martinho, Adino
Maciel Xavier, Aécio Nanci, Francisco Lima, Helter Jerônimo Luiz
52

Barcellos, Homero Tomaz Guião Filho, Ismael da Silva Branco, Joaquim


de Almeida Lavoura, Joaquim Serrado Pereira da Silva, Luiz Palmier,
Maria Estephânia de mello Carvalho, Waldemar Rodrigues Zarro, entre
outros. 124 p.
 São Gonçalo no século XVIII – Escrita por Salvador Mata e Silva e
Evadyr Molina, publicada em 1998, trata da história da cidade, seu
patrimônio histórico, população, trazendo as principais famílias que
viviam nas terras gonçalenses neste século, atividades econômicas
entre outros assuntos. 156 p.
 Guia de Fontes para a história de São Gonçalo – Organizada por Luís
Reznik e Márcia de Almeida Gonçalves, publicada em 1999, intitula a
obra de Luiz Palmier como sendo o marco inaugural da historiografia
gonçalense, traz um levantamento das instituições que foram
consultadas e que podem fornecer subsídios de memória em São
Gonçalo, cita outras obras acadêmicas que também podem ser
utilizadas como referência. 93 p.
 São Gonçalo - uma visão de progresso – Produzida pelo Núcleo
Gonçalense de Memória, Pesquisas e Promoções Culturais (MEMOR),
publicada em 2002 (?), traz a síntese da trajetória de crescimento de
São Gonçalo, apresentando diversas imagens sobre eventos realizados
na cidade e alguns de seus patrimônios históricos, como a Fazenda
Engenho Novo (imagem em anexo) e a Capela da Praia da Luz (imagem
em anexo). 96 p.
 O intelectual e a cidade: Luiz Palmier e a São Gonçalo moderna,
organizada por Luís Reznik, publicada em 2003, reuni alguns textos que
permitem ao leitor conhecer a personalidade Luis Palmier, seu
envolvimento com a política e com o espaço gonçalense. É obra
composta pelos seguintes textos: Luiz Palmier e a conformação da São
Gonçalo Moderna, escrito por Luís Reznik e Rui Aniceto Nascimento
Fernandes; Luiz Palmier e o movimento folclórico fluminense, escrito por
Rui Aniceto Nascimento Fernandes; A trama fotográfica presente na vida
de Luiz Palmier, escrito por Henrique Mendonça da Silva e Olhares
sobre Luís Palmier, escrito por Alix Pinheiro Seixas de Oliveira, além de
alguns depoimentos e de várias fotografias. 95 p.
53

 Neves: esplendor e decadência – Escrita por Aída de Souza Faria,


publicada em 2004, apresenta a história do bairro de Neves, vinculado
ao Engenho Nossa Senhora das Neves, reproduzindo seu progresso
com a ocupação do comércio fábricas e indústrias, e também
desenvolvimento da agricultura. 115 p.
 Estudo dos topônimos gonçalenses de origem Tupi – Produzida pela
Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências, publicada em 2005,
se constitui de Relatório do Grupo de Trabalho para estudo sobre os
Topônimos Gonçalenses de Origem Tupi, expõe as tribos indígenas que
habitavam o Brasil, sua língua e quais palavras são originadas dessa
linguagem, estando entre elas vários nomes de ruas e bairros de São
Gonçalo. 65 p;
 O município de São Gonçalo e sua história – Escrita por Maria Nelma
Carvalho Braga, publicada em 2006, expõe a trajetória de São Gonçalo,
desde a doação da sesmaria até os dias atuais. 376 p.
 Chefes de Executivo e Vice-prefeitos de São Gonçalo (1890 – 2009) –
Escrita por Jorge Cesar Pereira Nunes, publicada em 2006, descreve a
trajetória político-administrativa da cidade, mesclando datas,
consideradas pelo autor, relevantes para compreensão dos fatos
históricos e elencando os chefes de executivo e vice-prefeitos de São
Gonçalo. 180 p.
 São Gonçalo - sua história e seus monumentos – Escrita por Marcos
Vinícios Macedo Varella e Nilda Ferreira Mendes Filha, sem data de
publicação, faz um breve comentário sobre a história gonçalense,
apresenta as fazendas que existiam no território de São Gonçalo,
menciona a construção da capela de São Gonçalo de Amarante e as
reformas da Igreja Matriz, e descreve o apogeu da do Palacete do Mimi
e seu declínio. 112 p.
 São Gonçalo no século XIX – Escrita por Salvador Mata e Silva e Evadyr
Molina, publicada em 2010, apresenta o histórico das fazendas e
engenhos existentes à época em São Gonçalo, a Igreja matriz e outras
capelas, os visitantes ilustres, a escravidão, a constituição do município,
atividades econômicas, entre outros assuntos. 141 p
54

Nessas publicações podemos destacar alguns trechos em que os


autores procuram esclarecer seu interesse pelo assunto. Palmier discorre em
seu livro:

A história de São Gonçalo ficará ainda por escrever... O esboço


corográfico, agora editado, solenizando a data cinquentenária da
criação do município, é pálida contribuição para as
comemorações./Não seria possível, em curto prazo, coligir todos
os dados e documentação preciosíssima, para empreendimento
de tanto vulto. (PALMIER, 1940, p. 7)

Braga (2003, p. 15) relata na folha de apresentação de seu livro:

Este livro tem como propósito levá-lo a conhecer melhor o


passado do Município de São Gonçalo e assim aprender a amá-
lo e respeita-lo, pois este Município já nos deu muito orgulho e
muito contribuiu para o desenvolvimento do Estado do Rio de
Janeiro.

Nunes expõe suas motivações (2006, p.13):

Ao longo dos últimos anos, chegaram às minhas mãos diversas


relações contendo os nomes dos Prefeitos de São Gonçalo,
desde a sua emancipação, com os respectivos períodos de
exercício do cargo./Notei a existência de disparidades entre elas
[...]./Senti-me frustrado, mas como a frustração, tanto quanto a
indignação, sem ser seguida de um gesto concreto, é pura
inutilidade, resolvi dedicar-me ao levantamento de dados
precisos, sem o propósito de questionar quantos mais
houvessem feito idêntico trabalho.

A apresentação do livro São Gonçalo – uma visão de progresso


(MEMOR, 2002, P. 7) traz um discurso de Rubens Dias dos Santos (professor,
escritor e membro da Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências), que
escreve ao final: “Dessa forma, queremos tão-somente prestar uma
homenagem ao Município, entregando-lhe um presente dos que aqui vivem e
orgulham-se dele”.

Faria (2004, p.7) escreveu na apresentação de seu livro que o objetivo


de seu trabalho era o de “trazer a lume fatos que marcaram uma comunidade,
sublinhando o brilho de uma época e ao mesmo tempo registrar sua
decadência motivada pelo total desinteresse do poder público”.
55

Lima (1999, p. 38) expõe seu pensamento a respeito dessas


publicações:

Na década de 80 a produção historiográfica gonçalense ganha


um certo dinamismo dentro do próprio município. [...]. A temática
ainda concentra fortes influências dos textos anteriores. O
enfoque geográfico é ainda visível (discute-se quais os locais
exatos onde começaram os aldeamentos e povoados da
região...); os “ilustres” cidadãos gonçalenses são caracterizados
em dois grupos: o primeiro refere-se aos que “lançaram
sementes” à formação do município (povoadores,
conquistadores, clérigos, nobres, etc); o segundo abrange os
contemporâneos (profissionais das ciências, da educação,
políticos). Trata-se não só da construção de uma identidade
histórica, mas da auto-afirmação de posições sócio-culturais e
políticas projetadas como sintomas desta identidade.

Assim, algumas publicações não respeitam nenhuma regra da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), nem são escritas por
mestres ou doutores. No entanto, nossa pesquisa pressupõe que esses livros
representem o capital simbólico, o investimento de longo prazo, em que os
investidores são os empreendedores de memória, isto é, os intelectuais de São
Gonçalo. Porém, quem receberá os lucros serão a cidade e seus habitantes.
Mesmo que essas publicações sejam a representação da vontade política, ou
pessoal, ainda assim, esse material deve ser aproveitado em prol da
comunidade gonçalense, é uma questão de identidade, pois, Braga (2006) bem
nos lembra que ninguém ama aquilo que não conhece.

4.4.2 Os empreendedores de memória

Quem são os homens e mulheres aos quais chamamos


empreendedores de memória?

Eles são os intelectuais, os letrados, autóctones ou não, são pessoas


que defendem uma ideia e procuram representa-la, escrevendo a história de
São Gonçalo, narrando fatos e memórias, agrupando-se para criar melhores
formas de enfrentar problemas, alcançar objetivos e tornar possível a criação
56

de estratégias e soluções. Eles são professores, educadores, jornalistas, pais,


cidadãos que se preocuparam e zelam pelo espaço social gonçalense.

Expomos, a seguir, os dois empreendedores de memória, autores dos


livros que analisaremos, não desmerecendo os demais presentes em São
Gonçalo:

NOME PROFISSÃO
Luiz Palmier Escritor, historiador, jornalista, farmacêutico,
médico, político e professor
Maria Nelma Carvalho Braga Professora e pesquisadora

Segundo Reznik e Fernandes (2003), Luiz Palmier nasceu no interior do


Estado do Rio de Janeiro, na cidade de Sapucaia, em 21 de setembro de 1893.
Formou-se no curso de Farmácia em 1912, em Ouro Preto, tornando-se,
também, médico em 1918. Participou de várias associações:

[...] Em 1914, tornou-se secretário do Instituto Histórico e


Geográfico do Estado do Rio de Janeiro; em 1916, propôs a
fundação da Academia Fluminense de Letras; nesse ano, ajudou
a fundar a Liga Fluminense contra o Analfabetismo; em 1917, foi
nomeado vice-presidente da Federação Fluminense de
Escoteiros. (REZNIK e FERNANDES, 2003, p. 14)

Após mudar-se para São Gonçalo Palmier fez vários planos para
melhoria da cidade. Reznik e Fernandes (2003) expõem que ele propôs “uma
modernização dos hábitos da população da região, associando higiene a
civilidade”, tendo participado ativamente do projeto para construção do Hospital
de São Gonçalo, “num lugar estratégico”, nas proximidades da Igreja de São
Gonçalo de Amarante.

Braga (2006) enumera os títulos de Palmier que, entre outros, são:


colaborador do Instituto Histórico e Geográfico, Membro da Academia
Niteroiense de Letras e Membro Honorário da Sociedade Brasileira de
Medicina. A autora menciona que o referido intelectual “foi conferencista e
palestrante em várias cidades dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e
Minas Gerais” (BRAGA, 2006, p. 142), palestrando sobre temas como
educação sanitária, educação e saúde, puericultura e problemas econômicos.
57

A autora afirma, ainda, que o mesmo foi diretor médico do Hospital de São
Gonçalo, diretor-técnico do Centro de Puericultura e presidente de honra da
Associação do Hospital de São Gonçalo e que, além de escrever o São
Gonçalo Cinquentenário, foi autor de outras obras, como Cidades Fluminenses,
A lepra, problema mundial e Monografia do Município de Sapucaia.
Palmier também teria sido colaborador dos jornais O São Gonçalo, A
Gazeta, O Fluminense, O Estado, Jornal do Brasil, Jornal do Comércio, entre
outros.

Acreditamos que uma informação importante sobre tal intelectual, no que


tange a análise de sua obra São Gonçalo Cinquentenário, é o que declaram
Reznik e Fernandes (2003, p. 16), que “Palmier tinha um discurso otimista”,
“que ele se colocava como mais um dos artífices do ‘progresso’, articulador das
ideias que transformariam ainda mais aquele cenário para as novas gerações”.
O “visionário” previa muitas melhorias para São Gonçalo, como a construção
de novas escolas, a circulação de periódicos, a instalação de centros de
cultura, clubes, hospitais e outros tipos de atividades que fariam crescer a
cidade. Os mencionados autores dizem que Palmier desejava “um espaço
urbano mais agradável, confortável e digno e atividades agrícolas e comerciais
e industriais prósperas” e que “fez de São Gonçalo sua pequena pátria, seu
lugar de pertencimento, do qual gostaria muito de se orgulhar; por isso
pretendia moderniza-la [...]” (REZNIK e FERNANDES, 2003, p. 16).

Segundo os autores (2003, p. 18), apesar de nunca ter sido candidato a


cargos executivos, “sempre esteve muito próximo dos prefeitos gonçalenses,
quando não do governador do estado e do presidente da República” (REZNIK e
FERNANDES, 2003, p. 18). Sendo sua primeira experiência na vida política
como vereador na Câmara de Vereadores de são Gonçalo, “para a qual se
elegeu em 1929 pelo Partido Republicano Fluminense (PRF)” (REZNIK e
FERNANDES, 2003, p. 18) e posteriormente, em 1934, foi eleito deputado
estadual pela União Progressista Fluminense (UPF).

Guião Filho (1968, p. 65) escreveu sobre Palmier:

Embora não sendo filho do Município de São Gonçalo, o povo


gonçalense respeita o nome de Luiz Palmier com dedicação e
carinho.
58

Devotou tôda sua existência a serviço do Município de São


Gonçalo, realizando muitas obras que até hoje são admiradas
pelo povo gonçalense.

Médico brilhante fêz da medicina um verdadeiro sacerdócio,


sempre em convívio direto com seus doentes, amparando-os
material e espiritualmente, sem muitas das vêzes cobrar as
consultas.

Sentindo as necessidades de um hospital para o Município,


cuidou juntamente com outros amigos, da construção do
Hospital São Gonçalo, que hoje como gratidão da sua iniciativa
tem o seu nome.

[...]

Como político, Luiz Palmier não viu realizado seu sonho como
candidato a Deputado Federal, não conseguiu vitória nas urnas,
contudo, foi vereador em 1930, pela Câmara Municipal de São
Gonçalo, Deputado a Assembléia Fluminense de 1936 a 1937.

Participou ainda como colaborador do Instituto Histórico e


Geográfico, conseguindo receber meses antes de morrer uma
medalha de “Honra ao Mérito”.

Luiz Palmier, faleceu em São Gonçalo, no hospital que fundou,


em 16 de outubro de 1955. Seu busto foi inaugurado em 16 de
outubro de 1956, é visto atualmente em frente ao Pronto Socorro
Infantil Darcí Sarmanho Vargas, tendo os seguintes dizeres: “DO
NASCER DO SOL AO POENTE O NOME DE PALMIER É
GRANDE ENTRE OS GONÇALENSES”.

De acordo com os registros de Braga (2006), Palmier foi sepultado no


Cemitério Municipal Central de São Gonçalo.

Segundo sua própria biografia, Maria Nelma Carvalho Braga nasceu em


São Gonçalo, no dia 04 de dezembro de 1944. Formou-se professora, em
1965, pela Escola Normal Santa Catarina, em São Gonçalo. Em 1974 terminou
o curso de especialização em ciências e Matemática, no Colégio São Gonçalo.
Em 1979 iniciou o curso superior em ciências Físicas e Biológicas, na
Faculdade do Centro Educacional de Niterói (FACEN), o que não foi concluído,
segundo ela, por motivos profissionais, acadêmicos e particulares. Durante os
28 anos de sua carreira como professora lecionou em diversas instituições
escolares, em São Gonçalo e adjacências. Após sua aposentadoria, em 1994,
Braga resolveu dedicar-se à pesquisa, especialmente à história da cidade de
São Gonçalo, levando-a a ser convidada, em várias ocasiões, a palestrar sobre
o tema.
59

O livro O município de São Gonçalo e sua história, que está em sua 3ª


edição, é o segundo trabalho de Braga. Seu primeiro livro foi publicado em
1991, intitulado Higienistas Brasileiros. Em 1998, foi eleita Membro Efetivo do
Instituto Histórico e Geográfico de São Gonçalo (IHGSG). Em 2000, foi eleita
Membro Efetivo da Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências
(AGLAC).

Em conversa com Braga descobrimos que a mesma reside até os dias


atuais na rua em que nasceu, mudando-se apenas de residência após seu
casamento. A autora possui imenso respeito por tudo que diz respeito a São
Gonçalo e diz privilegiar o comércio e as instituições prestadoras de serviço
que estão presentes na cidade, não gostando de ter que se dirigir às cidades
vizinhas. Braga pretende, oportunamente, lançar outra edição de seu livro O
município de São Gonçalo e sua história.

4.4.3 Algumas instituições de memória em São Gonçalo

Há três importantes instituições de memória na cidade de São Gonçalo:


Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências (AGLAC); Instituto Histórico
e Geográfico de São Gonçalo (IHGSG) e Núcleo Gonçalense de Memória,
Pesquisas e Promoções Culturais (MEMOR),sendo que essa última está
desativada.

A AGLAC foi fundada em 21 de setembro de 1974, não possui sede


própria e as reuniões mensais acontecem, provisoriamente, no Instituto Cultural
Brasil – Estados Unidos (ICBEU), localizado no centro de São Gonçalo. A
Academia Gonçalense possui sessenta cadeiras. Anualmente é publicado o
Edital para processo de seleção dos futuros membros e neste ano, a cerimônia
de posse foi realizada no dia 20 de setembro. O presidente em exercício,
Fernando Félix Carvalho, assumiu suas funções em setembro de 2010,
possuindo mandato de três anos. Durante as sessões são discutidos assuntos
diversos, relacionados à cultura, interesses locais, aos acadêmicos e à própria
Academia.
60

O IHGSG foi fundado em 1995, tendo como fundadores historiadores e


geógrafos. Sua principal função é promover a história de São Gonçalo. O
Instituto também não possui sede própria e, no momento, realiza suas reuniões
na “Casa das Artes”, que é um espaço cultural, situado no centro da cidade.
Possui cinquenta cadeiras, das quais quarenta e nove estão ocupadas. Está
prevista para julho de 2012 a abertura do edital para preenchimento da vaga. O
presidente em exercício é o professor Marcos Vinícius Varella, que iniciou suas
atividades em julho de 2010.

Sabemos pouco sobre o MEMOR, suas atividades foram iniciadas


provavelmente entre as décadas de 80 e 90, mas não sabemos ao certo
quando e por que teve suas atividades encerradas. Como as outras
instituições, não possui sede. Seu acervo está alocado em duas estantes no
ICBEU, compreendendo trabalhos de monografia sobre a história gonçalense e
diversos livros, em sua maioria doações. Foram encontrados trabalhos
realizados entre 1997 e 2001, resultados do curso “História de São Gonçalo”,
iniciado em 1996 por membros do MEMOR. Porém, não conseguimos saber,
até o momento, quem eram os alunos.

Sobre o MEMOR:

Deste centro de produção destacou-se o Núcleo de Memória


Gonçalense, conhecido como grupo MEMOR. A princípio sem
um caráter de instituição, o MEMOR produziu uma série de
estudos “autônomos” sobre História, tendo como principais
representantes os professores Helter Barcellos, Marlene
Salgado, Salvador Mata e Silva e Evady Molyna, ocupantes
também de cadeiras na AGLAC. Posteriormente uma instituição
privada, o Instituto Cultural Brasil – Estado Unidos, incorporou o
MEMOR, que passou a oferecer ao público atividades de
extensão (cursos, visitas guiadas, palestras, etc.) e acesso ao
acervo bibliográfico e iconográfico, coletado principalmente por
Salvador da Mata e Silva. (LIMA, 1999, p. 37-38)

Pelo que pudemos perceber as instituições não recebem ajuda


financeira ou patrocínio de nenhum órgão público ou particular, e estão no
aguardo de um local em definitivo para exercerem suas atividades. Embora não
tenhamos uma relação de todos os membros das três instituições, notamos
que vários intelectuais participam de uma e/ou outra instituição, agindo
ativamente em prol de seus objetivos.
61

4.4.4 Representações em contexto: São Gonçalo em destaque

Realizamos uma breve análise das notícias veiculadas pelo jornal O


Fluminense, que é um jornal produzido na cidade de Niterói, porém, com
circulação em algumas cidades vizinhas, entre elas São Gonçalo e Rio de
Janeiro, e além de possuir o jornal impresso, existe, também, o jornal on line.

O período pesquisado foi o de 1940 a 2010, e o local onde realizamos a


coleta de dados foi a Fundação Biblioteca Nacional situada na cidade do Rio de
Janeiro. Por ser um período extenso, a pesquisa foi realizada por década, ou
seja, a cada década, uma análise. As informações pesquisadas foram as
relacionadas com os festejos de emancipação de São Gonçalo, que é
comemorada no dia 22 de setembro, no entanto, as comemorações são
realizadas por todo o mês. Escolhemos esse evento por ser tradicional, por
ser bastante especulado pelo Jornal e, também, por ser uma oportunidade para
que os representantes políticos exponham as práticas públicas e políticas.
Enfim, acreditamos ser esse um acontecimento público de grande relevo para a
cidade e que nos fornece condições de uma análise crítica sobre as
representações políticas, econômicas e culturais.

Para Jovchelovitch (2000) “[...] a mediação dos meios de comunicação


de massa produz um deslocamento na experiência pública e, ao mesmo
tempo, dá forma aos saberes possíveis que esta experiência desenvolve sobre
si mesma”. [...]. Assim, “[...] ao tornar-se a forma mais difundida de
comunicação social das sociedades contemporâneas, os meios de
comunicação de massa informam e formam a esfera pública. [...]”.

A partir da análise proposta podemos perceber como a cidade é


representada através desse tipo específico de mídia. Com exceção de 1950,
ano em que não encontramos nenhuma notícia sobre as comemorações no
Jornal, os demais anos sempre trouxeram boas novas, contendo cadernos
especiais sobre o evento, informações sobre andamento e previsão de obras, a
cidade, educação, cultura e sobre o desfile cívico, que acontece no dia 22 de
setembro.
62

Ao analisar as informações, tentamos categoriza-las em três tipos de


representações: político-administrativas (englobando obras públicas, gestão
pública, planejamento), econômicas e culturais (englobando educação,
tecnologia, entretenimento e turismo).

Representações político-administrativas

Percebemos através dos jornais que no mês de setembro São Gonçalo


fica em voga, é um período propício para que a administração pública
dissemine as obras realizadas e planejamentos. Entre elas estão a
pavimentação de ruas, construção de praças e inauguração de hospitais e
prontos-socorros. Gostaríamos de ressaltar os seguintes pontos:

 Em 21 de setembro de 1960 O Fluminense anuncia que “quarenta


importantes melhoramentos serão inaugurados pela
municipalidade”.

 Aos 19 de setembro de 1970 o prefeito José Alves Barbosa mandou


informar que “encerrada a parte festiva da Semana de São Gonçalo,
dará início a uma série de inaugurações de melhoramentos
públicos”, entre eles estavam escolas, praças públicas, calçamentos,
iluminação, etc. Inclusive a administração pública faz questão de
revelar seus números através de uma estatística, publicada em 22
de setembro de 1970.

 Em 21 de setembro de 1980, o periódico publica um informe


especial dos 90 anos de São Gonçalo, em que entre notícias sobre a
administração pública, educação e saúde, e obras, divulga algumas
palavras do prefeito Arismar Dias, que nos parece mais um
desabafo ou uma campanha para futura candidatura:

[...]Quando raciocinarmos que São Gonçalo deve estar acima


das questões pessoais; do orgulho político ferido pela
competição; da cobiça dos que passam e a cidade fica, então
teremos conquistado, em definitivo, a paz, a ordem, o progresso
e a tranquilidade que almeja o povo, único juiz capaz de julgar os
homens no dia do julgamento, o dia das eleições, quando se tem
63

consciência da administração municipal, agindo com a grandeza


máxima que se pode exigir do verdadeiro homem público.[...] (O
FLUMINENSE, 21 set.1980, p. 8)

 Começamos a perceber a utilização do sistema informatizado na


prefeitura, em 1990, com a inauguração do Centro de Informática da
Secretaria Municipal de Fazenda, composto por 20 terminais de
vídeos e respectivas impressoras. Mas, também, como não poderia
deixar de ser, no centenário de emancipação da cidade há
inauguração de posto de saúde, pavimentação de ruas e, com a
chegada da preocupação ecológica, a criação de hortas
comunitárias, plantio de árvores e políticas de proteção aos
manguezais. E, dando continuidade ao iniciado em 1940, a busca
por um “certificado” de cidade moderna continua com a chamada no
jornal de 19 de setembro de 1990: “Cem anos depois, São Gonçalo
é uma superpotência nacional”.

 No ano de 2000 não é muito diferente, o jornal anuncia que “o


município festeja seu aniversário sob o lema ‘rumo ao terceiro
milênio’”, fazendo referência à implementação de projeto para dar à
população acesso gratuito à Internet. Anuncia, também, maior
segurança nas ruas com mais policiamento, obras em vias públicas
e hospitais, e os mais ambiciosos projetos, de maior interesse para
os gonçalenses: a ligação hidroviária São Gonçalo-Praça XV, no Rio
de Janeiro; e a construção da Linha 3 do Metrô, ligando São
Gonçalo a Niterói, em um tempo estimado de 25 minutos.

 Em 2010 é primeira vez que percebemos uma notícia negativa sobre


a Prefeitura de São Gonçalo, aos 12 de setembro, mês das
comemorações. O Jornal publica que o Ministério Público investiga
falta de asfaltamento nas ruas, dizendo que “relatório do Tribunal de
Contas do Estado (TCE) revela que 30% das obras anunciadas
como concluídas sequer foram iniciadas”. Porém, em 19 de
setembro, ignorando a última notícia, O Fluminense expõe em suas
34 páginas especiais sobre os 120 anos de emancipação de São
Gonçalo todas as maravilhosas notícias previstas para a
64

comemoração, como novos empreendimentos habitacionais,


contando com o projeto do Governo Federal o “Minha casa, minha
vida” e a construção de um Shopping Center. Uma notícia em
particular nos chamou a atenção nessa mesma publicação, é a
campanha política da então candidata à Presidência da República,
Dilma Rousseff, com relação a investimentos em saneamento
básico, abastecimento de água e habitação, pois a imagem de
cidade moderna, nesse momento, diante de todos os leitores que
não pertencem à cidade e que não conhecem a realidade local, é
desfeita. Assim, Dilma Rousseff declara:

É muito importante que estejamos aqui eu, o Sérgio Cabral e a


Aparecida Panisset (prefeita de São Gonçalo). Porque sem
parceria nós não conseguiremos tirar a cidade da situação em
que ficou por anos e anos, sem investimento. Só os recursos da
prefeitura não são suficientes para aplicar em saneamento,
abastecimento de água e em uma política habitacional decente.
[...] (O FLUMINENSE, 20 set. 2010, p. 6)

Representações econômicas

Nos parece claro que, desde 1940, a administração pública, por


intermédio do Jornal tenta mostrar São Gonçalo como uma cidade moderna,
que tem um desenvolvimento econômico acelerado com a entrada das
indústrias na região. Podemos apontar algumas informações relevantes:

 Em 22 de setembro de 1970, O Fluminense publicava as riquezas


do subsolo gonçalense a serem exploradas, contendo granitos,
feldspato, barita, entre outras, além de fontes de água mineral. Se
não um convite, um incentivo para que as indústrias fossem para
a cidade, já havia nessa época, segundo a estatística publicada,
169. Essa mesma matéria exalta, também, o progresso do
comércio no bairro Alcântara.

 No entanto, é em 1980 que podemos ler a matéria “São Gonçalo


busca a vocação industrial”:
65

Um município com extensão geográfica significativa – é o quarto


entre os mais populosos da Região Metropolitana – com 70 por
cento do seu território em terreno plano e uma posição
estratégica com facilidade de comunicação viária com grandes
centros de consumo e produção de matéria prima, além de farta
mão-de-obra, São Gonçalo tem quase todos os ingredientes
para atrair indústrias. [...] (O FLUMINENSE, 21 set. 1980, p. 4)

 Em 1990, provavelmente com a retirada de algumas indústrias da


cidade, o Jornal volta a valorizar o comércio, dizendo que o
Centro de São Gonçalo é um dos “centros nervosos do município
com dezenas de lojas, três shoppings e um trânsito problemático”.
Inclusive, diante da possibilidade de separação do bairro
Alcântara, um dos pólos comerciais da cidade o Prefeito Edson
Ezequiel foi taxativo: “a separação seria o mesmo que ‘dividir’ a
pobreza, ao contrário de se alavancar o progresso”.

 No ano de 2000 volta-se a se fazer planos para a entrada de


novas indústrias na região, como a instalação do Pólo de
Guaxindiba e o projeto de gás natural, possivelmente incentivado
pelo complexo petroquímico de Itaboraí. Em entrevista, o
presidente da Associação Comercial e Industrial à época, Paulo
Fontes, relatou que “na década de 40, São Gonçalo foi
considerada a Manchester Fluminense pela grande quantidade de
indústrias instaladas no município.

 Em 2010 o enfoque é o comércio, o Jornal fala sobre o boom do


comércio, com a construção de novo Shopping Center, com 243
lojas e criação de quatro mil empregos.

Representações culturais

Talvez tenha sido na área cultural que São Gonçalo mais tenha se
destacado no período analisado. Houve lançamento de livro, construção de
escolas, preocupação ambiental, entre outros movimentos, além da publicação
da história e monumentos da cidade nos especiais de aniversário, assim como,
também, divulgação de exposições, sendo o ponto alto das comemorações, o
66

desfile de estudantes e militares diante do público e do palanque do prefeito.


Ressaltamos alguns eventos:

 Em 1940 foi publicado o primeiro livro encontrado sobre a história


de São Gonçalo, intitulado São Gonçalo – Cinquentenário:
História, Geografia, Estatística, do autor Luiz Palmier.

 O Fluminense, em 1980, em seu caderno especial, traz a matéria


“A memória preservada”, falando sobre a Fazenda da Luz e a
igreja matriz de São Gonçalo do Amarante.

 Em 1990, a prefeitura investe em show popular. Na divulgação de


obras e do show, a prefeitura lança o slogan: “São Gonçalo
precisa. E a prefeitura está fazendo”.

 No ano de 2000 o governo investe em “Internet para todos”,


inaugurando as “Casas do Futuro”, que seriam, também, um
espaço para eventos artísticos, culturais, de lazer ou, até mesmo,
de reuniões de moradores. O Fluminense anuncia eventos
esportivos, culturais, cívicos e religiosos. Com relação aos atos
religiosos é interessante ressaltar que houve missa em Ação de
Graças, na Igreja Matriz e Culto na Primeira Igreja Batista de São
Gonçalo.

 Em 2010 divulgam que os tapetes de sal, que são feitos em São


Gonçalo, para o Corpus Christi ganharam reconhecimento: “o
maior tapete de Sal da América Latina vira Patrimônio Cultural
Imaterial do Estado do Rio de Janeiro”. Mencionam, também, as
bandas escolares, tradicionais no evento de Emancipação.

O que podemos perceber é que as representações políticas, econômicas


e culturais em todo o período pesquisado, na ocasião dos festejos da
emancipação político-administrativa, são de uma cidade evoluída nesses três
sentidos e, também, moderna, apesar de não condizerem com a realidade.

O fato é que São Gonçalo já teve seus momentos gloriosos, não


somente com a instalação das indústrias, como, também, antes disso, como no
século XVIII, em que os engenhos de açúcar e aguardente se multiplicaram,
67

fazendo do lugar “um dos maiores produtores agrícolas no período do Império”.


(BRAGA, 2006, p. 51).

Provavelmente com o intuito de melhorar a representação da cidade, no


sentido de transportar mais pessoas para as indústrias presentes no local,
contribuir com o comércio, entre outros motivos, foram postos na esfera pública
os projetos audaciosos, já mencionados, para construção da Estação das
Barcas em São Gonçalo e a viabilização da Linha 3 do Metrô. No entanto, tais
melhorias como essa e outras propostas em alguns desses períodos, que
seriam de grande valia para os gonçalenses, nunca saíram do papel, e são
hoje, ainda, propostas das campanhas políticas. Parece que a promessa é
sempre a “carta na manga” para esses locais carentes da realização de bons
empreendimentos.
68

5 ANÁLISE DOS LIVROS SELECIONADOS

Entre as diversas formas de representação da cidade, escolhemos a


representação de São Gonçalo nos livros, realizadas pelos intelectuais, pelos
empreendedores de memória. Assim como fizemos com o jornal “O
Fluminense”, analisaremos as obras literárias no que se refere às
representações políticas, econômicas e culturais, o que procuramos fazer de
maneira mais aprofundada.

Embora todas as obras sejam importante fonte de pesquisa para o


nosso trabalho, foi preciso selecionar duas delas para análise. Os critérios
utilizados foram: história da cidade, dados geográficos e populacionais, cultura
e patrimônio material. Ou seja, os dois livros que abrangem dados necessários
para que possamos realizar a análise do processo histórico e evolutivo de São
Gonçalo são: São Gonçalo Cinquentenário: História, Geografia, Estatística
(1940) e O Município de São Gonçalo e sua história (2006), dos autores Luiz
Palmier e Maria Nelma Carvalho Braga, respectivamente.

A primeira obra foi escolhida por ser uma obra de referência para a
comemoração dos cinquenta anos de emancipação político-administrativa de
São Gonçalo, corroborando com o momento de celebração da época. Dessa
forma, podemos perceber que seu objetivo é exaltar aquele espaço social, seu
povo e sua história.

A segunda obra foi contemplada porque, apesar de ter sido publicada há


mais de cinquenta anos depois de São Gonçalo cinquentenário, Braga percorre
trajetória similar, muito embora seu discurso nos pareça claramente outro. A
autora descreve os fatos ocorridos na cidade apresentando um texto crítico,
denunciativo e ao mesmo tempo convidativo. Além disso, notamos que Braga
procura investigar alguns dados mencionados por Palmier a fim de verificar sua
veracidade.

Nora (1993) menciona que existem lugares de memória porque não


existe mais memória e que é necessário todo um esforço e trabalho para que
69

possamos propiciar a outras pessoas a sensação de memória. Por isso existem


bibliotecas, arquivos, museus e outros centros de memória.

Se os livros são “suportes de memória” ou, ainda, “lugares de memória”,


como podemos duvidar da veracidade dos fatos narrados? Seria ilusão de
nossa parte querer criticar, defender ou fazer qualquer alusão à história de São
Gonçalo registrada nos livros, exatamente porque sabemos que toda cidade é
idealizada, que todos os aspectos dependem do ponto de vista de quem conta
a história. É claro que poderíamos verificar os fatos narrados, buscando
documentos, leis, registros que comprovassem a história publicada, isso é
inegável. Porém, o que nos atém a essas obras são os registros dos próprios
autores, como o fazem, o que valorizam, como percebem o espaço. O que nos
importa é o significado das obras como uma construção simbólica e ideológica
daquilo que constitui o todo, ou seja, a cidade.

Percebemos que para os autores é difícil não tentar reconstruir a cidade


antiga, a cidade idealizada. Calvino (1990) nos mostra as várias formas de
olhar as cidades, essas nunca são as mesmas, suas facetas revelam-se a cada
pessoa de forma diferente. Até porque, a cidade não é feita apenas de pedra e
cimento, como menciona Pesavento (2002), ela também é feita de
sensibilidade.

[...] É construção de um ethos, que implica na atribuição de


valores ao que se convenciona chamar de urbano, é produção
de imagens e discursos que se colocam no lugar da
materialidade e do social e que os representam; é percepção de
emoções e sentimentos, é expressão de utopias, desejos e
medos, assim como é prática de conferir sentidos e significados
ao espaço e ao tempo, que se realizam na e por causa da
cidade. (PESAVENTO, 2002, p. 24)

Por acreditar que encontraríamos nas obras selecionadas outros traços


da cidade, a cidade que “se dá a ler” (Pesavento, 2002, p.25), é que nos
debruçamos sobre elas, na tentativa de encontrarmos no conjunto das
representações sociais uma ideia de memória de São Gonçalo.

A proposta desse capítulo é fazer algumas considerações sobre os


livros mencionados no que tange a memória e a identidade da população
gonçalense. É sob a ótica das representações sociais que trataremos o
70

material selecionado, tendo como base os seguintes questionamentos: Como


tais pesquisas contribuem para o resgate da memória da cidade? Qual é a
relevância de tais trabalhos com relação à preservação da memória e
identidade da população local?

No entanto, antes de entrarmos nessas questões devemos pensar um


pouco sobre o lugar social que o intelectual ocupa, pois, assim poderemos
analisar seus pontos de vista. Dentro dessa perspectiva, resolvemos destacar
algumas proposições sobre o assunto, que nos são dadas por alguns autores
na área da História e das Ciências Sociais.

5.1 O lugar social do intelectual

É importante levar em consideração não apenas a posição social que o


intelectual ocupa, mas também seu posicionamento diante da realidade em que
vive. Sabemos que os intelectuais, aqui em questão, podem ser incluídos como
cidadãos da “classe média”: Palmier era médico, engajado politicamente com
projetos da cidade, morador de São Gonçalo. Braga é professora, historiadora,
gonçalense, moradora de um bairro, digamos, nobre de São Gonçalo. Essa é a
posição social dos dois autores. No entanto, precisamos definir o lugar de fala
do intelectual.

Certeau (2011, p. 45) analisa o trabalho do historiador e se interroga


sobre a relação que mantém com “a sociedade presente e com a morte,
através da mediação de atividades técnicas”. Para o autor

[...] não existem considerações, por mais gerais que sejam, nem
leituras, tanto quanto se possa estendê-las, capazes de suprimir
a particularidade do lugar de onde falo e do domínio em que
realizo uma investigação. Essa marca é indelével. (CERTEAU,
2011, p. 45)

Certeau (2011) considera que a operação historiográfica “se articula com


um lugar de produção socioeconômico, político e cultural”, o que, segundo ele
“implica um meio de elaboração circunscrito por determinações próprias: uma
profissão liberal, um posto de observação ou de ensino, uma categoria de
71

letrados etc” (CERTEAU, 2011, p. 47). Para o autor, a pesquisa está submetida
a questões particulares e é em função desse lugar particular “que se instauram
os métodos, que se delineia uma topografia de interesses, que os documentos
e as questões, que lhes serão propostas, se organizam” (CERTEAU, 2011, p.
47).

Bourdieu considera que “o mundo social pode ser dito e construído de


diferentes modos: ele pode ser praticamente percebido, dito, construído,
segundo diferentes princípios de visão e de divisão [...]” (BORDIEU, 2010, p.
136). Para o autor, o espaço social é dividido em classes e que dentro delas
existem graus de hierarquia de maior ou menor grau, e que “falar de um
espaço social, é dizer que se não pode juntar uma pessoa qualquer com outra
pessoa qualquer descurando as diferenças fundamentais, sobretudo
econômicas e culturais” (BOURDIEU, 2010, p. 138). E que isso não exclui
outros tipos de divisão como nacionalidade, etnia entre outros. O que nos
interessa nessa discussão é a relação entre os agentes sociais, a percepção
de mundo e a luta política, realizada por meio do trabalho de representação.
Bourdieu menciona que

A teoria mais acentuada objectivista tem de integrar não só a


representação que os agentes têm do mundo social, mas
também, de modo mais preciso, a contribuição que eles dão
para a construção da visão desse mundo e, assim, para a
própria construção desse mundo, por meio do trabalho de
representação (em todos os sentidos do termo) que
continuadamente realizam para imporem a sua visão do mundo
ou a visão da sua própria posição nesse mundo, a visão da sua
identidade social. (BOURDIEU, 2010, p. 139)

Bourdieu (2010, p. 142) explica que o conhecimento do mundo social e


das categorias que fazem parte desse e que o tornam possível, são as
verdadeiras razões da luta política, “luta ao mesmo tempo teórica e prática pelo
poder de conservar ou de transformar o mundo social conservando ou
transformando as categorias de percepção desse mundo”. O autor declara que
a capacidade de comunicação, de tornar público, “visível, dizível, e até mesmo
oficial”, de externar aquilo que “permanecia em estado de experiência
individual”, uma expectativa ou inquietação, “representa um considerável poder
social, o de constituir os grupos, constituindo o senso comum, o consenso
72

explícito, de qualquer grupo” (BOURDIEU, 2010, p. 142). Ainda, segundo o


autor:

[...] este trabalho de categorização, quer dizer, de explicitação e


de classificação, faz-se sem interrupção, a cada momento da
existência corrente, a propósito das lutas que opõem os agentes
acerca do sentido do mundo social e da sua posição nesse
mundo, da sua identidade social, por meio de todas as formas do
bem dizer e do mal dizer, da bendição ou da maldição e da
maledicência, censuras, críticas, acusações, calúnias, etc. [...]
(BOURDIEU, 2010, p. 142).

Jelin e Langland (2003, p. 5) mencionam que alguns atores sociais agem


sobre o espaço, fazendo uma transformação de sentido ou agregando novos
valores ao que era antigo, construindo “uma nova capa de sentido a um lugar
que já está carregado de história, de memórias, de significados públicos e de
sentimentos privados”. No entanto, essa transformação não é automática, há a
necessidade da intervenção de atores, os quais as autoras chamam de
“empreendedores de memória”. Esses seriam os “responsáveis” por uma
transformação simbólica; aqueles que se encarregam de criar uma nova
roupagem para ressignificar o que já havia sido estabelecido anteriormente.

Para Ortiz, os intelectuais “podem ser definidos como mediadores


simbólicos”, pois estes “confeccionam uma ligação entre o particular e o
universal, o singular e o global. Suas ações são, portanto, distintas daqueles
que encarnam a memória coletiva” (ORTIZ, 2006, p. 139-140). Segundo o
autor, os mediadores “são aqueles que descolam as manifestações culturais de
sua esfera particular e as articulam a uma totalidade que as transcende”
(ORTIZ, 2006, p. 140-141). O lugar do intelectual, nesse contexto, é o de
realizar a mediação entre o que seria coletivo (a memória coletiva, sem regras,
o popular) e o social (o politicamente orientado, a historiografia). Ortiz (2006, p.
140) declara que “colocar o intelectual como mediador simbólico implica
apreendermos a mediação como possibilidade de reinterpretação simbólica”.

Somos levados a acreditar que o intelectual seria um observador neutro,


imparcial, indiferente às transformações ocorridas em determinado lugar, aos
fatos, à política que é realizada e aos cidadãos. Aquele seria apenas o
“mediador”, o que destaca o fenômeno histórico, o que lança ao social o que
73

seria apenas local, independente de suas ideologias ou crenças. Porém, como


menciona Minayo:

[...] nenhuma pesquisa é neutra. [...] Pelo contrário, qualquer


estudo da realidade, por mais objetivo que possa parecer, por
mais ‘ingênuo’ ou ‘simples’ nas pretensões, tem a norteá-lo um
arcabouço teórico que informa a escolha do objeto, todos os
passos e resultados teóricos e práticos. (Minayo, 1996, p. 37)

Os livros escritos pelos intelectuais de São Gonçalo contêm textos


carregados de subjetividade, de experiências e de expectativas do “eu”
intelectual e pertencente ao espaço social gonçalense. Braga chega a
comunicar-se com seus leitores, antes de iniciar propriamente o conteúdo de
seu livro e mesmo durante conversa, não nega sua postura de pesquisadora
participante. Uma de suas declarações no texto é: “Como me entristeceu ouvir
comentários desabonadores sobre o Município!”. Além de sua postura crítica,
como já mencionamos, não somente com a administração, mas com todos
aqueles que não respeitam o lugar em que vivem. Podemos notar o seu
engajamento a favor da cidade no trecho que se segue, retirado da capa de
seu livro:

As várias versões da história do município, a trajetória pela qual


passou e o período em que ficou subordinado a Niterói (71)
anos, farão com que o leitor passe a entender e amar esse
pedaço do Brasil, o que também é outro dos nossos objetivos.

Amar São Gonçalo é uma obrigação de todo gonçalense e


respeitar é um dever de todos que aqui moram, trabalham ou
visitam.

Palmier nos parece mais comedido em suas declarações, procurando


um distanciamento daqueles que ele chama “gente de São Gonçalo”. Porém,
seu envolvimento com a cidade e com a administração dessa é percebida em
todo livro, em trechos como o seguinte:

Muito ainda há por fazer, completando essa tarefa de são


patriotismo. As futuras gerações, estamos certos, procurarão
valorizar esse pequenino esforço em prol dos anseios da
coletividade a que servimos, sem glória e sem brilho, mas com
devotamento de desinteresse, já durante um quarto de século.
(PALMIER, 1940, p. 8)

Palmier também emprega a São Gonçalo uma descrição romântica,


além de, como mencionado por Reznik e Fernandes, um discurso otimista.
74

Vejamos um exemplo desse fato quando o autor descreve a topografia


gonçalense:

Montanhas, vales, baía, enseadas, praias atlânticas ou da


Guanabara, rios, lagoas e ilhas, em articulação das mais
perfeitas, constituem a admiração dos apreciadores da natureza
dadivosa e cheia de encantos. O cascatear dos riachos, que,
escondidos entre o arvoredo compacto, descem das serras, em
busca das plácidas águas da Guanabara ou das lagoas, em
constante calmaria, onde refletem o sol dos trópicos, contrasta
com o sussurrar contínuo das ondas nervosas e sempre
agitadas do Atlântico-Sul.

Preguiçosos rios deslizam mansamente pelas baixadas, através


dos vales fecundos, em demanda da baía, das lagoas ou do
Oceano. As ilhas verdejantes, que surgem aqui, ali e acolá, em
pleno Atlântico ou na Guanabara, só encontram paralelo nas
massas graníticas, que recebem na base as carícias das ondas
e amparam no cume folhas e flores dos ninhos de verdura,
criados na pedra lisa. A natureza pródiga, sempre atraente,
conjuga-se com as riquezas para os mais soberbos panoramas.

É bem o retrato do Brasil, grandioso, rico e ubérrimo, na


miniatura do pequenino município de São Gonçalo não menos
formoso, rico e fértil, nos limites intransponíveis de uma das
menores circunscrições brasileiras, parte integrante da grande
Pátria. (PALMIER, 1940, p. 47)

Existem vários outros trechos interessantes, em que o intelectual


carrega de poesia a descrição de uma São Gonçalo bem diferente da que
conhecemos atualmente:

Igualmente encantadora é a orla atlântica, com as lagoas


piscosas, montanhas circundantes, rochas escarpadas, outras
muitas ilhas e praias de alvas areias.

Das enseadas, das praias e das colinas são contemplados os


soberbos panoramas, da vastidão oceânica ou da outra margem
da baía – a terra carioca com as maravilhas do monumental
conjunto, deslumbrante e indescritível.

Os crepúsculos divisados dessas paragens paradisíacas só se


avantajam às auroras de mágicos encantos.

[...]

Rios e riachos deslizam, preguiçosamente pela planície ou,


encachoeirados, precipitam-se das montanhas.

As rodovias cortam, em todos os sentidos, vales e montes,


facilitando ao visitante as excursões por esses rincões
encantadores. (PALMIER, 1940, p. 65)
75

Assim, acreditamos ter esclarecido que o posicionamento dos


intelectuais é a favor da São Gonçalo, cidade para eles “maravilhosa”, porém,
insistimos, Palmier tem um discurso otimista em relação à cidade e ao futuro
dessa, e Braga tem um discurso crítico e apelativo em favor da cidade.

5.2 Conteúdo

Palmier traça a trajetória “História – Estatística – Geografia”, trazendo


em eu seu livro dados históricos, estatísticos e geográficos de São Gonçalo,
além de econômicos e culturais. Sua obra, única edição, está configurada com
os seguintes tópicos: História; Geografia; Monumentos; Natureza – Turismo;
Divisão Administrativa e Judiciária; A Cidade; Economia; Cultura; Associações;
Assistência; Civismo; Estatística; Filhos Ilustres; Colaboradores do Progresso;
Administrações. Dentro desses, Palmier discute diversos assuntos como
período colonial, Freguesia de São Gonçalo, igrejas e capelas, contribuição
econômica, o café, portos, rodovias, ferrovias, emancipação política, primeiros
governantes, topografia, hidrografia, logradouros, movimento de construções,
riquezas naturais, indústrias, comércio, escolas, igrejas, dados estatísticos,
situação demográfica entre outros.

Braga busca na história do Brasil elementos figurativos para


contextualizar a história de São Gonçalo. Os argumentos para a existência do
espaço conhecido como São Gonçalo se inicia de fora para dentro, assim:
Brasil – São Gonçalo.

Seu livro é dividido em duas partes, sendo a primeira parte “História e


trajetória” e a segunda “Conquistas e realizações”, seguidas por dois anexos
que completam as informações fornecidas no conteúdo: “Anexo I: Dados
complementares” e “Anexo II: Dados gerais”. Apresenta, ainda, algumas
fotografias que relembram os antigos cenários da cidade.

Para que possamos analisar o resgate da memória gonçalense e de que


forma isso ocorre, achamos importante listar os tópicos abordados pela autora.
76

Na primeira parte são apontados os seguintes assuntos: Um pouco da história


do Brasil; São Gonçalo dentro da história do Brasil; desvendando a história; a
um passo da verdadeira história; assim começou São Gonçalo; seu
desenvolvimento; criação dos distritos; o surgimento dos primeiros bairros;
portos e pontes históricas; igrejas históricas; fazendas históricas; os filhos
ilustres; a economia; os recursos naturais; a flora e a fauna; os símbolos do
município; organização político-institucional; dados geográficos; os patrimônios
e monumentos; o movimento de emancipação; os feriados municipais e
religiosos; o folclore gonçalense; São Gonçalo e sua religiosidade; o
crescimento populacional; São Gonçalo, seu território e suas disputas; São
Gonçalo no quadro político e os prefeitos de São Gonçalo. Na segunda parte
estão as seguintes proposições: Sistemas de comunicação; saneamento
básico; energia elétrica; educação; transporte; segurança; saúde; área social;
lazer; arte e cultura e movimentos políticos. Como já foi dito, os anexos
completam o exposto pela autora, estando dispostos da seguinte forma:

ANEXO I: DADOS COMPLEMENTARES

Eles Deram Início a História

A Realeza em São Gonçalo

Nosso Desbravador

Nosso Padroeiro

Os Párocos de São Gonçalo

A Disputa pela Região de Itaipu

A História da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro

Palacete do Mimi

Saiba um Pouco Mais

Leis e Decretos de São Gonçalo

ANEXO II: DADOS GERAIS

Capitanias Hereditárias

Governadores Gerais e Vice-Reis do Brasil

Regentes de Portugal

Regentes do Brasil

Presidentes do Brasil
77

Governadores do Estado do Rio de Janeiro

Séculos e Medidas agrárias

Tentamos organizar o conteúdo dos livros dentro de algumas


categorias, que são o conjunto das representações sociais, que formam uma
ideia de memória de São Gonçalo. Tais categorias são: argumentação
principal, orientação política e/ou ideológica e tipo de valorização atribuída às
suas obras.

a) Argumentação Principal: Como já dissemos anteriormente, os dois livros,


embora tenham um conteúdo parecido, são produzidos em épocas diferentes,
um em 1940 e o outro em 2006. Esse fato nos permite dizer que a
argumentação utilizada pelos autores para justificar a importância da obra
produzida, é distinta. Vejamos:

 O argumento principal para a realização de São Gonçalo cinquentenário


pode ser observado nas seguintes declarações de Palmier:
[...] O esboço corográfico, agora editado, solenizando a data
cinquentenária da criação do município, é pálida contribuição
para as comemorações.
(...)
Não seria justo, por agora, deixar de louvar a assistência
dos dedicados e generosos esforços do prefeito Nelson Correia
Monteiro, e da direção suprema do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, na patriótica missão de divulgar as
conquistas e glórias dos nossos antepassados e as riquezas, e
maravilhas da terra gonçalense, outrora tão esquecida e
ignorada. (PALMIER, 1940, p. 7-8)

 Podemos localizar o argumento principal de O município de São


Gonçalo e sua história na apresentação do livro:
Este livro tem como propósito levá-lo a conhecer melhor
o passado do Município de São Gonçalo e assim aprender a
amá-lo e respeitá-lo, pois este Município já nos deu muito
orgulho e muito contribuiu para o desenvolvimento do Estado do
Rio de Janeiro.
Como professora, devido à vivência dos anos e de
magistério senti a necessidade de fontes de pesquisa para os
professores e alunos do Ensino Fundamental e do Ensino Médio,
em especial. Sendo assim, dei início às pesquisas e delas
vieram as dúvidas e indagações... Resolvi, então, fazer o
confronto de várias fontes e partir para as pesquisas de campo
em busca das confirmações dos fatos relatados. (Braga, 2006, p.
15)
78

A partir do exposto podemos dizer que o primeiro livro foi publicado por,
pelo menos, dois motivos: o primeiro motivo seria comemorativo, com a
intenção não somente de registrar, como também de informar aos munícipes e
aos exteriores a esse da importância de São Gonçalo nos diferentes aspectos:
social, econômico, cultural etc; o segundo, a nosso ver, seria de expor, pôr em
relevância, o trabalho dos administradores locais. O segundo livro também
apresenta, como argumento, dois motivos para sua existência: um seria o
desejo da autora de tornar conhecida a história da cidade, como também, de
esclarecer alguns fatos históricos duvidosos e confusos, como, por exemplo, as
versões da história de São Gonçalo; o segundo motivo seria a vontade de
conscientizar a população gonçalense. Dessa maneira o livro O município de
São Gonçalo e sua história, poderia ser utilizado como um instrumento para
futuras pesquisas.

b) Orientação política e/ou ideológica: Parece-nos que os dois autores


assumem posições políticas diferentes. Enquanto Palmier se interessa pelas
ações do governo, se aproxima das ideias governamentais, Braga parece não
tomar partido, seu comprometimento parece ser apenas com a cidade e seus
cidadãos.

Na consecução de seu discurso, Palmier declara sua admiração tanto


pelas administrações anteriores como por aquela da época em que seu livro foi
publicado. Parece estar sempre de pleno acordo com os administradores
locais, o que podemos perceber em seu texto, insuflado de elogios mesmo às
autoridades mais antigas. É o que podemos verificar em alguns pontos de São
Gonçalo Cinquentenário: “Autoridades - As primeiras autoridades, além do
Conselho de Intendência e respectivo presidente, eram também dos mais
representativos valores [...]” (PALMIER, 1940, p. 33); “[...] Foi na administração
do Coronel Joaquim Serrado, em 1908, que foi realizado o contrato para
iluminação elétrica da Vila. Era mais uma etapa vencida, galhardamente, pela
administração e pelo povo” (PALMIER, 1940, p. 95); [...] Atendendo a essa
justa aspiração, na administração Jonkopings de Carvalho, foi construído e
solenemente inaugurado ao público. [...]” (PALMIER, 1940, p. 96); sobre a
construção do hospital de São Gonçalo, Palmier (1940, p. 98) ressalta que
79

Dificuldades financeiras prejudicariam a obra popular, que só foi


concluída, com o auxílio do Estado, no governo do Comandante
Arí Parreiras, em 1934, dando o mais belo e atraente aspecto à
praça principal da cidade, onde se ostenta, majestoso, um dos
mais modernos edifícios.

Como dito anteriormente, Reznik e Fernandes mencionam que Palmier


“sempre esteve muito próximo dos prefeitos gonçalenses, quando não do
governador do estado e do presidente da República” (2003, p. 18). Ainda
segundo os autores, o intelectual

[...] Em 1919, comportava-se como um nilista. Em 1929,


acomodou-se com as forças da situação do café-com-leite, que
governavam o estado de 1923 a 1930, com as gestões de
Feliciano Sodré e Manuel Duarte. A Revolução de 1930 trouxe o
grupo niilista de volta ao governo do estado. Novamente, Palmier
compõe com as forças da situação.

Os autores chamam a atenção para “a ênfase situacionista dos grupos


políticos locais”, pois para eles parece que a “trajetória político partidária de
Palmier acompanhou essa forte tendência inercial que, na prática, coage a
todos a um alinhamento político com as forças vitoriosas” (REZNIK e
FERNANDES, 2003, p. 18).

Concordamos com os autores quando esses dizem que “Palmier tinha


um discurso otimista” (REZNIK e FERNANDES, 2003, p 16), pois, podemos
perceber em seu livro, que aquele via com “bons olhos” todos os
empreendimentos e melhoramentos para a cidade. Podemos citar algumas
passagens:

Colégios – A cidade, com os seus Grupos Escolares, escolas


reunidas e isoladas – estaduais, municipais e particulares,
apresenta apreciável evolução nos domínios da cultura. Outras
instituições enriquecem ainda esse patrimônio cultural.

A instalação de um Ginásio, equiparado aos cursos secundários,


é o máximo de progresso nesse setor. Com todos os requisitos
de um moderno educandário, já está aparelhado o edifício, de
propriedade da Prefeitura, onde serão também instalados a
Biblioteca Popular e o Instituto de Cultura.

[...]

Calçamento – O calçamento, obra caríssima, difícil de realizar,


simultaneamente, em muitas ruas, de uma grande cidade, sofreu
colapsos, embora iniciado, com os elementos naturais, as
grandes lajes, mesmo em pleno século XIX.
80

[...]

Coube ao Dr. Eugênio Borges, nomeado primeiro Interventor no


Município e depois prefeito efetivo, resolver, com energia e
ânimo forte, o problema do calçamento.

O contrato para o calçamento a paralelepípedos das ruas


Moreira César e Feliciano Sodré, uma área total de nove mil
metros quadrados, dava nova e sábia orientação à
administração municipal.

[...]

Eram os mais arrojados atos administrativos em cinquenta anos


de vida autônoma.

A administração do Dr. Nelson Monteiro prosseguiu nas obras de


calçamento, tendo concluído o da rua Coronel Serrado.
(PALMIER, 100-102)

Aparentemente, Braga não parece ter um posicionamento político, o


discurso de seu livro é sobre a cidade, para os cidadãos, Braga se declara
como sendo uma pessoa “neutra”, ela é “politicamente correta, não elogia nem
fala mal”. Inclusive, a autora se comunica com o leitor, fazendo alguns apelos,
entre eles está:

Se cada um cumprir sua parte, com certeza teremos um


Município limpo, ordeiro e acolhedor.

Não espere que as autoridades resolvam tudo. A contribuição de


cada um é fundamental para o desenvolvimento do Município.
Amar São Gonçalo é um dever de todo Gonçalense. (BRAGA,
2006, p. 9)

Porém, algumas vezes, percebemos no texto da autora algumas críticas


às administrações, como podemos ler em assuntos que são de difícil solução
para a cidade, ainda nos dias de hoje, como é o caso do esgoto e do lixo.
Vejamos:

A cidade ainda hoje não possui sistema de tratamento de esgoto


sanitário. O esgoto doméstico canalizado para as fossas é
lançado por estas em manilhas coletoras de águas pluviais (de
chuva), destas pra córregos e destes para a baía de Guanabara.
Em boa parte do município o esgoto ainda é lançado em valas a
céu aberto (valas negras) ‘in natura’.

No final do século XX, com o projeto de despoluição da baía de


Guanabara, tiveram início as obras para a instalação de
canalização para o tratamento do esgoto em nosso município e a
construção da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), na praia
81

das Pedrinhas. (...) A implantação da rede coletora que atenderá


a esses bairros tinha previsão de início em 2003.

A previsão de conclusão das obras para o ano de 2000, sofreu


diversas paralisações e até a presente data (dezembro de 2005),
não pôde a população gonçalense receber os benefícios que a
obra pode oferecer, bem como a despoluição da baía de
Guanabara. (BRAGA, 2006, p. 226)

Tais obras foram iniciadas, não sabemos se foram concluídas. O


importante nesse trecho do texto é ressaltar a indignação da autora. Como
acontece também quando se trata do lixo produzido na cidade.

A cidade também não possui um sistema de tratamento de lixo,


contando apenas com o recolhimento de duas a três vezes por
semana, estrategicamente distribuído pela cidade. Sua
população, em especial aquela próxima ao Aterro Sanitário ou
Lixão, sofre a falta de um serviço aprimorado. São Gonçalo
produz mais de 500 toneladas de lixo por dia.

A fórmula encontrada pelo governo municipal, para resolver o


problema do lixo, foi escoá-lo nas praias e mangues do
município. (BRAGA, 2006, p. 226)

Dessa maneira, constatamos que Palmier escreve para o povo,


reverenciado não apenas a cidade como os administradores de São Gonçalo.
Braga escreve para o povo, reverenciando o espaço gonçalense. Inclusive, em
conversa com a autora, essa declara não gostar que falem mal de sua cidade.

c – Tipo de valorização: Existem dois tipos de valorização, que são a


valorização simbólica e a valorização econômica. Ambos os tipos dependem do
valor agregado por seus representantes e ambos são acompanhados por
alguns conflitos. Andrade, Lima e Ipiranga (2010) Identificam tais situações:

[...] De um lado, diferentes graus de valor simbólico podem ser


atribuídos às formas simbólicas pelos indivíduos que as
produzem e recebem, de tal modo que um objeto que é
apreciado por alguns pode ser condenado ou desprezado por
outros. Tais conflitos sempre têm lugar dentro de um contexto
social que se caracteriza por assimetrias e diferenças de vários
tipos. Assim, as valorizações simbólicas realizadas por
diferentes indivíduos, que estão diferentemente situados, são,
raras vezes, de mesmo status. Alguns indivíduos estão em uma
melhor posição do que outros para realizar valorizações e, se for
o caso, impô-las.

De outro lado, o processo de valorização econômica é, também,


comumente acompanhado por conflito. Bens simbólicos podem
ser economicamente valorizados em diferentes graus por
82

diferentes indivíduos, no sentido de que alguns indivíduos


podem entendê-los como de maior ou menor valor do que outros
lhes atribuem. Tais conflitos sempre têm lugar em contextos
sociais nos quais alguns indivíduos podem ser capazes de pagar
mais do que outros para adquirir ou controlar bens simbólicos.

Podemos notar que os livros produzidos pelos intelectuais estão


carregados de valores simbólicos, sejam esses advindos de motivos políticos,
sociais ou mesmo sentimentais.

Percebemos que o texto de São Gonçalo Cinquentenário explora a


imagem de uma cidade rica em capital cultural, social e econômico, é como se
afirmasse que o passado foi bom, mas que, no entanto, o presente é ainda
mais e que dará subsídios para um futuro muito melhor. Seu discurso pretende
representar a cidade como um ponto estratégico geograficamente, bem
atendido politicamente, com pessoas dispostas a moderniza-la.

Já o texto de O município de São Gonçalo e sua história nos passa a


ideia de rememoração, de culto às relíquias do passado, embargado de valor
sentimental; enuncia a valorização de um passado perdido e a importância de
lembra-lo e de transmiti-lo à juventude para que valores como os de identidade
sejam mantidos.

Fiorin (2011) menciona que existe um mecanismo para produção do


discurso, chamada de “enunciação”, que “é o ato de produção do discurso, é
uma instância pressuposta pelo enunciado (produto da enunciação). Ao
realizar-se, ela deixa marcas no discurso que constrói” (FIORIN, 2011, p. 55).
Ainda segundo o autor, “mesmo quando os elementos da enunciação não
aparecem no enunciado, a enunciação existe, uma vez que nenhuma frase se
enuncia sozinha” (FIORIN, 2011, p. 55). Assim, haverá sempre um eu, de
forma explícita ou implícita, a exteriorizar uma afirmação sobre alguma coisa.

[...] Como se produz um enunciado para comunicá-lo a alguém, o


enunciador18 realiza um fazer persuasivo, isto é, procura fazer com que
o enunciatário aceite o que ele diz, enquanto o enunciatário realiza um
fazer interpretativo. Para exercer a persuasão, o enunciador utiliza-se
de um conjunto de procedimentos argumentativos, que são parte

18
“O enunciador e o enunciatário são o autor e o leitor. Não são o autor e o leitor reais (...), mas
o autor e o leitor implícitos, ou seja, uma imagem do autor e do leitor construída pelo texto.”
(FIORIN, 2011, p. 56)
83

constitutiva das relações entre o enunciador e o enunciatário. Fiorin


(2011, p. 57)

Assim identificamos alguns valores simbólicos embutidos nos livros dos


dois autores:

 No livro São Gonçalo Cinquentenário podemos apontar, pelo menos,


quatro tipos de valorização, que são: a valorização do lugar, a
valorização do tempo passado do lugar, a valorização das pessoas do
lugar e a valorização do tempo presente do lugar;
 No livro O Município de São Gonçalo e sua história, identificamos, pelo
menos, dois tipos de valorização, que são: a valorização do lugar e a
valorização do tempo passado do lugar.

Isso nos leva aos três tipos de categorização das representações sociais
(político-administrativas, econômicas e culturais), já mencionadas, às quais nos
propusemos. Tentamos identificar nas obras literárias sobre São Gonçalo as
principais representações da cidade, dentro dessas categorias, que a nosso ver
são as principais e carregam em si diversos tipos de valoração simbólica.

Representações político-administrativas

Foi possível notar que em São Gonçalo Cinquentenário o autor esforça-


se para enfatizar o progresso de São Gonçalo, desde o seu desenvolvimento
até o ano de 1940, a partir da vontade de homens públicos e de obras públicas.
Não esconde os problemas e as dificuldades, porém, tenta reverter a situação
de forma que o avanço pareça maior que aqueles. Não precisamos nos
esforçar demasiadamente para demonstrar o interesse de Palmier por esse tipo
de representação, já comentamos em outras oportunidades que podemos
perceber esse traço em toda a sua obra. Retiramos do livro alguns trechos, que
julgamos apropriados, para servirem de amostragem:

Aproximava-se a hora da elevação do distrito de São Gonçalo à


categoria de município. Tôdas as fôrças vivas do próspero
distrito estavam congregadas para o avanço final da última etapa
da emancipação. (PALMIER, 1940, p. 31)
84

Comparecia, com secretários e estado maior, o Governador


Portela, autor do decreto de emancipação e o primeiro
governador do Estado, antiga Província do Rio de Janeiro,
depois da proclamação da República. Estava já nomeado o
Conselho de Intendência. Dos antigos distritos e de Niterói
afluíram para a solenidade, primeira da nova comunidade
administrativa, todos os valores políticos e sociais que
cooperaram, ou não, para a independência de São Gonçalo.
(PALMIER, 1940, p. 32)

Primeiros Governantes – A legislação tumultuária dos


primeiros tempos da República não devia ser tão favorável às
novas comunas fluminenses. O governo Francisco Portela,
imposto ao Estado do Rio fora das correntes partidárias, em que
figuravam os mais brilhantes nomes da cultura e das tradições
de civismo do povo fluminense – Alberto Tôrres, Silva Jardim,
Lopes Trovão, Range Pestana, Maurício de Abreu e tanto outros,
não representava a aspiração dos políticos, salvo pequeno grupo
de partidários.

Caracterizou-se a administração, do pequeno período


governamental, pela criação de inúmeros municípios;
reorganização administrativa realizada sem maiores cuidados e
ainda menor estudo da situação real do Estado. Foram criados
municípios sem a menor significação econômica, política ou
mesmo social.

Não estava nesse número e de São Gonçalo, que bem


representava predomínio de riqueza e a seleção de valores
políticos ao lado do prestígio nos domínios econômicos.
(PALMIER, 1940, p. 34)

Voltou assim a novel cidade à primitiva categoria, que conservou


até vigorar a lei 2.335, de 27 de Dezembro de 1929,
determinando em seu principal dispositivo: “todas as sedes dos
municípios terão a categoria de cidade”.

Foi das mais disparatadas a revogação do primeiro decreto,


principalmente porque já era o município de São Gonçalo uma
das mais importantes comarcas do Estado do Rio e também
notável centro urbano, quando ainda conservava a categoria de
vila, equiparada às pequeninas sedes dos menores municípios.
(PALMIER, 1940, p. 43)

Comarca – O progresso constante do movimento forense, do


termo de São Gonçalo, nos dois primeiros decênios do século
XX, exigia, trinta anos após à emancipação política, a criação da
comarca. A nova ordem de coisas, nos domínios do Judiciário,
impunha-se pelo aumento da população e maiores exigências
em relação a todos os setores de atividade. Desde muito era
reclamada a elevação do termo à categoria de comarca. Era das
mais justas essa pretensão e todas as fôrças políticas do
município pleiteavam uma urgente solução. (PALMIER, 1940, p.
82)
85

A lei 1.839, de 23 de Agôsto de 1921 elevou São Gonçalo à


categoria de comarca. A antiga comarca de Maricá, na época,
termo de Niterói, foi anexada à comarca recém-criada.

A instalação da nova comarca, realizada em 6 de Setembro de


1921, de acordo com a deliberação n.º 26, de 3 de Setembro, foi
soleníssima, pois correspondia aos mais justos anseios de um
dos mais prósperos municípios do Estado. (Palmier, 1940, p. 83)

Bondes elétricos – [...] A Camâra discutiu exaustivamente o


assunto e as paixões partidárias dividiam-se, quando surgiu a
conciliação por uma lei municipal que terminava por transferir à
Companhia Cantareira a concessão e mais favores, com a
condição, ainda não cumprida do prolongamento das linhas
pelos 2º e 3º distritos até Cabuçú, Rio do Ouro e Itapú.

[...]

Com essas novas linhas ficou a cidade de São Gonçalo servida


por diversas linhas de bondes – Neves, Covanca, Pôrto Velho,
Alcântara e São Gonçalo, com o total de 19 quilômentros.

Esse melhoramento, a maior das aspirações dos bairros, foi fator


decisivo para o aumento da população urbana de Sete Pontes,
Pôrto Velho, Pôrto da Madama e, mais modernamente, São
Miguel, Pião, Mutondo e Alcântara, onde os bondes elétricos
vão, além do rio, até a praça Carlos Gianeli, nome que lembra o
benemérito proprietário do bonde a vapor. (PALMIEIR, 1940, p.
94)

Foi na administração do Coronel Joaquim Serrado, em 1908,


que foi realizado o contrato para a iluminação elétrica da vila.
Era mais uma etapa vencida, galhardamente, pela administração
e pelo povo. (PALMIER, 1940, p. 95)

O Grupo Escolar – Depois de um quarto de século de


existência autônoma São Gonçalo ainda não possuía um Grupo
Escolar. Não havendo um edifício escolar do governo e mesmo
prédios particulares adaptáveis, com as condições exigidas para
a instalação, o Prefeito Dr. Vicente Licinio Cardoso, indo ao
encontro da iniciativa do governo Nilo Peçanha, em 1915,
resolveu construir um edifício escolar condigno, solenemente
inaugurado no dia 21 de Abril de 1917.

O povo justamente entusiasmou-se por mais essa conquista nos


domínios da educação popular, de que resultou o
enriquecimento do patrimônio da cidade com uma das melhores
edificações do centro urbano. O Grupo Escolar recebeu o nome
do presidente Nilo Peçanha. (PALMIER, 1940, p. 96)

Pronto Socorro de São Gonçalo – o Pronto Socorro, mantido


pela Prefeitura, foi fundado pelo prefeito Dr. Eugênio Sodré
Borges e inaugurado em 10 de Novembro de 1938. Funciona em
cooperação com o Hospital de São Gonçalo e está também
localizado na praça 5 de Julho. Possue excelente ambulância,
que socorre todos os acidentados e demais casos de urgência,
reclamados pela população de todas as zonas: urbana,
86

suburbana, rural. Em pouco mais de um ano de funcionamento


foram atendidos mais de dois mil socorros. Está aparelhado
para, dia e noite, atender a todos os chamados para qualquer
localidade do município. O regulamento permite, atender
também aos casos urgentes de outros municípios. (PALMIER,
1940, p. 151)

Serviço médico-escolar da Prefeitura – A Prefeitura instituiu


um serviço médico especializado para as crianças matriculadas
nas escolas municipais. Foi uma apreciável inovação da
administração do Dr. Eugênio Borges, secundada e ampliada
pelo Dr. Nelson Monteiro. Todos os alunos das escolas
municipais estão devidamente fichados pelo serviço médico-
escolar e recebem, durante o ano letivo, assistência médica
permanente. Foi instituída a merenda escolar na Escola Modêlo
Júlio Lima, situada em Laranjal, e ainda a mesma merenda em
outras escolas municipais. Na escola Júlio Lima, com a matrícula
de cento e oitenta alunos, é distribuída uma sopa e nas demais,
a merenda é constituída de leite e pão.

Abrigo do Cristo Redentor – [...] É de âmbito estadual e contou


desde logo com o apoio, incondicional, do interventor Ernani do
Amaral Peixoto, estando sob o patrocínio da ilustrada dama
patrícia Dra. Alzira Vargas do Amaral Peixoto. A festa da pedra
fundamental, nos terrenos doados pelo governo do Estado, foi
das mais solenes e contou com a presença das altas
autoridades do Estado e do Município. A localização em São
Gonçalo e outros auxílios, diretos e indiretos, representam o
esforço do prefeito Dr. Eugênio Borges. Estão concluídos a
capela, o pavilhão da administração, alguns dormitórios e outras
dependências. (PALMIER, 1940, p. 154)

Censo Municipal de 1916 – Não ficaram nessas iniciativas, de


âmbito mais geral, as tentativas para uma apuração censitária.
Ampliadas um pouco, dentro dos limites do município, com os
precários recursos locais, tomava vulto, em 1916, o trabalho do
Prefeito Dr. Licínio Cardoso, em São Gonçalo, realizando o
censo agrícola, industrial e escolar, ao lado do recenseamento
geral, sendo encarregado desse serviço o funcionário Fernando
Lira. (PALMIR, 1940, p. 168)

O manto diáfano da fantasia poderá amenizar, de muito, a


crítica, mais ou menos benevolente, relativa aos primórdios das
atividades administrativas dos intendentes do período da
emancipação. Cedo será, entretanto, para os juízos críticos da
administração Nelson Monteiro, desde os primeiros momentos,
com manifestações inequívocas, e promissoras, para ser das
mais benéficas em relação aos anseios de progresso de São
Gonçalo.

As comemorações cinquentenárias, que são realizadas, com


sinais evidentes desse movimento animador, principalmente
inaugurações marcantes nos domínios da cultura, da tradição
histórica, da economia, do desenvolvimento material, ruralista e
urbano, dizem melhor, dessa orientação renovadora, do que as
palavras, passíveis da censura dos iconoclastas. Os vindouros
87

dirão melhor do dinamismo da época renovadora, que estamos


vivendo, para o preparativo do ambiente sadio em que viverão
as futuras gerações. É a confiança plena, no futuro, que anima,
conforma e estimula todos os que se empenham na sublimação
dos esforços, isolados ou coletivos, prol da perpetuação da
glória das gerações e grandeza maior da grande Pátria.
(PALMIER, 1940, p. 207)

Joaquim Serrado Pereira da Silva – Exercendo anteriormente


a chefia do governo, na qualidade de presidente da Câmara, o
Cel. Joaquim Serrado Pereira da silva, foi nomeado na
presidência do Dr. Alfredo Backer. Uma série de reformas,
tendentes a melhorar o aspecto urbano e também as precárias
condições da zona rural, foi preocupação no novo Prefeito.

Com os recursos orçamentários, ainda precários, conseguiu


realizar, em grande parte, muitos desses melhoramentos e no
fim da administração, em 1909, as estradas de rodagem
estavam preparadas para a corrida de automóveis, considerado
esse acontecimento, dos mais sensacionais e com repercussão
em todo o país. Foi das maiores vitórias da administração
gonçalense, o aparelhamento das estradas para uma corrida de
automóveis. (PALMIER, 1940, p. 214)

Jonkopings de Carvalho – Eleito Presidente da Câmara, em


1915, assumiu a chefia do executivo o Coronel Antônio
Jonkopings de Carvalho, figura de real prestígio nos meios
políticos de São Gonçalo, onde já havia exercido funções
diversas.

Orientou a administração com elevado critério e grande proveito


para a população. A construção do mercado em Neves,
“Mercado Cônego Goulart”, além de obra de valor, ainda hoje
preenchendo as finalidades, foi homenagem de reconhecido
mérito ao benemérito Cônego João ferreira Goulart.

Outras muitas obras foram realizadas na presidência Jonkopings


de Carvalho; esse digno cidadão desfruta, ainda hoje, na alta
sociedade, nos meios políticos e da administração, do mais justo
respeito, prestígio e admiração. (PALMIER, 1940, p. 215)

Vicente Licínio Cardoso – A perspicácia e acuidade política do


notável estadista fluminense, com a experiência, patriotismo e
inteligência a serviço do Estado do Rio e do Brasil, escolhia bem
os valores para os encargos da administração.

Para prefeito de São Gonçalo foi nomeado o engenheiro,


laureado pela Escola Politécnica do rio de Janeiro, o Dr. Vicente
Licínio Cardoso19. Era o elevado senso político de Nilo Peçanha,
sempre vigilante e bem orientado.

São Gonçalo bem merecia, mais ainda, necessitava e exigia à


frente da administração um chefe moço, inteligente e culto.
(PALMIER, 1940, p. 216)

19
Vicente Licínio Cardoso foi nomeado prefeito através do decreto 1.490, de 17 de junho de
1916, que restabelecia o lugar de prefeito no município de São Gonçalo.
88

Eugêncio Sodré Borges – [...] O que realizou o novo prefeito,


durante pouco mais de um ano20, representa verdadeira
revolução nos domínios da administração municipal.

Todos os setores receberam o influxo de uma nova orientação e


em todos foi possível muito produzir em benefício da
coletividade. A Assistência Social e Médico-Social receberam
amparo; o auxílio ao Hospital de São Gonçalo, a criação do
Serviço do Pronto Socorro e do Serviço Médico Escolar, ao lado
da prometida ajuda ao Instituto de Assistência à Infância, foram
modalidades dessa evolução. (PALMIER, 1940, p. 224-225)

Nelson Correia Monteiro – A posse solene do Dr. Nelson


Correia Monteiro realizou-se no dia 1º de Marços de 1940.

Com um programa inicial de Saúde Instrução e Transporte,


conforme o discurso de posse, desde logo ampliou, de muito a
perspectiva em torno de todos os problemas básicos da
administração gonçalense.

Prosseguindo nas obras de calçamento e outros melhoramentos


urbanos, abordando aspectos diversos da assistência social e
resolvendo, com dinamismo sobre todas as demais aspirações
dos munícipes, continua a despertar as mesmas simpatias das
primeiras horas. (PALMIER, 1940, p. 225)

A obra O município de São Gonçalo e sua história é muito mais sutil no


que se refere à representação político-administrativa de São Gonçalo, muitas
vezes apresentando aspectos negativos, provavelmente por serem outros os
seus objetivos que não os de enfatizar esse tipo de representação. Vejamos
alguns exemplos:

Foi no governo de Nilo Peçanha (governou o Estado de 1903 a


1906) que foi estabelecida a criação das Prefeituras e através do
Decreto-Lei n.º 836, de 22 de janeiro de 1904, o cargo de
Prefeito, sendo nomeado nessa data, pelo governo do Estado,
como primeiro Prefeito de São Gonçalo, o Coronel Ernesto
Francisco Ribeiro (governou de 1905 a 1906). Antes desse
Decreto, eram nomeados Intendentes para chefe do Executivo.
(BRAGA, 2006, p. 61)

Entre os anos de 1938 a 1940, São Gonçalo recebeu muitas


melhorias urbanas, Dentre elas destacamos: calçamento, com
paralelepípedos, das ruas Coronel Moreira César e Feliciano
Sodré; transformação da Escola Júlio Lima em Escola Rural
Modelo; remodelação da Praça da Matriz; instituiu a merenda
escolar e o serviço médico-escolar para todas as escolas
municipais. (Para esclarecimento ao leitor: a merenda escolar
aqui mencionada era baseada no sopão para as escolas maiores
e leite para as escolas menores). (BRAGA, 2006, p. 66)

20
O autor não informa a data da posse.
89

Novos bairros vêm surgindo através da invasão ou loteamento


de faixas de terras abandonadas e pertencentes a antigas
fazendas esquecidas pelo poder público. Esses bairros, por
terem como origem parte de um outro bairro, já oficial, são
denominados de sub-bairros. Também são assim denominados
por não serem reconhecidos pelo órgão público responsável pelo
reconhecimento e oficialização dos mesmos. (BRAGA, 2006, p.
91)

Localizada no bairro do mesmo nome, a APA21 do engenho


Pequeno possui uma área de, aproximadamente, dois milhões
de m² e foi criada através do Decreto Municipal 54, de 20 de
julho de 1991. Seu objetivo é garantir a proteção dessa área
através da proibição do desmatamento, abertura de logradouros
públicos ou privados, exploração de saibreiras (saibro),
indústrias poluidoras, atividades que provoquem a erosão ou
assoreamento do solo, uso de biocidas e a caça. (BRAGA, 2006,
p. 170)

Dos manguezais gonçalenses que não resistiram às agressões


do homem, destacamos o trecho compreendido entre Neves e
Porto da Pedra. Após seu aterramento, para serem efetuadas
construções públicas e particulares, o problema foi agravado
com a construção da BR101. Essas obras deram fim 22 ao
extermínio dos manguezais e das praias nesse pedaço de litoral
gonçalense. (BRAGA, 2006, p. 172)

Para melhor controle das Reservas Florestais e espécies


vegetais raras, o prefeito Samuel Barreiro (1931 a 1932) assinou
um decreto regulamentando o uso das plantas raras, que
passaram à proteção da Administração Municipal.

Esse procedimento impediu a extinção dos vegetais do tipo


medicinal e ornamental por longo período de tempo. Mas, como
não permaneceu esse controle, por parte do poder municipal
após o seu governo, fazendo com que a lei continuasse a
vigorar, hoje pouco se encontra desses vegetais em nosso
município. (BRAGA, 2006, p.174)

O poder Legislativo de São Gonçalo, desde a sua criação, sofreu


várias crises, com momentos conturbados, graças à vaidade do
homem, mais preocupado com seus interesses políticos, sociais
e econômicos, do que o bem-estar do povo e o desenvolvimento
do município.

Mas, com todos os percalços políticos, São Gonçalo é um


município que procura estar à frente do seu tempo. Como prova
do seu avanço, foi o primeiro município do Estado a eleger uma
vereadora, Aída de Souza Faria, já no ano de 1960 (BRAGA,
2006, p. 207)

Em 1995, foi elaborado um projeto para a construção de uma


Usina de Reciclagem e Compostagem de Lixo para São
21
APA – Área de proteção ambiental.
22
Acreditamos que a autora quis dizer que “[...] essas obras deram início ao extermínio dos
manguezais e das praias nesse pedaço de litoral gonçalense”.
90

Gonçalo. Nesse projeto constava, também, a construção de um


Incinerador para Lixo Hospitalar. A obra, que deveria ter início
em setembro desse mesmo ano, e no mesmo local, só teve
início no final de 1998.

[...]

Lamentável é aqui deixar grafado que passados cinco anos de


obra concluída, nada foi feito para que a usina cumpra a sua
finalidade. Houve sim, a intenção de passar, para o controle
privado, no ano de 2004, após imenso gasto público para a sua
conclusão. Nesse mesmo ano (2004) teve início um acordo entre
os prefeitos de São Gonçalo e Niterói (Dr. Henry Charles e Prof.
Godofredo pinto) para que o lixo de Niterói fosse vazado em São
Gonçalo. Apesar do movimento popular, gonçalense, contrário à
proposta, teve início a elaboração de um novo projeto para que
não só o lixo de Niterói viesse para São Gonçalo, mas também
dos demais vizinhos limítrofes, com argumento de ser esta uma
solução vantajosa para todos os municípios envolvidos. E em
2005, um vereador do município, ao ser questionado sobre a
usina, respondeu afirmando não existir usina em São Gonçalo.
Aqui fica a pergunta: O que foi construído então? Segundo
consta, na imprensa e no projeto original, aquela obra era uma
usina para o tratamento do lixo. O povo aguarda e merece uma
explicação correta dos seus representantes, sobre a utilidade do
que foi ali construído, já que só faltava entrar em funcionamento.
(BRAGA, 2006, p. 228)

Na década de 1970, os portos de São Gonçalo estavam


reduzidos apenas para o uso pesqueiro. Sendo assim, foi
apresentado o projeto de uma estação de barcas no Porto da
Madama, ligando São Gonçalo à Praça XV. Mas o elevado custo
desse projeto forçou a mudança da estação para o porto do
Gradim. Mesmo assim, o projeto nunca foi iniciado e a
população aguarda ainda hoje pelo governo que o colocarem em
prática. (BRAGA, 2006, p. 237)

A partir de 1982, tanto o Hospital quanto o Pronto Socorro vêm


sofrendo reformas constantes a cada governo que assume o
município.

Em 1995, quando era prefeito o Sr. João Barbosa Bravo, foi


adquirido, com recursos próprios do município, e instalado no
Hospital, um aparelho para Tomografia Computadorizada
(tomógrafo). Esse aparelho foi o segundo a ser implantado no
Estado do Rio de Janeiro.

Em 1999, novamente o Hospital foi ampliado para a instalação


de um Banco de Sangue e um Laboratório de Análises Clínicas.
Também foi aumentado o número de leitos das enfermarias e do
CTI (Centro de Tratamento Intensivo).
91

Além do Hospital Municipal23 e do Pronto socorro Municipal, foi


construído, durante o segundo mandato do então prefeito
Joaquim de Almeida Lavoura, o Hospital Infantil Darci S. Vargas,
que tem anexo ao seu prédio um Pronto Socorro Infantil.

Essas três unidades que formam o Complexo Hospitalar


Municipal de São Gonçalo, receberam além de reformas a
ampliação do número de leitos em seus CTIs, na gestão do
então prefeito Edson Ezequiel. (BRAGA, 2006, p. 250)

A rede assistencial municipal, quase inexistente, não comporta


todos os necessitados, fazendo surgir assim o avanço da rede
particular. Os idosos desamparados, seja no que se refere aos
baixos salários de aposentadoria ou ao abandono familiar, são
exemplo típico do que observamos no nosso dia-a-dia. São
atendidos pela rede particular aqueles que podem pagar uma
mensalidade, para que nessas instituições recebam tratamento
médico-hospitalar e um lar onde tenham atenção e carinho, o
que nem sempre é real em algumas instituições.

Quanto aos menores, o atendimento melhorou com a criação do


Conselho Tutelar e do Conselho da Infância e Adolescência,
hoje Conselho Municipal do Direito da Criança e do Adolescente.
São Gonçalo foi o pioneiro, no atendimento à Lei 8.069 que
estabelece a criação desses Conselhos. Embora o Estado do
Pará tenha sido o primeiro a criar um desses Conselhos, tornou-
se São Gonçalo o pioneiro por ter criado, simultaneamente, os
dois Conselhos. (BRAGA, 2006, p. 256)

Procuramos com esses recortes de texto demonstrar como os


intelectuais em questão representaram São Gonçalo sob a ótica política e
administrativa. São visões diferentes, até porque, como já dissemos, são
épocas distintas e, aparentemente, os objetivos das obras também.

Representações econômicas

Além das representações político-administrativas, Palmier utilizou-se


bastante das representações econômicas. Sua obra exalta o espaço
gonçalense e tudo o que está contido nele (rios, produtos cultivados,
construções), sempre valorizando economicamente, o que para alguns, como

23
“Após morte de um de seus fundadores, o Dr. Luiz Palmier, em 16 de outubro de 1955, o
Hospital Municipal de São Gonçalo passou a chamar-se Hospital Municipal Dr. Luiz Palmier.”
(BRAGA, 2006, p. 250)
92

para Braga, não tem valor, por se tratar de bens com valores simbólicos
agregados. Observemos os trechos retirados de São Gonçalo Cinquentenário:

Distâncias – Das mais vantajosas para intercâmbio comercial,


social e cultural, da mesma forma que para o desenvolvimento
do turismo, é a proximidade das cidades de Niterói e Rio de
Janeiro. O centro urbano de Niterói, praça Martim Afonso, dista
da zona comercial de São Gonçalo, o bairro de Neves, apenas
seis quilômetros e do principal centro urbano da cidade de São
Gonçalo, a praça 5 de Julho, somente 12 quilômetros.
(PALMIER, 1940, p. 49)

Quase todo o território é aproveitado para as explorações


agrícolas e industriais, havendo apenas pequenas porções
alagadiças ou cobertas de rochas graníticas. As primeiras,
saneáveis, são cobertas, em parte por florestas de mangue,
exploradas para lenha; as segundas constituem objeto de
comércio bastante lucrativo para construções e fabricação de
paralelepípedos, meios fios e outras aplicações industriais.
(PALMIER, 1940, p. 54)

As rodovias cortam, em todos os sentidos, vales e montes,


facilitando ao visitante as excursões por esses rincões
encantadores.

As ferrovias percorrem zonas distintas: de um lado atravessando


as terras alagadas, quase sempre pouco acima do nível do mar,
de outro, em demanda das serras e da zona lacustre.

Os trilhos de aço avançam sempre, através de terrenos bem


cultivados e das pastagens verdejantes. Tôdas essas dádivas da
natureza anima o trabalho fecundo que cria a riqueza e estimula
os baluartes anônimos da grandeza da terra.

Os atrativos naturais sintetizam ainda a espectativa24 de um


futuro grandioso, baseado nas tendências e possibilidades da
intensificação do turismo. (PALMIER, 1940, p. 65)

[...] As lindas praias, apenas povoadas pelos pescadores ou


agricultores, nada apresentam de extraordinário, além do
encanto natural da vida simples dos que nasceram e vivem sem
aspirações e ambições, num ambiente estimulante e belo. Não
estará longe a época do aproveitamento dessas paragens para
mais amplo plano de turismo, com projeção econômica das
preciosas riquezas naturais. (PALMIER, 1940, p. 66)

Ilhas – São outras tantas curiosidades, por múltiplos aspectos,


tanto as ilhas situadas nas margens do Atlântico quanto as que
ornam o litoral da Guanabara. Verdadeiros Oasis de vegetação
luxuriante, salpicando as verdes águas, são admiráveis centros
de repouso e magníficos passeios, embora pouco utilizados com
êsses objetivos. Em algumas delas, as instalações de grande
valor despertam a atenção de forasteiros curiosos. A ilha do

24
Leia-se “expectativa”.
93

Carvalho, com os coqueirais e velhas mangueiras, apresenta a


curiosidade das ruínas de um antigo tempo. A ilha das flores é
quasi toda um só jardim, com atrativos dignos de referência e as
importantíssimas instalações da Hospedaria de Imigrantes.

[...]

Colubandê – Tribobó – Contrastando com as zonas do litoral,


situadas às margens dos rios, na região central, estão algumas
fazendas de estilo colonial, dignas de figurar nos circuitos
turísticos. [...]

O Tribobó, cortado por vários riachos, tem singular atrativo na


lagoa do Capote. Está transformado no mais importante centro
avícola do Brasil, graças à iniciativa da cooperativa Avícola de
São Gonçalo, sendo apreciável o conjunto das granjas, com as
inúmeras casinholas das aves, de agradável efeito, nas encostas
dos montes e no centro dos pomares, atestado vivo das
possibilidades econômicas da importante região. (PALMIER,
1940, p. 68)

Embora a vastidão das zonas urbana e suburbana, o distrito de


Monjolos é rural por excelência, sendo quasi toda a atividade da
laboriosa população concentrada no desenvolvimento da
agriculutra.

As fazendas de Bom Retiro, Laranjal, Engenho Novo,


Conceição, Campanha, Salvaterra, ao lado das situações mais
prósperas, constituem patrimônio respeitável e valiosa conquista
do trabalho.

A riqueza maior do distrito está, entretanto, nas instalações, da


Companhia Nacional de Cimento Portland, que inverteu na
fábrica de Guaxindiba, nas jazidas calcáreas e na ferrovia
importância aproximada de cento e cinquenta mil contos.

É o maior fator da pujança econômica do município, com


localização no distrito de Munjolos. (PALMIER, 1940, p. 81)

Limítrofe dessa vastidão semi-urbana, semi-rural, estão os


bairros do Pôrto da Pedra, Boa Vista, Boassú, Conceição,
Trindade, Alcântara, Colubandê, Tribobó, Rocha, Engenho
Pequeno, Tenda, Zumbí, Baldeador, Tenente Jardim.
Encorporados ao patrimônio urbano muitos outros bairros
entrelaçam-se para apagamento, quasi completo das linhas
divisorias, mal definidas. São os principais: - Santa Cruz,
Covanca, Pôrto do Velho, Vila Laje, Gradim, Pôrto Novo, Vila
Paraíso, São Miguel, Madama e Brasilândia. Aos milhares de
edificações urbanas, que enriquecem esse patrimônio, em uma
visão do futuro próximo, podem ser acrescidos outros tantos
milhares de lotes de terrenos à espera de novas edificações, em
clima salubérrimo e com o conforto proporcionado aos
habitantes das modernas cidades. (Grifo nosso). (PALMIER,
1940, p. 90)

Os portos – Inicialmente, mesmo no período colonial os portos


do litoral da Guanabara, constituíram os mais notáveis
94

elementos para uma forte atração para as terras de São


Gonçalo.

Desde os portos das fábricas até as proximidades da zona rural,


todos intensificam o movimento de transporte da cidade com as
ilhas, os municípios vizinhos e o distrito Federal. (PALMIER,
1940, p. 92)

A proximidade do Rio de Janeiro foi fator decisivo para o


atrofiamento do comércio, atacadista e especializado. Neves foi
sempre, apesar da concurrência 25, o maior centro comercial,
chegando a possuir algumas casas atacadistas de regulares
proporções. O aumento sensível da população vai corrigindo
essa lacuna e já tornou-se digno de nota o comércio da cidade,
com centenas de casas de todos os gêneros – bazares,
confeitarias, cafés, restaurantes, hotéis, barbearias, sapatarias,
quitandas, relojoarias, alfaiatarias, armazéns de secos e
molhados, lojas de ferragens e muitas outras. (PALMIER, 1940,
p. 95)

Indústrias – As indústrias, localizadas no perímetro urbano


representam a maior riqueza da cidade. Em torno das fábricas
de fósforos, vidros, doces, tintas, grande fornos, laminação
produtos de pesca, cerâmica, soda cáustica e tantas outras,
aglomeram-se muitas vilas que reúnem população de alguns
milhares de operários.

O parque industrial tende a crescer, graças às facilidades


proporcionadas para a instalação de novas indústrias,
principalmente na região dos Portos à margem da Guanabara.
(PALMIER, 1940, p. 101)

Não sendo das mais ricas a fauna ainda é fator da economia,


principalmente quando se considera a abundância de peixes;
não menos importante é a pesca dos jacarés, e a caça de
cobras, lagartos e sapos, para fornecimento de peles para a
indústria de cortume. O caranguejo é motivo de grande
comércio.

Indústria da pesca – os produtos do pescado, riqueza respeitável


dos rios e lagoas, ao lado das águas da baía de Guanabara e do
Atlântico, nos limites territoriais do município, representam
parcela grandiosa dos valores da economia de São Gonçalo.
Não é fácil congregar todas as energias esparsas, dos núcleos
de pescadores anônimos de um vasto litoral. (PALMIER, 1940,
p. 110)

Minerais – O sub-solo do município é dos mais ricos. Até bem


poucos anos essas riquezas estiveram completamente
inexploradas. As descobertas de jazidas minerais constituíram
surpresa agradável para os proprietários de terras e aumentaram
as possibilidades da fortuna pública e particular. Minérios em
abundância principalmente granitos, argilas, argilas refratárias,
cianita (pra refratário), calcáreos, feldspato, alumínio, mica,

25
Leia-se: “concorrência”.
95

quartzo, caolin, mármore, barita, dolomito, areias e ocre, estão


espalhadas por todos os distritos.

Os granitos de São Gonçalo são de primeira qualidade e o


granito verde-mar, das importantes jazidas do Morro da Peça,
pertencentes ao Sr. Juvenal Figueiredo, é o melhor que
apareceu no mercado carioca; tem tido grande procura e já está
aplicado nas fachadas dos principais edifícios. Os granitos róseo
e cinzento são de rara beleza. O caolin e o feldpato, das jazidas
de rio do Ouro, Calaboca e outras localidades, exploradas em
larga escala, exportados às toneladas, diariamente, teem
aplicação nas fábricas fluminenses e cariocas.

Também as argilas são utilizadas na indústria de cerâmica ao


lado de outros minerais, de importantes jazidas, empregados no
fabrico de louça e ladrilhos na fábrica Vista Alegre, em Rio do
Ouro. (PALMIER, 1940, p. 111)

É claro que para Palmier era menor o período de tempo que o separava
da emancipação político-administrativa de São Gonçalo. Era tempo suficiente
para que ele acreditasse que o município cresceria economicamente, em
virtude de tudo o que produzia e em virtude da abertura de suas portas às
indústrias. Mas não era suficiente para que ele visse que São Gonçalo não
atenderia as suas expectativas. Por isso seu discurso era otimista, mesmo
diante das dificuldades. Ele pensava grande, nos parece que ele esperava o
melhor para a cidade, que era promissora, e para sua população.

Ao contrário, Braga vive no tempo que a São Gonçalo é chamada de


“cidade dormitório”, em que a maioria das indústrias foram embora e, estando
as áreas rurais praticamente extintas, os moradores da cidade precisam se
dirigir a outras cidades para encontrar empregos. Para ela, por conta da
modernização, toda a cidade foi transformada, a população foi modificada, e a
identidade e a memória esquecidas.

O muncípio de São Gonçalo e sua história também descreve e valoriza o


espaço gonçalense, no entanto, foi difícil classificar como valorização
econômica as descrições da autora, principalmente porque essas, geralmente,
são voltadas ao passado. Pareceu-nos, na maioria das vezes, descrições a
título de informação, ou seja, informações culturais e esclarecimentos sobre
São Gonçalo. Porém, fizemos um esforço para classifica-las, como, por
exemplo, nos trechos a seguir:
96

No século XVIII, os engenhos de açúcar e aguardente se


multiplicaram. São Gonçalo foi um dos maiores produtores
agrícolas no período do Império, já contando, nesse século, com
a Fazenda e Engenho Colubandê produzindo 50 caixas de
açúcar por safra. (BRAGA, 2006, p. 51)

Em 1779, a Freguesia de São Gonçalo, além de uma forte


agricultura, possuía 23 engenhos que produziam 352 pipas de
aguardente e aproximadamente 500 caixas de açúcar e
ultrapassava a casa dos 952 escravos. [...] (BRAGA, 2006, p. 52)

Em 1860, São Gonçalo já possuía mais de 30 engenhos


fabricando açúcar e aguardente e 10 fornos para o fabrico de
telhas e tijolos. O embarque desses produtos era feito nos
pequenos portos: da Ponte (depois Gradim), Boaçu, Porto Novo,
Porto Velho, Ponta de São Gonçalo, Guaxindiba e da Vala
(depois Neves). (BRAGA, 2006, p. 56)

Na primeira metade do século XX, Neves era o grande centro


comercial de São Gonçalo, cujo porto recebia a produção
agrícola do município para ser levado para o Rio de Janeiro em
pequenos barcos. Esses produtos chegavam em burro de carga
e cargueiros de bois.

Também na metade desse século, graças à introdução do


bondinho a vapor, e depois elétrico, Neves passa a ter uma vida
intensa e seu comércio e indústria entram em expansão.
(BRAGA, 2006, p. 80)

Com a queda das lavouras de cana-de-açúcar, no século XVIII, e


do café, no século XIX, a economia brasileira foi sendo
diversificada.

Os grandes cafeicultores de todo o Brasil, de acordo com o tipo


de solo de suas terras e o clima local, escolheram o tipo de
lavoura que mais lhe favorecessem.

Assim, destacou-se São Gonçalo no século XIX, que embora


não sendo grande produtor de café, atinge com maior rapidez e
facilidade a diversificada e nova economia do país.

Voltado para a policultura, São Gonçalo teve grande


desempenho no setor agrícola direcionado para a fruticultura,
horticultura e floricultura, na primeira metade do século XX.

[...]

Na segunda metade desse século, volta-se para o setor


industrial, tornando-se o responsável com esses dois setores,
agricultura e indústria, pela metade da arrecadação de taxas e
impostos para a economia do Estado do Rio, ajudados ainda
pela pesca, pecuária e avicultura.

Aliado a esse crescimento surge o comércio local nessa época,


até então reduzido a quitandas e pequenos armazéns e dois ou
três empórios. (BRAGA, 2006, p. 147)
97

Em 1920, São Gonçalo foi um dos maiores produtores de


laranja, goiaba e abacaxi.

Com sua enorme variedade de espécies de laranja, foi São


Gonçalo o grande competidor com Nova Iguaçu, que possuía o
título de “A Califórnia Brasileira”. (BRAGA, 2006, p. 149)

A pecuária pouco representou para o índice de produtividade do


município. Os poucos rebanhos existentes ficaram concentrados
nos 2º e 3º Distritos, onde teve algum destaque o rebanho
bovino com seu gado leiteiro.

A criação da Sociedade Rural Cooperativa Municipal de São


Gonçalo no século XX, não foi o suficiente para impedir o
declínio da sempre fraca pecuária do município. (BRAGA, 2006,
p. 152)

A pesca praticada em grande escala, devido ao seu vasto litoral,


sempre produziu divisas para o município. Em sua área
marítima, dentro da baía de Guanabara eram pescados tainha,
anchova, sargo (parati), e sardinha dentre outras espécies.

Até quase final do século XX, São Gonçalo permaneceu à frente


da indústria de pescado, tendo seu produto comercializado em
todo o país. (BRAGA, 2006, P. 154)

A partir de 1930, começaram a surgir muitas indústrias e até


1940, o campo industrial se projetou ativando o desenvolvimento
do município.

São Gonçalo foi considerado o mais importante município, no


Estado do rio, e dos mais bem conceituados do Brasil, por
participar com mais da metade da arrecadação total de impostos
em nosso Estado.

[...]

Segundo dados estatísticos de 1954, São Gonçalo ocupou lugar


de destaque no Estado com suas setenta fábricas, tendo sido
ainda um dos mais prósperos do País, atuando no campo da
metalurgia, transformação de materiais não-metálicos (cimento,
cerâmica e outros), químico, farmacêutico, papelão, papel e
produtos alimentícios.

Em 1956, São Gonçalo foi o sexto município do Estado em


arrecadação do imposto de vendas e consignações. (BRAGA,
2006, p. 156)

Em São Gonçalo, no período do Ciclo da Laranja, houve grande


devastação da vegetação natural, deixando assim restar apenas
alguns morros com sua vasta vegetação nativa.

[...]

Assim, sua riqueza concentrou-se no subsolo em todo o seu


território que possuía, então, grande quantidade de minerais
não-metálicos como: granito (verde, rosa e cinza), cianito (para o
fabrico de refratários), barita, mica (pra o fabrico de resistências
98

para ferro elétrico), quartzo, mármore, feldspato, alumínio,


dolomita, areia, calcário, caulim, ametista e gnaisee. (BRAGA,
2006, p. 168)

Contribuíram também para a economia do município a caça de


cobras, lagartos, jacarés, guaxinins, coelhos, gambás e sapos,
cujas peles interessavam à indústria de curtumes.

A cata de siri (na praia) e caranguejo (no manguezal), eram fonte


de renda pra aqueles que por qualquer motivo não conseguiam
emprego.

Com suas várias espécies de peixe, que além da sua


abundância produzia riqueza econômica para o município, a
pesca indiscriminada, junto com a poluição da baía de
Guanabara e dos rios, fez com que levasse à extinção grande
parte dessas espécies dentre elas: lambari, traíra, cará e
cascudo. (BRAGA, 2006, p. 174)

Como podemos observar São Gonçalo Cinquentenário preocupa-se em


valorizar economicamente todo o espaço gonçalense e tudo o que a cidade
fornecia: produtos agrícolas, riquezas minerais, belezas naturais, entre outras.
Assim, procura representar a cidade de forma positiva, elevando o território de
São Gonçalo a um dos melhores do Estado e idealizando uma cidade perfeita.

O município de São Gonçalo e sua história também eleva São Gonçalo a


uma das melhores do Estado, com as melhores contribuições econômicas. Ou
melhor, Braga refere-se também a uma cidade idealizada, a São Gonçalo que
não existe mais. Porém, a autora não disfarça sua indignação e pesar por
todas as riquezas e possibilidades de crescimento e infraestrutura perdidos
através do tempo de exploração e de ocupação indiscriminadas.

Representações culturais

Mesmo quando descreve as práticas culturais e as áreas de lazer de


São Gonçalo, Palmier não deixa de fazê-lo tendo em vista os aspectos político-
administrativos e econômicos. Dessa maneira, foi para nós tarefa árdua
identificar as representações puramente culturais, pois a todo o momento
percebíamos na obra São Gonçalo Cinquentenário, traços das demais
representações, o que expomos a seguir:
99

Na maioria dos casos a capela foi das primeiras construções,


constituindo o centro de gravitação de verdadeiras constelações
- arraiais, curatos, distritos, vilas, cidades. Os desbravadores
portugueses implantaram assim, com os núcleos de civilização,
o sentimento religioso de que eram herdeiros. [...]

[...]

Reminicências26 dêsse passado, de glórias, são as antigas


capelas de N. S. do Rosário, do Engenho Pequeno, na
propriedade do Capitão Miguel Frias Vasconcelos; a da
Santíssima Trindade, construída em 1729, na fazenda do
mesmo nome, à margem esquerda do rio Alcântara; - a de N. S.
da Esperança, na fazenda de Ipiiba e a de N. S. do
Destêrro,estas últimas também construídas em princípios do
século XVIII.

À capela da Luz foi conferido o direito de Pia Batismal por D.


Antônio Guadalupe, honraria também concedida à de N. S. do
Destêrro, em Ipiiba de Malheiros. Eram objetos de cuidados
especiais as obras de arte, em algumas delas, conservadas até
os nossos dias, resistindo à ação do tempo e ao indiferentismo
dos modernistas, que relegaram as relíquias do nosso passado.
(PALMIER, 1940, p. 23)

Fazenda da bica – situada à margem da estrada geral, rua


Moreira César, próximo à ponte sobre o rio Imboassú, na colina
em que está o Hospital de São Gonçalo, a antiga sede da
fazenda da Bica, demolida em holocausto dos imperativos do
progresso, merece piedosa referência para assinalar êsse local
histórico da cidade. A sede da freguesia e o centro principal da
vila, de 1890, em grande parte, foram edificados, em terras da
fazenda da Bica, nas margens do Imboassú. Ao lado dos muros
de arrimo e sólidos alicerces do edifício do Hospital, em antigas
fotografias aparece a casa da fazenda em estilo colonial, com a
varanda, torreão lateral e grossas paredes de pedra.

O passado dêsse venerável solar merece especial referência,


pela valiosa contribuição em diversas fases do constante evoluir
do centro urbano de São Gonçalo.

A residência senhorial, de abastados latifundiários, foi, nos


últimos decênios, para não volver a remotas origens, casa de
escola, quartel de polícia, cadeia, pôsto de profilaxia rural,
Hospital Municipal e, por último, almoxarifado geral das obras do
novo edifício hospitalar... As picaretas civilizadoras destruíram,
em 1933, até os alicerces, essa sentinela do progresso, digna de
respeitosa reverência e tradição, das mais gloriosas, do
município. (PALMIER, 1940, p. 38)

O terreiro da fazenda de Guaxindiba, dos irmãos Gianeli, foi


transformado em pista de corridas. A competição dos páreos era
motivo de grandes festas para deleite dos proprietários e
convidados que afluíam ao solar fidalgo.

26
Leia-se: “Reminiscências”.
100

Das varandas laterais da velha casa de fazenda, ainda hoje bem


conservada, assistiam todos o desdobrar das competições. Os
vestígios seguros dêsse aristocrático gênero de diversão, que
não mais perdurou no gôsto menos exigente dos proprietários
rurais dos tempos modernos, ainda são encontrados em
Guaxindiba.

Pista do Alcântara – Nos últimos anos ainda a tentativa de uma


nova pista foi levada a efeito em Alcântara, onde se reuniam os
mais apaixonados amantes das corridas. Aos domingos, em
terras da fazenda do Coelho, alguns páreos eram disputados,
constituindo motivo de grande afluência de povo para apreciar a
corrida de cavalos.

Os prados e pistas gonçalenses passaram à história.

Cavalhadas – As cavalhadas resistiram mais à onda


avassaladora das conquistas da civilização. Muitos foram os
centros em que as cavalhadas eram motivo de grandes
reuniões.

As mais celebradas, de São Gonçalo, foram as de Pachecos.


Por ocasião da festa de Nossa Senhora da Conceição, nos dias
dedicados à Padroeira, em Dezembro, as cavalhadas ocupavam
o lugar de honra do programa.

Eram a principal razão de ser do movimento desusado das


estradas.

Quer de Niterói e São Gonçalo, quer das zonas rurais, afluíam


forasteiros apaixonados pelas cavalhadas. Também as
cavalhadas estão cedendo seu lugar às novas conquistas.
(PALMIER, 1940, p. 39)

Morro da Peça – O morro da Peça, mais conhecido, fica bem


próximo do centro urbano, nos limites dos bairros do Rocha e
Colubandê. Possue ótimas jazidas minerais, predominando o
granito verde-mar que já conquistou os mercados.

[...]

Morro da Mina – Lendárias ou com existência real, nas mais


remotas eras, foi preocupação constante dos proprietários, dos
moradores e mesmo das autoridades locais, a mina de ouro
existente nos terrenos da Fazendinha.

Rezam essas lendas estar a mina submersa e fechada com


tampo metálico, lacrado ou fechado a cadeado. Escavações
múltiplas teem sido feitas pelos exploradores de tesouros, todos
emprenhados na descoberta da mina de ouro.

O morro da Mina é um símbolo dêsses tesouros hipotéticos e


lendários que despertam sempre a atenção dos ambiciosos e
dos curiosos. (PALMIER, 1940, p. 41)

A capelinha situada à margem da Guanabara, na enseada da


Luz, em frente a Paquetá, na ilha de Itaoca, é o mais antigo
101

monumento, do período colonial, nas terras da freguesia de São


Gonçalo. Da capela de São Gonçalo, o primitivo templo, às
margens do Guaxindiba, não resta o menor vestígio ou
referência, dando idéia do local da construção. A capela da Luz
não está bem conservada. Antigos proprietários da fazenda nem
sempre primaram pelo zêlo dêsse monumento. As peças
principais, em várias épocas, serviram muitas vêzes, devido ao
abandono, de estábulo ou albergue. Apesar dêsse verdadeiro
sacrilégio, a resistência das velhas paredes e da construção, em
geral, ainda conserva o templo nas suas linhas primitivas.
Somente algumas dependências secundárias chegaram a ruir.
Providências urgentes devem ser tomadas para salvar esta
relíquia. (PALMIER, 1940, p. 58)

O estilo colonial da Matriz de São Gonçalo é o mesmo de


centenas de outras, espalhadas por todo o Brasil, precioso
legado dos nossos ancestrais, os portugueses.

Em maioria, essas igrejas, de sólida construção, estão


conservadas até nossos dias. (...) Monumental projeto, tôda de
pedra, preciosos trabalhos de cantaria, duas tôrres, duas
sacristias, quatro altares laterais, côro, púlpitos, pias de
mármore, nave e capela mor de grandes proporções, não
chegou a ser concluída pelos idealizadores de tão grandiosa
obra.

[...]

Casas coloniais – Fazendas, sítios, casas de comércio e


simples residências, muitas são as casas que lembram os
tempos coloniais.

Em maioria, foram demolidas, em holocausto dessa mesma


civilização de quem foram os mais sólidos alicerces.

Algumas conservadas, apesar do indiferentismo reinante, ainda


atestam uma época de fausto e grandeza, da mesma forma que
lembram as sólidas construções de épocas remotas.

As varandas, com grossas colunas de cal e pedra, ou de


madeira de lei, eram de grandes proporções e destinavam-se ao
pouso das tropas, nas casas de comércio. (PALMIER, 1940, p.
61)

São Gonçalo ocupa lugar destacado na educação popular.

As escolas estão espalhadas por todos os quadrantes. Algumas


centenas de educadores dão instrução a muitos milhares de
escolares, distribuídos nas escolas estaduais, municipais e
particulares.

São ao todo quatro grupos escolares, cinquenta escolas


estaduais, trinta municipais. (PALMIER, 1940, p. 129)

Escola Júlio Lima – Das escolas municipais, deve ser


destacada a escola Júlio Lima, situada no 2.º distrito e doada ao
102

município pela família do fazendeiro Júlio Lima, de quem


recebeu o nome.

Completamente remodelada e ampliada, na administração do


prefeito Dr. Eugênio Sodré Borges, é estabelecimento modelar,
possuindo dois amplos salões de aulas, refeitório, parque de
educação física, cozinha, banheiro, e modernas instalações
sanitárias. (PALMIER, 1940, p. 130)

Imprensa – A imprensa tem sido das mais valiosas armas para o


progresso de São Gonçalo, embora o meio nem sempre tenha
sido muito favorável aos lutadores da pena.

[...]

A proximidade dos grandes centros não tem permitido a maior


amplitude de ação dos periódicos, quasi todos de circulação
limitada ao município e à Baixada.

Instituições Culturais – A proximidade dos grandes centros, o Rio


de Janeiro e Niterói, chamado para as sociedades científicas,
artísticas e literárias, todos os valores intelectuais de São
Gonçalo, tem sido fator determinante da ausência de maior
número de instituições culturais.

[...]

Bibliotecas – Diversas tentativas teem sido objetivadas para a


instalação de bibliotecas. Na Câmara Municipal, dissolvida pela
Resolução de 1930, foi aprovado o projeto subvencionado
biblioteca pública.

O Instituto Fluminense de Cultura acaba de realizar essa


aspiração, criando a Biblioteca Popular, com sala de leitura e a
secção circulante para o empréstimo de livros. A Prefeitura, sem
continuidade de ação, por parte dos detentores do poder, tem,
por várias vezes, procurado resolver o problema. O Prefeito
Samuel Barreira chegou a realizar a inauguração de uma
biblioteca no edifício da Prefeitura, da mesma forma que instalou
o Instituto Profissional Gonçalense.

Foram movimentos, igualmente fracassados. O Prefeito Dr.


Nelson Monteiro acaba de criar a Biblioteca Pública Municipal.
(PALMIER, 1940, p. 133)

Tôdas as religiões encontraram bom clima em terras de São


Gonçalo. Desde a capela lendária das margens do Guaxindiba
até a construção da nova Matriz de São Gonçalo, às margens do
Imboassú, e mais modernamente, a construção dos templos dos
diversos cultos, na demonstração das tendências religiosas do
povo, com acentuada inclinação para as atividades espirituais,
existe a mais ampla liberdade nesses domínios. Em São
Gonçalo o respeito pela liberdade espiritual e, principalmente, o
acatamento pelas instituições religiosas, de todos os cultos, é
demonstração do grau de desenvolvimento cultural do povo. Das
mais remotas eras aí estão os monumentos religiosos, situados
103

nas sedes das paróquias, nas vilas, nos povoados, nas


fazendas, nos sítios.

Marcando uma época de renovação e o mesmo ambiente de


liberdade refulgem nos bairros principais da cidade e nas zonas
rurais templos imponentes de tôdas as religiões. (PALMIER,
1940, p. 134)

As freguesias seculares e os distritos, que constituíram mais


tarde o município autônomo de São Gonçalo, criado pelo
Governador Portela, nos albores do regime republicano, foram
berço de vultos eminentes, que enchem de glórias a Pátria
Brasileira, prestaram à Nação os mais relevantes serviços e
elevaram, bem alto, o nome da terra de origem. Estão nesse
número o estadista Visconde de Sepetiba, nascido em Itaipú; os
irmãos Beaurepaire Rohan, guerreiros, publicistas e estadistas,
naturais de Sete Pontes; o pinto, poeta e professor Alberto Silva,
também natural de Sete Pontes; o General Antônio Luiz
Rodrigues, militar, veterano do Paraguai, e o cônego Goulart,
político e parlamentar, nascidos no distrito de São Gonçalo.
(PALMIER, 1940, p. 185)

Podemos notar, ao longo dos trechos citados e na própria obra literária,


a preocupação de Palmier pela educação e pela cultura gonçalense, chegando
até mesmo a apontar as falhas existentes nessa área. Segundo o autor

A cultura é o apanágio dos povos que atingiram o máximo de


evolução.

Fácil seria avaliar do progresso alcançado por uma coletividade


balanceando os seus valores culturais. Os educandários,
orientando as tendências da educação do povo, bem
representam os fatores decisivos da grandeza de uma região.
(PALMIER, 1940, p. 129)

No entanto, Palmier achava que os monumentos, os antigos casarões,


as fazendas, tudo que formasse o patrimônio histórico da cidade, era
importante para a história, mas que não poderiam representar empecilhos para
o progresso. Exemplo disso está no que o autor escreveu sobre a Fazenda da
Bica, já citado anteriormente: “[...] a antiga sede da fazenda da Bica, demolida
em holocausto dos imperativos do progresso [...] (PALMIER, 1940, p. 38).

Ao contrário de São Gonçalo Cinquentenário, em que localizamos vários


exemplos de representações político-administrativas e representações
econômicas, com bastante valorização econômica aos bens simbólicos, em O
município de São Gonçalo e sua história, encontramos muito mais
representações culturais de cunho informativo, explicativo e de
104

conscientização. Inclusive, Braga critica bastante a descaracterização do


patrimônio gonçalense:

[...] Das fazendas que resistiram ao tempo e ao progresso,


muitas entraram para a história e muito pouco delas resta, hoje,
como prova de sua existência no passado, e tantas outras foram
loteadas. Daquelas que resistiram, foram ou estão sendo
invadidas, em desconhecimento ao valor histórico que elas
representam e o desinteresse, também, de se preservar o
passado em nome do progresso. Em todo o Brasil esta é a
realidade, e em São Gonçalo não poderia ser diferente.
(BRAGA, 2006, p. 109)

Por ser um bem público e pertencente à municipalidade não


pode o povo, representado por grupos isolados, ou governantes,
disporem dos bens patrimoniais do município em nome da
modernidade, do conforto ou seja lá o que for. Os governantes
são passageiros e o município é vitalício, ou seja, para sempre.

A preservação do seu patrimônio e dos seus monumentos tem


como base a sua não-demolição, total ou parcial. Quanto das
reformas necessárias em seus prédios, é obrigatório preservar a
fachada externa e conversar na sua parte interna tudo aquilo que
diz respeito à história do prédio ou do município (escadas, vitrôs,
móveis, etc.), procurando não descaracterizar (o máximo
possível sua criação original.

Fazem parte do patrimônio do município, além dos seus


acidentes geográficos (rios, lagoas, praias, serras, etc), a sua
floresta com sua fauna e flora (que são preservadas por leis
específicas), prefeitura, fórum, cemitérios, escolas, hospitais,
igrejas, as antigas fazendas e seus casarões, o Cruzeiro da
Cidade, o Centro Cultural, a Biblioteca Pública, as praças e todo
o acervo cultural (obras literárias e artísticas) que fazem parte
dos seus órgãos administrativos, bem como os móveis que
compõem seus ambientes. (BRAGA, 2006, p. 192)

Em relação à educação e à cultura Braga menciona que:

Hoje, São Gonçalo possui inúmeros estabelecimentos de ensino


públicos e particulares, além das diversas Faculdades e
Universidades particulares e a Faculdade de Formação de
Professores (FFP), um campus da Universidade do Estado do rio
de Janeiro (UERJ), no bairro Patronato e única pertencente ao
setor público (estadual).

[...]

Para acompanhar o avanço educacional do país, o município


vem procurando acompanhar a modernidade, que exige o ensino
atual, oferecendo aos seus estudantes acesso à Internet.
Distribuídos por diversos bairros, essa modalidade de ensino
teve início no ano de 2000, com a criação da Casa do futuro, que
após a mudança de governo, passou a denominar-se Portal 24
horas. Esses Portais 24 horas proporcionam acesso à pesquisa,
105

via Internet, àqueles que não possuem computador. Também há


o Centro Interescolar Ulisses Guimarães (CIUG), no bairro Porto
da Madama, voltado para o ensino de Informática e Inglês para
os alunos da rede municipal.

[...]

Para o povo o importante é a oportunidade de uma Escola


Técnica na região, não importando de quem tenha sido a vitória.
Muitos são o que lutaram e lutam por esse projeto e na hora
certa o povo saberá julgar a quem cabe o mérito dessa obra que
trará, certamente, um ensino de alto nível para os jovens
gonçalenses que há muito carecem de um ensino público de
primeira qualidade como foi antes da Lei 5.692/71, que embora
bem formulada não teve uma interpretação à altura por parte de
alguns seguimentos da educação. Não se pode, em nome da
modernidade, abaixar o nível de cultura de um povo onde seus
jovens cada vez mais necessitam de um curso superior para que
atinjam certo grau de conhecimento e assim entrar no mercado
de trabalho. (BRAGA, 2006, p. 234-235)

Embora São Gonçalo não tenha representatividade nas festas


folclóricas e populares do Estado, através da história gonçalense
observa-se o quanto o município é rico de representantes no
mundo dar artes. São mais de 300 artistas, natos ou não, nos
variados setores da arte, dentro e fora do seu território. Assim é
São Gonçalo: alegre e criativo, com suas bandas musicais,
conjuntos, cantores, atores, bailarinos, circenses, artistas
plásticos, pintores, escultores e artesãos. (BRAGA, 2006, p. 268)

Hoje, na área cultural, São Gonçalo tem a oferecer a sua


população, o Centro Cultural Joaquim de Almeida Lavoura (o
“Lavourão”). Inaugurado em 1988, proporciona ao povo
exposições das várias áreas do setor da arte.

[...]

Após 10 anos de inaugurado, perdeu um pouco das funções


para o qual foi destinado. Suas dependências passaram a ser
ocupadas pela Secretaria Municipal de Educação e depois
também pela Secretaria Municipal de Cultura. Com a nova
filosofia administrativa deixaram de ocupar suas dependências a
Academia Gonçalense de Letras, Artes e Ciências e o Instituto
Histórico e geográfico de São Gonçalo, entidades culturais do
município que não possuem sede própria e ficaram à mercê de
favores da rede privada, pois a única ajuda municipal recebida,
essas instituições perderam.

A partir de 1995, novos projetos surgiram para a criação de


novas bibliotecas, porém nenhum deles teve apoio suficiente
para se tornar realidade. (BRAGA, 2006, p. 269)

Resistindo às intempéries por que passa a cultura gonçalense,


nesses últimos anos, espera o munícipe receber da
municipalidade um teatro à altura que o seu povo merece. Um
teatro em que possam ser encenadas peças de maior vulto e
que traga retorno para o cofre municipal. (BRAGA, 2006, p. 271)
106

Enquanto Palmier via com sentimento de ternura uma cidade que tinha
todos os atributos para se modernizar e progredir, Braga vê com o mesmo
sentimento de ternura e com saudosismo a cidade perdida, mas que, segundo
a própria, pode ser recuperada para se transformar em um lugar melhor,
dependendo apenas daqueles que nela habitam.

É notável e até mesmo justificável, que o discurso dos dois intelectuais


sejam diferentes, afinal as duas publicações estão separadas por um longo
período (66 anos), no qual houve muitas mudanças nos âmbitos político-
administrativo, espacial, econômico, cultural e social.

5.3 Respondendo aos objetivos específicos da pesquisa

Após esmiuçar o conteúdo das obras de São Gonçalo cinquentenário e


de O município de São Gonçalo e sua história precisamos verificar se, a partir
desse conteúdo, podemos responder às duas questões que são nossos
objetivos específicos: 1) como tais pesquisas contribuem para o resgate da
memória da cidade de São Gonçalo? 2) Qual é a relevância de tais trabalhos
com relação à preservação da memória e identidade da população local?

Para respondermos à primeira questão, precisamos verificar o conteúdo


das obras, que descrevemos no subcapítulo anterior. Essas abordam a história
do município gonçalense e todo o seu desenvolvimento, adotando assuntos
significativos para os intelectuais, geralmente ligados à cultura e à educação, à
administração e política, economia, ao patrimônio entre outros. Cada qual com
suas representações e ancoragens positivas ou negativas, mas sempre
mantendo como tema principal a cidade de São Gonçalo. Dessa maneira,
primeiramente respondemos à questão que está implícita, que é: as pesquisas
realizadas pelos historiadores sobre São Gonçalo contribuem para a retomada
da memória da cidade?
107

De acordo com os intelectuais ouvidos, essas obras contribuem para


que a história seja conhecida ou rememorada, mas que as proporções seriam
maiores se houvesse incentivo por parte do governo municipal.

Em conversa, Braga menciona que certa quantidade de seus livros foi


comprada pela Prefeitura Municipal de São Gonçalo. No entanto, passado
algum tempo, ela percebeu que os livros não foram distribuídos para as
escolas.

Nunes (2006) também expõe o problema. Segundo o autor ele mesmo


distribuiu mil exemplares de sua obra entre a rede municipal de ensino, a
estadual e a algumas escolas particulares. Porém, o autor não sabe dizer se os
professores e alunos receberam sua publicação.

Assim, entendemos que o trabalho foi e está sendo realizado pelos


intelectuais. Cabe ao poder público ou a particulares direcionar esse esforço,
esse empreendimento social ao seu público alvo, que são os professores, os
estudantes e a todas as pessoas interessadas em informar-se mais sobre o
lugar onde vivem. Isso poderia ser feito através de gestos simples como
divulgação na mídia, nos espaços públicos, da distribuição de exemplares e a
partir de ações sociais, como a feira literária, por exemplo.

Acreditamos que as pesquisas realizadas pelos intelectuais contribuam


para o resgate da memória a partir do momento que provocam
questionamentos, que aguçam a curiosidade e o interesse pela história da
cidade. Pois, certamente o estudante ou qualquer cidadão que tenha a
possibilidade de ler São Gonçalo Cinquentenário, ou O município de São
Gonçalo e sua história, ou qualquer publicação a respeito de São Gonçalo, se
lembrará de algum bairro, de alguma história, de algum membro da família.
Mesmo que seja morador recente, ainda assim, é provável que sua curiosidade
se manifeste, visto que as obras tratam de praticamente todo o espaço
gonçalense. Onde quer que tal morador se encontre, dentro da cidade, ele
conhecerá a história do local.

Para nós tais trabalhos são importantes porque representam a


capacidade que algumas pessoas (os empreendedores de memória) têm para
108

perceberem que, dentre as diversas carências existentes em São Gonçalo, a


falta de identidade e de memória, possivelmente, sejam as que ocasionam
maiores problemas. Essa capacidade de investir esforços para a reconstrução
da identidade e da memória gonçalense faz dessas pessoas célebres
empreendedores; fazem das obras selecionadas espaços de memória e de
identidade.

Empreendedores como Palmier são capazes de fazer com que qualquer


pessoa que more em São Gonçalo se sinta parte do ambiente, por meio de sua
eloquência. Imaginemos à época de 1940, um médico respeitado, um
intelectual ilustre, tomando partido da cidade (e de seus administradores),
elegendo São Gonçalo como uma das melhores cidades do Estado do Rio de
Janeiro. Não é de se estranhar que São Gonçalo Cinquentenário seja a
principal obra da cidade até os dias atuais.

Porém, Braga também não deixa a desejar, suas críticas e elogios são
todos para São Gonçalo e seus cidadãos. A obra O município de São Gonçalo
e sua história deixa transparecer a necessidade que autora tem de chamar a
atenção da população gonçalense para sua cidade. A vontade de informar e o
sentimento de pertencimento que a autora transmite transformam-se em
mecanismo, fornecendo subsídios de memória e de identidade.
109

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Entendermos o desenvolvimento e a interação das representações


sociais não é tarefa fácil, porque nós vivemos de representações, sua produção
e seu uso são inerentes ao ser humano, tudo se passa naturalmente. Sendo
assim, é um pouco complexa a sua identificação. No entanto, é necessário o
estudo tanto das representações quanto da aplicação dessas. Com essa
finalidade, esse assunto é amplamente debatido nas ciências sociais.

Segundo Jovchelovitch (2008, p. 88):

[...] Na leitura e saber de sujeitos sociais sobre o mundo estão


contidos hábitos culturais, identidades, tradições culturais,
emoções e práticas de vários tipos. Todas estas dimensões
penetram os sistemas de conhecimento e lhes permitem
representar de uma só vez mundos objetivos, subjetivos e
intersubjetivos.

Em nosso caso, ter conhecimento das representações sociais é


fundamental para que possamos reconhecer e analisar quais delas estão
sendo realizadas e empregadas no espaço gonçalense. A partir dessa leitura
foi possível identificar algumas representações sociais de São Gonçalo,
realizadas pelos intelectuais, que categorizamos em três tipos: representações
político-administrativas, representações econômicas e representações
culturais.

Porém, tais representações são motivadas por alguns ideais, que a


nosso ver, são: a possibilidade de progresso, o sentimento de amor e a
necessidade de tornar conhecida a história de São Gonçalo, com vistas à
identificação da população com o lugar.

Quando pensamos em buscar publicações sobre São Gonçalo,


especificamente obras literárias, não tínhamos ideia de que existia um número
considerável e que havia instituições voltadas para a divulgação de assuntos
sobre a cidade, reunindo esse grupo de pessoas interessadas nesses
assuntos.
110

Ao final da pesquisa percebemos que as duas obras analisadas (São


Gonçalo Cinquentenário: História, Estatística e Geografia e O município de São
Gonçalo e sua história), procuram situar o leitor (o cidadão gonçalense, o
morador vindo de outra localidade) sobre a história da cidade, na tentativa de
provocar sua autoestima e interesse por São Gonçalo. Assim, os autores
discorrem sobre o passado, o presente, fazem conjuntaras para o futuro e os
demais assuntos pertinentes ao espaço gonçalense. Segundo Jelin (2001,
p.23) “[...] todo processo de construção de memórias se inscreve em uma
representação do tempo e do espaço [...]”. Mesmo quando o assunto abordado
não traz boas perspectivas, ainda assim, os autores conclamam aos
gonçalenses para que tomem o partido da cidade. Ainda, para Jelin (2001, p.
25), essas construções que empregam marcos sociais trazem “traços de
identificação” que proporcionam enquadramentos de memória.

Após reunirmos esse material e verificarmos a posição dos autores


diante da história da cidade, resolvemos chama-los de “empreendedores de
memória”. Utilizamos essa denominação não com a intenção de exalta-los,
mas com a intenção de deixar clara a atitude dos mesmos, ou seja, o seu
posicionamento em relação aos demais habitantes. E o mecanismo utilizado
por aqueles nos por parece simples: investir na memória/história para que os
cidadãos a conheçam, para que se identifiquem com São Gonçalo, para que se
orgulhem de sua cidade, para que aquele espaço possa ser modificado através
do poder simbólico das representações sociais.

Jelin (2001, p. 33) explica que existe uma relação entre discurso e
experiência, e que para aqueles que não tiveram as experiências do passado,
“[...] a memória é uma representação do passado construída como
conhecimento cultural compartido por gerações e por diversos/as outros/as”.
Também Pollak (1992) menciona a possibilidade de compartilharmos histórias
passadas, não por vivência, mas “por tabela”, a partir da memória de outras
pessoas ou de uma memória coletiva.

O que nos chamou a atenção foi que os intelectuais, em sua maioria,


não estão ligados a cargos políticos e, mesmo assim, sentem a necessidade de
tomar algum tipo de atitude (escrever, por exemplo), com relação aos
111

problemas identificados em São Gonçalo. É essa forma de agir que nos leva a
compara-los ao que Jelin (2001) denomina de “empreendedores de memória”,
ou seja, são pessoas que agem ativamente em prol de uma ideia.

Assim sendo, após análises e reflexões, chegamos à conclusão de que


memória e identidade são a finalidade das obras literárias sobre São Gonçalo e
a representação social é a forma possível de alcançar tais objetivos.
112

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ANEXOS
Anexo A

Hino de São Gonçalo

São Gonçalo, cidade mui singela


Erguida nos encantos de aquarela,
Namorada de nós os gonçalenses...
Cidade que cresce dia-a-dia,
Monumental eternal, sol de alegria,
Orgulho bem maior dos fluminenses...

(Estribilho) Teu passado, cidade, foi honroso,


Teu futuro será maravilhoso,
E o teu presente fúlgida verdade...
Teu povo sempre ordeiro e liberal
Semeia no teu seio maternal
As propícias sementes da bondade...

Tens usinas com muitas chaminés


Que logo dizem prontas quem tu és;
Oficina onde bate rijo o malho...
Macedo, Palmier, eis o talento,
Estephânia, ó que grande monumento,
Eis homens fortes, prontos ao trabalho...

(Estribilho) Teu passado, cidade, foi honroso,


Teu futuro será maravilhoso,
E o teu presente fúlgida verdade...
Teu povo sempre ordeiro e liberal
Semeia no teu seio maternal
As propícias sementes da bondade...

Tens igrejas festivas, cujos sinos


Bimbalham puros sons, bem cristalinos,
Da cidade fazendo pompa e glória...
Em Neves, Alcântara ou Gradim,
Certamente esta graça tu tens sim,
A graça que engalana a tua história...

(Estribilho) Teu passado, cidade, foi honroso,


Teu futuro será maravilhoso,
E o teu presente fúlgida verdade...
Teu povo sempre ordeiro e liberal
Semeia no teu seio maternal
As propícias sementes da bondade...

Letra: Prof. Geraldo Pereira Lemos


Música: Maestro Joyleno dos Santos

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